Congresso Brasileiro Interdisciplinar em Ciência e Tecnologia
Evento online – 31 de agosto a 04 de setembro de 2020
A CONSTRUÇÃO DA PRÁTICA DOCENTE NO ESTÁGIO
SUPERVISIONADO ATRAVÉS DAS METODOLOGIAS ATIVAS E DO LETRAMENTO CIENTÍFICO Samara Caroline de Oliveira Braiane1, Rebeka Moreira Monteiro do Nascimento2, Lucyana Sobral de Souza3 1 Discente do Instituto Federal da Paraíba, Cabedelo, Brasil (braianesamara@gmail.com) 2 Discente do Instituto Federal da Paraíba, Cabedelo, Brasil 3 Docente do Instituto Federal da Paraíba, Cabedelo, Brasil
Resumo: O estágio supervisionado colabora com a formação das habilidades docentes,
sendo uma oportunidade de praticar o que foi aprendido no decorrer da graduação. Diante disso, esse trabalho mostra os resultados obtidos através da experiência da prática do estágio supervisionado no ensino fundamental, utilizando o letramento científico, as metodologias ativas e as ferramentas digitais. Através delas, foi possível proporcionar uma educação científica, instigando a autonomia e o senso crítico dos alunos.
INTRODUÇÃO gerando uma significativa diferença onde quer que
trabalhe (Scalabrin e Molinari, 2013). No projeto político pedagógico (PPP) de um curso de licenciatura, os estágios supervisionados de Ao se ensinar ciências no ensino fundamental, é observação são vistos como momentos essenciais para imprescindível que haja promoção de situações que a formação de um futuro docente, pois é nele que o possibilitem a formação de uma bagagem cognitiva no acadêmico tem um momento único para ampliar sua aluno e não privilegiar apenas a memorização. Para compreensão da realidade educacional e do ensino, que isso ocorra, é necessário que o estudante tendo uma relação direta com os alunos e com a escola compreenda os fatos e conceitos de forma gradual (Carvalho et al., 2003). Diante do estágio, o futuro (Vasconcelos e Souto, 2003), isso pode ser feito com professor através da vivência pode compreender que o uso do letramento científico. tanto os professores como os alunos, devem estar num O ensino de ciências através do letramento científico mesmo mundo e falar a mesma linguagem. é indispensável para que haja a democratização do Comumente fala-se sobre essa prática do estágio conhecimento, assim como para a formação do supervisionado, porém pouco se aborda sobre os cidadão (Branco et al., 2018). De acordo com Santos desafios que envolvem sua operacionalização, desde a (2007), o letramento visa uma educação científica que escolha e tramitação da escola-campo, esta que possui também possibilite uma educação tecnológica, no seus objetivos e valores culturais traçados, até o entanto, proporcionar isso no ensino de ciências é um possível planejamento e participação de atividades, desafio, pois, é um processo cultural na sociedade, tudo acontecendo em um curto período de tempo. onde a linguagem científica deve ser vista como Dessa forma, Lima (2008) compara o estágio a uma ferramenta na compreensão da cultura moderna. Uma ponte, onde o estagiário exerce suas atividades forma de facilitar esse processo do letramento é atentando-se aos ensinamentos que irá retirar da fazendo o uso das metodologias ativas de passagem por esse caminho que oportuniza a aprendizagem (MAAs). profissionalização docente. As MAAs são abordagens de ensino que podem ser O período de estágio ajuda no desenvolvimento de trabalhadas de modo individual como também habilidades e atitudes relacionadas ao exercício da colaborativo, sendo responsáveis por envolver os docência, criando assim, condições para que o alunos como sujeitos ativos e reflexivos, atuando no estagiário atue com maior segurança e visão crítica em seu processo de aprendizagem nas atividades (Filatro seu espaço de atuação. De forma que, tenha a e Cavalcanti, 2018). capacidade de vivenciar a realidade social da educação Segundo Borges e Alencar (2014), as MAAs devem e, por meio dela, preparar-se como profissional, ser utilizadas como recurso didático na prática docente, de modo que substitua as formas tradicionais Com isso, foi possível constatar que as turmas de ensino. Sendo o protagonismo dos alunos uma das necessitavam passar por novas metodologias, pois, principais características dessa metodologia, pois haviam vivenciado apenas aulas expositivas, e insere o estudante como agente responsável pela sua seminários no caso do 7º ano. aprendizagem (Cruz, 2018). Um aliado do trabalho do professor para o desenvolvimento de uma perspectiva mais ativa do estudante, é conjugar no ensino e na aprendizagem o uso das novas ferramentas digitais, tais como programas e aplicativos educacionais, que servem como recursos didáticos que não substituem o papel do professor em sala de aula, mas sim visam favorecer o processo de ensino-aprendizagem (Fotouhi- Ghazvini et al., 2011). Para Merije (2012) trabalhar a tecnologia aliada a educação pode beneficiar os envolvidos no ensino, professor e aluno. Sendo assim, essas ferramentas digitais devem estar inseridas em um plano de aula sistematizado, que seja capaz de promover uma ligação dos conteúdos com as metodologias de ensino, instigando a existência de uma sociedade mais tecnológica (Mercado, 2002; Flemming e Mello, 2003). Diante do que foi exposto, é possível perceber que o estágio se apresenta como uma possibilidade de primeiro contato do estudante em formação com o magistério e para obter êxito nessa tarefa, o estagiário Figura 1. Metodologias vivenciadas pelos alunos. pode adotar o uso de recursos didáticos, com base em MAAs, explorando novas possibilidades de colocar Com base nos resultados obtidos, foram elaborados em prática o letramento científico. Com isso, este planos de aula que incluíssem metodologias das quais trabalho objetiva socializar os resultados obtidos os alunos não haviam vivenciado. De acordo com através das experiências da prática docente Francisco e Pereira (2004) é nesse momento que se desenvolvidas em aulas ministradas no período do inicia a transição de licenciandas observadoras para estágio supervisionado II, no curso de Licenciatura em docentes pesquisadoras, isso porque o licenciando Ciências Biológicas do Instituto Federal da Paraíba, passa a assumir pela primeira vez a futura profissão de ressaltando sua importância no processo de formação professor, tomando responsabilidades (Andrade, docente. 2005). MATERIAL E MÉTODOS Diante disso, foram iniciadas as regências. Na turma do 6º ano foi abordado o conteúdo sobre a formação O estágio foi realizado nas turmas do 6º e 7º ano do da chuva, que teve como objetivo geral reconhecer a ensino fundamental II, em uma escola estadual no importância da água no meio ambiente. Para isso, todo município de Cabedelo, na Paraíba. Antes das o processo foi contextualizado de forma dialogada regências serem iniciadas, as licenciandas foram (Figura 2). apresentadas aos discentes de cada turma, de modo a esclarecer sobre como seria o período de atuação em conjunto com eles. A partir disso, foi realizada uma caracterização e observação das turmas, a fim de compreender a realidade do ensino de ciências vivido por eles. Com isso, foram desenvolvidos planos de aula sobre os conteúdos de ciências para as turmas do 6º e 7º ano, levando em conta as MAAs, o letramento científico e a utilização de ferramentas digitais. RESULTADOS E DISCUSSÃO Figura 2. Explicação da formação da chuva no 6ºano. Durante o primeiro contato com as turmas realizou-se caracterizações, que foram feitas através de perguntas Em seguida, um experimento prático foi aplicado relacionadas às metodologias que eles haviam (Figura 3), utilizando objetos de fácil acesso como, um vivenciado durante o ensino de ciências (Figura 1). saco plástico, uma seringa e uma colher, para representar o processo de condensação das gotículas de água nas nuvens até sua precipitação, formando assim a chuva. Desse modo, a seringa foi utilizada para colocar as gotas no plástico, representando as nuvens, e a colher foi utilizada para juntar as gotas e formar a chuva.
Figura 4. Explicando o processo de respiração.
A aula sobre a formação do arco-íris foi abordada de maneira expositiva sobre o seu processo, mostrando como Isaac Newton descobriu esse fenômeno utilizando um prisma, concluindo que a luz do Sol Figura 3. Aplicação do experimento prático. quando atravessa gotículas de água, resultava na formação do arco-íris. Nesse momento, o trabalho foi realizado na perspectiva do letramento científico, que de acordo Após isso, foi solicitado que os alunos com Pisa (2015) refere-se a capacidade de confeccionassem o seu próprio Disco de Newton, que compreender conceitos científicos, como também a de consiste em um disco colorido com as cores primárias reconhecê-los no cotidiano. Dessa forma, foi feito um (vermelho, laranja, amarelo, verde, azul, anil e violeta) elo entre a atividade prática com a formação de chuva que parado mostra a separação das cores de forma que ocorre na praia, sendo um exemplo do cotidiano nítida, mas quando é girado com grande velocidade as dos discentes, pois a escola está localizada próximo a cores se misturam, mostrando a composição da luz praia. Além disso, usou-se um método ativo, por branca. Para isso, foram dispostos alguns materiais estimular a autonomia dos alunos durante o como CD usado, papel A4, lápis de cor e cola para que experimento. eles construíssem o disco. Após colorirem o círculo, o material foi recortado para a realização do A aula sobre umidade do ar, orvalho, geada e arco-íris, experimento (Figura 5). teve como principal objetivo reconhecer as consequências da água no ambiente terrestre. Ela foi dividida em dois momentos, sendo o primeiro uma aula dialogada diferenciando orvalho e geada, na qual foram usadas as imagens presentes no livro didático, para que assim eles conseguissem relacionar os termos as imagens correspondentes. Já no segundo momento, para relacionar a umidade do ar com os problemas de saúde, foi utilizado um modelo didático do sistema respiratório humano (Figura 4), criado para explicar de forma dinâmica e visual, o que ocorre durante a respiração de um ar seco e um ar úmido. Com isso, foi utilizado o letramento científico ao diferenciar o que ocorre quando respiramos o ar em uma cidade mais próxima do litoral Figura 5. Experimentação com o Disco de Newton. paraibano (úmido) e o que difere se respiramos o ar de cidades localizadas no interior do estado (seco). Após Para finalizar a aula e avaliar se os alunos conseguiram a explicação, foi solicitado que os alunos relatassem o compreender o conteúdo, foi utilizado um recurso que haviam entendido sobre o processo da respiração digital, o aplicativo educacional chamado Plickers, no diante do que foi abordado na aula, uma forma de qual foi aplicado um questionário (Figura 6). Desse estimular a autonomia dos mesmos. modo, as perguntas eram dispostas na tela do computador e os alunos levantavam os QR Codes com a resposta de acordo com a alternativa correta (A, B, C ou D) e com o celular das licenciandas, as respostas foram captadas e registradas simultaneamente na tela do computador. Figura 6. Aplicação do questionário no Plickers. Figura 8. Exibição de uma animação no 7º ano. Havia um total de 4 questões sobre o conteúdo, das Dessa forma, o uso do letramento científico foi posto quais os alunos acertaram a maioria delas, como é em prática com o levantamento de uma discussão possível observar nos percentuais, mostrando que sobre um assunto que estava sendo bastante noticiado conseguiram interpretar seus enunciados e inferir boa naquela semana, que eram as queimadas no bioma parte do assunto (Figura 7). Amazônia e seus impactos ambientais. Após finalizada a discussão, houve um breve momento de exposição dialogada sobre o conteúdo e em seguida, foi aplicado um jogo avaliativo (Figura 9), denominado Jogo da Memória Ecológico. Nele os alunos puderam interagir entre si, discutindo e relacionando os conceitos a sua respectiva imagem, fortalecendo seu papel ativo.
Figura 7. Resultado do questionário feito no 6º ano.
Já na turma do 7º ano foi abordado o conteúdo de ecologia e adaptação aos fatores não vivos. Essa aula teve como objetivo explicar o conceito de ecologia, entender as consequências da interferência humana na Figura 9. Aplicação do Jogo da Memória Ecológico. natureza e diferenciar as adaptações dos animais nos diferentes ambientes. A regência do conteúdo de adaptação e cadeias alimentares, teve como principal objetivo identificar Para isso, a aula foi iniciada com o auxílio de uma as diferentes formas de alimentação dos animais, além ferramenta digital, com a exibição de uma animação de analisar os diferentes tipos de cadeias alimentares, (Figura 8), que posteriormente foi pauta para a diferenciando os animais herbívoros, carnívoros e discussão entre a relação da animação com a ação onívoros. Para isso, a aula foi iniciada com uma humana e sua interferência na natureza. Com isso, os exposição dialogada sobre os tipos de adaptações e de alunos debateram e deram exemplos de práticas cadeias alimentares, diferenciando também os animais humanas que puderam visualizar e que são um quanto a sua alimentação, de modo a relacionar com problema para a humanidade, necessitando de uma animais que eles conheciam. mudança de pensamento e de atitude. Posteriormente, foi aplicado um jogo didático como metodologia ativa avaliativa (Figura 10), que consistia em um caça-palavras onde os alunos deveriam encontrar as palavras que respondiam a pergunta correspondente a ela, sobre o conteúdo abordado na aula. Figura 12. Resultado do questionário feito no 7º ano. Figura 10. Alunos respondendo o caça-palavras. Diante das aulas ministradas no período de regência, A aula sobre as adaptações ligadas à alimentação e ficou clara a importância de fazer conexões entre a relacionadas à propagação da espécie, teve como teoria e a prática, pois o papel de licenciandas objetivo principal entender as adaptações utilizadas possibilitou a vivência do que de fato é ser docente e para a sobrevivência dos animais. Com isso, foi as dificuldades a serem enfrentadas dentro e fora da ministrada uma aula expositiva dialogada sobre o sala de aula no cotidiano escolar. conteúdo em questão, com a leitura dirigida de um texto do livro didático juntamente aos alunos. A utilização do letramento científico nas aulas, proporcionou a educação científica em um processo Após isso, a ferramenta digital Plickers (Figura 11) foi cultural dentro da sociedade tecnológica, onde, utilizada como método avaliativo, bem como ocorreu concordamos com Santos (2007) que trata a no 6° ano, no entanto dessa vez, contendo 4 perguntas linguagem científica como uma ferramenta na sobre o conteúdo de adaptações e propagação das compreensão da cultura moderna no ensino de espécies. ciências. Portanto, beneficia a formação do cidadão crítico, sendo capaz de entender e atuar no mundo em que vive (Branco et al., 2018). Além disso, as MAAs propiciaram aos alunos um momento de debate e discussão, que de acordo com Borges e Alencar (2014), contribui para o crescimento pessoal e interpessoal dos discentes. CONCLUSÃO Dessa forma, o período de regência que o estágio proporcionou, foi totalmente necessário para o crescimento na vida acadêmica. Tendo sido importante para uma melhor compreensão da Figura 11. Aplicação do Plickers no 7º ano. realidade escolar e em sala de aula, possibilitando Com a aplicação desse questionário, foi constatado experienciar as dificuldades que podem surgir no que os alunos acertaram quase 100% das questões, futuro docente. Com isso, a vivência em sala de aula como é possível ver nos percentuais (Figura 12), permitiu uma aproximação entre as licenciandas com mostrando que conseguiram interpretar as questões e a realidade das escolas públicas de nível básico, inferir quase todo o assunto ministrado, permitindo uma troca mútua de conhecimentos. assemelhando-se ao resultado que foi obtido na outra Ademais, no decorrer da regência foi possível turma. perceber a individualidade dos alunos, em especial sobre o comportamento e ações de cada um. E diante disso buscar os melhores métodos para não só chamar a atenção dos estudantes, mas também atender as necessidades particulares de cada um durante as aulas. Utilizar recursos digitais foi muito eficaz, uma vez que capturam a atenção dos alunos, aguça a curiosidade e permite uma maior dinamicidade ao ensino e à aprendizagem. Realizar a caracterização das turmas, foi essencial para um bom planejamento e desenvolvimentos das atividades. Isso porque com base na caracterização, foi possível determinar quais MAAs seriam utilizadas em Pisa, O. Programa Internacional de Avaliação de cada aula e que conteúdos interligar com o letramento Estudantes Matriz de Avaliação de Ciências. científico. Resumo do Documento: PISA. 2015. Diante disso, houve a mudança da posição de Santos, W. L. P. Educação científica na perspectiva de licenciandas observadoras para a postura de docentes letramento como prática social: funções, na prática. Com isso, a regência promoveu autonomia princípios e desafios. Revista Brasileira de e também responsabilidade, uma vez que, foi Educação, v. 12, p. 474-492, 2007. assumido o papel de mediadoras em um caminho para Scalabrin, I. C.; Molinari, A. M. C. A importância da a construção do conhecimento dos alunos. prática do estágio supervisionado nas REFERÊNCIAS licenciaturas. Revista Unar, v. 7, p. 3, 2013. Andrade, A. M. A. O Estágio Supervisionado e a Vasconcelos, S. D.; Souto, E. O livro didático de Práxis Docente. In: Silva, M. L. S. F. (Org.). Ciências no Ensino Fundamental – proposta de Estágio Curricular: Contribuições para o critérios para análise do conteúdo zoológico. Redimensionamento de sua Prática. EdUFRN, Ciência & Educação, v. 9, p. 93-104, 2003. Natal, 2005. Borges, T. S.; Alencar, G. Metodologias ativas na promoção da formação crítica do estudante: o uso das metodologias ativas como recurso didático na formação crítica do estudante do ensino superior. Cairu em Revista, v. 03, p. 119-143, 2014. Branco, A. B. et al. 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