1. 2. 3. 4. 5.
1.Décio Pignatari 2. Avelino de Araújo 3.Arnaldo Antunes 4.Augusto de Campos 5. Joan Brossa
Acompanhe a tela acima, do pintor espanhol Salvador Dalí: Rosto de Mae West podendo ser utilizado como
apartamento surrealista – Salvador Dali Numa exposição, um artista ouviu o seguinte comentá tio sobre a figura
representada numa de suas telas: “Que mulher mais esquisital”. O pintor aproximou-se e replicou, serenamente: “Mas
isso não é uma mulher, isso é um quadro..... A advertência do artista é interessante se considerarmos que o quadro,
assim como qualquer obra de arte, representa uma realidade não é uma fotografia, uma cópia fiel. O pintor teceu uma
imagem com os recursos disponíveis: tela, pincel, momento histórico... e sua imaginação.
O texto mantém relações com o real, baseia-se na realidade física. No exemplo lido, há referências a um mundo
social (um rapaz e sua esposa; ela lendo um livro) e a um mundo psicológico (ele pensando no passado, em sua tia que
o achava esquisito). Há também referências a coisas físicas: o livro, o abajur, o roupão. No entanto, esse texto é uma
invenção: essa mulher, seu marido (o narrador), tia Vicentina, nada disso faz parte da vida real. Trata-se de uma
representação – Essas pessoas só existem no texto. A criação literária representa um mundo imaginário, um mundo de
ficção.
O ARRANJO E A NOVA RELAÇÃO ENTRE AS PALAVRAS
A literatura é uma forma de imitar a vida por meio de palavras organizadas de modo que formem uma supra-
realidade, isto é, uma realidade paralela ao ambiente que foi imitado. A nova relação que se estabelece entre as
palavras ocorre graças a um arranjo especial. Acompanhe o poema:
No Meio do Caminho
No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.
O TECIDO LITERÁRIO
O texto literário é formado por palavras polivalentes, isto é, palavras que podem ter mais de um significado, que
podem representar mais de uma face da realidade. Ele se caracteriza exatamente por sua capacidade de transmitir
significações diversas, por sua ambiguidade. Acompanhe o poema.
SERENATA SINTÉTICA (Cassiano Ricardo)
Rua
Torta
Lua
Morta
Tua
Porta
Cassiano Ricardo faz uma imagem de um encontro à noite, numa rua torta até chegar a porta da amada. É um
poema curto onde a forma fonêmica é tudo, as palavras são evocativas:
RUA TORTA - uma pequena cidade com ruas sinuosas
LUA MORTA - uma lua pálida
TUA PORTA - e a sugestão de um caso amoroso
É através das rimas próximas e do ritmo que traduz o impacto ao poema . “Serenata sintética” de Cassiano
Ricardo é composta por apenas seis versos, e todos formado estrofes de apenas uma silaba poética. Ele fala que o Eu
poético ou o Eu lírico anda por um caminho incerto em uma noite luar até a porta da amada.
O que é Eu poético e Eu lírico?
Eu lírico, eu poético ou sujeito lírico são nomenclaturas utilizadas para indicar a voz que enuncia o poema. O
gênero lírico é aquele destinado a expressar emoções, sensações, disposições psíquicas, ou seja, a vivência de um eu
em seu encontro com o mundo. Mas esse eu lírico, essa voz do poema, não é necessariamente o autor, mas sim um eu
fictício, que pode ou não ter características do eu autoral.
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Meu caro amigo Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui 'tá preta
Meu caro amigo, me perdoe, por favor Muita mutreta pra levar a situação
Se eu não lhe faço uma visita Que a gente vai levando de teimoso e de pirraça
Mas como agora apareceu um portador E a gente vai tomando, que, também, sem a cachaça
Mando notícias nessa fita Ninguém segura esse rojão
Aqui na terra 'tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll Meu caro amigo, eu não pretendo provocar
Uns dias chove, noutros dias bate sol Nem atiçar suas saudades
Mas acontece que não posso me furtar Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui 'tá preta
A lhe contar as novidades Muita careta pra engolir a transação
Aqui na terra 'tão jogando futebol E a gente 'tá engolindo cada sapo no caminho
Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll E a gente vai se amando, que, também, sem um carinho
Uns dias chove, noutros dias bate sol Ninguém segura esse rojão
Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui 'tá preta
É pirueta pra cavar o ganha-pão Meu caro amigo, eu bem queria lhe escrever
Que a gente vai cavando só de birra, só de sarro Mas o correio andou arisco
E a gente vai fumando, que, também, sem um cigarro Se me permitem vou tentar lhe remeter
Ninguém segura esse rojão Notícias frescas nesse disco
Aqui na terra 'tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll
Meu caro amigo, eu quis até telefonar Uns dias chove, noutros dias bate sol
Mas a tarifa não tem graça Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui 'tá preta
Eu ando aflito pra fazer você ficar A Marieta manda um beijo para os seus
A par de tudo que se passa Um beijo na família, na Cecília e nas crianças
Aqui na terra 'tão jogando futebol O Francis aproveita pra também mandar lembranças
Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll A todo pessoal, adeus.
Uns dias chove, noutros dias bate sol
(CHIME, Francis & BUARQUE, Chico. Meu caro amigo. In: Chico Buarque, letra e música 2. São Paulo, Companhia das Letras, 1997.)
I. A letra dessa música parece ser o conteúdo de uma fita magnética enviada a um amigo distante, na qual o
remetente coloca-o a par da situação do Brasil. Apesar de sabermos que se trata do envio de notícias, não podemos
imaginar que se trata de apenas uma fita dada a relação nova entre as palavras.
a) O que torna a mensagem da fita tão especial?
b) Retire do texto exemplos de expressões cotidianas carregadas de duplo sentido.
c) Comparando as estrofes, nota-se que alguns trechos repetem-se literalmente, apesar de o remetente insistir em que vai
contar as novidades. O que você acha que ele quis enfatizar?
d) O remetente registra que, sem cachaça, sem cigarro e sem amor, dificilmente consegui ria “segurar esse rojão”. Apesar
de serem hábitos ou vícios considerados impróprios, a bebida e o fumo, ao lado do amor, significariam o quê?
PROJETO DE PESQUISA
Junte-se a um grupo para trabalhar num pequeno projeto integrado de pesquisa. Como a letra da música Meu caro
amigo foi composta em 1976, procurem saber a que se refere afinal, o trecho do refrão “A coisa aqui tá preta”. O
grupo pode consultar o professor de História ou pesquisar na biblioteca da escola a respeito do contexto político-social
dos anos 70. Alguns livros contemporâneos tem essa época bem-documentada. Há também boas documentações
cinematográficas do período disponíveis em vídeo: Anos rebeldes (1992, direção de Denis Carvalho), Lamarca (1994,
Sérgio Rezende) Que É isso, Companheiro? (1998, Bruno Barreto)...