APOCALIPSE
J C
1ª Edição
2020
Offenbarung Jesu Christi
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CH 8600 Dübendorf
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Copyright © 1999, 2018 por Chamada
1ª Edição para eBook – Maio/2020
ISBN eBook: 978-65-990601-4-4
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citações com a indicação da fonte.
Tradutor: Ingo Haak e
Revisão: Arthur Reink e
Edição: Sebastian Steiger
Capa: Tobias Steiger
Layout: Stefan Yuri Wondracek
Adaptação para eBook: Stefan Yuri Wondracek
Salvo indicação em contrário, todas as passagens da Escritura foram extraídas da Bíblia Sagrada, Nova
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(ACF), copyright © 1994, 1995, 2007 por Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil, Trinitarian Bible
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Dedicado à minha querida mulher e fiel companheira de lutas,
Johanna Maria Malgo-Schouten.
Sumário
PREFÁCIO
INTRODUÇÃO
1. EIS QUE ELE VEM COM AS NUVENS
2. JESUS CRISTO E A IGREJA EM GLÓRIA
3. AS CARTAS ÀS SETE IGREJAS
A Primeira Carta do Céu (Ap 2.1-7)
A Segunda Carta do Céu (Ap 2.8-11)
A Terceira Carta do Céu (Ap 2.12-17)
A Quarta Carta do Céu (Ap 2.18-29)
A Quinta Carta do Céu (Ap 3.1-6)
A Sexta Carta do Céu (Ap 3.7-13)
A Sétima Carta do Céu (Ap 3.14-22)
4. UMA MAGNÍFICA VISÃO DO CÉU
João é Arrebatado ao Céu em Espírito
Os Vinte e Quatro Anciãos
Os Sete Espíritos de Deus
O Mar de Vidro
Os Quatro Seres Viventes
5. O CORDEIRO E O LIVRO SELADO
A Adoração do Cordeiro
6. O CORDEIRO ABRE OS SELOS
O Primeiro Selo (Ap 6.1-2)
O Segundo Selo (Ap 6.3-4)
O Terceiro Selo (Ap 6.5-6)
O Quarto Selo (Ap 6.7-8)
O Quinto Selo (Ap 6.9-11)
O Sexto Selo (Ap 6.12-17)
7. A SELAGEM DOS CENTO E QUARENTA E QUATRO MIL
8. A GRANDE E INCONTÁVEL MULTIDÃO E O SÉTIMO SELO
A Grande e Incontável Multidão (Ap 7.9-17)
O Sétimo Selo (Ap 8.1-5)
9. AS TROMBETAS DE JUÍZO
Introdução (Ap 8.6)
A Primeira Trombeta de Juízo (Ap 8.7)
A Segunda Trombeta de Juízo (Ap 8.8-9)
A Terceira Trombeta de Juízo (Ap 8.10-11)
A Quarta Trombeta de Juízo (Ap 8.12)
O Tríplice “ai dos...” (Ap 8.13)
A Quinta Trombeta de Juízo (Ap 9.1-12)
A Sexta Trombeta de Juízo (Ap 9.13-21)
10. O OUTRO ANJO PODEROSO COM O LIVRO
11. A MEDIÇÃO DO TEMPLO DE DEUS
12. AS DUAS TESTEMUNHAS
13. A SÉTIMA TROMBETA
14. A PROTEÇÃO DE ISRAEL NA GRANDE TRIBULAÇÃO
15. A REVELAÇÃO DO ANTICRISTO
16. O CORDEIRO E OS CENTO E QUARENTA E QUATRO MIL NO MONTE SIÃO
17. A VISÃO DO ARMAGEDOM
18. OS CANTORES NO MAR DE VIDRO
19. AS SETE TAÇAS DA IRA
Introdução (Ap 16.1)
A Primeira Taça da Ira (Ap 16.2)
A Segunda e Terceira Taças da Ira (Ap 16.3-7)
A Quarta Taça da Ira (Ap 16.8-9)
A Quinta Taça da Ira (Ap 16.10-11)
A Sexta Taça da Ira (Ap 16.12-16)
A Sétima Taça da Ira (Ap 16.17-21)
20. O JUÍZO SOBRE A BABILÔNIA
21. O DESDOBRAMENTO DO IMPÉRIO ROMANO ANTICRISTÃO
22. A DESTRUIÇÃO DA BABILÔNIA
23. O TRIUNFO SOBRE A QUEDA DA BABILÔNIA
24. O CASAMENTO DO CORDEIRO
25. A VOLTA DE JESUS CRISTO
26. A DERROTA DO ANTICRISTO: ARMAGEDOM EM REALIZAÇÃO
27. A PRISÃO DE SATANÁS
28. O REINO DE PAZ MILENAR
29. A PRIMEIRA RESSURREIÇÃO
30. A ÚLTIMA SEDUÇÃO E O FIM DE SATANÁS
31. O JUÍZO FINAL DEPOIS DO MILÊNIO
O Tribunal de Cristo
32. O NOVO CÉU E A NOVA TERRA
33. A GLÓRIA DA NOVA JERUSALÉM
34. AMÉM. VEM, SENHOR JESUS!
APÊNDICES
1 - Nota Sobre o Céu Aberto
2 - Observações Sobre o Discipulado de Jesus
Prefácio
O Apocalipse de Jesus Cristo: provavelmente não há outro livro da
Bíblia em que encontramos tantas opções de interpretações e
esclarecimentos como justamente neste último livro da Bíblia. Há
muitas interpretações sérias e boas disponíveis, vários estudiosos da
Bíblia – até os dias de hoje – se envolveram com este livro durante
anos: como compreender essas coisas, para quem este livro fala, a
que época se refere... Para muitos leitores da Bíblia, o livro do
Apocalipse é de difícil compreensão, sendo que muitos desistem de
estudá-lo com seriedade. No entanto, já no versículo 3 observamos
que vale a pena estudá-lo. A Bíblia é a Palavra Viva de Deus, Deus
nos fala através dela. Ali está escrito: “Feliz aquele que lê as
palavras desta profecia e felizes aqueles que ouvem e guardam o
que nela está escrito, porque o tempo está próximo” (Ap 1.3). Como
já foi dito, apenas essa afirmação e essa promessa já seriam
motivos suficientes para ler, estudar e se preocupar com o livro do
Apocalipse.
Lembro-me ainda de quando meu pai, há muitos anos, começou a
explicar e interpretar o livro do Apocalipse. Eu estava na
adolescência e, falando sinceramente, era muito difícil para mim
compreender e acompanhar tudo isso. E hoje, olhando para o
passado e diante dessa interpretação, fico muito agradecido que
meu pai fez este grande trabalho. Esta obra não tem a pretensão de
ser a única correta, mas muito antes, de servir de incentivo ao leitor
da Bíblia e de ajuda para que ele mesmo estude e pesquise: “...
examinando todos os dias as Escrituras, para ver se tudo era assim
mesmo” (At 17.11). Neste sentido, querido(a) leitor(a), desejo que
essa interpretação se torne uma grande bênção e que esse
interessantíssimo livro, Apocalipse de Jesus Cristo, lhe ajude a
entender melhor e o anime a estudar o livro do Apocalipse, pois
neste último livro da Bíblia podemos ver claramente: Deus está no
comando e tem tudo sob o seu controle. Seu plano de salvação se
cumpre e ele chegará ao objetivo, tanto com você pessoalmente,
como com sua igreja e com seu povo eleito, Israel.
Encerro citando o versículo 7 do último capítulo de Apocalipse:
“Eis que venho em breve! Feliz é aquele que guarda as palavras da
profecia deste livro”.
Jonathan Malgo
Diretor da Chamada da Meia-Noite na Suíça
Dübendorf, agosto de 2016
Introdução
No livro do Apocalipse é o próprio Deus escrevendo a história. Deus
é o Eterno e para ele tudo – passado, presente e futuro – é eterno
presente, ou seja, ele escreve a história do futuro. Desse modo, para
Deus, os negros tempos finais, o grande drama humano, já estão
presentes e realizados. João viu o contexto eterno a partir dessa
elevada perspectiva. Admitimos a divisão cronológica do Apocalipse
apenas condicionalmente. Condicionalmente porque a eternidade, por
um lado, não pode ser classificada no tempo, mas, por outro, realiza-
se no tempo. Aí o raciocínio, que quer ter tudo ordenado segundo a
lógica humana, entra em conflito com dois fatos opostos: com o
conselho eterno de Deus, que está estabelecido, e com sua
realização temporal, ou seja, nos tempos finais. A igreja de Jesus é
um organismo, o corpo de Cristo. No entanto, também o livro do
Apocalipse representa um organismo.nota 1
Na estrutura do Apocalipse não encontramos uma simples
recapitulação (repetição). Em nenhum lugar é repetido algo que já
tenha sido dito em qualquer capítulo. Pelo contrário, trata-se de
apresentações do fim deste mundo, “ordenadas em grupos, cujos
círculos não correspondem nem coincidem exatamente, mas se
interseccionam e sobr epõem. Assim como a qualquer momento os
acontecimentos se sucedem, trazendo em si os anteriores e os
seguintes, preparando e formando-os, de modo que os novos
englobam os anteriores, mas são sua sequência – até a revelação
de todos os mistérios que contêm desde o princípio” (R. Schmitz).
Além disso, defendemos a interpretação literal do Apocalipse, não
a simbólica ou alegórica. Contudo, quando no Apocalipse são
utilizadas alegorias, ou seja, figuras e símbolos, isso é dito
claramente, como com a palavrinha “como”. Assim, por exemplo, diz
no capítulo 10.1: “... como o sol”, ou no capítulo 9.5: “... como a da
picada do escorpião” ou, também, no capítulo 12.1: “Apareceu no
céu um sinal extraordinário”.
O Apocalipse é a “Revelação de Jesus Cristo” (1.1). Ele revela,
portanto, a pessoa de Jesus Cristo, e somente ele é o conteúdo do
futuro! No grego, a língua em que foi escrito o Novo Testamento, é
usada a expressão “Apocalipse” para “Revelação de Jesus Cristo”.
Da revelação de Jesus Cristo também lemos em 1Coríntios 1.7: “...
enquanto vocês esperam que o nosso Senhor Jesus Cristo seja
revelado”. Ali também é usada a mesma palavra grega, como
também em 2Tessalonicenses 1.7: “Isso acontecerá quando o
Senhor Jesus for revelado lá dos céus”. O mesmo diz também
1Pedro 1.7: “... quando Jesus Cristo for revelado”. No mesmo
capítulo Pedro diz, no versículo 13: “... na graça que será dada a
vocês quando Jesus Cristo for revelado”. O Senhor Jesus também
usa essa expressão, em Lucas 17.30: “... no dia em que o Filho do
homem for revelado”. Todas essas são descrições idênticas para
apocalipse ou a revelação de Jesus Cristo.
O último livro da Bíblia é o único livro totalmente profético do Novo
Testamento e está muito relacionado aos profetas do Antigo
Testamento, ampliando e aprofundando suas mensagens, pois o
maior cumprimento de toda a profecia bíblica está no centro do
Apocalipse. E o que seria o maior cumprimento da profecia bíblica?
Não um povo ou mesmo povos e também não acontecimentos, mas
uma pessoa: Jesus Cristo! Desse modo, o Cordeiro de Deus
encontra-se no centro do Apocalipse. Por isso é também muito
necessário observar a expressão “cordeiro”. O cordeiro mostra-nos
o Filho de Deus em sua obra na cruz do Gólgota. Notável, e
maravilhoso ao mesmo tempo, é que temos no Apocalipse um
sétuplo desdobramento do caráter e da obra do Cordeiro. Isso não
quer dizer que o Cordeiro é citado somente sete vezes. Não, no
original o Cordeiro é citado vinte e oito vezes no Apocalipse – isso é
quatro vezes sete! O sétuplo desdobramento do caráter e da obra
do Cordeiro é representado por:
1Revelação de Jesus Cristo, que Deus lhe deu para mostrar aos
seus servos o que em breve há de acontecer. Ele enviou o seu
anjo para torná-la conhecida ao seu servo João, 2que dá
testemunho de tudo o que viu, isto é, a palavra de Deus e o
testemunho de Jesus Cristo. 3Feliz aquele que lê as palavras
desta profecia e felizes aqueles que ouvem e guardam o que nela
está escrito, porque o tempo está próximo. 4João, às sete igrejas
da província da Ásia: A vocês, graça e paz da parte daquele que
é, que era e que há de vir, dos sete espíritos que estão diante do
seu trono 5e de Jesus Cristo, que é a testemunha fiel, o
primogênito dentre os mortos e o soberano dos reis da terra. Ele
nos ama e nos libertou dos nossos pecados por meio do seu
sangue, 6e nos constituiu reino e sacerdotes para servir a seu
Deus e Pai. A ele sejam glória e poder para todo o sempre!
Amém. 7Eis que ele vem com as nuvens, e todo olho o verá, até
mesmo aqueles que o traspassaram; e todos os povos da terra se
lamentarão por causa dele. Assim será! Amém.
N
o segundo e terceiro capítulos de Apocalipse encontramos
uma parte muito importante da Escritura Sagrada: as cartas.
O piedoso dr. Bengel costumava aconselhar o estudo dessas
cartas em primeiro lugar aos pregadores jovens. Como as parábolas,
essas cartas consistem exclusivamente das palavras do próprio
Cristo. Trata-se das últimas que temos diretamente dele. Talvez
sejam também as únicas que nos são dadas integralmente. Com
suas introduções solenes – “Estas são as palavras daquele...” – e
formas de tratamento diretas – “Conheço...” –, transmitem a
impressão de extraordinária majestade. Essa impressão resulta, não
por último, também devido à ordem sete vezes repetida: “Aquele que
tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às igrejas”.
Não há indicações de que as sete cartas seriam dirigidas somente
às sete igrejas locais, pois essas igrejas representam toda a igreja
de Jesus. O número sete representa a plenitude e perfeição divina
da era da igreja. Isto é: a mensagem do Cristo elevado às sete
igrejas da Ásia Menor vale da mesma forma para toda a igreja hoje
como teve validade para a igreja já glorificada de gerações
passadas. As sete igrejas, porém, não são proféticas no sentido de
cada uma representar uma época determinada da história
eclesiástica. Essa espécie de interpretação levou muitas exegeses,
suposições e hipóteses arbitrárias. Apesar de não se poder negar
que – como na estátua das nações de Nabucodonosor, onde a
redução da qualidade exterior das potências mundiais foi
representada nos diversos metais (ouro, prata, bronze, ferro, barro)
– o poder espiritual da igreja de Jesus diminuiu constantemente no
decorrer dos séculos por causa de compromissos e modernização,
de modo que a igreja dos tempos finais é hoje, em parte, idêntica a
Laodiceia. No entanto, não estão todos os aspectos positivos e
negativos, mostrados pelo Senhor julgador e elevado nas sete
igrejas, presentes na igreja toda? Ouçamos, portanto, o que o
Espírito diz hoje à igreja através das sete cartas!
A Primeira Carta do Céu (Ap 2.1-7)
1“Ao anjo da igreja em Éfeso, escreva: Estas são as palavras
daquele que tem as sete estrelas em sua mão direita e anda entre
os sete candelabros de ouro. 2Conheço as suas obras, o seu
trabalho árduo e a sua perseverança. Sei que você não pode
tolerar homens maus, que pôs à prova os que dizem ser
apóstolos mas não são, e descobriu que eles eram impostores.
3Você tem perseverado e suportado sofrimentos por causa do
meu nome e não tem desfalecido. 4Contra você, porém, tenho
isto: você abandonou o seu primeiro amor. 5Lembre-se de onde
caiu! Arrependa-se e pratique as obras que praticava no princípio.
Se não se arrepender, virei a você e tirarei o seu candelabro do
lugar dele. 6Mas há uma coisa a seu favor: você odeia as práticas
dos nicolaítas, como eu também as odeio. 7Aquele que tem
ouvidos ouça o que o Espírito diz às igrejas. Ao vencedor darei o
direito de comer da árvore da vida, que está no paraíso de Deus”.
Éfeso era a antiga capital da Ásia Menor, com aproximadamente
meio milhão de habitantes; uma orgulhosa metrópole e, ao mesmo
tempo, um destacado centro mercantil e o centro do culto à Ártemis
(ou Diana), como Atos dos Apóstolos 19 nos mostra claramente.
Havia ali uma numerosa comunidade judaica, que Paulo conheceu em
sua segunda viagem (At 18.19-21). Também Apolo pregou lá (At
18.24-28). Mais tarde, Paulo morou três anos em Éfeso (At 20.31).
Através do seu trabalho, o Senhor fundou a sua igreja dentre judeus
e gentios. Foi dos anciãos dessa igreja que Paulo se despediu de
forma tão comovente em sua terceira viagem missionária (At 20.17-
38). À essa igreja Paulo escreveu sua grandiosa carta, na qual nos é
dado certamente o mais profundo entendimento sobre o mistério da
igreja, o corpo de Jesus Cristo. A tradição também diz que Éfeso foi
o local de residência do apóstolo João, e que ele trabalhou e morreu
ali. De lá, após a morte de Paulo, ele teria supervisionado as igrejas
da Ásia Menor. Entre 630 e 640 d.C., Éfeso caiu nas mãos dos
turcos. A cidade em si foi destruída em 1402 d.C. por Tamerlão. As
ruínas restantes chamam-se hoje Ayasoluk, que surge de Hagios
Theologos, que quer dizer “santo teólogo”, lembrando o apóstolo
João, “o teólogo”, que teria sido sepultado lá.
“Ao anjo da igreja em Éfeso, escreva” (v. 1). Uma igreja local
recebe uma carta pessoal do Senhor! “Ao anjo da igreja...” Trata-se
realmente de um ser angélico nesse caso? É quase certo que não,
pois a palavra “anjo” é também traduzida frequentemente como
“mensageiro”. A explicação mais razoável é que se fala aqui dos
líderes da igreja. As sete igrejas da Ásia Menor encontravam-se em
volta da ilha de Patmos, no mar Mediterrâneo, onde o apóstolo João
estava banido. Os sete anjos, ou seja, anciãos, mantinham a
comunicação entre João e as igrejas (1.19-20). Eles tinham uma
grande responsabilidade. Já sentimos isso na leitura do primeiro
versículo: “Ao anjo da igreja em Éfeso, escreva”. Pois o que o
Senhor mandou escrever ao ancião da igreja em Éfeso era destinado
à toda a igreja. Sua responsabilidade consistia, portanto, em
transmitir fielmente à igreja tudo o que o Senhor disse a João e que
João escreveu. Também nós temos essa responsabilidade, desde
que sejamos servos ou servas do Senhor Jesus: transmitir aquilo que
o Senhor nos diz. Ele confiou-nos muito! No entanto, é também uma
enorme bênção quando transmitimos o que recebemos! Essa, aliás,
era também uma das maiores fontes de poder do nosso Senhor
Jesus. Ele testemunha na oração sacerdotal: “Pois eu lhes entreguei
a mensagem que tu me deste...” (Jo 17.8 NTLH). Quão pobres e
miseráveis são as igrejas e congregações que não têm mais
mensageiros que inclinam seus ouvidos para a Bíblia, para o coração
de Deus!
E agora o Senhor elevado, o Autor, fala de si mesmo no versículo
1: “Estas são as palavras daquele que tem as sete estrelas em sua
mão direita e anda entre os sete candelabros de ouro”. O que isso
significa não é segredo, pois a Bíblia fornece comentário para a
Bíblia. Já alguns versículos antes é dito o que são os sete
candelabros: “Este é o mistério das sete estrelas que você viu em
minha mão direita e dos sete candelabros: as sete estrelas são os
anjos das sete igrejas, e os sete candelabros são as sete igrejas”
(1.20). Portanto, está claro o que o Senhor quer dizer com a frase:
“Estas são as palavras daquele que tem as sete estrelas em sua
mão direita...”. Que consolo: ele conserva os seus servos em sua
mão! Você é um servo ou uma serva de Deus? Então isso vale
também para você! “... ninguém as poderá arrancar da minha mão”
(Jo 10.28). É o que diz o Senhor elevado, que anda no meio dos sete
candelabros, das sete igrejas. Quão grande é a luz de uma igreja! No
Antigo Testamento, Israel tinha somente uma luz, a Menorá, que
iluminava o tabernáculo e, mais tarde, o templo. As sete igrejas
representam a igreja completa. Ela tem uma sétupla plenitude de luz.
“Vocês são a luz do mundo” (Mt 5.14a), disse o Senhor Jesus.
Quando o Senhor apresenta a si mesmo, para evitar que haja
dúvidas sobre a autoria da carta, ele ao mesmo tempo dá
legitimidade aos seus servos: “... que tem as sete estrelas em sua
mão direita”. Isso lembra de Isaías 42.1: “Eis o meu servo, a quem
sustento...”. Além disso, o Senhor diz que anda entre os sete
candelabros, portanto não está simplesmente parado. Ele está no
seu meio! E: ele é ativo no seu meio!
Observemos o Senhor Jesus no seu caminho vitorioso da terra
para o céu: três dias após sua morte na cruz, ressuscitou
vitoriosamente; quarenta dias depois, subiu ao céu em triunfo,
assentando-se à direita da majestade de Deus. Através do Espírito
Santo, porém, ele anda hoje entre as sete igrejas, isto é, entre toda
a igreja. Ele está presente, apesar de no Novo Testamento o vermos
nove vezes (quatro delas na carta aos Hebreus) assentado à direita
da Majestade, nas alturas. Ele está “muito acima de todo governo e
autoridade, poder e domínio, e de todo nome que se possa
mencionar, não apenas nesta era, mas também na que há de vir” (Ef
1.21). Sua elevação nada mais é do que o resultado da sua
ressurreição. E o maravilhoso: quando Jesus subiu ao céu, foi como
com Abraão, do qual está dito que Melquisedeque foi ao seu
encontro e lhe trouxe pão e vinho. Quando isso aconteceu, Levi já se
encontrava nos lombos de Abraão, isto é, todo o Israel, o sacerdócio
(Hb 7.5), já estava em Abraão. No entanto, ele ainda não estava
revelado. Então, quando Jesus subiu ao céu, toda a igreja já estava
nele. Nós ainda não éramos visíveis, mas estávamos presentes;
estávamos figuradamente nos seus lombos, pois ele é a cabeça e
nós somos os membros. Nós somos o corpo de Jesus Cristo e,
assim, o triunfo de Jesus Cristo – sua ascensão e seu assentar à
direita da Majestade de Deus – é também o nosso triunfo! (cf. Ef
2.6.)
O grande tema dessa primeira carta do céu, do Cristo elevado,
contém duas coisas: serviço e amor. “Conheço as suas obras, o seu
trabalho árduo e a sua perseverança. Sei que você não pode tolerar
homens maus, que pôs à prova os que dizem ser apóstolos mas não
são, e descobriu que eles eram impostores. Você tem perseverado e
suportado sofrimentos por causa do meu nome e não tem
desfalecido” (v. 2-3). Isso é serviço – serviço fiel e incansável,
combinado com inexistência de comprometimentos, pois ele diz no
versículo 6: “Mas há uma coisa a seu favor: você odeia as práticas
dos nicolaítas...”. Os nicolaítas eram cristãos que, apesar de serem
convertidos e membros da igreja de Jesus, de alguma maneira
estabeleciam compromissos e aprovavam pecados da carne. Isso
era rejeitado pela igreja em Éfeso. Ela rejeitava decididamente toda
semelhança com o mundo – portanto: serviço e amor. Olhemos
claramente esses dois conceitos básicos do discipulado de Jesus e
ouçamos aquilo que o Senhor elevado diz a respeito à igreja de
Éfeso.
Primeiro algo do amor, que está sempre em primeiro lugar aos
olhos do Senhor. Depois falaremos do serviço e, finalmente, mais
uma vez do amor.
O amor passa como um fio vermelho através de toda a Bíblia. O
amor é o mais elevado. Por isso, Paulo louva o amor em 1Coríntios
13 e constata: “... se não tiver amor, nada serei” (v. 2). No Antigo
Testamento há duas passagens em que é exigido amor: “E agora, ó
Israel, que é que o S , o seu Deus, pede de você, senão que
tema o S , o seu Deus, que ande em todos os seus caminhos,
que o ame e que sirva ao S , o seu Deus, de todo o seu
coração e de toda a sua alma” (Dt 10.12). E uma passagem
semelhante em Miqueias 6.8: “Ele mostrou a você, ó homem, o que é
bom e o que o S exige: pratique a justiça, ame a fidelidade e
ande humildemente com o seu Deus”. Se agora reunimos essas duas
passagens, temos sete exigências que o Senhor fazia a Israel na
antiga aliança. Como o mesmo tema é predominante também na
primeira carta do céu, vamos organizar essas exigências. Em
Deuteronômio 10.12: 1) temer o Senhor; 2) andar em seus caminhos;
3) amá-lo; 4) servi-lo de todo o coração e de toda a alma. Em
Miqueias 6.8: 5) praticar a justiça; 6) amar a fidelidade; e 7) andar
humildemente com Deus. Esclarecedor é que essas duas afirmações
no Antigo Testamento não somente contêm sete exigências de Deus,
mas também que uma delas é repetida, se bem que com uma
nuance. Em Deuteronômio 10.12 é dito “o ame” e em Miqueias 6.8
“ame a fidelidade”. Isso, porém, é o cumprimento da exigência
completa do Senhor, como ele a expressou no Novo Testamento.
Quando um fariseu foi a Jesus e perguntou: “Mestre, qual é o maior
mandamento da Lei?” (Mt 22.36), está escrito: “Respondeu Jesus:
‘“Ame o Senhor, o seu Deus de todo o seu coração, de toda a sua
alma e de todo o seu entendimento”. Este é o primeiro e maior
mandamento. E o segundo é semelhante a ele: “Ame o seu próximo
como a si mesmo”. Destes dois mandamentos dependem toda a Lei
e os Profetas’” (Mt 22.37-40). Se não vemos essa relação, não
podemos entender direito a carta. Aliás: não se pode entender direito
o Novo Testamento quando não se conhece o Antigo Testamento. O
Senhor descreve claramente sua exigência nas duas passagens do
Antigo Testamento, mas a mais elevada de forma dupla: “Ame o” e
“ame cada um o seu próximo”. O último resulta do primeiro.
Se sua pergunta pessoal para nós é: você me ama?, então nos
examinaremos com santa seriedade e nos perguntaremos:
correspondemos a essa única e portanto maior necessidade, ou
falta-nos afinal a única condição para o serviço abençoado? A igreja
de Jesus de fato consiste em servos do Senhor. O próprio Senhor
Jesus descreveu o que realmente é servir: “Quem me serve precisa
seguir-me” (Jo 12.26). Esta é, portanto, a definição de servir: o
seguir a Jesus! Sabemos disso muito bem e também cantamos logo:
“Estou decidido, a seguir a Jesus...”. No entanto, não coloquemos a
ênfase sobre o “estou”, mas sobre a pessoa, sobre Jesus! A
indisposição para servir no reino de Deus tem sua raiz no
distanciamento da pessoa do Senhor Jesus. Não há mais amor
ardente, não há mais verdadeiro discipulado.
Não se pode dizer dos efésios que eles não tinham disposição
para servir. Pelo contrário, raramente existiu uma igreja que fosse
tão zelosa e tão pronta para o trabalho, tão sem compromissos e tão
biblicamente fundamentada como a de Éfeso: “Conheço as suas
obras, o seu trabalho árduo e a sua perseverança. Sei que você não
pode tolerar homens maus, que pôs à prova os que dizem ser
apóstolos mas não são, e descobriu que eles eram impostores. Você
tem perseverado e suportado sofrimentos por causa do meu nome e
não tem desfalecido” (v. 2-3). Que atividade de serviço cristão tinha
essa igreja! O alto grau de conhecimento dá frutos. O Senhor sabe
de tudo que fazemos! Esse “Conheço” aparece sete vezes nas
cartas.
Se você se esforça e se desgasta no trabalho para o Senhor e
sacrifica a ele o seu tempo livre, então ele diz: “Conheço...”. Esse
conhecer do Senhor elevado, porém, nem sempre significa alegria
para ele, porque frequentemente não correspondemos à sua
exigência mais elevada.
Faz-se necessária, entretanto, uma correção, pois a palavra
“exigência” aparece no Antigo Testamento, mas não no Novo
Testamento. No Antigo Testamento está escrito: “É dito o que o
Senhor exige de você”, mas no Novo Testamento temos um Senhor
que pede. O Antigo Testamento, a lei, diz: faça isso e viverá. O Novo
Testamento, a graça, diz: viva, e você o fará. Por que o Senhor não
se alegra pelos efésios, apesar de poder enumerar tantas coisas
positivas nos versículos 2-3 da sua carta? Porque seu serviço – e
isso vale também para o nosso – era quantitativamente notável, mas
qualitativamente deficiente. Por quê? Porque não era abençoado.
Por quantitativo entendemos o efeito horizontal, aquilo que se
percebe à nossa volta, o que impressiona as pessoas: boa
pregação, canto bonito, testemunho emocionante, dedicação
abnegada. Não se pode dizer que no reino de Deus essas coisas não
acontecem. Mas qualitativamente...? Qualidade é aquilo que
poderíamos também chamar de efeito de profundidade: serviço
abençoado, porque tem suas fontes na pessoa de Jesus e leva para
Jesus! É isso que o Senhor quer dizer aos efésios: “Conheço as suas
obras, o seu trabalho árduo e a sua perseverança... e... e...”. Então,
porém, vem a acusação: “Contra você, porém, tenho isto: você
abandonou o seu primeiro amor” (v. 4). Se servimos no primeiro
amor, temos ilimitados efeitos de profundidade: lançamos
fundamentos que permanecem para sempre e damos frutos que têm
valor eterno. Em duas palavras: somos abençoados. No entanto, se
não somos abençoados, o tempo nos foge.
O serviço do Senhor Jesus era da mais alta qualidade. Ele era o
servo de todos: “... o Filho do homem, que não veio para ser servido,
mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos” (Mt 20.28).
Seu serviço tinha efeitos grandiosos e profundos. Cada renascido é
um fruto do seu serviço. Qual era o motor do seu serviço, que o
impeliu a entregar a sua vida? Era o seu grande, maravilhoso e
inextinguível amor! Um serviço sem o primeiro amor por ele é sem
efeito; é um serviço frio, degenerado a um nível social: evangelho
social. Podemos assim fazer muitas coisas boas “ao próximo” – até
mesmo nos tornar um segundo Pestalozzi ou um segundo Albert
Schweitzer –, mas se a mola propulsora não é o amor de Jesus, isso
não tem efeito de profundidade, mas no máximo de comprimento. O
Senhor Jesus diz: “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a
sua vida pelos seus amigos” (Jo 15.13). Por amor – a quem? Em
primeiro lugar, seu amor ardente impulsionava-o para o seu Pai. A
Bíblia está cheia de provas desse maravilhoso amor do Filho pelo Pai
e do Pai pelo Filho. Assim, Deus disse três vezes do céu: “Este é o
meu Filho amado” e “Eu já o glorifiquei e o glorificarei novamente”
(Mt 3.17; 17.5; Jo 12.28). Essa era a majestade do seu serviço.
Nisso estava a sua autoridade. Seu serviço não era estéril, não se
tratava de atividade cristã ou social. Seu amor era um “propulsor” tão
forte que ele podia suportar tudo. O amor a Jesus precisa ser a mola
propulsora do nosso serviço. “Pois o amor de Cristo nos
constrange...” (2Co 5.14). Se não é esse amor que nos propulsiona,
nosso serviço não é abençoado. “Serviço abençoado”, no fundo, não
significa nada mais do que fazer a vontade de Deus. A santa vontade
de Deus é movida pelo seu caráter, e esse é amor! “Porque Deus
tanto amou o mundo que deu o seu Filho Unigênito...” (Jo 3.16).
Portanto, sua vontade de dar o seu Filho foi impulsionada pelo seu
amor. Tudo que fazemos fora da pessoa do Senhor é um serviço
morto. Por mais cristãs que sejam nossas atividades, vale: “... se
não tiver amor, nada serei” (1Co 13.2).
Quando falamos do primeiro amor, falamos do mais sagrado. Com
esse primeiro amor faz-se referência a duas coisas: o primeiro amor
e o amor em primeiro lugar. Ter perdido o primeiro amor significa não
realizar mais as primeiras obras. Volte à prática das primeiras obras
como você fazia antigamente: com oração e motivado “por causa de
Jesus”. Você não está mais com ele tanto quanto antes. Quantas
vezes se vê isso também em matrimônios que foram realizados
contra a vontade de Deus. Eles começam idealisticamente e cheios
de confiança. No entanto, logo o primeiro amor começa a esfriar,
sim, ele chega ao ponto de congelamento. Os cônjuges não têm
mais nada a se dizer. Assim é nas coisas espirituais: talvez você
ainda ora, contribui e canta, mas o fulgor do primeiro amor, que
iluminava tudo o que fazia antes, não existe mais. Talvez você fala a
“língua dos anjos”, tem uma fé poderosa, trabalha sem se cansar,
sendo zeloso e sem compromissos – mas sem aquilo que vivifica
tudo: o primeiro amor.
Com isso chegamos ao segundo significado de “contra você,
porém, tenho isto: você abandonou o seu primeiro amor”.
Certamente você ama ele, mas qual lugar em sua vida ocupa esse
amor a Jesus? Em Éfeso havia tantas coisas importantes, inclusive
para os crentes. Éfeso era, como citado, uma rica cidade comercial,
um centro do Oriente, que oferecia muitas possibilidades. Com o
tempo, para muitos crentes os negócios, o trabalho, as relações, o
planejamento do tempo livre, começaram a ocupar o primeiro lugar.
Por acaso você também está em vias de dar o primeiro lugar a algo
que não seja Jesus, abandonando assim o primeiro amor? O
primeiro amor nada mais é do que a disposição de sofrer. Sofrer é
maior do que trabalhar. O maior significado do grão de trigo não se
encontra em si mesmo, mas no fato dele morrer. “Primeiro amor”
significa, portanto, disposição para realmente morrer junto com
Cristo; amor pela cruz. Qual é o lugar que o amor a Jesus, o amor à
cruz, ocupa em seu coração? “Contra você, porém, tenho isto: você
abandonou o seu primeiro amor”, diz o Senhor. A sociedade pode
engolir muitas coisas em nossa vida. Tantas trivialidades ocupam o
primeiro lugar: televisão, jornal, dinheiro, conforto. Um exemplo claro
disso são os Jogos Olímpicos. Aquelas poucas semanas custam
cada vez bilhões de reais. Com razão um jornalista chamou isso de
estupidez absurda. O esforço foi e é (de modo crescente) muito
grande em proporção ao essencial. Como é a proporção entre o
essencial, o primeiro amor ao Senhor, e o esforço para a sua vida
diária? Você é absorvido completamente pela sua vida no dia a dia,
pelas suas atividades diligentes, pelo seu pensamento material? O
amor ao Senhor Jesus está em último lugar ou até já desapareceu
completamente? Por tantos abandonarem o primeiro amor é que
ainda não temos um despertamento abrangente. Milhões de pessoas
vão para a perdição eterna porque o amor ao Senhor não arde mais,
porque os filhos de Deus não estão dispostos a fazer toda a vontade
de Deus. Obediência ao Senhor e amor por ele, isso é inseparável.
O quanto a vontade de Deus está relacionada com o seu grande
amor percebe-se pela sua própria afirmação, em Oseias 14.4: “... os
amarei de todo o meu coração”.
O seu raio de ação é tão reduzido porque você não está disposto
a fazer a vontade do Senhor, e não está disposto a fazer a vontade
do Senhor porque o seu amor completo não pertence a ele. O
Senhor mesmo disse: “Quem tem os meus mandamentos e lhes
obedece, esse é o que me ama” (Jo 14.21).
Por que a Palavra de Deus teve tanta penetração entre os
primeiros cristãos, na igreja primitiva? Deus deu um despertamento
especial? Não. Deus é sempre o abençoador, sempre aquele que dá
vida. Os primeiros cristãos, porém, não amavam a si mesmos, os
seus bens ou o seu dinheiro. Pelo contrário, eles tinham tudo em
conjunto, eles entregaram tudo. Eles faziam a vontade de Deus até
as últimas consequências – e o evangelho se espalhou.
No entanto, pela perda do primeiro amor não é mais cumprida a
vontade de Deus sobre a terra, por cuja realização o Senhor Jesus
orou: “... seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu”. O
Senhor Jesus nos procura e nos diz: “Lembre-se de onde caiu!
Arrependa-se e pratique as obras que praticava no princípio. Se não
se arrepender, virei a você e tirarei o seu candelabro do lugar dele”
(v. 5). Então escurece. Você percebe como as luzes à sua volta
estão apagando? Vê como fica escuro? Arrependa-se e faça as
primeiras obras!
A urgente necessidade de arrepender-se é expressa nessa
primeira carta, bem como nas seguintes, com as palavras: “Aquele
que tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às igrejas” (v. 7,11,17,29;
3.6,13,22). Isso quer dizer: aquele que, como renascido, como
membro no corpo de Jesus, tem a capacidade, ou seja, a inclinação
interior para ouvir o que o Senhor diz, esse deve realmente ouvir. Em
outras palavras: ele tem a responsabilidade de atender àquilo que
ouviu e entendeu. Imediatamente depois, o Senhor faz a primeira
promessa aos vencedores: “Ao vencedor darei o direito de comer da
árvore da vida, que está no paraíso de Deus” (v. 7b). Essa primeira
promessa aos vencedores nos leva de volta ao paraíso e à arvore da
vida. Depois que Adão comeu da árvore do conhecimento do bem e
do mal, ele foi expulso do paraíso para que não comesse também da
árvore da vida: “Então disse o S Deus: ‘Agora o homem se
tornou como um de nós, conhecendo o bem e o mal. Não se deve,
pois, permitir que ele tome também do fruto da árvore da vida e o
coma, e viva para sempre’. Por isso o S Deus o mandou
embora do jardim do Éden para cultivar o solo do qual fora tirado.
Depois de expulsar o homem, colocou a leste do jardim do Éden
querubins e uma espada flamejante que se movia, guardando o
caminho para a árvore da vida” (Gn 3.22-24). Através disso vemos
que essa árvore da vida protegida, ou seja, oculta, é o manancial, a
fonte original da vida eterna. Os frutos dessa árvore alimentam a
vida eterna. Para que Adão, após sua queda, não comesse deles e
vivesse eternamente na terra, Deus expulsou-o do paraíso, pois a
morte era o salário do pecado. Aqui é dito aos vencedores que eles
comerão da árvore da vida. Em outras palavras: eles terão a vida
eterna “permanente em si” (cf. 1Jo 3.15 RA). A expressão “vida
eterna” já não mostra de maneira suficientemente clara que se trata
de vida sem fim? Sem dúvida! É, porém, indicada a “árvore da vida”.
Ela é citada mais três vezes no Apocalipse (22.2,14,19). Se, porém,
é prometido aos vencedores que o Senhor lhes dará de comer da
árvore da vida, que se encontra no paraíso de Deus, e que então
terão a vida eterna permanentemente em si, temos que observar o
seguinte: a vida eterna é chamada “eterna” porque vai da eternidade
do passado até a eternidade do futuro; é a vida de Deus que foi
revelada em Jesus Cristo, que é Deus (Jo 1.4; 5.26; 1Jo 1.1-2).
Essa vida eterna de Deus, que foi revelada em Cristo, é dada pelo
renascimento a todo aquele que crê no Senhor Jesus Cristo. O
renascido toma posse dela pelo Espírito Santo com base na Palavra
de Deus.
Para compreender ainda melhor essa promessa aos vencedores,
temos que notar que essa vida eterna, que o crente recebe, não é
uma vida nova, sendo nova somente no sentido de o homem
apropriar-se dela. Trata-se da vida que era “no princípio”. E essa
vida de Deus, que o renascido recebe, é uma parte inseparável da
vida que estava em Jesus Cristo desde a eternidade e está na
eternidade. Foi isso que o Senhor Jesus quis dizer quando afirmou:
“Eu sou a videira, vocês são os ramos” (Jo 15.5); ou através de
Paulo: ele é a cabeça e nós os membros (cf. Ef 1.22-23; 4.16).
Portanto, o comer da árvore da vida significa: ser completamente um
com o Senhor Jesus Cristo por toda a eternidade. Por isso é tão
importante que sejamos vencedores. Somente assim poderemos
uma vez comer da árvore da vida. Então viveremos de eternidade em
eternidade, diante de Deus e do Cordeiro. A cruz do Gólgota, na qual
o Senhor Jesus derramou seu sangue, tornou-se para nós a árvore
da vida!
Árvore da vida.
Vida eterna; nenhum dano da segunda morte.
Maná escondido.
Exercício do poder judicial e autoridade de governo através
da vitória de Jesus.
Espírito do Senhor;
Espírito de sabedoria;
Espírito de entendimento;
Espírito de conselho;
Espírito de poder;
Espírito de conhecimento;
Espírito do temor do Senhor.
Nosso Senhor Jesus tem tudo isso! Ele tem os sete Espíritos de
Deus, pois nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade
(Cl 2.9). Muitos falam que precisamos ter a “plenitude” do Espírito
Santo, mas isso não existe, pois nenhum homem poderia suportar a
“plenitude” do Espírito Santo. Essa, aliás, é uma expressão que não
aparece em nenhum lugar na Bíblia. A “plenitude” do Espírito Santo
seria o Espírito Santo em toda a sua divina pessoa. Houve homens
de Deus, e ainda há, a quem ele – devido ao seu encargo
especialmente elevado – deu tal medida do seu Espírito, que
exclamaram subjugados: “Não mais, Senhor, não mais!”. O que o
Senhor quer é que fiquemos “cheios” do Espírito Santo!
Já vimos, no capítulo 1.20, quem são as sete estrelas: sete anjos,
ou seja, dirigentes das diferentes igrejas, que representam a igreja
completa de Jesus. O Senhor, que tem os sete Espíritos de Deus,
por um lado fala como a fonte de toda vida em Sardes e, por outro,
ele tem as estrelas – a igreja de Jesus – em sua mão. É como se
aqui o Senhor, com os sete Espíritos de Deus, com toda a plenitude
do Espírito Santo e com as sete estrelas, quisesse dizer: toda a
plenitude de poder está à disposição de toda a igreja. Com isso
reconhecemos repentinamente que “Conheço as suas obras” dessa
vez não contém nem consolo nem louvor. Pelo contrário, a expressão
“fama de” revela a enorme seriedade dessa mensagem do Senhor à
sua igreja. Leiamos novamente no contexto: “Estas são as palavras
daquele que tem os sete espíritos de Deus e as sete estrelas.
Conheço as suas obras; você tem fama de estar vivo, mas está
morto” (v. 1). O Senhor fala aqui de maneira muito direta, não como
com outras igrejas, como por exemplo para Pérgamo, onde primeiro
diz: “No entanto, tenho contra você algumas coisas” (2.14), ou como
para Tiatira (2.20) e Éfeso (2.4): “No entanto, contra você tenho
isto”. Não, aqui ele fala diretamente: “... você tem fama de estar vivo,
mas está morto”. Isso prova que aqui o Senhor fala de obras mortas,
que também vimos com Tiatira. A definição mais curta de obras
mortas provavelmente é: parecer sem ser! Parece existir algo, mas
na realidade não há nada. A igreja em Sardes tem um Salvador
histórico, mas não um Salvador presente, senão a situação estaria
bem diferente. Após um início cheio de vida, houve enrijecimento.
Chama a atenção que essa igreja, em contraste com outras igrejas,
é deixada em paz pelo Diabo. Satanás nem é citado aqui. Em Sardes
não há falsas doutrinas, não há entusiastas, não há falsos profetas;
também não há sofrimentos nem tribulações. Por quê? Justamente
porque a igreja está morta! “... você tem fama de estar vivo, mas
está morto.” Bem entendido, ela está morta somente aos olhos do
Senhor, pois externamente ela tem o nome de ser uma igreja viva.
Tudo parece estar na melhor ordem. Que essa igreja tem a fama de
estar viva significa duas coisas: não somente que lhe falta algo, mas
também que pretende ter algo que não existe.
Isso é exatamente o que é feito por muitos em nosso Ocidente
cristianizado, que têm o nome de cristãos. Daí pode ter-se derivada
a expressão “cristão nominal”. Quando perguntamos a alguém: “Você
é um filho de Deus?”, então recebemos diferentes respostas:
“Espero que sim”, “Vou à igreja, sou batizado e confirmado” ou “Eu
vivo direito e também oro, Deus também já me ouviu”. No entanto,
todas essas respostas mostram, afinal, que a pessoa em questão
somente é um cristão “de nome”, mas falta o essencial: a vida
proveniente de Deus. A afirmação do Senhor: “... você tem fama de
estar vivo, mas está morto”, mostra que Sardes era uma igreja que
tinha um bom nome. Esse bom nome, porém, enganava, assim como
em sentido oposto a fama de Esmirna enganava. O Senhor diz da
igreja em Esmirna que ela era considerada pobre, mas que, na
verdade, era rica. Portanto, a fama de pobre engana, pois ela era
rica em seu Senhor. Aqui em Sardes, porém, acontece exatamente o
contrário.
No Antigo Testamento era assim que as pessoas recebiam seu
nome – de acordo com seu ser, seu caráter ou sua tarefa: Israel =
príncipe de Deus; Eva = mãe dos viventes etc. O nome Sardes, “o
que escapou”, indica uma igreja viva, que escapou do mundo, mas
ela só o é aparentemente. Se pertencemos à igreja de Jesus, então
dizemos com nosso nome, com a designação “igreja”, “congregação”
ou “comunidade”, e quaisquer que sejam os outros nomes, que
somos uma fonte de água viva e, ao mesmo tempo, uma barreira
espiritual contra todos os poderes satânicos. A igreja de Sardes
dava a impressão de ser isso, mas estava morta. Terrível! Essa é
também a aflição em nossos dias. A grande mentira envolveu muitos
“cristãos de Sardes”, pois quando se aparenta uma coisa por muito
tempo ou se repete uma mentira constantemente, no fim você
mesmo acaba acreditando que é a verdade. Assim, não se reage
mais à pregação ou a uma correção espiritual, mas é pensado: “Isso
não me diz respeito, comigo está tudo na mais perfeita ordem”. Tal
pessoa está muito convencida de estar certa, assim como um morto
não reage quando se toca ou mesmo bate nele. “... você tem fama
de estar vivo, mas está morto.” Tanto mais comovente é o fato de
que o Senhor Jesus Cristo, que é a vida, apresenta-se justamente à
essa igreja como o Senhor que tem a plenitude do Espírito e assim
também a plenitude do Espírito criador. Assim ele também se
apresenta a você. Da mesma maneira ele se apresenta também a
Israel, pois, na verdade, Israel ainda está morto. Em Ezequiel 37.9
lemos: “Venha desde os quatro ventos, ó espírito, e sopre dentro
desses mortos, para que vivam”. Essa é a intenção do Senhor
elevado com Israel e com você: o que é morto deve despertar para a
nova vida! A esse respeito temos uma maravilhosa passagem
paralela em Efésios 5.14, onde o Senhor diz, através da boca de
Paulo: “Desperta, ó tu que dormes, levanta-te dentre os mortos e
Cristo resplandecerá sobre ti”. Portanto, o objetivo dessa carta a
Sardes é que os mortos fiquem novamente vivos: “Esteja atento!
Fortaleça o que resta e que estava para morrer” (v. 2). É claro que
com isso o Senhor se refere ao sono da morte espiritual.
Cada um que renasce para uma esperança viva e pertence à
igreja de Jesus é chamado a revelar vida. No entanto, com muitos de
nós o verdadeiro estado está em oposição com o ser real, que é
vida. Frequentemente somos luzes enganosas ao invés de luzes
orientadoras, de modo que pessoas se despedaçam nos recifes ao
invés de encontrar o porto seguro da salvação. Existem pessoas que
ficam desnorteadas com o nosso ser por não ser visível a mansidão,
humildade e clareza do Senhor Jesus, mas o eu teimoso, ambicioso
e orgulhoso.
Aparentemente a igreja em Sardes nada sabe da grande mentira
em que vive, assim como muitos também não sabem o quanto suas
vidas de fé são farsas e mentirosas. Nesse caso Israel está um
passo à nossa frente em seu conhecimento próprio, pois lemos em
Ezequiel 37.11: “Eles [Israel!] dizem: ‘Nossos ossos se secaram e
nossa esperança desvaneceu-se; fomos exterminados’”. Esse é um
autoconhecimento salvador, pois, em outras palavras, quer dizer:
“Nós, que fomos salvos do Egito pelo sangue do cordeiro, estamos
perdidos; tudo acabou conosco”. O Senhor aproveita esse
conhecimento próprio e começa novamente a revivificar Israel pelo
Espírito de vida do alto. Enquanto não chegamos a esse ponto
profundo do conhecimento próprio, o Senhor não pode dar vida. Mas
quem confessa: eu tenho o nome do qual eu vivo, mas estou morto, e
se humilha e procura passar pela porta estreita, esse recebe a vida
eterna. Talvez você tenha um bom nome de família e, por isso, ainda
não reconheceu até hoje o seu estado de morte espiritual? Um bom
nome pode ser um grande perigo, tanto para um indivíduo como para
toda uma igreja. Cerca de noventa anos atrás, uma grande força veio
do Exército de Salvação, quando este ainda era desprezado aqui na
Suíça pelo nome ruim que tinha. Aos poucos ele se tornou
socialmente aceitável e, assim, entrou em um perigo mortal. Se nós,
como Chamada da Meia-Noite, aos poucos passarmos a ter uma
boa reputação por causa das obras que realizamos, mas ao mesmo
tempo nos afastarmos do Senhor por falta de arrependimento, então
ele dirá: “Vocês têm a fama de estarem vivos, mas estão mortos”.
Quando uma igreja é tão bem considerada que é até subvencionada
pelo Estado com dinheiro público, então a morte, com seus efeitos
deterioradores, já é um fato.
O Senhor não para nesse julgamento aniquilador: “Conheço as
suas obras; você tem fama de estar vivo, mas está morto”. Não, ele
quer salvar, pois diz: “Porque eu vivo, vocês também viverão” (Jo
14.19b). Ele também quer transmitir a sua vida eterna a você que
está espiritualmente morto. O Espírito dele fala a você, com seu
coração indiferente, frio e orgulhoso. Trata-se de uma quíntupla
ordem categórica:
A primeira ordem é: “Esteja atento!” (v. 2). Aquele a quem Jesus
acorda do sono da morte é capaz de levantar! O poderoso chamado
“Volte à vida” já foi ouvido com Lázaro, que se encontrava há quatro
dias na sepultura e estava cheirando mal. Quando a pedra foi
finalmente tirada, o Senhor Jesus clamou em alta voz, depois de ter
agradecido ao Pai: “Lázaro, venha para fora!” (Jo 11.43). Assim, o
morto levantou-se, tendo os pés e as mãos ligados com ataduras, e
o rosto envolto num lenço (Jo 11.44). Com essa mensagem o Senhor
também diz a você: “Esteja atento!”. Não é uma terrível ofensa para
ele, que derramou sua vida em seu sangue na cruz do Gólgota para
nos despertar do sono da morte, quando dormimos novamente? E
isso em uma hora do plano de salvação na qual ele pode voltar a
qualquer momento! Os discípulos de Jesus dormiram naquela hora
importante do plano de salvação, quando o Senhor suou sangue no
Getsêmani e lutou com a morte antes de ir para o Gólgota. Então ele
encontrou os seus discípulos dormindo e lhes perguntou, lamentando:
“Vocês não puderam vigiar comigo nem por uma hora?” (Mt 26.40).
“Esteja atento!”
A segunda ordem é: “Fortaleça o que resta e que estava para
morrer, pois não achei suas obras perfeitas aos olhos do meu Deus”
(v. 2). É angustiante ver quantos em nossos dias deslizam
vagarosamente para a apostasia. Ezequiel recebeu do Senhor a
tarefa de ser uma sentinela sobre toda a casa de Israel (cf. Ez 3.17-
19; 33.7-9). A igreja de Jesus tem exatamente o mesmo encargo,
pois, conforme Apocalipse 1.1, foi-lhe confiada a palavra profética
para advertir o mundo e os cristãos nominais sobre o juízo próximo:
“Revelação de Jesus Cristo, que Deus lhe deu para mostrar aos
seus servos o que em breve há de acontecer”. Temos um dever de
ser sentinelas! A igreja em Sardes, assim como nós, dorme.
Naturalmente sustentamos missionários, naturalmente trabalhamos
de alguma forma, mas mesmo assim dormimos. Sardes dorme e
deixa dormir, deixa morrer. Essa é a razão da exortação do Senhor:
“Fortaleça o que resta e que estava para morrer”. Em outras
palavras: quando você acorda das obras mortas, de todo o trabalho
inútil, do cristianismo aparente, então comece imediatamente a
consolidar o resto que estava para morrer. Continuamente as
pessoas morrem à nossa volta. Muitas que vão para a maldição
eterna gostariam de ter ouvido de Jesus e gostariam de tê-lo
aceitado, mas nada escutaram sobre ele porque a igreja dorme.
Dela saem efeitos de morte ao invés de rios de vida. Ouça o
penetrante chamado do Senhor: “Fortaleça o que resta e que estava
para morrer”. Pare com a morte espiritual em você e à sua volta!
“... pois não achei suas obras perfeitas aos olhos do meu Deus”
(v. 2). As obras de Cristo são sempre as obras do Pai. O Senhor
Jesus fala sempre a partir da sua unidade com o Pai. Ele tem os
sete Espíritos, o Espírito Santo, e fala as palavras e faz as obras do
Pai, do Deus triúno. Se o Senhor diz a Sardes: “... não achei suas
obras perfeitas”, então isso significa que as obras mortas
predominam. Hebreus 9 nos ensina que somos purificados das obras
mortas através do sangue de Jesus. Afinal, o que são obras mortas?
É tudo aquilo que é de orientação terrena, por exemplo:
autopromoção, diversos vícios e ser escravizado à cobiça, avareza,
orgulho e ao falatório vazio; como também o desperdício de tempo
precioso. Concretamente, é tudo aquilo que não é dirigido para o
Senhor. “... pois não achei suas obras perfeitas aos olhos do meu
Deus.” O servo preguiçoso enterrou o seu talento, e muitos entre nós
também fazem isso. Vocês, jovens amigos, teriam chances tão
grandes de serem algo maravilhoso para o Senhor! Vocês, mais
idosos, o que poderiam fazer pela oração, pelas ofertas e pelo
testemunho! No entanto, o que vocês fazem, irmãos jovens e mais
velhos? O culto de vocês consiste em grande parte a frequentar o
culto dominical, ouvir devotamente, sair novamente e voltar à ordem
do dia. Tudo gira mais ou menos em torno de vocês mesmos e do
próprio bem-estar. “... pois não achei suas obras perfeitas aos olhos
do meu Deus.” Você ficou devendo a parte decisiva do seu trabalho,
ou seja, o trabalho de salvador e sentinela em meio a uma
humanidade que se desespera e também procura
desesperadamente. Talvez você se defenda, dizendo: “Eu dou
testemunho e distribuo literatura e folhetos”. A questão é: o seu
testemunho tem autoridade? Ou será que aquilo que você faz para o
Senhor – as obras de Cristo através de você – é sobrepujado e
enfraquecido por muitas coisas inúteis que lhe fascinam? “... pois não
achei suas obras perfeitas aos olhos do meu Deus.”
A terceira ordem do Senhor é: “Lembre-se, portanto, do que você
recebeu e ouviu” (v. 3). O homem despertado pode outra vez pensar
de maneira espiritualmente normal. De uma pessoa que dorme não
se pode esperar que pense e discirna claramente, pois é incapaz de
ver as realidades. No entanto, tão logo está acordada, ela tem
capacidade de pensar. “Lembre-se, portanto”, diz o Senhor, “do que
você recebeu e ouviu.” As palavras de Deus “desaparecidas”
precisam agora ser novamente tiradas dos cantos escuros do seu
coração. Quem faz isso sinceramente e se ocupa novamente com a
preciosa Palavra de Deus em seu coração, ouvindo o que ela diz,
tem o coração levado ao arrependimento salvador e libertador.
Muitos não são capazes de arrepender-se, porque não estão
dispostos a aceitar aquilo que ouviram. Contudo, onde isso acontece,
o caminho fica livre para a verdadeira mudança de mentalidade. Esse
foi também o caso com Pedro. Ele era muito piedoso, cheio de si
mesmo e que sempre queria ter razão. Ele estava muito consciente
de tudo que realizava no reino de Deus. Ele era sempre o primeiro e
mais zeloso diante do Senhor. Então, porém, ficou revelado que tudo
era somente na aparência. Quando foi posto à prova, ele negou o
Senhor. Quando ele se tornou capaz de arrepender-se? Quando se
lembrou das palavras do Senhor, depois de tê-lo negado firmemente
e até assegurado, com juramento, que não o conhecia. Lucas 22.61
descreve isso de forma tão comovente: “O Senhor voltou-se e olhou
diretamente para Pedro. Então Pedro se lembrou da palavra que o
Senhor lhe tinha dito”. Ele lembrou-se como o Senhor havia dito:
“Antes que o galo cante hoje, você me negará três vezes” (Lc 22.61).
Então Pedro saiu e chorou amargamente (Lc 22.62). Isso é
arrependimento verdadeiro! A Palavra de Deus é como um martelo
que despedaça a rocha (Jr 23.29). A igreja em Sardes negava o
Senhor e seu maravilhoso poder salvador, mantendo somente o
nome. E você? Lembre a Palavra que já ouviu tantas vezes. Não
continue apenas mantendo o nome, a aparência, mas torne-se uma
carta legível de Cristo. Lembre o que Paulo diz a respeito dos
tempos finais: “Tendo aparência de piedade, mas negando o seu
poder. Afaste-se desses também” (2Tm 3.5).
A quarta ordem: “... obedeça...” (v. 3). O que Sardes e o que nós
devemos obedecer? A Palavra! Deixe de ser apressado e superficial,
mas aprofunde-se! Não deixe que o Senhor continue lamentando
sobre você como teve que fazer através de Jeremias: “Poderá
desaparecer a neve do Líbano de suas encostas rochosas? Poderá
parar de fluir suas águas frias, vindas de lugares distantes? Contudo,
o meu povo esqueceu-se de mim” (Jr 18.14-15). Por isso, mais uma
vez: obedeça sua Palavra!
E, por fim, a quinta ordem: “... e arrependa-se” (v. 3). Na leitura
atenta e em oração da Bíblia, chama a atenção que aqui o chamado
ao arrependimento não é feito imediatamente, como no caso de
outras igrejas, mas somente após diversas ordens. É assim porque
ninguém tem condições de arrepender-se enquanto dorme, ou seja,
estando espiritualmente morto. Jesus Cristo somente lhe ilumina para
o arrependimento libertador quando você quer obedecer ao seu
chamado. Nesse contexto lembremos mais uma vez de Efésios 5.14:
“Desperta, ó tu que dormes, levanta-te dentre os mortos e Cristo
resplandecerá sobre ti”. Se você despertar e se levantar, Cristo o
levará para a sua luz. Então o seu ser será iluminado por ele até as
profundezas mais escondidas e escuras da sua alma, de modo que
você terá condições de arrepender-se de todo o coração sobre toda
a aparência – arrependimento sobre o fato de Jesus Cristo ser
experiência passada em sua vida, mas não presença viva.
Arrepender-se, por isso, significa também humilhar-se sob sua
poderosa mão, porque após o início promissor você ficou enrijecido
interiormente.
Além disso, o Senhor faz ainda uma ameaça, dizendo, no
versículo 3b: “Mas, se você não estiver atento, virei...”. Interessante
é que ele não diz: “Se você não se arrepender”, como fez com outras
igrejas, mas “se você não estiver atento”. Ele sabe: se eles
despertarem, também se arrependerão. “... virei como um ladrão e
você não saberá a que hora virei contra você.” O Senhor quer
advertir: se você não vigiar, será surpreendido pela minha vinda.
Então, quando repentinamente chegar o grande momento, você será
semelhante às cinco virgens insensatas, que não tinham azeite
consigo. Elas não estavam preparadas e não puderam ir com o noivo
para participar do seu casamento. Nesse contexto o Senhor fala de
um ladrão que só é percebido quando já foi novamente embora.
Então, a oportunidade de se preparar desapareceu como se fosse
roubada por um ladrão. Quando Jesus vem, tudo já está decidido:
quem não estiver preparado será envergonhado. E assim você não
conhecerá a hora da sua vinda, porque o Espírito Santo estará
calado, enquanto diz “vem!” nos corações que estão preparados: “O
Espírito e a noiva dizem: ‘Vem!’” (22.17).
Não é por acaso que Sardes também significa “remanescente”,
pois o Senhor Jesus ainda manda escrever para essa igreja: “No
entanto, você tem aí em Sardes uns poucos que não contaminaram
as suas vestes. Eles andarão comigo, vestidos de branco, pois são
dignos” (v. 4). Esses “poucos” vivem completa e totalmente na
santificação. Isso significa que na igreja em Sardes há uma
separação radical entre morte e vida, entre luz e trevas, entre
sagrado e profano. Não é dito que as vestes desses poucos estavam
um pouquinho sujas, mas – e isso foi um louvor de Deus – que não
contaminaram suas vestes. A mesma figura foi vista por Jeremias
com relação a Judá e Israel, em Jeremias 24.2-8. Ali Israel é
comparado a dois cestos de figos. Desses figos está dito que uns
eram muito bons e outros, intragáveis; tão ruins que não se podia
comê-los. Também nesse caso não é dito “bons e pouco bons”, mas
que havia figos muito bons – esses eram aqueles prisioneiros de
Judá que se arrependeram, foram guardados pelo Senhor e trazidos
de volta para Israel – e havia, ainda, figos muito ruins, que não
podiam ser comidos – essa era a casa real de Judá, que foi
rejeitada, e esses eram aqueles em Jerusalém que não se
humilharam sob a poderosa mão de Deus e por isso sofreram o
juízo. Com o Senhor não há tolerância diante das trevas. Aqueles
que não contaminaram suas vestiduras, o pequeno remanescente,
andarão com Jesus vestidos de branco. As vestiduras brancas não
são as vestes da justiça, mas as vestes dos vencedores, pois o
Senhor diz que eles “são dignos”. Eles venceram. Então segue a
promessa para os vencedores: “O vencedor será igualmente vestido
de branco. Jamais apagarei o seu nome do livro da vida, mas o
reconhecerei diante do meu Pai e dos seus anjos” (v. 5). Esses
poucos acompanharão o Filho de Deus em cortejo triunfal pelo céu,
em vestes resplandecentes, apresentados como vencedores! Isso
acontecerá após a primeira ressurreição, após a abertura dos livros
e após a revelação daqueles que estão anotados nos registros dos
fiéis. Se você é um vencedor, então o seu nome será confessado
pelo Senhor diante do seu Pai e diante dos seus anjos. Você será
chamado por um novo nome, que valerá então por toda a eternidade.
O Mar de Vidro
“E diante do trono havia algo parecido com um mar de vidro, claro
como cristal. No centro, ao redor do trono, havia quatro seres
viventes cobertos de olhos, tanto na frente como atrás” (v. 6). O mar
de vidro aqui nada mais é do que o mar dos povos, que se agita de
um lado a outro na terra. Justamente em nossos dias ele está muito
agitado, pois em todos os lugares há guerras e rumores de guerras.
No entanto, diante do trono de Deus os catastróficos envolvimentos e
complicações bélicos não são um problema, um empecilho. Diante
dos olhos do Soberano mundial desde a eternidade, o mar dos povos
é transparente como cristal. Ele é o que está assentado acima da
cúpula da terra (Is 40.22), isto é: ele, o Todo-Poderoso, é o que “dá
fim às guerras até os confins da terra” (Sl 46.9), e que diz: “Até aqui
você pode vir, além deste ponto não, aqui faço parar suas ondas
orgulhosas” (Jó 38.11). O que é móvel permanece imóvel diante da
face dele. Ele realiza seu conselho soberanamente através de todas
as ondas da história mundial. É o que diz Hebreus 12.26-27: “Aquele
cuja voz outrora abalou a terra, agora promete: ‘Ainda uma vez
abalarei não apenas a terra, mas também o céu’. As palavras ‘ainda
uma vez’ indicam a remoção do que pode ser abalado, isto é, coisas
criadas, de forma que permaneça o que não pode ser abalado” (Hb
12.26-27). O Senhor já exclamou através do profeta Isaías – e aí
igualmente vemos imóvel o mar de vidro diante do trono, em
contraste com a situação do mar dos povos sobre a terra: “Calem-se
diante de mim, ó ilhas! Que as nações renovem as suas forças! Que
elas se apresentem...” (Is 41.1). Ou pensemos em duas outras
passagens nos profetas: “Aquietem-se todos perante o S ,
porque ele se levantou de sua santa habitação” (Zc 2.13). “O
S , porém, está em seu santo templo; diante dele fique em
silêncio toda a terra” (Hc 2.20).
T
emos aqui a continuação da visão de Apocalipse 4 sobre a
santidade e glória de Deus no trono. Também a visão da sua
glória não muda, porque ele mesmo é imutável. Deus “não
muda como sombras inconstantes” (Tg 1.17), ele é eternamente o
mesmo. Que grande consolo em um tempo no qual tudo oscila e
desmorona!
Agora, no capítulo 5, a visão de João é muito ampliada. Os
“holofotes” são agora apontados para um livro, ou seja, para um rolo.
Naquela época ainda não se tinha livros como nós os temos hoje,
mas rolos de papiro. João vê esse rolo na mão direita daquele que
está assentado no trono.
Tudo que está à direita de Deus é relacionado com redenção e
salvação. Ele uma vez separará os cabritos das ovelhas e dirá
àqueles à sua direita: “Venham, benditos de meu Pai! Recebam
como herança o Reino”. Aos que estiverem à sua esquerda, ele dirá:
“Malditos, apartem-se de mim para o fogo eterno” (cf. Mt 25.34,41).
Jesus Cristo mesmo está assentado à direita da majestade de Deus,
pois na mão direita está a força.
O livro que João vê está, portanto, na mão direita de Deus. A
tradução correta seria, na verdade, “sobre” a mão direita de Deus.
Esse já era o caso no capítulo 4, mas os olhos de João ainda não o
consideraram essencial. Contudo, o Senhor quer continuamente
revelar-nos mais da sua glória. O rolo está selado “com sete selos” e
“escrito de ambos os lados” (v. 1). Quando se lê todo o capítulo,
percebe-se que esse rolo selado na mão direita daquele que está
assentado no trono deve ser de extrema importância. Esse rolo é tão
extraordinariamente importante que o Cordeiro de Deus é levado a
agir, e isso, por sua vez, resulta que o cântico do Cordeiro é cantado
(v. 9). Acontece que, no momento em que o Cordeiro estende sua
mão traspassada para tomar o livro da mão direita daquele que está
assentado no trono, os vinte e quatro anciãos começam a entoar o
cântico do Cordeiro. Esse rolo é tão importante e especial que
nenhum outro é digno de abri-lo: “Mas não havia ninguém... que
pudesse abrir o livro ou sequer olhar para ele” (v. 3). Somente este
fato já nos faz perguntar: o que está escrito no livro que se encontra
na mão direita daquele que está assentado no trono? Será que ele
trata da história da Criação? Não, pois então não haveria ordem na
sequência divina de toda a visão, pois, no capítulo 4.11, vimos que
Deus é adorado como o Criador de todas as coisas: “Tu, Senhor e
Deus nosso, és digno de receber a glória, a honra e o poder, porque
criaste todas as coisas, e por tua vontade elas existem e foram
criadas”. Se o livro tivesse algo a ver com a Criação, não seria
apropriado introduzir o Cordeiro. Mas é deste último que se trata,
porque o Cordeiro em si é a revelação de Deus: “Ninguém jamais viu
a Deus, mas o Deus Unigênito, que está junto do Pai, o tornou
conhecido” (Jo 1.18). Jesus mesmo diz: “Quem me vê, vê o Pai” (Jo
14.9). Se imaginamos que este livro se refere à redenção, é preciso
dizer que não se trata da redenção realizada na cruz do Gólgota;
portanto, não da experiência subjetiva (pessoal) de um crente da
nova aliança. Esta baseia-se no ato singular, eternamente válido, do
Senhor Jesus Cristo, que, como Cordeiro de Deus, derramou seu
sangue na cruz do Gólgota. Não é disso, porém, que trata este rolo,
mas sim do dia da redenção adiante de nós, pois a redenção
acontecida na cruz do Gólgota não tem efeitos somente para nossa
situação atual. Paulo diz: “Se é somente para esta vida que temos
esperança em Cristo, somos, de todos os homens, os mais dignos
de compaixão” (1Co 15.19). Não, ela também tem efeitos para a
eternidade, e isso tanto para nós como para todo o Universo.
Aliás, os filhos de Deus até receberam dele uma promessa para
esse dia: “Quando vocês ouviram e creram na palavra da verdade, o
evangelho que os salvou, vocês foram selados em Cristo com o
Espírito Santo da promessa, que é a garantia da nossa herança até
a redenção daqueles que pertencem a Deus, para o louvor da sua
glória” (Ef 1.13-14). Essa é a redenção futura. A redenção através
de Jesus Cristo é uma força viva que dá vida e estende-se a todo o
futuro adiante de nós, sobre o qual estão ditas as palavras: “Estou
fazendo novas todas as coisas!” (21.5). Ela tem suas raízes no
passado, na cruz do Gólgota, e todos os que creem são salvos.
Esse resultado da redenção, no entanto, é pequeno em comparação
àquilo que se torna visível na revelação da redenção consumada!
Ele, como diz o autor da carta aos Hebreus, obteve “eterna
redenção” (9.12).
Quando, em seu sermão profético em Lucas 21, o Senhor Jesus
dirige-se primeiro a Israel, repentinamente ele fala a todos os que
creem nele, dizendo: “Quando começarem a acontecer estas coisas,
levantem-se e ergam a cabeça, porque estará próxima a redenção
de vocês” (v. 28). Aqui ele fala da redenção futura e assim da
maravilhosa redenção sobre a qual está escrito nesse rolo, que
somente o Cordeiro é digno de abrir. Esse rolo não é o livro da vida,
do qual o Apocalipse fala e também outros livros da Bíblia; assim
como o livro da vida não é o livro da vida do Cordeiro. O rolo, esse
documento que se encontra na mão direita daquele que está sentado
no trono, é o testamento de Deus e do Cordeiro. Testamento
significa “vontade final”; trata-se da expressão da última vontade.
Contudo, com Deus não se trata da última vontade nesse sentido,
porque ele não morre, mas é eterno. Trata-se, entretanto, da sua
vontade para toda a eternidade. Como podemos saber que é o
testamento de Deus e do Cordeiro?
A Adoração do Cordeiro
“Ao recebê-lo, os quatro seres viventes e os vinte e quatro anciãos
prostraram-se diante do Cordeiro” (v. 8). Já vimos que os quatro
seres viventes representam as quatro características de Deus.
Esses quatro seres viventes e os vinte e quatro anciãos prostram-se
diante do Cordeiro e entoam um cântico que nunca foi ouvido antes:
“Tu és digno de receber o livro e de abrir os seus selos, pois foste
morto e com teu sangue compraste para Deus gente de toda tribo,
língua, povo e nação. Tu os constituíste reino e sacerdotes para o
nosso Deus, e eles reinarão sobre a terra” (v. 9-10). O fato do
Cordeiro tomar o livro da mão direita daquele que está assentado no
trono produz um louvor grandioso que abrange todo o Universo. Ele
começa com os quatro seres viventes e os vinte e quatro anciãos
que se prostram, o adoram e exclamam: “Tu és digno de receber...”.
E nos versículos 11 e 12 lemos como os muitos milhões de anjos,
que se encontram em volta do trono, olham, participam: “Então olhei
e ouvi a voz de muitos anjos, milhares de milhares e milhões de
milhões. Eles rodeavam o trono, bem como os seres viventes e os
anciãos, e cantavam em alta voz: ‘Digno é o Cordeiro que foi morto
de receber poder, riqueza, sabedoria, força, honra, glória e louvor!’”.
Então o círculo dos que entoam o louvor se abre ainda mais: “Depois
ouvi todas as criaturas existentes no céu, na terra, debaixo da terra e
no mar, e tudo o que neles há, que diziam: ‘Àquele que está
assentado no trono e ao Cordeiro sejam o louvor, a honra, a glória e
o poder, para todo o sempre!’” (v. 13). Ele é concluído com o
magistral “Amém” dos quatro seres viventes: “Os quatro seres
viventes disseram: ‘Amém’” (v. 14a). A igreja glorificada,
representada pelos vinte e quatro anciãos, fecha o grandioso círculo
dos adoradores: “E os vinte e quatro anciãos prostraram-se, e
adoraram ao que vive para todo o sempre” (v. 14b ACF).
Em nenhuma parte da Bíblia temos um louvor tão poderoso e
abrangente ao Cordeiro de Deus, pois aqui aconteceu aquilo que
Daniel havia visto em esboço: “Em minha visão à noite, vi alguém
semelhante a um filho de homem, vindo com as nuvens dos céus. Ele
se aproximou do ancião e foi conduzido à sua presença. Ele recebeu
autoridade, glória e o reino; todos os povos, nações e homens de
todas as línguas o adoraram. Seu domínio é um domínio eterno que
não acabará, e seu reino jamais será destruído” (Dn 7.13-14). João
ouviu isso muito mais claramente, porque havia conhecido e visto o
Senhor Jesus em sua encarnação, sofrimento e morte. Deve-se
observar que, no grande louvor que João vê e ouve, repetidamente
mostra-se a unidade do Pai e do Filho. Eles louvam ao Pai e ao
Filho; ambos são adorados. No capítulo 4 é dito ao Criador: “Tu,
Senhor e Deus nosso, és digno de receber a glória, a honra e o
poder, porque criaste todas as coisas, e por tua vontade elas
existem e foram criadas” (v. 11). No capítulo 5, porém, eles se
prostram diante do Cordeiro e exclamam: “Tu és digno de receber o
livro e de abrir os seus selos, pois foste morto e com teu sangue
compraste para Deus gente de toda tribo, língua, povo e nação” (v.
9).
Até que ponto estamos incluídos aqui como crentes? Já vimos que
os vinte e quatro anciãos representam os crentes do Antigo e do
Novo Testamento, e aí estamos incluídos. Vimos igualmente que eles
se prostram diante do Cordeiro e o adoram. Eles não vieram de
mãos vazias: “Cada um deles tinha uma harpa e taças de ouro
cheias de incenso, que são as orações dos santos” (v. 8b). No início
da adoração do Cordeiro estão, portanto, incluídas as orações de
todos os santos, pois aqui começa o tempo em que as orações de
todos os santos, que oraram durante os séculos, desde que Jesus
ensinou essa oração, são ouvidas. Quais orações? As orações pela
vinda do seu reino e pela realização da sua vontade. “Venha o teu
Reino; seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu” (Mt
6.10). Essa é a oração que foi feita bilhões de vezes e tem sua
origem no Cordeiro, pois nele, por meio dele e para ele foram
criadas todas as coisas (cf. Ap 4.11; Cl 1.16).
6
O Cordeiro Abre os Selos
(Ap 6.1-17)
N
ão devemos olhar a afirmação “Observei” separada dos
capítulos anteriores; por exemplo, do capítulo 5.1 ou 5.6,
onde está escrito “Então vi...” e “Depois vi...”,
respectivamente. João teve uma visão ininterrupta e na perspectiva
da eternidade, pois sua visão começou quando foi arrebatado ao céu
(4.1), onde se diz que ele vê tudo desde a eternidade.
Aos poucos, percebemos que João teve uma grandiosa visão
geral dos acontecimentos dos tempos finais que, por um lado,
podem ser cronologicamente ordenados, mas, por outro, já são o
presente na eternidade. João vê tudo de uma só vez, mas é capaz
de descrever somente uma coisa por vez. Por isso não podemos
separar os capítulos 4 a 6, pois tudo o que acontece, ou começa a
acontecer, agora no capítulo 6 procede em última análise do
Cordeiro de Deus, que venceu. O livro selado, do qual falamos no
capítulo anterior, que estava na mão direita daquele que estava
assentado no trono, passou agora para as mãos traspassadas do
Cordeiro. Isso corresponde também exatamente à afirmação do
Senhor Jesus, que, em João 5.22, diz àqueles que o perseguem:
“Além disso, o Pai a ninguém julga, mas confiou todo julgamento ao
Filho”. Constatamos também que esse livro selado não contém
segredos ou novas revelações, pois está escrito por dentro e por
fora. Todavia, ele está selado com sete selos porque é o testamento
de Deus e do Cordeiro e assim a herança de Deus e do Cordeiro. É
aquilo que Jesus herdou na cruz do Gólgota. Essa herança precisa
agora passar a ter força de lei, isto é, os selos precisam ser
abertos; e estes são os juízos que ainda devem vir sobre o mundo
que rejeita Deus e seu Filho, o Senhor crucificado e ressurreto.
Agora o Cordeiro começa a abrir os selos. Há comentários do
Apocalipse que dizem que esse livro selado contém a história da
igreja através dos séculos, começando do tempo em que João vivia
exilado. Ou, em outras palavras: ele conteria o avanço vitorioso do
evangelho através dos séculos até o estabelecimento do milênio.
Isso, porém, está em desacordo com tudo que reconhecemos em
Apocalipse 4 e 5, ou seja, a glória e majestade de Deus, que a tudo
sobrepuja, e a pergunta feita com grande solenidade no céu, sobre a
terra e debaixo da terra (se alguém era digno de abrir o livro).
Depois dela segue a grande admiração, quando o Cordeiro é achado
como o único digno de abrir esse livro selado. E então ouve-se o
cântico de louvor “Digno é o Cordeiro...” da boca dos vinte e quatro
anciãos, dos anjos, dos quatro seres viventes e de toda criatura.
Esses fatos me impedem de ver uma parte da história eclesiástica
na abertura dos sete selos. Nosso Deus não deixa todos os poderes
do céu e da terra serem profundamente comovidos e abalados por
causa da história profana. Não, aqui trata-se de algo mais elevado.
Em Apocalipse 6 entramos numa nova era, ou seja, uma nova época
do plano de salvação, pois sabemos da época sem lei (até que ela
foi dada no Sinai), depois da época com a lei, ou seja, sob a lei (até
Cristo), e então veio a época da graça, que continua em vigor até o
dia de hoje. No entanto, no momento em que o Cordeiro toma o livro
com os sete selos e abre o primeiro selo, saímos da era da graça e
entramos em uma outra era. Em Apocalipse 6 a era da graça está
encerrada, pois a igreja de Jesus está arrebatada. No fundo, a
palavra “era” é muito fraca. A palavra “dispensação” diz mais, ou
seja: uma era em que Deus realiza uma determinada intenção.
Vivemos agora na era em que ele realiza suas intenções de graça,
chamando através da sua Palavra e através de seus servos e
servas: “Venha a Jesus! Você pode ser salvo da condenação
eterna”. Esta época, porém, aproxima-se do fim. Percebe-se isso
porque Apocalipse 4 começa com: “Depois dessas coisas olhei...”,
pois os três primeiros capítulos tratam da igreja e, portanto, o
“depois” no quarto capítulo de Apocalipse indica que agora se fala da
dispensação seguinte. Na abertura dos sete selos pelo Cordeiro, não
se trata da revelação de novas profecias que ultrapassam aquilo que
foi profetizado anteriormente. Se esse fosse o caso, o choro intenso
de João seria simplesmente ridículo. Seja mais uma vez frisado:
trata-se aqui da entrada em uma nova época, na qual Jesus Cristo, o
Cordeiro de Deus, prossegue agora passo a passo para tomar
posse desta terra e dar força de lei à sua herança. Nós, que
vencemos, estaremos então no céu e seremos coerdeiros. Em
contraste com Apocalipse 4 e 5, onde todos os atos referem-se
àquilo que está no céu, agora em Apocalipse 6 todas as ações são
dirigidas para a terra. Com a abertura dos selos pelo Cordeiro, um
terrível período de juízos começa sobre a terra, pois o sétimo selo
inclui, como veremos, as sete trombetas subsequentes, e a sétima e
última trombeta, por sua vez, inclui as sete taças do juízo ou da ira.
Isso começa no capítulo 5 e termina no capítulo 20 de Apocalipse.
Esse é o dia do Senhor! Para dizê-lo ainda mais concretamente: o
período dos sete selos, que temos diante de nós no capítulo 6,
encontra-se entre o arrebatamento da igreja e a era do
estabelecimento do reino de paz milenar, quando o Senhor Jesus
voltar em grande poder e glória. Temos aqui, portanto, um estágio de
transição de uma era do plano de salvação para outra.
Tempos de juízo sempre são períodos de transição, e vice-versa;
também em nossa vida pessoal. Se você, como filho de Deus,
experimenta épocas de juízo pessoal e de humilhação, então depois
começa algo completamente novo. Oswald Chambers, o abençoado
expositor bíblico e assistente espiritual a quem o Senhor chamou
muito novo para si, formulou certa vez isso mais ou menos da
seguinte maneira: “Quando você passou por um tempo de profundo
desânimo e humilhação, então lhe aguarda uma ampliação da sua
personalidade”. Assim acontece também no plano de salvação.
E
m meio a um período de juízo, entre o sexto e o sétimo selo,
temos um parêntese. A graça de Deus transparece e
manifesta-se a uma categoria especial de pessoas. Isso
acontece, aliás, bem no meio do período de juízos dos sete selos e
das sete trombetas, que vêm em seguida. Apesar do céu e da terra
serem abalados e de todo o Universo figuradamente desconjuntar-
se, há uma pausa nessa catástrofe cósmica, um silêncio. É como em
um ciclone. Constatou-se que no meio de um ciclone, que destrói
tudo, reina um profundo silêncio.
“Depois disso vi quatro anjos em pé nos quatro cantos da terra,
retendo os quatro ventos” (v. 1). Os quatro anjos seguram, portanto,
os quatro ventos do juízo, mas estão para soltá-los. Aí aparece um
“outro anjo”, que ordena em alta voz para que aguardem com a
danificação da terra, do mar e das árvores (v. 2). Que os quatro
poderes destruidores, representados nos quatro ventos, não podem
simplesmente lançar-se sobre a terra indiscriminadamente prova que
o Senhor mantém o controle sobre a execução do juízo e o realiza
com extremo cuidado.
Quem é esse “outro anjo” que aparece? Ele tem grande
autoridade, pois falou a eles com alta voz. Esse outro anjo destaca-
se muito claramente dos demais anjos de juízo. Até onde sou capaz
de compreendê-lo, trata-se do Filho de Deus, pois aqui está escrito
algo único, que nunca é dito de algum outro anjo: “Então vi outro anjo
subindo do Oriente” (v. 2). Lê-se algo semelhante, no sentido
negativo, somente da besta e do Falso Profeta (11.7; 13.11), sendo
que eles naturalmente sobem do Abismo e não conseguem passar
além da terra. Porém, Jesus Cristo, aqui na figura de um anjo, sobe
no nascente do sol, do Oriente. Aí vemos profeticamente
resplandecer o futuro de Israel. Malaquias o viu assim: “Mas, para
vocês que reverenciam o meu nome, o sol da justiça se levantará...”
(Ml 4.2). De qualquer modo, esse outro anjo é todo luz e glória. Ele é
muito superior aos quatro anjos de juízo que seguram os quatro
ventos da terra, e lhes ordena “em alta voz” que ainda segurem
esses ventos. Os quatro ventos são tempestades de juízo,
executores de juízo “a quem havia sido dado poder para danificar a
terra e o mar” (v. 2).
Os quatro anjos evidentemente têm a tarefa de soltar os ventos
sobre a terra madura para o juízo, mas então vem repentinamente
uma outra ordem, que tem precedência. Isso pode ser ilustrado por
um exemplo do trânsito: se o semáforo diante de nós está verde,
podemos prosseguir livremente, ou seja, temos preferência. No
entanto, se vier um carro de polícia ou uma ambulância com a sirene
ligada, a preferência passa a ser dele. A ordem desse outro anjo
tem prioridade, e assim também temos uma prova de que se trata do
Filho de Deus, pois em Colossenses 1.18 está escrito: “Ele... é o
princípio e o primogênito dentre os mortos, para que em tudo tenha a
supremacia”. Os ventos de juízo ainda são retidos, e isso por causa
do remanescente crente de Israel. Neste outro anjo, que subia do
Oriente, João ainda vê outra coisa especial: “... tendo o selo do Deus
vivo” (v. 2).
Então, portanto, durante a grande tribulação, durante o dia do
Senhor, um grupo de cento e quarenta e quatro mil de Israel é
selado. Realiza-se aqui um procedimento que acontece também hoje,
antes da grande tribulação, mas de outra maneira, pois cada pessoa
que, pela fé em Jesus Cristo, é acrescentada à igreja de Jesus é
selada com o Espírito Santo. Isso já acontece agora há quase dois
milênios, mas em breve terá fim. Desse selo lemos em Efésios 1.13:
“Quando vocês ouviram e creram na palavra da verdade, o
evangelho que os salvou, vocês foram selados em Cristo com o
Espírito Santo da promessa”. O que é o Espírito Santo com o qual
Deus nos selou? Ele é “a garantia da nossa herança até a redenção
daqueles que pertencem a Deus, para o louvor da sua glória” (Ef
1.14). Portanto, Deus deu o seu próprio Espírito Santo como
garantia para que pudéssemos estar seguros que seremos
guardados até o dia da redenção, até que Jesus volte. Tais selagens
acontecem constantemente desde o Pentecostes, quando pessoas
se convertem individualmente. A selagem durante a grande
tribulação, porém, será realizada simultaneamente em muitos, ou
seja, em cento e quarenta e quatro mil de Israel. Os judeus que hoje
voltam para Israel deram com isso o primeiro passo para a
conversão. Sua conversão real e sua selagem acontecerão então no
momento em que o Senhor Jesus voltar. Portanto, eles, em contraste
com os gentios, vão converter-se coletivamente e são também,
desse modo, selados coletivamente. Todavia, antes que todo o Israel
se converta, vai converter-se um remanescente de cento e quarenta
e quatro mil.
Muitas vezes é apresentada a pergunta sobre quem são os cento
e quarenta e quatro mil, pois a respeito existem diversas
explicações, já que muitos comentaristas não querem, de maneira
alguma, aceitar o que está escrito tão clara e inequivocamente no
capítulo 7.4: “Então ouvi o número dos que foram selados: cento e
quarenta e quatro mil, de todas as tribos de Israel”. Ao invés de falar
então das tribos dos filhos de Israel, tais comentaristas falam das
“tribos dos crentes fiéis”, ou a igreja de Jesus, ou do seu próprio
grupo. É interessante como muitos cristãos têm um preconceito
doentio contra tudo o que é judaico. De antemão está estabelecido
para eles que todas as manifestações de graça que estão
prometidas ao povo judeu devem ser entendidas de maneira
diferente, ou seja, aplicam-se à igreja. Naturalmente, aos seus olhos,
isso não vale no caso de ameaças de juízo. Essas eles têm todo o
prazer de deixar para Israel. O Apocalipse distingue-se muito
claramente entre a igreja (por exemplo, nas cartas), os povos (a
grande multidão que ninguém podia contar: 7.9) e Israel (por
exemplo: 7.4). Os cento e quarenta e quatro mil selados são
israelenses que se tornaram crentes, que se converteram a Jesus
durante a grande tribulação; portanto, após nosso arrebatamento.
Durante a grande tribulação, Israel verá e experimentará muitas
coisas. Aparecerão, por exemplo, duas testemunhas (cap. 11) tendo
grande autoridade e dando testemunho. Após mil duzentos e
sessenta dias, elas serão mortas e seus corpos serão expostos por
três dias em Jerusalém. No terceiro dia elas serão ressuscitadas.
Naquela hora haverá um grande terremoto e muitos serão mortos.
Por ordem da “alta voz”, elas finalmente subirão ao céu. Devido a
isso, muitos na terra darão glória a Deus (11.13). Tudo isso
acontecerá depois do arrebatamento.
No entanto, uma coisa chama a atenção: nesses cento e quarenta
e quatro mil falta a tribo de Dã. Dã era o quinto filho de Jacó, o
primeiro com Bila, a serva de Raquel. Quando Dã foi com seu pai e
seus irmãos para o Egito, conforme Gênesis 46.23, ele tinha
somente um filho. Está escrito em curtas palavras: “O filho de Dã foi
Husim”. Em comparação, Benjamin, o mais novo, já tinha naquele
tempo dez filhos. Dois séculos mais tarde, no entanto, Dã era a tribo
mais numerosa depois de Judá (Nm 1.27,39). Judá tinha 74.600
homens capazes de sair à guerra e Dã tinha 62.700. Dã era,
portanto, uma tribo muito importante. Conforme Números 10.25, ela
tinha uma posição destacada na ordem do acampamento. Ela levava
um dos quatro estandartes principais e protegia toda a retaguarda
do exército com seu poder. Aqui em Apocalipse 7, porém, falta Dã;
ela não está entre os selados. É importante encontrar a razão da
falta de Dã, pois – quem sabe quão logo – haverá muitos cristãos
que faltarão na multidão dos arrebatados. “Mas”, perguntam muitos
agora, “o senhor não crê que todos os que pertencem à igreja de
Jesus serão arrebatados?”. Sim, cremos isso! No entanto, da
mesma maneira sabemos que há muitos que exteriormente parecem
fazer parte, mas interiormente não, apesar de serem classificados
como “crentes”. Estranhamente, falta mais uma das doze tribos, ou
seja, a tribo de Efraim. No seu lugar está José (v. 8) e no lugar de
Dã está Levi, que, como tribo sacerdotal, não tinha território em
Israel, não tinha herança. O próprio Senhor era a herança de Levi (Js
13.14). Essa ausência e substituição – até mesmo a ordem dos
nomes é diferente, ou seja, espiritual e não natural – tem um
maravilhoso significado profético.
Olhemos novamente a sequência e o significado dos nomes das
tribos de Israel que foram seladas. São doze mil de cada tribo, doze
vezes mil – uma plenitude abrangente.
A
pesar de termos diante de nós um parêntese entre o sexto e
o sétimo selos, ele faz parte do sexto selo, pois este tinha
como resultado três visões:
A
qui a cronologia está muito clara. Agora passou o prazo de
graça de aproximadamente meia hora (8.1), e os juízos
iniciados com a abertura do sétimo selo afastam do caminho
os empecilhos para a fundação do reino de Deus sobre a terra. O
terror e horror que as sete trombetas de juízo trazem (8–11) são
grandiosos anúncios de que o Rei dos reis vai assumir o trono. Não é
por acaso que aqui se fala de trombetas, pois, no Antigo
Testamento, a posse de um novo rei era anunciada com som de
trombetas. Assim, por exemplo, foi a de Salomão em 1Reis 1.34: “Ali
o sacerdote Zadoque e o profeta Natã o ungirão rei sobre Israel.
Nesse momento toquem a trombeta e gritem: Viva o rei Salomão!”.
Então está escrito mais uma vez no mesmo capítulo, no versículo 39:
“O sacerdote Zadoque pegou na Tenda o chifre com óleo e ungiu
Salomão. A seguir tocaram a trombeta e todo o povo gritou: ‘Viva o
rei Salomão!’”. Mais tarde observamos o mesmo com o jovem rei
Joás: “Olhou, e eis que o rei estava junto à coluna, segundo o
costume, e os capitães e os tocadores de trombetas, junto ao rei, e
todo o povo da terra se alegrava, e se tocavam trombetas” (2Rs
11.14 RA). Com esse som Joás foi proclamado rei.
Aqui em Apocalipse são tocadas as trombetas de juízo e
realizados juízos sobre um mundo maduro para isso, a fim de que o
Rei da glória, o Rei dos reis, Jesus Cristo, possa chegar.
Para que não se perca a visão geral dos acontecimentos: nos
capítulos 6 até 8.1 de Apocalipse lemos sobre os sete selos que são
abertos; nos capítulos 8.2 até 9.21 e 11.15-19 lemos das sete
trombetas de juízo; e nos capítulos 15 e 16 temos as sete taças da
ira. Com essas taças da ira, é tirado, figuradamente, o último chão
debaixo dos pés do Anticristo e do seu exército, porque o Senhor
está começando a assumir o reinado (17).
Chama a atenção que, nessas três ondas de sete juízos, as
catástrofes aumentaram de intensidade: na abertura dos selos, que
somente o Cordeiro é digno de abrir, um quarto da terra é atingido:
“Olhei, e diante de mim estava um cavalo amarelo. Seu cavaleiro
chamava-se Morte, e o Hades o seguia de perto. Foi-lhes dado
poder sobre um quarto da terra para matar pela espada, pela fome,
por pragas e por meio dos animais selvagens da terra” (6.8).
Quando são tocadas as trombetas, é a terça parte: “O primeiro anjo
tocou a sua trombeta, e granizo e fogo misturado com sangue foram
lançados sobre a terra. Foi queimado um terço da terra, um terço
das árvores e toda a relva verde. Morreu um terço das criaturas do
mar e foi destruído um terço das embarcações. O nome da estrela é
Absinto. Tornou-se amargo um terço das águas, e muitos morreram
pela ação das águas que se tornaram amargas... e foi ferido um
terço do sol, um terço da lua e um terço das estrelas, de forma que
um terço deles escureceu. Um terço do dia ficou sem luz, e também
um terço da noite” (8.7,9,11,12). A mesma coisa encontramos
também no capítulo 9.18: “Um terço da humanidade foi morto pelas
três pragas...”.
No derramamento das taças da ira, todo o mundo é afetado: “O
segundo anjo derramou a sua taça no mar, e este se transformou em
sangue como de um morto, e morreu toda criatura que vivia no mar”
(16.3). Para que vejamos claramente o aumento gradativo dos
juízos, analisemos também o versículo 14 do capítulo 16: “São
espíritos de demônios que realizam sinais milagrosos; eles vão aos
reis de todo o mundo, a fim de reuni-los para a batalha do grande dia
do Deus todo-poderoso”. Tudo isso experimentarão aqueles que
então ainda estiverem na terra. Por esse motivo é dito no capítulo
12.12: “Portanto, celebrem-no, ó céus, e os que neles habitam! Mas
ai da terra e do mar...”.
Não é somente a intensidade dos juízos que aumenta, mas
também o endurecimento dos homens. Na abertura do sexto selo
eles ainda exclamam apavorados: “... escondam-nos da face daquele
que está assentado no trono e da ira do Cordeiro!” (6.16). Por
ocasião da sexta trombeta, porém, está escrito: “O restante da
humanidade que não morreu por essas pragas nem assim se
arrependeu...” (9.20). Na sétima taça da ira é ainda muito pior: “Eles
blasfemaram contra Deus por causa do granizo, pois a praga fora
terrível” (16.21b). O angustiante é que tais acontecimentos lançam
suas sombras adiante de si, pois, em nossos dias, vemos
exatamente o mesmo desenvolvimento descendente, tanto no mundo
como na igreja de Jesus. Obstinação e endurecimento aumentam;
fica-se imune contra a mensagem do evangelho. Também foi assim
na história de Israel. No início ainda é dito que o povo chorou porque
tinha pecado, mas já no tempo de Jeremias ouvimos o Senhor
lamentar reiteradamente através de seus profetas: “Meu povo não
me ouve, ele não quer voltar para mim!”. No último dos profetas
menores, em Malaquias 3.7, acrescenta-se ainda uma réplica
atrevida: “... Como voltaremos?”.
Já vimos que os sete juízos das trombetas procedem do sétimo
selo e também que as sete trombetas do juízo têm seu ponto de
partida nas orações dos santos (8.4-5). Isso confirma que agora o
reino vai iniciar.
“Então os sete anjos, que tinham as sete trombetas, prepararam-
se para tocá-las” (8.6). Esse texto diz muita coisa. Em primeiro lugar,
sobre a atividade dos anjos com relação a assuntos que se referem
aos povos. Conforme Hebreus 1.14, os anjos são enviados como
espíritos ministradores a favor dos que hão de herdar a salvação.
Deus e o Cordeiro entregam aos sete arcanjos a execução do juízo.
Esses “prepararam-se” para o que precisam realizar. Aqui é utilizada
a palavra grega etoimazoo, que não significa somente “preparar-se”,
mas também indica que decisões anteriormente tomadas devem ser
realizadas. Todavia, ela também pode indicar o “estabelecimento de
determinações antes que elas entrem em vigor”. Através disso
vemos como os sete arcanjos agem com autoridade. Em linguagem
moderna, diríamos: esses anjos de juízo receberam amplas
atribuições.
1Então vi outro anjo poderoso, que descia dos céus. Ele estava
envolto numa nuvem, e havia um arco-íris acima de sua cabeça.
Sua face era como o sol, e suas pernas eram como colunas de
fogo. 2Ele segurava um livrinho, que estava aberto em sua mão.
Colocou o pé direito sobre o mar e o pé esquerdo sobre a terra,
3e deu um alto brado, como o rugido de um leão. Quando ele
bradou, os sete trovões falaram. 4Logo que os sete trovões
falaram, eu estava prestes a escrever, mas ouvi uma voz dos
céus, que disse: “Sele o que disseram os sete trovões, mas não o
escreva”. 5Então o anjo que eu tinha visto em pé sobre o mar e
sobre a terra levantou a mão direita para o céu 6e jurou por
aquele que vive para todo o sempre, que criou os céus e tudo o
que neles há, a terra e tudo o que nela há, e o mar e tudo o que
nele há, dizendo: “Não haverá mais demora! 7Mas, nos dias em
que o sétimo anjo estiver para tocar sua trombeta, vai cumprir-se
o mistério de Deus, como ele o anunciou aos seus servos, os
profetas”. 8Depois falou comigo mais uma vez a voz que eu tinha
ouvido falar dos céus: “Vá, pegue o livro aberto que está na mão
do anjo que se encontra em pé sobre o mar e sobre a terra”.
9Assim me aproximei do anjo e lhe pedi que me desse o livrinho.
Ele me disse: “Pegue-o e coma-o! Ele será amargo em seu
estômago, mas em sua boca será doce como mel”. 10Peguei o
livrinho da mão do anjo e o comi. Ele me pareceu doce como mel
em minha boca; mas, ao comê-lo, senti que o meu estômago
ficou amargo. 11Então me foi dito: “É preciso que você profetize
de novo acerca de muitos povos, nações, línguas e reis”.
F
requentemente se pensa que este décimo capítulo de
Apocalipse é um ato intermediário de acontecimentos entre a
sexta e a sétima trombeta. No início da sexta trombeta vimos
uma terrível guerra mundial e não pudemos evitar o pensamento de
que se tratará de uma guerra nuclear, na qual será morta a terça
parte dos homens, sendo que, além dessa guerra mundial, João vê a
luta final dos povos no Armagedom. Portanto, aqui temos a
continuação e vemos em primeiro lugar o “outro anjo poderoso” (v.
1). Somente no capítulo 11.14 temos então o anúncio do
encerramento do segundo “ai” da sexta trombeta, e
consequentemente ele também somente termina ali. Portanto, o que
lemos agora no capítulo 10 pertence à sexta trombeta, tanto quanto
a selagem dos cento e quarenta e quatro mil, no capítulo 7, pertence
ao sexto selo. Também aqui necessitamos a simplicidade do
coração, dos pensamentos e uma santa seriedade para
compreender o que o Senhor quer nos dizer.
“Então vi outro anjo poderoso, que descia dos céus” (v. 1). Já
vimos os sete arcanjos que se acham em pé diante de Deus e aos
quais foram dadas trombetas (8.2). Aqui trata-se do mesmo anjo de
que fala o capítulo 7.2: “Então vi outro anjo subindo do Oriente,
tendo o selo do Deus vivo”. No capítulo 8.3 também vemos esse
outro anjo: “Outro anjo, que trazia um incensário de ouro, aproximou-
se e ficou em pé junto ao altar. A ele foi dado muito incenso para
oferecer com as orações de todos os santos sobre o altar de ouro
diante do trono”. No capítulo 7 nós o vemos como o sol que nasce, o
sol da justiça; no capítulo 8.3, como o grande Sumo Sacerdote, em
pé junto ao altar de ouro. Sem dúvida: é Jesus Cristo! Aqui no
capítulo 10.1 o “outro anjo poderoso” tem a forma do Cristo que
retorna.
Muitos comentaristas acham que se trata de um anjo, mas é
Jesus Cristo em forma de anjo! Isso é confirmado por diferentes
afirmações da Escritura. Por exemplo, a descrição da sua glória aqui
no versículo 1: “Então vi outro anjo poderoso, que descia dos céus.
Ele estava envolto numa nuvem”. E o que está escrito em Apocalipse
1.7? Ali lemos a elevada afirmação: “Eis que ele vem com as
nuvens...”. Sabemos que os filhos de Deus serão então arrebatados
ao encontro do Senhor nas nuvens. No versículo 1 é dito ainda: “... e
havia um arco-íris acima de sua cabeça”. Isto lembra o profeta
Ezequiel, que também viu a glória do Senhor e a descreve da
seguinte maneira: “Tal como a aparência do arco-íris nas nuvens de
um dia chuvoso, assim era o resplendor ao seu redor. Essa era a
aparência da figura da glória do S ” (Ez 1.28). Em primeiro
lugar, lemos no versículo 1 sobre o rosto do “outro anjo poderoso”:
“Sua face era como o sol”. O mesmo também é dito do Cristo que
está voltando em Apocalipse 1.16: “Sua face era como o sol quando
brilha em todo o seu fulgor”. Em quarto lugar, o versículo 1 continua
dizendo: “... suas pernas eram como colunas de fogo”. Isso combina
com Apocalipse 1.15: “Seus pés eram como o bronze numa fornalha
ardente...”.
Quando, porém, no capítulo 10.1 é dito que suas pernas são
como colunas de fogo – e não que são como bronze – é porque,
conforme o versículo 2, ele faz algo gigantesco: “Colocou o pé direito
sobre o mar”. Esse é o mar dos povos. “... e o pé esquerdo sobre a
terra.” Isso é Israel. Somente essa afirmação já revela a ilimitada
onipotência do Senhor! Que grandioso espetáculo é quando esse
“outro anjo poderoso” desce do céu, colocando seu pé esquerdo
sobre a terra e o direito sobre o mar! Isso também revela a sua
ilimitada onipresença, pois quem é capaz de colocar seus pés sobre
a terra e sobre o mar, tomando assim posse de ambos?
Apesar de que não seriam necessárias outras provas de que esse
outro anjo poderoso é Jesus Cristo, pode ser um auxílio indicar ainda
o seguinte: a designação “anjo poderoso” coloca-se acima dos já
citados sete arcanjos que se acham em pé diante de Deus. O
Apocalipse é algo tão grandioso, tão maravilhosamente profundo! Se
de um anjo é dito somente que ele é forte ou poderoso, isso em si
não é nada de excepcional, não existindo razão para achar que ele
seria mais do que todos os outros seres angelicais criados, pois
anjos são seres criados como nós, e todos são mais ou menos
poderosos. No entanto, se a designação “outro anjo poderoso” é
utilizada como característica de distinção com relação aos outros
anjos elevados, e até mesmo relacionada com as nuvens e a face
como o sol, então não resta dúvidas de que se trata de um ser não
criado: o Filho de Deus, que era desde a eternidade.
Por isso prestemos atenção mais uma vez na atitude
extremamente notável desse outro anjo poderoso, que é Jesus
Cristo: ele coloca seu pé direito sobre o mar e o esquerdo sobre a
terra. Isso foi feito intencionalmente e é muito significativo. Conforme
Deuteronômio 11.24, o Senhor disse a Israel: “Todo lugar onde vocês
puserem os pés será de vocês”. Portanto, se o povo de Israel
colocava seus pés sobre um pedaço de terra prometida, ele era sua
propriedade. Se agora esse poderoso anjo, o qual cremos ser o
Senhor Jesus, coloca seu pé direito sobre o mar – o mar dos povos
– e o esquerdo sobre a terra – Israel – então esse é um ato de
tomada de posse da sua propriedade legal! Com isso ele assume o
domínio sobre ambos. Esse é um ato que combina com o caráter e
com a dignidade de Cristo; no entanto, seria inimaginável como ato
de um anjo criado.
Antes dessa tomada de posse da herança legal, porém, ele tomou
o livro selado: “Ele se aproximou e recebeu o livro da mão direita
daquele que estava assentado no trono” (5.7). Ninguém, além do
Cordeiro de Deus, havia sido digno de tomar esse livro e abrir seus
selos. A tomada do livro selado da mão daquele que estava
assentado no trono e a abertura dos selos foi a prova do seu direito
à posse da terra. Aqui, no capítulo 10, temos a confirmação desse
direito e sua intenção de realmente aplicá-lo. Aprendamos dos
passos vitoriosos do Cordeiro: ele os dá com base na obra realizada
na cruz do Gólgota, e nós podemos dá-los baseados na mesma
obra! Podemos sempre triunfar na vitória que ele alcançou na cruz.
A terra e o mar sofreram agora durante tempo suficiente sob o
domínio do inimigo. O triunfo de Jesus Cristo torna-se visível e
perceptível. O Senhor faz isso de uma maneira que logo revela quão
impotentes os inimigos na realidade são. Com isso nosso coração
jubila, pois, em todos os lugares onde Jesus aparece, os inimigos
tornam-se insignificantes. Por isso você não deveria se deixar
amedrontar pelos poderes inimigos à sua volta! Jesus é vencedor!
Naturalmente estamos cercados por esses poderes e os ataques do
mundo invisível ficam cada vez mais brutais, mas Jesus é e
permanece o herói vitorioso do Gólgota!
No meio da sexta trombeta, o futuro Rei do mundo novamente se
revela: “... suas pernas eram como colunas de fogo”, diz no versículo
1. Creio que a expressão “como colunas de fogo” descreve seu
poder invencível e sua decisão irrevogável, pois colunas são fortes;
colunas de fogo, irresistíveis. Elas desafiam qualquer resistência.
Comovente é que ele, ao qual foi entregue todo o julgamento, leva o
sinal da graça de Deus, pois está escrito: “... havia um arco-íris
acima de sua cabeça” (v. 1). Acontece que conhecemos o arco-íris
desde os tempos de Noé: ele é para os homens um sinal da
fidelidade de Deus. O Pai entregou todo o julgamento ao Filho, Jesus
Cristo.
No versículo 3 está escrito que ele “deu um alto brado, como o
rugido de um leão”. Este é o Leão de Judá. “Quando ele bradou, os
sete trovões falaram” (v. 3). Ambas as coisas – o alto brado do
Cordeiro de Deus, como o rugido de um leão, e os sete trovões, que
desferem suas vozes e respondem – significam a mesma coisa. Já
nos profetas o rugir do leão é sempre um sinal de juízo. Quando ruge
o leão, o rei dos animais, então a criatura estremece. “O S
rugirá de Sião, e de Jerusalém levantará a sua voz”, diz Joel 3.16. O
profeta Amós relata o mesmo (Am 1.2), assim como os profetas
Jeremias e Isaías (Jr 25.30; Is 31.4). Ele clama e ruge como um
leão – essa é a voz do Triunfador. Ao mesmo tempo, fazem-se ouvir
os sete trovões desde o trono de Deus – isso é juízo. Somos
lembrados de 2Samuel 22.14: “Dos céus o S trovejou;
ressoou a voz do Altíssimo”. No entanto, em meio ao juízo está a sua
eterna graça: o arco-íris sobre sua cabeça significa que Deus não
quer a morte do pecador. Ele tem pensamentos de paz e de graça.
Essa graça resplandece apesar da humanidade ficar cada vez mais
endurecida e de estar escrito duas vezes, no final de Apocalipse 9,
que os homens não se arrependeram. Assim, ele tem que aparecer
como Juiz.
Se analisarmos bem os versículos 2-4, então veremos diante dos
nossos olhos interiores a figura luminosa envolta em trevas. Ela
cresce, ela se torna gigantesca. Sua mão segura o rolo do livro
aberto. Ela põe um pé sobre o mar, o outro sobre a terra, e eleva
sua voz como um leão que ruge. Não é possível imaginar como isso
será. Com estrondos e ribombando, os trovões procedem da nuvem
de tempestade em santo número de sete, isto é, na plenitude de
Deus. Assim, enquanto o Cordeiro, com o livro aberto, fala com voz
poderosa, os sete trovões fazem ouvir a sua voz. É como se nessa
fase do juízo da sexta trombeta Deus se voltasse mais uma vez para
os homens, dizendo: não quero a destruição, mas a salvação de
vocês!
O fato de o Senhor, em figura de anjo, colocar um pé sobre o mar
e o outro sobre a terra significa que essa mensagem se destina por
um lado ao mundo das nações e, por outro lado, a Israel. Durante a
grande tribulação o Senhor Deus reivindica o domínio tanto sobre o
agitado mar dos povos como também sobre a terra do aflito povo de
Israel. Aquele que encontramos na história como Senhor é o mesmo
cuja voz é atualmente ouvida sempre mais claramente em Israel. Em
Israel há interesse crescente pela pessoa de Jesus.
O Senhor quer ser ouvido no mundo das nações assim como em
Israel. Se o mundo rejeita sua reivindicação, seu chamado ao
arrependimento em meio à grande tribulação, procedente do livro
aberto apresentado para ler, então ele ainda tem outra linguagem –
uma linguagem que o mundo é obrigado a ouvir. Como o mundo
animal suspende a respiração e emudece diante do rugir do seu rei,
o leão, assim o mundo tremerá diante da ira de Deus. Uma última
palavra a um mundo que rejeita sua atração e suas advertências é o
juízo, e isso em sétupla plenitude. É o que diz o sétuplo barulho do
trovão ao mundo e a Israel. Os homens acham que Deus se cala e
que os poderes libertados da natureza e da história têm a palavra,
mas na realidade ele fala em sua ira.
Atualmente ele ainda fala de forma relativamente baixa através da
ameaça de guerras em todo o mundo, e através das crises
econômicas e de energia que surgem e repentinamente se tornam
graves. Os sete trovões, porém, vêm do trono de Deus como
resposta àquilo que o outro anjo poderoso, Cristo, brada em grande
voz. Eles são misteriosos executores de juízo. Já no Salmo 29
encontramos esse sétuplo trovão com a voz do Senhor. Também já
ouvimos essa voz de trovão quando o Cordeiro abriu o primeiro selo:
“Observei quando o Cordeiro abriu o primeiro dos sete selos. Então
ouvi um dos seres viventes dizer com voz de trovão: ‘Venha!’” (6.1).
Quando João ouviu esses sete trovões falarem, ele quis escrever
suas palavras: “Logo que os sete trovões falaram, eu estava prestes
a escrever...” (v. 4). Porém, ele foi impedido: “... mas ouvi uma voz
dos céus, que disse: ‘Sele o que disseram os sete trovões, mas não
o escreva’”. Por que não, pois no princípio do Apocalipse foi-lhe
ordenado escrever tudo? Conforme meu entendimento, os sete
trovões respondem àquele que ordena o juízo sobre a realização dos
juízos. No entanto, como (como serão os efeitos) é segredo de Deus
e por isso ainda deve ficar oculto. Isso está estreitamente
relacionado com o rolo do livro aberto, que o outro anjo poderoso, ou
seja, Jesus Cristo, tem em sua mão.
Logo, apresenta-se a pergunta: que livrinho é esse que João
precisa tomar e depois comer? Se esse anjo poderoso realmente é o
mesmo que o Cordeiro, que é o único digno de tomar o livro, o
testamento do Pai, e de abrir os seus selos (5.5-7), então também o
livro agora aberto é o mesmo do capítulo 5. Antes ele estava selado;
agora os selos estão abertos. Ele contém, portanto, o maravilhoso
testamento de Deus e do Cordeiro. Ele está escrito por dentro e por
fora (5.1). Através da abertura judicial dos setes selos, como
explanamos nos comentários sobre o capítulo 5, não foi revelado
nada de novo (a herança de Cristo e os santos na luz), mas as
disposições do testamento de Deus tornaram-se legais através da
abertura judicial dos selos, ou seja, através dos juízos executados
sobre a terra. Em outras palavras: quanto mais os juízos de Deus
são executados sobre a humanidade, porque ela rejeitou sua oferta
mais elevada – Jesus Cristo –, tanto mais o Cordeiro impõe o seu
direito. Essa é a visão de Apocalipse 10.
Por que, então, o rolo é chamado de “livro” em Apocalipse 5 e
“livrinho” aqui em Apocalipse 10? Esta é uma questão dos
manuscritos nos quais a tradução se baseou. Ambos os documentos,
o livro e o livrinho, eram pequenos rolos. Ambos são descritos com a
palavra grega biblion. Esse é um diminutivo de biblos. Aquele na
mão do anjo poderoso (ou seja, cap. 10) em algumas cópias do
Novo Testamento é também chamado biblaridion. Assim como nós
também podemos dizer “livro”, “livrinho” ou “volume”. As melhores
cópias, porém, utilizam a mesma palavra tanto em Apocalipse 5
quanto em Apocalipse 10: livro. O contexto também mostra muito
claramente que aqui se trata do mesmo livro que em Apocalipse 5,
quando o Cordeiro o tomou da mão direita de Deus.
O “outro anjo poderoso”, Jesus Cristo, está realizando seu
elevado e solene ato: a tomada de posse pública da herança, mas
para isso ele necessita de autoridade. A salvação realizada na cruz
do Gólgota está fundamentada numa base jurídica. No seu
nascimento, Jesus Cristo teve que ser colocado sob a lei para se
tornar o nosso Salvador. Era uma necessidade divina que fosse
cumprida toda a justiça, como ele mesmo afirmou no momento do
seu batismo (Mt 3.15). Todas as vitórias que alcançou e todo louvor
que recebeu são baseados na sua obra mediadora e na realização
de tudo aquilo que a lei de Deus exige. Ele é o cumprimento da lei.
Ele não poderia ter ressuscitado dos mortos, não poderia ter subido
ao céu, nem poderia se assentar à direita do Pai; também não
poderia ter dado perdão dos pecados aos homens ou mesmo ter
recuperado a herança perdida se não tivesse realmente expiado os
pecados de todo o mundo na cruz do Gólgota.
Através da sua completa obediência ele comprou pelo seu sangue
todos aqueles que agora, ou em qualquer época, reivindicam a
redenção pelo seu sangue, de modo que tornam-se sua propriedade
legal. Você pertence a eles? Ou ainda se encontra nas garras do
Diabo? Se sim, você deve saber que ele lhe prende ilegalmente. Se
você ainda está preso em poderes de depressão ou impureza, isso é
ilegal, pois Jesus Cristo comprou você com o sangue dele! Somente
depois que ele, o Cordeiro, foi morto e se sacrificou pela injustiça de
todos os homens – “Vejam! É o Cordeiro de Deus, que tira o pecado
do mundo!” (Jo 1.29) – é que ele foi considerado digno de tomar o
livro e abrir seus selos. Somente depois ele podia agir como o
Resgatador (hebraico: goel) por todos cuja herança se perdeu.
Isto se vê de maneira tão bela no livro de Rute. O marido judeu de
Rute tinha morrido e ela não tinha filhos. Por isso tinha que vir um
resgatador para manter viva a herança. Ele tinha que dar para ela
uma descendência, para que a herança não se perdesse. Jesus
Cristo, nosso grande Resgatador, pôde agir por todos aqueles cuja
herança se perdeu por causa do inimigo, pois somos destinados a
ser coerdeiros do reino! Deus criou o homem à sua semelhança para
que ele domine sobre a criação. O homem, porém, caiu nas mais
extensas profundezas da perdição. Contudo, veio então o nosso
goel, o nosso Resgatador! Ele reconquistou a herança perdida
através da sua morte na cruz do Gólgota. Antes ele não podia tomar
posse ou fazer valer algum direito sobre a terra, para limpá-la de
todos os inimigos. Somente depois de receber a autoridade legal
para isso, como recompensa pela sua justiça perfeita, ele foi
colocado nessa situação.
Na vida diária da nossa sociedade humana também é assim:
ninguém pode reivindicar uma parcela da terra sem ter um
documento do cartório. Também ninguém pode prender alguém que
violou a lei a não ser que tenha a autoridade correspondente. Da
mesma maneira, nosso poderoso Redentor segura o documento
aberto em sua mão quando põe seu pé direito sobre o mar (os
povos) e o esquerdo sobre a terra (Israel); portanto, quando está
prestes a exercer o juízo sobre os rebeldes que profanaram sua
propriedade e disputaram sua herança. Ele o recebeu legalmente da
mão direita da eterna Majestade (5.7). Ele o mostra com sua
autoridade recebida do Deus eterno, figuradamente a todos que
querem vê-lo, e com isso desafia todos os poderes da terra e do
inferno. Enquanto ele faz isso, suas palavras e seus atos são
apoiados pelo trovejar do Onipotente.
E agora acontece algo notável com o livrinho: “Depois falou
comigo mais uma vez a voz que eu tinha ouvido falar dos céus: ‘Vá,
pegue o livro aberto que está na mão do anjo que se encontra em pé
sobre o mar e sobre a terra’. Assim me aproximei do anjo e lhe pedi
que me desse o livrinho. Ele me disse: ‘Pegue-o e coma-o! Ele será
amargo em seu estômago, mas em sua boca será doce como mel’.
Peguei o livrinho da mão do anjo e o comi. Ele me pareceu doce
como mel em minha boca; mas, ao comê-lo, senti que o meu
estômago ficou amargo. Então me foi dito: ‘É preciso que você
profetize de novo acerca de muitos povos, nações, línguas e reis’” (v.
8-11).
Por que o Cordeiro de Deus tomou o livro selado da mão direita
de Deus, no capítulo 5? Por que Jesus Cristo aparece no santuário
do céu, como o Cordeiro que foi morto, para ser considerado digno
de tomar o livro e abrir seus selos? Qual é, afinal, o maior alvo de
todos os atos dele na terra e no céu? Qual é a mais profunda
intenção e objetivo de Deus e do Cordeiro? Resposta: nada além de
dar e transmitir àqueles que creem nele o que está contido no livro!
Sua multidão comprada pelo sangue deve tomá-lo e comê-lo;
apropriar-se dele, anunciá-lo e profetizá-lo; ela deve viver disso e
deixar-se edificar para a vida eterna. Esse livro contém todos os
direitos proféticos, sacerdotais e reais do Cristo como nosso
Redentor. Se, no entanto, somos herdeiros, então somos coerdeiros,
ou seja, coerdeiros com Cristo. É o que Paulo diz em Romanos 8.17.
É isso que ele quer nos transmitir.
Esse livro abrange a origem e o cerne de todas as profecias, de
toda pregação do evangelho, de toda verdadeira fé e de toda
esperança firme. Esse livro, dos capítulos 5 e 10, é o documento
divino da mão direita da Divindade eterna, no qual se baseia o
reinado do Senhor Jesus Cristo como Senhor dos senhores e Rei
dos reis. E toda essa glória ele deseja transmitir a nós. Já na oração
sacerdotal isso foi pedido: “Pai, a minha vontade é que onde eu
estou, estejam também comigo os que me deste... antes da
fundação do mundo” (Jo 17.24 RA).
Esse é o significado da estranha ordem que João agora recebe:
“Vá, pegue o livro aberto que está na mão do anjo que se encontra
em pé sobre o mar e sobre a terra” (v. 8). Trata-se do cumprimento
daquilo que o Senhor Jesus disse na oração sacerdotal: “Pois eu
lhes transmiti as palavras que me deste” (Jo 17.8). Um verdadeiro
profeta nunca transmite uma mensagem de si mesmo, mas faz aquilo
que João faz no versículo 9: ele vai ao “outro anjo poderoso” e pede
que ele dê o livro. Contudo, ele precisa ficar quieto, pois recebe
agora toda a plenitude da mensagem divina, a insondável riqueza de
Deus: o testamento de Deus e do Cordeiro. João mesmo não tem
mais nada a dizer.
Agora Jesus Cristo fala na pessoa do anjo poderoso: “Ele me
disse: ‘Pegue-o e coma-o! Ele será amargo em seu estômago, mas
em sua boca será doce como mel’. Peguei o livrinho da mão do anjo
e o comi” (v. 9-10). Por que ele precisa comê-lo? Quando comemos
algum alimento, ele se torna parte de nós mesmos. Ele se transmite
literalmente para nossa carne e nosso sangue! Com Ezequiel foi
semelhante. O Senhor disse a ele: “‘Mas você, filho do homem, ouça
o que digo. Não seja rebelde como aquela nação; abra a boca e
coma o que vou dar a você’. Então olhei e vi a mão de alguém
estendida para mim. Nela estava o rolo de um livro, que ele
desenrolou diante de mim. Em ambos os lados do rolo estavam
escritas palavras de lamento, pranto e ais. E ele me disse: ‘Filho do
homem, coma este rolo; depois vá falar à nação de Israel’” (Ez 2.8–
3.1). João e Ezequiel tiveram ambos que apropriar-se das palavras
de Deus, comendo-as. Somente então eles podiam transmitir
fielmente a mensagem do Senhor, palavra por palavra, pois ela havia
se tornado uma parte deles mesmos.
Quando João come o livrinho, ele se apropria interiormente da
mensagem e experimenta a bem-aventurança, mas também o
sofrimento. Sempre é assim: quando se come a Palavra de Deus,
acolhendo-a em si, o coração jubila por causa da magnífica
plenitude. Por outro lado, isso está relacionado com muitas
tribulações fortes, principalmente quando se tem que anunciar o
juízo. Não se pode apontar a espada da Palavra de Deus contra
outras pessoas quando ela não foi apontada primeiro contra si
mesmo.
E agora vem a nova tarefa: “É preciso que você profetize...” (v.
11). Em outras palavras: apesar de ter-lhe custado a liberdade –
pois João estava exilado –, apesar de seu cansaço e do temor de
novas lutas: “É preciso que você profetize”. As profecias seguintes
de João não devem, portanto, referir-se somente à igreja, aos cento
e quarenta e quatro mil selados e à multidão que ninguém podia
enumerar, mas abranger ainda mais povos, nações, línguas e reis:
“... profetize de novo acerca de muitos povos, nações, línguas e reis”
(v. 11).
A maravilhosa proclamação do outro anjo poderoso, Jesus Cristo,
está embutida no meio do capítulo 10 e é: “Então o anjo que eu tinha
visto de pé sobre o mar e sobre a terra levantou a mão direita para o
céu e jurou por aquele que vive para todo o sempre, que criou os
céus e tudo o que neles há, a terra e tudo o que nela há, e o mar e
tudo o que nele há, dizendo: ‘Não haverá mais demora! Mas, nos
dias em que o sétimo anjo estiver para tocar sua trombeta, vai
cumprir-se o mistério de Deus, como ele o anunciou aos seus servos,
os profetas’” (v. 5-7).
O mistério de Deus, que se cumprirá nos dias da sétima trombeta,
é a soma de todas as revelações e ações de Deus para recolocar o
homem em sua herança perdida. O mistério de Deus abrange todos
os mistérios da Escritura. O Senhor Jesus falou a respeito quando
disse aos seus discípulos: “A vocês foi dado o conhecimento dos
mistérios do Reino dos céus, mas a eles não” (Mt 13.11). Paulo cita
alguns componentes desse mistério. Em Romanos 11.25 temos o
mistério de Israel: “Irmãos, não quero que ignorem este mistério,
para que não se tornem presunçosos: Israel experimentou um
endurecimento em parte, até que chegue a plenitude dos gentios”
(Rm 11.25). Em seguida, temos o mistério da sua vontade (Ef 1.9),
depois o mistério de Cristo (Ef 3.4) e o mistério da igreja (Ef 5.32).
Ou lembremos do mistério do evangelho (Ef 6.19) ou do mistério do
arrebatamento: “Eis que eu digo um mistério: Nem todos
dormiremos, mas todos seremos transformados” (1Co 15.51). Todos
os mistérios que são citados no Novo Testamento estão agrupados
no mistério de Deus, que se cumprirá então durante o período da
sétima trombeta.
A sétima trombeta não caracteriza um dia único, mas um período
de juízo, pois os maiores acontecimentos se realizam durante esse
tempo. Então se cumprirá o mistério completo de Deus que ele
anunciou aos seus servos e profetas. No Apocalipse verifica-se um
crescendo dos atos ocultos de Deus. Tudo isso está próximo, às
portas, pois o arrebatamento está por acontecer. Repetidamente
Deus deu um prazo de graça, pois o Senhor tem paciência conosco,
“não querendo que ninguém pereça, mas que todos cheguem ao
arrependimento” (2Pe 3.9). Diversas vezes ele adiou o juízo final.
Será que ele continuará o adiando?
Aqui na sexta trombeta, o “outro anjo poderoso”, Jesus Cristo,
fala que colocou seu pé sobre a terra e sobre o mar. Sua mão está
elevada ao céu, e ele jura por aquele que vive eternamente e criou
tudo o que existe no céu e na terra. E então ele diz algo chocante e
sério: “Não haverá mais demora!”. Portanto, não há mais prazo além
dos dias da sétima trombeta: “Não haverá mais demora! Mas, nos
dias em que o sétimo anjo estiver para tocar sua trombeta, vai
cumprir-se o mistério de Deus, como ele o anunciou aos seus servos,
os profetas” (v. 6-7). E será muito tarde para voltar atrás; apesar de
ainda procederem muitos acontecimentos dessa trombeta, o
juramento de Jesus Cristo é irrevogável. Em nossos dias esse prazo
já começa a se esgotar. A contagem regressiva já começou. Partes
importantes do mistério de Deus já se cumprem de forma
preparativa. Espero todo dia que se cumpram duas partes do
mistério de Deus: o mistério da igreja e o mistério do arrebatamento
da igreja. Se você ainda não entregou sua vida completamente a
Jesus, que comprou você por preço elevado como Cordeiro
ensanguentado, então faça-o ainda hoje – faça-o agora!
11
A Medição do Templo de Deus
(Ap 11.1-2)
N
o comentário da sexta trombeta vimos que um terço da
humanidade será destruído. Constatamos que essa guerra
mundial, que provavelmente será uma guerra nuclear, é
deflagrada no Oriente Médio, pois os quatro anjos guerreiros são
soltos junto ao rio Eufrates. Finalmente, reconhecemos nisto uma
visão antecipada da luta final dos povos no Armagedom. Apocalipse
11 fala agora do tempo posterior a essa guerra. Trata-se de uma
continuação das palavras do “outro anjo poderoso” no capítulo 10.
Nestas palavras do Senhor a João é retomado o fio da meada que
foi deixado de lado na visão antecipada da luta final dos povos no
meio da grande tribulação.
No caso, podemos partir do fato de que essas ondas de guerras
mundiais começarão com o aniquilamento da Rússia e terminarão
com o Armagedom. Este primeiro acontecimento que abalará o
mundo aproxima-se hoje aceleradamente de nós. No entanto, ele não
é apresentado no Apocalipse, porque não tem significado no plano
de salvação.nota 8 Em contrapartida, este juízo sobre os povos é
descrito detalhadamente no Antigo Testamento, principalmente em
Ezequiel 38 e 39.
Tendo em vista Apocalipse 11.3-14, surge a pergunta: o que Israel
faz após essa catástrofe mundial? Conforme Ezequiel 39.11-16,
Israel vai primeiro sepultar os mortos durante sete meses: “Naquele
dia darei a Gogue um túmulo em Israel, no vale dos que viajam para
o oriente na direção do Mar. Ele bloqueará o caminho dos viajantes
porque Gogue e todos os seus batalhões serão sepultados ali. Por
isso será chamado vale de Hamom-Gogue. Durante sete meses a
nação de Israel os sepultará a fim de purificar a terra. Todo o povo
da terra os sepultará, e o dia em que eu for glorificado será para
eles um dia memorável. Palavra do Soberano, o S . Depois
dos sete meses serão contratados homens para percorrer a terra e
sepultar os que ainda restarem. E assim a terra será purificada.
Quando estiverem percorrendo a terra e um deles vir um osso
humano, fincará um marco ao lado do osso até que os coveiros o
sepultem no vale de Hamom-Gogue. (Também haverá ali uma cidade
à qual se dará o nome de Hamoná.) E assim eles purificarão a terra”.
É como numa catástrofe aérea, em que se assinala os lugares
onde se encontram os restos físicos das vítimas para sepultá-los
mais tarde. Em seguida, Israel começará imediatamente a
reconstrução do templo. Através do grande terremoto de que fala
Ezequiel 38.19-20 – “Em meu zelo e em meu grande furor declaro
que naquela época haverá um grande terremoto em Israel. Os peixes
do mar, as aves do céu, os animais do campo, toda criatura que
rasteja pelo chão e todas as pessoas da face da terra tremerão
diante da minha presença. Os montes serão postos abaixo, os
penhascos se desmoronarão e todos os muros cairão” – será
preparado na terra de Israel, não somente politicamente, mas
também tecnicamente, o caminho para a reconstrução do templo: o
Domo da Rocha, a mesquita de Omar, estará arrasado. Mas então a
igreja de Jesus não tem mais espaço na terra, pois o tempo da igreja
de Jesus se localiza entre a destruição e a reconstrução do templo
em Jerusalém. Neste período, a igreja de Jesus é o templo espiritual
na terra (Ef 2.20-22).
Se lermos Apocalipse 11 atentamente, ficará claro para nós que
os acontecimentos ali relatados são realmente uma parte do décimo
capítulo, onde o anjo poderoso, que é Cristo, em atitude solene,
toma posse da terra colocando seus pés sobre ela (10.2). No final
do décimo capítulo, esse “outro anjo poderoso” ordena que João
continue profetizando. Aqui, no capítulo 11.1, ele recebe uma nova
ordem: “Vá e meça o templo de Deus e o altar”. A relação é,
portanto, evidente. A ordem vem do Filho vivo de Deus, que no
capítulo 10.5-7 jurou que já não haverá demora após a sétima
trombeta. O que temos diante de nós, portanto, deve ser a
continuação – até o clímax do dia do Senhor.
Como já dissemos, aqui no capítulo 11 nos encontramos no meio
da 70ª semana e assim na última semana de anos de Daniel, ou
seja, na segunda metade da tribulação da qual a palavra profética
fala com tanta ênfase. Em Jerusalém decidiu-se tudo, pois Deus
estava lá em Cristo e reconciliou o mundo consigo mesmo, e lá Jesus
morreu na cruz. Em Jerusalém houve a Páscoa; lá o Senhor
ressuscitou. Em Jerusalém ele subiu ao céu e em Jerusalém ele
voltará (Zc 14.4). Por isso, tudo se decidirá em Jerusalém.
No decorrer da tomada da herança, a primeira coisa é expressa
na atitude modificada de João. Depois que viu e ouviu o anjo
poderoso (Cristo), ele, que até agora só via, passou a agir: “Assim
me aproximei do anjo e lhe pedi que me desse o livrinho. Ele me
disse: ‘Pegue-o e coma-o! Ele será amargo em seu estômago, mas
em sua boca será doce como mel’” (10.9). Este livrinho, que ele
comeu como ordenado, contém toda a herança dos santos, que ele
recebeu no lugar de toda a igreja glorificada. Ele o fez como
representante de toda a igreja glorificada, como também os vinte e
quatro anciãos coroados representam a igreja de Jesus glorificada.
Então João tinha que continuar a profetizar (10.11). O que ele teve
que profetizar? Que Jesus e sua glória estão chegando! A igreja é a
glória do Cristo!
Agora João é transferido em espírito para a Jerusalém terrena e
realiza uma ação que não é visível para os habitantes: ele mede o
templo. Isso acontece, como já dissemos, na segunda metade da
tribulação, ou seja, na grande tribulação, quando a besta, o
Anticristo, estiver no auge do seu poder. Isso é provado pelo
versículo 2: “Exclua, porém, o pátio exterior; não o meça, pois ele foi
dado aos gentios. Eles pisarão a cidade santa durante quarenta e
dois meses”. O capítulo 12 fala do mesmo período. Quando lemos
indicações de tempo na Bíblia, como por exemplo “um tempo,
tempos e meio tempo”, “quarenta e dois meses” ou “mil duzentos e
sessenta dias” (como no v. 3), isso sempre é uma referência aos
últimos três anos e meio dos sete anos de tribulação.
João mede o santuário; ele age como membro do corpo de Cristo.
O medir aqui é um ato judicial. Ele significa limitação e posse; ele
engloba separação, ou seja, exclusão: “Exclua...”. O pátio, que não é
sagrado, é separado do santuário. Essa será a tarefa da igreja
glorificada e arrebatada, pois – repetimos – João age profeticamente
e representando a igreja no céu. Paulo disse isso assim: “Vocês não
sabem que os santos hão de julgar o mundo?” (1Co 6.2). Que
perspectiva grandiosa! Devemos conscientizar-nos de que esse
julgamento separador já acontece hoje nas fileiras dos cristãos,
sendo que o mal (os cristãos do pátio) é deixado de lado e o
sagrado permanece.
Observemos o seguinte: as primeiras coisas medidas são o
santuário, o altar e os adoradores. A única casa de Deus que existe
atualmente sobre a terra é o seu templo espiritual: a igreja de Jesus.
As pedras vivas de que esse templo é constituído são os renascidos
dentre judeus e gentios (1Pe 2.5). Nesta casa, o juízo é realizado em
primeiro lugar; e, através do arrebatamento desta terra, acontece
então finalmente a retirada repentina e maravilhosa. Esses atos de
juízo, porém, têm dois lados, duas correntes: uma corrente
ascendente – o santificado que é arrebatado deste mundo maduro
para juízo – e uma corrente descendente – o santificado que retorna
em poder crescente,nota 9 para tomar posse de todas as coisas, para
assumir a herança. Devemos lembrar que Jerusalém será, com o
templo então reconstruído após o arrebatamento da igreja, o único
centro da sagrada presença de Deus na terra. Apesar de começar
então o terrível sacrilégio, quando o Anticristo se assentar no templo
como se fosse Deus, ele é chamado expressamente de “santuário de
Deus” na Bíblia (2Ts 2.4).
Quem são os adoradores? Trata-se dos cento e quarenta e
quatro mil selados que conhecemos no capítulo 7. Estas muitas
pessoas de Israel, que se tornam crentes no Senhor Jesus durante a
tribulação, durante o domínio do Anticristo, são figuradamente a
cabeça de ponte, a base de Deus na terra. Através da medição
judicial elas são separadas dos ímpios. Trata-se, portanto, de um
acontecimento espiritual que será exatamente como o juízo
separador que se realiza hoje na igreja de Jesus. Na última folha da
Bíblia está escrito assim: “Continue o injusto a praticar injustiça;
continue o imundo na imundícia; continue o justo a praticar justiça; e
continue o santo a santificar-se. Eis que venho em breve! A minha
recompensa está comigo, e eu retribuirei a cada um de acordo com
o que fez” (22.11-12).
Os adoradores não podem ser os crentes que fazem parte da
multidão inumerável de todas as nações e línguas porque estes terão
que deixar sua vida como mártires. Da multidão inumerável é dito que
eles não adoram, mas em um sentido positivo: “Eles não tinham
adorado a besta nem a sua imagem” (20.4). Não há dúvida que eles
adorarão o Senhor, mas não será no templo em Jerusalém, e sim de
onde se encontram: entre os povos e nações. Eles têm outra posição
do que os cento e quarenta e quatro mil. Os judeus que creram em
Jesus Cristo, no entanto, adorarão no templo em Jerusalém, como
fez também Paulo (At 21.26). De alguma forma, dominará então a
mesma situação que na atual era da graça, quando muitos judeus
crentes, apesar de serem ainda cegos para o seu Messias (Rm
11.25), adoram em Jerusalém, especialmente junto ao Muro das
Lamentações, enquanto que nós, como crentes dentre as nações,
não adoramos em um local geográfico, mas, conforme João 4.24,
adoramos a Deus em espírito e em verdade, seja onde estivermos.
Os selados de Israel são guardados da grande matança durante a
tribulação; eles serão mantidos para a plenitude da redenção; eles
são separados do pátio, que foi dado aos gentios. Percebemos que
após o arrebatamento haverá o mesmo procedimento como conosco
antes dele, pois, da mesma maneira como os cento e quarenta e
quatro mil de Israel são selados após o arrebatamento, nós somos
selados com o Espírito Santo antes do arrebatamento.
Disso aprendemos para nós, atualmente, que o crescimento na
santificação é de eminente significado, pois não deveríamos ficar
parados no “pátio”, junto ao altar do holocausto, mas muito mais que
“deixemos os ensinos elementares a respeito de Cristo e avancemos
para a maturidade” (Hb 6.1), entrando no “santuário” – na comunhão
com o Filho de Deus –, onde está a luz, a Menorá e o pão sempre
fresco. Assim, entremos ousadamente pelo véu aberto até o “Lugar
Santíssimo”, onde Deus está presente, como diz João em sua
primeira carta: “Nossa comunhão é com o Pai e com seu Filho Jesus
Cristo” (1Jo 1.3). Em outras palavras: totalmente para Jesus!
12
As Duas Testemunhas
(Ap 11.3-14)
D
contexto da sexta trombeta. Elas surgem enquanto a cidade
santa é pisada pelos gentios durante quarenta e dois meses
(11.2). Com isso surge logo a pergunta: quem são essas
duas testemunhas? Primeiro deve ficar claro para nós que João não
as vê em uma visão, como afirmam certos comentaristas. Pelo
contrário, elas são descritas pelo “outro anjo poderoso” (10.1), que é
Cristo. Portanto, é o próprio Jesus Cristo que descreve aqui o que
acontecerá com suas duas testemunhas.
É muito frequente que os acontecimentos dos tempos finais com
as duas testemunhas descritos aqui, como também os capítulos 7.14
e 9.16, adiantam-se à sequência cronológica. Resumidamente, são
mostrados detalhes de acontecimentos que somente são descritos
no décimo terceiro capítulo. Sua carreira de testemunhas estendeu-
se, portanto, por diferentes visões e contém fatos que nos são
relatados somente mais tarde. Todavia, que a história das duas
testemunhas é especialmente destacada prova a extraordinária
importância da atividade deles.
Em nossa era – antes do arrebatamento – as testemunhas de
Jesus Cristo têm a posição mais importante, pois como as pessoas
podem crer se não ouvirem a pregação? (Rm 10.14) Esta é a nossa
grande responsabilidade. “Minhas testemunhas”, diz o Senhor.
Também não é por acaso que elas aparecem exatamente no meio do
Apocalipse. Testemunhas de Jesus Cristo são uma prova viva da
realidade e do poder do Senhor. Por isso, sua ordem para nossa era
que se encerra é: “... e serão minhas testemunhas”. Quando surgem
ídolos, as testemunhas de Jesus devem proclamar sua mensagem
de forma ainda mais clara.
O fato de serem duas testemunhas é repetido três vezes. No
versículo 3: “duas testemunhas”; no versículo 4: “duas oliveiras” e
“dois candelabros”. Enviar suas testemunhas em duplas é um
princípio de Deus, principalmente quando há uma tarefa difícil a
cumprir: Moisés e Arão, Josué e Calebe, Zorobabel e Josué, Pedro
e João. Na minha opinião, “Darei poder às minhas duas testemunhas”
significa que então não haverá mais outras testemunhas em Israel.
Assim constatamos que se trata realmente de pessoas e não do
Antigo e do Novo Testamento, como alguns dizem. Constata-se
também que elas “profetizarão”. O que quer dizer “profetizarão”?
Não se trata de algo espetacular, mas simplesmente significa dizer
aquilo que se sabe da parte de Deus. Nossa mensagem tem força
de penetração somente na medida em que temos certeza interior
das coisas que virão. Com grande poder os apóstolos
testemunharam a respeito da ressurreição do Senhor Jesus de
acordo com a certeza que tinham da sua ressurreição (At 4.33). Nós
somos testemunhas porque temos certeza da vida eterna: “O próprio
Espírito testemunha ao nosso espírito que somos filhos de Deus”
(Rm 8.16). Por isso não podemos ficar com uma certeza subjetiva.
Ela deve tornar-se objetiva, isto é, ela tem que corresponder aos
fatos do plano de salvação que experimentamos pessoalmente. “...
nós fomos testemunhas oculares da sua majestade”, afirma Pedro
(2Pd 1.16).
As duas testemunhas estavam continuamente diante do Senhor:
“Estas são as duas oliveiras e os dois candelabros que permanecem
diante do Senhor da terra” (v. 4). Se nos mantivermos rigidamente
fixos ao texto, então elas já se encontravam diante do Senhor
quando João ouviu a respeito delas pelo Senhor. O segredo de uma
atividade abençoada consiste em estarmos continuamente diante do
Senhor.
O versículo 4 diz quem são essas duas testemunhas: duas
oliveiras e dois candelabros. Elas são o cumprimento final da visão
do profeta Zacarias: “Depois o anjo que falava comigo tornou a
despertar-me, como se desperta alguém do sono, e me perguntou:
‘O que você está vendo?’ Respondi: Vejo um candelabro de ouro
maciço, com um recipiente para azeite na parte superior e sete
lâmpadas e sete canos para as lâmpadas. Há também duas oliveiras
junto ao recipiente, uma à direita e outra à esquerda. Perguntei ao
anjo que falava comigo: O que significa isso, meu senhor? Ele disse:
‘Você não sabe?’ Não, meu senhor, respondi. ‘Esta é a palavra do
S para Zorobabel: “Não por força nem por violência, mas pelo
meu Espírito”, diz o S dos Exércitos’” (Zc 4.1-6).
O primeiro cumprimento desta visão são as duas oliveiras:
Zorobabel e Josué. O cumprimento final são as duas testemunhas de
Apocalipse 11. O que, porém, falta nas “duas oliveiras” de
Apocalipse 11? O candelabro, a Menorá! Aqui recebemos novamente
uma visão da situação em que Israel se encontra durante o domínio
anticristão. Israel estará então incorporado ao império mundial da
besta, mas faltará o atual emblema do Estado. Então haverá
somente uma bandeira, um emblema – o sinal da besta, ou seja, o
número do seu nome: 666 (13.18). Isso significa que então será
noite em Israel sob todos os aspectos.
O fato de que Israel estará realmente incorporado ao império
mundial anticristão é provado conforme lemos o versículo 10 do
capítulo 11, onde o mundo todo participa da alegria pela morte das
duas testemunhas como mártires em Jerusalém. Assim, lemos no
versículo 9: “Durante três dias e meio, gente de todos os povos,
tribos, línguas e nações contemplarão os seus cadáveres e não
permitirão que sejam sepultados”. E então no versículo 10: “Os
habitantes da terra se alegrarão por causa deles e festejarão,
enviando presentes uns aos outros, pois esses dois profetas haviam
atormentado os que habitam na terra”. É evidente que os milhões de
habitantes da terra verão os cadáveres nas ruas de Jerusalém por
meio da televisão. Todavia, com isso temos também uma indicação
do poderoso efeito mundial da atividade das duas testemunhas.
Deve-se notar que elas não aparecem na era do evangelho. Elas
são servos de Deus de uma outra classe. Estão vestidas de pano de
saco, isto é, exortam ao arrependimento, pois o reino dos céus se
aproxima. Elas recebem uma tríplice designação: 1) elas são
profetas, homens através dos quais Deus fala; 2) elas são oliveiras,
homens cheios do Espírito Santo; e 3) elas são candelabros, homens
que refletem a glória do Cristo que está voltando – não sua própria
santidade, mas a santidade de Cristo.
Como profetas elas anunciam o reino que inicia: o verdadeiro Rei
vem! No capítulo 10 já vemos isso de maneira tão impressionante
quando o “outro anjo poderoso”, que é Cristo, põe seu pé direito
sobre o mar e o pé esquerdo sobre a terra, assumindo a posse da
herança.
Como oliveiras sua poderosa mensagem é de enorme e
irresistível força espiritual. Elas provam durante 1.260 dias que Jesus
é Vencedor, pois, durante esse tempo, o Anticristo tem que
reconhecer continuamente sua impotência diante de Jesus Cristo. Ele
não pode tocar as testemunhas enquanto elas não tiverem
completado a sua tarefa. Pelo contrário: “Se alguém quiser causar-
lhes dano, da boca deles sairá fogo que devorará os seus inimigos.
É assim que deve morrer qualquer pessoa que quiser causar-lhes
dano” (v. 5).
Como candelabros elas revelam, como única luz nas trevas, o
pecado e a corrupção. Isso produz terríveis tormentos de
consciência para o mundo todo. Não é preciso ter uma imaginação
muito fértil para avaliar o quanto a besta – e com ela todo o mundo
anticristão – odeia as duas testemunhas. No entanto, assim como
nosso Senhor não pôde ser tocado pelo inimigo durante três anos
porque seu tempo ainda não estava cumprido e sua tarefa ainda não
estava completa, assim também as duas testemunhas não podem
ser tocadas durante 1.260 dias.
Considera-se geralmente que esses dois servos de Deus são
semelhantes a Moisés e Elias por causa da maneira de executarem
seus juízos. “... da boca deles sairá fogo que devorará os seus
inimigos” (v. 5). Isto lembra a execução do juízo por Elias (2Rs 1.10).
“Estes homens têm poder para fechar o céu, de modo que não chova
durante o tempo em que estiverem profetizando” (v. 6). Também isto
lembra Elias (1Rs 17.1). No versículo 6b reconhecemos Moisés: “...
e têm poder para transformar a água em sangue e ferir a terra com
toda sorte de pragas, quantas vezes desejarem” (Êx 7.19-20). É
notável que ambos têm a mesma autoridade para executar juízo e
que suas ações se confundem.
Além disso, essas duas testemunhas também lembram Moisés e
Elias porque se acham em pé diante do Senhor, como é dito deles,
pois o Senhor falava com Moisés como um homem com seu amigo
(Êx 33.11) e de Elias é dito expressamente que ele estava diante do
Senhor (1Rs 17.1).
Uma terceira razão é que Malaquias predisse a vinda de um
profeta como Elias: “Vejam, eu enviarei a vocês o profeta Elias antes
do grande e terrível dia do S . Ele fará com que os corações
dos pais se voltem para seus filhos, e os corações dos filhos para
seus pais; do contrário, eu virei e castigarei a terra com maldição”
(Ml 4.5-6). Israel espera o profeta Elias como precursor do Messias.
Na primeira noite da festa da Páscoa judaica, na chamada festa de
Seder, isso aparece claramente. Após a oração é colocada uma taça
com vinho sobre a mesa, que tem o nome de “taça do profeta Elias”.
Um rabino o explicou da seguinte maneira: “O povo judeu foi liberto
da escravidão no mês de Nissan, na Páscoa, e o povo judeu será
redimido em Nissan, isto é, o Mashiach (o Messias) virá neste mês.
Eliyahu (Elias) será o precursor do Mashiach. E se ele vem em
Nissan, a noite de Seder é a melhor oportunidade. Por isso
colocamos uma taça para Eliyahu sobre a mesa”. Desta taça não é
bebido, ao passo que todos os participantes dessa festa bebem
vinho quatro vezes dos seus cálices – quatro vezes por causa das
quatro expressões que aparecem na Torá com relação à redenção:
“Eu tirei vocês”, “Eu salvei vocês”, “Eu redimi vocês”, “Eu tomei
vocês para mim como povo”.
Moisés, o mediador da antiga aliança, que esteve junto com Elias
sobre o monte da transfiguração, dominou o antissemita egípcio e
ditador mundial, o faraó. Elias, por sua vez, exortou o povo de Israel
rebelde ao arrependimento. Mesmo assim, não se pode dizer com
toda a segurança quem realmente serão essas duas testemunhas do
Senhor que resistirão à besta. Fica claro, no entanto, que elas têm o
mesmo espírito e que aparecerão em Jerusalém após o
aniquilamento do inimigo do norte e o arrebatamento.
Em seu testemunho, ressurreição e arrebatamento, podemos
atualmente ver de maneira exata nossa tarefa como testemunhas de
Jesus até o arrebatamento. Como profetas com autoridade, elas têm
o testemunho de Jesus. Apocalipse 19.10 diz: “O testemunho de
Jesus é o espírito de profecia”. Suas experiências são as
experiências de todas as testemunhas de Jesus: 1) há em primeiro
lugar a absoluta solidão, pois onde estão agora os adoradores do
capítulo 11.1; os selados do capítulo 7? Por que as duas
testemunhas estão tão sozinhas? Não é porque elas têm que
anunciar toda a verdade em um mundo mentiroso? 2) Elas têm
ilimitado poder de vitória sobre o inimigo irado. Duas vezes é dito no
versículo 6 que elas “têm poder”. Em Lucas 10.19 o Senhor diz às
suas testemunhas e, assim, também a nós: “Eu dei a vocês
autoridade para pisarem sobre cobras e escorpiões, e sobre todo o
poder do inimigo; nada lhes fará dano”. 3) No ministério das duas
testemunhas também vemos um paralelo com a nossa tarefa: guerra
total contra o inimigo. No versículo 7 está escrito: “Quando eles
tiverem terminado o seu testemunho, a besta que vem do Abismo os
atacará. E irá vencê-los e matá-los”. Isto é uma vitória?! O mistério
do Gólgota nos é revelado aqui de forma retrospectiva e profética.
Foi uma vitória quando eles crucificaram o Senhor da glória? Sim, foi
uma vitória sobre o inferno, a morte e o Diabo!
Não é comovente o que é dito dos cadáveres das duas
testemunhas: “Os seus cadáveres ficarão expostos na rua principal
da grande cidade, que figuradamente é chamada Sodoma e Egito,
onde também foi crucificado o seu Senhor” (v. 8)? O próprio
acontecimento é horrível, pois, deixando isso acontecer, Israel
separa-se do seu fundamento: de Moisés e Elias. Jerusalém agora
se tornou semelhante a Sodoma e ao Egito: Sodoma – a síntese do
pecado; Egito – a síntese do inimigo. Assim o Senhor descreve para
João a Jerusalém dos tempos finais. O calar destas duas
testemunhas poderosas, como já vimos, produz júbilo mundial (v. 9-
10). Seus cadáveres poderão ser vistos – pela televisão, via satélite
– em todo o mundo, pois não serão sepultados. Todo o mundo
anticristão comemorará festivamente a morte das duas testemunhas
do Senhor.
Que tempo terrível, como nunca antes, deve ser a grande
tribulação! Esta exposição dos cadáveres durará três dias e meio.
Vem a noite, quando ninguém pode trabalhar! Esses três dias e meio
devem ser os últimos dos 1.260 dias do versículo 3; o final
aglomerado dos tempos finais. Eles, contudo, completaram seu
testemunho. Que todos nós também completemos o nosso!
O verdadeiro triunfo é revelado justamente pela morte deles:
“Mas, depois dos três dias e meio, entrou neles um sopro de vida da
parte de Deus, e eles ficaram em pé, e um grande terror tomou
conta daqueles que os viram” (v. 11). Aquele que, em sua vida
pessoal, aceita morrer com Jesus e ser ressuscitado com ele, esse
espalhará correspondentemente o fruto de Deus. Que grandiosa
visão profética antecipada para nós que vivemos atualmente!
A morte das duas testemunhas é semelhante à de Cristo.
Vejamos, nesta perspectiva, mais uma vez o versículo 8: “Os seus
cadáveres ficarão expostos na rua principal da grande cidade, que
figuradamente é chamada Sodoma e Egito, onde também foi
crucificado o seu Senhor”. Não é isso o tornar-se um com Cristo?
Elas morrem onde morreu o seu Senhor. Esse é o caminho de cada
testemunha neste tempo final antes do arrebatamento, pois: “Se
morremos com ele, com ele também viveremos” (2Tm 2.11). A
ressurreição das duas testemunhas é descrita no versículo 11 com a
mesma expressão que a ressurreição de Israel é em Ezequiel 37.10:
“... e o espírito entrou neles; eles receberam vida e se puseram em
pé”. Sobre as duas testemunhas é dito: “... entrou neles um sopro de
vida da parte de Deus, e eles ficaram em pé”. Assim vemos não
somente sua identidade com Jesus, mas também sua identidade com
Israel. Verdadeiramente, nesse caso as duas testemunhas solitárias
de Israel vão adiante de forma profética. Uma nova dimensão, o
arrebatamento delas, é acrescentada no versículo 12: “Então eles
ouviram uma forte voz dos céus, que lhes disse: ‘Subam para cá’. E
eles subiram para os céus numa nuvem, enquanto os seus inimigos
olhavam”. Cada testemunha de Jesus, cada renascido, espera esse
acontecimento a qualquer momento e anseia ser arrebatada dessa
Sodoma e Egito.
Minha pergunta bem pessoal para você é: o Senhor pode dizer a
seu respeito: ele/ela é minha testemunha? Durante a grande
tribulação haverá inúmeros crentes que morrerão como mártires,
mas sobre nenhum deles é lançada a luz como sobre essas duas
testemunhas. Elas ousaram o sagrado radicalismo por Jesus. Quem
ousa, nesta última hora do tempo da graça, dizer “sim” pessoalmente
a essa sagrada decisão por Jesus?
13
A Sétima Trombeta
(Ap 11.15–12.5)
15O sétimo anjo tocou a sua trombeta, e houve fortes vozes nos
céus, que diziam: “O reino do mundo se tornou de nosso Senhor
e do seu Cristo, e ele reinará para todo o sempre”. 16Os vinte e
quatro anciãos que estavam assentados em seus tronos diante de
Deus prostraram-se sobre seus rostos e adoraram a Deus,
17dizendo: “Graças te damos, Senhor Deus todo-poderoso, que és
e que eras, porque assumiste o teu grande poder e começaste a
reinar. 18As nações se iraram; e chegou a tua ira. Chegou o
tempo de julgares os mortos e de recompensares os teus servos,
os profetas, os teus santos e os que temem o teu nome, tanto
pequenos como grandes, e de destruir os que destroem a terra”.
19Então foi aberto o santuário de Deus nos céus, e ali foi vista a
arca da sua aliança. Houve relâmpagos, vozes, trovões, um
terremoto e um grande temporal de granizo.
C
om a sétima trombeta nos aproximamos do clímax da história
mundial, que acontecerá em breve. Esses juízos do Todo-
Poderoso são os mais amplos e terríveis. A sétima trombeta
não será ouvida somente por um momento ou durante um dia, mas
por todo um período: “Mas, nos dias em que o sétimo anjo estiver
para tocar sua trombeta, vai cumprir-se o mistério de Deus, como
ele o anunciou aos seus servos, os profetas” (10.7). Portanto, nos
dias da sétima trombeta, que será ouvida após o arrebatamento e
durante a grande tribulação, o mistério de Deus será cumprido. Não
é dito por quanto tempo será ouvida essa trombeta, mas será
durante vários dias, pois é utilizado o plural: “... nos dias”. É o
terceiro “ai” que virá então sobre a terra: “O segundo ai passou; o
terceiro ai virá em breve” (11.14).
O cumprimento do mistério de Deus acontece após o
arrebatamento, mas não se dá sem as sete taças da ira, que ainda
seguem. O milênio, o juízo final diante do grande trono branco (cap.
20), o novo céu e a nova terra – tudo isso faz parte do mistério de
Deus que ainda precisa ser cumprido. Evidentemente que o
cumprimento do mistério de Deus inclui tudo que se encontra após a
redenção completa e já começou com o reaparecimento de Israel.
Este é um mistério, um milagre, que no início da década de 1940
praticamente ninguém esperava. No entanto, o mistério de Deus
começou a se cumprir e será concluído – etapa após etapa! Disso
faz parte tudo o que Deus, o Senhor, realizou desde 1948 e o que
continuará realizando. O cumprimento como tal, entretanto, será
iniciado nos dias em que o sétimo anjo tocar a trombeta. Nesta
sétima trombeta é desenrolado todo o plano de salvação. Trata-se
do cumprimento da plenitude divina, razão do número sete. As
circunstâncias que acompanham o soar da sétima trombeta são de
um significado profundo e abrangente.
“... e houve fortes vozes nos céus, que diziam: ‘O reino do mundo
se tornou de nosso Senhor e do seu Cristo’” (11.15). Estas fortes
vozes representam as vozes de todos os seres vivos no céu, que
ficam muito emocionados em vista daquilo que acontece agora na
terra. Elas anunciam o início do reino de Deus e de Jesus Cristo na
terra, quando o “reino do mundo” deverá se tornar o reino de nosso
Senhor. Portanto, o reino de Deus no mundo, através de Jesus
Cristo, será estabelecido quando estiver concluído o sétimo juízo das
trombetas. Jesus Cristo reinará então como Cordeiro, de eternidade
em eternidade, como lemos em Apocalipse 5.8-12: “Ao recebê-lo, os
quatro seres viventes e os vinte e quatro anciãos prostraram-se
diante do Cordeiro. Cada um deles tinha uma harpa e taças de ouro
cheias de incenso, que são as orações dos santos; e eles cantavam
um cântico novo: ‘Tu és digno de receber o livro e de abrir os seus
selos, pois foste morto e com teu sangue compraste para Deus
gente de toda tribo, língua, povo e nação. Tu os constituíste reino e
sacerdotes para o nosso Deus, e eles reinarão sobre a terra’. Então
olhei e ouvi a voz de muitos anjos, milhares de milhares e milhões de
milhões. Eles rodeavam o trono, bem como os seres viventes e os
anciãos, e cantavam em alta voz: ‘Digno é o Cordeiro que foi morto
de receber poder, riqueza, sabedoria, força, honra, glória e louvor!’”.
Quando o Cordeiro tomou o livro da mão de Deus, os vinte e
quatro anciãos e todos os seres celestiais viram figuradamente a
realização, o cumprimento final, do mistério de Deus na sétima
trombeta. Mas aqui no capítulo 11.16 está escrito: “Os vinte e quatro
anciãos que estavam assentados em seus tronos diante de Deus
prostraram-se sobre seus rostos e adoraram a Deus”. Eles
curvaram-se em adoração ainda mais profunda, porque agora
assistem como o Cordeiro de Deus, Jesus Cristo, cumpre tudo. Ele é
o cumprimento da Palavra em pessoa, pois ele é o Verbo. Os corpos
glorificados dos vinte e quatro anciãos prostram-se sob o peso da
admiração; todo o seu ser é arrebatado em virtude do cumprimento
que agora veem. O fluxo da sua alegria adoradora avança como um
mar de gratidão ao trono de Deus. Tudo isso ainda se encontra no
futuro. Se lembramos que os vinte e quatro anciãos coroados
representam toda a igreja de Jesus arrebatada e glorificada, então
sabemos que, como filhos de Deus, participaremos deste
acontecimento.
Primeiro nós vamos prostrar-nos e adorar (cap. 5), mas então,
quando o cumprimento do mistério de Deus prosseguir, vamos
prostrar-nos sobre os nossos rostos e nos curvar ainda mais
profundamente diante da sua majestade. Isso será glória! E já
podemos ver essa glória na Palavra! No entanto, que grandioso
contraste existirá então: na terra, as mais extremas trevas de juízo;
no céu, a maior glória! A vitória do Cordeiro ainda não é visível na
terra; sim, seria de se concluir que o Diabo está dominando. Ao soar
da sétima trombeta, porém, a igreja glorificada no céu vê o
cumprimento triunfal da vitória de Jesus. Quando estivermos
arrebatados, vamos ver ainda muito mais do que somos capazes de
ver atualmente através da Palavra!
No capítulo 11.17, os vinte e quatro anciãos começam a dizer algo
e repentinamente se interrompem. Isto é extremamente
esclarecedor. Eles dizem: “Graças te damos, Senhor Deus todo-
poderoso, que és e que eras...”. Ao invés de prosseguirem com “e
que virá”, eles dizem: “... porque assumiste o teu grande poder e
começaste a reinar”. Por que eles se interrompem aqui? Porque no
tempo da sétima trombeta já começou o futuro do Senhor! Então ele
já terá assumido a sua herança! Realiza-se aqui algo maravilhoso:
enquanto os vinte e quatro anciãos coroados, ou seja, os
representantes da igreja glorificada, se perdem na adoração e assim
mergulham no ser do Deus eterno, eles veem acontecer o que ainda
é futuro na terra. Na terra ainda é exercido o domínio anticristão,
mas no céu eles já veem como presente aquilo que é dito no capítulo
11.18: “As nações se iraram; e chegou a tua ira. Chegou o tempo de
julgares os mortos e de recompensares os teus servos, os profetas,
os teus santos e os que temem o teu nome, tanto pequenos como
grandes, e de destruir os que destroem a terra”.
Eles veem, portanto, o ódio dos povos contra o Senhor e seu
Ungido; contra Sião, contra Israel, e veem a ira de Deus e o juízo
final diante do grande trono branco. João também vê tudo isso como
que antecipadamente, pois o juízo diante do grande trono branco
acontecerá após o milênio. Os vinte e quatro anciãos e João veem a
bem-aventurança e o galardão para três categorias de crentes: 1) os
profetas, seus servos; 2) os santos; e 3) os que temem o nome dele.
Eles, no entanto, veem também a destruição para aqueles que
destroem a terra, ou seja, para aquelas pessoas que são a causa da
destruição da terra. Sempre existem alguns – até mesmo dentro da
igreja de Jesus – que se encarregam de fazer progredir a destruição,
prestando-se a ser estações de passagem do pecado. Se estamos
em Jesus, porém, somos estações finais do pecado – no sentido de
que levamos tudo para o santuário e não o tocamos mais.
Aqui no versículo 18 temos, portanto, o cumprimento e o juízo
final, que já são vistos no presente por aqueles que estão no céu.
Eles veem a prova de que o domínio de Deus passou a ser exercido
sobre a terra. Isso abrange também a multidão inumerável que vem
da grande tribulação, pois durante a grande tribulação muitos se
converterão – como mostramos no comentário sobre Apocalipse 7
(veja o cap. 8 deste livro): pessoas de nossos países cristianizados,
cristãos nominais, que tiveram que ficar para trás por ocasião do
arrebatamento, e pessoas do Terceiro Mundo.
João já vê esta inumerável multidão no céu enquanto ela ainda
está fisicamente na terra, onde nessa época se realizará uma terrível
carnificina e será um tempo tão terrível como nunca houve antes nem
haverá novamente. Israel será perseguido, e todos que crerem em
Jesus após o arrebatamento serão executados. João é, portanto,
levado em espírito de um salto sobre o desenrolar dos
acontecimentos até o alvo, tornando-se testemunha da realidade da
salvação, vendo Jesus como Vencedor. Também com você Deus
quer fazer isso. Também você pode ver isso em meio ao seu dia a
dia escuro, quando aumenta cada vez mais a pressão sobre a sua
alma, pois nosso combate de fé consiste justamente de partirmos do
fato celestial invisível, mas real: “‘Tudo sujeitaste debaixo dos seus
pés’. Ao lhe sujeitar todas as coisas, nada deixou que não lhe
estivesse sujeito. Agora, porém, ainda não vemos que todas as
coisas lhe estejam sujeitas” (Hb 2.8). Apeguemo-nos àquilo que não
vemos, e não naquilo que vemos (cf. 2Co 4.18)!
Servimos a Deus em espírito, ou seja, estamos firmados sobre o
chão da vitória. Assim nos é mostrado o que João vê no versículo
19, sendo que, para uma melhor compreensão, este versículo
deveria ser, na verdade, lido como parte do capítulo 12: “Então foi
aberto o santuário de Deus nos céus, e ali foi vista a arca da sua
aliança. Houve relâmpagos, vozes, trovões, um terremoto e um
grande temporal de granizo” (11.19). Observe as palavras “foi aberto
o santuário... nos céus” e “ali foi vista”. Aqui temos a realização do
resultado da morte do Senhor Jesus na cruz do Gólgota, pois o que
aconteceu em Jerusalém quando o Senhor Jesus morreu e exclamou:
“Está consumado!”? O véu do santuário rasgou-se de alto a baixo
(Mt 27.51) – o santuário foi aberto!
Em Apocalipse 11.19, na profecia sobre os tempos finais, vemos
como durante os terríveis juízos o céu é repentinamente aberto e a
arca da aliança, a presença de Deus, torna-se visível com o sangue
derramado. Sabemos que o templo terreno em Jerusalém é uma
sombra, ou seja, uma figura das coisas celestiais (Hb 8.5–9.23). No
cumprimento do mistério de Deus, ao soar da sétima trombeta, abre-
se o santuário do céu e revela-se o Lugar Santíssimo. O que aqui na
terra experimentamos em espírito – “Portanto, irmãos, temos plena
confiança para entrar no Lugar Santíssimo pelo sangue de Jesus...
por meio do véu, isto é, do seu corpo” (Hb 10.19-20) – será então
opticamente visível: o céu se abrirá. Essa será então a realidade
escatológica e do plano de salvação; a realidade visível!
“... e ali foi vista a arca da sua aliança” (v. 19). Aqui aparece pela
primeira vez no Apocalipse o grande tema que domina os meios de
comunicação em nossos dias: o povo de Israel! Essa arca é a
expressão visível da aliança de Deus com Israel. Todas as alianças
de Deus com seu povo Israel, todas as suas solenes promessas,
estão, no fundo, contidas nessa arca da aliança. Apesar da
destruição de Jerusalém, aparentemente a arca da aliança terrena
continuou existindo ainda por um longo tempo. Os livros apócrifos
não são Palavra de Deus, mas em parte são bastante interessantes
historicamente. Em 2Macabeus 2.4-8, por exemplo, está escrito que
o profeta Jeremias, em virtude de uma ordem de Deus, determinou
que a arca da aliança deveria ser escondida por aqueles que seriam
levados para o cativeiro babilônico, e que isso foi feito, de modo que
ela não teria sofrido dano por ocasião da destruição de Jerusalém.
Todavia, mais confiáveis são as informações da palavra inspirada
de Deus, que diz a respeito em Jeremias 3.16: “‘Quando vocês
aumentarem e se multiplicarem na sua terra naqueles dias’, declara o
S , ‘não dirão mais: “A arca da aliança do Senhor”. Não
pensarão mais nisso nem se lembrarão dela; não sentirão sua falta
nem se fará outra arca’”. No entanto, o modelo celestial original
permanece, como permanecem as promessas de Deus.
Nem uma de suas promessas envelheceu ou tornou-se inválida,
nem para nós, nem para Israel. Por isso, no final dos tempos
aparece a eterna arca da aliança. Com isso explicamos também o
reaparecimento de Israel com o objetivo divino de que ele se
converta e seja glorificado! Nós sabemos através do plano de
salvação que a arca da aliança sempre era acompanhada da glória e
do poder de Deus. Desse modo, as águas do Jordão retrocederam
quando os sacerdotes o atravessaram, e Israel pôde entrar em
Canaã. Na presença da arca da aliança, os muros de Jericó caíram
com enorme estrondo. Os filisteus, que profanaram a arca da
aliança, querendo roubá-la de Israel, foram violentamente
castigados. No entanto, milhares e milhares de israelitas estavam
seguros e eram abençoados quando estavam com ela. Aqui no
versículo 19 ela se torna visível no céu, como confirmação da
imutável fidelidade da aliança de Deus com o seu duramente afligido
povo de Israel, pois justamente então Israel estará passando por
algo muito difícil na terra.
Em reação ao aparecimento da arca da aliança, houve
“relâmpagos, vozes, trovões, um terremoto e um grande temporal de
granizo” (v. 19). A terra é abalada como que por uma explosão de
juízos quando Deus manifesta, com a arca da aliança, sua fidelidade
com relação a Israel. É como um Pentecostes negativo, como um
derramamento de uma plenitude de juízos; do mesmo modo como
temos um Pentecostes positivo: o derramamento do Espírito Santo
no dia de Pentecostes (At 2). Esse Pentecostes foi, em primeiro
lugar, um juízo individual sobre os discípulos, pois sobre cada um
deles pousaram o que parecia línguas de fogo. O juízo inicia pela
casa de Deus! Agora, porém, trata-se de um juízo geral, inevitável,
sem expiação substituta. Relâmpagos, vozes, trovões, terremoto e
grande temporal de granizo são um protesto de juízo divino contra
um mundo anticristão.
“Apareceu no céu um sinal extraordinário: uma mulher vestida do
sol...” (12.1). Junto com a arca da aliança não aparece aqui, como
muitos dizem apressadamente, uma mulher. Não se deve passar por
cima de nada no maravilhoso livro de Apocalipse. Primeiro fala-se de
um sinal. Como aceitamos tudo que aparece no Apocalipse
literalmente, fica claro aqui que se trata de um símbolo. Além disso,
é dito que se trata de um sinal extraordinário. Aquilo que aparece
claramente é algo muito importante aos olhos de Deus. Esse grande
sinal aparece no céu, o que indica um significado espiritual. Essa
mulher não é nem Maria, como ensinava antigamente a Igreja
Católica Romana, nem se trata de Jerusalém, como dizem muitos
comentaristas bíblicos. Os últimos baseiam-se na passagem bíblica
de Gálatas 4.26, onde Jerusalém é descrita como a nossa mãe.
Todavia, não devemos arrancar palavras bíblicas do contexto nem
interpretar a Palavra de Deus arbitrariamente.
Comentaristas que devem ser levados a sério acham que a mulher
seria a congregação dos crentes do Antigo e do Novo Testamento,
mas isso contradiz o fato de que então a igreja terá sido arrebatada
e não se encontra mais na grande tribulação. Conforme meu
entendimento, a mulher vestida do sol aponta indubitavelmente para
Israel, pois Israel e a arca da aliança estão relacionados. Aqui
aparece a mulher Israel, que nos tempos finais estará novamente em
primeiro lugar. Sabemos que os tempos finais começaram em 1948,
quando o Estado de Israel foi fundado novamente. Israel é o
verdadeiro centro dos acontecimentos dos tempos finais: trata-se do
sinal no relógio mundial de Deus pelo qual devemos nos orientar: “...
uma mulher vestida do sol, com a lua debaixo dos seus pés e uma
coroa de doze estrelas sobre a cabeça” (v. 1b). A mulher vestida do
sol representa todo o Israel, pois a coroa com as doze estrelas
aponta para as doze tribos de Israel. Em Romanos 11.25-26 está
escrito que todo o Israel será salvo após o arrebatamento da igreja
de Jesus: “Irmãos, não quero que ignorem este mistério, para que
não se tornem presunçosos: Israel experimentou um endurecimento
em parte, até que chegasse a plenitude dos gentios [em outras
palavras: até que se tenha convertido o último dentre os gentios. E
quando a plenitude estiver alcançada, acontecerá o arrebatamento].
E assim todo o Israel será salvo, como está escrito: ‘Virá de Sião o
redentor que desviará de Jacó a impiedade’”.
Quem compara a Escritura com a Escritura não se engana. A
visão de Apocalipse 12 faz referência ao sonho de José. Desse
sonho lemos em Gênesis 37.9: “Depois teve outro sonho e o contou
aos seus irmãos: ‘Tive outro sonho, e desta vez o sol, a lua e onze
estrelas se curvavam diante de mim’”. Com isso, não somente seus
irmãos ficaram irritados, mas também seu pai. É facilmente
compreensível que ele viu somente onze estrelas, pois ele mesmo
era a décima segunda. E seu sonho se realizou. O grande sinal em
Apocalipse 12.1 – a mulher vestida do sol com a lua debaixo dos pés
e uma coroa de doze estrelas na cabeça – mostra que todo o
Universo, sol, lua e estrelas estão subordinados à vocação de Israel.
O Senhor deixaria o Universo desmoronar antes de rejeitar a
descendência de Israel: “Assim diz o S , aquele que designou o
sol para brilhar de dia, que decretou que a lua e as estrelas brilhem
de noite, que agita o mar para que as suas ondas rujam; o seu nome
é o S dos Exércitos: ‘Somente se esses decretos
desaparecerem de diante de mim’, declara o S , ‘deixarão os
descendentes de Israel de ser uma nação diante de mim para
sempre’” (Jr 31.35-36). Aliás, quando Israel entrou na terra
prometida, conquistando-a e derrotando os inimigos pelo poder do
Senhor, Josué subordinou o sol e a lua pela fé no Senhor aos
objetivos estratégicos de Israel: “No dia em que o S entregou
os amorreus aos israelitas, Josué exclamou ao S , na
presença de Israel: ‘Sol, pare sobre Gibeom! E você, ó lua, sobre o
vale de Aijalom!’ O sol parou, e a lua se deteve, até a nação vingar-
se dos seus inimigos” (Js 10.12-13). Aí se vê claramente que o sol e
a lua servem à glória de Israel. A coroa da mulher com as doze
estrelas, a glória celestial, representa a vocação de Israel. O
testemunho mais elevado e perfeito procede de Israel, como o
próprio Senhor Jesus disse: “... a salvação vem dos judeus” (Jo
4.22). No futuro, no reino milenar, quando Jesus tiver voltado e
assumido o governo, a Palavra do Senhor sairá da cidade de
Jerusalém para todo o mundo (Is 2.1ss; 66.19).
O fato de João ver essa mulher no céu significa que ele a vê da
perspectiva eterna, ou seja, ele vê toda a história de Israel, tanto em
retrospecto como olhando adiante. Nesta visão do futuro ele vê o
grande sinal da mulher. Quando se entende isso, fica claro também o
que vem a seguir, pois na mulher temos o resumo de todo o plano de
salvação, desde o nascimento de Jesus até o seu retorno: “Apareceu
no céu um sinal extraordinário: uma mulher vestida do sol, com a lua
debaixo dos seus pés e uma coroa de doze estrelas sobre a cabeça.
Ela estava grávida e gritava de dor, pois estava para dar à luz. Então
apareceu no céu outro sinal: um enorme dragão vermelho com sete
cabeças e dez chifres, tendo sobre as cabeças sete coroas. Sua
cauda arrastou consigo um terço das estrelas do céu, lançando-as
na terra. O dragão pôs-se diante da mulher que estava para dar à
luz, para devorar o seu filho no momento em que nascesse. Ela deu
à luz um filho, um homem, que governará todas as nações com cetro
de ferro. Seu filho foi arrebatado para junto de Deus e de seu trono”
(v. 1-5). Que afirmação profética e compacta: “Ela estava grávida e
gritava de dor, pois estava para dar à luz”. Isto descreve a história
de Israel até o nascimento de Jesus. O que Israel passou até o
nascimento de Jesus! Quanto sofreu! Por quê, afinal? Na minha
opinião existem dois motivos para isso:
O primeiro é por causa da pecaminosidade: João vê Israel aqui
em sua maravilhosa vocação e destino divino, ou seja, como Deus vê
Israel; contudo, na terra a situação é bem diferente. No entanto,
assim Deus também quer nos ver, e assim ele nos vê em Jesus
Cristo: perfeitos e em dignidade real: “Portanto, agora já não há
condenação para os que estão em Cristo Jesus” (Rm 8.1). Portanto,
João vê aqui o nascimento do Messias retrospectivamente. Mas
quanto esforço e trabalho o Senhor teve com Israel! Ele lamenta
através de Isaías: “Mas você me sobrecarregou com seus pecados
e me deixou exausto com suas ofensas” (Is 43.24).
Então nasceu Jesus, o Messias, o grande Filho de Israel que, ao
mesmo tempo, era e é o Filho de Deus. Você percebe que também
você causa muito esforço e trabalho ao Senhor? Que dores de parto
sofre o Espírito Santo até que Jesus possa revelar-se através da
nossa carne mortal! Nós, que pertencemos à igreja de Jesus, somos
pecadores perdoados, mas ainda vivemos na carne pecaminosa.
Quem aceita o Gólgota para seu “eu” pecaminoso é transformado
em imagem de Jesus. Também Paulo sabia que há dores de parto
até que Jesus se revele em e através de nós. Ele escreve aos
gálatas: “Meus filhos, novamente estou sofrendo dores de parto por
sua causa, até que Cristo seja formado em vocês” (4.19). Que dores
nós mesmos nos causamos quando insistimos em nosso impulso de
conservação diante da revelação de Jesus Cristo em nossa vida. Se
você pergunta por que precisa passar por certas coisas, então aqui
vai a resposta: Deus quer que Jesus Cristo seja revelado através de
você!
O segundo motivo das dores da mulher é citado nos versículos 3-
4: “Então apareceu no céu outro sinal: um enorme dragão vermelho
com sete cabeças e dez chifres, tendo sobre as cabeças sete
coroas. Sua cauda arrastou consigo um terço das estrelas do céu,
lançando-as na terra. O dragão pôs-se diante da mulher que estava
para dar à luz, para devorar o seu filho no momento em que
nascesse”. O significado profético global dos dois sinais no céu é: a
mulher está revestida dos símbolos do poder celestial; o dragão,
com os símbolos do poder terreno, pois ele tem “sete cabeças e dez
chifres, tendo sobre as cabeças sete coroas”. O dragão não é o
Anticristo, mas o Diabo. Os dois têm muitas semelhanças, mas com
uma diferença: enquanto o grande dragão vermelho tem sobre suas
cabeças os sinais do poder terreno, o Anticristo tem eles sobre seus
chifres: “Vi uma besta que saía do mar. Tinha dez chifres e sete
cabeças, com dez coroas, uma sobre cada chifre, e em cada cabeça
um nome de blasfêmia” (13.1). Isto significa que Satanás é o
verdadeiro dominador. Poderíamos descrever Satanás como o poder
legislativo e o Anticristo como o executivo, como poder executor.
No versículo 4 lemos o que Satanás, o dragão vermelho, faz
quando aparece diante de Israel: “Sua cauda arrastou consigo um
terço das estrelas do céu, lançando-as na terra”. Voltamos
novamente para Jeremias 31.35-36, onde é mostrado que o Senhor
deixaria desaparecer o sol, a lua e as estrelas antes de rejeitar a
descendência de Israel. Depois que o dragão tenta agredir Israel, o
Universo é afetado: a terça parte das estrelas é lançada sobre a
terra. Quando Israel aparecer na história mundial, o que já
aconteceu; quando a igreja de Jesus for arrebatada, e ela o será em
breve; quando vier o Messias, e isso acontecerá muito em breve,
então será cumprida a profecia de Jesus: “Imediatamente após a
tribulação daqueles dias ‘o sol escurecerá, e a lua não dará a sua
luz; as estrelas cairão do céu, e os poderes celestes serão
abalados’. Então aparecerá no céu o sinal do Filho do homem, e
todas as nações da terra se lamentarão e verão o Filho do homem
vindo nas nuvens do céu com poder e grande glória” (Mt 24.29-30).
Percebe-se: a profecia bíblica tem uma linha. Aqui no capítulo
12.3-4 é descrita a antiga má serpente, que quer destruir, ou
devorar, o descendente da mulher. Milenares contextos proféticos
são resumidos e expressos em poucas palavras. Uma parte deles
cumpriu-se há quase dois mil anos: quando nasceu a criança de
Israel, ou seja, por ocasião da primeira vinda do Messias, Satanás
fez uso do rei Herodes para matá-la. O Senhor, porém, a protegeu e
levou-a ao Egito. Mais tarde ocorreram outros ataques à vida do
Senhor Jesus, pois de modo nenhum Satanás queria que ele
chegasse ao Gólgota. A outra parte, a parte final, vai cumprir-se
justamente antes da volta do Senhor Jesus.
Enquanto que o primeiro cumprimento se referia à pessoa do
Messias – “O dragão pôs-se diante da mulher que estava para dar à
luz, para devorar o seu filho no momento em que nascesse” – o
segundo refere-se às primícias de Deus e do Cordeiro durante a
grande tribulação. E quem são essas primícias? Observe o que está
em Apocalipse 12.5: “Ela deu à luz um filho, um homem...”. Esse
“homem” são os cento e quarenta e quatro mil selados de Israel que,
segundo Apocalipse 14, estarão com o Cordeiro sobre o monte Sião:
“Então olhei, e diante de mim estava o Cordeiro, em pé sobre o
monte Sião, e com ele cento e quarenta e quatro mil que traziam
escritos na testa o nome dele e o nome de seu Pai. Foram
comprados dentre os homens e ofertados como primícias a Deus e
ao Cordeiro” (14.1,4b). Sem dúvida eles também serão arrebatados
e participarão do seu domínio. Esta é a razão do ódio de Satanás.
Agora compreendemos o duplo significado da palavra do capítulo
12.5: “Ela deu à luz um filho, um homem, que governará todas as
nações com cetro de ferro”. Pelo fato de que, como explicamos
diversas vezes, os acontecimentos do plano de salvação na terra –
tanto do passado como do futuro – são presente eterno no céu,
vemos ao mesmo tempo a ascensão do Filho de Deus: “Seu filho foi
arrebatado para junto de Deus e de seu trono” (v. 5b), o
arrebatamento já realizado da igreja de Jesus, que pertence
inseparavelmente a Cristo, e também o arrebatamento dos cento e
quarenta e quatro mil durante a grande tribulação, pois no versículo 6
temos novamente diante de nós a época anticristã, quando a própria
mulher foge do dragão: “A mulher fugiu para o deserto, para um
lugar que lhe havia sido preparado por Deus, para que ali a
sustentassem durante mil duzentos e sessenta dias” (12.6). Então o
dragão irá guerrear contra o “restante” da descendência da mulher
(12.17): os que guardaram os mandamentos de Deus e têm o
testemunho de Jesus, ou seja, os cento e quarenta e quatro mil
selados de Israel. Todavia, esses serão então, como dissemos,
arrebatados para Deus.
Aqui revela-se a cronologia produzida pelo Espírito, se bem que
tudo isso se efetivará somente depois do arrebatamento: “Seu filho
foi arrebatado para junto de Deus e de seu trono. A mulher fugiu
para o deserto”. Por um lado, há aproximadamente dois milênios
entre as duas frases, pois a fuga de Israel acontecerá depois do
arrebatamento, ou seja, durante a grande tribulação. Por outro,
quanto ao plano de salvação, está tudo relacionado, assim como a
primeira e a segunda vinda de Jesus são uma só coisa, apesar de
haver um período de quase dois mil anos entre a ascensão do
Senhor Jesus Cristo e a grande tribulação. Portanto, vemos que
aquilo que João vê na luz celestial aconteceu e acontece sob
terríveis lutas na terra. Durante séculos Israel estava com dores de
parto. Então aconteceu o nascimento do maior Filho de Israel, Jesus
Cristo. Após sua obra consumada, ele foi arrebatado para Deus
como único governante legítimo. Chama a atenção que são utilizadas
duas descrições para a criança, e essa é uma prova que aqui no
nascimento dela realmente se trata do Filho de Deus, do Messias.
No versículo 5 está escrito: “Ela deu à luz um filho, um homem...”,
enquanto no versículo 4 é falado de uma “criança” (NVT) – então
criança e filho. Isto lembra Isaías 9.6: “Porque um menino [criança]
nos nasceu, um filho nos foi dado”. Assim reconhecemos que se fala
de Jesus Cristo.
Através dessa visão vemos nos versículos 3-4 também o velho e
mau inimigo, que está agindo durante séculos e agora aparece na
luta final, apresentando-se como dragão vermelho, como fogo diante
da mulher que está para dar à luz. Já na primeira página da Bíblia
encontramos o Diabo no paraíso, diante de uma mulher, para
enganá-la e desviá-la de Deus. Ele conseguiu, e em seguida o
Senhor Deus disse à serpente as poderosas palavras: “Porei
inimizade entre você e a mulher, entre a sua descendência e o
descendente dela; este ferirá a sua cabeça, e você lhe ferirá o
calcanhar” (Gn 3.15).
Agora, no último livro da Bíblia, nos são apresentados novamente
os dois partidos; entretanto, com indícios inversos. No paraíso,
Satanás parecia vencer; aqui vemos o triunfo do Eterno. Apesar do
dragão ter sete cabeças, dez chifres e sete coroas, como já
dissemos, ele não é o Anticristo. O número dez (dez chifres) indica a
totalidade do domínio político mundial. O dragão é o “anti-Pai”, pois
está escrito no capítulo 12.9: “O grande dragão foi lançado fora. Ele
é a antiga serpente chamada Diabo ou Satanás”. Por isso é também
ele que dá o poder à besta: “... tinha dado autoridade à besta”
(13.4).
A besta é o “anti-Filho” e o Falso Profeta é o “anti-Espírito”; como
o dragão é o “anti-Pai”, eles formam uma trindade satânica. Em
Daniel 7.7 a besta é descrita de maneira semelhante como o último
império mundial: “... um quarto animal, aterrorizante, assustador e
muito poderoso. Tinha grandes dentes de ferro, com os quais
despedaçava e devorava suas vítimas e pisoteava tudo o que
sobrava. Era diferente de todos os animais anteriores e tinha dez
chifres”. O Senhor Jesus chama-o de “príncipe deste mundo”.
Satanás é o ocupante do anti-trono. Com suas palavras, Jesus indica
o combate que naquele tempo já estava sendo travado há muito e foi
realizado na cruz do Gólgota. Paulo chama o grande dragão de
“deus desta era” (2Co 4.4). A cor do dragão é vermelha como fogo;
trata-se da cor da fúria e do ódio. É dessa fúria que fala o capítulo
12.12: “... está cheio de fúria”.
O dragão levanta-se agora para devorar a criança que ainda irá
nascer. Desde o nascimento de Jesus até sua vitória na cruz do
Gólgota, como dissemos, o inimigo tentou devorá-lo. Ele não queria
permitir que Jesus Cristo subisse ao céu como Triunfador sobre ele,
o príncipe das trevas e da morte. Com grande esforço e grandiosa
ira, Satanás queria evitar isso a qualquer custo. Enquanto a mulher
se contorcia em dores de parto – isso é Israel no juízo e na
dispersão – ele já se deteve diante dela, pois sabia que Jesus
nasceria na plenitude do tempo. Somente assim podemos
compreender as coisas terríveis que Israel já teve que passar antes
do nascimento de Jesus. Pensemos somente na perseguição sob
Antíoco Epifânio, que edificou um altar a Zeus no templo e
atormentou os filhos de Israel, assassinando muitos deles. Ou
pensemos nos cativeiros assírio e babilônico, entre outros. Isso foi
assim até o nascimento de Jesus.
Quando, por fim, ele nasceu – como foi quase impossível para
Maria e José chegarem a Belém ainda antes do nascimento! E,
quando finalmente estavam lá, não acharam lugar na hospedaria.
Deus permitiu tudo isso, mas atrás estava Satanás, que queria
destruir a vida em formação. Após o nascimento, houve a fuga para
o Egito e, mais tarde, a perseguição pelas autoridades religiosas.
Justamente antes do Gólgota Satanás realizou mais uma vez um
ataque em grande escala contra Jesus, pretendendo matá-lo no
Getsêmani. Ali o Senhor Jesus já estava em agonia; até suava
sangue.
Muitos acham que Jesus ficou com medo em vista do Gólgota,
tendo exclamado por isso: “Aba, Pai, tudo te é possível. Afasta de
mim este cálice; contudo, não seja o que eu quero, mas sim o que tu
queres” (Mc 14.36). Tal interpretação, porém, desonra nosso
Senhor. No Getsêmani ele não ficou com medo do Gólgota, mas
clamou e chorou porque o Diabo estava a ponto de matá-lo ali
mesmo, sem que aparentemente Deus o impedisse. Deus colocava
seu Filho à prova pela última vez. Então Jesus, em sua aflição, disse
aos seus discípulos que dormiam: “Vocês não puderam vigiar comigo
nem por uma hora? A minha alma está profundamente triste, numa
tristeza mortal”. Mas ele submeteu-se à vontade do seu Pai; então
veio um anjo do céu e o fortaleceu (Lc 22.43; Hb 5.7). Ele foi
“obediente até a morte”, isso é Getsêmani; “... e morte de cruz”, isso
é Gólgota (Fp 2.8). O Filho de Deus venceu Satanás através de
completa obediência na fé. Por isso, justamente antes do Getsêmani,
ele podia dizer de forma tão majestosa: “... o príncipe deste mundo
está vindo. Ele não tem nenhum direito sobre mim” (Jo 14.30).
Durante a grande tribulação, o inimigo vai querer então procurar
destruir a qualquer preço os recém-nascidos de Israel, os cento e
quarenta e quatro mil israelenses que creram. Justamente por isso
eles são selados em suas testas da parte de Deus pelo “outro anjo
subindo do Oriente, tendo o selo do Deus vivo” – que é o próprio
Jesus Cristo (7.2-4). Portanto, o inimigo não vai poder tocá-los;
contudo, nós, que estamos em Jesus Cristo, também somos
atualmente seriamente ameaçados. Nosso nascimento, ou seja,
renascimento, aconteceu. Somos nascidos do Deus de Israel (1Jo
3.9). Israel é nossa fonte, pois a palavra de Jesus – “a salvação vem
dos judeus” – continua totalmente válida. Fomos enxertados na
oliveira verdadeira como ramos de oliveira brava (Rm 11.17-18).
Desde nosso renascimento, o grande dragão vermelho deteve-se
diante de nós para nos devorar. Pedro formulou isso da seguinte
maneira: “O Diabo, o inimigo de vocês, anda ao redor como leão,
rugindo e procurando a quem possa devorar” (1Pe 5.8). Ele quer
impedir a qualquer preço que você, como membro do corpo de
Cristo, seja arrebatado como vencedor. Por isso você é tentado
tantas vezes. Todavia, eu repito: quando Jesus Cristo subiu ao céu,
nós já nos encontrávamos em seus lombos, assim como Levi já
estava nos lombos de Abraão quando Melquisedeque foi ao seu
encontro (cf. Hb 7.9-10 ACF). Nós somos membros do seu corpo,
carne da sua carne e ossos dos seus ossos. Por Cristo estar em nós
e nós nele, em princípio já estamos arrebatados. Por isso Paulo fala
a respeito como algo que já é realidade: “Deus nos ressuscitou com
Cristo e com ele nos fez assentar nas regiões celestiais em Cristo
Jesus” (Ef 2.6).
Eis que agora se repete a história e o círculo do plano de
salvação se fecha: a mulher Israel é o grande sinal atualmente. Ela
se encontra em fortes dores de parto para a revelação do reino de
Deus na terra. Quando dizemos frequentemente que Israel é
atribulado e violentamente atacado por antissemitas, por povos
antissemitas – atrás dos quais está ninguém menos que Satanás –
devemos na verdade fazer uma restrição: o ódio de Satanás ainda
não é dirigido completa e inteiramente contra Israel. Isso acontecerá
somente depois do arrebatamento, quando a mulher tiver que fugir
para o deserto (12.6).
Todo o ódio do inimigo volta-se atualmente contra a descendência
da mulher, que é a igreja de Jesus. Em certo sentido, nós, que
pertencemos à igreja de Jesus, somos o “Israel de Deus” (Gl 6.16),
mas não no lugar de Israel, e sim como interposição no plano de
salvação. Encontramo-nos entre a rejeição e a nova aceitação de
Israel. O inimigo ruge e se detém diante da mulher, mas ele ainda
não a toca. Nós, porém, estamos em combate! É o que o apóstolo
Paulo quer dizer quando exclama em Efésios 6.12: “Pois a nossa luta
não é contra seres humanos, mas contra os poderes e autoridades,
contra os dominadores deste mundo de trevas, contra as forças
espirituais do mal nas regiões celestiais”. Enfrentamos o grande
dragão vermelho. Por isso, nestes últimos dias anteriores ao
arrebatamento, é tão perigoso não permanecer em Jesus! Atrás do
dragão, de Satanás, já espera a besta, o Anticristo ou o aparente
cristo. Aqui vemos o arrebatamento e o Anticristo bem próximos:
Apocalipse 12 – o dragão, Satanás, que espera devorar a preciosa
descendência, os renascidos que aguardam o arrebatamento.
Apocalipse 13 – a besta, o aparente cristo. Por isso, é um perigo
mortal capengar de ambos os lados justamente antes do
arrebatamento, pois ter o coração dividido com relação ao Senhor
leva obrigatoriamente para o campo de ação destruidor do Anticristo.
Ó terra, terra, ouve a Palavra do Senhor!
14
A Proteção de Israel na Grande
Tribulação
(Ap 12.6-18)
6A mulher fugiu para o deserto, para um lugar que lhe havia sido
preparado por Deus, para que ali a sustentassem durante mil
duzentos e sessenta dias. 7Houve então uma guerra nos céus.
Miguel e seus anjos lutaram contra o dragão, e o dragão e os
seus anjos revidaram. 8Mas estes não foram suficientemente
fortes, e assim perderam o seu lugar nos céus. 9O grande dragão
foi lançado fora. Ele é a antiga serpente chamada Diabo ou
Satanás, que engana o mundo todo. Ele e os seus anjos foram
lançados à terra. 10Então ouvi uma forte voz dos céus, que dizia:
“Agora veio a salvação, o poder e o Reino do nosso Deus, e a
autoridade do seu Cristo, pois foi lançado fora o acusador dos
nossos irmãos, que os acusa diante do nosso Deus, dia e noite.
11Eles o venceram pelo sangue do Cordeiro e pela palavra do
testemunho que deram; diante da morte, não amaram a própria
vida. 12Portanto, celebrem-no, ó céus, e os que neles habitam!
Mas ai da terra e do mar, pois o Diabo desceu até vocês! Ele está
cheio de fúria, pois sabe que lhe resta pouco tempo”. 13Quando o
dragão foi lançado à terra, começou a perseguir a mulher que
dera à luz o menino. 14Foram dadas à mulher as duas asas da
grande águia, para que ela pudesse voar para o lugar que lhe
havia sido preparado no deserto, onde seria sustentada durante
um tempo, tempos e meio tempo, fora do alcance da serpente.
15Então a serpente fez jorrar da sua boca água como um rio, para
alcançar a mulher e arrastá-la com a correnteza. 16A terra, porém,
ajudou a mulher, abrindo a boca e engolindo o rio que o dragão
fizera jorrar da sua boca. 17O dragão irou-se contra a mulher e
saiu para guerrear contra o restante da sua descendência, os que
obedecem aos mandamentos de Deus e se mantêm fiéis ao
testemunho de Jesus. 18Então o dragão se pôs em pé na areia do
mar.
J
á sabemos que o grande sinal que apareceu no céu – a mulher
– é Israel e o outro sinal – o dragão –, que se deteve diante da
mulher e queria devorar o seu filho quando nascesse, é
Satanás. No versículo 1 vimos a mulher no céu, vestida do sol com a
lua debaixo dos pés e uma coroa de doze estrelas na cabeça. Agora
a mulher encontra-se em grande aflição sobre a terra. Trata-se do
tempo da grande tribulação, no qual Israel será perseguido pelo
dragão.
Muitos comentaristas do Apocalipse acham que, pelo fato da
mulher ser escondida e sustentada durante mil duzentos e sessenta
dias no deserto, trata-se somente da segunda metade da grande
tribulação. Isso está certo em parte; porém, deve-se observar ainda
outra coisa: já vimos que, no sinal da mulher e do dragão, é
reproduzida toda a história de Israel: durante séculos Israel sofreu
fortes dores de parto até o nascimento do Messias, então aconteceu
o arrebatamento do Messias e com ele, do ponto de vista do plano
de salvação, o arrebatamento da igreja de Jesus, pois, quando ele
subiu ao céu, em princípio nós já estávamos em seu corpo. Por isso
Deus nos ressuscitou e nos fez assentar juntamente com ele “nas
regiões celestiais em Cristo Jesus” (Ef 2.6). Em seguida, o
nascimento vindo de Israel nos tempos finais: os cento e quarenta e
quatro mil selados, as primícias a Deus e ao Cordeiro, que vemos
depois em Apocalipse 14. Por isso não temos aqui, na mulher que
foge no versículo 6, somente a representação do Israel duramente
afligido durante a tribulação, mas, ao mesmo tempo, também a do
Israel perseguido durante milênios, o judeu peregrino. Israel, porém,
foi sustentado por Deus e preservado como nação – e somente isso
já é um grande milagre – em meio ao “deserto das nações”. Em
Ezequiel 37.12 o Senhor chama as nações de “túmulos” de Israel.
Já vimos a representação da perseguição pelo grande dragão
vermelho, durante a grande tribulação, quando todo o povo de Israel
fugiu do Egito e o dragão egípcio perseguiu-o para destruí-lo. Em
Ezequiel 29.3-5 lemos desse faraó do Egito, que é literalmente
chamado de “grande dragão” (ACF). Ele perseguiu Israel com
seiscentos carros e ainda outros que haviam no Egito, mas o Senhor
combateu por Israel e destruiu os egípcios no mar Vermelho (Êx 14).
Em Isaías 30.6 o Egito é chamado de “terra de dificuldade e
angústia, de onde vem... a víbora e a flamejante serpente voadora
[dragão]” (BKJ). Como esse Egito encolerizado, na pessoa do faraó,
perseguiu a mulher Israel! No entanto, já naquele tempo o Senhor
Deus tinha preparado um lugar no deserto, onde protegeu Israel de
maneira maravilhosa durante quarenta anos e o sustentou com maná.
Repetidamente tentou-se explicar racionalmente essa alimentação de
Israel, mas isso não é possível, pois trata-se de um milagre de Deus.
Por último vemos agora, na segunda metade da grande tribulação,
a mulher fugindo de Satanás, que, tendo sido então lançado sobre a
terra, persegue-a com grande ira. O motivo de Satanás, o dragão
irado, perseguir a mulher é explicado não somente pela ascensão
vitoriosa do Messias para Deus (v. 5), mas também pelo resultado
da conclusão triunfal da obra de Cristo na terra: “Houve então uma
guerra nos céus. Miguel e seus anjos lutaram contra o dragão, e o
dragão e os seus anjos revidaram. Mas estes não foram
suficientemente fortes, e assim perderam o seu lugar nos céus. O
grande dragão foi lançado fora. Ele é a antiga serpente chamada
Diabo ou Satanás, que engana o mundo todo. Ele e os seus anjos
foram lançados à terra” (v. 7-9). Apesar do fato de que os homens
não verão esses grandiosos acontecimentos no mundo invisível, eles
os sentirão, porque então esses seres espirituais, Satanás e seus
anjos, estarão realmente sobre a terra. Acontecerá uma terrível
invasão do inferno, que foi precedida por uma batalha no céu. Esse
grandioso acontecimento se dará no início dos mil duzentos e
sessenta dias: 1.260 dias = 42 meses = 3½ anos = a segunda
metade da grande tribulação. Na batalha realizada no céu, trata-se
de saber se Satanás e sua hierarquia podem ser expulsos do céu ou
não. Vimos, nos versículos 5 e 6, como a criança foi arrebatada para
Deus até o seu trono, e na criança reconhecemos o Messias e com
ele a igreja de Jesus. Logo em seguida vem essa violenta luta no
céu. Portanto, trata-se também de um resultado do arrebatamento
da igreja.
Quando Jesus Cristo, o “varão”, aparecer nas nuvens do céu e
arrebatar para si os que comprou com seu sangue, ele descerá do
céu “com a voz do arcanjo” (1Ts 4.16). Observemos que não está
escrito “a voz de um arcanjo”, mas “do arcanjo”. Trata-se de Miguel.
Miguel significa “Quem é como Deus?”. Não é por acaso que, no
plano de salvação, Miguel constantemente enfrenta Satanás, pois
trata-se dos dois polos opostos. Antes da sua queda, Satanás
também era um poderoso príncipe angelical, provavelmente até um
arcanjo. Em seu coração, porém, nasceu o pecado: “... serei como o
Altíssimo” (cf. Is 14.12-15).
Miguel aparece repetidamente no plano de salvação. Conforme
Daniel 12.1, ele é o grande príncipe, o defensor dos filhos de Israel.
Ele é o único anjo chamado de arcanjo. Em Daniel 10 lemos que
Daniel pranteou, jejuou e orou pela restauração e volta de Israel do
cativeiro durante três semanas. Então um príncipe angelical lutou
para chegar até ele, a fim de tentar fazer retroceder o príncipe das
trevas. Depois de finalmente chegar em Daniel, ele diz: “Não tenha
medo, Daniel. Desde o primeiro dia em que você decidiu buscar
entendimento e humilhar-se diante do seu Deus, suas palavras foram
ouvidas, e eu vim em resposta a elas. Mas o príncipe do reino da
Pérsia me resistiu durante vinte e um dias. Então Miguel, um dos
príncipes supremos, veio em minha ajuda, pois eu fui impedido de
continuar ali com os reis da Pérsia. Agora vim explicar a você o que
acontecerá ao seu povo no futuro, pois a visão se refere a uma
época futura... mas antes revelarei a você o que está escrito no Livro
da Verdade. E nessa luta ninguém me ajuda contra eles, senão
Miguel, o príncipe de vocês” (Dn 10.12-14,21). Portanto, Miguel
defende Israel.
Nesta passagem há um paralelo maravilhoso: no momento do
arrebatamento, o Senhor Jesus virá nas nuvens do céu com a última
trombeta e com a voz do arcanjo. Isso significa que Miguel começará
imediatamente a agir e iniciar a batalha no céu.nota 10 É o que também
está escrito em Daniel 12.1: “Naquela ocasião Miguel, o grande
príncipe que protege o seu povo, se levantará. Haverá um tempo de
angústia como nunca houve desde o início das nações até então.
Mas naquela ocasião o seu povo, todo aquele cujo nome está escrito
no livro, será liberto”. Este é o mesmo acontecimento de Apocalipse
12. A grande guerra no mundo invisível é travada por causa de
Israel. Que ela deverá ser muito violenta podemos concluir pelo fato
de ser citada três vezes em um curto versículo: “Houve então uma
guerra nos céus. Miguel e seus anjos lutaram contra o dragão, e o
dragão e os seus anjos revidaram” (v. 7). Podemos sentir que deve
se tratar de um confronto terrível.
Isso é algo muito incomum no plano de salvação, pois até então a
ira de Satanás era dirigida contra a descendência da mulher, e não
contra a mulher. A descendência da mulher é, como já dissemos, a
igreja de Jesus. Ela se encontra hoje em meio à luta contra esses
poderes das trevas nos lugares celestiais, pois eles ainda não foram
expulsos de lá: “Pois a nossa luta não é contra seres humanos, mas
contra os poderes e autoridades, contra os dominadores deste
mundo de trevas, contra as forças espirituais do mal nas regiões
celestiais” (Ef 6.12). Esses não foram, portanto, lançados no Abismo
– apesar de lá também haver muitos deles – mas se encontram “nas
regiões celestiais”, como diz o final do versículo bíblico citado acima
(cf. o cap. 15 deste livro). No entanto, quando ocorrer o
arrebatamento da igreja, o dragão e os seus anjos não terão mais
lugar ali, pois a igreja triunfante passa apressadamente pelas regiões
celestiais ao encontro do Senhor. Esta é a razão do alto grito do
grande e forte arcanjo Miguel no momento em que o Senhor Jesus
voltar para arrebatar os seus.
Miguel já lutou em tempos remotos contra Satanás por ocasião de
uma mudança decisiva na história de Israel. Um dos irmãos físicos
do Senhor, Judas, relata a respeito: “Contudo, nem mesmo o arcanjo
Miguel, quando estava disputando com o Diabo acerca do corpo de
Moisés, ousou fazer acusação injuriosa contra ele, mas disse: ‘O
Senhor o repreenda!’” (Jd 9). Isso aconteceu quando Israel se
encontrava na fronteira da terra prometida, por ocasião do seu
primeiro retorno, e Moisés morreu. Portanto, tratava-se de Israel.
Em uma mudança posterior de rumo na história de Israel, por
ocasião do seu segundo retorno à terra dos pais, Satanás agarrou-
se novamente ao mais elevado representante de Israel. Em Zacarias
3 lemos que o sumo sacerdote Josué estava diante do anjo do
Senhor, diante da face do Senhor. Satanás, porém, encontrava-se ao
seu lado, para lhe resistir. Conforme meu entendimento, o anjo do
Senhor do qual se fala aqui é Miguel. Ele repreende Satanás e diz:
“O S o repreenda, Satanás! O S que escolheu
Jerusalém o repreenda! Este homem não parece um tição tirado do
fogo?” (Zc 3.2). Neste caso também se tratava de Israel e
Jerusalém. Também nos nossos dias, em todos os lugares onde
houve e há luta por Jerusalém e Israel, Miguel está presente lutando
e combatendo. No mundo invisível acontecem muitas coisas; existem
mais coisas que não vemos do que coisas que vemos! Por isso é tão
importante que, através de Jesus, estejamos completamente a limpo
com o Deus invisível, pois de outro modo os poderes das trevas têm
direitos sobre nós.
É terrível quando uma pessoa não segue completamente o
caminho após o Cordeiro! Através de coisas mínimas, o velho e mau
inimigo pode prendê-lo. Jonas exclamou, advertindo no ventre do
peixe: “Aqueles que acreditam em ídolos inúteis desprezam a
misericórdia” (Jn 2.8). Até estar com idade elevada, o inimigo
procura obter algum direito sobre você, através de diferentes
maneiras sorrateiras, para que vá para as trevas. Jesus, porém, é
vencedor sobre todos os poderes das trevas! Da sua parte,
entretanto, é necessário haver um “sim” completo a Jesus e um “não”
completo ao pecado!
Retornemos mais uma vez a Daniel 10. O príncipe angelical que
encontrou-se com Daniel, após ser impedido por três semanas, ficou
muito agradecido pelo auxílio de Miguel (Dn 10.13), pois era preciso
comunicar a Daniel, que estava orando, o que aconteceria com Israel
(Dn 10.21). Conforme o testemunho desse príncipe angelical
(provavelmente tratava-se de Gabriel), Miguel veio em seu auxílio,
expulsando os poderes das trevas que o impediam. No entanto, no
cerne do Apocalipse, trata-se do mais grandioso cumprimento de
profecia bíblica: do atendimento à oração de nosso Senhor Jesus:
“Venha o teu Reino; seja feita a tua vontade, assim na terra como no
céu”.
A grandiosa luta, que como já dissemos começa imediatamente
após o arrebatamento, não é um símbolo como, por exemplo, a
mulher o é – um grande sinal. Não, neste caso temos algo bem real;
uma das etapas principais da vitória já alcançada do poder da luz
sobre o poder das trevas. Todavia, devemos sempre observar a
alternância dos atacados: da igreja a Israel; do povo celestial ao
povo de Deus terreno que ficou para trás, pois, após o
arrebatamento da igreja, a ira de Satanás se volta contra Israel. A
última fuga do povo judeu eternamente fugindo acontece, portanto,
depois que Satanás e seus anjos forem lançados sobre a terra:
“‘Portanto, celebrem-no, ó céus, e os que neles habitam! Mas ai da
terra e do mar, pois o Diabo desceu até vocês! Ele está cheio de
fúria, pois sabe que lhe resta pouco tempo’. Quando o dragão foi
lançado à terra, começou a perseguir a mulher que dera à luz o
menino. Foram dadas à mulher as duas asas da grande águia, para
que ela pudesse voar para o lugar que lhe havia sido preparado no
deserto, onde seria sustentada durante um tempo, tempos e meio
tempo, fora do alcance da serpente” (12.12-14).
A igreja foi arrebatada e agora, na segunda metade da grande
tribulação, Israel é extremamente ameaçado, pois ainda não é o
próprio Senhor que luta por Israel, mas sim um príncipe angelical.
Ainda não está dito, como em Êxodo 14.14: “O S lutará por
vocês; tão somente acalmem-se”. O versículo 8, contudo, prova que
o príncipe angelical também é poderoso, pois sobre Satanás e seus
anjos está escrito: “Mas estes não foram suficientemente fortes, e
assim perderam o seu lugar nos céus”. Por mais violenta que seja a
luta, a luz sempre vence as trevas! Aliás, esse também é o segredo
da vitória no dia a dia: ande continuamente na luz, e então você terá
vitória e experimentará o poder do sangue de Jesus, que torna
Satanás impotente! Quando sofrer derrotas e for dominado pelo
inimigo, isso acontece porque você se retirou para a escuridão. O
Senhor lamenta através de João: “... os homens amaram as trevas,
e não a luz” (Jo 3.19).
Em Apocalipse 12 vemos como o reino das trevas se defende
desesperadamente, mas é vencido. Ele não pode continuar nas
regiões celestiais, onde manteve-se durante tanto tempo sob a
permissão de Deus – para a aprovação da igreja de Jesus na terra
–, pois, como dissemos, após o arrebatamento os poderes das
trevas não terão mais nada a procurar ali.
Além disso, nesse capítulo também temos uma das muitas provas
de que a igreja de Jesus será arrebatada antes da grande tribulação.
Quando o Diabo e seus anjos estiverem na terra, a igreja de Jesus
não poderá mais estar nela, pois de outro modo algo não estaria
certo com relação a Efésios 6.12; afinal, lá está escrito com quem
nós, como igreja de Jesus aqui na terra, temos que lutar: “... contra
os poderes e autoridades...”. E também é dito onde eles se
encontram: “... nas regiões celestiais”. Depois do arrebatamento,
porém, eles não estarão mais lá, mas terão sido lançados na terra
pelo arcanjo. Através da vitória de Miguel e dos seus anjos, acontece
na terra uma invasão do inferno, ou seja, dos lugares celestiais até
então habitados por Satanás e seus anjos. Um sinal negativo da
iminência do arrebatamento é que já sentimos as dores preliminares
dessa invasão de poderes das trevas. O mundo atualmente não está
mais endemoninhado? Também a ameaça à mulher, Israel, assume
formas cada vez mais assustadoras. Isso, no entanto, é somente o
prelúdio dos próprios acontecimentos.
Olhemos novamente para o passado: quando Israel saiu do Egito
e passou pelo deserto, Deus o fortaleceu de maneira maravilhosa.
No Salmo 105.37 até está escrito: “... entre as suas tribos não havia
um só inválido” (RA). Os seus pés não incharam e suas roupas não
se gastaram (Dt 8.4). E assim será nesses mil duzentos e sessenta
dias no deserto anticristão. É maravilhoso que a duração é informada
com exatidão. Isso mostra que Deus conta exatamente os dias e as
lágrimas do duramente afligido Israel no tempo de provação e
proteção! Trata-se do período em que é dada à besta uma boca
para proferir arrogância e blasfêmia (13.5), e em que os gentios
pisarão a cidade santa.
No capítulo 11.2 está escrito que esse prazo é de quarenta e dois
meses. João descreve o mesmo período com “um tempo, tempos e
meio tempo” (12.14); um tempo para experimentar o Senhor e sua
presença diante da face do inimigo: “Foram dadas à mulher as duas
asas da grande águia, para que ela pudesse voar para o lugar que
lhe havia sido preparado no deserto, onde seria sustentada durante
um tempo, tempos e meio tempo, fora do alcance da serpente”.
Esse sustento durante mil duzentos e sessenta dias é o maior
cumprimento do Salmo 23.5a: “Preparas um banquete para mim à
vista dos meus inimigos”. Esse é o período de que fala Daniel 7.25:
“Ele falará contra o Altíssimo, oprimirá os seus santos e tentará
mudar os tempos e as leis. Os santos serão entregues nas mãos
dele por um tempo, tempos e meio tempo”. Também Daniel 12.7 fala
a respeito: “O homem vestido de linho, que estava acima das águas
do rio, ergueu para o céu a mão direita e a mão esquerda, e eu o
ouvi jurar por aquele que vive para sempre, dizendo: ‘Haverá um
tempo, tempos e meio tempo. Quando o poder do povo santo for
finalmente quebrado, todas essas coisas se cumprirão’”.
Encontramos o fim da destruição do poder do povo santo, o fim
da sua dispersão, em Mateus 24, onde o Senhor diz: “Imediatamente
após a tribulação daqueles dias ‘o sol escurecerá, e a lua não dará a
sua luz; as estrelas cairão do céu, e os poderes celestes serão
abalados’. Então aparecerá no céu o sinal do Filho do homem, e
todas as nações da terra se lamentarão e verão o Filho do homem
vindo nas nuvens do céu com poder e grande glória. E ele enviará os
seus anjos com grande som de trombeta, e estes reunirão os seus
eleitos dos quatro ventos, de uma a outra extremidade dos céus” (v.
29-31). Então será completada a reunião de Israel por anjos com
trombetas, que arrebatarão os milhões de judeus das nações para
Israel. É isso que Daniel 12.7b afirma: “Quando o poder do povo
santo for finalmente quebrado, todas essas coisas se cumprirão”.
Daniel e João evitaram determinar os anos, certamente para
fortalecer e animar os provados a permanecerem firmes em
perseverante fé no Senhor.
No versículo 14 é dito que a mulher recebe asas. Que asas são
essas? Aí temos que retroceder novamente ao tempo da
peregrinação de Israel no deserto. Precisamos sempre comparar a
Bíblia com a Bíblia, pois a Bíblia fornece comentário para a Bíblia. O
Senhor diz em Êxodo 19.4: “Vocês viram o que fiz ao Egito e como
os transportei sobre asas de águias e os trouxe para junto de mim”.
E o mesmo em Deuteronômio 32.11-12: “Como a águia que desperta
a sua ninhada, paira sobre os seus filhotes, e depois estende as
asas para apanhá-los, levando-os sobre elas. O S sozinho o
levou; nenhum deus estrangeiro o ajudou”. As mesmas asas
aparecem novamente nos tempos finais para proteger e guardar
Israel no tempo de maior aflição e perseguição. Trata-se do milagre
divino da proteção. Habacuque, um dos chamados profetas menores,
igualmente viu essa maravilhosa proteção “no meio dos anos” (ACF),
isto é, no meio da tribulação: “Ouvi, S , a tua palavra, e temi;
aviva, ó S , a tua obra no meio dos anos, no meio dos anos
faze-a conhecida; na tua ira lembra-te da misericórdia. Deus veio de
Temã, e do monte de Parã o Santo. A sua glória cobriu os céus, e a
terra encheu-se do seu louvor” (Hc 3.2-3 ACF). Deus fará isso no
meio dos anos, três anos e meio e três anos e meio, quando a
tribulação estiver grande.
Frequentemente é dito que a mulher em fuga representa os
crentes de Israel, mas não deve ser esse o caso porque, de acordo
com Apocalipse 12.1, a mulher representa todo o Israel. Assim, não
se pode repentinamente tratar somente de uma seleção dentre
Israel. Todo o Israel é perseguido pelo dragão e todo o Israel será
salvo. Como alguns dentre as nações ajudaram alguns judeus
durante o tempo do nazismo, escondendo-os ou possibilitando seu
ocultamento, assim todo o Israel será guardado de maneira
maravilhosa durante os mil duzentos e sessenta dias, enquanto está
sendo perseguido pelo dragão, ou seja, pelo Anticristo, pois esse
tempo será tão terrível que eles contarão os dias.
O versículo 17 também prova que a mulher continua
representando todo o Israel: “O dragão irou-se contra a mulher e
saiu para guerrear contra o restante da sua descendência, os que
obedecem aos mandamentos de Deus e se mantêm fiéis ao
testemunho de Jesus”. Depois que a mulher escapou, ele volta-se
contra o “restante da sua descendência”. Trata-se daqueles que lhe
nasceram nos tempos finais: os cento e quarenta e quatro mil
selados de Israel (cap. 7). Também contra eles o Diabo lutará então,
mas não poderá vencê-los, pois estarão selados e, por isso,
intocáveis até o seu arrebatamento. A mulher escapou dele por
razões racionalmente inexplicáveis, de modo que ele vai guerrear
contra os restantes da sua descendência “que obedecem aos
mandamentos de Deus e se mantêm fiéis ao testemunho de Jesus”.
Nós também somos intocáveis quando somos selados com o Espírito
Santo.
No meio da grande tribulação revela-se, portanto, o milagre da
proteção divina de Israel, em virtude da qual Israel sobrevive.
Existem muitas especulações em torno da mulher no deserto. Dizem,
por exemplo, que Israel se esconderá em Petra. Não existe base
bíblica para essa tese. Basta ter em mente que o Deus vivo
preparou um lugar no deserto anticristão, quando a terra santa
também for um deserto, para proteger o seu povo. Não foi também
um grande milagre que, durante os quatrocentos anos no Egito,
durante os quarenta anos no deserto, durante os setenta anos no
cativeiro babilônico e durante os dois mil anos de diáspora, Israel foi
guardado?
Contra toda lógica humana e apesar de toda astúcia satânica,
Israel foi guardado e levado de volta à terra dos seus pais!
Preparando um lugar para Israel no deserto e sustentando-o durante
mil duzentos e sessenta dias, Deus também o guardará em oposição
a todos os cálculos anticristãos. O sustento de Israel pelo Deus vivo
prova seu completo desamparo; então Israel dependerá
completamente de Deus. Essa será uma preparação para sua
conversão, mas aparentemente haverá em Israel um grande
movimento de fuga, pois a perseguição pretende sua destruição. É o
que se conclui dos versículos 15-16: “Então a serpente fez jorrar da
sua boca água como um rio, para alcançar a mulher e arrastá-la com
a correnteza. A terra, porém, ajudou a mulher, abrindo a boca e
engolindo o rio que o dragão fizera jorrar da sua boca”. Aqui temos
que observar a palavrinha “como”. Portanto, não se trata de um rio,
mas de algo como um rio.
O rio é algo que simboliza a ameaça mortal a Israel. No caso,
acontece mais um ataque concentrado contra a mulher Israel, que,
porém, não a atinge. Devemos entender que esse rio simbólico, que
é arrojado atrás da mulher no deserto, são os exércitos do Anticristo,
ou seja, do dragão que aqui é chamado de “serpente”. Isto não seria
especulação? Não. Encontramos uma comparação bíblica em
Jeremias 46.7-8: “Quem é aquele que se levanta como o Nilo, como
rios de águas agitadas? O Egito se levanta como o Nilo, como rios
de águas agitadas. Ele diz: ‘Eu me levantarei e cobrirei a terra;
destruirei as cidades e os seus habitantes’”. Isto foi quando o faraó
Neco subiu com seus exércitos contra a Babilônia. Disso pode-se
concluir que, em Apocalipse 12.15, trata-se de exércitos anticristãos
que querem exterminar Israel.
Encontramos a mesma figura também em Jeremias 47.2-3a, onde
Nabucodonosor subiu com seus exércitos caldeus contra Tiro e
Sidom: “Assim diz o S : ‘Vejam como as águas estão subindo
do norte; elas se tornam uma torrente transbordante. Inundarão esta
terra e tudo o que nela existe; as cidades e os seus habitantes. O
povo clamará, gritarão todos os habitantes desta terra, ao estrondo
dos cascos dos seus cavalos galopando, ao barulho dos seus carros
de guerra, e ao estampido de suas rodas’”. Esses são os pavores da
guerra. Será muito terrível quando as hordas anticristãs inundarem
Eretz Israel com seus tanques, aviões e helicópteros. É por isso que
esse tempo sem precedentes também é chamado de “angústia de
Jacó”: “Será tempo de angústia para Jacó; mas ele será salvo” (Jr
30.7b). Novamente temos a preciosa promessa de que o Deus vivo
guardará Israel!
Quando o rio é arrojado atrás da mulher, Deus interfere
indiretamente: “A terra, porém, ajudou a mulher, abrindo a boca e
engolindo o rio que o dragão fizera jorrar da sua boca”. Estranho: a
serpente arrojou água da sua boca para afogar a mulher, e a terra
abriu sua boca para ajudar a mulher! Não sabemos exatamente que
catástrofes atingirão os exércitos que perseguem Israel. Por outro
lado, são descritas claramente as catástrofes que atingirão a Rússia
quando invadir Israel – e isso pode acontecer da noite para o dia.
Essa invasão é descrita em Ezequiel 38. No versículo 2 é citado o
nome dela: “... o príncipe maior de Meseque [que é Moscou] e de
Tubal [que é Tobolsk, outra cidade russa]”. No versículo 5 são
citados os armamentos da Rússia: “A Pérsia, a Etiópia e a Líbia
estarão com eles, todos com escudos e capacetes”. E então lemos
nos versículos 18-20: “É isto que acontecerá naquele dia: Quando
Gogue atacar Israel, será despertado o meu furor. Palavra do
Soberano, o S . Em meu zelo e em meu grande furor declaro
que naquela época haverá um grande terremoto em Israel. Os peixes
do mar, as aves do céu, os animais do campo, toda criatura que
rasteja pelo chão e todas as pessoas da face da terra tremerão
diante da minha presença. Os montes serão postos abaixo, os
penhascos se desmoronarão e todos os muros cairão”. Portanto, a
consequência será um terremoto mundial. Além disso, o Senhor fará
então que se liberem as transgressões acumuladas que
evidentemente existem entre os países do Pacto de Varsóvia contra
a antiga União Soviética: “Convocarei a espada contra Gogue em
todos os meus montes. Palavra do Soberano, o S . A espada
de cada um será contra o seu irmão” (v. 21).
Nos versículos 22-23 lemos a respeito de outras catástrofes:
“Executarei juízo sobre ele com peste e derramamento de sangue;
desabarei torrentes de chuva, saraiva e enxofre ardente sobre ele e
sobre as suas tropas e sobre as muitas nações que estarão com ele.
E assim mostrarei a minha grandeza e a minha santidade, e me farei
conhecido de muitas nações. Então eles saberão que eu sou o
S ”. Essas são as catástrofes que terão por consequência o
aniquilamento do comunismo mundial sobre os montes e campos de
Israel. No entanto, o que acontece com os exércitos anticristãos que
perseguem a mulher, Israel, é dito somente de forma simbólica: “A
terra, porém, ajudou a mulher, abrindo a boca e engolindo o rio que o
dragão fizera jorrar da sua boca” (v. 16). Imaginamos que também
esses exércitos anticristãos serão engolidos por um terremoto ou
através de uma fenda na terra.
Apocalipse 12 nos mostra também o júbilo no céu pela vitória:
“Então ouvi uma forte voz dos céus, que dizia: ‘Agora veio a
salvação, o poder e o Reino do nosso Deus, e a autoridade do seu
Cristo, pois foi lançado fora o acusador dos nossos irmãos, que os
acusa diante do nosso Deus, dia e noite. Eles o venceram pelo
sangue do Cordeiro e pela palavra do testemunho que deram; diante
da morte, não amaram a própria vida’” (v. 10-11). Nesses dois
versículos é cantada e proclamada com júbilo, de maneira
impressionante, a vitória de Jesus aplicada decisivamente e seus
efeitos sobre Satanás e seus anjos.
O fato desse júbilo de vitória ressoar em meio à grande tribulação
mostra novamente a realidade da vitória alcançada de Jesus em
contraste com aquilo que se vê e se experimenta sobre a terra, pois
esse contraste é mostrado insistentemente no versículo 12:
“Portanto, celebrem-no, ó céus, e os que neles habitam! Mas ai da
terra e do mar, pois o Diabo desceu até vocês! Ele está cheio de
fúria, pois sabe que lhe resta pouco tempo”. Como se alegrarão
todos os bem-aventurados, toda a igreja glorificada! Sobre a terra,
porém, ninguém pode se alegrar nessa época. Por isso o canto de
júbilo da multidão bem-aventurada acaba com um “ai”.
Todos aqueles que habitam na terra estremecerão diante dos
acontecimentos daquele tempo; não somente aqueles que vivem nos
continentes, mas também os que habitam em ilhas e os que viajam
pelo mar. Toda a humanidade sentirá de maneira terrível o que
significa o fato de Satanás e seus anjos terem sido lançados das
regiões celestiais sobre a terra. Satanás sabe, então, que tem pouco
tempo – somente os três anos e meio há muito determinados por
Deus. Essa é a razão da sua grande cólera. Sua fúria será
indescritivelmente grande.
Apesar disso, haverá naquele tempo inúmeros “nascimentos
tardios”: pessoas que então chegarão à fé. Por outro lado, o Senhor
Jesus diz em Mateus 24.22: “Se aqueles dias não fossem
abreviados, ninguém sobreviveria; mas, por causa dos eleitos,
aqueles dias serão abreviados”. Contudo, a alegria no céu é
manifestada por uma “uma forte voz”, ouvida por João. No capítulo
11.15, no início da sétima trombeta, foi proclamada a legitimidade
do reino através de fortes vozes: “O sétimo anjo tocou a sua
trombeta, e houve fortes vozes nos céus, que diziam: ‘O reino do
mundo se tornou de nosso Senhor e do seu Cristo, e ele reinará para
todo o sempre’”.
Aqui, no capítulo 12.10, trata-se de uma forte voz que, entretanto,
corresponde a muitas vozes, pois fala de “nosso Deus” e “nossos
irmãos”. Ela proclama bem alto o fundamento da vitória do reino
agora iniciado: “Agora veio a salvação, o poder e o Reino do nosso
Deus, e a autoridade do seu Cristo”. Portanto, a vitória é um fato,
apesar da grande tribulação na terra. Até este momento, ou seja,
enquanto ainda vivem sobre a terra na carne pecaminosa, o dragão,
a serpente – Satanás com seus anjos – ainda tem o direito de acusar
os irmãos dia e noite diante de Deus nas regiões celestiais. É de
significado muito profundo o que está escrito em 1João 3.8: “Aquele
que pratica o pecado é do Diabo, porque o Diabo vem pecando
desde o princípio”.
No versículo 7 falou-se três vezes em guerra; no versículo 9 é dito
duas vezes que o Diabo foi destituído do seu poder e expulso: “O
grande dragão foi lançado fora. Ele é a antiga serpente chamada
Diabo ou Satanás, que engana o mundo todo. Ele e os seus anjos
foram lançados à terra”. Essas palavras impressionam muito, pois os
nomes dos vencidos são mais uma vez relacionados para que todos
saibam a profundidade das consequências que sua queda deve ter.
O dragão é chamado de “antiga serpente” – uma lembrança de como
causou certa vez a queda da humanidade (Gn 3). Ele se chama
“Diabo” – o acusador nunca se cansou de acusar os filhos de Deus e
a humanidade em geral. Por fim, seu nome é “Satanás”, que significa
diabolus – o grande desordeiro, o adversário. Ele é o constante
lutador contra Deus e contra aqueles que pertencem a ele sobre a
terra. Através disso lembramos que ele realmente engana o mundo
inteiro, sujeitando-o sempre mais à sua terrível influência, pois já
vemos isso agora.
Depois de ser lançado à terra, o âmbito do seu poder é muito
limitado. O céu permanece fechado para ele, pois a igreja foi
arrebatada. Ele está justamente com os seus, com seu campo de
atuação restrito à terra, e somente por pouco tempo. Frisemos mais
uma vez: Satanás tem direitos onde há pecado, e onde os pecados
foram expiados ele tenta manter exigências ilegítimas. Deus permite
isso porque é justo. É o que vemos, por exemplo, no livro de Jó,
onde Satanás apresenta-se diante do Senhor e diz: “Será que Jó não
tem razões para temer a Deus? Tu mesmo tens abençoado tudo o
que ele faz. Mas estende a tua mão e fere tudo o que ele tem, e com
certeza ele te amaldiçoará na tua face”. O Senhor respondeu: “Pois
bem, tudo o que ele possui está nas suas mãos; apenas não toque
nele” (Jó 1.12). Ou pensemos mais uma vez em Zacarias 3. Quando
o sumo sacerdote Josué entrou no santuário, Satanás colocou-se do
seu lado. Ele ousou entrar no santuário interior porque Josué estava
trajado de vestes sujas – uma representação do pecado. O inimigo
permaneceu ao seu lado até que o Senhor o repreendeu.
“Então o dragão se pôs em pé na areia do mar” (v. 18). Existem
versões que traduzem esta passagem referindo-se a João: “E eu
pus-me sobre a areia do mar...” (ACF). No decorrer dos séculos
foram encontrados vários manuscritos do Novo Testamento,
possibilitando traduções mais exatas. Na minha opinião, as revisões
mais recentes utilizam manuscritos do texto original mais confiáveis,
e mostram que não foi João mas sim o dragão que se pôs em pé
sobre a areia do mar. Aliás, este versículo é designado em algumas
traduções da Bíblia como parte do capítulo 13.1; em outros, como
parte do capítulo 12.17, onde diz: “O dragão irou-se contra a mulher
e saiu para guerrear contra o restante da sua descendência, os que
obedecem aos mandamentos de Deus e se mantêm fiéis ao
testemunho de Jesus”. Essas traduções parecem tanto mais
evidentes porque em nenhuma parte de Apocalipse João muda sua
posição celestial por iniciativa própria. Ele o fez somente por ordem
expressa do Senhor ou de um anjo. Desse modo, é dito a ele, por
exemplo, no capítulo 4.1: “Suba para cá...”, no capítulo 10.8: “Vá...”,
no capítulo 11.1: “Vá...”, ou no capítulo 17.3: “Então o anjo me levou
no Espírito...”. Consequentemente, quem está sobre a areia do mar
é Satanás.
Do ponto de vista do plano de salvação, a areia na praia do mar é
uma representação do povo de Israel. É o que concluímos de
Gênesis 22.17, onde o Senhor diz a Abraão: “Esteja certo de que o
abençoarei e farei seus descendentes tão numerosos como as
estrelas do céu e como a areia das praias do mar”. A praia, a areia
do mar, regula o mar – o mar dos povos. É o que vemos atualmente:
Israel regula o movimento das nações. Como se sabe, há anos as
Nações Unidas praticamente não se ocupam com os perigosos focos
de crises ou mesmo com os genocídios no mundo. Não, elas
ocupam-se com o cálice de tontear, com Jerusalém, como está
profetizado em Zacarias. Realmente o pequeno Israel domina a
atenção dos povos. Jerusalém está na boca e nos pensamentos de
todos. Essa é uma prova de que Israel realmente é a areia. O
dragão está agora, portanto, em pé sobre a areia e olha para o mar.
Ele ainda não desistiu da luta, mas concentra-se agora primeiro
completamente sobre a população de Israel: ele está em pé em
Israel e quer tomar posse das nações. Devemos lembrar que na
época anticristã Israel fará uma aliança com o Anticristo, como está
escrito em Daniel 9.27 (em Isaías 28.15 é até dito que fará aliança
com a morte).
No entanto, agora – depois que a igreja foi arrebatada e
glorificada e o mundo desmorona sob juízos divinos; e Israel, a
mulher, está diante do seu renascimento definitivo, já tendo dado à
luz aos cento e quarenta e quatro mil, que são as primícias – acabou
definitivamente o tempo de Satanás nas regiões celestiais: “... foram
lançados à terra”. Ele não pode mais acusar nada e ninguém diante
de Deus, pois eles o venceram pelo sangue do Cordeiro (v. 11). E
enquanto eles, os crentes já glorificados e os que ainda combatem
na terra, reivindicaram e reivindicam o sangue derramado do
Cordeiro pelos seus pecados, eles proclamaram o genuíno poder de
redenção desse precioso sangue através da palavra do seu
testemunho. A palavra do testemunho na presença do inimigo é
importante. Com isso eles provam que, mesmo em face da morte,
não amam a sua vida, como também o Cordeiro derramou sua vida
em seu sangue por sua e por nossa causa.
As três características mais marcantes de alguém realmente
salvo, tanto em nosso tempo como também após o arrebatamento,
são:
1Vi uma besta que saía do mar. Tinha dez chifres e sete cabeças,
com dez coroas, uma sobre cada chifre, e em cada cabeça um
nome de blasfêmia. 2A besta que vi era semelhante a um
leopardo, mas tinha pés como os de urso e boca como a de leão.
O dragão deu à besta o seu poder, o seu trono e grande
autoridade. 3Uma das cabeças da besta parecia ter sofrido um
ferimento mortal, mas o ferimento mortal foi curado. O mundo
todo ficou maravilhado e seguiu a besta. 4Adoraram o dragão,
que tinha dado autoridade à besta, e também adoraram a besta,
dizendo: “Quem é como a besta? Quem pode guerrear contra
ela?” 5À besta foi dada uma boca para falar palavras arrogantes e
blasfemas e lhe foi dada autoridade para agir durante quarenta e
dois meses. 6Ela abriu a boca para blasfemar contra Deus e
amaldiçoar o seu nome e o seu tabernáculo, os que habitam nos
céus. 7Foi-lhe dado poder para guerrear contra os santos e
vencê-los. Foi-lhe dada autoridade sobre toda tribo, povo, língua
e nação. 8Todos os habitantes da terra adorarão a besta, a saber,
todos aqueles que não tiveram seus nomes escritos no livro da
vida do Cordeiro que foi morto desde a criação do mundo.
9Aquele que tem ouvidos ouça: 10Se alguém há de ir para o
cativeiro, para o cativeiro irá. Se alguém há de ser morto à
espada, morto à espada haverá de ser. Aqui estão a
perseverança e a fidelidade dos santos. 11Então vi outra besta que
saía da terra, com dois chifres como cordeiro, mas que falava
como dragão. 12Exercia toda a autoridade da primeira besta, em
nome dela, e fazia a terra e seus habitantes adorarem a primeira
besta, cujo ferimento mortal havia sido curado. 13E realizava
grandes sinais, chegando a fazer descer fogo do céu à terra, à
vista dos homens. 14Por causa dos sinais que lhe foi permitido
realizar em nome da primeira besta, ela enganou os habitantes
da terra. Ordenou-lhes que fizessem uma imagem em honra à
besta que fora ferida pela espada e contudo revivera. 15Foi-lhe
dado poder para dar fôlego à imagem da primeira besta, de modo
que ela podia falar e fazer que fossem mortos todos os que se
recusassem a adorar a imagem. 16Também obrigou todos,
pequenos e grandes, ricos e pobres, livres e escravos, a
receberem certa marca na mão direita ou na testa, 17para que
ninguém pudesse comprar nem vender, a não ser quem tivesse a
marca, que é o nome da besta ou o número do seu nome. 18Aqui
há sabedoria. Aquele que tem entendimento calcule o número da
besta, pois é número de homem. Seu número é seiscentos e
sessenta e seis.
Q
ue passagem terrível! No entanto, aquele que renasceu pela
graça do Senhor escapará de tudo isso! Essas coisas
somente acontecerão após o arrebatamento da igreja de
Jesus. Ai daqueles, porém, que então ainda estiverem sobre a terra!
É muito esclarecedor que, já na sua primeira carta, João diz com
relação ao Anticristo: “Filhinhos, esta é a última hora e, assim como
vocês ouviram que o anticristo está vindo, já agora muitos anticristos
têm surgido. Por isso sabemos que esta é a última hora” (1Jo 2.18).
Ele é o único no Novo Testamento que utiliza a denominação
“anticristo”, e cinco vezes: duas em 1João 2.18 e uma nos capítulos
2.22 e 4.3 da mesma carta, além de mais uma em 2João 7. Isso
confirma em primeiro lugar o fato que citamos na introdução do
primeiro capítulo: João recebeu a revelação de Jesus Cristo antes
de escrever seu evangelho e suas epístolas. Provavelmente ele foi
exilado para a ilha de Patmos pelo imperador romano quando ainda
era jovem, talvez logo depois do Pentecostes, sendo novamente
libertado mais tarde. É o que se conclui do fato que o grego do
Apocalipse não é tão bom como o grego das suas epístolas e do
evangelho. Nos anos seguintes ele dominava melhor a língua. Em
suas cartas sente-se também que ele ainda está sob a indelével
impressão daquilo que viu em Apocalipse 13 e 17: o desdobramento
do Anticristo.
Paulo vê o Anticristo no futuro. Ele não teve uma visão como João
a recebeu; pelo contrário, ele fala profeticamente da besta, do
Anticristo, utilizando diferentes denominações. Porém, ele não utiliza
a palavra “anticristo”: “Não deixem que ninguém os engane de modo
algum. Antes daquele dia virá a apostasia e, então, será revelado o
homem do pecado, o filho da perdição. Este se opõe e se exalta
acima de tudo o que se chama Deus ou é objeto de adoração,
chegando até a assentar-se no santuário de Deus, proclamando que
ele mesmo é Deus” (2Ts 2.3-4). Ele fala então rapidamente do
presente, dizendo: “A verdade é que o mistério da iniquidade já está
em ação, restando apenas que seja afastado aquele que agora o
detém. Então será revelado o perverso, a quem o Senhor Jesus
matará com o sopro de sua boca e destruirá pela manifestação de
sua vinda. A vinda desse perverso é segundo a ação de Satanás,
com todo o poder, com sinais e com maravilhas enganadoras. Ele
fará uso de todas as formas de engano da injustiça para os que
estão perecendo...” (2Ts 2.7-10).
Paulo vê o terrível caráter da besta, mas é simplesmente incapaz
de descrevê-la. Percebe-se como ele procura por palavras. Ele a
chama de “homem do pecado”, “filho da perdição”, “este se opõe”,
“se exalta acima de tudo o que se chama Deus”, “perverso”. Repito
mais uma vez: apesar de Paulo dizer no versículo 7 que o mistério da
iniquidade já opera (ou seja, no presente), ele vê o Anticristo no
futuro. Os caminhos da revelação de Deus são maravilhosos! Paulo,
o que nasceu tardiamente – ele foi posteriormente adicionado –, foi o
único a receber o até então oculto mistério do corpo de Cristo, da
igreja, e assim do próprio ser de Cristo. Desse modo, na carta aos
Efésios ele diz: “Isto é, o mistério que me foi dado a conhecer por
revelação” (Ef 3.3). No entanto, a João, que durante a vida terrena
do Senhor Jesus tinha a mais íntima comunhão com o Filho de Deus
– pois ele era o discípulo que Jesus amava –, é revelado o Anticristo
em todo o seu horror e como o grande inimigo de Jesus Cristo. E
sob a impressão dessa revelação ele diz a respeito do presente: “...
já agora muitos anticristos têm surgido”.
O próprio Senhor Jesus conhecia muito bem seu grande
adversário. É o que se nota, por exemplo, pelas suas afirmações
proféticas em Mateus 24.15 e Marcos 13.14. Ele fala do “sacrilégio
terrível”, referindo-se a Daniel 9.27 e Daniel 12.11: “Quando vocês
virem ‘o sacrilégio terrível’ no lugar onde não deve estar – quem lê,
entenda – então, os que estiverem na Judeia fujam para os montes”
(Mc 13.14). É o que Paulo também diz: “... chegando até a assentar-
se no santuário de Deus”.
Temos agora aqui em Apocalipse 13 o desdobramento da besta,
do Anticristo, e isso até o ponto em que Deus lhe colocou um limite.
Esse ponto é o momento em que o Anticristo se assentar no templo
de Deus, apresentando a si mesmo como Deus. Isso naturalmente
pressupõe – e talvez ainda vejamos isso justamente antes do
arrebatamento – que o templo seja novamente construído em
Jerusalém, pois repentinamente pode chegar o momento em que se
iniciará a construção do templo, porque, quando a Rússia for cada
vez mais pressionada por causa da escassez de energia ou petróleo
e, portanto, avançar em direção ao golfo Pérsico e de forma
avassaladora a Israel, haverá então um grande terremoto (cf. Ez 38–
39). Com isso sem dúvida será destruída a mesquita de Omar, o
Domo da Rocha, e assim o templo poderá ser construído muito
rapidamente.
Se agora vemos aqui em Apocalipse 13 a sucessiva revelação do
mistério da iniquidade, então admira-nos como a profecia bíblica é
completa e perfeita, pois, enquanto o dragão está na areia do mar –
ou seja, em Israel –, ele chama agora como que seu semelhante do
mar dos povos: “Vi uma besta que saía do mar...”. Essa besta será
seu instrumento! O mar dos povos será então idêntico ao Abismo do
inferno, pois já vimos que os demônios se encontram em dois lugares
distintos: uma categoria de poderes, autoridades e maus espíritos
encontra-se nas “regiões celestiais” (Ef 6.12). Essa categoria,
juntamente com o dragão, será lançada à terra por Miguel e seus
anjos (12.7-9). A outra categoria de poderes das trevas está
guardada no Abismo. Pelo evangelho de Lucas sabemos que os
maus espíritos têm terrível pavor de serem presos no Abismo, pois,
quando o Senhor Jesus libertou o possesso da legião de espíritos
imundos, estes pediram que ele não os mandasse para o Abismo,
mas lhes permitisse entrar nos porcos. Qual é, pois, a razão da
constatação de que o mar dos povos é equivalente ao Abismo
infernal? Porque também os maus espíritos guardados no Abismo
poderão sair daquele lugar durante a grande tribulação: “O quinto
anjo tocou a sua trombeta, e vi uma estrela que havia caído do céu
sobre a terra. À estrela foi dada a chave do poço do Abismo.
Quando ela abriu o Abismo, subiu dele fumaça como a de uma
gigantesca fornalha. O sol e o céu escureceram com a fumaça que
saía do Abismo. Da fumaça saíram gafanhotos que vieram sobre a
terra, e lhes foi dado poder como o dos escorpiões da terra” (9.1-3;
ver tb. o comentário anterior sobre “A Quinta Trombeta de Juízo”, no
cap. 9). Portanto, a terra será literalmente inundada por maus
espíritos das regiões celestiais e do Abismo. Não se necessita muito
poder de imaginação para entender como será então na terra,
quando o dragão estiver sobre a areia da praia do mar e a besta
emergir do mar. Já no capítulo 11.7 é citada a besta que subirá do
Abismo, do mundo das nações: “... a besta que vem do Abismo”.
Repetidamente o Senhor mostrou ao seu povo, já no Antigo
Testamento, através de tipos, de precursores, como será o grande
adversário de Cristo. No fundo, o conflito entre Deus e Satanás já
começou no paraíso, pois o Senhor diz em Gênesis 3.15: “Porei
inimizade entre você e a mulher, entre a sua descendência e o
descendente dela”. Através de toda a história vemos essa inimizade:
Caim contra Abel, o faraó contra Moisés, Babilônia contra Jerusalém,
Hitler contra Israel etc. Todos eles foram precursores daquele que
representará a maior expressão de todo o mal, a reunião de tudo no
mundo que se levantou contra Deus e seu Filho. Em Apocalipse 13.7
lemos a respeito de quanto poder satânico o Anticristo dispõe: “Foi-
lhe dado poder para guerrear contra os santos e vencê-los. Foi-lhe
dada autoridade sobre toda tribo, povo, língua e nação”. Ou no
versículo 2b do mesmo capítulo: “O dragão deu à besta o seu poder,
o seu trono e grande autoridade”.
O dragão encontra-se agora ameaçador na praia do mar, como
que pronto para tomar posse do mar das nações; porém, parece
hesitar, pois é apenas um espírito, o que significa na verdade que
nas coisas deste mundo ele mesmo não pode agir diretamente. Por
isso ele necessita de um instrumento humano, de um médium. Ele
somente pode fazer todo o mal através do raciocínio humano, dos
vícios humanos e de atos humanos, de modo que ele tem que
incorporar-se em um ser terreno para poder realizar suas intenções
assassinas.nota 11 Através de João, que teve visões iluminado pelo
Espírito de Deus, vemos o que e quem é esse último médium que se
levanta contra Cristo. Com isso, porém, vemos também as
possibilidades limitadas do Diabo, que somente pode expressar-se
indiretamente, ou seja, através de um instrumento – em contraste
completo com o Deus vivo. Deus manifesta-se tanto indiretamente –
falando ou agindo, por exemplo, através de homens – como também
diretamente: ele pode agir diretamente no coração humano. Alguém
poderá discordar: o dragão não estava agindo diretamente em
Apocalipse 11 e 12 quando queria devorar a criança recém-nascida?
Certamente, mas isso ele somente pode no mundo invisível,
enquanto no mundo visível ele sempre tem e procura seus
instrumentos.
Que momento de terrível tensão temos aqui diante de nós, no
clímax dos acontecimentos apocalípticos! Das profundezas do
agitado mar das nações o dragão quer agora ajuntar e liberar as
forças das trevas para o último ataque àquilo que pertence a Deus
na terra! Acontece então, diante dos olhos de João, o milagre
satânico: uma besta emerge do mar. A semelhança com o dragão é
tão evidente que imediatamente percebe-se o parentesco e a
maneira diabólica. Lemos a respeito do dragão: “Então apareceu no
céu outro sinal: um enorme dragão vermelho com sete cabeças e
dez chifres, tendo sobre as cabeças sete coroas” (12.3). E do
Anticristo está escrito: “Vi uma besta que saía do mar. Tinha dez
chifres e sete cabeças, com dez coroas, uma sobre cada chifre, e
em cada cabeça um nome de blasfêmia” (13.1). Os chifres são
vassalos subordinados ao Anticristo.
No decorrer dos séculos pensou-se e especulou-se muito a
respeito de quem seria o Anticristo. Muitas vezes se foi e se é muito
precipitado. Desse modo, em minha curta vida já ouvi dizer a respeito
de diferentes personalidades: “Tal e tal pessoa certamente é o
Anticristo!”. Isso me foi dito, entre outros, a respeito de Henry
Kissinger e do ex-presidente Carter, e um “profeta” alemão
escreveu-me antes das eleições de 1980, realizadas nesse país,
que, em oposição a todos os prognósticos, seria eleito Franz Joseph
Strauss, por ele ser o Anticristo! Existem bons comentaristas do
Apocalipse que afirmam que o Anticristo será Nero ressuscitado,
pois, como se sabe, Nero foi um sanguinário perseguidor dos
cristãos. Ele os utilizava como tochas vivas nas festas realizadas em
seus jardins. Também existe uma tradição correspondente, de
acordo com a qual o Nero retornado seria uma das cabeças da
besta, que foi golpeada mortalmente mas cujo ferimento mortal foi
curado.
Comentaristas que devem ser levados mais a sério nesse aspecto
dizem que o Anticristo será Antíoco Epifânio, que ressuscitaria. Muito
interessante é, de fato, que aquilo que Daniel profetiza sobre o
Anticristo aplica-se ao rei selêucida Antíoco Epifânio, pois,
desprezando a liberdade religiosa até então existente em Judá,
Antíoco Epifânio introduziu costumes gregos e até saqueou o templo.
Seu esforço de helenização foi enorme. Ele por exemplo conseguiu,
através de intermediários e suborno, empossar um sumo sacerdote
do seu agrado, e os sacerdotes tinham que usar vestes sacerdotais
gregas. Não é de admirar que aqueles entre o povo que se
mantinham fiéis ao Deus de seus pais resistiam mais e mais.
Quando a resistência se tornou sensivelmente maior, Antíoco
Epifânio voltou-se cheio de fúria contra os judeus, marchando com
um poderoso exército para a Judeia, onde matou milhares do povo,
profanou o templo, sacrificando até mesmo porcos nele, anulou as
normas santificadas da lei judaica e exigiu adoração como deus.
Daniel diz no capítulo 7.25: “Ele falará contra o Altíssimo, oprimirá os
seus santos e tentará mudar os tempos e as leis”. As profecias de
Daniel, no entanto, vão adiante – até ao Anticristo verdadeiro e final.
Também nesse caso temos, portanto, uma profecia dupla; uma
profecia para o futuro próximo e para o futuro distante, pois Daniel
7.23-24 fala do quarto império, do Império Romano: “O quarto animal
é um quarto reino que aparecerá na terra. Será diferente de todos os
outros reinos e devorará a terra inteira, despedaçando-a e
pisoteando-a. Os dez chifres são dez reis que sairão desse reino.
Depois deles um outro rei se levantará, e será diferente dos
primeiros reis”. E depois segue a passagem citada acima, segundo a
qual ele proferirá palavras contra o Altíssimo, oprimirá os santos do
Altíssimo e cuidará de mudar os tempos e as leis. No versículo 25b
continua: “Os santos serão entregues nas mãos dele por um tempo,
tempos e meio tempo”. E então fala-se do reino de Deus sob o
governo do Senhor Jesus Cristo: “Então a soberania, o poder e a
grandeza dos reinos que há debaixo de todo o céu serão entregues
nas mãos dos santos, o povo do Altíssimo. O reino dele será um
reino eterno, e todos os governantes o adorarão e lhe obedecerão”
(Dn 7.27).
Antíoco Epifânio é citado também em Daniel 11.36: “O rei fará o
que bem entender. Ele se exaltará e se engrandecerá acima de
todos os deuses e dirá coisas jamais ouvidas contra o Deus dos
deuses. Ele terá sucesso até que o tempo da ira se complete, pois o
que foi decidido irá acontecer”. Antíoco Epifânio é, portanto, um tipo
muito característico do Anticristo dos tempos finais. Isso é provado
pelo fato de Daniel ter visto imediatamente depois de Antíoco
Epifânio (o anticristo!) o Senhor Jesus em grande poder e glória: “Em
minha visão à noite, vi alguém semelhante a um filho de homem,
vindo com as nuvens dos céus. Ele se aproximou do ancião [do Deus
eterno] e foi conduzido à sua presença. Ele recebeu autoridade,
glória e o reino; todos os povos, nações e homens de todas as
línguas o adoraram. Seu domínio é um domínio eterno que não
acabará, e seu reino jamais será destruído” (Dn 7.13-14).
É interessante que Paulo descreve o Anticristo com as mesmas
expressões que Daniel. Ele diz em 2Tessalonicenses 2.4: “Este se
opõe e se exalta acima de tudo o que se chama Deus ou é objeto de
adoração, chegando até a assentar-se no santuário de Deus,
proclamando que ele mesmo é Deus”. Desse modo, chegou-se então
à conclusão que Antíoco Epifânio, que nos tempos antigos realmente
tinha cometido “o sacrilégio terrível”, ressuscitaria e seria o Anticristo
neotestamentário. Apesar da ferida mortal da besta – da qual fala
Apocalipse 13 – ter sido curada, não posso concordar com tais
interpretações. Apesar disso, a ferida mortal – literalmente “um
ferimento mortal, mas o ferimento mortal foi curado” – é de grande
importância, pois essa circunstância é citada três vezes. Versículo 3:
“... mas o ferimento mortal foi curado”. Versículo 12: “... cujo
ferimento mortal havia sido curado”. Versículo 14: “... que fora ferida
pela espada e contudo revivera”. Pois o que significa esta ferida
mortal da besta? De modo geral, que em sua manifestação o
Anticristo é movido pelo impulso da imitação. Se no grego diz “como
morto”, então fica claro que trata-se da imitação do Cordeiro que foi
morto. Pensemos somente em Apocalipse 5.6: “Depois vi um
Cordeiro, que parecia ter estado morto, em pé, no centro do trono,
cercado pelos quatro seres viventes e pelos anciãos”. Da mesma
maneira, o milagre divino da ressurreição de Jesus Cristo é imitado
em um caricatural milagre satânico: o Anticristo retorna. Com isso
não queremos dizer de modo nenhum que o retorno do Anticristo
será a volta de um morto – a volta de Antíoco Epifânio ou de Nero,
por exemplo. Pelo contrário, todos juntos são uma fraca sombra do
verdadeiro Anticristo, como também no último império que Daniel viu
percebe-se características de outros reinos (Dn 7.7; Ap 13.1-2). Em
outras palavras: o Anticristo é um aglutinamento de todas as
características negativas, de toda a maldade de todos os
antissemitas de todos os tempos. Gostaria de citar o seguinte a
respeito:
E
m contraste com o escuro e terrível capítulo 13, aqui temos
uma visão do céu. Isso é semelhante ao silêncio da noite após
uma trovoada destruidora. Após a revelação da besta e do
Falso Profeta, surge agora a aurora da glória do Cordeiro em meio
às nuvens negras! Assim, temos que aprender a olhar atrás das
coisas; contudo, somente conseguimos isso através da fé. Para
podermos olhar através dos fatos temos que olhar para o alto!
“Tendo os olhos fitos em Jesus, autor e consumador da nossa fé”
(Hb 12.2).
“Então olhei, e diante de mim estava o Cordeiro, em pé sobre o
monte Sião, e com ele cento e quarenta e quatro mil que traziam
escritos na testa o nome dele e o nome de seu Pai” (v. 1). Não está
escrito “os cento e quarenta e quatro mil”, mas simplesmente “cento
e quarenta e quatro mil”. Falta o artigo. Todavia, sem dúvida trata-se
aqui dos cento e quarenta e quatro mil selados dentre as doze tribos
de Israel que vimos no capítulo 7: “‘Não danifiquem nem a terra, nem
o mar, nem as árvores até que selemos as testas dos servos do
nosso Deus’. Então ouvi o número dos que foram selados: cento e
quarenta e quatro mil, de todas as tribos de Israel” (7.3-4). Por que
falta o artigo no nosso texto? Porque o Cordeiro se sobrepõe a tudo!
Além disso, o Cordeiro ainda tem inúmeros outros comprados pelo
sangue – a igreja de Jesus – além dos cento e quarenta e quatro mil,
pois em Hebreus 12.22 está escrito: “Mas vocês chegaram ao monte
Sião, à Jerusalém celestial, à cidade do Deus vivo. Chegaram aos
milhares de milhares de anjos em alegre reunião”. Com isso fica
também esclarecido que aqui em Apocalipse 14 não se trata do
monte Sião terreno, da cidade de Davi, da atual Jerusalém. Pelo
contrário, essa visão maravilhosamente agradável está em extremo
contraste com a Jerusalém terrena e o drama que se desenrola ali
durante os 42 meses de domínio da besta.
A descrição do Cordeiro e dos cento e quarenta e quatro mil
selados de Israel nada mais é do que o inverso celestial daquilo que
vimos no capítulo 13. As duas bestas e seu comportamento era
terreno; o Cordeiro e os cento e quarenta e quatro mil são celestiais.
Apresenta-se o contraste entre o cruel e grosseiro monstro que é o
Anticristo e o Cordeiro de Deus imaculado sobre o monte Sião. Os
portadores da marca da besta (666), seus seguidores e adoradores,
são confrontados com a assembleia dos discípulos do Cordeiro;
aqueles que têm escrito na testa o nome do Cordeiro e o nome do
seu Pai! O caráter da besta e dos seus seguidores, que revela
somente prostituição, é contrastado com a pureza virginal dos cento
e quarenta e quatro mil selados de Israel, que rejeitaram qualquer
participação na imoralidade reinante.
Como crentes, também nós nos encontramos atualmente em
profundo confronto com o espírito deste mundo. Por isso sente-se tal
pressão, por isso nota-se os risos e a zombaria e por isso se é
desprezado. Encontramo-nos em meio a um mundo anticristão,
apesar do Anticristo não poder se manifestar ainda, pois a igreja de
Jesus, e com ela o Espírito Santo, ainda está na terra. Contudo,
prossigamos corajosamente, pois somos – como os cento e
quarenta e quatro mil – libertados da culpa e do poder do pecado
através do precioso sangue do Cordeiro!
Enquanto na terra os homens estão maravilhados pela nova ordem
do Anticristo e diante do seu poder, adorando-o – um povo, um reino,
um líder – os cento e quarenta e quatro mil cantam o novo cântico do
Cordeiro: “Eles cantavam um cântico novo diante do trono, dos
quatro seres viventes e dos anciãos. Ninguém podia aprender o
cântico, a não ser os cento e quarenta e quatro mil que haviam sido
comprados da terra” (v. 3). Na verdade, não se trata de um cântico
comum. Deve ser algo tão celestialmente maravilhoso que a palavra
“cântico” é totalmente insuficiente para descrevê-lo. O seu som será
magnífico e glorioso!
O contraste entre os cento e quarenta e quatro mil e os
portadores da marca da besta torna-se ainda mais intenso se
lembrarmos que os adoradores da besta estarão perdidos para
sempre, pois eles não estão escritos no livro da vida do Cordeiro
(13.8). E no capítulo 14.11 é agora dito deles: “E a fumaça do
tormento de tais pessoas sobe para todo o sempre. Para todos os
que adoram a besta e a sua imagem... não há descanso, dia e
noite”. No entanto, sobre o monte Sião encontra-se uma multidão que
segue o Cordeiro por onde quer que vá. E para onde ele vai? Para a
eterna bem-aventurança! Não devemos, porém, ver em primeiro
lugar os cento e quarenta e quatro mil, mas sim o Cordeiro! João fica
profundamente impressionado pela visão do Cordeiro, que não
somente diz: “Eu vi o Cordeiro”, mas: “Então olhei, e diante de mim
estava o Cordeiro...”. Isso nos lembra de João Batista, exclamando
junto ao Jordão: “Vejam! É o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do
mundo!” (Jo 1.29). Em Jesus Cristo habita corporalmente a plenitude
da divindade; como Cordeiro que foi morto, ele é o resplendor da
glória de Deus. O que precisamos é de uma visão completamente
nova do Cordeiro! “Vejam! É o Cordeiro de Deus”! Quando vemos
Jesus, todos os problemas, preocupações, frustrações etc.
desaparecem de nós. Então ficamos livres, então somos capazes de
jubilar: “Tudo posso naquele que me fortalece” (Fp 4.13).
João tinha essa visão do Cordeiro. Ele teve que digerir coisas
terríveis, porque aquilo que ele tinha visto – toda a maneira
sanguinária do Anticristo, mandando executar milhões de crentes –
não podia deixá-lo sem marcas. Desse modo, ele exclama
profundamente emocionado: “Então olhei, e diante de mim estava o
Cordeiro”.
A revelação do Cordeiro e dos cento e quarenta e quatro mil já
nos mostra em si, claramente, que esse maravilhoso espetáculo
acontece no céu, pois em nenhum lugar de Apocalipse o Cordeiro –
com exceção do capítulo 17.14, onde se põe um fim na besta – foi
visível na terra, a não ser na figura do “outro anjo” (7.2; 8.3).
Já constatamos que os cento e quarenta e quatro mil do capítulo
14 são os mesmos do capítulo 7 e que se trata de selados de todas
as tribos de Israel. Portanto, eles são primícias de Israel.
Conhecemos o selo também na atual dispensação, pois, conforme
Efésios 1.13, todos os que renasceram foram selados com o
Espírito Santo. Por isso somos intocáveis para o inimigo. O mesmo
vale também para os cento e quarenta e quatro mil; apesar da
aparente onipotência da besta, que controla o mundo todo
estatisticamente e espiritualmente, impondo sua adoração através do
Falso Profeta, mandando matar todos os que não adoram a imagem
da besta, eles não são dizimados. Em virtude de estarem selados
com o Espírito Santo eles resistiram vitoriosamente à fúria da besta.
Conforme o versículo 4b, eles “foram comprados dentre os homens
e ofertados como primícias a Deus e ao Cordeiro”. Eles se
encontram agora “diante do trono” (v. 3). Portanto, como já dissemos
na análise de Apocalipse 12.6-17, isso significa que eles foram
arrebatados para o Cordeiro, pois o seu trono se encontra no céu.
Esse arrebatamento também corresponde exatamente ao princípio
divino com relação aos selados. Como crentes da nova aliança,
somos selados até o dia da redenção. Qual será o dia da redenção?
Nosso arrebatamento! Assim, porque aqui aparecem agora os cento
e quarenta e quatro mil selados de Israel com o Cordeiro de Deus
sobre o monte Sião celestial, eles devem ter sido arrebatados
durante a grande tribulação. Assim, vemos dois tipos de
arrebatamento durante a grande tribulação, que também
conhecemos como igreja de Jesus:
“
Vi no céu outro sinal...” (v. 1). Lembramos que João já viu dois
sinais: primeiro ele viu um sinal no céu: uma mulher vestida do
sol, com a lua debaixo dos seus pés e uma coroa de doze
estrelas sobre a cabeça etc. (12.1-2). Então ele viu um segundo
sinal: o dragão vermelho, o Diabo (12.3). Aqui ele vê agora um
terceiro sinal, do qual diz que é “grande e maravilhoso”. É
esclarecedor que, no plano de salvação, fala-se frequentemente de
três sinais: Moisés recebeu três sinais da sua vocação; Gideão
recebeu três sinais para que sua fé fosse fortalecida; Saul recebeu
três diferentes sinais quando foi ungido rei. Em Mateus 24 o Senhor
Jesus falou de três sinais que indicarão sua volta: 1. O sinal do Filho
do homem no céu. 2. O sinal da figueira. 3. O sinal do tempo de Noé,
isto é, a situação moral dos homens justamente antes da sua volta.
O sinal que João vê agora é, portanto, “grande e maravilhoso”.
Grande porque contém muito mais do que foi visto até agora e
maravilhoso porque engloba as maiores revelações a respeito dos
milagres de juízo de Deus para o mundo atual. O próprio sinal
consiste em primeiro lugar de sete anjos: “... sete anjos com as sete
últimas pragas, pois com elas se completa a ira de Deus” (v. 1).
Sinais milagrosos de cura acompanham a pregação do evangelho.
Sinais de morte caracterizam o fim desta época, pois o juízo já está
aumentando individualmente, quer seja através de doenças ou outros
problemas, como também de maneira geral, política e militarmente.
Que ameaça há no ar! Trata-se de sinais de morte, que anunciam e
acompanham o fim desta época.
Os sete anjos assemelham-se àqueles das sete trombetas no
capítulo 8.2. Entretanto, aqui no capítulo 15 é acrescentada uma
palavra que é preciso observar bem: esses sete anjos trazem os
últimos flagelos consigo: “... as sete últimas pragas”. Isso significa
encerramento! Somos levados a pensar na última praga que Deus
fez vir sobre o Egito. Em Êxodo 11.1 está escrito: “Disse então o
S a Moisés: ‘Enviarei ainda mais uma praga sobre o faraó e
sobre o Egito. Somente depois desta ele os deixará sair daqui e até
os expulsará totalmente’”. Israel ficou livre em seguida. Também no
tempo anticristão Israel ficará livre quando as últimas sete pragas,
as últimas sete taças da ira, tiverem sido derramadas. Aqui temos a
consumação do “mistério de Deus”, que é mencionado em
Apocalipse 10.7. Pode-se chamá-lo também de “as palavras de
Deus”, como é o caso no capítulo 17.17: “... levando-os a concordar
em dar à besta o poder que eles têm para reinar até que se
cumpram as palavras de Deus”. Esse é o cumprimento completo da
profecia. Quando esses últimos juízos das taças, que são
inimaginavelmente terríveis, tiverem passado sobre a terra, o sétimo
anjo trará a notícia da conclusão: “Está feito!” (16.17).
No entanto, antes que João transmita detalhes desse grande e
admirável sinal, ele introduz a descrição de uma outra visão. Apesar
da mesma ter estreito relacionamento com o derramamento das
taças da ira, ela é de caráter agradável. “Vi algo semelhante a um
mar de vidro...” (v. 2). Aqui temos novamente um símbolo, pois não
se trata de um mar de verdade, mas de algo que parece como um
mar de vidro. Essa parábola nos faz lembrar do capítulo 4.6, onde
está escrito: “E diante do trono havia algo parecido com um mar de
vidro, claro como cristal”. Como um mar, a superfície do céu – que é
o mundo das nações – estende-se diante do trono de Deus. Em
Apocalipse 4.6 ele é descrito como um mar transparente que se
mantém calmo, pois um “mar de vidro” indica uma massa compacta.
Além disso, mostra-se que ele é atravessado pela luz, como o
cristal. O mar de vidro, o mar dos povos, apesar de suas
inquietações e guerras, tem que calar-se diante da face de Deus (Is
41.1). Ele, o Eterno, já vê o mar dos povos como permanecerá
sempre no futuro – quando o Senhor tiver voltado para o
estabelecimento do seu reino milenar –, em elevada paz e profunda
tranquilidade (Hc 2.20; Sf 1.7; Zc 2.13).
No capítulo 15 João vê o mesmo mar, mas bem diferente: “...
semelhante a um mar de vidro misturado com fogo”. Nessa hora ele
não é iluminado pela pura luz da glória e do amor, mas está
totalmente incandescente pelo fogo da ira julgadora de Deus. Nisso
anuncia-se algo terrível para o mundo anticristão – os
acontecimentos de juízo então em realização na terra. Junto a esse
mar de cristal de aparência tão ameaçadora, João vê reunida uma
santa multidão: “... em pé, junto ao mar, os que tinham vencido a
besta, a sua imagem e o número do seu nome” (v. 2). Essas
pessoas deveriam ter servido à besta, o Anticristo (cap. 13), mas se
negaram e obtiveram a vitória. Esses crentes deveriam ter usado o
sinal da besta, ou o número do seu nome, sobre a testa ou sobre a
mão direita, mas não usaram; eles rejeitaram o “símbolo do partido”
e conquistaram a vitória. Apesar de todas as ameaças, o mundo
anticristão não foi capaz de dobrar a grande coragem e fidelidade
deles. Eles entregaram suas cabeças, eles foram decapitados. Eles
morreram, mas tiveram vitória em tudo. Que multidão respeitável e
majestosa! Esses vencedores são os mesmos que já vimos no
capítulo 7.9: a grande multidão, vestida de vestimentas brancas, com
palmas nas mãos, diante do trono do Cordeiro.
Da multidão inumerável está escrito no capítulo 7.14: “Estes são
os que vieram da grande tribulação, que lavaram as suas vestes e as
alvejaram no sangue do Cordeiro”. No capítulo 15 João os vê como
se encontram agora junto ao mar de vidro, iluminados com o fogo de
Deus, tendo harpas – harpas que Deus lhes deu para serviço dele.
João também os ouve cantar: “E cantavam o cântico de Moisés,
servo de Deus, e o cântico do Cordeiro...” (v. 3). Parece ser um
cântico, e ainda assim trata-se de dois. Quando o velho povo da
aliança de Deus foi escravizado e atormentado pelo Faraó, o
anticristo do Antigo Testamento, Deus libertou Israel através do
sangue de um cordeirinho. Moisés louvou esse grande ato de
libertação através de um cântico solene (Êx 15.1-21). Todavia, com
isso Israel ainda não estava completamente liberto da escravidão
deste mundo. O que aconteceu em Êxodo 15 foi uma indicação
profética, por assim dizer, um esboço da verdadeira redenção – da
redenção que viria através de Jesus Cristo. Deus tinha feito somente
o início para libertar Israel. Muitos atos de libertação ainda viriam.
Na plenitude do tempo veio então Deus, em Jesus Cristo, e
reconciliou o mundo consigo mesmo, realizando uma redenção
perfeita, eterna. O último resultado dessa eterna redenção, que
completará tudo, será a derrota do Anticristo pelo Cordeiro. Isso é
iminente! Sim, já ouvimos os passos do Anticristo. Pensemos
somente na anarquia que se expande, de modo que os políticos e
estadistas não sabem mais o que fazer. Os povos ficam cada vez
mais ingovernáveis. As autoridades tornam-se desgastadas e
complacentes para entregar o seu poder e autoridade à besta. O
Anticristo dominará a todos, os pequenos e os grandes, os ricos e os
pobres, os livres e os escravos.
O Cordeiro, porém, derrotará o Anticristo, e por isso agora os
cantores reúnem-se no mar de vidro mesclado de fogo para
entoarem o cântico de Moisés e o cântico do Cordeiro, o cântico do
mediador da antiga aliança e o cântico do Mediador da nova aliança.
Foi esse cântico de vitória dos filhos de Deus que os cantores no
mar de vidro entoaram agora, e eles cantam: “Grandes e
maravilhosas são as tuas obras, Senhor Deus todo-poderoso. Justos
e verdadeiros são os teus caminhos, ó Rei das nações. Quem não te
temerá, ó Senhor? Quem não glorificará o teu nome? Pois tu
somente és santo. Todas as nações virão à tua presença e te
adorarão, pois os teus atos de justiça se tornaram manifestos” (v. 3-
4). Pela segunda vez é utilizada a expressão “grande e maravilhoso”,
pois as obras de Deus são atos de redenção para os seus, mas
golpes de juízo para o mundo. No versículo 1, a expressão “grande e
maravilhoso” referia-se ao próprio sinal; no versículo 3 ela refere-se
às obras de Deus. O mundo considera muitas coisas como grandes
que na verdade não são. Quem quiser ver o que é grande no sentido
exato da palavra deve observar as obras de Deus! Delas fazem
parte também os renascidos, pois Efésios 2.10 diz: “... somos
criação de Deus...”. Será que não é algo grandioso e admirável que
ele tenha salvado você e eu? As obras de Deus têm algo de
contraditório para o nosso raciocínio, pois são maravilhosas.
Podemos reconhecê-las em espírito com admiração e adoração,
mas não podemos explicá-las. Que sinal grandioso João viu!
O ângulo visual de João muda novamente; ele recebe outra visão.
Ele vê a origem dos juízos de Deus e a última onda de juízos sobre
esta terra. Abre-se agora a parte interior do céu, o santuário; o
centro da habitação de Deus: “Depois disso olhei e vi que se abriu
nos céus o santuário, o tabernáculo da aliança” (v. 5). Pela primeira
vez João fala do “santuário, o tabernáculo da aliança”. Mesmo que
no capítulo 11.19 ele já tenha visto o céu aberto e a arca da sua
aliança com Israel no santuário, aqui trata-se do “santuário, o
tabernáculo da aliança”. O que é isso? Quando o Deus Onipotente
deu a Moisés, sobre o monte, a incumbência de construir o
tabernáculo e seus utensílios, ele mesmo utilizou três vezes a
expressão “aliança” (Êx 25.16,21,22). Nesta arca revestida de ouro
foram então guardadas as tábuas em que Deus escreveu sua
sagrada lei. Esta aliança divina agora torna-se visível para João. O
céu se abre e a aliança, a lei de Deus, volta-se contra uma
humanidade que rejeitou essa “aliança” da vontade de Deus, e os
últimos juízos de Deus derramam-se sobre ela. O tabernáculo da
aliança é aberto para derramar a ira de Deus sobre a humanidade
culpada. Poderíamos formulá-lo também assim: poderes invisíveis da
eternidade estão transformando-se na terra em grandiosos fatos de
juízo.
Das profundezas do santuário saem sete anjos: “Saíram do
santuário os sete anjos com as sete pragas. Eles estavam vestidos
de linho puro e resplandecente e tinham cinturões de ouro ao redor
do peito” (v. 6). As vestes dos anjos levam à questão de saber se
eles são anjos-sacerdotes. Entretanto, isso é impossível, pois o
Senhor não instituiu anjos, e sim homens, homens da tribo de Levi, no
ministério sacerdotal. O grande Sumo Sacerdote é o homem Jesus
Cristo. Apesar disso, a aparência sacerdotal – “de linho puro e
resplandecente e tinham cinturões de ouro ao redor do peito” – indica
uma tarefa sacerdotal. Em contraste com os sacerdotes, eles não
apresentam um sacrifício substituto, mas são chamados a exercer o
juízo sobre uma humanidade que não tem substituto como sacrifício
de expiação pessoal. Porém, para os habitantes da terra isso é
terrível! Pois “Terrível coisa é cair nas mãos do Deus vivo!” (Hb
10.31). Quando vemos o Cordeiro ensanguentado, sofrendo tão
terrivelmente, então imaginamos algo da seriedade e horror do juízo
divino. Deus nos amou de tal maneira que não poupou o seu amado
Filho unigênito, mas o entregou por nossa causa, para que nós não
nos perdêssemos eternamente. Louvado seja o Senhor, porque
como renascidos podemos estar abrigados em Jesus, de modo que
esse juízo não nos atingirá, porque nele já estamos julgados! Será
que você já compreendeu o quanto necessita da graça de Deus em
Jesus Cristo?
O terrível das sete últimas pragas é que não existe mais
possibilidade de arrependimento, não existe mais salvação. Apesar
dos cantores no mar de vidro louvarem o Senhor, no versículo 4,
dizendo “Pois tu somente és santo”, a palavra “santo” não significa o
mesmo que em outros lugares, como por exemplo em “Santo, santo,
santo é o S dos Exércitos”, onde com “santo” é expressa a
ausência de todo o mal. Ali a palavra “santo” tem sentido de
“misericordioso” ou “perfeito em sua bondade”. No entanto, quando
começarem os juízos não haverá mais substituto e, desse modo,
também não existirá mais misericórdia. Além disso, as vestes dos
sete anjos, que devem ser altos príncipes por saírem do santuário
interior, são um pouco diferentes das vestes dos sumos sacerdotes
terrenos. Por exemplo, o cinto do sumo sacerdote terreno é
diferente: “O cinturão e o colete por ele preso foram feitos da
mesma peça. O cinturão também foi feito de linho fino trançado, de
fios de ouro e de fios de tecido azul, roxo e vermelho, como o
S tinha ordenado a Moisés” (Êx 39.5). Aqui temos, entre
outras, a cor do sangue da reconciliação, que o sacerdote – mais
tarde o grande Sumo Sacerdote – tinha que derramar pelos pecados
do povo. Todavia, nos cintos dos sete anjos falta o elemento do
sangue. Eles são de ouro puro. Os anjos também não usam os
cintos em volta da cintura, mas do peito – seu coração está fechado.
Aqui eles são muito semelhantes ao seu Senhor em sua volta (cap.
1).
“E um dos quatro seres viventes deu aos sete anjos sete taças de
ouro cheias da ira de Deus, que vive para todo o sempre. O
santuário ficou cheio da fumaça da glória de Deus e do seu poder, e
ninguém podia entrar no santuário enquanto não se completassem as
sete pragas dos sete anjos” (v. 7-8). Vimos, nas explicações no
capítulo 4 deste livro, que os quatro seres viventes representam a
jurisdição de Deus. Deus vive de eternidade em eternidade, e sua ira
não pode ser apagada sem o sacrifício substituto do Cordeiro de
Deus. Se lemos que o santuário “ficou cheio da fumaça da glória de
Deus e do seu poder”, de maneira que “ninguém podia entrar no
santuário”, isso nos faz lembrar da consagração do tabernáculo
terreno. Em Êxodo 40.34-35 lemos que até Moisés, que tinha visto
Deus face a face, não podia entrar na Tenda do Encontro por causa
da nuvem da glória de Deus. Quando, mais tarde, foi consagrado o
templo de Salomão, está escrito em 2Crônicas 7 que a nuvem da
glória do Senhor encheu a casa do Senhor, de modo que os
sacerdotes não podiam entrar nela por causa desta glória dele. Em
Apocalipse 15, no entanto, temos diante de nós o dia da explosão da
ira de Deus. “O santuário ficou cheio da fumaça da glória de Deus e
do seu poder, e ninguém podia entrar no santuário...” Poderia ser
dito: não se trata somente da ira, mas da ira final de Deus que se
descarrega aqui: “... ninguém podia entrar no santuário enquanto não
se completassem as sete pragas dos sete anjos”. Portanto, durante
esses últimos juízos ninguém mais podia entrar no templo.
Significado: ninguém mais pode arrepender-se, ninguém mais pode
implorar por graça e exclamar: “Senhor, salva-me”. Por isso: hoje, se
você ouvir a voz dele, não endureça o seu coração! Hoje você ainda
pode implorar por graça. Hoje o santuário no céu ainda não está
fechado. Pelo contrário, pois em Hebreus 10.19-20 está escrito:
“Portanto, irmãos, temos plena confiança para entrar no Lugar
Santíssimo pelo sangue de Jesus, por um novo e vivo caminho que
ele nos abriu por meio do véu, isto é, do seu corpo”. Aproxime-se,
porque em breve virá o momento em que esse santuário será
fechado pela glória do Senhor, de modo que ninguém mais poderá
entrar.
19
As Sete Taças da Ira
(Ap 16.1-21)
D
evemos observar de antemão que essa forte voz, vinda do
santuário do céu, não é a voz de Deus, pois ela diz aos sete
anjos que devem derramar as taças da ira de Deus sobre a
terra. Se fosse a voz de Deus, ela diria: “Vão derramar sobre a terra
as sete taças da minha ira”. Pode-se supor que essa “grande voz”
(RA) procede de um dos quatro seres viventes. Gostaria de lembrar
do capítulo 15.7, onde consta: “E um dos quatro seres viventes deu
aos sete anjos sete taças de ouro cheias da ira de Deus, que vive
para todo o sempre”.
É esclarecedor que justamente neste 16º capítulo é utilizada nove
vezes a palavra “grande”:
Versículo 1: “... uma grande voz...” (RA).
Versículo 9: “... os homens foram queimados com grande calor...”
(BKJ).
Versículo 12: “... sobre o grande rio Eufrates...”.
Versículo 14: “... do grande dia do Deus todo-poderoso”.
Versículo 18: “... e ocorreu grande terremoto” (RA).
Versículo 18b: “... tal foi o terremoto, forte e grande” (RA).
Versículo 19: “A grande cidade...”.
Versículo 21: “... grande saraivada...” (RA).
Versículo 21b: “... seu flagelo era sobremodo grande” (RA).
Essa repetição da palavra “grande” mostra que de fato deve
tratar-se de juízos inimaginavelmente grandes. João sente como seu
vocabulário é insuficiente, e repetidamente balbucia “grande”,
“grande”, “grande”.
Apesar dos sete juízos dos selos e os sete juízos das trombetas
já terem sido terríveis, as sete taças da ira são muito mais, pois
englobam a ira completa de Deus, que não pode mais ser impedida,
derramando-se sobre a terra. O que as distingue das sete trombetas
é o fato de que os sete anjos receberam uma ordem conjunta.
Simplesmente está dito: “Vão derramar sobre a terra as sete taças
da ira de Deus”, enquanto que nos capítulos 8 e 9 tem-se a
impressão de que cada um dos sete anjos com as trombetas
recebeu uma ordem pessoal, assim como cada um dos quatro
cavalos, no capítulo 6, recebeu a ordem de ir ou de vir. No entanto,
no capítulo 16 uma única e alta ordem dá início às últimas pragas:
“Vão...”. Eles devem ir e, um após o outro, derramar as taças sobre
a terra. É como uma invasão. Chama a atenção que as primeiras
quatro taças da ira correspondem exatamente aos efeitos das
primeiras quatro trombetas descritas no capítulo 8, obedecendo
também à mesma ordem. Façamos uma comparação com o capítulo
8:
Capítulo 16 Capítulo 8
N
o capítulo 16.19b nós já lemos a respeito da Babilônia: “Deus
lembrou-se da grande Babilônia e lhe deu o cálice do vinho do
furor da sua ira”. Propositalmente deixei de analisar esse
versículo no capítulo anterior, pois refere-se a outro tema: o juízo
sobre a Babilônia. Deve se tratar de alguém ou de algo muito
abominável, pois essa Babilônia é não somente objeto da ira de
Deus, mas objeto do “furor da sua ira”! No capítulo 14.8 é
proclamada a queda da Babilônia por um anjo de Deus. Aqui, no
capítulo 17, nos é descrito inicialmente o caráter da Babilônia como
cidade. João vê uma mulher assentada no deserto, em meio aos
terríveis juízos dos tempos finais e destruições do mundo. No
versículo 1 a mulher é chamada de “grande prostituta”, e no versículo
5, “A MÃE DAS PROSTITUTAS E DAS PRÁTICAS REPUGNANTES
DA TERRA”. A prostituta Babilônia é o oposto absoluto da noiva do
Cordeiro então arrebatada, a igreja de Jesus, da qual Paulo fala
como um mistério. Também aqui fala-se duas vezes de um mistério:
“Em sua testa havia esta inscrição: MISTÉRIO...” (v. 5). “Eu
explicarei o mistério dessa mulher e da besta...” (v. 7). Conforme o
versículo 1, a mulher está “sentada sobre muitas águas”. O versículo
15 mostra o que são essas águas: “As águas que você viu, onde
está sentada a prostituta, são povos, multidões, nações e línguas”.
Analisemos tudo na sequência como a descrevi em meu livro Nas
Sombras da Futura Guerra Mundial: enquanto Apocalipse 13 nos
descreve o Império Romano restaurado, encabeçado pela besta,
Apocalipse 17 nos mostra algo novo, ou seja, que essa poderosa
besta será guiada por uma mulher. Um contraste repugnante: uma
mulher e uma besta. Afinal, na Escritura a mulher é utilizada como
uma figura da igreja ou, ao menos, uma corporação espiritual. É o
que vemos por exemplo em Apocalipse 12, onde Israel é
representado como mulher. A igreja de Jesus também é
representada como mulher, como a noiva do Cordeiro (Ap 21.9);
enquanto que a igreja mundial sem Cristo é apresentada como a
mulher da besta. Jesus Cristo virá com os seus, mas a besta
também virá com os seus. Em Apocalipse 17 vemos a mulher como
a prostituta “que está sentada sobre muitas águas” (v. 1). Essa
mulher estava “vestida de púrpura e vermelho e adornada de ouro,
pedras preciosas e pérolas” (v. 4). Ela é chamada de “MÃE DAS
PROSTITUTAS” (v. 5). Além disso, ela estava “embriagada com o
sangue dos santos, o sangue das testemunhas de Jesus” (v. 6).
Desse modo sabemos de quem se trata.
Em princípio, nesta mulher desviada não podemos ver nada além
da igreja romana, mesmo que apenas como num embrião; afinal,
nenhum outro poder no mundo corresponde tanto a esse descrito em
Apocalipse 17. Quem conhece a história sabe que a igreja de Roma
tem um passado gravado na história mundial com letras de sangue.
Pensemos nos rios de sangue que clamam ao céu dos inúmeros
valdenses, albigenses, huguenotes etc. Essa mulher derramou o
sangue dos discípulos de Jesus com tamanha crueldade satânica
que os feitos de Nero empalidecem em comparação. Através desse
derramamento de sangue, Satanás conseguiu parar a Reforma na
Itália, França, Espanha, Portugal, Irlanda, Áustria e outros países.
Assim entendemos a expressão do versículo 6 – de que a mulher
está embriagada com o sangue dos santos. A igreja de Roma é a
herdeira da grande Babilônia, tanto com respeito aos mistérios
pagãos, que foram transformados em ritos cristãos, como também
com respeito à perseguição do povo de Deus. O “prostituir-se”
representa a ligação da mulher com a besta, ou seja, com os reis da
terra. Esse é o catolicismo político. Onde existe uma igreja vestida
tanto de vermelho (v. 4) como a católica? E onde existe uma igreja
que leva o nome da cidade que, ao mesmo tempo, lhe serve de
trono? “A mulher que você viu é a grande cidade que reina sobre os
reis da terra” (v. 18). Isso é Roma!
No entanto, não devemos ver apenas a igreja romana! Não, pois
ao mesmo tempo vemos como a igreja protestante (ou reformada),
em suas diferentes ramificações, é cada vez menos capaz de resistir
ao poder de Roma. Pelo contrário, através do Conselho Mundial de
Igrejas ela se aproxima cada vez mais. Realmente, a igreja mundial
unida toma formas cada vez mais claras; ela é a mulher, a grande
Babilônia! Por isso é muito mais precioso o fato de se perceber um
despertamento espiritual justamente entre os católicos: muitos estão
perguntando pela verdade e chegando a Jesus, o que resulta numa
terrível contradição, na qual dentro da igreja católica – cuja doutrina
é mentirosa – surge um grandioso anseio de alguns pela verdade.
Enquanto isso, nas igrejas protestantes reunidas em suas diversas
denominações no Conselho Mundial de Igrejas, que pensam ter a
verdade, verifica-se um claro desvio, ou seja, o afastamento de
membros de Jesus Cristo. Desse modo, aqueles católicos que amam
seu Salvador são nossos irmãos e irmãs em Jesus Cristo, e estão
mais próximos de nós do que os protestantes modernos e apóstatas.
O que dizemos de Roma vale, portanto, para o sistema, para a
doutrina, mas não para as ovelhas dentro dessa igreja, que procuram
a Jesus e querem segui-lo. A essas dizemos: “Fujam da Babilônia
para não morrerem em suas maldades”. Deixem-me frisar: falo do
cada vez mais forte catolicismo político e da politização do Conselho
Mundial de Igrejas. Ambas as coisas andam juntas e são um anúncio
do Armagedom. Pode-se vê-lo também da seguinte maneira: o
Armagedom lança suas sombras diante de si, pois, enquanto por um
lado a igreja católica perde cada vez mais em substância religiosa,
por outro ela ganha em força política e expansão. Onde existe uma
igreja como ela, que tanto aproveitou e aproveita a “política
oportunista”, adaptando-se a qualquer forma de governo? Mas não
somente isso. A igreja romana tirou dos crentes o cálice de
agradecimento e, em lugar dele, deu-lhes o cálice das abominações:
ela substituiu o sacrifício do Gólgota pelo sacrifício sem sangue da
hóstia na missa. Ela colocou Maria, que foi repreendida por Jesus
quando quis intrometer-se em sua obra (Jo 2), como rainha do céu
no lugar do único Intercessor e Mediador. Não nos enganemos,
apesar da igreja romana não ser ainda membro do Conselho Mundial
da Igrejas, ela será cada vez mais o fator dominante desse bloco
religioso, pois, conforme a palavra profética, segundo a qual a
mulher receberá enorme poder político, devemos esperar que a
igreja romana, inclusive o Conselho Mundial de Igrejas,
experimentará um grandioso progresso. Esse fato em si é abalador.
Consternados, porém, ficam os crentes que são obrigados a assistir
como a maioria da igreja de Jesus não reconhece esse terrível
desenvolvimento, mas já segue o caminho da mistura – agora em
nova forma sob o lema da unificação “evangélica”.
A mulher, a grande prostituta, é também a cidade da Babilônia: “A
mulher que você viu é a grande cidade que reina sobre os reis da
terra” (v. 18). A cidade da Babilônia é citada sete vezes no
Apocalipse (14.8; 17.18; duas vezes em 18.10; v. 16,19,21).
Babilônia, a mulher imoral, é suficientemente caracterizada pela
própria interpretação dada no Apocalipse, pois está sentada sobre
sete colinas (v. 9) e está embriagada com o sangue dos santos e
com o sangue das testemunhas de Jesus (v. 6). Por isso, todos os
intérpretes da Escritura que não se entregaram a explicações
alegóricas disseram unanimemente desde o princípio da cristandade,
através de todos os séculos e em todas as confissões: a mulher,
Babilônia, é uma figura da cidade de Roma, e Roma é o Império
Romano. Até que ponto ela se refere exclusivamente a Roma, as
opiniões divergem.
Os católicos e alguns racionalistas entendem que se trata da
antiga Roma pagã. A igreja evangélica ensina que se trata da Roma
que mais tarde se tornou cristã, ou seja, da Roma papal. As razões
para a última opinião são: 1) Não se pode tratar da antiga Roma pois
a profecia do Apocalipse não foi cumprida nela. 2) Desde o seu
desvio do evangelho (eu repito), a Roma que mais tarde tornou-se
cristã tem todas as características que o Apocalipse atribui à
Babilônia. Trata-se ainda da antiga cidade de sete colinas que
domina o mundo; porém, agora estende seus braços para mais longe
que a antiga dominadora mundial pagã. O mundo todo, assim ensina-
se em Roma, é destinado à igreja cristã: Roma é a igreja-mãe,
mestra e regente de toda a igreja cristã. Roma exige obediência
completa, não somente em assuntos espirituais, mas indiretamente
também em assuntos mundanos (Ap 17.18). Roma nunca desistiu
desse objetivo final. Não é por acaso que o amável papa viaja pelo
mundo todo. De acordo com a palavra profética, ainda assistiremos
no futuro a um grandioso avanço romano. Isso acontecerá em
conjunto com a unificação política e militar da Europa, com a
restauração do Império Romano. Roma em si é fraca; porém, ela
será carregada por uma potência mundial – a besta. Roma será
sustentada pelo poder anticristão, e seus nomes dominarão o
mundo. Desse modo, o poder da mulher é maior que o do maior
trono real. Isso não é alcançado pelo poder das armas, mas pelo
vinho da sua prostituição – superstição, falsa política, moral
totalmente corrupta etc. – através do qual o mundo (os príncipes
deste mundo) fica embriagado.
Quando teve essa visão, João foi tomado de espanto e comoção:
“Quando a vi, fiquei muito admirado” (v. 6b). Ele não consegue
compreender o que viu. Por que João ficou tão admirado e abalado?
Porque ele, o discípulo de Jesus, vê a mulher que foi uma vez noiva!
Originalmente, essa mulher foi uma noiva fiel, submissa ao Senhor
Jesus – mas ela transformou-se em uma prostituta! A primeira igreja,
a igreja primitiva, era uma igreja cheia do Espírito Santo – mas ela
transformou-se em uma prostituta. João admira-se muito, mas o que
ele vê é a continuação da decadência da igreja de Laodiceia.
Portanto, a mulher é, inicialmente do ponto de vista global, toda a
cristandade apóstata dos tempos finais que não será arrebatada.
Haverá então uma religião unificada, uma igreja unificada.
Quantas vezes os profetas advertiram Israel a respeito da
prostituição espiritual, do afastamento de Deus (cf. Ez 16; Jr 3 etc.)
Aqui, porém, trata-se de prostituição espiritual no mais elevado grau,
pois a igreja mundial então existente, a mulher, une-se em todos os
sentidos com a besta. Sim, durante algum tempo acontecerá, como
vimos, que a mulher dirigirá a besta; a igreja mundial unificada se
tornará então visível em seu desdobramento do poder político.
Quando observamos como o Conselho Mundial de Igrejas sustenta
movimentos terroristas, através do qual se cria o paradoxo de os
contribuintes das igrejas financiarem seus próprios carrascos, já
reconhecemos atualmente um pouco desse poder. O espírito da
mulher, esse espírito de prostituição espiritual, já está agindo entre
os cristãos. Com grande angústia temos que ver que muitos em
nossa proximidade foram atingidos por esse espírito de prostituição,
pois o espírito dessa mulher, dessa mãe das prostitutas, começa a
oferecer seu cálice cheio de abominações e imundícias que tem na
mão, como está escrito no versículo 4.
Você, que é crente no Senhor Jesus Cristo mas ficou morno e
firmou compromissos com o espírito deste mundo: você está em
grande perigo, pois a origem de toda a prostituição espiritual é o
abandono do primeiro amor pelo Senhor! Em sua testa é visível o
sinal “Consagrado ao S ”, como era o caso com o sumo
sacerdote Arão? Você está selado com o Espírito Santo? Ou já
brilha em sua testa o horror como da mulher: “Em sua testa havia
esta inscrição: MISTÉRIO: BABILÔNIA, A GRANDE; A MÃE DAS
PROSTITUTAS E DAS PRÁTICAS REPUGNANTES DA TERRA” (v.
5). Segundo o meu entendimento, essas são as palavras que
correspondem aos três algarismos – 666 (cf. 13.16-18). O desligar-
se de Jesus Cristo, do seu domínio, da sua vitória, da sua luz, já
torna-se atualmente visível em proporções assustadoras, sendo que
muitos se entregam ao espírito anticristão. Se você reconhece que
pertence a essas pessoas, que pratica a prostituição espiritual, volte
então a Jesus Cristo! Conceda o Senhor que sobre a sua vida não
precise estar escrita a terrível palavra de juízo que lemos em
Jeremias 3.3: “Mas você, apresentando-se declaradamente como
prostituta, se recusa a corar de vergonha”.
21
O Desdobramento do Império Romano
Anticristão
(Ap 17.7-18)
“Os dez chifres que você viu são dez reis que ainda não
receberam reino, mas que por uma hora receberão, com a besta,
autoridade como reis. Eles têm um único propósito e darão seu
poder e sua autoridade à besta. Pois Deus pôs no coração deles o
desejo de realizar o propósito que ele tem, levando-os a concordar
em dar à besta o poder que eles têm para reinar até que se
cumpram as palavras de Deus” (v. 12-13,17). Duas vezes é utilizada
aqui a palavra “propósito”. Realiza-se, portanto, uma união
sobrenatural, sinistra, uma concentração de poder mundial como
nunca existiu antes, em cuja liderança estará a besta. Todavia, seu
tempo é limitado! “... por uma hora”, diz o versículo 12.
Os dez reis, os vassalos da besta, são, assim, administradores do
Império Romano e têm “um único propósito” (v. 13). Os contrastes
políticos, ideológicos, racistas e culturais serão então deixados de
lado. Os governantes do organismo formado pelas dez estruturas de
Estado são todos unidos em seu ódio contra o Cordeiro. Pode-se
compará-lo com a unidade das nações árabes: apesar de serem
cronicamente desunidas entre si, elas são unidas em seu ódio contra
o povo de Israel, contra o povo em que o Cordeiro alcançou sua
vitória, e a terra em que Jesus voltará. A sinistra unidade política,
econômica e, principalmente, militar dos dez reis será realizada
repentinamente, e novamente se ouvirá, como no tempo de Hitler,
mas então mundialmente, o clamor por “um povo, um reino, um
líder”. Repito: tudo isso é dirigido contra o Cordeiro! O Cordeiro,
porém, aparecerá com seus chamados, eleitos e fiéis. Os
“chamados” são aqueles que foram chamados para a vida eterna e
para a igreja de Jesus. Os “eleitos” são os israelitas que se tornaram
crentes, venceram e estão na glória. Os “fiéis” são os crentes de
todos os tempos. O Cordeiro voltará com esses glorificados. Ele
aparecerá em grande poder e glória como Senhor dos senhores e
Rei dos reis! O Cordeiro não precisa primeiro obter a vitória, pois já
venceu na cruz do Gólgota!
Os exércitos de Satanás transformaram-se em instrumentos na
mão de Deus para destruir Roma (ou seja, a Babilônia ímpia); para
arrasar e saquear a cidade das abominações idólatras: “A besta e
os dez chifres que você viu odiarão a prostituta. Eles a levarão à
ruína e a deixarão nua, comerão a sua carne e a destruirão com
fogo” (v. 16). Desse modo, até mesmo o Anticristo precisará servir
como instrumento do juízo de Deus, para julgar a mulher, a grande
prostituta. Disso conclui-se que, no final, o poder das trevas também
tem que realizar a vontade de Deus!
22
A Destruição da Babilônia
(Ap 18.1-24)
1Depois disso vi outro anjo que descia dos céus. Tinha grande
autoridade, e a terra foi iluminada por seu esplendor. 2E ele
bradou com voz poderosa: “Caiu! Caiu a grande Babilônia! Ela se
tornou habitação de demônios e antro de todo espírito imundo,
antro de toda ave impura e detestável, 3pois todas as nações
beberam do vinho da fúria da sua prostituição. Os reis da terra se
prostituíram com ela; à custa do seu luxo excessivo os
negociantes da terra se enriqueceram”. 4Então ouvi outra voz dos
céus que dizia: “Saiam dela, vocês, povo meu, para que vocês
não participem dos seus pecados, para que as pragas que vão
cair sobre ela não os atinjam! 5Pois os pecados da Babilônia
acumularam-se até o céu, e Deus se lembrou dos seus crimes.
6Retribuam-lhe na mesma moeda; paguem-lhe em dobro pelo que
fez; misturem para ela uma porção dupla no seu próprio cálice.
7Façam-lhe sofrer tanto tormento e tanta aflição como a glória e o
luxo a que ela se entregou. Em seu coração ela se vangloriava:
‘Estou sentada como rainha; não sou viúva e jamais terei tristeza’.
8Por isso num só dia as suas pragas a alcançarão: morte, tristeza
e fome; e o fogo a consumirá, pois poderoso é o Senhor Deus
que a julga. 9Quando os reis da terra, que se prostituíram com ela
e participaram do seu luxo, virem a fumaça do seu incêndio,
chorarão e se lamentarão por ela. 10Amedrontados por causa do
tormento dela, ficarão de longe e gritarão: ‘Ai! A grande cidade!
Babilônia, cidade poderosa! Em apenas uma hora chegou a sua
condenação!’ 11Os negociantes da terra chorarão e se lamentarão
por causa dela, porque ninguém mais compra a sua mercadoria:
12artigos como ouro, prata, pedras preciosas e pérolas; linho fino,
púrpura, seda e tecido vermelho; todo tipo de madeira de cedro e
peças de marfim, madeira preciosa, bronze, ferro e mármore;
13canela e outras especiarias, incenso, mirra e perfumes; vinho e
azeite de oliva, farinha fina e trigo; bois e ovelhas, cavalos e
carruagens, e corpos e almas de seres humanos. 14Eles dirão:
‘Foram-se as frutas que tanto lhe apeteciam! Todas as suas
riquezas e todo o seu esplendor se desvaneceram; nunca mais
serão recuperados’. 15Os negociantes dessas coisas, que
enriqueceram à custa dela, ficarão de longe, amedrontados com
o tormento dela, e chorarão e se lamentarão, 16gritando: ‘Ai! A
grande cidade, vestida de linho fino, de roupas de púrpura e
vestes vermelhas, adornada de ouro, pedras preciosas e pérolas!
17Em apenas uma hora, tamanha riqueza foi arruinada!’ Todos os
pilotos, todos os passageiros e marinheiros dos navios e todos os
que ganham a vida no mar ficarão de longe. 18Ao verem a fumaça
do incêndio dela, exclamarão: ‘Que outra cidade jamais se
igualou a esta grande cidade?’ 19Lançarão pó sobre a cabeça e,
lamentando-se e chorando, gritarão: ‘Ai! A grande cidade! Graças
à sua riqueza, nela prosperaram todos os que tinham navios no
mar! Em apenas uma hora ela ficou em ruínas! 20Celebrem o que
se deu com ela, ó céus! Celebrem, ó santos, apóstolos e profetas!
Deus a julgou, retribuindo-lhe o que ela fez a vocês’”. 21Então um
anjo poderoso levantou uma pedra do tamanho de uma grande
pedra de moinho, lançou-a ao mar e disse: “Com igual violência
será lançada por terra a grande cidade de Babilônia, para nunca
mais ser encontrada. 22Nunca mais se ouvirá em seu meio o som
dos harpistas, dos músicos, dos flautistas e dos tocadores de
trombeta. Nunca mais se achará dentro de seus muros artífice
algum, de qualquer profissão. Nunca mais se ouvirá em seu meio
o ruído das pedras de moinho. 23Nunca mais brilhará dentro de
seus muros a luz da candeia. Nunca mais se ouvirá ali a voz do
noivo e da noiva. Seus mercadores eram os grandes do mundo.
Todas as nações foram seduzidas por suas feitiçarias. 24Nela foi
encontrado sangue de profetas e de santos, e de todos os que
foram assassinados na terra”.
o capítulo 17 nós vimos que o aspecto religioso do império
anticristão – a mãe das prostitutas, que é ao mesmo tempo também
N
a grande cidade – é destruído pelos dez reis e pela besta.
Aqui no capítulo 18, a grande Babilônia, ou seja, o império
anticristão, em sua grandeza política e econômica, é julgada
pelo próprio Deus. É disso que fala o versículo 8: “Por isso num só
dia as suas pragas a alcançarão: morte, tristeza e fome; e o fogo a
consumirá, pois poderoso é o Senhor Deus que a julga”.
Como consequência, neste capítulo a imagem da prostituta
Babilônia, o sistema religioso do império anticristão, desaparece. A
prostituta, a equivalente da mulher celestial, Israel (cf. 12.1), e a
cidade da Babilônia, a equivalente da Jerusalém celestial, estão
destruídas. Quando lemos no versículo 10: “Amedrontados por
causa do tormento dela, ficarão de longe e gritarão: ‘Ai! A grande
cidade! Babilônia, cidade poderosa! Em apenas uma hora chegou a
sua condenação!’”, surge a questão de saber se realmente devemos
pensar em uma reconstrução da Babilônia, e se essa cidade será
então a capital do mundo. Existem comentaristas que pensam assim.
Outros dizem que a Babilônia significa a cidade de Roma, pois trata-
se do império romano anticristão. Não posso concordar nem com
uma nem com a outra versão, pois, como a prostituta do capítulo 17
representa o sistema religioso apóstata do império anticristão,
segundo o meu entendimento, a grande cidade da Babilônia no
capítulo 18 representa o sistema político e econômico. O que, pois,
é uma grande cidade? No fundo, uma cidade é um ajuntamento de
massas humanas opostas a Deus, com um claro objetivo demoníaco.
É o que vemos na construção da primeira cidade – que foi Babel!
Então os homens disseram: “Vamos construir uma cidade, com uma
torre que alcance os céus. Assim nosso nome será famoso e não
seremos espalhados pela face da terra” (Gn 11.4). Eles também
poderiam ter dito: “Queremos impedir que aconteça a vontade de
Deus”. Na verdade, Deus queria que os homens povoassem e
enchessem a terra e se multiplicassem (Gn 1.28). Portanto, não
apenas partes da terra, mas a terra toda devia ser habitada. Por
isso, em princípio, grandes cidades são contra a vontade de Deus.
Sua origem é Babel. Por isso o Senhor fez edificar em Jerusalém um
polo oposto, onde através de Jesus Cristo foi aberto o caminho do
alto para baixo na cruz do Gólgota.
Devemos ver claramente que a grande cidade da Babilônia citada
aqui representa todo o império anticristão, com sua infraestrutura
tecnológica, e é dirigida para o serviço do falso deus, ou seja, do
falso cristo – do Anticristo. A seguir apresento duas razões que
mostram que não devemos pensar numa cidade, mas num reino para
o império anticristão:
“Depois disso vi outro anjo que descia dos céus” (v. 1). Deve-se
observar bem esse “depois”, que aparece frequentemente no
Apocalipse, porque cremos, com base nessas declarações e
semelhantes, na cronologia sequencial dos juízos. Esse terrível
período de juízo é chamado de “dia do Senhor” e significa, ao
mesmo tempo, a volta do Senhor. Tendemos a querer explicar que
esse dia do Senhor, esse período de juízos, que corresponde à
última semana de anos de Daniel, irá durar exatamente sete anos.
No entanto, é bem possível que a volta do Senhor, o seu “dia”, que é
anunciado por esses juízos, abrangerá um período mais longo.
Vamos recapitular o que sabemos exatamente:
“E ele bradou com voz poderosa” (v. 2). Somos levados a pensar
no Salmo 29.4: “A voz do S é poderosa”. Por isso, certamente
não erramos se vemos o Senhor Jesus Cristo como sendo esse
poderoso anjo, e ficamos ainda mais certos quando lemos
Apocalipse 16.19: “Deus lembrou-se da grande Babilônia e lhe deu o
cálice do vinho do furor da sua ira”. Deus mesmo vai julgar e o Filho
de Deus, Jesus Cristo, será o executor do juízo.
Esse segundo juízo sobre a Babilônia (vimos o primeiro no cap.
17) virá, portanto, diretamente de Deus, através de Jesus Cristo: “E
ele bradou com voz poderosa: ‘Caiu! Caiu a grande Babilônia! Ela se
tornou habitação de demônios e antro de todo espírito imundo, antro
de toda ave impura e detestável” (v. 2). Aqui anuncia-se mais uma
vez, em alta voz – agora pela boca do Senhor – a queda, ou seja, a
destruição da Babilônia que se realizará através de uma catástrofe
inimaginável: através de um incêndio mundial. Como diz o “anjo”, ou
seja, o Senhor, a Babilônia mundial é “habitação de demônios e antro
de todo espírito imundo, antro de toda ave impura e detestável”, e
isso desde os acontecimentos de Apocalipse 12. Ali lemos: “Houve
então uma guerra nos céus. Miguel e seus anjos lutaram contra o
dragão, e o dragão e os seus anjos revidaram” (12.7). Então
acontece algo inédito: “O grande dragão foi lançado fora. Ele é a
antiga serpente chamada Diabo ou Satanás, que engana o mundo
todo. Ele e os seus anjos foram lançados à terra” (12.9). Isso
acontecerá no período do arrebatamento. Do arrebatamento fala-se
então no versículo 12 do mesmo capítulo: “Portanto, celebrem-no, ó
céus, e os que neles habitam! Mas ai da terra e do mar, pois o Diabo
desceu até vocês! Ele está cheio de fúria, pois sabe que lhe resta
pouco tempo”.
Podemos ilustrar esses acontecimentos, especialmente o
arrebatamento, com uma balança: em um prato encontra-se a igreja
de Jesus na terra (embaixo), no outro estão os poderes das trevas
(nas regiões celestiais): “Pois a nossa luta não é contra seres
humanos, mas contra os poderes e autoridades, contra os
dominadores deste mundo de trevas, contra as forças espirituais do
mal nas regiões celestiais” (Ef 6.12). Quando acontecer o
arrebatamento, o prato da balança em que a igreja de Jesus se
encontra subirá para o alto. Ao mesmo tempo, porém, os poderes do
Diabo, os poderes das trevas, serão atirados para a terra. Então a
terra estará literalmente endemoninhada. Na mesma época será
também aberto o poço do Abismo: “O quinto anjo tocou a sua
trombeta, e vi uma estrela que havia caído do céu sobre a terra. À
estrela foi dada a chave do poço do Abismo. Quando ela abriu o
Abismo, subiu dele fumaça como a de uma gigantesca fornalha... Da
fumaça saíram gafanhotos que vieram sobre a terra...” (9.1-3; ver
pág. 192) Os demônios virão para a terra do alto e de baixo. Assim,
toda a terra, toda a Babilônia mundial, será uma morada de
demônios, espíritos imundos e aves impuras. Não é surpresa que
então será impossível testemunhar impunemente de Jesus. Também
não é surpresa que o Senhor já falou a Daniel que esse será um
tempo como não tem havido e nem haverá jamais. Os resultados, do
fato de que então todo o inferno com seus habitantes ocupará a
terra, são inimagináveis, pois, por se apossarem dos homens, esses
poderes governarão. Será exatamente como Gênesis 7 descreve o
Dilúvio: “... todas as fontes das grandes profundezas jorraram, e as
comportas do céu se abriram. As águas dominavam cada vez mais a
terra, e foram cobertas todas as altas montanhas debaixo do céu” (v.
11,19). Assim, toda a terra estará coberta de poderes demoníacos.
Se em Apocalipse 18.2 o Senhor exclama duas vezes que a
Babilônia caiu, podemos entendê-lo da seguinte maneira: o primeiro
“caiu” refere-se ao mistério da prostituição (cap. 17), ao falso culto
sem Jesus Cristo; o segundo “caiu”, à “grande Babilônia”, na qual
esse sistema é executado na prática. Trata-se da maldição sobre a
luxúria do bem-estar e da riqueza, pois no versículo 3 está escrito:
“... à custa do seu luxo excessivo os negociantes da terra se
enriqueceram”. É surpreendente o quanto nossa situação atual
assemelha-se à de Apocalipse 18, pois temos atualmente quatro
potências no mundo: o islamismo, o cristianismo, a política mundial e
a economia mundial. Todas as quatro estão estreitamente
entrelaçadas. Assim os reis desta terra, os estadistas, praticam
prostituição espiritual por causa do comércio, fazendo mesuras
diante do islamismo. Efraim já foi acusado, em Oseias 12.1, de
praticar idolatria e, ao mesmo tempo, levar azeite para o Egito:
“Efraim alimenta-se de vento; corre atrás do vento oriental o dia
inteiro e multiplica mentiras e violência. Faz tratados com a Assíria e
manda azeite para o Egito”. Portanto, já nos tempos antigos Israel
praticava prostituição espiritual, idolatria, por causa do comércio. A
política atual faz mesuras diante do islamismo e diante do
cristianismo nominal. A atual economia mundial é estruturada de tal
maneira que se inclina diante do islamismo, às custas de Sião.
Pensemos nas medidas árabes de boicote que pretendem fazer os
políticos ceder. Nos versículos 11-14 são enumerados todos os
produtos e riquezas: “Os negociantes da terra chorarão e se
lamentarão por causa dela, porque ninguém mais compra a sua
mercadoria: artigos como ouro, prata, pedras preciosas e pérolas;
linho fino, púrpura, seda e tecido vermelho; todo tipo de madeira de
cedro e peças de marfim, madeira preciosa, bronze, ferro e
mármore; canela e outras especiarias, incenso, mirra e perfumes;
vinho e azeite de oliva, farinha fina e trigo; bois e ovelhas, cavalos e
carruagens, e corpos e almas de seres humanos. Eles dirão: ‘Foram-
se as frutas que tanto lhe apeteciam! Todas as suas riquezas e todo
o seu esplendor se desvaneceram; nunca mais serão recuperados’”.
Todas essas coisas serão destruídas pela grande catástrofe do
incêndio mundial. Devemos considerar também diversos fatos
tecnológicos e econômicos. Em primeiro lugar, a variedade de
produtos feitos de petróleo. Em segundo lugar, as indizíveis riquezas
que são ajuntadas em virtude do comércio mundial – negando-se a
Jesus Cristo: “Os reis da terra se prostituíram com ela; à custa do
seu luxo excessivo os negociantes da terra se enriqueceram. Os
negociantes dessas coisas, que enriqueceram à custa dela, ficarão
de longe, amedrontados com o tormento dela, e chorarão e se
lamentarão” (v. 3b,15). Se atualmente os estadistas “cristãos” fazem
concessões diante daqueles que têm poder sobre as fontes de
energia e desse modo sobre seus inúmeros subprodutos, então
sabemos que já nos encontramos em meio a essa Babilônia mundial.
Apesar dos gigantescos aviões, necessita-se de grandes navios, ou
seja, navios-petroleiros, e consequentemente também de muitos
marinheiros. Lemos deles nos versículos 17-18: “Todos os pilotos,
todos os passageiros e marinheiros dos navios e todos os que
ganham a vida no mar ficarão de longe. Ao verem a fumaça do
incêndio dela, exclamarão: ‘Que outra cidade jamais se igualou a
esta grande cidade?’”. Isso tudo é ardentemente atual!
Enquanto agora a prostituição político-econômica mundial se
alastra, ao mesmo tempo a humanidade é inundada por ondas de
imoralidade, pornografia, homossexualismo e prostituição. Vendo tais
coisas, imaginamos algo da grave afirmação do versículo 5: “Pois os
pecados da Babilônia acumularam-se até o céu, e Deus se lembrou
dos seus crimes”. Entre as mercadorias do versículo 13 são citados
também “corpos e almas de seres humanos”. Nos tempos antigos,
tratava-se de vendas de escravos. Se o vemos atualmente na
realização profética, trata-se da prostituição carnal e perversa
daqueles que “venderam” seus corpos e assim também suas almas.
Antes, porém, que as poderosas palavras de juízo do anjo divino,
que é o próprio Jesus Cristo, se cumpram sobre essa Babilônia, uma
outra voz – será a voz de Deus? – diz do céu: “Então ouvi outra voz
dos céus que dizia: ‘Saiam dela, vocês, povo meu, para que vocês
não participem dos seus pecados, para que as pragas que vão cair
sobre ela não os atinjam!” (v. 4). O “povo meu” é Israel. É evidente
que então os israelitas ainda estarão envolvidos no comércio
mundial. No entanto, eles são exortados: “Saiam dela, vocês, povo
meu”, porque já terá sido alcançado o estágio em que esse povo não
se chamará mais Lo-Ami, que significa “não meu povo”, mas sim
“meu povo”. Então se cumprirá de maneira comovente o que lemos
em Jeremias 50.4-7: “‘Naqueles dias e naquela época’, declara o
S , ‘o povo de Israel e o povo de Judá virão juntos, chorando e
buscando o S , o seu Deus. Perguntarão pelo caminho para
Sião e voltarão o rosto na direção dela. Virão e se apegarão ao
S numa aliança permanente que não será esquecida. Meu
povo tem sido ovelhas perdidas; seus pastores as desencaminharam
e as fizeram perambular pelos montes. Elas vaguearam por
montanhas e colinas e se esqueceram de seu próprio curral. Todos
que as encontram as devoram. Os seus adversários disseram: “Não
somos culpados, pois elas pecaram contra o S , sua
verdadeira pastagem, o S , a esperança de seus
antepassados”’”. Em outras palavras: os judeus mereceram a sua
sorte. É o que os nazistas também diziam!
No versículo seguinte de Jeremias 50 o Senhor exorta Israel:
“Fujam da Babilônia; saiam da terra dos babilônios e sejam como os
bodes que lideram o rebanho” (v. 8). Também em Isaías 48.20 o
Senhor os exorta a deixar a Babilônia: “Deixem a Babilônia, fujam do
meio dos babilônios! Anunciem isso com gritos de alegria e
proclamem-no. Enviem-no aos confins da terra; digam: O S
resgatou seu servo Jacó”. Ainda existem mais passagens do tipo no
Antigo Testamento, nas quais Israel é exortado a fugir da Babilônia.
Aqui em Apocalipse 18 ouve-se pela última vez: “Saiam dela, vocês,
povo meu”. Trata-se da exortação de sair do sistema anticristão.
Israel estará então diante da sua conversão nacional.
Nos versículos 6-8 de Apocalipse 18 é descrita de maneira
abaladora a velocidade da execução desse juízo mundial, desse
incêndio mundial: “Retribuam-lhe na mesma moeda; paguem-lhe em
dobro pelo que fez; misturem para ela uma porção dupla no seu
próprio cálice. Façam-lhe sofrer tanto tormento e tanta aflição como
a glória e o luxo a que ela se entregou. Em seu coração ela se
vangloriava: ‘Estou sentada como rainha; não sou viúva e jamais terei
tristeza’. Por isso num só dia as suas pragas a alcançarão...”. Um
juízo como nunca antes existiu nesta extensão! A Babilônia mundial
receberá sofrimento e tormentos na medida do seu esplendor e do
seu pecado. Os filhos de Deus experimentam o inverso: sua
tribulação é transformada em glória: “Pois os nossos sofrimentos
leves e momentâneos estão produzindo para nós uma glória eterna
que pesa mais do que todos eles” (2Co 4.17). O versículo 7b de
Apocalipse 18 fala da segurança própria e arrogante do império
anticristão; essa segurança própria que muitas vezes percebemos
atualmente também em pessoas do mundo, que se comportam como
se fossem viver eternamente: “Estou sentada como rainha; não sou
viúva e jamais terei tristeza”.
Duas afirmações mostram a rapidez do juízo sem igual de Deus:
“... num só dia” (v. 8) e “em apenas uma hora, tamanha riqueza foi
arruinada!” (v. 17). Alguns, leigos e cientistas, percebem a
aproximação dessa catástrofe mundial. É por isso que vivemos em
uma época marcada pelo medo. O que faz com que milhões de
pessoas em nossos dias continuem se movendo constantemente,
nem sempre de forma racional? Trata-se de um espírito de agitação,
que instiga a pisar no acelerador e, assim, à fuga. Estes são
sintomas que mostram que atualmente o homem pressente o que se
aproxima. Em Apocalipse 18.19 fala-se dos sobreviventes: “Lançarão
pó sobre a cabeça e, lamentando-se e chorando, gritarão: ‘Ai! A
grande cidade! Graças à sua riqueza, nela prosperaram todos os
que tinham navios no mar! Em apenas uma hora ela ficou em
ruínas!’”.
Os versículos 9-10 descrevem o grande choro que então tomará
conta dos reis, ou seja, dos políticos: “Quando os reis da terra, que
se prostituíram com ela e participaram do seu luxo, virem a fumaça
do seu incêndio, chorarão e se lamentarão por ela. Amedrontados
por causa do tormento dela, ficarão de longe e gritarão: ‘Ai! A
grande cidade! Babilônia, cidade poderosa! Em apenas uma hora
chegou a sua condenação!’”. Não somente os políticos, mas também
os homens de negócios vão chorar: “Os negociantes da terra
chorarão e se lamentarão por causa dela, porque ninguém mais
compra a sua mercadoria” (v. 11). Chocante! Não se trata de
lágrimas de arrependimento que eles choram diante de Deus. Não,
eles soluçam porque suas mercadorias e toda a infraestrutura estão
sendo destruídas. Sua tranquilidade transforma-se repentinamente
em pânico, e eles irrompem a dizer: “Ai!... Ai!”. Três vezes é dito “em
apenas uma hora” (v. 10,17,19). Na terra haverá então altos
lamentos, choro, gritos, pânico louco. Todavia, no céu é ouvido o
chamado à santa alegria: “Celebrem o que se deu com ela, ó céus!
Celebrem, ó santos, apóstolos e profetas! Deus a julgou, retribuindo-
lhe o que ela fez a vocês” (v. 20). Se está escrito “o que ela fez a
vocês”, devemos lembrar que está escrito: “Vocês não sabem que os
santos hão de julgar o mundo?” (1Co 6.2). Os vencedores de Tiatira
também têm essa promessa. Os anjos do céu e os santos, entre
eles especialmente os apóstolos e profetas, têm todos os motivos
para irromperem agora em alto júbilo, pois Deus executou o seu juízo
contra a Babilônia, isto é, decidiu sua causa contra a Babilônia em
favor de si. A injustiça do mundo anticristão, que por muito tempo
ficou sem castigo, e o direito dos crentes até então encoberto foram
agora levados para a clara luz de Deus e revelados diante do mundo
todo. Por isso, todo o céu deve louvar a Deus em alta voz. Esse
louvor vai até o capítulo 19. Antes, porém, a Babilônia é lançada
como que simbolicamente, mas também realmente, no Abismo pelo
primeiro anjo, que é Jesus Cristo, pois ele, cheio de grande poder e
resplandecente glória, já anunciou essa queda no versículo 2.
Finalmente, há outro anjo que tem algo a dizer e fazer na última
hora do mundo já em chamas: “Então um anjo poderoso levantou
uma pedra do tamanho de uma grande pedra de moinho, lançou-a ao
mar e disse: ‘Com igual violência será lançada por terra a grande
cidade de Babilônia, para nunca mais ser encontrada’” (v. 21).
Notável! Esse é o cumprimento daquilo que Jeremias ordenou a
Seraías (cf. Jr 51.59-63). Seraías precisava ler o livro onde estavam
escritos os juízos sobre a Babilônia, atá-lo a uma pedra e lançá-lo no
meio do Eufrates. A justificativa para esse procedimento simbólico
era: “Assim Babilônia afundará para não mais se erguer, por causa
da desgraça que trarei sobre ela” (Jr 51.64). Esse juízo é executado
aqui em Apocalipse 18: a Babilônia é lançada fora como uma pedra
jogada no fundo do mar; tão radical será a destruição! Quando esse
juízo tiver sido executado sobre a humanidade anticristã, haverá
então um silêncio apavorante sobre a terra escura e morta.
É o que os versículos 22-24 descrevem: “Nunca mais se ouvirá em
seu meio o som dos harpistas, dos músicos, dos flautistas e dos
tocadores de trombeta”. Toda a expressão de alegria e prazer de
viver terá acabado. “Nunca mais se achará dentro de seus muros
artífice algum, de qualquer profissão.” Não se ouvirá mais nenhum
barulho de trabalho ativo. “Nunca mais se ouvirá em seu meio o ruído
das pedras de moinho.” Não será mais moída a farinha para uso
diário. Como pulsava antes a vida nessa Babilônia mundial, quer seja
no júbilo do prazer, no barulho da indústria ou nos lamentos e
gemidos dos miseráveis e cansados. Agora, porém, domina um
silêncio mortal. “Nunca mais brilhará dentro de seus muros a luz da
candeia.” Que fartura de luz havia antes, inclusive de noite, no
esplendoroso mundo da Babilônia! Todavia, também não surgirá mais
nova vida. “Nunca mais se ouvirá ali a voz do noivo e da noiva.” Não
se festejará mais nenhum casamento, não se fundará mais famílias;
a vida não florescerá mais. A Babilônia mundial estará
completamente deserta. Um juízo de incomum severidade! Ele,
porém, não pode ser mais ameno. O anjo o justifica de maneira
tripla: 1) “Seus mercadores eram os grandes do mundo.” A Babilônia
rebaixou os grandes da terra para serem seus mercadores,
utilizando-os de maneira inexprimivelmente pecaminosa. Atualmente
já vemos isso frequentemente na política; 2) “Todas as nações foram
seduzidas por suas feitiçarias.” A Babilônia atraiu, enganou e
embriagou as massas com a sua feitiçaria e prostituição, também
através de verdadeira feitiçaria do inferno, que será amplamente
praticada pelo Anticristo e pelos seus profetas. (Lembro-me do
capítulo 13.) Portanto, ela fascinou as nações. Esses dois primeiros
fatos são descritos de maneira semelhante no capítulo 17.2: “Com
quem os reis da terra se prostituíram; os habitantes da terra se
embriagaram com o vinho da sua prostituição”; e 3) “Nela foi
encontrado sangue de profetas e de santos, e de todos os que
foram assassinados na terra.” Em última análise, não somente o
sangue dos mártires, que foi derramado de maneira inigualável pela
Babilônia, mas todo o sangue inocente de toda a história mundial, em
todos os lugares e épocas, deve ser atribuído e vingado na
Babilônia. O espírito assassino, que no decorrer de toda a história
humana revelou-se uma vez aqui e outra vez ali em diversos atos
assustadores, encheu sua medida de maldade e culpa e recebe seu
castigo na Babilônia. E isso com toda razão, pois desde os seus
pequenos começos, imediatamente após a Queda da humanidade,
até o seu maior desenvolvimento, a Babilônia mundial transformou-se
no império do Anticristo. Seu caráter final é o da Babilônia. Nesse
caráter aparece o espírito do império mundial em seu
desenvolvimento pleno e em toda a sua culpa. Sobre esse caráter é
realizado o castigo por toda a culpa de todo o império mundial de
todos os tempos e todos os lugares.
Agora foi realizado o terrível juízo que também já tinha sido
anunciado por um anjo no capítulo 14.8. O chocante é: a humanidade
já percebe atualmente o que está por vir, e deve-se imaginar que
essa hora de aniquilamento – quando quer que ela venha – é um
ponto fixo na consciência do ser humano, algo como um objetivo das
suas vidas para o qual tudo se dirige. Todavia, não é nada disso!
Nada no mundo foi ignorado tão decidida e meticulosamente – e é
continuamente ignorado – como o pensamento no seu fim. Até hoje
ele nunca penetrou realmente na consciência dos homens, pois de
outro modo teríamos, há muito, um despertamento mundial. Essa
ignorância é fruto de um esforço muito grande, se considerarmos
quantas vezes e de que maneira minunciosa os homens foram
lembrados, pela Palavra de Deus e pelo Espírito Santo, a respeito
dessa hora, e isso com uma clareza que não deixa nada a desejar. É
como se tivessem tentado esclarecer esses fatos para dar
propósito, sentido e direção às suas vidas, conduzindo-os a Jesus
Cristo. Se o fato de que a terra será aniquilada fosse a base em que
as pessoas edificassem sua vida, muitas coisas seriam bem
diferentes. No entanto, que a terra terá um fim foi reprimido até hoje
na consciência dos homens, e estamos mais longes do que nunca de
um despertamento mundial. Os homens não aceitaram a Verdade
como verdadeira e, com isso, ludibriaram-se na questão essencial da
sua existência, isto é, quanto ao entendimento de que a vida aqui na
terra nada mais é do que avançar para o momento em que tivermos
que comparecer diante de Deus.
Talvez você pertença àqueles que, salvo melhor entendimento,
tendem a crer que de modo nenhum lhes pode acontecer qualquer
coisa? Muitos creem nas coisas mais inacreditáveis, se forem
positivas! Quero mostrar o efeito desse estranho fenômeno através
de um exemplo especialmente drástico: o Titanic era considerado um
navio absolutamente incapaz de afundar. Mesmo quando já estava
afundando, ele ainda era considerado – mais ainda naquele momento
– incapaz de afundar. Será que foi a fé na técnica ou num milagre
que cegou os passageiros para aquilo que estava acontecendo?
Certamente também o comportamento do comando teve alguma
influência, mas não se deve supor que seria possível convencer as
pessoas de algo que elas mesmas não gostariam de acreditar. O
comando na ponte escondeu todas as notícias sobre a verdadeira
situação; não queriam assustar as pessoas. Pode-se imaginar que
também na ponte de comando a verdade não queria ser aceita,
confiando na capacidade da técnica e, além disso, esperando o
milagre de que as comportas (paredes transversais internas à prova
d’água no navio) aguentassem. Desse modo, transmitiam-se notícias
interessantes, apimentadas aqui e ali com anedotas, e navegava-se
alegremente para a destruição. Como atualmente! As comportas se
romperam uma após a outra, e o casco do navio se encheu de água.
Irrompeu o pânico; tudo aconteceu com enorme rapidez. Era o
inferno – era o “fim do mundo”. Os barcos salva-vidas saíram em
parte vazios e dois terços dos passageiros foram arrastados para as
profundezas pelo navio. Assim foi o naufrágio do Titanic! Foi da
mesma forma como será mundialmente com a Babilônia; como já é