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Resenha - Pluralismo Jurídico - Antônio Carlos Wolkmer

Teoria do Direito II (Universidade Federal de Santa Catarina)

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Baixado por Angélica Corrêa (gillizinha@hotmail.com)
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Curso: Direito Disciplina: Teoria do Direito II Professor: Diego Nunes

Resenha Crítica

REFERÊNCIA: WOLKMER, Antônio Carlos. Pluralismo Jurídico: Fundamentos de uma


nova cultura no direito. 3. ed. São Paulo: Alfa Omega, 2001. 403p.

RESUMO
O presente trabalho vem apresentar um resumo sobre a obra do Pluralismo Jurídico
de Antônio Carlos Wolkmer, que propõe em discutir a pluralidade do Direito, com uma vertente
de pensamento que possui influência de Eugen Erlich, que defende o “Direito Vivo” aquele que
vai contra a “letra morta” do positivismo, dentro desta vertente, defende o autor, que não é
possível mais admitir que o Estado seja o único ente formador do Direito, que o Direito é muito
mais plural que o ente estatal e as leis podem supor, é uma grande conversa entre vários
ambientes da sociedade, sejam filosóficos, sociais, políticos e aqueles que emanam da sociedade.
Em sua abordagem inicial, o autor atenta-se e falar sobre a evolução, origem e o
próprio declínio da cultura jurídica estatal. Uma apresentação histórica, originada na luta de
classes entre burgueses e o antigo regime em que a burguesia ganhou espaço, vindo então por
seguinte com o capitalismo, vemos nesta época um surgimento de Direito positivo, que
necessitava em se firmar no homem criando e controlando suas próprias normas, que viesse a
atender os interesses gerais.
Em época que o feudalismo era o regime preponderante e dominador houve a luta da
burguesia contra esta forma de governo que barrava toda a forma de mobilidade econômica,
conseguindo chegar ao poder a burguesia, então classe dominante, apresentou-nos o capitalismo,
por seguinte o direito positivo, este com um viés mais sério individual e unitário, uma visão mais
pura da norma e do Direito. Autores com Marx e Weber, conversavam sobre a situação da
sociedade na época, trazendo críticas como luta de classes, por exemplo. Temos neste contexto
capitalista positivado que o pluralismo jurídico se fazia presente por aqueles que, pela sociedade,
eram tidos como marginalizados, pois por serem contra o sistema da forma que se apresentava,
vinham com um Direito alternativo, diferenciando e se contrapondo aquele posto e positivado.

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Wolkmer aborda como o Direito posto e legitimado pela burguesia possui também a
abordagem capitalista, que se trata de fundamentos egoístas, baseados somente em interesses de
ideologias da classe dominante, que propaga e defende individualismo, não representando as
demandas sócias e por consequência ao longo do tempo se degrada, não mais representando a
parcela considerável da sociedade, que podemos dizer que nunca representou uma quantidade
significante. Portanto surgiram diversos pensamentos que contrapunham este tipo de positivismo,
de lei morta e individual e foi se perdendo espaço ao longo do tempo.
Surge então uma proposta de um novo pluralismo jurídico, tratado pelo autor, este
pluralismo é designado com o “comunitário-participativo”, configura-se por um espaço público
que é aberto e compartilhado de maneira democrática. Este permite que haja um privilégio e
participação de agentes sociais na regulação e formulação das instituições do Estado, permite
assim que o processo histórico se encaminhe conforme bases comunitárias. Esta passagem
representa que o Direito será um fenômeno de resultado de relações sociais, originando a
legalidade a partir de multiplicidades, podendo assim representar algo considerável da realidade
social e da demanda histórica, tendo um ordenamento descentralizado, plural e participativo.
O autor por seguinte, discutindo a atualidade, aborda o Capitalismo periférico, que
seria um modelo de desenvolvimento que se refere à submissão e dependência, com controle dos
setores econômicos, políticos, sociais e culturais de certa localidade a interesses de uma política
internacional, de uma ideologia nacional que causa influência em caráter local, países latino
americanos tendem a ter este tipo de política, que é dependente desta política internacional
imposta, como é o caso do Brasil. O que permite este tipo de situação é exatamente porque temos
uma fraca economia, temos uma dependência econômica externa, países latinos tendem a serem
vistos e tratados como fonte primária do sistema, fonte de exploração e extração, subalternam-se
então a políticas internacionais, ideologias internacionais que vendem e propagam crenças que
não condizem com a realidade local.
Portanto dentro do Brasil temos a constituição de instituições frágeis, que surgiram
pautadas neste Capitalismo Periférico, vendedor de ideias fora do real contexto. Fato este
ocorrido abre-se então precedentes para esse tipo de capitalismo permitir que em países como o
Brasil, o processo de mudança social, de dinâmica, ocorra com maior frequência, pois existe uma
maior discrepância dentro da nação, portanto os conflitos coletivos irão refletir manifestações de
grupos e interesses de parcelas sociais em busca por mudanças, pois possuem uma demanda

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social que não é atendida pelo Estado, surgem, então, reformas necessárias que visam uma
política pluralista.
Vemos que dentro destes contextos abordados pelo autor, da periferia em que o país é
posto, existe uma falta de representatividade do ente estatal para com a sociedade, o próprio
sistema não consegue lidar com novos problemas, com a mobilidade do próprio Direito, não
consegue os absorver e resolve-los. Logo, o sistema tende a desqualificar essas novas demandas
estatais, como foi falado pelo autor, é um Direito individual e de ideologia de apenas uma classe
que é posto, o que sai de fora dela é posto em oposição ao Estado, as demandas sociais tendem a
ser marginalizadas em âmbito estatal, se tenta desqualificar os movimentos sociais que lutam por
esta pluralidade. O autor apresenta três casos ocorridos no ano de 70, 80 e 90, que tendem a
demonstrar os conflitos urbanos e conflitos por propriedade de terra, o posicionamento do Poder
Judiciário mediante a eles. Os casos são o Caso de Diadema (Grande São Paulo), Caso de
Habitação Irregular na Grande Porto Alegre, Caso da Alvorada (RS), mais alguns outros expostos
nas situações.
No que tange as fontes de produção na nova cultura jurídica o autor apresenta os
autores coletivos, estes tidos como recentes, por surgirem em oposição ao posto e com a demanda
social, estes caracterizados como autores de uma política sociológica, são os “novos membros
sociais”, são, portanto, também responsáveis por uma nova política cultural sendo diferenciada
em comparação ao que tínhamos anteriormente. Seguindo aborda uma verificação sobre estes
novos momentos sociais e como eles surgem, pois temos uma insuficiência por parte do Estado e
sua fonte clássica de legalidade baseada em pensamento ocidental, esta deficiência ocasiona um
alargamento dos centros geradores de produção, fazendo com que outros meios de pensamentos e
produção jurídica não convencional sejam produtores de direitos que o Estado não supre com o
positivismo individualista já defasado na atualidade. Através de todo esse movimento dentro do
país, de países latinos principalmente, que muito sofreram com ideologias individualistas que
visam o bem da propriedade, novos sujeitos coletivos se fazem presente para reivindicar direitos,
estes entes possuem uma postura reivindicatória, pois luta por uma representatividade, uma
pluralidade por parte dos entes estatais, também é contestatória, já que apresenta oposição ao
positivismo de letra morta, também possuem uma postura participativa, já que lutam por um
Direito Vivo, aquele que emana da sociedade, se junta com o caso concreto, com a real
necessidade social, portanto cabe a luta por pluralidade e participação de entes coletivos. Tudo

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isto o autor fundamenta na crise que o sistema político vive, pois se nunca representou a real
necessidade social, vive ainda mais pressão diante o surgimento de tanta luta de movimentos
coletivos.
Por sequência o autor quer debater e mostrar os avanços do novo pluralismo jurídico,
apresentando uma visão para explicar no que tange a natureza e a especificidade do pluralismo de
modo geral, a sua abordagem e conceituação filosófica, sociológica e política, discute os valores
e princípios deste. Em segundo momento também quer fazer uma revisão histórica do pluralismo,
falando sobre o “Direito Vivo” e o “Direito dos Juízes”, situações estas que foram de muito
embate entre a escola do “Direito Vivo” contra a escola do positivismo encabeçada
principalmente por Kelsen, com isto o autor apresenta o início da discussão de pluralismo
jurídico advinda desde E. Erlich, mas também, o autor, debate os limites e até onde este
pluralismo atua na esfera contemporânea. Para ele, em geral este novo pluralismo é uma base
teórica para resguardar toda a movimentação e mobilidade social, história, das situações em geral
da sociedade atualmente, é o que apresenta a base teórica de todo o movimento social. Pois já que
vivemos várias realidades, uma pluralidade este viés de direito vivo é possuidor de análises tão
flexíveis a ponto de conseguir explicar muito do que ocorre em nossa sociedade.
Em resolução aos conflitos e carências sociais, primeiramente Wolkmer tem uma
ampla discussão dos problemas que temos em nossa sociedade, posterior a isto apresenta diversos
meios que podem servir de resolução as mazelas sociais. Como valorizar a participação de
comunidades é importante, a presença de audiências públicas, de plebiscitos, como a existência
do veto popular traz as decisões jurídicas mais próximas da sociedade e esta se sente participativa
em decisões que lhes é de interesse.
Mediante o exposto no parágrafo anterior o autor segue sua linha de discussão
trazendo abordagens que tratam do paradigma atual entre pluralismo e o direito individual.
Mostra também como convenções coletivas, como movimentos comunitários, juizados especiais
e técnicas mais abertas do Direito é um avanço para abarcar maior parcela social. Vê-se a
considerável mudança no cenário, fugindo do Direito como sansão, e emergindo para romper
com este pensamento retrogrado e indo em direção a uma representatividade considerável da
comunidade.
Os movimentos sociais e seus pluralismos são as formas de se contrapor ao atual
sistema fechado e não representativo, são meios alternativos de luta para pluralidade que é a real

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necessidade social, pois temos por parte dos entes estatais uma insuficiência em responder a
problemas concretos com real propriedade, não bastando apenas eles serem legitimados, mas lhes
falta o tato real, quando vemos o crescimento de meios que contrapõe o atual modelo instaurado,
se vê a verdadeira representatividade social.
O autor destaca como parece claro o que é a proposta do pluralismo jurídico,
possuidor do teor comunitário participativo, que se destina a contrapor o monismo político e
individual posto pelo Estado moderno. Este pluralismo que possui pressupostos materiais e
formais se legitima nas práticas sociais de cidadanias insurgentes e participativas, fazendo que os
cidadãos sejam fonte legítima do Direito, direitos relacionados às justas satisfações de
necessidades desejadas e reais de uma sociedade, sociedade esta que sempre foi posta em
segundo plano por países que se utilizam desta como fonte de exploração e aplicam um
fundamento que não se baseia nos reais anseios sociais da localidade.
Por fim o autor menciona que o novo Direito proposto em sua obra trata-se do direito
que se baseia nas discussões mais recentes, as quais advêm da “crise dos paradigmas”, pois os
modelos atuais e limitados não mais correspondem às demandas da vida cotidiana e da vida
social política. Também tentou trazer uma conversa entre os atuais autores associados aos
pioneiros na discussão sobre a pluralidade jurídica, assim como o que é tido socialmente na
atualidade como o que foi posto e o que temos de ordenamento, pois apresentou como o
ordenamento subordinava o poder da sociedade às ideologias postas, houve, portanto, uma
demanda por parte de entes estatais e uma maior busca e surgimento de coletividades e
comunidades.
Superados os temas anteriores, o autor chega as suas conclusões finais, de que as
estruturas de capitalismo periférico em que se encontram os países latinos não podem ter a ordem
jurídica baseada na imposição do Estado, pois é preciso reconhecer outras fontes informais de
produção legal. Conclui também que analisando a crise da hegemonia do modelo jurídico
tradicional, houve uma resposta, que se delineou de forma gradual e progressiva, de novos
agentes históricos, que instituíram e pensaram formas alternativas as problemáticas sociais
pontuam que este paradigma criado e desejado, não mais se prende a normas inflexíveis e rígidas,
mas sim a várias fragilidades e constantes conflitos, assim possibilitando maior pluralidade.
Assim como também conclui sobre os novos agentes causadores de mudanças no Estado, a
conversa entre o pluralismo que apesar de abarcar diferentes comunidades e meios une-os para

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resolver problemas de comum interesse, e que outro paradigma de validade para o Direito, é
representado por uma nova espécie de pluralismo, designado como “pluralismo jurídico
comunitário-participativo”.

CRÍTICA
É visível no tanto no decorrer do livro, quanto na própria bibliografia a bagagem de
conhecimento do autor, e consequentemente da obra sobre o assunto abordado. Através disso,
percebemos seguidamente a interação destes escritos com os de inúmeros outros autores, tanto
clássicos como Karl Marx, quanto em autores modernos que tratam mais especificamente do
tema do pluralismo como o caso de Roberto Lyra Filho. Certamente esse é um dos motivos do
grande prestígio e aceitação deste livro no meio científico, citado pelo próprio autor no prefácio
da terceira edição.
Ao começar o livro trazendo um aspecto histórico o autor busca a inserção do leitor
na sua linha de pensamento, dando por meio deste a base para o entendimento mais profundo do
restante de seu conteúdo. De semelhante modo, Paolo Grossi, pesquisador e professor na área de
história do direito, em “Mitologias Jurídicas da Modernidade”, mostra que após a idade média os
paradigmas jurídicos nunca foram realmente superados apenas substituídos por novos modelos
monistas e estatistas. Com isso insere-se a discussão fundamental do livro, até que ponto o
sistema político -jurídico atual consegue se estender.
Visualizando a história e suas implicações de forma semelhante a Marx, Wolkmer
dialoga com o autor em vários momentos, utilizando inclusive o método histórico-dialético.
Todavia, mostra-se equilibrado e sensato ao mostrar e reconhecer a importância tanto de Weber
quanto de Marx, e também suas falhas. Por ser um autor posterior a esses, introduz algumas
leituras mais contemporâneas da realidade, ao criticar Kelsen e falar sobre o Estado de bem-estar
social.
Contudo ao criticar os marcos históricos e as principais correntes de pensamento da
modernidade, deixou-se um pouco de lado as conquistas que foram adquiridas. É correta a análise
de que os projetos de sociedade pós-revolução francesa se fundam num modelo de classes, onde
uns são privilegiados em detrimento de outros. No entanto é inegável alguns avanços
principalmente dos direitos humanos, pelo menos formalmente, com o jusnaturalismo, e a
segurança jurídica e a organização do juspositivismo.

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A crise desses sistemas anunciada pelo autor desde a primeira edição da obra, na
década de 90, vem se mostrando cada vez mais real e presente no dia a dia da política, tanto em
âmbito nacional quanto internacional. Com a segunda quebra da bolsa de valores dos Estados
Unidos, em 2008, criou-se uma enorme instabilidade no modelo internacional. Isso somado aos
acontecimentos da primavera árabe fez com que o modelo de governo em ênfase, e a
globalização fossem seriamente abalados. Desse modo verifica-se ser verdadeiro a insuficiência
do que hoje está posto frente às demandas existentes.
Nos últimos anos houve um aumento no número de candidatos eleitos com propostas
autoritaristas e nacionalista entre os regimes democráticos. De certa forma isso mostra que em
parte o sistema democrático liberal e globalizado não vem mais atendo os anseios da população,
ponto chave e maior bandeira da democracia. Além disso, vemos o modelo jurídico internacional
a beira da falência, com os diversos conflitos internos e externos o que enfraquece os membros da
comunidade internacional e consequentemente o seu corpo como um todo.
Para que não piore a situação atual, é interessante a proposta do autor em buscar um
modelo pluralista de base democrática-participativa, tentando assim manter algumas das
conquistas adquiridas nos séculos anteriores que baseiam nossa sociedade contemporânea, pelo
menos em boa parte dos países
Voltando-se mais especificamente ao caso do Brasil, Wolkmer demonstra sobre
aspectos históricos a formação do positivismo burguês como base do nosso sistema jurídico.
Nesse sentido faz-se uma correlação com Lyra Filho, autor brasileiro, que mostra como o direito,
incluindo o brasileiro, tem servido como instrumento de perpetuação de uma classe dominante no
poder, caso clássico brasileiro, onde vemos às mesmas famílias sendo eleitas em diversos lugares
do país a muitas décadas.
É importante ressaltar também que apesar de democrático nos últimos 30 anos, os
políticos e os grandes empresários mostram-se como pessoas a parte da sociedade, de modo que o
povo não se sente mais representado pelos seus governantes. Do lado do Judiciário e das
legislações, encontra-se um sistema extremamente ineficiente e desatualizado que já não
comportam a realidade do Brasil. Sobre tudo, encontramos no cenário atual a indignação com a
corrupção que toma todos os setores públicos do estado.
Aristóteles quando pensa nas formas de governo possíveis, descreve três formas de
governos, quais sejam, a monarquia, a aristocracia e a democracia, e também suas formas

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degeneradas, respectivamente, a tirania, a oligarquia, e a oclocracia. Quando fazemos um paralelo


entre seus escritos e o momento vivido pelo Brasil atualmente, podemos perceber que nos
encaixamos muito mais em uma oclocracia do que propriamente em uma democracia. Vivemos
então numa forma degenerado do modelo de estado que se propôs.
Contudo, se nos aprofundarmos um pouco mais, voltando ao livro base deste
trabalho, constata-se que temos os sintomas de uma oclocracia, excesso de burocracia e
corrupção, mas temos uma oligarquia quando se trata do modelo jurídico, e de construção
normativa. Isso é notório na construção que o autor traça a trajetória da cultura jurídica brasileira,
onde desde a proclamação da república, inspiradas pelos ideais constitucionalistas norte-
americanos e no positivismo comtiano, centralizou-se o suposto direito na mão do estado, não
sendo considerado direito se fora do mesmo, e usando-o aqueles que estavam no poder para a
perpetuação do status quo.
Ao abordar às necessidades, direitos e conflitos, vem à mente a teoria das três
gerações de direito. Ao relacionar essa teoria com as ideias de insuficiência por parte legislações
e códigos, frente às demandas e implementações dos chamados novos direitos sociais,
percebemos a grande dificuldade, ou até mesmo a incapacidade, do poder público em
implementar efetivamente os direitos de segunda, direitos sociais, e terceira gerações, direitos
difusos e coletivos. É possível então ligar a proposta do autor, sobre pluralismo jurídico com os
direitos chamados de “fraternos”, de terceira geração, uma vez que ao valorizar coletividades e
dar certa autonomia a elas, busca-se atingir suprir às necessidades supramencionadas.
Um dos casos marcantes no Brasil se dá com os indígenas, que, em alguns grupos,
apesar de viverem dentro do território nacional possuem uma cultura totalmente diversa da
maioria da sociedade. Graças a essas disparidades entre culturas, criam-se conflitos entre o
ordenamento jurídico monista e a tradições e normas locais, não sendo respeitadas muitas vezes a
coletividade. Outra situação caricata encontra-se nas favelas e comunidades, onde há uma
institucionalização do tráfico, criando uma um espaço não mais comandado e regido pelo direito
estatal, mas sim pelas organizações criminosas ali instaladas. Nesse último contexto, a ausência
ou a insuficiência do governo brasileiro em atender a população mais pobre levou a aceitação das
instituições criminosas, que proporcionam à população a sensação de pertencimento à
coletividade.

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Com influência dos direitos da fraternidade, facilitou-se e incentivou-se no nosso


ordenamento, através do Novo Código de Processo Civil, a utilização de métodos alternativos de
resolução de conflitos que não o litígio judiciário, como o caso da mediação e arbitragem. Essa
abertura a agentes não estatais como forma reconhecida de resolução de conflitos, caso da
arbitragem, que tem caráter privado, reflete os escritos de Wolkmer quando trata da ineficácia do
poder judiciário. Pelo enorme acúmulo de processos nos tribunais, o poder público se viu
obrigado a modificar a maneira de se ver o processo no Brasil, não vagarosa e litigiosa, mas
célere e buscando incentivar a solidariedade entre as partes. Ademais, essa nova estrutura levanta
a questão do pluralismo jurídico estatalmente reconhecido, visto que descentraliza as decisões,
passando-as por exemplo a uma corte de arbitragem.
Ao relatar os casos de conflitos coletivos, o autor tenta mostra casos que se passaram
nos anos 70, 80 e 90, em boa parte durante a ditadura militar e pós-constituição de 1988. Essa
constituição buscou romper com o regime anterior, zelando em especial pelo valor democrático e
pela busca dos direitos sociais, especialmente das minorias. No entanto, o que surpreende é que
ao lermos a situação um, nos parece muito semelhantes às notícias que se apresentam em nosso
cotidiano atual, como no recente caso da demolição do prédio na Cracolândia em São Paulo. Isso
se mostra preocupante, pois achamos que houve uma grande melhora no contexto social, e
realmente houve avanços, mas eles são em verdade muito menores do que aparentam, colocando
o direito do capital acima do coletivo.
Passando então para as considerações sobre o terceiro capítulo, Wolkmer consegue
trabalhar muito bem na montagem de um modelo jurídico pluralista, dando maneiras viáveis e
concretas do funcionamento do mesmo. Uma tendência entre os autores pluralista é a crítica ao
modelo monista e seus paradigmas, mas sem dar uma proposta sólida de alternativa. Além disso,
é difícil a visualização de uma proposta pluralista sendo implementada, já que para a grande
maioria o que está posto é a única realidade possível. Entretanto, o autor consegue passar com
clareza sua ideia.
Um ponto crucial nessa teoria, trata quanto ao espaço dado aos movimentos sociais
caracterizados pelo autor como possíveis atores sociais. Uma das maiores dificuldades do
congresso atualmente é a demora em tratar de assuntos de enorme pertinência, principalmente se
tratando de direitos das minorias. Em razão disso, o judiciário muitas vezes é forçado a “legislar”,
fugindo de sua área de atuação, em decisões através das jurisprudências, como no caso do

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casamento homoafetivo. Trazendo os grupos sociais ao âmbito da política nacional e dando maior
autonomia para tais grupos, a necessidade de dinamizar o legislativo brasileiro seria diminuída
consideravelmente.
Outro aspecto importante seria que aqueles que hoje se sentem marginalizados ou
lesados pela legislação vigente, teriam mais facilmente seus anseios atendidos, seja pela
legislação mais abrangente, ou pelo próprio grupo que poderia também ser fonte normativa.
É interessante também a abordagem que se coloca quanto às necessidades como
legitimadoras dos direitos sociais. Em primeiro lugar no diz respeito às necessidades de cada
nação, sendo que no caso brasileiro muito se espelha nos países do Norte. Em certa medida isso
não é errado, visto que nós estamos inseridos também em um contexto social global, o que nos
coloca também como participantes dos debates sobre novos direitos humanos. Todavia, é válido o
que é exposto no livro, apenas com algumas ressalvas, principalmente, pois objetiva a
emancipação do modelo de governo monista europeu e norte-americano, visando assim uma
melhor adequação entre direito e sociedade.
Nesta etapa o autor se esforça em definir o pluralismo que deseja ver tonar-se real na
sociedade, um pluralismo que, ao final define como um modelo compartilhado de pluralismo.
Mas para chegar lá perpassa pela contradição do pluralismo com a hegemonia estatal monista,
demonstrando a autonomia e heterogeneidade da natureza do pluralismo em discussão.
Por um lado defende que o pluralismo não principalmente das relações da vida e das
culturas, nem tanto de ideais sociais ou econômicos, mais a frente traz definições de pluralismo
baseadas especificamente nestes ideais, contudo, apenas são possíveis estas divisões, pois o
ideário social e econômico transforma, nas nações que os adotam, as relações básicas dos
indivíduos, suas associações, igrejas, escolas, comércios; torna-se uma multiplicidade de
possíveis interpretações que convivem no mesmo espaço e tempo.
Numa perspectiva política, o professor Wolkmer entende o pluralismo como uma
diretriz estratégica de administração descentralizada da nação, há de fato uma complexa
sociedade formada por diversos grupos organizados formando pontos de poder autônomos, que
até podem ser conflitantes entre eles, mas de maneia geral, buscar erradicar com o controle
unitário, monista, hegemônico do Estado. E na verdade, é impossível que num estado
determinado a ser a única fonte real de direito, grande mentira que conta para si mesmo, é

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impossível esquivar-se da dialética que passa a ser formada pelo real direito que emerge da
população e conflita, ou ao menos, ignora o monopólio estatal da criação e aplicação do direito.
Hodiernamente, o próprio ordenamento estatal vem reconhecendo cada vez mais
emanações plurais do direito, isto, porém, ainda não é exatamente o pluralismo que o autor
procura, não simplesmente legitimação de tribunais de júri, de norma de direito comercial
internacional, de contratos que dispõe diversamente dos códigos, chegaremos mais a frente ao
pluralismo em questão.
Bobbio ainda reconhece no âmbito político o pluralismo econômico e o ideológico, o
primeiro sendo desvendado nas relações das organizações do mercado, nos fluxos das indústrias,
na competição das empresas entre si; já o ideológico, reconhece como a convivência de diversas
visões de mundo, programas políticos, todos diversos.
Um desabafo cabe aqui com a realidade atual, não só brasileira, mas aparentemente
mais profunda aqui, talvez por sermos uma democracia ainda muito jovem, sendo o atual o maior
período democrático já visto na história do país; a impressão deixada pela dialética das ideologias
presentes no Brasil é de que o brasileiro ainda não aprendeu a viver numa democracia (talvez seja
algo da humanidade), mas há sempre uma necessidade de sobrepor a opinião sobre o outro, de
tentar convencer (mesmo pela coação) o outro a agir de acordo com aquilo que “eu” acho correto.
O debate de ideias como proposto no exercício dialético de Marx se perde em um
eterno embate de tese e antítese, jamais alcançando uma síntese. Não falamos do consenso, pois
nem sempre ele é possível, porém o debate é empobrecido por jamais buscar novas soluções,
apenar ganhar “no grito”, na fundamentação mais aprofundada, mais coerente ou mais bem
apresentada, perde-se totalmente o princípio da tolerância, já no sentido literal de tolerar a
existência do diverso, sendo que, em nossa visão, está tolerância já deveria assumir um caráter
mais cooperativo entre a diversidade, o reconhecimento dela, a aceitação dela e a convivência na
busca da construção de uma sociedade para todos.
O autor ainda reconhece traços valorativos do pluralismo, talvez a única essencial
para que se possa afirmar a existência da pluralidade jurídica seja a autonomia intrínseca aos
grupos que compõe a sociedade, cada uma com suas normas, com seu próprio ordenamento,
sejam famílias, igrejas, associações, que funcionam com, sem ou apesar do Estado. A
descentralização, que vemos como derivada da autonomia, sendo cada instituição autônoma,

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independe uma da outra, o exercício do poder passa a ser deslocado das intuições formais do
Estado e passa a ser fragmentado localmente em todas as instituições que compõe a nação.
Partindo então para o localismo, destacamos que é esta característica que garante a
capacidade de participação das diversas forças sociais e é, possivelmente, a característica que tem
a capacidade de manter o pluralismo vivo.
Quando se fala em conceitos alheios ao direito como a gestão empresarial, aplica-se a
prática de planejamentos participativos em várias empresas, principalmente as menos
tradicionais, pois se identificou que quanto mais os colaboradores se sentem parte do processo
decisório, mais se sentem responsáveis pelos resultados; analogia melhor não caberia para
defender a característica localista do pluralismo, apenas por emergir localmente, das relações
dentro dos grupos organizados da sociedade, envolvendo diretamente os indivíduos é que se
legitimam as normas; o contrário é facilmente visto em realidades de monopólio do poder
normativo exercido por representantes em democracias, onde o povo muitas vezes não reconhece
as leis publicadas e impostas pelo Estado, como posto por Georges Gurvitch, um direito social
autônomo.
Fica impossível não criar então uma diversidade jurídica numa (des)ordem pluralista,
enquanto os ordenamentos monistas fingem possuir uniformidade sendo regida por seus códigos
que propõe formalmente direitos e deveres, ou mesmo aqueles que procuram materializar por
meio das normas a realidade proposta por suas cartas constitucionais, buscam sempre a
construção da igualdade, enganando-se eternamente, por não reconhecer a natureza desigual da
humanidade, ou por denunciar como prejudicial esta desigualdade; há sim desigualdades
perniciosas, mas enquanto o ordenamento estatal propõe uniformidade em geral, o pluralismo
jubila com a diversidade, reconhece na dialética do direito social conflitante uma possível e
provável resultante positiva para a sociedade. É claro que tal júbilo apenas é possível numa
sociedade permeada pela tolerância, que como já expusemos com pesar, não é o que se vê hoje.
Num enfoque ainda político-ideológico, Bobbio ainda descreve o pluralismo com três
modelos básicos, o socialismo com grande similaridade ao sindicalismo libertário de Proudhon; o
cristianismo social que expressa uma ideia orgânica de mundo, como um sistema formado pelos
grupos sociais numa organização hierárquica e finalística. Nos preocuparemos mais em falar
sobre a terceira, por ser a que demonstrou maior relevância tradição ocidental: o liberalismo
democrático.

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O pluralismo liberal é movido pela dialética entre a suposta necessidade de existência


de um governo representativo-democrático da sociedade e a própria sociedade, que não apenas é
autônoma ao governo, como também é autônoma (em partes) ao poder político. É claro que na
realidade jurídica brasileira, ainda mais depois dos últimos anos de escândalos expondo o
aparelhamento do estado pela iniciativa privada e o aparelhamento da iniciativa privada pela
política, manifesta-se uma nefasta relação quase que de simbiose entre grandes entidades
privadas com organizações pútridas criadas e cultivadas nas instituições políticas e estatais.
Depois destaca as principais críticas ao pluralismo, que apontam a exclusão parcial ou
total do Estado, uma possível anarquia gerada pela fragmentação, a possível (e provável) redução
das decisões às elites econômicas e a constante ameaça de autoritarismo emergente de um
monopólio de poucos sobre os interesses da coletividade.
Sobre a exclusão do Estado, temos a dizer que o próprio Estado, em seu caráter
monista, uniformizador, exclui grandes camadas da sociedade por natureza, sendo o poder estatal
predominantemente dominado pelas forças econômicas, mesmo nas democracias, estes interesses
já são os defendidos nas realidades em que o Estado possui o monopólio do Direito, já há uma
redução do poder de decisão às elites econômicas e que fazem valer suas normas a partir do poder
esmagador do aparato coercitivo do Estado sobre todos aqueles que não condizem com os
preceitos determinados pelo por estas elites.
Se por um lado o pluralismo traz o risco de uma desagregação anárquica, o
monopólio estatal certamente faz emergir o conflito da realidade fática vivida pela população
com aquilo que o Estado “pensa” ser o ideal. Por outro, se o pluralismo arrisca deixar o poder nas
mãos de elites econômicas, arrisca o autoritarismo de interesses de poucos sobre muitos, o Estado
consolida o poder nas mãos de elites políticas (geralmente econômicas também), o Estado,
mesmo que represente o interesse da maioria, acaba por oprimir as minorias que não se
enquadram nos padrões ideais propostos por ele.
Para o professor Wolkmer, o modelo compartilhado de pluralismo é aquele que é
fundado sob o compromisso de consolidar o predomínio da vontade geral de maneira compatível
com os interesses particulares. Seria esse o sonho?
O liberalismo, quando surgiu na Inglaterra, vinha com o intuito de compatibilizar o
poder estatal com o interesse individual, foi feliz nesse intento, mas viu-se posteriormente
transtornado com o fato dos próprios interesses individuais sobressaírem uns sobres os outros, até

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o ponto da dominação de todos por pequenas classes econômicas dominantes; o comunismo


científico, nunca aplicado por sua natureza utópica (por mais que alguns marxistas ainda
discordem desta posição), quando em processo de implementação, viu seus ideais degenerando -
se no socialismo burocrático, quando a ordem hegemônica revolucionária passou a ser
conservadora, com o único intuito de expandir e de manter o poder, tornando-se reacionária ao
combater veementemente qualquer tipo de resistência ao poder instituído.
A proposta do pluralismo do professor Wolkmer soa como música a qualquer ouvido
que não busque o totalitarismo ou a anarquia, porém, como o alcançar?
O autor vem conceituar de maneira simplificada o pluralismo jurídico como a
existência de diversas práticas jurídicas num mesmo espaço sócio-político, transpassada por
consenso ou conflito, oficial ou não. Traz a tese do professor Boaventura de S. Santos derivando
o pluralismo das origens coloniais ou não coloniais dos estados, no caso brasileiro, a origem
colonial é gritante, com as práticas jurídicas dos nativos, dos portugueses, dos africanos, dos
imigrantes alemães, italianos e de outras partes da Europa que vieram em grandes quantidades.
Por momentos na história do continente latino-americano, houve convivência de práticas
jurídicas dos primeiros colonizadores com os povos que aqui já viviam, posteriormente com os
escravos africanos, os brasileiros e os imigrantes europeus.
Surgido principalmente da injustiça do direito estatal, incapaz de reconhecer e atender
as especificidades do povo que sob sua égide vive e da ineficácia do direito estatal em se fazer
valer, sendo por diversos momentos ignorado, ou apenas parcialmente relevado, o pluralismo
emerge com o objetivo, não necessariamente de suplantar o direto estatal, mas de ser entendido
como a totalidade do direto de uma sociedade, tanto o estatal como o surgido do povo, tanto o
oficial quanto o não-oficial.
Porém algumas objeções são postas, o jurista Miguel Reale, por exemplo, expõe que
o pluralismo é demasiadamente difícil de ser sistematizado, por existirem tantas variações quanto
há representantes, sendo extremamente fluido, é impossível de ser acompanhado, para Miguel
Reale, o pluralismo jurídico não se diferencia tanto do monismo, pois, em nossa visão, falta uma
autocrítica por parte dos defensores do pluralismo, pois como o respeitável jurista põe, tendências
dentro do pluralismo acabam por excluir ou sobrepor umas as outras da mesma maneira que o
monismo faz com o resto das possibilidades.

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Para Reale a certas funções que não podem ser exercidas por indivíduos ou
associações por gerar grave perigo a ordem social, entendemos que isso não é necessariamente
verdade, um sistema de controle social deve estar sempre em funcionamento, seja para o
pluralismo seja para o monismo, porém, vemos que pela fragmentação e localismo do pluralismo
jurídico, este seria mais viável de ser controlado socialmente, por outro lado, pela possibilidade
de gerar mais conflitos em si mesmo, o pluralismo também carrega consigo o risco da
degeneração da ordem estatal.
O professor Wolkmer fundamenta o pluralismo como novo paradigma jurídico a
partir de fundamentos de efetividade material que abrange o próprio conteúdo do direito e suas
estruturas constitutivas e de fundamentos de efetividade formal que se referem à ordenação
prático-procedimental. Teceremos alguns comentários sobre a segunda na perspectiva da
reordenação política do espaço público: democracia, descentralização e participação.
Se faz necessário romper com o poder centralizador que impede as mudanças
emergentes da população, formas de subverter o pensamento hegemônico e mecanismos práticos
de intervenção participativa do povo na determinação do direito, surpreendemo-nos ao ler alguns
dos mecanismos citados e notarmos que eles não estão inseridos em nosso ordenamento, vemos
projetos de iniciativa popular por vezes corrompidos pelos agentes legislativos, plebiscitos que
não são respeitados, quase inexistente uso da prática do referendo popular para legislações,
inexistência do veto popular sobre projetos de leis (muitos que são votados na calada da noite, em
meio a desastres ou grandes manifestações) e inexistência de ato revogação ou reconfirmação de
representante político ou servidor público. Por pior que tenha se tornado um representante eleito,
por pior que seja um servidor público, ambos seguem suas vidas na vida pública, o agente eleito
se preocupando com a próxima eleição, o servidor concursado com a sua progressão e sua
aposentadoria apenas.
Apesar de um cenário em geral pessimista, iniciativas como a iniciada na cidade de
Porto Alegre no Rio Grande do Sul de orçamento participativo iluminam os caminhos para novas
formas de participação na tomada de decisão e no planejamento da sociedade.
Tendo sido escrita por várias mãos, num período relativamente extenso, as opiniões
aqui apresentadas talvez variem de certa maneira, é por isso que vemos agora, talvez uma certa
incoerência na defesa tão ferrenha do pluralismo jurídico, em um momento da história que que
cada vez mais se busca unir os direitos das nações por meio de Unificações Normativas, em que a

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sociedade ocidental busca defender direitos humanos muitas vezes em detrimento das culturas
locais (vide práticas extremistas islâmicas), chega a soar até errado, senão errado, mas estranho,
defender que este tipo de pluralismo deva ser aceito e tolerado por fazer parte do direito
insurgente nestas sociedades.
Também, que o monopólio do estado na fabricação do direito já foi há muito tempo
deixado de lado, assinatura de convenções internacionais de direitos humanos, de comércio, ou
até mesmo casos como o direito desportivo em contraposição com o direito trabalhista, ainda
direito econômico produzido por empresas de rating sendo quase que imposto ao ordenamento
nacional ou ainda a aceitação/delegação do direito de produzir direito para entidades privadas,
como a ABNT, por exemplo, já é passado o tempo em que apenas o Estado diz o que é direito,
não apenas ele delega esta função, como por vezes se vê obrigado a aceitar imposições externas,
como por exemplo acordos já feitos como o Fundo Monetário Internacional, que obrigou o Brasil
a pôr determinadas metas de superávit primário como condição de empréstimos no fim da década
de noventa.
Algumas coisas parecem claras, não se pode aceitar o pluralismo de olhos vendados,
aceitando-o sempre que não interferir no grupo vizinho, mas devemos, numa nação, no mundo,
resguardar direitos fundamentais aos seres humanos; mas também não se pode confiar cegamente
na competências dos Estados em legislar de modo que abranja toda a diversidade dos seus povos,
que reconheça e empodere cada um de seus grupos a se reconhecerem e atuarem ativamente
dentro da sociedade com base num Direito produzido unicamente por uma instituição, que cada
vez mais se degenera frente a uma crise representativa generalizada.
Talvez a proposta do professor Wolkmer de um pluralismo jurídico comunitário-
participativo seja algo a se levar muito em consideração nos ordenamentos estatais, buscar inserir
na política do Estado ferramentas de participação ativa dos grupos que o compõe, práticas que
valorizem o localismo, proteja as culturas locais, mas também proteja o ser humano de abusos
que podem ser causados por uma possível desordem do pluralismo. Talvez esse pensamento
utópico nos leve cada vez mais perto de um ideal de cultura jurídica que realmente respeite as
diferenças, empoderes os indivíduos e mantenha a ordem social.

Baixado por Angélica Corrêa (gillizinha@hotmail.com)

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