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MÓDULO III
Tatuí-SP
2019
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Conteúdo
1 INTRODUÇÂO .............................................................................................................. 1
2 PLANTAS MEDICINAIS: HISTÓRIA, TRADIÇÃO E ATUALIDADE ............................. 2
3 A FITOTERAPIA NO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS) ......................................... 8
4 LEGISLAÇÃO DE FITOTERÁPICOS ......................................................................... 10
4.1 A Situação do Registro de Medicamentos Fitoterápicos no Brasil................ 12
5 CONCEITOS BÁSICOS EM FITOTERAPIA ............................................................... 14
6 CONSTITUINTES QUÍMICOS DAS PLANTAS MEDICINAIS .................................... 16
6.1 Ácidos Orgânicos ............................................................................................... 19
6.2 Alcalóides ............................................................................................................ 20
6.3 Compostos Fenólicos ........................................................................................ 21
6.4 Compostos Inorgânicos ..................................................................................... 21
6.5 Glicosídeos ou Heterosídeos ............................................................................ 22
6.6 Antracênicos ....................................................................................................... 22
6.7 Cumarinas ........................................................................................................... 22
6.8 Saponinas............................................................................................................ 23
6.9 Flavonóides ......................................................................................................... 23
6.10 Glicosídeos Cardioativos ................................................................................. 24
6.11 Glicosídeos Cianogenéticos ............................................................................ 24
6.12 Gomas e Mucilagens ........................................................................................ 25
6.13 Óleos Essenciais .............................................................................................. 26
6.14 Taninos .............................................................................................................. 26
7 PREPARO E PADRONIZAÇÃO DE FITOTERÁPICOS.............................................. 27
7.1 Coleta ................................................................................................................... 27
7.2 Triagem ................................................................................................................ 28
7.3 Secagem .............................................................................................................. 29
7.4 Operações Mecânicas de Divisão ..................................................................... 31
7.5 Tamização ........................................................................................................... 33
7.6 Extração .............................................................................................................. 35
7.7 Fatores que influenciam na extração................................................................ 39
7.8 Tipos de Extratos ................................................................................................ 42
7.9 Padronização de extratos .................................................................................. 47
8 DESENVOLVIMENTO DE FORMULAÇÕES FITOTERÁPICAS ................................ 49
8.1 Formas farmacêuticas líquidas ......................................................................... 51
8.2 Formas farmacêuticas semissólidas ................................................................ 57
8.3 Formas farmacêuticas sólidas .......................................................................... 62
REFERÊNCIAS .............................................................................................................. 64
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1 INTRODUÇÂO
O uso de plantas medicinais pela população, em busca da cura para as mais variadas
moléstias, é um costume muito difundido não só em nosso país como em todo mundo. Esta
prática foi sedimentando-se ao longo do tempo como resultado do acúmulo de conhecimentos
sobre a ação das plantas por diversos grupos étnicos.
Atualmente constata-se um aumento marcante na utilização de plantas medicinais,
estimulado de forma pouco criteriosa pelos meios de comunicação além de outros fatores como
crise econômica, o alto custo dos medicamentos industrializados, o difícil acesso da população
a assistência médica, bem como uma tendência generalizada dos consumidores em utilizar
produtos de origem natural, atitude esta decorrente do aumento da consciência ecológica dos
últimos anos.
Paralelamente a utilização popular de chás, garrafadas, cataplasmas e outras formas de
uso, as plantas medicinais vêm sendo utilizadas também em formas farmacêuticas, elaboradas
industrialmente, para a comercialização, os denominados fitoterápicos.
Os fitoterápicos sempre se apresentaram como uma parcela significativa do mercado de
medicamentos. O setor movimenta no mundo cerca de US$ 21,7 bilhões ao ano e no Brasil
cerca de US$ 160 milhões, sendo que o maior atrativo neste setor é o crescimento das vendas
anuais que atingem cerca de 20% de crescimento contra apenas 5% dos medicamentos
sintéticos (dados de 2005).
Ao longo da história, o homem sempre buscou a superação dos seus males. Inúmeras
etapas marcaram a evolução da arte de curar. Porém, é difícil delimitá-las com exatidão, uma
vez que a arte de curar esteve, por muito tempo, associada às práticas mágicas, místicas e
ritualísticas. Em todas estas etapas, as práticas de cura utilizaram as plantas medicinais.
Inicialmente, o homem se preocupou com o alívio imediato dos sintomas das doenças,
principalmente a dor e, posteriormente, se dedicou ao entendimento do funcionamento do
organismo, na saúde e na doença. E para curá-lo, utilizava-se daquilo que a natureza oferecia,
com destaque para a utilização das plantas.
O homem sempre observou como os animais utilizavam as plantas e os efeitos que as
mesmas eram capazes de provocar. Se determinada planta provocava um efeito benéfico para
o animal, deduzia-se que, certamente, para o homem também ocorreria o mesmo.
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Mas o conhecimento da utilização das plantas como medicamento não foi adquirido
apenas observando os animais. O homem sempre utilizou as plantas como fonte de alimentos
e observava os efeitos que elas provocavam no seu organismo. Em função disto, foi fazendo a
triagem das plantas que tinham atividades alimentícias, medicinais e tóxicas, etc.
Na antiguidade, acreditava-se na magia do reino vegetal e isto podia ser descoberto e
usado por meio do conhecimento empírico das plantas. Usadas com finalidades místicas ou
não, ao longo do tempo, as plantas adquiriram respeitabilidade em todas as civilizações pela
demonstração do seu potencial terapêutico no processo saúde-doença, bem como de suas
propriedades tóxicas.
As primeiras informações escritas sobre as plantas medicinais foram encontradas em
escavações na Mesopotâmia, em 1872, e datam do século 16 a.C. São os Papiros de Ébers,
escrito egípcio que inclui mais de 700 prescrições com produtos naturais, principalmente as
plantas, dentre elas, alho, rícino, mirra, aloe, linho, tomilho, canabis, funcho, açafrão, entre
outros.
Na verdade, as plantas foram a primeira fonte onde se buscou recurso para a
intervenção no adoecimento humano. A Bíblia faz referência ao uso de alho, poejo, cominho,
menta, urtiga, etc.
Os egípcios deram grande contribuição à Fitoterapia pelo uso que faziam das plantas,
não apenas para curar as doenças, mas também para embalsamar os corpos e para os rituais
religiosos. Os egípcios usavam muitas preparações com plantas que apresentavam
propriedades aromáticas, antissépticas e cosméticas, além de cultivarem plantas purgativas,
diuréticas, vermífugas, etc.
Já os assírios cultivavam várias plantas que serviam de matéria-prima para a
preparação de tinturas, unguentos, águas aromáticas, ao passo que os hebreus usavam as
plantas que cultivavam para a realização de suas cerimônias e oferendas, a exemplo da mirra.
Na China, existem relatos de cura com plantas, desde 3000 a.C. Por isto, a China é
considerada o berço do uso das plantas com propriedades medicinais. Na literatura, é citado
que o imperador Shen Nung, considerado o Hipócrates chinês, estudou e relatou, no livro das
ervas, o poder terapêutico e tóxico de mais de 300 espécies de plantas.
Hipócrates, considerado o pai da medicina ocidental, acreditava que a prevenção e a
cura das doenças encontravam-se na natureza, cabendo ao homem apenas a sua
decodificação. Com este entendimento, reuniu em sua obra, Corpus Hipocraticum, um conjunto
de informações a cerca do tratamento das enfermidades, com remédios à base de plantas. Ele
foi seguido por muitos outros, como Teofrasto, Plínio, Asclepíades, Pelacius, Dioscórides, etc.
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Dioscórides (40-90) realizou a primeira compilação sistemática de plantas, na sua obra
chamada de Matéria Médica. Nela, estão catalogadas 579 plantas e descritos 4.700 usos e
formas de atuação destas plantas. Este livro foi de grande importância para a medicina
européia, até o século XVII.
A Índia é o país que, ao lado da China, tem grande tradição na utilização das plantas
medicinais, que constituem a base da terapêutica da Medicina Ayurvédica. Lá, foram escritas
várias obras sobre medicamentos à base de plantas, como sândalo, canela, cardamono e
sobre a preparação de elixires, tinturas, essências, sucos, extratos, etc.
Foi no século II depois de Cristo que as plantas ganharam uma maior utilização na
terapêutica. Isto se deve ao trabalho incansável de vários estudiosos como Galeno, que
escreveu várias obras e ganhou notoriedade dentro da farmacologia pela preparação de suas
formulações, hoje denominadas fórmulas galênicas.
Com a queda do império romano, ocorreu o descrédito do conhecimento médico porque
este já não era capaz de atender à demanda das patologias existentes. Neste período, a
guarda e a reprodução de escritos relacionados à medicina foram confinadas nos mosteiros,
que passaram a funcionar como depositários dos conhecimentos médicos. Era comum, nestes
locais a existência de grandes jardins medicinais.
A igreja que já exercia um grande poder com relação à questão espiritual passou a ser
detentora de poder sobre o corpo físico, pois eram os religiosos os responsáveis pelas
transcrições dos registros. A população, no entanto, encontrava-se totalmente desprovida de
cuidados e por si só passou a desenvolver práticas de cura. É dentro desse contexto que surge
a medicina popular, permeada de práticas mágicas exercidas por curandeiros, bruxos, viajantes
e a população em geral.
Na Idade Média, há o redimensionamento dos saberes popular e erudito a cerca das
plantas. Neste período ganhou prestígio a teoria das assinaturas. Por ela, acreditava-se que a
cura se encontrava na natureza cabendo ao homem a decodificação dos sinais. Por exemplo,
para tratar uma patologia que acometia os rins usavam-se as plantas que tinham o formato de
feijão, que é o formato dos rins. Para enfermidades no cérebro, plantas com formato de nozes,
etc.
A partir do séc. XVI houve grandes transformações e inovações no campo das artes, da
filosofia, da ciência, culminando com o Renascimento.
Neste período, três fatores contribuíram para a consolidação da Fitoterapia: o avanço da
botânica que foi incrementado pelo estudo classificatório das plantas; a disseminação do
herbalismo, com a criação de herbários e jardins de plantas medicinais, principalmente junto às
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universidades e a descoberta e a troca de plantas medicinais entre diferentes regiões, devido
às grandes navegações e ao estabelecimento de rotas comerciais.
No Brasil, os primeiros registros sobre o uso de plantas datam do século XVI e
correspondem aos manuscritos do Padre. Anchieta. Nestes, ele relata que nas pescarias feitas
pelos índios que aqui habitavam, os peixes vinham à tona apenas com o toque de cipós na
água. Posteriormente, isto foi explicado com a descoberta das substâncias narcóticas e
curarizantes contidas nas plantas por eles utilizadas. Os jesuítas tiveram grande importância na
difusão dos conhecimentos dos indígenas sobre as plantas medicinais para a população em
geral.
Ao longo da história da Colônia, foi se consolidando o uso de plantas medicinais nativas
do Brasil com aquelas trazidas pelos portugueses e africanos, concomitantemente com práticas
religiosas. A movimentação de pessoas que faziam o desbravamento do interior do país, em
busca do ouro ou de índios para a escravização, foi fundamental na troca de informações sobre
o uso das plantas medicinais.
Também cabe destaque a alguns estudiosos que fizeram a compilação das plantas
usadas pelas diversas comunidades, em publicações muito importantes como fontes históricas
e científicas no uso de plantas medicinais.
No século XX, a obra mais importante sobre plantas medicinais é o Dicionário das
Plantas Úteis do Brasil e das Exóticas Cultivadas, de Pio Correia, uma coleção de 06 volumes,
publicada a partir de 1926.
O séc. XIX foi marcado pela construção do saber anatomofisiopatológico. Então, houve
o afastamento das ciências médicas do saber herbalístico e passou-se a valorizar a
sintomatologia, respaldada pelas teorias de Clark, médico biologicista.
Em 1805, pela primeira vez foi isolado um princípio ativo de planta, a morfina, um
alcalóide da papoula e em 1838 a salicina foi extraído do salgueiro. A partir dele, em 1860, foi
sintetizado o primeiro medicamento em laboratório, a aspirina. Com base nesta técnica, houve
um crescente desenvolvimento da química e novas substâncias foram isoladas em laboratório e
delas novos produtos de síntese foram surgindo, levando à paulatina substituição do uso das
plantas pelos medicamentos produzidos em laboratório, o que ocorreu de forma plena na
segunda metade do século XX, motivado por vários fatores, dentre eles um dos mais
importantes foi a descoberta dos antibióticos.
Paralelo à substituição da planta pelo medicamento feito a partir de drogas sintéticas,
houve também um intenso trabalho de desqualificação do saber popular sobre as plantas
medicinais, como prova a proibição da prática da fitoterapia por pessoas leigas e até mesmo
por médicos que ocorreu em diversos países.
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Esta ofensiva contra as plantas medicinais e o saber popular, não se restringiu aos
países mais desenvolvidos, mas se expandiu às colônias, na América, na África e na Ásia.
Como exemplo, temos a proibição, por parte da Inglaterra, do uso de plantas medicinais na
Índia, algo injustificável, tendo em vista que este país, ao lado da China, tem o uso de plantas
fortemente arraigado nos seus sistemas de cura.
Nos Estados Unidos, em 1907, o governo deixou de dar subsídios às escolas médicas
que ensinassem o uso de plantas medicinais.
No Brasil, a Fitoterapia chegou ao século XX como a terapêutica mais usada, apesar do
declínio acarretado pelo surgimento do conhecimento biológico. Esse período foi marcado pela
prosperidade econômica impulsionada pela cultura do café, pela grande imigração de
europeus, pelo aumento da urbanização, pelo incremento da exportação e pelo início da
industrialização. Tudo isto levou ao agravamento da situação sanitária das cidades, provocando
o surgimento das grandes endemias e epidemias. Neste novo contexto econômico, sanitário e
científico o uso de plantas não era mais adequado.
Neste período, em todo o mundo, em função da acelerada construção de conhecimento
na área da saúde, a Biomedicina se fortaleceu como racionalidade médica capaz de nortear o
entendimento e o manuseio do processo saúde/doença. Neste modelo biologicista, não havia
muito espaço para a utilização de plantas medicinais devido à sua vinculação com o
conhecimento popular. O método científico foi erigido à categoria de única forma de construir e
aplicar conhecimentos verdadeiros e eficazes. Foi também o início da indústria farmacêutica,
com sua promessa de descobertas de medicamentos capazes de combater todas as doenças e
com acessibilidade a toda a população. Esta nova conjuntura favoreceu a mercantilização da
saúde e a doença da população passou a ser vista como fonte de lucros.
No Brasil, e no mundo, a Fitoterapia perdeu espaço para o medicamento sintético,
produzido em larga escala. Em síntese, os motivos que levaram à diminuição do uso das
plantas medicinais, ao longo do século XX, foram:
• Desenvolvimento científico e tecnológico, com repercusões na área da saúde;
• Consolidação e expansão das profissões da área da saúde, fazendo com que
aumentasse significativamente o número de pessoas com acesso a esses profissionais, que
não usavam a Fitoterapia;
• Combate à prática de cura por pessoas leigas, que normalmente usavam as
plantas medicinais, por parte dos profissionais de saúde e suas entidades de representação;
• Desqualificação dos saberes populares e exaltação do conhecimento científico
como o único conhecimento correto e confiável;
• Desenvolvimento da indústria farmacêutica e descoberta de novos fármacos;
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• Praticidade do uso do medicamento industrializado;
• Falta ou insuficiência de estudos comprobatórios da eficácia e da segurança dos
fitoterápicos;
• Falta de contato da população urbana com as plantas medicinais, levando a sua
desvalorização;
• Mercantilização da saúde.
Posteriormente, pôde-se observar a lacuna existente entre o proposto e o real. A partir
da década de 60, começou a ocorrer o desencanto com a promessa da eficácia, da segurança
e da eficiência da medicalização da população. Sua eficácia não foi suficiente para vencer as
doenças já que estas são resultado de múltiplos fatores, dentre eles a falta de condições
econômicas que propiciem uma vida saudável, com qualidade. Além disto, o medicamento
sintético tem custos que o tornam inacessível para uma grande parcela da população. Estas
pessoas continuaram a fazer uso das plantas medicinais.
O desencanto com o medicamento sintético estava inserido no contexto do desencanto
com a sociedade tecnológica e capitalista que havia criado a expectativa de que a tecnologia
traria facilidades e abundância para todos. Isto fez com que ocorresse a busca por uma vida
natural, tendência esta que se consolidou nas décadas seguintes, levando ao ressurgimento e
ao fortalecimento da Fitoterapia, no mundo todo.
Esta tendência de crescimento tem se verificado em todo o mundo. Na Europa, em
países como a Inglaterra, a Alemanha e a Espanha, medicamentos fitoterápicos são muito
consumidos por grande parte da população. Este crescimento também se observa nas
universidades, por meio do ensino e da pesquisa sobre as plantas medicinais.
Nos Estados Unidos da América este crescimento também ocorre, mas os fitoterápicos
são comercializados como suplementos alimentares.
A Fitoterapia e outras medicinas naturais e práticas complementares podem ser usadas
ao mesmo tempo em que se usa a alopatia, de forma substitutiva ou complementar entre si,
dependendo da natureza da doença, das condições econômicas do paciente, da estrutura dos
serviços de saúde e da capacitação dos profissionais de saúde.
A retomada da Fitoterapia nos últimos tempos ocorreu em função de uma série de
fatores, como os estudos científicos que comprovam a sua eficácia, sua segurança e sua
efetividade; acesso fácil às plantas; credibilidade da população na sua eficácia e na sua
segurança; inserção da Fitoterapia no contexto cultural da população; utilização das plantas
medicinais por meio de formas de preparação simples; crença na baixa possibilidade de
provocar efeitos adversos, etc.
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Contudo, é necessário saber que a ação terapêutica da planta medicinal e do
medicamento fitoterápico é baseada no mesmo princípio do medicamento alopático que é a
cura por meio de princípios ativos que também podem ter efeitos adversos, o que demanda
cuidados. É preciso superar o mito de que planta, por ser natural, não faz mal.
Quando não se utiliza a dose correta, a preparação e a via adequadas, a planta, mesmo
sendo medicinal, poderá causar transtornos ao indivíduo, como uma intoxicação.
4 LEGISLAÇÃO DE FITOTERÁPICOS
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A Resolução de Diretoria Colegiada, RDC 17/2000, da Agencia Nacional de Vigilância
Sanitária (ANVISA) passa a considerar ainda algumas outras classificações para produtos
desta categoria.
A RDC 48/2004, determinou aspectos essenciais para o registro, como a identificação
botânica das espécies vegetais utilizadas, padrão de qualidade e identidade e provas de
eficácia e segurança que validem as indicações terapêuticas propostas.
Tanto na RDC 17/2000, quanto na RDC 48/2004, que tratam do registro de
medicamentos fitoterápicos serão encontradas definições de termos específicos aplicados aos
produtos fitoterápicos.
A Legislação em vigor, recentemente publicada pela Agencia Nacional de Vigilância
Sanitária apresenta algumas modificações bastante significativas.
Conforme disposto da RDC 10/2010, que dispõe sobre a notificação de drogas vegetais
junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), nota-se a intenção de agilizar e
racionalizar o uso e a comercialização de fitoterápicos.
As drogas vegetais relacionadas no Anexo I, da RDC 10/2010 estão os produtos de
venda isenta de prescrição médica destinados ao consumidor final. Sua efetividade encontra-se
amparada no uso tradicional e na revisão de dados disponíveis em literatura relacionada ao
tema.
Outras resoluções também foram recentemente publicadas e complementam a RDC
10/2010 e que versam sobre o registro de medicamentos fitoterápicos, a RDC 14/2010 ANVISA
e a Instrução Normativa N° 05 de 31/03/2010, que lista a bibliografia necessária para embasar
os processos de registro.
Existem ainda as resoluções 88, 89, 90 e 91 de março de 2004 que ainda não foram
revogadas e que versam sobre a lista de referências bibliográficas para a avaliação de
segurança e eficácia de fitoterápicos, sobre uma lista de registro simplificado de fitoterápicos
que incluem 34 preparações, publica o guia de estudo de toxidade pré-clínica para fitoterápicos
e por fim o guia de alterações, inclusões notificações e cancelamento pós-registro de
fitoterápicos, respectivamente.
Além das resoluções anteriormente descritas, se aplicam também ao registro de
fitoterápiocs todas as legislações que normatizam o registro de medicamentos, dentre elas:
RDC 102/2000 que versa sobre as normas de publicidade; RDC 210/2003 que versa sobre a
certificação para Boas Práticas de fabricação e Controle de Qualidade, RDC 001/2005 que
versa sobre o guia para o estudo de estabilidade de medicamentos, entre outras.
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4.1 A Situação do Registro de Medicamentos Fitoterápicos no Brasil
Informações sobre o registro de medicamentos fitoterápicos no Brasil podem ser obtidas
em diversas fontes, sendo as mais utilizadas o site da ANVISA e o Visalegis, de livre acesso.
O levantamento pode ser feito por meio do nome comercial do produto, da substância ativa, do
nome científico da espécie, CNPJ da empresa, número de registrou ou número do processo na
ANVISA. A ANVISA possui o seu cadastro de registro interno, o chamado DATAVISA, que é de
acesso restrito e contem informações sobre a natureza do produto, sua composição, forma
farmacêutica e apresentações registradas além de dados de embalagem entre outras
informações técnicas.
Em recente levantamento realizado por Carvalho e colaboradores foi encontrado um
total de 512 medicamentos registrados sendo que 80 deles são associações e 432 são
considerados medicamentos simples, ou seja, derivados de apenas uma espécie vegetal.
Dentre as formas farmacêuticas cadastradas estão: as cápsulas (47,13%), os comprimidos
(20,62%) e as soluções orais (12,82%), seguidos de xaropes, drágeas, elixires, tinturas e
outras.
Há 162 espécies vegetais que possuem derivados registrados na ANVISA, conforme
dados da tabela abaixo:
Tabela 1: Espécies vegetais com maior número de derivados registrados como fitoterápicos simples:
Espécie vegetal Nº. de registros
Ginkgo biloba (Ginkgo) 33
Aesculus hippocastanum (Castanha-da-India) 29
Cynara scolymus (Alcachofra) 21
Hypericum perforatum (Erva-de-São-João) 20
Glycine max (Soja) 20
Valeriana officinalis (Valeriana) 20
Panax ginseng (Ginseng) 17
Cassia angustifolia,Cassia senna (Sene) 14
Cimicifuga racemosa (Cimicífuga) 14
Mikania glomerata (Guaco) 14
Maytenus ilicifolia (Espinheira-santa) 13
Peumus boldus (Boldo) 13
Fonte: Carvalho e col. 2008
As espécies nativas mais registradas como fitoterápicos simples e com indicação
terapêutica são o Guaco, a Espinheira-Santa e o Guaraná.
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Estão também cadastradas na ANVISA, um total de 119 empresas que são detentoras
do registro de produtos fitoterápicos, concentradas especialmente nas regiões Sul e Sudeste,
seguindo o padrão de desenvolvimento e distribuição muito próximo da indústria de
medicamentos sintéticos.
A classificação a seguir elaborada por Francisco Abreu Mattos, em 1998, classifica de
maneira mais detalhada, a situação do comércio de Fitoterápicos no Brasil.
Os fitoterápicos em uso pela população formam um conjunto de preparações
farmacêuticas complexas e heterogêneas onde se encontram excelentes medicamentos ao
lado de misturas enganosas e, até mesmo prejudiciais. Estes medicamentos podem ser
classificados como:
1. Fitoterápicos legalmente registrados, produzidos industrialmente, cujas informações
sobre sua eficácia, segurança e controle de qualidade, ou seja, cuja "monografia" existente é
completa. Exemplo: Tebonin ou Tanakan medicamento feito à base de extratos padronizados
de Gingko biloba, utilizado como restaurador da circulação sanguínea periférica,
principalmente a nível cerebral.
Gingko biloba
2. Fitoterápicos registrados, produzidos industrialmente, cuja monografia inexiste ou
apresenta dados insuficientes. Exemplo: Preparados de jurubeba (Solanum paniculatum L.) e
numerosos outros análogos.
Solanum paniculatum
3. Fitoterápicos não registrados, produzidos artesanalmente, de forma organizada,
porém não industrial, cujos dados para a preparação da respectiva "monografia" existem, a
exemplo de algumas plantas medicinais já estudadas, como por exemplo: Mikania glomerata
Baker, (guaco) e o Plectranthus barbatus Benth. (boldo brasileiro). Exemplos: Alguns xaropes
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expectorantes, soluções antissépticas de uso local e, "digestivos", preparados por orientação
farmacêutica direta, em Instituições assistenciais, como as Secretarias de Saúde municipais, e
projetos isolados.
Garrafadas e Ervas
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Princípio ativo de medicamento fitoterápico: Substância, ou classes químicas (ex:
alcalóides, flavonóides, ácidos graxos, etc.), quimicamente caracterizada, cuja ação
farmacológica é conhecida e responsável, total ou parcialmente, pelos efeitos terapêuticos do
medicamento fitoterápico.
Medicamento fitoterápico novo: Aquele cuja eficácia, segurança e qualidade, sejam
comprovadas cientificamente junto ao órgão federal competente, por ocasião do registro,
podendo servir de referência para o registro de similares.
Medicamento fitoterápico tradicional: É aquele elaborado a partir de planta medicinal,
de uso alicerçado na tradição popular, sem evidências, conhecidas ou informadas, de risco à
saúde do usuário, cuja eficácia é validada através de levantamentos etnofarmacológicos e de
utilização, de documentações tecnocientíficas ou publicações indexadas.
Medicamento fitoterápico similar: Aquele que contém as mesmas matérias-primas
vegetais, na mesma concentração de princípio ativo ou marcadores, utilizando a mesma via de
administração, forma farmacêutica, posologia e indicação terapêutica de um medicamento
fitoterápico considerado como referência.
Planta medicinal: Espécie vegetal designada pelo seu nome científico e/ou popular
utilizada com finalidades terapêuticas.
Princípio ativo: Substância, ou grupo delas, quimicamente caracterizada, cuja ação
farmacológica é conhecida e responsável, total ou parcialmente, pelos efeitos terapêuticos do
medicamento fitoterápico.
Produto natural: É toda substância encontrada na natureza (vegetal, mineral ou
animal) de origem orgânica ou inorgânica que pode ser utilizada diretamente ou processada
pelo homem.
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Nem sempre os princípios ativos de uma planta são conhecidos, mas mesmo assim ela
pode apresentar atividade medicinal satisfatória e ser usada, desde que não apresente efeitos
tóxicos, agudos ou crônicos, já verificados pela pesquisa, ou até mesmo pelo conhecimento
popular, em alguns casos.
Na Fitoterapia, a planta, ou as suas partes são utilizadas integralmente, com todos os
seus constituintes químicos, conferindo atividade terapêutica um pouco diferente daquela
apresentada pelos princípios ativos isolados, pois pode haver sinergismos que favorecem a
atividade farmacológica da planta. São os chamados fitocomplexos.
As plantas, em geral, possuem uma gama variada e rica de princípios ativos no seu
interior. Algumas plantas podem possuir dezenas de princípios ativos, muitos deles atuando em
interação, o que explica porque certas plantas têm atuação em diversas doenças.
Os princípios ativos podem ser divididos em grupos que têm semelhanças químicas e
estruturais. Há vários grupos de princípios ativos. Estes são resultados do metabolismo
secundário das plantas. No metabolismo primário são produzidas substâncias necessárias às
funções de crescimento, respiração e fotossíntese como os aminoácidos, as proteínas, as
vitaminas, os carboidratos, os lipídios, etc. Os metabólitos primários são amplamente
distribuídos nas plantas. No metabolismo secundário, os metabólitos produzidos são restritos a
certas plantas e tem função de defesa, adaptação ao meio e competição biológica.
A) Metabolismo Secundário
As substâncias medicinais são produzidas pelo vegetal e apresentam funções bem
específicas dentro da planta. Na maioria das vezes, são frutos do metabolismo secundário,
tendo, portanto, função ligada à ecologia da planta, isto é, ao relacionamento da planta com o
ambiente que a envolve.
O metabolismo secundário diferencia-se do primário basicamente por não apresentar
reações e produtos comuns à maioria das plantas, sendo específico de determinados grupos. A
respiração, por exemplo, faz parte do metabolismo primário. Os metabólitos secundários
apresentam algumas características, como:
• Não são vitais para as plantas, na maioria das vezes, como os alcalóides;
• São as expressões da individualidade química dos indivíduos e diferem de espécie para
espécie, qualitativamente e quantitativamente;
• São produzidos em pequenas quantidades.
Além disso, essas substâncias podem estar presentes na planta o tempo inteiro ou só
serem produzidas mediante estímulos específicos. Assim, a regulação do metabolismo
secundário depende da capacidade genética das plantas em responder a estímulos internos ou
externos e da existência desses estímulos no momento apropriado.
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Geralmente, as espécies vegetais apresentam mais de um desses grupos de
substâncias. O que normalmente diferencia as plantas medicinais é que as concentrações
dessas substâncias são maiores, daí o seu emprego na terapêutica. Alguns gêneros e algumas
famílias de plantas apresentam substâncias bem específicas que podem caracterizá-los.
B) A Influência do Ambiente na Produção de Princípios Ativos
A concentração de princípios ativos ou fármacos na planta depende do controle genético
(capacidade inerente à planta) e dos estímulos proporcionados pelo meio. Normalmente, estes
estímulos são caracterizados como situações de “stress”, como excesso ou deficiência de
algum fator de produção para a planta. Uma vez que o vegetal apresenta “competência” para
produzir fármacos, sua concentração de substâncias ativas pode ser alterada por fatores
climáticos, edáficos, exposições a micro-organismos, insetos, outros herbívoros e poluentes.
Dentre os fatores climáticos, a temperatura exerce função muito importante na
sobrevivência do vegetal, por estar mais ligada ao crescimento e ao desenvolvimento da planta.
Espécies pouco adaptadas às temperaturas de uma região terão sérios problemas em produzir
biomassa e princípios ativos, pois essa condição influi no metabolismo primário (respiração e
fotossíntese) e, em consequência, no secundário. Todos os outros fatores climáticos estão
direta ou indiretamente relacionados com a temperatura.
A luz também é de grande importância nos processos fotossintéticos e de indução floral
(fotoperíodo). Algumas plantas, quando expostas à luz solar direta, produzem mais cumarinas,
como o chambá ou chachambá (Justicia pectoralis). Em plantas umbrófilas (de sombra) talvez
este efeito possa ser inverso.
Algumas plantas necessitam de determinado número de horas de luz por dia
(fotoperíodo) para que possam florescer. Assim, as plantas de regiões tropicais precisam de
um número de horas de iluminação inferior a um dado valor (fotoperíodo crítico) ou são
insensíveis, isto é, podem florescer normalmente, independentes desse fator. Já as plantas de
regiões temperadas normalmente necessitam de um fotoperíodo maior que o crítico da espécie,
como a alfazema (Lavandula officinalis), que precisa de um fotoperíodo superior a 12 horas por
dia, por três ou quatro dias.
A importância disto está principalmente na determinação da colheita destas espécies,
pois a alfazema tem mais óleo essencial no início da floração (nas sumidades floridas) e,
também, na reprodução, pois pode haver necessidade da produção de sementes, o que não é
possível sem haver floração e fecundação. Outro aspecto a ser considerado em relação ao
fotoperíodo está no ajustamento da época de plantio. É preciso equilibrar o crescimento
vegetativo com a floração, caso contrário, a indução floral pode ocorrer antes do desejado,
diminuindo a produção de folhas e flôres.
18
O estresse hídrico (deficiência de água no solo) pode promover aumentos na
concentração de princípios ativos (óleos essenciais e alcalóides). No entanto, pode haver
redução da produção de massa verde, o que em determinados limites poderá ser desvantajoso.
É o que ocorre em vinagreira (Hibiscus sabdariffa), cujo teor de ácido ascórbico nas folhas
decresce sob déficit hídrico, assim como a produção de biomassa.
Além dos fatores climáticos, os fatores edáficos (relacionados com o sólo) também são
importantes.
Aqui, serão abordados apenas alguns constituintes químicos. Os referidos grupos não
se excluem, pois são separados ora por características físicas, ora por propriedades químicas
ou atividade biológica.
6.2 Alcalóides
Os alcalóides constituem um grupo heterogêneo de substâncias nitrogenadas (em
forma de aminas), geralmente de origem vegetal, de caráter básico e que apresentam
acentuada ação farmacológica em animais.
No corpo humano, atuam no sistema nervoso central (calmante, sedativo, estimulante,
anestésico e analgésico). A morfina extraída da papoula (Papaver somniferum) é um
anestésico. A cafeína, do café e do guaraná, é um estimulante. A hiosciamina, presente na
trombeteira (Datura stramonium), é exemplo de analgésico. Na trombeteira ainda podem ser
encontrados outros alcalóides que podem ser tóxicos e cujo antídoto é um outro alcalóide de
uma planta brasileira, a pilocarpina, encontrada no Jaborandi (Pilocarpus microphilus), usado
no tratamento do glaucoma.
Alguns alcalóides podem ser cancerígenos e outros, antitumorais. Os alcalóides
pirrolizidínicos, presentes no confrei (Symphytum officinal L.), são exemplos de causadores de
câncer. A vincristina presente numa planta chamada boa noite (Chantarantus roseus) é um
exemplo de um alcalóide com ação antitumoral. Dos cerca de 60 alcalóides presentes na boa
noite, destacam-se a vincristina e a vimblastina pelo seu uso contra alguns tipos de leucemia.
Geralmente, as plantas que têm alcalóides podem ser tóxicas, se usadas em
quantidades maiores ou de forma inadequada. Os alcalóides foram os primeiros princípios
ativos isolados das plantas. Em 1803, o alemão Sertarmer isolou a morfina.
20
Papoula Jaborandi
6.3 Compostos Fenólicos
Considera-se compostos fenólicos, numa definição genérica, todas as estruturas que
não possuem nitrogênio, possuem pelo menos um núcleo benzênico com uma ou mais
hidroxilas livres ou fazendo parte de ésteres, éteres ou heterosídeos. Um exemplo de composto
fenólico é o ácido salicílico, isolado pela primeira vez da casca do salgueiro (Salix alba), possui
ação antisséptica, analgésica e anti-inflamatória. É utilizado na medicina alopática, sob a forma
de um derivado, o ácido acetilsalicílico.
Salgueiro
6.4 Compostos Inorgânicos
São constituintes normais dos vegetais que formam as cinzas ou resíduos, após a
retirada da matéria orgânica. Os mais importantes são os sais de cálcio e de potássio. Os sais
de potássio apresentam propriedades diuréticas, principalmente se acompanhados de
saponinas e flavonóides, com capacidade de eliminar o sódio do corpo juntamente com a água,
além de expulsar substâncias residuais acumuladas na circulação sanguínea. Os sais de cálcio
contribuem para a formação da estrutura óssea e para a regulação do sistema nervoso e do
coração, proporcionando ao paciente maior resistência às infecções. Os sais de silício têm
importância no fortalecimento de tecidos conjuntivos, especialmente dos pulmões. Aumenta a
resistência à tuberculose, além de fortalecer unhas, pele e cabelos.
21
6.5 Glicosídeos ou Heterosídeios
São compostos orgânicos, geralmente de origem vegetal, que são compostos por uma
porção de açúcar ligada a um agrupamento não-açúcar. O açúcar é chamado porção glicona,
enquanto que a porção não-açúcar é chamado aglicona ou genina. Esta é a responsável pela
ação terapêutica. Têm gosto amargo. Há vários tipos de glicosídeos como os cardioativos, os
alcoólicos, os cianogenéticos, os antraquinônicos, os flavonóides, os saponínicos, os
cumarínicos, etc.
6.6 Antracênicos
Fármacos de origem vegetal que contém heterosídeos antraquinônicos (antracênicos).
São empregados desde a antiguidade como laxativos e purgativos.
Dentre as drogas mais importantes utilizadas na terapêutica, podemos citar o ruibarbo
(Rheum palmatum), a cáscara sagrada (Rhamnus purshiana), a sene (Cassia angustifolia, C.
senna, Senna alexandrina) e a babosa (Aloe vera, A. barbadensis).
22
6.8 Saponinas
Também são heterosídios. Sua característica marcante é a de formar espuma quando
colocadas em água. São utilizadas para a síntese de cortisona (anti-inflamatório) e de
hormônios sexuais.
Alta concentração de saponinas na corrente sanguínea pode ser perigosa, pois pode
provocar hemólise, devido à desorganização das membranas das hemácias. São laxativas
suaves, diuréticas, digestivas, anti-inflamatórias e expectorantes. Têm ação irritativa para as
mucosas do aparelho digestório, provocando vômito, cólicas e diarréias. O fato das saponinas
auxiliarem na absorção de certos medicamentos faz com que as plantas que as contêm
possam ser utilizadas em combinações com outras, nos chás. Um exemplo da presença de
saponinas: folhas de Carqueja (Baccharis trimera) e flôres da Calêndula (Calendula officinalis).
Carqueja Calêndula
6.9 Flavonóides
São heterosídeos com 15 carbonos. São conhecidos mais de 2000 flavonóides, sendo o
maior grupo de compostos fenólicos naturais encontrados na natureza Seu nome deriva do
termo em latim flavus, que significa amarelo, embora a flavona pura seja incolor.
O grupo é conhecido pelos seus efeitos anti-inflamatórios, antialérgicos e vasoprotetores
(tratamento de tromboses). Rutina e hesperidina são importantes flavonóides empregados em
tratamentos de fragilidade capilar. Exemplos da presença de flavonóides são a Carqueja
(Baccharis trimera), ginco (Ginkgo biloba L.), o maracujá (Passiflora incarnata) e espécies do
gênero Citrus.
Digitoxina Dedaleira
6.11 Glicosídeos Cianogenéticos
Por hidrólise, liberam ácido cianídrico ou prússico. O ácido cianídrico liberado no
estômago pela ação do suco gástrico bloqueia a citocromooxidase, produzindo a morte por
anóxia. Exemplo deste glicosídeo é a linimarina presente na parte mais externa da mandioca
(Manihot esculenta). Daí a necessidade de se retirar as cascas da raiz, antes de usá-la. As
raízes da mandioca são moídas na presença de calor, antes de serem ingeridas, pela facilidade
com que o ácido cianídrico é inativado, quando submetido ao calor.
Ácido cianídrico
Mandioca
24
6.12 Gomas e Mucilagens
GOMAS são exudatos patológicos de órgãos vegetais que sofreram algum tipo de
traumatismo e cuja formação está relacionada com a destruição das membranas celulares.
As gomas têm diversas aplicações em farmácia. Internamente são usadas como
laxativas por causarem um aumento do peristaltismo intestinal. Mas suas principais aplicações
são no preparo de emulsões, pastilhas, como fixador para cabelos, pós compactos, cremes e
outros produtos cosméticos. Algumas gomas são também empregadas na indústria de
alimentos no preparo de confeitos, geleias, xaropes e maionese.
São utilizadas pela sua grande capacidade de retenção de água formando soluções
mais ou menos viscosas, por possibilitar o inchamento de diversos produtos alimentícios, por
estabilizar suspensões ou espuma de cerveja, etc. Em geral são indigeríveis pelo organismo
humano, ainda que uma parte seja degradada por micro-organismos do intestino. Entre as
gomas oficiais de interesse econômico e industrial estão: Goma arábica (ou acácia), goma
adragante (ou alcatira) e goma caraia (ou indiana).
Gomas
MUCILAGENS são exsudatos "fisiológicos" que se formam naturalmente durante o
desenvolvimento do vegetal sem precisarem de estímulos externos para a sua formação.
Possem efeito laxativo, lubrificante e, ao mesmo tempo, aumenta o volume no interior
do intestino, estimulando seus movimentos peristálticos. Também são muito eficientes nos
casos de tosses ocasionadas pela irritação das mucosas do aparelho respiratório, contribuindo
ainda para aumentar a secreção de muco. Exemplo desta atividade se encontra na Hortelã de
folha grossa (Plectrantus amboinicus). Ainda são utilizadas em ferimentos na pele e nas úlceras
gástricas.
Hortelã
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6.13 Óleos Essenciais
Os óleos essências de plantas são fonte de inúmeros compostos presentes em diversos
produtos utilizados no nosso cotidiano, de essências aromatizantes a temperos, remédios e
medicamentos.
O grande número e a diversidade de substâncias incluídas neste grupo de princípios
ativos é que determinam a ampla variedade de ações farmacológicas. As propriedades dos
óleos são variadas: antivirótico, antiespasmódico, analgésico, bactericida, cicatrizante,
expectorante, relaxante, vermífugo, etc. O mentol da Hortelã (Mentha piperita) tem ação
expectorante e antisséptica; o timol e o carvacrol encontrados na Hortelã da folha grossa
(Plectrantus amboinicus) e no Alecrim-pimenta (Lippia sidoides) são antissépticos; o eugenol do
Cravo-da-índia (Eugenia coryophyllata) é um anestésico local e analgésico; e o ascaridol,
presente na Erva-de-santa maria (Chenopodium ambrosioides), é vermífugo.
6.14 Taninos
O nome tanino designa um grupo de compostos químicos polifenólicos, de alto peso
molecular, de origem vegetal, capazes de precipitar proteínas em solução, provocando na pele
íntegra a sensação de adstringência e na pele sem vida um fenômeno conhecido por
curtimento, que a transforma em couro.
Barbatimão
26
Em farmácia são empregados, principalmente, pela sua ação adstringente, o que os torna úteis
como agentes hemostáticos, antidiarréicos, cicatrizantes etc.
Os taninos são encontrados no Barbatimão (Stryphnodendron adstringens), na
Espinheira santa (Maytenus ilicifolia), entre outras plantas.
7.1 Coleta
Na coleta, precisamos prestar atenção a
diversos fatores que interferem na maior ou menor
quantidade de princípios ativos, como o estágio de
desenvolvimento da planta, o órgão da planta, a
época do ano e a hora do dia.
Quanto às partes da planta, as
recomendações gerais para sua coleta são as
seguintes: cascas e entrecascas devem ser colhidas quando a planta já tiver botado flôres. As
flôres, quando do início da floração. Frutos e sementes devem ser colhidos maduros. Quanto
às raízes, elas devem ser colhidas quando a planta estiver adulta e os talos e as folhas, antes
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da planta botar as flôres. Contudo, o ideal seria que cada planta tivesse estudos conclusivos
sobre a melhor época de coleta.
Para que se obter matéria-prima de boa qualidade, alguns cuidados devem ser
observados:
• Quanto à sanidade da planta e sua qualidade fitoquímica: não colher plantas velhas ou
doentes, comidas por insetos ou com ovos destes. Não coletar plantas em lugares
contaminados. Colher a planta bem madura e bem viva. Em se tratando da coleta de partes
específicas, saber a idade e a época adequadas para a sua coleta.
• Quanto ao momento adequado: não colher as plantas em dias de chuva, úmidas de orvalho
ou sob o sol forte. Coletar preferentemente de manhã, cedo ou à tardinha.
• Quanto à preservação das espécies: não retirar todas as folhas de um galho. No caso de
cascas, recomenda-se retirar pequenos pedaços apenas de um dos lados da planta de cada
vez. Se retirar grandes pedaços, circundando o tronco, poderá provocar a morte da planta.
• Quando a coleta de plantas ocorrer em local público ou de forma extrativista, deixar sempre
algumas plantas de cada espécie, para que possam crescer e multiplicar.
• Quanto à acomodação das plantas coletadas: para a coleta, usar cestos ou caixas de
papelão, tomando o cuidado para não amontoar as plantas ou amassá-las e levar as plantas
coletadas o mais rápido possível para a secagem, sem deixar que “esquentem ou
escureçam”.
7.2 Triagem
A triagem é uma operação preliminar a que
todas as drogas vegetais devem ser submetidas antes
da transformação em formas medicamentosas. Sua
finalidade é eliminar tudo que possa contaminar o
material vegetal, fazendo baixar a sua atividade
farmacológica, por efeito de diluição, ou alterar esta
atividade.
A triagem pode ser feita por vários processos, conforme a natureza da droga. Em geral
a triagem é feita à mão. A área para a triagem e seleção deve obedecer a alguns parâmetros,
como por exemplo:
- Localização da área dentro da planta baixa da empresa;
- Dimensões e mobiliário;
- Material específico para a seleção das partes adequadas, como exemplo tesouras,
podões e facas.
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- Procedimentos de limpeza e descontaminação;
- Condições de ventilação e iluminação;
- Equipamentos de proteção individual (EPI) para funcionários.
Após a obtenção das plantas medicinais, normalmente o material pode seguir três
caminhos: uso direto do material fresco, extração de substâncias ativas ou aromáticas do
material fresco e secagem do material fresco. Este último destino é o que requer mais atenção,
por preservar os materiais, possibilitando o uso das plantas a qualquer tempo, dentro dos
prazos normais de conservação.
7.3 Secagem
Em sua maioria, as plantas medicinais são comercializadas na forma dessecada,
tornando o processo de secagem fundamental para a qualidade da matéria prima vegetal.
A secagem é importante para impedir que o material se estrague, pois a redução do teor
de água dificulta a ação das enzimas que inativam os princípios ativos e a proliferação dos
micro-organismos.
A secagem, em virtude da evaporação da água contida nas células e nos tecidos das
plantas, reduz o peso do material. Por essa razão, ela promove aumento percentual de
princípios ativos em relação ao peso do material. Quando uma planta é seca, suas folhas
perdem de 20 a 75% de seu peso. As cascas perdem de 45 a 65%. As raízes perdem de 25 a
80% e as flores, em geral, perdem entre 15 a 80%.
A secagem pode ser conduzida em condições ambientais (secagem natural) ou com o
uso de estufa ou secadores, etc. (secagem artificial).
A secagem natural é um processo lento. Este processo, de uso doméstico, é
recomendado para regiões que apresentam condições climáticas favoráveis, como: boa
ventilação, baixa umidade relativa do ar e altas temperaturas.
Cuidados importantes na secagem natural:
Quanto ao momento de iniciá-la: a secagem deve ser iniciada imediatamente após a
coleta, pois quando as plantas são coletadas suas enzimas entram em ação e modificam as
moléculas dos princípios ativos, podendo torná-las inativas. Daí a necessidade da estabilização
dos princípios ativos
Quanto à limpeza das partes da planta: as raízes, as cascas e as folhas devem ser
lavadas. Porém se nelas houver óleos essenciais, a lavagem deve ser leve. O ideal é lavar a
planta um ou dois dias antes de coletá-la. As flôres não devem ser lavadas.
Quanto ao local de secagem: este deve ser limpo, com boa ventilação, sem
contaminação de poeira, insetos e animais.
29
Quanto à exposição ao sol: em geral, as plantas devem ser secas à sombra. No caso
das cascas e raízes que foram lavadas e que absorveram água, elas podem ficar um pouco ao
sol.
Quanto ao manuseio durante a secagem: as plantas devem ser secas separadamente e
identificadas; em vasilhames que permitam uma boa aeração; cortadas em pequenos pedaços;
dispostas em camadas finas, que devem ser revolvidas frequentemente para acelerar a
secagem.
30
7.4 Operações Mecânicas de Divisão
Estas operações têm por finalidade, reduzir mecanicamente a droga, em partículas ou
fragmentos de pequenas dimensões, utilizando-se meios adequados à natureza do material
que se pretende dividir. O grau de divisão ao qual se submete uma droga varia de acordo com
o fim a que se destina, e ainda com a natureza desta.
Algumas regras gerais podem ser estabelecidas:
• As drogas que serão administradas sob a forma de pós, pílulas, cápsulas ou
suspensões, devem ser fragmentadas o máximo possível, para possibilitar processos
adequados de moagem;
• Quanto mais lenhosa a estrutura da droga, maior deve ser o grau de divisão para
viabilizar processos de extração, ou seja, melhor penetração do solvente nas células
que compõem o material vegetal;
• Drogas com substâncias ativas pouco solúveis devem ser mais finamente divididas do
que aquelas com substâncias ativas mais solúveis.
7.4.2 Pulverização
A pulverização ao contrário da divisão grosseira, reduz o material vegetal à partículas de
tamanho determinados e previamente estabelecidos. A pulverização implica não só na
fragmentação do material a dividir, como também na calibração das partículas obtidas.
A redução das drogas ao estado de pó é uma operação complexa e pode ser dividida
em três fases: operação preliminar, operação principal e operação acessória.
31
A redução definitiva do tamanho de partículas só deve ocorrer no momento prévio às
fases de extração ou de mistura como, por exemplo, no caso de partes ou órgãos ricos em óleo
essencial.
A moagem é uma operação que libera calor (exotérmica) e cuidados diferenciados tem
que ser adotados, principalmente quando as substâncias contidas na droga vegetal são
termolábeis.
32
Este moinho é construído segundo o princípio dos martelos oscilantes, funcionando com
até oito martelos presos a um disco encaixado a um eixo central movido por motor, e a
moagem ocorre por contusão e esmagamento do material e também por atrito entre as
partículas formadas dentro da câmara de moagem. Da mesma maneira que os moinhos de
facas o material moído atravessa um tamis para sair da câmara e previamente homogêneo.
7.5 Tamisação
A tamisação é uma operação de separação de partículas sólidas por meio de malhas de
um tecido apropriado, denominado Tamis. A tamisação pode ser considerada uma operação
acessória à pulverização, determinando a tenuidade e homogeneidade dos pós.
34
*Pesar o pó retido no tamis e o que atravessa o tamis.
Existem pós que precisam ser escovados para que passem pelo tamis.
Ao realizar a pulverização é necessário proceder a tamisação, no decorrer do processo,
pois a variação histológica das drogas vegetais permite obter partículas de tamanho variado,
uma vez que comparativamente os tecidos celulósicos são moídos mais facilmente podendo
atingir menor tamanho, que os tecidos lignificados. A tamisação selecionará a parte do pó que
deverá retornar ao moinho para alcançar o tamanho desejado.
7.6 Extração
É um processo tradicional, milenar, utilizado para extrair do material vegetal, as
substâncias ou conjunto de substâncias com utilidade terapêutica deixando o resíduo ou
marco, que não tem utilidade e pode ser até inconveniente, em muitos casos.
A proporção entre droga vegetal e água pode variar, conforme a espécie e a sua quantidade
de ativos. De maneira geral pode-se usar uma concentração de 5g de droga seca para 100ml
de água fervente.
B - Decocção
A decocção pode ser realizada com a planta fresca ou com a droga vegetal, colocando-
as em contato com a água fria e aquecendo-se até a ebulição e mantendo-se o aquecimento
por alguns minutos. O resultado deste processo é chamado decocto. Esta técnica é utilizada
para plantas e drogas cujas partes usadas são lenhosas e, portanto, dificultam a liberação das
substâncias ativas e só pode ser aplicada quando estas substâncias não são termossensíveis.
A decocção também pode ser feita sob refluxo, com a recuperação do solvente
utilizado.
C - Maceração
A maceração é o processo de extração onde a droga, em geral pulverizada é deixada
em contato com um volume relativamente grande de solvente, até que as substâncias solúveis
36
se distribuam uniformemente em toda massa do líquido e ocorra o equilíbrio osmótico entre o
suco celular e o solvente. Quando o equilíbrio é atingido não há mais difusão e a extração
cessa. É fácil deduzir que quanto maior a quantidade de material a ser extraída por este
processo, mais longa e demorada será a extração e grandes quantidades de solventes são
necessárias. A solução extrativa é denominada macerado. O tempo de extração é variável,
podendo ir de horas até dias.
Este processo não leva ao esgotamento total da droga e também depende de fatores
ligados à droga vegetal, a granulometria, teor de umidade, concentração e seletividade do
solvente e do grau de intumescimento das células.
Existem dois tipos de maceração:
1. Estática: onde a droga fica em contato com o solvente por vários dias, com agitação
ocasional.
2. Dinâmica: a droga vegetal e o solvente entram em contato e são mantidos em agitação
constante, em extratores com ou sem aquecimento, que em geral utilizam o movimento
de rotação, melhorando a eficiência da extração e diminuindo o tempo do processo.
Vale lembrar que o processo de maceração deve ocorrer em recipientes ou extratores
confecionados de material inerte, como vidro, inox ou mesmo PVC.
As principais desvantagens do processo de maceração são: a lentidão do processo e a
possibilidade de não alcançar o esgotamento total da droga vegetal.
Para proceder ao esgotamento total do material vegetal, podem ser utilizadas prensas,
com sistema hidráulico ou mecânico, que espremem a droga umedecida com solvente, após o
tempo de extração, aumentando o rendimento.
D - Percolação
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Consiste em submeter uma droga vegetal pulverizada, sujeita a uma maceração prévia,
para o umedecimento e início da difusão das substâncias extraíveis para fora da célula,
realizado em um recipiente adequado fora do extrator.
Após o umedecimento, a droga é acondicionada em um percolador ou lixiviador de
formato cônico, confeccionado em material inerte: inóx, vidro ou PVC.
Ao conjunto adiciona-se quantidade suficiente de solvente para cobrir droga e a ação
do solvente, se processa no sentido vertical, de cima para baixo. O mecanismo deste processo
extrativo se resume na interação entre duas forças que atuam no líquido e na droga, a pressão
hidrostática da coluna de líquido (no sentido da gravidade) e a capilaridade (em sentido
contrário). O resultado deste processo extrativo é chamado lixiviado ou percolado.
O abastecimento de solvente deve ser contínuo no sistema, após o início da percolação
que será finalizada quando do completo esgotamento da droga que pode ser verificado pelas
características organolépticas do lixiviado, que não deve mais apresentar cor, cheiro ou sabor
da droga que está sendo extraída. Ou ainda, quando pequena quantidade de lixiviado ao ser
evaporado, não apresente mais quantidade apreciável de resíduo.
Trata-se de um processo dinâmico, ao contrário da maceração, pois, o solvente está
em constante movimento através da droga. A velocidade de escoamento do solvente deve ser
tal que a cada 24 horas, sejam obtidos em lixiviado ou percolado 1 1/2 vezes o peso de droga
colocado no aparelho. A percolação pode ser simples ou em série (repercolação).
A percolação simples apresenta como desvantagem a utilização de grande quantidade
de solvente, para possibilitar o esgotamento dos ativos, resultando na necessidade da
concentração do grande volume obtido, na maior parte das vezes utilizando-se a evaporação
do solvente, ou seja, com uso de calor, o que pode alterar a composição química do extrato.
A repercolação ou percolação em série, ou ainda percolação cíclica, permite a utilização
da mesma quantidade ou volume de solvente para extrair várias porções de droga, utilizando-
se uma corrente de solvente sob pressão (Diacolação) ou vácuo (Evacolação).
38
E - Turbólise
A turbólise é um processo extrativo, no qual se utiliza um turbolisador, onde a droga
vegetal submersa no solvente é triturada por um rotor-estator, liberando e dissolvendo os
conteúdos celulares. Este processo de extração é exotérmico, sendo necessário o controle
constante da temperatura e quando necessário proceder ao resfriamento.
O rendimento em geral é alto, devido à redução da droga vegetal em partículas muito
pequenas e também devido à contínua homogeneização entre solvente e droga.
Dentre todos os métodos apresentados a turbólise é o mais utilizado, em qualquer
escala e para as mais diferentes drogas vegetais.
Algumas desvantagens deste método podem ser
apontadas:
A geração de calor durante o processo, restringindo-se
os solventes utilizados; a difícil separação da solução extrativa
por filtração e dificuldade de utilização para matérias-primas
muito duras ou lignificadas, como caules, raízes, rizomas e
cascas.
39
Em geral são utilizadas misturas de álcool e água em diferentes proporções, pois estes
compostos extraem a maioria dos compostos polares presentes nas plantas, como por
exemplo: taninos, flavonóides, terpenos, alcalóides, entre outros.
Solventes de menor polaridade podem ser utilizados para a extração de substâncias
apolares, como óleos e ácidos graxos.
A tabela abaixo apresenta diferentes solventes para a extração de diferentes classes de
compostos químicos presentes nas plantas.
Classes químicas Solventes
Óleos volateis Vapor de água, éter, diclorometano.
Cumarinas Água, etanol, diclorometano, acetato de etila.
Lignanas Diclorometano, metanol, etanol, butanol.
Flavonóides Clorofórmio, diclorometano, acetato de etila,
acetona, metanol, água, ácidos.
Taninos Metanol, água e acetona.
Quinonas Clorofórmio, acetona, metanol.
Heterosídeos cardioativos Água, etanol, metanol, clorofórmio.
Saponinas Água, etanol, metanol, diclorometano,
clorofórmio, butanol.
Alcalóides Água, clorofórmio, diclorometano, hexano,
ácidos e bases.
7.7.2 Temperatura
A temperatura influencia o processo extrativo de maneira decisiva, pois pode facilitar a
dissolução das substâncias que estão sendo extraídas, mas também, pode acelerar a
decomposição de substâncias termossensíveis e causar a perda de substâncias voláteis.
Exemplo:
Efeito da temperatura sobre o rendimento do processo de extração de alcalóides
Parâmetros Experimento 1 Experimento 2 Experimento 3
Teor alcoólico (%) 50 50 50
Tempo de extração (h) 1 1 1
Temperatura (ºC) 40 60 80
Rendimento (%) 2 2,3 1,4
40
Neste exemplo pode-se observar que não há uma correlação positiva entre um
aumento da temperatura e o rendimento do processo de extração de alcalóides.
7.7.5 Agitação
A eficiência do processo de extração muitas vezes depende da agitação, pois esta
variável age no equilíbrio de saturação dos solventes, aumentando o rendimento do processo.
41
7.8 Tipos de Extratos
Extratos são preparações farmacêuticas sólidas obtidas pela concentração, das
soluções resultantes do esgotamento de drogas por um solvente, como água, álcool
(necessariamente álcool de cereais, para o consumo humano) éter, acetona e outros solventes.
Extratos obtidos com outros líquidos extratores impróprios para consumo humano terão
que ser concentrados, para total eliminação do líquido extrator.
OBSERVAÇÃO:
As preparações farmacêuticas fitoterápicas, na forma líquida, que não satisfazem as
definições ou conceitos oficiais, devem ser designadas genéricamente como soluções
extrativas.
Para utilização destas preparações em formulações, tanto de uso interno como de uso
externo, são necessárias informações detalhadas sobre a forma de preparo, a concentração da
droga, a concentração de ativos, expressa em ativos, ou em marcadores e a quantidade
necessária para uso terapêutico recomendado.
7.8.1 Tinturas
As tinturas são soluções extrativas alcoólicas ou
hidroalcoólicas preparadas a partir de uma droga vegetal
ou animal. As tinturas podem ser simples ou compostas,
conforme o número de drogas vegetais que lhe deu
origem.
Soluções obtidas pela diluição de extratos
dessecados ou concentrados em misturas hidroalcóolicas também são denominadas tinturas.
As tinturas podem ser preparadas por maceração ou por percolação à temperatura
ambiente. As tinturas simples recebem o nome da droga a partir da qual foram obtidas. As
tinturas compostas têm nomes especiais, como por exemplo, a tintura de ópio canforada,
também denominada elixir paregórico.
O teor alcóolico das tinturas pode variar de acordo com a solubilidade dos ativos e
geralmente isto está definido em monografia farmacopeica.
42
A relação de concentração droga/solvente, em geral é
determinada de acordo com a atividade da droga, ou seja,
para drogas muito ativas (drogas heróicas), como por
exemplo, aquelas ricas em alcalóides, a proporção droga-
solvente é de um 1:10, ou seja, 1 parte de droga para 10
partes de solvente, ou seja 10%.
Para as drogas, pouco ativas (não heróicas), a relação
é de 1:5, uma parte de droga para 5 partes de solvente, ou
seja 20%.
43
Os extratos fluídos podem ser padronizados, em termos de concentração do solvente e
teor de constituintes.
44
7.8.4.1 Aspersão ou Nebulização ou Atomização (Spraydryer)
- Aquecedor de ar;
- Bico ou agulha de atomização;
- Câmara de spray, ou de secagem;
- Ventilador;
- Ciclone;
- Frasco coletor.
45
- Obtenção de granulados;
- Dispersão de sólidos em polímeros solúveis em água;
- Complexação de substâncias com ciclodextrinas;
- Alteração do polimorfismo de drogas;
- Preparação de pós para aerossóis;
- Encapsulamento de produtos voláteis (microencapsulação).
O processo de nebulização deve ser realizado para soluções que contenham em média
20% de sólidos solúveis ou suspensos, para tanto, pode ser necessário a adição de adjuvantes
para alcançar este percentual e tornar possível o processo. Das substâncias que podem ser
adicionadas, o mais utilizado é o dióxido de silício (SiO2), pó amorfo, insolúvel em água, e que
absorve grande quantidade de umidade sem alterar-se de forma significativa, funcionando como
agente absorvente.
Os extratos secos obtidos por spray-drying podem ser facilmente manipulados, apesar
de serem muito higroscópicos. A incorporação de adjuvantes tecnológicos como amido,
sacarose, lactose, maltodextrina ou dióxido de silício coloidal aumentam a estabilidade dos
extratos e os torna mais adequados para manipulação, mas devem ser igualmente conservados
em recipientes herméticamente fechados sem presença de desidratantes e ao abrigo da luz.
Em relação à solubilidade dos extratos pode-se optar pela adição de maltodextrina, para
extratos solúveis em água e a adição de amido para torná-los insolúveis.
A adição de corantes também pode ocorrer no sentido de melhorar o aspecto do extrato
seco e consequentemente a sua aceitação. Os corantes mais utilizados são os caramelos, e
nos extratos de frutas aqueles que correspondem à cor original das frutas.
7.8.4.2 Liofilização
Liofilizar é desidratar um produto congelado pelo vácuo, sublimando o gelo. A sublimação
consiste em passar do estado sólido para o gasoso, sem passar pelo líquido. O ponto
fundamental do processo está em evitar que o gelo seja fundido durante a operação, que é
realizada abaixo do ponto triplo. O ponto triplo representado esquematicamente é o ponto de
equilíbrio entre pressão e temperatura onde a água coexiste em seus três estados: o líquido, o
sólido e o gasoso. Portanto, o ideal é trabalhar em condições de temperatura e pressão abaixo
do ponto triplo para que se obtenha a sublimação do gelo sem a sua fusão. Dois pontos são
muito importantes no processo de liofilização: o congelamento prévio do material a ser liofilizado
e a rápida sublimação do gelo formado. Para alcançar uma redução da temperatura de maneira
uniforme e rápida o produto a congelar deve ser acondicionado em frascos de pequenas
dimensões, em pequeno volume, entretanto em grande superfície. Para um rápido
46
congelamento o refrigerante mais utilizado é o gelo seco (neve carbônica) em conjunto com
álcool ou acetona, ou também nitrogênio-líquido, atingindo a temperaturas de -86°C.
47
7.9.1 Padronização feita pela relação droga/extrato
A padronização de extratos pode ser feita pelo estabelecimento de uma relação
droga/extrato, ou seja, quanto em peso foi inicialmente utilizado de planta seca para fornecer a
quantidade determinada de extrato seco.
Em geral, um extrato líquido sem a adição de adjuvantes ao ser levado à secagem por
evaporação, resulta em um resíduo seco em torno de 30%, ou seja, estão presentes no extrato
líquido obtido cerca de 30% de sólidos solúveis. Portanto a relação droga/extrato é de 3:1, ou
seja, são necessários 3kg de planta seca para obter-se 1kg de extrato seco. Existem plantas
cuja relação droga/extrato é diferente, e esta variação pode ir de 5 a 50%.
Exemplos:
Para uma planta que fornece 50% de resíduo seco a relação é de 2:1, ou seja, são
necessários 2 kg de planta seca para a obtenção de 1 kg de extrato seco.
Para plantas que fornecem 5% de resíduo seco a relação é de 20:1, ou seja, são
necessários 20 kg de planta seca para a obtenção de 1 kg de extrato.
Um exemplo bem conhecido é o do extrato de Ginkgo biloba, cujas folhas são extraídas
por um longo e complexo processo, originando o extrato padronizado conhecido como EGB 761.
A proporção entre as folhas e o extrato final é relatada como sendo de 50:1 (2%), demonstrando
quão concentrados estão os ativos, em relação a quantidade original das folhas.
Como quase sempre ocorre a adição de adjuvantes com o objetivo de melhorar as
características tecnológicas do extrato, estas proporções podem ser alteradas, em geral para
menos, ou seja, os excipientes “diluem” a concentração de ativos no extrato seco.
Cuidados têm que ser tomados, pois há alguns absurdos nos extratos secos
comercializados, como por exemplo, extratos 1:2, isto é, 1kg de planta originaram 2Kg de
extrato seco, o que seria impossível acontecer após os processos de extração e concentração,
um exemplo claro de grande adição de adjuvantes e diluição excessiva dos ativos.
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a garantia de produzir os mesmos efeitos. Para que este extrato apresentasse resultados
similares aos do EGB761, seria necessário administrar ao paciente, doses de 6 a 30 vezes
maiores que a estabelecida.
Muitos exemplos como estes são encontrados no comércio de extratos vegetais,
agravado pelo fato da adulteração por sofisticação, ou seja, pela adição, na droga ou no extrato
de substâncias naturais isoladas ou substâncias sintéticas de estrutura química semelhante à
dos princípios ativos contidos originalmente; adulterações estas que só podem ser verificadas
através do doseamento químico, utilizando-se, metodologias mais sensíveis e sofisticadas como
a CLAE (Cromatografia Líquida de Alta Eficiência).
Embora a técnica de doseamento de ativos ou de marcadores seja a mais segura e
aceita atualmente, há muitos problemas e dificuldades para sua efetivação. Uma delas está na
dificuldade em obter-se padrões isolados e puros que possam ser utilizados de maneira rotineira
em análises de controle de qualidade, outro problema é que há muitas plantas que mesmo
sendo conhecidas e estudadas não se sabe ainda quais são seus ativos.
50
8.1 Formas farmacêuticas líquidas
As formas farmacêuticas líquidas podem ser preparadas a partir de tinturas e extratos
vegetais fluídos, moles ou secos. Os extratos moles são os pouco empregados, pois
apresentam dificuldades na manipulação, conservação e padronização.
As formas fitoterápicas líquidas apresentam algumas vantagens como: homogeneidade
do produto, facilidade no ajuste da dose, adsorção rápida e facilidade de administração. Como
desvantagens, devido à presença de grande variedade e quantidade de substâncias químicas, a
formação de precipitados, menor estabilidade físicoquímica, comparado às formas sólidas e em
alguns casos a necessidade da adição de adjuvantes para mascarar o sabor desagradável.
Na composição de uma forma fitoterápica líquida fazem parte, além do extrato vegetal, o
veículo e os adjuvantes.
- Veículos
O veículo é o componente presente em maior quantidade na fórmula, chamado também
de solvente. Além do fator solubilidade é necessário estudar em relação ao solvente,
características como: transparência, baixa toxicidade, viscosidade, compatibilidade com os
outros componentes da formulação, palatabilidade, odor, cor e custo. A tabela abaixo apresenta
alguns dos principais solventes utilizados nas formas farmacêuticas líquidas.
Tabela 3: Principais solventes e suas características.
Solvente Vantagens Desvantagens
Água purificada Solvente universal, inerte e de baixo Passível de contaminação e
custo. reações de hidrolise
Álcool etílico Pode ser utilizado juntamente com a Restrição para uso interno,
água em diferentes proporções concentração máxima permitida
para uso pediátrico 0,5% e
adultos 2% (RE 01/2002
ANVISA).
Glicerina Miscível em água e álcool tem ação Aquecida acima de 150oC,
umectante, e atividade antimicrobiana decompõem-se produzindo
em concentração superior a 20%. acroleína; em excesso pode ter
efeito laxante; é higroscópica.
8.1.1 Xaropes
São soluções aquosas com elevada concentração de açúcar (sacarose ou outros
açúcares). Geralmente contem cerca de 2/3 do seu peso em sacarose (de 60 a 80% p/v), no
entanto soluções com 45% p/v já são consideradas xaropes. Os xaropes são formulações
multidose, de pH entre 4,0 e 8,0 e são soluções saturadas hipertônicas. Portanto, xaropes que
contem somente sacarose e água, não precisam de conservantes.
Entretanto, quando esta hipertonicidade for diminuída, pelo aumento de água ou adição
de outro constituinte a adição de conservantes é necessária.
Entre os mais utilizados estão: ácido benzóico, benzoato de sódio e combinações dos
parabenos.
Os principais componentes dos xaropes são: sacarose, conservantes, aromatizantes,
corantes, solventes, espessantes, estabilizantes e água. O xarope que contem açúcar e água,
somente deve ser preparado à quente. A temperatura não pode ultrapassar a 80°C, para não
ocorrer a hidrólise da sacarose, em glicose e frutose, denominados de açúcares invertidos.
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A decomposição da sacarose favorece a contaminação microbiana e também a
fermentação.
Os xaropes são soluções hipertônicas, ou concentradas e podem cristalizar, muito
facilmente. Este efeito pode ser reduzido pela presença de polióis, como sorbitol e glicerina, em
concentrações de 15 a 30%.
Os xaropes fitoterápicos podem ser preparados a base de extratos fluídos e tinturas, em
geral a concentração de 10%. Como por exemplo: Xarope de Agrião (Nastartium officinale), de
Alho (Allium sativum), de Limão (Citrus lemon), de Eucalipto (Eucaliptus spp.), de Guaco
(Mikania glomerata) e de Poejo (Mentha pulegium).
Nestes casos o xarope base é preparado com sacarose e água, adicionados de um
conservante, pois a adição do extrato vegetal ou da tintura pode alterar a hipertonicidade da
formulação.
Exemplos:
Xarope base com conservantes:
Sacarose 85%
Metilparabeno (Nipagin) 0,15%
Extrato vegetal Até 10%
Água purificada qsp 100ml
55
Xaropes também podem ser produzidos sem sacarose, para atender as necessidades de
pacientes diabéticos e também de pacientes pediátricos, cuja tendência é diminuir a ingestão de
açúcar, evitando a incidência de cáries e também para não colaborar com os casos de
obesidade infantil.
Para xaropes sem sacarose, os chamados edulitos, a viscosidade da preparação é
obtida por meio de um agente de viscosidade como a CMC-Na (carboximetilcelulose sódica) e
com a adição de edulcorantes e conservantes.
Exemplo:
Veículo-base para xarope sem sacarose
Carboximetilcelulose sódica 0,6%
Sorbitol 10%
Sacarina sódica 0,10%
Metilparabeno 0,15%
Extrato vegetal Até 15%
Água purificada q.s.p. 100 ml
Conservante 0,2%
Sorbitol 10%
Essência de hortelã Qs
Extrato vegetal de Salvia ou de alecrim Até 10%
Água purificada qsp 100ml
56
8.1.3 Controle de qualidade e estabilidade de formas farmacêuticas fitoterápicas líquidas
As principais análises de controle de qualidade para formas farmacêuticas líquidas
fitoterápicas são:
Aferição de peso e volume final, densidade, pH, perfil cromatográfico, teor dos
marcadores ou de ativos, propriedades reológicas, características organolépticas, que incluem,
aspecto, cor, limpidez, sabor e odor e testes individuais, conforme prescrição farmacopéica ou
outros compêndios oficiais.
A estabilidade é definida como o tempo durante o qual o produto é capaz e menter
conservado dentro dos limites pré-estabelecidos, abrangendo período de estocagem e de uso,
as mesmas propriedades e características físicas, químicas e microbiológicas que possuía,
quando da sua fabricação.
A estabilidade física baseia-se na manutenção das propriedades físicas do produto
original, tal como cor, odor, aspecto, palatabilidade, uniformidade, dissolução, viscosidade, entre
outras.
A estabilidade química de um fármaco na forma líquida está diminuída, em comparação
com aqueles na forma sólida.
A formação de precipitados nas formas farmacêuticas líquidas é o principal indicativo da
instabilidade destas preparações.
A estabilidade microbiológica trata da manutenção dentro de limites pré-estabelecidos da
resistência do crescimento microbiano na preparação. Exige a determinação da concentração
efetiva de conservantes.
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8.2.1 Pomadas
Pomadas são preparações tópicas constituídas de base monofásica, na qual podem
estar dispersas substâncias sólidas ou líquidas. As pomadas são dotadas de propriedades
plásticas que permitem mediante um mínimo esforço que sua consistência se modifique
adaptando-se à superfície da pele. As pomadas podem ser classificadas de acordo com o
veículo que as constituem ou de acordo com o local da ação terapêutica pretendida.
As pomadas podem ser: epidérmicas, endodérmicas e diadérmicas.
As pomadas podem ser classificadas de acordo com a composição de seus veículos:
Pomadas: veículos hidrofóbicos, baixa penetração, utilização como oclusivas ou de
proteção, protetoras ou emolientes.
Vaselinas, parafinas, cera de abelha, plastibase, óleos vegetais e lanolina. Estes veículos
podem sofrer reações de oxidação e, portanto podem e devem ser adicionados de agentes
antioxidantes, como alfa-tocoferol ou BHT.
Estes veículos podem ser incorporados de extratos vegetais secos, moles ou líquidos. De uma
forma geral a adição de extratos em pomadas, cremes, loções ou géis pode afetar a
viscosidade, a transparência e o aspecto geral da preparação.
Exemplos de pomadas contendo extratos vegetais:
Tabela 1: Exemplo de pomadas contendo extratos vegetais
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Pomada de lanovaselina
Constituintes
Vaselina sólida 70%
Lanolina anidra 30%
Extrato vegetal á escolha Concentração usual (10 a 15%)
Pomada de hidrocarbonetos
Constituintes
Vaselina sólida 30%
Vaselina líquida 70%
Extrato vegetal Hidrofóbico ou oleoso Concentração usual (5 a 10%)
Pomada “dermatológica”
Constituintes Quantidades
Babosa (extrato glicólico 1:5) 5g
Guaçatonga (extrato glicólico 1:5) 5g
Arnica (extrato glicólico 1:5) 3g
Benjoim (Tintura 1:5) 10g
Óleo de Lavanda 2 gotas
Essência de rosas q.s
Lanolina 10g
Vaselina 10g
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8.2.3 Géis
Podem ser definidos como sistemas
semissólidos constituídos por dispersões de pequenas
partículas inorgânicas ou de grandes moléculas
orgânicas, encerradas ou interpenetradas por um
líquido.
Em geral os géis são formados por polímeros,
que quando dispersos em meio aquoso fornecem
viscosidade à preparação.
Géis hidrofílicos são os mais comuns e são
obtidos pela incorporação de agentes gelificantes à água, ao glicerol ou ao propilenoglicol. Os
géis hidrofóbicos (menos comuns) constituem-se em parafina líquida com polietileno ou óleos
com sílica coloidal ou sabões de alumínio ou zinco.
Principais grupos de constituintes presentes na composição de um gel:
Constituintes Função Exemplos
Veículo Responsável pela Água, álcool etílico óleos minerais
característica do gel, isoparafinas e silicones.
hidrofílico ou
hidrofóbico.
Estabilizante Constituído pelos EDTA, BHT, vitamina E, benzofenona e os
agentes antimicrobianos parabenos.
sequestrantes
antioxidantes e
fotoprotetores
Umectante Melhora a solubilidade Glicerina, propilenoglicol, dipropilenoglico.l
dos conservantes e dos
princípios ativos, retarda
a evaporação da água
ou atua como veículo.
Espessante Apresenta capacidade CMC-Na, hidroxietilcelulose, carbômeros.
polimérico e mineral de absorver e
intumescer em água ou
solventes miscíveis com
água formando géis de
viscosidade variável.
Agente Promove a gelificação e Aminometilpropanol, trietanolamina,
neutralizante polímeros neutralizáveishidróxido de sódio,
tetrahidroxipropiletilenodiamina(Neutrol®)
Agente solubilizante Promove a solubilização Polissorbato 20, óleo de rícino
de compostos hidrogenado e etoxilado
lipossolúveis nas bases
de géis hidrossolúveis
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Modificador de Modifica a preparação Triacetato de glicerila etoxilado, dimeticona
características quanto a sua sensação copoliol e mistura de silicones
organolépticas. na pele e aparência, multifuncionais.
podem diminuir o
aspecto pegajoso de
alguns polímeros.
Extrato vegetal Os critérios para sua Extratos glicólicos de babosa, camomila,
utilização dependem de calêndula, hamamélis, entre outros.
suas propriedades como
pH, solubilidade,
estabilidade no curto e
longo prazos e forma de
liberação no local de
ação.
8.3.1 Cápsulas
Cápsulas são receptáculos moldáveis de
consistência sólida (dura ou mole) de capacidade
variável, que deve ser utilizada para administração de
dose única pré-estabelecida de medicamento. Estão
disponíveis em diferentes tamanhos e formatos
podendo ser utilizadas para administrar substâncias
sólidas, líquidas ou pastosas.
A maioria das formas fitoterápicas sólidas produzidas nas farmácias de manipulação é
constituída por cápsulas gelatinosas duras, contendo extratos secos padronizados mais
adjuvantes farmacêuticos. O principal problema para a produção de cápsulas duras contendo
extratos secos vegetais está na higroscopicidade (capacidade de absorver água) destes que
muitas vezes pode levar a deliquescência e ao amolecimento da cápsula.
A utilização de dióxido de silício coloidal como excipiente, reduz em parte esta
dificuldade, melhorando os teores de umidade, facilitando o escoamento do pó e garantindo
homogeneidade das preparações. O enchimento de cápsulas duras pode ser manual, ou com o
auxílio de encapsuladores manuais, semiautomáticos ou ainda, encapsuladores totalmente
automatizados.
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8.3.2 Comprimidos
São formas farmacêuticas sólidas que podem ser
utilizadas para a administração de fitoterápicos, entretanto
a maior dificuldade para sua utilização está na falta de
compressibilidade de alguns extratos secos vegetais.
Os extratos vegetais secos têm características
físicas que muitas vezes impedem a sua compressão
como, por exemplo: sua natureza amorfa, densidade
reduzida, sensibilidade à luz, à umidade e ao oxigênio,
além de dificuldades de escoamento que impossibilitariam um processo de compressão direta,
por exemplo. Muitos são os trabalhos científicos que relatam estas dificuldades.
Os excipientes que podem ser empregados para a obtenção de formas sólidas
fitoterápicas, comprimidos ou cápsulas devem garantir o melhor desempenho da formulação
(estabilidade e eficácia), as melhores condições de manufatura e ao mesmo tempo um custo
adequado.
Vale ressaltar que a escolha do excipiente requer considerações prévias das
características físicoquimicas e biológicas de todas as substâncias ativas adjuvantes assim
como a anatomia e a fisiologia do local de administração.
Podem ser utilizados como excipientes: amido, lactose, celulose microcristalina, gomas,
gelatina, polividona, dióxido de silício coloidal, estearato de magnésio, talco, acido esteárico,
croscarmelose sódica, laurilsulfato de sódio, além de corantes e edulcorantes.
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REFERÊNCIAS
BRASIL, Ministério da Saúde. Agencia Nacional de Vigilância Sanitária Resolução 88. Dispõe
sobre a lista de referencias bibliográficas para a avaliação de segurança e eficácia de
fitoterápicos, 2004.
BRASIL, Ministério da Saúde. Agencia Nacional de Vigilância Sanitária Resolução 89. Dispõe
sobre a lista de registro simplificadode fitoterápicos, 2004.
BRASIL, Ministério da Saúde. Agencia Nacional de Vigilância Sanitária Resolução 90. Dispõe
sobre o guia para estudos de toxicidade de medicamentos fitoterápicos, 2004.
64
CARVALHO, et al. Situação do registro dos Fitoterápicos no Brasil. Revista Brasileira de
Farmacognosia, 18(2) 314-319, 2008.
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