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(IFCH/ UERJ).
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- 2021 –
2) OBJETIVO:
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Aqui nos referimos às obras: A Gaia Ciência (2012), Assim falou Zaratustra (1989), A Genealogia da
Moral (2011), O Anticristo (2002).
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Assim se passou com Foucault2 e Deleuze, que com suas novas teses
inovaram com a ideia original acerca da Morte do Homem. Acreditaram que, com a
“morte de Deus”, o vazio deixado por esse ato certamente não seria um espaço a ser
ocupado pelo homem. Seja pela Filosofia da Linguagem, seja na esfera da superação da
Antropologia, atestaram nesse contexto o surgimento de um pensamento novo e
renovado.
3) JUSTIFICATIVA:
2
FOUCAULT, Michel. As Palavras e as Coisas – Uma arqueologia das ciências humanas, Martins Fontes,
S.P, 1990.
3
NIETZSCHE, Friedrich. A Gaia Ciência. Companhia das Letras, S.P., 2014.
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crença em geral e também para a Teologia como campo do saber. Além disso,
examinando a problemática da “morte de Deus” nos dias de hoje, justifica-se esse
esforço de compreensão sempre que se imaginar que daí haverá um desdobramento de
questões indiscerníveis no cenário contemporâneo, tais quais a crise global de valores
no mundo, a falta de fundamento relacionada a fenômenos brutais como o Terror, ou
simplesmente a dificuldade encontrada em se lidar com o caso do novo ateísmo na
realidade.
4) DELIMITAÇÃO DO PROBLEMA:
Nietzsche não tem por pretensão atestar o ateísmo quando lança essa ideia
da “morte de Deus”, mas assinalar a desvalorização dos valores morais de sua época.
Deus é a sustentação suprassensível, metafísica, que foi desenvolvido desde Platão no
Ocidente, não sendo mais acatado na modernidade como fundante e verídico. As
verdades absolutas com Nietzsche são destruídas, pondo em cheque toda a modernidade
4
e sua esperança em uma verdade universal. Nietzsche aniquilou o Deus moral, absoluto
e os valores universais que decorriam deste. A filosofia nietzschiana se caracteriza por
uma crítica à cultura Ocidental em seu fundamento primário: a metafísica. Tal como a
moral, a intenção da metafísica é alcançar uma perspectiva absoluta sobre a realidade,
por isso encontram-se essas dimensões inter-relacionadas e condicionadas entre si.
“Não ouviram falar daquele homem louco que em plena manhã acendeu uma
lanterna e correu ao mercado, e pôs-se a gritar incessantemente: “Procuro Deus!
Procuro Deus!”? – E como lá se encontrassem muitos daqueles que não criam em
Deus, ele despertou com isso uma grande gargalhada”. 4
“Como conseguimos beber inteiramente o mar? Quem nos deu a esponja para
apagar o horizonte? Que fizemos nós, ao desatar a terra de seu sol? Para onde se
move ela agora? Para onde nos movemos nós? Para longe de todos os sóis? Não
caímos continuamente? Para trás, para os lados, para a frente, em todas as
direções? (...) Não anoitece eternamente? Não temos que acender lanternas de
manhã?” 5
4
Idem p.137.
5
Idem.
5
meio das ideias. Segundo Platão, o Sol é filho do Bem, assim, ambos dão causa à
existência de outros seres, o sol dando visibilidade às coisas do mundo, bem como
sustentação e condições para sua existência, e a ideia do Bem, invisível, mas inteligível,
doando sentido para as demais ideias, inter-relacionando-se com estas. Assim, o Bom, o
Belo, a Justiça e a Verdade estão em estreita relação com a Ideia do Bem. Se pensarmos
que essas ideias, assim como o Bem, são todas transcendentes e metafísicas, veremos
que Nietzsche põe em questão a validade de todas elas, crendo apenas em sua
subsistência na dimensão aquém da realidade humana.
Cumpre confirmar que a ideia do Bem, além de suster os demais seres por
meio das ideias, encontra-se inter-relacionada com as demais ideias metafísicas -
tornando-se inteligível no âmbito da razão, e sustentando o restante do mundo ideal,
numa função de Deus. A ideia de Bem é transcendente e divinal. Não à toa, ao longo da
História do Pensamento Ocidental, especialmente na Idade Média, o Bem chega a tomar
o lugar de Deus, assumindo todas as consequências de um mundo dual, real, espiritual e
eminentemente moral.
Quanto à ideia do Bom, devemos demarcar uma distinção essencial entre ser bom,
e ser bom moralmente. Tanto um cavalo quanto um vinho podem ser bons, mas não
podem ser moralmente bons. E tanto um médico quanto um músico podem ser
habilidosos em suas respectivas artes, sem que isso signifique que eles sejam
moralmente bons. A bondade inteligível deve ser medida segundo parâmetros morais. Desse
modo, entendemos a comunicação entre a ideia do Bom e a ideia do Bem, no sentido de tornar-
se metafísica. Para o idealismo platônico, tem valor moral a sociedade que se funda em torno de
critérios metafísicos.
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menos duas morais distintas. Elas interpretam, avaliam e postulam juízos de valor
acerca de si e da vida, consistindo, assim, cada uma delas, num tipo de moral específica:
a “moral de senhores” e a “moral dos escravos”. Segundo Nietzsche, através do
Cristianismo operou-se uma rebelião escrava da moral, ou seja, os valores nobres. A
partir da investigação do par de opostos “bom” e “mau” em diversas línguas, Nietzsche
chega a elaborar um pensamento muito fino acerca da ética envolvida no par de morais
que está propondo: a do “senhor” e a do “escravo”. O ponto de partida está no
ressentimento do homem de rebanho, o escravo, que diz, antes de tudo, um grande
“não” ao que lhe é exterior, ao seu outro; enquanto que o homem nobre, o senhor, cria a
partir de um grande “sim” a si mesmo.
9
NIETZSCHE, F. Genealogia da Moral 2011, p.39.
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personagem de Jesus, enquanto traz à luz uma nova versão do sacerdote Paulo, aquele
cheio de ódio, aquele tomado pelo poder. Paulo, enquanto judeu, teve sua oportunidade
de se vingar da lei que o frustrava, inventando seu próprio Deus e construindo seus
próprios valores. Na ideia de Nietzsche, o interesse de Paulo era exercer domínio sobre
os cristãos através das normas morais.
Crítico às regras e preceitos morais de sua época, Jesus foi aquele que,
segundo Nietzsche, afirmou e amou tudo e a todos que se lhe cruzaram o caminho,
chegando a amar sua morte de cruz, e mesmo a seus assassinos. Nas palavras de
Nietzsche, esta uma morte a mais “ignominiosa” e “inesperada”, a morte na cruz. Por
isso Nietzsche designa Jesus como um “Espírito Livre”, que tem por mérito ser um
liberto da tradição.
A única verdadeira crítica que Nietzsche faz a Jesus está em sua compaixão
e no amor aos fracassados, que com isso nega-lhes a oportunidade de ultrapassar o
fracasso e tornar-se forte em si. Retomando sua tese da moral dos fortes, a interpretação
nietzschiana dirá ter sido Jesus aquele que atentou contra a lei natural da força,
culpabilizando os nobres naquilo que eles tenham de mais alto e significativo,
diminuindo-os aos olhos de Deus, do mesmo modo que tenha exaltado de modo inverso
os pobres, os fracassados, os escravos do espírito. “Pois mais fácil é passar um camelo
pelo fundo de uma agulha, do que entrar um rico no reino de Deus” (Lucas: 24-25).
Desse modo, pode-se afirmar com Nietzsche que o grande triunfo dos impotentes sobre
a aristocracia guerreira deu-se através do “amor” de Cristo.
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NIETZSCHE, F. O Nascimento da Tragédia, 1992, p.41.
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Mas, a fim de não cair num círculo vicioso, restará a Nietzsche adotar um
critério de avaliação que não possa ser avaliado, no caso, a vida. O filósofo acredita que
o valor da vida não pode ser avaliado. Quando toma-se a vida por parâmetro dos
valores, é como vontade de poder que se lhe compreenderá - como um valor imanente,
vivido aqui e agora.
Após a morte de Deus, Nietzsche irá pregar a vinda dos criadores, aqueles
que quebrarão as velhas tábuas dos valores e se sobressairão sobre o niilismo. Assim,
completamente necessária ao super-homem é a morte do homem. Zaratustra ama
aqueles que dão causa ao ocaso do homem, pois daí surgirá uma estrela brilhante. Nesse
sentido, é suprimindo-se o além e voltando-se para a terra que entender-se-á o real
significado de eternidade.
“Outrora, o delito contra Deus era o maior dos delitos; mas Deus morreu e,
assim, morreram também os delinquentes dessa espécie. O mais terrível,
agora, é delinquir contra a terra e atribuir mais valor às entranhas do
imperscrutável do que ao sentido da terra!” 12
existe já há algun séculos, tempo esse do colapso da Idade Clássica e o começo da Idade
Moderna.
políticas e com fins humanitários. A “Teologia da Morte de Deus” reflete uma situação
cristã no bojo de uma sociedade profana e secularizada.
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DAWKINS, R. Deus, um Delírio. Companhia das Letras, 2007.
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7) REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: