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i MT ea bets Pp Me COREA JOHN B. THOMPSON Dados Internacionais de Catalogacio na Publicagio (CIP) (Cimara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Thompson, John B. A midia ¢ a modernidade - uma teoria socal da midia / John 8. Thompson tuadugio de Wagner de Oliveira Brandio ; revisio da adugio Leonardo Avnitzer —Petrépolis, RJ: Vozes, 1998. Titulo original: The media and modernity. ISBN 85-326-2079-5 1, Comunicacio — Aspectos sociais 2. Midia ~ Aspectos sociais I. Titulo. 98.2583 CDD-302.23 | indices para eatlogosstemidico 1. Mia Secalghs 302.23 Sumario Apresentagao, 7 Prefécio, 9 Introdugio, 11 1. Camunicagdo € Contexto Social, 19 Ago, poder e comunicasio, 20 0s us0s dos meios de comunicacao, 25 Algumas caracterisicas da "comunicagio de massa”, 30 A reorganizacdo do espago e do tempo, 36 * Comunieagio, apropriagio ¢ vida cotidiana (1) ° 2. A Midia ¢ © Desenvolvimento das Soviedades Modernas, 47 Algumas dimensées institucionais das sociedades modernas, 49 Comunicagio, mercantiizacio € o advento da imprensa, 54 © surgimento do comércio de noticia, 63 A teoria da estera priblica: uma avaliacZo preliminar, 67 © crescimento das indiistrias da midia, 73 3, O Advento da Interagio Mediada, 77 Trés tipos de interagao, 78 A organizagio social da quase-interacio mediada, 82 gio A distancia (1): representando para outros distantes, 92 Agio & distancia (2): agio responsiva em contextos distantes, 99 4. A Transformacao da Visibilidade, 109 O piiblico e 0 privado, {1d Piiblicos sem lugares: © advente da publicidade mediada, 114 A administragio da visibilidade, 121 5 limites do controle: Gafes, escindalos e outras fontes de problemas, 126 5. AGlobalizagio da Comunicasio, 135 A-emergéncia das redes de comunicagio global, 137 Padrées globais de comunicagio hoje: uma visio geral. 143 ‘A oria do imperialismo cultural: uma reavaliagio, 147 Difusio globalizada, apropriagio localizada: em busca de uma teoria da globalizagio da midia, 154 6. A Nova Ancoragem da Tradigdo, 159 A natureza da tradicéo, 160 Tradigdo e a midia (1): tradigio destrufda?, 166 ‘Tradigio e a midia (2): tradigio deslocada, 174 Populagdes migrantes, tradigdes nomades: algumas fontes de conflito cultural, 178 1. © Bu e Experiéneia num Mundo Mediado, 181 O self como um projeto simbélico, 183 Intimidade no reefproca & distincia, 191 “Desseqiiestracio” € a mediagio da experiéncia, 196 Novas opges, novas responsabilidades: vivendo nus: mundo mediado, 201 8. AReinvencio da Publicidade, 205 Publicidade além do estado, 206 Visibilidade além da localidade, 211 Para uma renovacio da politica democritica, 216 Para uma ética de responsabilidade global, 223 Notas, 229 indice, 247 ] Comunicagéo e Contexto Social Em todas as sociedades os seres humanos se ocupam da producio e do intercm- bio de informagées e de contesido simbélico. Desde as mais amigas formas de comuni- ‘agio gestual e de uso da linguagem até os mais recentes desenvolvimentos na temologia computacional, 2 produgio, o armazenamento e a circulagio de informagio e contedido simbélico tm sido aspectos centais da vida social. Mas com o desenvolvimento de uma variedade de instituigdes de comunicagéo a partir do século XV até 05 nossos dias, os processos de produgio, armazenamento e circulagao tém passado por significativas trans rie de desenvolvimentos institu- fiormagées, Estes processos foram alcangados por uma cionais que sio caracterfsticos da era moderna, Em virtude destes desenvolvimentos, as formas simbélicas foram produzidas ¢ reproduzidas em escala sempre em expansio; turnaram-se mercadorias que podem ser compradas € vendidas no mercado; ficaram acessiveis aos individuos largamente dispersos no tempo e no espago. De uma forma profunda e irreversivel, o desenvolvimento da midia transformou a natureza da pro- duyio e do intercdmbio simbélicos no mundo moderno Neste capitulo comegarei a explorar os contornos desta transformagio pela andli- sw de algumas das caracteristicas da comunicagio mediada_Ieei desenvolver wma i trodugio a midia que é fundamentalmente “cultural”, isto é preocupada tanto com 0 cariter, significative das formas. simbdlicas, quanto com a sua_contextualizacio s0- vial! Jado. é im c sublinhar que 95 meios de comunicacio tém_uma Umensio simbdlica irredurivel: eles se relacionam com a produeio, o armazenamen- wea circulasio de materiais que si siguifcatvos para os individuos que os produzem s.os.zeceberal £ facil perder de vista esta dimensio simbilica-¢ preocupaz-se oso icale com os aapccios técnicos dos meios de comunicacio/ Estes aspectos técnicos . n, obscurecer 0 fato «ly quv-o desenvolvimento dos meios de comunicagio é em sentido fundamental “teclaboracdo do ¢ -organizacio dos meios pelos quais a informagio ¢ 0 conteido si intercambiados ty made social ¢, uma reestrturasio sos. mes, 108 pelos. quais os individuos se.rela- “a homem & wm aninal suspense S xs § \ bilizagio das condigoes sociais que subjazem & producio e circulagio destas mensa * linguagem. S mesmo teceu". come Geertz uma.vez observou,’ entio os meios de comunicacio si0 rodas de fiar no mundo modemo e, 20 usar estes melos, os seres humanos fabricam jas de significagio para si mesmos. Por outro lado, € também importante enfatizar que a comunicagio. m sempre um lizado: € sempre implantada em contextos s0- ciais que se esruturam de diversas maneiras € que, pot sua vez, produzem impact na comunicasio que ocorre. Mais uma vez, é ficil perder de vista este aspecto. Uma vez que a comunicagio.¢ geralmente “Axada” num substrato material de algum Upo palavras inscritas em papel, emplo, ou imagens gravadas em peliculas ~ € fe il focalizar 0 contetido simbélico das mensagens da mfdia ignorar a complexa mé gens, Esta € uma tendéncia que decididamente procurarei evitar, Sem negligenciar contetido simbélico das mensagens da midia, desenvolverei uma abordagem gue pri- vilegia a comunicacio como parte integral de —¢ que nao pode ser entendida contextos mais amplos da vida social. Na primeira secio deste capitulo esbosarei alguns dos aspectos de contextos so- ciais dentro dos quais a comunicagdo em geral. ¢ a comunicagio mediada em particular, deveriam ser entendidas. Sobre este pano de fimndo, analisarel algumas das caracteristicas dos meios téenicos de comunicagio (segio 2) e algumas das peculiaridades do que co- mumente se descreve como “comunicagio de massa” (secéo 3). A quarta secio se inte ressard pelas maneiras nas quais 05 meios de comunicagio reordenam as relagies de espago e de tempo ¢ alteram a nossa experiéncia dlelas. Na segdo final do capitulo irei ex- plorar, preliminarmente, as relagdes entre a comunicagdo mediada e 0s contextos sociais priticos dentro dos quais tal comunicagio é recebida ¢ entendida Asi, poder ¢ comunicagéo ‘Tornou-se lugar comum dizer que comunicacio é uma forma de agi. Desde que -Auslin observou que proferir uma expzessio ¢ executar uma aco ¢ ndo_apenas relatar relagGes uns ¢ na de jo. menos em parte, na andlise da acio € na co 0 do, Austin e muitos dos subseqiientes tedricos dos atos de linguagem nao conduziram o raciocinio nesta diresio; por isso suas consideragdes sobre os atos da fala tendem a ser um tanto formais e abstratos, divorciados das verdadeiras circunstincias nas quais os individuos usam a linguagem no dia-a-dia de suas vidas, Hoje nés podemos retomar a observacio de Austin so- mente se desenvolvermos uma teoria social substantiva da agdo e dos tipos de poder, recursos € instituigdes em que ele se baseia As consideragdes aqui desenvolvidas se sustentam na suposigio de que os fend- XA, menos sociais podem ser vistos como ages intencionais levadas a cabo em contextos socials estruturados'. A vida social ¢ feita por individuos que perseguem fins ¢ objeti- vos 08 mais variados. Assim fazendo, eles sempre agem dentro de um conjunto de circunstincias. i tes inclinagdes e oportunidades, tuados como, "campos de intera por Pierre Bourdieu’, Os individuos se sitvam em diferentes posigdes dentro destes cantpos, dependendo do tipo ¢ da quantidade de recursos disponiveis para eles alguns casos estas posicées, quando institucionalizadas, adquirem uma certa estabjli dade —isto 6, tornam-se parte de um conjunto relativamente Tregens, Fecur- soy € relages sociais. As instituigBes podem ser vistas como determinados conjuntos de regras, recursos e relagdes com certo grau de durabilidade no tempo e alguma ex- tensio no espago, € jantém unidas com 0 prupésito de alcangar alguns obj tivos globais._ As instituigdes definem a configuragio dos campos de interacio pre- cexistentes e, ao mesmo tempo, criant Novas posigdes dentio deles, bem como novos conjuntos de trajetdrias de vida para os individuos que os ocupam!| A posigio que um individuo ocupa dentro de um campo ou instituigio € muito cstreitamenteligada ao poder que ele ou ela poss. No sentido mais goral, poder € a capac cidlade de agir para alcangar os prOprios objetivos ou interesses, a capacidade de intervir ‘uo curso dos acontecimentos e em suas conseqiiéncias. No exercicio do poder, os indivi dduos empregam os recursos que Ihe sip disponiveis; recursos 580 0s meios que Thes pos- sibilitam aleangar efetivamente seus objetivos e interesses, Ao acumular recursos dos mais dliversos tipos, 0s individuos podem aut eu poder — do mesmo modo que, por cxemplo, um individuo pode controlar economias pessoais com a finalidade de comprar uma propriedade. ntrolados pessoalmente, € hi também recursos acumu- lados dentro de organizacées institucionais, que sfo bases importantes para 0 exercicio «do poder. Individuos que ocupam posigdes dominantes dentro de grandes insiruigdes padem dispor de vastos recursos que os tornam capazes de tomar objetivos que tém conseqiiéncias de longo alcance {Estes conjuntos de circunstincias podem ser concei- io” para usar um termo fertilmente desenvolvido © perseguir A tntendido assim de modo genérico, o poder é um fendmeno social penetrante, caracteristico de diferentes tipos de agio e de encontro, desde as aces re ‘mente politicas dos funcionérios piblicos até. os encontros mais prosaicos entre indi- viduos na rua Se hoje comumente associamos poder a politica, isto 6, as agdes de inslividuos agindo em nome do estado, isto & porque os estados se tornaram particu- larmente centros importantes de concentragio do poder no mundo modemo. Mas a Importincia das institulgdes estatais ndo nos deveria ocultar o fato de que o poder inanifestamente politico & somente uma forma mais especializada de poder, e de que os individuos normalmente exercem poder em muitos contextos que pouco ou nada 8m a ver com o estado. Assim fazendo, eles exprimem e ajudam a tomar relativa- TT mente estiveis as relacdes ou redes de poder e dominacéo entre os individuos, ¢ en- tre grupos de individuos, que ocupam diferentes posig6es nos campos de interagio. £ til fazer uma distingao, de uma maneira geral, entre as diversas formas de po- dex. Seguindo Michael Mann ¢ outros, procuro distinguir quatro tipos principais de poder ~ que chamarei de “econémico”, “politico”, “coercitivo” ¢ “simbélico”® Estas distingdes so de carter essencialmente analitico. Elas refletem os diferentes tipos de atividades nas quais 0s seres humanos se ocupam, e os diversos tipos de recursos de que se servem no exercicio do poder. Mas na realidade estas diferentes formas de po- der comumente se sobrepdem de maneiras complexas € variadas, Uma instituigio particular ou tipo de instituigio pode fornecer a estrutura para a acumulagio intensi- va de um certo tipo de recurso, e dai uma base privilegiada para o exercicio de uma certa forma de poder ~ da mesma forma que, por exemplo, uma empresa comercial de nossos dias serve de estrutura para a capitalizagio de recursos materiais que sio a ‘base privilegiada para o exercicio do poder econdmico. Estas instituigdes que propor- cionam bases privilegiadas para o exercicio de certas formas de poder, as chamarei de “instituigdes paradigméticas”. Mas também elas implicam uma mistura complexa de diferentes tipos de atividades, recursos ¢ poder, ainda que direcionadas essencialmen- te para a acumula¢ao de determinados recursos ¢ o exercicio de certa forma de poder. © poder econimico provém da atividade humana produtiva, isto €, atividade relacio- nada com a provisio dos meios de subsisténcia através da cxtragio da matéria-prima € de sua transformagio em bens que podem ser consumidos ou trocados no merca- do. A atividade produtiva implica 0 uso e a criagfo de varios tipos de recursos mate- Hiais e financeiros, que incluem matéria-prima, meios de produsio (instrumentos, maquinas, terra, construgdes, etc:), produtos de consumo e capital financeiro (di- nheiro, valores de bolsa, formas de crédito, etc.). Estes recursos podem ser acumula- dos por individuos e organizagées com o objetivo de expandir sua atividade pro- dltiva; e, a0 fazé-1o, aumentam seu poder econdmico. Em épocas remotas, a ativida- de produtiva era predominantemente agraria, e as instimigSes paradigmiticas do po- der econémico eram tipicamente organizagSes de pequeno porte orientadas para a subsisténcia da exploragio agricola ou para a produgio de pequenos excedentes desti- nados ao comércio. Com o desenvolvimento das sociedades modernas, as instituicdes paradigmiticas de poder econémico se tornaram maiores em porte ¢ finalidade, de tipo mais variado, cor processus de fabricacio manufaturada e, subseqiientemente, industrializada que assumiram uma importancia fundamental. O poder econdmico pode ser distinguide do paler politic, que deriva da atividade de coordena¢io dos individuos e da regulamentagio dos oadrdes de sua interagio. Todas as organizages implicam algum grau de coordenagao e de regulamentacio, e por isso também um certo grau de poder politico neste sentido. Mas nés podemos identificar uma gama de institigdes que se dedicam essencialmente 3 coordenacio € & regulamen- n a et tc AH, tago, © que desempenham estas atividades de uma maneira relativamente centraliza- dda dentro de um tertitério mais ou menos circunscrito, Estas instituig6es abrangem 0 que geralmente é conhecido como o estado ~ a instituig30 paradigmitica do poder poli- ‘ico, Historicamente houve muitas formas de estado, desde os tradicionais estados impe- riais, passando peles cidades-estado da idade classica, até as modemas formas de estado-nacio. Todos os estados, ou instituigdes paraestatais, sGo essencialment «le autoridade, Implicam um complexo sisterma de regras e procedimentos que autorizam certos individuos a agiren de determinadas maneiras. Em alguns casos estas regras © procedimentos sio explicitumente codificados em forma de leis promulgadas por corporagdes soberanas e administradas por um sistema judicial. sist Contude, como Max Weber entre outros observou, a capacidade do estado de ‘exercer a autoridade geralmente depende de sua capacidade de exercer duas formas svlacionadas mas distintas de poder, que iret descrever como poder coercitivo € po- «lev simbélico. Fundamentalmente estado pode recorrer a varias formas de coercio isto & a0 uso real ou sob ameaca da forca fisica ~ para garantir o exercicio do poder politico, tanto com relagio as ameagas ox invasdes externas, quanto com relagio a ugilagio ou desobediéncia internas. A autoridade do estado pode também se apoiar nna difusio de formas simbélicas que procuram, cultivar e sustentar a crenga na legiti- tnidlade do poder politico. Mas até que ponto as formas simbélicas particulares conse- suiem criar e sustentar a crenga na legitimidade do poder? Até que ponto tais crengas ‘io realmente compartilhadas pelos virios grupos e membros de uma populacio vas- suk, © até que ponto a partiha de tais crengas & necesséria para o estivel e efetivo exercicio do poder politico? Nio ha respostas simples e completas para estas questées, 6a incerteza (entre outras coisas) que toma o uso politico do poder simbélico uma aventura arriscada e sempre aberta. Ymbora haja uma estreita conexio histérica e empirica entre 0 poder politico e 0 é sensato distinguir analiticamente um do outro. © poder corcitiva im- plica o vs0, ou a ameaga, da forga fisica para subjugar ou conquistar um oponente. A liga fisica se aplica de muitas maneiras, com diferentes graus de intensidade e dife- rater 20 poder wultados. Mas ha uma fundamental ligagio entre a coercio e a lesio fisica ou crite 1 4 inorte: 0 use da forea fisica comporta © perigo de mutilar ou destruir o oponente. A forga fisica nao consiste siniplesmente na forca bruta humana. Ela pode ser aumen- luda pelo uso de armas ¢ equipamentos, pelo treinamento € pelas titicas, pela inteli- yéncia © pelo planejamento, etc. Historicamente as instituigdes mais imporantes scunnttadoras de recursos deste tipo sio as instituigoes militares, ¢ a forma mais portante de poder coercitivo & o poder militar, E claro que o poder militar desempe- iow un papel importante na formagio dos processos sociais e histéricos, ranto no assaddo quanto 0 presente. Ao longo da histéria os estados tém reservado uma parte significativa de suas atividades para o fortalecimento do poder militar, e para a obten- tr ~ através das conquistas ¢ dos saques, ou dos varios tipos de tributasio ~ dos re- cursos materiais para sustentar as instituigSes da forga armada, Tadicionalmente o poder militar tem sido usado tanto para a defesa e a conquista externas, quanto para a pacificagao ¢ 0 controle internos. Nas sociedades moderna, entretanto, faz-se uma distingdo mais precisa entre as instituigdes militares envolvidas essencialmente com a manutencio (ou expansio) dos limites territorials do estado-nagio, e as vavias orga- nizagdes paramilitares (como a policia) ¢ instituigdes relacionadas (como as institui- es carceririas) que cuidam fundamentalmente da pacificagie e do controle intemo. Mas esta definicio institucional no é absolutamente definitiva, e hd muitos exemplos na histéria recente do uso do poder militar para reprimir agitagSes internas © quarto tipo de poder é cultural ou simbélico, que nasce na atividade de produ io, transmissio e recepgio do significado das formas simbolicas. A atividade simbé- lica & carzcteristica fundamental da vida social, em igualdade de condigdes con atividade produtiva, a coordenagio dos individuos e a atividade coerciva. Os indivi- duos se ocupam constantemente com as atividades de expresséo de si mesmos em. formas simblicas ou de interpretacio das expressbes usadas pelos outros; eles sio continuamente envolvidos na comunica¢io uns com 0s outros e na troca de informa- ses de contetido simbélico. Assim fazendo, se servem de toda sorte de recursos que descreverei como "meios de informagio e comunicacio”. Estes recursos incluem os meios técnicos de fixagio e wansmissio; as habilidades, competéncias ¢ formas de conhecimento empregadas na producio, transmissio e recepgio da informagio e do conteiido simbélico (que Bourdieu chama de “capital cultural”); € 0 prestigio acu- mulado, o reconhecimento € 0 respeito tributados a alguns produtores ou instituigdes (Ceapital simbélico”). Na producio de formas simbélicas, 0s individuos se servem destas e de outras fontes para realizar agbes que possam intervir no curso dos aconte- as. As ages simbélicas poder provocar reagées, liderar respostas de determinado teor, sugerir caminhos e decisées, induzir a crer ea descrer, apoiar os negécios do estado ou sublevar as massas em revolta colet va. Usaret o termo “poder simbélico” para me referir a esta capacidade de intervir no curso dos acontecimentos, de influenciar as ages dos outros e produzir eventos por meio da produgio e da transmissio de forimas simbélicas* cimentos com conseqiiéncias as mais div Se a atividade simbélica ¢ uma caracteristica penetrante da vida social, hi, entre~ tanto, uma grande variedade de instituigées que assuem um papel particular histo- ricamente importante na acumulagio dos meios de informagdo e de comunicacio. tas incluem instituigées religiosas, que se dedicam essencialinente & producio ¢ di- fasio de formas simbélicas associadas 4 salvagao, aos valores espirituais e crencas, tanscendentais; i texidos simbélicos adquiridos (0 conhecimento) ¢ com o treinamento de habilidades © competéncias; ¢ instituigdes dz midia, que se orientam para a producio em large escala e a difusio generalizada de formas simbélicas no espago € no tempo. Estas ¢ s forneceram importantes bases para a acumulagio dos Lituigdes educaciorais, que se ocupam com a transmissio de con- outras instituigées cultura meios de informacio ¢ comunicacio, como também os recursos materiais ¢ financei- ros, e forjaram os meios com os quais a informagio e o contetido simbélico sio pro- duzidos e distribuidos pelo mundo social Tebea 1.1 Formas de poder Formas de poder ‘Recursos Instituigoes paradigmiticas Poder econémico Materiais ¢ financeiros —_Instituigdes econdmicas (pex. empresas comerciais) Poder politico Autoridade Instituigdes politicas (peex. estados) Poder coercitivo Forga fisica e armada Insticuigdes coercitivas (especialmente poder (especialmente militares, onilitar) mas também a policia, instituigdes carcerdrias, etc.) Poder simbélico Meios de informagio Instituigdes culturais e comunicagio (peex. a igreja, escolas e universidades, as induistrias da midia, etc.) A tabela 1.1 resume as quatro formas de poder em relagZo aos recursos dos quais dependem tipicamente e as instituipdes paradigmiticas em que eles se concentram. Esta tipologta no quer ser uma cassificagio exaustiva das formas de poder e dos tipos de ins- tilwigio, Além de que, como indiquel anteriormente, muitas agdes, na pritica, se valem de recursos os mais diversos, e muitas instituigdes fornecem verdadeiras bases para dife- rentes formas de poder: na sombria realidade da vida social, distingdes raramente sio definitivas. Nio obstante, esta tipoogia nos da uma estrutura itil para analisar a orga nizacio social e suas transformagdes. E, como me comprometi a mostrar nos capitu- los seguintes, ela pode ser efetivamente usada para analisar as transformagées institu: ‘ionais associadas ao surgimento das sociedades modernas. v Pee op per GAPE @ {0s uss ds meio de communicgin va eee edt doe lata, u (0 Waracterizei a.com iunicagio’Como um tipo distinto de atividade social que envolve a roduglo, a transmissio e a recepgao de formas simbdlicas ¢ implica a utlizacio de re- cursos de varios tipod, Quero agora examinar mais detalhadamente alguns destes recur- sus, Comego considerando a natureza dos meios de comunicagio € alguns dos usos a que cles se prestam. Passo depois a considerar algumas das habilldades, competéncias e for may de conhecimento que séo pressupostas pelos meios de comunicagio, A _Na produgio de formas simbélicas ¢ na sua transmissio para os outros, 08 105 geralmente empregam win meio tno. © meio técnico € 0 subsirato materi : bce tie isto €, o elemento material com que, ou por meio do qual, a infor- ._-macio ou o contejido siimbélico é fixado ¢ transmitido do produtor para o receptor, To dos os processos de itercimbio simbélico envolvem um meio técnico de algum tipo. Mesmo o intercimbio de afinmagies lingiisticas face a face pressupée alguns elementos materials — laringe, cordas vocais, ondas de ar, ouvidos e timpanos auditivos, etc. - em virtude dos quais os sons significativos sio produzidos ¢ recebidos, Mas a naturezs do meio técnico pode variar grandemente de um tipo de produgio simbélica (e inter cimbio) para outro, ¢ as propriedades dos diferentes meios técnicos facilitam e cir- cunscrevem os tipos de produyio simbélica e de intercimbio possiveis. Nés podemos examinar melhir estas questdes distinguindo varios aspectos gerais > on avlbuos dos tion (ene za oe ute qe permlie io cio tence to grau de fixagio da forma simbélica, ou sua preservagio em um meio que { possui graus variaveis de durabilidade. No caso da conversagio ~ tanto a conversaga0 face a face quanto aquela wansmitida por meies técnicos como alto-falante ou telefo~ ne ~o grau de fixagio pode ser muito baixo ou efetivamente inexistente; qualquer fi- xagio neste caso vai depender da meméria, mais do que de alguna propriedade distimtiva do meio técnico como tal. Mas em outros casos, como a escrita em perga- mitho ou papel, a escultura em madeira ou pedra, a pintura, a impressio, a filma- gem, a gravagio etc., pode haver um grau relativamente alto de fixagad)Q_grau de fixagio depende do meio especifico wtlizado ~ uma mensagem talhada numa pedra, -porexemplo, teri mais duragio do que uma outra escrita ew pergaminho ou papel, E assim como diferentes meios permitem diferenses graus de fixacio, assim umbém cles variam na medida em que nos permitem alterar ou revisar uma mensagem fixa- dam a a lpis € mais susceptivel & alteraggo do que uma escrita 4 tunta,e uma fale registrada em gravador & mais difiel de ser desmentida do que Blt werapao do diaca-dia, i S Em virtude da capacidade de fixagio, os meios téenicos podem armazenar infor- mages ou conteiido simbélico, € por isso sio considerados como diferentes tipos de gio", preparados, em diferentes graus, para preservar informagées ou conteiido simbélico € torné-los disponiveis para uso subseqiiente, Os meios iécnicos, e as informagées ou contetido simbélico neles arma- zenados, podem servir assim de fonte para o exercicio de diferentes formas de poder. £ muito provavel que as primeiras formas de escrita ~ desenvolvidas pelos sumérios ¢ pelos antigos egipcios em tomo de 3000 aC ~ tenham sido usadas principalmente com a finalidade de registrar informagdes relevantes 4 posse de propriedades e admi- nistragio do comércio”. O desenvolvimento da atividade ccondmica em periodos his- toricos posteriores, como no final di Idade Média e inicio da Europa modema, dependeu crucialmente da disponibilidade de varios ineios de anotagio de protesio “mecanismas de armazenamento de inf 26 \ da informacio concernente 4 produgio e ao intercimbio de bens, Além disso, 0 exer- cicio do poder pelas autoridades politicas e religiosas andou sempre estreitamente li- gado a verificacio ¢ ao controle da informagio e da comunicacio, tipificado no papel dos escribas de eras mais remotas € das diversas agéncias — desde organizagées encar- regadas de compilar estatisticas oficiais aos funcionsrios de relagSes piblicas — das »Hossas sociedades hodieas, ‘Um_ segundo atributo dos meios eios técnicos é o que lhes permite um certo grau de “ndujo_Por “ceproducia” entendo a capacidade de muliplicar as cépias de uma. lorma simbélica, Alguns meios técnicos, como os entalhes em pedra, dificilmente se poder reproduzit. © desenvolvimento dos sistemas de escrita ¢ de meios técnicos como 0 pergaminho ¢ o papel aumentaram substancialmente a reprodutibilidade das, fiormas simbélicas. Através da Idade Média numerosas falanges de escribas se dedica- vam 3 tarefa de reprodurir textos religiosos, literdrios e filos6ficos. Mas o passo deci- angio da mAquina impressora, que permitiu a reprodugio de sive velo com a nuilarmente, o desenvolvimento da litografia, da fotografia, do gramofone, do radio. xravador foram significativos, ndo somente porque permitiram a fixagdo de fend ‘menos visuais ¢ actsticos em meios técnicos durdveis, mas também porque tais fend- menos eram fixados em meios que lhes facilitavam, em principio, a reproducio. nnsagens escritas em escala e v Jocidade que até entio tinham sido impossiveis, Si A reproduuibilidade das formas simbélicas ¢ uma das caracteristicas que estio na base da exploragao camercial dos meios de. contunicagio..As formas simbdlicas po- cm ser “mercantilizadas”, isto , transformadas em mercadorias para serem vendi- thas € compradas no mercado; ¢ os meios principais de “mercantlizacio” das formas simbolicas estio justamente no aumento e no controle da capacidade de sua reprodu- ‘Go, Muitas das grandes inovagdes na indiistria da midia ~ ‘ais como a introdugo da Prensa a vaper de Koenig em 1814 ¢ as prensas rotat6rias em 1848 — se destinavam dirctamente a0 aumento da capacidade reprodutiva para fins comerciais. Mas a viabi- lidade comercial das organizages da midia depende também do exercicio do contro- 'e, em certo grau, sobre a reprodutibilidade de uma obra, E por isso a protecio do copyright. ico &, do direito de reproduzir, licenciar e distribuir uma obra, é de funda~ mental importincia para a indistria da midia. Em termos de suas origens e de seus principais beneficiérios, o desenvolvimento da lei do copyright em muito menos a ver tom a salvaguarda dos direitos dos autores do que com a protesio dos interesses dos editores ¢ livreiros, que tinham muito a perder com a reprodugdo ndo autorizada de livros © de outros materiais impressos'. Vubora a capacidade de reprodugéo dos mtios técnicos sirva a explorasio tera. ela tem implicagées de longo alcance no que lange & nogio de obra “original” ou “auténtica’”". © fato de uma obra original ow auténtica ndo ser uma re- produgio torna-se cada vez mais uma caracteristica importante da obra; ¢ i medida que a reprodugio das formas simbélicas vai se tornando comum, o carter de origi- nalidade e autenticidade de uma obra se torna sempre mais um fator importante para determinar-Ihe 0 valor no mercado de bens simbélicos. Claro, com o desenvolvimen- to das técnicas de impressio e de fotografia, torna-se possivel reproduzir miiltiplas cépias ou réplicas de obras originals. Mas estas réplicas no sio iguais ao original, precisamente porque sio cépias, e por isso sfo cotadas em valores mais bainos no mercado de bens simbdlicos. Fnuretanto, muitas formas simbélicas sio reproduzidas nio de um texto original, mas de uma cdpia, Mais, a obra consste em cOpias ou reprodugies a serem produzidas. A medida que a reprodugo controlada se centraliza no processo de reprodugio em si mes- ‘mo, as nogdes de originalidade e de autenticidade sio gradualmente valorizadas diversa- mente da idéia de “qualidade daquilo que é tinico”. Assim, por exemplo, no caso de livros, 0 que se tornam tipicamente itens cobigados por colecionadores nio sfo os textos realmente “originais”, mas as suas primeiras edig6es, que compreendem todas as cépias produzidas na primeira impressio da obra. Do mesmo modo, filmes e gravagées must- cais sio sempre produzidos em miltiplas c6pias, e todas as cépias gozam do mesmo status (desde que tenham boa qualidade de produgZo ou “alta fidelidade”). Assim, enquanto a valorizagio econémica das obras de arte é geralmente baseada na singularidade da obra (e ma defesa desta qualidade contra os falsificadores), a exploragio comercial de livros, filmes, discos, etc., € baseada na capacidade de produzir a obra em miiltiplas cOpias de controlar este processo de uma maneira lucrativa. Um terceiro aspecto dos meios técnicos € que eles permitem um certo grau de distanciamento epaco-temporal, Todo processo de intercimbio simbélico geralmente impli- ca um distanciamento da forma simbélica do seu contexto de producdo: ela é afasta- da de seu contexto, tanto no espaco quanto no tempo, e reimiplantada em novos contextos que podem estar situados em tempos e lugares diferentes. Usarei a expres- sio “distanciamento espaso-temporal” para indicar este processo de afastamento™” Todas as formas de comunicagio implicam um certo grau de distanciamento espaco- temporal, certo grau de deslocamento no tempo € no esparo. Mas a extensio deste deslocamento varia grandemente, dependendo das circunstincias de comunicagio € do tipo de meio técnico empregado. jos tecnicos No caso de uma interagio face a face, hé um distanciamento relativamente pe- queno. Uma conversa acontece num contexto de co-presensa: 05 participantes esto fisicamente presentes e partilham 0 mesmo conjunto referencial de espago e de tem- po. As falas trocadas numa conversacio sio disponiveis somente aos interlocutores, ou a individuos situados nas imediagdes, ¢ terdo duragio transitéria, por quanto du. zara meméria de seu contetido. A suplementagio da fala por meios técnicos de varios tipos estende-Ihe a dispontbili- dade no espaco e no tempo; amplificando-a, um alto-falante a torna disponivel a indivi duos que se encontram além do alcance de uma conversagio ordinaria: a fala adquire uma disponibilidade maior no espago, embora sua duragio temporal permanega limitada 0 momento de sua emissio. Usando outros meios técnicos, como radiogravadores ou varias formas de inscricZo, discursos podem receber uma maior disponibilidade no tem- po: podem ser repetidos ou lidos por individuos situados em outros contextos, diferen- tes tanto no tempo quanto no espaco do contexto original de sua produgio. Ao alterar as condigdes espago-temporais da comunicacio, 0 uso dos meios té nicos também altera as condigdes de espaco e de tempo sob as quais os individuos exercem 0 poder'’: tornam-se capazes de agir e interagir a distancia; podem intervir influenciar no curso dos acontecimentos mais distantes no espaco e no tempo. O uso dos meios técnicos di aos individuos novas maneiras de organizar e controlar 0 lespago € 0 tempo, e novas maneiras de usar o tempo € 0 espaco para os préprios fins. 0 desenvolvimento de novos meios téenicos pode também aprofundar impacto com que os individuos experimentam as dimens6es de espaco ¢ de tempo da vida s cial-lremos.dar mais dealhes destas implicagies mais tarde Finalmente, consideremos brevemente os tipos de habiidads, compas formas de c= » @ nhecimento exigidas pelo uso dos meios técnicos, O-uso-das meios técnicos pressupde um pprocesso de codificagio; ito é, implica o uso de um conjunto de regras € procedimentos de codificagio ¢ decodificacio da informagio ou do contetido simbélico, Os individuos «que empregam um meio deve conhecer, até certo ponto, as regras e os procedimentos. (© dominio destas regras e procedimentos no exige necessariamente a capacidade de os junnular de modo claro e explicito; apenas a habilidade de usd-los na pritica, saber como continuar, diria Wittgenstein. Rarmente somos convidados a formular estas re gs ¢ procedimentos explictamente, mas somos obrigados a usi-los praticamente todas ik vezes que empregtmos um meio tEenico de comunicasio, si Ao considerar os tipos de habilidades e competéncias envolvidas no uso de um meio técnico, € importante distinguir entre aqueles exigidos na codificagao da infor- mage ou do contetdo simbélico, ¢ aqueles necessérios para decodificar a mensa~ gem, Na pritica estas hab e competéncias podem vir juntas ou coincidirem até certo ponto (por exemplo, quem sabe escrever numa lingua particular, normal- smeute saberd também ler na mesma lingua). Mas estas habilidades nem sempre coin cidem, A majoria dos individuos que assistem 4 televisio, por exemplo, capaz de, ‘entender perfeitamente 0s programas, embora conhega muito pouco sobre a produ- gio de um programa. } | _ Quando individuos codificam ou decodificam mensagens, eles empregam nio Somente as habilidades © competéncias requeridas pelo meio técnico, mas também virias formas de conhecimento e suposigées de fundo que fazem parte dos recursos ‘euleurais que eles trazem para apolar o processo de intercimbio simbélicol Estes co- nhecimentos e pressuposigées dio forma as mensagens, 4 maneira como eles as en- 19 tendem, se relacionam com elas ¢ as integram em suas vidas. © process de com- preensio é sempre uma agio reciproca entre as mensagens codificadas e os intérpre- tes situados, ¢ estes sempre trazem uma grande quantidade de recursos culturais de apoio a este processo. Ainda iremos retornar a esta questo mais adiante. oN, Algumnas caracteristicas da “comunicagéo de massa” Xe - > | > até agora consideramos alguns dos atributos dos meios técnicos de comunicagio € algumas de suas utilidades mais comuns, Tenho usado a expressio “meio t6 yj comuniesio™ quase sempre pensames mum conjunto mals especiic de insitalgbes € Tprodutos: livros, jornais, programas de radio € de televisio, discos, filmes, ¢ assim por diante. Isto € pensamos mum conjunto de instituigdes e produtos que sio comumente agrupados sob a etiqueta “comunicagio de massa”. Mas o que é “comunicagio de mas- sa"? Este é um termo ao qual podemos dar um sentido claro ¢ coerente? DJA se disse muitas vezes que "comunicagdo de massa” é uma expressio infeliz, 0 timo “massa” € especificamente enganoso. He evoca a imagem de umia vasta au- digncia de muitos milhares e até milhGes de individuos. Isto pode perfeitamente vir a calhar para alguns produtos da midia, tais como os mais modernos ¢ populares jor- nais, filmes ¢ programas de televisio; mas dificilmente representa as circunstancias de nuitos produtos da midia, no passado ou no presente. Durante as fases iniciais do desenvolvimento da imprensa escrita periddica, e em alguns setores das indiistrias da midia hoje (por exemplo, algumas editoras de livros ¢ revistas), a audiéncia foi e per- manece relativamente pequena e especializada. Assim, se o termo “massa” deve ser utilizado, ndo se pode, porém, reduzi-lo a uma questio de quantidade. O que impor- tana comunicagio de massa nio esti na quantidade de individuos que recebe os pro- dutos, mas no fato de que estes produtos esto disponiveis em principio para uma grande pluralidade de destinatarios. > Hi um outro aspecto em que o termo “massa” pode enganar. Fle sugere que os ios dos produtos da midia se compdem de um vasto mar de passivos ¢ indi ia a algumas das primeiras criticas destinat ferenciados individuos. Esta é uma imagem associ 4 “cultura de massa" € a “sociedade de massa”, criticas que geralmente pressupu- nham que 0 desenvolvimento da comunicagio de massa tinha um grande impacto negativo na vida social moderma, criando um tipo de cultura homogénea e branda, que diverte sem desafiar, que prende a atengio sem ocupar as faculdades criticas, que proporciona gratificagio imediata sem questionar os fundamentos dessa gratificacao, Esta linha tradicional de critica cultural é interessante; ela tem despertado questées vélidas que merecem atengio ainda hoje, embora com alguma modificagio, Mas esta para me referir aos elementos materiais pelos quais a informago ou 0 con transmit aM ts quando nés er perspectiva critica é também impregnada de um conjunto de pressuposigdes que sio insustentaveis e que podem obstaculizar a compreensio da midia e de seu impacto no mundo moderno. Devemos abandonar a idéia de que os destinatirios dos produ. adores passivos cujos sentidos foram permanentemente embo- tos da midia sdo esp tados pela continua recepgio de mensagens similares. Devemos também descartar a suposigio de que a recepgio em si mesma seja um processo sem problemas, acritico, © que 05 produtos sio absorvidos pelos individuos como uma esponja absorve égua Suposigdes deste tipo t8m muito pouco a ver com o verdadeiro carster das atividades le recepcio e com as maneiras complexas pelas quais os produtos da midia sio rece- bidos pelos individuos, interpretados por eles ¢ incorporados em suas vidas. Se © termo “massa” pode ser enganador em certos aspectos, 0 termo “cormmica- Jo” também, uma vez que os tipos de comunicagdo geralmente implicados na co- tmmmicacdo de massa sio bem diferentes dos que ocorrem numa conversagio ordi- nieta No intercimbio comuntcativo de uma interacio face a face, 0 fluxo de comu- nnicago tem mio-dupla: uma pessoa fala, a outra responde, ¢ assim por diante. Em. outras palavras, 05 intercdmbios numa interacio face a face sio fundamentalmente dlialégicos. Com muitas formas de comunicagdo de massa, entretanto, o Muxo de co municagdo & esmagadoramente de sentido nico, As mensagens sio produzidas por uum grupo de individuos e transmitidas para outros situados em circunstancias espa- iais e cemporais muito diferentes das encontradas no contexto original de producto. Vor isso os receptores das :iensagens da midia nio sio parceiros de um processo de intercimbio comunicativo reciproco, mas participantes de um processo estrnturado. de transmissio simbélica. Dai o motivo por que geralmente falarei de “transmissio” ‘ou “difusio” das mensagens da midia, mais do que “comunicagio” como tal E mesmo em circunstincias estruturadas de comunicacio de massa, os receptores tém alguma capacidade de intervir € contribuir com eventos e contetido durante 0 provesso comunicativo, Eles podem, por exemplo, escrever cartas a0 editor, telefonar para as companhias de televisio e expressar seus pontos de vista, ou simplesmente re- ‘usar a compra ou a recepgio de um determinado produto. E assim © processo co- nnunicativo é fundamentalmente assimétrico, ainda que néo completamente mono- Kigico ou de sentido iinico. -Hi uma razio ulterior que toma a expressio “comunicagio de massa" um tanto inprépria hoje, Geralmente se associa este termo a certos tipos de transmissSes da Inidia — por exemplo, 4 difusio dos jornais de grande circulagio, aos programas de Nidio ¢-detelevisio, Fntretanto hoje parece que estamos testemumhando mudancas ‘cago mediada. A troca dos sistemas analégicos iz informag3o, combinada com o desenvolvi- lundamentais na natureza da com: pwlos sistemas digitais na codificagio mento de novos sistemas de transmissio (incluindo os satélites € os cabos de fibra ‘itiea), gstio criando um novo cenirio técnico no qual a informagio ¢ a comunicacio podem ser operadas em maneiras mais flexiveis. Mais adiante iremos considerar al- guns destes desenvolvimentos mais detalhadamente. Aqui simplesmente direi que, se a expressio “comunicagio de massa” & enganosa como descri¢io das formas mais tradicionais de transmissio da midia, ela & ainda mais inapropriada para 0s novos ti- pos de informacio e comenicacao em rede, que estio se tornando cada vez mais co- muns hoje em dia Depois de todas estas cousideragdes, a expressio “comunicagio de massa” deveré “Ser usada com uma boa dose de cxcunspecgio. Eu usarei geralmente outzas expresses — como “comunicagio mediada” ou, mais simplesmente, “a midia” — que tém menos perigos de serem mal interpretadas. Contudo nio deveremos deixar estas diferengas conceituats obscurecer o fato de que, através de uma série de desenvolvimentos his- téricos que podem ser cabalmente documentados, uma nova série de fenémenos co- municativos emergiu. Sempre que eu usar a expressio estarei me referindo a este conjunto interligado de desenvolvimentos histéricos e fe némenos comunicativos. O que agora descrevemos um tanto vagamente como “co- municagio de massa” é uma série de fenémenos que emergiram historicamente através do desenvolvimento de instituigdes que procuravam explorar novas oportuni- dades para reunir ¢ registrar informagées, para produzir e reproduzir formas simbéli- cas, ¢ para transmitir informagio € contetido simbélico para uma pluralidade de destinatérios em troca de algum tipo de remuneracio financeira. ‘comunicagio de massa”. ~, Sejamos mais precisos: eu usarei a expresso "comunicacio de massa” para me refe- ‘ir & produgo insiticonalind edifusio generalize de bons simblics através da fixate tensmsso de in formegio ou conteido simbilco. Desdobro esta definigio em cinco caracteristicas: 0s meios técnicos e institucionais de produgio e difusio; a mercantilizagio dis formas simbélicas; a dissociagio estruturada entre a produgio e a recepsl0; 0 prolongamento da disponibili- dade dos produtos da midia no tempo € no espago; e a circulasdo piblica das formas simbélicas mediadas, Nem todas estas caracteristicas sio singularmente pertinentes 20 que poderiamos chamar de “comunicagdo de massa”, Mas juntas elas evidenciam um conjunto de caracteristicas que sio tipicos e importantes aspectos do tipo de fendme- ‘no comunicativo que queremos significar com esta expressio. ~ DA prumeina caracteristica da comunicagio de. massa ¢ que ela envolve certos meios roducio ¢ de difusio. F esta caracteristica que tem rece- bido mais atengio na literatura especializada sobre a midia. Pois é claro que o desen- volvimento da midia, desde as formas mais antigas de impressio aos mais recentes desenvolvimentos no campo das telecomunicagées, tem se baseado numa série de inovagdes técnicas capazes de serem exploradas comercialmente. £ claro também que a exploragio destas inovagdes 6 um processo que ocorre dentro de instituiges e es- truturas institucionais, e que estas instituigSes continuam a determinar os caminhos operacionais da midia hoje, Em outras palavras, o desenvolvimento das indistrias da mi- 32 dia, isto 6, das numerosas organizagSes que, desde a Idade Média até os nossos dias, tam se interessado pela exploracio comercial das inovagSes técnicas, tornou possivel a produgio € a difusio generalizada das formas simbélicas, No proximo capitulo exa- tninarei alguns dos aspectos técnicos e institucionais da midia, comegando pela ex- ploragio comercial da imprensa a partir da segunda metade do século XV. Mas diversamente da literatura especializada nas tecnologias da midia, tentarei relacionar co desenvolvimento dos meios técnicos com os mais amplos aspectos institucionais do desenvolvimento das modemnas sociedades. © fato de que a comunicagio de massa implique a explorasao comercial das ino- vagies técnicas se torna explicito na segunda caracteristica ~ naquilo que chamei de ‘stica brevemente na secio mercantilizagio das formas simbélicas. Discuti esta caract anterior, em relagdo & capacidade reprodutiva dos meios técnicos; aqui irei estudé-la de um modo mais geral. Considero a mercantilizagio como um tipo particular de vvalorizagio”, isto é, uma das maneiras pelas quais se pode atribuir aos objetos um certo valor. As formas simbélicas se submetem a dois tipos de valorizacio"”. A “valo- rizagio simbélica” & um processo de atribui¢io de “valor simbélico” as formas sim- bolicas. Este € 0 valor que os objetos tém em virtude do apreco, da estima, da indiferenca ou do desprezo dos individuos. A “valoriza¢io econdmica” é 0 processo de aribuicio de “valor econémico” as formas simbélicas, um valor pelo qual elas podem ser trocadas no mercado. Em virtude da valorizagio econémica, as formas simbélicas se tomam mereadria: objetos que podem ser vendidos ¢ comprados no rego. As formas simbdlicas mercantilizadas irei me mercado por um determinado referir como “bens simbéiicos” ‘A comunicagio de massa implica a mercantilizagdo das formas simbélicas no sen- tido de que os objetos produzidos pelas instituigdes da midia passam por um proces- so de valorizagio econdmica. As manciras de valorizacio das formas simbélicas variam muito, dependendo dos meios técnicos ¢ das estruturas institucionais dentro das quais elas sito empregadas. A mercantilizagdo de alguns impressos, como livros & panfletos, depende quase inteizamente da capacidade de produzir € vender as miilti- plas cépias di obra. Qutros impressos (jornais, por exemplo) combinam este tipo de valorizagio com outros, como a capacidade de vender 0 espago de propaganda, No caso das transmissées de ridio e televisio, a venda do tempo de propaganda aos anunciantes tem sido de fundamental importincia, em alguns contextos nacionais, para a valorizagio econémica. Em outros contextos nacionais, os receptores dos pro gramas de ridio e televisio pagam diretamente (através de uma assinatura) ou indire tamente (através dos impostos) pelo direito de receber o material transmitido. Os desenvolvimentos tecnolagicos recentes associados as transmiss6es via cabo ou satéli- Ce criaram novas oportunidades para a valorizagio econémica, como © pagamento das taxas de insctigdo ou 0 uso dos cartées de crédito que permitem aos receptores a decodificagio das mensagens codificadas, 33 Oe eo ? f claro que a mercantilizagio das formas simbélicas no é exclusiva da comunica- cio de massa. Hé outros tipos de formas simbélicas, como as obras de arte, que sio roti- neiramente sujltas 20 processo de valorizagio econémica, © desenvolvimento de um mercado para as obras de arte ~ as galerias de arte, as casas de leil6es, ete. — pode ser visto como o desenvolvimento de um conjunto de instiulgBes que controlam a valorizasio das obras de arte, e dentro das quais estas obras podem ser vendidas e compradas como. mercadorias. Quanto mais valor simbélico for atribuido a estas obras e aos seus produto- res, isto €, quanto mais forem consideradas como “grandes obras” e "grandes artistas” tanto maior seré 0 prego de troca no mercado. De modo que as indistrias da miia nfo so as tnicas institigBes interessadas na valorizacio econdmiea das formas simbélicas. ‘Mas no mundo modero clas estio certamente entre as mais importantes instituigées que invadem cotidianamente as vidas de muitos individuos. A terceira caracteristica da comunicagao de massa € que ela estabelece uma dissocia- ‘fo estrutural entre a produgio das formas simbélicas e a sua recepsao. Em todos os tipos __de_gomunicagio de massa, o contexto de producto é geralmente separado do coniexto fou-sontextos) de Tecepcia Os bens simbdlicos sio produzidos em um contexto ou conjunto de contex‘os (as instituigées que formam as indtstrias da midia) e wansmitidos para receptores localizados em contextos distantes e diversos (tais como diferentes resi- dencias domésticas). Além disso, diversamente de muitos outros casos de comunicagio que implicam a separa¢o de contextos, no caso da comunicago de massa o fluxo de mensagens é, como j4 notei anteriormente, predominantemente de sentido tinico. O contexto de produgio nao é também (ou pelo menos na mesma medida) o contexto de recepcio, ¢ vice-versa. Por isso o fluxo de mensagens é um fluxo estruturado ¢ a capacidade de intervengao ou de contribuigdo dos receptores estritamente circunscrica Esta caracteristica da comunicagéo de massa tem implicagdes importantes no pro- cesso de produgio ¢ recepsi0, No lado da produgio, ela significa que o pessoal en- volvido na produgio € transmissio das mensagens da midia sio geralmente privados das formas diretas e continuas do feedback caracteristico da interacio face a face. Os processos de produgio e transmissio, portanto, sao caracterizados por um tipo dlistin- tivo de indeterminagio, uma vez que ocorrem na auséncia de deixas fornecidas pelos receptores. (Compare-se a diferenca entre um discurso diante de uma assembléia, {que pode manifestar aprovagio ou desaprovagdo através do riso, das palmas ou do si- Kencio, ¢ um discurso transmitido pela televisio). E claro que o pessoal da midia tem desenvolvido uma variedade de técnicas para enfrentar a indeterminagio, desde 0 uso das formulas de sucesso garantido e que tém uma audigncia previsivel (como as sé- ries televisivas e os filmes seqtienciais) até a pesquisa mercadolégica e o acompanha- mento regular estatistico do tamanho e da satisfacio da audiéncia’’. No lado da recepgio, a dissociacio estrutural significa que os receptores das men- sagens mediadas ficam 4 vontade, Podem fazer o que bem entenderem das mensa- gens, ¢ 0 produtor ndo esti ld para reelaborar ou corrigir os possiveis mal-entendidos. He também revela uma fundamental desigualdade entre os participantes do provesso ‘omunicativo. Os receptores sio, pela propria natureza da comunicagio de massa, par~ Leitos desiguais no processo de intercimbio simbélico, Comparados com os individuos envolvidos no processo de produgio e transmissio, os receptores de mensagens media- tlss pouco podem fazer para determinar os t6picos ou 0 contetido da comunicagio. Mas ‘sto no significa que cles sejam totalmente privados de poder, meros espectadores passives de um espeticulo sobre 0 qual nio tém nenhum controle. Uma quarta caracteristica da comunicagio de massa é a extensio da disponibili- dade das formas simbélicas no tempo e no espaco. Fsta caracteristica se relaciona es- Ireitamente com a anterior: uma vez que a midia estabelece uma separagio entre os romtextos de producio e os contextos de recepcio, as mensagens mediadas se tornam ilisponiveis em contextos os mais remotos e distantes dos contextos em que as men- sagens foram originalmtente produzidas, Esta ampliagio da disponibilidade das men- sagens mediadas é uma caracteristica que tem conseqtiéncias de grande alcance, e por inyo vamos examiné-la com mais detalhes logo mais. Mais uma vee, esta caracteristica niio é exclusiva da comunicagio de massa. Todas as formas simbélicas, em virtude de serem intercambiadas entre individuos que nio ocupam posigdes idénticas no espaco no tempo, implicam um certo grau de distanciamento espago-temporal. Mas com 0 tlescnvolvimento de instituigdes orientadas para a produgdo em grande escala e para a difusio generalizada de bens simbélicos, a ampliagio da disponibilidade das formas Simbélicas se torna um fendmeno social cada vez mais significativo © penetrante. In- lormagio e contetido simbélico sio colocados i disposicio de um miimero incalculé- vel de individuos, em espagos cada vez mais amplos ¢ em velocidade sempre maior. ‘A ampliagio da disponibilidade das formas simbélicas se tomou tio pronunciada ¢ rotineira, que todos a supéem como uma caracteristica corriqueira da vida social = Isto nos leva & quinta caracteristica da comunicacio de massa: a que implica a cir~ culagio publica das formas simbélicas. Os produtos da midia sio disponiveis, em principio, a uma pluralidade de destinatérios. Hles sio produzidos em miltiplas c6- pias ou transmitidos para uma multiplicidade de receptores, ¢ permanecem disponi: wis a quem quer que tenha os meios técnicos, as habilidades e os recursos para sclquizi-los. Neste aspecto, a comunicagio de massa se diferencia de outras formas de comunicagio ~ como as conversas telefonicas, as teleconferéncias, ou as produgdes huarticulares de video ~ que empregam os mesmos meios técnicos de fixagio € trans- inissio, mas que sio dirigidas para um individuo ou para um grupo bem restrito de ieceptores. A linha a ser tragada aqui ndo é definitiva, e a distin¢io pode ficar ainda tnais confusa nas préximas décadas com a imnplantasio de novas tecnologias que per~ initem servigos cada vez mais personalizados. Contudo, € uma caracteristica da co- inticagio de massa ficar 4 disposigio, em principio, de uma pluralidade de re- ceptores — mesmo quando, por uma série de ra7es, estes produtos circulem apenas contre um relativamente pequeno e restrito setor da populacio. 35 A disponibilidade dos produtos de comunicaso de massa tem implicagdes im- portantes na distincio que se faz entre os dominios piblico e privado. Os produtos da midia, por sua disponibilidade, em principio, a uma pluralidade de receptores, tém intrinsecamente um carster piblic, no sentido de que estdo “abertos” ou “dispo- niveis a0 piblico”. © contetido das mensagens da midia s¢ torna publico, isto é, visi- vel ¢ verificavel, 2 uma multiplicidade de individuos que podem estar situados em contextos os mais diversos. O impacto dos meios de comunicagio na “esfera pibli- ca”, € na relagio entre os dominios piblico e privado é 0 tema que iremos ver em. mais detalhes nos préximos capitulos. A reorganizagdo do espago edo tempo Ja observamos que 0 uso dos meios técnicos de comunicagio pode alterar as di- ‘meusées espaco-temporal da vida social, Capacitando os individuos 4 se comunica- rem através de espago ¢ de tempo sempre mais dilatados, o uso dos meios técnicos os toma capazes de transcender os limites caracteristicos de uma interacio face a face. } Ao mesmo tempo, os leva a reordenar as questées de espago e de tempo dentro da organizagio social, ¢ a usar esta reorganiza¢io como meio para atingir seus objetivos. Todos os meios técnicos tém uma relacio com os aspectos de espago e de tempo da vida social, mas o desenvolvimento da tecnologia da telecomunicagio na segunda metade do século XIX foi particularmente significativo a este respeito. Antes do ad- vento da telecomunicagio, a extensio da disponibilidade das formas simbdlicas no espa- co geralmente dependia de seu transporte fisico; com pouquissimas excegdes (por ‘exemplo, 0 seméforo) o distanciamento espacial sb era possivel com deslocamento das formas simbélicas de um lugar para um outro, Mas com o desenvolvimento das primel- zas formas de (elecomunicagio, o distancamento espacial ndo mais exigia fisicamente 0 transporte das formas simbélicas e, portanto, evitava 0s atrasos no tempo devidos a tais deslocamentod70 advento da telecomunicasio twouxe uma dij ante 0 epejo 0 tempo, no sentido de que o distanclamento espacial nio mais implicava o distanciamento temporal. Informagio e contetido simbélico podiam ser transmitidos para distincias cada vez maiores num tempo cada vez menor; quando a transmissio telegréfica foi instalada, as mensagens eram recebidas em menos tempo do que era necessirio para codificar e decodificar a informaco. O distanciamento espacial foi aumentando, en- quanto a demora temporal foi sendo virtualmente eliminada. 7 A disjungio entre o espaco e o tempo preparou o caminho para uma outra trans- formasio, estreitamente relacionada com o desenvolvimento da telecomuntcacio: ¢ descoberte da simultaneidale ndo espacial’®. Em periodos histéricos mais antigos a experiéncia da simultaneidade — isto é, de eventos que ocorrem “ao mesmo tempo” ~ pressupu- nha uma localizagio especifica onde os eventos simultineos podiam ser experimenta- 36

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