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10.1 Definição
O método de irrigação por superfície caracteriza-se por utilizar a superfície do solo como
meio para conduzir e ao mesmo tempo infiltrar a água a ser aplicada às plantas.
Hidraulicamente o processo ocorre à pressão atmosférica (condutos livres), onde pela
aplicação da água na parte mais elevada do terreno, inicia-se o escoamento superficial determinado
pela ação da gravidade, em função de um gradiente de declividade.
- Topografia: a declividade longitudinal do sulco não deve ser superior à 1%, evitando velocidades
erosivas de escoamento da água. Transversalmente (entre sulcos) a declividade não deve ser
superior a 10% pois transbordamentos causariam erosões localizadas.
- Solos: a medida que se aumenta a capacidade de infiltração de água no solo, deve-se diminuir o
tamanho da faixa em termos de comprimento, ou manter o comprimento e estabelecer um gradiente
de declividade à faixa.
- Sistemas de irrigação por faixa: em função da declividade do terreno e das condições de infiltração
de água no solo podem-se adotar os seguintes sistemas de irrigação:
- Faixas em nível: instaladas em terrenos planos e uniformes, e em solos com reduzida taxa
de infiltração para se ter comprimentos de faixas maiores e menor quantidade de
infraestrutura para a distribuição da água.
- Faixas em gradiente: À medida que se aumenta a capacidade de infiltração de água no
solo, deve-se diminuir o comprimento das faixas, ou manter o comprimento e estabelecer
um gradiente de declividade pela sistematização. Neste o processo de irrigação é
semelhante ao sulcos.
- Faixas em contorno: quando os terrenos são muito acidentados, ficando oneroso o uso de
trabalhos de sistematização do terreno, pode-se utilizar as faixas em contorno, que
acompanham as curvas de nível do terreno.
- Culturas: culturas com espaçamento reduzido, com raízes profundas, e que suportem a saturação
parcial ou total do solo.
- Solos: devem apresentar baixa capacidade de infiltração, pois quanto menor o valor de velocidade
de infiltração básica do solo (VIB), maior poderá ser o tamanho da área do tabuleiro.
- A água é aplicada na parte elevada do terreno, onde pela ação da gravidade, em função do
gradiente de declividade, inicia-se o escoamento superficial;
- Com o avanço da água sobre a superfície, observa-se redução do perímetro molhado devido a
infiltração da água, diminuindo a carga líquida de água que proporcionará infiltração da água;
- Todos esses fatores determinam desuniformidade de água infiltrada no avanço da água até o fim
da parcela;
- Para aumentar a uniformidade de aplicação o processo deve continuar após a frente de avanço
atingir o final da parcela, possível devido abertura do final da parcela, aumentando a lâmina
infiltrada na parcela até um valor de uniformidade e eficiência de aplicação adequada, determinando
perdas por deflúvio superficial;
- O tempo de avanço não deve ser elevado, pois determinaria elevada perda por percolação no início
da parcela, reduzindo a eficiência de aplicação. Na prática o tempo máximo de avanço deve ser de
25% do tempo de irrigação;
10.10 Fases da irrigação por superfície em sulcos e faixas com abertura no final da parcela
Todo esse processo de irrigação em sulcos e faixas, que possuem saída livre no final da sua
parcela, são caracterizados por quatro fases, denominadas por avanço, reposição, depleção e
recesso, caracterizando a dinâmica da posição da frente de molhamento ou de secamento em relação
ao tempo.
- Fase de avanço: o início da fase de avanço coincide com o início do processo de irrigação, e
finaliza-se quando a frente de molhamento atinge o final da parcela, no tempo denominado “tempo
de avanço (ta)”. A relação entre posição da frente de avanço e o tempo é denominado por “curva de
avanço”, expressa matematicamente por um modelo potencial.
- Fase de reposição: inicia-se quando a frente de avanço atinge o final da parcela, prolongada até
que a quantidade de água infiltrada em grande parte do comprimento se aproxime da lâmina
requerida, ou seja, até o tempo de irrigação (ti).
- Fase de recesso: No momento em que a água no início da parcela ser removida por deflúvio
superficial e infiltração inicia-se a fase de recesso, ou remoção da água da superfície da parcela,
finalizando quando toda a água da parcela é removida no tempo relativo ao “tempo de recesso
(Tr)”, que pode ser expresso pela curva de recesso e matematicamente por um modelo potencial.
- Espaçamento entre sulcos: deve ser tal que garanta que o movimento lateral da água fique na
profundidade efetiva do sistema radicular antes de umedecer regiões abaixo das raízes, ou seja, em
solos argilosos o espaçamento entre sulcos tende a ser maior quando comparado à sulcos instalados
em solos arenosos. Deve-se também estar compatível com o espaçamento entre linhas de cultivo
(espaçamento entre linhas de cultivo elevados pode-se utilizar um sulco por linha, atuando como
aplicador localizado) e também com o espaçamento requerido pelo tipo de equipamento utilizado
nos tratos culturais. O espaçamento entre sulcos determinará a quantidade deles no campo, e
consequentemente a magnitude da vazão do sistema de bombeamento.
- Comprimento do sulco: deve ser submúltiplo do comprimento da área, resultando em sulcos com
comprimentos uniformes, facilitando o manejo da irrigação. Contudo, mantendo-se fixas a
declividade do sulco e consequentemente a vazão, está determinará uma velocidade de escoamento,
que quanto maior o sulco, maior o tempo gasto no deslocamento da água, imprimindo em maiores
perdas por percolação no início da parcela. Essas perdas são acentuadas a medida que os solos são
mais permeáveis, e nesse sentido solos permeáveis determinam redução do comprimento dos sulcos
a fim de compatibilizar uma eficiência de aplicação adequada.
- Tempo de irrigação (ti): em sulcos o tempo de irrigação refere-se na soma do tempo de avanço (ta)
e o tempo de oportunidade (to), sendo desconsiderados os tempos de depleção e recesso devido
volume de água ser insignificante.
݅ݐൌ ܽݐ ݐ
O tempo de avanço (ta) pode ser determinado utilizando o modelo potencial (equação de
avanço) que descreve a curva de avanço substituindo o comprimento do sulco e extraído o tempo. E
em casos em que não foi realizado o teste de avanço em campo, pode-se utilizar simulação pelo
balanço volumétrico, que baseia-se na igualdade entre o volume aplicado na fase de avanço, e soma
dos volumes na superfície com os volumes infiltrados.
O tempo de oportunidade (to) é estimado substituindo a o valor de lâmina bruta de irrigação
definido no projeto agronômico na equação de Kostiakov ou de Kostiakov-Lewis, extraindo-se o
tempo necessário de infiltração da referida lâmina (Tempo de oportunidade – to).
- Largura da faixa: também deve ser submúltiplo da largura da área resultando em faixas com
largura uniforme, com o intuito de facilitar o manejo da irrigação. Adicionalmente a largura deve
ser tal que de acordo com a vazão que será aplicada no sulco resulte em uma lâmina de água menor
que a altura dos diques de contenção, verificado pela aplicação da equação de Manning.
- Declividade e vazão: deve-se utilizar uma vazão próxima à vazão máxima não erosiva, que está
associado à declividade da faixa. Adicionalmente com o intuito de elevar a eficiência de aplicação
deve-se utilizar a metodologia da redução da vazão.
- Tempo de irrigação (Ti): além dos tempos referentes ao avanço (ta) e a oportunidade (to –
utilizando equação de kostiakov ou kostiakov-Lewis) de infiltração da lâmina bruta de irrigação,
neste deve-se considerar também o tempo de depleção (td) e de recesso (tr), pois representam um
volume significativo de água a ser aplicada.
݅ݐൌ ܽݐ ݐ ݀ݐ ݎݐ
- Inundação intermitente: deve-se inicialmente selecionar uma vazão máxima não erosiva, onde, de
posse da informação de velocidade de infiltração básica do solo (VIB), determina-se a área do
tabuleiro da seguinte forma:
ܳ ሺ݉ଷ ݄ିଵ ሻ
ܣሺ݉ଶ ሻ ൌ ͳͲͲǤ
ܸ ܤܫሺ݄݉݉ିଵ ሻ
Quanto maior a permeabilidade do solo, menor deverá ser a área do tabuleiro para uma
determinada vazão selecionada.
Definida as dimensões do tabuleiro, bem como a vazão que será utilizada no enchimento do
tabuleiro, estima-se a altura da lâmina utilizando a equação de Manning, devendo esta ser menor
que a altura dos diques de contenção.
O tempo de irrigação em sistemas de irrigação por inundação leva em consideração apenas
as fases de avanço e de reposição da água no final da parcela, ou seja, é o tempo gasto para a água
atingir o final da parcela (ta) somado ao tempo para a formação de uma lâmina no final desta (to).
- Inundação permanente: com o tamanho da área definido da mesma forma que na inundação
intermitente, este consiste em determinar a quantidade de água necessária para saturar o solo e
estabelecer uma lâmina de água desejada na superfície do solo, devendo na vazão de enchimento
prever perdas por evapotranspiração e percolação profunda. Adicionalmente deve-se prever uma
vazão de manutenção do nível de água, devido às constantes perdas por percolação e
evapotranspiração.
10.14 Resumo
Os sistemas de irrigação por superfície apresentam potencial econômico significativo,
contudo o seu uso só é possível caso as variáveis que interferem no processo de irrigação sejam
bem definidas e controladas com o intuito das eficiências estarem adequadas a um valor otimizado.