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Sumário
Capítulo 1 - 1
Capítulo 2 - 29
Preservação da Saúde Mental do Psicólogo Hospitalar
Aidyl M.de Queiroz Pérez-Ramos
Capítulo 3 - 61
E o Tratamento se Inicia na Sala de Espera...
Silvia Martins lvancko
Capítulo 4 - 85
A Dor no Estágio Avançado das Doenças
Maria Margarida Mi. de Carvalho— Magui
Capítulo 5 - 103
Tratamento Cognitivo-Comportamental do Alcoolismo
Gildo Angelotti
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Capítulo 6 -135
A Racionalidade Médica Ocidental e a Negação da Morte, do Riso, do
Demasiadamente Humano
Capítulo 1
Introdução
Breve Reflexão
Sempre é bom lembrar que o século XX apresentou, desde sua metade até o
final, um teor de desenvolvimento tecnológico que supera todos os períodos da
história. Assim, qualquer previsão que se faça sobre o novo século que estamos
vivendo é, no mínimo, ingênua, pois a velocidade com que as transformações e
avanços tecnológicos se sucedem superam as mais otimistas das expectativas. E,
no campo do conhecimento envolvendo o comportamento humano, as novas
descobertas da fisiologia estão deixando muitas das teorizações efetivadas na
tentativa de compreensão do homem contemporâneo. E, de maneira estonteante,
assistimos, igualmente, a uma sucessão indescritível de necessidades que são
impostas e que de alguma maneira acabam se transformando em instrumento de
pressão gerador de muito estresse emocional. Ou é possível negar-se o sofrimento
gerado pelo consumismo de nossa sociedade em nossos adolescentes? Ou ainda a
necessidade que se estabelece de consumos intermitentes dos mais diferentes
objetos impostos pela tecnologia moderna? Basta se considerar, por exemplo, o
paradoxo existente em nossa sociedade, na qual, ao lado de automóveis e celulares
importados, assistimos a um sem-número de pessoas lançadas na sarjeta sem teto
ou qualquer tipo de proteção. Falamos em uma nova sociedade e convivemos com
situações medievais; falamos de teorizações libertárias ao mesmo tempo que
estamos submissos à cultura estadunidense; sonhamos com uma realidade
decididamente brasileira ao mesmo tempo que vivemos o american way of life.
Somos uma realidade que se mostra cada vez mais frágil e cada vez mais
dependente de modelos teóricos importados de outros centros acadêmicos. Não
temos como construir uma nova realidade teórica enquanto não voltarmos as nossas
preocupações unicamente para a nossa historicidade e para a peculiaridade de
nossa população. O simples fato de utilizarmos conceituações teóricas que foram
construídas diante de realidades estruturais sem a menor semelhança com a nossa
já é indício de que a reversão desse desvio conceitual implica a necessidade de
grandes rupturas para que possamos construir uma psicologia decididamente
nacional. É dizer que não podemos continuar a utilizar elementos conceituais
estanques a nossa realidade, e que tampouco consideram a nossa especificidade.
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A psicologia hospitalar tem seu início em uma data que se configura até
mesmo como precedente do próprio reconhecimento da psicologia enquanto
profissão. No entanto, ela ganha um dimensionamento de especialização e mesmo
de uma nova configuração da realidade do psicólogo clínico quando este se vê
asfixiado e sem espaço para se desenvolver profissionalmente. É somente quando o
modelo clínico começa a eliminar os excedentes que a busca da psicologia
hospitalar ganha intensidade e adquire formas específicas de especialização para
delimitarem-se modelos de intervenção. É no momento em que o psicólogo clínico
se vê sem condições de exercer sua atividade em seu próprio consultório que o
hospital surge como sendo o local onde todo o seu potencial clínico poderá ganhar
consistência e configuração. E isso sem contarmos com os inúmeros psicólogos que
buscam o hospital como forma de compensar possíveis rejeições nos vestibulares
de medicina. Assim, a psicologia hospitalar será buscada como compensação à
frustração do vestibular, sendo, dessa maneira, nada mais que uma mera forma de
reparação emocional de desatinos trazidos pela sua inoperância acadêmica. Temos
então duas maneiras distintas de encarar o surgimento da psicologia hospitalar
como alternativa de trabalho do psicólogo contemporâneo. A primeira delas nos
remete ao total estrangulamento do mercado de trabalho que o obrigou a procurar
por novos espaços de intervenção psicológica, e a segunda a que nos remete a uma
busca que procura compensar a reprovação do vestibular de medicina. A
necessidade de atendimento psicológico do paciente hospitalizado, que é
indiscutível e está acima de qualquer balizamento teórico-filosófico que se queira
fazer, surge como uma pequena variável delineada ao longo do caminho. As
verdadeiras razões da busca e do próprio crescimento da psicologia hospitalar são
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enfatizar ser preciso que essas conquistas representem uma nova dinâmica no
quesito de necessidades de intervenção psicológica, e não apenas um mero
acoplamento determinado pelas nossas necessidades mercadológicas. É na
psicologia que se depositam as esperanças de construção de uma sociedade mais
saudável do ponto de vista emocional, derivando daí, inclusive, uma nova
configuração da saúde física em sua totalidade.
nesse mesmo caminho com a busca cada vez mais delineada da necessidade de
um comprometimento da psicologia com as reais necessidades da população.
A rapidez com que as informações circulam pela Internet, exigindo que todos
aqueles que minimamente tenham algum compromisso acadêmico estejam
continuamente ligados a essa rede, é indício da necessidade da constante
atualização exigida na realidade contemporânea. Basta se comparar, por exemplo,
que apenas há uma década para se fazer uma pesquisa acadêmica era necessário
uma série de visitas a várias bibliotecas nos mais diferentes cantos da cidade, algo
totalmente distante da atualidade quando, com a facilidade proporcionada pela
Internet, a partir de simples comandos de botões temos todo o panorama mundial de
pesquisas e publicações diante de nós na tela do computador. E na medida em que
esses avanços são incorporados ao nosso cotidiano simultaneamente aos seus
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seu bojo um pouco do que foi discutido nesses eventos. Em cada novo livro temos
um pouco da fragrância que restou de cada encontro. É importante ainda destacar
que, segundo levantamento dos conselhos regionais, é uma das abrangências da
psicologia da saúde, a psicologia hospitalar, a área que mais cresce em termos de
procura pelos acadêmicos em sua busca de espaços de atuação.
evidente que a empresa hospitalar não pretende modificar essa estrutura na medida
em que tem um trabalho altamente especializado e totalmente sem ônus. As
unidades hospitalares que geralmente possuem psicólogos contratados são aquelas
pertencentes à rede pública de saúde e também aquelas que fazem parte da
estrutura acadêmica de algumas universidades. Ainda assim, no entanto, vamos
encontrar, mesmo nesse segmento, hospitais que têm sua estrutura de
funcionamento de psicologia hospitalar totalmente estruturada nos cursos de
especialização em psicologia hospitalar mantidos por essas instituições. Entretanto,
é necessário que se ressalte ainda que essa estrutura de estágios que praticamente
viabiliza uma mão-de-obra especializada sem nenhuma remuneração não é
“privilégio” apenas da psicologia hospitalar. Vamos encontrar, dessa maneira, em
quase todos os segmentos universitários esse mesmo tipo de exploração sem que
nenhum organismo competente tome alguma providência para inibir esse abuso.
para poder alterá-los. Novos aspectos que se formam em uma nova forma de
concepção de valores e nos quais a psicologia estará presente fazendo-se
catalisadora e contribuindo para que os avanços das diversas áreas do
conhecimento direcionem seus avanços para a verdadeira humanização da
condição humana, tão aviltada e acachapada pelo tecnicismo que assolapa a
dignidade do homem contemporâneo de modo tão impiedoso e cruel. E embora seja
fato irreversível que os avanços tecnológicos estão determinando até mesmo
diferentes configurações inclusive nas relações interpessoais, é mister que os
avanços da psicologia caminhem no sentido de fazer com que não percamos ainda
mais a nossa característica humana diante desses avanços. Assim, estaremos de
fato caminhando para a construção de paradigmas teóricos que façam da psicologia
um instrumento eficaz em nossa busca libertária. Outras vertentes da psicologia da
saúde que trazem em seu bojo avanços da medicina, como a neuropsicologia,
trazem diferentes desdobramentos para o verdadeiro alcance do raio de ação da
psicologia.
Referências Bibliográficas
ANGERAMI, V. A. (org.). Psicologia da Saúde. São Paulo: Pioneira Thomson
Learning, 2003.
Capítulo 2
Apenas por uma visão sumária do que se tem escrito sobre os profissionais que
trabalham nas instituições hospitalares, pode-se deduzir que o eixo das atenções à
sua saúde mental vem sendo dirigido aos médicos e ao corpo de enfermeiros,
embora existam nesse contexto psicólogos, assistentes sociais e educadores, entre
outros. Temas de natureza psicológica constituem assuntos frequentemente
referidos na bibliografia especializada, não só em relação à clientela em
atendimento, mas também aos profissionais citados. Com respeito a estes últimos,
são priorizados o seu relacionamento com o usuário e com demais funcionários, os
valores éticos em sua defesa e os cuidados com sua saúde mental, incluindo o
desgaste que lhes causa o trabalho no hospital, em atenção especial o burnout
(estado de exaustão), a que estão sujeitos, entre outros fatores que podem
estender-se também aos demais membros da equipe clínica.
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tristeza e angústia perante a luta entre a vida e a morte dos pacientes atendidos
nesses serviços. Situações que, mais uma vez, clamam por um apoio efetivo a
esses profissionais.
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A situação de violência, conforme reitera o autor referido, tem sido mais intensa nos
grandes hospitais, onde é livre a movimentação das pessoas, há grande volume de
população a ser atendida, com extensas filas de espera, frequentemente com
insuficiente dotação de pessoal, entre outras circunstâncias que colocam os
funcionários e os assistidos em estado de tensão e de perigo iminente, aumentando,
por conseguinte, a interferência de outros agentes estressantes.
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importante considerar que tais processos se desenvolvem tão rapidamente que nem
sempre é possível diferenciá-los.
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Quadro 1 – Distribuição Individual das Médias das Respostas dos Sujeitos nas
Dimensões de confronto e de Evasão
Inventario sobre superação de Stress Profissional (ISSP)
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Questões Metodológicas
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Com respeito aos instrumentos de coleta de dados, vários critérios são utilizados
para a seleção, adaptação e mesmo para sua elaboração, se for necessário. Citam-
se os considerados mais importantes:
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anteriormente sobre o tema, realizada por Rego (2000), sob orientação de Juan
Pérez-Ramos. Foi elaborado baseando-se em um levantamento dos principais
fatores estressantes que sentiam os psicólogos, atuando nos contextos citados, bem
como dos instrumentos disponíveis para avaliar tais agentes no ambiente de
trabalho. Serviram de exemplos, neste sentido, o Scope-stress de Vasconceilos
(Chaves, 1994) e o Índice de Stress de Gmelch e colaboradores, adaptado por Juan
Pérez-Ramos (Schimidt, 1992). Sua validação foi assegurada não somente pela
realização de um estudo piloto, mas também pela pesquisa citada, efetuada por
Rego (2000). Nesta se comprovou que o instrumento em referência mostrou-se
adequado à população estudada e metodologicamente consistente.
Este instrumento, como pode ser observado no Anexo 1, consta de duas partes: a
primeira, referente aos dados sociodemográficas que investigam as características
individuais e a situação profissional, de modo a configurar um perfil do psicólogo
participante; a segunda,
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constituída por 56 afirmações com respostas tipo Likert, subdivididas em sete blocos
relativos às fontes de stress, de acordo com as categorias apresentadas na Tabela
1, com os itens do questionário a elas referentes.
CATEGORIAS ITENS
(1) Desempenho profissional 1a8
(2) Inter-relacionamento com a equipe multiprofissional 9 a 16
(3) Desempenho de papéis 17 a 24
(4) Reconhecimento/compensação profissional 25 a 32
(5) Perspectivas de progresso 33 a 40
(6) Estrutura e dinâmica organizacional 41 a 48
(7) Relacionamento com o cliente e seus familiares 49 a 56
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pesquisa realizada por Cunha (2000),já referida. Compõe-se, além das instruções
para a sua aplicação, de dois blocos: um sobre os dados pessoais e profissionais e
outro que é compreendido de 48 afirmações, com respostas tipo Likert, destinadas a
avaliar as tentativas de coping.
Os dados pessoais a serem obtidos pelo primeiro bloco compreendem: sexo, idade,
estado civil e número de filhos, e os de natureza profissional, tipo de hospital, regime
de trabalho, situação funcional, tempo de trabalho, setor de atendimento e nível
hierárquico. Os itens que compõem o segundo bloco destinam-se à avaliação das
dimensões de confronto e de evasão, em suas categorias (Tabela 2). São
distribuídos em forma simulada para evitarem-se respostas influenciadas pela
referida classificação.
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CONFRONTO
CATEGORIAS ITENS
(1) Raciocínio lógico Tentativas cognitivas para compreender e preparar-se
mentalmente para enfrentar essa situação
Esforços cognitivas de construir ou reestruturar
(2) Reavaliação positiva mentalmente uma situação estressante aceitando sua
realidade positivamente
(3) Orientação/apoio Ações comportamentais para a busca de informações
orientação ou ajuda.
(4) Tomada de decisão Ações comportamentais para tomar decisões e atuar
diretamente na situações estressante
EVASÃO
(5) Racionalização evasiva Esforços cognitivos para evitar pensamentos
realísticos sobre a situação estressante.
(6) Aceitação resignada Tentativas cognitivas para aceitar, com resignação a
situação estressante.
(7) Alternativas compensatórias Ações comportamentais para criar, em substituição,
novas fontes de satisfação.
Esforços comportamentais para reduzir a situação
(8) Extravasamento emocional estressante mediante a expressão de emoções
intensas e depreciativas.
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Para avaliação dos resultados obtidos pela prova, relacionam-se os dados obtidos
em ambos os blocos, cuja pertinência foi comprovada na pesquisa de Cunha (2000).
Considerações Gerais
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Nesses cursos são também propícios temas sobre a análise das condições do
ambiente hospitalar que possam compensar a influência negativa dos agentes
estressores existentes, como seriam a valorização das funções do psicólogo na
equipe clínica, o acolhimento do mesmo nesse contexto, a consideração que possa
receber de seus companheiros de trabalho e a clara identificação do seu rol
profissional, entre outros.
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Instruções
Início da imagem
Fim da imagem
Fim da descrição
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Marque com um X, nos parênteses correspondentes, o número indicativo que lhe for
aplicável.
1.1 Idade
1.( )até 20 anos
2.( )de 21 a 25anos
3.( )de 26 a 30 anos
4.( )de 31 a 35 anos
5.( )de 36 a 40 anos
6.( )de 41 a 45 anos
7.( )de 46 a 50 anos
8.( )de 51 a 55 anos
9.( )de 56 a 60 anos
10.( ) mais de 60 anos
1.2 Sexo
1. ( ) masculino
2. ( ) feminino
1.4 Filhos
0.( )nenhum
1.( )1 filho
2.( )2filhos
3.( )3filhos
4.( )4filhos
5. ( ) 5 filhos ou mais
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1.( )de6al0anos
2.( )dellal5anos
3.( )del6a2oanos
4.( )de2la25anos
5.( )de26a3oanos
6.( ) mais de3l anos
1.7 Tempo de serviço (instituição atual)
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1. Fico tenso (a) no desempenho do meu trabalho pelas constantes interrupções dos
outros.
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3 – às vezes
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5 – sempre
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7. Sinto-me aborrecido (a) com o desinteresse dos outros profissionais pelo meu
desempenho,
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3 – às vezes
4 - frequentemente
5 – sempre
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11. Fico confuso (a) no meu trabalho porque verifico que minhas funções estão
insuficientemente definidas.
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13. Sinto-me perdido (a) no meu trabalho por não estar seguro(a) de minha posição
na estrutura da instituição
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14. Meu prestígio profissional fica prejudicado com a imagem negativa que os outros
têm da instituição em que atuo.
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17. A natureza dos serviços que são prestados pela instituição cria-me nervosismo e
desgaste nas minhas atividades profissionais.
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18. A falta de linhas de supervisão bem definidas atrapalha minha rotina de trabalho.
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21. A experiência que estou acumulando no trabalho atual limita minhas aspirações
no progresso profissional.
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1 – Nunca
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4 - frequentemente
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24. Ao perceber que minha categoria profissional vem perdendo prestígio, sinto-me
diminuído (a) nas minhas aspirações.
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25. A falta de apoio no trabalho que exerço, para desenvolver minhas capacidades e
ideias, empobrece minhas perspectivas profissionais.
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28. Os conflitos e ciúmes entre colegas no meu serviço entorpecem meu progresso
profissional.
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1 – Nunca
2 – raramente
3 – às vezes
4 - frequentemente
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1 – Nunca
2 – raramente
3 – às vezes
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5 – sempre
1 – Nunca
2 – raramente
3 – às vezes
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5 – sempre
33. Fico nervoso (a) com os conflitos, de relacionamento entre as pessoas que são
atendidas na instituição e os profissionais desta.
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2 – raramente
3 – às vezes
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5 – sempre
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2 – raramente
3 – às vezes
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35. Sinto-me tenso (a) com o excesso de atendimentos que impedem o bom
relacionamento com os atendidos.
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3 – às vezes
4 - frequentemente
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37. Fico preocupado (a) porque certos colegas transgridem os princípios éticos no
trabalho.
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1 – Nunca
2 – raramente
3 – às vezes
4 - frequentemente
5 – sempre
38. A falta de lealdade e cooperação dos meus colegas para comigo incide
negativamente no meu trabalho.
1 – Nunca
2 – raramente
3 – às vezes
4 - frequentemente
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39. Sinto-me preocupado (a) com a falta do conceito de equipe existente no meu
serviço.
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2 – raramente
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5 – sempre
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1 – Nunca
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3 – às vezes
4 - frequentemente
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42. É frustrante para mim perceber a escassa importância que a instituição dispensa
ao meu desempenho no trabalho.
1 – Nunca
2 – raramente
3 – às vezes
4 - frequentemente
5 – sempre
43. A insegurança que tenho em conservar meu emprego atual afeta negativamente
meu estado de ânimo.
1 – Nunca
2 – raramente
3 – às vezes
4 - frequentemente
5 – sempre
44. Fico desanimado (a) ao verificar que as condições de minha instituição não
oferecem melhores possibilidades de crescimento profissional.
1 – Nunca
2 – raramente
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3 – às vezes
4 - frequentemente
5 – sempre
45. Vejo-me obrigado (a) a continuar no meu trabalho atual pela falta de outras
oportunidades de emprego.
1 – Nunca
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3 – às vezes
4 - frequentemente
5 – sempre
46. E conflitante para mim sentir que a estrutura de minha organização não oferece
oportunidades de promoção.
1 – Nunca
2 – raramente
3 – às vezes
4 - frequentemente
5 – sempre
1 – Nunca
2 – raramente
3 – às vezes
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5 – sempre
48. Sinto que não sou considerado (a) nas decisões de importância para meu
trabalho.
1 – Nunca
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2 – raramente
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1 – Nunca
2 – raramente
3 – às vezes
4 - frequentemente
5 – sempre
50. É frustrante o fato de que a instituição em que trabalho não facilite a minha
participação em eventos que visem ao crescimento profissional.
1 – Nunca
2 – raramente
3 – às vezes
4 - frequentemente
5 – sempre
Comentários:
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Referências Bibliográficas
JAMAL, M. e BABA, V. V. Shiftwork and department. Type related to job stress work
attitudes and behavioral intentions. A study of nurses. Journal of Organizational
Behavior, 12(5), 449-64, 1992.
Página 56
Página 57
De um aniversário.
Trinta e um anos de muita luz
Página 58
Página 59
Página 60 – Em branco
Página 61
Capítulo 3
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A cirurgia vai dar certo? Será que vou retirar os pontos? E o dreno? Terei que fazer
novos exames? Será que estou curado? E se tiver uma recidiva? Metástase? Por
que a quimioterapia? Terei que fazer radioterapia?
Vou me curar? E se não der certo? Que medo!”
É bem verdade que este fato ainda ocorre, com muito menos freqüência do que há
poucos anos, mas no momento em que se ouve o diagnóstico, estes “fantasmas”
nos invadem sem nos pedir licença.
Esta cena é muito comum em clínicas e hospitais oncológicos, todos já vimos ou até
mesmo já vivemos cenas como esta.
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O clima fica tenso e constrangedor, mas quem poderia esperar outra coisa diante
dessa situação?
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A espera é um dos momentos mais difíceis para o paciente, inclusive para seu
acompanhante e familiares. É o momento de “suspensão” quando não há um
caminho para dar vazão às emoções. Não há direção para se prepara todas as
possibilidades são viáveis e o paciente imagina tudo o que pode acontecer, mas não
pode agir.
Morte? Dor? Perda dos cabelos? Perda do emprego? Como fica a família?
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Normalmente esses pacientes vivem essas emoções de forma solitária, sem apoio,
fragilizados, tentando demonstrar força, naturalidade, disfarçando até para si
próprios o momento que enfrentam, tanto na pré como na pós-consulta.
“E se, de repente
A gente não sentisse
A dor que a gente finge
E sente
Se, de repente
A gente distraísse
O ferro do suplício
Ao som de uma canção
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Comecei então a coleta de dados para a minha monografia. Ao final das sessões,
que duravam em média uma hora e meia, pedíamos autorização aos pacientes para
gravar o discurso de cada um sobre o que era, para eles, a “Sala de Espera” Os 52
pacientes que autorizaram tiveram seus depoimentos gravados.
O objetivo do trabalho era saber se a Sala de Espera contribui, e de que forma, para
o paciente.
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A partir desses depoimentos foi feita, por meio de uma metodologia qualitativa
proposta por Fernando Lefêvre (2000), a classificação do “Discurso do Sujeito
Coletivo” de acordo com as seguintes palavras-chave:
Após a divisão dos discursos nas nove categorias, foi feito um único relato de cada
categoria representativa dos pacientes em questão.
Na categoria Tempo, foram colocados os discursos que relacionam a Sala de
Espera ao fato de o tempo passar mais rápido.
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“.. Quando a gente conversa passa o tempo rápido; calado, o tempo demora a
passar, aqui as horas passam e você nem vê... para mim sala de espera é aquela lá
fora onde o tempo não passa, essa aqui não; aqui o tempo passa rápido. É melhor
do que lá fora porque aqui o tempo passa e a gente nem num vê, num é verdade?
Enquanto esperamos, é melhor ficar conversando, ajuda a hora passar.”
“A gente expõe o que a gente sente, se está triste ou se está alegre... a gente põe
para fora a tristeza, é bom, falar é bom e poder colocar para fora o sentimento de
cada um é muito bom. Ficar se distraindo, ouvindo as emoções das pessoas, você
se sente bem e ficar calada esperando você junta um problema com o outro e só
atordoa a cabeça da gente. Aqui não enche a cabeça, até esvazia, tira o stress... Se
não tivesse isso aqui, a gente não suportava o problema da gente, porque aqui a
gente amadurece, a gente cresce, com o problema de cada um e a gente suporta
carregar a cruz da gente com mais facilidade. É diferente da
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outra sala, porque, às vezes, na outra sala alguém te conta um problema e você não
desabafa com ninguém e vai segurando o problema de um, o problema de outro e
chega uma hora que você fica pior do que já estava, e aqui já é um outro modo... dá
pra desabafar, ajuda muito nessa parte de medo, a gente conversa, descarrega um
pouco os problemas... ajuda. Ficar calado assim é neurótico, a gente desabafa, a
pessoa desabafa, eu acho muito importante falar tudo o que está acontecendo..., o
desabafo faz bem! Eu vou pensar em mais alguma coisa e confessar mais algumas
outras; por exemplo, que nem da outra vez que eu vim, tinha umas pessoas que
estavam muito impressionadas, um nervoso, até falando palavrão e no fim ele
estava totalmente tranquilo, e se sentiu bem no final da reunião, as pessoas têm
medo e o medo é pior do que a doença...”
“Se tiver alguma dúvida, a gente pergunta e lá fora não; a pessoa fala do problema
dela e você do seu e fica na mesma ou até pior, né? Aqui se tem um esclarecimento
maior, a gente fica mais preparada, depois de ter passado aqui pelas reuniões. Eu
me senti mais segura, mais confiante, eu sei o que nós devemos fazer e estamos
fazendo. Agora eu estou mais preparada para enfrentar, não sou mais aquela
pessoa nervosa, que ficava ansiosa. A gente fica ciente de muitas palavras, de
muitos conselhos, de muitas explicações, muitas coisas que falaram, eu não sabia e
aprendi hoje... Sobre reclamar, eu não sabia... é um direito meu!...”
“Às vezes, a gente fica meio oprimido, achando que está sendo vítima, e
conversando aqui, a gente nota que tem pessoas que estão passando por situação
ainda pior do que a da gente; então é muito reconfortante. Tem gente que não tem
nem um real para tomar condução para vir aqui, então a gente se sente numa
condição privilegiada. A gente se emociona também com a emoção dos outros, você
pensa na situação dos outros... a dele está pior do que a minha ou a minha está pior
do que a
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dele... eu já estive aqui chorando... A gente se sente bem melhor quando conhece o
problema dos outros...”
Na categoria Amizade, as frases selecionadas são as que associam a Sala de
Espera com o fato de se relacionar socialmente e conhecer novas pessoas.
“... Aqui a gente também fica amigo dos outros, conta o seu problema, ouve o
problema dos outros, fica conhecendo muita gente... as pessoas são amigas que
ajudam a gente a segurar a mesma barra... eu converso com o pessoal, é bom ver
as pessoas.”
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“Eu venho nessa reunião e eu gostei, aqui dá pra gente aquela força, aquela
liberdade; é um trabalho maravilhoso, eu acho vir aqui bom à beça... se ainda me for
possível vir aqui da próxima vez... eu acho que vale a pena... foi ótimo hoje... É
muito importante o trabalho que vocês fazem porque descontrai e ajuda muito as
pessoas, então eu acho que esse trabalho que vocês fazem é magnífico, eu gostei
muito.”
“Agora eu estou rindo, mas eu cheguei nos nervos para falar com o médico, que eu
pensei: vou me embora, mas agora eu já mudei de atitude, vou falar mais alegre
com o homem... Eu tô me sentindo melhor agora, eu não tô tão inseguro, né, quanto
tava, realmente ajudou, agora eu tenho confiança, eu me trancava muito e sofria
muito, mas depois que eu passei a vir na sala de espera eu melhorei muito, hoje eu
consigo falar, antes eu não conseguia...”
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“A reunião de vocês é muito boa, espero que vocês continuem porque é muito
importante! Eu espero que vocês levem esse projeto adiante... e que Deus ajude
que vocês possam levar esse trabalho em todas as outras áreas.”
Também foram incluídos trechos de discursos de caráter catártico, nos quais os
pacientes, ao serem inquiridos sobre a avaliação da Sala de Espera, não
responderam a questão, mas aproveitaram o momento para falar de seus medos,
insatisfações, inseguranças e problemas que estavam sendo vividos, muitas vezes
ditos pela primeira vez.
Paciente 1 — “Neste mês, eu contei segundo por segundo para chegar a hora da
consulta porque isso (mostra o local do câncer) está me incomodando muito..., dói...
e me irrita muito a burocracia, faz seis meses que estou tentando curar isso só na
espera de falar com o médico. Porque o pobre é tratado de qualquer jeito, é um
problema político, o brasileiro não sabe reclamar nada’
Paciente 2 — “Estou muito preocupada por ter aparecido este outro tumor, não
contei para ninguém lá em casa (começa a chorar) ...”
Paciente 3 — “Esperei meu filho até as 6 horas da manhã, ele não apareceu e então
eu vim sozinha de ônibus... é difícil para mim, pois tenho muitas dores na perna e às
vezes ela endurece e não consigo andar. Minha vida é muito sofrida, moro sozinha,
sou separada desde muito tempo e tenho só um filho. Durante alguns anos, morei
junto com ele e minha nora, mas ela me tratava tão mal, que precisei ir embora de
lá. Vocês acreditam, que meu prato e os meus talheres ela separava dos outros da
casa? Depois que eu tomava banho, ela entrava no banheiro e ficava desinfetando,
como se esta doença fosse contagiosa.”
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Paciente 4 — “Faz tempo que eu venho aqui e nada é resolvido, este tumor vaza e
faz uma fedentina horrível, tem dia que chego a trocar quatro vezes de camisa.”
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Paciente 5 — “É muito difícil, sou de Pernambuco, deixei lá meu marido, meus filhos
e minha mãe. Moro com meu pai aqui há um ano e meio.”
Paciente 6 — “Pra mim é difícil estar aqui para fazer este tipo de consulta, eu jogava
futebol como amador, e tive que parar o esporte... quando saio na rua, às vezes,
minha perna fica endurecida e os amigos me chamam de saci... estou oprimido, não
posso mais jogar bola, não posso fazer mais nada, enquanto estiver com este tumor,
quero que seja feito aqui o melhor, quero ser operado logo para retirar ele daqui... às
vezes, tenho vontade de rasgar isso com uma faca.., foi bom estar aqui porque pude
desabafar a história do saci, nunca contei isso a ninguém, só para vocês:’
Paciente 8 — “Fiz a biópsia, porém não pude ser operado, pois o médico me disse
que a chance de morrer na cirurgia é grande, sinto muita dor, estou mal, não estou
gostando desta situação (da doença), na verdade eu tenho ódio do mundo por estar
assim. Sei que estou na clínica de hematologia, prefiro não saber o que tenho...”
Paciente 10 — “... Mas tem o seguinte, comentar aqui é uma coisa, para quem sabe
do nosso problema, fora daqui são poucas as pessoas que sabem que tenho câncer,
pois as pessoas são preconceituosas e temem que esta doença seja contagiosa.”
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Paciente 11 — “Nunca fiquei doente, nunca fui a um hospital, não gosto de falar em
doença e nem de ouvir coisas que de repente nem têm cura..., é ruim. Ninguém quer
ficar doente, todo mundo quer ter saúde. Mas errar o diagnóstico, é demais, deixar
chegar no estado em que chegou para mandar fazer biópsia... é para estar
revoltado, eu nem sei se o meu caso tem cura ou se vou morrer em três meses, mas
com essa demora ficou pior. Acho que não é bom ficar falando, queria voltar para a
roça onde moro e tocar a vida como sempre, esquecer isso.”
Este resultado tem concordância com os objetivos de Melio Filho (1998), ao que se
refere a fazer um atendimento de qualidade à grande demanda de clientes que
esperam longo tempo pela consulta. Nesse seu trabalho, também afirma que “é mais
fácil falar das emoções com um igual a partir da relação que se institui no grupo e
que a sala de espera sensibiliza o paciente quanto às dimensões psicológicas da
sua situação, trocando a posição passiva e receptiva do paciente para uma posição
ativa e participativa”.
de espera, tendo pelo menos uma escuta, pode refletir de forma positiva criando um
alívio ao sofrimento emocional.
Segundo Winnicott (1949), este seria o “espaço potencial”, ou seja, a “área onde se
dão as trocas entre o indivíduo e o meio e onde
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Ferreira Santos (1999) afirma que o apoio vindo do terapeuta produz o alívio da
sensação de o paciente sentir-se absolutamente só e desamparado. Além disso, a
participação ativa do paciente no processo de tomada de decisão em relação ao
tratamento facilita sua cooperação com as intervenções propostas, assim como a
adesão ao tratamento.
A Sala de Espera
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Ao iniciar meu trabalho nessa clínica, notava certa curiosidade por parte dos
funcionários e alguns médicos não estavam bem certos do benefício que a atuação
na sala de espera pudesse trazer, mas aguardaram os resultados.
Os pacientes chegam a esse instituto indicados pelos seus médicos, ou pelo livreto
do convênio, mas quando saem do elevador deparam-se com o nome do instituto; e
a palavra “CANCEROLOGIA”, fazendo com que os menos avisados sofram o
primeiro impacto do nome câncer. Foi então que me perguntei: o que poderia ser
feito para aliviar a dor emocional desses pacientes?
Uma psicóloga conversando na sala de espera? Para quê? Ela quer me analisar?
Será que ela vai perceber como estou? Alguém para me
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dar atenção, para falar comigo? Que bom! Que medo! Essas foram algumas das
frases que ouvi, tempos depois, de alguns pacientes.
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Após iniciar a Sala de Espera, poucas pessoas levantam-se para saber sobre tempo
de espera, e ao serem chamadas, às vezes com muito atraso, dizem: “Já sou eu?”
Outras vezes chegam a não escutar seu nome ao serem chamadas, algumas
pessoas chegam mesmo a retornar à Sala de Espera após a consulta para ficar
mais um pouco ou para completar um depoimento com o resultado de sua consulta.
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No instituto, não foram gravados depoimentos, porém o conteúdo que foi ouvido em
Sala de Espera, nos corredores ou mesmo dito para os médicos, em nada difere do
primeiro estudo no Hospital das Clínicas. Informalmente, os depoimentos são
ouvidos, como esse dado a um médico:
“Doutor, o senhor deu o mesmo diagnóstico do outro médico, mas vou fazer a
cirurgia com o senhor, por dois motivos: gostei do senhor e gostei do trabalho na
Sala de Espera” (dito a um médico).
“Eu vim ontem trazer minha mãe para a quimioterapia e fiquei ouvindo o trabalho da
Sala de Espera, hoje trouxe minha mãe novamente para a quimio, mas também
trouxe minha avó e minha tia para participarem da Sala de Espera” (acompanhante
de paciente de quimioterapia na sala de espera).
“Eu fiz cirurgia com o doutor..., e digo que você pode ficar tranquila porque está em
boas mãos” (paciente na Sala de Espera para outra paciente).
“Ë que naquela época eu estava precisando receber; hoje, eu tenho para dar!”
(resposta da referida paciente)
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“Na primeira vez que eu estive aqui, só chorava... Hoje, estou muito ansiosa,
nervosa, mas não estou chorando! Quem sabe da próxima vez vou estar mais
calma!”
No início, como já disse, havia surpresa, dúvida e desconfiança, tanto dos médicos e
dos funcionários como dos pacientes.
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Hoje, vemos que apesar das dificuldades enfrentadas, é permitido sorrir, brincar,
fazer piadinhas, falar sério, chorar, compartilhar, estar VIVO apesar do câncer. Com
certeza, essa postura deixou o Instituto muito mais “barulhento” e leve, bem
diferente da conotação anterior da palavra câncer!
Eu sou mais forte e melhor que essa parte minha que está doente; por que vou
deixar que o menor e mais fraco me vença?
Se eu preciso parar para fazer uma cirurgia e me restabelecer, eu paro, mas depois
continuo vivendo, trabalhando, amando, estudando, comendo, me divertindo, indo
ao cinema, viajando.
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Se eu tiver que fazer quimioterapia, eu vou, quando sair da aplicação vou me dar um
presente, fazer uma coisa bem gostosa. Se eu perder o cabelo, uso boné, peruca,
lenço, turbante, chapéu, assumo a careca como as atrizes; e não vou me
envergonhar por estar lutando pela minha vida; vergonha de quê?
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Se enjoar, sei que vai passar, pois é só uma reação, e quando passar, vida normal!
Se eu tiver que fazer radioterapia, vou todos os dias, é rápido; depois tenho o dia
todo, e o fim de semana para viver a vida normalmente.
Se a pessoa acredita que vai ser curada por alguma coisa, como cogumelos, xamãs,
u por um placebo, ela realmente pode se autocurar, através da modulação do
sistema imunológico pela mente. Até mesmo o efeito pós-cirúrgico de uma operação
complexa e radical pode ser afetado, em última análise, pelas reações psíquicas do
paciente, como relata Dr. Bernie Siegel (1989).
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Essas descobertas nos mostram que existe uma relação estreita entre mente e
doença. Quanto mais saudáveis formos, do ponto de vista emocional e psíquico,
melhor será para nossa saúde orgânica.
Os antigos já diziam que o bom humor afasta as doenças, “Quem canta seus males
espanta”, “Mens sana in corpore sano”, e isso é uma verdade, agora sabem os
cientistas.
“...o que impede que o sistema imunológico de uma pessoa, num determinado
momento, reconheça e destrua células anormais, permitindo, assim, que elas
cresçam e se convertam num tumor que ameaça a vida?”
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Numerosos estudos sobre a causa do câncer sugerem que três situações podem
provocar tensões cruciais no ser humano e gerar sentimentos de desespero,
desesperança ou impotência. São eles a ameaça a algum papel da pessoa na
sociedade, a ameaça a alguma relação satisfatória central da sua identidade e uma
sucessão de momentos nos quais aparentemente não há saídas ou meios de
superação.
Conclusão
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Referências Bibliográficas
Página 83
GROSS, J. Emotional expression in cancer onset and progression. Soc Sci Med,
1989, 1239-48.
HASSED, C. How humour keeps you well. Aust Fam Physician 2001, 30(1):25-8.
MELLO FILHO, J. Psicossomática hoje. Porto Alegre: ArtMed, 1992.. Grupo e corpo.
Porto Alegre: ArtMed, 1998.
Página 84
TAKAHASHI, K.; IWASE, M.; YAMASHITA, K.; TATSUMOTO, Y.; UE, H.;
KURATSUNE, H.; SHIMIZU, A.; TAKEDA, M. The elevation of natural killer cell
activity induced bylaughter in a crossover designed study. IntJMol Med, 2001,
8(6):645-50.
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Capítulo 4
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Introdução
Nós nos deparamos no contato com os doentes gravemente enfermos, com dores
muito mais complexas e profundas, existenciais, que se referem ao significado da
vida e da morte. Saunders (1991) fala da dor total referindo-se às diversas
dimensões da dor: física, emocional, social, financeira, interpessoal, familiar e
espiritual. Nos doentes terminais é a dor total que encontramos e é da dor total que
precisamos cuidar. No momento do “não há mais nada a fazer para curar”, surge a
necessidade de cuidar desses pacientes, na sua condição humana.
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Esta é uma necessidade crescente na vida atual, em que a evolução dos recursos
médicos possibilita o prolongamento da vida, mesmo sem a possibilidade da
remissão da doença. Esses pacientes podem sobreviver por muito tempo na
condição de terminalidade.
O cuidar desses pacientes exige uma equipe especializada em dor total, uma equipe
multidisciplinar, envolvendo médicos, enfermagem, psicólogos, assistentes sociais,
amparo espiritual. Esses cuidados são oferecidos dentro do que é hoje denominado
cuidados paliativos. Esta é uma área, segundo Kovács (1999), de
Para que estes objetivos sejam alcançados, o atendimento à dor total vem como
necessidade básica.
Assim, no estágio avançado das doenças ou fase terminal de vida, qualquer dor
presente, seja física, psicológica ou espiritual, pode e
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Sobre a Dor
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Em resumo, cada dor é a dor de uma pessoa, com sua história, sua etnia,
personalidade contexto, momento. A mesma dor, em diferentes situações, pode nem
ser percebida ou ser muito forte, em decorrência da distração ou atenção oferecidas
a ela. Para tratá-la, portanto, é necessária a compreensão da complexidade e da
realidade de todas as dores para quem a sente (Carvalho, 1994).
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Ainda citando Erickson (1992), a dor pode estar servindo certos objetivos úteis para
a pessoa. Ela é um aviso persistente da necessidade de ajuda. Traz restrições
físicas à atividade, mas frequentemente beneficia o sofredor. Portanto, a dor não é
apenas uma sensação indesejável a ser abolida, mas uma experiência a ser cuidada
de forma que o sofre- dor obtenha benefícios.
Várias linhas teóricas focalizaram a dor, cada uma trazendo contribuições valiosas
para a área: psicanálise terapia comportamental,
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Uma das maiores dificuldades no cuidar da dor é sua avaliação. Segundo Mattos
Pimenta (1999), esta vai abranger a lesão tecidual, o substrato emocional, cultural e
ambiental das reações da dor, permitindo a compreensão da origem e da magnitude
da dor. Os métodos para a avaliação são basicamente inferenciais, baseados no
auto-relato do paciente, mas também no conhecimento do caso clínico (história da
doença, exames físicos e laboratoriais) e técnicas para a aferição das características
da dor e da sua repercussão nas atividades cotidianas (funcionamento biológico e
psicossocial).
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Dor Total
O conceito de dor total foi elaborado por Cicely Saunders, na década de 1960, na
Inglaterra. De formação multiprofissional — enfermeira, médica e assistente social —
, Cicely Saunders dedicou sua vida aos doentes fora de possibilidade de cura. Para
ela, quando não era mais possível curar, era possível cuidar. E com o objetivo de
permitir que o paciente e sua família pudessem viver tão plena e dignamente quanto
possível a doença, a morte e o luto, fundou o Hospice São Cristóvão, santo
padroeiro dos viajantes, em 1967.
A palavra hospice significa abrigo, albergue. Sua origem vem da Idade Média,
quando, nas longas peregrinações aos lugares santos, os viajantes aí encontravam
hospedagem, alívio e apoio para os seus males. Cansados e doentes, os viajantes
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muitas vezes morriam nos hospices, terminando sua árdua caminhada nesses
albergues.
Inspirada no conceito dos antigos albergues, Saunders criou um hospice que visa
cuidar dos pacientes com uma equipe multiprofissional, composta por médicos,
enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais, religiosos, voluntários e outros
profissionais quando necessários. Seus pacientes eram os considerados
irrecuperáveis pela medicina, ou seja, aqueles nos quais a doença era progressiva e
nenhum tratamento poderia alterar o seu curso. Nesse processo de evolução da
enfermidade, os cuidados nos hospices visavam manter o paciente livre de dor e
sofrimento; oferecer informações e controle das decisões ao paciente; ouvi-lo e
acolhê-lo como ser humano, com suas dificuldades, medos, esperanças, crenças,
valores; e ter a possibilidade de morrer onde o paciente escolhesse.
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Elias e Giglio (2002) propõem uma classificação para a dor do paciente em estado
avançado da doença, a qual denominaram dor simbólica da morte. Esta engloba a
dor psíquica e a dor espiritual. Na dor psíquica estariam o medo do sofrimento e o
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humor depressivo representado por tristezas, angústias e culpas ante perdas; na dor
espiritual, o medo da morte e do pós-morte e culpas perante Deus.
Atendimento Domiciliar
O atendimento da dor total nos cuidados paliativos pode ocorrer nos hospitais, nos
hospices e no atendimento paliativo domiciliar. Este é considerado a melhor forma
de atendimento, quando a família tem condições de cuidar do paciente com o auxílio
da equipe especializada do hospital ou do hospice. O doente prefere sua casa, sua
cama, a presença da família, do calor humano e do afeto, em seus últimos
momentos de vida. A presença regular da equipe de cuidados paliativos é
fundamental na manutenção da qualidade de vida do paciente, que deve ser
monitorado nas suas dores, no seu conforto, seu sofrimento.
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Outro fator complicador reside na faixa etária do cuidador. Se este é muito jovem,
seus sentimentos são de desamparo, frustração, tristeza e revolta. Sua vida fica
interrompida — muitas vezes seus estudos, sua vida social e seu lazer precisam ser
abandonados. Sua revolta pode gerar culpa, e o quadro psíquico complicar-se cada
vez mais. Se é um adulto, sua vida profissional frequentemente entra em crise, pela
dificuldade de dividir o tempo entre o cuidado com o doente e as tarefas e o horário
do trabalho. Sua vida pessoal fica também afetada e seus sentimentos são,
frequentemente, ambivalentes. Irritabilidade, preocupação, momentos de raiva e
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Segundo Gimenes (2003), para que uma pessoa possa vivenciar e aceitar a morte
sem medo é necessário que haja a manutenção de um vínculo entre a sua alma e o
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/pois a doença vivida pelo paciente é impregnada pelo significado que ele atribui a
ela, pelas perdas que sofreu em decorrência da doença, pelo impedimento de
retornar às atividades anteriores, pelo futuro interrompido e suspenso, pela
autoimagem e autoestima alteradas (p. 141).
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sabe que vai morrer e aceita em paz esta realidade. A família, entretanto, pode estar
ainda revoltada, culpada por possíveis omissões ou erros de conduta, triste,
desamparada, perdedora.
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sabe-se que o processo de luto não começa com a morte e sim com as relações
existentes antes da morte, que serão o determinante crucial na qualidade do
processo de luto. As vicissitudes da terminalidade colocam a unidade de cuidados
(paciente e família) diante de decisões, lembranças, revivências, que poderão trazer
aspectos dificultadores ao processo em si, merecendo, portanto, atenção por parte
dos profissionais envolvidos (p. 188).
As dores do luto acabam por se confundir com as dores físicas e todas elas
interagem no processo de sofrimento.
Este quadro acaba muitas vezes levando a um desejo de acabar com a própria vida,
com um suicídio (Carvalho, 1996). O psicólogo que atende ao paciente
manifestando este desejo deve estar preparado para interpretar o seu apelo. Na
maioria das vezes, a ideia de suicídio é um pedido de ajuda, de socorro, de alívio do
sofrimento da dor total. E este pedido pode ser revertido com o atendimento às suas
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Cuidando do Cuidador
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causados por tumores, queimaduras ou outras enfermidades, lidar com mau cheiro,
excrementos, pus e sangue, lidar com ideações suicidas, enfim, com toda uma gama
de situações objetivas e subjetivas adversas e aversivas são tarefas árduas.
O burnout, que significa “queimado, destruído, esgotado”, foi o termo criado para
descrever o desgaste físico e psíquico, em especial, dos profissionais de saúde, pela
proximidade com o sofrimento, pelo alto nível de exigências profissionais, fadiga,
esforço, tensão constantes. O resultado de uma situação de burnout é,
frequentemente, uma apatia, um desinteresse pelo trabalho, muitas vezes chegando
ao cinismo e à inflexibilidade, prejudicando seu desempenho profissional e sua vida
pessoal. Problemas psicossomáticos podem ocorrer, gerando maior dificuldade na
execução de suas tarefas. O esgotamento do profissional de saúde o leva, com
freqüência, ao abandono da profissão, caso não haja um auxílio na compreensão e
no tratamento do seu estresse. Um processo psicoterápico, ajudando a encontrar
uma melhor forma de
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Bioética é o neologismo derivado das palavras gregas bio (vida) e ethike (ética),
segundo a Enciclopédia de Bioética (1995). É definida como sendo o estudo
sistemático das dimensões morais — incluindo visão, decisão, conduta e normas
morais — das ciências da vida e do cuidado da saúde, utilizando uma variedade de
metodologias éticas, em um contexto interdisciplinar. Segundo Pessini (1997/2001),
as áreas de atuação da Bioética são as do relacionamento profissional-paciente,
saúde pública, questões sociopolíticas na saúde, morte e morrer, fertilidade e
reprodução humana, doação e transplante de órgãos, pesquisa biomédica, códigos
de ética, eutanásia, suicídio assistido, distanásia, entre outros tópicos.
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Referências Bibliográficas
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Capítulo 5
Tratamento Cognitivo-Comportamental do Alcoolismo
Gildo Angelottí
Conceituação do Alcoolismo
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Pithecantropus erectus há 250 mil anos havia se encantado com o sabor da bebida
alcoólica, com a ingestão de sucos de frutas maduras, que, ao caírem no solo, eram
fermentadas pela exposição ao calor proporcionado pelas luzes solares. Tal reação
se dava pela presença do açúcar da fruta e da água, sendo fermentada pelo calor.
O alcoolismo passou a ser considerado como uma doença crônica por Magnus
Huss, em 1849, em sua obra Alcoolismo Crônico, descrita em termos da
desorganização de estruturas e funções orgânicas, que não é muito diferente do que
se sabe hoje em dia (Bertolote, 1997).
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D. Os sintomas não se devem a uma condição médica geral nem são melhor
explicados por outro transtorno mental.
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(3) insônia
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D. Os sintomas não se devem a uma condição médica geral nem são melhor
explicados por outro transtorno mental.
Especificar se:
Com perturbações perceptuais
Existem outros transtornos induzidos por álcool, mas vou apenas citá-los, sem tecer
comentários: delirium por intoxicação com álcool; delirium por abstinência de álcool;
demência persistente induzida por álcool; transtorno amnéstico persistente induzido
por álcool; transtorno psicótico induzido por álcool; transtorno do humor induzido por
álcool; transtorno de ansiedade induzido por álcool; disfunção sexual induzida por
álcool e transtorno do sono induzido por álcool.
Além dos transtornos induzidos por álcool, há também aqueles relacionados e que
estão associados com a dependência ou abuso de substâncias (por exemplo,
Cannabis, cocaína, heroína, anfetaminas e sedativos, hipnóticos e ansiolíticos e, por
fim, a nicotina). A interação entre essas drogas pode levar o dependente a
apresentar sintomas de depressão, ansiedade e insônia, que muitas vezes
precedem o
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De 90% a 98% do álcool ingerido são eliminados do corpo pela oxidação em dióxido
de carbono e água, e a maior parte que escapa da oxidação é excretada, inalterada,
no ar expirado, na urina e no suor, dependendo da quantidade ingerida ou em
temperaturas elevadas, podendo ocorrer um aumento no escape por estas vias
corporais.
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Foram propostos vários processos fisiológicos que mediram o fenômeno pelo qual
pequenas quantidades de álcool disparariam o processo de ingestão de grandes
quantidades dessa substância. Encontraram alterações no metabolismo celular,
inibições nos centros de controle do cérebro e a ativação de circuitos neurais
específicos localizados no hipotálamo que desencadeiam a compulsão pelo álcool
(Formigoní e Monteiro, 1997).
A princípio, uma pessoa que começa a beber pesadamente pode ampliar seu
repertório e a variedade de estímulos que a predispõem a beber. Conforme a
dependência avança, os estímulos relacionam-se crescentemente ao alívio ou
evitação da abstinência do álcool, e seu repertório pessoal de beber torna-se cada
vez mais restrito. O adicto começa a beber a mesma quantidade nos dias de
trabalho, finais de semana ou mesmo em feriados; a natureza da companhia ou seu
próprio humor não alteram a ordem dos fatores, ou seja, fazem cada vez menos
diferença.
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O clínico deve estar atento aos significados das palavras que fazem parte do
repertório verbal de cada paciente, mas, de forma geral, refletem a cultura em que
aprendeu a beber e as contingências que mantêm o comportamento de ingestão de
álcool. A possibilidade de compreensão muitas vezes será destruída se termos
convencionais como a compulsão ou a perda de controle forem introduzidos
prematuramente.
Epidemiologia do Alcoolismo
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O abuso e a dependência de álcool são mais comuns entre o sexo masculino, com a
razão de homens para mulheres afetadas chegando a 5:1. Entretanto, esta razão
varia substancialmente, dependendo do grupo etário. As mulheres tendem a
começar a beber excessivamente mais tarde do que os homens e podem
desenvolver transtornos relacionados ao álcool mais tarde. Uma vez que o abuso ou
a dependência de álcool desenvolvam-se em mulheres, a condição pode progredir
mais rapidamente, de modo que, na meia-idade, as mulheres podem ter a mesma
faixa de problemas de saúde e consequências sociais, interpessoais e ocupacionais
que os homens (DSM-JV, 1994).
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bebedores excessivos
Luz Jr./1 974/Porto 514 Vila Vargas 6,2%
Alegre
Coutinho/1976/ 742 Maciel 22,6%
Salvador
Santana/1978/Salvador 1549 Bairro de baixa renda 3,4%—
alcoolismo
14,2%—
consumo diário
Almeida-Filho/1985/ 1047 Área industrial 6,2%
Salvador alcoolismo
21,2%-
consumo diário
19,1% —
embriaguez semanal
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Por meio dos dados citados na Tabela 1, podemos ter uma noção dos estudos
realizados no Brasil e, em razão da carência de recursos financeiros, torna-se
impossível conduzir pesquisas que envolvam estudos longitudinais, de modo que
fica quase impossível organizar e executar uma política de saúde voltada ao estudo
do álcool.
Políticas do Álcool
Por se tratar de uma questão que atinge toda ou grande parte da população
mundial, políticas de saúde desenvolvidas em países desenvolvidos e em
desenvolvimento, ao longo do espaço e tempo históricos e dentro do contexto de
sistemas de valores determinados cultural- mente, de fórmulas administrativas e de
crenças quanto à natureza fundamental das questões-alvo, estes problemas deram
origem a uma diversidade de respostas políticas. Algumas políticas incluem:
proibições quanto ao uso; racionamento e monopólios estatais; impostos cobrados
sobre a venda de bebidas alcoólicas; leis dirigidas ao licenciamento a distribuidores;
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alguns elementos inclusos nas análises estatísticas não publicadas (Rice, 1993).
também demonstram que uma política deve abarcar a totalidade da população que
bebe e definir o alcance da ação de saúde pública.
Tratamento Cognitivo-Comportamental
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Por se tratar de uma abordagem focal, a TCC deve ser ativa, diretiva e estruturada,
caracterizada pela aplicação de procedimentos clínicos como introspecção, insight,
teste de realidade e aprendizagem, visando aperfeiçoar discriminações e corrigir
concepções equivocadas, tais como comportamentos, sentimentos e atitudes
perturbadoras. O foco principal é ajudar o paciente a examinar o modo
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Início da imagem
Fim da imagem
Fim da descrição
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e Rollníck, 1991). Não faz parte do papel do terapeuta ser autoritário, muito menos
utilizar-se de confrontos com o cliente, mas conduzi-lo à mudança, criando urna
base positiva. A meta a ser estabelecida é aumentar a motivação do paciente,
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Avaliação
Um modelo conceitual que se faz necessário para uma melhor compreensão quanto
ao consumo de bebidas alcoólicas, utilizado para integrar os fatores que sustentam
d consumo individual ou relacionado a circunstâncias ambientais ou relacionamentos
interpessoais, por meio de repetidas combinações com reforço positivo ou negativo
ou mesmo por antecipação de reforço é conhecido como modelo Sorc. Esse modelo
Sorc integra considerações em um modelo específico ao consumo de bebidas
alcoólicas. O S indica os estímulos ambientais previamente à ingestão, evocando
reações cognitivas, afetivas e fisiológicas do — O — organismo. Segue-se a — R —
resposta do ato de ingestão a qual pode ser mantida pelas — C — consequências
positivas do consumo.
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Conclusão
Nota-se que, com a mobilização de toda a sociedade, se faz jus, a incansável tarefa
de prevenção de recaída, em razão dos danos causados pela ingestão excessiva
dessa substância, tanto em nível orgânico quanto psicológico, social, familiar etc.
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Referências Bibliográficas
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De um sorriso doce...
Para Cacheadinha...
SERRA DA CANTAREIRA
Eu quero da vida o teu sorriso doce... o mesmo que você exibe quando te estreito
em meus braços... quero passear pelo teu corpo do mesmo modo como caminho
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pela serra nas manhãs e madrugadas... sentindo cada detalhe da caminhada com
um prazer que nunca se exaure... e sempre se renova...
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penetrante e abrangente...
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JOÃO PESSOA
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• Capítulo 6
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humano, afeto, respeito à dor do outro, envolvimento, entrega, de um ouvir que não
escuta, da morte ou interdição dos sentimentos.
Até a água eles custam a me dar. Parece que eu contamino só com a presença. O
médico não acredita que eu possa sair dessa, ele diz isso com seus olhos, com sua
desatenção. Ele pouco vem aqui. Acho que ele tem medo quando eu tento tocá-lo,
que a minha morte o leve também. Ele não aprendeu que a morte é de cada um, ela
não é contagiosa, cada um tem a sua e pior, eu sei que ela não avisa quando vem
mesmo que o doutor se iluda achando que ele sabe o meu tempo... e o dele, será
que ele também sabe?
Sabe, é como se eu já tivesse morrido, eu preciso estar provando que estou vivo,
por isso eu às vezes tenho essas “crises de nervoso”. (Portador do HIV/ 1998/ ficção
ou realidade?)
Um jovem soldado, durante a primeira grande guerra mundial, é atingido por uma
bomba, perde seus braços e pernas, seus olhos, nariz e boca, mas permanece vivo,
com a mente funcionando, porém os médicos acreditavam que ele não estivesse
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lúcido e, por isso, aceitam sem muito pesar a manutenção de sua vida. Ë prescrito
um medicamento para seus movimentos (abalos musculares) e é também prescrito
que nenhum membro da equipe deve ter “envolvimento emocional” com o paciente.
Este é deixado num quarto isolado onde ninguém pode vê-lo ou saber de sua
existência. Duas personagens transgridem esta prescrição. A primeira, uma
enfermeira que se penaliza do rapaz, abre as janelas e, com o calor do sol em sua
pele, Johnny pôde começar a medir o tempo, dia, noite, dia, semana, semana, mês,
outro mês, até que se passa um ano, vários anos (em seu calendário interno). A
segunda, uma outra enfermeira (curioso que sejam enfermeiras a desempenhar
esse papel e não médicos) que, ao ver o paciente pela primeira vez, chora e acaricia
sua testa (e, em sua mente, Johnny grita, ao sentir as lágrimas caindo em seu corpo:
“que bom, você não tem nojo de mim”. Num outro momento, Johnny tem um sonho
erótico, fica excitado (seu pênis fica ereto), a enfermeira não entende por que ele se
debate, procura o motivo retirando as cobertas, o vê excitado e o masturba. Depois,
ainda por resolução dela, aparentemente sem motivo algum, ou sem lógica alguma,
a não ser a lógica de seu sentimento, a enfermeira escreve com a
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poder ser útil, quer poder ganhar sua vida e que o modo de conseguir isto seria
sendo exibido em praça pública, sendo uma espécie de atração circense: o homem
sem braços, sem pernas, sem olhos, sem ouvidos, sem boca, sem nariz, mas que
pensa e sente. E isto para que todos possam ver a tragédia que a guerra pode
causar a um ser humano.
A junta de médicos e militares lhe diz que “infelizmente, isso não é possível”. Ele
retruca que, se é assim, se não vão permitir que ele saia, ele prefere que o matem e
repete insistentemente: “matem-me, matem-me”. Eles saem e o de patente superior
determina que o ocorrido não seja divulgado a quem quer que seja.
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Escolher o tema da Racionalidade Médica para dialogar e lançar para o diálogo esse
pensamento — a Racionalidade médica e a negação da morte, do riso, do
demasiadamente humano — é o resultado de uma aflição interna em busca de
expressão. O ato de escrever foi a maneira encontrada para exorcizar esse
desassossego que é existencial, mas também epistemológico.
Dialogo com vários autores, na tentativa de aliviar minha solidão. Insinuo assertivas,
encontro alguns abrigos em teóricos e praticantes de uma “nova” medicina e
Psicologia. Parto do meu caminho e arrisco-me ao dividir os primeiros frutos
nascidos de algumas sementes, plantadas em direção a uma prática hospitalar
capaz de acolher o riso e a dor e, quem sabe, imaginar pistas para uma
racionalidade mais tolerante, acolhedora, saudável e de fato humana.
Em alguns momentos sinto que Foucault tem razão: a palavra é a morte da coisa.
Em outros, como diria Samira Chalhub, a escrita caminha como um corpo falante.
Minhas idéias, ainda em gestação, estão expostas, e o desassossego continua...
“A porta da verdade estava aberta mas só deixava passar meia pessoa de cada vez.
Assim, não era possível atingir toda a verdade, porque a meia pessoa que entrava
só trazia o perfil da meia-verdade. E sua segunda metade voltava igualmente com
meio perfil. E os meios perfis
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Por capricho, ilusão ou miopia, o mundo ocidental moderno fez a opção de isolar a
razão dos afetos na produção do conhecimento. Tal separação é resultado da
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crença de que a verdade está além do sujeito que a produz. Luz (1988) afirma que a
racionalidade científica moderna postula a razão e o método científico como norma
fundamental para obtenção do conhecimento ou, de modo mais geral, como o modo
de produção da verdade, nos quatro séculos de sua construção. “Uma razão
instrumentada pela observação repetida, tecnificada.” É essa razão que institui a
Natureza como objetividade e como exterioridade ao homem, como materialidade a
ser apreendida e explicada, que se constrói com o renascimento científico, que se
explicitava no século XVII como “revolução científica”.
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Assim, vamos ter a máxima da pureza da razão e, a partir de Descartes, sob a égide
da máquina, o mundo natural e humano passa a ser expiado. A ciência é a teologia
da época; o relógio é a grande metáfora do Universo; o Positivismo, o guia
necessário. A expulsão da subjetividade é a base dessa conquista. No entanto,
desde o início do século XX, as dúvidas quanto à exequibilidade desse dualismo
exacerbado vêm crescendo.
O saldo do progresso civilizatório dos últimos séculos foi desastroso. Quanto mais
nos afastamos e dominamos a natureza, em nome da tecnologia, do avanço, mais
contribuímos para a degradação da qualidade de vida. Nosso progresso foi uma
questão predominantemente racional e intelectual. Essa evolução unilateral atingiu
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um estágio alarmante que beira a insanidade. Hoje fica cada vez mais evidente que
o paradigma cartesiano encontra-se obsoleto.
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possamos ser científicos como nunca fomos. Ter certeza como a clínica supõe ter é
fatal às dúvidas, matriz da investigação científica. Morin esbraveja que um
paradigma que não incorpore o ruído é mortificador e Kierkegaard poeticamente nos
convida a pensar quando diz: “a verdade não deve ser buscada senão na paixão”
“Eu quero das mortes a mais traiçoeira. Diferente da que, sincera, se anuncia. Não
quero aquela que vai-se chegando com as rugas, atrasando os movimentos,
dificultando o gozo. Não quero a morte perversa, que toma o braço do senil e fica ao
lado do entrevado. Não quero a morte sincera, nem respeito mais a morte que avisa
que já vem vindo, morte catatônica. Morte que não me deixa esquecê-la. E, quando
for chegando a hora, que venha ainda em silêncio, sem avisar a ameaça. De manso,
durante um bom sono, tome-me. Morte, boa morte, é a que nem se deixa perceber,
depois de uma vida muda, cega e tetraplégica, ressurge uma vez só e toma de
assalto e vence. Uma bala. Um golpe pelas costas. Quero para mim da morte a mais
traiçoeira.”
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“Eu só queria que tivesse alguém para segurar minha mão, talvez fosse menos difícil
morrer.”
Camus (1989) nos colocou que uma forma cômoda de travar conhecimentos sobre
uma cidade é procurar saber como se ama e como se morre. Como lidamos com o
morrer, como se porta o homem diante da morte, nos desvenda quem é esse
homem, como é a sociedade que ele criou, em que valores ela se assenta. Podemos
dizer que a concepção de morte revela a concepção de vida. Uma sociedade que
nega a morte, para a qual a morte não tem sentido, é também uma sociedade, como
dizia Weber, que perdeu o sentido da vida.
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De acordo com Martins (1985), não sabemos lidar com a morte porque
transformamos a doença e a morte em um problema técnico, e para isso criamos as
empresas, os técnicos mais qualificados, os equipamentos mais sofisticados,
capazes de prolongar a agonia de um homem durante meses, anos, mas incapazes
de devolver-lhe a vida, a vida verdadeira, a vida com sentido.
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O início dessa fantasia tem sua marca nas aulas de Anatomia, mediante o estudo de
um sem-número de cadáveres, destituídos de subjetividade. A dissecação é fruto do
Renascimento, tempo em que a separação corpo/alma tornou o corpo e a morte
objetos de estudo.
Nessa mesma direção, Zaidhaft (1990) nos convida à reflexão, dizendo: Por seu
desamparo e passividade, o cadáver permite aos alunos experimentar a sensação
de poder absoluto. A relação mantida com o
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cadáver é registrada e se torna a relação ideal, que será buscada anos depois no
encontro com os pacientes (p. 143).
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Cabe salientar que esse fato talvez possa ser considerado a coroação do ritual de
iniciação na racionalidade médica, sendo o seu processo permeado por um
constante aprendizado de negação da morte, da dor, da capacidade de envolver-se,
de vincular-se; emoções incompatíveis com a racionalidade tecnológica.
“Não se envolva com o paciente”; “é preciso ter sangue frio”; “para aprender é assim
mesmo”; “são apenas corpos”; “se você ficar sofrendo a cada morte de paciente,
você não aguenta e larga a medicina”
Estes são alguns dos elementos introjetados para se atravessar o batismo de fogo,
um verdadeiro ritual de iniciação na medicina, responsável, no futuro, por relações
mortas entre paciente e terapeuta, na qual infelizmente o cadáver é o doente ideal
buscado em cada novo paciente.
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Penso que se nosso referencial não for a cura, salvar a qualquer preço, mas um
retorno à arte terapêutica, o cuidar daquele que sofre, poderemos ter re-significado
nossa ação e o nosso papel de cuidadores.
Embora se fale hoje que a equipe de saúde deve estar atenta aos aspectos
emocionais do paciente, nem sempre reconhecemos com a mesma ênfase que o
emocional da equipe é parte fundamental nessa relação. Pouco é dito sobre o
cuidado com o cuidador, que é atingido pelo sofrimento do seu paciente. É
imprescindível cuidar do cuidador. Estamos falando em formação acadêmica, em
medidas profiláticas, se quisermos caminhar em direção a um atendimento mais
humanitário, de maior qualidade; se quisermos caminhar para uma racionalidade
que priorize o agir terapêutico, que resgate o papel da relação médico (profissional
de saúde) /paciente; em que o paciente possa ser reconhecido como sujeito em toda
sua subjetividade, que valorize a arte de curar e, principalmente, a tarefa maior da
humanidade que, segundo Kierkegaard, é o cuidado. Uma medicina que promova o
encontro entre as pessoas.
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Sabemos que outras racionalidades médicas integram essas dimensões e por isso
mesmo são buscadas pelos pacientes, como, por exemplo, a homeopatia e a
medicina oriental.
Penso que há momentos na vida de uma profissão que para ser fiel a si mesma e a
seus princípios éticos é preciso mudar. Mudar talvez menos do lugar teórico, mas
muito mais do lugar da prática. Não é possível lidar com a vida humana sem paixão,
a não ser eliminando a vida em nós mesmos. Não é possível mais pensar, desejar
uma ordem que não cura, mortifica. Mas desejar que, em vez de promover o caos,
possa ser responsável pela reorganização, possa retirar o mundo do
desencantamento com o próprio homem.
“A morte ilumina a vida”. Ela pode nos iluminar para um novo ethos. Não podemos
negar o fato de que a morte define a vida como um campo limitado, nos lembra que
temos um tempo marcado (como nos alertou “aquele” paciente HIV positivo). A
questão é, se exorcizamos a morte, negando-a, ou insistimos em percebê-la como
uma conselheira invisível, que nossa jornada alerta para que não esperemos pelo
amanhã, incita a fazer o que pudermos, queremos e sonhamos para re-significar
nossa vida pessoal e profissional. O carpe diem é a reconciliação da vida com a
morte.
Tudo isso para dizer que estou convencida de que pensar o lugar da morte nas
instituições de saúde pode contribuir para melhorar a
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Mas uma pergunta me desassossega: como alguém não consegue se envolver com
a morte? Talvez seja preciso não se envolver com a vida! Busco auxílio nas
observações de Zaidhaft (1990):
“Há muito mais verdades entre o céu e a terra do que supõe nossa vã filosofia.”
Hamlet
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metade direita do prato — não lhe ocorria que também havia a metade esquerda.
Ela sabia disso intelectualmente, achava graça, mas, para ela, era impossível sabê-
lo diretamente.
A nossa recusa em girarmos nossas cabeças para o outro lado da bandeja faz
sentido dentro do percurso realizado pela medicina e por todos nós, profissionais de
saúde. Engolimos verdades absolutas e irrefutáveis, cobrimos a nossa própria visão
e continuamos famintos.
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O autor afirma que a própria forma de interrogar o paciente pode induzir o sintoma.
Por mais objetivos que sejam os dados do exame, sua utilização está sempre sujeita
à subjetividade.
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ao demonstrarem que o córtex cerebral deixa de ter como único morador a razão.
Afirmam que o pensamento racional é influenciado pela emoção, argumentando que
profundas interconexões biológicas demonstram que a ausência de emoção
impossibilita a ação do raciocínio.
Possuímos, ainda que não tenhamos nos dado conta, uma profunda relação de
intimidade com nossos órgãos e sistemas e, a despeito de toda cisão a que fomos
expostos como indivíduos/objeto nestes últimos tempos, ainda assim mantivemos
uma relação muito estreita entre nossas emoções e seus correspondentes
biológicos (p. 29).
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O mesmo autor explica que tal abordagem tem implicações importantes para o
diagnóstico. Este pressupõe necessariamente uma anamnese biológica, que
significa estabelecer um diálogo não diretivo, interrogatório; dirigir a atenção para
perceber a demanda por trás da queixa (verdade feminina); e o terceiro elemento, do
qual depende o sucesso dos outros dois — a postura profissional que favoreça a
formação do vínculo interpessoal. Ele afirma:
Tudo isso para dizer que, rejuntando os elos perdidos, recuperamos a arte da
terapêutica; ampliando nosso olhar e nossa intervenção, re-significamos o lugar do
paciente, do terapeuta, e a importância do vínculo interpessoal.
Acrescento da doença sem vontade de saúde; da dor sem o riso; de continuar esse
exorcismo de idéias e sentimentos sem a UPI!.
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Ainda assim, as muitas verdades entre o céu e a terra continuarão a existir. Este foi
um dos grandes ensinamentos de Shakespeare, cuja função parece ter sido dar vida
à nossa mente, permitindo que nos tornemos conscientes do que jamais
descobrimos sem ele.
Conta-nos a lenda:
Deméter, deusa da fertilidade, tem uma filha que se chama Perséfone, a quem ama
muito. Hades, deus do reino dos infernos, rapta sua filha. A deusa sai à procura da
filha, mas não consegue encontrá-la, fecha-se em sua própria dor e para de rir. Em
razão da dor da deusa da fertilidade, interrompe-se na Terra o crescimento das
ervas e dos cereais. A serva Jamba faz um gesto obsceno e a deusa ri. Com o riso
da deusa a natureza volta a viver e sobre a Terra retorna a primavera.
Trazer para o diálogo com a racionalidade médica ocidental o trabalho realizado pela
Unidade de Palhaçada Intensiva (UPI!) traduz a tentativa de acrescentar, às
imagens reais e fictícias do início do texto, imagens de vida presente na dor e no riso
dos pequenos pacientes atendidos pelos doutores da UPI! Imagens que nos dizem
muito sobre como acolher o convite em direção a uma racionalidade que nos
devolva o lugar de humanos. Cada pensamento arriscado, cada história contada,
cada argumento gerado espelha essa intenção.
Apenas um ano de existência tem a UPI! Pouco tempo... (estou consciente de que o
parto talvez esteja sendo prematuro, mas parte das dores das parturientes se deve à
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Um tempo capaz de iluminar o que ocorre quando o riso se faz presente diante da
solenidade da doença; a transgressão que ele pode representar na nossa
racionalidade científica, mas também de
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como ele pode fertilizar novas relações no contexto da doença, novos caminhos na
ciência, restaurando a vontade de potência, de saúde, vontade de parir outra
realidade.
O riso da deusa restaura a vida em si e fertiliza a vida à sua volta, O riso dos nossos
pacientes, o riso presente nos corredores e enfermarias dos hospitais fertiliza a
dimensão da vida neles e em todos nós. É o motivo de existência da UPI!, mais do
que entretenimento, mudança.
Direção de Atores:
Fernando Yamamoto
Coordenador do Projeto:
Gustavo Wanderley
Psicológica:
Geórgia Sibele Nogueira da Silva
Assessoria Médica:
Diana Dantas
Atores:
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Objetivo
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O riso, como recurso terapêutico, vem sendo discutido nas duas últimas décadas.
Doutores “palhaços” surgem no mundo todo e inspiram os doutores da UPI!. Não
estamos inventando a roda, mas temos um objetivo claro de como girar a roda, ou
como girar a cabeça para o outro lado da bandeja — o desejo de contaminar a
racionalidade médica ocidental com os ensinamentos dos doutores clowns. Os
efeitos do riso nos falam de um benefício físico e emocional dos pacientes. E nos
falam também de outra maneira de enxergar e praticar medicina — possibilitam a
receita para uma autêntica medicina psicossomática.
A esta altura é impossível não fazer a pergunta: como é possível? Antes de falar em
procedimentos e resultados, é oportuno indagar: o riso é terapêutico? Qual a relação
entre a técnica do clown ou a racionalidade dos doutores da UPI! e a racionalidade
médica ocidental? Em outras palavras, como entendemos o processo saúde-
doença, como percebemos a apreensão da realidade, que tipo de verdade
perseguimos, nos remete às crenças que guiam nossas ações.
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O caminho inverso começa a ser vislumbrado também pela ciência médica, mesmo
que timidamente. O resultado de várias pesquisas, entre elas a de William Fry, vem
demonstrar que um dos maiores efeitos do riso é reduzir a liberação dos hormônios
associados ao estresse — o cortisol e a adrenalina. Com menos hormônios desse
tipo circulando no organismo, o sistema imunológico se fortalece. Produzidas nos
gânglios linfáticos e na medula óssea, as células de defesa do organismo não só
aumentam em quantidade como também se tornam mais ativas, com destaque
sobretudo para os linfócitos B, responsáveis pela produção de anticorpos, e os T,
que detectam vírus ou bactérias (Veja, 2001).
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jornalista americano curou-se de uma doença grave por meio do riso. Escreveu sua
história anos depois, lançando, em 1979, Anatomia de uma doença, tornou-se
símbolo da terapia do riso e inspirou pesquisas nessa direção.
Falar em cura pelo riso pode ser ainda uma interrogação, mas estou convencida de
que esta discussão pode contribuir para reafirmar a impossibilidade da separação
entre mente e corpo. A tentativa de entender e intervir no processo saúde-doença,
demonstrando que a alegria pode suscitar a vontade de potência ou de saúde, como
diria Nietzsche, pode aliar-se ao tratamento, devolvendo a dimensão humana da
alegria, apesar do momento de dor.
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para exercerem essa função. A teoria de Winnicott (1993) sobre espaço funcional e
objetos transicionais fortalece nosso pensamento. Ele diz que o espaço funcional é a
área em que o fenômeno lúdico opera, diz respeito à existência de uma região de
potencialidade — universo simbólico — capaz de promover o estabelecimento das
relações do sujeito com a realidade. Diz ainda que “o objeto transicional constitui
uma defesa contra a ansiedade, especialmente a ansiedade do tipo depressivo” (p.
392).
Fica claro que a criança, em sua brincadeira, seja com sua boneca particular, seja
em uma interação de ludoterapia ou na interação com os doutores da UPI!, está
atuando com objetos transicionais, fazendo uma catarse de seus problemas e
equilibrando suas emoções.
Melaine Klein (1993), estudando o brincar, também concluiu que as crianças sentem
um prazer muito intenso em suas brincadeiras, não apenas pelo prazer, “mas
também porque aí encontram um meio de dominar sua angústia” (p. 86).
Rir movimenta as nossas emoções positivas. Poder trazer essa experiência corporal
e emocional no momento da doença é tocar na centelha de vida que pode ficar
embotada na estrutura hospitalar. E, como gritou Nietzsche: “Sempre que encontrei
vida, encontrei vontade de poder’ Por que não dizer, vontade de saúde. Para a
criança ou adolescente, rir, mais do que efeito de um entretenimento, é fazer circular
vitalidade e, para a instituição, essa vida em ação pode suscitar mudanças. O riso
devolve a vontade de poder, no sentido nietzscheano, que significa uma vontade de
crescer, de vir a ser, de criar. Remete a criança à vida que ela tem em si.
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contrações, e esse mover uma estrutura corpórea pode mover uma estrutura social
debaixo de uma lona de circo, em teatro ou hospital (p. 67).
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O doutor Clown sente que tem empatia pela dor de seu paciente, mas sabe que
sempre pode fazer algo, pode cuidar do sofrimento dele; ele se coloca à disposição
dele para lidar com sua dor e resgatar sua alegria. Ele enxerga sempre a essência
de uma criança que é a sua alegria e não a doença, o seu prognóstico. Já em seu
diagnóstico, está preocupado em como tocar nessa dimensão da criança. Como
acender sua Higéia, seu potencial interno de saúde, vida, prazer.
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Ele nos diz ainda sobre o caminho que impregnou a racionalidade científica
ocidental:
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doente (massa de modelar retirada de seu corpo) e são levadas a acreditar que o
outro “doutor” vai apenas fechar a operação já realizada.
As clássicas cirurgias do nariz para trazer felicidade contam sempre com outros
pacientes como assistentes; a prescrição do uso do nariz vermelho, que se usado
três vezes ao dia traz felicidade; a fita métrica para medir a pressão e a meia de
chulé anestésico fazem parte de rotinas desses médicos. Bem como o pato purific,
que purifica a região que vai ser cirurgiada, gorila que suga a dor, o adesivo que dá
fome de leão, o adesivo calmante para pais irritados, brincadeiras de assistente de
médico e prescrições diversas.
O MUNDO VERMELHO
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Refrão
UPI!
Cabe destacar que os doutores da UPI! são solicitados por enfermeiros e médicos,
para ajudarem em procedimentos de outros médicos. Familiares remarcam exames
nos dias que os doutores da UPI! trabalham, para também terem seus filhos
consultados por eles. A equipe solicita que os doutores da UPI! trabalhem mais dias.
Por tudo isso, podemos também sorrir e falar em resultados para o paciente,
familiares e para a instituição hospitalar.
Assim como embaixo da lona do circo todos são envolvidos pelo riso, no hospital, os
cuidadores (equipe e família) também têm seus
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ganhos quando o riso cobre o dia-a-dia. Apesar de esta reflexão sobre a UPI!
enfatizar em primeiro plano os pacientes, são inegáveis os ruídos, e aprendizados
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da equipe, bem como o contágio prazeroso das mães ou pais, ao verem o sorriso de
seus filhos ou eles próprios experimentarem tal dimensão da vida.
Chiattone (1996) também nos convida a continuar seguindo essa direção quando
revela:
O clima antes era de apreensão. Com a UPI! elas [as crianças ficam mais receptivas
aos procedimentos. “Os médicos da alegria” não só
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“F. nos chamou [doutor Sushi e eu, doutor Labrô] e disse que estava com medo da
biópsia que tinha de fazer no outro dia. Então, com a ajuda de P. [outro paciente],
fizemos a cirurgia um dia antes, tirando um pedaço da massa de modelar [que seria
a parte da biópsia], de manipular, brincar e depois deixamos um adesivo no local
para o médico substituir pelo ponto. Ficou bem tranquilo e soubemos pelas
enfermeiras na outra visita que ele foi bastante calmo e confiante para a biópsia.”
O relato de doutor Labrô ressalta que intervenções dessa natureza amenizam a
ansiedade e o estresse do paciente, e favorecem o bom andamento do exame. Além
do fato de que toda caricatura cômica feita para a realização da “tal cirurgia” rende
muitos sorrisos.
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“(...) O fato de termos três ‘Zés’ na enfermaria nos fez batizar a ‘enfermaria dos Zés’.
Começamos, já que eram crianças um pouco mais velhas, a conversar sobre o
cotidiano do hospital, e por acaso acabou surgindo a questão do comportamento dos
médicos. Começamos a interagir com elas, simulando como um médico deveria ou
não cuidar de seus pacientes, desde a entrada nas salas, o cumprimento, a
abordagem às crianças, enfim, elas iam nos dizendo como fazer, e nós íamos
reproduzindo. Algumas vezes elas faziam, e acabavam fazendo como os médicos
fazem ao falar com elas. Muitas vezes chegando sem cumprimentar e já
perguntando: E aí? Fez cocô hoje? Fez xixi? E nós, ao perguntarmos se elas [as
crianças] não cumprimentavam os médicos, muitos deles disseram que sim e elas
nem respondem. Foi muito boa a intervenção, todas se divertiram muito e se
expressaram à vontade — uma completava a outra ou tomava a vez. Disseram uma
série de sensações e desejos que têm, de como gostariam que fossem, como
gostariam de ser tratadas... Exageramos as falas, levamos as atitudes dos médicos
ao extremo e encenamos com elas bem alto (tipo:o médico chega e não
cumprimenta, as crianças, sob nossa orientação diziam:’ Bom-dia, doutor!’, ele não
respondia se virava e perguntava: ‘E aí? Cagou hoje? Mijou?’), e as crianças se
deleitavam com isso! Em alguns momentos, as crianças devolviam a pergunta: ‘E o
senhor cagou? ’O deleite era maior, maior. Haja catarse!”
Nesse relato fica evidente que a presença dos doutores da UPI! também espelha
ruídos, que podem servir de luz para outros caminhos, para outras formas de
relação terapeuta-paciente, se puderem ser comunicados.
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O Pequeno Jornalista
Frente:
Verso:
Chegando na oncologia, qual foi a minha surpresa, mesmo tendo tido uma “meia
informação” a respeito de M., ao ver que a mãe — e o pai, que eu nunca tinha visto
antes — estava na antessala, lavando as mãos, antes de
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entrar no espaço em si. Ela estava no isolamento, junto ao P., outra criança muito
especial para mim, cujo tumor se desenvolve na área de um dos olhos, e que não
reconheci de cara, por estar deitado para o outro lado. Enfim, voltando a M., pude
ver uma emoção muito grande nos olhos da mãe, também velha conhecida, e do
pai, com quem nunca havia encontrado (mas esse brilho denunciou que ele já havia
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ouvido falar do doutor Labrô e do doutor Cem), uma alegria em nos ver por lá. Foi
muito forte!
Ao ver M. pela janela, numa enfermaria cujo acesso nos foi naquele momento
negado, me surpreendeu o seu estado debilitado, muito magra, mais frágil ainda do
que o normal, mas o seu sorriso — revelado depois pelos pais que não acontecia há
um certo tempo — e o esforço descomunal para levantar seu braço e nos dar tchau,
foi algo muito especial, confirmou uma relação muito forte, apesar de ter sido
construída devagar, com dificuldades. Como não podíamos entrar, eu fazia mímica,
tentava comunicar com o olhar, então resolvemos mandar um cartão com uma
dedicatória muito carinhosa, verdadeira e do fundo do coração para ela. Avisamos
que voltaríamos à janela mais tarde, após passarmos pelas outras enfermarias,
quando o fizemos, já no final da visita, pude ver a cena maravilhosa de M., dormindo
ao lado do cartão, quase que um travesseiro, me pareceu ter sido muito especial
para ela. Pra mim com certeza foi... Poderia ser a última vez que a estaria vendo
assim de longe, sem poder tocá-la, trocar uma palavra com ela.
Doutor Sushi
No relato desse ator ao descrever a visita do doutor da UPI! vemos uma pessoa
humana por trás do doutor, vivenciando os sentimentos provocados pela iminência
da morte do outro, enfrentando esse sentimento com atitudes de carinho, afeto,
possibilidades terapêuticas pouco usadas, mas eficientes no cuidar daquele que
sofre. No silêncio e na distância, a presença humana de nossos doutores Sushi e
Amado.
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Um episódio foi especial. Com E., quando ele estava com medo de tomar a injeção.
Pedimos que ele nos dissesse uma música que gostava, e ele atacou de funk. A
enfermeira, que acredito é a legítima enfermeira do funk, nos acompanhou, cantou,
dançou. Fizemos uma coreografia que virou hit no hospital, e o melhor — enquanto
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A versão criada pela enfermeira começava assim: “Só uma injeçãozinha não dói,
uma injeçãozinha não dói”. Todos os pacientes só querem receber injeção
acompanhada por música e show coreografado.
Doutor Labrô
Apesar dos insistentes pedidos das crianças e dos doutores da UPI!, a enfermeira
do funk não cantou e dançou mais como “naquele dia”. Em outra ocasião em que a
UPI! pedia, ela timidamente cantava, mas com o cuidado para não contaminar o
ambiente. Como já relatou outra enfermeira (fato já descrito anteriormente): “Não
pode, se não contamina o ambiente”. Retratando o culto à tristeza e a solenidade da
doença na instituição hospitalar e a consequente não permissividade ao riso.
Veia Bailarina
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Refrão
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F. não conseguia controlar muito bem os movimentos dos braços, nem tinha forças
físicas para ficar em pé ou sentado, mas sua vontade de viver saltava pelos seus
olhos e dançava pelo quarto inteiro. Doutora Biela notou que ele gostava de ler
histórias em quadrinhos e conseguiu um canal de comunicação pelos heróis das
histórias, eu aproveitei para conversar com a mãe que, acabei descobrindo, era do
mesmo interior que eu havia visitado recentemente e conhecia o mesmo senhor cuja
casa eu havia me hospedado. Pronto, depois de cinco minutos éramos velhos
conhecidos e já
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combinávamos um café da tarde, quando doutora Biela chamou minha atenção para
o suco que havia sido deixado intacto na bandeja. F. logo disse que não gostava de
suco de acerola, mas que havia gostado muito do peixe servido no jantar, era uma
pena não haver mais. Na mesma hora nos olhamos e tomamos uma decisão que
não sabíamos quais as consequências, mas decidimos assumir os riscos. Iríamos
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Ele não ficou bom, mas alimentou-se na véspera de sua morte com um apetite e
felicidade como nos tempos de saúde. Houve intervenção terapêutica, porque os
doutores da UPI! acreditam que sempre é possível cuidar.
Naquele instante ele foi feliz, o tum-tum do tambor da vida bateu mais forte, e mais
uma vez inspirou doutor Amado a criar mais uma música para nossa UPI!.
Tambor da Vida
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K. e a Superação do Doutor
Peguei na maleta, me aproximei, mas ele não respondia, estava encolhido, parado,
frágil como nunca o tinha visto. A mãe o segurava carinhosamente, proteção. “Ëta,
que menino lindo, olha meu filho o doutor palhaço, lembra como você gostava de
mexer na mala dele?” Não respondia, peguei a
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Por trás dos Clowns está um ator que é tocado pela dor de seu paciente, por sua
aparência forte (ele não possuía os dois glóbulos oculares), mas esse doutor é
trabalhado para esse enfrentamento em sua supervisão, ele também é cuidado.
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O fragmento a seguir mais uma vez revela a busca pela condição de enfrentamento
de realidades dolorosas por esses doutores, mediante o trabalho de supervisão.
Cabe lembrar da ausência de trabalho nessa direção para os nossos médicos não
clowns. Trabalhos que remetam ao fato de sermos tocados pela dor de nossos
pacientes.
Doutor Sushi
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É o que diz a canção primeira da UPI! É o convite lançado por seus doutores, diante
de uma sociedade marcada pela negação da morte, que não reconhece o prazer
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como fonte de saúde, que vive sob o signo da poderosa medicina tecnológica, na
qual qualquer ruído é atacado de forma que a ordem seja estabelecida.
Neste momento, gostaria de me despedir do texto buscando mais uma vez oxigênio
para meu desassossego. As metáforas realizam esse feito.
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Eles nos ensinam que o caos existente no interior de nossos sentimentos, que o
enfrentamento da morte, da dor e do delírio prazeroso, além de não nos destruir, é a
trilha possível para perceber a realidade. Um conhecer que junta as três filhas do
caos — arte, filosofia e ciência.
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Penso que esse caminho só pode ser trilhado se o nosso pensamento praticar o
abraço, como nos seduz Almeida (1998). Saber praticar o abraço é promover a
dialógica entre a universalidade e a singularidade, é exercitar uma estrutura mental
aberta ao acolhimento e à hospitalidade, mas também às ruínas e à desordem.
Será que podemos pensar em uma medicina com paixão, capaz de acolher, como a
um pássaro, o sofrimento do doente? Esta pergunta me desassossega. Aquele
paciente de HIV positivo faleceu grávido de um abraço de seu médico; enquanto o
personagem Johnny sentiu sua alma abraçada nos gestos silenciosos da
enfermeira.
E as cenas reais vivenciadas pelos pequenos pacientes dos doutores da UPI! nos
ensinam a reencontrar o que há de mais humano em nós. Primeiro passo para
rasgar o guarda-sol e inventarmos outras verdades, inventarmos uma racionalidade
humana, demasiadamente humana.
“Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer
sentido. Eu não: quero é uma verdade inventada.”
Clarice Lispector
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Referências Bibliográficas
Página 182
FELLINI, F. Felline por Felline. 3. ed. Tradução de José Antônio Pinheiro Machado,
Paulo Hecker Filho e Zilá Bernd. Porto Alegre: L&PM, 1986.
Página 183
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MASUR, J. O frio pode ser quente? 16. ed. São Paulo: Ática, 1999.
Página 184
SACKS, O. O homem que confundiu sua mulher com o chapéu: e outras histórias
clínicas. Tradução de Laura Teixeira Mota. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.
O bom humor evita doenças. Revista VEJA, Edição 1.708. Editora Abril, ano 34, n
27, 11 de julho de 2001 (98-101).
Página 185
Página 186
THOMSON
PSICOLOGIA DA SAÚDE
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A ÉTICA NA SAÚDE
Textos de Ana Maria L. C. de Feijoo, Viviane R. Soldati, Nelson Cruz dos Santos,
Marcia M. B. Bartilotti, Wilson Luiz Sanvito, Leo Pessuii, Heloisa B. de C. Chiattonc e
Ricardo \V Sebastiani. Tratar do tema “Etica” é sempre uma missão tão importante
quanto polêmica. Importante por ser componente fundamental de uma sociedade
organizada, que tenciona buscar e aprimorar o comportamento humano,
aperfeiçoando o relacionamento entre as pessoas e criando parâmetros de conduta.
Polêmica por estar ancorada no juízo pessoal, em códigos de conduta próprios ou
mesmo cm códigos impressos, mas que por muitas vezes dependem de
interpretações pessoais. Está dividido cm 9 capítulos, com diversas abordagens
sobre o tema.
DEPRESSÃO E PSICOSSOMÁTICA
VALDEMAR A. ANGERAMI — CAMON (ORG.)
assim, um grande avanço nos estudos que visam a uma melhor compreensão do
fenômeno da depressão. Trata-se de mais um lançamento da Editora Pioneira
Thomson Learnmg que se coloca, outra vez, na vanguarda das discussões
contemporâneas envolvendo temáticas tão presentes na condição humana. Essa
obra certamente é indispensável a todos que se debruçam para um melhor
entendimento da depressão e de suas sequelas na vida humana.
Este livro mostra a Psicologia no hospital com todas as suas dificuldades, avanços e
conquistas. Abordando a realidade brasileira, a obra traça a trajetória dos autores na
conquista do espaço hospitalar pelo psicólogo e propõe-se a despertar inúmeras
reflexões acadêmicas sobre a questão da saúde no País. A Psicologia no Hospital
apresenta a riqueza dos trabalhos dos autores em uma performance artesanal e é
um verdadeiro marco na história da Psicologia no Brasil.