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Wim Malgo

APOCALIPSE
J C

1ª Edição
2020
Offenbarung Jesu Christi
Copyright © 1980, 1996 por Verlag Mitternachtsruf
Ringwiesenstrasse 12a
CH 8600 Dübendorf
www.mitternachtsruf.ch
Todos os direitos reservados para os países de língua portuguesa.
Copyright © 1999, 2018 por Chamada
1ª Edição para eBook – Maio/2020
ISBN eBook: 978-65-990601-4-4
É proibida a reprodução em quaisquer meios sem a expressa permissão da editora, salvo para breves
citações com a indicação da fonte.
Tradutor: Ingo Haak e
Revisão: Arthur Reink e
Edição: Sebastian Steiger
Capa: Tobias Steiger
Layout: Stefan Yuri Wondracek
Adaptação para eBook: Stefan Yuri Wondracek
Salvo indicação em contrário, todas as passagens da Escritura foram extraídas da Bíblia Sagrada, Nova
Versão Internacional, NVI®, copyright © 1993, 2000, 2011 por Biblica, Inc. Todos os direitos reservados
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Dedicado à minha querida mulher e fiel companheira de lutas,
Johanna Maria Malgo-Schouten.
Sumário
PREFÁCIO
INTRODUÇÃO
1. EIS QUE ELE VEM COM AS NUVENS
2. JESUS CRISTO E A IGREJA EM GLÓRIA
3. AS CARTAS ÀS SETE IGREJAS
A Primeira Carta do Céu (Ap 2.1-7)
A Segunda Carta do Céu (Ap 2.8-11)
A Terceira Carta do Céu (Ap 2.12-17)
A Quarta Carta do Céu (Ap 2.18-29)
A Quinta Carta do Céu (Ap 3.1-6)
A Sexta Carta do Céu (Ap 3.7-13)
A Sétima Carta do Céu (Ap 3.14-22)
4. UMA MAGNÍFICA VISÃO DO CÉU
João é Arrebatado ao Céu em Espírito
Os Vinte e Quatro Anciãos
Os Sete Espíritos de Deus
O Mar de Vidro
Os Quatro Seres Viventes
5. O CORDEIRO E O LIVRO SELADO
A Adoração do Cordeiro
6. O CORDEIRO ABRE OS SELOS
O Primeiro Selo (Ap 6.1-2)
O Segundo Selo (Ap 6.3-4)
O Terceiro Selo (Ap 6.5-6)
O Quarto Selo (Ap 6.7-8)
O Quinto Selo (Ap 6.9-11)
O Sexto Selo (Ap 6.12-17)
7. A SELAGEM DOS CENTO E QUARENTA E QUATRO MIL
8. A GRANDE E INCONTÁVEL MULTIDÃO E O SÉTIMO SELO
A Grande e Incontável Multidão (Ap 7.9-17)
O Sétimo Selo (Ap 8.1-5)
9. AS TROMBETAS DE JUÍZO
Introdução (Ap 8.6)
A Primeira Trombeta de Juízo (Ap 8.7)
A Segunda Trombeta de Juízo (Ap 8.8-9)
A Terceira Trombeta de Juízo (Ap 8.10-11)
A Quarta Trombeta de Juízo (Ap 8.12)
O Tríplice “ai dos...” (Ap 8.13)
A Quinta Trombeta de Juízo (Ap 9.1-12)
A Sexta Trombeta de Juízo (Ap 9.13-21)
10. O OUTRO ANJO PODEROSO COM O LIVRO
11. A MEDIÇÃO DO TEMPLO DE DEUS
12. AS DUAS TESTEMUNHAS
13. A SÉTIMA TROMBETA
14. A PROTEÇÃO DE ISRAEL NA GRANDE TRIBULAÇÃO
15. A REVELAÇÃO DO ANTICRISTO
16. O CORDEIRO E OS CENTO E QUARENTA E QUATRO MIL NO MONTE SIÃO
17. A VISÃO DO ARMAGEDOM
18. OS CANTORES NO MAR DE VIDRO
19. AS SETE TAÇAS DA IRA
Introdução (Ap 16.1)
A Primeira Taça da Ira (Ap 16.2)
A Segunda e Terceira Taças da Ira (Ap 16.3-7)
A Quarta Taça da Ira (Ap 16.8-9)
A Quinta Taça da Ira (Ap 16.10-11)
A Sexta Taça da Ira (Ap 16.12-16)
A Sétima Taça da Ira (Ap 16.17-21)
20. O JUÍZO SOBRE A BABILÔNIA
21. O DESDOBRAMENTO DO IMPÉRIO ROMANO ANTICRISTÃO
22. A DESTRUIÇÃO DA BABILÔNIA
23. O TRIUNFO SOBRE A QUEDA DA BABILÔNIA
24. O CASAMENTO DO CORDEIRO
25. A VOLTA DE JESUS CRISTO
26. A DERROTA DO ANTICRISTO: ARMAGEDOM EM REALIZAÇÃO
27. A PRISÃO DE SATANÁS
28. O REINO DE PAZ MILENAR
29. A PRIMEIRA RESSURREIÇÃO
30. A ÚLTIMA SEDUÇÃO E O FIM DE SATANÁS
31. O JUÍZO FINAL DEPOIS DO MILÊNIO
O Tribunal de Cristo
32. O NOVO CÉU E A NOVA TERRA
33. A GLÓRIA DA NOVA JERUSALÉM
34. AMÉM. VEM, SENHOR JESUS!
APÊNDICES
1 - Nota Sobre o Céu Aberto
2 - Observações Sobre o Discipulado de Jesus
Prefácio
O Apocalipse de Jesus Cristo: provavelmente não há outro livro da
Bíblia em que encontramos tantas opções de interpretações e
esclarecimentos como justamente neste último livro da Bíblia. Há
muitas interpretações sérias e boas disponíveis, vários estudiosos da
Bíblia – até os dias de hoje – se envolveram com este livro durante
anos: como compreender essas coisas, para quem este livro fala, a
que época se refere... Para muitos leitores da Bíblia, o livro do
Apocalipse é de difícil compreensão, sendo que muitos desistem de
estudá-lo com seriedade. No entanto, já no versículo 3 observamos
que vale a pena estudá-lo. A Bíblia é a Palavra Viva de Deus, Deus
nos fala através dela. Ali está escrito: “Feliz aquele que lê as
palavras desta profecia e felizes aqueles que ouvem e guardam o
que nela está escrito, porque o tempo está próximo” (Ap 1.3). Como
já foi dito, apenas essa afirmação e essa promessa já seriam
motivos suficientes para ler, estudar e se preocupar com o livro do
Apocalipse.
Lembro-me ainda de quando meu pai, há muitos anos, começou a
explicar e interpretar o livro do Apocalipse. Eu estava na
adolescência e, falando sinceramente, era muito difícil para mim
compreender e acompanhar tudo isso. E hoje, olhando para o
passado e diante dessa interpretação, fico muito agradecido que
meu pai fez este grande trabalho. Esta obra não tem a pretensão de
ser a única correta, mas muito antes, de servir de incentivo ao leitor
da Bíblia e de ajuda para que ele mesmo estude e pesquise: “...
examinando todos os dias as Escrituras, para ver se tudo era assim
mesmo” (At 17.11). Neste sentido, querido(a) leitor(a), desejo que
essa interpretação se torne uma grande bênção e que esse
interessantíssimo livro, Apocalipse de Jesus Cristo, lhe ajude a
entender melhor e o anime a estudar o livro do Apocalipse, pois
neste último livro da Bíblia podemos ver claramente: Deus está no
comando e tem tudo sob o seu controle. Seu plano de salvação se
cumpre e ele chegará ao objetivo, tanto com você pessoalmente,
como com sua igreja e com seu povo eleito, Israel.
Encerro citando o versículo 7 do último capítulo de Apocalipse:
“Eis que venho em breve! Feliz é aquele que guarda as palavras da
profecia deste livro”.
Jonathan Malgo
Diretor da Chamada da Meia-Noite na Suíça
Dübendorf, agosto de 2016
Introdução
No livro do Apocalipse é o próprio Deus escrevendo a história. Deus
é o Eterno e para ele tudo – passado, presente e futuro – é eterno
presente, ou seja, ele escreve a história do futuro. Desse modo, para
Deus, os negros tempos finais, o grande drama humano, já estão
presentes e realizados. João viu o contexto eterno a partir dessa
elevada perspectiva. Admitimos a divisão cronológica do Apocalipse
apenas condicionalmente. Condicionalmente porque a eternidade, por
um lado, não pode ser classificada no tempo, mas, por outro, realiza-
se no tempo. Aí o raciocínio, que quer ter tudo ordenado segundo a
lógica humana, entra em conflito com dois fatos opostos: com o
conselho eterno de Deus, que está estabelecido, e com sua
realização temporal, ou seja, nos tempos finais. A igreja de Jesus é
um organismo, o corpo de Cristo. No entanto, também o livro do
Apocalipse representa um organismo.nota 1
Na estrutura do Apocalipse não encontramos uma simples
recapitulação (repetição). Em nenhum lugar é repetido algo que já
tenha sido dito em qualquer capítulo. Pelo contrário, trata-se de
apresentações do fim deste mundo, “ordenadas em grupos, cujos
círculos não correspondem nem coincidem exatamente, mas se
interseccionam e sobr epõem. Assim como a qualquer momento os
acontecimentos se sucedem, trazendo em si os anteriores e os
seguintes, preparando e formando-os, de modo que os novos
englobam os anteriores, mas são sua sequência – até a revelação
de todos os mistérios que contêm desde o princípio” (R. Schmitz).
Além disso, defendemos a interpretação literal do Apocalipse, não
a simbólica ou alegórica. Contudo, quando no Apocalipse são
utilizadas alegorias, ou seja, figuras e símbolos, isso é dito
claramente, como com a palavrinha “como”. Assim, por exemplo, diz
no capítulo 10.1: “... como o sol”, ou no capítulo 9.5: “... como a da
picada do escorpião” ou, também, no capítulo 12.1: “Apareceu no
céu um sinal extraordinário”.
O Apocalipse é a “Revelação de Jesus Cristo” (1.1). Ele revela,
portanto, a pessoa de Jesus Cristo, e somente ele é o conteúdo do
futuro! No grego, a língua em que foi escrito o Novo Testamento, é
usada a expressão “Apocalipse” para “Revelação de Jesus Cristo”.
Da revelação de Jesus Cristo também lemos em 1Coríntios 1.7: “...
enquanto vocês esperam que o nosso Senhor Jesus Cristo seja
revelado”. Ali também é usada a mesma palavra grega, como
também em 2Tessalonicenses 1.7: “Isso acontecerá quando o
Senhor Jesus for revelado lá dos céus”. O mesmo diz também
1Pedro 1.7: “... quando Jesus Cristo for revelado”. No mesmo
capítulo Pedro diz, no versículo 13: “... na graça que será dada a
vocês quando Jesus Cristo for revelado”. O Senhor Jesus também
usa essa expressão, em Lucas 17.30: “... no dia em que o Filho do
homem for revelado”. Todas essas são descrições idênticas para
apocalipse ou a revelação de Jesus Cristo.
O último livro da Bíblia é o único livro totalmente profético do Novo
Testamento e está muito relacionado aos profetas do Antigo
Testamento, ampliando e aprofundando suas mensagens, pois o
maior cumprimento de toda a profecia bíblica está no centro do
Apocalipse. E o que seria o maior cumprimento da profecia bíblica?
Não um povo ou mesmo povos e também não acontecimentos, mas
uma pessoa: Jesus Cristo! Desse modo, o Cordeiro de Deus
encontra-se no centro do Apocalipse. Por isso é também muito
necessário observar a expressão “cordeiro”. O cordeiro mostra-nos
o Filho de Deus em sua obra na cruz do Gólgota. Notável, e
maravilhoso ao mesmo tempo, é que temos no Apocalipse um
sétuplo desdobramento do caráter e da obra do Cordeiro. Isso não
quer dizer que o Cordeiro é citado somente sete vezes. Não, no
original o Cordeiro é citado vinte e oito vezes no Apocalipse – isso é
quatro vezes sete! O sétuplo desdobramento do caráter e da obra
do Cordeiro é representado por:

1. O sangue do Cordeiro. “E, quando [o Cordeiro] tomou o


livro, os quatro seres viventes e os vinte e quatro anciãos
prostraram-se diante do Cordeiro... e entoavam novo
cântico, dizendo:... foste morto e com o teu sangue
compraste para Deus os que procedem de toda tribo,
língua, povo e nação” (5.8-9, RA). No capítulo 7.14
igualmente encontramos esse pensamento: “Respondi:
Senhor, tu o sabes. E ele disse: ‘Estes são os que vieram
da grande tribulação, que lavaram as suas vestes e as
alvejaram no sangue do Cordeiro’”. E mais uma vez, no
capítulo 12.11: “Eles o venceram pelo sangue do
Cordeiro...”.
2. O livro da vida do Cordeiro. Este é citado duas vezes no
Apocalipse: “Todos os habitantes da terra adorarão a besta,
a saber, todos aqueles que não tiveram seus nomes escritos
no livro da vida do Cordeiro que foi morto desde a criação
do mundo” (13.8). “Nela jamais entrará algo impuro, nem
ninguém que pratique o que é vergonhoso ou enganoso, mas
unicamente aqueles cujos nomes estão escritos no livro da
vida do Cordeiro” (21.27).
3. Os apóstolos do Cordeiro. Deles lemos no capítulo 21.14:
“O muro da cidade [da nova Jerusalém] tinha doze
fundamentos, e neles estavam os nomes dos doze
apóstolos do Cordeiro”.
4. A noiva do Cordeiro. Ela é citada em Apocalipse 21.9:
“Venha, eu mostrarei a você a noiva, a esposa do Cordeiro”.
5. O casamento do Cordeiro. “Regozijemo-nos! Vamos
alegrar-nos e dar-lhe glória! Pois chegou a hora do
casamento do Cordeiro, e a sua noiva já se aprontou”
(19.7).
6. O trono do Cordeiro. Em Apocalipse 22.3 está escrito: “Já
não haverá maldição nenhuma. O trono de Deus e do
Cordeiro estará na cidade, e os seus servos o servirão”.
7. A ira do Cordeiro. “Eles gritavam às montanhas e às
rochas: ‘Caiam sobre nós e escondam-nos da face daquele
que está assentado no trono e da ira do Cordeiro!’” (6.16).
Essa ira do Cordeiro será terrível para todo o mundo.

Portanto, vemos: a mensagem central do livro do Apocalipse é a


revelação do Cordeiro de Deus. Pois esse é, na verdade, o objetivo
de toda a Bíblia. Ela foi escrita e nos foi dada para que
reconheçamos Jesus Cristo, pois essa é a vida eterna. Nesse
contexto fica claro também que no Apocalipse fala-se àqueles que
pertencem ao Cordeiro: comprados pelo seu precioso sangue. Como
destinatários são citados, em primeiro lugar, seus servos:
“Revelação de Jesus Cristo, que Deus lhe deu para mostrar aos
seus servos o que em breve há de acontecer” (1.1). Em seguida, as
sete igrejas: “João às sete igrejas da província da Ásia... ‘Escreva
num livro o que você vê e envie a estas sete igrejas’” (1.4,11). Deve
ser lembrado que os capítulos 2 e 3 são dirigidos a sete igrejas
locais. E, no final do livro, o Senhor Jesus mesmo diz: “Eu, Jesus,
enviei o meu anjo para dar a vocês este testemunho concernente às
igrejas” (22.16). Essa é uma das razões porque reconheci
interiormente a necessidade de me apresentar à Igreja com este
último livro da Bíblia. Não devemos negligenciar o Apocalipse, pois
ele dá uma grandiosa visão geral profética sobre todo o plano de
salvação neotestamentário: da vinda de Jesus à terra até o seu
maior triunfo, até o novo céu e a nova terra. É falsa modéstia dizer
simplesmente: “Não entendemos isso”, como li em um livro de 1935
sobre o Apocalipse: “Admitamos humildemente que não o
entendemos”. Contudo, no Apocalipse está escrito: “O testemunho
de Jesus é o espírito de profecia” (19.10). Portanto, não se pode
pregar Jesus Cristo, o crucificado, sem ao mesmo tempo transmitir a
palavra profética. Se não pregarmos a palavra profética, não
pregamos toda a mensagem da Bíblia.
O autor de Apocalipse é João, o discípulo “a quem Jesus amava”
(Jo 13.23). Conforme o capítulo 1.9, ele estava banido na ilha de
Patmos (uma pequena ilha no mar Egeu) por causa da Palavra de
Deus. Tudo indica que João escreveu esse livro no início do seu
ministério, porque o grego é muito menos fluente do que o grego do
seu evangelho e de suas cartas, que, por conseguinte, apareceram
mais tarde.
Ouçamos, portanto, com coração humilde e em oração o que o
Senhor nos diz e vejamos o que ele nos mostra!
1
Eis Que Ele Vem Com as Nuvens
(Ap 1.1-7)

1Revelação de Jesus Cristo, que Deus lhe deu para mostrar aos
seus servos o que em breve há de acontecer. Ele enviou o seu
anjo para torná-la conhecida ao seu servo João, 2que dá
testemunho de tudo o que viu, isto é, a palavra de Deus e o
testemunho de Jesus Cristo. 3Feliz aquele que lê as palavras
desta profecia e felizes aqueles que ouvem e guardam o que nela
está escrito, porque o tempo está próximo. 4João, às sete igrejas
da província da Ásia: A vocês, graça e paz da parte daquele que
é, que era e que há de vir, dos sete espíritos que estão diante do
seu trono 5e de Jesus Cristo, que é a testemunha fiel, o
primogênito dentre os mortos e o soberano dos reis da terra. Ele
nos ama e nos libertou dos nossos pecados por meio do seu
sangue, 6e nos constituiu reino e sacerdotes para servir a seu
Deus e Pai. A ele sejam glória e poder para todo o sempre!
Amém. 7Eis que ele vem com as nuvens, e todo olho o verá, até
mesmo aqueles que o traspassaram; e todos os povos da terra se
lamentarão por causa dele. Assim será! Amém.

O último livro da Bíblia muitas vezes é chamado erradamente de


“Apocalipse de João”. No entanto, não é esse o título que o autor
lhe deu. Pelo contrário, conforme o versículo 1, o livro chama-se
“Revelação de Jesus Cristo”. Devemos lembrar disso claramente:
“Revelação de Jesus Cristo, que Deus lhe deu para mostrar aos
seus servos o que em breve há de acontecer. Ele enviou o seu anjo
para torná-la conhecida ao seu servo João”. Assim, esse livro não
está cheio de revelações, em forma de comunicações, que o Senhor
vivo deu a João por intermédio de um anjo. A tal conclusão pode
chegar somente aquele que lê o primeiro versículo superficialmente.
O livro do profeta Zacarias é dessa forma, no sentido de a
comunicação ser através de revelações. O profeta Zacarias era um
jovem ao qual o anjo explicou, entre outros, quem era um homem
montado num cavalo vermelho e quem o seguia (Zc 1.9ss). No
Apocalipse, porém, trata-se da manifestação gradual e progressiva
do Senhor Jesus Cristo, no seu julgamento e no seu poder e glória
salvíficos! Isso vale na verdade para toda a Bíblia, pois ela foi escrita
com o objetivo de revelar-nos Jesus Cristo. Foi o que o próprio
Senhor Jesus disse enquanto andou na terra: “Vocês estudam
cuidadosamente as Escrituras, porque pensam que nelas vocês têm
a vida eterna. E são as Escrituras que testemunham a meu respeito”
(Jo 5.39). Se um filho de Deus nunca leu toda a Bíblia, então ele
também nunca viu o Cristo todo! Em contraste com outros livros do
Antigo e do Novo Testamento, onde vemos revelado o Salvador, o
Filho de Deus, o Rei e o Senhor, o Apocalipse nos revela o Senhor
que está voltando e, por isso, ele é figuradamente a coroa da
Sagrada Escritura. Ele nos mostra o Senhor que está voltando em
sua realização do conselho de Deus. Justamente por esse motivo, o
livro do Apocalipse é também o livro do consolo para a igreja nos
tempos finais, que são os crentes de hoje. Se não temos luz sobre a
palavra profética, então vemos somente um grande caos e as
maquinações e astúcias do inimigo, que nos cercam. Pois quanta
falsidade procede do inferno! Contudo, em meio a essas
insuportáveis trevas dos tempos finais, foi-nos dado um livro que se
chama “Apocalipse” = “Revelação”. Os juízos terríveis que se
abatem sobre este mundo e são mostrados no Apocalipse servem
para preparar o caminho, ou seja, preparar o mundo para a
revelação visível de Jesus Cristo. Não se trata, portanto, somente do
homem ganhar o que merece, ou seja, juízo, e que se realize a
justiça de Deus, mas da preparação do caminho.
Este também é o caso na sua vida pessoal: quando o Senhor leva
você através de juízos como doenças, aflições psicológicas,
decepções etc., então isso tem somente um objetivo: retirar do seu
coração o entulho do pecado, para que Jesus Cristo possa revelar-
se mais clara e gloriosamente em você e através de você!
“Eis que ele vem com as nuvens...” (v. 7). Esse é o cerne, a
verdadeira mensagem do Apocalipse! João nos mostra Jesus como
o Senhor real, a quem Deus deu todos os juízos e todo o poder no
céu e na terra. Tudo está nas mãos de Jesus! Depois de ter
solucionado definitivamente a questão da culpa da humanidade na
cruz do Gólgota, agora, no fim dos tempos, será resolvida a questão
do poder.
Para os filhos de Deus é um fato maravilhoso que, pela fé, ambas
as questões em princípio já estão resolvidas, isto é: o Senhor Jesus
já nos purificou e redimiu da culpa do pecado pelo seu sangue, e
também nos redimiu do poder do pecado. “Pois o pecado não os
dominará” (Rm 6.14). Do que ainda não estamos livres é da
presença do pecado, do pecado em nós. “Sei que nada de bom
habita em mim, isto é, em minha carne” (Rm 7.18a). Através desse
fato se explica porque crentes às vezes tornam-se verdadeiros
monstros. Eles ainda não estão sob o domínio do Espírito de Deus.
No entanto, a vitória existe! Paulo exclama: “Mas graças a Deus, que
nos dá a vitória por meio de nosso Senhor Jesus Cristo” (1Co
15.57).
Qual é o fundamento da sua volta? Seu amor. Por causa do seu
amor ele comprou para si a igreja com o próprio sangue. Como é
grandioso observar quando Apocalipse 1.5 é dito em um só fôlego:
“E de Jesus Cristo, que é a testemunha fiel, o primogênito dentre os
mortos e o soberano dos reis da terra. Ele nos ama e nos libertou
dos nossos pecados por meio do seu sangue”. De acordo com nosso
pensamento natural, isso deveria ser diferente: primeiro lavado e,
então, amado. No entanto, é justamente o contrário: ele nos amou
primeiro! Ele nos amou quando ainda estávamos em imundície e
pecado; homens do mundo, que eram seus inimigos e seguiam
coisas diabólicas.
O resultado desse amor inefavelmente grande e inimaginável:
depois que nos lavou com seu sangue, também “nos constituiu reino
e sacerdotes para servir a seu Deus e Pai. A ele sejam glória e
poder para todo o sempre! Amém” (v. 6). E, logo a seguir, vem a
promessa: “Eis que ele vem...” (v. 7a).
Por que, depois que nos convertemos, nós ainda temos de ficar
aqui na terra? Não seria melhor ir logo para a glória?! A profunda
razão da nossa permanência aqui na terra é que devemos tornar
visível a vitória de Cristo até a sua revelação. Essa é a nossa tarefa
temporária, até que a questão do poder seja solucionada por ele
mesmo, visivelmente. Por isso temos essa aparente contradição em
Hebreus 2.8: “Tudo sujeitaste debaixo dos seus pés. Ao lhe sujeitar
todas as coisas, nada deixou que não lhe estivesse sujeito. Agora,
porém, ainda não vemos que todas as coisas lhe estejam sujeitas”.
Por que ainda não as vemos? Porque ainda estamos na terra. No
entanto, somos os portadores da vitória; levamos o estandarte de
Jesus. Nesse meio tempo – entre a sua primeira e sua segunda
vinda – temos a responsabilidade de aplicar a vitória de Jesus. Paulo
disse isso magistralmente: “Graças, porém, a Deus, que, em Cristo,
sempre nos conduz em triunfo e, por meio de nós, manifesta em todo
lugar a fragrância do seu conhecimento” (2Co 2.14 RA). Em outras
palavras: antes de revelar-se visivelmente, ele se revela através de
nós. Aqui Paulo utiliza uma figura da vida dos antigos gregos. Os
vencedores de torneios, as “olimpíadas” de então, eram conduzidos
em triunfo pela arena, sob os aplausos retumbantes de milhares de
espectadores. Eles eram, como diz Paulo, coroados com uma coroa
corruptível. E ele continua dizendo que quem tem Jesus no coração é
sempre conduzido em triunfo, manifestando assim a fragrância do
seu conhecimento. Isso quer dizer, a realidade da vitória de Jesus é
espalhada em todos os lugares. Qual é a situação, dessa questão,
no seu local de trabalho? A sua profissão, se elevada ou humilde,
não tem importância nesse caso. Interessa somente ser conduzido
“em triunfo”, e que em todo lugar que você entrar em contato com
pessoas você manifeste a fragrância do conhecimento dele. Paulo
fala também de sua experiência pessoal: “Quando lhe agradou
revelar o seu Filho em mim” (Gl 1.15b-16a).
Contudo, não está mais longe o tempo em que o Senhor se
revelará pessoalmente, e isso diante dos olhos de todo o mundo:
“Eis que ele vem... e todo olho o verá...” (v. 7). Essa revelação do
Senhor Jesus acontecerá em rápida sequência. Está escrito, por
exemplo, no capítulo 1.1: “... o que em breve há de acontecer...”, ou
no capítulo 3.11: “Venho em breve...”. No último capítulo da Bíblia,
em Apocalipse 22, isso é dito até quatro vezes: “... para mostrar aos
seus servos as coisas que em breve hão de acontecer” (v. 6); “Eis
que venho em breve!” (v. 7); “Eis que venho em breve!” (v. 12); “Sim,
venho em breve!” (v. 20). É esclarecedor que a palavra grega, que
na maioria das traduções é reproduzida como “em breve” ou “sem
demora”, significa duas coisas. Primeira, do ponto de vista do plano
de salvação: ele vem em breve, pois mil anos são para o Senhor
como um dia e um dia como mil anos. Ele agora já está “dois dias”
longe; portanto, virá em breve! Além disso, ela significa também que
a revelação do Senhor Jesus Cristo será repentina, portanto, sem
interrupção, quando o tempo do fim começar – e ele já começou!
Entre os diversos acontecimentos dos tempos finais, não há mais
longos períodos de desenvolvimentos silenciosos. É o que vemos
com nossos próprios olhos. Vivemos agora no período do qual a
Escritura diz que foi tirada a paz da terra. Dessa rápida sequência da
sua volta o Senhor já falou através do profeta Isaías: “Eu sou o
S ; na hora certa farei que isso aconteça depressa” (60.22b).
Em Romanos 9.28 está escrito: “Pois o Senhor executará na terra a
sua sentença, rápida e definitivamente”. O mundo não tem mais
intervalo para descanso. É como se os acontecimentos no Oriente
Médio se acelerassem cada vez mais.
Se agora analisarmos mais uma vez o primeiro versículo do
Apocalipse, então percebemos que João deve mostrar essa
revelação de Jesus Cristo segundo a vontade de Deus aos seus
servos.
Quem é um servo ou uma serva de Deus? É um filho de Deus que
subordinou sua vontade à vontade do Senhor; que é obediente a ele.
O salmista pergunta: “Que é o homem, para que com ele te
importes?” (Sl 8.4), mas, justamente quando somos servos ou servas
de Deus, temos grande significado aos seus olhos. Nada nos separa
tanto do Deus vivo como nossa maldita vontade própria e nada nos
une mais com ele do que sua amorosa vontade salvadora em Jesus
Cristo.
Portanto, principalmente nos tempos finais, servos e servas de
Deus não devem desconhecer o que Deus fará no final do tempo da
graça: o Senhor eliminará o domínio de Satanás e todos os poderes
satânicos e anticristãos, estabelecendo seu glorioso reino de paz!
Consequentemente, o Apocalipse não é, como se afirma
frequentemente, um livro fechado com sete selos, mas um livro
aberto, sendo uma orientação e um fortalecimento da fé no Senhor
Jesus para os servos e servas de Deus em meio às trevas dos
tempos finais. Por isso, o Senhor diz a João, no final do Apocalipse,
justamente o contrário daquilo que disse a Daniel, ou seja: “Não sele
as palavras da profecia deste livro, pois o tempo está próximo”
(22.10). Em outras palavras: quero tê-lo aberto. A todo o que
pesquisar nele deve ser revelado. Ao profeta Daniel, porém, que
recebeu suas profecias aproximadamente 650 anos antes, o Senhor
diz: “Tu, porém, Daniel, encerra as palavras e sela o livro, até ao
tempo do fim; muitos o esquadrinharão, e o saber se multiplicará”
(Dn 12.4 RA). Nesse “tempo do fim” vivemos hoje, motivo porque o
saber se multiplica. Pela sua graça, o Senhor nos transmite muito
saber sobre a palavra profética. Agora, no entanto, cumpre-se a
palavra da Escritura que tanto gostamos de ler na época do advento:
“Levante-se, refulja! Porque chegou a sua luz, e a glória do S
raia sobre você. Olhe! A escuridão cobre a terra, densas trevas
envolvem os povos, mas sobre você raia o S , e sobre você se
vê a sua glória” (Is 60.1-2). No plano de salvação, isso se realiza
primeiro com Israel e então com a igreja de Jesus. Encontramo-nos
em meio ao advento do plano de salvação! “Eis que ele vem com as
nuvens...” Você, no entanto, não deve se assustar com a escuridão,
pois quanto mais escura a noite, tanto mais próxima está a manhã!
Assim está escrito em Isaías 21.12: “Logo chega o dia, mas a noite
também vem”.
“Eis que ele vem com as nuvens”, isso significa: ele vem com a
igreja em glória. Mas também poderíamos dizer assim: então ele
rompe toda dificuldade e escuridão. Chegou a sua hora de assumir o
poder. Tudo se torna luz. Quando se fala na vinda de Jesus, então as
palavras simplesmente não são suficientes. Esse “Eis que ele vem” é
um poderoso trovejar que ecoa de nuvem em nuvem, enchendo todo
o céu e abalando a terra. Exatamente assim essa boa nova do “Eis
que ele vem” enche toda a Bíblia. De livro em livro ela ecoa, sempre
mais poderosamente, em nossos ouvidos e em nossa consciência.
Daniel viu o Senhor em sua volta: “... vi alguém semelhante a um filho
de homem, vindo com as nuvens dos céus...” (Dn 7.13b). Então ele
diz, nos versículos 14 e 27, que o reino a ser estabelecido será
eterno e que pertencerá ao povo dos santos, a Israel: “Ele recebeu
autoridade, glória e o reino; todos os povos, nações e homens de
todas as línguas o adoraram. Seu domínio é um domínio eterno que
não acabará... Então a soberania, o poder e a grandeza dos reinos
que há debaixo de todo o céu serão entregues nas mãos dos santos,
o povo do Altíssimo. O reino dele será um reino eterno, e todos os
governantes o adorarão e lhe obedecerão”.
O Senhor mesmo garante a sua volta em Mateus 24.30: “... e
verão o Filho do homem vindo...”. Ele não diz “com as nuvens”, mas
“nas nuvens”. Ele vem envolto em grande poder e glória para o juízo
sobre as nações. Todos o verão, gritarão e lamentarão: “Então eles
dirão aos montes: ‘Cubram-nos!’, e às colinas: ‘Caiam sobre nós!’”
(Os 10.8b). No entanto, será em vão! Quando o Senhor Jesus subiu
ao céu, está escrito expressamente em Atos 1.9: “... e uma nuvem o
encobriu da vista deles”. Os discípulos tinham acabado de falar com
ele, quando repentinamente elevou-se e subiu ao céu! Imediatamente
dois homens vestidos de branco se puseram ao lado deles e
disseram: “Este mesmo Jesus, que dentre vocês foi elevado aos
céus, voltará da mesma forma como o viram subir” (At 1.11).
Então o poderoso trovejar “Eis que ele vem” prossegue através
das cartas dos apóstolos. Trata-se da raiz de suas mensagens, a
mola propulsora da fé e do trabalho deles. Maranata, Jesus vem! No
último livro da Bíblia, porém, essa mensagem chega à visível
realização!
Deus envia um anjo ao seu servo João para lhe explicar esse
Apocalipse de Jesus Cristo, que excede em muito a nossa
capacidade de compreensão. No texto original é dito literalmente que
ele enviou seu anjo “e lhe mostrou isso através de sinais”. O serviço
desse anjo foi muito difícil, pois era necessário estabelecer o contato
entre a capacidade de compreensão de João e os acontecimentos
eternamente válidos – o Apocalipse de Jesus Cristo. Isso parece ser
algo impossível. Mas esse é justamente o milagre da revelação de
Jesus Cristo no livro de Apocalipse: que João em Patmos viu o que
“Olho nenhum viu, ouvido nenhum ouviu, mente nenhuma imaginou o
que Deus preparou para aqueles que o amam” (1Co 2.9), de maneira
que ele pudesse compreender! Sim, ele não somente pôde
compreendê-lo, mas também escrevê-lo. O próprio João confirma
esse fato inimaginável, de que ele também viu o Apocalipse: “Que dá
testemunho de tudo o que viu, isto é, a palavra de Deus e o
testemunho de Jesus Cristo” (v. 2). Humanamente, uma
impossibilidade. No entanto, assim era também muitas vezes com os
profetas da antiga aliança. Por exemplo, em Miqueias 1.1 lemos: “A
palavra do S que veio a Miqueias de Moresete durante os
reinados de Jotão, Acaz e Ezequias, reis de Judá; visão que ele teve
acerca de Samaria e de Jerusalém”. Compare também Isaías 1.1-2
e Obadias 1.1. Foge ao nosso conhecimento como os profetas e
João ouviram e, ao mesmo tempo, viram a Palavra, de modo que
puderam captá-la e escrevê-la. Porém, se o Diabo pôde mostrar ao
Senhor Jesus, em um momento sobre um alto monte, todos os reinos
do mundo e sua glória, quanto mais esse anjo enviado por Deus
pôde tornar o incompreensível compreensível e o invisível visível
para João!
Também nós dependemos de tais serviços de anjos. Em Hebreus
1.14 está escrito, acerca dos anjos de Deus, que eles são enviados
como espíritos ministradores “para servir aqueles que hão de herdar
a salvação”. Como um rei tem a sua corte, assim o Senhor elevado
tem os anjos à sua disposição. Anjos anunciaram o nascimento de
Jesus (Lc 2). Um anjo veio e fortaleceu o Senhor quando ele lutava
no Getsêmani e já estava próximo da morte (Lc 22.43). Na manhã da
Páscoa, anjos estavam junto ao sepulcro vazio e anunciaram a sua
ressurreição: “Ele não está aqui! Ressuscitou!” (Lc 24.6a).
No encerramento da magnífica introdução de Apocalipse ouve-se
a primeira das sete bem-aventuranças. Durante sua vida terrena, o
Senhor nos deu dez bem-aventuranças quando falou ao povo de
Israel no monte. No Apocalipse, a partir do céu, ele deu sete (RA):

1. “Bem-aventurados aqueles que leem e aqueles que ouvem


as palavras da profecia e guardam as coisas nela escritas,
pois o tempo está próximo” (1.3).
2. “... Bem-aventurados os mortos que, desde agora, morrem
no Senhor” (14.13).
3. “... Bem-aventurado aquele que vigia” (16.15).
4. “... Bem-aventurados aqueles que são chamados à ceia das
bodas do Cordeiro” (19.9).
5. “Bem-aventurado e santo é aquele que tem parte na
primeira ressurreição” (20.6).
6. “... Bem-aventurado aquele que guarda as palavras da
profecia deste livro” (22.7).
7. “Bem-aventurados aqueles que lavam as suas vestiduras [no
sangue do Cordeiro]” (22.14).

É surpreendente que a primeira bem-aventurança no Apocalipse


contenha uma condição: “Bem-aventurados aqueles que leem e
aqueles que ouvem as palavras da profecia e guardam as coisas
nela escritas”. Temos que lembrar que a maioria dos crentes de
então dependia de ouvir, pois ainda não havia sido descoberta a arte
da impressão. Como tudo tinha que ser trabalhosamente copiado a
mão, nem todos tinham um Antigo Testamento à disposição. Além
disso, havia também os analfabetos. Por isso a Escritura – e mais
tarde também as cartas dos apóstolos – era lida. Em uma tradução
inglesa, a primeira bem-aventurança é formulada da seguinte
maneira: “Especialmente abençoados são aqueles que ouvem e leem
e guardam as profecias”. O ouvir correto de qualquer maneira é
pressuposto no Apocalipse, pois é dito reiteradamente: “Aquele que
tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às igrejas”.
Nós somos pessoas privilegiadas porque temos uma Bíblia! Você
a utiliza? Se não compreender muitas coisas, ore a respeito. O
Senhor lhe dará maior entendimento. Leia, ouça e guarde-a em seu
coração, e você será bem-aventurado.
“... porque o tempo está próximo”, prossegue João. Conforme o
calendário de Deus, a história mundial e humana, com o nascimento
do Senhor Jesus, sua morte na cruz, ressurreição, ascensão e o
Pentecostes, não entrou apenas no estágio decisivo, mas também no
último e final – no último tempo. Por isso é dito: “Mas nestes últimos
dias falou-nos por meio do Filho” (Hb 1.2a). Por ocasião do
derramamento do Espírito Santo, Pedro sabia: “Ao contrário, isto é o
que foi predito pelo profeta Joel: ‘Nos últimos dias, diz Deus,
derramarei do meu Espírito sobre todos os povos...’” (At 2.16-17).
De acordo com isso, a história dos tempos finais, no sentido do Novo
Testamento, não é somente a história do final dos últimos tempos;
todo o plano de salvação neotestamentário é a progressiva
realização da história dos tempos finais. Também os apóstolos e os
primeiros cristãos viviam nesse reconhecimento. Por isso – há dois
milênios – eles nunca podiam dizer: “Meu senhor está demorando”,
como fez o servo mau em Mateus 24.48b. Eles já viviam naquele
tempo conscientemente na última hora, nos tempos finais e, por isso,
estava no centro dos seus pensamentos, palavras e ações: Jesus
vem! Esse era o seu motor. Hoje, porém, não vivemos mais na última
hora, mas no último segundo! “Eis que ele vem com as nuvens.”
Quais foram os primeiros destinatários do Apocalipse de Jesus
Cristo através de João? Após a grandiosa introdução, ele dirige-se
diretamente a eles. Parece quase o Antigo Testamento quando ele
começa a falar de forma epistolar no versículo 4: “João, às sete
igrejas da província da Ásia: A vocês, graça e paz da parte daquele
que é...”. Quem é renascido pertence a essa igreja comprada pelo
sangue e ouve agora a confirmação do Espírito Santo em seu
coração, quando lê o primeiro louvor no Apocalipse: “E nos constituiu
reino e sacerdotes para servir a seu Deus e Pai. A ele sejam glória e
poder para todo o sempre! Amém” (v. 6). Este primeiro louvor
procede de João, que ainda está na terra, enquanto todos os
seguintes se elevam dos santos glorificados e dos seres celestiais,
que louvam a Deus e ao Cordeiro.
Qual era o segredo de João para receber tantas revelações do
Senhor? Nenhum outro apóstolo pôde ver coisas tão grandiosas
como ele. Se desejamos que o Senhor se revele através da nossa
vida, deveríamos então conhecer esse segredo de João. João não
era um homem especialmente erudito. Seus escritos mostram que
tinha um vocabulário restrito. No entanto, João foi o único dos doze
discípulos que permaneceu junto à cruz do Gólgota até Jesus morrer.
Ali, ele, que tinha sido chamado de filho do trovão pelo Senhor,
presenciou a morte do seu próprio ser, junto com Cristo. Desse
modo, no seu evangelho, ele não ousa falar de si mesmo na primeira
pessoa, mas escreve na terceira pessoa. Ele não mais quer
destacar a si mesmo, mas diz: “Aquele que o viu, disso deu
testemunho, e o seu testemunho é verdadeiro. Ele sabe que está
dizendo a verdade, e dela testemunha para que vocês também
creiam” (Jo 19.35). Desde que viu o Cordeiro de Deus, ele não ousa
mais destacar a si mesmo. Na medida em que vimos Jesus e
permanecemos na posição de estar crucificado com ele, não
ousamos mais colocar a nós mesmos em primeiro plano. Todos
aqueles que procuram honra nos homens nunca viram Jesus! Quem
viu Jesus em seu amargo sofrimento e em sua morte na cruz do
Gólgota, esse odeia a si mesmo, coloca-se em segundo plano e
pede: Senhor, revela-te! Tal pessoa não é um fariseu, que é
orgulhoso da sua piedade. João não pode evitar de citar a si mesmo
algumas vezes, quando quer testemunhar o que viu. No entanto, ele
faz uma grande volta em torno de si. Assim, por exemplo, em João
13.23 ele escreve: “Um deles, o discípulo a quem Jesus amava,
estava reclinado ao lado dele”. É por isso que, em Apocalipse 2.4, o
Senhor pôde falar por meio dele: “Contra você, porém, tenho isto:
você abandonou o seu primeiro amor”. É somente porque amava
tanto o Senhor que podia falar da perda do primeiro amor. Não
podemos levar as pessoas interiormente nem um milímetro mais
longe – seja por um folheto ou testemunho – do que nós mesmos
estamos. O ser apagado de João aparece também principalmente
em sua introdução, pois ele não diz, no capítulo 1.4, algo como
“João, um apóstolo e servo de Jesus Cristo escolhido desde o ventre
materno”, mas simplesmente cita o seu nome. Ele, portanto, abre
mão até do título, que Paulo e Pedro, por exemplo, utilizam com
razão, para que os destinatários logo soubessem com quem estavam
tratando. Mas João, que tinha visto o Cristo crucificado e vê o
Senhor que está voltando, simplesmente diz: “João, às sete igrejas
da província da Ásia...”. Em seguida, ele pronuncia a bênção do
Deus triúno sobre as sete igrejas, referindo-se primeiro a Deus, o
Pai: “A vocês, graça e paz da parte daquele que é, que era e que há
de vir”. Então ele cita o Espírito Santo: “... dos sete espíritos que
estão diante do seu trono”. Depois o Filho: “... e de Jesus Cristo, que
é a testemunha fiel, o primogênito dentre os mortos e o soberano
dos reis da terra” (v. 5a). Ele louva o Filho – “A ele sejam glória e
poder para todo o sempre! Amém” (v. 6b) – e imediatamente segue
a mensagem: “Eis que ele vem com as nuvens...” (v. 7).
Ninguém na terra pode escapar do encontro com Jesus Cristo.
João enfatiza expressamente no versículo 7b: “... e todo olho o verá
[isto é, as nações], até mesmo aqueles que o traspassaram [isto é,
Israel]”. Quando ele vier com as nuvens, aparecerá como
“testemunha fiel” para Israel e como “primogênito dentre os mortos”
para a igreja. Para as nações ele vem como o “soberano dos reis da
terra”. A sua volta e os que foram comprados pelo seu sangue são
citados como num só fôlego. Versículo 5b: “Ele nos ama e nos
libertou dos nossos pecados por meio do seu sangue”. Versículo 7a:
“Eis que ele vem com as nuvens...”. Isso significa que o renascido,
com base no sangue de Jesus, é um só corpo com ele!
2
Jesus Cristo e a Igreja em Glória
(Ap 1.8-20)

8“Eu sou o Alfa e o Ômega”, diz o Senhor Deus, “o que é, o que


era e o que há de vir, o Todo-poderoso.” 9Eu, João, irmão e
companheiro de vocês no sofrimento, no Reino e na
perseverança em Jesus, estava na ilha de Patmos por causa da
palavra de Deus e do testemunho de Jesus. 10No dia do Senhor
achei-me no Espírito e ouvi por trás de mim uma voz forte, como
de trombeta, 11que dizia: “Escreva num livro o que você vê e
envie a estas sete igrejas: Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira,
Sardes, Filadélfia e Laodiceia”. 12Voltei-me para ver quem falava
comigo. Voltando-me, vi sete candelabros de ouro 13e entre os
candelabros alguém “semelhante a um filho de homem”, com
uma veste que chegava aos seus pés e um cinturão de ouro ao
redor do peito. 14Sua cabeça e seus cabelos eram brancos como
a lã, tão brancos quanto a neve, e seus olhos eram como chama
de fogo. 15Seus pés eram como o bronze numa fornalha ardente e
sua voz como o som de muitas águas. 16Tinha em sua mão direita
sete estrelas, e da sua boca saía uma espada afiada de dois
gumes. Sua face era como o sol quando brilha em todo o seu
fulgor. 17Quando o vi, caí aos seus pés como morto. Então ele
colocou sua mão direita sobre mim e disse: “Não tenha medo. Eu
sou o Primeiro e o Último. 18Sou Aquele que Vive. Estive morto,
mas agora estou vivo para todo o sempre! E tenho as chaves da
morte e do Hades. 19Escreva, pois, as coisas que você viu, tanto
as presentes como as que acontecerão. 20Este é o mistério das
sete estrelas que você viu em minha mão direita e dos sete
candelabros: as sete estrelas são os anjos das sete igrejas, e os
sete candelabros são as sete igrejas”.
emos aqui o que e quem é Jesus Cristo, e saber isso é a coisa mais
elevada. Paulo diz, em Efésios 3.19, que conhecer o amor de Cristo
V
excede todo entendimento. João ouve aqui a voz do Senhor, que diz
que ele, o Senhor, é o Eterno: “Eu sou o Alfa e o Ômega”. O
alfa é a primeira letra e o ômega é a última letra do alfabeto
grego. O que significa isso? Muitos tradutores pensaram que os
homens simples da rua não o entenderiam. Por isso eles
acrescentaram – por exemplo, na edição Almeida, Corrigida, Fiel –:
“o princípio e o fim”. Isso não está escrito no texto original, mas,
quanto ao conteúdo, está certo, pois o Senhor é o princípio e o fim.
Isso, porém, tem um significado ainda mais profundo, ou seja: Jesus
Cristo é o Verbo eterno. Além dele não existe mais nada a dizer, pois
ele é a Palavra no sentido mais completo e perfeito: “... mas nestes
últimos dias falou-nos por meio do Filho” (Hb 1.2). Tudo o que passa
além de Jesus é ponto morto. Essa é a razão do acréscimo: “... o
que é, o que era e o que há de vir, o Todo-poderoso” (v. 8). A ele
somente foi dado todo o poder no céu e na terra. Se estivéssemos
mais imbuídos dessa verdade, seríamos muito mais tranquilos!
Somos frequentemente afligidos por diferentes poderes debaixo do
céu – por poderes das trevas. Mas a ele, Jesus Cristo, foi dado todo
poder, domínio e majestade. Essa é a elevada pessoa do nosso
abençoado Redentor!
Agora, no entanto, nos aproximamos da verdadeira revelação. Até
agora analisamos somente o título desse livro e sua introdução.
Agora, porém, entramos em contato com o próprio Revelado. Que
cada leitor deste livro possa chegar até o cerne, de maneira que
entre em contato com o próprio Jesus!
A primeira parte de Apocalipse revela-nos Jesus Cristo em seu
relacionamento com sua igreja na terra (compare as cartas). Na
segunda parte do Apocalipse temos a revelação de Cristo com
relação à sua igreja no céu. Nela vemos os anciãos glorificados e
tudo o que acontece na glória, após o arrebatamento. A terceira
parte do Apocalipse revela o Cristo em relação ao mundo e mostra
como ele julga os povos. E assim continua gradualmente até
enxergarmos a glória completa: o novo céu e a nova terra, nos quais
habita a justiça.
Aqui, porém, trata-se do essencial, da revelação de Jesus Cristo.
Quando vemos Jesus, então vemos tudo! Não deveríamos fazer
essencialmente muito mais, como muitos pensam, mas fazer mais
coisas essenciais, isto é: procurar muito mais a revelação do Senhor
Jesus Cristo!
O primeiro efeito maravilhoso é que o apóstolo e discípulo João,
que certamente estava ligado mais intimamente com o Senhor,
equipara-se aos seus irmãos e irmãs no Senhor: “Eu, João, irmão e
companheiro de vocês...” (v. 9). Ele é irmão e companheiro em três
aspectos. Primeiro: “... no sofrimento” (v. 9). Todo filho de Deus tem
que entrar no reino de Deus através de muitas tribulações. Segundo:
“... no Reino”. Renascidos são portadores do reino de Deus, pois,
como reis e sacerdotes, levamos o reino em nós. O Senhor Jesus o
formulou assim: “... o Reino de Deus está no meio de vocês” (Lc
17.21b). Justamente nesta geração realiza-se a transferência do
reino de Deus para Israel, pois em Israel o reino de Deus se torna
visível. Terceiro: “... na perseverança em Jesus”. Também traduzido
como “paciência de Jesus Cristo” (ACF). Esse é o segredo do poder
do Gólgota: perseverar em Jesus, perseverar na posição de estar
crucificado com ele, na paciência. É isso que mais convence nesse
mundo agitado, esse é o testemunho mais eficiente. Normalmente
temos paciência enquanto não necessitamos dela. Pedro diz:
“Tenham em mente que a paciência de nosso Senhor significa
salvação” (2Pe 3.15). Que João aqui não diz frases vazias é provado
pelo fato dele encontrar-se em meio a uma provação de fé. Ele, o
apóstolo, que falou diante de milhares, está agora completamente
isolado e sozinho na ilha de Patmos, no Mediterrâneo. Por quê? João
mesmo responde à pergunta: “... por causa da palavra de Deus e do
testemunho de Jesus” (v. 9b). Portanto, ele estava banido por causa
de Jesus. Nós, cristãos no Ocidente (atualmente ainda) livre, ainda
não estamos banidos por causa de Jesus. No Oriente, a situação é
bem diferente. Muitos irmãos encontram-se em “Patmos” por causa
da Palavra de Deus e do testemunho de Jesus.
No versículo 10, João fala com grande autoridade a partir dessa
experiência da revelação de Jesus Cristo. Pois não se pode
testemunhar algo que não se viu. No entanto, ele viu! Aqui ele já fala
no tempo passado. Nisso ele não tagarela, mas diz de modo curto e
sucinto: “No dia do Senhor achei-me no Espírito e ouvi por trás de
mim uma voz forte, como de trombeta” (v. 10). Que maravilhoso
contraste: de um lado, João, por causa da palavra de Deus e dos
testemunhos de Jesus, está solitário e abandonado no sofrimento, no
qual permanece com perseverança, e, de outro, ele pode
testemunhar: “No dia do Senhor achei-me no Espírito”. Ele viu Jesus
em glória! Nessa contradição encontram-se todos os verdadeiros
filhos de Deus: por um lado provados interiormente e perseguidos
pelo inimigo, por outro experimentando a revelação do Senhor Jesus!
Isso também era assim com Paulo. Ele era um perseguido. Ele
relaciona o que sofreu por amor de Jesus: fome, naufrágio, açoites,
fustigação com varas. Além disso, sofreu com falsos irmãos etc. E
tudo isso apesar dele poder se vangloriar na “carne”. Mas ele diz:
“Mas o que para mim era lucro passei a considerar como perda, por
causa de Cristo... Eu as considero como esterco para poder ganhar
Cristo” (Fp 3.7-8). Em outras palavras: Cristo está revelado em mim.
De que dia João fala quando diz: “No dia do Senhor achei-me no
Espírito”? Não se trata do domingo, como alguns pensam, mas o
grande, terrível, final e glorioso dia do qual também os profetas do
Antigo Testamento falaram tanto. Também eles viram esse terrível
período de juízos que agora está para acontecer, no final do qual o
Senhor virá em grande poder e glória, com sua igreja. Jeremias
confessou o que sentiu com tal visão: “Eu me contorço de dor.... O
meu coração dispara dentro de mim” (Jr 4.19). O grande e terrível
dia do Senhor é a grande tribulação. Por que João o vê como se
fosse no presente, apesar de vê-lo aproximadamente dois milênios
antes da sua realização? Porque ele se achava no Espírito do
Senhor. Quanto mais nós, como filhos de Deus, nos achamos no
Espírito do Senhor, tanto mais o futuro se torna presente para nós;
tanto mais somos capazes de reconhecer a palavra profética e ouvir
o falar de Deus. “Quereis, acaso, saber as coisas futuras?”, diz ele
através do profeta Isaías (45.11 RA).
João afirma: “... e ouvi por trás de mim uma voz forte, como de
trombeta” (v. 10). Com isso começa realmente a visão da glória do
Senhor. João aparentemente está surpreso por ouvir essa grande
voz atrás de si, e não à sua frente ou ao lado. Por que ela é ouvida
atrás dele? Certamente para que toda outra voz que pudesse desviá-
lo – também a sua própria – seja excluída.
Tantos filhos de Deus andam em zigue-zague porque não ouvem a
voz do Senhor atrás de si. Temos, porém, a promessa: “... uma voz
nas suas costas dirá a você: ‘Este é o caminho; siga-o’” (Is 30.21).
Por isso: aquiete-se! Ouça e ande!
Também Noé somente recebeu a completa certeza de que ele e
sua família estavam salvos quando o Senhor fechou a porta da arca
após ele (Gn 7.16b). Ezequiel teve a mesma experiência. Em
Ezequiel 3.12 está escrito do Espírito que o levantou e de uma voz
estrondosa que ele ouviu atrás de si.
Aqui no versículo 10 João diz: “... uma voz forte, como de
trombeta”. A palavrinha “como” significa que João tenta descrever o
indescritível. Por isso a palavrinha “como” aparece aproximadamente
setenta vezes no Apocalipse. Além disso, ele utiliza também
expressões como “semelhante”. Aqui trata-se, portanto, de um som
sobrenatural e assustador, que contém tudo. Trata-se da trombeta
de Deus. Na Bíblia há duas trombetas, que são únicas. A primeira foi
ouvida no monte Sinai, quando Deus reuniu seu povo terreno, Israel
(Êx 19.16). A última trombeta de Deus será ouvida quando ele reunir
seu povo celestial, quando arrebatar a sua igreja. João ouve essa
trombeta. O fato dele contar logo duas vezes (v. 8,17) o que o
Senhor lhe disse prova a sua comoção. A voz disse: “Eu sou o Alfa e
o Ômega, o princípio e o fim” (1.8 ACF). Isso é um grande consolo
para você! Aquilo que você está vivenciando agora – o dia a dia, do
qual você talvez tem medo por algum motivo, seja por causa de
alguma situação familiar, do seu estado de saúde precário, das suas
condições de trabalho etc. – não é o princípio e o fim. Jesus é o
princípio e o fim! João está abalado porque não vê mais o Senhor
Jesus como o Salvador, mas como o Cristo. Portanto, ele não o vê
mais como aquele que andou nesta terra por trinta e três anos,
curando e ajudando. Não, ele o vê como o Eterno. O que também
nos chama a atenção aqui é quão claramente o Senhor dá a ordem a
João: “Escreva num livro o que você vê e envie a estas sete igrejas:
Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia e Laodiceia” (v.
11). O Senhor cita as coisas pelo nome para que João saiba
exatamente o que deve fazer: escrever aquilo que o Senhor lhe
ordenou. Qualquer possibilidade de um mal-entendido estava
excluída. Sua tarefa era um elevado compromisso para ele e ele
também a executou. Suponhamos que João tivesse ficado com tudo
o que lhe foi revelado, de maneira tão farta, para a sua própria
edificação. Ele poderia ter dito: “Estou aqui tão sozinho – que
maravilhoso que o Senhor me fortalece de maneira tão especial”. Ele
poderia, ainda, ter dito que estava cansado e queria finalmente
recuperar-se um pouco. Mas não, João escreveu!
O Senhor nos dá tarefas bem concretas. Conhecemos esses
encargos: “Vão pelo mundo todo e preguem o evangelho a todas as
pessoas” (Mc 16.15). “... e serão minhas testemunhas” (At 1.8).
“Sigam-me” (Mt 4.19a). Trata-se de diferentes incumbências com o
mesmo alvo: ele deve ser revelado! Você já executou a sua
incumbência? Caso não, você então negou a revelação de Jesus
Cristo a outros! Apresse-se, porque o tempo da graça está quase no
fim.
João relata mais: “Voltei-me para ver quem falava comigo” (v.
12a). O Espírito Santo, que havia tomado conta de João, o faz
voltar-se, isto é, o afasta da visão natural, presente – afasta-o do
que é terreno. Pois o homem natural nada entende das coisas do
Espírito. Elas lhe são loucura. Afaste-se da atual direção do seu
olhar e volte-se para aquele que fala a você.
O que João vê quando se volta? Ele agora vê o Cristo glorificado?
Inicialmente, não, mas: “Voltando-me, vi sete candelabros de ouro”
(v. 12b). O que são esses candelabros de ouro? O versículo 20b
responde: “... e os sete candelabros são as sete igrejas”. O que logo
chama a atenção aqui é que João, antes de ver a glória da pessoa
de Jesus Cristo, vê a igreja! Isso quer dizer: ninguém é capaz de ver
Jesus em glória, a não ser através da verdadeira igreja! Que
responsabilidade nós temos! “Vocês são a luz do mundo”, disse o
Senhor (Mt 5.14a). Quando um homem decepcionado por todo o
engando do mundo finalmente se vira, ele primeiro enxerga a igreja.
Aí está a nossa elevada missão, pois a glória da igreja é a glória de
Jesus Cristo. Por isso, deve-se dizer com toda a seriedade e de
forma radical: a igreja de Jesus perde seu direito de existência
quando não é mais o início da revelação de Jesus Cristo! Essa é a
grande vergonha do nosso tempo, que o mundo ri sobre a igreja,
sobre os crentes, dizendo: “O que eles querem? Eles não são nada
diferentes de nós!”. Isso era algo completamente diferente na
primeira igreja. Ali pecadores, inclusive sacerdotes, tremiam e
oravam quando iam à igreja, porque nela viam a glória de Jesus.
“... sete candelabros de ouro.” Sete é o número da plenitude
divina. Ouro é purificado e limpo, valioso e estável. Na antiga aliança
o ouro era santificado a Deus. Pensemos no preço elevado do ouro.
Isso é a igreja, que foi adquirida por preço elevado pelo sangue de
Jesus! No entanto, ainda há mais: no fato de João ver a igreja como
candelabro de sete braços, vemos com ele a vocação de Israel, pois
o símbolo de Israel nos tempos modernos é a Menorá – o
candelabro dourado de sete braços. Como igreja de Jesus,
recebemos por tempo limitado – até o arrebatamento – a vocação
de Israel de ser portador da luz. O fato de João ver primeiro a igreja
prova a maravilhosa unidade orgânica com o Senhor Jesus, a quem
ele agora vê. Quão claramente é dito: “E entre os candelabros
alguém ‘semelhante a um filho de homem’” (v. 13). Na versão Revista
e Atualizada está escrito mais claramente: “E, no meio dos
candeeiros, um semelhante a filho do homem”. Isso significa: a igreja
de Jesus é perfeita, pois Jesus está em seu meio. Tudo fica confuso
e obscuro quando ele não é mais o centro da sua vida. Jesus está no
centro da sua vida, como Paulo afirma em Filipenses 1.21: “... para
mim o viver é Cristo”? Esse é o problema de tantos, que Jesus foi
empurrado para a margem, que tantas outras coisas e pessoas são
mais importantes do que ele. Ele era o centro na estrebaria de
Belém. Incontáveis anjos cantavam. Cientistas (“magos”) vieram de
muito longe para adorá-lo. Do mesmo modo, também os pastores.
Todos procuravam e acharam o menino Jesus, e todos falavam dele.
Ele também era o centro da ação de Deus na cruz do Gólgota. Pois
“Deus em Cristo estava reconciliando consigo o mundo” (2Co 5.19).
Ele, o Cordeiro de Deus, será o centro da glória de Deus e iluminará
a nova Jerusalém. Ele somente é a fonte, a vida, o poder, o futuro, o
cabeça da igreja. Assim, João vê que Jesus Cristo e sua igreja são
inseparáveis. Ela não tem luz sem ele. Ela não tem força sem ele.
Ela não tem vida sem ele. Ela não é capaz de amar sem ele. Tudo é
dele e através dele e para ele. Não é surpreendente que João nem
descreve os candelabros de ouro? Ele simplesmente constata a
existência deles. Seus olhos fixam-se imediatamente naquele que se
encontra entre os candelabros, a verdadeira fonte de luz. Nunca
devemos imaginar que ele se mantém passivo no centro de nossa
vida ou da nossa igreja. Não! Em Apocalipse 2.1 está escrito que ele
“anda entre os sete candelabros de ouro”, isto é, ele não fica
parado. Ele prova e analisa cada um dos seus portadores de luz!
Deixe a sua luz brilhar! Ele limpa o pavio e abastece com o óleo do
Espírito Santo para que você ilumine.
“... com uma veste que chegava aos seus pés...” (v. 13). Chama a
atenção que, na descrição do Cristo elevado, João demonstra uma
certa reserva. É justamente essa reserva que sublinha a majestade
do Senhor elevado. “... alguém ‘semelhante a um filho de homem’,
com uma veste que chegava aos seus pés...” Esse não é mais o
Filho do homem em humildade, não, não, pois ele está cingido com
um cinturão de ouro ao redor do peito. As vestes compridas indicam
a dignidade sumo-sacerdotal; a cinta de ouro, sua dignidade real. No
fundo, João vê aqui o Sumo Sacerdote e Rei que está voltando, ou
seja, o Messias de Israel, pois a igreja à sua volta (os sete
candelabros) é a sua glória. Ele é o Redentor e Soberano do seu
reino. Então, João vê a cabeça do seu Senhor: “Sua cabeça e seus
cabelos eram brancos como a lã, tão brancos quanto a neve, e seus
olhos eram como chama de fogo” (v. 14). Não é mais a cabeça cheia
de sangue e ferimentos, coberta com uma coroa de espinhos,
desfigurada pela humilhação e tortura. Pelo contrário, João descreve
aqui, com expressões simples, a glória maior. O Espírito Santo
sempre age assim. No profeta Daniel, por exemplo, o Espírito Santo
utiliza a figura da pedra que se soltou “sem auxílio de mãos”, que
encheu toda a terra e esmigalhou a estátua das nações, para
descrever a glória do Filho de Deus (cf. Dn 2). João vê sua cabeça e
seus cabelos, que brilham como a lã branca e a neve. Com isso ele
quer dizer que sobre ele repousa o indescritível fulgor da glória
celestial. A coroa de espinhos transformou-se em coroa de honra.
Os olhos de Jesus são vistos por João, não mais cheios de lágrimas,
como os viu quando Jesus chorou sobre Jerusalém, mas como
chamas de fogo. Encontramos os mesmos olhos em Apocalipse
19.12: “Seus olhos são como chamas de fogo, e em sua cabeça há
muitas coroas...”.
Esses são os olhos do seu amor justo e santo, que tudo
perscrutam. Também agora esses olhos nos olham a partir da sua
glória. Aí um homem sucumbe; como Pedro quando Jesus voltou-se
e olhou-o. Os pés de Jesus são vistos por João, não mais
traspassados, mas “como bronze polido, refinado numa fornalha” (v.
15 NVT). Os olhos como chamas de fogo e os pés como refinados
numa fornalha – isso mostra Jesus como o Juiz. Ele, portanto, não é
somente Rei e Sacerdote. Também no capítulo 2.18b nós o vemos
como Juiz: “Estas são as palavras do Filho de Deus, cujos olhos são
como chama de fogo e os pés como bronze reluzente”. Que aqui ele
realmente aparece como Juiz para as nações e como Reconciliador
e Sumo Sacerdote para Israel é provado pelo fato de que justamente
para Tiatira ele também fala de juízo e graça: “Eis que a prostro de
cama, bem como em grande tribulação os que com ela adulteram,
caso não se arrependam...” (2.22 RA). Isso é juízo. Ele, porém,
acrescenta: “Aos demais que estão em Tiatira, a vocês que não
seguem a doutrina dela e não aprenderam, como eles dizem, os
profundos segredos de Satanás, digo: Não porei outra carga sobre
vocês; tão somente apeguem-se com firmeza ao que vocês têm, até
que eu venha. Àquele que vencer e fizer a minha vontade até o fim
darei autoridade sobre as nações” (2.24-26). Isso é graça!
A voz que João ouve não é mais a voz suave do Bom Pastor, que
calou-se como uma ovelha diante do seu tosquiador, quando foi
cuspido, injuriado e finalmente pregado na cruz. Agora a voz é tão
poderosa que João precisa novamente usar a palavrinha “como”: “...
como o som de muitas águas” (v. 15). Não é essa a voz de juízo de
Deus que ouvimos reiteradamente na Bíblia? Jeremias também a
ouviu. Ele a compara com a voz do leão que ruge (cf. Jr 25.30-38).
Também Joel descreve essa voz julgadora: “O S rugirá de
Sião, e de Jerusalém levantará a sua voz; a terra e o céu tremerão.
Mas o S será um refúgio para o seu povo, uma fortaleza para
Israel” (Jl 3.16). Também esse texto mostra claramente: sua voz
significa juízo sobre as nações e graça sobre Israel. Amós foi outro
que ouviu essa voz do Senhor: “Ele disse: ‘O S ruge de Sião e
troveja de Jerusalém; secam-se as pastagens dos pastores, e
murcha o topo do Carmelo’” (Am 1.2). Da mesma forma Oseias:
“Eles seguirão o S ; ele rugirá como leão. Quando ele rugir, os
seus filhos virão tremendo desde o ocidente” (Os 11.10).
Agora, João nos mostra em Apocalipse 1.16 a face do Senhor
elevado. Antes de descrever sua face, porém, ele fala da sua mão
direita. Não se trata mais da mão na qual um soldado romano, a
caminho do Gólgota, colocou um caniço para zombar da sua
dignidade real. Não, agora ele segura as sete estrelas em sua mão:
“Este é o mistério das sete estrelas que você viu em minha mão
direita... as sete estrelas são os anjos das sete igrejas...” (v. 20).
Portanto, em sua mão direita, traspassada, ele segura os
responsáveis das sete igrejas. Vemos aqui a volta de Jesus em
grande poder e glória com a igreja glorificada!
Então João também fala da boca do Senhor. Ele não vê a boca do
Senhor na qual um soldado bateu. Não, ele vê como da boca dele sai
uma espada afiada de dois gumes (v. 16). Essa é a Palavra de Deus
que se tornou carne. “Pois a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais
afiada que qualquer espada de dois gumes; ela penetra até o ponto
de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e julga os pensamentos e
as intenções do coração” (Hb 4.12). Paulo diz que o Senhor destruirá
o iníquo “com o sopro de sua boca” (2Ts 2.8).
E então João descreve a face. Esta é tão magnífica para ele que
João não pode olhá-la, pois novamente encontramos a palavrinha
“como”: “Sua face era como o sol quando brilha em todo o seu
fulgor” (v. 16). Não se pode olhar para o Sol. Para Israel, no entanto,
está prometido: “Mas, para vocês que reverenciam o meu nome, o
sol da justiça se levantará...” (Ml 4.2).
É assim que João, no início da revelação de Jesus Cristo, vê os
fundamentos: ele vê o próprio Jesus Cristo como Rei, Sacerdote,
Profeta e Juiz. A figura martirizada – a mais desprezada –
transformou-se em figura de vencedor! João fica prostrado pela
santidade e majestade de Jesus Cristo: “Quando o vi, caí aos seus
pés como morto” (v. 17). O Senhor, porém, não o deixa caído, mas
põe sobre ele a sua mão direita, dizendo: “Não tenha medo. Eu sou o
Primeiro e o Último. Sou Aquele que Vive. Estive morto, mas agora
estou vivo para todo o sempre! E tenho as chaves da morte e do
Hades” (v. 17b-18). Apesar de João ser salvo, ele continua na terra.
Por isso ele ainda não pode ver o Senhor revelado.
Daniel, um dos maiores homens de Deus na Bíblia, experimentou
exatamente o mesmo. Ele descreve: “Olhei para cima, e diante de
mim estava um homem vestido de linho, com um cinto de ouro
puríssimo na cintura. Seu corpo era como berilo, o rosto como
relâmpago, os olhos como tochas acesas, os braços e pernas como
o reflexo do bronze polido, e a sua voz era como o som de uma
multidão. Somente eu, Daniel, tive a visão; os que me
acompanhavam nada viram, mas foram tomados de tanto pavor que
fugiram e se esconderam. Assim fiquei sozinho, olhando para aquela
grande visão; fiquei sem forças, muito pálido, e quase desfaleci.
Então eu o ouvi falando e, ao ouvi-lo, caí prostrado com o rosto em
terra, e perdi os sentidos” (Dn 10.5-9). Então Daniel experimentou o
mesmo que João: “Em seguida, a mão de alguém tocou em mim e
me pôs sobre as minhas mãos e os meus joelhos vacilantes. E ele
disse: ‘Daniel, você é muito amado...’” (v. 10-11a). O Senhor mesmo
queria revelar-se a Daniel, de modo que ele pudesse transmitir
adiante a revelação. O Senhor quer transmitir a sua glória para nós,
de modo que levemos sua imagem adiante.
Que contraste há entre a experiência de Daniel e João e toda a
humanidade não convertida! Quando ela (todas as gerações!) o vir,
começará a grande lamentação (v. 7). Ele, porém, estará então
cingido com “um cinturão de ouro ao redor do peito” (v. 13), e, assim,
Provérbios 1.28 será cumprido: “Então vocês me chamarão, mas não
responderei; procurarão por mim, mas não me encontrarão”. Após
essa comovente e magnífica revelação do Senhor Jesus Cristo, João
não teve uma pausa, mas a ordem imediata: “Escreva, pois, as
coisas que você viu... como as que acontecerão” (v. 19). A revelação
de Jesus Cristo a João não foi dada em seu próprio proveito, mas
impunha-lhe a sagrada obrigação de transmitir essa revelação às
igrejas. Assim, para que esteja excluída qualquer dúvida, o Senhor
esclarece, no versículo 20, o mistério das sete estrelas e dos sete
candelabros de ouro. O objetivo da revelação de Jesus Cristo a João
é, portanto, a igreja que, como seu corpo, está intimamente incluída
nas coisas “que acontecerão”.
3
As Cartas às Sete Igrejas
(Ap 2.1–3.22)

N
o segundo e terceiro capítulos de Apocalipse encontramos
uma parte muito importante da Escritura Sagrada: as cartas.
O piedoso dr. Bengel costumava aconselhar o estudo dessas
cartas em primeiro lugar aos pregadores jovens. Como as parábolas,
essas cartas consistem exclusivamente das palavras do próprio
Cristo. Trata-se das últimas que temos diretamente dele. Talvez
sejam também as únicas que nos são dadas integralmente. Com
suas introduções solenes – “Estas são as palavras daquele...” – e
formas de tratamento diretas – “Conheço...” –, transmitem a
impressão de extraordinária majestade. Essa impressão resulta, não
por último, também devido à ordem sete vezes repetida: “Aquele que
tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às igrejas”.
Não há indicações de que as sete cartas seriam dirigidas somente
às sete igrejas locais, pois essas igrejas representam toda a igreja
de Jesus. O número sete representa a plenitude e perfeição divina
da era da igreja. Isto é: a mensagem do Cristo elevado às sete
igrejas da Ásia Menor vale da mesma forma para toda a igreja hoje
como teve validade para a igreja já glorificada de gerações
passadas. As sete igrejas, porém, não são proféticas no sentido de
cada uma representar uma época determinada da história
eclesiástica. Essa espécie de interpretação levou muitas exegeses,
suposições e hipóteses arbitrárias. Apesar de não se poder negar
que – como na estátua das nações de Nabucodonosor, onde a
redução da qualidade exterior das potências mundiais foi
representada nos diversos metais (ouro, prata, bronze, ferro, barro)
– o poder espiritual da igreja de Jesus diminuiu constantemente no
decorrer dos séculos por causa de compromissos e modernização,
de modo que a igreja dos tempos finais é hoje, em parte, idêntica a
Laodiceia. No entanto, não estão todos os aspectos positivos e
negativos, mostrados pelo Senhor julgador e elevado nas sete
igrejas, presentes na igreja toda? Ouçamos, portanto, o que o
Espírito diz hoje à igreja através das sete cartas!
A Primeira Carta do Céu (Ap 2.1-7)
1“Ao anjo da igreja em Éfeso, escreva: Estas são as palavras
daquele que tem as sete estrelas em sua mão direita e anda entre
os sete candelabros de ouro. 2Conheço as suas obras, o seu
trabalho árduo e a sua perseverança. Sei que você não pode
tolerar homens maus, que pôs à prova os que dizem ser
apóstolos mas não são, e descobriu que eles eram impostores.
3Você tem perseverado e suportado sofrimentos por causa do
meu nome e não tem desfalecido. 4Contra você, porém, tenho
isto: você abandonou o seu primeiro amor. 5Lembre-se de onde
caiu! Arrependa-se e pratique as obras que praticava no princípio.
Se não se arrepender, virei a você e tirarei o seu candelabro do
lugar dele. 6Mas há uma coisa a seu favor: você odeia as práticas
dos nicolaítas, como eu também as odeio. 7Aquele que tem
ouvidos ouça o que o Espírito diz às igrejas. Ao vencedor darei o
direito de comer da árvore da vida, que está no paraíso de Deus”.
Éfeso era a antiga capital da Ásia Menor, com aproximadamente
meio milhão de habitantes; uma orgulhosa metrópole e, ao mesmo
tempo, um destacado centro mercantil e o centro do culto à Ártemis
(ou Diana), como Atos dos Apóstolos 19 nos mostra claramente.
Havia ali uma numerosa comunidade judaica, que Paulo conheceu em
sua segunda viagem (At 18.19-21). Também Apolo pregou lá (At
18.24-28). Mais tarde, Paulo morou três anos em Éfeso (At 20.31).
Através do seu trabalho, o Senhor fundou a sua igreja dentre judeus
e gentios. Foi dos anciãos dessa igreja que Paulo se despediu de
forma tão comovente em sua terceira viagem missionária (At 20.17-
38). À essa igreja Paulo escreveu sua grandiosa carta, na qual nos é
dado certamente o mais profundo entendimento sobre o mistério da
igreja, o corpo de Jesus Cristo. A tradição também diz que Éfeso foi
o local de residência do apóstolo João, e que ele trabalhou e morreu
ali. De lá, após a morte de Paulo, ele teria supervisionado as igrejas
da Ásia Menor. Entre 630 e 640 d.C., Éfeso caiu nas mãos dos
turcos. A cidade em si foi destruída em 1402 d.C. por Tamerlão. As
ruínas restantes chamam-se hoje Ayasoluk, que surge de Hagios
Theologos, que quer dizer “santo teólogo”, lembrando o apóstolo
João, “o teólogo”, que teria sido sepultado lá.
“Ao anjo da igreja em Éfeso, escreva” (v. 1). Uma igreja local
recebe uma carta pessoal do Senhor! “Ao anjo da igreja...” Trata-se
realmente de um ser angélico nesse caso? É quase certo que não,
pois a palavra “anjo” é também traduzida frequentemente como
“mensageiro”. A explicação mais razoável é que se fala aqui dos
líderes da igreja. As sete igrejas da Ásia Menor encontravam-se em
volta da ilha de Patmos, no mar Mediterrâneo, onde o apóstolo João
estava banido. Os sete anjos, ou seja, anciãos, mantinham a
comunicação entre João e as igrejas (1.19-20). Eles tinham uma
grande responsabilidade. Já sentimos isso na leitura do primeiro
versículo: “Ao anjo da igreja em Éfeso, escreva”. Pois o que o
Senhor mandou escrever ao ancião da igreja em Éfeso era destinado
à toda a igreja. Sua responsabilidade consistia, portanto, em
transmitir fielmente à igreja tudo o que o Senhor disse a João e que
João escreveu. Também nós temos essa responsabilidade, desde
que sejamos servos ou servas do Senhor Jesus: transmitir aquilo que
o Senhor nos diz. Ele confiou-nos muito! No entanto, é também uma
enorme bênção quando transmitimos o que recebemos! Essa, aliás,
era também uma das maiores fontes de poder do nosso Senhor
Jesus. Ele testemunha na oração sacerdotal: “Pois eu lhes entreguei
a mensagem que tu me deste...” (Jo 17.8 NTLH). Quão pobres e
miseráveis são as igrejas e congregações que não têm mais
mensageiros que inclinam seus ouvidos para a Bíblia, para o coração
de Deus!
E agora o Senhor elevado, o Autor, fala de si mesmo no versículo
1: “Estas são as palavras daquele que tem as sete estrelas em sua
mão direita e anda entre os sete candelabros de ouro”. O que isso
significa não é segredo, pois a Bíblia fornece comentário para a
Bíblia. Já alguns versículos antes é dito o que são os sete
candelabros: “Este é o mistério das sete estrelas que você viu em
minha mão direita e dos sete candelabros: as sete estrelas são os
anjos das sete igrejas, e os sete candelabros são as sete igrejas”
(1.20). Portanto, está claro o que o Senhor quer dizer com a frase:
“Estas são as palavras daquele que tem as sete estrelas em sua
mão direita...”. Que consolo: ele conserva os seus servos em sua
mão! Você é um servo ou uma serva de Deus? Então isso vale
também para você! “... ninguém as poderá arrancar da minha mão”
(Jo 10.28). É o que diz o Senhor elevado, que anda no meio dos sete
candelabros, das sete igrejas. Quão grande é a luz de uma igreja! No
Antigo Testamento, Israel tinha somente uma luz, a Menorá, que
iluminava o tabernáculo e, mais tarde, o templo. As sete igrejas
representam a igreja completa. Ela tem uma sétupla plenitude de luz.
“Vocês são a luz do mundo” (Mt 5.14a), disse o Senhor Jesus.
Quando o Senhor apresenta a si mesmo, para evitar que haja
dúvidas sobre a autoria da carta, ele ao mesmo tempo dá
legitimidade aos seus servos: “... que tem as sete estrelas em sua
mão direita”. Isso lembra de Isaías 42.1: “Eis o meu servo, a quem
sustento...”. Além disso, o Senhor diz que anda entre os sete
candelabros, portanto não está simplesmente parado. Ele está no
seu meio! E: ele é ativo no seu meio!
Observemos o Senhor Jesus no seu caminho vitorioso da terra
para o céu: três dias após sua morte na cruz, ressuscitou
vitoriosamente; quarenta dias depois, subiu ao céu em triunfo,
assentando-se à direita da majestade de Deus. Através do Espírito
Santo, porém, ele anda hoje entre as sete igrejas, isto é, entre toda
a igreja. Ele está presente, apesar de no Novo Testamento o vermos
nove vezes (quatro delas na carta aos Hebreus) assentado à direita
da Majestade, nas alturas. Ele está “muito acima de todo governo e
autoridade, poder e domínio, e de todo nome que se possa
mencionar, não apenas nesta era, mas também na que há de vir” (Ef
1.21). Sua elevação nada mais é do que o resultado da sua
ressurreição. E o maravilhoso: quando Jesus subiu ao céu, foi como
com Abraão, do qual está dito que Melquisedeque foi ao seu
encontro e lhe trouxe pão e vinho. Quando isso aconteceu, Levi já se
encontrava nos lombos de Abraão, isto é, todo o Israel, o sacerdócio
(Hb 7.5), já estava em Abraão. No entanto, ele ainda não estava
revelado. Então, quando Jesus subiu ao céu, toda a igreja já estava
nele. Nós ainda não éramos visíveis, mas estávamos presentes;
estávamos figuradamente nos seus lombos, pois ele é a cabeça e
nós somos os membros. Nós somos o corpo de Jesus Cristo e,
assim, o triunfo de Jesus Cristo – sua ascensão e seu assentar à
direita da Majestade de Deus – é também o nosso triunfo! (cf. Ef
2.6.)
O grande tema dessa primeira carta do céu, do Cristo elevado,
contém duas coisas: serviço e amor. “Conheço as suas obras, o seu
trabalho árduo e a sua perseverança. Sei que você não pode tolerar
homens maus, que pôs à prova os que dizem ser apóstolos mas não
são, e descobriu que eles eram impostores. Você tem perseverado e
suportado sofrimentos por causa do meu nome e não tem
desfalecido” (v. 2-3). Isso é serviço – serviço fiel e incansável,
combinado com inexistência de comprometimentos, pois ele diz no
versículo 6: “Mas há uma coisa a seu favor: você odeia as práticas
dos nicolaítas...”. Os nicolaítas eram cristãos que, apesar de serem
convertidos e membros da igreja de Jesus, de alguma maneira
estabeleciam compromissos e aprovavam pecados da carne. Isso
era rejeitado pela igreja em Éfeso. Ela rejeitava decididamente toda
semelhança com o mundo – portanto: serviço e amor. Olhemos
claramente esses dois conceitos básicos do discipulado de Jesus e
ouçamos aquilo que o Senhor elevado diz a respeito à igreja de
Éfeso.
Primeiro algo do amor, que está sempre em primeiro lugar aos
olhos do Senhor. Depois falaremos do serviço e, finalmente, mais
uma vez do amor.
O amor passa como um fio vermelho através de toda a Bíblia. O
amor é o mais elevado. Por isso, Paulo louva o amor em 1Coríntios
13 e constata: “... se não tiver amor, nada serei” (v. 2). No Antigo
Testamento há duas passagens em que é exigido amor: “E agora, ó
Israel, que é que o S , o seu Deus, pede de você, senão que
tema o S , o seu Deus, que ande em todos os seus caminhos,
que o ame e que sirva ao S , o seu Deus, de todo o seu
coração e de toda a sua alma” (Dt 10.12). E uma passagem
semelhante em Miqueias 6.8: “Ele mostrou a você, ó homem, o que é
bom e o que o S exige: pratique a justiça, ame a fidelidade e
ande humildemente com o seu Deus”. Se agora reunimos essas duas
passagens, temos sete exigências que o Senhor fazia a Israel na
antiga aliança. Como o mesmo tema é predominante também na
primeira carta do céu, vamos organizar essas exigências. Em
Deuteronômio 10.12: 1) temer o Senhor; 2) andar em seus caminhos;
3) amá-lo; 4) servi-lo de todo o coração e de toda a alma. Em
Miqueias 6.8: 5) praticar a justiça; 6) amar a fidelidade; e 7) andar
humildemente com Deus. Esclarecedor é que essas duas afirmações
no Antigo Testamento não somente contêm sete exigências de Deus,
mas também que uma delas é repetida, se bem que com uma
nuance. Em Deuteronômio 10.12 é dito “o ame” e em Miqueias 6.8
“ame a fidelidade”. Isso, porém, é o cumprimento da exigência
completa do Senhor, como ele a expressou no Novo Testamento.
Quando um fariseu foi a Jesus e perguntou: “Mestre, qual é o maior
mandamento da Lei?” (Mt 22.36), está escrito: “Respondeu Jesus:
‘“Ame o Senhor, o seu Deus de todo o seu coração, de toda a sua
alma e de todo o seu entendimento”. Este é o primeiro e maior
mandamento. E o segundo é semelhante a ele: “Ame o seu próximo
como a si mesmo”. Destes dois mandamentos dependem toda a Lei
e os Profetas’” (Mt 22.37-40). Se não vemos essa relação, não
podemos entender direito a carta. Aliás: não se pode entender direito
o Novo Testamento quando não se conhece o Antigo Testamento. O
Senhor descreve claramente sua exigência nas duas passagens do
Antigo Testamento, mas a mais elevada de forma dupla: “Ame o” e
“ame cada um o seu próximo”. O último resulta do primeiro.
Se sua pergunta pessoal para nós é: você me ama?, então nos
examinaremos com santa seriedade e nos perguntaremos:
correspondemos a essa única e portanto maior necessidade, ou
falta-nos afinal a única condição para o serviço abençoado? A igreja
de Jesus de fato consiste em servos do Senhor. O próprio Senhor
Jesus descreveu o que realmente é servir: “Quem me serve precisa
seguir-me” (Jo 12.26). Esta é, portanto, a definição de servir: o
seguir a Jesus! Sabemos disso muito bem e também cantamos logo:
“Estou decidido, a seguir a Jesus...”. No entanto, não coloquemos a
ênfase sobre o “estou”, mas sobre a pessoa, sobre Jesus! A
indisposição para servir no reino de Deus tem sua raiz no
distanciamento da pessoa do Senhor Jesus. Não há mais amor
ardente, não há mais verdadeiro discipulado.
Não se pode dizer dos efésios que eles não tinham disposição
para servir. Pelo contrário, raramente existiu uma igreja que fosse
tão zelosa e tão pronta para o trabalho, tão sem compromissos e tão
biblicamente fundamentada como a de Éfeso: “Conheço as suas
obras, o seu trabalho árduo e a sua perseverança. Sei que você não
pode tolerar homens maus, que pôs à prova os que dizem ser
apóstolos mas não são, e descobriu que eles eram impostores. Você
tem perseverado e suportado sofrimentos por causa do meu nome e
não tem desfalecido” (v. 2-3). Que atividade de serviço cristão tinha
essa igreja! O alto grau de conhecimento dá frutos. O Senhor sabe
de tudo que fazemos! Esse “Conheço” aparece sete vezes nas
cartas.
Se você se esforça e se desgasta no trabalho para o Senhor e
sacrifica a ele o seu tempo livre, então ele diz: “Conheço...”. Esse
conhecer do Senhor elevado, porém, nem sempre significa alegria
para ele, porque frequentemente não correspondemos à sua
exigência mais elevada.
Faz-se necessária, entretanto, uma correção, pois a palavra
“exigência” aparece no Antigo Testamento, mas não no Novo
Testamento. No Antigo Testamento está escrito: “É dito o que o
Senhor exige de você”, mas no Novo Testamento temos um Senhor
que pede. O Antigo Testamento, a lei, diz: faça isso e viverá. O Novo
Testamento, a graça, diz: viva, e você o fará. Por que o Senhor não
se alegra pelos efésios, apesar de poder enumerar tantas coisas
positivas nos versículos 2-3 da sua carta? Porque seu serviço – e
isso vale também para o nosso – era quantitativamente notável, mas
qualitativamente deficiente. Por quê? Porque não era abençoado.
Por quantitativo entendemos o efeito horizontal, aquilo que se
percebe à nossa volta, o que impressiona as pessoas: boa
pregação, canto bonito, testemunho emocionante, dedicação
abnegada. Não se pode dizer que no reino de Deus essas coisas não
acontecem. Mas qualitativamente...? Qualidade é aquilo que
poderíamos também chamar de efeito de profundidade: serviço
abençoado, porque tem suas fontes na pessoa de Jesus e leva para
Jesus! É isso que o Senhor quer dizer aos efésios: “Conheço as suas
obras, o seu trabalho árduo e a sua perseverança... e... e...”. Então,
porém, vem a acusação: “Contra você, porém, tenho isto: você
abandonou o seu primeiro amor” (v. 4). Se servimos no primeiro
amor, temos ilimitados efeitos de profundidade: lançamos
fundamentos que permanecem para sempre e damos frutos que têm
valor eterno. Em duas palavras: somos abençoados. No entanto, se
não somos abençoados, o tempo nos foge.
O serviço do Senhor Jesus era da mais alta qualidade. Ele era o
servo de todos: “... o Filho do homem, que não veio para ser servido,
mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos” (Mt 20.28).
Seu serviço tinha efeitos grandiosos e profundos. Cada renascido é
um fruto do seu serviço. Qual era o motor do seu serviço, que o
impeliu a entregar a sua vida? Era o seu grande, maravilhoso e
inextinguível amor! Um serviço sem o primeiro amor por ele é sem
efeito; é um serviço frio, degenerado a um nível social: evangelho
social. Podemos assim fazer muitas coisas boas “ao próximo” – até
mesmo nos tornar um segundo Pestalozzi ou um segundo Albert
Schweitzer –, mas se a mola propulsora não é o amor de Jesus, isso
não tem efeito de profundidade, mas no máximo de comprimento. O
Senhor Jesus diz: “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a
sua vida pelos seus amigos” (Jo 15.13). Por amor – a quem? Em
primeiro lugar, seu amor ardente impulsionava-o para o seu Pai. A
Bíblia está cheia de provas desse maravilhoso amor do Filho pelo Pai
e do Pai pelo Filho. Assim, Deus disse três vezes do céu: “Este é o
meu Filho amado” e “Eu já o glorifiquei e o glorificarei novamente”
(Mt 3.17; 17.5; Jo 12.28). Essa era a majestade do seu serviço.
Nisso estava a sua autoridade. Seu serviço não era estéril, não se
tratava de atividade cristã ou social. Seu amor era um “propulsor” tão
forte que ele podia suportar tudo. O amor a Jesus precisa ser a mola
propulsora do nosso serviço. “Pois o amor de Cristo nos
constrange...” (2Co 5.14). Se não é esse amor que nos propulsiona,
nosso serviço não é abençoado. “Serviço abençoado”, no fundo, não
significa nada mais do que fazer a vontade de Deus. A santa vontade
de Deus é movida pelo seu caráter, e esse é amor! “Porque Deus
tanto amou o mundo que deu o seu Filho Unigênito...” (Jo 3.16).
Portanto, sua vontade de dar o seu Filho foi impulsionada pelo seu
amor. Tudo que fazemos fora da pessoa do Senhor é um serviço
morto. Por mais cristãs que sejam nossas atividades, vale: “... se
não tiver amor, nada serei” (1Co 13.2).
Quando falamos do primeiro amor, falamos do mais sagrado. Com
esse primeiro amor faz-se referência a duas coisas: o primeiro amor
e o amor em primeiro lugar. Ter perdido o primeiro amor significa não
realizar mais as primeiras obras. Volte à prática das primeiras obras
como você fazia antigamente: com oração e motivado “por causa de
Jesus”. Você não está mais com ele tanto quanto antes. Quantas
vezes se vê isso também em matrimônios que foram realizados
contra a vontade de Deus. Eles começam idealisticamente e cheios
de confiança. No entanto, logo o primeiro amor começa a esfriar,
sim, ele chega ao ponto de congelamento. Os cônjuges não têm
mais nada a se dizer. Assim é nas coisas espirituais: talvez você
ainda ora, contribui e canta, mas o fulgor do primeiro amor, que
iluminava tudo o que fazia antes, não existe mais. Talvez você fala a
“língua dos anjos”, tem uma fé poderosa, trabalha sem se cansar,
sendo zeloso e sem compromissos – mas sem aquilo que vivifica
tudo: o primeiro amor.
Com isso chegamos ao segundo significado de “contra você,
porém, tenho isto: você abandonou o seu primeiro amor”.
Certamente você ama ele, mas qual lugar em sua vida ocupa esse
amor a Jesus? Em Éfeso havia tantas coisas importantes, inclusive
para os crentes. Éfeso era, como citado, uma rica cidade comercial,
um centro do Oriente, que oferecia muitas possibilidades. Com o
tempo, para muitos crentes os negócios, o trabalho, as relações, o
planejamento do tempo livre, começaram a ocupar o primeiro lugar.
Por acaso você também está em vias de dar o primeiro lugar a algo
que não seja Jesus, abandonando assim o primeiro amor? O
primeiro amor nada mais é do que a disposição de sofrer. Sofrer é
maior do que trabalhar. O maior significado do grão de trigo não se
encontra em si mesmo, mas no fato dele morrer. “Primeiro amor”
significa, portanto, disposição para realmente morrer junto com
Cristo; amor pela cruz. Qual é o lugar que o amor a Jesus, o amor à
cruz, ocupa em seu coração? “Contra você, porém, tenho isto: você
abandonou o seu primeiro amor”, diz o Senhor. A sociedade pode
engolir muitas coisas em nossa vida. Tantas trivialidades ocupam o
primeiro lugar: televisão, jornal, dinheiro, conforto. Um exemplo claro
disso são os Jogos Olímpicos. Aquelas poucas semanas custam
cada vez bilhões de reais. Com razão um jornalista chamou isso de
estupidez absurda. O esforço foi e é (de modo crescente) muito
grande em proporção ao essencial. Como é a proporção entre o
essencial, o primeiro amor ao Senhor, e o esforço para a sua vida
diária? Você é absorvido completamente pela sua vida no dia a dia,
pelas suas atividades diligentes, pelo seu pensamento material? O
amor ao Senhor Jesus está em último lugar ou até já desapareceu
completamente? Por tantos abandonarem o primeiro amor é que
ainda não temos um despertamento abrangente. Milhões de pessoas
vão para a perdição eterna porque o amor ao Senhor não arde mais,
porque os filhos de Deus não estão dispostos a fazer toda a vontade
de Deus. Obediência ao Senhor e amor por ele, isso é inseparável.
O quanto a vontade de Deus está relacionada com o seu grande
amor percebe-se pela sua própria afirmação, em Oseias 14.4: “... os
amarei de todo o meu coração”.
O seu raio de ação é tão reduzido porque você não está disposto
a fazer a vontade do Senhor, e não está disposto a fazer a vontade
do Senhor porque o seu amor completo não pertence a ele. O
Senhor mesmo disse: “Quem tem os meus mandamentos e lhes
obedece, esse é o que me ama” (Jo 14.21).
Por que a Palavra de Deus teve tanta penetração entre os
primeiros cristãos, na igreja primitiva? Deus deu um despertamento
especial? Não. Deus é sempre o abençoador, sempre aquele que dá
vida. Os primeiros cristãos, porém, não amavam a si mesmos, os
seus bens ou o seu dinheiro. Pelo contrário, eles tinham tudo em
conjunto, eles entregaram tudo. Eles faziam a vontade de Deus até
as últimas consequências – e o evangelho se espalhou.
No entanto, pela perda do primeiro amor não é mais cumprida a
vontade de Deus sobre a terra, por cuja realização o Senhor Jesus
orou: “... seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu”. O
Senhor Jesus nos procura e nos diz: “Lembre-se de onde caiu!
Arrependa-se e pratique as obras que praticava no princípio. Se não
se arrepender, virei a você e tirarei o seu candelabro do lugar dele”
(v. 5). Então escurece. Você percebe como as luzes à sua volta
estão apagando? Vê como fica escuro? Arrependa-se e faça as
primeiras obras!
A urgente necessidade de arrepender-se é expressa nessa
primeira carta, bem como nas seguintes, com as palavras: “Aquele
que tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às igrejas” (v. 7,11,17,29;
3.6,13,22). Isso quer dizer: aquele que, como renascido, como
membro no corpo de Jesus, tem a capacidade, ou seja, a inclinação
interior para ouvir o que o Senhor diz, esse deve realmente ouvir. Em
outras palavras: ele tem a responsabilidade de atender àquilo que
ouviu e entendeu. Imediatamente depois, o Senhor faz a primeira
promessa aos vencedores: “Ao vencedor darei o direito de comer da
árvore da vida, que está no paraíso de Deus” (v. 7b). Essa primeira
promessa aos vencedores nos leva de volta ao paraíso e à arvore da
vida. Depois que Adão comeu da árvore do conhecimento do bem e
do mal, ele foi expulso do paraíso para que não comesse também da
árvore da vida: “Então disse o S Deus: ‘Agora o homem se
tornou como um de nós, conhecendo o bem e o mal. Não se deve,
pois, permitir que ele tome também do fruto da árvore da vida e o
coma, e viva para sempre’. Por isso o S Deus o mandou
embora do jardim do Éden para cultivar o solo do qual fora tirado.
Depois de expulsar o homem, colocou a leste do jardim do Éden
querubins e uma espada flamejante que se movia, guardando o
caminho para a árvore da vida” (Gn 3.22-24). Através disso vemos
que essa árvore da vida protegida, ou seja, oculta, é o manancial, a
fonte original da vida eterna. Os frutos dessa árvore alimentam a
vida eterna. Para que Adão, após sua queda, não comesse deles e
vivesse eternamente na terra, Deus expulsou-o do paraíso, pois a
morte era o salário do pecado. Aqui é dito aos vencedores que eles
comerão da árvore da vida. Em outras palavras: eles terão a vida
eterna “permanente em si” (cf. 1Jo 3.15 RA). A expressão “vida
eterna” já não mostra de maneira suficientemente clara que se trata
de vida sem fim? Sem dúvida! É, porém, indicada a “árvore da vida”.
Ela é citada mais três vezes no Apocalipse (22.2,14,19). Se, porém,
é prometido aos vencedores que o Senhor lhes dará de comer da
árvore da vida, que se encontra no paraíso de Deus, e que então
terão a vida eterna permanentemente em si, temos que observar o
seguinte: a vida eterna é chamada “eterna” porque vai da eternidade
do passado até a eternidade do futuro; é a vida de Deus que foi
revelada em Jesus Cristo, que é Deus (Jo 1.4; 5.26; 1Jo 1.1-2).
Essa vida eterna de Deus, que foi revelada em Cristo, é dada pelo
renascimento a todo aquele que crê no Senhor Jesus Cristo. O
renascido toma posse dela pelo Espírito Santo com base na Palavra
de Deus.
Para compreender ainda melhor essa promessa aos vencedores,
temos que notar que essa vida eterna, que o crente recebe, não é
uma vida nova, sendo nova somente no sentido de o homem
apropriar-se dela. Trata-se da vida que era “no princípio”. E essa
vida de Deus, que o renascido recebe, é uma parte inseparável da
vida que estava em Jesus Cristo desde a eternidade e está na
eternidade. Foi isso que o Senhor Jesus quis dizer quando afirmou:
“Eu sou a videira, vocês são os ramos” (Jo 15.5); ou através de
Paulo: ele é a cabeça e nós os membros (cf. Ef 1.22-23; 4.16).
Portanto, o comer da árvore da vida significa: ser completamente um
com o Senhor Jesus Cristo por toda a eternidade. Por isso é tão
importante que sejamos vencedores. Somente assim poderemos
uma vez comer da árvore da vida. Então viveremos de eternidade em
eternidade, diante de Deus e do Cordeiro. A cruz do Gólgota, na qual
o Senhor Jesus derramou seu sangue, tornou-se para nós a árvore
da vida!

A Segunda Carta do Céu (Ap 2.8-11)


8“Ao anjo da igreja em Esmirna, escreva: Estas são as palavras
daquele que é o Primeiro e o Último, que morreu e tornou a viver.
9Conheço as suas aflições e a sua pobreza; mas você é rico!
Conheço a blasfêmia dos que se dizem judeus mas não são,
sendo antes sinagoga de Satanás. 10Não tenha medo do que você
está prestes a sofrer. O Diabo lançará alguns de vocês na prisão
para prová-los, e vocês sofrerão perseguição durante dez dias.
Seja fiel até a morte, e eu lhe darei a coroa da vida. 11Aquele que
tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às igrejas. O vencedor de
modo algum sofrerá a segunda morte.”
Naquela época, Esmirna era uma bonita e rica cidade comercial na
Ásia Menor, que tinha sido fundada por Alexandre, o Grande. Nela
vivia uma igreja pobre e perseguida de crentes do Senhor Jesus
Cristo. Significativamente, Esmirna quer dizer “murteira”, “mirra” ou
também “amargura”. Os filhos de Deus experimentaram ali muitas
coisas amargas e difíceis. No Antigo Testamento, era justamente a
mirra que tinha primeiro que ser triturada antes que pudesse ser
oferecida como aroma agradável sobre o altar do incenso de ouro.
Esse era o caminho da igreja de Esmirna, e, como os crentes
daquela igreja, nós também somos triturados, esmigalhados e
esmagados para que nossa oração, na essência, seja o nosso
próprio ser, tornando-nos nós mesmos um aroma agradável ao
Senhor. Esmirna era uma cidade de mártires. O pai da igreja
Policarpo foi mais tarde queimado sobre o monte Pagos, em
Esmirna; no mesmo lugar, o solo foi regado com o sangue de 1.500
testemunhas de Jesus, que foram executadas ao mesmo tempo,
sendo feito o mesmo depois com mais 800. O Senhor voltou seus
olhos para essa cidade, pois, no tempo em que João se encontrava
em Patmos, ali uma de suas igrejas encontrava-se em grande
tribulação.
Em primeiro lugar, o Senhor faz saber a essa igreja: “Conheço as
tuas obras...” (ACF). Notavelmente ele não descreve essas obras.
Isso está em contraste com a carta aos efésios, aos quais mandou
escrever: “Conheço as suas obras, o seu trabalho árduo e a sua
perseverança. Sei que você não pode tolerar homens maus, que pôs
à prova os que dizem ser apóstolos mas não são, e descobriu que
eles eram impostores. Você tem perseverado e suportado
sofrimentos por causa do meu nome, e não tem desfalecido” (2.2-3).
Em meio às realizações quantitativas, porém, nosso Senhor vê o
essencial. Apesar do Senhor dizer à Esmirna: “Conheço as tuas
obras”, aparentemente ela não faz nada. A ação está completamente
nas mãos dos adversários da igreja em Esmirna, e ela suporta o que
lhe é feito. No entanto, é justamente nisso que se encontra sua maior
atividade! Ela consiste da semelhança com o Senhor Jesus, que
realizou a obra maior deixando a ação por conta dos inimigos.
Quando o Senhor Jesus começou sua obra maior, ele confirmou aos
que foram prendê-lo, em Lucas 22.53b: “Mas esta é a hora de vocês
– quando as trevas reinam”. Ele estendeu suas mãos e deixou-se
prender. A Pilatos ele disse: “Não terias nenhuma autoridade sobre
mim se esta não te fosse dada de cima” (Jo 19.11). A Pilatos foi,
portanto, entregue a ação, para que Jesus pudesse realizar o maior
ato de todos. Deixe que também a sua iniciativa seja tirada, a sua
capacidade de agir, para que o Senhor possa agir através de você e
assim realizar grandes coisas! “Conheço as tuas obras, e tribulação”
(ACF). O Senhor sabe de tudo – também da sua tribulação e
dificuldade. Mas não é precisamente esta a razão pela qual ele, no
início dessa carta, se apresenta como o “o Primeiro e o Último, que
morreu e tornou a viver” (v. 8)? Com isso ele diz ao seu pequeno
grupo intimidado: “Estive em grande tribulação antes de vocês. A
tribulação de vocês é a minha tribulação. Mas o inimigo que lhe aflige
nunca tem a última palavra. Eu sou o Primeiro e o Último. Se você
vier a sucumbir, estendo meus braços e estou com você. Morri, e eis
que vivo, e você deve se tornar participante da minha morte para que
você possa viver”.
“Conheço as tuas obras, e tribulação” (ACF). Quão alto o Senhor
avaliou justamente as obras invisíveis dos crentes sofredores em
Esmirna! Ele mede os seus com padrões completamente diferentes
do que nós. Com grande seriedade ele disse à sua igreja
maravilhosamente ativa em Éfeso: “Se não se arrepender, virei a
você e tirarei o seu candelabro do lugar dele” (2.5). A igreja em
Éfeso estava espiritualmente em perigo de vida, pois estava
abandonando o primeiro amor. Também nós nos encontramos em
grande perigo quando há penetração da autossatisfação espiritual.
Esmirna estava em aflição; Éfeso, não. Nosso problema é que não
temos problemas.
O Senhor não estava preocupado com a pobre e sofredora igreja
em Esmirna, apesar dela provavelmente ser composta somente de
pessoas de nível inferior da rica cidade industrial. Os crentes eram
amedrontados e sofriam de zombaria. Eles tinham duras tribulações
através de falsas doutrinas e suas vidas eram ameaçadas pelas
autoridades. Eles olhavam para os acontecimentos vindouros com
grande temor. Justamente por ser assim, porque a igreja estava
quase sucumbindo, o Senhor não a censurou, mas tinha promessas e
maravilhoso consolo preparado para ela! Não é realmente comovente
que o Senhor elevado, no versículo 9, refere-se com delicado
cuidado a cada aflição, sim, que ele não deixa de perceber nada,
nem esquece nada? “Conheço as tuas obras, e tribulação” (ACF). As
obras eram a tribulação por amor a Jesus! Suas almas trabalhavam
por amor a Jesus.
Ó, como você está próximo de Jesus se sofre por amor a ele,
quando se deixa levar à comunhão dos sofrimentos dele. Então ele
se inclina a você e diz: “Conheço as tuas obras, e tribulação” (ACF).
Quem, pois, poderia sabê-lo melhor do que ele? Para ele foram as
horas de calar-se diante dos homens e de ser pregado na cruz.
Quando estava pendurado na cruz, ele não era mais capaz de mover
suas mãos, para impô-las a alguém. No entanto, eu repito:
justamente lá ele fez a maior obra! Adolf Pohl disse com razão: “Que
ação na Paixão!”. Por isso, deve ter sido como bálsamo para a igreja
em Esmirna quando ouviu dizer: “Conheço as tuas obras, e
tribulação” (ACF). Assim como quando disse de si mesmo: “... que
morreu e tornou a viver”, ele diz isso a eles da glória, a qual alcançou
após seu sofrimento. Com base nesse fato, ele diz à igreja de
Esmirna: “Não tenha medo do que você está prestes a sofrer” (v.
10). Através de sofrimentos chega-se à glória! Sim, a medida dos
seus sofrimentos por amor a Jesus determina a medida da futura
glória que você terá. É o que Paulo diz em 2Coríntios 4.17-18: “Pois
os nossos sofrimentos [ou: tribulações] leves e momentâneos estão
produzindo para nós uma glória eterna que pesa mais do que todos
eles. Assim, fixamos os olhos, não naquilo que se vê, mas no que
não se vê, pois o que se vê é transitório, mas o que não se vê é
eterno”. Comovente é também que o Senhor mesmo determina a
medida dos sofrimentos da igreja em Esmirna, dizendo também a
ela: “O Diabo lançará alguns de vocês na prisão para prová-los, e
vocês sofrerão perseguição durante dez dias” (v. 10). Eles estão,
portanto, exatamente delimitados. O Senhor não deixa exceder a
medida (ver também 1Co 10.13), mas vela para que seus filhos não
desanimem. Pedro também quer dizer o mesmo, quando afirma em
sua primeira carta: “Nisso vocês exultam, ainda que agora, por um
pouco de tempo, devam ser entristecidos por todo tipo de provação.
Assim acontece para que fique comprovado que a fé que vocês têm,
muito mais valiosa do que o ouro que perece, mesmo que refinado
pelo fogo, é genuína e resultará em louvor, glória e honra, quando
Jesus Cristo for revelado” (1Pe 1.6-7).
A razão da pobreza da igreja em Esmirna deve ter sido seu
testemunho de Jesus, pois, na grande cidade comercial, certamente
os crentes poderiam ter conseguido uma boa existência. No entanto,
eles aceitaram as desvantagens sociais; tratava-se da consequência
do seu discipulado. Isso, porém, pressupunha completa disposição
de renúncia. Este é um ponto importante. Quem ainda hoje aceita
desvantagens econômicas por amor a Jesus? O contrário é o caso.
Deseja adaptar-se ao atual sistema social com todas as suas
exigências exageradas? Não sofremos pobreza; vivemos em um país
cristianizado. No entanto, o agarrar-se em coisas econômicas,
terrenas, em riquezas, tem sempre pobreza espiritual por
consequência. No fundo, não é atestado de louvor para nós quando
nos encontramos em certo bem-estar. Não se pode, então, possuir
nada? Paulo diz: “Sei o que é passar necessidade e sei o que é ter
fartura” (Fp 4.12). No entanto, logo que nos agarramos a nossos
bens, logo que se começa a fazer exigências, fica-se espiritualmente
pobre de maneira correspondente. Por que não sofremos pobreza
exterior? Porque a exigência de Jesus, de fazer nossa a sua
experiência, tomando a sua cruz sobre nós em todos os aspectos,
pressupõe disposição à renúncia. Isso o Senhor não exige de cada
um. De quem ele exige a autorrenúncia? Daqueles de quem ele sabe
que estão dispostos. Você está disposto? Disposição de renúncia se
manifesta em disposição ao sacrifício. Isso, porém, é renúncia em
ação.
Se o Senhor diz à igreja de Esmirna: “Conheço as suas aflições e
a sua pobreza”, então isso significa que ela tomou sobre si a pobreza
de Jesus. Dessa pobreza de Jesus fala-se em 2Coríntios 8.9: “Pois
vocês conhecem a graça de nosso Senhor Jesus Cristo que, sendo
rico, se fez pobre por amor de vocês, para que por meio de sua
pobreza vocês se tornassem ricos”. Isso significa que devemos
todos ficar pobres? Não, pois não se trata de justiça pelas obras,
mas significa desligar-nos interiormente das nossas propriedades.
Podemos usufruir com ações de graça de tudo que recebemos, mas
devemos ao mesmo tempo colocar tudo sobre o altar! Em outras
palavras: estar a qualquer momento dispostos a renunciar a tudo. A
igreja de Esmirna não precisaria ter seguido por esse caminho da
pobreza e aflições. No entanto, ela aceitou voluntariamente toda
desvantagem e inferioridade por causa de Jesus. Sua pobreza deve
ter sido grande, pois a palavra grega aqui usada para pobreza é
ptocheia. Ela era sempre utilizada quando se imaginava uma figura
encurvada de mendigo. Em situação tão miserável estavam,
portanto, os crentes de Esmirna. No entanto, por causa de sua
disposição de renúncia, o Senhor acrescenta imediatamente: “... mas
você é rico!”. Isso é um contraste em relação àquilo que ele diz aos
cristãos em Laodiceia, que não eram frios nem quentes, mas
mornos: “Você diz: ‘Estou rico, adquiri riquezas e não preciso de
nada’. Não reconhece, porém, que é miserável, digno de compaixão,
pobre, cego, e que está nu” (3.17). A igreja de Laodiceia encontrava-
se em profunda pobreza espiritual porque estava agarrada à sua
riqueza. O Senhor Jesus mesmo disse que “é mais fácil passar um
camelo pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no Reino de
Deus” (Mt 19.24). Ele quer dizer com isso que não se pode ser rico?
Não, certamente não! O rico, no entanto, deve considerar-se como o
administrador dos seus bens. Ai daquele cujo coração está preso em
suas posses! Temos aqui, portanto, os ricos pobres de Esmirna e os
pobres ricos de Laodiceia.
Surge então a pergunta: como está a sua disposição de renúncia
por amor a Jesus? Até que ponto você está disposto, de maneira
bem prática, a se aproximar da mentalidade de Jesus? Ele diz: “Da
mesma forma, qualquer de vocês que não renunciar a tudo o que
possui não pode ser meu discípulo” (Lc 14.33). Será que ele passa
por você com sua exigência total porque você foge do essencial e
ama a sua própria vida acima de tudo? Acontece que ele não obriga
ninguém a entregar sua vida. O princípio divino é, porém: “Aquele
que ama a sua vida a perderá; ao passo que aquele que odeia a sua
vida neste mundo [entrega-se por amor a Jesus] a conservará para a
vida eterna” (Jo 12.25). Isso não é uma ordem, mas a comunicação
de um princípio de Deus. A igreja de Esmirna tomou sobre si,
voluntariamente, as aflições e renúncias, porque amava Jesus acima
de tudo. Esmirna é uma das duas igrejas que o Senhor não teve que
repreender e conclamar ao arrependimento, como por exemplo
Éfeso, a quem diz: “Contra você, porém, tenho isto: você abandonou
o seu primeiro amor” (2.4). Gostaria de dizer mais uma vez com
ênfase: o Senhor não nos ordena que o amemos, pois o amor
sempre está baseado em espontaneidade. A igreja de Esmirna
amava-o e, por isso, ele animou-a tanto também com vistas às
coisas difíceis que ainda estavam diante dela: “Não tenha medo do
que você está prestes a sofrer. O Diabo lançará alguns de vocês na
prisão para prová-los, e vocês sofrerão perseguição durante dez
dias” (v. 10). E então vem o estímulo: “Seja fiel até a morte, e eu lhe
darei a coroa da vida” (v. 10c). Assim, os crentes de Esmirna
encontram-se no campo de força de sua maravilhosa plenitude de
promessas! Isso os fazia felizes – em meio às suas aflições e
pobreza, em suas provações e temores, em seu tremor e medo. A
promessa do Senhor sobrepujava todas as coisas duras em sua
vida. Ó, deixe que também em sua vida todas as dificuldades sejam
superadas pela promessa do Senhor. Também Paulo queria
esclarecer o mesmo quando disse em 2Coríntios 4.8-9: “De todos os
lados somos pressionados, mas não desanimados; ficamos
perplexos, mas não desesperados; somos perseguidos, mas não
abandonados; abatidos, mas não destruídos”. Ele jubilava na certeza
vitoriosa de que o Senhor estava com ele.
Porque a posição e a mentalidade da igreja em Esmirna
correspondiam à posição do Senhor Jesus, é claro que ela tinha
também exatamente os mesmos inimigos e tinha que suportar a
mesma resistência que ele, e isso exatamente do mesmo tipo de
pessoas: “... a blasfêmia dos que se dizem judeus mas não são,
sendo antes sinagoga de Satanás” (v. 9). Esses judeus
aparentemente crentes diziam, portanto, aos cristãos em Esmirna:
“Nós temos a religião certa, não vocês”. Não se trata aqui dos judeus
em geral, mas de uma determinada sinagoga judaica em uma
determinada atitude diante de uma determinada igreja cristã. Por
isso é fundamentalmente errado condenar o judaísmo em geral, pois
assim perseguidos se tornariam perseguidores. Os judeus aqui, que
se dizem verdadeiros judeus – mas dos quais o Senhor diz que não o
são – são protótipos dos religiosos sem Cristo. Tais crentes
aparentes existiram em todos os tempos, e nós os vemos também
atualmente. Esta é uma religião contrária ao discipulado de Jesus! A
perseguição por parte do mundo não é tão intensa como a
perseguição de pessoas religiosas, que dizem estar certas, mas não
estão; que ridicularizam os filhos de Deus e dizem: “Nós temos a
igreja certa”, apesar de tratar-se de uma “sinagoga de Satanás”, na
qual a infalibilidade da Bíblia é colocada em dúvida. Essas pessoas,
das quais Paulo diz: “Tendo aparência de piedade, mas negando o
seu poder” (2Tm 3.5), reúnem-se sob a bandeira do Anticristo.
Observe bem o que diz 2Timóteo 3.12: “De fato, todos os que
desejam viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos”.
Não existe outro caminho a não ser aquele que foi seguido por
Jesus. Mas se você andar nele, o que lhe aguarda é a coroa da vida;
então o próprio Senhor Jesus o espera na outra margem. Ele diz
agora a você, a seu filho aflito: “Não tenha medo do que você está
prestes a sofrer... Seja fiel até a morte, e eu lhe darei a coroa da
vida”. Ser fiel até a morte, essa é a fidelidade do testemunho de
Jesus, pois no capítulo 1.5 ele é chamado de “a testemunha fiel”. Fiel
não somente é aquele que permanece crente até a hora da sua
morte, mas aquele que permanece também uma testemunha em
palavras e no seu ser; aquele que se firma constantemente na vitória
de Jesus. Em nossos dias, muitos se afastam desse testemunho vivo
porque temem os sofrimentos de Jesus. O contrário é o caso, e
então inevitavelmente acontece: fazer exigências conforme as
normas da nossa sociedade, ao invés de dar. Está certo: o
sofrimento, desligado de Cristo, sem efeito vicário, é um poder
inimigo; ele não é para o homem, pois Deus não o destinou para ele.
Por isso está escrito em Apocalipse 21.4 que na glória não haverá
mais sofrimento. No entanto, somente através da comunhão dos
seus sofrimentos – que são santificados e que ele tomou sobre si por
nossa causa, tanto exteriores quanto interiores – nós somos, você e
eu, unidos com o ser, o caminho e a glória de Jesus Cristo.
Encontramo-nos agora numa encruzilhada. A pergunta é: estou
disposto a seguir o caminho da autorrenúncia por amor a Jesus?
Então recebemos rico consolo e maravilhosa glória. Porém, se
seguimos o caminho da autoafirmação e da chamada
“autorrealização”, então morremos espiritualmente e viveremos sem
consolo.
Esmirna tinha esse consolo em toda a plenitude. Os ouvidos
desses crentes estavam abertos para o falar do Senhor. Que a
promessa aos vencedores é tão reduzida justamente para Esmirna –
“O vencedor de modo algum sofrerá a segunda morte” (v. 11b) –
reforça o fato de que se trata de uma igreja vencedora que já possui
toda a plenitude da divindade em Jesus Cristo.
Um grande perigo do sofrimento consiste na atrofia da alma.
Assim é também em outras áreas – a não ser que sejamos
vencedores! Como é importante que tenhamos vitória e vençamos na
tribulação, pois então não sofreremos o dano da segunda morte.
Acontece que existem dois tipos de morte: a morte física e a
“segunda”, a morte espiritual. Quem nasce uma vez tem que morrer
duas vezes; quem nasce duas vezes precisa morrer uma vez. Aquele
que recebe somente a vida física de sua mãe, portanto que nasce
somente uma vez, esse morre duas vezes: a morte física e depois
ainda a “segunda” morte, ou seja, a morte que não mata. Tal pessoa
fica separada do Deus vivo por toda a eternidade. Mas quem nasce
duas vezes – fisicamente e, então, espiritualmente pela fé em Jesus
Cristo (renascido) – recebe a vida eterna e, por isso, morre somente
uma vez. Essa morte única, no fundo, não é mais morrer, mas
retornar à casa. A “segunda” morte não podia mais fazer mal a um
vencedor, pois ela foi vencida pela morte de Jesus.

A Terceira Carta do Céu (Ap 2.12-17)


12“Ao anjo da igreja em Pérgamo, escreva: Estas são as palavras
daquele que tem a espada afiada de dois gumes. 13Sei onde você
vive – onde está o trono de Satanás. Contudo, você permanece
fiel ao meu nome e não renunciou à sua fé em mim, nem mesmo
quando Antipas, minha fiel testemunha, foi morto nessa cidade,
onde Satanás habita. 14No entanto, tenho contra você algumas
coisas: você tem aí pessoas que se apegam aos ensinos de
Balaão, que ensinou Balaque a armar ciladas contra os israelitas,
induzindo-os a comer alimentos sacrificados a ídolos e a praticar
imoralidade sexual. 15De igual modo você tem também os que se
apegam aos ensinos dos nicolaítas. 16Portanto, arrependa-se! Se
não, virei em breve até você e lutarei contra eles com a espada
da minha boca. 17Aquele que tem ouvidos ouça o que o Espírito
diz às igrejas. Ao vencedor darei do maná escondido. Também
lhe darei uma pedra branca com um novo nome nela inscrito,
conhecido apenas por aquele que o recebe.”
A igreja em Pérgamo era, dentre as sete igrejas, a que estava
localizada mais ao norte, cerca de 70 quilômetros ao norte de
Esmirna. A cidade de Pérgamo aqui citada pertencia uma vez à Lidia,
sob o riquíssimo rei Creso e, após sua derrota, passou a pertencer
ao Império Persa. Mais tarde ela passou a pertencer à Macedônia e,
em 264 a.C., tornou-se a muito conhecida e ricamente ornamentada
capital do reino de Pérgamo. No ano de 133 a.C., pelo testamento
do seu último rei, Átalo III, ela passou a pertencer ao Império
Romano. Ela era famosa, principalmente, devido ao templo de
Asclépio e pelo gigantesco altar de Zeus. A muito citada biblioteca,
com 250.000 rolos de pergaminho (também a palavra pergaminho
surge de Pérgamo), não se encontrava mais lá há muito tempo na
época do apóstolo. No entanto, a ciência e a arte ainda floresciam.
Também hoje essa cidade ainda existe. Ela se chama Bergama e é
habitada por gregos e turcos.
Apesar das cartas do céu serem formuladas de maneira curta e
sucinta, não se trata de uma apresentação resumida. Na leitura das
cartas devemos repetidamente lembrar que essas são as últimas
palavras diretas que temos de nosso Senhor Jesus Cristo. Apesar de
se falar também da restauração e salvação de Israel, ele dirige-se
principalmente à igreja, pois, conforme 1Coríntios 10.11, a igreja de
Jesus é aquela sobre a qual o fim dos tempos tem chegado. Em
outras palavras: ela é a retaguarda no plano de salvação. Nos
evangelhos, o Senhor Jesus fala aos seus discípulos e, através dos
seus discípulos, a nós. Aqui, porém, ele dirige-se da direita do Pai
diretamente à sua igreja e assim também a nós. Essa forma direta é
sublinhada porque João, como apóstolo do Senhor e membro no
corpo de Jesus, recebeu as mensagens. Por isso cada palavra deve
ser cuidadosamente observada, pensando-se a respeito, orando e
indagando: o que o Senhor quer dizer com isso?
A maneira insistentemente direta com que o Senhor se dirige a
cada uma das sete igrejas também pode ser uma das razões porque
essas cartas são relativamente pouco comentadas. A cada igreja o
Senhor revela um outro lado do seu ser, dependendo do que a igreja
em questão necessitava e necessita hoje. À igreja de Esmirna ele se
apresenta como “o Primeiro e o Último”, como o vencedor absoluto
sobre a morte. Essa igreja, que estava em grande aflição,
necessitava disso como consolo; ela precisava saber quem era o seu
Senhor. À Pérgamo, entretanto, ele se revela como aquele “que tem
a espada afiada de dois gumes” (v. 12). Nessa autoapresentação do
Senhor vemos também, com inconfundível clareza, o tema dessa
carta: nenhuma mistura! O mesmo diz também Hebreus 4.12: “Pois a
palavra de Deus é viva e eficaz, e mais afiada que qualquer espada
de dois gumes; ela penetra até o ponto de dividir alma e espírito,
juntas e medulas, e julga os pensamentos e as intenções do
coração”. Deus não quer mistura! Em Apocalipse 19.15 vemos o
Senhor elevado assentado sobre o cavalo branco: “De sua boca sai
uma espada afiada...”. Com ela, ele julga as nações anticristãs (cf.
Ap 19.21). A espada afiada de dois gumes é a Palavra de Deus, sim,
ele mesmo é a Palavra de Deus: “Aquele que é a Palavra tornou-se
carne e viveu entre nós” (Jo 1.14a).
O Senhor não se revela à Pérgamo somente como a espada
afiada de dois gumes que sai da sua boca, mas também através de
toda a história da salvação até os dias de hoje. Com essa espada
ele também matará o Anticristo.
Quando Josué estava perto de Jericó e pela primeira vez tinha a
responsabilidade de conduzir o povo de Israel à terra prometida, ele
percebeu repentinamente um homem diante dele, “empunhando uma
espada” (Js 5.13) – a Palavra de Deus. A Palavra de Deus
convence, ela julga e separa e assim guarda de mistura. Por isso
precisamos transmitir a Palavra de Deus!
Pérgamo significa “cidadela”. A igreja em Pérgamo estava em
extremo perigo. Pérgamo era naquela época a sede do governador
romano. Além disso, era também o centro do culto ao imperador.
Havia ali, entre outros, um grande templo dedicado a Roma, no qual
o César Augusto deveria receber adoração divina. Através disso a
pequena igreja entrou em grandes dificuldades. Com poder romano
era dada ênfase especial à lei segundo a qual o imperador deveria
receber adoração divina. Por isso é muito esclarecedor que aqui o
Senhor não diz (como à Esmirna, à Éfeso e a outras igrejas):
“Conheço as suas obras”, mas: “Sei onde você vive” (v. 13). Apesar
da edição Almeida Corrigida Fiel dizer: “Conheço as tuas obras, e
onde habitas”, nos manuscritos originais falta esse “as tuas obras”. É
por isso que esta parte é omitida em quase todas as traduções.
Aparentemente faltava à igreja em Pérgamo as obras de Cristo.
Ela deve ter feito muitas coisas inúteis, muitas obras mortas. Esse
também é o grande perigo hoje. Aproveitamos bem e
completamente, você e eu, o tempo que recebemos do Senhor aqui
na terra? Nós temos somente um prazo limitado! “Nas tuas mãos,
estão os meus dias” (Sl 31.15a, RA). Esse tempo tem que ser
investido para a eternidade, pois precisamos prestar contas sobre o
que fizemos para ele com o nosso tempo aqui na terra! Muitas
pessoas têm tempo – até muito tempo –, porém, não para a causa
do Senhor, mas para si mesmas. No entanto, a Escritura adverte: “...
aproveitando ao máximo todas as oportunidades” (Cl 4.5).
Se seguirmos nessa tradução – “Conheço as tuas obras” –, o
Senhor não se refere aqui às obras proveitosas. Aparentemente eles
realizavam obras que não eram dignas de citação. A essas a Bíblia
chama de obras mortas. Uma paralisia espiritual somente é vencida
quando há arrependimento sobre obras mortas. O sangue de Jesus
Cristo purifica também de obras mortas, que não trazem fruto para a
eternidade (Hb 9.14).
Apesar disso, o Senhor louva a igreja em Pérgamo. Ele é justo e
não esquece nada! Quando ele repreende onde é necessário ele
também louva onde é apropriado: “Sei onde você vive – onde está o
trono de Satanás” (v. 13). O Senhor sabia que sua igreja em
Pérgamo estava muito ameaçada, pois ela vivia na área de poder de
Satanás. Duas vezes é usado aqui palavras de localização: “Sei onde
você vive”. E quando ele então fala de Antipas, sua fiel testemunha,
ele mais uma vez diz: “... onde Satanás habita” (v. 13b). Viver com o
Diabo, isso é algo terrível! Se está escrito “onde está o trono de
Satanás”, quer-se dizer que o príncipe das trevas tinha especial
plenitude de poder em Pérgamo, quer seja pelo culto aos espíritos,
através do governador romano ou pelo panorama visível. Sabe-se
pela história que em Pérgamo havia um altar de 300 metros de altura
em honra a Zeus. Além disso, havia naquele tempo em Pérgamo um
culto de cura com serpentes, que era conhecido e famoso. Em um
templo onde se mantinham serpentes, as pessoas procuravam a
cura dos seus males. A serpente principal era até chamada de
“salvadora”. Muitas pessoas criam nela e a adoravam – o trono de
Satanás. Isso desperta associações com o paraíso e a antiga
serpente má. Se o Senhor diz aos seus comprados pelo sangue: “Sei
onde você vive – onde está o trono de Satanás”, ele prova com isso
que ele não passa ao largo nem julga sem levar em conta o poder
negativo das circunstâncias e da atmosfera. Ele também sabe
exatamente onde você habita, em que situação você se encontra –
em que vizinhança, em que família, em que local de trabalho. Ele
conhece os poderes satânicos que se enfurecem à sua volta no dia a
dia, de maneira que você quase perde a capacidade de respirar. O
que é o respirar da alma? A oração!
Jesus sabe tudo – também tudo de você e sobre você. Ele nunca
permite que sejamos tentados além das nossas forças e afundemos
no desespero. Apesar de ter permitido, por exemplo, que Satanás
tocasse seu servo Jó – não somente que os dez filhos de Jó se
acidentassem mortalmente num só dia e todos os seus bens fossem
perdidos, mas também que sua própria mulher lhe dissesse: “Você
ainda mantém a sua integridade? Amaldiçoe a Deus, e morra!” (Jó
2.9) – este possuía uma certeza sólida, um conhecimento de Deus, e
respondeu: “Eu sei que o meu Redentor vive...” (Jó 19.25). Essas
poderosas palavras de consolo valem para todos nós nesta noite dos
tempos finais.
Esclarecedor com respeito a Pérgamo é também o seguinte: o
Senhor não diz: “Sei onde você vive – onde está estabelecido o trono
de Satanás”, mas: “... onde está o trono de Satanás”. O trono de
Satanás existe, mas não está “estabelecido”, ele não tem solidez!
Somente um trono está estabelecido, e esse é o trono do Deus vivo
e do Cordeiro! Jesus Cristo é o mesmo ontem e hoje, e o será para
sempre! Somos repetidamente confrontados com essa pergunta:
quem é o mais poderoso, quem é o vencedor? Será Satanás, que
me aflige interna e externamente, ou será Jesus Cristo? É Jesus
Cristo! “Mas graças a Deus, que nos dá a vitória por meio de nosso
Senhor Jesus Cristo” (1Co 15.57). Apesar de sermos ameaçados,
sacudidos e peneirados pelo poder de Satanás em milhares de
maneiras, o Senhor sabe onde vivemos! A igreja de Jesus não é
confrontada com homens, mas com poderes, e assim nossa luta não
é contra carne e sangue, mas contra poderes e autoridades das
trevas, como diz em Efésios 6.12. Vemos em nossos dias como
povos, igrejas e organizações ficam cada vez mais debaixo do poder
do Maligno. Todas as ciências filosóficas são cada vez mais
infiltradas pelo espírito do Anticristo. Como naquela época em
Pérgamo, os homens e poderes possuídos pelo espírito do inimigo
preparam-se cada vez mais ameaçadoramente para o golpe, física e
espiritualmente. Contra quem? Espiritualmente contra a igreja de
Jesus e fisicamente contra Israel. Como podemos ainda resistir? Ou,
como foi formulado pelos discípulos: “Neste caso, quem pode ser
salvo?” (Mt 19.25). A Bíblia diz: “Vistam toda a armadura de Deus,
para poderem ficar firmes contra as ciladas do Diabo” (Ef 6.11).
O Senhor pôde louvar a igreja em Pérgamo porque ela conserva o
seu nome: “Contudo, você permanece fiel ao meu nome” (v. 13). Em
qual nome? O maravilhoso e precioso nome de Jesus! No centro da
estratégia satânica, essa igreja não deixou obscurecer seu olhar
através da pompa pagã, da cobiça da carne ou dos olhos. Isso
poderia ter facilmente acontecido, pois toda a população da cidade
estava entusiasmada pelo culto às serpentes e pela adoração ao
imperador. A expressão “permanece fiel”, aqui utilizada, na verdade é
muito fraca e sem realce, pois a palavra grega diz mais. Deveria ler-
se: segurar e agarrar com toda a força. Em Pérgamo tratava-se de
vida ou morte, pois dos crentes seria arrancado algo. Esse é sempre
o objetivo do inimigo: ele quer arrancar aquilo que temos. Por esse
motivo é dada repetidamente nas cartas uma exortação, vista por
exemplo no capítulo 2.25: “... tão somente apeguem-se com firmeza
ao que vocês têm, até que eu venha”. Ou no capítulo 3.11: “Venho
em breve! Retenha o que você tem, para que ninguém tome a sua
coroa”. Trata-se de segurar! Em Pérgamo era exigido largar o nome
de Jesus, porque ali habitava Satanás.nota 2 No entanto, Satanás não
suporta a confrontação com o nome de Jesus. Essa é a grande luta
em que nos encontramos!
“E todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo!” (At
2.21), diz a Escritura. Tão logo o nome de Jesus é citado na fé, as
trevas diabólicas são rompidas. A quem se firma, sim, se agarra
nesse nome, nada pode fazer mal. Então somos vencedores e
exclamamos: “Tudo posso naquele que me fortalece” (Fp 4.13). Ó,
que você utilizasse mais o nome de Jesus!
Com Antipas, a luta levou até a morte. O próprio Senhor diz isso:
“... quando Antipas, minha fiel testemunha, foi morto nessa cidade”
(v. 13). Conosco os ataques de Satanás não são tão intensos. Tudo
acontece mais civilizadamente e “eclesiasticamente”. Seus métodos
são mais sutis, mas seu objetivo permanece o mesmo. Ele quer que,
no dia a dia, neguemos o nome de Jesus, impondo-nos, sendo
egoístas, invejosos e difamadores. Ele quer que nos calemos quando
devemos falar, de modo que nossa posição corresponda à de Pedro:
“Não conheço o homem de quem vocês estão falando!” (Mc 14.71b).
O Senhor prossegue louvando sua igreja em Pérgamo, pois ele
nunca esquece de algo. Ele diz, no versículo 13 (RA): “... não
negaste a minha fé”. Isso é importante, pois existe fé e fé! João 3.36
diz: “Quem crê no Filho tem a vida eterna”. Esse é o primeiro passo.
Creia em Jesus Cristo como seu Salvador pessoal! No entanto, não
fique parado nesse primeiro passo. Quem faz isso permanece
espiritualmente na infância. Tal pessoa crê no Senhor Jesus, mas
não tem a fé do Senhor Jesus! E é justamente esse o segredo! “...
não negaste a minha fé”, diz o Senhor. Paulo compreendeu isso. Ele
diz em Gálatas 2.20: “Fui crucificado com Cristo. Assim, já não sou
eu quem vive, mas Cristo vive em mim. A vida que agora vivo no
corpo [com isso ele quer dizer: ainda vivo na minha carne
pecaminosa, e sei que em mim, isto é, no meu corpo, não habita
bem nenhum], vivo-a pela fé no filho de Deus, que me amou e se
entregou por mim”. Em outras palavras: “Vivo e creio exatamente
como Jesus viveu e creu, e digo continuamente ‘não’ às exigências
da carne, como teimosias, impureza e todas as manifestações
pecaminosas. Entrego-me completamente como fez meu Salvador.
Sigo exatamente o caminho seguido pelo meu Salvador. Permaneço
na cruz, como meu Salvador ficou na cruz”. Viver na fé do Filho de
Deus, esse é um passo bem além de crer em Jesus.
Os crentes em Pérgamo entenderam isso, e não negaram essa
fé. A fé do Senhor Jesus resiste mesmo quando tudo desmorona,
quando o corpo e a alma definham e aparentemente tudo está contra
você. Negar significa responder negativamente quando você é
desafiado a confessar Jesus, como Pedro fez. Negar sua fé significa
conservar-se a si mesmo – às custas da confissão de pertencer ao
Senhor Jesus. O Senhor pode dizer sobre você: você não negou a
minha fé? Ou você negou a fé dele? É um testemunho maravilhoso
para Pérgamo quando ele ainda acrescenta: “... você... não
renunciou à sua fé em mim, nem mesmo quando Antipas, minha fiel
testemunha, foi morto nessa cidade, onde Satanás habita” (v. 13). O
nome Antipas tem diferentes significados. Um deles é: “semelhante
ao seu pai”. Como fiel testemunha ele deixou sua vida por Jesus.
Ainda não temos que pagar com a vida como mártires pelo nosso
testemunho. Porém, já existe um martírio espiritual, que consiste em
não abandonar o testemunho de Jesus no cotidiano, mas matar o
homem interior. Paulo afirma: “Todos os dias enfrento a morte” (1Co
15.31). Talvez o seu martírio consiste em, no seu matrimônio, na sua
família ou no seu local de trabalho, você ter que conviver com alguém
em cujo coração está o trono de Satanás. Ó, que todos tenhamos a
mentalidade de Antipas e não neguemos a sua fé – a fé de Jesus.
Tantos, também na igreja de Jesus, desanimam em nossos dias; eles
resignam e deixam de realizar o bom combate da fé. Mas lá fora
estarão os desesperados, aqueles que cedem às exigências da
carne, seja de qual forma ou de uma pessoa. Pedro quis levar o
Senhor Jesus a negar ou rejeitar a cruz, mas o Senhor lhe disse:
“Para trás de mim, Satanás!” (Mc 8.33).
Não é comovente que o elevado Senhor dá a Antipas o mesmo
título que ele tem? Ele o chama de “Antipas, minha fiel testemunha”
(v. 13). O próprio Senhor é chamado assim em Apocalipse 1.5: “E de
Jesus Cristo, que é a testemunha fiel”. Testemunhas fiéis são
aquelas que resistem até a morte.
Depois do louvor do Senhor, segue uma séria repreensão: “No
entanto, tenho contra você algumas coisas: você tem aí pessoas que
se apegam aos ensinos de Balaão, que ensinou Balaque a armar
ciladas contra os israelitas, induzindo-os a comer alimentos
sacrificados a ídolos e a praticar imoralidade sexual. De igual modo
você tem também os que se apegam aos ensinos dos nicolaítas.
Portanto, arrependa-se! Se não, virei em breve até você e lutarei
contra eles com a espada da minha boca” (v. 14-16). As tribulações
causadas por parte do poder estatal e pelos judeus eram dificílimas
para os crentes de Pérgamo. Eles, porém, puderam resistir porque
estavam revestidos de toda a armadura de Deus, conservaram o seu
nome e não negaram a sua fé, pois é o próprio Senhor que tem a
espada que traspassa todas as couraças do inimigo. Assim, quem
tem esse Senhor no seu coração, esse é invencível! Em Cristo Jesus
ele eleva-se sobre o trono de Satanás e é mais que vencedor em
todas as tribulações. Apesar disso, o Senhor tem contra eles
“algumas coisas” ou “algumas poucas coisas”, como também é
traduzido. Com isso, parece que se trataria de uma ninharia, apesar
de ser tão sério; uma suavização, como os crentes gostam tanto de
aplicá-la para diminuir sua derrota e suas falhas. Contudo, aí está o
tremendamente sério: enquanto os filhos de Deus em Pérgamo
resistiram vitoriosamente ao inimigo exterior, cederam ao inimigo
interior! Com isso, já temos a mistura mortal de vitória e derrota; de
seguir Jesus até a morte, mas mesmo assim capitular diante das
exigências interiores da carne. Nessa luz temos que ver os versículos
14 e 15. Assim, os crentes de Pérgamo resistiram ao inimigo de fora
em vitoriosa união de confissão, mas não levaram a sério o inimigo
de dentro. Trata-se, portanto, de uma insignificância, mas de alcance
abalador. A doutrina de Balaão tinha tomado pé em Pérgamo. Ela
consistia do conselho que Balaão deu ao rei Balaque (Nm 31.16; 22–
25). Balaão queria amaldiçoar o povo de Deus, mas não teve
sucesso. Ele percebeu que Balaque nada podia fazer com o seu
exército, pois Israel era invencível. Por isso impediu que ele
combatesse Israel. No entanto, ele também queria aniquilar o povo
de Israel, e conseguiu ao induzir Israel à participação na idolatria e
na prostituição relacionada. Não um grande exército, mas mulheres,
moças, deveriam aniquilar Israel. Essas “poucas coisas” eram,
portanto, um perigo mortal para Pérgamo, como o “inocente” diálogo
entre Eva e a serpente no paraíso foi uma armadilha que teve
consequências terríveis. E em Pérgamo, provavelmente por
membros muito respeitados da igreja, essa liberalidade sexual foi
elevada à doutrina: “... que se apegam aos ensinos de Balaão” (v.
14). Por isso chegou-se a essa terrível mistura em Pérgamo: por um
lado, a decidida conservação do nome de Jesus exteriormente (v.
13) e, por outro, a obstinadamente adesão à doutrina de Balaão (v.
14). Deve ser lembrado que nem todos participavam. O Senhor diz
expressamente: “.... você tem aí pessoas...”, você tem alguns que
cederam ao inimigo interior! No entanto, apesar dos outros seguirem
ao Senhor com toda a decisão, surgiu uma mistura na estrutura da
igreja porque eles toleraram as coisas carnais. Aí acabou a
autoridade. Isso já aconteceu milhares de vezes, inclusive em nossos
dias. Através da sua espada afiada, da sua Palavra, o Senhor quer
separar; ele não deseja a liberalidade da carne, mas que a carne
seja crucificada com Cristo. Em Pérgamo aconteceu prostituição
carnal porque já tinha havido prostituição espiritual. Essa prostituição
espiritual revelava-se na posição neutra da igreja diante desses
desviados. Da igreja em Éfeso o Senhor diz: “você odeia” (2.6). Ela
tomou uma posição clara contra qualquer falsa doutrina e
concupiscência da carne. Da igreja de Tiatira, porém, está dito: “você
tolera” (2.20). Em Pérgamo esses dois grupos e essas duas
doutrinas – discipulado decidido de Jesus e compromissos com a
carne – andavam simplesmente lado a lado. Essa neutralidade
comunitária interior é a mais duramente condenada pelo Senhor, pois
a infidelidade encontra com os fiéis o seu melhor esconderijo.
Aliás, os nicolaítas e os discípulos de Balaão, dos quais se fala
aqui, não eram dois grupos distintos. Pelo contrário, os nicolaítas
sustentavam a doutrina de Balaão (nicolaítas = denominação grega
dos discípulos da doutrina de Balaão). Eles o imitavam e ganhavam
outros na igreja em Pérgamo para sua posição desviada. Que por
nicolaítas e balaonitas deve-se entender o mesmo, como por
exemplo por antissionismo e antissemitismo, é particularmente
evidente nos versículos 14 e 15, onde a acusação do Senhor é
juntada numa só. Diz ali: “No entanto, tenho contra você algumas
coisas: você tem aí pessoas que se apegam aos ensinos de Balaão,
que ensinou Balaque a armar ciladas contra os israelitas, induzindo-
os a comer alimentos sacrificados a ídolos e a praticar imoralidade
sexual. De igual modo você tem também os que se apegam aos
ensinos dos nicolaítas”. Não é essa a séria situação da igreja de
Jesus hoje? Externamente intransigente, mas internamente podre e
corrompida? Essa terrível mistura tomou conta de muitos.
Biblicamente orientados no exterior, mas totalmente deteriorados no
interior, motivo pelo qual o Senhor elevado, que julga os inimigos da
igreja com sua espada afiada de dois gumes, volta a mesma espada
com severidade inexorável contra os filhos de Deus individualmente,
para os separar, ou seja, isolar. “... virei em breve até você e lutarei
contra eles”. Eu repito: quando Satanás não consegue derrubar um
filho de Deus exteriormente, ele faz tudo para consegui-lo
interiormente. O Senhor Jesus coloca a igreja em Pérgamo, e assim
também a nós, diante da alternativa: “Portanto, arrependa-se! Se
não, virei em breve até você e lutarei contra eles [os apóstatas] com
a espada da minha boca” (v. 16). A batalha, o julgamento de
separação, já aconteceu em muitos corações. O Senhor afasta os
desviados em uma igreja viva, caso não se arrependam! O juízo
sabe atingir exatamente os responsáveis, mas a igreja toda é
humilhada através disso. No entanto, a maldição em sua vida pode
ser removida pelo julgamento do Gólgota, através do seu
arrependimento. Pois quando nos julgamos, não somos julgados.
Para quem se arrepende, vale a promessa aos vencedores no
versículo 17: “Ao vencedor darei...”. Primeiro: “... do maná
escondido”, isto é, do pão da vida que ele mesmo é. O Senhor aqui
lembra Israel, a quem durante quarenta anos deu diariamente o
maná no deserto. O Senhor Jesus diz: “Eu sou o pão vivo que
desceu do céu. Se alguém comer deste pão, viverá para sempre” (Jo
6.51). Segundo: “Também lhe darei uma pedra branca...” (v. 17c). O
que é essa pedra branca? É Jesus, a pedra cortada sem mãos (Dn
2.34), a preciosa pedra angular (1Pe 2.6), a pedra fundamental.
“Porque ninguém pode colocar outro alicerce além do que já está
posto, que é Jesus Cristo” (1Co 3.11). Aqui no Apocalipse ele é
chamado de pedra branca, uma figura do Cristo glorificado. Terceiro:
“... uma pedra branca com um novo nome nela inscrito, conhecido
apenas por aquele que o recebe”. “... com um novo nome nela
inscrito” significa: gravado na pedra. Não é isso que o Senhor já
prometeu a Isaías: “Veja, eu gravei você nas palmas das minhas
mãos” (Is 49.16)?
A pedra, no entanto, lembra também o sumo sacerdote Arão, que
trazia pedras preciosas sobre seu peito, diante do Senhor, pois ele o
tinha ordenado: “Faça um peitoral de decisões – trabalho artesanal.
Faça-o como o colete sacerdotal: de linho fino trançado, de fios de
ouro e de fios de tecidos azul, roxo e vermelho. Será quadrado, com
um palmo de comprimento e um palmo de largura, e dobrado em
dois. Em seguida, fixe nele quatro fileiras de pedras preciosas. Na
primeira fileira haverá um rubi, um topázio e um berilo; na segunda,
uma turquesa, uma safira e um diamante; na terceira, um jacinto,
uma ágata e uma ametista; na quarta, um crisólito, um ônix e um
jaspe. Serão doze pedras, uma para cada um dos nomes dos filhos
de Israel, cada uma gravada como um selo, com o nome de uma das
doze tribos... Toda vez que Arão entrar no Lugar Santo, levará os
nomes dos filhos de Israel sobre o seu coração no peitoral de
decisões, como memorial permanente perante o S ” (Êx 28.15-
21,29). Agora entendemos muito melhor a promessa aos vencedores
em Apocalipse 2.17: “Ao vencedor darei do maná escondido.
Também lhe darei uma pedra branca com um novo nome nela
inscrito, conhecido apenas por aquele que o recebe”. Essa promessa
para vencedores contém a mais íntima comunhão com Deus através
do nosso Sumo Sacerdote Jesus Cristo, que leva nosso nome para
diante do Pai. Ele está assentado à direita da Majestade nas alturas
e intercede por nós. E o vencedor, que assim se tornou um com ele,
experimenta que, através do Sumo Sacerdote Jesus Cristo, é
incluído em Deus. É o que Paulo diz em Colossenses 3.3: “Pois
vocês morreram, e agora a sua vida está escondida com Cristo em
Deus”.
Você está firmado sobre a pedra fundamental e gravado na
preciosa pedra branca, ou você tem que ser julgado pela espada
dele? Lembre-se: o Espírito de Deus não permite mais mistura!

A Quarta Carta do Céu (Ap 2.18-29)


18“Ao anjo da igreja em Tiatira, escreva: Estas são as palavras do
Filho de Deus, cujos olhos são como chama de fogo e os pés
como bronze reluzente. 19Conheço as suas obras, o seu amor, a
sua fé, o seu serviço e a sua perseverança, e sei que você está
fazendo mais agora do que no princípio. 20No entanto, contra você
tenho isto: você tolera Jezabel, aquela mulher que se diz
profetisa. Com os seus ensinos, ela induz os meus servos à
imoralidade sexual e a comerem alimentos sacrificados aos
ídolos. 21Dei-lhe tempo para que se arrependesse da sua
imoralidade sexual, mas ela não quer se arrepender. 22Por isso,
vou fazê-la adoecer e trarei grande sofrimento aos que cometem
adultério com ela, a não ser que se arrependam das obras que
ela pratica. 23Matarei os filhos dessa mulher. Então, todas as
igrejas saberão que eu sou aquele que sonda mentes e corações,
e retribuirei a cada um de vocês de acordo com as suas obras.
24Aos demais que estão em Tiatira, a vocês que não seguem a
doutrina dela e não aprenderam, como eles dizem, os profundos
segredos de Satanás, digo: Não porei outra carga sobre vocês;
25tão somente apeguem-se com firmeza ao que vocês têm, até
que eu venha. 26Àquele que vencer e fizer a minha vontade até o
fim darei autoridade sobre as nações. 27‘Ele as governará com
cetro de ferro e as despedaçará como a um vaso de barro.’ 28Eu
lhe darei a mesma autoridade que recebi de meu Pai. Também
lhe darei a estrela da manhã. 29Aquele que tem ouvidos ouça o
que o Espírito diz às igrejas.”
A carta a Tiatira é a mais extensa. Tiatira era uma pequena cidade
da Ásia Menor, na atual Turquia. O nome é frequentemente traduzido
por “oferta de incenso”, mas é também interpretado como “cheiro
desagradável”, o que indica o paganismo dominante ali. A cidade era
localizada numa região encantadora, em um vale. Tiatira abrigava
também uma guarnição da milícia romana e, assim como as outras,
era conhecida como uma cidade comercial. Além disso, essa cidade
era famosa por causa dos seus excelentes artífices. Também Tiatira
permanece até hoje. Ela se chama Akhisar, a “cidade branca”,
devido às muitas pedreiras de mármore que brilham das montanhas
próximas. Até o século XX havia ali uma pequena igreja cristã de
bom conceito.
Em Tiatira deve ter surgido uma igreja bem viva e saudável, que,
ao final do primeiro século, tinha importância na cidade. Já antes da
formação da igreja de Jesus em Tiatira havia ali uma mulher piedosa,
a vendedora de púrpura Lídia. Quando Paulo chegou à cidade de
Filipos, em sua segunda viagem missionária, ela se encontrava ali. O
Senhor abriu o coração dela e ela se converteu: “Uma das que
ouviam era uma mulher temente a Deus chamada Lídia, vendedora
de tecido de púrpura, da cidade de Tiatira. O Senhor abriu seu
coração para atender à mensagem de Paulo” (At 16.14). Ela e os da
sua casa se tornaram crentes e foram batizados. Essa descrição
causa um certo alívio em todos que pregam a Palavra de Deus ou
tentam de outra maneira ganhar almas para o Senhor Jesus: nós não
podemos abrir o coração das pessoas, mas somente o Senhor! E
em todos os lugares ele tem pessoas às quais quer abrir, por isso
precisamos transmitir-lhes a palavra da cruz. Quando nós queremos,
o Senhor quer!
A forma como o Senhor se revela nessa carta é profundamente
significativa. Lemos no versículo 18: “Estas são as palavras do Filho
de Deus, cujos olhos são como chama de fogo e os pés como
bronze reluzente”. Lembre-se que não é qualquer um que diz isso!
Não, aqui fala o Filho de Deus, que é ele mesmo a Palavra! Ele não
é um Senhor ausente, mas o Juiz presente – também agora. “Estas
são as palavras do Filho de Deus...” Ele não somente falou, mas
fala. Ele percebe a deterioração bem camuflada e oculta na igreja
em Tiatira. “... cujos olhos são como chama de fogo...” Se ele se
apresenta não somente como o Filho de Deus, que fala, mas
também como aquele que tem olhos como chama de fogo, então ele
acentua com isso que está decidido a revelar coisas ocultas.
Também lemos isso em Hebreus 4.13: “Nada, em toda a criação,
está oculto aos olhos de Deus. Tudo está descoberto e exposto
diante dos olhos daquele a quem havemos de prestar contas”.
Também você está descoberto e despido diante dos olhos do Filho
de Deus, que são como chamas de fogo. Seus olhos percorrem toda
a terra: “Pois os olhos do S estão atentos sobre toda a terra
para fortalecer aqueles que lhe dedicam totalmente o coração” (2Cr
16.9). Seus olhos descansam sobre você, eles veem o seu coração.
Por isso, não continue se comportando tão tolamente, como se o
Senhor não visse tudo em sua vida.
“... e os pés como bronze reluzente” (v. 18). Os pés, que na cruz
do Gólgota foram traspassados por causa do nosso pecado, agora
são como bronze reluzente. Essa é a realização de Hebreus 2.8 e
Efésios 1.21: “‘Tudo sujeitaste debaixo dos seus pés’. Ao lhe sujeitar
todas as coisas, nada deixou que não lhe estivesse sujeito. Agora,
porém, ainda não vemos que todas as coisas lhe estejam sujeitas...
Muito acima de todo governo e autoridade, poder e domínio, e de
todo nome que se possa mencionar, não apenas nesta era, mas
também na que há de vir”. Seus pés como bronze reluzente – isso
significa que o vencedor sobre o pecado não admite mais vitórias do
mal e poderes do pecado sobre os que foram comprados pelo seu
sangue. Nada escapa ao seu olhar de chamas; suas pisadas de
bronze esmiúçam todo mal. Nada entristece e ofende mais o Senhor,
que lutou na cruz e nos comprou por preço tão elevado, do que
quando o pecado continua tendo poder em nossa vida, apesar da
sua vitória. Por isso Paulo diz em Romanos 6.12: “Portanto, não
permitam que o pecado continue dominando o corpo mortal de
vocês”.
Depois de ter se revelado como o Filho de Deus, ele diz no
versículo 19: “Conheço as suas obras, o seu amor, a sua fé, o seu
serviço e a sua perseverança, e sei que você está fazendo mais
agora do que no princípio”. Apesar do Senhor ter coisas graves a
censurar em Tiatira, ele lhe concede antes um bonito elogio. Assim é
nosso Deus! Ele é justo e não deixa nada despercebido do que você
fez por amor ao nome dele. Ele sabe exatamente qual é o efeito do
seu amor em você. Ele prova a medida da sua fé, ele registra a
paciência que você tem. Por fora, Tiatira era uma igreja maravilhosa.
O Senhor até mesmo confirma que sua atividade aumentou
quantitativamente, pois está escrito: “... e sei que você está fazendo
mais agora do que no princípio” (v. 19). Em contraste com a igreja
de Esmirna, que tinha que sofrer tribulação passivamente, essa
igreja era ativa no trabalho do Senhor. Porém, justamente aqui
mostra-se que o aumento da atividade pode esconder grave pecado.
Assim, logo em seguida, o Senhor continua: “No entanto, contra você
tenho isto: você tolera Jezabel, aquela mulher que se diz profetisa.
Com os seus ensinos, ela induz os meus servos à imoralidade sexual
e a comerem alimentos sacrificados aos ídolos” (v. 20). O que o
Senhor elevado tem contra Tiatira é ainda mais grave porque é um
mal oculto que desvanece toda a entrega existente ao Senhor. “Um
pouco de fermento leveda toda a massa”, como está escrito em
Gálatas 5.9.
Com a mulher Jezabel não se faz referência simplesmente a uma
pessoa. Pelo contrário, essa mulher representa um sistema, uma má
doutrina. Quatro vezes no Apocalipse aparece uma mulher como tal
representação simbólico-profética, e isso no sentido positivo e
negativo. No sentido positivo, “a noiva, a esposa do Cordeiro” (19.7;
21.9). Esse é o organismo completo da igreja de Jesus. “... uma
mulher vestida do sol” (12.1) é Israel em seu significado no plano de
salvação; o remanescente, que é salvo através da tribulação. Uma
representação simbolicamente negativa é a “grande prostituta”, “uma
mulher montada numa besta vermelha” (17.1,3). A grande prostituta
é uma figura da igreja apóstata dos tempos finais, que se prostituiu
politicamente com os poderosos deste mundo. E aqui, em
Apocalipse 2, temos uma mulher, Jezabel, que se diz profetisa. Um
falso mestre sempre tenta distinguir-se e fala muito sobre si mesmo.
É o que Satanás também faz, pois o Senhor Jesus diz dele: “Ele foi
homicida desde o princípio e não se apegou à verdade, pois não há
verdade nele. Quando mente, fala a sua própria língua, pois é
mentiroso e pai da mentira” (Jo 8.44).
O Senhor reclama da igreja em Tiatira: “No entanto, contra você
tenho isto: você tolera Jezabel...”. Com outras palavras: “Você
permite essa doutrina na sua igreja”. Trata-se da desastrosa
tolerância da qual o Senhor fala aqui!
Já conhecemos Jezabel do Antigo Testamento. Ela tinha crescido
em Tiro, a cidade portuária fenícia. Seu pai, o rei Etbaal, era também
sacerdote de Astarote e sacrificava a Baal. Os fenícios, um povo de
navegadores, negociavam com madeiras nobres, ouro e pedras
preciosas. Eles habitavam em diversas cidades florescentes em volta
do mar Mediterrâneo. Através do seu casamento com a fenícia
Jezabel, o rei israelense Acabe esperava ter assegurado a amizade
da maior potência comercial. No entanto, Jezabel se tornou fatídica
para ele. Ela trouxe somente desgraça, confusão e aflição para o
reino de Israel. Ela introduziu a idolatria e transformou-se em
assassina de profetas. Com isso foi calada a palavra profética em
Israel: “No entanto, contra você tenho isto: você tolera Jezabel...”,
diz o Senhor a Tiatira. A falsa profetisa Jezabel sufoca a palavra
profética. Certamente é por isso que aqui o Senhor fala pouco da
sua vinda. Somente àqueles em Tiatira que “não seguem a doutrina
dela” ele diz: “Tão somente apeguem-se com firmeza ao que vocês
têm, até que eu venha” (v. 25). Quando a palavra profética, que incita
à santificação, é desalojada de uma igreja, penetra um outro espírito.
Então vem o espírito da mistura e da prostituição. Esse espírito
espalha-se em nossos dias de uma maneira terrível. O salmista diz
acertadamente: “Poderá um trono corrupto estar em aliança
contigo?, um trono que faz injustiças em nome da lei?” (Sl 94.20). O
caráter de Jezabel está em nosso meio. Uma lei “espiritual” é feita
da perversidade humana. Ensina-se e induz-se a

a. orar e mentir. É possível mentir na oração, dizendo, por


exemplo: “Senhor, retira esse pecado de mim”, mas não
estar disposto a deixar esse pecado;
b. falar da causa do Senhor e caluniar;
c. falar de mais santificação e viver em adultério.
Se a respeito da doutrina de Balaão e dos nicolaítas o Senhor diz:
“... o que eu odeio” (2.15, ACF), quanto mais ele deve odiar quando
uma igreja inteira – com poucas exceções (v. 24) – tolera o espírito e
a doutrina de Jezabel! Jezabel significa “a pura”, mas ela é pura
apenas aparentemente, pois essa é justamente a doutrina de
Jezabel: ela produz um abismo entre a posição em Cristo e a
situação real. O que se quer dizer com a “posição em Cristo”? Em
Cristo somos perfeitos, justos, santificados (Rm 8.1; 1Co 6.11; etc.).
Quem aceitou Jesus como seu Salvador, quem nasceu de novo, tem
sua posição diante de Deus santa e sem mancha. “Portanto, se
alguém está em Cristo, é nova criação. As coisas antigas já
passaram; eis que surgiram coisas novas!” (2Co 5.17). Mas então a
nossa situação, isto é, a nossa vida pessoal, também precisa ser
santificada de maneira correspondente (1Ts 4.3). Quando fazemos
um abismo entre posição e situação, quando dizemos que cremos
em Jesus Cristo mas, ao mesmo tempo, seguimos o espírito deste
mundo – quer seja no terreno da música, da moda, da moral ou das
finanças – o espírito de Jezabel é nocivamente eficaz, e é o que
temos na igreja hoje. A doutrina de Jezabel é praticada. Desfazem-
se as fronteiras. É possível chegar ao ponto de dizer como desculpa:
não é o novo homem em mim que peca, mas o velho. “No entanto,
contra você tenho isto: você tolera Jezabel, aquela mulher que se diz
profetisa. Com os seus ensinos, ela induz os meus servos à
imoralidade sexual e a comerem alimentos sacrificados aos ídolos.”
Ela seduz os servos obedientes para comerem coisas sacrificadas
aos ídolos, isto é, ter comunhão com aqueles que são dúbios. O
amor do Senhor é profundamente entristecido pelas ações e
procedimentos da igreja, e sua santidade é ofendida. A falta da
igreja não consiste de um ato ativo contra o Senhor, mas na
tolerância passiva do inimigo. Tolerar, no fundo, significa concordar, e
essa é uma grande culpa da igreja do nosso tempo. Isso já começa
na educação das crianças. Tolera-se tudo. Deixa-se que elas fiquem
à vontade: elas podem fazer e deixar de fazer o que querem. E isso
passa para a igreja. O que é tudo tolerado! Quase ninguém ousa
combater falsas doutrinas e comportamentos impiedosos. No
entanto, quando alguém tem essa coragem, é acusado de fanatismo,
de perturbar a tranquilidade, até mesmo de sabotagem contra a
unidade da igreja de Jesus.
“No entanto, contra você tenho isto: você tolera Jezabel... ela
induz os meus servos à imoralidade sexual.” O que se quer dizer com
isso? Desde Oseias o matrimônio era e é a figura de relacionamento
íntimo e fiel entre o Senhor e os seus. Também em Isaías 54.5-8
lemos de maneira comovente: “‘Pois o seu Criador é o seu marido, o
S dos Exércitos é o seu nome, o Santo de Israel é seu
Redentor; ele é chamado o Deus de toda a terra. O S
chamará você de volta como se você fosse uma mulher abandonada
e aflita de espírito, uma mulher que se casou nova apenas para ser
rejeitada’, diz o seu Deus. ‘Por um breve instante eu a abandonei,
mas com profunda compaixão eu a trarei de volta. Num impulso de
indignação escondi de você por um instante o meu rosto, mas com
bondade eterna terei compaixão de você’, diz o S , o seu
Redentor”. O matrimônio é, portanto, sem dúvida uma sombra da
maravilhosa relação entre o Senhor e os seus. Ou pensemos em
Ezequiel 16.8: “Mais tarde, quando passei de novo por perto, olhei
para você e vi que já tinha idade suficiente para amar”. No Novo
Testamento, Paulo diz de modo tão tocante: “O zelo que tenho por
vocês é um zelo que vem de Deus. Eu os prometi a um único marido,
Cristo, querendo apresentá-los a ele como uma virgem pura” (2Co
11.2). Em Efésios 5.32 ele esclarece: “Este é um mistério profundo;
refiro-me, porém, a Cristo e à igreja”. Por isso, infidelidade com o
Senhor – sob qualquer forma – é prostituição, idolatria e feitiçaria.
Esse é o caráter de Jezabel. Jeú respondeu a pergunta de Jorão –
“Você vem em paz, Jeú?” – com: “Como pode haver paz, enquanto
continuam toda a idolatria e as feitiçarias de sua mãe, Jezabel?”
(2Rs 9.22). Para compreender ainda melhor essa prostituição
espiritual, é importante captar bem o que diz Jeremias 3.6: “Durante
o reinado do rei Josias, o Senhor me disse: ‘Você viu o que fez
Israel, a infiel? Subiu todo monte elevado e foi para debaixo de toda
árvore verdejante para prostituir-se’” (cf. tb. Ez 16.15; Mc 8.38; Tg
4.4).
Na igreja de Jesus de hoje, não é com as abominações de
excessos sexuais que a profetisa Jezabel suja a igreja, mas com
graves enganos na área do discipulado de Jesus: em solo cristão
são permitidos males pagãos. Onde antigamente havia uma divisão
bem clara entre as falsas doutrinas romanas e entusiastas,
atualmente realiza-se uma fusão. Ao invés de romper com o culto
pagão de Roma, os costumes do seu meio e o entusiasmo religioso,
os cristãos de então e os cristãos de hoje incluíram muitas dessas
coisas em suas vidas de fé. Eles sacrificam a obediência absoluta à
exigência total de Jesus no discipulado à adaptação a este mundo.
Esse é o fermento entre nós que leveda tudo. Ele começa com a
tolerância consigo mesmo.
Observamos hoje um abrandamento sem escrúpulos da lei de
Cristo, uma adaptação leviana a formas de pensar e viver mundanos
– e isso sob a invocação da chamada “liberdade do espírito”. Esse
era o mal de Tiatira, e esse é o mal que se espalha hoje. Aliás, a
grande mudança já poderia ter ocorrido em Tiatira, mas nada
aconteceu: “Dei-lhe tempo [prazo] para que se arrependesse da sua
imoralidade sexual, mas ela não quer se arrepender” (v. 21). Assim
como na antiga aliança: quando se suspeitava que alguém estivesse
leproso, o sacerdote observava bem a pessoa e ela era isolada por
sete dias. Ela figuradamente recebia sete dias de prazo. Se após
sete dias o quadro mórbido continuasse incerto, ela era isolada por
mais sete dias (cf. Lv 13.1-46). Se então fosse lepra, a pessoa era
considerada imunda e era expulsa da comunidade. Aplicado a
Jezabel, isso significa: ela recebeu um prazo para arrepender-se,
mas não o fez. Por isso a sentença: “Por isso, vou fazê-la adoecer e
trarei grande sofrimento aos que cometem adultério com ela, a não
ser que se arrependam das obras que ela pratica. Matarei os filhos
dessa mulher” (v. 22-23a). Palavras impressionantemente sérias!
Observe que o Deus vivo ameaça com uma sentença e a executará!
Hoje se ouve muitas vezes o lamento: “Sou tão atribulado;
certamente há poderes demoníacos por trás disso”. Frequentemente
essa constatação é apressada e falsa. Acontece que justamente
aqui, em Apocalipse 2.22-23, temos diante de nós uma intervenção,
um juízo do Senhor Jesus Cristo! O que igualmente se torna claro
aqui é que os seduzidos de Tiatira não são julgados por causa do
seu pecado, apesar dele ser muito grave, mas por sua impenitência:
“... a não ser que se arrependam das obras”. Sempre desejamos
uma mudança para o bem – uma mudança espiritual em nossa
família, em nosso local de trabalho, em nossa igreja – e também
oramos por isso. No entanto, não fazemos a única coisa que cria as
condições para isso: o arrependimento. Em consequência, vem o
juízo. O Senhor prostra de cama Jezabel e seus seguidores, que se
firmam insistentemente no comportamento diabólico e dúbio, que
pregam a prostituição com relação ao Senhor como “liberdade do
espírito”. Em outras palavras: ele a lança numa situação de
impotência. Um acamado é desamparado. “... trarei grande
sofrimento”, diz o Senhor. Muitos já se encontram nesse sofrimento.
Com uns o casamento está arruinado, com outros a saúde é
abalada, e ainda outros estão diante da ruína financeira etc. Você foi
“prostrado na cama” pelo Senhor? Por quê? Porque ele o ama e
quer que você finalmente chegue ao arrependimento. É significativo
que aqui, no versículo 23, está escrito: “Matarei os filhos dessa
mulher”. O “cristianismo de Tiatira”, essa mistura diabólica, essa
tolerância diante do mundo, gerou filhos. A geração a partir de uma
miscigenação sempre produz mestiços. Já no tempo de Noé havia
mestiços. Quando os anjos caídos foram às filhas dos homens e
viram que estas eram bonitas, tomaram para si as que lhes
agradaram (Gn 6). O resultado foi que nasceram gigantes. Os filhos
de Tiatira também eram gigantes – gigantes na desobediência, no
desregramento; gigantes que, já em sua infância, sucumbiam à
prostituição.
Devemos ficar conscientes que, com a restauração de Israel e a
apressada preparação da igreja de Jesus para o arrebatamento,
começou o juízo de Deus sobre a “ideologia de Jezabel” na igreja
atual. É tempo de acordar e reconhecer que nossas desgraças não
são tribulações do Diabo, pois está escrito que o Maligno não nos
tocará (1Jo 5.18). Essas desgraças são juízos de Cristo: “... vou
fazê-la adoecer e trarei grande sofrimento aos que cometem
adultério com ela, a não ser que se arrependam das obras que ela
pratica”. Na versão Almeida Corrigida Fiel está escrito na sequência:
“E ferirei de morte a seus filhos”. É o que vemos hoje diante de nós.
Quantos pais reclamam: “Meus filhos ficaram grandes, porém não
querem seguir Jesus, mas vão para o mundo”. A esterilidade
espiritual da juventude em desenvolvimento, que não quer se
converter, é um pesado juízo do Senhor elevado por causa da
impenitência dos pais. Além disso, fica claro pelo versículo 24 que
essa doutrina de mistura de Jezabel aparentemente queria conhecer
as coisas profundas de Satanás: “Aos demais que estão em Tiatira,
a vocês que não seguem a doutrina dela e não aprenderam, como
eles dizem, os profundos segredos de Satanás, digo: Não porei outra
carga sobre vocês”. O que significa conhecer “os profundos
segredos de Satanás”? É o mesmo que Paulo diz em Romanos 6.15:
“E então? Vamos pecar porque não estamos debaixo da Lei, mas
debaixo da graça? De maneira nenhuma!”. Com outras palavras:
devemos fazer o que é do Diabo para que possamos conhecer ainda
mais a salvação? Haveríamos de penetrar nas coisas profundas de
Satanás para que atingíssemos as profundezas de Cristo? Nunca!
Mas também há outro aspecto ao reconhecer as coisas profundas
de Satanás. Com isso voltamos ao ponto da falsa identificação da
razão de sofrimentos, em que todo sofrimento é avaliado como um
ataque demoníaco. Tantos se ocupam com Satanás e ligações
demoníacas. Eles querem figuradamente conhecer as coisas
profundas de Satanás, mas através disso não têm mais forças para
ocupar-se com a vitória de Jesus. No entanto, Jesus é vencedor e a
ele foi dado todo o poder no céu e na terra!
O Senhor, que tem olhos como chama de fogo, diz no versículo
23b: “Então, todas as igrejas saberão que eu sou aquele que sonda
mentes e corações, e retribuirei a cada um de vocês de acordo com
as suas obras”. Chama a atenção que agora não somente a igreja
em Tiatira deve reconhecer que o Senhor sonda mente e coração,
mas todas as igrejas. Aí estamos incluídos! Como igreja de Jesus,
devemos finalmente reconhecer que os seus olhos são como chamas
de fogo e sondam nossas mentes e corações, de modo que ele
conhece os mais profundos motivos do nosso coração. Contudo, é
também um grande consolo o fato de o Senhor não perder de vista
os fiéis. A Nova Versão Transformadora diz: “Tenho também uma
mensagem para o restante de vocês em Tiatira...”. Esse
remanescente de fiéis em Tiatira não tinha aceitado a doutrina de
Jezabel. Por isso lhes é dito: “... Não lhes pedirei coisa alguma,
senão que se apeguem firmemente ao que já têm até que eu venha”
(v. 24-25 NVT). Quem se mantém no primeiro amor ao Senhor, na
sagrada unilateralidade no discipulado de Jesus – quem, portanto,
não tolera a mistura –, sobre esse o Senhor não impõe outra carga.
No entanto, ele adverte muito seriamente: conservem o que têm, não
se deixem roubar nada do que têm. Por quanto tempo? Até que
Jesus venha: “Àquele que vencer e fizer a minha vontade até o fim”
(v. 26). Portanto, não somente passageira e fugazmente, mas até o
fim. O que, porém, impede esse guardar até o fim? Novamente a
resposta tem que ser: a impenitência! Contudo, existe a possibilidade
de uma mudança radical para o bem! O primeiro passo para o
verdadeiro arrependimento e para o afastamento do juízo é você não
tentar ocultar o pecado que o Senhor lhe mostrou, mas deve dar
razão a ele e confessá-lo.
Também na carta a Tiatira segue no final a insistente advertência
do Senhor elevado: “Aquele que tem ouvidos ouça o que o Espírito
diz às igrejas” (v. 29). Entretanto, essa exortação somente vem após
a promessa aos vencedores, em contraste com a sequência nas
outras igrejas.
A promessa aos vencedores dirigida a Tiatira é: “... darei
autoridade sobre as nações. ‘Ele as governará com cetro de ferro e
as despedaçará como a um vaso de barro.’ Eu lhe darei a mesma
autoridade que recebi de meu Pai. Também lhe darei a estrela da
manhã” (v. 26-28). “Ele as governará com cetro de ferro”, isso nos
faz lembrar do menino que é arrebatado ao seu Deus e regerá as
nações com cetro de ferro (cap. 12). Esse poder sobre as nações
foi representado profeticamente nas vitórias de Josué, Davi e
Salomão. Quando Israel entrou na terra de Canaã, recebeu através
de Josué poder sobre as nações. Com outras palavras: seus
inimigos lhe foram submetidos, pois o Senhor tinha prometido: “Todo
lugar onde vocês puserem os pés será de vocês” (Dt 11.24). Aos
vencedores é prometido pelo Senhor, no futuro: “Se perseveramos,
com ele também reinaremos” (2Tm 2.12). Esse poder julgador sobre
os povos já é recebido hoje pelos vencedores: eles já têm autoridade
sobre o poder do inimigo, pois Jesus é vencedor! O Senhor
prometeu em Lucas 10.19: “Eu dei a vocês autoridade para pisarem
sobre cobras e escorpiões, e sobre todo o poder do inimigo...”. Isso
vale para os vencedores!
Chama a atenção que nas primeiras quatro promessas aos
vencedores temos quatro níveis, ou seja:

Árvore da vida.
Vida eterna; nenhum dano da segunda morte.
Maná escondido.
Exercício do poder judicial e autoridade de governo através
da vitória de Jesus.

Isso tudo em Jesus, através de Jesus e com Jesus Cristo! Agora,


enquanto o número de modelos proféticos do Antigo Testamento
está completo, as três promessas aos vencedores das outras três
igrejas falam de coisas que ainda são futuras. Elas indicam
acontecimentos solenes na história mundial que ainda estão para
ocorrer.
No entanto, todas as promessas aos vencedores apontam de
maneira singular para o indescritivelmente glorioso futuro de que
participará aquele que, através de Jesus Cristo, foi um verdadeiro
vencedor. Essa glória em sua plenitude não pode ser expressa em
palavras. Paulo diz em 1Coríntios 2.9: “Olho nenhum viu, ouvido
nenhum ouviu, mente nenhuma imaginou o que Deus preparou para
aqueles que o amam”. Seria, portanto, um atrevimento querer
analisar até o fundo essa promessa da glória futura. Encontramo-nos
aqui na periferia de uma glória indescritível.
Cada uma das sete cartas contém uma promessa para um
determinado vencedor, mas, mesmo assim, todas essas promessas
valem para todos os filhos de Deus que vencem. Toda área obscura
em sua vida sobre a qual você mantém a vitória de Jesus até o fim
será preenchida na eternidade com uma indescritível porção de
glória. Quem realiza vitoriosamente o bom combate da fé e vence
também no sofrimento, esse é recompensado correspondentemente
com a glória de Deus. “Pois os nossos sofrimentos leves e
momentâneos estão produzindo para nós uma glória eterna que pesa
mais do que todos eles. Assim, fixamos os olhos, não naquilo que se
vê, mas no que não se vê...” (2Co 4.17-18).
Quando falamos em vencer, trata-se no fundo da ponte entre
nossa posição diante de Deus e nossa situação no dia a dia.
(Compare novamente a exposição na página 67.) João diz em sua
primeira carta: “Todo aquele que é nascido de Deus não pratica o
pecado, porque a semente de Deus permanece nele; ele não pode
estar no pecado, porque é nascido de Deus” (1Jo 3.9). O novo
homem em você, o espírito renascido, não pode pecar, ele é sem
mancha. Assim diz Romanos 8.1: “Portanto, agora nenhuma
condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que não andam
segundo a carne, mas segundo o Espírito” (ACF). Essa é a nossa
posição básica diante de Deus. Essa posição deve ser o estado
padrão no nosso dia a dia. Em outras palavras: temos que vencer
nossa carne e sangue, o eu, pelo poder da morte de Jesus, e
podemos isso quando nos consideramos crucificados com ele (Cl
2.19-20; Rm 6.6-8). Com relação à nossa situação, em 1João 5.4
está escrito: “O que é nascido de Deus vence o mundo; e esta é a
vitória que vence o mundo: a nossa fé”. Nós fomos (eu repito)
renovados na posição pela morte de Jesus Cristo na cruz e pela sua
ressurreição, e assim também nossa situação precisa ser renovada.
Toda área em nossa vida – caráter, pensamentos, palavras, ações –
tem que ser dominada por aquilo que foi renovado em nossa vida
(2Co 5.17). No entanto, se o abismo entre posição e situação em
sua vida não foi desfeito, se existe uma contradição entre aquilo que
você crê e aquilo que é no dia a dia, então você se encontra fora das
promessas aos vencedores. Então você terá a experiência de
receber a vida eterna, mas sofrerá dano quando estiver diante do
trono do galardão de Jesus Cristo. “Se o que alguém construiu se
queimar, esse sofrerá prejuízo; contudo, será salvo como alguém
que escapa através do fogo” (1Co 3.15). Em outras palavras: quem
não vence escapa unicamente com a vida – e isso é muito, muito
sério, pois então você não atinge o objetivo que Deus estabeleceu
para você antes da fundação do mundo. Esse objetivo nos é
mostrado em Efésios 1.4: “Porque Deus nos escolheu nele antes da
criação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis em sua
presença”.

A Quinta Carta do Céu (Ap 3.1-6)


1“Ao anjo da igreja em Sardes, escreva: Estas são as palavras
daquele que tem os sete espíritos de Deus e as sete estrelas.
Conheço as suas obras; você tem fama de estar vivo, mas está
morto. 2Esteja atento! Fortaleça o que resta e que estava para
morrer, pois não achei suas obras perfeitas aos olhos do meu
Deus. 3Lembre-se, portanto, do que você recebeu e ouviu;
obedeça e arrependa-se. Mas, se você não estiver atento, virei
como um ladrão e você não saberá a que hora virei contra você.
4No entanto, você tem aí em Sardes uns poucos que não
contaminaram as suas vestes. Eles andarão comigo, vestidos de
branco, pois são dignos. 5O vencedor será igualmente vestido de
branco. Jamais apagarei o seu nome do livro da vida, mas o
reconhecerei diante do meu Pai e dos seus anjos. 6Aquele que
tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às igrejas.”
O nome Sardes é derivado do hebraico sarid e significa “o que
escapou” ou “remanescente”. Historicamente, Sardes era a antiga
sede real da Lídia, e tinha um passado cheio de glórias. Entretanto,
no tempo dos romanos, portanto na época de João, apesar do seu
bem-estar, Sardes era uma cidade provinciana destituída de brilho.
Na era cristã ela ganhou novamente uma certa fama através do
bispo Melito de Sardes, falecido no ano de 170 d.C. Em nossa
época, dessa notável cidade não resta nada mais do que um monte
de ruínas espalhadas numa ampla área, e entre elas miseráveis
casebres turcos, que juntos formam uma pequena vila com o nome
de Sart. Há muitas décadas, Gotthilf Heinrich Schubert encontrou em
suas viagens ainda dois cristãos nesses casebres. Tão
completamente a igreja sucumbiu ao juízo de Deus. Contudo, mesmo
que uma manifestação visível do corpo de Jesus Cristo na igreja
local desaparece, como aqui em Sardes – a própria igreja de Jesus
permanece. As portas do inferno não prevalecerão contra ela! O
Senhor dirige-se agora à igreja de Jesus nessa cidade. É algo
maravilhoso fazer parte da igreja de Jesus e ser membro do seu
corpo! A igreja de Jesus sobrevive ao tempo – ela existia há dois
milênios e existe hoje, e é o mesmo Senhor, o mesmo Salvador, que
lhe falou e fala a ela hoje.
Será um elogio quando também aqui o Senhor diz a Sardes:
“Conheço as suas obras”? O fato dele conhecer tudo é um grande
consolo para todos que estão no final das suas forças. Ele conhece
os seus esforços e sabe das suas realizações menosprezadas, de
tudo o que você faz em segredo por amor a Jesus. Essas palavras
do Senhor a Sardes, porém, não significam consolo e não devem ser
avaliadas como louvor, mas em primeiro lugar como prosseguimento
da sua autorrevelação.
À igreja de Tiatira ele se revelou como o Filho de Deus, que tem
olhos como chama de fogo e pés semelhantes ao bronze reluzente.
Aqui, porém, ele diz: “Estas são as palavras daquele que tem os
sete espíritos de Deus e as sete estrelas” (v. 1). Os sete Espíritos
de Deus significam toda a plenitude do Espírito Santo. O Senhor
revelou, pela boca do profeta Isaías, essa plenitude do seu Espírito,
pois em Isaías 11.2 está escrito que repousará sobre ele:

Espírito do Senhor;
Espírito de sabedoria;
Espírito de entendimento;
Espírito de conselho;
Espírito de poder;
Espírito de conhecimento;
Espírito do temor do Senhor.

Nosso Senhor Jesus tem tudo isso! Ele tem os sete Espíritos de
Deus, pois nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade
(Cl 2.9). Muitos falam que precisamos ter a “plenitude” do Espírito
Santo, mas isso não existe, pois nenhum homem poderia suportar a
“plenitude” do Espírito Santo. Essa, aliás, é uma expressão que não
aparece em nenhum lugar na Bíblia. A “plenitude” do Espírito Santo
seria o Espírito Santo em toda a sua divina pessoa. Houve homens
de Deus, e ainda há, a quem ele – devido ao seu encargo
especialmente elevado – deu tal medida do seu Espírito, que
exclamaram subjugados: “Não mais, Senhor, não mais!”. O que o
Senhor quer é que fiquemos “cheios” do Espírito Santo!
Já vimos, no capítulo 1.20, quem são as sete estrelas: sete anjos,
ou seja, dirigentes das diferentes igrejas, que representam a igreja
completa de Jesus. O Senhor, que tem os sete Espíritos de Deus,
por um lado fala como a fonte de toda vida em Sardes e, por outro,
ele tem as estrelas – a igreja de Jesus – em sua mão. É como se
aqui o Senhor, com os sete Espíritos de Deus, com toda a plenitude
do Espírito Santo e com as sete estrelas, quisesse dizer: toda a
plenitude de poder está à disposição de toda a igreja. Com isso
reconhecemos repentinamente que “Conheço as suas obras” dessa
vez não contém nem consolo nem louvor. Pelo contrário, a expressão
“fama de” revela a enorme seriedade dessa mensagem do Senhor à
sua igreja. Leiamos novamente no contexto: “Estas são as palavras
daquele que tem os sete espíritos de Deus e as sete estrelas.
Conheço as suas obras; você tem fama de estar vivo, mas está
morto” (v. 1). O Senhor fala aqui de maneira muito direta, não como
com outras igrejas, como por exemplo para Pérgamo, onde primeiro
diz: “No entanto, tenho contra você algumas coisas” (2.14), ou como
para Tiatira (2.20) e Éfeso (2.4): “No entanto, contra você tenho
isto”. Não, aqui ele fala diretamente: “... você tem fama de estar vivo,
mas está morto”. Isso prova que aqui o Senhor fala de obras mortas,
que também vimos com Tiatira. A definição mais curta de obras
mortas provavelmente é: parecer sem ser! Parece existir algo, mas
na realidade não há nada. A igreja em Sardes tem um Salvador
histórico, mas não um Salvador presente, senão a situação estaria
bem diferente. Após um início cheio de vida, houve enrijecimento.
Chama a atenção que essa igreja, em contraste com outras igrejas,
é deixada em paz pelo Diabo. Satanás nem é citado aqui. Em Sardes
não há falsas doutrinas, não há entusiastas, não há falsos profetas;
também não há sofrimentos nem tribulações. Por quê? Justamente
porque a igreja está morta! “... você tem fama de estar vivo, mas
está morto.” Bem entendido, ela está morta somente aos olhos do
Senhor, pois externamente ela tem o nome de ser uma igreja viva.
Tudo parece estar na melhor ordem. Que essa igreja tem a fama de
estar viva significa duas coisas: não somente que lhe falta algo, mas
também que pretende ter algo que não existe.
Isso é exatamente o que é feito por muitos em nosso Ocidente
cristianizado, que têm o nome de cristãos. Daí pode ter-se derivada
a expressão “cristão nominal”. Quando perguntamos a alguém: “Você
é um filho de Deus?”, então recebemos diferentes respostas:
“Espero que sim”, “Vou à igreja, sou batizado e confirmado” ou “Eu
vivo direito e também oro, Deus também já me ouviu”. No entanto,
todas essas respostas mostram, afinal, que a pessoa em questão
somente é um cristão “de nome”, mas falta o essencial: a vida
proveniente de Deus. A afirmação do Senhor: “... você tem fama de
estar vivo, mas está morto”, mostra que Sardes era uma igreja que
tinha um bom nome. Esse bom nome, porém, enganava, assim como
em sentido oposto a fama de Esmirna enganava. O Senhor diz da
igreja em Esmirna que ela era considerada pobre, mas que, na
verdade, era rica. Portanto, a fama de pobre engana, pois ela era
rica em seu Senhor. Aqui em Sardes, porém, acontece exatamente o
contrário.
No Antigo Testamento era assim que as pessoas recebiam seu
nome – de acordo com seu ser, seu caráter ou sua tarefa: Israel =
príncipe de Deus; Eva = mãe dos viventes etc. O nome Sardes, “o
que escapou”, indica uma igreja viva, que escapou do mundo, mas
ela só o é aparentemente. Se pertencemos à igreja de Jesus, então
dizemos com nosso nome, com a designação “igreja”, “congregação”
ou “comunidade”, e quaisquer que sejam os outros nomes, que
somos uma fonte de água viva e, ao mesmo tempo, uma barreira
espiritual contra todos os poderes satânicos. A igreja de Sardes
dava a impressão de ser isso, mas estava morta. Terrível! Essa é
também a aflição em nossos dias. A grande mentira envolveu muitos
“cristãos de Sardes”, pois quando se aparenta uma coisa por muito
tempo ou se repete uma mentira constantemente, no fim você
mesmo acaba acreditando que é a verdade. Assim, não se reage
mais à pregação ou a uma correção espiritual, mas é pensado: “Isso
não me diz respeito, comigo está tudo na mais perfeita ordem”. Tal
pessoa está muito convencida de estar certa, assim como um morto
não reage quando se toca ou mesmo bate nele. “... você tem fama
de estar vivo, mas está morto.” Tanto mais comovente é o fato de
que o Senhor Jesus Cristo, que é a vida, apresenta-se justamente à
essa igreja como o Senhor que tem a plenitude do Espírito e assim
também a plenitude do Espírito criador. Assim ele também se
apresenta a você. Da mesma maneira ele se apresenta também a
Israel, pois, na verdade, Israel ainda está morto. Em Ezequiel 37.9
lemos: “Venha desde os quatro ventos, ó espírito, e sopre dentro
desses mortos, para que vivam”. Essa é a intenção do Senhor
elevado com Israel e com você: o que é morto deve despertar para a
nova vida! A esse respeito temos uma maravilhosa passagem
paralela em Efésios 5.14, onde o Senhor diz, através da boca de
Paulo: “Desperta, ó tu que dormes, levanta-te dentre os mortos e
Cristo resplandecerá sobre ti”. Portanto, o objetivo dessa carta a
Sardes é que os mortos fiquem novamente vivos: “Esteja atento!
Fortaleça o que resta e que estava para morrer” (v. 2). É claro que
com isso o Senhor se refere ao sono da morte espiritual.
Cada um que renasce para uma esperança viva e pertence à
igreja de Jesus é chamado a revelar vida. No entanto, com muitos de
nós o verdadeiro estado está em oposição com o ser real, que é
vida. Frequentemente somos luzes enganosas ao invés de luzes
orientadoras, de modo que pessoas se despedaçam nos recifes ao
invés de encontrar o porto seguro da salvação. Existem pessoas que
ficam desnorteadas com o nosso ser por não ser visível a mansidão,
humildade e clareza do Senhor Jesus, mas o eu teimoso, ambicioso
e orgulhoso.
Aparentemente a igreja em Sardes nada sabe da grande mentira
em que vive, assim como muitos também não sabem o quanto suas
vidas de fé são farsas e mentirosas. Nesse caso Israel está um
passo à nossa frente em seu conhecimento próprio, pois lemos em
Ezequiel 37.11: “Eles [Israel!] dizem: ‘Nossos ossos se secaram e
nossa esperança desvaneceu-se; fomos exterminados’”. Esse é um
autoconhecimento salvador, pois, em outras palavras, quer dizer:
“Nós, que fomos salvos do Egito pelo sangue do cordeiro, estamos
perdidos; tudo acabou conosco”. O Senhor aproveita esse
conhecimento próprio e começa novamente a revivificar Israel pelo
Espírito de vida do alto. Enquanto não chegamos a esse ponto
profundo do conhecimento próprio, o Senhor não pode dar vida. Mas
quem confessa: eu tenho o nome do qual eu vivo, mas estou morto, e
se humilha e procura passar pela porta estreita, esse recebe a vida
eterna. Talvez você tenha um bom nome de família e, por isso, ainda
não reconheceu até hoje o seu estado de morte espiritual? Um bom
nome pode ser um grande perigo, tanto para um indivíduo como para
toda uma igreja. Cerca de noventa anos atrás, uma grande força veio
do Exército de Salvação, quando este ainda era desprezado aqui na
Suíça pelo nome ruim que tinha. Aos poucos ele se tornou
socialmente aceitável e, assim, entrou em um perigo mortal. Se nós,
como Chamada da Meia-Noite, aos poucos passarmos a ter uma
boa reputação por causa das obras que realizamos, mas ao mesmo
tempo nos afastarmos do Senhor por falta de arrependimento, então
ele dirá: “Vocês têm a fama de estarem vivos, mas estão mortos”.
Quando uma igreja é tão bem considerada que é até subvencionada
pelo Estado com dinheiro público, então a morte, com seus efeitos
deterioradores, já é um fato.
O Senhor não para nesse julgamento aniquilador: “Conheço as
suas obras; você tem fama de estar vivo, mas está morto”. Não, ele
quer salvar, pois diz: “Porque eu vivo, vocês também viverão” (Jo
14.19b). Ele também quer transmitir a sua vida eterna a você que
está espiritualmente morto. O Espírito dele fala a você, com seu
coração indiferente, frio e orgulhoso. Trata-se de uma quíntupla
ordem categórica:
A primeira ordem é: “Esteja atento!” (v. 2). Aquele a quem Jesus
acorda do sono da morte é capaz de levantar! O poderoso chamado
“Volte à vida” já foi ouvido com Lázaro, que se encontrava há quatro
dias na sepultura e estava cheirando mal. Quando a pedra foi
finalmente tirada, o Senhor Jesus clamou em alta voz, depois de ter
agradecido ao Pai: “Lázaro, venha para fora!” (Jo 11.43). Assim, o
morto levantou-se, tendo os pés e as mãos ligados com ataduras, e
o rosto envolto num lenço (Jo 11.44). Com essa mensagem o Senhor
também diz a você: “Esteja atento!”. Não é uma terrível ofensa para
ele, que derramou sua vida em seu sangue na cruz do Gólgota para
nos despertar do sono da morte, quando dormimos novamente? E
isso em uma hora do plano de salvação na qual ele pode voltar a
qualquer momento! Os discípulos de Jesus dormiram naquela hora
importante do plano de salvação, quando o Senhor suou sangue no
Getsêmani e lutou com a morte antes de ir para o Gólgota. Então ele
encontrou os seus discípulos dormindo e lhes perguntou, lamentando:
“Vocês não puderam vigiar comigo nem por uma hora?” (Mt 26.40).
“Esteja atento!”
A segunda ordem é: “Fortaleça o que resta e que estava para
morrer, pois não achei suas obras perfeitas aos olhos do meu Deus”
(v. 2). É angustiante ver quantos em nossos dias deslizam
vagarosamente para a apostasia. Ezequiel recebeu do Senhor a
tarefa de ser uma sentinela sobre toda a casa de Israel (cf. Ez 3.17-
19; 33.7-9). A igreja de Jesus tem exatamente o mesmo encargo,
pois, conforme Apocalipse 1.1, foi-lhe confiada a palavra profética
para advertir o mundo e os cristãos nominais sobre o juízo próximo:
“Revelação de Jesus Cristo, que Deus lhe deu para mostrar aos
seus servos o que em breve há de acontecer”. Temos um dever de
ser sentinelas! A igreja em Sardes, assim como nós, dorme.
Naturalmente sustentamos missionários, naturalmente trabalhamos
de alguma forma, mas mesmo assim dormimos. Sardes dorme e
deixa dormir, deixa morrer. Essa é a razão da exortação do Senhor:
“Fortaleça o que resta e que estava para morrer”. Em outras
palavras: quando você acorda das obras mortas, de todo o trabalho
inútil, do cristianismo aparente, então comece imediatamente a
consolidar o resto que estava para morrer. Continuamente as
pessoas morrem à nossa volta. Muitas que vão para a maldição
eterna gostariam de ter ouvido de Jesus e gostariam de tê-lo
aceitado, mas nada escutaram sobre ele porque a igreja dorme.
Dela saem efeitos de morte ao invés de rios de vida. Ouça o
penetrante chamado do Senhor: “Fortaleça o que resta e que estava
para morrer”. Pare com a morte espiritual em você e à sua volta!
“... pois não achei suas obras perfeitas aos olhos do meu Deus”
(v. 2). As obras de Cristo são sempre as obras do Pai. O Senhor
Jesus fala sempre a partir da sua unidade com o Pai. Ele tem os
sete Espíritos, o Espírito Santo, e fala as palavras e faz as obras do
Pai, do Deus triúno. Se o Senhor diz a Sardes: “... não achei suas
obras perfeitas”, então isso significa que as obras mortas
predominam. Hebreus 9 nos ensina que somos purificados das obras
mortas através do sangue de Jesus. Afinal, o que são obras mortas?
É tudo aquilo que é de orientação terrena, por exemplo:
autopromoção, diversos vícios e ser escravizado à cobiça, avareza,
orgulho e ao falatório vazio; como também o desperdício de tempo
precioso. Concretamente, é tudo aquilo que não é dirigido para o
Senhor. “... pois não achei suas obras perfeitas aos olhos do meu
Deus.” O servo preguiçoso enterrou o seu talento, e muitos entre nós
também fazem isso. Vocês, jovens amigos, teriam chances tão
grandes de serem algo maravilhoso para o Senhor! Vocês, mais
idosos, o que poderiam fazer pela oração, pelas ofertas e pelo
testemunho! No entanto, o que vocês fazem, irmãos jovens e mais
velhos? O culto de vocês consiste em grande parte a frequentar o
culto dominical, ouvir devotamente, sair novamente e voltar à ordem
do dia. Tudo gira mais ou menos em torno de vocês mesmos e do
próprio bem-estar. “... pois não achei suas obras perfeitas aos olhos
do meu Deus.” Você ficou devendo a parte decisiva do seu trabalho,
ou seja, o trabalho de salvador e sentinela em meio a uma
humanidade que se desespera e também procura
desesperadamente. Talvez você se defenda, dizendo: “Eu dou
testemunho e distribuo literatura e folhetos”. A questão é: o seu
testemunho tem autoridade? Ou será que aquilo que você faz para o
Senhor – as obras de Cristo através de você – é sobrepujado e
enfraquecido por muitas coisas inúteis que lhe fascinam? “... pois não
achei suas obras perfeitas aos olhos do meu Deus.”
A terceira ordem do Senhor é: “Lembre-se, portanto, do que você
recebeu e ouviu” (v. 3). O homem despertado pode outra vez pensar
de maneira espiritualmente normal. De uma pessoa que dorme não
se pode esperar que pense e discirna claramente, pois é incapaz de
ver as realidades. No entanto, tão logo está acordada, ela tem
capacidade de pensar. “Lembre-se, portanto”, diz o Senhor, “do que
você recebeu e ouviu.” As palavras de Deus “desaparecidas”
precisam agora ser novamente tiradas dos cantos escuros do seu
coração. Quem faz isso sinceramente e se ocupa novamente com a
preciosa Palavra de Deus em seu coração, ouvindo o que ela diz,
tem o coração levado ao arrependimento salvador e libertador.
Muitos não são capazes de arrepender-se, porque não estão
dispostos a aceitar aquilo que ouviram. Contudo, onde isso acontece,
o caminho fica livre para a verdadeira mudança de mentalidade. Esse
foi também o caso com Pedro. Ele era muito piedoso, cheio de si
mesmo e que sempre queria ter razão. Ele estava muito consciente
de tudo que realizava no reino de Deus. Ele era sempre o primeiro e
mais zeloso diante do Senhor. Então, porém, ficou revelado que tudo
era somente na aparência. Quando foi posto à prova, ele negou o
Senhor. Quando ele se tornou capaz de arrepender-se? Quando se
lembrou das palavras do Senhor, depois de tê-lo negado firmemente
e até assegurado, com juramento, que não o conhecia. Lucas 22.61
descreve isso de forma tão comovente: “O Senhor voltou-se e olhou
diretamente para Pedro. Então Pedro se lembrou da palavra que o
Senhor lhe tinha dito”. Ele lembrou-se como o Senhor havia dito:
“Antes que o galo cante hoje, você me negará três vezes” (Lc 22.61).
Então Pedro saiu e chorou amargamente (Lc 22.62). Isso é
arrependimento verdadeiro! A Palavra de Deus é como um martelo
que despedaça a rocha (Jr 23.29). A igreja em Sardes negava o
Senhor e seu maravilhoso poder salvador, mantendo somente o
nome. E você? Lembre a Palavra que já ouviu tantas vezes. Não
continue apenas mantendo o nome, a aparência, mas torne-se uma
carta legível de Cristo. Lembre o que Paulo diz a respeito dos
tempos finais: “Tendo aparência de piedade, mas negando o seu
poder. Afaste-se desses também” (2Tm 3.5).
A quarta ordem: “... obedeça...” (v. 3). O que Sardes e o que nós
devemos obedecer? A Palavra! Deixe de ser apressado e superficial,
mas aprofunde-se! Não deixe que o Senhor continue lamentando
sobre você como teve que fazer através de Jeremias: “Poderá
desaparecer a neve do Líbano de suas encostas rochosas? Poderá
parar de fluir suas águas frias, vindas de lugares distantes? Contudo,
o meu povo esqueceu-se de mim” (Jr 18.14-15). Por isso, mais uma
vez: obedeça sua Palavra!
E, por fim, a quinta ordem: “... e arrependa-se” (v. 3). Na leitura
atenta e em oração da Bíblia, chama a atenção que aqui o chamado
ao arrependimento não é feito imediatamente, como no caso de
outras igrejas, mas somente após diversas ordens. É assim porque
ninguém tem condições de arrepender-se enquanto dorme, ou seja,
estando espiritualmente morto. Jesus Cristo somente lhe ilumina para
o arrependimento libertador quando você quer obedecer ao seu
chamado. Nesse contexto lembremos mais uma vez de Efésios 5.14:
“Desperta, ó tu que dormes, levanta-te dentre os mortos e Cristo
resplandecerá sobre ti”. Se você despertar e se levantar, Cristo o
levará para a sua luz. Então o seu ser será iluminado por ele até as
profundezas mais escondidas e escuras da sua alma, de modo que
você terá condições de arrepender-se de todo o coração sobre toda
a aparência – arrependimento sobre o fato de Jesus Cristo ser
experiência passada em sua vida, mas não presença viva.
Arrepender-se, por isso, significa também humilhar-se sob sua
poderosa mão, porque após o início promissor você ficou enrijecido
interiormente.
Além disso, o Senhor faz ainda uma ameaça, dizendo, no
versículo 3b: “Mas, se você não estiver atento, virei...”. Interessante
é que ele não diz: “Se você não se arrepender”, como fez com outras
igrejas, mas “se você não estiver atento”. Ele sabe: se eles
despertarem, também se arrependerão. “... virei como um ladrão e
você não saberá a que hora virei contra você.” O Senhor quer
advertir: se você não vigiar, será surpreendido pela minha vinda.
Então, quando repentinamente chegar o grande momento, você será
semelhante às cinco virgens insensatas, que não tinham azeite
consigo. Elas não estavam preparadas e não puderam ir com o noivo
para participar do seu casamento. Nesse contexto o Senhor fala de
um ladrão que só é percebido quando já foi novamente embora.
Então, a oportunidade de se preparar desapareceu como se fosse
roubada por um ladrão. Quando Jesus vem, tudo já está decidido:
quem não estiver preparado será envergonhado. E assim você não
conhecerá a hora da sua vinda, porque o Espírito Santo estará
calado, enquanto diz “vem!” nos corações que estão preparados: “O
Espírito e a noiva dizem: ‘Vem!’” (22.17).
Não é por acaso que Sardes também significa “remanescente”,
pois o Senhor Jesus ainda manda escrever para essa igreja: “No
entanto, você tem aí em Sardes uns poucos que não contaminaram
as suas vestes. Eles andarão comigo, vestidos de branco, pois são
dignos” (v. 4). Esses “poucos” vivem completa e totalmente na
santificação. Isso significa que na igreja em Sardes há uma
separação radical entre morte e vida, entre luz e trevas, entre
sagrado e profano. Não é dito que as vestes desses poucos estavam
um pouquinho sujas, mas – e isso foi um louvor de Deus – que não
contaminaram suas vestes. A mesma figura foi vista por Jeremias
com relação a Judá e Israel, em Jeremias 24.2-8. Ali Israel é
comparado a dois cestos de figos. Desses figos está dito que uns
eram muito bons e outros, intragáveis; tão ruins que não se podia
comê-los. Também nesse caso não é dito “bons e pouco bons”, mas
que havia figos muito bons – esses eram aqueles prisioneiros de
Judá que se arrependeram, foram guardados pelo Senhor e trazidos
de volta para Israel – e havia, ainda, figos muito ruins, que não
podiam ser comidos – essa era a casa real de Judá, que foi
rejeitada, e esses eram aqueles em Jerusalém que não se
humilharam sob a poderosa mão de Deus e por isso sofreram o
juízo. Com o Senhor não há tolerância diante das trevas. Aqueles
que não contaminaram suas vestiduras, o pequeno remanescente,
andarão com Jesus vestidos de branco. As vestiduras brancas não
são as vestes da justiça, mas as vestes dos vencedores, pois o
Senhor diz que eles “são dignos”. Eles venceram. Então segue a
promessa para os vencedores: “O vencedor será igualmente vestido
de branco. Jamais apagarei o seu nome do livro da vida, mas o
reconhecerei diante do meu Pai e dos seus anjos” (v. 5). Esses
poucos acompanharão o Filho de Deus em cortejo triunfal pelo céu,
em vestes resplandecentes, apresentados como vencedores! Isso
acontecerá após a primeira ressurreição, após a abertura dos livros
e após a revelação daqueles que estão anotados nos registros dos
fiéis. Se você é um vencedor, então o seu nome será confessado
pelo Senhor diante do seu Pai e diante dos seus anjos. Você será
chamado por um novo nome, que valerá então por toda a eternidade.

A Sexta Carta do Céu (Ap 3.7-13)


7“Ao anjo da igreja em Filadélfia, escreva: Estas são as palavras
daquele que é santo e verdadeiro, que tem a chave de Davi. O
que ele abre ninguém pode fechar, e o que ele fecha ninguém
pode abrir. 8Conheço as suas obras. Eis que coloquei diante de
você uma porta aberta que ninguém pode fechar. Sei que você
tem pouca força, mas guardou a minha palavra e não negou o
meu nome. 9Veja o que farei com aqueles que são sinagoga de
Satanás e que se dizem judeus e não são, mas são mentirosos.
Farei que se prostrem aos seus pés e reconheçam que eu o
amei. 10Visto que você guardou a minha palavra de exortação à
perseverança, eu também o guardarei da hora da provação que
está para vir sobre todo o mundo, para pôr à prova os que
habitam na terra. 11Venho em breve! Retenha o que você tem,
para que ninguém tome a sua coroa. 12Farei do vencedor uma
coluna no santuário do meu Deus, e dali ele jamais sairá.
Escreverei nele o nome do meu Deus e o nome da cidade do
meu Deus, a nova Jerusalém, que desce dos céus da parte de
Deus; e também escreverei nele o meu novo nome. 13Aquele que
tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às igrejas.”
Já nas cartas anteriores fomos tocados pelo fato do Senhor elevado
falar tão insistentemente e, ao mesmo tempo, também diretamente
ao nosso coração. Na verdade, toda a Bíblia é o falar direto de
Deus: “Há muito tempo Deus falou muitas vezes e de várias maneiras
aos nossos antepassados por meio dos profetas, mas nestes últimos
dias falou-nos por meio do Filho...” (Hb 1.1-2).
Na carta à Filadélfia, logo chama a atenção que essa igreja não é
repreendida. Pelo contrário, trata-se da única igreja que recebe
grandes elogios. Como se sabe, Filadélfia significa “amor fraternal”.
Filadélfia ainda existe hoje sob o nome turco Alasehir. A igreja em
Filadélfia localizava-se a aproximadamente 43 quilômetros a sudeste
de Sardes, portanto, nas proximidades da igreja que o Senhor diz:
“... você tem fama de estar vivo, mas está morto” (3.1). O perigo de
contaminação para a igreja em Filadélfia não podia ser desprezado,
pois nada é mais contagioso do que a sorrateira morte espiritual. Se
somente quatro ou cinco numa igreja têm a fama de estarem vivos,
mas estão espiritualmente mortos, então logo a morte espiritual se
espalha. Isso já foi assim na antiga aliança. Em Josué 7 lemos como
um homem, Acã, pecou agindo dolosamente e assim arrastou todo o
povo de Israel a uma derrota.
No entanto, o belo e significativo nome Filadélfia não é de origem
cristã, pois essa cidade já foi fundada em 189 a.C. pelo rei de
Pérgamo, Eumenes II. Ele usava o cognome Filadelfo e chamou
então essa cidade pelo seu nome. Apesar de ter sido destruída
várias vezes por terremotos, era sempre novamente reconstruída,
atingindo nova prosperidade.
Qual é o motivo de o Senhor elevado, nessa carta – em contraste
com as outras –, revelar-se tão detalhadamente, tão amplamente, ao
anjo dessa igreja? A revelação própria especial do Senhor consiste
em falar do que é e do que tem: “Estas são as palavras daquele que
é santo e verdadeiro, que tem a chave de Davi” (v. 7). Ele é o Santo,
e a igreja em Filadélfia não é santificada somente conforme a
posição, mas vivia na santificação também diariamente. Isso se
conclui do testemunho que o Senhor dá sobre ela: “... você guardou
a minha palavra de exortação à perseverança” (v. 10). Em outras
palavras: “Em todas as situações você se firmou em minha Palavra”.
Isso tem íntima relação com a santificação pessoal, pois quem
guarda a Palavra vive em santificação. Por outro lado: quem vive na
santificação, esse tem que guardar a Palavra. Uma coisa não é
possível sem a outra. O próprio Senhor Jesus orou: “Santifica-os na
verdade; a tua palavra é a verdade” (Jo 17.17). Portanto, levar sua
Palavra a sério significa ser obediente à ela; e isso significa, por sua
vez, ser santificado na verdade dele. Esse é também o motivo da
segunda revelação própria do Senhor: “Estas são as palavras
daquele que é santo e verdadeiro” (v. 7). Ele não somente diz a
verdade, mas é a verdade em Pessoa. Desse modo, ele é a
revelação única, absolutamente verdadeira e completa daquilo que
Deus é. “Quem me vê, vê o Pai” (Jo 14.9). Ele é verdadeiro em sua
Palavra, em suas promessas, de modo que, a qualquer tempo e em
quaisquer circunstâncias, você pode confiar nele completamente! A
designação “verdadeiro” sublinha a afirmação anterior de que ele é o
Santo.
Não é por acaso que o Senhor, após sua revelação própria, fala
também da vida santificada da igreja em Filadélfia. “Visto que você
guardou a minha palavra de exortação à perseverança” (v. 10). Ainda
antes que o mundo fosse criado o Senhor já escolheu os crentes
nessa igreja e também a nós, para “sermos santos e irrepreensíveis
perante ele; e em amor” (Ef 1.4 RA). Esse “e em amor” mostra o
vínculo singular entre o Senhor e os comprados pelo seu sangue. O
objetivo supremo de Deus, que ele já tinha antes da fundação do
mundo com cada um de nós e com os muitos milhões de homens,
não era somente que nos convertêssemos e nos tornássemos felizes
filhos de Deus, mas sim que fôssemos santos e irrepreensíveis
perante ele. Essa é também a razão da sua apresentação na carta:
“Estas são as palavras daquele que é santo e verdadeiro”. A igreja
em Filadélfia correspondia ao objetivo de Deus.
Com relação a todos os poderes inimigos que ameaçam Filadélfia,
o Senhor anuncia: “Farei que se prostrem aos seus pés e
reconheçam que eu o amei” (v. 9). Filadélfia está abrigada no
indescritivelmente poderoso amor de Cristo. Que maravilhoso círculo
no qual ele nos inclui. Nós nele e ele em nós! Em poucos versículos
nos são mostradas três características de Deus com as quais ele
quer nos envolver: sua santidade, sua veracidade e seu amor. Essas
três características foram desdobradas por Deus em Jesus Cristo na
cruz do Gólgota. Se Deus, o Senhor, fosse somente santo, justo e
verdadeiro, estaríamos todos perdidos e condenados. Nenhum ímpio
pode subsistir diante dele. No entanto, ele também é amor! Ele amou
tanto o mundo “que deu o seu Filho Unigênito, para que todo o que
nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3.16). Jesus
Cristo satisfez plenamente na cruz do Gólgota a justiça e a santidade
de Deus, abrindo através delas o caminho aos nossos corações para
o amor de Deus.
É comovente como o Senhor elevado é condescendente,
revelando a sua onipotência à igreja em Filadélfia. “Estas são as
palavras daquele... que tem a chave de Davi. O que ele abre
ninguém pode fechar, e o que ele fecha ninguém pode abrir” (v. 7).
Isso parece ser do Antigo Testamento, mas cumpriu-se em Jesus
Cristo. Essa é a plenitude de poder do Cristo elevado, que Deus deu
a ele, o grande Filho de Davi! Ele tem a chave de Davi, isto é, a
chave do Rei dos reis. Somente ele pode abrir a porta do reino
eterno, e ninguém pode fechá-la, assim como “o que ele fecha
ninguém pode abrir”. Ele tem o poder sobre a vida, a morte e o
inferno. Assim, lemos no capítulo 1.17-18: “Eu sou o Primeiro e o
Último. Sou Aquele que Vive. Estive morto, mas agora estou vivo
para todo o sempre! E tenho as chaves da morte e do Hades”. Ele é
o Vencedor único e sem restrições! Por isso, não é por acaso que
justamente estas palavras da revelação de Cristo à igreja em
Filadélfia já foram preditas e vistas há séculos pelo profeta Isaías.
Em Isaías 22.22 está escrito: “Porei sobre os ombros dele a chave
do reino de Davi; o que ele abrir ninguém conseguirá fechar, e o que
ele fechar ninguém conseguirá abrir”. Aqui, na carta à Filadélfia, o
Senhor elevado, o cumprimento visível dessa profecia, vem ao
encontro da sua igreja fraca e afligida e declara: “Conheço as suas
obras” (v. 8). Como com Esmirna, também aqui o Senhor não
enumera obras quantitativas, como foi o caso, por exemplo, com os
efésios: “Conheço as suas obras, o seu trabalho árduo e a sua
perseverança. Sei que você não pode tolerar homens maus, que pôs
à prova os que dizem ser apóstolos mas não são, e descobriu que
eles eram impostores. Você tem perseverado e suportado
sofrimentos por causa do meu nome e não tem desfalecido” (2.2-3).
O que ele cita é a dupla luta de fé de Filadélfia, pois essa igreja,
como Esmirna, teve que sofrer por amor a Jesus:
Em primeiro lugar, ela tinha que vencer uma luta de fé contra o
paganismo repleto de ódio pelo qual estava cercada. Quem guarda a
palavra da sua perseverança está em confronto radical com o seu
ambiente, com o mundo ímpio. Ai de quando desaparece o inevitável
contraste entre a igreja de Jesus e o espírito do mundo! Então ela –
então nós – perdemos a batalha de fé: “... vocês não sabem que a
amizade com o mundo é inimizade com Deus?” (Tg 4.4). Ai se nós
nadamos junto com a correnteza e nos adaptamos ao espírito deste
mundo. A consequência então é que o Senhor fecha a porta do
evangelho para o mundo. Concretamente: a sua mensagem e o seu
testemunho se tornam ridículos. Não é sempre culpa do mundo se
ele zomba quando você fala de Jesus. Verifique se não é porque
você não tem autoridade, porque em sua própria vida aconteceu uma
mistura.
Quando Sodoma estava diante da ruína, Ló tentou, por insistência
dos anjos, transmitir a mensagem da salvação aos seus futuros
genros. No entanto, está dito: “Mas pensaram que ele estava
brincando” (Gn 19.14). Como você pretende ser uma “porta aberta”
para o mundo se, como crente, está preso à nicotina, ao álcool, à
televisão e outras coisas mais?
A igreja em Filadélfia firmou-se em Jesus, em cujo nome há poder
e redenção, e não o negou. Por isso ele prometeu a “porta aberta”:
“Eis que coloquei diante de você uma porta aberta que ninguém pode
fechar” (v. 8). Com certeza o Senhor refere-se aqui a uma “porta
dupla”. Em primeiro lugar, a porta aberta para o alto: “Portanto,
irmãos, temos plena confiança para entrar no Lugar Santíssimo pelo
sangue de Jesus, por um novo e vivo caminho que ele nos abriu por
meio do véu, isto é, do seu corpo. Assim, aproximemo-nos de Deus
com um coração sincero...” (Hb 10.19-20,22). A seguir, também uma
porta aberta para o mundo pagão, que está repleto de rejeição e
ódio. Os crentes em Filadélfia, porém, tinham autoridade porque
tinham acesso ao trono de Deus no santuário interior. Apesar da
rejeição fantástica por parte do mundo, seu testemunho era
irresistível: “... ninguém pode fechar [a porta ao mundo]”. Isso, aliás,
é dito também por Paulo: “Porque se abriu para mim uma porta
ampla e promissora; e há muitos adversários” (1Co 16.9). Ninguém
podia vencer o apóstolo Paulo, porque seu testemunho era completo.
O Senhor também apresenta uma dupla razão do porquê dá à
igreja em Filadélfia essa maravilhosa porta aberta: “Eu conheço as
tuas obras; eis que tenho posto diante de ti uma porta aberta, e
nenhum homem pode fechá-la; porque tens uma pequena força” (v. 8
BKJ). Essa é uma mensagem animadora para todos que são
desesperadamente fracos! Aproprie-se da autoridade do Espírito
para o testemunho irresistível! É a maneira de Deus revelar sua
glória na fraqueza. “No meio da minha vida ele me abateu com sua
força”, está escrito no Salmo 102.23. Por quê? Paulo deu a
resposta: “Mas Deus escolheu o que para o mundo é loucura para
envergonhar os sábios e escolheu o que para o mundo é fraqueza
para envergonhar o que é forte. Ele escolheu o que para o mundo é
insignificante, desprezado e o que nada é, para reduzir a nada o que
é, a fim de que ninguém se vanglorie diante dele” (1Co 1.27-29).
Mais tarde, ele acrescenta: “Pois, quando sou fraco, é que sou forte”
(2Co 12.10), porque o Senhor lhe tinha dito: “Minha graça é
suficiente para você, pois o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza”
(2Co 12.9). Assim, ele também podia testemunhar em 1Coríntios
2.4: “Minha mensagem e minha pregação não consistiram em
palavras persuasivas de sabedoria, mas em demonstração do poder
do Espírito”.
Em segundo lugar, para a razão de o Senhor dar a porta aberta,
temos que voltar ao versículo 8: “... mas guardou a minha palavra e
não negou o meu nome”. A igreja em Filadélfia tinha, portanto, a
coragem de fé para o sagrado radicalismo por Jesus; ela – deve-se
frisar novamente – levou toda a Palavra a sério. Os crentes dessa
igreja não foram apaziguados com o argumento insípido: “Não é
preciso ser tão específico, tão inflexível”, nem se deixaram intimidar.
Eles guardaram a palavra da sua perseverança – apesar de todas as
correntes daquela época.
Consegue perceber que, pelo fato de você ter cedido aos
incrédulos, foi transformado em uma inofensiva bomba que não
deflagrou, que você está sem o “combustível” do evangelho? O seu
testemunho está completamente sem nitidez porque, pela sua
posição dúbia, você negou o precioso nome de Jesus. Esse é o
grande problema! Muitos querem ambas as coisas: o Senhor e o
mundo – e não têm nada. Eles são como moscas que pousam
alternadamente sobre um monte de estrume e depois novamente
sobre um pão com mel. O Senhor, porém, disse: “... qualquer de
vocês que não renunciar a tudo o que possui não pode ser meu
discípulo” (Lc 14.33). Todos os seus problemas não devem ser
atribuídos a circunstâncias desfavoráveis, mas ao fato de você não
ter um sim definido para o Senhor e um não igualmente decidido para
o mundo e o pecado.
A segunda luta de fé em Filadélfia era travada contra o mundo
religioso: “Veja o que farei com aqueles que são sinagoga de
Satanás e que se dizem judeus e não são, mas são mentirosos.
Farei que se prostrem aos seus pés e reconheçam que eu o amei”
(v. 9). Pérgamo enfrentava o trono de Satanás, isto é, seu domínio
cruel (2.13). Já Esmirna (2.9) e Filadélfia eram confrontadas com a
“sinagoga” de Satanás – com a religião sem Jesus Cristo. Isso
significa amarga hostilidade contra a verdadeira igreja de Jesus.
Essa luta cheia de confrontos continua até os nossos dias. Sim, ela
aumenta, pois religião sem Cristo como centro – seja judaica, como
aqui, ou mesmo cristã – sempre acaba em anticristianismo. Enquanto
que para os filhos de Deus verdadeiramente santificados as
fronteiras com o mundo estão claramente definidas – “Quanto a mim,
que eu jamais me glorie, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus
Cristo, por meio da qual o mundo foi crucificado para mim, e eu para
o mundo”, diz Paulo em Gálatas 6.14 –, a “sinagoga de Satanás” é a
personificação do engano religioso-satânico. Sobre isso lemos em
2Coríntios 11.14: “... o próprio Satanás se disfarça de anjo de luz”.
Se alguém se deixa enganar religiosamente, aceitando uma religião
cristã sem cruz e sem entrega do coração ao Senhor Jesus Cristo,
então ele se encontra nas garras de Satanás.
Naquele tempo eram os judeus que negavam com veemência aos
crentes em Filadélfia a salvação em Jesus Cristo, afirmando: “Nós
temos a única coisa certa, nós temos a justiça diante de Deus”. No
entanto, eles mentiam, diz o Senhor: “... se dizem judeus e não são”
(v. 9). Hoje são os cristãos sem Cristo que são tratados pelos seus
líderes como “prezada comunidade”, que desprezam e zombam da
atual igreja de Filadélfia. Todo aquele que segue a Jesus Cristo de
todo o coração conhece essa terrível luta com o mundo religioso,
com cristãos sem Cristo, que argumentam: “Somos batizados e
confirmados, fazemos o bem e não tememos a ninguém;
consequentemente, está tudo na melhor ordem”. Contudo, aí o
Senhor Jesus dá à igreja em Filadélfia a maravilhosa promessa:
“Veja o que farei com aqueles que são sinagoga de Satanás... Farei
que se prostrem aos seus pés e reconheçam que eu o amei” (v. 9).
Isso significa: pelo seu testemunho fiel e com autoridade, pessoas
sairão apressadamente da “sinagoga de Satanás”, do cristianismo
aparente, e darão razão a vocês, aceitando Jesus Cristo como
Salvador. Elas reconheceram que, ao invés de uma fé formal morta,
existe uma comunhão viva entre o Senhor e os seus. “... e
reconheçam que eu o amei” (v. 9). É mais fácil levar a Cristo uma
prostituta, um assassino, um ladrão ou qualquer criminoso do que um
cristão sem Cristo. No entanto, o Senhor promete que também isso
acontecerá. E aconteceu. Inúmeras vezes, até hoje, aconteceu o
milagre que “também um grande número de sacerdotes obedecia à
fé” (At 6.7).
A igreja de Filadélfia deve ter sido uma igreja maravilhosa.
Enquanto o Senhor teve que repreender a igreja em Éfeso rica em
conhecimento – “Contra você, porém, tenho isto: você abandonou o
seu primeiro amor” –, em Filadélfia revela-se o ardente primeiro
amor. Sua fidelidade à Palavra, seu firmar-se no precioso nome de
Jesus é tal que o Senhor pôde envolvê-la no seu precioso amor. “... e
reconheçam que eu o amei.” É maravilhoso que esse fato é
reconhecido por pessoas até então religiosas e presunçosas. Os
seus adversários reconhecem que você é amado pelo Senhor porque
o ama? Nenhum homem pode reconhecer isso se você está de
coração dividido. Romanos 5.5 é realidade visível e perceptível em
sua vida? Lá está escrito: “... porque Deus derramou seu amor em
nossos corações, por meio do Espírito Santo que ele nos concedeu”.
A igreja em Filadélfia, por menor e mais fraca que fosse, deve ter
sido uma igreja vitoriosa, porque o Senhor lhe deu uma porta aberta.
Ela se encontrava na ofensiva, no ataque contra o mundo.
Forçosamente deve-se chegar a essa conclusão quando se vê que o
Senhor, por um lado, garante a ela uma porta aberta e, por outro, dá
duas vezes o testemunho de que ela guardou sua Palavra e não
negou o seu nome. Além disso, ele exorta no versículo 11 a
conservar o que tem: “Retenha o que você tem, para que ninguém
tome a sua coroa”. Ela já tem a coroa dos vencedores, isto é, ela
lutou vitoriosamente, pois ninguém é coroado a não ser que tenha
combatido corretamente o bom combate da fé! Por isso a visão do
futuro, que o Senhor dá à Filadélfia, é tão cheia de promessas e uma
profecia extremamente atual. Essa profecia cumpre-se em nossos
dias. Quando se lê no contexto, então se sabe com certeza que a
igreja será arrebatada antes da grande tribulação, e não no meio ou
até depois: “Visto que você guardou a minha palavra de exortação à
perseverança, eu também o guardarei da hora da provação que está
para vir sobre todo o mundo, para pôr à prova os que habitam na
terra” (v. 10). A “hora da provação” é a grande tribulação anticristã,
que é descrita nos capítulos seguintes do Apocalipse. Se alguma vez
uma palavra foi atual em nossa época, então é esta: “... também o
guardarei da hora da provação que está para vir sobre todo o
mundo, para pôr à prova os que habitam na terra. Venho em breve!”.
Acerca da época da sua vinda – entenda: não da hora, mas da
época – ele diz em Mateus 24.32-34: “Aprendam a lição da figueira:
quando seus ramos se renovam e suas folhas começam a brotar,
vocês sabem que o verão está próximo. Assim também, quando
virem todas estas coisas, saibam que ele está próximo, às portas.
Eu asseguro a vocês que não passará esta geração até que todas
estas coisas aconteçam”. Ele disse isso em meio à sua profecia
sobre os sinais dos tempos finais, sobre sua vinda em grande poder
e glória, sobre a grande tribulação anterior. “... não passará esta
geração até que todas estas coisas aconteçam.” Quanto dura uma
geração? No máximo quarenta anos. Lembremos que em 1948
começou o Estado de Israel e que em 1967 Jerusalém tornou-se
novamente a capital – a figueira ganhou folhas –, e escrevo isso no
começo da década de 1980. Tudo aconteceu em uma geração.
Quão próximo deve estar então o arrebatamento! Por isso é decisivo
para você e para mim: como indivíduos e como igreja, ou somos
vitoriosos no ataque ao mundo, ao mundo religioso, ou somos
levados por compromissos e empurrados para uma guerra defensiva.
Aliás, quem está na defensiva é cercado por Satanás e aniquilado
sem compaixão. Ou você escolhe o sagrado radicalismo por Jesus,
ou, em seu coração dividido, você será vítima do Anticristo. Jesus
vem em breve! Por isso, aceite o sagrado radicalismo, a entrega
total a ele, para que você não seja envergonhado na vinda dele! A
promessa aos vencedores de Filadélfia é: “Farei do vencedor uma
coluna no santuário do meu Deus, e dali ele jamais sairá. Escreverei
nele o nome do meu Deus e o nome da cidade do meu Deus, a nova
Jerusalém, que desce dos céus da parte de Deus; e também
escreverei nele o meu novo nome” (v. 12). Essa recompensa dos
vencedores tem seu ponto de partida num novo reino fundado, numa
nova cidade, numa nova cidadania glorificada. O vencedor será feito
coluna em um templo não feito por mãos humanas. O profeta Isaías
fala desta cidadania: “Os que forem deixados em Sião e ficarem em
Jerusalém serão chamados santos: todos os inscritos para viverem
em Jerusalém” (Is 4.3). Os vencedores de Filadélfia recebem
indescritíveis glórias que, apesar de serem aludidas com palavras,
não podem ser racionalmente explicadas em sua essência (cf. 2Co
12.4; 1Pe 1.8).

A Sétima Carta do Céu (Ap 3.14-22)


14“Ao anjo da igreja em Laodiceia, escreva: Estas são as palavras
do Amém, a testemunha fiel e verdadeira, o soberano da criação
de Deus. 15Conheço as suas obras, sei que você não é frio nem
quente. Melhor seria que você fosse frio ou quente! 16Assim,
porque você é morno, não é frio nem quente, estou a ponto de
vomitá-lo da minha boca. 17Você diz: ‘Estou rico, adquiri riquezas
e não preciso de nada’. Não reconhece, porém, que é miserável,
digno de compaixão, pobre, cego, e que está nu. 18Dou este
conselho: Compre de mim ouro refinado no fogo, e você se
tornará rico; compre roupas brancas e vista-se para cobrir a sua
vergonhosa nudez; e compre colírio para ungir os seus olhos e
poder enxergar. 19Repreendo e disciplino aqueles que eu amo.
Por isso, seja diligente e arrependa-se. 20Eis que estou à porta e
bato. Se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei e
cearei com ele, e ele comigo. 21Ao vencedor darei o direito de
sentar-se comigo em meu trono, assim como eu também venci e
sentei-me com meu Pai em seu trono. 22Aquele que tem ouvidos
ouça o que o Espírito diz às igrejas.”
Laodiceia estava localizada a sudeste de Filadélfia, nas proximidades
de Colossos. Tratava-se de uma velha cidade frígia, que
originalmente se chamava Dióspolis e depois Roa. Somente mais
tarde ela recebeu o nome de Laodiceia, em honra à Laódice, a
terrível esposa do rei sírio Antíoco II. No tempo dos apóstolos,
Laodiceia era uma cidade extremamente próspera. Paulo faz
referência a ela em Colossenses 2.1; 4.13,15,16. O historiador
romano Tácito a coloca entre as cidades mais destacadas da Ásia e
louva a sua grande riqueza. No ano 62 d.C. ela foi destruída por um
terremoto, juntamente com Hierápolis e Colossos. Por causa da sua
grande riqueza, entretanto, ela pôde ser reconstruída tão rápida e
completamente que, quando João recebeu o Apocalipse em Patmos
(cerca de 85 d.C.), essa terrível catástrofe já havia sido esquecida
há muito tempo. No ano de 1402 d.C. também essa cidade,
juntamente com Éfeso, foi totalmente destruída pelas hordas de
Tamerlão. Hoje há apenas uma série de ruínas impressionantes no
local, chamado Eski-Hissar, que significa “castelo antigo”. Elas são
testemunhas melancólicas da glória terrena do passado.
Essa é a última carta do Senhor elevado às suas igrejas. No
sentido profético, ela é especialmente dirigida à igreja dos tempos
finais e, assim, aos crentes de hoje. Por isso justamente a
mensagem do Senhor, contida nessa carta, é de grandiosa
atualidade.
Inicialmente, algumas observações preliminares sobre o caráter
dessa igreja. Laodiceia é traduzido por “os justos do povo”; portanto,
moravam lá “pessoas direitas”. Laodiceia é aquela entre as sete
igrejas que, por um lado, afastou-se completamente do seu Senhor
e, por outro, em sua justiça própria, é a única que retruca ao Senhor.
A igreja está cheia de si mesma. O Senhor cita a sua afirmação:
“Você diz: ‘Estou rico, adquiri riquezas e não preciso de nada’” (v.
17). Este é o testemunho que Laodiceia dá de si mesma:
autoexaltação, com a qual ela adula a si mesma. Disso vemos que a
igreja dos tempos finais está perigosamente contaminada pelo
espírito da Babilônia. Babilônia louva a si mesma. Nabucodonosor já
fez isso em seu orgulho: “Acaso não é esta a grande Babilônia que
eu construí como capital do meu reino, com o meu enorme poder e
para a glória da minha majestade?” (Dn 4.30). A grande Babilônia
será restabelecida nos tempos finais sob a forma do império mundial
romano. Na sua liderança estará o Anticristo, que vai exaltar a si
mesmo e apresentar-se como Deus (2Ts 2.4). Também no
Apocalipse ouvimos Babilônia dizer: “Estou sentada como rainha; não
sou viúva e jamais terei tristeza” (18.7). Louvor e engano próprios
são características da Babilônia. Entre a igreja de Laodiceia e a de
Filadélfia há uma diferença muito maior do que, por exemplo, entre
Tiatira e Sardes. Em Tiatira e Sardes o Senhor ainda acha um
remanescente fiel, que é consolado, animado e fortalecido por ele.
Contudo, enquanto toda a igreja em Filadélfia não é repreendida pelo
Senhor com nenhuma palavra, mas louvada, ele acusa Laodiceia por
causa da apostasia, e isso imediatamente depois que ele se
apresentou: “Estas são as palavras do Amém, a testemunha fiel e
verdadeira, o soberano da criação de Deus” (v. 14). Então, segue-se
aquilo que ocupa o seu coração: “Conheço as suas obras, sei que
você não é frio nem quente. Melhor seria que você fosse frio ou
quente!” (v. 15). Essas palavras são uma acusação e uma
lamentação. A acusação: “... que você não é frio nem quente”. A
lamentação: “Melhor seria que você fosse frio ou quente!”. Em outras
palavras: “Quem dera que você fosse completamente incrédulo ou
então ardentemente crente! Ou uma coisa ou outra. Quem dera que
a fronteira estivesse claramente estabelecida!”.
O pior nessa igreja presunçosa é que o Senhor não se encontra
em seu meio – como com os efésios –, mas está fora! Com ênfase
ele diz no versículo 20: “Eis que estou à porta e bato”. Que terrível:
Jesus está fora de uma igreja cristã! Quando se vê hoje a igreja
cristã em sua totalidade, então é preciso verificar angustiado: o
Senhor Jesus encontra-se fora, diante da porta! Apesar de existir
tudo: Bíblia, confirmação, batismo, culto, tudo que faz parte no
sentido usual. Somente ele, o Senhor da igreja, não está mais
presente, mas eles não sabem. É como no caso de Sansão, esse
servo de Deus, do qual está escrito: “Mas não sabia que o S
o tinha deixado” (Jz 16.20).
Esmirna recebe a promessa da coroa da vida (2.10); Tiatira é
exortada a conservar o que tem até que o Senhor venha (2.25); os
crentes em Sardes são advertidos de que devem estar atentos se
não quiserem ser surpreendidos pela vinda do Senhor (3.3); a igreja
em Filadélfia recebe a maravilhosa promessa de que será guardada
da grande tribulação e que ele virá sem demora (3.10-11). A igreja
em Laodiceia, pelo contrário, é ameaçada de que o Senhor a
vomitará da sua boca: “Assim, porque você é morno, não é frio nem
quente, estou a ponto de vomitá-lo da minha boca” (v. 16). De modo
que, enquanto os verdadeiros crentes serão arrebatados pelo
Senhor, os “cristãos de Laodiceia”, que não se convertem e não se
arrependem, ficarão para trás.
Após essas observações preliminares sobre o caráter da igreja
em Laodiceia, vemos agora, no versículo 14, como o Senhor elevado
se revela a Laodiceia de forma tríplice.
Em primeiro lugar: “Estas são as palavras do Amém” (v. 14). Aqui
é a primeira vez que ele se revela como “Amém” personificado. Em
2Coríntios 1.20 está escrito: “Pois quantas forem as promessas
feitas por Deus, tantas têm em Cristo o ‘sim’. Por isso, por meio
dele, o ‘Amém’ é pronunciado por nós para a glória de Deus”. Ele é o
Amém. Entre ele e a sua Palavra não há um abismo: “Acaso ele fala
e deixa de agir? Acaso promete e deixa de cumprir?” (Nm 23.19).
Ele é o Amém em pessoa, o “assim seja” (significado literal de
amém). Ai daquele que tira algo do que ele diz! Esse fere a pessoa
de Cristo. Toda crítica à Palavra de Deus é um questionamento da
pessoa do Senhor Jesus Cristo.
Em segundo lugar, ele diz que é “a testemunha fiel e verdadeira”
(v. 14). Enquanto, como o Amém em pessoa, ele é a promessa
dada, ele ainda confirmou sua promessa com um juramento, pois
“amém” também significa juramento. Ele jurou por si mesmo. Isso
está escrito em Hebreus 6.13: “... por não haver ninguém superior
por quem jurar, jurou por si mesmo”. Em Hebreus 6.17 lemos:
“Querendo mostrar de forma bem clara a natureza imutável do seu
propósito para com os herdeiros da promessa, Deus o confirmou
com juramento”. Assim, ele é “a testemunha fiel e verdadeira”, pois
ele mesmo cumpriu seu juramento na cruz do Gólgota. Ó, que Deus
fiel! Ele mesmo entregou-se por nós! O Amém que ele personifica, o
juramento que ele mesmo cumpriu na cruz do Gólgota pelo
derramamento do seu sangue deve despertar a morna Laodiceia. Ele
quer alcançar e comover os corações!
Em terceiro lugar, ele se revela como “o soberano da criação de
Deus”. Em Colossenses 1.15 Jesus Cristo é chamado de
“primogênito sobre toda a criação”. Isso se refere à primeira
Criação. Ele é a origem e o princípio de todas as criações de Deus,
como está descrito tão magistralmente em João 1.3: “Todas as
coisas foram feitas por intermédio dele; sem ele, nada do que existe
teria sido feito”. No entanto, isso se refere também à sua
ressurreição. Ele é o primogênito da nova criação, da nova vida. Que
enorme contraste há entre o seu ser e a igreja à qual fala agora! A
descrição da situação da última igreja e o chamado ao
arrependimento verdadeiro é um resumo dos anteriores apelos ao
arrependimento, pois a mensagem do Cristo elevado para Laodiceia
revela a raiz mais profunda da culpa e dos problemas da igreja, aos
quais ela sucumbirá se permanecer na impenitência: segurança
própria, justiça própria, satisfação própria. O versículo 17 descreve o
estado interior em que a igreja se encontra: “Você diz: ‘Estou rico,
adquiri riquezas e não preciso de nada’”. Isso era verdade do ponto
de vista material. Os crentes em Laodiceia eram pessoas de posses,
eles viviam no bem-estar. Laodiceia era uma cidade localizada bem
próxima a Colossos, onde se encontravam três importantes
estradas. Laodiceia era um entroncamento comercial. Os habitantes
de Laodiceia, como observamos no início, eram tão ricos que foram
capazes de reconstruir com meios próprios a cidade que havia sido
destruída por um terremoto. É o que conta a história profana. Paulo
travou uma luta especial pelos crentes de Laodiceia. Sobre isso ele
escreve na carta aos Colossenses: “Quero que vocês saibam quanto
estou lutando por vocês, pelos que estão em Laodiceia e por todos
os que ainda não me conhecem pessoalmente. Esforço-me para que
eles sejam fortalecidos em seu coração, estejam unidos em amor e
alcancem toda a riqueza do pleno entendimento, a fim de
conhecerem plenamente o mistério de Deus, a saber, Cristo” (Cl 2.1-
2). Ele sabia: os crentes de Laodiceia estão se afastando do
primeiro amor, eles não têm mais uma relação viva com o Senhor.
Como isso deve ter doído para ele! Tratava-se da situação do
coração dos crentes. Colossos e Laodiceia eram cidades vizinhas, e
por isso ele claramente queria que também os crentes em Laodiceia
lessem a carta aos colossenses: “Depois que esta carta for lida
entre vocês, façam que também seja lida na igreja dos laodicenses e
que vocês igualmente leiam a carta de Laodiceia” (Cl 4.16).
Aparentemente Paulo tinha escrito uma carta a Laodiceia que,
entretanto, não consta em nossa Bíblia.
A igreja de Jesus encontra-se hoje em uma situação decisiva, pois
vivemos no meio dos tempos finais, no tempo em que a Babilônia
renasce, no tempo da justiça própria, no tempo do materialismo, no
tempo do bem-estar. Somos ricos e não precisamos de coisa
alguma. Quando lemos os versículos 15-16, aqui em Apocalipse 3,
reconhecemos então como o Senhor detesta justamente essa
indiferença segura de si; sim, como ela o enoja: “Conheço as suas
obras, sei que você não é frio nem quente. Melhor seria que você
fosse frio ou quente! Assim, porque você é morno, não é frio nem
quente, estou a ponto de vomitá-lo da minha boca”. A igreja em
Laodiceia não vive em grave pecado como a igreja em Tiatira (o
Senhor não cita nenhum), mas em um estado negativo. Ela é morna.
Isso é difícil de compreender; não se pode defini-lo concretamente.
Não ser “frio” significa não estar na incredulidade. Não ser “quente”
significa não ser ardente no primeiro amor a ele, o Senhor. Em
contraste com as outras igrejas, Laodiceia não tem falsas doutrinas,
nem tribulações causadas por Satanás, como por exemplo a igreja
em Esmirna. Aos olhos do Senhor, porém, o estado de mornidão é
terrível, porque a mornidão diante do Senhor não leva mais nada a
sério, nem mesmo o pecado. Mornidão é o estado de “tanto sim
como não”. Diz-se “sim” a Jesus, mas ao mesmo tempo também
“sim” às coisas deste mundo e ao pecado. No entanto, metade do
Senhor e metade do mundo significa ser completamente do Diabo. O
Senhor detesta o mancar de ambos os lados: “Melhor seria que você
fosse frio ou quente!”. Em outras palavras: “Quem dera que vocês
fossem ateus, frios, incrédulos, ou se encontrassem no ardente
primeiro amor por mim”. “Assim, porque você é morno, não é frio
nem quente, estou a ponto de vomitá-lo da minha boca.” A igreja
morna, assim como a igreja dos tempos finais, está paralisada.
Como? Devido ao elevado padrão de vida no qual vive, sem investi-lo
na causa de Jesus. Esse era realmente o caso com Laodiceia?
Naturalmente, pois de outro modo o Senhor não citaria as próprias
palavras dela: “Você diz: ‘Estou rico, adquiri riquezas...’”.
Esse louvor próprio prova uma dupla avareza: eles ganhavam
muito e eram avarentos quando se tratava da causa do Senhor. Por
outro lado, eram aproveitadores religiosos; ricos em conhecimento,
mas avarentos na transmissão da mensagem; eles não tinham zelo
missionário. Devemos ver isso claramente: o Senhor fala aqui de
uma igreja que vivia em meio a uma cidade de comércio, de bancos
e de indústrias... como nós. Laodiceia era conhecida principalmente
pela sua escola farmacêutica e pela sua indústria de lãs. Trata-se de
uma igreja que aceitou o estilo de vida dos banqueiros e industriais
não somente na vida exterior, mas também na vida interior, devido à
sua riqueza em bens espirituais, conhecimento bíblico e costumes
sólidos, levando uma espécie de vida de patrícios numa burguesia
cristã. E isso acontecia em meio a um mundo pagão igualmente rico
e elegante, que não era fanático mas que, ao lado de cem outras
associações para a satisfação da necessidade religiosa, aceitava
também a igreja cristã e talvez até lhe dispensasse atenção. Não
existem mais contrastes, porque a igreja, por sua vez, compartilha o
espírito do capitalismo com o seu meio: “Você diz: ‘Estou rico, adquiri
riquezas e não preciso de nada’”. Espantados constatamos: essa é a
igreja de hoje! Às outras igrejas o Senhor diz que “contra você tenho
isto...”, mas a Laodiceia ele diz: “Você é nojento para mim”. Deve
abalar-nos profundamente que o Senhor é tão inexoravelmente
rigoroso justamente com a igreja de Laodiceia, que está tão segura
de pertencer-lhe e é tão orgulhosa da sua situação. Nosso Senhor
assume aqui a atitude de profunda rejeição e de decidida disposição
para o juízo: ele faz o gesto de alguém cheio de nojo e a ponto de
vomitar. O estado de Laodiceia é tão repugnante para ele como
água insossa, morna, que provoca vômitos. A mesma veemente
rejeição já o move hoje em oculto, e com tal veemência ele vai
renegar na sua volta tais “cristãos de Laodiceia”, satisfeitos consigo
mesmos e impenitentes. “Conheço as suas obras, sei que você não é
frio nem quente. Melhor seria que você fosse frio ou quente! Assim,
porque você é morno, não é frio nem quente, estou a ponto de
vomitá-lo da minha boca.” Já encontramos no último livro do Antigo
Testamento a contradição da igreja em Laodiceia – “Estou rico,
adquiri riquezas...”. O profeta Malaquias descreve o diálogo do
Senhor com Israel: “‘Eu sempre os amei’, diz o S . Mas vocês
perguntam: ‘De que maneira nos amaste?’... ‘O filho honra seu pai, e
o servo, o seu senhor. Se eu sou pai, onde está a honra que me é
devida? Se eu sou senhor, onde está o temor que me devem?’,
pergunta o S dos Exércitos a vocês, sacerdotes. ‘São vocês
que desprezam o meu nome!’ Mas vocês perguntam: ‘De que
maneira temos desprezado o teu nome?’... Vocês têm cansado o
S com as suas palavras. ‘Como o temos cansado?’, vocês
ainda perguntam... ‘Voltem para mim e eu voltarei para vocês’, diz o
S dos Exércitos. Mas vocês perguntam: ‘Como voltaremos?’”
(Ml 1.2; 1.6; 2.17; 3.7).
Uma réplica após a outra! A igreja do fim dos tempos é uma igreja
de rebelião, de contradição. O Anticristo é o grande contestador.
Onde o temor de Deus desaparece, aparece o espírito de rebelião,
de contradição e de discórdia com o Senhor. Ao mesmo tempo
também a cegueira toma conta sobre a própria situação miserável
que o Senhor desmascara aqui: “Você diz: ‘Estou rico, adquiri
riquezas e não preciso de nada’. Não reconhece, porém, que é
miserável, digno de compaixão, pobre, cego, e que está nu” (v. 17).
Esse fatal desconhecimento da situação real é abalador. No entanto,
hoje não é diferente: os cristãos não veem em que situação se
encontram; eles não veem que, apesar do seu bem-estar material e
saber religioso, no fundo são miseráveis, pobres, cegos e nus. É a
primeira vez que o Senhor fala dessa maneira repreensora a uma
igreja. O desconhecimento da própria situação é proveniente da
indiferença diante da Palavra de Deus e a consequência é a
mornidão. Davi orou no Salmo 119.5: “Quem dera fossem firmados
os meus caminhos na obediência aos teus decretos”.
Desconhecimento em si é julgado muito brandamente pelo Senhor,
pois existem muitos que andam confusos, mas o Senhor os ama e os
procura. Ele vai atrás da ovelha perdida, que não conhece o caminho
certo. “Todos nós, como ovelhas, nos desviamos, cada um de nós se
voltou para o seu próprio caminho; e o S fez cair sobre ele a
iniquidade de todos nós” (Is 53.6). No entanto, ele não admite que a
falta de conhecimento próprio seja proveniente da mornidão quando
se deixa de ler e pesquisar a Palavra em oração. Romanos 11.21-22
continua tendo completa validade: “Pois, se Deus não poupou os
ramos naturais [Israel], também não poupará você. Portanto,
considere a bondade e a severidade de Deus: severidade para com
aqueles que caíram, mas bondade para com você, desde que
permaneça na bondade dele. De outra forma, você também será
cortado”. Paulo dirige-se à igreja de Jesus em Roma e lhe diz
insistentemente: Deus não poupou Israel, seu povo escolhido, ao
qual disse: “Eu me casarei com você para sempre; eu me casarei
com você com justiça e retidão, com amor e compaixão” (Os 2.19);
“Eu a amei com amor eterno; com amor leal a atraí” (Jr 31.3); “Darei
a você e a seus descendentes toda a terra” (Gn 17.8 NVT). Não, ele
não poupou o povo rebelde, mas o expulsou da terra prometida e o
espalhou por todo o mundo. Vimos o que Israel passou nos milênios
passados. Se o Deus Vivo não poupou o Israel rebelde, ele também
não poupará os crentes mornos. Assim, temos um paralelo em
Romanos 11.21-22 com Apocalipse 3.16: “Assim, porque você é
morno, não é frio nem quente, estou a ponto de vomitá-lo da minha
boca”. Todos nós sabemos: quando se vomitou algo, não se toma-o
novamente. Contudo – ó milagre da graça de Jesus, que é maior do
que nossa culpa! –, o Senhor inclina-se para essa igreja desviada!
Como ele fala, atraindo-a amorosamente depois de tê-la atingido
como que com chibatadas através das suas palavras: “Dou este
conselho: Compre de mim ouro refinado no fogo, e você se tornará
rico” (v. 18). Na igreja em Laodiceia era como no tempo de Noé: eles
compravam e vendiam. Agora o Senhor colocou-se entre eles e o
ouro terreno e disse a essa igreja tão rica, mas tão pobre, que devia
comprar ouro refinado dele para se enriquecer. O que é esse ouro
refinado pelo fogo? A resposta é simples e maravilhosa ao mesmo
tempo. Não é nada mais do que a glória de Deus. Vimos a sua glória
em Jesus Cristo, purificado no fogo dos sofrimentos do Gólgota. Em
Apocalipse 21.23 está escrito: “A cidade não precisa de sol nem de
lua para brilharem sobre ela, pois a glória de Deus a ilumina, e o
Cordeiro é a sua candeia”. Jesus Cristo, que comprou também essa
igreja com o seu sangue, não ordena, mas aconselha! Ele atrai a sua
igreja que se afastou do caminho do Cordeiro, que está tomada pela
febre do ouro terreno.
“Dou este conselho: Compre de mim ouro refinado...” Por qual
preço? Para isso a Bíblia dá uma resposta contraditória, mas que é
tão divinamente harmoniosa: “Venham, comprem... sem dinheiro e
sem custo” (Is 55.1 RA). Quem quiser comprar esse ouro refinado,
quem quiser revestir-se da glória do Cordeiro e tomar posse dela,
para esse já foi pago! Isso, porém, custa a velha vida, a desistência
do primeiro lugar – custa tudo! Se Jesus o aconselha, você que é
laodicense, a comprar ouro divino dele, então é para que você fique
rico e ganhe vestiduras brancas, para cobrir a vergonha e nudez da
sua ligação ao que é terreno. Do negociante que procurava boas
pérolas ele disse, em Mateus 13.45-46: “O Reino dos céus também
é como um negociante que procura pérolas preciosas. Encontrando
uma pérola de grande valor, foi, vendeu tudo o que tinha e a
comprou”. Esse é o conselho de Jesus para a entrega total pelo ouro
refinado no fogo do Gólgota. Essa foi para a igreja de Laodiceia da
época, e é para os cristãos laodicenses de hoje, a última
oportunidade de se salvarem de serem vomitados. Não hesite em
revestir-se da glória dele!
E como é realizada essa troca divina, essa compra pelo preço da
entrega completa, na qual o Senhor até acrescenta colírio para que
os seus olhos finalmente se abram para os valores eternos, para os
quais você ainda é cego? O Senhor Jesus responde no versículo 19:
“Por isso, seja diligente e arrependa-se”. Talvez você se sinta
atingido e pense: por que o Senhor fala tão severamente, tão duro
comigo? Resposta: porque ele ama você profundamente! Até o dia
de hoje você era cego para o seu verdadeiro estado. Por isso ele
fala, quase no final da carta: “Repreendo e disciplino aqueles que eu
amo. Por isso, seja diligente e arrependa-se”. Em nenhuma outra
carta ele diz “seja diligente”. Nas outras cartas sempre está escrito
para se arrependerem. Se aqui está escrito: “Por isso, seja diligente
e arrependa-se”, então é porque isso tem grande urgência, porque
são tempos finais! Não somos cristãos primitivos, mas cristãos do
fim dos tempos. Se apresse, seja diligente, pois ao morno o Senhor
tem que vomitar, e certamente o fará. No entanto, porque o ama, ele
nada mais deseja do que uma comunhão íntima com você: “Eis que
estou à porta e bato. Se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta,
entrarei e cearei com ele, e ele comigo” (v. 20). Que grandiosa
conclusão tem essa carta! A oferta do Senhor entristecido sobre
você não é comovente e tocante? Você não quer agora abrir a porta
do seu coração e deixar Jesus entrar, humilhando-se por todo o seu
laodiceanismo? Laodiceia, se vencer, ganha uma medida de domínio
e glória que excede a tudo: “Ao vencedor darei o direito de sentar-se
comigo em meu trono” (v. 21).
Com razão verificou-se que as sete promessas aos vencedores
são a descrição completa daquilo que Deus tem preparado para
aqueles que o amam. Reconhecemos claramente quão
profundamente importante é que, como filhos de Deus, nos tornemos
verdadeiros vencedores, senão erramos o alvo supremo de Deus
para nós. Esse alvo mais elevado é apontado em Romanos 8.29:
“Pois aqueles que de antemão conheceu, também os predestinou
para serem conformes à imagem de seu Filho”. Esse tornar-se
conforme se refere a tudo que Jesus é e que fez. Refere-se também
ao nosso destino após nossa existência terrena: “Amados, agora
somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que havemos de
ser, mas sabemos que, quando ele se manifestar, seremos
semelhantes a ele, pois o veremos como ele é” (1Jo 3.2).
Poderíamos descrever essa semelhança da seguinte maneira: ser
igual no andar, nas obras, no caráter e nas palavras. Você pode
argumentar: “Mas não posso fazer isso, sou muito fraco. Esse é um
alvo inatingível para mim”. O importante, porém, não é o que você
pode, mas o que ele pode! Em Efésios 3.20 está escrito: “Àquele
que é capaz de fazer infinitamente mais do que tudo o que pedimos
ou pensamos, de acordo com o seu poder que atua em nós”. Esse
poder que opera em nós é uma pessoa: Jesus Cristo em nós.
Hebreus 2.17 diz: “Por essa razão era necessário que ele se
tornasse semelhante a seus irmãos em todos os aspectos, para se
tornar sumo sacerdote misericordioso e fiel com relação a Deus e
fazer propiciação pelos pecados do povo”. O eterno Filho de Deus
tornou-se igual a nós para que nos tornássemos semelhantes a ele!
Quem não se torna semelhante a Jesus Cristo, esse revoga a graça
manifestada nele. Em outras palavras: se a sua posição diante de
Deus não se transforma no seu estado padrão, então no fundo você
recusa a unificação com Jesus Cristo; você contorna a cruz e torna
sem efeito a identificação com Jesus Cristo, da qual também é
falado em Hebreus 2.14. Da parte dele aconteceu tudo, mas agora é
o momento de perceber que a completa identificação do Senhor
Jesus conosco, com tudo o que nós somos – até a nossa natureza
corrompida – está realizada. Ele se uniu tão profundamente conosco
na cruz do Gólgota que ele, que não conheceu o pecado, foi feito
pecado. Portanto, ele não morreu somente por nós, mas
figuradamente também em nós, tornando-se semelhante à nossa
natureza. Ele morreu por causa do pecado que é inato a você e a
mim. Esse fato grandioso, de ele ter descido tão profundamente –
até à nossa verdadeira situação: preso, escravizado ao temor da
morte, eternamente perdido nas trevas –, nunca pode ser
correspondido completamente em seu alcance salvador. Contudo, foi
ele que permitiu que fôssemos colocados numa situação bem nova
diante de Deus. Por isso o Senhor não pede de nós que vençamos
desligados da sua pessoa, mas que vençamos nele, através dele e
com ele. É isso que Romanos 8.37 afirma: “Mas em todas estas
coisas somos mais que vencedores, por meio daquele que nos
amou”. Paulo quer enfatizar: o Senhor Jesus Cristo o arrancou dessa
situação e quer unir-se com você. Em 1Coríntios 6.17 ele escreve:
“Mas aquele que se une ao Senhor é um espírito com ele”. Por isso
a Bíblia não pede uma vitória solitária, mas, como diz o Senhor
elevado em Apocalipse 3.21: “Ao vencedor... assim como eu também
venci...”. Não é exigido, portanto, que você realize esforços
impossíveis, que não pode realizar. Como, porém, você pode ficar
livre do seu egoísmo, dos seus pensamentos presos em
insignificâncias, das suas acusações míopes, dos seus lamentos de
que recebe pouco amor (enquanto você nem percebe que reclamam
mais da falta de amor ao próximo aqueles que menos o praticam);
em resumo: como você pode vencer seu caráter destrutivo? Dizendo
como Paulo: “Fui crucificado com Cristo” (Gl 2.20).
Da parte do Senhor a unificação já foi realizada há muito, mas do
seu lado ainda não. Essa é a discrepância em sua vida de fé. Todo o
ímpeto desagradável do seu ser, a avareza, a indisposição ao
sofrimento etc., provam a sua vontade de autoafirmação com relação
ao Cordeiro. O Senhor espera ansiosamente que você finalmente se
entregue completamente. Então – somente então – você pertence à
categoria de pessoas da qual está escrito em Apocalipse 12.11:
“Eles o venceram pelo sangue do Cordeiro e pela palavra do
testemunho que deram; diante da morte, não amaram a própria
vida”. Essa é a unificação com Jesus: não amar a própria vida em
face da morte! O próprio Senhor Jesus disse: “Aquele que ama a
sua vida a perderá; ao passo que aquele que odeia a sua vida neste
mundo a conservará para a vida eterna” (Jo 12.25). Somente na
morte de Jesus na cruz você pode se tornar um poderoso vencedor
sobre o seu caráter corrompido, e somente assim você pode se
tornar uma pessoa cheia do Espírito Santo, que se encontra na
completa liberdade: “Portanto, se o Filho os libertar, vocês de fato
serão livres” (Jo 8.36). Foi o inimigo que nos roubou a glória e nos
impede de termos comunhão com Deus. Ele, o homicida desde o
princípio, procura sufocar a vida eterna em nós e devorar os
atributos da herança de Deus e de Jesus Cristo. No entanto, Jesus
Cristo venceu-o completamente, e por isso também podemos ser
mais que vencedores sobre ele.
Vimos agora sete (sete = número da plenitude divina) promessas
aos vencedores, mas em sua fidelidade o Senhor acrescentou mais
uma (oito = número do nome de Jesus). Esta oitava promessa aos
vencedores é o coroamento de todas as promessas anteriores: “O
vencedor herdará tudo isto, e eu serei seu Deus, e ele será meu
filho” (21.7). Não é possível dizer algo mais elevado, pois esta é a
completa identificação com o Filho de Deus em glória! Por isso, não
hesite mais tempo para pagar o preço de se tornar um vencedor em
atos e na verdade! Então você herdará tudo; será um filho ou uma
filha de Deus, e ele será seu Pai por toda a eternidade.
4
Uma Magnífica Visão do Céu
(Ap 4.1-11)

1Depois dessas coisas olhei, e diante de mim estava uma porta


aberta no céu. A voz que eu tinha ouvido no princípio, falando
comigo como trombeta, disse: “Suba para cá, e mostrarei a você
o que deve acontecer depois dessas coisas”. 2Imediatamente me
vi tomado pelo Espírito, e diante de mim estava um trono no céu
e nele estava assentado alguém. 3Aquele que estava assentado
era de aspecto semelhante a jaspe e sardônio. Um arco-íris,
parecendo uma esmeralda, circundava o trono, 4ao redor do qual
estavam outros vinte e quatro tronos, e assentados neles havia
vinte e quatro anciãos. Eles estavam vestidos de branco e na
cabeça tinham coroas de ouro. 5Do trono saíam relâmpagos,
vozes e trovões. Diante dele estavam acesas sete lâmpadas de
fogo, que são os sete espíritos de Deus. 6E diante do trono havia
algo parecido com um mar de vidro, claro como cristal. No centro,
ao redor do trono, havia quatro seres viventes cobertos de olhos,
tanto na frente como atrás. 7O primeiro ser parecia um leão, o
segundo parecia um boi, o terceiro tinha rosto como de homem, o
quarto parecia uma águia quando em voo. 8Cada um deles tinha
seis asas e era cheio de olhos, tanto ao redor como por baixo das
asas. Dia e noite repetem sem cessar: “Santo, santo, santo é o
Senhor, o Deus todo-poderoso, que era, que é e que há de vir”.
9Toda vez que os seres viventes dão glória, honra e graças
àquele que está assentado no trono e que vive para todo o
sempre, 10os vinte e quatro anciãos se prostram diante daquele
que está assentado no trono e adoram aquele que vive para todo
o sempre. Eles lançam as suas coroas diante do trono e dizem:
11“Tu, Senhor e Deus nosso, és digno de receber a glória, a honra
e o poder, porque criaste todas as coisas, e por tua vontade elas
existem e foram criadas”.
quarto capítulo começa com “Depois dessas coisas olhei...”. O que

O significa esse “Depois”? Para entender isso, precisamos


recapitular: os primeiros três capítulos de Apocalipse tratam da
igreja de Jesus; eles contêm a mensagem do Senhor elevado às
sete igrejas. Além disso, temos que lembrar qual ordem o Senhor
deu a João:

1. “Escreva, pois, as coisas que você viu...” (1.19). O que


João havia visto? O Senhor glorificado que estava voltando
(1.1-20)! Essa visão foi tão indescritivelmente magnífica e
majestosa que João caiu como morto aos pés dele.
2. “Escreva... tanto as presentes...” (1.19). O que era isso? As
sete igrejas (2.1–3.22).
3. “Escreva... as que acontecerão” (1.19). Portanto, ele
também deveria escrever o que aconteceria na terra após a
época da igreja de Jesus, isto é, após o arrebatamento.

“Depois dessas coisas olhei, e diante de mim estava uma porta


aberta no céu” (v. 1a). João vê primeiro o essencial: o evangelho.
Mais exatamente: o maravilhoso resultado da redenção. Esta é a
mensagem que temos a anunciar por todo o mundo: o véu está
rompido, o céu está aberto! Todo aquele que quiser pode encontrar o
caminho para o céu. O Senhor Jesus diz: “Eu sou o caminho, a
verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai, a não ser por mim” (Jo 14.6).
Em outra passagem ele diz: “Eu sou a porta; quem entra por mim
será salvo” (Jo 10.9). Em Hebreus 10.19 está o convite: “Portanto,
irmãos, temos plena confiança para entrar no Lugar Santíssimo pelo
sangue de Jesus”.

João é Arrebatado ao Céu em Espírito


João não somente vê, mas também ouve: “A voz que eu tinha ouvido
no princípio, falando comigo como trombeta, disse: ‘Suba para cá, e
mostrarei a você o que deve acontecer depois dessas coisas’” (v.
1b). É interessante que João imediatamente reconheceu a voz que já
havia ouvido uma vez na terra (1.10). Foi também João que, em seu
evangelho, transmitiu as palavras de Jesus: “... as ovelhas ouvem a
sua voz... Mas nunca seguirão um estranho” (Jo 10.3,5). Se João diz
aqui: “A voz que eu tinha ouvido no princípio, falando comigo como
trombeta, disse...”, ele quer salientar: é o meu Senhor que me
chama! Como ele o chama? Com uma trombeta. Então João é
figuradamente arrebatado da terra em espírito. O seu arrebatamento
realiza-se analogamente ao futuro arrebatamento da igreja. Quando
ele acontecerá? “Num momento... ao som da última trombeta” (1Co
15.52); quando, “dada a ordem” (1Ts 4.16), o Senhor aparecer.
Agora, portanto, João é chamado ao céu com a trombeta de Deus.
Ele ouve, como a igreja ouvirá, uma palavra de ordem: “Suba para
cá, e mostrarei a você o que deve acontecer depois dessas coisas”.
Portanto, em espírito João é figuradamente arrebatado
antecipadamente e vê a igreja glorificada no céu após o seu
arrebatamento. Assim, ele também nos vê em glória.
João chega muito rápido ao céu, pois diz: “Imediatamente” (v. 2).
Essa palavra na verdade não faz parte do seu vocabulário usual.
“Imediatamente” ou “logo” são expressões típicas de Marcos. No seu
evangelho ele as usa aproximadamente quarenta e duas vezes. O
fato de o calmo e pensativo João utilizar agora essa palavra significa
que ele foi arrebatado muito rapidamente. “Imediatamente me vi
tomado pelo Espírito, e diante de mim estava um trono no céu.”
Também isso combina com o que experimentaremos no
arrebatamento que está diante de nós: seremos arrebatados num
instante, tão rápido que quase não poderemos compreendê-lo. Então
estaremos com o Senhor! A primeira coisa que João vê no palácio
celestial é um trono, sobre o qual está assentado aquele que merece
esse grau mais elevado: “... diante de mim estava um trono no céu e
nele estava assentado alguém” (v. 2). Que João refere-se primeiro
ao trono e não àquele que está assentado nele deve ter sua razão no
sagrado respeito de que ele está tomado ao ver a Majestade de
Deus. Não foi em vão que Deus disse a Moisés: “... ninguém poderá
ver-me e continuar vivo” (Êx 33.20). Isaías experimentou o mesmo
que João. Quando foi chamado e viu a glória do Senhor, ele começou
a gritar de pavor: “Ai de mim! Estou perdido!... os meus olhos viram
o Rei, o S dos Exércitos!” (Is 6.5). Não foi diferente com o
profeta Ezequiel: “Essa era a aparência da figura da glória do
S . Quando a vi, prostrei-me com o rosto em terra...” (Ez
1.28). Nenhum homem pode olhar para a santa Majestade de Deus,
a não ser que esteja abrigado em Jesus Cristo.
Daniel, que é descrito como “muito amado” (Dn 9.23), testemunha
o que experimentou vendo a glória do Senhor: “... fiquei sem forças,
muito pálido, e quase desfaleci. Então eu o ouvi falando e, ao ouvi-lo,
caí prostrado com o rosto em terra, e perdi os sentidos” (Dn 10.8-9).
Por isso não precisamos nos admirar que também João somente
alude à grandiosa cena que vê após seu arrebatamento. Ele não
chega a dizer que viu Deus, mas somente fala sobre o trono e sobre
alguém assentado nele. Ele descreve o que havia ao redor do trono,
sobre o trono e o que saía do trono, mas parece temer falar o nome
de Deus e descrever sua aparência. Ao invés disso, ele diz,
surpreendido: “... um trono no céu e nele estava assentado alguém”
(v. 2).
É como se ele emudecesse diante da visão da glória de luz divina.
Também não poderia ser diferente. Quem é confrontado com o
poder originador da vida emudece em sagrada reverência. Que
grandioso momento é quando um homem encontra Deus! Também o
profeta Elias cobriu o seu rosto quando soube que encontraria Deus.
Do mesmo modo também Moisés, ao qual o Senhor falava como um
homem fala ao seu amigo. Mas não é que houve uma época onde,
antes de revelar seu conselho aos seus servos, Deus primeiro
revelou-se a eles? Que este é o caso vemos, por exemplo, também
com Abraão. Do mesmo modo no chamado do profeta Isaías, esse
grande profeta que descreveu de maneira singular o Cordeiro de
Deus e profetizou sobre ele. Contudo, primeiro ele teve que
encontrar o Senhor e ser purificado. O mesmo foi experimentado
pelo profeta Ezequiel, que predisse de maneira singular o futuro de
Israel – até o presente tempo e no milênio. Porém, ele primeiro teve
que encontrar o Senhor. Igualmente Daniel, que profetizou coisas
grandiosas sobre os acontecimentos futuros, mas primeiro também
precisou encontrar o Senhor, e assim também João. Somente então
eram capazes de ouvir a palavra do Senhor.
O Senhor quer nos instruir e confiar o que fará em breve, mas
primeiro quer nos encontrar, pois reconhecê-lo é a condição para a
compreensão dos acontecimentos do fim dos tempos. Você somente
pode entender e compreender a palavra profética se estiver disposto
primeiro a encontrar o Senhor!
É exclusivamente o Senhor que está por trás da história mundial e
do plano de salvação. É o que se vê aqui no início da revelação
sobre as coisas futuras. Quando lemos do versículo 2 em diante
vemos que o inexprimível, que está assentado em silenciosa
majestade sobre o trono, somente pode ser visto na plenitude de luz
que dele procede. João não pode descrever a pessoa de Deus, mas
ele conta o que vê: “Aquele que estava assentado era de aspecto
semelhante a jaspe e sardônio. Um arco-íris, parecendo uma
esmeralda, circundava o trono” (v. 3). A abundância de luz que
procede dele reflete o caráter de Deus, e isso coloca João em
condições de descrevê-lo, permitindo-lhe também ver a homenagem
dos servos dele. Nos versículos 8-9 lemos como os seres viventes
prostram-se e começam a louvar a Deus, e os vinte e quatro anciãos
os seguem: “Os vinte e quatro anciãos se prostram diante daquele
que está assentado no trono e adoram aquele que vive para todo o
sempre. Eles lançam as suas coroas diante do trono e dizem: ‘Tu,
Senhor e Deus nosso, és digno de receber a glória, a honra e o
poder, porque criaste todas as coisas, e por tua vontade elas
existem e foram criadas’” (v. 10-11). Essa é, no fundo, a nossa
tarefa com relação ao mundo: refletir a luz, pois, exceto pela Palavra
por meio do Espírito Santo, o mundo somente pode reconhecer o
caráter do Senhor e assim o Cordeiro de Deus quando somos uma
luz (Mt 5.14). Ele, e com isso Deus, o Pai, somente é reconhecido
pelo seu ambiente através do louvor e das graças que você dá a ele.
Aqui o vemos como o Deus Criador: “Tu, Senhor e Deus nosso, és
digno de receber a glória, a honra e o poder, porque criaste todas as
coisas, e por tua vontade elas existem e foram criadas”. Nossa
função aqui na terra é que sejamos algo para louvor da glória de sua
graça (cf. Ef 1.6,12). Nada obscurece tanto a glória do Senhor
quanto a nossa própria glória, e nada diminui tanto a honra de Deus
do que a nossa ambição.
Além disso, chama a nossa atenção, na descrição de João, que
aquele que está assentado no trono é claramente o meio, o centro.
Ele é o centro da glória do céu. Encontramos isso também no
penúltimo capítulo da Bíblia: “A cidade não precisa de sol... pois a
glória de Deus a ilumina, e o Cordeiro é a sua candeia” (21.23).
Ó, que o Senhor se torne ainda muito mais o centro na sua e na
minha vida, pois esse é o segredo para ser uma testemunha
poderosa de Jesus Cristo nesses tempos finais! Paulo podia dizer:
“... para mim o viver é Cristo” (Fp 1.21).
João sabe dizer duas coisas acerca daquele que está assentado
no trono: “Aquele que estava assentado era de aspecto semelhante
a jaspe e sardônio. Um arco-íris, parecendo uma esmeralda,
circundava o trono”. Ele resplandece em rico e límpido esplendor de
cores. O Salmo 104.2 descreve o Senhor assim: “Envolto em luz
como numa veste”. Com a abundância de brilho, ou seja, com o
esplendor de cores das pedras preciosas, João tenta descrever
aquilo que vê em pureza, glória e santidade divinas, mas é algo
indescritível. Além disso, João vê um arco-íris ao redor do trono. O
curioso é que ele é diferente daquele que nós vemos: é um arco-íris
glorificado, de aspecto semelhante à esmeralda. Esmeraldas são de
um verde claro suave – nenhuma outra pedra preciosa verde lhes é
aproximadamente comparável em beleza – e transparentes: uma
representação da misericórdia de Deus. Por isso, em Tiago 1.17, a
Escritura chama Deus de “Pai das luzes”. Falar desse Deus significa
entrar na penetrante luz da eternidade, que revela todas as nossas
trevas mas também retira todas elas. Deus, que está cheio de luz
resplandecente e verdade, é também cheio de graça. Afinal, o
interior do coração de Deus é amor. É o que mostra o arco-íris.
Depois do Dilúvio, Deus falou a Noé: “Então me lembrarei da minha
aliança com vocês... Toda vez que o arco-íris estiver nas nuvens...”
(Gn 9.15-16).

Os Vinte e Quatro Anciãos


É maravilhoso que, por causa do livro de Apocalipse, nós somos
colocados na posição de olhar através do véu aberto para dentro do
céu, e de ver como no futuro estaremos diante do trono do Senhor.
Sobre isso lemos no capítulo 4.4: “Ao redor do qual [do trono]
estavam outros vinte e quatro tronos, e assentados neles havia vinte
e quatro anciãos. Eles estavam vestidos de branco e na cabeça
tinham coroas de ouro”. Os vinte e quatro anciãos não são anjos,
não, eles representam os crentes glorificados, isto é – até onde
entendo – os vencedores do Antigo e do Novo Testamento, pois
também os crentes da antiga aliança são redimidos pelo sangue de
Jesus. Após sua morte, o Senhor Jesus Cristo desceu ao reino dos
mortos e pregou a eles o evangelho (1Pe 3.19), isto é, para aqueles
no reino dos mortos que esperavam pelo dia da redenção, ele
proclamou: “Agora chegou a hora; está consumado!”.
Por que são justamente vinte e quatro os anciãos vestidos de
branco, com coroas na cabeça, assentados em tronos e que reinam
com ele? De 1Crônicas 24 conclui-se que havia 24 turnos
sacerdotais. Vinte e quatro – isso é três vezes oito. Oito é o número
do nome do Senhor Jesus Cristo. Das vestimentas do sumo
sacerdote lemos em Levítico 8.8: “Colocou também o peitoral, no
qual pôs o Urim e o Tumim [a luz e a perfeição]”. Vinte e quatro –
também é duas vezes doze. Vemos aqui os crentes do Antigo e do
Novo Testamento, que são “edificados sobre o fundamento dos
apóstolos e dos profetas” (Ef 2.20). Os vinte e quatro anciãos
representam, portanto, as doze tribos de Israel e os doze apóstolos.
Os vinte e quatro nos tronos são chamados de “anciãos”.
Conhecemos os anciãos da igreja. Paulo descreve-os em 1Timóteo
3. Eles devem ser irrepreensíveis, esposos de uma só mulher, ter
filhos crentes, tendo sido aprovados no discipulado de Jesus. Assim,
os vinte e quatro anciãos são também os crentes aperfeiçoados.
Aqui vê-se ainda algo mais especial: os vinte e quatro anciãos
vestidos de branco. Isso indica a justiça dos santos, que eles
obtiveram através do sangue do Cordeiro.
Os vinte e quatro anciãos são vencedores. Como sabemos disso?
Porque eles usam coroas de ouro: “... e na cabeça tinham coroas de
ouro” (v. 4). Quem está coroado é um rei. Repetidamente o Senhor
prometeu coroas, como por exemplo no capítulo 2.10: “Seja fiel até a
morte, e eu lhe darei a coroa da vida”. Paulo, inspirado pelo Espírito
Santo, exclama em 2Timóteo 4.8: “Agora me está reservada a coroa
da justiça”, e Pedro fala de uma “imperecível coroa da glória” (1Pe
5.4).
A prova mais convincente de que os vinte e quatro anciãos
representam os crentes do Antigo e do Novo Testamento é, na minha
opinião, o fato de que eles adoram o Cordeiro: “Ao recebê-lo [o
livro], os quatro seres viventes e os vinte e quatro anciãos
prostraram-se diante do Cordeiro. Cada um deles tinha uma harpa e
taças de ouro... e eles cantavam um cântico novo: ‘Tu és digno de
receber o livro e de abrir os seus selos, pois foste morto, e com teu
sangue compraste para Deus gente de toda tribo, língua, povo e
nação” (5.8-9). Agora talvez alguém diga: “Se a igreja de Jesus está
arrebatada, por que vemos aqui somente vinte e quatro anciãos em
tronos? Acontece que, se formos vencedores, todos estaremos na
glória e todos teremos uma coroa, vestes brancas e um trono!”.
Certo! No entanto, da mesma maneira como na antiga aliança havia
vinte e quatro turnos sacerdotais, e os sacerdotes eram
representantes de todo o povo diante de Deus, assim os vinte e
quatro anciãos coroados são representantes de toda a igreja diante
de Deus. Devemos ter isso claramente diante dos olhos, para
aprofundar-nos no Apocalipse e reconhecermos, pelo Espírito da
profecia, o que deve acontecer em breve.

Os Sete Espíritos de Deus


No versículo 5 lemos: “Do trono saíam relâmpagos, vozes e trovões.
Diante dele estavam acesas sete lâmpadas de fogo, que são os sete
espíritos de Deus”. Esse versículo mostra que o trono de Deus não é
algo passivo. Não! João observa que dele parte atividade contínua.
O próprio Apocalipse nos interpreta a figura dos raios, trovões e
vozes e das sete tochas, pois está dito: “... que são os sete espíritos
de Deus”. Os sete Espíritos já foram citados nos capítulos 1.4 e 3.1,
e no capítulo 5.6 encontramos eles mais uma vez. Eles, aliás,
encontram-se também no Antigo Testamento, nas sete lâmpadas da
Menorá (Zc 4.2). O fato de realmente proceder do trono de Deus
uma atividade grandiosa e ininterrupta nós vemos também quando,
nesse contexto, lemos no capítulo 5.6 sobre os sete Espíritos de
Deus: “... os sete espíritos de Deus enviados a toda a terra”. Desde
o trono central, o Espírito de Deus em toda a sua plenitude
convence, ouve, salva, julga, humilha, exalta e governa. O Senhor
Jesus Cristo disse tão magistralmente acerca de seu Pai: “Meu Pai
continua trabalhando até hoje, e eu também estou trabalhando” (Jo
5.17). Ele está agindo! O número sete não somente descreve a
plenitude da terceira pessoa da divindade, do Espírito Santo. Ele é
também um sinal da glória completa de Deus, pois sete é o número
divino da plenitude. Isso mostra a perfeita e ilimitada onipotência, à
qual nenhuma reação do mundo pode resistir. Por isso há também
sete igrejas, sete anjos, sete selos, sete trombetas etc. Deus, o Pai,
e o Espírito Santo estão inseparavelmente ligados.

O Mar de Vidro
“E diante do trono havia algo parecido com um mar de vidro, claro
como cristal. No centro, ao redor do trono, havia quatro seres
viventes cobertos de olhos, tanto na frente como atrás” (v. 6). O mar
de vidro aqui nada mais é do que o mar dos povos, que se agita de
um lado a outro na terra. Justamente em nossos dias ele está muito
agitado, pois em todos os lugares há guerras e rumores de guerras.
No entanto, diante do trono de Deus os catastróficos envolvimentos e
complicações bélicos não são um problema, um empecilho. Diante
dos olhos do Soberano mundial desde a eternidade, o mar dos povos
é transparente como cristal. Ele é o que está assentado acima da
cúpula da terra (Is 40.22), isto é: ele, o Todo-Poderoso, é o que “dá
fim às guerras até os confins da terra” (Sl 46.9), e que diz: “Até aqui
você pode vir, além deste ponto não, aqui faço parar suas ondas
orgulhosas” (Jó 38.11). O que é móvel permanece imóvel diante da
face dele. Ele realiza seu conselho soberanamente através de todas
as ondas da história mundial. É o que diz Hebreus 12.26-27: “Aquele
cuja voz outrora abalou a terra, agora promete: ‘Ainda uma vez
abalarei não apenas a terra, mas também o céu’. As palavras ‘ainda
uma vez’ indicam a remoção do que pode ser abalado, isto é, coisas
criadas, de forma que permaneça o que não pode ser abalado” (Hb
12.26-27). O Senhor já exclamou através do profeta Isaías – e aí
igualmente vemos imóvel o mar de vidro diante do trono, em
contraste com a situação do mar dos povos sobre a terra: “Calem-se
diante de mim, ó ilhas! Que as nações renovem as suas forças! Que
elas se apresentem...” (Is 41.1). Ou pensemos em duas outras
passagens nos profetas: “Aquietem-se todos perante o S ,
porque ele se levantou de sua santa habitação” (Zc 2.13). “O
S , porém, está em seu santo templo; diante dele fique em
silêncio toda a terra” (Hc 2.20).

Os Quatro Seres Viventes


No meio e à volta do trono há quatro seres viventes. Não se trata de
anjos, pois senão estaria escrito “anjos”: “... quatro seres viventes
cobertos de olhos, tanto na frente como atrás. O primeiro ser
parecia um leão, o segundo parecia um boi, o terceiro tinha rosto
como de homem, o quarto parecia uma águia em voo. Cada um
deles tinha seis asas e era cheio de olhos, tanto ao redor como por
baixo das asas. Dia e noite repetem sem cessar: ‘Santo, santo,
santo é o Senhor, o Deus todo-poderoso, que era, que é e que há de
vir’” (v. 6b-8). Os quatro seres viventes estão “no centro, ao redor do
trono”. Eles estão bem próximos de Deus; sim, eles fazem parte de
Deus – são quatro características do Eterno.
O primeiro ser vivente “parecia um leão”. O leão é uma figura da
majestade, força e do poder criador de Deus. Ele é o Rei dos reis e
Senhor dos senhores. Dele, por meio dele e para ele são todas as
coisas (Rm 11.36), e ele sustenta todas as coisas pela palavra do
seu poder (Hb 1.3).
O segundo ser vivente é descrito como parecido com “um boi”. A
figura do boi significa que Deus entrega sua força e poder em
sacrifício, sendo que ele mesmo deixou-se sacrificar em Jesus
Cristo.
O terceiro ser vivente “tinha rosto como de homem”. Isso é uma
figura da humilhação e renúncia à sua glória e, assim, da vinda dele
para este mundo. Isso aconteceu em Jesus Cristo. Em Filipenses
2.7-8 está escrito: “... tornando-se semelhante aos homens. E,
sendo encontrado em forma humana...”.
E, em quarto lugar, temos a figura da águia. Ela significa que,
apesar da sua autorrenúncia e autolimitação quando tornou-se
homem, ele mantém claramente em vista o objetivo da sua Criação e
continua prosseguindo resolutamente para o final.
Assim, nesses quatro seres viventes é expressado como Deus se
inclina ao mundo, fala ao mundo e se entrega ao mundo. Esses
seres viventes, como características do Eterno, manifestam-se aqui
como querubins. Eles têm asas, através do que se expressa que
Deus age em todos os lugares e ininterruptamente. Também Ezequiel
os viu com asas por todas as direções. Não existe lugar neste
mundo, por mais profundo que seja, também nenhum coração, por
mais escuro que seja, onde a mão misericordiosa de Deus seja
incapaz de agir. Essas asas estão cheias de olhos ao redor e por
dentro. Isso significa: ele é onisciente; ele vê tudo. O autor do
segundo livro das Crônicas sabia desse fato: “Pois os olhos do
S estão atentos sobre toda a terra para fortalecer aqueles
que lhe dedicam totalmente o coração” (16.9).
Dos quatro seres viventes ainda está escrita uma coisa fascinante:
“Dia e noite repetem sem cessar: ‘Santo, santo, santo é o Senhor, o
Deus todo-poderoso, que era, que é e que há de vir’” (v. 8). Em
outras palavras: ininterruptamente, dia e noite, eles bendizem e
louvam ao Senhor dos senhores e Rei dos reis, adorando-o. Eles não
têm necessidade de descanso. Os quatro seres são o próprio Deus,
que não dorme nem cochila. Ó, que nos tornemos mais semelhantes
à sua obra contínua! Ele está sempre ativo por nós. Com isso me
lembrei de uma tradução inglesa do Salmo 139.17-18: “How precious
is it Lord to realize that You are thinking about me constantly [Quão
precioso é para mim, Senhor, compreender que pensas em mim
constantemente]. I can’t even count how many times a day Your
thoughts turn towards me [Nem mesmo posso contar quantas vezes
por dia teus pensamentos se voltam para mim]. And when I wake in
the morning, You are still thinking of me [E quando acordo pela
manhã, tu ainda continuas pensando em mim]”. A Nova Versão
Transformadora traduz assim: “Como são preciosos os teus
pensamentos a meu respeito, ó Deus; é impossível enumerá-los! Não
sou capaz de contá-los; são mais numerosos que os grãos de areia.
E, quando acordo, tu ainda estás comigo”.
Os quatro seres viventes disseram: “Santo, santo, santo é o
Senhor, o Deus todo-poderoso, que era, que é e que há de vir”. O
Deus vivo é ininterruptamente ativo por você, para que também você
se torne um louvor do nome dele, pois esse é seu objetivo divino
para você. Falar do mistério de Deus significa adorar a Deus. É o
que vemos também aqui com os quatros seres viventes: quando eles
começam a louvar e a bendizer a Deus, também os vinte e quatro
anciãos, a igreja completa, se prostram. Figuradamente, eles são
estimulados por essas quatro características de Deus: “Toda vez que
os seres viventes dão glória, honra e graças àquele que está
assentado no trono e que vive para todo o sempre, os vinte e quatro
anciãos se prostram diante daquele que está assentado no trono e
adoram aquele que vive para todo o sempre. Eles lançam as suas
coroas diante do trono e dizem: ‘Tu, Senhor e Deus nosso, és digno
de receber a glória, a honra e o poder, porque criaste todas as
coisas, e por tua vontade elas existem e foram criadas’” (v. 9-11).
Assim, a igreja glorificada, à qual também pertencemos se
vencermos, adora o Eterno como a origem e o fim de todas as
coisas. Essa adoração suprirá a nova vida dos que pertencem a ele,
de eternidade em eternidade. Assim, passa a haver movimento na
cena sublime que João pôde ver: os anciãos, que por causa do
louvor dos seres viventes levantam-se dos seus tronos, prostram-se
e, enquanto adoram a Deus, depositam suas coroas aos pés
daquele que está assentado no trono. Eles também participam do
poderoso louvor: “Tu, Senhor e Deus nosso, és digno de receber a
glória, a honra e o poder, porque criaste todas as coisas, e por tua
vontade elas existem e foram criadas”.
5
O Cordeiro e o Livro Selado
(Ap 5.1-14)

1Então vi na mão direita daquele que está assentado no trono um


livro em forma de rolo, escrito de ambos os lados e selado com
sete selos. 2Vi um anjo poderoso, proclamando em alta voz:
“Quem é digno de romper os selos e de abrir o livro?” 3Mas não
havia ninguém, nem no céu, nem na terra, nem debaixo da terra,
que pudesse abrir o livro ou sequer olhar para ele. 4Eu chorava
muito, porque não havia ninguém que fosse digno de abrir o livro
e de olhar para ele. 5Então um dos anciãos me disse: “Não chore!
Eis que o Leão da tribo de Judá, a Raiz de Davi, venceu para
abrir o livro e os seus sete selos”. 6Depois vi um Cordeiro, que
parecia ter estado morto, em pé, no centro do trono, cercado
pelos quatro seres viventes e pelos anciãos. Ele tinha sete chifres
e sete olhos, que são os sete espíritos de Deus enviados a toda a
terra. 7Ele se aproximou e recebeu o livro da mão direita daquele
que estava assentado no trono. 8Ao recebê-lo, os quatro seres
viventes e os vinte e quatro anciãos prostraram-se diante do
Cordeiro. Cada um deles tinha uma harpa e taças de ouro cheias
de incenso, que são as orações dos santos; 9e eles cantavam um
cântico novo: “Tu és digno de receber o livro e de abrir os seus
selos, pois foste morto e com teu sangue compraste para Deus
gente de toda tribo, língua, povo e nação. 10Tu os constituíste
reino e sacerdotes para o nosso Deus, e eles reinarão sobre a
terra”. 11Então olhei e ouvi a voz de muitos anjos, milhares de
milhares e milhões de milhões. Eles rodeavam o trono, bem
como os seres viventes e os anciãos, 12e cantavam em alta voz:
“Digno é o Cordeiro que foi morto de receber poder, riqueza,
sabedoria, força, honra, glória e louvor!” 13Depois ouvi todas as
criaturas existentes no céu, na terra, debaixo da terra e no mar, e
tudo o que neles há, que diziam: “Àquele que está assentado no
trono e ao Cordeiro sejam o louvor, a honra, a glória e o poder,
para todo o sempre!” 14Os quatro seres viventes disseram:
“Amém”, e os anciãos prostraram-se e o adoraram.

T
emos aqui a continuação da visão de Apocalipse 4 sobre a
santidade e glória de Deus no trono. Também a visão da sua
glória não muda, porque ele mesmo é imutável. Deus “não
muda como sombras inconstantes” (Tg 1.17), ele é eternamente o
mesmo. Que grande consolo em um tempo no qual tudo oscila e
desmorona!
Agora, no capítulo 5, a visão de João é muito ampliada. Os
“holofotes” são agora apontados para um livro, ou seja, para um rolo.
Naquela época ainda não se tinha livros como nós os temos hoje,
mas rolos de papiro. João vê esse rolo na mão direita daquele que
está assentado no trono.
Tudo que está à direita de Deus é relacionado com redenção e
salvação. Ele uma vez separará os cabritos das ovelhas e dirá
àqueles à sua direita: “Venham, benditos de meu Pai! Recebam
como herança o Reino”. Aos que estiverem à sua esquerda, ele dirá:
“Malditos, apartem-se de mim para o fogo eterno” (cf. Mt 25.34,41).
Jesus Cristo mesmo está assentado à direita da majestade de Deus,
pois na mão direita está a força.
O livro que João vê está, portanto, na mão direita de Deus. A
tradução correta seria, na verdade, “sobre” a mão direita de Deus.
Esse já era o caso no capítulo 4, mas os olhos de João ainda não o
consideraram essencial. Contudo, o Senhor quer continuamente
revelar-nos mais da sua glória. O rolo está selado “com sete selos” e
“escrito de ambos os lados” (v. 1). Quando se lê todo o capítulo,
percebe-se que esse rolo selado na mão direita daquele que está
assentado no trono deve ser de extrema importância. Esse rolo é tão
extraordinariamente importante que o Cordeiro de Deus é levado a
agir, e isso, por sua vez, resulta que o cântico do Cordeiro é cantado
(v. 9). Acontece que, no momento em que o Cordeiro estende sua
mão traspassada para tomar o livro da mão direita daquele que está
assentado no trono, os vinte e quatro anciãos começam a entoar o
cântico do Cordeiro. Esse rolo é tão importante e especial que
nenhum outro é digno de abri-lo: “Mas não havia ninguém... que
pudesse abrir o livro ou sequer olhar para ele” (v. 3). Somente este
fato já nos faz perguntar: o que está escrito no livro que se encontra
na mão direita daquele que está assentado no trono? Será que ele
trata da história da Criação? Não, pois então não haveria ordem na
sequência divina de toda a visão, pois, no capítulo 4.11, vimos que
Deus é adorado como o Criador de todas as coisas: “Tu, Senhor e
Deus nosso, és digno de receber a glória, a honra e o poder, porque
criaste todas as coisas, e por tua vontade elas existem e foram
criadas”. Se o livro tivesse algo a ver com a Criação, não seria
apropriado introduzir o Cordeiro. Mas é deste último que se trata,
porque o Cordeiro em si é a revelação de Deus: “Ninguém jamais viu
a Deus, mas o Deus Unigênito, que está junto do Pai, o tornou
conhecido” (Jo 1.18). Jesus mesmo diz: “Quem me vê, vê o Pai” (Jo
14.9). Se imaginamos que este livro se refere à redenção, é preciso
dizer que não se trata da redenção realizada na cruz do Gólgota;
portanto, não da experiência subjetiva (pessoal) de um crente da
nova aliança. Esta baseia-se no ato singular, eternamente válido, do
Senhor Jesus Cristo, que, como Cordeiro de Deus, derramou seu
sangue na cruz do Gólgota. Não é disso, porém, que trata este rolo,
mas sim do dia da redenção adiante de nós, pois a redenção
acontecida na cruz do Gólgota não tem efeitos somente para nossa
situação atual. Paulo diz: “Se é somente para esta vida que temos
esperança em Cristo, somos, de todos os homens, os mais dignos
de compaixão” (1Co 15.19). Não, ela também tem efeitos para a
eternidade, e isso tanto para nós como para todo o Universo.
Aliás, os filhos de Deus até receberam dele uma promessa para
esse dia: “Quando vocês ouviram e creram na palavra da verdade, o
evangelho que os salvou, vocês foram selados em Cristo com o
Espírito Santo da promessa, que é a garantia da nossa herança até
a redenção daqueles que pertencem a Deus, para o louvor da sua
glória” (Ef 1.13-14). Essa é a redenção futura. A redenção através
de Jesus Cristo é uma força viva que dá vida e estende-se a todo o
futuro adiante de nós, sobre o qual estão ditas as palavras: “Estou
fazendo novas todas as coisas!” (21.5). Ela tem suas raízes no
passado, na cruz do Gólgota, e todos os que creem são salvos.
Esse resultado da redenção, no entanto, é pequeno em comparação
àquilo que se torna visível na revelação da redenção consumada!
Ele, como diz o autor da carta aos Hebreus, obteve “eterna
redenção” (9.12).
Quando, em seu sermão profético em Lucas 21, o Senhor Jesus
dirige-se primeiro a Israel, repentinamente ele fala a todos os que
creem nele, dizendo: “Quando começarem a acontecer estas coisas,
levantem-se e ergam a cabeça, porque estará próxima a redenção
de vocês” (v. 28). Aqui ele fala da redenção futura e assim da
maravilhosa redenção sobre a qual está escrito nesse rolo, que
somente o Cordeiro é digno de abrir. Esse rolo não é o livro da vida,
do qual o Apocalipse fala e também outros livros da Bíblia; assim
como o livro da vida não é o livro da vida do Cordeiro. O rolo, esse
documento que se encontra na mão direita daquele que está sentado
no trono, é o testamento de Deus e do Cordeiro. Testamento
significa “vontade final”; trata-se da expressão da última vontade.
Contudo, com Deus não se trata da última vontade nesse sentido,
porque ele não morre, mas é eterno. Trata-se, entretanto, da sua
vontade para toda a eternidade. Como podemos saber que é o
testamento de Deus e do Cordeiro?

1. O conteúdo do rolo selado com sete selos não permanece


oculto, pois está escrito de ambos os lados.
2. Os sete selos, com os quais o documento está selado,
indicam claramente que se trata de um testamento. Essa
figura, aliás, era muito usual para João, pois naquele tempo
a lei para aplicação no Império Romano também era selada
com sete selos. Deus lhe mostrou, portanto, figuras que ele
entendia.
3. Ao desatar os selos e abrir o livro, conforme a lei, não foi
revelado algo de novo. É o que pensam muitos
comentaristas, mas não posso compartilhar dessa opinião.
O que estava estabelecido no testamento tornou-se válido
quando foram desatados os sete selos.

Agora, porém, vemos em Apocalipse 5 que ninguém podia abrir o


livro, ou seja, o testamento. Ninguém era capaz, para dizer com
Colossenses 1.12, de conhecer a “herança dos santos”, quanto
menos distribuí-la, de dar a ela valor legal. Quando ouvimos o que
esse capítulo diz, sentimos uma tensão: um anjo poderoso aparece e
proclama em alta voz: “Quem é digno de romper os selos e de abrir
o livro?” (v. 2b). Chegou o momento em que Deus quer executar seu
testamento, sua vontade de salvação. Aqui vamos olhar para trás por
um momento:
Deus já revelou sua vontade de salvação ao primeiro Adão no
paraíso. Lemos, em Gênesis 1.27: “Criou Deus o homem à sua
imagem, à imagem de Deus o criou”. Qual era, portanto, a sua
vontade salvadora? Leia a história da Criação, leia o que Deus disse
aos primeiros homens, leia que majestade e autoridade ele deu ao
homem! O Deus vivo estabeleceu o homem acima de tudo que tinha
feito e de que tinha dito que era “muito bom”. O homem tinha sido
colocado como cabeça sobre sua gloriosa herança, sobre uma
herança incorruptível, sem mácula, incontaminável, como Pedro diz
mais tarde (1Pe 1.4). Mas pelo pecado ela foi perdida. O homem
perdeu a comunhão com Deus e assim a vida eterna. Ele perdeu até
mesmo a capacidade, ou seja, o direito de comer da árvore da vida.
Ele foi expulso do paraíso de Deus e, com isso, tornou-se errante:
“Todos nós, como ovelhas, nos desviamos, cada um de nós se voltou
para o seu próprio caminho” (Is 53.6). Tudo isso aconteceu pela
atividade do homicida desde o princípio, através de Satanás.
A abertura de um testamento está sempre relacionada com a
tensão. Aqui, porém, no âmbito celestial, ela é muito justificada. O
anjo poderoso, que pergunta com grande voz: “Quem é digno de
romper os selos e de abrir o livro?”, deve ter tido uma boca
extraordinária, pois aparentemente sua voz podia ser ouvida em
todos os lugares. Contudo, não houve resposta: “Mas não havia
ninguém, nem no céu, nem na terra, nem debaixo da terra, que
pudesse abrir o livro ou sequer olhar para ele” (v. 3). Isso significa
concretamente: ninguém no céu – nenhum anjo; ninguém na terra –
nenhum homem; ninguém debaixo da terra – nenhum demônio;
ninguém mesmo era digno de abrir o livro e olhar para ele! Também
os poderosos do mundo e o ditador mundial, que então estará
reinando, calam-se. Há muito silêncio na terra e no céu. Ouve-se
somente uma coisa, e isso é muito comovente: o pranto e os soluços
de um homem. João não se envergonha das suas lágrimas, mas
confessa francamente: “Eu chorava muito” (v. 4).
João já tinha experimentado muitas coisas: ele tinha andado com
o Senhor Jesus, tinha ouvido suas palavras e visto seus atos. Mais
tarde, ele, que também afirma várias vezes que o Senhor o amava,
foi o único discípulo a perseverar junto à cruz, tendo visto o Salvador,
a quem amava, morrer na cruz como Cordeiro de Deus. Com
insistência ele diz em João 19.35: “Aquele que o viu, disso deu
testemunho, e o seu testemunho é verdadeiro. Ele sabe que está
dizendo a verdade” (Jo 19.35). João havia visto como Jesus
reconciliou o mundo com Deus; ele havia visto os sinais que abalaram
a terra e não tinha fugido quando o sol perdeu o seu brilho. Ele tinha
ouvido o grito de Jesus na cruz: “Está consumado!”. Ele tinha,
inclusive, sido testemunha do fato de que Jesus havia ressuscitado
dentre os mortos e estava junto quando Jesus, quarenta dias depois
da sua ressurreição, subiu ao céu do monte das Oliveiras. Também
as palavras do Ressuscitado: “Foi-me dada toda a autoridade nos
céus e na terra” (Mt 28.18), tinham sido ouvidas por ele. Em Patmos,
a partir da perspectiva eterna, ele também já tinha visto coisas
grandiosas.
Suas expectativas na abertura do testamento devem ter sido
correspondentemente altas. Agora, porém, ele experimenta o terrível
fato de que a princípio ninguém é digno de abrir o livro e desatar
seus selos. É como se o prosseguimento do plano de salvação
estivesse bloqueado, pois ninguém no céu, nem sobre a terra e nem
debaixo da terra é digno de abrir o testamento e de dar valor legal à
maravilhosa herança de Deus e do Cordeiro. Ninguém? Ninguém
além do próprio Cordeiro! Agora vem um ancião – um representante
da igreja glorificada – e diz a João: “Não chore! Eis que o Leão da
tribo de Judá, a Raiz de Davi, venceu para abrir o livro e os seus
sete selos” (v. 5).
Por que esse ancião precisa consolar o vidente João, que sabia
que Jesus havia vencido? Porque João fez aquilo que fazemos tão
facilmente. Ele tinha afastado o olhar da vitória do Cordeiro. As
consequências são sempre desolação e lágrimas. Quantas vezes
envergonhamos nosso Senhor, chorando, estando abatidos e
resignados, enquanto que ele obteve tão maravilhosa vitória! “Não
chore!” Em outras palavras: “Você não tem motivos”. Chama a
atenção que esse ancião não faz referência à pessoa de João e à
sua relação com o Senhor Jesus, fazendo admoestações do tipo:
“Você tinha visto, deveria saber que ele venceu”. Não, ele somente
fala do Senhor: “Não chore! Eis que o Leão da tribo de Judá, a Raiz
de Davi, venceu para abrir o livro e os seus sete selos” (v. 5). Ele
começa com: “Eis que... venceu...”. Pelo bloqueio, pelo fato de
ninguém ser digno de abrir o livro, João havia perdido a visão do
Vencedor.
Se você está desanimado e abatido, então o Senhor lhe diz,
através da sua Palavra: “Não chore!”. “Fique tranquilo, eu venci!”
O fato de o ancião dizer: “Eis que o Leão da tribo de Judá”, não é
tão estranho como parece à primeira vista. O leão é o rei – Jesus
Cristo é o Rei dos reis e da tribo de Judá. Nesse contexto é
extremamente esclarecedor que, já milênios atrás, Jacó (Israel)
descreve Judá como “leão novo”. Quando se encontrava no leito de
morte, fez vir todos os seus filhos para abençoá-los e profetizar a
respeito deles. Quando chegou a vez do seu quarto filho – Judá –
Jacó, com seus olhos quase cegos, olha para o futuro e diz: “Judá é
um leão novo. Você vem subindo, filho meu, depois de matar a
presa. Como um leão, ele se assenta; e deita-se como uma leoa;
quem tem coragem de acordá-lo? O cetro não se apartará de Judá,
nem o bastão de comando de seus descendentes, até que venha
aquele a quem ele pertence, e a ele as nações obedecerão” (Gn
49.9-10). O herói da tribo de Judá é o nosso Senhor Jesus Cristo!
O ancião prossegue: “... a Raiz de Davi”. A Raiz do reino eterno
de Davi venceu. De forma bem concreta, isso significa: tudo aquilo
que o primeiro Adão perdeu pela sua desobediência – a vida eterna,
a comunhão com Deus, o paraíso – o último Adão, Jesus Cristo,
recuperou pela sua obediência. Ele foi obediente até a morte, e
morte de cruz. Com isso tornou-se livre uma herança para aqueles
que o aguardam: “Por essa razão, Cristo é o mediador de uma nova
aliança para que os que são chamados recebam a promessa da
herança eterna, visto que ele morreu como resgate pelas
transgressões cometidas sob a primeira aliança [o Antigo
Testamento]. No caso de um testamento, é necessário que se
comprove a morte daquele que o fez; pois um testamento só é
validado no caso de morte, uma vez que nunca vigora enquanto está
vivo quem o fez. Por isso, nem a primeira aliança foi sancionada sem
sangue” (Hb 9.15-18). Mais uma vez: um testamento somente passa
a ter força de lei quando ocorreu a morte daquele que o fez. O Filho
de Deus veio ao mundo e tirou o motivo que levou à perda da
herança eterna – o pecado. “Vejam! É o Cordeiro de Deus, que tira o
pecado do mundo!” (Jo 1.29).
Jesus morreu na cruz do Gólgota. Ele inclinou sua cabeça e
expirou. Não está escrito: “Ele expirou e inclinou sua cabeça”, pois
ele entregou sua vida voluntariamente. Ninguém a tomou dele. Agora
a herança está disponível, pois o testador está morto. E veja: Jesus
não permaneceu na morte! Ele ressuscitou e vive!
Consequentemente, ele é o único herdeiro legal e por isso ninguém
além dele é digno de abrir o livro, o testamento! Que maravilha: por
causa do nosso pecado ele sofreu a morte, e com isso a herança
ficou livre para a sua descendência. No entanto, ele então
ressuscitou da morte e aí aconteceu o extraordinário: ele mesmo era
e é o herdeiro de todas as coisas! Romanos 8.17 diz: “Se somos
filhos, então somos herdeiros; herdeiros de Deus e co-herdeiros com
Cristo”. Também em Hebreus 1.2 está escrito que Deus constituiu
seu Filho como herdeiro de todas as coisas. E nós, que o seguimos
e somos vencedores, viramos coerdeiros!
O que, porém, são os sete selos com os quais o livro está
selado? O livro de Apocalipse contém muitos mistérios para que não
o leiamos levianamente, mas pesquisando e orando para que o
Senhor o ilumine e revele. No meu entendimento, os sete selos que
fecham o livro e tornam impossível que ele tenha força de lei, até
serem desatados, são os terríveis juízos de Deus, que por causa da
maldade dos homens ainda precisam passar sobre esta terra, para
que no céu e na terra, por força da herança, tudo possa ser
renovado: “Todavia, de acordo com a sua promessa, esperamos
novos céus e nova terra, onde habita a justiça”, escreve Pedro na
sua segunda carta (3.13). Esses juízos estão para acontecer. Já
ouvimos o seu trovejar. Enquanto eles não se realizam, a herança
não pode ter força de lei. Contudo, ninguém podia desatar os selos,
a não ser o Cordeiro.
Agora João vê o Vencedor, o forte Vencedor: “Depois vi um
Cordeiro, que parecia ter estado morto, em pé, no centro do trono,
cercado pelos quatro seres viventes e pelos anciãos. Ele tinha sete
chifres e sete olhos, que são os sete espíritos de Deus enviados a
toda a terra. Ele se aproximou e recebeu o livro...” (v. 6-7). Aqui
João não vê o Leão, mas o Cordeiro. Que contraste há entre o Leão
e o Cordeiro! Um leão é régio, um cordeiro é desamparado e fraco.
O enorme paradoxo, no qual está baseada a redenção, toda a igreja
– tudo aquilo que o Novo Testamento descreve com a palavra “cruz”
– é aqui revelado de maneira nova e mais profunda ao apóstolo
João: o Cordeiro como o Leão; o Rei dos reis, o Príncipe da Vida,
como o sacrifício. Onde, pois, se encontra o Cordeiro? Bem no
centro. Deve-se prestar atenção à expressão “no centro”: “... no
centro do trono, cercado pelos quatro seres viventes e pelos
anciãos”. Jesus Cristo é o centro. Vimos em Apocalipse 4 que a
glória de Deus é o centro, e essa glória de Deus é o Cordeiro.
No entanto, se João vê o Cordeiro “que parecia ter estado morto”,
apesar da igreja já ter sido arrebatada até ele, isso indica a validade
eterna da redenção. O sangue derramado de Jesus tem efeitos que
nunca acabam (cf. Hb 9.12). Porque nele foi executado o juízo sobre
o pecado de todo o mundo; somente ele é digno de julgar este
mundo inimigo da cruz, que colocou-se fora da sua obra. O Pai
entregou o julgamento ao Filho, pois somente ele é digno de abrir os
selos do testamento. Assim, vemos aqui, através dos olhos de João,
o Cordeiro “que parecia ter estado morto”; mesmo assim, em poder
e glória, pois está escrito no versículo 6b: “Ele tinha sete chifres...
que são os sete espíritos de Deus enviados a toda a terra”. Os sete
chifres significam poder, um poder que vence tudo. Na Escritura,
chifre ou chifres significam poder (Dt 33.17) ou também uma
arrogância presunçosa (Sl 75.4-5 BKJ). Estranhamente, aqui é usada
a palavra grega arnios para Cordeiro, que significa suavidade e
mansidão; em contraste, há a palavra amnos, usada normalmente no
Novo Testamento para cordeiro. Os sete chifres mostram o caráter
do Cordeiro em força e poder divinos. Sete é o número divino da
plenitude. Paulo diz: “Cristo é o poder de Deus e a sabedoria de
Deus” (1Co 1.24). Portanto: não mecânico, mas poder divino.
No versículo 6 continuamos lendo: “... e sete olhos, que são os
sete espíritos de Deus enviados a toda a terra”. Quão
maravilhosamente revela-se aqui a plenitude da divindade! Foi assim
que Isaías viu Deus 800 anos antes. A profecia dos sete espíritos
está escrita em Isaías 11.1-2: “Um ramo surgirá do tronco de Jessé,
e das suas raízes brotará um renovo. O Espírito do S
repousará sobre ele, o Espírito que dá sabedoria e entendimento, o
Espírito que traz conselho e poder, o Espírito que dá conhecimento e
temor do S ”. Esses sete espíritos repousam sobre o rebanho,
que vem do tronco de Davi. Os sete olhos de Deus, que são os sete
espíritos de Deus, são “enviados a toda a terra”. O Cordeiro penetra
por toda a terra. Resumamos: os sete chifres e os sete espíritos
significam que ele tem poder espiritual perfeito. Em Zacarias 3.8-9
também é profetizado sobre o Cordeiro nesse sentido. Se em
Apocalipse 4 vimos a posição central daquele que está assentado no
trono, aqui é revelado o Cordeiro como o centro da glória de Deus.
Leiamos mais uma vez o capítulo 5.6a: “Depois vi um Cordeiro, que
parecia ter estado morto, em pé, no centro do trono, cercado pelos
quatro seres viventes e pelos anciãos”. Apesar de ter estado morto
por causa dos nossos pecados, o Cordeiro vive. Ele ressuscitou!
Jesus vive e com ele também eu vivo.
No versículo 7 vemos agora o ato pessoal mais majestoso do
Cordeiro que nos é revelado no Apocalipse. Por isso, esse quinto
capítulo é tão importante. “Ele se aproximou e recebeu o livro da
mão direita daquele que estava assentado no trono”. Então foi
desfeito o impasse. Por esse ato toda a criação aguardou ansiosa
durante seis milênios; por isso esperam os crentes da antiga e da
nova aliança, e por isso também sofreram. Neste ato de tomar o livro
está incluído tudo o que ainda será revelado na glória. Por força
deste ato do Cordeiro de Deus, o mundo é vencido; a Babilônia,
julgada; o Anticristo, destruído; o dragão, derrubado; a morte,
tragada; a maldição, desfeita; e a terra, renovada. Quando o
Cordeiro se aproxima e toma o livro da mão direita daquele que está
assentado no trono, há um silêncio mortal no céu. Aí o Cordeiro
exerce sua vitória alcançada na cruz do Gólgota! Que maravilhoso,
pois o que Jesus faz aqui é a recuperação da herança desviada de
seu objetivo, a reclamação com força de lei de tudo que Adão
perdeu. Para isso o Filho de Deus derramou seu sangue e suas
lágrimas. “Ele se aproximou e recebeu o livro da mão direita daquele
que estava assentado no trono.” Percebe-se literalmente como todo
o céu assiste em silêncio respeitoso. O Universo é testemunha desse
fato, em tremor e com a respiração suspensa.

A Adoração do Cordeiro
“Ao recebê-lo, os quatro seres viventes e os vinte e quatro anciãos
prostraram-se diante do Cordeiro” (v. 8). Já vimos que os quatro
seres viventes representam as quatro características de Deus.
Esses quatro seres viventes e os vinte e quatro anciãos prostram-se
diante do Cordeiro e entoam um cântico que nunca foi ouvido antes:
“Tu és digno de receber o livro e de abrir os seus selos, pois foste
morto e com teu sangue compraste para Deus gente de toda tribo,
língua, povo e nação. Tu os constituíste reino e sacerdotes para o
nosso Deus, e eles reinarão sobre a terra” (v. 9-10). O fato do
Cordeiro tomar o livro da mão direita daquele que está assentado no
trono produz um louvor grandioso que abrange todo o Universo. Ele
começa com os quatro seres viventes e os vinte e quatro anciãos
que se prostram, o adoram e exclamam: “Tu és digno de receber...”.
E nos versículos 11 e 12 lemos como os muitos milhões de anjos,
que se encontram em volta do trono, olham, participam: “Então olhei
e ouvi a voz de muitos anjos, milhares de milhares e milhões de
milhões. Eles rodeavam o trono, bem como os seres viventes e os
anciãos, e cantavam em alta voz: ‘Digno é o Cordeiro que foi morto
de receber poder, riqueza, sabedoria, força, honra, glória e louvor!’”.
Então o círculo dos que entoam o louvor se abre ainda mais: “Depois
ouvi todas as criaturas existentes no céu, na terra, debaixo da terra e
no mar, e tudo o que neles há, que diziam: ‘Àquele que está
assentado no trono e ao Cordeiro sejam o louvor, a honra, a glória e
o poder, para todo o sempre!’” (v. 13). Ele é concluído com o
magistral “Amém” dos quatro seres viventes: “Os quatro seres
viventes disseram: ‘Amém’” (v. 14a). A igreja glorificada,
representada pelos vinte e quatro anciãos, fecha o grandioso círculo
dos adoradores: “E os vinte e quatro anciãos prostraram-se, e
adoraram ao que vive para todo o sempre” (v. 14b ACF).
Em nenhuma parte da Bíblia temos um louvor tão poderoso e
abrangente ao Cordeiro de Deus, pois aqui aconteceu aquilo que
Daniel havia visto em esboço: “Em minha visão à noite, vi alguém
semelhante a um filho de homem, vindo com as nuvens dos céus. Ele
se aproximou do ancião e foi conduzido à sua presença. Ele recebeu
autoridade, glória e o reino; todos os povos, nações e homens de
todas as línguas o adoraram. Seu domínio é um domínio eterno que
não acabará, e seu reino jamais será destruído” (Dn 7.13-14). João
ouviu isso muito mais claramente, porque havia conhecido e visto o
Senhor Jesus em sua encarnação, sofrimento e morte. Deve-se
observar que, no grande louvor que João vê e ouve, repetidamente
mostra-se a unidade do Pai e do Filho. Eles louvam ao Pai e ao
Filho; ambos são adorados. No capítulo 4 é dito ao Criador: “Tu,
Senhor e Deus nosso, és digno de receber a glória, a honra e o
poder, porque criaste todas as coisas, e por tua vontade elas
existem e foram criadas” (v. 11). No capítulo 5, porém, eles se
prostram diante do Cordeiro e exclamam: “Tu és digno de receber o
livro e de abrir os seus selos, pois foste morto e com teu sangue
compraste para Deus gente de toda tribo, língua, povo e nação” (v.
9).
Até que ponto estamos incluídos aqui como crentes? Já vimos que
os vinte e quatro anciãos representam os crentes do Antigo e do
Novo Testamento, e aí estamos incluídos. Vimos igualmente que eles
se prostram diante do Cordeiro e o adoram. Eles não vieram de
mãos vazias: “Cada um deles tinha uma harpa e taças de ouro
cheias de incenso, que são as orações dos santos” (v. 8b). No início
da adoração do Cordeiro estão, portanto, incluídas as orações de
todos os santos, pois aqui começa o tempo em que as orações de
todos os santos, que oraram durante os séculos, desde que Jesus
ensinou essa oração, são ouvidas. Quais orações? As orações pela
vinda do seu reino e pela realização da sua vontade. “Venha o teu
Reino; seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu” (Mt
6.10). Essa é a oração que foi feita bilhões de vezes e tem sua
origem no Cordeiro, pois nele, por meio dele e para ele foram
criadas todas as coisas (cf. Ap 4.11; Cl 1.16).
6
O Cordeiro Abre os Selos
(Ap 6.1-17)

1Observei quando o Cordeiro abriu o primeiro dos sete selos...

N
ão devemos olhar a afirmação “Observei” separada dos
capítulos anteriores; por exemplo, do capítulo 5.1 ou 5.6,
onde está escrito “Então vi...” e “Depois vi...”,
respectivamente. João teve uma visão ininterrupta e na perspectiva
da eternidade, pois sua visão começou quando foi arrebatado ao céu
(4.1), onde se diz que ele vê tudo desde a eternidade.
Aos poucos, percebemos que João teve uma grandiosa visão
geral dos acontecimentos dos tempos finais que, por um lado,
podem ser cronologicamente ordenados, mas, por outro, já são o
presente na eternidade. João vê tudo de uma só vez, mas é capaz
de descrever somente uma coisa por vez. Por isso não podemos
separar os capítulos 4 a 6, pois tudo o que acontece, ou começa a
acontecer, agora no capítulo 6 procede em última análise do
Cordeiro de Deus, que venceu. O livro selado, do qual falamos no
capítulo anterior, que estava na mão direita daquele que estava
assentado no trono, passou agora para as mãos traspassadas do
Cordeiro. Isso corresponde também exatamente à afirmação do
Senhor Jesus, que, em João 5.22, diz àqueles que o perseguem:
“Além disso, o Pai a ninguém julga, mas confiou todo julgamento ao
Filho”. Constatamos também que esse livro selado não contém
segredos ou novas revelações, pois está escrito por dentro e por
fora. Todavia, ele está selado com sete selos porque é o testamento
de Deus e do Cordeiro e assim a herança de Deus e do Cordeiro. É
aquilo que Jesus herdou na cruz do Gólgota. Essa herança precisa
agora passar a ter força de lei, isto é, os selos precisam ser
abertos; e estes são os juízos que ainda devem vir sobre o mundo
que rejeita Deus e seu Filho, o Senhor crucificado e ressurreto.
Agora o Cordeiro começa a abrir os selos. Há comentários do
Apocalipse que dizem que esse livro selado contém a história da
igreja através dos séculos, começando do tempo em que João vivia
exilado. Ou, em outras palavras: ele conteria o avanço vitorioso do
evangelho através dos séculos até o estabelecimento do milênio.
Isso, porém, está em desacordo com tudo que reconhecemos em
Apocalipse 4 e 5, ou seja, a glória e majestade de Deus, que a tudo
sobrepuja, e a pergunta feita com grande solenidade no céu, sobre a
terra e debaixo da terra (se alguém era digno de abrir o livro).
Depois dela segue a grande admiração, quando o Cordeiro é achado
como o único digno de abrir esse livro selado. E então ouve-se o
cântico de louvor “Digno é o Cordeiro...” da boca dos vinte e quatro
anciãos, dos anjos, dos quatro seres viventes e de toda criatura.
Esses fatos me impedem de ver uma parte da história eclesiástica
na abertura dos sete selos. Nosso Deus não deixa todos os poderes
do céu e da terra serem profundamente comovidos e abalados por
causa da história profana. Não, aqui trata-se de algo mais elevado.
Em Apocalipse 6 entramos numa nova era, ou seja, uma nova época
do plano de salvação, pois sabemos da época sem lei (até que ela
foi dada no Sinai), depois da época com a lei, ou seja, sob a lei (até
Cristo), e então veio a época da graça, que continua em vigor até o
dia de hoje. No entanto, no momento em que o Cordeiro toma o livro
com os sete selos e abre o primeiro selo, saímos da era da graça e
entramos em uma outra era. Em Apocalipse 6 a era da graça está
encerrada, pois a igreja de Jesus está arrebatada. No fundo, a
palavra “era” é muito fraca. A palavra “dispensação” diz mais, ou
seja: uma era em que Deus realiza uma determinada intenção.
Vivemos agora na era em que ele realiza suas intenções de graça,
chamando através da sua Palavra e através de seus servos e
servas: “Venha a Jesus! Você pode ser salvo da condenação
eterna”. Esta época, porém, aproxima-se do fim. Percebe-se isso
porque Apocalipse 4 começa com: “Depois dessas coisas olhei...”,
pois os três primeiros capítulos tratam da igreja e, portanto, o
“depois” no quarto capítulo de Apocalipse indica que agora se fala da
dispensação seguinte. Na abertura dos sete selos pelo Cordeiro, não
se trata da revelação de novas profecias que ultrapassam aquilo que
foi profetizado anteriormente. Se esse fosse o caso, o choro intenso
de João seria simplesmente ridículo. Seja mais uma vez frisado:
trata-se aqui da entrada em uma nova época, na qual Jesus Cristo, o
Cordeiro de Deus, prossegue agora passo a passo para tomar
posse desta terra e dar força de lei à sua herança. Nós, que
vencemos, estaremos então no céu e seremos coerdeiros. Em
contraste com Apocalipse 4 e 5, onde todos os atos referem-se
àquilo que está no céu, agora em Apocalipse 6 todas as ações são
dirigidas para a terra. Com a abertura dos selos pelo Cordeiro, um
terrível período de juízos começa sobre a terra, pois o sétimo selo
inclui, como veremos, as sete trombetas subsequentes, e a sétima e
última trombeta, por sua vez, inclui as sete taças do juízo ou da ira.
Isso começa no capítulo 5 e termina no capítulo 20 de Apocalipse.
Esse é o dia do Senhor! Para dizê-lo ainda mais concretamente: o
período dos sete selos, que temos diante de nós no capítulo 6,
encontra-se entre o arrebatamento da igreja e a era do
estabelecimento do reino de paz milenar, quando o Senhor Jesus
voltar em grande poder e glória. Temos aqui, portanto, um estágio de
transição de uma era do plano de salvação para outra.
Tempos de juízo sempre são períodos de transição, e vice-versa;
também em nossa vida pessoal. Se você, como filho de Deus,
experimenta épocas de juízo pessoal e de humilhação, então depois
começa algo completamente novo. Oswald Chambers, o abençoado
expositor bíblico e assistente espiritual a quem o Senhor chamou
muito novo para si, formulou certa vez isso mais ou menos da
seguinte maneira: “Quando você passou por um tempo de profundo
desânimo e humilhação, então lhe aguarda uma ampliação da sua
personalidade”. Assim acontece também no plano de salvação.

O Primeiro Selo (Ap 6.1-2)


1Observei quando o Cordeiro abriu o primeiro dos sete selos.
Então ouvi um dos seres viventes dizer com voz de trovão:
“Venha!” 2Olhei, e diante de mim estava um cavalo branco. Seu
cavaleiro empunhava um arco, e foi-lhe dada uma coroa; ele
cavalgava como vencedor determinado a vencer.
Os primeiros quatro selos mostram-nos quatro cavaleiros; portanto,
sempre um homem e um cavalo. Os cavaleiros e cavalos
apocalípticos são uma representação de velocidade e força
irresistível. Até hoje fala-se de cavalos de potência, por exemplo, em
automóveis. Deus mesmo também fala em Jó 39.19-25 da força do
cavalo: “É você que dá força ao cavalo ou veste o seu pescoço com
sua crina tremulante? Você o faz saltar como gafanhoto, espalhando
terror com o seu orgulhoso resfolegar? Ele escarva com fúria,
mostra com prazer a sua força, e sai para enfrentar as armas. Ele ri
do medo e nada teme; não recua diante da espada. A aljava balança
ao seu lado, com a lança e o dardo flamejantes. Num furor frenético
ele devora o chão; não consegue esperar pelo toque da trombeta.
Ao ouvi-lo, ele relincha: ‘Eia!’ De longe sente cheiro de combate, o
brado de comando e o grito de guerra”.
Em contraste com o cavalo, a força divina não se encontra na
matéria. Todavia, o Senhor faz com que João veja essas imagens
dos cavaleiros sobre os cavalos para que ele compreenda melhor as
coisas. Nesses quatro cavalos e cavaleiros que avançam temos
imagens terrenas para a rapidez e irresistível força de Deus, que
toma medidas num mundo que não se arrepende até mesmo depois
do desaparecimento da grande multidão de crentes. Ao invés de
humilhar-se, os homens procurarão então uma explicação “lógica”
para o repentino desaparecimento de milhares de contemporâneos.
No capítulo 6.1 ouvimos agora como um dos quatro seres viventes
chama: “Venha!”. A quem é dirigido esse chamado? Não a João, mas
a um cavaleiro. Esse “Venha!” pode também ser traduzido por “Vá!”.
Esse chamado é uma ordem. Até está escrito: “Então ouvi um dos
seres viventes dizer com voz de trovão...”. A ordem vem do trono de
Deus, de um dos seres viventes. Aqui também vemos novamente a
unidade de ação de Deus Pai e do Filho: o Cordeiro abre o primeiro
selo e a ordem vem do trono de Deus. “Olhei, e diante de mim
estava um cavalo branco. Seu cavaleiro empunhava um arco, e foi-
lhe dada uma coroa; ele cavalgava como vencedor determinado a
vencer.”
O primeiro cavaleiro avança. Devemos partir do fato que os quatro
seres viventes não somente revelam as características de Deus, mas
ao mesmo tempo também são sua competência judicial. Deus tem
sua competência judicial que executa os juízos, ou seja, ordena sua
realização. Todos os quatro cavaleiros são quatro selos que o
Cordeiro abre. São poderes de juízo que são enviados da parte de
Deus para um mundo maduro para o juízo. O que acontece aqui é a
erupção da cólera do Cordeiro. Trata-se de algo semelhante à oitava
visão de Zacarias (Zc 6). Os selos abertos pelo Cordeiro são juízos,
mas esses terríveis juízos não cancelam o seu amor e não eliminam
o seu cortejo. O Cordeiro ama! A ira do Cordeiro, da qual Apocalipse
6.17 fala, é causada por se desprezá-lo e rejeitá-lo como o Cordeiro
que derramou seu sangue e sua vida para reconciliar o mundo com
Deus. Essa é a causa da grande e justa ira. Repetindo: a ira do
Cordeiro não cancela seu amor e seu cortejo, mas justamente
através desses juízos é preparado o caminho para o arrependimento
da humanidade que viverá após o arrebatamento. Vale também para
hoje e para você: se estiver passando por juízos, então é porque
Deus, em sua bondade, quer levá-lo ao arrependimento. Com seus
juízos, Deus nunca tenciona a destruição, mas o contrário. Por isso
disciplina todo aquele que ele ama.
Entre os quatro cavaleiros apocalípticos, o primeiro assume uma
posição especial. Quem é ele? Dificilmente há um personagem do
Apocalipse que seja interpretado de tantas maneiras diferentes pelos
comentaristas. Muitas vezes ele foi interpretado como Cristo quando
se referiam ao seu cavalo branco e também ao fato de estar escrito
que “ele cavalgava como vencedor determinado a vencer”. Essa
interpretação, porém, é refutada pelos seguintes fatos:

1. O Senhor Jesus Cristo já se revelava aqui como o


“Cordeiro, que parecia ter estado morto”, como o Cordeiro
que abriu um dos selos. Por isso ele não pode, ao mesmo
tempo, revelar-se em outra figura.
2. Somente o Senhor Jesus é digno de abrir os selos, e o selo
que ele abre agora e a ordem de Deus fazem avançar esse
cavaleiro do cavalo branco.
3. O cavaleiro do cavalo branco está claramente subordinado à
jurisdição de Deus; ele age sob ordens: “Venha!”. O Pai,
porém, confiou todo julgamento ao Filho (Jo 5.22), de modo
que esse primeiro cavaleiro nunca pode ser Cristo.
4. Além disso, esse primeiro cavaleiro, com sua coroa e o
cavalo branco, nunca pode ser Cristo porque ao Senhor
nunca seguem guerra, fome e morte, como é o caso aqui: o
segundo cavalo é vermelho e tem uma grande espada (v. 4)
– guerra; o terceiro cavalo é preto (v. 5) – fome; o quarto
cavalo é amarelo (v. 8) – a morte, à qual segue o inferno.
Em Apocalipse 19 vemos Jesus Cristo montado num cavalo,
mas com um acompanhamento totalmente diferente: “Vi os
céus abertos e diante de mim um cavalo branco, cujo
cavaleiro se chama Fiel e Verdadeiro. Ele julga e guerreia
com justiça. Seus olhos são como chamas de fogo, e em
sua cabeça há muitas coroas [veja bem, não está escrito
que foi-lhe dada uma coroa, mas que em sua cabeça há
muitas coroas] e um nome que só ele conhece, e ninguém
mais. Está vestido com um manto tingido de sangue, e o seu
nome é Palavra de Deus. Os exércitos dos céus o seguiam,
vestidos de linho fino, branco e puro, e montados em
cavalos brancos. De sua boca sai uma espada afiada, com
a qual ferirá as nações. ‘Ele as governará com cetro de
ferro’” (19.11-15). Aqui temos claramente diante de nós a
figura de Cristo. No capítulo 6.1 temos uma figura
completamente diferente.

Também se tentou muitas vezes interpretar esse cavaleiro como o


avanço vitorioso do evangelho por toda a terra, pensando em Marcos
13.10. Lá está escrito que o evangelho do reino precisa ser primeiro
pregado a todas as nações, antes que venha o fim. Isso, no entanto,
está em desacordo não somente com a entrada numa nova era, da
qual falamos antes, mas também com o arco que o cavaleiro tem.
Um arco é na Escritura sempre um instrumento de juízo (cf. Dt
32.23,42). Assim, um arco não pode ser uma representação da
redenção. Além disso, o Cordeiro vitorioso não tem um arco como
arma na mão, mas uma “espada afiada” que sai da sua boca. O
arco, porém, é visto na mão dos inimigos de Deus. Da queda da
Rússia nos campos de Israel é dito em Ezequiel 39.3: “Então
derrubarei o arco da sua mão esquerda e farei suas flechas caírem
da sua mão direita”.
Fica claro, portanto, que no primeiro cavaleiro temos um vulto
sinistro, sim, o personagem mais sinistro da história mundial: o
Anticristo. Ele não é um príncipe por nascimento, pois está dito
expressamente que foi dada uma coroa a ele. Justamente no
Apocalipse temos frequentemente essas imagens duplas, que
apresentam profundo contraste entre si. Assim temos, por exemplo,
duas figuras de mulheres completamente opostas: a noiva do
Cordeiro, que é a igreja (19.7), e a prostituta (17). Ou pensemos nas
duas cidades contrastantes: a nova Jerusalém e a Babilônia. Assim
também temos o Cordeiro que parecia ter estado morto em oposição
à besta que foi ferida mortalmente, mas cuja ferida mortal foi curada.
E aqui, no capítulo 6, e no capítulo 19 o Anticristo está em confronto
com o Cristo. Não se deixe enganar, pois, como disse o próprio
Senhor Jesus, virão muitos falsos cristos. Isso já começou a se
cumprir. O cavaleiro do cavalo branco, o Anticristo, é semelhante a
Cristo. Ele engana com seu cavalo branco, com seu pacifismo, com
sua aparência inofensiva, com seu triunfalismo. Ele aparece na terra
imediatamente depois da revelação do Cordeiro no céu. A tensão
entre o Cristo verdadeiro no céu e o Anticristo mentiroso na terra
aumenta. O Anticristo é o primeiro selo aberto, e o próprio Cordeiro
obriga-o a apresentar-se: “Venha!”. O Senhor Jesus o predisse
durante a sua vida na terra. “Eu vim em nome de meu Pai, e vocês
não me aceitaram; mas, se outro vier em seu próprio nome, vocês o
aceitarão” (Jo 5.43). Esse “outro” está a caminho. Eu não me
admiraria se ele já estivesse aqui na terra, pois seu espírito fica
sempre mais ativo. Então o mundo, também o mundo cristão,
receberá o cristo substituto, o homem forte, o super-homem, ao qual
seguem os cavalos vermelho, preto e amarelo. Sua repentina
revelação está relacionada com a reivindicação do Cordeiro de agora
tomar posse, ou seja, apropriar-se da herança, pois o que está
escrito no livro selado deve passar a ter força de lei. Agora, quando
o Cordeiro exerce sua vitória em toda a plenitude, em que a igreja
glorificada foi arrebatada com o Espírito Santo, em que aquilo que
detém o Anticristo foi afastado (2Ts 2.7), o opositor de Cristo revela-
se na terra. Quão precioso o fato de podermos ver aqui no
Apocalipse o que acontece no céu e na terra quando tivermos sido
arrebatados! Que terrível, porém, será para aqueles que ficarem
para trás na retirada da igreja de Jesus. É o que diz também o
capítulo 12.12: “Portanto, celebrem-no, ó céus, e os que neles
habitam! Mas ai da terra e do mar, pois o Diabo desceu até vocês!
Ele está cheio de fúria, pois sabe que lhe resta pouco tempo”.
O Anticristo, impelido pelo trono de Deus, começará agora seu
enganoso avanço vitorioso na terra, e ninguém pode guerrear com
ele: “Por causa dos sinais que lhe foi permitido realizar em nome da
primeira besta, ela enganou os habitantes da terra. Ordenou-lhes
que fizessem uma imagem em honra à besta que fora ferida pela
espada e contudo revivera” (13.14). No capítulo 13.4 está escrito:
“Adoraram o dragão, que tinha dado autoridade à besta, e também
adoraram a besta, dizendo: ‘Quem é como a besta? Quem pode
guerrear contra ela?’”. Todos os problemas políticos então serão
solucionados – também aqueles no Oriente Médio, onde ameaçam
guerras mais terríveis do que nunca antes. Todos os tratados de paz
são estruturas extremamente frágeis; eles contêm novos materiais
explosivos. No entanto, quando o Anticristo vier, ninguém poderá
guerrear contra ele. Ele solucionará o problema. Mas sua coroa, sua
vitória e também a duração do seu poder somente são dadas a ele:
“... e foi-lhe dada uma coroa”. Em Apocalipse 13.5 também está
escrito esse “dada” a respeito de duas coisas: “À besta foi dada uma
boca para falar palavras arrogantes e blasfemas e lhe foi dada
autoridade para agir durante quarenta e dois meses”. Isto são três
anos e meio. Não acontece nada na terra – nada mesmo! – que o
Senhor não dê ou faça: “Ocorre alguma desgraça na cidade sem que
oS a tenha mandado?” (Am 3.6b).
Quão terrivelmente rápido tudo acontecerá então! Acontece que o
próprio arrebatamento é algo incompreensivelmente repentino, e
dessa forma também vai revelar-se depois o super-homem, o
homem do pecado. O Anticristo é o primeiro juízo dos selos após o
arrebatamento, e o Cordeiro já abre o segundo selo. Analisamos tão
detidamente o primeiro juízo dos selos porque ele é básico. Os três
seguintes são somente consequências do primeiro. Os juízos dos
selos são relatados na Escritura somente de modo breve e em linhas
gerais. Nesses juízos cumpre-se a palavra do Senhor através do
profeta Isaías: “Eu sou o S ; na hora certa farei que isso
aconteça depressa” (Is 60.22b); portanto, ininterruptamente.

O Segundo Selo (Ap 6.3-4)


3Quando o Cordeiro abriu o segundo selo, ouvi o segundo ser
vivente dizer: “Venha!” 4Então saiu outro cavalo; e este era
vermelho. Seu cavaleiro recebeu poder para tirar a paz da terra e
fazer que os homens se matassem uns aos outros. E lhe foi dada
uma grande espada.
Acentuando-se também aqui duas vezes o recebimento de algo, diz-
se que o Cordeiro sempre e em quaisquer circunstâncias – também
em vista do Anticristo – mantém a iniciativa em suas mãos. Nada
escapa da sua forte mão! Que consolo para aqueles que também se
firmam em Jesus no nosso tempo! O poder inimigo nunca será
excessivo, pois Jesus é vencedor. Ele disse: “... ninguém as poderá
arrancar [as ovelhas] da minha mão” (Jo 10.28).
A profecia nunca se contradiz. Pelo contrário, ela é uma
maravilhosa harmonia! Assim, por exemplo, Isaías e Miqueias
fizeram afirmações idênticas sobre o futuro de Sião: como nos
últimos tempos o monte do Senhor será elevado e muitos povos
afluirão para ele. Em João e Marcos vemos outra concordância:
ambos falam primeiro do Anticristo e então de guerras e rumores de
guerras. Com João, o Anticristo está assentado sobre um cavalo
branco e então o cavalo vermelho vem no segundo selo, para cujo
cavaleiro foi dado “poder para tirar a paz da terra e fazer que os
homens se matassem uns aos outros. E lhe foi dada uma grande
espada”. Em Marcos 13 lemos: “Jesus lhes disse: ‘Cuidado, que
ninguém os engane. Muitos virão em meu nome, dizendo: “Sou eu!” e
enganarão a muitos’” (Mc 13.5-6). Esse é o Anticristo sobre o cavalo
branco. “Quando ouvirem falar de guerras e rumores de guerras, não
tenham medo. É necessário que tais coisas aconteçam, mas ainda
não é o fim” (v. 7). Esse é o cavaleiro sobre o cavalo vermelho –
guerras. Ou tomemos Mateus 24.4-6: “Jesus respondeu: ‘Cuidado,
que ninguém os engane. Pois muitos virão em meu nome, dizendo:
“Eu sou o Cristo!” e enganarão a muitos. Vocês ouvirão falar de
guerras e rumores de guerras, mas não tenham medo. É necessário
que tais coisas aconteçam, mas ainda não é o fim’”. Ou leiamos
Lucas 21.8-9: “Ele respondeu: ‘Cuidado para não serem enganados.
Pois muitos virão em meu nome, dizendo: “Sou eu!” e “O tempo está
próximo”. Não os sigam. Quando ouvirem falar de guerras e
rebeliões, não tenham medo. É necessário que primeiro aconteçam
essas coisas, mas o fim não virá imediatamente’”. Novamente a
mesma sequência! Sempre temos que lembrar que Jesus dirigiu suas
palavras proféticas a Israel e não à igreja. Já estão atrás de nós
guerras cruéis: a Primeira Guerra Mundial, com seus dez milhões de
mortos; a Segunda Guerra Mundial, com seus quase cinquenta
milhões de mortos; e então as outras guerras, por exemplo na
Coreia, Vietnã, Camboja e assim por diante. Tudo isso, porém, não
será nada em comparação com aquilo que virá após o
arrebatamento: “Seu cavaleiro recebeu poder para tirar a paz da
terra e fazer que os homens se matassem uns aos outros. E lhe foi
dada uma grande espada” (v. 4).
Como já citamos, os selos são descritos somente em linhas
gerais, em contraste com os próximos capítulos, onde, por exemplo,
a pessoa do Anticristo e as terríveis guerras mundiais que virão
depois são descritas com mais detalhes, com informações internas.
Agora vemos somente o exterior em instantâneos. Tanto mais deve-
se, por isso, prestar atenção ao segundo cavaleiro e o seu cavalo
vermelho. Esse cavaleiro é caracterizado por três coisas:
Primeira: “Seu cavaleiro recebeu poder para tirar a paz da terra”.
– Crônica situação mundial de guerras! Segunda: “... e fazer que os
homens se matassem uns aos outros”. – Assassinatos e homicídios
em todos os lugares! Esse extermínio recíproco já se torna cada vez
mais realidade em nossos dias, e num confronto nuclear das
superpotências não haverá vencedores nem vencidos. Quando a
Rússia se mover para Israel, o que precisamos esperar todos os
dias, eles também se matarão reciprocamente, conforme Ezequiel
38.21.
Terceira: “E lhe foi dada uma grande espada”. – Essa curta
observação explica o louco armamento das superpotências em
nossos dias. Bilhões e bilhões de dólares são gastos diariamente
(três milhões de dólares por minuto!).nota 3 Essa é a grande espada
que está sendo forjada agora. Está escrito em Isaías 59.8: “Não
conhecem o caminho da paz”. Que tempo terrível o mundo aguarda
quando a igreja estiver arrebatada. Você estará junto quando o
arrebatamento acontecer?

O Terceiro Selo (Ap 6.5-6)


5Quando o Cordeiro abriu o terceiro selo, ouvi o terceiro ser
vivente dizer: “Venha!” Olhei, e diante de mim estava um cavalo
preto. Seu cavaleiro tinha na mão uma balança. 6Então ouvi o que
parecia uma voz entre os quatro seres viventes, dizendo: “Um
quilo de trigo por um denário e três quilos de cevada por um
denário, e não danifique o azeite e o vinho!”
Também poderíamos dizer: não toque o azeite e o vinho! A descrição
do terceiro cavaleiro parece ser de alguma maneira mais emotiva.
Os outros juízos são juízos indiretos do Cordeiro, através dos quais
os homens se destroem reciprocamente. Este aqui, porém, é um
flagelo direto do Cordeiro. Que mais uma vez seja frisado: embora
os juízos dos selos, sem dúvida, se realizam intercaladamente, João
somente pode descrevê-los um após o outro. No entanto, os quatro
cavaleiros figuradamente trotam juntos pelo mundo para realizar sua
destruição. O cavaleiro do cavalo preto tem uma balança em suas
mãos. Isso significa fome. Já hoje há muita fome no mundo. A
Conferência Mundial sobre Alimentação calculou que, em 1974,
existiam 500 milhões de pessoas subalimentadas. O Banco Mundial
calculou para o mesmo ano 800 milhões de subalimentados.nota 4
Nesse meio tempo, a situação não mudou para melhor, mas para
pior. Passamos a ter uma noção de como a situação será terrível
durante a época anticristã quando vemos que no mundo milhares e
milhares de pessoas sofrerão a morte pela fome. Se em tempos
antigos o Senhor também não poupou Israel nesse sentido, por
causa do seu pecado – pois Israel também sofreu fome –, quanto
menos vai poupar um mundo que se rebela contra ele. Lamentações
4.9 diz a respeito: “Os que foram mortos à espada estão melhor do
que os que morreram de fome, os quais, tendo sido torturados pela
fome, definham pela falta de produção das lavouras”.
A balança na mão do cavaleiro sobre o cavalo preto indica o
racionamento. Deve-se notar que o cavalo anterior já exigiu muitas
vítimas, e então acrescenta-se a fome! Uma escassa porção de trigo
por um denário. No tempo de João isso significava um encarecimento
de oito a doze vezes. Conforme Mateus 20.2, um denário
correspondia ao salário de um dia do trabalhador. Isso significa fome
para uma família – e que fome! Se três medidas diárias de cevada
são vendidas por um denário, então temos que lembrar que
normalmente os cavalos e burros são alimentados com cevada;
portanto, trata-se de um alimento sem muito valor. De forma
significativa, uma voz do meio do trono estabelece essa ração
alimentar extremamente reduzida: “Então ouvi o que parecia uma voz
entre os quatro seres viventes, dizendo: ‘Um quilo de trigo por um
denário, e três quilos de cevada por um denário, e não danifique o
azeite e o vinho!’” (v. 6). Como quer que interpretemos esse “e não
danifique o azeite e o vinho!”, uma coisa é clara: o azeite é na Bíblia
a representação do Espírito Santo; e o vinho é o sangue redentor
derramado do Senhor Jesus. Aqui transparece uma maravilhosa
verdade: a igreja de Jesus não participará de tudo isso. Nela não é
mais feito nenhum mal, da mesma maneira como naquela promessa
aos vencedores: “O vencedor de modo algum sofrerá a segunda
morte” (2.11). O sangue de Jesus então não será mais anunciado,
pois as testemunhas de Jesus foram arrebatadas ao seu Senhor e
calaram-se. Entretanto: nesse cruel tempo anticristão ainda virá ao
Senhor uma multidão incontável, como veremos no capítulo 7.9. No
entanto, o Espírito Santo não estará mais presente. A conversão
dela acontecerá, por isso, sob outras condições.

O Quarto Selo (Ap 6.7-8)


7Quando o Cordeiro abriu o quarto selo, ouvi a voz do quarto ser
vivente dizer: “Venha!” 8Olhei, e diante de mim estava um cavalo
amarelo. Seu cavaleiro chamava-se Morte, e o Hades o seguia de
perto. Foi-lhes dado poder sobre um quarto da terra para matar
pela espada, pela fome, por pragas e por meio dos animais
selvagens da terra.
Este quarto cavaleiro quase não precisa ser explicado. Ele recolhe
uma grande e terrível colheita. O Anticristo realmente é o coveiro do
mundo. Jesus Cristo dá vida em abundância, o Anticristo trará ao
mundo morte e destruição. A morte não é um ser pessoal, mas o
salário do pecado. É o que diz a Bíblia (Rm 6.23). Aqui ela é
representada como um cavaleiro sobre um cavalo amarelo (ou
descorado: a cor dos cadáveres). Ele arrasta atrás de si o Hades e
todas as suas inúmeras vítimas. A última e mais terrível
consequência da ação do primeiro cavaleiro é, portanto, a espada, a
fome e a peste. Já hoje conhecemos tais enfermidades destruidoras,
como o câncer, do qual haveria em torno de setenta espécies. Além
disso existem os animais selvagens, que dilaceram os homens nas
regiões despovoadas pela guerra.
Todas essas coisas terríveis acontecerão com precisão divina
após o arrebatamento. Se você diz “não” a Jesus Cristo, o Cordeiro
de Deus, então o cavaleiro do cavalo branco, o Anticristo, espera por
você. Em Mateus 24.21 está escrito: “Porque haverá então grande
tribulação, como nunca houve desde o princípio do mundo até agora,
nem jamais haverá”. A pergunta a todos os indecisos é: você quer
ser arrebatado para a glória de Jesus com a igreja vencedora, ou
ficar para trás nesta terra que espera o juízo?

O Quinto Selo (Ap 6.9-11)


9Quando ele abriu o quinto selo, vi debaixo do altar as almas
daqueles que haviam sido mortos por causa da palavra de Deus e
do testemunho que deram. 10Eles clamavam em alta voz: “Até
quando, ó Soberano, santo e verdadeiro, esperarás para julgar os
habitantes da terra e vingar o nosso sangue?” 11Então cada um
deles recebeu uma veste branca, e foi-lhes dito que esperassem
um pouco mais, até que se completasse o número dos seus
conservos e irmãos que deveriam ser mortos como eles.
No quinto selo João tem uma visão completamente nova. Apesar de
continuar olhando para a sala do trono celestial, agora ele nota algo
que aparentemente não tinha percebido antes: um altar. Esse altar
aparece frequentemente no Apocalipse. O capítulo 8.4-5, por
exemplo, fala da fumaça do incenso das orações dos santos que
sobe à presença de Deus: “E da mão do anjo subiu diante de Deus a
fumaça do incenso com as orações dos santos. Então o anjo pegou
o incensário, encheu-o com fogo do altar e lançou-o sobre a terra; e
houve trovões, vozes, relâmpagos e um terremoto”. No capítulo 9.13
é dito bem diretamente que se tratava do altar de ouro: “O sexto
anjo tocou a sua trombeta, e ouvi uma voz que vinha das pontas do
altar de ouro que está diante de Deus”. O altar do incenso no
tabernáculo e no templo era uma imagem terrena do que João agora
vê. No templo, o altar do incenso encontrava-se diretamente diante
do Lugar Santíssimo, onde o sacerdote queimava incenso e mirra
para aroma agradável ao Senhor – uma indicação da vida de oração
do nosso Senhor Jesus e das orações de todos os santos. Que não
se pode tratar do altar do holocausto conclui-se do fato de que o
Senhor Jesus foi oferecido uma vez como Cordeiro do sacrifício,
tendo consumado tudo. Por não ser mais preciso derramar sangue,
também o altar do holocausto não precisa mais ser erguido no céu.
Quem são as almas sob o altar? Resposta: mártires: “... as almas
daqueles que haviam sido mortos por causa da palavra de Deus e do
testemunho que deram” (v. 9). Devemos lembrar novamente que o
primeiro selo trouxe o Anticristo, o que teve terríveis juízos por
consequência. As almas debaixo do altar são um dos resultados do
domínio de terror do Anticristo, pois aqueles que durante a grande
tribulação se converterem ao Senhor serão executados sem
misericórdia. Trata-se de pessoas que poderiam e deveriam ter-se
convertido antes do arrebatamento, mas que deixaram passar
indiferentes seu prazo da graça e têm que pagar com a vida a sua
confissão retardada do Senhor. Quando o Anticristo assumir seu
domínio mundial e todos forem obrigados a adorar sua imagem
diante do televisor, quando tudo for registrado e eles tiverem que
usar o número 666 para poderem comprar e vender, então milhões
de pessoas “cristãs” reconhecerão: era mesmo verdade o que os
chamados “piedosos” diziam. Então, por efeito retardado do Espírito
Santo através da Palavra, que foi pregada antes do arrebatamento,
ainda vão converter-se inúmeras pessoas. Essas pessoas, que se
converterem depois do arrebatamento, apesar de receberem a vida
eterna, não pertencerão à igreja de Jesus, pois então já terá sido
alcançada a plenitude da igreja. Por se negarem a adorar a imagem
da besta, elas terão que deixar a sua vida (cf. 13.15).
Uma coisa chama a atenção: quando foram abertos os primeiros
quatro selos, os quaro seres viventes disseram “Venha!” a cada um
dos cavaleiros. Esses juízos desenrolam-se sobre a terra da parte
de Deus, pois os quatro cavaleiros foram enviados por ele do céu.
No quinto selo, porém, há grande silêncio entre os quatro seres
viventes no céu. Ouve-se somente o clamor das almas sob o altar.
Aqui não participam poderes celestiais. Deus permite que, durante o
domínio anticristão após o arrebatamento, sejam assassinados todos
que chegarem à fé. Nessa visão, João não vê cavalos nem
cavaleiros, porque as almas debaixo do altar não foram mortas da
parte de Deus, pois o juízo de Deus nunca se volta contra aqueles
que creem em Jesus. Não, essas almas de mártires foram mortas na
terra por forças demoníacas por causa da sua fé. Todavia, eu friso
mais uma vez: essas pessoas não precisariam ter morrido como
mártires caso tivessem se convertido durante o tempo da graça!
Muitos comentaristas são de opinião que as almas debaixo do
altar são os mártires dos séculos passados. Isso não pode ser, pois
esses já estarão coroados e glorificados com Cristo e pertencem à
igreja de Jesus (cf. caps. 4–5). Uma multidão incontável de países
cristianizados e do Terceiro Mundo vai se converter após o
arrebatamento. Por isso temos a tarefa de tornar conhecida a
mensagem do evangelho de Jesus Cristo ao maior número possível
de pessoas na Europa, na América do Sul e em quaisquer outros
lugares, e de anunciar que ele vai voltar em breve. Quando os
crentes então tiverem sido arrebatados e o Anticristo dominar sobre
esta terra, eles se recordarão e se converterão. Muitos ímpios,
mundanos e cristãos nominais serão então completamente curados
da sua incredulidade e dureza de coração, através da revelação dos
primeiros quatro selos, convertendo-se radicalmente com base na
Palavra de Deus anteriormente ouvida. Se você tem parentes
incrédulos, que não se converterem antes do arrebatamento, eles
certamente o farão depois que o arrebatamento tiver ocorrido,
especialmente se agora você intercede incansavelmente na fé pela
salvação deles. Com o arrebatamento é solto o último “freio” para a
revelação do Anticristo e, com o seu aparecimento, vem também os
juízos de Deus do alto.
Um provérbio latino diz: “Não a morte, mas a razão da morte faz
com que alguém seja mártir”. Devemos lembrar que milhões e
milhões de pessoas já morreram na terra sob os selos anteriores.
Elas, porém, não são mártires. O motivo pelo qual as almas sob o
altar foram mortas torna-as verdadeiras mártires: “… haviam sido
mortos por causa da palavra de Deus e do testemunho que deram”
(v. 9), pois tal testemunho é impossível durante o domínio anticristão
e custa a vida. Para tais pessoas não há mais lugar na terra. De
alguma forma já sentimos isso – que cada vez temos menos lugar na
terra – hoje espiritualmente, pois aquele que hoje se firma sem
restrições na Palavra de Deus e no seu testemunho fica cada vez
mais isolado e solitário. Nos domínios comunistas, os filhos de Deus
experimentam isso também fisicamente. Só escapa desse
isolamento e dessa resistência aquele que nada junto com a
correnteza e não se firma mais na Palavra de Deus como verdade
completa, deixando emudecer o seu testemunho. Ó, firmemo-nos a
qualquer preço na Palavra do Senhor, pois o tempo é curto!
No versículo 10 lemos o que os mártires clamam: “Eles clamavam
em alta voz: ‘Até quando, ó Soberano, santo e verdadeiro, esperarás
para julgar os habitantes da terra e vingar o nosso sangue?’”. Em
primeiro lugar, por que eles clamam? Essas almas – em contraste
com os arrebatados – estão sem corpo glorificado. Elas ainda não
estão glorificadas. Elas estão diante do trono de Deus, debaixo do
altar. Por outro lado, a igreja de Jesus, a igreja vencedora, está
glorificada. Apesar de estarem junto ao Senhor, as almas dos
mártires ainda não estão com o Senhor. O que, como e a quem elas
clamam? Elas clamam ao Senhor, e muito alto: “… em alta voz”. Seu
desejo é expresso como que de maneira explosiva. O que elas
clamam? Devemos prestar muita atenção: “Até quando, ó Soberano,
santo e verdadeiro, esperarás para julgar os habitantes da terra e
vingar o nosso sangue?”. À primeira vista isso parece estranho; tem
cheiro de sede de vingança, mas não é assim. Esse clamor dos
mártires tem razões profundas e justificadas:

1. Essa multidão inumerável vê como Deus já julga o mundo.


Elas mesmas, porém, essas almas martirizadas, continuam
sem justificação, apesar de terem sido as únicas na terra
que, durante a grande tribulação, se firmaram na Palavra de
Deus e no testemunho de Jesus Cristo.
2. Elas gritam tão alto para que a honra do nome de Deus seja
restabelecida pelo juízo sobre os seus assassinos, pois, por
terem a boca silenciada, foi abafado o testemunho que
davam na terra. Essas almas debaixo do altar ardem em
impaciência para que a honra e o louvor de Deus sejam
restabelecidos. A motivação delas já se revela na sua
maneira de tratamento: “… ó Soberano, santo e
verdadeiro”. Em outras palavras: não pode ser permitido
que teu santo nome continue sendo injuriado.
3. Elas clamam também – como já indicamos – porque
continuam encontrando-se numa situação intermediária
debaixo do altar, e não glorificadas como os irmãos que
creram durante o tempo da graça. Isso as atormenta muito,
apesar de terem contato com Deus. Apesar dos mártires
terem ido para a eternidade por se firmarem na Palavra de
Deus e no testemunho de Jesus, isso aconteceu sem o selo
do Espírito Santo. Em Efésios 1.13 nós lemos: “Quando
vocês ouviram e creram na palavra da verdade, o evangelho
que os salvou, vocês foram selados em Cristo com o
Espírito Santo da promessa”. Deus nos deu o seu Espírito
Santo como uma espécie de adiantamento, como uma
garantia do fato de que estamos salvos e somos
eternamente propriedade dele (Ef 1.14). Através do seu
Espírito, Deus colocou no coração dos seus filhos a garantia
de que eles realmente são sua propriedade, mesmo que
tudo o contradiga: “O próprio Espírito testemunha ao nosso
espírito que somos filhos de Deus” (Rm 8.16). Essa
multidão inumerável de pessoas que se converterá durante a
grande tribulação terá muito mais dificuldades. Por causa do
seu testemunho e de se firmarem na Palavra de Deus, eles
não somente serão executados, mas também terão
dificuldades do ponto de vista espiritual. Eles não são
selados com o Espírito Santo porque nesse tempo o
Espírito Santo não estará mais na terra. Apesar de
chegarem à fé pelo efeito retardado do Espírito Santo, falta-
lhes o selo. O clamor dos mártires é respondido: “Então
cada um deles recebeu uma veste branca, e foi-lhes dito
que esperassem um pouco mais” (v. 11a). Isso prova que
eles já entraram no descanso, mas agora devem continuar
repousando “até que se completasse o número dos seus
conservos e irmãos que deveriam ser mortos como eles” (v.
11b). Na terra tudo ainda continua. Os crentes continuam
sendo aniquilados. A penosa situação intermediária das
almas debaixo do altar é solucionada pelo Senhor, fazendo
com que seja dada uma vestidura branca a cada um deles.
Essa é a justiça dos santos. Também isso é como um
adiantamento da glória futura, quando então serão
acrescentados seus irmãos que ainda serão mortos na
terra. Da mesma maneira como nós aqui na terra
recebemos o Espírito Santo como garantia da glória futura
(Ef 1.14), eles recebem a vestidura branca, a justiça dos
santos, como adiantamento da glória de vencedores.
Aqueles que uma vez foram condenados à morte (os
condenados à morte eram normalmente vestidos de preto
antes da sua execução) estão agora de branco
resplandecente, diante do Senhor. O próprio Senhor os
justificou; mudou a sentença de morte, pois eles – apesar
de terem-se convertido somente tarde, apesar de não terem
recebido o selo do Espírito Santo e apesar de terem que
deixar a sua vida – confessaram corajosamente o Senhor
diante do Anticristo. Eles firmaram-se na Palavra de Deus e
no testemunho e agora também o Senhor os confessa,
dando-lhes a vestidura branca. Foi o que o Senhor Jesus
prometeu em Mateus 10.32: “Quem, pois, me confessar
diante dos homens, eu também o confessarei diante do meu
Pai que está nos céus”.

A exortação do Senhor, para que esperassem ainda por pouco


tempo, “até que se completasse o número dos seus conservos e
irmãos que deveriam ser mortos como eles”, tem um significado
muito profundo. Eles somente alcançarão a glória completa dos
vencedores quando for alcançado o número daqueles que ainda
serão salvos durante a grande tribulação e passarão pelo martírio.
Um paralelo a isso encontramos em vista dos heróis da fé do Antigo
Testamento e de nós, pois deles está dito, em Hebreus 11.39-40,
que não obtiveram a concretização da promessa porque nós ainda
faltávamos: “Todos esses receberam bom testemunho por meio da
fé; no entanto, nenhum deles recebeu o que havia sido prometido.
Deus havia planejado algo melhor para nós, para que conosco
fossem eles aperfeiçoados”. Assim, nós ainda não estamos
aperfeiçoados porque muitos ainda devem ser acrescentados! A
plenitude ainda não foi alcançada (Rm 11.25).
No que se refere à nossa espera pelo Senhor, ele tem paciência
conosco quando ficamos impacientes. A Palavra de Deus nos diz: “O
Senhor não demora em cumprir a sua promessa… Ao contrário, ele
é paciente com vocês, não querendo que ninguém pereça, mas que
todos cheguem ao arrependimento” (2Pe 3.9). Devemos ter por
salvação a longanimidade de nosso Senhor, e a fé confirmada produz
paciência.

O Sexto Selo (Ap 6.12-17)


12Observei quando ele abriu o sexto selo. Houve um grande
terremoto. O sol ficou escuro como tecido de crina negra, toda a
lua tornou-se vermelha como sangue, 13e as estrelas do céu
caíram sobre a terra como figos verdes caem da figueira quando
sacudidos por um vento forte. 14O céu se recolheu como se
enrola um pergaminho, e todas as montanhas e ilhas foram
removidas de seus lugares. 15Então os reis da terra, os príncipes,
os generais, os ricos, os poderosos – todos, escravos e livres, se
esconderam em cavernas e entre as rochas das montanhas.
16Eles gritavam às montanhas e às rochas: “Caiam sobre nós e
escondam-nos da face daquele que está assentado no trono e da
ira do Cordeiro! 17Pois chegou o grande dia da ira deles; e quem
poderá suportar?”
Começa-se a tremer quando se considera o que ainda acontecerá
sobre este mundo, mas temos que nos ocupar com isso. Os
primeiros sete selos-visões apontam para futuras desgraças sobre o
mundo das nações. Agora o campo visual estende-se além da terra
e da humanidade e, através dos olhos de João, recebemos uma
impressionante visão do grande dia da ira do Cordeiro. Esses
terríveis juízos são uma introdução para a segunda etapa da sua
volta em grande poder e glória, para o juízo sobre o mundo das
nações anticristãs. Aqui, entretanto, não se descreve a volta de
Jesus, mas os juízos que precederão o dia de Jesus Cristo. Jesus
virá em três etapas:
Ele virá como noivo nas nuvens do céu para a igreja, a fim de
buscar a noiva.
Ele virá com a igreja em grande poder e glória, como Juiz para o
mundo. Esse é o dia da ira do Cordeiro. Essa etapa da sua vinda é
iniciada pelas catástrofes cósmicas aqui descritas.
Então ele virá como Sumo Sacerdote e Messias para Israel.
Quando o Cordeiro abre o sexto selo a terra é sacudida e abalada
por um terremoto extraordinariamente forte. O alto número de
terremotos em nossos dias é uma mensagem da ira do Cordeiro,
pois o Senhor Jesus predisse isto: “… e haverá fomes, e pestes, e
terremotos, em vários lugares” (Mt 24.7 ACF). Aqui, em Apocalipse
6.12, um terremoto irrompe em toda a sua sinistra violência. Também
todo o Cosmos é incluído: o sol fica negro como se estivesse de luto,
a lua é mergulhada em um vermelho assustador e as estrelas são
varridas do céu como figos verdes quando a figueira é abalada por
um forte vento. Por fim, até o firmamento, que se estende sobre a
terra, é enrolado como um pergaminho. Sobre a terra, os montes e
as ilhas oscilam e são movidos dos seus lugares. Os homens,
despertados da sua segurança ímpia, são divididos em sete
categorias: reis, príncipes, generais, ricos, poderosos, escravos,
livres. Em horror, medo e desespero eles refugiam-se nas cavernas
e nos penhascos. No entanto, eles não podem se salvar. Esse é um
breve resumo do que vai acontecer. Em tempos passados negou-se
esses acontecimentos como “impossíveis”, e teólogos modernos nos
dizem até hoje que não podemos entendê-los literalmente, mas no
máximo de forma figurada. Mesmo assim, já vivemos hoje no estágio
inicial da realização; ouvimos o prelúdio dessas catástrofes
cósmicas.
Quando o Senhor Jesus, durante sua vida terrena, falou da sua
volta, ele disse em Lucas 21.25-27: “Haverá sinais no sol, na lua e
nas estrelas. Na terra, as nações estarão em angústia e
perplexidade com o bramido e a agitação do mar. Os homens
desmaiarão de terror, apreensivos com o que estará sobrevindo ao
mundo; e os poderes celestes serão abalados. Então se verá o Filho
do homem vindo numa nuvem com poder e grande glória”. Esse é o
paralelo de Apocalipse 6. Em Mateus 24.29-30 isso também está
escrito: “Imediatamente após a tribulação daqueles dias ‘o sol
escurecerá, e a lua não dará a sua luz; as estrelas cairão do céu, e
os poderes celestes serão abalados’. Então aparecerá no céu o sinal
do Filho do homem”. Enquanto muitos pensam que tudo isso não
deve ser entendido literalmente, cientistas modernos começam a se
ocupar com o assunto e a expor seus pontos de vista. Todas essas
catástrofes, porém, acontecerão exatamente conforme a Palavra do
Senhor!
Hoje já experimentamos o cumprimento espiritual dessa profecia.
Olhemos pela seguinte luz: no sexto selo é descrita nos versículos
12-17, em poucas palavras, mas que são de grande conteúdo, a
situação do mundo nos seus estágios finais.
Trata-se de uma imagem do grande desmoronamento na história,
uma imagem do caos, da anarquia, do profundo abalo de todas as
ordens de Deus. O grande terremoto que se cumprirá literalmente,
por exemplo, já pode ser visto agora espiritualmente no mundo das
nações: tudo está em movimentação; há efervescência em todos os
lugares. Isso indica que o Senhor está vindo e o velho mundo tem
que desocupar o seu lugar. O sol ficará negro como tecido de crina –
a luz sobrenatural, o evangelho, é obscurecida. O sol da justiça
afasta o seu rosto. A clara luz do evangelho, a mensagem clara, hoje
é completamente obscurecida em muitas igrejas e comunidades.
Todavia, também as religiões da terra são incapazes de ajudar: a
lua, um objeto de adoração em religiões pagãs, fica vermelha como
sangue. Eu creio que as guerras dos tempos finais serão guerras
religiosas. Pensemos no avanço do islamismo. As estrelas caem do
céu – muitos guardiões da igreja hoje estão caindo. Disso concluímos
que o Apocalipse, em certas partes, tem significado e cumprimento
duplo – um espiritual e um literal – do mesmo modo como Israel tem
um futuro nacional e um espiritual. Encontramo-nos hoje no estágio
de transição entre o cumprimento espiritual e literal. Em espírito já
vemos o colapso cósmico; porém, graças a Deus, a igreja de Jesus
será arrebatada antes do cumprimento literal, ou seja, antes desta
terrível catástrofe cósmica.
Também nesse sexto selo revela-se a maravilhosa harmonia da
palavra profética, pois, quando lemos Mateus 24 e Apocalipse 6,
mas também Lucas 21, percebemos então que se trata da mesma
verdade. Sim, vemos que as profecias sobre o fim se completam
reciprocamente. O cumprimento literal será indescritivelmente
terrível. Quando lemos, no versículo 12 de Apocalipse 6: “Observei
quando ele abriu o sexto selo. Houve um grande terremoto”, é
significativo que no grego não é usada a palavra comum para
terremoto, mas a palavra mais forte seismos, que, na verdade,
significa “sacudir, arremessar e bater” e é relacionada com os
acontecimentos no sol, na lua e nas estrelas. O quão
extraordinariamente violenta será a flagelação do Universo com o
terremoto simultâneo é mostrado pelo versículo 13: “E as estrelas do
céu caíram sobre a terra como figos verdes caem da figueira quando
sacudidos por um vento forte”.
Já no passado acontecimentos do plano de salvação na terra
tiveram consequências no Cosmos. Houve uma grandiosa alteração
no Cosmos quando Israel entrou pela primeira vez na terra
prometida, quando Josué falou com o Senhor e então disse, na
presença do povo de Israel: “Sol, pare sobre Gibeom! E você, ó lua,
sobre o vale de Aijalom!” (Js 10.12).
Jeremias 4.28 descreveu muito claramente como será no dia do
Senhor: “Por causa disso, a terra ficará de luto e o céu, em cima, se
escurecerá; porque eu falei e não me arrependi, decidi e não voltei
atrás”. Ou lembremos de Joel 2.10: “Diante deles a terra treme, os
céus estremecem, o sol e a lua escurecem, e as estrelas param de
brilhar”. Também hoje, tudo o que acontece sobre a terra tem suas
consequências no céu, principalmente aquilo que é feito pelos
membros do corpo de Jesus, quer seja bom ou mau. Jesus é a
cabeça; nós, os membros. Por isso um membro do corpo de Jesus
não pode fazer o que quer, pois tudo se reflete até a cabeça, e
assim até o céu. Por exemplo, o bem: há alegria no céu por um
pecador que se arrepende (Lc 15.7). Ou o mal: tão logo pecamos,
há um estremecimento no mundo celestial. O Senhor diz isso a
Abraão por causa de Sodoma e Gomorra (Gn 18.20) e o mesmo
dizem os anjos a Ló (Gn 19.13): o clamor dos pecadores em
Sodoma e Gomorra tinha chegado a Deus. No que se refere a nós,
até o movimento da nossa língua é registrado no céu. O Senhor diz
que nenhuma palavra inútil cairá em terra. Em outras palavras: cada
palavra é registrada. Também os acontecimentos em e à volta de
Israel têm consequências cósmicas (cf. Jr 31.36). Agora também
entendemos muito melhor porque a terra tremeu e o sol perdeu o seu
brilho quando o Filho de Deus, o Senhor da glória, foi crucificado e
estava pregado na cruz do Gólgota (Mc 15.33). A terra tremeu. Ali o
Senhor Jesus reconciliou o mundo com Deus; aqui em Apocalipse 6,
contudo, veio o dia da ira do Cordeiro.
A Bíblia fala muitas vezes da ira de Deus, mas no sexto selo
temos a descrição única da ira do Cordeiro. Quão terrível ela deve
ser conclui-se do fato de que o Cordeiro tirou a ira de Deus na cruz
do Gólgota. Ele amou tanto o mundo que, por causa do seu e do
meu pecado, morreu na cruz, mas agora ele está irado. Os homens
desesperados na terra exclamam: “Pois chegou o grande dia da ira
deles; e quem poderá suportar?” (v. 17). Quão terrível será essa ira
do Cordeiro é provado pelo pânico mundial que reúne níveis sociais
completamente diversos: os reis da terra, os príncipes, os generais,
os ricos, os poderosos, os escravos, os livres (v. 15). Aí não há mais
diferença social, todos estão juntos, tremem e uivam. Que seja
frisado mais uma vez: aqui não se trata da volta do Senhor. É o que
prova Joel 2.31: “O sol se tornará em trevas, e a lua em sangue,
antes que venha o grande e terrível dia do S ”. O próprio
Cordeiro aparece depois em soberana majestade com sua igreja
glorificada, e com o sopro da sua boca dará cabo da besta, do
Anticristo, pelo seu aparecimento. Então não será mais necessário
um julgamento. Então Jesus virá simplesmente para exercer sua
vitória.
Por um terremoto relativamente pequeno já é produzido muito
pânico. O terremoto que precede a volta do Senhor, porém, é de
intensidade nunca vista. Nele os homens ouvirão a voz de Deus.
Isaías já previu isso: “A terra foi despedaçada, está destruída,
totalmente abalada! A terra cambaleia como um bêbado, balança
como uma cabana ao vento; tão pesada sobre ela é a culpa de sua
rebelião que ela cai para nunca mais se levantar!” (Is 24.19-20).
Esse é o reconhecimento que então surgirá em todas as camadas da
sociedade humana. Todos os milhões de pessoas, que agora vivem
indiferentemente, repentinamente reconhecerão apavoradas: a terra
cambaleia e se move porque o Deus justo visita a nossa
transgressão. O eclipse solar, a lua que parece sangue e as estrelas
que então cairão do céu simultaneamente reforçarão nelas esse
reconhecimento. Creio que literalmente cairão estrelas do céu, que
“se recolheu”, que farão enormes crateras na terra cambaleante.
Então haverá um despertamento mundial como certa vez no Egito.
Quando o Faraó, e com ele todo o povo, foi ferido com pragas, ele
reconheceu a Deus e tremeu diante dele. Algumas vezes ele
confessou: “Pequei”, mas não se arrependeu. Da mesma forma
também neste período de juízo dos tempos finais haverá um horror e
um despertamento mundiais, onde exclamarão: “Pois chegou o
grande dia da ira deles; e quem poderá suportar?” (v. 17). Aqui
gritam pessoas que sabiam de tudo, mas não quiseram aceitá-lo! É
característico que o mundo ímpio anticristão fala no Senhor e no
Cordeiro: “… daquele que está assentado no trono e da ira do
Cordeiro!” (v. 16). Elas, assim, identificam o Cordeiro de Deus e
aquele que está assentado no trono, o Deus eterno. No entanto, é
muito tarde!
A abertura do sexto selo – seis é um número de homem – atinge a
humanidade inteira. Ai daqueles que então estarão na terra! Onde
você estará então – na terra ou no céu? Na terra todos tremerão e
gritarão. Irão orar e fugir para o topo dos montes e para as
cavernas, ou procurar abrigos antiaéreos, mas ninguém encontrará
proteção contra a ira do Cordeiro. Haverá uma grande epidemia de
suicídios; eles buscarão a morte, mas não a encontrarão, pois então
não os atormentará apenas a terrível catástrofe da natureza, mas
muito mais a prova não desejada e não procurada – mas
incontestável: o Senhor é Deus! Ele está assentado no seu trono. O
pecado traz consigo juízo e morte. O que se segue então é a coisa
mais miserável que já aconteceu na terra: uma reunião de oração
mundial – mas que reunião de oração! Eles não clamam em
humilhação e arrependimento ao Senhor, mas gemem, uivam e se
dirigem à matéria morta: “Eles gritavam às montanhas e às rochas:
‘Caiam sobre nós e escondam-nos da face daquele que está
assentado no trono e da ira do Cordeiro!’” (v. 16). Apesar do claro
reconhecimento de Deus e do Cordeiro, também agora falta o
arrependimento. O Espírito Santo não poderia convencer também
essas pessoas? Sim, embora ele já tenha sido arrebatado com a
igreja (veja o cap. 8). O Espírito de Deus não está preso no espaço
e tempo; contudo, a sua ação termina onde há corações
impenitentes. A crescente dureza do coração em nossos dias prova
que o Espírito de Deus está se retirando lentamente. Isto também
está de acordo com Ezequiel 37.9, onde o Espírito Santo é chamado
dos quatro ventos e enviado para assoprar sobre os mortos de
Israel, para que eles vivam. Agora ainda é o tempo da graça! Por
isso: “Hoje, se vocês ouvirem a sua voz, não endureçam o coração”
(Hb 3.7-8).
7
A Selagem dos Cento e Quarenta e
Quatro Mil
(Ap 7.1-8)

1Depois disso vi quatro anjos em pé nos quatro cantos da terra,


retendo os quatro ventos, para impedir que qualquer vento
soprasse na terra, no mar ou em qualquer árvore. 2Então vi outro
anjo subindo do Oriente, tendo o selo do Deus vivo. Ele bradou
em alta voz aos quatro anjos a quem havia sido dado poder para
danificar a terra e o mar: 3“Não danifiquem nem a terra, nem o
mar, nem as árvores até que selemos as testas dos servos do
nosso Deus”. 4Então ouvi o número dos que foram selados: cento
e quarenta e quatro mil, de todas as tribos de Israel. 5Da tribo de
Judá foram selados doze mil; da tribo de Rúben, doze mil; da
tribo de Gade, doze mil; 6da tribo de Aser, doze mil; da tribo de
Naftali, doze mil; da tribo de Manassés, doze mil; 7da tribo de
Simeão, doze mil; da tribo de Levi, doze mil; da tribo de Issacar,
doze mil; 8da tribo de Zebulom, doze mil; da tribo de José, doze
mil; da tribo de Benjamim, doze mil.

E
m meio a um período de juízo, entre o sexto e o sétimo selo,
temos um parêntese. A graça de Deus transparece e
manifesta-se a uma categoria especial de pessoas. Isso
acontece, aliás, bem no meio do período de juízos dos sete selos e
das sete trombetas, que vêm em seguida. Apesar do céu e da terra
serem abalados e de todo o Universo figuradamente desconjuntar-
se, há uma pausa nessa catástrofe cósmica, um silêncio. É como em
um ciclone. Constatou-se que no meio de um ciclone, que destrói
tudo, reina um profundo silêncio.
“Depois disso vi quatro anjos em pé nos quatro cantos da terra,
retendo os quatro ventos” (v. 1). Os quatro anjos seguram, portanto,
os quatro ventos do juízo, mas estão para soltá-los. Aí aparece um
“outro anjo”, que ordena em alta voz para que aguardem com a
danificação da terra, do mar e das árvores (v. 2). Que os quatro
poderes destruidores, representados nos quatro ventos, não podem
simplesmente lançar-se sobre a terra indiscriminadamente prova que
o Senhor mantém o controle sobre a execução do juízo e o realiza
com extremo cuidado.
Quem é esse “outro anjo” que aparece? Ele tem grande
autoridade, pois falou a eles com alta voz. Esse outro anjo destaca-
se muito claramente dos demais anjos de juízo. Até onde sou capaz
de compreendê-lo, trata-se do Filho de Deus, pois aqui está escrito
algo único, que nunca é dito de algum outro anjo: “Então vi outro anjo
subindo do Oriente” (v. 2). Lê-se algo semelhante, no sentido
negativo, somente da besta e do Falso Profeta (11.7; 13.11), sendo
que eles naturalmente sobem do Abismo e não conseguem passar
além da terra. Porém, Jesus Cristo, aqui na figura de um anjo, sobe
no nascente do sol, do Oriente. Aí vemos profeticamente
resplandecer o futuro de Israel. Malaquias o viu assim: “Mas, para
vocês que reverenciam o meu nome, o sol da justiça se levantará...”
(Ml 4.2). De qualquer modo, esse outro anjo é todo luz e glória. Ele é
muito superior aos quatro anjos de juízo que seguram os quatro
ventos da terra, e lhes ordena “em alta voz” que ainda segurem
esses ventos. Os quatro ventos são tempestades de juízo,
executores de juízo “a quem havia sido dado poder para danificar a
terra e o mar” (v. 2).
Os quatro anjos evidentemente têm a tarefa de soltar os ventos
sobre a terra madura para o juízo, mas então vem repentinamente
uma outra ordem, que tem precedência. Isso pode ser ilustrado por
um exemplo do trânsito: se o semáforo diante de nós está verde,
podemos prosseguir livremente, ou seja, temos preferência. No
entanto, se vier um carro de polícia ou uma ambulância com a sirene
ligada, a preferência passa a ser dele. A ordem desse outro anjo
tem prioridade, e assim também temos uma prova de que se trata do
Filho de Deus, pois em Colossenses 1.18 está escrito: “Ele... é o
princípio e o primogênito dentre os mortos, para que em tudo tenha a
supremacia”. Os ventos de juízo ainda são retidos, e isso por causa
do remanescente crente de Israel. Neste outro anjo, que subia do
Oriente, João ainda vê outra coisa especial: “... tendo o selo do Deus
vivo” (v. 2).
Então, portanto, durante a grande tribulação, durante o dia do
Senhor, um grupo de cento e quarenta e quatro mil de Israel é
selado. Realiza-se aqui um procedimento que acontece também hoje,
antes da grande tribulação, mas de outra maneira, pois cada pessoa
que, pela fé em Jesus Cristo, é acrescentada à igreja de Jesus é
selada com o Espírito Santo. Isso já acontece agora há quase dois
milênios, mas em breve terá fim. Desse selo lemos em Efésios 1.13:
“Quando vocês ouviram e creram na palavra da verdade, o
evangelho que os salvou, vocês foram selados em Cristo com o
Espírito Santo da promessa”. O que é o Espírito Santo com o qual
Deus nos selou? Ele é “a garantia da nossa herança até a redenção
daqueles que pertencem a Deus, para o louvor da sua glória” (Ef
1.14). Portanto, Deus deu o seu próprio Espírito Santo como
garantia para que pudéssemos estar seguros que seremos
guardados até o dia da redenção, até que Jesus volte. Tais selagens
acontecem constantemente desde o Pentecostes, quando pessoas
se convertem individualmente. A selagem durante a grande
tribulação, porém, será realizada simultaneamente em muitos, ou
seja, em cento e quarenta e quatro mil de Israel. Os judeus que hoje
voltam para Israel deram com isso o primeiro passo para a
conversão. Sua conversão real e sua selagem acontecerão então no
momento em que o Senhor Jesus voltar. Portanto, eles, em contraste
com os gentios, vão converter-se coletivamente e são também,
desse modo, selados coletivamente. Todavia, antes que todo o Israel
se converta, vai converter-se um remanescente de cento e quarenta
e quatro mil.
Muitas vezes é apresentada a pergunta sobre quem são os cento
e quarenta e quatro mil, pois a respeito existem diversas
explicações, já que muitos comentaristas não querem, de maneira
alguma, aceitar o que está escrito tão clara e inequivocamente no
capítulo 7.4: “Então ouvi o número dos que foram selados: cento e
quarenta e quatro mil, de todas as tribos de Israel”. Ao invés de falar
então das tribos dos filhos de Israel, tais comentaristas falam das
“tribos dos crentes fiéis”, ou a igreja de Jesus, ou do seu próprio
grupo. É interessante como muitos cristãos têm um preconceito
doentio contra tudo o que é judaico. De antemão está estabelecido
para eles que todas as manifestações de graça que estão
prometidas ao povo judeu devem ser entendidas de maneira
diferente, ou seja, aplicam-se à igreja. Naturalmente, aos seus olhos,
isso não vale no caso de ameaças de juízo. Essas eles têm todo o
prazer de deixar para Israel. O Apocalipse distingue-se muito
claramente entre a igreja (por exemplo, nas cartas), os povos (a
grande multidão que ninguém podia contar: 7.9) e Israel (por
exemplo: 7.4). Os cento e quarenta e quatro mil selados são
israelenses que se tornaram crentes, que se converteram a Jesus
durante a grande tribulação; portanto, após nosso arrebatamento.
Durante a grande tribulação, Israel verá e experimentará muitas
coisas. Aparecerão, por exemplo, duas testemunhas (cap. 11) tendo
grande autoridade e dando testemunho. Após mil duzentos e
sessenta dias, elas serão mortas e seus corpos serão expostos por
três dias em Jerusalém. No terceiro dia elas serão ressuscitadas.
Naquela hora haverá um grande terremoto e muitos serão mortos.
Por ordem da “alta voz”, elas finalmente subirão ao céu. Devido a
isso, muitos na terra darão glória a Deus (11.13). Tudo isso
acontecerá depois do arrebatamento.
No entanto, uma coisa chama a atenção: nesses cento e quarenta
e quatro mil falta a tribo de Dã. Dã era o quinto filho de Jacó, o
primeiro com Bila, a serva de Raquel. Quando Dã foi com seu pai e
seus irmãos para o Egito, conforme Gênesis 46.23, ele tinha
somente um filho. Está escrito em curtas palavras: “O filho de Dã foi
Husim”. Em comparação, Benjamin, o mais novo, já tinha naquele
tempo dez filhos. Dois séculos mais tarde, no entanto, Dã era a tribo
mais numerosa depois de Judá (Nm 1.27,39). Judá tinha 74.600
homens capazes de sair à guerra e Dã tinha 62.700. Dã era,
portanto, uma tribo muito importante. Conforme Números 10.25, ela
tinha uma posição destacada na ordem do acampamento. Ela levava
um dos quatro estandartes principais e protegia toda a retaguarda
do exército com seu poder. Aqui em Apocalipse 7, porém, falta Dã;
ela não está entre os selados. É importante encontrar a razão da
falta de Dã, pois – quem sabe quão logo – haverá muitos cristãos
que faltarão na multidão dos arrebatados. “Mas”, perguntam muitos
agora, “o senhor não crê que todos os que pertencem à igreja de
Jesus serão arrebatados?”. Sim, cremos isso! No entanto, da
mesma maneira sabemos que há muitos que exteriormente parecem
fazer parte, mas interiormente não, apesar de serem classificados
como “crentes”. Estranhamente, falta mais uma das doze tribos, ou
seja, a tribo de Efraim. No seu lugar está José (v. 8) e no lugar de
Dã está Levi, que, como tribo sacerdotal, não tinha território em
Israel, não tinha herança. O próprio Senhor era a herança de Levi (Js
13.14). Essa ausência e substituição – até mesmo a ordem dos
nomes é diferente, ou seja, espiritual e não natural – tem um
maravilhoso significado profético.
Olhemos novamente a sequência e o significado dos nomes das
tribos de Israel que foram seladas. São doze mil de cada tribo, doze
vezes mil – uma plenitude abrangente.

Judá: “Louvor”. Ele não é o primogênito, mas vem em


primeiro. Jacó já havia dito: “Judá, seus irmãos o louvarão”
(Gn 49.8). De Judá vem o nosso Senhor. “... a salvação vem
dos judeus” (Jo 4.22).
Rúben: “Eis um filho”. Rúben é o primogênito.
Gade: “Multidões o acometerão”.
Aser: “Feliz”.
Naftali: “Lutando”.
Manassés: “Recuperação do equilíbrio interior em
circunstâncias difíceis e apesar da perda de uma vida
costumeira e agradável”.
Simeão: “Dádiva de ser ouvido”.
Levi: “Unido”.
Issacar: “Deus me deu o meu salário”.
Zebulom: “Habitação”.
José: “Ele multiplicará”.
Benjamim: “Filho da mão direita”.

Aqui vemos de maneira inequivocamente clara a caligrafia do


Espírito Santo. No Apocalipse trata-se sempre de Jesus Cristo. Na
sequência das tribos e dos nomes dos cento e quarenta e quatro mil
selados, o Filho de Deus e sua obra são glorificados de maneira
singular. Vamos olhá-lo sob esse ângulo:

“Louvor” (Judá): Jesus Cristo é o louvor de Deus. Ele tem


uma única paixão, ou seja, a honra de seu Pai.
“Eis um filho” (Rúben): olhemos para Jesus!
“Multidões o acometerão” (Gade): vemos o Senhor Jesus
andando sobre a terra, envolto por uma grande multidão.
“Feliz” (Aser): então ouvimos o Senhor Jesus dizendo as
bem-aventuranças.
“Lutando” (Naftali): na cruz do Gólgota ele lutou por causa
dos nossos pecados. O que ele quis alcançar com isso? A
reposta é dada pelo nome seguinte.
“Recuperação do equilíbrio interior em circunstâncias difíceis
e apesar da perda de uma vida costumeira e agradável”
(Manassés): ele deixou a glória com o Pai para restabelecer
para nós o equilíbrio interior, a paz com Deus.
“Dádiva de ser ouvido” (Simeão): Deus ouviu Jesus quando
clamou a ele: “Durante os seus dias de vida na terra, Jesus
ofereceu orações e súplicas, em alta voz e com lágrimas,
àquele que o podia salvar da morte, sendo ouvido por causa
da sua reverente submissão” (Hb 5.7).
“Unido” (Levi): Jesus Cristo, o grande Sumo Sacerdote, o
grande levita da tribo de Judá, novamente uniu Deus e o
homem (Ef 1.10). Ele agora diz o que significa o próximo
nome:
“Deus me deu o meu salário” (Issacar; cf. Is 53.11-12).
“Habitação” (Zebulom): Jesus subiu ao céu. Ele disse: “Na
casa de meu Pai há muitos aposentos; se não fosse assim,
eu teria dito a vocês. Vou preparar lugar para vocês. E,
quando eu for e preparar lugar, voltarei e os levarei para
mim, para que vocês estejam onde eu estiver” (Jo 14.2-3).
“Ele multiplicará” (José): o Senhor Jesus quer acrescentar
ainda muitos à sua igreja. Muitos ainda devem ser salvos.
“Filho da mão direita” (Benjamim): Jesus Cristo está sentado
à direita da majestade de Deus (Ef 1.20; Hb 1.3b; etc.).

Além disso, esses nomes descrevem também de maneira singular


a situação dos cento e quarenta e quatro mil durante a grande
tribulação. Os cento e quarenta e quatro mil israelenses que se
tornarão crentes no Senhor Jesus serão então testemunhas de Jesus
em meio àquela terrível época anticristã, na qual o Diabo estará
enfurecido na pessoa do Anticristo. Eles refletirão então a glória de
Jesus. Assim, aqui temos um ponto de contato com a nossa
vocação, pois também vale para nós: “... para serem conformes à
imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre
muitos irmãos” (Rm 8.29). Por isso podemos aplicar seus nomes de
tribos a eles mesmos:

eles tornaram-se judeus


“Louvor” (Judá)
que louvam a Deus, pois

eles agora veem o Filho


como seu Messias, a
“Eis um filho” (Rúben)
quem antes não queriam
e não podiam ver.

Eles serão acometidos


“Multidões o acometerão” (Gade) pelos seus
perseguidores,

pois estão do lado do


“Feliz” (Aser)
Vencedor.

Eles combatem o bom


“Lutando” (Naftali)
combate da fé.

“Recuperação do equilíbrio interior Após a longa separação


em circunstâncias difíceis e apesar e difícil recuperação, eles
da perda de uma vida costumeira e têm paz com Deus.
agradável” (Manassés)
Eles experimentam essa
“Dádiva de ser ouvido” (Simeão) dádiva de serem ouvidos
e desejam ser

unidos com o Senhor.


“Unido” (Levi)
Eles sabem,

“Deus me deu o meu salário”


mas anseiam por uma
(Issacar)

morada celestial, apesar


“Habitação” (Zebulom) de não fazerem parte da
igreja de Jesus.

“Ele multiplicará” (José) Eles são um acréscimo;

eles serão acrescentados


ao Filho de Deus, à
“Filho da mão direita” (Benjamim)
direita da majestade de
Deus.

Tudo combina tão naturalmente. A partir dessa visão explica-se


também porque os dois nomes, Dã e Efraim, foram substituídos por
Levi e José, pois Dã quer dizer “juiz” ou “executor do juízo”. Os cento
e quarenta e quatro mil nunca serão isso. Efraim significa “aumento,
frutífero”, mas os cento e quarenta e quatro mil são um número bem
determinado, mesmo que – como acontece frequentemente na Bíblia
– é citado somente o número de homens. Assim, também da
alimentação dos cinco mil está escrito: “Os que comeram foram
cerca de cinco mil homens, sem contar mulheres e crianças” (Mt
14.21). Se contarmos as mulheres e crianças, devem ter sido mais
de dez mil pessoas. Caso também aqui, com os cento e quarenta e
quatro mil, esteja se fazendo referência somente aos homens
capazes para a luta, ou seja, aos homens capazes para a luta dentre
as diversas tribos, chegaríamos a cerca de setecentas mil almas se
ainda acrescentássemos as mulheres e crianças. Apesar disso,
trata-se de um número bastante definido; portanto, não somente um
número simbólico.
Encontramos esses cento e quarenta e quatro mil também no
capítulo 14.1-5. Eles têm antepassados, mas não antepassados
espirituais, pois são chamados de primícias para Deus e para o
Cordeiro, não tendo também descendência espiritual. No capítulo
14.4 eles são descritos como “castos”. No fundo isso também vale
para nós, pois Deus não tem netos, mas somente filhos. A conversão
não pode ser herdada. Se você tem uma mãe ou um pai crente, você
não pode se esconder atrás disso. Se você é um filho de Deus, isso
depende unicamente de você ter aceito Jesus Cristo como seu
Salvador e Redentor pessoal.
Com estas observações já explicamos a falta das duas tribos, Dã
e Efraim? Não! Simplesmente iluminamos o lado positivo, profético.
Todavia, existe também um lado escuro. Essas duas tribos são
descritas no Antigo Testamento como aquelas que sucumbiram de
modo especial à idolatria. Elas foram uma maldição para o seu povo.
Sigamos os passos de Dã. Ao contrário de Efraim, cuja linha ainda é
continuada de alguma forma por José, Dã falta completamente –
assim como Judas falta entre os doze discípulos. Os pecados de Dã
são assustadores.
Primeiro: sua entrega ao Senhor nunca foi completa. Quando, no
tempo da juíza Débora, Israel teve que guerrear contra os cananeus,
obtendo uma maravilhosa vitória sobre o chefe cananeu Sísera e seu
exército, que foi morto pela amiga de Israel, Jael (Jz 4–5), Débora
entoa em seguida um cântico de triunfo. De repente, ela interrompe o
seu canto e pergunta: “E Dã, por que se deteve junto aos navios?”
(Jz 5.17). O cântico prossegue e descreve como os cananeus foram
batidos. Débora jubila em Juízes 5.20: “Desde o céu lutaram as
estrelas, desde as suas órbitas lutaram contra Sísera”. Que
maravilhosa oportunidade teve o Israel todo para exercer e
experimentar a vitória do Senhor. No entanto, Dã faltou! Ele, que
tinha tal poder (como vimos, tratava-se da segunda tribo mais forte),
no tempo da luta deteve-se nos seus navios.
É abalador ver quantos crentes se detêm e fogem da luta da fé
que nos é ordenada, a qual podemos realizar vitoriosamente.
Todavia, o Senhor diz em Hebreus 10.38b: “E, se retroceder, não me
agradarei dele”. Sair da arena de combate significa o início da
apostasia. A Escritura nos ordena três vezes no Novo Testamento a
combatermos o bom combate da fé: “Combata o bom combate da
fé” (1Tm 6.12). “Igualmente, o atleta não é coroado se não lutar
segundo as normas” (2Tm 2.5 RA). “... corramos com perseverança
a corrida [o combate] que nos é proposta” (Hb 12.1). Paulo
testemunha: “Combati o bom combate” (2Tm 4.7). A vitória de Jesus
Cristo abrange o mundo inteiro, pois Deus estava em Cristo e
reconciliou o mundo consigo mesmo. Você quer ficar de lado e deixar
milhões de almas nas garras de Satanás? Então foi dado o primeiro
passo para se tornar um apóstata. Você não quer hoje mesmo
descer à arena do Senhor?
Dã continuou regredindo. Da entrega pela metade, da mornidão
surgiu o segundo mal: ele não tomou posse da herança que lhe foi
atribuída! Josué foi o grande distribuidor da herança: “Mas o seu
auxiliar, Josué, filho de Num, entrará [na terra prometida]. Encoraje-
o, pois ele fará com que Israel tome posse dela” (Dt 1.38). Conforme
Josué 19.40-48, ele atribuiu a herança também a Dã. Mas Dã não
tomou posse dela. Duras derrotas e outros erros foram as
consequências. No final ele até assumiu uma herança falsa. O
resultado final da divisão do seu coração é terrível e nos deixa
imaginar porque ele falta entre os cento e quarenta e quatro mil: “Os
filhos de Dã levantaram para si aquela imagem de escultura” (Jz
18.30 RA). Com essa imagem de escultura, Dã pré-programou a
queda do reino das dez tribos de Israel, pois, séculos mais tarde,
Jeroboão continuou a idolatria exatamente no mesmo lugar (1Rs
12.29). Assim, Dã tornou-se para si mesmo e para Israel exatamente
o que o Jacó moribundo havia profetizado sobre ele: “Dã será uma
serpente à beira da estrada, uma víbora à margem do caminho, que
morde o calcanhar do cavalo e faz cair de costas o seu cavaleiro”
(Gn 49.17). Muitos podem pecar em oculto durante muito tempo,
como Dã, mas finalmente transformam-se em enganadores, em
anticristos. Com isso tocamos a pergunta: o Anticristo virá da tribo
de Dã? Isso não é impossível, pois o Anticristo tem que ser um judeu
e, consequentemente, pertencer a uma das tribos. Dã tem todas as
características do Anticristo, sem levar em conta que, já na profecia
de Jacó, ele é chamado de “serpente” e “víbora”. Aqui temos que
lembrar também da profecia de Moisés, quando ele se despediu: “Dã
é um filhote de leão, que vem saltando desde Basã” (Dt 33.22). Será
Dã um leãozinho? Isso não pode ser, pois Judá é chamado de “leão
novo” (Gn 49.9), e assim também nosso Senhor, que descende de
Judá: “Eis que o Leão da tribo de Judá, a Raiz de Davi” (5.5). Como
então Dã pode ser chamado de leão?! Somente um pode ser o
verdadeiro vencedor, o verdadeiro Leão, o verdadeiro Cristo, e esse
é Jesus Cristo e não Dã. Dessa maneira, deve-se supor que o
Anticristo vem da tribo de Dã. Entretanto, no final do livro do profeta
Ezequiel encontramos um pensamento e um desfecho consoladores.
Nos capítulos 47 e 48 são novamente enumeradas todas as tribos.
Elas recebem de volta a terra da sua tribo, e Dã é o primeiro a ser
citado: “Estas são as tribos, relacionadas nominalmente: na fronteira
norte, Dã terá uma porção; ela seguirá a estrada de Hetlom até
Lebo-Hamate; Hazar-Enã e a fronteira norte, vizinha a Damasco,
próxima de Hamate [portanto, a Síria também pertence a Israel]
farão parte dos seus limites, desde o lado leste até o lado oeste.
Aser terá uma porção; esta margeará o território de Dã... Naftali terá
uma porção; esta margeará o território de Aser...” (Ez 48.1ss).
Portanto, ele se arrependerá. Também nesse caso serão cumpridas
as palavras do Senhor: “... os últimos serão primeiros”.
Voltemos agora rapidamente ao maravilhoso ato de selagem dos
cento e quarenta e quatro mil de Israel em Apocalipse 7. Como
dissemos, o anjo que tem o selo do Deus vivo, conforme o meu
reconhecimento, é o Anjo do Senhor, Jesus Cristo, pois há mais um
fato que facilmente deixa de ser observado. Não está escrito que ele
mantinha o selo do Deus vivo em sua mão, mas “tendo o selo do
Deus vivo” (v. 2). Não é aqui o próprio Deus Triúno que age através
de Jesus Cristo? O “selo” – o Espírito Santo; “do Deus vivo” – Deus
Pai; e o “anjo” que clama em alta voz – o Filho, que também diz
sobre os servos de Deus: “... até que selemos as testas dos servos
do nosso Deus” (v. 3).
Essa selagem extraordinária com o Espírito Santo pelo Anjo do
Senhor é necessária, porque senão ninguém na terra poderia
escapar da grande tribulação. Essa selagem também é visível. Isso
é extraordinário e está em contraste com a selagem dos membros
no corpo de Jesus. Quem pertence à igreja de Jesus está selado
com o Espírito Santo interiormente, em seu coração. Mesmo que os
cento e quarenta e quatro mil são selados interiormente, o selo
também é visível exteriormente. Não obstante, conosco também
deve se tornar visível que o Espírito Santo habita em nossos
corações. O Espírito quer glorificar Jesus Cristo visivelmente em
nossas faces. Aqueles servos são selados visivelmente, para que o
Anticristo não ouse tocá-los. Já em Ezequiel 9 temos um
acontecimento semelhante. Como em Apocalipse 7, lá também está
escrito: “Então o ouvi clamar em alta voz...” (v. 1). Então
continuamos lendo: “‘Tragam aqui os guardas da cidade, cada um
com uma arma na mão’... E a glória do Deus de Israel levantou-se de
cima do querubim, onde havia estado, e se moveu para a entrada do
templo. E o S chamou o homem vestido de linho e que tinha o
estojo de escrevente à cintura e lhe disse: ‘Percorra a cidade de
Jerusalém e ponha um sinal na testa daqueles que suspiram e
gemem por causa de todas as práticas repugnantes que são feitas
nela... matem, sem piedade ou compaixão, velhos, rapazes e moças,
mulheres e crianças. Mas não toquem em ninguém que tenha o
sinal’” (Ez 9.1,3-6). Assim também estão protegidos os cento e
quarenta e quatro mil durante a grande tribulação. Ninguém os
tocará. Vemos o oposto deles nas pessoas marcadas pelo Anticristo:
“Também [a besta] obrigou todos, pequenos e grandes, ricos e
pobres, livres e escravos, a receberem certa marca na mão direita
ou na testa” (13.16).
Você é alguém selado pelo Senhor? Tem o Espírito da filiação
(Rm 8.16)? Se não, você não tem o selo do Espírito Santo e
pertence à categoria de pessoas em Ezequiel 9 que sofrerão o juízo.
Não continue sendo miserável e infeliz, mas tome, nessa última hora,
a mão traspassada e estendida de Jesus e deixe que ele o perdoe e
sele com o Espírito da filiação.
8
A Grande e Incontável Multidão e o
Sétimo Selo
(Ap 7.9–8.5)

A Grande e Incontável Multidão (Ap 7.9-17)


9Depois disso olhei, e diante de mim estava uma grande multidão
que ninguém podia contar, de todas as nações, tribos, povos e
línguas, em pé, diante do trono e do Cordeiro, com vestes
brancas e segurando palmas. 10E clamavam em alta voz: “A
salvação pertence ao nosso Deus, que se assenta no trono, e ao
Cordeiro”. 11Todos os anjos estavam em pé ao redor do trono, dos
anciãos e dos quatro seres viventes. Eles se prostraram com o
rosto em terra diante do trono e adoraram a Deus, 12dizendo:
“Amém! Louvor e glória, sabedoria, ação de graças, honra, poder
e força sejam ao nosso Deus para todo o sempre. Amém!”
13Então um dos anciãos me perguntou: “Quem são estes que
estão vestidos de branco e de onde vieram?” 14Respondi: Senhor,
tu o sabes. E ele disse: “Estes são os que vieram da grande
tribulação, que lavaram as suas vestes e as alvejaram no sangue
do Cordeiro. 15Por isso, eles estão diante do trono de Deus e o
servem dia e noite em seu santuário; e aquele que está
assentado no trono estenderá sobre eles o seu tabernáculo.
16Nunca mais terão fome, nunca mais terão sede. Não os afligirá
o sol nem qualquer calor abrasador, 17pois o Cordeiro que está no
centro do trono será o seu Pastor; ele os guiará às fontes de água
viva. E Deus enxugará dos seus olhos toda lágrima”.

A
pesar de termos diante de nós um parêntese entre o sexto e
o sétimo selos, ele faz parte do sexto selo, pois este tinha
como resultado três visões:

1. Catástrofes cósmicas, que enchem os homens de


perplexidade, medo e terror: o sol fica escuro como tecido
de crina negra, a lua fica como sangue e a terra é abalada
por um enorme terremoto (6.12-17).
2. Em meio a esse juízo é incluída uma pausa por causa dos
cento e quarenta e quatro mil de Israel, que ainda têm que
ser selados.
3. A grande multidão vestida de vestes brancas e com palmas
nas mãos.

As primeiras duas visões referem-se, portanto, à terra e a


pessoas com carne e sangue. A terceira visão refere-se ao céu e
aos homens glorificados que estão lá. Mesmo assim, o conteúdo
dessa visão faz parte das duas outras, pois o grande e terrível dia
do Senhor não é um dia comum de vinte e quatro horas. Todos os
selos, e outros acontecimentos neles contidos, fazem parte deste
dia, mas cada um desses acontecimentos representa um período de
meses ou até anos.
O que o apóstolo João vê agora no céu é maravilhoso: “Depois
disso olhei, e diante de mim estava uma grande multidão que
ninguém podia contar, de todas as nações, tribos, povos e línguas,
em pé, diante do trono e do Cordeiro, com vestes brancas e
segurando palmas. E clamavam em alta voz: ‘A salvação pertence ao
nosso Deus, que se assenta no trono, e ao Cordeiro’” (v. 9-10).
Vemos aqui o resultado do maior despertamento de todos os
tempos. Trata-se, por assim dizer, de uma continuação do capítulo 4,
onde João vê o trono de Deus e do Cordeiro e os quatro seres
viventes com os vinte e quatro anciãos assentados nos tronos.
Agora, essa multidão bem-aventurada é acrescida com os
incontáveis dentre todas as nações. Eles estão vestidos com
vestiduras brancas e acenam com suas palmas de vitória. Eles
louvam a Deus e ao Cordeiro com grande voz: “A salvação pertence
ao nosso Deus, que se assenta no trono, e ao Cordeiro” (v. 10).
Então vem a reação: “Todos os anjos estavam em pé ao redor do
trono, dos anciãos e dos quatro seres viventes. Eles se prostraram
com o rosto em terra diante do trono e adoraram a Deus, dizendo:
‘Amém! Louvor e glória, sabedoria, ação de graças, honra, poder e
força sejam ao nosso Deus para todo o sempre. Amém!’” (v. 11-12).
O louvor da inumerável multidão causa um novo louvor; ele produz
uma reação em cadeia. Se nosso louvor é em “alta voz”, isto é, claro
e verdadeiro, ele produzirá novo louvor. O homem que entrou na sala
do banquete de casamento sem veste nupcial, ao qual o rei
perguntou: “Amigo, como você entrou aqui sem veste nupcial?”, não
expressou louvor. Dele está escrito: “O homem emudeceu” (Mt
22.12). O louvor de Deus emudeceu hoje com muitos.
A maravilhosa cena que João vê agora parece facilmente
compreensível. Relata-se muitos detalhes sobre a origem e o caráter
desta grande multidão, de modo que não parece haver dificuldades
para a explicação. Mas sim! O claro louvor dessa multidão exige uma
profunda análise. Um dos anciãos pergunta: “Quem são estes que
estão vestidos de branco e de onde vieram?” (v. 13). Ele sabe a
resposta, mas ele quer ensinar João e colocá-lo à prova. Essa
pergunta não é feita em relação aos cento e quarenta e quatro mil de
Israel, pois aí o caso está claro; também não com relação aos anjos,
que estão em volta do trono de Deus; e também não sobre as almas
debaixo do altar. Nessa forma, a pergunta é apresentada aqui pela
primeira e última vez no Apocalipse. Deve, portanto, haver algo
especial com essa multidão incontável. João é completamente
surpreendido por essa pergunta. Ele, que esteve tão próximo de
Jesus, que descansou em seu peito, está fora de si por causa dessa
nova dimensão da graça de Deus, pois a multidão incontável nada
mais é do que um resultado da graça de Deus. João não sabe de
onde vem essa multidão jubilosa e quem são essas pessoas. Assim
como João, até os dias de hoje muitos comentaristas perguntam:
“Quem são estes... e de onde vieram?”. Geralmente pode-se
reconhecer, com base no versículo 14, que essa grande multidão,
que ninguém pode contar, passou por grande aflição e lavou suas
vestiduras no sangue do Cordeiro, pois todos nós precisamos passar
por tribulações para entrarmos no reino de Deus (At 14.22). Todavia,
existem as mais diferentes opiniões sobre se essa multidão
incontável consiste de pessoas de carne e sangue, que estão na
terra, ou de espíritos em um estado de transição, ou mesmo de
santos glorificados em suas habitações celestiais. Se perguntarmos
com os anciãos: “Quem são estes que estão vestidos de branco e
de onde vieram?”, então é bom verificar primeiro quem eles não são.
Assim temos condições de esclarecer mal-entendidos de décadas.

1. Não se trata dos vencedores redimidos mais elevados; ou


seja, não são os vinte e quatro anciãos, que já vimos.
Aqueles estão coroados e assentados em um trono (cf.
caps. 4–5). No entanto, estes levam palmas e não têm
coroa nem trono; eles também não estão sentados, mas de
pé. Aqueles aparecem no seu lugar celestial antes que se
iniciem a catástrofe e os juízos mundiais. Porém, estes – a
grande multidão – aparecem diante do trono enquanto o
juízo na terra é realizado até o sexto selo. A igreja
glorificada, a igreja-noiva, já estava no céu antes que
soasse a “hora da provação” (3.10), porque era digna de
“escapar de tudo o que está para acontecer” (Lc 21.36).
Mas os portadores de palmas passam pela grande
tribulação e alcançam o céu somente a partir dessa
tribulação. Aqueles, conforme o capítulo 5.10, são reino e
sacerdotes: “Tu os constituíste reino e sacerdotes para o
nosso Deus, e eles reinarão sobre a terra”. Estes, porém,
são mostrados como servos: “Por isso, eles estão diante do
trono de Deus e o servem dia e noite em seu santuário; e
aquele que está assentado no trono estenderá sobre eles o
seu tabernáculo” (v. 15). Assim, é um grande erro equiparar
a incontável multidão de portadores de palmas com a igreja
glorificada e arrebatada.
2. A multidão inumerável também não pode ser idêntica aos
cento e quarenta e quatro mil selados, pois o número dos
selados é fixo e informado exatamente, enquanto que dos
portadores de palmas está dito expressamente que se trata
de uma multidão incontável. Além disso, os selados são
israelitas, enquanto que a grande multidão procede de todas
as nações, tribos, povos e línguas. Os cento e quarenta e
quatro mil são selados para que permaneçam guardados
nas tempestades de juízo do sétimo selo, que então virá
sobre a terra. Essa grande multidão, porém, já está no céu
durante essa visão, mas não lemos nada sobre ela ter sido
guardada da grande tribulação por causa de uma selagem.
3. A grande multidão também não representa toda a igreja no
final da grande tribulação, pois já vemos a igreja glorificada
e arrebatada em Apocalipse 4 – portanto, antes da grande
tribulação – diante do trono do Cordeiro. Além disso: se
essa multidão incontável representasse a igreja, por que
João estaria inseguro? Pois, quando um dos anciãos
pergunta: “Quem são estes que estão vestidos de branco e
de onde vieram?”, ele responde: “Senhor, tu o sabes” (v.
14). Ele não ousa dar uma resposta concreta. Para João,
que viu nos vinte e quatro anciãos coroados a igreja
glorificada, essa multidão incontável de todos os povos,
nações e línguas também é um mistério. Deus tem seus
maravilhosos mistérios! Assim, por exemplo, inicialmente os
discípulos nada sabiam da igreja de Jesus; tratava-se ainda
de um mistério para eles. Após a ressurreição do Senhor
Jesus, pouco antes de subir ao céu, eles lhe perguntaram:
“Senhor, é neste tempo que vais restaurar o reino a Israel?”
(At 1.6). Eles não tinham, portanto, nenhuma ideia da igreja
de Jesus dentre judeus e gentios, à qual também nós
pertencemos. Da mesma maneira, nós temos poucas
noções sobre essa multidão maravilhosamente salva depois
de nós. Justamente essa reação de João nos mostra que
aqui não se trata da igreja dos primogênitos, mas de uma
igreja de “nascidos tarde”.
4. Também é errado achar que essa multidão incontável não
passou pela grande tribulação. A resposta do ancião é:
“Estes são os que vieram da grande tribulação...” (v. 14), e
ninguém tem motivo para duvidar dessa afirmação. No meu
entender, porém, ele quer dizer algo mais profundo. Parece
que essa multidão inumerável foi arrancada do meio da
grande tribulação, como se ela tivesse sido interrompida por
causa deles. No entanto, essa é uma conclusão cômoda
demais, pois a grande multidão não nos é mostrada durante
o tempo em que se encontra na grande tribulação, mas
somente no momento em que ela sai; quando venceu. Ela
nos é apresentada, portanto, depois que passou e sofreu a
grande tribulação. Temos aqui, por assim dizer, uma visão
do futuro do futuro; uma visão antecipada daquilo que ainda
não está completado. Todavia, João pôde vê-lo da
perspectiva eterna junto com os grandiosos acontecimentos
anteriores. Essa grande multidão será, portanto, duramente
afligida após a abertura do sétimo selo e durante as sete
trombetas e sete taças da ira: a besta, o Anticristo, cuja
imagem eles não querem adorar, levanta-se. A
consequência é o martírio: eles precisam morrer por causa
da sua fé. Aqui no capítulo 7, como dissemos, eles já nos
são mostrados antecipadamente como grande ceifa: uma
multidão que ninguém pode contar. Que despertamento
haverá depois que acontecer o arrebatamento! Porém,
trata-se de um tempo de despertamento entristecedor, pois
se então você ainda estiver na terra, por não ter escutado a
voz de Jesus antes do arrebatamento – agora –, você ainda
terá a possibilidade de chegar à fé, mas será perseguido e
não poderá escapar. Você terá que pagar com a vida por
sua antiga – atual – indiferença ou falta de decisão.

Está escrito: “Estes são os que vieram da grande tribulação”.


Trata-se de um período descrito na Escritura como de terror sem
igual. Daniel também o viu e disse: “Haverá um tempo de angústia
como nunca houve desde o início das nações até então” (Dn 12.1). O
Senhor Jesus também aponta para esse tempo que ainda vem:
“Porque haverá então grande tribulação, como nunca houve desde o
princípio do mundo até agora, nem jamais haverá” (Mt 24.21). No
entanto, justamente nessa tribulação maior, mais terrível e sem igual
surge o número provavelmente maior de vencedores. Isso lembra as
palavras: “Mas onde aumentou o pecado transbordou a graça” (Rm
5.20). Isso também vale para hoje, para você que é pecador! Deus
quer realizar sua grande graça com você. E também vale para você,
filho de Deus: se a sua tribulação é grande, a glória é tanto maior:
“Pois os nossos sofrimentos leves e momentâneos estão produzindo
para nós uma glória eterna que pesa mais do que todos eles. Assim,
fixamos os olhos, não naquilo que se vê, mas no que não se vê...”
(2Co 4.17-18). É o que está escrito também em João 16.33 e Atos
14.22.
O fato de agora ser usada a formulação “grande tribulação” prova
o que foi dito anteriormente: que João recebe aqui uma visão
antecipada, que mostra o que ocorrerá após o fim da grande
tribulação, pois, apesar de o povo de Deus ter que esperar
tribulações de maneira geral nesta era, a palavra tribulação, como
aqui, também é utilizada de maneira especial para o tempo futuro, ou
seja, para o tempo que Daniel e o próprio Senhor Jesus citaram. As
expressões “tribulação” e “grande tribulação” referem-se
especialmente à segunda parte dessa época. Não é, entretanto,
errado falar dos sete anos como grande tribulação, pois o próprio
Senhor Jesus fala que esse tempo será uma “grande tribulação” (cf.
Mt 24.21; Dn 12.1). Porém, considerando estritamente, a verdadeira
grande tribulação começa na segunda metade da 70ª semana de
anos. Os primeiros três anos e meio da tribulação são o tempo do
engano mundial através do Anticristo e, especialmente, do engano de
Israel, enquanto a terrível e especialmente grande tribulação
acontece na segunda metade dos sete anos. Da Escritura podemos
concluir que a tribulação começa com a assinatura da aliança entre
Israel e o Anticristo. Isso está por acontecer, e tudo se dará então
muito rapidamente. O templo estará então novamente em seu lugar
original (lá onde se encontra hoje o Domo da Rocha, a mesquita de
Omar), e o serviço judaico de sacrifícios estará em vigor (cf. Dn
9.27). Após três anos e meio haverá então um período de aflição
incomparável e terrível juízo atingindo toda a terra (cf. Ap 3.10).
Trata-se de uma época especial, o tempo de angústia para Jacó (Jr
30.7). Sobre os pormenores da grande tribulação falaremos
detalhadamente mais tarde, mas aqui temos algumas palavras-chave
sobre a última parte da 70ª semana de anos:

É o tempo do domínio cruel da besta que emerge do mar,


do Anticristo (13.1). No princípio dos últimos três anos e
meio ele romperá a aliança com os judeus, mostrando-se no
templo e exigindo veneração divina. É o que o Senhor Jesus
diz em Mateus 24.15, referindo-se a Daniel 9.26-27. Paulo
diz o mesmo em 2Tessalonicenses 2.4.
A interferência ativa de Satanás, que está cheio de fúria
(12.12) e dá seu poder à besta (13.4), é outra
característica terrível desta grande tribulação.
Nessa época os demônios desenvolverão uma atividade
nunca vista (cf. 9.2,11,20).
O tempo dos terríveis juízos causados pelo derramamento
das taças da ira de Deus (cap. 16).

Com isso, agora sabemos exatamente de onde ou de qual


situação vem a grande multidão. Chegamos então à pergunta: quem
são as pessoas dessa grande multidão? Trata-se de pessoas “de
todas as nações, tribos, povos e línguas”. Elas procedem de todos
os níveis da humanidade; há pretos, brancos, amarelos e vermelhos.
Trata-se em primeiro lugar das pessoas dos nossos países
civilizados e cristianizados, que ficaram para trás no arrebatamento
porque eram cristãs nominais. Elas desprezaram a advertência do
Senhor: “Assim, vocês também precisam estar preparados, porque o
Filho do homem virá numa hora em que vocês menos esperam” (Mt
24.44). Uma grande parte desses chamados cristãos será deixada
para trás, porque não deram importância à proximidade do
arrebatamento e não se prepararam – como no tempo de Noé. Do
tempo de Noé o Senhor Jesus diz de maneira breve e sucinta: “Pois
nos dias anteriores ao Dilúvio, o povo vivia comendo e bebendo,
casando-se e dando-se em casamento, até o dia em que Noé entrou
na arca; e eles nada perceberam, até que veio o Dilúvio...” (Mt
24.38-39). Então eles perceberam, mas era muito tarde. Será
exatamente assim no arrebatamento.
Muitos que hoje não dão importância a ele chegarão
posteriormente à fé viva em Jesus Cristo. Eles se arrependerão
decididamente e se converterão sob lágrimas. Com sua conversão,
porém, o chorar não para, pelo contrário. Se está escrito: “Nunca
mais terão fome, nunca mais terão sede” (7.16), então imaginamos o
que eles tiveram que passar quando se juntaram à multidão
incontável, pois durante a grande tribulação haverá muita fome e
sede na terra; tudo será destruído. Do versículo 16 conclui-se ainda
que eles terão que sofrer sob extremo calor, pois é prometido a eles
que essa aflição terá acabado na glória: “Não os afligirá o sol nem
qualquer calor abrasador”. Deus mesmo habitará sobre eles e será
sua proteção: “Por isso, eles estão diante do trono de Deus e o
servem dia e noite em seu santuário; e aquele que está assentado no
trono estenderá sobre eles o seu tabernáculo” (7.15). Portanto, ele
mesmo os protegerá. Disso concluímos tudo o que eles sofreram. O
horror dos que ficaram para trás deve ser terrível. Tomemos, por
exemplo, um casal: um cônjuge é crente no Senhor Jesus; o outro,
não. Agora acontece repentinamente o arrebatamento. Que
desespero tomará conta do incrédulo quando ele perceber: minha
mulher (ou meu marido) desapareceu. Então ele/ela ouve notícias de
desaparecimentos em todos os lugares e percebe que aconteceu
aquilo de que falava o cônjuge crente. Ali, então, já iniciam também
os juízos divinos; primeiro os sete selos, então as sete trombetas e
finalmente as sete taças da ira.
Nesta grande multidão não existem apenas muitos cristãos
nominais que se converteram posteriormente, mas sem dúvida
também muitos milhões do terceiro mundo, que ainda não conhecem
a mensagem do evangelho. Este é o motivo porque nós tentamos,
por exemplo, alcançar as massas com nossa literatura na América
do Sul. A maioria das pessoas aceita com prazer a literatura e
começa a ler os folhetos ainda na rua. Muitos possivelmente voltam
depois à rotina, sem se decidirem pelo Senhor. No entanto, quando
tiver chegado o dia da ira do Cordeiro e o Universo começar a ruir,
eles se recordarão e procurarão a Bíblia e tal literatura,
reconhecendo do que se trata. Em todo o mundo, pessoas de todas
as línguas e povos vão implorar por misericórdia e se converterão.
Hoje, porém, elas precisam ouvir o chamado alta e claramente:
“Arrependam-se, porque o Senhor está próximo”, quer seja através
de literatura, pelo rádio, em vídeos ou quaisquer que sejam as outras
oportunidades. Todavia, todas as pessoas que se converterem após
o arrebatamento não terão mais a oportunidade de se tornarem
membros do corpo de Cristo e de pertencerem à noiva do Cordeiro.
Como dissemos antes, elas não recebem coroa nem trono.
Muitos poderão discordar, dizendo: “Não é possível que, após o
arrebatamento, pessoas ainda poderão se converter, pois então o
Espírito Santo não estará mais na terra”. Que o Espírito Santo terá
então sido retirado da terra com a igreja está correto, mas a obra do
Espírito Santo permanece assim mesmo. Tomemos Rembrandt como
exemplo: Rembrandt há muito não está mais presente, mas suas
obras continuam vivendo. A obra do Espírito Santo consiste dele
vivificar a Palavra de Deus no coração dos homens. Quem ouviu o
evangelho, esse tem um aguilhão no coração. Poderíamos descrevê-
lo como uma bomba-relógio positiva, deflagrada pelo arrebatamento.
Os efeitos posteriores da Palavra de Deus produzirão milagres da
graça. Assim, muitos exclamarão: “Senhor Jesus, me aceita, pois
sou pecador!”. Ninguém será então rejeitado, porque o Senhor Jesus
disse: “... quem vier a mim eu jamais rejeitarei” (Jo 6.37).
Mesmo que o Espírito Santo tiver sido retirado da terra com a
igreja, ele continuará agindo em soberania divina, como agia também
antes do Gólgota e Pentecostes nos e através dos profetas (2Pe
1.20-21). A diferença consiste em que antes do Pentecostes
ninguém renascia pelo Espírito Santo. O Espírito não agia como
Espírito da filiação (Rm 8.16), mas ele participou, por exemplo, da
Criação: “... o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas”
(Gn 1.2). Nesse sentido, podemos ver os extraordinários efeitos
posteriores do Espírito Santo durante a grande tribulação, pois está
claro: se lemos no capítulo 7.14 que eles lavaram suas vestes no
sangue do Cordeiro, então o Espírito de Deus está agindo (1Jo 5.6).
Estes salvos não terão a experiência do renascimento como nós a
conhecemos – sendo que, conforme 1Coríntios 12.13, todos fomos
batizados, em um só Espírito, em um corpo –, mas, através de
arrependimento e conversão, serão salvos para a eternidade. Pelo
versículo 14 é provado que eles realmente se converteram: “...
lavaram as suas vestes e as alvejaram no sangue do Cordeiro”. Mais
uma coisa chama a atenção aqui: por que se fala duas vezes nas
vestes? Porque com essas pessoas aconteceram duas coisas.
Primeira: elas lavaram suas vestes, seu interior, no sangue do
Cordeiro; elas se arrependeram e se converteram. Segunda: elas
entregaram suas vestiduras, seus corpos, e tornaram-se um com
Jesus na morte dele. Após deixarem a sua vida, foi alcançado o
número de mártires pelo qual esperavam os mártires sob o altar, que
já tinham recebido uma veste de honra: “Então cada um deles
recebeu uma veste branca, e foi-lhes dito que esperassem um pouco
mais, até que se completasse o número dos seus conservos e
irmãos que deveriam ser mortos como eles” (6.11). O número de
mártires agora foi completado, e eles estão diante do trono e do
Cordeiro, louvando o Pai e o Filho. A Babilônia não pôde vencê-los. A
fonte de sua bem-aventurança é o Cordeiro, pois “o Cordeiro que
está no centro do trono será o seu Pastor; ele os guiará às fontes de
água viva” (v. 17).
O sofrimento deles será transformado em glória resplandecente
porque Deus mesmo “enxugará dos seus olhos toda lágrima”. O
Eterno enxugará de cada um, individualmente, as muitas lágrimas
que derramaram. Então a glória resplandecerá! Dia e noite eles
poderão estar então na sua casa para servi-lo (v. 15). Assim, se a
glória desses “restantes”, que tiveram que deixar a sua vida, será tão
grande, quão grande deve ser então a glória dos arrebatados antes
da grande tribulação, da noiva do Cordeiro. Por isso é feita a
exortação: hoje, se você ouvir a voz dele, não endureça o seu
coração, mas dê ele a Jesus, pois “olho nenhum viu, ouvido nenhum
ouviu, mente nenhuma imaginou o que Deus preparou para aqueles
que o amam” (1Co 2.9).

O Sétimo Selo (Ap 8.1-5)


1Quando ele abriu o sétimo selo, houve silêncio nos céus cerca
de meia hora. 2Vi os sete anjos que se acham em pé diante de
Deus; a eles foram dadas sete trombetas. 3Outro anjo, que trazia
um incensário de ouro, aproximou-se e ficou em pé junto ao altar.
A ele foi dado muito incenso para oferecer com as orações de
todos os santos sobre o altar de ouro diante do trono. 4E da mão
do anjo subiu diante de Deus a fumaça do incenso com as
orações dos santos. 5Então o anjo pegou o incensário, encheu-o
com fogo do altar e lançou-o sobre a terra; e houve trovões,
vozes, relâmpagos e um terremoto.
O apóstolo João continua no céu, em espírito. Ele é testemunha
ocular do grande e singular acontecimento. O Cordeiro, que é o
único digno, abre os sete selos do livro, o que tem por consequência
o irromper dos juízos de Deus há muito retidos sobre a terra. O que
lemos aqui nesses versículos está prestes a acontecer, pois o
arrebatamento da igreja de Jesus da terra pode ocorrer a qualquer
momento. Tudo o que João vê inclui o prosseguimento desses juízos
de Deus em andamento. O livro que o Cordeiro tomou ainda está em
suas mãos. Seis selos já foram abertos, dos quais vimos as
consequências. Um selo – o sétimo – ainda está para ser aberto. As
consequências deste selo são as mais importantes, pois dele vem as
sete trombetas e, mais tarde, as setes taças da ira de Deus. No
Antigo Testamento temos um paralelo a isso. Os filhos de Israel
tiveram que dar uma volta por dia em torno de Jericó durantes seis
dias, e sete voltas no sétimo dia. Na sétima vez, os muros de Jericó
caíram (Js 6).
Os sofrimentos de Jó foram tão grandes que seus amigos ficaram
sentados e calados com ele durante sete dias. É sempre assim,
como se o Senhor Deus estendesse os juízos para dar aos homens
mais tempo para pensar. É o que se vê também com pessoas
individualmente. É muitíssimo admirável o quão grande é a paciência
de Deus. Ele pode dar décadas de prazo a uma pessoa para que se
arrependa. É o que diz Pedro em 2Pedro 3.9: “O Senhor não demora
em cumprir a sua promessa, como julgam alguns. Ao contrário, ele é
paciente com vocês, não querendo que ninguém pereça, mas que
todos cheguem ao arrependimento”. Será que não está relacionada
com isso a primeira e principal consequência da abertura do sétimo
selo? Acontece que no versículo 1 está escrito: “Quando ele abriu o
sétimo selo, houve silêncio nos céus cerca de meia hora”. Não é dito
meia hora, mas cerca de meia hora. A tradução holandesa diz
omtrent; a inglesa, for about. Isso significa um pouco mais ou um
pouco menos do que meia hora. Esta vaga informação tem, até onde
posso compreendê-la, dois motivos: 1) na eternidade no céu, não se
conta com normas de tempo. Lá o tempo passou e tudo é eterno
presente. Lá está ele, o que era, o que é e o que há de vir; 2) por ter
sido indicado um tempo terreno, também podemos calculá-lo de
forma terrena. A grande tribulação dura sete anos e corresponde à
70ª semana de anos de Daniel. Uma semana de anos tem sete anos;
essa 70ª semana corresponde aos sete anos da tribulação. Meia
hora é 1/48 de um dia, ou, nesse caso, de um ano. Um ano bíblico é
contado como um ano lunar de 360 dias. Assim, chegamos a sete
dias e meio.
No sétimo selo Deus dá, portanto, mais sete dias de prazo e,
além disso, em sua longanimidade, mais meio dia. Também foi assim
com Noé. Quando Noé tinha construído a arca exatamente de acordo
com as instruções do Senhor, os animais tinham entrado e ele
mesmo com sua família estava dentro dela, o Senhor Deus lhe disse:
“Daqui a sete dias farei chover sobre a terra...” (Gn 7.4). Deus deu
mais uma vez um prazo além daquele já estabelecido. Ele queria e
quer que todos cheguem ao arrependimento. A abertura do sétimo
selo tem consequências terríveis, mas primeiro há, como vemos,
cerca de meia hora de silêncio. É esclarecedor: quando foi aberto o
primeiro selo, uma poderosa voz disse “Venha!”. É possível traduzir
também como “Adiante!”. O mesmo ocorre no segundo, terceiro e
quarto selos (6.1-7). No quinto selo ouvia-se o grande clamor das
almas dos mártires (6-9-10). A abertura do sexto selo causou um
enorme abalo no céu e na terra, e terror e espanto tomaram conta
dos homens. Na abertura do sétimo selo, porém, não se ouve
nenhuma voz, não se percebe nenhum movimento; pelo contrário, há
uma intenção que causa reverência: “... houve silêncio nos céus
cerca de meia hora”. Todo o céu está quieto; o grandioso louvor de
todas as potestades de anjos, dos vinte e quatro anciãos e dos
seres viventes em honra a Deus e ao Cordeiro silenciou. No entanto,
justamente esse silêncio já causou muito alvoroço aqui na terra,
principalmente na interpretação do Apocalipse. Em parte, isso
acontece porque não se quer ver que os acontecimentos na visão de
João acontecem em ordem cronológica.
Com os cento e quarenta e quatro mil de Israel, que foram
selados, também houve uma pausa no juízo; entretanto, sem
indicação de tempo: “Não danifiquem nem a terra, nem o mar, nem
as árvores, até que selemos as testas dos servos do nosso Deus”
(7.3). Com os cento e quarenta e quatro mil é indicado o objetivo da
interrupção do juízo (a selagem); aqui, não. Porém, neste silêncio de
aproximadamente meia hora Deus fala mais perceptivelmente. Deus
sempre fala mais alto quando há silêncio em nós. Pensemos nas
palavras: “Aquietai-vos e sabei que eu sou Deus” (Sl 46.10 RA), ou:
“Calem-se diante de mim, ó ilhas!” (Is 41.1). No momento em que o
Filho de Deus, durante sua vida terrena, ficou bem silencioso, ele
falou mais alto e insistentemente da grande misericórdia de Deus:
“Ele foi oprimido e afligido; e, contudo, não abriu a sua boca; como
um cordeiro, foi levado para o matadouro; e, como uma ovelha que
diante de seus tosquiadores fica calada, ele não abriu a sua boca”
(Is 53.7). Esse silêncio de aproximadamente meia hora em meio ao
juízo não é uma revelação do caráter do Cordeiro? Não se trata de
uma profunda revelação do íntimo do Deus Triúno? Apesar desses
juízos, ele não está no terremoto, nem no vento, nem no fogo, mas
em um profundo silêncio. Ele não está no juízo em si; não, ele está
no silêncio da graça.
Pensemos em um acontecimento no Antigo Testamento. Elias, o
servo de Deus, estava desanimado e fugindo de Jezabel. Quando o
Senhor o encontrou, lemos: “O S lhe disse: ‘Saia e fique no
monte, na presença do S , pois o S vai passar’. Então
veio um vento fortíssimo que separou os montes e esmigalhou as
rochas diante do S , mas o S não estava no vento.
Depois do vento houve um terremoto, mas o S não estava no
terremoto. Depois do terremoto houve um fogo, mas o S não
estava nele. E depois do fogo houve o murmúrio de uma brisa suave.
Quando Elias ouviu, puxou a capa para cobrir o rosto, saiu e ficou à
entrada da caverna. E uma voz lhe perguntou: ‘O que você está
fazendo aqui, Elias?’” (1Rs 19.11-13).
Constatamos, portanto, com sagrada reverência, que aqui nessa
meia hora, na abertura do sétimo selo, o Senhor revela o íntimo do
seu caráter. Essa cena de meia hora de silêncio no céu – trata-se de
um silêncio solene – não deve ser entendida figuradamente, mas
literalmente. Trata-se de um fato histórico que está por acontecer.
Essa pausa divina atinge todos os seres viventes, todos os anjos e
bem-aventurados no céu.
O centro nesse silêncio é o trono de Deus e do Cordeiro. Os sete
dias e meio de silêncio parecem indizivelmente longos. Em Israel,
quando aqueles que tombaram na guerra são lembrados – e tal dia
memorial é comemorado todos os anos –, às onze horas da manhã
soa a sirene e segue-se um minuto de silêncio. Tudo para, inclusive o
trânsito. Os motoristas descem dos automóveis e ficam em pé sem
se moverem. Esse minuto de silêncio sempre parece durar muito. Na
Escritura nada se diz do efeito sobre a terra deste período de
silêncio de meia hora, de modo que no versículo 2 olhamos
novamente para o céu: “Vi os sete anjos que se acham em pé diante
de Deus; a eles foram dadas sete trombetas”. Se está dito dos
anjos: “... que se acham em pé diante de Deus”, então significa que
eles estão continuamente diante da face de Deus. Trata-se dos
arcanjos, os mais elevados seres criados. Temos aqui uma visão da
hierarquia do céu. Daniel já falou de príncipes angelicais. Miguel é
descrito como um dos primeiros príncipes angelicais, que defende
Israel (Dn 10.13; 12.1). Gabriel também é um príncipe angelical, que
está diante de Deus, pois, quando anuncia o nascimento do Senhor a
Maria, ele diz: “Sou Gabriel, o que está sempre na presença de
Deus” (Lc 1.19).
Os sete anjos que se acham diante de Deus, como seus servos
diretos, têm poder inimaginável. Isso já se conclui do Antigo
Testamento, visto que sempre aconteceram coisas grandiosas
quando anjos agiram por ordem de Deus, como por exemplo em
2Reis 19.35, onde se lê: “Naquela noite o anjo do S saiu e
matou cento e oitenta e cinco mil homens no acampamento assírio.
Quando o povo se levantou na manhã seguinte, o lugar estava
repleto de cadáveres!”. Aliás, anjos agiram frequentemente na
história de Israel como mensageiros de Deus (Sl 103.20-21).
Os príncipes angelicais encontram-se no mesmo nível que a bela
estrela da manhã estava antes de cair e se transformar em Satanás
(Is 14.12), pois, mais tarde, Miguel lutou contra Satanás (Jd 9).
Servos de Deus, quer sejam anjos ou homens, que se encontram
ininterruptamente na presença de Deus têm grandes tarefas e são
seus servos com maior autoridade. O profeta Elias era um servo
assim, podendo dizer a Acabe: “Tão certo como vive o S ,
Deus de Israel, perante cuja face estou...” (1Rs 17.1 RA). Estar
diante de Deus era a sua força. Quantas coisas o Senhor já poderia
ter confiado e feito através de você se você tivesse permanecido
continuamente na presença dele! Isso, porém, exige completa
aceitação da luz que a tudo penetra, e aí as trevas não podem
resistir; não pode restar mais nenhum pecado.
Aos sete arcanjos “foram dadas sete trombetas” (v. 2). A Bíblia
cita muitas trombetas. Essas aqui não são somente trombetas de
guerra como em Jericó, onde os sacerdotes as tocaram; não se
trata simplesmente de trombetas que eram tocadas em festas,
principalmente na “reunião sagrada, celebrada com toques de
trombeta” (Lv 23). Também não se trata das trombetas para reunir o
povo que foram ouvidas quando foi dada a lei no Sinai, e também
não simples trombetas com que se proclamava um novo rei e sua
posse, ou a construção do templo. Todas essas trombetas eram
modelos, indicações proféticas das trombetas celestiais, cuja
plenitude divina vemos aqui: sete trombetas que procedem do sétimo
selo. Encontramo-nos aqui na época do “dia do Senhor” que, como
citamos, não tem vinte e quatro horas, mas abrange um período de
juízos de sete anos. Em Sofonias 1.16 ele é também chamado de
“dia de toques de trombeta”. Deve-se observar que no capítulo 8 não
temos somente profecia para o futuro, mas também profecia já
cumprida no passado, pois, quando foi dada a lei no Sinai, ouviu-se o
som de uma trombeta muito forte. Deus mesmo desceu em fogo, e
em Êxodo 19.18 está escrito que todo o monte estava coberto de
fumaça e tremia violentamente. Aqui em Apocalipse, logo na primeira
trombeta, também cai fogo do céu: “O primeiro anjo tocou a sua
trombeta, e granizo e fogo misturado com sangue foram lançados
sobre a terra. Foi queimado um terço da terra, um terço das árvores
e toda a relva verde” (v. 7). Conforme Números 10.9 e 31.6, a
trombeta era tocada em caso de perigo de guerra. Com as sete
trombetas dos anjos toca-se para a guerra contra a besta, até que
aparece o Cordeiro e acaba com ela; até que a vitória de Jesus
esteja estabelecida em todo o mundo. Aqui, portanto, temos o
cumprimento do juízo final, que já foi representado em diferentes
trombetas.
Todavia, antes que esses sete poderosos anjos possam tocar
suas trombetas, aparece repentinamente “outro anjo”: “Outro anjo...
aproximou-se e ficou em pé junto ao altar” (v. 3). Ele realiza uma
tarefa extraordinariamente elevada, à qual, no Antigo Testamento,
somente o sumo sacerdote tinha direito. Até mesmo os anjos não
tinham direito de realizar tal ato. Observe como esse “outro anjo” se
apresenta em dignidade sumo-sacerdotal e fica de pé junto ao altar.
Na terra este altar de incenso se encontrava diretamente diante da
face de Deus; aqui ele está no céu. O que faz esse “outro anjo”? Ele
“trazia um incensário de ouro... A ele foi dado muito incenso para
oferecer com as orações de todos os santos sobre o altar de ouro
diante do trono” (v. 3). Esse outro anjo deve ser “outro” no
verdadeiro sentido da palavra! Já encontramos a expressão “outro
anjo” em Apocalipse 7.2: “Então vi outro anjo subindo do Oriente,
tendo o selo do Deus vivo”. Não pode ser outro do que Jesus Cristo!
“Mas para vocês que reverenciam o meu nome, o sol da justiça se
levantará...” (Ml 4.2). E aqui precisa ser o Sumo Sacerdote celestial,
que realiza a tarefa no altar de incenso de ouro!
Se na meia hora de silêncio nos céus vimos revelado o caráter
dele, olhamos agora a obra do seu Espírito através de todos os
santos, ou seja, a oração: “A ele foi dado muito incenso para
oferecer com as orações de todos os santos sobre o altar de ouro
diante do trono. E da mão do anjo subiu diante de Deus a fumaça do
incenso com as orações dos santos. Então o anjo pegou o
incensário, encheu-o com fogo do altar e lançou-o sobre a terra; e
houve trovões, vozes, relâmpagos e um terremoto” (v. 3-5). Essas
são todas as orações de todos os santos de todos os tempos, com
duplo efeito. 1) O efeito sobre Deus: aroma suave sobe à sua
presença. 2) O efeito sobre esta terra: juízos. A obra do Espírito
Santo na terra não é apenas para transfigurar Jesus a nós, mas
também para ele orar através de nós: “Da mesma forma o Espírito
nos ajuda em nossa fraqueza, pois não sabemos como orar, mas o
próprio Espírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis” (Rm
8.26).
Por “muito incenso” devemos entender incenso e mirra. No
entanto, o Filho de Deus não o recebeu para si mesmo, pois está
escrito: “... para oferecer com as orações de todos os santos sobre
o altar de ouro diante do trono”. Assim, deve-se entender que a
grande quantidade de incenso que lhe foi dada é o maravilhoso poder
do seu ministério mediador. Jesus Cristo junta o muito incenso que
recebeu do seu Pai com as orações dos santos e o fogo do altar.
Observe as palavras: “dado” e “oferecer”. Foi-lhe dado e ele
oferece. Esse é o seu princípio. Nós o encontramos também na
oração sumo sacerdotal: “Agora eles sabem que tudo o que me
deste vem de ti. Pois eu lhes transmiti as palavras que me deste, e
eles as aceitaram. Eles reconheceram de fato que vim de ti e creram
que me enviaste... Dei-lhes a glória que me deste” (Jo 17.7-8,22).
Encontramos o mesmo pensamento aqui no céu, mas de uma
maneira ainda muito mais abrangente. O poder mediador de Jesus
Cristo, junto com as orações dos santos, tem um maravilhoso duplo
significado da perspectiva dos inúmeros que oram: pela oração em
nome de Jesus dirigida ao Pai, eles dão a ele toda a confiança como
único Mediador entre Deus e eles. Com isso também honram a
Majestade mais elevada, que o considerou digno e o estabeleceu
como grande Sumo Sacerdote nessa função mais alta. Deus deu a
ele esse incenso; Jesus não o tomou para si mesmo, apesar de que
esse teria sido o seu direito – como fruto da sua obediência até à
morte, e morte de cruz. Cristo, porém, não honrou a si mesmo e não
se empossou na função de grande Sumo Sacerdote. Não, Deus
mesmo o fez: “Da mesma forma, Cristo não tomou para si a glória
de se tornar sumo sacerdote, mas Deus lhe disse: ‘Tu és meu Filho;
eu hoje te gerei’” (Hb 5.5).
O objetivo do muito incenso está claramente descrito em
Apocalipse, razão porque acentuamos mais uma vez: “... foi dado
muito incenso para oferecer com as orações de todos os santos...”.
Ele se une conosco; sim, ele garante toda oração na fé que sobe ao
Pai no precioso nome de Jesus! É o que o Senhor Jesus diz duas
vezes em João 14.13-14: “E eu farei o que vocês pedirem em meu
nome, para que o Pai seja glorificado no Filho. O que vocês pedirem
em meu nome, eu farei” (cf. tb. Jo 15.16; 16.23-24).
Por que esse sacrifício de orações – essa solenidade das
orações reunidas de todos os santos de todos os tempos –
oferecidas como incenso é realizado justamente antes do momento
em que serão tocadas as sete trombetas do juízo? Por que esse
acontecimento grandioso está incluído no sétimo selo, após os sete
dias e meio de silêncio? Já no capítulo 5.8 vemos que os vinte e
quatro anciãos, os representantes coroados da igreja arrebatada,
prostram-se diante do Cordeiro com taças de ouro cheias de
incenso. Isso foi no início dos sete selos: “Ao recebê-lo [o livro], os
quatro seres viventes e os vinte e quatro anciãos prostraram-se
diante do Cordeiro. Cada um deles tinha uma harpa e taças de ouro
cheias de incenso, que são as orações dos santos”. Então eles
cantam o cântico novo. Todavia, ainda não se fala de um atendimento
às orações.
Os próprios santos glorificados elevam suas orações diante do
Cordeiro – como um ato de adoração – na confiança de que o
Senhor está disposto a ouvi-las completamente. No capítulo 5 eles
esperam por uma resposta. Aqui, porém, no capítulo 8, é o próprio
Cristo, em forma de “outro anjo”, que as eleva. Ele, o grande Sumo
Sacerdote, leva as orações no incensário de ouro, penetra-as com o
aroma suave do seu próprio favor alcançado, santifica-as com o fogo
sagrado e oferece-as sobre o altar de ouro diante do trono do
Eterno! É como se Jesus Cristo agisse como fiador, dizendo a Deus,
seu Pai: “Ó Deus, agora é o momento de atender esta oração, que
consiste de todas as orações de todos os comprados pelo meu
sangue”. Agora chegou o dia do atendimento à oração que o Senhor
nos ensinou: “Venha o teu Reino; seja feita a tua vontade, assim na
terra como no céu”. Por isso, seja mais uma vez frisado aqui:
nenhuma oração dos santos em Jesus Cristo que tenha como motivo
a vinda do reino e a realização da vontade de Deus ficará perdida ou
esquecida.
Prove os motivos de suas orações! A sua intenção é que o Senhor
seja glorificado, que a vontade dele seja feita e que o seu reino seja
estabelecido? Ou você está sempre ocupado consigo mesmo em
suas orações? Você ora pela conversão de seus familiares para que
a sua vida seja mais fácil, ou se interessa para que o nome do
Senhor não continue sendo blasfemado pelo comportamento ímpio
deles? É do seu interesse que o nome dele seja louvado, seu reino
seja logo estabelecido e sua vontade seja feita na terra como no
céu? Tais orações são ouvidas!
Com que objetivo foram dadas as trombetas nas mãos dos sete
arcanjos? Por que esses seres poderosos são convocados a
derramarem suas pragas sobre a terra, e quais são as
consequências dos seus atos? Resposta: a revelação do poder e da
glória do reino, por cujo começo os santos até o arrebatamento
nunca deixaram de orar! “Venha o teu Reino; seja feita a tua vontade,
assim na terra como no céu.” Trata-se do estabelecimento do
domínio de Deus onde agora há impiedade, violência e pecado.
Vamos fazer essa oração até que sejamos arrebatados. Então a
levaremos ao Senhor, em taças de ouro, e ele a aceitará e unirá com
o incenso do seu ministério de Mediador. “Pois há um só Deus e um
só mediador entre Deus e os homens: o homem Cristo Jesus” (1Tm
2.5).
Então, se o sacrifício das orações ocorre justamente no momento
em que os sete anjos estão preparados para tocar as trombetas da
desgraça, é porque agora chegou o momento de lembrar as orações
que ainda precisam ser atendidas. No entanto, o fato de os sete
anjos com suas sete trombetas aparecerem primeiro para assistir ao
grandioso ato do “outro anjo”, o Sumo Sacerdote Jesus Cristo, com
as orações de todos os santos, prova a íntima relação entre o
atendimento das orações de todos os santos e as sete trombetas do
juízo. Veja: o Senhor, já na forma do “outro anjo”, dá o sinal da
abertura do dia da ira do Cordeiro: “Então o anjo pegou o incensário,
encheu-o com fogo do altar [fogo é juízo, ele consome] e lançou-o
sobre a terra; e houve trovões, vozes, relâmpagos e um terremoto”.
Na abertura do sexto selo, os homens pensarão que começaram os
últimos e piores dias. Os selos anteriores – os quatro cavaleiros –
foram e são somente mensageiros de coisas ainda muito maiores e
terríveis.
Devemos lembrar que nós, como igreja de Jesus que ora: “Venha
o teu Reino; seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu”,
somos o fator que dá início a esses juízos. Também aí vemos a
ilimitada e maravilhosa força da oração: o Filho de Deus é tocado
por ela, a Majestade movimenta-se sobre o seu trono; os anjos mais
elevados são comovidos; o mais terrível espetáculo do dia do juízo é
produzido através dela; os poderes do céu são movimentados e a
terra é dilacerada! Verdadeiramente somos cooperadores de Deus
(1Co 3.9). Nossa maior tarefa é orar para trazer o reino de Deus.
Com isso, no entanto, oramos também pela vinda do juízo. Pois
enquanto os crescentes juízos acontecem como resposta às orações
de todos os santos, nisso está incluída também a seguinte
advertência: em todos os lugares onde não há oração sincera, temor
de Deus e santificação, também não haverá bem-aventurança.
Do mesmo modo conclui-se que todo aquele que não anseia e
espera orando pela breve volta de Jesus, no final deste prazo de
graça não pertencerá àqueles santos glorificados, cujas orações
serão então atendidas tão poderosamente, mas àqueles contra
quem esses terríveis juízos são dirigidos, pois “se alguém não tem o
Espírito de Cristo, não pertence a Cristo” (Rm 8.9). Ó terra, terra,
terra! Ouve a Palavra do Senhor! Depois do arrebatamento tudo isso
acontecerá com muita certeza e muito rapidamente.
9
As Trombetas de Juízo
(Ap 8.6–9.21)

Introdução (Ap 8.6)


6Então os sete anjos, que tinham as sete trombetas, prepararam-
se para tocá-las.

A
qui a cronologia está muito clara. Agora passou o prazo de
graça de aproximadamente meia hora (8.1), e os juízos
iniciados com a abertura do sétimo selo afastam do caminho
os empecilhos para a fundação do reino de Deus sobre a terra. O
terror e horror que as sete trombetas de juízo trazem (8–11) são
grandiosos anúncios de que o Rei dos reis vai assumir o trono. Não é
por acaso que aqui se fala de trombetas, pois, no Antigo
Testamento, a posse de um novo rei era anunciada com som de
trombetas. Assim, por exemplo, foi a de Salomão em 1Reis 1.34: “Ali
o sacerdote Zadoque e o profeta Natã o ungirão rei sobre Israel.
Nesse momento toquem a trombeta e gritem: Viva o rei Salomão!”.
Então está escrito mais uma vez no mesmo capítulo, no versículo 39:
“O sacerdote Zadoque pegou na Tenda o chifre com óleo e ungiu
Salomão. A seguir tocaram a trombeta e todo o povo gritou: ‘Viva o
rei Salomão!’”. Mais tarde observamos o mesmo com o jovem rei
Joás: “Olhou, e eis que o rei estava junto à coluna, segundo o
costume, e os capitães e os tocadores de trombetas, junto ao rei, e
todo o povo da terra se alegrava, e se tocavam trombetas” (2Rs
11.14 RA). Com esse som Joás foi proclamado rei.
Aqui em Apocalipse são tocadas as trombetas de juízo e
realizados juízos sobre um mundo maduro para isso, a fim de que o
Rei da glória, o Rei dos reis, Jesus Cristo, possa chegar.
Para que não se perca a visão geral dos acontecimentos: nos
capítulos 6 até 8.1 de Apocalipse lemos sobre os sete selos que são
abertos; nos capítulos 8.2 até 9.21 e 11.15-19 lemos das sete
trombetas de juízo; e nos capítulos 15 e 16 temos as sete taças da
ira. Com essas taças da ira, é tirado, figuradamente, o último chão
debaixo dos pés do Anticristo e do seu exército, porque o Senhor
está começando a assumir o reinado (17).
Chama a atenção que, nessas três ondas de sete juízos, as
catástrofes aumentaram de intensidade: na abertura dos selos, que
somente o Cordeiro é digno de abrir, um quarto da terra é atingido:
“Olhei, e diante de mim estava um cavalo amarelo. Seu cavaleiro
chamava-se Morte, e o Hades o seguia de perto. Foi-lhes dado
poder sobre um quarto da terra para matar pela espada, pela fome,
por pragas e por meio dos animais selvagens da terra” (6.8).
Quando são tocadas as trombetas, é a terça parte: “O primeiro anjo
tocou a sua trombeta, e granizo e fogo misturado com sangue foram
lançados sobre a terra. Foi queimado um terço da terra, um terço
das árvores e toda a relva verde. Morreu um terço das criaturas do
mar e foi destruído um terço das embarcações. O nome da estrela é
Absinto. Tornou-se amargo um terço das águas, e muitos morreram
pela ação das águas que se tornaram amargas... e foi ferido um
terço do sol, um terço da lua e um terço das estrelas, de forma que
um terço deles escureceu. Um terço do dia ficou sem luz, e também
um terço da noite” (8.7,9,11,12). A mesma coisa encontramos
também no capítulo 9.18: “Um terço da humanidade foi morto pelas
três pragas...”.
No derramamento das taças da ira, todo o mundo é afetado: “O
segundo anjo derramou a sua taça no mar, e este se transformou em
sangue como de um morto, e morreu toda criatura que vivia no mar”
(16.3). Para que vejamos claramente o aumento gradativo dos
juízos, analisemos também o versículo 14 do capítulo 16: “São
espíritos de demônios que realizam sinais milagrosos; eles vão aos
reis de todo o mundo, a fim de reuni-los para a batalha do grande dia
do Deus todo-poderoso”. Tudo isso experimentarão aqueles que
então ainda estiverem na terra. Por esse motivo é dito no capítulo
12.12: “Portanto, celebrem-no, ó céus, e os que neles habitam! Mas
ai da terra e do mar...”.
Não é somente a intensidade dos juízos que aumenta, mas
também o endurecimento dos homens. Na abertura do sexto selo
eles ainda exclamam apavorados: “... escondam-nos da face daquele
que está assentado no trono e da ira do Cordeiro!” (6.16). Por
ocasião da sexta trombeta, porém, está escrito: “O restante da
humanidade que não morreu por essas pragas nem assim se
arrependeu...” (9.20). Na sétima taça da ira é ainda muito pior: “Eles
blasfemaram contra Deus por causa do granizo, pois a praga fora
terrível” (16.21b). O angustiante é que tais acontecimentos lançam
suas sombras adiante de si, pois, em nossos dias, vemos
exatamente o mesmo desenvolvimento descendente, tanto no mundo
como na igreja de Jesus. Obstinação e endurecimento aumentam;
fica-se imune contra a mensagem do evangelho. Também foi assim
na história de Israel. No início ainda é dito que o povo chorou porque
tinha pecado, mas já no tempo de Jeremias ouvimos o Senhor
lamentar reiteradamente através de seus profetas: “Meu povo não
me ouve, ele não quer voltar para mim!”. No último dos profetas
menores, em Malaquias 3.7, acrescenta-se ainda uma réplica
atrevida: “... Como voltaremos?”.
Já vimos que os sete juízos das trombetas procedem do sétimo
selo e também que as sete trombetas do juízo têm seu ponto de
partida nas orações dos santos (8.4-5). Isso confirma que agora o
reino vai iniciar.
“Então os sete anjos, que tinham as sete trombetas, prepararam-
se para tocá-las” (8.6). Esse texto diz muita coisa. Em primeiro lugar,
sobre a atividade dos anjos com relação a assuntos que se referem
aos povos. Conforme Hebreus 1.14, os anjos são enviados como
espíritos ministradores a favor dos que hão de herdar a salvação.
Deus e o Cordeiro entregam aos sete arcanjos a execução do juízo.
Esses “prepararam-se” para o que precisam realizar. Aqui é utilizada
a palavra grega etoimazoo, que não significa somente “preparar-se”,
mas também indica que decisões anteriormente tomadas devem ser
realizadas. Todavia, ela também pode indicar o “estabelecimento de
determinações antes que elas entrem em vigor”. Através disso
vemos como os sete arcanjos agem com autoridade. Em linguagem
moderna, diríamos: esses anjos de juízo receberam amplas
atribuições.

A Primeira Trombeta de Juízo (Ap 8.7)


7O primeiro anjo tocou a sua trombeta, e granizo e fogo misturado
com sangue foram lançados sobre a terra. Foi queimado um terço
da terra, um terço das árvores e toda a relva verde.
É importante que também neste caso entendamos o Apocalipse
literalmente. Observe que é dito reiteradamente “a terça parte”.
Deus dá o juízo exatamente sob medida! Por que Deus manda aqui
uma terça parte do juízo? Não será porque então o mundo rejeita
completamente a terceira pessoa da Trindade, o Espírito Santo? O
Espírito Santo, o Consolador, tinha a tarefa de convencer o mundo
do pecado (Jo 16.8), mas sua mensagem sobre pecado, justiça e
juízo amargurou o mundo. Este rejeitou a glorificação do Cordeiro.
Vivemos hoje em um tempo que se assemelha ao tempo de Noé. O
Senhor teve que lamentar na época e precisa lamentar hoje: “O meu
Espírito não agirá para sempre no homem...” (Gn 6.3 RA).
O que é tão terrível aqui nesse primeiro juízo das trombetas?
Primeiro os elementos de juízo combinados e seus resultados
devastadores: granizo e fogo misturado com sangue são jogados
sobre a terra. Trata-se de relacionamentos proféticos extremamente
esclarecedores. Por um lado, temos aqui o cumprimento de Joel
2.30: “Mostrarei maravilhas no céu e na terra: sangue, fogo e nuvens
de fumaça”. Por outro lado, temos também o cumprimento mundial
de um juízo que foi realizado há milênios sobre uma nação: “Quando
Moisés estendeu a vara para o céu, o S fez vir trovões e
granizo, e raios caíram sobre a terra. Assim o S fez chover
granizo sobre a terra do Egito” (Êx 9.23). Essa foi a sétima praga
que atingiu o Egito. No versículo 26 do mesmo capítulo está escrito:
“Somente na terra de Gósen, onde estavam os israelitas, não caiu
granizo”. O Egito foi julgado por causa de Israel, enquanto Israel
mesmo era preservado do juízo.
Lembremos que as pragas que atingiram os egípcios, inclusive a
sétima, eram pragas reais. Assim, tão reais – e não simbólicos –
serão também os juízos anunciados no Apocalipse. Deixe-me
sublinhar mais uma vez: naquela época as pragas atingiram o Egito
por causa de Israel, e por causa de Israel – que então, durante a
grande tribulação, será tão duramente afligido – esse primeiro juízo
das trombetas será derramado sobre a terra.
Olhemos mais uma vez para as substâncias deste primeiro juízo
das trombetas: granizo e fogo misturado com sangue. Não é esse o
futuro juízo sobre todos os inimigos da cruz? Não bebeu a terra o
sangue do Filho de Deus? Não foi por causa do pecado de todos nós
que ele passou pelo fogo do juízo? “... Deus em Cristo estava
reconciliando consigo o mundo” (2Co 5.19). Imaginamos algo da ira
do Cordeiro diante de um mundo que desprezou e zombou da sua
grandiosa obra de redenção? Naquela época Israel gritou: “Que o
sangue dele caia sobre nós e sobre nossos filhos!” (Mt 27.25). A
consequência foi a rejeição dele. O mesmo acontecerá então
mundialmente: o precioso sangue de Jesus, que foi derramado na
cruz do Gólgota para a salvação e redenção dos homens, mas que
também foi rejeitado e desprezado, volta então em forma de juízo
sobre um mundo maduro para o mesmo.
Os resultados desse primeiro juízo de trombetas serão terríveis.
Enquanto os quatro anjos do juízo ainda eram retidos sob o sexto
selo (7.2-3) por causa da selagem dos cento e quarenta e quatro mil
de Israel, e ainda não podiam soltar seus juízos, agora foi revogada
a ordem de esperar. Os juízos começam! Gelo (granizo), fogo e vida
– três elementos opostos. Eles causam grande destruição: a terça
parte da terra é queimada (v. 7). Uma terça parte da terra, uma
terça parte das árvores e toda a relva verde queimam. Muitos
comentaristas, provavelmente a maioria, recusam aceitar literalmente
esses juízos anunciados. Assim, neste caso então eles deveriam
explicar o que se deve entender por terra. Se “terra” no Apocalipse
não significa literalmente a terra, o que significa então? No entanto,
se com “terra” realmente se faz referência à terra, então também as
árvores realmente são árvores e a relva realmente é relva!
Consequentemente também os juízos devem ser considerados
literalmente. Se certos comentaristas consideram essas afirmações
sobre os juízos como simbólicas, e seguirmos tais comentários,
então isso contradiz não somente o nome do livro de Apocalipse,
pois “apocalipse” também significa “retirada do véu para revelação”,
mas também ao seu conteúdo. Já foi retirado o véu dos seus olhos?
Há tantas pessoas cristãs que não conhecemnota 5 Cristo; e é
justamente o cristianismo sem Cristo, o anticristianismo, que
provocará esses juízos.
Devemos observar claramente que os quatro primeiros juízos das
trombetas estão necessariamente relacionados, assim como também
os primeiros quatro selos abertos. O primeiro juízo das trombetas
atinge a terra, o segundo o mar (v. 8), o terceiro atinge as fontes de
águas (v. 10-11) e o quarto atinge as estrelas, o Universo (v. 12-13).
Lembremos que tudo é julgado...
... por causa daquele que está no céu e foi rejeitado na terra;
... por causa do povo que então estará na terra e será perseguido
até o sangue pelas nações: Israel;
... por causa dos muitos mártires, que deixarão sua vida por causa
do nome de Jesus.

A Segunda Trombeta de Juízo (Ap 8.8-9)


8O segundo anjo tocou a sua trombeta, e algo como um grande
monte em chamas foi lançado ao mar. Um terço do mar
transformou-se em sangue, 9morreu um terço das criaturas do
mar e foi destruído um terço das embarcações.
Se, por um lado, rejeitamos qualquer explicação simbólica do
Apocalipse, por outro lado existem símbolos e expressões figuradas,
como é o caso também em outros livros da Escritura Sagrada. Mas
então isso é indicado ou dito, como no caso do segundo juízo das
trombetas. Ali não é dito que um grande monte ardendo em chamas
foi atirado ao mar, mas muito claramente “algo como um grande
monte em chamas foi lançado ao mar”.
É natural que existam muitas conjecturas sobre esta passagem.
Alguns acham que se trata de um vulcão. Mesmo sendo algo
razoável, não pode ser isso, pois um vulcão é uma montanha que
expele fogo. João, no entanto, descreve assim: “... algo como um
grande monte em chamas”. Quando o Senhor desceu no Sinai, lemos
em Deuteronômio 4.11: “O monte ardia em chamas que subiam até o
céu, e estava envolvido por uma nuvem escura e densa”. Todavia,
também neste caso não temos motivo para achar que o Sinai era um
vulcão. O sentido das palavras de João não podia ser compreendido
por comentaristas antigos. A maioria pensava certamente em um
meteoro em chamas que cairia no mar. Tal explicação também não
podia ser desprezada, mas nós vivemos na última hora e vemos hoje
que os anjos do juízo já se preparam. O sinal sem igual dos tempos
finais – Israel – é visível: “Quando começarem a acontecer estas
coisas, levantem-se e ergam a cabeça, porque estará próxima a
redenção de vocês”, está escrito em Lucas 21.28.
Pensemos na atual situação política do mundo! O dilema em que
se encontram os povos é enorme. Vemos os acontecimentos
apocalípticos em preparação. Uma indicação: bombas atômicas. No
entanto, como uma terça parte do mar se transforma em sangue
através da enorme bola de fogo pertence aos sinais de juízo de Deus
que não são explicados. No final das contas, também não interessa
como isso acontecerá, mas que acontecerá! Quem duvida deve ler
mais uma vez Êxodo 7.20-21, onde a primeira praga sobre o Egito
se realizou de maneira semelhante: “Moisés e Arão fizeram como o
S tinha ordenado. Arão levantou a vara e feriu as águas do
Nilo na presença do faraó e dos seus conselheiros; e toda a água do
rio transformou-se em sangue. Os peixes morreram, e o rio cheirava
tão mal que os egípcios não conseguiam beber das suas águas.
Havia sangue por toda a terra do Egito”.
É interessante que isso também é indicado em vários outros
lugares, como por exemplo no Salmo 105.29: “Ele transformou as
águas deles em sangue, causando a morte dos seus peixes”. Ou no
Salmo 78.44: “Quando transformou os rios e os riachos dos egípcios
em sangue, e não mais conseguiam beber das suas águas”. Isso
mostra que o Senhor não depende de meteoros nem bombas
atômicas como instrumentos de juízo, mas está no seu poder a
opção de utilizá-los. Por isso é aconselhável manter discrição. Não
se deve sempre querer explicar tudo em detalhes; porém, de
qualquer maneira vemos quão chocantemente sérios serão esses
juízos. E é como se o Senhor do mundo indicasse hoje o que está
por acontecer.
A massa em chamas citada no segundo juízo das trombetas é
lançada ao mar. Em qual mar? No meu entendimento, não se pode
estar falando de outro mar que não seja o mar Mediterrâneo, em
cujas margens aconteceram e acontecerão tantas coisas do plano de
salvação, pois às margens do mar Mediterrâneo acontecerá também
a luta final dos povos. Com certeza, porém, todos os mares do
mundo serão afetados por esse terrível juízo das trombetas. O mar
Mediterrâneo é como o ponto central da terra. Vejamos isso
conforme o plano de salvação: Jerusalém é chamada de centro da
terra (Ez 5.5) e lá o Senhor realizou, no Gólgota, o ato central: “...
Deus em Cristo estava reconciliando consigo o mundo” (2Co 5.19).
Do Gólgota partiram e partem os efeitos mundiais e universais.
Deve-se lembrar o que significará a queda das massas incendiadas
no mar. Concretamente: temos sete mares e três oceanos. Uma
terça parte do mar transforma-se em sangue, isto é, mais do que um
oceano inteiro. Hoje já se fala e escreve muito sobre a poluição dos
mares e suas consequências, mas a grande mortandade de peixes
realmente começará ali: um terço dos peixes morrerá. Ao mesmo
tempo também enormes, funestas e inimagináveis ondas afundarão,
queimarão ou destroçarão um terço de todas as embarcações nas
costas marítimas. Esse terrível período durante a grande tribulação
pertence ao “dia do S ”, que será após o arrebatamento. É
incompreensível que se dá tão pouca atenção a esse dia, apesar da
Bíblia falar tanto dele. Isaías diz deste terrível dia:
“O S dos Exércitos tem um dia reservado para todos os
orgulhosos e altivos, para tudo o que é exaltado, para que eles
sejam humilhados; para todos os cedros do Líbano, altos e altivos, e
todos os carvalhos de Basã; para todos os montes elevados e todas
as colinas altas; para toda torre imponente e todo muro fortificado;
para todo navio mercante e todo barco de luxo. A arrogância dos
homens será abatida, e o seu orgulho será humilhado. Somente o
S será exaltado naquele dia, e os ídolos desaparecerão por
completo. Os homens fugirão para as cavernas das rochas e para os
buracos da terra por causa do terror que vem do S e do
esplendor da sua majestade quando ele se levantar para sacudir a
terra. Naquele dia, os homens atirarão aos ratos e aos morcegos os
ídolos de prata e os ídolos de ouro que fizeram para adorar. Fugirão
para as cavernas das rochas e para as brechas dos penhascos, por
causa do terror que vem do S e do esplendor da sua
majestade, quando ele se levantar para sacudir a terra” (Is 2.12-21).

A Terceira Trombeta de Juízo (Ap 8.10-11)


10O terceiro anjo tocou a sua trombeta, e caiu do céu uma grande
estrela, queimando como tocha, sobre um terço dos rios e das
fontes de águas; 11o nome da estrela é Absinto. Tornou-se amargo
um terço das águas, e muitos morreram pela ação das águas que
se tornaram amargas.
Aqui são necessárias algumas observações preliminares sobre os
efeitos da terceira trombeta. As águas amargas do tempo do Antigo
Testamento têm seu equivalente mundial nos tempos finais. Naquela
época, durante os primeiros três dias da peregrinação pelo deserto,
Israel não tinha água e, quando finalmente a encontraram, ela era
amarga: “Então chegaram a Mara, mas não puderam beber das
águas de lá porque eram amargas” (Êx 15.23). Nos tempos finais cai
do céu uma grande estrela, queimando como tocha, e novamente o
número três chama a atenção: ela cai sobre a terça parte dos rios e
sobre as fontes das águas, que são envenenados, pois lemos
adiante: “... e muitos morreram pela ação das águas que se
tornaram amargas”.
Se a Bíblia fala aqui de uma grande estrela, então ela realmente
deve ser muito grande. Alguns comentaristas dizem que essa estrela
seria um anjo. Eles baseiam-se no capítulo 1.20, onde se lê: “... as
sete estrelas são os anjos das sete igrejas”. Todavia, justamente
esta afirmação da Escritura prova o contrário, pois nela o próprio
Senhor diz que as sete estrelas são os sete anjos das sete igrejas.
No terceiro juízo das trombetas, porém, não está escrito nada
semelhante. Além disso, essa grande estrela chama-se “Absinto”,
sendo, portanto, amarga. Ela cai do céu espalhando o seu veneno
pelos rios e pelas fontes. Absinto é o amargo dos amargos. Ele foi
oferecido ao nosso abençoado Senhor antes que fosse crucificado:
“E lhe deram para beber vinho misturado com fel; mas ele, depois de
prová-lo, recusou-se a beber” (Mt 27.34). “Vinho misturado com fel”
também é traduzido por absinto. Assim, essa grande estrela não
precisa consistir de matéria compacta, mas será como um
gigantesco meteoro ou cometa que passa pela terra e sem dúvida
cai sobre montanhas e derrama seu veneno sobre um terço de todas
as geleiras – que são as fontes das águas – tornando intragável um
terço de todos os rios. Dentro de certos limites, também nesse caso
é retirado dos homens, através de uma catástrofe cósmica, aquilo
que eles mais necessitam: água.
Por causa da sua arrogância, caiu a antes bela estrela da manhã,
arrastando a maravilhosa criação de Deus consigo para a ruína.
Resultado: “Era a terra sem forma e vazia...” (Gn 1.2). No entanto,
Deus, o Senhor, enviou Jesus, e seu sangue desfaz o pior mal.
Durante o terrível dia do Senhor, que se encontra diante de nós,
muitos inimigos da cruz sobre a terra terão que beber da água
amarga e venenosa. Por quê? Porque eles rejeitaram a água da
vida. O Senhor Jesus exclamou: “Se alguém tem sede, venha a mim
e beba” (Jo 7.37). Ele ainda diz, em João 4.14: “Mas quem beber da
água que eu lhe der nunca mais terá sede. Ao contrário, a água que
eu lhe der se tornará nele uma fonte de água a jorrar para a vida
eterna”.

A Quarta Trombeta de Juízo (Ap 8.12)


12O quarto anjo tocou a sua trombeta, e foi ferido um terço do sol,
um terço da lua e um terço das estrelas, de forma que um terço
deles escureceu. Um terço do dia ficou sem luz, e também um
terço da noite.
Já sabemos que nos tempos finais haverá acontecimentos cósmicos
inconcebíveis. O Senhor Jesus mesmo os anunciou: “Haverá sinais
no sol, na lua e nas estrelas. Na terra, as nações estarão em
angústia e perplexidade com o bramido e a agitação do mar. Os
homens desmaiarão de terror, apreensivos com o que estará
sobrevindo ao mundo; e os poderes celestes serão abalados” (Lc
21.25-26). Também os profetas os predisseram: “Vejam! O dia do
S está perto, dia cruel, de ira e grande furor, para devastar a
terra e destruir os seus pecadores. As estrelas do céu e as suas
constelações não mostrarão a sua luz. O sol nascente escurecerá, e
a lua não fará brilhar a sua luz” (Is 13.9-10). Isso é justamente o que
nos é mostrado aqui no quarto juízo das trombetas.
Ezequiel também os viu: “Quando eu o extinguir, cobrirei o céu e
escurecerei as suas estrelas; cobrirei o sol com uma nuvem, e a lua
não dará a sua luz. Todas as estrelas que brilham nos céus,
escurecerei sobre você e trarei escuridão sobre a sua terra. Palavra
do Soberano, o S . Perturbarei os corações de muitos povos
quando eu provocar a sua destruição entre as nações, em terras que
você não conheceu” (Ez 32.7-9). Em Ezequiel 32, e especialmente
nos versículos que acabamos de citar, é anunciado o juízo sobre o
Egito, que também assustará muitas nações, pois já houve uma vez
trevas durante três dias sobre esta nação (cf. Êx 10.22-23).
Em Joel 2.10 e 3.15 também é falado do quarto juízo das
trombetas. Que também neste caso existe um limite à terça parte
comprova a grande longanimidade de Deus. Todavia, não o
subestimemos! O quarto juízo das trombetas deve ser uma
catástrofe cósmica inconcebível, pois no versículo 12 está escrito:
“... e foi ferido um terço do sol, um terço da lua e um terço das
estrelas, de forma que um terço deles escureceu. Um terço do dia
ficou sem luz, e também um terço da noite”. Por isso é
completamente errado passar por cima de tais relatos de juízos com
algumas poucas observações superficiais, pois “foi ferido” significa
nada menos do que uma terrível explosão universal, sendo que toda
a ordem divina da criação do Universo se desconjunta. Não é de
admirar que os sinais de alarme no céu já se tornam cada vez mais
intensos. Se já os abalos cósmicos citados no sexto selo (6.12-13)
são tão apavorantes, quanto mais o serão os do quarto juízo das
trombetas?!
Aquilo que durante a grande tribulação acontecerá em forma de
terríveis juízos de Deus já é agora visível espiritualmente de modo
assustador:
Vemos espiritualmente o primeiro juízo das trombetas (v. 7), no
qual é queimada a terça parte da terra, das árvores e de toda a
relva verde, no fato de desaparecer a vida procedente de Deus.
Somente poucos renascem; não há mais poder para o renascimento.
Muitos povos são cristianizados, mas ainda não evangelizados. A
vida espiritual está se apagando porque é encoberta a firme Palavra
da Bíblia, que diz: “Quem tem o Filho, tem a vida; quem não tem o
Filho de Deus, não tem a vida” (1Jo 5.12).
O segundo juízo das trombetas (v. 8), no qual cai no mar uma
grande montanha ardendo em chamas, sendo ele contaminado de
modo que a terça parte das criaturas no mar morre e a terça parte
dos navios é destruída, tem seu reflexo em nossa época na poluição.
Não somente a poluição exterior, mas muito mais a poluição interior
aumenta enormemente. Na Bíblia, o mar é uma figura dos povos. O
mar está contaminado; os povos estão corrompidos. Um povo
levanta-se contra o outro. Isso tudo está relacionado com o plano de
salvação, com a restauração de Israel, pois por um lado Israel
substitui politicamente o mundo das nações e, por outro, substitui
espiritualmente a igreja. Esta é a razão da decadência geral das
nações e da ruína das igrejas cristãs. É por isso que a verdadeira
igreja de Jesus também se cristaliza dentre todas as igrejas, igrejas
independentes e grupos, e deixa-se ser prepararda para a vinda do
Senhor.
O terceiro juízo das trombetas (v. 10): fontes envenenadas. Não
somente os rios, mas também as fontes são envenenadas. Que
abalador! Vivemos em um tempo de envenenamento das fontes
cristãs. Não se leva mais a sério a Palavra. Quem ainda confessa: “A
Bíblia é a Palavra de Deus!”? Apesar de ser considerada
ultrapassada, ela é a única confissão certa que confere autoridade!
A Bíblia é a Palavra de Deus! Alguns dizem: “A Bíblia contém a
Palavra de Deus”. Se fosse assim, na leitura de qualquer versículo
bíblico deveríamos sempre chamar um professor de teologia, para
perguntar: aquilo que acabei de ler é Palavra de Deus ou palavra de
homens? Não, nós confessamos: a Bíblia é a Palavra de Deus. A
crítica da Bíblia é em nossos dias um envenenamento de fontes
incomparável!
O quarto juízo das trombetas (v. 12-13), no qual é “ferido um terço
do sol, um terço da lua e um terço das estrelas”, de maneira que a
terça parte do dia e da noite escurecem, acontece hoje
espiritualmente: a luz do evangelho retrocede mais e mais diante do
avanço das trevas. Em muitos corações ficou escuro. Encontramo-
nos justamente diante da era anticristã. Primeiro, porém, virá o
arrebatamento! Bem-aventurado aquele que está preparado para
encontrar Jesus nas nuvens do céu!

O Tríplice “ai dos...” (Ap 8.13)


13Enquanto eu olhava, ouvi uma águia que voava pelo meio do
céu e dizia em alta voz: “Ai, ai, ai dos que habitam na terra, por
causa do toque das trombetas que está prestes a ser dado pelos
três outros anjos!”
Antes que aconteçam os três últimos e mais importantes juízos das
trombetas, lemos sobre uma proclamação no céu, que consiste de
um tríplice “ai dos...”. Pela tradução do dr. Martinho Lutero, é um
anjo que diz esse “Ai, ai, ai...”. Infelizmente, esta não é a tradução
correta. Deve-se lembrar que ele, na Idade Média, ainda não havia
os melhores textos à disposição. Os massoretas, que copiavam o
texto original e o transmitiam de geração em geração, tinham um
sagrado respeito pela Palavra. Mesmo assim, porém, algumas vezes
ocorria um erro. Por isso somos favoráveis à crítica textual, que
através da comparação dos textos originais procura descobrir o que
foi bem ou mal traduzido. Entretanto, rejeitamos qualquer crítica
bíblica, pois ela analisa de maneira crítica o conteúdo da Bíblia.
Justamente nesse versículo decisivo faltava a Lutero a possibilidade
de traduzi-lo corretamente, pois somente em torno do ano de 1880
descobriu-se cópias muito importantes e antigas do Novo
Testamento, incluindo do Apocalipse, como por exemplo o Codex
Sinaiticus, que data do quarto século depois de Cristo. Tanto no
Codex Sinaiticus quanto no Codex Alexandrinus (do quinto século
depois de Cristo) está escrito “águia”. Inúmeros tradutores utilizaram
esta forma: “Enquanto eu olhava, ouvi uma águia...”.
Para esta águia existem as mais diferentes interpretações, mas
que não são satisfatórias. Os pássaros normalmente voam sob o
céu, mas essa águia voa “pelo meio do céu”. Assim, esta águia está
em casa no céu. Que ela, em vista das próximas três trombetas,
exclama “Ai, ai, ai” mostra que a comove muito o fato de que os
habitantes da terra ainda terão que passar por juízos tão terríveis.
Os filhos de Deus são comparados diversas vezes com águias na
Bíblia; por exemplo, em Isaías 40.31: “Mas aqueles que esperam no
S renovam as suas forças. Voam alto como águias; correm e
não ficam exaustos, andam e não se cansam”. Ou pensemos na
maravilhosa promessa para irmãos mais idosos, no Salmo 103.5:
“Que enche de bens a sua existência, de modo que a sua juventude
se renova como a águia”. Segundo o meu entendimento, vemos
representada nesta águia, que voa pelo meio do céu e exclama o
tríplice “ai”, a igreja de Jesus arrebatada, que está unida com o
Cordeiro que foi morto; assim como os vinte e quatro anciãos, no
capítulo 4, também representam a igreja. A Bíblia explica a Bíblia: no
seu sermão profético, em Lucas 17, o Senhor Jesus descreve o
arrebatamento: “Digo-vos que naquela noite estarão dois numa
cama; um será tomado, e outro será deixado. Duas estarão juntas,
moendo; uma será tomada, e outra será deixada. E, respondendo,
disseram-lhe: Onde, Senhor? [em outras palavras: para onde eles
serão levados?] E ele lhes disse: Onde estiver o corpo, aí se
ajuntarão as águias” (Lc 17.34-35,37 ACF).
Que figura maravilhosa: unidos com ele em sua morte e
ressurreição! Os crentes são chamados de águias; o Senhor Jesus é
o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo (Jo 1.29). O
Cordeiro foi morto; Jesus Cristo morreu na cruz do Gólgota. “... aí se
ajuntarão as águias.” Elas vão comer do cadáver. Isso não é
macabro? Os discípulos já disseram: “Duro é este discurso; quem o
pode ouvir?” (Jo 6.60b RA), depois que Jesus lhes havia dito: “Eu
digo a verdade: Se vocês não comerem a carne do Filho do homem
e não beberem o seu sangue, não terão vida em si mesmos. Todo
aquele que come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida
eterna, e eu o ressuscitarei no último dia. Pois a minha carne é
verdadeira comida e o meu sangue é verdadeira bebida” (Jo 6.53-
55).
Para que não compreendamos mal esse ponto importante,
queremos citar ainda mais um trecho do sermão profético do Senhor
Jesus, em Mateus 24. Nele o Senhor Jesus exorta os discípulos, e
assim também a nós, que não nos deixemos inquietar se alguém
disser: “Ele está lá, no deserto!” (Mt 24.26). E ele prossegue: “...
não saiais. Eis que ele está no interior da casa; não acrediteis.
Porque, assim como o relâmpago sai do oriente e se mostra até ao
ocidente, assim será também a vinda do Filho do homem. Pois onde
estiver o cadáver, aí se ajuntarão as águias” (Mt 24.26b-28 ACF). Se
o Senhor utiliza essa figura, devemos sempre lembrar que ele é o
Cordeiro morto, não somente antes da fundação do mundo, mas
desde a eternidade. Os pais da igreja Orígenes e Agostinho, bem
como Lutero, já viam isso assim. Quando João teve esta visão da
águia, que dizia “em alta voz: ‘Ai, ai, ai dos’”, ele experimentou aquilo
que já havia sido representado no Antigo Testamento, pois o Senhor
disse sobre si mesmo e sobre Israel: “Como a águia que desperta a
sua ninhada, paira sobre os seus filhotes, e depois estende as asas
para apanhá-los, levando-os sobre elas” (Dt 32.11).
O tríplice “ai” dito pela águia, ou seja, pela igreja – não é isso que
Paulo quis dizer quando escreveu: “Vocês não sabem que os santos
hão de julgar o mundo?” (1Co 6.2)? Como igreja de Jesus
participamos, portanto, do juízo sobre o mundo. Esta águia no céu
tem uma missão a cumprir, e isso entre o som da quarta e quinta
trombeta. Ainda sabemos tão pouco daquilo que a igreja arrebatada
fará no céu. Lá irá prevalecer uma atividade dinâmica maravilhosa,
pois a igreja glorificada receberá elevadas tarefas. Se aqui na terra
formos fiéis e vencedores, então voaremos como águias pelo meio
do céu. Mas então também governaremos e julgaremos com ele. O
tríplice “ai” é ouvido na terra, no sentido de que a igreja de Jesus
então não estará mais aqui. Esse é o sinal milagroso e de juízo para
os que ficaram para trás – uma das pregações mais altas para todo
o mundo cristianizado.

A Quinta Trombeta de Juízo (Ap 9.1-12)


1O quinto anjo tocou a sua trombeta, e vi uma estrela que havia
caído do céu sobre a terra. À estrela foi dada a chave do poço do
Abismo. 2Quando ela abriu o Abismo, subiu dele fumaça como a
de uma gigantesca fornalha. O sol e o céu escureceram com a
fumaça que saía do Abismo. 3Da fumaça saíram gafanhotos que
vieram sobre a terra, e lhes foi dado poder como o dos
escorpiões da terra. 4Eles receberam ordens para não causar
dano nem à relva da terra, nem a qualquer planta ou árvore, mas
apenas àqueles que não tinham o selo de Deus na testa. 5Não
lhes foi dado poder para matá-los, mas sim para causar-lhes
tormento durante cinco meses. A agonia que eles sofreram era
como a da picada do escorpião. 6Naqueles dias os homens
procurarão a morte, mas não a encontrarão; desejarão morrer,
mas a morte fugirá deles. 7Os gafanhotos pareciam cavalos
preparados para a batalha. Tinham sobre a cabeça algo como
coroas de ouro, e o rosto deles parecia rosto humano. 8Os
cabelos deles eram como os de mulher e os dentes como os de
leão. 9Tinham couraças como couraças de ferro, e o som das
suas asas era como o barulho de muitos cavalos e carruagens
correndo para a batalha. 10Tinham caudas e ferrões como de
escorpiões e na cauda tinham poder para causar tormento aos
homens durante cinco meses. 11Tinham um rei sobre eles, o anjo
do Abismo, cujo nome, em hebraico, é Abadom e, em grego,
Apoliom. 12O primeiro ai passou; dois outros ais ainda virão.

O quinto juízo das trombetas distingue-se totalmente dos primeiros


quatro. No primeiro, a terra, as árvores e a relva são atingidas por
granizo e fogo misturado com sangue. No segundo, os mares, peixes
e navios são feridos. No terceiro são contaminados os rios e as
fontes, e o quarto causa uma catástrofe cósmica: o sol, a lua e as
estrelas escurecem. O quinto juízo das trombetas penetra em outra
dimensão: da terra para o além. João diz: “... vi uma estrela que
havia caído do céu sobre a terra” (v. 1). Devemos distinguir bem: ele
não vê a estrela caindo, mas vê aquilo que já aconteceu. Essa
estrela não é de matéria, portanto não é um meteoro ou algo
semelhante, mas um ser racional, pois recebe a chave do poço do
Abismo. Esse ser racional não é outro senão Satanás, a quem o
Senhor Jesus se refere em Lucas 10.18: “Eu vi Satanás caindo do
céu como relâmpago”. Satanás é descrito como estrela da manhã
em Isaías 14.12: “Como você caiu dos céus, ó estrela da manhã,
filho da alvorada!”.
Antes da sua queda ele rejubilava junto com as outras estrelas da
manhã diante do trono de Deus: “Enquanto as estrelas matutinas
juntas cantavam e todos os anjos se regozijavam...” (Jó 38.7). Mas
então a maior e mais gloriosa estrela da manhã caiu, porque pensou
em seu coração: quero ser semelhante ao Altíssimo. Agora João vê
essa estrela caída iniciar sua terrível atividade dos tempos finais: “...
pois o Diabo desceu até vocês! Ele está cheio de fúria, pois sabe
que lhe resta pouco tempo” (12.12b). Sua atividade é permitida por
Deus, pois as trevas também têm que fazer a vontade de Deus no
final!
“À estrela foi dada a chave do poço do Abismo” (v. 1), e
imediatamente ela entra em ação: “Quando ela abriu o Abismo, subiu
dele fumaça como a de uma gigantesca fornalha. O sol e o céu
escureceram com a fumaça que saía do Abismo. Da fumaça saíram
gafanhotos...”. Nas palavras “À estrela foi dada” está oculto um
consolo, pois elas mostram que o poder de Satanás é limitado,
assim como Satanás também pôde tocar Jó apenas de maneira
limitada porque o Senhor lhe deu poder limitado somente para isso,
de modo que aqui ele pode soltar seus demônios presos no Abismo,
mas também eles somente podem exercer sua ânsia destruidora
dentro dos limites estabelecidos por Deus! Isso também vale para
nós, que tantas vezes temos tribulações: o inimigo pode nos atacar
somente dentro dos limites fixados por Deus! Por isso está escrito
em 1Coríntios 10.13: “E Deus é fiel; ele não permitirá que vocês
sejam tentados além do que podem suportar”.
As pessoas que ainda vivem na terra após o arrebatamento
decidiram-se pelo Diabo e agora começam a experimentar sua ira
cruel e sem misericórdia. O Abismo é uma realidade; portanto, não
algo figurado. Também Judas 6 fala que os anjos caídos estão
presos: “E, quanto aos anjos que não conservaram suas posições de
autoridade mas abandonaram sua própria morada, ele [o Senhor] os
tem guardado em trevas, presos com correntes eternas para o juízo
do grande Dia”. Se lermos atentamente o Novo Testamento, veremos
então que nem todos os poderes das trevas foram enviados para o
Abismo, mas que inúmeros se encontram sob o céu. É o que está
escrito em Efésios 6.12: “Pois a nossa luta não é contra seres
humanos, mas contra os poderes e autoridades... contra as forças
espirituais do mal nas regiões celestiais”. O medo dos espíritos de
serem mandados para o Abismo é muito esclarecedor.
É o que percebemos com o gadareno violentamente possesso:
“Quando Jesus pisou em terra, foi ao encontro dele um
endemoninhado daquela cidade. Fazia muito tempo que aquele
homem não usava roupas, nem vivia em casa alguma, mas nos
sepulcros. Quando viu Jesus, gritou, prostrou-se aos seus pés e
disse em alta voz: ‘Que queres comigo, Jesus, Filho do Deus
Altíssimo? Rogo-te que não me atormentes!’ Pois Jesus havia
ordenado que o espírito imundo saísse daquele homem. Muitas
vezes ele tinha se apoderado dele. Mesmo com os pés e as mãos
acorrentados e entregue aos cuidados de guardas, quebrava as
correntes e era levado pelo demônio a lugares solitários. Jesus lhe
perguntou: ‘Qual é o seu nome?’ ‘Legião’, respondeu ele; porque
muitos demônios haviam entrado nele. E imploravam-lhe que não os
mandasse para o Abismo” (Lc 8.27-31). Eles preferiram entrar nos
porcos a ir para o Abismo!
Em nossos dias temos frequentemente a impressão de que os
espíritos já foram soltos, mas isso apenas se aplica aos espíritos
que se encontram sob o céu. Aqueles que estão no Abismo não
podem nos fazer nada, mas aqueles que estão sob o céu chegam
cada vez mais perto da terra porque a atmosfera celeste aproxima-
se da terra e, assim, eles se veem em apuros. No entanto, na
grande tribulação Satanás vai abrir o Abismo, como João vê no
versículo 2. A consequência é: “... subiu dele fumaça como a de uma
gigantesca fornalha. O sol e o céu escureceram com a fumaça que
saía do Abismo. Da fumaça saíram gafanhotos que vieram sobre a
terra, e lhes foi dado poder como o dos escorpiões da terra” (v. 2-3).
A primeira é, portanto, uma grande nuvem de fumaça. Podemos
imaginar isso: uma intensa poluição mundial. Toda a atmosfera
estará contaminada.nota 6 Dessa fumaça saem então gafanhotos. Se a
Bíblia diz “gafanhotos”, então também são gafanhotos – demônios
em forma de gafanhotos. É interessante que esse juízo das
trombetas está representado na oitava praga egípcia: “Moisés
estendeu a vara sobre o Egito, e o S fez soprar sobre a terra
um vento oriental durante todo aquele dia e toda aquela noite. Pela
manhã, o vento havia trazido os gafanhotos, os quais invadiram todo
o Egito e desceram em grande número sobre toda a sua extensão.
Nunca antes houve tantos gafanhotos, nem jamais haverá” (Êx 10.13-
14). Isso também foi algo sem igual.
O texto continua: “Eles cobriram toda a face da terra de tal forma
que ela escureceu [também aqui temos um escurecimento do sol].
Devoraram tudo o que o granizo tinha deixado: toda a vegetação e
todos os frutos das árvores. Não restou nada verde nas árvores nem
nas plantas do campo, em toda a terra do Egito” (Êx 10.15). Esta é
a diferença dos gafanhotos no Apocalipse: estes danificam árvores e
plantas; aqueles não o fazem, mas atormentam os homens durante
cinco meses, pois lhes foi dado poder como o dos escorpiões. Todos
os homens serão atormentados? Não! Os cento e quarenta e quatro
mil de Israel são guardados, pois está escrito expressamente que
são atormentados somente aqueles “que não tinham o selo de Deus
na testa” (v. 4). Ao exército demoníaco de gafanhotos estão
impostas quatro limitações:

1. A natureza não pode ser danificada;


2. Os selados não podem ser atormentados, pois pessoas
seladas por Deus são intocáveis. Isso vale também hoje se
você é selado com o Espírito Santo;
3. Eles podem atormentar, mas não matar;
4. Seu poder está limitado a cinco meses. Esse tempo é citado
duas vezes (v. 5,10).

Aliás, os gafanhotos comuns também têm um período de vida de


aproximadamente cinco meses. Essa praga deve ser muito cruel e
terrível. É o que se conclui do versículo 6: “Naqueles dias os homens
procurarão a morte, mas não a encontrarão; desejarão morrer, mas
a morte fugirá deles”.
A aparência desses seres cruéis é descrita nos versículos 7-10:
“Os gafanhotos pareciam cavalos preparados para a batalha. Tinham
sobre a cabeça algo como coroas de ouro, e o rosto deles parecia
rosto humano. Os cabelos deles eram como os de mulher e os
dentes como os de leão. Tinham couraças como couraças de ferro, e
o som das suas asas era como o barulho de muitos cavalos e
carruagens correndo para a batalha. Tinham caudas e ferrões como
de escorpiões e na cauda tinham poder para causar tormento...”.
Embora o Abismo ainda esteja fechado em nossos dias, a onda
fundamental espírita está ficando cada vez mais forte. Milhões de
pessoas já são psicologicamente atormentadas hoje por poderes do
reino das trevas, que se encontram sob o céu. Tão logo os espíritos
do Abismo possam tomar forma e manifestar-se durante a grande
tribulação, eles atormentarão os homens fisicamente. Isso será tão
terrível que os homens procurarão a morte desesperadamente, mas
não a encontrarão.
Naturalmente surge a pergunta inevitável: o que significa a confusa
e caótica multiplicidade da aparência deles? Seria possível descrever
esses gafanhotos como demônios mentalmente perturbados que
agora finalmente satisfazem seu desejo doentio de terem qualquer
corpo. Esse desejo febril de se tornar carne culminará na
encarnação do Diabo na figura do Anticristo. Esses demônios, ou
seja, gafanhotos, parecem “cavalos preparados para a batalha”: seu
desejo de destruição torna-se carne e sua fúria destruidora toma
forma. “Tinham sobre a cabeça algo como coroas de ouro”: seu
orgulho doentio agora encontra uma forma, uma possibilidade de
satisfação. “... o rosto deles parecia rosto humano”: eles se mostram
com aparência de humanidade; seu instinto de imitação satânico, de
ser semelhante à imagem de Deus, é satisfeito. “Os cabelos deles
eram como os de mulher...”: imoralidade. “... e os dentes como os de
leão”: eles procuram presas. “Tinham couraças como couraças de
ferro”: esta é uma expressão visível de força. “... e o som das suas
asas era como o barulho de muitos cavalos e carruagens correndo
para a batalha”: este é o desejo de destruição expresso
acusticamente e igualmente um sinal de força. “Tinham caudas e
ferrões como de escorpiões”: suas armas. Com elas atormentarão
os homens durante cinco meses. Não sabemos como isso
acontecerá, mas sabemos que a picada de um escorpião é muito
dolorida. A picada do escorpião, que é terrivelmente dolorida, deve
ser somente uma fraca representação dos tormentos que atingirão
os não selados. Não por último, eles sofrerão também tormentos
psicológicos.
De forma notável, esses gafanhotos têm um rei (v. 11). Isto está
em contraste com os gafanhotos naturais, dos quais Provérbios
30.27 diz: “Os gafanhotos, que não têm rei...”. No entanto, os
repugnantes seres monstruosos têm um: “Tinham um rei sobre eles,
o anjo do Abismo...”. Este não é Satanás, pois ele abriu o Abismo
como estrela caída; contudo, esse anjo do Abismo é um príncipe das
trevas. É significativo que seu nome é citado tanto em hebraico como
em grego: “... cujo nome, em hebraico, é Abadom e, em grego,
Apoliom” (v. 11). Em português significa “destruidor” ou “aniquilador”.
O fato de seu nome ser citado nesses dois idiomas significa que ele
e seu exército de gafanhotos atormentarão judeus e gentios.
A interpretação da quinta praga das trombetas causou
dificuldades para muitos e os levou a especulações fantásticas.
Aliás, lendo comentários sobre o Apocalipse, constatei que
comentaristas de diferentes gerações sempre introduziram suas
próprias impressões subjetivas; de alguma maneira, eles eram
moldados pela sua época e tinham os preconceitos do seu tempo.nota
7
Por isso, é meu desejo pessoal manter distância de opiniões e
tradições, de maneira que o Espírito Santo nos ilumine e seja
revelado aquilo que o Espírito de Deus quer dizer.

A Sexta Trombeta de Juízo (Ap 9.13-21)


13O sexto anjo tocou a sua trombeta, e ouvi uma voz que vinha
das pontas do altar de ouro que está diante de Deus. 14Ela disse
ao sexto anjo que tinha a trombeta: “Solte os quatro anjos que
estão amarrados junto ao grande rio Eufrates”. 15Os quatro anjos,
que estavam preparados para aquela hora, dia, mês e ano, foram
soltos para matar um terço da humanidade. 16O número dos
cavaleiros que compunham os exércitos era de duzentos milhões;
eu ouvi o seu número. 17Os cavalos e os cavaleiros que vi em
minha visão tinham este aspecto: as suas couraças eram
vermelhas como o fogo, azuis como o jacinto e amarelas como o
enxofre. A cabeça dos cavalos parecia a cabeça de um leão, e da
boca lançavam fogo, fumaça e enxofre. 18Um terço da
humanidade foi morto pelas três pragas: de fogo, fumaça e
enxofre, que saíam da boca dos cavalos. 19O poder dos cavalos
estava na boca e na cauda; pois a cauda deles era como cobra;
com a cabeça feriam as pessoas. 20O restante da humanidade
que não morreu por essas pragas nem assim se arrependeu das
obras das suas mãos; eles não pararam de adorar os demônios e
os ídolos de ouro, prata, bronze, pedra e madeira, ídolos que não
podem ver, nem ouvir, nem andar. 21Também não se
arrependeram dos seus assassinatos, das suas feitiçarias, da sua
imoralidade sexual e dos seus roubos.
“O sexto anjo tocou a sua trombeta, e ouvi uma voz que vinha das
pontas do altar de ouro que está diante de Deus.” Estas palavras
são a introdução para um dos maiores e mais terríveis juízos.
Observemos primeiro a situação social no tempo da sexta trombeta
e, em segundo lugar, a espécie de juízo que então atinge os homens.
Do ponto de vista social, os homens então serão como Paulo os
viu e descreveu profeticamente: “Contudo, os perversos e
impostores irão de mal a pior, enganando e sendo enganados” (2Tm
3.13). Já vemos esta tendência hoje, mas então ela será muito mais
destacada, pois será um período de culto geral aos demônios. Na
liderança estará o Satanás encarnado, o Anticristo, cuja imagem
será adorada. O culto aos demônios, que no fundo é uma
continuação da adoração de divindades pagãs no mundo antigo,
espalha-se atualmente cada vez mais e ainda será mais divulgado.
As livrarias estão cheias de literatura ocultista. O espiritismo, ou
seja, espiritualismo, espalha-se como uma epidemia sobre todo o
mundo. Existem até mesmo igrejas de Satanás; casas onde Satanás
é adorado. O islã e outros cultos e adorações a imagens pagãs
pertencem à adoração a demônios. Acontece também o mesmo que
antes do Dilúvio, e mais tarde em Sodoma e Gomorra: o
homossexualismo, que é demoníaco (Rm 1.24-28), foi e é legalizado.
Isso significa, porém, que a medida está cheia. Então Deus interfere.
João ouve a voz “que vinha das pontas do altar de ouro que está
diante de Deus”. Ela procede, portanto, de onde se elevam as
orações dos santos. Ouve-se uma nova ordem como resposta mais
ampla à oração dos santos: “Venha o teu Reino; seja feita a tua
vontade, assim na terra como no céu”, pois agora trata-se dos reinos
ímpios do mundo que sucumbem. A gravidade desse juízo é
mostrada pelo fato daquele sexto anjo, que toca sua trombeta,
receber uma ordem complementar do santuário, apesar da sua
ampla autoridade: “... ouvi uma voz que vinha das pontas do altar de
ouro que está diante de Deus. Ela disse ao sexto anjo que tinha a
trombeta: ‘Solte os quatro anjos que estão amarrados junto ao
grande rio Eufrates’” (v. 13-14).
Pela primeira vez aqui é citado o grande rio Eufrates. O Eufrates é
a fronteira norte original de Israel; ele protege o povo de Deus contra
todos os exércitos inimigos. O principal perigo não são os povos que
estão deste lado do rio e atualmente guerreiam contra Israel (Síria e
Líbano, por exemplo), mas os povos além do rio. Em primeiro lugar,
os países ao norte, como a Turquia e a Rússia, e então a leste os
reis que vêm do lado do nascer do sol: China, Índia etc.
O fato de justamente o Eufrates ser uma fronteira protetora de
Israel tem um profundo significado profético. Acontece que lá, junto
ao Eufrates, Satanás realizou seu primeiro ataque ao homem. Lá, no
atual Iraque, era o paraíso. O Eufrates, que nasce na Turquia, passa
pela Síria, depois pelo Iraque e finalmente desemboca no Golfo
Pérsico. Portanto, não é por acaso que atualmente os olhos de todo
o mundo estão voltados para o Golfo Pérsico devido ao petróleo.
Junto ao Eufrates foi cometido o primeiro assassinato: Caim matou
seu irmão Abel. Junto ao Eufrates – antes e após o Dilúvio – foi o
início e o centro do primeiro grande afastamento de Deus; e,
conforme Apocalipse 9.14, junto ao Eufrates serão soltos os quatro
anjos ou poderes guerreiros invisíveis.
Este terrível sexto juízo das trombetas, e assim todos os
seguintes, está prestes a ser cumprido, porque justamente agora,
junto ao Eufrates, as tensões em torno do petróleo estão crescendo
ao ponto de serem insuportáveis. É como se esses príncipes das
trevas, que já estão presos há milênios no Eufrates – e atrás deles
milhares de maus espíritos –, já começaram a puxar em suas
correntes. Eles querem ficar soltos e agir! Assim, é pura bobagem
falar em tempos melhores, pois ao mundo não vêm tempos
melhores.
“‘Solte os quatro anjos que estão amarrados junto ao grande rio
Eufrates’. Os quatro anjos, que estavam preparados para aquela
hora, dia, mês e ano, foram soltos para matar um terço da
humanidade.” Portanto, está determinado exatamente quando eles
podem ser soltos pelo anjo da sexta trombeta; contudo, esse dia e
essa hora estão assustadoramente próximos! O Eufrates já é citado
nas primeiras páginas da Bíblia (Gn 2.14). No paraíso (que estava
localizado entre o Eufrates e o Tigre), o Eterno proclamou pela
primeira vez a vitória de Jesus Cristo sobre o Diabo na cruz do
Gólgota, dizendo à serpente: “Porei inimizade entre você e a mulher,
entre a sua descendência e o descendente dela; este ferirá a sua
cabeça, e você lhe ferirá o calcanhar” (Gn 3.15). Atualmente todo o
Oriente Médio está em grande inquietação, pois lá, junto ao Eufrates,
haverá um incêndio, uma guerra mundial.
Nos versículos 15b-18 vemos a marcha dos exércitos: “... foram
soltos para matar um terço da humanidade. O número dos cavaleiros
que compunham os exércitos era de duzentos milhões; eu ouvi o seu
número. Os cavalos e os cavaleiros que vi em minha visão tinham
este aspecto: as suas couraças eram vermelhas como o fogo, azuis
como o jacinto e amarelas como o enxofre. A cabeça dos cavalos
parecia a cabeça de um leão, e da boca lançavam fogo, fumaça e
enxofre. Um terço da humanidade foi morto pelas três pragas: de
fogo, fumaça e enxofre, que saíam da boca dos cavalos”. O objetivo
da atividade desses quatro poderosos anjos soltos é dito sem
rodeios no versículo 15: a terça parte da humanidade deve ser
destruída, e esse objetivo também é alcançado: “Um terço da
humanidade foi morto pelas três pragas” (v. 18). As três pragas são:
fogo, fumaça e enxofre – uma guerra mundial.
Quero enfatizar mais uma vez aquilo que já explanei: é errado
tentar interpretar a política atual à luz da palavra profética, pois
vimos como isso, nos séculos passados, levou a falsas
compreensões do Apocalipse. A política mundial é passageira, mas
a palavra profética é eterna. No entanto, é indispensável observar a
política em e com relação a Israel à luz da profecia bíblica, pois
Israel é o povo escolhido de Deus. Portanto, tão logo, como aqui na
sexta trombeta, é indicado um ponto geográfico – o rio Eufrates –
sabemos que estamos tratando do Oriente Médio e de Israel. Desde
o ressurgimento de Israel como ato político de Deus, não podemos
nem devemos mais desligar a política no Oriente Médio da profecia.
O próprio Senhor Jesus advertiu a respeito: “Hipócritas, sabeis
discernir a face do céu, e não conheceis os sinais dos tempos? (Mt
16.3 ACF).
A terça parte da humanidade será, portanto, destruída por um
gigantesco exército de “duzentos milhões”. Devemos lembrar que
essa guerra não é dirigida somente contra Israel, mas envolve o
mundo todo, senão não poderia estar escrito que será morta a terça
parte da humanidade. Com a atual população mundial, isso seriam
aproximadamente 2,5 bilhões de pessoas. Um número inimaginável,
que nos obriga a pensar que deve ser uma guerra nuclear – uma
guerra mundial como nunca houve, que hoje já se encontra no campo
das possibilidades.
Quem são esses duzentos milhões de cavaleiros? A profecia
bíblica é um conjunto maravilhoso! Como já frisamos várias vezes,
ela tem frequentemente um cumprimento duplo ou triplo. Pensemos
na profecia do Senhor sobre a destruição de Jerusalém, em Mateus
24. O primeiro cumprimento deu-se quarenta anos depois. No
decorrer dos últimos dois milênios, porém, ela cumpriu-se ainda
diversas vezes, e o cumprimento final acontecerá durante a grande
tribulação. Ou lembremos daquilo que os profetas viram. Tomemos,
por exemplo, Sofonias, trineto do rei Ezequias. Ele profetizou sobre a
futura invasão de Nabucodonosor, mas, ao mesmo tempo, viu de
maneira magnífica e abaladora o terrível dia do Senhor. Essas são
duas de muitas profecias duplas ou triplas que aparecem na
Escritura. Assim, também aqui em Apocalipse 9.13ss temos uma
visão profética antecipada sobre a luta final dos povos no
Armagedom, quando o reino mundial anticristão, o Império Romano
restaurado – ao qual pertencerão também os reis que vêm do lado
do nascer do sol, isto é, conforme nosso entendimento, a China, o
Japão e a Índia –, avançar contra Israel (cf. Ap 16.13-16; onde
vemos avançar os exércitos do Extremo Oriente).
João vê os detalhes e as cores das couraças. A tarefa do exército
de gafanhotos infernais era atormentar – não matar. Contudo, a
tarefa desses quatro anjos de juízo agora soltos, e dos seus
subordinados, é matar. Se já os gafanhotos infernais do capítulo
9.3ss eram seres cruéis – estes cavaleiros são ainda muito mais
terríveis! Suas couraças têm as cores do abismo infernal: “...
vermelhas como o fogo, azuis como o jacinto e amarelas como o
enxofre”. Essas figuras são movidas pelos quatro poderes infernais
soltos. Aqui nos é mostrada, em poucas palavras, a luta final dos
povos contra Sião e contra o Senhor e o seu Ungido, sendo que
vemos os exércitos de inspiração satânica em suas características
interiores, enquanto Apocalipse 16 nos apresenta seu adversário
vitorioso: Deus, o Todo-Poderoso, e o Senhor que está voltando (v.
14b-15).
O número três chama a atenção nesses versículos. Como
acabamos de ver, há três cores de combate dos cavaleiros
encouraçados: vermelho, azul-escuro e amarelo (v. 17). Depois, os
três flagelos: fogo, fumaça e enxofre. As vítimas: a terça parte dos
homens é morta. É uma amostra do ódio, da ira e do escárnio de
Satanás que a bomba atômica do primeiro teste nuclear dos EUA
recebeu o nome “Trinity”, ou seja, trindade. Isso foi em julho de 1945.
Por um lado, essa horrível guerra mundial acontece como juízo
sob permissão do Eterno. Por outro, Satanás e seus anjos serão os
executores. Desse modo, João também vê os bastidores espirituais
desse exército: “... pois a cauda deles era como cobra” (v. 19). Atrás
disso está a antiga má serpente.
A sexta trombeta é, mais uma vez, um chamado ao
arrependimento para os homens que então viverem; uma prova de
que a possibilidade de arrependimento ainda existe. Os pecados são
citados pelo nome: assassinatos, feitiçarias, imoralidade sexual,
roubos. Trata-se especialmente dos pecados que já se destacam
hoje. Pensemos somente nos abortos – assassinato amplamente
legalizado! Depois o ocultismo, do qual já falamos. Imoralidade
sexual – relações sexuais antes e fora do casamento. Roubos,
assaltos e materialismo pronunciado são características do nosso
tempo final e tudo isso ainda aumentará. Até mesmo o terrível juízo
de uma guerra mundial nunca vista, ou seja, uma guerra de
destruição, é rejeitado como um chamado ao arrependimento, pois
nos versículos 20 e 21 está escrito duas vezes que eles não se
arrependeram. Chocante!
Quando agora vemos como tudo se agrava, quão próximo deve
estar então o arrebatamento?! Portanto: esteja preparado!
10
O Outro Anjo Poderoso Com o Livro
(Ap 10.1-11)

1Então vi outro anjo poderoso, que descia dos céus. Ele estava
envolto numa nuvem, e havia um arco-íris acima de sua cabeça.
Sua face era como o sol, e suas pernas eram como colunas de
fogo. 2Ele segurava um livrinho, que estava aberto em sua mão.
Colocou o pé direito sobre o mar e o pé esquerdo sobre a terra,
3e deu um alto brado, como o rugido de um leão. Quando ele
bradou, os sete trovões falaram. 4Logo que os sete trovões
falaram, eu estava prestes a escrever, mas ouvi uma voz dos
céus, que disse: “Sele o que disseram os sete trovões, mas não o
escreva”. 5Então o anjo que eu tinha visto em pé sobre o mar e
sobre a terra levantou a mão direita para o céu 6e jurou por
aquele que vive para todo o sempre, que criou os céus e tudo o
que neles há, a terra e tudo o que nela há, e o mar e tudo o que
nele há, dizendo: “Não haverá mais demora! 7Mas, nos dias em
que o sétimo anjo estiver para tocar sua trombeta, vai cumprir-se
o mistério de Deus, como ele o anunciou aos seus servos, os
profetas”. 8Depois falou comigo mais uma vez a voz que eu tinha
ouvido falar dos céus: “Vá, pegue o livro aberto que está na mão
do anjo que se encontra em pé sobre o mar e sobre a terra”.
9Assim me aproximei do anjo e lhe pedi que me desse o livrinho.
Ele me disse: “Pegue-o e coma-o! Ele será amargo em seu
estômago, mas em sua boca será doce como mel”. 10Peguei o
livrinho da mão do anjo e o comi. Ele me pareceu doce como mel
em minha boca; mas, ao comê-lo, senti que o meu estômago
ficou amargo. 11Então me foi dito: “É preciso que você profetize
de novo acerca de muitos povos, nações, línguas e reis”.

F
requentemente se pensa que este décimo capítulo de
Apocalipse é um ato intermediário de acontecimentos entre a
sexta e a sétima trombeta. No início da sexta trombeta vimos
uma terrível guerra mundial e não pudemos evitar o pensamento de
que se tratará de uma guerra nuclear, na qual será morta a terça
parte dos homens, sendo que, além dessa guerra mundial, João vê a
luta final dos povos no Armagedom. Portanto, aqui temos a
continuação e vemos em primeiro lugar o “outro anjo poderoso” (v.
1). Somente no capítulo 11.14 temos então o anúncio do
encerramento do segundo “ai” da sexta trombeta, e
consequentemente ele também somente termina ali. Portanto, o que
lemos agora no capítulo 10 pertence à sexta trombeta, tanto quanto
a selagem dos cento e quarenta e quatro mil, no capítulo 7, pertence
ao sexto selo. Também aqui necessitamos a simplicidade do
coração, dos pensamentos e uma santa seriedade para
compreender o que o Senhor quer nos dizer.
“Então vi outro anjo poderoso, que descia dos céus” (v. 1). Já
vimos os sete arcanjos que se acham em pé diante de Deus e aos
quais foram dadas trombetas (8.2). Aqui trata-se do mesmo anjo de
que fala o capítulo 7.2: “Então vi outro anjo subindo do Oriente,
tendo o selo do Deus vivo”. No capítulo 8.3 também vemos esse
outro anjo: “Outro anjo, que trazia um incensário de ouro, aproximou-
se e ficou em pé junto ao altar. A ele foi dado muito incenso para
oferecer com as orações de todos os santos sobre o altar de ouro
diante do trono”. No capítulo 7 nós o vemos como o sol que nasce, o
sol da justiça; no capítulo 8.3, como o grande Sumo Sacerdote, em
pé junto ao altar de ouro. Sem dúvida: é Jesus Cristo! Aqui no
capítulo 10.1 o “outro anjo poderoso” tem a forma do Cristo que
retorna.
Muitos comentaristas acham que se trata de um anjo, mas é
Jesus Cristo em forma de anjo! Isso é confirmado por diferentes
afirmações da Escritura. Por exemplo, a descrição da sua glória aqui
no versículo 1: “Então vi outro anjo poderoso, que descia dos céus.
Ele estava envolto numa nuvem”. E o que está escrito em Apocalipse
1.7? Ali lemos a elevada afirmação: “Eis que ele vem com as
nuvens...”. Sabemos que os filhos de Deus serão então arrebatados
ao encontro do Senhor nas nuvens. No versículo 1 é dito ainda: “... e
havia um arco-íris acima de sua cabeça”. Isto lembra o profeta
Ezequiel, que também viu a glória do Senhor e a descreve da
seguinte maneira: “Tal como a aparência do arco-íris nas nuvens de
um dia chuvoso, assim era o resplendor ao seu redor. Essa era a
aparência da figura da glória do S ” (Ez 1.28). Em primeiro
lugar, lemos no versículo 1 sobre o rosto do “outro anjo poderoso”:
“Sua face era como o sol”. O mesmo também é dito do Cristo que
está voltando em Apocalipse 1.16: “Sua face era como o sol quando
brilha em todo o seu fulgor”. Em quarto lugar, o versículo 1 continua
dizendo: “... suas pernas eram como colunas de fogo”. Isso combina
com Apocalipse 1.15: “Seus pés eram como o bronze numa fornalha
ardente...”.
Quando, porém, no capítulo 10.1 é dito que suas pernas são
como colunas de fogo – e não que são como bronze – é porque,
conforme o versículo 2, ele faz algo gigantesco: “Colocou o pé direito
sobre o mar”. Esse é o mar dos povos. “... e o pé esquerdo sobre a
terra.” Isso é Israel. Somente essa afirmação já revela a ilimitada
onipotência do Senhor! Que grandioso espetáculo é quando esse
“outro anjo poderoso” desce do céu, colocando seu pé esquerdo
sobre a terra e o direito sobre o mar! Isso também revela a sua
ilimitada onipresença, pois quem é capaz de colocar seus pés sobre
a terra e sobre o mar, tomando assim posse de ambos?
Apesar de que não seriam necessárias outras provas de que esse
outro anjo poderoso é Jesus Cristo, pode ser um auxílio indicar ainda
o seguinte: a designação “anjo poderoso” coloca-se acima dos já
citados sete arcanjos que se acham em pé diante de Deus. O
Apocalipse é algo tão grandioso, tão maravilhosamente profundo! Se
de um anjo é dito somente que ele é forte ou poderoso, isso em si
não é nada de excepcional, não existindo razão para achar que ele
seria mais do que todos os outros seres angelicais criados, pois
anjos são seres criados como nós, e todos são mais ou menos
poderosos. No entanto, se a designação “outro anjo poderoso” é
utilizada como característica de distinção com relação aos outros
anjos elevados, e até mesmo relacionada com as nuvens e a face
como o sol, então não resta dúvidas de que se trata de um ser não
criado: o Filho de Deus, que era desde a eternidade.
Por isso prestemos atenção mais uma vez na atitude
extremamente notável desse outro anjo poderoso, que é Jesus
Cristo: ele coloca seu pé direito sobre o mar e o esquerdo sobre a
terra. Isso foi feito intencionalmente e é muito significativo. Conforme
Deuteronômio 11.24, o Senhor disse a Israel: “Todo lugar onde vocês
puserem os pés será de vocês”. Portanto, se o povo de Israel
colocava seus pés sobre um pedaço de terra prometida, ele era sua
propriedade. Se agora esse poderoso anjo, o qual cremos ser o
Senhor Jesus, coloca seu pé direito sobre o mar – o mar dos povos
– e o esquerdo sobre a terra – Israel – então esse é um ato de
tomada de posse da sua propriedade legal! Com isso ele assume o
domínio sobre ambos. Esse é um ato que combina com o caráter e
com a dignidade de Cristo; no entanto, seria inimaginável como ato
de um anjo criado.
Antes dessa tomada de posse da herança legal, porém, ele tomou
o livro selado: “Ele se aproximou e recebeu o livro da mão direita
daquele que estava assentado no trono” (5.7). Ninguém, além do
Cordeiro de Deus, havia sido digno de tomar esse livro e abrir seus
selos. A tomada do livro selado da mão daquele que estava
assentado no trono e a abertura dos selos foi a prova do seu direito
à posse da terra. Aqui, no capítulo 10, temos a confirmação desse
direito e sua intenção de realmente aplicá-lo. Aprendamos dos
passos vitoriosos do Cordeiro: ele os dá com base na obra realizada
na cruz do Gólgota, e nós podemos dá-los baseados na mesma
obra! Podemos sempre triunfar na vitória que ele alcançou na cruz.
A terra e o mar sofreram agora durante tempo suficiente sob o
domínio do inimigo. O triunfo de Jesus Cristo torna-se visível e
perceptível. O Senhor faz isso de uma maneira que logo revela quão
impotentes os inimigos na realidade são. Com isso nosso coração
jubila, pois, em todos os lugares onde Jesus aparece, os inimigos
tornam-se insignificantes. Por isso você não deveria se deixar
amedrontar pelos poderes inimigos à sua volta! Jesus é vencedor!
Naturalmente estamos cercados por esses poderes e os ataques do
mundo invisível ficam cada vez mais brutais, mas Jesus é e
permanece o herói vitorioso do Gólgota!
No meio da sexta trombeta, o futuro Rei do mundo novamente se
revela: “... suas pernas eram como colunas de fogo”, diz no versículo
1. Creio que a expressão “como colunas de fogo” descreve seu
poder invencível e sua decisão irrevogável, pois colunas são fortes;
colunas de fogo, irresistíveis. Elas desafiam qualquer resistência.
Comovente é que ele, ao qual foi entregue todo o julgamento, leva o
sinal da graça de Deus, pois está escrito: “... havia um arco-íris
acima de sua cabeça” (v. 1). Acontece que conhecemos o arco-íris
desde os tempos de Noé: ele é para os homens um sinal da
fidelidade de Deus. O Pai entregou todo o julgamento ao Filho, Jesus
Cristo.
No versículo 3 está escrito que ele “deu um alto brado, como o
rugido de um leão”. Este é o Leão de Judá. “Quando ele bradou, os
sete trovões falaram” (v. 3). Ambas as coisas – o alto brado do
Cordeiro de Deus, como o rugido de um leão, e os sete trovões, que
desferem suas vozes e respondem – significam a mesma coisa. Já
nos profetas o rugir do leão é sempre um sinal de juízo. Quando ruge
o leão, o rei dos animais, então a criatura estremece. “O S
rugirá de Sião, e de Jerusalém levantará a sua voz”, diz Joel 3.16. O
profeta Amós relata o mesmo (Am 1.2), assim como os profetas
Jeremias e Isaías (Jr 25.30; Is 31.4). Ele clama e ruge como um
leão – essa é a voz do Triunfador. Ao mesmo tempo, fazem-se ouvir
os sete trovões desde o trono de Deus – isso é juízo. Somos
lembrados de 2Samuel 22.14: “Dos céus o S trovejou;
ressoou a voz do Altíssimo”. No entanto, em meio ao juízo está a sua
eterna graça: o arco-íris sobre sua cabeça significa que Deus não
quer a morte do pecador. Ele tem pensamentos de paz e de graça.
Essa graça resplandece apesar da humanidade ficar cada vez mais
endurecida e de estar escrito duas vezes, no final de Apocalipse 9,
que os homens não se arrependeram. Assim, ele tem que aparecer
como Juiz.
Se analisarmos bem os versículos 2-4, então veremos diante dos
nossos olhos interiores a figura luminosa envolta em trevas. Ela
cresce, ela se torna gigantesca. Sua mão segura o rolo do livro
aberto. Ela põe um pé sobre o mar, o outro sobre a terra, e eleva
sua voz como um leão que ruge. Não é possível imaginar como isso
será. Com estrondos e ribombando, os trovões procedem da nuvem
de tempestade em santo número de sete, isto é, na plenitude de
Deus. Assim, enquanto o Cordeiro, com o livro aberto, fala com voz
poderosa, os sete trovões fazem ouvir a sua voz. É como se nessa
fase do juízo da sexta trombeta Deus se voltasse mais uma vez para
os homens, dizendo: não quero a destruição, mas a salvação de
vocês!
O fato de o Senhor, em figura de anjo, colocar um pé sobre o mar
e o outro sobre a terra significa que essa mensagem se destina por
um lado ao mundo das nações e, por outro lado, a Israel. Durante a
grande tribulação o Senhor Deus reivindica o domínio tanto sobre o
agitado mar dos povos como também sobre a terra do aflito povo de
Israel. Aquele que encontramos na história como Senhor é o mesmo
cuja voz é atualmente ouvida sempre mais claramente em Israel. Em
Israel há interesse crescente pela pessoa de Jesus.
O Senhor quer ser ouvido no mundo das nações assim como em
Israel. Se o mundo rejeita sua reivindicação, seu chamado ao
arrependimento em meio à grande tribulação, procedente do livro
aberto apresentado para ler, então ele ainda tem outra linguagem –
uma linguagem que o mundo é obrigado a ouvir. Como o mundo
animal suspende a respiração e emudece diante do rugir do seu rei,
o leão, assim o mundo tremerá diante da ira de Deus. Uma última
palavra a um mundo que rejeita sua atração e suas advertências é o
juízo, e isso em sétupla plenitude. É o que diz o sétuplo barulho do
trovão ao mundo e a Israel. Os homens acham que Deus se cala e
que os poderes libertados da natureza e da história têm a palavra,
mas na realidade ele fala em sua ira.
Atualmente ele ainda fala de forma relativamente baixa através da
ameaça de guerras em todo o mundo, e através das crises
econômicas e de energia que surgem e repentinamente se tornam
graves. Os sete trovões, porém, vêm do trono de Deus como
resposta àquilo que o outro anjo poderoso, Cristo, brada em grande
voz. Eles são misteriosos executores de juízo. Já no Salmo 29
encontramos esse sétuplo trovão com a voz do Senhor. Também já
ouvimos essa voz de trovão quando o Cordeiro abriu o primeiro selo:
“Observei quando o Cordeiro abriu o primeiro dos sete selos. Então
ouvi um dos seres viventes dizer com voz de trovão: ‘Venha!’” (6.1).
Quando João ouviu esses sete trovões falarem, ele quis escrever
suas palavras: “Logo que os sete trovões falaram, eu estava prestes
a escrever...” (v. 4). Porém, ele foi impedido: “... mas ouvi uma voz
dos céus, que disse: ‘Sele o que disseram os sete trovões, mas não
o escreva’”. Por que não, pois no princípio do Apocalipse foi-lhe
ordenado escrever tudo? Conforme meu entendimento, os sete
trovões respondem àquele que ordena o juízo sobre a realização dos
juízos. No entanto, como (como serão os efeitos) é segredo de Deus
e por isso ainda deve ficar oculto. Isso está estreitamente
relacionado com o rolo do livro aberto, que o outro anjo poderoso, ou
seja, Jesus Cristo, tem em sua mão.
Logo, apresenta-se a pergunta: que livrinho é esse que João
precisa tomar e depois comer? Se esse anjo poderoso realmente é o
mesmo que o Cordeiro, que é o único digno de tomar o livro, o
testamento do Pai, e de abrir os seus selos (5.5-7), então também o
livro agora aberto é o mesmo do capítulo 5. Antes ele estava selado;
agora os selos estão abertos. Ele contém, portanto, o maravilhoso
testamento de Deus e do Cordeiro. Ele está escrito por dentro e por
fora (5.1). Através da abertura judicial dos setes selos, como
explanamos nos comentários sobre o capítulo 5, não foi revelado
nada de novo (a herança de Cristo e os santos na luz), mas as
disposições do testamento de Deus tornaram-se legais através da
abertura judicial dos selos, ou seja, através dos juízos executados
sobre a terra. Em outras palavras: quanto mais os juízos de Deus
são executados sobre a humanidade, porque ela rejeitou sua oferta
mais elevada – Jesus Cristo –, tanto mais o Cordeiro impõe o seu
direito. Essa é a visão de Apocalipse 10.
Por que, então, o rolo é chamado de “livro” em Apocalipse 5 e
“livrinho” aqui em Apocalipse 10? Esta é uma questão dos
manuscritos nos quais a tradução se baseou. Ambos os documentos,
o livro e o livrinho, eram pequenos rolos. Ambos são descritos com a
palavra grega biblion. Esse é um diminutivo de biblos. Aquele na
mão do anjo poderoso (ou seja, cap. 10) em algumas cópias do
Novo Testamento é também chamado biblaridion. Assim como nós
também podemos dizer “livro”, “livrinho” ou “volume”. As melhores
cópias, porém, utilizam a mesma palavra tanto em Apocalipse 5
quanto em Apocalipse 10: livro. O contexto também mostra muito
claramente que aqui se trata do mesmo livro que em Apocalipse 5,
quando o Cordeiro o tomou da mão direita de Deus.
O “outro anjo poderoso”, Jesus Cristo, está realizando seu
elevado e solene ato: a tomada de posse pública da herança, mas
para isso ele necessita de autoridade. A salvação realizada na cruz
do Gólgota está fundamentada numa base jurídica. No seu
nascimento, Jesus Cristo teve que ser colocado sob a lei para se
tornar o nosso Salvador. Era uma necessidade divina que fosse
cumprida toda a justiça, como ele mesmo afirmou no momento do
seu batismo (Mt 3.15). Todas as vitórias que alcançou e todo louvor
que recebeu são baseados na sua obra mediadora e na realização
de tudo aquilo que a lei de Deus exige. Ele é o cumprimento da lei.
Ele não poderia ter ressuscitado dos mortos, não poderia ter subido
ao céu, nem poderia se assentar à direita do Pai; também não
poderia ter dado perdão dos pecados aos homens ou mesmo ter
recuperado a herança perdida se não tivesse realmente expiado os
pecados de todo o mundo na cruz do Gólgota.
Através da sua completa obediência ele comprou pelo seu sangue
todos aqueles que agora, ou em qualquer época, reivindicam a
redenção pelo seu sangue, de modo que tornam-se sua propriedade
legal. Você pertence a eles? Ou ainda se encontra nas garras do
Diabo? Se sim, você deve saber que ele lhe prende ilegalmente. Se
você ainda está preso em poderes de depressão ou impureza, isso é
ilegal, pois Jesus Cristo comprou você com o sangue dele! Somente
depois que ele, o Cordeiro, foi morto e se sacrificou pela injustiça de
todos os homens – “Vejam! É o Cordeiro de Deus, que tira o pecado
do mundo!” (Jo 1.29) – é que ele foi considerado digno de tomar o
livro e abrir seus selos. Somente depois ele podia agir como o
Resgatador (hebraico: goel) por todos cuja herança se perdeu.
Isto se vê de maneira tão bela no livro de Rute. O marido judeu de
Rute tinha morrido e ela não tinha filhos. Por isso tinha que vir um
resgatador para manter viva a herança. Ele tinha que dar para ela
uma descendência, para que a herança não se perdesse. Jesus
Cristo, nosso grande Resgatador, pôde agir por todos aqueles cuja
herança se perdeu por causa do inimigo, pois somos destinados a
ser coerdeiros do reino! Deus criou o homem à sua semelhança para
que ele domine sobre a criação. O homem, porém, caiu nas mais
extensas profundezas da perdição. Contudo, veio então o nosso
goel, o nosso Resgatador! Ele reconquistou a herança perdida
através da sua morte na cruz do Gólgota. Antes ele não podia tomar
posse ou fazer valer algum direito sobre a terra, para limpá-la de
todos os inimigos. Somente depois de receber a autoridade legal
para isso, como recompensa pela sua justiça perfeita, ele foi
colocado nessa situação.
Na vida diária da nossa sociedade humana também é assim:
ninguém pode reivindicar uma parcela da terra sem ter um
documento do cartório. Também ninguém pode prender alguém que
violou a lei a não ser que tenha a autoridade correspondente. Da
mesma maneira, nosso poderoso Redentor segura o documento
aberto em sua mão quando põe seu pé direito sobre o mar (os
povos) e o esquerdo sobre a terra (Israel); portanto, quando está
prestes a exercer o juízo sobre os rebeldes que profanaram sua
propriedade e disputaram sua herança. Ele o recebeu legalmente da
mão direita da eterna Majestade (5.7). Ele o mostra com sua
autoridade recebida do Deus eterno, figuradamente a todos que
querem vê-lo, e com isso desafia todos os poderes da terra e do
inferno. Enquanto ele faz isso, suas palavras e seus atos são
apoiados pelo trovejar do Onipotente.
E agora acontece algo notável com o livrinho: “Depois falou
comigo mais uma vez a voz que eu tinha ouvido falar dos céus: ‘Vá,
pegue o livro aberto que está na mão do anjo que se encontra em pé
sobre o mar e sobre a terra’. Assim me aproximei do anjo e lhe pedi
que me desse o livrinho. Ele me disse: ‘Pegue-o e coma-o! Ele será
amargo em seu estômago, mas em sua boca será doce como mel’.
Peguei o livrinho da mão do anjo e o comi. Ele me pareceu doce
como mel em minha boca; mas, ao comê-lo, senti que o meu
estômago ficou amargo. Então me foi dito: ‘É preciso que você
profetize de novo acerca de muitos povos, nações, línguas e reis’” (v.
8-11).
Por que o Cordeiro de Deus tomou o livro selado da mão direita
de Deus, no capítulo 5? Por que Jesus Cristo aparece no santuário
do céu, como o Cordeiro que foi morto, para ser considerado digno
de tomar o livro e abrir seus selos? Qual é, afinal, o maior alvo de
todos os atos dele na terra e no céu? Qual é a mais profunda
intenção e objetivo de Deus e do Cordeiro? Resposta: nada além de
dar e transmitir àqueles que creem nele o que está contido no livro!
Sua multidão comprada pelo sangue deve tomá-lo e comê-lo;
apropriar-se dele, anunciá-lo e profetizá-lo; ela deve viver disso e
deixar-se edificar para a vida eterna. Esse livro contém todos os
direitos proféticos, sacerdotais e reais do Cristo como nosso
Redentor. Se, no entanto, somos herdeiros, então somos coerdeiros,
ou seja, coerdeiros com Cristo. É o que Paulo diz em Romanos 8.17.
É isso que ele quer nos transmitir.
Esse livro abrange a origem e o cerne de todas as profecias, de
toda pregação do evangelho, de toda verdadeira fé e de toda
esperança firme. Esse livro, dos capítulos 5 e 10, é o documento
divino da mão direita da Divindade eterna, no qual se baseia o
reinado do Senhor Jesus Cristo como Senhor dos senhores e Rei
dos reis. E toda essa glória ele deseja transmitir a nós. Já na oração
sacerdotal isso foi pedido: “Pai, a minha vontade é que onde eu
estou, estejam também comigo os que me deste... antes da
fundação do mundo” (Jo 17.24 RA).
Esse é o significado da estranha ordem que João agora recebe:
“Vá, pegue o livro aberto que está na mão do anjo que se encontra
em pé sobre o mar e sobre a terra” (v. 8). Trata-se do cumprimento
daquilo que o Senhor Jesus disse na oração sacerdotal: “Pois eu
lhes transmiti as palavras que me deste” (Jo 17.8). Um verdadeiro
profeta nunca transmite uma mensagem de si mesmo, mas faz aquilo
que João faz no versículo 9: ele vai ao “outro anjo poderoso” e pede
que ele dê o livro. Contudo, ele precisa ficar quieto, pois recebe
agora toda a plenitude da mensagem divina, a insondável riqueza de
Deus: o testamento de Deus e do Cordeiro. João mesmo não tem
mais nada a dizer.
Agora Jesus Cristo fala na pessoa do anjo poderoso: “Ele me
disse: ‘Pegue-o e coma-o! Ele será amargo em seu estômago, mas
em sua boca será doce como mel’. Peguei o livrinho da mão do anjo
e o comi” (v. 9-10). Por que ele precisa comê-lo? Quando comemos
algum alimento, ele se torna parte de nós mesmos. Ele se transmite
literalmente para nossa carne e nosso sangue! Com Ezequiel foi
semelhante. O Senhor disse a ele: “‘Mas você, filho do homem, ouça
o que digo. Não seja rebelde como aquela nação; abra a boca e
coma o que vou dar a você’. Então olhei e vi a mão de alguém
estendida para mim. Nela estava o rolo de um livro, que ele
desenrolou diante de mim. Em ambos os lados do rolo estavam
escritas palavras de lamento, pranto e ais. E ele me disse: ‘Filho do
homem, coma este rolo; depois vá falar à nação de Israel’” (Ez 2.8–
3.1). João e Ezequiel tiveram ambos que apropriar-se das palavras
de Deus, comendo-as. Somente então eles podiam transmitir
fielmente a mensagem do Senhor, palavra por palavra, pois ela havia
se tornado uma parte deles mesmos.
Quando João come o livrinho, ele se apropria interiormente da
mensagem e experimenta a bem-aventurança, mas também o
sofrimento. Sempre é assim: quando se come a Palavra de Deus,
acolhendo-a em si, o coração jubila por causa da magnífica
plenitude. Por outro lado, isso está relacionado com muitas
tribulações fortes, principalmente quando se tem que anunciar o
juízo. Não se pode apontar a espada da Palavra de Deus contra
outras pessoas quando ela não foi apontada primeiro contra si
mesmo.
E agora vem a nova tarefa: “É preciso que você profetize...” (v.
11). Em outras palavras: apesar de ter-lhe custado a liberdade –
pois João estava exilado –, apesar de seu cansaço e do temor de
novas lutas: “É preciso que você profetize”. As profecias seguintes
de João não devem, portanto, referir-se somente à igreja, aos cento
e quarenta e quatro mil selados e à multidão que ninguém podia
enumerar, mas abranger ainda mais povos, nações, línguas e reis:
“... profetize de novo acerca de muitos povos, nações, línguas e reis”
(v. 11).
A maravilhosa proclamação do outro anjo poderoso, Jesus Cristo,
está embutida no meio do capítulo 10 e é: “Então o anjo que eu tinha
visto de pé sobre o mar e sobre a terra levantou a mão direita para o
céu e jurou por aquele que vive para todo o sempre, que criou os
céus e tudo o que neles há, a terra e tudo o que nela há, e o mar e
tudo o que nele há, dizendo: ‘Não haverá mais demora! Mas, nos
dias em que o sétimo anjo estiver para tocar sua trombeta, vai
cumprir-se o mistério de Deus, como ele o anunciou aos seus servos,
os profetas’” (v. 5-7).
O mistério de Deus, que se cumprirá nos dias da sétima trombeta,
é a soma de todas as revelações e ações de Deus para recolocar o
homem em sua herança perdida. O mistério de Deus abrange todos
os mistérios da Escritura. O Senhor Jesus falou a respeito quando
disse aos seus discípulos: “A vocês foi dado o conhecimento dos
mistérios do Reino dos céus, mas a eles não” (Mt 13.11). Paulo cita
alguns componentes desse mistério. Em Romanos 11.25 temos o
mistério de Israel: “Irmãos, não quero que ignorem este mistério,
para que não se tornem presunçosos: Israel experimentou um
endurecimento em parte, até que chegue a plenitude dos gentios”
(Rm 11.25). Em seguida, temos o mistério da sua vontade (Ef 1.9),
depois o mistério de Cristo (Ef 3.4) e o mistério da igreja (Ef 5.32).
Ou lembremos do mistério do evangelho (Ef 6.19) ou do mistério do
arrebatamento: “Eis que eu digo um mistério: Nem todos
dormiremos, mas todos seremos transformados” (1Co 15.51). Todos
os mistérios que são citados no Novo Testamento estão agrupados
no mistério de Deus, que se cumprirá então durante o período da
sétima trombeta.
A sétima trombeta não caracteriza um dia único, mas um período
de juízo, pois os maiores acontecimentos se realizam durante esse
tempo. Então se cumprirá o mistério completo de Deus que ele
anunciou aos seus servos e profetas. No Apocalipse verifica-se um
crescendo dos atos ocultos de Deus. Tudo isso está próximo, às
portas, pois o arrebatamento está por acontecer. Repetidamente
Deus deu um prazo de graça, pois o Senhor tem paciência conosco,
“não querendo que ninguém pereça, mas que todos cheguem ao
arrependimento” (2Pe 3.9). Diversas vezes ele adiou o juízo final.
Será que ele continuará o adiando?
Aqui na sexta trombeta, o “outro anjo poderoso”, Jesus Cristo,
fala que colocou seu pé sobre a terra e sobre o mar. Sua mão está
elevada ao céu, e ele jura por aquele que vive eternamente e criou
tudo o que existe no céu e na terra. E então ele diz algo chocante e
sério: “Não haverá mais demora!”. Portanto, não há mais prazo além
dos dias da sétima trombeta: “Não haverá mais demora! Mas, nos
dias em que o sétimo anjo estiver para tocar sua trombeta, vai
cumprir-se o mistério de Deus, como ele o anunciou aos seus servos,
os profetas” (v. 6-7). E será muito tarde para voltar atrás; apesar de
ainda procederem muitos acontecimentos dessa trombeta, o
juramento de Jesus Cristo é irrevogável. Em nossos dias esse prazo
já começa a se esgotar. A contagem regressiva já começou. Partes
importantes do mistério de Deus já se cumprem de forma
preparativa. Espero todo dia que se cumpram duas partes do
mistério de Deus: o mistério da igreja e o mistério do arrebatamento
da igreja. Se você ainda não entregou sua vida completamente a
Jesus, que comprou você por preço elevado como Cordeiro
ensanguentado, então faça-o ainda hoje – faça-o agora!
11
A Medição do Templo de Deus
(Ap 11.1-2)

1Deram-me um caniço semelhante a uma vara de medir e me


disseram: “Vá e meça o templo de Deus e o altar, e conte os
adoradores que lá estiverem. 2Exclua, porém, o pátio exterior;
não o meça, pois ele foi dado aos gentios. Eles pisarão a cidade
santa durante quarenta e dois meses”.

N
o comentário da sexta trombeta vimos que um terço da
humanidade será destruído. Constatamos que essa guerra
mundial, que provavelmente será uma guerra nuclear, é
deflagrada no Oriente Médio, pois os quatro anjos guerreiros são
soltos junto ao rio Eufrates. Finalmente, reconhecemos nisto uma
visão antecipada da luta final dos povos no Armagedom. Apocalipse
11 fala agora do tempo posterior a essa guerra. Trata-se de uma
continuação das palavras do “outro anjo poderoso” no capítulo 10.
Nestas palavras do Senhor a João é retomado o fio da meada que
foi deixado de lado na visão antecipada da luta final dos povos no
meio da grande tribulação.
No caso, podemos partir do fato de que essas ondas de guerras
mundiais começarão com o aniquilamento da Rússia e terminarão
com o Armagedom. Este primeiro acontecimento que abalará o
mundo aproxima-se hoje aceleradamente de nós. No entanto, ele não
é apresentado no Apocalipse, porque não tem significado no plano
de salvação.nota 8 Em contrapartida, este juízo sobre os povos é
descrito detalhadamente no Antigo Testamento, principalmente em
Ezequiel 38 e 39.
Tendo em vista Apocalipse 11.3-14, surge a pergunta: o que Israel
faz após essa catástrofe mundial? Conforme Ezequiel 39.11-16,
Israel vai primeiro sepultar os mortos durante sete meses: “Naquele
dia darei a Gogue um túmulo em Israel, no vale dos que viajam para
o oriente na direção do Mar. Ele bloqueará o caminho dos viajantes
porque Gogue e todos os seus batalhões serão sepultados ali. Por
isso será chamado vale de Hamom-Gogue. Durante sete meses a
nação de Israel os sepultará a fim de purificar a terra. Todo o povo
da terra os sepultará, e o dia em que eu for glorificado será para
eles um dia memorável. Palavra do Soberano, o S . Depois
dos sete meses serão contratados homens para percorrer a terra e
sepultar os que ainda restarem. E assim a terra será purificada.
Quando estiverem percorrendo a terra e um deles vir um osso
humano, fincará um marco ao lado do osso até que os coveiros o
sepultem no vale de Hamom-Gogue. (Também haverá ali uma cidade
à qual se dará o nome de Hamoná.) E assim eles purificarão a terra”.
É como numa catástrofe aérea, em que se assinala os lugares
onde se encontram os restos físicos das vítimas para sepultá-los
mais tarde. Em seguida, Israel começará imediatamente a
reconstrução do templo. Através do grande terremoto de que fala
Ezequiel 38.19-20 – “Em meu zelo e em meu grande furor declaro
que naquela época haverá um grande terremoto em Israel. Os peixes
do mar, as aves do céu, os animais do campo, toda criatura que
rasteja pelo chão e todas as pessoas da face da terra tremerão
diante da minha presença. Os montes serão postos abaixo, os
penhascos se desmoronarão e todos os muros cairão” – será
preparado na terra de Israel, não somente politicamente, mas
também tecnicamente, o caminho para a reconstrução do templo: o
Domo da Rocha, a mesquita de Omar, estará arrasado. Mas então a
igreja de Jesus não tem mais espaço na terra, pois o tempo da igreja
de Jesus se localiza entre a destruição e a reconstrução do templo
em Jerusalém. Neste período, a igreja de Jesus é o templo espiritual
na terra (Ef 2.20-22).
Se lermos Apocalipse 11 atentamente, ficará claro para nós que
os acontecimentos ali relatados são realmente uma parte do décimo
capítulo, onde o anjo poderoso, que é Cristo, em atitude solene,
toma posse da terra colocando seus pés sobre ela (10.2). No final
do décimo capítulo, esse “outro anjo poderoso” ordena que João
continue profetizando. Aqui, no capítulo 11.1, ele recebe uma nova
ordem: “Vá e meça o templo de Deus e o altar”. A relação é,
portanto, evidente. A ordem vem do Filho vivo de Deus, que no
capítulo 10.5-7 jurou que já não haverá demora após a sétima
trombeta. O que temos diante de nós, portanto, deve ser a
continuação – até o clímax do dia do Senhor.
Como já dissemos, aqui no capítulo 11 nos encontramos no meio
da 70ª semana e assim na última semana de anos de Daniel, ou
seja, na segunda metade da tribulação da qual a palavra profética
fala com tanta ênfase. Em Jerusalém decidiu-se tudo, pois Deus
estava lá em Cristo e reconciliou o mundo consigo mesmo, e lá Jesus
morreu na cruz. Em Jerusalém houve a Páscoa; lá o Senhor
ressuscitou. Em Jerusalém ele subiu ao céu e em Jerusalém ele
voltará (Zc 14.4). Por isso, tudo se decidirá em Jerusalém.
No decorrer da tomada da herança, a primeira coisa é expressa
na atitude modificada de João. Depois que viu e ouviu o anjo
poderoso (Cristo), ele, que até agora só via, passou a agir: “Assim
me aproximei do anjo e lhe pedi que me desse o livrinho. Ele me
disse: ‘Pegue-o e coma-o! Ele será amargo em seu estômago, mas
em sua boca será doce como mel’” (10.9). Este livrinho, que ele
comeu como ordenado, contém toda a herança dos santos, que ele
recebeu no lugar de toda a igreja glorificada. Ele o fez como
representante de toda a igreja glorificada, como também os vinte e
quatro anciãos coroados representam a igreja de Jesus glorificada.
Então João tinha que continuar a profetizar (10.11). O que ele teve
que profetizar? Que Jesus e sua glória estão chegando! A igreja é a
glória do Cristo!
Agora João é transferido em espírito para a Jerusalém terrena e
realiza uma ação que não é visível para os habitantes: ele mede o
templo. Isso acontece, como já dissemos, na segunda metade da
tribulação, ou seja, na grande tribulação, quando a besta, o
Anticristo, estiver no auge do seu poder. Isso é provado pelo
versículo 2: “Exclua, porém, o pátio exterior; não o meça, pois ele foi
dado aos gentios. Eles pisarão a cidade santa durante quarenta e
dois meses”. O capítulo 12 fala do mesmo período. Quando lemos
indicações de tempo na Bíblia, como por exemplo “um tempo,
tempos e meio tempo”, “quarenta e dois meses” ou “mil duzentos e
sessenta dias” (como no v. 3), isso sempre é uma referência aos
últimos três anos e meio dos sete anos de tribulação.
João mede o santuário; ele age como membro do corpo de Cristo.
O medir aqui é um ato judicial. Ele significa limitação e posse; ele
engloba separação, ou seja, exclusão: “Exclua...”. O pátio, que não é
sagrado, é separado do santuário. Essa será a tarefa da igreja
glorificada e arrebatada, pois – repetimos – João age profeticamente
e representando a igreja no céu. Paulo disse isso assim: “Vocês não
sabem que os santos hão de julgar o mundo?” (1Co 6.2). Que
perspectiva grandiosa! Devemos conscientizar-nos de que esse
julgamento separador já acontece hoje nas fileiras dos cristãos,
sendo que o mal (os cristãos do pátio) é deixado de lado e o
sagrado permanece.
Observemos o seguinte: as primeiras coisas medidas são o
santuário, o altar e os adoradores. A única casa de Deus que existe
atualmente sobre a terra é o seu templo espiritual: a igreja de Jesus.
As pedras vivas de que esse templo é constituído são os renascidos
dentre judeus e gentios (1Pe 2.5). Nesta casa, o juízo é realizado em
primeiro lugar; e, através do arrebatamento desta terra, acontece
então finalmente a retirada repentina e maravilhosa. Esses atos de
juízo, porém, têm dois lados, duas correntes: uma corrente
ascendente – o santificado que é arrebatado deste mundo maduro
para juízo – e uma corrente descendente – o santificado que retorna
em poder crescente,nota 9 para tomar posse de todas as coisas, para
assumir a herança. Devemos lembrar que Jerusalém será, com o
templo então reconstruído após o arrebatamento da igreja, o único
centro da sagrada presença de Deus na terra. Apesar de começar
então o terrível sacrilégio, quando o Anticristo se assentar no templo
como se fosse Deus, ele é chamado expressamente de “santuário de
Deus” na Bíblia (2Ts 2.4).
Quem são os adoradores? Trata-se dos cento e quarenta e
quatro mil selados que conhecemos no capítulo 7. Estas muitas
pessoas de Israel, que se tornam crentes no Senhor Jesus durante a
tribulação, durante o domínio do Anticristo, são figuradamente a
cabeça de ponte, a base de Deus na terra. Através da medição
judicial elas são separadas dos ímpios. Trata-se, portanto, de um
acontecimento espiritual que será exatamente como o juízo
separador que se realiza hoje na igreja de Jesus. Na última folha da
Bíblia está escrito assim: “Continue o injusto a praticar injustiça;
continue o imundo na imundícia; continue o justo a praticar justiça; e
continue o santo a santificar-se. Eis que venho em breve! A minha
recompensa está comigo, e eu retribuirei a cada um de acordo com
o que fez” (22.11-12).
Os adoradores não podem ser os crentes que fazem parte da
multidão inumerável de todas as nações e línguas porque estes terão
que deixar sua vida como mártires. Da multidão inumerável é dito que
eles não adoram, mas em um sentido positivo: “Eles não tinham
adorado a besta nem a sua imagem” (20.4). Não há dúvida que eles
adorarão o Senhor, mas não será no templo em Jerusalém, e sim de
onde se encontram: entre os povos e nações. Eles têm outra posição
do que os cento e quarenta e quatro mil. Os judeus que creram em
Jesus Cristo, no entanto, adorarão no templo em Jerusalém, como
fez também Paulo (At 21.26). De alguma forma, dominará então a
mesma situação que na atual era da graça, quando muitos judeus
crentes, apesar de serem ainda cegos para o seu Messias (Rm
11.25), adoram em Jerusalém, especialmente junto ao Muro das
Lamentações, enquanto que nós, como crentes dentre as nações,
não adoramos em um local geográfico, mas, conforme João 4.24,
adoramos a Deus em espírito e em verdade, seja onde estivermos.
Os selados de Israel são guardados da grande matança durante a
tribulação; eles serão mantidos para a plenitude da redenção; eles
são separados do pátio, que foi dado aos gentios. Percebemos que
após o arrebatamento haverá o mesmo procedimento como conosco
antes dele, pois, da mesma maneira como os cento e quarenta e
quatro mil de Israel são selados após o arrebatamento, nós somos
selados com o Espírito Santo antes do arrebatamento.
Disso aprendemos para nós, atualmente, que o crescimento na
santificação é de eminente significado, pois não deveríamos ficar
parados no “pátio”, junto ao altar do holocausto, mas muito mais que
“deixemos os ensinos elementares a respeito de Cristo e avancemos
para a maturidade” (Hb 6.1), entrando no “santuário” – na comunhão
com o Filho de Deus –, onde está a luz, a Menorá e o pão sempre
fresco. Assim, entremos ousadamente pelo véu aberto até o “Lugar
Santíssimo”, onde Deus está presente, como diz João em sua
primeira carta: “Nossa comunhão é com o Pai e com seu Filho Jesus
Cristo” (1Jo 1.3). Em outras palavras: totalmente para Jesus!
12
As Duas Testemunhas
(Ap 11.3-14)

3“Darei poder às minhas duas testemunhas, e elas profetizarão


durante mil duzentos e sessenta dias, vestidas de pano de saco”.
4Estas são as duas oliveiras e os dois candelabros que
permanecem diante do Senhor da terra. 5Se alguém quiser
causar-lhes dano, da boca deles sairá fogo que devorará os seus
inimigos. É assim que deve morrer qualquer pessoa que quiser
causar-lhes dano. 6Estes homens têm poder para fechar o céu, de
modo que não chova durante o tempo em que estiverem
profetizando, e têm poder para transformar a água em sangue e
ferir a terra com toda sorte de pragas, quantas vezes desejarem.
7Quando eles tiverem terminado o seu testemunho, a besta que
vem do Abismo os atacará. E irá vencê-los e matá-los. 8Os seus
cadáveres ficarão expostos na rua principal da grande cidade,
que figuradamente é chamada Sodoma e Egito, onde também foi
crucificado o seu Senhor. 9Durante três dias e meio, gente de
todos os povos, tribos, línguas e nações contemplarão os seus
cadáveres e não permitirão que sejam sepultados. 10Os
habitantes da terra se alegrarão por causa deles e festejarão,
enviando presentes uns aos outros, pois esses dois profetas
haviam atormentado os que habitam na terra. 11Mas, depois dos
três dias e meio, entrou neles um sopro de vida da parte de Deus,
e eles ficaram em pé, e um grande terror tomou conta daqueles
que os viram. 12Então eles ouviram uma forte voz dos céus, que
lhes disse: “Subam para cá”. E eles subiram para os céus numa
nuvem, enquanto os seus inimigos olhavam. 13Naquela mesma
hora houve um forte terremoto, e um décimo da cidade ruiu. Sete
mil pessoas foram mortas no terremoto; os sobreviventes ficaram
aterrorizados e deram glória ao Deus dos céus. 14O segundo ai
passou; o terceiro ai virá em breve.
evemos analisar o aparecimento das duas testemunhas também no

D
contexto da sexta trombeta. Elas surgem enquanto a cidade
santa é pisada pelos gentios durante quarenta e dois meses
(11.2). Com isso surge logo a pergunta: quem são essas
duas testemunhas? Primeiro deve ficar claro para nós que João não
as vê em uma visão, como afirmam certos comentaristas. Pelo
contrário, elas são descritas pelo “outro anjo poderoso” (10.1), que é
Cristo. Portanto, é o próprio Jesus Cristo que descreve aqui o que
acontecerá com suas duas testemunhas.
É muito frequente que os acontecimentos dos tempos finais com
as duas testemunhas descritos aqui, como também os capítulos 7.14
e 9.16, adiantam-se à sequência cronológica. Resumidamente, são
mostrados detalhes de acontecimentos que somente são descritos
no décimo terceiro capítulo. Sua carreira de testemunhas estendeu-
se, portanto, por diferentes visões e contém fatos que nos são
relatados somente mais tarde. Todavia, que a história das duas
testemunhas é especialmente destacada prova a extraordinária
importância da atividade deles.
Em nossa era – antes do arrebatamento – as testemunhas de
Jesus Cristo têm a posição mais importante, pois como as pessoas
podem crer se não ouvirem a pregação? (Rm 10.14) Esta é a nossa
grande responsabilidade. “Minhas testemunhas”, diz o Senhor.
Também não é por acaso que elas aparecem exatamente no meio do
Apocalipse. Testemunhas de Jesus Cristo são uma prova viva da
realidade e do poder do Senhor. Por isso, sua ordem para nossa era
que se encerra é: “... e serão minhas testemunhas”. Quando surgem
ídolos, as testemunhas de Jesus devem proclamar sua mensagem
de forma ainda mais clara.
O fato de serem duas testemunhas é repetido três vezes. No
versículo 3: “duas testemunhas”; no versículo 4: “duas oliveiras” e
“dois candelabros”. Enviar suas testemunhas em duplas é um
princípio de Deus, principalmente quando há uma tarefa difícil a
cumprir: Moisés e Arão, Josué e Calebe, Zorobabel e Josué, Pedro
e João. Na minha opinião, “Darei poder às minhas duas testemunhas”
significa que então não haverá mais outras testemunhas em Israel.
Assim constatamos que se trata realmente de pessoas e não do
Antigo e do Novo Testamento, como alguns dizem. Constata-se
também que elas “profetizarão”. O que quer dizer “profetizarão”?
Não se trata de algo espetacular, mas simplesmente significa dizer
aquilo que se sabe da parte de Deus. Nossa mensagem tem força
de penetração somente na medida em que temos certeza interior
das coisas que virão. Com grande poder os apóstolos
testemunharam a respeito da ressurreição do Senhor Jesus de
acordo com a certeza que tinham da sua ressurreição (At 4.33). Nós
somos testemunhas porque temos certeza da vida eterna: “O próprio
Espírito testemunha ao nosso espírito que somos filhos de Deus”
(Rm 8.16). Por isso não podemos ficar com uma certeza subjetiva.
Ela deve tornar-se objetiva, isto é, ela tem que corresponder aos
fatos do plano de salvação que experimentamos pessoalmente. “...
nós fomos testemunhas oculares da sua majestade”, afirma Pedro
(2Pd 1.16).
As duas testemunhas estavam continuamente diante do Senhor:
“Estas são as duas oliveiras e os dois candelabros que permanecem
diante do Senhor da terra” (v. 4). Se nos mantivermos rigidamente
fixos ao texto, então elas já se encontravam diante do Senhor
quando João ouviu a respeito delas pelo Senhor. O segredo de uma
atividade abençoada consiste em estarmos continuamente diante do
Senhor.
O versículo 4 diz quem são essas duas testemunhas: duas
oliveiras e dois candelabros. Elas são o cumprimento final da visão
do profeta Zacarias: “Depois o anjo que falava comigo tornou a
despertar-me, como se desperta alguém do sono, e me perguntou:
‘O que você está vendo?’ Respondi: Vejo um candelabro de ouro
maciço, com um recipiente para azeite na parte superior e sete
lâmpadas e sete canos para as lâmpadas. Há também duas oliveiras
junto ao recipiente, uma à direita e outra à esquerda. Perguntei ao
anjo que falava comigo: O que significa isso, meu senhor? Ele disse:
‘Você não sabe?’ Não, meu senhor, respondi. ‘Esta é a palavra do
S para Zorobabel: “Não por força nem por violência, mas pelo
meu Espírito”, diz o S dos Exércitos’” (Zc 4.1-6).
O primeiro cumprimento desta visão são as duas oliveiras:
Zorobabel e Josué. O cumprimento final são as duas testemunhas de
Apocalipse 11. O que, porém, falta nas “duas oliveiras” de
Apocalipse 11? O candelabro, a Menorá! Aqui recebemos novamente
uma visão da situação em que Israel se encontra durante o domínio
anticristão. Israel estará então incorporado ao império mundial da
besta, mas faltará o atual emblema do Estado. Então haverá
somente uma bandeira, um emblema – o sinal da besta, ou seja, o
número do seu nome: 666 (13.18). Isso significa que então será
noite em Israel sob todos os aspectos.
O fato de que Israel estará realmente incorporado ao império
mundial anticristão é provado conforme lemos o versículo 10 do
capítulo 11, onde o mundo todo participa da alegria pela morte das
duas testemunhas como mártires em Jerusalém. Assim, lemos no
versículo 9: “Durante três dias e meio, gente de todos os povos,
tribos, línguas e nações contemplarão os seus cadáveres e não
permitirão que sejam sepultados”. E então no versículo 10: “Os
habitantes da terra se alegrarão por causa deles e festejarão,
enviando presentes uns aos outros, pois esses dois profetas haviam
atormentado os que habitam na terra”. É evidente que os milhões de
habitantes da terra verão os cadáveres nas ruas de Jerusalém por
meio da televisão. Todavia, com isso temos também uma indicação
do poderoso efeito mundial da atividade das duas testemunhas.
Deve-se notar que elas não aparecem na era do evangelho. Elas
são servos de Deus de uma outra classe. Estão vestidas de pano de
saco, isto é, exortam ao arrependimento, pois o reino dos céus se
aproxima. Elas recebem uma tríplice designação: 1) elas são
profetas, homens através dos quais Deus fala; 2) elas são oliveiras,
homens cheios do Espírito Santo; e 3) elas são candelabros, homens
que refletem a glória do Cristo que está voltando – não sua própria
santidade, mas a santidade de Cristo.
Como profetas elas anunciam o reino que inicia: o verdadeiro Rei
vem! No capítulo 10 já vemos isso de maneira tão impressionante
quando o “outro anjo poderoso”, que é Cristo, põe seu pé direito
sobre o mar e o pé esquerdo sobre a terra, assumindo a posse da
herança.
Como oliveiras sua poderosa mensagem é de enorme e
irresistível força espiritual. Elas provam durante 1.260 dias que Jesus
é Vencedor, pois, durante esse tempo, o Anticristo tem que
reconhecer continuamente sua impotência diante de Jesus Cristo. Ele
não pode tocar as testemunhas enquanto elas não tiverem
completado a sua tarefa. Pelo contrário: “Se alguém quiser causar-
lhes dano, da boca deles sairá fogo que devorará os seus inimigos.
É assim que deve morrer qualquer pessoa que quiser causar-lhes
dano” (v. 5).
Como candelabros elas revelam, como única luz nas trevas, o
pecado e a corrupção. Isso produz terríveis tormentos de
consciência para o mundo todo. Não é preciso ter uma imaginação
muito fértil para avaliar o quanto a besta – e com ela todo o mundo
anticristão – odeia as duas testemunhas. No entanto, assim como
nosso Senhor não pôde ser tocado pelo inimigo durante três anos
porque seu tempo ainda não estava cumprido e sua tarefa ainda não
estava completa, assim também as duas testemunhas não podem
ser tocadas durante 1.260 dias.
Considera-se geralmente que esses dois servos de Deus são
semelhantes a Moisés e Elias por causa da maneira de executarem
seus juízos. “... da boca deles sairá fogo que devorará os seus
inimigos” (v. 5). Isto lembra a execução do juízo por Elias (2Rs 1.10).
“Estes homens têm poder para fechar o céu, de modo que não chova
durante o tempo em que estiverem profetizando” (v. 6). Também isto
lembra Elias (1Rs 17.1). No versículo 6b reconhecemos Moisés: “...
e têm poder para transformar a água em sangue e ferir a terra com
toda sorte de pragas, quantas vezes desejarem” (Êx 7.19-20). É
notável que ambos têm a mesma autoridade para executar juízo e
que suas ações se confundem.
Além disso, essas duas testemunhas também lembram Moisés e
Elias porque se acham em pé diante do Senhor, como é dito deles,
pois o Senhor falava com Moisés como um homem com seu amigo
(Êx 33.11) e de Elias é dito expressamente que ele estava diante do
Senhor (1Rs 17.1).
Uma terceira razão é que Malaquias predisse a vinda de um
profeta como Elias: “Vejam, eu enviarei a vocês o profeta Elias antes
do grande e terrível dia do S . Ele fará com que os corações
dos pais se voltem para seus filhos, e os corações dos filhos para
seus pais; do contrário, eu virei e castigarei a terra com maldição”
(Ml 4.5-6). Israel espera o profeta Elias como precursor do Messias.
Na primeira noite da festa da Páscoa judaica, na chamada festa de
Seder, isso aparece claramente. Após a oração é colocada uma taça
com vinho sobre a mesa, que tem o nome de “taça do profeta Elias”.
Um rabino o explicou da seguinte maneira: “O povo judeu foi liberto
da escravidão no mês de Nissan, na Páscoa, e o povo judeu será
redimido em Nissan, isto é, o Mashiach (o Messias) virá neste mês.
Eliyahu (Elias) será o precursor do Mashiach. E se ele vem em
Nissan, a noite de Seder é a melhor oportunidade. Por isso
colocamos uma taça para Eliyahu sobre a mesa”. Desta taça não é
bebido, ao passo que todos os participantes dessa festa bebem
vinho quatro vezes dos seus cálices – quatro vezes por causa das
quatro expressões que aparecem na Torá com relação à redenção:
“Eu tirei vocês”, “Eu salvei vocês”, “Eu redimi vocês”, “Eu tomei
vocês para mim como povo”.
Moisés, o mediador da antiga aliança, que esteve junto com Elias
sobre o monte da transfiguração, dominou o antissemita egípcio e
ditador mundial, o faraó. Elias, por sua vez, exortou o povo de Israel
rebelde ao arrependimento. Mesmo assim, não se pode dizer com
toda a segurança quem realmente serão essas duas testemunhas do
Senhor que resistirão à besta. Fica claro, no entanto, que elas têm o
mesmo espírito e que aparecerão em Jerusalém após o
aniquilamento do inimigo do norte e o arrebatamento.
Em seu testemunho, ressurreição e arrebatamento, podemos
atualmente ver de maneira exata nossa tarefa como testemunhas de
Jesus até o arrebatamento. Como profetas com autoridade, elas têm
o testemunho de Jesus. Apocalipse 19.10 diz: “O testemunho de
Jesus é o espírito de profecia”. Suas experiências são as
experiências de todas as testemunhas de Jesus: 1) há em primeiro
lugar a absoluta solidão, pois onde estão agora os adoradores do
capítulo 11.1; os selados do capítulo 7? Por que as duas
testemunhas estão tão sozinhas? Não é porque elas têm que
anunciar toda a verdade em um mundo mentiroso? 2) Elas têm
ilimitado poder de vitória sobre o inimigo irado. Duas vezes é dito no
versículo 6 que elas “têm poder”. Em Lucas 10.19 o Senhor diz às
suas testemunhas e, assim, também a nós: “Eu dei a vocês
autoridade para pisarem sobre cobras e escorpiões, e sobre todo o
poder do inimigo; nada lhes fará dano”. 3) No ministério das duas
testemunhas também vemos um paralelo com a nossa tarefa: guerra
total contra o inimigo. No versículo 7 está escrito: “Quando eles
tiverem terminado o seu testemunho, a besta que vem do Abismo os
atacará. E irá vencê-los e matá-los”. Isto é uma vitória?! O mistério
do Gólgota nos é revelado aqui de forma retrospectiva e profética.
Foi uma vitória quando eles crucificaram o Senhor da glória? Sim, foi
uma vitória sobre o inferno, a morte e o Diabo!
Não é comovente o que é dito dos cadáveres das duas
testemunhas: “Os seus cadáveres ficarão expostos na rua principal
da grande cidade, que figuradamente é chamada Sodoma e Egito,
onde também foi crucificado o seu Senhor” (v. 8)? O próprio
acontecimento é horrível, pois, deixando isso acontecer, Israel
separa-se do seu fundamento: de Moisés e Elias. Jerusalém agora
se tornou semelhante a Sodoma e ao Egito: Sodoma – a síntese do
pecado; Egito – a síntese do inimigo. Assim o Senhor descreve para
João a Jerusalém dos tempos finais. O calar destas duas
testemunhas poderosas, como já vimos, produz júbilo mundial (v. 9-
10). Seus cadáveres poderão ser vistos – pela televisão, via satélite
– em todo o mundo, pois não serão sepultados. Todo o mundo
anticristão comemorará festivamente a morte das duas testemunhas
do Senhor.
Que tempo terrível, como nunca antes, deve ser a grande
tribulação! Esta exposição dos cadáveres durará três dias e meio.
Vem a noite, quando ninguém pode trabalhar! Esses três dias e meio
devem ser os últimos dos 1.260 dias do versículo 3; o final
aglomerado dos tempos finais. Eles, contudo, completaram seu
testemunho. Que todos nós também completemos o nosso!
O verdadeiro triunfo é revelado justamente pela morte deles:
“Mas, depois dos três dias e meio, entrou neles um sopro de vida da
parte de Deus, e eles ficaram em pé, e um grande terror tomou
conta daqueles que os viram” (v. 11). Aquele que, em sua vida
pessoal, aceita morrer com Jesus e ser ressuscitado com ele, esse
espalhará correspondentemente o fruto de Deus. Que grandiosa
visão profética antecipada para nós que vivemos atualmente!
A morte das duas testemunhas é semelhante à de Cristo.
Vejamos, nesta perspectiva, mais uma vez o versículo 8: “Os seus
cadáveres ficarão expostos na rua principal da grande cidade, que
figuradamente é chamada Sodoma e Egito, onde também foi
crucificado o seu Senhor”. Não é isso o tornar-se um com Cristo?
Elas morrem onde morreu o seu Senhor. Esse é o caminho de cada
testemunha neste tempo final antes do arrebatamento, pois: “Se
morremos com ele, com ele também viveremos” (2Tm 2.11). A
ressurreição das duas testemunhas é descrita no versículo 11 com a
mesma expressão que a ressurreição de Israel é em Ezequiel 37.10:
“... e o espírito entrou neles; eles receberam vida e se puseram em
pé”. Sobre as duas testemunhas é dito: “... entrou neles um sopro de
vida da parte de Deus, e eles ficaram em pé”. Assim vemos não
somente sua identidade com Jesus, mas também sua identidade com
Israel. Verdadeiramente, nesse caso as duas testemunhas solitárias
de Israel vão adiante de forma profética. Uma nova dimensão, o
arrebatamento delas, é acrescentada no versículo 12: “Então eles
ouviram uma forte voz dos céus, que lhes disse: ‘Subam para cá’. E
eles subiram para os céus numa nuvem, enquanto os seus inimigos
olhavam”. Cada testemunha de Jesus, cada renascido, espera esse
acontecimento a qualquer momento e anseia ser arrebatada dessa
Sodoma e Egito.
Minha pergunta bem pessoal para você é: o Senhor pode dizer a
seu respeito: ele/ela é minha testemunha? Durante a grande
tribulação haverá inúmeros crentes que morrerão como mártires,
mas sobre nenhum deles é lançada a luz como sobre essas duas
testemunhas. Elas ousaram o sagrado radicalismo por Jesus. Quem
ousa, nesta última hora do tempo da graça, dizer “sim” pessoalmente
a essa sagrada decisão por Jesus?
13
A Sétima Trombeta
(Ap 11.15–12.5)

15O sétimo anjo tocou a sua trombeta, e houve fortes vozes nos
céus, que diziam: “O reino do mundo se tornou de nosso Senhor
e do seu Cristo, e ele reinará para todo o sempre”. 16Os vinte e
quatro anciãos que estavam assentados em seus tronos diante de
Deus prostraram-se sobre seus rostos e adoraram a Deus,
17dizendo: “Graças te damos, Senhor Deus todo-poderoso, que és
e que eras, porque assumiste o teu grande poder e começaste a
reinar. 18As nações se iraram; e chegou a tua ira. Chegou o
tempo de julgares os mortos e de recompensares os teus servos,
os profetas, os teus santos e os que temem o teu nome, tanto
pequenos como grandes, e de destruir os que destroem a terra”.
19Então foi aberto o santuário de Deus nos céus, e ali foi vista a
arca da sua aliança. Houve relâmpagos, vozes, trovões, um
terremoto e um grande temporal de granizo.

1Apareceu no céu um sinal extraordinário: uma mulher vestida do


sol, com a lua debaixo dos seus pés e uma coroa de doze
estrelas sobre a cabeça. 2Ela estava grávida e gritava de dor, pois
estava para dar à luz. 3Então apareceu no céu outro sinal: um
enorme dragão vermelho com sete cabeças e dez chifres, tendo
sobre as cabeças sete coroas. 4Sua cauda arrastou consigo um
terço das estrelas do céu, lançando-as na terra. O dragão pôs-se
diante da mulher que estava para dar à luz, para devorar o seu
filho no momento em que nascesse. 5Ela deu à luz um filho, um
homem, que governará todas as nações com cetro de ferro. Seu
filho foi arrebatado para junto de Deus e de seu trono.

C
om a sétima trombeta nos aproximamos do clímax da história
mundial, que acontecerá em breve. Esses juízos do Todo-
Poderoso são os mais amplos e terríveis. A sétima trombeta
não será ouvida somente por um momento ou durante um dia, mas
por todo um período: “Mas, nos dias em que o sétimo anjo estiver
para tocar sua trombeta, vai cumprir-se o mistério de Deus, como
ele o anunciou aos seus servos, os profetas” (10.7). Portanto, nos
dias da sétima trombeta, que será ouvida após o arrebatamento e
durante a grande tribulação, o mistério de Deus será cumprido. Não
é dito por quanto tempo será ouvida essa trombeta, mas será
durante vários dias, pois é utilizado o plural: “... nos dias”. É o
terceiro “ai” que virá então sobre a terra: “O segundo ai passou; o
terceiro ai virá em breve” (11.14).
O cumprimento do mistério de Deus acontece após o
arrebatamento, mas não se dá sem as sete taças da ira, que ainda
seguem. O milênio, o juízo final diante do grande trono branco (cap.
20), o novo céu e a nova terra – tudo isso faz parte do mistério de
Deus que ainda precisa ser cumprido. Evidentemente que o
cumprimento do mistério de Deus inclui tudo que se encontra após a
redenção completa e já começou com o reaparecimento de Israel.
Este é um mistério, um milagre, que no início da década de 1940
praticamente ninguém esperava. No entanto, o mistério de Deus
começou a se cumprir e será concluído – etapa após etapa! Disso
faz parte tudo o que Deus, o Senhor, realizou desde 1948 e o que
continuará realizando. O cumprimento como tal, entretanto, será
iniciado nos dias em que o sétimo anjo tocar a trombeta. Nesta
sétima trombeta é desenrolado todo o plano de salvação. Trata-se
do cumprimento da plenitude divina, razão do número sete. As
circunstâncias que acompanham o soar da sétima trombeta são de
um significado profundo e abrangente.
“... e houve fortes vozes nos céus, que diziam: ‘O reino do mundo
se tornou de nosso Senhor e do seu Cristo’” (11.15). Estas fortes
vozes representam as vozes de todos os seres vivos no céu, que
ficam muito emocionados em vista daquilo que acontece agora na
terra. Elas anunciam o início do reino de Deus e de Jesus Cristo na
terra, quando o “reino do mundo” deverá se tornar o reino de nosso
Senhor. Portanto, o reino de Deus no mundo, através de Jesus
Cristo, será estabelecido quando estiver concluído o sétimo juízo das
trombetas. Jesus Cristo reinará então como Cordeiro, de eternidade
em eternidade, como lemos em Apocalipse 5.8-12: “Ao recebê-lo, os
quatro seres viventes e os vinte e quatro anciãos prostraram-se
diante do Cordeiro. Cada um deles tinha uma harpa e taças de ouro
cheias de incenso, que são as orações dos santos; e eles cantavam
um cântico novo: ‘Tu és digno de receber o livro e de abrir os seus
selos, pois foste morto e com teu sangue compraste para Deus
gente de toda tribo, língua, povo e nação. Tu os constituíste reino e
sacerdotes para o nosso Deus, e eles reinarão sobre a terra’. Então
olhei e ouvi a voz de muitos anjos, milhares de milhares e milhões de
milhões. Eles rodeavam o trono, bem como os seres viventes e os
anciãos, e cantavam em alta voz: ‘Digno é o Cordeiro que foi morto
de receber poder, riqueza, sabedoria, força, honra, glória e louvor!’”.
Quando o Cordeiro tomou o livro da mão de Deus, os vinte e
quatro anciãos e todos os seres celestiais viram figuradamente a
realização, o cumprimento final, do mistério de Deus na sétima
trombeta. Mas aqui no capítulo 11.16 está escrito: “Os vinte e quatro
anciãos que estavam assentados em seus tronos diante de Deus
prostraram-se sobre seus rostos e adoraram a Deus”. Eles
curvaram-se em adoração ainda mais profunda, porque agora
assistem como o Cordeiro de Deus, Jesus Cristo, cumpre tudo. Ele é
o cumprimento da Palavra em pessoa, pois ele é o Verbo. Os corpos
glorificados dos vinte e quatro anciãos prostram-se sob o peso da
admiração; todo o seu ser é arrebatado em virtude do cumprimento
que agora veem. O fluxo da sua alegria adoradora avança como um
mar de gratidão ao trono de Deus. Tudo isso ainda se encontra no
futuro. Se lembramos que os vinte e quatro anciãos coroados
representam toda a igreja de Jesus arrebatada e glorificada, então
sabemos que, como filhos de Deus, participaremos deste
acontecimento.
Primeiro nós vamos prostrar-nos e adorar (cap. 5), mas então,
quando o cumprimento do mistério de Deus prosseguir, vamos
prostrar-nos sobre os nossos rostos e nos curvar ainda mais
profundamente diante da sua majestade. Isso será glória! E já
podemos ver essa glória na Palavra! No entanto, que grandioso
contraste existirá então: na terra, as mais extremas trevas de juízo;
no céu, a maior glória! A vitória do Cordeiro ainda não é visível na
terra; sim, seria de se concluir que o Diabo está dominando. Ao soar
da sétima trombeta, porém, a igreja glorificada no céu vê o
cumprimento triunfal da vitória de Jesus. Quando estivermos
arrebatados, vamos ver ainda muito mais do que somos capazes de
ver atualmente através da Palavra!
No capítulo 11.17, os vinte e quatro anciãos começam a dizer algo
e repentinamente se interrompem. Isto é extremamente
esclarecedor. Eles dizem: “Graças te damos, Senhor Deus todo-
poderoso, que és e que eras...”. Ao invés de prosseguirem com “e
que virá”, eles dizem: “... porque assumiste o teu grande poder e
começaste a reinar”. Por que eles se interrompem aqui? Porque no
tempo da sétima trombeta já começou o futuro do Senhor! Então ele
já terá assumido a sua herança! Realiza-se aqui algo maravilhoso:
enquanto os vinte e quatro anciãos coroados, ou seja, os
representantes da igreja glorificada, se perdem na adoração e assim
mergulham no ser do Deus eterno, eles veem acontecer o que ainda
é futuro na terra. Na terra ainda é exercido o domínio anticristão,
mas no céu eles já veem como presente aquilo que é dito no capítulo
11.18: “As nações se iraram; e chegou a tua ira. Chegou o tempo de
julgares os mortos e de recompensares os teus servos, os profetas,
os teus santos e os que temem o teu nome, tanto pequenos como
grandes, e de destruir os que destroem a terra”.
Eles veem, portanto, o ódio dos povos contra o Senhor e seu
Ungido; contra Sião, contra Israel, e veem a ira de Deus e o juízo
final diante do grande trono branco. João também vê tudo isso como
que antecipadamente, pois o juízo diante do grande trono branco
acontecerá após o milênio. Os vinte e quatro anciãos e João veem a
bem-aventurança e o galardão para três categorias de crentes: 1) os
profetas, seus servos; 2) os santos; e 3) os que temem o nome dele.
Eles, no entanto, veem também a destruição para aqueles que
destroem a terra, ou seja, para aquelas pessoas que são a causa da
destruição da terra. Sempre existem alguns – até mesmo dentro da
igreja de Jesus – que se encarregam de fazer progredir a destruição,
prestando-se a ser estações de passagem do pecado. Se estamos
em Jesus, porém, somos estações finais do pecado – no sentido de
que levamos tudo para o santuário e não o tocamos mais.
Aqui no versículo 18 temos, portanto, o cumprimento e o juízo
final, que já são vistos no presente por aqueles que estão no céu.
Eles veem a prova de que o domínio de Deus passou a ser exercido
sobre a terra. Isso abrange também a multidão inumerável que vem
da grande tribulação, pois durante a grande tribulação muitos se
converterão – como mostramos no comentário sobre Apocalipse 7
(veja o cap. 8 deste livro): pessoas de nossos países cristianizados,
cristãos nominais, que tiveram que ficar para trás por ocasião do
arrebatamento, e pessoas do Terceiro Mundo.
João já vê esta inumerável multidão no céu enquanto ela ainda
está fisicamente na terra, onde nessa época se realizará uma terrível
carnificina e será um tempo tão terrível como nunca houve antes nem
haverá novamente. Israel será perseguido, e todos que crerem em
Jesus após o arrebatamento serão executados. João é, portanto,
levado em espírito de um salto sobre o desenrolar dos
acontecimentos até o alvo, tornando-se testemunha da realidade da
salvação, vendo Jesus como Vencedor. Também com você Deus
quer fazer isso. Também você pode ver isso em meio ao seu dia a
dia escuro, quando aumenta cada vez mais a pressão sobre a sua
alma, pois nosso combate de fé consiste justamente de partirmos do
fato celestial invisível, mas real: “‘Tudo sujeitaste debaixo dos seus
pés’. Ao lhe sujeitar todas as coisas, nada deixou que não lhe
estivesse sujeito. Agora, porém, ainda não vemos que todas as
coisas lhe estejam sujeitas” (Hb 2.8). Apeguemo-nos àquilo que não
vemos, e não naquilo que vemos (cf. 2Co 4.18)!
Servimos a Deus em espírito, ou seja, estamos firmados sobre o
chão da vitória. Assim nos é mostrado o que João vê no versículo
19, sendo que, para uma melhor compreensão, este versículo
deveria ser, na verdade, lido como parte do capítulo 12: “Então foi
aberto o santuário de Deus nos céus, e ali foi vista a arca da sua
aliança. Houve relâmpagos, vozes, trovões, um terremoto e um
grande temporal de granizo” (11.19). Observe as palavras “foi aberto
o santuário... nos céus” e “ali foi vista”. Aqui temos a realização do
resultado da morte do Senhor Jesus na cruz do Gólgota, pois o que
aconteceu em Jerusalém quando o Senhor Jesus morreu e exclamou:
“Está consumado!”? O véu do santuário rasgou-se de alto a baixo
(Mt 27.51) – o santuário foi aberto!
Em Apocalipse 11.19, na profecia sobre os tempos finais, vemos
como durante os terríveis juízos o céu é repentinamente aberto e a
arca da aliança, a presença de Deus, torna-se visível com o sangue
derramado. Sabemos que o templo terreno em Jerusalém é uma
sombra, ou seja, uma figura das coisas celestiais (Hb 8.5–9.23). No
cumprimento do mistério de Deus, ao soar da sétima trombeta, abre-
se o santuário do céu e revela-se o Lugar Santíssimo. O que aqui na
terra experimentamos em espírito – “Portanto, irmãos, temos plena
confiança para entrar no Lugar Santíssimo pelo sangue de Jesus...
por meio do véu, isto é, do seu corpo” (Hb 10.19-20) – será então
opticamente visível: o céu se abrirá. Essa será então a realidade
escatológica e do plano de salvação; a realidade visível!
“... e ali foi vista a arca da sua aliança” (v. 19). Aqui aparece pela
primeira vez no Apocalipse o grande tema que domina os meios de
comunicação em nossos dias: o povo de Israel! Essa arca é a
expressão visível da aliança de Deus com Israel. Todas as alianças
de Deus com seu povo Israel, todas as suas solenes promessas,
estão, no fundo, contidas nessa arca da aliança. Apesar da
destruição de Jerusalém, aparentemente a arca da aliança terrena
continuou existindo ainda por um longo tempo. Os livros apócrifos
não são Palavra de Deus, mas em parte são bastante interessantes
historicamente. Em 2Macabeus 2.4-8, por exemplo, está escrito que
o profeta Jeremias, em virtude de uma ordem de Deus, determinou
que a arca da aliança deveria ser escondida por aqueles que seriam
levados para o cativeiro babilônico, e que isso foi feito, de modo que
ela não teria sofrido dano por ocasião da destruição de Jerusalém.
Todavia, mais confiáveis são as informações da palavra inspirada
de Deus, que diz a respeito em Jeremias 3.16: “‘Quando vocês
aumentarem e se multiplicarem na sua terra naqueles dias’, declara o
S , ‘não dirão mais: “A arca da aliança do Senhor”. Não
pensarão mais nisso nem se lembrarão dela; não sentirão sua falta
nem se fará outra arca’”. No entanto, o modelo celestial original
permanece, como permanecem as promessas de Deus.
Nem uma de suas promessas envelheceu ou tornou-se inválida,
nem para nós, nem para Israel. Por isso, no final dos tempos
aparece a eterna arca da aliança. Com isso explicamos também o
reaparecimento de Israel com o objetivo divino de que ele se
converta e seja glorificado! Nós sabemos através do plano de
salvação que a arca da aliança sempre era acompanhada da glória e
do poder de Deus. Desse modo, as águas do Jordão retrocederam
quando os sacerdotes o atravessaram, e Israel pôde entrar em
Canaã. Na presença da arca da aliança, os muros de Jericó caíram
com enorme estrondo. Os filisteus, que profanaram a arca da
aliança, querendo roubá-la de Israel, foram violentamente
castigados. No entanto, milhares e milhares de israelitas estavam
seguros e eram abençoados quando estavam com ela. Aqui no
versículo 19 ela se torna visível no céu, como confirmação da
imutável fidelidade da aliança de Deus com o seu duramente afligido
povo de Israel, pois justamente então Israel estará passando por
algo muito difícil na terra.
Em reação ao aparecimento da arca da aliança, houve
“relâmpagos, vozes, trovões, um terremoto e um grande temporal de
granizo” (v. 19). A terra é abalada como que por uma explosão de
juízos quando Deus manifesta, com a arca da aliança, sua fidelidade
com relação a Israel. É como um Pentecostes negativo, como um
derramamento de uma plenitude de juízos; do mesmo modo como
temos um Pentecostes positivo: o derramamento do Espírito Santo
no dia de Pentecostes (At 2). Esse Pentecostes foi, em primeiro
lugar, um juízo individual sobre os discípulos, pois sobre cada um
deles pousaram o que parecia línguas de fogo. O juízo inicia pela
casa de Deus! Agora, porém, trata-se de um juízo geral, inevitável,
sem expiação substituta. Relâmpagos, vozes, trovões, terremoto e
grande temporal de granizo são um protesto de juízo divino contra
um mundo anticristão.
“Apareceu no céu um sinal extraordinário: uma mulher vestida do
sol...” (12.1). Junto com a arca da aliança não aparece aqui, como
muitos dizem apressadamente, uma mulher. Não se deve passar por
cima de nada no maravilhoso livro de Apocalipse. Primeiro fala-se de
um sinal. Como aceitamos tudo que aparece no Apocalipse
literalmente, fica claro aqui que se trata de um símbolo. Além disso,
é dito que se trata de um sinal extraordinário. Aquilo que aparece
claramente é algo muito importante aos olhos de Deus. Esse grande
sinal aparece no céu, o que indica um significado espiritual. Essa
mulher não é nem Maria, como ensinava antigamente a Igreja
Católica Romana, nem se trata de Jerusalém, como dizem muitos
comentaristas bíblicos. Os últimos baseiam-se na passagem bíblica
de Gálatas 4.26, onde Jerusalém é descrita como a nossa mãe.
Todavia, não devemos arrancar palavras bíblicas do contexto nem
interpretar a Palavra de Deus arbitrariamente.
Comentaristas que devem ser levados a sério acham que a mulher
seria a congregação dos crentes do Antigo e do Novo Testamento,
mas isso contradiz o fato de que então a igreja terá sido arrebatada
e não se encontra mais na grande tribulação. Conforme meu
entendimento, a mulher vestida do sol aponta indubitavelmente para
Israel, pois Israel e a arca da aliança estão relacionados. Aqui
aparece a mulher Israel, que nos tempos finais estará novamente em
primeiro lugar. Sabemos que os tempos finais começaram em 1948,
quando o Estado de Israel foi fundado novamente. Israel é o
verdadeiro centro dos acontecimentos dos tempos finais: trata-se do
sinal no relógio mundial de Deus pelo qual devemos nos orientar: “...
uma mulher vestida do sol, com a lua debaixo dos seus pés e uma
coroa de doze estrelas sobre a cabeça” (v. 1b). A mulher vestida do
sol representa todo o Israel, pois a coroa com as doze estrelas
aponta para as doze tribos de Israel. Em Romanos 11.25-26 está
escrito que todo o Israel será salvo após o arrebatamento da igreja
de Jesus: “Irmãos, não quero que ignorem este mistério, para que
não se tornem presunçosos: Israel experimentou um endurecimento
em parte, até que chegasse a plenitude dos gentios [em outras
palavras: até que se tenha convertido o último dentre os gentios. E
quando a plenitude estiver alcançada, acontecerá o arrebatamento].
E assim todo o Israel será salvo, como está escrito: ‘Virá de Sião o
redentor que desviará de Jacó a impiedade’”.
Quem compara a Escritura com a Escritura não se engana. A
visão de Apocalipse 12 faz referência ao sonho de José. Desse
sonho lemos em Gênesis 37.9: “Depois teve outro sonho e o contou
aos seus irmãos: ‘Tive outro sonho, e desta vez o sol, a lua e onze
estrelas se curvavam diante de mim’”. Com isso, não somente seus
irmãos ficaram irritados, mas também seu pai. É facilmente
compreensível que ele viu somente onze estrelas, pois ele mesmo
era a décima segunda. E seu sonho se realizou. O grande sinal em
Apocalipse 12.1 – a mulher vestida do sol com a lua debaixo dos pés
e uma coroa de doze estrelas na cabeça – mostra que todo o
Universo, sol, lua e estrelas estão subordinados à vocação de Israel.
O Senhor deixaria o Universo desmoronar antes de rejeitar a
descendência de Israel: “Assim diz o S , aquele que designou o
sol para brilhar de dia, que decretou que a lua e as estrelas brilhem
de noite, que agita o mar para que as suas ondas rujam; o seu nome
é o S dos Exércitos: ‘Somente se esses decretos
desaparecerem de diante de mim’, declara o S , ‘deixarão os
descendentes de Israel de ser uma nação diante de mim para
sempre’” (Jr 31.35-36). Aliás, quando Israel entrou na terra
prometida, conquistando-a e derrotando os inimigos pelo poder do
Senhor, Josué subordinou o sol e a lua pela fé no Senhor aos
objetivos estratégicos de Israel: “No dia em que o S entregou
os amorreus aos israelitas, Josué exclamou ao S , na
presença de Israel: ‘Sol, pare sobre Gibeom! E você, ó lua, sobre o
vale de Aijalom!’ O sol parou, e a lua se deteve, até a nação vingar-
se dos seus inimigos” (Js 10.12-13). Aí se vê claramente que o sol e
a lua servem à glória de Israel. A coroa da mulher com as doze
estrelas, a glória celestial, representa a vocação de Israel. O
testemunho mais elevado e perfeito procede de Israel, como o
próprio Senhor Jesus disse: “... a salvação vem dos judeus” (Jo
4.22). No futuro, no reino milenar, quando Jesus tiver voltado e
assumido o governo, a Palavra do Senhor sairá da cidade de
Jerusalém para todo o mundo (Is 2.1ss; 66.19).
O fato de João ver essa mulher no céu significa que ele a vê da
perspectiva eterna, ou seja, ele vê toda a história de Israel, tanto em
retrospecto como olhando adiante. Nesta visão do futuro ele vê o
grande sinal da mulher. Quando se entende isso, fica claro também o
que vem a seguir, pois na mulher temos o resumo de todo o plano de
salvação, desde o nascimento de Jesus até o seu retorno: “Apareceu
no céu um sinal extraordinário: uma mulher vestida do sol, com a lua
debaixo dos seus pés e uma coroa de doze estrelas sobre a cabeça.
Ela estava grávida e gritava de dor, pois estava para dar à luz. Então
apareceu no céu outro sinal: um enorme dragão vermelho com sete
cabeças e dez chifres, tendo sobre as cabeças sete coroas. Sua
cauda arrastou consigo um terço das estrelas do céu, lançando-as
na terra. O dragão pôs-se diante da mulher que estava para dar à
luz, para devorar o seu filho no momento em que nascesse. Ela deu
à luz um filho, um homem, que governará todas as nações com cetro
de ferro. Seu filho foi arrebatado para junto de Deus e de seu trono”
(v. 1-5). Que afirmação profética e compacta: “Ela estava grávida e
gritava de dor, pois estava para dar à luz”. Isto descreve a história
de Israel até o nascimento de Jesus. O que Israel passou até o
nascimento de Jesus! Quanto sofreu! Por quê, afinal? Na minha
opinião existem dois motivos para isso:
O primeiro é por causa da pecaminosidade: João vê Israel aqui
em sua maravilhosa vocação e destino divino, ou seja, como Deus vê
Israel; contudo, na terra a situação é bem diferente. No entanto,
assim Deus também quer nos ver, e assim ele nos vê em Jesus
Cristo: perfeitos e em dignidade real: “Portanto, agora já não há
condenação para os que estão em Cristo Jesus” (Rm 8.1). Portanto,
João vê aqui o nascimento do Messias retrospectivamente. Mas
quanto esforço e trabalho o Senhor teve com Israel! Ele lamenta
através de Isaías: “Mas você me sobrecarregou com seus pecados
e me deixou exausto com suas ofensas” (Is 43.24).
Então nasceu Jesus, o Messias, o grande Filho de Israel que, ao
mesmo tempo, era e é o Filho de Deus. Você percebe que também
você causa muito esforço e trabalho ao Senhor? Que dores de parto
sofre o Espírito Santo até que Jesus possa revelar-se através da
nossa carne mortal! Nós, que pertencemos à igreja de Jesus, somos
pecadores perdoados, mas ainda vivemos na carne pecaminosa.
Quem aceita o Gólgota para seu “eu” pecaminoso é transformado
em imagem de Jesus. Também Paulo sabia que há dores de parto
até que Jesus se revele em e através de nós. Ele escreve aos
gálatas: “Meus filhos, novamente estou sofrendo dores de parto por
sua causa, até que Cristo seja formado em vocês” (4.19). Que dores
nós mesmos nos causamos quando insistimos em nosso impulso de
conservação diante da revelação de Jesus Cristo em nossa vida. Se
você pergunta por que precisa passar por certas coisas, então aqui
vai a resposta: Deus quer que Jesus Cristo seja revelado através de
você!
O segundo motivo das dores da mulher é citado nos versículos 3-
4: “Então apareceu no céu outro sinal: um enorme dragão vermelho
com sete cabeças e dez chifres, tendo sobre as cabeças sete
coroas. Sua cauda arrastou consigo um terço das estrelas do céu,
lançando-as na terra. O dragão pôs-se diante da mulher que estava
para dar à luz, para devorar o seu filho no momento em que
nascesse”. O significado profético global dos dois sinais no céu é: a
mulher está revestida dos símbolos do poder celestial; o dragão,
com os símbolos do poder terreno, pois ele tem “sete cabeças e dez
chifres, tendo sobre as cabeças sete coroas”. O dragão não é o
Anticristo, mas o Diabo. Os dois têm muitas semelhanças, mas com
uma diferença: enquanto o grande dragão vermelho tem sobre suas
cabeças os sinais do poder terreno, o Anticristo tem eles sobre seus
chifres: “Vi uma besta que saía do mar. Tinha dez chifres e sete
cabeças, com dez coroas, uma sobre cada chifre, e em cada cabeça
um nome de blasfêmia” (13.1). Isto significa que Satanás é o
verdadeiro dominador. Poderíamos descrever Satanás como o poder
legislativo e o Anticristo como o executivo, como poder executor.
No versículo 4 lemos o que Satanás, o dragão vermelho, faz
quando aparece diante de Israel: “Sua cauda arrastou consigo um
terço das estrelas do céu, lançando-as na terra”. Voltamos
novamente para Jeremias 31.35-36, onde é mostrado que o Senhor
deixaria desaparecer o sol, a lua e as estrelas antes de rejeitar a
descendência de Israel. Depois que o dragão tenta agredir Israel, o
Universo é afetado: a terça parte das estrelas é lançada sobre a
terra. Quando Israel aparecer na história mundial, o que já
aconteceu; quando a igreja de Jesus for arrebatada, e ela o será em
breve; quando vier o Messias, e isso acontecerá muito em breve,
então será cumprida a profecia de Jesus: “Imediatamente após a
tribulação daqueles dias ‘o sol escurecerá, e a lua não dará a sua
luz; as estrelas cairão do céu, e os poderes celestes serão
abalados’. Então aparecerá no céu o sinal do Filho do homem, e
todas as nações da terra se lamentarão e verão o Filho do homem
vindo nas nuvens do céu com poder e grande glória” (Mt 24.29-30).
Percebe-se: a profecia bíblica tem uma linha. Aqui no capítulo
12.3-4 é descrita a antiga má serpente, que quer destruir, ou
devorar, o descendente da mulher. Milenares contextos proféticos
são resumidos e expressos em poucas palavras. Uma parte deles
cumpriu-se há quase dois mil anos: quando nasceu a criança de
Israel, ou seja, por ocasião da primeira vinda do Messias, Satanás
fez uso do rei Herodes para matá-la. O Senhor, porém, a protegeu e
levou-a ao Egito. Mais tarde ocorreram outros ataques à vida do
Senhor Jesus, pois de modo nenhum Satanás queria que ele
chegasse ao Gólgota. A outra parte, a parte final, vai cumprir-se
justamente antes da volta do Senhor Jesus.
Enquanto que o primeiro cumprimento se referia à pessoa do
Messias – “O dragão pôs-se diante da mulher que estava para dar à
luz, para devorar o seu filho no momento em que nascesse” – o
segundo refere-se às primícias de Deus e do Cordeiro durante a
grande tribulação. E quem são essas primícias? Observe o que está
em Apocalipse 12.5: “Ela deu à luz um filho, um homem...”. Esse
“homem” são os cento e quarenta e quatro mil selados de Israel que,
segundo Apocalipse 14, estarão com o Cordeiro sobre o monte Sião:
“Então olhei, e diante de mim estava o Cordeiro, em pé sobre o
monte Sião, e com ele cento e quarenta e quatro mil que traziam
escritos na testa o nome dele e o nome de seu Pai. Foram
comprados dentre os homens e ofertados como primícias a Deus e
ao Cordeiro” (14.1,4b). Sem dúvida eles também serão arrebatados
e participarão do seu domínio. Esta é a razão do ódio de Satanás.
Agora compreendemos o duplo significado da palavra do capítulo
12.5: “Ela deu à luz um filho, um homem, que governará todas as
nações com cetro de ferro”. Pelo fato de que, como explicamos
diversas vezes, os acontecimentos do plano de salvação na terra –
tanto do passado como do futuro – são presente eterno no céu,
vemos ao mesmo tempo a ascensão do Filho de Deus: “Seu filho foi
arrebatado para junto de Deus e de seu trono” (v. 5b), o
arrebatamento já realizado da igreja de Jesus, que pertence
inseparavelmente a Cristo, e também o arrebatamento dos cento e
quarenta e quatro mil durante a grande tribulação, pois no versículo 6
temos novamente diante de nós a época anticristã, quando a própria
mulher foge do dragão: “A mulher fugiu para o deserto, para um
lugar que lhe havia sido preparado por Deus, para que ali a
sustentassem durante mil duzentos e sessenta dias” (12.6). Então o
dragão irá guerrear contra o “restante” da descendência da mulher
(12.17): os que guardaram os mandamentos de Deus e têm o
testemunho de Jesus, ou seja, os cento e quarenta e quatro mil
selados de Israel. Todavia, esses serão então, como dissemos,
arrebatados para Deus.
Aqui revela-se a cronologia produzida pelo Espírito, se bem que
tudo isso se efetivará somente depois do arrebatamento: “Seu filho
foi arrebatado para junto de Deus e de seu trono. A mulher fugiu
para o deserto”. Por um lado, há aproximadamente dois milênios
entre as duas frases, pois a fuga de Israel acontecerá depois do
arrebatamento, ou seja, durante a grande tribulação. Por outro,
quanto ao plano de salvação, está tudo relacionado, assim como a
primeira e a segunda vinda de Jesus são uma só coisa, apesar de
haver um período de quase dois mil anos entre a ascensão do
Senhor Jesus Cristo e a grande tribulação. Portanto, vemos que
aquilo que João vê na luz celestial aconteceu e acontece sob
terríveis lutas na terra. Durante séculos Israel estava com dores de
parto. Então aconteceu o nascimento do maior Filho de Israel, Jesus
Cristo. Após sua obra consumada, ele foi arrebatado para Deus
como único governante legítimo. Chama a atenção que são utilizadas
duas descrições para a criança, e essa é uma prova que aqui no
nascimento dela realmente se trata do Filho de Deus, do Messias.
No versículo 5 está escrito: “Ela deu à luz um filho, um homem...”,
enquanto no versículo 4 é falado de uma “criança” (NVT) – então
criança e filho. Isto lembra Isaías 9.6: “Porque um menino [criança]
nos nasceu, um filho nos foi dado”. Assim reconhecemos que se fala
de Jesus Cristo.
Através dessa visão vemos nos versículos 3-4 também o velho e
mau inimigo, que está agindo durante séculos e agora aparece na
luta final, apresentando-se como dragão vermelho, como fogo diante
da mulher que está para dar à luz. Já na primeira página da Bíblia
encontramos o Diabo no paraíso, diante de uma mulher, para
enganá-la e desviá-la de Deus. Ele conseguiu, e em seguida o
Senhor Deus disse à serpente as poderosas palavras: “Porei
inimizade entre você e a mulher, entre a sua descendência e o
descendente dela; este ferirá a sua cabeça, e você lhe ferirá o
calcanhar” (Gn 3.15).
Agora, no último livro da Bíblia, nos são apresentados novamente
os dois partidos; entretanto, com indícios inversos. No paraíso,
Satanás parecia vencer; aqui vemos o triunfo do Eterno. Apesar do
dragão ter sete cabeças, dez chifres e sete coroas, como já
dissemos, ele não é o Anticristo. O número dez (dez chifres) indica a
totalidade do domínio político mundial. O dragão é o “anti-Pai”, pois
está escrito no capítulo 12.9: “O grande dragão foi lançado fora. Ele
é a antiga serpente chamada Diabo ou Satanás”. Por isso é também
ele que dá o poder à besta: “... tinha dado autoridade à besta”
(13.4).
A besta é o “anti-Filho” e o Falso Profeta é o “anti-Espírito”; como
o dragão é o “anti-Pai”, eles formam uma trindade satânica. Em
Daniel 7.7 a besta é descrita de maneira semelhante como o último
império mundial: “... um quarto animal, aterrorizante, assustador e
muito poderoso. Tinha grandes dentes de ferro, com os quais
despedaçava e devorava suas vítimas e pisoteava tudo o que
sobrava. Era diferente de todos os animais anteriores e tinha dez
chifres”. O Senhor Jesus chama-o de “príncipe deste mundo”.
Satanás é o ocupante do anti-trono. Com suas palavras, Jesus indica
o combate que naquele tempo já estava sendo travado há muito e foi
realizado na cruz do Gólgota. Paulo chama o grande dragão de
“deus desta era” (2Co 4.4). A cor do dragão é vermelha como fogo;
trata-se da cor da fúria e do ódio. É dessa fúria que fala o capítulo
12.12: “... está cheio de fúria”.
O dragão levanta-se agora para devorar a criança que ainda irá
nascer. Desde o nascimento de Jesus até sua vitória na cruz do
Gólgota, como dissemos, o inimigo tentou devorá-lo. Ele não queria
permitir que Jesus Cristo subisse ao céu como Triunfador sobre ele,
o príncipe das trevas e da morte. Com grande esforço e grandiosa
ira, Satanás queria evitar isso a qualquer custo. Enquanto a mulher
se contorcia em dores de parto – isso é Israel no juízo e na
dispersão – ele já se deteve diante dela, pois sabia que Jesus
nasceria na plenitude do tempo. Somente assim podemos
compreender as coisas terríveis que Israel já teve que passar antes
do nascimento de Jesus. Pensemos somente na perseguição sob
Antíoco Epifânio, que edificou um altar a Zeus no templo e
atormentou os filhos de Israel, assassinando muitos deles. Ou
pensemos nos cativeiros assírio e babilônico, entre outros. Isso foi
assim até o nascimento de Jesus.
Quando, por fim, ele nasceu – como foi quase impossível para
Maria e José chegarem a Belém ainda antes do nascimento! E,
quando finalmente estavam lá, não acharam lugar na hospedaria.
Deus permitiu tudo isso, mas atrás estava Satanás, que queria
destruir a vida em formação. Após o nascimento, houve a fuga para
o Egito e, mais tarde, a perseguição pelas autoridades religiosas.
Justamente antes do Gólgota Satanás realizou mais uma vez um
ataque em grande escala contra Jesus, pretendendo matá-lo no
Getsêmani. Ali o Senhor Jesus já estava em agonia; até suava
sangue.
Muitos acham que Jesus ficou com medo em vista do Gólgota,
tendo exclamado por isso: “Aba, Pai, tudo te é possível. Afasta de
mim este cálice; contudo, não seja o que eu quero, mas sim o que tu
queres” (Mc 14.36). Tal interpretação, porém, desonra nosso
Senhor. No Getsêmani ele não ficou com medo do Gólgota, mas
clamou e chorou porque o Diabo estava a ponto de matá-lo ali
mesmo, sem que aparentemente Deus o impedisse. Deus colocava
seu Filho à prova pela última vez. Então Jesus, em sua aflição, disse
aos seus discípulos que dormiam: “Vocês não puderam vigiar comigo
nem por uma hora? A minha alma está profundamente triste, numa
tristeza mortal”. Mas ele submeteu-se à vontade do seu Pai; então
veio um anjo do céu e o fortaleceu (Lc 22.43; Hb 5.7). Ele foi
“obediente até a morte”, isso é Getsêmani; “... e morte de cruz”, isso
é Gólgota (Fp 2.8). O Filho de Deus venceu Satanás através de
completa obediência na fé. Por isso, justamente antes do Getsêmani,
ele podia dizer de forma tão majestosa: “... o príncipe deste mundo
está vindo. Ele não tem nenhum direito sobre mim” (Jo 14.30).
Durante a grande tribulação, o inimigo vai querer então procurar
destruir a qualquer preço os recém-nascidos de Israel, os cento e
quarenta e quatro mil israelenses que creram. Justamente por isso
eles são selados em suas testas da parte de Deus pelo “outro anjo
subindo do Oriente, tendo o selo do Deus vivo” – que é o próprio
Jesus Cristo (7.2-4). Portanto, o inimigo não vai poder tocá-los;
contudo, nós, que estamos em Jesus Cristo, também somos
atualmente seriamente ameaçados. Nosso nascimento, ou seja,
renascimento, aconteceu. Somos nascidos do Deus de Israel (1Jo
3.9). Israel é nossa fonte, pois a palavra de Jesus – “a salvação vem
dos judeus” – continua totalmente válida. Fomos enxertados na
oliveira verdadeira como ramos de oliveira brava (Rm 11.17-18).
Desde nosso renascimento, o grande dragão vermelho deteve-se
diante de nós para nos devorar. Pedro formulou isso da seguinte
maneira: “O Diabo, o inimigo de vocês, anda ao redor como leão,
rugindo e procurando a quem possa devorar” (1Pe 5.8). Ele quer
impedir a qualquer preço que você, como membro do corpo de
Cristo, seja arrebatado como vencedor. Por isso você é tentado
tantas vezes. Todavia, eu repito: quando Jesus Cristo subiu ao céu,
nós já nos encontrávamos em seus lombos, assim como Levi já
estava nos lombos de Abraão quando Melquisedeque foi ao seu
encontro (cf. Hb 7.9-10 ACF). Nós somos membros do seu corpo,
carne da sua carne e ossos dos seus ossos. Por Cristo estar em nós
e nós nele, em princípio já estamos arrebatados. Por isso Paulo fala
a respeito como algo que já é realidade: “Deus nos ressuscitou com
Cristo e com ele nos fez assentar nas regiões celestiais em Cristo
Jesus” (Ef 2.6).
Eis que agora se repete a história e o círculo do plano de
salvação se fecha: a mulher Israel é o grande sinal atualmente. Ela
se encontra em fortes dores de parto para a revelação do reino de
Deus na terra. Quando dizemos frequentemente que Israel é
atribulado e violentamente atacado por antissemitas, por povos
antissemitas – atrás dos quais está ninguém menos que Satanás –
devemos na verdade fazer uma restrição: o ódio de Satanás ainda
não é dirigido completa e inteiramente contra Israel. Isso acontecerá
somente depois do arrebatamento, quando a mulher tiver que fugir
para o deserto (12.6).
Todo o ódio do inimigo volta-se atualmente contra a descendência
da mulher, que é a igreja de Jesus. Em certo sentido, nós, que
pertencemos à igreja de Jesus, somos o “Israel de Deus” (Gl 6.16),
mas não no lugar de Israel, e sim como interposição no plano de
salvação. Encontramo-nos entre a rejeição e a nova aceitação de
Israel. O inimigo ruge e se detém diante da mulher, mas ele ainda
não a toca. Nós, porém, estamos em combate! É o que o apóstolo
Paulo quer dizer quando exclama em Efésios 6.12: “Pois a nossa luta
não é contra seres humanos, mas contra os poderes e autoridades,
contra os dominadores deste mundo de trevas, contra as forças
espirituais do mal nas regiões celestiais”. Enfrentamos o grande
dragão vermelho. Por isso, nestes últimos dias anteriores ao
arrebatamento, é tão perigoso não permanecer em Jesus! Atrás do
dragão, de Satanás, já espera a besta, o Anticristo ou o aparente
cristo. Aqui vemos o arrebatamento e o Anticristo bem próximos:
Apocalipse 12 – o dragão, Satanás, que espera devorar a preciosa
descendência, os renascidos que aguardam o arrebatamento.
Apocalipse 13 – a besta, o aparente cristo. Por isso, é um perigo
mortal capengar de ambos os lados justamente antes do
arrebatamento, pois ter o coração dividido com relação ao Senhor
leva obrigatoriamente para o campo de ação destruidor do Anticristo.
Ó terra, terra, ouve a Palavra do Senhor!
14
A Proteção de Israel na Grande
Tribulação
(Ap 12.6-18)

6A mulher fugiu para o deserto, para um lugar que lhe havia sido
preparado por Deus, para que ali a sustentassem durante mil
duzentos e sessenta dias. 7Houve então uma guerra nos céus.
Miguel e seus anjos lutaram contra o dragão, e o dragão e os
seus anjos revidaram. 8Mas estes não foram suficientemente
fortes, e assim perderam o seu lugar nos céus. 9O grande dragão
foi lançado fora. Ele é a antiga serpente chamada Diabo ou
Satanás, que engana o mundo todo. Ele e os seus anjos foram
lançados à terra. 10Então ouvi uma forte voz dos céus, que dizia:
“Agora veio a salvação, o poder e o Reino do nosso Deus, e a
autoridade do seu Cristo, pois foi lançado fora o acusador dos
nossos irmãos, que os acusa diante do nosso Deus, dia e noite.
11Eles o venceram pelo sangue do Cordeiro e pela palavra do
testemunho que deram; diante da morte, não amaram a própria
vida. 12Portanto, celebrem-no, ó céus, e os que neles habitam!
Mas ai da terra e do mar, pois o Diabo desceu até vocês! Ele está
cheio de fúria, pois sabe que lhe resta pouco tempo”. 13Quando o
dragão foi lançado à terra, começou a perseguir a mulher que
dera à luz o menino. 14Foram dadas à mulher as duas asas da
grande águia, para que ela pudesse voar para o lugar que lhe
havia sido preparado no deserto, onde seria sustentada durante
um tempo, tempos e meio tempo, fora do alcance da serpente.
15Então a serpente fez jorrar da sua boca água como um rio, para
alcançar a mulher e arrastá-la com a correnteza. 16A terra, porém,
ajudou a mulher, abrindo a boca e engolindo o rio que o dragão
fizera jorrar da sua boca. 17O dragão irou-se contra a mulher e
saiu para guerrear contra o restante da sua descendência, os que
obedecem aos mandamentos de Deus e se mantêm fiéis ao
testemunho de Jesus. 18Então o dragão se pôs em pé na areia do
mar.

J
á sabemos que o grande sinal que apareceu no céu – a mulher
– é Israel e o outro sinal – o dragão –, que se deteve diante da
mulher e queria devorar o seu filho quando nascesse, é
Satanás. No versículo 1 vimos a mulher no céu, vestida do sol com a
lua debaixo dos pés e uma coroa de doze estrelas na cabeça. Agora
a mulher encontra-se em grande aflição sobre a terra. Trata-se do
tempo da grande tribulação, no qual Israel será perseguido pelo
dragão.
Muitos comentaristas do Apocalipse acham que, pelo fato da
mulher ser escondida e sustentada durante mil duzentos e sessenta
dias no deserto, trata-se somente da segunda metade da grande
tribulação. Isso está certo em parte; porém, deve-se observar ainda
outra coisa: já vimos que, no sinal da mulher e do dragão, é
reproduzida toda a história de Israel: durante séculos Israel sofreu
fortes dores de parto até o nascimento do Messias, então aconteceu
o arrebatamento do Messias e com ele, do ponto de vista do plano
de salvação, o arrebatamento da igreja de Jesus, pois, quando ele
subiu ao céu, em princípio nós já estávamos em seu corpo. Por isso
Deus nos ressuscitou e nos fez assentar juntamente com ele “nas
regiões celestiais em Cristo Jesus” (Ef 2.6). Em seguida, o
nascimento vindo de Israel nos tempos finais: os cento e quarenta e
quatro mil selados, as primícias a Deus e ao Cordeiro, que vemos
depois em Apocalipse 14. Por isso não temos aqui, na mulher que
foge no versículo 6, somente a representação do Israel duramente
afligido durante a tribulação, mas, ao mesmo tempo, também a do
Israel perseguido durante milênios, o judeu peregrino. Israel, porém,
foi sustentado por Deus e preservado como nação – e somente isso
já é um grande milagre – em meio ao “deserto das nações”. Em
Ezequiel 37.12 o Senhor chama as nações de “túmulos” de Israel.
Já vimos a representação da perseguição pelo grande dragão
vermelho, durante a grande tribulação, quando todo o povo de Israel
fugiu do Egito e o dragão egípcio perseguiu-o para destruí-lo. Em
Ezequiel 29.3-5 lemos desse faraó do Egito, que é literalmente
chamado de “grande dragão” (ACF). Ele perseguiu Israel com
seiscentos carros e ainda outros que haviam no Egito, mas o Senhor
combateu por Israel e destruiu os egípcios no mar Vermelho (Êx 14).
Em Isaías 30.6 o Egito é chamado de “terra de dificuldade e
angústia, de onde vem... a víbora e a flamejante serpente voadora
[dragão]” (BKJ). Como esse Egito encolerizado, na pessoa do faraó,
perseguiu a mulher Israel! No entanto, já naquele tempo o Senhor
Deus tinha preparado um lugar no deserto, onde protegeu Israel de
maneira maravilhosa durante quarenta anos e o sustentou com maná.
Repetidamente tentou-se explicar racionalmente essa alimentação de
Israel, mas isso não é possível, pois trata-se de um milagre de Deus.
Por último vemos agora, na segunda metade da grande tribulação,
a mulher fugindo de Satanás, que, tendo sido então lançado sobre a
terra, persegue-a com grande ira. O motivo de Satanás, o dragão
irado, perseguir a mulher é explicado não somente pela ascensão
vitoriosa do Messias para Deus (v. 5), mas também pelo resultado
da conclusão triunfal da obra de Cristo na terra: “Houve então uma
guerra nos céus. Miguel e seus anjos lutaram contra o dragão, e o
dragão e os seus anjos revidaram. Mas estes não foram
suficientemente fortes, e assim perderam o seu lugar nos céus. O
grande dragão foi lançado fora. Ele é a antiga serpente chamada
Diabo ou Satanás, que engana o mundo todo. Ele e os seus anjos
foram lançados à terra” (v. 7-9). Apesar do fato de que os homens
não verão esses grandiosos acontecimentos no mundo invisível, eles
os sentirão, porque então esses seres espirituais, Satanás e seus
anjos, estarão realmente sobre a terra. Acontecerá uma terrível
invasão do inferno, que foi precedida por uma batalha no céu. Esse
grandioso acontecimento se dará no início dos mil duzentos e
sessenta dias: 1.260 dias = 42 meses = 3½ anos = a segunda
metade da grande tribulação. Na batalha realizada no céu, trata-se
de saber se Satanás e sua hierarquia podem ser expulsos do céu ou
não. Vimos, nos versículos 5 e 6, como a criança foi arrebatada para
Deus até o seu trono, e na criança reconhecemos o Messias e com
ele a igreja de Jesus. Logo em seguida vem essa violenta luta no
céu. Portanto, trata-se também de um resultado do arrebatamento
da igreja.
Quando Jesus Cristo, o “varão”, aparecer nas nuvens do céu e
arrebatar para si os que comprou com seu sangue, ele descerá do
céu “com a voz do arcanjo” (1Ts 4.16). Observemos que não está
escrito “a voz de um arcanjo”, mas “do arcanjo”. Trata-se de Miguel.
Miguel significa “Quem é como Deus?”. Não é por acaso que, no
plano de salvação, Miguel constantemente enfrenta Satanás, pois
trata-se dos dois polos opostos. Antes da sua queda, Satanás
também era um poderoso príncipe angelical, provavelmente até um
arcanjo. Em seu coração, porém, nasceu o pecado: “... serei como o
Altíssimo” (cf. Is 14.12-15).
Miguel aparece repetidamente no plano de salvação. Conforme
Daniel 12.1, ele é o grande príncipe, o defensor dos filhos de Israel.
Ele é o único anjo chamado de arcanjo. Em Daniel 10 lemos que
Daniel pranteou, jejuou e orou pela restauração e volta de Israel do
cativeiro durante três semanas. Então um príncipe angelical lutou
para chegar até ele, a fim de tentar fazer retroceder o príncipe das
trevas. Depois de finalmente chegar em Daniel, ele diz: “Não tenha
medo, Daniel. Desde o primeiro dia em que você decidiu buscar
entendimento e humilhar-se diante do seu Deus, suas palavras foram
ouvidas, e eu vim em resposta a elas. Mas o príncipe do reino da
Pérsia me resistiu durante vinte e um dias. Então Miguel, um dos
príncipes supremos, veio em minha ajuda, pois eu fui impedido de
continuar ali com os reis da Pérsia. Agora vim explicar a você o que
acontecerá ao seu povo no futuro, pois a visão se refere a uma
época futura... mas antes revelarei a você o que está escrito no Livro
da Verdade. E nessa luta ninguém me ajuda contra eles, senão
Miguel, o príncipe de vocês” (Dn 10.12-14,21). Portanto, Miguel
defende Israel.
Nesta passagem há um paralelo maravilhoso: no momento do
arrebatamento, o Senhor Jesus virá nas nuvens do céu com a última
trombeta e com a voz do arcanjo. Isso significa que Miguel começará
imediatamente a agir e iniciar a batalha no céu.nota 10 É o que também
está escrito em Daniel 12.1: “Naquela ocasião Miguel, o grande
príncipe que protege o seu povo, se levantará. Haverá um tempo de
angústia como nunca houve desde o início das nações até então.
Mas naquela ocasião o seu povo, todo aquele cujo nome está escrito
no livro, será liberto”. Este é o mesmo acontecimento de Apocalipse
12. A grande guerra no mundo invisível é travada por causa de
Israel. Que ela deverá ser muito violenta podemos concluir pelo fato
de ser citada três vezes em um curto versículo: “Houve então uma
guerra nos céus. Miguel e seus anjos lutaram contra o dragão, e o
dragão e os seus anjos revidaram” (v. 7). Podemos sentir que deve
se tratar de um confronto terrível.
Isso é algo muito incomum no plano de salvação, pois até então a
ira de Satanás era dirigida contra a descendência da mulher, e não
contra a mulher. A descendência da mulher é, como já dissemos, a
igreja de Jesus. Ela se encontra hoje em meio à luta contra esses
poderes das trevas nos lugares celestiais, pois eles ainda não foram
expulsos de lá: “Pois a nossa luta não é contra seres humanos, mas
contra os poderes e autoridades, contra os dominadores deste
mundo de trevas, contra as forças espirituais do mal nas regiões
celestiais” (Ef 6.12). Esses não foram, portanto, lançados no Abismo
– apesar de lá também haver muitos deles – mas se encontram “nas
regiões celestiais”, como diz o final do versículo bíblico citado acima
(cf. o cap. 15 deste livro). No entanto, quando ocorrer o
arrebatamento da igreja, o dragão e os seus anjos não terão mais
lugar ali, pois a igreja triunfante passa apressadamente pelas regiões
celestiais ao encontro do Senhor. Esta é a razão do alto grito do
grande e forte arcanjo Miguel no momento em que o Senhor Jesus
voltar para arrebatar os seus.
Miguel já lutou em tempos remotos contra Satanás por ocasião de
uma mudança decisiva na história de Israel. Um dos irmãos físicos
do Senhor, Judas, relata a respeito: “Contudo, nem mesmo o arcanjo
Miguel, quando estava disputando com o Diabo acerca do corpo de
Moisés, ousou fazer acusação injuriosa contra ele, mas disse: ‘O
Senhor o repreenda!’” (Jd 9). Isso aconteceu quando Israel se
encontrava na fronteira da terra prometida, por ocasião do seu
primeiro retorno, e Moisés morreu. Portanto, tratava-se de Israel.
Em uma mudança posterior de rumo na história de Israel, por
ocasião do seu segundo retorno à terra dos pais, Satanás agarrou-
se novamente ao mais elevado representante de Israel. Em Zacarias
3 lemos que o sumo sacerdote Josué estava diante do anjo do
Senhor, diante da face do Senhor. Satanás, porém, encontrava-se ao
seu lado, para lhe resistir. Conforme meu entendimento, o anjo do
Senhor do qual se fala aqui é Miguel. Ele repreende Satanás e diz:
“O S o repreenda, Satanás! O S que escolheu
Jerusalém o repreenda! Este homem não parece um tição tirado do
fogo?” (Zc 3.2). Neste caso também se tratava de Israel e
Jerusalém. Também nos nossos dias, em todos os lugares onde
houve e há luta por Jerusalém e Israel, Miguel está presente lutando
e combatendo. No mundo invisível acontecem muitas coisas; existem
mais coisas que não vemos do que coisas que vemos! Por isso é tão
importante que, através de Jesus, estejamos completamente a limpo
com o Deus invisível, pois de outro modo os poderes das trevas têm
direitos sobre nós.
É terrível quando uma pessoa não segue completamente o
caminho após o Cordeiro! Através de coisas mínimas, o velho e mau
inimigo pode prendê-lo. Jonas exclamou, advertindo no ventre do
peixe: “Aqueles que acreditam em ídolos inúteis desprezam a
misericórdia” (Jn 2.8). Até estar com idade elevada, o inimigo
procura obter algum direito sobre você, através de diferentes
maneiras sorrateiras, para que vá para as trevas. Jesus, porém, é
vencedor sobre todos os poderes das trevas! Da sua parte,
entretanto, é necessário haver um “sim” completo a Jesus e um “não”
completo ao pecado!
Retornemos mais uma vez a Daniel 10. O príncipe angelical que
encontrou-se com Daniel, após ser impedido por três semanas, ficou
muito agradecido pelo auxílio de Miguel (Dn 10.13), pois era preciso
comunicar a Daniel, que estava orando, o que aconteceria com Israel
(Dn 10.21). Conforme o testemunho desse príncipe angelical
(provavelmente tratava-se de Gabriel), Miguel veio em seu auxílio,
expulsando os poderes das trevas que o impediam. No entanto, no
cerne do Apocalipse, trata-se do mais grandioso cumprimento de
profecia bíblica: do atendimento à oração de nosso Senhor Jesus:
“Venha o teu Reino; seja feita a tua vontade, assim na terra como no
céu”.
A grandiosa luta, que como já dissemos começa imediatamente
após o arrebatamento, não é um símbolo como, por exemplo, a
mulher o é – um grande sinal. Não, neste caso temos algo bem real;
uma das etapas principais da vitória já alcançada do poder da luz
sobre o poder das trevas. Todavia, devemos sempre observar a
alternância dos atacados: da igreja a Israel; do povo celestial ao
povo de Deus terreno que ficou para trás, pois, após o
arrebatamento da igreja, a ira de Satanás se volta contra Israel. A
última fuga do povo judeu eternamente fugindo acontece, portanto,
depois que Satanás e seus anjos forem lançados sobre a terra:
“‘Portanto, celebrem-no, ó céus, e os que neles habitam! Mas ai da
terra e do mar, pois o Diabo desceu até vocês! Ele está cheio de
fúria, pois sabe que lhe resta pouco tempo’. Quando o dragão foi
lançado à terra, começou a perseguir a mulher que dera à luz o
menino. Foram dadas à mulher as duas asas da grande águia, para
que ela pudesse voar para o lugar que lhe havia sido preparado no
deserto, onde seria sustentada durante um tempo, tempos e meio
tempo, fora do alcance da serpente” (12.12-14).
A igreja foi arrebatada e agora, na segunda metade da grande
tribulação, Israel é extremamente ameaçado, pois ainda não é o
próprio Senhor que luta por Israel, mas sim um príncipe angelical.
Ainda não está dito, como em Êxodo 14.14: “O S lutará por
vocês; tão somente acalmem-se”. O versículo 8, contudo, prova que
o príncipe angelical também é poderoso, pois sobre Satanás e seus
anjos está escrito: “Mas estes não foram suficientemente fortes, e
assim perderam o seu lugar nos céus”. Por mais violenta que seja a
luta, a luz sempre vence as trevas! Aliás, esse também é o segredo
da vitória no dia a dia: ande continuamente na luz, e então você terá
vitória e experimentará o poder do sangue de Jesus, que torna
Satanás impotente! Quando sofrer derrotas e for dominado pelo
inimigo, isso acontece porque você se retirou para a escuridão. O
Senhor lamenta através de João: “... os homens amaram as trevas,
e não a luz” (Jo 3.19).
Em Apocalipse 12 vemos como o reino das trevas se defende
desesperadamente, mas é vencido. Ele não pode continuar nas
regiões celestiais, onde manteve-se durante tanto tempo sob a
permissão de Deus – para a aprovação da igreja de Jesus na terra
–, pois, como dissemos, após o arrebatamento os poderes das
trevas não terão mais nada a procurar ali.
Além disso, nesse capítulo também temos uma das muitas provas
de que a igreja de Jesus será arrebatada antes da grande tribulação.
Quando o Diabo e seus anjos estiverem na terra, a igreja de Jesus
não poderá mais estar nela, pois de outro modo algo não estaria
certo com relação a Efésios 6.12; afinal, lá está escrito com quem
nós, como igreja de Jesus aqui na terra, temos que lutar: “... contra
os poderes e autoridades...”. E também é dito onde eles se
encontram: “... nas regiões celestiais”. Depois do arrebatamento,
porém, eles não estarão mais lá, mas terão sido lançados na terra
pelo arcanjo. Através da vitória de Miguel e dos seus anjos, acontece
na terra uma invasão do inferno, ou seja, dos lugares celestiais até
então habitados por Satanás e seus anjos. Um sinal negativo da
iminência do arrebatamento é que já sentimos as dores preliminares
dessa invasão de poderes das trevas. O mundo atualmente não está
mais endemoninhado? Também a ameaça à mulher, Israel, assume
formas cada vez mais assustadoras. Isso, no entanto, é somente o
prelúdio dos próprios acontecimentos.
Olhemos novamente para o passado: quando Israel saiu do Egito
e passou pelo deserto, Deus o fortaleceu de maneira maravilhosa.
No Salmo 105.37 até está escrito: “... entre as suas tribos não havia
um só inválido” (RA). Os seus pés não incharam e suas roupas não
se gastaram (Dt 8.4). E assim será nesses mil duzentos e sessenta
dias no deserto anticristão. É maravilhoso que a duração é informada
com exatidão. Isso mostra que Deus conta exatamente os dias e as
lágrimas do duramente afligido Israel no tempo de provação e
proteção! Trata-se do período em que é dada à besta uma boca
para proferir arrogância e blasfêmia (13.5), e em que os gentios
pisarão a cidade santa.
No capítulo 11.2 está escrito que esse prazo é de quarenta e dois
meses. João descreve o mesmo período com “um tempo, tempos e
meio tempo” (12.14); um tempo para experimentar o Senhor e sua
presença diante da face do inimigo: “Foram dadas à mulher as duas
asas da grande águia, para que ela pudesse voar para o lugar que
lhe havia sido preparado no deserto, onde seria sustentada durante
um tempo, tempos e meio tempo, fora do alcance da serpente”.
Esse sustento durante mil duzentos e sessenta dias é o maior
cumprimento do Salmo 23.5a: “Preparas um banquete para mim à
vista dos meus inimigos”. Esse é o período de que fala Daniel 7.25:
“Ele falará contra o Altíssimo, oprimirá os seus santos e tentará
mudar os tempos e as leis. Os santos serão entregues nas mãos
dele por um tempo, tempos e meio tempo”. Também Daniel 12.7 fala
a respeito: “O homem vestido de linho, que estava acima das águas
do rio, ergueu para o céu a mão direita e a mão esquerda, e eu o
ouvi jurar por aquele que vive para sempre, dizendo: ‘Haverá um
tempo, tempos e meio tempo. Quando o poder do povo santo for
finalmente quebrado, todas essas coisas se cumprirão’”.
Encontramos o fim da destruição do poder do povo santo, o fim
da sua dispersão, em Mateus 24, onde o Senhor diz: “Imediatamente
após a tribulação daqueles dias ‘o sol escurecerá, e a lua não dará a
sua luz; as estrelas cairão do céu, e os poderes celestes serão
abalados’. Então aparecerá no céu o sinal do Filho do homem, e
todas as nações da terra se lamentarão e verão o Filho do homem
vindo nas nuvens do céu com poder e grande glória. E ele enviará os
seus anjos com grande som de trombeta, e estes reunirão os seus
eleitos dos quatro ventos, de uma a outra extremidade dos céus” (v.
29-31). Então será completada a reunião de Israel por anjos com
trombetas, que arrebatarão os milhões de judeus das nações para
Israel. É isso que Daniel 12.7b afirma: “Quando o poder do povo
santo for finalmente quebrado, todas essas coisas se cumprirão”.
Daniel e João evitaram determinar os anos, certamente para
fortalecer e animar os provados a permanecerem firmes em
perseverante fé no Senhor.
No versículo 14 é dito que a mulher recebe asas. Que asas são
essas? Aí temos que retroceder novamente ao tempo da
peregrinação de Israel no deserto. Precisamos sempre comparar a
Bíblia com a Bíblia, pois a Bíblia fornece comentário para a Bíblia. O
Senhor diz em Êxodo 19.4: “Vocês viram o que fiz ao Egito e como
os transportei sobre asas de águias e os trouxe para junto de mim”.
E o mesmo em Deuteronômio 32.11-12: “Como a águia que desperta
a sua ninhada, paira sobre os seus filhotes, e depois estende as
asas para apanhá-los, levando-os sobre elas. O S sozinho o
levou; nenhum deus estrangeiro o ajudou”. As mesmas asas
aparecem novamente nos tempos finais para proteger e guardar
Israel no tempo de maior aflição e perseguição. Trata-se do milagre
divino da proteção. Habacuque, um dos chamados profetas menores,
igualmente viu essa maravilhosa proteção “no meio dos anos” (ACF),
isto é, no meio da tribulação: “Ouvi, S , a tua palavra, e temi;
aviva, ó S , a tua obra no meio dos anos, no meio dos anos
faze-a conhecida; na tua ira lembra-te da misericórdia. Deus veio de
Temã, e do monte de Parã o Santo. A sua glória cobriu os céus, e a
terra encheu-se do seu louvor” (Hc 3.2-3 ACF). Deus fará isso no
meio dos anos, três anos e meio e três anos e meio, quando a
tribulação estiver grande.
Frequentemente é dito que a mulher em fuga representa os
crentes de Israel, mas não deve ser esse o caso porque, de acordo
com Apocalipse 12.1, a mulher representa todo o Israel. Assim, não
se pode repentinamente tratar somente de uma seleção dentre
Israel. Todo o Israel é perseguido pelo dragão e todo o Israel será
salvo. Como alguns dentre as nações ajudaram alguns judeus
durante o tempo do nazismo, escondendo-os ou possibilitando seu
ocultamento, assim todo o Israel será guardado de maneira
maravilhosa durante os mil duzentos e sessenta dias, enquanto está
sendo perseguido pelo dragão, ou seja, pelo Anticristo, pois esse
tempo será tão terrível que eles contarão os dias.
O versículo 17 também prova que a mulher continua
representando todo o Israel: “O dragão irou-se contra a mulher e
saiu para guerrear contra o restante da sua descendência, os que
obedecem aos mandamentos de Deus e se mantêm fiéis ao
testemunho de Jesus”. Depois que a mulher escapou, ele volta-se
contra o “restante da sua descendência”. Trata-se daqueles que lhe
nasceram nos tempos finais: os cento e quarenta e quatro mil
selados de Israel (cap. 7). Também contra eles o Diabo lutará então,
mas não poderá vencê-los, pois estarão selados e, por isso,
intocáveis até o seu arrebatamento. A mulher escapou dele por
razões racionalmente inexplicáveis, de modo que ele vai guerrear
contra os restantes da sua descendência “que obedecem aos
mandamentos de Deus e se mantêm fiéis ao testemunho de Jesus”.
Nós também somos intocáveis quando somos selados com o Espírito
Santo.
No meio da grande tribulação revela-se, portanto, o milagre da
proteção divina de Israel, em virtude da qual Israel sobrevive.
Existem muitas especulações em torno da mulher no deserto. Dizem,
por exemplo, que Israel se esconderá em Petra. Não existe base
bíblica para essa tese. Basta ter em mente que o Deus vivo
preparou um lugar no deserto anticristão, quando a terra santa
também for um deserto, para proteger o seu povo. Não foi também
um grande milagre que, durante os quatrocentos anos no Egito,
durante os quarenta anos no deserto, durante os setenta anos no
cativeiro babilônico e durante os dois mil anos de diáspora, Israel foi
guardado?
Contra toda lógica humana e apesar de toda astúcia satânica,
Israel foi guardado e levado de volta à terra dos seus pais!
Preparando um lugar para Israel no deserto e sustentando-o durante
mil duzentos e sessenta dias, Deus também o guardará em oposição
a todos os cálculos anticristãos. O sustento de Israel pelo Deus vivo
prova seu completo desamparo; então Israel dependerá
completamente de Deus. Essa será uma preparação para sua
conversão, mas aparentemente haverá em Israel um grande
movimento de fuga, pois a perseguição pretende sua destruição. É o
que se conclui dos versículos 15-16: “Então a serpente fez jorrar da
sua boca água como um rio, para alcançar a mulher e arrastá-la com
a correnteza. A terra, porém, ajudou a mulher, abrindo a boca e
engolindo o rio que o dragão fizera jorrar da sua boca”. Aqui temos
que observar a palavrinha “como”. Portanto, não se trata de um rio,
mas de algo como um rio.
O rio é algo que simboliza a ameaça mortal a Israel. No caso,
acontece mais um ataque concentrado contra a mulher Israel, que,
porém, não a atinge. Devemos entender que esse rio simbólico, que
é arrojado atrás da mulher no deserto, são os exércitos do Anticristo,
ou seja, do dragão que aqui é chamado de “serpente”. Isto não seria
especulação? Não. Encontramos uma comparação bíblica em
Jeremias 46.7-8: “Quem é aquele que se levanta como o Nilo, como
rios de águas agitadas? O Egito se levanta como o Nilo, como rios
de águas agitadas. Ele diz: ‘Eu me levantarei e cobrirei a terra;
destruirei as cidades e os seus habitantes’”. Isto foi quando o faraó
Neco subiu com seus exércitos contra a Babilônia. Disso pode-se
concluir que, em Apocalipse 12.15, trata-se de exércitos anticristãos
que querem exterminar Israel.
Encontramos a mesma figura também em Jeremias 47.2-3a, onde
Nabucodonosor subiu com seus exércitos caldeus contra Tiro e
Sidom: “Assim diz o S : ‘Vejam como as águas estão subindo
do norte; elas se tornam uma torrente transbordante. Inundarão esta
terra e tudo o que nela existe; as cidades e os seus habitantes. O
povo clamará, gritarão todos os habitantes desta terra, ao estrondo
dos cascos dos seus cavalos galopando, ao barulho dos seus carros
de guerra, e ao estampido de suas rodas’”. Esses são os pavores da
guerra. Será muito terrível quando as hordas anticristãs inundarem
Eretz Israel com seus tanques, aviões e helicópteros. É por isso que
esse tempo sem precedentes também é chamado de “angústia de
Jacó”: “Será tempo de angústia para Jacó; mas ele será salvo” (Jr
30.7b). Novamente temos a preciosa promessa de que o Deus vivo
guardará Israel!
Quando o rio é arrojado atrás da mulher, Deus interfere
indiretamente: “A terra, porém, ajudou a mulher, abrindo a boca e
engolindo o rio que o dragão fizera jorrar da sua boca”. Estranho: a
serpente arrojou água da sua boca para afogar a mulher, e a terra
abriu sua boca para ajudar a mulher! Não sabemos exatamente que
catástrofes atingirão os exércitos que perseguem Israel. Por outro
lado, são descritas claramente as catástrofes que atingirão a Rússia
quando invadir Israel – e isso pode acontecer da noite para o dia.
Essa invasão é descrita em Ezequiel 38. No versículo 2 é citado o
nome dela: “... o príncipe maior de Meseque [que é Moscou] e de
Tubal [que é Tobolsk, outra cidade russa]”. No versículo 5 são
citados os armamentos da Rússia: “A Pérsia, a Etiópia e a Líbia
estarão com eles, todos com escudos e capacetes”. E então lemos
nos versículos 18-20: “É isto que acontecerá naquele dia: Quando
Gogue atacar Israel, será despertado o meu furor. Palavra do
Soberano, o S . Em meu zelo e em meu grande furor declaro
que naquela época haverá um grande terremoto em Israel. Os peixes
do mar, as aves do céu, os animais do campo, toda criatura que
rasteja pelo chão e todas as pessoas da face da terra tremerão
diante da minha presença. Os montes serão postos abaixo, os
penhascos se desmoronarão e todos os muros cairão”. Portanto, a
consequência será um terremoto mundial. Além disso, o Senhor fará
então que se liberem as transgressões acumuladas que
evidentemente existem entre os países do Pacto de Varsóvia contra
a antiga União Soviética: “Convocarei a espada contra Gogue em
todos os meus montes. Palavra do Soberano, o S . A espada
de cada um será contra o seu irmão” (v. 21).
Nos versículos 22-23 lemos a respeito de outras catástrofes:
“Executarei juízo sobre ele com peste e derramamento de sangue;
desabarei torrentes de chuva, saraiva e enxofre ardente sobre ele e
sobre as suas tropas e sobre as muitas nações que estarão com ele.
E assim mostrarei a minha grandeza e a minha santidade, e me farei
conhecido de muitas nações. Então eles saberão que eu sou o
S ”. Essas são as catástrofes que terão por consequência o
aniquilamento do comunismo mundial sobre os montes e campos de
Israel. No entanto, o que acontece com os exércitos anticristãos que
perseguem a mulher, Israel, é dito somente de forma simbólica: “A
terra, porém, ajudou a mulher, abrindo a boca e engolindo o rio que o
dragão fizera jorrar da sua boca” (v. 16). Imaginamos que também
esses exércitos anticristãos serão engolidos por um terremoto ou
através de uma fenda na terra.
Apocalipse 12 nos mostra também o júbilo no céu pela vitória:
“Então ouvi uma forte voz dos céus, que dizia: ‘Agora veio a
salvação, o poder e o Reino do nosso Deus, e a autoridade do seu
Cristo, pois foi lançado fora o acusador dos nossos irmãos, que os
acusa diante do nosso Deus, dia e noite. Eles o venceram pelo
sangue do Cordeiro e pela palavra do testemunho que deram; diante
da morte, não amaram a própria vida’” (v. 10-11). Nesses dois
versículos é cantada e proclamada com júbilo, de maneira
impressionante, a vitória de Jesus aplicada decisivamente e seus
efeitos sobre Satanás e seus anjos.
O fato desse júbilo de vitória ressoar em meio à grande tribulação
mostra novamente a realidade da vitória alcançada de Jesus em
contraste com aquilo que se vê e se experimenta sobre a terra, pois
esse contraste é mostrado insistentemente no versículo 12:
“Portanto, celebrem-no, ó céus, e os que neles habitam! Mas ai da
terra e do mar, pois o Diabo desceu até vocês! Ele está cheio de
fúria, pois sabe que lhe resta pouco tempo”. Como se alegrarão
todos os bem-aventurados, toda a igreja glorificada! Sobre a terra,
porém, ninguém pode se alegrar nessa época. Por isso o canto de
júbilo da multidão bem-aventurada acaba com um “ai”.
Todos aqueles que habitam na terra estremecerão diante dos
acontecimentos daquele tempo; não somente aqueles que vivem nos
continentes, mas também os que habitam em ilhas e os que viajam
pelo mar. Toda a humanidade sentirá de maneira terrível o que
significa o fato de Satanás e seus anjos terem sido lançados das
regiões celestiais sobre a terra. Satanás sabe, então, que tem pouco
tempo – somente os três anos e meio há muito determinados por
Deus. Essa é a razão da sua grande cólera. Sua fúria será
indescritivelmente grande.
Apesar disso, haverá naquele tempo inúmeros “nascimentos
tardios”: pessoas que então chegarão à fé. Por outro lado, o Senhor
Jesus diz em Mateus 24.22: “Se aqueles dias não fossem
abreviados, ninguém sobreviveria; mas, por causa dos eleitos,
aqueles dias serão abreviados”. Contudo, a alegria no céu é
manifestada por uma “uma forte voz”, ouvida por João. No capítulo
11.15, no início da sétima trombeta, foi proclamada a legitimidade
do reino através de fortes vozes: “O sétimo anjo tocou a sua
trombeta, e houve fortes vozes nos céus, que diziam: ‘O reino do
mundo se tornou de nosso Senhor e do seu Cristo, e ele reinará para
todo o sempre’”.
Aqui, no capítulo 12.10, trata-se de uma forte voz que, entretanto,
corresponde a muitas vozes, pois fala de “nosso Deus” e “nossos
irmãos”. Ela proclama bem alto o fundamento da vitória do reino
agora iniciado: “Agora veio a salvação, o poder e o Reino do nosso
Deus, e a autoridade do seu Cristo”. Portanto, a vitória é um fato,
apesar da grande tribulação na terra. Até este momento, ou seja,
enquanto ainda vivem sobre a terra na carne pecaminosa, o dragão,
a serpente – Satanás com seus anjos – ainda tem o direito de acusar
os irmãos dia e noite diante de Deus nas regiões celestiais. É de
significado muito profundo o que está escrito em 1João 3.8: “Aquele
que pratica o pecado é do Diabo, porque o Diabo vem pecando
desde o princípio”.
No versículo 7 falou-se três vezes em guerra; no versículo 9 é dito
duas vezes que o Diabo foi destituído do seu poder e expulso: “O
grande dragão foi lançado fora. Ele é a antiga serpente chamada
Diabo ou Satanás, que engana o mundo todo. Ele e os seus anjos
foram lançados à terra”. Essas palavras impressionam muito, pois os
nomes dos vencidos são mais uma vez relacionados para que todos
saibam a profundidade das consequências que sua queda deve ter.
O dragão é chamado de “antiga serpente” – uma lembrança de como
causou certa vez a queda da humanidade (Gn 3). Ele se chama
“Diabo” – o acusador nunca se cansou de acusar os filhos de Deus e
a humanidade em geral. Por fim, seu nome é “Satanás”, que significa
diabolus – o grande desordeiro, o adversário. Ele é o constante
lutador contra Deus e contra aqueles que pertencem a ele sobre a
terra. Através disso lembramos que ele realmente engana o mundo
inteiro, sujeitando-o sempre mais à sua terrível influência, pois já
vemos isso agora.
Depois de ser lançado à terra, o âmbito do seu poder é muito
limitado. O céu permanece fechado para ele, pois a igreja foi
arrebatada. Ele está justamente com os seus, com seu campo de
atuação restrito à terra, e somente por pouco tempo. Frisemos mais
uma vez: Satanás tem direitos onde há pecado, e onde os pecados
foram expiados ele tenta manter exigências ilegítimas. Deus permite
isso porque é justo. É o que vemos, por exemplo, no livro de Jó,
onde Satanás apresenta-se diante do Senhor e diz: “Será que Jó não
tem razões para temer a Deus? Tu mesmo tens abençoado tudo o
que ele faz. Mas estende a tua mão e fere tudo o que ele tem, e com
certeza ele te amaldiçoará na tua face”. O Senhor respondeu: “Pois
bem, tudo o que ele possui está nas suas mãos; apenas não toque
nele” (Jó 1.12). Ou pensemos mais uma vez em Zacarias 3. Quando
o sumo sacerdote Josué entrou no santuário, Satanás colocou-se do
seu lado. Ele ousou entrar no santuário interior porque Josué estava
trajado de vestes sujas – uma representação do pecado. O inimigo
permaneceu ao seu lado até que o Senhor o repreendeu.
“Então o dragão se pôs em pé na areia do mar” (v. 18). Existem
versões que traduzem esta passagem referindo-se a João: “E eu
pus-me sobre a areia do mar...” (ACF). No decorrer dos séculos
foram encontrados vários manuscritos do Novo Testamento,
possibilitando traduções mais exatas. Na minha opinião, as revisões
mais recentes utilizam manuscritos do texto original mais confiáveis,
e mostram que não foi João mas sim o dragão que se pôs em pé
sobre a areia do mar. Aliás, este versículo é designado em algumas
traduções da Bíblia como parte do capítulo 13.1; em outros, como
parte do capítulo 12.17, onde diz: “O dragão irou-se contra a mulher
e saiu para guerrear contra o restante da sua descendência, os que
obedecem aos mandamentos de Deus e se mantêm fiéis ao
testemunho de Jesus”. Essas traduções parecem tanto mais
evidentes porque em nenhuma parte de Apocalipse João muda sua
posição celestial por iniciativa própria. Ele o fez somente por ordem
expressa do Senhor ou de um anjo. Desse modo, é dito a ele, por
exemplo, no capítulo 4.1: “Suba para cá...”, no capítulo 10.8: “Vá...”,
no capítulo 11.1: “Vá...”, ou no capítulo 17.3: “Então o anjo me levou
no Espírito...”. Consequentemente, quem está sobre a areia do mar
é Satanás.
Do ponto de vista do plano de salvação, a areia na praia do mar é
uma representação do povo de Israel. É o que concluímos de
Gênesis 22.17, onde o Senhor diz a Abraão: “Esteja certo de que o
abençoarei e farei seus descendentes tão numerosos como as
estrelas do céu e como a areia das praias do mar”. A praia, a areia
do mar, regula o mar – o mar dos povos. É o que vemos atualmente:
Israel regula o movimento das nações. Como se sabe, há anos as
Nações Unidas praticamente não se ocupam com os perigosos focos
de crises ou mesmo com os genocídios no mundo. Não, elas
ocupam-se com o cálice de tontear, com Jerusalém, como está
profetizado em Zacarias. Realmente o pequeno Israel domina a
atenção dos povos. Jerusalém está na boca e nos pensamentos de
todos. Essa é uma prova de que Israel realmente é a areia. O
dragão está agora, portanto, em pé sobre a areia e olha para o mar.
Ele ainda não desistiu da luta, mas concentra-se agora primeiro
completamente sobre a população de Israel: ele está em pé em
Israel e quer tomar posse das nações. Devemos lembrar que na
época anticristã Israel fará uma aliança com o Anticristo, como está
escrito em Daniel 9.27 (em Isaías 28.15 é até dito que fará aliança
com a morte).
No entanto, agora – depois que a igreja foi arrebatada e
glorificada e o mundo desmorona sob juízos divinos; e Israel, a
mulher, está diante do seu renascimento definitivo, já tendo dado à
luz aos cento e quarenta e quatro mil, que são as primícias – acabou
definitivamente o tempo de Satanás nas regiões celestiais: “... foram
lançados à terra”. Ele não pode mais acusar nada e ninguém diante
de Deus, pois eles o venceram pelo sangue do Cordeiro (v. 11). E
enquanto eles, os crentes já glorificados e os que ainda combatem
na terra, reivindicaram e reivindicam o sangue derramado do
Cordeiro pelos seus pecados, eles proclamaram o genuíno poder de
redenção desse precioso sangue através da palavra do seu
testemunho. A palavra do testemunho na presença do inimigo é
importante. Com isso eles provam que, mesmo em face da morte,
não amam a sua vida, como também o Cordeiro derramou sua vida
em seu sangue por sua e por nossa causa.
As três características mais marcantes de alguém realmente
salvo, tanto em nosso tempo como também após o arrebatamento,
são:

1. A redenção através do sangue do Cordeiro. Nós temos a


redenção através do sangue dele. Não combatemos para
alcançar a vitória de Jesus, mas a partir da vitória alcançada
de Jesus. Não nos esforçamos para alcançar um ideal, mas
partimos do maior ideal: Jesus é Vencedor!
2. A confirmação da experiência pessoal dessa redenção
através do nosso testemunho. Isso não faz apenas com que
o inimigo perca o seu direito, mas também o seu poder
sobre você.
3. A entrega da própria vida. Ela o unifica com a vitória de
Jesus Cristo, de modo que você não poderá mais ser
tocado pelo inimigo, por toda a eternidade.

O que é concluído acerca do plano de salvação no capítulo 12


deve ser hoje e aqui – antes do nosso arrebatamento – a nossa
tríplice experiência através da fé. Com respeito ao futuro, é de
extrema importância que exerçamos a vitória de Jesus
completamente. Se em Jó 15.15 está escrito: “Pois, se nem nos
seus santos Deus confia [nem um é sem culpa], e se nem os céus
são puros aos seus olhos”, então compreendemos que até à limpeza
geral do céu em Apocalipse 12, quando com base na vitória de Jesus
o Diabo e seus anjos são expulsos por Miguel, não existe cessar-
fogo. Temos que provar hoje, agora, diante do inimigo enfurecido,
que a vitória de Jesus é genuína.
Apresenta-se então a pergunta objetiva: como pode a vitória de
Jesus, o estabelecimento do reino de Deus, já ser proclamada de
maneira tão ampla aqui no capítulo 12, quando Satanás apenas foi
atirado à terra, e não ao Abismo? Somente no capítulo 20.3 ele é
lançado no Abismo e preso com uma grande corrente durante mil
anos. Por que essa contradição entre a realidade celestial – a vitória
de Jesus Cristo – e a cruel realidade terrena, onde o Diabo e seus
anjos se enfurecem com grande ira, conscientes de que têm pouco
tempo? Uma imagem de tempos de guerra pode ilustrar a resposta:
uma tropa defende a sua posição com as últimas forças. Ela está
cercada pelo inimigo e não vê mais saída. Então, porém, ela
repentinamente recebe a informação do quartel-general de que as
forças do inimigo foram derrotadas em um lugar decisivo. Isso diz à
tropa desesperada que, cedo ou tarde, a vitória se refletirá também
sobre sua situação desesperadora. Tal conhecimento não transforma
repentinamente toda a disposição moral e a situação dos soldados
cercados? O mesmo acontece do ponto de vista espiritual: aqueles
que se encontram na grande tribulação, a multidão inumerável dentre
as nações, povos e línguas, e os cento e quarenta e quatro mil
selados de Israel, se ainda não foram arrebatados, encostarão seus
ouvidos à Bíblia, ouvirão esse júbilo de vitória do “quartel-general” e
saberão: foi estabelecido o domínio de Deus! As cadeias com que
Satanás prendeu o mundo foram rompidas! Jesus é Vencedor!
Isso vale também hoje! Apesar de Satanás nos acusar e atacar
dia e noite diante de Deus, nós sabemos: no fundo, nada temos a ver
com ele e com sua obstinação! Não, não! Nosso relacionamento é
com o grande Sumo Sacerdote, que intercede incessantemente por
você e por mim diante do Pai: “Mas, visto que vive para sempre,
Jesus tem um sacerdócio permanente. Portanto, ele é capaz de
salvar definitivamente aqueles que, por meio dele, se aproximam de
Deus, pois vive sempre para interceder por eles” (Hb 7.24-25).
Enquanto você ainda pertence à igreja em combate, ele intercede
por você. Mas em breve, muito em breve, iremos jubilando para a
eternidade! Vem logo, Senhor Jesus!
15
A Revelação do Anticristo
(Ap 13.1-18)

1Vi uma besta que saía do mar. Tinha dez chifres e sete cabeças,
com dez coroas, uma sobre cada chifre, e em cada cabeça um
nome de blasfêmia. 2A besta que vi era semelhante a um
leopardo, mas tinha pés como os de urso e boca como a de leão.
O dragão deu à besta o seu poder, o seu trono e grande
autoridade. 3Uma das cabeças da besta parecia ter sofrido um
ferimento mortal, mas o ferimento mortal foi curado. O mundo
todo ficou maravilhado e seguiu a besta. 4Adoraram o dragão,
que tinha dado autoridade à besta, e também adoraram a besta,
dizendo: “Quem é como a besta? Quem pode guerrear contra
ela?” 5À besta foi dada uma boca para falar palavras arrogantes e
blasfemas e lhe foi dada autoridade para agir durante quarenta e
dois meses. 6Ela abriu a boca para blasfemar contra Deus e
amaldiçoar o seu nome e o seu tabernáculo, os que habitam nos
céus. 7Foi-lhe dado poder para guerrear contra os santos e
vencê-los. Foi-lhe dada autoridade sobre toda tribo, povo, língua
e nação. 8Todos os habitantes da terra adorarão a besta, a saber,
todos aqueles que não tiveram seus nomes escritos no livro da
vida do Cordeiro que foi morto desde a criação do mundo.
9Aquele que tem ouvidos ouça: 10Se alguém há de ir para o
cativeiro, para o cativeiro irá. Se alguém há de ser morto à
espada, morto à espada haverá de ser. Aqui estão a
perseverança e a fidelidade dos santos. 11Então vi outra besta que
saía da terra, com dois chifres como cordeiro, mas que falava
como dragão. 12Exercia toda a autoridade da primeira besta, em
nome dela, e fazia a terra e seus habitantes adorarem a primeira
besta, cujo ferimento mortal havia sido curado. 13E realizava
grandes sinais, chegando a fazer descer fogo do céu à terra, à
vista dos homens. 14Por causa dos sinais que lhe foi permitido
realizar em nome da primeira besta, ela enganou os habitantes
da terra. Ordenou-lhes que fizessem uma imagem em honra à
besta que fora ferida pela espada e contudo revivera. 15Foi-lhe
dado poder para dar fôlego à imagem da primeira besta, de modo
que ela podia falar e fazer que fossem mortos todos os que se
recusassem a adorar a imagem. 16Também obrigou todos,
pequenos e grandes, ricos e pobres, livres e escravos, a
receberem certa marca na mão direita ou na testa, 17para que
ninguém pudesse comprar nem vender, a não ser quem tivesse a
marca, que é o nome da besta ou o número do seu nome. 18Aqui
há sabedoria. Aquele que tem entendimento calcule o número da
besta, pois é número de homem. Seu número é seiscentos e
sessenta e seis.

Q
ue passagem terrível! No entanto, aquele que renasceu pela
graça do Senhor escapará de tudo isso! Essas coisas
somente acontecerão após o arrebatamento da igreja de
Jesus. Ai daqueles, porém, que então ainda estiverem sobre a terra!
É muito esclarecedor que, já na sua primeira carta, João diz com
relação ao Anticristo: “Filhinhos, esta é a última hora e, assim como
vocês ouviram que o anticristo está vindo, já agora muitos anticristos
têm surgido. Por isso sabemos que esta é a última hora” (1Jo 2.18).
Ele é o único no Novo Testamento que utiliza a denominação
“anticristo”, e cinco vezes: duas em 1João 2.18 e uma nos capítulos
2.22 e 4.3 da mesma carta, além de mais uma em 2João 7. Isso
confirma em primeiro lugar o fato que citamos na introdução do
primeiro capítulo: João recebeu a revelação de Jesus Cristo antes
de escrever seu evangelho e suas epístolas. Provavelmente ele foi
exilado para a ilha de Patmos pelo imperador romano quando ainda
era jovem, talvez logo depois do Pentecostes, sendo novamente
libertado mais tarde. É o que se conclui do fato que o grego do
Apocalipse não é tão bom como o grego das suas epístolas e do
evangelho. Nos anos seguintes ele dominava melhor a língua. Em
suas cartas sente-se também que ele ainda está sob a indelével
impressão daquilo que viu em Apocalipse 13 e 17: o desdobramento
do Anticristo.
Paulo vê o Anticristo no futuro. Ele não teve uma visão como João
a recebeu; pelo contrário, ele fala profeticamente da besta, do
Anticristo, utilizando diferentes denominações. Porém, ele não utiliza
a palavra “anticristo”: “Não deixem que ninguém os engane de modo
algum. Antes daquele dia virá a apostasia e, então, será revelado o
homem do pecado, o filho da perdição. Este se opõe e se exalta
acima de tudo o que se chama Deus ou é objeto de adoração,
chegando até a assentar-se no santuário de Deus, proclamando que
ele mesmo é Deus” (2Ts 2.3-4). Ele fala então rapidamente do
presente, dizendo: “A verdade é que o mistério da iniquidade já está
em ação, restando apenas que seja afastado aquele que agora o
detém. Então será revelado o perverso, a quem o Senhor Jesus
matará com o sopro de sua boca e destruirá pela manifestação de
sua vinda. A vinda desse perverso é segundo a ação de Satanás,
com todo o poder, com sinais e com maravilhas enganadoras. Ele
fará uso de todas as formas de engano da injustiça para os que
estão perecendo...” (2Ts 2.7-10).
Paulo vê o terrível caráter da besta, mas é simplesmente incapaz
de descrevê-la. Percebe-se como ele procura por palavras. Ele a
chama de “homem do pecado”, “filho da perdição”, “este se opõe”,
“se exalta acima de tudo o que se chama Deus”, “perverso”. Repito
mais uma vez: apesar de Paulo dizer no versículo 7 que o mistério da
iniquidade já opera (ou seja, no presente), ele vê o Anticristo no
futuro. Os caminhos da revelação de Deus são maravilhosos! Paulo,
o que nasceu tardiamente – ele foi posteriormente adicionado –, foi o
único a receber o até então oculto mistério do corpo de Cristo, da
igreja, e assim do próprio ser de Cristo. Desse modo, na carta aos
Efésios ele diz: “Isto é, o mistério que me foi dado a conhecer por
revelação” (Ef 3.3). No entanto, a João, que durante a vida terrena
do Senhor Jesus tinha a mais íntima comunhão com o Filho de Deus
– pois ele era o discípulo que Jesus amava –, é revelado o Anticristo
em todo o seu horror e como o grande inimigo de Jesus Cristo. E
sob a impressão dessa revelação ele diz a respeito do presente: “...
já agora muitos anticristos têm surgido”.
O próprio Senhor Jesus conhecia muito bem seu grande
adversário. É o que se nota, por exemplo, pelas suas afirmações
proféticas em Mateus 24.15 e Marcos 13.14. Ele fala do “sacrilégio
terrível”, referindo-se a Daniel 9.27 e Daniel 12.11: “Quando vocês
virem ‘o sacrilégio terrível’ no lugar onde não deve estar – quem lê,
entenda – então, os que estiverem na Judeia fujam para os montes”
(Mc 13.14). É o que Paulo também diz: “... chegando até a assentar-
se no santuário de Deus”.
Temos agora aqui em Apocalipse 13 o desdobramento da besta,
do Anticristo, e isso até o ponto em que Deus lhe colocou um limite.
Esse ponto é o momento em que o Anticristo se assentar no templo
de Deus, apresentando a si mesmo como Deus. Isso naturalmente
pressupõe – e talvez ainda vejamos isso justamente antes do
arrebatamento – que o templo seja novamente construído em
Jerusalém, pois repentinamente pode chegar o momento em que se
iniciará a construção do templo, porque, quando a Rússia for cada
vez mais pressionada por causa da escassez de energia ou petróleo
e, portanto, avançar em direção ao golfo Pérsico e de forma
avassaladora a Israel, haverá então um grande terremoto (cf. Ez 38–
39). Com isso sem dúvida será destruída a mesquita de Omar, o
Domo da Rocha, e assim o templo poderá ser construído muito
rapidamente.
Se agora vemos aqui em Apocalipse 13 a sucessiva revelação do
mistério da iniquidade, então admira-nos como a profecia bíblica é
completa e perfeita, pois, enquanto o dragão está na areia do mar –
ou seja, em Israel –, ele chama agora como que seu semelhante do
mar dos povos: “Vi uma besta que saía do mar...”. Essa besta será
seu instrumento! O mar dos povos será então idêntico ao Abismo do
inferno, pois já vimos que os demônios se encontram em dois lugares
distintos: uma categoria de poderes, autoridades e maus espíritos
encontra-se nas “regiões celestiais” (Ef 6.12). Essa categoria,
juntamente com o dragão, será lançada à terra por Miguel e seus
anjos (12.7-9). A outra categoria de poderes das trevas está
guardada no Abismo. Pelo evangelho de Lucas sabemos que os
maus espíritos têm terrível pavor de serem presos no Abismo, pois,
quando o Senhor Jesus libertou o possesso da legião de espíritos
imundos, estes pediram que ele não os mandasse para o Abismo,
mas lhes permitisse entrar nos porcos. Qual é, pois, a razão da
constatação de que o mar dos povos é equivalente ao Abismo
infernal? Porque também os maus espíritos guardados no Abismo
poderão sair daquele lugar durante a grande tribulação: “O quinto
anjo tocou a sua trombeta, e vi uma estrela que havia caído do céu
sobre a terra. À estrela foi dada a chave do poço do Abismo.
Quando ela abriu o Abismo, subiu dele fumaça como a de uma
gigantesca fornalha. O sol e o céu escureceram com a fumaça que
saía do Abismo. Da fumaça saíram gafanhotos que vieram sobre a
terra, e lhes foi dado poder como o dos escorpiões da terra” (9.1-3;
ver tb. o comentário anterior sobre “A Quinta Trombeta de Juízo”, no
cap. 9). Portanto, a terra será literalmente inundada por maus
espíritos das regiões celestiais e do Abismo. Não se necessita muito
poder de imaginação para entender como será então na terra,
quando o dragão estiver sobre a areia da praia do mar e a besta
emergir do mar. Já no capítulo 11.7 é citada a besta que subirá do
Abismo, do mundo das nações: “... a besta que vem do Abismo”.
Repetidamente o Senhor mostrou ao seu povo, já no Antigo
Testamento, através de tipos, de precursores, como será o grande
adversário de Cristo. No fundo, o conflito entre Deus e Satanás já
começou no paraíso, pois o Senhor diz em Gênesis 3.15: “Porei
inimizade entre você e a mulher, entre a sua descendência e o
descendente dela”. Através de toda a história vemos essa inimizade:
Caim contra Abel, o faraó contra Moisés, Babilônia contra Jerusalém,
Hitler contra Israel etc. Todos eles foram precursores daquele que
representará a maior expressão de todo o mal, a reunião de tudo no
mundo que se levantou contra Deus e seu Filho. Em Apocalipse 13.7
lemos a respeito de quanto poder satânico o Anticristo dispõe: “Foi-
lhe dado poder para guerrear contra os santos e vencê-los. Foi-lhe
dada autoridade sobre toda tribo, povo, língua e nação”. Ou no
versículo 2b do mesmo capítulo: “O dragão deu à besta o seu poder,
o seu trono e grande autoridade”.
O dragão encontra-se agora ameaçador na praia do mar, como
que pronto para tomar posse do mar das nações; porém, parece
hesitar, pois é apenas um espírito, o que significa na verdade que
nas coisas deste mundo ele mesmo não pode agir diretamente. Por
isso ele necessita de um instrumento humano, de um médium. Ele
somente pode fazer todo o mal através do raciocínio humano, dos
vícios humanos e de atos humanos, de modo que ele tem que
incorporar-se em um ser terreno para poder realizar suas intenções
assassinas.nota 11 Através de João, que teve visões iluminado pelo
Espírito de Deus, vemos o que e quem é esse último médium que se
levanta contra Cristo. Com isso, porém, vemos também as
possibilidades limitadas do Diabo, que somente pode expressar-se
indiretamente, ou seja, através de um instrumento – em contraste
completo com o Deus vivo. Deus manifesta-se tanto indiretamente –
falando ou agindo, por exemplo, através de homens – como também
diretamente: ele pode agir diretamente no coração humano. Alguém
poderá discordar: o dragão não estava agindo diretamente em
Apocalipse 11 e 12 quando queria devorar a criança recém-nascida?
Certamente, mas isso ele somente pode no mundo invisível,
enquanto no mundo visível ele sempre tem e procura seus
instrumentos.
Que momento de terrível tensão temos aqui diante de nós, no
clímax dos acontecimentos apocalípticos! Das profundezas do
agitado mar das nações o dragão quer agora ajuntar e liberar as
forças das trevas para o último ataque àquilo que pertence a Deus
na terra! Acontece então, diante dos olhos de João, o milagre
satânico: uma besta emerge do mar. A semelhança com o dragão é
tão evidente que imediatamente percebe-se o parentesco e a
maneira diabólica. Lemos a respeito do dragão: “Então apareceu no
céu outro sinal: um enorme dragão vermelho com sete cabeças e
dez chifres, tendo sobre as cabeças sete coroas” (12.3). E do
Anticristo está escrito: “Vi uma besta que saía do mar. Tinha dez
chifres e sete cabeças, com dez coroas, uma sobre cada chifre, e
em cada cabeça um nome de blasfêmia” (13.1). Os chifres são
vassalos subordinados ao Anticristo.
No decorrer dos séculos pensou-se e especulou-se muito a
respeito de quem seria o Anticristo. Muitas vezes se foi e se é muito
precipitado. Desse modo, em minha curta vida já ouvi dizer a respeito
de diferentes personalidades: “Tal e tal pessoa certamente é o
Anticristo!”. Isso me foi dito, entre outros, a respeito de Henry
Kissinger e do ex-presidente Carter, e um “profeta” alemão
escreveu-me antes das eleições de 1980, realizadas nesse país,
que, em oposição a todos os prognósticos, seria eleito Franz Joseph
Strauss, por ele ser o Anticristo! Existem bons comentaristas do
Apocalipse que afirmam que o Anticristo será Nero ressuscitado,
pois, como se sabe, Nero foi um sanguinário perseguidor dos
cristãos. Ele os utilizava como tochas vivas nas festas realizadas em
seus jardins. Também existe uma tradição correspondente, de
acordo com a qual o Nero retornado seria uma das cabeças da
besta, que foi golpeada mortalmente mas cujo ferimento mortal foi
curado.
Comentaristas que devem ser levados mais a sério nesse aspecto
dizem que o Anticristo será Antíoco Epifânio, que ressuscitaria. Muito
interessante é, de fato, que aquilo que Daniel profetiza sobre o
Anticristo aplica-se ao rei selêucida Antíoco Epifânio, pois,
desprezando a liberdade religiosa até então existente em Judá,
Antíoco Epifânio introduziu costumes gregos e até saqueou o templo.
Seu esforço de helenização foi enorme. Ele por exemplo conseguiu,
através de intermediários e suborno, empossar um sumo sacerdote
do seu agrado, e os sacerdotes tinham que usar vestes sacerdotais
gregas. Não é de admirar que aqueles entre o povo que se
mantinham fiéis ao Deus de seus pais resistiam mais e mais.
Quando a resistência se tornou sensivelmente maior, Antíoco
Epifânio voltou-se cheio de fúria contra os judeus, marchando com
um poderoso exército para a Judeia, onde matou milhares do povo,
profanou o templo, sacrificando até mesmo porcos nele, anulou as
normas santificadas da lei judaica e exigiu adoração como deus.
Daniel diz no capítulo 7.25: “Ele falará contra o Altíssimo, oprimirá os
seus santos e tentará mudar os tempos e as leis”. As profecias de
Daniel, no entanto, vão adiante – até ao Anticristo verdadeiro e final.
Também nesse caso temos, portanto, uma profecia dupla; uma
profecia para o futuro próximo e para o futuro distante, pois Daniel
7.23-24 fala do quarto império, do Império Romano: “O quarto animal
é um quarto reino que aparecerá na terra. Será diferente de todos os
outros reinos e devorará a terra inteira, despedaçando-a e
pisoteando-a. Os dez chifres são dez reis que sairão desse reino.
Depois deles um outro rei se levantará, e será diferente dos
primeiros reis”. E depois segue a passagem citada acima, segundo a
qual ele proferirá palavras contra o Altíssimo, oprimirá os santos do
Altíssimo e cuidará de mudar os tempos e as leis. No versículo 25b
continua: “Os santos serão entregues nas mãos dele por um tempo,
tempos e meio tempo”. E então fala-se do reino de Deus sob o
governo do Senhor Jesus Cristo: “Então a soberania, o poder e a
grandeza dos reinos que há debaixo de todo o céu serão entregues
nas mãos dos santos, o povo do Altíssimo. O reino dele será um
reino eterno, e todos os governantes o adorarão e lhe obedecerão”
(Dn 7.27).
Antíoco Epifânio é citado também em Daniel 11.36: “O rei fará o
que bem entender. Ele se exaltará e se engrandecerá acima de
todos os deuses e dirá coisas jamais ouvidas contra o Deus dos
deuses. Ele terá sucesso até que o tempo da ira se complete, pois o
que foi decidido irá acontecer”. Antíoco Epifânio é, portanto, um tipo
muito característico do Anticristo dos tempos finais. Isso é provado
pelo fato de Daniel ter visto imediatamente depois de Antíoco
Epifânio (o anticristo!) o Senhor Jesus em grande poder e glória: “Em
minha visão à noite, vi alguém semelhante a um filho de homem,
vindo com as nuvens dos céus. Ele se aproximou do ancião [do Deus
eterno] e foi conduzido à sua presença. Ele recebeu autoridade,
glória e o reino; todos os povos, nações e homens de todas as
línguas o adoraram. Seu domínio é um domínio eterno que não
acabará, e seu reino jamais será destruído” (Dn 7.13-14).
É interessante que Paulo descreve o Anticristo com as mesmas
expressões que Daniel. Ele diz em 2Tessalonicenses 2.4: “Este se
opõe e se exalta acima de tudo o que se chama Deus ou é objeto de
adoração, chegando até a assentar-se no santuário de Deus,
proclamando que ele mesmo é Deus”. Desse modo, chegou-se então
à conclusão que Antíoco Epifânio, que nos tempos antigos realmente
tinha cometido “o sacrilégio terrível”, ressuscitaria e seria o Anticristo
neotestamentário. Apesar da ferida mortal da besta – da qual fala
Apocalipse 13 – ter sido curada, não posso concordar com tais
interpretações. Apesar disso, a ferida mortal – literalmente “um
ferimento mortal, mas o ferimento mortal foi curado” – é de grande
importância, pois essa circunstância é citada três vezes. Versículo 3:
“... mas o ferimento mortal foi curado”. Versículo 12: “... cujo
ferimento mortal havia sido curado”. Versículo 14: “... que fora ferida
pela espada e contudo revivera”. Pois o que significa esta ferida
mortal da besta? De modo geral, que em sua manifestação o
Anticristo é movido pelo impulso da imitação. Se no grego diz “como
morto”, então fica claro que trata-se da imitação do Cordeiro que foi
morto. Pensemos somente em Apocalipse 5.6: “Depois vi um
Cordeiro, que parecia ter estado morto, em pé, no centro do trono,
cercado pelos quatro seres viventes e pelos anciãos”. Da mesma
maneira, o milagre divino da ressurreição de Jesus Cristo é imitado
em um caricatural milagre satânico: o Anticristo retorna. Com isso
não queremos dizer de modo nenhum que o retorno do Anticristo
será a volta de um morto – a volta de Antíoco Epifânio ou de Nero,
por exemplo. Pelo contrário, todos juntos são uma fraca sombra do
verdadeiro Anticristo, como também no último império que Daniel viu
percebe-se características de outros reinos (Dn 7.7; Ap 13.1-2). Em
outras palavras: o Anticristo é um aglutinamento de todas as
características negativas, de toda a maldade de todos os
antissemitas de todos os tempos. Gostaria de citar o seguinte a
respeito:

1. A besta não é somente uma pessoa, mas ao mesmo tempo


é também um reino, um sistema. Trata-se, portanto, ao
mesmo tempo do reino como também do seu líder.
Conforme meu entendimento, isso é provado por uma
afirmação de João. Ele descreve a besta com dez chifres
(dez entidades estatais) e então continua: “A besta que vi
era semelhante a um leopardo, mas tinha pés como os de
urso e boca como a de leão. O dragão deu à besta o seu
poder...” (v. 2). Trata-se ao mesmo tempo do Império
Romano em sua estrutura dos tempos finais e da pessoa do
Anticristo – conforme o lema: um povo, um reino, um líder.
2. Vemos na besta o aglutinamento das bestas, ou seja, dos
impérios mundiais anteriores. Daniel já os viu no capítulo 7 e
os descreveu individualmente: “No primeiro ano de Belsazar,
rei da Babilônia, Daniel teve um sonho, e certas visões
passaram por sua mente, estando ele deitado em sua
cama. Ele escreveu o seguinte resumo do seu sonho. ‘Em
minha visão à noite, eu vi os quatro ventos do céu agitando
o grande mar. Quatro grandes animais [reinos, como no
caso da imagem de Nabucodonosor], diferentes uns dos
outros, subiram do mar. O primeiro parecia um leão...’” (Dn
7.1-4a). Aqui temos aquilo que João diz no final da sua
descrição: “... boca como a de leão”. Isso é a Babilônia. “A
seguir, vi um segundo animal, que tinha a aparência de um
urso” (Dn 7.5). João também menciona ele. Trata-se do
Império Medo-Persa. “Depois disso, vi um outro animal, que
se parecia com um leopardo. Nas costas tinha quatro
asas...” (Dn 7.6). Esse é o Império Greco-Macedônico sob
Alexandre, o Grande. Então Daniel quer descrever o quarto
império, mas não consegue. Apesar de também tratar-se de
um animal, ele não sabe se é um urso, um leão ou um
leopardo – ele parece ser tudo em um só. Daniel relata: “Em
minha visão à noite, vi ainda um quarto animal, aterrorizante,
assustador e muito poderoso. Tinha grandes dentes de
ferro, com os quais despedaçava e devorava suas vítimas e
pisoteava tudo o que sobrava. Era diferente de todos os
animais anteriores e tinha dez chifres” (Dn 7.7). Com isso,
Daniel acentua que este quarto animal será muito mais
terrível do que todos que vieram antes dele. João também
vê esses animais. Entretanto, ele não os vê na mesma
sequência que Daniel, pois vive em uma época em que já viu
esses três animais ao olhar para trás, enquanto que Daniel
viveu antes do tempo deles. O último animal, ou seja, o
Império Romano, que está vindo agora, não somente terá
todas as características animalescas dos seus precursores
– leopardo, urso, leão –, mas, eu repito, será ao mesmo
tempo o Anticristo em pessoa. Ele incorpora todos os
anticristos anteriormente manifestados e que
desapareceram. Do mesmo modo como o futuro Império
Romano tem todas as características animalescas dos
impérios que o precederam, também o Anticristo as tem. O
Anticristo é a maior expressão de maldade de homens como
o faraó, Hamã, Antíoco Epifânio, Nero, Hitler e outros –
também dos atuais antissemitas e anticristos. Se o Senhor
Jesus diz sobre o tempo do Anticristo: “Porque haverá então
grande tribulação, como nunca houve desde o princípio do
mundo até agora, nem jamais haverá” (Mt 24.21), então
deve tratar-se de algo inimaginavelmente terrível! Já agora
ouvimos o ressoar dos passos do Anticristo. Quão próximo
deve estar, então, nosso arrebatamento!

Do Anticristo procederá um grande poder de sedução. Ele estará


equipado com toda a autoridade satânica, pois “o dragão deu à
besta o seu poder” (13.2b). Satanás lhe dará tudo aquilo que quis
dar ao Filho de Deus quando o tentou no deserto, pois naquele
tempo ele o levou para um alto monte, mostrou-lhe todos os reinos
do mundo e disse: “Tudo isto te darei se te prostrares e me
adorares” (Mt 4.9). No entanto, o Senhor rejeitou a oferta com a
Palavra de Deus. Agora o dragão dá tudo ao seu semelhante, à
besta, que aceita tudo: o trono – sua histórica posição de domínio; o
poder – a plenitude dos seus meios violentos; e a autoridade – o seu
domínio. Por isso a besta é tão assustadoramente semelhante ao
dragão.
Nesse ponto também vemos novamente o impulso de imitação de
Satanás: o Filho de Deus que se fez homem queria aceitar o reino e
a autoridade somente da mão de seu Pai, não da mão do Diabo.
Leiamos mais uma vez Daniel 7.13-15, onde é revelada no Antigo
Testamento essa tomada de posse por Jesus: “Em minha visão à
noite, vi alguém semelhante a um filho de homem [esse é Jesus
Cristo], vindo com as nuvens dos céus. Ele se aproximou do ancião
[essa não é uma boa tradução; outras dizem mais apropriadamente:
‘Ele foi até o lugar onde estava aquele que sempre existiu...’ (NTLH).
No fundo, deve-se ler: ‘... se aproximou do Eterno’.] e foi conduzido à
sua presença. Ele recebeu autoridade, glória e o reino; todos os
povos, nações e homens de todas as línguas o adoraram. Seu
domínio é um domínio eterno que não acabará, e seu reino jamais
será destruído. Eu, Daniel, fiquei agitado em meu espírito, e as
visões que passaram pela minha mente me aterrorizaram”. O Senhor
Jesus Cristo receberá tudo isso da mão do Pai. Portanto, a entrega
de todo o poder do dragão à besta também é uma imitação!
Aliás, encontramos esse impulso de imitação em muitos detalhes,
por exemplo: o Cordeiro tem chifres: “Depois vi um Cordeiro, que
parecia ter estado morto... Ele tinha sete chifres...” (5.6). Mas
também a besta possui chifres: “Vi uma besta que saía do mar. Tinha
dez chifres...” (13.1). O Cordeiro tem nomes de soberania: “... e em
sua cabeça há muitas coroas e um nome que só ele conhece, e
ninguém mais... e o seu nome é Palavra de Deus... Em seu manto e
em sua coxa está escrito este nome: REI DOS REIS E SENHOR
DOS SENHORES” (19.12-13,16). A besta também tem nomes –
nomes de blasfêmia: “... com dez coroas, uma sobre cada chifre, e
em cada cabeça um nome de blasfêmia” (13.1). Conforme o
versículo 6, a besta profere blasfêmias contra Deus, contra seu
santo nome, seu tabernáculo celestial e os que habitam no céu –
portanto, também contra a igreja arrebatada: “Ela abriu a boca para
blasfemar contra Deus e amaldiçoar o seu nome e o seu
tabernáculo, os que habitam nos céus”. Todavia – graças ao Senhor
– ao Anticristo é dado somente um prazo limitado, ou seja, quarenta
e dois meses (v. 5). Constantemente encontramos a citação desse
tempo na Escritura: 42 meses – metade de um tempo, um tempo,
dois tempos – 1.260 dias. Nos versículos 5, 7, 14 e 15 acentua-se
cinco vezes que sua autoridade foi dada a ele. Portanto, o poder das
trevas, como também o Anticristo, somente pode chegar até onde
Deus permitir.
Isso também vale para a sua vida. Nunca imagine que você está
completamente à mercê do inimigo! Ele somente pode ir até onde
Deus permitir! Através das tribulações você é provado quanto à
medida em que exerce a vitória de Jesus em seu dia a dia. “Feliz é o
homem que persevera na provação, porque depois de aprovado
receberá a coroa da vida, que Deus prometeu aos que o amam” (Tg
1.12).
Com relação à pergunta: quem será o Anticristo?, especulou-se e
especula-se também inúmeras vezes a respeito do número
seiscentos e sessenta e seis, que é citado no versículo 18: “Aqui há
sabedoria. Aquele que tem entendimento calcule o número da besta,
pois é número de homem. Seu número é seiscentos e sessenta e
seis”. Desse modo, foram feitos diferentes cálculos que pretendiam
provar que o número se encontra na tiara do papa (tiara: cobertura
de cabeça extra litúrgica do papa, com três coroas sobrepostas
simbolizando os ministérios sacerdotal, pastoral e doutrinário do
papa). Cálculos e “provas” semelhantes foram apresentados a
respeito de Napoleão, Hitler, Mussolini etc. Não queremos fazer
cálculos, mas dizer com os “demais” de Tiatira, que “não
aprenderam... os profundos segredos de Satanás” (2.24). É
suficiente tomar conhecimento daquilo que está escrito aqui em
Apocalipse 13 e daquilo que Paulo diz em 2Tessalonicenses 2.9: “A
vinda desse perverso é segundo a ação de Satanás, com todo o
poder, com sinais e com maravilhas enganadoras”. Concluindo,
gostaria de frisar mais uma vez: o Anticristo não será um anticristo
do Antigo ou mesmo do Novo Testamento ressuscitado, mas uma
incorporação de todas as características negativas de todos os
anticristos e de todos os antissemitas de todos os tempos.
No que ainda se refere ao “ferimento mortal” da besta, citado três
vezes, ele possui um tríplice significado. Já nos referimos a dois
pontos, mas voltamos a citá-los:

1. O impulso satânico da imitação, que é tão forte que até a


morte do Cordeiro é imitada.
2. O milagre satânico-mentiroso da ressurreição.
3. Um pano de fundo puramente histórico-profético, que é
descrito detalhadamente em Apocalipse 17.8. Nas
explicações sobre o capítulo 17 – no qual se fala muitos
enganos do Anticristo – vou entrar em mais pormenores. No
entanto, já aqui no capítulo 13.1-2 João descreve Roma, a
potência mundial romana restaurada com as dez entidades
estatais e a autoridade da besta que tudo domina, o cruel
déspota pela graça de Satanás. De Roma procederá então
perigo mortal, pois, como em tempos antigos, essa potência
mundial terá a pretensão de ser autoridade divina. Com
seus milagres, com suas capacidades ilimitadas, o cristo
aparente deixará então o mundo todo profundamente
admirado. É o que está escrito no versículo 3b: “O mundo
todo ficou maravilhado e seguiu a besta”. O mundo todo
ficará fascinado por esse super-homem que tudo pode,
seguindo-o. Esta admiração significa o espanto diante do
sobrenatural.
Esse estupor admirado dos povos diante do inconcebível é
que está descrito em Apocalipse 13.3b. Haverá um espanto
paralisador e um horror mundial – o contrário de uma
admiração satisfeita –, pois a besta pode tudo. Assim,
exclamam cheio de admiração: “Quem é como a besta?
Quem pode guerrear contra ela?” (v. 4b). Uma coisa, no
entanto, esse personagem capaz de tudo não pode: ele não
pode amar! Somente o Cordeiro é capaz de amar: “Ele nos
ama e nos libertou dos nossos pecados por meio do seu
sangue” (1.5). Hoje em dia sente-se o anseio dos povos por
tal solucionador de todas as coisas. Que esperanças são
depositadas, por exemplo, em cada novo presidente dos
Estados Unidos! Pretende-se que ele solucione todos os
problemas políticos, econômicos e sociais. Todos gritam
“paz, paz!”.

O Anticristo, a besta, solucionará todos os problemas com só uma


tacada. Então irromperá também o elemento religioso, o
endeusamento da besta: toda a terra adorará então o dragão e a
besta: “Adoraram o dragão, que tinha dado autoridade à besta, e
também adoraram a besta, dizendo: ‘Quem é como a besta? Quem
pode guerrear contra ela?’” (v. 4). Com isso Satanás alcançou seu
objetivo: o verdadeiro Cristo, o Cordeiro, é excluído dos
pensamentos dos homens. Certamente não haverá dupla genuflexão
diante do dragão e da besta, pois o dragão e a besta são um.
Também nesse aspecto manifesta-se o motivo da imitação, pois o
Senhor Jesus afirmou: “Eu e o Pai somos um” (Jo 10.30). “Quem me
vê, vê o Pai” (Jo 14.9b). Também o Anticristo pode dizer: “Quem me
vê, vê o Diabo”.
A busca da humanidade por um homem forte estará satisfeita no
Anticristo. Ele terá uma influência tão grandiosa e, ao mesmo tempo,
um poder de atração tão enorme que, então, muitos chefes de
Estado terão grande prazer em entregar a soberania do seu país a
ele. Apocalipse 17.13 afirma que esses chefes de Estado – a Bíblia
os chama de “reis” – terão um só pensamento e oferecerão à besta
o poder e a autoridade que possuem. Os intensos aplausos e o
fervor com que a besta será adorada vão expressar-se na pergunta
retórica: “Quem é como a besta? Quem pode guerrear contra ela?”.
Isso não é somente o endeusamento da besta, mas ao mesmo
tempo também uma aceitação durante um tempo limitado do seu
desejo milenar, pois o que Satanás já queria antes da fundação do
mundo? Ser igual ao Criador do céu e da terra: “Subirei aos céus;
erguerei o meu trono acima das estrelas de Deus; eu me assentarei
no monte da assembleia, no ponto mais elevado do monte santo.
Subirei mais alto que as mais altas nuvens; serei como o Altíssimo”
(Is 14.13-14). E agora lhe é dito: “Quem é como a besta?”. Que
triunfo isso será para ela! Ela se eleva até mesmo acima de Deus,
excluindo a possibilidade de semelhança com ele, ao ser proclamado
o seu poder de vitória aparentemente ilimitado: “Quem pode guerrear
contra ela?”, pois, em outras palavras, isso quer dizer: ninguém é
semelhante a ela; ela é a única poderosa.
Esta influência anticristã e esta reivindicação absolutista de
Satanás obrigatoriamente levarão a uma perseguição nunca vista aos
santos: “Foi-lhe dado poder para guerrear contra os santos e vencê-
los. Foi-lhe dada autoridade sobre toda tribo, povo, língua e nação”
(v. 7). Quem são esses santos? Trata-se das inúmeras pessoas que
não participarão do arrebatamento; aquelas que se converterão
somente após o arrebatamento. Se o Anticristo, com ódio louco, não
profere blasfêmias apenas contra Deus, contra seu santo nome e
seu tabernáculo celestial, mas também contra aqueles que estão no
céu, quão grande deve ser o seu ódio e sua raiva contra aqueles que
se converterem durante seu domínio na terra e lavarem suas vestes
no sangue do Cordeiro!
No comentário sobre o capítulo 7 de Apocalipse (v. 9-17), vimos
que durante a grande tribulação ainda vão converter-se milhões e
milhões de pessoas, que terão então o testemunho de Jesus (ver
pág. 161). Elas se converterão em virtude da lembrança do
testemunho dos arrebatados, pelas consequências da Palavra
proclamada ou pelo testemunho dos cento e quarenta e quatro mil
selados de Israel e, não por último, naturalmente através do
testemunho das duas testemunhas: “Foi-lhe dado poder para
guerrear contra os santos e vencê-los”. O Diabo está agora
realizando um dos seus outros objetivos, que lhe permite destruir ao
menos em parte a descendência da mulher. Entretanto, ele pode
matar somente o corpo, e não a alma, pois aqueles que serão
mortos na terrível carnificina encontram-se na vitória de Romanos
8.35-39: “Quem nos separará do amor de Cristo? Será tribulação, ou
angústia, ou perseguição, ou fome, ou nudez, ou perigo, ou espada?
Como está escrito: ‘Por amor de ti enfrentamos a morte todos os
dias; somos considerados como ovelhas destinadas ao matadouro’.
Mas em todas estas coisas somos mais que vencedores, por meio
daquele que nos amou. Pois estou convencido de que nem morte
nem vida, nem anjos nem demônios, nem o presente nem o futuro,
nem quaisquer poderes, nem altura nem profundidade, nem qualquer
outra coisa na criação será capaz de nos separar do amor de Deus
que está em Cristo Jesus, nosso Senhor”. Em seguida, eles
literalmente beberão essas palavras e se apropriarão delas
profundamente.
Através do versículo 5 de Apocalipse 13 conclui-se claramente
que durante quarenta e dois meses a besta terá autoridade absoluta
e ilimitada, tanto no campo religioso como também no político: “À
besta foi dada uma boca para falar palavras arrogantes e blasfemas
e lhe foi dada autoridade para agir durante quarenta e dois meses”.
Do restante dos homens, que estarão vivendo então na terra, está
escrito: “Todos os habitantes da terra adorarão a besta, a saber,
todos aqueles que não tiveram seus nomes escritos no livro da vida
do Cordeiro que foi morto desde a criação do mundo” (v. 8). Por isso
é lógico que logo após a informação sobre os poderes ilimitados da
besta, que tem domínio até sobre a alma e o espírito do homem,
seja acrescentada uma séria advertência: “Aquele que tem ouvidos
ouça” (v. 9). No final das sete cartas estava escrito sempre: “Aquele
que tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às igrejas”. Aqui a
advertência soa diferente. Ela também é feita apenas uma vez. Essa
advertência é dirigida em primeiro lugar àqueles que vivem
atualmente mas ainda não se converteram ao Senhor Jesus Cristo.
Contudo, ela vale também para os atuais “cristãos” que capengam
de ambos os lados, que estão mornos, indolentes e em perigo de
perder o arrebatamento.
“Se alguém há de ir para o cativeiro, para o cativeiro irá. Se
alguém há de ser morto à espada, morto à espada haverá de ser” (v.
10). Conforme meu entendimento, essa passagem é uma
advertência para a multidão inumerável que se tornou cristã durante
a grande tribulação e será tentada a organizar uma resistência
contra a besta, lutando possivelmente até com a espada contra ela.
Mas não deve haver tal comportamento. Esse versículo diz muito
claramente que tipo de mentalidade devem mostrar, e eles sabem
que seu martírio é inevitável. Eles se revestirão então da mentalidade
do Cordeiro, que foi levado ao matadouro – ao Gólgota. “Aqui estão
a perseverança e a fidelidade dos santos” (v. 10b). Essa é
atualmente a mentalidade mostrada por muitos dos nossos irmãos
que são violentamente perseguidos no Oriente. No entanto, quão
poucos de nós, que estamos livres de perseguições, mostramos
essa mentalidade, essa perseverança e essa fidelidade dos santos!
A Escritura, porém, adverte que somente reinaremos se com ele
perseverarmos (cf. 2Tm 2.12). Também nisso Israel é um exemplo
para nós, pois, na dispersão entre as nações, os judeus se deixaram
matar como cordeiros. Todavia, desde que se encontra novamente
como nação na terra dos pais, Israel luta como um leão.
“Então vi outra besta que saía da terra, com dois chifres como
cordeiro, mas que falava como dragão” (v. 11). Quem é essa outra
besta? É extremamente esclarecedor que o Anticristo não está
sozinho. Além dos seus dez reis (dos seus dez vassalos), ele tem
também um promotor, um propagandista genial. Essa outra besta é
identificada nos capítulos 16.13; 19.20 e 20.10: é o Falso Profeta.
Agora também a imitação da Trindade é um fato! O dragão = o anti-
Pai; a primeira besta = o anti-Filho; a segunda besta = o anti-
Espírito. O Falso Profeta é o elemento religioso.
No Antigo Testamento, e na história de modo geral, temos
exemplos dessa tática. O faraó, o antissemita, chamou os magos
como auxiliares religiosos (Êx 7.11,22). Balaque, o rei moabita que
queria exterminar Israel, encarregou o falso profeta Balaão de
amaldiçoar Israel (Nm 22–24). Dã, uma das tribos rebeldes de Israel
– seu nome significa “serpente” –, tomou para si um levita como
sacerdote (Jz 18). Absalão, o filho rebelde de Davi, teve por
conselheiro Aitofel (2Sm 16–17). E Acabe, o sétimo rei na linhagem
israelita, jamais teria sido o que foi sem Jezabel e os que a seguiram
(1Rs 21.5ss). Hitler tinha Goebbels e o lema era: “Cremos na vitória
porque temos o líder!”.
O elemento religioso é um dos mais poderosos na história
humana. Quando o Falso Profeta se manifestar, será acrescentada
ao império mundial unificado também a igreja mundial unificada, ou
seja, uma religião mundial. O fato do Falso Profeta também ser
chamado de “besta” mostra seu objetivo comum: a glorificação de
Satanás. Mas também mostra a sua crueldade animalesca. Essa
segunda besta está subordinada à primeira. Ela faz tudo pelo
Anticristo. Se está escrito que ela sai da terra, então isso tem
sentido profético e se refere ao Império Romano restaurado. Essa
segunda besta é o correspondente oposto do Espírito Santo, que
glorifica Jesus de modo que adoramos o Cordeiro.
Que o Falso Profeta é um típico “realizador” conclui-se pelos
versículos 12-17, onde 9 verbos se destacam: “Exercia toda a
autoridade da primeira besta, em nome dela, e fazia a terra e seus
habitantes adorarem a primeira besta, cujo ferimento mortal havia
sido curado. E realizava grandes sinais, chegando a fazer descer
fogo do céu à terra, à vista dos homens. Por causa dos sinais que
lhe foi permitido realizar em nome da primeira besta, ela enganou os
habitantes da terra. Ordenou-lhes que fizessem uma imagem em
honra à besta que fora ferida pela espada e contudo revivera. Foi-lhe
dado poder para dar fôlego à imagem da primeira besta, de modo
que ela podia falar e fazer que fossem mortos todos os que se
recusassem a adorar a imagem. Também obrigou todos, pequenos e
grandes, ricos e pobres, livres e escravos, a receberem certa marca
na mão direita ou na testa, para que ninguém pudesse comprar nem
vender, a não ser quem tivesse a marca, que é o nome da besta ou
o número do seu nome”. Isso significa o seguinte: assim como a
primeira besta recebeu toda a autoridade do dragão, ela, por sua
vez, faz exercer seu poder através da segunda besta. Em outras
palavras: a segunda besta faz com que a vontade e as leis do
Anticristo sejam obedecidas. Por isso ela também é uma imitação
quase perfeita do Cordeiro, pois tem dois chifres – como um
Cordeiro.
O Senhor Jesus adverte muito seriamente em Mateus 7.15:
“Cuidado com os falsos profetas. Eles vêm a vocês vestidos de
peles de ovelhas, mas por dentro são lobos devoradores”. Os dois
chifres expressam não somente poder político. Chifres podem
caracterizar tanto o carneiro (áries) como também a ovelha. (Em
contraste com a maioria das ovelhas domésticas, as espécies
selvagens têm chifres.) Através da atual atividade febril dos homens
já não está sendo dada uma ideia do que acontecerá então? Não é o
espírito do Falso Profeta que quase acossa os homens até a morte
porque eles adoram dinheiro, automóveis ou outros bens?
Embora João descreva as duas bestas em sequência, elas
aparecem simultaneamente, pois tanto o versículo 4, onde se fala da
adoração, como também os versículos 12 e 15 mostram o que o
Falso Profeta pretende conseguir a qualquer custo: a adoração do
Anticristo. Esse espírito, que procede de Satanás, já se torna mais e
mais perceptível em nossos dias, na adoração das coisas materiais,
da técnica etc. Nós só ficamos protegidos da adoração inconsciente
– pois também há adoração inconsciente – do espírito anticristão
quando nos firmamos interiormente na adoração de Deus e do
Cordeiro. Muitos não conseguem orar porque não adoram o
Cordeiro, mas sim algo terreno. Será essa a razão pela qual você
não consegue orar com perseverança? Se conservamos o
testemunho de Jesus Cristo exteriormente, então somos guardados
também interiormente.
A doutrina do Anticristo pode ser claramente definida: adoração
do Anticristo e, dessa forma, adoração de Satanás. Os meios
utilizados para alcançar esse objetivo são variados e sobrenaturais:
“E realizava grandes sinais, chegando a fazer descer fogo do céu à
terra, à vista dos homens. Por causa dos sinais que lhe foi permitido
realizar em nome da primeira besta, ela enganou os habitantes da
terra. Ordenou-lhes que fizessem uma imagem em honra à besta que
fora ferida pela espada e contudo revivera” (v. 13-14). Ele seduz a
humanidade inteira, e por isso torna-se necessária uma advertência
àqueles que têm sinais e milagres como o centro de sua pregação.
O Senhor Jesus nos diz em Mateus 24.24: “Pois aparecerão falsos
cristos e falsos profetas que realizarão grandes sinais e maravilhas
para, se possível, enganar até os eleitos”. Aquele que atualmente
está orientado para sinais e milagres será presa fácil do inimigo, que
fará sinais e prodígios através de poderes da mentira.
O Falso Profeta faz erguer uma imagem do Anticristo, e então
acontece um milagre extraordinário: a imagem recebe fôlego, fica
viva e pode falar! Já hoje, através da televisão, a adoração mundial
da besta seria tecnologicamente possível. Ele tem um terrível
método para impor a adoração da imagem: a ameaça de pena de
morte e a execução de milhões que se negarem a adorá-la. Ninguém
poderá se esconder. Já atualmente pode-se determinar os índices
de audiência dos programas de televisão. Em outras palavras:
verifica-se quem assiste a quais programas de televisão. A adoração
de imagens em si não é nenhuma novidade. Roma, ou seja, a Igreja
Católica, mantém até os dias de hoje essa abominação como parte
do culto. O popular papa João Paulo II tinha uma imagem preferida:
a Madona Negra. Ele adorava essa imagem.
A terrível situação da adoração da imagem da besta já é
representada em Daniel 3, onde Nabucodonosor dá a ordem para
levantar a grande imagem de ouro. O arauto anuncia que qualquer
um que não se prostrar e adorar a imagem será lançado na fornalha.
Assim, ele é uma representação do Falso Profeta. Somente três
jovens israelitas ficaram em pé diante dessa imagem. Em seguida
eles são lançados na fornalha, mas permanecem intocáveis. Eles são
uma indicação para os cento e quarenta e quatro mil selados de
Israel que serão guardados e arrebatados para o Senhor durante a
grande tribulação. Já naquela época apareceu também o sinistro
número 666 na imagem de ouro: a imagem tinha “sessenta côvados
de altura e seis de largura” (Dn 3.1 RA). Além disso, foi mostrado
aos povos, através de seis instrumentos nominalmente citados,
quando deviam prostrar-se diante da imagem e adorá-la. Que
paralelo com aquilo que João viu mais tarde!
“Também obrigou todos, pequenos e grandes, ricos e pobres,
livres e escravos, a receberem certa marca na mão direita ou na
testa, para que ninguém pudesse comprar nem vender, a não ser
quem tivesse a marca, que é o nome da besta ou o número do seu
nome. Aqui há sabedoria. Aquele que tem entendimento calcule o
número da besta, pois é número de homem. Seu número é
seiscentos e sessenta e seis” (v. 16-18). Após o estabelecimento da
igreja mundial, cujos atuais precursores se encontram no Conselho
Mundial de Igrejas e, mais recentemente, também no movimento
evangelical, surge então o monopólio econômico mundial. Um
antegosto são as fusões de grandes empresas e fábricas. Os
pequenos empreendimentos são engolidos, pisados e amassados.
Essas são sombras do monopólio econômico mundial que então será
uma realidade. De acordo com o versículo 16, os homens não
somente serão cadastrados estatisticamente (isso já acontece
atualmente através de computadores, por meio de números), mas
também identificados opticamente através de uma marca. Os
marcados na mão direita provavelmente serão os trabalhadores; os
marcados na testa certamente serão os intelectuais. Ninguém poderá
escapar da teia satânica, pois sem o número, sem o nome da besta,
ninguém poderá existir, ou seja, não poderá comprar nem vender.
Este será um boicote absoluto, extremamente eficiente, contra todos
que não tiverem o sinal 666 ou o nome da besta. Terrível!
Curiosamente, no versículo 18 está escrito: “Aqui há sabedoria”.
Literalmente: “Aqui está a sabedoria”. Em outras palavras: no
próximo comunicado está a sabedoria, que servirá para reconhecer o
Anticristo a tempo naquela época difícil, ajudando também a tomar a
posição interior e exterior correta diante dele. Essa palavra vale,
portanto, exclusivamente para aqueles que não participarem do
arrebatamento: “Aquele que tem entendimento calcule o número da
besta...”. Portanto, quando surgir então o grande imperador mundial,
que aos olhos do mundo e dos cristãos nominais parecerá o
Anticristo, eles devem calcular o número do nome da besta.
Será possível ter clareza quando se somar o valor numérico das
diferentes letras desse nome. Se compreendermos assim o sentido
simples dessas importantes palavras, então naturalmente parece que
é um esforço sem sentido e sem perspectivas querer descobrir já
atualmente o nome do Anticristo. Pelo contrário, aqueles que então
não foram arrebatados, quando realmente aparecer um líder
suspeito, deverão quietamente calcular o valor numérico do seu
nome. Se o resultado for o número 666, suas suposições serão
confirmadas.
Na língua original do Novo Testamento, o grego, o santo nome do
Senhor Jesus representa o valor 888. O número 7 é o santo número
do Criador, que no 7º dia descansou das suas obras e que deu à
criação terrena a semana de sete dias, com seu regular dia de
descanso, como sagrada condição de vida. Sete é, portanto, o
número do Criador, e o número 8 é o número do Salvador, que
ressuscitou no dia após o sétimo dia da semana. Com isso ele
lançou o fundamento para a nova criação. Ao contrário, o número 6 é
o número dos dias da semana sem o sábado, ou também o número
da criação sem o Criador; o número do mundo sem Deus. Desse
modo, o número do nome do Anticristo forma o contraste mais
intenso com o número do santo nome de Jesus: 888.
Já dissemos que o Anticristo será um aglutinamento ou uma
reincorporação das características de todos os anticristos políticos
de todos os tempos. Porém, do mesmo modo também se projetarão
em sua expressão máxima, no número do seu nome, todos os
anticristos religiosos anteriores. Certamente por isso João disse: “...
já agora muitos anticristos têm surgido” (1Jo 2.18).
Reconhecemos agora o caráter do Anticristo e sabemos que em
2Timóteo 3.1-4 Paulo enumerou as três vezes seis características
dos cristãos nominais dos tempos finais: “Saiba disto: nos últimos
dias sobrevirão tempos terríveis. Os homens serão...”. Então ele
enumera as suas características negativas:

egoístas, ingratos, cruéis,


avarentos, ímpios, inimigos do bem,
presunçosos, traidores,
arrogantes, sem amor pela precipitados,
blasfemos, família, soberbos,
desobedientes irreconciliáveis, mais amantes dos prazeres do
aos pais, caluniadores, que amigos de Deus
6 sem domínio 6
próprio,
6

No versículo 5 do mesmo capítulo ele diz qual é a característica


geral desses homens: “Tendo aparência de piedade, mas negando o
seu poder”. Todas essas são características do Anticristo, e muitos
já agora tornaram-se anticristos. Mesmo que um dia estiveram
empolgados pelo evangelho, degeneraram-se e transformaram-se
em anticristos, porque perderam o amor à verdade. Como você pode
ser preservado de se tornar um anticristo nestes tempos finais, com
todas as suas tentações? Colocando-se dentro da absoluta verdade.
Em outras palavras: chegando completamente à luz! Somente assim
você será então capaz de distinguir entre verdade e mentira e de
adorar Deus e o Cordeiro em verdade!
16
O Cordeiro e os Cento e Quarenta e
Quatro Mil no Monte Sião
(Ap 14.1-13)

1Então olhei, e diante de mim estava o Cordeiro, em pé sobre o


monte Sião, e com ele cento e quarenta e quatro mil que traziam
escritos na testa o nome dele e o nome de seu Pai. 2Ouvi um som
dos céus como o de muitas águas e de um forte trovão. Era como
o de harpistas tocando seus instrumentos. 3Eles cantavam um
cântico novo diante do trono, dos quatro seres viventes e dos
anciãos. Ninguém podia aprender o cântico, a não ser os cento e
quarenta e quatro mil que haviam sido comprados da terra. 4Estes
são os que não se contaminaram com mulheres, pois se
conservaram castos e seguem o Cordeiro por onde quer que ele
vá. Foram comprados dentre os homens e ofertados como
primícias a Deus e ao Cordeiro. 5Mentira nenhuma foi encontrada
na boca deles; são imaculados. 6Então vi outro anjo, que voava
pelo céu e tinha na mão o evangelho eterno para proclamar aos
que habitam na terra, a toda nação, tribo, língua e povo. 7Ele
disse em alta voz: “Temam a Deus e glorifiquem-no, pois chegou
a hora do seu juízo. Adorem aquele que fez os céus, a terra, o
mar e as fontes das águas”. 8Um segundo anjo o seguiu, dizendo:
“Caiu! Caiu a grande Babilônia que fez todas as nações beberem
do vinho da fúria da sua prostituição!” 9Um terceiro anjo os
seguiu, dizendo em alta voz: “Se alguém adorar a besta e a sua
imagem e receber a sua marca na testa ou na mão, 10também
beberá do vinho do furor de Deus que foi derramado sem mistura
no cálice da sua ira. Será ainda atormentado com enxofre ardente
na presença dos santos anjos e do Cordeiro, 11e a fumaça do
tormento de tais pessoas sobe para todo o sempre. Para todos os
que adoram a besta e a sua imagem, e para quem recebe a
marca do seu nome, não há descanso, dia e noite”. 12Aqui está a
perseverança dos santos que obedecem aos mandamentos de
Deus e permanecem fiéis a Jesus. 13Então ouvi uma voz dos
céus, dizendo: “Escreva: Felizes os mortos que morrem no
Senhor de agora em diante”. Diz o Espírito: “Sim, eles
descansarão das suas fadigas, pois as suas obras os seguirão”.

E
m contraste com o escuro e terrível capítulo 13, aqui temos
uma visão do céu. Isso é semelhante ao silêncio da noite após
uma trovoada destruidora. Após a revelação da besta e do
Falso Profeta, surge agora a aurora da glória do Cordeiro em meio
às nuvens negras! Assim, temos que aprender a olhar atrás das
coisas; contudo, somente conseguimos isso através da fé. Para
podermos olhar através dos fatos temos que olhar para o alto!
“Tendo os olhos fitos em Jesus, autor e consumador da nossa fé”
(Hb 12.2).
“Então olhei, e diante de mim estava o Cordeiro, em pé sobre o
monte Sião, e com ele cento e quarenta e quatro mil que traziam
escritos na testa o nome dele e o nome de seu Pai” (v. 1). Não está
escrito “os cento e quarenta e quatro mil”, mas simplesmente “cento
e quarenta e quatro mil”. Falta o artigo. Todavia, sem dúvida trata-se
aqui dos cento e quarenta e quatro mil selados dentre as doze tribos
de Israel que vimos no capítulo 7: “‘Não danifiquem nem a terra, nem
o mar, nem as árvores até que selemos as testas dos servos do
nosso Deus’. Então ouvi o número dos que foram selados: cento e
quarenta e quatro mil, de todas as tribos de Israel” (7.3-4). Por que
falta o artigo no nosso texto? Porque o Cordeiro se sobrepõe a tudo!
Além disso, o Cordeiro ainda tem inúmeros outros comprados pelo
sangue – a igreja de Jesus – além dos cento e quarenta e quatro mil,
pois em Hebreus 12.22 está escrito: “Mas vocês chegaram ao monte
Sião, à Jerusalém celestial, à cidade do Deus vivo. Chegaram aos
milhares de milhares de anjos em alegre reunião”. Com isso fica
também esclarecido que aqui em Apocalipse 14 não se trata do
monte Sião terreno, da cidade de Davi, da atual Jerusalém. Pelo
contrário, essa visão maravilhosamente agradável está em extremo
contraste com a Jerusalém terrena e o drama que se desenrola ali
durante os 42 meses de domínio da besta.
A descrição do Cordeiro e dos cento e quarenta e quatro mil
selados de Israel nada mais é do que o inverso celestial daquilo que
vimos no capítulo 13. As duas bestas e seu comportamento era
terreno; o Cordeiro e os cento e quarenta e quatro mil são celestiais.
Apresenta-se o contraste entre o cruel e grosseiro monstro que é o
Anticristo e o Cordeiro de Deus imaculado sobre o monte Sião. Os
portadores da marca da besta (666), seus seguidores e adoradores,
são confrontados com a assembleia dos discípulos do Cordeiro;
aqueles que têm escrito na testa o nome do Cordeiro e o nome do
seu Pai! O caráter da besta e dos seus seguidores, que revela
somente prostituição, é contrastado com a pureza virginal dos cento
e quarenta e quatro mil selados de Israel, que rejeitaram qualquer
participação na imoralidade reinante.
Como crentes, também nós nos encontramos atualmente em
profundo confronto com o espírito deste mundo. Por isso sente-se tal
pressão, por isso nota-se os risos e a zombaria e por isso se é
desprezado. Encontramo-nos em meio a um mundo anticristão,
apesar do Anticristo não poder se manifestar ainda, pois a igreja de
Jesus, e com ela o Espírito Santo, ainda está na terra. Contudo,
prossigamos corajosamente, pois somos – como os cento e
quarenta e quatro mil – libertados da culpa e do poder do pecado
através do precioso sangue do Cordeiro!
Enquanto na terra os homens estão maravilhados pela nova ordem
do Anticristo e diante do seu poder, adorando-o – um povo, um reino,
um líder – os cento e quarenta e quatro mil cantam o novo cântico do
Cordeiro: “Eles cantavam um cântico novo diante do trono, dos
quatro seres viventes e dos anciãos. Ninguém podia aprender o
cântico, a não ser os cento e quarenta e quatro mil que haviam sido
comprados da terra” (v. 3). Na verdade, não se trata de um cântico
comum. Deve ser algo tão celestialmente maravilhoso que a palavra
“cântico” é totalmente insuficiente para descrevê-lo. O seu som será
magnífico e glorioso!
O contraste entre os cento e quarenta e quatro mil e os
portadores da marca da besta torna-se ainda mais intenso se
lembrarmos que os adoradores da besta estarão perdidos para
sempre, pois eles não estão escritos no livro da vida do Cordeiro
(13.8). E no capítulo 14.11 é agora dito deles: “E a fumaça do
tormento de tais pessoas sobe para todo o sempre. Para todos os
que adoram a besta e a sua imagem... não há descanso, dia e
noite”. No entanto, sobre o monte Sião encontra-se uma multidão que
segue o Cordeiro por onde quer que vá. E para onde ele vai? Para a
eterna bem-aventurança! Não devemos, porém, ver em primeiro
lugar os cento e quarenta e quatro mil, mas sim o Cordeiro! João fica
profundamente impressionado pela visão do Cordeiro, que não
somente diz: “Eu vi o Cordeiro”, mas: “Então olhei, e diante de mim
estava o Cordeiro...”. Isso nos lembra de João Batista, exclamando
junto ao Jordão: “Vejam! É o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do
mundo!” (Jo 1.29). Em Jesus Cristo habita corporalmente a plenitude
da divindade; como Cordeiro que foi morto, ele é o resplendor da
glória de Deus. O que precisamos é de uma visão completamente
nova do Cordeiro! “Vejam! É o Cordeiro de Deus”! Quando vemos
Jesus, todos os problemas, preocupações, frustrações etc.
desaparecem de nós. Então ficamos livres, então somos capazes de
jubilar: “Tudo posso naquele que me fortalece” (Fp 4.13).
João tinha essa visão do Cordeiro. Ele teve que digerir coisas
terríveis, porque aquilo que ele tinha visto – toda a maneira
sanguinária do Anticristo, mandando executar milhões de crentes –
não podia deixá-lo sem marcas. Desse modo, ele exclama
profundamente emocionado: “Então olhei, e diante de mim estava o
Cordeiro”.
A revelação do Cordeiro e dos cento e quarenta e quatro mil já
nos mostra em si, claramente, que esse maravilhoso espetáculo
acontece no céu, pois em nenhum lugar de Apocalipse o Cordeiro –
com exceção do capítulo 17.14, onde se põe um fim na besta – foi
visível na terra, a não ser na figura do “outro anjo” (7.2; 8.3).
Já constatamos que os cento e quarenta e quatro mil do capítulo
14 são os mesmos do capítulo 7 e que se trata de selados de todas
as tribos de Israel. Portanto, eles são primícias de Israel.
Conhecemos o selo também na atual dispensação, pois, conforme
Efésios 1.13, todos os que renasceram foram selados com o
Espírito Santo. Por isso somos intocáveis para o inimigo. O mesmo
vale também para os cento e quarenta e quatro mil; apesar da
aparente onipotência da besta, que controla o mundo todo
estatisticamente e espiritualmente, impondo sua adoração através do
Falso Profeta, mandando matar todos os que não adoram a imagem
da besta, eles não são dizimados. Em virtude de estarem selados
com o Espírito Santo eles resistiram vitoriosamente à fúria da besta.
Conforme o versículo 4b, eles “foram comprados dentre os homens
e ofertados como primícias a Deus e ao Cordeiro”. Eles se
encontram agora “diante do trono” (v. 3). Portanto, como já dissemos
na análise de Apocalipse 12.6-17, isso significa que eles foram
arrebatados para o Cordeiro, pois o seu trono se encontra no céu.
Esse arrebatamento também corresponde exatamente ao princípio
divino com relação aos selados. Como crentes da nova aliança,
somos selados até o dia da redenção. Qual será o dia da redenção?
Nosso arrebatamento! Assim, porque aqui aparecem agora os cento
e quarenta e quatro mil selados de Israel com o Cordeiro de Deus
sobre o monte Sião celestial, eles devem ter sido arrebatados
durante a grande tribulação. Assim, vemos dois tipos de
arrebatamento durante a grande tribulação, que também
conhecemos como igreja de Jesus:

1. O arrebatamento daqueles que passam pela morte e então


são ressuscitados e arrebatados – os nossos que dormiram
no Senhor (1Ts 4.16).
2. O arrebatamento daqueles que estarão vivos e restarem
(1Ts 4.17).

Quem, no Apocalipse, passou pela morte e foi arrebatado? As


duas testemunhas. Depois de terem dado seu testemunho, elas
tiveram que morrer primeiro (cf. 11.7-10). Então no versículo 11 está
escrito: “Mas, depois dos três dias e meio, entrou neles um sopro de
vida da parte de Deus, e eles ficaram em pé, e um grande terror
tomou conta daqueles que os viram”. E no versículo 12 consta:
“Então eles ouviram uma forte voz dos céus, que lhes disse: ‘Subam
para cá’. E eles subiram para os céus numa nuvem, enquanto os
seus inimigos olhavam”. Isso não é um arrebatamento?
Os cento e quarenta e quatro mil, contudo, são arrebatados
enquanto vivem. Apesar de não estar escrito literalmente, o fato de
repentinamente encontrarem-se no céu fala por si; afinal, no capítulo
12.17 ainda os vimos sobre a terra, onde Satanás, o dragão, tentava
devorá-los: “O dragão irou-se contra a mulher e saiu para guerrear
contra o restante da sua descendência, os que obedecem aos
mandamentos de Deus e se mantêm fiéis ao testemunho de Jesus”.
Para destruir a descendência da mulher, ele vai então para a areia
do mar e chama a besta, o Anticristo – mas então os cento e
quarenta e quatro mil são arrebatados!
É como se na grande tribulação – especialmente nos últimos três
anos e meio – não é somente manifestada toda a maldade de
Satanás de maneira comprimida através da besta, mas também o
positivo se revela de maneira extraordinariamente clara e
resplandecente, pois certamente em nenhuma parte do Novo
Testamento é citado tanto o nome do Cordeiro como no Apocalipse.
Agora são reveladas no céu as características dos cento e
quarenta e quatro mil. O que eles eram na terra manifesta-se agora
na glória. Suas características são ao mesmo tempo as
características de todos os selados com o Espírito Santo. O que
somos aqui interiormente será então manifestado na glória. Isso
corresponde exatamente ao que está escrito em 1Coríntios 15.49:
“Assim como tivemos a imagem do homem terreno, teremos também
a imagem do homem celestial”. Que séria advertência para nós! Em
Apocalipse 7.3 somente é dito que os cento e quarenta e quatro mil
selados são “servos do nosso Deus”. Contudo, com o Cordeiro na
glória sobre o monte Sião mostra-se o grau da sua semelhança com
ele. Toda a falsa aparência em nossa vida desaparece com o
arrebatamento, porque “o Dia a trará à luz” (1Co 3.13). Naquele dia,
o dia do nosso arrebatamento, será revelado o que nós realmente
somos.
Analisemos agora a selagem e seus efeitos sobre os cento e
quarenta e quatro mil. O selo é o Espírito Santo. Ele torna visível o
nome do Pai, apontando para Israel e para aqueles que pertencem a
Jeová. E o nome do Cordeiro aponta para o fato de pertencerem a
Jesus Cristo. Os cento e quarenta e quatro mil guardam os
mandamentos de Deus e têm o testemunho de Jesus. O selo com o
nome sagrado na testa revela:

1. Que, em meio ao furor do Anticristo, eles foram


testemunhas fiéis. Eles perseveraram na fé. Isso em
contraste com os muitos milhões que têm o nome da besta
gravado na testa ou na mão direita.
2. Que mantiveram a pureza absoluta, pois é dito deles: “Estes
são os que não se contaminaram com mulheres, pois se
conservaram castos [grego: virgens]...” (v. 4). Certamente
não se trata do celibato, mas de pureza. O próprio Senhor
Jesus compara o reino dos céus com dez virgens (Mt 25).
Paulo diz da igreja em Corinto: “O zelo que tenho por
vocês... Eu os prometi a um único marido, Cristo, querendo
apresentá-los a ele como uma virgem pura” (2Co 11.2). A
decadência dos costumes, que atualmente se alastra cada
vez mais, será tão completa durante a grande tribulação que
será difícil permanecer imaculado. Se já hoje é preciso
combater de modo especial a batalha da fé nessa área,
quão difícil será no tempo do Anticristo? Contudo, em
virtude de estarem selados, os cento e quarenta e quatro
mil permanecem imaculados.
3. Que eles foram absolutamente verdadeiros. Isso também é
tão essencial para o nosso discipulado atualmente! Depois
de aparecerem com o Cordeiro sobre o monte Sião
celestial, eles recebem o testemunho: “Mentira nenhuma foi
encontrada na boca deles; são imaculados” (v. 5). Quão
infinitamente importante é que não haja mentira em nós, já
somente porque o Senhor só nos ouve quando o invocamos
com um coração verdadeiro. A afirmação do Senhor Jesus:
“... a verdade os libertará” (Jo 8.32), mostra-nos que a
veracidade interior nos atrai com poder para o campo de
força do Salvador. Ele disse de si mesmo: “Eu sou... a
verdade” (Jo 14.6). Quem mente afasta-se cada vez mais
da pessoa dele e é cada vez mais preso ao pai da mentira.
Em um período muito curto, os cento e quarenta e quatro mil
experimentaram muitas coisas: eles creram, foram selados e
tornaram-se semelhantes ao Cordeiro. Estas puras e verdadeiras
primícias de Israel, apesar de terem a mentalidade nova, não farão
parte da igreja-noiva, pois essa já estará então adornada e
preparada para o casamento do Cordeiro. Os cento e quarenta e
quatro mil também não se encontram sobre tronos, mas diante do
trono, do mesmo modo como a multidão inumerável dentre todos os
povos e línguas (7.9). Ali os selados de Israel entoam um “cântico
novo”, que é o seu próprio cântico, pois está escrito: “Ninguém podia
aprender o cântico” (v. 3). Apesar de não serem ligados ao trono,
como os quatro seres viventes (4.6-9), nem estarem sentados sobre
os tronos e com coroas nas cabeças, como os vinte e quatro anciãos
(a igreja; cf. 4.10-11), eles têm um motivo extraordinário e especial
para este cântico singular. Nem os quatro seres viventes nem os
vinte e quatro anciãos têm esse motivo, porque ninguém cumpriu tal
tarefa ou ordem como eles: a provação diante da face da besta, do
Anticristo. Em virtude de estarem selados, eles venceram na
provação extrema da genuinidade da sua fé em Jesus Cristo.
Não é de admirar que esse maravilhoso cântico é precedido por
um indescritível prelúdio: “Ouvi um som dos céus como o de muitas
águas e de um forte trovão. Era como o de harpistas tocando seus
instrumentos” (v. 2). Observe também as três comparações nesta
passagem: 1) “... como o de muitas águas...” Isso não indica o rio de
bênção que Jesus prometeu? Ele disse: “Quem crer em mim, como
diz a Escritura, do seu interior fluirão rios de água viva” (Jo 7.38). 2)
“... como... de um forte trovão.” Isso não é a santidade e justiça de
Deus? A justiça de Deus diz “sim” aos cento e quarenta e quatro mil
de Israel. 3) “Era como o de harpistas tocando seus instrumentos.”
Que maravilhoso: trovão e agradável música de harpas – aqui
beijam-se a justiça e a paz (cf. Sl 85.10).
Eu gostaria de frisar: apesar de vermos os cento e quarenta e
quatro mil unidos com o Cordeiro no monte Sião celestial, temos aqui
o espetáculo glorificado de sua vitória alcançada sobre o monte Sião
terreno na presença do Anticristo. Ó, que hoje e agora vencêssemos
na presença do inimigo das nossas almas, para que também na
glória sejamos correspondentemente glorificados. Como é o terreno,
será também o celestial (1Co 15.49)!
Estas primícias de Israel mostram-nos também uma ordem
completamente nova: todo o Israel, que será salvo mais tarde (Rm
11.26). Os cento e quarenta e quatro mil, porém, são a “vanguarda”.
Do mesmo modo como os vinte e quatro anciãos representam toda a
igreja de Jesus, os cento e quarenta e quatro mil representam o novo
Israel em formação, quando o tempo das nações tiver terminado
definitivamente. Eles são testemunhas especiais do Pai e do Filho
nos escuros dias da angústia de Jacó, na humilhação e miséria do
seu povo. Junto a Cristo, em seus atos especiais para a salvação
final da nação escolhida, Israel, eles têm a posição mais elevada.
Justamente por isso eles também são selados de maneira especial
nos dias especialmente difíceis. Esse é o galardão pela sua
fidelidade ao Senhor na presença do mentiroso desde o princípio.
Por isso está escrito sobre eles a honrosa referência: “... e seguem
o Cordeiro por onde quer que ele vá” (v. 4). Foi o que eles fizeram
enquanto estavam sobre a terra. Agora eles são honrados pelo Pai,
como o Senhor também prometeu a nós: “Quem me serve precisa
seguir-me; e, onde estou, o meu servo também estará. Aquele que
me serve, meu Pai o honrará” (Jo 12.26). O servo está onde se
encontra o Cordeiro, e consequentemente o Pai honrará o servo.
Agora nossos olhares voltam-se por um momento para a terra.
João vê: “Então vi outro anjo, que voava pelo céu e tinha na mão o
evangelho eterno para proclamar aos que habitam na terra, a toda
nação, tribo, língua e povo. Ele disse em alta voz: ‘Temam a Deus e
glorifiquem-no, pois chegou a hora do seu juízo. Adorem aquele que
fez os céus, a terra, o mar e as fontes das águas’” (v. 6-7). A voz, o
testemunho dos cento e quarenta e quatro mil, calou-se agora sobre
a terra, e o evangelho eterno é então anunciado por um anjo que voa
pelo meio do céu. Pela continuação concluímos que se trata no total
de seis anjos, que agora têm uma mensagem para proclamar do
céu. Trata-se de um grupo de anjos – poderíamos também chamá-lo
de grupo de juízos – em cujo meio (v. 9-11) manifesta-se a santa e
julgadora majestade de Deus. Os anjos falam da maldição eterna.
Hoje em dia não se gosta mais de ouvir isso. Apesar disso, esses
seis anjos são anunciadores e executores de juízo (v. 18-20).
Neste panorama, que novamente destaca-se de todo o resto,
vemos o terrível tempo de juízo durante a grande tribulação, agora
novamente de outra perspectiva: a da pregação. É preciso
compreender bem isso: quando não houver mais nenhuma língua
humana para anunciar o evangelho – pois os cento e quarenta e
quatro mil foram arrebatados e os crentes são continuamente
executados – o céu falará! Os anjos, que o Anticristo não pode
atingir, pregarão o evangelho. Figuradamente, eles terão seu púlpito
em meio ao céu, e todas as nações, tribos e línguas serão obrigadas
a escutar, mesmo que não queiram. O inferno ficará então enfurecido
como nunca antes, mas a Palavra de Deus não está amarrada. Ela é
eternamente viva e precisa ser ouvida.
A mensagem deste primeiro anjo é: “Temam a Deus e glorifiquem-
no, pois chegou a hora do seu juízo. Adorem aquele que fez os céus,
a terra, o mar e as fontes das águas” (v. 7). Que poderosa voz deve
ter o anjo para que todos ouçam a sua mensagem! Por isso está
escrito “em alta voz”. Seu evangelho é: adorem a Deus e temam-no.
Isso, no entanto, é o contrário da mensagem da besta, que exige a
adoração da imagem da besta. Simultaneamente, esse primeiro anjo
também anuncia o juízo. Quanto à época, sua pregação acontece no
limite entre o tempo e o princípio da eternidade, pois no versículo 14
vemos a volta do Senhor: “Olhei, e diante de mim estava uma nuvem
branca e, assentado sobre a nuvem, alguém ‘semelhante a um filho
de homem’. Ele estava com uma coroa de ouro na cabeça e uma
foice afiada na mão”. Se está escrito que o anjo prega um
“evangelho eterno”, então devemos lembrar que a palavra
“evangelho”, no sentido do Novo Testamento, significa “boa nova”.
Esta, por sua vez, tem diferentes aspectos divinos:

Em primeiro lugar, o evangelho é a boa nova de que Jesus


Cristo morreu na cruz do Gólgota pelo pecado do mundo.
Esse é o chamado “evangelho de Deus” (Rm 1.1) e
“evangelho de Cristo” (2Co 10.14). Trata-se também do
“evangelho da graça de Deus” (At 20.24), porque salva os
que são malditos pela lei. Além disso, a Escritura fala
também do “glorioso evangelho” (1Tm 1.11) e do “evangelho
que os salvou” (Ef 1.13).
A boa nova, porém, também é o evangelho do reino. O
próprio Senhor Jesus pregou o evangelho do reino antes de
ir para o Gólgota: “Jesus foi por toda a Galileia, ensinando
nas sinagogas deles, pregando as boas-novas do Reino”
(Mt 4.23). O evangelho do reino é a mensagem de que
Deus vai estabelecer nesta terra o reino do Cristo, do Filho
de Davi, como cumprimento da aliança com Davi. Por isso
João Batista anunciava: “Arrependam-se, pois o Reino dos
céus está próximo” (Mt 3.2). Essa maravilhosa mensagem já
era anunciada no Antigo Testamento em Isaías 9.6-7, por
exemplo. Porém, como já dissemos, ela foi anunciada
especialmente pelo próprio Senhor Jesus: “Jesus ia
passando por todas as cidades e povoados, ensinando nas
sinagogas, pregando as boas-novas do Reino e curando
todas as enfermidades e doenças” (Mt 9.35). Se naquele
tempo o Israel todo tivesse se convertido, o reino dos céus
teria sido estabelecido na terra e o Messias teria iniciado o
seu reinado. Segundo o meu entendimento, esse evangelho
do reino será anunciado pelos cento e quarenta e quatro mil
em todo o mundo durante a grande tribulação, após o
encerramento da pregação do evangelho da graça, sendo
que todos que então chegarem à fé serão exterminados.
Nesse contexto devem ser entendidas as palavras de Jesus
em Mateus 24.14: “E este evangelho do Reino será pregado
em todo o mundo como testemunho a todas as nações, e
então virá o fim”.
Aqui em Apocalipse 14.6 temos agora o “evangelho eterno”.
Este é o anúncio do juízo divino sobre todo o mal que é feito
durante a grande tribulação. Ao mesmo tempo, no entanto,
trata-se também de uma boa nova para os crentes que
então estiverem sofrendo: “Aqui está a perseverança dos
santos que obedecem aos mandamentos de Deus e
permanecem fiéis a Jesus” (v. 12).
A palavra “evangelho” engloba, portanto, diferentes resultados da
boa nova. Todavia, o fato de Deus anunciar tanto a boa nova do
evangelho da graça quanto o evangelho do reino futuro, e do
evangelho do juízo divino, não significa que existe mais que um
evangelho da salvação, pois a graça é o fundamento de todas as
dispensações e em todas as circunstâncias é o único caminho para a
salvação do pecador. Na versão revista e atualizada, não está
escrito que o anjo voando pelo meio do céu prega “o” evangelho
eterno, mas “um” evangelho eterno. Também se poderia dizer o
seguinte: um evangelho do único evangelho da graça de Deus em
Jesus Cristo. O grande reformador Lutero certa vez disse que não
gostava de Apocalipse porque tinha a impressão de que o espírito
desse livro não combinava com o evangelho. Ele tem razão quanto
ao aspecto de que o Apocalipse não fala mais da dispensação da
graça, mas do tempo do juízo. Mas a grande alma de Lutero estava
completamente mergulhada no evangelho da graça.
É de eminente significado o fato de que o evangelho do reino, em
contraste com o evangelho eterno, será pregado a todos os povos
durante a grande tribulação. Através de quem isso poderia
acontecer, a não ser em primeiro lugar pelos cento e quarenta e
quatro mil, antes que sejam arrebatados, e pela grande multidão
inumerável de crentes, antes que sejam executados? O resultado da
sua pregação será o juízo sobre o mundo das nações, por ocasião
da volta do Senhor Jesus Cristo. O próprio Senhor fala a respeito em
suas palavras sobre os tempos finais: “Quando o Filho do homem
vier em sua glória, com todos os anjos, ele se assentará em seu
trono na glória celestial. Todas as nações serão reunidas diante dele,
e ele separará umas das outras como o pastor separa as ovelhas
dos bodes” (Mt 25.31-32). Nesse julgamento do reino, os povos
serão julgados de acordo com o que fizeram com o evangelho do
reino, o que fizeram ou não fizeram a Israel: “O que vocês fizeram a
algum dos meus menores irmãos, a mim o fizeram” (Mt 25.40). O
evangelho eterno é chamado de “eterno” porque procede do Deus
eterno e porque seu julgamento produz fatos eternos que jamais
serão mudados. É o que está escrito no versículo 11: “E a fumaça do
tormento de tais pessoas sobe para todo o sempre. Para todos os
que adoram a besta e a sua imagem, e para quem recebe a marca
do seu nome, não há descanso, dia e noite”.
Agora segue a mensagem do segundo anjo: “Um segundo anjo o
seguiu, dizendo: ‘Caiu! Caiu a grande Babilônia que fez todas as
nações beberem do vinho da fúria da sua prostituição!’” (v. 8).
Acentua-se que agora fala um segundo anjo. Este prossegue com a
mensagem do primeiro, ou seja, a completa. Ele anuncia um
resultado da vitória alcançada pelo Cordeiro na cruz, que se encontra
justamente diante da revelação visível: “Caiu! Caiu a grande Babilônia
que fez todas as nações beberem do vinho da fúria da sua
prostituição!”. O anúncio da queda da Babilônia é uma revelação
antecipada daquilo que começa a se cumprir. Os detalhes sobre a
queda da Babilônia, ou seja, a execução do juízo sobre a Babilônia,
nos são mostrados em Apocalipse 17 e 18. Ali também é – e isso eu
gostaria de adiantar – mostrado o objetivo do anúncio antecipado no
capítulo 14.8: uma advertência para os crentes: “Saiam dela, vocês,
povo meu, para que vocês não participem dos seus pecados, para
que as pragas que vão cair sobre ela não os atinjam!” (18.4). No
anúncio antecipado torna-se mais uma vez visível o esforço da graça
de Deus em meio aos terríveis juízos, pois, no versículo 7, o primeiro
anjo diz: “... chegou a hora do seu juízo”. A advertência é tanto mais
insistente porque Deus mesmo anuncia através dos seus anjos que
toda a Babilônia mundial caiu. A besta, sobre a qual está assentada
uma mulher (cf. Ap 17), ou seja, o poder político mundial anticristão
ligado à religião mundial unificada, a falsa igreja, caiu. A dupla
afirmação – “Caiu! Caiu...” – mostra o quão abrangente e completa é
a sua queda. O mesmo está escrito também em Apocalipse 18.2.
Babilônia, Babel, é em primeiro lugar toda a cristandade aparente,
unificada com todas as religiões do mundo. No que se refere ao
ocidente cristão: milhões de pessoas chorarão em suas igrejas e
salões de culto porque não participaram do arrebatamento. Elas
serão então arrastadas pela correnteza política anticristã e
integradas no reino do Anticristo. A autoridade do Estado e a igreja
mundial estarão unificadas. Já por isso é atualmente perigoso
quando igrejas são “estatizadas”, pois o Anticristo, como único líder
do Estado mundial, as unirá com todas as outras religiões do mundo,
formando uma igreja mundial sem Cristo.
No que se refere à dupla afirmação, é muito esclarecedor que
essa expressão já é utilizada com relação à Babilônia do Antigo
Testamento. Em Isaías 21.9 lemos: “Caiu! A Babilônia caiu!”.
Portanto, em meio à grande tribulação em Apocalipse 14 é
anunciada a queda da Babilônia como fato consumado, apesar de
que isso se tornará visível somente após o derramamento da sétima
taça da ira. Assim, os anjos já podem dizer neste momento o que
está escrito no capítulo 18.2. Na verdade, em princípio a Babilônia já
caiu quando Jesus exclamou “está consumado!” na cruz do Gólgota.
A Babilônia é a personificação da rebelião do homem contra Deus.
Isso já começou em Gênesis 11 com a construção da torre de Babel
e com o Império Babilônico de modo geral.
Agora segue a mensagem do terceiro anjo: “Um terceiro anjo os
seguiu, dizendo em alta voz: ‘Se alguém adorar a besta e a sua
imagem e receber a sua marca na testa ou na mão, também beberá
do vinho do furor de Deus que foi derramado sem mistura no cálice
da sua ira. Será ainda atormentado com enxofre ardente na
presença dos santos anjos e do Cordeiro, e a fumaça do tormento
de tais pessoas sobe para todo o sempre. Para todos os que
adoram a besta e a sua imagem, e para quem recebe a marca do
seu nome, não há descanso, dia e noite’” (v. 9-11). Enquanto o
primeiro anjo anuncia o juízo sobre todas as nações e línguas, o
segundo sobre o império romano mundial anticristão e sua
prostituição com a falsa igreja, descrevendo-a como objeto de juízo
divino, o terceiro anjo dirige-se agora em sua mensagem àquelas
pessoas que serão atingidas pelo juízo da maldição eterna. É
possível que esse terceiro anjo fale ainda mais alto do que os outros
dois. Também dele é dito: “... dizendo em alta voz”. Isso não é
surpreendente, pois sua mensagem refere-se a milhares de pessoas,
individualmente. Ele fala da maldição eterna, da realidade do inferno.
O terrível pecado de adoração da besta trará a todos os seus
seguidores a maldição do inferno. Hoje em dia gosta-se de ouvir falar
da realidade do céu, mas ai se alguém ousar falar da realidade do
inferno. A Bíblia faz isso: “E a fumaça do tormento de tais pessoas
sobe para todo o sempre... não há descanso, dia e noite” (v. 11).
Duas vezes é citado o terrível pecado que durante a grande
tribulação leva os homens à maldição do inferno. Versículo 9: “Se
alguém adorar a besta e a sua imagem e receber a sua marca na
testa ou na mão”. Versículo 11: “Para todos os que adoram a besta
e a sua imagem, e para quem recebe a marca do seu nome...”.
Também você, que ainda vive na época da graça, está em perigo
de cair nesse pecado! Atualmente não são os anjos que anunciam
esta séria mensagem, mas homens. Também você é alguém que
será salvo eternamente ou irá para a maldição que nunca acaba,
pois Deus realmente quer dizer o que fala. Se a eterna bem-
aventurança é sem fim, então a maldição também é eterna! Temos
que ler calmamente os versículos 10-11, que falam tão insistente e
claramente da fumaça do tormento que subirá para todo o sempre.
Não é decisivo se compreendemos ou não o tormento do inferno.
Decisivo é se aceitamos ou rejeitamos essas palavras como a
completa vontade de Deus. Tenta-se constantemente enfraquecer
esta verdade gravemente séria da maldição eterna através de
filosofias humanas. Eu gostaria, porém, de lembrar que expressões
como “para todo o sempre” aparecem na Bíblia mais de uma dúzia
de vezes com relação à elevada pessoa de Deus, como nos
exemplos abaixo:
Salmo 90.2: “... de eternidade a eternidade tu és Deus”.
Salmo 103.17: “Mas o amor leal do S , o seu amor
eterno...”.
Hebreus 1.8: “O teu trono, ó Deus, subsiste para todo o sempre”.
1Pedro 4.11: “... Deus seja glorificado mediante Jesus Cristo, a
quem sejam a glória e o poder para todo o sempre”.
1Pedro 5.11: “A ele seja o poder para todo o sempre”.
Apocalipse 1.6: “... a seu Deus e Pai. A ele sejam glória e poder
para todo o sempre!”.
Apocalipse 1.18: “Estive morto, mas agora estou vivo para todo o
sempre!”.
Apocalipse 4.9: “... dão glória, honra e graças àquele que está
assentado no trono e que vive para todo o sempre”.
Apocalipse 4.10: “... adoram aquele que vive para todo o sempre”
(cf. 5.13-14; 15.7).
Apocalipse 7.12: “Louvor e glória, sabedoria, ação de graças,
honra, poder e força sejam ao nosso Deus para todo o sempre”.
Apocalipse 10.6: “E jurou por aquele que vive para todo o
sempre...”.
Apocalipse 11.15: “O reino do mundo se tornou de nosso Senhor
e do seu Cristo, e ele reinará para todo o sempre”.
Todos eles referem-se à pessoa de Deus, que a tudo sobrepuja.
Uma vez a expressão “para todo o sempre” também é utilizada como
referência às bênçãos dos justos: “... e eles reinarão para todo o
sempre” (22.5). Com relação aos eternamente malditos, é dito três
vezes que sofrerão tormento para todo o sempre:
Apocalipse 14.11: “E a fumaça do tormento de tais pessoas sobe
para todo o sempre”.
Apocalipse 19.3: “A fumaça que dela vem, sobe para todo o
sempre”.
Apocalipse 20.10: “Eles serão atormentados dia e noite, para
todo o sempre”.
Caso se queira, portanto, interpretar esse “para todo o sempre”
como algo passageiro, também o Deus eterno seria limitado no
tempo em sua divindade! Se lemos em Apocalipse 19.9: “Estas são
as palavras verdadeiras de Deus”, quem pode ousar duvidar desta
verdade eterna? Assim, apresenta-se com grande insistência a
pergunta: você, prezado leitor, já está salvo, ou está indo para a
perdição eterna?
Não sabemos exatamente o que é esse lago de fogo que existirá
na eternidade. Também nem conseguimos imaginá-lo. Contudo, o
quão terrível a maldição é pode-se avaliar pela indizível grandeza do
sacrifício que Deus realizou para nos salvar dela, pois ele entregou o
seu Filho unigênito, Jesus Cristo! “Como escaparemos, se
negligenciarmos tão grande salvação?” (Hb 2.3).
De modo semelhante ao capítulo 13.10b, temos agora
repentinamente um parêntese no versículo 12: “Aqui está a
perseverança dos santos que obedecem aos mandamentos de Deus
e permanecem fiéis a Jesus”. Essa mensagem de consolo será
especialmente necessária aqui, pois os muitos homens que se
tornaram crentes – aqui não falo mais dos cento e quarenta e quatro
mil que então, segundo meu entendimento, estarão com o Senhor –
estarão diante da alternativa de adorar a besta ou morrer. Muitos
hesitam hoje em dia a realizar uma entrega completa até
descobrirem tarde demais que agora precisarão decidir-se. Então,
porém, a decisão deles por Jesus Cristo terá consequências
terríveis. Por não negarem sua fé e guardarem os mandamentos de
Deus, haverá uma terrível carnificina nas fileiras dos santos. Um
após outro será levado ao local de execução. Eles serão marcados
como dissidentes, oposicionistas, revisionistas, hereges etc. Os
sangrentos julgamentos da Revolução Francesa, os rios de sangue
que foram derramados sob Stalin ou Hitler nada serão em
comparação com esse banho de sangue.
Em meio a esse terrível tempo, ouve-se primeiro a consoladora
advertência: “Aqui está a perseverança dos santos...”. Então ouve-se
outra voz do céu, que ordena a João: “Escreva”. A ordem já é
conhecida agora. Atrás dela reconhecemos o Senhor, pois em
Apocalipse 1.11 e 1.19 João é incumbido da mesma tarefa. Agora
ele deve escrever: “‘Felizes os mortos que morrem no Senhor de
agora em diante’. Diz o Espírito: ‘Sim, eles descansarão das suas
fadigas, pois as suas obras os seguirão’” (v. 13). Essas palavras
podem naturalmente ser aplicadas a todos os santos que dormiram,
pois todos que morreram no Senhor no decorrer dos séculos estão
salvos. O sangue e a justiça de Cristo são seus adornos e vestes de
honra. Aqui, no entanto, elas valem em primeiro lugar para os muitos
que deixam sua vida durante a grande tribulação. Após o evangelho
do reino foi pregado o evangelho eterno, pois chegou a hora do juízo.
Ser morto justamente quando o Senhor está pronto para voltar e
estabelecer o seu reino, como está escrito no versículo 14, deve ser
um sentimento atormentador para os santos. A voz celestial, no
entanto, anuncia que ganharão muito através do martírio.
Precisamos ver essa afirmação – “Felizes os mortos que morrem
no Senhor de agora em diante” – também com relação a Apocalipse
20.4. Lá está escrito que também os mortos por causa do
testemunho na grande tribulação viverão com Cristo e reinarão
durante mil anos, que é a sua recompensa: “Vi tronos em que se
assentaram aqueles a quem havia sido dada autoridade para julgar.
Vi as almas dos que foram decapitados por causa do testemunho de
Jesus e da palavra de Deus. Eles não tinham adorado a besta nem a
sua imagem, e não tinham recebido a sua marca na testa nem nas
mãos. Eles ressuscitaram e reinaram com Cristo durante mil anos”.
O Espírito Santo dá o seu amém a respeito: “Sim, eles descansarão
das suas fadigas, pois as suas obras os seguirão” (v. 13b).
O Espírito Santo geme com os santos que passam por
sofrimentos e tribulações e se alegra pela salvação e glorificação
deles. Ele foi testemunha da perseverante fidelidade deles, ele
conhecia o trabalho das suas almas. O trabalho de oração realizado
pelos homens crentes durante a grande tribulação será muito
intenso, porque de outro modo eles não poderiam testemunhar de
Jesus até a morte; afinal, para eles realmente importa aquilo que nós
muitas vezes dizemos superficialmente: “Alcançar almas para o
Cordeiro até a morte”. O fato das afirmações do versículo 13
valerem especialmente para os santos da grande tribulação é
provado pelas palavras “de agora em diante”: “Felizes os mortos que
morrem no Senhor de agora em diante”. Há uma promessa especial
para aqueles que lavam suas vestiduras no sangue do Cordeiro
durante a grande tribulação. A sua morte no Senhor tem por
consequência coroamento e grande honra. Através do martírio eles
se tornam participantes de algo muito melhor do que se
continuassem com vida.
Na volta do Senhor em grande poder e glória, eles participarão da
primeira ressurreição: “Esta é a primeira ressurreição. Felizes e
santos os que participam da primeira ressurreição! A segunda morte
não tem poder sobre eles; serão sacerdotes de Deus e de Cristo e
reinarão com ele durante mil anos” (20.5b-6). Temos aqui diante de
nós duas etapas da primeira ressurreição (há várias etapas; cf. o
comentário sobre Apocalipse 20.5-6 na pág. 421): 1) por ocasião do
arrebatamento; e 2) imediatamente após a grande tribulação.
Mesmo que os santos da grande tribulação não pertencem à igreja-
noiva, eles têm parte na promessa que também foi dada a nós.
Temos uma promessa tripla a este respeito:
1. “Se perseveramos, com ele também reinaremos” (2Tm
2.12).
2. “Vocês não sabem que os santos hão de julgar o mundo?”
(1Co 6.2).
3. “Vocês não sabem que haveremos de julgar os anjos?” (1Co
6.3).

Essas promessas foram dadas para o tempo anterior ao


arrebatamento. Em Romanos 8.17 está escrito que, se sofrermos
com ele, “que também participemos da sua glória”. Os santos da
grande tribulação, porém, terão que morrer fisicamente – eles não
terão outra escolha. Nós temos que morrer espiritualmente para
sermos glorificados. Cuide para que você não seja envergonhado
pelos santos da grande tribulação ao se aplicarem a você as
palavras: “Contudo, muitos primeiros serão últimos, e muitos últimos
serão primeiros” (Mt 19.30). Os “últimos” são os crentes da grande
tribulação.
É aqui e agora, neste último período antes do arrebatamento, que
se requer uma entrega completa a Jesus Cristo. Quem atualmente
não se dedica totalmente ao discipulado cai de volta e se desvia. Tal
pessoa estará disposta a adorar a imagem quando prestar
homenagem à televisão, e tem em si a raiz do mal quando é
dominada pelo amor ao dinheiro (cf. 1Tm 6.10: “Pois o amor ao
dinheiro é a raiz de todos os males”). Agora, no entanto, você ainda
tem tempo para entregar seu coração e sua vida completamente ao
Senhor. Aproveite o tempo da graça, que não vai mais durar muito!
17
A Visão do Armagedom
(Ap 14.14-20)

14Olhei, e diante de mim estava uma nuvem branca e, assentado


sobre a nuvem, alguém “semelhante a um filho de homem”. Ele
estava com uma coroa de ouro na cabeça e uma foice afiada na
mão. 15Então saiu do santuário um outro anjo, que bradou em alta
voz àquele que estava assentado sobre a nuvem: “Tome a sua
foice e faça a colheita, pois a safra da terra está madura; chegou
a hora de colhê-la”. 16Assim, aquele que estava assentado sobre
a nuvem passou sua foice pela terra, e a terra foi ceifada. 17Outro
anjo saiu do santuário dos céus, trazendo também uma foice
afiada. 18E ainda outro anjo, que tem autoridade sobre o fogo,
saiu do altar e bradou em alta voz àquele que tinha a foice afiada:
“Tome sua foice afiada e ajunte os cachos de uva da videira da
terra, porque as suas uvas estão maduras!” 19O anjo passou a
foice pela terra, ajuntou as uvas e as lançou no grande lagar da
ira de Deus. 20Elas foram pisadas no lagar, fora da cidade, e
correu sangue do lagar, chegando ao nível dos freios dos
cavalos, numa distância de cerca de trezentos quilômetros.

A introdução indica que a visão que João teve agora é


extraordinária: “Olhei, e diante de mim...” (v. 14). O mesmo está
escrito também no primeiro versículo do capítulo 14, onde João viu o
Cordeiro. No entanto, aqui ele vê algo muito mais amplo e elevado:
ele vê o Cordeiro, o Senhor, exercendo o juízo. Enquanto ele antes
viu os anjos do juízo sobre a terra, onde os que se tornaram crentes
perseveram sob terríveis perseguições, agora o seu olhar é elevado
através dessa nova visão para o Senhor da ceifa que está vindo. As
quatro vozes celestiais, das quais falam os versículos 2, 7, 8 e 9,
não são mais ouvidas.
Agora João tenta descrever essa nova visão, o indescritível que
ele vê, ou seja: a glória do Senhor que está voltando! Quem, pois,
poderia descrever Jesus Cristo, que virá como é – pois nós o
veremos como ele é! – em toda a sua glória e majestade? Por isso
João vê primeiro o seu poder em movimentação, e não ele mesmo:
“Olhei, e diante de mim estava uma nuvem branca e, assentado
sobre a nuvem, alguém ‘semelhante a um filho de homem’”. Ele está
sentado sobre uma nuvem branca, que o traz de volta para a terra
numa velocidade inimaginável para exercer o juízo – para a colheita
da terra. É esclarecedor comparar as diversas afirmações sobre o
poder do Cordeiro no Apocalipse: no capítulo 22.1 é visto o seu
poder repousante. Deus, o Pai, e o Cordeiro estão assentados no
trono. No capítulo 19.11 ele está assentado sobre um cavalo branco,
o que indica o seu poder que avança. Aqui no capítulo 14.14, porém,
o Cordeiro está assentado sobre uma nuvem, o que indica o seu
poder de executar juízo, e isso em contraste com os anjos. A nuvem,
sobre a qual está assentado o Senhor que está voltando, não é
negra ou cinzenta, mas branca. No grego, a palavra usada é leukos,
traduzida por “luminosa” ou “lúcida”. Portanto, poderia ser traduzida
como “uma nuvem luminosa”.
Quando João prossegue e diz: “... e, assentado sobre a nuvem,
alguém ‘semelhante a um filho de homem’”, então percebemos que
esse é o mesmo Filho do homem que, séculos antes, foi visto por
Daniel igualmente sobre as nuvens: “... vi alguém semelhante a um
filho de um homem, vindo com as nuvens dos céus” (Dn 7.13).
Sabemos também que o Senhor Jesus falava da sua própria volta
quando disse, em Mateus 24.30: “... e verão o Filho do homem vindo
nas nuvens do céu...”. Não há dúvida de que aqui, em Apocalipse
14.14, se trata de Jesus Cristo que vem para o juízo: “Olhei, e diante
de mim estava uma nuvem branca e, assentado sobre a nuvem,
alguém ‘semelhante a um filho de homem’”. É comovente que João
vê o Senhor por ocasião da volta dele para o juízo sobre a
humanidade anticristã e sobre as duas bestas (o Anticristo e o Falso
Profeta), mas, apesar de descrevê-lo, não o identifica. Ele está tão
no espírito que qualquer conclusão sentimental, apressada, é
estranha para ele. Pelo contrário, ele prossegue, inspirado pelo
Espírito Santo, a descrever exatamente aquilo que vê: “Ele estava
com uma coroa de ouro na cabeça e uma foice afiada na mão” (v.
14b). Não é um diadema que enfeita a cabeça daquele que vem
sobre a nuvem, mas uma coroa de ouro – trata-se do Rei das
nações, do Rei do mundo! O Rei dos reis coroado, que vem em
grande poder e glória e tem na mão uma foice afiada. Essa é a única
vez na Escritura que encontramos tal descrição do Senhor. A foice
afiada está erguida para realizar a colheita! Essa expressão nunca é
utilizada para descrever o recolhimento de bons frutos, de modo que
ela significa algo terrível: ele vem aqui como Juiz do mundo! A terra
precisa ser limpa das más plantas pelo trabalho de juízo da vingança
divina. Essa é a razão da foice ser “afiada”. João recebe aqui uma
visão do Armagedom! Ele vê, resumidamente, a luta final dos povos,
que é várias vezes citada no Apocalipse (cf. caps. 9–16). Trata-se
da execução do juízo do Senhor contra os povos anticristãos e
contra a besta. Depois do arrebatamento, tudo isso acontecerá
rapidamente, dentro de sete anos.
Jesus Cristo está assentado, portanto, sobre essa nuvem
luminosa – pronto para executar o juízo. Então ouve-se
repentinamente uma alta voz: “Então saiu do santuário um outro anjo,
que bradou em alta voz àquele que estava assentado sobre a nuvem:
‘Tome a sua foice e faça a colheita, pois a safra da terra está
madura; chegou a hora de colhê-la’” (v. 15). O anjo grita em alta voz
“do santuário”, dirigindo-se àquele que está assentado sobre a
nuvem. Esse grito não é uma ordem, pois nenhum anjo pode dar uma
ordem ao Senhor Jesus Cristo. Não se trata também da transmissão
de uma ordem do Pai, pois o Pai confiou todo o julgamento ao Filho
(Jo 5.22). Não, o que se ouve é um pedido insistente, quase uma
súplica em aflição. Esta “alta voz” também não vem do alto, mas do
lugar onde se encontra o “sacrilégio terrível” (Dn 9.27), do templo
reconstruído em Jerusalém. Enquanto no versículo 15 está escrito
somente “do santuário”, o versículo 17 fala expressamente “do
santuário dos céus”. Assim, aqui no versículo 15 a referência é sem
dúvida ao templo de Deus então reconstruído em Jerusalém, no qual
se assentou o Anticristo, ostentando-se como deus. E assim como o
sangue de Abel clamou da terra a Deus por vingança (Gn 4.10) – e o
clamor dos pecados de Sodoma e Gomorra subiu a Deus, como o
Senhor diz duas vezes a Abraão em Gênesis 18.20-21 – agora os
pecados da grande Babilônia sobem, através da boca do anjo,
àquele que está prestes a vir para a colheita da terra: “Tome a sua
foice e faça a colheita, pois a safra da terra está madura; chegou a
hora de colhê-la”. Em outras palavras: Senhor, não é possível
continuar assim. O salmista escreve: “Tu te levantarás... pois é
hora...” (Sl 102.13). O profeta Joel disse literalmente: “Lancem a
foice, pois a colheita está madura. Venham, pisem com força as
uvas, pois o lagar está cheio e os tonéis transbordam...” (Jl 3.13). A
colheita, o juízo, começa juntamente com o grito do anjo: “Assim,
aquele que estava assentado sobre a nuvem passou sua foice pela
terra, e a terra foi ceifada” (v. 16). Esse é o sinal para a grande
colheita!
Agora começa a hora do juízo sobre a besta e seus adoradores.
O juízo adiado por longo tempo não pode mais esperar. Deus é
longânimo, paciente e de grande bondade! Ele é capaz de esperar,
mas vem o momento – e aqui no versículo 15 ele chegou – em que a
medida fica cheia. A colheita está excessivamente madura: “Assim,
aquele que estava assentado sobre a nuvem passou sua foice pela
terra, e a terra foi ceifada”. Uma colheita estranha que não podemos
compreender racionalmente! Essa colheita de juízo engloba todas as
catástrofes que acontecerão em breve sobre a terra. As taças da ira
de Deus serão derramadas; para horror do mundo todo, Babilônia
desmorona com grande barulho; os nervos vitais mais importantes do
Anticristo são cortados; a grande prostituta (cap. 18) perde seu
esplendor e seus adornos reais, sendo coberta de pragas, miséria e
fogo. Se João diz aqui: “... e a terra foi ceifada”, então ele fala da
conclusão definitiva desta era da graça, assim como fez o Senhor
quando estava sobre a terra: “A colheita é o fim desta era...” (Mt
13.39b). Esse é o curto, mas gravíssimo, conteúdo da visão de João
sobre o Armagedom, sobre a luta final dos povos que é descrita
detalhadamente em Apocalipse 9 e 16.
No capítulo 14, porém, a cena imediatamente muda. João não tem
somente a visão da colheita, a vinda do Senhor para ceifar as
nações, mas também a visão da vindima: “Outro anjo saiu do
santuário dos céus, trazendo também uma foice afiada. E ainda outro
anjo, que tem autoridade sobre o fogo, saiu do altar e bradou em
alta voz àquele que tinha a foice afiada: ‘Tome sua foice afiada e
ajunte os cachos de uva da videira da terra, porque as suas uvas
estão maduras!’” (v. 17-18). Vemos aqui o mesmo procedimento que
nos versículos 15-16, mas referindo-se agora à vindima. Entretanto,
o anjo que vem do céu é outro; não com relação à sua natureza, mas
quanto à sua missão. Isso significa, como já dissemos, que João vê
a volta do Senhor em diferentes aspectos. Em outras palavras: este
anjo, segundo o meu entendimento, é o mesmo que João acabou de
ver sentado sobre uma nuvem com uma coroa de ouro – ele é o anjo
do Senhor: o próprio Jesus Cristo. Primeiro ele o viu chegando com a
foice afiada para a colheita das nações; agora ele o vê chegando
como o anjo para realizar a vindima, o juízo sobre Israel, pois a
“videira da terra” é Israel. É o que se conclui, por exemplo, do Salmo
80.8: “Do Egito trouxeste uma videira; expulsaste as nações e a
plantaste”. Ou pensemos em Isaías 5.1-7, onde a videira ou vinha
Israel é descrita de maneira muito séria. Ou na emocionante
descrição em Oseias 10.1-2b: “Israel era como videira viçosa;
cobria-se de frutos. Quanto mais produzia, mais altares construía;
Quanto mais sua terra prosperava, mais enfeitava suas colunas
sagradas. O coração deles é enganoso, e agora devem carregar sua
culpa”. Especificamente, isso significa: Israel foi então vítima do falso
messias, da besta!
No entanto, o Senhor Jesus não disse de si mesmo, em João
15.1, que ele é a “videira verdadeira”? Como pode, então, Israel ser
a videira se Jesus Cristo também é? Esse é justamente o fato
maravilhoso, pois exatamente este fato duplo mostra a identificação
do Senhor com seus irmãos segundo a carne! O mesmo acontece
com o nome “servo”, que é aplicado tanto ao Senhor como também a
Israel. Em Isaías 41.8 está escrito: “Você, porém, ó Israel, meu
servo, Jacó, a quem escolhi, vocês, descendentes de Abraão, meu
amigo”. Isso refere-se claramente a Israel. Em Isaías 42.1,
entretanto, lemos: “Eis o meu servo, a quem sustento, o meu
escolhido, em quem tenho prazer. Porei nele o meu Espírito...”. Com
a mesma evidência, essas palavras referem-se a Jesus Cristo –
portanto, novamente essa identificação de Israel com o Senhor
Jesus Cristo. É uma profunda tragédia que eles ainda estão tão
separados exteriormente!
Vamos fazer uma breve recapitulação: em Apocalipse 14 nós
vemos duas etapas da volta de Jesus:

Sua vinda como coroado sobre uma nuvem branca e com


uma foice afiada na mão. Essa é sua vinda para as nações,
que não se converteram e por isso são atingidas por toda a
ira de Deus.
Sua vinda como anjo do Senhor. Essa é sua vinda para
Israel, que se converterá ao ver seu Messias e Sumo
Sacerdote. É o que diz o profeta Zacarias. Primeiro Israel
será atingido por duros juízos através da besta, e então
reconhecerá que o Senhor que está voltando realmente é o
Cordeiro de Deus, Jesus Cristo. Essas experiências e
conclusões levarão Israel à conversão.

Muitos perguntam: como Israel pode se converter tão


repentinamente, pois ainda se trata de um Estado secular que não
quer saber nada de Jesus? Esquece-se que então Israel não
somente saberá da primeira etapa da volta de Jesus, do
arrebatamento da sua igreja, mas, como citamos antes, também da
sua vinda para as nações. “O anjo passou a foice pela terra, ajuntou
as uvas e as lançou no grande lagar da ira de Deus. Elas foram
pisadas no lagar, fora da cidade, e correu sangue do lagar,
chegando ao nível dos freios dos cavalos, numa distância de cerca
de trezentos quilômetros” (v. 19-20). Nessa terrível afirmação está
contido algo maravilhoso: o ajuntamento final, rapidíssimo e definitivo
de Israel na terra dos seus pais – em Israel! Precisamos ver isso em
conexão com Mateus 24: “Então aparecerá no céu o sinal do Filho do
homem [esse é o filho de homem de Ap 14.14], e todas as nações
da terra se lamentarão e verão o Filho do homem vindo nas nuvens
do céu [essa é a nuvem branca de Ap 14.14] com poder e grande
glória. E ele enviará os seus anjos com grande som de trombeta, e
estes reunirão os seus eleitos [isso é a vindima, isso é Israel] dos
quatro ventos, de uma a outra extremidade dos céus” (Mt 24.30-31).
Após ler isso, Apocalipse 14.18 fica muito claro, onde lemos o
seguinte: “E ainda outro anjo, que tem autoridade sobre o fogo, saiu
do altar e bradou em alta voz àquele que tinha a foice afiada: ‘Tome
sua foice afiada e ajunte os cachos de uva da videira da terra,
porque as suas uvas estão maduras!’”. Em outras palavras: ajunta as
uvas da videira, ajunta os filhos de Israel.
O que o Senhor fará então com essas uvas ajuntadas em todo o
mundo, com todos os judeus espalhados que em nosso tempo não
puderam ou não quiseram ir para casa, para Israel? Ele os lança “no
grande lagar da ira de Deus. Elas foram pisadas no lagar, fora da
cidade, e correu sangue do lagar, chegando ao nível dos freios dos
cavalos, numa distância de cerca de trezentos quilômetros”. O que é
esse terrível juízo que então atingirá Israel? É preciso ler Isaías
63.1-4: “Quem é este que vem de Edom, de Bozra, com vestes de
vivas cores, que é glorioso em sua vestidura, que marcha na
plenitude da sua força? Sou eu que falo em justiça, poderoso para
salvar. Por que está vermelho o traje, e as tuas vestes, como as
daquele que pisa uvas no lagar? O lagar, eu o pisei sozinho, e dos
povos nenhum homem se achava comigo; pisei as uvas na minha ira;
no meu furor, as esmaguei, e o seu sangue me salpicou as vestes e
me manchou o traje todo. Porque o dia da vingança me estava no
coração, e o ano dos meus redimidos é chegado” (RA). Esse lagar é
o Gólgota. Lá foram salpicadas as suas vestes. Lá cumpriu-se aquilo
que Israel exclamou quando acusou Jesus diante de Pilatos: “Que o
sangue dele caia sobre nós e sobre nossos filhos!” (Mt 27.25).
Quando Israel for lançado no lagar da ira de Deus, entrará então em
contato com o homem do Gólgota. “Olharão para aquele que
traspassaram.” Então o sangue do Cordeiro terá efeito para eles –
para seus próprios irmãos. Vendo o Senhor que está voltando, com
sua foice afiada, eles se humilharão sob seu juízo.
“Porque o dia da vingança me estava no coração [vingança contra
as nações], e o ano dos meus redimidos é chegado [redenção de
Israel]” (Is 63.4 RA). Quando Israel estiver no lagar da ira de Deus,
eles lamentarão, chorarão e se converterão. Apocalipse 14.20
descreve de maneira tão comovente o que também aconteceu fora
da cidade para Israel: “Elas foram pisadas no lagar, fora da
cidade...”. Ali foi derramado o sangue do Filho de Deus.
Essa maravilhosa figura da conversão de todo o povo de Israel é
completada pelo outro anjo: “E ainda outro anjo... saiu do altar...” (v.
18). Ele vem do lugar onde, naquela época, novamente são
oferecidos sacrifícios de animais que apontam para Jesus, mas que
serão interrompidos pelo Anticristo. Nesse vácuo, o anjo que tem
poder sobre o fogo, isto é, sobre o juízo, exclama: Senhor, ajunta
Israel, lança-o agora no teu grande lagar, lava-o pelo teu precioso
sangue. Se agora lermos mais uma vez o versículo 20, a primeira
frase fica cristalinamente clara para nós: “Elas foram pisadas no
lagar, fora da cidade...”. Isso não é a mesma coisa que Hebreus
13.12 fala? Lá está escrito: “Assim, Jesus também sofreu fora das
portas da cidade, para santificar o povo por meio do seu próprio
sangue”. – “Sozinho pisei uvas no lagar...” (Is 63.3). Desse modo,
reconhecemos agora o significado profético interior dessa palavra
grandiosa, e a respeito pensamos em Romanos 5.20b: “Mas onde
aumentou o pecado transbordou a graça”. Então também será válido
para Israel: somente no sangue do Salvador há poder!
Entretanto – e isso também devemos acentuar – essa vindima e
suas consequências também têm um significado literal terrível:
primeiro, que o juízo sobre os povos no Armagedom acontecerá fora
da cidade de Jerusalém (v. 20). A Bíblia fala da planície de Megido
ou do vale de Josafá. Segundo, que haverá um terrível
derramamento de sangue. Não devemos interpretar as coisas
apenas espiritualmente. Há também o sentido literal. “Elas foram
pisadas no lagar, fora da cidade, e correu sangue do lagar,
chegando ao nível dos freios dos cavalos, numa distância de cerca
de trezentos quilômetros.” Joel 3.12-17 descreve com grande
exatidão esse acontecimento transformador: “‘Despertem, nações;
avancem para o vale de Josafá, pois ali me assentarei para julgar
todas as nações vizinhas. Lancem a foice, pois a colheita está
madura. Venham, pisem com força as uvas, pois o lagar está cheio e
os tonéis transbordam, tão grande é a maldade dessas nações!’
Multidões, multidões no vale da Decisão! Pois o dia do S está
próximo, no vale da Decisão. O sol e a lua escurecerão, e as
estrelas já não brilharão. O S rugirá de Sião, e de Jerusalém
levantará a sua voz; a terra e o céu tremerão. Mas o S será
um refúgio para o seu povo, uma fortaleza para Israel. ‘Então vocês
saberão que eu sou o S , o seu Deus, que habito em Sião, o
meu santo monte. Jerusalém será santa; e estrangeiros jamais a
conquistarão’”. De tudo isso vemos o ponto de partida para o
julgamento divino sobre o mundo inteiro das nações, porque “o
S rugirá de Sião”.
18
Os Cantores no Mar de Vidro
(Ap 15.1-8)

1Vi no céu outro sinal, grande e maravilhoso: sete anjos com as


sete últimas pragas, pois com elas se completa a ira de Deus. 2Vi
algo semelhante a um mar de vidro misturado com fogo, e, em
pé, junto ao mar, os que tinham vencido a besta, a sua imagem e
o número do seu nome. Eles seguravam harpas que lhes haviam
sido dadas por Deus, 3e cantavam o cântico de Moisés, servo de
Deus, e o cântico do Cordeiro: “Grandes e maravilhosas são as
tuas obras, Senhor Deus todo-poderoso. Justos e verdadeiros são
os teus caminhos, ó Rei das nações. 4Quem não te temerá, ó
Senhor? Quem não glorificará o teu nome? Pois tu somente és
santo. Todas as nações virão à tua presença e te adorarão, pois
os teus atos de justiça se tornaram manifestos”. 5Depois disso
olhei e vi que se abriu nos céus o santuário, o tabernáculo da
aliança. 6Saíram do santuário os sete anjos com as sete pragas.
Eles estavam vestidos de linho puro e resplandecente e tinham
cinturões de ouro ao redor do peito. 7E um dos quatro seres
viventes deu aos sete anjos sete taças de ouro cheias da ira de
Deus, que vive para todo o sempre. 8O santuário ficou cheio da
fumaça da glória de Deus e do seu poder, e ninguém podia entrar
no santuário enquanto não se completassem as sete pragas dos
sete anjos.


Vi no céu outro sinal...” (v. 1). Lembramos que João já viu dois
sinais: primeiro ele viu um sinal no céu: uma mulher vestida do
sol, com a lua debaixo dos seus pés e uma coroa de doze
estrelas sobre a cabeça etc. (12.1-2). Então ele viu um segundo
sinal: o dragão vermelho, o Diabo (12.3). Aqui ele vê agora um
terceiro sinal, do qual diz que é “grande e maravilhoso”. É
esclarecedor que, no plano de salvação, fala-se frequentemente de
três sinais: Moisés recebeu três sinais da sua vocação; Gideão
recebeu três sinais para que sua fé fosse fortalecida; Saul recebeu
três diferentes sinais quando foi ungido rei. Em Mateus 24 o Senhor
Jesus falou de três sinais que indicarão sua volta: 1. O sinal do Filho
do homem no céu. 2. O sinal da figueira. 3. O sinal do tempo de Noé,
isto é, a situação moral dos homens justamente antes da sua volta.
O sinal que João vê agora é, portanto, “grande e maravilhoso”.
Grande porque contém muito mais do que foi visto até agora e
maravilhoso porque engloba as maiores revelações a respeito dos
milagres de juízo de Deus para o mundo atual. O próprio sinal
consiste em primeiro lugar de sete anjos: “... sete anjos com as sete
últimas pragas, pois com elas se completa a ira de Deus” (v. 1).
Sinais milagrosos de cura acompanham a pregação do evangelho.
Sinais de morte caracterizam o fim desta época, pois o juízo já está
aumentando individualmente, quer seja através de doenças ou outros
problemas, como também de maneira geral, política e militarmente.
Que ameaça há no ar! Trata-se de sinais de morte, que anunciam e
acompanham o fim desta época.
Os sete anjos assemelham-se àqueles das sete trombetas no
capítulo 8.2. Entretanto, aqui no capítulo 15 é acrescentada uma
palavra que é preciso observar bem: esses sete anjos trazem os
últimos flagelos consigo: “... as sete últimas pragas”. Isso significa
encerramento! Somos levados a pensar na última praga que Deus
fez vir sobre o Egito. Em Êxodo 11.1 está escrito: “Disse então o
S a Moisés: ‘Enviarei ainda mais uma praga sobre o faraó e
sobre o Egito. Somente depois desta ele os deixará sair daqui e até
os expulsará totalmente’”. Israel ficou livre em seguida. Também no
tempo anticristão Israel ficará livre quando as últimas sete pragas,
as últimas sete taças da ira, tiverem sido derramadas. Aqui temos a
consumação do “mistério de Deus”, que é mencionado em
Apocalipse 10.7. Pode-se chamá-lo também de “as palavras de
Deus”, como é o caso no capítulo 17.17: “... levando-os a concordar
em dar à besta o poder que eles têm para reinar até que se
cumpram as palavras de Deus”. Esse é o cumprimento completo da
profecia. Quando esses últimos juízos das taças, que são
inimaginavelmente terríveis, tiverem passado sobre a terra, o sétimo
anjo trará a notícia da conclusão: “Está feito!” (16.17).
No entanto, antes que João transmita detalhes desse grande e
admirável sinal, ele introduz a descrição de uma outra visão. Apesar
da mesma ter estreito relacionamento com o derramamento das
taças da ira, ela é de caráter agradável. “Vi algo semelhante a um
mar de vidro...” (v. 2). Aqui temos novamente um símbolo, pois não
se trata de um mar de verdade, mas de algo que parece como um
mar de vidro. Essa parábola nos faz lembrar do capítulo 4.6, onde
está escrito: “E diante do trono havia algo parecido com um mar de
vidro, claro como cristal”. Como um mar, a superfície do céu – que é
o mundo das nações – estende-se diante do trono de Deus. Em
Apocalipse 4.6 ele é descrito como um mar transparente que se
mantém calmo, pois um “mar de vidro” indica uma massa compacta.
Além disso, mostra-se que ele é atravessado pela luz, como o
cristal. O mar de vidro, o mar dos povos, apesar de suas
inquietações e guerras, tem que calar-se diante da face de Deus (Is
41.1). Ele, o Eterno, já vê o mar dos povos como permanecerá
sempre no futuro – quando o Senhor tiver voltado para o
estabelecimento do seu reino milenar –, em elevada paz e profunda
tranquilidade (Hc 2.20; Sf 1.7; Zc 2.13).
No capítulo 15 João vê o mesmo mar, mas bem diferente: “...
semelhante a um mar de vidro misturado com fogo”. Nessa hora ele
não é iluminado pela pura luz da glória e do amor, mas está
totalmente incandescente pelo fogo da ira julgadora de Deus. Nisso
anuncia-se algo terrível para o mundo anticristão – os
acontecimentos de juízo então em realização na terra. Junto a esse
mar de cristal de aparência tão ameaçadora, João vê reunida uma
santa multidão: “... em pé, junto ao mar, os que tinham vencido a
besta, a sua imagem e o número do seu nome” (v. 2). Essas
pessoas deveriam ter servido à besta, o Anticristo (cap. 13), mas se
negaram e obtiveram a vitória. Esses crentes deveriam ter usado o
sinal da besta, ou o número do seu nome, sobre a testa ou sobre a
mão direita, mas não usaram; eles rejeitaram o “símbolo do partido”
e conquistaram a vitória. Apesar de todas as ameaças, o mundo
anticristão não foi capaz de dobrar a grande coragem e fidelidade
deles. Eles entregaram suas cabeças, eles foram decapitados. Eles
morreram, mas tiveram vitória em tudo. Que multidão respeitável e
majestosa! Esses vencedores são os mesmos que já vimos no
capítulo 7.9: a grande multidão, vestida de vestimentas brancas, com
palmas nas mãos, diante do trono do Cordeiro.
Da multidão inumerável está escrito no capítulo 7.14: “Estes são
os que vieram da grande tribulação, que lavaram as suas vestes e as
alvejaram no sangue do Cordeiro”. No capítulo 15 João os vê como
se encontram agora junto ao mar de vidro, iluminados com o fogo de
Deus, tendo harpas – harpas que Deus lhes deu para serviço dele.
João também os ouve cantar: “E cantavam o cântico de Moisés,
servo de Deus, e o cântico do Cordeiro...” (v. 3). Parece ser um
cântico, e ainda assim trata-se de dois. Quando o velho povo da
aliança de Deus foi escravizado e atormentado pelo Faraó, o
anticristo do Antigo Testamento, Deus libertou Israel através do
sangue de um cordeirinho. Moisés louvou esse grande ato de
libertação através de um cântico solene (Êx 15.1-21). Todavia, com
isso Israel ainda não estava completamente liberto da escravidão
deste mundo. O que aconteceu em Êxodo 15 foi uma indicação
profética, por assim dizer, um esboço da verdadeira redenção – da
redenção que viria através de Jesus Cristo. Deus tinha feito somente
o início para libertar Israel. Muitos atos de libertação ainda viriam.
Na plenitude do tempo veio então Deus, em Jesus Cristo, e
reconciliou o mundo consigo mesmo, realizando uma redenção
perfeita, eterna. O último resultado dessa eterna redenção, que
completará tudo, será a derrota do Anticristo pelo Cordeiro. Isso é
iminente! Sim, já ouvimos os passos do Anticristo. Pensemos
somente na anarquia que se expande, de modo que os políticos e
estadistas não sabem mais o que fazer. Os povos ficam cada vez
mais ingovernáveis. As autoridades tornam-se desgastadas e
complacentes para entregar o seu poder e autoridade à besta. O
Anticristo dominará a todos, os pequenos e os grandes, os ricos e os
pobres, os livres e os escravos.
O Cordeiro, porém, derrotará o Anticristo, e por isso agora os
cantores reúnem-se no mar de vidro mesclado de fogo para
entoarem o cântico de Moisés e o cântico do Cordeiro, o cântico do
mediador da antiga aliança e o cântico do Mediador da nova aliança.
Foi esse cântico de vitória dos filhos de Deus que os cantores no
mar de vidro entoaram agora, e eles cantam: “Grandes e
maravilhosas são as tuas obras, Senhor Deus todo-poderoso. Justos
e verdadeiros são os teus caminhos, ó Rei das nações. Quem não te
temerá, ó Senhor? Quem não glorificará o teu nome? Pois tu
somente és santo. Todas as nações virão à tua presença e te
adorarão, pois os teus atos de justiça se tornaram manifestos” (v. 3-
4). Pela segunda vez é utilizada a expressão “grande e maravilhoso”,
pois as obras de Deus são atos de redenção para os seus, mas
golpes de juízo para o mundo. No versículo 1, a expressão “grande e
maravilhoso” referia-se ao próprio sinal; no versículo 3 ela refere-se
às obras de Deus. O mundo considera muitas coisas como grandes
que na verdade não são. Quem quiser ver o que é grande no sentido
exato da palavra deve observar as obras de Deus! Delas fazem
parte também os renascidos, pois Efésios 2.10 diz: “... somos
criação de Deus...”. Será que não é algo grandioso e admirável que
ele tenha salvado você e eu? As obras de Deus têm algo de
contraditório para o nosso raciocínio, pois são maravilhosas.
Podemos reconhecê-las em espírito com admiração e adoração,
mas não podemos explicá-las. Que sinal grandioso João viu!
O ângulo visual de João muda novamente; ele recebe outra visão.
Ele vê a origem dos juízos de Deus e a última onda de juízos sobre
esta terra. Abre-se agora a parte interior do céu, o santuário; o
centro da habitação de Deus: “Depois disso olhei e vi que se abriu
nos céus o santuário, o tabernáculo da aliança” (v. 5). Pela primeira
vez João fala do “santuário, o tabernáculo da aliança”. Mesmo que
no capítulo 11.19 ele já tenha visto o céu aberto e a arca da sua
aliança com Israel no santuário, aqui trata-se do “santuário, o
tabernáculo da aliança”. O que é isso? Quando o Deus Onipotente
deu a Moisés, sobre o monte, a incumbência de construir o
tabernáculo e seus utensílios, ele mesmo utilizou três vezes a
expressão “aliança” (Êx 25.16,21,22). Nesta arca revestida de ouro
foram então guardadas as tábuas em que Deus escreveu sua
sagrada lei. Esta aliança divina agora torna-se visível para João. O
céu se abre e a aliança, a lei de Deus, volta-se contra uma
humanidade que rejeitou essa “aliança” da vontade de Deus, e os
últimos juízos de Deus derramam-se sobre ela. O tabernáculo da
aliança é aberto para derramar a ira de Deus sobre a humanidade
culpada. Poderíamos formulá-lo também assim: poderes invisíveis da
eternidade estão transformando-se na terra em grandiosos fatos de
juízo.
Das profundezas do santuário saem sete anjos: “Saíram do
santuário os sete anjos com as sete pragas. Eles estavam vestidos
de linho puro e resplandecente e tinham cinturões de ouro ao redor
do peito” (v. 6). As vestes dos anjos levam à questão de saber se
eles são anjos-sacerdotes. Entretanto, isso é impossível, pois o
Senhor não instituiu anjos, e sim homens, homens da tribo de Levi, no
ministério sacerdotal. O grande Sumo Sacerdote é o homem Jesus
Cristo. Apesar disso, a aparência sacerdotal – “de linho puro e
resplandecente e tinham cinturões de ouro ao redor do peito” – indica
uma tarefa sacerdotal. Em contraste com os sacerdotes, eles não
apresentam um sacrifício substituto, mas são chamados a exercer o
juízo sobre uma humanidade que não tem substituto como sacrifício
de expiação pessoal. Porém, para os habitantes da terra isso é
terrível! Pois “Terrível coisa é cair nas mãos do Deus vivo!” (Hb
10.31). Quando vemos o Cordeiro ensanguentado, sofrendo tão
terrivelmente, então imaginamos algo da seriedade e horror do juízo
divino. Deus nos amou de tal maneira que não poupou o seu amado
Filho unigênito, mas o entregou por nossa causa, para que nós não
nos perdêssemos eternamente. Louvado seja o Senhor, porque
como renascidos podemos estar abrigados em Jesus, de modo que
esse juízo não nos atingirá, porque nele já estamos julgados! Será
que você já compreendeu o quanto necessita da graça de Deus em
Jesus Cristo?
O terrível das sete últimas pragas é que não existe mais
possibilidade de arrependimento, não existe mais salvação. Apesar
dos cantores no mar de vidro louvarem o Senhor, no versículo 4,
dizendo “Pois tu somente és santo”, a palavra “santo” não significa o
mesmo que em outros lugares, como por exemplo em “Santo, santo,
santo é o S dos Exércitos”, onde com “santo” é expressa a
ausência de todo o mal. Ali a palavra “santo” tem sentido de
“misericordioso” ou “perfeito em sua bondade”. No entanto, quando
começarem os juízos não haverá mais substituto e, desse modo,
também não existirá mais misericórdia. Além disso, as vestes dos
sete anjos, que devem ser altos príncipes por saírem do santuário
interior, são um pouco diferentes das vestes dos sumos sacerdotes
terrenos. Por exemplo, o cinto do sumo sacerdote terreno é
diferente: “O cinturão e o colete por ele preso foram feitos da
mesma peça. O cinturão também foi feito de linho fino trançado, de
fios de ouro e de fios de tecido azul, roxo e vermelho, como o
S tinha ordenado a Moisés” (Êx 39.5). Aqui temos, entre
outras, a cor do sangue da reconciliação, que o sacerdote – mais
tarde o grande Sumo Sacerdote – tinha que derramar pelos pecados
do povo. Todavia, nos cintos dos sete anjos falta o elemento do
sangue. Eles são de ouro puro. Os anjos também não usam os
cintos em volta da cintura, mas do peito – seu coração está fechado.
Aqui eles são muito semelhantes ao seu Senhor em sua volta (cap.
1).
“E um dos quatro seres viventes deu aos sete anjos sete taças de
ouro cheias da ira de Deus, que vive para todo o sempre. O
santuário ficou cheio da fumaça da glória de Deus e do seu poder, e
ninguém podia entrar no santuário enquanto não se completassem as
sete pragas dos sete anjos” (v. 7-8). Vimos, nas explicações no
capítulo 4 deste livro, que os quatro seres viventes representam a
jurisdição de Deus. Deus vive de eternidade em eternidade, e sua ira
não pode ser apagada sem o sacrifício substituto do Cordeiro de
Deus. Se lemos que o santuário “ficou cheio da fumaça da glória de
Deus e do seu poder”, de maneira que “ninguém podia entrar no
santuário”, isso nos faz lembrar da consagração do tabernáculo
terreno. Em Êxodo 40.34-35 lemos que até Moisés, que tinha visto
Deus face a face, não podia entrar na Tenda do Encontro por causa
da nuvem da glória de Deus. Quando, mais tarde, foi consagrado o
templo de Salomão, está escrito em 2Crônicas 7 que a nuvem da
glória do Senhor encheu a casa do Senhor, de modo que os
sacerdotes não podiam entrar nela por causa desta glória dele. Em
Apocalipse 15, no entanto, temos diante de nós o dia da explosão da
ira de Deus. “O santuário ficou cheio da fumaça da glória de Deus e
do seu poder, e ninguém podia entrar no santuário...” Poderia ser
dito: não se trata somente da ira, mas da ira final de Deus que se
descarrega aqui: “... ninguém podia entrar no santuário enquanto não
se completassem as sete pragas dos sete anjos”. Portanto, durante
esses últimos juízos ninguém mais podia entrar no templo.
Significado: ninguém mais pode arrepender-se, ninguém mais pode
implorar por graça e exclamar: “Senhor, salva-me”. Por isso: hoje, se
você ouvir a voz dele, não endureça o seu coração! Hoje você ainda
pode implorar por graça. Hoje o santuário no céu ainda não está
fechado. Pelo contrário, pois em Hebreus 10.19-20 está escrito:
“Portanto, irmãos, temos plena confiança para entrar no Lugar
Santíssimo pelo sangue de Jesus, por um novo e vivo caminho que
ele nos abriu por meio do véu, isto é, do seu corpo”. Aproxime-se,
porque em breve virá o momento em que esse santuário será
fechado pela glória do Senhor, de modo que ninguém mais poderá
entrar.
19
As Sete Taças da Ira
(Ap 16.1-21)

Introdução (Ap 16.1)


1Então ouvi uma forte voz que vinha do santuário e dizia aos sete
anjos: “Vão derramar sobre a terra as sete taças da ira de Deus”.

D
evemos observar de antemão que essa forte voz, vinda do
santuário do céu, não é a voz de Deus, pois ela diz aos sete
anjos que devem derramar as taças da ira de Deus sobre a
terra. Se fosse a voz de Deus, ela diria: “Vão derramar sobre a terra
as sete taças da minha ira”. Pode-se supor que essa “grande voz”
(RA) procede de um dos quatro seres viventes. Gostaria de lembrar
do capítulo 15.7, onde consta: “E um dos quatro seres viventes deu
aos sete anjos sete taças de ouro cheias da ira de Deus, que vive
para todo o sempre”.
É esclarecedor que justamente neste 16º capítulo é utilizada nove
vezes a palavra “grande”:
Versículo 1: “... uma grande voz...” (RA).
Versículo 9: “... os homens foram queimados com grande calor...”
(BKJ).
Versículo 12: “... sobre o grande rio Eufrates...”.
Versículo 14: “... do grande dia do Deus todo-poderoso”.
Versículo 18: “... e ocorreu grande terremoto” (RA).
Versículo 18b: “... tal foi o terremoto, forte e grande” (RA).
Versículo 19: “A grande cidade...”.
Versículo 21: “... grande saraivada...” (RA).
Versículo 21b: “... seu flagelo era sobremodo grande” (RA).
Essa repetição da palavra “grande” mostra que de fato deve
tratar-se de juízos inimaginavelmente grandes. João sente como seu
vocabulário é insuficiente, e repetidamente balbucia “grande”,
“grande”, “grande”.
Apesar dos sete juízos dos selos e os sete juízos das trombetas
já terem sido terríveis, as sete taças da ira são muito mais, pois
englobam a ira completa de Deus, que não pode mais ser impedida,
derramando-se sobre a terra. O que as distingue das sete trombetas
é o fato de que os sete anjos receberam uma ordem conjunta.
Simplesmente está dito: “Vão derramar sobre a terra as sete taças
da ira de Deus”, enquanto que nos capítulos 8 e 9 tem-se a
impressão de que cada um dos sete anjos com as trombetas
recebeu uma ordem pessoal, assim como cada um dos quatro
cavalos, no capítulo 6, recebeu a ordem de ir ou de vir. No entanto,
no capítulo 16 uma única e alta ordem dá início às últimas pragas:
“Vão...”. Eles devem ir e, um após o outro, derramar as taças sobre
a terra. É como uma invasão. Chama a atenção que as primeiras
quatro taças da ira correspondem exatamente aos efeitos das
primeiras quatro trombetas descritas no capítulo 8, obedecendo
também à mesma ordem. Façamos uma comparação com o capítulo
8:

Capítulo 16 Capítulo 8

A primeira taça da ira atinge a Assim como o primeiro juízo


terra, os continentes (16.2) das trombetas (8.7).

A segunda taça da ira atinge o Assim como o segundo juízo


mar (16.3) das trombetas (8.8).

A terceira taça da ira atinge os Assim como o terceiro juízo


rios e as fontes (16.4). das trombetas (8.10).

A quarta taça da ira é derramada Assim como o quarto juízo


sobre o sol (16.8). das trombetas (8.12)

Cada trombeta é como uma última ameaça de juízo, produzindo


uma praga como antegosto do último juízo. Essas taças da ira,
porém, fazem então com que os golpes de juízo ameaçados sejam
realizados em toda a sua extensão. Essa é a razão da notável
semelhança entre as diferentes pragas das trombetas e os juízos
das taças correspondentes.
A Primeira Taça da Ira (Ap 16.2)
2O primeiro anjo foi e derramou a sua taça pela terra, e abriram-
se feridas malignas e dolorosas naqueles que tinham a marca da
besta e adoravam a sua imagem.
As pessoas que repentinamente sofrem dessas feridas malignas e
dolorosas são descritas com exatidão. Trata-se daquelas que
adoram a imagem da besta e têm o sinal da besta em sua testa ou
mão direita (cf. 13.17). Esse tumor ou câncer infectará então milhões
de pessoas – todas que seguirem a besta. Trata-se de um castigo
provisório, de um juízo por terem seguido Satanás. Enquanto que na
primeira trombeta, no capítulo 8.7, é atingida a terra e queimado um
terço da vegetação – “... e granizo e fogo misturado com sangue
foram lançados sobre a terra. Foi queimado um terço da terra, um
terço das árvores e toda a relva verde” – aqui em Apocalipse 16 são
atingidos os homens anticristãos. Este juízo não se limita a um terço
deles, mas atinge todos. É de se supor que, no tempo do Anticristo,
a ciência médica estará ainda mais avançada do que atualmente,
mas ninguém será capaz de combater efetivamente essa terrível
úlcera, esse câncer. Há décadas tal epidemia de úlceras está
verdadeiramente sendo pré-programada. Penso na contaminação
radioativa da atmosfera através de testes nucleares. Já em nossos
dias muitas pessoas sofrem de doenças incuráveis em consequência
de contaminação nuclear. Essa praga, esse juízo, é semelhante à
sexta praga que atingiu o Egito, mas a excede em muito.
Notavelmente aquela também começou com poluição, se bem que
simbólica: “Eles tiraram cinza duma fornalha e se puseram diante do
faraó. Moisés a espalhou pelo ar, e feridas purulentas começaram a
estourar nos homens e nos animais” (Êx 9.10). Portanto, a
consequência da poluição também foi uma epidemia.
É notável que nós, que nos encontramos diante do arrebatamento,
já podemos observar preparações para determinadas coisas que
acontecerão após o arrebatamento. Lembremos somente que ainda
hoje inúmeros japoneses sofrem as consequências da explosão das
primeiras duas bombas atômicas, que foram lançadas sobre
Hiroshima e Nagasaki no final da guerra, e que, por causa dos muitos
testes nucleares americanos e soviéticos durante a Guerra Fria,
inúmeras pessoas ficaram incuravelmente doentes. Essas doenças
cruéis aumentarão e aparecerão em toda a sua intensidade por
ocasião do derramamento da taça da ira, atingindo todas as pessoas
que adoram a besta.
Tudo está preparado para a primeira taça da ira de Deus.

A Segunda e Terceira Taças da Ira (Ap 16.3-7)


3O segundo anjo derramou a sua taça no mar, e este se
transformou em sangue como de um morto, e morreu toda
criatura que vivia no mar. 4O terceiro anjo derramou a sua taça
nos rios e nas fontes, e eles se transformaram em sangue. 5Então
ouvi o anjo que tem autoridade sobre as águas dizer: “Tu és justo,
tu, o Santo, que és e que eras, porque julgaste estas coisas; 6pois
eles derramaram o sangue dos teus santos e dos teus profetas, e
tu lhes deste sangue para beber, como eles merecem”. 7E ouvi o
altar responder: “Sim, Senhor Deus todo-poderoso, verdadeiros e
justos são os teus juízos”.
Em contraste com o capítulo 8.8, onde um terço do mar se
transforma em sangue, aqui no capítulo 16.3 são atingidos todos os
mares. O que significa a afirmação “e este se transformou em
sangue como de um morto”? Ela significa que esse sangue não é
mais portador de vida, mas morto, coagulado e malcheiroso. O mar,
ou seja, os gigantescos oceanos, parecem um enorme cadáver em
lenta putrefação. Eles são transformados num lugar repugnante, e
todos os seres que neles vivem são mortos: “... e morreu toda
criatura que vivia no mar”. Uma grande parte da criação – e com isso
também dos alimentos – está destruída. No entanto, esse ainda não
é o fim. O terceiro anjo vem com sua taça e a derrama “nos rios e
nas fontes, e eles se transformaram em sangue” (v. 4). Isso lembra
muito a praga que nos tempos do Antigo Testamento veio sobre o
Egito, pela qual foram atingidos o Nilo e os demais rios e canais:
“‘Assim diz o S : Nisto você saberá que eu sou o S : com
a vara que trago na mão ferirei as águas do Nilo, e elas se
transformarão em sangue. Os peixes do Nilo morrerão, o rio ficará
cheirando mal, e os egípcios não suportarão beber das suas águas’.
Disse o S a Moisés: ‘Diga a Arão que tome a sua vara e
estenda a mão sobre as águas do Egito, dos rios, dos canais, dos
açudes e de todos os reservatórios, e elas se transformarão em
sangue. Haverá sangue por toda a terra do Egito, até nas vasilhas de
madeira e nas vasilhas de pedra’. Moisés e Arão fizeram como o
S tinha ordenado. Arão levantou a vara e feriu as águas do
Nilo na presença do faraó e dos seus conselheiros; e toda a água do
rio transformou-se em sangue. Os peixes morreram, e o rio cheirava
tão mal que os egípcios não conseguiam beber das suas águas.
Havia sangue por toda a terra do Egito” (Êx 7.17-21). Apesar de não
ter se estendido por todo o mundo, ficando restrito ao Egito, essa
praga foi terrível.
Também por ocasião da terceira trombeta nem toda a água fica
inaproveitável, mas somente um terço: “O terceiro anjo tocou a sua
trombeta, e caiu do céu uma grande estrela, queimando como tocha,
sobre um terço dos rios e das fontes de águas; o nome da estrela é
Absinto. Tornou-se amargo um terço das águas, e muitos morreram
pela ação das águas que se tornaram amargas” (8.10-11). A praga
no capítulo 16, porém, atinge todas as fontes na terra e faz com que
toda água fique inaproveitável. Nenhum homem em todo o mundo,
isto é, nenhum cidadão de todo o império ou exército anticristão,
poderá beber algo! O que isso significa, somente pode ser avaliado
por quem já ficou alguns dias sem água. Um juízo de Deus
inimaginavelmente terrível, porém justo!
Nos versículos 5-6 ouvimos uma proclamação do anjo das águas.
Inicialmente ele louva a justiça e a santidade de Deus: “Então ouvi o
anjo que tem autoridade sobre as águas dizer: ‘Tu és justo, tu, o
Santo, que és e que eras, porque julgaste estas coisas” (v. 5). E
depois segue a razão pela qual esses juízos nojentos se abatem
sobre os homens: “Pois eles derramaram o sangue dos teus santos
e dos teus profetas, e tu lhes deste sangue para beber, como eles
merecem” (v. 6). Em outras palavras: eles merecem. Somente
podemos compreender esse terrível juízo em toda a sua extensão se
entendermos bem a justificativa; afinal, se já a voz do sangue de Abel
– ou seja, de uma única pessoa que foi assassinada – clama ao
Senhor (Gn 4.10), quanto mais alto deve então clamar ao céu o
sangue de todos os inúmeros assassinados! Especialmente o sangue
dos “santos e profetas”, isto é, da igreja e de Israel. Quantos filhos
de Deus são mortos atualmente na Ásia – e inúmeros serão
executados em todo o mundo quando se converterem somente
durante a grande tribulação. Na Alemanha fala-se muito que está na
hora de colocar um ponto final no passado, pois a nova geração não
poderia ser responsabilizada por aquilo que seus pais fizeram. De
maneira nenhuma pode-se colocar um ponto final! O sangue de seis
milhões de judeus assassinados clama ao céu da Alemanha.
Também o sangue dos judeus que foram mandados embora nas
fronteiras de países europeus e enviados para a destruição, “porque
o barco estava cheio”, clama ao céu. O sangue de milhões e milhões
de crianças não nascidas, que foram abortadas, também clama ao
céu. Tudo isso jamais pode ser esquecido, e por isso virá o juízo.
“Tu és justo, tu, o Santo, que és e que eras, porque julgaste estas
coisas; pois eles derramaram o sangue dos teus santos e dos teus
profetas, e tu lhes deste sangue para beber, como eles merecem” (v.
5b-6). É estranho que o anjo das águas, que diz isso, aparentemente
é o mesmo que executa o juízo mundial de Deus contra elas.
Poderíamos esperar que esse anjo lamentasse por sua área ser tão
duramente atingida pelo derramamento da taça da ira. Todavia,
ouvimos o contrário: ele louva em alta voz a elevada justiça desse
juízo. Deus era e é, desde sempre, justo e santo, como diz a
Escritura. No texto original é utilizada para “santo” a mesma palavra
do capítulo 15.4: “Quem não te temerá, ó Senhor? Quem não
glorificará o teu nome? Pois tu somente és santo”. Ela significa: que
permanece sempre fiel a si mesmo em todas as coisas. Essa
característica de Deus revela-se claramente na execução desse
juízo. A humanidade anticristã derramou o sangue dos santos e
profetas como água – agora Deus lhes dá sangue ao invés de água
para beber. Realmente, eles não merecem outra coisa.
No versículo 7 fica ainda mais confirmado que a justiça
castigadora de Deus é exata de uma maneira surpreendente e, ao
mesmo tempo, comovente: “E ouvi o altar responder: ‘Sim, Senhor
Deus todo-poderoso, verdadeiros e justos são os teus juízos’”.
Portanto, do próprio altar procede uma voz. Esse altar somente pode
ser o tantas vezes citado altar do holocausto, que encontramos
constantemente mencionado na Bíblia, como em Apocalipse 6.9-10:
“Quando ele abriu o quinto selo, vi debaixo do altar as almas
daqueles que haviam sido mortos por causa da palavra de Deus e do
testemunho que deram. Eles clamavam em alta voz: ‘Até quando, ó
Soberano, santo e verdadeiro, esperarás para julgar os habitantes
da terra e vingar o nosso sangue?’”. O altar do holocausto é a cruz
do Gólgota, onde a justiça e a santidade de Deus foram anunciadas
em alta voz e onde Jesus clamou: “Está consumado!”. O altar falante
confirma que Deus prova sua onipotência em juízos que são
verdadeiros, ou seja, genuínos, reais e certos, e por isso também
são perfeitamente justos.

A Quarta Taça da Ira (Ap 16.8-9)


8O quarto anjo derramou a sua taça no sol, e foi dado poder ao
sol para queimar os homens com fogo. 9Estes foram queimados
pelo forte calor e amaldiçoaram o nome de Deus, que tem
domínio sobre estas pragas; contudo, recusaram arrepender-se e
glorificá-lo.
Novamente há o paralelo com o juízo da quarta trombeta, que
também atingiu o sol: “O quarto anjo tocou a sua trombeta, e foi
ferido um terço do sol, um terço da lua e um terço das estrelas, de
forma que um terço deles escureceu. Um terço do dia ficou sem luz,
e também um terço da noite” (8.12). Adicionalmente foram atingidas
também a lua e as estrelas, mas de tudo somente a terça parte, de
modo que o dia e a noite perderam a terça parte da luz. Isso deve
ser terrivelmente angustiante, e mesmo assim esse castigo
preventivo através do juízo da quarta trombeta é em vão. Por isso o
fogo da ira de Deus se derrama agora sobre todo o sol. O calor
causado dessa maneira é terrível: “Estes foram queimados pelo forte
calor...” (v. 9). Um calor nunca visto, insuportável, tortura os homens.
O sofrimento deles é mais doloroso porque, após o derramamento
da terceira taça, não há mais bebida que mate a sede. Eles não
podem mais matar sua sede! Uma terrível amostra do fogo eterno! O
fervor do seu ódio contra os que confessam Jesus é retribuído a eles
com esse calor punitivo. Eles, no entanto, não se humilham diante de
Deus, pelo contrário: “... amaldiçoaram o nome de Deus, que tem
domínio sobre estas pragas; contudo, recusaram arrepender-se e
glorificá-lo” (v. 9). Quanto maior o sofrimento, tanto mais
decididamente eles ficam endurecidos e obstinados!
O sol, que então causará um terrível calor sobre a terra, prova ao
mesmo tempo algo maravilhoso: o Deus eterno mantém toda a
criação em suas fortes mãos, mas quando o Senhor afasta somente
por um momento suas mãos que dirigem e guardam, acontece o
mais terrível juízo. Vejamos alguns fatos: todo o Universo está
exatamente balanceado, de modo que tudo funciona com
impressionante exatidão. Para que possa mesmo haver vida na terra,
inúmeras condições devem ser cumpridas. Elas são sincronizadas
com tanta exatidão que de modo nenhum podem estar coordenadas
por acaso. Quem tem uma ideia de ciências naturais sabe que no
Equador a terra gira em torno do seu próprio eixo, a uma velocidade
aproximada de 1,6 mil quilômetros por hora. Se ela o fizesse a
somente 160 quilômetros por hora, nossos dias e noites seriam dez
vezes mais longos do que agora. O calor solar em um dia tão longo
queimaria a vegetação; o que eventualmente sobrevivesse morreria
de frio na longa noite. Que graça Deus, o Senhor, nos concede
através da sua exatidão matemática, fazendo esquentar e esfriar sua
criação – e com isso também nós. O próprio Sol, a fonte da nossa
vida terrena, tem uma temperatura superficial de aproximadamente
6.000ºC, e a nossa Terra está distante dele justamente o suficiente
para que esse fogo eterno não esquente nem mais nem menos do
que exige a vida. Se, por exemplo, o Sol enviasse somente metade
dos seus raios, morreríamos de frio. Se enviasse uma metade a
mais, queimaríamos.
Tomemos outro exemplo desse maravilhoso poder de Deus que
tudo mantém e guarda: a inclinação do eixo da Terra, de 23º em
relação à órbita da Terra, tem por consequência as estações do ano.
Se não houvesse essa inclinação, os vapores oceânicos se
deslocariam para o norte e para o sul e formariam continentes
inteiros de gelo. Ou pensemos por um momento na Lua: se nossa
Lua estivesse aproximadamente 80.000 quilômetros distante da
Terra, ao invés da sua distância real, sua influência sobre as marés
seria tão intensa que todos os continentes seriam inundados duas
vezes por dia. Ou: se nossa atmosfera fosse sensivelmente mais
rarefeita, parte dos meteoritos que queimam diariamente aos milhões
no espaço cairiam sobre a Terra e causariam incêndios. Quem toma
conhecimento desses poucos fatos da ordem da Criação de Deus –
e existem ainda muito mais – compreende repentinamente, de
maneira completamente nova, o quão dependente o homem é da
graça do seu Criador. Percebe-se quão grande é a longanimidade e
paciência do nosso Deus, mas também como será terrível na terra
quando ele retirar suas mãos e os sete anjos do juízo com as taças
tiverem o caminho livre.
O juízo da quarta taça da ira não é idêntico àquele que já foi
predito em Deuteronômio 32.22? Lá está escrito: “Pois um fogo foi
aceso pela minha ira, fogo que queimará até as profundezas do
Sheol. Ele devorará a terra e as suas colheitas e consumirá os
alicerces dos montes”. Temos que comparar isso também com
Malaquias 4.1: “‘Pois certamente vem o dia, ardente como uma
fornalha. Todos os arrogantes e todos os malfeitores serão como
palha, e aquele dia, que está chegando, ateará fogo neles’, diz o
S dos Exércitos. ‘Não sobrará raiz ou galho algum’”.
Naturalmente, seria de se esperar que muitas pessoas que
experimentam essas coisas terríveis reconhecessem suas faltas e
que um grande clamor de arrependimento subisse ao céu. No
entanto, como já dissemos, o versículo 9 mostra tragicamente o
oposto: “Estes foram queimados pelo forte calor e amaldiçoaram o
nome de Deus, que tem domínio sobre estas pragas; contudo,
recusaram arrepender-se e glorificá-lo”. Que profundo contraste: no
céu, no alto, ouve-se o louvor dos anjos: “Tu és justo, tu, o Santo...”
(v. 5-7), enquanto na terra, em baixo, escuta-se vozes de blasfêmias.
O fato de blasfemarem contra Deus prova que pertencem à besta,
pois ela tem nomes de blasfêmia e fala palavras arrogantes e
blasfemas; por isso seus adeptos estão contaminados intelectual e
espiritualmente (cf. 7.14; 13.1-5).
Imaginemos o que significará quando a humanidade não crerá
mais em Deus! Atualmente já existem teólogos modernos, ateus em
camuflagem cristã, afirmando que Deus está morto. Porém, esse
será então o “credo” mundial. A voz dos pregadores estará calada
porque a igreja de Jesus já terá sido arrebatada, e a fé em Deus,
acabada. No entanto, os ateus fornecem a melhor prova da
existência de Deus, pois alguém que não existe também não precisa
ser negado. É esclarecedor que então, apesar de não crerem mais
em Deus, repentinamente blasfemam o seu nome.
Consequentemente também eles sabem que Deus vive, mas não lhe
dão glória.
Quando as sete taças da ira forem derramadas, o tempo da
graça definitivamente acabará, ou seja, mesmo pelo arrependimento,
os juízos não podem mais ser impedidos. Isso nos é mostrado
insistentemente no capítulo 15.8b: “... e ninguém podia entrar no
santuário enquanto não se completassem as sete pragas dos sete
anjos”. Apesar de já termos comentado no último capítulo, deve-se
lembrar ainda que isso também significa que então ninguém mais
poderá interceder por esse mundo anticristão. Eu também já
experimentei muitas vezes pessoalmente o fato de repentinamente o
céu estar fechado, de maneira que eu não conseguisse mais orar.
Certa vez um homem veio para a “assistência espiritual” e pediu que
eu orasse com ele. Eu, porém, não podia orar; minha boca estava
como que amarrada. Mais tarde, constatou-se que o homem
continuava vivendo conscientemente em adultério. Lembro-me
também como, há muitos anos, realizei uma evangelização em um
pequeno povoado onde se praticava muita feitiçaria. Foi uma semana
terrível. No segundo dia, um jovem, que antes ainda estivera entre os
ouvintes, suicidou-se. Fui para o bosque orar e implorar a Deus que
houvesse um despertamento. De repente ouvi bem claramente em
meu íntimo: “Não ore por esse povo; eu não te ouvirei”. Todos os que
se converteram nessa semana moravam fora do povoado. O
povoado encontrava-se sob o juízo de Deus. Assim será também por
ocasião do derramamento das sete taças da ira. É por isso que
praticamente também não há mais pausas entre os diversos juízos e
os sete anjos não recebem a ordem individualmente, mas em
conjunto. Nem bem uma taça da ira foi derramada e já vem a
próxima. A expressão “derramar” significa que o juízo não vem aos
poucos, como em doses. Deve-se prestar atenção nas curtas
palavras que são utilizadas em relação às taças da ira. Elas mostram
que os juízos são abrangentes e rápidos.

A Quinta Taça da Ira (Ap 16.10-11)


10O quinto anjo derramou a sua taça sobre o trono da besta, cujo
reino ficou em trevas. De tanta agonia, os homens mordiam a
própria língua 11e blasfemavam contra o Deus dos céus, por
causa das suas dores e das suas feridas; contudo, recusaram
arrepender-se das obras que haviam praticado.
As sete taças da ira são um encadeamento de juízos. Claramente
essa quinta taça tem relação com a primeira, a das feridas malignas
e dolorosas que causam muito sofrimento. O cerne, o centro do
poder do império romano anticristão, é atingido com esta quinta taça
da ira. Ela é literalmente derramada sobre o trono da besta. A
concentração do poder do Anticristo é atingida pelo juízo, sendo que
a partir dali todo o reino da besta transforma-se em trevas. A própria
besta, porém, ainda não é julgada; isso somente acontecerá quando
o Senhor Jesus Cristo aparecer com sua igreja em grande poder e
glória. No entanto, o trono do Anticristo é desmascarado, pois agora
procede desse trono, espalhando-se por todo o reino, aquilo que o
Anticristo na verdade é: trevas! “... cujo reino ficou em trevas.” Esse
“reino” dele significa profeticamente todo o Império Romano
novamente restaurado. As regiões que não pertencerem a ele não
serão atingidas, como também Israel foi guardado no Egito.
Certamente a situação da terra será então a mesma como na
ocasião da nona praga egípcia, da qual está escrito em Êxodo
10.23: “Ninguém pôde ver ninguém, nem sair do seu lugar durante
três dias”. Isaías também profetizou a respeito das futuras trevas:
“Olhe! A escuridão cobre a terra, densas trevas envolvem os
povos...” (Is 60.2). Joel igualmente fala a respeito: “O sol se tornará
em trevas, e a lua em sangue...” (Jl 2.31). Portanto, será uma
escuridão literal que cobrirá o império romano anticristão.
Acontece que, assim, toda a sociedade humana estará como que
paralisada; não encontrando meios de escapar das suas terríveis
dores, os homens morderão as suas línguas: “De tanta agonia, os
homens mordiam a própria língua” (v. 10b). Certamente essas dores
terão uma causa dupla, pois, como consequência do quinto juízo das
trombetas, os homens sofrem picadas de gafanhotos demoníacos
(cf. 9.3-6). No entanto, ainda mais terríveis serão os tormentos da
primeira taça da ira (16.2). Eles, porém, preferem remorder suas
línguas a clamar: “Pecamos! Ó Deus, perdoa-nos!”. Que
endurecimento! Os homens encontram-se então fora do campo de
ação do Espírito Santo, que convence de pecado, justiça e juízo.
Todavia, já não sentimos hoje como aumenta o endurecimento diante
do falar de Deus? Lemos então pela última vez o inacreditável: “E
blasfemavam contra o Deus dos céus, por causa das suas dores e
das suas feridas; contudo, recusaram arrepender-se das obras que
haviam praticado” (v. 11). Aqui fica assustadoramente claro para nós,
que vivemos antes do arrebatamento, que o crer em Deus em si não
torna o coração do homem disposto a arrepender-se. Afinal, essas
pessoas creem em Deus, porque de outro modo não blasfemariam.
Portanto, se você diz: “Eu creio em Deus”, deve saber que essa fé
não salva você. Tiago 2.19 diz: “Você crê que existe um só Deus?
Muito bem! Até mesmo os demônios creem – e tremem!”. No
entanto, aqui, durante a quinta taça da ira, os homens excedem até o
seu mestre, o Diabo: eles não tremem mais, mas mordem suas
línguas!
Atualmente há tão pouco temor verdadeiro do Senhor sobre a
terra! Ó, que você fosse acometido do saudável tremor diante da
santa majestade de Deus, pois todos, inclusive os crentes, correm o
perigo de não tremerem mais diante do Deus santo. Todavia, ainda
vivemos no tempo da graça e ainda temos a possibilidade de nos
arrependermos. Para quem deixa passar essa oportunidade de
arrependimento existe o grande perigo de repentinamente não poder
mais fazê-lo. Que Isaías 33.14 se torne uma realidade na vida de
todos os leitores deste livro: “Em Sião os pecadores estão
aterrorizados; o tremor se apodera dos ímpios: ‘Quem de nós pode
conviver com o fogo consumidor? Quem de nós pode conviver com a
chama eterna?’”. Esse é o começo de um despertamento, quando
um homem não vê mais seus pecados no sentido de dizer: “Bem,
somos todos pecadores”, mas que os vê como Deus os vê! Se você
enxergar os seus pecados como Deus os enxerga, então você
tremerá como nunca antes e se lamentará: “Ai de mim, estou
arruinado; vou para a perdição eterna, pois pensei, falei e agi
irrefletidamente; fui impuro, fui avarento, fui..., fui...”. Se você
confessar hoje essa sua culpa, humilhando-se sinceramente por
causa dela, poderá experimentar Jesus Cristo tirando a sua carga de
pecados, pois ele tremeu como seu substituto no Getsêmani. E na
cruz do Gólgota ele foi julgado por sua causa, para que você possa
escapar do terrível juízo vindouro. Por isso: apresse-se, salve a sua
alma! Busque Jesus e sua luz; todo o resto não vai ajudá-lo!

A Sexta Taça da Ira (Ap 16.12-16)


12O sexto anjo derramou a sua taça sobre o grande rio Eufrates, e
secaram-se as suas águas para que fosse preparado o caminho
para os reis que vêm do Oriente. 13Então vi saírem da boca do
dragão, da boca da besta e da boca do falso profeta três espíritos
imundos semelhantes a rãs. 14São espíritos de demônios que
realizam sinais milagrosos; eles vão aos reis de todo o mundo, a
fim de reuni-los para a batalha do grande dia do Deus todo-
poderoso. 15“Eis que venho como ladrão! Feliz aquele que
permanece vigilante e conserva consigo as suas vestes, para que
não ande nu e não seja vista a sua vergonha.” 16Então os três
espíritos os reuniram no lugar que, em hebraico, é chamado
Armagedom.
Poderíamos chamar o derramamento da sexta taça da ira de anti-
pentecostes, pois trata-se de um derramamento de espíritos de
demônios que, por consequência, causam um gigantesco
ajuntamento de todos os reis do mundo inteiro contra Jerusalém.
Isso acontece após o arrebatamento da igreja, depois da abertura
dos sete selos, após os sete juízos das trombetas e depois do
derramamento das primeiras cinco taças da ira. Apesar de
atualmente a igreja ainda não ter sido arrebatada, já observamos
como espíritos demoníacos saem e começam a realizar sua obra
com as nações. Por terem resistido à obra do Espírito Santo e o
amargurado, as nações agora ficam muito receptivas ao espírito
sedutor de Satanás.
“Então vi saírem da boca do dragão [esse é Satanás, o antipai],
da boca da besta [esse é o Anticristo, o antifilho] e da boca do falso
profeta [esse é o antiespírito] três espíritos imundos semelhantes a
rãs. São espíritos de demônios que realizam sinais milagrosos; eles
vão aos reis de todo o mundo [portanto, a todos os chefes de
Estado], a fim de reuni-los para a batalha do grande dia do Deus
todo-poderoso” (v. 13-14). Esse ajuntamento está começando em
nossos dias. É o que prova a crescente tendência de formação de
blocos. Por que será que atualmente os homens são tão abertos
para a mentira? O Senhor mesmo respondeu a essa pergunta
através de Paulo, em 2Tessalonicenses 2.10b-11: “... porquanto
rejeitaram o amor à verdade que os poderia salvar. Por essa razão
Deus lhes envia um poder sedutor, a fim de que creiam na mentira”.
O homem natural, que não quer aceitar a verdade, está aberto para
tudo que é mentiroso. Torna-se realidade um colossal engano
mundial do ponto de vista político, militar e econômico, pois já
atualmente experimentamos o que diz 1Timóteo 4.1-2: “O Espírito diz
claramente que nos últimos tempos alguns abandonarão a fé e
seguirão espíritos enganadores e doutrinas de demônios. Tais
ensinamentos vêm de homens hipócritas e mentirosos, que têm a
consciência cauterizada”.
Inicialmente, o derramamento da sexta taça da ira tem uma
profunda consequência geopolítica e profética, pois lemos no
versículo 12: “O sexto anjo derramou a sua taça sobre o grande rio
Eufrates, e secaram-se as suas águas para que fosse preparado o
caminho para os reis que vêm do Oriente”. Portanto, esse grande
rio, a fronteira norte de Israel segundo a Bíblia, secará literalmente.
Várias vezes já acentuamos e continuaremos frisando: o que não é
explicitamente caracterizado como um símbolo em Apocalipse deve
ser entendido literalmente. Quando o Senhor, o Deus de Israel,
preparou nos tempos antigos um caminho para o povo da sua aliança
através do mar Vermelho, aquilo também não foi algo simbólico, mas
uma interferência literal de Deus. Se o povo de Israel não tivesse
literalmente atravessado “em terra seca” pelo mar Vermelho (Êx
14.22), hoje não existiria Israel; e quarenta anos depois, quando
Israel atravessou o Jordão para a terra prometida, as águas
recuaram. Essa também foi uma experiência real e nada simbólica.
Da mesma maneira, durante a grande tribulação – quem sabe em
breve! – o Eufrates também secará e será exatamente como nos
tempos antigos, quando o mar Vermelho e o Jordão secaram.
Naquela época isso teve um duplo significado ou efeito: para Israel
foi graça e libertação da escravidão; para o Egito, juízo e destruição.
Quando Israel atravessou “em terra seca” o Jordão (Js 3.17), isso
também significou novamente duas coisas: após quarenta anos de
peregrinação no deserto, Israel pôde finalmente tomar a terra – uma
terra que manava leite e mel. No entanto, para os povos que
moravam nela isso significava juízo e destruição. Será exatamente
assim quando em breve o Eufrates secar, pois esse grande rio é
especial como fronteira. O Eufrates é o maior e mais importante rio
da Ásia Ocidental. Ele nasce na Turquia e desemboca no golfo
Pérsico. O Eufrates tem um comprimento total aproximado de 2.800
quilômetros. Ele forma a fronteira natural e protetora entre Israel e
os povos ao leste. O Eufrates, ou Perath, como também é chamado
(antigamente também “rio” ou o “grande rio”), já ocupou um
importante lugar no início da Escritura Sagrada. Conforme Gênesis
2.14, ele era um dos rios limítrofes do paraíso. Além disso – e isso é
politicamente e profeticamente muito atual – o Eufrates foi citado
para Abraão como fronteira da sua futura herança. Gênesis 15.18
não tem a pretensão de ser politicamente oportuno, mas está escrito
na Bíblia: “Naquele dia, o S fez a seguinte aliança com Abrão:
‘Aos seus descendentes dei esta terra, desde o ribeiro do Egito até
o grande rio, o Eufrates’”. Ou pensemos em Deuteronômio 1.7:
“Levantem acampamento e avancem para a serra dos amorreus; vão
a todos os povos vizinhos na Arabá, nas montanhas, na Sefelá, no
Neguebe e ao longo do litoral, à terra dos cananeus e ao Líbano, até
o grande rio, o Eufrates”.
Para entender os acontecimentos políticos no Oriente Médio,
deve-se ler a Bíblia e não os comentários políticos, porque eles
estão sempre atrasados! Ao longo dos séculos os rios foram, e
continuam sendo, as fronteiras entre povos e orientações espirituais.
Por exemplo, pensemos no Reno, que divide a Suíça e a Alemanha,
entre outros, e tem duas diferentes orientações espirituais. Portanto,
o significado do Eufrates como fronteira natural e espiritual
desaparecerá em breve, quando a sexta taça da ira de Deus for
derramada sobre o mundo. Com isso, a barreira contra os povos do
lado do nascimento do sol (Oriente) desaparecerá, e então Israel
estará no maior perigo. Chama a atenção que os quatro anjos da
guerra, dos quais se fala em Apocalipse 9, estão atados junto ao
Eufrates e precisam ser soltos ali: “‘Solte os quatro anjos que estão
amarrados junto ao grande rio Eufrates’. Os quatro anjos, que
estavam preparados para aquela hora, dia, mês e ano, foram soltos
para matar um terço da humanidade” (9.14b-15). Por ocasião da
explicação da segunda parte do nono capítulo (pág. 197), vimos que
a consequência imediata dessa libertação é uma catástrofe nuclear,
enquanto que aqui, por ocasião do derramamento da sexta taça da
ira, vemos uma primeira consequência geopolítica e profética: agora
os reis que vêm do Oriente são atraídos com poder irresistível para
Israel, para o Armagedom.
Quem são os reis que “vêm do Oriente”, ou “do lado do
nascimento do sol” (RA)? Para reconhecê-los precisamos estudar o
mapa-múndi e um pouco da história mundial. Trata-se das
gigantescas potências asiáticas, como o Japão (que tem o sol
nascente em sua bandeira), a China (a antiga China tinha como
símbolo um dragão) e a Índia. Assim como o Espírito Santo atrai
pessoas de todas as nações a Jesus Cristo, esses espíritos
demoníacos em Apocalipse 16 atraem os chefes das nações, e com
isso os povos inteiros, para Israel. Não somente os reis que vêm do
Oriente, mas todos os reis da terra serão ajuntados contra Israel (v.
14). Qual é o objetivo do futuro ataque cuja preparação já notamos?
Na minha opinião, o versículo 14 dá uma resposta. Lá é descrito o
que fazem os espíritos imundos, que saem da boca do dragão, da
besta e do Falso Profeta: “São espíritos de demônios que realizam
sinais milagrosos; eles vão aos reis de todo o mundo, a fim de reuni-
los para a batalha do grande dia do Deus todo-poderoso” (v. 14).
Essa é a última guerra, que de acordo com o versículo 16
acontecerá no Armagedom. Portanto, o objetivo desse ajuntamento é
a grande batalha na qual, conforme Zacarias 14.2, todas as nações
da terra estarão reunidas contra Jerusalém. Essa é a última guerra
mundial antes da vinda do Senhor.
Não é horrível que o dragão (Satanás), a primeira besta
(Anticristo) e a segunda besta (Falso Profeta) formam uma trindade?
Está escrito aqui que três espíritos imundos saem das bocas do
dragão, da besta e do Falso Profeta: “Então vi saírem da boca do
dragão, da boca da besta e da boca do Falso Profeta três espíritos
imundos semelhantes a rãs” (v. 13). Que poderes espirituais
destruidores e enganadores procedem desses três, se lemos: “São
espíritos de demônios que realizam sinais milagrosos; eles vão aos
reis de todo o mundo, a fim de reuni-los para a batalha do grande dia
do Deus todo-poderoso” (v. 14). Então vem a estranha afirmação no
versículo 16: “Então os três espíritos os reuniram no lugar que, em
hebraico, é chamado Armagedom”.
Deus está no controle; ele mantém tudo em suas mãos! Todos os
povos da terra são reunidos no Armagedom por forças satânicas
com um único objetivo: rebeldia contra Deus. No entanto, o fato de
eles irem para Armagedom vem de Deus. Em Apocalipse 19.19 nós
lemos: “Então vi a besta, os reis da terra e os seus exércitos
reunidos para guerrearem contra aquele que está montado no cavalo
e contra o seu exército”. Esse é Jesus Cristo com os seus. Os reis
da terra têm “um único propósito e darão seu poder e sua autoridade
à besta. Guerrearão contra o Cordeiro, mas o Cordeiro os vencerá,
pois é o Senhor dos senhores e o Rei dos reis; e vencerão com ele
os seus chamados, escolhidos e fiéis” (Ap 17.13-14). Os “chamados,
escolhidos e fiéis” representam a igreja glorificada dentre judeus e
gentios.
A guerra no Armagedom não será, portanto, uma guerra comercial
nem uma guerra por herança; também não se tratará de uma guerra
ideológica ou de uma guerra por fronteiras. A batalha de Armagedom
distingue-se de todas as guerras anteriores porque se trata de uma
luta declarada contra Deus e o Cordeiro, e essa luta será decidida
pelo aparecimento pessoal do Senhor Jesus Cristo com todas as
suas milícias celestiais. Então os pés dele estarão sobre o monte
das Oliveiras, como diz o profeta Zacarias no capítulo 14.4.
Já no Salmo 2 vemos que os poderes da terra se juntam contra o
Senhor e seu Ungido: “Por que se amotinam as nações e os povos
tramam em vão? Os reis da terra tomam posição e os governantes
conspiram unidos contra o S e contra o seu ungido, e dizem:
‘Façamos em pedaços as suas correntes, lancemos de nós as suas
algemas!’” (Sl 2.1-3). O Diabo conhece seu tempo e sabe que lhe
resta somente um prazo muito curto, porque o reino de Jesus Cristo
está próximo; a restauração de Israel é o sinal mais marcante disso.
Israel encontra-se em dores de parto para a revelação do reino de
Cristo na terra, pois Israel será uma teocracia e Jerusalém será a
capital. É por isto que Satanás juntará os povos: para impedir pelo
mais longo tempo possível o estabelecimento desse reino. Essa é a
razão porque já atualmente existe esse ódio ideológico mundial
contra tudo que é de Israel e se refere a Israel. O que Satanás faz
na última fase dos tempos finais é um ato de loucura. Ele poderia
saber que será vencido, e mesmo assim ele ousa, porque trata-se
da sua penúltima oportunidade. É por isso que ele joga seus maiores
trunfos e concentra todas as suas forças disponíveis contra o Senhor
e seu Ungido, concedendo poder aos povos.
Os espíritos enganadores são “semelhantes a rãs” (v. 13). Rãs
são estranhos seres anfíbios. Elas vivem tanto nas escuras e
enlameadas profundezas como em solo firme sob o sol. Elas podem
ocupar a fantasia dos homens; elas têm membros semelhantes a
eles. O que chama a atenção são os olhos extremamente grandes e
o volume de voz desproporcional. Muitas vezes elas surgem
repentinamente das profundezas. Uma rã tem algo de misterioso e
sinistro. Por que esses espíritos imundos são comparados com rãs?
Certamente porque a rã vive tanto na terra como na água. Esses
espíritos enganadores, que saem da boca do dragão, da besta e do
Falso Profeta, andarão tanto pelas ilhas – penso, por exemplo, na
Grã-Bretanha, no Japão, na Austrália, na Indonésia – como também
nos continentes, a fim de instigar os homens. Eles promoverão uma
verdadeira campanha antissemita, para que todos os povos
marchem para Armagedom. Atualmente já constatamos como o
antissemitismo se espalha mais e mais, surgindo aqui e ali. Todavia,
como já dissemos, no fundo trata-se de uma rebelião declarada
contra Deus e seu Ungido e, dessa maneira, contra o culto e
consequentemente contra seu povo Israel. O mundo todo, que então
marchará junto – a Europa unificada, os Estados Unidos, o Canadá
etc. – será unido sob um líder e formará um reino. Todos terão uma
opinião e darão à besta, ao Anticristo, o seu poder, isto é, sua
independência nacional (17.13).
Todos os povos marcham em direção a Jerusalém, pois o
Armagedom inclui Jerusalém. As duas letras iniciais de Armagedom
significam “monte”, “colina”, e Armagedom significa “colina de
Megido”. A raiz da palavra “Megido” significa “derrubar”, “cortar”,
“matar”. A palavra Armagedom faz supor que não se trata somente
de um lugar, mas que também se indica o que ali aconteceu tantas
vezes e também acontecerá novamente – mas então em proporções
muito mais gigantescas: um cortar, um matar, um derrubar desde o
alto. Uma outra interpretação da palavra Armagedom é: “abater o
alto”. Esse duplo significado corresponde exatamente ao caráter dos
acontecimentos, pois o alto não somente é abatido; não, tal coisa
acontece a partir do alto. Existe ainda outra interpretação para
Armagedom que é muito esclarecedora: “matança”. Em todos os
casos, o nome indica acontecimentos que se darão por ocasião da
luta final dos povos. Assim como na Antiguidade a planície de
Megido foi o campo de batalha dos povos, como ensina a história,
ela será pela última vez o ponto de concentração dos exércitos
terrenos, que Deus mesmo destruirá do alto. O dr. Clarke, um
historiador, escreve: “Desde Nabucodonosor até o avanço de
Napoleão à Síria, essa planície sempre foi escolhida como
acampamento dos exércitos. Judeus, gentios, sarracenos, cruzados,
egípcios, persas, drusos, turcos e outros povos armaram ali suas
tendas de campanha e deixaram molhar suas bandeiras pelo orvalho
do Tabor e do pequeno Hermom”.
Deve-se observar que, segundo o versículo 16, esse campo de
batalha não deve ser chamado de Megido, mas sim o hebraico
Armagedom (isso é dito expressamente no Novo Testamento grego).
Em primeiro lugar, isso dirige nossa atenção para o fato de que
dessa forma está sendo dito profeticamente que então se falará
novamente hebraico em Israel; portanto, que depois de muitos
séculos essa língua novamente se tornaria viva – e desde 1948 o
hebraico é novamente a língua oficial de Israel. Além disso, dessa
maneira é dito que não é a planície de Megido, mas sim as colinas
de Megido que formarão o campo de batalha. Portanto, o “ar”
(“monte”, “colina”) se refere tanto à colina estrategicamente
importante na planície de Jezreel como também ao caráter da luta
final, que será realizada ali. Quando se desce do Carmelo chega-se
imediatamente na planície de Megido – a luta será desde o alto. Por
isso, Megido, pelo duplo significado da palavra, se tornará
“Armagedom”. Pode-se entender bem isso quando se lembra que até
o dia de hoje Megido é um cruzamento das grandes estradas
estratégicas norte-sul e leste-oeste, formando um ponto de grade
importância estratégica que dá ao seu possuidor a chave para a
parte central e norte de Israel. Também nos antigos anais egípcios
Megido é descrita como uma cidade de grande significado
estratégico, cuja conquista significava o equivalente à de mil outras
cidades. Deste modo também é esclarecedor que o rei Salomão
tenha mandado fortificar Megido de maneira especial (1Rs 9.15).
Além do ponto de vista estratégico, Megido assume um lugar
ainda mais especial na Escritura porque foi e será um lugar do juízo
de Deus: “Então os três espíritos os reuniram no lugar que, em
hebraico, é chamado Armagedom” (v. 16). Essa planície começa ao
sopé do Carmelo. Ali será o ponto de encontro dos reis do norte, sul,
leste e oeste e o local de aglomeração dos seus exércitos; mas a
grande planície de Megido, ou Jezreel, como também é chamada,
não será suficiente para receber todos os inumeráveis exércitos; e,
assim como antigamente o nome da fortaleza de Megido foi
transferido para toda a planície de Jezreel, também o Armagedom
do futuro se estenderá pelos montes adjacentes em Israel. O profeta
Joel diz: “Multidões, multidões no vale da Decisão” (Jl 3.14). O
ribeiro de Quisom corre pela planície de Megido, onde Elias matou
certa vez os quatrocentos sacerdotes de Baal. Agora a planície toda
ainda está em calma e paz. Mesmo com as forças armadas
israelenses tendo ali pistas para sua força aérea, nada indica para
esta terrível batalha final dos povos que será realizada ali.
Não obstante, quem tem olhos e ouvidos abertos vê como as
nações são mais e mais atacadas pelo bacilo antissemita, se bem
que hoje em dia se utiliza uma palavra moderna, ou seja,
“antissionismo”. Politicamente, o ajuntamento contra Jerusalém já é
um fato, pois até a ONU já condenou o sionismo como “uma forma
de racismo e discriminação racial”.nota 12 Com isso, nega-se no fundo
o direito de existência de Israel, pois a palavra sionismo significa
“movimento para fundação e garantia de um Estado nacional
judaico”. Portanto, o sionismo é o anseio dos judeus de retornarem à
sua pátria – Sião. Politicamente, portanto, o mundo já se colocou
claramente contra Jerusalém. O general prussiano Carl von
Clausewitz (1780-1831) disse acertadamente: “A guerra é a
continuação da política com outros meios”. Dessa forma, a marcha
contra Jerusalém já começou politicamente, e em breve acontecerá
também o avanço militar. Os exércitos de milhões que ali se reunirão
vão espalhar-se por quilômetros, de modo que essa última e decisiva
batalha do Armagedom chegará até Jerusalém.
O profeta Zacarias fala acerca disso no capítulo 12.9: “Naquele
dia, procurarei destruir todas as nações que atacarem Jerusalém”. E
em Zacarias 14.2 lemos: “Reunirei todos os povos para lutarem
contra Jerusalém; a cidade será conquistada, as casas saqueadas e
as mulheres violentadas. Metade da população será levada para o
exílio, mas o restante do povo não será tirado da cidade”. Joel fala
no capítulo 3.12 que as nações avançam “para o vale de Josafá”.
Essa designação do vale também é tanto local como típica, pois
“Josafá” significa “o Senhor julga”. O vale de Josafá é idêntico a
Armagedom; trata-se do vale onde o Senhor julgará. Em Joel 3.14
lemos a respeito do “vale da Decisão”. A Escritura Sagrada é
sempre muito exata na utilização de nomes. Os mesmos não
significam nem de mais nem de menos. Por isso os nomes bíblicos
são um grande auxílio para a explicação das passagens onde
aparecem. No estudo da luta do rei Josafá contra os homens de
Amom, de Moabe e dos montes de Seir, quando Josafá recebeu a
notícia de que uma grande multidão vinha contra Jerusalém (2Cr 20),
vemos, por exemplo, que essa luta, em suas características bem
especiais, assemelha-se totalmente à do Armagedom. Também ali
falhou toda a capacidade guerreira humana. Josafá, porém, começou
a buscar o Senhor e proclamou um jejum. O Senhor lhe deu ouvidos
e animou Josafá através do profeta: “‘Não tenham medo nem fiquem
desanimados por causa desse exército enorme. Pois a batalha não é
de vocês, mas de Deus. Vocês não precisarão lutar nessa batalha.
Tomem suas posições, permaneçam firmes e vejam o livramento que
o S dará, ó Judá, ó Jerusalém. Não tenham medo nem se
desanimem. Saiam para enfrentá-los amanhã, e o S estará
com vocês’. Josafá prostrou-se com o rosto em terra, e todo o povo
de Judá e de Jerusalém prostrou-se em adoração perante o
S ” (2Cr 20.15b,17-18). O que aconteceu? “De madrugada
partiram para o deserto de Tecoa. Quando estavam saindo, Josafá
lhes disse: ‘Escutem-me, Judá e povo de Jerusalém! Tenham fé no
S , o seu Deus, e vocês serão sustentados; tenham fé nos
profetas do S , e terão a vitória’. Depois de consultar o povo,
Josafá nomeou alguns homens para cantarem ao S ... Quando
começaram a cantar e a entoar louvores, o S preparou
emboscadas contra os homens de Amom, de Moabe e dos montes
de Seir, que estavam invadindo Judá, e eles foram derrotados. Os
amonitas e os moabitas atacaram os dos montes de Seir para
destruí-los e aniquilá-los. Depois de massacrarem os homens de
Seir, destruíram-se uns aos outros” (2Cr 20.20-21a,22-23). É
certamente por isso que Armagedom é frequentemente chamada de
“vale de Josafá”, porque essa luta é tão semelhante à luta final dos
povos no Armagedom.
Se nós, como crentes da nova aliança, temos que enfrentar em
nossa luta espiritual o espírito do Armagedom, então devemos fazer
o que o rei Josafá fez junto com Judá! Temos que louvar e
agradecer. Assim o Senhor preparará uma “emboscada”. Louvar e
agradecer diante da face do inimigo excessivamente forte é a maior
expressão da fé. Na luta final dos povos no Armagedom, Israel será
inundado de exércitos estranhos, de modo que o Tzahal, o exército
israelense, ficará impotente.nota 13 Então acontecerá o extraordinário,
havendo a intervenção do alto para destruir o alto: Jesus Cristo virá!
Quando falamos da batalha do Armagedom, devemos lembrar que
no fundo o foco da luta será mesmo Jerusalém. Direta ou
indiretamente, de alguma maneira, tudo sempre gira em torno de
Jerusalém. Pensemos em todos os conflitos que já aconteceram
entre países árabes, como entre Irã e Iraque ou Jordânia e Síria.
Esses causam alívio para Israel, pois dessa maneira são destruídas
as armas que eles poderiam utilizar contra Israel. De qualquer modo,
a fraternidade entre os árabes tem perna curta. Acontecerá o que o
Senhor diz em Isaías 19.2: “Incitarei egípcio contra egípcio; cada um
lutará contra seu irmão, vizinho lutará contra vizinho, cidade contra
cidade, reino contra reino”. Esse será um alívio para Israel. No
entanto, a verdadeira libertação de Israel na luta do Armagedom
será o aparecimento do Messias, quando ele voltar em grande poder
e glória com seus escolhidos fiéis!
É esclarecedor que o nome Armagedom não é desconhecido em
nossa época moderna. Tanto na Primeira Guerra Mundial (1914-
1918) como na Segunda Guerra Mundial (1939-1945) já se falava a
respeito. Trata-se de uma palavra que descreve um conflito mundial
generalizado. Porém, no sentido absoluto e literal, Armagedom é
incomparável: “Então os três espíritos os reuniram no lugar que, em
hebraico, é chamado Armagedom”. Nem precisamos procurar nos
anais da história mundial por um acontecimento que pudesse
equivaler ao cumprimento dessa passagem das Escrituras, pois o
Armagedom é único. Esse acontecimento tem seu lugar especial,
seu tempo especial e seu caráter especial, pois em todos os tempos
Israel foi o centro de três continentes e o palco dos atos especiais
de Deus. Ali Deus revelou-se a Abraão e a seus descendentes. Lá
também foi alcançada a maravilhosa vitória do Gólgota através de
Jesus Cristo, e ali Deus fará o acerto de contas com os povos e os
exércitos demoníacos. Finalmente, lá será também restabelecido o
trono de Davi.
O Armagedom é único, apesar do fato de que, conforme Ezequiel
38–39, um dia a Rússia invadirá Israel. Ela será “arrastada” e levada
a Israel. Por mais terrível que essa guerra seja – a tradução inglesa
King James diz que 87% dos exércitos comunistas serão aniquilados
sobre os montes e campos de Israel – ela não será comparável à do
Armagedom. Na batalha do Armagedom não se trata do domínio de
um ou de outro povo sobre a terra ou mar; também não se trata da
expansão de um país ou de objetivos econômicos. Não, o
Armagedom decidirá a quem pertencerá o domínio total sobre esta
terra. A besta, o Anticristo, se oporá publicamente como o rei dos
reis ungido por Satanás contra o Rei dos reis ungido por Deus. Deus
mesmo diz: “Eu mesmo estabeleci o meu rei em Sião, no meu santo
monte” (Sl 2.6). No Armagedom será travada a luta final entre Cristo
e o Anticristo, cujo resultado já foi anunciado na sétima trombeta, em
Apocalipse 11.15: “... e houve altas vozes nos céus, que diziam: ‘O
reino do mundo se tornou de nosso Senhor e do seu Cristo, e ele
reinará para todo o sempre’”. Essa foi a proclamação, o anúncio do
reinado de Cristo sobre os reinos deste mundo.
Em Apocalipse 16 acontece agora o cumprimento após a batalha
do Armagedom, sob a sexta das últimas sete pragas. É notável que
no Novo Testamento são citados somente quatro “aleluias”: três
deles são entoados nos juízos sobre a Babilônia e o quarto após a
batalha do Armagedom, no início do reinado de Cristo e do
casamento do Cordeiro associado com ele. Então está escrito em
Apocalipse 19.5-7: “Então veio do trono uma voz, conclamando:
‘Louvem o nosso Deus, todos vocês, seus servos, vocês que o
temem, tanto pequenos como grandes!’ Então ouvi algo semelhante
ao som de uma grande multidão, como o estrondo de muitas águas e
fortes trovões, que bradava: ‘Aleluia!, pois reina o Senhor, o nosso
Deus, o Todo-poderoso. Regozijemo-nos! Vamos alegrar-nos e dar-
lhe glória! Pois chegou a hora do casamento do Cordeiro, e a sua
noiva já se aprontou’”. O Senhor Jesus Cristo estabelecerá o seu
reino em Israel e de lá exercerá seu abençoado domínio de paz
sobre o mundo. O motivo porque até o dia de hoje Israel é incapaz
de ver isso é somente por causa das nações, pois Romanos 11.25
diz: “... Israel experimentou um endurecimento em parte, até que
chegue a plenitude dos gentios”. A cegueira de Israel durará até o
momento em que se alcançar a plenitude dos gentios, até o
momento em que o último das nações tiver os olhos abertos. Então
acontecerá o arrebatamento da igreja e em seguida começará a
grande tribulação, com suas ondas de juízos e a grande batalha final
no Armagedom. Depois Jesus Cristo voltará e Israel o verá,
convertendo-se àquele a quem traspassaram.
Quando a batalha do Armagedom, que é uma realização visível do
Salmo 2.1-3, estiver sendo realizada com todo o furor, o tempo do
silêncio de Deus estará acabado. Então se realizarão os próximos
três versículos do Salmo 2: “Ri-se aquele que habita nos céus; o
Senhor zomba deles. Na sua ira, a seu tempo, lhes há de falar e no
seu furor os confundirá. Eu, porém, constituí o meu Rei sobre o meu
santo monte Sião” (RA). Deus vê todas as nações da sua
perspectiva divina e as confronta com o seu “porém” divino. Ele vê o
exército russo com os seus mísseis e tanques; ele vê os poderosos
exércitos do Império Romano, e zomba deles.
Por mais terrível que seja o Armagedom, citamos mais uma vez
as palavras de Deus a respeito: “Eu, porém, constituí o meu Rei
sobre o meu santo monte Sião”. Nas palavras “Eu, porém” está
contida a resposta de Deus sobre o Armagedom. Lá o orgulho do
homem terá atingido seu clímax, e então terá chegado o momento de
Deus desmascarar Satanás e seus espíritos da mentira. Então será
solucionada para sempre a questão do domínio mundial e Deus será
justificado aos olhos de todos os seres vivos. A palavra do profeta
Zacarias, no capítulo 14.9, será cumprida: “O S será rei de
toda a terra. Naquele dia, haverá um só S e o seu nome será
o único nome”. O riso do homem se calará e o tempo de Deus rir
começará, pois a pedra – que Deus transformou em pedra angular,
mas que foi rejeitada pelos homens, como está escrito no Salmo
118.22 – esmiuçará então a obstinada imagem das nações, que
Nabucodonosor já havia visto em seu sonho (cf. Dn 2).
Deus dá tempo a todos – também a você. Aparentemente você
pode fazer o que quiser; pode rebelar-se contra ele; pode rejeitar
seu Filho, Jesus Cristo – ele permite, pois deixa que tudo amadureça
para juízo. Ele permite também que Satanás, a besta e o Falso
Profeta ajam livremente; ele permite a livre ação dos espíritos
imundos. Dessa maneira, os homens não têm desculpa. Satanás
também não terá motivo para acusar Deus de restringi-lo em seu
esforço de ganhar homens para si. Deus deixou Satanás agir
livremente para tentar Jó. No entanto, quando todos os povos
estiverem reunidos para a batalha naquele grande dia do Deus Todo-
Poderoso, a paciência de Deus terá acabado, e o último confronto
entre o Cordeiro e a serpente, entre Cristo e o Anticristo, entre Deus
e Satanás, acontecerá. Então a vitória de Jesus, obtida na cruz do
Gólgota, será exercida plenamente contra todos os poderes das
trevas. Então Israel terá Shalom, isto é, paz.
O que hoje encontramos individualmente nas pessoas em poder e
maldade aparecerá aglomerado no Armagedom: todos os poderes
humanos e demoníacos estarão ali reunidos, ou seja, o dragão, a
besta, o Falso Profeta, os reis da terra, os espíritos imundos. Eles
marcharão para o Armagedom com os mais terríveis armamentos e
as invenções mais desenvolvidas do espírito humano – por exemplo,
a bomba de hidrogênio, armas biológicas e outras armas terríveis.
Lá será revelada a soma de toda a capacidade humana. Deus
permite que se chegue a esse clímax; ele se cala. Então, porém,
acabará definitivamente o seu tempo de silêncio. Então se cumprirá a
palavra de Isaías 42.14: “Por muito tempo me calei; estive em
silêncio, e me contive; mas agora darei gritos como a que está de
parto, e a todos os assolarei e juntamente devorarei” (ACF). Quando
vemos o desenvolvimento em nossos dias, ficamos apavorados com
relação à ameaça a Israel e a Jerusalém. No entanto, a situação
ainda vai ficar muito pior. Israel será cercado de exércitos.
A princípio parecerá que a intenção das diferentes nações (de
destruir Israel em seu próprio país) terá sucesso, pois elas
conquistarão e cercarão a cidade. No entanto, quando a aflição de
Israel e a sua tribulação atingirem o clímax, o Senhor sairá, como em
dia de batalha, como está escrito em Zacarias 14.3, Juízes 5 e
Isaías 9. Isso acontecerá quando os povos tomarem as casas de
Jerusalém. No entanto, eles serão como a palha que o vento espalha
ou como um bosque que é queimado pelo fogo. Então terá chegado
o grande momento em que Cristo aparecerá com todos os seus
santos. Joel 3.11 fala dessa vinda de Cristo com seus “guerreiros”
(cf. tb. Zc 14.4-5). Então Zacarias 14.4 será um fato! A essa vinda
de Jesus precede sua vinda nos ares, quando a grande multidão que
ressuscitará dos mortos e os renascidos ainda vivos serão
arrebatados ao seu encontro. É o que está escrito em
1Tessalonicenses 4.16: “Pois, dada a ordem, com a voz do arcanjo e
o ressoar da trombeta de Deus, o próprio Senhor descerá dos céus,
e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro”. Isso pode acontecer
a qualquer momento. Então ele aparecerá com os seus no monte
das Oliveiras. Primeiro ele virá em grande poder e glória para as
nações, que gritarão de espanto. Depois, porém, ele também virá
para Israel – mas como Sumo Sacerdote e Messias – e todo o Israel
se converterá e será bem-aventurado.
Em Apocalipse 16.15 ouvimos repentinamente a insistente
advertência da boca do Cristo elevado: “Eis que venho como ladrão!
Feliz aquele que permanece vigilante e conserva consigo as suas
vestes, para que não ande nu e não seja vista a sua vergonha”. Não
é por acaso que a voz de Jesus ressoa em meio aos acontecimentos
dos tempos finais, quando os poderes do engano antissemita na
política, no exército e na religião estiverem passando pela terra e
pelo mar. Essa luta não é somente em torno de Jerusalém, mas
também em torno de você: pela sua alma. O paralelo entre os
perigos crescentes e lutas em torno de Jerusalém e em torno da sua
alma é inevitável, pois foi em Jerusalém que Jesus morreu na cruz do
Gólgota e clamou: “Está consumado!”. Lá ele foi sepultado, lá ele
subiu aos céus – e lá ele voltará em grande poder e glória! Por isso,
vigie, pois ele virá como um ladrão à noite!

A Sétima Taça da Ira (Ap 16.17-21)


17O sétimo anjo derramou a sua taça no ar, e do santuário saiu
uma forte voz que vinha do trono, dizendo: “Está feito!” 18Houve,
então, relâmpagos, vozes, trovões e um forte terremoto. Nunca
havia ocorrido um terremoto tão forte como esse desde que o
homem existe sobre a terra. 19A grande cidade foi dividida em
três partes, e as cidades das nações se desmoronaram. Deus
lembrou-se da grande Babilônia e lhe deu o cálice do vinho do
furor da sua ira. 20Todas as ilhas fugiram, e as montanhas
desapareceram. 21Caíram sobre os homens, vindas do céu,
enormes pedras de granizo, de cerca de trinta e cinco quilos
cada; eles blasfemaram contra Deus por causa do granizo, pois a
praga fora terrível.
A sétima taça da ira, que é derramada agora, é um juízo tão terrível
que nem podemos imaginá-lo. Mesmo ele nos sendo descrito
somente em curtas frases, a amplitude desse juízo revela o excesso
de perversão que existirá então no mundo, na humanidade anticristã.
Por ocasião do derramamento dessa última taça da ira, uma voz saiu
do trono do céu, do qual procedeu o juízo divino: “Está feito!”. Isso
parece uma mensagem de conclusão. Deve-se lembrar que esse
terrível juízo não precisaria ter acontecido, ou seja, não precisaria
acontecer, pois o juízo sobre todos os homens de todos os tempos
foi executado vicariamente sobre Jesus Cristo quando ele, morrendo
na cruz do Gólgota, exclamou: “Está consumado!”. Porém, o nosso
mundo atual já não quer saber nada do seu sacrifício expiatório,
quanto menos o mundo anticristão.
Quando a igreja de Jesus tiver desaparecido deste mundo – e
com ela o freio contra a impiedade – não haverá mais o desejo de
saber algo do sacrifício expiatório e do sangue derramado de Jesus,
de maneira que nada mais resta à humanidade anticristã do que
dizer, em sentido figurado, aquilo que está escrito em Hebreus
10.26-27,29-31: “Se continuarmos a pecar deliberadamente depois
que recebemos o conhecimento da verdade, já não resta sacrifício
pelos pecados, mas tão somente uma terrível expectativa de juízo e
de fogo intenso que consumirá os inimigos de Deus. Quão mais
severo castigo, julgam vocês, merece aquele que pisou aos pés o
Filho de Deus, profanou o sangue da aliança pelo qual ele foi
santificado e insultou o Espírito da graça? Pois conhecemos aquele
que disse: ‘A mim pertence a vingança; eu retribuirei’; e outra vez: ‘O
Senhor julgará o seu povo’. Terrível coisa é cair nas mãos do Deus
vivo!”. Essa é a situação por causa da sétima taça da ira, quando a
vingança, a santidade e a justiça de Deus julgam um mundo que
rejeitou seu sacrifício. Então o Anticristo terá assumido o domínio no
lugar de Cristo. As consequências dessa sétima taça da ira, com seu
alastramento, são explicadas detalhadamente na segunda metade do
capítulo 17 e no capítulo 18. Essas destruições não tem precedente
na história humana.
“Houve, então, relâmpagos, vozes, trovões...” (v. 18a).
Poderíamos chamar essa passagem de prelúdio nos ares, pois o
sétimo anjo derrama sua taça da ira pelo ar. Portanto, o juízo
começa nos ares e é então lançado sobre a terra. Ele é iniciado com
trovões, vozes e relâmpagos. As condições geográficas até ali
existentes na terra serão totalmente desfeitas. Assim, os trovões,
relâmpagos e vozes são, de certo modo, convulsões nos ares que
virão a explodir na terra.
Conforme resultados de pesquisas geralmente aceitas, supõe-se
que antes do Dilúvio, ou seja, antes do primeiro juízo mundial, a terra
tinha uma aparência completamente diferente da atual. David
Watson, em seu livro Weltschöpfung und Urgeschichte aus
wissenschaftlicher Sicht [Criação do Mundo e História Primitiva do
Ponto de Vista Científico], diz muitas coisas esclarecedoras sobre a
situação e as condições climáticas anteriores ao Dilúvio. Ele é da
opinião que as montanhas mais altas que atualmente conhecemos
nem existiam antes do Dilúvio. Provavelmente elas foram levantadas
somente após o Dilúvio, que criou as bacias oceânicas profundas
para absorver enormes quantidades de água da inundação absurda.
Essa afirmação pode ser fundamentada biblicamente, pois no Salmo
104.6-8 está escrito: “Com as torrentes do abismo a cobriste, como
se fossem uma veste; as águas subiram acima dos montes. Diante
das tuas ameaças as águas fugiram, puseram-se em fuga ao som do
teu trovão; subiram pelos montes e escorreram pelos vales, para os
lugares que tu lhes designaste”. O juízo único através das massas de
água transformou o mundo antediluviano.
Para entendermos melhor os juízos da sétima taça da ira
devemos fazer este retrospecto. Assim, antes do Dilúvio, a terra
também era redonda, mas mais plana do que atualmente, e os
mares não eram tão profundos. No terceiro dia da Criação é dito que
Deus ajuntou as águas em um só lugar e não em lugares diferentes,
e que a parte seca e o mar foram separados. Isso parece indicar
que antes do Dilúvio não havia mares interiores, como por exemplo o
mar de Aral, localizado 50 metros acima do nível do mar, ou o mar
Morto, que se encontra 400 metros abaixo do nível do mar, mas
mares que tinham o mesmo nível e formavam uma única grande
superfície de água. Muitos cientistas têm dificuldades em acreditar
que os continentes foram elevados em um só dia das profundezas
dos mares. Ninguém sabe como isso aconteceu, mas o poder criador
de Deus é imensuravelmente grande! Quando falamos dos
continentes antediluvianos não nos referimos a continentes no sentido
atual, mas a toda a superfície terrestre. Cremos que havia um só
grande continente.
Os trovões, relâmpagos e vozes da sétima taça da ira acontecem
no final da grande tribulação, sendo que então certamente
acontecerá o que o Senhor diz em Hebreus 12.25-26: “Cuidado! Não
rejeitem aquele que fala. Se os que se recusaram a ouvir aquele que
os advertia na terra não escaparam, quanto mais nós, se nos
desviarmos daquele que nos adverte dos céus? Aquele cuja voz
outrora abalou a terra, agora promete: ‘Ainda uma vez abalarei não
apenas a terra, mas também o céu’”. E então continuamos lendo em
Hebreus 12.27-29: “As palavras ‘ainda uma vez’ indicam a remoção
do que pode ser abalado, isto é, coisas criadas, de forma que
permaneça o que não pode ser abalado. Portanto, já que estamos
recebendo um Reino inabalável, sejamos agradecidos e, assim,
adoremos a Deus de modo aceitável, com reverência e temor, pois o
nosso ‘Deus é fogo consumidor!’”. Assim será quando for derramada
a sétima taça da ira! Toda a atmosfera estará repleta de trovões,
relâmpagos e vozes, enquanto o mundo será abalado por um violento
terremoto: “... um forte terremoto. Nunca havia ocorrido um
terremoto tão forte como esse desde que o homem existe sobre a
terra” (v. 18). O profeta Isaías já viu e descreveu esse terremoto
nunca visto: “A terra foi despedaçada, está destruída, totalmente
abalada! A terra cambaleia como um bêbado, balança como uma
cabana ao vento; tão pesada sobre ela é a culpa de sua rebelião que
ela cai para nunca mais se levantar! Naquele dia, o S
castigará os poderes em cima nos céus e os reis embaixo na terra.
Eles serão arrebanhados como prisioneiros numa masmorra,
trancados numa prisão e castigados depois de muitos dias. A lua
ficará humilhada, e o sol, envergonhado; pois o S dos
Exércitos reinará no monte Sião e em Jerusalém, glorioso na
presença dos seus líderes!” (Is 24.19-23).
“A grande cidade foi dividida em três partes, e as cidades das
nações se desmoronaram” (16.19a). A “grande cidade” sem dúvida é
Jerusalém, pois é feita claramente uma distinção entre “as cidades
das nações” e essa grande cidade. Para que mesmo os tolos não
errem a identificação dessa cidade, está escrito no capítulo 11.8: “...
da grande cidade, que figuradamente é chamada Sodoma e Egito,
onde também foi crucificado o seu Senhor”. Por ocasião do
derramamento da sétima taça da ira, as cidades das nações serão
destruídas, mas Jerusalém se dividirá em três partes. Quando isso
acontecer, Jerusalém se tornará, no verdadeiro sentido da palavra,
uma cidade portuária, pois então terá chegado no terrível juízo o
momento em que o Senhor Jesus voltará em grande poder e glória.
Desse momento está escrito, em Zacarias 14.4: “Naquele dia, os
seus pés estarão sobre o monte das Oliveiras, a leste de Jerusalém,
e o monte se dividirá ao meio, de leste a oeste, por um grande vale;
metade do monte será removido para o norte, e a outra metade para
o sul”. Além disso, devemos ler também o que está escrito em
Zacarias 14.8-9: “Naquele dia [ou seja, quando a terra em Jerusalém
se dividir em três partes], águas correntes fluirão de Jerusalém,
metade delas para o mar do leste [mar Morto] e metade para o mar
do oeste [mar Mediterrâneo]. Isso acontecerá tanto no verão como
no inverno. O S será rei de toda a terra...”. Ezequiel 47.1-8
também descreve isso.
O maravilhoso lado bom da sétima taça da ira é a volta do Senhor
com sua igreja glorificada! O rompimento de Jerusalém tem, aliás,
um significado de juízo muito profundo. Pensemos nos diferentes
montes de Jerusalém: o monte Moriá, no qual estava edificado o
templo, a habitação de Deus Pai (agora encontra-se ali ainda o
Domo da Rocha). O outro monte ou colina chama-se Gólgota. Lá
Deus Filho tirou o pecado do mundo e venceu Satanás. O terceiro
monte é o monte das Oliveiras, sobre o qual estarão então os seus
pés. O monte das Oliveiras é uma representação de Deus, o Espírito
Santo. Já no capítulo 11.13 vimos um forte terremoto que abala
Jerusalém pouco antes de ouvir-se a última trombeta. A
consequência daquele terremoto foi que ruiu a décima parte da
cidade e morreram sete mil pessoas, enquanto as restantes deram
glória ao Deus do céu. Aqui, porém, João vê como a cidade
edificada sobre três elevações – a cidade alta, a cidade baixa e o
monte do Templo – é dividida em três partes através do terrível
terremoto da sétima taça da ira e que as cidades das nações caem.
É como se as três pessoas do Deus Triúno em uma pessoa – mas
cada uma com sua tarefa de juízo – estivessem agindo: o Deus Pai
faz derramar sua taça da ira; o Deus Filho aparece em grande poder
e glória; o Deus Espírito Santo será derramado em Jerusalém como
Espírito de graça sobre os filhos de Israel (cf. Zc 12.10). Esse
rompimento de Jerusalém também é um juízo porque desprezaram
que o eterno Filho de Deus, Jesus Cristo, que desde a eternidade
era um com o seu Pai, foi arrancado do seu Pai em Jerusalém, na
cruz do Gólgota, para que nós pudéssemos ser novamente unidos
com Deus. Lá ele gritou: “Meu Deus! Meu Deus! Por que me
abandonaste?” (Mt 27.46), para que nós possamos ter eterna
comunhão com ele. Ó, que através da visão dessas violentas
mudanças de juízos na terra, que ocorrerão depois do
arrebatamento da igreja, aconteçam ainda agora violentas mudanças
em muitos corações! O profeta Joel exclama no capítulo 2.13:
“Rasguem o coração e não as vestes”.
Ao mesmo tempo em que acontece a divisão de Jerusalém,
gigantescas alterações continentais também ocorrem, pois não
somente caem todas as cidades das nações, mas “todas as ilhas
fugiram, e as montanhas desapareceram” (v. 20). Como já dissemos,
supõe-se frequentemente que já nos tempos antigos a terra foi
rompida, e cita-se Gênesis 10.25: “A Héber nasceram dois filhos: Um
deles se chamou Pelegue, porque em sua época a terra foi
dividida...”. Pelegue significa “repartido”. Muitos pensam
erradamente que isso se refere à confusão de línguas em Gênesis
11, mas não é o caso, pois ali os homens foram dispersos por toda
a terra. É o que está escrito também no texto original. Gênesis
10.25, porém, deve ser entendido geograficamente. Se Deus,
conforme Gênesis 1.10, fez uma clara linha de separação entre a
porção seca e as águas, no terceiro dia da Criação, no tempo de
Pelegue houve claramente uma rápida separação da terra, ou seja,
um deslocamento dos continentes, depois que, já após o Dilúvio,
devem ter acontecido enormes mudanças geográficas, geológicas e
climáticas. Esses fatos históricos são confirmados por resultados de
pesquisas recentes, pois, mesmo como leigo, pode-se ver quando se
toma um globo ou mapa-múndi: é possível ajuntar os diversos
continentes como um quebra-cabeças; eles se adaptam
perfeitamente.
Para compreendermos melhor o que acontece por ocasião da
sétima taça da ira devemos ver esses antecedentes – porque,
conforme o meu entendimento, os diferentes continentes serão
novamente ajuntados – assim como estavam unidos antes de
Gênesis 11. Conforme o versículo 20 do nosso capítulo, por ocasião
da sétima taça da ira, as ilhas e os montes desaparecerão ou se
fundirão, do mesmo modo como depois haverá, no início do milênio,
uma reunificação política mundial. Não haverá mais bloco oriental e
bloco ocidental. Pelo contrário, toda a terra se encherá do
conhecimento do Senhor (Hc 2.14). No entanto, essa reunificação
pacífica dos povos, esse reino de paz que se estenderá sobre todo o
mundo, será estabelecido somente através de Jerusalém. Primeiro
os povos precisam marchar para Jerusalém a fim de serem ali
julgados. São esses os prometidos novos céus e nova terra? Não – e
sim. Não, pois a terra antiga não passará por ocasião da volta do
Senhor. Sim, pois a aparência da terra será mudada radicalmente.
Não está escrito quantos montes desaparecerão definitivamente. Se
está escrito que as ilhas “fugiram”, isso não quer dizer que elas
deixarão de existir, mas que mudaram sua localização e aparência.
Essas enormes modificações terão por consequência também um
outro clima.
Após esses terríveis juízos, até mesmo o caráter dos homens e
dos animais será completamente diferente. Lemos a respeito no
profeta Isaías: “O lobo viverá com o cordeiro, o leopardo se deitará
com o bode, o bezerro, o leão e o novilho gordo pastarão juntos; e
uma criança os guiará. A vaca se alimentará com o urso, seus
filhotes se deitarão juntos, e o leão comerá palha como o boi. A
criancinha brincará perto do esconderijo da cobra, a criança colocará
a mão no ninho da víbora. Ninguém fará nenhum mal, nem destruirá
coisa alguma em todo o meu santo monte, pois a terra se encherá
do conhecimento do S como as águas cobrem o mar. Naquele
dia, as nações buscarão a Raiz de Jessé, que será como uma
bandeira para os povos, e o seu lugar de descanso será glorioso” (Is
11.6-10). A Raiz de Jessé é Jesus Cristo!
Em todos esses terríveis e transformadores juízos, nos quais
repentinamente as cidades e as vilas cairão, os homens tentarão
fugir para o campo aberto. Quem alguma vez já presenciou um forte
terremoto sabe que, em tal momento, tem-se a compulsão instintiva
de fugir para lugares abertos. Quanto mais será esse o caso quando
as ilhas fugirem e os montes desaparecerem! Então, porém, uma
nova e terrível catástrofe os alcança: “Caíram sobre os homens,
vindas do céu, enormes pedras de granizo, de cerca de trinta e cinco
quilos cada” (v. 21a). Imaginemos o terror dos homens quando
repentinamente começarem a desabar pedaços de gelo pesando em
torno de trinta quilos! No entanto, também isso não levará a
humanidade anticristã a converter-se, pois produzirá um
endurecimento ainda maior: “... eles blasfemaram contra Deus por
causa do granizo, pois a praga fora terrível” (v. 21b). Portanto,
quanto maior a praga, tanto mais raivosas são as blasfêmias dos
homens endurecidos. Que o Senhor dê graça, para que ninguém que
leia este livro tenha que experimentar tal praga! Todavia, quem não
participar do arrebatamento passará por coisas terríveis. Por isso,
converta-se hoje!
Jeremias também viu as coisas terríveis que observamos em
Apocalipse 16. Ele diz: “Olhei para a terra, e ela era sem forma e
vazia; para os céus, e a sua luz tinha desaparecido. Olhei para os
montes e eles tremiam; todas as colinas oscilavam. Olhei, e não
havia mais gente; todas as aves do céu tinham fugido em revoada.
Olhei, e a terra fértil era um deserto; todas as suas cidades estavam
em ruínas por causa do S , por causa do fogo da sua ira.
Assim diz o S : ‘Toda esta terra ficará devastada, embora eu
não vá destruí-la completamente’” (Jr 4.23-27).
Já ouvimos duas vezes a respeito da catástrofe que atingirá a
grande Babilônia: primeiro no capítulo 14.8, onde está escrito: “Caiu!
Caiu a grande Babilônia que fez todas as nações beberem do vinho
da fúria da sua prostituição!”. Esse foi o anúncio antecipado das
coisas terríveis que viriam sobre ela. Depois, no capítulo 16.19:
“Deus lembrou-se da grande Babilônia e lhe deu o cálice do vinho do
furor da sua ira”. Aqui é mencionado que Deus se lembrou de dar à
Babilônia o cálice do vinho do furor da sua ira. Os detalhes desse
flagelo, como também o caráter dessa misteriosa personalidade, são
descritos nos capítulos seguintes. A primeira citação da grande
Babilônia precedeu os acontecimentos. Aqui, na execução do juízo
sobre a Babilônia, faz-se um breve retrospecto e descreve-se em
todos os detalhes o que antes foi resumido sumariamente. O próprio
tema é um dos mais importantes do Apocalipse e de todas as
profecias de modo geral. Ele mostrou-se tanto difícil como claro. O
fato de, por exemplo, Roma e o sistema romano estarem incluídos
na visão é certamente o caso. Não obstante, a questão de que a
repentina queda da grande Babilônia significaria somente a queda, ou
seja, a destruição, da cidade de Roma deve ser decididamente
negada. Devemos interpretar as palavras da visão de João assim
como estão escritas. Por isso também no estudo dos próximos
capítulos é importante nos voltarmos para o Deus vivo, pedindo-lhe
que abra o nosso entendimento, ou seja, nosso raciocínio, para que
não erremos, mas compreendamos o que ele quer que o seu povo
veja nessas visões santificadas.
20
O Juízo Sobre a Babilônia
(Ap 17.1-6)

1Um dos sete anjos que tinham as sete taças aproximou-se e me


disse: “Venha, eu mostrarei a você o julgamento da grande
prostituta que está sentada sobre muitas águas, 2com quem os
reis da terra se prostituíram; os habitantes da terra se
embriagaram com o vinho da sua prostituição”. 3Então o anjo me
levou no Espírito para um deserto. Ali vi uma mulher montada
numa besta vermelha, que estava coberta de nomes blasfemos e
que tinha sete cabeças e dez chifres. 4A mulher estava vestida de
púrpura e vermelho e adornada de ouro, pedras preciosas e
pérolas. Segurava um cálice de ouro, cheio de coisas
repugnantes e da impureza da sua prostituição. 5Em sua testa
havia esta inscrição: MISTÉRIO: BABILÔNIA, A GRANDE; A MÃE
DAS PROSTITUTAS E DAS PRÁTICAS REPUGNANTES DA
TERRA. 6Vi que a mulher estava embriagada com o sangue dos
santos, o sangue das testemunhas de Jesus. Quando a vi, fiquei
muito admirado.

N
o capítulo 16.19b nós já lemos a respeito da Babilônia: “Deus
lembrou-se da grande Babilônia e lhe deu o cálice do vinho do
furor da sua ira”. Propositalmente deixei de analisar esse
versículo no capítulo anterior, pois refere-se a outro tema: o juízo
sobre a Babilônia. Deve se tratar de alguém ou de algo muito
abominável, pois essa Babilônia é não somente objeto da ira de
Deus, mas objeto do “furor da sua ira”! No capítulo 14.8 é
proclamada a queda da Babilônia por um anjo de Deus. Aqui, no
capítulo 17, nos é descrito inicialmente o caráter da Babilônia como
cidade. João vê uma mulher assentada no deserto, em meio aos
terríveis juízos dos tempos finais e destruições do mundo. No
versículo 1 a mulher é chamada de “grande prostituta”, e no versículo
5, “A MÃE DAS PROSTITUTAS E DAS PRÁTICAS REPUGNANTES
DA TERRA”. A prostituta Babilônia é o oposto absoluto da noiva do
Cordeiro então arrebatada, a igreja de Jesus, da qual Paulo fala
como um mistério. Também aqui fala-se duas vezes de um mistério:
“Em sua testa havia esta inscrição: MISTÉRIO...” (v. 5). “Eu
explicarei o mistério dessa mulher e da besta...” (v. 7). Conforme o
versículo 1, a mulher está “sentada sobre muitas águas”. O versículo
15 mostra o que são essas águas: “As águas que você viu, onde
está sentada a prostituta, são povos, multidões, nações e línguas”.
Analisemos tudo na sequência como a descrevi em meu livro Nas
Sombras da Futura Guerra Mundial: enquanto Apocalipse 13 nos
descreve o Império Romano restaurado, encabeçado pela besta,
Apocalipse 17 nos mostra algo novo, ou seja, que essa poderosa
besta será guiada por uma mulher. Um contraste repugnante: uma
mulher e uma besta. Afinal, na Escritura a mulher é utilizada como
uma figura da igreja ou, ao menos, uma corporação espiritual. É o
que vemos por exemplo em Apocalipse 12, onde Israel é
representado como mulher. A igreja de Jesus também é
representada como mulher, como a noiva do Cordeiro (Ap 21.9);
enquanto que a igreja mundial sem Cristo é apresentada como a
mulher da besta. Jesus Cristo virá com os seus, mas a besta
também virá com os seus. Em Apocalipse 17 vemos a mulher como
a prostituta “que está sentada sobre muitas águas” (v. 1). Essa
mulher estava “vestida de púrpura e vermelho e adornada de ouro,
pedras preciosas e pérolas” (v. 4). Ela é chamada de “MÃE DAS
PROSTITUTAS” (v. 5). Além disso, ela estava “embriagada com o
sangue dos santos, o sangue das testemunhas de Jesus” (v. 6).
Desse modo sabemos de quem se trata.
Em princípio, nesta mulher desviada não podemos ver nada além
da igreja romana, mesmo que apenas como num embrião; afinal,
nenhum outro poder no mundo corresponde tanto a esse descrito em
Apocalipse 17. Quem conhece a história sabe que a igreja de Roma
tem um passado gravado na história mundial com letras de sangue.
Pensemos nos rios de sangue que clamam ao céu dos inúmeros
valdenses, albigenses, huguenotes etc. Essa mulher derramou o
sangue dos discípulos de Jesus com tamanha crueldade satânica
que os feitos de Nero empalidecem em comparação. Através desse
derramamento de sangue, Satanás conseguiu parar a Reforma na
Itália, França, Espanha, Portugal, Irlanda, Áustria e outros países.
Assim entendemos a expressão do versículo 6 – de que a mulher
está embriagada com o sangue dos santos. A igreja de Roma é a
herdeira da grande Babilônia, tanto com respeito aos mistérios
pagãos, que foram transformados em ritos cristãos, como também
com respeito à perseguição do povo de Deus. O “prostituir-se”
representa a ligação da mulher com a besta, ou seja, com os reis da
terra. Esse é o catolicismo político. Onde existe uma igreja vestida
tanto de vermelho (v. 4) como a católica? E onde existe uma igreja
que leva o nome da cidade que, ao mesmo tempo, lhe serve de
trono? “A mulher que você viu é a grande cidade que reina sobre os
reis da terra” (v. 18). Isso é Roma!
No entanto, não devemos ver apenas a igreja romana! Não, pois
ao mesmo tempo vemos como a igreja protestante (ou reformada),
em suas diferentes ramificações, é cada vez menos capaz de resistir
ao poder de Roma. Pelo contrário, através do Conselho Mundial de
Igrejas ela se aproxima cada vez mais. Realmente, a igreja mundial
unida toma formas cada vez mais claras; ela é a mulher, a grande
Babilônia! Por isso é muito mais precioso o fato de se perceber um
despertamento espiritual justamente entre os católicos: muitos estão
perguntando pela verdade e chegando a Jesus, o que resulta numa
terrível contradição, na qual dentro da igreja católica – cuja doutrina
é mentirosa – surge um grandioso anseio de alguns pela verdade.
Enquanto isso, nas igrejas protestantes reunidas em suas diversas
denominações no Conselho Mundial de Igrejas, que pensam ter a
verdade, verifica-se um claro desvio, ou seja, o afastamento de
membros de Jesus Cristo. Desse modo, aqueles católicos que amam
seu Salvador são nossos irmãos e irmãs em Jesus Cristo, e estão
mais próximos de nós do que os protestantes modernos e apóstatas.
O que dizemos de Roma vale, portanto, para o sistema, para a
doutrina, mas não para as ovelhas dentro dessa igreja, que procuram
a Jesus e querem segui-lo. A essas dizemos: “Fujam da Babilônia
para não morrerem em suas maldades”. Deixem-me frisar: falo do
cada vez mais forte catolicismo político e da politização do Conselho
Mundial de Igrejas. Ambas as coisas andam juntas e são um anúncio
do Armagedom. Pode-se vê-lo também da seguinte maneira: o
Armagedom lança suas sombras diante de si, pois, enquanto por um
lado a igreja católica perde cada vez mais em substância religiosa,
por outro ela ganha em força política e expansão. Onde existe uma
igreja como ela, que tanto aproveitou e aproveita a “política
oportunista”, adaptando-se a qualquer forma de governo? Mas não
somente isso. A igreja romana tirou dos crentes o cálice de
agradecimento e, em lugar dele, deu-lhes o cálice das abominações:
ela substituiu o sacrifício do Gólgota pelo sacrifício sem sangue da
hóstia na missa. Ela colocou Maria, que foi repreendida por Jesus
quando quis intrometer-se em sua obra (Jo 2), como rainha do céu
no lugar do único Intercessor e Mediador. Não nos enganemos,
apesar da igreja romana não ser ainda membro do Conselho Mundial
da Igrejas, ela será cada vez mais o fator dominante desse bloco
religioso, pois, conforme a palavra profética, segundo a qual a
mulher receberá enorme poder político, devemos esperar que a
igreja romana, inclusive o Conselho Mundial de Igrejas,
experimentará um grandioso progresso. Esse fato em si é abalador.
Consternados, porém, ficam os crentes que são obrigados a assistir
como a maioria da igreja de Jesus não reconhece esse terrível
desenvolvimento, mas já segue o caminho da mistura – agora em
nova forma sob o lema da unificação “evangélica”.
A mulher, a grande prostituta, é também a cidade da Babilônia: “A
mulher que você viu é a grande cidade que reina sobre os reis da
terra” (v. 18). A cidade da Babilônia é citada sete vezes no
Apocalipse (14.8; 17.18; duas vezes em 18.10; v. 16,19,21).
Babilônia, a mulher imoral, é suficientemente caracterizada pela
própria interpretação dada no Apocalipse, pois está sentada sobre
sete colinas (v. 9) e está embriagada com o sangue dos santos e
com o sangue das testemunhas de Jesus (v. 6). Por isso, todos os
intérpretes da Escritura que não se entregaram a explicações
alegóricas disseram unanimemente desde o princípio da cristandade,
através de todos os séculos e em todas as confissões: a mulher,
Babilônia, é uma figura da cidade de Roma, e Roma é o Império
Romano. Até que ponto ela se refere exclusivamente a Roma, as
opiniões divergem.
Os católicos e alguns racionalistas entendem que se trata da
antiga Roma pagã. A igreja evangélica ensina que se trata da Roma
que mais tarde se tornou cristã, ou seja, da Roma papal. As razões
para a última opinião são: 1) Não se pode tratar da antiga Roma pois
a profecia do Apocalipse não foi cumprida nela. 2) Desde o seu
desvio do evangelho (eu repito), a Roma que mais tarde tornou-se
cristã tem todas as características que o Apocalipse atribui à
Babilônia. Trata-se ainda da antiga cidade de sete colinas que
domina o mundo; porém, agora estende seus braços para mais longe
que a antiga dominadora mundial pagã. O mundo todo, assim ensina-
se em Roma, é destinado à igreja cristã: Roma é a igreja-mãe,
mestra e regente de toda a igreja cristã. Roma exige obediência
completa, não somente em assuntos espirituais, mas indiretamente
também em assuntos mundanos (Ap 17.18). Roma nunca desistiu
desse objetivo final. Não é por acaso que o amável papa viaja pelo
mundo todo. De acordo com a palavra profética, ainda assistiremos
no futuro a um grandioso avanço romano. Isso acontecerá em
conjunto com a unificação política e militar da Europa, com a
restauração do Império Romano. Roma em si é fraca; porém, ela
será carregada por uma potência mundial – a besta. Roma será
sustentada pelo poder anticristão, e seus nomes dominarão o
mundo. Desse modo, o poder da mulher é maior que o do maior
trono real. Isso não é alcançado pelo poder das armas, mas pelo
vinho da sua prostituição – superstição, falsa política, moral
totalmente corrupta etc. – através do qual o mundo (os príncipes
deste mundo) fica embriagado.
Quando teve essa visão, João foi tomado de espanto e comoção:
“Quando a vi, fiquei muito admirado” (v. 6b). Ele não consegue
compreender o que viu. Por que João ficou tão admirado e abalado?
Porque ele, o discípulo de Jesus, vê a mulher que foi uma vez noiva!
Originalmente, essa mulher foi uma noiva fiel, submissa ao Senhor
Jesus – mas ela transformou-se em uma prostituta! A primeira igreja,
a igreja primitiva, era uma igreja cheia do Espírito Santo – mas ela
transformou-se em uma prostituta. João admira-se muito, mas o que
ele vê é a continuação da decadência da igreja de Laodiceia.
Portanto, a mulher é, inicialmente do ponto de vista global, toda a
cristandade apóstata dos tempos finais que não será arrebatada.
Haverá então uma religião unificada, uma igreja unificada.
Quantas vezes os profetas advertiram Israel a respeito da
prostituição espiritual, do afastamento de Deus (cf. Ez 16; Jr 3 etc.)
Aqui, porém, trata-se de prostituição espiritual no mais elevado grau,
pois a igreja mundial então existente, a mulher, une-se em todos os
sentidos com a besta. Sim, durante algum tempo acontecerá, como
vimos, que a mulher dirigirá a besta; a igreja mundial unificada se
tornará então visível em seu desdobramento do poder político.
Quando observamos como o Conselho Mundial de Igrejas sustenta
movimentos terroristas, através do qual se cria o paradoxo de os
contribuintes das igrejas financiarem seus próprios carrascos, já
reconhecemos atualmente um pouco desse poder. O espírito da
mulher, esse espírito de prostituição espiritual, já está agindo entre
os cristãos. Com grande angústia temos que ver que muitos em
nossa proximidade foram atingidos por esse espírito de prostituição,
pois o espírito dessa mulher, dessa mãe das prostitutas, começa a
oferecer seu cálice cheio de abominações e imundícias que tem na
mão, como está escrito no versículo 4.
Você, que é crente no Senhor Jesus Cristo mas ficou morno e
firmou compromissos com o espírito deste mundo: você está em
grande perigo, pois a origem de toda a prostituição espiritual é o
abandono do primeiro amor pelo Senhor! Em sua testa é visível o
sinal “Consagrado ao S ”, como era o caso com o sumo
sacerdote Arão? Você está selado com o Espírito Santo? Ou já
brilha em sua testa o horror como da mulher: “Em sua testa havia
esta inscrição: MISTÉRIO: BABILÔNIA, A GRANDE; A MÃE DAS
PROSTITUTAS E DAS PRÁTICAS REPUGNANTES DA TERRA” (v.
5). Segundo o meu entendimento, essas são as palavras que
correspondem aos três algarismos – 666 (cf. 13.16-18). O desligar-
se de Jesus Cristo, do seu domínio, da sua vitória, da sua luz, já
torna-se atualmente visível em proporções assustadoras, sendo que
muitos se entregam ao espírito anticristão. Se você reconhece que
pertence a essas pessoas, que pratica a prostituição espiritual, volte
então a Jesus Cristo! Conceda o Senhor que sobre a sua vida não
precise estar escrita a terrível palavra de juízo que lemos em
Jeremias 3.3: “Mas você, apresentando-se declaradamente como
prostituta, se recusa a corar de vergonha”.
21
O Desdobramento do Império Romano
Anticristão
(Ap 17.7-18)

7Então o anjo me disse: “Por que você está admirado? Eu


explicarei o mistério dessa mulher e da besta sobre a qual ela
está montada, que tem sete cabeças e dez chifres. 8A besta que
você viu, era e já não é. Ela está para subir do Abismo e caminha
para a perdição. Os habitantes da terra, cujos nomes não foram
escritos no livro da vida desde a criação do mundo, ficarão
admirados quando virem a besta, porque ela era, agora não é, e
entretanto virá. 9Aqui se requer mente sábia. As sete cabeças são
sete colinas sobre as quais está sentada a mulher. 10São também
sete reis. Cinco já caíram, um ainda existe, e o outro ainda não
surgiu; mas, quando surgir, deverá permanecer durante pouco
tempo. 11A besta que era, e agora não é, é o oitavo rei. É um dos
sete, e caminha para a perdição. 12Os dez chifres que você viu
são dez reis que ainda não receberam reino, mas que por uma
hora receberão, com a besta, autoridade como reis. 13Eles têm
um único propósito e darão seu poder e sua autoridade à besta.
14Guerrearão contra o Cordeiro, mas o Cordeiro os vencerá, pois
é o Senhor dos senhores e o Rei dos reis; e vencerão com ele os
seus chamados, escolhidos e fiéis”. 15Então o anjo me disse: “As
águas que você viu, onde está sentada a prostituta, são povos,
multidões, nações e línguas. 16A besta e os dez chifres que você
viu odiarão a prostituta. Eles a levarão à ruína e a deixarão nua,
comerão a sua carne e a destruirão com fogo, 17pois Deus pôs no
coração deles o desejo de realizar o propósito que ele tem,
levando-os a concordar em dar à besta o poder que eles têm para
reinar até que se cumpram as palavras de Deus. 18A mulher que
você viu é a grande cidade que reina sobre os reis da terra”.
s vezes nos perguntamos por que as lutas entre a luz e as trevas
agravam-se tão intensamente, tornando-se quase que

À perceptíveis no mundo físico. No fundo, nossa alma é o


campo de batalha de poderes da luz e das trevas. A razão
porque essas lutas ficam cada vez mais intensas é que
começa a cumprir-se tudo aquilo que Deus predisse através dos
seus servos, os profetas. A razão dos terríveis acontecimentos
iminentes é o juízo sobre a sociedade anticristã. O objetivo, porém, é
que se cumpram as palavras de Deus: “... até que se cumpram as
palavras de Deus” (v. 17). Disso faz parte o desdobramento do
império mundial descrito nos versículos anteriores. Um anjo explica
ao espantado João, que não consegue compreender a visão e sua
forma compacta e terrível, o que significa tudo aquilo que viu: “A
mulher que você viu é a grande cidade que reina sobre os reis da
terra” (v. 18). Como já vimos no capítulo anterior, isso é o império
mundial de Roma com o Anticristo, o grande adversário de Deus, na
liderança. Na verdade, o que é a essência desse último império
mundial? Somente podemos entender isso quando retornamos à sua
origem, pois ela tem algo misterioso na testa: “Em sua testa havia
esta inscrição: MISTÉRIO: BABILÔNIA, A GRANDE; A MÃE DAS
PROSTITUTAS E DAS PRÁTICAS REPUGNANTES DA TERRA”
(17.5).
A origem da Babilônia, ou seja, de Babel, encontra-se no passado
cinzento. Na Bíblia ela é citada pela primeira vez após o Dilúvio, em
Gênesis 10.8-10: “Cuxe gerou também Ninrode, o primeiro homem
poderoso na terra. Ele foi o mais valente dos caçadores, e por isso
se diz: ‘Valente como Ninrode’. No início o seu reino abrangia
Babel...”. Em Gênesis 11 temos então a união dos povos – da
humanidade – com o objetivo de construir uma torre em Babel cujo
topo chegasse aos céus. Portanto, Ninrode foi o fundador do Império
Babilônico. Qual era a sua origem? Ele era um neto de Cam, mas
Cam foi o filho que Noé amaldiçoou. O império de Ninrode foi “Bab-
El”, que significa “porta dos deuses” – ou seja, idolatria no lugar de
culto verdadeiro; Satanás no lugar de Deus. Ninrode era inspirado
satanicamente. “Bab-El” não era consagrada ao Deus de Noé, Sem
e Jafé. É esclarecedor como o Targum de Jerusalém traduz Gênesis
10.8-9: “Ninrode foi o mais poderoso rebelde contra Jeová que
jamais existiu no mundo”.
O Targum de Jerusalém é uma versão muito antiga do texto
hebraico para a língua aramaica e era utilizado especialmente pelos
velhos rabinos nas sinagogas. Nessa versão explica-se que Ninrode
era poderoso em pecar diante da face de Deus; que caçava homens
(por isso a designação “caçador”), instigando-os a abandonarem o
conselho de Sem, o filho crente de Noé, e a segui-lo. O significado
hebraico de “Babel” é “confusão”, porque Deus terminou com os
esforços blasfemos da humanidade de então sob a liderança de
Ninrode. Esclarecedor é o motivo da construção dessa torre: os
homens queriam tornar famoso o seu nome! Além disso, eles
também não queriam mais espalhar-se por toda a terra, como o
Senhor Deus havia ordenado. É notável que em hebraico “nome” é
“Sem”. Claramente eles queriam apropriar-se daquilo que Sem tinha
recebido através da fé. Como se sabe, os descendentes de Sem, os
semitas, são, entre outros, os judeus. Quando o Deus Vivo viu que
os homens não queriam deixar daquilo que tinham proposto fazer,
disse: “Venham, desçamos e confundamos a língua que falam, para
que não entendam mais uns aos outros” (Gn 11.7). Tradições de
fontes árabes relatam que o nome da mulher de Ninrode teria sido
Semaris, um nome, portanto, derivado de “Sem”. Semaris significa “a
pomba”. Essa linha de Semaris pode ser seguida historicamente.
Semaris aparece em todos os estandartes dos reis assírios, bem
como da deusa Astarote ou Astarte. Israel sucumbiu porque adorou
esses falsos ídolos (Jz 2.13; 1Sm 7.3-4; 12.10; 1Rs 11.5,33; 2Rs
23.13,26-27). Foi em virtude dessa idolatria que o Senhor os
expulsou da terra de Israel. Quantas vezes Deus acusou o seu povo
de prostituição espiritual e apostasia através da boca dos profetas!
Era o espírito de Babel que se levantava repetidamente e enganava
o povo.
Se servimos ao Senhor e ao mesmo tempo aos ídolos – quer seja
o televisor, o dinheiro ou uma pessoa – servimos ao espírito da
Babilônia, e nos encontramos em rebelião contra Deus.
Pela história, sabemos que a mulher de Ninrode era bela, mas
imoral. Ninrode e sua mulher fundaram uma doutrina secreta, um
culto. Esse culto babilônico reproduziu-se durante os milênios. O
espírito da construção da torre de Babel é um espírito de rebelião,
uma cultura sem Cristo, um “não” contra Deus. Sabemos que os
mistérios babilônicos são representados pela figura de um cálice de
ouro. Neste caso, temos uma relação direta com a meretriz de
Apocalipse 17, pois nesse culto era preciso beber de um cálice de
ouro cujo conteúdo confundia os sentidos. Portanto, trata-se de uma
bebida embriagadora, o que também é um paralelo claro com
Apocalipse 17.2: “Com quem os reis da terra se prostituíram; os
habitantes da terra se embriagaram com o vinho da sua prostituição”.
A mulher, a mãe das prostitutas, que está unida com a besta, o
Anticristo, é dessa maneira a personificação de todas as religiões
sem Cristo. Esses aspectos religiosos, mas diabólicos, servem de
camuflagem ao Anticristo. Inicialmente ele tem muita necessidade
dessa camuflagem, pois apresenta-se como cristo. Por ser religioso,
os judeus aceitarão o Anticristo como seu messias. No entanto,
aproximadamente na metade da grande tribulação ele lançará fora
essa camuflagem, quando romper a aliança com Israel. Ele queimará
a mulher, pois, em princípio, ele odeia a camuflagem religiosa que
precisa usar para ser aceito como cristo. “A besta e os dez chifres
que você viu odiarão a prostituta. Eles a levarão à ruína e a deixarão
nua, comerão a sua carne e a destruirão com fogo” (v. 16). No fundo,
“comerão a sua carne” significa: a besta e o seu império tomarão
para si as riquezas da mulher. Apocalipse 18 mostra então esse
outro aspecto não religioso da Babilônia.
Em nossos dias já vemos que o objetivo do Conselho Mundial de
Igrejas vai em direção à unificação de todas as religiões. Seu
objetivo não é mais a unificação do cristianismo (católico-romano,
protestante, liberal etc.), mas já vai muito mais longe. Foi em Utrecht,
na Holanda, que o CMI aprovou uma declaração oficial, segundo a
qual vê a “presença de Cristo” em todas as religiões. Em outras
palavras: pretende-se a unificação de todas as religiões. Seja
hinduísmo, budismo, judaísmo ou cristianismo – isso não é tão
importante aos seus olhos; o importante é a religiosidade. Aí vemos
realmente a mulher, a mãe das prostitutas, aparecendo no horizonte!
O Espírito Santo praticamente não encontra palavras que sejam
suficientemente fortes para expressar a grande depravação dessa
mulher. Religião, inclusive a religião cristã, sem Jesus Cristo como
centro é o que existe de mais corrupto. Essa é a grande prostituta.
Trata-se de prostituição espiritual, quando aceitamos o cristianismo
sem aceitar Cristo como Salvador e Redentor. Recentemente vi de
novo uma prova disso em uma revista holandesa; nela, um teólogo
começou escrevendo muito bem sobre a pessoa de Jesus; porém,
depois revelou-se o engano quando ele disse que se deveria acabar
com a lenda da ressurreição de Cristo! É a isso que chamam de
religião “cristã”, mas que na verdade trata-se de uma religião
demoníaca.
Se no capítulo anterior falamos que a mulher é a igreja de Roma,
essa é na verdade uma explicação superficial, ou seja, de certo
modo somente a ponta do iceberg. Por isso, aprofundemo-nos, pois
o caráter da Babilônia não se limita somente à igreja católica com
seu culto pagão. Acontece que justamente a igreja católica tirou
muitas coisas do culto babilônico: incenso, rosário, imagens etc. No
entanto, a prostituição espiritual abrange todas as religiões sem
Cristo.
“A mulher estava vestida de púrpura e vermelho e adornada de
ouro, pedras preciosas e pérolas. Segurava um cálice de ouro, cheio
de coisas repugnantes e da impureza da sua prostituição” (v. 4). Por
“coisas repugnantes” a Bíblia sempre entende idolatria. Assim como
a besta tem nomes “de blasfêmia” (13.1) sobre as cabeças, o cálice
da grande prostituta está “cheio de coisas repugnantes”. Não
somente é dito que há ídolos, mas que o cálice está cheio de coisas
repugnantes e da impureza da sua prostituição. Isso significa:
mistura do sagrado com o profano! É o que já experimentamos
atualmente com o cristianismo: mistura-se água ao vinho; o mundo e
o cristianismo são misturados entre si. Tudo é permitido; a fronteira
entre o discipulado de Jesus e o mundo foi apagada. Nos tempos
antigos, a inscrição “Foste pesado na balança e achado em falta”
(Dn 5.27) apareceu na parede do palácio de Belsazar, na Babilônia,
no momento em que ele misturou o sagrado com o profano; quando,
com suas mulheres e concubinas, bebeu dos sagrados utensílios do
templo.
O cálice “cheio de coisas repugnantes e da impureza da sua
prostituição” é o resultado completo daquilo que já se torna visível
em nosso mundo cristão atual. A mulher oferece o cálice a todos os
povos; todos participam, todos são religiosos! Quando se pergunta a
alguém: “Você é um filho de Deus?”, a resposta é: “Naturalmente, eu
também tenho fé!”, sem que a pessoa em questão tenha uma noção
do que significa o renascimento. No fundo, vemos nessa mulher a
anti-igreja. Esse é o contraste com a verdadeira igreja de Jesus que
estará então com o Senhor, e da qual Paulo escreve em suas cartas,
especialmente na carta aos Efésios: “Este é um mistério profundo;
refiro-me, porém, a Cristo e à igreja” (Ef 5.32). Aqui em Apocalipse
17.5 temos o mistério oposto: “Em sua testa havia esta inscrição:
MISTÉRIO: BABILÔNIA...”. Trata-se do mistério anticristão-diabólico
da injustiça: a grande Babilônia sentada sobre a besta. Repito: ela é
o aspecto religioso no desdobramento do império romano anticristão,
pois, inicialmente, a besta (o Anticristo), o império (o reino mundial
romano) e a mulher são uma só coisa: “A mulher que você viu é a
grande cidade que reina sobre os reis da terra” (17.18). Mas então
acontece o rompimento definitivo no versículo 16: “A besta e os dez
chifres que você viu odiarão a prostituta. Eles a levarão à ruína e a
deixarão nua, comerão a sua carne e a destruirão com fogo”. Desse
modo, porém, o Anticristo se desliga do seu elemento religioso:
então ele mostrará sua verdadeira face! Não é de admirar que nessa
visão, nesse mistério da iniquidade, João necessita da explicação do
anjo, a qual ele também recebe: “Então o anjo me disse: ‘Por que
você está admirado? Eu explicarei o mistério dessa mulher e da
besta sobre a qual ela está montada, que tem sete cabeças e dez
chifres’” (v. 7).
No versículo 12 é acentuado mais uma vez que a besta tem dez
chifres: “Os dez chifres que você viu são dez reis...”. Extremamente
esclarecedor é o fato de João dizer aqui no capítulo 17 aquilo que
também citou no capítulo 13.1 – “Vi uma besta que saía do mar.
Tinha dez chifres e sete cabeças...” – e que já foi visto pelo profeta
Daniel: “Em minha visão à noite, vi ainda um quarto animal,
aterrorizante, assustador e muito poderoso. Tinha grandes dentes de
ferro, com os quais despedaçava e devorava suas vítimas e
pisoteava tudo o que sobrava. Era diferente de todos os animais
anteriores e tinha dez chifres” (Dn 7.7). É muito fascinante que Daniel
e João, embora muitos séculos se encontrem entre eles, formam
uma completa unidade em suas afirmações proféticas a respeito do
Império Romano restabelecido, o pequeno chifre que então
procederá dos dez chifres.
Conforme Daniel 7.24, os dez chifres significam dez reis que se
levantarão do reino: “Os dez chifres são dez reis que sairão desse
reino. Depois deles um outro rei se levantará, e será diferente dos
primeiros reis”. Essas são as três formas de Estado que, nos
tempos finais, formarão o quarto império mundial, ou seja, o Império
Romano.
Quando a Grécia, no dia 1º de janeiro de 1981, tornou-se o
décimo Estado-membro da União Europeia, poderíamos concluir que
o frequentemente citado número dez de Daniel 7 e Apocalipse 17
estivesse completo. Entretanto, já naquela época não se deveria
chegar a essa conclusão. Não, ainda será preciso que muitos países
se filiem (mais dos que já estão agora). É o que se vê muito
claramente quando olhamos para mapas do antigo Império Romano.
Assim, o império restabelecido incluirá, por exemplo, muitos países
africanos e Israel. Naturalmente, os países que pertencem ao
hemisfério ocidental, como os EUA e o Canadá, também estarão
incluídos, pois as suas populações procedem originalmente do
Império Romano. Conforme o meu entendimento das Escrituras, os
reis que vêm do oriente (16.12) – China, Japão, Índia etc. – também
farão parte dele.
O império mundial do Anticristo será composto de dez formas de
Estado. Todo o grande Império Romano restabelecido será então
subdividido em dez partes, com dez chefes de Estado. Os dez
chifres (chifres são uma expressão de poder) serão dirigidos pela
cabeça, pelo Anticristo. Portanto, os dez reis, as dez formas de
Estado, são vassalos do Anticristo: “Os dez chifres que você viu são
dez reis que ainda não receberam reino, mas que por uma hora
receberão, com a besta, autoridade como reis” (v. 12). Isso significa
que as novas estruturas de Estado que estão surgindo (quando
falamos de “estruturas de Estado”, pensamos em organismos como
os representados, por exemplo, pelos países do Benelux e
Mercosul), cujos líderes podem ter sido eleitos pouco antes,
entregarão então seu poder e autoridade à besta.
Se reconhecemos o que os dez chifres representam, também
gostaríamos de saber o que significam as sete cabeças, a respeito
das quais já lemos em Apocalipse 13.1: “Vi uma besta que saía do
mar. Tinha dez chifres e sete cabeças...”. O capítulo 17.9-11 nos dá
uma dupla explicação sobre quem são essas cabeças: “Aqui se
requer mente sábia. As sete cabeças são sete colinas sobre as
quais está sentada a mulher. São também sete reis”. “Sete colinas” é
uma explicação geográfica. “São também sete reis” é uma
explicação política. Assim, voltamos novamente a Roma! Como se
sabe, Roma está edificada sobre sete colinas, mas existem várias
cidades construídas sobre sete colinas (por exemplo, Istambul). Por
que se trataria de Roma? Porque, já nos tempos antigos, os
romanos chamavam sua cidade orgulhosamente de “cidade das sete
colinas”. Quanto à afirmação política, de que se trata de reis: reis
são, como já dissemos, líderes de uma forma de Estado. Lívio, um
historiador romano, ensina-nos que no passado (ou seja, no tempo
de João) Roma teve cinco diferentes formas de governo. Quando é
dito no capítulo 17.10 que “cinco já caíram”, isso significa que a
besta, o Império Romano, já tinha passado por cinco diferentes
formas de governo naquele tempo. Em nosso capítulo, no versículo
10, está escrito ainda: “... um ainda existe...”. Esse era o sexto “rei”,
que governava no tempo de João. Além disso, lemos: “... e o outro
ainda não surgiu”. Portanto, naquele tempo a sétima forma de
governo ainda não tinha chegado.
No capítulo 17.13, contudo, ela chegou: trata-se dos dez reis
vassalos, que terão um pensamento com a besta e darão a ela o
poder e a autoridade que possuem. A besta, o Anticristo, “é o oitavo
rei. É um dos sete, e caminha para a perdição” (17.11). Essa besta
aparecerá em forma humana no início da septuagésima semana de
anos de Daniel como um monstro horrível. Como Satanás dará à
besta, ao Anticristo, “o seu poder, o seu trono e grande autoridade”
(13.2), esta agirá furiosamente na terra como uma besta
inimaginavelmente terrível em nome e através de Satanás. Será que
Deus deu à terra em que Roma se encontra a forma de uma bota
para que mesmo os tolos não se enganem? Toda a humanidade
gemerá sob a bota do Anticristo. Os dez reis correspondem aos dez
dedos nos pés da imagem das nações que Nabucodonosor viu em
seu sonho. Israel também estabelecerá uma aliança com o Anticristo,
sim, até o aceitará como messias! É estranho que personalidades
patriarcais atuais em Jerusalém, com base no seu estudo dos
profetas, dos Salmos, da Torá, do Talmude e de outros comentários
judaicos, falam que se deve esperar dois messias. O primeiro
procederia da casa de José; o segundo, de Judá. Conforme nosso
entendimento, o primeiro será o falso messias, o segundo será Jesus
Cristo. Em Daniel 9.27 lemos que o Anticristo fará uma firme aliança
com muitos por uma semana (semana de anos). O Senhor Jesus
lamentou a respeito: “Eu vim em nome de meu Pai, e vocês não me
aceitaram; mas, se outro vier em seu próprio nome, vocês o
aceitarão” (Jo 5.43). Podemos nos perguntar por que Israel aceitará
como messias o ditador mundial romano, que será ao mesmo tempo
o Mahdi, o renovador do mundo e da fé esperado pelos
muçulmanos, apesar de ser o Diabo encarnado. Para isso existem
alguns motivos:

Porque o Anticristo será um judeu e a obra-prima da mentira


de Satanás. Essa alta camuflagem de Satanás na terra não
será reconhecida, porque toda a humanidade rejeitou o
amor à verdade que poderia salvá-la (cf. 2Ts 2.10).
Porque ele será considerado o maior homem de todos os
tempos. Justamente as pessoas mais finas e cultas
saudarão com júbilo o destruidor, pois os esforços no plano
cultural ajuntam-se todos no ideal de personificação do
Anticristo. Em meio a uma sociedade decadente e
moribunda, ele aparecerá como o homem forte, o super-
homem, o ditador benevolente, o profeta de uma nova
religião que acabará com as repugnantes divisões e levará à
unidade. Ele se apresentará como o salvador em parte
prometido e em parte vagamente imaginado em todos os
credos e tradições, que julgará conforme os padrões dos
homens do mundo. Tudo que esse grande enganador disser
e fizer parecerá tão bom, tão razoável, tão bonito e tão
científico, que será preciso ter motivos muito convincentes e
ter muita coragem para permanecer calmo e afastado
diante desse furacão de entusiasmo que tomará conta da
opinião pública. Ele terá que ser um judeu, pois os judeus
somente aceitarão um deles como messias, pois o mundo
dos povos inteiro é influenciado pela genialidade e cultura
judaica.

“Os dez chifres que você viu são dez reis que ainda não
receberam reino, mas que por uma hora receberão, com a besta,
autoridade como reis. Eles têm um único propósito e darão seu
poder e sua autoridade à besta. Pois Deus pôs no coração deles o
desejo de realizar o propósito que ele tem, levando-os a concordar
em dar à besta o poder que eles têm para reinar até que se
cumpram as palavras de Deus” (v. 12-13,17). Duas vezes é utilizada
aqui a palavra “propósito”. Realiza-se, portanto, uma união
sobrenatural, sinistra, uma concentração de poder mundial como
nunca existiu antes, em cuja liderança estará a besta. Todavia, seu
tempo é limitado! “... por uma hora”, diz o versículo 12.
Os dez reis, os vassalos da besta, são, assim, administradores do
Império Romano e têm “um único propósito” (v. 13). Os contrastes
políticos, ideológicos, racistas e culturais serão então deixados de
lado. Os governantes do organismo formado pelas dez estruturas de
Estado são todos unidos em seu ódio contra o Cordeiro. Pode-se
compará-lo com a unidade das nações árabes: apesar de serem
cronicamente desunidas entre si, elas são unidas em seu ódio contra
o povo de Israel, contra o povo em que o Cordeiro alcançou sua
vitória, e a terra em que Jesus voltará. A sinistra unidade política,
econômica e, principalmente, militar dos dez reis será realizada
repentinamente, e novamente se ouvirá, como no tempo de Hitler,
mas então mundialmente, o clamor por “um povo, um reino, um
líder”. Repito: tudo isso é dirigido contra o Cordeiro! O Cordeiro,
porém, aparecerá com seus chamados, eleitos e fiéis. Os
“chamados” são aqueles que foram chamados para a vida eterna e
para a igreja de Jesus. Os “eleitos” são os israelitas que se tornaram
crentes, venceram e estão na glória. Os “fiéis” são os crentes de
todos os tempos. O Cordeiro voltará com esses glorificados. Ele
aparecerá em grande poder e glória como Senhor dos senhores e
Rei dos reis! O Cordeiro não precisa primeiro obter a vitória, pois já
venceu na cruz do Gólgota!
Os exércitos de Satanás transformaram-se em instrumentos na
mão de Deus para destruir Roma (ou seja, a Babilônia ímpia); para
arrasar e saquear a cidade das abominações idólatras: “A besta e
os dez chifres que você viu odiarão a prostituta. Eles a levarão à
ruína e a deixarão nua, comerão a sua carne e a destruirão com
fogo” (v. 16). Desse modo, até mesmo o Anticristo precisará servir
como instrumento do juízo de Deus, para julgar a mulher, a grande
prostituta. Disso conclui-se que, no final, o poder das trevas também
tem que realizar a vontade de Deus!
22
A Destruição da Babilônia
(Ap 18.1-24)

1Depois disso vi outro anjo que descia dos céus. Tinha grande
autoridade, e a terra foi iluminada por seu esplendor. 2E ele
bradou com voz poderosa: “Caiu! Caiu a grande Babilônia! Ela se
tornou habitação de demônios e antro de todo espírito imundo,
antro de toda ave impura e detestável, 3pois todas as nações
beberam do vinho da fúria da sua prostituição. Os reis da terra se
prostituíram com ela; à custa do seu luxo excessivo os
negociantes da terra se enriqueceram”. 4Então ouvi outra voz dos
céus que dizia: “Saiam dela, vocês, povo meu, para que vocês
não participem dos seus pecados, para que as pragas que vão
cair sobre ela não os atinjam! 5Pois os pecados da Babilônia
acumularam-se até o céu, e Deus se lembrou dos seus crimes.
6Retribuam-lhe na mesma moeda; paguem-lhe em dobro pelo que
fez; misturem para ela uma porção dupla no seu próprio cálice.
7Façam-lhe sofrer tanto tormento e tanta aflição como a glória e o
luxo a que ela se entregou. Em seu coração ela se vangloriava:
‘Estou sentada como rainha; não sou viúva e jamais terei tristeza’.
8Por isso num só dia as suas pragas a alcançarão: morte, tristeza
e fome; e o fogo a consumirá, pois poderoso é o Senhor Deus
que a julga. 9Quando os reis da terra, que se prostituíram com ela
e participaram do seu luxo, virem a fumaça do seu incêndio,
chorarão e se lamentarão por ela. 10Amedrontados por causa do
tormento dela, ficarão de longe e gritarão: ‘Ai! A grande cidade!
Babilônia, cidade poderosa! Em apenas uma hora chegou a sua
condenação!’ 11Os negociantes da terra chorarão e se lamentarão
por causa dela, porque ninguém mais compra a sua mercadoria:
12artigos como ouro, prata, pedras preciosas e pérolas; linho fino,
púrpura, seda e tecido vermelho; todo tipo de madeira de cedro e
peças de marfim, madeira preciosa, bronze, ferro e mármore;
13canela e outras especiarias, incenso, mirra e perfumes; vinho e
azeite de oliva, farinha fina e trigo; bois e ovelhas, cavalos e
carruagens, e corpos e almas de seres humanos. 14Eles dirão:
‘Foram-se as frutas que tanto lhe apeteciam! Todas as suas
riquezas e todo o seu esplendor se desvaneceram; nunca mais
serão recuperados’. 15Os negociantes dessas coisas, que
enriqueceram à custa dela, ficarão de longe, amedrontados com
o tormento dela, e chorarão e se lamentarão, 16gritando: ‘Ai! A
grande cidade, vestida de linho fino, de roupas de púrpura e
vestes vermelhas, adornada de ouro, pedras preciosas e pérolas!
17Em apenas uma hora, tamanha riqueza foi arruinada!’ Todos os
pilotos, todos os passageiros e marinheiros dos navios e todos os
que ganham a vida no mar ficarão de longe. 18Ao verem a fumaça
do incêndio dela, exclamarão: ‘Que outra cidade jamais se
igualou a esta grande cidade?’ 19Lançarão pó sobre a cabeça e,
lamentando-se e chorando, gritarão: ‘Ai! A grande cidade! Graças
à sua riqueza, nela prosperaram todos os que tinham navios no
mar! Em apenas uma hora ela ficou em ruínas! 20Celebrem o que
se deu com ela, ó céus! Celebrem, ó santos, apóstolos e profetas!
Deus a julgou, retribuindo-lhe o que ela fez a vocês’”. 21Então um
anjo poderoso levantou uma pedra do tamanho de uma grande
pedra de moinho, lançou-a ao mar e disse: “Com igual violência
será lançada por terra a grande cidade de Babilônia, para nunca
mais ser encontrada. 22Nunca mais se ouvirá em seu meio o som
dos harpistas, dos músicos, dos flautistas e dos tocadores de
trombeta. Nunca mais se achará dentro de seus muros artífice
algum, de qualquer profissão. Nunca mais se ouvirá em seu meio
o ruído das pedras de moinho. 23Nunca mais brilhará dentro de
seus muros a luz da candeia. Nunca mais se ouvirá ali a voz do
noivo e da noiva. Seus mercadores eram os grandes do mundo.
Todas as nações foram seduzidas por suas feitiçarias. 24Nela foi
encontrado sangue de profetas e de santos, e de todos os que
foram assassinados na terra”.
o capítulo 17 nós vimos que o aspecto religioso do império
anticristão – a mãe das prostitutas, que é ao mesmo tempo também
N
a grande cidade – é destruído pelos dez reis e pela besta.
Aqui no capítulo 18, a grande Babilônia, ou seja, o império
anticristão, em sua grandeza política e econômica, é julgada
pelo próprio Deus. É disso que fala o versículo 8: “Por isso num só
dia as suas pragas a alcançarão: morte, tristeza e fome; e o fogo a
consumirá, pois poderoso é o Senhor Deus que a julga”.
Como consequência, neste capítulo a imagem da prostituta
Babilônia, o sistema religioso do império anticristão, desaparece. A
prostituta, a equivalente da mulher celestial, Israel (cf. 12.1), e a
cidade da Babilônia, a equivalente da Jerusalém celestial, estão
destruídas. Quando lemos no versículo 10: “Amedrontados por
causa do tormento dela, ficarão de longe e gritarão: ‘Ai! A grande
cidade! Babilônia, cidade poderosa! Em apenas uma hora chegou a
sua condenação!’”, surge a questão de saber se realmente devemos
pensar em uma reconstrução da Babilônia, e se essa cidade será
então a capital do mundo. Existem comentaristas que pensam assim.
Outros dizem que a Babilônia significa a cidade de Roma, pois trata-
se do império romano anticristão. Não posso concordar nem com
uma nem com a outra versão, pois, como a prostituta do capítulo 17
representa o sistema religioso apóstata do império anticristão,
segundo o meu entendimento, a grande cidade da Babilônia no
capítulo 18 representa o sistema político e econômico. O que, pois,
é uma grande cidade? No fundo, uma cidade é um ajuntamento de
massas humanas opostas a Deus, com um claro objetivo demoníaco.
É o que vemos na construção da primeira cidade – que foi Babel!
Então os homens disseram: “Vamos construir uma cidade, com uma
torre que alcance os céus. Assim nosso nome será famoso e não
seremos espalhados pela face da terra” (Gn 11.4). Eles também
poderiam ter dito: “Queremos impedir que aconteça a vontade de
Deus”. Na verdade, Deus queria que os homens povoassem e
enchessem a terra e se multiplicassem (Gn 1.28). Portanto, não
apenas partes da terra, mas a terra toda devia ser habitada. Por
isso, em princípio, grandes cidades são contra a vontade de Deus.
Sua origem é Babel. Por isso o Senhor fez edificar em Jerusalém um
polo oposto, onde através de Jesus Cristo foi aberto o caminho do
alto para baixo na cruz do Gólgota.
Devemos ver claramente que a grande cidade da Babilônia citada
aqui representa todo o império anticristão, com sua infraestrutura
tecnológica, e é dirigida para o serviço do falso deus, ou seja, do
falso cristo – do Anticristo. A seguir apresento duas razões que
mostram que não devemos pensar numa cidade, mas num reino para
o império anticristão:

Em Gênesis 11.8-9 está escrito que “pararam de construir a


cidade... porque ali o S confundiu a língua de todo o
mundo. Dali o S os espalhou por toda a terra”. O
objetivo dos homens de então, de tornar famoso o seu
nome, espalhou-se por todo o mundo. Como um câncer,
inicialmente localizado em certo órgão, repentinamente
espalha-se por metástases para outras partes do corpo,
essa mentalidade babilônica espalhou-se por todo o mundo.
A grande cidade da Babilônia que viveu seu ponto alto sob
Nabucodonosor – naquele tempo Nabucodonosor mandou
edificar uma imagem de ouro com o número 66 na planície
de Dura – foi definitivamente destruída e, segundo as
palavras do profeta Jeremias, não será reconstruída: “Ele
disse a Seraías: ‘Quando você chegar à Babilônia, tenha o
cuidado de ler todas estas palavras em alta voz. Então diga:
Ó S , disseste que destruirás este lugar, para que
nem homem nem animal viva nele, pois ficará em ruínas
para sempre. Quando você terminar de ler este rolo, amarre
nele uma pedra e atire-o no Eufrates. Então diga: Assim
Babilônia afundará para não mais se erguer, por causa da
desgraça que trarei sobre ela. E seu povo cairá’. Aqui
terminam as palavras de Jeremias” (Jr 51.61-64). Esse foi o
fim da cidade de Babilônia. Então o seu nome tornou-se
sinônimo de sistema contrário a Deus, cujo destaque será o
império mundial romano anticristão.

“Depois disso vi outro anjo que descia dos céus” (v. 1). Deve-se
observar bem esse “depois”, que aparece frequentemente no
Apocalipse, porque cremos, com base nessas declarações e
semelhantes, na cronologia sequencial dos juízos. Esse terrível
período de juízo é chamado de “dia do Senhor” e significa, ao
mesmo tempo, a volta do Senhor. Tendemos a querer explicar que
esse dia do Senhor, esse período de juízos, que corresponde à
última semana de anos de Daniel, irá durar exatamente sete anos.
No entanto, é bem possível que a volta do Senhor, o seu “dia”, que é
anunciado por esses juízos, abrangerá um período mais longo.
Vamos recapitular o que sabemos exatamente:

1. O Anticristo governará por uma semana inteira de anos, ou


seja, sete anos. Nos primeiros três anos e meio ele se
apresentará como amigo e protetor de Israel; e como besta
nos três anos e meio seguintes. Depois, no meio da semana
(Dn 9.27) ele romperá a aliança. Em Apocalipse 11.2 está
escrito que ele governará por 42 meses, o que corresponde
aos três anos e meio, ou a “um tempo, tempos e meio
tempo” (Dn 12.7).
2. Sabemos também que o Anticristo não pode revelar-se
antes que seja retirado aquilo que o detém. Isso é dito muito
claramente em 2Tessalonicenses 2.6-7: “E agora vocês
sabem o que o está detendo, para que ele seja revelado no
seu devido tempo. A verdade é que o mistério da iniquidade
já está em ação, restando apenas que seja afastado aquele
que agora o detém”. O que ainda impede o Anticristo de
revelar-se? A igreja de Jesus na terra, ou seja, o Espírito
Santo que habita nos membros da igreja de Jesus. Estes
precisam ser primeiro arrebatados; o Espírito de Deus
precisa se afastar da terra. Somente então o Maligno pode
revelar-se! A respeito, devemos observar que a vinda do
Senhor Jesus – vista de modo geral – acontecerá em três
etapas:
Ele virá como Noivo celestial, nas nuvens do céu, para
a igreja de Jesus. Esse é o momento do
arrebatamento.
Ele virá em grande poder e glória, com sua igreja,
como Rei dos reis, para julgar todas as nações e
povos. Todos os povos o verão e se lamentarão.
Ele virá como o Sumo Sacerdote e Messias para
Israel, e eles o verão, aquele a quem traspassaram.

Contudo, não sabemos a duração dos períodos entre essas


diferentes etapas. Na minha opinião, é errado falarmos sempre de
sete anos. Também não está escrito assim na Bíblia. No entanto, é
evidente que a besta, o Anticristo, somente é citada como adversária
ativa das duas testemunhas entre a sexta e a sétima trombetas, em
Apocalipse 11.7. E somente no capítulo 13 vemos a besta em seu
completo desdobramento. Entretanto, já no primeiro selo ela aparece
como um dos primeiros cavaleiros (sobre o cavalo branco; cap. 6.2),
como comandante vitorioso, mas não é descrita como besta. Se
lembrarmos que o Cristo por vir, isto é, a vinda de Jesus Cristo de
um modo geral, é continuamente anunciado de forma crescente no
Apocalipse, então acende-se uma nova luz para nós. Lembro-me das
seguintes passagens que falam da volta de Jesus:
Apocalipse 1.7: “Eis que ele vem com as nuvens, e todo olho o
verá, até mesmo aqueles que o traspassaram”.
Apocalipse 5.7: “Ele [o Cordeiro] se aproximou e recebeu o livro
da mão direita daquele que estava assentado no trono”.
Apocalipse 6.16-17: “Eles gritavam às montanhas e às rochas:
‘Caiam sobre nós e escondam-nos da face daquele que está
assentado no trono e da ira do Cordeiro! Pois chegou o grande dia
da ira deles; e quem poderá suportar?’”.
Apocalipse 11.15: “O sétimo anjo tocou a sua trombeta, e houve
fortes vozes nos céus, que diziam: ‘O reino do mundo se tornou de
nosso Senhor e do seu Cristo, e ele reinará para todo o sempre’”.
Apocalipse 14.7: “Ele disse em alta voz: ‘Temam a Deus e
glorifiquem-no, pois chegou a hora do seu juízo. Adorem aquele que
fez os céus, a terra, o mar e as fontes das águas’”.
Apocalipse 14.14: “Olhei, e diante de mim estava uma nuvem
branca e, assentado sobre a nuvem, alguém ‘semelhante a um filho
de homem’. Ele estava com uma coroa de ouro na cabeça e uma
foice afiada na mão”.
Apocalipse 16.15: “Eis que venho como ladrão! Feliz aquele que
permanece vigilante e conserva consigo as suas vestes, para que
não ande nu e não seja vista a sua vergonha”.
Apocalipse 19.7: “Regozijemo-nos! Vamos alegrar-nos e dar-lhe
glória! Pois chegou a hora do casamento do Cordeiro, e a sua noiva
já se aprontou”.
Apocalipse 22.20: “Aquele que dá testemunho destas coisas diz:
‘Sim, venho em breve!’ Amém. Vem, Senhor Jesus!”.
Em todas essas citações vemos a volta do Senhor em seus
diferentes aspectos. Não somos levados a pensar também na
primeira vinda de Jesus? Do ponto de vista do plano de salvação,
sua primeira e segunda vindas são uma coisa só, pois mil anos são
como um dia para o Senhor, e um dia como mil anos. Da primeira
vinda de Jesus lemos na Escritura:

Ele veio a Belém; ele nasceu lá como criança (Lc 2.4-20).


Ele veio do Egito: “... e do Egito chamei o meu filho” (Os
11.1).
Ele foi “a Nazaré” (Lc 4.16). Quando apresentou-se na
sinagoga de Nazaré e leu o profeta Isaías, ele disse
inesperadamente: “Hoje se cumpriu a Escritura que vocês
acabaram de ouvir” (Lc 4.21).
Ele entrou na cidade de Jerusalém montado num jumentinho
(Mt 21.1-11) para que se cumprisse a profecia de Zacarias
9.9: “Eis que o seu rei vem a você, justo e vitorioso, humilde
e montado num jumento, um jumentinho, cria de jumenta”.
Ele veio como a grande luz que deveria iluminar Naftali e
Zebulom, como está escrito em Isaías 9.1. Mateus fez uma
referência a isso: “Saindo de Nazaré, foi viver em
Cafarnaum, que ficava junto ao mar, na região de Zebulom e
Naftali, para cumprir o que fora dito pelo profeta Isaías:
‘Terra de Zebulom e terra de Naftali, caminho do mar, além
do Jordão, Galileia dos gentios; o povo que vivia nas trevas
viu uma grande luz; sobre os que viviam na terra da sombra
da morte raiou uma luz’” (Mt 4.13-16).
Por que não seria assim também na sua segunda vinda? Temos
que ver o todo assim como João o viu. Primeiro ele viu a igreja (cf.
caps. 1–3). Então está escrito: “Depois dessas coisas olhei” (4.1), e
o que ele viu depois do arrebatamento foram juízos terríveis. Eles
poderiam facilmente durar décadas. Lembre-se, somente
quantitativamente, quantas catástrofes precisam acontecer: primeiro
os sete selos, depois as sete trombetas e, no final, as sete taças da
ira. Trata-se de três vezes sete juízos. Também devemos lembrar
que, neste período de juízos, no limiar do reino milenar, o Egito ainda
será disperso durante quarenta anos devido a todo o mal que fez a
Israel: “Farei a terra do Egito arrasada em meio a terras
devastadas, e suas cidades estarão arrasadas durante quarenta
anos entre cidades em ruínas. Espalharei os egípcios entre as
nações e os dispersarei entre os povos. Contudo, assim diz o
Soberano, o S : Ao fim dos quarenta anos ajuntarei os
egípcios dentre as nações nas quais foram espalhados. Eu os trarei
de volta do cativeiro e os farei voltar ao alto Egito, à terra dos seus
antepassados. Ali serão um reino humilde. Será o mais humilde dos
reinos, e nunca mais se exaltará sobre as outras nações. Eu o farei
tão fraco que nunca mais dominará sobre as nações. O Egito não
inspirará mais confiança a Israel, mas será uma lembrança de sua
iniquidade por procurá-lo em busca de ajuda. Então eles saberão que
eu sou o Soberano, o S ” (Ez 29.12-16). Isaías 19.22
complementa no sentido de que os egípcios se converterão.
Portanto, o início do sétimo milênio, do milênio sabático, não é de
paz, mas de juízos. É o que mostra também o Salmo 2.6, onde o
Senhor diz: “Eu mesmo estabeleci o meu rei em Sião, no meu santo
monte”. No versículo 9 do mesmo Salmo ele continua: “Tu as
quebrarás com vara de ferro e as despedaçarás como a um vaso de
barro”. No que diz respeito às coisas bíblicas, corremos o risco de
pensar segundo moldes. A doutrina das dispensações – assim é
chamada a divisão do plano de salvação em sete períodos – é
maravilhosa, mas no fundo trata-se somente de uma divisão humana.
A passagem de uma dispensação para outra traz consigo muitas
coisas. Cheguei à conclusão (e quando se estuda o Apocalipse não
se pode, na minha opinião, chegar a nenhuma outra) que a transição
para o reino milenar de paz será um terrível período de juízos: os
povos terão que comparecer diante do trono da glória e serão
julgados de acordo com aquilo que fizeram ou não fizeram a Israel
(cf. tb. Mt 25).
“Depois disso vi outro anjo que descia dos céus. Tinha grande
autoridade, e a terra foi iluminada por seu esplendor” (v. 1). Quem é
esse anjo? Trata-se do Senhor Jesus Cristo glorificado na sua volta!
Os sinais de que se trata dele são inconfundíveis:

1. O “outro anjo” é o anjo do Senhor.


2. “... que descia dos céus.” Trata-se do Senhor na sua volta.
3. “Tinha grande autoridade...” Não se pode tratar de ninguém
além do Senhor Jesus, pois está escrito: “E deu-lhe
autoridade para julgar, porque é o Filho do homem” (Jo
5.27).
4. “... e a terra foi iluminada por seu esplendor.” Se lermos
outras passagens da Bíblia, veremos que aqui não se fala
de um anjo comum que está vindo para a terra, mas do
próprio Senhor. Leiamos somente Isaías 6.3: “E
proclamavam uns aos outros: ‘Santo, santo, santo é o
S dos Exércitos, a terra inteira está cheia da sua
glória’”. Ou o Salmo 72.18-19: “Bendito seja o S
Deus, o Deus de Israel, o único que realiza feitos
maravilhosos. Bendito seja o seu glorioso nome para
sempre; encha-se toda a terra da sua glória. Amém e
amém”. Ou Ezequiel 43.2: “E vi a glória do Deus de Israel,
que vinha do lado leste. Sua voz era como o rugido de
águas avançando, e a terra refulgia com a sua glória”. Se
compararmos isso com Apocalipse 18.1 – “Tinha grande
autoridade, e a terra foi iluminada por seu esplendor” –
então saberemos quem é esse “outro anjo”. A glória do
Senhor iluminará toda a terra!

“E ele bradou com voz poderosa” (v. 2). Somos levados a pensar
no Salmo 29.4: “A voz do S é poderosa”. Por isso, certamente
não erramos se vemos o Senhor Jesus Cristo como sendo esse
poderoso anjo, e ficamos ainda mais certos quando lemos
Apocalipse 16.19: “Deus lembrou-se da grande Babilônia e lhe deu o
cálice do vinho do furor da sua ira”. Deus mesmo vai julgar e o Filho
de Deus, Jesus Cristo, será o executor do juízo.
Esse segundo juízo sobre a Babilônia (vimos o primeiro no cap.
17) virá, portanto, diretamente de Deus, através de Jesus Cristo: “E
ele bradou com voz poderosa: ‘Caiu! Caiu a grande Babilônia! Ela se
tornou habitação de demônios e antro de todo espírito imundo, antro
de toda ave impura e detestável” (v. 2). Aqui anuncia-se mais uma
vez, em alta voz – agora pela boca do Senhor – a queda, ou seja, a
destruição da Babilônia que se realizará através de uma catástrofe
inimaginável: através de um incêndio mundial. Como diz o “anjo”, ou
seja, o Senhor, a Babilônia mundial é “habitação de demônios e antro
de todo espírito imundo, antro de toda ave impura e detestável”, e
isso desde os acontecimentos de Apocalipse 12. Ali lemos: “Houve
então uma guerra nos céus. Miguel e seus anjos lutaram contra o
dragão, e o dragão e os seus anjos revidaram” (12.7). Então
acontece algo inédito: “O grande dragão foi lançado fora. Ele é a
antiga serpente chamada Diabo ou Satanás, que engana o mundo
todo. Ele e os seus anjos foram lançados à terra” (12.9). Isso
acontecerá no período do arrebatamento. Do arrebatamento fala-se
então no versículo 12 do mesmo capítulo: “Portanto, celebrem-no, ó
céus, e os que neles habitam! Mas ai da terra e do mar, pois o Diabo
desceu até vocês! Ele está cheio de fúria, pois sabe que lhe resta
pouco tempo”.
Podemos ilustrar esses acontecimentos, especialmente o
arrebatamento, com uma balança: em um prato encontra-se a igreja
de Jesus na terra (embaixo), no outro estão os poderes das trevas
(nas regiões celestiais): “Pois a nossa luta não é contra seres
humanos, mas contra os poderes e autoridades, contra os
dominadores deste mundo de trevas, contra as forças espirituais do
mal nas regiões celestiais” (Ef 6.12). Quando acontecer o
arrebatamento, o prato da balança em que a igreja de Jesus se
encontra subirá para o alto. Ao mesmo tempo, porém, os poderes do
Diabo, os poderes das trevas, serão atirados para a terra. Então a
terra estará literalmente endemoninhada. Na mesma época será
também aberto o poço do Abismo: “O quinto anjo tocou a sua
trombeta, e vi uma estrela que havia caído do céu sobre a terra. À
estrela foi dada a chave do poço do Abismo. Quando ela abriu o
Abismo, subiu dele fumaça como a de uma gigantesca fornalha... Da
fumaça saíram gafanhotos que vieram sobre a terra...” (9.1-3; ver
pág. 192) Os demônios virão para a terra do alto e de baixo. Assim,
toda a terra, toda a Babilônia mundial, será uma morada de
demônios, espíritos imundos e aves impuras. Não é surpresa que
então será impossível testemunhar impunemente de Jesus. Também
não é surpresa que o Senhor já falou a Daniel que esse será um
tempo como não tem havido e nem haverá jamais. Os resultados, do
fato de que então todo o inferno com seus habitantes ocupará a
terra, são inimagináveis, pois, por se apossarem dos homens, esses
poderes governarão. Será exatamente como Gênesis 7 descreve o
Dilúvio: “... todas as fontes das grandes profundezas jorraram, e as
comportas do céu se abriram. As águas dominavam cada vez mais a
terra, e foram cobertas todas as altas montanhas debaixo do céu” (v.
11,19). Assim, toda a terra estará coberta de poderes demoníacos.
Se em Apocalipse 18.2 o Senhor exclama duas vezes que a
Babilônia caiu, podemos entendê-lo da seguinte maneira: o primeiro
“caiu” refere-se ao mistério da prostituição (cap. 17), ao falso culto
sem Jesus Cristo; o segundo “caiu”, à “grande Babilônia”, na qual
esse sistema é executado na prática. Trata-se da maldição sobre a
luxúria do bem-estar e da riqueza, pois no versículo 3 está escrito:
“... à custa do seu luxo excessivo os negociantes da terra se
enriqueceram”. É surpreendente o quanto nossa situação atual
assemelha-se à de Apocalipse 18, pois temos atualmente quatro
potências no mundo: o islamismo, o cristianismo, a política mundial e
a economia mundial. Todas as quatro estão estreitamente
entrelaçadas. Assim os reis desta terra, os estadistas, praticam
prostituição espiritual por causa do comércio, fazendo mesuras
diante do islamismo. Efraim já foi acusado, em Oseias 12.1, de
praticar idolatria e, ao mesmo tempo, levar azeite para o Egito:
“Efraim alimenta-se de vento; corre atrás do vento oriental o dia
inteiro e multiplica mentiras e violência. Faz tratados com a Assíria e
manda azeite para o Egito”. Portanto, já nos tempos antigos Israel
praticava prostituição espiritual, idolatria, por causa do comércio. A
política atual faz mesuras diante do islamismo e diante do
cristianismo nominal. A atual economia mundial é estruturada de tal
maneira que se inclina diante do islamismo, às custas de Sião.
Pensemos nas medidas árabes de boicote que pretendem fazer os
políticos ceder. Nos versículos 11-14 são enumerados todos os
produtos e riquezas: “Os negociantes da terra chorarão e se
lamentarão por causa dela, porque ninguém mais compra a sua
mercadoria: artigos como ouro, prata, pedras preciosas e pérolas;
linho fino, púrpura, seda e tecido vermelho; todo tipo de madeira de
cedro e peças de marfim, madeira preciosa, bronze, ferro e
mármore; canela e outras especiarias, incenso, mirra e perfumes;
vinho e azeite de oliva, farinha fina e trigo; bois e ovelhas, cavalos e
carruagens, e corpos e almas de seres humanos. Eles dirão: ‘Foram-
se as frutas que tanto lhe apeteciam! Todas as suas riquezas e todo
o seu esplendor se desvaneceram; nunca mais serão recuperados’”.
Todas essas coisas serão destruídas pela grande catástrofe do
incêndio mundial. Devemos considerar também diversos fatos
tecnológicos e econômicos. Em primeiro lugar, a variedade de
produtos feitos de petróleo. Em segundo lugar, as indizíveis riquezas
que são ajuntadas em virtude do comércio mundial – negando-se a
Jesus Cristo: “Os reis da terra se prostituíram com ela; à custa do
seu luxo excessivo os negociantes da terra se enriqueceram. Os
negociantes dessas coisas, que enriqueceram à custa dela, ficarão
de longe, amedrontados com o tormento dela, e chorarão e se
lamentarão” (v. 3b,15). Se atualmente os estadistas “cristãos” fazem
concessões diante daqueles que têm poder sobre as fontes de
energia e desse modo sobre seus inúmeros subprodutos, então
sabemos que já nos encontramos em meio a essa Babilônia mundial.
Apesar dos gigantescos aviões, necessita-se de grandes navios, ou
seja, navios-petroleiros, e consequentemente também de muitos
marinheiros. Lemos deles nos versículos 17-18: “Todos os pilotos,
todos os passageiros e marinheiros dos navios e todos os que
ganham a vida no mar ficarão de longe. Ao verem a fumaça do
incêndio dela, exclamarão: ‘Que outra cidade jamais se igualou a
esta grande cidade?’”. Isso tudo é ardentemente atual!
Enquanto agora a prostituição político-econômica mundial se
alastra, ao mesmo tempo a humanidade é inundada por ondas de
imoralidade, pornografia, homossexualismo e prostituição. Vendo tais
coisas, imaginamos algo da grave afirmação do versículo 5: “Pois os
pecados da Babilônia acumularam-se até o céu, e Deus se lembrou
dos seus crimes”. Entre as mercadorias do versículo 13 são citados
também “corpos e almas de seres humanos”. Nos tempos antigos,
tratava-se de vendas de escravos. Se o vemos atualmente na
realização profética, trata-se da prostituição carnal e perversa
daqueles que “venderam” seus corpos e assim também suas almas.
Antes, porém, que as poderosas palavras de juízo do anjo divino,
que é o próprio Jesus Cristo, se cumpram sobre essa Babilônia, uma
outra voz – será a voz de Deus? – diz do céu: “Então ouvi outra voz
dos céus que dizia: ‘Saiam dela, vocês, povo meu, para que vocês
não participem dos seus pecados, para que as pragas que vão cair
sobre ela não os atinjam!” (v. 4). O “povo meu” é Israel. É evidente
que então os israelitas ainda estarão envolvidos no comércio
mundial. No entanto, eles são exortados: “Saiam dela, vocês, povo
meu”, porque já terá sido alcançado o estágio em que esse povo não
se chamará mais Lo-Ami, que significa “não meu povo”, mas sim
“meu povo”. Então se cumprirá de maneira comovente o que lemos
em Jeremias 50.4-7: “‘Naqueles dias e naquela época’, declara o
S , ‘o povo de Israel e o povo de Judá virão juntos, chorando e
buscando o S , o seu Deus. Perguntarão pelo caminho para
Sião e voltarão o rosto na direção dela. Virão e se apegarão ao
S numa aliança permanente que não será esquecida. Meu
povo tem sido ovelhas perdidas; seus pastores as desencaminharam
e as fizeram perambular pelos montes. Elas vaguearam por
montanhas e colinas e se esqueceram de seu próprio curral. Todos
que as encontram as devoram. Os seus adversários disseram: “Não
somos culpados, pois elas pecaram contra o S , sua
verdadeira pastagem, o S , a esperança de seus
antepassados”’”. Em outras palavras: os judeus mereceram a sua
sorte. É o que os nazistas também diziam!
No versículo seguinte de Jeremias 50 o Senhor exorta Israel:
“Fujam da Babilônia; saiam da terra dos babilônios e sejam como os
bodes que lideram o rebanho” (v. 8). Também em Isaías 48.20 o
Senhor os exorta a deixar a Babilônia: “Deixem a Babilônia, fujam do
meio dos babilônios! Anunciem isso com gritos de alegria e
proclamem-no. Enviem-no aos confins da terra; digam: O S
resgatou seu servo Jacó”. Ainda existem mais passagens do tipo no
Antigo Testamento, nas quais Israel é exortado a fugir da Babilônia.
Aqui em Apocalipse 18 ouve-se pela última vez: “Saiam dela, vocês,
povo meu”. Trata-se da exortação de sair do sistema anticristão.
Israel estará então diante da sua conversão nacional.
Nos versículos 6-8 de Apocalipse 18 é descrita de maneira
abaladora a velocidade da execução desse juízo mundial, desse
incêndio mundial: “Retribuam-lhe na mesma moeda; paguem-lhe em
dobro pelo que fez; misturem para ela uma porção dupla no seu
próprio cálice. Façam-lhe sofrer tanto tormento e tanta aflição como
a glória e o luxo a que ela se entregou. Em seu coração ela se
vangloriava: ‘Estou sentada como rainha; não sou viúva e jamais terei
tristeza’. Por isso num só dia as suas pragas a alcançarão...”. Um
juízo como nunca antes existiu nesta extensão! A Babilônia mundial
receberá sofrimento e tormentos na medida do seu esplendor e do
seu pecado. Os filhos de Deus experimentam o inverso: sua
tribulação é transformada em glória: “Pois os nossos sofrimentos
leves e momentâneos estão produzindo para nós uma glória eterna
que pesa mais do que todos eles” (2Co 4.17). O versículo 7b de
Apocalipse 18 fala da segurança própria e arrogante do império
anticristão; essa segurança própria que muitas vezes percebemos
atualmente também em pessoas do mundo, que se comportam como
se fossem viver eternamente: “Estou sentada como rainha; não sou
viúva e jamais terei tristeza”.
Duas afirmações mostram a rapidez do juízo sem igual de Deus:
“... num só dia” (v. 8) e “em apenas uma hora, tamanha riqueza foi
arruinada!” (v. 17). Alguns, leigos e cientistas, percebem a
aproximação dessa catástrofe mundial. É por isso que vivemos em
uma época marcada pelo medo. O que faz com que milhões de
pessoas em nossos dias continuem se movendo constantemente,
nem sempre de forma racional? Trata-se de um espírito de agitação,
que instiga a pisar no acelerador e, assim, à fuga. Estes são
sintomas que mostram que atualmente o homem pressente o que se
aproxima. Em Apocalipse 18.19 fala-se dos sobreviventes: “Lançarão
pó sobre a cabeça e, lamentando-se e chorando, gritarão: ‘Ai! A
grande cidade! Graças à sua riqueza, nela prosperaram todos os
que tinham navios no mar! Em apenas uma hora ela ficou em
ruínas!’”.
Os versículos 9-10 descrevem o grande choro que então tomará
conta dos reis, ou seja, dos políticos: “Quando os reis da terra, que
se prostituíram com ela e participaram do seu luxo, virem a fumaça
do seu incêndio, chorarão e se lamentarão por ela. Amedrontados
por causa do tormento dela, ficarão de longe e gritarão: ‘Ai! A
grande cidade! Babilônia, cidade poderosa! Em apenas uma hora
chegou a sua condenação!’”. Não somente os políticos, mas também
os homens de negócios vão chorar: “Os negociantes da terra
chorarão e se lamentarão por causa dela, porque ninguém mais
compra a sua mercadoria” (v. 11). Chocante! Não se trata de
lágrimas de arrependimento que eles choram diante de Deus. Não,
eles soluçam porque suas mercadorias e toda a infraestrutura estão
sendo destruídas. Sua tranquilidade transforma-se repentinamente
em pânico, e eles irrompem a dizer: “Ai!... Ai!”. Três vezes é dito “em
apenas uma hora” (v. 10,17,19). Na terra haverá então altos
lamentos, choro, gritos, pânico louco. Todavia, no céu é ouvido o
chamado à santa alegria: “Celebrem o que se deu com ela, ó céus!
Celebrem, ó santos, apóstolos e profetas! Deus a julgou, retribuindo-
lhe o que ela fez a vocês” (v. 20). Se está escrito “o que ela fez a
vocês”, devemos lembrar que está escrito: “Vocês não sabem que os
santos hão de julgar o mundo?” (1Co 6.2). Os vencedores de Tiatira
também têm essa promessa. Os anjos do céu e os santos, entre
eles especialmente os apóstolos e profetas, têm todos os motivos
para irromperem agora em alto júbilo, pois Deus executou o seu juízo
contra a Babilônia, isto é, decidiu sua causa contra a Babilônia em
favor de si. A injustiça do mundo anticristão, que por muito tempo
ficou sem castigo, e o direito dos crentes até então encoberto foram
agora levados para a clara luz de Deus e revelados diante do mundo
todo. Por isso, todo o céu deve louvar a Deus em alta voz. Esse
louvor vai até o capítulo 19. Antes, porém, a Babilônia é lançada
como que simbolicamente, mas também realmente, no Abismo pelo
primeiro anjo, que é Jesus Cristo, pois ele, cheio de grande poder e
resplandecente glória, já anunciou essa queda no versículo 2.
Finalmente, há outro anjo que tem algo a dizer e fazer na última
hora do mundo já em chamas: “Então um anjo poderoso levantou
uma pedra do tamanho de uma grande pedra de moinho, lançou-a ao
mar e disse: ‘Com igual violência será lançada por terra a grande
cidade de Babilônia, para nunca mais ser encontrada’” (v. 21).
Notável! Esse é o cumprimento daquilo que Jeremias ordenou a
Seraías (cf. Jr 51.59-63). Seraías precisava ler o livro onde estavam
escritos os juízos sobre a Babilônia, atá-lo a uma pedra e lançá-lo no
meio do Eufrates. A justificativa para esse procedimento simbólico
era: “Assim Babilônia afundará para não mais se erguer, por causa
da desgraça que trarei sobre ela” (Jr 51.64). Esse juízo é executado
aqui em Apocalipse 18: a Babilônia é lançada fora como uma pedra
jogada no fundo do mar; tão radical será a destruição! Quando esse
juízo tiver sido executado sobre a humanidade anticristã, haverá
então um silêncio apavorante sobre a terra escura e morta.
É o que os versículos 22-24 descrevem: “Nunca mais se ouvirá em
seu meio o som dos harpistas, dos músicos, dos flautistas e dos
tocadores de trombeta”. Toda a expressão de alegria e prazer de
viver terá acabado. “Nunca mais se achará dentro de seus muros
artífice algum, de qualquer profissão.” Não se ouvirá mais nenhum
barulho de trabalho ativo. “Nunca mais se ouvirá em seu meio o ruído
das pedras de moinho.” Não será mais moída a farinha para uso
diário. Como pulsava antes a vida nessa Babilônia mundial, quer seja
no júbilo do prazer, no barulho da indústria ou nos lamentos e
gemidos dos miseráveis e cansados. Agora, porém, domina um
silêncio mortal. “Nunca mais brilhará dentro de seus muros a luz da
candeia.” Que fartura de luz havia antes, inclusive de noite, no
esplendoroso mundo da Babilônia! Todavia, também não surgirá mais
nova vida. “Nunca mais se ouvirá ali a voz do noivo e da noiva.” Não
se festejará mais nenhum casamento, não se fundará mais famílias;
a vida não florescerá mais. A Babilônia mundial estará
completamente deserta. Um juízo de incomum severidade! Ele,
porém, não pode ser mais ameno. O anjo o justifica de maneira
tripla: 1) “Seus mercadores eram os grandes do mundo.” A Babilônia
rebaixou os grandes da terra para serem seus mercadores,
utilizando-os de maneira inexprimivelmente pecaminosa. Atualmente
já vemos isso frequentemente na política; 2) “Todas as nações foram
seduzidas por suas feitiçarias.” A Babilônia atraiu, enganou e
embriagou as massas com a sua feitiçaria e prostituição, também
através de verdadeira feitiçaria do inferno, que será amplamente
praticada pelo Anticristo e pelos seus profetas. (Lembro-me do
capítulo 13.) Portanto, ela fascinou as nações. Esses dois primeiros
fatos são descritos de maneira semelhante no capítulo 17.2: “Com
quem os reis da terra se prostituíram; os habitantes da terra se
embriagaram com o vinho da sua prostituição”; e 3) “Nela foi
encontrado sangue de profetas e de santos, e de todos os que
foram assassinados na terra.” Em última análise, não somente o
sangue dos mártires, que foi derramado de maneira inigualável pela
Babilônia, mas todo o sangue inocente de toda a história mundial, em
todos os lugares e épocas, deve ser atribuído e vingado na
Babilônia. O espírito assassino, que no decorrer de toda a história
humana revelou-se uma vez aqui e outra vez ali em diversos atos
assustadores, encheu sua medida de maldade e culpa e recebe seu
castigo na Babilônia. E isso com toda razão, pois desde os seus
pequenos começos, imediatamente após a Queda da humanidade,
até o seu maior desenvolvimento, a Babilônia mundial transformou-se
no império do Anticristo. Seu caráter final é o da Babilônia. Nesse
caráter aparece o espírito do império mundial em seu
desenvolvimento pleno e em toda a sua culpa. Sobre esse caráter é
realizado o castigo por toda a culpa de todo o império mundial de
todos os tempos e todos os lugares.
Agora foi realizado o terrível juízo que também já tinha sido
anunciado por um anjo no capítulo 14.8. O chocante é: a humanidade
já percebe atualmente o que está por vir, e deve-se imaginar que
essa hora de aniquilamento – quando quer que ela venha – é um
ponto fixo na consciência do ser humano, algo como um objetivo das
suas vidas para o qual tudo se dirige. Todavia, não é nada disso!
Nada no mundo foi ignorado tão decidida e meticulosamente – e é
continuamente ignorado – como o pensamento no seu fim. Até hoje
ele nunca penetrou realmente na consciência dos homens, pois de
outro modo teríamos, há muito, um despertamento mundial. Essa
ignorância é fruto de um esforço muito grande, se considerarmos
quantas vezes e de que maneira minunciosa os homens foram
lembrados, pela Palavra de Deus e pelo Espírito Santo, a respeito
dessa hora, e isso com uma clareza que não deixa nada a desejar. É
como se tivessem tentado esclarecer esses fatos para dar
propósito, sentido e direção às suas vidas, conduzindo-os a Jesus
Cristo. Se o fato de que a terra será aniquilada fosse a base em que
as pessoas edificassem sua vida, muitas coisas seriam bem
diferentes. No entanto, que a terra terá um fim foi reprimido até hoje
na consciência dos homens, e estamos mais longes do que nunca de
um despertamento mundial. Os homens não aceitaram a Verdade
como verdadeira e, com isso, ludibriaram-se na questão essencial da
sua existência, isto é, quanto ao entendimento de que a vida aqui na
terra nada mais é do que avançar para o momento em que tivermos
que comparecer diante de Deus.
Talvez você pertença àqueles que, salvo melhor entendimento,
tendem a crer que de modo nenhum lhes pode acontecer qualquer
coisa? Muitos creem nas coisas mais inacreditáveis, se forem
positivas! Quero mostrar o efeito desse estranho fenômeno através
de um exemplo especialmente drástico: o Titanic era considerado um
navio absolutamente incapaz de afundar. Mesmo quando já estava
afundando, ele ainda era considerado – mais ainda naquele momento
– incapaz de afundar. Será que foi a fé na técnica ou num milagre
que cegou os passageiros para aquilo que estava acontecendo?
Certamente também o comportamento do comando teve alguma
influência, mas não se deve supor que seria possível convencer as
pessoas de algo que elas mesmas não gostariam de acreditar. O
comando na ponte escondeu todas as notícias sobre a verdadeira
situação; não queriam assustar as pessoas. Pode-se imaginar que
também na ponte de comando a verdade não queria ser aceita,
confiando na capacidade da técnica e, além disso, esperando o
milagre de que as comportas (paredes transversais internas à prova
d’água no navio) aguentassem. Desse modo, transmitiam-se notícias
interessantes, apimentadas aqui e ali com anedotas, e navegava-se
alegremente para a destruição. Como atualmente! As comportas se
romperam uma após a outra, e o casco do navio se encheu de água.
Irrompeu o pânico; tudo aconteceu com enorme rapidez. Era o
inferno – era o “fim do mundo”. Os barcos salva-vidas saíram em
parte vazios e dois terços dos passageiros foram arrastados para as
profundezas pelo navio. Assim foi o naufrágio do Titanic! Foi da
mesma forma como será mundialmente com a Babilônia; como já é