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Resumo
O presente trabalho tem por objetivo avaliar o método de ancoragem do tirante e a contribuição da armadura
de costura na resistência de consolos de concreto. Para isso, foram realizados dois ensaios experimentais
em pilares com consolos curtos, em escala reduzida. Eles apresentaram taxas de armadura iguais, variando
o método de ancoragem do tirante, sendo um dos modelos com ancoragem reta e o outro em gancho em
ângulo reto, e a presença de estribos na região de ancoragem. A carga de ruptura obtida nos ensaios
experimentais foi comparada com a prevista pelo modelo normativo da NBR 9062 (ABNT, 2017) e, também,
por dois modelos teóricos que consideram a contribuição da armadura de costura na resistência do consolo.
Concluiu-se, portanto, que a armadura de costura, quando distribuída em 2d/3, sendo d a altura útil do
consolo, aumenta a resistência do consolo para cargas verticais. Desta forma, a área de aço da armadura do
tirante pode ser diminuída. Além disso, a presença de estribos na região de ancoragem do tirante contribuiu
para confinar o concreto e aumentar a rigidez do consolo, porém, não foram observadas deformações
significativas na armadura transversal.
Palavra-Chave: Consolo. Armadura de costura. Ancoragem.
Abstract
The present work aims to evaluate two different types of anchorage of the tie rod and the contribution of the
horizontal stirrup in the strength of concrete corbels. It contains an experimental program with two small scale
specimens with short corbels of the same size. They have the same reinforcement rate, a different type of
anchorage of the tie rod, and one of them has vertical stirrup in the anchorage of the tie rod. The ultimate loads
were compared with the foreseen standard NBR 9062 (ABNT, 2017) and two analytical calculation models
that consider the contribution of the horizontal stirrups in the strength of the corbel. It was concluded that the
horizontal stirrup increases the strength of the corbel for vertical loads when it is in 2d/3 where d is the effective
depth of corbel. Thus, the steel area of the tie rod can be reduced. Moreover, the presence of stirrups in the
anchorage of tie rod contributed to increasing the stiffness of the corbel. However, deformations were not
observed in the vertical stirrups.
Keywords: Corbe. Horizontal stirrup. Anchorage.
2 Consolo
A NBR 9062 (ABNT, 2017) considera consolo como sendo o elemento em balanço onde a
relação a/d é menor que 1, sendo: “a” a distância entre a face do pilar e a posição de
aplicação da carga; e “d” a distância do eixo da armadura principal (tirante) à face inferior
do consolo.
Franz e Niedenhoff (1963) apud Leonhardt e Mönning (1978) realizaram estudos
experimentais de fotoelasticidade e, desta forma, determinaram as trajetórias de tensões
em consolos com a/d = 0,5. Estes estudos revelaram que as tensões de tração são
praticamente constantes em todo o comprimento entre o ponto de aplicação da carga e o
engastamento. A diagonal comprime-se junto ao canto inferior do consolo e as tensões são
fortemente inclinadas. De acordo com Leonhardt e Mönning (1978), o consolo resiste à
força solicitante como uma treliça simples, conforme apresentado na Figura 1a.
A NBR 9062 (ABNT, 2017) recomenda que os efeitos das forças horizontais que
comprimam o plano de ligação entre o consolo e o elemento de sustentação sejam
desprezados. Além disso, avalia que as forças horizontais que gerem efeitos de tração no
plano de ligação sejam absorvidas integralmente pelo tirante. Considera ainda que o
método de dimensionamento dos consolos deve ser de acordo com a relação a/d. Para
consolos com relação a/d entre 0,5 e 1,0 o dimensionamento deve ser conforme modelo de
bielas e tirantes, apresentado na Figura 1b.
Figura 2 - Modelo de cálculo de consolos com armadura de costura proposto por Campione et al. (2005)
Fernandes e El Debs n
zi d i
(2005) apud Araújo Fd = Asi f yd (4)
(2016) i =1 a d
Onde:
a é a distância entre o ponto de aplicação da carga e a face do pilar;
As é a área da armadura;
As,cost é a área da armadura de costura;
As,tir é a área de armadura do tirante;
d é a altura útil do consolo;
Fd é a força de ruína do consolo;
fyd é a tensão de escoamento do aço, valor de cálculo;
i é o número de barras incluindo o tirante;
s é o espaçamento da armadura de costura;
z é o braço de alavanca;
α é o ângulo entre o tirante e a biela de compressão;
R1
=
R1 + R2
R1 é a rigidez da treliça primária;
R2 é a rigidez da treliça secundária.
3 Programa experimental
3.1 Projeto e fabricação dos modelos experimentais
O programa experimental desenvolvido investigou a ancoragem da armadura do tirante e a
presença de estribos na ancoragem. Composto por dois modelos, sendo: o P1M1MON
possui ancoragem do tirante em gancho e não tem estribos na região de ancoragem; e o
P1M2MON possui ancoragem reta e estribos na região de ancoragem. A Tabela 2
apresenta a descrição resumida dos modelos. A Figura 4(a) apresenta a preparação para
a concretagem do pilar P1M1MON e a Figura 4(b) o pilar P1M2MON concretado.
Foi utilizado modelo reduzido de acordo com os ensaios de Damasceno (2016). O
dimensionamento e o detalhamento, que foram feitos seguindo as prescrições das normas
NBR 9062 (ABNT, 2017) e NBR 6118 (ABNT, 2014), encontram-se em Sanches (2019).
4 Resultados e discussões
Foram obtidos nos ensaios dos modelos experimentais valores de forças máximas,
deslocamento no consolo, e deformações, na armadura e no concreto, correspondentes a
tais forças.
A Figura 6 e a Figura 7 apresentam o modo de ruptura dos modelos. Ambos romperam no
pilar por flexo-compressão. No P1M1MON, a primeira fissura ocorreu com
ANAIS DO 62º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2020 – 62CBC2020 7
aproximadamente 83 kN e a ruína com 347,52 kN. No P1M2MON, a primeira fissura ocorreu
com aproximadamente 73,58 kN e a ruína com 391,42 kN.
400
350
300
FORÇA (kN)
250
200
P1M1MON
150
P1M2MON
100
50
0
0 2 4 6 8 10
DESLOCAMENTO (cm)
A Figura 9 apresenta a deformação nas armaduras que compõem o tirante (Ponto A e B),
costura (Ponto C e D) e o estribo localizado no meio da região de ancoragem (Ponto F e
S15).
O tirante, na interface (Ponto A), comportou-se de forma semelhante até aproximadamente
200 kN, quando, então, a curva do P1M2MON desvia-se de P1M1MON e apresenta
comportamento mais rígido.
O estribo comprimiu nas laterais e tracionou na parte superior. Observou-se deformação de
0,74‰ na ruptura.
400 A - P1M1MON
A - P1M2MON
350
B - P1M1MON
300 B - P1M2MON
F - P1M2MON
FORÇA (kN)
250
S15 - P1M2MON
200 C - P1M1MON
150 C - P1M2MON
D - P1M1MON
100
D - P1M2MON
50
0
-1 0 1 2 3 4
DEFORMAÇÃO (‰)
400
350
CG - P1M1MON
300
CG - P1M2MON
FORÇA (kN)
250
200
150
100
50
0
-1 -0,5 0 0,5 1 1,5 2
DEFORMAÇÃO (‰)
Os modelos experimentais apresentaram valores maiores que o previsto pela NBR 9062
(ABNT, 2017) e mais próximos aos valores previstos pelos modelos analíticos.
Isso pode ser explicado pela contribuição da armadura de costura na flexão, que não é
considerada na norma brasileira.
A Tabela 5 apresenta a carga última experimental e prevista em cada modelo de cálculo.
A Tabela 6 apresenta a relação entre a força experimental e a prevista.
a) P1M1MON b) P1M2MON
No modelo de bielas e tirantes da NBR 9062 (ABNT, 2017), além das resultantes do tirante
e da biela de compressão, existe uma resultante para a armadura de costura. Por este
modelo a carga última é de 238,48 kN. Entretanto, da forma como é prevista, a parcela de
contribuição da armadura de costura é, apenas 20,34 kN. A Figura 12 apresenta o diagrama
de esforço normal para a treliça da NBR 9062 (ABNT, 2017). A Tabela 8 possui as parcelas
de carga resistida pelo tirante e pela armadura de costura. A carga resistida pela armadura
de costura é, apenas, 8,5% da carga total.
Figura 12 - Diagrama de esforço normal da treliça proposta pela NBR 9062 (ABNT, 2017)
Por meio do diagrama de esforço normal da treliça múltipla de Campione (2005), observa-
se que, a treliça secundária, formada pela armadura de costura e pela segunda biela,
contribui na resistência do consolo, absorvendo parte do carregamento aplicado, conforme
apresentado na Figura 13. Ao comparar esta treliça com a treliça simples, formada pela
armadura do tirante e pela primeira biela (Figura 11), o esforço na biela da treliça simples
é maior. Pois este modelo considera que uma única treliça absorve todo o carregamento.
Tal fato também foi observado na Tabela 7, onde a tensão na biela prevista pela NBR 9062
(ABNT, 2017) foi maior do que a obtida experimentalmente.
5 Conclusão
A armadura de costura e os estribos exercem grande influência no comportamento do
consolo quanto à resistência, ductilidade e fissuração.
A presença de estribos na região de ancoragem do tirante principal contribuiu para confinar
o concreto e aumentar a rigidez do consolo, porém, as deformações nos estribos foram
inferiores a 1‰. Ressalta-se que não ocorreram fissuras de tração no pilar na região do
consolo. Os pilares estiveram submetidos à flexo-compressão apresentando fissuração
conforme este comportamento.
A norma brasileira subestima a força de ruína do consolo devido a não consideração da
armadura de costura. A qual proporcionou um aumento significativo na resistência dos
consolos. Os modelos analíticos, que consideram sua contribuição na resistência,
forneceram valores mais próximos aos observados experimentalmente, aproximadamente,
20% menor que o experimental.
6 Agradecimentos
Os autores agradecem à empresa Holcim pelo fornecimento de cimento e apoio à pesquisa.
7 Referências
ARAÚJO, D. L; NETO, A. P. S; LOBO, F. A; EL DEBS, M. K. A. Análise comparativa de
modelos de cálculo para consolos de concreto. IBRACON Structures and Materials
Journal. Volume 9. Nº 3. 2016.
FRANZ, G.; NIEDENHOFF, H. Die bewehrung von Konsolen und gedrungenen Balken.
Beton und Stahalbetonbau, v. 58, n. 5, p. 112-120, 1963.
HAGBERG, T., Design of Concrete Brackets: On the Application of the Truss analogy.
ACI Journal,1983.