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DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

CP V A
1º PERÍODO 2021
TEMA 01

Tema 01:
Doutrina da Proteção Integral. Princípios orientadores do Direito da Criança e do
Adolescente (prioridade absoluta, melhor interesse e municipalização). Direitos
fundamentais (Direito à Vida, Direito à Saúde, Nascituro e atendimento à Gestante,
Deficientes, Doentes Crônicos, Direito à Acompanhante, Direito à Liberdade,
Direito ao Respeito e à Dignidade, Direito à Educação, Acesso e Permanência, Níveis
e Modalidades de Ensino - Flexibilização do Ensino, Direito à Cultura, Esporte e
Lazer, Direito à Profissionalização e à Proteção no Trabalho - Aprendizagem e
Trabalho Rural).

1ª QUESTÃO:
O Conselho Tutelar encaminhou à Promotoria de Justiça da Comarca de Guaíra/PR o caso
de uma criança de cerca de 03 (três) anos de idade, que, segundo uma brasileira que afirma
ser a genitora, nasceu no Paraguai e não foi até o momento registrada. Considerando a
situação narrada, indique, na qualidade de Promotor (a) de Justiça, a(s) providência(s)
que entende mais adequada(s) ao caso, apontando, inclusive, os dispositivos legais
respectivos.

RESPOSTA:
Inicialmente, a situação fática apresentada aponta duas hipóteses a serem analisadas. Uma
decorrente do fato de a sedizente genitora ser efetivamente a mãe e a outra de não ser.
Deve apontar, primeiramente, que é indispensável averiguar, mediante medida judicial
para aplicação de medidas de proteção, se, de fato, a criança é filha da pessoa que se diz
sua mãe. A prova documental porventura existente poderá ser complementada por prova
testemunhal e, se possível, por exame de D.N.A. Havendo indícios razoáveis de
maternidade é de se manter a criança com a suposta genitora. Não havendo, é de se
requerer, no procedimento instaurado, o acolhimento institucional do infante, observado
o direito ao contraditório.
Uma vez comprovada a maternidade, é possível que seja determinado o registro da
criança no município/comarca onde a mãe tem domicílio, nos termos do art. 32, §2º e art.
46 da Lei 6.015/1973.
Deve, ainda, mencionar que o art. 102, caput, da Lei 8.069/90, por sua vez, dispõe que a
aplicação de medidas de proteção será acompanhada da regularização do registro civil,
nos termos do §1º do mesmo dispositivo. Assim sendo, nada obsta que o registro da
criança seja efetuado no Brasil, no local de seu domicílio, mediante determinação judicial
(a competência para tanto será da Justiça da Infância e da Juventude da comarca de
Guaíra, por força do disposto no art. 148, parágrafo único, alínea "h", da Lei 8.069/90), a
pedido do Ministério Público (que também detém legitimidade para ingressar com pedido
de nomeação de guardiães - cf. art. 201, III, da Lei 8.069/90).
Deverá ser observado, ainda, o disposto na Lei 8.560/92 quanto à averiguação da
paternidade (é importante que o registro civil contenha tanto o nome da mãe quanto do
pai), que deverá ser efetuada paralelamente ou na sequência. Não confirmada a
maternidade devem ser adotadas medidas para localização dos familiares da criança.

2ª QUESTÃO:
O pai médico e a mãe engenheira, preocupados com o nível das escolas em sua cidade,
pretendem eles mesmos ministrar ao filho de oito anos idade as matérias do currículo do
ensino fundamental, comparecendo o menor ao estabelecimento de ensino apenas em dias
de prova. As escolas da Comarca não aceitaram a proposta e, ato contínuo, os pais
recorreram ao Judiciário, argumentando que eles próprios podem dar aulas ao filho,
dispensando-o do comparecimento diário a um colégio. Trazem, inclusive, exemplos de
outros países.
Assiste razão aos pais? Fundamente.

RESPOSTA:
"O instituto do homeschooling ou, em tradução livre, "estudo em casa", não tem sido
aceito aqui no Brasil. Pela análise da legislação acima mencionada e pertinente ao tema,
conclui-se pelo dever legal de matricular o menor sob sua responsabilidade no ensino
fundamental, bem como de mantê-lo na escola. A eles some-se o art. 208, I e §3º, da
Constituição da República.
Segundo Alexandre Magno Fernandes Moreira, "o movimento existe há décadas em
diversos países, como Estados Unidos, França, Reino Unido, Irlanda e Austrália". De
acordo com este autor, os motivos que levam os pais a adotarem a educação doméstica
em substituição à educação na escola são, dentre outros: o baixo nível educacional, razões
de ordem religiosa, ambiente degradado das escolas para desenvolver caráter, oposição
aos valores ensinados nas escolas, dificuldades de deslocamento e falta de vagas em boas
escolas.
No brasil temos dois casos sobre o tema, mas com finais bem distintos.
O primeiro deles diz respeito a um casal do Estado de Minas Gerais que luta na Justiça
pelo direito de ensinar seus filhos em casa. Estão sendo processados civil e criminalmente,
correndo o risco de virem a perder a guarda dos filhos. O Ministério Público os denunciou
por crime de abandono intelectual, mas a ironia do caso é que os menores, adolescentes
de 14 e 15 anos, foram aprovados no vestibular da Faculdade de Direito de Ipatinga (MG).
O segundo se refere a uma família de Maringá que educa os filhos em casa, com apoio
do Ministério Público e autorizada pelo Juiz da Infância e Juventude. Neste caso, foi
reconhecido que a prática não trazia prejuízo aos menores, pois há uma avaliação oficial
pelo Núcleo Regional de Educação de Maringá e análise psicossocial por equipe técnica.
Após, é elaborado relatório, com posterior envio ao Juízo informando se as crianças
possuem ou não condições intelectuais para cursar determinada série.
O Superior Tribunal de Justiça já se posicionou sobre o tema. É ler:
ENSINO EM CASA. FILHOS. Trata-se de MS contra ato do Ministro da Educação, que
homologou parecer do Conselho Nacional de Educação, denegatório da pretensão dos
pais de ensinarem a seus filhos as matérias do currículo de ensino fundamental na própria
residência familiar. Além de, também, negar o pedido de afastá-los da obrigatoriedade de
freqüência regular à escola, pois compareceriam apenas à aplicação de provas. A família
buscou o reconhecimento estatal para essa modalidade de ensino reconhecida em outros
países. Prosseguindo o julgamento, a Seção, por maioria, denegou a segurança ao
argumento de que a educação dos filhos em casa pelos pais é um método alternativo que
não encontra amparo na lei ex vi os dispositivos constitucionais (arts. 205, 208, § 2º, da
CF/1988) e legais (Lei n. 10.287/2001 - Lei de Diretrizes e Bases da Educação - art. 5º, §
1º, III; art. 24, I, II e art. 129), a demonstrar que a educação é dever do Estado e, como
considerou o Min. Humberto Gomes de Barros, é, também, formação da cidadania pela
convivência com outras crianças, tanto que o zelo pela frequência escolar é um dos
encargos do poder público.
Posição contrária é assumida por Alexandre Magno Fernandes Moreira, que defende o
homeschooling pelos seguintes fundamentos: 1) o art. 208, I e §3º, da CF/88 deve ser
interpretado em conjunto com o art. 5º, que protege a liberdade de expressão; 2) o inciso
VIII do art. 5º da CF, que proíbe privação de direitos por motivo de crença religiosa ou
convicção filosófica ou política; 3) a falta de previsão legal da prestação alternativa não
inviabiliza o exercício do direito, bastando a utilização do princípio da proporcionalidade;
4) princípio do pluralismo político (art. 1º, V, da CF), não havendo opção para os pais na
escolha das matérias ministradas ou nos valores repassados."
(MACIEL, Kátia Regina Ferreira Lobo Andrade. Curso de direito da criança e do
adolescente: aspectos teóricos e práticos - 6 ed. rev. e atual. conforme Leis n.
12.010/2009 e 12.594/2012 - São Paulo: Saraiva, 2013 - pág. 103-105).

“AGRAVO DE INSTRUMENTO. MEDIDA DE PROTEÇÃO. INDEFERIMENTO DE


PROVA. DECISÃO NÃO PREVISTA NO ROL TAXATIVO DO ART. 1.015 DO CPC.
NÃO CONHECIMENTO. A decisão interlocutória que indefere a produção de prova não
é atacável via agravo de instrumento, uma vez que não integra o rol taxativo previsto pelo
art. 1.015 do CPC. MEDIDA PROTETIVA. INFREQUÊNCIA ESCOLAR.
EDUCAÇÃO DOMICILIAR - MODALIDADE HOMESCHOOLING.
INEXISTÊNCIA DE PREVISÃO CONSTITUCIONAL E LEGAL. TUTELA DE
URGÊNCIA DEFERIDA PARA IMPOR AOS GENITORES A MATRÍCULA E
ACOMPANHAMENTO DA FREQUÊNCIA ESCOLAR DO FILHO EM
INSTITUIÇÃO REGULAR DE ENSINO. MANUTENÇÃO. RECURSO
EXTRAORDINÁRIO Nº 888.815/RS. TEMA 822 DA REPERCUSSÃO GERAL DO
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL: “NÃO EXISTE DIREITO PÚBLICO
SUBJETIVO DO ALUNO OU DE SUA FAMÍLIA AO ENSINO DOMICILIAR,
INEXISTENTE NA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA”. OBRIGAÇÃO DOS GENITORES
DE MATRICULAR SEUS FILHOS NA REDE REGULAR DE ENSINO (ART. 55 DO
ECA). ART. 249 DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE.
AFASTADO, NO ENTANTO, O CRIME DE DESOBEDIÊNCIA. AGRAVO DE
INSTRUMENTO PARCIALMENTE CONHECIDO E NESSA PARTE
PARCIALMENTE PROVIDO.”
grifei
(TJRS. Sétima Câmara Cível. Agravo de Instrumento n. 70082511007. Relator Des.
Jorge Luís Dall'Agnol. Redatora Des. Liselena Schifino Robles Ribeiro. Julgado em
11/09/2019).

“CONSTITUCIONAL. EDUCAÇÃO. DIREITO FUNDAMENTAL


RELACIONADO À DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E À EFETIVIDADE
DA CIDADANIA. DEVER SOLIDÁRIO DO ESTADO E DA FAMÍLIA NA
PRESTAÇÃO DO ENSINO FUNDAMENTAL. NECESSIDADE DE LEI FORMAL,
EDITADA PELO CONGRESSO NACIONAL, PARA REGULAMENTAR O
ENSINO DOMICILIAR. RECURSO DESPROVIDO.
1. A educação é um direito fundamental relacionado à dignidade da pessoa humana e à
própria cidadania, pois exerce dupla função: de um lado, qualifica a comunidade como
um todo, tornando-a esclarecida, politizada, desenvolvida (CIDADANIA); de outro,
dignifica o indivíduo, verdadeiro titular desse direito subjetivo fundamental
(DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA). No caso da educação básica obrigatória (CF,
art. 208, I), os titulares desse direito indisponível à educação são as crianças e
adolescentes em idade escolar.
2. É dever da família, sociedade e Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem,
com absoluta prioridade, a educação. A Constituição Federal consagrou o dever de
solidariedade entre a família e o Estado como núcleo principal à formação educacional
das crianças, jovens e adolescentes com a dupla finalidade de defesa integral dos direitos
das crianças e dos adolescentes e sua formação em cidadania, para que o Brasil possa
vencer o grande desafio de uma educação melhor para as novas gerações, imprescindível
para os países que se querem ver desenvolvidos.
3. A Constituição Federal não veda de forma absoluta o ensino domiciliar, mas
proíbe qualquer de suas espécies que não respeite o dever de solidariedade entre a
família e o Estado como núcleo principal à formação educacional das crianças,
jovens e adolescentes. São inconstitucionais, portanto, as espécies de unschooling
radical (desescolarização radical), unschooling moderado (desescolarização
moderada) e homeschooling puro, em qualquer de suas variações.
4. O ensino domiciliar não é um direito público subjetivo do aluno ou de sua família,
porém não é vedada constitucionalmente sua criação por meio de lei federal, editada pelo
Congresso Nacional, na modalidade “utilitarista” ou “por conveniência circunstancial”,
desde que se cumpra a obrigatoriedade, de 4 a 17 anos, e se respeite o dever solidário
Família/Estado, o núcleo básico de matérias acadêmicas, a supervisão, avaliação e
fiscalização pelo Poder Público; bem como as demais previsões impostas diretamente
pelo texto constitucional, inclusive no tocante às finalidades e objetivos do ensino; em
especial, evitar a evasão escolar e garantir a socialização do indivíduo, por meio de ampla
convivência familiar e comunitária (CF, art. 227).
5. Recurso extraordinário desprovido, com a fixação da seguinte tese (TEMA 822):
“Não existe direito público subjetivo do aluno ou de sua família ao ensino domiciliar,
inexistente na legislação brasileira”.”
grifei
(STF. Tribunal Pleno. RE 888.815/RS. Relator Ministro Roberto Barroso.
Julgamento em 12/09/2018).

"CONSTITUCIONAL, CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AUTORIZAÇÃO PARA


MATRÍCULA DE MENOR. SÉRIE ANTERIOR CURSADA EM SISTEMA DE
ENSINO DOMICILIAR COM ORIENTAÇÃO DE INSTITUIÇÃO DE ENSINO
PARTICULAR. HOMESCHOOLING. PAIS MISSIONÁRIOS. PRELIMINAR DE
ILEGITIMIDADE ATIVA DO DISTRITO FEDERAL. REJEIÇÃO. MÉRITO.
COMPETÊNCIA DO ESTADO E DA FAMÍLIA DE FORMA COMPARTILHADA
PARA PROVER A EDUCAÇÃO. RECURSO DESPROVIDO.
1. O Distrito Federal é parte legítima, juntamente com a escola particular, para figurar no
polo passivo de demanda que visa a compelir a expedição de autorização para que a menor
possa ser matriculada em instituição de ensino privada, após cursar a série anterior em
sistema de homeschooling, tendo em vista que a política educacional é formulada pela
administração pública.
2. A família tem obrigação concorrente com o Estado e à sua tutela não se submete, uma
vez que aos pais é conferida autonomia plena para dirigir a criação e a educação dos
filhos, bem como na escolha do gênero de instrução que será a eles ministrada.
3. Não há norma em nosso ordenamento pátrio que proíba expressamente o ensino
escolar na modalidade domiciliar, devendo, obviamente, ser ressalvada a
peculiaridade do caso concreto.
4. Recurso desprovido."
grifei
(TJDFT. Quinta Turma Cível. Recurso n.0002147-17.2016.8.07.0018. Relator Des.
Josapha Francisco dos Santos. Julgado em 10/05/2017).

"AGRAVO INTERNO. ECA. MEDIDA PROTETIVA. MODALIDADE


HOMESCHOOLING - EDUCAÇÃO DOMICILIAR.
Inexistindo previsão legal de ensino na modalidade domiciliar, não há no caso direito
a ser amparado. Decisão mantida, conforme entendimento da Câmara. RECURSO
DESPROVIDO."
grifei
(TJRS. Oitava Câmara Cível. Agravo n. 70068377100. Relatora Des. Liselena
Schifino Robles Ribeiro. Julgado em 09/03/2016).
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
CP V A
1º PERÍODO 2021
TEMA 02

Tema 02:
Políticas de atendimento. Linhas de ação. Diretrizes. Integração operacional.
Entidades de atendimento governamentais e não governamentais. Entidades
institucionais e de internação (abrigos, orfanatos, hospitais e unidades
psiquiátricas). Obrigações e programas (plano individual). Fiscalização das
entidades. Alterações promovidas pela Lei 12.010/09, Lei 13.046/14, Lei 13.257/16 e
Lei 13.306/16.

1ª QUESTÃO:
O Ministério Público ingressou com representação para apurar irregularidades na URT -
Unidade de Referência Terapêutica, entidade vinculada à FEBEM, com fulcro no artigo
95, combinado com 191, todos do ECA. Alegou que a instituição infringe frontalmente o
previsto no artigo 94, I e II do Estatuto da Criança e do Adolescente e que os internos são
submetidos a condições desrespeitosas e atentatórias à dignidade, violando, assim, os seus
direitos fundamentais. Desse modo, o Ministério Público pleiteou a aplicação de medida
de advertência à entidade e a seus dirigentes, conforme disposto no artigo 97, I, do ECA
e, caso apurada a impossibilidade de saneamento das irregularidades, que fosse aplicada
medida de fechamento da unidade.
Citado, o dirigente da entidade contestou os argumentos do Ministério Público e sustentou
que a medida de advertência não pode ser aplicada à instituição, mas apenas a
determinado dirigente ou a um programa específico, consoante o disposto nos artigos 97
e 193, §4º, do ECA. No mérito, aduziu que irregularidade alguma foi cometida, e que, na
eventualidade de se constatar algo, deve-se antes de tudo conceder prazo para a remoção
do problema, conforme disposto no artigo 193, §3º, do ECA.
Decida, fundamentadamente, a questão.

RESPOSTA:
"230. Aplicação direta ao dirigente: o art. 97, que prevê as sanções às entidades, não mais
estipula multa, mas somente advertência, que será feita ao dirigente da unidade ou
programa de atendimento. Noutros termos, trata-se de penalidade de cunho pessoal.
Como é a mais branda, justifica-se, numa próxima etapa, o afastamento desse dirigente,
já advertido."
(NUCCI, Guilherme de Souza. Estatuto da Criança e do Adolescente Comentado:
em busca da Constituição Federal das Crianças e dos Adolescentes. Rio de Janeiro:
Forense, 2014, pág. 598).

"A multa destina-se ao responsável legal e não à entidade. Assim, o procedimento de


execução para pagamento deverá ter como executando o responsável legal, que responde
inclusive com seus bens pessoais.
O ECA, em seu art. 97, I, prevê expressamente a aplicação da sanção administrativa à
entidade governamental. Todavia, em seu art. 193, §4º, prevê expressamente também que
"a multa e a advertência serão impostas ao dirigente ou programa de atendimento". Dessa
redação aparentemente confusa, surge a questão: pode o juiz impor advertência e multa à
pessoa jurídica? A questão veio à tona em razão da aplicação da medida de advertência à
FEBEM-SP, entendendo o Tribunal de Justiça de São Paulo possível, em razão da norma
do art. 97, I, do ECA. Todavia, o STJ, provendo o recurso da FEBEM-SP, anulou o
acórdão com a seguinte decisão:
...
A questão é muito mais complexa, porquanto, como analisamos no tema da infração
administrativa da norma de proteção à criança e adolescente, a sanção do ECA é
nitidamente de natureza administrativa, mas exercida em função atípica pelo Poder
Judiciário. Em razão disso, a interpretação às sanções do ECA deve ser feita mesclando
regras de direito administrativo, penal e civil. Nesse ponto, discordamos da opinião ilustre
de José Cretella Júnior (RF 275, p. 64), referindo-se ao processo disciplinar, para quem,
"ao contrário do ilícito penal, de configuração precisa, fixado por texto legislativo que se
interpreta restritivamente, o ilícito administrativo é capitulado em dispositivos
deliberadamente imprecisos, para que o administrador tenha faixa ampla discricionária...
Há catálogos rígidos de ilícitos penais e há catálogos flexíveis de ilícitos administrativos".
Para nós, o ilícito administrativo do ECA deve possuir um "catálogo rígido", justamente
porque segue-se nesse caso o princípio do direito penal "nullum crime, nulla poena sine
lege", ou seja, a lei menorista deve precisar a incriminação e prever todas as condições
que a cercam. Justamente pelo exercício de uma função atípica (administrativa) pelo
próprio órgão incumbido de zelar pela lesão ou ameaça de lesão. Assim, se uma norma
(art. 97, I, do ECA) prevê a possibilidade de aplicação da advertência e a outra (art. 193,
§4º, do ECA) restringe essa possibilidade ao dirigente ou ao programa de atendimento, o
aplicador do direito deve optar pela interpretação restritiva, limitando o alcance,
desonerando a pessoa jurídica dessa sanção administrativa."
(ISHIDA, Valter Kenji. Estatuto da Criança e do Adolescente: doutrina e
jurisprudência. 16 ed. São Paulo: Atlas, 2015, pág. 508-509).
"A princípio, nota-se, pela leitura do citado artigo, que a punição recairá, com vigor, sobre
as entidades mantenedoras do programa. Na realidade, a penalidade deverá recair sobre
seus dirigentes que as administram de forma displicente. As entidades sofrerão
penalidade, sim, quando não apresentarem condições físicas ou materiais para seu
funcionamento."
(LIBERATI, Wilson Donizeti. Comentários ao Estatuto da Criança e do
Adolescente. 12 ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2015, pág. 97).

“ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO AGRAVO


EM RECURSO ESPECIAL. DESCUMPRIMENTO DE NORMAS PREVISTAS NO
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. REPRESENTAÇÃO. ART. 97
DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. PENALIDADE DE
ADVERTÊNCIA APLICADA AO DIRIGENTE RESPONSÁVEL.
JURISPRUDÊNCIA DOMINANTE DO STJ. CONTROVÉRSIA RESOLVIDA,
PELO TRIBUNAL DE ORIGEM, À LUZ DAS PROVAS DOS AUTOS.
IMPOSSIBILIDADE DE REVISÃO, NA VIA ESPECIAL. SÚMULA 7/STJ. AGRAVO
INTERNO IMPROVIDO.
I. Agravo interno aviado contra decisão publicada em 21/02/2017, que, por sua vez,
julgara recurso interposto contra decisum publicado na vigência do CPC/73.
II. Na origem, trata-se de Representação oferecida pela Defensoria Pública do Estado de
Mato Grosso do Sul contra a Superintendência Sócioeducativa e o Diretor da UNEI Dom
Bosco, alegando a ocorrência de negligência estatal na efetivação de políticas para o bem
estar dos menores, além de outros fatos relacionados à capacidade de lotação da unidade
e ao desenvolvimento da atividade fiscalizatória, no cumprimento das medidas
socioeducativas. O acórdão manteve a sentença que julgara parcialmente procedente o
pedido, para aplicar a sanção de advertência ao Superintendente de Ações
Socioeducativas do Estado de Mato Grosso do Sul, bem como para determinar parcial
interdição da UNEI Dom Bosco, limitando o número de internos naquela unidade ao
máximo de 60 (sessenta), dentre outras medidas.
III. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça firmou orientação no sentido
deque as medidas punitivas do ECA não devem ser aplicadas às entidades, mas aos
dirigentes responsáveis ou ao programa de atendimento irregular, uma vez que a
imposição de sanção à pessoa jurídica implica no acarretamento de prejuízo aos seus
beneficiários, as crianças e adolescentes, que ficariam desprovidos dos
correspondentes serviços assistenciais. Assim, estando o acórdão recorrido em
consonância com a jurisprudência sedimentada nesta Corte, afigura-se acertada a decisão
ora agravada, em face do disposto no enunciado da Súmula 568 do STJ. Precedentes do
STJ.
IV. O entendimento firmado pelo Tribunal a quo, no sentido da responsabilidade do
Superintendente de Ações Socioeducativas do Estado do Mato Grosso do Sul, pela falta
da adoção de providências decorrentes de lei, não pode ser revisto, pelo Superior Tribunal
de Justiça, em sede de Recurso Especial, sob pena de ofensa ao comando inscrito na
Súmula 7 desta Corte. Precedentes do STJ.
V. Agravo interno improvido.”
(STJ. Segunda Turma. AgInt no Aresp 555.869/MS. Relatora Ministra Assusete
Magalhães. Julgamento em 17/10/2017).

"ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. PROCEDIMENTO DE


APURAÇÃO DE IRREGULARIDADE EM ENTIDADE DE ATENDIMENTO DE
MENORES. SUBVERSÃO DO PROCEDIMENTO. INOCORRÊNCIA. APLICAÇÃO
DA MEDIDA PUNITIVA À PRÓPRIA ENTIDADE E AO DF. DESACERTO.
NECESSIDADE DE DIRECIONAMENTO AO DIRIGENTE DA INSTITUIÇÃO.
SENTENÇA REFORMADA.
1 - A fixação de prazo para a remoção das irregularidades constatadas em entidade de
atendimento de menores e adolescentes, na forma prevista no § 3º do art. 193 do ECA, é
apenas uma faculdade do Julgador, razão pela qual sua ausência não representa subversão
de procedimento apta a implicar nulidade.
2 - Na linha da orientação que emana da jurisprudência e da doutrina, a aplicação de
penalidades administrativas, por infração às normas de proteção à criança e ao
adolescente, no âmbito de entidade de atendimento, deve direcionar-se aos dirigentes
da instituição, sob pena de se prejudicar os reais destinatários da norma, privando-
os de um serviço essencial e frustrando-se os propósitos maiores do ECA, de proteção e
preservação dos interesses dos menores, haja vista o risco de inviabilização do
funcionamento da própria entidade.
Apelação Cível provida."
(TJDFT. 5ª Turma Cível. Apelação Cível n. 0003840-66.2007.8.07.0013. Relator Des.
Angelo Passareli. Julgamento em 01/07/2015).

"APELAÇÃO CÍVEL. APURAÇÃO DE IRREGULARIDADES EM ENTIDADE


DE ATENDIMENTO. DIRIGENTE PENALIZADO ATUOU COMO
TESTEMUNHA. ERROR IN PROCEDENDO. VIOLAÇÃO À AMPLA DEFESA E
CONTRADITÓRIO. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO.
1. Em sua apelação, a Fundação de Atendimento Socioeducativo do Pará FASEPA pugna
pela ocorrência de sentença extra petita, já que, embora tenha figurado como representado
a FASEPA, pessoa jurídica de direito público, o penalizado fora o Sr. Carlos Alberto
Parente de Oliveira, dirigente do Centro Socioeducativo de Benevides CSEB.
2. Neste sentido, assiste razão ao apelante, pois a representação movida pelo Ministério
Público deveria ter sido ajuizada em face do dirigente da entidade, em razão de este
ser o destinatário das medidas punitivas previstas no artigo193 , § 4º , do Estatuto
da Criança e do Adolescente. O Superior Tribunal de Justiça já consolidou
entendimento a este respeito.
3. Conforme suscitado pelo apelante, o dirigente do Centro Socioeducativo de Benevides
atuou no processo apenas na condição de testemunha (fls. 40), o que lhe impossibilitou
qualquer defesa ao longo do procedimento que lhe penalizou com medida de advertência.
Tal fato, além de constituir violação ao princípio da ampla defesa e do contraditório,
assegurado pelo artigo 5º, inciso LV, da Constituição Federal, contraria previsão
constante no artigo 192 do Estatuto da Criança e do Adolescente, que determina a citação
do dirigente da entidade para oferecimento de resposta escrita após iniciado o
procedimento de apuração de irregularidades em entidade governamental e não
governamental.
4. Recurso CONHECIDO e PROVIDO."
grifei
(TJPA. Quarta Câmara Cível. Apelação n. 2014.3.016555-1. Relator Des. José Maria
Teixeira do Rosário. Julgamento em 17/11/2014).

"ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL. ESTATUTO DA CRIANÇA E DO


ADOLESCENTE. FEBEM. IRREGULARIDADE. APLICAÇÃO DE
ADVERTÊNCIA. CABIMENTO CONTRA DIRIGENTES DA ENTIDADE.
PRECEDENTES.
1. As medidas punitivas previstas no ECA devem ser aplicadas apenas aos dirigentes
da entidade ou a programa de atendimento irregular, em observância à necessidade
de preservação das entidades de atendimento e à consequente manutenção do
serviço assistencial oferecido a crianças e adolescentes. Precedentes.
2. Recurso especial provido."
grifei
(STJ. Segunda Turma. Resp 494.239/SP. Relator Ministro João Otávio de Noronha.
Julgamento em 16/05/2006).

"ADMINISTRATIVO - ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE - PENA


DE MULTA E ADVERTÊNCIA DOS ARTS. 97 E 193, § 4º, DO ECA.
1. O art. 97 do ECA, ao elencar as medidas disciplinares, determina que são elas
aplicáveis às entidades de atendimento que descumprirem as obrigações constantes do
art. 94 do Estatuto, enquanto o § 4º do art. 193 direciona aos dirigentes a multa e a
advertência.
2. As medidas punitivas previstas pelo Estatuto da Criança e do Adolescente devem
ser aplicadas aos dirigentes responsáveis pelas irregularidades e não às entidades,
sob pena de penalização da pessoa jurídica e dos seus beneficiários, os quais ficariam
privados do serviço assistencial previsto na legislação.
3. Precedente (RESP 489.522, Rel. Min. Eliana Calmon, DJ de 19/08/2003).
4. Recurso especial provido."
grifei
(STJ. Primeira Turma. Resp 555.125/SP. Relator Ministro Luiz Fux. Julgamento
em 23/08/2005).

Trecho do voto do Ministro Relator:

"No que pertine ao mérito do recurso especial, o art. 97 do ECA, ao elencar as medidas
punitivas, determina que são elas aplicáveis às entidades de atendimento que
descumprirem as obrigações definidas no art. 94 do Estatuto, enquanto o § 4º do art. 193
direciona aos dirigentes a multa e a advertência.
O Ministério Público Federal ponderou em seu profícuo parecer, verbis:
"As medidas punitivas previstas pelo Estatuto da Criança e do Adolescente devem ser
aplicadas aos dirigentes responsáveis pelas irregularidades e não às entidades, sob pena
de penalização da pessoa jurídica e dos seus beneficiários, os quais ficariam privados
do serviço assistencial previsto na legislação."

Nessa mesma linha de entendimento a doutrina não difere: "Finalmente, pelo § 4º a multa
e a advertência serão impostas ao dirigente da entidade ou programa de atendimento,
vale dizer, ao dirigente maior da entidade de acolhimento." (in Estatuto da Criança e do
Adolescente Comentado, p.369, Tarcísio José Martins Costa).

"Resumindo, para o dirigente da entidade, pode-se aplicar advertência e pode haver seu
afastamento temporário ou definitivo, em se tratando de entidade governamental, e para
a entidade pode haver fechamento de determinada unidade , de determinado programa,
ou até o fechamento da entidade, e, para entidade não governamental, pode haver
advertência para dirigente, e a própria entidade pode sofrer a suspensão parcial ou total
de repasse de verbas públicas, interdição de determinadas unidades, suspensão de
determinados programas, ou até a cassação do registro, que deve importa em seu
fechamento." (in Estatuto da Criança e do Adolescente, Manual Funcional, Jefferson
Moreira de Carvalho, 2ª edição, p.51).

" Por último o § 4º do art. 193 manda que a multa e a advertência sejam impostas ao
dirigente da entidade ou programa de atendimento que descumprir os deveres impostos
pelo Estatuto. Quanto à multa, há verdadeira erronia legal porquanto o art. 97não
contempla essa modalidade de pena, retirada que foi do projeto de lei convolado no
presente Estatuto." (in, Falhas do Estatuto da Criança e do Adolescente, p.115, José Luiz
Mônaco da Silva, E. RT, p.325.).
Ainda sobre o tema, Almir Gasquez Rufino adverte: "as medidas punitivas devem
ser aplicadas aos dirigentes responsáveis pelas irregularidades, porque, se direcionadas
às entidades, poderia haver suspensão, fechamento ou dissolução, levando à
penalização da pessoa jurídica e dos seus beneficiários, que ficariam privados de um
serviço assistencial, em confronto com a própria razão de ser do Estatuto, cujo escopo
é proporcionar à criança e ao adolescente um atendimento que lhes garanta seus
direitos básicos, previstos na legislação." in (Estatuto da Criança e do Adolescente
Comentado, 4ª ed., p. 582.)

2ª QUESTÃO:
A Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro impetrou mandado de segurança contra
ato do Juiz Corregedor da Unidade da Escola João Luiz Alves, em exercício de suas
funções no Departamento Geral de Ações Socioeducativas - Degase -, que, supostamente,
violou direito líquido e certo da Defensoria Pública, obstando o exercício das suas
atribuições institucionais em favor dos interesses individuais e coletivos de adolescentes
vulneráveis, ao não conceder vista aos autos do procedimento verificatório que versa
sobre irregularidades apontadas na Escola João Luiz Alves.
Sustenta a impetrante que a autoridade coatora negou vista do referido procedimento à
Defensoria Pública, sob fundamento de que esta careceria de legitimidade para tanto, uma
vez que o procedimento trataria de fiscalização e acompanhamento de unidade de
internação da Escola João Luiz Alves.
Assim, a impetrante pugnou pela concessão da segurança, para determinar a entrega dos
autos com vista do procedimento verificatório e demais procedimentos afetos às funções
institucionais da Defensoria Pública em trâmite no Departamento Geral de Ações
Socioeducativas - Degase.
A partir da situação hipotética acima narrada, esclareça, fundamentadamente, se a ordem
deve ser concedida. Indique, ainda, o(s) dispositivo(s) legal(is) aplicável(eis) ao caso em
comento.
RESPOSTA:
art. 95, Lei 8.069/90: “As entidades governamentais e não-governamentais referidas no
art. 90 serão fiscalizadas pelo Judiciário, pelo Ministério Público e pelos Conselhos
Tutelares.”

art. 191, Lei 8.069/90: “O procedimento de apuração de irregularidades em entidade


governamental e não-governamental terá início mediante portaria da autoridade
judiciária ou representação do Ministério Público ou do Conselho Tutelar, onde conste,
necessariamente, resumo dos fatos.
Parágrafo único. Havendo motivo grave, poderá a autoridade judiciária, ouvido o
Ministério Público, decretar liminarmente o afastamento provisório do dirigente da
entidade, mediante decisão fundamentada.”

art. 134, CRFB: “A Defensoria Pública é instituição permanente, essencial à função


jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe, como expressão e instrumento do regime
democrático, fundamentalmente, a orientação jurídica, a promoção dos direitos
humanos e a defesa, em todos os graus, judicial e extrajudicial, dos direitos individuais
e coletivos, de forma integral e gratuita, aos necessitados, na forma do inciso LXXIV do
art. 5º desta Constituição Federal
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>.”

art. 3º-A, Lei Complementar 80/94: “São objetivos da Defensoria Pública:

I - a primazia da dignidade da pessoa humana e a redução das desigualdades sociais;


II - a afirmação do Estado Democrático de Direito;
III - a prevalência e efetividade dos direitos humanos; e
IV - a garantia dos princípios constitucionais da ampla defesa e do contraditório.”
art. 4º, Lei Complementar 80/94: “São funções institucionais da Defensoria Pública,
dentre outras:
...
III - promover a difusão e a conscientização dos direitos humanos, da cidadania e do
ordenamento jurídico;
...
VII - promover ação civil pública e todas as espécies de ações capazes de propiciar a
adequada tutela dos direitos difusos, coletivos ou individuais homogêneos quando o
resultado da demanda puder beneficiar grupo de pessoas hipossuficientes;
VIII - exercer a defesa dos direitos e interesses individuais, difusos, coletivos e
individuais homogêneos e dos direitos do consumidor, na forma do inciso LXXIV do art.
5º da Constituição Federal;
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm>
IX - impetrar habeas corpus, mandado de injunção, habeas data e mandado de segurança
ou qualquer outra ação em defesa das funções institucionais e prerrogativas de seus
órgãos de execução;
X - promover a mais ampla defesa dos direitos fundamentais dos necessitados,
abrangendo seus direitos individuais, coletivos, sociais, econômicos, culturais e
ambientais, sendo admissíveis todas as espécies de ações capazes de propiciar sua
adequada e efetiva tutela;
XI - exercer a defesa dos interesses individuais e coletivos da criança e do adolescente,
do idoso, da pessoa portadora de necessidades especiais, da mulher vítima de violência
doméstica e familiar e de outros grupos sociais vulneráveis que mereçam proteção
especial do Estado;
...
XVII - atuar nos estabelecimentos policiais, penitenciários e de internação de
adolescentes, visando a assegurar às pessoas, sob quaisquer circunstâncias, o exercício
pleno de seus direitos e garantias fundamentais;
XVIII - atuar na preservação e reparação dos direitos de pessoas vítimas de tortura,
abusos sexuais, discriminação ou qualquer outra forma de opressão ou violência,
propiciando o acompanhamento e o atendimento interdisciplinar das vítimas;”

art. 128, Lei Complementar 80/94: “São prerrogativas dos membros da Defensoria
Pública do Estado, dentre outras que a lei local estabelecer:”
...
VII - ter vista pessoal dos processos fora dos cartórios e secretarias, ressalvadas as
vedações legais;
VIII - examinar, em qualquer repartição pública, autos de flagrantes, inquéritos e
processos, assegurada a obtenção de cópias e podendo tomar apontamentos;”

“RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA. DEFENSORIA PÚBLICA.


PROMOÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS E DEFESA DOS DIREITOS
INDIVIDUAIS E COLETIVOS. ACESSO AOS AUTOS DE PROCEDIMENTO
VERIFICATÓRIO. POSSIBILIDADE. RECURSO PROVIDO.
1- A Lei Complementar n. 80/94, ao estabelecer os objetivos da Defensoria Pública,
elenca, dentre outros, a primazia da dignidade da pessoa humana e a prevalência e
efetividade dos direitos humanos e, para tanto, indica, como função institucional, a
promoção da difusão e da conscientização dos direitos humanos, da cidadania e do
ordenamento jurídico, além da prestação de orientação jurídica e defesa dos necessitados,
e, especificamente quanto ao tema em debate, o exercício da defesa dos interesses
individuais e coletivos da criança e do adolescente e a atuação na preservação e
reparação dos direitos de pessoas vítimas de tortura, abusos sexuais, discriminação
ou qualquer outra forma de opressão ou violência, propiciando o acompanhamento
e o atendimento interdisciplinar das vítimas (Arts. 3º e 4º).
2 - Nessa linha, a despeito de a legislação não incluir, no rol de competências da
Instituição, a atribuição para fiscalizar as unidades de internação, estabelece,
expressamente, a função de atuar na preservação e na reparação dos direitos de
pessoas vítimas de violência e opressão, do que decorre ser imperioso o acesso a
informações decorrentes de registros de eventuais ocorrências que possam ensejar
a sua atuação.
3 - O art. 128 da LC 80/94 elenca como prerrogativa dos membros da Defensoria Pública
dos Estados: VII - ter vista pessoal dos processos fora dos cartórios e secretarias,
ressalvadas as vedações legais; e VIII - examinar, em qualquer repartição pública, autos
de flagrantes, inquéritos e processos, assegurada a obtenção de cópias e podendo tomar
apontamentos.
4 - Na ausência de vedação legal, não há falar em impedimento de acesso da Defensoria
Pública aos autos de Procedimento Verificatório instaurado para inspeção judicial e
atividade correcional de unidade de execução de medidas socioeducativas, após
relatos e denúncias de agressões sofridas pelos adolescentes internados e de outras
irregularidades no processo ressocializador.
5 - Recurso ordinário provido para garantir à Defensoria Pública o acesso aos autos do
Procedimento Verificatório de n. 20/06.”
grifei
(STJ. Sexta Turma. RMS 52.271/SP. Relator Ministro Nefi Cordeiro. Julgamento
em 19/06/2018 - Informativo 629).

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