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Introdução
A reforma dos sistemas de gestão da Administração Pública é um fenómeno
incontornável no contexto europeu, ao qual Portugal não está, naturalmente, indiferente.
Com efeito, para fazer face aos novos patamares de exigência e de escrutínio por parte de
cidadãos e empresas, relativamente aos serviços públicos prestados, muitas mudanças
estruturais estão já consensualizadas e em fase de implementação/ maturação.
Desde processos mais fluídos e flexíveis, estruturas organizacionais mais horizontais,
liberdade e autonomia nas decisões dos níveis intermédios (empowerment), gestão do
desempenho com enfoque nos resultados e no seu impacto social, muitos são os exemplos
desta realidade já por todos reconhecida.
Ora bem, para criar as condições básicas para este processo de mudança, a gestão de
recursos humanos necessita de um novo paradigma, bastante diferente da gestão
burocrática, legal e administrativa dos sistemas tradicionais. Gerir pessoas e processos
num contexto de complexidade e mudança exige um desenvolvimento contínuo de
determinadas competências, antes menosprezadas ou ignoradas.
Este é um caminho genérico, que começa a ser encarado por todos como uma boa prática
em várias entidades empresariais. Mas, dentro desta complexa área da gestão, em
constante evolução, há que destacar um factor crítico essencial: as competências mais
especificamente relacionadas com a Liderança e a Gestão de equipas.
Ao contrário do que o senso comum muitas vezes nos induz, muitas destas competências
mencionadas, não são aptidões inatas, inerentes à natureza de cada indivíduo, e baseadas
apenas no carisma, essa variável tão relevante mas claramente insuficiente. São passíveis
de ser adquiridas, aperfeiçoadas, mobilizadas e “transferidas” entre contextos
profissionais.
Como tal, por tudo isto, a liderança e seu exercício, os instrumentos de aplicação, o seu
impacto nas pessoas e nas organizações são realidades próprias e irrepetíveis noutros
sectores mais orientados ao lucro.
Naturalmente que a definição dos modelos e a sua validação, mais ou menos empírica,
não basta. É importante, definir formas de avaliação e monitorização e estabelecer um
processo assente em “indicadores comportamentais” que possam, da forma mais
objectiva possível, mostrar o desempenho e, essencialmente as causas para esse mesmo
desempenho. Apesar de ser uma matéria ainda embrionária, em muitos países europeus
(Reino Unido, Países Baixos, Bélgica, países escandinavos, entre outros) foram já
estudados, conceptualizados e testados modelos de competências para a administração
pública e, em particular, para os seus quadros dirigentes. As experiências têm
demonstrado que muitos dos projectos de reforma no sector público falham ou obtêm
resultados humildes porque existem lacunas evidentes na questão da Liderança – tanto a
níveis políticos como aos níveis da alta administração. Mesmo o muito falado
sponsorship (apadrinhamento, patrocínio) não se manifesta como um factor de sucesso
que obrigatoriamente deve ser nos projectos de mudança.
Um modelo desta natureza não deve, pois, ser construído de forma leviana ou baseado em
supostas boas práticas e casos de estudo. Pelo contrário, deve ser sustentado, a montante,
num apurado diagnóstico organizacional que percorra toda uma análise estratégica, desde
a missão ao desdobramento dos vários processos. Deve conter alguns componentes
essenciais:
Em relação a cada função/ cargo, deverá ser igualmente definido um Perfil Individual de
Competências (PIC) com a respectiva descrição e ponderação de competências.
c) Indicadores comportamentais
Tratam-se de manifestações visíveis da aplicação de competências, patentes nos
comportamentos desenvolvidos nos diversos processos de trabalho. Permitem aferir pois
a importante questão da aplicabilidade.
d) Fontes de informação
As fontes de informação são, frequentemente, o elo perdido na questão da avaliação de
competências. Neste âmbito, trata-se de saber em que processos (registados ou não em
termos documentais) iremos encontrar a materialização dos comportamentos inerentes às
competências identificadas no portfolio e no PIC – poderão ser, por exemplo, a avaliação
formal do desempenho, indicadores de performance de determinada equipa ou
departamento (os chamados KPI’s), testemunhos informais registados a stakeholders
variados (colegas, parceiros, utentes), entre outros;
Os processos poderão ser críticos (aqueles relacionados com a criação efectiva de valor -
prestação do serviço – para o seu destinatário) ou acessórios (aqueles que sustentam o
funcionamento dos processos críticos).
Cultura de Risco - ter uma cultura de risco significa saber discernir o risco (e a
oportunidade) que existe em cada mudança e em cada opção/ decisão que
tomamos; as organizações públicas e os seus líderes terão de “educar” os seus
funcionários para pensamento de análise de risco, monitorização dos níveis de
risco e manutenção de um ambiente de controlo adequado;
Por último, os líderes seniores, com provas dadas e que muitas vezes são colocados à
margem dos processos de mudança, terão um papel relevante na partilha desse
conhecimento. Com efeito, sendo repositórios de conhecimento prático assente no “saber-
fazer”, a seu valor acrescentado é evidente para a construção dos processos mais
informais de acompanhamento, defendidos neste documento.
É, pois, importante preparar este “cenário” e o Líder tem aí um papel essencial. Como é
reconhecido por todos, as instituições públicas ainda se caracterizam, maoiritariamente
por ambientes fechados e pouco permeáveis à inovação, processos rígidos e
burocratizados e entropias diversas ao nível da autonomia e do empowerment, hoje
considerado incontornável para o desenvolvimento e crescimento de gestores e equipas.
Ambientes abertos, saudáveis, catalizadores da inovação e reconhecedores do mérito,
devem, pois, ser trabalhados. O convite ao empenho e à participação deve ser uma
constante, uma vez que, se os funcionários abraçarem a missão e a visão que lhe é
proposta e acreditarem no valor acrescentado do seu trabalho, os resultados serão
(positivamente) diferentes.
Um verdadeiro líder, para conseguir mobilizar vontades, terá de ter em atenção a este
autêntico “barómetro social” e a sua actuação deverá, nesta matéria, ser contingencial e
adequada ao binómio metas – recursos.
Não menos importante, embora ainda não tratado com a relevância que merece, é a
questão da comunicação interna. Na maioria das vezes, este processo assenta apenas em
actividades informais, não integradas e avulsas. O líder deverá, para além das suas
capacidades de comunicação já mencionadas e descritas, prover para que haja uma
comunicação interna adequada, ao nível da sua esfera de responsabilidade (seja uma
entidade, divisão ou departamento).
Á sua escala, e tendo em conta o bons princípios da coerência (global) e da
subsidiariedade (micro), os líderes devem organizar através dos meios ao seu dispor,
rotinas que tragam conhecimentos relevante sobre:
- Organização (alterações na estrutura e nos processos);
- Resultados (performances atingidas e ênfase nos bons exemplos);
- Informação externa (dados sobre sector e públicos externos relevantes para a missão dos
funcionários);
De destacar ainda duas questões finais. Em primeiro lugar, há que avaliar regularmente o
próprio modelo de gestão de avaliação e gestão de competências – a adequação de
competências, indicadores comportamentais, fontes de informação, a ligação com a
performance, entre outros. Em concreto será que responde a uma questão essencial:
estamos, de facto, a transformar a Liderança num indutor da Qualidade e do Impacto
positivo da nossa actividade? Por outro lado, parece lógico que exista um alinhamento
entre o desempenho e o “crescimento” ao nível das competências e o sistema de
remuneração e recompensa. Tal é essencial para que, numa cultura cada vez mais
imbuída pelo mérito, os esforços de cada Líder sejam, efectivamente, reconhecidos e
incentivados.
Para melhor ilustrar aquilo que, em termos práticos, será a pedra basilar destes modelos,
apresento em seguida um eventual portfolio de competências e respectivos indicadores
comportamentais, exemplo com afinidades com o que vai sendo desenvolvido no sector
público um pouco por toda a Europa.
Competências Conceito/ Descrição Sintética Possíveis indicadores comportamentais
Demonstra possuir um claro entendimento da missão, do contexto Definição de prioridades de correspondem ao cumprimento
Visão/ consciência estratégico e das variáveis que condicionam a actividade da dos objectivos globais; capacidade de alinhar estratégia com
estratégicas organização, asumindo um visão estruturante, de longo prazo, que a execução; eficácia no incremento da "literacia estratégica",
partilha com os seus colaboradores. junto dos seus colaboradores.
Desenvolvimento de acções que lhe permitem atingir x% dos
Procura atingir níveis de eficiência e eficácia que conduzam aos
Orientação para os objectivos; desenvolvimento de processos de auditoria e
objectivos definidos, alinhado para tal os comportamentos/ acções
resultados monitorização constante dos resultados; promoção de
da equipa que lidera.
reuniões de balanço e realinhamento.
Promoção de acções que lhe permitem atingir x% de
Revela entender os factores críticos para a satisfação dos utentes e
Orientação para os conformidade; cultura de qualidade materializada em taxa de
procura alinhar processos, vontades e recursos para responder a
Utentes/ Qualidade x% de reclamações/ atrasos; desenvolvimento de processos
esses níveis de qualidade, os quais monitoriza regularmente.
de auditoria e monitorização constante da qualidade.
Respeito pelos compromissos assumidos com públicos
Coloca os interesses da Organização acima dos seus próprios
internos e externos à organização; total responsabilidade
Ética e integridade interesses particulares, pautando a sua conduta como um exemplo
pelos actos da equipa; adopção de postura de sigilo/ discrição
de valores éticos de morais geralmente aceites.
relativamente a matérias confidenciais.
Procura acompanhar com rigor a evolução das competências e da Estabelecimento de reuniões regulares de apreciação e
Coaching/ Apoio à
performance da sua equipa revelando capacidade de diagnóstico e detecção de dificuldades no desempenho; iniciativa de
Equipa
dinamizando acções para a melhoria contínua. propostas de formação e desenvolvimento de competências.
Notas Bibliográficas:
WALLIS, Joe S. & DOLLERY, Brian - Reform and Leadership in the Public Sector: A
Political Economy Approach. Edward Elgar Publishing, 2007;
ALMEIDA, Paulo Pereira & REBELO, Glória – A Era da Competência, Editora RH,
2004;
NIVEN, Paul R. - Balanced Scorecard step by step for Government and Nonprofit
Agencies, J. Willey & Sons, 2003;
CARAPETO, Carlos & FONSECA, Fátima - Administração Pública: Modernização,
Qualidade e Inovação. Edições Sílabo, 2006
Autor:
Carlos Miguel Sezões
Managing Director da LearnView