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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 026.

272/2020-2

GRUPO I – CLASSE V – Segunda Câmara


TC 026.272/2020-2
Natureza(s): Reforma
Órgão/Entidade: Comando da Marinha
Interessado: Jorge Vidal Sambrana (178.788.021-49)
Representação legal: não há

SUMÁRIO: REFORMA MILITAR. ACUMULAÇÃO DOS


PROVENTOS DA REFORMA COM VENCIMENTOS DE
CARGO EFETIVO ASSUMIDO APÓS A REFORMA.
HIPÓTESE NÃO ALBERGADA PELA CONSTITUIÇÃO
FEDERAL. ILEGALIDADE. DETERMINAÇÕES. CIÊNCIA.

RELATÓRIO

Por registrar as principais ocorrências dos autos, adoto como relatório, com os ajustes
necessários, a instrução da secretaria responsável pela análise da demanda (peça 4), que contou com o
apoio do Ministério Público junto ao TCU (peça 6):
“INTRODUÇÃO
1. Trata-se de ato de concessão de reforma do Comando da Marinha.
2. O ato foi submetido à apreciação do Tribunal de Contas da União (TCU) para fim de registro,
nos termos do art. 71, inciso III, da Constituição Federal. O cadastramento e a disponibilização ao
TCU ocorreram por intermédio do Sistema de Apreciação e Registro de Atos de Admissão e
Concessões (Sisac), na forma dos arts. 2o, caput e inciso II, e 4o, caput, da Instrução Normativa -
TCU 55/2007.
EXAME TÉCNICO
Procedimentos aplicados
1. Os procedimentos para exame, apreciação e registro de atos de pessoal encontram-se
estabelecidos na Instrução Normativa TCU 78/2018 e na Resolução TCU 206/2007. Essas normas
dispõem, em seus arts. 4º, § 2º, e 3º, § 3º, respectivamente, que os atos de pessoal disponibilizados
por meio do e-Pessoal devem ser submetidos à crítica automatizada do próprio sistema, com base
em parâmetros predefinidos.
2. Relativamente aos atos de admissão e concessão de aposentadoria, pensão e reforma, as rotinas
de crítica das informações cadastradas nos sistemas informatizados de coleta de atos foram
elaboradas e validadas levando-se em conta as peculiaridades desses atos. Os itens de verificação
do sistema compreendem prazos e fundamentos legais, assim como eventuais ocorrências de
acumulação. Trata-se de verificações mais abrangentes, minuciosas e precisas do que aquelas que
podem ser realizadas por mãos humanas, proporcionando um nível de segurança ainda maior.
3. As críticas aplicadas aos atos encontram-se discriminadas na opção Crítica do Sistema e-
Pessoal.
4. Além da crítica automatizada, há verificação humana adicional no caso de haver alertas do
sistema ou informações não formatadas, como esclarecimentos do gestor ou do controle interno.
5. As críticas também consideram os registros do Sistema Integrado de Administração de Recursos
Humanos (Siape). O Siape disponibiliza informações atualizadas sobre as parcelas que integram os

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proventos, diferentemente, portanto, do Sisac, que informa as parcelas no momento do registro do


ato.
6. O Sr. JORGE VIDAL SAMBRANA, CPF 178.788.021-49, era 3º Sargento da ativa e passou
para reserva remunerada em 26/07/2006 com proventos de 3º Sargento, não fazendo jus a uma
graduação acima uma vez que não contava com mais de 30 anos de serviço em 29/12/2000,
conforme foi informado pelo Gestor de Pessoal no seu ato de concessão. Na reforma em si, não foi
encontrada qualquer irregularidade.
7. Entretanto, no que se refere a acumulação de cargos/proventos públicos, verificou-se que o
militar em questão acumula a reforma em estudo com um cargo público ativo de auxiliar de
enfermagem, junto à Prefeitura de Municipal de Corumbá desde 08/08/2008.
8. Quanto à situação supracitada existem apenas duas situações em que tal acumulação é
considerada legal por esta Corte, quais sejam:
a) PASSAGEM PARA RESERVA E POSSE NO CARGO CIVIL ANTERIORES À EC Nº 20/98
Caso a reserva e posse no novo cargo sejam anteriores a Emenda Constitucional nº 20/98,
conforme Acórdão paradigma nº 2530/2009- TCU-1ª Câmara, uma vez que este Tribunal seguindo
jurisprudência do Supremo Tribunal Federal que considerou que no art. 11 da EC nº 20/98 o
Constituinte Derivado, ao fazer menção expressa à ‘previdência a que se refere o art. 40 da
Constituição Federal’, permitiu tacitamente a acumulação de proventos quando o regime em que
ocorreu a inativação original for estranho ao da previdência própria do serviço civil público.
Verifica-se que o caso tratado no acórdão retro citado é de proventos de aposentadoria e de
reforma, entretanto, por analogia, entende-se que o caso pode ser enquadrado também para
acumulação de proventos de reforma e vencimentos de cargo, uma vez que a situação do aludido
acórdão permitiu o acúmulo de reforma com vencimento de cargo até que se deu a aposentadoria
no cargo civil, ou seja, a acumulação foi reconhecida como legal. Para melhor visualização, segue
transcrição do supracitado artigo da EC nº 20 e Sumário do Acórdão nº 2530/2009 -1ª Câmara:
EC nº 20/98
‘Art. 11 - A vedação prevista no art. 37, § 10, da Constituição Federal, não se aplica aos membros
de poder e aos inativos, servidores e militares, que, até a publicação desta Emenda, tenham
ingressado novamente no serviço público por concurso público de provas ou de provas e títulos, e
pelas demais formas previstas na Constituição Federal, sendo-lhes proibida a percepção de mais
de uma aposentadoria pelo regime de previdência a que se refere o art. 40 da Constituição
Federal, aplicando-se-lhes, em qualquer hipótese, o limite de que trata o § 11 deste mesmo artigo’
_____________________________________________________________________________
Acórdão nº 2530/2009 -TCU-1ª Câmara
Sumário:
PEDIDO DE REEXAME EM PROCESSO DE APOSENTADORIA. APOSENTADORIA
CONCEDIDA A MILITAR REFORMADO. NOVO ENTENDIMENTO DO TCU. POSSIBILIDADE,
NOS TERMOS DO ART. 11 DA EMENDA CONSTITUCIONAL 20/1998. NÃO-CONHECIMENTO
DA PEÇA VESTIBULAR COMO RECURSO, POR LHE FALTAREM REQUISITOS LEGAIS E
REGIMENTAIS. RECEBIMENTO COMO SIMPLES COMUNICAÇÃO. REVISÃO DE OFÍCIO
DO ACÓRDÃO QUE IMPUGNOU A CONCESSÃO.
Nos exatos termos do art. 11 da Emenda Constitucional 20/1998, ‘A vedação prevista no art. 37, §
10, da Constituição Federal, não se aplica aos membros de poder e aos inativos, servidores e
militares, que, até a publicação desta Emenda, tenham ingressado novamente no serviço público
por concurso público de provas ou de provas e títulos, e pelas demais formas previstas na
Constituição Federal, sendo-lhes proibida a percepção de mais de uma aposentadoria pelo regime
de previdência a que se refere o art. 40 da Constituição Federal’. Ademais, consoante
entendimento esposado pelo Supremo Tribunal Federal sobre o mesmo tema, a previdência dos

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militares, estatuída nos arts. 42 e 142 da CF, exclui-se da proibição prevista no mesmo dispositivo.
(Grifo nosso)

b) ACÚMULO DE CARGOS PRIVATIVOS DA ÁREA DE SAÚDE, EC Nº 77


Em 11 de fevereiro de 2014, foi promulgada a Emenda Constitucional nº 77 que possibilitou o
acúmulo, por parte de militares da área de saúde, de um cargo público da área de saúde, sendo um
cargo militar e um cargo civil, anteriormente tal acumulação era ilegal e o militar que acumulasse
deveria ser desligado das Forças Armadas. Segue transcrição de EC nº 77 e do artigo art. 37, inciso
XVI, alínea ‘c’ que já previa a possibilidade de tal acúmulo para servidores civis, in verbis:
EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 77, DE 11 DE FEVEREIRO DE 2014
Altera os incisos II, III e VIII do § 3º do
art. 142 da Constituição Federal, para
estender aos profissionais de saúde das
Forças Armadas a possibilidade de
cumulação de cargo a que se refere o
art. 37, inciso XVI, alínea ‘c’.

Artigo único. Os incisos II, III e VIII do § 3º do art. 142 da Constituição Federal passam a vigorar
com as seguintes alterações:
Art. 142
(...)
VIII - aplica-se aos militares o disposto no art. 7º, incisos VIII, XII, XVII, XVIII, XIX e XXV, e no
art. 37, incisos XI, XIII, XIV e XV, bem como, na forma da lei e com prevalência da atividade
militar, no art. 37, inciso XVI, alínea ‘c’;(grifo nosso)
_______________________________________________________________________________
__
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados,
do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade,
moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:
(...)
XVI - é vedada a acumulação remunerada de cargos públicos, exceto, quando houver
compatibilidade de horários, observado em qualquer caso o disposto no inciso XI:
(...)
c) a de dois cargos ou empregos privativos de profissionais de saúde, com profissões
regulamentadas; (Grifo nosso)
9. Pelo exposto, verifica-se que o Sr. JORGE VIDAL SAMBRANA não se enquadra em nenhuma
das situações citadas nas letras ‘a)’ e ‘b)’ do item 8 da presente instrução, uma vez que a passagem
para reserva (26/07/2006) e a posse no cargo civil (08/08/2008) são posteriores a EC nº 20/98 e que
o militar não ocupava cargo privativo de profissional de saúde na Marinha do Brasil.
10. Assim, esta unidade técnica entende que a reforma em estudo não pode prosperar, devendo o
militar optar pelos proventos de reforma ou pelos vencimentos do cargo civil junto à Prefeitura
Municipal de Corumbá por falta de amparo legal para tal acumulação de proventos e vencimentos.
CONCLUSÃO
11. A abrangência e a profundidade das verificações levadas a efeito fundamentam convicção de
ilegalidade do ato. Dessa forma, cabe proposta no sentido de que seja considerado ilegal, negando-
lhe o registro.
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PROPOSTA DE ENCAMINHAMENTO
12. Ante o exposto, com fundamento nos arts. 71, inciso III, da Constituição Federal, 1o, inciso V, e
39, inciso II, da Lei 8.443/1992 e 260, § 1º e 5º, do Regimento Interno do Tribunal de Contas da
União, bem como art. 7º, § 3º da IN 78/2018, propõe-se:
a) considerar ilegal o ato em estudo por falta de amparo legal para acumulação de proventos de
reforma com vencimentos de cargo público civil acumulados após a promulgação da EC nº 20/98,
negando-lhe o registro;
b) dispensar o ressarcimento das quantias indevidamente recebidas de boa-fé pelos interessados,
consoante o disposto no Enunciado 106 da Súmula da Jurisprudência do TCU;
c) determinar ao Comando da Marinha do Brasil que:
c.1) no prazo de 15 (quinze) dias, a contar da ciência desta Deliberação, abstenha-se de realizar
pagamentos decorrentes do ato impugnado, sujeitando-se a autoridade administrativa omissa à
responsabilidade solidária, nos termos do art. 262, caput, do Regimento Interno/TCU;
c.2) dê ciência, no prazo de 15 (quinze) dias, a contar do recebimento da notificação deste Acórdão,
ao interessado, encaminhando a este Tribunal, no prazo de 30 (trinta dias), comprovante da referida
ciência; e
c.3) alerte ao interessado que o efeito suspensivo proveniente da interposição de possíveis recursos
perante o TCU não as exime da devolução dos valores percebidos indevidamente após a respectiva
notificação, caso os recursos não sejam providos.
d) esclarecer à unidade de origem, com supedâneo no art. 262, § 2º, do Regimento Interno, que a
concessão considerada ilegal poderá prosperar mediante a emissão e o encaminhamento a este
Tribunal de novo ato concessório, escoimado das irregularidades apontadas nestes autos;
e) apresente ao Sr. JORGE VIDAL SAMBRANA o direito à opção pelos proventos de reforma ou
pelos vencimentos do cargo de auxiliar de enfermagem junto à Prefeitura Municipal de Corumbá;
g) determinar à Secretaria de Fiscalização de Pessoal que monitore o cumprimento das medidas
indicada nos subitens 12.d) e 12.e) supra, representando a este Tribunal, caso necessário.”
É o relatório.

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