TEORIAS PSICANALÍTICAS
Tipo: Texto
Assunto / tema: Psicanálise
Referência bibliográfica:
FREUD, Sigmund (1912). Recomendações ao médico que pratica
psicanálise. São Paulo: Jornal de Psicanálise, 1999. V 32, N 58/59, PP
427-36 (digitalizado).
Resumo / conteúdo de interesse:
Em Recomendações ao médico que pratica psicanálise, Freud, exemplifica e
descreve orientações à analistas, que na época, 1912, era praticado por aquele
que buscasse a medicina como profissão, ou seja médicos.
O texto é atemporal, como maioria da obra de Freud e traz importantes referências
e descrição de técnicas vivenciadas pelo autor ao longo dos anos para os
profissionais que pretendem se tornar psicanalistas.
Para Freud, esse artigo tem como finalidade poupar atuais médicos de esforços e
práticas desnecessárias para a análise em si, mas faz notas afirmando que todo o
narrado é regulado em sua vivência individual.
Ele discorre sobre a técnica e traz estratégias e ressalvas sobre como e se o
analista deve fazer anotações do relato do analisando versus guardar na memória
o que é dito pelo paciente, discorre sobre esforço de atenção flutuante do analista,
faz recomendações sobre publicações cientificas de pacientes, ressalta a
importância do distanciamento emocional e até condena a troca de narrativas
íntimas do analista e paciente.
Por fim, o artigo publicado em 1912 segue como referência para aqueles que
buscam um roteiro didático na prática de psicanálise pela visão de Sigmund Freud.
Assertividade, credibilidade, técnica, respeito são valores tratados ao longo do
texto. E reforça que enquanto analistas deve-se buscar uma progressiva
experiência para aprimorar a técnica na tratativa de neuroses.
Citações: Página:
1 Ao analista a tarefa mais difícil incide em arquivar na memória todos os nomes, 112
datas, detalhes de lembranças, pensamentos espontâneos e produções
patológicas que um paciente relata no ato do tratamento. Esses detalhes podem
durar meses e anos e esse cuidado deve ser levado a não confusão dos vários
pacientes atendidos ao dia. Tal ato, de memorizar, devido à quantidade de
pacientes atendidos ao dia elevará a credibilidade do analista em referência a sua
técnica na percepção do paciente.
2 Com essa técnica de “atenção flutuante” feita pelo analista, faz com que o 113
analisando conte tudo o que lhe acontece, sem crítica ou seleção. Porém, se o
médico se comporta de outro modo irá perder a vantagem da obediência à “regra
fundamental da psicanálise” pelo paciente. Para o médico, a regra pode ser
formulada assim: conservar toda influência consciente longe de sua capacidade de
observação e se entregar à sua “memória inconsciente”, ou, de forma técnica:
escutar e não se preocupar em notar alguma coisa.
3 O médico deve anotar o relato do paciente apenas com a justificativa de 114
intenção de tornar o caso objeto em uma publicação científica. Não há proibição,
porém deve-se ater aos protocolos exatos. Em casos clínicos, assumem uma falsa
exatidão de que a “moderna” psiquiatria oferece exemplos notórios. Além de
cansativos ao leitor, se ele, o leitor, permanecer disposto a acreditar no analista,
manterá a credibilidade na narrativa de pouca elaboração que ele cometeu no
material.
4 A psicanálise reivindica para si é o fato de nela combinarem pesquisa e 114/115
tratamento. Mas a técnica da psicanalise contraria, a partir de certo ponto, o
tratamento. Não é indicado trabalhar cientificamente um caso enquanto seu
tratamento não foi concluído: seja na composição de sua estrutura, previsão de
seu prosseguimento, do tempo de registro do estado em que se acha, de acordo
com a exigência do interesse científico. A conduta correta, para o analista, é não
especular e não cogitar enquanto analisa, e deixar o material agregado ao trabalho
sintético do pensamento apenas depois que a análise for concluída.
5 O objetivo dessas regras convergidas para o médico tem a intenção de criar, a 116
contrapartida da “regra fundamental da psicanálise” colocada para o analisando. O
analisando deve comunicar tudo o que sua auto-observação capta, suprimindo
qualquer oposição lógica e afetiva que possa o levar a fazer uma seleção de seu
relato. O médico deve utilizar tudo o que lhe é comunicado para a finalidade da
interpretação, do reconhecimento do inconsciente oculto, sem trocar pela sua
própria censura a seleção a que o doente abdicou. A fórmula seria: o médico deve
voltar seu inconsciente, como órgão receptor, para o inconsciente emissor do
doente. Assim o inconsciente do médico está capacitado a mediante os derivados
do inconsciente do analisando que lhe foram comunicados, reconstruir o
inconsciente dos pensamentos espontâneos do paciente.
6 [...] O médico pode tolerar em si oposições que afastam de sua consciência o 116
que foi percebido por seu inconsciente; caso não o faça introduziria na análise um
novo tipo de seleção e distorção, muito mais prejudicial do que a causada pelo
recurso à atenção consciente.
7 Anos atrás, dei a seguinte resposta à questão de como alguém pode tornar - se 117
psicanalista: “Pela análise dos próprios sonhos”. Essa preparação é o suficiente
para muitas pessoas, mas não para todos que querem aprender a analisar.
8 [...] muitas vantagens; o sacrifício de revelar a intimidade a um estranho, sem que 117
a alguma doença o force a isso, é recompensador. A pessoa realiza muito mais
rapidamente e com menor gasto afetivo a intenção de tomar conhecimento do que
traz escondido em si mesma, adquire finalmente impressões e convicções que
busca em fontes de conhecimento e pode apreciar a longa relação espiritual que
costuma se estabelecer entre o analisando e aquele que o guia.
9 [...] como analista, quem desprezou o cuidado de analisar a si mesmo, tem a 117/118
penalidade da incapacidade de aprender mais que uma certa medida de seus
pacientes, corre também um perigo mais sério e que pode se tornar perigo para os
outros. Aquele que não se analisa projetará sobre a ciência, como teoria de
validade geral, o que em obscura percepção ele discerne das características de
sua própria pessoa, o que pode atrelar descrédito para o método psicanalítico.
10 [...] dando-lhe notícias confidenciais de sua vida, para o analista jovem e 118
entusiasmado, que age com essa abordagem de uma confiança vale a outra, e que
age como quem solicita intimidade de outro deve dá-la em troca, deve-se tomar
cuidado, pois na relação psicanalítica muita coisa transcursa de modo distinto do
que se esperaria conforme a psicologia da consciência. A experiência não depõe a
favor de uma técnica afetiva semelhante. E com a dita “experiência” é fácil
abandonar o terreno psicanalítico e se aproximar do tratamento por sugestão,
11 Uma atitude íntima do médico dificulta a resolução da transferência. O 118/119
médico deve ser opaco para o paciente, e, como um espelho, não mostrar
senão o que lhe é mostrado.
12 [...] e prescreva elevados objetivos para os desejos dela. Nem todos os 119/120
neuróticos possuem grande talento para a sublimação; de muitos podemos supor
que não teriam ficado doentes, caso conseguissem sublimar seus instintos. Caso o
médico pressione a sublimação e a retirada de gratificações de instintos mais
imediatas e cômodas, na maioria dos casos isso torna a vida deles ainda mais
difícil do que eles a sentem. Na condição de médico deve-se, sobretudo ser
tolerante com as fraquezas do doente. É preciso considerar que pessoas adoecem
justamente na tentativa de sublimar seus instintos pela sociedade, e que naqueles
capacitados para a sublimação este processo costuma se efetuar por si mesmo,
assim que as inibições são vencidas pela análise.
13 É errado colocar tarefas para o analisando, dizer por exemplo que ele deveria 120/121
juntar suas lembranças, meditar sobre um período de sua vida etc. Ele tem que
aprender, que apenas pela observância paciente da regra psicanalítica que manda
afastar a crítica ao inconsciente e seus derivados, que se resolve os mistérios da
neurose. Não aconselho que pacientes recorram à leitura de textos psicanalíticos;
peço que aprendam na sua própria pessoa. Desaconselho também que se procure
o apoio de pais ou parentes, dando-lhes uma obra de psicanálise para ler, o que
pode criar oposição dos parentes ao tratamento psicanalítico de um dos seus.
Ressalto a esperança de que a progressiva experiência dos analistas chegará a
um acordo quanto à técnica mais adequada para o tratamento dos neuróticos. Com
relação ao tratamento de parentes, revelo minha perplexidade e deposito bem
pouca confiança no seu tratamento individual.
Considerações do pesquisador (aluno): o texto aborda como médicos devem se
portar no tratamento de analisandos, ou seja, pacientes. Assertividade,
credibilidade, técnica, respeito são valores tratados ao longo do texto. E reforça
que enquanto analistas deve-se buscar uma progressiva experiência para
aprimorar a técnica na tratativa de neuroses.
Indicação da obra: médicos, psicólogos, psicanalistas, acadêmicos de cursos
ligados a medicina, psicologia e psicanálise, pós-graduandos em ensino.
Local: arquivo em PDF disponível em http://biblioteca.sbpsp.org.br/