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APOSTILA DE

DIREITO
CONSTITUCIONAL
I – ESTADO
 Histórico:
É uma instituição recente na história universal.
Em 1513, Maquiavel escreveu o livro “O Príncipe”.
Em 1789, nós abrimos mão de parcela de nossas liberdades e de nossos direitos e colocamos sob a
responsabilidade do Estado para que não voltássemos ao estado de natureza. Este nascimento do Estado funda-se na
teoria contratualista ou contratualismo.

 Conceito: é uma sociedade politicamente organizada dotada de um território, de um povo e com


objetivos determinados.

 Elementos constitutivos ou estruturais do Estado:


1) Poder ou organização ou soberania
2) Território
3) Povo
4) Objetivos

Estado não é sinônimo de país. País é o componente espacial do Estado; é o habitat do povo de um Estado;
país está ligado ao físico.
Quando faço referência ao Estado, estou fazendo referência à República Federativa do Brasil.
Estado não é sinônimo de nação. Nação é um conjunto de pessoas ligadas pela mesma origem, pela mesma
história, pela mesma religião, pela mesma língua. Dentro de um Estado podem haver várias nações. Nação é igual a
Estado para os que adotam a cultura anglo-saxônica. Adotamos a cultura romana. Ciganos formam uma nação, mas
não um Estado.
Pátria não é um conceito jurídico. É um sentimento. Significa “terra do papai”, “terra que amamos”. A CF
também usa conceitos não jurídicos. Ex: art. 142 da CF.

Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são
instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na
disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da
Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da
ordem.

1) Poder: capacidade de impor vontade sobre a vontade de terceiros. O Estado exerce poder político.
Só o Estado exerce poder político. Segundo este, o Estado é titular da violência legítima (obrigatoriedade,
coercibilidade) segundo Max Weber. Ex: mandado de prisão, busca e apreensão.

 Quais são os sentidos do termo “poder”na Constituição Federal?

1º sentido: art. 1º, § único, da CF. Demo = povo; Cracia = soberania. Poder no sentido de soberania popular.
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos
ou diretamente, nos termos desta Constituição.

A nossa democracia é uma democracia representativa, semi-direta e participativa. O povo, titular do poder, o
exerce, em regra, através de representantes eleitos. Só em situações excepcionais o povo exerce o poder diretamente.
Ex: art. 5º, inciso XXXVIII, CF (Tribunal do Júri); art. 5º, inciso LXXIII (ação popular); art. 61, § 2º (iniciativa
popular); art. 14 (consulta popular); administração pública dialógica.
2º sentido: poder no sentido de órgão. Art. 2º CF. Tecnicamente, não é correto falar em divisão tripartite de
Montesquieu, pois o poder é uno e indivisível. O que há é uma divisão orgânica do poder.
Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo
e o Judiciário.

3º sentido: poder no sentido de função. Ex: art. 44 (função legislativa), art. 76 (função executiva) e art. 92
(função judicial) CF.

SOBERANIA: poder político supremo e independente.


 Poder político = capacidade de utilização da violência legítima.
 Supremo = na ordem interna, não existe poder maior que a soberania, pois os Estados-membros são
autônomos. Autonomia é diferente de soberania.
 Independente: na ordem internacional, nós não devemos obediência a nenhum outro Estado.

 E o Tribunal Penal Internacional? E a cooperação jurídica internacional?


Hoje, o conceito de soberania está sendo relativizado.

2) Território: componente espacial do Estado. É a porção sobre a qual o Estado exerce a sua soberania
(jurisdição), poder de mando.
Há 2 espécies de territórios:
 Território em sentido restrito ou propriamente dito ou real: superfície ocupada pelo povo e
circunscrita por suas fronteiras. Elementos: solo, subsolo, espaço aéreo nacional, mar territorial, plataforma
continental.
 Território por ficção ou ficto ou por extensão: situações jurídicas que a lei equipara a território em
sentido restrito. Elementos: embarcação pública nacional onde quer que esteja, embarcações particulares nacionais no
mar territorial nacional e no mar internacional, aeronave pública nacional onde quer que esteja, aeronave particular
nacional no espaço aéreo nacional e no espaço aéreo internacional. Art. 5º, § 1º, do CP.
§ 1º - Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território nacional as
embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro
onde quer que se encontrem, bem como as aeronaves e as embarcações brasileiras, mercantes
ou de propriedade privada, que se achem, respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou
em alto-mar.

Representação diplomática não é território por extensão, o que não significa que não existam
proteções diplomáticas (imunidades diplomáticas) dentro das embaixadas.

- Mar territorial (lei 8.617/93): 12 milhas da costa (cada milha = 1852 metros). O nosso Estado exerce sua
jurisdição sobre o mar territorial.
Passagem inocente: art. 3º da lei acima. Para ir ao destino, tem que passar pelo mar territorial nacional. A
regra geral, seria de que a competência para julgar crimes ocorridos durante passagem inocente seria do Brasil,
entretanto, não é assim devido a tratados internacionais que o Brasil assinou. Mitigação da soberania. Não se aplica a
aeronaves, somente a embarcações.
Art. 3º É reconhecido aos navios de todas as nacionalidades o direito de passagem inocente no
mar territorial brasileiro.
§ 1º A passagem será considerada inocente desde que não seja prejudicial à paz, à boa ordem
ou à segurança do Brasil, devendo ser contínua e rápida.
- Zona contígua: + 12 milhas depois do mar territorial. Total de 24 milhas. O Estado pode adotar medidas
fiscalizatórias aptas a evitar infrações. Infrações fiscais, penais, de imigração...

- Zona economicamente exclusiva: + 188 milhas depois do mar territorial. A soberania é exercida para fins
de exploração, aproveitamento e gestão de recursos naturais e também para utilização para fins econômicos (petróleo,
minerais). 200 milhas no total.
- Plataforma continental: é o solo e o subsolo do mar territorial. Art. 20 da CF.
Art. 20. São bens da União:
I - os que atualmente lhe pertencem e os que lhe vierem a ser atribuídos;
II - as terras devolutas indispensáveis à defesa das fronteiras, das fortificações e construções
militares, das vias federais de comunicação e à preservação ambiental, definidas em lei;
III - os lagos, rios e quaisquer correntes de água em terrenos de seu domínio, ou que banhem
mais de um Estado, sirvam de limites com outros países, ou se estendam a território estrangeiro
ou dele provenham, bem como os terrenos marginais e as praias fluviais;
IV- as ilhas fluviais e lacustres nas zonas limítrofes com outros países; as praias marítimas; as
ilhas oceânicas e as costeiras, excluídas, destas, as que contenham a sede de Municípios,
exceto aquelas áreas afetadas ao serviço público e a unidade ambiental federal, e as referidas
no art. 26, II;
V - os recursos naturais da plataforma continental e da zona econômica exclusiva;
VI - o mar territorial;
VII - os terrenos de marinha e seus acrescidos;
VIII - os potenciais de energia hidráulica;
IX - os recursos minerais, inclusive os do subsolo;
X - as cavidades naturais subterrâneas e os sítios arqueológicos e pré-históricos;
XI - as terras tradicionalmente ocupadas pelos índios.
§ 1º - É assegurada, nos termos da lei, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, bem
como a órgãos da administração direta da União, participação no resultado da exploração de
petróleo ou gás natural, de recursos hídricos para fins de geração de energia elétrica e de outros
recursos minerais no respectivo território, plataforma continental, mar territorial ou zona
econômica exclusiva, ou compensação financeira por essa exploração.
§ 2º - A faixa de até cento e cinqüenta quilômetros de largura, ao longo das fronteiras
terrestres, designada como faixa de fronteira, é considerada fundamental para defesa do
território nacional, e sua ocupação e utilização serão reguladas em lei.

3) Povo: componente pessoal do Estado. Quando a CF fala em povo, ela equipara o conceito de povo
a nacional (indivíduo ligado a um determinado território por um vínculo jurídico-político denominado nacionalidade).
Art. 12 da CF: povo são os brasileiros natos e naturalizados.
Povo não é sinônimo de população, nem de habitante. População e habitante não são conceitos jurídicos, são
conceitos demográficos, geográficos e matemáticos. Art. 45, § 1º, da CF. Enquanto o conceito de povo só abrange
brasileiros natos e naturalizados, o conceito de população abrange o povo, os estrangeiros e os apátridas.

4) Objetivos: atingimento do bem comum. Art. 3º CF. Uma Constituição que traz objetivos é chamada
de constituição dirigente. A nossa CF é dirigente.

Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:


I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;
II - garantir o desenvolvimento nacional;
III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer
outras formas de discriminação.

- Nome do país: Brasil.


- Nome do nosso Estado: República Federativa do Brasil. Deste nome, tiramos a organização, a estrutura do
nosso Estado (forma de Estado, forma de governo, sistema ou regime de governo).
Forma de Estado: quantos centros que manifestam poder existem dentro de um determinado território?
Quantas pessoas jurídicas com capacidade política existem dentro de um determinado território? Capacidade política
= legislativo próprio, capacidade de editar leis. A resposta a estas perguntas define a forma de Estado.
Se dentro de um determinado território, só existir uma pessoa jurídica com capacidade política, este Estado
será unitário. Só há uma espécie de lei.
No Brasil, há mais de uma pessoa jurídica com capacidade política. Por isso, nosso Estado é composto.
Temos 3 espécies de leis:
 União – Congresso Nacional (lei nacional)
 Estados e DF – Assembléias Legislativas (lei estadual)
 Municípios – Câmaras Municipais (leis municipais)

 Espécies de Estado composto:


 Estado composto do tipo Federação
 Estado composto do tipo Confederação

 Diferenças entre Federação e Confederação:

Confederação Federação
As unidades parciais têm direito de secessão As unidades parciais não tem direito de secessão
(separação). (separação).
As unidades parciais são soberanas. As unidades parciais são autônomas.
Nasce a partir de um tratado internacional. Nasce a partir da Constituição.

 Histórico:
Em 1776, a Inglaterra possuía 13 colônias nas Américas, que viraram 13 Estados independentes.
Em 1777, estes 13 Estados independentes firmaram um tratado internacional, que recebeu o nome de Artigos
de Confederação.
Em 1787, cada Estado independente remeteu um embaixador à Convenção da Filadélfia. Lá eles viraram
Federação. A Federação americana é do tipo centrípeta ou por agregação, pois nasceu de 13 Estados independentes.
Por isso, lá os estados têm mais autonomia e há um código para cada estado. Decorre de diferença histórica.
No Brasil, temos uma Federação do tipo centrífuga ou por desagregação.
 Características da Federação:
a. Indissolubilidade do vínculo (art. 1º da CF): União com inicial minúscula no art. 1º não quer dizer
União Federal e sim, liame, ligação. Já no art. 18, com inicial maiúscula, é a pessoa jurídica União Federal. Ex de
proteção contra a indissolubilidade do vínculo: é crime político pregar contra a indissolubilidade do vínculo (lei
7.170/83) e quem investiga é a Polícia Federal. Art. 34 da CF (intervenção federal).
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e
Municípios e do Distrito Federal.

b. Divisão constitucional de competência: só existe uma Federação se uma Constituição estabelecer


uma divisão constitucional de competência. Competência da União (arts. 22 e 23); competência dos municípios (arts.
29 e 30); competência dos estados (art. 25); competência do DF (art. 32). A divisão constitucional de competência é
uma cláusula pétrea (art. 60, § 4º, CF). Nossa CF é super-rígida. Núcleo intangível, imodificável da CF.
c. Federalismo fiscal (art. 145 CF). Para exercer as atribuições constitucionais tem que ter dinheiro.
d. Participação das unidades parciais na formulação da vontade geral (lei): Senado Federal. A unidade
parcial recebe o nome de estado-membro. Art. 45 e 46 CF.
Art. 45. A Câmara dos Deputados compõe-se de representantes do povo...
Art. 46. O Senado Federal compõe-se de representantes dos Estados e do Distrito Federal...

e. Existência de um tribunal encarregado da manutenção da Constituição: art. 102 CF. Supremo


Tribunal Federal.
Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição.

Forma de Estado é uma cláusula pétrea (art. 60, § 4º, CF).

Forma de Governo: De que maneira o poder é exercido dentro de um determinado território? A resposta a
esta pergunta, define a forma de governo.
Aristóteles (340 anos a.C.) disse que existiam 3 formas de governo:
 Monarquia: governo de um só. Monarquia corrompida: tirania
 Aristocracia: governo de mais de 1, porém poucos. Aristocracia corrompida: oligarquia
 República: governo de muitos. República corrompida: demagogia.

A partir de Maquiavel (ano 1513), 2 formas de governo: Principados ou República.


 De que maneira o poder é exercido dentro de um determinado território?
 Na monarquia, o poder é exercido de forma hereditária, vitalícia e irresponsável.

 Na República, o poder é exercido de maneira eletiva, temporária e responsável. Todos que exercem
parcela da soberania do Estado são responsáveis por seus atos (art. 37, § 6º).
Republicanismo: honestidade cívica. Necessidade de responsabilizar o servidor por seus atos.
A forma de governo republicano NÃO é cláusula pétrea! Apesar disso, os princípios republicanos são
cláusulas pétreas.
A forma de governo republicano é um princípio constitucional sensível (art. 34, VII, CF), isto é, não podem
ser tocados, devendo ser respeitados pelos estados-membros sob pena de intervenção federal.

Art. 34. A União não intervirá nos Estados nem no Distrito Federal, exceto para:
VII - assegurar a observância dos seguintes princípios constitucionais:
a) forma republicana, sistema representativo e regime democrático;
b) direitos da pessoa humana;
c) autonomia municipal;
d) prestação de contas da administração pública, direta e indireta.
e) aplicação do mínimo exigido da receita resultante de impostos estaduais, compreendida a proveniente de
transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos de saúde.

No ocidente, as diferenças entre monarquia e república tendem a diminuir, principalmente nas monarquias
constitucionais européias.

Sistema (ou regime) de governo: de que maneira se relacionam o legislativo e o executivo? A resposta a
esta pergunta define o sistema ou regime de governo.
Se houver dependência do executivo em relação ao legislativo, há um sistema ou regime de governo
parlamentarista.
Se houver independência do executivo em relação ao legislativo, há o sistema ou regime de governo
presidencialista.

 Diferenças entre o Parlamentarismo e o Presidencialismo:

No parlamentarismo, duas autoridades exercem a função executiva, uma exerce a função de chefe
de Estado e a outra, de chefe de governo. Por isso, o parlamentarismo é chamado de executivo dual.
No presidencialismo, há uma única autoridade desempenhando a função executiva. Também é
chamado de executivo monocrático. O Presidente acumula as funções de chefe de Estado e chefe de governo. Art. 76
da CF.

No presidencialismo, o Presidente exerce seu mandato com prazo fixo previsto na CF. Este
mandato não pode ser reduzido pelo legislativo. Não existem sanções políticas que reduzam o prazo do mandato do
executivo. Isso não quer dizer que o presidente não possa cometer infrações político-administrativas.

No parlamentarismo, o parlamento pode reduzir o mandato daquele que exerce o executivo


(primeiro ministro). Existem sanções políticas que reduzem o prazo do mandato do primeiro ministro.

Há duas espécies de parlamentarismo:


• Parlamentarismo Monárquico Constitucional: rei exerce função de chefe de estado e
primeiro-ministro exercendo função de chefe de governo. Ex.: Inglaterra, Espanha.
• Parlamentarismo Republicano: Presidente exerce a função de chefe de estado e primeiro-
ministro exerce Chefe de governo: ex.: Itália, Israel, França.

O Brasil já foi parlamentarista, desde setembro de 1961 a fevereiro de 1963. O Primeiro-ministro era
Tancredo Neves e o presidente era João Goulart.

O Sistema de Governo não é cláusula pétrea. Há PEC para que o Brasil se torne parlamentarista. Projeto de
Fernando Collor.
II – NACIONALIDADE
Nacional é um indivíduo ligado a um determinado território por um vínculo jurídico-político denominado
nacionalidade. Povo é formado pelos nacionais. É este vínculo que diferencia o nacional do estrangeiro. Este vínculo
jurídico-político faz do indivíduo um participante da vida e da sociedade política. O estrangeiro não é dotado deste
vinculo. Estrangeiro é quem não for brasileiro nato ou naturalizado (conceito por exclusão).
Posição topográfica ou topológica da nacionalidade: nacionalidade é um direito fundamental do cidadão.
Capítulo 3 da CF: da nacionalidade.
Desde 1948, temos na Declaração Universal dos Direitos Humanos, em seu art. 15, que a nacionalidade é
um direito fundamental da pessoa humana. A pessoa humana não pode ficar desprovida de nacionalidade.

1. Espécies de nacionalidade:
 Nacionalidade originária, primária, de primeiro grau ou nata: é aquela que resulta de um acontecimento
natural e involuntário denominado nascimento.
 Nacionalidade secundária, adquirida, por aquisição, de segundo grau ou por naturalização: é aquela que
resulta de um ato jurídico voluntário* denominado naturalização. Subdivide-se em 2 espécies:
o Nacionalidade secundária tácita
o Nacionalidade secundária expressa: esta se subdivide em:
• Extraordinária:
• Ordinária: se subdivide em 4:
1) todos os estrangeiros, menos os originários de países de língua
portuguesa. Art. 112 do Estatuto do Estrangeiro (Lei 6.815/80).
2) Todos os originários de países de língua portuguesa, menos portugueses.
3) Portugueses (quase nacionais).
4) Legais (estatuto do estrangeiro).

2. Critérios determinantes ou determinativos da nacionalidade originária:


Há vários critérios, mas trabalharemos com apenas 2.
 Direito de solo (ius soli ou territorialidade)
 Direito de sangue (ius sanguinis)
Cada Estado adota o critério que mais lhe aprouver. Os Estados que exportam nacionais para outros Estados
(Estado de emigração) adotam, em regra, o critério de sangue. Os Estados que importam nacionais de outros Estados
(Estados de imigração) adotam, em regra, o critério de solo. O Brasil é um Estado de imigração.

 Art. 12, I, a, CF (ius soli): Boliviano a serviço da Argentina no Brasil que tem um filho que nasce
no Brasil: este será brasileiro nato, pois o boliviano está a serviço da Argentina. Se estivesse a serviço da Bolívia
seria boliviano, pois estaria a serviço de seu país de origem. Basta que um dos pais esteja a serviço do seu país de
origem.
Organismo internacional = país de origem. Há tratados internacionais sobre isso. Se estiver a serviço de um
organismo internacional (ex: ONU), está a serviço de seu país de origem. Ex: brasileiro que trabalha nos EUA a
serviço da ONU.
A alínea “a” adotou o ius soli.
Antártida: terra nullius, isto é, terra de ninguém.

 Art. 12, I, b, CF (ius sanguinis + funcional): adotou o critério de sangue (ius sanguinis) + o critério
funcional.
O que é estar a serviço da República Federativa do Brasil? É estar a serviço de qualquer das pessoas
jurídicas com capacidade política (Administração Pública direta e indireta). Os esportistas que estão nas olimpíadas
não estão a serviço da República Federativa do Brasil. CBF e delegação brasileira não estão a serviço do Brasil.
Se um brasileiro estiver a serviço do Brasil no exterior e adotar uma criança estrangeira, esta será brasileira
nata, pois a CF, em seu art. 227, proíbe qualquer discriminação entre filhos consanguíneos e adotados.

 Art. 12, I, c, CF: já teve 3 redações. Originariamente, em 1988, era possível que brasileiros
tivessem seu registro de nascimento lavrado em representações diplomáticas. A E.C. 03/94 proibiu isso. Então, de
1994 até 2007 foi proibido o registro em repartição brasileira competente fora do Brasil. Hoje, com a última mudança
que ocorreu com a E.C. 54/07, é possível o registro em repartição publica brasileira no estrangeiro (representação
diplomática).
Duas possibilidades na alínea “c” (ius sanguinis) +:
1. registro na repartição pública brasileira no estrangeiro (representação diplomática); ou
2. residência no território nacional com opção em qualquer tempo pela nacionalidade depois de
atingida a maioridade (nacionalidade potestativa).

Requisitos para a nacionalidade potestativa:


1. Residência no território nacional a qualquer momento;
2. Atingida a maioridade a qualquer tempo, façam a opção.

Conflito negativo de nacionalidade: situação que revela a apatria (sem pátria). Ex: filho do Ronaldo que
nasceu na Itália. Lá se adota o critério do ius sanguinis e como o Ronaldo não estava a serviço do Brasil, seu filho não
era brasileiro. À época, não se podia fazer o registro em repartição publica brasileira no estrangeiro (representação
diplomática). Art. 32 da Lei 6.015/76 (Lei de Registro Público). O problema foi resolvido com o art. 95 da ADCT.
Assim, o filho do Ronaldo fez um registro provisório e quando atingir 18 anos ele poderá fazer a opção pela
nacionalidade brasileira. Então, o filho do Ronaldo é brasileiro nato mediante condição (realização da opção, que só
ele pode fazer quando atingir a maioridade). O apátrida também é chamado heimatlos.
(fim de nacionalidade originária)

3. Nacionalidade secundária:
Nacionalidade secundária se subdivide em: tácita e expressa.
 Nacionalidade secundária tácita: é uma exceção. Ocorreu em 1891. Recebeu o nome de grande
naturalização de 1891. Art. 69, § 4º, da CF de 1891. Todo estrangeiro que estivesse no Brasil à época teria 6 meses
para comparecer a uma repartição pública brasileira e dizer que queria manter sua nacionalidade originária. Se não
fizesse isso, passado os 6 meses, seriam considerados brasileiros naturalizados tacitamente.
 Nacionalidade secundária expressa: pode ser ordinária ou extraordinária. A ordinária pode ser de 4 tipos:
1º) todos os estrangeiros, menos os originários de países de língua portuguesa. Os requisitos para esta espécie de
nacionalidade estão no art. 112 do Estatuto do Estrangeiro (Lei 6.815/80). São eles:
o Residência por 4 anos no território nacional;
o Saber escrever e ler no idioma nacional;
o Ter boa saúde;
o Ter condições para sua manutenção no território nacional;
o Capacidade civil, segundo a lei brasileira.

Residência: relação fática entre a pessoa e o local.


Domicílio: residência com ânimo definitivo.
Hoje, entende-se que o requisito de ter boa saúde não foi recepcionado pela CF/88. Ofende a dignidade da
pessoa humana não naturalizar por não ter boa saúde.

Vai à Superintendência da Polícia Federal e faz um requerimento, juntando os documentos. Forma-se um


procedimento administrativo. Vai ao Ministério da Justiça. O ministro da Justiça, por delegação do Presidente da
República, expede um certificado de naturalização. O ministério da justiça não entrega o certificado de naturalização
ao estrangeiro e sim, manda o certificado a um juiz federal do estado em que o estrangeiro naturalizando requereu a
naturalização. O juiz federal marca uma audiência, onde comparece o MP obrigatoriamente e o estrangeiro. Na
audiência, ele tem de abrir mão da nacionalidade originária. O juiz entrega o certificado de naturalização ao
estrangeiro. A partir daqui, ele é brasileiro naturalizado. Pode ir ao cartório e tirar seus documentos.

2º) Todos os originários de países de língua portuguesa, menos portugueses.


Angola, Moçambique, Guiné Bissau, Cabo Verde, Príncipe, Goa, Macau, Açois, Timor Leste são os Estados
que falam português, exceto Portugal.
Requisitos: art. 12, II, a, 2º parte, CF.
o Residência por 1 ano ininterrupto;
o Idoneidade moral.

3º) Portugueses: são conhecidos como quase nacionais. Art. 12, § 1º, CF.
Quase nacional é o português que sem deixar de ser estrangeiro pode exercer os direitos inerentes aos
brasileiros naturalizados.

o Residência permanente no Brasil;


o Existe o Tratado de Reciprocidade entre o Brasil e Portugal, de 22 de abril de 2000. Tudo que Portugal
ofertar a brasileiros, os portugueses aqui também terão direito sem precisar se naturalizar.
Ao português abre-se 2 possibilidades: deixa de ser português e passa a ser estrangeiro naturalizado (segue
os requisitos dos países originários de países de língua portuguesa) ou sem deixar de ser português passa a exercer os
direitos dos brasileiros naturalizados.
O português pode votar e ser votado depois de 3 anos que está no território nacional, conforme o tratado de
reciprocidade. Se ele se naturalizar brasileiro, ele está obrigado a votar.
Em Portugal, os brasileiros só podem se candidatar as eleições locais, as nacionais não. Pela reciprocidade, o
mesmo vale aqui no Brasil, exceto se ele se naturalizar, pois poderá concorrer a todos os cargos que brasileiros
naturalizados podem.
Os portugueses não podem exercer os direitos políticos aqui e em Portugal. Ou ele vota aqui ou vota em
Portugal.
Os portugueses não estão obrigados a servir as forças armadas, exceto se ele se naturalizar brasileiro.
O português paga impostos.
Estatuto próprio dos portugueses: Lei 8.239/91.

4º) Legais: naturalização precoce ou naturalização em razão da colação de grau em curso superior.

 Nacionalidade secundária expressa extraordinária: art. 12, II, b, CF.


Requisitos:
o 15 anos de residência no Brasil;
o Sem condenação penal.

 Qual a diferença entre a nacionalidade secundária expressa ordinária e a extraordinária?

A ordinária não cria direito público subjetivo. O ato de concessão é um ato discricionário. Depende de
oportunidade e conveniência. Se o pedido for indeferido, não cabe MS, pois não há direito líquido e certo.
A extraordinária cria direito público subjetivo para o naturalizando. O ato de concessão é vinculado, desde
que requeiram.

4. Perda de nacionalidade
Todo brasileiro que adquire outra nacionalidade, em regra, perde a nossa.
Há 2 exceções:
 Imposição de naturalização pelo Estado estrangeiro. Haverá polipatria ou dupla nacionalidade ou conflito
positivo de nacionalidade.
 Se adquirir outra nacionalidade e esta outra for originária, de acordo com a lei estrangeira. Também haverá
dupla nacionalidade ou conflito positivo de nacionalidade.
Heimatlos: apátrida.
Há uma espécie de perda da nacionalidade que só o brasileiro naturalizado pode sofrer. Por sentença
judicial, haverá cancelamento da naturalização se o brasileiro naturalizado praticar atividade nociva ao interesse
nacional, ele perde a condição de brasileiro naturalizado e passa a ser estrangeiro. Art. 12, § 4º, CF. Isso não vale
para o brasileiro nato. O que é atividade nociva ao interesse nacional? Não há um conceito definido.

 Brasileiro nato que passa a ser naturalizado em outro país e depois quer voltar a ser brasileiro como
era antes. Volta como? Há duas posições:
 1º posição: volta a ser brasileiro nato. José Afonso da Silva defende essa posição.
 2º posição: só volta a ser brasileiro naturalizado. Alexandre de Moraes defende essa posição.
O STF aplica o art. 46 da Lei 818/49, que diz que volta à condição anterior. Então, o STF adota primeira
posição.
Se for brasileiro naturalizado e perder a nacionalidade brasileira por praticar atividade nociva ao interesse
nacional só pode voltar a ser brasileiro naturalizado se promover uma ação rescisória.

5. Diferenças entre brasileiros natos e naturalizados


A CF veda a diferença de tratamento entre brasileiros natos e naturalizados, mas há exceções permitidas pela
própria Constituição. São elas:

 exercício de cargo (art. 12, § 3º, CF): determinados cargos são privativos de brasileiros natos por 2 motivos:
em razão da segurança nacional àqueles que estejam na linha sucessória do Presidente da República, e em razão da
segurança nacional na relação com Estados estrangeiros.
O Ministro das Relações Exteriores não é da carreira diplomática e, por isso, não é cargo privativo de
brasileiro nato.
Ministro de Estado pode ser brasileiro nato ou naturalizado. Exceção: Ministro de Estado da Defesa, pois
comanda exército, marinha e aeronáutica.

 exercício de função (art. 89, VII, CF): brasileiro naturalizado pode participar do Conselho da República?
Tem de saber quem compõe o conselho. Art. 89, caput, CF. É possível que brasileiro naturalizado participe do
Conselho da República.
Português não pode ser candidato a senador aqui no Brasil, pois em Portugal não se permite que brasileiros
exerçam cargos nacionais, só locais (corresponde aqui a cargos municipais).

 extradição (art. 5º, LI, CF): brasileiro nato não pode ser extraditado (não há exceção). Brasileiro naturalizado
pode ser extraditado em 2 situações (art. 5º, LI, CF): crime comum praticado antes da naturalização; ou envolvimento
em tráfico ilícito de entorpecentes a qualquer momento, na forma da lei. “Na forma da lei” é uma norma
constitucional que necessita de integração. A segunda situação necessita de uma lei específica, que ainda não existe
(Não é a lei de drogas). Extradição 541 e 688/STF.
Há duas espécies de extradição: ativa e passiva.
o Extradição ativa: é aquela requerida pela República Federativa do Brasil a um Estado estrangeiro.
o Extradição passiva: é aquela requerida por um Estado estrangeiro à República Federativa do Brasil.
Vamos falar agora sobre extradição passiva. A extradição está prevista nos arts. 76 a 94, da Lei 6.815/80.
No Brasil, quem decide sobre extradição é o STF. No Brasil, adotamos o sistema belga, isto é, o STF não pode
penetrar no mérito da decisão que fundamenta o pedido de extradição.
Só existe extradição se houver tratado internacional ou ao menos a promessa de reciprocidade.
Só se extradita em razão da prática de crimes. Princípio da dupla incriminação: é necessário que o fato seja
crime aqui no Brasil e no Estado estrangeiro que requereu a extradição. Não se extradita em razão da prática de
contravenção penal.
Não se extradita se o crime já estiver prescrito de acordo com a lei nacional.
Também não se extradita se aqui no Brasil a pena imposta for igual ou inferior a 1 ano. Não se extradita se
no Estado requerente a pena aplicada for pena de morte ou de prisão perpétua. Porém, aceitamos a comutação, ou
seja, a transformação da pena perpétua ou de morte em pena por 30 anos.
A existência de filhos do extraditando não impede a extradição, mas impede a expulsão.
O STF não permite a extradição se o extraditando tiver de responder no Estado requerente perante um
tribunal ou juízo de exceção.
Só o STF pode decretar a prisão para fins de extradição. O STF pode soltar o extraditando se a prisão for
longa? Sim (extradição 1054/07).
O inimputável pode ser extraditado. Não cabe ao STF fazer qualquer análise quanto ao tipo de condenação.
Extradição 932.
Só extraditamos portugueses para Portugal. Portugal só extradita brasileiros para o Brasil.
OBS: Quem decide sobre extradição é o STF. O Presidente da República, como chefe de Estado, pode se
negar a extraditar. Há duas possibilidades: Se o STF disser que não pode ser extraditado, isso vincula o PR. Se o STF
quiser extraditar, o PR pode dizer sim ou não.

 Deportação: art. 57 do Estatuto do Estrangeiro. Quem trata de deportação é a Polícia Federal. Só estrangeiro
pode ser deportado. Na deportação, o estrangeiro não comete crime, ele entra ou se encontra em situação irregular
dentro do território

nacional. Ele comete um ilícito administrativo. A Polícia Federal notifica o estrangeiro para deixar o território
nacional de 3 a 8 dias. Se isso não ocorrer, é deportado. O estrangeiro deportado pode adentrar novamente no
território nacional, desde que esteja regular.

 Expulsão: art. 65 a 75 do Estatuto do Estrangeiro. Só o estrangeiro pode ser expulso. A CF veda o exílio, a
expulsão de nacionais. Na expulsão, o estrangeiro comete crime dentro do território nacional. Ele é preso, processado,
condenado, termina de cumprir a pena e depois é expulso. Excepcionalmente, o estrangeiro pode ser expulso antes do
término do cumprimento da pena, desde que exista um tratado internacional entre o Brasil e o outro Estado. Não se
expulsa o estrangeiro se ele for casado com brasileira ou tiver filho no Brasil (casamento e filho não impedem a
extradição, impede a expulsão). Estrangeiro que comete atentado contra a segurança nacional pode ser expulso.
Quem decreta a prisão para a expulsão é o juiz, não é o ministro da justiça. Depois que termina de cumprir a pena, o
juiz decreta a prisão para fins de expulsão. O estrangeiro expulso não pode voltar ao território nacional. Se ele voltar,
ele comete crime.

 Entrega: instituto criado pelo Estatuto de Roma, que também criou o Tribunal Penal Internacional (TPI).
Art. 102 do Estatuto. Entrega é o ato pelo qual o TPI (organismo internacional) requer a um Estado estrangeiro que
lhe entregue, lhe envie um cidadão para que seja processado. Brasileiro nato pode ser entregue?
1º posição: Brasileiro nato não pode ser entregue, porque a CF veda a extradição de brasileiro nato e a entrega é
uma espécie de extradição.
2º posição: Brasileiro nato pode ser entregue ao TPI, porque a CF veda a extradição e a entrega é diferente da
extradição. O TPI só pode atuar em obediência ao princípio da subsidiariedade ou complementaridade, isto é, só atua
se a nossa jurisdição falhar. O TPI foi criado com a nossa concordância, nós aceitamos a criação do TPI. O STF ainda
não decidiu.
 propriedade (art. 222 CF): brasileiro naturalizado não pode ser proprietário de empresa de rádio difusão, a
não ser após 10 anos da naturalização.
 perda da nacionalidade (Art. 12, § 4º, CF): só brasileiros naturalizados podem perder esta condição em razão
da prática de atividade nociva ao interesse nacional.

A norma sub constitucional não pode estabelecer outras diferenças de tratamento entre brasileiros natos e
naturalizados.

III – ORGANIZAÇÃO DOS PODERES


Até 436 d.C tínhamos a antiguidade clássica. Nesta data, ocorreu a queda do império romano no ocidente.
Inicia-se a idade média que vai até 1500. Ocorreu aí a ruralização da sociedade com uma divisão do poder. Surgiram
vários centros que manifestavam poder: senhores feudais, corporações de ofício, igreja, reis. A partir do final da idade
média (ano 1500), estes vários centros que manifestavam poder foram unificados em um só ser: o rei. Começa o
Estado Absolutista: um só ser criava a norma, aplicava a norma e resolvia o conflito.
Em 1748, Montesquieu, no livro O Espírito das Leis, disse que para evitar o absolutismo, cada uma das
atribuições deve ser desempenhada por um órgão independente. Antes dele, em 1690, John Locke (no livro: o
segundo tratado do governo civil) já havia escrito um livro dizendo que para evitar o absolutismo uma só pessoa não
poderia exercer as 3 atividades básicas. Em 340 a.C, Aristóteles (no livro: a política) já havia identificado as 3
atribuições daquele que exerce o poder.
Montesquieu criou a divisão orgânica de funções. Tecnicamente, não é correto falar em divisão tripartite de
poder, pois o poder é uno e indivisível.
Todas as Constituições brasileiras, menos a de 1824, adotaram a divisão orgânica de poder. A Constituição
de 1824 adotou a teoria do poder moderador ou do 4º poder. Benjamin Constant escreveu esta teoria em 1810.
Hoje devemos fazer uma interpretação adequada da teoria de Montesquieu, isto é, devemos entender esta
teoria de acordo com a atual realidade, visto que a nossa realidade é diferente da realidade de 1748.
O art. 2º da CF/88 faz referência ao Legislativo, ao Executivo e ao Judiciário.
 Qual é atribuição típica do órgão legislativo? Ele possui 2 atribuições básicas: ele inova a ordem
jurídica criando leis (art. 59 CF) e ele exerce fiscalização.
Há duas espécies de fiscalização: fiscalização político-administrativa (art. 58 CF) e fiscalização econômico-
financeira (arts. 70 a 75 CF), auxiliado pelo Tribunal de Contas.

 Qual é a atribuição típica do órgão Executivo? Aplica a lei ao caso concreto administrando a coisa
pública.
 Qual á atribuição típica do órgão Judiciário? Aplica a lei ao caso concreto, resolve o conflito de interesses
com a força definitiva, protegendo e tutelando direitos fundamentais.
Além das funções básicas, cada um destes órgãos desempenha atipicamente (secundariamente) outras duas funções:
O Legislativo administra os seus assuntos internos (art. 51 e 52 CF). O Legislativo julga, como por exemplo, nos
crimes de responsabilidade (art. 52, § único, da CF).
O Executivo legisla, como por exemplo, medida provisória, decreto, ato administrativo normativo. Isso não ocorre
com a lei delegada, esta não é exercício de função atípica, e sim, exceção ao princípio da indelegabilidade. O Executivo julga,
como por exemplo, em processo administrativo disciplinar, processos licitatórios, julgamentos em concurso público.
O Judiciário administra no caso de autogoverno dos tribunais (art. 96, I, CF). O Judiciário “legisla” no caso de
regimento interno dos tribunais, portarias, legislação judicial (ex: sentenças aditivas – é o judiciário funcionando não como
legislador negativo, mas como legislador positivo no controle de constitucionalidade. Ex de sentença aditiva: interpretação
conforme a CF sem redução de texto).
 Art. 2º CF:
o Hoje, entende-se que existe uma cooperação (e não uma independência) entre o Executivo, Legislativo e o
Judiciário em decorrência das funções típicas e atípicas.
o Não são poderes da União, são órgãos.
o Harmonia: existência de controles recíprocos, isto é, freios e contrapesos, um órgão controla outro órgão.
Ex: o Presidente da República é julgado pelo STF em caso de crime comum, mas precisa de autorização da Câmara. É o
legislativo e o judiciário controlando o executivo.

1. Legislativo
1.1. Organização do Legislativo da União: art. 44 CF.
O Legislativo da União é exercido pelo Congresso Nacional.
Ele é bicameral, ou seja, há existência de duas casas legislativas. O Legislativo dos estados e dos municípios é
unicameral.
Existem 2 espécies de bicameralismo:

o Bicameralismo do tipo aristocrático: câmara alta (Câmara dos Lordes) e câmara baixa (Câmara dos
Comuns). Não há equilíbrio entre as casas.Ex: na Inglaterra.
o Bicameralismo do tipo federativo: adotamos este em razão da forma de estado que adotamos.
Câmara dos Deputados (art. 45 CF – representantes do povo, isto é, brasileiros natos e naturalizados; não são
representantes de estrangeiros) e Senado Federal (art. 46 CF – representantes dos Estados e do DF).
A Câmara é representada por uma concha para cima, pois é mais liberal. Para ser deputado federal, a idade
mínima é de 21 anos.
O Senado é representado por uma concha para baixo, pois é mais conservador. A idade mínima para ser
senador é 35 anos.
Característica da Federação: participação dos Estados na elaboração das leis.
O nosso bicameralismo federativo é de equilíbrio ou de equivalência, isto é, ambas as casas possuem a
mesma importância.
1.2. Legislatura: art. 44, § único, CF.
É o prazo de 4 anos. Cada legislatura se reparte em 4 sessões legislativas.
Cada sessão legislativa tem o período de 1 ano. Cada sessão legislativa se reparte em 2 períodos legislativos.
O Congresso Nacional se reúne de 02/02 a 17/07 e de 1/08 a 22/12.
Cada deputado exerce mandato de 4 anos, o que corresponde a uma legislatura.
Cada senador exerce mandato de 8 anos, o que corresponde a 2 legislaturas.
1.3. Número de deputados federais:
Temos 200 milhões de habitantes e 513 deputados federais.
Cada Estado pode eleger de 8 a 70 deputados federais a depender do tamanho da população. Nenhum Estado
pode ter menos de 8 ou mais de 70 deputados.
Lei Complementar 78/93 define o número de deputados de cada estado.
1.4. Número de senadores:
Cada Estado da federação tem 3 senadores. Temos 81 senadores no total. Se for criado um território, cada
território terá 4 deputados federais e não terão senadores, pois não é unidade federada, serão descentralizações
administrativa da União (natureza jurídica dos territórios), isto é, autarquia federal.
Os deputados federais são eleitos pelo sistema eleitoral proporcional, enquanto que os senadores são eleitos
pelo sistema eleitoral majoritário.

O sistema proporcional é adotado nas eleições para deputado federal, deputado estadual e vereadores.
O sistema majoritário é adotado nas eleições para senador, presidente da república, governadores e prefeitos.

I – Disposições gerais sobre a organização do Poder Legislativo (continuação):


O número dos deputados federais repercute no número dos deputados estaduais, conforme art. 27 da CF.
Deputado federal x 3 = deputado estadual.
Essa multiplicação vai até no máximo de 12. No caso do número de deputados federais ultrapassar 12, será acrescido
de 1.
12 x 3 = 36
13 x 3 = 36 + 1 = 37
14 x 3 = 36 + 2 = 38

 Sistemas eleitorais:
São 2: sistema majoritário e sistema proporcional.
O sistema proporcional é adotado nas eleições para deputado federal, deputado estadual e vereadores.
O sistema majoritário é adotado nas eleições para senador, presidente da república, governadores e prefeitos.

 Qual a diferença entre os dois sistemas?


Sistema eleitoral majoritário é aquele que leva em conta o número de votos válidos ofertados ao candidato registrado
por partido político. Neste sistema, valoriza-se o candidato.
O sistema eleitoral proporcional é aquele em que será eleito o candidato que atingir o quociente eleitoral. Neste
sistema, valoriza-se o partido político. O cidadão tem 2 opções: votar no candidato ou no partido político. Quando vota no
candidato, está automaticamente votando também no partido político. Se quiser, pode votar só no partido político (é o
chamado voto de legenda).

Votos válidos são aqueles ofertados, subtraindo-se os votos em branco e os votos nulos. Voto em branco e nulo não
entra na contagem dos votos válidos. Art. 77, § 2º, da CF.
O Código Eleitoral faz referência, no seu art. 106, que os votos brancos entram na contagem dos votos válidos. No
entanto, o Código Eleitoral é anterior à CF e não foi recepcionado neste ponto.
 O sistema majoritário se divide em dois:
o Majoritário simples: contenta-se com qualquer maioria, ou seja, será eleito o candidato que atingir qualquer maioria.
Eleições para senador e prefeito de município com menos de 200 mil eleitores (cuidado: não é população).
o Majoritário absoluto ou com segundo turno de votação: a CF exige que o eleito atinja ao menos a maioria absoluta
dos votos (maioria absoluta: 50% + 1 dos votos). Se nenhum dos candidatos atingirem a maioria absoluta dos votos válidos no
primeiro turno, haverá segundo turno de votação. Eleições para presidente da república, governadores e prefeitos de
municípios com mais de 200 mil eleitores.
Se um dos candidatos a segundo turno falecer, chama o terceiro colocado nas eleições para ir para segundo turno com
o candidato sobrevivente.
No sistema eleitoral proporcional, dá se valor ao partido político. Por isso, neste sistema, nem sempre o candidato
mais votado será eleito. Para que chegue aos eleitos, é necessário superar várias fases:
1º) encontrar o número de votos válidos;
2º) encontrar o quociente eleitoral: divide-se o número de votos válidos pelo número de cargos em disputa.
3º) encontrar o quociente partidário: divide-se o número de votos válidos ofertados ao partido político pelo quociente
eleitoral.
4º) encontrar os eleitos dentro de cada partido;
5º) técnica de divisão das sobras.

 Teoria das maiorias: em uma democracia, resolve-se pela votação. A maioria sempre vence, respeitando-se os direitos
das minorias. A nossa CF faz referência a três espécies de maioria:
o Maioria absoluta: primeiro número inteiro acima da metade dos membros daquela casa legislativa. A maioria
absoluta é fixa, não varia.

o Maioria simples: qualquer maioria desde que se faça presente ao menos a maioria absoluta. A maioria simples é
variável. Nenhuma deliberação legislativa se faz sem que ao menos a maioria absoluta se faça presente.
o Maioria qualificada: em regra, é maior (superior) à maioria absoluta. Se expressa em frações. Ex: 2/3, 3/5.
 Maioria absoluta = art. 69 CF = Lei Complementar.
 Maioria simples = art. 47 da CF = Lei Ordinária. Há exceções ao art. 47 que veremos
posteriormente.
 Maioria qualificada = art. 60 CF = Emenda à Constituição (3/5 dos votos).
Quando a CF fala apenas em maioria de votos e não adjetiva a maioria, entende-se que é maioria simples de votos.

 Formas de manifestação do Legislativo da União:


1º) só a Câmara dos Deputados (art. 51 CF).
2º) só o Senado (art. 52 CF).
3º) Congresso Nacional (art. 49 CF). Nestas três primeiras hipóteses, o presidente não sanciona nem veta.
4º) Câmara depois Senado ou Senado depois Câmara. Aqui existe veto ou sanção do presidente. Art. 48 CF.
5º) Legislativo investido do poder constituinte derivado reformador. Ele se manifesta através de emenda à
Constituição.
Presidente não sanciona, nem veta proposta de emenda à Constituição!
 Mesas: órgão de direção de um colegiado. As mesas exercem atribuições administrativas.
Existem três mesas:
1º) Mesa da Câmara dos Deputados formada só por deputados federais;
2º) Mesa do Senado formada só por senadores;
3º) Mesa do Congresso Nacional formada por deputados federais e senadores.
Aqueles parlamentares que exercem cargos nas mesas exercem mandato de 2 anos. Em uma legislatura, têm-se duas
mesas. É vedada a reeleição para o mesmo cargo na mesa seguinte. As mesas são compostas dos seguintes cargos: presidente,
primeiro vice-presidente, segundo vice-presidente, primeiro, segundo, terceiro e quarto secretários.

O presidente do Senado automaticamente é o presidente do Congresso Nacional!


O presidente da Câmara e do Senado não pode se candidatar ao mesmo cargo na eleição seguinte. Depois da eleição
seguinte pode se candidatar de novo. Art. 57, § 4º, CF. Esta não é uma norma de reprodução obrigatória. Assim, as
constituições estaduais podem estabelecer de forma diversa.
O Presidente da Câmara e o Presidente do Senado estão na linha sucessória do Presidente da República. Assumem na
falta do PR e do vice.
 Atribuições (funções) do órgão legislativo:
1º) inovação da ordem jurídica criando lei. Quando se diz apenas lei, está se referindo a todas as espécies normativas
do art. 59 CF.
2º) fiscalização.
Vamos falar agora sobre a primeira atribuição do poder legislativo.

II – Devido Processo Legislativo:


Conjunto de fases previstas na CF que tem por objetivo a criação da norma jurídica.
Importância do devido processo legislativo: art. 5º, II, CF traz o princípio da liberdade de ação, da legalidade, é uma
defesa contra o absolutismo daquele que exerce o poder.
A CF exige lei, mas ela não se contenta com qualquer espécie de lei, ela exige uma lei criada com respeito ao devido
processo legislativo. Se este for violado, há a inconstitucionalidade formal da lei.

1. Espécies de processo legislativo:


 Processo legislativo ordinário ou comum: é a regra, é aquele que deve ser seguido, obedecido por ocasião da criação
da lei ordinária ou complementar.
 Processo legislativo sumário: é aquele em que o Presidente da República, nos projetos de lei de sua iniciativa, solicita
urgência. É mais curto.
 Processo legislativo especial: é aquele que foge à regra, é diferente. É aquele que deve ser seguido por outras espécies
normativas que não seja lei ordinária, que não seja lei complementar. Art. 59 CF.
Medida provisória está no art. 59 CF. Tecnicamente, não era para estar aí, pois não nasce no legislativo, nasce no
executivo. É espécie normativa, mas não espécie legislativa.

1.1. Processo Legislativo ordinário ou comum:


 Fases:
1º) apresentação, disposição, iniciativa, capacidade legislativa ou competência legiferante
2º) debate ou discussão
3º) votação ou aprovação
Entre a terceira e quarta fases, há uma fase intermediária chamada de autógrafo ou autenticação.
4º) sanção ou veto
5º) promulgação
6º) publicação

O professor José Afonso da Silva reduz as fases em apenas três: iniciativa, fase constitutiva e fase
complementar (equivale à promulgação e publicação). A fase constitutiva se reparte em duas: fase constitutiva por
deliberação legislativa (fase dos debates e fase da votação) e fase constitutiva por deliberação executiva (fase da
sanção ou veto).

 1º fase: fase da iniciativa


Significa quem pode apresentar projeto de lei. Todo projeto de lei, em regra, começa na Câmara dos
Deputados. A Câmara dos Deputados é a casa iniciadora. Em regra, o Senado é a casa revisora.
Há duas exceções em que o projeto começa no Senado e depois que vai para a Câmara: projeto apresentado
por senador e projeto apresentado por Comissão do Senado.
O art. 61 CF elenca de forma taxativa quais autoridades são dotadas de iniciativa.
A iniciativa pode ser de três espécies:
o Iniciativa comum: a CF não especifica a autoridade legitimada.
o Iniciativa privativa ou exclusiva: a CF oferta a apenas um dos legitimados a capacidade para
apresentar projeto de lei. Ex: art. 61, § 1º, CF. Ex2: Só o STF pode apresentar projeto da Lei Orgânica da
Magistratura Nacional (art. 93 CF).

o Iniciativa popular: o povo apresenta projeto de lei. É necessário ser cidadão em sentido estrito. É o
exercício da democracia direta. O projeto começa a tramitar na Câmara. Art. 61, § 2º, CF. Há duas leis de iniciativa
popular no Brasil hoje: lei que elevou o homicídio qualificado à categoria de hediondo, e lei que estabelece condutas
vedadas no processo eleitoral (Lei 8504/97).

 2º fase: fase dos debates ou da discussão


O debate apresenta-se em três momentos:
1º) Comissão de Constituição e Justiça (CCJ): faz o controle preventivo de constitucionalidade.
2º) Comissão temática ou material (art. 58, § 2º, CF). Falaremos sobre estas mais adiante.
3º) Plenário da casa legislativa.

 3º fase: votação ou aprovação


Projeto de lei ordinária: maioria simples
Projeto de lei complementar: maioria absoluta

 4º fase: fase sanção ou veto


O que justifica a participação do Presidente da República no processo legislativo vetando ou sancionando é
o mecanismo de controle de um órgão sobre o outro, evita a hipertrofia de um órgão, sistema de freios e contrapesos.
Sanção: é aquiescência, concordância do chefe do executivo com os termos do projeto.
Espécies de sanções:
o sanção expressa: é aquela editada, exarada no prazo de até 15 dias úteis.
o sanção tácita: silêncio do Presidente criando direitos.

Veto: é a discordância, contrariedade do chefe do executivo nos termos do projeto. O prazo do veto é de até
15 dias úteis. Se não vetar ou sancionar neste prazo, ocorre a sanção tácita.

Regras sobre o veto:


o Não existe veto tácito, todo tácito deve ser expresso.
o Todo veto é relativo, não existe veto absoluto, pois o veto pode ser afastado pelo Congresso Nacional.

Espécies de veto: há duas espécies sendo que cada uma se subdivide em duas:
 Veto quanto ao conteúdo: se divide em veto jurídico e veto político.
o Veto quanto ao conteúdo jurídico: se o PR entender que o veto ofende a CF sendo inconstitucional, ele faz o
veto jurídico. O veto jurídico é uma espécie de controle preventivo de constitucionalidade. Art. 66, § 1º, CF.
o Veto quanto ao conteúdo político: se o PR entender que o projeto é constitucional, mas não é oportuno ou
conveniente, ele faz o veto político.
 Veto quanto à extensão: se divide em veto quanto à extensão total e veto quanto à extensão parcial.
o Veto total: a contrariedade do chefe do executivo se manifesta em relação à totalidade do projeto.
o Veto parcial: a contrariedade se manifesta em relação a partes do projeto. Só existe veto parcial de artigo
inteiro, parágrafo inteiro, inciso inteiro, ou alínea inteira. Não é possível o veto de palavras, expressões. Art. 66, § 2º,
CF.

 Qual a relação entre o veto parcial e o controle de constitucionalidade?


No controle concentrado, o STF pode reconhecer a inconstitucionalidade de uma palavra, vale o princípio da
parcelaridade, diferentemente do veto parcial.

 Por que existe o veto parcial? Existe para se evitar contrabando legislativo (caudas legais). Essa teoria é de
Michel Temer. Ex: um projeto tem 100 artigos tratando sobre o cultivo da soja no semi-árido nordestino. Aí um
deputado põe um artigo no meio do projeto que não tem nada a ver com o tema do projeto. O Presidente da República
pode vetar só este artigo.

Processo legislativo ordinário ou comum (continuação)

Sanção (continuação): mesmo que o Presidente da República seja o autor do projeto de lei, ele terá que sancionar ou vetar o
projeto.
Art. 61, § 1º, CF: traz as leis de iniciativa privativa do Presidente da República. Se outra pessoa propuser um projeto sobre
uma das matérias elencadas neste artigo, haverá inconstitucionalidade formal orgânica. Neste caso, a sanção do presidente da
república afasta a inconstitucionalidade orgânica? Não, a sanção do chefe do executivo não resolve o vício de
inconstitucionalidade. Cuidado: a súmula 5 do STF diz o contrário, porém, esta súmula do STF já foi cancelada.
Art. 61, § 2º, CF: traz a iniciativa popular de lei.
Derrubada do veto: o veto do presidente da república (controle do executivo em relação ao legislativo) é relativo, pois pode
ser derrubado pelo legislativo (controle do legislativo em relação ao executivo).
Quando o presidente da república veta, ele tem o prazo de 48 horas para remeter ao Presidente do Senado as razoes do veto.
Isso é para que o Congresso Nacional possa se manifestar sobre a derrubada do veto.
Art. 66, § 4º, CF traz os requisitos para a derrubada do veto:
1. Quem se manifesta sobre a derrubada do veto é o Congresso Nacional em sessão conjunta.
Qual a diferença entre sessão conjunta e sessão unicameral?
Na sessão conjunta, reúnem-se ao mesmo tempo deputados federais e senadores. No entanto, a votação é em separado e por
casa. Votam primeiro os deputados federais e depois os senadores. Na sessão unicameral, a sessão se faz no mesmo instante e a
votação se faz somando os deputados federais e os senadores.
2. O veto será afastado se atingir o quórum de maioria absoluta dos 513 deputados e depois a maioria absoluta dos 81
senadores, pois é sessão conjunta. Se fosse sessão unicameral, seria maioria absoluta de 594 parlamentares.
3. O Congresso Nacional tem o prazo de até 30 dias para se manifestar sobre a derrubada do veto. Se ele não se
manifestar neste prazo, sobrestam-se (paralisam-se) todas as demais deliberações (trancamento de pauta), exceto medida
provisória.

4. Votação secreta: a votação não é aberta.


O voto secreto é cláusula pétrea (art. 60, § 4º, CF). Diante disso, é possível mudar a votação secreta estipulada no art. 66, § 4º,
CF? Sim, pois a cláusula pétrea se refere ao voto popular previsto no art. 14 da CF e não, ao voto do art. 66, § 4º, da CF.
Derrubado o veto, o presidente da república tem o prazo de 24 horas para promulgar. Se ele não fizer isso, o presidente do
Senado que deve promulgar. Se este também não fizer, vai para o vice-presidente do Senado deve promulgar em até 48 horas.

Fase intermediária: autógrafo ou identificação


Esta fase não está na CF, está no regimento interno das casas legislativas.
É a chancela, a certificação de que o projeto que o presidente vai sancionar ou vetar saiu do Congresso Nacional. É para evitar
fraudes legislativas, dá certeza que o projeto foi debatido no Congresso Nacional.

5ª fase: promulgação
É o ato que atesta a existência da lei. Já não é mais projeto, é lei, mas esta ainda não é obrigatória. O presidente atesta que a
ordem jurídica foi inovada.

6ª fase: publicação
Ato que marca a obrigatoriedade da lei. A partir da publicação, a lei torna-se obrigatória, respeitado o prazo de vacatio legis. A
partir da publicação, presume-se o conhecimento da lei (ninguém pode alegar desconhecimento da lei a partir daqui).

Processo legislativo sumário

É aquele que o chefe do poder executivo solicita urgência nos projetos de lei de sua iniciativa. Art. 64, § 1º, CF. É uma
faculdade do Presidente da República, ele pode ou não solicitar urgência. Ele não pode solicitar urgência em projetos de iniciativa
de terceiros, só os de sua iniciativa. O processo legislativo é mais curto, mais célere.
O processo legislativo inicia-se na Câmara. O projeto de lei tem de ser votado em até 45 dias na Câmara e depois em até 45
dias no Senado.
Se houver emenda no Senado, o projeto volta para Câmara, que terá mais 10 dias para se manifestar sobre o projeto de lei.
Total de 100 dias.

Processo legislativo sumário facultativo: art. 64, § 1º, CF.


Processo legislativo sumário obrigatório: art. 223, caput e § 1º, CF.

Processo legislativo especial


Não existe um processo legislativo especial, existem vários processos legislativos especiais. É especial porque não segue a
regra geral.
1º processo legislativo especial: processo legislativo especial da emenda
O poder constituinte originário cria 3 poderes constituídos: executivo, legislativo e judiciário.
Este poder constituinte originário é ilimitado (pois não se subordina a nenhum limite jurídico, não se subordina a nenhuma
regra jurídica), inicial (pois a cada poder constituinte nasce um novo Estado através de um documento chamado Constituição).
Existem limites sociais ao poder constituinte originário? Sim, os limites sociais decorrem da consciência de um determinado
povo. O que não existe são limites jurídicos.
As constituições devem ser eternas, mas não podem ser imodificáveis, vez que a realidade social muda, é cambiante. Isso se
chama mutação constitucional. Esta mutação constitucional recebe o nome de poder constituinte difuso: mutações informais da CF.
O poder constituinte originário não pode confiar só nestas mutações constitucionais em razão da realidade social. Por isso, ele
delega a um dos poderes constituídos (legislativo) a força de modificar a CF. Esta força se chama poder constituinte derivado
reformador.
Quando o legislativo altera a CF, não é o poder legislativo constituído que está atuando, mas o poder constituinte derivado
reformador.
Qual a principal diferença entre o poder constituinte originário e o poder constituinte derivado reformador? O poder
constituinte originário é ilimitado juridicamente, diferentemente do poder constituinte derivado reformador, que possui limites.
Quais são os limites do poder constituinte derivado reformador?
o Limite procedimental: chamado também de limite formal. O processo legislativo especial da emenda é o que se
denomina de limite procedimental ou formal.
o Limite circunstancial
o Limite material
o Limite temporal

Ao lado do poder constituinte derivado reformador existe o poder constituinte derivado decorrente.
O poder constituinte derivado reformador tem por objetivo alterar a CF.
O poder constituinte derivado decorrente tem por objetivo criar realidades parciais. Art. 25 CF. São as realidades parciais dos
Estados membros. Este poder dá aos estados membros o poder de auto-constituição. Os Estados membros nascem a partir da CF.
A lei orgânica do município possui natureza jurídica constitucional? Não. O município é criado a partir da Constituição
Estadual.
Poder constituinte derivado reformador se manifesta através de uma reforma e através de uma revisão.
Qual a diferença entre reforma e revisão?
o 1ª diferença: Reforma é a modificação, alteração pontual da CF. Ex: reforma do judiciário, reforma da previdência. Já
a revisão é a modificação, alteração total da CF.
o 2ª diferença: Na reforma, o processo de alteração da CF é mais trabalhoso (quórum de 3/5 em dois turnos de
votação). Na revisão, o processo de alteração é mais facilitado. Ex: maioria absoluta em um turno de votação. Art. 3º do ADCT.

Limite procedimental ou limite formal: significa processo legislativo especial da emenda. Este processo legislativo é
diferente do processo legislativo comum. Esta diferença faz com que a nossa CF seja classificada como rígida, isto é, sua alteração
é mais trabalhosa, dificultosa, burocrática. Assim, é muito mais difícil alterar a CF do que uma lei ordinária ou complementar.
 1ª fase do processo legislativo especial de emenda: iniciativa.

 Quem pode apresentar projeto de emenda à CF? Art. 60, I a III, CF.
o 1/3, no mínimo, dos deputados federais ou senadores podem apresentar projeto de emenda à CF. São necessários 171
deputados federais ou 27 senadores. Se for deputado, o início da tramitação é na Câmara. Se for senador, o início da tramitação é
no Senado.
o Presidente da República. O Vice-Presidente não pode, exceto se ele estiver assumindo o lugar do presidente por
algum motivo. Ex: viagem do PR. A tramitação inicia na Câmara.
o Mais da metade das assembléias legislativas das unidades da federação. A tramitação inicia no Senado.
 É possível proposta de emenda à CF de iniciativa popular?
o 1ª posição: o povo não pode apresentar proposta de emenda à CF, pois a CF não diz isso expressamente no art. 60 CF.

o 2ª posição: o prof. José Afonso da Silva diz que a CF é um sistema. Para ele, é possível proposta de emenda à CF de
iniciativa popular. Fundamenta no art. 1º, § único c/c art. 61, § 2º, da CF. Tais argumentos são muito mais fortes.
Não existe decisão do STF ainda. Porém, há decisões referentes às constituições estaduais, onde o STF admitiu proposta de
emenda de iniciativa popular. Isso fortalece a 2ª posição.
Para Alexandre de Moraes, o projeto de lei complementar segue processo legislativo especial da lei complementar em razão da
diferença do quórum. No entanto, esta posição não é a posição majoritária, pois a maioria entende que o processo legislativo da lei
complementar é o ordinário ou comum.

 2ª fase (debate ou discussão) e 3ª fase (votação ou aprovação)


Proposta de emenda à CF tem de ser debatida duas vezes na Câmara e depois duas vezes no Senado. Há dois turnos de votação
em cada casa. Primeiro ocorre os dois turnos na Câmara. Só depois dos dois turnos na Câmara que vai para os dois turnos no
Senado.
Em cada turno em cada casa é necessário o quórum de 3/5.

 4ª fase: promulgação
Não existe sanção ou veto de proposta de emenda pelo Presidente da República!
Quem promulga a emenda (já não é mais proposta) são as mesas da Câmara e do Senado.
Art. 60, §§ 2º e 3º, CF. Respectivo número de ordem significa o número de vezes que a nossa CF foi alterada.
Um deputado apresenta um projeto de lei, que começa a tramitar na Câmara. Aprovado nesta casa, vai para o Senado. Se este
não concordar com o projeto de lei e arquivar, este mesmo projeto de lei pode ser reapresentado na mesma sessão legislativa (1
ano)? Em regra, não. Se um projeto de lei restar arquivado em qualquer das casas, ele não poderá ser reapresentado na mesma
sessão legislativa. Exceção: se a maioria absoluta de qualquer das casas concordar. Art. 67 da CF.
CUIDADO:
No tocante ao arquivamento de proposta de lei ordinária ou lei complementar, aplica-se a regra do art. 67 CF.
No tocante ao arquivamento de proposta de emenda à CF, não pode ser reapresentada na mesma sessão legislativa. Não há
exceção! Art. 60, § 5º, CF.

Limite circunstancial: a CF é o documento mais importante, portanto, só pode ser tocada em momentos de paz. Ela não pode
ser modificada em determinadas situações. Estas situações constituem o limite circunstancial ou síncope constitucional ao poder
constituinte derivado reformador. Art. 60, § 1º, CF.
Síncopes constitucionais:
1) Estado de sítio
2) Estado de defesa
3) Intervenção federal

Limite material: são as cláusulas pétreas (núcleo intangível, eterno, imodificável da CF). A nossa CF não pode ser tocada em
determinadas matérias.

Espécies de limites materiais:


o Limites materiais expressos: art. 60, § 4º, CF. Estes temas não podem ser modificados direta ou indiretamente. Ex de
modificação indireta: a permanência do MP é uma cláusula pétrea, pois defende direitos e garantias fundamentais.
o Limites materiais implícitos: decorrem do sistema constitucional.
1º) Não é possível a alteração do titular do poder constituinte originário, que é o povo.
2º) Não é possível a alteração do titular do poder constituinte derivado reformador.
3º) Não é possível a modificação do processo legislativo especial da emenda. Não se pode facilitar este processo legislativo,
diminuir o trabalho, pois a CF é rígida. E se a modificação for para dificultar o processo legislativo? Neste caso é possível.

 Existe a possibilidade da chamada dupla revisão constitucional?


Não é aceita no Brasil. Manuel Gonçalves Ferreira Filho defende que seria possível. Significa apresentar em um primeiro
momento uma proposta de emenda para revogar o art. 60, § 4º, CF e em um segundo momento, já sem obstáculo dos limites
materiais, apresentar uma proposta modificando o conteúdo do art. 60, § 4º revogado.
A nossa CF é rígida. No art. 60, § 4º, CF a nossa CF é super rígida.
É possível acrescer outros direitos e garantias individuais como cláusulas pétreas? Sim. Não posso retirar direitos, mas posso
adicionar.

Limite temporal: a CF de 1824 estabelecia que ela não poderia ser tocada num prazo de 4 anos. A CF de 1988 não possui
limite temporal majoritariamente. Há quem defenda que o art. 3º do ADCT seria um limite temporal. Há quem defenda também
que § 5º do art. 60 CF também seria um limite temporal.

Processo legislativo do decreto legislativo e da resolução (art. 59 CF)


A CF não fala qual o processo legislativo destas espécies normativas. Fica a cargo dos regimentos internos.
Decreto legislativo: espécie normativa que tem por objetivo veicular matérias de competência exclusiva do Congresso
Nacional (art. 49 CF). Em regra, produz efeitos externos (fora do Congresso Nacional).
Resolução: espécie normativa que tem por objetivo veicular matérias de competência privativa da Câmara ou do Senado (art.
51 e 52 CF). Em regra, a resolução produz efeitos dentro de cada casa legislativa.
A CF, muitas vezes, não segue esta definição doutrinária.

Processo legislativo do decreto legislativo e da resolução (cont.)


A CF, muitas vezes, não segue a definição doutrinária de decreto legislativo e de resolução. Ex: art. 68, § 2º, CF (fala
em resolução quando o correto seria decreto legislativo).

Processo legislativo da lei delegada


A lei delegada é uma exceção ao princípio da indelegabilidade, isto é, em regra, um órgão não pode delegar a outro
órgão o exercício de sua atribuição básica. Esta delegação só é possível se houver previsão expressa na CF. A medida
provisória não é exceção ao princípio da indelegabilidade, é exercício de função atípica por parte do executivo.
Art. 68 CF: processo legislativo especial da lei delegada.
 1ª fase: iniciativa: o Presidente da República solicita a autorização do Congresso Nacional. A doutrina chama de
iniciativa solicitadora: ato do chefe do executivo requerendo ao Congresso autorização para inovar na ordem jurídica. O
Congresso não pode autorizar sem que o Presidente peça. O Presidente solicita ao Congresso por meio de ofício. Já o
Congresso


responde o PR por meio de uma resolução (tecnicamente seria mais correto responder por decreto legislativo). Há 3
possibilidades para a resolução:
1ª) o Congresso autoriza e delega nos termos do pedido.
2ª) o Congresso nega a delegação.
3ª) o Congresso autoriza, mas condiciona a resolução. Qual a condição que o Congresso estabelece? O Congresso
autoriza, mas diz que quer analisar o projeto da lei delegada antes. A resolução com condição está prevista no art. 68, § 3º, CF.
Art. 68, § 1º, CF: traz matérias que não podem ser objeto de delegação. A doutrina chama de limites materiais à
delegação. São eles:
o Competência exclusiva do Congresso Nacional (art. 49 CF).
o Competência privativa da Câmara e do Senado (art. 51 e 52 CF).
o Matéria que só pode ser veiculada através de lei complementar, pode ser veiculada através de lei delegada?
Não, pois se a CF exige lei complementar, ela não permite que seja veiculada através de lei delegada.
o Demais incisos do art. 68, § 1º, CF. Estes limites materiais são os mesmos da medida provisória. O que não
pode ser veiculado através de medida provisória, não pode ser veiculado através de lei delegada.
Desde 1988, só temos 2 leis delegadas, as leis nº 12 e 13 de 1989. Não é muito utilizada pelo Presidente da
República, pois ele tem a medida provisória, que hoje somam mais de 5 mil.
Segunda atribuição do Legislativo da União: fiscalização
Divide-se em duas espécies:
1. Fiscalização econômico-financeiro: arts. 70 a 75 da CF. O legislativo desenvolve esta atribuição auxiliado
pelo Tribunal de Contas.
2. Fiscalização político-administrativo: art. 58 da CF. Esta fiscalização é desempenhada pelas comissões.
Vamos conversar agora sobre fiscalização político-administrativo (comissões):
Conceito de Comissões: são organismos parlamentares com número restrito de membros que tem por finalidade
apresentar, debater, votar proposições legislativas e fiscalizar.
Espécies de comissões:
o Comissão temática ou material: a CF não diz quais são as comissões temáticas ou materiais, isso fica a cargo
dos regimentos internos. A cada ministério do Executivo existe, uma comissão na Câmara e uma comissão no Senado. A
comissão temática mais importante é a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), pois ela faz o controle preventivo de
constitucionalidade. Ela faz um parecer, que é terminativo, não é meramente opinativo. Todo projeto deve ser analisado, no
mínimo, por duas comissões. Em um primeiro momento, é analisado na CCJ. Depois, o projeto vai para uma segunda
comissão da área de abrangência do projeto. Ex: projeto ligado à saúde vai para a comissão de saúde.
Quais os parlamentares que participam das comissões? Aqueles indicados pelo partido político. Deve-se observar o
princípio da representação proporcional partidária: se o partido tem 50% dos deputados federais, ele tem direito a 50% dos
cargos das comissões. Art. 58, § 1º, CF. Este princípio se aplica a todas as três espécies de comissões, inclusive CPI.
No Brasil, a comissão temática ou material pode aprovar projeto de lei, independentemente da manifestação do
plenário. Isso se chama de delegação interna ou delegação imprópria (poder que a CF dá à comissão temática para aprovar
projeto de lei). Art. 58, § 2º, I, CF. O prof. Gilmar Mendes chama esta delegação interna ou imprópria de processo legislativo
abreviado.

o Comissão representativa ou de representação: está prevista no art. 58, § 4º, CF. O Congresso Nacional não
pode fechar as suas portas, mesmo nos períodos de recesso. Nos períodos de recesso, funciona uma comissão representativa ou
de representação que faz às vezes do Congresso Nacional no recesso. Sessão legislativa (art. 57): vai de 2/2 até 17/07 e de 1/08
até 22/12. São duas comissões representativas por ano: uma no final do primeiro período, e outra no final do segundo período.
Estas comissões são mistas ou conjuntas, isto é, são compostas por deputados federais e senadores.

o Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI): há um link no site do STF só sobre CPI. Várias questões de
concursos são tiradas daí. Art. 58, § 3º, CF.
Juiz não investiga no Brasil, em razão da adoção do sistema processual penal acusatório (art. 129, I, CF). O STF disse
isso quando analisou a inconstitucionalidade de dispositivo da Lei 9.034/95. No sistema acusatório, há a separação entre quem
acusa e quem julga. Exceções (casos em que o juiz investiga):
1) LOMAN (LC 35/79). Se juiz comete crime, quem investiga é outro juiz, e não o delegado de polícia.
2) Foro por prerrogativa de função: a autoridade dotada de foro por prerrogativa de função não responde a
inquérito policial, mas sim a inquérito judicial.

 Se o juiz não investiga, como se entende o art. 58, § 3º, CF? A CPI não possui poderes de investigação do
juiz, pois este não tem poderes de investigação. A CPI possui poderes de instrução do juiz, pois o juiz tem poderes
instrutórios, que estão previstos no art. 209 CPP e 130 do CPC.

 Requisitos necessários para constituição da CPI:


 Um terço, no mínimo, dos deputados federais ou senadores, devem subscrever o pedido para constituição de
CPI. A CPI é um instrumento das minorias parlamentares contra a maioria parlamentar. Assim, um terço pode constituir uma
CPI para investigar dois terços. São necessários 171 deputados federais ou 27 senadores para constituir CPI e investigar a
maioria. As constituições estaduais não podem dificultar a constituição de uma CPI, mas podem facilitar. Há duas espécies de
CPI:
• CPI simples: formada só por deputados federais ou só por senadores.
• CPI mista ou conjunta: é formada por deputados federais e por senadores. CPMI: comissão parlamentar
mista de inquérito. É necessário um terço dos deputados federais + um terço dos senadores.

 Fato determinado: fato específico, objetivo. Ex: CPI do bingo – bingo não é fato determinado. Porém, o
nome da CPI não é determinado, é nome fantasia, mas a sua constituição é determinada. Não é qualquer fato determinado, o
fato determinado deve ter repercussão pública. O fato determinado deve estar dentre as atribuições daquela casa legislativa. É
possível mais de um fato determinado? Sim.
É possível começar a investigar A e depois resolver investigar B também na mesma CPI? Sim, outros fatos podem ser
agregados desde que haja conexão entre os fatos.

 Prazo certo: o inquérito deve ter prazo em razão da segurança jurídica (art. 5º, caput, CF). Não confundir:
segurança pública está no art. 6º CF. Por analogia, não existe CPI permanente, pois ofenderia a segurança jurídica. A CF fala
que a CPI tem prazo certo, mas não diz qual é o prazo. Este prazo está no regimento interno de cada casa legislativa, variando
de 120 a 180 dias a depender da casa legislativa. O prazo pode ser prorrogado? Pode, desde que dentro da mesma legislatura
(prazo de 4 anos do art. 44, § único, CF).
As constituições estaduais podem estabelecer outros requisitos além destes 3? Não!
Lei 1.579/52 e Lei 10.001/00 regulamentam a CPI. Além destas leis, aplica-se subsidiariamente o Código de Processo
Penal.
Quando se diz que a CPI pode, está se dizendo que ela pode por autoridade própria, isto é, ela pode sem necessidade
de decisão judicial. Quando se diz que a CPI não pode é porque ela precisa de decisão judicial para realizar o ato.

 CPI pode:
1. notificar testemunhas e determinar a sua condução coercitiva.
Índio pode ser testemunha em CPI? Pode, no entanto, ele não pode ser conduzido coercitivamente ao Congresso
Nacional. Isso porque a condução coercitiva seria remoção do índio da sua terra e a CF veda isso no art. 231 CF.
Magistrados e membros do MP como testemunhas em CPI: podem ser testemunhas em CPI, mas não podem ser
obrigados a discutir suas decisões e pareceres.
O cidadão comparece à CPI como uma das seguintes possibilidades: como testemunha, como convidado, como
investigado ou indiciado. Em qualquer possibilidade, tem o direito constitucional de não produzir prova contra si mesmo, isto
é, não auto-incriminação.

2. Prender em flagrante testemunha por falso testemunho em tese. Investigado não pode ser preso por falso testemunho,
pois ele não é testemunha. Investigado pode ser preso na CPI? Pode em tese, desde que ocorra o desacato.

3. Determinar a realização de exames, perícias, vistorias.

4. Afastar o sigilo bancário e fiscal do cidadão. Qualquer CPI nacional ou estadual pode afastar o sigilo bancário e fiscal
do cidadão, independentemente do judiciário. Por outro lado, CPI municipal só pode afastar sigilo bancário ou fiscal se tiver
autorização judicial.
O cidadão que se insurgir contra as decisões da CPI o faz através de HC ou de MS. Se for CPI do Congresso
Nacional, o HC ou MS deve ser impetrado diretamente no STF. Se for CPI estadual, impetra no TJ estadual. Se a CPI for
municipal, impetra perante o juiz de direito.

 CPI não pode:


1. Expedir mandado de prisão (só o juiz pode).

2. Expedir mandado de busca e apreensão na casa (só o juiz pode): casa, no sentido constitucional, é todo
espaço corporal autônomo e delimitado. Há duas espécies de casa:
a. casa em sentido restrito: casa em que o cidadão habita, podendo ser inclusive habitações coletivas, desde que
habitadas naquele momento. Ex: hotel, motel, etc.
b. casa por extensão: local onde o cidadão exerce o seu trabalho, ofício ou profissão. Escritório de advocacia é
casa por extensão. Art. 150, § 4º, do CPP.

3. Expedir mandado de interceptação telefônica (só o juiz pode). A CPI não pode gravar a conversa em tempo
real, mas ela pode requisitar diretamente à empresa telefônica informações a respeito daquele terminal telefônico, como o
extrato das ligações feitas, pois são documentos. Por outro lado, a CPI não pode requisitar os nomes dos proprietários dos
terminais que estão sendo interceptados.
São chamadas de reserva constitucional de jurisdição pelo STF, isto é, diligências que só o juiz pode determiná-las. O
juiz tem a primeira, última e única palavra. Monopólio restrito de jurisdição.
Além destas três diligências que só podem ser determinadas pelo juiz, há outras diligências que a CPI também não
pode, mas que o STF não chama de reserva constitucional de jurisdição. São elas:
4. Determinar a apreensão de passaporte (só o juiz pode).
5. Impedir que o cidadão deixe o território nacional (só o juiz pode).
6. Determinar a indisponibilidade de bens (só o juiz pode). Indisponibilidade de bens é gênero. Espécies:
arresto, seqüestro e hipoteca legal.
CPI (continuação)
Ao final dos seus trabalhos a CPI elabora um relatório com os principais acontecimentos. Este relatório será votado
pela própria CPI. Após, a CPI pode enviar o ao MP. Ela não é obrigada a enviar o relatório ao MP, depende de um juízo de
conveniência e oportunidade. Por outro lado, o MP pode requisitar este relatório.
Se remeter ao MP, este vai promover a responsabilidade penal e civil dos envolvidos. Responsabilidade penal: ação
penal. Responsabilidade civil: Lei 8.429/92 (ação civil por improbidade administrativa).
O indiciamento por parte da CPI não obriga o representante do MP.
Lei 10.001/00: determina que o MP deva dar prioridade aos trabalhos enviados pela CPI.
A CPI investiga fatos políticos. Esta investigação não subtrai a investigação da polícia federal. A CPI investiga fatos
políticos, enquanto que a polícia federal investiga paralelamente indícios de autoria e materialidade.
A CPI também pode apresentar projeto de lei (art. 61, caput da CF). Ela possui capacidade legislativa.
(Fim de CPI)

Estatuto do Congresso Nacional


Este tópico está dentro da função legislativa.
Os parlamentares possuem algumas prerrogativas, que são chamadas de estatuto do congresso nacional.
Estatuto do Congresso Nacional consiste em um conjunto de regras diversas do direito comum previstas na CF que
ofertam aos parlamentares prerrogativas, direitos, deveres, vedações.
Imunidade parlamentar: as imunidades são prerrogativas ofertadas pela CF com o objetivo de que os
parlamentares possam exercer suas atribuições com independência (liberdade).
Imunidades são prerrogativas, não são privilégios. Prerrogativa é ofertada em razão do cargo ocupado, enquanto que
privilégio é ofertado em razão da pessoa. Não se pode renunciar às prerrogativas (pois esta é do cargo e não da pessoa), mas
se pode renunciar aos privilégios. Art. 53 da CF: prevê as imunidades.

Espécies de imunidades:
• Imunidade absoluta: também chamada de imunidade real, substancial, material ou inviolabilidade. Tem seu início
com a posse. Tem seu término no último dia do mandato. Protege os parlamentares federais (art. 53 da CF - deputados
federais e senadores), estaduais (art. 27 da CF) e municipais (art. 29 da CF). Quanto aos parlamentares federais e estaduais, a
imunidade vale em todo o território nacional. Já para os parlamentares municipais (vereadores), a imunidade só vale na
circunscrição do município.
Os parlamentares são invioláveis em razão de sua palavra, voto e opinião, ou seja, não podem sofrer
responsabilização nestes casos. É da essência do parlamento o debate. Abrange a inviolabilidade civil e penal.

Irresponsabilidade penal: não pode ser responsabilizado em razão do cometimento de crimes de palavra: calúnia,
injúria e difamação.

 Qual a natureza jurídica da imunidade parlamentar na sua faceta penal?


1ª posição: Nelson Hungria, Pontes de Miranda e José Afonso da Silva defendem que é causa excludente de
ilicitude.
2ª posição: Damásio defende que é uma causa funcional de isenção da pena.
3ª posição: para LFG, seria uma excludente de tipicidade. O STF adota esta corrente.
 A imunidade protege o parlamentar quando este expressar sua palavra ou opinião fora do Congresso Nacional?
Sim. Se for dentro do CN, há a presunção absoluta de que ele está no exercício da função parlamentar. Se for fora do
CN, deve-se indagar se a sua manifestação foi no exercício da função ou não. Se for no exercício da função, há imunidade. Se
não for no exercício da função, não há imunidade. Durante o comício, ele não está no exercício da função parlamentar e,
portanto, não está acobertado pela imunidade.

Irresponsabilidade civil:
Não pode ser condenado a pagar indenizações por danos morais em razão da sua opinião, palavra ou voto. A
inviolabilidade civil pode ser dividida em: irresponsabilidade administrativa e irresponsabilidade política.
 Parlamentares podem sofrer expulsão do partido em razão de seu voto contrário aos interesses deste? É
constitucional?
1ª posição: a expulsão foi constitucional, pois o art. 17 da CF que trata dos partidos políticos permite que os partidos
políticos estabeleçam regras sobre fidelidade partidária em seus estatutos.
2ª posição: a expulsão foi inconstitucional, pois há um confronto entre os princípios da liberdade partidária (art. 17)
e a liberdade de manifestação de pensamento. Deve prevalecer o princípio da liberdade de manifestação de pensamento. Não
há nenhuma decisão ainda sobre isso. O professor acha mais adequado esta segunda posição.

Irresponsabilidade administrativa: possibilita a ofensa ao decoro parlamentar. Internamente, não podem responder
por ofensa ao decoro parlamentar. Não é absoluto, deve haver temperança, abrandamento, observar as regras de convívio
social.
O órgão de imprensa não pode ser responsabilizado por danos morais quando reproduzir as opiniões, palavras e
votos dos parlamentares.
Se o parlamentar expressou sua opinião, palavra ou voto no exercício da função parlamentar, mesmo após o término
do mandato não pode ser responsabilizado.

• Imunidade relativa: também chamada de processual, formal ou adjetiva. Emenda Constitucional 35/01. Divide-se
em:
o Imunidade relativa em razão da prisão: prisão é restrição à liberdade de locomoção. Em regra, parlamentares não
podem sofrer prisão. Exceção: prisão em flagrante pela prática de crime inafiançável. O delegado tem o prazo de 24 horas
para remeter os autos de prisão para a casa respectiva para que esta possa se manifestar sobre a manutenção ou não da prisão.
Se não fizer isso no prazo, responde por abuso de autoridade. A casa vai se manifestar politicamente (a prisão só se mantém
se houver maioria absoluta de votos). Se prender sem ser neste caso, o policial responde por abuso de autoridade, vez que
deve saber quando ele pode ser preso. Não podem sofrer prisão temporária, preventiva, prisão em razão de sentença de
pronúncia, etc. Houve um caso em que o STF manteve a prisão temporária, pois de 24 deputados, 23 estavam envolvidos na
prisão. Ver o no material de apoio este julgamento.
Esta imunidade tem início com a diplomação. Diplomação é a última fase do processo eleitoral. A imunidade
relativa NÃO protege vereadores.
Processo eleitoral: registro das candidaturas, votação, apuração, divulgação, diplomação (ocorre no ano das eleições
e antes da posse).
Principais diferenças entre imunidade absoluta e relativa: Absoluta começa com a posse e a relativa com a
diplomação. A imunidade relativa não protege vereadores, já a absoluta protege os vereadores dentro do município.
o Imunidade relativa em razão do processo: no STF será sorteado um ministro relator que presidirá o inquérito
judicial. Não tem inquérito policial, pois a autoridade dotada de foro por prerrogativa de função não responde a IP, mas a
inquérito judicial. A polícia federal realizará as investigações a mando do ministro. O inquérito judicial é remetido pelo STF
ao PGR, que denunciará a prática do crime. O STF se manifesta sobre o recebimento da denúncia sem a necessidade de
autorização da casa legislativa.
Recebida a denúncia, deve-se analisar se o crime foi praticado depois da diplomação:
Se o crime foi praticado depois da diplomação, o STF dá ciência à casa respectiva de que está processando o
parlamentar com a finalidade de que a casa respectiva possa determinar o sobrestamento (paralisação) da ação penal.
Se o crime ocorreu antes da diplomação, o STF não precisa dar ciência à casa respectiva.
Como ocorre a manifestação da casa respectiva no sentido de sobrestar a ação penal?
Só partido político representado naquela casa pode pedir que o ofício seja colocado em votação. O parlamentar que
está sendo processado não pode pedir. Não precisa ser o partido político do parlamentar. A maioria absoluta da casa
legislativa pode determinar a suspensão da ação penal. Se a maioria absoluta determinar a suspensão da ação penal, a casa
legislativa comunica ao STF. Art. 53, § 3º, CF. O prazo prescricional também fica suspenso.
A simples menção ao nome de um deputado federal ou senador não é o bastante para deslocar a competência para o
STF.
Senador não pode ser indiciado pela polícia federal a não ser que tenha autorização do STF.
Preso vota e pode ser votado. Só não pode votar e ser votado a pessoa condenada por ação penal transitada em
julgado.
Crime cometido após a diplomação por deputado e pessoa comum. Se a ação for paralisada, desmembra-se o
processo e a pessoa comum vai continuar sendo julgada no juízo comum.

Outras prerrogativas dos parlamentares:


• Prerrogativa de foro: competência originária do STF.
Art. 102, I, b, CF e art. 53, § 1º, CF.
Deputados federais e senadores são julgados pelo STF.
Deputados estaduais são julgados a depender do crime: TJ (crimes comuns), TRF (crimes federais), TRE (crimes
eleitorais).
Vereadores, em regra, não possuem prerrogativa de foro. No entanto, algumas constituições estaduais ofertam
prerrogativa de foro para vereadores e o STF já disse que isso é constitucional.
Súmula 702 do STF.
Não se aplica o art. 28 do CPP para o PGR. Se o PGR requerer o arquivamento, o STF não pode fazer nada, o
arquivamento é homologado.
Se o PGR disser que não há crime: o STF não pode fazer nada.
Se o PGR disser que há crime, mas está prescrito: o STF tem de se manifestar a respeito da prescrição.

• Testemunho: art. 53, § 6º, CF. Todo cidadão, em regra, está obrigado a testemunhar. No entanto, a CF e a norma
subconstitucional excluem algumas pessoas deste dever.
Deputados e senadores não estão obrigados a prestar testemunho sobre informações prestadas em razão do exercício
do mandato. Se souber do fato sem ser em razão do exercício da função parlamentar, tem que testemunhar como qualquer
cidadão.
(fim do Estatuto do Congresso Nacional)

ÓRGÃO EXECUTIVO

Está previsto a partir do art. 76 da CF.


Qual é a atribuição do órgão executivo?
O executivo aplica a lei ao caso concreto, administrando a coisa pública.
O poder executivo é exercido pelo presidente da república (se uma única autoridade exerce a chefia do poder
executivo federal, estamos diante de um sistema ou regime de governo presidencialista). O presidente da república é o chefe
da Administração Pública federal.
Art. 84 elenca as atribuições do presidente como chefe de Estado e chefe de governo.
Inciso VII: atribuição de chefe de Estado. Estado membro não pode manter relações com estados estrangeiros, só a
República Federativa do Brasil.

Inciso VIII: atribuição de chefe de Estado.

Inciso II: atribuição de chefe do governo.

Requisitos para ser presidente da república (são os mesmos requisitos para ser vice-presidente):
1º) ser brasileiro nato. Art. 12, § 3º, CF. O motivo é a segurança nacional.

2º) idade mínima de 35 anos (mesma idade para Senador). Art. 14, § 3º, inciso VI, da CF. Aos 35 anos a pessoa tem
a capacidade política absoluta, podendo exercer qualquer cargo. Não existe idade máxima para cargos eletivos. Para concurso
público, a idade máxima é 65 anos.

3º) filiação partidária. Não existe no Brasil candidatura avulsa. A filiação partidária é condição de elegibilidade.
(ex.: Arruda saiu do DEM em dezembro/2009 e não pode concorrer às eleições de outubro/2010)

4º) plenitude do exercício dos direitos políticos. Estes não podem estar perdidos, nem suspensos. Art. 15 CF.

Art. 79 da CF. As atribuições do vice-presidente serão regidas por lei complementar, mas esta lei ainda não existe.
Funções do vice: auxiliar o presidente sempre que convocado por este para missões especiais.
O presidente e o vice são eleitos pelo sistema eleitoral majoritário. Há duas espécies de sistema majoritário:
Majoritário simples: a CF contenta-se com qualquer maioria dos votos válidos. É adotado nas eleições para senador
e prefeitos de municípios com menos de 200 mil ELEITORES.
Majoritário absoluto ou com segundo turno de votação: a CF exige que o eleito atinja no mínimo a maioria absoluta
dos votos válidos. É adotado nas eleições para presidente da república, governadores e prefeitos de municípios com 200 mil
eleitores ou mais.
No Brasil, o presidente é eleito conjuntamente com o vice. Quando se vota no presidente, está se votando
automaticamente no vice.
Ambos tomam posse no dia 1º de janeiro em sessão conjunta do Congresso Nacional.
Art. 78 da CF.

A CF diz que se passados 10 dias do dia 1º e nem o Presidente e nem o Vice tiverem tomado posse, os cargos serão
declarados vagos.
Quem declara os cargos como vagos? O Congresso Nacional, pois é uma questão política.
Existe uma exceção a esta regra: se não tomarem posse por motivo de força maior.
Essa regra se aplica também para governadores e prefeitos.
O Presidente e o Vice fazem compromisso de obedecer a CF e caso não façam isso, há uma conseqüência jurídica no
art. 85 CF (crime de responsabilidade).

Linha sucessória do Presidente da República


A CF fala em sucessão como gênero, que se reparte em dois: sucessão em sentido restrito e substituição.
1. Sucessão em sentido restrito: ocorre a vacância e esta é definitiva. Ex: morte do PR, renúncia do PR,
condenação pela prática de crimes de responsabilidade. Nesse caso, o vice assume.

2. Substituição: ocorre nos casos de impedimento, que é temporário. Ex: licença para tratamento de doença,
férias, viagem para o exterior.
Só o Vice-Presidente assume definitivamente o cargo no caso de vacância. O Presidente da Câmara, do Senado e do
STF só assumem a presidência temporariamente, nos casos de impedimento.

O mandato do Presidente é de 4 anos. Se o Lula e o Alencar morrerem nos dois primeiros anos do mandato, o
Presidente da Câmara assume e convoca eleições em 90 dias. A eleição será DIRETA.
Mas se a mesma situação ocorrer nos dois últimos anos do mandato, o Presidente da Câmara convoca eleições
INDIRETAS em 30 dias.
Então, em regra, não existem eleições indiretas no Brasil. A única exceção é esta do art. 81 CF, em que a eleição
será indireta.

Diferenças entre eleição direta e eleição indireta


Entre o titular do poder (povo) e aquele que exerce o poder, existem intermediários (eleição indireta).
No Brasil, o povo vota naquele que exercerá o poder (eleição direta). Esta é a regra.
 Porque vem primeiro a Câmara e depois o Senado na linha sucessória?
Porque na Câmara estão os representantes do povo e no Senado estão os representantes dos Estados e do DF.
 Pode uma deputada de 24 anos ser Presidente da Câmara e suceder o PR?
O professor vai responder mais na frente.

Os que forem eleitos para suceder, somente irão terminar o mandato (será um MANDATO TAMPÃO, conforme art.
81, § 2º, CF). Isto é para que sempre tenhamos uma coincidência das eleições, as chamadas eleições gerais.
O § 1º do art. 81 ainda não foi regulamentado. Não existe a lei que disporá sobre eleição indireta.

RESPONSABILIZAÇÃO DO CHEFE DO PODER EXECUTIVO


O Presidente, como chefe de Estado, só é responsabilizado porque temos uma República. Se tivéssemos uma
monarquia, o chefe de Estado seria irresponsável (CF de 1824 era assim).
Na República, todos devem ser responsabilizados. Na República, todos que exercem uma parcela da soberania do
Estado devem ser responsabilizados. A responsabilidade daquele que exerce a maior parcela da soberania será maior também.
Hoje se fala em REPUBLICANISMO, que significa EM HONESTIDADE CÍVICA. O cidadão tem o dever de ser
honesto e, por isso, existe uma necessidade de que os atos ilícitos sejam investigados. O republicanismo não concorda com a
impunidade.
O ministro da justiça já disse que a polícia federal é polícia republicana, porque luta contra a impunidade e até corta
a própria carne.
Tendo em conta o republicanismo, o Presidente da República será responsabilizado por crimes comuns e por crimes
de responsabilidade.

Crime de responsabilidade: é uma infração de natureza jurídica político-administrativa. Também é denominado de


impedimento/impeachment. Art. 85 da CF.
Crime comum: é infração de natureza jurídica penal. Arts. 86 e 102, I, b, CF.

Crimes de responsabilidade praticado pelo Presidente da República


O art. 85 da CF diz quais as condutas que vão gerar a responsabilização por crime de responsabilidade.
 O rol do art. 85 é taxativo ou exemplificativo?
O rol do art. 85 da CF é exemplificativo. Além destas condutas elencadas no art. 85, existem outras que também
importarão na responsabilização. As outras condutas estão na Lei 1.079/50.
 No direito penal temos a tipicidade. Nos crimes de responsabilidade exige-se a mesma tipicidade?
NÃO, aqui os tipos são abertos e lá são fechados. Assim, não se exige o mesmo grau de tipicidade.
Pela prática de crime de responsabilidade, o Presidente é julgado pelo Senado Federal (art. 52, § único). O Senado
será presidido pelo Presidente do STF. Qual a justificativa? Mecanismo de controle, freios e contrapesos.
O Senado só pode julgar o Presidente se houver a AUTORIZAÇÃO (juízo de admissibilidade da acusação) da
Câmara. Temos então um procedimento bifásico.

Processo de autorização pela Câmara dos Deputados


Qualquer cidadão é parte legítima para denunciar o Presidente da República na Câmara dos Deputados pela
prática de crime de responsabilidade. A Câmara fará o juízo de admissibilidade da acusação.
A Lei 1.079/50 exige a qualidade de cidadão em sentido restrito (nacional que exerce direitos políticos).
O preso provisório pode denunciar. O único que não pode é o preso definitivo, que terá seus direitos políticos
suspensos.
Na Câmara, forma-se uma comissão especial que vai analisar a viabilidade desta denúncia ofertada. Na Câmara, o
Presidente tem direito ao contraditório e a ampla defesa (arrolar testemunhas, juntar documentos, pedir perícia, etc).
Em 1992, o Collor era o Presidente. Ele teria feito a casa da dinda com dinheiro público. Dois cidadãos disseram que
ele teria atentado contra a probidade na administração (art. 85, V, da CF). No caso dele, depois de 10 sessões (depois do
contraditório e da ampla defesa), a Câmara fez o juízo de admissibilidade da acusação.
Esse juízo pode ser:
1. Juízo de admissibilidade negativo: a Câmara não autoriza. Não se alcança o quórum de 2/3.
2. Juízo de admissibilidade positivo: a Câmara dos Deputados autoriza por 2/3 de seus votos o julgamento
pelo Senado. Este é um JUÍZO POLÍTICO: significa oportunidade e conveniência política. A votação é aberta (nominal). A
autorização da Câmara se materializa em uma resolução. Esta resolução vai para o Senado.
 Se a Câmara autorizou o julgamento, o Senado pode deixar de dar início ao julgamento?
Não, o Senado está vinculado à autorização.

Julgamento do Presidente da República no Senado


A partir do início do julgamento no Senado, o Presidente ficará por até 180 dias afastado. Este afastamento tem
natureza cautelar.
Quem preside é o Presidente do STF. O PR tem o direito ao contraditório e a ampla defesa. Depois disso, marca-se o
dia do julgamento. O quórum é de 2/3 dos senadores que devem votar favoravelmente. O voto é aberto. É um juízo político.
Quais são as penas? Perda do cargo e inabilitação para exercício de função pública por 8 anos.
A renúncia do PR interrompe o julgamento? Não, pois pode ser aplicada pena de inabilitação. São duas penas
independentes, não sendo uma principal e uma acessória.
O Collor foi condenado à inabilitação para o exercício de função pública por 8 anos, independentemente de ter
renunciado.
A decisão do Senado que condena ou absolve o PR pode ser modificada pelo judiciário? Não. O STF não pode
discutir o mérito da decisão do Senado. O mérito é definitivo. O poder judiciário pode anular o julgamento se princípios
constitucionais tiverem sido desrespeitados.
 O Collor ficou inabilitado para exercer função pública, ele podia fazer concurso? Ele votava neste período?
Podia fazer concurso, só não podia tomar posse. Ele podia votar e ser votado. Collor foi candidato a prefeito de SP.
A inabilitação é para o exercício de função pública (art. 52, § único), o que não quer dizer perda ou suspensão de direitos
políticos (art. 15 CF).
 Se Collor tivesse ganhado poderia ter tomado posse?
Poderia, porque na data da posse já teriam passado os 8 anos.

Crime de responsabilidade dos governadores


É julgado por um tribunal misto, formado por desembargadores e deputados estaduais. No DF quem julga é a
Câmara Legislativa.
Quem preside é o Presidente do TJ.
A Constituição Estadual de SP diz que são 7 deputados estaduais e 7 desembargadores. O STF disse que essa
constituição do estado de SP é inconstitucional. O STF disse que são 5 deputados estaduais e 5 desembargadores, porque está
na Lei 1.079/50. Não cabe ao estado legislar sobre crime de responsabilidade e seu processo. Súmula 722 do STF.
Qual a pena que o governador receberá? Perda do cargo e inabilitação para o exercício de função pública por 5 anos.

Crime de responsabilidade praticado por prefeitos


O prefeito, pela prática de crime de responsabilidade, é julgado pela Câmara de Vereadores. Estas condutas estão no
Decreto-Lei 201/67 e no art. 29-A, § 2º, da CF.
O Decreto-Lei 201/67 faz duas divisões de crime de responsabilidade:
1. Crime de responsabilidade próprio: infração penal. Julgamento feito pelo poder judiciário (art. 1º, do
Decreto-Lei 201/67).
2. Crime de responsabilidade impróprio: infração de natureza jurídica político-administrativa. Julgamento
feito pela Câmara de Vereadores (art. 4º do Decreto-Lei 201/67).

Crime comum praticado pelo Presidente da República


Quem julga é o STF, que é o tribunal natural (art. 86 e art. 102, I, b, CF).
 O que é infração penal comum do art. 102, I, b, CF?
A CF usa essa expressão infração penal comum para diferenciar de crime de responsabilidade. Assim, infração
penal comum é toda aquela que não é crime de responsabilidade.
Dentro desta expressão (infração penal comum) está contido:
a) Crime comum em sentido restrito (CP);
b) Crime eleitoral;
c) Crime militar;
d) Crime doloso contra a vida;
e) Contravenção penal.
O Presidente da República é dotado da irresponsabilidade relativa. Esta pode ser dividida em duas espécies:
1. O presidente não pode ser preso (nem em flagrante). Única exceção: sentença penal condenatória transitada
em julgado.
2. Durante o mandato, o Presidente não pode ser processado, salvo em razão de crimes ex officio. O PR não
pode ser processado, durante o mandato, por atos exercidos fora do exercício da função (art. 86, §§ 3º e 4º da CF).
O GSI (gabinete de segurança institucional) faz a segurança do PR.
 Deputados federais e senadores, depois da sentença penal condenatória, podem ser presos depois do
trânsito em julgado. Mas perderão o mandato? Depende da manifestação da casa.
O PR só pode ser preso com trânsito em julgado da sentença penal condenatória, mas se for, automaticamente, perde
o mandato.
 O Lula pode ser condenado por matar a Marisa e o amante?
Não durante o mandato, porque não é em razão do exercício da função.
 O candidato a presidente comete um crime. Depois é eleito e toma posse. Pode ser processado durante o
mandato? Não, em razão da irresponsabilidade relativa. O crime é estranho ao exercício da função. O prazo prescricional
ficará SUSPENSO. STF/HC 83.154.
 O PR marca uma reunião com o presidente do BACEN. Durante a reunião, mata o presidente do BACEN.
O Lula pode ser preso? E processado?
Não pode ser preso em flagrante, mas poderá ser processado, porque é crime ex officio (em razão da função).
 Pode ser preso por falta de pagamento de pensão alimentícia?
Não, só com trânsito em julgado de sentença penal condenatória.
Acabado o mandato, o Presidente será processado pelo juiz singular do local da infração (art. 61 do CPP). Não
caberia preventiva e nem temporária (não teria mais os requisitos).

No caso do Presidente do BACEN (crime ex officio), os autos vão para o STF e lá sorteia-se um ministro relator. O
ministro relator baixa uma carta de ordem determinando que a polícia federal investigue. A PF não pode indiciar (quem
preside é o STF), a não ser que exista ordem do ministro relator.
O ministro relator, depois da investigação, remete os autos ao PGR, que fará a denúncia e remeterá os autos para o
STF.
 O STF pode se manifestar sobre a denúncia?
Não. Necessário se faz a manifestação da Câmara. O STF manda um ofício perguntando se pode se manifestar sobre
o recebimento da denúncia.

Como se dá a autorização pela Câmara dos Deputados?


A Câmara dos Deputados faz um juízo político de oportunidade e conveniência sobre a possibilidade ou não do STF
se manifestar sobre o recebimento da denúncia contra o PR. É necessário um quórum de 2/3 dos votos a favor para que
autorize o STF a se manifestar sobre a denúncia (juízo positivo). A votação é aberta. A autorização se materializa em uma
resolução.
A Câmara pode não autorizar o STF a se manifestar sobre o recebimento da denúncia (juízo negativo). Neste caso,
ocorrerá a paralisação do prazo prescricional.
A Lei 8.038/90 dá o direito ao PR de defesa preliminar, no prazo de até 15 dias. Será apresentada antes da
manifestação do STF (isto no caso de juízo de admissibilidade positivo da Câmara). Depois disso, o STF vai se manifestar
sobre o recebimento ou não da denúncia. Quem se manifesta sobre o recebimento da denúncia são os 11 ministros e não o
ministro relator.
O STF pode não receber a denúncia contra o PR. Se isso ocorrer, não cabe recurso, exceto agravo regimental se
preencher os requisitos e a depender do caso.
A conseqüência jurídica do recebimento da denúncia pelo STF é que o PR ficará afastado de suas funções por até
180 dias. Não quer dizer que o STF tem até 180 dias para terminar a ação penal, e sim, que o STF tem até 180 dias para
terminar a ação penal com o PR afastado. Se não terminar neste prazo, o PR volta ao cargo e a ação penal continua. É caso de
substituição.
O STF não pode decretar prisão preventiva do PR, pois este só pode ser preso na hipótese do art. 86, § 3º, CF.
Se o PR for condenado com trânsito em julgado, ele não pode continuar exercendo a presidência, pois seus direitos
políticos ficam suspensos. Art. 15 CF.
Se a pena cominada for prisão, ele pode ser preso. Só pode ser preso por sentença condenatória com trânsito em
julgado (prisão-sanção). O vice-presidente, neste caso, assume definitivamente a presidência. Não é mais substituição, é
sucessão.

Crime comum praticado por governadores


O governador em caso de crime comum é julgado pelo STJ, conforme art. 105, I, a, CF.
Crime comum abrange as seguintes práticas: crime comum em sentido restrito, crime eleitoral, crime militar, crime
doloso contra a vida, contravenção penal.
Isso vale para governador, mas não vale para vice-governador. Atenção: o vice-governador não é dotado de foro por
prerrogativa de função junto ao STJ. Observe-se que o vice-presidente é dotado de foro por prerrogativa de função no STF,
assim como o PR. O foro do vice-governador depende da constituição estadual, sendo que a maioria diz que é julgado
originariamente pelo TJ.
 Constituição estadual pode ofertar foro por prerrogativa de função para outras autoridades? Sim, pois a CF
permite, conforme art. 125, § 1º, CF.
A constituição estadual pode ofertar competência para vice-governador junto ao STJ? Não, só para o TJ.
Quem vai julgar o vice-governador durante o momento em que ele exerce o cargo de governador?
Se exercer o cargo transitoriamente (substituição), ele continua sendo julgado pelo TJ. A competência só será do
STJ se suceder (forma definitiva).
O STJ não pode se manifestar sobre o recebimento da denúncia sem que antes tenha autorização da assembléia
legislativa. O prazo prescricional fica sobrestado.
Governador pode ser preso preventivamente durante o mandato?? Governador pode ser processado por atos
estranhos ao exercício da função durante o mandato?? Atenção: O art. 86, §§ 3º e 4º, não se aplica aos governadores, pois só
se referem ao Presidente da República. Assim, governador pode ser preso preventivamente e processado durante o exercício
do mandato, mesmo por atos estranhos ao exercício da função, desde que tenha autorização da assembléia legislativa. Se a
constituição estadual ofertar ao governador a irresponsabilidade relativa do PR (art. 86, §§ 3º e 4º)? A constituição estadual
será inconstitucional, pois não cabe a ela legislar sobre matéria processual. Ex.: A lei orgânica do DF trouxe tais previsões e
foi declarada inconstitucional.
O STF disse que o art. 86, §§ 3º e 4º, traz normas constitucionais federais de extensão vedada aos estados membros.
A Constituição do Estado pode trazer previsão da necessidade de autorização da Assembléia Legislativa. O STF
entende que tal previsão não é inconstitucional.

Crime comum praticado por prefeitos


O subprocurador-geral da república que denuncia crime comum praticado por prefeitos. Em regra, quem julga crime
comum estadual praticado por prefeito é o TJ (art. 29 da CF). Se o crime for federal, o prefeito será julgado pelo TRF. Se o
crime for eleitoral, será julgado pelo TRE. Súmula 702 do STF. Esta súmula adota o princípio da simetria.
Ao prefeito se aplica o critério da regionalidade, isto é, será julgado pelo tribunal do estado ou região onde estiver o
município. Este critério afasta o art. 69, I, CPP (critério pelo lugar da infração).
A CF exige que o prefeito seja julgado por um colegiado, não necessariamente o tribunal, podendo ser um órgão
fracionado.
Para que o prefeito seja processado, não precisa de autorização da câmara municipal.

 Agente político que responde por crime de responsabilidade (Lei 1.079/50 e DL 201/57) também pode
responder por improbidade administrativa (Lei 8.429/92)?
Reclamação 2138 junto ao STF: A composição antiga do STF decidiu que quem responde por crime de
responsabilidade não pode ser responsabilizado também por improbidade administrativa, pois seria bis in idem. Haverá uma
nova reclamação que está para ser julgada no STF. Enquanto isso, vale a decisão da composição antiga.
Há decisões atuais do STJ e de juízes aplicando a decisão da composição antiga do STF.
Tal decisão traz obstáculos para que prefeito seja responsabilizado, isto não é republicano.
(fim de função executiva)

ÓRGÃO JUDICIÁRIO
Temas:
 Características da prestação jurisdicional.
 Organização do judiciário nacional.
 Predicativos da magistratura.
 Emenda Constitucional nº 45.

1. Características da prestação jurisdicional


Atribuição do poder judiciário: aplica o direito ao caso concreto, substitui vontade das partes, resolve o conflito de
interesses com a força definitiva.
Hoje, além destas atribuições, o poder judiciário garante o exercício de direitos fundamentais. Ele é o guardião dos
direitos fundamentais.
Compreensão constitucionalmente adequada do órgão judiciário em 2008: não se pode entender a teoria de
Montesquieu de 1748 e aplicá-la diretamente em 2008.
Legislação judicial: em determinadas situações, o judiciário funciona não só como legislador negativo, como
também como legislador positivo. Ex: súmula vinculante, interpretação conforme a CF (o STF diz qual a interpretação que
deve ser feita), mandado de injunção.

Após a revolução francesa de 1789, surgiu o estado liberal. No Estado liberal, houve um fortalecimento do
legislativo. O Estado era garantidor.
No Brasil, após 1934, surgiu o estado social, onde houve o fortalecimento do executivo. O Estado era prestador.
Depois de 1988, temos um Estado constitucional. Além deste ser garantidor e prestador, o Estado é transformador
(houve o fortalecimento do judiciário).

Características da prestação jurisdicional:


1. Inércia: não existe prestação jurisdicional de ofício, não existe processo sem parte, não existe ação sem
autor. A inércia serve para garantir a imparcialidade do magistrado. Esta imparcialidade é uma garantia fundamental do
cidadão. Para que o processo seja justo, o juiz tem de ser imparcial. Quem provoca o juiz são as funções essenciais à justiça:
MP (art. 127) e advogado (art. 133).

2. Substitutividade: o Estado, através do juiz, substitui a vontade das partes e resolve o conflito. Se o Estado
trouxe para si o monopólio da jurisdição, ele não pode se recusar a resolver o conflito de interesses. É o princípio da
inafastabilidade ou indeclinabilidade jurisdicional. Art. 5º, XXXV, CF.

3. Definitividade: só o poder judiciário dá a última palavra no conflito de interesses. Decorre da segurança


jurídica. Dá estabilidade e tranqüilidade. É a qualidade dos efeitos da sentença ou coisa julgada. A coisa julgada não é
absoluta, podendo ser afastada. A definitividade é um direito fundamental do cidadão.

2. Organização do judiciário nacional


STJ: justiça comum.
TSE, STM e TST: justiças especializadas
Tribunais militares ainda não foram criados.
Art. 144, § 1º, IV, CF.

STF
CNJ
STJ TSE STM TST
TRFs TJs* TRE Tribunais militares TRTs (24)
Juiz federal Juiz de direito Juiz eleitoral Auditorias militares Juiz do trabalho
Juntas eleitorais

Conselho Nacional de Justiça: está acima dos tribunais superiores e abaixo do STF.

Justiça militar estadual: é, em regra, composta pelo conselho de justiça militar e pelo tribunal de justiça em segundo
grau. Nos estados cujo efetivo da PM for superior a 20 mil componentes, cria-se o tribunal de justiça militar. Este existe
apenas em SP, MG e RS.

Art. 92 em diante da CF.


O tribunal do júri não está na organização do órgão judiciário nacional. É um direito fundamental do cidadão (art. 5º,
XXXVIII, CF).
Nossa cultura jurídica é romano-germânica (procuramos justiça). Nos EUA, a cultura jurídica é anglo-saxônica
(busca estabilidade).

STF
Composto por 11 juízes chamados de ministros. Art. 101 da CF.
Requisitos:
 Ser brasileiro nato (art. 12, § 3º, CF). Isso porque são da linha sucessória do PR (art. 80).
 Idade mínima de 35 anos e idade máxima de 65 anos. Aos 35 anos, o cidadão adquire a capacidade política absoluta
(art. 14, § 3º, CF). Idade máxima é de 65 anos para que o cidadão possa se aposentar compulsoriamente aos 70 anos com pelo
menos 5 anos de atividade. OBS: Não existe idade máxima para exercício de cargos eletivos, só idade mínima.
 Notável conhecimento jurídico: conhecimento jurídico que dispensa prova. Todos da sociedade o têm como grande
conhecedor da ciência jurídica. A doutrina fala que tem que ser no mínimo bacharel em direito, apesar da CF não falar nada.
 Reputação ilibada: reputação idônea, vida pretérita sem qualquer mácula. A sociedade o têm em boa conta.
O PR escolhe livremente brasileiro com estes requisitos, indica o nome ao Senado e este aprova por maioria absoluta
de votos. A aprovação do Senado recebe o nome de sabatina.
O STF foi criado em 1808, mas não com o mesmo nome.

STJ
Art. 104 da CF. Foi criado em 1988 como um tribunal nacional.
Quais tribunais no Brasil não possuem um número fixo de ministros? STJ (no mínimo, 33 ministros) e TSE (no
mínimo, 7 ministros).
STJ julga recursos oriundos da justiça comum estadual e federal.

Requisitos:
 Ser brasileiro. Pode ser nato ou naturalizado.
 Idade mínima de 35 anos e idade máxima de 65 anos.
 Notável conhecimento jurídico.
 Reputação idônea.
O PR escolhe brasileiros que preencham estes requisitos, indica ao Senado, que aprova por maioria absoluta.
Enquanto que no STF a escolha do PR é livre, aqui a escolha é vinculada a categorias:
 1/3 dentre desembargadores federais (11)
 1/3 dentre desembargadores dos tribunais de justiça (11)
 1/3 dentre membros do MP e advogados (11)

Justiça Federal
Temos 5 regiões federais. Com a CF de 88, foram criados cinco TRFs.
 TRF da 1ª região: sediado em Brasília. Abrange mais 14 estados da federação, que são todos da região
norte, todos da região centro-oeste (menos Mato Grosso do Sul), Minas Gerais, Bahia, Maranhão e Piauí.
 TRF da 2ª região: sede no Rio de Janeiro. Abrange RJ e Espírito Santo.

 TRF da 3ª região: sede em SP. Abrange SP e Mato Grosso do Sul.


 TRF da 4ª região: sede em Porto Alegre e abrange os estados do sul.
 TRF da 5ª região: sede em Recife e abrange todos os estados do nordeste, menos Bahia, Maranhão e Piauí.
Número mínimo de desembargadores federais: 7.
Idade mínima de 30 anos.
Não há comarcas na justiça federal, cada estado é uma sessão judiciária federal.
A sessão judiciária é dividida em sub-sessão judiciária federal. Em cada sub-sessão tem delegacias da polícia
federal.
Juiz federal: o concurso é regional (cada região faz seu concurso). Só pode mudar de região por meio de permuta.
A justiça federal em primeiro grau de jurisdição foi criada com a Lei 5.010/66. Ver o art. 66, § único desta lei. Até
1988, o segundo grau era o TFR.
Promoção do juiz federal para o TRF: o TRF indica três nomes por merecimento ou antiguidade e o PR escolhe. Isso
não ocorre na justiça estadual.
Justiça Estadual
Uma das principais características da federação é a auto-organização e a auto-constituição dos estados-membros.
A EC 45 acabou com os tribunais de alçada. Assim, o tribunal de justiça é o único tribunal da justiça estadual.
Número de desembargadores: nenhum estado pode ter menos que sete desembargadores.
Idade mínima para ser desembargador: 30 anos.
1º grau de jurisdição: juiz estadual.
1/3 dos ministros do STJ são escolhidos dentre desembargadores dos tribunais de justiça, 1/3 dentre desembargadores
dos TRFs, 1/3 dentre advogados e representantes do MP.

Justiças especiais ou especializadas


Temos 3 no Brasil: TSE, STM, TST.
1. Justiça eleitoral:
É uma justiça FEDERAL especializada. São servidores públicos federais.
Ela não possui um quadro próprio de juízes no Brasil, ela empresta juízes da justiça federal, da justiça estadual e dos
tribunais superiores.
Todo juiz eleitoral exerce mandato de dois anos, permitindo uma única recondução por mais dois anos. Isso para que
disputas políticas não contaminem a imparcialidade do juiz.
Foi criada a justiça eleitoral em 1932. Foi constitucionalizada em 1934.

Composição do TSE: no mínimo, 7 juízes, que recebem o nome de ministros. Três são do STF, dois são oriundos do STJ
e dois advogados.
Como são escolhidos os ministros do STF? Os 11 ministros fazem eleição entre eles.
Como são escolhidos os ministros do STJ? Os 33 ministros fazem eleição entre eles.
Como são escolhidos os advogados? O STF faz uma lista de advogados, remete ao PR, que escolherá os dois advogados
que oficiarão perante o TSE. Não poderão advogar em matéria eleitoral.
Para ser presidente e vice do TSE tem de ser um dos três que vieram do STF. Um dos que vieram do STJ será o
corregedor-geral eleitoral.
Cada estado da federação possui um TRE. São 27.
Composição do TRE: são 7 juízes. Dois são desembargadores do TJ, dois são juízes de direito de entrância mais elevada,
dois advogados, representante da justiça federal.
Os desembargadores são escolhidos pelo próprio TJ por meio de votação interna.
O TJ escolhe os dois juízes de direito de entrância mais elevada.
Quem escolhe os dois advogados é o PR de uma lista elaborada pelo TJ.
O representante da justiça federal poderá ser um desembargador federal ou um juiz federal, indicado pelo TRF. Quando
será um desembargador federal? Naqueles estados que forem sede de TRF.
Exercem mandato de 2 anos, permitindo uma única recondução por mais dois anos.
Quem pode presidir o TRE? Só um dos dois desembargadores.

1º grau da justiça eleitoral: juízes eleitorais. São juízes de direito (portanto, são juízes estaduais) que oficiam perante a
justiça eleitoral. Princípio da delegação: servidor público estadual exercendo função ou judicatura eleitoral.
Mandato do juiz eleitoral: dois anos, permitindo uma recondução por mais dois anos.
Juntas eleitorais: sua composição e competência estão no código eleitoral. É composta por dois ou quatro cidadãos e será
presidida por um juiz eleitoral. A junta tem competência administrativa.
As sessões no TSE e nos TREs são 8 por mês. Nos períodos próximos a eleições, tem-se 16 sessões por mês.
Não existe MP eleitoral. O que existe é MP com atribuição eleitoral.

2. Justiça militar
Justiça militar da União se compõe: STM, tribunais militares e auditorias militares.
Ainda não foram criados os tribunais militares, apesar da CF prevê.
STM: compõe-se de 15 ministros, todos são togados e vitalícios. Dos 15, 10 são militares e 5 são civis.
Dos 10 militares, 4 são oficiais generais do exército, 3 oficiais generais da marinha, e 3 oficiais generais da aeronáutica.
Dos 5 civis, 3 são advogados, 1 juiz auditor militar e 1 representante do MP militar.
Todos os ministros são escolhidos pelo PR e devem ter o nome aprovado pelo Senado.

Auditorias militares: há 12 auditorias militares no Brasil.


Funciona com um conselho especial e um conselho permanente.
O conselho especial julga oficiais militares e o conselho permanente julga não-oficiais (praças das forças armadas).
A justiça militar da União SÓ julga crimes militares. Estes estão no Código Penal Militar.
CUIDADO: A justiça militar da União julga civis, pois estes podem cometer crimes militares.

A justiça militar estadual é a única justiça especial que pode ser criada pelos estados membros. Art. 125, § 3º, CF.
A justiça militar estadual se compõe de:
o Conselho de justiça, em primeiro grau de jurisdição.
o Em segundo grau, tribunal de justiça. Se a PM do estado tiver mais de 20 mil componentes é possível a criação
do tribunal de justiça militar. SP, RS e MG que tem.
O conselho de justiça militar se manifesta de duas formas:
o Singular: só o juiz de direito militar.
o Colegiada: juiz de direito militar + oficiais militares.
Quem é o juiz de direito? Nos estados em que não exista TJM, é juiz de direito indicado pelo TJ. Nos estados de SP, MG
e RS, existe um concurso próprio para juiz de direito militar.

Regras sobre a justiça militar estadual:


A justiça militar estadual NUNCA julga civil. Súmula 153 do STJ.
A justiça militar estadual não julga o crime de abuso de autoridade praticado por policial militar. Será julgado pela
justiça comum.
A justiça militar estadual não julga o crime de tortura praticado por policial militar.
A justiça militar estadual não julga crimes dolosos contra a vida praticados por policial militar contra civil. Lei Hélio
Bicudo que foi constitucionalizada pela EC 45.
Inovação da EC 45: a justiça militar estadual possui também jurisdição cível. Ex: ela julga mandados de segurança
contra atos disciplinares militares.
Se o crime for praticado pelo policial militar contra civil, a competência é do juiz de direito singularmente, exceto crimes
dolosos contra a vida, abuso de autoridade e tortura (vai para a justiça comum nestes casos).
Se o crime for praticado pelo policial militar contra outro policial militar, quem julga é o colegiado.
Se a vítima de crime doloso contra a vida for PM, quem julga é a justiça militar.
3. Justiça trabalhista
Compõe-se do: TST, TRTs (24), juiz do trabalho.
O TST se compõe de 27 ministros. 1/5 destes 27 serão advogados e membros do MP do trabalho com mais de 10 anos de
efetivo exercício (como dá 5,3 sobe para 6 como já decidiu o STF – 3 advogados e 3 membros do MP).
O restante (21) são juízes de carreira promovidos do TRT.
Todos são escolhidos pelo PR e devem ter o nome aprovado pelo Senado.
Nos tribunais superiores, podem ser brasileiros natos ou naturalizados. No STM, os 10 militares, como são oficiais
generais, têm de ser brasileiros natos.

Existe conexão entre crime eleitoral e crime comum? Sim! Prevalece a competência da justiça eleitoral, exceto no caso
de crime doloso contra a vida (separam-se os julgamentos).
Existe conexão entre crime militar e crime comum? Não! Separam-se os julgamentos. Não existe exceção.

Competência criminal na CF
Tópico dentro de poder judiciário.
Etapas ou fases determinantes da competência criminal na CF:
1º) Competência internacional
2º) Competência originária dos tribunais
3º) Competência criminal das justiças especiais ou especializadas
4º) Competência criminal da justiça federal

1º) Competência internacional:


Em regra, a jurisdição nacional só pode ser aplicada a fatos ocorridos dentro do território nacional (princípio da
territorialidade).
Exceção:
a) Extraterritorialidade penal: art. 7º do CP. O juiz julga fatos ocorridos fora do território nacional.
b) A Lei de Tortura (Lei 9.455/97, art. 2º) traz uma segunda exceção.
c) Passagem inocente (art. 3º da Lei 8.617/93).

2º) Competência originária dos tribunais:


Também é chamada de foro por prerrogativa de função. Algumas autoridades, em razão do cargo ocupado, são julgadas
originariamente pelos tribunais.
Tais autoridades não respondem a inquérito policial, e sim, a inquérito judicial.
O delegado de polícia federal não pode indiciar autoridade dotada de foro por prerrogativa de função. Caso Aloísio
Mercadante e caso Magno Alta.
A autoridade dotada de foro por prerrogativa de função não pode se valer de todos os recursos ordinários, só os recursos
extraordinários (RE e RESP). Assim, há a mitigação o princípio do duplo grau de jurisdição.
A simples menção do nome da autoridade não é o bastante para deslocar a competência para o tribunal.

Autoridades julgadas originariamente pelo STF: art. 102, I, alínea b, CF.


Crime comum: engloba crime comum em sentido restrito, crime eleitoral, militar, político, doloso contra a vida,
contravenção penal. Crime político: Lei 7.170/83 (Lei de Segurança Nacional). Crime comum: todo aquele que não for de
responsabilidade.
 O primeiro escalão de todos os poderes da república são julgados originariamente pelo Supremo Tribunal
Federal:
o Primeiro escalão do legislativo: deputados federais, senadores e ministros do TCU. Suplentes de deputados e senadores
não são julgados pelo STF.
o Primeiro escalão do executivo: PR, Vice-PR, ministros de Estado, Presidente do BACEN, AGU, Comandantes das
forcas armadas (tem status de ministro), representantes diplomáticos.
O que é ministro de estado? O STF decidiu que alguns ministros de estado recebem esta denominação só para fins
protocolares e não para fins de fixação de competência criminal no STF. Ex: ministro de estado especial da igualdade racial,
ministro da secretaria especial da pesca.
o Primeiro escalão do judiciário: os próprios ministros do STF, ministros dos tribunais superiores (ex.: ministro do STJ).
o PGR: é o único representante do MPU julgado pelo STF.

Competência originária do STJ: art. 105, I, alínea a, CF.


Tribunal nacional que tem por objetivo uniformizar a jurisprudência dos tribunais federais e estaduais. Critério
determinativo: autoridades federais e estaduais.
 Autoridades federais:
o juízes dos TRFs (5), TREs (27), TRTs (24).
o membros do MPU que oficiem perante tribunais. OBS: O MPDFT faz parte do MPU, daí o Procurador de
Justiça do MPDFT é julgado originariamente pelo STJ, e não pelo TJ de seu estado, como ocorre nos outros estados.

 Autoridades estaduais:
o Governador (NUNCA o vice-governador), desembargadores dos TJs, conselheiros dos tribunais de contas dos
estados.

 Autoridades municipais: membros dos conselhos de contas dos municípios (TCM de SP e RJ) são julgados pelo
STJ.

Competência originária dos TRFs e dos TJs:


No que tange a estes tribunais, usou-se o critério da regionalidade. Este critério afasta o critério do local da infração,
previsto no art. 69, I, do CPP.

 Autoridades julgadas originariamente pelo TRF:


o Juízes federais, juízes do trabalho, juízes auditores militares em todos os crimes, menos em caso de crimes
eleitorais (serão julgados pelo TRE).
o Membros do MPU que oficiem em primeiro grau de jurisdição, menos crimes eleitorais (serão julgados pelo
TRE). OBS: Quem julga o promotor de justiça do MPDFT em crime eleitoral é o TRF. (Há divergência!) Quem julga
membro do MP estadual em crime eleitoral é o TJ estadual
o Deputados estaduais e prefeitos pela prática de crimes federais. Súmula 702 do STF.

 Autoridades julgadas originariamente pelo TJ:


o Juiz de direito, promotor de justiça, pela prática de todos os crimes, exceto crimes eleitorais. Se cometerem
crimes federais, também serão julgados pelo TJ (nunca são julgados pelo TRF).
o Prefeito, deputado estadual, pela prática de crimes estaduais. Art. 29 e 27. Súmula 702 do STF.
o Outras autoridades previstas nas constituições estaduais.

3º) Competência criminal das justiças especiais ou especializadas


a) Competência criminal da justiça eleitoral:
Julga crimes eleitorais previstos no Código Eleitoral e que ocorrem durante o processo eleitoral.
Fases do processo eleitoral: registro das candidaturas, votação, apuração, divulgação dos resultados e diplomação.
Só a polícia federal possui atribuição para investigar crimes eleitorais.
Falsificação de título de eleitor não é crime eleitoral, é crime federal.

b) Competência criminal da justiça militar: já vimos.


c) Competência criminal da justiça do trabalho:
A justiça do trabalho possui competência criminal? A EC 45 alterou o art. 114, IV, CF.
O STF decidiu que a justiça do trabalho não possui competência criminal para julgar ações penais condenatórias. A
Justiça do Trabalho Julga HC, mas este apesar de ser ação penal, não é condenatória.

4º) Competência criminal da justiça federal


A competência da justiça estadual é residual, remanescente.
Justiça federal não julga contravenção penal, nem crimes militares (tem justiça própria), nem atos infracionais.
A atribuição da polícia federal é mais abrangente do que a competência criminal da justiça federal. OBS: polícia não tem
competência, tem atribuição.
A competência criminal da justiça federal divide-se em:
o Competência criminal geral: art. 109, IV, CF.
- Crime político (Lei 7.170/83). O único recurso que cabe contra condenação ou absolvição por crime político é o
recurso ordinário para o STF diretamente (art. 102, II, b, CF).
- Crimes praticados em detrimento (prejuízo – pode ser moral ou econômico) de bens, serviços e interesses das seguintes
pessoas jurídicas: União, empresas públicas federais e autarquias federais*.
*autarquias federais se subdividem em: autarquias em sentido restrito, fundações públicas federais, conselhos
profissionais, autarquias especiais, que são as agências reguladoras.
Quais são os bens da União? Art. 20 CF. O rol do art. 20 é meramente exemplificativo.
Quais são os serviços da União? São as suas atribuições materiais e legislativas (arts. 21, 22 e 23 da CF).
Onde estão os interesses da União? Decorrem da realização de seus serviços.
O que é União? É uma pessoa jurídica com capacidade política de direito público interno. Abrange o executivo, o
legislativo e o judiciário da União, e o MPU.
Onde estão os bens, serviços e interesses das empresas públicas? Na lei de regência, na lei que a cria. DL 200/67 define o
que é empresa pública. Exemplos de empresas públicas: Caixa Econômica Federal, Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos.
Onde estão os bens, serviços e interesses das autarquias? Na lei de regência.

o Competência criminal específica ou especial: também chamada de casuística constitucional.


Fim de poder judiciário

Funções essenciais à justiça


Compreende o MP (art. 127) e os advogados (art. 133).
A jurisdição é inerte. Quem provoca a atividade jurisdicional são as funções essenciais à justiça. São funções
essenciais à justiça, porque não existe justiça sem provocação.
Os membros do MP e os advogados são dotados de capacidade postulatória.
Qual o fundamento pelo qual o delegado de polícia representa pela prisão preventiva? Este fundamento não está na
CF, mas ele pode sim representar, apesar de não ser função essencial à justiça.

Ministério Público
Art. 128 da CF diz que o MP abrange o MPU e o MPE. Por que razão? Os estados membros, em razão da federação,
são dotados de autoridades próprias.
O MPU se divide em 4 ramos ou categorias: MPF, MPT, MPM, MPDFT.

O chefe do MPU é o PGR. Ele é escolhido pelo Presidente da República, dentre integrantes da carreira com mais de
35 anos. O PR indica o nome ao Senado que deve aprovar o nome por maioria absoluta de votos.
Só pode ser PGR membros do MPF. OBS: a CF não diz expressamente que tem de ser integrantes do MPF, só diz
que tem de ser integrante da carreira, mas prevalece que tem de ser membro do MPF. Há uma PEC que vai deixar expresso
isso na CF.

Até 1988, o PGR poderia ser demitido pelo PR ad nutum (a qualquer momento).
Hoje, o PGR exerce mandato de 2 anos, podendo ser reconduzido. O Presidente da República não pode demiti-lo. O
PGR só pode ser afastado pelo voto da maioria absoluta do Senado.

Cada ramo do MPU (MPT, MPM e MPDFT) possui cada qual seu Procurador-Geral próprio. Não existe Procurador-
Geral do MPF, o chefe do MPF é o próprio PGR.
Quem escolhe o Procurador-Geral do MPT é o PGR. Ele escolhe de uma lista de 3 nomes fornecida pela instituição.
Ele exercerá mandato de 2 anos, permitida uma única recondução por mais 2 anos.
Quem escolhe o Procurador-Geral do MPM é o PGR. Ele escolhe de uma lista de 3 nomes mais votados fornecida
pela instituição. Ele exercerá mandato de 2 anos, permitida uma única recondução por mais 2 anos. É igual o anterior.
Quem escolhe o Procurador-Geral do MPDFT é o Presidente da República, de uma lista de nomes indicados pela
instituição. Ele exercerá mandato de 2 anos, permitida uma única recondução por mais 2 anos.
Quantas reconduções são permitidas para o PGR? Quantas o Presidente da República desejar, porque a CF fala em
reconduções e não diz quantas vezes.

 Estrutura do MPF
Carreira de Procurador da República. Oficiam perante o juiz federal.
Depois o Procurador da República é promovido para Procurador Regional da República, que oficiam perante os
TRFs.
Depois, ele é promovido a Subprocurador-Geral da República, que oficia, em regra, perante o STJ.
Dentre os subprocuradores, o presidente da república escolhe o PGR, que oficiará perante o STF.

 Estrutura do MPE
O MPE (Ministério Público Estadual) é chefiado pelo PGJ (Procurador-Geral de Justiça).
O PGJ é escolhido pelo governador para exercer mandato de 2 anos, permitindo-se uma única recondução por mais 2
anos.
O governador escolhe de uma lista de 3 nomes indicados pela instituição.
 Diferenças na escolha entre o PGR e o PGJ:
PGJ PGR
Quem escolhe o PGJ é o governador do estado. Quem escolhe o PGR é o Presidente da República.
O PGJ é escolhido de uma lista de 3 nomes. Não há lista para PGR.
PGJ exerce mandato de 2 anos permitindo-se uma única Exerce mandato de 2 anos, permitindo reconduções.
recondução.
O nome escolhido pelo governador para ser PGJ não O nome escolhido pelo PR para ser PGR precisa ser
precisa ser aprovado pela assembléia legislativa. aprovado pelo Senado.

Art. 130 da CF: segundo o STF, este artigo criou um MP especial, que não está contido no MPU, nem no MPE. É
chamado de MP especial junto ao tribunal de contas.

 MP especial junto ao tribunal de contas:


Tem concurso próprio.
Cada estado tem seu tribunal de contas.
Na maioria dos estados, ainda é o MPE que oficia junto ao tribunal de contas estadual. Em alguns estados, já foi feito
concurso para o MP especial junto ao tribunal de contas.
O CNMP (Conselho Nacional do MP) deu prazo para que os MP estaduais deixem de oficiar perante o tribunal de
contas dos estados.

 Princípios institucionais do MP:


Art. 127, § 1º da CF elenca expressamente 3 princípios institucionais ou constitucionais:
 Princípio da unidade: quer dizer que só existe um MP. Assim, quando o membro do MP fala, quem está
falando é a própria instituição. Por isso, o membro do MP não representa a instituição, ele presenta a instituição.

 Princípio da indivisibilidade: é conseqüência da unidade. Indivisibilidade é a possibilidade de substituição


de uns pelos outros, dentro de cada ramo, sem a necessidade de nenhum ato de designação.

 Princípio da independência funcional: ausência de subordinação hierárquica no exercício das atribuições


constitucionais. A chefia exercida pelo PGR perante o MPU e a chefia do PGJ perante o MPE é uma chefia administrativa, e
não no exercício das atribuições institucionais. Não há hierarquia. Ex de independência funcional: art. 28 do CPP.

 Há também um princípio implícito:


 Princípio do promotor natural: é uma garantia do cidadão contra designações arbitrárias. Evita promotores
de encomenda, isto é, promotores designados para pedir a condenação ou a absolvição. Não ofende o princípio do promotor
natural a designação de apoio a pedido do próprio promotor natural.

 Posição constitucional do MP:


Há duas correntes doutrinárias:
 1ª corrente: o MP é uma instituição extra-poder. Não é um 4º poder, pois formalmente temos apenas 3
órgãos que exercem poder (executivo, legislativo e judiciário). Significa que sem ser poder, os seus membros exercem
atribuição e possuem garantias de poder. Não está contido em nenhum dos 3 poderes. Esta corrente é a majoritária.
 2ª corrente: defendida por José Afonso da Silva. O MP está posicionado dentro do órgão executivo. Este
argumento parte da natureza jurídica dos atos praticados pelos membros do MP. O Estado fala através do legislativo, que se
manifesta por meio de lei. Como o MP não edita lei, o MP não pertence ao legislativo. Além disso, as decisões do MP não têm
força de definitiva, portanto, não praticam atos jurisdicionais. O que sobra são os atos executivos. Por isso, os atos praticados
pelos membros do MP têm natureza administrativa. No concurso para delegado federal, adotar esta corrente.

 Atribuições constitucionais do MP:


O art. 127 da CF traz genericamente as atribuições do MP. Este artigo é esclarecido e minudenciado pelo art. 129 da
CF.
As atribuições expressas no art. 129 não são taxativas, sendo meramente exemplificativas. Art. 129, IX, da CF.
Art. 129, I: traz o princípio acusatório ou o sistema processual penal acusatório. Significa separação entre quem acusa
e quem julga. Como conseqüência desde sistema, cabe ao MP o ônus de provar o que ele alega (não cabe ao acusado provar
usa inocência).

 O MP no Brasil pode ou não investigar?


Há uma discussão acerca do poder de investigação do MP. Há duas posições:
1ª corrente: o MP pode investigar.
Argumentos: a CF não veda expressamente que o MP investigue. Além disso, vigora no mundo a universalização da
investigação (todos devem investigar). Ex do legislativo investigando: CPI. Ex do executivo investigando: Receita Federal,
INSS, etc. Ex do judiciário investigando: a LOMAN permite que um juiz investigue outro juiz. O particular pode investigar.
Ex: pode contratar detetive, pode instalar câmeras. Até cachorro investiga.
Também há tratados internacionais que permitem que o MP investigue. Ex: Convenção de Palermo, Tratado de Roma
(criou o TPI).
Teoria dos poderes implícitos: a CF dá a atribuição ao MP de fornecer a ação penal pública. Se a CF dá o fim, ela
deve dar os meios para poder realizar esta atribuição.

2ª corrente: o MP não pode investigar.


Argumentos: art. 144, § 1º, IV, da CF. Em razão da exclusividade nas funções de polícia judiciária da União, o MP
não pode investigar.
Se o MP investigar, ele vai trazer apenas indícios que comprovem a autoria. Não trará indícios que comprovem a
inocência. Assim, ele estaria comprometido no oferecimento da denúncia. Comprometeria sua imparcialidade. Isso ofende o
devido processo legal.

A CF não diz expressamente que o MP pode investigar, mas diz implicitamente. Portanto, necessitaria de
complementação que permitisse e regulamentasse a investigação pelo MP.

A maioria dos TJs e dos TRFs entendem que o MP pode investigar.


Há uma decisão da segunda turma do STF que diz que o MP pode investigar. Porém, o pleno do STF não decidiu se o
MP pode investigar.

Se o delegado federal instaura o IP de ofício, ele é a autoridade coatora para fins de HC e este será impetrado perante
o juiz federal.
Se o IP é instaurado perante requisição do MP, a autoridade coatora é o procurador da república. O HC deve ser
ajuizado perante o TRF.

CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE
Controlar a constitucionalidade ou fiscalizar a constitucionalidade é indagar, perguntar se a norma subconstitucional é
ou não compatível com a CF.
Quando se fala em controle ou fiscalização de constitucionalidade deve-se responder à pergunta: a lei é compatível
com a CF?
Há dois mundos: mundo do “ser” e mundo do “dever ser”.
O mundo do ser é o mundo das leis naturais. Neste, o homem não consegue modificar as leis. As leis do mundo do
ser são imodificáveis. O homem com sua razão não consegue modificar a conseqüência de um determinado antecedente. Ex:
antecedente – jogar um objeto para cima. Conseqüente – vai cair de acordo com a física. Não tem como alterar esta
conseqüência.
No mundo do dever ser, a um antecedente, o homem liga a conseqüência que melhor lhe interessa naquele momento
histórico. Ex: antecedente - matar alguém. Conseqüente – pena de 6 a 20 anos. 2ª conseqüência: homicídio qualificado. 3ª
conseqüência: pode ser latrocínio. 4ª conseqüência para o mesmo antecedente: não é crime se em legítima defesa.
As normas jurídicas fazem parte do mundo do dever ser. Elas são postadas de forma vertical. Todas as normas
jurídicas dependem da CF, porque todas elas foram criadas pela CF, tirando seu fundamento de validade da CF.
O que diferencia uma regra jurídica de uma norma de moral ou de etiqueta é que estas são postadas de forma
horizontal.
A CF se posta no ápice da pirâmide normativa devido ao princípio da supremacia constitucional.
Daí, para falar sobre controle de constitucionalidade, é necessário analisar o princípio da supremacia constitucional.
 Por que a CF é a norma suprema? Por 2 motivos:
Supremacia formal da CF: a CF decorre do poder constituinte originário (inicial, ilimitado, incondicionado).
Supremacia material: a CF é o documento mais importante de um Estado. As matérias que ela trata são as mais
importantes. Em regra, as Constituições tratam de organização dos poderes e direitos e garantias fundamentais.
A CF é uma norma jurídica super imperativa ou com imperatividade reforçada. O legislador constituinte não pede,
manda.

 Qual a diferença entre norma jurídica e texto jurídico?


Texto é o sinal lingüístico, é o objeto de interpretação. Já a norma jurídica é o resultado da interpretação. Ex: art. 5º é
um texto jurídico.
 Existe texto sem norma?
Sim. Ex: o preâmbulo da CF, pois este se situa no campo político e não, no campo jurídico.
 Existe norma sem texto?
Sim. Ex: princípio do duplo grau de jurisdição, princípio do promotor natural, princípio da supremacia da CF.
Há normas que não são representadas em um texto. Ex: sinal de trânsito.
Há texto do qual se retira várias normas.
Quando o STF faz interpretação conforme a CF, ele tira uma norma de um texto constitucional.

Rigidez constitucional: a nossa CF possui controle de constitucionalidade, pois ela é do tipo rígida. SÓ há controle de
constitucionalidade em Constituição rígida.
CF rígida: é aquela em que o seu processo de alteração é mais difícil, mais trabalhoso, mais burocrático. Para a CF
sofrer alterações, o processo legislativo é diferente do processo legislativo da lei ordinária.
Para falar em controle de constitucionalidade, tem de falar sobre supremacia e rigidez constitucional.

Controle de constitucionalidade tendo em conta o momento em que ele é feito:


 Controle preventivo de constitucionalidade: tem a finalidade de evitar, impedir que a norma inacabada
(projeto de lei) adentre ao sistema jurídico.
É feito em 3 momentos no Brasil:
 Controle preventivo feito pelo legislativo: quem faz é a CCJ – Comissão de Constituição e Justiça (art. 58, § 2º da
CF). Todo projeto de lei passa pela CCJ que faz um parecer sobre a constitucionalidade do projeto.
 Controle preventivo feito pelo executivo: ocorre no veto jurídico feito pelo Presidente da República. Art. 66, § 1º da
CF.
 Controle preventivo feito pelo judiciário: o STF aceita o controle preventivo ser feito pelo poder judiciário.
CUIDADO: SÓ o parlamentar pode impetrar mandado de segurança para fazer o controle preventivo de constitucionalidade
através do judiciário.

 Controle repressivo de constitucionalidade: tem a finalidade de expurgar, expulsar a norma acabada que
ofende a CF.
No Brasil, o controle repressivo é jurisdicional, isto é, cabe ao poder judiciário fazer o controle repressivo.
Em regra, o controle repressivo é jurisdicional. Há duas exceções em que o controle, além de jurisdicional, é também
político:
1) Medida provisória: o controle repressivo pode ser feito pelo judiciário e pelo Congresso Nacional (art. 62 da
CF).
2) Lei delegada: art. 68 da CF. O controle repressivo pode ser feito pelo judiciário e pelo Congresso Nacional.
Ver art. 49, V, da CF.
Além de jurisdicional (feito pelo judiciário), o controle repressivo é jurisdicional misto, pois adota dois sistemas:
sistema difuso e concentrado.
O controle concentrado se divide em 5 ações:
 Ação direta de inconstitucionalidade genérica
 Ação direta de inconstitucionalidade por omissão
 Ação direta de inconstitucionalidade interventiva
 Ação declaratória de constitucionalidade
 Argüição de descumprimento de preceito fundamental

Controle de constitucionalidade (continuação)

Há duas espécies de inconstitucionalidade:


 Inconstitucionalidade formal, orgânica ou nomodinâmica: é aquela em que a norma subconstitucional
desobedece ao devido processo legislativo constitucional. Ex: art. 69 da CF diz que a lei complementar deve ser aprovada por
maioria absoluta de votos. Se ela for aprovada por maioria simples de votos, esta lei complementar é inconstitucional, pois
desobedeceu ao devido processo legislativo constitucional.

 Inconstitucionalidade material ou nomoestática: é aquela em que a norma subconstitucional viola um


conteúdo da CF. Ex: está sendo votado um projeto de lei orgânica da PF, que estipula que só pode fazer parte da carreira
quem tem mais de 1,70 m de altura. Isso viola o princípio da igualdade, que é conteúdo da CF.

É possível que uma lei seja ao mesmo tempo formal e materialmente inconstitucional.
Se a inconstitucionalidade da lei for evidente, tem-se a inconstitucionalidade chapada.
O professor Pedro Lenza diz que há ainda mais uma espécie de inconstitucionalidade: inconstitucionalidade por
ofensa ao decoro parlamentar.

 Há outra classificação de controle de constitucionalidade:


 Controle vertical de constitucionalidade: é aquele em que o objeto de controle é uma norma
subconstitucional (lei ordinária, lei complementar). CF  norma subconstitucional.

 Controle horizontal de constitucionalidade: é aquele em que o objeto de controle é uma emenda


constitucional. A emenda constitucional só pode ser objeto de controle de constitucionalidade, porque ela decorre do poder
constituinte derivado reformador. CF  EC.

 Norma constitucional pode ser inconstitucional?


No Brasil, não se aceita a tese de normas constitucionais inconstitucionais. Não é possível que norma constitucional
seja inconstitucional em face da própria CF. Ambas são decorrentes do poder constituinte originário.

Sistema difuso
1. Legitimidade: significa quem pode alegar a inconstitucionalidade.
Qualquer pessoa física ou jurídica, diante de um caso concreto, pode alegar a inconstitucionalidade de uma norma
subconstitucional.
O sistema difuso é também conhecido como sistema concreto, pois necessita de um caso concreto.
O reconhecimento da inconstitucionalidade será CAUSA DE PEDIR (porque se pede). Não será pedido (o que se
pede).
O reconhecimento da inconstitucionalidade será incidental, pois o reconhecimento não é pedido, é causa de pedir.

2. Competência
Quem pode reconhecer a inconstitucionalidade.
Qualquer juiz ou tribunal, diante de um caso concreto, pode reconhecer a inconstitucionalidade, inclusive de ofício.
Tribunal só pode reconhecer a inconstitucionalidade por maioria absoluta de votos. O tribunal por seus órgãos
fracionários (turma, câmara e seção) não podem reconhecer a inconstitucionalidade. Art. 97 da CF. É chamado de reserva de
maioria absoluta ou cláusula de reserva de plenário.
Quem pode reconhecer a inconstitucionalidade é o tribunal ou seu órgão especial.
Órgão especial do tribunal: pode ser constituído quando o tribunal tiver mais de 25 membros.
Há uma exceção no art. 481, § único, do CPC, que traz uma possibilidade dos órgãos fracionários reconhecerem a
inconstitucionalidade.
Súmula vinculante nº 10 trata do art. 481 do CPC.
O reconhecimento da inconstitucionalidade no sistema difuso não estará na parte dispositiva da sentença, mas sim,
na fundamentação da sentença. Isso porque não é pedido, é causa de pedir, não sendo o reconhecimento direto, mas indireto
(incidental).

3. Objeto de controle
O que pode ser objeto de controle do sistema difuso? Lei ou ato normativo federal, estadual ou municipal.
4. Parâmetro ou paradigma de controle
Eu alego que a lei ofende o que?
A Constituição Federal será o parâmetro ou paradigma de controle.
OBS: O preâmbulo da CF não pode ser parâmetro de controle, pois ele se encontra no campo político, e não, no
campo jurídico.
O ADCT pode ser paradigmas da CF, pois seu conteúdo é jurídico.

5. Efeitos da decisão
- Inter pars: limites subjetivos da coisa julgada. Esta só produz efeitos para as partes.
- Ex tunc, em regra.

Lei municipal:
Há dois imóveis A e B. Seus proprietários são notificados para pagar uma alíquota de 70% do valor venal do imóvel.
Esta lei municipal é inconstitucional (inconstitucionalidade material). O proprietário A impetra MS, o juiz concede a ordem.
O bem da vida que ele deseja é não pagar o IPTU (pedido). Para isso, é necessário reconhecer a inconstitucionalidade (causa
de pedir). A decisão do juiz produz efeitos sobre B? Não, pois os efeitos são inter partes. O município recorre ao TJ. O órgão
especial reconhecer a inconstitucionalidade da lei. O município recorre ao STF. Só a maioria absoluta do tribunal pode
reconhecer a inconstitucionalidade. Isso vale para o STF também. A decisão dele só vale inter partes. Se o STF reconhecer a
inconstitucionalidade, esta terá efeito ex tunc (desde a promulgação da lei).
No entanto, o STF, excepcionalmente no sistema difuso, já aplicou regras do controle concentrado. Quais regras?
Art. 27 da Lei 9.868/99: em alguns casos excepcionais, a decisão no sistema difuso não pode ser ex tunc. Será ex
nunc, ou seja, a lei será inconstitucional a partir da publicação do acórdão do STF (e não da promulgação da lei). Isso se
chama modulação ou manipulação dos efeitos da decisão. Esta lei se aplica ao controle concentrado e excepcionalmente ao
controle difuso.
Somente no sistema difuso, quando o STF reconhece a inconstitucionalidade, ele remete ao Senado. Art. 52, X, da
CF.
 Para que o STF remete a decisão ao Senado? Para que o Senado suspenda a execução da lei.
 O Senado está obrigado a suspender a execução da lei? Não, pois o ato do Senado é discricionário (depende
de oportunidade e conveniência política) e não vinculado.
 O Senado também suspende a execução de uma lei municipal? Sim, no sistema difuso, o Senado suspende
a execução de uma lei federal, estadual ou municipal.
 O Senado suspende a execução da lei através de qual espécie normativa? Através de uma resolução.
 Quais são os efeitos desta resolução do Senado? A decisão do Senado faz com que a decisão do STF passe
a ser erga omnes e ex nunc.
 Hoje ainda se faz necessária a remessa da decisão do STF ao Senado? O ministro Gilmar Mendes defende a
denominada abstrativização do sistema difuso. Significa que, no Brasil, algumas características do sistema concentrado vêm
se aplicando ao sistema difuso. Ex: é possível se utilizar da súmula vinculante e da modulação de efeitos. Estaríamos
mudando o modelo de controle no Brasil. Para o ministro, não se faz mais necessária a remessa ao Senado.

Sistema concentrado
Pode se manifestar através de 5 ações.
Controle concentrado não é sinônimo de controle abstrato.
 Ação Direta de Inconstitucionalidade genérica: é concentrado e abstrato.
 Ação Direta de Inconstitucionalidade por omissão: é concentrado e abstrato.

 Ação Direta de Inconstitucionalidade Interventiva: é concentrado e é concreto.

 Ação Declaratória de Constitucionalidade: é concentrado e abstrato.

 Argüição de Descumprimento de Preceito Fundamental: é concentrado e, em regra, abstrato, mas pode ser
concreto.

 Ações:
1. Ação Direta de Inconstitucionalidade Genérica (ADIN):
a. Legitimidade: os legitimados estão elencados de forma taxativa no art. 103 da CF. De 1965 até 1988, só o
PGR era dotado de legitimidade para ajuizar ADIN. Em 1988, houve o alargamento da legitimidade para todos os elencados
no art. 103 CF. Isso é uma característica da denominada democracia participativa. Hoje temos uma sociedade aberta de
intérpretes constitucionais: a CF é um documento tão importante, que não se pode deixar sua discussão na mão de poucos.
A CF, no art. 103 da CF, não estabelece diferenças entre os legitimados. No entanto, o STF estabelece dois tipos de
legitimados dentre os constantes no art. 103 CF. Ele restringe a utilização da ADIN.
 1º grupo de legitimados: legitimados universais ou neutros. Estes legitimados não necessitam demonstrar a
pertinência temática.
Quem são? Presidente da República, Mesa do Senado e Mesa da Câmara, PGR, Conselho Federal da OAB, partido
político.
CUIDADO: mesa do Congresso Nacional não pode ajuizar ADIN.

 2º grupo de legitimados: legitimados interessados ou especiais. Estes legitimados necessitam demonstrar a


pertinência temática.
Quem são? Mesa de assembléia legislativa, governador de estado, entidade de classe de âmbito nacional ou
confederação sindical (incisos IV, V e IX).

Pertinência temática é o interesse de agir, significa a relação existente entre o objeto da ação e a finalidade
institucional do autor interessado.
Ex: o estado do Paraná aprova uma lei que concede isenção de CPMF para que indústrias automobilísticas mudem
para lá. As indústrias de SP mudam para o Paraná. Neste caso, o estado de SP tem interesse e, portanto, legitimidade para
ajuizar ADIN no STF. A pertinência temática deve ser analisada no caso concreto.
Art. 103, VIII da CF: o partido político só pode ajuizar ADIN se tiver pelo menos um representante no Congresso
Nacional. Basta um deputado federal ou senador. Se o partido tinha só um representante no CN, ajuizou ADIN e depois
perdeu este representante que mudou de partido, o STF permite que a ação prossiga.
Art. 103, IX da CF: associação de associações tem legitimidade para ajuizar ADIN. Elas são formadas por pessoas
jurídicas e por pessoas físicas.
A UNE (União Nacional dos Estudantes) pode ajuizar ADIN? Não, pois não é uma classe profissional.

b. Competência:
Sistema concentrado significa que há um único centro: o STF (art. 102, I, a, CF). É um controle ultra concentrado,
vez que só o STF é competente para conhecer e julgar a ADIN. Aplica-se ao STF o art. 97 da CF.

c. Objeto de controle:
Só lei ou ato normativo federal ou estadual. Lei municipal não pode ser objeto de controle de constitucionalidade via
ADIN. Só pode via ADPF. Art. 102, I, a, CF.
O que é lei? Quando a CF fala em lei, está usando a expressão em sentido genérico. Refere-se a qualquer espécie
normativa prevista no art. 59 da CF.
O que é ato normativo federal ou estadual? Ato normativo é aquele que decorre diretamente da CF. Ex: resolução de
conselhos, regimento interno de tribunal, edital de concurso. São denominados atos normativos primários.
O decreto não é um ato normativo primário, é um ato normativo secundário, pois entre ele e a CF existe uma lei. O
decreto pode ter crise de legalidade, mas não de constitucionalidade. Portanto, decreto não pode ser objeto de controle
concentrado de constitucionalidade.
Para aqueles que admitem a existência do denominado decreto autônomo, este pode ser objeto de controle
concentrado.

A CF foi promulgada em 05/10/1988. As leis anteriores a esta data não podem ser objeto de controle concentrado de
constitucionalidade no STF, ao menos por meio de ADIN. Para a lei anterior a esta data, ocorre o fenômeno da recepção ou da
não recepção.
A cada CF, inaugura-se um novo estado. A CF é o nexo jurídico de todas as normas que estão abaixo dela.
Recepção: uma CF recepciona as normas subconstitucionais anteriores a ela, desde que com ela sejam compatíveis.
Ex: o CP foi recepcionado pela CF/88. Essa recepção pode se dar com a mesma roupagem ou natureza ou com roupagem
diversa. Ex: a parte especial do CP é um decreto-lei. Hoje não se tem decreto-lei. Assim, a parte especial do CP foi
recepcionada com outra roupagem.
Desconstitucionalização: uma norma constitucional, com a nova CF, passa a ser lei ordinária, lei complementar.
Passa a ser norma subconstitucional. Não existe a desconstitucionalização, pois não é aconselhada, vez que cria insegurança
jurídica. Celso Bastos diz que é possível desde que esteja expresso.
Repristinação: ex: a CF de 1969 não recepcionou uma lei de 1967. Vem a CF de 1988, revoga a CF/69. A CF/88
pode ressuscitar/revigorar a lei de 1967? A repristinação não é aconselhável em razão da segurança jurídica. Há quem defenda
que é possível desde que esteja expressa.

Ex: um dos legitimados ajuíza ação discutindo que a lei 100/00 é inconstitucional. No decorrer da ação, o Congresso
Nacional revoga a lei. O que ocorre com a ação? Perda superveniente do objeto.
Ex: eu alego que o art. 100 da Lei X ofende o art. 115 da CF. No decorrer da ação, o art. 115 da CF é alterado por
emenda constitucional. O que ocorre com a ação? Perda do objeto em razão da modificação do parâmetro de controle.

Súmula pode ser objeto de controle? Não, pois súmula não é obrigatória. Não estamos falando de súmula vinculante.
Súmula vinculante pode ser objeto de ADIN? Não, pois a súmula vinculante tem procedimento próprio para a sua
revisão.
Tratados internacionais podem ser objeto de controle concentrado? Podem.
Natureza jurídica do tratado internacional: em razão do dualismo jurídico que está previsto no art. 4º, I, da CF,
existem duas ordens jurídicas (daí dualismo): uma ordem jurídica internacional e uma ordem jurídica nacional. A ordem
jurídica internacional só produz efeitos dentro do nosso território se ela for recepcionada. Aqui não existe o princípio da
recepção automática.
 Mecanismo de recepção do tratado internacional:
1ª fase: o presidente da república, como chefe de estado, assina o tratado internacional. Art. 84, VIII, da CF.
2ª fase: o congresso nacional precisa aprovar o tratado internacional. Art. 49, I, da CF. O congresso nacional resolve
através de um decreto legislativo. Por isso, temos um dualismo mitigado.
3ª fase: o presidente da república edita um decreto promulgando o tratado internacional.
Depois destas 3 fases, o tratado passa a produzir efeitos dentro do território nacional.

Qual é a natureza jurídica do tratado internacional? Depende do tratado.


Se o tratado internacional tiver por objeto direitos humanos, ele será equivalente à emenda constitucional, se
adotado rito das emendas. Art. 5º, § 3º da CF. Há várias correntes doutrinárias aqui para os tratados de direitos humanos:
 1ª posição: uns dizem que neste caso são normas supra-constitucionais, estando acima da CF.

 2ª posição: são normas constitucionais. LFG defende esta.

 3ª posição: são normas supralegais, pois estão acima da lei e abaixo da CF. Gilmar Mendes defende essa.
A tendência do STF é que tais tratados tenham status de normas constitucionais.

d. Parâmetro ou paradigma de controle


É a CF. O STF adota o bloco de constitucionalidade restritivo, isto é, só normas e princípios expressos e positivados
na CF podem ser parâmetro ou paradigma de controle. Houve ampliação do bloco de constitucionalidade, com os tratados
sobre direitos humanos recepcionados com normas constitucionais.

e. Efeitos da decisão
Em regra, a decisão no sistema concentrado é erga omnes, ex tunc e vinculante.
O efeito vinculante é mais abrangente do que o erga omnes. O efeito vinculante obriga os demais órgãos do poder
judiciário e do poder executivo a obedecerem à decisão e também aos fundamentos determinantes da decisão.
O poder legislativo não sofre vinculação à decisão. Ele pode aprovar uma nova lei.
O STF pode, excepcionalmente, modular ou manipular os efeitos da decisão. Art. 27 da Lei 9.868/99. Esta lei
regulamenta o procedimento da ADIN e da ADC.

 Quais são os requisitos para modulação dos efeitos da decisão?


 Razões de segurança jurídica ou excepcional interesse social +
 Maioria qualificada de 2/3 dos membros.
Com a modulação dos efeitos da decisão, esta pode se tornar ex nunc (a partir da publicação do acórdão) ou pró-
futuro (o STF estipula uma data em que a lei passa a ser considerada inconstitucional).
A decisão do STF pode se restringir a reconhecer a inconstitucionalidade de uma palavra ou expressão. É o
princípio da parcelaridade.

Vigora o princípio da congruência: o STF só pode reconhecer a inconstitucionalidade do que foi pedido. Ex: um dos
legitimados alega que o art. 100 de uma lei viola o art. 200 da CF. O STF só pode reconhecer a inconstitucionalidade do art.
100, não podendo reconhecer a inconstitucionalidade dos arts. 101 e 102. Exceção ao princípio da congruência:
inconstitucionalidade por arrastamento ou conseqüencial. Se os artigos 101 e 102 dependerem do art. 100, eles também
serão reconhecidos como inconstitucionais.
Cognição aberta: o STF pode reconhecer que o art. 100 é inconstitucional não por ofender o art. 200 da CF como
alegado, mas por ofender o art. 300 da CF. O STF pode dar outro fundamento para reconhecer a inconstitucionalidade. A
cognição é aberta.

Procedimento que deve ser adotado na ADIN


Este procedimento está previsto na Lei 9.868/99. Esta lei foi criada a partir das decisões do STF.
O AGU obrigatoriamente deve ser ouvido para fazer a defesa do ato impugnado. Ele faz a defesa da presunção de
constitucionalidade das normas subconstitucionais.
Existe exceção: O AGU não está obrigado a fazer a defesa do ato impugnado se o STF já fixou entendimento sobre
o fato.
O PGR será ouvido em todas as ações diretas de inconstitucionalidade. Não existe exceção.
Não existe prazo decadencial ou prescricional para o ajuizamento da ação.
A ação é indisponível. Uma vez ajuizada, o autor não pode desistir da ação.
O art. 7º da Lei veda a intervenção de terceiros e a assistência jurídica. No entanto, o próprio art. 7º permite a
participação do amigo da corte ou amicus curiae (colaborador do tribunal). A natureza jurídica do amicus curiae é de um
terceiro especial, terceiro singular. Aqui mais uma vez se tem a sociedade aberta dos intérpretes constitucionais.

 Quando é possível a participação do colaborador do tribunal?


Quando estiverem presentes dois requisitos:
 Relevância da matéria.
 Representatividade do postulante.
Quem aceita o amicus curiae é o relator.
O amicus curiae pode fazer sustentação oral, conforme entendimento do STF.

A decisão do STF que reconhece a constitucionalidade ou inconstitucionalidade é irrecorrível, só cabendo embargos


declaratórios.

Não cabe ação rescisória em razão da natureza objetiva do processo.

Processo objetivo
A ação direta de inconstitucionalidade genérica (ADIN) inaugura um processo objetivo.
Processo objetivo é aquele processo marcado pela generalidade, impessoalidade e abstração. É um processo sem
partes no sentido material. Não existe um litígio referente a uma situação concreta nos processos objetivos, diferentemente do
sistema difuso.

2. Ação direta de inconstitucionalidade interventiva


Não existe hierarquia, no sentido de subordinação, entre as pessoas jurídicas com capacidade política.
O que existe é uma divisão constitucional de competências. Esta é uma das características de existência de uma
federação.
Competência da União: arts. 21 e 22 da CF.
Competência dos municípios: arts. 29 e 30 CF.
Competência do DF: art. 32 da CF.
Competência residual dos estados membros: art. 25 da CF. Há duas espécies de competência residual ou
remanescente: competência administrativa e competência legislativa.
Por isso, em regra, a União não pode intervir nos estados e estes não podem intervir nos seus municípios (art. 34 e 35,
caput, da CF). Há exceções a esta regra, chamadas de intervenções. Há várias espécies de intervenções. Vamos tratar de uma:
ação direta de inconstitucionalidade interventiva.
A União pode, excepcionalmente, intervir nos estados, porém, a União não pode intervir nos municípios localizados
nos estados (não há exceção a esta regra). A União só pode intervir em municípios localizados em seus territórios. Hoje não
temos territórios, mas estes podem ser criados.
Território possui natureza jurídica autárquica. Os territórios serão uma descentralização administrativa da União. Não
será um ente federado.
O DF é uma pessoa jurídica com capacidade política híbrida, pois ele possui competência material dos estados
membros e competência material dos municípios.
A CF, em seu art. 32, veda que o DF seja dividido em municípios. Não há descentralização política, e sim,
descentralização administrativa.
O DF possui menor autonomia que os estados membros. Assim, a CF traz maiores limites ao DF.
Art. 18, § 4º, CF: os estados membros podem se dividir em municípios.
Ex de maior limitação do DF: o MP do DF faz parte do MP da União.
Ex2: o DF não organiza a sua defensoria, a sua polícia, o seu judiciário. Quem organiza é a União Federal. Art. 23 da
CF.
As constituições dos estados e a lei orgânica do DF possuem a natureza jurídica constitucional. Já a lei orgânica dos
municípios não possui natureza jurídica constitucional, porque entre elas e a CF há a constituição estadual.
Não se pode dizer que uma lei municipal é inconstitucional em face da lei orgânica do município, pois esta não tem
natureza constitucional. Neste caso, há uma ilegalidade e não uma inconstitucionalidade.

Ação direta de inconstitucionalidade interventiva


Legitimidade: é exclusiva do PGR.
Competência: é do STF. É uma competência ultra concentrada do STF.
Objeto de controle: defesa dos denominados princípios constitucionais sensíveis (art. 34, VII, da CF). Esta
denominação é de Pontes de Miranda. São chamados de sensíveis, pois são facilmente percebidos e são obrigatórios para os
estados membros. Os estados membros devem obedecer estes princípios, sob pena de intervenção da União. São sensíveis, pois
não podem ser tocados pelos estados membros. São diferentes das cláusulas pétreas.
A doutrina entende majoritariamente que a forma de governo republicana não é uma cláusula pétrea. No entanto, a
república e os princípios que dela derivam devem ser obedecidos pelos estados.
Até hoje, o STF só conheceu de uma ação direta de inconstitucionalidade interventiva.

Efeitos da decisão:
O PGR ajuíza ação no STF, que julgará o pedido procedente ou improcedente.
Se for julgado improcedente o pedido, arquiva-se a ação.
Se o pedido for julgado procedente, está entendendo que princípios constitucionais pedidos foram violados. Neste
caso, notifica o presidente da república para concretizar a intervenção. Esta se materializa em um decreto do PR (art. 84 da CF).
Ao expedir um decreto, o presidente não está obrigado a nomear um interventor. Ele pode entender que só a suspensão do ato
que motivou é suficiente. O presidente tem aqui oportunidade e conveniência política.
Se houver decretação de intervenção da União no estado, toda proposta de emenda constitucional será sobrestada (art.
60, § 1º, da CF). É o denominado limite circunstancial ao poder constituinte derivado reformador.

3. Ação direta de inconstitucionalidade por omissão


A CF é uma norma jurídica, tendo uma força normativa própria. Isso significa que ela manda, obriga, determina.
Em 1957, Konrad Hesse definiu a força normativa da CF.
A CF é super imperativa, sendo dotada de imperatividade reforçada. Isso ocorre devido ao princípio da supremacia da
CF.
Apesar de a CF ser uma norma super imperativa, em alguns momentos históricos ela não foi obedecida em razão da
falta de ação (omissão) do legislador constituído (poder legislativo). Ele inviabilizava a ordem do poder constituinte originário.
Se o legislativo não regulamenta uma norma constitucional, há uma doença, chamada de síndrome da inefetividade, que é a
desobediência da CF em razão da falta de regulamentação.

Todas as normas constitucionais possuem eficácia jurídica. Apesar disso, apenas parte delas possui eficácia social.
 Eficácia jurídica: é a qualidade da norma constitucional, que está apta a produzir efeitos nas relações
concretas.
 Eficácia social: nem todas as normas constitucionais possuem eficácia social, que é a hipótese da norma
vigente com potencialidade para ser aplicada em determinadas matérias.

O professor José Afonso da Silva, tendo em conta a possibilidade de eficácia da norma constitucional, fala em
aplicabilidade da norma constitucional, que é a qualidade daquilo que é aplicado. Espécies:
 Norma constitucional de eficácia absoluta, plena, bastante em si mesma ou auto-aplicável: é aquela que
produz efeitos imediatos, diretos, não necessitando de normatização futura para que tenham efetiva aplicabilidade. Ex: art. 5º, §
1º, da CF. Não necessitam de integração futura para que tenham efetiva operabilidade. São dotadas de eficácia social.
 Norma constitucional de eficácia contida, redutível ou restringível: produzem efeitos diretos e imediatos, não
necessitando de normatização futura para que tenham operabilidade. Não precisam de lei ordinária ou complementar para que
tenham eficácia social. No entanto, elas podem ter seu campo de atuação reduzido, restringido por obra do legislador
constituído. Este pode conter, restringir a obra do poder constituinte originário. Ex: art. 5º, XIII, da CF. Todas as profissões são
livres, a não ser que o Estado entenda que elas necessitam de regulamentação. Só a União pode regulamentar sobre as
profissões (competência exclusiva).
 Norma constitucional de eficácia limitada, não auto-aplicáveis ou não bastantes em si mesmas: não produzem
efeitos diretos, nem imediatos, pois elas necessitam obrigatoriamente de normatização futura para que tenham efetiva
operabilidade. Elas necessitam de uma lei ordinária ou de uma lei complementar. Apesar de não possuírem eficácia social,
possuem eficácia jurídica.
 Conseqüências:
A eficácia jurídica dá a elas duas forças: possui uma força paralisante e possui uma força impeditiva.
A força paralisante volta-se para o passado em direção às normas jurídicas já existentes. Esta força paralisante retira a
normatividade das normas subconstitucionais anteriores e contrárias à CF. Fenômeno da não-recepção (revogação).
A força impeditiva volta-se para o futuro. Significa que normas subconstitucionais posteriores à CF que a contrariarem
não podem permanecer no ordenamento jurídico.
A finalidade da classificação das normas constitucionais está na efetivação de direitos fundamentais.

 Remédios constitucionais que resolvem a síndrome de inefetividade da CF:


 Ação Direta de Inconstitucionalidade por omissão
 Mandado de Injunção
Se não existir lei ordinária ou complementar, resolve por um destes remédios acima.

Quais são as diferenças entre ação direta de inconstitucionalidade por omissão e o mandado de injunção?

ADIN por omissão Mandado de injunção


Legitimidade Só podem ajuizar ADIN por omissão aqueles
Pode ajuizar qualquer pessoa
taxativamente elencados no art. 103 da CF.
física, qualquer pessoa jurídica.
Art. 5º, LXXI, CF.

Competência Só o STF. Competência Depende da autoridade encarregada


ultra concentrada. Art. 102, de regulamentar a norma constitucional (STJ, ST
I, a, CF. tribunais superiores).
Objeto da omissão Falta de regulamentação de qualquer Falta normade regulamentação de determinadas norm
constitucional de eficácia limitada. constitucionais. Art. 5º, LXXI, da CF. Quais norm
constitucionais? Aquelas ligadas às prerrogativ
inerentes à nacionalidade, soberania e cidadania, alé
das liberdades constitucionais.
Efeitos da decisão Efeitos mandamentais. Ao reconhecer
No mandado
a de injunção 01/89, o STF deu à decisão
omissão, a demora, o STF dá ciência aoMI órgão
os mesmos efeitos da ADIN por omissão. O ST
encarregado de elaborar norma constitucional.
adotou a teoria não concretista.
Esta omissão é conhecida Hoje,comono MI 712/07, o STF mudou seu entendimento
inconstitucionalidade morosa. Se o deu órgão
à decisão no MI, efeitos concretos erga omne
encarregado de regulamentar mandando
for aplicar a legislação do direito de greve do
administrativo, o STF dá prazo de 30 diastrabalhadores
para privados aos servidores públicos até que
suprir a omissão. Art. 103, §§ 1º e 2º, CF.
legislativo legisle sobre a questão. Ativismo judicia
Adotou a teoria concretista erga omnes.

O STF pode dar prazo para o legislativo regulamentar uma norma constitucional?
O STF já fez isso na ADIN por omissão 3682. Esta ação foi ajuizada pela Assembléia Legislativa do MT. O art. 18, §
4º foi alterado pela EC 15. O STF deu prazo de 180 dias para que o legislativo regulamente a norma constitucional.

Procedimento da ação direta de inconstitucionalidade por omissão


É praticamente o mesmo da ADIN por ação. Está previsto na Lei 9.868/99.
O PGR deve ser ouvido em toda ADIN por omissão.
O AGU não precisa ser notificado na ADIN por omissão, vez que não existe ato impugnado. Não precisa defender
nada.
O STF entende que há a impossibilidade de concessão de liminar na ADIN por omissão.
Não existe prazo para ajuizamento de ADIN por omissão.
Se o legitimado apresenta projeto de lei, passa para a fase do debate ou discussão. O que ocorre com a ADIN por
omissão? Esta perde o objeto.

4. Ação declaratória de constitucionalidade

Quanto tempo o legislativo pode ficar discutindo a constitucionalidade ou inconstitucionalidade no sistema difuso?
Isso trazia insegurança jurídica por conta das decisões contraditórias e demorava uns 8 a 10 anos para se chegar no STF. Para
que essa insegurança acabasse, criou-se a ação declaratória de constitucionalidade (EC 3).
Qual o objetivo da ação declaratória de constitucionalidade?
Superar a insegurança jurídica, transformando a presunção relativa de constitucionalidade em presunção absoluta de
constitucionalidade. Supera-se a incerteza do sistema difuso.

Legitimados para ajuizar ação declaratória de constitucionalidade: antes, tinham somente 4 legitimados. Em 2004,
através da EC 45, houve um alargamento da legitimidade. Hoje, os legitimados são todos aqueles elencados no art. 103 da CF.
A razão é que houvesse uma equiparação entre a ADIN e a ADC.
Estas ações são ambivalentes ou dúplices. Art. 24 da Lei 9.868/99.
Um dos legitimados do art. 103 ajuíza ADIN. O que ele deseja é que o pedido seja julgado procedente e a lei declarada
inconstitucional. Se o STF julgar o pedido improcedente, está dizendo que a lei é constitucional. Esta decisão tem os mesmos
efeitos da ADC.
Um dos legitimados do art. 103 ajuíza ADC. O que ele deseja é que o STF reconheça que a lei é constitucional. Se o
STF julgar o pedido improcedente, está dizendo que a lei é inconstitucional. Esta decisão tem os mesmos efeitos da ADIN.
Competência: o tribunal competente para conhecer e julgar a ADC é somente o STF. Competência ultra concentrada.
Art. 102, I, a, CF.
Objeto de controle: só lei ou ato normativo federal. Art. 102, I, a, CF. Na ADIN é lei ou ato normativo federal ou
estadual.
PEC 358/05: pretende alterar o art. 102, I, a, CF acrescentando a lei ou ato normativo estadual.
Efeitos da decisão: efeitos erga omnes, ex tunc e vinculante.
Vinculante é mais abrangente do que o erga omnes. Ser vinculante obriga todo o poder executivo e todo o poder
judiciário. Todos os juízes vão ter de aplicar esta decisão do STF.

Procedimento da ação declaratória de constitucionalidade


O processo é essencialmente unilateral. Não existe contraditório, nem partes. É um processo objetivo.
Não existe a necessidade de notificação do AGU, pois não existe ato impugnado.
O autor da ADC precisa demonstrar a existência de controvérsia relevante. É um requisito específico da petição inicial.
Deve demonstrar com cópias que há várias decisões judiciais conflitantes.
A decisão do STF que reconhece a constitucionalidade ou a inconstitucionalidade é uma decisão irrecorrível, só
cabendo embargos declaratórios. Não cabe ação rescisória.
É possível a concessão de liminar em ação declaratória de constitucionalidade. Art. 21 da Lei 9.868/99. É necessária a
maioria absoluta dos membros do STF (voto de 6 ministros).
Neste caso, se o STF conceder a medida cautelar por maioria absoluta de votos na ADC, todas as ações pelo Brasil
serão suspensas por até 180 dias.
O STF permite que a medida cautelar seja erga omnes com efeito vinculante.

5. Argüição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF)


Está prevista no art. 102, § 1º, da CF (norma de eficácia limitada, segundo o STF).
A CF/88 previu a ADPF. Porém, de 1988 até 1999, não tínhamos nenhuma ADPF ajuizada, pois o STF entendia que
o artigo necessitava de regulamentação, que veio com a Lei 9.882.
Legitimidade para ajuizar ADPF: são os mesmos legitimados do art. 103 da CF.
Competência para conhecer e julgar ADPF: SÓ o STF. Art. 102, § 1º, da CF.
Objeto de controle: preceito fundamental – o que é? A CF e a lei não definem. Isso fica a cargo do próprio STF em
cada ação de ADPF. O STF só disse o que não é preceito fundamental. A doutrina qualifica como preceitos fundamentais os
seguintes dispositivos: arts. 1º ao 5º; art. 60, § 4º, art. 34, VII.
Pontos importantes a serem estudados:
Princípio da subsidiariedade: só cabe ADPF se não houver outro meio para impugnar a violação ao preceito
fundamental.
Existe fungibilidade entre ADPF e ADIN.
Cabe ADPF para questionar leis municipais e também leis anteriores a 1988. Nestes casos, não cabe ADIN.

DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS


A CF trata dos direitos fundamentais a partir do Título II.
As constituições anteriores tratavam dos direitos fundamentais no final, depois de tratar do Estado.
Importância disso: topograficamente, o legislador deu mais importância ao indivíduo do que ao Estado. O indivíduo é
um fim em si mesmo, diferentemente do Estado. Antes de organizar o Estado, a CF já tratou do indivíduo.

 O título II da CF se reparte em 5 capítulos:


Capítulo 1: Dos direitos e deveres individuais e coletivos (art. 5º).
Capítulo 2: Dos direitos sociais (art. 6º).
Capítulo 3: Da nacionalidade (art. 12).
Capítulo 4: Dos direitos políticos (art. 14).
Capítulo 5: Dos partidos políticos (art. 17).

Título II: dos direitos e garantias fundamentais


A CF não se ocupa de palavras inúteis. Logo, direitos não são sinônimos de garantias.
Direitos são normas que declaram a existência de interesses. São normas declaratórias.
Garantias são normas que asseguram o exercício de direitos. São normas assecuratórias.
Ex: o HC é uma garantia constitucional que assegura o direito à liberdade de locomoção.
Ex: o MS é uma garantia constitucional que assegura o direito à legalidade.
Ex: o habeas data é uma garantia que assegura o direito à informação.
Rui Barbosa que trouxe essa diferença entre direitos e garantias, mas isso não é pacífico.
Não confundir garantias constitucionais com remédios constitucionais. Todo remédio constitucional é uma garantia,
mas nem toda garantia é um remédio constitucional.
Remédio constitucional: são instrumentos processuais, são ações. Ex: HC (ação constitucional de rito especial e
sumaríssimo, não é recurso).
Art. 5º, inciso VI, da CF: garantia constitucional que não ostenta a natureza de remédio constitucional (“e garantida
na forma da lei”).
Interesses: são posições jurídicas necessárias à satisfação de uma determinada necessidade.
Por que os direitos e garantias são chamados de fundamentais? Porque são imprescindíveis, necessários para a
convivência e sobrevivência em sociedade.
Os direitos fundamentais são posições jurídicas necessárias para a concretização da dignidade da pessoa humana. O
núcleo dos direitos fundamentais é a dignidade da pessoa humana. A dignidade da pessoa humana não é um direito
constitucional, é um sobre-princípio (está acima das normas constitucionais). A CF não traz a dignidade da pessoa humana,
esta é algo pré-existente à CF e ao Estado.
Pessoa ≠ de coisa: o indivíduo é um fim em si mesmo e, por isso, tem dignidade. Já a coisa é um meio para alcance
de um fim, por isso, a coisa não tem dignidade, tem preço.
Não podemos “coisificar” o indivíduo, isto é, transformar o indivíduo em coisa.

Capítulo I: dos direitos e deveres individuais e coletivos


Não existem deveres expressos.
Há quem defenda que não cabe a uma CF o estabelecimento de deveres.
Temos direitos constitucionais e deveres implícitos de respeitar direitos de terceiros.
Exemplos de deveres fundamentais: tenho o dever de ser honesto (honestidade cívica), tenho o dever de pagar
tributos, tenho o dever de alistar-se militarmente para servir à pátria.
Por que estes direitos e deveres são individuais e coletivos?
É necessário entender a evolução histórica dos direitos fundamentais:
Até 476 d.C: antiguidade clássica que terminou com a queda do império romano em 476 d.C. Não existia a noção de
indivíduo.
Qual a diferença da liberdade para os antigos e para os modernos:
Para os antigos, livre era aquele que participava da organização da polis. A liberdade clássica era essencialmente
política.
Liberdade para os modernos significa autodeterminação, capacidade de escolher o seu próprio destino.
Com o cristianismo, surge à idéia de que o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus. Logo, o homem
possui determinados direitos.
Na Idade Média (até 1500), surgem as declarações de direitos. Ex: Carta do Rei João Sem Terra.
De 1500 a 1789: absolutismo. Durante este período, o indivíduo não tinha direitos frente àquele que exercia o poder.
Em 1789, surge a revolução francesa. Ela teve dois objetivos principais, que se confundem com os objetivos do
constitucionalismo:
1) Divisão orgânica de poder (legislativo, executivo e judiciário) para fugir do absolutismo. Montesquieu
escreveu “O Espírito das Leis” neste período.
2) Ofertar direitos fundamentais aos cidadãos frente àquele que exerce o poder.

Com a revolução francesa, surgem os direitos fundamentais de 1ª geração, que são marcados pela individualidade e
pela busca da liberdade. Primeiro ideal da revolução francesa. São liberdades negativas. Estas liberdades negativas se
concretizavam por meio de uma inação (falta de ação, abstenção, omissão) do Estado. Nós tínhamos nossos direitos
respeitados se o Estado não agisse, se ele se abstivesse. O Estado se retirou das relações sociais (Estado liberal). Estávamos
diante do individualismo (cada um por si). O Estado não está autorizado a intervir nas relações sociais. Ex: o Estado não
estava autorizado a invadir minha casa ou a me prender sem mandado judicial. O Estado é apenas garantidor quanto aos
direitos de 1º dimensão.
Obs.: “Geração” não é um termo tecnicamente adequado de se utilizar. O melhor seria dimensão de direitos
fundamentais. Isso porque geração dá idéia de superação de uma geração sobre a outra. Já dimensão dá idéia de acumulação.
Exemplo de retirada do Estado das relações sociais: Código Civil Napoleônico de 1704, que dizia que o pactuado
deve ser cumprido.
O que ocorre com a retirada do Estado das relações sociais?
O capital começa a escravizar o trabalho.

Em 1848, Karl Marx escreve “O Manifesto Comunista”. O Estado deve buscar a igualdade. Não adianta só liberdade,
é necessário também igualdade e o Estado deve assegurar isso. De que adianta ser livre e morar debaixo da ponte.
Em 1919, as pregações de Marx se concretizam na Constituição alemã (Constituição de Weimar). Nesta, surgem os
direitos de 2º dimensão. São direitos que buscam a igualdade (direitos econômicos e sociais – lazer, segurança, saúde,
educação, etc). É o atual art. 6º da nossa CF. Revela um Estado que, além garantidor, é prestador. Busca a igualdade.
A nossa 1º CF que tratou dos direitos de 2º dimensão foi a CF de 1934.

Depois da 2º Guerra Mundial (1945), surgem os direitos fundamentais de 3º dimensão. São os denominados direitos
coletivos ou meta-individuais. Ex: meio ambiente, desenvolvimento sustentável, paz, etc. São os direitos de solidariedade.

Quanto aos direitos de 4º dimensão e 5º dimensão não há unanimidade:


Há quem defenda a existência de direitos fundamentais de 4º dimensão. Ex: emprego para todos, a paz universal, o
biodireito, desenvolvimento dos estados subdesenvolvidos. A existência destes direitos de 4º dimensão não é pacífico.
Norberto Bobbio entende que são direitos referentes ao patrimônio genético. Alguns estudiosos já apontam direitos de 5º
dimensão como sendo o direito à paz.

Capítulo I: dos direitos e deveres individuais e coletivos. Aqui estão os direitos de 1º e 3º dimensão. Os de 2º
dimensão estão no art. 6º da CF.

Características dos direitos fundamentais:


1. Universalidade dos direitos fundamentais: quando o art. 5º fala em “todos”, quer dizer que é universal, se
aplicando a todas as pessoas, independentemente de qualquer condição.
Quais são os destinatários dos direitos fundamentais? Uma leitura desavisada e desarmada vai concluir que os direitos
só se aplicam aos brasileiros e ao estrangeiros residentes no Brasil. Residência tem um conceito jurídico. Os destinatários dos
direitos fundamentais são todas as pessoas humanas independentemente de qualquer condição ou qualidade, desde que estejam
no território nacional. Englobam brasileiros natos e naturalizados, estrangeiros, apátridas.
Pessoa jurídica pode se valer dos direitos fundamentais? Em regra, sim! Também são destinatárias dos direitos
fundamentais. No entanto, determinados direitos fundamentais, em razão de sua própria natureza, a pessoa jurídica não pode
se valer. Ex: liberdade de consciência.
Atenção: Não confundir universalidade com uniformidade: a universalidade deve respeitar a individualidade. Não
existe uniformidade, pois não somos iguais. Os direitos fundamentais são valores dos estados ocidentais. Não se pode impor
estes direitos aos estados orientais. Dentro de um mesmo território, é necessário respeitar as diferenças culturais. Ex: cultura
dos indígenas.

2. Historicidade: os direitos fundamentais decorrem de uma evolução histórica. Eles vêm se acumulando com o
tempo.

3. Limitabilidade (ou relatividade) dos direitos fundamentais: não existem direitos fundamentais absolutos.
Eles são relativos. Podem ser afastados por outro direito fundamental que tiver um maior peso naquela situação concreta.
OBS: o direito de não ser torturado é um direito fundamental absoluto para os agentes do Estado. Não há nenhuma
justificativa para a tortura. Nos EUA, o direito de não ser torturado é relativo.

4. Irrenunciabilidade: o que pode ocorrer é o seu não-exercício.

5. Imprescritibilidade: os direitos fundamentais não se sujeitam a prazos, podendo ser exigidos a qualquer
momento.

6. Inalienabilidade: os direitos fundamentais não podem ser alienados.

7. Concorrência de direitos fundamentais: os direitos fundamentais convivem com outros direitos. Um não
afasta a incidência do outro.
8. Proibição de retrocesso: o direito fundamental ofertado não pode ser retirado, subtraído. Não se pode retirar
direitos fundamentais, só acrescer outros.

9. Não taxatividade dos direitos fundamentais: não estão em rol taxativo. Não estão só no art. 5º, estão
espalhados por todo o corpo constitucional. Ex: princípio da anterioridade tributária é um direito fundamental que está no art.
150, III, b, da CF. Ver § 2º do art. 5º da CF.

Os direitos fundamentais são os direitos humanos positivados em uma Constituição. Na ordem internacional,
chamamos de direitos humanos. Na ordem interna, recebem o nome de direitos fundamentais se estiverem positivados.

Art. 5º, caput, da CF trata de 5 interesses: vida, liberdade, igualdade, segurança e propriedade. São direitos
fundamentais de 1ª geração.

Teoria dos quatro status de Jellinek:


- status passivo: estado de subordinação ao Poder Público (deveres perante o Estado);
- status negativo: liberdade do indivíduo contra ingerências do Estado;
- status positivo: direito de o indivíduo exigir determinada prestação do Estado;
- status ativo: direito de o indivíduo influenciar na vontade do Estado (direitos políticos).

Eficácia horizontal dos direitos fundamentais


Atualmente, tem se entendido que os direitos fundamentais, além de ser aplicados nas relações entre Estado e
particulares, aplicam-se também nas relações entre particulares (relações privadas).
Há duas teorias:
o eficácia indireta ou mediata: o legislador deve disciplinar a aplicação de direitos fundamentais às relações privadas;
o aplicação direita ou imediata: alguns direitos fundamentais devem ser aplicados às relações privadas sem que haja a
necessidade de interposição legislativa. O STF já aplicou esta teoria.

Eficácia irradiante dos direitos fundamentais: estes representam diretrizes para a aplicação e interpretação de todo o
ordenamento jurídico infraconstitucional. Neste sentido, pode-se dizer que todo o direito infraconstitucional deve ser
interpretado conforme aos direitos fundamentais. Associa-se, ainda, a esta eficácia irradiante, a questão de sua eficácia na
esfera privada, conhecida sob a expressão de eficácia horizontal, ou, na expressão utilizada pela doutrina alemã, Drittwirkung.

Precedentes:
 exclusão de associado de cooperativa sem direito de defesa viola devido processo legal substancial;
 revista íntima de mulheres em fábrica configura constrangimento ilegal;
 exclusão de membro de sociedade sem direito de defesa viola devido processo legal;
 indenização tarifada do transportador aéreo;
 discriminação de brasileiro na “Air France” viola isonomia.
Assim, havendo colisão entre o princípio da autonomia da vontade e o da dignidade da pessoa humana (e o princípio
da máxima efetividade dos direitos fundamentais), deverá o julgador realizar indispensável ponderação de interesses, à luz da
razoabilidade e da concordância prática ou harmonização.

Direitos individuais e coletivos

Vida: direito de existir. Significa existência. Não é qualquer existência, a CF exige uma existência digna. Esta possui
2 conteúdos: moral e material.
Vida digna em sentido moral: direito de ter direitos. Não posso ser desrespeitado, desmoralizado, etc.
Vida digna em sentido material: piso mínimo de dignidade. Quer dizer mínimo existencial. Ex: saúde, educação,
lazer, trabalho, salário mínimo, etc.
Como o legislador protege a vida, ele proíbe qualquer forma não natural de subtração da vida. Ex: homicídio,
infanticídio, aborto, etc. A pena de morte no Brasil é só excepcionalmente.
Não cabe ao direito definir quando começa a vida. Quem define são as outras ciências.
Jurisprudência: o STF ao julgar a constitucionalidade da Lei da Biossegurança, Lei 11.105/2005, segundo Rel. Carlos
Brito, entendeu que quando a CF protege a vida, ela quis dizer a vida de pessoa física ou natural, isto é, da pessoa que nasceu e
possui personalidade (ADI 3510 de 29/5/2008).

Liberdade: para os modernos, liberdade significa auto-determinação, capacidade de escolher o seu destino. O caput
do art. 5º traz o gênero liberdade. Há várias espécies de liberdade que decorrem do caput. Ex: liberdade de pensamento,
liberdade de crença, liberdade de associação, liberdade de reunião, liberdade de locomoção, etc.
Art. 5º, inciso VI, da CF: 4 interesses são protegidos por este inciso: liberdade de consciência, liberdade de crença,
liberdade de culto, proteção ao lugar do culto. Permite que o cidadão professe qualquer consciência política, religiosa ou
filosófica. Ex: cético – não acredita em nada. A CF permite que seja ateu.
Pluralismo político: art. 1º da CF. Não significa somente a existência de vários partidos políticos. Significa aceitar os
diferentes, conviver com os diferentes, ver os outros com os olhos dos outros.
Liberdade de crença: poder escolher qualquer religião. Isso não é absoluto. Não se pode professar crenças em que
existam crimes por trás.
Culto: é a exteriorização de uma crença É a manifestação litúrgica de uma crença, são as verdades de uma crença.

Existem 3 espécies de relação do Estado com a igreja:


Fusão entre o Estado e a Igreja: revela os Estados teocratas. Ex: vaticano. O papa é o chefe do Estado e da Igreja. A
polícia federal tem a atribuição de dar segurança para o papa, pois é chefe de Estado.
União entre o Estado e a Igreja: revela os Estados que possuem religião oficial. Ex: Argentina tem como religião
oficial a católica apostólica romana.
Separação entre o Estado e a Igreja: são os Estados laicos, leigos ou não confessionais. Ex: Brasil. Art. 19, I, da CF.
Isso vale no Brasil desde 1851. Antes, existia a União entre o Estado e a Igreja. Por isso, o Estado hoje não pode cobrar
impostos de templos de qualquer natureza.
A CF trata a religião como um dado cultural.
Então porque nas audiências tem a imagem de Jesus? Porque faz parte da nossa cultura majoritária. Se afrontar
alguém, pode tirar.
Art. 5º, inciso VIII, da CF: é o imperativo de consciência (objeção de consciência ou escusa de consciência). É uma
decorrência do inciso VI. Isso é utilizado para dispensa do serviço militar e do conselho de sentença. A ele deve ser ofertada
uma prestação civil alternativa. Art. 143, § 1º, da CF. O cidadão não pode ser responsabilizado por ter liberdade de
consciência. Porém, se ele se negar também à prestação civil alternativa, a conseqüência é a perda dos direitos políticos (art.
15, inciso IV, da CF).
É crime violar o lugar onde o cidadão professa suas liturgias.

Quanto à liberdade de informação conferir ADPF 130/DF, rel. Min. Carlos Britto, 30.4.2009, que julgou
inconstitucional a Lei de impresa, pois a liberdade de expressão e de pensamento não poderia sofrer antecipado controle, nem
mesmo pela lei.

Exigência de Curso de Jornalismo e Não-recepção: A Constituição Federal de 1988 não recepcionou o art. 4º, V, do
Decreto-lei 972/69, o qual exige o diploma de curso superior de jornalismo, registrado pelo Ministério da Educação, para o
exercício da profissão de jornalista. Entendeu-se que a norma impugnada seria incompatível com as liberdades de profissão, de
expressão e de informação previstas nos artigos 5º, IX e XIII, e 220, da CF (RE 511961/SP, rel. Min. Gilmar Mendes,
17.6.2009).

Igualdade: não é o tratamento igualitário de todos. É um valor. Significa tratamento desigual dos desiguais na medida
em que se desigualam (igualdade material). A CF não deseja que todos sejam tratados igualmente, pois ninguém é igual.
Se existir um dado objetivo que fundamente um tratamento desigual, este tratamento será constitucional. Daí
decorrem os impostos com alíquotas progressivas, isto é, quem ganha mais, paga mais.
A igualdade almejada pela CF é a igualdade de condições e de oportunidades. A igualdade é uma conseqüência da
democracia. O instrumento público é um exemplo de igualdade e de ascensão social.
A grande dificuldade é saber até que ponto essa desigualdade não ofende a CF. Monografia de Celso Antônio
Bandeira de Melo: critérios a serem observados: a) elemento erigido como fator de desigualação (ex.: idade avençada); b)
correlação lógica entre esse fator de discrímen e a disparidade estabelecida no tratamento jurídico diversificado (ex.:
impossibilidade de ocupar determinado cargo); c) consonância desta correlação lógica com os interesses protegidos pela CF (a
idade deve interferir no desempenho do cargo).

Ações afirmativas ou discriminações positivas: são políticas públicas ou privadas obrigatórias ou facultativas que tem
por objetivo superar desigualdades históricas. Estas políticas têm por objetivo a criação de personalidades emblemáticas, isto
é, exemplos de superação. Também Ex: indicação de Ellen Gracie e de Joaquim Barbosa para o STF. conhecidas como
medidas de compensação.
Pode ser para superar discriminação de gênero (as mulheres se aposentam com menos tempo de trabalho do que o
homem; a lei eleitoral estabelece o percentual de mulheres que devem estar inscritas para concorrer às eleições).
Também para superar a identidade sexual (homossexual tem direito a pensão do companheiro).
Também para superação em razão da idade. Ex: estatuto do idoso tem prazos processuais menores.
Cotas para negros.
Algumas leis municipais afirmam que as pessoas jurídicas que contratarem pessoas acima de certa idade, terão
redução de alguns impostos.

Segurança: no caput do art. 5º significa segurança jurídica, tranqüilidade, estabilidade, paz. A segurança pública é
direito social, está no art. 6º da CF.
Desta segurança jurídica decorrem prazos processuais, prescricionais, decadenciais.
Prazo do inquérito policial federal: 30 + 30 dias se solto; e 15 +15 dias, se preso.
Da segurança jurídica decorre a trilogia da irretroatividade: art. 5º, XXXVI, CF (direito adquirido, coisa julgada e ato
jurídico perfeito). Estabilidade das relações sociais.

Propriedade: é o monopólio exclusivo sobre determinado bem. Bem é coisa útil e rara que desperta a vontade
humana. É a propriedade individual. Art. 170 da CF traz a garantia da propriedade privada.
Qual a diferença da propriedade do caput do art. 5º e a propriedade do art. 170 da CF?
No art. 5º é a propriedade individual e no art. 170 é a propriedade dos bens ou meios de produção. Bens ou meios de
produção são bens inconsumíveis, utilizados para a produção de outros bens. Ex: indústria, comércio, etc.
O art. 170, ao garantir a propriedade privada, faz uma opção pelo capitalismo, pois o cidadão pode ser proprietário
dos bens e meios de produção. A propriedade pode ser privada, não precisa ser coletiva, como ocorre nos países comunistas.
Humanização do capitalismo: art. 1º, IV, da CF. Os valores sociais do trabalho vêm antes da iniciativa privada.
Significa que o trabalho não pode ser escravizado pelo capital. O direito de propriedade sofre limitações em razão da
necessidade de cumprimento da função social. A propriedade não pode ser egoisticamente tratada. Tem que cumprir sua
função social. Daí existe desapropriação, intervenção do Estado no domínio econômico.

Intervenção do Estado no domínio econômico:


De 1500 até 1789, tínhamos o absolutismo. A faceta econômica do absolutismo era o mercantilismo. Tinha como
pregação que o Estado desenvolve suas atividades. O Estado rico era aquele que conseguia reunir metais.
Em 1789, surge o Estado liberal (Revolução Francesa). A faceta econômica do estado liberal era o liberalismo
econômico, isto é, um Estado não interventor, não intervinha nas relações econômicas. Durante o século XIX, o Estado era
não intervencionista.
Por volta de 1890, apenas uma empresa era dona de toda a venda de querosene nos EUA. Esta empresa aumentou o
preço. No inverno, muitos americanos morreram. Aí o governo percebeu que em algumas situações era necessário intervir. A
CF alemã (Weimar, de 1919) marca o Estado social, isto é, o Estado intervencionista ou do bem estar social.
Na década de 80, o Estado se retirou das relações econômicas. É o Estado neoliberal.
Hoje, novamente o Estado está intervindo na economia em razão da crise econômica.

Dimensões dos direitos fundamentais


Não se confunde com a evolução histórica que vimos no começo da aula.
Os direitos fundamentais surgiram como instrumentos de defesa, isto é, com a função de defender o indivíduo contra
o arbítrio daquele que exercia o poder. Esta é a dimensão subjetiva dos direitos fundamentais. Os direitos fundamentais são
direitos subjetivos de defesa do indivíduo contra abuso de poder, contra os atos do poder público. Os direitos fundamentais
funcionam como um muro de proteção contra os abusos do Estado. Essa proteção existe porque o Estado, em determinados
momentos, tende a violar direitos fundamentais.
Hoje, ao lado da dimensão subjetiva, se defende a existência da dimensão objetiva dos direitos fundamentais.
Dimensão objetiva dos direitos fundamentais: os direitos fundamentais são decisões valorativas de natureza jurídico-
objetiva. Significa que os direitos fundamentais são diretrizes de atuação para o poder legislativo, executivo e judiciário.
Toda atuação dos 3 poderes deve se pautar no respeito aos direitos fundamentais. São ordens vinculantes ao Estado. É a
chamada eficácia dirigente dos direitos fundamentais. Dessa dimensão objetiva, decorre a eficácia horizontal dos direitos
fundamentais (aplicação dos direitos fundamentais nas relações entre particulares).

Função dos direitos fundamentais:


Função de defesa ou de liberdade: os direitos fundamentais defendem o indivíduo contra abuso de poder.
Função de prestação: são os direitos fundamentais de 2º dimensão.
Função de proteção perante terceiros: o Estado tem o dever de proteger o cidadão frente a ações de terceiros. Dever
fundamental de proteção. O Estado não pode permitir que terceiros violem direitos fundamentais. Daí decorre o fundamento
para a segurança pública.

Classificação das Constituições


Classificar significa separar em grupos diversos, fazendo com que no mesmo grupo tenham elementos semelhantes e
diversos dos outros grupos.
Tecnicamente, não existem classificações certas ou erradas. A classificação é útil ou inútil para o estudo.

Constituição quanto à origem: de que maneira o documento constitucional surgiu, em qual ambiente a Constituição
veio ao mundo.
 Constituição promulgada, democrática, votada ou popular: é aquela que decorre de um movimento político
popular. É a Constituição mais democrática, porque revela os anseios do titular do poder (o povo).
Pode se manifestar através de dois meios: assembléia nacional constituinte ou congresso nacional constituinte.
O Preâmbulo da CF/88 revela que ela surgiu de uma assembléia nacional constituinte. Esta afirmativa do preâmbulo é
falsa, pois não surgiu de uma assembléia nacional constituinte, mas de um congresso nacional constituinte.
Assembléia Nacional Constituinte: tem um único objetivo – elaborar uma Constituição. Após isso, ela se desfaz e os
parlamentares voltam para suas funções.
Congresso Nacional Constituinte: é o Congresso Nacional (Poder Legislativo da União) investido do poder
constituinte originário.
 Constituição outorgada: é aquela anti-democrática, imposta pelo governante de forma unilateral. O
governante pode até ter o apoio excepcional do povo, mas é imposta.
 Constituição cesarista: surge de uma outorga (imposição), mas que depende para sua validade de uma
aprovação popular, que se faz através de uma consulta popular.

Histórico das Constituições:


Constituição de 1824: foi outorgada (imposta) por Dom Pedro I. Criou um Estado confessional em que existia uma
religião oficial (católica apostólica romana). O Estado era unitário, uma vez que as províncias não tinham capacidade
legislativa. Criou uma monarquia hereditária. Adotou a teoria do poder moderador, não adotando, portanto, a teoria de
Montesquieu (o poder moderador representava o 4º poder e era representado pelo imperador). Ela não tratou do HC. Trazia um
elenco de direitos fundamentais, dentre eles, falava em liberdade. Por outro lado, existiam os escravos. Assim, a liberdade era
meramente formal. Fonte inspiradora: a CF francesa e o constitucionalismo inglês.

Constituição de 1891: foi uma constituição promulgada. Teve como fonte inspiradora a CF americana. Abandonamos
a Europa e voltamos para a América. Criou a República e a Federação (forma de estado e forma de governo). Separou o
Estado da Igreja, passando a ser um Estado leigo ou laico ou não confessional. Adotou a divisão tripartite de Montesquieu.
Abandonamos a teoria do poder moderador. Pregava o sufrágio universal, mas a mulher ainda não votava. Constitucionalizou
o HC (foi a primeira CF que tratou do HC). Foi quase que redigida por Rui Barbosa. Até aqui, tínhamos constituições apenas
jurídicas/políticas, isto é, só tratavam destes assuntos (constituições de estados liberais).

Constituição de 1934: foi uma constituição promulgada, pois decorreu de uma assembléia nacional constituinte.
Fonte inspiradora: a Constituição Alemã de Weimar de 1919. É uma constituição que marca a passagem para o
constitucionalismo social-econômico. Passou a tratar de temas econômicos e sociais, não abandonando o político/jurídico.
Passou a tratar, por exemplo, de saúde, educação, trabalho, previdência, segurança pública. Aqui tem o marco do Estado social
ou estado do bem estar social. Antes, tínhamos um Estado liberal.

Constituição de 1937: foi uma constituição outorgada. Getúlio Vargas impôs de forma unilateral a CF de 1937. Quem
a redigiu foi Francisco Campos apelidado de Chico Ciência. Fonte inspiradora: a Constituição Polonesa de 1935. Por isso, essa
CF tinha o apelido de Constituição Polaca. Essa CF previa no seu último dispositivo que ela deveria ser aprovada por uma
consulta popular, o que nunca ocorreu. Limitou a utilização do HC. Foi uma constituição autoritária, pois centralizou o poder
no chefe do executivo da União. Getúlio Vargas fechou o Congresso Nacional e legislava através de decreto-lei. Aí, surgiu o
Decreto-Lei. Por isso, a parte especial do CP é um Decreto-Lei que surgiu em 1941. Formalmente, tínhamos uma federação,
mas materialmente tínhamos um estado unitário. GV tinha a última palavra no controle de constitucionalidade, podendo
decidir contrariamente ao STF. Ele funcionava como executivo, legislativo e judiciário. Por isso, era um estado autoritário.

Constituição de 1946: é uma constituição promulgada, decorrendo de uma assembléia nacional constituinte. Foi a
constituição mais democrática que tivemos. Tínhamos eleições diretas para presidente. Voltam as características de 1934
(direitos sociais).

Constituição de 1967: formalmente, ela foi promulgada, mas possui um traço autoritário, pois em 1966, o Congresso
Nacional estava fechado. É uma Constituição autoritária. Tem os 3 poderes, mas centralizou o poder no chefe do executivo.
Ele legislava através de Decreto-Lei.

Constituição de 1969: entre esta e a anterior, houve o Ato Institucional nº 5, em 13 de dezembro de 1968, que foi
praticamente uma constituição, pois cassou direitos políticos, fechou o Congresso Nacional, restringiu a utilização do HC,
decretou estado de sítio permanente, suspendeu garantias constitucionais da CF de 1967.
A Constituição de 1969 foi outorgada por uma junta militar. Era autoritária: fechou o Congresso Nacional, cassou
direitos políticos, restringiu mais ainda o HC, o presidente poderia cassar direitos políticos.

Constituição quanto à forma


 Constituição escrita: reduzida a um texto solene, cerimonioso. Inaugura uma realidade jurídica, isto é, a cada
nova constituição temos um Novo Estado. Pode ser de dois tipos: legal ou codificada.
Constituição escrita do tipo legal é aquela que se realiza juridicamente em vários textos com força constitucional.
Constituição escrita do tipo codificada: a CF de 88 é deste tipo. Ela se reduz a um único texto.
 Constituição não escrita: é aquela que se fundamenta nos usos, costumes, que são práticas reiteradas que
todos obedecem por entendê-las obrigatórias. Também é chamada de costumeira ou consuetudinária. Ex: Constituição da
Inglaterra. Na verdade, ela é mista, pois há documentos escritos que tem força constitucional. Tecnicamente, hoje não temos
nenhuma constituição não escrita.

Constituição quanto à estabilidade, consistência, mutabilidade, alterabilidade:


 Rígida: é aquela que exige para sua modificação/alteração um processo mais trabalhoso, mais dificultoso,
mais burocrático, mais solene, diverso daquele exigido para se alterar a norma subconstitucional. A CF/88 é rígida, devido ao
processo legislativo especial da emenda, que é mais trabalhoso. Só existe controle de constitucionalidade em constituição
rígida.
 Flexível ou plástica: é aquela que não exige processo especial para sua alteração. O seu processo de
alteração é o mesmo que deve ser seguido na alteração da norma subconstitucional. Todas as normas são alteradas da mesma
maneira, daí não há que se fazer diferença entre norma constitucional e subconstitucional. Por isso, não há controle de
constitucionalidade.
 Semi-rígida ou semi-flexível: trata de 2 tipos de normas: normas materialmente constitucionais e
formalmente constitucionais. As normas materialmente constitucionais exigem para sua alteração um processo mais
trabalhoso, dificultoso (aqui ela é rígida). As normas formalmente constitucionais têm sua maneira de alteração mais
simplificada, podendo ser alteradas da mesma forma que as normas subconstitucionais. Estas normas melhor estariam em
normas subconstitucionais. Ex de normas materialmente constitucionais: forma de estado, forma de governo, direitos
fundamentais, divisão de poderes. Ex de normas formalmente constitucionais: índio, MP, polícia federal. Ex de CF semi-rígida
ou semi-flexível: CF de 1824.
Alexandre de Moraes diz que a nossa CF é rígida, mas possui uma parte que é super rígida, que são as cláusulas
pétreas.

Constituição quanto à extensão


 Sintética, concisa ou lacônica: só possui normas materialmente constitucionais. Como exemplo, temos a
constituição americana que é concisa, pois só possui normas materialmente constitucionais.
 Analítica ou prolixa: possui normas materialmente constitucionais e formalmente constitucionais. Ex: a
constituição da Índia e a CF/88. Acreditamos que tudo deve estar na CF.
Esta classificação relaciona-se às normas materialmente constitucionais e formalmente constitucionais.

Constituição quanto ao modo de elaboração


 Constituição histórica: se liga às constituições não escrita. Decorre de um lento processo de evolução da
sociedade. Depende dos usos, costumes.
 Constituição dogmática: se liga às constituições escritas. Decorre de uma assembléia nacional constituinte. É
solene, formal. Dogma = verdade. Os dogmas surgiram naquele instante, e não, de um processo histórico.

 Constituição dirigente ou compromissária: é aquela que prega para o futuro. Ela estabelece objetivos a serem
alcançados. A CF/88 é dirigente. A prova disso é o art. 3º, que estabelece objetivos a serem seguidos.
 Constituição balanço: é uma constituição voltada para o passado. A cada CF temos uma reavaliação do que
já foi feito e uma mudança de rumos. Ex: constituições da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.
 Constituição garantia: é aquela que elenca direitos do cidadão frente àquele que exerce o poder. Traz limites
à atuação do Estado. A CF/88 é uma constituição garantia. Traz uma limitação subjetiva dos direitos fundamentais.

Estudo dos artigos 1º ao 4º da CF


O art. 1º define a forma de Estado (Federação) e a forma de Governo (República).
A forma de Estado é uma cláusula pétrea, enquanto que a forma de Governo não é uma cláusula pétrea.
Existe quem defenda hoje que a forma de governo também seria uma cláusula pétrea em razão do plebiscito que
ocorreu há alguns anos, mas isso não é majoritário.
A República não é cláusula pétrea, mas os princípios republicanos são cláusulas pétreas. Ex: honestidade cívica (o
cidadão tem o dever de ser honesto), dever do Estado de tratar a todos igualitária.
Característica da Federação: indissolubilidade do vínculo. Como defender isso? Por meio do instituto da intervenção
e do direito penal. A Lei de Segurança Nacional (Lei 7.170) estabelece crimes políticos. Dentre eles, está o crime federal de
pregar contra a indissolubilidade do vínculo.
Art. 102, II, c, da CF.
 O que significa Estado Democrático de Direito?
O Estado de Direito surge com a Revolução Francesa de 1789. Ele possui algumas características: governantes e
governados se subordinam à lei, há divisão de poderes e há garantias do cidadão frente àquele que exerce o poder. Isso tem
como objetivo afastar o absolutismo, o arbítrio.
Só o Estado de Direito não basta. Neste, todos obedecem à lei, sem indagar qual é a validade da lei.
A partir da Segunda Guerra Mundial, surge o Estado Democrático de Direito. Aqui, a democracia é muito mais do
que só o exercício de direitos políticos; é respeito à igualdade, à liberdade e à dignidade da pessoa humana.
Até a 2ª Guerra Mundial, uma lei vigente era uma lei válida. Validade e vigência tinham o mesmo sentido.
Hoje, uma lei vigente, pode não ser válida. Vigência é a lei criada em obediência e respeito ao processo legislativo. É
necessário que a lei seja também válida, ou seja, deve respeitar a igualdade, a liberdade e a dignidade da pessoa humana.

 Fundamentos da República Federativa do Brasil (Art. 1º da CF):


I – soberania nacional: significa poder político supremo e independente.
Não confundir soberania popular (art. 1º, § único) com soberania nacional (art. 1º, I).
Poder político significa possibilidade de utilização da violência legítima. Só o Estado pode se utilizar da violência
legítima, isso não pode ser terceirizado.
Supremacia é na ordem interna. Na ordem interna, não existe poder maior que a soberania. Os estados-membros são
autônomos.
Independência é na ordem internacional. Nesta, não existe poder maior que possa nos subjulgar, nos obrigar. Todos
os Estados são iguais.

II – cidadania: direito de ter direitos. Direito de exercer livremente a sua cidadania. O cidadão pode contrair direitos e
obrigações. Relaciona-se aos direitos civis.
Existem dois sentidos para cidadão:
Cidadão em sentido restrito: aquele que exerce direitos políticos (vota e pode ser votado).
Cidadão em sentido amplo: aquele que exerce direitos inerentes à cidadania.
Só pode ajuizar ação popular cidadão em sentido restrito.

III – dignidade da pessoa humana: dignidade não é um direito. É um sobre-princípio, é pré-estatal, existindo antes do
próprio Estado.
Não é a CF que nos oferta a dignidade, ela apenas reconhece algo que já existe.
O que nos diferencia da coisa é a dignidade. A coisa tem preço, o indivíduo não.

IV – valores sociais do trabalho e da livre iniciativa:


Valores sociais do trabalho: o trabalho não pode ser um castigo. Trabalho escravo é crime. O trabalhador deve ser
respeitado. Por isso, o art. 7º trata de todas as regras trabalhistas. Os valores sociais do trabalho estão antes da livre iniciativa
na CF. Isso significa a humanização do capitalismo.

V – pluralismo político: não significa somente vários partidos políticos. Isso é conseqüência do pluralismo político.
Pluralismo político significa aceitar o diferente, ver o outro com os olhos do outro. Significa que a nossa CF aceita várias
acepções filosóficas, religiosas, sexuais, políticas, etc.

§ único: traz a soberania popular. O povo é o titular do poder. Logo, ele domina. Significa democracia
(etimologicamente significa dominação do povo).
Temos uma democracia representativa ou semi-direta: em regra, o povo, titular do poder, o exerce através de
representantes eleitos. Só excepcionalmente, o titular do poder o faz diretamente.
Exemplos de democracia direta: tribunal do júri (art. 5º, XXXVIII, CF), ação popular (art. 5º LXXIII, da CF),
consulta popular (art. 14 da CF), iniciativa popular (art. 61, § 4º, da CF).
Hoje também se fala em democracia participativa: com a CF/88 houve um alargamento da participação do cidadão na
organização do Estado. Ex: MS coletivo, alargamento da legitimidade para ajuizar ADIN.
Também se fala em democracia dialógica ou administração pública dialógica: há um diálogo entre o administrador e
o administrado. Ex: conselhos municipais de segurança, conselhos de saúde, discussão sobre a utilização do orçamento.
“Nos termos desta Constituição”: o povo não pode tudo. Ele exerce o poder, mas está vinculado ao estabelecido na
CF. Tem que respeitar os princípios previstos.

Art. 2º da CF: devemos ter uma compreensão constitucionalmente adequada do art. 2º, isto é, entendê-lo de acordo
com a realidade de 2009, que é diversa da realidade de Montesquieu de 1948.

Art. 3º da CF: revela que a nossa CF é dirigente. Estabelece metas, compromissos. Aqui o Estado é devedor. Para
que o Estado possa se desincumbir destas metas, precisa de dinheiro e é por isso que pagamos obrigatoriamente os impostos.
I - Sociedade livre: significa auto-determinação.
Sociedade solidária: quem tem mais ajuda quem tem menos. Idéia de fraternidade.
II – não podemos manter uma dependência econômica de Estados estrangeiros. Temos que desenvolver o nacional
em todas as áreas.
III – Erradicar é acabar, diferentemente de reduzir. É impossível erradicar as desigualdades sociais. Busca-se
erradicar a pobreza.
IV – refere-se à defesa do princípio da igualdade.

Art. 4º da CF: é a prova do que se denomina Estado Constitucional Cooperativo. É o Estado que não está isolado, se
abrindo para outros estados. Traz regras das relações da República Federativa do Brasil com outros Estados.
Traz a constitucionalização do TPI. É a cooperação jurídica internacional. Esta se divide em:
 Cooperação em sentido restrito ou assistência judicial em matéria penal. Ex: INTERPOL (é formada pela
polícia de diversos Estados).
 Extradição
 Homologação de sentença estrangeira
 Troca de presos

I – a independência é conseqüência da soberania nacional prevista no art. 1º. Fundamenta o chamado dualismo
jurídico: existem duas ordens jurídicas, uma ordem de direito internacional e uma ordem nacional. Este dualismo jurídico é o
fundamento para a necessidade de recepção dos tratados internacionais. Aqui não existe o princípio da recepção automática. É
necessário fazer a recepção de acordo com as normas constitucionais.
II – prevalência dos direitos humanos. Direitos humanos são valores, posições jurídicas necessárias à satisfação de
necessidades do indivíduo. Os direitos humanos estão na ordem internacional. Direitos humanos positivados recebem o nome
de direitos fundamentais. Prevalência dos direitos humanos é mais do que respeito.
III – auto-determinação dos povos. Pregamos a não-existência de colônias. Cada povo deve ser senhor do seu
destino. Por isso, o Brasil defende a criação de um Estado Palestino. Não se pode ter nações ocupadas, escravizadas.
IV e VI – não intervenção e defesa da paz: somos um Estado não beligerante, não bélico, isto é, não fazemos guerras
de conquista, só guerras defensivas. Por isso, quando os EUA invadiram o Iraque, não mandamos soldados para lá,
diferentemente da Argentina.
V – igualdade entre os Estados: é uma pregação de Rui Barbosa. Decorre da Convenção de Haia. Diz que devemos
tratar todos os Estados da mesma forma, sem discriminações de natureza econômica, política, etc.
VII – solução pacífica dos conflitos: devemos tentar resolvê-los por meio da mediação, arbitragem.
VIII – repúdio ao terrorismo: a PF possui um grupo especial de repressão ao terrorismo. Terrorismo é a defesa de
ideais políticos, religiosos, através do uso da violência e do medo. Hoje se fala em terrorismo social. Ex: PCC. A CF volta a
falar de terrorismo no art. 5º, XLIII. Não temos um tipo penal de terrorismo. A CF traz neste artigo um mandado de
criminalização expresso. Há uma omissão inconstitucional.
IX – cooperação entre os povos para o progresso da humanidade: como exemplo, temos a INTERPOL.
X- concessão de asilo político: asilo político é a proteção que um Estado dá a nacionais de outros Estados que
estiverem sofrendo perseguições de ordem política, em defesa de ideais políticos. Existem limites implícitos à concessão de
asilo político, pois não vamos dar asilo político àqueles que defendem ideais que repudiamos. O asilado político não pode ser
extraditado, conforme art. 5º, LII, da CF. Se cometer crime político, não pode ser extraditado, mas se ele cometer um crime
comum com conotação política poderá ser extraditado.

Parágrafo único do art. 4º da CF: não é o MERCOSUL, é muito mais do que isso, pois a América Latina começa no
México. O MERCOSUL é uma integração econômica. Há uma Comissão visando a criação de um Código Penal tipo para a
América Latina.

MEDIDA PROVISÓRIA

Conceito: ato normativo com força de lei de que se vale o chefe do executivo, desde que existam os requisitos da
urgência e relevância.
Medida provisória não é lei, apenas tem força de lei. Isso porque não se origina no poder legislativo.
Medida provisória não é lei em sentido formal, pois não segue o devido processo legislativo constitucional. Porém, é
lei no sentido material, é lei no sentido genérico.

Antecedentes históricos da medida provisória: antes, havia o Decreto-Lei, que existia nas CFs de 1937, 1967 e
1969.

Diferença entre a medida provisória e o Decreto-Lei:


1) Pressupostos:
Decreto-Lei: urgência ou relevância (pressupostos alternativos).
Medida provisória: urgência e relevância.

2) Aprovação:
Se o Decreto-Lei não fosse rejeitado expressamente no prazo estabelecido, tinha-se a aprovação por decurso de prazo.
A medida provisória não tem aprovação por decurso de prazo. Se o Congresso não se manifestar, tem-se a rejeição
tácita.

3) Possibilidade ou não de emenda:


No Decreto-Lei, a Congresso Nacional não estava autorizado a emendá-lo.
Já a medida provisória, pode sofrer emenda.

O Presidente da República edita a medida provisória e ela começa a produzir efeitos desde a sua publicação. Depois,
ele a encaminha ao Congresso Nacional.
A partir da publicação, a medida provisória produz efeitos por até 60 dias.
OBS: a medida provisória não revoga a lei, ela suspende a produção de efeitos da lei.
Quando a medida provisória chega ao Congresso Nacional, forma-se uma Comissão mista de deputados federais e
senadores, que vão analisar a medida provisória. O que eles analisam?
 A existência ou não dos requisitos. Esta análise representa um controle repressivo político.
 Mérito da medida provisória.
CUIDADO: O parecer da comissão mista é analisado pela Câmara e depois pelo Senado. Até a EC 32, a análise era
conjunta, mas hoje é separado.

Procedimento a ser seguido pela Medida Provisória no Congresso Nacional:


Próxima aula.
MEDIDA PROVISÓRIA

Participação do chefe do executivo na elaboração da norma


Ver arts. 61, § 1º (apresentação do projeto de lei); art. 64, § 1º (processo legislativo sumário) e 68 (quando o projeto
não pode esperar 90 dias) da CF.
A medida provisória é um instrumento, em regra, de um Estado Parlamentarista, e não, de um Estado
Presidencialista.
O Presidente da República edita a medida provisória. Esta produz efeitos por até 60 dias. A medida provisória é
publicada no Diário Oficial e é encaminhada ao Congresso Nacional. Lá, forma-se uma comissão mista, que dá um parecer
sobre a constitucionalidade da medida provisória. Esta comissão vai analisar se estão presentes os requisitos da urgência e
relevância. Além disso, o parecer também fala sobre o mérito da medida provisória.
Ordem de análise: primeiro na Câmara e depois no Senado. Até a EC 31 esta análise era conjunta.
O Congresso Nacional pode trilhar 1 de 4 caminhos possíveis:
 Aprovação integral da medida provisória.
 Aprovação da medida provisória com emendas.
 Rejeição expressa da medida provisória.
 Rejeição tácita da medida provisória: quando o tempo passa sem manifestação do Congresso Nacional.

Aprovação integral da medida provisória pelo Congresso Nacional:


A medida provisória não revoga a lei, e sim, retira seus efeitos. Isso porque só uma lei pode revogar outra lei.
A medida provisória vai produzir efeitos por até 60 dias. Após, o Congresso pode aprovar integralmente a medida
provisória por meio de uma lei de conversão. Quem promulga a lei de conversão é o presidente do Senado, que é o presidente
do CN.
A autoridade encarregada de promulgar, também publica. Não precisa ir ao presidente da república, pois está sendo
aprovado exatamente do jeito que ele queria.
A lei de conversão pode revogar uma lei.
Se após 45 dias, nenhuma das casas tiver terminado a votação da medida provisória, inaugura-se o regime
constitucional de urgência. Art. 62, § 6º, da CF. Ambas as casas terão que terminar a votação em até 15 dias (últimos 15 dias
que completariam 60 dias). A consequência do regime constitucional de urgência é o sobrestamento/trancamento da pauta, isto
é, paralisam-se todas as votações naquela casa até que a medida provisória seja votada.
Se as duas casas não conseguirem terminar em 15 dias, ocorrerá a reedição da medida provisória por mais 60 dias. É
a única possibilidade de reedição da medida provisória.

Aprovação com emenda ou com alteração:


A justificativa é a independência dos poderes. O legislativo pode emendar o trabalho do Presidente da República.
 Quem pode apresentar emenda: a comissão mista e qualquer parlamentar.
 Há duas condições para apresentação da emenda:
A emenda não pode tratar de matéria diversa daquela tratada na emenda. Isso seria contrabando legislativo.
Junto com a emenda, deve ser apresentado o projeto do decreto legislativo que regulará as situações pendentes.
Apresentada a emenda, a MP é aprovada com emenda. Neste caso, ela não é automaticamente em lei de conversão,
pois haverá um projeto de lei de conversão. Esse projeto deverá ser encaminhado ao Presidente da República, que apresentará
sua sanção ou veto à lei de conversão emendada. Se o Presidente da República não concordar com a emenda, ele veta. Porém,
o PR não tem a última palavra, pois o veto pode ser derrubado pelo CN.
Se o Senado não aprovar a emenda que veio da Câmara, arquiva-se a emenda.

Rejeição expressa da medida provisória pelo Congresso Nacional:


Art. 62, §§ 3º e 11º, da CF.
Consequências da rejeição expressa da MP:
A medida provisória desaparece do mundo jurídico desde a sua edição. Efeito ex tunc.
A lei X é repristinada, isto é, volta a produzir efeitos, ela ressuscita.
As situações fáticas produzidas durante a MP deverão ser regulamentadas pelo Congresso Nacional através de um
Decreto Legislativo.
Se o PR reeditar a MP rejeitada na mesma sessão, ocorre crime de responsabilidade. Entretanto, essa MP poderá ser
reeditada na próxima sessão legislativa. É o mesmo que ocorre com a PEC. No caso de lei, poderá reapresentada na mesma
sessão diante da maioria de votos. Art. 67 da CF.
Art. 60, § 5º, da CF.

Rejeição tácita da medida provisória:


Rejeição tácita é o transcurso do prazo de 60 dias + 60 dias sem deliberação por parte do CN.
Consequência da rejeição tácita: a MP deixa de produzir efeitos, perdendo sua eficácia desde a edição. A lei X
revigora, repristina.

Generalidades da medida provisória


Medida Provisória pode ser objeto de controle de constitucionalidade.
No controle de constitucionalidade, analisa-se o mérito da MP, se é ou não constitucional.
O poder judiciário pode analisar os requisitos de urgência e relevância da MP? Em regra não, pois os requisitos da
urgência e da relevância só podem ser analisados pelo PR (quando edita a MP) e pelo CN (quando analisa a MP).
Excepcionalmente, o judiciário pode analisar se os requisitos da urgência e da relevância encontram-se ou não
presentes quando a inexistência de tais requisitos for manifesta (inconteste) ou quando o PR agiu em desvio de finalidade.
Após a medida provisória ser editada, o PR perde a disponibilidade sobre ela.
As constituições estaduais podem trazer em seus textos a medida provisória.
Município pode ter MP em sua lei orgânica? Sim, mas desde que a constituição estadual traga MP. Só os estados do
TO, AC e SC tem previsão de MP em suas constituições.
Nem toda matéria pode ser tratada via MP. A CF, em seu §§ 1º e 2º do art. 62, traz o limite material à MP.
Qual a razão de tais limites? Essas matérias elencadas operam uma consolidação fática.
Quais são estas matérias? Nacionalidade, direitos políticos, cidadania, partidos políticos, direito eleitoral, direito
penal, processo penal e processo civil.
E o processo trabalhista? Quando o artigo fala em processo civil, engloba o trabalhista, pois está se referindo aqui ao
processo não penal.
Matéria tributária pode ser veiculada através de medida provisória, desde que a CF não exija lei complementar para o
tema. Art. 93 da CF.

Decreto Legislativo que deve regulamentar as situações pendentes. O CN tem um prazo de até 60 dias para
regulamentar as situações pendentes. Se o CN não regulamentar as situações pendentes em até 60 dias, a medida provisória
continua a produzir efeitos para essas situações pendentes. Art. 62, § 11, da CF.
Segurança pública

No caput do art. 5º, segurança significa segurança jurídica.


Segurança, no art. 6º, é um direito social. Remete-se a um Estado que não se omite, Estado que nos transforma em
credores de determinadas atividades (direito de 2º geração).
Segurança pública está no art. 144 da CF.
Estado no art. 144 refere-se à União, estados, DF e municípios. São todas as pessoas jurídicas com capacidade
política.
Conceito de segurança pública: conjunto de medidas políticas que visam o atingimento de um Estado anti-delitual.
Crimes que ocorrem num espaço de consenso: crimes patrimoniais, crimes contra a vida passionais, crimes
decorrentes de bebida alcoólica.
Ordem pública: Estado em que toda a sociedade respeita às leis.
Incolumidade pública: integridade das pessoas e do patrimônio.
É possível que o Estado membro crie outras forças de segurança pública além das elencadas no art. 144 da CF? Não,
isso seria inconstitucional, pois a segurança pública só pode ser exercida pelas forças elencadas.
Art. 144, § 1º, da CF: trata da polícia federal. A finalidade da polícia federal é apurar infrações penais, exercer com
exclusividade as funções de polícia judiciária da União.
Apurar infrações penais significa o que está escrito no art. 4º do CPP.
Exercer com exclusividade as funções de polícia judiciária da União significa servir de longa manus ao poder
judiciário da União. Ex: cumprir mandado de prisão, mandado de busca e apreensão, dar segurança a agentes dignatários
(embaixadores, chefes de Estado estrangeiro).
Uma outra posição entende que apuração de infração penal tem o mesmo sentido de ser polícia judiciária da União.
Art. 144, § 1º, I, da CF:
Inciso I – apurar infrações penais contra a ordem política e social (Lei 7.170/83). Art. 109, IV, da CF. A competência
criminal da justiça federal é mais restrita do que a atribuição criminal da polícia federal.
Lei 10.446/02: crimes federais – crimes que a repercussão seja interestadual ou internacional ou ainda diante de
determinação do ministro da justiça. Ler esta lei!!!
A polícia federal ultimamente se voltou para os crimes de lavagem de dinheiro e crimes contra a administração
pública, mais do que drogas. Focar isso ao estudar.

Temas:
1) Controle externo das atividades da polícia federal.
2) Possibilidade do delegado de polícia federal não cumprir a requisição de instauração de IP feita pelo MPF.

1) A CF, no art. 129, VII, ao falar em controle externo, diz respeito ao controle da atividade típica, primária da
polícia. Ex: visitas às delegacias, conferência dos mandados de prisão, conferencia dos prazos processuais, conferencia do
livro de fiança, etc.
2) Requisição é determinação. O MPF vem denunciando delegados que não estão cumprindo tais requisições.

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