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ÍNDICE
TíTULO I
DO CASAMENTO
CAPÍTULO I
DAS FORMALIDADES PRELIMINARES
1. Introdução
................................................................ 1
2. Processo de habilitação ............................................ 2
3. Documentos necessá rios .......................................... 3
3.1. Certidã o de nascimento ou prova equivalente.. 3 3.2. Declaraçã o
do estado, do domicílio e da residência dos contraentes e de seus pais,
se forem
conhecidos ........................................................ 4
3.3. Autorizaçã o das pessoas sob cuja dependência
legal estiverem, ou ato judicial que a supra ..... 5 3.4. Declaraçã o
de duas pessoas maiores, parentes
ou estranhos, que atestem conhecer os nubentes
e afirmem nã o existir impedimento.................. 6 3.5. Certidã o de
ó bito do cô njuge falecido, da anulação do casamento anterior ou do
registro de
sentença de divó rcio ......................................... 6
CAPÍTULO II
DOS IMPEDIMENTOS MATRIMONIAIS
4. Introdução
................................................................ 7 5.
Impedimentos absolutamente dirimentes ................. 9 5.1.
Impedimentos resultantes do parentesco (consangü inidade, afinidade e
adoção) ................... 9
5.2. Impedimento resultante de casamento anterior 11
5.3. Impedimentos decorrentés de crime ................. 12
6. Impedimentos relativamente dirimentes .................. 12
6.1. Coaçã o e incapacidade ..................................... 12
6.2. Rapto
................................................................ 13
6.3. Falta de consentimento ..................................... 14
6.4. Idade nupcial ....................................................
15
7. Impedimentos proibitivos ou meramente impedientes 15
7.1. Confusã o de patrimô nios .................................. 16
7.2. Confusã o de sangue (turbatio sanguinis) ......... 16
7.3. Tutela e curatela ...............................................
17
7.4. Juiz e escrivão ..................................................
17
8. Oposição dos impedimentos .................................... 18
CAPÍTULO III
DA CELEBRAÇÃ O DO CASAMENTO
9. Formalidades
............................................................ 19
10. Casamento por procuração .......................................
21
11. Momento da celebração ...........................................
22
VIII
CAPÍTULO IV
DAS PROVAS DO CASAMENTO
12. Certidã o do registro
................................................. 24
13. Posse do estado de casados ......................................
25
CAPÍTULO V
ESPÉ CIES DE CASAMENTO
14. Introdução
................................................................ 26
15. Casamento putativo ..................................................
27
16. Casamento nuncupativo e em caso de moléstia grave 29
17. Casamento religioso com efeitos civis ..................... 31
18. Casamento ineficaz (lato senso) ..............................
32
18.1. Casamento inexistente .................................... 32
18.2. Casamento inválido ........................................ 34
18.2.1. Casamento nulo ................................... 36 18.2.2.
Casamento anulá vel............................. 38 18.2.2.1. Infração de
impedimento rela
tivamente dirimente .............. 38 18.2.2.2. Erro essencial sobre a
pessoa
do outro cô njuge ................... 40
19. Casamento irregular .................................................
43
CAPÍTULO VI
EFEITOS JURÍDICOS DO CASAMENTO
20. Disposiçõ es gerais
.................................................... 44 IX
21. Deveres de ambos os cô njuges (recíprocos) ............ 45
21.1. Fidelidade recíproca .......................................
46
21.2. Vida em comum no domicílio conjugal ......... 46
21.3. Mú tua assistência ............................................
47
21.4. Sustento, guarda e educaçã o dos filhos .......... 48
22. Direitos e deveres de cada cô njuge .......................... 48
23. Suprimento judicial do consentimento .................... 52
24. Efeitos da falta de consentimento ............................
53
CAPÍTULO"VII
25. Princípios bá sicos
..................................................... 53
26. Regime da separação legal (obrigató rio) ................. 55
27. Regime da comunhão universal ............................... 58
27.1. Bens excluídos ................................................
58
27.2. Outras disposiçõ es ..........................................
61
28. Regime da comunhão parcial ou limitada................ 61
29. Regime da separação convencional ......................... 63
30. Causas terminativas..................................................
64
31. Da separação judicial ...............................................
65
31.1. Espécies e efeitos da separaçã o judicial ......... 65
31.2. Da separaçã o judicial por mú tuo consentimento 67
31.2.1. Características. Requisito ................... 67
31.2.2. Procedimento. Cláusulas obrigató rias 68
X
REGIME DE BENS NO MATRIMÔ NIO
CAPÍTULO VIII
DISSOLUÇÃ O DA SOCIEDADE CONJUGAL
31.3. Da separaçã o judicial a pedido de um dos cô njuges (litigiosa)
............................................... 70 31.3.1. Conduta
desonrosa ............................... 72
31.3.2. Grave infraçã o dos deveres do casamento 73 31.3.3.
Insuportabilidade da vida em comum.... 75 31.3.4. Ruptura da vida em
comum e grave doen
ça mental ............................................. 76
31.3.5. Separaçã o de corpos ........................... 77
31.4. Da proteçã o da pessoa dos filhos .................... 78
31.5. Do uso do nome ..............................................
80
31.6. Restabelecimento da sociedade conjugal ....... 82
32. Do divó rcio
.............................................................. 83
32.1. Introduçã o .......................................................
83
32.2. Divó rcio-conversã o ........................................ 85
32.3. Divó rcio direto ...............................................
88
CAPÍTULO 1X
CONCUBINATO E UNIÃ O ESTÁ VEL
33. Concubinato. Conceito e evolução .......................... 92
34. Regulamentação da uniã o está vel ............................ 93
TíTULO II
DAS RELAÇÕ ES DE PARENTESCO
CAPÍTULO 1
DISPOSIÇÕ ES GERAIS
35. Introdução
................................................................. 97 X1
36. O vínculo de parentesco: linhas e graus .................... 97
37. Espécies de parentesco .............................................
99
CAPÍTULO II
DA FILIAÇÃ O NO CASAMENTO
38. Introdução
................................................................ 100
39. Presunção legal de paternidade ................................
101
40. Açã o negató ria de paternidade................................ 104
CAPÍTULO III,
DO RECONHECIMENTO DOS FILHOS
41. Filiação havida fora do casamento ........................... 107
42. Modos de reconhecimento dos filhos ....................... 109
42.1. Reconhecimento voluntá rio ............................ 109
42.2. Reconhecimento judicial (investigaçã o de paternidade e maternidade)
................................ 113 42.2.1. Legitimidade para a ação
.................... 114 42.2.2. Fatos que admitem a investigaçã o de
paternidade ......................................... 115
42.2.3. Ação de investigaçã o de maternidade .. 117
CAPÍTULO IV
DA ADOÇÃ O
43. A adoção no Có digo Civil ........................................
117
44. A adoção no Estatuto da Criança e do Adolescente 121
CAPÍTULO V
DO PÁ TRIO PODER
45. Conceito e características .........................................
123
46. Conteú do do pá trio poder ........................................
125
46.1. Quanto à pessoa dos filhos ............................. 125
46.2. Quanto aos bens dos filhos ............................. 126
47. Extinçã o, suspensã o e perda do pá trio poder ........... 127
47.1. Extinçã o .........................................................
127
47.2. Suspensã o e perda ..........................................
128
CAPÍTULO VI
DOS ALIMENTOS
48. Conceito. Espécies
................................................... 130 49. Obrigaçã o
alimentar e direito a alimentos. Caracte
rísticas
......................................................................
133
50. Pressupostos. Pessoas obrigadas ..............................
138
51. Meios de assegurar o pagamento da pensã o ............ 143
51.1. Açã o de alimentos ..........................................
143
51.2. Meios de execução da prestaçã o nã o satisfeita 146
TíTULO III
DOS INSTITUTOS PROTETIVOS
CAPÍTULO 1
DA TUTELA
52. Conceito. Espécies
................................................... 149 XIII
53. Regulamentação da tutela ........................................
152
54. Da cessação da tutela ...............................................
154
CAPÍTULO 11
55. Conceito. Características ..........................................
155
56. Espécies de curatela
................................................. 158
57. Regulamentação da curatela . ............................. 161
DA CURATELA
58. Conceito e características .........................................
163
59. Sucessã o provisó ria..................................................
165
60. Sucessã o
definitiva................................................... 166
XIV
CAPÍTULO 111
DA AUSÊ NCIA
TíTULO I
DO CASAMENTO
CAPÍTULO I
DAS FORMALIDADES PRELIMINARES
1. INTRODUÇÃO
O direito de família divide-se em três partes: casamento, relaçõ es de parentesco e institutos protetivos da tutela,
curatela e ausência.
Casamento é a uniã o legal entre um homem e uma mulher, com o objetivo de constituírem família legítima. Uniã o
legal é aquela celebrada com observâ ncia das formalidades exigidas na lei. E entre um homem e uma mulher,
porque o casamento entre pessoas do mesmo sexo ainda nã o é permitido, embora existam movimentos nesse
sentido. O casamento celebrado sem as solenidades previstas na lei e entre pessoas do mesmo sexo é
inexistente, bem como o é aquele em que os nubentes nã o manifestam o consentimento. O casamento cria a
família legítima (CC, art. 229). A união está vel, reconhecida pela Constituição Federal como entidade familiar,
pode ser chamada de família natural. Quando formada por somente um dos pais e seus filhos, denomina-se
família monoparental (CF, art. 226, § 4°-).
Quanto à natureza jurídica, o casamento, na concepção clássica, também chamada de individualista, é uma
relaçã o puramente contratual, resultante de um acordo de vontades, como acontece nos contratos em geral. A
doutrina institucional, também denominada supra-individualista, sustenta que o casamento é uma grande
instituição social, a ela aderindo os que se casam. A terceira corrente, a eclética, constitui uma fusã o das
anteriores, pois considera o casamento um ato complexo: um contrato especial, do direito de família, mediante o
qual os nubentes aderem a uma instituição pré-organizada, alcançando o estado matrimonial.
2. PROCESSO DE HABILITAÇÃ O
Interessa ao Estado que as famílias se constituam regularmente. Por isso, cerca o casamento de um verdadeiro
ritual, exigindo o cumprimento de uma série de formalidades. As preliminares dizem respeito ao processo de
habilitação, que se desenvolve perante o oficial do Cartó rio do Registro Civil (CC, art. 180). Destina-se a
constatar a inexistência de impedimentos matrimoniais e dar publicidade à pretensã o dos nubentes. Devem
estes requerer a instauraçã o do referido processo no cartó rio de seu domicílio. Se domiciliados em municípios
ou distritos diversos, processar-se-á o pedido perante o Cartó rio do Registro Civil de qualquer um deles, mas o
edital será publicado em ambos. O oficial afixará os proclamas em lugar ostensivo de seu cartó rio e fará publicá-
los pela imprensa local, se houver. Em seguida, abrirá vista dos autos ao promotor, que poderá requerer a
juntada de documentos ou alguma outra providência. Se impugnar o pedido, caberá ao juiz decidir a
impugnaçã o, sem recurso (LRP, art. 67).
Decorrido o prazo de quinze dias, a contar da afixação do edital em cartó rio (e nã o da publicação na imprensa), o
oficial entregará aos nubentes certidã o de que estão habili tados a se casar dentro nos três meses seguintes, sob
pena de decadência. Vencido esse prazo, será necessá ria nova habilitação, porque pode ter surgido algum
impedimento que inexistia antes da publicação dos proclamas. Havendo urgência, tal publicação pode ser
dispensada, a critério do juiz, pois a lei não define qual seria o motivo de urgência (LRP, art. 69; CC, art. 182,
pará grafo ú nico).
2. DOCUMENTOS NECESSÁRIOS
O primeiro documento exigido (CC, art. 180, 1) é a certidã o de nascimento ou prova equivalente. Esta pode ser
um documento hábil (cédula de identidade, título de eleitor) ou justificação de idade, admitida no art. 68 da Lei
dos Registros Pú blicos. Tal justificaçã o, entretanto, nã o tem sido utilizada, porque admite-se, hoje, o registro
tardio, que cumpre ao interessado providenciar.
A certidã o de nascimento destina-se a comprovar, em primeiro lugar, que os nubentes atingiram a idade mínima
para o casamento (16 anos para a mulher e 18 para o homem). Os que ainda nã o alcançaram essa idade
poderã o, no entanto, casar-se para evitar a imposiçã o de pena criminal (CC, art. 214), em crime contra os
costumes, requerendo ao juiz o suprimento de idade. Em tal caso, poderá este ordenar aseparaçã o de corpos, até
que os cô njuges tenham a idade legal (art. 214, pará grafo ú nico), e também dispensar os proclamas, ouvindo
separadamente os contraentes (LRP, art. 69, § 1'). Suprida a idade de um dos nubentes, ou de ambos, o
casamento será realizado no regime da separação de bens (CC, art. 258, pará grafo ú nico, IV). Mesmo que o noivo
tenha idade inferior a dezoito anos, admite-se o suprimento de idade, dele somente ou de ambos, embora não
esteja sujeito à s penas do Có digo Penal. Interpreta-se o art. 214 de modo benévolo, porque há um interesse
social na realizaçã o desses casamentos. Assim, a expressão "pena criminal" abrange qualquer espécie de sançã o
de cará ter criminal, ainda que prevista no Estatuto da Criança e do Adolescente. Somente nã o se admite o
suprimento de idade do noivo menor de dezoito anos quando a noiva já atingiu ou ultrapassou essa idade, se por
esse motivo o fato for atípico.
Examinando a certidã o de nascimento, o oficial do registro civil apura, também, se a noiva tem mais de
cinqü enta anos de idade e o noivo mais de sessenta. Basta que um deles tenha ultrapassado esse limite para que
o casamento seja realizado obrigatoriamente sob o regime da separaçã o de bens (CC, art. 258, pará grafo ú nico,
1I), salvo a exceção prevista no art. 45 da Lei do Divó rcio.
O documento, que recebe a denominaçã o de memorial, destina-se a uma perfeita identificação dos nubentes e
deve ser assinado por eles.
3.3. AUTORIZAÇÃO DAS PESSOAS SOB CUJA DEPENDÊNCIA LEGAL ESTIVEREM, OU ATO JUDICIAL QUE A
SUPRA
Pela certidã o de nascimento o escrivã o verifica, também, se os nubentes atingiram a maioridade. Se nã o, devem
apresentar a autorização dos pais ou tutores, ou prova do ato ju dicial que a supra ou da emancipação. É mister o
consentimento de ambos os pais. Se nã o forem casados, "bastará o consentimento do que houver reconhecido o
menor, ou, se este nã o for reconhecido, o consentimento materno" (CC, art. 186, pará grafo ú nico). Se o marido se
encontra desaparecido há vá rios anos, pode a mulher, justificando judicialmente o fato por testemunhas (LRP,
art. 68), ser autorizada a, sozinha, dar validamente o consentimento. A anuência dos pais, tutores e curadores
pode ser retratada até a celebração do casamento (CC, art. 187).
O art. 186 do Có digo Civil diz que, se os cô njuges divergirem entre si, prevalecerá a vontade paterna, ou, sendo o
casal separado, divorciado, ou tendo o seu casamento anu lado, a vontade do cô njuge com quem estiverem os
filhos. Entretanto, em face da atual Constituiçã o, que estabeleceu a isonomia conjugal, colocando marido e
mulher em pé de igualdade, não mais prevalece a vontade paterna. A soluçã o deve ser dada pelo juiz competente.
O pró digo pode casar, porque a sua interdição acarreta apenas incapacidade para cuidar de seu patrimô nio,
sujeitandose, porém, à autorização do curador. O surdo-mudo somente poderá casar-se se receber educaçã o
adequada, que o habilite a enunciar a sua vontade (CC, art. 451).
Se o pai, tutor ou curador nã o autorizar o casamento, o interessado poderá requerer o suprimento judicial do
consentimento (CC, art. 188). Se o pedido for deferido, será expe dido alvará, á ser juntado no processo de
habilitação, e o casamento celebrado no regime da separação de bens (art. 258, pará grafo ú nico, IV). O art. 888,
IV do Có digo de Processo Civil permite ao juiz, como medida cautelar, determinar o afastamento do menor
autorizado a contrair matrimô nio.
O procedimento para o suprimento judicial do consentimento dos representantes legais é o previsto para a
jurisdição voluntá ria (CPC, arts. 1.103 e s.). Para viabilizar o pedido, ad mite-se que o menor pú bere outorgue
procuraçã o a advogado, sem assistência de seu representante legal, em razã o da evidente colidência de
interesses e por tratar-se de procedimento de jurisdição voluntá ria. Comumente, no entanto, o pró prio
representante do Ministério Pú blico encarrega-se de requerer ao juiz a nomeação de advogado dativo para o
menor. Da decisã o proferida pelo juiz cabe recurso de*apelação para a instâ ncia superior.
Como o art. 475 do Có digo de Processo Civil nã o incluiu tal situação nas hipó teses de reexame necessá rio, tal
recurso é o voluntá rio, com efeito suspensivo.
3.4. DECLARAÇÃO DE DUAS PESSOAS MAIORES, PARENTES OU ESTRANHOS, QUE ATESTEM CONHECER
OS NUBENTES E AFIRMEM NÃO EXISTIR IMPEDIMENTO
Destina-se a completar a identificaçã o dos contraentes e reforçar a prova da inexistência de impedimentos para
a realizaçã o do casamento.
O viú vo deve provar o seu estado com a certidã o de ó bito do cô njuge falecido. Se o assento do ó bito, entretanto,
nã ofoi lavrado porque o corpo desapareceu em naufrá gio, inundaçã o, incêndio, terremoto ou qualquer outra
catá strofe, tal certidã o pode ser substituída por sentença obtida em justificação judicial requerida perante juiz
togado. Permite-o, expressamente, o art. 88 da Lei dos Registros Pú blicos. Tal procedimento nã o se confunde
com a declaração de ausência de pessoas que deixam o seu domicílio sem dar notícia de seu paradeiro, porque
neste caso não se declara a morte do ausente, e o seu cô njuge não poderá casar-se, salvo se obtiver o divó rcio.
Nos casos de nulidade ou anulação do casamento, deverá ser juntada certidã o do trâ nsito em julgado da
sentença. Se um dos cô njuges for divorciado, nã o bastará a certidã o do trâ nsito em julgado da sentença que
decretou o divó rcio: será preciso juntar a do registro dessa sentença no Cartó rio do Registro Civil onde o
casamento se realizou, porque somente com esse registro produzirá efeitos (Lei n. 6.515/ 77, art. 32).
CAPÍTULO II
DOS IMPEDIMENTOS MATRIMONIAIS
4. INTRODUÇÃO
Tais impedimentos visam preservar a eugenia (pureza da raça) e a moral fà miliar, obstando a realizaçã o de
casamentos entre parentes consangü íneos por afinidade e adoçã o (CC, art. 183, I a V), a monogamia (art. 183,
VI), nã o permitindo o casamento de pessoas já casadas, e evitar uniõ es que têm raízes no crime (art. 183, VII e
VIII). Distribuem-se em três categorias, conforme a enumeraçã o do art. 183, I a VIII: a) impedimentos
resultantes do parentesco (incisos 1 a V), que se subdividem em impedimentos de consangü inidade (entre
ascendentes e descendentes e entre colaterais até o 3°- grau - incisos I e IV), impedimento de afinidade (que
abrange os afins em linha reta - inciso II), e os impedimentos de adoção (incisos III e V); b) impedimento
resultante de casamento anterior (inciso VI); c) impedimentos decorrentes de crime (incisos VII e VIII).
a) Consangü inidade - Nã o podem casar: "I Os ascendentes com os descendentes, seja o parentesco legítimo
ou ilegítimo, natural ou civil (...) IV - Os irmã os, legítimos ou ilegítimos, germanos ou nã o, e os colaterais,
legítimos ou ilegítimos, até o terceiro grau inclusive" (CC, art. 183, 1 e IV).
O Có digo Civil nã o admite nú pcias incestuosas. O casamento entre parentes consangü íneos pró ximos pode
provocar o nascimento de filhos defeituosos. O impedimento revela, pois, preocupaçã o de natureza eugênica.
Nã o importa se se trata de descendente havido do matrimô nio ou nã o. 0 impedimento resultante do parentesco
civil, que era o existente entre adotante e adotado, é justificado pelo fato de a adoção imitar a família. Inspira-
se, portanto, em razõ es de moralidade familiar irmãos sã o parentes colaterais em segundo grau porque
descendem de um tronco comum, e nã o um do outro, e porque a contagem é feita subindo de um deles até o
tronco comum (um grau) e descendo pela outra linha, até encontrar o outro irmã o (mais um grau). O
impedimento alcança os irmã os havidos ou nã o de casamento, sejam germanos (que têm os mesmos pais) ou
unilaterais. Estes podem ser irmã os somente por parte de mãe (uterinos) ou de pai (consangü íneos). Tios e
sobrinhos sã o colaterais de terceiro grau, impedidos também de casar. O Decreto-Lei n. 3.200/41 veio,
,entretanto, permitir tal casamento, desde que se submetam ao exame pré-nupcial (cuja realização, por dois
médicos nomeados pelo juiz, deve ser requerida no processo de habilitação) e o resultado seja-lhes favorá vel.
Primos podem casar-se, porque sã o colaterais de quarto grau.
b) Afinidade - Não podem casar: "II - os afins em linha reta, seja o vínculo legítimo ou ilegítimo" (CC, art. 183, 1I).
Parentesco por afinidade é o que liga um cô njuge aos pa rentes do outro (art. 334).
Resulta, pois, do casamento. A proibiçã o refere-se apenas à linha reta. Dissolvido o casamento que deu origem ao
aludido parentesco, o viú vo nã o pode casar-se com a enteada, nem com a sogra, porque a afinidade em linha
reta nã o se extingue com a dissoluçã o do casamento que a originou (art. 335). A afinidade na linha colateral não
constitui empecilho ao casamento. Assim, o cô njuge viú vo ou divorciado pode casar-se com a cunhada. Quando o
inciso se refere a vínculo legítimo ou ilegítimo, quer significar que o viú vo, por exemplo, nã o pode casar-se com a
enteada, seja esta filha legítima ou ilegítima de sua mãe. Nada impede, porém, o casamento entre o concubino e a
filha de sua ex-concubina, porque só o casamento gera a afinidade. c) Adoção - Nã o podem casar: "III - o adotante
com o cô njuge do adotado e o adotado com o cô njuge do adotante (...) V - o adotado com o filho superveniente ao
pai ou à mãe adotiva" (CC, art. 183, III e V). A razão é de ordem moral, considerando o respeito e a confiança que
devem reinar no seio da fanú lia. A adoção imita a família. Mesmo cessada a adoçã o civil, nos
casos dos arts. 373 e 374 do Có digo Civil (a plena ou estatutá ria, do ECA, é irrevogá vel), com a dissolução do
vínculo de parentesco, não desaparece o impedimento, malgrado algumas opiniõ es em contrá rio. No caso do
inciso V os contraentes encontram-se na posição de irmãos. Tem prevalecido, na doutrina, a corrente que
sustenta nã o haver impedimento para o casamento entre o adotado e o filho consangü íneo nascido antes da
adoção, ao fundamento de que preceitos restritivos de direito devem ser interpretados restritamente, nã o
podendo ser aplicados a situaçõ es nã o previstas expressamente. Outra corrente sustenta que casos símiles
devem ter a mesma soluçã o. Assim, é de se aplicar a analogia (ubi eadem ratio, ibi idem jus), argumentando-se
ainda que essa ú ltima hipó tese só nã o foi prevista porque ao tempo da promulgação do Có digo Civil a adoção só
era permitida a casais sem filhos, e a situaçã o era, pois, impossível de se configurar.
Nã o podem casar: "VI - as pessoas casadas" (CC, art. 183, VI). Procura-se, assim, combater a poligamia e
prestigiar a monogamia, sistema que vigora nos países em que domina a civilização cristã . O impedimento só
desaparece apó s a dissoluçã o do anterior vínculo matrimonial pela morte, anulaçã o ou divó rcio. O casamento
religioso anterior nã o constitui impedimento.
Nã o podem casar: "VII - o cô njuge adú ltero com o seu co-réu, por tal condenado; VIII - o cô njuge sobrevivente
com o condenado como delinqü ente no homicídio, ou tenta tiva de homicídio, contra o seu consorte" (CC, art.
183, VII e VIII). Trata-se de impedimentunï criminis. No caso do inciso VII, se houve condenação criminal e
posterior divó rcio, nã o podem os adú lteros unir-se em matrimô nio. No inciso VIII, em razã o de ter sido utilizada
a palavra delinqü ente, somente o crime doloso cria o impedimento. No culposo nã o há a intenção de eliminar um
dos cô njuges para desposar o outro. Não se reclama que este outro seja conivente ou esteja conluiado com o
autor do conjugicidio, mas exige-se que tenha impedimento.
Como interessam mais aos nubentes do que à sociedade, a sua inobservâ ncia acarreta apenas a anulabilidade do
ato. Compreendem a coaçã o ou incapacidade, o rapto, a jàlta de consentimento e a idade nupcial.
O art. 183, IX, do Có digo Civil impede o casamento de "pessoas por qualquer motivo coactas e as incapazes de
consentir, ou manifestar, de modo inequívoco, o consentimento". O casamento deve ser , celebrado com total
liberdade. Por essa razã o, ao tratar da coaçã o no casamento, o legislador não foi tã o exigente como o foi ao tratar
da coaçã o nos negó cios jurídicos, para cuja caracterizaçã o impô s vá rios requisitos (cf. CC, art. 98). No casamento,
fala apenas em pessoas "por qualquer motivo coactas". O temor reverencial, que é o receio de desgostar os pais
ou os superiores, nã o tem gravidade suficiente para constituir coaçã o. O prazo para a propositura da ação
anulató ria é de dois anos, a contar da celebração (Dec.-Lei n. 4.529/42), e nã o mais de seis meses, a contar do
momento em que cessava a coação, como quando da entrada em vigor do Có digo Civil.
Os incapazes de consentir, impedidos de casar, são os loucos de todo o gênero (nã o se admitindo os chamados
"intervalos lú cidos) e os surdos-mudos que nã o puderem expri mir sua vontade. Nã o importa se existe
interdição ou nã o. Sendo evidente a alienaçã o mental, o impedimento existe, e o casamento porventura realizado
será anulável. Se existir interdiçã o, a existência ou nã o de impedimento dependerá do que dispuser a sentença,
porque há situaçõ es intermediá rias, em que o juiz fixa os limites da curatela e pode autorizar o casamento.
6.2. RAPTO
Nã o podem casar "o raptor com a raptada, enquanto esta nã o se ache fora do seu poder e em lugar seguro" (CC,
art. 183, X). O impedimento decorre da falta de liberdade para consentir, o que se presume mesmo que o rapto
seja consensual. Resulta tanto do rapto violento quanto do consensual (RT, 346:194), pois a lei nã o faz essa
distinçã o. O prazo para a propositura da açã o anulató ria é de dois anos, já que se trata de incapacidade para
consentir e aplica-se a regra do inciso anterior. Será vá lido o casamento se se realizar quando a noiva estiver em
lugar seguro, fora do poder do raptor.
Nã o podem casar "os sujeitos.ao pá trio poder, tutela, ou curatela, enquanto nã o obtiverem, ou lhes nã o for
suprido o consentimento do pai, tutor, ou curador" (CC, art. 183, XI). A razão encontra-se no art. 84 do Có digo
Civil, que exige a intervençã o dos representantes legais para a prá tica de qualquer ato jurídico (v. n. 3.3,
"suprimento judicial de consentimento", retro). A ação anulató ria só pode ser proposta "pelas pessoas que
tinham o direito de consentir e nã o assistiram ao ato" (CC, art. 212). Se o assistiram sem impugná -lo, presume-se
que anuíram tacitamente. A açã o deve ser ajuizada no prazo de três meses, a contar do dia em que tiverem
ciência do casamento (art. 178, § 4-°, II). Se este nã o for anulado nesse prazo, será considerado celebrado no
regime da separaçã o de bens (art. 258, pará grafo ú nico, I), ainda que tenham escolhido outro regime. O mesmo
regime será imposto por lei se houver necessidade de suprimento judicial do consentimento (art. 258, pará grafo
ú nico, IV). Assim, os nubentes só poderão escolher o regime se obtiverem o consentimento de seus
representantes legais. Quanto ao pró digo, embora a interdiçã o somente o prive de praticar atos de alienação de
seu patrimô nio, podendo casar, justifica-se a necessidade de autorizaçã o do urador porque o casamento pode
acarretar alteração no patrimô nio dos cô njuges.
14
6.4. IDADE NUPCIAL
Nã o podem casar as mulheres menores de dezesseis anos e os homens menores de dezoito (CC, art. 183, XII). A
lei exigiu somente a idade mínima, nã o estabelecendo limite má ximo. A exceção ao limite mínimo encontra-se
no art. 214 do Có digo Civil (v. n. 3.1, retro), que permite o suprimento judicial de idade, realizando-se o
casamento, porém, no regime da separação de bens (art. 258, pará grafo ú nico, IV). Se o casamento se realizar
sem tal suprimento, será anulá vel. O prazo para anular tal casamento é de seis meses, a contar do dia em que o
menor perfez a referida idade mínima, se a ação for por ele movida, e da data do matrimô nio, quando o for por
seus representantes legais (arts. 213 e 216) ou pelos parentes designados no art. 190 (art. 178, § 5°-, II1). Por
defeito de idade, entretanto, nã o se anulará o casamento de que resultou gravidez (art. 215), nã o importando se
o defeito de idade é da noiva ou do noivo. Se o casamento nã o vier a ser anulado, prevalecerá o regime da
separaçã o de bens (art. 258, pará grafo ú nico, I), mesmo que tenham optado por outro regime.
Para evitá -la, nã o podem casar "o viú vo ou a viú va que tiver filho do cô njuge falecido, enquanto nã o fizer
inventá rio dos bens do casal (art. 225) e der partilha aos herdeiros" (CC, art. 183, XIII). Com a partilha, definem-
se os bens que comporã o o quinhã o dos filhos do casamento anterior, evitando a referida confusão. A remissã o
ao art. 225 diz respeito à perda do direito ao usufruto dos bens dos filhos do primeiro casamento. É o ú nico
impedimento impediente em que há dupla sançã o ao infrator: a perda do referido usufruto e a imposição do
regime da separaçã o de bens. Esta ú ltima é a ú nica sanção imposta nos outros três, impedimentos. O ó bice nã o
desaparece com o fato de haver sido iniciado o inventá rio. A lei exige mais: que haja partilha julgada por
sentença. Se o cô njuge falecido não tiver deixado algum filho, inexistirá o impedimento, assim como, ainda que
tenha deixado algum, se o casal não tiver bens a partilhar. Por essa razã o, admitem os juízes, embora nã o
prevista no Có digo de Processo Civil, a realização do inventá rio negativo, instruído com certidã o negativa de
bens, cuja ú nica finalidade é comprovar a inexistência do impedimento em questã o.
Nã o podem casar "a viú va, ou a mulher cujo casamento se desfez por ser nulo ou ter sido anulado, até 10 (dez)
meses depois do começo da viuvez, ou da dissolução da sociedade conjugal, salvo se antes de findo esse prazo
der à luz algum filho" (CC, art. 183, XIV). Trata-se de impedimento imposto somente à mulher. O objetivo é evitar
dú vida sobre a paternidade (turbatio sanguinis). Nã o persiste o impedimento se nascer um filho antes de
escoado .esse prazo ou houver aborto, se se comprovar a inexistência de gravidez ou se esta for evidente quando
da viuvez ou da anulação do casamento. Igualmente, se o casamento anterior foi anulado por impotência coeundi
ou quando resulta evidente das circunstâ ncias a impossibilidade física de coabitação entre os cô njuges.
Nã o podem casar "o tutor ou curador e os seus descendentes, ascedentes, irmã os, cunhados ou sobrinhos, com a
pessoa tutelada ou curatelada, enquanto nã o cessar a tutela ou curatela, e nã o estiverem saldadas as respectivas
contas, salvo permissã o paterna ou materna manifestada em escrito autêntico ou em testamento" (CC, art. 183,
XV).
Trata-se de impedimento destinado a afastar a coação moral que possa ser exercida por pessoa que tem
ascendência e autoridade sobre o â nimo do incapaz. Perdura o impedimen to enquanto viger a tutela ou a
curatela e enquanto não pagas e quitadas as respectivas contas. Estas devem ser prestadas em juízo. A proibição,
entretanto, nã o é absoluta. Pode ser suprida mediante permissã o paterna ou materna, manifestada em escrito
autêntico ou em testamento.
Nã o podem, por fim, casar "o juiz, ou escrivã o e seus descendentes, ascendentes, irmãos, cunhados ou sobrinhos,
com ó rfã o ou viú va, da circunscrição territorial onde um ou outro tiver exercício, salvo licença especial da
autoridade judiciá ria superior" (CC, art. 183, XVI). A razão da proibiçã o é, como no inciso anterior,
essencialmente ética. Objetiva evitar abusos de pessoas que, em razã o do cargo e interessadas na fortuna de
viú vas ou ó rfã os sob sua jurisdiçã o, possam influenciá -los para o casamento. O impedimento cessa por meio de
uma licença especial da autoridade superior e desaparece com a remoçã o ou promoçã o para outra comarca.
Aplica-se também à juiza e à escrivã , em face da isonomia constitucional, e restringe-se, nas comarcas de
diversas varas, àquela em que as referidas pessoas exercem as suas funçõ es.
Observaçõ es finais: não existem outros impedimentos matrimoniais. Anote-se que o art. 7°-, § 1°, da Lei de
Introduçã o ao Có digo Civil dispõ e que, "realizando-se o casamento no Brasil, será aplicada a lei brasileira quanto
aos impedimentos dirimentes e às formalidades da celebração".
Assim, quanto aos proibitivos ou impedientes, levar-se-á em conta o estatuto pessoal. Não se aplicará, por
exemplo, a sanção do art. 226 do Có digo Civil, que impõ e o regime da separaçã o de bens, a cô njuge estrangeiro,
em cuja lei nacional inexista semelhante penalidade.
Os impedimentos devem ser opostos por escrito, e a oposiçã o instruída com as provas do fato alegado. Se nã o
puder fazê-lo, precisará o opoente o lugar onde existam, ou nomeará pelo menos duas testemunhas residentes
no município que atestem o impedimento. A habilitaçã o ou a celebração serão imediatamente suspensas e só
prosseguirã o depois do julgamento favorá vel aos nubentes (LRP, art. 67, § 5°-).
O Có digo Civil tratou conjuntamente dos doze impedimentos dirimentes, dando-lhes tratamento diferente dos
meramente impedientes. Os doze primeiros, tanto os absoluta mente como os relativamente dirimentes (CC, art.
183, I a XII), podem ser alegados até o instante da celebração do matrimô nio pelo oficial do registro civil, por
quem presidir à celebração do casamento ou por qualquer pessoa maior que, sob sua assinatura, apresente
declaraçã o escrita, instruída com as provas do fato que alegar (art. 189). Os meramente impedientes (art. 183,
XIII a XVI), porém, como interessam apenas à família, a lei restringe a legitimação para oposição aos parentes
pró ximos: aos em linha reta de um dos nubentes, sejam consangü íneos ou afins, e aos colaterais, em segundo
grau, sejam consangü íneos ou afins (art. 190). Nem mesmo o promotor pode alegá -los.
Entende Pontes de Miranda que se deve admitir também a oposiçã o do que fora casado com a mulher que quer
novamente se casar antes dos trezentos dias, em caso de nulidade ou anulaçã o de casamento, porque tal
impedimento (art. 183, XIV) tem por fim evitar a turbatio sanguinis (Tratado de direito de,fà mília, 3. ed., 1947, v.
1, § 25, n. 4). Podem ser opostos somente no prazo de quinze dias da publicaçã o dos proclamas (CC, art. 181, § 1-
°).
CAPÍTULO III
DA CELEBRAÇÃO DO CASAMENTO
9. FORMALIDADES
O casamento é cercado de um verdadeiro ritual, com significativa incidência de normas de ordem pú blica. Os
nubentes, munidos da certidã o de habilitaçã o passada pelo escrivã o, devem entrar em contato com a autoridade
que presidirá a cerimô nia, requerendo a designaçã o do dia, hora e local de sua celebração. O local em geral é o
pró prio cartó rio onde se processou a habilitação, mas pode ser escolhido outro, como clubes, salõ es de festas,
templos religiosos, casa de um dos nubentes etc. É importante que as portas permaneçam abertas, a fim de
possibilitar a oposição de eventuais impedimentos por qualquer pessoa. No tocante à hora, pode ser realizado
durante o dia ou à noite, e em qualquer dia, inclusive aos domingos. A lei exige a presença de duas testemunhas,
pelo menos, que podem ser parentes ou nã o dos noivos. Se algum deles nã o souber escrever, colher-se-ã o as
impressõ es digitais, e o nú mero de testemunhas será aumentado para quatro (CC, art. 193), qualquer que seja o
local em que se realize o ato. Também será aumentado para quatro se o casamento se realizar à noite (art. 198).
Preleciona, com efeito, Cló vis Beviláqua: "Sendo porém a celebração à noite, as testemunhas serão sempre
quatro" (Có digo Civil dos Estados Unidos do Brasil comentado, 8. ed., obs. ao art. 198). A presença dos nubentes
deve ser simultâ nea.
A autoridade competente para celebrar casamentos, no Estado de Sã o Paulo, enquanto nã o criados os juizados
de paz mencionados na Constituição Federal e de cará ter eletivo (art. 98, 11, e 30 do ADCT), é o juiz de
casamentos do lugar em que se processou a habilitação. A lei de organizaçã o judiciá ria de cada Estado é que
designa a referida autoridade. Em alguns Estados chama-se juiz de paz; em outros, o pró prio juiz de direito é
incumbido desse mister. No Estado de São Paulo, a nomeaçã o do juiz de casamentos é feita pelo secretá rio da
Justiça, que é auxiliar do governador. Cada município e circunscriçã o territorial tem o seu juiz de casamentos e
dois suplentes. Trata-se de função nã o remunerada. Nas faltas ou nos impedimentos, tal autoridade será
substituída somente por um dos suplentes nomeados (CC, art. 198, § V). O oficial do registro civil, nesses casos,
será substituído por um escrivão ad hoc, nomeado pelo presidente do ato, o qual, nos casos de urgência e
ausência do livro de registros, lavrará termo avulso, que será levado ao registro no mais breve prazo possível (§
2°-).
O casamento pode ser celebrado mediante procuraçã o que outorgue poderes especiais ao mandatá rio para
receber, em nome do outorgante, o outro contraente (CC, art. 201), que deve ser nomeado e qualificado. Embora
seja conveniente a adoçã o do instrumento pú blico, a lei nã o faz tal exigência, podendo, pois, ser outorgada por
instrumento particular, com reconhecimento da firma do outorgante (art. 1.289 e seu § 3-°). Pode ser outorgada
tanto a homem como a mulher para representar qualquer um dos nubentes. Se ambos não puderem comparecer,
deverão nomear procuradores diversos. Como a procuraçã o é outorgada para o mandatá rio receber, em nome
do outorgante, o outro contraente, deduz-se que ambos nã o podem nomear o mesmo procurador, até porque há
a obrigaçã o legal de cada mandatá rio atuar em prol dos interesses de seu constituinte, e pode surgir algum
conflito de interesses.Revogada a procuração ou operada a caducidade pela morte superveniente do
representado, tem-se por inexistente, por falta de consentimento, o casamento celebrado na igno râ ncia de tais
circunstâ ncias por parte do mandatá rio ou do terceiro contraente. Não se aplica ao casamento o regime geral da
extinçã o do mandato quanto ao mandatá rio (CC, arts. 1.316, 1, 1 a parte, e 1.318) e a respeito do contraente de
boafé (art. 1.321), regime esse que mantém os efeitos da procuraçã o apó s a causa de extinçã o, quando desta nã o
tenha conhecimento o mandatá rio ou o terceiro contraente. O cará ter personalíssimo do casamento nã o admite
tal solução. O consentimento, nesse caso, deve ser o atual, e nã o o manifestado no momento da outorga da
procuraçã o, dada a necessidade de preservar-se íntegra a liberdade de
casar ou não até o momento da celebração.
A celebração do casamento obedece a formalidades essenciais (ad solemnitatem), que; se ausentes, tornarã o o
ato inexistente. A principal ocorre no momento em que o juiz pergunta aos nubentes, a um e apó s ao outro, se
persistem no propó sito de casar. A resposta, segundo o art. 194, deve ser pessoal e verbal, manifestada separada
e sucessivamente, mas pode ser dada por escrito (como no caso do mudo) ou por gestos. O importante é que o
consentimento seja inequívoco, por palavras, gestos ou escrito, podendo resumirse ao "sim". O silêncio, nesse
caso, nã o pode ser interpretado como manifestação de vontade. Nã o se admite também que o consentimento
seja subordinado a condição ou termo. O estrangeiro pode valer-se de intérprete, caso nã o entenda bem o
verná culo. A celebraçã o será imediatamente suspensa se algum dos contraentes recusar a solene
afirmaçã o da sua vontade, declarar que esta não é livre e espontâ nea ou manifestar-se arrependido (CC, art. 197,
1 a 111). O nubente que, por algum desses fatos, der causa à suspensã o do ato nã o será admitido a retratar-se no
mesmo dia (pará grafo ú nico), ainda que declare tratar-se de simples gracejo. A intençã o da lei é resguardar a
vontade do nubente contra qualquer interferência. Será nulo (nulidade virtual) o casamento se a retratação for
admitida no mesmo dia, por contrariar proibição expressa, constante de norma cogente (RF, 66:308).
Tendo os nubentes manifestado o consentimento de forma inequívoca, o juiz os declarará casados, proferindo as
seguintes palavras: "De acordo com a vontade que ambos acabais de afirmar perante mim, de vos receberdes por
marido e mulher, eu, em nome da lei, vos declaro casados" (CC, art. 194). Para uns, somente apó s essa declaração
pode-se afirmar que o casamento está realizado, pois nã o basta o consentimento manifestado pelos noivos.
Assim, para essa corrente, se um deles falecer apó s o duplo consentimento, mas antes do pronunciamento do
juiz, o outro permanecerá solteiro. Ambos permanecerão solteiros se falecer o pró prio juiz. Outros, no entanto,
sustentam que o casamento se aperfeiçoa com a manifestação de vontade dos nubentes, sendo o
pronunciamento do juiz meramente declarató rio. A presença deste seria fundamental, mas não sua declaração.
Lembram que, no casamento nuncupativo, o consentimento é manifestado perante seis testemunhas, por nã o
haver tempo para procurar o juiz ou algum de seus suplentes.
Na verdade, a declaração do celebrante é essencial, como expressã o do interesse do Estado na constituição da
família, bem como do ponto de vista formal, destinada a assegurar a legitimidade da formaçã o do vínculo
matrimonial e conferirlhe certeza. Sem ela, o casamento perante o nosso direito é inexistente. Pode-se afirmar,
pois, que ele só se tem por concluído com a solene declaraçã o do celebrante. Basta lembrar que a retrataçã o
superveniente de um dos nubentes, quando "manifestar-se arrependido" (CC, art. 197, 111) apó s o
consentimento e antes da referida declaração, acarreta a suspensã o da solenidade. Tal fato demonstra que o
casamento ainda nã o estava aperfeiçoado e que a manifestação de vontade dos nubentes só seria irretratá vel a
partir da declaração do celebrante.Logo depois de celebrado o casamento, lavrar-se-á assento no livro de
registro, com os elementos referidos nos arts. 195 do Có digo Civil e 173 da Lei dos Registros Pú blicos. Tal
assento destina-se a dar publicidade ao ato e, precipuamente, servir de prova de sua realizaçã o e do regime de
bens. A lavratura do assento constitui formalidade ad probationem, e nã o ad solemnitatem, pois ocorre depois
que o casamento já está concluído e aperfeiçoado. A sua falta apenas dificultará a prova do ato, mas nã o o
tornará ineficaz. Assim, a mulher deve assiná -lo com o nome de casada, se optou por adotar os apelidos do
marido.
CAPÍTULO IV
DAS PROVAS DO CASAMENTO
12. CERTIDÃO DO REGISTRO
Prescreve o art. 202 do Có digo Civil que o casamento celebrado no Brasil prova-se pela certidã o do registro
(certidã o de casamento), expedida com base nos dados constan tes do assento lavrado na data de sua celebraçã o
(art. 195). É o sistema da prova pré-constituída. Admite o aludido dispositivo, no entanto, no pará grafo ú nico,
que a prova pode ser produzida por outros meios, "justificada a falta ou perda do registro civil", como em caso
de incêndio do cartó rio, inundação, fraude, negligência do cartorá rio etc. Essa prova supletó ria faz-se, assim, em
duas fases: na primeira, provase o fato que ocasionou a perda ou a falta do registro; na segunda, se satisfató ria a
primeira, admitidas serão as outras, como testemunhas, registros em passaportes, certidã o de nascimento de
filhos etc. É a açã o declarató ria meio hábil para declarar a existência do casamento se perdido ou extraviado o
registro do matrimô nio, nã o se exigindo a restauração. Aduz o art. 205 que, "quando a prova da celebração legal
do casamento resultar de processo judicial, a inscriçã o da sentença no livro do registro civil produzirá , assim no
que toca aos cô njuges, como no que respeita aos filhos, todos efeitos civis desde a data do casamento".
Prova-se o casamento realizado fora do Brasil de acordo com a lei do país onde se celebrou (CC, art. 204). Trata-
se de aplicaçã o do princípio locus regit actum. O documento estran geiro deverá ser autenticado, segundo as leis
consulares, para produzir efeitos no Brasil. Exige-se-lhe a legalizaçã o pelo cô nsul brasileiro do lugar. Se, porém,
foi contraído perante agente consular, provar-se-á o casamento por certidã o do assento no registro do
consulado (art. 204, pará grafo ú nico). Se os cô njuges vierem para o Brasil, deverão providenciar o traslado do
assento do casamento nos cartó rios do 1° Ofício do domicílio do registrado, ou no 1°- Ofício do Distrito Federal,
em falta de domicílio conhecido (LRP, art. 32, § 1-°).
É a situaçã o de duas pessoas que viveram como casadas (more uxorio) e assim eram consideradas por todos. Tal
situaçã o, em regra, nã o constitui meio de prova do casamento,a nã o ser excepcionalmente, em benefício da prole
comum (CC, art. 203) e nas hipó teses em que o casamento é impugnado, e a prova mostra-se dú bia, funcionando
neste ú ltimo caso como elemento favorá vel à sua existência (art. 206).
O art. 203 do Có digo Civil preceitua que o "casamento de pessoas que faleceram na posse do estado de casadas
nã o se pode contestar em prejuízo da prole comum, salvo me diante certidã o do registro civil, que prove que já
era casada alguma delas, quando contraiu o matrimô nio impugnado (art. 183, VI)". Tal situação somente poderá
ser alegada pelos filhos e se mortos ambos os cô njuges. É que, se um deles está vivo, deve indicar o local onde se
realizou o casamento, para que os filhos obtenham a certidã o. Tem-se admitido, entretanto, por analogia, a
invocaçã o da posse do estado de casados pelos filhos de pais ainda vivos, se perderam as faculdades mentais ou
foram declarados ausentes por sentença judicial. Os elementos que caracterizam a posse do estado de casados
são: a) nomen, indicativo de que a mulher usava o nome do marido; b) tractatus, de que se tratavam
publicamente como marido e mulher; c) fà ma, de que gozavam da reputaçã o de pessoas casadas.
A posse do estado de casados só poderá ser alegada em vida dos cô njuges quando o casamento for impugnado.
Neste caso, se houver dú vidas entre as provas pró e contra a ce lebração do casamento, dever-se-á admitir sua
existência (in dubio pro matrimonio) "se os cô njuges, cujo matrimô nio se impugna, viverem ou tiverem vivido
na posse do estado de casados" (CC, art. 206). Tal prova não se presta a convalescer vício que possa invalidar o
casamento, pois não diz respeito à validade, mas à existência do ato.
CAPÍTULO V
14. INTRODUÇÃO ESPÉCIES DE CASAMENTO
Podemos dizer que o casamento ou é vá lido ou ineficaz, utilizando-se esta palavra em sentido amplo, para
designar o ato que nã o produz seus efeitos. Ineficácia seria, entã o, gênero, de que são espécies a inexistê ncia, a
nulidade e a anulabilidade. Os casamentos putativo, nuncupativo e o religioso com efeitos civis, desde que
presentes os elementos essenciais e observados todos os requisitos legais, constituem formas vá lidas de uniõ es
conjugais regulamentadas na lei. O putativo, embora nulo ou anulá vel, produz efeitos de matrimô nio vá lido para
o cô njuge de boa-fé, e, por isso, nã o será incluído, neste trabalho, nos casos de casamento ineficaz.
É o casamento que, embora nulo ou anulável, foi contraído de boa-fé por um ou ambos os cô njuges (CC, art. 221).
Boa-fé, no caso, significa ignorâ ncia da existência de impe dimentos dirimentes à união conjugal. O momento em
que se apura a existência da boa-fé é o da celebração do casamento, sendo irrelevante eventual conhecimento de
causa de invalidade posterior a ela. Como a boa-fé em geral se presume, cabe o ô nus da prova
da má-fé à parte que a alega. A ignorâ ncia da existência de impedimentos decorre de erro, que tanto pode ser de
fato (irmãos que ignoram a existência do parentesco) como de direito (tios e sobrinhos que ignoram a
necessidade do exame pré-nupcial). Embora o erro de direito seja inescusá vel, em geral, por força do art. 3°- da
Lei de Introduçã o ao Có digo Civil, pode ser invocado para justificar a boa-fé, sem que com isso se pretenda o
descumprimento da lei, pois o casamento será , de qualquer forma, declarado nulo.
Na sentença em que proclama a invalidade do casamento, o juiz declara a putatividade de ofício ou a
requerimento das partes. Se a sentença é omissa, a declaração pode ser obtida em embargos de declaração ou
em ação declarató ria autô noma. Nos casos de coação, nã o se poderia, a rigor, reconhecer a putatividade do
casamento, porque o coacto nã o ignora a existência da coação. No entanto, o senso ético-jurídico recomenda que
seja equiparado, no plano dos efeitos, ao cô njuge de boa-fé.
Os efèitos dessa espécie de casamento sã o todos os de um válido, para o cô njuge de boa-fé, produzidos até a data
da sentença que lhe ponha termo.
A eficácia da decisã o ma nifesta-se ex nunc, sem retroatividade, e nã o ex tunc, nã o afetando os direitos até entã o
adquiridos. Essa situaçã o faz com que o casamento putativo assemelhe-se à dissoluçã o do matrimô nio pelo
divó rcio. Os efeitos do casamento cessam para o futuro, sendo considerados produzidos todos os que se tenham
verificado até a data da sentença que lhe ponha fim.
Quanto aos cô njuges, os efeitos pessoais sã o os de qualquer casamento válido. Findam, entretanto, na data do
trâ nsito em julgado. Cessam, assim, os deveres matrimoniais im postos no art. 231 do Có digo Civil, mas nã o,
porém, aqueles efeitos que geram situaçõ es ou estados que tenham por pressuposto a inalterabilidade, como a
maioridade, que fica antecipada pela emancipaçã o do cô njuge inocente de modo irreversível. Produzem-se todos
os efeitos do regime de bens, operando-se a dissolução da eventual comunhão pelas mesmas regras previstas
para a separação judicial. Se somente um dos cô njuges estava de boa-fé, adquirirá meação nos bens levados ao
casamento pelo outro, se convencionada a comunhão, mantendo-se para o futuro tal efeito já produzido por
ocasião da celebraçã o. Dispõ e o art. 232 do Có digo Civil que, "quando o casamento for anulado por culpa de um
dos cô njuges, este incorrerá : 1 - na perda de todas as vantagens havidas do cô njuge inocente; 11 - na obrigaçã o
de cumprir as promessas, que lhe fez, no contrato antenupcial". Ao casamento inexistente nã o se aplicam as
regras sobre o casamento putativo, restritas ao nulo e ao anulá vel.
No tocante aos alimentos, há divergências a respeito da existência ou não de efeitos para o futuro. Os pagos
antes do trâ nsito em julgado da sentença sã o irrepetíveis. Para uma corrente, não são mais devidos os alimentos
para o ,futuro, porque as partes não sã o mais cô njuges.
Entretanto, tem prevalecido o entendimento de que o cô njuge culpado nã o pode furtar-se ao seu pagamento, se
o inocente deles necessitar. A putatividade "consiste em assegurar ao cô njuge de boa-fé os efeitos do casamento
vá lido, e entre estes se encontra o direito a alimentos, sem limitação do tempo" (STF, por maioria, RTJ, 89:495).
Se um dos cô njuges fà lecer antes da anulação, o sobrevivente inocente figurará no rol dos herdeiros (CC, art.
1.603, 111), se inexistirem descendentes ou ascendentes, além de receber a sua meação, se o regime de bens
adotado o permitir.
Em relaçã o aos filhos, o art. 14, pará grafo ú nico, da Lei do Divó rcio veio corrigir a falha existente no pará grafo
ú nico do art. 221 do Có digo Civil. Prescreve, com efeito, o dispositi vo da Lei n. 6.515/77 que, mesmo nenhum
dos cô njuges estando de boa-fé ao contrair o matrimô nio, seus efeitos civis aproveitarã o aos filhos comuns
(serã o considerados legítimos). Como a Constituição Federal não permite mais qualquer distinçã o, quanto aos
direitos e até mesmo quanto à designaçã o, entre os filhos, havidos ou não do casamento, a questão em epígrafe
perdeu a importâ ncia que tinha anteriormente.
O Có digo Civil abre duas exceçõ es quanto à s formalidades para a validade do casamento. A primeira, em caso de
moléstia grave de um dos nubentes (art. 198); a segunda, na hipó tese de estar um deles em iminente risco de
vida (arts. 199 e 200). Na primeira situação, pressupõ e-se que tenha sido expedida a certidã o de habilitaçã o ao
casamento, mas a gravidade do estado de saú de de um dos nubentes impede-o de locomover-se e de adiar a
cerimô nia. Neste caso, o juiz irá celebrá-lo em sua casa ou onde estiver (no hospital, p. ex.), em companhia do
oficial, mesmo à noite. Durante o dia, bastam duas testemunhas; à noite, o nú mero exigido aumenta para quatro.
Só em havendo urgência e que o casamento será realizado à noite.
A segunda hipó tese é a de casamento em iminente risco de vida, quando se permite a dispensa do processo de
habilitação e até a presença do celebrante. Trata-se do casamento in extremis vitae momentis, nuncupativo (de
viva voz) ou in articulo mortis. Em razã o da extrema urgência, quando nã o seja possível obter a presença do juiz
ou de seus suplentes, e ainda do oficial, os contraentes poderã o celebrar o casamento na presença de seis
testemunhas. Embora o art. 199, pará grafo ú nico, do Có digo Civil afirme que as testemunhas nã o podem ter
parentesco em linha reta, ou na colateral em segundo grau, com os nubentes, o art. 76 da Lei dos Registros
Pú blicos, que lhe é posterior e regulou inteiramente o casamento celebrado em iminente risco de vida, nã o
contém essa restriçã o.
Bastará que os contraentes manifestem o propó sito de casar e, de viva voz, recebam um ao outro por marido e
mulher, na presença das seis testemunhas. Estas devem comparecer, dentro de cinco dias, perante a autoridade
judiciá ria mais pró xima a fim de que sejam reduzidas a termo as suas declaraçõ es, pelo processo das
justificaçõ es avulsas. Se nã o comparecerem espontaneamente, poderá qualquer interessado requerer a sua
notificaçã o. Deverã o declarar: " 1-que foram convocadas mas em seu juízo; 111 - que em sua presença
declararam os contraentes livre e espontaneamente receber-se por marido e mulher" (CC, art. 200). O juiz, se
nã o for o competente, encaminhará as declaraçõ es, depois de autuadas, à autoridade judiciá ria que o for. Esta
determinará providências para verificar a inexistência de impedimentos, antes de proferir a sentença, da qual
caberá apelação em ambos os efeitos.
Transitada em julgado, o juiz mandará registrá -la no Livro de Casamentos, retroagindo os efeitos, quanto ao
estado dos cô njuges, à data da celebração, e, quanto aos filhos comuns, à data do nascimento (LRP, art. 76, e CC,
art. 200).Serã o dispensadas tais formalidades se o enfermo convalescer e puder ratificar o casamento em
presença da autoridade competente e do oficial do registro. Nã o se trata de novo casamento, mas de confirmaçã o
do já realizado. Essa ratificaçã o faz-se por termo no Livro de Casamentos, devendo vir assinada também pelo
outro cô njuge e por duas testemunhas. Antes da lavratura do termo, exigem-se os documentos do art. 180 do
Có digo Civil e a certidã o do art. 181, § 1 °, comprobató ria da inexistência de impedimentos. Se, porém, o
restabelecimento ocorrer apó s já efetuado o registro, não se faz necessá ria a ratificação.
Pode ser de duas espécies: a) com prévia habilitação; b) com habilitação posterior (arts. 71 a 75 da LRP). Em
ambas, portanto, exige-se o processo de habilitação. Somentea celebração é feita pela autoridade religiosa, da
religiã o professada pelos nubentes. A Constituição Federal assegura a todos o direito de credo. Na primeira
hipó tese, processada a habilitação, será ele apresentado ao ministro religioso, que o arquivará .
Celebrado o casamento, qualquer interessado deverá providenciar a inscriçã o no registro civil, no prazo de
trinta dias. Tal prazo, contado da celebração, é decadencial, e, se esgotado, ficarão sem efeito os atos já
praticados. Os nubentes terã o de se habilitar novamente e cumprir todas as formalidades legais, se desejarem
realmente casar. O falecimento de um dos nubentes, desde que o pedido seja encaminhado dentro do referido
prazo, nã o constituirá obstáculo ao registro, posto que realizado validamente.
No segundo caso, celebrado o casamento religioso, os nubentes requererã o o registro, instruindo o pedido com
certidã o do ato religioso e com os documentos exigidos pelo art. 180 do Có digo Civil. Processada a habilitaçã o e
certificada a inexistência de impedimento, o oficial fará o registro do casamento religioso, lavrando o assento. O
registro produzirá efeitos jurídicos a contar da celebraçã o do casamento (LRP, art. 75).
Para que o casamento exista, é necessá ria a presença dos elementos chamados de essenciais: diferença de sexo,
consentimento e celebração na forma da lei. Para que seja válido, outros requisitos são exigidos. O casamento
pode existir, mas não ser vá lido.
A teoria do ato inexistente é, hoje, admitida em nosso direito, malgrado o Có digo Civil a ele nã o se refira, por
tratar-se de mero fato, insuscetível de produzir efeitos jurídicos. Há apenas a aparência de um casamento, sendo
implícita a necessidade da presença dos referidos elementos essenciais. A teoria foi concebida no século XIX
para contornar, em matéria de casamento, o princípio de que não há nulidade sem texto legal (pas de nullité
sans texte), pois as hipó teses de identidade de sexo, falta de consentimento e ausência de celebração nã o
costumam constar dos diplomas legais. Em razã o de o ato inexistente constituir um nada no mundo jurídico, nã o
reclama ação pró pria para combatê-lo. No entanto, se, apesar da identidade de sexos, ignorada do celebrante,
houver celebraçã o e lavratura do assento, farse-á necessá ria a propositura de açã o para cancelamento do
registro. Será imprescindível também a propositura de açã o se for exigida produção de provas do fato alegado,
como na hipó tese de ausência de consentimento. Admite-se o reconhecimento da inexistência a qualquer tempo,
nã o estando sujeito a prescrição ou decadência.
Se o casamento, como fato, inexiste, não pode ser declarado putativo. Não se deve confundir a falta de
consentimento (procuraçã o sem poderes especiais, ausência de resposta à indagação do juiz, p. ex.) com o
consentimento viciado, como acontece quando há coação. Neste caso, o casamento existe, mas não é válido
(anulável). Também nã o há que se confundir falta de celebraçã o com celebraçã o feita por autoridade
incompetente ratione loci, que o torna também existente, mas inválido (nulo, nos termos do art. 208 do CC). Será
inexistente quando o celebrante nã o for juiz de casamentos, ou seja, quando a incompetência for absoluta, em
razão da matéria.
Pode ser nulo ou anulá vel, dependendo do grau de imperfeição (inobservâ ncia dos requisitos de validade
exigidos na lei). A teoria das nulidades apresenta algumas exceçõ es em matéria de casamento. Assim; embora a
nulidade em geral nã o possa ser sanada, nem se sujeite a prescriçã o ou a qualquer prazo decadencial, o art. 208
do Có digo Civil proclama que a decorrente da incompetência ratione loci do celebrante será sanada, se nã o for
alegada dentro do prazo decadencial de dois anos, a contar da celebração. Malgrado os atos nulos em geral nã o
produzam efeitos, há uma espécie de casamento, o putativo, que produz todos os efeitos de um casamento válido
para o cô njuge de boa-fé. E, também, embora o juiz deva pronunciar de ofício a nulidade dos atos jurídicos em
geral (art. 146, pará grafo ú nico), a nulidade do casamento somente poderá ser proclamada em ação ordiná ria, na
qual será nomeado curador que o defenda (art. 222), nã o podendo, pois, ser proclamada de ofício. Desse modo,
enquanto nã o declarado nulo por decisão judicial transitada em julgado, o casamento existe e produz efeitos,
incidindo todas as regras sobre efeitos do casamento (deveres dos cô njuges, regimes de bens).
Quando o casamento é nulo, a ação adequada é a declarató ria de nulidade.
Os efeitos da sentença são ex tunc, retroagindo à data da celebraçã o. A anulabilidade reclama a propositura de
ação anulató ria, em que a sentença produz efeitos somente a partir de sua prolaçã o, nã o retroagindo (ex nunc).
A irretroatividade dos efeitos da sentença anulató ria é sustentada por Orlando Gomes, Maria Helena Diniz,
Carlos Alberto Bittar, dentre outros. Pontes de Miranda, entretanto, afirma que a anulaçã o do casamento
"produz efeitos iguais à decretação da nulidade, salvo onde a lei civil abriu explícita exceçã o" (Tratado de direito
privado, v. 8, § 823, n. 1, p. 7). Assim, ficam como nã o ocorridos os efeitos que de um casamento vá lido
decorreriam. Tal como o nulo, nã o há o efeito de antecipaçã o da maioridade pela emancipaçã o, salvo caso de
putatividade. Nesse mesmo sentido, manifestam-se Cló vis Bevilá qua, Antunes Varela, José Lamartine Corrêa de
Oliveira, dentre outros.
Ambas são açõ es de estado e versam sobre direitos indisponíveis. Em conseqü ência: a) é obrigató ria a
intervenção do Ministério Pú blico, como fiscal da lei (CPC, arts. 82 a 84); b) nã o se operam os efeitos da revelia
(CPC, art. 320, 11), não se presumindo verdadeiros os fatos nã o contestados; c) é obrigató ria a participaçã o do
curador do vínculo (CC, art. 222), que é um advogado nomeado pelo juiz, com a função de defender o vínculo
matrimonial (embora entendam alguns, hodiernamente, que o referido curador não deva violar a sua
consciência, para opinar contra a anulaçã o do matrimô nio, quando a sua convicçã o for em sentido oposto, tem
predominado na jurisprudência a exegese tradicional e literal, segundo a qual a falta do curador, ou a de defesa
do vínculo, acarreta a nulidade do processo, salvo na hipó tese de comprovada bigamia, pois nesse caso estaria
propugnando contra a ordem moral e o interesse social: RT, 642:112); d) nã o existe o ô nus da impugnação
especificada (CPC, art. 302), nã o se presumindo verdadeiros os fatos não impugnados especificamente; e) a
sentença, seja a declarató ria de nulidade ou a anulató ria, está sujeita ao duplo grau de jurisdiçã o (reexame
necessá rio ou recurso ex officio), conforme exige o art. 475, 1, do Có digo de Processo Civil.
O prazo para a propositura dessas açõ es é decadencial. A pré-dissoluçã o do casamento por morte de um dos
cô njuges ou pelo divó rcio não exclui a possibilidade de existir le gítimo interesse que justifique a propositura da
ação declarató ria de nulidade. Tem-se interpretado a restrição inserida na parte final do pará grafo ú nico, II, do
art. 208 do Có digo Civil como imposta somente ao Ministério Pú blico, que nã o pode propor a açã o, se um dos
cô njuges já faleceu, por inexistir interesse da sociedade na dissolução do vínculo. O cô njuge sobrevivente,
entretanto, pode ter legítimo interesse na propositura da ação de nulidade, por desejar excluir, por exemplo, os
efeitos do regime de bens, o direito ao nome, o dever de pagamento de pensã o etc.
Em dois dispositivos o Có digo Civil considera nulo o casamento: no art. 207, que se refere à infringência de
impedimento absolutamente dirimente (art. 183, 1 a VIII), e no art. 208, por incompetência do celebrante.
Neste ú ltimo caso, a lei nã o distingue se se trata de incompetência em razão do lugar ou da matéria. Predomina
na doutrina, entretanto, a opiniã o de Pontes de Miranda de que somente acarreta a nulidade a incompetência
ratione loci ou ratione personarum (quando o celebrante preside a cerimô nia nupcial fora do territó rio de sua
circunscrição ou o casamento é celebrado perante juiz que nã o seja o do local da residência dos noivos). Se,
porém, o presidente nã o é autoridade competente ratione materiae (nã o é juiz de casamentos, mas juiz de
direito, promotor de justiça, delegado de polícia), o casamento nã o é nulo, mas inexistente. O prazo de dois anos,
para ser sanada a nulidade, previsto no art. 208, só se aplica aos casos de nulidade, uma vez que nã o é possível
sanar a inexistência.
A declaração de nulidade proclama, retroativamente, jamais ter existido casamento válido. Por isso diz-se que,
em princípio, a nulidade produz efeitos ex tunc. Desde a ceie bração o casamento nã o produzirá efeitos.
Assim, os bens que se haviam comunicado pelo casamento retornam ao antigo dono e nã o se cumpre o pacto
antenupcial. O casamento nulo, entretanto, aproveita aos filhos (Lei n. 6.515/73, art. 14, pará grafo ú nico), e a
paternidade é certa. Se reconhecida a boafé de um ou de ambos os cô njuges, ele será putativo e produzirá efeitos
de casamento vá lido ao cô njuge de boa-fé até a data da sentença. A mulher, no entanto, ficará impedida de se
casar novamente, até dez meses apó s a sentença, salvo se der à luz algum filho. Deve-se lembrar que, enquanto
nã o declarado nulo por decisã o judicial transitada em julgado, o casamento existe e produz todos os efeitos,
especialmente quanto aos deveres conjugais e ao regime de bens.
No tocante à legitimidade para a propositura da ação, o pará grafo ú nico do art. 208 do Có digo Civil, que trata da
nulidade por incompetência do celebrante, restringe-a a "qual quer interessado" (inciso I) e ao "Ministé rio
Pú blico, salvo se já houver falecido algum dos cô njuges" (inciso II). Qualquer pessoa maior pode opor os
impedimentos cuja violação acarrete a nulidade do casamento, mas a ação declarató ria de nulidade é permitida
somente a quem tenha legítimo interesse, econô mico ou moral, e ao Ministério Pú blico. Podem alegar interesse
moral os pró prios cô njuges, ascendentes, descendentes, irmãos, cunhados e o primeiro cô njuge do bígamo. Têm
interesse econô mico os filhos do leito anterior, os colaterais sucessíveis, os credores dos cô njuges e os
adquirentes de seus bens, bem como a concubina ou companheira. Entendem os doutrinadores em geral que o
disposto no pará grafo ú nico do art. 208 aplica-se também aos casos de nulidade por infringência de
impedimento absolutamente dirimente (art. 207).
Também em dois dispositivos o Có digo Civil expressamente declara anulável o casamento: no art. 209, quando
celebrado com infringência de impedimento relativamente di rimente (art. 183, IX a XII), e no art. 218, quando
viciado por erro essencial sobre a pessoa do outro cô njuge.O casamento anulável produz todos os efeitos
enquanto não anulado por decisão judicial transitada em julgado. Até entã o tem validade resolú vel, que se
tornará definitiva se de correr o prazo decadencial sem que tenha sido ajuizada ação anulató ria. Porém, a
sentença que anula o casamento tem efeitos retroativos, considerando-se os cô njuges como se jamais o tivessem
contraído. Produz efeitos iguais à decretaçã o da nulidade, desfazendo o matrimô nio como se nunca houvesse
existido, salvo caso de putatividade. Há , entretanto, uma corrente que sustenta ser ex nunc os efeitos da
sentença anulató ria, como vimos no n. 18.2, retro. A legitimidade ativa para a propositura da açã o anulató ria é
reservada exclusivamente à s partes diretamente interessadas no ato. Os prazos, todos decadenciais, em geral
são breves.
18.2.2.1. Infração de impedimento relativamente dirimente
Na hipó tese de casamento contraído por pessoa coacta, ou raptada (sendo esta equiparada à quela, malgrado a
omissã o da lei), a ação só pode ser promovida pelo pró prio coacto, pela raptada ou por seus representantes
legais (CC, art. 210), no prazo de dois anos, a contar da celebração (Dec.-Lei n. 4.529/42, que revogou o inciso 1
do § 5-° do art. 178). No caso do incapaz de consentir, como o louco e o surdo-mudo sem a devida educação, a
ação só pode ser promovida pelo pró prio incapaz, por seu representante legal ou por seus herdeiros, no prazo
de seis meses (CC, art. 178, § 5°-,11). O prazo ,para o incapaz, é contado da data em que cessar a incapacidade,
mas, para o seu representante legal, a partir do dia do casamento. Se este nã o ajuizar a açã o anulató ria, o incapaz
poderá ratificá-lo expressamente quando adquirir a necessá ria capacidade, sendo que esta ratificação
retrotrairá os seus efeitos à data da celebração (art. 211), podendo tal ratificaçã o resultar implícita da fluência
do prazo decadencial sem a propositura da açã o. A ratificaçã o pressupõ e que nã o tenha havido anulação
promovida pelo representante legal, pois nã o se pode ratificar o que já foi anulado.
No caso de falta de autorização dos pais ou representantes legais, a ação só pode ser proposta pelas pessoas que
tinham o direito de consentir, ou seja, pai, tutor, curador, desde que nã o tenham assistido ao ato (CC, art. 212),
no prazo de três meses, contado do dia em que tiverem ciência do casamento. Havendo defeito de idade, no
casamento da menor de dezesseis e do menor de dezoito anos, a ação pode ser proposta pelo pró prio cô njuge
menor, mesmo sem assistência ou representação, pelos seus representantes legais, e pelos parentes em linha
reta, consangü íneos ou afins, irmã os e cunhados (art. 213), no prazo de seis meses, contado da data da
celebração, para os representantes legais dos menores, e, para estes, da data em que atingirem a referida idade
mínima (art. 178, § 5-°, 111). Se o representante legal do menor consentiu no casamento, mesmo assim pode
propor a ação de anulaçã o por defeito de idade, porque podia ter ignorado a verdadeira idade do menor
representado e também porque a falta de idade nada tem que ver com a apreciação da conveniência do
casamento. Podem, entretanto, casar-se os menores para evitar a imposição ou o cumprimento de pena criminal,
quando a mulher é vítima de crime contra os costumes, mediante suprimento judicial de idade (art. 214).
Neste caso, o juiz poderá ordenar a separação de corpos até que os cô njuges alcancem a idade legal (pará grafo
ú nico). Prescreve o art. 215 que nã o se anulará casamento por defeito de idade se sobrevier gravidez, nã o
importando se este é da mulher ou do homem. A maternidade superveniente exclui, assim, a anulaçã o (nã o por
outros defeitos, como a falta de consentimento paterno), ainda que se manifeste depois de ajuizada a açã o. Se
esta foi ajuizada pelos parentes pró ximos ou pelo representante legal do menor (art. 213, 11 e 111), poderá este
ratificar o casamento ao perfazer a idade mínima, com efeito retroativo, desde que ainda nã o tenha transitado
em julgado a sentença anulató ria. Neste caso, a açã o será extinta, e a ú nica conseqü ência será a subsistência do
regime da separaçã o de bens (art. 216). Nessa hipó tese, em que o fundamento da ação é somente o defeito de
idade, os nubentes ficam dispensados do consentimento de seus representantes, pressupondo-se que já o
tenham dado quando da celebraçã o, expressa ou tacitamente. Se, entretanto, o casamento foi anulado por defeito
de idade, nada impede venham a casar-se novamente os menores, ao atingirem a idade exigida pela lei.
18.2.2.2. Erro essencial sobre a pessoa do outro cô njugeO art. 218 do Có digo Civil permite a anulação do
casamento por erro essencial quanto à pessoa (error in persona) do outro cô njuge. O legislador, porém, nã o
deixou ao juiz a decisã o sobre quais os fatos que podem ser considerados erro essencial capaz de ensejar a
anulação. As hipó teses vêm especificadas no art. 219, cujo rol é taxativo, como segue.
a) Erro sobre a identidade do outro cô njuge, sua honra e boa fà ma (inciso 1) - A identidade pode ser de duas
espécies: física e civil. No erro sobre a identidade física ocor re o casamento com pessoa diversa, por
substituição ignora da pelo outro cô njuge. É hipó tese rara. Mais comum é o erro sobre a identidade civil do outro
cô njuge, sua honra e boa fama. Identidade civil é o conjunto de atributos ou qualidades com que a pessoa se
apresenta no meio social. Algumas pessoas são tidas como trabalhadoras, honestas, probas; outras, porém, como
inidô neas, desqualificadas etc. Ao mencionar também a honra e a boa fama, cogitou o Có digo, especialmente, das
qualidades morais do indivíduo. Honrada é a pessoa digna, que pauta a sua vida pelos ditames da moral. Boa
fama é o conceito e a estima social de que a pessoa goza, por proceder corretamente. Como exemplos de erro
sobre a honra e a boa fama do outro cô njuge podem ser citados o do homem que, sem o saber, desposa uma
prostituta, bem como o da mulher que descobre, somente apó s o casamento, que o marido se entrega a prá ticas
homossexuais.
Dois sã o os requisitos para que a invocaçã o do erro essencial possa ser admitida: a) que o defeito, ignorado por
um dos cô njuges, preexista ao casamento; b) que a descoberta da circunstâ ncia, apó s o matrimô nio, torne
insuportá vel a vida em comum para o cô njuge enganado. Malgrado tais requisitos constem somente do inciso 1
do art. 219, aplicam-se também aos fatos mencionados nos demais, pois, se o erro nã o acarreta maiores
conseqü ências na pessoa do outro cô njuge (nã o torna insuportá vel a vida em comum), deixa de constituir causa
de anulaçã o. A apreciaçã o far-se-á em cada caso, tendo em vista as condiçõ es subjetivas do cô njuge enganado e
outras circunstâ ncias que evidenciem a insuportabilidade da vida em comum apó s a descoberta do defeito.
b) Ignorâ ncia de crime inafiançá vel - Caracteriza-se o erro, neste caso, quando o crime seja inafiançá vel, tenha
ocorrido antes do casamento, a sentença condenató ria tenha transitado em julgado, e o outro cô njuge ignore a
existência do crime (CC, art. 219, II). A inafiançabilidade deve existir ao tempo da celebraçã o, pouco importando
que, posteriormente, o crime deixe de ser inafiançá vel. O crime deve ter sido praticado antes do casamento, mas
a sentença pode darse depois. Em nosso direito só o crime precisa ser anterior ao casamento, nã o necessitando
sê-lo, porém, o trâ nsito em julgado da condenaçã o, nem a pró pria condenaçã o, mas esta transitada em julgado
atua como verdadeira condiçã o da açã o anulató ria e deve existir, portanto, por ocasiã o de seu ajuizamento. Só
assim nã o paira nenhuma dú vida sobre a existência e autoria do crime atribuído ao cô njuge. Embora o fato típico
previsto no inciso II seja a prá tica de crime inafiançá vel, nada impede que, em determinados casos, a prá tica de
delito afiançável (como, p. ex., ato obsceno), anterior ao casamento e ignorada do outro cô njuge, configure erro
quanto a honra e boa fama, enquadrado no inciso 1.
c) Defeito físico irremediá vel e moléstia grave - Defeito físico irremediá vel (inciso III) é o que impede a
realizaçã o dos fins matrimoniais. Em geral, apresenta-se como uma de formação dos ó rgã os genitais que obsta à
prá tica do ato sexual. A impotência também o caracteriza, mas somente a coeundi ou instrumental. A
esterilidade ou a impotência generandi (do homem, para gerar filhos) e concipiendi (da mulher, para conceber)
nã o constituem causas para a anulaçã o. Moléstia grave, para caracterizar o defeito, deve ser transmissível por
contá gio ou herança, capaz de pô r em risco a saú de do outro cô njuge ou de sua descendência, e anterior ao
casamento. O melhor exemplo é a AIDS, mas são incluídas também as doenças mentais, como esquizofrenia,
oligofrenia, paranó ia, epilepsia etc. Nã o se exige que a moléstia, física ou mental, seja incurá vel. Importa que seja
grave e capaz de contagiar ou de transmitir-se aos descendentes.
d) Defloramento da mulher ignorado pelo marido ("error virginitatis") - A hipó tese, denominada por alguns
adultério precoce, exigia a propositura da ação anulató ria no exíguo prazo decadencial de dez dias pelo cô njuge
enganado. Nã o se exigia a prova do mau comportamento da mulher, bastando a do desvirginamento anterior,
mesmo que a mulher houvesse sido vítima de estupro, supondo-se que o marido nã o a desposaria, se a soubesse
deflorada. O Có digo Civil brasileiro tem sido criticado por incluir, no rol das causas de anulaçã o do casamento
por erro essencial, semelhante motivo, considerado retró grado e injusto, nã o mantido no projeto de
reforma (Projeto de Lei n. 634/75), em tramitação no Congresso Nacional.
Pode-se afirmar agora, em face da isonomia jurídica entre o homem e a mulher, proclamada na atual
Constituiçã o Federal, incluindo a igualdade de tratamento quanto aos direitos e deveres, que nã o mais subsiste
tal tratamento diferenciado à mulher, estando revogado tacitamente o inciso IV do art. 219 do Có digo Civil (cf.
RF, 327:204).
O casamento contraído com infração dos impedimentos proibitivos ou meramente impedientes (CC, art. 183,
XIII a XVI) nã o é nulo nem anulá vel, mas irregular, acarretando sançõ es ao infrator, especificadas nos arts. 225 e
226. O viú vo ou a viú va, com filhos do cô njuge falecido, que se casar antes de fazer inventá rio e dar partilha aos
herdeiros (inciso XIII) perderá o usufruto dos bens dos filhos, passando a segunda nú pcia pelo regime da
separaçã o de bens, e nã o podendo o cô njuge infrator fazer doaçõ es ao outro. Nos demais casos, nã o ocorre
apenas a perda do usufruto para o infrator, aplicando-se também as demais sançõ es. Os arts. 227 e 228
estabelecem multas para o oficial do registro e o juiz de casamentos, por infraçõ es a deveres de ofício, cabendo
aos interessados e ao Ministério Pú blico promover a sua aplicação.
CAPÍTULO VI
EFEITOS JURÍDICOS DO CASAMENTO
20. DISPOSIÇÕES GERAIS
O primeiro e principal efeito'do casamento é a constituição da família legítima, que é o modelo adotado pelo
Có digo Civil (art. 229). Ela é a base da sociedade, conforme estatui o art. 226 da Constituição Federal, que
reconhece também a uniã o está vel como entidade familiar. Só o casamento, porém, cria a família legítima. O
segundo efeito, mencionado também no art. 229, é a legitimaçã o dos filhos comuns, nascidos ou concebidos
antes do casamento. O instituto da legitimaçã o, entretanto, nã o mais existe em nosso direito, por ter a
Constituiçã o proibido qualquer menção à origem da filiação, no art. 227, § 6-°. Essa vedação foi reproduzida nos
arts. 3-° e 5-° da Lei n. 8.560/92, que respectivamente proibiram legitimar o filho na ata do casamento e fazer
qualquer referência à natureza da filiaçã o no registro de nascimento.
O terceiro efeito jurídico do casamento é a imediata vigência, na data da celebração, do regime de bens, que é
irrevogá vel (CC, art. 230). Antes da celebração, podem os nubentes modificar o pacto antenupcial, para alterar
o regime de bens. Celebrado, porém, o casamento, ele torna-se imutá vel.
Inclusive nos casos de reconciliaçã o de casais separados judicialmente, o restabelecimento da sociedade
conjugal dá se no mesmo regime de bens em que havia sido estabelecida. Se o casal se divorciar, poderá casar-se
novamente, adotando regime diverso do anterior. A Lei de Introduçã o ao Có digo Civil, no entanto, estabeleceu
uma exceção a favor do estrangeiro casado, a quem ficou facultado, com a anuência do outro cô njuge, no ato de
se naturalizar brasileiro, optar pelo regime da comunhão parcial, que é o regime legal entre nó s, respeitados os
direitos de terceiros (LICC, art. 7°-, § 5°-). Se já for casado nesse regime, nã o poderá optar por outro. Já decidiu o
Supremo Tribunal Federal que o princípio da imutabilidade nã o é ofendido por convenção antenupcial que
estabeleça que, em caso de superveniência de filhos, o casamento com separaçã o converta-se em com comunhã o.
A jurisprudência tem admitido, também, mesmo no regime da separação de bens, a comunicação dos adquiridos
na constâ ncia do casamento pelo esforço comum dos cô njuges, atuando como verdadeiros integrantes de uma
sociedade de fato.
O quarto efeito jurídico do casamento é a imposição de deveres aos cô njuges, que passam a viger a partir da
celebração.
O art. 231 do Có digo Civil impõ e deveres recíprocos aos cô njuges, a saber: a) fidelidade recíproca; b) vida em
comum no domicílio conjugal (coabitaçã o); c) mú tua assistência; d) sustento, guarda e educação dos filhos.
Embora o casamento estabeleça vá rios deveres recíprocos aos cô njuges, a lei ateve-se aos principais,
considerados necessá rios para a estabilidade conjugal. A infração a cada um desses deveres constitui causa para
a separação judicial (Lei n. 6.515/77, art. 5°-), como o adultério, o abandono do lar conjugal, o abandono material
etc.
É uma decorrência do cará ter monogâ mico do matrimô nio. A infraçã o a esse dever, imposto a ambos os
cô njuges, configura o adultério, causa para a separaçã o judicial litigio sa. Basta a prova de uma só transgressã o
ao dever de fidelidade, nã o se exigindo que o culpado mantenha concubina. É dever de conteú do negativo, pois
exige uma abstenção de conduta, enquanto os demais reclamam comportamentos positivos. Os atos meramente
preparató rios da relaçã o sexual, o namoro e os encontros em locais comprometedores nã o constituem adultério,
mas podem caracterizar a injú ria grave (quase adultério), que também é causa de separação. Esse dever perdura
enquanto subsistir a sociedade conjugal e mesmo quando os cô njuges estiverem apenas separados de fato.
Extinguese, porém, quando aquela se dissolver pela morte, nulidade ou anulação do casamento, separação
judicial ou divó rcio.
É o dever de coabitação, que obriga os cô njuges a viver sob o mesmo teto e a ter uma comunhã o de vidas. Essa
obrigação não deve ser encarada como absoluta, pois uma impossibilidade física ou mesmo moral pode justificar
o seu nã o-cumprimento. Assim, um dos cô njuges pode ter necessidade de ausentar-se do lar por longos períodos
em razão de sua profissã o, ou mesmo de doença, sem que isso signifique quebra do dever de vida em comum. O
que caracteriza gressar à residência comum. Essa intençã o pode ficar caracterizada desde logo, nã o se exigindo
mais que a ausência se prolongue além de dois anos, como dispunha o revogado art. 317, IV do Có digo Civil.
O cumprimento desse dever pode variar, conforme as circunstâ ncias. Assim, admite-se até a residência em locais
separados, como é comum hodiernamente. Nele se inclui a obrigaçã o de manter relaçõ es sexuais, sendo exigível
o pagamento do debitam conjugale. Já se reconheceu que a recusa reiterada da mulher em manter relaçõ es
sexuais com o marido caracteriza injú ria grave, sendo causa de separação litigiosa. A vida em comum
desenvolve-se no local do domicílio conjugal. A fixação deste competia ao marido. Hoje, no entanto, diante da
isonomia de direitos estabelecida na Constituição, a opçã o do local deve ser feita pelo casal.
Caberá ao juiz solucionar eventual desacordo no tocante a essa escolha.
Ao nível moral, pode um dos cô njuges recusar-se a coabitar sob o mesmo teto, se por culpa do outro a vida em
comum tornar-se intolerá vel, sem com isso infringir o dever de vida em comum.
Tal dever obriga os cô njuges a se auxiliarem reciprocamente, em todos os níveis. Assim, inclui a recíproca
prestaçã o de socorro material, como também a assistência moral e espiritual. Envolve o desvelo, pró prio do
companheirismo, e o auxílio mú tuo em qualquer circunstâ ncia, especialmente nas situaçõ es difíceis. Não só o
abandono material como também a falta de apoio moral configuram causa de separação litigiosa. No primeiro
caso, constitui fundamento legal para a ação de alimentos. O dever de mú tua assistência subsiste até mesmo
depois da separação judicial (Lei n. 6.515/77, art. 3°-), extinguindo-se, porém, quando a dissoluçã o da sociedade
conjugal dá -se pelo divó rcio.
21.4. SUSTENTO, GUARDA E EDUCAÇÃO DOS FILHOS
O sustento e a educaçã o dos filhos constituem deveres de ambos os cô njuges. A guarda é, ao mesmo tempo,
dever e direito dos pais. A infraçã o ao dever em epígrafe sujeita o infrator à perda do pá trio poder e 'constitui
fundamento para a ação de alimentos. Em tese, configura também causa para a separaçã o judicial (Lei n.
6.515/77-, art. 5°-).
Subsiste a obrigaçã o de sustentar os filhos menores e de dar-lhes orientação moral e educacional mesmo apó s a
dissolução da sociedade conjugal, mas extingue-se com a maioridade. A jurisprudência, no entanto, tem
estendido essa obrigaçã o até a obtençã o do diploma universitá rio, no caso de filhos estudantes que nã o dispõ em
de meios para pagar as mensalidades.
O Có digo Civil tratava dos direitos e deveres do marido e da mulher em capítulos distintos, porque havia
algumas diferenças. Agora, em virtude da isonomia estabelecida pelo art. 226, § 5-°, da Constituição devem ser
estudados conjuntamente, pois são idênticos. O art. 233 estabelecia que o marido era o chefe da sociedade
conjugal, competindo-lhe a administraçã o dos bens comuns e particulares da mulher, o direito de fixar o
domicílio da família e o dever de prover à manutençã o da família. Todos esses direitos sã o agora exercidos pelo
casal (sistema da co-gestã o), devendo as divergências ser solucionadas pelo juiz. O dever de prover à
manutenção da família deixou de ser apenas um encargo do marido, incumbindo também à mulher, de acordo
com as possibilidades de cada um (inciso IV). O art. 234, que dispensava o marido de sustentar a mulher quando
ela abandonasse, sem justo motivo, a habitaçã o conjugal e se recusasse a voltar (quando, p. ex., passasse a morar
com outro homem), aplica-se agora a ambos os cô njuges.
O art. 235 do Có digo Civil especifica os atos que o marido nã o pode praticar, sem a outorga uxó ria, da mesma
forma que, mais adiante, o art. 242 elenca os que a mulher nã o pode realizar sem a autorização marital.
Praticamente a ú nica diferença estava no inciso IV do art. 242, que impedia a mulher de, sem a anuência do
marido, contrair obrigaçõ es que pudessem importar em alheação de bens do casal (empréstimos bancá rios, p.
ex.), inexistindo tal restrição ao marido, no art. 235. Se este pode realizar tais atos sem a outorga uxó ria, a
mulher agora também poderá praticá-los sem a autorização marital. O aludido artigo passou, portanto, a aplicar-
se indistintamente ao marido e à mulher. A anuência deve ser expressa e constar de instrumento pú blico,
sempre que se referir a bens imó veis de valor superior ao legal (art. 132).
Dispõ e o art. 235 do Có digo Civil, em seus quatro incisos, quais os atos que o marido nã o pode praticar sem o
consentimento da mulher, qualquer que seja o regime de bens. Passaremos a analisá-los.
a) Alienar, hipotecar ou gravar de ô nus real os bens imó veis ou os direitos reais sobre imó veis alheios - Trata-se,
na verdade, de mera falta de legitimaçã o e não de incapaci dade, pois, colhida a anuência do outro, o cô njuge fica
legitimado, e os atos por ele praticados revestem-se de legalidade. A restrição impõ e-se, qualquer que seja o
regime de bens, ou seja, mesmo que o adotado seja o da separação. Justificase a exigência pelo fato de os imó veis
serem considerados bens de raiz, que dã o segurança à família e garantem o futuro dos filhos.
Justo que o outro cô njuge seja ouvido a respeito da conveniência ou nã o da alienaçã o. O verbo "alienar" tem
sentido amplo, abrangendo toda forma de transferência de bens de um patrimô nio para outro, como a venda, a
doação, a permuta, a dação em pagamento etc. A vênia conjugal é necessá ria também no compromisso de
compra e venda irretratá vel e irrevogá vel, pois é há bil para transferir o domínio por meio da adjudicação
compulsó ria. Inclui-se na exigência de anuência do outro cô njuge a constituição de hipoteca ou de outros ô nus
reais sobre imó veis.
b) Pleitear, como autor ou réu, acerca desses bens e direitos - É uma conseqü ência da exigência expressa no
inciso anterior. A sentença final poderá acarretar a perda da pro priedade imó vel, correspondendo a uma forma
de alienação. Natural que o outro cô njuge participe da ação e venha ajuízo para fazer valer e defender os seus
direitos. Daí a razã o de o art. 10 do Có digo de Processo Civil exigir a participaçã o do outro cô njuge nas açõ es que
"versem sobre direitos reais imobiliá rios" (nã o nas açõ es pessoais relativas a imó veis, como a ação de despejo).
c) Prestar fiança - Procura-se evitar, com essa limitação, o comprometimento dos bens do casal, em razão de
graciosa garantia concedida a débito de terceiro. Se a fiança nã o for anulada pelo cô njuge prejudicado (o que a
deu nã o tem legitimidade para pedir a anulação), poderá este opor embargos de terceiro, para excluir a sua
meação de eventual penhora que venha a recair sobre os bens do casal, com base no art. 263, X, do Có digo Civil,
que exclui da comunhão a fiança prestada por um dos cô njuges sem a autorização do outro.
Para a prestação de aval, instituto do direito cambiário (nã o há aval fora do título de crédito), nã o se exige a
autorização do outro cô njuge.
A Lei n. 4.121/62 (Estatuto da Mu lher Casada) dispõ e, em seu art. 3-, que, pelos títulos de dívida de qualquer
natureza, firmados por um só dos cô njuges, ainda que casados no regime da comunhão universal, responderã o
os bens particulares do signatá rio e os comuns até o limite de sua meação. Entende a jurisprudência, no entanto,
que o cô njuge que nã o assinou o título terá de provar, para livrar da penhora a sua meação por meio de
embargos de terceiro, que a dívida não resultou em benefício da família, pois o contrá rio se presume. Como o
aval nã o resulta em benefício da família do avalista, sendo prestado de favor, geralmente o outro cô njuge obtém
sucesso nos embargos de terceiro, salvo se o aval foi prestado à sociedade da qual o avalista faz parte e da qual
retira o sustento da família.
d) Fazer doação, nã o sendo remunerató ria ou de pequeno valor, com bens ou rendimentos comuns - Tal
proibição aplica-se aos bens mó veis, porque dos imó veis já trata o incisoI. Duas exceçõ es sã o previstas
expressamente: a) nã o sã o proibidas as doaçõ es remunerató rias, qualquer que seja o seu valor, porque
representam o pagamento de serviço prestado pelo donatá rio (médico, dentista, advogado etc), e cuja cobrança
nã o mais podia ser feita (em razão da prescrição da açã o, p. ex.). A obrigação de pagar, embora nesse caso seja
apenas moral, existe, e o pagamento pode ser feito sem a anuência do outro cô njuge; b) não sã o também
proibidas as doaçõ es de pequeno valor. O valor da liberalidade é aferido em cada caso, levando-se em
consideraçã o o patrimô nio do doador. Em geral, considera-se de pequeno valor a doação que nã o ultrapassa
10% dele.
O art. 236 do Có digo Civil complementa o inciso IV supra, permitindo os dotes ou doaçõ es nupciais de bens
mó veis, qualquer que seja o seu valor, às filhas por ocasiã o de se casarem, e aos filhos, também na hipó tese de se
casarem ou de se estabelecerem com economia pró pria. Embora o dispositivo só permita a doação, por
passarem a ter o seu pró prio negó cio, aos filhos (as doaçõ es à s filhas só podem ser feitas por ocasião de se
casarem), essa distinçã o nã o mais pode ser feita, em face da isonomia consagrada na atual Constituição. Imputa-
se a doaçã o feita ao filho ou à filha, sem o assentimento do outro cô njuge, na meação do doador.
Nã o mais prevalecem as normas inseridas no capítulo do Có digo Civil que tratava dos direitos e deveres da
mulher, colocando-a em situaçã o de inferioridade perante o marido. Hoje, a igualdade jurídica dos cô njuges
constitui princípio constitucional. Assim, os direitos e deveres da mulher são idênticos aos do homem. Por outro
lado, nã o persistem os privilégios que só a ela eram atribuídos, como os bens reservados, adquiridos no
exercício de profissã o distinta do marido e que a este nã o se comunicavam, ainda que o regime do casamento
fosse o da comunhão de bens. O art. 246 do Có digo Civil, que consagrava esse privilégio, encontra-se tacitamente
revogado pela Constituiçã o Federal (TJSP, l0á Câm., Ap. 46.348-4-Jundiaí, j. 19-8-1997). As mulheres que haviam
formado esse patrimô nio reservado antes da Carta Magna naturalmente o conservam, como direito adquirido.
Quanto ao nome, dizia o pará grafo ú nico do art. 240 que a mulher podia acrescer aos seus os apelidos de família
do marido. Este também pode, agora, se o desejar, usar os apelidos familiares da mulher. O verbo "acrescer" nã o
impede que o cô njuge simplesmente substitua o seu apelido familiar pelo do outro cô njuge (RT, 577:119 e
593:122).
Cabe ao juiz suprir tanto a outorga da mulher como a autorizaçã o marital, quando as deneguem sem justo
motivo ou lhes seja impossível dá-]as (CC, art. 237). Fica, portanto, ao prudente arbítrio do juiz examinar as
situaçõ es que caracterizam ou não o justo motivo para a denegaçã o. Os casos de impossibilidade para dar o
consentimento geralmente decorrem de incapacidade ou desaparecimento do outro cô njuge. O suprimento
judicial autoriza o ato, mas nã o obriga os bens pró prios daquele (art. 238).
CAPÍTULO VII
REGIME DE BENS NO MATRIMONIO
25. PRINCÍPIOS BÁSICOS
O presente capítulo disciplina as relaçõ es econô micas entre os cô njuges durante o matrimô nio, que se
submetem a três princípios bá sicos: a) irrevogabilidade; b) variedade de regimes; c) livre estipulaçã o.
a) Irrevogabilidade - V. n. 20, retro, terceiro efeito jurídico do casamento, em que tal princípio foi comentado.
Acrescenta-se que se justifica a imutabilidade por duas ra zõ es: o interesse dos cô njuges e o de terceiros. Evita,
com efeito, que um dos cô njuges abuse de sua ascendência para obter alteraçõ es em seu benefício. O interesse de
terceiros também fica resguardado contra mudanças no regime de bens, que lhes poderiam ser prejudiciais.
b) Variedade de regimes - A lei coloca à disposição dos nubentes nã o apenas um modelo de regime de bens, mas
quatro. Como o regime dotal nã o vingou, entendendo alguns que se tornou ineficaz em face da isonomia
conjugal, ficaram reduzidos a três: comunhã o universal, comunhã o parcial e separaçã o convencional ou legal.
c) Livre estipulaçã o - Estatui o art. 256 do Có digo Civil que é lícito aos nubentes, antes de celebrado o casamento,
"estipular, quanto aos seus bens, o que lhes aprouver". Podem, assim, adotar um dos regimes-modelos
mencionados, como combina-los entre si, criando um regime misto, bem como eleger um novo e distinto. Esse
princípio, entretanto, admite uma exceçã o: a lei fixa, imperativamente, o regime de bens a pessoas que se
encontrem nas situaçõ es previstas no art. 258, pará grafo ú nico. A livre estipulação deferida aos cô njuges
também nã o é absoluta. Ter-se-á por nã o escrita a cláusula que "prejudique os direitos conjugais, ou os
paternos", bem como a que "contravenha disposiçã o absoluta da lei" (art. 257). Nã o valem, destarte, as cláusulas
que dispensem os cô njuges dos deveres conjugais ou que prive um deles do pá trio poder, pr exemplo.
Tais disposiçõ es nã o anulam o pacto: sã o apenas consideradas nã o escritas.
A escolha é feita no pacto antenupcial. Se este nã o foi feito, ou for nulo, vigorará , quanto aos bens entre os
cô njuges, o regime da comunhão parcial (CC, art. 258, caput), por isso chamado também de regime legal ou
supletivo (porque a lei supre o silêncio das partes). Pacto antenupcial é um contrato solene e condicional, por
meio do qual os nubentes dispõ em sobre o regime de bens que vigorará entre ambos, apó s o casamento.
Solene, porque será nulo se nã o for feito por escritura pú blica. E condicional, porque só terá eficácia se o
casamento se realizar (arts. 256, pará grafo ú nico, e 134, 1). A capacidade é a mesma exigida para o casamento.
Os menores necessitam do consentimento dos pais para casar e da assistência deles para a celebração da
convençã o antenupcial. O consentimento para o casamento nã o dispensa a intervenção do representante legal
para a celebraçã o do pacto antenupcial. Este, para valer contra terceiros, deve ser registrado em livro especial,
no registro de imó veis do domicílio dos cô njuges (art. 261). Sem o registro, o regime escolhido só vale entre os
nubentes (regime interno). Perante terceiros, é como se não existisse o pacto, vigorando então o regime da
comunhão parcial (regime externo).
As hipó teses em que é obrigató rio o regime da separação de bens no casamento estão especificadas no pará grafo
ú nico do art. 258 do Có digo Civil. Por tratar-se de regime imposto por lei, não há necessidade de pacto
antenupcial. Em alguns casos, tal imposiçã o é feita por ter havido contravençã o a dispositivo legal que regula os
impedimentos matrimoniais.
Em outros, mostra-se evidente o intuito de proteger certas pessoas que, pela posição em que se encontram,
poderiam ser vítimas de aventureiros interessados em seu patrimô nio, como as menores de dezesseis, as
maiores de cinqü enta e os homens com mais de sessenta anos.
As hipó teses sã o as a seguir elencadas.
a) Infração do estatuído no art. 183, XI a XVI, do Có digo Civil - O inciso XI trata do casamento do incapaz,
celebrado sem autorizaçã o do representante legal. O casamen to é anulá vel, mas, se nã o for ajuizada a açã o
anulató ria no prazo legal, vigorará o regime da separação de bens, ainda que tenham feito pacto, escolhendo
outro. Em se tratando de menor sob o pá trio poder, a livre escolha do regime somente será possível se houver
concordâ ncia dos pais. O inciso XII refere-se aos menores que nã o alcançaram a idade nú bil (16 para as
mulheres e 18 para os homens). Se o casamento nã o for anulado, vigorará também o regime da separação. Essa
espécie de casamento só será vá lida se for suprida judicialmente a idade dos menores. Neste caso, será celebrada
também no regime da separação, por força do inciso IV do pará grafo ú nico do art. 258. Os incisos XIII a XVI
tratam do casamento irregular, em que o regime da separação é imposto como pena.
b) Homem com mais de sessenta e mulher com mais de cinqü enta anos - A restrição é eminentemente de cará ter
protetivo. Objetiva obstar à realização de casamento exclu sivamente por interesse econô mico. A Lei do
Divó rcio prevê uma exceçã o, no art. 45. Decidiu-se recentemente, porém (TJSP, 22 Câm_ Ap. 7.512-4-SJRPreto, j.
18-8-1998, v. u.), que já nã o vige tal restrição, por ser incompatível com as cláusulas constitucionais de tutela da
dignidade da pessoa humana, da igualdade jurídica e da intimidade, bem como com a garantia do justo processo
da lei, tomado na acepção substantiva (CF, arts. 1°-, 111, e 5°-, 1, X e LIV).
c) Ó rfã o e menor cujos pais decaíram do pá trio poder - Mesmo que se casem com o consentimento do tutor,
vigorará o regime da separação, como forma de impedir que este, para se livrar da tutela, autorize um casamento
inconveniente para seu tutelado.d) Os que dependem de autorizaçã o judicial para casar - O dispositivo tem
evidente intuito protetivo e aplica-se aos menores que obtiveram o suprimento judicial de idade ou do
consentimento dos pais.
O art. 259 do Có digo Civil nã o se aplica ao regime da separação legal, porque neste nã o se celebra nenhum pacto.
Dispõ e o aludido dispositivo que, se o regime escolhido nã o for o da comunhã o, mesmo assim comunicar-
se-ão os bens adquiridos na constâ ncia do casamento se o pacto nã o dispuser, expressamente, que o regime da
separaçã o vigorará inclusive quanto a estes.
A jurisprudência, tendo constatado que o regime da separação legal, ao contrá rio do que imaginou o legislador,
nã o amparava devidamente as pessoas que deviam ser protegi das, passou a proclamar que, nesse regime,
comunicam-se os bens adquiridos a título oneroso na constâ ncia do casamento (aqü estos). O Supremo Tribunal
Federal editou, entã o, a Sú mula 377: "No regime de separaçã o legal de bens comunicam-se os adquiridos na
constâ ncia do casamento". No princípio essa sú mula foi aplicada com amplitude. Hoje, no entanto, é restrita aos
bens adquiridos pelo esforço comum dos cô njuges, reconhecendo-se a existência de uma verdadeira sociedade
de fato. Assim vem decidindo o Superior Tribunal de Justiça (RSTJ, 39:413; RT, 691:194; RF, 320:84). Justifica-se
a ediçã o da referida sú mula porque a pró pria concubina tem direito à meação dos bens adquiridos pelo esforço
comum (Sú mula 380 do STF). Tem-se reconhecido também à mulher casada no regime da separação
convencional o direito à meação dos bens adquiridos pelo esforço comum na constâ ncia do casamento.
É o regime em que se comunicam todos os bens, atuais e futuros, dos cô njuges, ainda que adquiridos em nome
de um só deles, bem como as dívidas posteriores ao casamento, . salvo os expressamente excluídos pela lei ou
pela vontade dos nubentes, expressa em convençã o antenupcial (CC, art. 262). Por tratar-se de regime
convencional, deve ser estipulado em pacto antenupcial. Nesse regime, predominam os bens comuns (de
propriedade e posse de ambos os cô njuges), podendo no entanto existir bens pró prios do marido e bens
pró prios ou reservados da mulher (estes, somente se adquiridos antes da atual CF).
Os bens incomunicá veis estã o relacionados no art. 263 do Có digo Civil. Enumeramos a seguir os principais.
a) Pensõ es, meios-soldos, tenças e outras rendas semelhantes - Pensõ es e tenças são quantias pagas
mensalmente a alguém para a sua subsistência. Meio-soldo é a metade do soldo que o Estado paga aos militares
reformados. Montepio é a pensã o devida pelo instituto previdenciá rio aos herdeiros do devedor falecido. O que
nã o se comunica é somente o direito ao percebimento desses benefícios. As quantias mensalmente recebidas na
constâ ncia do casamento, a esse título, porém, entram para o patrimô nio do casal e comunicamse logo que
percebidas. Se o casal se separar judicialmente, o cô njuge com direito ao benefício continuará levantando-o
mensalmente, sem perder a metade para o outro, porque o direito, sendo incomunicá vel, nã o é partilhado.
b) Os bens doados ou legados com a cláusula de incomunicabilidade e os sub-rogados em seu lugar - Não só são
excluídos os bens doados em vida, os deixados em testamento, com cláusula de incomunicabilidade, como
também os sub-rogados em seu lugar, ou seja, os que substituem os bens incomunicáveis. Assim, se o dono de
um terreno recebido em doaçã o com cláusula de incomunicabilidade resolver vendê-lo para, com o produto da
venda, adquirir um veículo, este se subrogará no lugar do terreno e será também incomunicá vel. A
incomunicabilidade nã o acarreta a inalienabilidade do bem, mas esta produz, de pleno direito, a
incomunicabilidade e a impenhorabilidade. Isto porque quem se casa - e do casamento resulta a comunicaçã o da
metade do bem de certa forma está alienando. E a penhora é realizada para a venda do bem em hasta pú blica.
Dispõ e a Sú mula 49 do Supremo Tribunal Federal: "A cláusula de inalienabilidade inclui a incomunicabilidade
dos bens". Embora omissa a lei, nã o se comunicam também os bens doados com a cláusula de reversã o (CC, art.
1.174), ou seja, com a condiçã o de, morto o donatá rio antes do doador, o bem doado voltar ao patrimô nio deste,
nã o se comunicando ao cô njuge do falecido.
c) Os bens gravados de fideicomisso e o direito do herdeiro fideicomissá rio, antes de realizada a condição
suspensiva - Fideicomisso é espécie de substituição testamentá ria. Os bens permanecem durante certo tempo,
ou sob certa condição, fixados pelo testador, em poder do fiduciá rio, passando depois ao substituto
(fideicomissá rio). Para que possa cumprir a obrigaçã o imposta pelo testador, os bens não se comunicam ao
cô njuge do fiduciá rio. O fideicomissá rio, por sua vez, tem um direito eventual. A aquisição do domínio depende
da morte do fiduciá rio, do decurso do tempo fixado pelo testador ou do implemento da condiçã o resolutiva por
ele imposta. Se falecer antes do fiduciá rio, caduca o fideicomisso, consolidando-se a propriedade em mãos do
fiduciá rio.
d) As obrigaçõ es provenientes de atos ilícitos. Se o marido causa uma colisã o de veículos e é condenado a
ressarcir os danos dela decorrentes, na fase da execuçã o da sen tença condenató ria poderá a mulher opor
embargos de terceiro para livrar da penhora a sua meaçã o, pois a obrigaçã o proveniente de atos ilícitos é
incomunicá vel e nã o pode comprometer a meação do outro cô njuge.
e) As dívidas anteriores ao casamento, salvo se provierem de despesas com seus aprestos ou reverterem em
proveito comum - Somente o devedor responde pelas dívidas anteri ores ao casamento, com seus bens_
particulares ou com os que trouxe para a comunhão (art. 264). A lei, entretanto, abre duas exceçõ es: 1)
comunicam-se as dívidas contraídas com os aprestos (preparativos do casamento), como enxoval, aquisiçã o de
mó veis etc.; 2) e também as que reverterem em proveito comum, como as decorrentes da aquisição de imó vel
que servirá de residência do casal.
f) As doaçõ es antenupciais feitas por um dos cô njuges ao outro com a cláusula de incomunicabilidade.
g) As roupas de uso pessoal, as jó ias esponsalícias dadas antes do casamento pelo esposo, os livros e
instrumentos de profissã o e os retratos da família - Trata-se de bens que têm um cará ter pessoal e, por isso, são
incomunicá veis. Os livros e os instrumentos da profissã o, entretanto, só não entram para a comunhã o se
indispensá veis ao exercício da atividade pró pria do cô njuge e nã o integrem um fundo de comércio, ou o
patrimô nio de uma sociedade da qual participe o consorte.
h) Afiança prestada pelo cô njuge sem o consentimento de seu consorte - Neste caso, ela é anulá vel. Não anulada,
responde por ela apenas o cô njuge que se obrigou, comprometendo-se somente a sua meação.
i) Os bens de herança necessá ria a que se impuser a cláusula de incomunicabilidade (art. 1.723).
j) Os bens reservados - Só se pode falar hoje em bens reservados quanto aos adquiridos antes da atual
Constituiçã o, pois o art. 246 do Có digo Civil foi tacitamente revogado pelo art. 226, § 5°-, da Carta Magna.
1) Os frutos civis do trabalho ou indú stria de cada cô njuge ou de ambos - O alcance deste dispositivo tem
causado uma certa perplexidade entre os autores, especialmente por terem sido previstos os bens reservados
para a mulher. Para dar-lhe um aproveitamento ú til, deve-se entender que nã o se comunica somente o direito
aos proventos do trabalho de cada cô njuge ou de ambos. Recebido o salário, o dinheiro ingressa no patrimô nio
comum. Em caso de separação judicial, o direito de cada qual continuar a receber o seu salário nã o é partilhado.
Tem sido decidido que, em caso de prolongada separação de fato do casal, que caracteriza o rompimento fá tico
do vínculo, não se comunicam ao outro cô njuge os bens adqui ridos nesse período, ou durante a convivência com
terceira pessoa, nã o constituindo tal fato ofensa ao princípio da imutabilidade do regime de bens (RJTJSP,
114:102).
Os frutos dos bens incomunicáveis, quando se percebam ou vençam durante o matrimô nio, comunicam-se (CC,
art. 265). Assim, embora certos bens sejam incomunicáveis (art. 263), os seus rendimentos se comunicam. A
administração dos bens comuns é do casal (sistema da co-gestã o), nã o tendo mais eficá cia o pará grafo ú nico do
art. 266, que restringia os direitos da mulher.
É o que prevalece se os consortes não fizerem pacto antenupcial ou este for nulo (CC, art. 258, capuz). Por essa
razão, caracteriza-se por estabelecer a separaçã o quanto ao passado (bens que cada cô njuge possuía antes do
casamento) e comunhão quanto ao futuro (adquiridos na constâ ncia do casamento).
Os bens incomunicá veis, pró prios ou particulares de cada cô njuge, não sã o, porém, somente os que cada um
possuía por ocasiã o do casamento, mas também os havidos poste riormente, a título gratuito (por doação ou
sucessã o); os adquiridos com o produto da venda de bens particulares de cada cô njuge (sub-rogação); os
rendimentos (usufruto) de bens de filhos anteriores ao casamento; e todos aqueles que, mesmo no regime da
comunhão universal, são excluídos da comunhão pelo art. 263 do Có digo Civil (art. 269). Portanto, no regime da
comunhão parcial é maior o nú mero de bens excluídos da comunhão. Não se comunicam, ainda, as dívidas
anteriores ao casamento, mesmo contraídas com seus preparativos, nem as provenientes de atos ilícitos (art.
270), salvo se tiver advindo lucro para ambos, quando respondem na proporçã o do ganho de cada um (art. 274).
Nã o se comunicam, igualmente, as aquisiçõ es ligadas a título aquisitivo anterior ao casamento (art. 272). Assim,
nã o integra a comunhã o o bem reivindicado pelo marido quando solteiro, sendo a ação julgada procedente
quando já casado, nem o dinheiro recebido apó s o casamento pela venda anterior de um bem.
Os bens comuns sã o os havidos na constâ ncia do casamento por título oneroso, fato eventual (loteria, aluvião,
avulsã o), doação, herança ou legado em favor de ambos os cô njuges, as benfeitorias em bens particulares de cada
um deles (porque presumem-se feitas com o esforço comum) e os frutos dos bens comuns ou particulares
percebidos na constâ ncia do casamento (CC, art. 271). O inciso VI do art. 271 (segundo o qual entram na
comunhão "os frutos civis do trabalho, ou indú stria de cada cô njuge, ou de ambos") está tacitamente revogado
pelo art. 269, IV com a redação dada pela Lei n. 4.121/62, que exclui da comunhã o "os demais bens que se
consideram também excluídos da comunhã o universal", dentre eles "os frutos civis do trabalho, ou indú stria de
cada cô njuge, ou de ambos". Prevalece, portanto, esta regra, mais recente, sobre a do art. 271, VI. O marido não é
mais o administrador exclusivo dos bens comuns e particulares, como prescrevia o art. 274. A administraçã o é
hoje exercida por ambos os consortes. Os bens mó veis presumem-se adquiridos na constâ ncia do casamento
quando nã o se provar com documento autêntico que o foram em data anterior (art. 273).
Neste regime cada cô njuge conserva a plena propriedade, a integral administração e a fruição de seus pró prios
bens. Somente para alienar e gravar de ô nus reais bens imó veis é que necessitará da anuência do consorte (CC,
arts. 235, I, e 242, I). Envolve todos os bens presentes e futuros, frutos e rendimentos, e confere autonomia a
cada um na gestã o do pró prio patrimô nio. Essa independência sofre a limitaçã o já mencionada, imposta pelos
arts. 235 e 242: qualquer que seja o regime de bens, é necessá ria a anuência do outro cô njuge para a alienaçã o e
oneraçã o de bens imó veis.
Para que esses efeitos se produzam e a separaçã o seja pura ou absoluta, é mister que conste expressamente do
pacto antenupcial que ela vigorará inclusive quanto aos bens ad quiridos na constâ ncia do casamento (CC, art.
259). Podem os nubentes convencionar a separação limitada, envolvendo somente os bens presentes e
comunicando-se os futuros, os frutos e os rendimentos. Não haverá, nesse caso, diferença com o regime da
comunhão parcial. Em princípio, cada cô njuge é obrigado a contribuir para as despesas do casal com o
rendimento de seus bens, na proporção de seu valor (art. 277). Podem, no entanto, os consortes estabelecer, no
pacto antenupcial, a quota de participação de cada um ou sua dispensa do encargo, bem como fixar normas
sobre a administração dos bens. A obrigaçã o de contribuir para as despesas do casal estende-se hoje a todos os
regimes, não só em razão do art. 2°- da Lei n. 4.121/62 como também da isonomia constitucional. Tem a
jurisprudência admitido a comunicação dos bens adquiridos na constâ ncia do. casamento pelo esforço comum
do casal, comprovada a existência da sociedade de fato.
CAPíTULO VIII
DISSOLUÇÃO DA SOCIEDADE CONJUGAL
30. CAUSAS TERMINATIVAS
O capítulo do Có digo Civil que tratava da dissoluçã o da sociedade conjugal (arts. 315 a 328) foi revogado pela Lei
do Divó rcio (Lei n. 6.515/77), que passou a regulamentar in teiramente o assunto. As causas terminativas da
sociedade conjugal estã o especificadas no art. 2°- da citada lei: morte de um dos cô njuges, nulidade ou anulação
do casamento, separação judicial e divó rcio. Sociedade conjugal é o complexo de direitos e obrigaçõ es que
formam a vida em comum dos cô njuges. A morte que a extingue é somente a real, pois a presumida dos ausentes
produz apenas efeitos patrimoniais, permitindo a abertura da sucessã o provisó ria, mas nã o põ e fim à sociedade
conjugal. A mulher do ausente nã o é declarada viú va. A nulidade ou a anulaçã o do casamento rompem o vínculo
matrimonial, extinguindo a sociedade conjugal e permitindo que os cô njuges se casem novamente. Nada impede
a cumulação da açã o anulató ria com a de separação judicial, em ordem sucessiva (CPC, art. 289). Também a
existência de anterior sentença de separação judicial ou de divó rcio nã o constitui ó bice para a propositura da
ação anulató ria. Nã o é necessá rio antes anular ou rescindir a sentença de separaçã o judicial ou de divó rcio, pois
tal sentença nã o decide sobre a validade do casamento. O casamento vá lido somente é dissolvido (o vínculo)
pela morte de um dos cô njuges ou pelo divó rcio (pará grafo ú nico do art. 2`-'), pois a separaçã o judicial mantém o
vínculo matrimonial, embora dissolva a sociedade conjugal.
O art. 3°- da Lei do Divó rcio prescreve: "A separaçã o judicial põ e termo aos deveres de coabitação, fidelidade
recíproca e ao regime matrimonial de bens, como se o casa mento fosse dissolvido". Permanecem somente os
outros dois deveres impostos pelo art. 231 do Có digo Civil: mú tua assistência e sustento, guarda e educaçã o dos
filhos. O cará ter personalíssimo da separaçã o judicial vem estampado no § lodo citado art. 3°-: "O procedimento
judicial da separação caberá somente aos cô njuges...". Somente eles têm a iniciativa da açã o, que é privativa e
intransmissível. Assim, se um deles morrer, a ação será extinta. A morte, por si, já é causa de dissoluçã o da
sociedade conjugal. Também a ação de divó rcio extingue-se com a morte de um dos cô njuges. Na segunda parte,
contudo, o aludido dispositivo legal abre uma exceção, permitindo que, no caso de incapacidade do cô njuge, seja
este representado por curador, ascendente ou irmã o. Critica-se o legislador por falar em representação, e nã o
em substituição processual, como seria correto. A ordem enunciada é preferencial: havendo curador, somente a
ele caberá a "representaçã o" do cô njuge que se tornou incapaz apó s o casamento; somente se não houver
curador a representaçã o passará sucessivamente ao ascendente e ao irmão, este à falta daquele. Entretanto, se o
cô njuge incapaz figurar no pó lo passivo da ação de separaçã o ou de divó rcio, será representado exclusivamente
por seu curador. Essa representação (ou substituição processual) pode ocorrer tanto nos casos de separaçã o
litigiosa como também nos de separaçã o amigá vel, malgrado a opiniã o de Silvio Rodrigues de que nã o caberia
nesta ú ltima modalidade, que exige a presença, perante o juiz, de ambos os cô njuges. Tal entendimento já se
encontra superado pela doutrina e nã o se coaduna com o texto da lei, que nã o faz distinçã o.
Preceitua o § 2°- do art. 3°- da Lei do Divó rcio que o juiz deverá promover todos os meios para que as partes se
reconciliem ou transijam, ouvindo pessoal e separadamente cada uma delas e, a seguir, reunindo-as em sua
presença, se assim considerar necessá rio. Como tal dispositivo nã o conflita com a Lei n. 968, de 10 de dezembro
de 1949, que estabeleceu uma fase preliminar de tentativa de reconciliaçã o nas separaçõ es litigiosas, o juiz, em
cumprimento à s suas normas, determina a citaçã o do réu e a intimaçã o do autor para comparecerem a uma
audiência prévia, com vistas à tentativa de reconciliaçã o do casal. Se esta não for obtida, o magistrado procurará
convencer as partes a transformar a separação litigiosa em amigá vel (se o casamento foi realizado há mais de
dois anos). Se os cô njuges pedirem, os advogados deverão ser chamados a assistir aos entendimentos e deles
participar (§ 3°-). O nã o-comparecimento de qualquer das partes deve ser havida como recusa a qualquer
acordo. Nã o obtida a reconciliaçã o do casal, nem a convolação em separaçã o amigá vel, começa a fluir da data da
audiência prévia o prazo para a contestaçã o, ainda que o réu a ela nã o tenha comparecido.
A separaçã o requerida por ambos os cô njuges é chamada também de amigá vel ou consensual. É procedimento
típico de jurisdição voluntá ria, em que o juiz administra interesses privados. Nã o há litígio, pois ambos os
cô njuges buscam a mesma soluçã o: a homologação judicial do acordo por eles celebrado. O art. 4°- da Lei do
Divó rcio prescreve: "Dar-se-á a separação judicial por mú tuo consentimento dos cô njuges, se forem casados há
mais de dois anos, manifestado perante o juiz e devidamente homologado". A vantagem dessa modalidade é que
os separandos nã o precisam declinar a causa, o motivo da separaçã o. O ú nico requisito exigido, havendo
consenso mú tuo, é estarem os nubentes casados há mais de dois anos. Imprescindível, pois, a anexaçã o à inicial
da certidã o de casamento. A reduçã o do prazo para o divó rcio-conversã o e para o divó rcio direto (art. 226, § 6°-,
da CF e Lei n. 7.841/ 89) nã o interferiu no prazo de dois anos para a separaçã o consensual, que continua sendo
exigido. A Constituição nada estabeleceu quanto ao tempo necessá rio para a separaçã o consensual, nã o estando,
pois, revogada nesse ponto a Lei do Divó rcio (cf. TJSP, Ap. 118.088-1,1. 23-11-1989). Decidiu o Tribunal de
Justiça de Sã o Paulo, numa hipó tese rara, por maioria, que cô njuges divorciados, que restabeleceram a união
conjugal mediante novo casamento, estavam dispensados do requisito de estarem casados há mais de dois anos
(RT, 594:52). O voto vencido, no entanto, sustentou a manutenção da exigência, argumentando que, se os
divorciados tivessem casado com terceiros, o biênio legal haveria de ser observado.
O art. 34 da Lei n. 6.515/77 dispõ e que a separação judicial consensual far-se-á pelo procedimento previsto nos
arts. 1.120 a 1.124 do Có digo de Processo Civil, mas acrescen tando as seguintes regras: "§ 1-° A petiçã o será
também assinada pelos advogados das partes ou pelo advogado escolhido de comum acordo. § 2`--' O juiz pode
recusar a homologaçã o e nã o decretar a separaçã o judicial, se comprovar que a convençã o nã o preserva
suficientemente os interesses dos filhos ou de um dos cô njuges. § 3`--' Se os cô njuges não puderem ou nã o
souberem assinar, é lícito que outrem o faça a rogo deles. § 4" As assinaturas, quando nã o lançadas na presença
do juiz, serã o, obrigatoriamente, reconhecidas por tabelião". A recusa de homologação pelo juiz deve ser
fundamentada, com indicaçã o das modificaçõ es que comportariam as cláusulas prejudiciais, porque a parte
inconformada pode interpor recurso de apelaçã o ao Tribunal de Justiça. É também permitido ao juiz cindir o
acordo, homologando parcialmente a separação, deixando de lado, por exemplo, as cláusulas referentes à
partilha, por reputá-la prejudicial a um dos separandos.
Prescreve o art. 1.121 do Có digo de Processo Civil que a petiçã o inicial deverá ser instruída com a certidã o de
casamento (para comprovar a realizaçã o do casamento há mais de 2 anos) e o pacto antenupcial, se houver (para
comprovaçã o do regime de bens adotado), e conter: "I - a descrição dos bens do casal e a respectiva partilha; II -
o acordo relativo à guarda dos filhos menores; 111 - o valor da contribuição para criar e educar os filhos; IV - a
pensã o alimentícia do marido à mulher, se esta nã o possuir bens suficientes para se manter". Prevê o pará grafo
ú nico que, "se os cô njuges nã o acordarem sobre a partilha dos bens, far-se-á esta, depois de homologado o
desquite, na forma estabelecida neste Livro, Título I, Capítulo lX", ou seja, sujeitar-se-á ao procedimento previsto
para os inventá rios. A partilha pode ser realizada de modo desigual, pois os cô njuges, sendo maiores e capazes,
podem transigir, sujeitando-se eventualmente ao recolhimento do imposto decorrente da doação
implicitamente feita ao outro. Se os consortes acordarem que a guarda dos filhos menores fique com um
terceiro, como o avô , este deverá assinar também a petição, concordando. Recomenda-se a regulamentaçã o das
visitas, para evitar futuros litígios, prejudiciais aos menores. Deve ser, obrigatoriamente, fixada a pensã o a ser
paga aos filhos pelo genitor que nã o ficou com a guarda.
Se um dos cô njuges necessitar de auxílio, deverá ser fixado o valor da pensã o que o outro lhe pagará. Tem-se
admitido que a mulher abra mão dos alimentos, podendo po rém pleiteá -los futuramente, se vier a necessitar e
nã o tiver sido contemplada, na partilha, com bens suficientes para a sua subsistência (Sú mula 379 do STF). A
omissã o de qualquer referência à pensã o que o marido pagará à mulher nã o impedirá a homologação da
separaçã o, devendo-se presumir que decorre do fato de a mulher dela nã o necessitar, por ter meios pró prios de
subsistência. A petição deverá esclarecer, ainda, se a mulher (hoje também pode acontecer com o marido)
voltará a usar o nome de solteira. No silêncio, deve-se entender que optou por conservá-lo. Como a mulher tem o
direito de optar por conservar ou nã o o nome do marido, pode ela, posterior e unilateralmente, requerer seu
cancelamento, voltando a usar o nome de solteira (mas, se havia optado por não conservá -lo, nã o poderá
futuramente voltar a usá -lo). É a ú nica cláusula que pode ser modificada unilateralmente. Se um dos cô njuges
quiser alterar, por exemplo, a cláusula referente à guarda dos filhos, não poderá fazê-lo sozinho. Terá de propor
uma ação ordiná ria de modificação de cláusula sobre guarda de filhos e provar a existência de motivos graves,
prejudiciais aos menores, que justifiquem a sua pretensã o.
A petiçã o será apresentada ao juiz, que ouvirá os cô njuges, verificando se estã o deliberando livremente e se
desejam a separação, sem hesitação. Convencendo-se disso, mandará reduzir a termo as declaraçõ es e, depois de
ouvir o Ministério Pú blico no prazo de cinco dias, a homologará ; caso contrá rio, marcar-lhes-á dia e hora, com
quinze a trinta dias de intervalo, para que voltem, a fim de ratificarem o pedido. Se qualquer dos cô njuges não
retornar ou nã o ratificar o pedido, o juiz mandará arquivar o processo (CPC, art. 1.122). A audiência de
ratificação nã o é mais obrigató ria, ficando a sua designação a critério do juiz. Nã o é caso de reexame necessá rio
da sentença homologató ria. O pedido de separação, de cará ter personalíssimo, ficará prejudicado se um dos
cô njuges falecer antes de sua homologaçã o pelo juiz. Enquanto nã o lavrado o termo pelo escrivão e assinado
pelas partes, o pedido não se tornou pú blico e poderá haver arrependimento unilateral. Assinado o termo, o
pedido torna-se irretratá vel pela manifestação unilateral de um só dos cô njuges.
Preceitua o art. 5-°, caput, da Lei do Divó rcio que a separação judicial "pode ser pedida por um só dos cô njuges
quando imputar ao outro conduta desonrosa ou qualquer ato que importe em grave violação dos deveres do
casamento e tornem insuportá vel a vida em comum" (separação-.sanção). Aduz o § 1°- que a separaçã o judicial
"pode também ser pedida se um dos cô njuges provar a ruptura da vida em comum há mais de um ano
consecutivo" (redação dada pela Lei n. 8.408, de 13-2-1992) "e a impossibilidade de sua reconstituição"
(separaçã o fàlência). Por fim, dispõ e o § 29 que o cô njuge "pode ainda pedir a separação judicial quando o outro
estiver acometido de grave doença mental, manifestada apó s o casamento, que torne impossível a continuaçã o
da vida em comum, desde que, apó s uma duração de cinco anos, a enfermidade tenha sido reconhecida de cura
imprová vel" (separaçã o-remédio). A enumeração é taxativa, não podendo ser ampliada a outras situaçõ es.
A hipó tese prevista no art. 5-°, caput, é chamada de separaçã o-sançã o porque um dos cô njuges atribui culpa ao
outro (na modalidade de conduta desonrosa ou de grave infraçã o dos deveres conjugais), aplicando-se sançõ es
ao culpado. Estas sã o: perda do direito a alimentos, perda da guarda dos filhos menores e perda do direito de
conservar o nome do outro. Como é a ú nica hipó tese em que se discute culpa, é também a ú nica que admite
reconvenção. Neste caso, pode a separaçã o ser decretada por culpa de um só dos cô njuges ou de ambos. Se
ambos forem culpados, nenhum deles fará jus à verba alimentícia, e os filhos menores ficarã o em poder da mãe,
salvo se o juiz verificar que de tal solução pode advir prejuízo de ordem moral para eles (art. 10, § 12).
A doutrina costuma classificar as causas de separaçã o judicial em peremptó rias e facultativas. As primeiras sã o
aquelas que, uma vez ocorridas, tornam obrigató ria a decretação da separação, por si só , independentemente de
uma apreciaçã o valorativa do juiz. As facultativas sã o as que, por si, nã o acarretam a decretação da separação,
mas somente se o juiz constatar que tornaram insuportá veis a vida em comum. A Lei n. 6.515/77, ao exigir, no
art. 5°-, caput, que a conduta desonrosa ou a infração dos deveres conjugais torne insuportá vel a vida em
comum, optou pelo sistema das causas facultativas. Na prá tica, entretanto, a jurisprudência tem proclamado que
o simples fato de o autor ter ingressado em juízo imputando culpa ao réu já faz presumir que a descoberta da
falta cometida tornou, para ele, insuportá vel a vida em comum. Há , assim, uma inversã o do ô nus da prova: ao réu
cabe demonstrar, se tiver interesse, que a infraçã o por ele cometida nã o tornou, para o outro, insuportá vel a vida
em comum, por terem, por exemplo, voltado a dormir na mesma cama. A Lei do Divó rcio optou por indicar
genericamente as causas de separaçã o litigiosa (conduta desonrosa e grave infraçã o dos deveres do casamento),
ao contrá rio do revogado art. 317 do Có digo Civil, que especificava as seguintes: adultério, tentativa de morte,
sevícia, injú ria grave e abandono voluntá rio do lar conjugal durante dois anos contínuos.
É uma expressã o bastante ampla, que se caracteriza pelo comportamento imoral, ilícito ou anti-social de um ou
de ambos os cô njuges. Está mais vinculada aos efeitos colaterais do casamento, qualificados como deveres
implícitos dos cô njuges. Incluem-se nessa expressã o os casos de alcoolismo, toxicomania, namoro do cô njuge
com terceiro, prá tica de crime, contaminaçã o com doença venérea, sevicia ou maus-tratos etc.
Enfim, muitas daquelas hipó teses que eram enquadradas pela jurisprudência brasileira na categoria de injú ria
grave. Segundo Cló vis Beviláqua, esta abrange toda ofensa à honra, à respeitabilidade, à dignidade do cô njuge,
quer consista em atos, quer em palavras. Se atinge o outro cô njuge diretamente, é infraçã o de dever conjugal
(dever de lealdade e respeito recíprocos, implícitos no dever de mú tua assistência); se só o atinge
indiretamente, é conduta desonrosa.
O primeiro desses deveres é o de ,fidelidade recíproca (CC, art. 231, 1). A sua infraçã o caracteriza o adultério,
que é difícil de provar, porque resulta da conjunçã o carnal entre duas pessoas de sexo diferente, praticado em
geral à s escondidas. Tal dever aplica-se a ambos os cô njuges e não sofre modificaçã o durante a separação de
fato. Esta nã o desobriga os cô njuges do dever de fidelidade, ou seja, nã o os libera para o sexo com terceiros. Se
um dos cô njuges infringe os deveres matrimoniais, nem por isso o outro passa a ter o direito de, impunemente,
praticar o adultério. Se o fizer, estará também dando causa à separaçã o culposa. O adultério tentado ou nã o
consumado, caracterizado pelos atos pré-sexuais, não é propriamente adultério, porque a sua existência
depende de congresso sexual completo. Os atos pré-sexuais ou preparató rios nã o deixam de ofender o dever de
fidelidade, mas caracterizam-se como injú ria grave ou quase-adultério. Em geral, os advogados nunca
fundamentam o pedido somente no adultério, porque de difícil prova, mas também na injú ria grave, porque a
prova dos atos preparató rios já é suficiente para a decretação da separação culposa.
A inseminaçã o artificial, também chamada de adultério casto ou científico, malgrado a opiniã o em contrá rio de
alguns doutrinadores, nã o configura adultério, porque este só ocorrerá se houver có pula completa com estranho
de outro sexo. A fecundaçã o nã o pertence à sexualidade, e sim à genitalidade, sendo um fato exclusivamente
bioló gico, desvinculado da libido. Na realidade, a mulher poderá dar causa à separação judicial ao sujeitar-se à
inseminaçã o artificial, recebendo o sêmen de outro homem sem o consentimento do marido, mas a sua conduta
subsumir-se-á no comportamento desonroso, por constituir injú ria grave. Também constitui conduta injuriosa o
fornecimento de sêmen pelo homem casado para a inseminação de mulher estranha sem o consentimento da
esposa.
Em geral, a anulação do casamento dá -se por fatos anteriores a ele, e a separaçã o judicial por posteriores. Assim,
o defloramento da mulher ignorado pelo marido (art. 219, IV revogado tacitamente pela CF) nã o constituía causa
de separaçã o judicial, mas de anulação do casamento por erro essencial quanto à pessoa do outro cô njuge.
Alguns autores denominam esse fato de adultério precoce. Alípio Silveira usa essa expressã o para designar a
fuga aviltante de um dos cô njuges com outra pessoa, logo apó s a celebração do casamento e antes de sua
consumaçã o pela coabitação, afirmando que tal conduta revela uma pessoa destituída de honra, uma
personalidade psicopá tica, até entã o insuspeitada, sendo caso de anulaçã o do casamento por erro essencial (Da
separaçã o litigiosa à anulação do casamento, LEUD, 1983, p. 115). Tratase, portanto, de exceção à regra de que
somente se anulam casamentos por fatos ocorridos antes de sua celebração. Outra exceçã o configura-se quando
um dos cô njuges (geralmente a mulher) se recusa, terminantemente, a consumar o casamento mediante o
congresso carnal, permanecendo virgo intacta, apurado o fato em regular perícia.
O segundo dever, de vida em comum no domicílio conjugal (de coabitação), quando desrespeitado, caracteriza o
abandono do lar conjugal. Exige-se, no entanto, para que se configure tal infraçã o, o requisito da voluntariedade,
o â nimo, a intençã o de nã o mais regressar ao lar comum. Se um dos cô njuges, depois de um certo tempo, passa a
negar-se à prá tica do ato sexual (ao pagamento do debitum conjugale), dá causa, também, à separaçã o judicial
por infraçã o ao dever de coabitação.
A infraçã o ao terceiro dever, o de mú tua assistência, pode caracterizar a sevícia (agressã o física, pancada).
Constitui infraçã o ao dever de respeito à integridade física do outro cô n juge, com negação do dever de mú tua
assistência. O quarto dever, de sustento, guarda e educaçã o dos filhos, quando descumprido, além de configurar,
em tese, os crimes de abandono material e intelectual e poder acarretar a perda do pá trio poder, constitui
também causa para a separação judicial, pois o casamento fica comprometido quando a prole é abandonada
material e espiritualmente. Embora nã o se trate de agressã o direta ao outro cô njuge, é ele atingido pelo
sofrimento dos filhos.
A confissã o real do réu basta para o acolhimento da inicial, nã o porém a ficta ou presumida, decorrente da
revelia. Inadmite-se, em conseqü ência, o julgamento antecipado da lide. Expressiva corrente vem proclamando,
porém, com razão, a disponibilidade do direito, por admitida a dissolução consensual do casamento, operando-
se, assim, os efeitos da revelia em caso de ausência de contestaçã o (RT, 612:58).
O revogado art. 319 do Có digo Civil previa o perdã o para o adultério, que se presumia se o cô njuge inocente,
conhecendo-o, coabitasse com o culpado. Nesse caso, deixaria de ser causa para a separaçã o judicial.
Embora tal dispositivo legal nã o mais exista, o princípio que o inspirou foi, de certa forma, mantido e ampliado
no art. 5°-, caput, da Lei do Divó rcio, ao exigir o requisito da "insuportabilidade da vida em comum".
Se o cô njuge inocente, cientificado da falta cometida pelo outro (adultério, injú ria grave ou qualquer outra),
prossegue coabitando com o infrator, sem que a falta provoque a repulsa ao casamento, deve-se entender que,
para ele, tal infraçã o nã o tornou insuportá vel a vida em comum, tendo-a perdoado. Assim, inexiste causa para a
decretação da separação judicial. Ao demandado é que cabe a alegaçã o e prova da exceção da suportabilidade
da vida em. comum.