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Aula 05
Pessoas, Conhecimento e Velocidade
Objetivos Específicos
• Conhecer os conceitos de pessoas, conhecimento e velocidade conforme o
processo enxuto de software.
Temas
Introdução
1 Velocidade
2 Pessoas
3 Conhecimento
Considerações finais
Referências
Professor
André Filipe de Moraes Batista
Administração da Solução
Introdução
A busca por uma entrega cada vez mais rápida de software nos faz produzir um produto
aquém das necessidades de nossos clientes e, então, ao invés de produzirmos valor, estamos
gerando decepções e frustrações, além de passar a imagem de baixa qualidade do trabalho
de desenvolvimento.
Normalmente, a velocidade é entendida como entregar mais rápido. De fato é, mas não
no conceito de uma rapidez desconsidere a qualidade. Pelo contrário, queremos ser mais
velozes por meio da redução de desperdícios e na adição constante da qualidade.
Nessa busca por velocidade e qualidade, temos que nos concentrar nas pessoas. Elas
são essenciais e quando atuam em equipe podemos ter um processo muito mais estruturado
para o desenvolvimento de nossos softwares.
Portanto, nesta aula abordaremos esses três elementos e como gerenciá-los na busca
por um software de qualidade e que atenda às necessidades de nossos clientes.
Bons estudos!
1 Velocidade
Podemos definir o conceito de velocidade na metodologia de desenvolvimento lean
de uma maneira bem direta: velocidade é a ausência de desperdício (POPPENDIECK;
POPPENDIECK, 2010).
O que essa frase quer nos dizer? A ideia por trás da frase remete a um dos princípios do
desenvolvimento lean que prega o trabalho voltado à eliminação do desperdício. Logo, se
nossas etapas são voltadas para eliminar o desperdício, empregaremos uma porção maior do
nosso tempo na adição de valor. Logo, nossa entrega de valor será mais rápida.
Suponha que você possua três tarefas a serem realizadas: A, B e C. Cada tarefa dura uma
semana para ser concluída. Se você realizar uma tarefa por vez, ao final da primeira semana
a tarefa A será concluída e começará a gerar valor. No começo da segunda semana, a tarefa
B também estará gerando valor e, ao final da terceira semana, você terá concluído as três
tarefas e terá gerado bastante valor ao projeto.
Porém, se você decide trabalhar nas três tarefas ao mesmo tempo, você pode então
dividir cada tarefa em várias partes, por exemplo, mais uma mínima quantidade de tempo
necessária para a troca de tarefas. Nesse cenário, nenhuma delas estará concluída no final
das três semanas. Além disso, você deixou de agregar valor ao projeto, uma vez que elas
poderiam ter contribuído para as atividades do cliente assim que ficassem prontas. A Figura
2 apresenta uma visão do desperdício gerado na troca de tarefas.
Atrasos: esperar pela disponibilidade de pessoas que estão trabalhando em outras áreas é
uma grande causa do desperdício proveniente do atraso. Equipes completas, compartilhando
a mesma sala e realizando interações curtas com feedback, frequentemente podem diminuir
os atrasos, ao mesmo tempo em que aumentam a qualidade das decisões;
Defeitos: Uma equipe boa e ágil tem uma taxa de defeitos extremamente baixa, pois o
foco primário está em produzir um código à prova de falhas e em tornar os defeitos algo raro
(POPPENDIECK; POPPENDIECK, 2010, p. 100). O foco secundário está em achar defeitos o mais
cedo possível, e procurar formas de impedir que aquele tipo de defeito ocorra novamente.
• Elimina erros de software, pois não se consegue lançar uma nova versão de software
enquanto não corrigi-los;
• Corrige o processo de instalação, pois, se você tiver que fazer mais de 45 instalações do
software em um ano e estas instalações forem difíceis, você não conseguirá corrigi-las;
Se estamos nos referindo à velocidade, logo, vamos falar de um termo universal que sempre
está relacionado a ela: o tempo. Para Poppendieck e Poppendieck (2010, p. 115), tudo o que
dá errado em um processo acaba sendo um atraso de tempo. Por exemplo: defeitos aumentam
o atraso; complexidade retarda as coisas; baixa produtividade aparece tomando mais tempo;
intolerância à mudança faz as coisas irem muito devagar; construir a coisa errada adiciona um
enorme atraso; coisas demais no processo criam filas e geram, portanto, retardo.
• construir a coisa errada adiciona um enorme atraso. Coisas demais no processo criam
filas e geram, portanto, retardo.
A busca por entregas mais rápidas de um software, quando não inseridas em um processo
maduro e voltado para a entrega de valor, pode gerar o que Vazquez, Albert e Simões (2013)
definem como a dinâmica do pânico, exibida na Figura 4. É um círculo virtuoso que resulta
em um atraso da entrega, mas com sérias consequências, tais como maior número de erros,
menor controle de qualidade, desgaste da equipe etc.
Por que então dizemos que com iterações menores entregamos mais rapidamente? A
resposta a essa questão pode estar relacionada a um conceito muito utilizado para o estudo
de filas de espera: a teoria das filas (POPPENDIECK; POPPENDIECK, 2010).
É fato que boa parte das organizações que desenvolvem software possuem diversas filas
no desenvolvimento, tais como listas de requisições de clientes e listas de defeitos que se
pretende corrigir.
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Proveniente da teoria de fila, podemos fazer uso da Lei de Little para nos auxiliar na
gestão dessas filas. A Lei de Little diz que, em um sistema estável, a quantidade média de
tempo que algo leva para atravessar um processo é igual ao número de coisas no processo
dividido por sua taxa de conclusão média. A Lei de Little pode auxiliar uma organização a
aumentar a velocidade de seu processo de desenvolvimento. Para isso, a organização deve
reduzir o tempo de ciclo (POPPENDIECK; POPPENDIECK, 2010).
Unindo a Lei de Little com os conceitos lean, podemos definir que o tempo de ciclo é
dado por (POPPENDIECK; POPPENDIECK, 2010, p. 118):
Coisas no processo
Tempo de ciclo =
Taxa média de conclusão
Uma forma de reduzir o tempo de ciclo é então fazer as coisas mais depressa, isto é,
aumentar a taxa média de conclusão. Isso geralmente significa gastar mais dinheiro. Se
não temos dinheiro para gastar com isto, a outra maneira é reduzir o número de coisas no
processo.
Veja que a Lei de Little é definida para sistemas estáveis, isto é, para sistemas nos
quais a taxa de chegada de coisas a serem feitas e a taxa média de conclusão destas se
mantêm estáveis.
A Figura 5 nos apresenta como a teoria de filas pode ser utilizada para aumentar a
velocidade na entrega de valor. Lotes grandes permitem uma alta variação no tempo de ciclo,
em função de defeitos, complexidade etc. Porém, com lotes pequenos temos uma baixa
variação e, consequentemente, o tempo de ciclo pode ser menor, tornando a entrega de
valor mais veloz. Note também que não podemos saturar a utilização de nossos recursos. Pelo
gráfico, a partir de 80% de utilização dos recursos, o tempo de ciclo começa a aumentar. O
ideal defendido pela metodologia lean é atribuir trabalho em pequenas cargas e se concentrar
no fluxo de entrega.
Podemos, então, aumentar a velocidade de nossas entregas de valor por meio de alguns
princípios da teoria de filas, quais sejam (POPPENDIECK; POPPENDIECK, 2010, p. 120):
6. Use um cronograma puxado, de modo que cada etapa produza apenas aquilo
solicitado pela etapa posterior.
2 Pessoas
As pessoas formam um dos princípios mais fortes do desenvolvimento lean de software.
De acordo com Poppendieck e Poppendieck (2010 p. 130), lean é um sistema de gerência
que cria pessoas pensantes e comprometidas em todos os níveis da organização e, mais
particularmente, na linha de frente. Para os autores, se implementarmos todos os princípios
lean exceto um - o respeito pelas pessoas - colheremos apenas sombras de vantagens
potenciais que o lean pode proporcionar.
Muitas das boas práticas preceituadas pela metodologia lean para o respeito das pessoas
são provenientes dos princípios estabelecidos pelo estatístico norte-americano W. Edwards
Deming, inventor do ciclo (PDCA - Plan, Do, Check, Act).
Um dos princípios estabelecidos por Deming é que números não contam a história
toda e, quando se trata de pessoas, as coisas que fazem a diferença são perícia, orgulho,
competência, confiança e cooperação (apud POPPENDIECK; POPPENDIECK, 2010, p. 135).
Para Deming (2000 apud Poppendieck e Poppendieck, 2010, p. 136), a qualidade pode
ser alcançada por meio de 14 pontos de gerenciamento conforme a seguir. Note como seus
princípios estão voltados às pessoas. O autor chega a citar até um termo normalmente dito
como sucesso para gestão de pessoas: trabalho em equipe. Mas, o que vem ser uma equipe?
2. O mundo mudou, e gerentes precisam adotar uma nova forma de pensar. Atrasos,
enganos, defeitos de fabricação e serviços de má qualidade não são mais aceitáveis.
4. Não escolha fornecedores apenas com base na oferta mais baixa. Minimize o custo
total estabelecendo relacionamentos de longo prazo com fornecedores que se
baseiem na lealdade e na confiança.
8. Afaste o medo. As pessoas precisam se sentir seguras para fazerem bem seu trabalho.
Nunca deve haver um conflito entre fazer o que é melhor para a empresa e cumprir
as expectativas do trabalho imediato de uma pessoa.
10. Pare de usar slogans, exortação e metas. É o sistema, não os trabalhos, que cria defeitos e
baixa produtividade. Exortações não mudam o sistema; essa é responsabilidade do gerente.
11. Elimine cotas numéricas para os trabalhadores e objetivos numéricos para pessoas na
gerência. Elimine prazos arbitrários para equipes de desenvolvimento.
12. Elimine barreiras que roubam das pessoas o seu direito ao orgulho pelo trabalho realizado.
14. Tome as medidas para realizar a transformação. Uma ótima equipe de gerência deve
conduzir o esforço com ação, não apenas com apoio.
Pessoas que trabalham lado a lado não são necessariamente uma equipe, mesmo quando
somam seus esforços individuais em um resultado coletivo. Um grupo de trabalho é considerado
uma equipe, ou um time, quando os membros mantêm-se mutuamente responsáveis para
produzir um “produto de trabalho coletivo” (POPPENDIECK; POPPENDIECK, 2010).
Isto é, quando uma organização coloca pessoas para trabalhem juntas, isto não faz delas
uma equipe. Aquilo que transforma um grupo em uma equipe, de acordo com o Poppendieck
e Poppendieck (2010, p. 139), é o compromisso dos membros de disponibilizarem suas várias
habilidades e trabalharem juntos para um propósito comum.
É importante ter em mente que o processo de respeito pelas pessoas constrói equipes
nas quais cada pessoa é antes de tudo um membro da equipe e, depois um especialista em
alguma disciplina em particular. Ninguém, porém, na equipe ganha crédito por terminar até
que todo o trabalho que a equipe se comprometeu a fazer seja finalizado (POPPENDIECK;
POPPENDIECK, 2010, p. 143).
Se falamos de equipe, temos que falar também de liderança. Um dos princípios que o
lean adotou da Toyota é que o trabalho em equipe é essencial, mas sempre alguém precisa
ser responsável. Para o desenvolvimento de software um líder pode auxiliar proporcionando
um profundo conhecimento do que o mercado precisa e das tecnologias que possam atender
a essa necessidade.
3 Conhecimento
Estamos vivendo na era do conhecimento. Com a explosão no volume de dados, a maior
riqueza para uma organização é o conhecimento. De nada adianta possuir um grande volume
de dados, sem que possamos compreendê-los e torná-los úteis.
Para criar conhecimento, temos que pensar não no processo de escrita, mas sobre as
pessoas que usarão o que está sendo escrito. Uma ferramenta interessante proveniente
da Toyota é o relatório A3 (POPPENDIECK; POPPENDIECK, 2010, p. 168). A ideia consiste em
condensar o pensamento complexo em uma única folha de papel A3. Isso faz com que as
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pessoas filtrem e refinem seus pensamentos, de tal forma que qualquer um que leia o relatório
A3 tenha todas as perguntas respondidas em uma única folha de papel (POPPENDIECK;
POPPENDIECK, 2010).
Vale ressaltar que, nessa figura, o mais importante é a disposição do esquema no A3.
Amostra de Relatório em A3
Planejar Desempenhar, Checar, Atuar
( Plan ) ( Do, Checar, Atuar )
• Uma imagem vale por mil palavras. Utilize figuras, gráficos e tabelas;
Considerações finais
Então, vimos que velocidade, pessoas e conhecimento são elementos essenciais para a
busca da qualidade no processo de desenvolvimento de software.
Na gestão de pessoas, é fundamental que estas atuem como uma equipe e não um
grupo. Além disso, o conhecimento é fundamental. Todo processo produz conhecimentos
e uma organização necessita mapear tal conhecimento. Os artefatos de software de nada
servem se não representarem o conhecimento gerado ao longo do processo. O relatório A3,
por sua vez, é uma das possíveis formas de se capturar esse conhecimento.
Referências
LEAN ENTERPRISE INSTITUTE. The A3 Creator App. 2015. Disponível em: < http://www.lean.org/
a3app>. Acesso em: 26 abr. 2015.
MARTIN, Karen. A3 Management: Lean Enterprise Program. UCSD Extension, 2011. Disponível
em: <http://pt.slideshare.net/KarenMartinGroup/ucsd-class-a3-management-and-root-cause-
analysis>. Acesso em: 11 abr. 2015.
VAZQUEZ, Carlos Eduardo; SIMÕES, Guilherme Siqueira; ALBERT, Renato Machado. Análise de
pontos de função: medição, estimativas e gerenciamento de projetos de software. São Paulo:
Érica, 2013.