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DOSSIÊ

Luís Mauro
Sá Martino

De um eu ao outro: narrativa, identidade


e comunicação com a alteridade.
RESUMO
Este texto delineia alguns problemas epistemológicos da
40 narrativa a partir de um ponto de vista que a aproxima de
uma dimensão estética do conceito de comunicação. A partir
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de pesquisa bibliográfica, sugere-se que a narrativa é um dos
Professor do Mestrado em Comunicação da elementos centrais do ato de comunicação. Ao se contar uma
Faculdade Cásper Líbero. Doutor em Ciên- história, não se está apenas “transmitindo” algo para alguém,
mas criando vínculos entre identidades e diferenças, tanto
cias Sociais pela PUC-SP. em termos cognitivos quanto afetivos. O argumento se de-
senvolve a partir de três matrizes: (a) a narrativa dentro dos
estudos de comunicação; (b) o aspecto cognitivo-epistêmico
que preside a elaboração de narrativas; (c) os vínculos estéti-
co-afetivos do ato narrativo em sua relação comunicacional
com a alteridade.
Palavras-chave: Teoria da Comunicação. Narrativa. Episte-
mologia. Identidade. Alteridade.

ABSTRACT
TThis text outlines some narrative epistemological problems
as a ground to discuss some aspects of the concept of commu-
nication. Grounded on bibliographical analisys, it argues that
narratives are one of the core elements of communication.
As we share stories, we not only ‘tell’ something to others,
but we become actually bond to one another, both in cog-
nitive and affective aspects. It does not happens all the time,
but only when some preconditions, as open-mindedness, the
respect for the otherness, and for their own narratives, and
the impulse to be understood, are filled. As these conditions
are matched, narratives create a sense of ‘community’ close
to what is understood as the act of communication.
Foto: josé Geraldo de Oliveira Keywords: Communication Theory. Narratives. Epistemolo-
gy. Identity. Otherness.
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Introdução nenhuma pretensão universalista, no sentido de for- én de Rubempré, rapaz da província, tem pretensões termos da formação de um tipo específico de co-
mular o que seria uma teoria da narrativa: os obje- literárias e quer triunfar como escritor em Paris; no nhecimento da realidade. Se é possível encontrar as
tivos deste texto, muito mais modestos, referem-se entanto, aceita trabalhar como jornalista, a despeito origens dessa perspectiva no estudo clássico de Park
aos problemas epistemológicos da comunicação que dos pedidos e recomendações de seus amigos, que (1940) sintomaticamente intitulado “A notícia como
“Cada eu que digo é outro” podem ser explorados a partir do exame do ato de não querem “perdê-lo” para o jornalismo, visto como forma de conhecimento”, é a partir dos anos 1970,
(Grafite na zona oeste de São Paulo) narrar. Uma teoria da narrativa, se tal é possível, es- atividade menor, comercial, diante da literatura. mas com renovada força a partir de 2000, que se de-
taria mais próxima dos estudos literários do que pro- Caberia evocar Bourdieu (1997), em seu estudo senvolve essa perspectiva. Aos livros paradigmáticos
priamente de uma teoria da comunicação – embora, sobre a gênese do campo literário, para deixar evi- de Genro Filho (1976) e Meditsch (1992) seguem-se
claro, uma aproximação entre ambas não só seja pos- dente que esse conflito não era apenas uma questão estudos sobre as relações entre jornalismo e conheci-
Como recorda Gerbner (1999), as histórias que sível como já tenha sido tentada por alguns autores. de amizade pessoal ou interesse comercial, mas mos- mento feitos por Sponholz (2009), Benedetti (2010),
contamos são um dos principais fatores na formação O que se procura aqui, no entanto, é pensar a epis- trava um dos momentos de ruptura entre um campo Franciscato (2008), Hansen (2007) e Guerra (2008).
dos vínculos entre pessoas e, por conta disso, funda- temologia da comunicação a partir de determinados literário plenamente estabelecido e um correlato co- Muniz Sodré (2009) caracteriza a narração de um
mentais na origem de comunidades e sociedades. O problemas epistemológicos presentes na formulação mercial, o jornalismo, que aparecia como concorren- fato como um complexo fenômeno que ultrapassa as
ato de contar uma história, para além de qualquer de narrativas. O texto se divide em três partes: (1) te na disputa pelo monopólio do ato de contar histó- peculiaridades desta ou daquela modalidade narrati-
consideração como simples relato, está ligado a uma é feita uma caracterização do ato narrativo em ter- rias – ponto comum, aliás, aos dois campos. va para se constituir como um elemento fundamental
considerável série de fatores, das questões de estilo mos relacionais; (2) são exploradas as classificações A tensão entre os campos, novamente, parece se da experiência humana, vinculada, por conseguinte,
aos problemas de texto, dos pontos de vista narrati- cognitivas presentes nas narrativas na definição de dar ao redor da questão da narrativa. Não é por acaso, às condições específicas de sua elaboração. O ato de
vos às visões de mundo presentes em qualquer nar- um foco narrador e uma alteridade; (3) delineiam- portanto, que os estudos sobre narrativa na Área de narrar, inerente ao sentido do humano, não pode por
rativa. -se alguns elementos afetivos do ato narrativo que Comunicação pareçam se concentrar sobretudo nas isso ser desligado de suas possibilidades de efetiva-
Mais do que isso, o ato de contar histórias está permitem sua aproximação com a alteridade. Antes, intersecções entre jornalismo e literatura, ou mesmo ção. A narrativa é vista sobretudo como um fenôme-
ligado, em boa parte dos casos, a um sentido de porém, vale situar brevemente a questão da narrativa em termos do jornalismo literário. É possível indi- no social – talvez aqui seja possível o estabelecimento
compartilhar algo com outras pessoas; histórias são dentro de alguns momentos da Teoria da Comuni- car – e apenas indicar: um exame detalhado fugiria de fronteiras com a teoria literária – responsável pela
contadas para o outro; mesmo quando a narrativa cação. A ideia não é fazer um exame completo, mas às intenções deste artigo – ao menos três vertentes, formação de vínculos, pela definição/indefinição de
é feita para si mesmo, no sentido de um solilóquio, apenas recordar em que medida se forma uma região no caso brasileiro, que pensam essa relação. Eviden- identidades pessoais e comunitárias.
os fatos narrados e o modo de narrar se interpelam comum entre os estudos literários e as pesquisas em temente esses três caminhos não são estanques, e a Paralela a essas perspectivas, e abrindo um pouco
42 em termos da recordação do que outros contaram. Comunicação. separação deve ser vista mais em termos didáticos do mais o escopo de trabalho, uma outra vertente refe-
O ato narrativo, o momento de contar uma história, que válidos em qualquer circunstância. re-se aos diversos trabalhos dedicados ao estudo do 43
parece ser um momento privilegiado para se pensar 1. A narrativa como objeto da Comunicação Os problemas da narrativa jornalística em sua in- discurso jornalístico. Textos clássicos de Bell (1997),
e entender o ato comunicacional como uma forma de tersecção com a literatura, em termos de um jornalis- Fairclough (1993), Maingueneau (2003) e Charaude-
encontro com o outro. mo literário, vem sendo trabalhada, entre outros, por au (2005) são acompanhados, no cenário brasileiro,
O objetivo deste texto é pensar alguns aspectos Na chamada Área da Comunicação, os estudos E. P. Lima (2010), Castro (2010) e Martinez (2008), por trabalhos de considerável importância dedicados
da epistemologia da Comunicação a partir do deli- sobre narrativas parecem estar concentrados sobre- no sentido de encontrar modelos narrativos para o ao delineamento e compreensão das questões discur-
neamento de algumas características do ato narrati- tudo nos estudos de jornalismo. jornalismo que ultrapassem o relato “objetivo” de fa- sivas presentes sobretudo em narrativas jornalísticas,
vo. O objeto de investigação não está circunscrito a A proximidade histórica do campo do jornalis- tos na notícia e procurem encontrar outras formas de publicitárias e organizacionais. Neste caso, o tema da
uma narrativa ou a um conjunto delas; antes, pen- mo com o campo da literatura talvez possa oferecer narrar a realidade não apenas em termos de um estilo narrativa é de alguma maneira tornado equivalente a
sando em termos epistemológicos, busca-se aqui um algumas pistas para a compreensão desse fato. His- mais próximo da literatura, mas também no sentido “discurso” – debate no qual não se entra neste texto
olhar “meta-narrativo”, isto é, observando elementos toricamente, o jornalismo afirma-se na sociedade de manter o rigor da narrativa a partir da apuração e – para pensar as implicações de produção de senti-
comuns a várias narrativas que podem interessar à industrial moderna como um dos modos preferidos verificação dos fatos. do existentes nela. Dentre outras características, essa
epistemologia da Comunicação na medida em que de contar histórias na modernidade (Resende, 2006). Ao mesmo tempo, Medina (2003) e Künsch (2005) perspectiva procura não ficar restrita às questões do
permitem o delineamento de algumas questões pró- A agilidade do fato cotidiano, da pequena narrativa apontam outro sentido para a narrativa jornalística, jornalismo, explorando outros produtos midiáticos
prias a essa área. da notícia entremeada pelo momento da grande re- compartilhado em alguma medida por Motta (2012): como formas de narrar a realidade.
A noção de “narrativa”, aqui, é entendida em sen- portagem, associada à preocupações com questões o ato de narrar é sobretudo uma forma de conheci- É interessante observar que esses estudos se vol-
tido bem amplo: acompanhando Gerbner (1999), de forma e estilo, fizeram – e talvez ainda façam – o mento e compreensão da realidade. A narrativa não é tam, na maior parte, para a investigação de narrati-
entende-se a narrativa como as histórias que conta- jornalismo flertar, com frequência, com a literatura. apenas um relato, mas se caracteriza, antes, por ofe- vas associadas a meios de comunicação específicos: a
mos, sem necessariamente serem restritas a um de- A ideia, aliás, do jornalismo literário está nas recer uma maneira específica e diferente de se enten- narrativa da publicidade, a narrativa jornalística, as
terminado gênero, modelo ou formato. No centro de proximidades dessa intersecção, entendendo-se que der o mundo em sua complexidade. Künsch (2005; narrativas sobre organizações são pensadas em ter-
qualquer narrativa podem ser encontradas questões a narrativa jornalística pode ser entremeada de ele- 2008), sobretudo, parece desenvolver essa ideia ao mos mais “midiáticos”, quando não vinculadas a uma
comunicacionais que ultrapassam fronteiras e que, mentos literários e ganhar, assim, algum tipo de so- entender a narrativa jornalística dentro do que deno- área profissional, do que propriamente nas potencia-
portanto, permitem o delineamento de elementos brevida diante do relato seco dos fatos perseguido mina uma “epistemologia da compreensão”. lidades comunicacionais do ato narrativo. Evidente-
comuns. pela notícia. Talvez não seja por acaso que em “Ilu- Em uma terceira vertente, alguns estudos sobre o mente não se está propondo aqui uma dicotomia en-
Ao mesmo tempo, vale observar, não se trata de sões Perdidas”, Balzac coloque um conflito latente en- jornalismo destacam suas qualidades narrativas em tre o midiático e o comunicacional; apenas se indica
tre os dois campos: na história, o protagonista Luci- que o foco, neste texto, não é o estudo da narrativa

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vinculada a um formato ou meio, mas a narrativa que não estão presentes naquele momento. O ato narrativa traz, inscrita em si, as marcas do contexto outros, não há necessariamente uma identificação
como um dos componentes centrais do ato de comu- narrativo desenha-se, dessa maneira, como um ato em que são produzidas. Isso talvez vá além de uma completa entre os “quadros” que uso para entender
nicação, a partir da qual é possível uma compreensão sobretudo de compartilhamento deliberado do sim- perspectiva imediata, na qual a narrativa poderia ser a alteridade, e incluí-la em minha narrativa sobre a
específica desse fenômeno. bólico entre duas ou mais pessoas providas de um de- classificada como um “produto de sua época”: signi- realidade, e as molduras utilizadas pelo outro para
A narração, mais do que o impulso de “contar his- terminado referencial apto a entender, ou ao menos fica dizer que o substrato do ato narrativo depende, entender a si mesmo e a mim – sobre a reciprocidade
tórias”, é uma das modalidades do ser social e políti- perceber, as implicações desses elementos. imediatamente, das categorias cognitivas do sujeito dessa operação, ver Schieffelin (1980).
co. No mesmo sentido, Motta (2012) assinala como A narrativa preenche o que Marcondes Filho narrador em sua apreensão do mundo que será nar- Mas em que se constituem essas classificações?
uma das razões para se estudar as narrativas exata- (2012) entende como o “espaço entre” as pessoas, lu- rado (L.C. Lima, 1983). Sem a pretensão de qualquer digressão histórica, vale
mente seu potencial na formação do sentido de co- gar a ser preenchido pelos componentes da relação O ato de narrar, se por um lado é dirigido a uma assinalar, a partir de um livro de García (2007), que
munidade, como elemento vinculador. E, retomando comunicacional a partir de uma narrativa. Na medida exterioridade, por outro lado não pode ser separado toda estrutura lógica de classificação da realidade é
Gerbner (1999), o ato de contar histórias está sempre em que faz uma disposição organizada de elementos de uma interioridade que deve apreender, anterior- fundamentalmente arbitrária: ao estabelecer, em seu
ligado a uma perspectiva relacional: contamos his- simbólicos com vistas ao compartilhamento de um mente, os elementos do que será contado: em outras Organon, as bases da lógica, Aristóteles elaborou
tórias uns para os outros no sentido de estabelecer sentido, a narrativa se apresenta com uma potencia- palavras, só posso contar uma história na medida uma série de princípios relacionados ao exercício do
narrativas comuns que nos permitam estabelecer não lidade considerável no sentido de formar esse espaço em que aprendo e compreendo os fatos que serão pensamento – como, por exemplo, os princípios de
apenas quem somos, mas também quem não somos. do comum entre falantes e ouvintes – que, nesse sen- transformados nos elementos fundamentais dessa identidade e diferença, o princípio de não-contradi-
A partir de uma perspectiva relacional do fenô- tido, ultrapassam a dicotomia “emissores” e “recepto- história; no entanto, essa apreensão acontece exclu- ção e os fundamentos de qualquer relação lógica.
meno da comunicação, tal como trabalhada por inú- res” para serem entendidos como participantes que sivamente de acordo com meus próprios modos de Scheufelle (2004), nesse aspecto, parece ir mais
meros autores – destaque-se, por exemplo, Wolton compartilham do mesmo ambiente narrativo, ainda conhecer, que, longe de serem exclusivamente meus, além ao submeter a própria lógica classificatória a
(2008; 2011) – em perspectivas diversas, é possível que em posições diversas. É a partir daí, entre outros são constituídos ao longo de minha vida, de meus um exame empírico, sugere que o rigor da lógica não
encontrar um ponto comum, ainda que não idêntico, espaços, que se pensa na narrativa como dimensão relacionamentos, de minha trajetória dentro da so- se separa da formulação e aceitação de seu rigor. Fi-
na ideia de que o ato de comunicar é o ato de colocar do conceito de Comunicação. ciedade. Narro a partir do que sei, mas o que sei está nalmente, não seria talvez de todo errado evocar a
em relação dois seres humanos. Conquanto algumas ligado diretamente às condições que tenho para co- perspectiva de Piaget (1997) quando mostra, em vá-
teorias contemporâneas possam apontar, correta- 2. A narrativa como conhecimento nhecer a realidade. E essas condições formam, em rios de seus estudos, que a lógica das operações men-
mente dentro de seus pressupostos epistemológicos, e classificação da alteridade minha mente, o jeito como vou entender o mundo – tais das crianças, longe de estarem “erradas” como
que a comunicação com o não-humano, ou mesmo e como vou contá-lo para os outros (Eagleton, 1988). poderia supor alguma pedagogia clássica, é apenas
44 o não-vivente, é possível, uma perspectiva relacional Retomando Gerbner (1999), uma boa parte da- Trata-se, nesse aspecto, do que Erving Goffman diferente daquela empregada pelo adulto – não por
da comunicação parece apontar para a dependência quilo que sabemos chegou até nós por meio de narra- (1974) denomina “enquadramento”: a realidade aon- acaso, o pensamento mágico que permeia o universo 45
de uma reciprocidade como característica intrínseca tivas. A demonstração pode vir de exemplos comuns: de vivo depende fundamentalmente dos critérios que da criança comporta mudanças lógicas impensáveis
do ato comunicacional. não estava lá quando Colombo chegou à América, uso para definir uma situação. Esses critérios são os no caso do adulto, exceto na narrativa ficcional ou de
O ato de “compartilhar”, resgatando um dos sen- não estava presente quando Neil Armstrong desceu “quadros” ou “molduras” dentro das quais vou en- fantasia, quando então a “suspensão da descrença” se
tidos do verbo “communicare”, implica necessaria- na Lua. Mas também não estou presente na maioria caixar a realidade. Se, em uma perspectiva do senso apresenta como condição necessária para o sucesso
mente que o espaço de ligação entre os dois (ou mais) esmagadora dos acontecimentos cotidianos que che- comum, o processo de entendimento afirma que ve- da narrativa.
termos seja preenchido pela atribuição mútua de sen- gam ao meu conhecimento a partir de narrativas – mos as coisas e os fatos para depois interpretá-los, Dessa maneira, os atos de classificar e narrar pa-
tido – ainda que isso não aconteça de maneira idên- tanto as pessoais quanto as midiáticas. a perspectiva de Goffman parece desafiar no sentido recem estar intrinsecamente ligadas. Só é possível
tica – a um determinado fenômeno, o que demanda, Dessa maneira, não seria errado dizer que meu co- oposto: primeiro interpretamos a realidade para de- narrar a partir das classificações que se tem para
ainda que em um nível mínimo, a compreensão do nhecimento do mundo, em boa medida, é de segun- pois vê-la. Essa noção, aparentemente contra-intuiti- entender o mundo. O exercício de decodificação da
outro a respeito do que se está compartilhando (Bu- da mão – no mínimo, na medida em que a circulação va, revela-se no fato de que não existe uma apreensão realidade é feito dentro das categorias, dos “enqua-
ber, 1995, p.37). de narrativas, na sociedade, tende ao infinito. Essas “pura” da realidade: a ideia de um olhar desprovido dramentos” possíveis em um determinado momento,
O estabelecimento de um vínculo comunicacional narrativas que chegam até mim são responsáveis, até de “preconceitos” – no sentido sociológico e negativo enquadramentos esses que se impõe no momento da
existe, dentro dessa perspectiva, quando algo é efeti- certo ponto, por definir o que conhecerei ou deixarei da palavra – não exclui a ideia de um olhar despro- (re)codificação do mundo efetuada na narrativa. É a
vamente compartilhado com o outro: é a partir desse de conhecer sobre a realidade; tanto quanto “o que” vido de “conceitos”, no sentido cognitivo; desprovida partir dessa apreensão prévia da realidade que se for-
princípio que a narrativa se desenha como um ele- conhecerei, essas narrativas me dizer “como” conhe- de qualquer conceito, a realidade se tornaria irreco- mam as narrativas – que, por sua vez, se tornam parte
mento por excelência do ato comunicacional. cerei; em outras palavras, a “realidade” é formada nas nhecível. do que entendemos por “realidade”.
Narrar pressupõe o estabelecimento de algum tipo tramas narrativas do cotidiano (Bruner, 1991). Não há o que se falar quando o mundo se apresen- As classificações sócio-cognitivas que estão na
de relacionamento, ainda que mínimo, com a pessoa O que poderia ser, a princípio, chamado de um ta como enigma – salvo, talvez, quando o enigma das base de qualquer narrativa se tornam, assim, um pa-
para quem se narra. Nesse sentido, é bom especificar “ponto de vista” da narrativa, parece ir além disso: coisas se transforma pela palavra poética. radoxo: são elementos fundamentais para uma nar-
que o ato narrativo distingue-se de outros atos de co- trata-se de um complexo sistema de apropriações O ato de classificar a realidade é, nesse ponto de rativa, ao mesmo tempo em que impedem a concreti-
municação pela natureza intrínseca de sua forma de cognitivas da realidade que permitem entrever o que vista, um dos elementos fundamentais para a cons- zação de uma narrativa completa da alteridade. Sem
comunicar: trata-se, a princípio, de “contar uma his- acontece – permitem entrever o “real” (Eagleton, trução de qualquer narrativa: só consigo narrar o esses quadros a experiência da realidade se torna
tória”, isto é, de elaborar um conjunto de enunciados 1979). As narrativa estão ligadas aos sistemas classi- outro a partir do momento em que o entendo; no en- incompreensível; com eles, no entanto, aprisionam
que faça algum sentido em si mesmo dentro de uma ficatórios dos grupos e indivíduos que narram. Toda tanto, esse “entender” depende de categorias, a prin- a realidade dentro de esquemas de sentido previa-
perspectiva compreensível a respeito de fenômenos cípio, minhas; embora possa compartilha-las com os mente dados. A alternativa que pareceria se impor, a

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princípio, seria entre um conhecimento desprovido que o torna “infinito”, na palavras poético-filosófica te às possibilidades de narrar a si mesmo e ao outro. ção ao mundo; dessa maneira, embora exista um ca-
de categorias, ontologicamente impossível, e o uso de de Lévinas (2005; 2014). Ou, igualmente, a possibilidade de definir-se como ráter propriamente sensível – e que, portanto, talvez
categorias que necessariamente reduzem a realidade O infinito do outro é apreendido na experiência um “eu”, um “si-mesmo”, na proposição narrativa de não dependa lógica e cronologicamente de si mesma
social à pessoa que conhece. estética da alteridade, não em sua definição classifi- Ricoeur (2014) em relação a um “outro”, lembran- – na estética, há sobretudo uma dimensão produtiva
É, de certa maneira, a base do conceito de “este- catória; nesse sentido, a narrativa, enquanto contato do que essas definições não deixam de trabalhar em de apreensão do objeto sensível e sua transformação.
reótipo” elaborada por Walter Lipmann (1976): o es- com a diferença, assume um caráter quase transcen- uma perspectiva muitas vezes hierárquica, na qual Daí a perspectiva, em uma estética da comunicação,
tereótipo é um redutor da complexidade social, per- dente em relação às categorias cognitivo-vinculató- um grupo de pessoas se constitui como narradores de se trabalhar uma lógica relacional do ato comuni-
mitindo uma compreensão mais rápida, porque mais rias de uma apreensão imediata do outro. Se o es- da história dos outros, que se tornam os sujeitos – no cativo como produtividade reflexiva entre os partici-
simples, do que está acontecendo, de uma situação tereótipo, como sugerido acima, é uma forma de duplo sentido de um protagonista, mas também na pantes.
ou, como é mais comum, de uma pessoa. O estereó- economia cognitiva que prevê a apreensão parcial do ideia de “assujeitar” – narrados. David Bohm (2009) aponta que a noção de “diálo-
tipo, nesse caso, antes de ser propriamente “ruim”, é outro como uma maneira de diminuir o tempo de Não por acaso, a possibilidade de contar sua pró- go” não implica, em sua raiz grega, apenas a noção de
especificamente redutor, permitindo que a alteridade apreensão – a partir da diminuição da complexidade pria história é uma caraterística fundamental de um “di-logos”, “duas-razões”, pensando em termos de
seja entendida, mas apenas como caricatura – isto é, do a alteridade e de si mesmo – daquilo que é visível, algumas vertentes do pensamento político contem- uma razão que se afirma com a outra; antes, sugere, a
com o exagero de alguns de seus traços e o apaga- por outro lado a quebra do estereótipo e mesmo das porâneo. A ideia de narrar a si mesmo, colocando o ideia de uma “diálogo”, refere-se a “dia” como “através
mento de outros, em uma apreensão unilateral que é categorias cognitivas que presidem o ato de narrar só mundo dentro de sua narrativa – e não sendo coloca- de”: portanto, um “diálogo”, tanto ou mais do que o
exatamente o contrário do que se propõe como uma se faz possível no momento em que tal dimensão é do dentro de uma narrativa previamente categoriza- exercício entre “duas razões” dos interlocutores, su-
possibilidade de entender o outro em sua complexi- complementada pela experiência estética da alterida- da – é um fato de considerável relevância no estabe- gere a ideia de um caminho, uma trilha a ser seguida
dade. de. Quando, então, a narrativa do outro torna-se uma lecimento de atores políticos nos debates públicos. A “através da razão”, do reconhecimento do outro e de
possibilidade de experimentar, no espaço dos afetos, deliberação, em sua perspectiva dos critérios de um si mesmo como participantes de algo que, se por um
3. A dimensão estética o que são as vivências do outro. “uso público da razão”, no sentido indicado pelo de- lado é formado por ambos, ao mesmo tempo se dis-
e afetiva da narração do outro Evidentemente, essa experiência não deixa de ser, bate Rawls / Habermas (Habermas, 2006; Marques, tingue radicalmente de cada um e dos dois.
em si, redutora: não se está postulando que o víncu- 2011), não parece excluir as possibilidades de uma O espaço da narrativa, em suas vinculações so-
A narrativa é um espaço de encontro com o outro. lo estético com as narrativas da alteridade permita narrativa pessoal dos acontecimentos. ciais, também parece apontar para isso: o exercício
Ao contar histórias, são criados vínculos que ultra- um conhecimento da totalidade desse outro, e me- Dois exemplos podem ilustrar essa parte. James C. de narrar algo implica também uma vivência afetiva
passam qualquer dimensão estritamente pessoal ou nos ainda se busca colocar uma oposição entre uma Scott (1992), em seu livro “Domination and arts of com o mundo que se vai narrar. O ato de contar uma
46 subjetiva para a formação de algum tipo de repertó- dimensão “cognitiva” que seria “redutora” e um as- resistence: Hidden Transcripts”, ainda sem tradução história não se origina nem se encerra no repertório
rio comum que constitui uma espécie de substrato de pecto “estético” que seria “completo”: a perspectiva para o português, mostra como alguns afro-america- de quem conta, mas transmuta-se no próprio ato de 47
ligação entre um eu que narra e um outro com quem da compreensão da totalidade do outro se apresenta nos escravizados nos Estados Unidos encontravam, compreensão, utilizando esta palavra no sentido am-
essa narrativa é compartilhada. Ao mesmo tempo, é como um desafio de caráter ontológico à qualquer quando alfabetizados, a possibilidade de escreverem plo de “abraçar”, como indicam Künsch (2009) e Mo-
preciso observar de saída que esse gesto narrativo do elemento narrativo, e sua impossibilidade reveste-se algo a respeito de si mesmos, e como essa possibili- rin (2006), em relação a um mundo que será narrado.
compartilhamento demanda imediatamente algum tanto de um aspecto lógico quanto empírico. O que dade de narrar algo sobre seu cotidiano, a partir de O componente estético da narrativa não se desliga,
tipo de interação com a alteridade: a perspectiva de se propõe, pensando em uma dimensão da narrativa seu ponto de vista, era importante para a constituição nesse ponto, do componente afetivo propriamente
uma comunicação indica também alguma participa- na estética da comunicação, é uma maneira diversa de uma subjetividade e mesmo de uma resistência dito; ao contrário, parece que seria possível situar o
ção do outro no ato narrativo, que se concretiza no de se conviver com a história do outro que ultrapasse cultural a partir das narrativas. De maneira similar, afeto no coração do elemento sensível. O vínculo es-
momento em que é esteticamente apreendido por a apreensão estritamente cognitiva. Margareth Rago (2013) mostra, em “A aventura de tético, ligado ao afeto, é um dos modos fundamen-
uma alteridade; a apreensão é definida como estética A narrativa, como instrumento de vinculação, é contar-se”, de que maneira narrativas de mulheres tais da comunicação, e sua presença na narrativa é
não por conta de um caráter necessariamente vincu- constituída tanto por linhas cognitivas quanto afeti- contribuem para a afirmação de uma identidade de- fundamental para a criação de laços com o mundo
lado às questões de gênero e estilo, que a princípio vas. A noção do afeto, aliás, parece ser um dos ele- corrente da possibilidade de narrar a si mesma, e não narrado.
caracterizariam um ato narrativo em seu sentido lite- mentos centrais de qualquer narrativa: a possibi- “ser narrada”, por um outro. Por isso mesmo, de certa maneira, a estética da
rário (Martino e Marques, 2014). lidade de criar um vínculo com o outro a partir de Embora o conceito de “estética”, no sentido grego narrativa não deixa de lado sua imbricação no tecido
A perspectiva, aqui, é de pensar o ato narrativo uma história compartilhada não deixa de ser, lembra da “aesthesis”, estivesse ligado originariamente a uma social a partir do qual se definem os espaços de nar-
como parte de uma estética da comunicação ou, ain- Motta (2012), uma das formas de estabelecimento de noção física de “sensibilidade”, logo a palavra passou radores e narrados; os enunciadores e os objetos de
da, como parte da dimensão estética do conceito de uma relação. a ser entendida também como a percepção estética um discurso, recorda França (2006), estão vinculados
comunicação que entende a relação de comunicação Essa ligação a partir da narrativa não deixa de que gera algum tipo de resposta potencialmente di- ao mesmo espaço social, mas em posições e situações
como uma relação com a alteridade que coloca seu levantar um questionamento que insere na discus- ferente do objeto que a causou; mais do que uma re- bastante distintas que tornam suas falas fundamen-
foco na esfera da produtividade sensível desse con- são, junto com os elementos relacionados aos afe- ação a uma percepção, a estética parece ganhar uma talmente diferentes nos regimes de constituição des-
tato – se a apreensão do outro é um fato cognitivo, tos, uma dimensão ética da relação narrativa com o dimensão produtiva. se mesmo espaço. Os regimes narrativos instituídos
é também um desafio à sensibilidade para, mais do outro. Como a alteridade é situada no contexto das A noção de estética como sensibilidade parece de- permitem, ou demandam, que apenas uma pequena
que entender o outro como dentro de categorias pro- narrativas? Como narro a alteridade, e como me in- marcar essa diferença em relação a uma percepção parcela do mundo vivido possa ser convertido em
priamente cognitivas, experienciar ou vivenciar o siro em relação a ela? Mais ainda, quem pode narrar que se mostraria mais próxima de uma “reação”: a uma narrativa, e menos espaço ainda existe para que
contato com o outro em toda sua diferença, naquilo a alteridade? As relações sociais, em sua assimetria, sensibilidade estética pode ser transformada, “educa- essas narrativas se tornem conhecidas em um espaço
não deixam de ser igualmente assimétricas no tocan- da”, pensada justamente por seu caráter ativo em rela- público.

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Considerações finais ma-se no momento da relação com a alteridade – daí York: John Wiley, 1993. Casa das Rosas, 24 a 26 de junho de 2015.
talvez seja possível evocar a frase de Lévinas (2005) FRANÇA, V. R. V. Sujeitos da comunicação, sujeitos em MORIN, E. O método. Vol. 06: Ética. Porto Alegre: Sulina,
A vivência cotidiana só é muito raramente conver- quando afirma que “nós” não é o plural de “eu”: a comunicação. In: GUIMARÃES, C.; FRANÇA, V. R. V. 2006.
natureza do “nós” demanda a constituição de uma Na mídia, na rua: narrativas do cotidiano. Belo Horizonte: MOTTA, L. G. Por que estudar narrativas? In: MOTA, C.
tida em uma narrativa que chegue ao conhecimento
Autêntica, 2006. L.; MOTTA, L. G. E CUNHA, M. J. Narrativas Midiáticas.
público. Não que ela não exista, e se manifeste em to- resposta do eu ao outro, uma “responsabilidade”, se
GARCIA GUTIERREZ, A. Desclasificados. Barcelona: Florianópolis: Insular, 2012.
dos os momentos. Somos, indica Motta (2012), seres é possível jogar com a raiz da noção de “responder”;
Anthropos, 2007. PARK, R. E. News as a Form of Knowledge: A Chapter in
narradores, e contar coisas parece fazer parte de um é nesse espaço de entremeio narrativo que o víncu- GENRO FILHO, A. O Segredo da Pirâmide. Porto Alegre: the Sociology of Knowledge. The American Journal of Socio-
bom número de culturas humanas. Esse “contar coi- lo comunicacional parece emergir com mais força a Mercado Aberto, 1976. logy, Vol. 45, No. 5. (Mar., 1940), pp. 669-686.
sas” dirige-se fundamentalmente ao outro, mas não a partir da formação de uma narrativa. GERBNER, G. The stories we tell. Peace Review, 11(1), PIAGET, J. Psicologia da inteligência. Petrópolis: Vozes,
qualquer outro: o outro para quem eu puder falar, o A dimensão estética da narrativa se mostra, dessa 9-15, 1999. 1997.
outro disposto a me escutar. maneira, como um modo de abertura reflexiva para a GOFFMAN, E. Frame analisys. Nova York: Penguin, 1974. RAGO, M. A aventura de contar-se. Campinas: Ed. Uni-
Nesse sentido, o ambiente das mídias digitais e os alteridade. Sua plena realização acontece nos momen- GUERRA, J. O percurso interpretativo da construção da camp, 2013.
modelos de “conexão constante” são um indicador tos em que, a partir de transformações nas condições notícia. Aracaju: Ed. UFSE, 2009 RESENDE, F. O jornalismo e a enunciação: perspectivas
quantitativo do diálogo: a interação nas redes sociais, de elaboração narrativa, a relação de dupla apreensão HABERMAS, J. A inclusão do outro. São Paulo: Loyola, para um narrador-jornalista. In: LEMOS, A.; BERGER,
do eu e da alteridade dentro das narrativas respeita 2006. C.; BARBOSA, M.; Narrativas midiáticas contemporâneas.
ao menos em tese, implica um contínuo diálogo com
HANSEN, M. Esfera Pública, democracia e jornalismo. Porto Alegre: Sulina, 2006.
alguém que está distante e com quem se interage a o próprio ato narrativo do outro em sua auto apre-
Aracaju: Ed. UFSE, 2010 RICOEUR, P. O si mesmo como outro. São Paulo: Martins
partir de uma tela. O que pode ser questionado, neste ensão e na modalidade como sou apreendido dentro
KÜNSCH, D. A. Maus pensamentos. São Paulo: AnnaBlu- Fontes, 2014.
ambiente, é se existe de fato uma disposição em “in- de sua narrativa (Martino, 2010). Esse processo, emi- me, 2005. SCHEUFELE, B. Framing-effects approach: A theoretical
teragir” com o outro ou se o processo não se pauta nentemente reflexivo, comporta os vários termos re- LEUNG, L. Loneliness, social support, and preference for and methodological critique. Communications 29 (2004),
em um solipsismo no qual cada indivíduo narra para presentacionais em uma constante relação: entender online social interaction. Chinese Journal of Communica- 401-428
si mesmo os acontecimentos de seu dia com um grau esses termos em seu aspecto relacional e dinâmico é tion, Vol. 4, No. 4, December 2011, 381–399 SCHIEFFELIN, E. L. Reciprocity and the Construction of
mínimo de resposta – é o que Moraes (2015), reto- uma das formas de constituir, agora entre os “narra- LÉVINAS, E. Entre nós. Petrópolis: Vozes, 2005. Reality. Man, New Series, Vol. 15, No. 3. (Sep., 1980), pp.
mando Žižek (2010), trabalha como uma “interpassi- dores” de cada momento – e não entre “narradores” __________. Totalidade e Infinito. Lisboa: Edições 70, 502-517.
vidade” dos relacionamentos, em oposição à ideia de x “narrados” previamente estabelecidos – um espaço 2014. SCOTT, J. Domination and arts of resistence: hidden trans-
uma “interatividade” muitas vezes apresentada como de construção do comum, de comunicação. LIMA, E. P. Páginas Ampliadas. São Paulo: Manole, 2008. cripts. Yale: Yale University Press, 1992.
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48 característica intrínseca do ambiente das mídias di-
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gitais. É uma característica, sem dúvida, mas, ao que Referências
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tudo indica, trata-se de um potencial ainda não ple- MELO, J. M. Teoria e pesquisa em comunicação. São Paulo: TURKLE, S. Alone together. Nova York: Basic Books, 2011.
namente realizado. Daí o espectro de uma solidão AARSAND, P. A. Frame switches and identity performan-
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cífico que o “cede” ou “compartilha” com o outro, for- FAIRCLOUGH, N. Discourse and Social Change. Nova

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