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“Completamente humilde, sensato, flexível e prático.

O Projeto Videira
define um modelo que é tanto radical quanto administrável para a igreja local.
Em vez de levar-me a sentir culpado ou deprimido, a leitura me revigorou e
refrescou minha paixão pelo ministério do evangelho ‘no chão de igreja’!”
— David Helm, pastor da Igreja da Santíssima Trindade
(Chicago/EUA)
“Certos autores conseguem dialogar com o leitor, antecipando suas dúvidas,
trazendo respostas claras e propostas práticas. Neste livro, o leitor encontrará
este tipo de diálogo construtivo, interessante e desafiador que valoriza a
Palavra de Deus e o caminho do discipulado. Vale destacar que não é uma
proposta pronta, mas um esboço que permitirá ao leitor interagir, adaptar à
sua realidade e aplicar com muita firmeza teológica. Projeto Videira mostra
sua intenção de formar discípulos de Cristo, a partir da exposição da Palavra
de Deus. Este livro é mais um bom exemplo da possibilidade de ter fidelidade
às Escrituras com a prática do discipulado.”
— Leonardo Sahium, pastor da Igreja Presbiteriana da Gávea
(Rio de Janeiro/RJ)
“Aquilo que já era bom em A treliça e a videira fica ainda melhor em Projeto
Videira. Não me sinto apenas feliz, mas obrigado a recomendar a nova obra
de Marshall e Payne. Prático, o livro nos apresenta respostas e convicções
para todos que almejam excelência no discipulado.”
— Wilson Porte Jr, pastor da Igreja Batista Liberdade
(Araraquara/SP)
“O livro que você tem em mãos é a sequência que faltava. A treliça e a
videira, obra aclamada que antecede a esta, esboçou de forma esplêndida o
que Mark Dever chamou de “uma mudança crucial que é necessária à
maneira de pensar de muitos pastores”. Agora, em Projeto Videira, toda a
sabedoria pastoral, a enorme sensibilidade humana e a forma tão sensacional
de escrever de Colin Marshall e Tony Payne ressurgem — de um jeito ainda
mais prático; de fato, como um manual — para auxiliar pastores e igrejas no
cumprimento da Grande Comissão de Jesus: fazer discípulos. Enquanto no
primeiro livro nós fomos apresentados a ‘uma mentalidade de discipulado
que muda tudo’, neste nós aprenderemos a cultivar ‘uma cultura de
discipulado’ que dará forma ao ministério e à igreja. Sensacional!”
— Leandro B. Peixoto, pastor da Segunda Igreja Batista
(Goiânia/GO)
“A vocação da igreja é fazer discípulos, e para criar uma cultura de
discipulado é preciso mudar as convicções e as práticas que por vezes operam
como obstáculos à missão. Colin Marshall e Tony Payne apresentam
proposições e argumentos muito bem fundamentados na Palavra de Deus
como também oferecem preciosas diretrizes práticas para promover o
crescimento da igreja através do discipulado. Crescimento, uma metáfora
biológica, demanda tempo, envolve processo e exige paciência. O
crescimento vem de Deus, mas plantar e regar são responsabilidades
humanas. O discipulado é essencial para vida da igreja e esse livro nos ajuda
a entender e aplicar essa verdade.”
— Judiclay Santos, pastor da Igreja Batista do Jardim Botânico (Rio de
Janeiro/RJ)
“Em meio a tanta confusão e heresias que usam o discipulado de forma
equivocada, Colin Marshall e Tony Payne presenteiam a igreja com um guia
sólido e prático capaz de nos tomar pela mão e caminhar conosco na
importante tarefa de criar uma cultura de discipulado em nossa vida e em
nossas igrejas.”
— Filipe Niel, pastor da Igreja Batista Vida Nova
(Caldas Novas/GO)
Sumário
Agradecimentos
Preparando o Cenário
A grande questão
Mudando a cultura
Fase 1 | Aprofundando as Convicções
Introdução
Convicção 1: Por que fazer discípulos?
Convicção 2: O que é um discípulo?
Convicção 3: Como se faz um discípulo?
Convicção 4: Quem faz discípulos?
Convicção 5: Onde fazer discípulos?
Resumo
Fase 2 | Reformando sua Cultura pessoal
Reformando sua cultura pessoal
Fase 3 | Avaliaçãohonesta e Amorosa
Avaliação honesta e amorosa
Fase 4 | Inovar e Implementar
Introdução
Área de foco 1: tornar o domingo uma referência
Área de foco 2: criar caminhos que promovam o avanço
Área de Foco 3: Planejar para o crescimento
Área de foco 4: criar uma nova linguagem
Fase 5 | Manter o Ímpeto
Manter o ímpeto
Epílogo
Apêndices
Apêndice 1 | A treliça e a videira: o que você perdeu?
Apêndice 2 | Repensando pequenos grupos
Recursos adicionais
Recursos adicionais
Recursos adicionais
Recursos adicionais
Agradecimentos
Ao escrever um livro sua mente se concentra nisso. E escrever um livro sobre
como proceder como servos de Deus, na igreja e em nome de Cristo,
realmente faz com que foquemos mente e coração. Estamos sendo fiéis à
mente revelada de Deus?
Tony e eu não escrevemos Projeto videira em nossos escritórios. Os
últimos anos desde que A treliça e a videira1 foi publicado foram de
conversas contínuas sobre a vida cristã, a igreja e o ministério. Tem sido
desafiador, humilhante, às vezes agonizante e, sobretudo, exultante. Somos
extremamente gratos aos milhares de pastores e presbíteros que dialogaram
conosco em oficinas, conferências e seminários em todo o mundo.
Também queremos reconhecer pessoas específicas que investiram tempo e
reflexão nessa conversa.
Cerca de 40 pastores aceitaram meu convite para orientar seus ministérios
enquanto tentavam implantar os princípios de A treliça e a videira em suas
igrejas. Essa experiência de ver em primeira mão igrejas muito diferentes
lidando com novas formas de pensar e agir foi inestimável.
Uma dúzia de pastores analisou as primeiras versões do material e
ofereceu feedback detalhado e nos encorajou para continuar. Essa
contribuição aperfeiçoou nossa compreensão de ministério e moldou
significativamente o produto final.
Gary Bennetts, Stuart Holman e Greg Peisley passaram um ano inteiro
usando as primeiras versões deste material, não apenas em suas próprias
igrejas, mas também como mentores em igrejas vizinhas. Steve Lindemann
nos preparou para entender o processo de mudança cultural ao longo do
caminho. Eu sempre aguardava com expectativa as nossas reuniões mensais,
pois elas nos ajudaram a tornar a coisa toda mais utilizável (assim espero).
Phil Colgan e Gary Koo, pastores das igrejas locais onde Tony e eu
estamos envolvidos, nos encorajaram a ensinar e experimentar essas ideias,
porque eles são totalmente dirigidos pelas mesmas convicções. Nós
precisávamos desse espaço para trabalhar com pessoas e grupos enquanto
escrevíamos sobre o ministério. Obrigado, Phil e Gary!
Também somos muito gratos aos oito pastores que concordaram em ser
entrevistados sobre seus ministérios e permitir que trechos dessas conversas
fossem incluídos no livro.
Recentemente, Andrew Heard e Craig Tucker passaram horas lendo nosso
esboço e nos enviaram feedback detalhado. Eles têm vivido este projeto por
muitos anos como pastores cuja prática ministerial deriva de profunda
reflexão teológica. Eles continuarão sua crítica construtiva a este livro muito
depois de sua publicação, para benefício de todos nós. Dois outros amigos
merecem menção especial. Um de nossos jovens escritores teologicamente
afiados, Guan Un, trabalhou longa e proveitosamente sobre o tema do
discipulado para produzir artigos que moldassem o que você está prestes a
ler. E meu colega Craig Glassock está construindo a comunidade de apoio
online que será de grande benefício para todos os que embarcam neste
projeto. Sua paixão pelo discipulado não tem limites.
Também somos muito gratos à equipe da Matthias Media (especialmente a
editora-chefe, Emma Thornett), que não apenas trabalhou arduamente para
tornar este livro uma realidade, mas tem praticado seus princípios por quase
três décadas na publicação de recursos ministeriais para discipulado. De fato
(como você descobrirá), não conseguimos deixar de recomendar e elogiar os
recursos da Matthias Media em vários pontos ao longo do livro. Esses são
recursos que conhecemos e confiamos — esperamos que você não se
incomode com nosso entusiasmo e defesa da nossa casa.2
E o que posso dizer sobre o Tony? Simplesmente que o texto final é dele.
Alguém teve que transformar essa conversa de seis anos em um todo
coerente. Tinha que ser alguém que carrega essas convicções no sangue por
décadas e alguém que estuda e escreve sobre essas coisas desde sempre.
Quando lia o manuscrito de Tony, dizia a mim mesmo: “Sim, é exatamente
isso que queremos dizer, e o que, em nome de Deus, precisa ser dito a essa
hora”.
A Deus seja a glória!
Colin Marshall, fevereiro de 2016.
Colin Marshall e Tony Payne, A treliça e a videira: a mentalidade de discipulado que muda tudo (São José dos Campos: Fiel,
2016).
N. do E.: A maior parte desses recursos não foi traduzido do inglês. Contudo para aqueles que desejam aprofundar-se,
mantivemos as recomendações nas notas de rodapés.
Preparando o Cenário
A grande questão
Nós conversávamos boa parte do dia. Éramos cerca de sessenta na sala, de
muitas igrejas diferentes do meio-oeste dos Estados Unidos. Então um pastor
levantou e fez a pergunta que nos foi feita inúmeras vezes nos últimos seis
anos.
“Veja, eu li A treliça e a videira. Eu achei o livro ótimo. Expressou o que
sempre pensei e acreditei sobre o ministério cristão. Então, Deus os abençoe,
e obrigado por escrevê-lo.
Mas à medida que lia, também tive essa sensação estranha por dentro. Só
sei que o que realmente acontece em nossa igreja está muito distante da visão
do ministério de discipulado que vocês descrevem e no qual eu realmente
acredito. Não sei exatamente como ficamos tão longe disso. Mas o problema
é que realmente não sei por onde começar ou como obter progresso. É como
se todas as estruturas e ministérios existentes em nossa igreja fossem feitos
de concreto.
Então, aqui está meu problema básico: como eu posso mudar toda a
cultura de nossa igreja na direção do discipulado?”
Ele era batista, de uma igreja de tamanho médio em Chicago, mas poderia
ter sido um presbiteriano de Melbourne ou um anglicano evangélico da
Cidade do Cabo. Em conversas, e-mails, oficinas e conferências, já nos
fizeram alguma versão dessa pergunta mais vezes do que podemos nos
lembrar desde que A treliça e a videira se tornou um improvável best-seller
internacional.3
Eu digo improvável porque, para nós, A treliça e a videira era um livrinho
comum que consistia principalmente em ideias óbvias. Nós pensamos que ele
seria lido por um pequeno número de pessoas leais aqui na Austrália, e talvez
pudesse servir como uma declaração útil de princípios de ministério que
poderiam ser passados para a próxima geração.
No entanto, às vezes o óbvio é o que as pessoas mais precisam ouvir
(como quando a criança disse sobre o imperador: “Mas ele está nu!”). De
alguma forma, nossa reafirmação dos princípios bíblicos do “trabalho da
videira” e do ministério tocou pastores e líderes evangélicos de todo o
mundo.
Uma das consequências foi uma experiência imensamente rica pela qual
somos profundamente gratos a Deus. Ao longo dos últimos seis anos, falamos
em conferências e realizamos oficinas sobre A treliça e a videira em todo o
mundo. Tivemos a alegria de passar milhares de horas discutindo sobre
ministério com milhares de pastores e líderes leigos, de igrejas de diferentes
tamanhos, locais, denominações e culturas — da Cidade do Cabo a Chicago,
de Cingapura a Sydney, de Dublin a Dallas.
As pessoas iam a essas oficinas e conferências com todos os tipos de
perguntas e pensamentos sobre a filosofia ministerial apresentada em A
treliça e a videira. Três tipos de perguntas eram particularmente comuns:
• O que vocês realmente querem dizer com “discipulado” e “fazer
discípulos”? Vocês estão basicamente argumentando em favor de mais
trabalho individual ou em pequenos grupos? Ou estão falando de mais
evangelismo? Ou as duas coisas, ou nada disso?
• Onde a pregação se encaixa no que vocês estão dizendo? Sua ênfase em
“treinar discípulos” não leva a uma desvalorização do ministério de
pregação expositiva — que é algo que temos lutado tanto para defender e
fortalecer ao longo desta geração?
• Vocês não acabaram fazendo das “treliças” (isto é, as estruturas e
suportes do ministério) as vilãs da vida da igreja? É possível que vocês
tenham subestimado a importância sistêmica de como a vida da igreja é
estruturada e organizada? Priorizar o “trabalho da videira” sobre o
“trabalho de treliça” leva a um menosprezo das muitas pessoas que
passam tantas horas trabalhando fielmente na “treliça”?4
Fomos enormemente abençoados ao falar repetidamente sobre essas
questões com muitos irmãos e irmãs diferentes, como um ferro afiando outro
ferro. Nos capítulos que se seguem, esperamos que o fruto dessas conversas
seja visto em uma apresentação aprimorada e aprofundada dos princípios
essenciais do ministério, enunciados pela primeira vez em A treliça e a
videira.
No entanto, a principal razão por que as pessoas vieram falar conosco nos
últimos seis anos foi para lidar com o dilema levantado pelo pastor de
Chicago. Em muitas igrejas ao redor do mundo, há uma lacuna imensamente
insatisfatória entre o que esperamos que o evangelho produza ao frutificar
entre nós e o que realmente vemos dia a dia e domingo a domingo. Para
colocá-lo nos termos que defendemos em A treliça e a videira, ansiamos que
o “trabalho da videira” ao estilo da Grande Comissão seja a agenda normal e
a prioridade dentro de nossas igrejas. Ansiamos que todos os membros de
nossa congregação compreendam e vivam isso — orar e alcançar os que
estão ao seu redor para fazer novos discípulos, e nutrir, edificar e encorajar
uns aos outros à maturidade em Cristo.
E, no entanto, quando olhamos para a lacuna entre essa empolgante visão
bíblica e a realidade da vida da igreja, nossos corações às vezes desanimam.
Nossas congregações locais parecem tão complexas e tão presas aos hábitos e
modos atuais de fazer as coisas. As estruturas e “treliças” existentes em nossa
igreja quase parecem ter vida própria.
Elas absorvem, assimilam ou repelem nossas tentativas de reforma e
mudança. Talvez essa conversa de “trabalho de videira” e de todo discípulo
ser um fazedor de discípulos funcione em outro lugar (em um campus
universitário, talvez), mas não parece estar pegando aqui. E se formos
honestos sobre os números, não estamos vendo muito crescimento; e o pouco
crescimento que vemos é em grande parte o resultado de transferências, e não
de conversões.
Poderíamos multiplicar os exemplos, ou expor esse tipo de cenário mais
demoradamente, mas isso apenas inflamaria o sentimento de desconforto que
muitos pastores, presbíteros e membros de igreja já sentem. Quando
trabalhamos duro, mas não vemos crescimento, isso machuca. Isso nos leva
ao inquirir sobre a soberania de Deus (Por que ele não está dando o
crescimento?), a nos compararmos com os outros (O que há de errado
comigo? Por que outros estão indo tão bem?) e, muitas vezes, a adotar o
último programa ou modelo de ministério da moda, esperando finalmente
alcançar o sucesso e o crescimento.
Conversando e pensando constantemente sobre essas questões nos últimos
seis anos, nós nos convencemos da necessidade de responder à pergunta que
o pastor batista de Chicago fez em nome de quase todas as igrejas
evangélicas no mundo ocidental: Como podemos mudar toda a cultura de
nossa igreja na direção do discipulado?
Essa é a questão que Projeto Videira pretende responder.
Pode parecer contraintuitivo dizer isso, mas uma das razões pelas quais
estamos tão interessados em responder a essa questão é que sabemos muito
bem a enorme pressão que muitos pastores e membros de igreja estão
sofrendo. Para muitos leitores deste livro, seja você um líder leigo perspicaz
ou um pastor de tempo integral, cada semana é uma nova luta simplesmente
para não afundar na areia movediça. Sabemos disso não apenas pela nossa
própria experiência de vida no ministério nas equipes pastorais da igreja, mas
pelos últimos seis anos de oficinas e treinamento de pastores e equipes de
liderança da igreja. Temos conversado constantemente com pastores e líderes
leigos que estão lidando com situações cansativas e emocionalmente
desgastantes — tudo, desde doenças, tristezas e mágoas em suas próprias
famílias até conflitos relacionais, problemas de saúde mental e abuso sexual
na família da igreja. Nós nos encontramos esperando por aquele ano
“normal” livre de crises, no qual poderemos realmente fazer algum
planejamento e progredir, mas ele nunca chega.
Para aqueles de nós que se sentem assim, trabalhar em um projeto para
mudar toda a cultura de nossa igreja pode parecer completamente além de
nosso alcance. E para alguns de vocês, isso pode ser verdade. Pode não ser o
momento certo para começar. Você pode querer ler este livro e preparar
alguns planos para começar corretamente daqui a um ou dois anos.
No entanto, como discutiremos a seguir, fazer discípulos é na verdade
chamar as pessoas à fé e à esperança em Jesus Cristo em meio a esta presente
era perversa, com todas as suas pressões. Tornar-se uma igreja mais focada
em fazer discípulos é tornar-se uma comunidade que compreenda mais
claramente por que a vida é muitas vezes difícil e que recursos Deus nos deu
para crescer em fé, esperança e amor em meio à luta. Uma igreja
discipuladora é, na verdade, mais capaz de lidar com as crises e pressões da
vida diária.
Além disso, um dos principais pontos de pressão para muitos pastores e
equipes de liderança de igreja é que simplesmente há poucas mãos sendo
colocadas na obra. Nós não estamos treinando e mobilizando um número
suficiente de nossos membros para serem colaboradores na tarefa, e assim a
pressão sobre o pastor e os principais líderes continua implacável. Precisamos
construir uma equipe maior de discipuladores engajados e preparados para
trabalhar juntos, e esse é um dos principais resultados de Projeto Videira.
Em outras palavras, uma razão muito importante pela qual escrevemos O
projeto videira, e pela qual exortamos você a embarcar nele assim que puder,
é que sabemos como a vida e o ministério da igreja podem ser difíceis.

UM LIVRO INCOMUM
É uma grande questão que estamos procurando responder (como mudar a
cultura da igreja na direção do discipulado), e a tarefa é dificultada pelo fato
óbvio de que cada igreja precisa de sua própria resposta. Cada igreja está
em um ponto diferente do espectro, tem diferentes pontos fortes e fracos,
enfrenta diferentes obstáculos e, algo crucial, tem pessoas diferentes com as
quais Deus a abençoou. Alguns de vocês podem olhar para a sua igreja e ver
a necessidade de uma reforma radical; outros podem achar que estão indo na
direção certa, mas precisam de uma injeção de crescimento e mudança.
Alguns de vocês podem até estar prestes a plantar uma nova igreja, estando
em uma posição de moldar a cultura a partir do zero.
Ainda assim, apesar de nossos diferentes pontos de partida, o processo
essencial de mudança, as ferramentas de mudança e os resultados desejados
da mudança são comuns em todas as igrejas, porque têm suas raízes não
apenas na forma como grupos de pessoas (como igrejas) funcionam e
crescem, mas no caráter, propósito e atos de Deus para o seu povo.
É por isso que (de maneira um pouco incomum) chamamos este livro de
“projeto”. Não é um conjunto de respostas detalhadas ou prescrições vindas
de cima para resolver seus problemas. É um conjunto de processos,
ferramentas e orientações para você trabalhar com uma pequena equipe de
colegas que pensem como você — partindo de onde você estiver, com os
pontos fortes e fracos que tiver.
Isso significa que Projeto Videira não é um livro para ser apenas lido
como todos os outros livros sobre ministério que você compra em
conferências, lê e se sente um pouco entusiasmado por um tempo, mas que no
fim das contas vai morar na estante com todos os outros. É um projeto. Ele
descreve um processo para trabalho e discussão. É um livro que deve levar a
um plano e a ações ao longo do tempo.
É por isso que este é um livro que pode levar vários anos para ser
concluído — deixe-nos acrescentar logo, não porque seu conteúdo é muito
longo ou complexo, mas porque o processo que ele orienta não é uma
solução rápida. Crescimento e mudança na igreja, como todo crescimento e
mudança na vida cristã, leva tempo. É preciso implantação realista e
paciência. É passível de falsos começos e tropeços. Precisa de
monitoramento, revisões constantes e mudanças de direção para dar conta de
circunstâncias novas ou inesperadas. Ao longo do livro, em alguns pontos
regulares, você será solicitado a conversar a respeito, avaliar suas
circunstâncias atuais, elaborar planos, tomar atitudes, trabalhar em
miniprojetos e assim por diante. É um processo que levará meses e anos para
ser concluído. De fato, em alguns aspectos, este é um livro que você nunca
terminará. Nós fervorosamente esperamos que Projeto Videira não acabe
sendo apenas mais um daqueles livros de ministério que você folheia, pega
algumas observações interessantes, e depois deixa de lado.
Este também não é um livro que você conseguirá ler de maneira bem-
sucedida sozinho. A menos que você reúna um pequeno grupo de pessoas
piedosas e comprometidas para ler este livro e passar por este processo com
você, temos certeza de que ele não servirá de muita coisa para sua vida ou
para sua igreja. É claro, entendemos que, para decidir se você deseja reunir
um grupo de pessoas e participar do Projeto Videira juntos, você pode querer
primeiro ler o livro todo! Mas nosso ponto é simplesmente que, para que haja
qualquer crescimento ou mudança reais na cultura de sua igreja, você
precisará trabalhar tudo isso com uma equipe.5

COMO FAZER MELHOR USO DESTE LIVRO


Já deve estar claro que este é um livro para usar e não apenas ler, porque
responder à Grande Questão em seu próprio contexto exigirá um processo de
reflexão ao longo do tempo, não uma prescrição de uma fórmula pronta de
algum guru de ministério.
Aqui estão algumas dicas sobre como fazer o melhor uso de Projeto
Videira.
Em primeiro lugar, o processo que descrevemos não é apenas para igrejas.
É para qualquer ministério que tenha o potencial de ter sua cultura mudada na
direção do discipulado. Por exemplo, você pode estar lendo como líder de
ministério jovem ou como líder do ministério de homens ou mulheres de sua
igreja. Você pode ser o líder de um grupo missionário paraeclesiástico ou de
algum tipo de organização. Se você está liderando um grupo de cristãos e tem
autoridade e capacidade para moldar a direção e as atividades desse grupo ao
longo do tempo, então Projeto Videira é para você.
Na verdade, mesmo se você estiver lendo como o pastor principal de uma
igreja, você pode querer dirigir um “Projeto Videira” piloto em apenas uma
parte de sua vida congregacional (digamos, no ministério de jovens ou em
uma das congregações que fazem parte da sua igreja ou paróquia) antes de
desenvolvê-lo mais amplamente.
Em segundo lugar, Projeto Videira não é apenas para igrejas e associações
já existentes. Se você está prestes a começar algo novo — seja uma nova
igreja ou um novo ministério de algum outro tipo — trabalhar com Projeto
Videira é uma maneira ideal de estabelecer uma cultura forte de discipulado
desde o início. A maioria dos exercícios e atividades sugeridos em Projeto
Videira pressupõe um ministério já existente no qual você está procurando
trazer uma mudança de cultura — mas quase todos eles são facilmente
adaptáveis a um novo ministério começando do zero.
Em terceiro lugar, qualquer que seja o seu contexto, seu primeiro passo
como líder de ministério é ler o livro inteiro para ter uma noção de sua
teologia e mensagem e do processo no qual vamos trabalhar. Esta primeira
leitura tem dois objetivos principais:
• Obviamente, você precisa estar convencido pessoalmente de que deseja
utilizar este livro, bem como seu processo, para levar uma mudança
cultural duradoura à sua igreja ou ministério. Você precisa se assegurar
de que concorda conosco teologicamente (se não em todos os detalhes
pelo menos em todas as áreas importantes), e que o processo que
sugerimos é algo com o qual você está disposto a se comprometer.
• Você também começará a ter uma noção, a partir dessa primeira leitura,
de quem você gostaria de ter em sua equipe do Projeto Videira, bem
como de onde você poderia modificar ou adaptar ou complementar o
conteúdo para o seu próprio contexto — porque estamos bastante seguros
que você vai querer fazer isso. Nós pensamos Projeto Videira para ser o
mais flexível e aplicável possível a uma variedade de contextos
ministeriais diferentes, mas certamente haverá tópicos que você deseja
abordar que estão ausentes, bem como coisas que abordamos que não se
aplicam a você ou que você gostaria de lidar de forma diferente. Esta
primeira leitura irá, sem dúvida, gerar uma pequena lista dessas
personalizações que você gostaria de fazer.
Em quarto lugar, como já mencionamos, um aspecto fundamental de
Projeto Videira é a formação de uma pequena equipe de colegas de trabalho
que caminhem juntos pelo processo; que sejam o time de agentes de
transformação que planejam, iniciam, servem de exemplo e defendem a
mudança de cultura que você está querendo alcançar. Quem deve estar nessa
equipe?
• Não mais do que dez pessoas e não menos que quatro. É uma equipe que
precisa funcionar bem como um grupo, com pessoas suficientes para
trazer ideias, energia e habilidades para a tarefa, mas não tantas que
tornem as reuniões difíceis de organizar ou que dificultem as dinâmicas
de grupo.
• Você pode procurar pessoas que já estejam em posição de liderança ou
supervisão (como um corpo de presbíteros, um conselho de igreja ou
órgão autorizado similar), mas também é importante olhar além de sua
liderança atual ao considerar quem convidar para essa equipe. Mudança
requer novas ideias, energia renovada e uma disposição para tentar algo
novo — e isso pode ser difícil para uma equipe de liderança existente
abraçar (afinal, eles são geralmente os mais envolvidos em tudo o que
está ocorrendo atualmente). Você pode propor aos seus presbíteros a ideia
de formar uma nova equipe para se concentrar no Projeto Videira —
talvez consistindo de alguns líderes-chave existentes (ou presbíteros),
bem como alguns líderes emergentes com potencial.
• Seja qual for a mistura de líderes novos e já existentes em sua equipe, ou
como eles se relacionem com suas estruturas atuais, o importante é que
eles sejam fiéis, disponíveis (pelo menos potencialmente) e ensináveis.
Você quer pessoas fiéis ao evangelho em suas convicções e em suas
vidas. Este não é o momento ou o lugar para novos convertidos (não
importa quão talentosos e impressionantes eles sejam), ou para pessoas
poderosas e influentes que não sejam de fato solidamente convertidas,
maduras e com o coração no evangelho. Você irá querer pessoas com as
quais possa contar para estarem disponíveis para trabalhar com você e
com as outras, e continuar trabalhando juntos por um tempo significativo.
Isso pode significar aliviá-los de outras responsabilidades — na verdade,
geralmente é isso que acontece, porque essas pessoas são as que
costumam estar envolvidas na vida da igreja. Pode haver alguma dor
associada a isso — retirar um líder de um ministério existente e assim
criar uma lacuna — mas, a menos que você tenha uma equipe de pessoas
que esteja disponível para se reunir regularmente, e que trabalhe em
conjunto para gerar mudança, então todo o exercício provavelmente
acabará sendo um debate improdutivo. E, finalmente, você não precisa de
pessoas que mal chegaram e já sabem como fazer tudo, ou que sempre
acabam falando apenas sobre um mesmo assunto. Você quer pessoas que
tenham um coração humilde e ensinável, que saibam que ainda têm um
longo caminho a percorrer e que estejam ansiosas para continuar
progredindo como discípulos de Cristo.
Em quinto lugar, após reunir uma equipe, uma de suas primeiras tarefas
será esboçar um plano geral sobre como você irá abordar as cinco fases de
Projeto Videira. Com que frequência vocês se reunirão inicialmente, por
quanto tempo? Em que ritmo você quer trabalhar cada fase? Elaboramos uma
sugestão de plano de ação (no final do próximo capítulo), mas sinta-se à
vontade para modificá-lo de acordo com suas circunstâncias.
E, finalmente, para fazer o melhor uso deste livro e responder à Grande
Questão de forma mais eficaz para o seu próprio contexto, envolva
continuamente todo o processo em oração. Continuaremos a lembrá-lo disso
em diversos pontos, porque suspeitamos fortemente que você seja parecido
conosco e com todos os líderes cristãos que já conhecemos — a oração fica
sufocada pelas pressões e ocupações da vida da igreja. Todo ministério
cristão, incluindo o projeto no qual estamos prestes a embarcar, deve seguir o
resumo de Paulo sobre seu ministério em Colossenses 1.28-29:
[Cristo] o qual nós anunciamos, advertindo a todo homem e ensinando a todo
homem em toda a sabedoria, a fim de que apresentemos todo homem perfeito em
Cristo; para isso é que eu também me afadigo, esforçando-me o mais possível,
segundo a sua eficácia que opera eficientemente em mim.
Precisamos continuar orando para que a eficácia de Cristo opere
eficientemente em nós, e seu Espírito nos guie à medida que pensamos e
planejamos, a fim de que Deus dê o crescimento à medida que planejamos
novas maneiras de plantar e regar.
Se você nunca leu ou mesmo ouviu falar de A treliça e a videira, não se preocupe. Você pode achar a leitura dele um exercício
útil, mas não precisa parar agora e fazer isso. A maioria de seus princípios teológicos e ministeriais essenciais está reafirmada
de alguma maneira aqui. Se você está curioso, fornecemos um resumo básico do argumento de A treliça e a videira no
Apêndice 1.
Para um resumo do que queremos dizer com “trabalho da treliça” e “trabalho da videira”, veja o Apêndice 1.
N. do E.: Para auxiliar no processo, os autores oferecem suporte e material complementar, em inglês, no site thevineproject.com,
contendo uma biblioteca crescente de vídeos, histórias, artigos e estudos de caso e uma comunidade de outras equipes
ministeriais que estão trabalhando em “Projetos Videira” em seus próprios contextos.
Para conteúdo adicional em português visite: conteudo.editorafiel.com.br/projetovideira. Entre os diversos recursos traduzidos e
disponibilizados gratuitamente, os membros da sua equipe poderão baixar um guia de estudo, contendo todas as questões de
discussão, avaliações, atividades e miniprojetos deste livro, para que você possa reformatá-los, imprimi-los, anotar, digitar
respostas e assim por diante.
Mudando a cultura
Quando eu (Tony) cheguei a uma igreja anglicana evangélica em Sydney, era
um jovem de 18 anos, recém-chegado à cidade grande, ao mesmo tempo
entusiasmado e perdido, um cristão convertido vindo de uma igreja anglicana
carismática de classe alta (é uma mistura estranha).
O choque cultural foi desorientador e animador ao mesmo tempo. Tudo na
minha nova igreja em Sydney era diferente: o modo como todos se vestiam
para a igreja; a falta de ritual e cerimônia; o tipo de músicas que cantávamos;
o evidente compromisso daqueles que compareciam; a maneira como as
pessoas ficavam por lá depois das reuniões, conversando por horas; e, claro, a
pregação, que envolvia exposição, explicação e aplicação do texto bíblico de
uma maneira que eu nunca tinha ouvido. Não fui exposto apenas a novas
ideias e ensinamentos. O modo como faziam as coisas era diferente; toda a
cultura da igreja era diferente.
Em minhas primeiras visitas, lembro-me particularmente de ficar
totalmente chocado com algo que acho que a maioria dos presentes nem
sequer percebeu. Durante a maior parte do culto eu não fazia ideia de quem
era o pastor. Ele não se sentou em uma cadeira especial na frente. Ele não
estava vestido com roupas especiais. E quando chegou a hora do sermão, um
cara vestido da mesma forma que o resto de nós se levantou de uma cadeira
qualquer na congregação e foi até o púlpito. A essa altura, eu tive que
presumir que ele era o pastor, e depois de estar lá por algumas semanas eu
descobri que ele era — e que ele exercia uma liderança forte e eficaz dentro
da congregação. Mas aquele pequeno detalhe (do pastor/pregador sentado no
meio da congregação e vestindo roupas normais) comunicou algo muito
poderoso para mim. Isso dizia: Aqui, eles pensam sobre o ministro de
maneira diferente. Ele é um líder, mas também é profundamente um de nós.
Ele não é um sacerdote mediador que se posiciona entre nós e Deus e
administra mistérios sagrados em nosso favor. Sua principal tarefa é abrir e
expor a Bíblia — e é aí que reside a autoridade.
Para um anglo-católico jovem e um tanto confuso, isso foi revolucionário,
de um jeito bom. Com o tempo, passei a entender mais profundamente as
convicções teológicas que estavam por trás dessa diferença aparentemente
pequena e simples (onde o pastor se sentava e o que vestia). E eu passei a
entender que a “cultura” tão diferente das duas igrejas não era simplesmente
o resultado da diferença entre mais jovens e mais velhos, ou entre cidade e
interior, ou entre informal e formal (embora todos estes fatores certamente
tivessem sua influência sobre o que era feito e como). Por baixo de tudo, duas
teologias bem diferentes estavam em ação. O confronto de diferentes hábitos,
normas, práticas, linguagens, formas, estruturas, tradições e relacionamentos
vinha de um conjunto diferente de convicções e crenças. E a diversidade de
práticas, por sua vez, expressa e reforça essas convicções e crenças — ou, em
alguns casos, como é inevitável, se chocam com as convicções e crenças
declaradas (porque nenhuma igreja é perfeitamente consistente ou sem
contradições e problemas).6
De fato, minha experiência nessas duas igrejas muito diferentes ilustra
uma verdade fundamental (ainda que óbvia) sobre a cultura da igreja: o que
rotineiramente fazemos comunica, reforça e molda quem somos,
frequentemente muito mais do que aquilo que ensinamos.
Veja bem, a tradição anglo-católica da minha juventude tinha todas as
palavras certas. Semana após semana, usávamos fielmente o Livro de Oração
Comum (LOC) anglicano, que é um dos documentos mais gloriosamente
reformados e evangélicos da Reforma inglesa. O LOC está repleto do
evangelho e das grandes doutrinas da justificação pela fé somente por meio
da graça somente em Cristo somente. É um livro evangélico do começo ao
fim. E nós repetimos suas palavras com tanta frequência que todos nós as
sabíamos de cor.
E, no entanto, o conjunto de práticas, hábitos, estruturas e rituais que
compunham a nossa vida regular na igreja não eram reformados nem
evangélicos — exatamente o oposto, na verdade. O “padre” (como era
chamado) ficava na frente vestido com as elaboradas vestes sacrificiais do
catolicismo. O culto era um ritual religioso cheio de atos simbólicos (como o
uso de incenso) ao invés de um ato de comunhão ou edificação mútua. A
santa ceia era praticada de uma maneira que deixava muito claro que ela (e
não a Palavra de Deus) era a principal maneira pela qual devíamos ser
alimentados espiritualmente. O evangelho nunca era explicado claramente
nos sermões moralistas de 15 minutos. Não havia expectativa de que a Bíblia
fosse lida ou estudada pela congregação, individualmente ou em grupos. Não
havia evangelismo — na verdade, nenhuma expectativa de que pessoas não
cristãs precisassem de conversão.
Todo o aparato da vida da igreja não apenas gritava uma teologia
antievangélica, mas também nos doutrinou nela, semana após semana. A
cultura — a maneira como fazíamos as coisas em todo o espectro da nossa
vida na igreja — falava tão alto e forte que as palavras do evangelho do LOC
nunca foram “ouvidas” e adotadas, ainda que pronunciadas fielmente todo
domingo.
O mesmo acontece com respeito ao discipulado, e qualquer outra
convicção ou prática que desejamos ver criar raízes e crescer em nossas
igrejas. Você pode defender a convicção pessoalmente e em sua declaração
de missão, e você pode dizer as palavras; mas se a maneira como você faz as
coisas comunica, expressa e reforça um conjunto diferente de convicções,
então você fará pouco progresso.
Imagine, por exemplo, que um milagre eclesiástico aconteceu e você foi
apontado como o novo pastor da igreja ritualística em que eu cresci — sendo
você completamente reformado e evangélico em sua teologia. Como você
geraria uma mudança profunda e duradoura em uma congregação fortemente
anglo-católica?
Eu suspeito que a primeira coisa que você mudaria seria a pregação. Você
começaria a pregar o evangelho e a Bíblia, e oraria para que a poderosa
Palavra de Deus começasse a mudar corações e vidas. E você faria isso com
persistência e paciência.
Mas imagine também que, enquanto faz isso, você não mude nenhum dos
rituais, atividades, estruturas e tradições da congregação — nem mesmo
cuidadosamente com o tempo. Você simplesmente continua a vestir os
mesmos trajes e a conduzir o culto e a Santa Ceia da mesma maneira que o
pastor anterior. Você não inicia nenhuma estrutura ou atividade para
promover a leitura e o estudo da Bíblia e continua a não evangelizar. Você
acha que a cultura da igreja mudaria? Talvez, durante algum tempo
considerável, houvesse algum movimento. A pregação da Palavra em oração
teria seu efeito. Mas podemos também prever com segurança que, se as
atividades, estruturas e tradições da congregação nunca mudassem — se não
houvesse, em outras palavras, arrependimento corporativo —, então o efeito
dos sermões bíblicos seria o mesmo das palavras bíblicas do Livro de Oração
Comum. Eles seriam ouvidos e reconhecidos, mas absorvidos, assimilados e
contrariados pelo contrapeso da cultura pré-existente — do que você
realmente faz, dia a dia, semana a semana. Ou, dito de outra forma:
precisamos ser praticantes da Palavra e não somente ouvintes.7 Onde não há
arrependimento, não há mudança.
A cultura de uma igreja — ou de qualquer organização, a propósito — é
um fardo pesado e poderoso contra qualquer tentativa de mudança
significativa (por “cultura”, apenas para esclarecer, queremos dizer “a
maneira como fazemos as coisas por aqui” — a matriz complexa e
profundamente enraizada de crenças, práticas, linguagem compartilhada,
tradições e preferências que um grupo de pessoas desenvolve ao longo de um
período de tempo).8 A cultura geralmente moldará o que as pessoas realmente
fazem em qualquer circunstância, geralmente mais do que suas crenças
declaradas. Por exemplo, em muitas igrejas evangélicas, se você perguntar
aos membros da congregação se eles acreditam que a igreja deveria alcançar
os perdidos e se os cristãos deveriam compartilhar sua fé com os outros, a
maioria dirá que sim. Quando o pastor conclui seu sermão com uma
exortação por mais evangelismo, eles concordarão e se sentirão levemente
culpados. Mesmo assim, se a cultura estabelecida de sua igreja não promove,
exemplifica e pratica este tipo de evangelismo ativo, tanto corporativa quanto
individualmente, então pouquíssimo evangelismo acontecerá de fato. Se o
empreendimento evangelístico não é, de fato, uma parte normal da “maneira
como fazemos as coisas por aqui”, então as exortações do púlpito por mais
evangelismo geralmente não dão em nada. A exortação irá bater na massa
sólida da cultura e será feita em pedaços.9

A TRELIÇA CONTRA-ATACA
Ao conversarmos com muitos pastores nos últimos seis anos sobre suas
tentativas de colocar em prática uma filosofia de ministério de “treliça e
videira” ou de discipulado em suas igrejas, ficou claro para nós que “cultura”
é um problema subestimado. O que vimos mais frequentemente foram
pastores que buscavam inserir alguns novos programas ou iniciativas na
cultura existente — coisas como:
• pregar uma série de sermões sobre “fazer discípulos”;
• iniciar uma leitura bíblica em dupla com as pessoas;10
• adicionar “discipulado” às metas do ano;
• ser mais receptivo com os recém-chegados;
• ministrar um curso sobre como compartilhar a fé com os de fora.
O que geralmente acontece é que depois de seis ou doze meses tentando
injetar um ou mais desses novos elementos na vida da igreja, o entusiasmo
começa a diminuir, e o peso e força da cultura existente esmagam qualquer
progresso que tenha sido feito. É como tentar virar um transatlântico com um
remo. O pastor fica resmungando: “Esse negócio de ‘treliça e videira’ pode
funcionar bem em outro lugar, mas não está funcionando aqui. Talvez seja
hora de tentar outra coisa”.
E assim o ciclo continua. Um novo modelo ou ideia surgirá no ano que
vem, será feita a mesma tentativa de injetar algo novo, e a cultura dominante
a engolirá, vomitará e seguirá em frente, de maneira lenta e irresistível.
Para estender uma metáfora familiar aos limites de sua utilidade,
poderíamos dizer que a cultura predominante de uma igreja é feita de
elementos de “videira” e “treliça” — isto é, tanto da atividade convicta de
todo cristão que fala a Palavra de Deus para os outros em todos os níveis pelo
poder do Espírito (videira) quanto de todas as estruturas, programas e
comissões da sua vida congregacional (treliça). O que estamos dizendo sobre
“cultura” é que pouco adianta ensinar algumas novas convicções ou iniciar
alguns novos tipos de trabalho de videira, a menos que você também esteja
preparado para reformar e aperfeiçoar a treliça que a sustenta e lhe dá
estrutura e forma. Ambos devem ser feitos como parte de um pacote total.
Embora tenhamos afirmado isso em A treliça e a videira, não nos
importamos em admitir que a ênfase geral do livro pode ter mascarado sua
importância. Muitos leitores com quem conversamos tiveram a impressão de
que basicamente pensamos que “videira = boa” e “treliça = mal necessário”.
Isso certamente não é o que pensamos ou queríamos transmitir, e sem dúvida
a culpa é nossa.
As treliças do ministério não são as vilãs da vida da igreja. O que
queríamos afirmar em A treliça e a videira é que é muito possível, e de fato
muito comum, ter uma infinidade de programas, atividades e estruturas
administrativas — isto é, uma treliça grande, conservada e impressionante —
sem que haja realmente muito trabalho da videira — isto é, sem muitas
pessoas de fato falando e proclamando a mensagem da Bíblia em todos os
níveis na vida da igreja e no mundo.
Mas o problema não é que as treliças sejam inerentemente um obstáculo
ao trabalho da videira. É que muitas vezes elas não são projetadas e
executadas para facilitar e aperfeiçoar o trabalho da videira. Para usar o
discurso corporativo, elas não estão “alinhadas”. Elas simplesmente existem.
E, como temos discutido, elas geralmente carregam, expressam e reproduzem
uma cultura que resiste aos nossos esforços para gerar uma mudança real.
Uma treliça pode fortemente apoiar e permitir que o ministério de discipulado
aconteça; mas ela também pode trabalhar contra esse tipo de ministério que
cresce e floresce em seu meio.
Isso nos traz de volta à Grande Questão que este livro procura responder:
Como mudar a cultura de uma igreja na direção do discipulado? A
propósito, como agir na cultura de uma igreja para mudá-la em qualquer
direção?
A resposta é que você não consegue fazer isso.
Você não consegue mudar a cultura trabalhando na cultura, porque a
cultura é uma descrição do que vocês se tornaram. É uma forma de resumir a
maneira como vocês fazem as coisas, a rede multifacetada de crenças e
práticas tácitas, formais e informais, que compõe quem vocês são e como
vocês funcionam.
Você não pode trabalhar na “cultura”, como tal. Ela é o produto de anos e
décadas de práticas baseadas em ideias e ideias expressas na prática. O que
você pode trabalhar e mudar são os elementos que produzem cultura:
• as crenças e convicções profundamente arraigadas que impulsionam e
sustentam sua cultura (nem todas explicitamente expressas);
• as atividades, práticas e estruturas que expressam e incorporam essas
crenças em todos os níveis da vida da igreja.
Você pode trabalhar para gerar mudanças na maneira como as pessoas
pensam, e como essas convicções são praticadas em comportamento,
estruturas e hábitos — e com o tempo vai olhar para trás e dizer que gerou
uma nova “cultura”. Haverá um novo conjunto de crenças básicas e reações
típicas; um novo conjunto de hábitos e rituais; um novo conjunto de
comportamentos que serão vistos como normais e esperados; um novo
conjunto de estruturas e sistemas que sustentam esses novos
comportamentos; uma nova linguagem compartilhada; um novo conjunto de
memórias sobre as coisas que fizemos juntos, os sucessos e os fracassos.
Para ilustrar como é esse processo de mudança na prática, entrevistamos
vários pastores engajados nesse processo de mudança de cultura em diversos
contextos de ministérios.11 Você encontrará trechos dessas entrevistas
espalhados em pontos diferentes ao longo do livro .12
Contudo, neste momento, gostaríamos de contar a história de mudança
cultural de uma organização secular — um clube esportivo — porque ilustra
bem o tipo de processo sobre o qual falaremos.

No final de 2004, Jim foi nomeado treinador principal em um clube
semiprofissional de críquete13 em Sydney. As performances do clube
durante a temporada anterior foram bem abaixo das expectativas. Dois
anos depois da nomeação de Jim, eles haviam vencido vários torneios e
o campeonato de clubes. Esta é uma entrevista com Jim sobre como ele
começou a transformar a cultura do clube ao longo dos anos.
Qual era a situação do clube quando você começou?
Tínhamos excelentes instalações e equipamentos, um bom plantel de
jogadores e um pequeno núcleo de administradores e voluntários
compromissados. Eu também já comecei com o respeito dos jogadores,
porque havia recentemente tido sucesso como líder no clube. Nós
tínhamos praticamente o mesmo plantel e recursos da temporada
anterior, então ficou claro que outras coisas precisavam mudar para que
os resultados melhorassem nos anos seguintes. O desempenho dos
jogadores em campo era insatisfatório, mas também havia problemas
subjacentes que precisavam ser resolvidos. Expectativas e políticas
sobre o comprometimento e a seleção da equipe eram pontuais e
inconsistentes, e havia pouco ou nenhum desenvolvimento intencional
de liderança. Ao mesmo tempo, não estávamos fazendo quase nada para
melhorar nosso nível psicológico. É um consenso que o críquete é 90%
mental e 10% físico, então precisávamos fazer disso uma parte
inegociável de nossas sessões de treinamento.
Como você mudou as coisas?
O crucial para mim foi desenvolver uma cultura de trabalho em
equipe, em vez de individualismo. Se cada membro estivesse
comprometido com nossos objetivos, os resultados viriam.
Eu acreditava em quatro coisas importantes:
• Em primeiro lugar, os jogadores querem fazer parte de algo maior
que seu próprio desempenho. Como o beisebol, o críquete é um jogo
individual dentro de um jogo de equipe. Eu tive que mudar o
pensamento normal de que o valor da contribuição de um indivíduo
podia ser medido em pontuações ou estatísticas.
• Então eu estava convencido de que, uma vez que dedicam muito
tempo a treinos e jogos, os jogadores querem aproveitar essas
coisas, junto com o lado social do clube. Então a diversão precisava
ser um fator-chave em tudo o que fazíamos.
• Também me parece bastante óbvio que todos querem se sentir
valorizados. Então, o desafio era ajudar os jogadores a valorizar a
contribuição de todos os membros do clube, desde a moça da cantina
até o presidente do clube. Desenvolvemos uma lista de verificação
básica que os capitães checavam com os jogadores ao final de cada
partida. Um dos itens da lista perguntava se eles haviam agradecido a
algum voluntário do clube durante a semana anterior. Os jogadores
logo entenderam o recado sobre o que iríamos valorizar em nosso
clube.
• Por fim, convenci-me de que o melhor uso do meu tempo era
investir na liderança e desenvolver novos líderes. No críquete, o
capitão é quem toma as decisões e quem guia e dirige o resultado de
sua equipe no dia do jogo. Eu precisava me dedicar ao
desenvolvimento dos capitães da equipe (seis deles) e trabalhar com
eles para identificar alguns líderes em potencial que eles, por sua
vez, poderiam desenvolver.
Você definiu metas de desempenho?
Nós estabelecemos o alvo desafiador de vencer o campeonato de
clubes dentro de dois anos. Cada papel e descrição de trabalho no clube
estava ligado ao objetivo final. Também desenvolvemos uma filosofia
de “clube em primeiro, time em segundo, jogador em terceiro”. Em um
esporte coletivo, isso pode ser uma coisa sutil às vezes. Mas nos
certificamos de que a filosofia geral fosse reforçada naquilo que
fazíamos, e de que ela fosse visível em todo o clube.
Você fez mais alguma coisa para começar a mudar a cultura do
clube?
Fizemos muitas coisas. Uma que vem à mente foi a maneira como
tentamos mudar o pensamento do individualismo para o trabalho em
equipe. No esporte australiano, gostamos de falar sobre os “um por
cento” — as pequenas coisas que os membros da equipe fazem que
contribuem para a vitória. Eu senti que isso era um pouco clichê, então
peguei emprestado um velho ditado cristão. Adotamos a frase: “Se você
fosse preso por jogar em equipe, que provas seriam usadas contra
você?”. Todas as semanas, como parte de nossas reuniões de clube, os
jogadores precisavam se levantar e dizer: “Billy deve ser preso por
jogar em equipe porque foi visto fazendo isso ou aquilo”.
Começou bem devagar. Eu tive que dar muitos exemplos a eles, e até
mesmo pedir aos jogadores para que passassem a semana atentos a
pontos que pudessem compartilhar na reunião seguinte. Após um pouco
de resistência nos primeiros meses, os jogadores realmente pegaram o
jeito e começaram a perceber todas as pequenas coisas — até mesmo as
que eu nunca havia pensado — que fazem um ótimo jogador que
trabalho em equipe. Essas sessões semanais tornaram-se muito
divertidas, mas o mais importante é que elas reforçavam nossos padrões
e valores.
O investimento em nossos líderes realmente valeu a pena. Em um
clube esportivo, a cultura pode mudar muito rapidamente quando as
pessoas veem os líderes mudarem e adotarem um novo tom. O desafio é
reforçar continuamente os pontos que você quer ver, tanto sutil quanto
abertamente, para que com o tempo se tornem a cultura padrão.

Quanto tempo, esforço, pensamento, energia e suor, quantas lágrimas,
retrocessos, sucessos, fracassos, alegrias e tristezas você acha que serão
necessários para provocar esse tipo de mudança ampla e profunda em
qualquer organização — ainda mais, em uma cultura de igreja de longa data?
Não será um processo rápido — é por isso que este livro é parte de um
projeto de trabalho ao longo de anos, em vez de ser outro livro sobre
ministério para ser lido e colocado no lugar em sua estante com todos os
outros.
Isso exigirá mais tempo, esforço e dons que qualquer indivíduo possua —
e é por isso que este é um projeto que deve ser encarado com uma equipe de
cooperadores piedosos, comprometidos e com o coração no evangelho, que
podem encorajar e sustentar uns aos outros.
E é claro, é um trabalho que nenhum de nós é previamente competente
para fazer — é por isso que dependemos de Deus. Como o apóstolo Paulo,
nós dizemos com gratidão:
Não que, por nós mesmos, sejamos capazes de pensar alguma coisa, como se
partisse de nós; pelo contrário, a nossa suficiência vem de Deus, o qual nos
habilitou para sermos ministros de uma nova aliança, não da letra, mas do espírito;
porque a letra mata, mas o espírito vivifica. (2Co 3.5-6)

UM PROCESSO DE MUDANÇA
Então, por onde começar?
Como Craig Hamilton aponta em seu livro Wisdom in Leadership, a
maioria dos ministros tem a tendência de começar em um destes dois lugares:
Geralmente parece que há duas maneiras de viver quando se trata de estar no
ministério cristão. Ou você é uma pessoa da Bíblia ou uma pessoa de liderança.
Você lê livros de teologia ou você lê livros de liderança. Você lê livros de Don
Carson e John Stott ou lê livros de Bill Hybels e John Maxwell.
E isso é um problema.
Sempre me pareceu um problema porque sou um cara da Bíblia. Sempre fui um
cara de doutrina. Vamos falar sobre modelos de expiação e pericorese, enipostático
e anipostático, a ordo salutis e todos os outros tipos de palavras em latim. Vamos
falar sobre pregação, textos, contextos e subtextos. Eu sempre fui e ainda sou esse
tipo de cara.
Contudo, como líder em diferentes contextos ao longo dos anos, observei que
quando grupos de pessoas se reúnem, funcionam de algumas maneiras previsíveis.
Eu sabia que era verdade que eu poderia liderar um grupo bem ou mal. E mesmo
que eu tivesse toda sorte de coisas incríveis e transformadoras para ensinar, e
mesmo que eu as explicasse da forma mais clara e persuasiva que eu pudesse,
ainda tinha que ajudar grupos de pessoas a organizar e realizar coisas.
Percebi que a escolha entre um ou outro era falsa — que toda essa conversa sobre
liderar pessoas não era necessariamente um pragmatismo incrédulo e distante de
Deus. Pelo contrário, tinha a ver com viver com sabedoria e amar o próximo. E
ambas as coisas estão na Bíblia e Deus parece pensar que são boas ideias. Assim,
concluí que, se eu realmente queria ser um cara da Bíblia, eu provavelmente
também precisava ser um cara de liderança, porque não se trata de um ou outro,
mas de um e o outro.14
Se você é um “cara da Bíblia”, provavelmente vai querer começar a mudar
sua cultura com as convicções teológicas e bíblicas que quer que seu povo
afirme, e é bem provável que nunca vá além disso. Se você é um “cara de
liderança”, provavelmente ficará ansioso por passar rapidamente pelas
questões teológicas, a fim de chegar logo detalhes práticos de análise
estratégica e planejamento.
O processo que estamos prestes a descrever trata enfaticamente de ambos.
As convicções e crenças teologicamente orientadas são vitais e fundacionais
— precisamos de tempo para explorá-las e aperfeiçoá-las e para vivê-las e
respirá-las. Mas as práticas, programas, atividades e estruturas que expressam
que dão forma e facilitam a vivência de nossas convicções são igualmente
vitais. Isso significa que o trabalho em longo prazo é necessário neste
momento. Queremos encorajá-lo a não desistir no meio dele — porque você
será tentado a fazê-lo.
O processo que estamos prestes a apresentar dificilmente pode ser
considerado revolucionário ou controverso. É um procedimento bastante
comum que qualquer organização pode aplicar para gerar mudanças
organizacionais ou culturais significativas. Ele possui cinco fases:
• Fase 1: Aprofundar suas convicções — mergulhe na Bíblia e em sua
teologia para esclarecer o que você crê a respeito de discipulado e
ministério.
• Fase 2: Reformar sua cultura pessoal — certifique-se de que suas
convicções tenham penetrado na cultura de sua própria vida; que você
está demonstrando suas convicções pela forma como você vive e ministra
aos outros.
• Fase 3: Avaliação amorosa e honesta — faça um exame cuidadoso de
tudo o que acontece em sua igreja para ver como ela está adequada com
suas convicções: em que áreas sua cultura reflete melhor suas convicções,
onde elas estão mais fracas e onde está o maior potencial de crescimento
e mudança?
• Fase 4: Inovar e implantar — defina o que você quer parar de fazer,
começar a fazer e continuar fazendo; planeje novos caminhos para o
discipulado e defina como implantá-los ao longo do tempo.
• Fase 5: Manter o ímpeto — monitore e analise como o projeto está
acontecendo; veja os obstáculos e descubra como superá-los; crie um
movimento e mantenha seu ímpeto.
Cada uma dessas fases levará algum tempo para ser concluída. De fato,
algumas (como a Fase 2), por definição, nunca serão concluídas.
Contudo, há uma lógica em como as fases se seguem e se baseiam umas
nas outras. Nós reforçamos o conselho para que você não passe rápido
demais por qualquer uma delas, mas gaste tempo para fazer o trabalho
refletida e cuidadosamente. Manobrar um transatlântico demanda grandes
quantidades de energia e tempo. Mas depois que você tiver gasto essa energia
e tempo e estabelecido uma nova direção (e um novo destino), o movimento
pode trabalhar a seu favor.
Diferentes igrejas e ministérios passarão por essas fases em ritmos
diferentes. Você precisará elaborar um plano adequado ao seu próprio
contexto (e, sem dúvida, modificar esse plano à medida que avança).
A proposta a seguir é o que nós consideramos como cerca de um padrão de
prazos para uma igreja “média” imaginária. Ela pressupõe que você se reúna
regularmente com seus colegas escolhidos para a “Equipe do Projeto Videira”
para uma reunião de duas horas e também marque algumas reuniões
prolongadas em diferentes momentos — por exemplo, no sábado de manhã
ou em um retiro de final de semana.
FASE CONTEÚDO TEMPO APROXIMADO

Lançamento
Lançar a equipe (de preferência, com uma refeição ou
e Reunião prolongada (com
preparação componente social), discutir “mudança da cultura”, refeição)
do cenário elaborar um plano para os encontros de equipe

Ler e discutir convicção 1 Uma reunião

Ler e discutir convicção 2 Uma reunião

1: Ler e discutir convicção 3 Uma reunião


Aprofundar
convicções Ler e discutir convicção 4 Uma reunião

Ler e discutir convicção 5 Uma reunião

Resumir e integrar Reunião prolongada

Ler e discutir Fase 2 Uma reunião

Discutir e orar sobre planos pessoais Uma reunião


2: Reforma
pessoal Mínimo de 3 meses
(continuar reuniões para
Implantar planos pessoais
discutir e revisar planos
pessoais)

Ler Fase 3 e fazer Exercício de avaliação 1 Uma reunião


3:
Avaliação Outros exercícios de avaliação Reunião prolongada
amorosa
Resumo/conclusões Uma reunião

Ler e discutir introdução,


Reunião prolongada
Área de foco 1

Área de foco 2 Reunião prolongada


4: Inovar e
implantar Área de foco 3 Reunião prolongada

Área de foco 4 Reunião prolongada

Integrar e finalizar planos Reunião prolongada

Ler e discutir Fase 5 Uma reunião


5: Manter o
movimento
Revisar planos, decidir sobre reuniões seguintes Reunião prolongada

DISCUSSÃO
1) Se vocês tivessem que resumir a cultura de sua igreja em um slogan de
duas ou três palavras, qual seria?
2) Tentem identificar os principais hábitos, atividades e tradições que
expressam e reforçam a cultura de sua igreja.
3) Das cinco fases do processo que estamos prestes a iniciar, qual vocês
consideram mais difícil? Por quê?
4) No processo que descrevemos, qual etapa de trabalho lhes trazem maior
expectativa?
O que, de fato, várias práticas e atividades realmente comunicam irá variar de acordo com o lugar, dependendo do que
poderíamos chamar de “vocabulário cultural predominante”. Portanto, não estamos dizendo que o pregador/pastor vestir
roupas normais e sentar-se na congregação é uma lei imutável, como a dos medos e persas! Mesmo assim, no ambiente social e
eclesiológico de Sydney nos anos 80, isso comunicava uma mensagem importante e poderosa.
Tg 1.22.
A palavra “cultura” não é fácil de definir. Na verdade, Raymond Williams classifica-a como “uma das duas ou três palavras mais
complicadas da língua inglesa” (Raymond Williams, Keywords [Londres: Flamingo, 1983], 87). Ela pode ser usada para
descrever as produções intelectuais ou artísticas de uma sociedade ou de um subgrupo dentro de uma sociedade (por exemplo,
“alta cultura”). Muitas vezes, é usada para se referir aos costumes, hábitos, normas, arranjos sociais e modo de vida de um
determinado grupo de pessoas, e os artefatos e produtos que eles produzem (por exemplo, “cultura francesa do século 21” ou
“a cultura corporativa da IBM”). Estamos usando-a aqui mais neste último sentido, para descrever “toda a maneira com
fazemos as coisas por aqui”.
Existe uma extensa literatura sobre “cultura” e seu lugar dentro das organizações, a maior parte dela do mundo da administração.
Um artigo de resumo útil é John Katzenbach e Ashley Harshak, “Stop blaming your culture”, Strategy + Business, vol. 62,
Primavera de 2011 (visto em 13 de dezembro de 2015): http://strategy-business.com/article/11108. Para uma perspectiva
diferente que oferece muitos pontos interessantes, ver To change the world: the irony tragedy and possibility of Christianity in
the late modern world de James D Hunter (Nova Iorque: OUP, 2010), especialmente o ensaio 1, “Cristianismo e transformação
do mundo”. Uma das percepções de Hunter é que as ideias, por si mesmas, raramente mudam uma cultura.
Veja mais informações sobre isso no livro: David Helm, One-to-one Bible reading: a simple guide for every Christian (Sydney:
Matthias Media, 2011).
Utilizamos nomes e detalhes fictícios para as pessoas e igrejas nessas histórias para proteger os envolvidos — tanto do orgulho de
serem consideradas como igrejas “bem-sucedidas”, quanto da tentação de mascarar a realidade (se eles soubessem que os
membros de suas igrejas ou seus amigos poderiam lê-las). Fora isso, deixamos os envolvidos falarem por si mesmos.
N. do E.: As versões completas das entrevistas podem ser encontradas em conteudo.editorafiel.com.br/projetovideira.
N. do E.: Jogo realizado em um campo gramado que se parece com o beisebol, criado na Inglaterra no século XVI.
Craig Hamilton, Wisdom in leadership: the how and why of leading the people you serve (Sydney: Matthias Media, 2015), 11.
Fase 1 | Aprofundando as Convicções
Introdução
Temos sugerido que gerar uma mudança efetiva e duradoura na cultura de
sua igreja envolverá tanto as convicções (ou teologia) que você defende e
ensina em espírito de oração, quanto as estruturas, hábitos, práticas,
programas e relacionamentos que expressam e apoiam essas convicções.
Ambos os aspectos são importantes e certamente estão ligados.
Convicções levarão a certas práticas; as práticas expressarão e serão baseadas
em certas convicções. E em conjunto, convicções e práticas geram uma
cultura — uma “maneira de fazer as coisas por aqui”.
Os dois principais problemas que quase toda cultura de igreja enfrenta são:
• falta de clareza compartilhada sobre as convicções básicas (ou seja, nem
todos têm uma compreensão clara e compartilhada de quem somos e do
que estamos tentando fazer juntos sob a orientação de Deus);
• falta de alinhamento entre convicções e prática (ou seja, muitas coisas
diferentes acontecem na igreja que não refletem mais nossas convicções,
se é que já refletiram; ou pior, que refletem e reforçam outras convicções
que nos são estranhas).
Caso você esteja preocupado com a possibilidade de começarmos a usar
linguagem de negócios neste momento, e logo estarmos falando sobre
intenção estratégica, alavancagem de ativos e indicadores de desempenho,
tudo o que estamos dizendo é que temos que trabalhar tanto com as nossas
crenças quanto com a nossa prática, tanto as nossas convicções quanto nossas
estruturas, se queremos ver uma mudança real. Não há muita controvérsia
nisso.
Não é nada radical dizer que um bom lugar para começar o processo é com
nossas convicções; com o coração e a alma; com o que realmente cremos.
Precisamos ter um alto grau de clareza compartilhada sobre o que
acreditamos, se desejamos realmente gerar uma mudança real para toda a
cultura que expressa e materializa essas crenças.
Sem gastar todo o tempo e espaço que seria preciso para defender isso
aqui, vamos partir do pressuposto de que a clareza que estamos procurando
deve ser buscada na Bíblia — e não através de um meio termo entre as várias
opiniões que venham a existir em nosso meio. Não estamos à procura de
clareza e concordância a qualquer custo. O que buscamos é uma
compreensão clara, aguçada e compartilhada da verdade das Escrituras sobre
a vida e o ministério cristão, para servir como base sólida e estrutura para
toda a cultura de nossa igreja.

CINCO CONVICÇÕES
As cinco convicções que estamos prestes a explorar capturam o que
consideramos ser o coração do discipulado bíblico, de fazer discípulos e do
ministério.
Talvez isso nem precisasse ser dito, mas não acreditamos nem por um
minuto que a nossa maneira de fazer isso é a única maneira de fazer isso. De
fato, um elemento essencial dessa primeira fase do processo é que você crie
sua própria maneira de expressar e comunicar as convicções profundas e
compartilhadas que devem impulsionar tudo que vocês farão. Tampouco
pensamos que paramos de aprender e crescer em nossa própria compreensão
desses assuntos. De muitas maneiras, as convicções que se seguem são uma
reafirmação (usando uma estrutura diferente) dos princípios do ministério
teologicamente orientado que articulamos em A treliça e a videira, refletindo
tudo o que aprendemos nos últimos seis anos de ampla discussão, leitura e
reflexão. Estamos ansiosos para que esse processo continue!
Dito isso, obviamente consideramos que as cinco convicções a seguir são
uma expressão verdadeira e útil do que a Bíblia diz sobre discipulado e
ministério. Como qualquer conjunto de princípios fundamentais, eles buscam
dizer tudo o que é necessário para ser uma base de ação conjunta. E cada
princípio se esforça para ser objetivo e completo em si mesmo (isto é, não
simplesmente repetir algum aspecto de um dos outros princípios).
As cinco convicções são construídas em torno de cinco questões-chave
relacionadas ao “discipulado” e a fazer discípulos, a saber:
• Por que fazer discípulos?
• O que é um discípulo?
• Como se faz um discípulo?
• Quem faz discípulos?
• Onde fazer discípulos?
Respondendo a cada uma dessas questões, bíblica e teologicamente, você
deve ser capaz de construir uma visão coerente do que é discipulado, e do que
isso significa para a sua igreja. (O capítulo de resumo e o diagrama ao final
das cinco convicções também deve ajudá-lo a fazer isso).
Vamos começar, então, com a pergunta do “porquê”.
Convicção 1: Por que fazer
discípulos?
Por que é importante fazer discípulos?15
Eu suponho que poderíamos responder a essa pergunta poupando algum
tempo simplesmente citando Mateus 28.19 e dizendo: “Porque Jesus nos
mandou”.
E isso é certamente verdade. Com toda a autoridade que possui como o
Senhor ressurreto do céu e da terra, Jesus realmente deu a seus discípulos a
tarefa de ir e fazer discípulos de todas as nações.
No entanto, em sua generosidade e gentileza para conosco, Deus fez mais
do que nos dar um simples comando (“Apenas vá, faça e pare de reclamar”).
Ele revelou muito, muito mais.
Ele nos mostrou por que “fazer discípulos” é tão importante e urgente. De
fato, ele nos confiou um segredo que explica a natureza e o destino de tudo
em nosso mundo, incluindo nós e nossas vidas, nossas igrejas e muito mais.
De muitas maneiras, a Bíblia é a história desse segredo sendo revelado.
Toda a primeira metade da Bíblia apresenta o problema e a promessa de uma
solução — mas uma solução que está oculta nas nuvens impenetráveis do
futuro. Os profetas e sábios do Antigo Testamento falaram deste futuro, e
ansiavam por conhecê-lo e vê-lo, mas não tiveram nada além de um
vislumbre ao longe.16
Este mistério que o Antigo Testamento tenta ansiosamente ver, o Novo
Testamento proclama como de forma aberta, às claras, no Senhor Jesus
Cristo. O eterno propósito de Deus para todo o seu mundo está agora
disponível para todos verem, tocarem e ouvirem:
O que era desde o princípio, o que temos ouvido, o que temos visto com os nossos
próprios olhos, o que contemplamos, e as nossas mãos apalparam, com respeito ao
Verbo da vida (e a vida se manifestou, e nós a temos visto, e dela damos
testemunho, e vo-la anunciamos, a vida eterna, a qual estava com o Pai e nos foi
manifestada), o que temos visto e ouvido anunciamos também a vós outros (1Jo
1.1-3).
Os apóstolos vão pelo mundo proclamando essa notícia extraordinária —
que a vida que estava com o Pai, que era desde o princípio, que traz a vida
eterna, agora foi “manifestada” na pessoa de Jesus.
Essa revelação do segredo de Deus é como o momento “Aha!” no final da
história de mistério, quando todas as pistas e peças do quebra-cabeça se
encaixam. Agora, finalmente, podemos ver qual era o plano o tempo todo.
Nesta primeira convicção, vamos explorar e esclarecer exatamente o que é
esse extraordinário plano de Deus — pois isso nos ajudará a compreender
mais clara e poderosamente por que “fazer discípulos” é algo de importância
tão urgente.

REDIMINDO UM POVO PARA SEU FILHO


Qual é o plano de Deus para nós e nosso mundo?
Há muitas passagens espalhadas pelo Novo Testamento que respondem a
essa pergunta e, embora as respostas dadas por elas empreguem palavras e
metáforas diferentes, a essência delas é notavelmente semelhante.
Vamos dar apenas alguns exemplos, começando pelo final do Novo
Testamento e voltando para trás.17
Em Apocalipse 7, o apóstolo João avista uma multidão incontável, de
todas as nações, povos e línguas imagináveis, todos em pé diante do trono de
Deus e diante do Cristo crucificado e ressurreto, que é representado
simplesmente como o Cordeiro. E esta vasta multidão, cujas magníficas
vestes foram tornadas brancas pelo sangue do Cordeiro, clama em
celebração: “Ao nosso Deus, que se assenta no trono, e ao Cordeiro, pertence
a salvação”!18
Eles podem mesmo celebrar, pois servirão na sala do trono de Deus, e
serão protegidos por sua própria presença. As devastações e frustrações da
vida terrena — fome, sede, calor escaldante, lágrimas — não existirão mais,
mas, ao contrário, serão cuidadas pelo Cordeiro, que é ao mesmo tempo seu
pastor:
Um dos anciãos tomou a palavra, dizendo: Estes, que se vestem de vestiduras
brancas, quem são e donde vieram? Respondi-lhe: meu Senhor, tu o sabes. Ele,
então, me disse: São estes os que vêm da grande tribulação, lavaram suas
vestiduras e as alvejaram no sangue do Cordeiro, razão por que se acham diante do
trono de Deus e o servem de dia e de noite no seu santuário; e aquele que se
assenta no trono estenderá sobre eles o seu tabernáculo. Jamais terão fome, nunca
mais terão sede, não cairá sobre eles o sol, nem ardor algum, pois o Cordeiro que
se encontra no meio do trono os apascentará e os guiará para as fontes da água da
vida. E Deus lhes enxugará dos olhos toda lágrima (Ap 7.13-17).
Observe os elementos neste quadro dos momentos definitivos do futuro: o
Cristo crucificado e ressurreto está presente, governando com Deus; por sua
morte ele purificou e reuniu um povo de todas as nações ao redor do trono de
Deus; e os danos do pecado, do mal e da morte não existem mais.
O livro de Apocalipse desvenda para nós outras cenas de tirar o fôlego
sobre o propósito final de Deus para sua criação; mas vamos voltar algumas
páginas para o livro de Hebreus, onde o capítulo 12 nos mostra outra imagem
do plano final de Deus para todas as coisas. Novamente, é uma vasta
assembleia. Desta vez, o local é descrito como a Jerusalém celestial, com
inúmeros anjos presentes, juntamente com todos aqueles que estão
registrados no céu e os espíritos dos justos aperfeiçoados. Mais uma vez, há
duas figuras no centro — Deus, o juiz de todos, e Jesus, o mediador de uma
nova aliança, cujo sangue aspergido fala de algo superior ao sangue do
assassinado Abel.
Novamente, observe os elementos: Deus, seu Filho ressurreto, a alegre
reunião das pessoas que foram aspergidas por seu sangue e o contraste com o
mal e a morte:
Ora, não tendes chegado ao fogo palpável e ardente, e à escuridão, e às trevas, e à
tempestade, e ao clangor da trombeta, e ao som de palavras tais, que quantos o
ouviram suplicaram que não se lhes falasse mais, pois já não suportavam o que
lhes era ordenado: Até um animal, se tocar o monte, será apedrejado. Na verdade,
de tal modo era horrível o espetáculo, que Moisés disse: Sinto-me aterrado e
trêmulo! Mas tendes chegado ao monte Sião e à cidade do Deus vivo, a Jerusalém
celestial, e a incontáveis hostes de anjos, e à universal assembleia e igreja dos
primogênitos arrolados nos céus, e a Deus, o Juiz de todos, e aos espíritos dos
justos aperfeiçoados, e a Jesus, o Mediador da nova aliança, e ao sangue da
aspersão que fala coisas superiores ao que fala o próprio Abel (Hb 12.18-24).
Voltar mais algumas páginas nos leva à pequena carta de Paulo a Tito, que
se concentra principalmente em como o povo de Deus deve viver agora — na
igreja, em seus lares, na sociedade — considerando seu lugar no plano de
Deus que está em andamento. No final do capítulo 2, há uma descrição
resumida do que é esse plano, girando em torno das duas “aparições” de
Jesus Cristo.
A primeira foi quando ele apareceu como a graça de Deus para trazer a
salvação para todas as pessoas e para nos treinar a viver não mais na
impiedade e nas paixões mundanas, mas de maneira piedosa e sensata nesta
era presente. A segunda aparição é a que ainda estamos aguardando:
Porquanto a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens, educando-
nos para que, renegadas a impiedade e as paixões mundanas, vivamos, no presente
século, sensata, justa e piedosamente, aguardando a bendita esperança e a
manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador Cristo Jesus, o qual a si
mesmo se deu por nós, a fim de remir-nos de toda iniquidade e purificar, para si
mesmo, um povo exclusivamente seu, zeloso de boas obras (Tt 2.11-14).
O fim para o qual o plano está se dirigindo mais uma vez envolve um povo
que foi redimido do mal pela generosa doação de Jesus Cristo — um povo,
neste caso, purificado e ansioso por fazer o bem.
Vamos voltar ao Novo Testamento, desta vez ao capítulo de abertura de
Colossenses. Aqui Paulo lembra aos seus leitores que Deus gerou uma
mudança revolucionária em suas vidas. Ele os resgatou e redimiu da
escuridão em que foram escravizados, perdoou seus pecados e deu-lhes uma
herança no reino cheio de luz de seu amado Filho.19 E esse Filho, esta figura
majestosa e preeminente, está no centro da imagem mais uma vez. Ou
melhor, ele está no começo, no meio e no final da imagem:
Ele nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do
seu amor, no qual temos a redenção, a remissão dos pecados. Este é a imagem do
Deus invisível, o primogênito de toda a criação; pois, nele, foram criadas todas as
coisas, nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam
soberanias, quer principados, quer potestades. Tudo foi criado por meio dele e para
ele. Ele é antes de todas as coisas. Nele, tudo subsiste. Ele é a cabeça do corpo, da
igreja. Ele é o princípio, o primogênito de entre os mortos, para em todas as coisas
ter a primazia, porque aprouve a Deus que, nele, residisse toda a plenitude e que,
havendo feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele, reconciliasse consigo
mesmo todas as coisas, quer sobre a terra, quer nos céus (Cl 1.13-20).
No Filho todas as coisas foram criadas, nele todas as coisas subsistem, e
nele todas as coisas encontram seu propósito e realização. E novamente,
como nas outras passagens que examinamos, Deus reuniu uma congregação
de pessoas de todas as nações — uma igreja — da qual Jesus é o cabeça.
Poderíamos continuar e encontrar ensinamentos semelhantes em vários
outros lugares. Poderíamos olhar para o extraordinário capítulo de abertura de
Efésios, com sua história cósmica do plano de como Deus, desde antes do
início dos tempos, começou a escolher e redimir, perdoar e adotar um povo
santo para si mesmo por meio do sangue de Jesus Cristo — um plano para o
mundo inteiro, tanto para judeus como gentios, o qual, na plenitude dos
tempos, chegará ao fim quando todas as coisas estiverem unidas sob Cristo.
Ou poderíamos escalar até o topo da montanha de Romanos 8, e de lá ver a
magnífica vista do plano eterno de Deus: enviar seu Filho na carne para
salvar seu povo da condenação; dar a eles seu Espírito como garantia de que
agora são seus filhos adotivos enquanto aguardam a criação renovada por vir;
predestinar, chamar, justificar e glorificar todos aqueles a quem ele escolheu
para serem refeitos à imagem deste Filho. Isso é como Tito 2 — o novo povo
que Deus está reunindo terá um novo caráter. A imagem marcada e
desfigurada que eles carregam será refeita para que seja como o próprio
Jesus, que é a imagem verdadeira e perfeita de Deus.

DESTE MUNDO TENEBROSO


Um fio comum que atravessa a maioria dessas passagens extraordinárias é
que as pessoas que Deus está reunindo em seu reino são de todas as nações.
Para nossos ouvidos modernos, essa ideia parece bastante encantadora — que
todos os povos da Terra sejam finalmente reunidos e celebrem juntos, apesar
de todas as diferenças linguísticas e culturais que nos separam; uma espécie
de Nações Unidas celestial na qual toda a rica diversidade da humanidade é
representada.
Afinal, é assim que a maioria de nós, no Ocidente pós-iluminista, aprendeu
a pensar sobre a diversidade da linguagem e da cultura humanas — como
uma tapeçaria humana deslumbrante, com cada povo contribuindo com suas
cores e linhas únicas e maravilhosas. E, de fato, encontramos toda a bondade
e beleza que Deus teceu em sua criação presente em cada canto dela.
Mas, na descrição bíblica da história e do plano de Deus, a diversidade das
nações espalhadas pelo mundo tem um lado sombrio. É uma consequência do
julgamento de Deus em Babel.20 De acordo com Paulo em Atos 17, isso
deveria conduzir a uma busca humilde pelo verdadeiro Deus que nos
espalhou.21 A reunião de todas as nações ao redor do trono de Deus em
Apocalipse é menos uma celebração da diversidade cultural, e mais uma
celebração de como Deus superou o problema fundamental que todas as
nações compartilham — que “todos pecaram e carecem da glória de Deus,
sendo justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há
em Cristo Jesus”.22
Usando uma linguagem familiar ao Novo Testamento, o que todas as
culturas e nações humanas compartilham profundamente é o fato de que
todos nós vivemos em trevas.
Vemos isso poderosamente em Efésios, que, talvez mais do que qualquer
outro livro do Novo Testamento, revela a unidade radical da humanidade
atualmente — porque a barreira entre judeus e gentios foi quebrada e juntos
temos acesso ao mesmo Pai, e somos cidadãos e membros de uma só casa de
Deus.
Mas Efésios também insiste que a razão pela qual agora estamos tão
unidos em Cristo é que também estivemos unidos no pecado:
Ele vos deu vida, estando vós [os gentios] mortos nos vossos delitos e pecados, nos
quais andastes outrora, segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe da
potestade do ar, do espírito que agora atua nos filhos da desobediência; entre os
quais também todos nós [ou seja, os judeus também] andamos outrora, segundo as
inclinações da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e
éramos, por natureza, filhos da ira, como também os demais. Mas Deus, sendo rico
em misericórdia, por causa do grande amor com que nos amou, e estando nós
mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo, — pela graça sois
salvos, e, juntamente com ele, nos ressuscitou, e nos fez assentar nos lugares
celestiais em Cristo Jesus; para mostrar, nos séculos vindouros, a suprema riqueza
da sua graça, em bondade para conosco, em Cristo Jesus (Ef 2.1-7).
Alguns capítulos depois, Paulo chama esse estado perdido e cativo em que
estávamos simplesmente de “trevas”: “Pois, outrora, éreis trevas, porém,
agora, sois luz no Senhor”.23 Este incrível mundo em que vivemos, que o
generoso criador Deus encheu de beleza, bondade, relacionamentos e amor
— este mundo também é corretamente descrito como “este mundo
tenebroso”.24
Esse é um aspecto importante do “porquê” fazer discípulos. O plano de
Deus é uma missão de resgate para um povo aprisionado em uma escuridão
terrível e inescapável. O mundo em que vivemos não é território neutro. Não
é um lugar ensolarado e claro onde pessoas legais simplesmente tocam suas
vidas, trabalhos e interesses, e em que os cristãos são pessoas que por acaso
têm um interesse particular em ir à igreja.
É claro que às vezes isso pode parecer assim — especialmente para
aqueles de nós abençoados por viver em partes calmas e prósperas do mundo
ocidental. Vivemos e respiramos em meio a uma multidão de cidadãos
educados, saudáveis e pacíficos, vivendo uma vida aparentemente iluminada
pelo trabalho prazeroso, comida abundante, bom entretenimento e amigos e
familiares amados. Nossas TVs nos asseguram isso mesmo, e que a invasão
ocasional da escuridão em nossas vidas confortáveis é apenas uma falha, uma
anomalia. A transmissão normal será retomada o mais breve possível.
Mas a exposição e imersão diária nessa visão de mundo frequentemente
muda nossa percepção deste “mundo tenebroso”. É como se o interruptor de
uma luminária estivesse ligado; a escuridão não parece tão sombria, e as
pessoas não parecem tão perdidas nela.
Isso tem múltiplos efeitos e consequências para nossa vida cristã; porém,
talvez o mais sério seja o quão drasticamente isso diminui a urgência de se
fazer novos discípulos de Cristo. Nós facilmente nos acomodamos em uma
confortável rotina semanal de igreja, onde estamos felizes por estarmos
juntos e ajudando uns aos outros a crescer como discípulos de Cristo, e
(sinceramente) estamos razoavelmente satisfeitos com o mundo ao nosso
redor seguindo a passos largos rumo ao inferno. Paramos de notar como as
trevas são profundas, como nossos vizinhos, amigos e comunidade estão
perdidos e cegos, e como é desesperador e triste o sofrimento dos milhões
que “permanecem nas trevas”.25
A famosa (e chocante) Visão dos perdidos de William Booth vem à mente.
Vale a pena lê-la na íntegra, mas aqui está apenas uma amostra:
Eu vi um oceano escuro e tempestuoso. Sobre ele as nuvens negras pendiam
pesadamente; através delas, de vez em quando ventos vívidos gemiam, e as ondas
cresciam e espumavam, subiam e quebravam, apenas para crescer e espumar, subir
e quebrar novamente.
Naquele oceano, pensei ter visto miríades de pobres seres humanos mergulhando e
flutuando, gritando e gemendo, praguejando, lutando e se afogando; e enquanto
praguejavam e gritavam, subiam e gritavam novamente, e então alguns afundavam
para não mais subir.
E vi para além desse oceano escuro e furioso, uma rocha imponente cujo cume se
elevava muito acima das nuvens negras que pairavam sobre o mar tempestuoso. E
ao redor da base dessa grande rocha eu vi uma vasta plataforma. Nessa plataforma,
vi com deleite que alguns desses pobres náufragos se arrastavam para fora do
oceano furioso. E vi que alguns dos que já estavam seguros na plataforma estavam
ajudando aquelas pobres criaturas ainda nas águas raivosas a alcançar o local de
segurança.
Ao olhar mais de perto, encontrei alguns que haviam sido resgatados, projetando e
trabalhando diligentemente em escadas, cordas, barcos e outros meios mais
eficazes para salvar do mar aqueles pobres desesperados. Aqui e ali havia alguns
que até mesmo pulavam na água, não obstante as consequências, em sua paixão
por “resgatar os que perecem”. E mal sei o que mais me alegrava: a visão dos
pobres afogados subindo nas rochas, alcançando um lugar de segurança, ou a
devoção e abnegação daqueles cujo ser inteiro estava envolvido no esforço de sua
salvação.
Quando observei, vi que os ocupantes daquela plataforma eram um grupo bastante
diverso. Ou seja, eles estavam divididos em diferentes “grupos” ou classes, e se
ocupavam com prazeres e labores diferentes. Mas apenas alguns poucos deles
pareciam se ocupar em tirar as pessoas do mar.
Mas o que mais me intrigou foi o fato de que, embora todos tivessem sido
resgatados do oceano em determinado momento, quase todos pareciam ter se
esquecido disso. De qualquer forma, parecia que a lembrança de sua escuridão e
perigo não mais os incomodava. E o que me pareceu igualmente estranho e
alarmante foi que essas pessoas nem pareciam ter qualquer preocupação — isto é,
nem mesmo uma angústia — pelos pobres que se debatiam, perecendo afogados
diante de seus próprios olhos... muitos dos quais eram seus próprios maridos e
esposas, irmãos e irmãs, e até mesmo seus próprios filhos.

FAZER MAIS DISCÍPULOS


A história do Novo Testamento é a mesma, repetidas vezes. Este mundo atual
necessita urgentemente de libertação das trevas do pecado, do sofrimento, do
mal e da morte; e Deus está fazendo exatamente isso: ele está resgatando um
povo, de todas as nações, por meio da morte e ressurreição de Jesus Cristo —
pessoas que estão sendo transformadas para serem como Jesus, e que se
reúnem em celebração ao redor do trono de Cristo em uma nova criação onde
o mal e a morte não existem mais.
Se precisássemos de mais imperativos além daquele explícito em Mateus
28, essa imagem certamente nos forneceria. As multidões à nossa volta neste
mundo tenebroso precisam desesperadamente ser resgatada, e o plano de
Deus ao longo de toda a história é fazer exatamente isso — salvar e
transportar os pecadores redimidos para o reino de seu Filho.
Essa compreensão do plano de Deus para todos os lugares e épocas nos dá
uma perspectiva diferente sobre “fazer discípulos”. É como uma imagem
mais ampla, que explica o que realmente está acontecendo.
Pense nisso por um momento. O que você acha que está realmente
acontecendo quando seu amigo descrente Fred se torna um discípulo de Jesus
e se une a uma igreja?
De acordo com o mundo, o que está acontecendo é que, por uma série de
razões pessoais e situacionais, Fred está se voltando para a religião e a
espiritualidade para suprir certas necessidades de sua vida — de significado,
pertencimento, conforto, segurança, de aprimoramento pessoal e outras coisas
mais. O mundo pode ver isso como um desenvolvimento positivo para Fred
ou não, mas, seja lá qual for sua avaliação, será em termos das várias
maneiras pelas quais a “fé” ajuda as pessoas a melhorarem suas vidas.
De acordo com alguns cristãos, o que está acontecendo não é muito
diferente da descrição do mundo, com a exceção de que o Deus ao qual Fred
está se convertendo realmente existe, e realmente ajudará Fred a melhorar sua
vida. Ou seja, a principal consequência de Fred se tornar cristão é uma vida
melhor para ele — mais significativa, correta e amorosa, mais equilibrada e
espiritual, possivelmente ainda mais próxima de torná-lo o Fred que ele
deveria ser.
De acordo com muitos outros cristãos, este foco no cristianismo
“melhorando nossas vidas no agora” é um pouco enganador e não muito
espiritual. Eles diriam que o que está realmente acontecendo é que Deus está
dando a Fred algo muito melhor e mais valioso do que qualquer melhoria de
vida que ele possa imaginar, que é um novo relacionamento pessoal com
Deus por meio de Jesus — um relacionamento que lhe dá salvação e paz com
Deus agora, e acesso ao céu quando ele morrer.
Agora, esta última descrição está chegando mais perto e, de fato, é
perfeitamente verdadeira. Mas precisa ir além. Quando ampliamos ainda mais
e olhamos para o que está acontecendo com Fred, sob a luz do que acabamos
de ver na Bíblia, podemos dizer que o que está acontecendo não tem a ver
apenas com Fred, ou, na verdade, nem é primariamente a respeito dele. O que
está acontecendo, surpreendentemente, maravilhosamente, é que Deus
continua a mover toda a história — neste caso, o pequeno fragmento da
história humana que é Fred — em direção ao seu objetivo final. Com a
conversão de Fred, Deus está colocando mais um tijolo em um templo
espiritual eterno fundado em Cristo e para a glória de Cristo.26 Jesus está
edificando sua igreja,27 sua congregação, sua assembleia, seu grande
ajuntamento da humanidade redimida que um dia se reunirá ao redor dele em
um novo céu e nova terra — e ele está fazendo com um Fred de cada vez.
É por isso que queremos fazer mais e mais discípulos de Jesus Cristo:
porque o objetivo de Deus para todo o mundo e toda a história humana é
glorificar seu amado Filho no meio do povo que ele resgatou e transformou.
Podemos representar isso em um diagrama como este:
Como todas as tentativas de representar visualmente esse tipo de ideia,
reconhecemos que haverá falhas e simplificações em nosso diagrama.
Ficaríamos felizes se você o aprimorasse (e, por favor, entre em contato para
compartilhar suas melhorias). Continuaremos adicionando componentes a
este diagrama nas páginas seguintes, enquanto trabalhamos as cinco
convicções.28

Essa deve ser a nossa primeira e fundamental convicção, porque ela dá forma
e determina todo o resto. Ela nos lembra de que fazer discípulos não é
primordialmente uma atividade humana com objetivos que estabelecemos
(embora o seja, de maneira secundária). Tudo que acontece no ministério
cristão e na igreja, e tudo que acontece em nossas vizinhanças, famílias e
locais de trabalho, é parte do que Deus está fazendo para levar todas as coisas
inexoravelmente a seu objetivo e fim — que é Jesus Cristo.

DISCUSSÃO
Aqui estão algumas sugestões para ajudá-lo a trabalhar o conteúdo desta
seção com uma equipe.
Para esta e cada uma das convicções seguintes:
• Antes de se reunir, cada membro da equipe deve ler o texto que expõe a
convicção, marcando-o no processo. Sublinhem as coisas que vocês
acham que são particularmente importantes; coloquem pontos de
interrogação ao lado de coisas que você não tem certeza de que estão
certas ou que você não entende completamente. Este é um livro que você
tem permissão para rabiscar.
• Quando vocês se reunirem, comece compartilhando seus rabiscos. O que
vocês acharam particularmente impressionante, útil ou desafiador? Onde
estavam seus pontos de interrogação?
• Analisem todas as sugestões de perguntas de discussão, passagens
bíblicas e atividades que considerarem úteis.
• Concluam cada discussão com oração.
1) Leiam pelo menos quatro das seguintes passagens (que mencionamos
acima):
Apocalipse 7.9-17;
Hebreus 12.18-24;
Tito 2.11-14;
Colossenses 1.13-20;
Efésios 1.1-14;
Romanos 8.
Em cada passagem, observem especialmente o que vocês podem aprender
sobre:
a) o fim para o qual Deus está direcionando tudo (incluindo nós);
b) o lugar de Jesus Cristo nos planos de Deus;
c) o significado da morte de Jesus para os planos de Deus;
d) o lugar da humanidade nos planos de Deus;
e) por que fazer discípulos é importante.
2) Por que vocês acham que muitas igrejas perdem a motivação e a urgência
de fazer mais discípulos de Jesus? (Como você descreveria sua própria
urgência para a tarefa? E a da sua igreja?)
3) Veja de quantas maneiras diferentes é possível concluir esta frase de forma
verdadeira:
Nós fazemos discípulos porque…
Talvez fosse mais lógico perguntar “o que é um discípulo?” antes de perguntarmos por que devemos fazê-los, mas por razões que
devem se tornar óbvias à medida que você lê, decidimos começar com a pergunta “por quê”. Chegaremos a “o quê” na nossa
segunda convicção.
1Pe 1.10-12.
Apenas resumiremos brevemente os principais pontos dessas passagens; em sua discussão (veja o guia no final desta convicção),
reserve um tempo para lê-las e explorá-las por si mesmo.
Ap 7.10.
Cl 1.13-14.
Gn 11.1-9.
At 17.26-27.
Rm 3.23-24.
Ef 5.8.
Ef 6.12. Observe também as palavras de Jesus em João 12.46: “Eu vim como luz para o mundo, a fim de que todo aquele que crê
em mim não permaneça nas trevas”. Veja também Colossenses 1.13.
Jo 12.46.
1Pe 2.4-5.
Mt 16.18.
Tentamos representar a tensão entre o “já” e o “ainda não” desta presente era maligna, “inserindo” o reino do Filho no “domínio
das trevas”. O domínio das trevas ainda existe, ainda que pessoas estejam sendo transferidas para o reino do Filho. Ele só será
finalmente destruído no último dia, quando a nova criação surgir.
Convicção 2: O que é um discípulo?
Discípulos, discipular, discipulado, fazer discípulos.
Essas palavras são tão consolidadas nas conversas sobre o ministério e a
vida da igreja que raramente paramos para considerar o que realmente
queremos dizer com elas.
Veja, por exemplo, essas citações recentes, nas quais “discipulado” e
“fazer discípulos” parecem significar uma série de coisas diferentes:
Enquanto ouvia o Dr. Hendricks falar, senti que o discipulado poderia ser algo que
eu poderia fazer, ao contrário de tipos mais públicos de ministério, porque não é
preciso pregar ou fazer nada público.29
O que aconteceria com a igreja de Jesus Cristo se a maioria daqueles que afirmam
seguir a Cristo tivessem sido conduzidos até a maturidade por meio de
relacionamentos íntimos e responsáveis, centrados no essencial da Palavra de
Deus? O resultado seriam discípulos com iniciativa e que se reproduzem.30
Discipulado tem tudo a ver com a viver a vida juntos, em vez de apenas uma
reunião estruturada por semana.31
Muitas igrejas têm usado vários tipos de pequenos grupos como parte de sua
estratégia de discipulado (grupos nos lares, grupos de vida, grupos de comunhão,
grupos comunitários, etc.).32
Marcos chama a Igreja a abandonar seus sonhos imperialistas, por um lado, e seu
não-envolvimento passivo, por outro, e tornar-se para o mundo o que Jesus foi para
o mundo. É isso que discipulado, seguir a Jesus, realmente significa.33
Precisamos de mais do mecanismo que Jesus usou para mudar o mundo, o
mecanismo que ele nos instrui a usar. Este mecanismo não criará igrejas perfeitas,
mas criará igrejas eficazes. É o discipulado relacional.34
Essas citações representam boa parte da conversa sobre “discipulado”
hoje, incluindo as muitas discussões que tivemos com pastores desde que A
treliça e a videira foi publicado. Ficamos com a impressão de que, embora
muitas pessoas usem a linguagem do discipulado e de fazer discípulos com
frequência, poucas pessoas estão realmente cientes do que querem dizer com
isso. Suas definições (às vezes implícitas) são frequentemente muito restritas
ou muito vagas sobre o que está envolvido.
De um modo geral, a maioria das pessoas presume que o discipulado é um
tipo de coisa pessoal, relacional e íntima; algo que acontece em nossas vidas
privadas ou em pequenos grupos, talvez em contraste com outros aspectos da
vida da igreja que são mais públicos ou programáticos. A maioria geralmente
compara “ser discípulo” com “seguir a Jesus”. E quase todos concordam que
o discipulado eficaz e a formação de discípulos são extremamente
importantes e são um (ou o) fator vital para rejuvenescer as igrejas e mudar o
mundo.
Mas por que “discípulo” é a categoria ou linguagem que devemos usar
para falar sobre essas coisas não é algo tão óbvio, menos ainda quando vemos
como o Novo Testamento usa a palavra (o que veremos abaixo).
É claro que o problema das palavras — como “discípulo” e “discipulado”
— é que elas mudam e se transformam com o tempo, à medida que as
usamos de maneiras diferentes e com referência a diferentes coisas no
mundo. Isso não é um problema; é apenas a realidade da linguagem como um
dom vivo e dinâmico de Deus.
Mas às vezes pode ser um problema quando tomamos uma palavra da
Bíblia — como “discípulo” — e a usamos com sentido diferente de como a
Bíblia a usa, ou para significar algo diferente do que a Bíblia quer dizer com
ela. É um problema não porque a precisão absoluta na linguagem seja uma
virtude em si, mas porque isso pode nos levar a perder as riquezas do que a
Bíblia está realmente dizendo com aquela palavra. Vemos uma palavra em
nossa língua na Bíblia (como “discípulo”), e o significado, as referências e os
sentidos de como usamos a palavra em nosso contexto vêm à nossa mente.
Nós naturalmente admitimos que é nesse sentido atual que a Bíblia está
falando neste momento, mas pode não ser. O autor bíblico pode ter um
conjunto um pouco diferente de ideias em mente e, assim, perdemos a força
ou as implicações do que está sendo dito. Pior, podemos interpretar mal o que
está sendo dito, e tratar com o peso de um imperativo bíblico algo de nossa
experiência atual na igreja que não é necessariamente o que a Bíblia está
falando.
Tudo isso significa que um passo vital para esclarecer nossas convicções
sobre discipulado e fazer discípulos é esclarecer o que queremos dizer com
esses termos importantes.

O QUE É UM DISCÍPULO?
Não há muita controvérsia ou dificuldade sobre o significado da palavra
traduzida como “discípulo” no Novo Testamento (a palavra grega mathétés).
Ela se refere basicamente a um aluno ou aprendiz, alguém que é orientado
por um professor para aprender com ele.35
Simplificando, um discípulo é um “aprendiz”; portanto, discipulado é
“aprendizado”.
Nós vemos isso claramente na maneira como os Evangelhos usam a
palavra. Um discípulo tem como objetivo aprender os caminhos, práticas e
sabedoria de seu professor:
O discípulo não está acima do seu mestre; todo aquele, porém, que for bem
instruído será como o seu mestre (Lc 6.40).
Disseram-lhe ele: Os discípulos de João e bem assim os dos fariseus
frequentemente jejuam e fazem orações; os teus, entretanto, comem e bebem (Lc
5.33).
Sejam os discípulos de João, dos fariseus ou de Jesus, o ponto básico é o
mesmo: os “aprendizes” têm relação com seu professor (ou professores),
cujos ensinamentos e modo de vida procuram aprender e adotar.
Certamente eles estão aprendendo conteúdo intelectual — uma maneira de
pensar e perceber o mundo, um conjunto de conhecimentos e compreensões.
Muitas vezes vemos Jesus ensinando aos seus “aprendizes” esse conteúdo
nos Evangelhos:
Vendo Jesus as multidões, subiu ao monte, e, como se assentasse, aproximaram-se
os seus discípulos; e ele passou a ensiná-los, dizendo: [...] (Mt 5:1-2).
Mas, no caso dos discípulos de Jesus, o resultado desse aprendizado não
era simplesmente o domínio de certo conjunto de conhecimento — o que nós
hoje associamos à aprendizagem acadêmica ou à sala de aula. O que os
“aprendizes” estavam aprendendo com Jesus era um modo de vida baseado
na compreensão de certas verdades sobre a realidade (como também faziam
os discípulos de João e dos fariseus, inclusive). O objetivo era que eles não
apenas soubessem o que o professor sabia, mas também que fossem como seu
professor, que andassem em seus caminhos. Eles não estavam aprendendo
uma matéria; eles estavam aprendendo uma pessoa, se podemos dizer dessa
maneira — seu conhecimento, sua sabedoria, todo o seu modo de vida.
Em parte, esse é o motivo pelo qual os “aprendizes” frequentemente
acompanhavam seus professores. Eles não somente escutavam as palavras do
professor, mas viam suas palavras em ação em sua vida, e buscavam aprender
esse modo de vida estando com ele constantemente. Segui-lo e estar com ele
era também o modo rotineiro de transmitir e assimilar o ensino. Vemos isso
nos Evangelhos, com os “aprendizes” frequentemente fazendo perguntas a
Jesus, apresentando-lhe dilemas e pedindo que ele esclareça e aprofunde seu
ensino público.
Talvez essa seja uma razão pela qual o conceito de “seguir alguém” passou
a dominar o pensamento da maioria das pessoas sobre o discipulado. Se
perguntadas sobre uma simples definição do que é um discípulo, muitas
pessoas responderiam: “Alguém que segue a Jesus”. Pelo que vimos até
agora, talvez seja mais correto dizer: “Alguém dedicado a aprender Jesus”.
Contudo, embora “discipulado” não seja idêntico a “seguir”, os dois estão
intimamente relacionados nos Evangelhos, por pelo menos duas razões.
A primeira está relacionada ao tipo de aprendizado com o qual os
“aprendizes” (ou seja, discípulos) estavam se comprometendo. Você
dificilmente poderia aprender com o Mestre, e adotar o estilo de vida que ele
ensinava e personificava, se não estivesse regularmente com ele —
assistindo, ouvindo, praticando, perguntando, e assim por diante. Jesus queria
que seus aprendizes andassem com ele e aprendessem a ser como ele.
Mas o significado de seguir Jesus é mais profundo do que isso nos
Evangelhos, em razão de quem Jesus era e para aonde seus seguidores o
estavam seguindo. Jesus repetidamente diz às pessoas que segui-lo é um
compromisso exclusivo, de vida ou morte. Acompanhá-lo significa deixar
tudo para trás, incluindo sua própria vida — como ele coloca tão claramente
no Evangelho de Lucas:
Assim, pois, todo aquele que dentre vós não renuncia a tudo quanto tem não pode
ser meu discípulo [aprendiz] (Lc 14.33).
“Aprender” Jesus — submeter-se ao seu ensinamento, andar em seus
caminhos — significará deixar para trás todas as suas lealdades e
compromissos atuais. Significará caminhar com ele a estrada para Jerusalém
e enfrentar a cruz que está esperando lá. Como Jesus deixa bem claro, salvar
nossa vida antiga não é uma opção; é apenas perdendo nossa vida que a
salvaremos.36 Ou, para usar as palavras de Paulo, apenas sendo crucificados
com Cristo poderemos ressurgir para uma nova vida nele.37
“Seguir” Jesus de acordo com os Evangelhos se parece muito com
arrependimento. É abandonar minha existência atual e seguir em uma nova
direção, para aprender uma nova vida de um novo Mestre, e para fazer parte
do novo reino que ele trará.

DOIS SÍMBOLOS PODEROSOS


Talvez seja por isso que o batismo é um símbolo tão apropriado para a
iniciação de um “aprendiz”. O batismo era como alguém tipicamente se
“tornava” discípulo, como o Evangelho de João nos mostra de passagem:
Quando, pois, o Senhor veio a saber que os fariseus tinham ouvido dizer que ele,
Jesus, fazia e batizava mais discípulos que João [...] (Jo 4.1).
O batismo era um símbolo de arrependimento, apagar o velho e começar
de novo, morrer e ressurgir.. O batismo de um novo “aprendiz” era um modo
vívido de declarar que ele havia se afastado decisivamente de sua antiga
compreensão e modo de vida, e agora embarcava numa nova vida que
aprenderia com seu professor.
É claro que, no caso de ser iniciado no aprendizado de Jesus, esse
arrependimento não era apenas se afastar da vida anterior, mas reconhecer
que a vida anterior fora vivida em egoísmo e rebelião contra Deus. O
arrependimento era também um pedido de perdão — lavar-se de todos
aqueles pensamentos, ações, atitudes e traços de caráter que eram contrários
ao novo reino que Jesus personificava e ensinava.
Jesus não é um mestre qualquer, e ao se arrepender e segui-lo, você não
está se tornando um “aprendiz” qualquer. Tornar-se um “aprendiz” de Jesus
requer um repúdio — um “desaprendizado” radical — de nosso antigo modo
de vida rebelde. Significa ser perdoado pela ofensa que era nossa vida aos
olhos de Deus, e submeter-se a um Mestre divino que fala as próprias
palavras do Pai.
Isso pode ser um pouco diferente do que aprendemos a pensar sobre
“aprender”. Tendemos a ver a aprendizagem através das lentes da educação
moderna, segundo a qual passamos de um estado de ignorância para sermos
“educados”; isto é, adquirimos informações, conhecimentos ou habilidades
que antes não tínhamos. O problema que o “aprendizado” aponta é a falta de
conhecimento, quase como se houvesse uma folha em branco precisando ser
preenchida.
Mas as pessoas que Jesus chama a serem “aprendizes” não são um quadro
em branco. Seu quadro é bem cheio — de pensamentos insensatos, obscuros
e escravizados que se opõem ao aprendizado de Jesus em todas as áreas.
Tornar-se um aprendiz de Cristo requer, portanto, uma mudança radical.
Requer uma grande obra de Deus em nos resgatar do domínio das trevas em
que fomos escravizados e nos transportar para o reino de seu Filho amado.38
Do nosso lado, requer arrependimento — isto é, morrer para a rede de
mentiras em que nossa vida foi construída.
Não é realmente uma surpresa, então, quando chegamos a Mateus 28, que
o batismo seja uma parte integral da grande comissão de Jesus para fazer
“aprendizes” de todas as nações. Mas voltaremos a Mateus 28 em breve.
O outro símbolo poderoso de se tornar um “aprendiz” é o jugo. Nós vemos
isso nas palavras de Jesus em Mateus 11:
Tudo me foi entregue por meu Pai. Ninguém conhece o Filho, senão o Pai; e
ninguém conhece o Pai, senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar.
Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei.
Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de
coração; e achareis descanso para a vossa alma. Porque o meu jugo é suave, e o
meu fardo é leve (Mt 11.27-30).
“Tomar o jugo” é uma metáfora para o serviço, submissão e obediência,
para aceitar a autoridade de outro — como os bois, que estão unidos sob o
mesmo jugo para arar a serviço de seu dono; ou escravos, que carregam o
jugo (o fardo) de seu mestre.
“Tomar o jugo” é uma maneira de falar sobre “aprendizado” — submeter-
se para aprender e seguir os caminhos de um mestre ou professor.39 Isso é
essencialmente o que um “discípulo” era nos tempos do Novo Testamento:
alguém que se submetia à autoridade de um professor, a fim de aprender com
ele e se tornar como ele.
Nessa passagem, Jesus dá duas razões por que ele é a pessoa óbvia de
quem aprender. A primeira é a assombrosa afirmação de que todas as coisas
lhe foram entregues pelo Pai — de que ele é o Filho e herdeiro de Deus
(como vimos na Convicção 1). Ele, e somente ele, tem acesso exclusivo ao
conhecimento fundamental de todas as coisas. Ele é o único que conhece o
Pai e que pode, portanto, revelar o Pai aos outros. Se você quer aprender
como Deus realmente é — na verdade, se você quer conhecer ao próprio
Deus Pai — o Filho é sua única opção como professor.
Veja, uma afirmação como essa não soa como as palavras de alguém que é
“manso e humilde de coração”, e cujo jugo é suave e leve. E, no entanto, esse
é o impressionante e desconcertante contraste que Jesus apresenta
constantemente, e que os escribas e fariseus falham constantemente em
compreender. O Filho de Deus, conquistador absoluto, que traz o Reino e
revela o Pai, nasce em um lugar remoto, num estábulo, e cresce no
anonimato. Ele não vem com espada e poder militar, mas com ensino, cura e
compaixão. Ele entra em Jerusalém não em um cavalo de guerra, mas em um
jumento. E quando ele é finalmente levantado em seu grande momento de
glória, seu trono acaba por ser uma cruz em que ele morre uma morte de
desprezo, pelos pecados de seus inimigos.40
Ele vem para trazer descanso, paz e salvação. É por isso que seu jugo é um
alívio bendito do fardo pesado e duro que os escribas e fariseus colocavam
sobre os ombros de seus “aprendizes”. A escola deles ensinava
autojustificação externa por meio de uma observação rígida da lei, baseada
nas tradições dos homens, em vez do verdadeiro conhecimento do Pai.
O que nos leva à segunda razão pela qual tomar o jugo de Jesus é algo tão
atraente: não é uma escola em que você é aprovado por mérito. Ou melhor: é
uma escola em que a nota de aprovação é 100%, mas o exame final é feito
pelo professor.
O jugo de Jesus é total submissão à sua autoridade como o Mestre. Mas
isso não é um fardo; é libertação. Seu jugo traz uma liberdade paradoxal —
liberdade do pesado fardo do pecado por meio do perdão; e liberdade para
agora aprender um novo modo de vida próprio do reino de Deus.
Esses dois símbolos, o batismo e o jugo, dizem muito sobre o tipo de
aprendizado que os aprendizes de Jesus experimentavam. Ele exigia uma
ruptura radical com o passado e a entrada em um novo relacionamento com o
mestre; era uma forma de serviço e submissão que era de fato descanso e
liberdade; envolvia um novo modo de vida, para aprender a ser como o
mestre.

Talvez possamos resumir o que vimos até agora dizendo que um “discípulo”
é alguém envolvido em um aprendizado transformador.41
Esse é um tipo de aprendizado no qual a compreensão do aluno sobre a
realidade é mudada e continua mudando, levando a uma experiência e uma
vida transformadas. Nossa compreensão e vida mudam decisivamente à
medida que nos arrependemos e nos submetemos a um novo professor, que
nos revela o Pai e nos revela a nós mesmos. E nossa compreensão continua
sendo renovada ao longo do tempo, à medida que se aprofunda e se amplia e
começa a ser expressa em ação e em vida; enquanto desaprendemos antigas
formas de pensar, e enquanto continuamos a reorganizar os móveis de nossa
mente de acordo com o novo proprietário que entrou na casa.
Na Convicção 3, exploraremos mais como exatamente essa mudança de
pensamento se dá por meio da obra da Palavra e do Espírito de Deus; mas, no
momento, precisamos notar que o efeito dessa compreensão transformada é
uma mudança em toda a pessoa — da nossa identidade, experiência, vida e
ação. Ser um “aprendiz” de Jesus envolve necessariamente aprender a
verdade e o conteúdo transmitidos em palavras, mas também deve envolver o
aprendizado de um novo modo de ser e viver.
A Grande Comissão nos lembra disso. Os onze primeiros aprendizes são
encarregados por Jesus de fazer discípulos de todos os povos, iniciando-os
(ou batizando-os) no relacionamento com o Pai, o Filho e o Espírito, e
ensinando-os a guardar todos os mandamentos de Jesus.42
Muitas vezes não prestamos muita atenção a essa pequena palavra,
“guardar”. Os aprendizes devem ser ensinados não apenas a conhecer os
mandamentos de Jesus. O resultado do aprendizado é que eles guardem,
observem ou obedeçam aos mandamentos de Jesus. Eles devem aprender o
novo modo de vida que o Senhor Jesus Cristo ordena que seus súditos vivam,
que é resumido e condensado no mandamento do “amor” — doar-se
sacrificialmente em benefício dos outros, como Cristo fez por nós.
De fato, embora pensemos muitas vezes em aprender em termos de nosso
próprio crescimento e avanço pessoal — de nos tornarmos melhores de
alguma forma — aprender Cristo é estar cada vez mais focado nos outros e
não em nós mesmos. É dar a vida pelos outros, como Cristo entregou a sua,
em fraqueza, sofrimento e morte.
É isso que um “aprendiz” de Jesus está aprendendo: uma existência
transformada baseada em um relacionamento transformado com Deus em
Cristo.
Não parece necessário ressaltar que “discípulo” (ou “aprendiz”) é,
portanto, apenas outro nome para “cristão” — para alguém que renunciou à
mentira que costumava estar no centro de sua vida, que reconheceu a
escuridão e perdição em que vivia e que se voltou para Cristo em fé como seu
Mestre, Senhor e Salvador — para aprender a ser como ele, guardar todos os
seus mandamentos e cumprir esse compromisso diária, semanal e
anualmente, pelo resto de sua vida.
Nesse sentido, o “aprendizado” não pode ser pensado como uma subseção
da vida cristã ou como um estágio na vida cristã. É simplesmente uma
maneira de descrever a totalidade da vida cristã.43 Ser um “aprendiz” desse
tipo é simplesmente ser um cristão.
O mesmo é verdade sobre a igreja. Como discutiremos mais adiante, uma
igreja pode ser pensada de forma produtiva como uma “comunidade de
aprendizado transformador” — isto é, uma reunião de pessoas que, juntas,
estão aprendendo Cristo. “Fazer aprendizes” de Cristo não é algo que uma
igreja faz na Escola Dominical adulta, ou em um programa de quarta-feira à
noite, ou motivando as pessoas a fazerem estudos bíblicos em duplas —
ainda que, é claro, todas essas atividades possam realmente ajudar as pessoas
a aprenderem Cristo. Tudo o que fazemos como o povo de Deus (como
“igreja”) deve ser um exercício no aprendizado transformador de Cristo.
Mas voltaremos a isso no devido tempo.

O APRENDIZ DESAPARECIDO?
Um dos mistérios curiosos no Novo Testamento é que parece não haver
“discípulos” depois do livro de Atos.
Ao longo dos Evangelhos e em Atos, o substantivo mathétés (“discípulo”
ou “aprendiz”) aparece frequentemente como uma descrição daqueles que se
devotaram a aprender de Cristo. Mas depois de uma menção final em Atos
21.16, a palavra desaparece abruptamente. Em todos os 22 livros restantes do
Novo Testamento, ninguém é descrito como “aprendiz” ou “discípulo”.
Isso é um pouco estranho, ainda mais porque Jesus disse especificamente
aos seus aprendizes (discípulos) para irem e fazerem mais aprendizes
(discípulos). E não é que eles tenham chegado a Atos 21 e desistido da tarefa.
É óbvio, pelas epístolas, que o que os apóstolos fizeram para formar
aprendizes em Atos (isto é, pregar o evangelho no poder do Espírito, batizar
pessoas em Cristo e ensiná-las a guardar todos os seus mandamentos) era o
que eles e todo o grupo apostólico continuaram a fazer em todos os lugares.
De fato, a forma verbal de “discípulos” — manthanó, “aprender” —
aparece com bastante frequência nas epístolas, em conexão com a verdade do
evangelho que os cristãos aprenderam e o estilo de vida ou ação que a
acompanha. Aqui está uma amostra:
Rogo-vos, irmãos, que noteis bem aqueles que provocam divisões e escândalos, em
desacordo com a doutrina que aprendestes; afastai-vos deles (Rm 16.17).
Porque todos podereis profetizar, um após outro, para todos aprenderem e serem
consolados (1Co 14.31).
O que também aprendestes, e recebestes, e ouvistes, e vistes em mim, isso
praticai; e o Deus da paz será convosco (Fp 4.9).
Digo isto, não por causa da pobreza, porque aprendi a viver contente em toda e
qualquer situação (Fp 4.11).
[...] Por causa da esperança que vos está preservada nos céus, da qual antes
ouvistes pela palavra da verdade do evangelho, que chegou até vós; [...] desde o dia
em que ouvistes e entendestes a graça de Deus na verdade; segundo fostes
instruídos por Epafras, nosso amado conservo [...] (Cl 1.5-7).
Os quais, tendo-se tornado insensíveis, se entregaram à dissolução para, com
avidez, cometerem toda sorte de impureza. Mas não foi assim que aprendestes a
Cristo, se é que, de fato, o tendes ouvido e nele fostes instruídos, segundo é a
verdade em Jesus, no sentido de que, quanto ao trato passado, vos despojeis do
velho homem, que se corrompe segundo as concupiscências do engano, e vos
renoveis no espírito do vosso entendimento, e vos revistais do novo homem, criado
segundo Deus, em justiça e retidão procedentes da verdade (Ef 4.19-24).
Agora, quanto aos nossos, que aprendam também a distinguir-se nas boas obras a
favor dos necessitados, para não se tornarem infrutíferos (Tt 3.14).
Talvez os cristãos como “aprendizes” não tenham desaparecido do restante
do Novo Testamento, afinal de contas.
É notável como essas poucas citações breves se alinham com o que vemos
sobre “aprendizado” nos Evangelhos e em Atos. Isso claramente envolve
conteúdo — isto é, palavras sendo faladas e ensinadas, e então recebidas e
aprendidas. Mas também envolve aprender com as ações e exemplos de um
professor e procurar fazer o mesmo (como em Fp 4.9). Envolve aprender não
apenas informação, mas um modo de vida totalmente novo e arrependido —
matar o velho “eu” e, com uma mente renovada, embarcar em uma nova
existência (como em Ef 4.19-24).
E, é claro, ao olhar para essas poucas ocorrências da palavra “aprender”,
não examinamos a multiplicidade de outros termos e frases que transmitem
os mesmos conceitos — que a vida cristã é uma questão de entender e adotar
uma nova visão de realidade, uma nova verdade, uma nova palavra que foi
anunciada, proclamada, ensinada, praticada e passada adiante; e que também
é uma questão de responder a essa palavra libertadora em arrependimento e fé
contínuos que são vividos em todas as esferas de nossas vidas.
“Aprender Cristo” é uma realidade que o Novo Testamento afirma
repetida e poderosamente.
No entanto, vale a pena perguntar se o “aprendizado” diminuiu (ou mesmo
desapareceu) em muitas igrejas modernas. E com isto não queremos dizer
que há menos ministérios pessoais do que deveria haver, ou menos grupos
pequenos, ou que toda igreja deveria ter um “pastor de aprendizado”.
O que queremos dizer é que, pela nossa observação de igrejas e por nossas
conversas com pastores em todo o mundo, a cultura que existe em muitas
igrejas não é mais uma cultura de aprendizado transformador, se é que já foi
um dia. Todo o “modo como fazemos as coisas por aqui” não é focado no
aprendizado transformador por meio da Palavra de Deus no poder do Espírito
de Deus.
Você descreveria a cultura de sua igreja dessa maneira? Você descreveria
sua própria vida dessa maneira, a propósito? Que outras culturas e estruturas
parecem estar operando no lugar?
Falaremos mais sobre isso na Fase 3, ao avaliarmos nossa cultura atual em
relação às nossas convicções. Mas não vamos nos antecipar.
O que é um discípulo? Um pecador perdoado que está aprendendo Cristo
em arrependimento e fé.
Poderíamos acrescentar um pequeno detalhe ao nosso diagrama para
representar isso — um sinal de “A” (aprendiz) acima da pessoa que foi
transportada das trevas para o reino do Filho, e que agora continua esse
aprendizado transformador em todas as esferas da vida, especialmente na
“comunidade de aprendizado transformador” que chamamos de “igreja”.

O próximo passo é refletir sobre o conteúdo dessa convicção, confrontá-lo


com as Escrituras e formular sua própria maneira de expressá-la.
DISCUSSÃO
Além de suas próprias anotações e rabiscos, aqui estão alguns pontos para
começar a discussão.
1) Leiam estas passagens conhecidas nas quais Jesus explica o que significa
ser seu discípulo: Mateus 10.16-33; Marcos 8.31-38; Lucas 14.25-33.
a) O que os discípulos precisam aprender sobre Jesus?
b) Quais são as consequências de aprender Cristo dessa maneira?
c) Por que é inconsistente “aprender Cristo” e não sujeitar toda a nossa
vida à sua vontade?
d) Que mestres alternativos Jesus destaca?
2) Discutam cada uma das seguintes visões comuns de discipulado. Se
expressam alguma verdade, que verdade elas expressam? Em que elas
estão erradas ou inadequadas?
Visão 1: O discipulado é um segundo estágio da experiência cristã que
acontece algum tempo depois da conversão. Você pode ser um cristão,
mas apenas os realmente dedicados e comprometidos são discípulos.
Visão 2: O discipulado é uma estratégia ou programa intencional do
ministério — como aconselhamento individual, ministério em pequenos
grupos ou um programa de discipulado de 12 semanas.
Visão 3: A essência do discipulado é a prestação de contas a um
discipulador. O discipulado diz respeito ao tipo de relacionamento de
confiança em que alguém nos cobra sobre os momentos de quietude, a
frequência à igreja ou a resistência a pecados específicos, como a
pornografia.
Visão 4: Pregar não tem realmente a ver com discipular pessoas. Tem
mais a ver com proclamação, ensino e exortação.
3) Escrevam sua própria declaração concisa do que significa ser um discípulo
de Jesus. (Vocês podem considerar essa declaração útil mais tarde na Fase
3, ao avaliar com que eficácia os vários ministérios da sua igreja estão
“fazendo discípulos”).
Dennis McCallum e Jessica Lowery, Organic discipleship: mentoring others into spiritual maturity and leadership (New
Paradigm, n.p., 2012), 15.
Greg Ogden, Discipleship essentials: a guide to building your life in Christ (Downers Grove: Inter Varsity Press, 2007), 9.
Francis Chan & Mark Beuving, Multiply: Disciples Making Disciples (Colorado Springs, David C. Cook, 2012), 11.
Randy Pope & Kitti Murray, Insourcing: bringing discipleship back to the local church (Grand Rapids: Zondervan, 2013), 107.
N. T. Wright, Following Jesus: biblical reflections on discipleship, (Grand Rapids: Eerdmans, 1995), 49-50.
Jim Putman, Bobby Harrington & Robert E. Coleman, DiscipleShift: five steps that help your church to make disciples who make
disciples (Grand Rapids: Zondervan, 2013), 22; ênfase original.
Isso se reflete na origem de nossa palavra “discípulo”, do latim discere, “aprender”.
Mc 8.34-36.
Rm 6.1-8; Cl 2.11-15.
Cl 1.13-14.
A palavra grega para “aprendei” (manthanō) no versículo 30 é a forma verbal do substantivo que normalmente traduzimos como
“discípulo” (mathētē).
Em Isaías 50, o Servo que diz: “O SENHOR Deus me deu língua de eruditos, para que eu saiba dizer boa palavra ao cansado” (v. 4)
é aquele que não era rebelde e, no entanto, foi tratado com afronta (v. 5-6).
“Aprendizado transformador” é um termo usado na teoria educacional, e sobre o qual há algum debate. Ao tomar emprestado o
termo, certamente não pretendemos entrar nesse debate (não é nossa especialidade).
Mt 28.16-20.
Não é a única maneira, é claro, mas é uma maneira muito útil.
Convicção 3: Como se faz um
discípulo?
Após erguer nossos olhos para o panorama dos planos gloriosos de Deus para
reunir seu povo em Cristo (“Por que fazer discípulos?”) e fazer uma reflexão
cuidadosa sobre o que um discípulo realmente é (um “aprendiz de Cristo”),
agora chegamos à questão do “como”: Por qual método ou meio Deus está
resgatando e reunindo seu povo para o reino de seu Filho?
É extremamente importante colocarmos a questão dessa maneira, com essa
sintaxe gramatical — isto é, com Deus como o sujeito ativo da frase. Ao
pensar sobre meios e métodos, e especialmente sobre a parte que os esforços
e atividades humanas desempenham no processo de fazer discípulos,
devemos constantemente afirmar a primazia da vontade e ação de Deus.
Voltaremos a isso mais à frente, mas que este seja o primeiro de vários
lembretes sobre isso: você pode plantar e eu posso regar, mas é Deus quem
dá o crescimento.44
Nossa esperança é que você considere a explicação a seguir de como fazer
discípulos algo totalmente convencional e comum — na verdade, não;
esperamos que você considere notável, mas não por ser algo novo. Não
encontramos o Santo Graal da metodologia de discipulado, nem achamos que
exista um segredo ou chave perdida para isso.
Os meios que destacaremos são aqueles que Deus concedeu desde o
princípio, mas que, por várias razões, negligenciamos, entendemos errado ou
fazemos mau uso. Faremos o nosso melhor para expor e explicar esses
métodos de forma clara, precisa e com uma nova perspectiva (que esperamos
que seja revigorante), mas não reivindicamos ser inovadores.
Vamos começar, então, mergulhando em algumas passagens bíblicas
importantes.

O lugar lógico para começar é, sem dúvida, a Grande Comissão em Mateus
28, mas ela realmente não entra em detalhes sobre como os discípulos são
feitos. Como já observamos, todas as nações devem ser iniciadas como
“aprendizes” do Cristo ressurreto e Senhor de toda autoridade (pelo batismo),
com uma expectativa de ensino contínuo sobre guardar todos os seus
mandamentos, e uma promessa de que o próprio Jesus estará conosco até o
fim dos tempos. Para além disso, não há detalhes sobre a metodologia
envolvida.
A imagem é preenchida um pouco mais em Lucas 24, onde lemos uma
versão diferente (ou adicional) da Grande Comissão nas palavras de Jesus aos
discípulos reunidos no cenáculo. Jesus abre suas mentes para entenderem as
Escrituras e lhes mostra que a tarefa para a qual estão sendo enviados a
cumprir sempre foi o plano de Deus. O que foi escrito na Lei, nos Profetas e
nos Salmos deve ser cumprido:
Então, lhes abriu o entendimento para compreenderem as Escrituras; e lhes disse:
Assim está escrito que o Cristo havia de padecer e ressuscitar dentre os mortos no
terceiro dia e que em seu nome se pregasse arrependimento para remissão de
pecados a todas as nações, começando de Jerusalém. Vós sois testemunhas destas
coisas. Eis que envio sobre vós a promessa de meu Pai; permanecei, pois, na
cidade, até que do alto sejais revestidos de poder. (Lc 24.45-49)
Três necessidades estavam “escritas”: que o Cristo padecesse, que
ressuscitasse dos mortos e que o arrependimento e a remissão de pecados
fossem proclamados em seu nome a todas as nações, a partir de Jerusalém.
Como em Mateus 28, a autoridade global do Cristo crucificado e ressuscitado
significa que o arrependimento e o perdão (isto é, tornar-se seu discípulo) se
aplicam a todas as nações. A tarefa dos discípulos é declarar essa notícia para
o mundo pela proclamação no poder do Espírito.
Isso, claro, é o que vemos acontecer em Atos. O Espírito desce em poder
sobre toda a congregação de discípulos no Pentecostes, e suas bocas são
abertas para declarar as grandes obras e feitos de Deus para as nações.45
Pedro se levanta e explica que o que está acontecendo é exatamente o que as
Escrituras (e o próprio Jesus) predisseram: o Messias davídico morreu e
ressuscitou para ser o Senhor de todos, derramou seu Espírito sobre seu povo,
e agora é o tempo para o arrependimento e perdão dos pecados. A mensagem
atinge o coração da multidão e muitos respondem.46
Esse padrão inicial continua por todo o livro de Atos. Os discípulos de
Jesus, liderados pelos apóstolos (incluindo o novato Paulo, que se junta às
fileiras no capítulo 9), espalham-se de Jerusalém para a Judeia e Samaria e
para o restante do mundo com as grandiosas notícias de Jesus Cristo. O
resumo do que aconteceu em Derbe em Atos 14 é um exemplo típico:
E, tendo anunciado o evangelho naquela cidade e feito muitos discípulos, voltaram
para Listra, e Icônio, e Antioquia, fortalecendo a alma dos discípulos, exortando-os
a permanecer firmes na fé; e mostrando que, através de muitas tribulações, nos
importa entrar no reino de Deus. (At 14.21-22)
O evangelho é pregado, discípulos são feitos, fortalecidos e encorajados a
continuar na fé até o fim. Essa é a história de Atos — contudo, se o livro deve
ser chamado de “Atos dos Apóstolos” ou “Atos de Deus” é uma questão
interessante. Em todo o livro de Atos, embora a palavra do evangelho seja
proclamada por e através dos discípulos de Jesus (em obediência à sua
comissão), há também várias referências à palavra de Deus tendo vitalidade e
poder próprios:
Crescia a palavra de Deus, e, em Jerusalém, se multiplicava o número dos
discípulos; também muitíssimos sacerdotes obedeciam à fé. (At 6.7)
Entretanto, a palavra do Senhor crescia e se multiplicava. (At 12.24)
E divulgava-se a palavra do Senhor por toda aquela região. (At 13.49)
Assim, a palavra do Senhor crescia e prevalecia poderosamente. (At 19.20)
Da mesma forma, Atos não deixa dúvidas de que o poder por trás da
proclamação e propagação da Palavra é o poder do próprio Deus pelo seu
Espírito. Em todos os pontos da narrativa, o Espírito é ativo — seja para dar
ousadia aos discípulos a fim de falarem diante da oposição,47 cair sobre
aqueles a quem eles falam,48 direcionar o caminho da missão49 ou dar alegria
aos discípulos em meio ao sofrimento.50
Fazer discípulos é obra de Deus, alcançada quando a sua Palavra e seu
Espírito operam por meio da atividade dos discípulos e nos corações daqueles
a quem eles falam.
Quando chegamos às cartas do Novo Testamento, escritas às igrejas
estabelecidas pelo ministério dos apóstolos em Atos, encontramos uma
continuação desses temas metodológicos. Para ilustrar, vamos fazer um breve
passeio por 1 Tessalonicenses, mas o mesmo exercício poderia ser feito
produtivamente com qualquer uma das cartas do Novo Testamento.
Como os tessalonicenses se tornaram “aprendizes de Cristo”, tanto
inicialmente como em sua contínua caminhada com ele?
• Paulo lhes anunciou o evangelho não “tão-somente em palavra, mas,
sobretudo, em poder, no Espírito Santo e em plena convicção”.51
• A resposta dos tessalonicenses nos diz algo não apenas sobre o efeito da
proclamação sobre eles, mas também sobre o conteúdo desse anúncio.
Depois que ouviram Paulo e foram convencidos pelo Espírito Santo,
“deixando os ídolos, vos convertestes a Deus, para servirdes o Deus vivo
e verdadeiro e para aguardardes dos céus o seu Filho, a quem ele
ressuscitou dentre os mortos, Jesus, que nos livra da ira vindoura”.52
• Nada disso foi fácil. Paulo, Silvano e Timóteo afirmam: “tivemos ousada
confiança em nosso Deus, para vos anunciar o evangelho de Deus, em
meio a muita luta”;53 e uma marca da autenticidade da conversão dos
tessalonicenses é que eles se tornaram “imitadores nossos e do Senhor,
tendo recebido a palavra, posto que em meio de muita tribulação, com
alegria do Espírito Santo”.54
• Paulo e seus colegas amaram e cuidaram dos tessalonicenses, sendo
gentis com eles como uma mãe,55 encorajando-os como um pai56 a andar
de uma maneira digna de Deus.57 Eles compartilhavam “não somente o
evangelho de Deus, mas, igualmente, a própria vida; por isso que vos
tornastes muito amados de nós”,58 o que, no contexto, significava uma
preocupação muito prática e diligente de Paulo em ganhar seu próprio
sustento, enquanto proclamava “o evangelho de Deus”.59
• Paulo envia Timóteo “para, em benefício da vossa fé, confirmar-vos e
exortar-vos, a fim de que ninguém se inquiete com estas tribulações”.60
• Paulo continua a agradecer por eles e a orar fervorosamente por eles para
que Deus aumente seu amor e sustente seus corações sem culpa diante de
Deus até quando Jesus voltar.61
• Paulo então os exorta a continuar “cada vez mais” a viver uma vida de
santidade e amor, agradando a Deus, de acordo com as instruções (ou
“mandamentos”) que ele lhes deu através do Senhor Jesus.62
• Paulo então aponta para a esperança da ressurreição e do retorno de
Jesus, não apenas para que eles não sejam enganados ou desinformados
sobre esses assuntos, mas também para que eles continuem a encorajar e
edificar uns aos outros nessas verdades.63
• A carta termina com exortações finais para fazerem o bem e apegar-se a
ele, alegrar-se e orar constantemente, e com uma oração para que Deus os
mantenha íntegros na vinda de Jesus Cristo.64
Os elementos aqui são aqueles que encontramos repetidamente em todo o
Novo Testamento:
• A Palavra ou evangelho de Deus a respeito de seu Filho, proclamada e
ensinada, tanto inicial quanto continuamente.65
• A obra de Deus pelo seu Espírito para trazer convicção, mudar o coração
e produzir o fruto plantado pela Palavra — que pode ser resumido como
“arrependimento e fé” (novamente, como uma resposta inicial e então
continuamente, dia a dia).66
• A ação do povo de Deus ao falar a Palavra, exemplificar e personificar a
vida de aprendizado de Cristo, orar para que Deus trabalhe pelo seu
Espírito, e em encorajamento mútuo, exortação e edificação.67
• A luta, o conflito e o sofrimento que acompanham todo esse processo,
pois está ocorrendo em todo o tempo neste “mundo tenebroso”; isto é, a
contínua proclamação e prática de “aprender Cristo” são constantemente
ameaçadas, do lado de fora, pela oposição, e, dentro, por ensinos falsos e
por causa de nosso próprio coração rebelde (daí a necessidade constante
de contínua proclamação, oração, arrependimento e fé).68
Dizendo da maneira mais breve possível, um discípulo é feito pela
perseverante proclamação da Palavra de Deus pelo povo de Deus, na
dependência do Espírito de Deus em oração.
Ficaríamos surpresos se muitos dos nossos leitores achassem este breve
resumo particularmente controverso ou inovador.
Contudo, também ficaríamos surpresos se muitos dos nossos leitores
sentissem que, assim sendo, têm o discipulado sob controle. Nosso problema
não é que nunca tenhamos ouvido falar desses métodos básicos do ministério
de discipulado, nem mesmo que não os pratiquemos, pelo menos até certo
ponto. Nosso problema é muito parecido com o problema que os
tessalonicenses enfrentaram em relação à vida cristã: uma tendência
constante para perder de vista o que é importante, e se distrair com
alternativas falsas ou meias verdades, se cansar ou perder o rumo diante de
pressões diversas.
De muitas maneiras, nossa mensagem neste livro é como a de Paulo aos
tessalonicenses: sabemos que essas verdades não são novas para você;
sabemos que você as tem praticado (pelo menos até certo ponto); agora, nós
insistimos que você continue fazendo “ainda mais”.
Esse “ainda mais” exigirá um olhar honesto sobre o que você faz
atualmente, para perceber se se adéqua bem às suas convicções sobre a
metodologia básica de discipulado. Essa será nossa tarefa na Fase 3.
Mas antes de chegarmos lá, precisamos aprimorar e aprofundar nossa
compreensão desses princípios fundamentais sobre como se fazer discípulos,
para termos um entendimento aguçado não apenas para avaliar o que fazemos
atualmente, mas também para planejar a mudança.
Vamos aprofundar o que queremos dizer com esses componentes-chave na
formação de aprendizes de Cristo em quatro tópicos, todos com a letra P.

1. PROCLAMAÇÃO DA PALAVRA DE DEUS


No Novo Testamento, a proclamação da Palavra é o meio básico para criar e
desenvolver “aprendizes de Cristo”. Poderíamos até mesmo dizer que há
apenas uma atividade central sobre o “fazer discípulos” — falar a Palavra de
Deus69 — e que os outros elementos descrevem por meio de qual Espírito,
por quais pessoas, e de que maneira esse falar acontece.
Muitos volumes poderiam ser (e foram) escritos sobre este assunto,70 mas
aqui teremos que nos limitar a cinco breves pontos:
• O conteúdo da “palavra” é essencialmente o plano e a promessa de Deus
centrados em Jesus Cristo (isto é, o que exploramos na Convicção 1).
Poderíamos tentar condensá-lo em uma frase longa como esta: Deus
cumpriu seu plano eterno para sua criação enviando seu Filho, nascido
na linhagem de Davi, para morrer pelos pecados e ressuscitar como o
Salvador, Senhor e Cristo de todo o mundo, para que pessoas que vivem
nas trevas em todas as nações possam agora ouvir seu chamado ao
arrependimento e à fé, sejam perdoadas, reconciliadas e justificadas, e
vivam uma vida que crescentemente busca obedecer a todos os seus
mandamentos, enquanto aguardam a firme esperança de entrar em seu
reino eterno. Essa é uma maneira de dizer isso. Mas você pode preferir o
resumo de Paulo em duas palavras (“Cristo crucificado”),71 ou seu
resumo em dez mil palavras (a Epístola aos Romanos).
• Essa palavra de Deus não consiste em duas palavras diferentes — uma
palavra evangelística para os não-cristãos e uma palavra de edificação
para os discípulos cristãos. A palavra que é proclamada no começo é a
mesma palavra que é proclamada no meio e no fim, e em toda a duração
desse processo. Essa palavra do evangelho a respeito da graça de Deus
para nós em seu Filho é o que invade nossas vidas e nos muda a direção,
e é também o que continua ensinando, instruindo e admoestando-nos à
piedade e fé todos os dias enquanto aguardamos seu retorno.72
Certamente, vamos entender a Palavra mais profundamente à medida que
avançamos. Perceberemos com maior clareza a força da escuridão da qual
fomos resgatados, como são impressionantes os propósitos eternos de
Deus elaborados ao longo de gerações por Israel, quão certa e gloriosa é
nossa esperança, quão maravilhosa é a justificação e reconciliação que
veio do sangue de Cristo, e quão libertadora e desafiadora é a vida que
agora somos chamados a viver ao “guardar todos os seus mandamentos”.
Mas (como D. B. Knox costumava dizer), embora o evangelho de Cristo
seja um poço que você pode sempre cavar um pouco mais fundo, é
sempre o mesmo poço, cavado no mesmo lugar.
• Essa mensagem sobre Jesus Cristo, em todas as suas facetas
deslumbrantes, é a mensagem da Bíblia. Nós pregamos o evangelho
expondo a Bíblia.73 A Bíblia é nossa fonte de autoridade e suficiente para
conhecer e falar a de forma verdadeira e fiel. Essa é a Palavra que deve
ser proclamada — não um conjunto de pensamentos inspiradores sobre
como melhorar sua vida, não os pensamentos que um versículo isolado
dispara em nossas cabeças, e nem uma nova revelação que achamos que
Deus nos deu. Se cremos que a palavra da Bíblia é o poderoso discurso de
Deus, então, em muitos aspectos, o que queremos ver florescer na cultura
de nossa igreja é o maior número possível de situações em que a Bíblia
seja falada, lida, estudada, pregada, explicada, ensinada, discutida,
memorizada, orada e meditada.
• Existem muitas maneiras e modos pelos quais essa palavra bíblica pode
ser falada.74 Pode ser por carta (assim é grande parte do Novo
Testamento); pode ser em uma casa particular tarde da noite;75 pode ser
em uma sinagoga ou em um mercado,76 ao ar livre77 ou em uma sala de
aula;78 pode ser na forma de leitura pública e pregação na igreja,79 ou em
uma conversa no carro.80 De todos esses modos diferentes em que a
Palavra pode ser falada, a pregação e o ensino da Palavra na congregação
reunida tem um lugar particularmente central e fundamental — e diremos
mais sobre isso nas duas convicções que se seguem.81 Mas, por enquanto,
é importante notar que os contextos em que a Palavra pode ser falada são
amplos e multifacetados. Um sintoma de uma cultura congregacional
fraca em “fazer discípulos” é que existem poucos contextos ou instâncias,
além do sermão dominical, em que a palavra da Bíblia é regularmente
falada.
• Nem todas as ocasiões em que a Palavra é falada exigem que a Bíblia
especificamente esteja aberta. Quando nos sentamos na cama de nosso
filho e o encorajamos a confiar em Jesus em meio às suas ansiedades e
medos, estamos engajados em uma forma de ensino ou proclamação.
Poderíamos tê-lo ensinado abrindo Filipenses 4.6-7, 1 Pedro 5.6-7 ou
Salmo 27, e em algum momento ou local será importante fazê-lo. De fato,
se não estivermos regularmente lendo, estudando, falando e ouvindo a
palavra da Bíblia, não saberemos o que dizer ao nosso filho. Mas sempre
que fazemos com palavras o que os autores bíblicos estão fazendo com
palavras, estamos falando da mensagem da Bíblia. Quando proclamamos
certa verdade (sobre Deus, Cristo, o futuro ou nós mesmos), repetimos
alguma promessa, exortamos sobre certa maneira de viver, ou provemos
encorajamento com base na fidelidade de Deus, ou o que quer que seja,
nós “re-falamos” a palavra que Deus falou na Bíblia.82 Esta é a essência
de como aprendemos Cristo.
Como nenhum livro está completo sem uma citação de Martinho Lutero,
vamos encerrar esta breve seção sobre a centralidade da Palavra proclamada
com as palavras do grande reformador:
Uma coisa, e apenas uma coisa, é necessária para a vida cristã, a justiça e a
liberdade. Essa coisa é a santíssima Palavra de Deus, o evangelho de Cristo; como
Cristo diz, João 11.25: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda
que morra, viverá”; e João 8.36, “Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente
sereis livres.”; e Mateus 4.4: “Não só de pão viverá o homem, mas de toda palavra
que procede da boca de Deus”. Consideremos, portanto, certo e firmemente
estabelecido que a alma pode se privar de tudo, exceto da Palavra de Deus, e que
onde a Palavra de Deus está ausente, não há nenhum socorro para a alma. Se ela
tem a Palavra, é rica e nada lhe falta, pois é a Palavra da vida, verdade, luz, paz,
justiça, salvação, alegria, liberdade, sabedoria, poder, graça, glória e todas as
bênçãos incalculáveis [...]
Você pode perguntar: “Então, o que é a Palavra de Deus e como deve ser usada,
sendo que há tantas palavras de Deus?” Respondo: o apóstolo o explica em
Romanos 1. A Palavra é o Evangelho de Deus a respeito de seu Filho, que se fez
carne, sofreu, ressuscitou dos mortos e foi glorificado pelo Espírito que santifica.
Pregar Cristo significa alimentar a alma, torná-la justa, libertá-la e salvá-la,
conquanto creia na pregação.83

2. PRECE DEPENDENTE DO ESPÍRITO DE DEUS


Não conhecemos nenhuma igreja que use 1 Pedro 1.10-12 como seu lema;
isso não é nenhuma surpresa, porque é uma frase longa e complicada. Mas
também é uma pena, porque esses versículos têm tudo: o plano de salvação
de Deus anunciado pelos profetas, seu cumprimento nos sofrimentos e glórias
de Cristo e a proclamação de tudo isso no evangelho. Pedro enfatiza
particularmente a iniciativa e obra do Espírito de Deus em tudo isso — “o
Espírito de Cristo” falou por meio dos profetas para predizer “os sofrimentos
referentes a Cristo e sobre as glórias que os seguiriam” (v. 11) e o “pelo
Espírito Santo enviado do céu” falou por meio daqueles que “vos pregaram o
evangelho” (v. 12).
Como já afirmamos mais de uma vez, Deus é quem não apenas propõe o
grande plano de salvação em Cristo, mas o coloca em ação, entra na criação
para morrer e ressuscitar e derrama seu próprio Espírito para capacitar a
propagação de sua Palavra e trazer mudança e crescimento em nossas vidas.
Deus é quem trabalha; nós somos seus assistentes e agentes (como veremos
mais adiante).
O Novo Testamento fala desta obra ativa de Deus como a obra do seu
Espírito, que é chamado de “o Espírito de Deus”,84 “o Espírito do Senhor”,85
“o Espírito do vosso Pai”,86 “o Espírito de seu Filho”,87 “o Espírito de
Cristo”,88 “o Espírito Santo”,89 ou simplesmente “o Espírito”.90 Em todas as
etapas de se fazer aprendizes de Cristo, Deus está ativo por seu Espírito:
• Ele fala pelo seu Espírito através das bocas dos autores bíblicos para nos
dar a sua palavra;91
• Ele regenera e renova nossos corações pelo seu Espírito para tomarmos
posse de sua oferta de salvação e sermos justificados gratuitamente por
sua graça;92
• Ele nos dá o seu Espírito como garantia de nossa esperança futura e
cidadania no reino de Deus;93
• Ele nos transforma pelo seu Espírito e produz o fruto da justiça em
nossas vidas;94
• Ele derrama seu Espírito sobre os discípulos para abrir suas bocas e falar
sua Palavra;95
• Ele dá ousadia pelo seu Espírito para continuarem falando a sua
Palavra;96
• Pelo seu Espírito ele está presente conosco, dando-nos dons e
capacitando-nos a falar a Palavra em amor uns aos outros, para edificação
mútua.97
Nós apenas arranhamos a superfície da descrição de quão vital (em todos
os sentidos dessa palavra) é a obra do Espírito de Deus em fazer aprendizes
de Cristo. Quando falamos a Palavra — em qualquer contexto, de qualquer
maneira — somos como o semeador descrito na parábola de Jesus.98 Não
podemos controlar ou determinar em que tipo de solo a Palavra cai. Muitas
vezes, nossas palavras parecem colidir com a superfície impenetrável dos
rostos das pessoas, ou penetram apenas leve e temporariamente em seus
corações.
Mas quando o Espírito de Deus está presente em nossos ouvintes para
amolecer o coração, abrir os olhos e tornar o solo fértil, então as palavras que
falamos tornam-se, para nosso ouvinte, as palavras de vida eterna. Foi assim
para os tessalonicenses, que receberam a pregação de Paulo “no Espírito
Santo e em plena convicção”99 e que reconheceram as palavras que estavam
ouvindo “não como palavra de homens, e sim como, em verdade é, a palavra
de Deus, a qual, com efeito, está operando eficazmente em vós, os que
credes”.100 É por isso que Paulo, por sua vez, agradece a Deus de maneira tão
característica pela fé, amor e esperança que ele vê no povo de Deus, e
continua orando que Deus aumente seu entendimento espiritual, maturidade e
frutificação.101
Isso aponta para o indicador-chave dessa convicção dentro de nossas
próprias vidas e igrejas: nosso nível de confiança neste princípio será
demonstrado por nossa constante dependência em oração a fim de que Deus
dê o crescimento.102 A ausência de oração, como a ausência da Palavra, é um
sintoma clássico de uma cultura de discipulado adoecida.

3. PESSOAS SÃO COOPERADORAS DE DEUS


Parece bastante óbvio dizer que o povo de Deus é a agência pela qual a
Palavra é proclamada sob dependência do Espírito em oração. Quem mais
seria?
Mas é importante esclarecer e aprofundar o que queremos dizer com
isso,103 porque isso se tornará muito importante na avaliação e no
planejamento que está por vir. Resumidamente, portanto:
• Os dois primeiros pontos (acima) deixam claro que “fazer discípulos” é
obra de Deus. É seu plano, sua salvação, sua graça, sua Palavra e seu
Espírito. Mas Deus usa meios — ou agentes — para fazer a sua obra. Em
particular, ele trabalha por meio de seu povo. Não é que Deus faça parte
do trabalho e depois deixe o resto para nós (ou vice-versa). Deus opera
soberanamente em, sob e por meio de nossas ações com sua própria ação,
para alcançar seus próprios propósitos. Ao fazer isso, Deus não viola
nossa vontade, nem faz nossa ação ser menos nossa ação. Quando
fazemos alguma coisa (isto é, “plantar e regar”), estamos realmente
fazendo alguma coisa — mas Deus trabalha nessa atividade e através dela
para gerar crescimento de uma maneira que não podemos controlar. É
100% nós e 100% Deus.104
• É importante compreender isso, porque nos livra de superestimar
orgulhosamente nossos esforços. Somos apenas escravos e “ninguéns”,
plantando e regando, e orando para que Deus dê crescimento.105 No
entanto, também nos poupa de subestimar a importância de nossos
esforços, como se fidelidade, diligência e habilidade ao plantar e regar
fossem opcionais. Nós somos cooperadores de Deus. Se nosso trabalho
para ele é descuidado ou sem fé, os resultados não serão bons, nem para
nós nem para a igreja.106
• Que pessoas Deus usa para fazer discípulos de Cristo? Deus usa o povo
de sua aliança, sua congregação, seus santos. Esse é um grande tema da
teologia bíblica que valeria um olhar mais detido, se tivéssemos tempo e
espaço. Deus escolheu Israel para ser para ele “reino de sacerdotes e
nação santa”,107 uma vocação em que eles falharam clamorosamente. Os
profetas aguardavam o tempo em que Israel seria uma luz para as
nações,108 e no Novo Testamento vemos o nascer desse dia. O povo da
nova aliança de Cristo é a nação santa, o sacerdócio real, que proclama as
virtudes de Deus para o mundo.109 Eles são um povo redimido, pequenos
e grandes, jovens e velhos, sobre os quais o Messias derramou o Espírito
há muito prometido, para que pudessem profetizar e anunciar as grandes
obras de Deus.110
• O resultado prático desse importante tema é que, na nova era do Espírito,
todo o povo de Deus tem sua boca aberta para falar a Palavra de Deus
pelo Espírito — uns aos outros e ao mundo. Eles o farão de diferentes
maneiras, contextos, oportunidades, com diferentes dons e, de fato, níveis
distintos de responsabilidade (alguns serão pastores e mestres); mas que a
Palavra de Deus seria proclamada nos lábios da totalidade de seu novo
povo da aliança é algo claro no Novo Testamento.111
• Essa Palavra não é apenas proclamada por todos; certamente é vivida e
praticada por todos — e é assim, também, que os aprendizes aprendem.
Como observamos na Convicção 2, “aprender Cristo” não é uma
disciplina acadêmica ou teórica, mas um novo modo de vida que busca
guardar os mandamentos de Cristo. O tema da imitação, personificação e
exemplo como meio de aprendizado e crescimento é comum nas
epístolas. Paulo não apenas se considera um exemplo de quem podemos
aprender, mas também vê o ciclo de aprendizado e imitação continuando
entre seus leitores.112 A Palavra é proclamada por pessoas que mostram a
sua verdade e caráter ao vivê-la, assim instruindo e encorajando outros,
que por sua vez recebem a Palavra e a vivenciam.
• Quando o povo de Deus proclama em oração a Palavra de Deus pelo
Espírito de Deus, o fruto piedoso que é produzido na vida das pessoas
pode ser resumido como amor.113 O amor é o novo mandamento que os
aprendizes de Cristo estão aprendendo. Quando respondemos ao
evangelho e passamos da morte para a vida, a nova vida transformada que
vivemos tem o amor como sua virtude e motivação características. O
amor nos leva a pensar nos outros, a cuidar dos outros e a sacrificar
nossos próprios interesses pelo bem dos outros. O amor nos motiva a
alcançar os outros com o evangelho e a ver a igreja como uma
oportunidade não apenas para o crescimento pessoal, mas também para a
edificação dos que estão ao nosso redor.114 O amor também molda a
maneira como falamos, encorajamos e ensinamos aos outros — sem ser
arrogante, impaciente ou impessoal, mas o tipo de ensino gracioso,
provedor e encorajador que os pais dão aos filhos.115 E o amor nos
compele a perseverar em entregar nossas vidas e sofrer o que for
necessário, para ver as pessoas virem a Cristo e aprenderem Cristo. Isso
nos traz ao quarto aspecto de como os discípulos são feitos.

4. PERSEVERAR, PASSO A PASSO


Nós nos tornamos “aprendizes de Cristo” em um passo decisivo, ou em uma
série de etapas sucessivas ao longo do tempo?
A resposta é “ambos”, e é muito importante dizer isso.
Por um lado, devemos lembrar que sermos libertos das trevas e
transportados para o reino do Filho é um poderoso ato externo de Deus.
Ele conquista nossas vidas, transformando escuridão em luz, escravidão em
filiação e morte em vida. Essas coisas não acontecem gradativamente.116 A
salvação que Deus conquistou para nós em Cristo já está completa e
inteiramente alcançada — e, de fato, o Novo Testamento adverte
repetidamente contra a traiçoeira sugestão de que precisamos fazer algo mais
para adquirir nossa salvação, por meio de atos rituais, experiências exaltadas
ou obediência legalista. Esta é a mensagem tanto de Colossenses (toda a
plenitude de Deus está em Cristo e vocês estão plenos dele, então não deixem
que ninguém os engane) como de Gálatas (vocês foram libertados em Cristo
como filhos, então não se deixem escravizar novamente pela submissão à lei).
Mas também é importante sustentar o outro lado. Decididamente, já
ressuscitamos com Cristo e temos garantida uma herança eterna com ele;
contudo, vivemos nossas novas vidas em meio a este mundo tenebroso, como
uma colônia da próxima era. Nós nos esforçamos mais e mais para abandonar
o que pertence à nossa vida anterior (“mortificar os feitos do corpo”, como
Paulo coloca),117 e nos vestir das novas vestes que convêm ao nosso novo ser,
“que se refaz para o pleno conhecimento, segundo a imagem daquele que o
criou”.118
A vida cristã é vivida com expectativa sofrida e perseverante. A vitória já
foi conquistada em Cristo. Nós já somos irrepreensíveis, justos e santificados
à sua vista, lavados, tendo garantida a cidadania nos céus. Porém, com fé e
esperança, procuramos cada vez mais viver uma vida de amor enquanto
aguardamos a consumação final — a ressurreição dos mortos, quando nossa
batalha com o mundo, a carne e o diabo finalmente terminará.
Paulo destaca essa verdade com beleza em Filipenses 3. Após afirmar com
veemência que suas próprias obras e observação da lei são refugo, e que a
justiça vem somente da confiança em Cristo, ele fala, não obstante, de
“avançar” em direção ao objetivo:
Não que eu o tenha já recebido ou tenha já obtido a perfeição; mas prossigo para
conquistar aquilo para o que também fui conquistado por Cristo Jesus. Irmãos,
quanto a mim, não julgo havê-lo alcançado; mas uma coisa faço: esquecendo-me
das coisas que para trás ficam e avançando para as que diante de mim estão,
prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus.
(Fp 3.12-14)
A vida cristã é um salto enorme e marcante da morte para a vida; mas
também acontece passo a passo, conforme aprendemos a observar todos os
mandamentos de Cristo, pois o sofrimento que suportamos por Cristo produz
em nós perseverança, experiência e esperança.119 Como afirmamos na
Convicção 2, o tipo de aprendizado em que estamos engajados é
transformador — tanto em uma transformação decisiva e única (da morte
para a vida), como em uma transformação diária pela constante renovação
das nossas mentes.120
Nós insistimos neste ponto porque ele nos ajuda a nomear um aspecto
importante da metodologia pela qual se faz discípulos: aprendizes de Cristo
são “feitos” com paciência e perseverança ao longo do tempo. O discipulado
trabalha nas realidades difíceis do cansaço e do medo, e da nossa constante
luta contra o pecado.121 Ele leva em conta a realidade de que os cristãos
estarão em diferentes estágios em “despir-se e revestir-se” — alguns serão
novos na fé, alguns fracos, outros mais fortes, outros imaturos, alguns em
conflito relacional, alguns lutando com uma tentação ou desejo particular,
alguns ameaçados por um ensinamento falso, e assim por diante.
O próprio Novo Testamento demonstra isso. Podemos seguramente dizer
que o Novo Testamento tem uma mensagem centrada em Cristo, mas
também podemos afirmar que ele aplica essa mensagem (particularmente nas
epístolas) a uma ampla variedade de problemas, situações, desafios e
questões. O Novo Testamento é um manual de discipulado para o ambiente
diversificado em que aprendemos Cristo — não há uma circunstância,
problema ou luta que encontramos sobre a qual ele não nos ensine em algum
lugar.
Isso também é verdade para aqueles que estão fora do reino, que ainda
vivem no domínio das trevas. Em um nível, a situação é binária. Assim como
eles estão totalmente perdidos e condenados, o aprendiz de Cristo está
totalmente encontrado e salvo. E nossa mensagem para os incrédulos é
sempre uma única mensagem (ou seja, é algum aspecto do evangelho). Ainda
assim, os incrédulos, também, estarão em diferentes fases da vida, em
diferentes circunstâncias, com diferentes objeções, lutas e pecados. Alguns
estarão muito teimosos e duros de coração,122 enquanto outros estarão muito
mais próximos do reino;123 alguns estarão sem Deus e sem esperança no
mundo,124 enquanto outros terão toda a forma de piedade e religião, sem nada
de seu verdadeiro poder.125
Podemos modificar nosso diagrama novamente para representar tudo isso:

Em outras palavras:
• Pela cruz de Cristo somos resgatados do domínio das trevas para o reino
do Filho e temos uma herança eternamente segura em Cristo que já é
nossa.
• Nossa “caminhada” diária é agora na luz e não na escuridão,
desenvolvendo dia a dia quem realmente somos (como cidadãos do reino
de Cristo). Estamos todos em diferentes pontos nessa caminhada e
precisamos continuar avançando para o que está adiante. O movimento é
sempre para avançar, por assim dizer. Os aprendizes de Cristo são
transformados à medida que crescem para a maturidade em Cristo.
• Aqueles que permanecem presos no domínio das trevas também estão em
pontos diferentes e têm problemas diferentes. Alguns estão “longe” e são
duros de coração; outros estão “mais próximos”, por estarem ouvindo e
considerando o evangelho de Cristo.
• Assim, o objetivo de toda forma de ministério cristão pode ser resumido
simplesmente em procurar ajudar a todos, onde quer que estejam, a
avançar um passo — a aproximar-se para ouvir o evangelho e ser retirado
do domínio da escuridão a fim de entrar no reino; e depois a avançar em
direção à maturidade em Cristo em todos os aspectos de suas vidas.
• Os meios pelos quais Deus faz as pessoas avançarem são: Proclamação,
Prece dependente do Espírito, Pessoas como seus cooperadores e
Perseverança, passo a passo.126
Isso tem implicações importantes para a metodologia pela qual as pessoas
se tornam aprendizes de Cristo e crescem como aprendizes de Cristo.
Para começar, ela é inevitável e continuamente pessoal. Cada um tem suas
próprias lutas. Cada pessoa vive em um lugar diferente, seja no domínio das
trevas ou no reino da luz. Assim como é importante afirmar a importância da
vida corporativa da igreja — estamos unidos em amor como um só corpo —
também é importante dizer que o corpo é composto de muitos membros
individualmente diferentes.
Esse é o risco constante de todas as abordagens sistêmicas ou
programáticas para o aprendizado de Cristo: simplificarmos o processo e
tratarmos todos os envolvidos nesse programa como se estivessem no mesmo
ponto, necessitando da mesma abordagem. Esse não é um motivo para
renunciar a todas as tentativas de nos organizarmos, projetar sistemas ou
executar programas; isso seria quase impossível, de qualquer maneira. De
fato, na Fase 4, usaremos tempo e energia consideráveis nos organizando.
Mas, ao fazer isso, este é um risco a ser gerenciado e amenizado. Nossos
programas e atividades devem funcionar para ajudar cada um a avançar a
partir do ponto em que está.
Pegando mais termos emprestados da educação, o aprendizado de Cristo é
um aprendizado diferenciado. Ele atende cada aprendiz individual onde está
e procura levá-lo adiante. Naturalmente, há muitas coisas que aprendemos
juntos e em que somos encorajados juntos (especialmente na igreja todos os
domingos), mas as implicações e aplicações pessoais dessas verdades
precisam ser discutidas e colocadas em oração com cada pessoa. Assim,
quando Fred se torna um aprendiz de Cristo, ele deve ter seu próprio tutor ou
tutores — uma ou mais pessoas que realmente conhecem Fred e suas lutas,
que distinguem quais ensinamentos Fred ainda não apreendeu, que caminham
com ele durante meses e anos, que o ajudam a permanecer forte, a continuar
progredindo na piedade e a continuar resistindo e avançando.
O pastor reformado Richard Baxter foi muito incisivo nisso. Ele insistia na
necessidade da “conferência pessoal” combinada com a pregação pública. Em
sua opinião, um pastor que não combinasse seus sermões com instrução
pessoal regular ou catequização de seu rebanho estava negligenciando um
dever vital.127
Podemos levar a afirmação de Baxter um pouco mais longe (à luz do que
vimos acima) e dizer que isso se conecta particularmente com o papel de todo
o povo de Deus em proclamar a Palavra de Deus aos outros. Nem todos
seremos pregadores públicos nos púlpitos nem evangelistas nas praças, mas
todos nós podemos ser “tutores privados” para a multidão de indivíduos
(cristãos e não-cristãos) que conhecemos e com quem convivemos todos os
dias — em nossa família, em nosso local de trabalho, em nossa vizinhança,
em pequenos grupos de discípulos cristãos e assim por diante.
Falaremos mais sobre a relação entre a pregação pública e o ministério da
Palavra de todo o povo de Deus nas duas convicções que se seguem, mas, por
enquanto, vamos apenas destacar um dos benefícios do aspecto libertador de
pensar dessa maneira sobre a natureza gradual e perseverante do crescimento
cristão (e, portanto, do ministério cristão).
Se o objetivo do ministério cristão pode ser visto simplesmente como
ajudar qualquer pessoa que conhecemos a avançar um passo (em direção a
Cristo ou à maturidade em Cristo), então esta é uma tarefa que todo e
qualquer cristão pode abraçar com confiança. Se convocarmos o membro
médio da igreja para se alistar como ministro do evangelho, discipulador ou
evangelista, então (correta ou incorretamente) muitos se sentirão bastante
tentados a correr na direção oposta. Mas e se, em vez disso, disséssemos o
seguinte: “Por que você não ora pela pessoa ao seu lado (onde quer que ela
esteja), e tenta, pela sua palavra e exemplo, incentivá-la a avançar um passo
— ainda que um pequeno passo?”.
Isso é muito mais concreto, imediato e realizável para a pessoa comum.
Com a confiança de que Deus irá trabalhar por meio de sua Palavra e seu
Espírito, mesmo que lenta e gradualmente ao longo do tempo, todos nós
podemos fazer a nossa parte para ajudar todos à nossa volta a dar um passo à
frente em direção a Cristo.
Mobilizar nossos esforços para treinar e preparar o maior número de
nossos membros para esse tipo de ministério é um passo fundamental para
criar uma nova cultura de aprendizado de Cristo em nosso meio.

DISCUSSÃO
1) Usamos os quatro Ps para resumir os meios que Deus nos dá para fazer
discípulos. Tentem criar uma maneira simples de comunicá-los. Por
exemplo, tentem criar uma sigla usando:
a) outras quatro iniciais iguais
b) alguma palavra conhecida
c) outra coisa que você puder inventar
2) Todos os diagramas são inadequados de alguma forma. Tentem encontrar
alguma maneira de melhorar ou ajustar o diagrama para que ele
comunique melhor a essência do ministério cristão:

3) Escolham uma das breves epístolas do Novo Testamento a seguir, e leiam-


na fazendo a seguinte pergunta: Por que meios ou de que maneira essa
carta diz que as pessoas se tornam cristãs e crescem como cristãs? Anotem
tudo que encontrarem e usem para apoiar ou modificar ou melhorar nosso
argumento acima sobre como os discípulos são feitos.
Efésios
Filipenses
Colossenses
1 Tessalonicenses
1 Timóteo
Tito
1 Pedro
4) Pensem em alguém que vocês conhecem que considera a vida difícil neste
mundo caído, e ore sobre o que você pode fazer para ajudá-lo a “avançar
um passo” em direção a Cristo. Como vocês podem demonstrar seu amor
por essa pessoa? Que história você poderia contar de sua vida que a
direcionaria para Cristo? O que você poderia lhe dizer sobre a verdade de
Cristo? Qual passagem da Escritura você poderia compartilhar com ela
(pessoalmente, por e-mail, por cartão)? O que pode impedi-lo de tomar
alguma ação?
1Co 3.6.
At 2.1-11.
At 2.14-41.
At 4.31.
At 11.15.
At16.6-7.
At 13.62.
1Ts 1.5; cf. 2.13.
1Ts 1.9-10; cf. 5.9-10.
1Ts 2.2.
1Ts 1.6; também 2.14.
1Ts 2.7.
1Ts 2.11-12.
1Ts 2.12.
1Ts 2.8.
1Ts 2.9.
1Ts 3.2-3.
1Ts 3.8-13.
1Ts 4.1-12.
1Ts 4.13-5.11.
1Ts 5.12-28.
Lc 24.45-47; Rm 10.14-17; 1Co 1.17-18; 15.1-11; 2Co 4.5-6; Cl 1.3-8; 2Tm 4.1-2.
Jo 16.7-11; At 1.8; 2.1-4; Gl 5.16-24; Ef 1.13-14; 1Ts 1.4-5; 2Tm 1.13-14.
Rm 15.14; 1Co 14.1-3, 26; Ef 4.7-16; Fp 1.3-4; 1Ts 4.18; 5.12-14; Tt 2.3-5; 1Pe 2.9-12.
Jo 15.18-19; At 4.29-31; 2Co 4.7-12; Ef 6.10-20; Fp 1.27-30; 3.7-16; 1Ts 1.6-7; 2.14-16; 2Tm 2.14-19; 3.10-13; Hb 3.12-14.
Usamos o termo “falar” como uma palavra abrangente — no Novo Testamento há uma ampla gama de termos sobrepostos e
relacionados que descrevem diferentes propósitos ou estilos de discurso que são direcionados para o aprendizado de Cristo
(evangelizar, ensinar, exortar, proclamar, encorajar, admoestar, instruir, lembrar, repreender, e assim por diante).
Peter Adam, Speaking God’s words: A practical theology of preaching (Leicester: Intervarsity Press, 1996); Peter Jensen, The
revelation of God (Leicester: Intervarsity Press, 2002); Matt Chandler, Josh Patterson & Eric Geiger, Creature of the Word:
The Jesus-centered church (Nashville: B&H Publishing, 2012); D. B. Knox, “What must not change in a changing ministry”
and “The priority of preaching” em D. Broughton Knox Selected Works, vol. 2, Church and ministry, Kirsten Birkett, ed.,
(Sydney: Matthias Media, 2003), 211-20; Christopher Green e David Jackman, eds., When God’s voice is heard: Essays on
preaching presented to Dick Lucas (Leicester, Intervarsity Press, 1995); Peter G, Bolt, ed., Let the Word do the work: Essays
in honour of Phillip D. Jensen (Camperdown, Australian church record, 2015).
1Co 2.2.
Tt 2.11-14.
Ver Phillip D. Jensen e Paul Grimmond, The archer and the arrow: Preaching the very words of God (Sydney, Matthias Media,
2010), cap. 3.
Veja o material de Peter Adam sobre isto em Speaking God’s Words, p. 59-70.
At 20.7-9.
At 17.17-18.
At 16.13-14.
At 19.9.
1Tm 4.13.
At 8.29-35.
Phillip Jensen e Paul Grimmond oferecem um tratamento perspicaz não apenas da centralidade e importância da pregação
expositiva, mas do conteúdo cristocêntrico dessa pregação. Ver The archer and the arrow, especialmente o capítulo 2.
Timothy Ward argumenta que a teoria contemporânea dos atos de fala pode nos ajudar a entender como a leitura ou proclamação
da palavra da Bíblia é uma “re-performance” do que Deus está fazendo por meio da palavra da Escritura em seu contexto
original. Veja Timothy Ward, Words of Life: Scripture as the living and active Word of God (Downers Grove, IVP Academic,
2009) [edição em português: Teologia da revelação, (São Paulo: Vida Nova, 2017)].
Martinho Lutero, “The freedom of a Christian, em J. Dillenberger, ed., Martin Luther: Selections from his writings (Nova Iorque,
Anchor Books, 1962, pp. 54-5).
1Co 2.11.
At 5.9.
Mt 10.20.
Gl 4.6.
Rm 8.9.
Lc 11.13.
Rm 8.5.
At 1.16; 4.24-25.
Tt 3.4-7; Jo 3.1-8.
Ef 1.11-14.
2Co 3.17-18; Gl 5.16-24.
At 2.6-11;17-18.
At 4.31.
1Co 12-14.
Mc 4.1-9.
1Ts 1.5.
1Ts 2.13.
Colossenses 1.3-5 e 9-12 fornecem um exemplo desse padrão comum de Paulo.
1Co 3.6.
Tão importante, na verdade, que voltaremos a aspectos disso mais detalhadamente na Convicção 5.
Essa maneira de expressar a interação entre a ação humana e a ação divina é por vezes chamada de “compatibilismo”. Para uma
clara exposição e defesa desta visão, ver D. A. Carson, How long, o Lord?: Reflections on suffering and evil, 2ª ed. (Grand
Rapids: Baker Academic, 2006).
Este é o ponto de Paulo em 1 Coríntios 3.5-8.
É isso que Paulo segue dizendo em 1 Coríntios 3.10-17.
Êx 19.6.
Is 42.6; 49.6; 60.3.
1Pe 2.9-10.
At 2.11, 16-18.
Essa diversidade dentro da unidade é a grande ideia de 1 Coríntios 12-14, à qual retornaremos na Convicção 4. Também
usaremos mais algum espaço para reunir as provas desse princípio crucial, além de explorar como devemos entender
corretamente o ministério “democratizado” da palavra de todos os cristãos em relação aos papéis e responsabilidades dos
pastores, presbíteros e mestres.
Fp 3.17; 1Ts 1.6-7; Tt 2.1-10. Falaremos mais sobre isso na Fase 2, quando discutiremos a reforma de nossa própria cultura
pessoal.
Cl 3.12-14.
Novamente, este é o argumento de 1 Coríntios 12-14. O famoso capítulo 13 sobre o amor conduz o ensinamento do capítulo 14
— ou seja, por causa do amor, não buscamos nossos próprios interesses, nem mesmo nossa própria edificação, mas a
edificação dos que nos cercam.
1Ts 2.7-12.
Também devemos estar cientes de que essa visão binária do mundo em termos de luz e escuridão é terrivelmente ofensiva na
cultura ocidental, e será ainda mais à medida que nossa sociedade se torna cada vez mais politicamente correta. Entretanto, se
não mantivermos uma teologia clara de conversão, desistiremos de chamar os incrédulos ao arrependimento. Acabaremos
tratando todos como se já estivessem na luz, ou possivelmente em alguma zona cinzenta civilizada nas proximidades da luz.
Rm 8.13; cf. Cl 3.5ss.
Cl 3.10; as novas vestes são descritas nos versos seguintes, especialmente 12-14.
Rm 5.3-4. Assim como minimizar a natureza binária da conversão diminuirá o apelo ao arrependimento, subestimar a natureza
perseverante e transformadora da vida cristã tende a promover um cristianismo conversionista, descomprometido, de “graça
barata”: “garanti meu bilhete para o céu, agora posso relaxar e curtir a vida”.
Rm 12.1-2.
Hb 12.3-4.
Rm 2.5; At 19.9.
Como o escriba em Marcos 12.34.
Ef 2.12.
Mt 23.1-28; 2Tm 3.5.
Em capítulos posteriores, vamos resumir isso como “ministério dos 4Ps”.
Veja Richard Baxter, The Reformed Pastor, 5ª ed. (Londres: Banner of Truth, 1974), 174-6, 196 [edição em português: Manual
pastoral de discipulado, 2ª ed. (São Paulo: Cultura Cristã, 2015)].
Convicção 4: Quem faz discípulos?
Até agora, vimos o que um discípulo realmente é, por que “fazê-lo” é tão
importante e que métodos ou meios Deus nos deu para isso.
Nesta quarta convicção, queremos nos aprofundar em um aspecto de
“como” fazer discípulos — a saber, quais pessoas exatamente estão
envolvidas na tarefa e como devemos entender seus diferentes papéis e dons.
Nós já discutimos isto brevemente na Convicção 3, quando argumentamos
que o povo de Deus é seu agente ao proclamar a Palavra em oração e com
perseverança. Além disso, sugerimos que não apenas os mais comprometidos
do povo de Deus, ou uma classe de elite do povo de Deus, mas todo o povo
de Deus recebe a alegria e o privilégio de “fazer discípulos”. Voltando a
Mateus 28, a comissão para fazer discípulos é uma comissão para todos os
discípulos.128
Discutindo essa questão com muitos pastores em todo o mundo nos
últimos anos, alguns pontos ou questões importantes surgiram com
frequência.
• Em primeiro lugar, era difícil encontrar alguém que discordasse, em
princípio, da ideia de que o discipulado é para todos os discípulos. De
fato, para a maioria dos pastores, este é o sonho — de alguma forma,
persuadir a massa dos membros de sua congregação de que o trabalho do
ministério, seja em alcançar descrentes ou edificar os crentes, é algo em
que todos devem se envolver. Pastores também geralmente relatavam que
muitos de seus membros regulares mais maduros tinham a mesma
opinião: que o trabalho da igreja é um esporte coletivo, e todos devemos
fazer o nosso melhor para nos envolver, em vez de sermos apenas
espectadores, mesmo que o sucesso em conseguir esse envolvimento
fosse irregular.
• Porém, em muitos lugares, “envolver-se” consistia basicamente em
algum tipo de ajuda administrativa ou prática — ter o nome em uma lista,
organizar ou executar alguma coisa, ajudar com a propriedade ou outras
tarefas práticas, e assim por diante. Em outras palavras, em muitas igrejas
com as quais falamos, o “ministério de todos os membros” era um
conceito comum e aceito, desde que “ministério” fosse definido como
qualquer ato geral de serviço ou ajuda realizado em favor da igreja — em
vez de algo que se parecesse com os quatro Ps (Proclamação, Prece,
Pessoas e Perseverança).
• Este era o ponto em que as coisas ficavam mais sérias, e sobre o qual
muitos pastores queriam conversar mais — não apenas para questionar
sobre as evidências bíblicas para preparar potencialmente cada membro
como um proclamador da Palavra de Deus, mas para entender como isso
poderia acontecer na prática. Como transformar a cultura da igreja para
que um número crescente de membros se considere proclamador da
Palavra em oração aos que estão ao seu redor? E o que pode motivar e
preparar mais pessoas para se dispor e ajudar outros a aprenderem Cristo?
• Isto leva a outra questão comum (e importante): se é certo que todos nós
estamos engajados nos quatro Ps juntos, como fica a diversidade e a
doutrina dos dons? E aqueles que não parecem sequer remotamente
preparados ou capazes de falar a Palavra de Deus? Como devemos
entender a tarefa e a responsabilidade dos pastores, presbíteros e mestres?
Em particular, promover um ministério da Palavra mais aberto a toda a
congregação de alguma maneira desvaloriza ou prejudica o relevante
papel da pregação expositiva do púlpito?
Nesta quarta convicção, examinaremos essas importantes questões sob
quatro tópicos:
• O que a Bíblia diz sobre todos os cristãos anunciarem a Palavra
• Como isso acontece na prática?
• Superando inibições
• O púlpito expositivo e a igreja expositiva

O QUE A BÍBLIA DIZ SOBRE TODOS OS


CRISTÃOS ANUNCIAREM A PALAVRA
Quando recorremos à Bíblia para dirigir e moldar o que fazemos, vemos que
Deus fala conosco de várias maneiras — por instrução e comando direto, por
ilustração e exemplo narrativo, por sabedoria proverbial, ou por um princípio
que nos ensina sobre a natureza das coisas ou sobre o nosso lugar nos
propósitos de Deus (e, portanto, que tipo de ação é desejável ou necessária).
Por exemplo, se alguém nos pedisse para justificar por que a Bíblia
considera errado o adultério, diríamos: por causa do sétimo mandamento; por
causa dos muitos exemplos do mal e da destruição que o adultério traz (por
exemplo, Davi e Bate-Seba); por causa das frequentes advertências da
literatura sapiencial sobre o assunto; e também porque o adultério ofende o
ensino geral da Bíblia sobre o bem do casamento, da sexualidade e dos
relacionamentos.
O mesmo vale para o que a Bíblia diz sobre a natureza e o propósito da
fala do cristão, e em particular o falar de “edificação” que exercemos para
que outros conheçam a Cristo e cresçam nele. Não são apenas alguns textos-
prova ou comandos (mas vamos chegar neles mais tarde). Isso se encaixa no
quadro maior dos propósitos de Deus para nós como “proclamadores”.
No nível mais básico, Deus nos deu bocas para falar porque nos criou
como seres pessoais capazes de expressar pensamentos, intenções e
promessas uns aos outros (e ao Deus pessoal que nos criou). As palavras nos
permitem fazer certas coisas nos relacionamentos com outros que, de outro
modo, não poderíamos fazer: agradecer, pedir, confortar, confessar, perdoar,
celebrar, louvar, lamentar, informar, ensinar, e assim por diante. Palavras
revelam o coração.129 Palavras são a moeda do relacionamento.
Naturalmente, nossa capacidade de fala (como toda parte criada em nós) é
corrompida e distorcida pelo nosso pecado e rebelião contra Deus. Fazemos o
mal com o nosso falar, tanto ao rejeitar a Deus como ao ferir os outros —
blasfemamos, mentimos, amaldiçoamos, odiamos, enganamos, manipulamos,
bajulamos, difamamos, falamos obscenidades e muito mais.130
Da mesma maneira, nossa fala (como todos os aspectos de nossas vidas) é
transformada pela obra salvadora de Deus. Pela obra do Espírito de Deus,
somos libertos para confessar que Jesus é o Senhor, para louvar seu nome,
para dar voz à nossa fé em oração e ações de graças, e para levar vida e
encorajamento a outros pelo que dizemos a eles.131
Em seu pequeno livro sobre falar o evangelho, Lionel Windsor aponta que
esse é um padrão comum na Bíblia. Deus não só dá aos pecadores a dádiva
da salvação, mas também “põe um discurso ou canção em suas bocas, e lhes
diz para falarem repetidas vezes sobre como a sua salvação é realmente
maravilhosa”.132
O exemplo mais evidente disso é a profecia. Quando o Espírito de Deus
vem sobre alguém no Antigo Testamento, o que normalmente acontece em
seguida é que a pessoa profetiza — fala a palavra que Deus lhe mandou
dizer.133 Em Números 11, Moisés expressa o desejo de que Deus faça isso não
apenas aos setenta anciãos, mas a todo o seu povo: “Que todo o povo do
Senhor fosse profeta, para que o Senhor colocasse seu Espírito sobre eles!”134
O que Moisés diz aqui, quase irritado, prefigura uma esperança que se
tornaria mais urgente com o desenrolar da triste história de Israel — a saber,
que quando finalmente chegasse a hora de Deus redimir e renovar o Israel
rebelde, ele derramaria seu Espírito de vida e de profecia não apenas sobre
alguns líderes ou representantes seletos, mas sobre todos eles, do menor até o
maior.
Essa, é claro, é a promessa que Pedro cita para explicar à multidão os
eventos extraordinários do Pentecostes, em que pessoas de todo o mundo
estavam ouvindo os discípulos cheios do Espírito “falar em nossas próprias
línguas as grandezas de Deus”.135 Esse derramamento democrático do falar
cheio do Espírito, diz Pedro, é apenas o que fora predito:
Mas o que ocorre é o que foi dito por intermédio do profeta Joel: E acontecerá nos
últimos dias, diz o Senhor, que derramarei do meu Espírito sobre toda a carne;
vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos jovens terão visões, e sonharão
vossos velhos; até sobre os meus servos e sobre as minhas servas derramarei do
meu Espírito naqueles dias, e profetizarão. (At 2.16-18, citando Jl 2.28-29)
Três pontos às vezes despercebidos aqui são dignos de nota:
• Primeiro, todos do grupo, e não apenas Pedro ou os onze, “ficaram
cheios do Espírito Santo e passaram a falar em outras línguas, segundo o
Espírito lhes concedia que falassem”.136
• Segundo, a passagem estabelece uma equivalência entre contar “as
grandezas de Deus” (v. 11) e a “democratização” da profecia prometida
por Joel.137
• Terceiro, o derramamento do Espírito e seus efeitos são evidências claras
de que o Jesus crucificado e ressuscitado é de fato Senhor e Cristo, o
Messias.138
Chegou a era do Messias, na qual o Espírito é derramado sobre todo o seu
povo, e a evidência clara disso (de acordo com Pedro) é o fenômeno
extraordinário que eles estavam testemunhando — a manifestação da profecia
nos lábios de todo o povo de Deus.
Em outras palavras, os notáveis eventos do Pentecostes indicam que um
novo estado de coisas está agora em vigor. Aqueles que se arrependerem e
depositarem sua fé em Jesus, o Cristo, serão preenchidos com o Espírito
Santo prometido (como Pedro afirma à multidão no final de seu sermão).139
Isso nos levaria a esperar um desenvolvimento correspondente do falar
inspirado pelo Espírito no meio do povo de Deus — e isso é, de fato, o que
vemos acontecer no restante do Novo Testamento. Em Atos e nas epístolas,
vemos um florescimento da proclamação conduzida pelo evangelho e
fortalecida pelo Espírito, não apenas por meio dos apóstolos, evangelistas,
pastores e presbíteros, mas pela boca dos crentes em geral.
Aqui está uma seleção de evidências disso, seja em exemplos desse tipo de
fala acontecendo, seja em mandamentos apostólicos para que isso ocorra.
• Em Atos 4.31, os discípulos que estavam com Pedro e João oraram por
um aumento na ousadia para falar a Palavra, e como resultado “tremeu o
lugar onde estavam reunidos; todos ficaram cheios do Espírito Santo e,
com intrepidez, anunciavam a palavra de Deus”. Como no Pentecostes, o
enchimento do Espírito capacita todo o grupo a falar corajosa e
abertamente.
• Quando a igreja está dispersa por toda a Judeia e Samaria em Atos 8, os
apóstolos permanecem em Jerusalém, mas “os que foram dispersos iam
por toda parte pregando a palavra”.140 Vemos o exemplo de Filipe, um
homem “de boa reputação, cheio do Espírito e de sabedoria”, que em
Atos 6 recebe a tarefa de distribuir alimentos.141 O papel dado a Filipe na
igreja pode ser voltado a questões práticas, mas ele não pode deixar de
proclamar Cristo, tanto publicamente em Samaria142 quanto em particular
no carro do eunuco etíope.143 Curiosamente, como Pedro em Atos 2,
Filipe, cheio do Espírito, expõe a verdade de Cristo por meio das
Escrituras inspiradas pelo Espírito.144
• Paulo está ansioso para visitar os romanos para que “em vossa
companhia, reciprocamente nos confortemos por intermédio da fé mútua,
vossa e minha”.145 Mais adiante na epístola, ele afirma novamente a
capacidade deles para a instrução mútua: “E certo estou, meus irmãos,
sim, eu mesmo, a vosso respeito, de que estais possuídos de bondade,
cheios de todo o conhecimento, aptos para vos admoestardes uns aos
outros”.146
• O argumento da passagem extensa de 1 Coríntios 12-14 é essencialmente
este: que pelo nosso batismo em comum no Espírito, todos somos
membros de um só corpo, e devemos buscar o bem comum por meio da
diversidade de nossos dons; de fato, por causa da importância motivadora
do amor (no capítulo 13), todos os cristãos devem buscar um tipo de dom
em particular — falar palavras inteligíveis da parte de Deus (isto é,
profecia) que edificam aqueles que os rodeiam. Talvez o versículo que
resume tudo isso seja o seguinte: “Que fazer, pois, irmãos? Quando vos
reunis, um tem salmo, outro, doutrina, este traz revelação, aquele, outra
língua, e ainda outro, interpretação. Seja tudo feito para edificação”.147
Toda a seção pressupõe que falar a Palavra de Deus de forma rica, cheia
do Espírito, diversa, unificada e ordenada, motivada e regulada pelo
amor, é a norma para a comunhão cristã.
• Em Efésios 4, qualquer que seja a nossa compreensão acerca do
“desempenho do seu serviço” para o qual os santos devem ser
aperfeiçoados (v. 12), o resultado é a fala comunitária — que “seguindo a
verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo, de
quem todo o corpo, bem ajustado e consolidado pelo auxílio de toda
junta, segundo a justa cooperação de cada parte, efetua o seu próprio
aumento para a edificação de si mesmo em amor”.148
• Em Efésios, como em 1 Coríntios, é o amor que descreve tanto a
motivação quanto a maneira de falar. Isso aponta para uma verdade
importante: quanto mais os cristãos crescem em amor cristão, mais
procuram fazer o bem aos outros com suas palavras. Ou, na linguagem
que temos usado: quanto mais os aprendizes de Cristo “avançam”, mais
querem falar a Palavra para aqueles que estão para trás de si (sejam
descrentes, cristãos mais jovens ou imaturos).
• Em Colossenses, Paulo resume seu próprio ministério como proclamação
de Cristo: “advertindo a todo homem e ensinando a todo homem em toda
a sabedoria”.149 Mais adiante, ele usa termos similares para incentivar os
colossenses a fazerem o mesmo: “Habite, ricamente, em vós a palavra
(grego: logos) de Cristo; instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente em
toda a sabedoria, louvando a Deus, com salmos, e hinos, e cânticos
espirituais, com gratidão, em vosso coração”.150 Paulo pede aos
colossenses que orem para que Deus abra uma porta para que ele pregue a
Palavra (logos), e então os orienta para que sua palavra (logos) aos outros
seja agradável, temperada com sal e adequada para responder a cada
um.151 Novamente, o quadro é de uma variedade de ministérios baseados
na palavra única de Cristo (ensinar, admoestar, cantar, pregar, falar,
responder), conduzidos tanto pelo apóstolo quanto pelos irmãos cristãos
aos quais ele está escrevendo.
• Depois, há os comandos diretos de 1 Tessalonicenses: “Consolai-vos,
pois, uns aos outros com estas palavras”;152 “Consolai-vos, pois, uns aos
outros e edificai-vos reciprocamente, como também estais fazendo”;153
“Exortamo-vos, também, irmãos, a que admoesteis os insubmissos,
consoleis os desanimados, ampareis os fracos e sejais longânimos para
com todos”.154 Ou as instruções igualmente diretas em Hebreus: “pelo
contrário, exortai-vos mutuamente cada dia, durante o tempo que se
chama Hoje, a fim de que nenhum de vós seja endurecido pelo engano do
pecado”;155 “Consideremo-nos também uns aos outros, para nos
estimularmos ao amor e às boas obras. Não deixemos de congregar-nos,
como é costume de alguns; antes, façamos admoestações e tanto mais
quanto vedes que o Dia se aproxima”.156
A jornada do ensino bíblico sobre este assunto culmina no livro do
Apocalipse, que mostra o povo redimido de Deus reunido em volta do trono,
clamando, cantando e expressando seus louvores. É como se a humanidade
perfeita em Cristo tivesse apenas uma palavra para dizer:
Depois destas coisas, vi, e eis grande multidão que ninguém podia enumerar, de
todas as nações, tribos, povos e línguas, em pé diante do trono e diante do
Cordeiro, vestidos de vestiduras brancas, com palmas nas mãos; e clamavam em
grande voz, dizendo: Ao nosso Deus, que se assenta no trono, e ao Cordeiro,
pertence a salvação. (Ap 7.9-10)
Em outras palavras, há grandes e fortes evidências de que falar a Palavra
de Deus aos outros para sua salvação e encorajamento é um componente
esperado e necessário da vida cristã regular. Da mesma forma, a cultura de
uma igreja saudável é aquela em que uma ampla variedade de ministérios da
Palavra é exercida por uma proporção cada vez maior dos membros.

COMO ISSO ACONTECE NA PRÁTICA?


Ficaríamos surpresos se as evidências bíblicas que acabamos de apontar
fossem calorosamente contestadas por muitos de nossos leitores. No entanto,
uma coisa é ficar de pé e saudar essas convicções; outra completamente
diferente é entrar em fila e marchar atrás delas para a batalha.
Para muitos pastores com quem falamos, uma questão importante é que
(por diversas razões históricas, tradicionais ou locais) uma cultura de
ministério da Palavra abrangente e profunda entre os membros está
simplesmente fora de sua experiência. Eles não sabem exatamente como é
isso, ou como isso pode se encaixar nos padrões de ministério e vida da igreja
a que estão acostumados; tampouco têm certeza se isso funcionaria onde
estão, com as pessoas que eles têm.
Vamos tentar esclarecer, então, alguns aspectos de como é a proclamação
democratizada na prática.
• Em primeiro lugar, uma coisa ela não é: uma explosão desordenada e
caótica de ensinamentos ignorantes, falsos ou tolos, com todo mundo
estabelecendo cada um seu próprio “púlpito” para expor sua visão
particular da doutrina. De fato, além dos muitos exemplos acima dos
cristãos sendo exortados a falar no Novo Testamento, poderíamos
também ter visto muitos outros textos nos quais os cristãos são ordenados
a não falar (para não espalhar divisão ou falsos ensinos, ou para não
discutir sobre tolices ou futilidades).157 É muito importante que a palavra
que todos falamos seja a única e verdadeira Palavra de Cristo, e que o
façamos de uma maneira que edifique os outros (em vez de satisfazer
nosso orgulho ou desejo de autoexpressão). (Falaremos mais sobre isso a
seguir sobre a relação entre liderança pastoral e o ministério da Palavra de
todos os membros.)
• Como observamos na Convicção 3, a “proclamação” da Palavra de Cristo
acontece de muitas formas.158 Ela é fundamentada e alimentada pela
Bíblia, e com frequência acontece com a Bíblia aberta, mas não em todas
as circunstâncias. Pode acontecer em conversas no carro com nossos
filhos, depois da igreja com alguém tratando do conteúdo do sermão, na
porta de casa com um vizinho falando do evangelho, em uma leitura
bíblica com um amigo durante o café, em um artigo que compartilhamos
e discutimos nas redes sociais, em um pequeno grupo de estudo bíblico
no qual refletimos e meditamos no texto bíblico uns com os outros, e
assim por diante. O número e a variedade de “ministérios da Palavra”
possíveis são quase ilimitados; mas todos têm em comum algum aspecto
da palavra bíblica sobre Jesus Cristo.
• De qualquer forma, a maioria dos cristãos descobrirá que se aproxima
mais de algumas formas de proclamação do que de outras, por habilidade,
treinamento ou oportunidade. Alguns se especializarão em encorajar por
carta; outros terão um dom para conversar com estranhos; alguns terão a
paciência e gentileza de se sentar com uma alma perturbada por horas e
oferecer palavras sábias e sensíveis de conforto; outros terão a habilidade
de liderar grupos de pessoas na leitura da Bíblia e na oração. É menos
uma questão de exame interno para descobrir o nosso “dom”, e mais o
que aprendemos sobre nós mesmos ao longo do tempo, à medida que
respondemos às oportunidades e necessidades que Deus coloca diante de
nós.
• É assim que a diversidade de dons e a unidade da proclamação se
encaixam (ou como 1 Coríntios 12 e 1 Coríntios 14 se encaixam). A
motivação é a mesma, a fonte é a mesma, os meios são os mesmos e o
objetivo final é o mesmo. O que varia é a maneira e a ocasião particular
em que falamos ou demonstramos a Palavra de Deus.
• O lar é uma esfera particularmente importante na qual o “ministério da
Palavra por todos os cristãos” pode e deve florescer — entre marido e
esposa, entre pais (e avós!) e filhos, entre irmãos. Tito 2.1-10 mostra um
quadro encantador do lar moldado pelo evangelho, no qual a sã doutrina
do evangelho está sendo vivida, exemplificada e ensinada entre os
homens e mulheres mais velhos e os mais jovens.159
• Pensando desta maneira, pode muito bem haver mais proclamação da
Palavra de Deus em oração acontecendo dentro e ao redor da sua vida
congregacional do que você pensava. Isso é algo que vale a pena
identificar e fortalecer. (E falaremos com mais detalhes sobre como isso
pode ser feito na Fase 4.) O primeiro passo pode ser um ensinamento
claro e persuasivo dos tipos de convicções de discipulado que estamos
explorando nesta Fase 1, de modo que o que já está acontecendo, mesmo
de maneira incipiente, possa ser nomeado, estruturado, compreendido,
promovido e expandido.

SUPERANDO INIBIÇÕES
Pode haver mais “ministério da Palavra por todos os membros” acontecendo
em cantos e rincões de nossas congregações do que pensamos, e nos
regozijamos quando ouvimos sobre isso. No entanto, também é justo dizer
que a maioria das pessoas em nossas igrejas não vê o falar a Palavra em
oração a outra pessoa para seu crescimento como uma parte normal de sua
vida cristã. Simplesmente não faz parte da expectativa deles, ou de sua
“cultura pessoal” — e, portanto, não faz parte da cultura de sua igreja.
Quando há uma “maioria silenciosa” (por assim dizer) em uma congregação,
é difícil mudar “a maneira como fazemos as coisas por aqui” para incluir uma
proclamação ampla e variada da Palavra. Ao olhar ao redor as pessoas não
veem expectativa de que isso aconteça, e nenhum exemplo que possam
perceber e seguir.
Como já conversamos com muitos pastores sobre isso e de fato treinamos
muitos leigos para falar a Palavra, sabemos que o problema raramente é
teórico. Poucas pessoas rejeitam as convicções que temos descrito. Poucos
iriam negar que os cristãos cotidianamente têm o papel de falar a Palavra e,
dadas as evidências bíblicas, isso não é surpreendente.
As duas maiores barreiras são simplesmente relutância pessoal ou
constrangimento em falar, e sentimentos de inadequação e falta de confiança
em saber por onde começar. Vejamos brevemente como abordar esses dois
aspectos.
a) Tratando a motivação
Embora falar a Palavra de Deus seja uma atividade única e espiritual, é
como outras falas humanas, no sentido de que, quando algo é realmente
importante para nós, não conseguimos deixar de falar sobre isso para as
pessoas que amamos.
É por isso, essencialmente, que não falamos mais da Palavra de Deus para
as pessoas ao nosso redor. Não valorizamos a Palavra o suficiente, e não
amamos as pessoas o suficiente. É um problema do coração — nossos
corações não estão suficientemente incendiados pela maravilha das
misericórdias de Deus e da majestade de Jesus Cristo; e nossos corações não
estão suficientemente cheios de amor e compaixão por aqueles que nos
rodeiam.160
Então, aqui está uma pergunta, que (agora, se não antes) você deve ser
capaz de responder rapidamente: Como pode um coração humano sem amor
ser transformado?
Resposta: pelo poder da Palavra e do Espírito de Deus, ministrado por
meio da proclamação com perseverança e oração por seu povo! Precisamos
ensinar e orar para que os olhos do coração de nosso povo sejam iluminados
para conhecer a esperança a que ele nos chamou, as riquezas de sua gloriosa
herança nos santos e a suprema grandeza de seu poder em relação a nós que
cremos.161 E precisamos ensinar e orar para que o Senhor faça nosso povo
“crescer e aumentar no amor uns para com os outros e para com todos”.162
Em outras palavras, aprender a valorizar as glórias da graça de Deus e
amar aqueles que nos rodeiam é simplesmente parte do crescimento de um
“aprendiz de Cristo”, e acontece como todo aprendizado de Cristo: por meio
de ensino com oração que acontecem de várias maneiras, das quais o sermão
dominical é o centro e o marco principal.
Na prática, isso pode significar pregar uma série (digamos) em 1 Pedro e
explicar a clássica doutrina reformada do “sacerdócio de todos os crentes” de
2.1-10. Em Cristo, todos somos membros de um “sacerdócio santo”, o que
significa não apenas que todos temos acesso a Deus por meio de Cristo, mas
que todos nós oferecemos sacrifícios espirituais a Deus nele (como fazem os
sacerdotes).163 E um desses serviços sacerdotais é a proclamação — “a fim de
proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua
maravilhosa luz”.164
Ou podemos expor 1 Pedro 4.7-11 e ensinar que o amor uns pelos outros
deve nos levar ao serviço mútuo de todos os tipos, incluindo falar aos outros
de acordo com os “oráculos de Deus”.165
No entanto, o diagnóstico e tratamento do coração precisam acontecer
pessoal e individualmente, além de corporativamente. Dentro das várias
“treliças” menores do ministério da vida da igreja (em grupos e reuniões
pessoais e assim por diante), também precisaremos ensinar e orar por esse
objetivo.
b) Tratando a falta de confiança
Outro impedimento significativo a ser enfrentado e que gera inibição é a
sensação de inadequação ou falta de confiança que muitos cristãos sentem ao
falar com os outros. Podemos fazer duas coisas principais para resolver isso:
• A primeira é desviar a visão das pessoas das coisas assustadoras que elas
podem achar que você quer dizer com “ministério da Palavra” (por
exemplo, abordar estranhos e evangelizá-los, liderar um grupo de estudo
bíblico ou pregar um sermão) para onde elas poderiam começar com o
ministério da Palavra, ajudando alguém próximo a avançar um passo (por
exemplo, marido e mulher lendo a Bíblia juntos por 15 minutos uma vez
por semana). Precisamos continuar ensinando e exemplificando o fato de
que “falar a Palavra de Deus” acontece em uma multiplicidade de formas
e contextos, e que cada um de nós terá pontos fortes e oportunidades
particulares para fazê-lo.
• O segundo passo é aumentar a confiança das pessoas em ministérios
simples e variados por meio do ensino, exemplo, encorajamento e
treinamento (por exemplo, utilizando alguns cursos ou estruturas simples
de treinamento).166 Persuadir, ensinar e preparar os cristãos para falar em
espírito de oração a Palavra de Deus é semelhante a qualquer outra área
da vida e da piedade cristã em que “aprendemos Cristo”, é como aprender
a orar, a ter paciência ou estar contente. As pessoas estarão em pontos
diferentes e terão desafios diferentes. Alguns estarão muito para trás ou já
até desistiram; alguns terão começado; alguns estarão bem no caminho.
Como tudo o mais, é uma questão de ajudar cada um a avançar um passo
de onde está, por meio de ensino, instrução e oração paciente.
Daremos sugestões mais práticas sobre como progredir nessas áreas na
Fase 2 e na Fase 4. Mas antes de concluirmos, precisamos explorar a relação
entre os poucos e os muitos.

O PÚLPITO EXPOSITIVO E A IGREJA


EXPOSITIVA
Em seu ótimo livro sobre a teologia bíblica da “Palavra” e sua relação com a
pregação, Peter Adam comenta que:
Ainda que a pregação [...] seja uma forma do ministério da Palavra, muitas outras
formas são refletidas na Bíblia e na vida da igreja cristã contemporânea. É
importante entender claramente esse ponto, ou faremos a pregação carregar uma
carga que ela não pode suportar; isto é, o fardo de fazer tudo o que a Bíblia espera
de toda forma de ministério da Palavra.167
Se reconhecemos que existem formas variadas do ministério da Palavra,
como devemos entender a relação entre elas — especialmente entre o modo
formal, regular, autoritativo e reconhecido desse ministério (a pregação e o
ensino realizados pelo pastor de uma congregação), e os modos informais,
muitas vezes temporários, frequentemente não reconhecidos e com menos
autoridade, que os membros da congregação irão realizar?
A primeira coisa a dizer é que este não é um jogo de soma zero.
Simplesmente ao dizer que “o ministério da Palavra exercido por todos os
membros” é importante, não desvaloriza ou diminui automaticamente a
importância da pregação pastoral, como se houvesse uma quantidade limitada
de valor disponível para ser atribuída. Por outro lado, se defendermos o
caráter central e insubstituível do sermão expositivo (como fazemos, ao lado
de Adam e Keller), não relegamos o ministério da Palavra exercido por todos
os cristãos às trevas exteriores (longe disso).
Em nossa opinião, o ministério da Palavra exercido pela liderança pastoral
(especialmente na pregação expositiva) assume uma importância ainda maior
quando é visto em relação a um crescente “ministério de Palavra exercido por
todos os membros”. Pois o sermão não é apenas um ministério da Palavra
entre muitos; é o ministério fundamental da Palavra que alimenta, regula e
edifica todos os outros. Em uma igreja onde os quatro Ps são amplamente
praticados por muitos crentes na congregação, o sermão é uma ocasião não
apenas em que um homem fala, mas em que ele ensina uma multidão a falar.
Em sua pregação, o pastor toca o diapasão para que toda a orquestra saiba em
qual tom tocar. Ele ensina e guarda o sólido depósito do evangelho para que
todos possam conhecê-lo clara e profundamente (senão, como falariam desse
evangelho?). Ele lhes mostra não apenas o que a Bíblia diz, mas como eles
podem ler e falar essa verdade por si mesmos. Ele constantemente ensina a
sólida estrutura doutrinária que molda a leitura da Bíblia e a fala de toda a
congregação.
Pastores são “aprendizes-chefes”, que servem como exemplos, guias,
condutores, professores e técnicos dos outros aprendizes que eles
supervisionam. O sermão de domingo é o principal evento semanal que
concentra esse serviço. Certamente não é a única coisa que o pastor faz, mas
sua importância é fundamental.
Estamos dizendo que um púlpito expositivo é extremamente importante,
porque ele firma e edifica uma igreja expositiva — isto é, uma igreja na qual
todos os aspectos da vida congregacional estão centrados em falar a
mensagem da Bíblia a respeito de Jesus Cristo. Podemos representar desta
maneira:
A IGREJA EXPOSITIVA
Em outras palavras, poderíamos responder à pergunta “Quem faz
discípulos?” da seguinte maneira: Por sua pregação, treinamento e exemplo,
pastores preparam todos os cristãos para serem aprendizes de Cristo que
ajudam os outros a aprenderem a Cristo.
Há mais a ser dito sobre as questões práticas levantadas por esta
convicção, e faremos isso no momento devido (especialmente nas Fases 3 e
4).
Por ora, porém, vamos terminar com as palavras de Claire Smith,
estudiosa do Novo Testamento. Na conclusão de seu rigoroso estudo das
igrejas de Paulo como comunidades de aprendizado, ela propõe que:
O modelo de educação que surgiu foi um modelo de “comunidade” em vez de um
modelo “escolar”. O objetivo deste último na era moderna são resultados
padronizados, em que os alunos realizam seu próprio trabalho, e há uma clara
distinção entre professores e alunos. O objetivo do primeiro é uma “vida comum”,
em que cada membro está envolvido no ensino e aprendizagem, os menos
experientes usam os mais experientes como recursos e guias, e a comunidade é
formada à medida que os membros aprendem crenças e valores compartilhados, e
esses indivíduos formam a comunidade.168
Este é o tipo de comunidade de aprendizado transformador que temos
procurado descrever nas Escrituras e que Projeto Videira tem como objetivo
ajudá-lo a edificar.

DISCUSSÃO
1) Olhem atentamente para o diagrama da Igreja Expositiva:
a) O que vocês gostam nele?
b) Onde vocês acham que ele poderia ser melhorado ou modificado?
c) Vocês acham que ele descreve sua igreja atualmente? Por que, ou por
que não?
2) Quais são as principais razões (em sua opinião) pelas quais muitas pessoas
em nossas igrejas não falam da Palavra a outras pessoas na igreja, em casa
ou na comunidade?
3) Analisem uma seleção dos seguintes textos (alguns dos quais são
mencionados acima):
1 Tessalonicenses 5.11-14
Hebreus 13.7-15
1 Pedro 2.9-12
1 Pedro 4.7-11
Tito 1.7-9; 2.1-10
Efésios 4.11-29
Colossenses 3.12-17
a) O que vocês aprendem em cada um sobre a natureza da proclamação da
Palavra e as diferentes formas que isso assume?
b) Que razões ou motivações são dadas para todos os aprendizes de Cristo
falarem a Palavra aos outros?
Isto posto, também é importante preservarmos o lugar único dos onze discípulos (ou “apóstolos”) nos propósitos de discipulado
de Deus. Foram eles que receberam em primeira instância a comissão para chamar todas as pessoas à obediência ao que Jesus
lhes ensinara. Pela providência de Deus, é na palavra escrita dos apóstolos que encontramos o ensinamento de Jesus. Esse
evangelho apostólico, consagrado nas Escrituras, é o nosso elo com a Palavra e a missão de Jesus. Nós nos tornamos discípulos
ouvindo e obedecendo ao ensinamento de Jesus, mediado a nós pelos apóstolos especialmente comissionados. Como
discipuladores, simplesmente repetimos o ensinamento dos apóstolos repetidas vezes.
“O homem bom do bom tesouro do coração tira o bem, e o mau do mau tesouro tira o mal; porque a boca fala do que está cheio o
coração” (Lc 6.45).
Em seu catálogo do pecado humano em Romanos 3, Paulo cita os salmos: “A garganta deles é sepulcro aberto; com a língua,
urdem engano, veneno de víbora está nos seus lábios, a boca, eles a têm cheia de maldição e de amargura” (Rm 3.13-14).
1Co 12.3; Rm 10.9-10; Hb 13.15; Ef 6.18; 5.18-20.
Lionel Windsor, Gospel Speech: A Fresh Look Atos the Relationship between Every Christian and Evangelism (Sydney, Matthias
Media, 2015), 24. Windsor dedica atenção especial a Deuteronômio 32, Isaías 59 e Salmo 51 como exemplos desse
movimento ou padrão comum.
Por exemplo: Nm 11.25; 1Sm 10.10; 1Cr 12.18; 2Cr 24.20.
Nm 11.29.
At 2.11.
At 2.1-4; este fato nem sempre foi notado em meio ao debate sobre a natureza do falar em línguas. Todos receberem o espírito é
um nítido contraste com a experiência de Israel na era anterior ao Messias, quando o Espírito fora derramado somente sobre
profetas escolhidos e esparsamente em reis e outras figuras.
Isto é, Pedro explica o que está acontecendo no verso 11 mostrando que isto é o que o profeta Joel disse que aconteceria quando o
Espírito fosse derramado — que o povo de Deus profetizaria.
Este é o ponto culminante do sermão de Pedro: “Exaltado, pois, à destra de Deus, tendo recebido do Pai a promessa do Espírito
Santo, derramou isto que vedes e ouvis. [...] Esteja absolutamente certa, pois, toda a casa de Israel de que a este Jesus, que vós
crucificastes, Deus o fez Senhor e Cristo” (At 2.33,36).
At 2.38-39.
At 8.4.
At 6.2-6.
At 8.4-6.
At 8.26-35.
At 8.35; cf. Atos 2.16, 25, 34.
Rm 1.11-12.
Rm 15.14.
1Co 14.26.
Ef 4.15-16. Também mais adiante no capítulo: “Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, e sim unicamente a que for boa
para edificação, conforme a necessidade, e, assim, transmita graça aos que ouvem” (Ef 4.29).
Cl 1.28.
Cl 3.16.
Cl 4.2-6.
1Ts 4.18.
1Ts 5.11.
1Ts 5.14.
Hb 3.13.
Hb 10.24-25.
Tito 1.10-11 e 3.9-11 oferecem dois desses muitos avisos.
Neste contexto, a palavra “proclamação” tem suas limitações. Ela conota um discurso ou anúncio formal preparado em algum
tipo de ambiente público. Algumas das formas variadas de falar a palavra que os cristãos praticam serão assim, mas não são
todas, e nem sequer a maioria.
Veja o adendo no final da Convicção 5 para mais a respeito do lar como uma esfera para o ministério.
Dietrich Bonhoeffer afirma desta maneira: “É inconcebível que as coisas que são da maior importância para cada indivíduo não
sejam faladas um para o outro. É anticristão privar conscientemente o outro do único serviço decisivo que podemos prestá-lo.
Se não conseguimos nos forçar a dizê-lo, temos que nos perguntar se não estamos ainda vendo nosso irmão revestido de sua
dignidade humana, que temos medo de tocar, esquecendo, portanto, a coisa mais importante: que ele também, não importa
quão velho ou honrado ou distinto seja, ainda é um homem como nós, um pecador desesperadamente necessitado da graça de
Deus. Ele tem as mesmas grandes necessidades que temos, e precisa de ajuda, encorajamento e perdão assim como nós” —
Life Together (Londres: SCM, 2015), 80-85 [edição em português: Vida em comunhão, 7ª ed. (São Leopoldo: Sinodal, 2009)].
Ef 1.18-19.
1Ts 3.12
1Pe 2.4-5.
1Pe 2.9.
1Pe 4.11. Às vezes usamos a doutrina dos dons para despreparar ao invés de preparar. Assim, lemos essa passagem como uma
justificativa para não falar, concluindo (talvez com alívio) que “tenho o dom de servir, não de falar”. Mas a lógica da passagem
é que o amor nos levará ao serviço de todos os tipos, incluindo o falar, e que o faremos “na força que Deus supre, para que, em
todas as coisas, seja Deus glorificado, por meio de Jesus Cristo”.
Para dar dois exemplos simples: (1) Você pode ter como objetivo ensinar ao maior número possível de casais como ler a Bíblia
juntos, usando o livro de David Helm, One-to-one Bible reading; (2) Você pode ter como objetivo ensinar ao maior número
possível de membros os elementos básicos do “ministério do banco” no domingo, usando um recurso como o livro de Colin
Marshall e Tony Payne, Six steps to loving your church (Sydney: Matthias Media, 2013).
Peter Adam, Speaking God’s words: A practical theology of preaching (Leicester: Intervarsity Press, 1996), 59. Em seu recente
livro sobre pregação, Timothy Keller concorda com a análise de Adam e classifica os diversos ministérios da palavra em três
níveis — com o sermão como “nível 1”, encorajamento e aconselhamento pessoal informal como “nível 3”, e uma forma
intermediária, semiformal do ministério (como liderar um estudo bíblico) como “nível 2”. Essa é uma taxonomia interessante e
potencialmente útil, se reconhecermos as fronteiras difusas que existem particularmente entre os níveis 2 e 3. Ver Timothy
Keller, Pregação: comunicando a fé na era do ceticismo (São Paulo: Nova Vida, 2017).
Claire Smith, Pauline communities as “scholastic communities”: a study of the vocabulary of “teaching” in 1 Corinthians, 1 and
2 Timothy and Titus. WUNT 2.335 (Tubingen: Mohr Siebeck, 2012), 386.
Convicção 5: Onde fazer discípulos?
Das nossas cinco convicções sobre fazer discípulos, esta última pode parecer
um pouco estranha, ou mesmo desnecessária. As outras quatro convicções
respondem perguntas obviamente importantes: por que devemos fazer
discípulos, o que é realmente um discípulo, como fazemos isso e quem faz o
trabalho.
No entanto, essa convicção final diz respeito ao campo no qual ocorre o
discipulado — o onde do recrutamento e ensino de “aprendizes” de Cristo.
Isso é mais importante do que podemos imaginar. Em nossa experiência,
uma das barreiras para uma cultura abrangente de discipulado em muitas
igrejas é a falta de compreensão sobre onde ele deve acontecer. Para muitas
igrejas, o discipulado possui dois locais principais.
Em primeiro lugar, o entendimento comum em muitas igrejas é que o
discipulado ocorre em um local privado. Fazer discípulos é geralmente visto
como um trabalho pessoal e íntimo. Acontece em reuniões individuais, em
cafés, em longas caminhadas quando falamos sobre nossas vidas cristãs, ou
talvez em pequenos grupos que se encontram nas casas das pessoas. Para
muitas pessoas, o “discipulado” é geralmente associado a passar tempo com
novos crentes para firmá-los nos fundamentos da fé. Assim, se queremos
melhorar o “discipulado” em nossa igreja, estamos normalmente pensando
em lugares ou contextos fora de nossa reunião dominical regular na igreja.
Novamente, há aqui uma suposição implícita — que precisa ser examinada e
questionada — sobre onde (ou seja, em quais contextos, locais, eventos e
atividades) o discipulado deve acontecer.
Em segundo lugar, quando se trata do desafio de “fazer discípulos de todas
as nações”, é muito comum que isso seja visto principalmente como um
empreendimento missionário que deveria estar ocorrendo “nas nações” —
isto é, em algum lugar em outro país. Para muitas igrejas, o compromisso da
Grande Comissão significa ter um orçamento para missões, apoiar agências
missionárias no exterior, orar por missionários e assim por diante. A
suposição muitas vezes implícita aqui é que as “nações” (isto é, as pessoas de
outros países) precisam ouvir o evangelho e se tornar discípulas de Jesus, mas
que por algum motivo nosso local — nossa rua, bairro ou comunidade — não
precisa de tanta atenção.
Então, onde o discipulado deve acontecer?
Mesmo que a resposta a essa pergunta esteja implícita em muitos aspectos
do que já vimos nas convicções anteriores, vale a pena reservar um tempo
para esclarecer e aprofundar nossa compreensão.

A IGREJA APRENDIZ
Simplificando, “aprender Cristo” acontece onde quer que a Palavra e o
Espírito de Deus estejam operando ao longo do tempo pelas pessoas —
porque é assim que acontece o aprendizado de Cristo (como vimos na
Convicção 3). Acontece no começo de nossa vida cristã quando somos
libertos das trevas para a luz e aprendemos os fundamentos da fé; continua a
acontecer enquanto crescemos e somos transformados rumo à maturidade em
Cristo.
Isso significa que o “discipulado” pode e deve acontecer em toda e
qualquer esfera de nossas vidas:
• Quando pregamos o evangelho e a Palavra de Deus para nós mesmos —
que é o que realmente fazemos quando, em espírito de oração, lemos e
meditamos sobre as Escrituras a sós;
• Quando nos reunimos com uma ou duas outras pessoas (formal ou
informalmente) e em oração falamos a Palavra de Deus uns aos outros —
quando lemos a Bíblia junto com nosso cônjuge ou filho, compartilhamos
(ou recebemos) uma palavra bíblica com um colega de trabalho ou
vizinho, ou conversamos com alguém no café depois da igreja e falamos
sobre a Palavra de Deus que ouvimos;
• Quando nos reunimos em um pequeno grupo para ler, estudar e falar a
Palavra da Bíblia uns com os outros e orar;
• Quando nos reunimos em um grupo maior para ouvir a Palavra de Deus
ensinada e explicada, e para responder a ela juntos em arrependimento e
fé (isto é, quando vamos à igreja).
Dito de outra maneira: se um discípulo é alguém que está passando por um
“aprendizado transformador” em Cristo, então uma igreja é uma comunidade
de aprendizado transformador em Jesus Cristo — um ajuntamento que Deus
convocou para que possamos aprender seu Filho. Tudo o que fazemos,
promovemos e facilitamos como uma comunidade de igreja — pessoalmente,
em duplas, em grupos ou todos juntos no domingo — deve ensinar e
representar Cristo, para que todos possam aprender Cristo.
Esta é uma visão muito maior e mais rica do que a tendência, tão comum
nas igrejas modernas, de departamentalizar o “discipulado” em uma área
especializada voltada principalmente às disciplinas pessoais ou à vida em
pequenos grupos. O grande plano de Deus é fazer discípulos de Cristo de
todas as nações por meio dos quatro Ps (Proclamação, Prece, Pessoas,
Perseverança), e é como parte do cumprimento deste plano que ele nos ajunta
em comunidades — nas igrejas (ou assembleias).
Deus em sua sabedoria nos uniu como igreja e nos deu uns aos outros —
não apenas porque nosso destino é precisamente este (estarmos juntos em
torno de Jesus Cristo em alegria, celebração e contemplação redimida), mas
porque precisamos uns dos outros. Deus nos dá uns aos outros como o meio
pelo qual ouvimos a Palavra de Cristo e aprendemos Cristo.
Dietrich Bonhoeffer é um desses teólogos que todos parecem querer citar e
chamar para perto de si. Não temos tais pretensões, nem queremos sugerir
que o que estamos dizendo tem mais ou menos chance de ser verdade porque
o citamos. Mas essa passagem de Vida em Comunhão expressa com clareza o
que estamos tentando dizer sobre a igreja ser uma comunidade cujo princípio
operacional é o falar e ouvir mútuo da Palavra:
Cristianismo significa comunhão através de Jesus Cristo e em Jesus Cristo.
Nenhuma comunidade cristã é mais ou menos que isso [...]
O que isso significa? [...]
Primeiro, o cristão é o homem que não mais busca sua salvação, sua libertação, sua
justificação em si mesmo, mas somente em Jesus Cristo [...] A morte e a vida do
cristão não são determinadas por seus próprios recursos; em vez disso, ele encontra
ambos somente na Palavra que vem a ele de fora, na Palavra de Deus para ele [...]
O cristão vive inteiramente pela verdade da Palavra de Deus em Jesus Cristo. Se
alguém lhe perguntar “onde está a sua salvação, a sua justiça?”, ele nunca pode
apontar para si mesmo. Ele aponta para a Palavra de Deus em Jesus Cristo, que lhe
assegura a salvação e a justiça. Ele está tão alerta quanto possível a esta Palavra.
Porque ele diariamente tem fome e sede de justiça, ele diariamente deseja a Palavra
redentora. E ela só pode vir de fora [...]
Mas Deus colocou esta Palavra na boca dos homens para que ela possa ser
comunicada a outros homens. Quando uma pessoa é atingida pela Palavra, ele a
fala para os outros. Deus quer que o procuremos e encontremos sua Palavra viva
no testemunho de um irmão, na boca de um homem. Portanto, um cristão precisa
de outro cristão que fale a Palavra de Deus para ele. Ele precisa dele sempre que
fica inseguro e desanimado, pois ele, por si mesmo não pode se ajudar sem faltar
com a verdade. Ele precisa de seu irmão como portador e proclamador da palavra
divina da salvação. Ele precisa de seu irmão somente por causa de Jesus Cristo. O
Cristo em seu coração é mais fraco que o Cristo na palavra de seu irmão; seu
próprio coração é inseguro, o de seu irmão é seguro.
E isso também esclarece o objetivo de toda a comunidade cristã: eles se encontram
como portadores da mensagem de salvação. Como tais, Deus permite que eles se
encontrem e lhes dá comunidade. Sua comunhão é fundada unicamente em Jesus
Cristo e nesta “justiça externa”. Tudo o que podemos dizer, portanto, é: a
comunidade dos cristãos surge apenas da mensagem bíblica e reformada da
justificação do homem apenas pela graça; apenas esta é a base do anseio dos
cristãos uns pelos outros.169
Sem dúvida, leitores diferentes chegarão a este livro com diferentes
eclesiologias e tradições, não apenas com respeito à política e ao governo,
mas também com relação a como a reunião dominical da igreja acontece
(como é chamada, como se desenrola, como é a música e assim por diante).
Dificilmente conseguiríamos abarcar todas essas questões, muito menos
chegar a um acordo sobre elas.
Entretanto, quaisquer que sejam nossas diferenças em eclesiologia,
tradição ou estilo de igreja, há um ponto fundamental com o qual todos
devemos concordar: a igreja, em todos os aspectos de sua vida, é uma
comunidade de aprendizado transformador em Cristo.
Se isso for verdade, então nossa reunião dominical deve ser a ocasião
principal, central e mais destacada na qual o “aprendizado de Cristo” ocorre,
e a partir da qual todos os outros aprendizados na comunidade recebem sua
direção e ímpeto. Se o aprendizado transformador está no centro de nossa
vida conjunta como povo de Deus, então ele deve estar no centro de nossas
reuniões regulares de domingo.
Ao dizer isso, não estamos de modo algum sugerindo que o culto
dominical deva ter o estilo e o ambiente de uma sala de aula! Não é esse tipo
de “aprendizagem” que está envolvido (como esperamos ter deixado claro na
Convicção 2). Sempre que ocorre o verdadeiro aprendizado em Cristo, o
próprio Deus está em ação — falando sua Palavra e inclinando nossos
corações para responder em obediência, fé, gratidão, amor e louvor. Não há
nada de desapaixonado ou meramente intelectual nesse tipo de aprendizado,
seja em nosso quarto enquanto lemos as Escrituras, em um pequeno grupo ou
em nossas reuniões dominicais. É um encontro vivo, relacional e
transformador com Deus por sua Palavra e espírito, quando ouvimos sua voz
e lhe respondemos alegremente.
O domingo não é apenas a principal ocasião em que aprendemos Cristo
uns com os outros — é também um dos impulsionadores mais poderosos de
toda a cultura da igreja. Se “a maneira como fazemos as coisas” no domingo
não comunica, exemplifica, expressa, promove e defende o “aprendizado de
Cristo”, então há pouca chance de que a cultura de nossa igreja mude de
maneira significativa.
Conversando com pastores nos últimos seis anos, essa tem sido uma
questão significativa — e, portanto, essa convicção é particularmente
importante. Você acredita que o domingo é uma plataforma para fazer
discípulos? Você entende que um de seus principais propósitos é ajudar todos
os presentes a “avançar um passo” por meio da proclamação da Palavra de
Deus em oração? E como isso aconteceria em seu próprio contexto? Já
tratamos disso na Convicção 4, ao falar sobre como um “púlpito expositivo”
ajuda a gerar uma “igreja expositiva”, e voltaremos a esse assunto nas Fases
3 e 4.
Mas primeiro precisamos pensar sobre o outro local-chave em que os
discípulos são feitos.

AS NAÇÕES QUE VIVEM NAS TREVAS


Que os discípulos devem ser feitos em toda parte é uma consequência direta
do senhorio universal de Jesus Cristo ressuscitado (o que consideramos na
Convicção 1). Uma vez que “toda autoridade no céu e na terra” foi concedida
a ele como Senhor e Rei do reino eterno de Deus, seus aprendizes devem
recrutar e fazer outros aprendizes de todas as nações.170
É fácil pensarmos nas “nações” como países estrangeiros, mas não era
exatamente isso que Jesus estava dizendo — como se a tarefa dos discípulos
fosse evangelizar ao longo de uma lista de antigos estados-nação.
Ele estava falando sobre os povos do mundo — toda a enorme variedade
de nações, tribos, línguas e raças, das quais Israel foi chamado para ser o
povo especial de Deus, sua nação santa. Esse “resto do mundo” não-judeu é
geralmente chamado de “nações” ou “gentios” no Novo Testamento (a
mesma palavra grega ethné é comumente traduzida como “nações” ou
“gentios” na maioria das versões).
Talvez possamos começar a sentir como aquela deve ter sido uma
declaração radical e chocante para os onze discípulos na montanha com
Jesus. O Messias judeu havia se levantado do túmulo para salvar seu povo e
ser o governante de todos. Mas sua comissão para eles não era fazer
discípulos de Israel, mas das nações — os de fora, os pagãos, as pessoas que
eram consideradas tão impuras e contaminadas que um judeu não podia
sequer comer com elas. Era uma comissão para fazer discípulos do inimigo,
dos pagãos desprezados que tinham derrotado e oprimido Israel por séculos.
Naturalmente, isso poderia não ter sido chocante para os discípulos se eles
tivessem ouvido o ensinamento de Jesus durante os três anos anteriores e
conhecessem o Antigo Testamento.171 O grande plano de Deus sempre incluiu
as nações. Desde o tempo da grande dispersão na torre de Babel, quando
Deus confundiu as línguas do povo e o dispersou por toda a terra, o propósito
de Deus foi sempre reuni-los novamente, e abençoar as nações por meio do
homem (Abraão) e da nação (Israel) que ele escolhera.172
De certa forma, a história do Antigo Testamento é a história de Israel
sendo chamado dentre as nações como a possessão santa e especial de Deus,
para que fosse uma bênção para as nações, um reino de sacerdotes para
representar Deus ao mundo.173 A vocação maior de Israel era ser o veículo da
salvação, ser luz e bênção para toda a terra.
Infelizmente, Israel falha repetidamente nesta vocação e acaba sendo mais
uma maldição do que uma bênção para as nações. Os profetas se levantam e
declaram juízo sobre o povo de Israel por sua rebeldia e incredulidade, e
declaram que eles mesmos serão exilados e dispersos entre as nações por
causa de seu pecado. Mas, ao mesmo tempo, os profetas aguardam
ansiosamente um tempo em que Deus enviaria seu Servo, pelo qual Israel
seria finalmente e verdadeiramente uma “luz para os gentios, para seres a
minha salvação até à extremidade da terra”.174
O Evangelho de Mateus começa com astrólogos pagãos (os magos) sendo
guiados até Belém, a cidade de Davi, onde se dobram e adoram o Cristo
recém-nascido. A mensagem é inconfundível: por meio desta criança, a
bênção para as nações finalmente chegará. Alguns capítulos depois, Mateus
cita Isaías para dizer que esse Jesus é verdadeiramente aquele em cujo nome
as nações esperam.175
Um dos principais temas de todos os Evangelhos é a rejeição de Jesus por
seu próprio povo. É quase como se a constante rebeldia e incredulidade de
Israel ao longo de sua longa história chegasse a um clímax nesse ponto — o
ponto exato em que o próprio Deus vem a ela como Salvador e Messias.
Jesus sabia muito bem que sua missão se encaminhava para isso; que os
líderes de seu próprio povo o rejeitariam e o entregariam às “nações” (ou
gentios) para ser crucificado.176 Os judeus e as nações podem ter se dividido
por uma muralha de cultura e religião, e por séculos de guerra e hostilidade,
mas estavam unidos nisso — em uma conspiração pecaminosa para matar o
autor da vida. Sobre Jesus, diz Pedro aos judeus reunidos no Pentecostes:
“sendo este entregue pelo determinado desígnio e presciência de Deus, vós o
matastes, crucificando-o por mãos de iníquos”.177
Ao fazê-lo, eles cumpriram o plano eterno de Deus. Ao se unirem para
crucificar Jesus, os judeus e as nações mostraram duramente o problema
fundamental que compartilham — que ambos são cidadãos do “mundo
tenebroso”.178 E na sabedoria espantosa de Deus, este ato extremo de rebelião
e pecado foi de fato o próprio ato que também os uniu na salvação — pois
por meio da morte de Jesus, a barreira entre os judeus e as nações é
derrubada, e ambos são reconciliados “em um só corpo com Deus, por
intermédio da cruz”.179
Assim, quando Jesus convoca os discípulos a ir e “fazer discípulos de
todas as nações”, trata-se de um momento culminante na história da salvação.
O Messias veio, morreu e ressuscitou para ser o Salvador e o Rei não apenas
de Israel, mas de todas as nações — de todas as tribos, clãs e culturas de toda
a terra. Ele está enviando seus “aprendizes” (aqueles que voltaram para ele e
foram perdoados, e se dedicaram inteiramente a aprender seus caminhos)
para fazer outros aprendizes que façam o mesmo.
Em outras palavras, a “comunidade de aprendizes” que Jesus está
edificando agora funciona como o sacerdócio real que Israel sempre foi
destinado a ser. Somos chamados a fim de proclamar: “Vós, porém, sois raça
eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a
fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a
sua maravilhosa luz”.180
O onde fazer discípulos de Cristo deve ser, portanto, não apenas dentro da
comunidade de seu povo, mas em todos os cantos das trevas em que as
pessoas estão presas em rebelião contra o Senhor Cristo ressuscitado — todas
as ruas, todos os bairros, todas as comunidades, todos os povos, toda
subcultura, toda nação. O lugar de fazer discípulos é em todo lugar, desde a
mesa de jantar da família até os proverbiais campos missionários da África
mais profundos e escuros (um lugar, aliás, onde é atualmente mais provável
encontrar um “aprendiz” de Jesus do que nos subúrbios de classe média do
Ocidente “cristão”).
Há uma ironia em tudo isso, para as várias igrejas e cristãos no Ocidente
que veem “fazer discípulos” ou “missões” como algo que ocorre em algum
outro lugar, no exterior, entre “as nações”. A ironia, claro, é que nós somos as
nações. Nós, ocidentais pagãos não-judeus, somos as mesmas pessoas que os
primeiros discípulos foram enviados para discipular. Nós somos o povo
“distante”, que de acordo com Paulo em Efésios são “estranhos às alianças da
promessa, não tendo esperança e sem Deus no mundo”.181 E o simpático casal
vizinho, que nos cumprimenta e recolhe nossas correspondências quando
estamos fora — é tão parte das “nações que vivem nas trevas” quanto nós
éramos, e com a mesma necessidade de ouvir o evangelho de Cristo e ser
incorporado no grande ajuntamento global de aprendizes que Deus está
reunindo em Cristo.

NOSSA MENTALIDADE DE GUETO


A maioria das igrejas luta para olhar além de suas portas e dos limites de sua
comunidade, para os vizinhos, povos, subculturas e comunidades que estão
ao redor deles necessitando de Cristo. Tendemos a adotar um tipo de
clubismo, uma satisfação confortável conosco mesmos, nossos próprios
amigos e comunidade. E achamos difícil mudar e nos voltarmos para fora
para alcançar pessoas que são diferentes de nós, que não fazem parte de nossa
família étnica ou cultural, de quem podemos não gostar ou não perceber nada
em comum.
Isso não é novidade. De fato, os apóstolos e outros dos primeiros
discípulos lutaram vigorosamente com as implicações da missão universal de
Jesus de fazer discípulos das nações. Sua missão pode ter sido o clímax dos
planos históricos de Deus, e pode ter sido a consequência inevitável do
reinado global de Jesus, o Messias; mas isso não significa que o
etnocentrismo judaico dos apóstolos se desfez da noite para o dia. A primeira
metade do livro de Atos narra a crescente compreensão de que levar o
evangelho às nações significava levá-lo a pessoas que até então eram
consideradas além do aceitável — como pagãos e gentios em cujas casas eles
sequer entrariam.
A visita de Pedro à casa de Cornélio em Atos 10 nos mostra a revolução
que teve de ocorrer no pensamento e nas atitudes de Pedro em relação às
nações. Este é o mesmo Pedro que esteve com Jesus na montanha e ouviu a
Grande Comissão, que esteve com ele no cenáculo e ouviu que “em seu nome
se pregasse arrependimento para remissão de pecados a todas as nações”182 e
que recebeu o Espírito Santo para ser testemunha de Jesus até os confins da
terra.183 Ainda assim, Pedro precisa de uma visão repetida três vezes e uma
palavra especial de Deus para persuadi-lo a fazer algo que ele
(provavelmente) nunca fizera em toda a sua vida: “ajuntar-se ou mesmo
aproximar-se de alguém de outra raça”.184
Mas Deus lhe mostrou “que a nenhum homem considerasse comum ou
imundo”; então, Pedro prega o evangelho às nações reunidas na casa de
Cornélio, e o Espírito Santo desce visivelmente sobre eles como mais uma
prova para ele (e para eles) de que a oferta de perdão e nova vida de Deus é
para todos.
Os capítulos seguintes em Atos mostram o despertamento para essa
realidade na comunidade cristã primitiva dominada por judeus — de que
“também aos gentios [às nações] foi por Deus concedido o arrependimento
para vida”.185 Vemos Paulo iniciando a missão às nações, e a igreja de
Jerusalém se esforçando para conformar às implicações da comunhão do
evangelho entre judeus e gentios.
Como gentios (a maioria de nós), podemos ser tentados a menosprezar a
dificuldade dos primeiros crentes judeus em admitir que Deus “não
estabeleceu distinção alguma entre nós e eles, purificando-lhes pela fé o
coração”.186 Certamente eles deveriam ter sido capazes de ver, dizemos a nós
mesmos, que suas leis alimentares e outras tradições precisavam ser
flexibilizadas e não atrapalhar a disseminação do evangelho. Certamente eles
deveriam ter entendido mais rapidamente o que o apóstolo Paulo percebeu
com tanta clareza — que comida, bebida e outros detalhes culturais eram
questões de liberdade em Cristo, e que por causa do evangelho nós
deveríamos fazer-nos tudo para com todos, com o fim de, por todos os
modos, salvar alguns.187
Mas é claro que não devemos nos apressar em julgar. A maioria das
igrejas hoje tem exatamente a mesma dificuldade. Achamos difícil ir até
pessoas que são diferentes de nós e alcançá-las onde elas vivem. Há “casas de
Cornélio” à nossa volta que nunca sonharíamos em visitar ou nos relacionar,
por talvez considerarmos “ilícito”, ou talvez porque simplesmente nos
ameacem e nos façam sentir desconfortáveis.
Também achamos difícil receber pessoas que são diferentes de nós, para
aprender Cristo em nosso meio. Como a igreja de Corinto, teremos (e temos
que ter) convidados e visitantes nas reuniões da nossa igreja, e ainda assim a
maioria de nós resiste em ser flexível nas tradições, práticas e armadilhas
culturais em favor de nossos visitantes. Gostamos das coisas do jeito que elas
são — ou então, queremos que as coisas mudem para que a igreja seja mais
do nosso agrado (seja na música, linguagem, estilo, tamanho, arquitetura ou
qualquer outra coisa).188
Essa convicção — sobre o lugar de fazer discípulos ser todas as nações —
desafia não apenas nossa disposição de nos mudar para povos e culturas que
são diferentes de nós, mas também nossa disposição de transformar nossas
casas e igrejas em lugares acolhedores para povos e culturas que são
diferentes de nós.
Ela nos desafia a erguer os olhos para a visão que tivemos na Convicção 1,
de Apocalipse 7: de uma multidão incontável, de todas as nações, grupos de
pessoas e línguas imagináveis, todos em pé diante do trono de Deus e diante
do Cristo crucificado e ressurreto, com suas vestes lavadas pelo sangue do
Cordeiro, e clamando em comemoração: “Ao nosso Deus, que se assenta no
trono, e ao Cordeiro, pertence a salvação”.189
Onde, portanto, o aprendizado de Cristo acontece? Ele acontece em todas
as facetas e atividades das comunidades de aprendizado transformador que
chamamos de igrejas; e por meio das nossas igrejas, também acontece em
todos os cantos deste mundo tenebroso.

DISCUSSÃO
1) A discussão mais extensa da Bíblia sobre a dinâmica e os propósitos da
igreja se encontra em 1 Coríntios 12–14. Esta se tornou uma passagem
controversa nos últimos 50 anos, por causa dos debates sobre a natureza
do falar em línguas e da profecia. Sem gastar muito tempo nesses detalhes
controversos, leiam esses três capítulos e anotem o seguinte:
a) Quais são as principais metáforas ou imagens sobre a vida da igreja?
b) Quais são as principais marcas que devem caracterizar o que fazemos
quando nos reunimos?
c) Em que aspectos somos todos diferentes?
d) Em que aspectos estamos todos buscando a mesma coisa?
e) Como vocês acham que o capítulo 13 se relaciona com os capítulos 12 e
14? Tentem fazer um resumo de uma frase de cada capítulo, que explique
o argumento básico de toda a seção.
2) Como vocês pensam que é uma “comunidade de aprendizado” na prática?
Pensem em quantas maneiras diferentes puderem imaginar — formal e
informalmente — para que as pessoas ajudem outras a “avançar um passo”
como parte de sua comunidade eclesiástica.
3) Como Paulo lidou com o pensamento e o comportamento etnocêntrico,
tribal e egoísta em si mesmo e nas igrejas? Leiam e reflitam em 1
Coríntios 8–10 e Gálatas 2.
4) Pensem a respeito de cada subcultura ou comunidade com as quais vocês
estão em contato (individualmente ou como igreja):
a) Qual seu sucesso em buscar fazer “aprendizes” de Cristo nessas
comunidades?
b) Se pessoas de algumas dessas comunidades fossem à sua igreja, o que
as ajudaria ou atrapalharia em suas reuniões atuais?
5) Tentem encontrar algumas estatísticas sobre a composição étnica, religiosa
e socioeconômica da sua região.
a) Qual é a semelhança entre a membresia de sua igreja e a composição de
sua comunidade local?
b) Quais subculturas ou tipos de pessoas são de aproximação mais difícil
para os membros da sua igreja, em sua opinião? Por que isso é difícil
para eles?
c) Pensem em alguns membros da igreja que poderiam ter um papel
especial em alcançar subgrupos de sua comunidade — não apenas grupos
étnicos e religiosos, mas pessoas associadas por idade, trabalho,
deficiência, solidão, necessidade financeira, interesse cultural ou
esportivo, e assim por diante. (Não se sintam na obrigação de fazer nada
com essa informação ainda; voltaremos a tudo isso nas Fases 3 e 4.)

ADENDO: O LAR COMO UM CONTEXTO PARA


FAZER DISCÍPULOS
Se os discípulos são feitos na vida da igreja e nas nações, onde o lar se
encaixa?
Para muitas igrejas com uma herança reformada, a reunião de domingo foi
entendida como o ajuntamento de famílias cristãs que “congregaram” toda a
semana. Os cultos familiares ou devocionais foram incorporados ao ritmo
normal da vida familiar piedosa. De fato, que melhor contexto haveria para
“aprender Cristo” do que no dia-a-dia do lar, onde a Bíblia é lida, orações são
feitas e o estilo de vida gracioso do evangelho está visível (ou não) em todos
os altos e baixos da vida familiar?
Conversando com muitos pastores sobre isso, há um consenso de que esse
padrão de discipulado familiar praticamente desapareceu.
Isso é um desastre não só para as famílias, mas também para a igreja e
para a sua missão no mundo.

O LAR DO NOVO TESTAMENTO


Nas Escrituras, a conexão entre igreja e lar é muito próxima.
O lar era um local comum de reunião dos crentes — como nas casas de
Áquila e Priscila em Éfeso,190 Priscila e Áquila em Roma191 e Ninfa em
Laodiceia.192 Os primeiros capítulos de Atos apresentam uma figura da igreja
local em Jerusalém expressando sua vida por meio de reuniões públicas no
templo e reuniões menores em casas. Ambos os aspectos foram essenciais
para a vida da igreja.193
Por quase 300 anos, até que Constantino começasse a construir as
primeiras basílicas em todo o Império Romano, os cristãos se reuniram em
casas particulares, não em edifícios de igreja projetados para o culto público.
O lar era ao mesmo tempo uma comunidade e um local de reunião.
Em um nível, as razões eram pragmáticas e refletiam as condições
socioeconômicas da época. Os primeiros cristãos precisavam de um espaço
para se reunir e as casas familiares antigas forneciam um “lar” característico
para as primeiras comunidades cristãs.
Mas seu significado vai além do pragmático. O antigo lar (grego: oikos)
estava intimamente relacionado com a igreja (grego: ekklesia). Não que eles
fossem equivalentes — descrentes ainda eram membros do oikos —, mas a
igreja estava inserida na sociedade por meio de suas casas. Ir à igreja nestes
primeiros séculos era ir à comunhão da família estendida, mas que havia sido
transformada pelo evangelho.
O evangelho transforma a ordem criada, incluindo o casamento, a família
e todas as relações sociais, como parte da nova criação de Deus em Cristo. O
lar cristão é renovado pela Palavra de Deus, de modo que reflete o amor e a
paz de Cristo em seus relacionamentos interpessoais.
Paulo fala de como é essa renovação na prática, no que se ficou conhecido
como os “códigos do lar”.194 Nestes códigos do lar, vemos o que significa
tudo ser feito “em nome do Senhor Jesus”.195 Como as esposas e maridos se
relacionam em Cristo? Como os pais disciplinam e instruem os filhos no
Senhor? E os relacionamentos que podem existir com servos ou escravos que
trabalham na casa?
No evangelho, onde não há judeu nem grego, homem nem mulher, escravo
nem livre,196 essas relações domésticas não são destruídas ou abolidas, mas
são radicalmente transformadas. As velhas formas de conflito, raiva,
amargura, dominação, aspereza, crueldade, egoísmo e malícia devem ser
mortas, como todas as outras características carnais de nossa vida anterior; e,
em lugar disso, devemos colocar respeito, submissão, disciplina, honra,
serviço, bondade, justiça, perdão, abnegação e, acima de tudo, amor, que liga
tudo em perfeita união.
O lar era a esfera cotidiana básica em que os discípulos aprendiam a
obedecer a todos os mandamentos de Cristo, especialmente seu novo
mandamento de amar uns aos outros.
E esse novo comportamento orientado pelo evangelho e o amor sacrificial
nos lares não passavam despercebidos. Em Tito 2, o comportamento piedoso
das mulheres mais jovens e dos escravos testificava do evangelho.197 No lar
cristão renovado, as extremas divisões sociológicas e étnico-religiosas do
mundo antigo — entre judeus e gentios, livres e escravos, homens e
mulheres, classes alta e baixa — foram derrubadas. O lar cristão não era
apenas o núcleo da igreja, mas fornecia um testemunho forte do aprendizado
transformador de Cristo para a comunidade ao redor.
O lar também era o laboratório em que a liderança cristã era praticada e
vista. A liderança pastoral de um homem no lar cristão era um indicador de
suas qualificações para liderar a casa de Deus (a igreja). Afinal de contas, ao
ir à igreja naqueles primeiros séculos, você entrava na casa de seu
pastor/presbítero e podia ver em primeira mão se ele gostava muito de álcool,
se tinha mão pesada com sua família, ou se seus filhos estavam fora de
controle.
O próprio fato de que bispos, presbíteros e diáconos deviam ser apontados
com base em seu exemplo, liderança e ensino na vida familiar é um forte
indicativo de que cada lar deveria ser conduzido à semelhança de Cristo pela
graça do evangelho.198 Quando os pais (em particular) são exortados a não
provocar seus filhos à ira, mas criá-los no conhecimento do Senhor, eles não
estão apenas seguindo o padrão israelita de ensinar às crianças a Palavra de
Deus,199 mas também reforçando o padrão básico de discipulado na igreja —
de instrução paciente e amorosa na Palavra de Deus.

CONCLUSÃO
Como fazemos discípulos no lar? Por meio dos mesmos quatro Ps, como na
igreja e no mundo. Se pensarmos em nossos lares como “pequenas igrejas” e
as guiarmos desta maneira, diminuímos muito nossa chance de erro.
O puritano Richard Baxter é conhecido por sua missão de catequizar
famílias e recrutar os líderes dos lares como cooperadores no ministério:
Devemos ter um olhar especial sobre as famílias, para que elas estejam bem
ordenadas, e os deveres de cada relação desempenhados. [...] Se formos
negligentes nisso, colocaremos tudo a perder. O que faremos para reformar uma
congregação, se todo o trabalho for lançado apenas sobre nós, e se os chefes das
famílias negligenciam esse dever necessário, pelo qual eles são obrigados a nos
ajudar? Se algum bem for iniciado pelo ministério em qualquer alma, uma família
mundana, descuidada e sem oração provavelmente irá sufocá-lo ou impedi-lo; ao
passo que, se ao menos conseguisse fazer com que os governantes das famílias
cumprissem seus deveres, assumissem o trabalho onde você o deixou e o
ajudassem, quanto bem poderia ser feito! Suplico-lhe, portanto, que, se desejar a
reforma e o bem-estar de seu povo, faça tudo o que puder para promover a religião
familiar [...] Obtenha informações sobre como cada família é ordenada, para saber
como prosseguir em seus esforços para o bem deles. [...]
Você provavelmente não verá qualquer reforma geral, até que obtenha a reforma
da família. Alguma pequena religião pode haver, aqui e ali; mas enquanto estiver
confinada a indivíduos, e não for promovida em famílias, não prosperará, nem
prometerá muito aumento futuro.200
Em termos práticos, isso significa que, ao pensar sobre como vamos
ensinar, motivar, apoiar e preparar todo o nosso pessoal para serem
aprendizes de Cristo que ajudem os outros a aprenderem Cristo, não devemos
excluir a casa como um local-chave para que isso aconteça. Não devemos
limitar nosso pensamento às atividades da igreja e grupos de jovens, por um
lado, e atividades evangelísticas, por outro. O lar é como um elo onde a igreja
e o mundo se encontram. É tanto um local onde um frutífero “ministério dos
4Ps” pode acontecer — entre maridos e esposas, pais e filhos, e a família
estendida — quanto um pequeno bolsão do reino de Cristo, testemunhando às
ruas e bairros do efeito transformador do evangelho.
É claro que, como qualquer aspecto de nossas vidas e igrejas, nossos lares
estão longe de ser perfeitos. De fato, para alguns de nós, ver nossa família
reformada pelo evangelho parece uma esperança perdida. Nossa mais
profunda tristeza é que alguns membros da nossa família estão perdidos na
escuridão sem Cristo. “Pois, como sabes, ó mulher, se salvarás teu marido?
Ou, como sabes, ó marido, se salvarás tua mulher?”201 É exatamente isso: não
sabemos, mesmo quando edificamos nossa vida familiar no evangelho. Para
muitos de nós, o evangelho dividiu nossas famílias como Jesus disse que
aconteceria.202 Sofremos muito com isso, nos culpamos por “errar” de alguma
forma, e imploramos pela misericórdia de Deus em nosso lar fragmentado.
Mas a verdade permanece: se queremos uma cultura da igreja de
aprendizado transformador, nossos lares precisam refletir essa visão, e nossas
famílias precisam ser ensinadas, encorajadas e preparadas para abraçá-la. A
conexão entre fazer discípulos em casa e na igreja é muito próxima. Uma
alimentará a outra.

DISCUSSÃO
1) Que ambições para nossos filhos às vezes estão em desacordo com o
propósito do discipulado?
2) Como serão nossos lares se eles forem comunidades de aprendizado
transformador sobre o evangelho?
3) Como essa imagem se compara ao que eles são agora?
4) Como os programas de nossa igreja podem desenvolver o aprendizado no
lar, em vez de substituí-lo?
5) Como vocês acham que o ensino da Bíblia sobre o lar se aplica ao
fenômeno cada vez mais comum de pessoas solteiras que compartilham
uma casa?
6) Por que muitas vezes nos vemos mais envolvidos no discipulado fora de
casa do que dentro dela?
7) Como a nossa igreja poderia preparar os pais para fazerem seus lares
crescerem como comunidades discipuladoras? Quais são os obstáculos
para que isso seja alcançado?
8) Que hábitos regulares de leitura da Bíblia, oração e comunhão vocês
precisam reafirmar?
Bonhoeffer, Life Together, p. 11-12.
Mt 28.18-19.
Talvez possamos nos solidarizar com a lentidão dos discípulos, porque em algumas etapas de seu ministério no evangelho de
Mateus, Jesus envia os discípulos exclusivamente às “ovelhas perdidas da casa de Israel” (10.6). Mas essas ovelhas perdidas
rejeitam continuamente seu Messias e sofrem o juízo (12.39ss), e em seu lugar as nações são convidadas a participar do reino
(por exemplo, 15.21-28). Em muitos lugares, Mateus antecipa que as pessoas de outras nações devem ser incluídas no reino
(4.15-16; 8.5-13; 10.18; 13.38; 24.14). Esse movimento — dos discípulos enviados a Israel, da rejeição de Israel e da inclusão
de todas as nações — é, em si mesmo, uma figura em miniatura do todo da história da salvação.
Gn 12.1-3; 17.1-8; 22.15-18.
Êxodo 19.1-6 deixa claro que a razão pela qual Deus havia redimido Israel do Egito para ser sua própria possessão preciosa era
para que eles fossem um “reino de sacerdotes” (isto é, para mediar Deus às nações).
Is 49.6.
Mt 12.20-21.
Mt 20.18-19.
At 2.23.
Ef 6.12; veja a seção estendida na Convicção 1 sobre isso.
Ef 2.14-18.
1Pe 2.9.
Ef 2.12-13.
Lc 24.47.
At1.8.
At 10.28.
At 11.18.
At 15.9.
1Co 9.22-23.
Há uma questão substancial à espreita aqui que só podemos mencionar; a saber, o debate entre aqueles que dizem que a igreja
deve sair em missão para as culturas e comunidades ao nosso redor (a abordagem “missional”); e aqueles que tentam criar
reuniões da igreja que sejam atraentes para pessoas de fora (a igreja “atrativa”). Nós não pensamos que seja necessário
escolher entre uma das alternativas! As igrejas devem sempre encontrar maneiras de sair para as comunidades vizinhas com o
evangelho (em vez de esperar que elas venham até nós); mas devemos também conduzir nossas reuniões da igreja de tal
maneira que, se e quando pessoas de fora se juntarem a nós, tenham uma experiência acolhedora, acessível e inteligível, que os
aponte para o Cristo e o evangelho. Dito de outro modo: mesmo que a igreja seja a reunião dos salvos, por ser uma
comunidade moldada pelo evangelho, sempre terá um coração aberto aos perdidos, tanto para sair para o mundo quanto para
acolher curiosos e forasteiros em nossas reuniões. Vamos falar muito mais sobre tudo isso na Fase 4.
Ap 7.10.
1Co 16.19.
Rm 16.3-5.
Cl 4.15.
At 2.46; 5.42; 8.3; 20.20.
As duas principais passagens são Colossenses 3.18-4.1 e Efésios 5.22-6.9, mas veja também Tito 2.1-10 e 1 Pedro 2.13-3.7.
Cl 3.17.
Gl 3.28.
No primeiro caso, porque a Palavra de Deus não era “difamada” (v. 5); no outro, por ornar a “doutrina de Deus, nosso Salvador”
(v. 10).
1Tm 3.1-13; Tt 1.1-9.
Ef 6.1-4; cf. Dt 6.1-9.
Richard Baxter, The Reformed Pastor, 100-102 [edição em português: Manual pastoral de discipulado, 2ª ed. (São Paulo: Cultura
Cristã, 2015)].
1Co 7.16.
Mt 10.34-39.
Resumo
Antes de começarmos a aplicar as convicções recentemente aprofundadas às
nossas próprias vidas e a toda a cultura de nossa igreja, precisamos fazer uma
breve pausa para consolidação e resumo.
Vamos relembrar os pontos principais das cinco convicções e resumi-las
esquematicamente à medida que avançamos.

CONVICÇÃO 1: POR QUE FAZER DISCÍPULOS?


Esta é a razão pela qual queremos fazer mais e mais discípulos de Jesus
Cristo: porque o objetivo de Deus para todo o mundo e toda a história
humana é glorificar seu Filho amado no meio das pessoas que ele resgatou e
transformou.
Deus está agora executando esse plano, resgatando pessoas desse “mundo
tenebroso” para o reino de seu Filho por sua morte e ressurreição — pessoas
que estão sendo transformadas para serem como Jesus, e que agora têm um
lugar seguro e certo junto ao trono de Cristo em uma nova criação na qual o
mal e a morte não mais existem.
Esta é o panorama que explica por que fazer mais discípulos é uma tarefa
tão importante e tão urgente.
Podemos representar desta maneira:
CONVICÇÃO 2: O QUE É UM DISCÍPULO?
Nós então esclarecemos exatamente o que é um discípulo: um pecador
perdoado que está aprendendo Cristo em arrependimento e fé.
Vimos nos Evangelhos que um “aprendiz” (ou “discípulo”) de Cristo é
alguém que reconheceu o estado de perdição e trevas em que vivia sob o
julgamento de Deus, e que se voltou para Cristo em arrependimento e fé
como Senhor, Salvador e Mestre, comprometendo-se totalmente a lhe
obedecer, a aprender a guardar todos os seus mandamentos e a viver
diariamente esse arrependimento e fé pelo resto de sua vida. Esse tipo de
“aprendizado transformador” é, na verdade, outra maneira de descrever a
totalidade da vida cristã.
Vimos como essa mesma estrutura de pensamento segue ao longo do
Novo Testamento, onde “aprender Cristo” significa ouvir a Palavra do
evangelho (do governo salvador de Cristo), responder a essa Palavra com fé
e, assim, passar da morte para a vida em Cristo — com a consequente
urgência de matar o comportamento mundano pecaminoso que resta de sua
vida anterior e, em seu lugar, vestir as novas roupas de Cristo.
Tornar-se um “aprendiz de Cristo” é, ao mesmo tempo, um passo decisivo
e gigantesco de arrependimento ao aceitar a salvação que Deus conquistou
para nós por meio de Cristo (simbolizado pelo batismo) e um compromisso
diário contínuo de viver as implicações e consequências desta grande
salvação que Deus conquistou para nós (simbolizado pelo jugo).
Poderíamos acrescentar um pequeno detalhe ao nosso diagrama para
representar isso — um sinal de “A” (aprendiz) acima da pessoa que foi
transportada das trevas para o reino do Filho, e que agora continua esse
aprendizado transformador em todas as esferas da vida, especialmente na
“comunidade de aprendizado transformador” que chamamos de “igreja”.

CONVICÇÃO 3: COMO SE FAZ UM DISCÍPULO?


Como esse resgate e redenção acontecem? Fazer discípulos é obra de Deus,
alcançada quando a sua Palavra e seu Espírito operam por meio da atividade
dos discípulos cristãos e nos corações daqueles a quem eles falam.
Resumimos essa atividade como a proclamação perseverante da Palavra de
Deus pelo povo de Deus, em prece dependente do Espírito de Deus, também
conhecido como os quatro Ps:
1) Proclamação da Palavra de várias maneiras;
2) Prece dependente do Espírito;
3) Pessoas que são cooperadoras de Deus;
4) Perseverança, passo a passo.
Sugerimos que o objetivo de toda forma de ministério cristão pode ser
resumido simplesmente como uma tentativa de ajudar cada pessoa, onde quer
que esteja, a “avançar um passo” por meio desses quatro Ps — isto é, ouvir o
evangelho e ser resgatado do domínio das trevas para o reino, e então avançar
em direção à maturidade em Cristo em todos os aspectos da vida, pela
constante e perseverante proclamação da Palavra de Deus em oração pelas
pessoas de múltiplas maneiras.
Nosso diagrama agora fica assim:

Aqui está outro pensamento que não abordamos na Convicção 3, mas que irá
ajudá-lo a levar essas ideias adiante nas fases seguintes.
Para pensar com mais clareza sobre os diferentes “lugares” que as pessoas
ocupam nesse espectro de avanço, poderíamos identificar quatro estágios
gerais pelos quais as pessoas passam em seu caminho para “avançar”:
• Algumas pessoas estão muito “distantes” de Cristo e do seu reino; eles
podem nunca ter conhecido ou falado com um cristão. Muitas vezes, a
primeira coisa de que precisam para avançar um passo é conhecer e se
envolver com um cristão.
• Outros conheceram e se envolveram com cristãos ou com o cristianismo
de alguma forma. O próximo passo para eles é ouvir o evangelho; isto é,
ser evangelizado.
• Para aqueles que responderam ao evangelho com fé e arrependimento,
seu próximo passo é estabelecer-se como cristão, criar raízes e começar a
crescer em piedade e semelhança de Cristo (uma “caminhada” que
continuará pelo resto de suas vidas).
• À medida que os cristãos se estabelecem e crescem em amor e
conhecimento, eles se tornarão cada vez mais preocupados não apenas em
avançar mais passos, mas em ajudar os outros a fazer o mesmo, como
puderem. Eles se equiparão para isso por meio de ensino, encorajamento,
treinamento e oração, e serão beneficiados por isso.
Sinta-se à vontade para criar sua própria maneira de resumir essa estrada
que a maioria das pessoas percorre, mas gostamos de usar esses quatro Es
como indicadores úteis para diferentes etapas da jornada: Envolver,
Evangelizar, Estabelecer e Equipar.203
Podemos adicioná-los ao nosso diagrama assim:

CONVICÇÃO 4: QUEM FAZ DISCÍPULOS?


Nessa convicção, aprofundamos a ideia de que estar envolvido nos quatro Ps
é uma alegria e privilégio para todo o povo de Deus. Vimos o ensinamento
bíblico de como Deus, por seu Espírito, abre a boca de todos os discípulos
para falar a Palavra única de Cristo, de formas muito variadas. Concluímos
que falar a Palavra de Deus aos outros para sua salvação e encorajamento é
um componente esperado e necessário da vida cristã normal. E, da mesma
forma, uma cultura saudável de igreja é aquela em que uma ampla variedade
de ministérios da Palavra é exercida por uma proporção cada vez maior de
membros.
Em seguida, analisamos vários exemplos práticos de como isso pode
acontecer e, em algumas das questões, barreiras e inibições que surgem.
Concluímos sugerindo que a pregação expositiva está vitalmente
conectada a esse tipo de “ministério da Palavra exercida por todos os
membros”. Um púlpito expositivo é o ministério fundamental da Palavra que
alimenta, regula, prepara e constrói uma “igreja expositiva”, na qual a Palavra
da Bíblia é ministrada em muitos níveis e muitas formas pela congregação.
Em outras palavras, poderíamos responder à pergunta “Quem faz
discípulos?” da seguinte maneira: Por sua pregação, treinamento e exemplo,
pastores preparam todo cristão para ser um aprendiz de Cristo que ajuda os
outros a aprenderem Cristo.
Ou, para usar nossa linguagem de “avançar um passo”, poderíamos alterar
a síntese na parte inferior de nosso diagrama para refletir esse quadro
integrado da igreja expositiva:
CONVICÇÃO 5: ONDE FAZER DISCÍPULOS?
Nossa convicção final esclareceu que fazer e desenvolver “aprendizes de
Cristo” não é algo que acontece apenas com novos cristãos, em pequenos
grupos ou em aconselhamento individual. É a atividade básica que deve estar
no centro de tudo o que fazemos como igreja — isto é, como uma
comunidade de aprendizado transformador — inclusive e especialmente em
nossas reuniões dominicais. Uma maneira de descrever a igreja dominical é
como um “cenário para fazer discípulos”, no qual procuramos ajudar todos os
presentes a “avançar um passo” por meio da proclamação da Palavra de Deus
em oração.
Também esclarecemos que o lado missionário ou evangelístico de fazer
aprendizes de Cristo não é algo que só acontece fora do país, no tradicional
“trabalho missionário”. O onde de fazer mais aprendizes de Cristo é ao nosso
redor — em nossas famílias, ruas e comunidades, em todos os cantos deste
mundo tenebroso em que as pessoas estão desesperadamente necessitadas do
evangelho salvador de Cristo.
Onde, portanto, o aprendizado de Cristo acontece? Ele acontece em todas
as facetas e atividades das comunidades de aprendizado transformador que
chamamos de igrejas; e através das nossas igrejas, também acontece em
todos os cantos deste mundo tenebroso.

PROJETO
Agora é com vocês. É hora de juntar tudo que foi aprendido ao aprofundar
suas convicções, criando sua própria maneira de expressá-las.
Exercício 1: Escreva um manifesto
A partir do trabalho sobre as cinco convicções, escrevam um resumo do
que vocês acreditam sobre o discipulado e sobre como fazer discípulos.
Vocês podem querer usar nossos cinco títulos ou criar os seus. Vocês podem
querer usar (ou modificar) nosso diagrama para ilustrar seu resumo ou criar
um personalizado.
O que vocês querem expressar é o seu DNA teológico, ou sua visão do
ministério cristão. Não façam muitos subtítulos ou tópicos — a ideia é
escrever um documento curto e prático (com, digamos, não mais que 1000
palavras) que possa funcionar como um resumo direto do que vocês
acreditam e do que os motiva.
Sugerimos que uma pessoa na sua equipe do Projeto Videira fique
responsável por apresentar um primeiro esboço que os outros possam ajustar,
debater e melhorar.204
Exercício 2: Resumir
Após finalizar seu manifesto, tentem resumi-lo em uma declaração
sintética, simples e convincente que funcione e faça sentido para o seu
pessoal. Este não é necessariamente o lema da igreja a ser colocado em uma
placa, ou ser usado em um anúncio de jornal; esta é uma declaração interna
de missão ou propósito que lembre seus membros do que vocês estão
tratando como igreja.
Façam isso em uma frase, se possível. Evitem ideias vagas ou genéricas.
Não tentem fazer algo cativante ou esperto antes de ter certeza do que querem
dizer.
Exercício 3: Preparar uma reunião hipotética para comunicar a visão
aos seus membros
Como uma forma de esclarecer ainda mais suas convicções e como
comunicá-las, desenvolvam os Exercícios 1 e 2, elaborando o rascunho de
uma “reunião de visão” com toda a sua igreja — o conteúdo de uma reunião
especial em que apresentariam a toda a congregação as principais convicções
que servirão de base para seu avanço coletivo.
a) O que seria incluído nessa apresentação?
b) Quais passagens da Bíblia seriam lidas, explicadas ou discutidas?
c) Que ilustrações ou exemplos principais seriam usados?
d) A partir dessas convicções, como vocês convenceriam sua congregação
da necessidade de mudança?
e) Que perguntas vocês antecipariam?
f) O que eles receberiam para ler em casa, para uma discussão mais
profunda?
Revisitaremos este exercício na Fase 4, mas o esboço preparado agora será
muito útil não apenas para cristalizar suas convicções, mas para começar a
pensar em como vocês irão comunicá-las à congregação como um todo.
Utilizaremos essas quatro grandes categorias ou estágios mais tarde nas Fases 3 e 4, tanto para avaliar a cultura atual de nossa
igreja quanto para planejar a mudança. Nós achamos que você pode considerar estas etapas (ou outra versão delas que você
pode elaborar) como uma estrutura mental útil para pensar sobre os diferentes aspectos da cultura de sua igreja. Mas queremos
enfatizar, neste ponto, que elas são apenas isso — uma estrutura útil para pensar, não uma designação bíblica ou um conjunto
de rótulos fixos ou definitivos.
Talvez seja melhor que a pessoa a fazer esse esboço não seja o pastor titular da igreja — a menos que sua equipe esteja
suficientemente confortável para criticar o esboço, mesmo que seja escrito pelo pastor.
Fase 2 | Reformando sua Cultura
pessoal
Reformando sua cultura pessoal
A maioria dos processos de revisão estratégica ou planejamento, incluindo os
realizados pelas igrejas, passam direto por este passo que vamos apresentar.
Eles começam onde começamos: identificando e esclarecendo crenças
básicas, convicções, valores ou propósitos (ou como quiser chamá-los). Em
seguida, passam para como adequar a cultura organizacional a esses valores
ou propósitos. Onde estão os problemas ou obstáculos? O que precisamos
abordar, em que ordem? Onde exatamente queremos ir, e como podemos
chegar lá? E quais são as etapas de ação?
Todas essas questões são importantes e chegaremos à nossa própria versão
delas no devido tempo.
Mas primeiro queremos recomendar que você passe algum tempo em uma
parte do processo que muitas pessoas deixam de lado, e que você também
(suspeitamos) será tentado a pular.
Queremos que você tire algum tempo para reformar sua própria cultura
pessoal. “A maneira como você faz as coisas” é influenciado e moldado pelas
convicções que temos esclarecido? Sua própria cultura pessoal reflete as
convicções que você acabou de aprofundar e endossar?
Vamos desenvolver o que isso pode significar na prática a seguir, mas
primeiro devemos entender por que esse passo é tão vital.
Isso ocorre por dois motivos.
O primeiro segue da natureza das próprias convicções (de como as
exploramos, expusemos e refinamos na Fase 1). “Aprender Cristo” é
aprender não apenas conceitos e conteúdos, mas um modo de ser e viver no
mundo. Nunca é menos que conceitos e conteúdos, mas é necessariamente
mais. O objetivo para os aprendizes (ou “discípulos”) não é apenas conhecer
e lembrar os mandamentos de Cristo, mas guardar ou obedecer aos
mandamentos de Cristo, viver para Cristo e buscar ser como Cristo em cada
palavra e ação.205
Isso faz com que “aprender Cristo” seja mais parecido com aprender a
jogar golfe do que aprender a tabuada. É o tipo de conhecimento que deve ser
vivido e praticado, ou não será realmente aprendido.
Esta é uma das razões pelas quais Paulo insiste com Tito que qualquer
presbítero designado por ele deve ser alguém não apenas de boa doutrina,
mas de bom caráter e estilo de vida: porque se um presbítero não é assim, ele
não compreendeu o significado e importância da “palavra fiel” que lhe foi
confiada.206 Ele seria como um profissional de golfe que leu inúmeros guias
de instrução e assistiu incontáveis vídeos no YouTube, que se veste com as
roupas e conhece os jargões, mas que na verdade é péssimo no golfe. Até que
ele jogue e jogue bem, não faz sentido dizer que ele “aprendeu golfe”, muito
menos que é competente para ensinar a qualquer outra pessoa.
É assim que funciona o conhecimento da verdade em Cristo. Ela é
“segundo a piedade”, como Paulo diz a Tito.207 Tem um modo
correspondente de ação, comportamento, vida e caráter. Deve ser vivido para
ser aprendido de fato. Assim, um presbítero ou supervisor — alguém que está
procurando ajudar os outros a “aprender Cristo” — deve demonstrar por sua
própria vida que ele mesmo “aprendeu Cristo”.
Nossas próprias convicções são de natureza tal que esclarecer o que elas
são é apenas o primeiro passo para acreditar nelas, adotá-las e tomar posse
delas. Nós devemos vivê-las se queremos realmente aprendê-las.
Também devemos vivê-las se queremos ensiná-las a outras pessoas, e esta
é a segunda razão para nos certificarmos de que estamos vivendo nossas
convicções. Não podemos “fazer aprendizes” de Cristo, a menos que
mostremos por nossas vidas o que aprender Cristo significa.
O “aprendizado” cristão é o pacote completo. É mente e coração
transformados sendo trabalhados e vividos diariamente em todas as esferas da
vida. Ensinar este pacote significa não apenas fazer com que as pessoas
aprendam ideias, conhecimento e verdades do evangelho, mas também levá-
las a aprender um modo de vida. Isso envolve necessariamente exemplo e
imitação.
Este é um tema constante nos escritos de Paulo. Ele quer que os cristãos
aprendam seus caminhos e imitem sua vida:
O que também aprendestes, e recebestes, e ouvistes, e vistes em mim, isso praticai;
e o Deus da paz será convosco. (Fp 4.9)
Não vos torneis causa de tropeço nem para judeus, nem para gentios, nem
tampouco para a igreja de Deus, assim como também eu procuro, em tudo, ser
agradável a todos, não buscando o meu próprio interesse, mas o de muitos, para
que sejam salvos. Sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo. (1Co
10.32–11.1)
Ele quer que seus pupilos ministeriais, Timóteo e Tito, também aprendam
com ele e, por sua vez, sejam exemplos para o seu povo:
Tu, porém, tens seguido, de perto, o meu ensino, procedimento, propósito, fé,
longanimidade, amor, perseverança, as minhas perseguições e os meus
sofrimentos, quais me aconteceram em Antioquia, Icônio e Listra, — que variadas
perseguições tenho suportado! De todas, entretanto, me livrou o Senhor. (2Tm
3.10–11)
Ninguém despreze a tua mocidade; pelo contrário, torna-te padrão dos fiéis, na
palavra, no procedimento, no amor, na fé, na pureza. (1Tm 4.12)
Torna-te, pessoalmente, padrão de boas obras. No ensino, mostra integridade,
reverência, linguagem sadia e irrepreensível, para que o adversário seja
envergonhado, não tendo indignidade nenhuma que dizer a nosso respeito. (Tt 2.7–
8)
E ele quer que a cadeia de exemplo e imitação continue, com aqueles que
seguem o modelo de vida piedoso que Paulo lhes ensinou, por sua vez,
servindo como exemplos para os outros:
Irmãos, sede imitadores meus e observai os que andam segundo o modelo que
tendes em nós. (Fp 3.17)
Quanto às mulheres idosas, semelhantemente, que sejam sérias em seu proceder,
não caluniadoras, não escravizadas a muito vinho; sejam mestras do bem, a fim de
instruírem as jovens recém-casadas a amarem ao marido e a seus filhos, a serem
sensatas, honestas, boas donas de casa, bondosas, sujeitas ao marido, para que a
palavra de Deus não seja difamada. (Tt 2.3–5)
Com efeito, vos tornastes imitadores nossos e do Senhor, tendo recebido a palavra,
posto que em meio de muita tribulação, com alegria do Espírito Santo, de sorte que
vos tornastes o modelo para todos os crentes na Macedônia e na Acaia. (1Ts 1.6–7)
Isso se conecta com o que vimos na Fase 1 (Convicção 3) sobre como os
aprendizes aprendem. Acontece por meio da Palavra de Deus, anunciada em
oração, ao longo do tempo, na dependência do Espírito — por meio de e para
o povo distinto de Deus, seus santos. Os que fazem isso são aqueles cujas
vidas foram separadas por Deus para serem diferentes (ou seja, todos os
santos cristãos). E essas vidas distintas fazem parte do pacote de ensino.
Nossas vidas demonstram para outros aprendizes como é “guardar os
mandamentos de Jesus”.
Isso, naturalmente, faz com que a maioria de nós se sinta desconfortável e
despreparado. Nós estamos dolorosamente conscientes de nossos pecados e
fracassos, e de como estamos longe de guardar os mandamentos de Jesus.
Sentimos que nossas vidas são um ciclo constante de fracasso e perdão; de
busca pela santidade e arrependimento quando não conseguimos alcançá-lo.
Como podemos ser bons o suficiente para servir de modelo para os outros?
E, no entanto, este é precisamente o exemplo que devemos dar àqueles que
nos rodeiam; não de alguém que guarda todos os mandamentos de Jesus, pois
ninguém faz ou jamais fará isso (não deste lado da glória). O exemplo que
damos é de alguém que está aprendendo a guardar todos os mandamentos de
Jesus, que procura crescer, progredir, ser transformado e produzir o fruto do
Espírito. Em outras palavras, o exemplo que oferecemos é de alguém que,
pela Palavra e pelo Espírito de Deus, está avançando, um passo de cada vez
— não de alguém que já chegou à consumação celestial da maturidade cristã.
Isso é crítico para todo o processo de mudança cultural.
Se queremos ver uma mudança real na cultura de nossa igreja, precisamos
começar a ver uma mudança real na cultura de nossa própria vida cristã —
não apenas na forma como pensamos e nas convicções que temos, mas
também em como essas convicções são expressas e corporificadas em tudo
que fazemos: na estrutura e norma de nossas vidas, em nossos hábitos, fala,
comportamento, relacionamentos, atividades e prioridades; em todas as partes
que compõem “a maneira como fazemos as coisas”.
A cultura de uma igreja não mudará a menos que uma grande quantidade
de “aprendizes de Cristo” tenha adotado a visão de fazer a si e aos outros
avançarem, um passo de cada vez. Se você é parte de um pequeno grupo de
agentes de mudança que quer iniciar e liderar esse processo de mudança (ou
seja, se você é o tipo de pessoa a quem este livro é direcionado), então agora
é a hora de um autoexame sincero. Você não pode iniciar e liderar um
processo de mudança de cultura se a sua própria cultura pessoal também não
estiver preparada para a mudança.
Isso ocorre porque a mudança que você está propondo e liderando não é
uma mudança de programa, estrutura ou modelo. É fundamentalmente uma
transformação de vidas por Deus por meio de sua Palavra e Espírito. Nosso
propósito não é apresentar uma nova ideia, um novo ângulo ou uma nova
técnica organizacional para nossas igrejas; estamos levando a Palavra de
Deus, juntamente com o seu chamado ao arrependimento e a uma nova vida
em Cristo. E não podemos levar essa Palavra a outros sem que nós mesmos
respondamos a ela, isto é, sem resolutamente desaprender o falso
conhecimento e a vida que ora vivemos, e nos comprometer a “aprender
Cristo”.
Dito de outra forma, o que vocês estão fazendo juntos como equipe do
Projeto Videira (em todo o processo em que estamos envolvidos) é realmente
um protótipo da transformação cultural que vocês eventualmente querem ver
acontecer em toda a sua congregação. Vocês mesmos (como equipe)
precisam ser uma “comunidade de aprendizado transformador”.
Tudo isso é igualmente verdadeiro, é claro, para aqueles que estão
envolvidos na plantação de uma nova igreja (em vez da renovação de uma
igreja existente). Não há quase nada mais valioso para uma nova equipe de
plantação de igrejas do que “tomar posse” e pessoalmente viver a cultura que
você quer que seja a base de sua nova comunidade.
O ponto é bastante claro, e talvez não precise mais ser desenvolvido. Mas
como isso acontece na prática? Como podemos ser propagandas vivas das
convicções que queremos que toda a nossa igreja ou comunidade abrace?
Antes de analisarmos alguns exemplos práticos, sugestões e exercícios,
uma palavra de advertência é necessária. Sempre que um cristão (neste caso,
nós autores) diz a outro cristão (neste caso, você) como deve ser a obediência
ou a maturidade cristã, ou como ela deve ser vivida, ou quais passos práticos
devem ser dados para mostrar que você está de fato vivendo suas convicções,
um dos piores inimigos do cristianismo apura os ouvidos, lambe os lábios e
começa a farejar uma oportunidade.
Esse inimigo é o legalismo, a ideia de que a vida cristã pode ser codificada
em um conjunto de práticas ou regras, cuja execução constitui “obediência”.
Se a prática de nossas convicções pode ser definida em termos de certa
categoria de coisas que devemos fazer, então o legalista que se esconde
dentro de todos nós se levantará e dirá: “logo, se eu simplesmente fizer essas
coisas de uma forma que outras pessoas reconheçam como aceitável, então
estou bem. Demonstrei minha obediência e posso me sentir muito bem
comigo mesmo — diante dos outros e diante de Deus.”.
Então a advertência é a seguinte: ao considerar algumas sugestões práticas
para viver essas convicções, trate-as como apenas isso — sugestões, guias e
ideias que você pode usar enquanto trabalha debaixo da direção de Deus o
que significa viver suas convicções.
Como uma maneira prática de agrupar e descrever essas sugestões, vamos
usar nossa ilustração de fazermos a nós e aos outros avançar. Se vamos
examinar a nós mesmos, arrepender-nos e deixar claro para todos que nós
mesmos estamos procurando progredir como aprendizes de Cristo, em que
áreas e de que maneiras podemos fazê-lo?

1) FAZER A SI MESMO AVANÇAR


Tudo começa conosco e com nosso crescimento pessoal no aprendizado de
Cristo.
Em primeiro lugar, somos uma “comunidade de aprendizado individual”
antes de sermos uma comunidade de aprendizado com outros. Cada um de
nós está diante de nosso Deus como alguém separado para o seu reino e
propósito, com o privilégio de responder a esta graça andando de acordo com
seu próprio chamado.
Se você está lendo este livro e chegou até aqui, há uma probabilidade
razoável de que você já saiba bastante sobre a caminhada cristã. Você pode
ser um pastor de igreja ou obreiro de algum ministério, ou parte de uma
equipe que está procurando conduzir a mudança em sua igreja ou grupo de
comunhão. Seja qual for o seu papel ou estágio na vida, é provável que você
seja considerado um crente razoavelmente maduro.
Como os cristãos maduros devem tratar de seu próprio crescimento em
Cristo? Talvez soe contraintuitivo, mas precisamos responder “com
urgência”, pois este é o exemplo que Paulo nos dá e que devemos estabelecer
para os outros. Vale a pena analisar detidamente esta passagem extraordinária
de Filipenses:
Sim, deveras considero tudo como perda, por causa da sublimidade do
conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; por amor do qual perdi todas as coisas
e as considero como refugo, para ganhar a Cristo e ser achado nele, não tendo
justiça própria, que procede de lei, senão a que é mediante a fé em Cristo, a justiça
que procede de Deus, baseada na fé; para o conhecer, e o poder da sua ressurreição,
e a comunhão dos seus sofrimentos, conformando-me com ele na sua morte; para,
de algum modo, alcançar a ressurreição dentre os mortos. Não que eu o tenha já
recebido ou tenha já obtido a perfeição; mas prossigo para conquistar aquilo para o
que também fui conquistado por Cristo Jesus. Irmãos, quanto a mim, não julgo
havê-lo alcançado; mas uma coisa faço: esquecendo-me das coisas que para trás
ficam e avançando para as que diante de mim estão, prossigo para o alvo, para o
prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus. Todos, pois, que somos
perfeitos, tenhamos este sentimento; e, se, porventura, pensais doutro modo,
também isto Deus vos esclarecerá. Todavia, andemos de acordo com o que já
alcançamos. Irmãos, sede imitadores meus e observai os que andam segundo o
modelo que tendes em nós. (Fp 3.8–17)
Paulo destaca um dos gloriosos paradoxos da vida cristã. Quanto mais
avançamos na estrada, mais ansiamos por acelerar o ritmo. Quanto mais
maduros somos, mais urgentemente vemos a necessidade de deixar para trás
nossa antiga vida, considerar como perda tudo o que antes considerávamos
como ganho, e prosseguirmos para o que está por vir; porque quanto mais
maduros somos em Cristo, mais nitidamente percebemos o contraste entre as
trevas que ainda perduram em nossas vidas e o reino cheio de luz de seu
Filho para o qual ele nos transportou.
Mas como exatamente nós avançamos e continuamos a matar os
remanescentes de nossas vidas antigas?
Nossas convicções nos dizem que o “como” é por meio da Palavra de
Deus, aplicada regular e vigorosamente aos nossos corações pelo Espírito de
Deus, produzindo mente e vida transformadas, passo a passo, ao longo do
tempo.
E por ser um cristão maduro que certamente já passou por isso, sabe
exatamente o que vem a seguir: uma exortação para ler mais sua Bíblia — e
quem poderia argumentar contra isso?
Desta vez, no entanto, gostaríamos de sugerir uma variação desse tema
familiar. Queremos sugerir não que você leia mais sua Bíblia, mas que você
digira interiormente mais sua Bíblia. Esta frase vem de uma das mais belas e
profundas orações do Livro Anglicano de Oração Comum. Ela diz:
Bendito Senhor, que fez as Sagradas Escrituras serem escritas para nosso
aprendizado; concede que as possamos de tal modo ouvir, ler, ponderar, aprender e
digerir interiormente, para que abracemos e mantenhamos para sempre a alegre
esperança da vida eterna, que tu nos tens dado em nosso Salvador Jesus Cristo, que
vive e reina contigo e com o Espírito Santo, Deus único, eternamente. Amém.
Essa oração articula o que já aprendemos sobre o aprendizado: que não se
trata apenas de ouvir ou ler as palavras que Deus fez com que fossem
escritas, mas de ponderar, aprender e digeri-las interiormente.
Esta oração pede que Deus nos conceda uma intensidade crescente de
envolvimento com a Palavra que ele fez com que fosse escrita “para nosso
aprendizado” — não apenas ouvi-la, mas lê-la por nós mesmos; não apenas
lê-la, mas ponderar nela (ou seja, estar atento a ela, nos determos nela);
sermos levados por essa atenção para aprender as Escrituras, conhecê-las
completa e intimamente, para podermos recordar prontamente seus
ensinamentos; e permitir que esse aprendizado penetre em nossas almas e
faça parte de nós, de modo a digerirmos internamente os nutrientes de sua
Palavra.
Se a sua vida cristã é parecida com a nossa, não faltam oportunidades para
ouvir e ler a Palavra de Deus. Na igreja, ouvimos a leitura da Bíblia e a
pregação de um sermão. A maioria de nós frequenta pelo menos outro grupo
na semana em que a Bíblia é aberta, lida e discutida. Muitos de nós a estudam
regularmente com profundidade como preparação para conduzir um estudo
bíblico ou pregação. Podemos ler um livro cristão que expõe e explica a
Palavra de Deus. E há nossa própria leitura pessoal da Bíblia que procuramos
manter (geralmente com alguma dificuldade).
Para a maioria de nós, a deficiência não está em ouvir ou ler, mas em
ponderar, aprender e digerir interiormente. Ouvimos e lemos muita Bíblia,
mas gastamos pouco tempo em oração refletindo sobre isso, permitindo que
ela penetre; relendo e repensando diligentemente aquelas partes que não
entendemos até que Deus nos dê entendimento; ponderando como essa
Palavra se opõe ou afasta o pensamento mundano que atualmente adotamos;
pensando em como essa Palavra em particular fala aos nossos pecados e
nosso caráter; refletindo sobre a esperança que essa Palavra nos traz;
anotando ou memorizando os principais versículos ou noções que queremos
lembrar, e acima de tudo, orando fervorosamente para que Deus molde e
transforme nossas vidas à luz dessa Palavra.
Ouvir, ler, ponderar, aprender e digerir interiormente não tem que ser um
esforço solitário. Cada uma e todas as partes do processo podem ser
praticadas com eficiência em comunhão com outros; afinal, é por isso que
Deus nos deu uns aos outros: para nos ajudar a ouvir, ler, ponderar, aprender
e digerir interiormente.
Mas mesmo com a ajuda e o companheirismo de outros, chega um
momento em que estamos a sós diante de Deus, com nossos próprios
pecados, lutas, vitórias e fracassos. Alguém pode nos levar até à comida,
cozinhá-la para nós e até cortá-la em pedaços pequenos e nos dar de comer,
mas no fim temos que mastigá-la e digeri-la sozinhos, para que ela tenha
algum valor nutricional para nós.
Alguns dos puritanos chamavam essa prática de permitir que a palavra da
Escritura penetre profundamente em nossos corações de “meditação divina”.
Para eles, era uma parte vital da vida espiritual. Como Thomas White afirma:
“É melhor ouvir apenas um sermão e meditar nele, do que ouvir dois sermões
e não meditar em nenhum”.208
Se podemos dar uma sugestão prática para avançarmos em nossa própria
aprendizagem pessoal de Cristo, seria esta: para cada hora que você passa
ouvindo e lendo a Palavra de Deus, passe uma hora em oração, aprendendo e
digerindo-a internamente.
Por exemplo, na segunda-feira, não leia uma nova passagem da Escritura.
Use suas anotações do sermão do dia anterior (seja você ouvinte ou
pregador!). Leia a passagem mais algumas vezes; detenha-se sobre as
palavras e frases principais; medite sobre as mais importantes verdades e
desafios; agradeça por todas aquelas bênçãos e dons de que a passagem o
lembra; ore por tudo que ela o conduz a pedir para sua própria vida e por
aqueles ao seu redor, e assim por diante.
Com o passar do tempo, essa prática de “digestão interior” em oração dará
ricos frutos. De fato, pode ser algo que você gostaria de ver se tornar parte da
cultura de sua igreja. Mas é claro que, para que isso aconteça, deve começar
com você. Se desejamos todos em nossa congregação se alimentando,
digerindo e orando a Palavra de Deus, então não podemos ignorar a
importância de nós mesmos fazermos isso.
Começamos citando uma oração anglicana reformada e devemos concluir
retornando à oração. Oramos para que Deus “nos conceda” esse tipo de
ouvido, mente e coração, sabendo que isso levará a mais oração. Quanto mais
absorvermos e digerirmos a verdade da Palavra de Deus, e quanto mais nossa
confiança e dependência nela forem alimentadas e fortalecidas, mais seremos
movidos a clamar a Deus em intercessão por nossas famílias, nossos
vizinhos, amigos e toda a comunidade de cristãos que temos a bênção de
pertencer. Já dissemos isso e faremos isso novamente a seguir, mas nunca é
demais repetir: não há transformação sem oração. A oração vem antes da
transformação, pois suplicamos que Deus nos mude por seu Espírito; e a
oração segue a transformação, quando verbalizamos e expressamos nossa
crescente confiança em Cristo. Todo o pensamento, avaliação, planejamento
e estratégia que estamos empreendendo em nosso Projeto Videira devem ser
sustentados por oração constante para que Deus faça o que não podemos
planejar nem criar estratégias: a transformação dos corações.

2) FAZENDO OUTROS AVANÇAREM


Nossas convicções nos dizem que a vida cristã normal é um aprendizado
transformador em Cristo — um aprendizado no qual todos procuramos fazer
a nós mesmos e a todos ao nosso redor avançarem, por meio da proclamação
da Palavra de Deus em oração, paciência e dependência do Espírito.
Se queremos viver essa convicção e dar o exemplo, o caminho a seguir é
simples de expressar, mas nem sempre fácil de fazer. Precisamos pensar
sobre as diferentes esferas e contextos de nossas vidas, e nos fazermos duas
perguntas:
• Quem queremos fazer avançar um passo?
• Como faremos isso?
Vamos analisar brevemente os principais contextos e esferas de nossas
vidas e indicar algumas ideias para você pensar em como responder a essas
duas perguntas.
Em um aspecto, você ficará sobrecarregado. Sem dúvida, começará a
pensar em tudo o que poderia ser feito (e tudo o que você atualmente não está
fazendo) para fazer as pessoas avançarem em sua própria vida. Mas não se
desespere nem desista. Você não pode fazer tudo, tampouco Deus espera que
você faça. Mas note onde você poderia gerar reforma e mudança em sua
própria cultura pessoal, e comece por aí.
Quatro principais contextos
Como uma maneira simples de pensar sobre a totalidade de nossas vidas
pessoais, vamos examinar quatro esferas comuns de relacionamento em que a
maioria de nós nos encontramos:
• Nossos lares: Como estamos buscando fazer nossos cônjuges, filhos ou
parentes avançarem por meio da Palavra e oração? Já pensamos em
nossas famílias dessa maneira — como aqueles que, como nós, precisam
aprender Cristo? O que você poderia fazer para inserir regularmente a
leitura e a discussão da Bíblia e a oração no ritmo de sua vida familiar?
Pensando sobre isso de outra forma: o que cada pessoa em sua casa
precisa para “avançar um passo”?
• O mundo: Pense sobre o seu local de trabalho, a escola de seus filhos,
seus vizinhos, seus amigos e conhecidos: com quem você tem contato e
relacionamento regular nessa esfera da vida? Onde estão essas pessoas
em sua jornada para avançar? O que você poderia fazer para levá-los um
passo ou dois adiante, por meio da Palavra e oração?
• Ministério de pequenos grupos: Muitos de nós estão envolvidos em
pequenos grupos de diferentes tipos: grupos de estudo da Bíblia ou
grupos nos lares, ou ministérios para grupos específicos de pessoas (como
para jovens ou para crianças). Pense no seu envolvimento nesses grupos.
Como você está fazendo para fazer as pessoas avançarem nesses
contextos? O que você poderia fazer para ter mais progresso? Por
exemplo, há alguém com quem você possa se reunir para ler a Bíblia em
particular por um período de tempo?209
• Igreja no domingo: O que você poderia fazer para tratar mais o
domingo como um cenário para “aprender Cristo” — seja em sua atitude,
em sua conversa com pessoas antes e depois, na recepção de recém-
chegados e assim por diante?
Na maioria desses contextos ou esferas de ação, você não precisa operar
como um lobo solitário. Ao pensar e falar sobre isso como uma equipe do
Projeto Videira, vocês podem apresentar algumas ideias e ações sugeridas a
serem feitas em conjunto. Por exemplo, vocês podem decidir:
• Fazer algum treinamento em evangelismo juntos, e depois evangelizar
juntos nas ruas ou nas casas;
• Fazer juntos um curso sobre o evangelho para o qual você possa convidar
seus amigos;210
• Trabalhar juntos para receber os recém-chegados na igreja e acompanhá-
los nas semanas após a visita.
Seja o que for, comprometam-se juntos com o aprendizado transformador
pessoal — tornarem-se mais parecidos com Jesus em suas próprias vidas,
amando os outros o suficiente para fazê-los avançarem.

DURAÇÃO DESTA FASE


A próxima fase em nosso processo de mudança de cultura (Fase 3) envolve
analisar honestamente a cultura de nossa igreja ou comunidade e avaliar
como essa cultura se alinha com nossas convicções.
Existe uma tendência natural de querer correr para a próxima parte do
processo, e começar a fazer algum progresso; mas tenha cuidado. Esta
segunda fase, de avaliar nossa própria vida e alinhá-la com nossas
convicções, é um passo vital no processo. Quanto mais ponderada e
detalhadamente olharmos para nós mesmos e procurarmos mudar a nossa
própria cultura, mais bem equipados estaremos para olhar a vida da igreja
como um todo e fazer o mesmo.
Em vez de condenar rapidamente pessoas, programas ou atividades que
não estão à altura de nossas convicções, a experiência de examinar nossas
próprias vidas pode nos fazer pausar. Pode nos ajudar a entender onde, como
e por que nossas convicções são difíceis de serem vividas e colocadas em
prática. Pode nos ajudar a perceber mais claramente quais obstáculos
precisaremos superar para mudar a cultura de nossa igreja.
Em outras palavras, ao buscar gerar mudanças em nossas próprias vidas,
chegaremos ao processo de mudança cultural da igreja não como especialistas
de manual, mas como participantes ativos que enfrentaram pessoalmente
todas as dificuldades e desafios. Estaremos prontos não apenas para liderar
pelo exemplo, mas também mais preparados para entender a natureza da
mudança que estaremos convocando outros a realizar.
Tudo isso é para dizer: não se apresse para a fase 3. Reserve tempo para
que os desafios da Fase 2 tenham seu efeito. Dê a si mesmo tempo para sujar
as mãos, experimentar como é mudar atitudes, expectativas e práticas de sua
própria vida e fazer algum progresso pessoal.
É claro que você também não pode esperar terminar a Fase 2 antes de
começar a Fase 3, porque a Fase 2 nunca terminará. Não é um estágio em que
entramos e logo passamos por ele. É simplesmente colocar em prática a visão
da vida cristã que dizemos ter, e fazer isso continuamente. Como Paulo,
estaremos sempre no processo de esquecer as trevas que estão atrás de nós e
nos esforçarmos para alcançar o prêmio que temos pela frente.
Como guia geral, antes de prosseguir para a Fase 3, sugerimos que você
gaste ao menos o mesmo tempo na Fase 2 que gastou na Fase 1 — ou seja,
passe pelo menos o mesmo tempo na reforma de sua própria cultura pessoal
quanto você passou esclarecendo suas convicções.

DISCUSSÃO E COMPROMISSOS PESSOAIS


1) Fazendo a si mesmo avançar (ou aprendendo Cristo)
Pense nessas questões para avaliar seu progresso como aprendiz de Cristo
e fazer novos planos e compromissos.
a) Quanto tempo passo todos os dias fazendo coisas como ler blogs,
jornais e revistas, usar o Facebook e outras redes sociais e assistir
televisão?
b) Quanto tempo passo por dia lendo e meditando na Palavra de Deus e
orando por mim e pelos outros?
c) Que novos compromissos farei para me envolver diariamente com Deus
em sua Palavra e orar a ele?
d) O que posso fazer para aprender mais com os sermões, tanto na
compreensão quanto na prática?
2) Fazendo outros avançarem (ou ajudando outros a aprenderem Cristo)
Fale sobre as diferentes esferas da vida mencionadas acima:
• O lar
• O mundo
• O grupo
• A igreja
Como seria para você viver e respirar suas convicções em cada um desses
contextos? Elabore uma ação que você deseja realizar em cada esfera para
fazer outros avançarem e, em espírito de oração, comprometa-se a praticá-las
nos próximos meses. Aqui estão algumas ideias e exemplos para estimular
seu pensamento em cada área.
No lar
a) Que novo hábito você poderia criar ou ressuscitar para edificar sua casa
como uma comunidade de “aprendizado de Cristo”?
b) Pense no ritmo diário e semanal de sua família. Quais horários regulares
vocês poderiam utilizar para discussão, leitura da Bíblia e oração? Se não
houver horários regulares (se tudo está um caos total), há alguma
mudança que você precisa fazer para conseguir algum tempo?
c) Pense e ore em favor de cada membro da sua família. Você consegue
pensar em uma questão, verdade ou luta com a qual cada um precise de
ajuda? O que você poderia fazer para ajudá-los a “avançar” nessa área?
No mundo
a) Pense em três amigos descrentes pelos quais você gostaria de orar e
apresentar Cristo. Qual é o próximo passo possível para cada um deles?
b) Pense e ore sobre ler a Bíblia pessoalmente com alguém que queira
conhecer Cristo. Leia Colossenses ou o Evangelho de Marcos211 usando
os métodos sueco ou COMA.212
c) Trabalhe algumas ideias em sua equipe do Projeto Videira sobre como
vocês podem trabalhar em conjunto para alcançar seus amigos e
compartilhar o evangelho (por exemplo, cada um convida um amigo para
um churrasco; em grupo, vocês fazem um curso evangelístico).
No pequeno grupo ou classe
Se levamos a sério a difusão do discipulado em toda a nossa igreja, nossos
pequenos grupos precisarão ser geradores dessa cultura. E não há melhor
lugar para começar do que em um grupo ou classe que você atualmente faça
parte. Como seria mudar a cultura do seu grupo na direção que estamos
discutindo? Você poderia, por exemplo:
• Encontrar-se em particular com um dos cristãos mais jovens ou menos
maduros do grupo para estabelecê-lo na fé e prepará-lo para levar o
evangelho a seus familiares e amigos.
• Começar a aprofundar e esclarecer as convicções do grupo sobre fazer
discípulos.213
• Preparar o grupo com algumas habilidades e experiências básicas de
ministério, usando recursos específicos.214
A vantagem de trabalhar esses tipos de habilidades em pequenos grupos é
que vocês podem praticar juntos e continuar revisando o que aprenderam.
Vocês podem incentivar uns aos outros a usarem o que aprenderam e podem
compartilhar histórias de sucessos e lutas. Os líderes também podem servir de
exemplo do uso dessas habilidades e ferramentas de discipulado. Pensaremos
ainda mais sobre como construir a cultura de discipulado em nossos pequenos
grupos e classes na Fase 4.
Na igreja
Como seria se toda a equipe do Projeto Videira demonstrasse o que
significa ir à igreja para ajudar outros a aprenderem Cristo — isto é, se vocês
começassem a praticar suas convicções a respeito da reunião de domingo,
vendo-a como um cenário para o discipulado?.215
3) Oração em equipe
Enquanto vocês se reúnem durante esta fase do Projeto Videira,
compartilhem e orem sobre seus sucessos e fracassos, e encorajem uns aos
outros a continuarem.
Vocês podem até optar por escrever algumas orações em equipe, com base
nas cinco convicções da Fase 1 e nas ações com as quais se comprometeram.
Essas orações podem incluir confissão e arrependimento por aquilo que vocês
não vivem de suas convicções e, claro, gratidão e louvor pela misericórdia de
Deus e por sua graça em não apenas nos ensinar Cristo, mas também nos usar
para ensinar essa mesma graça a outros.
Veja Cl 3.17.
Tt 1.5-9.
Tt 1.1.
Thomas White, A method and instructions for the art of divine meditation (Londres: Thomas Parkhurst, 1672), 17; citado em
Allan Chapple, True devotion: in search of authentic spirituality (Londres: The Latimer Trust, 2014) loc. 4151.
O excelente livro One-to-one Bible reading, de David Helm, fornece toda a informação e orientação que você precisa para
começar a leitura bíblica em dupla, se nunca tiver feito isso.
Como em: Rico Tice e Barry Cooper, Investigando o Cristianismo (São José dos Campos/SP: Cristã Evangélica, 2012) ou
Dominic Steele, Introducing God, 3ª ed. (Annandale: Media Bible Fellowship, 2013).
Ou tente algo como o livro de Tony Paine, You, me and the and the Bible: a reading guide to the six central ideas of the Bible
(Sydney: Matthias Media, 2014), o qual é um guia em seis partes (com recursos de vídeo opcionais) para ajudá-lo a ler a Bíblia
com um amigo descrente.
N. do E.: Você pode saber mais sobre os métodos citados em David Helm, “Dois métodos de leitura bíblica”, Voltemos ao
Evangelho, 22 ago. 2019, voltemosaoevangelho.com/blog/2019/08/dois-metodos-de-leitura-biblica/.
Por exemplo, trabalhando os livros: Tony Payne, The course of your life (Sydney: Matthias Media, 2011); ou Tony Payne, The
thing is (Sydney, Matthias Media, 2013).
Os seguintes recursos estão disponíveis em matthiasmedia.com: Six steps to loving your church; One-to-one Bible Reading;
Phillip Jensen e Tony Payne, Duas maneiras de viver: a escolha que todos nós enfrentamos, acessado 20 agosto 2019,
www.matthiasmedia.com.au/2wtl/portuguese/.
Para algumas ideias práticas sobre como começar, leiam e discutam Tony Payne, How to walk into church (Sydney: Matthias
Media, 2015); ou trabalhe com o recurso para pequenos grupos Six steps to loving your church, que lida com o mesmo
material.
Fase 3 | Avaliação
honesta e Amorosa
Avaliação honesta e amorosa
Você está satisfeito com o andamento das coisas na igreja?
Essa é uma daquelas perguntas carregadas, que merecem ser respondidas
com um enfático “sim e não”, se isso for possível.
Por um lado, é muita perversidade não estar satisfeito com a nossa igreja.
Como não podemos estar profundamente contentes e alegres com tudo o que
Deus fez para nos resgatar e nos libertar, nos chamar para a reunião de seu
povo, nos desenvolver, edificar e encorajar por meio de nossa comunhão?
Que tipo de gente ingrata e cabeça-dura consegue ser tão rabugenta e
insatisfeita com a igreja? Certamente, deveríamos olhar ao nosso redor para
tanta gente insignificante, vacilante e desajeitada (incluindo nós mesmos) a
quem Deus resgatou para ser seu povo, e nos alegrarmos, de novo, de novo e
de novo.
E, no entanto, alegrar-se com a igreja não exclui uma insatisfação piedosa
com a igreja, assim como nossa gratidão pessoal a Deus pelo perdão não
exclui a insatisfação com o pecado que permanece em nossas vidas. Nossas
igrejas são tão parte deste “mundo tenebroso”! Elas são confusas e
incompetentes, porque são compostas de pessoas confusas e incompetentes.
Se os cristãos são, nas palavras de Lutero, simul justus et peccator (“ao
mesmo tempo justificados e pecadores”), então nossas igrejas são desta
mesma forma: simul fantasticas et frustantes.
Nesse sentido, nossa atitude em relação ao estado atual de nossas igrejas
deve ser muito semelhante à atitude em relação à nossa vida cristã:
profundamente satisfeitos, mas sempre insatisfeitos. Como vimos na Fase 2
(e em Filipenses 3 em particular), a vida cristã é uma história não apenas de
permanecer firmes no que alcançamos em Cristo, mas de avançarmos para o
que está por vir. Ansiamos por crescimento e mudança, oramos por isso e
trabalhamos diligentemente por isso através dos meios que Deus proveu.
Todavia, ao mesmo tempo, devemos estar muito contentes e nos regozijar —
não apenas por Deus nos haver resgatado e redimido e porque tudo já está
feito em Cristo, mas porque ele mesmo está operando por meio de nós com
toda sua poderosa energia. A dupla natureza da vida cristã é também a dupla
natureza do ministério cristão e da vida da igreja.
Esse sentimento de insatisfação piedosa é um bom lugar para começar ao
chegarmos a um estágio vital no Projeto Videira: a fase em que, como nós,
australianos, gostamos de dizer, entramos na sala de espelhos e damos uma
boa olhada em nós mesmos.
Não vamos gastar muito tempo buscando justificar a importância dessa
fase. Deve ser algo consensual: se queremos ter algum progresso significativo
em gerar mudanças e melhorias reais e duradouras para nossa igreja ou
ministério, precisamos chegar a um quadro claro e honesto de onde estamos
partindo. Precisamos entender onde nossas convicções estão sendo vividas,
praticadas e expressas, e onde não estão. Precisamos entender onde estão os
problemas reais, e onde está o potencial real. Sem confrontar honesta e
abertamente os fatos de nossa situação, qualquer plano ou desejo de mudar a
cultura ou de progredir em fazer discípulos será apenas um pensamento
positivo.
Essa avaliação honesta tem um importante benefício colateral. Ela ajuda a
criar um senso de urgência; torna dolorosamente claro para nós que as coisas
não podem permanecer como estão. É como o diagnóstico que o médico nos
dá (que estamos pré-diabéticos ou corremos sério risco de insuficiência
cardíaca), que finalmente nos fornece a motivação para fazer o que sabemos
que deveríamos já estar fazendo (melhorar nossa dieta e fazer mais
exercícios). Um diagnóstico honesto e preciso das ameaças que enfrentamos
pode concentrar a mente maravilhosamente.
Isso pode parecer óbvio, mas não torna as coisas mais fáceis. De fato,
porque esta fase é desafiadora e muitas vezes confrontadora, muitos de nós
somos tentados a passar rapidamente por ela.
Vimos isso com bastante frequência conversando com pastores sobre A
treliça e a videira nos últimos seis anos. Muitos pastores ficaram empolgados
com a restauração da ênfase no trabalho de fazer discípulos ou “trabalho da
videira”, e fizeram o que normalmente fazem em tais circunstâncias —
apenas começaram algo novo. Pode ter sido uma nova ênfase na leitura
bíblica em duplas, um curso de treinamento em ministério pessoal, uma série
de sermões sobre o assunto, ou diversas outras atividades ou ideias. Há algum
entusiasmo inicial, e até alguns resultados positivos dispersos, mas logo
(geralmente dentro de 12 meses), a tentativa de fazer a diferença é absorvida
pela cultura e estrutura existente e pelas ocupações gerais da congregação, e o
pastor se pergunta se algo vai realmente mudar algum dia.
Vale a pena dizer que isso não acontece, porque as igrejas são mais
resistentes à mudança do que outras organizações ou grupos humanos. Isso é
apenas parte de como a maioria dos grupos funciona, especialmente quando
eles já estão fazendo algo juntos há algum tempo. Uma cultura se desenvolve
— uma “maneira de fazer as coisas por aqui” — quando tem seus próprios
contornos e geografia; seus próprios fundamentos históricos e estrutura; seus
próprios hábitos, rituais, tradições, linguagem e tudo o mais.
As igrejas não estão imunes a este fenômeno tão humano. De fato, a
maioria das culturas de igreja compartilha com outras organizações humanas
um alto nível de desconforto com qualquer tipo de questionamento aberto e
honesto da forma como as coisas estão. Isso é algo irônico, porque, de todas
as pessoas, os cristãos deveriam ser os mais abertos a uma reavaliação
construtiva honesta. Afinal, os cristãos acreditam nos inevitáveis efeitos do
pecado e da imperfeição em todas as atividades e grupos (incluindo igrejas);
acreditamos na possibilidade e desejo de crescimento e mudança pelo poder
de Deus, e acreditamos que honestidade e veracidade são virtudes divinas.
Mas é claro que a própria presença do pecado em nosso meio é em si o
principal obstáculo para a autoavaliação aberta, amorosa e honesta e para
uma crítica construtiva. Podemos acreditar teoricamente no valor da
avaliação honesta e aberta, mas ela pode dar errado em várias direções,
dependendo dos pecados específicos a que somos mais suscetíveis.
Podemos nos resguardar e ficar na defensiva, porque nosso valor está
fixado naquilo que fazemos, e não na graça que Deus nos mostrou em Cristo;
podemos ser sarcásticos e excessivamente críticos, porque nos elevamos de
alguma forma ao diminuir os outros; ou podemos encontrar razões para as
coisas continuarem do jeito que estão, porque gostamos delas dessa maneira,
e nosso próprio conforto e satisfação é mais importante para nós do que a
salvação e o crescimento de outras pessoas.
Mas talvez o pecado mais devastador que atrapalha a avaliação amorosa e
honesta seja a bajulação. Queremos que as pessoas se sintam bem consigo
mesmas (e conosco), por isso evitamos críticas e dizemos apenas coisas boas.
Nós exageramos os aspectos positivos e educadamente encobrimos os
negativos.
O livro de Provérbios tem algumas palavras oportunas sobre este assunto:
Melhor é a repreensão franca do que o amor encoberto. (Pv 27.5)
Leais são as feridas feitas pelo que ama, porém os beijos de quem odeia são
enganosos. (Pv 27.6)
O que repreende ao homem achará, depois, mais favor do que aquele que lisonjeia
com a língua. (Pv 28.23)
Naturalmente, ele também adverte sobre o perigo oposto:
Alguém há cuja tagarelice é como pontas de espada, mas a língua dos sábios é
medicina. (Pv 12.18)
A resposta branda desvia o furor, mas a palavra dura suscita a ira. (Pv 15.1)
Quando vamos falar sobre diferentes aspectos da vida da igreja — e nesta
fase falaremos muito sobre isso, e em detalhes — precisamos fazê-lo
comprometidos com uma honestidade piedosa e amorosa. Na verdade, antes
de entrar nos exercícios e atividades de avaliação, certifiquem-se de passar
algum tempo no Exercício de Avaliação 1, que examina algumas passagens
bíblicas sobre amor, honestidade, confiança, como falar uns com os outros e
assim por diante.
Conversem abertamente sobre os desafios deste tipo de avaliação e, em
espírito de oração, comprometam-se juntos a proceder em espírito de
confiança mútua, amor e honestidade.

SOBRE A FASE 3
Esta fase é uma consequência das duas anteriores:
• Na Fase 1, vocês investiram tempo para esclarecer suas convicções sobre
o “aprendizado” e sobre fazer discípulos. Vocês chegaram a uma opinião
comum sobre os propósitos, verdades e valores que todo ministério deve
refletir.
• Na Fase 2, vocês aprofundaram e abraçaram sua compreensão dessas
convicções, vivendo e servindo de modelo delas, reformando sua cultura
pessoal em função deles. Vocês começaram (ou continuaram) a
experimentar como essas convicções acontecem na prática.
Agora, na Fase 3, vocês usarão essas convicções para pesar o estado atual
das coisas em seu grupo, comunidade ou igreja. E para ser eficaz, essa
avaliação precisará olhar a vida da igreja de vários ângulos.
Por exemplo, precisaremos falar sobre pessoas. Se nossas convicções
dizem que o ministério cristão tem a ver com conduzir cada pessoa a
“avançar um passo”, então, para ter uma ideia de onde estamos, precisaremos
pensar onde todo o nosso pessoal está nessa jornada. Precisamos pensar se a
visão de “fazer aprendizes de todas as nações” é compreendida por nosso
pessoal (ou por muitos deles). Teremos que considerar como cada pessoa em
nossa comunidade pode avançar — o que eles precisam “aprender” em
seguida para se tornarem como Jesus?
Também precisaremos avaliar todas as diferentes atividades de ministério
que acontecem semanalmente; ou, dito de outra forma, as várias “treliças”
que temos para facilitar e aperfeiçoar o “trabalho da videira” de fazer cada
pessoa avançar por meio da Palavra e da oração.
Isso incluirá a avaliação de todos os aspectos de nossas reuniões
dominicais, porque (como observamos na Fase 1, Convicção 4) o domingo é
o horário nobre do discipulado. É o momento de referência para fazer
aprendizes de Cristo por meio da proclamação da Palavra de Deus em oração.
Ele dá o tom e ensina e reforça nossas convicções. Mais do que qualquer
outra atividade individual, o culto regular de domingo forma e molda a
cultura de toda a sua vida congregacional. É seu batimento cardíaco. Se o
domingo não está “alinhado” com suas convicções — se não está ensinando,
exemplificando e reforçando o que vocês essencialmente creem sobre o
ministério — então há pouca chance de que haja mudança cultural
significativa.
O objetivo é ter uma visão clara e realista de suas atividades, estruturas,
eventos e programas:
• Quais estão funcionando bem (ou seja, estão bem alinhados com suas
convicções), e devem ser defendidos e aprimorados?
• Quais têm potencial real, mediante algum trabalho?
• Quais atualmente não encarnam suas convicções e não parecem ter muito
potencial de mudança?
• Onde estão as lacunas: aquelas áreas nas quais vocês não estão fazendo
muito e novos programas, estruturas ou atividades podem ser
necessários?
O objetivo desta fase é descoberta, compreensão e clareza. Não é gerar
novas ideias ou soluções (este é o nosso próximo trabalho, na Fase 4). É
muito fácil, no meio da avaliação, pular direto ao que deveríamos fazer a
respeito. Tentem resistir a essa tentação! Pode ser útil ter um arquivo de
ideias ou um “estacionamento” para sugestões e novas ideias que surjam
durante a fase de avaliação — algum lugar para anotar a ideia ou solução
sugerida, para que vocês possam voltar a ela na Fase 4.
Como na maioria dos aspectos do Projeto Videira, os exercícios de
avaliação sugeridos abaixo são mais como um cardápio para escolher uma
comida do que um currículo que precisa ser seguido. Por favor, sintam-se à
vontade para modificá-los como melhor atender às suas circunstâncias e ao
tempo que você tem disponível. Tendo dito isso, nós recomendamos
fortemente que você faça alguma versão dos exercícios 1–4 como um mínimo
antes de resumir suas descobertas e passar para a Fase 4.
Mais duas dicas antes de começar:
• Façam uma gravação de áudio ou vídeo de todo o culto/reunião
dominical da sua igreja. Vocês farão uso disso em uma das avaliações
abaixo. Organize-o agora para que possam fazer essa avaliação quando
estiverem prontos.
• Se vocês estão no processo de plantação de igreja, então não terão que
gastar tanto tempo nesta fase (já que estão tentando estabelecer uma nova
cultura em vez de mudar uma existente). No entanto, sugerimos fazer,
pelo menos, os Exercícios 2 e 4.

EXERCÍCIO DE AVALIAÇÃO 1: PREPARANDO


SEUS CORAÇÕES PARA A AVALIAÇÃO
Antes de começarmos os pormenores da avaliação, precisamos colocar
nossos corações e mentes no lugar certo e falar abertamente sobre as
armadilhas desse tipo de exercício.
1) Comecem estudando as passagens a seguir e anotando qualquer coisa que
aprenderem sobre:
a) Nossas atitudes e motivações do coração ao conversarmos juntos (tanto
as motivações corretas como as que devemos evitar);
b) Como deveríamos realmente falar uns com os outros, isto é, o conteúdo
do que deveríamos dizer e a maneira como deveríamos dizê-lo (mais uma
vez, tanto o que devemos fazer quanto o que não devemos);
c) As consequências dos vários tipos de fala:
Efésios 4.25-5.2
Colossenses 3.12-17
Provérbios 15.1-2
Provérbios 15.4
Provérbios 27.5-6
2) Com essas ideias bíblicas em mente, a quais dos seguintes “pecados de
avaliação” você acha que pode ser mais suscetível? Fale sobre um (ou
dois) que você acha mais arriscado, além de qualquer pensamento que
você tenha sobre como evitar essa armadilha:
a) Ser excessivamente pessimista ou negativo sobre determinados
ministérios ou pessoas;
b) Ser fantasiosamente otimista ou positivo sobre determinados ministérios
ou pessoas;
c) “Marcar pontos” ou fazer palpites (por exemplo: “eu sempre disse que o
Ministério X não funcionaria, mas ninguém me escutou”);
d) Ter alguma satisfação pessoal em apontar as deficiências ou falhas dos
outros;
e) Ficar defensivo ou ressentido com qualquer crítica percebida aos
ministérios e atividades nos quais você está envolvido;
f) Querer evitar tensões e conflitos a todo custo, e por isso não estar
disposto a expressar algo negativo ou uma crítica;
g) Perder-se em detalhes (por exemplo, em todas as razões administrativas
pelas quais o evento de Natal do ano passado foi um desastre);
h) Falar apenas de maneira genérica e não estar disposto a discutir
exemplos concretos e específicos;
i) Outros: ______________
3) Tentem chegar a um resumo de uma frase (como um lema) que será seu
guia ao falar sobre como as coisas estão indo na igreja. Talvez algo nesta
direção:
Ao fazermos essa avaliação, em todas as nossas discussões em conjunto,
buscaremos ser motivados por ___________ em vez de ___________,
falar de uma maneira ___________, evitar ___________ e orar para que o
resultado seja ___________.

EXERCÍCIO DE AVALIAÇÃO 2: ONDE ESTÁ SEU


PESSOAL NO APRENDIZADO DE CRISTO?
O primeiro passo para avaliar a situação atual é pensar em seu povo — cada
pessoa preciosa que Deus atraiu para sua igreja ou comunidade, ou, em
alguns casos, às fronteiras de sua comunidade.
Em um nível, isso é simplesmente porque o ministério são as pessoas.
Fazer aprendizes significa reconhecer que cada indivíduo está em um estágio
diferente de “aprendizado”; significa pensar sobre o que cada pessoa precisa
a seguir para “aprender Cristo” e, mais ainda, sobre o que cada pessoa pode
contribuir para ajudar os outros a aprenderem Cristo.
Mas outra razão pela qual é muito importante pensar cuidadosamente
sobre o seu grupo é que esse será um fator determinante nos planos que vocês
farão (na Fase 4). Não faz sentido propor um grande esquema de crescimento
e mudança no discipulado, se isso não começar com a realidade muitas vezes
confusa de quem as pessoas realmente são, e se não se basear na boa vontade
e no trabalho árduo das pessoas que você realmente tem.
Esse exercício de avaliação envolve, então, pensar em cada pessoa de sua
congregação (sejam membros, frequentadores ocasionais, pessoas ao redor ou
recém-chegados) e fazer o possível para dizer onde vocês pensam que eles
estão em “aprender Cristo”.
Para efeito de exercício, usaremos os quatro estágios amplos que
descrevemos em nosso resumo da Fase 1 (Envolver, Evangelizar,
Estabelecer, Equipar), mas adicionaremos algumas subcategorias:
• Desconhecido: alguém que ninguém da sua equipe do Projeto Videira
conhece o suficiente para poder dizer onde está.
• Envolvido: Não-cristãos que tiveram contato com sua igreja nos últimos
12 meses, seja por meio de um evento ou de relacionamento pessoal com
um de seus membros; pode ser um frequentador ocasional ou mesmo
regular, ou alguém que você conhece, mas que não vem à igreja.
• Evangelizados: Não-cristãos que nos últimos 12 meses ouviram o
evangelho claramente exposto, junto com um chamado ao
arrependimento e à fé.
• Estabelecido — novo: alguém que se tornou cristão nos últimos 12
meses e está se firmando na fé.
• Estabelecido — parado ou lutando: alguém que é cristão há algum
tempo (não é novo convertido), mas que parece estar estagnado
espiritualmente ou realmente lutando contra algo em sua fé; que não
mostra nenhum sinal óbvio de crescimento em entendimento ou piedade
(por exemplo, não demonstra disposição de servir aos outros).
• Estabelecido — em crescimento: alguém que é cristão há algum tempo
e mostra sinais de crescimento contínuo em entendimento e piedade,
incluindo a disposição de servir aos outros de alguma forma (por
exemplo, pode estar envolvido em várias equipes na igreja ou ajudar em
áreas diferentes).
• Equipado — ad hoc: alguém que mostra evidências de ajudar outros
“aprendizes” nos estágios Envolvido, Evangelizado ou Estabelecido a
avançarem um passo por meio da Palavra e oração (seja em uma estrutura
ministerial formal ou informalmente), mas que não recebeu treinamento
específico ou ajuda para fazê-lo.
• Equipado — treinado: alguém que recebeu ou está recebendo
treinamento para ajudar outros “aprendizes” a avançarem por meio da
Palavra e oração (seja em uma estrutura ministerial formal, como um
grupo pequeno, ou informalmente).
1) Imprimam uma lista de todos em sua congregação ou grupo e, então,
façam o melhor possível para encaixar cada um em um desses estágios de
“aprendizado”.
Vocês podem fazer isso com algumas folhas grandes de papel (uma
para cada estágio/categoria) e ir escrevendo os nomes nas folhas. Ou
podem usar uma planilha com os estágios/categorias como colunas (ou
seja, ao longo do topo) e os nomes das pessoas como linhas (ou seja, no
lado esquerdo).
Você verá que algumas pessoas podem ser colocadas em mais de um
estágio; por exemplo, quase todas as pessoas que você pode colocar em
uma das categorias de “Equipado” também estarão em uma das categorias
de “Estabelecido”. Para este exercício, coloque as pessoas na categoria
mais avançada que vocês acham que elas pertencem (ou seja, com as
categorias da esquerda para a direita começando com “desconhecido” e
terminando com “Equipado — treinado”).
Antes de começar, vejam algumas coisas importantes a serem
observadas:
• Esse é necessariamente um exercício impreciso, não apenas porque as
categorias que estamos usando são razoavelmente amplas, mas também
porque há sobreposição, e porque às vezes é simplesmente difícil dizer
onde alguém está enquadrado. Isso não é um problema.
• Ao conversarmos sobre como outras pessoas estão espiritualmente —
mesmo de uma forma geral —, devemos assumir um compromisso
absoluto de evitar fofocas. Nada do que for dito ou discutido deve ser
levado para fora da discussão, e se vocês se perceberem mergulhando em
detalhes impróprios da vida de alguém, interrompam a conversa e sigam
em frente.
• Sejam gerais. Este é um exercício para aferir a temperatura espiritual da
congregação, não para compartilhar curiosidades ou confidências sobre a
vida das pessoas.
• Mantenham-se em espírito de oração. Peçam a Deus que esteja com
vocês pelo seu Espírito ao refletirem sobre o estágio de cada membro da
congregação em sua vida cristã. Se vocês tiverem tempo, orem
brevemente em favor de cada pessoa enquanto avançam na lista.
2) Após passar por todos os nomes, usem algumas das questões a seguir para
refletir sobre o que vocês aprenderam sobre a congregação:
a) Somem todas as pessoas em cada categoria ou etapa, contando cada
pessoa apenas uma vez. O que esses números dizem sobre sua
congregação? Onde estão mais fortes? Onde estão mais fracos? Onde
estão as lacunas?
b) Percorram novamente a lista e obtenham uma estimativa aproximada de
quantas pessoas avançaram pelo menos um estágio nos últimos 12 meses
(por exemplo, de “Evangelizado” para “Estabelecido — novo” ou de
“Estabelecido — crescendo” para “Equipado”).
c) Pensem nessas pessoas que avançaram. Como isso aconteceu? Quais
meios, métodos ou atividades os ajudaram a fazer isso?
d) Onde estão as barreiras ou obstáculos mais significativos para avançar
um passo — em outras palavras, de que categoria (no seu contexto) é
mais difícil para as pessoas saírem?
e) Olhando para aqueles considerados “Estabelecidos — parados ou
lutando”, como é estar nessa categoria em seu contexto local? Quais são
os sinais de estar espiritualmente “parado”? Em que áreas as pessoas
estão realmente lutando?
f) Que porcentagem de pessoas está na categoria “Desconhecido”? Quais
são suas reflexões sobre isso?
g) Há pessoas em qualquer uma das categorias “Equipado” que vocês
pensam também estarem atualmente em “Estabelecido — parado ou
lutando”? Quais problemas podem surgir aqui?
h) Pensando em todo esse exercício, quais são as três lições mais
importantes que vocês aprenderam sobre a composição de sua
congregação?

EXERCÍCIO DE AVALIAÇÃO 3: QUAL A


EFICÁCIA DOS SEUS PROGRAMAS E
ATIVIDADES REGULARES EM FAZER AS
PESSOAS AVANÇAREM?
Este exercício é semelhante ao último, mas agora vocês avaliarão todas as
atividades e programas que executam, de acordo com a eficiência deles de
fazer com que as pessoas avancem por meio da Palavra e oração ao longo do
tempo.
1) Listem todos os seus programas de ministérios regulares (ou “treliças”) no
lado esquerdo de uma página ou planilha — todos os diferentes grupos
pequenos, eventos regulares e ministérios de vários tipos. (Não incluam a
reunião dominical principal de sua igreja neste momento; vamos pensar
sobre isso separadamente em seguida.) Na parte superior, listem as
seguintes categorias como títulos de coluna:
• Envolver (conhecer não-cristãos; começar a conversar sobre questões
espirituais);
• Evangelizar (explicar de fato o evangelho claramente para não-cristãos);
• Estabelecer — novos (ajudar cristãos novos ou jovens a se firmarem na
fé);
• Estabelecer — crescimento (ajudar os cristãos firmados a continuar
crescendo em entendimento e piedade);
• Equipar (ensinar e treinar cristãos para fazer outros avançarem nas
outras três categorias — envolver, evangelizar, estabelecer);
• Notas (uma coluna para anotar quaisquer observações significativas e
perguntas que surgirem em sua discussão sobre este ministério)
Agora, deem a cada atividade ou programa uma classificação de 1
(ineficaz) a 5 (muito eficaz) em qualquer das categorias para as quais elas
forem relevantes.
O que significa “eficaz”? É muito importante ter clareza nisso. O que
queremos dizer com eficaz é o seguinte: uma atividade ou programa é
“eficaz” na medida em que facilita o falar da Palavra de Deus em oração
(de quaisquer formas) tendo como resultado pessoas “avançando”. Em
outras palavras, vocês estão procurando o quanto este ministério apresenta
o que chamamos acima dos quatro Ps — Proclamação, Prece, Pessoas,
Perseverança — e se produz frutos (em pessoas avançando).
A eficácia não é necessariamente demonstrada pelo número de pessoas
que chegam ou por reações positivas à atividade. É uma avaliação sobre
em que grau vocês acham que esse ministério em particular está realmente
alcançando o que suas convicções dizem que vocês querem alcançar.
Este é um exercício em que é preciso estar particularmente
comprometido com uma discussão honesta, sem filtros, mas sem
confrontos. Muitas das questões espirituais que mencionamos na
introdução desta fase (acima) serão particularmente relevantes nesta
discussão. É quase certo que haverá alguma diferença de opinião entre
vocês quanto à “pontuação” que cada ministério ou atividade deve receber.
Reconheçam isso de antemão e façam o melhor para chegar a um
consenso.
2) Depois de terminarem de falar de cada ministério ou atividade, reflitam
sobre o que aprenderam, usando estas perguntas como um guia:
a) Que atividades ou programas são mais eficazes em fazer as pessoas
avançarem?
b) Que atividades ou programas vocês pensam ter mais potencial para
serem mais eficazes com um pouco de trabalho ou foco?
c) Que ministérios são menos eficazes e mais difíceis de aprimorar?
d) Se fosse necessário escolher alguns ministérios ou atividades para
diminuir ou encerrar a fim de liberar tempo e recursos para ministérios
mais eficazes, quais seriam?
e) Qual estágio ou categoria é mais forte? Onde estão mais fracos?
f) Desenhem um gráfico com as cinco categorias como o eixo horizontal e
“esforço–tempo–recursos” como o eixo vertical. Em que áreas mais
esforços e recursos são gastos em toda a congregação? Onde estão as
lacunas? O que a forma desse gráfico mostra sobre seus pontos fortes e
fracos em fazer as pessoas avançarem?
g) Quais são as suas conclusões deste exercício?

EXERCÍCIO DE AVALIAÇÃO 4: QUAL A


EFICÁCIA DE SUAS REUNIÕES DOMINICAIS EM
FAZER OS APRENDIZES DE CRISTO
AVANÇAREM?
Como observamos na Fase 1 (Convicção 4), a principal reunião dominical de
nossa igreja é a referência para todas as nossas convicções sobre fazer
“aprendizes de Cristo”. Em vez de pensar no discipulado como algo que
acontece em quase todos os lugares, exceto aos domingos, nós precisamos
considerar nosso principal ajuntamento como um lugar-chave (se não o lugar-
chave) no qual nosso povo “aprende Cristo” — para onde eles “avançam” por
meio da proclamação da Palavra de Deus em oração no poder do Espírito,
semana após semana.
Como sua reunião de domingo ajuda as pessoas em cada um dos estágios
do crescimento cristão a “avançarem um passo”? Com que eficiência sua
reunião de domingo regularmente comunica e demonstra a visão ou as
convicções da igreja — por exemplo, que vocês estão procurando tornar-se
uma comunidade de “aprendizes de Cristo” ajudando uns aos outros e a todos
os outros a aprenderem a Cristo?
Como forma de fazer essa discussão avançar, ouçam a gravação que
fizeram de um domingo qualquer em sua igreja. Façam anotações sobre cada
um dos tópicos abaixo (Leiam todos eles antes de começar, para estarem
atentos ao que ouvir).
Envolver/evangelizar
1) Havia algum exemplo de jargão, informação ou prática que seriam
confusas ou alienantes para não-cristãos que fossem convidados à igreja, e
que poderiam ter sido formuladas ou apresentadas de uma forma que as
tornasse mais inteligíveis? (Imagine que seu vizinho não-cristão estivesse
sentado ao seu lado na igreja naquele domingo: em algum momento, você
iria querer se inclinar para ele e sussurrar para explicar algo que estava
acontecendo? Houve momentos em que você teria se sentido incomodado
ou envergonhado por ele?).
2) Houve alguma fala de apresentação ou boas-vindas que fizesse os não-
cristãos se sentirem em casa, ou explicasse o que estava acontecendo?
3) Alguma coisa foi dita ou feita durante o encontro que ajudasse um
visitante não-cristão a saber o que poderia fazer a seguir para aprender
mais sobre Cristo?
4) Alguma coisa (por exemplo, testemunhos, notícias, orações, entrevistas,
conteúdo de sermões etc.) demonstrou ou comunicou que sua igreja estava
ativamente comprometida com o envolvimento e a evangelização de não-
cristãos?
5) Vocês conseguem pensar em algo que levaria os visitantes a sentir que a
sua comunidade eclesiástica vive no mundo real do trabalho,
relacionamentos, dor e decepção (e não em algum tipo de paraíso cor-de-
rosa)?
Estabelecer — novos
1) Se cristãos visitassem sua igreja, teria algo sido dito ou feito durante a
reunião para que eles se sentissem bem-vindos e valorizados?
2) Houve algum exemplo de ritual, tradição ou prática que pudesse ser
ininteligível ou confusa para um cristão novo ou jovem, para um visitante
ou recém-chegado?
3) Alguma coisa foi dita ou feita durante a reunião que ajudasse alguém novo
no cristianismo a saber o que poderia fazer a seguir para se tornar parte de
sua comunidade ou crescer como cristão (ou seja, avançar um passo)?
Estabelecer — crescendo
1) Houve algum exemplo de “aprendizado transformador” — da Bíblia sendo
ensinada aberta e claramente para que corações e vidas pudessem ser
mudados pela obra do Espírito de Deus?
2) Quanto tempo no total foi gasto em oração?
3) Que aspectos do encontro deram oportunidade para as pessoas
responderem à Palavra de Deus — em oração, em ações de graças, em
louvor?
4) Que tempo foi dado para que as pessoas refletissem sobre suas vidas para
confessar pecados, buscar perdão e mudar seus caminhos?
Equipar
1) Alguma coisa (por exemplo, testemunhos, notícias, orações, entrevistas
etc.) evidencia ou comunica que é uma alegria e privilégio para todos nós
estarmos envolvidos em “fazer as pessoas avançarem”?
2) Até que ponto o sermão/ensino bíblico ajudou a congregação a aprender a
ler a Bíblia por si mesmos (ou seja, até que ponto o pregador mostrou
como ele havia extraído sua mensagem do texto da Bíblia)?
3) Até que ponto o sermão fez com que os presentes refletissem sobre a
verdade bíblica e como ela se aplica a questões importantes na igreja e no
mundo?
Geral
Considerando toda a reunião da igreja:
1) Um visitante em sua igreja naquele dia sairia com a forte impressão de que
a leitura em oração e o ensino da Bíblia são o seu principal negócio (ou
seja, que vocês confiam na Bíblia como o meio que Deus usa para “fazer
as pessoas avançarem”)? Por que, ou por que não?
2) Você ficaria feliz em ter um amigo não-cristão sentado ao seu lado durante
aquela reunião em particular? Por que, ou por que não?
3) Você ficaria feliz em ter um amigo cristão que estivesse pensando em se
juntar à sua igreja sentado ao seu lado durante a reunião? Por que, ou por
que não?

EXERCÍCIO DE AVALIAÇÃO 5: O QUE


ACONTECEU COM OS RECÉM-CHEGADOS?
A maneira como a igreja trata seus recém-chegados é, com frequência, um
bom teste do foco que vocês têm em conduzir cada pessoa adiante em Cristo.
Repassem juntos, da melhor maneira possível, o caminho ou processo que um
recém-chegado passa ao chegar à sua igreja.
1) Com que eficácia eles são inicialmente recebidos ao entrarem pela
primeira vez?
2) Alguma coisa é feita para obter suas informações de contato para
acompanhamento?
3) O que acontece com os recém-chegados logo após a reunião da igreja?
Eles geralmente ficam mais um pouco para um café? As pessoas
conversam com eles? Como é a experiência deles?
4) Alguma informação é passada aos recém-chegados sobre a sua igreja (um
kit de boas-vindas, um impresso etc.)?
5) Que acompanhamento acontece na semana imediatamente após a visita?
Eles recebem um e-mail, um telefonema, uma visita pessoal?
6) O que um recém-chegado experimenta nos três meses seguintes à sua
primeira visita (supondo que eles retornem)? Alguém procuraria
especificamente por eles ou manteria contato com eles? Existe um
próximo passo claro para eles aprenderem mais ou se tornarem parte das
coisas?

EXERCÍCIO DE AVALIAÇÃO 6: OS NÚMEROS


Os números podem ser um instrumento grosseiro de avaliação. Por conta
própria, eles não contam toda a história. Bons números podem ser um sinal
de saúde espiritual, ou podem indicar que você está liderando um ministério
sem exigências e que quer agradar todo mundo, e que por isso muitas pessoas
gostam dele!
Mesmo assim, refletir sobre os números pode estimular boas conversas
sobre o que estamos fazendo bem ou mal. Se, por exemplo, o número de não-
cristãos convertidos por meio de nosso ministério é muito pequeno, isso pode
ser simplesmente porque Deus não abençoou soberanamente nossos esforços
difusos, cuidadosos e entusiasmados em compartilhar o evangelho. Ou pode
ser que não estamos realmente nos relacionando ou evangelizando muito,
afinal de contas (o que tende a fazer com que poucas pessoas sejam
convertidas!). A questão merece ser analisada.
Frequência semanal
Elaborem uma tabela de frequência média semanal à igreja nos últimos cinco
anos. Se a sua igreja tiver várias reuniões ou divisões (por exemplo, um culto
matinal e um culto vespertino), observem os números de cada um deles, bem
como o total. Reflita sobre o seguinte:
1) Quais são as tendências?
2) Por qual progresso vocês podem agradecer?
3) Se há um declínio nos números, quais fatores vocês acham que
contribuíram para isso?
4) Algumas de suas reuniões/cultos estão indo significativamente melhor que
outras? Em caso afirmativo, o que é possível refletir sobre as possíveis
razões para isso?
5) Se as tendências de os últimos cinco anos continuarem, quais serão os
números daqui a cinco anos?
Conversões
1) Quantos indivíduos podemos nomear que se tornaram cristãos nos últimos
12 meses?
2) Isso é mais ou menos do que nos 12 meses anteriores (pelo que é possível
lembrar)?
3) Quais são suas reflexões sobre isso?
4) Onde e quando o “envolvimento” e a “evangelização” estão ocorrendo em
sua vida congregacional? O que tem sido eficaz ou vale a pena um
investimento? O que tem sido ineficaz e por quê?
Equipar
1) Até onde se sabe, quantas pessoas passaram por alguma forma de
desenvolvimento ou treinamento intencional nos últimos 12 meses que as
preparasse para fazer outras pessoas avançarem, nas seguintes áreas?
a) Compartilhar o evangelho com uma pessoa não-cristã
b) Ler a Bíblia em dupla com outra pessoa
c) Acompanhar um novo cristão para firmá-lo na fé
d) Liderar o estudo bíblico e oração em família
e) Liderar o ministério infantil ou juvenil
f) Liderar um pequeno grupo de estudo bíblico
g) Outros: _____________
2) Quais são suas reflexões sobre tudo isso? Como vocês avaliariam seus
esforços em equipar os cristãos para ministrar aos outros?

EXERCÍCIO DE AVALIAÇÃO 7: OBSTÁCULOS


Qualquer processo de crescimento ou mudança enfrentará obstáculos e
empecilhos, e estes variam de lugar para lugar. Tanto quanto possível, é bom
pensar antecipadamente sobre quais seriam esses obstáculos e fazer planos
para superá-los.
Analise a seguinte lista de obstáculos comuns à mudança e avalie-os de 1
(improvável que seja um problema) até 5 (provavelmente, um grande
problema para nós):
a) Nossos membros têm várias maneiras diferentes de pensar sobre igreja e
ministério. Não estamos unidos em torno de um conjunto comum de
convicções.
b) Muitos de nossos membros são espectadores ou passageiros, e não
participantes ativos.
c) Aqueles de nossos membros que são ativos e que se envolvem, na
maioria das vezes, consideram que seu papel é servir em uma equipe
particular ou em uma função logística — em comitês, organizando
eventos, ajudando com programas etc. Não veem o papel deles como
sendo fazer as pessoas avançarem, um passo de cada vez, por meio da
Palavra e da oração.
d) Muitos de nossos membros não têm amizades ativas ou relacionamento
com não-cristãos.
e) Nossos membros não têm o espírito de sacrifício amoroso que é
necessário para se achegar às pessoas e encorajá-las em direção a Cristo.
Estamos todos um pouco consumidos por nossos próprios problemas e
desafios.
f) Quando olhamos para os membros da nossa igreja, vemos muitos que
estão ansiosos, quebrados e mal conseguem sobreviver na vida e na fé
todos os dias. Como podemos pedir-lhes que pensem em ajudar os
outros a aprenderem a Cristo quando eles mesmos mal se agarram a
Cristo?
g) Nossos membros estão ocupados demais na vida. Há um sentimento de
que envolver todos no ministério (ou seja, em fazer outros avançarem) é
algo que pode funcionar com adolescentes, jovens adultos ou pais de
filhos já crescidos, mas não para pessoas ocupadas como nós.
h) Por causa de nossa demografia particular, muitos dos nossos não se
veem como iniciadores, líderes ou colaboradores em qualquer esfera,
muito menos como pessoas que poderiam ajudar os outros a conhecer
Cristo.
i) Muitos de nossos membros se sentem inadequados em conhecimento e
habilidades para ministrar a outras pessoas.
j) Nossos membros não têm nenhuma expectativa de que Deus irá usá-los
na vida de outra pessoa para ver essa pessoa crescer em Cristo.
k) Nossas comunidades locais são muito complexas e parecem fora de
alcance. Há uma enorme lacuna social e cultural entre os membros da
nossa igreja e os nossos vizinhos. Não sabemos ao certo por onde
começar a nos conectar e interagir com nossa comunidade.
l) Existem algumas personalidades fortes e importantes em nossa igreja
que estão muito dispostas em fazer as coisas continuarem do jeito que
estão. Elas provavelmente se oporão a qualquer esforço para mudar as
coisas.
m) Nossos membros interessados já estão ocupados servindo em vários
ministérios e em equipes para várias tarefas. É difícil ver como eles
poderiam encontrar tempo para qualquer outra coisa (por exemplo,
qualquer novo plano que venhamos a apresentar).
n) O programa de nossa igreja é muito cheio. É difícil encontrar qualquer
espaço (no tempo ou na energia das pessoas) para algo novo ou
diferente.

RESUMO E CONCLUSÃO
Pensem nos vários exercícios de avaliação que vocês fizeram.
1) Como vocês caracterizariam ou resumiriam a cultura de sua igreja?
Tentem chegar a apenas uma ou duas palavras que melhor capturem o tipo
de igreja que vocês são. Não precisa ser com “C”, mas aqui estão alguns
exemplos:
• Igreja confusa (não brigamos um com o outro, mas não temos uma noção
clara de quem somos e do que estamos tentando fazer);
• Igreja conflituosa (existem filosofias de ministérios concorrentes que
disputam proeminência);
• Igreja confortável (sabemos quem somos, gostamos desse jeito e ficamos
felizes em continuar assim);
• Igreja congestionada (muitas pessoas comprometidas fazendo muitas
coisas, mas não vendo muitas pessoas se convertendo ou crescendo);
• Igreja cética (estamos um pouco cansados e desconfiados de novos
programas e modas);
• Igreja consumidora (nossa cultura é construída em função de
proporcionar uma experiência espiritual agradável para aqueles que
chegam);
• Igreja carinhosa (há um caloroso senso pessoal de cuidado um pelo outro,
mas não muitos “passos adiante”);
2) Analisem suas avaliações e tentem apontar três destaques para cada um
dos itens a seguir:
a) Quais são as três áreas ou ministérios dentro de sua igreja que têm mais
potencial (isto é, investindo nelas, seria mais provável gerar mudanças
para toda a cultura da igreja)?
b) Se fosse necessário reduzir ou encerrar três atividades, ministérios ou
programas, quais seriam?
c) Quais são os três principais obstáculos ou bloqueios em potencial que
têm mais chance de se colocar no caminho?
d) Quais são as três principais coisas que vocês gostariam de melhorar em
suas reuniões de domingo?
Fase 4 | Inovar e Implementar
Introdução
Talvez você estivesse impaciente para chegar a essa fase do processo, em que
você realmente faz alguns planos e os põe em prática. Esperamos e
confiamos que o trabalho vital que você realizou nas três primeiras fases
agora dará frutos em alguns planos concretos de mudança. Até agora, nós:
• Esclarecemos as principais convicções que queremos que impulsionem
toda a cultura de nossa igreja (Fase 1);
• Procuramos viver e respirar essas convicções na “cultura pessoal” de
nossas próprias vidas (Fase 2);
• Avaliamos nossa atual cultura ministerial e procuramos entender
exatamente onde ela se alinha ou não com as nossas convicções (Fase 3).
Agora chegamos ao que não receamos admitir ser a fase mais difícil e
desafiadora do processo.
Para nós, certamente foi a mais difícil de escrever. Foi um desafio decidir
o que incluir e o que deixar de fora — há tanta coisa que poderíamos dizer
sob cada seção. Também tivemos que trabalhar duro para tornar nossas
sugestões e conselhos gerais o suficiente para serem amplamente utilizáveis e
aplicáveis em diversos contextos ministeriais, mas também suficientemente
específicos para serem úteis para ajudá-lo a planejar uma mudança
significativa.
Esperamos ter alcançado o equilíbrio certo e pedimos perdão
antecipadamente onde não conseguimos. Nosso objetivo é dar uma ideia de
como na prática uma comunidade de aprendizado transformador pode ser em
todas as suas diferentes facetas — um gosto ou senso das possibilidades tão
diversas que existem para mudar a forma como a sua igreja pensa, fala e age,
de tal forma que uma nova cultura se desenvolve ao longo do tempo.
Também suspeitamos fortemente que esta será a fase mais difícil de
trabalhar para a sua equipe do Projeto Videira, por pelo menos quatro razões.
Em primeiro lugar, esta é a fase em que vocês inevitavelmente irão
incomodar algumas pessoas, porque esta é a fase em que você começa a
realmente mudar coisas — onde você inicia novas coisas, ajusta as existentes
e deixa de fazer outras. Não importa o cuidado, sensibilidade, amor e
consideração com que vocês administrem isso, algumas pessoas terão
sentimentos negativos. É uma parte inescapável da nossa natureza humana
caída. Quando você começa algo novo, algumas pessoas ficam desconfiadas,
resistentes ou céticas. Quando você ajusta ou atualiza algo que já existe,
algumas pessoas vão reclamar que preferiam do jeito que era (que é como se
faz há anos). E quando você para de fazer algo, algumas pessoas que estavam
particularmente envolvidas nesse ministério sofrerão seu fim.
Isso, obviamente, não é razão para desistir do processo de mudança.
Afinal, se vocês deixassem as coisas exatamente como eram, um grupo
diferente de pessoas reclamaria que nada muda e que não estamos indo a
lugar algum. Mas é uma razão para planejar cuidadosamente, de modo a
minimizar a desordem e decepção onde for possível, para trabalhar duro em
trazer todos juntos com vocês enquanto fazem as mudanças, e para orar muito
para que Deus derrame seu amor no coração de seu povo, para que estejam
mais preocupados com os outros do que consigo mesmos. (A propósito, vale
a pena fazer um esforço especial para trazer alguns de seus críticos
construtivos para dentro do grupo. Não é a coisa mais agradável do mundo,
mas uma oposição leal é um grande trunfo para se ter pensamento aguçado,
planos viáveis e, com o tempo, uma ampla adesão.)
Em segundo lugar, esta fase será difícil porque igrejas são complexas.
Planejar como fazer para que todas as diferentes partes da “máquina” da
igreja trabalhem juntas na direção de fazer discípulos é complicado; parece
que há tantas partes móveis! E quando adicionamos a isso o fato de que cada
uma dessas partes é um ser humano complexo, confuso, imprevisível e
pecador (incluindo nós, que estamos fazendo o planejamento), então o
processo se torna ainda mais desafiador. Isso exigirá quantidades
divinamente ministradas de persistência e consideração para elaborar um
plano que dê conta da entidade complexa que é a sua igreja. Ele precisará de
reservas divinamente ministradas de persistência, tolerância e bondade para
tratar todos os membros de sua comunidade como pessoas preciosas e não
apenas peões em seus grandes planos. E vocês precisarão continuar confiando
firmemente em Deus — que ele usará os planos e esforços vacilantes e
imperfeitos das pessoas, até mesmo de pessoas pecaminosas como nós, para
trabalhar seus propósitos surpreendentes.
Em terceiro lugar, esta fase será complicada porque o seu contexto e
situação irão moldar significativamente os seus planos. Estamos escrevendo
em um contexto socioeconômico razoável, portanto nossos exemplos e
histórias tendem a supor instalações adequadas de igrejas em sociedades
relativamente pacíficas, com condições econômicas que permitem que
pastores e equipes recebam salários apropriados e executem planos
estratégicos. Mas sabemos, por falar com os leitores de A treliça e a videira,
que alguns ministram na floresta amazônica, em favelas grandes cidades ou
nas cidades da Europa Oriental, e em muitos outros lugares. Acreditamos que
as convicções bíblicas da Fase 1 e a preparação das Fases 2 e 3 são aplicáveis
em todos os lugares, mas esta próxima fase de elaboração e implementação
de planos será muito moldada pelo seu contexto.
A quarta razão pela qual esta fase será difícil é porque a execução é
sempre difícil. Um corpo significativo de literatura sobre gestão tem sido
construído em torno deste fenômeno muito comum no planejamento
estratégico. A maioria das organizações (sejam empresas, escolas ou igrejas)
considera perfeitamente possível montar um plano estratégico sensato e
coerente para fazer progressos em seus objetivos. Mas segui-lo ao longo do
tempo e colocá-lo de fato em prática? Isso é muito mais difícil.216 É por isso
que tantos documentos de planejamento estratégico estão acumulando poeira
nas gavetas ao redor do mundo.
Isso é algo para se estar antecipadamente ciente e para levar em
consideração em seu planejamento. Não pensem em planos tão grandes,
ambiciosos e elevados, ou estarão se preparando para um fracasso rápido na
execução. Reconheçam que, como em toda reforma de casa, transformar
planos em realidade leva mais tempo, custa mais e é mais cheio de tropeços e
obstáculos do que imaginavam (É por isso que há uma Fase 5 em nosso
processo sugerido — é importante planejar como lidar com obstáculos e
fracassos inevitáveis e manter o ritmo).
Bem, se você ainda está disposto a continuar, vamos mergulhar.
Se você quer ver mudanças culturais significativas ao longo do tempo em
sua igreja ou ministério, precisará gerar e implementar planos significativos
em pelo menos quatro áreas principais:
1) Sua reunião principal (na maioria das igrejas, será o culto dominical) —
para que funcione melhor como a referência da cultura que vocês
desejam criar;
2) O resto da vida da sua igreja (todos os seus programas, ministérios,
grupos e atividades, incluindo a vida familiar de cada membro) — para
que eles forneçam caminhos claros e eficazes para “fazer as pessoas
avançarem”.
3) Seus planos de crescimento em longo prazo — para que vocês se
antecipem e se preparem para o crescimento que (se Deus quiser) seus
planos produzirão.
4) Sua comunicação e linguagem comum — para que uma nova maneira
de pensar e falar sobre discipulado e ministério se torne normal em sua
comunidade.
Nesta fase do Projeto Videira, vocês elaborarão um plano estratégico para
cada uma dessas quatro principais áreas. Depois de trabalhar nelas, poderão
decidir que outros planos são necessários e que não estão incluídos em nosso
processo.217 Não há problema algum nisso, mas essas quatro áreas são as
primeiras por onde começar.
Também é preciso reconhecer que essas quatro áreas principais se
sobrepõem e se interconectam. Por exemplo, o domingo servirá como um
ponto de encontro e uma fonte de vitalidade e direção espiritual para todos os
ministérios, grupos, atividades e programas em toda a vida da igreja. A
comunicação e a linguagem comum serão tão importantes nos pequenos
grupos e outros ministérios quanto no domingo. E os planos de crescimento
de longo prazo se relacionam com o domingo, com outros ministérios e com
a comunicação.
Isto significa que provavelmente não importa muito em que ordem as
quatro áreas serão trabalhadas, porque vocês terão que trabalhar com todas as
quatro e depois voltar e passar por elas novamente — para ver onde seus
vários planos estão se sobrepondo ou estão em conflito, para considerar quais
áreas e ações vocês desejam priorizar, e assim por diante. (Mas note: há
alguma lógica óbvia em pensar sobre linguagem e comunicação depois de ter
estabelecido sua visão, planos e prioridades nas outras áreas de foco.)
Em cada uma das quatro áreas, apresentaremos um espectro de ideias e
sugestões que mostram como suas convicções (Fase 1) podem ser expressas,
incorporadas e reforçadas para criar uma nova cultura na igreja. Em cada
caso, o processo será pensar sobre suas circunstâncias atuais (a partir da
avaliação na Fase 3), e elaborar um plano estratégico simples para gerar
mudanças em cada área, incluindo:
• Um pequeno conjunto de estratégias ou prioridades claramente
articuladas;
• Algumas metas simples, mensuráveis e realistas para essas prioridades;
• Um conjunto de ações para começar a seguir rumo a esses objetivos
(incluindo quem vai fazer, quando, com que recursos/custo).
Vamos colocar a mão na massa.
Para um bom resumo, ver Lawrence G. Hrebiniak, “Execution is the key” in Making strategy work: Leading effective execution
and change (Upper Saddle River: Wharton School Publishing/Pearson Education lnc., 2005), 1–29). Disponível on-line (em
inglês) em http://www.informit.com/articles/article.aspx?p=360437 (acessado em 21 ago. 2019).
Por exemplo, falamos brevemente sobre o lar na Área de Foco 2, mas você pode querer torná-la uma área de foco separada.
Área de foco 1: tornar o domingo uma
referência
Se vamos gerar mudança em “toda a maneira como fazemos as coisas por
aqui”, então precisamos pensar em nossa principal reunião semanal — por
duas razões óbvias.
A primeira é que nossos cultos ou reuniões principais da igreja são
ocasiões de destaque para aprender Cristo. Tocamos neste ponto já na Fase 1
(Convicção 4) — nossas reuniões dominicais não podem ser excluídas do
“onde” fazer aprendizes de Cristo, como frequentemente parece ocorrer na
vida da igreja. De fato, longe de serem excluídas, as ocasiões em que toda a
congregação se reúne são os momentos primários e essenciais em que o povo
de Deus é edificado em seu aprendizado de Cristo por meio da Palavra e do
Espírito de Deus.218 O que quer que aconteça no domingo, ou qualquer coisa
que esperamos alcançar ou fazer no domingo, se não estamos vendo o
“aprendizado transformador” ocorrendo por meio do falar e ensinar da Bíblia
em oração, então algo está errado em algum lugar.
A segunda razão pela qual temos que pensar cuidadosamente sobre o
domingo é que ele define o tom e a direção de tudo o que fazemos como
comunidade na igreja. O domingo é o ponto de encontro, a referência, o
coração — ou qualquer outra metáfora que você queira usar para descrever
esse evento regular que constitui, define e une uma comunidade de pessoas.
O domingo é onde nós somos mais “nós” como igreja — onde nosso caráter,
propósito e “cultura” como congregação são mais claramente expressos. É
onde comunicamos com mais frequência e com mais clareza aquilo que
pretendemos. Se quisermos que toda a cultura da igreja mude da maneira
como temos discutido, então o domingo também deve mudar. A “maneira
como fazemos as coisas” no domingo tem que ensinar, expressar, reforçar e
incorporar as convicções que temos sobre fazer discípulos.
Isso pode soar duro, mas se nossas reuniões de domingo não incorporarem
nossas convicções (se expressarem uma cultura diferente, baseada em
diferentes convicções subjacentes), e se não fizermos nada para resolver isso
(talvez por parecer muito difícil), realisticamente podemos desistir de fazer
qualquer progresso significativo na mudança de cultura em nossa
congregação. Introduzir uma nova ênfase no “aprendizado transformador de
Cristo” ou em “avançar um passo”, mas não fazer nada para expressar,
ensinar e representar isso no domingo, acabará como o experimento mental
que fizemos no início em “Mudando a cultura” — de tentar inserir a teologia
evangélica em uma cultura anglo-católica sem mudar nada no modo como o
culto dominical era realizado. O fracasso é quase certo.
Se quisermos progredir de verdade, nossas reuniões dominicais devem ser
momentos nos quais o “aprendizado transformador” se dá por meio da
Palavra de Deus e da oração, e o lugar onde toda a cultura que queremos
promover é exemplificada, expressa, defendida e propagada. Queremos que
nossas reuniões dominicais sejam momentos nos quais as pessoas
experimentam nossas convicções pela maneira que tudo é dito e feito, e pela
maneira que os membros as vivenciam e respiram. Queremos que um
visitante atencioso venha à igreja por algumas semanas e seja capaz de dizer:
“Eu entendo exatamente do que essas pessoas estão tratando” — com suas
percepções combinando com nossas convicções.
Agora, este é um dos pontos deste livro em que as tradições e culturas
existentes de nossos leitores serão mais diversificadas. Conversando sobre
“treliça e videira” com muitos pastores nos últimos seis anos, encontramos
grande concordância sobre nossas convicções evangélicas sobre ministério e
discipulado entre os batistas reformados e os batistas não-reformados, entre
gente de igrejas congregacionais, tradicionais presbiterianas, bíblicas
independentes, anglicanas ou episcopais, carismáticas reformadas e muito
mais.
Mas, curiosamente, apesar de um alto nível de concordância entre essas
tantas e diversas igrejas, quando se trata da maneira como “fazemos” o
domingo, há uma enorme variedade de práticas e estilos. Cada um de nós tem
uma linguagem, uma ordem na qual fazemos as coisas, um conjunto de
rituais e tradições, um estilo musical, um código de vestimenta, um clima.
Em alguns casos, essa cultura dominical só foi estabelecida nos últimos dez
ou quinze anos; em outros casos, remonta há séculos. Mas, em quase todos os
casos, para a maioria de nós e para a congregação, parece que sempre foi
assim.
Gostaríamos de sugerir que, seja a sua cultura dominical algo mais formal
e com as formas litúrgicas clássicas da Reforma, seja ela com um clima mais
moderno e evangélico mais informal, há muita coisa que você pode fazer para
fazer a cultura da reunião dominical avançar — para torná-la uma referência
do aprendizado transformador. Conforme apresentamos uma série de
sugestões e ideias para fazer isso (a seguir), confiamos que você saberá fazer
a “tradução cultural” para aplicá-las à sua própria situação.
Também confiamos que as ideias que reunimos serão tratadas como
sabedoria e não como lei. Queremos estimular o seu pensamento e dar a você
o benefício de nossos mais de sessenta anos somados de pensamento,
aprendizado e experiência na tentativa de construir culturas de discipulado.
Mas estamos bastante conscientes do quanto ainda temos que aprender com
os outros, quão limitada é a nossa compreensão humana finita das
complexidades da vida e do ministério, e como Deus maravilhosamente
concede dons a outras pessoas (incluindo aquelas na sua equipe do Projeto
Videira).
O plano para esta primeira área de foco é olhar para cada estágio amplo de
pessoas avançando como aprendizes de Cristo (Envolver, Evangelizar,
Estabelecer, Equipar),219 e pensar em como os domingos poderiam facilitar
esse movimento e servir de modelo de todo o processo para a congregação.
Trataremos de:
1) Envolver-se com descrentes no domingo
2) Evangelizar no domingo
3) Estabelecer no domingo
4) Equipar no domingo
5) Equipar para o domingo
6) Histórias sobre o domingo
Depois, passaremos algum tempo planejando como tornar o domingo uma
referência.
1) ENVOLVER-SE COM DESCRENTES NO
DOMINGO
Como é a experiência para alguém totalmente de fora da igreja comparecer às
suas reuniões de domingo? Estamos falando de um não-cristão que foi
convidado por um de seus membros, ou que simplesmente acaba de entrar —
alguém no extremo inicial do nosso espectro de “avanço”, que sabe
pouquíssimo sobre Cristo, igreja ou cristianismo.
Seu culto de domingo os envolve? É compreensível e acessível para eles?
Eles se sentem bem-vindos e considerados?
É bem possível “fazer” a igreja de uma maneira aberta, acolhedora e
acessível ao de fora, sem alterar os propósitos e atividades básicos de nossa
reunião, empobrecer o nível do conteúdo ou reduzir o número de atividades
espirituais importantes com as quais pessoas de fora talvez não estejam
familiarizadas (como a oração).
Ao dizer isso, não pretendemos nos aventurar no mundo da “igreja seeker-
sensitive”220 — isto é, uma reunião dominical como a que foi muito popular
nos anos 80 e 90, em que todo o culto é construído em função de ser
interessante ao visitante não-cristão, com um ambiente acolhedor e atraente,
uma mensagem prática, levemente bíblica e um convite para descobrir
mais.221 Estamos simplesmente sugerindo que podemos “fazer” igreja de uma
maneira que não seja incompreensível e embaraçosa para quem é de fora.
É como receber um convidado em sua casa para o jantar de Natal. Isso
geralmente acontece em nossa parte do mundo. Se há alguém na igreja que
não tem família com quem compartilhar o Natal, você o convida a se juntar à
sua família para passar o Natal. Ao fazer isso, porém, você não muda quem
vocês são ou o que sua família faz de nenhuma maneira significativa. Mas se
certifica de que seu convidado está sendo cuidado. Você o recebe
calorosamente e o apresenta a todos. Você explica o que está acontecendo em
diferentes momentos: por que o tio Fred sempre tem de se sentar naquela
cadeira, qual é o histórico de seus jogos ou rituais familiares, como jogar e
assim por diante. Você se dispõe para fazer com que seu hóspede se sinta em
casa e parte da família, mesmo que não seja a casa ou a família dele.
Assim também na igreja — pessoas de fora não fazem parte da nossa
família da igreja. Não deixamos de ser quem somos, ou de buscar os
propósitos de Deus, apenas porque temos convidados presentes. Mas damos
as boas-vindas aos nossos convidados, que, como os de fora em 1 Coríntios
14, aparecem e (se Deus quiser) passam a conhecer e adorar o Deus vivo em
nosso meio.222
Como já observamos,223 não há duas palavras de Deus, uma para os
descrentes e outra para os crentes. O evangelho de Cristo que salva é o
mesmo evangelho de Cristo que nos amadurece e nos transforma. Então,
outra maneira de fazer a pergunta é esta: a Palavra de Cristo é proclamada em
oração no domingo na igreja de uma maneira que seja acessível e
compreensível tanto para os crentes como para os descrentes?
Há inúmeras pequenas coisas que podemos fazer para que um estranho se
sinta acolhido e bem-vindo, em vez de confuso ou desconfortável:
• Mencione-os durante a reunião — por exemplo: “Se é sua primeira vez
conosco hoje, e especialmente se você é novo na igreja ou no
cristianismo, estamos muito felizes em tê-lo conosco. Sempre temos
visitantes aqui na igreja, incluindo pessoas que estão em todos os estágios
diferentes de relacionamento com Deus — é ótimo ter você conosco.”.
Naturalmente, a maneira como vocês fazem isso irá variar de acordo com
o tamanho de sua igreja e as normas da cultura ao seu redor.
• Dê pequenas explicações que sirvam para orientar os de fora sobre o que
está acontecendo — por exemplo: “Vamos ler a Bíblia juntos agora,
porque é onde Deus fala conosco. A passagem que vamos ler está em
João, capítulo 1. Você a encontrará na página 756 das Bíblias da
igreja.”224
• Esteja ciente de que os visitantes geralmente ouvem com muita atenção
nossos avisos ou anúncios. O que anunciamos e como anunciamos pode
ter um grande impacto sobre o que uma pessoa de fora pensa que estamos
fazendo e sobre como ela se sente em nosso meio. Nossos avisos
anunciam não apenas os eventos específicos, mas o tipo de comunidade
que somos, o que achamos importante e assim por diante.
• Pregue como se pessoas de fora estivessem presentes. Ao introduzir um
tópico ou aplicar uma verdade bíblica, presuma que alguns ouvintes não
são cristãos e envolva-os apropriadamente. Faça uma pausa para explicar
termos conforme avança. (Falaremos mais a seguir sobre a pregação aos
crentes e descrentes no mesmo sermão.)
• Evite piadas internas e atividades embaraçosas — isto é, aquelas com as
quais os cristãos podem estar acostumados ou toleram, mas com as quais
alguém de fora pode se envergonhar. (Um exemplo da nossa parte do
mundo: não cantem uma canção infantil e exijam que todos os adultos se
levantem e façam ações bobas.)
• Ofereça um próximo passo para os de fora — maneiras de descobrir
mais, oportunidades de ler a Bíblia com alguém, uma reunião ou evento
especialmente para novatos e assim por diante.
Se você quiser medir quão amigável ou envolvente sua igreja é para
pessoas de fora, uma forma simples é convidar um amigo para ir à igreja com
você, e ver como vão as coisas ao longo do culto. De repente, você notará
todas as coisas, pequenas e grandes, que são estranhas, embaraçosas ou
alienantes para o seu amigo, porque ele estará sentado bem ao seu lado.
(Claro que você também deve perguntar ao seu amigo o que ele notou).
Outro exercício interessante é visitar um contexto cultural diferente e ver
qual é a sensação. Não estamos necessariamente recomendando isso, mas
alguém que conhecemos uma vez levou um grupo de líderes de sua igreja até
o TAB local (que é uma casa de apostas australiana), para eles
experimentarem o que era ser um completo forasteiro. Este era um lugar em
que nenhum desses homens estivera antes, e foi uma experiência instrutiva.
Eles estavam vestidos de forma muito diferente de todos os outros. Eles não
sabiam onde ficar ou para onde olhar. Eles tentaram descobrir o que fazer
seguindo os sinais e imitando os caras parados, mas acharam difícil. E
quando eles finalmente foram fazer apostas, sentiram-se envergonhados e
totalmente deslocados.
Esta é a sensação da igreja para muitos de fora.
Se fizermos da igreja um lugar que seja amistoso, acolhedor e envolvente
para um não-cristão de fora — isto é, se conduzirmos nossas reuniões da
igreja na expectativa de que não-cristãos estejam lá — então enviamos uma
mensagem poderosa para todos os presentes. Comunicamos aos visitantes
que eles são muito bem-vindos, mas também comunicamos constantemente
aos nossos membros que a igreja é um bom lugar para convidar seus
vizinhos e amigos não-cristãos.
Como tudo nesta seção, isso também tem a ver com “equipar”. Se
quisermos que nossos membros convidem pessoas de fora para a igreja e que
sejam calorosos e acolhedores quando eles estiverem lá, precisamos pensar
em como ajudá-los a aprender a fazer isso. Parte de “fazer avançar” no
domingo está em direcionar a própria congregação para frente, para que eles
entendam e estejam preparados para se envolver com os recém-chegados.
(Voltaremos a isso adiante, em “Equipar para o domingo”.)
Tendo dito tudo isso sobre tornar a igreja tão acolhedora e acessível
quanto possível para os de fora, nosso objetivo não é remover o “fator de
estranheza” da igreja para os descrentes. Visitantes incrédulos ainda acharão
estranhos alguns aspectos de nossas reuniões. Alguns ficarão completamente
surpresos com o canto congregacional; alguns nunca se sentaram por 30
minutos para ouvir qualquer coisa parecida com um sermão antes em suas
vidas; outros acharão estranho todos nós inclinarmos nossas cabeças,
fecharmos nossos olhos e orarmos. Mas ainda faremos essas coisas, porque
elas são parte do aprendizado de Cristo. Nosso objetivo não é remover tudo
que possa ser incomum, estranho ou fora da experiência do visitante
descrente; caso contrário, não faria muito sentido eles aparecerem!
Em outras palavras, nunca deixaremos de ser distintamente cristãos e fazer
o que fazemos. Apenas tentaremos facilitar o máximo possível para alguém
de fora estar lá, “olhar para dentro” do que está acontecendo e ficar intrigado
e afetado (pela graça de Deus) o suficiente para querer voltar.
Discussão
1) Qual consideram ser a atitude de seus membros em relação a convidar
um amigo ou parente não-cristão para ir à igreja?
2) Quais elementos da reunião da sua igreja vocês classificariam como:
a) Confuso ou incompreensível para alguém de fora?
b) Embaraçoso para alguém de fora?
c) Acolhedor e amigável para alguém de fora?
d) Envolvente e relevante para alguém de fora?
3) Se vocês fossem fazer apenas três mudanças na reunião da igreja para
torná-la mais atraente para alguém de fora, quais seriam elas?
4) Se um incrédulo viesse à sua igreja em qualquer domingo, o que ele
concluiria sobre o que significa ser um “aprendiz de Cristo” a partir
coisas que vocês fazem juntos? Além do conteúdo do sermão, o que os
diferentes aspectos da reunião comunicariam a eles sobre o que vocês
acreditam?

2) EVANGELIZAR NO DOMINGO
Seu culto dominical é um lugar onde os visitantes não-cristãos ouvem o
evangelho?
Em certo sentido, há uma sequência natural de pensar em envolver pessoas
de fora para considerar se ou como podemos evangelizar essas pessoas que
vêm a nossas reuniões de domingo. E podemos dizer que é claro que o
domingo deveria ser um evento do evangelho e que a morte e ressurreição de
Jesus certamente devem ser proclamadas.
Mas, novamente, alguns de nós podem se sentir um pouco desconfortáveis
com isso. O culto de domingo não é primariamente um tempo para o culto
corporativo, ou para a edificação e o fortalecimento dos santos? Se o
domingo é para evangelismo, quando os santos são nutridos com alimento
sólido?
Historicamente, algumas igrejas têm refletido sua visão da relação entre a
igreja dominical e o evangelismo tendo dois cultos no domingo: o culto de
“adoração” da manhã e o culto “evangelístico” da noite.225
Em nossa opinião, isso separa coisas que Deus não separou: a saber, a
poderosa palavra do evangelho e a edificação da igreja. A igreja é certamente
a reunião do povo redimido de Deus ao redor do seu Senhor, a fim de ouvir
sua Palavra e responder a ele em arrependimento, fé, gratidão e louvor. Mas
se a Palavra que ouvimos e respondemos na igreja não está constantemente
exaltando Cristo, e voltando nossos olhos para ele como Salvador e Senhor,
então não é a Bíblia que está sendo pregada — porque o evangelho de Cristo
é a mensagem central e a chave para toda a Escritura. Ele é aquele a quem
todo o Antigo Testamento aguarda, e sobre o qual todo o Novo Testamento é
obcecado.
O cristianismo não tem duas mensagens, uma para o de fora e outra para o
de dentro. A palavra do evangelho que traz alguém à igreja é a mesma
palavra que o edifica na igreja.226 E quanto mais esta palavra edificar,
santificar e amadurecer uma congregação de crentes, mais eles estarão com
suas mentes voltadas para o evangelho. Phillip Jensen coloca assim:
Uma igreja edificada será santa, santificada e diferente do mundo, tendo membros
que sejam como Cristo no caráter e na vida. Tais membros estarão todos
comprometidos com a salvação da humanidade, pois esta foi a própria missão do
Cristo (1Tm 1.15). Um santo ajuntamento de pessoas, não comprometido com o
evangelismo mundial, não é santo, pois seus membros não são como Cristo.227
Talvez possamos dizer que, embora o objetivo principal ou foco do culto
dominical não seja “evangelismo” (isto é, a apresentação do evangelho a
pessoas não-cristãs), o culto dominical ainda deve ter uma dimensão ou
mentalidade evangelística. Ele recomendará a Cristo tanto para o crente como
para o descrente.
Várias consequências decorrem de uma falta de mentalidade evangelística
no domingo:
• Você terá dificuldades para criar uma “cultura” evangelística na
congregação se não houver consciência ou forma evangelística em suas
reuniões dominicais. O evangelismo se tornará um elemento extra em seu
programa, em vez de algo intrínseco à sua comunidade. O domingo
define o tom. Se o tom tiver uma forma evangelística, você estará
constantemente comunicando as verdades da Convicção 5 à congregação
— que todos estão presos neste “mundo tenebroso” e precisam
desesperadamente ouvir a verdade do evangelho.
• Tal como acontece com “envolver” (acima), se não houver uma
dimensão evangelística na igreja (e especialmente na pregação), então os
membros da congregação não levarão seus amigos não-cristãos à igreja
para ouvir a Palavra de Deus. Por outro lado, sempre que você prega
como se não-cristãos estivessem presentes, passa a mensagem muito clara
de que a igreja é um lugar para o qual você pode convidar seus amigos.
• Obviamente, se não houver conteúdo evangelístico nas reuniões de sua
igreja, então os não-cristãos que entrarem, e os frequentadores nominais
ou não-convertidos que estão em todas as igrejas, não ouvirão o
evangelho para serem salvos.
O que significa, em termos práticos, o culto dominical ter um tom
evangelístico? Isso significa pelo menos quatro coisas.
a) Pregar com uma mentalidade evangelística
Pregar evangelisticamente não significa inserir um esboço do evangelho
como Duas maneiras de viver em toda mensagem, ou terminar cada sermão
com um chamado ao altar. Em termos simples, isso significa pregar o
evangelho ensinando a Bíblia — porque a Bíblia é um livro evangelístico. Ela
constantemente aponta para a pessoa e obra de Cristo, e nos chama a nos
arrepender e colocar nossa fé nele. Phillip Jensen, um dos grandes expoentes
modernos desse tipo de pregação, sugere que a pregação evangelisticamente
pensada tem os seguintes elementos:
• Ela mostra ao ouvinte que o que está sendo dito vem da Bíblia, que está
sendo lida como qualquer outro texto é lido;
• Ela explica o significado de palavras e conceitos bíblicos em linguagem
comum;
• Ela explica as doutrinas fundamentais do evangelho conforme surgem da
passagem (ou servem como fundo necessário para a passagem): criação,
pecado, julgamento, expiação, ressurreição, glória;
• Ela localiza a mensagem da passagem na história do evangelho conforme
ela se desenrola por toda a Bíblia, chegando ao clímax com Jesus Cristo
— isto é, ela prega o aspecto do evangelho que está naquela passagem
(teologia bíblica);
• Ela mostra como a verdade da passagem confere sentido para o mundo;
• Ela desafia humilde e graciosamente as atuais hipóteses ou cosmovisões
alternativas que não conseguem explicar a realidade, com a expectativa
de que as pessoas que adotam essas visões estejam muito provavelmente
presentes (em outras palavras, evita falar em termos de “nós” contra
“eles”, o que faz com que os “eles”, que por acaso estejam presentes, se
sintam decididamente indesejados);
• Ela aplica o evangelho às circunstâncias reais da vida das pessoas (isso
recomenda o evangelho a crentes e descrentes, mostrando que o
evangelho, aplicado nessa área específica, é uma boa notícia);
• Ela chama a uma resposta ao evangelho em obediência, arrependimento e
fé (ou seja, prega para transformação);
• Ela afirma clara e inequivocamente a verdade de Deus centrada no
evangelho que vem da passagem, e aborda as maneiras pelas quais nossos
corações resistem a esta mensagem.228
Esta é uma receita para tornar cada sermão em algo que recomenda o
evangelho tanto para o crente como para o descrente.
Em outras palavras, queremos que os descrentes saiam da igreja pensando:
“Essas pessoas enfrentam as mesmas questões e problemas que eu, e se
envolvem com a Bíblia de uma maneira real e honesta. Não parece uma
fachada religiosa. Eu ainda não tenho certeza do que é verdade, mas gostaria
de continuar aprendendo sobre o que eles estão falando. Não me sinto tratado
como uma criança ou como um alienígena.”.
Naturalmente, algumas passagens da Bíblia e épocas do ano se prestam a
ser mais específica ou intencionalmente evangelísticas do que outras.
Aproveite esses momentos — por exemplo, deixe a congregação saber com
antecedência que os sermões nas próximas duas semanas serão
particularmente bons para trazer um convidado não-cristão. Porém, quanto
mais a congregação esperar que todos os domingos sejam um tempo em que
as pessoas não-cristãs sejam bem-vindas, consideradas e escutem o
evangelho, maiores serão as chances de aproveitarem essas oportunidades
especiais.
b) Contar histórias que mostram o evangelho em ação
A maioria das igrejas consegue encontrar alguma maneira apropriada para
o contexto em que os membros da congregação possam testemunhar do poder
da Palavra e do Espírito de Deus em suas vidas. Isso pode ser na forma do
clássico “testemunho” ou em uma breve entrevista. Pode relacionar-se com
um acontecimento ou tema específico; pode ser um relato de como o
evangelho age em um determinado ministério ou atividade que a igreja
realiza.
Qualquer forma que assuma, histórias regulares sobre o poder cotidiano do
evangelho transmitem mensagens poderosas e encorajamento — tanto para
crentes como para descrentes.
c) O testemunho pessoal dos membros da congregação
É claro que nem tudo que acontece na igreja acontece formalmente ou em
público. Conversas que acontecem antes e especialmente depois da reunião
têm um grande potencial para evangelismo. Um visitante não-cristão ou um
participante regular ou não-cristão provavelmente não procurará o pregador
depois do culto para falar mais sobre os efeitos de sua mensagem. Mas eles
estão sentados ao lado de alguém com quem essa conversa poderia facilmente
acontecer — se esse membro da congregação estiver pronto, disposto e
capacitado para ter a conversa.
Isso novamente tem a ver com “equipar”, e vamos falar sobre isso a
seguir.. Uma das principais maneiras pelas quais podemos trazer uma postura
ou mentalidade evangelística para nossas reuniões de domingo é ensinar,
treinar e preparar nossos membros para ter essa predisposição e saber como
colocá-la em prática de maneira simples e viável.
d) A forma do que é feito
Nós falamos acima sobre como “a maneira como fazemos as coisas”
comunica algo, tanto aos crentes quanto aos descrentes. Isso inclui como
estruturamos os diferentes elementos do culto, o que tradicionalmente
chamamos de “liturgia”. Sem querer elogiar qualquer forma ou ordem
particular de culto na igreja, nem entrar em debates sobre formalidade e
informalidade, recomendamos uma pausa para considerar o que a forma ou
“trajetória” da reunião de sua igreja comunica — porque ela comunicará algo,
mesmo que esse “algo” não tenha sido pensado.
A ordem na qual as coisas são feitas, e como esses diferentes elementos
são unidos, podem comunicar as verdades do evangelho de forma muito
poderosa — ainda mais porque acontece em um nível sutil, semana a semana.
Por exemplo, em algumas ordens de culto reformadas clássicas, há um
movimento partindo do reconhecimento ou confissão de pecado, para
garantia de salvação, para uma resposta de louvor e ação de graças, para a
audição da Palavra (leitura e sermão), que leva novamente a uma resposta de
oração e arrependimento. Este é apenas um exemplo de uma forma para o que
está acontecendo que, por si só, recomenda o evangelho ao crente e ao
descrente.
Discussão
1) Que aspectos da sua reunião dominical ou cultura possuem um tom
evangelístico? Qual destes vocês acham que têm potencial para ser
desenvolvido ou aperfeiçoado? Como?
2) Pensem em algumas ideias novas para tornar suas reuniões de domingo
mais evangelísticas.
3) Ao abordar a área de pregação com uma mentalidade evangelística,
vocês terão que discutir a qualidade da pregação em sua igreja. Falar
sobre isso na equipe do Projeto Videira pode ser um assunto delicado ou
desconfortável — supondo que o pastor provavelmente faça parte da
equipe. Talvez possamos todos concordar que não importa como o seu
pastor pregue (e sem dúvida ele é excelente!), sempre há espaço para
feedback e aperfeiçoamento.
Dito isso, desenvolvam um programa ou método para trabalhar
coletivamente como uma equipe a fim de aperfeiçoar esse aspecto da
pregação. Por exemplo: por um mês, vocês podem se revezar como o
“visitante não-cristão” designado por um domingo e ouvir o sermão
especificamente com ouvidos não-cristãos, anotando:
a) Conceitos ou ilustrações que se conectavam com você e faziam
sentido para alguém “de fora”, assim como elementos que não faziam
sentido (por exemplo, jargões, conceitos não explicados);
b) Áreas ou aspectos nos quais (como um “não-cristão”) você percebeu
que a mensagem se aplicava à sua vida ou à sua cosmovisão;
c) Aspectos da mensagem que você achou intrigantes ou atraentes como
um não-cristão, bem como aspectos que você pode ter achado
desnecessariamente ofensivos ou desconcertantes;
d) Aspectos da mensagem que desafiaram suas opiniões ou chamaram
ao arrependimento como um não-cristão.
Passem esse feedback para o pastor, que irá conferir e informar ao grupo
sobre algumas coisas que ele gostaria de melhorar em sua pregação. (E
depois orem juntos pelo pastor e descubram como fornecer um feedback
contínuo de uma maneira útil.)
4) O conteúdo das orações em suas reuniões dominicais convence alguém
de que vocês são um grupo de pessoas que desejam ver os perdidos
conhecerem a Cristo? Como seria possível melhorar nesta área?

3) ESTABELECER NO DOMINGO
Uma maneira de descrever o que está acontecendo ao nos reunimos no
domingo é perceber que Jesus está edificando sua igreja — que ele está
presente conosco para falar sua Palavra nutritiva, vivificante, e movendo
nossos corações para responder a ele pelo seu Espírito. Dizendo de outra
forma, um dos propósitos de Deus para o domingo é o aprendizado
transformador.229 Nos reunimos na presença de Deus para sermos ensinados e
edificados a fim de que possamos crescer até a maturidade em Cristo (esta é a
parte de “estabelecer” do espectro do crescimento).
Em nossa observação, a maioria das igrejas tem muito o que melhorar no
“aprendizado transformador” como parte intrínseca de sua cultura dominical.
Vamos analisar alguns exemplos de como podemos criar esse tipo de cultura
de “aprendizado de Cristo” no domingo.
a) Pregar para que haja aprendizado transformador
“Sermõezinhos criam cristãozinhos”, diz um velho ditado. Se quisermos
que nosso povo continue avançando passo a passo, os sermões precisam
instigá-los e incentivá-los a avançar. A pregação transformadora mergulha na
Palavra, desdobra e explica sua mensagem de maneira clara e convincente, e
aplica o desafio do evangelho de cada passagem aos corações, mentes e vidas
dos ouvintes.
Isso não significa de modo algum que a pregação deva ser acadêmica,
impenetrável e carregada de citações de comentários sobre o significado do
grego. Isso geralmente não promove o aprendizado! Mas isso significa que
nós abertamente tratamos o sermão como o ponto alto da reunião; como um
momento de engajamento sério e importante com a Palavra de Deus; como o
tempo em que todos nos sentamos juntos em torno da Palavra de Deus,
procurando ouvir, ler, considerar, aprender e digeri-la internamente.
A pregação é um assunto extenso demais para discutir adequadamente
aqui.230 Vamos apresentar apenas cinco breves apontamentos e sugestões:
• Pense em cada sermão como um exercício para ajudar as pessoas a
“avançar um passo”, para progredir em sua compreensão e obediência.
Quando as pessoas ouvem você (o pregador) expor a ideia principal da
passagem bíblica, de onde elas estão partindo (ou seja, qual é o problema,
dilema, questão ou pecado que a passagem aborda, e que provavelmente
forma sua introdução)? Aonde você quer levá-los (ou seja, qual é o novo
entendimento ou verdade que leva a um novo modo de vida ensinado pela
passagem)? E como você vai levá-los até lá (usando os principais pontos
da passagem para passar da introdução para a conclusão)?
• Use quaisquer técnicas pedagógicas ao seu alcance para ajudar seus
ouvintes a aprender e entender (ilustração, repetição, diagramas, esboços,
variação no andamento e assim por diante).231 Lembre-se: o resultado que
você procura não é apenas apresentar a mensagem bíblica; é fazer com
que seus ouvintes aprendam uma verdade que mudará suas vidas.
• Como pregador, continue sendo exemplo em sua própria determinação
para crescer e seguir adiante em Cristo. Sem fazer o sermão ser sobre
você (!), compartilhe de vez em quando como a passagem desafiou sua
vida, como ela mudou sua mente ou ensinou algo novo sobre Deus e seus
caminhos.
• Pense no sermão como parte de um processo de aprendizado em vez de
um evento isolado. Divulgue a passagem a ser pregada com antecedência;
dê oportunidades para as pessoas lerem e pensarem sobre a passagem
antes do domingo (por exemplo, algumas perguntas para reflexão pessoal
ou um estudo bíblico que pequenos grupos possam fazer com
antecedência). Crie a expectativa de que nos reunimos para aprender
dessa parte da Palavra de Deus. Da mesma forma, pense em maneiras de
prosseguir após o sermão; forneça alguns desafios ou perguntas de
reflexão para as pessoas ponderarem e orarem na segunda-feira de
manhã, ou em seus pequenos grupos durante a semana seguinte.
• Considere ter um momento de perguntas após o sermão. Algumas igrejas
fazem isso diretamente após o sermão, com uma oportunidade para a
congregação fazer perguntas, fazer comentários e assim por diante.
Outras igrejas fazem esse tipo de momento de perguntas com o pastor
depois que a reunião principal foi concluída. De qualquer maneira, pode
ser extremamente útil, ao permitir que o pregador esclareça ou reforce os
pontos que ele propôs e elucide os mal-entendidos. Porém, também muda
o tom e a expectativa do que está acontecendo: estamos juntos na igreja
para aprender com a Palavra de Deus, para continuar pensando,
perguntando e esclarecendo até entendermos e aprendermos. O pregador
expôs e explicou a Palavra, mas é a Palavra que possui verdadeira
autoridade e poder — e o pregador também está debaixo dela. Os
momentos de perguntas podem fazer uma mudança pequena, mas útil, na
“cultura de aprendizado” do domingo.
b) Escuta ativa em oração
Aprender é obviamente uma experiência de mão dupla. Podemos
incentivar e colaborar para que o domingo seja um momento de aprendizado
estimulando e ajudando a congregação a ser ouvintes e aprendizes ativos. Por
exemplo:
• Como mencionado acima, se a passagem for conhecida de antemão, e
houver uma expectativa de ler e refletir sobre ela com antecedência, os
membros da congregação chegarão mais pensativos para o sermão e com
expectativas sobre o que eles podem aprender.
• Pode ser útil distribuir esboços impressos do sermão a fim de que os
ouvintes possam ver a direção para aonde a exposição está indo, fazer
anotações, elaborar desafios e aplicações — não apenas para ajudar no
aprendizado e na memória, mas para servir como material para “digestão
interna” posterior e oração. Tomar notas pode ser útil para promover a
escuta e a aprendizagem ativas.
• Ouvir é uma atividade espiritual — “Vede, pois, como ouvis”, disse
Jesus.232 O tipo certo de audição é algo que pode ser aprendido e que
devemos ensinar e encorajar. Falamos de uma audição com
arrependimento e coração aberto, com atenção e perspicácia, oração e
humildade, e que se envolve com quem fala (em contato visual, ao
menos).233
c) Ensino mútuo e encorajamento
Se queremos criar uma cultura na qual todos nós somos aprendizes de
Cristo que buscam ajudar outros aprendizes a aprender, então o domingo tem
que ser um tempo em que praticamos e exemplificamos essa convicção. Se a
única pessoa que tem algum ministério da Palavra no domingo é o pastor,
enviamos uma mensagem completamente errada.
Há duas maneiras principais de promover e exemplificar um amplo
ministério mútuo da Palavra aos domingos:
• Em primeiro lugar, podemos encontrar formas dentro da estrutura da
reunião para os membros da congregação testemunharem e encorajarem a
congregação. Em uma igreja em que estávamos envolvidos, isso se
chamava “momento 14.26” — por causa de 1 Coríntios 14.26 — e
variava de semana para semana. Pode ser um breve testemunho sobre
uma lição que alguém aprendeu com a Palavra, ou como o evangelho
capacitou alguém a lidar com o sofrimento e a dificuldade, ou como se
tornou cristão. Pode ser uma breve entrevista sobre algum ministério da
Palavra em que um membro da congregação está envolvido, ou uma
história sobre como Deus respondeu suas orações congregacionais. Pode
ser uma breve reflexão por um membro piedoso e maduro da
congregação após o sermão sobre como a mensagem o desafiou ou
ensinou. Tudo isso precisa ser feito de maneira pensada e ordenada,234 e
geralmente com alguma preparação. Contudo, quanto mais esse tipo de
contribuição edificante dos membros da congregação se tornar parte de
sua cultura normal, mais espontânea ela poderá ser. (Na igreja de Colin,
agora até os homens estão começando a tomar coragem e dizer alguma
coisa!)
• Em segundo lugar, podemos incentivar e preparar nossos membros para
ver o domingo como um lugar para conversa e encorajamento mútuos em
torno da Palavra de Deus. Mais uma vez, falaremos mais sobre isso
adiante (em “Equipar para o domingo”), mas devemos chegar a um ponto
em que os membros venham no domingo com uma expectativa em oração
de que Deus os usará em conversas encorajadoras e baseadas na Palavra
— seja com visitantes e recém-chegados, ou com os membros regulares.
O horário nobre para isso geralmente é no café após o horário “formal”
da igreja, seja conversando sobre as principais lições ou questões do
sermão, ou sobre o que está acontecendo em nossas vidas e famílias, ou
sobre o que lemos na Bíblia durante a semana passada. Estes podem ser
breves momentos de encorajamento ou conversas mais longas que se
desdobram em discussões e orações durante a semana. O fator chave é a
nossa expectativa de que Deus nos use para ajudar uns aos outros dessa
maneira, e nossas orações para que ele abra nossas bocas para falar e
aproveitar as oportunidades que surgem.
d) Oração arrependida e responsiva
Em muitas igrejas evangélicas contemporâneas que visitamos, a oração
corporativa substancial praticamente desapareceu. Há 30 minutos de música,
30 minutos de mensagem, vários anúncios, promoções e entrevistas, itens
musicais e, claro, a realização do ofertório — mas parece que a única hora
que podemos dedicar à oração é uma petição curta e superficial quando a
reunião começa ou quando o sermão termina. Isso é surpreendente quando se
pensa a respeito, e diz muito sobre o que achamos que estamos fazendo
quando nos reunimos como povo de Deus.
A oração é fundamental para a vida cristã e para a vida da igreja, porque é
a linguagem da fé. A oração é a dependência verbalizada de Deus.235 Além
disso, nossas convicções nos dizem que o aprendizado transformador só
acontece quando o Espírito de Deus aplica soberanamente a Palavra de Deus
aos corações humanos. Devemos, portanto, depender constantemente de Deus
em oração para que ele faça isso pelo seu Espírito em nossas reuniões de
domingo. Essas convicções devem moldar nossas orações congregacionais.
Por exemplo:
• A tradição em algumas igrejas de orar preces prontas de confissão de
pecado, se bem realizadas, pode ser muito útil. Enquadra nossa audição
da Palavra com uma atitude de arrependimento e anseio — nós sabemos
como caímos, que somos indizivelmente gratos pela graça do evangelho,
e que queremos aprender, crescer e ser transformados pela Palavra de
Deus que estamos prestes a ouvir.
• Da mesma forma, é bom ter um tempo de oração após o sermão, quando
respondemos como congregação à mensagem e suplicamos a ajuda de
Deus para amolecer e transformar nossos corações teimosos. Trabalhe na
integração do conteúdo das orações e ações de graças com o tópico ou
tema sobre o qual o culto é elaborado.
• Assim como o tempo fora da reunião formal no domingo é útil para
encorajamento mútuo, conversa e ensino, também é uma excelente
oportunidade para orar uns pelos outros. Quando você está conversando
com alguém sobre alguma questão ou acontecimento em sua vida, ou
compartilhando algum encorajamento ou conversa sobre o sermão, por
que não concluir com uma breve oração juntos? Na verdade, essa também
é uma excelente maneira de iniciar uma conversa proveitosa: pergunte à
pessoa com quem você está conversando se há algo que gostaria que você
orasse por ela. Em nossa experiência, isso instantaneamente faz com que
a conversa saia da previsão do tempo e do futebol para as coisas que
realmente importam, e muitas vezes abre oportunidades para um
encorajamento mútuo significativo.
e) Música que ensina
Martinho Lutero, como de costume, captou a maravilha do dom divino da
música de forma mais memorável do que qualquer outra pessoa:
Uma pessoa que pensa um pouco e ainda assim não considera a música como uma
criação maravilhosa de Deus, deve ser realmente grosseira e não merece ser
chamada de ser humano; ele deveria ter permissão para ouvir apenas zurro de
burros e grunhido de porcos.236
Mesmo assim, o tema da música na igreja é também uma caixa de
marimbondos de Pandora (para extrair o máximo possível de duas
metáforas). Estamos relutantes em abrir demais a caixa, mas vamos fazer
apenas alguns comentários sobre como o canto pode fazer parte da cultura de
aprendizado de sua congregação.
Cantar é uma forma de fala com bastante carga emocional. Consiste em
palavras que — de uma maneira que não compreendemos completamente —
geram mais impacto do que palavras que são apenas faladas. Isso faz da fala
cantada uma maneira particularmente poderosa de construir uma cultura
transformadora de aprendizado em nossas reuniões dominicais, de pelo
menos três maneiras:
• Alguns aspectos do nosso canto têm a ver conosco. Cantar é uma forma
simples e poderosa de toda a congregação ensinar e encorajar uns aos
outros. Quando cantamos juntos, nos firmamos e declaramos uns aos
outros as maravilhosas obras e o caráter de Deus. Isso é realmente
“louvar”: declarar (geralmente com alegria e celebração) o que Deus fez,
quão maravilhoso é o caráter de Deus, quão grande, bom e magnífico é o
Senhor Jesus Cristo e seu evangelho.237 Isso significa, é claro, que
devemos escolher cuidadosamente as canções que realmente fazem isso
— nos quais os versos estão repletos de ensinamentos teológica e
biblicamente ricos sobre o que Deus fez em Jesus Cristo. Como tem sido
frequentemente observado, muitos pastores preparam e guardam
cuidadosamente os 25 minutos de ensino que acontecem do púlpito, sem
tomar conhecimento dos 25 minutos de ensino que acontecem por meio
das canções que cantamos.
• Não é apenas o conteúdo verídico das músicas que é encorajador e
transformador — é o fato de que posso ver você de pé, entusiasmado e
alegre, mostrando o quanto acredita naquilo que canta. Cantar é uma
forma de testemunho. É uma chance para todos nós dizermos: “Sim, aqui
estou! E é nisso que eu acredito.” Isso é encorajador, da mesma forma
que todo exemplo de vida é encorajador. Faz com que eu saiba que você
também crê nessas verdades, porque quando você abre seus pulmões e
canta com todo o seu coração, você me mostra que crê nelas. É por isso
que cantar com o coração é uma coisa tão edificante de se fazer na igreja
— tendo ou não uma boa voz, seja a música em particular do nosso gosto
musical ou não.
• Cantar também é uma maneira poderosa de responder a Deus e ao que
ele nos falou por meio da Palavra. No canto, podemos nos regozijar,
agradecer, orar e dizer a Deus quão digno, poderoso e maravilhoso ele é
(novamente, isso é “louvor” — a declaração das excelências de Deus).
Cantar nos dá a oportunidade de expressar as afeições que a Palavra de
Deus desperta em nós.238
f) Declarar credos e confissões históricas
Assim como cantar, recitar credos e afirmações confessionais históricas
coletivamente na igreja é ao mesmo tempo declaração e resposta. Estamos
falando as grandes verdades da fé uns aos outros e, ao mesmo tempo,
testemunhando uns aos outros sobre nossa crença nessas verdades. Como
uma característica regular de nossas reuniões, isso pode ser uma poderosa
experiência de “aprendizado” (especialmente se explicarmos seu significado
e o contexto em que foram escritos). Eles conectam o pequeno posto
avançado do reino de Deus que é a nossa igreja com a fé histórica que os
cristãos desde o princípio e em todos os lugares têm afirmado. Diz ao nosso
povo (e aos de fora) que não somos apenas uma pequena tribo de pessoas
estranhas, que se destacam como um espantalho num milharal. De fato,
somos um ramo de uma árvore viva, maciça e antiga, cujas raízes descem
profundamente.
Discussão
Há muito que abordar e pensar nesta seção. Discutam cada uma das áreas
que examinamos e anotem um aspecto que vocês estejam fazendo muito bem,
algo que já exista e que possa ser melhorado, e uma nova ideia que precisa
progredir:
a) Pregar para que haja aprendizado transformador
b) Escuta ativa em oração
c) Ensino mútuo e encorajamento
d) Oração arrependida e responsiva
e) Música que ensina
f) Declarar credos e confissões históricas

4) EQUIPAR NO DOMINGO
A cultura que estamos querendo construir é aquela em que todos os santos
pensem em se envolver no aprendizado transformador juntos como um
privilégio e alegria — para que todo o povo de Deus, cada um a seu modo,
persevere em proclamar a Palavra, com oração dependente do Espírito, a fim
de ajudar os outros a avançarem um passo (os quatro Ps).239
Podemos equipar nosso povo para essa proclamação em oração de muitas
maneiras e contextos, mas o domingo em si é o momento importante onde
essa preparação pode acontecer. Aqui estão três maneiras pelas quais isso
pode acontecer:
• Podemos pregar de maneira a equipar. Há uma maneira de apresentar um
sermão que faz o ouvinte pensar depois: “Uau, isso foi muito encorajador.
Mas eu não sei como ele conseguiu tirar essa mensagem da passagem. Eu
nunca conseguiria ler a Bíblia assim”. E há outra maneira de apresentar
um sermão em que o ouvinte pense: “Uau, isso foi muito encorajador.
Além disso, eu pude ver como sua mensagem veio diretamente do
conteúdo da Bíblia. Acho que conseguiria ler a Bíblia assim”. Se, como
pregadores, apresentamos o suficiente da base exegética de nossa
mensagem — o suficiente para mostrar como ela vem da própria
passagem, mas não para aborrecer nossa audiência com um comentário
detalhado em todos os versos — , com o tempo, prestamos um enorme
serviço para a leitura bíblica do nosso povo. Ensinamos a eles a ler a
Bíblia por si mesmos, mostrando-lhes todos os domingos como estamos
extraindo nossos sermões da Bíblia.
• Nossa pregação também pode equipar a congregação para ministrar a
Palavra uns aos outros por ser compartilhável — isto é, quando cada
sermão tem como parte de sua aplicação formas de compartilhar essa
Palavra com outra pessoa. Por meio da nossa pregação, podemos definir a
expectativa e a norma de que a Palavra não termina conosco; deve ser
compartilhada e transmitida. Você pode até ter um espaço em seu
esboço/boletim com “O que eu aprendi com o sermão de hoje”, e
encorajar todos a escreverem algo nesse espaço e conversar sobre isso
juntos depois, no café.
• Podemos programar momentos regulares curtos para “equipar” durante
nossa reunião de domingo; por exemplo, peça a alguém da congregação
que faça um breve relato sobre como está lendo a Bíblia em dupla com
outra pessoa, e quais são as lições e consequências encorajadoras
resultantes dessa experiência. Extraia durante a entrevista/testemunho
algumas lições simples sobre “como todos podemos ler a Bíblia uns com
os outros”. Isso será curto e tem certo limite de alcance, mas a repetição
regular desse tipo de testemunho mostra à congregação como todos
podemos nos envolver ajudando uns aos outros a aprender Cristo por
meio da Palavra.
Tudo o que fazemos no domingo molda a maneira como nosso povo se
envolve no ministério — incluindo líderes de grupos, professores da Escola
Dominical e assim por diante. Ele molda como eles leem e ensinam a Bíblia,
sua compreensão da verdade cristã, pelo que eles oram, como eles respondem
à Palavra de Deus — a direção de todos os carros de sua frota é definida pelo
carro-chefe, e esse carro-chefe é a sua principal reunião dominical.

5) EQUIPAR PARA O DOMINGO


Muitas das sugestões e possibilidades que levantamos nesta primeira área de
foco envolvem mudança na mentalidade, nas expectativas e (em alguns
casos) nas habilidades de nossa congregação. Sugerimos (entre outras coisas)
que seria maravilhoso se todos os nossos membros:
• Pensassem, orassem e convidassem seus amigos e familiares não-cristãos
para irem à igreja;
• Fossem receptivos e prestativos com pessoas de fora, visitantes e recém-
chegados;
• Estivessem prontos para compartilhar o evangelho pessoalmente com
não-cristãos que encontram na igreja;
• Lessem a passagem do sermão com antecedência e fossem preparados
para aprender e crescer;
• Estivessem preparados para ouvir ativamente o sermão com corações
abertos e receptivos;
• Fossem entusiasmados com a música;
• Estivessem prontos e capacitados para falar a Palavra em conversas com
os outros em qualquer momento durante o domingo, especialmente na
hora do café depois do culto;
• Estivessem prontos para orar com outras pessoas se a oportunidade
surgir.
Imagine uma congregação cheia de pessoas assim! Imagine como seria
diferente toda a experiência do domingo, não só para toda a congregação,
mas também para qualquer pessoa nova ou visitante.
Nada disso acontecerá por mágica ou puramente por osmose. Para a
maioria dos membros da congregação, aprender a pensar, orar e agir dessa
maneira envolve avançar alguns passos. E é assim que acontece —
equipando, treinando e encorajando proposital e intencionalmente os
membros de nossa congregação a crescer em sua compreensão e modo de
vida nessas áreas.
Este tipo de preparação geralmente acontece melhor em um ambiente
pessoal ou de grupo pequeno, onde você pode:
• Trabalhar conteúdos, ideias e informações juntos;
• Praticar, colocando-os em ação, e depois relatando um ao outro;
• Orar juntos sobre seus esforços;
• Encorajar uns aos outros a continuar quando alguns se cansarem.
Há muitos bons recursos disponíveis para ajudar com isso.240
Quaisquer que sejam os recursos, programas ou livros que você use para
preparar as pessoas dessa maneira, é importante lembrar que mudar a
mentalidade, as expectativas e ações das pessoas em qualquer área requer
tempo, encorajamento e persistência. Você poderia dar um livro sobre como
servir e discipular para ler, e sem dúvida isso o ajudaria no processo de
aprender a pensar diferentemente sobre o domingo. Mas, a menos que haja
algum tipo de processo contínuo de aprendizado — de falar sobre isso, fazer
perguntas, ver em ação, tentar colocar em prática, falar de novo, e assim por
diante —, é improvável que um novo caminho de pensar e agir seja
“aprendido”. Equipar alguém dessa maneira requer tempo e interação
pessoal. Como sugeriremos na Área de Foco 2 (sobre criar caminhos),
precisamos de oportunidades e estruturas dentro de nossa vida
congregacional, onde esse tipo de preparação pode acontecer regularmente.
Discussão
1) De que maneiras a sua reunião de domingo atual comunica a mensagem
de “equipar”, em que todos nós podemos nos preparar para nos
envolvermos em fazer outros avançarem? O que poderia ser mudado ou
adicionado?
2) Pensando nos atuais membros da congregação:
a) Quem dentre eles melhor exemplifica o tipo de mentalidade e pratica
o que discutimos nesta seção? Quem procura ativamente ajudar os
outros a aprenderem a Cristo no domingo de várias maneiras?
b) Como é possível incentivar e ajudá-los a melhorar ainda mais?
c) Como eles poderiam ajudá-los a equipar os outros para pensar e agir
da mesma maneira?

6) HISTÓRIAS SOBRE O DOMINGO


Para ajudar a ilustrar as várias sugestões e princípios na prática, durante as
Fases 4 e 5 vamos compartilhar algumas histórias reais de igrejas que estão
trabalhando duro para realizar o tipo de mudança cultural que o Projeto
Videira quer ajudar a alcançar.
Algumas coisas a serem observadas em cada uma dessas histórias:
• Escolhemos uma variedade de diferentes líderes de igreja para entrevistar
— de pequenas e grandes igrejas, rurais, urbanas e suburbanas, e de
diferentes denominações e tradições.
• Estas igrejas não são de modo algum perfeitas, e muitas ainda têm um
caminho a percorrer para solidificar a cultura de discipulado. Tampouco
essas igrejas concordam umas com as outras ou conosco em tudo.
• Em cada caso, trocamos os nomes e detalhes, mas a entrevista não foi
aprimorada ou amaciada para se encaixar na mensagem deste livro. As
histórias são reais.
• O que incluímos aqui é apenas um pequeno trecho de uma entrevista
mais longa.
A história de Gabriel
Gabriel lidera uma igreja anglicana evangélica em uma comunidade
multicultural com uma população em rápido crescimento.
O que ajuda seus membros a convidar pessoas para a igreja?
Uma igreja calorosa e amistosa é a chave. Você não pode subestimar um
sorriso. Você só tem uma chance para as primeiras impressões. No entanto,
eu ainda ouço falar de novatos no chá da manhã sozinhos, cercado por
cristãos que não são propositivos o suficiente para convidá-los para suas
conversas. Isso é exasperante!
O ministério infantil tem que ser feito muito bem e parecer ser bem feito.
As pessoas confiam seus pequenos queridos a você e, com frequência, podem
ser as crianças que fazem os pais irem à igreja.
Também achamos importante ter uma boa e consistente pregação que seja
clara, envolvente, fiel e focada em Jesus, e que tenha consciência dos não-
cristãos, que são tratados com gentileza e respeito. Acreditamos que a igreja é
primeiramente para o crente, mas devemos sempre ter o olho em quem é de
fora para que, esperamos, suas questões sejam abordadas. Queremos ser uma
igreja inclusiva, mas nos termos de Deus.
De que outras maneiras você construiu a cultura da proclamação para
todas as nações, e de pessoas que convidam outras pessoas, de forma que,
quando elas trazem seus amigos e vizinhos há um engajamento positivo e
desafiador, e não “esquisito”?
Hoje em dia a música tem que ser boa. Eu acho que você não pode evitar
isso, seja por qualquer motivo. Eu não sei se é porque Hillsong241 elevou a
exigência ou porque todo mundo está ficando mais especializado em suas
próprias experiências musicais.
Tentamos garantir que nossas instalações estejam limpas e apresentáveis.
Especialmente para certos grupos étnicos, ter um lugar bagunçado é um
verdadeiro fracasso.
Eu quero que meu povo se sinta confortável consigo mesmo, e ao mesmo
tempo eu quero que eles fiquem firmes com Jesus e desapegados com a
cultura do mundo para que eles possam ser “tudo para com todos”.242 Então
tentamos celebrar sua diversidade, também.
Temos um pequeno sistema de cotas de assentos para que haja um nível
mínimo de diversidade étnica e de gênero nos lugares à frente. Também
temos três cabines de tradução para que pelo menos o sermão esteja em sua
língua materna. Temos um tradutor de inglês, também porque não sou muito
bom para pessoas com inglês como segunda língua — eu falo rápido demais,
sou muito australiano, minhas gírias não funcionam para eles.
A clareza tem muito valor para nós, e se alguém não é claro, sabe que vai
ter uma forte reação da minha parte, porque temos pessoas demais que
tiveram uma experiência ruim na educação formal e que se sentem burras.
Por isso, constantemente dizemos: “Se você não entendeu, a culpa é nossa”.
Nós tiramos a culpa deles, e então esclarecemos as coisas. Sobre a pregação,
não me importo se você é engraçado; importo-me se você é fiel e claro —
isso é o que me importa.243
A história de Ricardo
Ricardo foi nomeado ministro de uma igreja denominacional em uma
grande cidade há alguns anos.
Quando você chegou, o que seu coração desejava trabalhar?
Tudo, na verdade. Essencialmente, queríamos que as pessoas deixassem de
ser passageiras e começassem a ser participantes. Havia a sensação de que, se
você fosse à igreja, era o bastante. As pessoas eram simpáticas, educadas e
“igrejadas”, mas não havia esse tom de “o que eu estou fazendo durante a
semana e como posso crescer como cristão?”. Queria que as pessoas
realmente se envolvessem com o sermão e fossem desafiadas e transformadas
por ele. As pessoas não falavam sobre o sermão durante o chá da manhã. No
boletim, o espaço para fazer anotações do sermão era de apenas um terço da
página.
Quais foram as primeiras coisas em que você trabalhou?
Eu preguei ao longo de Efésios, porque eu queria dar às pessoas um senso
da missão de Deus e da grandeza disso. Eu amo a teologia nos três primeiros
capítulos e a maneira como ela resulta no “ministério de todos” no capítulo 4
e em diante. Eu queria elevar o nível de pregação e ter um nível de
profundidade (não gosto da palavra “excelência”). Eles não estavam
acostumados com isso. E eu queria que eles pensassem muito e entendessem
que o domingo valia a pena, porque todos seremos desafiados e mudados por
Deus por meio de sua Palavra.
Em que mais você trabalhou para tornar o domingo assim?
Nós apenas usamos nossos instintos e fizemos coisas que assumimos como
normais; demoramos a perceber como elas eram diferentes. Todas as coisas
que tomamos como comuns — como incluir pessoas nos cultos de domingo;
esperar que os líderes do culto preparassem as reuniões e vissem nelas uma
oportunidade de ensino; apenas querer que as coisas sejam bem feitas e
pensadas. Um dos comentários que as pessoas estavam fazendo —
delicadamente — era: “Você tem uma razão para tudo que faz”.
Eu trabalhei duro para dizer não apenas o que estamos fazendo, mas
porque estamos fazendo isso — dando uma razão a partir do evangelho (por
exemplo, “vamos ter mais espaço no esboço para fazer anotações do sermão
porque estamos nos reunindo em torno da Palavra de Deus, e isso importa”).
Nós conversamos sobre como escolheríamos as músicas. Incluí momentos
(um espaço de 5 a 10 minutos) para explicar por que fazemos coisas como
cantar, orar, liderar ou convidar. Falamos sobre o chá da manhã (o lanche)
como uma oportunidade de ministério. Tivemos a ideia de ter um espaço no
boletim onde você poderia escrever uma coisa sobre a qual poderia conversar
com outras pessoas no chá da manhã, para conduzir essa cultura do ministério
de “uns aos outros”.
Eu queria ser aberto e intencional e ajudar as pessoas a pensarem por que
fazemos o que fazemos.244
A história de Davi
Davi é o pastor de uma igreja independente (não denominacional)
localizada no centro de uma grande cidade.
Como você lidera a igreja aos domingos para envolver os não-cristãos e
ao mesmo tempo impulsionar os membros à maturidade?
Essas duas coisas não são assim tão distantes. Não é como se não-cristãos
fossem bobos; eu não tenho que diminuir o nível de nada. Só preciso
melhorar explicação do que estamos fazendo ao longo do caminho. Toda
semana nosso dirigente se levanta e diz algo como:
“Bem-vindo à nossa igreja. Pode ser que coisas cristãs sejam novas para você; você
foi trazido para cá e tem perguntas. Este é o lugar para se estar. Você não precisa
acreditar nas coisas que acreditamos para estar aqui esta noite, mas cremos que a
Bíblia tem as respostas para suas perguntas e, por isso, gostaríamos que você
ficasse e continuasse fazendo perguntas conosco. Hoje à noite, vamos cantar,
vamos orar, vamos ler a Bíblia e ouvir seu ensino.”
Dizemos isso toda semana para que nosso povo saiba que há não-cristãos
aqui toda semana.
Ao longo do caminho, explicamos por que dizemos “Amém” ao final de
cada oração — “É como dizer ‘aham’ ao final” — e as pessoas riem. Quando
lemos a Bíblia, sempre dizemos: “O capítulo é o número grande e o versículo
é o número pequeno”. Também dizemos: “É normal que as pessoas não
possuam uma Bíblia, então temos algumas na parte de trás e você pode levá-
la para casa”. Esse tipo de coisa.
Não estamos sendo bobos — espero que as mensagens sejam desafiadoras
e instigantes. Estou focando em uma audiência de nível superior, embora nem
todos em nossa igreja tenham educação superior. Por causa da nossa
localização e visão de longo prazo de ser uma base para a plantação de
igrejas, em última análise eu quero cultivar plantadores de igrejas.245

PROJETO: PLANEJANDO TORNAR O DOMINGO


UMA REFERÊNCIA
Analise as discussões feitas em cada segmento nesta primeira área de foco
(“Tornar o domingo uma referência”).
1) Escolham algumas estratégias ou prioridades importantes nas quais vocês
desejam se concentrar nos próximos 12 meses. Não tentem fazer tudo.
Comecem com quatro ou cinco coisas importantes.
2) Para cada uma dessas estratégias ou prioridades, definam uma meta
simples e mensurável. Há um triplo propósito:
• Ter clareza do tipo de resultado que vocês esperam alcançar;
• Às vezes, dar um pouco de motivação para continuar quando seus passos
começarem a se arrastar;
• Permitir que vocês façam algumas perguntas ao final do ano sobre por
que atingiram ou não seu objetivo.
3) Para cada uma das prioridades e metas, escrevam o que, quem, quando e
quanto (que ações serão feitas, por quem, por quando e com que recursos
ou a que custo).
(Dica: depois de terminar o passo prático 3 de descobrir quem realmente
fará todas essas coisas acontecerem, vocês podem acabar decidindo que
assumiram muitas prioridades!)
Um exemplo trabalhado
Prioridade 1: Vamos trabalhar muito nos próximos 12 meses para tornar
a nossa reunião de domingo o mais envolvente possível para os de fora e
encorajar a congregação a convidar as pessoas.
Objetivo: Pela graça de Deus, esperamos ver 50 pessoas não-cristãs
diferentes visitarem nossa congregação nos próximos 12 meses.
Ações:
O QUÊ QUEM QUANDO RECURSOS/CUSTO NOTAS
Fazer uma Paulo (com Trazer o Tempo: 3 horas
auditoria de outras três resumo do
quatro pessoas). relatório para
semanas do a equipe até o
culto dia 1/03.
dominical
atual para
identificar
questões
potencialmente
alienadoras
para pessoas
de fora.

Treinar todos Pedro Dois Tempo: 6 horas Necessário dar


os dirigentes coordena/lidera. encontros feedback e
de culto em separados com encorajamento
linguagem os líderes até contínuo aos
acessível aos o dia 10/4. líderes.
de fora etc.

etc.
Por conveniência, continuaremos nos referindo a essas reuniões de toda a congregação simplesmente como “domingo” ou “culto
dominical”, já que é o dia em que quase todos nós temos essas reuniões.
Essas são as quatro categorias amplas que apresentamos no resumo das convicções, ao final da Fase 1.
N. do T.: Termo específico do movimento; em português, algo como “sensível ao que busca”
No modelo seeker-sensitive conforme apresentado por Bill Hybels na Willow Creek Community Church, o domingo é realmente
um comício evangelístico para reunir pessoas de fora — a reunião “real” da igreja, com ensino bíblico mais profundo e tudo
mais, ocorre durante a semana à noite.
1Co 14.16-17, 23-25.
Na Fase 1 (Convicção 3).
Como com todas as coisas, isso deve ser feito de forma sensata. Você não quer que sua reunião morra uma morte de mil
explicações.
Esse foi realmente um precursor da abordagem seeker-sensitive da Willow Creek, que tinha o culto de “evangelismo” como o
evento principal nas manhãs de domingo, e a reunião de “louvor” ou “ensino” nas noites de quarta-feira.
Curiosamente, a palavra “edificar” (grego: oikodomeō) significa simplesmente “construir”. A forma como lemos este termo na
maioria das traduções parece implicar que edificar trata de alguém que já faz parte da igreja. Mas quando Cristo disse:
“edificarei (oikodomeō) minha igreja” (Mt 16.18), ele estava falando sobre todo o processo — de pregar o evangelho e ver as
pessoas entrarem na comunhão da igreja e crescerem até a maturidade. A igreja é construída pelo evangelho (cf. At 20.32; Rm
15.20-21; 1Co 3.9-11; 2Co 10.8, 13.10; Ef 2.19-22). Poderíamos dizer que as pessoas são “edificadas” na igreja da mesma
como são “edificadas” como igreja e que, em ambos os casos, é pela poderosa palavra de Cristo, por seu Espírito.
Phillip Jensen, “A igreja e a evangelização: o culto deve ser evangelístico?”, Voltemos ao Evangelho, 23 ago. 2019,
voltemosaoevangelho.com/blog/2019/08/a-igreja-e-a-evangelizacao-o-culto-deve-ser-evangelistico/.
Veja especialmente o capítulo 5 em Jensen e Grimmond, The archer and the arrow. Veja também Colin Marshall, “Preaching
with an evangelistic mindset”, in Let the word do the work, Peter G. Bolt, ed., (Camperdown: Australian Church Record,
2015), 75-84.
Veja a discussão na Fase 1, convicção 5, sobre a igreja ser um cenário para o discipulado.
Uma abordagem revigorante e muito prática da pregação como uma experiência de aprendizado pode ser encontrada em Gary
Millar e Phil Campbell, Saving Eutychus: how to preach God’s word and keep people awake (Sydney: Matthias Media, 2013).
Novamente, você encontrará algumas ótimas ideias em Saving Eutychus, de Millar e Campbell.
Lucas 8.18.
O livreto de Christopher Ash, Listen up!, é um excelente recurso para preparar a congregação para ser melhores ouvintes.
Christopher Ash, Listen up! A practical guide to listening to sermons (Londres: The Good Book Company, 2009).
1 Coríntios 14.33, 40.
Para uma expansão deste ponto, ver Phillip Jensen e Tony Payne, Prayer and the voice of God (Sydney: Matthias Media, 2006).
60-64.
Martinho Lutero, “Preface to Georg Rhau’s Symphoniae iucundae” (1538), trad. US Leupold, in Luther’s works, J. Pelikan e H.T.
Lehmann, eds., (Filadélfia: Fortress, 1965), 53:324.
Para saber mais sobre a natureza do louvor como “declarar ou anunciar como alguém é grande”, veja Tony Payne, “Confissões de
um viciado em louvor”, Voltemos ao Evangelho, 24 ago. 2019, voltemosaoevangelho.com/blog/2019/08/ confissoes-de-um-
viciado-em-louvor/.
Para uma excelente discussão recente de todas essas questões relacionadas ao canto congregacional, ver Philip Percival, Then
sings my soul: rediscovering God’s purposes for singing in church (Sydney, Matthias Media, 2015).
Veja a convicção 3 na Fase 1 para nossa discussão dos quatro Ps.
Por exemplo: Seus pequenos grupos podem ler o pequeno livreto de Christopher Ash, Listen Up! juntos (sobre como ser um
melhor ouvinte de sermões), falar sobre o conteúdo, orar sobre isso e encorajar uns aos outros a colocá-lo em prática. Um
grupo (ou vários grupos) poderia estudar Six steps to loving your church, um curso de seis sessões que trabalha o que todo
cristão poderia fazer antes, durante e depois da igreja a fim de ser um meio de encorajamento amoroso para aqueles ao redor
(isto é, fazendo o tipo de coisas que temos discutido em toda esta seção).
Uma grande igreja pentecostal em Sydney, famosa por seu ministério de música.
1 Coríntios 9.22.
N. do E.: A entrevista completa com Gabriel em conteudo.editorafiel.com.br/projetovideira inclui mais sobre como ele aborda:
todos serem evangelistas; leitura bíblica em duplas; evitar a cultura do consumidor onde tudo é empacotado e programado; e
treinamento de liderança.
N. do E.: A entrevista completa com Ricardo em conteudo.editorafiel.com.br/projetovideira inclui seus pensamentos sobre: usar
momentos críticos para mudança; ajudar membros a convidar pessoas para a igreja; e moldar a cultura através dos principais
líderes.
N. do E.: A entrevista completa com Davi em conteudo.editorafiel.com.br/projetovideira inclui mais sobre como ele aborda a
incorporação do discipulado na cultura e nas estruturas de uma igreja.
Área de foco 2: criar caminhos que
promovam o avanço
No segundo exercício de avaliação da Fase 3, você fez o melhor que pôde
para ter um diagnóstico de todas as pessoas de sua congregação ou
comunidade — de onde eles estão em seu “aprendizado” de Cristo. A maioria
dos grupos com que fizemos este exercício descobriu ser uma experiência um
tanto impressionante. Tantas pessoas. Tantas necessidades ministeriais. Tão
poucos líderes ou pessoas equipadas para ajudar na tarefa.
Como vamos fazer todas essas pessoas avançarem, cada uma com suas
próprias necessidades e situações particulares na vida? Considerando que o
método básico são os quatro Ps do ministério (Proclamação, Prece, Pessoas,
Perseverança),246 então, falando de maneira prática, como esse “ministério
dos 4Ps” pode acontecer de uma forma que ajude a todos a dar passos adiante
de todos os diferentes lugares que ocupam no espectro? (E isso nem mesmo é
pensar no desafio ainda maior: todas aquelas pessoas em nossos bairros e
comunidades com as quais ainda não nos envolvemos ou evangelizamos.)
Parte da resposta, claro, é a área de foco que acabamos de ver. Nosso
principal encontro dominical deve funcionar para fazer as pessoas avançarem
de onde quer que estejam. Mas algumas coisas são difíceis (ou quase
impossíveis) de se fazer em uma grande reunião de grupo como a igreja.
Como vamos usar todos os outros aspectos da vida da igreja para levar as
pessoas a avançarem — isto é, todas as diferentes reuniões e interações,
sejam elas individuais, em pequenos grupos ou em grupos médios, seja em
eventos isolados ou estruturas regulares?
Agora, se por acaso se tratasse de uma igreja doméstica de 24 pessoas, a
resposta a essas perguntas poderia ser relativamente simples: “Há três de nós
que exercem alguma liderança aqui. Cada um se responsabiliza por sete
pessoas, trabalha com eles pessoal e individualmente para ajudar cada um a
avançar. Simples.”
Mas é claro que poucos de nós estão em situações tão descomplicadas
(lembre-se: as pequenas igrejas domésticas também têm todos os tipos de
complicações!).
Seu grupo não precisa ficar muito maior antes que algum tipo de sistema
ou estrutura se torne necessário para organizar, facilitar e apoiar o
crescimento de cada pessoa. Sem o que estamos chamando neste capítulo de
“caminhos”, o ministério 4Ps é muito difícil de sustentar e ampliar além das
pessoas que você pode influenciar e se relacionar pessoalmente. Quanto
maior for o seu grupo, ou mais ampla for a sua visão sobre o quanto você
quer crescer, mais reflexão, cuidado e trabalho árduo você terá para construir,
manter e mexer constantemente com a “arquitetura relacional” que conecta as
pessoas umas às outras no ministério 4Ps.
Em certo sentido, ser atencioso e proativo sobre como nossas estruturas de
ministério promovem o crescimento do evangelho é apenas uma boa
sabedoria prática, e não precisamos construir uma base teológica elaborada
para nossa maneira particular de fazê-lo. No entanto, fazer este trabalho de
fato concorda teologicamente com a nossa visão das igrejas como
“comunidades de aprendizado”. Deus nos colocou juntos porque somos
melhores juntos. Precisamos uns dos outros. O amor nos levará a descobrir
como podemos capacitar e facilitar o maior número possível de
relacionamentos de ministérios 4Ps — e é isso o que estamos fazendo quando
projetamos e implantamos estruturas, caminhos ou sistemas (ou como quiser
chamá-los).
Para colocar tudo isso nos termos familiares de nossa metáfora já bem
usada, se o ministério 4Ps é o “trabalho da videira” que impulsiona o
crescimento espiritual na vida das pessoas em todos os níveis, então projetar
estruturas ou caminhos é o “trabalho de treliça” vital que permite ao trabalho
da videira acontecer de forma ampla e profunda em toda a congregação e
além.
Quatro advertências finais antes de prosseguirmos:
• Em primeiro lugar, estabelecemos a linguagem dos caminhos para falar
sobre as estruturas ou sistemas a serem criados para tentar ajudar o maior
número possível de pessoas a avançarem. Nenhuma linguagem ou
metáfora é perfeita. “Caminho” não é ruim, porque evoca pessoas
andando em determinada direção, fazendo progresso, passando de um
marco para o próximo e assim por diante. Mas sinta-se livre para criar sua
própria linguagem e descrição.
• Em segundo lugar, tente evitar os dois extremos de atear fogo em tudo ou
de brincar enquanto Roma pega fogo. Em um extremo está a abordagem
que trata tudo da cultura atual e das estruturas do ministério como
incuravelmente doente, e quer desfazer tudo e começar de novo. Por mais
que isso possa ser tentador às vezes, quase sempre é um erro transformar
a cultura atual em sua inimiga — e é isso que acontecerá se tentar destruir
tudo e construir do zero. Por outro lado, é um desperdício de tempo de
todos fazer apenas alguns ajustes tímidos nas bordas, quando a cultura
está precisando de uma mudança profunda e duradoura. Na maioria dos
casos, a chave é encontrar os aspectos de sua cultura atual que refletem
suas convicções e têm potencial para crescimento — e eles foram
identificados na Fase 3 — e basear-se neles. Ajuste-os, reenergize-os,
coloque recursos neles — coloque os pontos fortes que a cultura atual tem
para trabalhar a seu favor na condução da mudança.
• Em terceiro lugar, vale a pena dizer (mesmo que seja óbvio) que há
sobreposição entre as quatro categorias ou etapas do nosso espectro
(Envolver, Evangelizar, Estabelecer, Equipar). Onde o envolvimento
com alguém para e a evangelização começa? Às vezes é claro; outras
vezes é mais difícil dizer. Em particular, onde está a fronteira entre
estabelecer e equipar? Estes dois estarão sempre se sobrepondo, porque
estabelecer é um processo vitalício que nunca termina, e equipar é um
aspecto e consequência de tornar-se mais maduro e estabelecido em
Cristo.
• Finalmente, lembre-se sempre de que nenhum sistema ou estrutura será
perfeito, ou abrangerá tudo o que Deus está fazendo à sua volta por meio
de seu povo. O ministério será confuso, porque as pessoas são confusas e
porque nós mesmos somos pessoas finitas e imperfeitas. Apesar de todos
os nossos melhores e mais cuidadosos esforços, alguns de nossos planos
não funcionarão. Não se ligue demais a eles nem os invista de muita
importância. Uma treliça não tem vida; é uma construção que pode ser
desmontada e remontada. Uma treliça também serve para apoiar a videira,
não para determinar exatamente onde todo o crescimento da videira irá
acontecer. Um ministério 4Ps realmente frutífero em geral acontecerá
informalmente ao lado e fora de suas estruturas. Às vezes, um ministério
ou pessoa se levantará e florescerá independentemente de toda a
organização cuidadosa que fizemos. Esteja pronto para lidar com isto, e
construir a partir disto, mesmo se não se encaixar muito bem com sua
estrutura. O importante é que as pessoas continuem crescendo como
aprendizes de Cristo, não que tenhamos bons e belos caminhos.
Basta, então, das palavras e advertências introdutórias. Vejamos cada uma
de nossas quatro etapas principais para fazer avançar, e pensemos em como
podemos projetar caminhos que ajudem as pessoas a avançarem por meio
delas.
As principais perguntas que precisaremos fazer em cada um dos tópicos a
seguir são:
• Que estruturas ou grupos ministeriais existentes podemos melhorar ou
que novas coisas precisamos iniciar para conduzir mais eficazmente o
ministério 4Ps nesta área?
• Qual é o próximo passo para as pessoas que foram ministradas em cada
fase? (Por exemplo, como alguém deixa de ser envolvido para ser
evangelizado? Ou de ser evangelizado para ser acompanhado e
estabelecido na fé?)
• Quem irá liderar esses ministérios ou grupos novos ou aprimorados? Que
tipo de preparação ou treinamento será necessário? Isso se tornará cada
vez mais urgente ou aparente à medida que avançarmos por
“Estabelecer”, “Evangelizar” e “Estabelecer”, a seguir. Quase certamente
você descobrirá que as ideias que você tem para progredir em cada área
não são correspondidas pelas pessoas que você tem disponível para
liderá-las ou executá-las. É disso que se trata a etapa “Equipar”!
• Por mais importantes que sejam as estruturas e a liderança, o conteúdo é
igualmente vital. O que realmente está sendo proclamado e ensinado em
nossos diferentes grupos e ministérios? É a Palavra bíblica de Cristo ou
alguma outra coisa?
• Estamos tratando de um único caminho, ou de vários? Vamos nos referir
principalmente a caminhos (plural) no material abaixo, em
reconhecimento de que normalmente são criados múltiplos caminhos ou
opções para as pessoas seguirem adiante. Contudo, em outro sentido, é
possível pensar nisso como uma grande rodovia integrada na qual seu
ministério ajuda as pessoas a viajarem de “envolver” até “equipar”, com
um número de “pistas” diferentes na estrada que são adequadas para
pessoas e circunstâncias diferentes.
Trabalharemos em cada uma das quatro etapas, oferecendo algumas ideias
e sugestões para refletir e discutir, e contando algumas histórias sobre como
as igrejas que conhecemos estão trabalhando nisso. Então, no final, você
precisará projetar seus próprios projetos de caminhos que integrem as quatro
etapas.

PRIMEIRA ETAPA DO CAMINHO: ENVOLVER


Conversando ao longo de muitos anos com pastores de todo o mundo sobre
ministério e evangelismo, um tema tem sido comumente angustiante: a
maioria das igrejas evangélicas no mundo ocidental tem pouco ou nenhum
envolvimento com suas comunidades locais.
Uma geração atrás, isso era diferente em muitos lugares. A igreja era vista
como parte da vida da comunidade. Ir à igreja era algo normal de se fazer,
mesmo que muitos dos que iam fossem apenas nominalmente cristãos. Era na
igreja que seus filhos eram batizados, onde você se casava e onde você até
aparecia na Páscoa e no Natal. O pastor era uma figura local respeitada e
alguém a quem recorrer em tempos de dor e problemas. As pessoas sabiam
sobre a igreja e conheciam muitas das pessoas envolvidas com ela. Existia
uma plataforma relacional, em outras palavras, sobre a qual uma conversa
sobre o evangelho poderia acontecer.
Esses dias se foram, ou estão indo rapidamente, para a maioria das igrejas
ocidentais. Nossas comunidades locais parecem cada vez mais estranhas,
complexas e fora do nosso alcance. A lacuna cultural entre a “comunidade do
mundo” e a “comunidade da igreja” está se tornando um abismo. Para muitos
na “comunidade do mundo”, a igreja é uma irrelevância inexistente ou (cada
vez mais) um grupo marginal prejudicial com atitudes fanáticas.247
As igrejas estão lutando para lidar com esse ambiente de mudança. Talvez
por termos uma tradição ou memória cultural de estar natural e facilmente
conectados com a comunidade local, muitas igrejas não sabem como se
engajar ativamente ou se envolver com suas comunidades locais. Elas nunca
tiveram que fazer isso no passado, e agora não sabem por onde começar.
Quando isso é combinado com o modo como a maioria das congregações está
ocupada em apenas tentar sobreviver e lidar com seus próprios problemas,
não é surpresa que a imagem seja decepcionante. Quando conversamos com
pastores sobre o nível de atividade e sucesso de sua igreja em alcançar além
dos muros da igreja, apenas para se envolver, conhecer e formar bons
relacionamentos amigáveis com as comunidades locais, os relatos foram
sombrios.
Como podemos ajudar as pessoas nesse primeiro passo do nosso caminho?
Precisamos pensar sobre isso, porque é muito difícil evangelizar milhares de
pessoas que vivem à nossa volta neste “mundo tenebroso” se não as
conhecermos nem tivermos algum contato com elas.
Esse tipo de envolvimento pode acontecer em vários contextos.
a) Relacionamento pessoal
À medida que a proeminência e a respeitabilidade institucionais da igreja
diminuem na cultura ocidental, será cada vez mais importante que os
membros da igreja sejam a linha de frente do engajamento com a
comunidade, enquanto realizam seu trabalho diário e se relacionam com seus
vizinhos e amigos.
Simplificando: precisamos incentivar e ajudar nossos membros a conhecer
pessoas não-cristãs, a se misturar com elas, a criar amizades e a se envolver
com a subcultura ou comunidade em que vivem e trabalham. Se nossos
membros não estão convidando as pessoas para suas casas e vidas, não
adianta insistir para convidarem pessoas para eventos e atividades da igreja.
Podemos facilitar esse tipo de envolvimento de duas maneiras principais:
• Não preenchendo a semana com tantas atividades e programas da igreja
que não haja tempo para o nosso povo se envolver com seus vizinhos;
• Equipando e treinando nosso pessoal para pensar dessa maneira sobre si
e seus vizinhos.
Este segundo ponto será um tema comum em grande parte do que se
segue. Um dos principais passos na criação de “caminhos” é ensinar e
preparar o seu povo para andar nestes caminhos, como pessoas cuja alegria e
privilégio é ajudar o maior número possível de pessoas a avançarem. Um
motivo significativo pelo qual muitos de nossos membros não se envolvem
com seus vizinhos e amigos é que eles não entenderam a visão de
discipulado.248
b) Equipes e grupos
O envolvimento com seus amigos e vizinhos e com a comunidade local
não precisa ser um exercício individual (assim como o caso do evangelismo,
como veremos adiante). De fato, convidar um grupo de amigos não-cristãos
para um evento social com um grupo de amigos cristãos pode ser uma
maneira poderosa e útil de derrubar barreiras. A comunhão, o amor e a
amizade dos cristãos entre si e pelos outros é um testemunho poderoso e
intrigante para muitos não-cristãos. Muitas histórias de conversão começam
com um testemunho de pessoas simplesmente impressionadas com o modo
como os cristãos vivem e se relacionam uns com os outros; mas esse
testemunho não pode acontecer se não estivermos envolvidos com as pessoas
ao nosso redor.
Existem duas formas inter-relacionadas de pensar sobre isso:
• Podemos fazer disso uma meta ou valor para nossos pequenos grupos
existentes (ou grupos nos lares, ou como eles se chamarem) — isto é,
definir a expectativa de que cada pequeno grupo (digamos) realize um
evento social com amigos ou familiares não-cristãos ao menos duas vezes
por ano.
• Poderíamos criar equipes específicas ou pequenos grupos cujo foco seja
se envolver com uma comunidade ou subcultura em particular, com o
objetivo de não apenas conhecer e relacionar-se com as pessoas daquela
comunidade, mas com o tempo conduzi-las ao longo do caminho para
ouvir o evangelho.
Isso levanta uma questão muito significativa que será relevante para
muitos dos pontos desta seção inteira (sobre a criação de caminhos): o lugar e
a natureza dos pequenos grupos. Estamos assumindo que, se você está lendo
este livro (e chegou até aqui), então pequenos grupos quase certamente são
parte de sua vida congregacional. Mas o que são exatamente nossos pequenos
grupos? Como devemos pensar sobre eles? Para que servem? E que lugar eles
podem ou devem ter nos caminhos que queremos projetar para fazer todos
avançarem?
Estas são grandes questões, e será preciso parar e discuti-las em algum
momento durante essa área de foco sobre os caminhos — talvez depois de
terminar esta primeira seção sobre “envolver”. Fornecemos algumas
sugestões e um guia para essa discussão no apêndice 3, “Repensando
pequenos grupos”.
c) Ministérios, grupos ou eventos especializados
Muitas igrejas possuem ministérios ou eventos específicos, de forma
regular ou ocasional, para envolver e construir relacionamentos com sua
comunidade. Alguns deles funcionam porque atendem a necessidades reais
da comunidade e outros porque são apenas divertidos. Exemplos que vimos
incluem:
• Círculos de brincadeiras infantis ou grupos de mães — a igreja organiza
uma reunião semanal regular para mães com filhos pequenos, geralmente
em uma manhã durante a semana. As mães da igreja podem conhecer as
mães da comunidade local.
• Aulas de inglês (ou do idioma local) — muitas igrejas, especialmente
aquelas em áreas com uma alta proporção de migrantes que não falam
inglês, organizam aulas semanais para os membros da comunidade
melhorarem seu inglês (frequentemente usando passagens bíblicas como
textos básicos para ler, e assim por diante).
• Atividades esportivas — é comum em algumas áreas as igrejas
realizarem competições esportivas ou ligas para jovens locais.
• Clubes de férias ou festivais — algumas igrejas organizam um programa
ou festival de uma semana durante as férias escolares, focados
principalmente em atividades para crianças, para os quais toda a
comunidade é convidada.
• Noites para os homens — eventos que envolvem algum tipo de atividade
sem perigo para a qual os homens podem convidar seus amigos, para que
possam ter uma noite agradável, aprender algumas habilidades
importantes para a vida (como preparar o bife perfeito, torrar seus
próprios grãos de café) e conhecer alguns cristãos.
As possibilidades para esses tipos de eventos e atividades são limitadas
apenas pela sua imaginação. Toda comunidade ou cultura terá pontos de
contato e necessidades com as quais podemos nos conectar.
Esses tipos de eventos são mais corretamente classificados como
“envolvimento” do que como “evangelização”, porque (em nossa
experiência) eles geralmente não contêm muito conteúdo ou conversa real
sobre o evangelho. Isso não é de forma alguma uma crítica, apenas um
reconhecimento de sua natureza e propósito. Esse tipo de atividade é um bom
e necessário primeiro passo. São coisas simples e fáceis de anunciar na
comunidade local e convidar alguém para participar. Eles geralmente têm
algum tipo de nuance ou mensagem cristã em si; mas na maioria dos casos
isso será uma introdução leve e fácil a algum aspecto do cristianismo, em vez
de uma apresentação clara do evangelho e um chamado ao arrependimento.
Sem problemas. O propósito desses eventos é envolver, construir um
relacionamento e uma conexão, começar a falar — realmente conhecer e estar
em contato com as pessoas com quem queremos compartilhar o evangelho.
Vale a pena lembrar alguns pontos sobre esse tipo de atividade:
• Elas tendem a exigir muitos recursos. Geralmente gastam muito tempo e
energia (e às vezes dinheiro) para iniciar e manter, e esses são recursos
que não podem ser colocados em outras áreas.
• Há uma tendência comum na vida da igreja de confiar em um evento ou
estrutura para “cuidar” de algum aspecto de nossa missão, diminuindo
assim a sensação de que isso é algo que todos nós podemos estar
pensando e agindo como uma parte regular de nossas vidas. Esse tipo de
atividade envolvente pode ser assim — as possibilidades muito frutíferas
mencionadas acima (em “Relacionamento pessoal” e “Equipes e grupos”)
nunca são consideradas ou priorizadas porque “fazemos” nosso
envolvimento por meio do Festival de Inverno anual.
• Eventos e atividades de “envolvimento” são geralmente muito populares
e bem apoiados pela congregação. Eles frequentemente geram feedback
muito positivo e são relativamente fáceis de fazer. Há uma sensação de
“alcançar” a comunidade, mas não é algo tão ameaçador (para os cristãos,
isto é) como algo mais especificamente evangelístico. De fato, vimos um
grande número de igrejas nas quais o envolvimento substituiu o
evangelismo no programa da igreja. Isso é algo a ser observado.
• De longe, a falha mais comum nesse tipo de evento é que não há um
próximo passo claro para os envolvidos. Nós tendemos a não pensar o
suficiente sobre como as pessoas que vêm para os eventos avançarão
mais um passo — isto é, para realmente ouvir e responder ao evangelho.
É como se o objetivo fosse simplesmente envolver-se e, então, esperar
que de alguma forma algo surgisse em algum momento da caminhada.
• Como estudo de caso, não podemos deixar de pensar em dois grupos de
atividades que conhecemos em igrejas aqui em Sydney. Ambos eram bem
organizados por mulheres cristãs piedosas e maduras, e ambos
conseguiram atrair mais de vinte mães não-cristãs da comunidade ao
redor para ir à igreja toda semana com seus bebês e crianças pequenas.
Durante um período de três anos, um dos grupos não viu nenhuma de
suas mães não-cristãs ir à igreja, e ninguém se converteu. O outro grupo
viu um fluxo constante de mães não-cristãs comparecer ao estudo bíblico
ou à igreja, com cerca de meia dúzia de convertidas ao longo dos três
anos. Qual foi a diferença entre os dois? No primeiro caso, as quatro
mulheres que dirigiam o grupo gastavam todo seu tempo e energia apenas
para organizá-lo e executá-lo a cada semana. Havia pouco tempo ou
oportunidade para realmente se conectar com as mães que vinham,
conhecê-las, convidá-las para um café, convidá-las para outra coisa, e
assim por diante. No segundo caso, assim como uma equipe de quatro
pessoas que organizava e dirigia o grupo, outra equipe de quatro mães da
igreja foi recrutada e preparada com a única tarefa de ir ao grupo de
atividades, relacionar-se com as outras mães, conhecê-las, orar por elas e
convidá-las a ler a Bíblia ou participar de outro evento ou programa do
evangelho de algum tipo. Em outras palavras, algum pensamento,
planejamento, recrutamento e treinamento intencionais foram postos em
como o “envolvimento” levaria à “evangelização”. Isso fez toda a
diferença.
Este último ponto é crucial não apenas para a etapa de “envolvimento”,
mas também para cada ponto ao longo do nosso caminho. Qual o próximo
passo para alguém? Como alguém faz a transição (neste caso) do
envolvimento para o que estamos esperando e orando que venha a seguir
(neste caso, ouvir e responder ao evangelho)?
Em todo o nosso pensamento sobre ministérios, eventos e atividades
específicas — particularmente com envolvimento e evangelização — é
importante não pular rapidamente para a última moda. Você sabe como é:
você lê ou ouve sobre uma nova ideia ou ministério inovador que outra igreja
está fazendo com ótimos resultados, e então decide inseri-la em seu próprio
caminho, esperando que ela tenha o mesmo efeito onde você está. Isso
raramente acontece.
É quase sempre melhor construir esse tipo de ministério em torno de
pessoas, em vez de ideias. Olhe ao redor da sala. Veja quem são as pessoas
que Deus lhe deu — sua idade, sexo e etnia, seus interesses e habilidades,
seus contatos e redes — e pense de maneira criativa sobre como esse grupo
de pessoas poderia envolver e evangelizar as pessoas ao seu redor.
A história de Bruno
Bruno é um dos ministros de uma igreja evangélica denominacional em
um subúrbio onde pessoas de muitas nações estão se estabelecendo.
Que tipos de questões vocês estão enfrentando para se envolverem com
sua comunidade?
Como podemos, como igreja local (em vez de apenas indivíduos), ser sal e
luz para aqueles que nos rodeiam? Como estamos nos lembrando dos pobres,
o que Paulo fez todos os esforços para fazer, e que os outros apóstolos
ordenaram (Gl 2.10)? Estamos ministrando da maneira apresentada em Tiago
2.15–16? Estamos pescando com uma vara de pescar ou com uma rede?
As duas questões-chaves a serem trabalhadas são: “o que nossa
comunidade local precisa?” e “o que nossa igreja local pode oferecer?”. Onde
essas duas respostas se encontram, temos o formato de nosso envolvimento
com a comunidade.
O que você quer dizer com pescar com uma vara ou uma rede?
Quero dizer que não posso apenas fazer sozinho as coisas, o que torna
difícil envolver toda a igreja. Adotando uma abordagem de “rede”, me
conectei às agências comunitárias na área, percebendo o que seus clientes
precisam e o que nós, como igreja, podemos oferecer. As duas áreas
principais são as pessoas que lidam com violência doméstica e as famílias
que precisam de apoio específico.
Quanto a mim, entrei para um número de comitês envolvendo violência
doméstica, e por meio destes eu respondi as perguntas acima.
O que nossa comunidade local precisa? Ajuda material e novos
relacionamentos para os afetados pela violência doméstica. O que nossa
igreja pode oferecer?
• Ajuda emergencial por meio de nossa igreja na forma de alimentos,
artigos de limpeza, fraldas, cupons para roupas e alimentos. As pessoas
podem coletar cestas aos domingos.
• Relacionamentos por meio de pertencimento à comunidade da igreja,
atividades sociais regulares, grupos de atividades.
Também organizamos almoços a cada dois meses, para os quais
convidamos pessoas que passaram pelo programa de ajuda emergencial para
almoçar, com um programa para crianças e um lugar onde os adultos podem
descansar e ficar. Também estamos tentando criar um grupo de atividades e a
partir daí, esperamos também vincular pessoas a pequenos grupos.
Quais são os objetivos gerais em tudo isso?
Nosso ministério de alcance tem dois objetivos. Em primeiro lugar,
queremos que as pessoas experimentem pessoalmente o amor de Deus por
meio do povo dele. E em segundo lugar, é claro, queremos que as pessoas
conheçam pessoalmente o amor de Deus, no Filho de Deus, pela Palavra de
Deus.
Em que situações vocês oferecem oportunidades para aprender sobre
Cristo?
Por meio das conversas que acontecem na distribuição dos alimentos, mas
também queremos oportunizamos essas conversas no almoço (temos uma
equipe de boas-vindas que faz isso) e no grupo de atividades.
Nós os encorajamos a ir à igreja e também realizamos uma série de cinco
noites sobre “Liberdade: respondendo às grandes questões da vida”. Eu dou
palestras sobre temas como liberdade de desejos prejudiciais, de culpa e
vergonha, de rituais religiosos, de injustiça, de desespero, e temos tempo de
discussão.
Então, como são seus caminhos de discipulado?
Nossos caminhos de discipulado agora são algo assim:
A rede de pesca > grupos de atividade e sociais > palestras sobre liberdade
> pequenos grupos e ir à igreja ao longo do caminho.
Quais são alguns dos desafios?
É fácil, nesse tipo de trabalho de “capelania comunitária”, fazer apenas
contato superficial. Por isso estamos trabalhando duro para garantir que a
igreja faça um contato mais significativo e duradouro com a comunidade, de
modo que encoraje as pessoas a se juntarem a pequenos grupos e outros
programas semelhantes executados pela igreja.
Por exemplo, o socorro de emergência funciona bem, mas nós não
queremos apenas cair em um modelo transacional, onde dizemos: “Tudo
bem, aqui estão suas coisas, até mais”.
Queremos manter contato em longo prazo e garantir que ele tenha um
rosto e fomente relacionamentos. Estamos constantemente tentando descobrir
qual a melhor maneira de encorajar as pessoas a seguirem o caminho do
discipulado de Jesus.
Qual foi o impacto em toda a igreja?
Toda a igreja está mais envolvida no ministério, particularmente com os
almoços comunitários em que mais da metade da igreja está envolvida. Esse
tem sido um bom efeito colateral por adotar essa abordagem, eu acho, e há
várias coisas fáceis que as pessoas podem fazer nos almoços para ajudar, não
importa quão novas elas sejam entre nós. Elas podem arregaçar suas mangas
e servir, e acho que isso também ajuda as pessoas a se sentirem mais
encorajadas no ministério.
A história da Virgínia
Virgínia é do ministério infantil em uma igreja evangélica em um subúrbio
culturalmente diversificado.
Que programas você tem em sua igreja para se conectar com novas
famílias?
Novas famílias vêm para a igreja das crianças (nossa escola dominical).
Também administramos o Clube Infantil depois da escola, que é um
programa baseado em jogos para crianças de 8 a 12 anos. E também há
Música e Movimento, que é um programa quinzenal para crianças de 3 a 4
anos (pré-escolares). Ele está repleto de atividades de canto, dança e música,
e termina com uma história da Bíblia e o chá da manhã.
Também temos a Hora dos Jogos para crianças pré-escolares em outras
manhãs. É um momento em que pais, avós e cuidadores podem vir e desfrutar
de um estimulante programa de jogos, música, histórias e artesanato com seus
filhos. É também um momento no qual os adultos podem conhecer outros
adultos e obter apoio e encorajamento, além de criar amizades. E é uma
oportunidade para os cristãos falarem do evangelho na vida das pessoas.
O Clube Infantil, Música e Movimento e a Hora dos Jogos são todos para
alcançar novas pessoas. E no momento, em toda a igreja, existem cerca de 60
grupos étnicos representados.
Como vocês estão chegando aos pais?
As equipes no meio da semana que viram mais frutos foram as que tinham
um evangelista em sua equipe.
Nosso cuidado pastoral com as famílias da Hora dos Jogos tem sido um
pouco irregular. Mas quando acertamos, é ótimo. Uma mulher tem um bebê e
alguém da igreja aparece com uma cesta de bebê e refeições. O esposo e a
esposa ficam maravilhados, pois nem mesmo suas famílias fazem isso por
alguns deles.
Havia uma senhora que veio à Hora dos Jogos e na segunda semana disse:
“Não tente me converter. Eu não estou aqui pela religião. Eu gosto do fato de
que este é um ambiente limpo e vocês têm brinquedos de qualidade.”. Ela era
muito franca. No final do ano, ela fez uma cirurgia. Os cristãos da Hora dos
Jogos amavam e cuidavam dela — ela recebia refeições e apoio. E no final
daquele ano, ela alegremente veio ao nosso culto de natal!
Você pode falar um pouco mais sobre os evangelistas?
Todos são chamados para evangelizar, mas identificamos pessoas que
demonstraram ter o dom do evangelismo. Eles falam de Jesus o tempo todo e
nem precisam pensar sobre isso.
Você tenta ter um evangelista em cada um desses programas, certo?
Sim, é importante que o líder da equipe não seja o evangelista. Você não
quer que seu evangelista seja quem tenha que pensar em levar o programa
adiante, matrículas, certificar-se de que as coisas estão encaixadas e
instaladas. Você realmente quer que seus evangelistas estejam livres para vir
e apenas conversar. Eles não precisam estar cortando as frutas.
Como vocês injetam o evangelho nos programas?
Em nosso Música e Movimento, todas as vezes há uma história da Bíblia
para as crianças. Geralmente isso estimula as conversas sobre o evangelho,
mas às vezes não. O que é de importância primordial em qualquer ministério
no meio da semana para as famílias é que os cristãos da equipe vivam e falem
de Jesus.
Às vezes as pessoas vêm porque estão curiosas: “O que há para oferecer
aos meus filhos? Sobre o que é esta igreja? Será que serei bem recebido?”.
Uma senhora muçulmana entrou (por causa do letreiro na frente), mas
estava muito hesitante. Ela disse: “Não tenho certeza se devo estar aqui. Eu
sinto que estou tomando o lugar de alguém de sua igreja.”. O líder da equipe
assegurou-lhe que ela era muito bem-vinda e lhe deu um pacote de boas-
vindas. Dentro do pacote havia um CD de músicas infantis, My God is so big.
O marido não a deixava ouvir em casa, então ela tocava em seu carro no
caminho de ida e volta da escola. Ela disse que era a única coisa que seus
filhos queriam ouvir.
A outra coisa que fazemos em nossos programas no meio da semana é dar
presentes. Tivemos uma celebração de Páscoa no ano passado, na qual as
famílias de nossos programas Hora dos Jogos e Música e Movimento se
juntaram. Tínhamos cerca de setenta a oitenta pessoas lá — mães, pais, avós
e filhos; era muito diversificado etnicamente.
Um de nossos líderes leu uma história que levou as crianças do ovo de
páscoa ao túmulo vazio, permitindo que eles vissem Jesus. Depois, enquanto
as crianças faziam uma atividade artesanal, os adultos ouviram a história da
mulher no poço e foram convidadas para o nosso curso Explicando o
cristianismo e para nosso culto de Páscoa. O dia terminou com uma caça aos
ovos de páscoa. Quando cada família saiu para ir embora, nós lhes demos um
livro de figuras. Custou cerca de 600 dólares, mas todas as famílias
(muçulmanas, hindus etc.) aceitaram o presente. Nossa oração é que esses
livros ilustrados sobre Jesus sejam lidos nesses lares.249
Discussão
1) O que vocês sabem sobre sua comunidade local? Quem vive aí? Qual é
o perfil demográfico de idade, afiliação religiosa, etnia, cenário
socioeconômico e assim por diante? (Se vocês nunca fizeram esse tipo
de pesquisa, agora seria um bom momento para começar.)
2) Existem alguns pontos de contato óbvios entre a natureza da
comunidade à sua volta e sua congregação — no tipo de pessoa que
vocês são, ou nos tipos de necessidades que vocês poderiam facilmente
satisfazer?
3) Que “envolvimento” vocês estão realizando atualmente? O que está
funcionando bem e pode ser aprimorado? Que novas ideias vêm à
mente?
4) Sem resolver nada definitivamente, quais seriam os três movimentos
mais importantes que vocês poderiam fazer como congregação para se
envolver mais com as pessoas ao seu redor?

SEGUNDA ETAPA DO CAMINHO: EVANGELIZAR


Então alguém foi “envolvido”; seja pessoalmente, por meio de um pequeno
grupo ou de algum evento ou programa. O que vem a seguir, a fim de
avançarem? Como ouvirão o evangelho? Mais uma vez, você pode pensar
que isso acontece em diferentes contextos.
a) Pessoalmente e em pequenos grupos
Assim como no envolvimento pessoal, o evangelismo pessoal prospera
quando os membros da congregação:
• Pessoalmente entendem e abraçam as convicções que esclarecemos na
Fase 1;
• São equipados e treinados para conhecer o evangelho de maneira clara e
profunda, e para serem capazes de articulá-lo por si mesmos — cada um à
sua maneira, de acordo com seus próprios dons e oportunidades;
• Encorajam e ajudam uns aos outros a continuar fazendo isso (por
exemplo, sendo uma faceta regular ou tema de pequeno grupo ou da vida
da igreja).
Em outras palavras, o evangelismo pessoal é muito parecido com estar em
um time de futebol. Há um nível básico de habilidade e comprometimento
que todos compartilham, assim como o reconhecimento de que existem
diferentes especialidades, dons e papéis ao trabalhar juntos como um time em
direção a um objetivo comum.
A habilidade básica para cada membro da equipe cristã é conhecer o
evangelho e ser capaz de articulá-lo (mesmo de forma muito simples) para
outra pessoa; o compromisso básico é querer fazer isso e procurar fazer isso
sempre que Deus nos der oportunidade. O evangelismo pode acontecer de
muitas maneiras diferentes em um nível pessoal ou em pequenos grupos —
desde ler a Bíblia com um não-cristão até compartilhar seu testemunho ou ler
um livro cristão juntos ou explicar um simples esboço do evangelho.
Mais uma vez, estamos de volta a “Equipar”. Ensinar, treinar e encorajar
os cristãos nessa área requer que as coisas estejam acontecendo no extremo
“equipar” de seu caminho (mais sobre isso à frente).
Assim como no envolvimento, pequenos grupos devem ter um constante
soar evangelístico, porque eles são feitos de aprendizes de Cristo que
deveriam estar crescendo em seu amor pelos outros e em seu desejo de ver
outros salvos. E como no envolvimento, isso é algo que você pode considerar
como um valor básico para todos os pequenos grupos, além de ser um foco
particular para alguns pequenos grupos. Podem ser formados alguns
pequenos grupos cujo foco ou propósito específico seja promover e praticar o
evangelismo.
b) Em programas ou cursos evangelísticos
Muitas igrejas usam cursos ou programas sobre o evangelho como um
próximo passo conveniente e eficaz para alguém considerar as reivindicações
de Cristo.250 Esses tipos de cursos têm inúmeras vantagens:
• Eles são agradáveis e envolventes, e dão aos participantes não-cristãos
tempo (em várias sessões) para entender o evangelho, falar sobre isso em
um grupo pequeno e descontraído, fazer suas perguntas e assim por
diante.
• Eles possibilitam que os cristãos convidem amigos para participar com
eles.
• Eles podem ser realizados em casas, restaurantes ou na própria igreja —
em qualquer lugar que seja mais prático para aqueles que você está
tentando convidar.
• Fazer com que eles ocorram regularmente (duas ou três vezes por ano,
digamos) garante um ritmo evangelístico regular na vida congregacional.
Continuamos a orar por isso (à medida que cada novo curso acontece), e
continuamos sendo lembrados sobre o desafio de nos envolvermos com
os nossos vizinhos e amigos e de convidá-los a vir.
• Eles também fornecem um próximo passo simples e claro para as várias
pessoas com quem temos contato na igreja — seja um visitante que não
conhece realmente o evangelho ou um frequentador esporádico de igreja
que nunca tenha realmente resolvido seu relacionamento com Deus. Se o
próximo curso evangelístico não estiver sendo programado para os
próximos meses, há um passo óbvio a ser dado.
• À medida que capacitamos nosso pessoal para participar desses tipos de
cursos (por exemplo, ensinando-os como convidar seus amigos e como
responder a perguntas e participar de discussões), estamos equipando-os
para evangelizar de forma mais ampla em suas vidas e motivando-os a
continuar. Sentar-se à mesa com não-cristãos e falar sobre o evangelho
(que é o que acontece nesses tipos de programas) é tremendamente
empolgante e estimulante para a maioria dos cristãos.
c) Na igreja
Não vamos gastar muito tempo neste ponto, que já foi discutido com
profundidade na Área de Foco 1 (Tornar o domingo uma referência), mas se
a própria igreja é uma ocasião constante para evangelismo, isso também
fornece um próximo passo para alguém com quem nos envolvemos. Podemos
convidá-los à igreja, sabendo que será uma experiência envolvente e
acessível, na qual eles serão desafiados com algum aspecto do evangelho.
d) Em eventos ou missões pontuais
A era das missões ou cruzadas em grande escala ao estilo de Billy Graham
parece ter passado, pelo menos em nossa parte do mundo. Grandes eventos
com os grandes oradores (frequentemente famosos ou internacionais) são
muito menos frequentes do que nas décadas passadas.
Sem debater todos os prós e contras do evangelismo em “eventos
especiais” — seja um evento combinado de várias igrejas, ou dentro da sua
própria congregação —, eventos ou missões pontuais podem ser úteis:
• Eles podem servir como foco e ponto de encontro; algo para preparar,
treinar e orar; algo para catalisar energia e atividade.
• O sucesso ou a utilidade desses eventos depende em grande parte se eles
são sua única estratégia evangelística ou se fazem parte de um esforço
mais amplo de envolvimento e evangelismo. Igrejas que já estão se
envolvendo e evangelizando extensivamente de outras maneiras (como
descrevemos acima) podem ter muito proveito em um evento pontual de
alto nível. Pode servir como um “ponto de colheita” no qual as pessoas
que têm considerado Cristo por algum tempo tomam a decisão de se
arrepender e confiar nele. Ou pode servir como um “ponto de escavação”
— como um passo anterior no caminho, em que alguém com quem você
está envolvido aparece, sente-se instigado ou desafiado e decide descobrir
mais. Algumas igrejas realizam algum tipo de evento maior algumas
semanas antes do início do próximo curso de discipulado.
• Por outro lado, as igrejas que ainda não se envolvem ou evangelizam
muitas vezes acabam tendo uma decepção com o evento ou missão. A
congregação não está envolvida com seus amigos, e por isso não tem
ninguém para convidar. Não há um fluxo de pessoas que estejam
considerando o evangelho e, portanto, ninguém está preparado e pronto
para se decidir por Cristo. E chegamos à conclusão de que “esse tipo de
evento não funciona”.
Mais da história de Davi
Davi é o pastor de uma igreja independente no centro de uma grande
cidade.
Quais são algumas de suas programações ou caminhos para o
evangelismo?
O Dia da Austrália é muito importante em nossa cidade, então em nossa
primeira reunião como igreja, anunciamos que iríamos fazer uma banca nos
mercados e falar do evangelho às pessoas. Todos compareceram — foi ótimo
para nossa nova igreja, e as pessoas ficaram sabendo quem somos.
Desde o início, realizamos um programa evangelístico chamado “Café e
Jesus” durante cinco semanas, muitas vezes em um café local. Nós
encorajamos os membros a irem com seus amigos. As pessoas ouvem o
evangelho no “Café e Jesus”, mas a ação real não acontece no evento;
acontece no carro, a caminho de casa. Então eu (ou outra pessoa) dou uma
palestra para gerar discussão, com uma mistura de apologética e exposição do
evangelho, como Duas maneiras de viver, mas com palavras diferentes.
Então, nos fale de um tópico típico de uma palestra.
A palestra 3 é sobre a cruz. Começamos com uma pergunta na mesa: “Por
que é tão difícil perdoar e esquecer?”. Então discutimos amor e justiça, e
como um Deus que ama também pode ser justo, e isso nos leva à cruz.
O grande detalhe é que os colocamos em mesas — não em uma mesa
grande, mas em muitas mesas pequenas — e queremos que essas mesas
discutam. Isso proporciona duas coisas. Torna o ambiente realmente seguro
para o não-cristão; eles não estão pensando que todos aqui são cristãos. E
nossos membros têm prática real e ao vivo de evangelismo. Tem sido uma
ótima maneira de vermos pessoas se tornarem cristãs, e também o modo
como conquistamos pessoas pelo poder do evangelismo.
O que mais vocês fazem de evangelismo em sua igreja?
O “Café e Jesus” está sempre acontecendo. Em termos de dinâmica anual,
quero que tenhamos algo que defina o tom do restante do ano, algo que nos
lembre do que estamos fazendo. Assim, apesar de algumas pessoas na igreja
estarem de férias no verão, é importante que tenhamos evangelismo no
começo do ano.
Na verdade começamos em outubro, quando pedimos a todos em nossa
igreja para fazer uma pergunta a amigos e familiares. Neste ano foi: “Qual
você acha que é o maior problema do mundo?”. Então nossos membros se
tornam mais desinibidos para conversar, e nós (como pregadores) queremos
as respostas! Nós recebemos as respostas, e elas se tornam a base de nossa
série evangelística em janeiro. Nós pregamos sobre as quatro respostas mais
comuns dadas pelas pessoas à pergunta.
Estamos no meio dessa série no momento. Então, há duas semanas
falamos sobre “medo”, e domingo passado sobre “mudanças climáticas”.
Uma pessoa que conheci no domingo à noite, George, vinha de uma tradição
ortodoxa sérvia. Ele foi abordado em casa por um casal da equipe da missão
que lhe disse que estávamos fazendo essas perguntas. Ele disse que a
mudança climática era o maior problema do mundo, e eles disseram: “Bem,
esse é um dos temas que vamos abordar!”. Ele estava interessado em saber
por que uma igreja falaria sobre mudança climática, então veio no domingo.
Ele foi muito agressivo comigo antes do culto e estava esperando que eu
tropeçasse em alguma coisa. Depois da programação, ele conversou com
muitas pessoas, e então ele se voltou para mim e disse: “Eu realmente gostei.
Estou surpreso e gostaria de voltar para as próximas duas semanas. Tudo
bem?”.
Você tem alimentado a igreja com pregação expositiva ao longo dos livros
da Bíblia. Então, esse cara vai ficar para ouvir sobre Juízes em fevereiro?
Começamos com um evangelho em fevereiro todos os anos. Se George
continuar indo, ele vai ouvir os primeiros oito capítulos do Evangelho de
Marcos.
Como você evita uma quebra de sentido passando de “mudanças
climáticas” para o evangelho de Marcos?
É preciso estar ciente de que as pessoas que estiveram lá na semana
passada ainda estarão lá esta semana, por isso precisamos pegar leve com
elas. Assim que a série de pregações em Marcos começa, também
começamos nossa primeira série de “Café e Jesus”, e por isso estamos orando
para que George volte nas próximas duas semanas, e que ele esteja
interessado em saber mais. Toda semana temos apenas um anúncio, e é sobre
“Café e Jesus”. Esse é, na verdade, o ponto de aplicação da maioria dos
sermões: você precisa conhecer mais sobre Jesus, então você deveria ir ao
“Café e Jesus”.
Discussão
1) Analise seus exercícios de avaliação da Fase 3. O que eles dizem sobre
como o evangelismo está acontecendo (ou não) dentro e por meio de sua
igreja?
2) O que está funcionando bem ou tem potencial para ser aprimorado? Que
novas ideias vêm à mente?
3) Sem resolver nada de modo definitivo, quais são os três movimentos
mais importantes que poderiam ser feitos como congregação para ver o
evangelho ser mais compartilhado com os não-cristãos?

TERCEIRA ETAPA DO CAMINHO: ESTABELECER


Só para esclarecer: “estabelecer” significa a fase no crescimento de um
aprendiz depois que ele se arrepende e se volta para Cristo, a partir da qual
ele cresce em conhecimento e compreensão, cria raízes profundas de fé e
aprende a crescer em vida piedosa, conforme “guarda todos os seus
mandamentos”. É o processo de amadurecimento da vida cristã e, portanto, é
para a vida toda. Inclui acompanhar um novo crente, ajudar um cristão firme
a crescer ainda mais ou a lidar com um pecado particular, encorajar e
fortalecer os crentes que lidam com dificuldades e sofrimento, e assim por
diante. (Nós nos perguntamos se Encorajar ou Edificar seriam melhores
rótulos para esta etapa — sinta-se livre para escolher a descrição que gostar
mais!)
Na maioria das igrejas, este é o momento em que a ação acontece.
Trabalhando nos exercícios de avaliação da Fase 3 com muitos pastores em
todo o mundo, descobrimos que na vasta maioria das igrejas, na maioria das
vezes, a energia e o esforço da vida da igreja vão para essa área — em
grupos, atividades e ministérios que ajudam os cristãos a perseverar em
Cristo e crescer em seu conhecimento e piedade (suspeitamos que você
provavelmente descobriu isso em sua própria igreja na Fase 3).
Em certo sentido, isso é compreensível e correto. O que Paulo diz aos
presbíteros de Éfeso?
Atendei por vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu
bispos, para pastoreardes a igreja de Deus, a qual ele comprou com o seu próprio
sangue. (At 20.28)
Para que servem os pastores, se não para cuidar, alimentar e proteger as
ovelhas?
Mesmo assim, muitas igrejas enfrentam duas questões significativas nesta
área:
• Há uma falta de produtividade real ou de resultados observáveis em
muitos desses ministérios. As atividades, grupos e programas existem (e
muitas vezes há muito tempo) e continuam seguindo, mas temos pouca
confiança de que estão efetivamente fazendo as pessoas avançarem.
(Você chegou a essa conclusão por si mesmo no Exercício de Avaliação 3
da Fase 3?)
• Muito esforço e tempo são dedicados à manutenção e crescimento de
vários ministérios de “Estabelecer” (como pequenos grupos, ministérios
de mulheres ou grupos de jovens), e muito pouco acontece nas outras
áreas. Não há muito envolvimento ou evangelização realmente
acontecendo, e isso geralmente acontece porque não há muito “Equipar”
acontecendo.
Essas duas questões estão ligadas. Se a maior parte da vida de sua igreja
está nesta área de “Estabelecer”, sem muita coisa acontecendo em outro
lugar, na verdade significa que essa etapa está falhando em um ponto-chave.
Seu povo não está, de fato, se tornando semelhante a Cristo — porque, se
estivesse, estaria crescendo em seu anseio de ver outras pessoas salvas e de
dar sua vida para que isso acontecesse. A falta de envolvimento e
evangelismo, que geralmente é acompanhada da falta de pessoas que querem
ser equipadas e apoiadas para fazer isso, geralmente é sintomática de uma
congregação espiritualmente imatura e subdesenvolvida.
Vamos examinar três aspectos dos ministérios de “Estabelecer” e explorar
como podemos melhorá-los.
a) Estabelecer novos crentes
Quando alguém é convertido por meio do ministério de sua congregação, o
que acontece em seguida? Como eles são acompanhados?
Esta é uma questão vital. Espiritualmente falando, os novos crentes são
como recém-nascidos. Eles precisam de alimentação constante, têm muito a
aprender e precisam da proteção e do cuidado de seus “pais” espirituais. Os
primeiros 6 a 12 meses depois que alguém chega à fé em Cristo são um
momento tão animador quanto perigoso. Muitas vezes há uma bagagem
considerável a ser tratada por causa de seu antigo modo de vida, e pressões e
tentações com as quais os crentes mais antigos não têm mais contato.
Esta é uma área na qual o ministério pessoal e relacional é vital. Se há
algum estágio em “aprender Cristo” no qual precisamos de acompanhamento
pessoal intensivo, orientação e treinamento, é este. Certamente podemos ter
grupos especiais para crentes novos ou jovens, e isso pode ser muito útil para
conduzi-los sistematicamente pelas verdades fundamentais da fé. Mas mesmo
em tais grupos, precisa haver cristãos maduros o suficiente para que cada
novo crente seja acompanhado por alguém que possa caminhar ao seu lado e
ajudá-lo a aprender Cristo neste estágio vital (isto é, “discipulá-lo”).
Esse tipo de acompanhamento pessoal de novos crentes é algo que os
cristãos piedosos mais maduros são muito capazes de fazer, com um pouco
de treinamento e apoio (mais uma vez, equipar!).251
No passado (e ainda hoje em algumas tradições), os catecismos eram
usados para esse aprendizado fundamental, com perguntas e respostas
formais sobre os fundamentos da fé.252 Esta abordagem pode parecer fora de
moda para nós, mas tem benefícios que devem ser ponderados,
principalmente na simplicidade do método (não é difícil de fazer) e na
maneira como padroniza a sã doutrina que desejamos que todos os cristãos
aprendam.
Outras igrejas têm um programa “básico” de um ano que elas exigem que
todos em sua igreja completem (incluindo todos os novos crentes),253 ou
classes adultas da Escola Dominical que se concentram nos fundamentos.
Seja qual for o método, o ensino sadio (ou “catequese”, como J. I. Packer
chama nesta citação) é essencial para o estabelecimento de discípulos
cristãos:
A igreja deve ser uma comunhão de aprendizado e ensino na qual a transmissão do
que aprendemos torna-se uma parte regular do serviço que prestamos uns aos
outros. Certamente essa é uma percepção que as igrejas de hoje precisam
urgentemente recuperar. […]
Ao contemplarmos as complexas preocupações, esperanças, sonhos e aventuras de
renovação cristã de hoje, o discipulado nos impressiona como a questão-chave
atual, e a catequese como o elemento-chave do discipulado atual, em todo o
mundo. A fé cristã deve ser bem e sabiamente ensinada e bem e verdadeiramente
aprendida! Uma ampla mudança de mentalidade é necessária, sem a qual ditados
tão desgastados como “o cristianismo americano tem três quilômetros de largura e
dez centímetros de profundidade” continuarão, infelizmente, a ser confirmados.254
b) Estabelecer os recém-chegados na igreja
As pessoas que passam por nossas portas como recém-chegados
apresentam um tipo particular de desafio de “Estabelecer”. Temos o objetivo
organizacional de estabelecê-los como membros potenciais de nossa igreja —
ajudá-los a chegar, se acomodarem, conhecer pessoas e se tornarem parte do
tecido de nossa comunidade, e assim por diante. Mas o objetivo mais
significativo (embora também esteja relacionado, é claro, a eles se unirem a
uma igreja) está em descobrir em como fazer os recém-chegados avançarem
um passo, a partir de onde quer que estejam.
Na maioria dos casos, os recém-chegados à nossa congregação serão
algum tipo de cristão, mas exatamente onde eles estão e o que eles precisam
para crescer é algo que varia imensamente. Os recém-chegados chegam à
nossa porta em todos os tipos de estágios diferentes ao longo do espectro —
desde alguém que não é cristão e precisa ser evangelizado até um cristão
maduro e firme que esteja pronto e disposto a se integrar e fazer parte do
ministério.
Em outras palavras, estabelecer recém-chegados é outra área em que o
toque pessoal é importante. Alguém precisa dedicar tempo suficiente a cada
novato para realmente conhecê-lo — saber de onde vem e o que precisa em
seguida. Ele pode precisar que o evangelho lhe seja explicado; talvez precise
lidar com uma mágoa que o manteve fora de qualquer igreja nos últimos 12
meses; ele pode ter visões amplamente divergentes sobre questões teológicas
que precisam ser discutidas.
Quaisquer sistemas ou processos que existam para receber recém-
chegados, o recém-chegado idealmente precisa do que uma igreja que
conhecemos chama de concierge255 — alguém para ficar com ele, cuidar dele,
apresentá-lo à igreja e a outras pessoas e guiá-lo para o que ele precisa em
seguida, a fim de crescer em Cristo.
Isso novamente requer alguma organização e algum treinamento. Por
exemplo, você poderia formar um pequeno grupo ou equipe especificamente
para essa finalidade. Eu (Tony) lidero um grupo como este na minha igreja
local. Funcionamos como um pequeno grupo “normal” em um sentido —
somos um grupo de cristãos maduros que buscam fazer uns aos outros
avançarem em Cristo por meio da Palavra e da oração. Mas nosso foco
ministerial além do grupo está em acompanhar os recém-chegados.
Mantemos uma atenção especial nos recém-chegados aos domingos, e
trabalhamos duro para conhecê-los e obter algumas informações de contato
para poder acompanhá-los. Toda semana, em nossa reunião do grupo,
conversamos e oramos pelos nomes de todos os recém-chegados que vieram
no domingo (ou nas várias semanas anteriores). Cada um de nós é escalado
para acompanhar um recém-chegado ou casal (geralmente as pessoas que
cada um conheceu no domingo), e depois ficamos com eles nos meses
seguintes — entrando em contato por telefone na primeira semana após a
visita, convidando para os nossos lares (ou visitando os deles), apresentando-
os aos outros, descobrindo onde estão espiritualmente e ajudando-os a
descobrir o que precisam fazer em seguida. Em dado momento, cada um de
nós pode ter até meia dúzia de pessoas pelas quais estamos orando e
acompanhando.
Esse tipo de dimensão pessoal em estabelecer recém-chegados pode se
encaixar muito proveitosamente com outros ministérios, atividades e
estruturas que ajudam os recém-chegados a encontrar seu caminho. Por
exemplo, é possível:
• Haver uma mesa de recepção especial para recém-chegados no domingo;
• Convidar recém-chegados para um chá da manhã especial depois da
igreja para conhecer o pastor;
• Enviar um e-mail ou carta para eles no início da semana após a primeira
visita;
• Organizar almoços especiais ou outros eventos sociais para os recém-
chegados conhecerem o pastor, outras pessoas novas e frequentadores
regulares;
• Fazer algum tipo de programa especial para orientar os recém-chegados
sobre como é sua igreja, e ajudá-los a dar os primeiros passos para se
tornarem parte de sua irmandade.256
c) Estabelecer crentes em crescimento
Assim como no envolvimento e na evangelização, o ministério de
estabelecer, que faz os crentes avançarem, pode acontecer em múltiplos
contextos:
• Relacionamentos de leitura bíblica em duplas: é quando as pessoas se
reúnem regularmente para se estabelecerem mutuamente, seja em curto
prazo (por exemplo, semanalmente por três meses) ou em longo prazo
(por exemplo, uma vez por mês durante anos). Isso pode ser muito
poderoso porque é individual e intensivo — podemos nos aprofundar em
questões, desafiar e advertir uns aos outros de uma maneira que muitas
vezes é difícil fazer em um pequeno grupo. Claro, por ser tão intensivo,
também é pouco eficiente e difícil de se multiplicar rapidamente.
• Pequenos grupos: pequenos grupos caseiros — isto é, pequenos
ajuntamentos de aprendizes de Cristo que se reúnem regularmente para se
ajudarem a avançar por meio dos quatro Ps — continuam a ser uma
estrutura básica e importante para ajudar os crentes a amadurecer. As
vantagens e potencialidades de pequenos grupos para este tipo de
ministério são bem reconhecidas. No entanto, como observamos em
nossa discussão no apêndice 3, esse potencial muitas vezes não é
colocado em prática. Em muitas igrejas, o pequeno grupo “treliça”
precisa de um trabalho significativo — na visão do que os grupos são e
estão tentando alcançar, na qualidade dos líderes e no treinamento (inicial
e contínuo) que recebem, na qualidade do material que forma a base para
o estudo, e assim por diante. Talvez o passo mais significativo seja o
compromisso de recrutar, treinar e apoiar líderes piedosos que
compreendam o que é necessário, e estejam equipados e orientados para
crescer em seu papel. (Mais uma vez, falaremos mais a seguir em
“Equipar”.)
• Grupos maiores: seja em seminários, conferências, noites de ensino,
cursos de curta duração ou classes adultas da Escola Dominical, existem
várias maneiras pelas quais o ministério 4Ps pode acontecer para ajudar a
estabelecer os cristãos em sua congregação. Muitas igrejas usam esses
tipos de ocasiões para abordar tópicos polêmicos em particular (como
questões sociais, sexo e relacionamentos), ou para fornecer
aprofundamento ou ensino intensivo sobre um tópico teológico.
Estabelecer (ou desenvolver) crentes cristãos não é, naturalmente, um
caminho suave, coberto de pétalas de rosa. Diversos tropeços, quedas e
desastres acontecem ao longo do caminho. Essa é uma das razões por que não
nos importamos em usar a palavra “estabelecer” para descrever todo o
processo de crescimento cristão até a maturidade. Como o Novo Testamento
enfatiza repetidamente, crescimento em sabedoria espiritual, conhecimento,
piedade e frutificação é em grande medida demonstrado em firmeza e
perseverança — em permanecer firme e não ser movido quando as
tempestades se enfurecem e nos atingem (ver, por exemplo, em Colossenses
1.9–11 como o resultado da oração ambiciosa de Paulo por eles é
perseverança e longanimidade com alegria). O cristão que continua a
“avançar” (paradoxalmente) está cada vez mais profundamente enraizado em
um único lugar — em Cristo.
Isso levanta a questão do que é frequentemente chamado de “cuidado
pastoral” — isto é, cuidar um do outro, especialmente durante os tempos
difíceis da vida. Algumas igrejas estabelecem uma estrutura ou método
específico para lidar com isso, de modo que quando algo difícil acontece na
vida (um luto, uma doença ou alguma outra dificuldade), uma determinada
equipe ou grupo de pessoas entra em ação para fornecer apoio pessoal e
cuidado.
Idealmente, se nossos pequenos grupos estivessem funcionando como
centros de ministério mútuo, muito desse cuidado pessoal extra ou
especializado talvez não fosse necessário. Não é como se houvesse dois tipos
de amor e ministério uns para os outros — o tipo de estudo bíblico que
fazemos nas noites de quarta-feira, e o amor prático em tempos de provação,
que um grupo diferente cuida em algum outro ponto. O grupo de aprendizes
de Cristo, que é um “pequeno grupo”, deve amar e cuidar um do outro.
Mesmo assim, muitas igrejas ainda consideram vantajoso equipar as pessoas
particularmente para esse tipo de ministério de amor em tempos de crise —
seja como uma estrutura separada, ou como parte do que todo pequeno grupo
aprende.
É útil pensar no ministério de cuidado pastoral à luz de nossa visão de
ajudar cada pessoa a avançar um passo ao aprender Cristo. Tempos difíceis
na vida não são a exceção, mas a norma neste mundo tenebroso, tanto para os
descrentes como para os discípulos de Cristo. E sabemos que Deus tem um
propósito maior nessas provações para produzir confiança robusta, duradoura
e alegre nele.257 Crescer em caráter, esperança e perseverança em meio às
tempestades da vida é simplesmente um aspecto de ser estabelecido como
cristão, e acontece (como todo crescimento cristão) por meio dos quatro Ps.
Então, quando visitamos um paciente com câncer, ou oramos com uma
viúva em luto, não estamos fazendo nada fundamentalmente diferente de
qualquer outro tipo de ministério — embora as circunstâncias exijam
paciência, sensibilidade e cuidado particulares. Isso nos leva novamente a
equipar nossos membros (talvez por meio de pequenos grupos ou classes)
com uma compreensão básica de como ouvir e amar e, em espírito de oração,
abrir a Palavra com alguém que esteja sofrendo, para que possam ser
consolados e encorajados.258
Discussão
1) Que aspectos de “Estabelecer” estão indo bem? O que poderia ser
aprimorado ou melhorado?
2) Fale sobre seus pequenos grupos (se vocês tiverem). Quais são os
problemas? O que poderia ser feito para melhorá-los como comunidades
de aprendizado eficazes? Quais novos grupos talvez precisem ser
iniciados? Como essa estrutura central em sua igreja pode ser mais bem
usada para equipar discípulos que fazem discípulos? (Se vocês ainda não
leram e discutiram o apêndice 3 sobre “Repensando pequenos grupos”,
agora provavelmente seria um momento apropriado.)
3) Falem sobre a sua Escola Dominical para adultos (se tiverem). Qual sua
eficácia em ensinar a sã doutrina? O que poderia ser feito para melhorar?
Que novas classes talvez precisem ser iniciadas? Como é possível usar
melhor essa estrutura de sua igreja para equipar discípulos que fazem
discípulos?
QUARTA ETAPA DO CAMINHO: EQUIPAR
Conforme você tem pensado e conversado sobre os vários estágios pelos
quais alguém pode passar (de “Envolver” até “Estabelecer”), sem dúvida
notou e refletiu sobre um tema constante — que quase tudo o que você pode
querer iniciar ou melhorar em cada etapa do processo requer pessoas
motivadas, disponíveis e equipadas para se envolverem. “E nós simplesmente
não temos essas pessoas”, podemos ouvir você dizer.
Você está certo: esse tipo de pessoa — o tipo que se compromete a ir ao
grupo de atividades para conhecer e evangelizar as mães não-cristãs — não
cresce em árvores. Todos os pastores com quem conversamos sentem não ter
pessoas suficientes desse tipo e imaginam como as coisas poderiam ser
diferentes se tivessem.
Em uma pesquisa recente com pastores que estiveram envolvidos em
nossos ministérios de treinamento Vinegrowers, o segundo obstáculo mais
comum para mudar a cultura da igreja foi a dificuldade de levantar e
desenvolver líderes leigos com a visão de fazer discípulos. Quase 50% dos
entrevistados expressaram o desejo de treinamento local para equipes e
líderes; isto é, eles queriam que alguém de fora viesse e fizesse esse
treinamento para eles. (A propósito, os outros dois obstáculos mais relatados
foram a falta de vontade de mudar e a falta de tempo dos membros.)
Líderes e cooperadores não crescem magicamente em árvores, mas
crescem. Eles crescem e se desenvolvem da mesma forma que todos os
outros crescimentos acontecem — por meio da obra de Deus em suas vidas, à
medida que sua Palavra cria raízes e frutifica pelo Espírito ao longo do
tempo.
É por isso que o estágio “Equipar” é talvez o mais importante na criação
de caminhos para fazer as pessoas avançarem. Por “equipar” queremos dizer
a fase do crescimento cristão:
• Em que os cristãos abraçam o conceito de ajudar os outros a avançarem
— em que a ficha cai e eles percebem que o amor que Deus derramou em
seus corações os move em direção a outras pessoas, a ansiarem por ver
outras pessoas virem a Cristo e crescerem em Cristo;
• Em que tais cristãos são ensinados, treinados, orientados e apoiados neste
ministério voltado para os de fora.
O estágio de “Equipar” é aquele no qual geramos e desenvolvemos uma
equipe de colaboradores para levar outras pessoas a avançarem — e
considerando quantas pessoas existem e a dimensão das necessidades,
precisamos da maior equipe de colegas de trabalho que pudermos obter.
Devemos também enfatizar que não estamos apenas equipando as pessoas
para fazer trabalhos na igreja ou para participar de nossos programas;
estamos equipando as pessoas para se engajarem no ministério dos 4Ps em
qualquer contexto ou oportunidade que Deus ponha diante deles — seja em
ser um pai piedoso que ama, disciplina e ensina seus filhos, ou um
trabalhador piedoso que procura envolver e evangelizar a pessoa na sala ao
lado.
Em muitos aspectos, “Equipar” é um aspecto de “Estabelecer” — estamos
tratando-os como duas etapas aqui apenas para maior clareza e conveniência.
Não é uma etapa separada, como uma segunda bênção, em que apenas alguns
cristãos têm o privilégio de entrar. É a vida cristã normal — alcançar esse
ponto de maturidade cristã onde nosso amor cristão pelos outros nos motiva a
querer ministrar a eles da maneira que pudermos.
Isso também significa que não é exatamente sequencial, como se você
tivesse que ser estabelecido como cristão em estágio probatório antes de se
qualificar para ser equipado para ministrar aos outros. Muitos cristãos recém-
convertidos, por exemplo, devem ser equipados o mais rápido possível para
poderem compartilhar claramente o evangelho com seus amigos — porque
eles terão muitos amigos não-cristãos querendo saber o que aconteceu.
Para entender o que “Equipar” envolve, vamos pensar nisso acontecendo
em três níveis.259
a) Nível 1: fazer a ficha cair
O primeiro e mais básico passo é ajudar os cristãos a avançar esse passo
específico em seu entendimento: compreender que o propósito de Cristo para
mim é que eu busque de todo o coração fazer os outros à minha volta
avançarem da maneira que eu puder.
Isto acontece, naturalmente, como qualquer outro crescimento cristão —
por meio dos quatro Ps. O lugar principal e contínuo em que isso deve
acontecer é pelo ensino regular da Bíblia no domingo — especialmente o
ensino que comunica o tipo de convicção impressionante e transformadora
que aprofundamos na Fase 1.
Em nossa observação, geralmente é útil focalizar este tópico específica e
intensivamente em algum momento — por meio de alguma combinação de
uma série de sermões especiais, seminários ou conferências aos sábados,
blocos de tempo nos quais pequenos grupos focalizam esse tópico, e assim
por diante.260
Equipar os cristãos para começarem a fazer os outros avançarem é antes de
tudo uma questão do coração. Precisamos abordar a compreensão profunda
das pessoas sobre o propósito de suas vidas, e o que elas percebem como
sendo o propósito de Deus para elas. Simplesmente equipar as pessoas com
algumas habilidades práticas (por exemplo, como compartilhar seu
testemunho) não fará muita coisa se não houver uma transformação do
coração.
b) Nível 2: aprender algumas habilidades básicas
Uma vez que a motivação e o desejo de fazer outros avançarem estão
presentes, algumas ajudas práticas e habilidades em como fazê-lo podem ser
extremamente úteis, especialmente para dar aos cristãos a confiança de que
eles conseguem fazê-lo. Aqui estão alguns dos tipos básicos de competências
ou habilidades que quase todo cristão deve ter em sua bolsa:
• Como falar a Palavra de Deus para si mesmo — isto é, como ler a Bíblia
em oração como parte regular da vida;261
• Como falar sobre Cristo com os não-cristãos, seja compartilhando seu
testemunho ou fornecendo uma explicação simples do evangelho;262
• Como responder a perguntas comuns que são levantadas sobre o
cristianismo;263
• Como ler a Bíblia em dupla com outra pessoa (seja um amigo cristão ou
não-cristão);264
• Como acompanhar um novo ou jovem cristão pessoalmente;265
• Como encorajar e ministrar aos outros no domingo (o “ministério do
banco”);266
• Como ministrar ao seu cônjuge e filhos.
c) Nível 3: aprender algumas habilidades específicas
Existem alguns ministérios e algumas habilidades que requerem
treinamento especial — isto é, alguém que já está sendo equipado nos níveis
1 e 2 e precisa de algum treinamento extra para uma tarefa ou ministério em
particular. Os mais comuns seriam:
• Como liderar um pequeno grupo;267
• Como liderar no ministério infantil ou na escola dominical;268
• Como liderar e ministrar em grupos de jovens;269
• Como dar palestras bíblicas ou sermões.270
Em nossas conversas com pastores nos últimos seis anos, descobrimos —
quase universalmente — uma notável falta de preparação, treinamento e
orientação no nível 3. Este é especialmente o caso da liderança de pequenos
grupos. Pouquíssimos pastores estão satisfeitos com a natureza e a qualidade
da preparação que eles fornecem para seus líderes de pequenos grupos (seja
em treinamento inicial ou apoio contínuo). Isso nos parece ser (na maioria
dos casos) um erro estratégico na alocação de tempo e recursos. Pequenos
grupos têm um enorme potencial para fazer as pessoas avançarem — mas o
seu fracasso frequente em fazê-lo é em grande parte devido à baixa qualidade
da liderança. Seja qual for a energia ou os recursos que empregamos para
recrutar e equipar líderes de pequenos grupos, receberemos enormes
dividendos ao longo do tempo.
d) Começando a equipar
Em geral, nossa observação é que a maioria das igrejas não entende a
importância de equipar no nível 1 e, portanto, raramente planeja fazê-lo. Isso
significa que, quando tentam ocasionalmente equipar no nível 2, ficam
frequentemente desapontados com a resposta ou com o nível de aceitação —
porque não há o coração ou motivação para se envolver. Isso, por sua vez,
leva a uma escassez de candidatos para o treinamento de nível 3.
O resultado é bastante previsível e comum:
• Falta de envolvimento geral da congregação em vários pontos ao longo
do caminho — seja no envolvimento com não-cristãos, em evangelizar
seus amigos, em ler a Bíblia uns com os outros, acompanhar novas
pessoas, ou ativamente encorajar e edificar seus companheiros crentes;
• Falta de líderes disponíveis para pequenos grupos e outros ministérios,
resultando em grupos excessivamente cheios ou numa redução do nível
da liderança, ou ambos.
Tudo começa com “Equipar” e, especialmente, nos níveis 1 e 2. À medida
que criar caminhos ou estruturas (abaixo), provavelmente você descobrirá
que precisa concentrar seus esforços iniciais na parte “mais avançada” (em
“equipar”), a fim de progredir no devido tempo até as “menos avançadas”
(em engajar, evangelizar e estabelecer). De todos os diferentes planos e
iniciativas que você peneirar e priorizar na concepção de seus caminhos, este
é fundamental.
Mas como vamos alcançar este aspecto do aprendizado transformador com
um número crescente de pessoas? Que passos podemos dar para começar?
Nós já escrevemos algo sobre isso em A treliça e a videira.271 No breve
espaço que temos aqui, sugerimos o seguinte:
• Começar quase certamente significará, inicialmente, investir em um
pequeno número de líderes atuais ou potenciais que podem ajudar a
equipar outros. Equipar do tipo que estamos falando não pode realmente
acontecer por controle remoto ou impessoalmente. Como temos proposto
o tempo todo, o tipo de aprendizado envolvido é pessoal e transformador;
requer conteúdo não apenas para ser transmitido, mas exemplificado e
praticado, com oração e paciência ao longo do tempo.
• Em termos práticos, isso pode significar gastar um ano ou mais
investindo no treinamento pessoal e transformacional de um pequeno
grupo de pessoas, de onde podem surgir líderes com o coração e as
habilidades para ajudá-lo a equipar os outros. Dependendo de quem são
essas pessoas, e de onde elas estão começando, seu treinamento pode
abranger os três níveis.
• Com estes líderes e capacitadores mais bem equipados, as suas estruturas
existentes de “estabelecer” (como pequenos grupos) podem ser utilizadas
de forma muito eficaz como um veículo para equipar nos níveis 1 e 2.
Uma das grandes vantagens disso é que o aprendizado pode ser revisto e
praticado durante muitos meses, em vez de depender de um curso curto.
A preparação é incorporada e se torna parte da vida normal do grupo.
• Para melhorar ou complementar este “equipar” em pequenos grupos,
você pode inserir um capacitador (geralmente alguém da equipe pastoral)
nos grupos, um de cada vez, para fornecer algum treinamento intensivo.
Isso pode realmente ajudar os líderes mais novos ou menos confiantes a
aprender como replicar esse tipo de treinamento no futuro.
• Para os pensadores sólidos entre vocês, a abordagem que defendemos
pode ser assim:
o Ano 1 — reúna um pequeno grupo de (digamos) dez pessoas e passe
aproximadamente quatro meses equipando em cada nível. O objetivo no
final do ano é ter (digamos) seis líderes novos ou significativamente
amadurecidos que estejam prontos para ajudá-lo a equipar os outros por
meio de pequenos grupos.
o Ano 2 — orientar e apoiar esses seis novos líderes enquanto começam a
equipar as pessoas em seus pequenos grupos; reunir-se com esses
líderes regularmente e inseri-los em seus grupos por (digamos) períodos
de quatro semanas para ajudá-los a se equipar.
o Também no ano 2, procure outras dez pessoas para trabalhar com mais
intensidade.
• Além de trabalhar com estruturas de pequenos grupos existentes, muitas
igrejas complementam isso com seminários especiais de treinamento,
eventos ou outras estruturas. Sabemos de algumas igrejas que separam
um bloco de 10 semanas, onde todos os pequenos grupos se reúnem para
se concentrar particularmente em equipar nos níveis 1 e 2. Algumas
igrejas têm uma estrutura adicional — uma “escola de ministério cristão”
ou uma vertente de suas classes adultas da Escola Dominical — que
oferece oportunidades constantes para equipar. Há várias maneiras de
fazer isso.
• Se seus grupos estão começando a funcionar bem, sendo mais
amplamente equipados nos níveis 1 e 2, então novos líderes potenciais
começarão a emergir desses grupos. Em algum momento, você precisará
separá-los para um nível mais intensivo de treinamento no nível 3 para a
liderança. Algumas igrejas tiram potenciais novos líderes de seu pequeno
grupo normal por seis meses e fornecem treinamento intensivo em
liderança — isto é, esse grupo de “treinamento de liderança” funciona
como seu pequeno grupo nesse período.272
• Continuar a se reunir regularmente com seus líderes é fundamental. No
mínimo, você deve reunir todos os seus líderes de pequenos grupos para
treinamento e discussão trimestralmente. Melhor ainda, reúna um grupo
de líderes mensalmente em sua casa para conversar e orar sobre seus
grupos, para ser equipado em algum aspecto da liderança e encorajar um
ao outro (como uma equipe de líderes) a continuar a tarefa.
• Observamos um número crescente de igrejas que pedem a alguns líderes
experientes que saiam da liderança de um grupo ou classe para equipar e
orientar outros líderes. Ao visitar os grupos ocasionalmente, esses
mentores veem os pontos fortes e fracos dos líderes e podem trabalhar em
seu desenvolvimento.
A história de Tiago
Tiago foi indicado como ministro de uma igreja dentro de uma
denominação tradicional em uma cidade de médio porte há alguns anos.
Como você começou a equipar seus membros para fazer parte de uma
igreja voltada para a missão?
Foi simplesmente uma questão de ajudar as pessoas a verem a partir da
Bíblia que elas estão envolvidas nisso. Elas estão onde a ação acontece. Elas
fazem uma parte emocionante do evangelho que cresce e dá frutos em todo o
mundo. Ajudar as pessoas a se sentirem quase comissionadas a fazê-lo. Isso
foi apenas uma mudança de paradigma no modo como eles viam as coisas. E
obviamente, junto com isso, dei a eles as habilidades para seguir em frente e
fazer o trabalho. Temos muitos cursos diferentes sobre como falar
efetivamente com as pessoas sobre Jesus.
Que tipo de cursos você ministrou?
Nos primeiros dias, realizamos cursos específicos de treinamento, como o
Duas maneiras de viver, sobre como explicar o evangelho e como
acompanhar um novo cristão. Mas eu aprendi rapidamente que eu
pessoalmente tinha que fazer as pessoas chegarem a eles. Lembro-me
claramente de estar no pequeno e antigo salão em que estávamos nos
reunindo para ministrar o primeiro curso de treinamento de evangelismo.
Ninguém apareceu. Porque, tolamente, eu não toquei no ombro de alguém e
disse: “Ross, isso seria algo muito bom para você”. Então eu rapidamente
aprendi que era muito importante trazer as pessoas comigo na cultura da
mudança, em vez de fazer um tipo de convite vago.
Qual foi a importância do púlpito para ensinar e reconectar a vida cristã
ao propósito da igreja?
Absolutamente central. Até hoje, quando nos sentamos ao final de cada
ano e elaboramos a meta e foco do ministério para o próximo ano, depois de
termos trabalhado nesse processo, a primeira coisa em que trabalhamos é o
programa de pregação. Como vamos trabalhar a Bíblia, complementá-la e
apoiá-la, e mostrar biblicamente o que estamos fazendo, por que estamos
fazendo e qual é o nosso foco?
Foi a pregação regular que Deus principalmente usou para dar às
pessoas a sensação de serem comissionadas?
Eu acho que para mim foi. Porque eu acho que sou melhor em pregar a
Bíblia do que em fazer treinamento individual. Mas meu colega Steve é
muito bom em treinamento individual, então essa foi uma das razões pelas
quais eu queria trazê-lo de volta para a equipe e começar a construir um
ministério de equipe.
Você escolheu Steve conscientemente porque ele tinha uma personalidade
diferente e dons diferentes dos seus?
Sim, ele é claramente melhor em certas coisas do que eu, e é por isso que
você inclui pessoas assim — porque elas são melhores do que você em algo.
Eu estava ansioso para ter um ministério de equipe antes de começarmos a
construir novas instalações. Nós éramos nômades neste momento, mudando
de um local para outro.273
Mais da história de Virgínia
Muitas igrejas acham quase impossível conseguir que os líderes se
comprometam com o treinamento. Você acha isso?
Você alcança o que espera. Se tem baixas expectativas das pessoas
aparecerem, as pessoas atenderão às suas expectativas — elas não aparecerão.
Mas se você valoriza o treinamento, se você sabe que vai beneficiá-los como
indivíduo e como equipe, então você o torna obrigatório. Eu disse a uma
jovem que rejeitou essa expectativa: “No final do dia de treinamento, espero
que você venha e me agradeça por ter feito você ir”. Eu estava convencida de
que ela seria abençoada ao fim do dia.
A maioria das pessoas é hesitante — elas temem que, se esperarem demais
de seus voluntários, os perderão. Minha experiência é o oposto: quanto mais
eu espero, mais estáveis minhas equipes se tornaram.
Eu tenho maiores expectativas dos meus líderes de equipe agora do que
tinha anos atrás, e eu tive 100% deles se comprometendo novamente este
ano. Um deles disse: “Vou fazer isso até morrer”.
Agora, dito isto, temos lacunas nas equipes em todos os nossos
ministérios. A única constante no ministério infantil é que estamos sempre
em fluxo. Estamos sempre precisando de mais líderes. Eu ficaria preocupada
se não estivéssemos. Isso indicaria que não estamos crescendo.
O que mais produz esse tipo de cultura de alto comprometimento?
Eu sempre fui clara em meu pensamento que é Deus quem muda vidas, e
sua maneira favorita de trabalhar é quando sua Palavra é ensinada fielmente e
o evangelho claramente pregado. Eu confio no Espírito Santo, que muda a
vida das crianças — eu pessoalmente cheguei à fé aos 10 anos.
Mas eu não comuniquei isso para as pessoas ao recrutá-las. Então, quando
eu pedi para as pessoas virem ajudar no ministério das crianças, minha
linguagem era mais ou menos: “Eu vou ensinar e discipular essas crianças...
Só preciso de você para ajudá-las a cortar e colar, e supervisioná-las com
segurança no banheiro”.
Eu percebi que o jeito que organizei o ministério infantil era muito
centrado em mim. E a coisa mais difícil para mim foi sair e dizer: “Na
verdade, eu ensinar e discipular as crianças não fará esse ministério crescer”.
Eu tive que sair do ministério face-a-face com as crianças e equipar um
exército de voluntários dispostos a ensinar e discipular nossas crianças. Eu
tive que abrir mão.
E há uma dor real em deixar de lado o ensino presencial de crianças. Eu
sabia que o ministério infantil em nossa igreja não cresceria a menos que eu
saísse e deixasse outros entrarem.
Você está achando mais difícil obter um alto comprometimento de seus
líderes de equipe e voluntários?
Sim, não temos as mães donas-de-casa na quantidade que tivemos
anteriormente.
Estou começando este ano com equipes incompletas em todos os
ministérios infantis — provavelmente o pior início que tivemos em alguns
anos. Isso se deve principalmente ao fato de que no final do ano passado eu
tinha outras coisas me pressionando em uma época em que eu deveria estar
recrutando minhas equipes.
Em anos anteriores, eu tive baixas expectativas com meus líderes, e a
linguagem que usei refletiu isso. Agora tenho expectativas mais altas e a
linguagem que uso para os vários papéis reflete isso — ninguém é mais
chamado de “ajudante”. Agora eu tenho líderes de equipe, líderes e líderes
júnior.
Eu tenho requisitos de função variados, não é apenas “tamanho único”. Há
expectativas mais baixas para alguns papéis do que para outros, mas acho que
é essencial aumentar a expectativa do que é requerido. Se você espera pouco,
então os voluntários tendem a pensar: “Eu não estou fazendo muito. Alguém
mais poderia facilmente entrar e fazer isso; não é tão importante”.
Eu também me lembro de ter me dado conta de que eu era a única que
falava sobre as crianças como minhas crianças. Eu tinha uma compreensão
muito clara de que era responsável por ensinar e pastorear nossas crianças.
A linguagem usada por minhas equipes não mudou até que minha
expectativa sobre eles mudasse. Lembro-me de pedir a duas mulheres que se
comprometessem a ensinar nossas crianças pré-escolares (3 a 4 anos de
idade) por um período inteiro, quando anteriormente elas só tinham que
ensinar um mês a cada três. Essas senhoras fizeram durante dez semanas
seguidas juntas. Elas rapidamente descobriram em que eram boas e
atribuíram os papéis apropriados à pessoa apropriada. Foi muito bonito de se
ver. No final do prazo, pedi que fizessem um teste de revisão com as
crianças. Elas ficaram emocionadas com o que as crianças tinham entendido e
o que conseguiram lembrar.
No início do período seguinte, as duas mulheres vieram até mim de forma
independente. Uma delas perguntou: “Quem irá ensinar minhas crianças
neste período?”. A outra disse: “Sinto falta das minhas crianças”. Nunca
tinha ouvido falar a língua de minhas crianças usada por alguém que não
fosse eu. As duas mulheres ainda estão ensinando nossas crianças pré-
escolares até hoje.
Você aumenta a sensação de propriedade do discipulado infantil
aumentando o que é exigido de cada líder.
Não percebemos que privamos as pessoas — maior bênção é dar do que
receber. Ver que a vida de uma criança mudou porque você compartilhou
Cristo com ela — como isso é precioso! Você não consegue ver isso se você
entrar e sair da vida das crianças.
E as crianças devolvem. Quem as crianças procuram durante as férias ou
no natal? De todos os adultos da igreja, as crianças procuram aquelas pessoas
que as amaram durante o ano. Elas fazem presentes e escrevem cartas para
agradecer-lhes por seu amor e por compartilhar Jesus com elas.
Então você acha que temos medo de aumentar o nível?
Consigo pensar em uma mulher com o dom da hospitalidade que também
é uma mulher muito ocupada. Comecei a usar seus dons de várias maneiras
nos ministérios de crianças. Ela adorou. Alguém comentou que eles não
pensaram em pedir a ajuda dela em sua área de ministério porque achavam
que ela estava ocupada demais.
Às vezes tomamos decisões pelas pessoas em vez de deixá-las tomar
decisões por si mesmas. Nosso trabalho é pintar o quadro do ministério e
explicar sua importância, mas depois deixá-los decidir se é apropriado para
eles à luz de seus compromissos presentes, o tempo que eles têm disponível e
sua capacidade atual. Precisamos parar de tentar adivinhar o que as pessoas
dirão.
Às vezes, porém, as pessoas se sobrecarregam e precisamos protegê-las de
si mesmas. Minha regra prática, particularmente quando estou pedindo a uma
mulher casada que considere assumir uma nova responsabilidade, é
incentivá-la a orar sobre isso e conversar com o marido, depois me dar o
retorno.
e) Equipar leva a exportar
Não há limites para brincar com acrônimos e siglas. Nós estivemos em
igrejas onde outros Es extras sempre foram pensados: Edificar, Encorajar,
Expandir e, claro, Empanturrar.
Mas antes de concluirmos nossa análise da criação de caminhos,
gostaríamos de recomendar um E adicional para consideração, como uma
espécie de extensão para Equipar — que é Exportar.
Uma das muitas consequências frutíferas de equipar efetivamente as
pessoas como discipuladoras é que um número cada vez maior de pessoas
quer passar mais e mais tempo no ministério dos 4Ps. Elas ficam frustradas
por ter que gastar tanto tempo trabalhando para ganhar a vida, e muitas vezes
tentam limitar suas horas de trabalho de alguma forma, a fim de liberar mais
tempo para o ministério. É deste tipo de pessoas que surge a próxima geração
de pastores, professores e evangelistas.
À medida que equipamos as pessoas, precisamos estar atentos a “pessoas
que vale a pena observarmos” (como as rotulamos em A treliça e a videira)
— isto é, aquelas que têm o caráter e os dons para serem aprendizes e
treinadas como obreiros do evangelho em período integral.274 De fato, se
quisermos ser fiéis às nossas convicções sobre os planos de Deus em Cristo
por todo o mundo, desejaremos levantar mais trabalhadores de todos os tipos
para a colheita, e enviá-los para fazer o ministério dos 4Ps em outros lugares
onde a necessidade é urgente.
Em outras palavras, uma consequência natural de tudo o que temos dito
sobre o evangelho e a natureza de equipar é que estaremos constantemente
exportando pessoas de nossa comunidade para o ministério do evangelho em
outro lugar. É claro que isso é doloroso em um nível — não apenas porque é
triste ver amigos amados partirem, mas porque esse amigo amado é um líder
importante que será muito difícil de substituir!
Mas adaptando o que Paulo diz sobre doar dinheiro alegremente, devemos
alegre e generosamente equipar e enviar nosso povo para o trabalho do
evangelho em outros lugares, sabendo que, assim como Deus nos deu em
primeiro lugar, ele continuará a nos dar mais pessoas:
Ora, aquele que dá semente ao que semeia e pão para alimento também suprirá e
aumentará a vossa sementeira e multiplicará os frutos da vossa justiça. (2Co 9.10)
Discussão
1) Que forma de “Equipar” tem sido feita atualmente nos três níveis
mencionados acima?
2) Seus membros sentem que há uma espécie de “caminho de carreira
ministerial” em sua igreja, para aprender e crescer na liderança
ministerial? Ou eles ficam presos nos mesmos papéis?
3) Para equipar no nível 3 (habilidades específicas):
a) Para a sua igreja, a exigência da liderança é muito baixa ou muito
alta?
b) Seus líderes incorporam a visão e a cultura que está sendo criada?
c) A liderança em sua igreja é vista como um fardo ou como um desafio
motivador?
d) Quais serão os principais obstáculos em sua igreja para treinar novos
líderes de maneira eficaz? Como será possível superá-los?
e) Identifiquem pelo nome seus atuais líderes de nível 3.
f) Identifiquem pelo nome seus potenciais líderes de nível 3.
g) Avaliem a eficácia de seus atuais processos de treinamento de
liderança. Quais programas de treinamento de liderança precisam ser
criados? Quem irá formar e liderá-los?
h) Como incorporar uma cultura de mentoreamento em seu
desenvolvimento de liderança? Quais serão os benefícios?
4) Se fosse preciso escolher apenas três iniciativas importantes ou
melhorias no seu treinamento, quais seriam elas?

PROJETO: DANDO INÍCIO


Tendo analisado os quatro estágios de criação de um caminho ao longo de
seus ministérios, e sem dúvida gerado muitas discussões e ideias, a tarefa
agora é realmente trazer alguma ordem para todo o caos de possibilidades, e
projetar alguns caminhos — isto é, um conjunto alinhado, coordenado, e
integrado de atividades, eventos, ministérios, reuniões e/ou pequenos grupos
por meio dos quais cada pessoa pode progredir em direção a Cristo e à
maturidade em Cristo (desde “Envolver” até “Equipar”).
Sugerimos que vocês projetem inicialmente o caminho ou a estrutura que
gostariam de ver em vigor daqui a dois anos. Sem dúvida, haverá aspectos
dele que já existem agora e que é possível trabalhar para melhorar e alinhar.
Mas definir sua visão para dois anos permitirá o espaço para descobrir que
tipo de preparação é preciso fazer agora (e nos próximos 18 meses ou mais)
para ter as pessoas e líderes prontas para fazer esse caminho funcionar —
porque quase certamente eles não estarão prontos no presente.
Planejar caminhos significará resolver:
• Quais atividades atuais têm potenciais e devem fazer parte do caminho
(geralmente com algumas melhorias ou ajustes);
• Quais ministérios ou atividades atuais realmente não contribuem e devem
ser suspensos;
• Quais novos ministérios ou grupos são necessários;
• O que será preciso equipar e treinar para cada um deles.
Aqui está um exemplo do tipo de coisa que vocês podem criar:
ENVOLVER EVANGELIZAR ESTABELECER EQUIPAR
Tenda na feira Curso evangelístico para toda Melhorar a recepção de Treinar líderes de
comunitária a igreja duas vezes ao ano todos os membros e pequenos grupos
acompanhamento dos para fazer
recém-chegados treinamento de
nível 1 em seus
grupos

Grupo de Equipe de pessoas treinadas Realizar programas de Equipar no nível 2


atividades pra leitura em dupla da acolhimento com recém- nos pequenos
Bíblia com não-cristãos chegados quatro vezes ao grupos:
interessados (daqueles ano - Envolvimento e
“envolvidos”) evangelismo
relacional
- Leitura Bíblica
em duplas
- Amar e receber
novos na igreja

Abordagem regular Grupos de estudo bíblico Equipar líderes de


de porta em porta com líderes bem pequeno grupo no
(novo) treinados; currículo nível 3:
principal ligado aos - Grupo de novos
sermões líderes
- Treinamento
regular para os
líderes existentes

Eventos sociais dos Estudos trimestrais para


pequenos grupos aprofundamento de toda
três vezes ao ano a igreja

Melhorar
propaganda da
igreja na
comunidade local
(Vocês também podem achar útil mapear um plano de ação separadamente
como essa para áreas específicas de ministério dentro da congregação — por
exemplo, ministério de jovens, ministério de homens.)
O mapeamento de caminhos desta maneira irá gerar um conjunto de
prioridades e ações — isto é, coisas concretas que precisam ser realizadas
agora e nos próximos 12 a 18 meses. Ao listar essas possíveis prioridades e
ações:
• Realcem as principais prioridades na construção de seu caminho nos
próximos dois anos; o que é essencial e o que é desejável?
• Discriminem as ações que precisam ser tomadas, inclusive quando, por
quem, a que custo e assim por diante.
Quando chegarem aos detalhes do que tem que ser feito, vocês podem
muito bem perceber que o seu caminho é muito ambicioso, considerando de
onde estão começando.
A história de Barnabé
Barnabé tornou-se o ministro de uma igreja evangélica em uma
denominação tradicional há cerca de sete anos. A igreja está localizada nos
subúrbios e é frequentada por professores, gerentes, enfermeiros,
comerciantes e assim por diante.
Quando você chegou há sete anos, o que estava no seu coração para esta
igreja?
Eu queria fazer dela uma igreja voltada para fora. Esse foi o meu encargo
quando os nomeadores estavam conversando comigo e fiquei muito feliz em
aceitar isso. Para minha alegria, eles levaram isso a sério. Não estavam
apenas dizendo; estavam falando sério sobre mudança. Quando eu cheguei,
eles não faziam nenhum tipo de evento evangelístico há dez anos.
Eu queria que eles olhassem para fora a fim de conhecer pessoas, convidá-
las para programações, criar ideias, lugares, locais, atividades em sua casa
nas quais eles inicialmente pudessem conhecer pessoas e compartilhar o
evangelho com elas.
Queria que eles se vissem como uma equipe e trabalhassem juntos e
entendessem que nem todo mundo é um bom professor; alguns são bons em
convidar e alguns são realmente bons nos bastidores. Então, era necessário
valorizar os outros membros e seus dons, especialmente como parte do
empreendimento da igreja e da evangelização.
Onde você começou a definir a visão e a cultura?
O primeiro lugar para começar foi com o Conselho Paroquial. Eles eram o
grupo óbvio com quem conversar porque se encontravam regularmente, e as
pessoas que estavam nele participavam de grupos de estudos bíblicos; alguns
eram líderes. Havia apenas quatro grupos de estudos bíblicos.
O que você fez com o Conselho Paroquial para levá-los a pensar sobre
visão e cultura?
No primeiro encontro, mostrei-lhes o programa de discipulado ainda não
publicado de David Mansfield — bem, pelo menos minha versão
empobrecida dele. Ele dizia que as pessoas passam por diferentes estágios em
sua jornada para se tornarem cristãos maduros. Eles começam como
estranhos completos com quem precisamos nos envolver. Há muitas pessoas
que não conhecem nenhum cristão e nunca foram à igreja, por isso queremos
nos envolver com essas pessoas. Queremos evangelizar aqueles que
conhecemos e depois estabelecê-los na fé e equipá-los para ministrar.
Colossenses 1.28
“O qual nós anunciamos, advertindo a todo homem e ensinando a todo
homem em toda a sabedoria, a fim de que apresentemos todo homem perfeito
em Cristo”.
Colossenses 1.13-14
“Ele nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do
Filho do seu amor, no qual temos a redenção, a remissão dos pecados.”}
Mostrei-lhes este diagrama e falei sobre isso no primeiro encontro. E eu
perguntei se eles achavam que nossa igreja era boa em todos esses quatro
estágios. Eles apenas balançaram a cabeça.
Eu disse: “Ok, pense em igrejas que vocês conhecem. Esqueçam a teologia
por um minuto. Vamos apenas debater: onde vocês encaixariam aquela
grande igreja carismática na nossa rua? Em que eles são bons?”.
Eles disseram: “Eles são muito bons em divulgação, eles têm uma grande
porta da frente, muitas pessoas os conhecem — então eu acho que eles são
bons no primeiro E (envolver).”
“Então, e aquela igreja na qual eles ouvem um sermão de duas horas sobre
alguma doutrina como a trindade? Onde vocês os colocariam?”
“Bem, eles são todos cristãos, têm um entendimento sólido, mas eles não
entenderam que deveriam estar equipados para o ministério de servir a outras
pessoas, então é meio que categoria quatro (‘equipar’), mas com falhas.”
Eu disse: “Onde você acha que nossa igreja e a igreja suburbana normal se
encaixam?”
Eles disseram: “Não sabemos. O que você acha?”.
Eu disse: “Estou convencido de que todos estão presos na zona três
(‘estabelecer’); eles se tornaram cristãos anos atrás, talvez quando jovens
adultos, e estão passando o tempo desde então. Nunca entenderam que a vida
cristã é sobre glorificar a Deus, servi-lo como puder, alcançar os perdidos e
continuar com o trabalho.”.
Então, depois de uma reunião, todos foram totalmente persuadidos e tudo
mudou?
Eles estavam totalmente persuadidos do problema que eu estava
identificando. Concordaram que a grande maioria das pessoas na igreja
estava presa no estágio três — que a maioria das pessoas não servia em
nenhuma dimensão. As pessoas na igreja provavelmente eram cristãs, mas
com um entendimento fraco.
Então, essa foi a nossa primeira reunião do Conselho Paroquial. Eu disse:
“O que quer que façamos, temos que tentar ser a igreja que é boa em fazer
todos os quatro! Nenhuma igreja jamais conseguiu, mas eu quero que nós
sejamos a igreja que chegue perto disso.”. Todos eles riram e disseram:
“Bem, isso parece certo”.
E assim, na próxima reunião do conselho paroquial, voltei e disse: “Aqui
está o meu plano. Existem quatro períodos no ano; vamos dedicar cada
período a um desses quatro estágios de evangelismo e crescimento.”.
Então você trabalhou “Envolver” no primeiro período, “Evangelizar” no
segundo período, “Estabelecer” no terceiro período e “Equipar” no quarto
período. Você ainda está fazendo isso agora, sete anos depois?
Sim. Eu acho que no primeiro ano eles estavam hesitantes — eles
pensaram: “Sim, é um plano, mas vamos ver se funciona”.
Foi um choque ter uma missão de três meses no segundo período. Isso
causou uma grande agitação entre os ministros locais. Quando eu lhes
mostrei o plano, eles disseram: “Isso é ridículo — você deveria estar
evangelizando o ano todo. Mas você está fazendo mais evangelismo do que
nós estamos fazendo!”.
Como você trabalhou com “Equipar”?
Em 2010, eu comecei algo chamado “Preparado para servir”. É “um ano
com Barnabé”. Eu peguei a ideia de Richard Coekin no Reino Unido; cada
líder teve que passar dois anos com ele em sua cozinha.
Então eu tirei pessoas, homens e mulheres, de seus grupos de estudo
bíblico para um ano de treinamento comigo.
Nós gastamos um período com doutrina (Deus, trindade, escritura,
humanidade, expiação, escatologia); um com serviço (usar nossos dons, o
ministério do banco, homens e mulheres na igreja, dinheiro, oração, leitura
bíblica); um com evangelismo (Duas maneiras de viver com anabolizantes);
e um sobre cristãos em crescimento (entender os 4Es, como ensinar a Bíblia,
visita domiciliar, ministério individual, e assim por diante).
É como um ano de estudo bíblico aprimorado comigo. O primeiro ano foi
com jovens adultos. Nos cinco anos desde que comecei, cerca de 56 pessoas
de todas as idades já fizeram isso.
Muitos de nosso pessoal acham o Duas maneiras de viver muito difícil,
então usamos 3Cs: Confessar, Crer, Comprometer. Eles acharam revigorante
ser capaz de explicar o evangelho em termos simples e lembrá-lo — até
mesmo os idosos conseguem fazê-lo.
Explicar o Es (eu chamo de “a roda”) no quarto período é o cerne de tudo.
A vida cristã é uma jornada e você nunca chega ao fim. Torne uma prioridade
continuar crescendo, continuar aprendendo, desafiando a si mesmo, tentando
coisas. Mas também entenda que pessoas diferentes que você encontra
estarão em diferentes estágios da roda, e que você pode ser útil em suas vidas
ajudando-as a dar o próximo passo de onde elas estão. Se você encontrar
alguém, conheça-o, envolva-se, convide-o para sua casa. Comece a colocar
Jesus na conversa com amigos que você já conhece.275
ADENDO: EQUIPAR OS PAIS PARA O
MINISTÉRIO NO LAR
Como observamos no final da Convicção 5 na Fase 1, a casa ou o lar é um
contexto ou local-chave para fazer discípulos — isto é, um lugar no qual a
Palavra é falada e tem seu poderoso efeito transformador em nossos
relacionamentos. Em certo sentido, poderíamos pensar no ministério em casa
como sendo um “caminho” próprio, com os membros da família envolvendo-
se uns com os outros, compartilhando o evangelho uns com os outros e
encorajando uns aos outros à maturidade em Cristo.
Mais da história da Virgínia
Aqui está outro trecho de nossa entrevista com Virgínia, em que ela
discute o que eles fizeram em sua igreja para equipar os pais para ajudar seus
filhos a avançarem em Cristo.
Você faz muito para equipar os pais para discipular seus filhos em casa?
Eu acho que é como exercício: achamos que estamos fazendo mais do que
realmente fazemos. Minha experiência é que os pais pensam que estão
fazendo muito mais do que realmente fazem. Eu pesquisei nossas crianças há
dois anos. Os pais pensam que estão lendo a Bíblia e orando com seus filhos
regularmente, mas, do ponto de vista das crianças, está acontecendo muito
menos e, em alguns casos, simplesmente não acontece.
Mas alguns dos nossos pais estão fazendo brilhantemente, e dá para
perceber. Pode-se perceber pela maneira como as crianças falam, as
perguntas que fazem, o jeito que elas oram... Dá para saber se elas estão
sendo bem discipuladas em casa.
Os líderes conseguem notar quais estão sendo ajudadas em casa?
Sim, é muito evidente. O sinal mais revelador é o modo como as crianças
oram.
Nossas crianças são encorajadas a orar em seus pequenos grupos toda
semana. Os menores de sete anos oram duas vezes — primeiro uma oração
repetida sobre o que aprenderam e depois sua própria oração. É quando eles
oram individualmente que você ouve a maturidade em suas orações. E você
pode ouvi-la desde muito cedo.
As mães são mais ativas que os pais?
Sim, a maioria das mães está conversando com seus filhos em casa.
Eu consigo me lembrar de um menino que estava sendo bem discipulado
por seu pai (o pai se tornou um cristão, mas sua esposa não). Lembro-me de
dizer ao menino: “Você ora com seu pai todas as noites, não é?”.
O menino parecia surpreso e perguntou: “Como você sabe?”. Eu respondi:
“Eu posso ouvir em suas orações”.
Ele parou de fazer orações centradas em si mesmo. Ele estava orando para
que Deus fosse glorificado em tudo. Os pais que oram com seus filhos têm
um grande impacto, principalmente nos meninos.
Como você espera que os pais leiam a Bíblia e orem com seus filhos?
Espero que os pais pensem intencionalmente em usar o tempo que têm e
aproveitar mais as oportunidades que têm. Então, não desperdice a viagem de
ida e volta para a escola, não perca a oportunidade durante o comercial da
televisão (fale sobre o que acabaram de ver)... Não desperdice o tempo de
banho...
Os pais pensam: “Eu não tenho tempo para ler a Bíblia e orar com meu
filho”.
Mas você pode usar o tempo do banho para recontar ou ler histórias das
Escrituras. Uma ótima rotina que encorajamos nossos pais a estabelecer com
seus filhos desde a infância é: Bíblia, banho, cama.
Acabamos de começar os planos de leitura bíblica para crianças de 3 a 11
anos. No primeiro domingo em que foram apresentados, uma mãe disse: “Eu
tenho sido tão convencida ultimamente sobre como tenho sido relapsa em ler
a Bíblia com meus filhos. Eu estava orando esta manhã para que Deus me
ajudasse a recomeçar este ano com meus filhos. Eu fui à igreja e meu filho
veio com este plano de leitura da Bíblia.”
É uma ideia muito simples, mas muito útil para as famílias. Esta mãe
estava muito animada que sua igreja tinha um plano para seu filho.
Os pais que têm sido regulares com esses planos de leitura da Bíblia agora
relatam que seus filhos se recusam a ir para a cama se a Bíblia não for lida.
Rotinas para as crianças são muito importantes e decisivas para o contínuo
discipulado delas. Geralmente leva-se um mês fazendo-o intencionalmente
algo todos os dias para que uma rotina como essa seja estabelecida na vida de
uma criança.
Veja a convicção 3 na Fase 1 para nossa discussão dos quatro Ps.
A crescente secularização da cultura ocidental moderna é um tópico enorme e complexo, e além do nosso escopo de discussão
aqui. Por exemplo, embora haja temas comuns, também há diferenças significativas entre as versões do secularismo operando
no Reino Unido, na França, nos Estados Unidos e na Austrália.
O livro Just walk across the room [Basta atravessar a sala], de Bill Hybels, tem algumas falhas e omissões, mas uma coisa que
comunica muito bem é a importância de os cristãos saírem de sua zona de conforto e realmente começarem a conversar e se
envolver com seus vizinhos não-cristãos; apenas atravessar a sala e iniciar uma conversa. Vale a pena garimpar algumas ideias
e ensinamentos deste livro nesta área. Veja Bill Hybels, Just walk across the room: simple steps pointing people to faith
(Grand Rapids: Zondervan, 2006).
N. do E.: A entrevista completa com Virgínia em conteudo.editorafiel.com.br/projetovideira inclui mais sobre como ela aborda:
sua visão para o ministério infantil e equipar líderes altamente motivados.
Em nossa opinião, dois dos melhores são Introducing God e Investigando o Cristianismo, mas há muitos cursos similares
disponíveis. Ambos são muito fiéis ao evangelho e bem produzidos, com a opção de usar conteúdo de vídeo. Introducing God
usa a estrutura de Duas Maneiras de Viver para orientar os participantes através da história do evangelho em toda a Bíblia ao
longo de sete sessões; Investigando o Cristianismo usa o evangelho de Marcos para apresentar as reivindicações de Cristo.
Muitos cristãos maduros em nossa parte do mundo foram equipados para usar o conjunto de estudos bíblicos de Just for Starters
como uma estrutura para o acompanhamento pessoal de novos cristãos. Veja Just for Starters, 3ª ed., (Sydney: Matthias
Media, 1996), e o recurso de treinamento relacionado Preparing Just for Starters, (Sydney: Matthias Media, 2004).
Para uma tentativa recente de reviver a instrução dos catecismos, veja o Catecismo Nova Cidade (São José dos Campos: Fiel,
2017).
O programa bastante eficaz Read, Mark, Learn de estudos bíblicos desenvolvido pela igreja St. Helen em Londres é um bom
exemplo. Veja: http://www.st-helens.org.uk/belong/midweek-bible-studies?ref=nav.
J. I. Packer e Gary Parrett, Grounded in the gospel: building believers the old-fashioned way (Grand Rapids: Baker Books, 2010),
15, 17 [edição em português: Firmados no evangelho: edificando crentes à moda antiga (São Paulo: Cultura Cristã, 2012)];
ênfase original. Não estamos convencidos de que o cristianismo de nossos países seja muito mais profundo!
N. do E.: Concierge é um termo comum nos hotéis franceses e se refere ao profissional responsável por atender aos que chegam
ao hotel, conduzindo-os aos lugares apropriados.
O recurso GTK: Get to know (Sydney: Matthias Media, 2013) é um exemplo de tal programa. É um curso flexível de quatro
semanas para ajudar os recém-chegados a conhecer o pastor, conhecer outras pessoas e conhecer o que a igreja representa (ou
seja, a Bíblia e o evangelho).
Romanos 5.3–5; Tg 1.2–4; 1 Pedro 1.6–7.
O novo livro de Sally Sims, Together through the storm: a practical guide to christian care (Sydney: Matthias Media, 2016)
procura fazer exatamente isso — isto é, prover alguma preparação para os cristãos no dia-a-dia do “cuidado pastoral” no
âmbito do ministério dos 4Ps.
Ao longo do que se segue, apontaremos para recursos úteis que podem ajudar a equipar. Quase todos esses recursos são da
Matthias Media, portanto, para fins de concisão, se for um recurso sobre o qual não nos referimos anteriormente neste livro,
incluiremos simplesmente o autor e a data de publicação, em vez dos detalhes de referência completos.
Muitas igrejas descobriram que este é um recurso muito útil nesta área: Tony Payne, The course of your life (Sydney: Matthias
Media, 2011).
Tony Payne e Simon Roberts, Six steps to reading your Bible (Sidney: Matthias Media, 2008) — curso em seis sessões.
Phillip Jensen e Tony Payne, Two ways to live: know and share the gospel (Sidney: Matthias Media, 2003) — curso de
treinamento; Simon Manchester e Simon Roberts, Six steps to talking about Jesus (Sidney: Matthias Media, 2006) — curso em
seis sessões; John Chapman, Know and tell the gospel, 4ª ed. (Sidney: Matthias Media, 2005).
Simon Roberts, So many questions: how to answer common questions about Crhristianity (Sidney: Matthias Media, 2008) —
curso de treinamento.
One-to-one Bible reading; You me and the Bible; Geoff Robson, The book of books: a short guide to reading the Bible (Sidney:
Matthias Media, 2015).
Just for starters; Preparing just for starters; e Gordon Cheng, Christian living for starters: seven foundational Bible studies
(Sidney: Matthias Media, 2007).
Colin Marshall e Tony Payne, Six steps to loving your church (Sidney: Matthias Media, 2014) — curso em seis sessões); How to
Walk Into Church.
Colin Marshall, Growth groups: a training course in how to lead small groups (Sidney: Matthias Media, 1995).
Stephanie Carmichael, Their God is so big: teaching sunday school to young children (Sidney: Matthias Media, 2000).
Alan Stewart, ed., No guts no glory: how to build a youth ministry that lasts, 2ª ed. (Sidney: Matthias Media, 2000).
John Chapman, Setting hearts on fire: a guide to giving evangelistic talks (Sidney: Matthias Media, 1999); The archer and the
arrow; Saving Eutychus.
Veja especialmente os capítulos 6 e 9 (usamos a palavra “treinar” em vez de “equipar” em A treliça e a videira, mas o conceito é
o mesmo).
Essa foi a origem de onde o material de treinamento de Growth groups para a liderança de pequenos grupos foi escrito.
N. do E.: A entrevista completa com Tiago em conteudo.editorafiel.com.br/projetovideira inclui mais sobre como ele aborda o
processo em que trabalhou para mudar a cultura ministerial de uma igreja evangélica tradicional.
Não temos muito a acrescentar aqui ao nosso tratamento deste assunto em A treliça e a videira. Veja especialmente o capítulo 10
sobre “pessoas que vale a pena observarmos” e o capítulo 11 sobre “aprendizado ministerial”. Para uma discussão mais
completa sobre o aprendizado ministerial, ver Colin Marshall, Passing the baton: a handbook for ministry apprenticeship
(Sidney, Matthias Media, 2007). O MTS (Ministry Training Strategy) é uma organização que procura multiplicar os obreiros
do evangelho por meio de estágios de ministério em todo o mundo. Para mais informações, visite http://mts.com.au.
N. do E.: A entrevista completa com Barnabé em conteudo.editorafiel.com.br/projetovideira inclui mais sobre como ele aborda
alguns dos obstáculos que enfrentou ao mudar a cultura da igreja.
Área de Foco 3: Planejar para o
crescimento
De muitas maneiras, o que estamos tentando fazer no Projeto Videira é
produzir crescimento: crescimento em pessoas e crescimento em números, à
medida que mais pessoas são envolvidas, evangelizadas e estabelecidas na
igreja de Deus por meio do ministério 4Ps que executamos como seus
colaboradores.
Isso leva a uma questão-chave que precisamos encarar agora neste ponto
do processo, porque moldará algumas decisões importantes ao longo do
caminho: E se der certo?

PENSANDO SOBRE CRESCIMENTO


E se, pela graça de Deus, o trabalho que você faz no Projeto Videira nos
próximos anos apresentar um crescimento significativo em seus números
congregacionais — mais pessoas convertidas e estabelecidas, mais pessoas
em grupos de todos os tipos, mais pessoas aos domingos, mais pessoas para
acompanhar e com quem trabalhar? E se os números da sua congregação
duplicassem (digamos) nos próximos sete anos?276 Como você lidaria com
esse crescimento? Você tem as instalações? Como isso mudaria seus
requisitos de equipe? Como isso mudaria a maneira como você organiza e
administra as coisas?
“Bem”, você poderia dizer, “isso seria um ótimo problema para se ter!”
E de fato seria.
Mas a questão é a seguinte: quanto mais você e sua congregação sonham
com esse nível de crescimento, oram por esse nível de crescimento, se
organizam em torno desse nível de crescimento e planejam esse nível de
crescimento, maior a probabilidade de vê-lo acontecer.
Precisamos ser claros: isso não é devido a qualquer efeito de “pensamento
positivo”, nem mesmo porque grandes números e planos tendem a inspirar e
motivar as pessoas a se envolverem. O verdadeiro crescimento do evangelho
vem por meio do ministério 4Ps (e de nenhuma outra maneira); você não
pode negociar o seu caminho até ele usando um prospecto bonito.
Entretanto, se sua aspiração e expectativa piedosa são para o crescimento,
isso mudará a maneira como você planeja e, portanto, o que você realmente
faz. Você construirá estruturas, caminhos e várias treliças para facilitar e
impulsionar o crescimento que você almeja.
Por exemplo, você pode dizer a si mesmo: “Com a ajuda de Deus,
gostaríamos de ver 100 pessoas convertidas nos próximos dois anos; então
isso significa que precisaríamos nos encontrar e nos envolver com (digamos)
pelo menos três vezes mais pessoas em nossa comunidade”. Essa meta
levaria você a considerar quais planos ou iniciativas você poderia lançar,
quais recursos você precisaria e que preparação e treinamento de seu pessoal
seriam necessários para envolver significativamente 300 pessoas de fora não-
cristãs nos próximos dois anos.
E, por sua vez, você acabaria tendo que tomar algumas decisões difíceis
sobre quais outros ministérios ou atividades poderia ter que deixar de
priorizar ou encerrar completamente, para ser capaz de colocar o esforço e os
recursos em envolver 300 novas pessoas.
A meta que você define molda a maneira como planeja e o que acaba
fazendo de fato — o que, por sua vez, torna muito mais provável que, de fato,
você chegue próximo de seus objetivos.277
Uma das grandes questões será a respeito das pessoas. Quem irá liderar
essas iniciativas evangelísticas? Quem entre nós tem os dons e a visão para
formar uma equipe para alcançar um grupo específico de pessoas em nossa
comunidade? Quem devemos recrutar em nossa comunidade para dirigir
esses ministérios?
O mesmo se aplica à infraestrutura ordinária, mas vital, que apoia o
ministério 4Ps em toda a sua congregação: coisas como prédios e espaços
para reuniões, pessoal administrativo, captação de recursos e assim por
diante. Se você pretende dobrar seus números em sete anos, mas tem
edifícios e instalações que não acomodam esses números, você tem quatro
opções:
• Plantar uma ou mais novas congregações em um novo local;
• Plantar uma ou mais novas congregações em outro momento em seu
próprio edifício;
• Estender o tamanho do seu edifício (ou mudar para um local maior);
• Desistir de sua meta de dobrar em sete anos.
É simples assim.
Agora, alguns leitores podem estar pensando: “Estamos muito longe de
dobrar em sete anos. Eu ficaria feliz apenas em parar de diminuir! Ou em ver
algum crescimento real e pessoas convertidas.”.
E isso pode estar certo. Você pode estar começando um longo caminho de
volta, e precisa dedicar bastante trabalho só para conseguir fazer o ministério
de “fazer avançar” funcionar com um número razoável de seu pessoal.
Entretanto, sugerimos que você não demore muito antes de levantar os
olhos de seu povo para os campos ao redor que estão brancos para a colheita.
Um anseio pelo crescimento do evangelho — e muito dele — brota de nossas
convicções: que milhões estão perdidos neste mundo tenebroso ao nosso
redor; que somente Cristo tem as palavras da vida eterna; que nos
comissionou a “fazer aprendizes” de todas as nações, e que ele mesmo está
conduzindo o processo por sua Palavra e Espírito.
Se vivemos em uma comunidade de vinte mil pessoas, devemos desejar
levar o evangelho a todos e trabalhar e orar para esse fim. Podemos muito
bem começar com grupos de pessoas que estamos mais preparados para
alcançar — seja uma comunidade escolar local, uma subcultura étnica, ou
qualquer outro grupo —, mas nosso encargo será ver todo o nosso bairro,
cidade e nação cobertos com ministérios eficazes do evangelho. Sabemos que
Deus usará outras igrejas e ministérios também (não apenas nós), e haverá
momentos em que devemos trabalhar juntos para alcançar mais do que
podemos como igrejas individuais. Mas em nossa opinião, uma das mudanças
culturais de que muitas igrejas precisam é de uma revolução em seu nível de
ambição evangelística. Colocando de maneira direta, precisamos pensar
grande.
Há, naturalmente, perigos em pensar grande. Existe o perigo para a
credibilidade, de criar desilusão na congregação, estabelecendo alguma meta
que jamais alcançaremos. E se falarmos grande, mas agirmos pequeno (não
agindo para ter mais pessoas no domingo, ou não equipando os líderes do
ministério, por exemplo), então ninguém acreditará em nós.
Há também perigos espirituais em planos ambiciosos:
• Você pode começar a desejar a glória e a reputação que recaem sobre o
ministro de uma igreja grande e em crescimento;
• Você pode ser tentado a construir um ministério que agrade a todos e os
faça sentirem-se bem, para atrair as multidões;
• Você pode começar a tratar pessoas como objetos, e perder a ineficiência
compassiva que deixa os 99 para buscar o um que se perde;
• Você pode começar a exagerar ou mascarar os fatos para proteger sua
credibilidade (ou seja, dizendo que metas estão sendo alcançadas quando
não estão);
• Você pode cair no pragmatismo sem princípios que segue qualquer
método de ministério que “obtenha resultados”.
Todos esses perigos precisam ser reconhecidos e evitados.
Mas o perigo espiritual alternativo é muitas vezes ainda mais perigoso: nos
refugiarmos em uma pequenez sem amor e ensimesmada que não tem
compaixão das multidões perdidas que nos cercam.
Mais da história de Barnabé
Barnabé tornou-se o ministro de uma igreja evangélica em uma
denominação tradicional há cerca de sete anos. A igreja está localizada nos
subúrbios e é frequentada por professores, gerentes, enfermeiros,
comerciantes e assim por diante.
Quais são seus planos para o crescimento?
Em 2010, estabelecemos a meta de ter 1.500 membros regulares até 2020.
Isso exigiria cinco cultos semanais, duas novas instalações para a igreja, 50
grupos de crescimento,278 uma equipe de dez pastores, mais funcionários
administrativos e aprendizes, e um orçamento de US$ 1,5 milhão. Lançamos
a visão em um grande café da manhã de oração com um livreto “Visão
2020”.
Como você vai fazer o ímpeto continuar até 2020?
Em uma das igrejas em nossa cidade, há um mapa de cem igrejas que
cresceram a partir do ministério dessa igreja por mais de cem anos, enquanto
os subúrbios cresciam.
Mostrei aos nossos líderes esse mapa, e falamos sobre a nossa igreja estar
às margens de uma expansão populacional maciça. Em breve, haverá 300.000
novas pessoas a cinco minutos de nós. Temos que assumir a responsabilidade
de cristianizar esses subúrbios.
Eu não tenho experiência em plantar igrejas. Não tenho certeza se posso
manter uma rede de igrejas unidas. Eu sou uma limitação importante para a
visão. Estamos agora em um tamanho no qual as pessoas já não me
conhecem muito bem. Eu terei que mudar tanto quanto qualquer outra coisa.
Eu realmente só sei como crescer de uma base pequena para o que somos
agora.
Temos escolhas a fazer. Para chegar a 1500, iremos para três grandes
congregações de 500 cada ou 30 congregações de 50 cada? Ambos são caros
e difíceis em termos de propriedade. Qualquer um pode administrar uma
igreja de 50 pessoas, mas os locais de igreja e moradia serão difíceis. Mas,
também, quantos pregadores conseguem falar efetivamente para 500 pessoas?
Em uma igreja pequena, as pessoas tendem a dizer que você é um bom
pregador, seja você ou não, baseado no relacionamento pessoal que elas têm
com você. Eu ouço “Você é um bom pregador” o tempo todo, mas eu não sei
se é verdade, a menos que eu pregue para um grupo maior.
Nós concordamos que deveríamos ser um híbrido e assim construir um
edifício e um salão maiores — e plantar igrejas. Mais do que nunca pessoas
estão vindo aqui, então precisamos de uma instalação maior.
Sendo um gerente de projeto, não tenho habilidade para planejar a partir
de uma meta. Todas as minhas ideias são pequenas ideias. E o nosso
Conselho Paroquial é financeiramente conservador. Então nós temos alguns
desafios!

DISCUSSÃO E PLANOS
1) Onde estão as maiores necessidades e potencial de envolvimento e
evangelismo em sua comunidade ou contexto local? Com quais grupos de
pessoas vocês acham que poderiam se conectar e alcançar de maneira mais
eficaz?
2) Pensem em alguns números desafiadores, mas alcançáveis, para a sua
congregação em algumas dessas áreas:
a) O número de não-cristãos convertidos nos próximos cinco anos;
b) O número de frequentadores aos domingos na igreja nos próximos
cinco anos;
c) O número de congregações em sua rede;
d) o número de pequenos núcleos de aprendizes (isto é, pequenos grupos).
3) Quais seriam as implicações desses tipos de números para:
a) Suas instalações físicas e recursos?
b) A possibilidade de plantar novas comunidades ou igrejas para alcançar
seus objetivos?
4) Com essas metas maiores de crescimento em longo prazo em mente,
analise suas prioridades e planos para melhorar o domingo e seus
caminhos ministeriais:
a) O que seria mudado ou priorizado de forma diferente? Isso muda a
estrutura?
b) Como essas metas de crescimento afetam seus planos em cada estágio
do caminho — envolver, evangelizar, estabelecer, equipar?
c) O que está faltando?
5) Tendo revisado seus outros planos, volte para os números aproximados
discutidos na questão 2. Decidam alguns números sobre os quais desejam
orar, que consideram desafiadores, mas factíveis, e que servem para
finalizar e conduzir seus planos e ações nas outras áreas.
6) Agora voltem novamente em todos os seus planos e ações nas Áreas de
Foco 1 e 2 e finalizem as prioridades e ações a serem colocadas em
prática.279
É o que aconteceria se houvesse um crescimento numérico médio de cerca de 10% ao ano.
Nada disso nega a soberania de Deus na salvação e em todas as coisas. Não podemos forçar a mão de Deus, nem jamais pensar
que o ministério opera por meio de uma simples fórmula de causa e efeito. Entretanto, como já dissemos acima, o Deus
soberano usa meios criados e agentes humanos para fazer seu trabalho soberano. Em particular, ele escolheu usar os quatro Ps
como o meio pelo qual as pessoas chegam a Cristo e crescem em Cristo. Nesse sentido, os quatro Ps são a causa, já conversões
e crescimento em Cristo são os efeitos. Se os efeitos não estão acontecendo muito (isto é, as pessoas não estão sendo
convertidas ou crescendo), então é razoável parar e avaliar se estamos de fato usando fiel e energicamente os meios de Deus
(os quatro Ps). E, da mesma forma, também é razoável planejar e pensar de antemão sobre como podemos empregar os quatro
Ps de forma mais ampla e efetiva, para que possamos ver mais crescimento do evangelho.
O termo “grupo de crescimento” é simplesmente outra maneira de falar sobre um pequeno grupo de estudo bíblico — um grupo
distintamente cristão no qual os cristãos podem crescer, e que também é um catalisador para o crescimento do evangelho. Ver
Marshall, Growth Groups, p. 5–6.
As perguntas e sugestões de discussão acima são um guia preciso, porém breve, das etapas envolvidas no planejamento da
mudança e do crescimento. E para alguns de nossos leitores, eles serão tudo o que é necessário.
No entanto, de nossas conversas com muitos pastores, sabemos que Barnabé não está sozinho quando diz: “Eu não tenho
habilidade para planejar a partir de um objetivo”. Se você se encaixa nisso, então não se envergonhe de procurar ajuda e apoio.
Aqui estão três sugestões:
• Deus pode muito bem ter abençoado você com pessoas em sua igreja que tenham um alto grau de habilidade profissional
nessa área. Passe tempo com algumas dessas pessoas; ajude-as a crescer em convicção e ter um coração para o evangelho, e
use experiência e sabedoria delas em um planejamento eficaz.
• Adquira uma cópia de Wisdom in leadership de Craig Hamilton, se você ainda não tem. É o melhor compêndio em um único
volume que vimos de uma ajuda prática e sábia em uma grande variedade de questões ministeriais cotidianas, tudo dentro de
uma excelente estrutura teológica evangélico-reformada.
• Aproveite ao máximo a comunidade de suporte on-line no thevineproject.com para fazer perguntas e obter ideias e recursos
para o planejamento e a implementação eficazes do ministério.
Área de foco 4: criar uma nova
linguagem
A linguagem molda a cultura.
Se queremos mudar “a maneira como fazemos as coisas por aqui”,
precisamos mudar a linguagem que as pessoas usam e as categorias nas quais
as pessoas pensam sobre “a maneira como fazemos as coisas por aqui”.
Precisamos ensinar às nossas congregações uma nova maneira de falar —
uma que nosso povo possa entender e se relacionar, mas que sinalize e
comunique a direção para a qual estamos tentando ir.
Em outras palavras, é preciso elaborar um plano para comunicar de forma
compreensível a visão criada para se tornarem uma “comunidade de
aprendizado transformador”, ou para “fazer avançar”, ou quaisquer termos ou
descrições que tenham surgido.
Um pouco desse trabalho já foi feito na Fase 1 ao esclarecer suas
convicções e escrever algumas peças básicas de comunicação (por exemplo,
uma declaração simples, um manifesto, uma apresentação de visão).
Agora você está um pouco mais adiante na jornada. Você fez progressos
na elaboração de alguns planos. Você tem uma ideia melhor das principais
prioridades nas quais deseja trabalhar nos próximos anos, incluindo algumas
metas importantes para o crescimento do evangelho.
É hora de começar a comunicar tudo isso — as convicções e a nova
maneira de pensar sobre “aprender Cristo”, os caminhos para levar as pessoas
adiante (de envolver até equipar), os objetivos maiores de longo prazo que
você está sonhando e orando para alcançar, e assim por diante.
Vejamos como essa comunicação pode acontecer de forma explícita e
implícita.

COMUNICAÇÃO EXPLÍCITA
Seus olhos sempre reviram quando as pessoas começam a falar sobre visões,
missões, valores, propósitos, metas e prioridades estratégicas? Você se senta
em silêncio esperando que você não seja o único na sala que realmente não
entende a diferença entre todas essas palavras que soam tão importantes?
Nesse caso, ficará aliviado ao saber que não estamos prestes a entrar em uma
discussão teórica sobre terminologia de gerenciamento.
Mas se você quer mudar toda a cultura da sua igreja na direção que
estamos discutindo, então independentemente de rótulos ou termos que
queira usar, existem várias mensagens importantes que precisará comunicar
de forma explícita, memorizável e frequente. É preciso criar uma nova (ou
renovada) linguagem que se torne a maneira padrão e normal na qual vocês
falam como uma congregação sobre quem são, sobre o que estão tratando e o
que veem no seu futuro.
Em particular, é preciso criar uma comunicação clara que responda a
quatro perguntas-chave. Felizmente, tudo o que foi feito até este ponto deve
ajudar a responder a essas perguntas rapidamente:
a) Que tipo de igreja Deus quer que sejamos? (Isso geralmente é chamado
de “visão” e é guiado pelas convicções teológicas que aprofundamos na
Fase 1.)
b) Com a orientação de Deus, como vamos chegar a esse futuro? (Esses
são os meios ou estratégias gerais que usaremos e, novamente, resultam
de nossas convicções da Fase 1 sobre os quatro Ps do ministério, sobre
fazer avançar, e assim por diante.)
c) Quais são os nossos objetivos específicos para o crescimento nos
próximos (digamos) cinco anos? (Estes são os objetivos específicos para
o crescimento trabalhados há pouco na Área de Foco 3).
d) Quais são as nossas prioridades específicas ou planos para alcançar
esses objetivos? (Estas são as outras áreas de foco trabalhadas nesta fase
— ou seja, Tornar o domingo uma referência e criar caminhos — bem
como outros principais passos práticos necessários, como empregar
funcionários ou tomar decisões sobre propriedade.)
Suas respostas a (a) e (b) são sua maneira de expressar as convicções
teologicamente orientadas que devem moldar e mudar sua cultura. Juntas,
elas devem fornecer uma justificativa para praticamente tudo que é feito
como congregação. Sempre que alguém em sua congregação faz uma pausa
para se perguntar por que estamos fazendo X em vez de Y, a resposta que
deve aparecer em suas mentes é: “Ah, claro, sei por quê: porque Deus quer
que nos tornemos esse tipo de igreja, e a maneira como vamos chegar lá é
fazendo isso”.
Como é possível efetivamente comunicar suas respostas para (a) e (b)?
Aqui estão algumas ideias:
• Transforme suas respostas em declarações curtas, claras e memorizáveis
que possam ser repetidas sempre, nas várias formas e contextos possíveis.
Você pode até combinar suas respostas a (a) e (b) em uma mesma frase:
“com a graça de Deus, queremos nos tornar [esse tipo de igreja] fazendo
[isso]”.
• Tente fazer com que a maneira de expressá-las seja distinta e penetrante
(“Todos queremos aprender Cristo e ajudar os outros a aprender Cristo
envolvendo, evangelizando, estabelecendo e equipando”), em vez de
genérica (“Queremos dar a glória a Deus em todas as coisas, amando a
ele e às pessoas”). Busque sempre a clareza.
• Compartilhe esses resumos memorizáveis sempre que puder: em cada
pedaço de papel impresso, em todos os e-mails e em todas as páginas da
web, em marcadores e camisetas, em suas apresentações do PowerPoint
no domingo, em seu boletim informativo regular, como um prelúdio
constante para anúncios sobre o que está acontecendo e assim por diante.
Sua congregação deve chegar ao ponto em que eles sabem o que vem por
aí e terminem a frase para você.280
• Desdobre, explique e exponha regularmente suas respostas a (a) e (b) em
sermões, em “dias de visão” para toda a congregação, em reuniões com
líderes principais, em cursos de membros, em livretos e outros
documentos, em estudos bíblicos e de qualquer outra forma que
comunique e convença o seu povo sobre a verdade dessas convicções.
• Essas declarações curtas do tipo “visão” são direcionadas à sua
congregação e não necessariamente estarão em sua publicidade externa
sobre sua igreja na comunidade local. Não pense que é preciso criá-las de
modo que sejam atraentes para um não-cristão que vê a placa de sua
igreja ao passar de carro. Como você anuncia sua igreja para a
comunidade é uma questão separada.
Quando combina suas respostas a (a) e (b) (sua grande visão para o futuro
e como chegar lá), com suas respostas mais específicas a (c) e (d) (metas
específicas para o futuro e planos específicos para chegar lá), o que você
magicamente tem é um “plano estratégico”. Este documento deve ser
detalhado o suficiente para fornecer um roteiro para a maioria de suas
decisões e ações semanais e mensais, mas curto o suficiente para ser digerível
e utilizável. Um plano encadernado de 60 páginas ficará sem uso na gaveta
de alguém. Um PDF de 6 páginas, com boas tabelas e gráficos de resumo,
pode ser uma presença constante na área de trabalho e na mesa de discussão.

COMUNICAÇÃO IMPLÍCITA
Além de comunicar sua visão explicitamente (e muitas vezes), você também
quer que ela se torne uma nota constante — como o som de um diapasão —
que ressoa em sua vida congregacional. Aqui estão algumas ideias de como é
possível conseguir isso:
• Pense um pouco em mudar os nomes de alguns de seus ministérios ou
elementos em seu “caminho”, para que eles reflitam a visão que você
deseja comunicar.
• Ao planejar as orações públicas semanais na reunião principal de sua
igreja, use algumas das principais categorias, rótulos ou linguagem de sua
visão para moldar suas orações. Se os quatro Es fazem parte da sua
linguagem, por exemplo, é possível se concentrar em orar por envolver,
evangelizar, estabelecer e equipar os ministérios em diferentes semanas.
• Continue relacionando a pregação com aspectos da visão, quando a
passagem bíblica o conduzir a isso.
• Quando anunciar ou relatar eventos ou atividades da igreja, continue
usando a linguagem de sua visão para descrevê-los, para mostrar como
eles se encaixam no quadro maior do que vocês estão fazendo juntos.
• Compartilhe histórias de como as pessoas estão se tornando cristãs e
crescendo, como estão aprendendo a ser semelhantes a Cristo no dia-a-
dia, como estão sendo perseguidas por defenderem Cristo, e assim por
diante (veja a história de Gabriel abaixo como exemplo). Contar histórias
é talvez a forma mais importante de comunicação implícita. Seja em
depoimentos ou entrevistas durante o culto de domingo, em cartas de
notícias por e-mail, videoclipes ou outros documentos, há poucas coisas
mais poderosas do que ouvir pessoas reais falarem sobre como estão
começando a viver a cultura de discipulado que você quer ver crescer.
Mais da história de Gabriel
Gabriel lidera uma igreja anglicana evangélica em uma comunidade
multicultural com uma população em rápido crescimento.
Como você continua definindo a visão e a cultura que deseja?
Eu realmente reforço o princípio de que a visão se beneficia de histórias
que captam nossa visão e valores. Então, sempre que ouço uma história de
alguém testemunhando para outra pessoa, ou alguém fazendo um grande
chamado para Jesus, eu envio por e-mail ou entrevisto a pessoa na igreja.
Por exemplo, recentemente uma mulher me contou uma história sobre
fazer com que seu grupo de crescimento a cobrasse sobre visitar uma senhora
afegã em sua rua. As duas mulheres estão agora se reunindo regularmente
com seus respectivos maridos, tendo “conversas sobre Jesus”. É
simplesmente uma história adorável. Então (com a permissão dela) eu vou
enviar isso em um e-mail para todos. Na maioria das semanas, há histórias
sendo divulgadas.
E entrevistas pessoais — é apenas fazer com que as pessoas comuns falem
das oportunidades que elas têm. Nós usamos a frase “Tornar as pessoas
comuns em heróis”. Como pastor eles meio que esperam que eu evangelize,
você sabe — eu sou pago para isso, e eu fui para o seminário. Mas estou
sempre tentando encontrar aquela pessoa que não vai ser o caso clássico, para
trazê-la à frente e deixá-la contar sua história de evangelização.
Mais da história de Ricardo
Ricardo foi nomeado ministro de uma igreja denominacional em uma
grande cidade há alguns anos.
Que símbolos ou artefatos ajudaram a mudar a cultura?
Mudar o letreiro da igreja foi um grande momento. A igreja ficava num
grande quarteirão, e faz tempo venderam a metade da frente para um hotel
para pagar o prédio. Da estrada, tudo o que você pode ver da nossa igreja é
uma entrada de automóveis. Então havia essa enorme seta branca, com escrita
azul conservadora e a foto de uma família dos anos 70.
Alguém sugeriu que mudássemos a placa, aumentássemos nossa
visibilidade e fizéssemos algo divertido. Eu sugeri fazer algo verde e
brilhante. Dois presbíteros conservadores disseram: “Vamos pintar uma
grande seta verde”. Então eu me afastei e deixei os dois presbíteros pintarem
a placa. Se alguém me perguntasse sobre a placa, eu dizia: “Você terá que
perguntar a Breno e Isaque sobre isso!”.
Imediatamente as pessoas da comunidade começaram a falar sobre a
grande seta verde. Colocamos uma faixa no topo e tínhamos um novo site.
Essas mudanças nos deram visibilidade. Foi divertido.
Outra coisa importante foram as canções de natal. Nós costumávamos
cantar canções de natal todos os anos no prédio da igreja.
“Por que fazemos isso?”, eu perguntei.
“Porque é Natal.”
Eu sugeri convidarmos a comunidade. Então formamos uma equipe,
distribuímos convites nas caixas de correio, imprimimos e vestimos
camisetas verdes com o nosso slogan, e fizemos pinturas nos rostos. Era um
evento grande, e as pessoas estavam um pouco nervosas com isso. Mas ficou
lotado (cerca de quatrocentas pessoas vieram) e as pessoas vieram para o
nosso espaço. Foi louco. As crianças ficaram amontoadas na frente, algumas
delas se estranhando — e eu tentando separar essas crianças com meus pés
para impedi-las de brigarem, enquanto tocava Natal281 com meu violão.
Mas Deus honrou tudo isso, e a partir daí percebemos que tínhamos que
sair com as canções natalinas. Desde então, fazemos um culto de cantos ao ar
livre, conduzido da traseira de um caminhão estacionado em nossa garagem.
Também remodelamos o boletim da igreja e tornamos as coisas mais
profissionais. Trabalhamos em nosso site e em nossos audiovisuais. Não
queríamos que as pessoas ficassem envergonhadas se viessem.
Todas as semanas eu envio um e-mail que inclui notícias do boletim, além
de um pequeno artigo que escrevi — elogiando a congregação por ser
acolhedora para os recém-chegados e reforçando isso, ou respondendo ao
sermão. Tudo isso ajudou a remodelar a cultura — pequenas coisas que
juntas se tornam muito poderosas.

PROJETO: DESENVOLVER UM PLANO


DE COMUNICAÇÃO
1) Analisem o rascunho do manifesto elaborado no final da Fase 1. Há algo
que vocês gostariam de mudar ou melhorar?
2) Reduzam o manifesto a algumas declarações simples que respondam às
duas questões gerais sobre a cultura da sua igreja:
a) Que tipo de igreja Deus quer que sejamos?
b) Com a orientação de Deus, como vamos chegar a esse futuro?
3) Elaborem um plano de comunicação sobre como pretendem:
a) Explicar, expor e persuadir a congregação sobre a verdade dessas
declarações por meio de sermões, apresentações na web, videoclipes,
apresentações de visão, reuniões com líderes e assim por diante.
b) Continuar repetindo e divulgando essas declarações da maneira mais
ampla e frequente possível.
Vocês podem usar um modelo de planejamento como este:
FORMA DE PESSOA
MEIO OU CANAL PRAZO
COMUNICAÇÃO RESPONSÁVEL
Declaração resumida Slide de abertura, 2 de abril Jonas
boletim
Apresentação da visão Jantar de celebração 20 de Wesley
(em 1 hora) para toda a igreja junho

Veja o capítulo de Craig Hamilton “Seu povo deve ser capaz de ter uma boa impressão sobre você” em Wisdom in Leadership, p.
421-8. Sobre repetir a visão diversas vezes, ele diz: “é quando começo a ficar entediado com ela que provavelmente as pessoas
estão começando a se lembrar vagamente dela”. Seu capítulo sobre a natureza da visão também é muito útil; veja “O ponto é
clareza, não rótulos”, p. 337-44.
N. do E.: Charles Wesley, “Natal”, trad. Robert Hawkey Moreton, em Cantor Cristão, 10ª ed. (Rio de Janeiro: Casa Publicadora
Batista, 1995), hino nº 27.
Fase 5 | Manter o Ímpeto
Manter o ímpeto
Talvez você esteja pensando que a parte difícil acabou. Não há dúvida de que
a Fase 4 exige tempo e esforço — tanto pensar e repensar, tantas opções e
possibilidades, e tanto falar, falar, falar sobre o que vamos realmente fazer.
Contudo, como já notamos uma vez, o planejamento estratégico é, na
verdade, a parte fácil. É na execução que quase todos caem. O estágio
realmente desafiador de impulsionar qualquer mudança cultural profunda é,
na verdade, executar seus planos — de forma persistente, flexível e eficaz
durante o período considerável que será necessário para que qualquer
mudança real ocorra.
Esta fase final do Projeto Videira tem a ver com esse desafio. Nesta fase,
falaremos sobre os inevitáveis obstáculos, desafios e dificuldades que virão, e
planejaremos como manter o ímpeto não apenas para este ano, ou o seguinte,
mas por muitos anos no futuro. Vamos analisar cinco tópicos:
1) Entendendo os obstáculos
2) A pressão sobre os pastores
3) A pressão sobre o nosso povo
4) Liderança, equipe e governança
5) Habilidades práticas para manter o ímpeto
Ao fazer isso, estamos muito conscientes de que estamos cobrindo tópicos
que merecem capítulos ou livros inteiros para si.282 Nosso objetivo é dar os
contornos da paisagem e um mapa para percorrer o seu caminho nessa
jornada, mas depois apontar para onde podem ser encontradas direções e
orientações mais detalhadas.

1) ENTENDENDO OS OBSTÁCULOS
Mudar a “maneira como fazemos as coisas por aqui” nunca acontece de
maneira rápida ou fácil. Nossas linguagens compartilhadas, práticas, hábitos,
estruturas, atividades, tradições, sabedoria, símbolos, rituais e
relacionamentos foram estabelecidos ao longo de um considerável período de
tempo — às vezes séculos.
Cada cultura tem certo peso ou inércia, como um brinquedo do tipo joão-
bobo que você pode empurrar, mas que sempre se apruma e retorna à sua
antiga posição. Como já notamos mais de uma vez, mudar uma cultura requer
alguma persistência. Não é uma operação estratégica de ataque; é mais como
uma guerra terrestre prolongada na Ásia.
Mas há também a dificuldade inerente de implantar qualquer plano com
sucesso em nosso mundo, dadas as forças naturais do caos e da entropia. As
pessoas são falíveis; elas cometem erros ou deixam de cumprir suas
promessas. O mundo é complexo e não podemos considerar todas as
circunstâncias ou variáveis em nossos planos. O futuro é desconhecido para
nós e pode trazer uma mudança inesperada que destrói completamente nossos
planos.
Tudo isso é apenas o oceano em que navegamos. Qualquer tentativa de
“mudança de cultura” em qualquer organização em nosso mundo — seja uma
empresa, agência governamental ou escola — enfrentará esses ventos
desfavoráveis.
Mas à medida que procuramos gerar mudança cultural nas igrejas,
enfrentamos um obstáculo adicional no nível primário: o pecado. Suponho
que podemos dizer que a entropia e a frustração geral de fazer qualquer coisa
no mundo são resultado do pecado e da queda, mas na mudança da cultura da
igreja a presença do pecado é mais aguda. Isto porque o que estamos
procurando fazer é mover toda a cultura da igreja, e as pessoas que nela
habitam, na direção da piedade e maturidade em Cristo. Se nossas convicções
estiverem certas, o tipo de mudança de que estamos falando não é apenas um
realinhamento organizacional ou uma nova abordagem estratégica — é um
arrependimento em direção à semelhança com Cristo.
Em outras palavras, a razão fundamental pela qual as culturas das igrejas
não estão mais alinhadas com as convicções que esclarecemos na Fase 1 não
é histórica ou circunstancial; é espiritual. É falta de confiança na Palavra de
Deus, falta de dependência do Espírito de Deus, falta de amor cristão pelas
pessoas que nos rodeiam, falta de esperança no reino eterno de Cristo que é o
nosso verdadeiro lar, e assim por diante.
Essa é a razão básica pela qual a cultura da igreja e as pessoas nela
resistirão à mudança na direção da qual estamos falando. É a mesma razão
pela qual nossos corações resistem a essa mudança. Enquanto eu (Tony)
escrevo este parágrafo, estou olhando pela janela do meu escritório para o
meu vizinho não-cristão trabalhando em seu quintal. Há uma parte do meu
coração que está feliz por eu estar ocupado aqui na minha mesa escrevendo
sobre evangelismo e crescimento, porque é mais fácil do que estar lá fora
falando com ele sobre Cristo. E é assim que todos nós somos. Nossos
corações pecaminosos têm uma tendência a “retroceder”, mesmo quando a
Palavra e o Espírito de Deus nos impelem e nos levam a “avançar”.
A mudança cultural é ainda mais difícil do que uma guerra terrestre na
Ásia. É uma batalha espiritual contra forças que não podemos sequer
conquistar em nós mesmos, muito menos em nossa congregação — não com
nossos próprios recursos. Nós só podemos fazer isso com as armas que Deus
provê, como a armadura da verdade, justiça, evangelho, fé, salvação, Espírito,
Palavra e oração em Efésios 6.
Em particular, devemos continuar orando e dependendo que Deus maneje
a espada do seu Espírito no coração de seu povo.
Discussão
1) Revisem a lista de obstáculos ou dificuldades para a mudança
analisados na Fase 3, Exercício de Avaliação 7. Vocês mudariam sua
classificação agora sobre quais são os mais difíceis?
2) Vocês adicionariam algum outro obstáculo importante à lista (de
acordo com o planejamento feito na Fase 4)?
3) Olhando novamente para os obstáculos mais significativos identificados
agora:
a) Tentem reformular cada um como um problema espiritual, com uma
passagem da Bíblia que avisa sobre esse problema ou nos ordena a ser
diferente.
b) O que seria possível fazer para detectar e desarmar ou evitar cada um
desses obstáculos?
4) Aqui está uma lista diferente de obstáculos — uma lista de razões que
as igrejas deram, retrospectivamente, a respeito de por que seus esforços
para iniciar o crescimento e a mudança falharam.283 Quais destas têm
mais chances de comprometer seus próprios esforços para reformular a
cultura de sua igreja?
a) O projeto não foi realmente levado a Deus em oração; falamos sobre
orar, mas acabamos não orando muito.
b) Não conseguimos alistar um grupo central de líderes ou defensores
leigos apaixonados para ajudar a modelar e liderar a mudança.
c) Subestimamos o poder e a inércia da cultura existente.
d) Não fizemos o suficiente para promover um senso de urgência para as
mudanças.
e) Não demos às pessoas tempo e espaço suficientes para fazer a
transição emocional para algumas das novas estruturas e iniciativas
que introduzimos.
f) Compramos a solução pronta de outras pessoas. Tentamos “encaixar”
novos programas e estratégias no trabalho existente, em vez de
reconstruir a cultura a partir do zero.
g) Recuamos de algumas decisões importantes porque não queríamos
enfrentar as consequências ou constrangimentos de colocá-las em
prática.
h) Depois de um tempo, não conseguimos ver os benefícios das
mudanças, então voltamos ao status quo.
i) Nós realmente não demonstramos a nova cultura do ministério de tal
forma que as pessoas pudessem ver do que se tratava.
j) Não comunicamos eficazmente as razões da mudança e o que isso
significaria para alcançar mais pessoas com o evangelho.
k) Não estávamos dispostos a fazer mudanças em nossas estruturas
organizacionais para remover obstáculos à mudança.
l) Não conseguimos traduzir a visão em etapas de implantação
compreensíveis e realizáveis.
m) Tentamos fazer muitas coisas novas de uma só vez. O processo
morreu por causa de mil iniciativas.
n) Começamos o processo de mudança, mas perdemos o ímpeto. Não
tínhamos planos para nos mantermos em movimento.
2) A PRESSÃO SOBRE OS PASTORES
Em A treliça e a videira, escrevemos brevemente sobre as diferentes
maneiras pelas quais os pastores veem a si mesmos e seus papéis. Falamos
sobre o pastor como clérigo provedor de serviços, o pastor como CEO e o
pastor como treinador. Poderíamos acrescentar recentes apelos para que os
pastores sejam líderes missionais,284 líderes-pastores,285 e sabe-se lá o que
mais.
Nem tudo isso é passageiro (embora uma parte seja). Conversando
pessoalmente com muitas centenas de pastores, há um sentimento
generalizado de que as visões e expectativas tradicionais do papel do pastor
estão fora de moda, e já há algum tempo.
Uma alteração extremamente significativa está simplesmente na mudança
dos padrões de convívio social regular da igreja. Muitas de nossas tradições e
expectativas de ministério pastoral pertencem a uma época em que uma
proporção considerável da população frequentava a igreja regularmente.
Sobre a situação na Inglaterra, Derek Tidball escreve:
Nos dias anteriores às mudanças produzidas pela revolução industrial, parecia uma
abordagem adequada dividir a Inglaterra em várias paróquias e assegurar que, por
meio de um contingente adequado em cada local, as necessidades espirituais da
nação estariam bem atendidas. Isso, pelo menos, era a teoria! Em apoio, pode-se
afirmar que, qualquer que fosse a realidade da crença pessoal, a maioria das
pessoas seria encontrada na igreja e praticamente todos estavam dentro de sua
órbita. A revolução industrial impôs severas tensões ao sistema paroquial e
mudanças subsequentes na população tornaram-no ainda mais problemático, de tal
forma [...] que o sistema paroquial é agora totalmente inadequado.
Esta conclusão [...] não deve ser alcançada com base apenas nos estudos de gestão.
Mais significativamente, o sistema paroquial é inadequado porque é construído
sobre o pressuposto de que a nação é uma nação cristã, e tudo o que precisa
acontecer é as ovelhas serem cercadas. [...] Hoje, qualquer teologia pastoral, se
deseja ser adequada para atender as necessidades da igreja contemporânea, deve
levar em conta a situação missionária em que ela existe. [...] A teologia pastoral
deve preocupar-se não apenas com o cuidado das ovelhas existentes, mas com o
nascimento de mais ovelhas.286
Talvez a mudança mais cataclísmica tenha ocorrido no modo como muitas
igrejas abordam o evangelismo. Na era em que um grande número de
“cristãos” nominais vinha à igreja, havia trabalho missional mais do que
suficiente a ser feito simplesmente ao evangelizar os não-cristãos que vinham
à igreja ou levavam seus filhos à Escola Dominical toda semana. A ideia de
ter que sair para a comunidade, fazer contato com os incrédulos que estavam
lá fora e compartilhar o evangelho com eles — isso simplesmente não estava
na agenda. Não havia necessidade, e nem tempo, na verdade.
Este não é mais o caso em quase nenhum lugar do mundo ocidental (e já
não o é há décadas). Há alguns bolsões nos Estados Unidos onde ainda pode
ser assim, mas mesmo lá isso está mudando rapidamente.
No entanto, embora a paisagem tenha mudado drasticamente, muitas
igrejas ainda têm expectativas de ministério e do pastor que pertencem a esta
era passada. E muitos pastores têm conflitos com o papel que devem ter no
clima de permanente mudança e cada vez mais espiritualmente hostil que
habitam. Meu papel é proteger, guardar e alimentar as ovelhas? Ou é sair ao
mundo e encontrar a ovelha perdida?
Este é um assunto enorme. Por ora, esses breves pontos terão que bastar:
• Mais do que um novo modelo de ministério pastoral, precisamos de um
retorno à visão neotestamentária do ministério pastoral — pois esse era
um ministério conduzido na fornalha de uma cultura pagã amplamente
hostil.
• No Novo Testamento, não vemos nenhuma linha precisa e fixa traçada
entre o trabalho de pastores, presbíteros, supervisores ou evangelistas.
Todos empreendem ministérios da Palavra e oração, pregando e
ensinando o evangelho, publicamente e de casa em casa, para que as
pessoas fossem salvas.287
• As convicções que esclarecemos na Fase 1 sobre a natureza de todo o
ministério cristão mostram que o papel do pastor ou supervisor não é
diferente em essência do papel de todo cristão — fazer outros avançarem
por meio do ministério dos 4Ps, seja para os não-cristãos ainda em
“Envolver” ou cristãos maduros na ponta “Equipar” do espectro.
• O papel do pastor, sob essas convicções, é em grande parte ser um cristão
modelo. É servir de exemplo, líder, mobilizador, professor, guardião e
guia para toda a congregação, enquanto juntos procuram fazer avançar
uns aos outros e a todos ao seu redor.
• Se quisermos misturar a linguagem bíblica com nossas metáforas, o
pastor é um cuidador que está fazendo suas ovelhas avançarem — o que
significa que ele está constantemente ensinando, ajudando e equipando
suas ovelhas para voltar atrás e trazer outras consigo. Em outras palavras,
é uma falsa dicotomia dizer que precisamos de líderes de missão, não de
pastores. Os pastores que alimentam e guiam suas ovelhas de acordo com
as convicções que descrevemos acima terão um coração para os perdidos
e construirão e cultivarão igrejas evangelisticamente ativas e voltadas
para fora.
• O papel do pastor, então, não é essencialmente terapêutico — embora
este seja frequentemente um ponto de pressão para muitos pastores.
Espera-se que eles estejam lá na cabeceira do hospital, aconselhando os
de coração partido, consolando os enlutados. E, claro, os pastores podem
e devem assumir a liderança em prover esse tipo de amor e cuidado
àqueles que precisam. No entanto, como já observamos anteriormente,288
esse tipo de cuidado pastoral não é uma responsabilidade separada ou
alternativa, de alguma forma à parte de ser um aprendiz em Cristo que
procura fazer outros aprendizes. À medida que crescemos em amor e
semelhança com Cristo, nossos corações sairão por compaixão daqueles
em qualquer tristeza ou necessidade, e nós particularmente desejamos que
eles sejam encorajados a perseverar e colocar sua fé e esperança em
Cristo (pelo ministério da palavra de Deus em oração). O pastor lidera e
exemplifica este tipo de ministério de cuidado pastoral, mas ele não pode
fazer tudo, assim como ele não pode fazer todo o evangelismo ou todo o
envolvimento com pessoas de fora. Aqui também há um “caminho” a ser
pensado, e cooperadores a serem treinados.
Em outras palavras, a liderança pastoral floresce e é eficaz quando os
pastores estão constantemente buscando investir e empregar novos pastores e
cooperadores para servir ao seu lado, seja como voluntários, em tempo
parcial ou em tempo integral. Precisamos de mais pastores (não menos) que
possam ensinar a fé, nutrir a maturidade espiritual e assumir a
responsabilidade de liderar e equipar os santos em todos os aspectos da vida
cristã e do ministério 4Ps.
Discussão
1) Como vocês caracterizariam as principais expectativas que os membros
de sua congregação têm atualmente do pastor ou da equipe pastoral?
2) Quais dessas expectativas provavelmente serão obstáculos para seus
planos de mudança cultural? Como seria possível lidar com isso por
meio do ensino, comunicação e diálogo?
3) Uma maneira comum de o próprio pastor ser um obstáculo ou um
gargalo para o crescimento e para a mudança cultural está no
preenchimento de sua agenda. Se não houver tempo para o pastor, por
exemplo, estar intimamente envolvido em equipar novos “aprendizes
que ajudam outros aprendizes”, então é improvável que a mudança de
cultura levante voo.
É útil que os pastores façam uma auditoria cuidadosa de seu tempo. Onde
o tempo está sendo realmente gasto? O que poderia ser remarcado ou
delegado? Quais prioridades e alocações de tempo precisam mudar?

3) A PRESSÃO SOBRE O NOSSO POVO


Não são apenas pastores que estão sentindo a tensão. De fato, conversando
com pastores sobre a construção de uma cultura de discipulado em suas
igrejas, muitos comentaram que seu povo está sob enorme pressão — em
locais de trabalho exigentes ou hostis, em casamentos difíceis, com filhos
doentes ou pais idosos, com problemas crônicos de saúde, e com todos os
outros problemas e complicações de viver neste mundo caído. Os pastores
nos disseram: “É muito bom falar em treinar nosso povo para serem
discipuladores, mas sinto que as pessoas estão apenas lutando para sobreviver
de um dia para o outro. Temos muita dificuldade apenas para fazer as pessoas
aparecerem na maioria dos domingos — quanto mais começar algo novo ou
extra!”.
A primeira e mais importante coisa a dizer é que devemos entender e
responder à pressão que nosso povo está sofrendo teologicamente, em termos
do que a Bíblia diz sobre esse mundo caído. O tipo de pressão sobre a qual
estamos falando é uma situação normal neste mundo tenebroso, e seu efeito
mais significativo é a tentação que ela traz de abandonar Cristo, de se refugiar
nas trevas, de desistir de nossa esperança, de nos entregar ao desespero.
Em outras palavras, aprender Cristo (como descrevemos e definimos na
Fase 1, Convicção 2) não é um exercício acadêmico ou teórico a que
dedicamos tempo depois de resolvermos a vida. Aprender Cristo significa
precisamente aprender a confiar nele e depositar nossa esperança nele em
meio a todas as complicações, problemas e pressões da vida. E assim como o
crescimento à semelhança de Cristo em meio à pressão da vida é exatamente
o que é ser um discípulo, ajudar as pessoas a fazer isso por meio do
ministério 4Ps é exatamente o que significa ser uma “comunidade de
aprendizado transformador”.289
Como esperamos ter esclarecido bastante, não devemos compartimentar o
discipulado como um conjunto de atividades a ser empreendidas pelos
realmente comprometidos ou por aqueles que têm suas vidas resolvidas. O
tipo de aprendizado transformador do qual estamos falando invade e muda
todas as facetas de nossas vidas, incluindo como lidamos com as provações
da vida.
Tendo dito tudo isso, há uma necessidade óbvia de ser realista sobre o que
o nosso povo pode dar conta em termos de tempo, energia e esforço, dado o
estágio da vida em que estão. Não adianta sujeitar todo o seu projeto ao
fracasso, embarcando em planos que não têm relação realista com a
quantidade de tempo e energia que seu pessoal tem disponível. É uma receita
para culpa, esgotamento e desânimo em todos os sentidos.

4) LIDERANÇA, EQUIPE E GOVERNANÇA


Em uma paisagem na qual tanto pastores quanto ovelhas estão sob
considerável pressão, construir o tipo certo de equipe de liderança será
fundamental. Em algum momento, se você quiser obter algum tipo de ímpeto
nos seus planos do Projeto Videira, precisará abordar três questões
relacionadas:
• Quem deve estar na equipe que lidera o crescimento do ministério 4Ps
em nossa congregação? (Esse é realmente o desdobramento da sua
equipe do Projeto Videira — o grupo de pessoas que entende a cultura
que você está querendo construir e vai à frente ajudando a construí-la.
Para essa discussão, vamos chamá-lo de “equipe de liderança”.)
• Qual equipe remunerada em tempo integral e parcial é necessária para
apoiar e liderar o crescimento do ministério? (Muitas vezes, a equipe
regular da igreja coincide significativamente com a equipe de liderança,
embora na maioria das igrejas elas não sejam idênticas.)
• Como tudo isso se relaciona com as estruturas oficiais de governança de
nossa vida congregacional? (O comitê da igreja, a assembleia, o conselho
paroquial, os presbíteros, os diáconos ou quaisquer rótulos que essas
estruturas tenham em sua parte do mundo — nos referiremos a isso daqui
para frente como “a equipe de governança”).
Este é um assunto difícil de escrever, porque sabemos que as
circunstâncias de nossos leitores são muito variadas. Alguns de vocês estão
em igrejas nas quais a resposta para as três perguntas pode ser simplesmente
“os presbíteros”; outros estão em igrejas na qual não há nenhum “presbítero”
(pelo menos não com esse nome).
No entanto, a maioria das igrejas tem esses três grupos ou níveis de
liderança identificáveis de alguma forma ou de outra. Haverá considerável
sobreposição entre eles, mas eles não são idênticos. Nem todo líder principal
no crescimento do ministério será um obreiro pago, ou necessariamente um
presbítero ou membro do governo principal da igreja. Nem todos os membros
da equipe de governança assumirão, de fato, um importante papel de
liderança no ministério. E a equipe remunerada, embora provavelmente
exerça a liderança do ministério, pode ou não fazer parte das estruturas
oficiais de governança.
Não pretendemos entrar em nenhuma discussão neste momento sobre
política e estrutura da igreja — não porque essas questões não sejam
importantes, mas porque estão simplesmente além de nosso escopo.290
Podemos, no entanto, oferecer algumas breves orientações sobre cada um
desses níveis de liderança congregacional.
a) A equipe de liderança
Esta equipe será composta de alguma combinação de pastores ordenados,
presbíteros e outros líderes leigos, dependendo da tradição e da política de
sua igreja. Seu papel principal é remodelar e liderar toda a cultura da sua
congregação na direção ao que estamos discutindo — no sentido de fazer
discípulos que fazem outros discípulos (ou, se preferirem, na direção do
ministério 4Ps e de fazer todos avançarem).
Em outras palavras, essa é a equipe que assumirá a responsabilidade ativa
de implantar os projetos que foram estipulados (na Fase 4) e de manter o
ímpeto de mudança ao longo do tempo. (Seria estranho se o pastor titular da
congregação não fosse também o líder dessa equipe.)
Esta equipe de liderança é idêntica à equipe do Projeto Videira (as pessoas
que estão trabalhando juntas neste livro)? Podemos dizer que a equipe de
liderança é o que a equipe do Projeto Videira se torna, junto com outros que
são persuadidos pela visão e atraídos para liderar e equipar a congregação
(sejam outros líderes leigos, outros funcionários pagos, ou outros membros
do governo principal da igreja).
Humanamente falando, um dos fatores cruciais para o sucesso ou fracasso
do Projeto Videira é quão bem você escolhe, equipa e apoia as pessoas que
traz para a equipe de liderança. Então, escolha as pessoas com cuidado. Evite
pessoas encantadoras, talentosas, perspicazes, influentes ou impressionantes
de várias maneiras, mas que não compartilham suas convicções ou que não
têm fidelidade e substância espiritual.
b) A equipe de governo
Em alguns contextos de igreja, o tipo de equipe de liderança que estamos
discutindo (acima) pode ser subordinado aos presbíteros ou conselho
paroquial — àqueles que têm autoridade formal e responsabilidade por todos
os assuntos da congregação, incluindo a administração de suas finanças e
propriedades. Pode ser muito eficiente e útil que uma equipe se concentre nas
ferramentas de dinheiro, infraestrutura, TI, propriedade e afins, enquanto
outro grupo está conduzindo os planos do ministério.
Seja qual for a relação entre os dois, sequer precisa ser dito que o grau de
companheirismo e concordância entre a equipe de liderança e a equipe de
governo será o sucesso ou o fracasso da eficácia de sua visão de fazer
discípulos. Um dos primeiros passos no seu plano de comunicação deve ser
gastar bastante tempo certificando-se de que todos os níveis de liderança na
igreja estejam na mesma página e seguindo na mesma direção.
Com o tempo, você pode descobrir que suas convicções esclarecidas sobre
o ministério e os planos que está implantando para a mudança cultural
acabam expondo algumas inadequações em suas atuais estruturas de governo
e liderança — ou alguns problemas anteriormente não expostos com as
pessoas que atualmente ocupam essas estruturas. Podemos apenas dizer o
óbvio: por um lado, não derrube a maior parte do que você conseguiu tendo
uma enorme luta interna sobre estruturas de liderança ou pessoal; por outro
lado, seria muito incomum alcançar crescimento real e mudança sem brigas
ou conflitos com os líderes existentes (que muitas vezes estão envolvidos em
manter as coisas do jeito que estão).
c) A equipe de funcionários
Assim como igrejas diferentes têm estruturas de governo diferentes,
também a maneira pela qual as igrejas nomeiam e empregam pessoal de
ministério remunerado varia bastante. Entretanto, qualquer que seja sua
estrutura de pessoal, gostaríamos de sugerir que, ao repensar o domingo e
projetar novos caminhos para ver as pessoas avançarem, é quase inevitável
que você encontre limitações em suas estruturas atuais ou na composição do
pessoal. Você pode se virar por um tempo com as pessoas e estruturas que
tem, mas eventualmente — se o ímpeto for mantido — terá que trazer
algumas novas pessoas a bordo, ou rearranjar alguma equipe existente.
Esta situação é muitas vezes o resultado da abordagem departamental ou
de “organograma” do pessoal da igreja que se tornou comum nas últimas
décadas. Há um ministério que precisa ser feito (homens, mulheres, jovens,
crianças etc.) e, por isso, nomeamos um membro da equipe para dirigi-lo. O
resultado pode ser uma coleção de “silos” (como são chamados no ambiente
de negócios): diferentes ministérios funcionando sob seus líderes, sem muita
comunicação ou visão em comum.
Por exemplo, depois de ler A treliça e a videira (ou por outros meios) e se
convencer da necessidade de fazer discípulos, de equipar ou conceitos
semelhantes, algumas igrejas respondem ao chamado nomeando um “pastor
de discipulado”, cujo trabalho é cuidar dessa nova ênfase de discipulado
enquanto o pastor titular, o pastor de jovens, o pastor dos homens e os vários
outros pastores continuam o que estavam fazendo antes. Mas isso não
funciona.
Quais são as alternativas?
Alguns membros-chave de sua equipe serão sempre dedicados à exposição
pública da Palavra em suas reuniões dominicais e outros eventos
missionários. Estes são papéis primários de ensino para pregadores capazes e
piedosos, que ensinam a sã doutrina para a saúde espiritual e direção de toda
a congregação. Por meio de seu ensino regular, todos os outros líderes e
ministérios são moldados pelo verdadeiro evangelho e discipulado genuíno.
Outros pastores ou líderes da equipe podem ser generalistas ou
especialistas. Por exemplo, um pastor de mulheres pode ter uma
responsabilidade “generalista” de envolver, evangelizar, estabelecer e equipar
as mulheres da congregação. Essa pessoa treinaria líderes que exercessem
esses ministérios e atividades sob seus cuidados. Poderia acontecer
igualmente com um pastor ou ministro da juventude, ou com o(s) pastor(es)
de uma nova congregação que é plantada fora da sua igreja atual.
Outra maneira é empregar equipes com mais funções de “especialistas”.
Por exemplo, aqueles com dons particulares para evangelismo poderiam
supervisionar todos os caminhos de envolver e evangelizar em toda a igreja.
Eles poderiam se concentrar em tornar todos esses ministérios eficazes em
todas as esferas. Neste modelo de especialista, você pode ter um líder (na
equipe ou leigo) supervisionando cada ponto importante do caminho:
envolver, evangelizar, estabelecer e equipar.
Seja como for selecionada e implantada a equipe de funcionários, e os
líderes voluntários ou leigos que trabalham ao lado deles, precisa estar claro
como cada pessoa é responsável por liderar e nutrir o ministério 4Ps em sua
área específica, para ver as pessoas avançarem um passo em direção a Cristo
e à maturidade nele. Assim, quando o membro da equipe encarregado do
ministério de homens é perguntado sobre qual é o seu trabalho, ele deve dizer
algo como: “envolver os homens descrentes em relacionamentos, levar-lhes o
evangelho, estabelecê-los na fé e na igreja, e equipá-los para fazer outros
discípulos”. Isso é muito diferente da resposta mais comum: “Liderar o
ministério dos homens”.

5) HABILIDADES PRÁTICAS PARA MANTER O


ÍMPETO
a) Fazer o tipo certo de planos
Um aspecto fundamental para manter o ímpeto é ter certeza de que você
tem o tipo certo de planos para começar. Se os seus planos forem vagos,
irrealistas, mal expressos ou confusos, é bem improvável que eles ganhem
muita adesão ou durem muito. É difícil progredir muito quando as pessoas
não sabem exatamente o que fazer e quando, ou quando não sabem sequer se
está havendo progresso ou não (porque não há nada nos planos para indicar
como deve ser o progresso).
Para seus planos serem compreendidos, adotados e colocados em prática
ao longo do tempo, eles precisam:
• Ser clara e simplesmente expressos em linguagem comum;
• Ser suficientemente bem definidos e específicos para que todos saibam o
que são, e consigam saber se houve ou não progresso em alcançá-los
(uma maneira de testar isso é perguntar se algum tipo de medida ou
métrica poderia ser aplicada a aspectos do plano);
• Ser estimulantes e novos, mas realistas em seu escopo — isto é, você
precisa de um pequeno conjunto de prioridades ou fatores críticos nos
quais deseja colocar suas energias; se o plano é muito vasto e tem muitas
“prioridades”, deixam de ser prioridades e se tornam uma lista de desejos;
• Ser aplicáveis a tantos aspectos da sua vida congregacional quanto
possível — um fator crucial em gerar e manter o ímpeto é ter planos que
todos possam compreender e fazer parte, seja no ministério dos homens,
das mulheres, dos jovens, no estudo bíblico ou qualquer outra coisa.
Planos de boa qualidade ajudam todos a trabalhar juntos pelo mesmo
objetivo;
• Ter alguém designado para cada etapa ou ação, que seja responsável por
levá-lo adiante;
• Ter prazos realistas associados às diferentes etapas ou ações.
Fazer planos de boa qualidade e segui-los é uma habilidade prática em que
alguns de nós são melhores do que outros, e os pontos acima são apenas uma
breve introdução ao assunto. Não seja orgulhoso, peça ajuda. Procure pessoas
na congregação que sejam boas nisso.
Discussão
1) Quais de seus ministérios e programas atuais não estão alinhados (ou
serão difíceis de alinhar) com sua nova visão e cultura de fazer
discípulos? O que é possível fazer em relação a isso?
2) Reservem algum tempo para analisar os planos feitos na Fase 4 e
busquem melhorá-los à luz dos seis pontos acima. Criem um conjunto
revisado de planos que:
• Sejam bastante claros;
• Tenham objetivos bem definidos e específicos;
• Tenham um pequeno número de prioridades;
• Se apliquem a todos os seus ministérios;
• Tenham alguém responsável por eles;
• Tenham prazos realistas.
b) Revisar, aprender, adaptar
Os planos feitos na Fase 4, e que agora foram revisados e aprimorados, são
sem dúvida de primeira classe. Mas se a experiência normal nos diz algo, nos
primeiros 12 meses você vai enfrentar algumas surpresas — algumas coisas
vão fracassar, outras decolarão inesperadamente, atrasos ou problemas
inevitáveis atrapalharão e assim por diante.
Em outras palavras, ao contrário das leis dos medos e dos persas (que
nunca podem ser mudadas), seus planos precisam de constante
monitoramento, revisão e ajuste. Será necessário fazer uma pausa em
intervalos regulares e verificar como as coisas estão indo, falar honestamente
sobre o progresso e fazer alterações nos planos quando necessário. Pode ser
útil ter uma reunião mensal regular para manter as coisas no caminho certo e
coordenar e lidar com os incêndios pontuais, bem como uma revisão mais
importante a cada 12 meses para ajustar os planos para os próximos 12
meses.
Você também pode precisar repetir partes de todo o processo do Projeto
Videira em cinco anos (por exemplo). Talvez seja necessário um novo
esclarecimento sobre suas convicções, no caso de terem se desviado do curso.
Pode ser preciso olhar novamente para suas próprias vidas, fazer uma nova
reavaliação do ministério e conduzir uma grande revisão de seus planos.
c) Identificar lacunas nas habilidades práticas
As seguintes habilidades práticas são mais importantes para liderar a
mudança cultural do que se pode pensar. E vale a pena ser honesto sobre
quais capacidades estão faltando em seu contexto. Se for perceptível um ciclo
repetido de planos que nunca são implantados de forma eficaz, pode haver
um déficit de habilidades.
Não é difícil descobrir quais habilidades práticas seriam valiosas para
liderar e administrar nossos ministérios, especialmente se estamos tentando
fazer mudanças significativas. Por exemplo:
• Gestão pessoal e controle de agenda;
• Liderar equipes e reuniões de equipe;
• Gerenciar projetos ministeriais;
• Desenvolver e executar programas de treinamento;
• Habilidades de mentoria e de delegação de tarefas.
Esses tipos de lacunas podem ser abordados de várias maneiras:
• Cuidando do desenvolvimento pessoal dos membros da equipe (há
muitos recursos, livros e programas disponíveis, tanto cristãos quanto
seculares, que podem ajudar os pastores ou outros membros da equipe a
melhorar suas habilidades práticas nessas áreas);291
• Adicionando novos membros à sua equipe com pontos fortes específicos
nessas áreas;
• Usando os dons e a experiência dos membros atuais da igreja.
Discussão
1) Desenvolvam um processo de monitoramento e revisão para seus planos
nos próximos 18 meses.
2) Que lacunas vocês veem nas capacidades de sua equipe de liderança?
Como tais lacunas serão preenchidas?
Mais da história de Gabriel
Gabriel lidera uma igreja anglicana evangélica em uma comunidade
multicultural com uma população em rápido crescimento.
Como você pessoalmente teve que mudar desde que cresceram? (Quero
dizer, quando o ministério ficou maior.) Quais foram alguns dos desafios
para você em seus dons e personalidade?
Bem, sou altamente intuitivo e relacional, e já não posso mais ser tão
intuitivo. Preciso fazer mais conclusões baseadas em evidências sempre que
tomo uma decisão! Eu preciso pensar mais em “estruturas”; preciso saber em
que estou fraco e deixar os outros entrarem.
Há uma frase que vem à mente: “Não há um líder completo, há apenas
uma igreja completa”. Então, tem a ver com usar os dons da igreja em vez de
tentar ser o “pau para toda obra”, que é o que nossos heróis eram, e então
perceber: “sabe, eu só sou bom em três ou quatro coisas — então eu deveria
gastar mais do meu tempo nelas”. Então eu não lidero reuniões de equipe
agora — o pastor executivo faz isso.
Quando comecei a plantação de igrejas, minha filosofia era ensinar Jesus a
partir da Bíblia no contexto de relacionamentos amorosos. Mas à medida que
as coisas cresciam, ficaram mais complicadas e eu tinha menos tempo para
fazer o que é meu primeiro amor. Parte de ter uma equipe de funcionários
crescente é ter que gastar mais tempo com eles. Eu sempre me lembro de
você (Colin) dizendo: “Você acha que colocar mais um membro na equipe
vai lhe poupar tempo, mas na verdade toma mais tempo”.
Obviamente, você ainda deve se encontrar com as pessoas ao redor da
Palavra — caso contrário, a integridade se perde — mas você não o faz da
maneira que fazia quando tinha 40 pessoas.
E quantos estão na equipe?
Dez pessoas, a maior parte em tempo integral. Temos uma nova pessoa
para o ano que vem que será nosso plantador de igrejas no ano seguinte.
Então, o modelo de crescimento é fazer plantação de igrejas?
Temos metas para os próximos dez anos e uma é plantar igrejas a cada
dois anos. Cada plantação será um ministério satélite por cinco anos e então
eles decidirão se querem se tornar independentes ou não.
Mas queremos ter certeza de que eles receberam nosso DNA. E também
queremos plantar com um mínimo de setenta pessoas, porque tem havido
muito desgaste em igrejas que são pequenas e estão tentando fazer tudo.
De certa forma, estamos agindo mais devagar. O velho “eu” teria se ido
mais rapidamente! E às vezes você tem que fazer isso, mas talvez eu esteja
ficando velho demais, ou só quero que as coisas durem, sobrevivam e
prosperem.
A história de Daniel
Daniel é o pastor de uma igreja bíblica em uma cidade semirrural de
tamanho médio.
O que você aprendeu sobre como manter o ímpeto da mudança?
Uma lição fundamental é que tem que haver um compromisso com a
mudança, mesmo quando as pessoas estão se movendo ao longo da curva de
aprendizado. Há um momento em que as coisas parecem perder o impulso e
pode ser tentador parar. Como a maioria da igreja não adota uma nova ideia
desde o começo, você tem que dar tempo para a nova ideia tomar forma, para
que os outros possam vê-la e abraçá-la. A mudança é difícil para as pessoas.
Permanecer comprometido com a mudança é muito importante, mesmo
quando as pessoas estão se dedicando para se adaptar à igreja.
Uma das coisas que fiz pessoalmente foi garantir que metas razoáveis
fossem estabelecidas para avaliar a mudança. Eu não esperava que toda a
igreja abraçasse essa visão, mas eu esperava que pelo menos 20% a
adotassem. Descobri que a melhor maneira de manter os 20% interessados é
passar tempo com eles, acompanhando-os e dando-lhes espaço e tempo no
culto para falar sobre suas experiências com a nova missão. À medida que as
pessoas eram encorajadas pela mudança, eu lhes dava oportunidades de
compartilhar como a mudança as impactou para melhor. Por mais que eu
queira que o mundo seja guiado por convicção e princípio, algumas pessoas
não se comprometem com uma mudança até verem que ela funciona.
Testemunhos são essenciais para dar confiança às pessoas.
A outra coisa que eu tenho experimentado é que, se eu chegar às pessoas
pessoalmente, gastando tempo para orientá-las na mudança, isso faz
diferença. Recentemente fiz isso — chamei cerca de 25% da igreja para
alertá-los de uma mudança, e depois de passar quatro dias praticamente só
ligando para as pessoas, senti que um núcleo de pessoas estava pronto e
preparado para a mudança.
Quando eu ligo para as pessoas, eu digo a elas que mudar por mudar nem
sempre é bom. No entanto, a mudança por causa da missão é sempre ótima.
Quando você toma as providências para avançar na missão, há confusão. Se o
apóstolo Paulo nunca tivesse saído de Antioquia, não teria havido revolta do
elite religiosa na Galácia, nem judaizantes deixando Jerusalém para difundir
seu ensino em Antioquia e na Galácia, nem perseguição ao apóstolo, nem
necessidade de escrever a maioria do Novo Testamento.
Mas Deus trabalha na confusão e usa a confusão para tornar a glória de
Cristo conhecida ao mundo. A mudança vai criar confusão, mas enquanto
essa confusão for criada para o avanço do evangelho, então é uma confusão
que Deus vai usar para realizar sua missão. A melhor maneira de administrar
a mudança, em minha opinião, é reconhecer que a mudança por causa da
missão torna as coisas mais difíceis, e não mais fáceis — e tudo bem; é o que
Deus usa para fazer seu trabalho.
Permitir que as pessoas reconheçam a confusão é o que impede a confusão
de quebrar o ímpeto. Na verdade, eu acho animador quando a mudança cria
uma confusão. Mostra que estamos seguindo o padrão das Escrituras.
Mais ainda do que nas muitas outras seções deste livro das quais o mesmo poderia ser dito!
Adaptado de J. Herrington, M. Bonem e J. H. Furr, Leading congregational change: a practical guide for the transformational
journey (São Francisco: Jossey-bass, 2000).
Alan Roxburgh e Fred Romanuk, The missional leader: equipping your church to reach a changing world (São Francisco:
Jossey-bass, 2006).
Timothy Z. Witmer, The shepherd leader: achieving effective shepherding in your church (Phillipsburg: P&R Publishing, 2010).
D. Tidball, Skillful shepherds: an introduction to pastoral theology (Leicester: IVP, 1986), 15-16.
Veja a famosa ordem de Paulo a Timóteo para pregar a palavra e cumprir todas as responsabilidades de seu ministério, inclusive
fazer o trabalho de um evangelista (2Tm 4.1–5).
Na Fase 4 (Área de Foco 2).
De fato, é impressionante a frequência com que o Novo Testamento fala sobre a caminhada cristã em termos de perseverança e
resistência em meio à provação. Hebreus 10–12 é um bom exemplo.
Tal discussão exigiria um livro só para isso; além disso, nós sinceramente esperamos que igrejas evangélicas reformadas com
convicções as mais variadas sobre esses assuntos aceitem o desafio do Projeto Videira e adaptem os princípios do ministério
que estamos discutindo às suas próprias situações.
Um recurso online secular útil é o Manager Tools [ferramentas de gerenciamento]: consulte manager-tools.com. Também já
mencionamos Wisdom in leadership de Craig Hamilton em algumas ocasiões. Como um compêndio de ferramentas práticas de
sabedoria e liderança, com muitas sugestões para leitura adicional, é difícil superá-lo.
Epílogo
Talvez suas emoções ao chegar a essa página final do Projeto Videira sejam
semelhantes às nossas como autores.
Neste ponto, estamos nos sentindo emocionados, empolgados, exaustos,
sobrecarregados, ansiosos e esperançosos de uma só vez. Estamos todos
muito conscientes de nossas insuficiências e imperfeições, e das lacunas e
erros que certamente existirão no que escrevemos (mesmo que não possamos
vê-los no momento). E, no entanto, estamos confiantes na verdade e no poder
da Palavra de Deus para dar frutos e mudar vidas, e ansiamos pelo que Deus
fará por meio deste exemplo particular do ministério dos 4Ps nos anos
vindouros.
Porque é isto que este livro é em sua essência. Trata-se de um exercício
em fazer o tipo de ministério que dissemos que o ministério cristão se trata:
• Compartilhamos a Palavra de Deus com você, e procuramos esclarecer e
aprofundar a partir dela o que realmente significam discipulado,
ministério e vida da igreja (Fase 1).
• Pacientemente aplicamos essas convicções ao seu próprio coração e vida
(Fase 2).
• Depois, procuramos ajudá-lo a pensar sobre o que suas convicções
significam em termos práticos para aqueles ao seu redor — para toda a
cultura de sua igreja e para o mundo perdido que está esperando para ser
alcançado (Fases 3 e 4).
• Conversamos sobre o desafio de manter paciente e persistentemente todo
o processo de mudança cultural diante de muitas pressões e dificuldades
(Fase 5).
• E ao longo de tudo isso, oramos e continuaremos orando para que Deus
trabalhe pelo seu Espírito por meio dessas palavras humanas e imperfeitas
para ajudá-lo a progredir, um passo de cada vez.
Em outras palavras, estamos tentando fazer você e toda a sua igreja
avançarem pela Palavra de Deus.
Seu privilégio e desafio agora é ir e fazer o mesmo.
A tarefa é simples o suficiente para descrever, mas certamente impossível
de executar — a não ser pelo poder transformador de Deus, que nos torna
competentes para tal ministério, e que faz brilhar sua gloriosa luz no coração
daqueles a quem proclamamos o evangelho de seu Filho.292
A ele seja a glória.
2Co 3.4–6; 4.3–7.
Apêndices
Apêndice 1 | A treliça e a videira: o
que você perdeu?
De muitas maneiras, é possível descrever Projeto Videira como a sequência
prática, “o que fazer agora” de A treliça e a videira (T&V). No entanto, se
você não leu T&V, não há necessidade real de voltar agora e fazê-lo. As
convicções teológicas e ministeriais expressas nos dois livros são as mesmas
— na verdade, sentimos que a maneira como expusemos essas convicções na
Fase 1 deste livro é mais clara e profunda, embora deixemos isso para
aqueles que leram os dois livros julgarem.
O principal aspecto de T&V que pode ser útil entender é a metáfora na
qual ele se baseia, e que continuará aparecendo de tempos em tempos neste
livro também.
Como dizemos em ambos os livros, o trabalho básico de qualquer
ministério cristão é pregar o evangelho bíblico de Jesus Cristo no poder do
Espírito de Deus e ver as pessoas convertidas, transformadas e amadurecidas
nesse evangelho. Aqui se encontram a vida e o poder de todo o ministério:
em falar a mensagem da Bíblia, inspirada pelo Espírito e mediante oração de
uma pessoa para outra (ou para mais de uma).
Em T&V, comparamos esse crescimento vibrante e dinâmico do evangelho
a uma videira fértil e crescente, extraindo nossa comparação das imagens que
Paulo usa em Colossenses 1.5–6. Semelhantemente, descrevemos o trabalho
essencial do ministério — de fazer discípulos de Jesus por meio do falar da
Palavra em oração — como “trabalho da videira”, no qual todos os cristãos
são chamados a participar, cada um à sua maneira.
No entanto, assim como é necessário algum tipo de estrutura ou treliça
para ajudar as videiras a crescer, os ministérios cristãos também precisam de
alguma estrutura e apoio. Pode não ser muito, mas no mínimo precisamos de
um lugar para nos encontrarmos, algumas Bíblias para ler e algumas
estruturas básicas de liderança dentro do nosso grupo. Todas as igrejas
cristãs, comunidades e ministérios têm algum tipo de “treliça” que dá forma e
suporte ao trabalho.
Essas treliças podem ser de natureza administrativa e gerencial (por
exemplo, finanças, infraestrutura, organização, propriedade, governo) ou
podem ser “treliças de ministério” (por exemplo, estruturas organizacionais,
eventos, atividades ou reuniões em que o trabalho da videira possa
acontecer). Nesse sentido, o banco de dados da igreja e a comissão de
finanças são “treliças de gerenciamento” que apoiam o crescimento da
videira; e o grupo de jovens e o café da manhã das mulheres são “treliças de
ministério” que fornecem uma estrutura organizacional na qual as pessoas
possam se reunir para cultivar a videira.
Uma das principais afirmações de T&V foi que em muitas igrejas as
“treliças” se desconectaram de alguma maneira do “trabalho da videira”. Há
uma infinidade de “coisas” acontecendo ao redor da igreja, com muitas
pessoas trabalhando duro para organizar e manter as coisas, e realizando
várias atividades e eventos, mas sem muito trabalho de videira acontecendo
de fato — isto é, sem a Palavra sendo falada e ensinada em oração para que
os discípulos surjam e se desenvolvam. De fato, talvez a única hora que o
trabalho de videira real aconteça seja durante o culto regular de domingo nas
várias atividades que acontecem na frente (especialmente quando o pastor
prega seu sermão).
E assim, muitas vezes, o pastor se sente sobrecarregado e frustrado. Ele
continua trabalhando diligentemente, mas se desanima um pouco, pois seu
fiel trabalho de videira todos os domingos não parece dar muito fruto. De
fato, ele frequentemente sente que gostaria de fazer mais para ajudar e
equipar outras pessoas para se envolverem no trabalho da videira, no trabalho
de regar, plantar e ajudar as pessoas a crescerem em Cristo. Mas a triste
verdade é que grande parte do trabalho de treliça também parece cair sobre
ele — listas, questões de propriedade e construção, comissões, finanças,
orçamentos, supervisão do escritório da igreja, planejamento e realização de
eventos. Simplesmente não há tempo.
E essa é a questão do trabalho da treliça: ela tende a se sobrepor ao
trabalho da videira. Talvez seja porque o trabalho de treliça é mais fácil e
menos pessoalmente ameaçador. O trabalho da videira é pessoal e requer
muita oração. Ele requer que dependamos de Deus, e abrir nossas bocas e
falar a Palavra de Deus de alguma forma para outra pessoa. Por natureza (por
natureza pecaminosa, isto é) nos esquivamos disso. O que você prefere fazer:
ir a um mutirão da igreja e varrer algumas folhas, ou compartilhar o
evangelho com seu vizinho no condomínio? O que é mais fácil: fazer uma
reunião administrativa sobre o estado do carpete, ou fazer uma reunião
pessoal difícil em que você precisa repreender um amigo sobre seu
comportamento pecaminoso?
O problema que T&V tentou apresentar, e que chamou a atenção de muitos
de seus leitores, é que é muito possível que uma igreja esteja ocupada e ativa,
tenha todos os programas e departamentos no lugar, mas sua tarefa comum
básica de fazer discípulos, falando a Palavra de Deus em oração, tenha sido
empurrada para os cantos. É bem possível ter uma treliça bem construída e
bem mantida, na qual uma videira danificada está lutando para crescer.
Apêndice 2 | Repensando pequenos
grupos
Para cultivar uma cultura transformadora de aprendizado em nossas igrejas, a
prioridade de todos aprenderem juntos e avançarem deve conduzir cada
atividade e programa da vida da igreja. É isso que estamos tentando repensar
e reconstruir na Fase 4 do Projeto Videira.
Onde pequenos grupos caseiros ou grupos de estudo bíblico se encaixam
nisso?
Quase todas as igrejas evangélicas têm desses grupos. E eles podem ser
uma poderosa estrutura ministerial para moldar e reforçar a cultura que
gostaríamos de ver acontecer em toda a igreja. Assim como nossos principais
encontros de domingo, se nossos pequenos grupos não expressam, praticam e
demonstram a cultura que estamos querendo promover, é improvável que
todo o projeto tenha sucesso.
Em nossa observação e experiência, no entanto, muitos pequenos grupos
em muitas igrejas estão estagnados. Mesmo em grupos nos quais o estudo da
Bíblia e a oração ainda são atividades centrais, muitas vezes parece que há
pouco progresso em nossa maturidade cristã, comunhão e evangelismo. Os
membros podem ir de um ano para o outro sem qualquer mudança
significativa em lidar com o pecado e viver para Cristo.
Muitos grupos parecem ter evoluído para clubes de leitura, nos quais o
livro em discussão por acaso é a Bíblia. Especialmente entre os adultos de
meia-idade, ouvimos muitas histórias de pequenos grupos que se reúnem há
mais de dez anos, mas com poucos acontecimentos novos ou envolventes, e
sem novos membros chegando (o que não é surpreendente, considerando
como seria uma cultura de um grupo de dez anos de idade). É O feitiço do
tempo293 em versão de estudo bíblico. O comparecimento é irregular,
ninguém se prepara para a discussão do estudo bíblico, as orações são
superficiais e os membros não se envolvem, e toda semana é a mesma coisa.
Mas mesmo que muitos de nossos grupos sejam assim, ainda nos sentimos
compelidos a tê-los. Pequenos grupos são apenas parte da nossa expectativa.
Parece que não somos uma igreja completa se não os temos.
Veja bem, não somos contra os pequenos grupos; longe disso. Nós
estamos em pequenos grupos e os lideramos por um total combinado de algo
de quase 80 anos! Vimos Deus trabalhar produzindo fé genuína, esperança e
amor em seu povo por meio desses grupos. Estivemos em igrejas e vimos
igrejas nas quais pequenos grupos reunidos em torno da Palavra de Deus
foram fundamentais para o crescimento de discípulos piedosos e maduros do
Senhor Jesus. Pequenos grupos têm sido um poderoso movimento de
discipulado cristão.
Ainda assim, em todos os lugares que vamos, os pastores estão
preocupados com a qualidade de seus pequenos grupos, e se estão realmente
conseguindo alguma coisa. Aprofundando um pouco o diagnóstico, vemos
três sintomas comuns:
• Visão turva: em muitas igrejas, o propósito de pequenos grupos é
confuso, com expectativas conflitantes para os membros e líderes.
Quando perguntamos aos pastores ou líderes de grupos por que eles têm
pequenos grupos, geralmente ouvimos um ou mais dos quatro Cs:
Cuidado, Conteúdo (Bíblia e oração), Comunhão e Comissão (fazer
discípulos). Então perguntamos o que eles temeriam se um deles
dominasse. Esta questão expõe a confusão. Se o cuidado pastoral
dominasse o propósito do grupo, não seria diferente (ou até pior que) um
grupo de apoio secular. Se a Bíblia e a oração dominassem a vida do
grupo, então relacionamentos e amor um pelo outro poderiam ser
superficiais. E assim por diante. Raramente há uma visão clara e
abrangente do que os pequenos grupos são projetados para alcançar.
• Mentalidade de aprisco: pequenos grupos em muitos lugares tornaram-se
um refúgio seguro para o cuidado pastoral e a edificação de comunhão.
Os pastores tendem a agrupar seu povo em pequenos grupos, quase como
em cercadinhos. Estes não são grupos que intencional e efetivamente
fazem as pessoas avançarem em direção à maturidade em Cristo. Eles
funcionam como um lugar para colocar as pessoas de forma que elas
fiquem conosco. Muitas vezes, os pastores não sabem realmente o que
está acontecendo nos grupos porque operam de forma bastante
independente, com os líderes tendo pouca prestação de contas a qualquer
pessoa. Esses grupos podem estar completamente desconectados da visão
da igreja. Se esse padrão continua, pequenos grupos podem se
transformar em sementes de descontentamento e sentimento faccioso.
• Liderança deficiente: pequenos grupos não fazem discípulos; discípulos
fazem discípulos. Se dermos a liderança de pequenos grupos a pessoas
que não estão aprendendo Cristo, os membros do grupo não terão pastor
para seguir. Em muitas igrejas, reduzimos o nível de liderança de
pequenos grupos para gerar mais grupos — e então nos perguntamos por
que os grupos e membros estagnaram.294
Isso nos leva ao que um pequeno grupo essencialmente é — se aplicarmos
nossas convicções para entendê-los. Um pequeno grupo é simplesmente um
grupo de aprendizes de Cristo que se comprometeram a avançar juntos por
meio do ministério mútuo dos 4Ps (Proclamação, Prece, Pessoas,
Perseverança).
Um pequeno grupo, então, se estiver funcionando corretamente, sempre
terá essas características:
• Ele será liderado por um aprendiz maduro de Cristo que entende que esse
é o propósito do grupo, que está comprometido com essa visão
pessoalmente em sua própria vida e que está sendo equipado para liderar
o grupo nessa tarefa comum. Na verdade, um líder de grupo bem
equipado entenderá que seu papel não é liderar um grupo, mas liderar
pessoas — ajudar cada pessoa a avançar um passo, não somente ao longo
do tempo do grupo, mas também por meio do contato pessoal, oração,
telefonemas e assim por diante. É importante ressaltar que a essência da
liderança de pequenos grupos (e toda liderança cristã) não é técnica, mas
de caráter. Os líderes devem ser exemplo de vida no aprendizado de
Cristo para ensinar os outros.
• As circunstâncias de sua reunião (quem está no grupo, com que
frequência se encontram etc.) serão moldadas pelo objetivo de fazer
avançar, e não pelo conforto pessoal ou pela amizade.
• Da mesma forma, o conteúdo que os membros do grupo compartilham
entre si será focado na Bíblia, incluindo as convicções de discipulado
(que esclarecemos neste livro) que brotam da Bíblia.
• Uma vez que crescer até a maturidade em Cristo sempre significará amor
e preocupação pelos outros, todo grupo saudável de aprendizes de Cristo
terá um foco e um propósito além de si mesmo; isto é, o grupo
inevitavelmente estará pensando, orando e agindo para ver os outros que
eles conhecem (fora de seu grupo) também avançarem. No mínimo, um
pequeno grupo saudável estará constantemente orando por amigos e
familiares não-cristãos, ajudando e encorajando-se mutuamente a
progredir em ver aquelas pessoas darem alguns passos em direção a
Cristo.
• Esse foco externo significa que será comum que um pequeno grupo
saudável equipe seus membros para ajudar os outros a aprenderem Cristo.
Parte dessa preparação pode ser feita no horário do grupo usando vários
recursos de treinamento para responder perguntas sobre o cristianismo,
explicar o evangelho ou ler a Bíblia com um vizinho ou colega não-
cristão. Pequenos grupos são um cenário ideal para esse tipo de
preparação mútua, porque, à medida que os membros dão seus primeiros
passos no ministério 4Ps, eles têm o apoio, a sabedoria e as orações do
grupo para prosseguir.
Esse ponto final — sobre pequenos grupos saudáveis que têm foco além
de si mesmos — é vital para se pensar ao considerar as várias estruturas ou
caminhos que você deseja projetar para fazer as pessoas avançarem.
Na maioria das igrejas, todos deveriam estar em um pequeno grupo, com
outras estruturas, grupos ou ministérios sendo um compromisso adicional. O
pequeno grupo é considerado como um tipo de bloco de tempo semanal
padrão para o qual todos têm que encontrar tempo, e então qualquer outra
coisa que você faz para ministrar aos outros (para alcançar, servir,
evangelizar ou estar envolvido de qualquer tipo do ministério) é uma coisa
extra por cima. Isso torna a vida de muitas pessoas muito cheia — e muitas
vezes torna difícil encontrar pessoas com tempo para se envolver no
ministério.
Vale a pena repensar. Se estivermos certos de que a natureza de qualquer
pequeno grupo deve ser voltada para fora, por que não usar o próprio
pequeno grupo como um dos blocos de construção básicos para os caminhos
que você deseja projetar?
Por exemplo, em vez de começar um novo ministério ou equipe para se
concentrar em se envolver com sua comunidade local, torne isso uma meta de
alguns ou de todos os seus pequenos grupos:
• Você pode tornar uma expectativa normal que cada pequeno grupo faça
algo para envolvimento comunitário ou local a cada ano e fornecer
recursos e treinamento para ajudá-los a fazer isso.
• Ou você pode formar alguns pequenos grupos cuja missão ou foco
particular seja se envolver com a comunidade local — por exemplo, você
pode formar um pequeno grupo de pessoas que moram no mesmo bairro
ou condomínio, e fazer de seu foco e objetivo conhecer o maior número
possível de pessoas nesse bairro; tornar-se conhecido como “aquele grupo
cristão” que está sempre participando de eventos da comunidade,
ajudando as pessoas e falando sobre as questões significativas da vida.
• Ou você pode misturar e combinar essas duas ênfases, ou seja, tentar
envolver o maior número possível de grupos e, ao mesmo tempo, ter um
ou dois grupos para os quais este é um foco especial.
Uma objeção que ouvimos a essa noção de o pequeno grupo ter um foco
além de si mesmo é que ele sobrecarrega pequenos grupos e líderes com
expectativas demais. Se esperamos que o pequeno grupo faça tudo, ou
alcance tudo, estaremos apenas nos dispondo — e especialmente os nossos
líderes do grupo que trabalham duro — para o fracasso. Apenas deixe os
pequenos grupos se concentrarem em “estabelecer” os cristãos na piedade,
diz o argumento, e deixe que outros aspectos do programa da igreja cuidem
dos outros Es.
Há uma verdade nessa objeção. Se sobrecarregarmos uma “treliça” de
ministério particular (como pequenos grupos), provavelmente a veremos
ceder e seus líderes ficarão desencorajados. E outras estruturas para apoiar ou
possibilitar diferentes aspectos do caminho serão necessárias e importantes
(tais como eventos evangelísticos organizados centralmente, e assim por
diante).
Entretanto, se nossas convicções sobre o crescimento cristão estão
corretas, então não é realmente possível que pequenos grupos apenas se
concentrem em “estabelecer” — porque não estaremos estabelecendo nosso
povo em Cristo se eles não aprendem amor cristão pelos perdidos, e desejo de
estar equipado para servir aos outros. O pequeno grupo não pode (e nem
deve) procurar fazer tudo. Mas se nossos pequenos grupos nunca pensam
para além de si mesmos para considerar as multidões que vivem neste mundo
tenebroso, então nunca mudaremos a cultura de toda a nossa congregação
para alcançar as nações com o evangelho de Cristo.

A HISTÓRIA DE COLIN: REVIGORANDO


PEQUENOS GRUPOS COMO EQUIPES DO
EVANGELHO
Há alguns anos, em colaboração com Phil Colgan, o ministro de nossa igreja,
eu (Colin) convidei dez homens com idades entre 30 e 50 anos para
formarem uma equipe comigo por um ano. Todos eram casados e todos
enfrentavam as pressões habituais de famílias em crescimento,
responsabilidades de trabalho e inseguranças, questões de meia-idade e a
constância de lidar com coisas demais. Eles eram homens maduros e
piedosos, servindo fielmente na igreja com uma variedade de dons e
personalidades. A maioria estava em pequenos grupos há anos e alguns
lideravam grupos.
Sentíamos que eles seriam revigorados e desafiados se injetássemos algum
ministério voltado para fora na equipe.
Nós introduzimos a linguagem de ser um “time” e explicamos como isso
era diferente de ser um “grupo”. Isso em si foi uma discussão interessante.
Houve sugestões de bonés e camisetas! Mas nesse estágio inicial, eu não
tinha certeza do que eles achavam da ideia. Suspeito que houve uma tentativa
de me agradar, esperando que eu superasse isso em breve.
Fizemos alguns estudos bíblicos sobre 1 Coríntios após a série de sermões,
e apresentei o método sueco de leitura bíblica como uma forma de ler com
suas famílias ou outras pessoas.295 Nós oramos um pelo outro e por nossas
esposas e filhos (produzimos uma folha com os nomes de seus filhos e
idades), falamos sobre nossas situações de trabalho, compartilhamos como
conhecemos a Cristo, comemos besteira (exceto quando nossas esposas
mandavam o lanche), e brincamos um pouco também. Começamos a usar e-
mails para manter contato durante a semana com notícias e orações. Nós
queríamos ser um grupo de irmãos que se apoiavam, não importando o que
acontecesse.
Em nossos estudos, falamos sobre como 1 Coríntios 1–4 se aplicava a nós
como um time. Confessei a eles que eu tinha uma agenda definida — como
os apóstolos, nós recebemos o evangelho e, como os apóstolos, isso nos tira
da nossa zona de conforto (como a escória da terra).
Então falamos sobre algumas das minhas ideias malucas sobre ser um
time. Vamos passar a reunião da equipe para um clube em vez de minha sala
de estar, eu disse, para que possamos conhecer outros homens. Vamos nos
livrar da mentalidade do gueto. Que tal oferecermos Simply Christianity296
para nossos companheiros? Poderíamos convidar as pessoas próximas à nossa
igreja ou montar uma tenda numa área comercial local. Foi tudo um pouco
sobrecarregado para a maioria deles.
Então o que aconteceu?
Começamos concordando em distribuir panfletos na estação de trem antes
da páscoa — unir o time e evangelizar ao mesmo tempo.
Fizemos algum trabalho no “ministério do banco”,297 e eu dei a eles a
tarefa de conversar com algumas das senhoras mais idosas da igreja, porque
nós tendemos a ficar entre nós mesmos. As senhoras adoraram, e ficaram um
pouco surpresas também. Trabalhamos para nos conectar com os homens da
igreja que pareciam à margem — para conhecê-los e oferecer-nos para
encontrá-los particularmente. Aprendemos a ler a Bíblia em duplas com outro
homem cristão, praticando uns com os outros por algumas semanas.
Tudo isso fez com que nosso estudo bíblico e oração fossem mais
urgentes. Então, quando estávamos em 1 Coríntios 5 e 6 e lendo sobre a
excomunhão do irmão impenitente, conversamos sobre como poderíamos
simultaneamente acolher os sexualmente imorais, os gananciosos,
caluniadores, bêbados, vigaristas e idólatras à igreja para ouvir o evangelho e
disciplinar irmãos na igreja que foram tentados a voltar para esses pecados.
Nós pensamos em nossos companheiros não-cristãos, e o que eles pensariam
de nossa igreja. Eles se sentiriam bem-vindos? Eles ouviriam o evangelho?
Lidar com isso aguçou nosso estudo bíblico e levou-nos da teoria intelectual
à forma como administramos nossa igreja e nossa equipe na prática.
Fizemos alguns estudos bíblicos sobre o grande plano de Deus em Cristo
para criar um povo para si mesmo, de modo que vimos nossas vidas
cotidianas à luz do que Deus está fazendo.
Em algum momento, analisamos o diagrama “fazer avançar”.
Minha esperança inicial era de que cada membro da equipe ajudasse a
ganhar ou desenvolver outra pessoa como discípulo, além de liderar suas
famílias em Cristo. Este trabalho ainda está em andamento. Alguns
começaram a leitura bíblica com outra pessoa na igreja.
Acabamos com 35 homens em nossa lista de oração, alguns à margem da
igreja e muitos descrentes. O que fazer com eles? Nós os convidamos para a
igreja, para a equipe ou o quê? Encontramos um espaço que poderíamos
reservar em um clube local, e durante o mês de novembro mudamos nossa
reunião de quarta-feira à noite para o clube e levamos convidados. Às vezes,
apenas tínhamos uma refeição e, outras vezes, um dos homens dava um
testemunho ou uma pequena palestra relatando o evangelho aos outros.
Funcionou bem. Trabalhamos em equipe, convidando, encontrando os
companheiros uns dos outros e orando muito. Ainda estamos acompanhando
alguns dos que apareceram.
No final do ano decidimos continuar por mais um ano com um padrão
semelhante, incluindo cerca de quatro “noites de clube” ao longo do ano.
O que aprendi com o experimento?
Não é muito difícil transformar um grupo de estudo bíblico regular em
algum tipo de equipe de discipulado. É importante ensinar uma grande visão
do que Deus está fazendo no mundo, resgatando um povo para seu Filho. Ore
muito pelos outros. Fale sobre como você poderia ajudar os outros a avançar
um passo. Trabalhe no encorajamento pessoal de outros no domingo pela
oração e compartilhando a Palavra. Concentre-se especialmente no
discipulado em casa. Dê algum treinamento prático em ler a Bíblia com os
outros. Faça algum tipo de envolvimento e evangelismo como equipe.
Trabalhando para ajudar os outros a avançarem alguns passos,
inevitavelmente falamos sobre nossas próprias lutas e necessidades de mais
arrependimento e fé. Era uma comunhão muito honesta. Com o tempo,
muitos dos grupos em nossa igreja — de homens, mulheres e mistos —
tentaram maneiras diferentes de se tornar um time pelo evangelho. Começar
com uma equipe contagiou os outros grupos.
É difícil pensar em cada dia como uma oportunidade para fazer discípulos.
Mas quando estamos em um time como esse, nós perseveramos. Precisamos
uns dos outros. Pessoalmente, quando não estou nesse tipo de equipe, fico
negligente em orar e trabalhar por evangelismo pessoal e em acompanhar as
pessoas na igreja.

DISCUSSÃO
1) Como vocês classificariam os pequenos grupos em sua igreja? Alguns dos
sintomas preocupantes mencionados acima ressoam em vocês?
2) Anotem seus perfis de pequeno grupo “ideal” para sua igreja. O que vocês
gostariam de ver pequenos grupos se tornarem?
3) Quais são os principais passos para mover pequenos grupos em sua igreja
para o ideal, de onde eles estão agora?

O Ministério Fiel visa apoiar a igreja de Deus, fornecendo conteúdo fiel às


Escrituras através de conferências, cursos teológicos, literatura, ministério
Adote um Pastor e conteúdo online gratuito.
Disponibilizamos em nosso site centenas de recursos, como vídeos de
pregações e conferências, artigos, e-books, audiolivros, blog e muito mais. Lá
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“Este livro expõe uma mudança crucial que é necessária à maneira de pensar
de muitos pastores. Os autores ouviram cuidadosamente a Bíblia. O resultado
é um livro bem escrito e bem ilustrado, porém, muito mais do que isso, um
livro cheio de sabedoria bíblica e conselho prático. Este é o melhor livro que
já li sobre a natureza do ministério.”
— Mark Dever, pastor da Capitol Hill Baptist Church (Washington/D.C.)
UM PROJETO EM GRUPO
Projeto Videira não é um livro que você conseguirá ler de maneira bem-
sucedida sozinho. Para que haja qualquer crescimento ou mudança reais na
cultura de sua igreja, você precisará trabalhar tudo isso com uma equipe. Por
isso queremos disponibilizar gratuitamente o guia de estudo para ajudá-los
nesse processo.
Acesse e baixe gratuitamente o guia de estudo:
conteudo.editorafiel.com.br/projetovideira
N. do T.: Groundhog Day (1993, dir. Harold Ramis) é um filme em que o personagem principal revive seguidas vezes o mesmo
dia, em uma espécie de loop temporal.
Em uma igreja norte-americana muito grande e bem conhecida na qual estávamos conduzindo um seminário sobre essas questões,
a equipe de liderança confessou (timidamente) que, por muitos anos, líderes de pequeno grupo foram recrutados pelo envio de
um e-mail pedindo voluntários.
N. do E.: Veja Peter Blowes, O método sueco de leitura bíblica, Voltemos ao Evangelho, acessado em 26 de agosto de 2019,
voltemosaoevangelho.com/blog/2019/08/o-metodo-sueco-de-leitura-biblica/.
John Dickson, Simply Christianity: a modern guide to the ancient Faith (Sidney: Matthias Media, 2003)
Usando uma versão anterior à publicação do material que se tornou Six steps to loving your church.
Recursos adicionais
sobre evangelização, discipulado e igreja.
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