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CP V A
1º PERÍODO 2021
TEMA 01
Tema 01:
Doutrina da Proteção Integral. Princípios orientadores do Direito da Criança e do
Adolescente (prioridade absoluta, melhor interesse e municipalização). Direitos
fundamentais (Direito à Vida, Direito à Saúde, Nascituro e atendimento à Gestante,
Deficientes, Doentes Crônicos, Direito à Acompanhante, Direito à Liberdade,
Direito ao Respeito e à Dignidade, Direito à Educação, Acesso e Permanência, Níveis
e Modalidades de Ensino - Flexibilização do Ensino, Direito à Cultura, Esporte e
Lazer, Direito à Profissionalização e à Proteção no Trabalho - Aprendizagem e
Trabalho Rural).
1ª QUESTÃO:
O Conselho Tutelar encaminhou à Promotoria de Justiça da Comarca de Guaíra/PR o caso
de uma criança de cerca de 03 (três) anos de idade, que, segundo uma brasileira que afirma
ser a genitora, nasceu no Paraguai e não foi até o momento registrada. Considerando a
situação narrada, indique, na qualidade de Promotor (a) de Justiça, a(s) providência(s)
que entende mais adequada(s) ao caso, apontando, inclusive, os dispositivos legais
respectivos.
RESPOSTA:
Inicialmente, a situação fática apresentada aponta duas hipóteses a serem analisadas. Uma
decorrente do fato de a sedizente genitora ser efetivamente a mãe e a outra de não ser.
Deve apontar, primeiramente, que é indispensável averiguar, mediante medida judicial
para aplicação de medidas de proteção, se, de fato, a criança é filha da pessoa que se diz
sua mãe. A prova documental porventura existente poderá ser complementada por prova
testemunhal e, se possível, por exame de D.N.A. Havendo indícios razoáveis de
maternidade é de se manter a criança com a suposta genitora. Não havendo, é de se
requerer, no procedimento instaurado, o acolhimento institucional do infante, observado
o direito ao contraditório.
Uma vez comprovada a maternidade, é possível que seja determinado o registro da
criança no município/comarca onde a mãe tem domicílio, nos termos do art. 32, §2º e art.
46 da Lei 6.015/1973.
Deve, ainda, mencionar que o art. 102, caput, da Lei 8.069/90, por sua vez, dispõe que a
aplicação de medidas de proteção será acompanhada da regularização do registro civil,
nos termos do §1º do mesmo dispositivo. Assim sendo, nada obsta que o registro da
criança seja efetuado no Brasil, no local de seu domicílio, mediante determinação judicial
(a competência para tanto será da Justiça da Infância e da Juventude da comarca de
Guaíra, por força do disposto no art. 148, parágrafo único, alínea "h", da Lei 8.069/90), a
pedido do Ministério Público (que também detém legitimidade para ingressar com pedido
de nomeação de guardiães - cf. art. 201, III, da Lei 8.069/90).
Deverá ser observado, ainda, o disposto na Lei 8.560/92 quanto à averiguação da
paternidade (é importante que o registro civil contenha tanto o nome da mãe quanto do
pai), que deverá ser efetuada paralelamente ou na sequência. Não confirmada a
maternidade devem ser adotadas medidas para localização dos familiares da criança.
2ª QUESTÃO:
O pai médico e a mãe engenheira, preocupados com o nível das escolas em sua cidade,
pretendem eles mesmos ministrar ao filho de oito anos idade as matérias do currículo do
ensino fundamental, comparecendo o menor ao estabelecimento de ensino apenas em dias
de prova. As escolas da Comarca não aceitaram a proposta e, ato contínuo, os pais
recorreram ao Judiciário, argumentando que eles próprios podem dar aulas ao filho,
dispensando-o do comparecimento diário a um colégio. Trazem, inclusive, exemplos de
outros países.
Assiste razão aos pais? Fundamente.
RESPOSTA:
"O instituto do homeschooling ou, em tradução livre, "estudo em casa", não tem sido
aceito aqui no Brasil. Pela análise da legislação acima mencionada e pertinente ao tema,
conclui-se pelo dever legal de matricular o menor sob sua responsabilidade no ensino
fundamental, bem como de mantê-lo na escola. A eles some-se o art. 208, I e §3º, da
Constituição da República.
Segundo Alexandre Magno Fernandes Moreira, "o movimento existe há décadas em
diversos países, como Estados Unidos, França, Reino Unido, Irlanda e Austrália". De
acordo com este autor, os motivos que levam os pais a adotarem a educação doméstica
em substituição à educação na escola são, dentre outros: o baixo nível educacional, razões
de ordem religiosa, ambiente degradado das escolas para desenvolver caráter, oposição
aos valores ensinados nas escolas, dificuldades de deslocamento e falta de vagas em boas
escolas.
No brasil temos dois casos sobre o tema, mas com finais bem distintos.
O primeiro deles diz respeito a um casal do Estado de Minas Gerais que luta na Justiça
pelo direito de ensinar seus filhos em casa. Estão sendo processados civil e criminalmente,
correndo o risco de virem a perder a guarda dos filhos. O Ministério Público os denunciou
por crime de abandono intelectual, mas a ironia do caso é que os menores, adolescentes
de 14 e 15 anos, foram aprovados no vestibular da Faculdade de Direito de Ipatinga (MG).
O segundo se refere a uma família de Maringá que educa os filhos em casa, com apoio
do Ministério Público e autorizada pelo Juiz da Infância e Juventude. Neste caso, foi
reconhecido que a prática não trazia prejuízo aos menores, pois há uma avaliação oficial
pelo Núcleo Regional de Educação de Maringá e análise psicossocial por equipe técnica.
Após, é elaborado relatório, com posterior envio ao Juízo informando se as crianças
possuem ou não condições intelectuais para cursar determinada série.
O Superior Tribunal de Justiça já se posicionou sobre o tema. É ler:
ENSINO EM CASA. FILHOS. Trata-se de MS contra ato do Ministro da Educação, que
homologou parecer do Conselho Nacional de Educação, denegatório da pretensão dos
pais de ensinarem a seus filhos as matérias do currículo de ensino fundamental na própria
residência familiar. Além de, também, negar o pedido de afastá-los da obrigatoriedade de
freqüência regular à escola, pois compareceriam apenas à aplicação de provas. A família
buscou o reconhecimento estatal para essa modalidade de ensino reconhecida em outros
países. Prosseguindo o julgamento, a Seção, por maioria, denegou a segurança ao
argumento de que a educação dos filhos em casa pelos pais é um método alternativo que
não encontra amparo na lei ex vi os dispositivos constitucionais (arts. 205, 208, § 2º, da
CF/1988) e legais (Lei n. 10.287/2001 - Lei de Diretrizes e Bases da Educação - art. 5º, §
1º, III; art. 24, I, II e art. 129), a demonstrar que a educação é dever do Estado e, como
considerou o Min. Humberto Gomes de Barros, é, também, formação da cidadania pela
convivência com outras crianças, tanto que o zelo pela frequência escolar é um dos
encargos do poder público.
Posição contrária é assumida por Alexandre Magno Fernandes Moreira, que defende o
homeschooling pelos seguintes fundamentos: 1) o art. 208, I e §3º, da CF/88 deve ser
interpretado em conjunto com o art. 5º, que protege a liberdade de expressão; 2) o inciso
VIII do art. 5º da CF, que proíbe privação de direitos por motivo de crença religiosa ou
convicção filosófica ou política; 3) a falta de previsão legal da prestação alternativa não
inviabiliza o exercício do direito, bastando a utilização do princípio da proporcionalidade;
4) princípio do pluralismo político (art. 1º, V, da CF), não havendo opção para os pais na
escolha das matérias ministradas ou nos valores repassados."
(MACIEL, Kátia Regina Ferreira Lobo Andrade. Curso de direito da criança e do
adolescente: aspectos teóricos e práticos - 6 ed. rev. e atual. conforme Leis n.
12.010/2009 e 12.594/2012 - São Paulo: Saraiva, 2013 - pág. 103-105).
Tema 02:
Políticas de atendimento. Linhas de ação. Diretrizes. Integração operacional.
Entidades de atendimento governamentais e não governamentais. Entidades
institucionais e de internação (abrigos, orfanatos, hospitais e unidades
psiquiátricas). Obrigações e programas (plano individual). Fiscalização das
entidades. Alterações promovidas pela Lei 12.010/09, Lei 13.046/14, Lei 13.257/16 e
Lei 13.306/16.
1ª QUESTÃO:
O Ministério Público ingressou com representação para apurar irregularidades na URT -
Unidade de Referência Terapêutica, entidade vinculada à FEBEM, com fulcro no artigo
95, combinado com 191, todos do ECA. Alegou que a instituição infringe frontalmente o
previsto no artigo 94, I e II do Estatuto da Criança e do Adolescente e que os internos são
submetidos a condições desrespeitosas e atentatórias à dignidade, violando, assim, os seus
direitos fundamentais. Desse modo, o Ministério Público pleiteou a aplicação de medida
de advertência à entidade e a seus dirigentes, conforme disposto no artigo 97, I, do ECA
e, caso apurada a impossibilidade de saneamento das irregularidades, que fosse aplicada
medida de fechamento da unidade.
Citado, o dirigente da entidade contestou os argumentos do Ministério Público e sustentou
que a medida de advertência não pode ser aplicada à instituição, mas apenas a
determinado dirigente ou a um programa específico, consoante o disposto nos artigos 97
e 193, §4º, do ECA. No mérito, aduziu que irregularidade alguma foi cometida, e que, na
eventualidade de se constatar algo, deve-se antes de tudo conceder prazo para a remoção
do problema, conforme disposto no artigo 193, §3º, do ECA.
Decida, fundamentadamente, a questão.
RESPOSTA:
"230. Aplicação direta ao dirigente: o art. 97, que prevê as sanções às entidades, não mais
estipula multa, mas somente advertência, que será feita ao dirigente da unidade ou
programa de atendimento. Noutros termos, trata-se de penalidade de cunho pessoal.
Como é a mais branda, justifica-se, numa próxima etapa, o afastamento desse dirigente,
já advertido."
(NUCCI, Guilherme de Souza. Estatuto da Criança e do Adolescente Comentado:
em busca da Constituição Federal das Crianças e dos Adolescentes. Rio de Janeiro:
Forense, 2014, pág. 598).
"No que pertine ao mérito do recurso especial, o art. 97 do ECA, ao elencar as medidas
punitivas, determina que são elas aplicáveis às entidades de atendimento que
descumprirem as obrigações definidas no art. 94 do Estatuto, enquanto o § 4º do art. 193
direciona aos dirigentes a multa e a advertência.
O Ministério Público Federal ponderou em seu profícuo parecer, verbis:
"As medidas punitivas previstas pelo Estatuto da Criança e do Adolescente devem ser
aplicadas aos dirigentes responsáveis pelas irregularidades e não às entidades, sob pena
de penalização da pessoa jurídica e dos seus beneficiários, os quais ficariam privados
do serviço assistencial previsto na legislação."
Nessa mesma linha de entendimento a doutrina não difere: "Finalmente, pelo § 4º a multa
e a advertência serão impostas ao dirigente da entidade ou programa de atendimento,
vale dizer, ao dirigente maior da entidade de acolhimento." (in Estatuto da Criança e do
Adolescente Comentado, p.369, Tarcísio José Martins Costa).
"Resumindo, para o dirigente da entidade, pode-se aplicar advertência e pode haver seu
afastamento temporário ou definitivo, em se tratando de entidade governamental, e para
a entidade pode haver fechamento de determinada unidade , de determinado programa,
ou até o fechamento da entidade, e, para entidade não governamental, pode haver
advertência para dirigente, e a própria entidade pode sofrer a suspensão parcial ou total
de repasse de verbas públicas, interdição de determinadas unidades, suspensão de
determinados programas, ou até a cassação do registro, que deve importa em seu
fechamento." (in Estatuto da Criança e do Adolescente, Manual Funcional, Jefferson
Moreira de Carvalho, 2ª edição, p.51).
" Por último o § 4º do art. 193 manda que a multa e a advertência sejam impostas ao
dirigente da entidade ou programa de atendimento que descumprir os deveres impostos
pelo Estatuto. Quanto à multa, há verdadeira erronia legal porquanto o art. 97não
contempla essa modalidade de pena, retirada que foi do projeto de lei convolado no
presente Estatuto." (in, Falhas do Estatuto da Criança e do Adolescente, p.115, José Luiz
Mônaco da Silva, E. RT, p.325.).
Ainda sobre o tema, Almir Gasquez Rufino adverte: "as medidas punitivas devem
ser aplicadas aos dirigentes responsáveis pelas irregularidades, porque, se direcionadas
às entidades, poderia haver suspensão, fechamento ou dissolução, levando à
penalização da pessoa jurídica e dos seus beneficiários, que ficariam privados de um
serviço assistencial, em confronto com a própria razão de ser do Estatuto, cujo escopo
é proporcionar à criança e ao adolescente um atendimento que lhes garanta seus
direitos básicos, previstos na legislação." in (Estatuto da Criança e do Adolescente
Comentado, 4ª ed., p. 582.)
2ª QUESTÃO:
A Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro impetrou mandado de segurança contra
ato do Juiz Corregedor da Unidade da Escola João Luiz Alves, em exercício de suas
funções no Departamento Geral de Ações Socioeducativas - Degase -, que, supostamente,
violou direito líquido e certo da Defensoria Pública, obstando o exercício das suas
atribuições institucionais em favor dos interesses individuais e coletivos de adolescentes
vulneráveis, ao não conceder vista aos autos do procedimento verificatório que versa
sobre irregularidades apontadas na Escola João Luiz Alves.
Sustenta a impetrante que a autoridade coatora negou vista do referido procedimento à
Defensoria Pública, sob fundamento de que esta careceria de legitimidade para tanto, uma
vez que o procedimento trataria de fiscalização e acompanhamento de unidade de
internação da Escola João Luiz Alves.
Assim, a impetrante pugnou pela concessão da segurança, para determinar a entrega dos
autos com vista do procedimento verificatório e demais procedimentos afetos às funções
institucionais da Defensoria Pública em trâmite no Departamento Geral de Ações
Socioeducativas - Degase.
A partir da situação hipotética acima narrada, esclareça, fundamentadamente, se a ordem
deve ser concedida. Indique, ainda, o(s) dispositivo(s) legal(is) aplicável(eis) ao caso em
comento.
RESPOSTA:
art. 95, Lei 8.069/90: “As entidades governamentais e não-governamentais referidas no
art. 90 serão fiscalizadas pelo Judiciário, pelo Ministério Público e pelos Conselhos
Tutelares.”
art. 128, Lei Complementar 80/94: “São prerrogativas dos membros da Defensoria
Pública do Estado, dentre outras que a lei local estabelecer:”
...
VII - ter vista pessoal dos processos fora dos cartórios e secretarias, ressalvadas as
vedações legais;
VIII - examinar, em qualquer repartição pública, autos de flagrantes, inquéritos e
processos, assegurada a obtenção de cópias e podendo tomar apontamentos;”