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Na obra 1984, o autor George Orwell aponta para o Grande Irmão que vê
tudo, até o nosso duplipensamento. Orwell projeta o futuro numa crítica
a falta de opção da sociedade da época. Foi o que aconteceu com
Winston, que tinha atitudes contrárias ao Partido, como anotar num
caderno suas ideias.
Assim, Winston corria o risco de se tornar “impessoa”. Portanto, todos os
seus registros poderiam ser apagados. Seria uma pessoa que nunca
existiria.
Seria isso hoje uma versão de: “posto, logo existo”? Se não postar, sou
impessoa?
Emboscados no olho do ‘Grande Irmão’, necessitamos que seja feito o
grande compartilhamento, assim no Facebook como no Twitter e no
Instagram. O olho envia, curte e compartilha causas, aplicativos e
imagens, em gigante palco virtual que engoliu o planeta. A sociedade
caminha para a profecia cinematográfica de George Orwell convergindo
para um espelho negro, que reaparece na visão do diretor Charlie Brooker
na série “Black Mirror”.
Em 2012, Brooker iniciou Black Mirror abordando de forma impactante os
efeitos colaterais da tecnologia. Personagens zumbis na tela apareceram
escravizados pelos smartphones e pelo olhar cabisbaixo. Viviam mundos
irreais em simulações que imaginavam reais.
Black Mirror passou a ser vista como série antológica, cuja crítica social é
forte, sufocante e realista.
CARAMELOS DIGITAIS
O ator Othon Bastos, há muitos anos, narrou uma comercial sobre futuro
tecnológico, que eu guardo até hoje:
“Para onde estará a tecnologia nos levando”.
Quando conseguimos ser por um instante passageiro, é passageiro. Por
mais visceral que seja a mudança algo permanece não muda.
“A gente não sabe querer coisas diferentes, só sabe criar coisas diferentes
de querer as mesmas coisas.” Por mais tecnologia que tenhamos, somos
frágeis, emocionais e continuamos com medo do escuro.
Talvez o próximo passo além do último seja o retorno para dentro de si.
Uma vez, um amigo meu disse-me: as redes sociais são a tarja preta da
vida moderna. Nem tudo pode ser tão apocalíptico assim.
Mas, observamos neste ponto certa semelhança relacionada a narrativa
de George Orwell, vislumbrando um cenário de servidão e vigilância da
sociedade sob domínio do Grande Irmão na obra “1984”. Estamos
mergulhados em um grande e vigilante olho.
Sentimos síndrome de abstinência quando não podemos nos relacionar
com o nosso algoritmo social. Ele nos faz tão bem. O celular são nossos
caramelos digitais.
Lembro aqui do fim emblemático de 1984: “Winston já não corria nem
dava vivas.... Finalmente vencida a batalha contra si mesmo. Amava o
Grande Irmão.” Servidão virtual.