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NATAL/RN
2020
MARIANA ALBUQUERQUE MELO
NATAL/RN
2020
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Sistema de Bibliotecas - SISBI
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro Ciências Sociais Aplicadas - CCSA
Melo, Mariana Albuquerque.
O Conselho Nacional de Justiça e a eficácia da Política de Atenção Prioritária ao
Primeiro Grau de Jurisdição: estudo de caso no Tribunal de Justiça do Rio Grande
do Norte e no Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região / Mariana Albuquerque
Melo. - 2020.
126f.: il.
BANCA EXAMINADORA
______________________________________
Prof. Dr. Luciano Athayde Chaves
Orientador
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
______________________________________
Prof. Dr. José Orlando Ribeiro Rosário
Membro interno
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
______________________________________
Prof. Dr. Gustavo Raposo Pereira Feitosa
Membro externo
Universidade Federal do Ceará / Universidade de Fortaleza
Aos meus pais e a minha irmã, que nunca
mediram esforços para que eu realizasse meus
sonhos. Ao meu avô Reden (in memoriam),
ferrenho defensor da minha formação jurídica.
A minha cadelinha Jade, por ter sido fiel
companheira.
AGRADECIMENTOS
O Judiciário é uma instituição complexa, que presta um importante serviço público, e por isso
possui muitos desafios, ao mesmo tempo em que apresenta várias contradições e paradoxos. O
presente trabalho tem como objetivo examinar as características e a eficácia da Política
Nacional de Atenção Prioritária ao Primeiro Grau de Jurisdição do CNJ, estabelecida por
meio das Resoluções nºs 194 e 195, de 2014, e pela Resolução n° 219, de 2016, com o escopo
de equalizar a distribuição participativa de orçamento e de pessoal dos tribunais entre o
Primeiro e o Segundo Graus. O cenário de alta taxa de congestionamento do Primeiro Grau de
jurisdição dos tribunais, juntamente com o constante aumento de processos novos de forma
concentrada nessa instância causam sobrecarga aos atores judiciais do Primeiro Grau,
diagnóstico que exige realocação de recursos humanos e orçamentários, e justifica o enfoque
escolhido. A pesquisa investiga algumas variáveis envolvidas com a problemática,
classificando-se como descritiva, bem como exploratória, ao ter se convertido em um esforço
exploratório que merece aprofundamento em outros estudos. Além da pesquisa bibliográfica e
documental, utiliza instrumentos de base empírica, mediante realização de entrevistas com
diversos atores envolvidos nos processos organizacionais de aplicação da referida política
pública, adotando-se como recorte o estudo de caso do Tribunal de Justiça do Rio Grande do
Norte e do Tribunal Regional do Trabalho da 21a. Região. A partir dos dados e informações
coletadas, constatou-se uma baixa participação na implementação da política de Atenção
Prioritária ao Primeiro Grau nos dois tribunais, diante da insuficiente atuação dos Comitês
Gestores Regionais vinculados a eles e de escassas deliberações e propostas administrativas e
orçamentárias para a gestão estratégica dos tribunais.
The Judiciary is a complex institution that provides an important public service, and therefore
has many challenges, at the same time that it presents several contradictions and paradoxes.
The present work aims to examine the characteristics and effectiveness of the National Policy
of Priority Attention to the First Degree of Jurisdiction of the CNJ, established through
Resolutions nº 194 and 195, of 2014, and by Resolution nº 219, of 2016, with the scope to
equalize the participatory budget and staff distribution of courts between the First and Second
Degrees. The scenario of high congestion rate of the First Degree of jurisdiction of the courts,
together with the constant increase of new cases concentrated in this instance, cause an
overload on First Degree judicial actors, a diagnosis that requires reallocation of human and
budgetary resources, and justifies the chosen approach. The research investigates some
variables involved with the problem, classifying it as descriptive, as well as exploratory, as it
has become an exploratory effort that deserves further study. In addition to bibliographic and
documentary research, it uses empirically based instruments, by conducting interviews with
various actors involved in the organizational processes of applying that public policy,
adopting the case study of the Court of Justice of Rio Grande do Norte and of the Regional
Labor Court of the 21st. Region. Based on the data and information collected, there was a low
participation in the implementation of the policy of Priority Attention to the First Degree in
both courts, given the insufficient performance of the Regional Management Committees
linked to them and scarce deliberations and administrative and budget proposals for strategic
management of the courts.
1 INTRODUÇÃO.................................................................................................. 15
2 PODER JUDICIÁRIO: CRISE, REFORMA, EFICIÊNCIA, GOVERNO
E GOVERNANÇA JUDICIAL......................................................................... 19
2.1 A crise do Poder Judiciário............................................................................... 19
2.2 As reformas administrativas e a reforma do
Judiciário............................................................................................................ 23
2.3 O princípio da eficiência aplicado ao
Judiciário............................................................................................................ 27
2.4 O governo e a governança judicial no Brasil................................................... 29
3 O PAPEL DO CNJ ENQUANTO FORMULADOR DE POLÍTICAS
PÚBLICAS.......................................................................................................... 37
3.1 O Direito e a importância das políticas públicas............................................. 37
3.2 A fixação do poder regulamentar do CNJ com a ADC nº 12......................... 41
3.3 A Reforma do Judiciário e o surgimento do Conselho Nacional de Justiça. 43
3.4 A instituição das Resoluções nºs 194, 195 e 219, do CNJ, e o cenário de
litigiosidade......................................................................................................... 51
4 A EFICÁCIA DA POLÍTICA DE ATENÇÃO PRIORITÁRIA AO
PRIMEIRO GRAU (RESOLUÇÕES NºS 194, 195 E 219, DO
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA)...................................................... 56
4.1 Estudo de caso do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte................... 69
4.2 Estudo de caso do Tribunal Regional do Trabalho da 21a Região................ 80
5 CONCLUSÃO.................................................................................................... 92
REFERÊNCIAS................................................................................................. 96
ANEXO A – ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA Nº 1
(MEMBROS DO COMITÊ GESTOR REGIONAL)..................................... 100
ANEXO B – ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA Nº 2
(EX-CONSELHEIROS DO CONSELHO NACIONAL DE
JUSTIÇA)........................................................................................................... 101
ANEXO C – RESOLUÇÃO Nº 194, DE 26 DE MAIO DE 2014................... 102
ANEXO D – RESOLUÇÃO Nº 195, DE 3 DE JUNHO DE 2014.................. 107
ANEXO E – RESOLUÇÃO Nº 219, DE 26 DE ABRIL DE 2016.................. 112
ANEXO F – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E
ESCLARECIDO (TCLE).................................................................................. 124
ANEXO G – TERMO DE AUTORIZAÇÃO PARA GRAVAÇÃO DE
VOZ E REGISTRO DE IMAGENS (FOTOS E/OU VÍDEOS).................... 126
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1 INTRODUÇÃO
absorção e implantação dessa política no âmbito desses tribunais? Qual, portanto, o grau de
eficácia?
Trata-se de problema relevante para pesquisa, porquanto não basta apenas a
existência formal de regras dispondo sobre políticas públicas da Justiça que visam assegurar
melhor distribuição de recursos (humanos e orçamentários) e, em consequência, maior grau
de efetividade. Mostra-se fundamental analisar e avaliar o nível de cumprimento dessa
política pelos tribunais, até mesmo como forma de avaliar o próprio papel do CNJ como
formulador de estratégias organizacionais mais amplas e transformadoras para o Judiciário.
Diante disso, o presente trabalho tem como objetivo examinar as características e a
eficácia dessa Política de Atenção Prioritária ao Primeiro Grau, bem como a política da
distribuição participativa do orçamento dos tribunais entre o Primeiro e Segundo Graus,
estabelecidas, respectivamente, nas Resoluções nºs 194 e 195, de 2014, e a política de
distribuição de pessoal (servidores, cargos em comissão e funções de confiança) nos órgãos
judiciais entre os dois graus de jurisdição, estabelecida na Resolução n° 219, de 2016, com
foco no Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte e no Tribunal Regional do Trabalho da
21ª Região. A Resolução nº 194 consta no Anexo C deste trabalho (página 102); a Resolução
nº 195 no Anexo D (página 107); e a Resolução nº 219 no Anexo E (página 112).
Tendo em vista a dimensão estrutural do Poder Judiciário (Chaves, 2019; Chaves,
2020), bem como a necessidade de se examinar a percepção subjetiva dos atores judiciais
envolvidos nas discussões locais de implementação da referida política pública, a pesquisa
reclamou um recorte espacial. Por essa razão, a eficácia das políticas públicas do CNJ em
destaque foi analisada no âmbito do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte (TJRN) e do
Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região (TRT21), o que não apenas viabilizou a
proximidade dos instrumentos de pesquisa com as fontes de evidência, como também
permitiu estabelecer variáveis de contraste entre um tribunal estadual e um tribunal integrante
do Judiciário da União, em especial relacionadas às respectivas culturas organizacionais.
A escolha por tais tribunais também se justifica haja vista que os comitês gestores
regionais dessa política pública se reúnem em nível local, que no caso desses dois tribunais é
no próprio estado do Rio Grande do Norte. Comparativamente, na Justiça Federal do Rio
Grande do Norte, o Comitê Gestor Regional se concentra no Tribunal Regional Federal da 5ª
Região, com sede em Recife, no estado de Pernambuco, e caso o foco da pesquisa fosse nele,
dificultaria o contato maior com o tribunal e com os membros do Comitê Gestor Regional,
enquanto o Tribunal Regional Eleitoral tem por característica inerente a inexistência de
quadro próprio de magistrados (artigo 120, CF), e, portanto, também não foi objeto deste
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estudo. Além desses aspectos, a opção por dois tribunais regidos por legislações parcialmente
diferentes, um de âmbito estadual e outro de âmbito federal, e, portanto, que apresentam
estruturas institucionais destoantes, aumenta a variedade de elementos a serem analisados e
eventualmente refutados e permite uma maior comparação dos tribunais quanto à política e ao
funcionamento dos comitês gestores regionais, identificando-se os fatores e variáveis em
comum e os divergentes.
De acordo com a classificação adotada por Gil (2002), tomando-se como base os
seus objetivos, a pesquisa foi desenvolvida na modalidade descritiva, ao buscar descrever as
características de um fenômeno e as relações entre as variáveis das hipóteses levantadas
(relacionadas à variável principal “Comitê Gestor Regional atuante”), bem como na
modalidade exploratória, porquanto tenta instituir hipóteses, considerando-se os mais variados
aspectos relacionados ao fato estudado, e na medida em que indica uma agenda de pesquisa a
ser explorada em outros estudos, suscitando novos problemas a serem investigados. No
tocante ao procedimento técnico utilizado, a pesquisa consiste no estudo de caso, no qual
foram utilizados instrumentos de base empírica e documental.
O estudo de caso é conceituado por Yin (2001) como uma investigação empírica de
um fenômeno contemporâneo dentro do contexto existente na vida real, e que explora
situações cujos limites entre o fenômeno e o contexto não estão claramente delimitados.
Adota-se a metodologia de estudo de caso de dois tribunais em especial. Assim, configura
dois estudos de caso, estratégia de pesquisa abrangente, com fundamento em diversas fontes
de evidências, para conferir significância aos seus resultados, diante de diversas variáveis de
interesse (YIN, 2001).
Para tanto, as técnicas escolhidas para a pesquisa foram a realização de entrevistas
semiestruturadas e a coleta e análise de dados em documentos referentes ao tema. Nessas
entrevistas, executadas por videoconferência, na plataforma Google Meet, no período de 03
de julho de 2020 a 10 de agosto de 2020, foram entrevistados quatro ex-conselheiros do CNJ
e diversos membros dos Comitês Gestores Regionais de Priorização do TJRN e do TRT21,
sendo dois magistrados indicados para tal comitê pelas associações de magistrados, um
magistrado presidente do referido comitê, um servidor eleito pelo tribunal, um servidor
indicado pela associação dos servidores e um diretor de governança institucional. Foram
colhidos o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), bem como o Termo de
Conhecimento e Autorização para Gravação de Vídeo, que constam no Anexo F (página 124)
e Anexo G (página 126) do presente trabalho, respectivamente.
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A análise documental abrange a coleta de dados das atas das reuniões dos Comitês
Gestores Regionais do TJRN e do TRT da 21ª Região, além dos Relatórios da série Justiça em
Números, divulgados anualmente pelo CNJ, e o estudo do Pedido de Providências
apresentado ao CNJ pelas associações de magistratura, em que o TJRN ocupa a posição de
requerido, e o Procedimento de Controle Administrativo apresentado também pela associação
dos magistrados respectiva, em que o TRT21 figura como requerido.
Na segunda seção deste trabalho, busca-se traçar alguns conceitos e levantamentos
bibliográficos acerca da crise do Judiciário, e da evolução do governo judicial nos órgãos que
integram este poder, abordando-se em especial o Judiciário brasileiro. Na terceira seção,
analisa-se a função de elaboração de políticas públicas pelo CNJ e a evolução de seu papel ao
longo do tempo, desde o seu surgimento em 2004. Na quarta seção, a discussão permeia o
estudo de caso dos dois tribunais anteriormente referidos, no que diz respeito à
implementação e à eficácia da Política de Atenção Prioritária ao Primeiro Grau. Na última
seção, apresenta-se a conclusão dos resultados da pesquisa, a respeito da problemática
estudada, e são propostas alternativas no sentido de tentar solucionar o problema da baixa
eficácia da Política Nacional de Atenção Prioritária ao Primeiro Grau, sugerindo-se também o
desenvolvimento de outras pesquisas com outras variáveis para aprimoramento da temática.
Por fim, ressalta-se que uma etapa parcial da pesquisa foi apresentada no III
Encontro de Administração da Justiça (EnAJUS), que ocorreu de 24 a 30 de setembro de
2020. Nos anais do evento, foi publicado artigo empírico de minha autoria, em coautoria com
o professor orientador do presente Trabalho de Conclusão de Curso, Prof. Dr. Luciano
Athayde Chaves, intitulado “O Conselho Nacional de Justiça e a Eficácia da sua Política de
Atenção Prioritária do Primeiro Grau de Jurisdição”, na área temática da Governança e
Legitimidade em Sistemas de Justiça.
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trata-se de uma litigiosidade que absorve um volume considerável de recursos públicos e cuja
qualidade reflete uma série de distorções, como a reiterada ocorrência dos mesmos temas e
controvérsias que são levados ao Judiciário (CHAVES, 2020).
A ineficiente prestação dos serviços judiciais e o insuficiente acesso à Justiça pela
sociedade são fatores relacionados ao fenômeno designado como crise do Poder Judiciário
brasileiro (SADEK, 2004; FALCÃO; LENNERTZ; RANGEL, 2009), crise que, de alguma
forma, articulava-se com problemas gerenciais do Estado brasileiro. Na década de 1990, o
governo brasileiro inicia uma série de reformas administrativas, sendo referência desse
processo a Emenda Constitucional nº 19, de 1998, que agregou o princípio da eficiência
administrativa ao caput do art. 37, da Constituição Federal, a ser observado por todos órgãos
públicos, indistintamente, o que englobava, também, a estrutura judiciária.
Para Santos (1986), o confronto entre a igualdade dos cidadãos perante a lei com a
desigualdade da lei perante os cidadãos, causando a desigualdade social, assim como a crise
da Administração da Justiça, cuja eclosão ocorreu na década 1960, na América Latina,
decorrente do aumento de conflitos jurídicos emergentes da expansão dos novos direitos
sociais, constituem aspectos sociais condicionantes à explosão de litigiosidade no Judiciário.
Para ele, a crise do Judiciário advém, por conseguinte, desse aumento da demanda judicial.
Para Falcão (2015), havia uma crescente e polêmica demanda social pela Reforma do
Judiciário, a qual dependia de aprovação da lei que tramitava no Congresso Nacional,
instrumentalizada pela Emenda Constitucional nº 45. Na época, por volta do ano de 2002, às
vésperas das eleições presidenciais, ele ressalta que seria necessário que o debate institucional
(sobre a estrutura do poder Judiciário) fosse antecessor do debate das políticas públicas (sobre
o exercício do poder), uma vez que era patente a ausência de caminhos institucionais de
interlocução efetivos entre os poderes, para a reforma judiciária.
Com isso, evidencia uma confusão conceitual entre a separação política, a
imparcialidade jurisdicional e a incomunicabilidade entre os poderes, e por este motivo, foi
necessário haver um pacto entre os três poderes, o “Pacto de Estado para Reforma da Justiça”,
a fim de que fosse viabilizada uma maior concretude da Reforma do Judiciário, a qual fora
aprovada em 17 de novembro de 2004, anteriormente à assinatura desse primeiro Pacto
(assinado em 15 de dezembro do mesmo ano, 2004) juntamente com a assinatura de 13 (treze)
projetos de lei de modificações de várias legislações pelo então Presidente da República. Tal
acordo enquadra a problemática da questão judiciária como uma questão de Estado, porquanto
envolve a nação como um todo na sua resolução, e não diz respeito ao governo e às sucessões
políticas que assumem os cargos políticos.
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À vista disso, Falcão (2015) assevera que a reforma se mostrava necessária para
satisfazer a três principais reclames sociais: ampla acessibilidade do Judiciário,
previsibilidade das decisões judiciais, e decisões em tempo econômica e socialmente
tolerável, além de tentar solucionar a fragmentação interna de sua estrutura, por meio da
maior democratização da gestão judicial.
Por outro lado, havia aqui um paradoxo: apesar do baixo grau de confiança dos
brasileiros no Judiciário, a necessidade de justiça ainda era palpável. Atribui essa
contraditoriedade ao fato de que a demanda pelo Judiciário permanecia aumentando, não
obstante as críticas ao desempenho desse poder. A Constituição de 1988 havia assegurado um
Judiciário independente, com os artigos 96 e 99, CF. Agora, exigia-se um Judiciário eficiente.
O referido jurista ressalta, ademais, que nesse processo, a mídia exercerá um papel de
destaque para a implementação da reforma judiciária.
Ainda nessa perspectiva, Renault (2005) já enfatizava que o tema da Reforma do
Judiciário passa a ser reconhecido e tratado como uma questão de Estado, tendo por
implicação a articulação institucional entre os três poderes do Estado e dos agentes públicos,
no enfrentamento das questões relativas ao sistema judicial. Aduz a necessidade basilar de
ampliação do acesso jurisdicional da população por meio da Reforma do Judiciário,
reconhecendo o exercício pleno da cidadania somente a partir da possibilidade de acesso
efetivo a esse serviço essencial. Entendida em sentido amplo, a reforma, ao instituir um
sistema mais transparente e eficiente, seria imprescindível ao aprimoramento da democracia e
para a própria consolidação do Estado Democrático de Direito. Por conseguinte, acerca dessa
articulação institucional do Judiciário, Renault (2005, p. 129) assinala:
vulnerabilidade política das elites dirigentes. Disso, surge o interesse da sociologia pelo
estudo das dimensões processuais, institucionais e organizacionais do direito (SANTOS,
1986).
Portanto, assim identificada por alguns estudiosos, a crise do Judiciário coloca em
destaque as fragilidades institucionais do Estado e dos órgãos judiciais, sendo reconhecida
como questão relacionada à estrutura do Estado, e não se restringe ao governo político num
determinado momento da história do país.
A crise fiscal vai estar relacionada com o fenômeno da globalização, o qual trouxe
duas pressões sobre o Estado: impôs o desafio ao Estado da proteção dos cidadãos, frente aos
demais Estados e para o seu próprio desenvolvimento econômico; e exigia que o Estado se
fortalecesse, para que suas atividades se tornassem mais eficientes e com menor custo, de
modo a permitir a concorrência dos entes econômicos nacionais. Em comparação, no quesito
social, os serviços exclusivos do Estado se mostravam ineficientes, tornando-o incapaz de
atender às demandas dos cidadãos-clientes com qualidade, o que o fez optar por implementar
o modelo de administração pública gerencial (PEREIRA, 1997).
Aponta Nohara (2012) que de início houve a promoção de ajuste econômico pelo
Ministério da Administração Federal e Reforma do Estado, na medida em que os seus
projetos eram compatíveis com as diretrizes governamentais, no entanto, em um segundo
momento das reformas administrativas, foi priorizada a política de ajuste fiscal, de maneira
irredutível, mesmo que, nessa fase, fosse primordial a implementação de modificações na
cultura organizacional, no quesito capacitação dos recursos humanos dos entes estatais.
Outrossim, suscita haver uma contradição entre o objetivo do ajuste fiscal adotado pelo
governo e a diretriz gerencial da flexibilização dos procedimentos em prol dos resultados. O
dilema consistia no fato de que o ajuste fiscal implicava o maior controle das organizações
públicas e na prestação de contas e do gasto orçamentário, o que vai de encontro à autonomia
propagada pelo gerencialismo.
Nesse contexto, o modelo da administração pública gerencial, também denominado
de “nova administração pública”, vai estimular a formulação e a gestão de políticas públicas
pelos entes e atores estatais, juntamente com os políticos e a sociedade, mediante a
denominada gestão estratégica, além de orientar que a ação do Estado seja voltada para o
cidadão-usuário ou cidadão-cliente. Com isso, ao menos em tese, esse modelo administrativo
permite a maior legitimidade do Estado e do governo pela sociedade, e garante uma maior
governabilidade, e, por conseguinte, possibilita uma maior governança, esta última
conceituada como a “capacidade financeira e administrativa em sentido amplo de uma
organização em implementar suas políticas” (PEREIRA, 1997, p. 45).
Por outro lado, a governabilidade depende da adequação das instituições políticas em
intermediar interesses dentro do Estado e da sociedade civil, e do estabelecimento de
mecanismos de responsabilização dos atores estatais, perante a sociedade. Logo, o
fortalecimento da governança e da governabilidade fortalecem também a democracia,
porquanto permitem ao Estado atuar na intermediação entre os diversos interesses sociais
(PEREIRA, 1997).
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públicas se revolvem para a consecução dos interesses públicos e a permanente prestação dos
serviços públicos.
Com isso, evidencia-se que os serviços de natureza pública demandam uma
determinada padronização, com vistas a se alcançar uma progressiva universalização,
impessoalidade e a continuidade na satisfação das necessidades coletivas. Além disso, a
autora sugere, em outro estudo produzido por ela, que a eficiência constitui um valor
relacional, tendo em vista que não possui fim em si mesmo (NOHARA, 2012).
No gerencialismo, a relação entre os meios e os fins indica a análise do
custo/benefício, devendo tal benefício ser integrado por múltiplos conteúdos, e não se
restringir aos conceitos de natureza econômica. Por conseguinte, indica que a definição
jurídica da eficiência impõe a adoção de um significado instrumental aos valores de essência
constitucional, em prol da orientação estatal do bem comum, e do alcance dos objetivos
constitucionais de redução das desigualdades sociais. O que tem sido dificultado pela
descontinuidade da implementação da reforma administrativa pelos governos sucessivos e
falta de vontade política para tanto; as medidas reformadoras foram implementadas de forma
desarticulada e sem coerência, eram pontuais e casuísticas.
Outrossim, no âmbito privado a eficiência é conceituada como a adequada medida de
utilização dos recursos disponíveis (mão de obra, tempo, material, dinheiro), e a noção de
eficácia avalia diretamente os resultados obtidos. Por outro lado, no âmbito público, a
eficiência não pode estar em detrimento dos meios e procedimentos legais, posto que estes
trazem garantias aos administrados. Logo, a eficiência no Estado deve estar em harmonia com
o princípio da legalidade do Direito Administrativo, no desempenho das atividades do Estado,
não se voltando somente aos resultados da sua atuação. A eficiência trata-se de uma limitação
à atuação discricionária dos entes públicos, cujo exercício pode ser objeto de controle de
constitucionalidade a partir da sua não observância (NOHARA, 2019).
Meirelles (2016) reconhece a eficiência como um dever dos agentes públicos.
Ademais, entende que a verificação da eficiência na Administração Pública abrange não
somente os aspectos quantitativos, mas qualitativos do serviço prestado, para dimensionar o
seu rendimento efetivo, o custo operacional e a sua real utilidade aos administrados e para a
Administração. Aduz que o controle da eficiência se estrutura a partir da tríplice linha
administrativa, econômica e técnica. Logo, o princípio da eficiência na gestão pública deve
ser orientado a partir de duas premissas: o modo de atuação do agente público, de maneira a
alcançar melhor desempenho das suas atribuições; e no modo de organizar, estruturar e
29
estrutura do sistema judicial brasileiro, e que são elementos com reflexo nas questões de
amplo acesso à Justiça pela sociedade e na eficiência do serviço judicial.
Uma dessas questões tem a ver com a ampla difusidade ou fragmentação da estrutura
judiciária brasileira, com mais de 90 tribunais, em uma dualidade complexa de esferas (esfera
federal e esfera estadual), onde atuam milhares de magistrados, servidores e outros
prestadores de serviços, sem considerar outros atores processuais e auxiliares da justiça, como
membros do Ministério Público e os advogados (CHAVES, 2020).
De outro lado, as disposições constitucionais e legais reconhecem aos tribunais e
juízes alto grau de autonomia, inclusive administrativa, o que acentua o isolamento das
práticas de gestão, que pode ser compreendido na conhecida metáfora que associa o Judiciário
a um “arquipélago” de tribunais. Desta forma, o Poder Judiciário se configura um poder
difuso ou fragmentado, dotado de titularidade múltipla e indiferenciada (CHAVES, 2019),
com um modelo que mostra forte “concorrência intrajudicial” (FALCÃO; LENNERTZ;
RANGEL, 2009), na medida em que vários órgãos possuem semelhantes predicamentos de
autonomia, não sendo, por exemplo, o Conselho Nacional de Justiça o único centro definidor
de políticas judiciárias. O CNJ atua em concorrência com outros tribunais e conselhos de
segmentos especializados, como o Conselho da Justiça Federal (CJF) e o Conselho Superior
da Justiça do Trabalho (CSJT).
Por essa razão, a ideia de governo judicial, diante das particularidades do modelo
institucional brasileiro, deve considerar sua natureza jurídico-constitucional bifronte: o
exercício das autonomias institucionais do Judiciário, por seu conjunto de órgãos, abrange não
somente aquelas de ordem político-discricionária, como definição de políticas públicas, mas
também de cunho administrativo, de índole mais operacional (CHAVES, 2019).
Chaves (2014) compara a concepção conceitual de gestão com a de governança, no
cenário da Administração da Justiça. A gestão consiste na administração em sentido estrito,
assentada no contexto operacional e tático dos órgãos judiciais, exemplificando-se: nas rotinas
administrativas e nas respostas de caráter imediato aos problemas e contingências que afligem
tais esferas. Para ele, a governança, expressão relativamente recente no ambiente público,
constitui uma visão mais ampla, reflete um conceito de planejar ações e estabelecer objetivos
em longo prazo e de maior alcance, por meio da fixação de políticas institucionais e públicas,
que transcendem os mandatos dos dirigentes dos tribunais, no intuito de atingir os objetivos
que exigem um tempo maior de execução e análise dos resultados das referidas instituições.
Partindo desse entendimento, Chaves (2014) reconhece o contexto da administração
judiciária ou da denominada gestão judiciária de forma ampla. Tal compreende não somente
31
determinação das “regras do jogo”, sendo, portanto, decorrente das diretrizes da Constituição
Federal bem como da legislação infraconstitucional, o que implica dizer que em sendo essas
regras modificadas, surge a necessidade de mudanças nas práticas de governança.
Por outro lado, as organizações que formam o Judiciário, mediante atuação dos seus
integrantes, apesar de receberem influência do ambiente institucional e dos indivíduos que
compõem o sistema judicial, possuem autonomia e suas próprias regras, desde que as atitudes
e comportamentos em nome delas estejam em acordo com as regras desse referido ambiente
institucional, além de ser necessária a fixação da estratégia da organização. Por último, o nível
individual refere-se aos múltiplos agentes internos (juízes e servidores) do Judiciário, e que
além de serem influenciados pelo nível institucional e pelo nível de práticas de governança,
também podem ser influídos pelo ambiente social em suas atuações.
Diante dessa perspectiva, fica claro que a governança estaria articulada com a ideia
de “responsabilidade social” do Judiciário, no sentido de efetivar uma “qualidade de justiça”,
a fim de se garantir uma jurisdição democrática. Por conseguinte, a prestação do serviço
judicial não se resume aos aspectos quantitativos e gerenciais, mas a uma dimensão mais
complexa de accountability judicial, apoiado no tripé “independência, responsabilidade e
eficiência”. Esse trinômio se apresenta como elemento fundamental para a legitimação da
autonomia do Judiciário, enquanto instituição, bem como para a autonomia decisional dos
magistrados, aspectos também construtores da reputação judicial (GAROUPA; GINSBURG,
2009). Nesse processo, os elementos internos e externos ao Judiciário servem de incentivos
para os juízes na tomada de decisão judicial, inclusive a própria visão da sociedade e a
opinião pública acerca do Judiciário também são fatores constituintes e que vão influenciar e
impactar na formação desse processo e consequentemente na reputação judicial.
Assim, o quadro de alta litigiosidade e de dificuldade na redução dos estoques
processuais permite considerar que o funcionamento do Poder Judiciário envolve questões
bastante complexas, não apenas as de matriz processual ou jurisdicional, relativas à aplicação
do Direito e à interpretação das leis, mas também outras importantes questões alusivas ao que
se denomina de governança judicial, isto é, ao funcionamento da Justiça enquanto instituição
que administra recursos pessoais e materiais, com o dever de fazê-lo com eficiência,
transparência e responsabilidade (AKUTSU; GUIMARÃES, 2015).
Asseveram Gomes e Guimarães (2013) que a gestão do Judiciário de qualidade deve
envolver o manejo dos recursos em prol de um melhor desempenho judicial, conceito
multidimensional e multinível, e que abrange uma grande quantidade de variáveis objetivas e
subjetivas, internas e externas ao Judiciário: eficiência e celeridade (elementos internos e
33
sobre o potencial de eficácia dessas políticas, aspectos estes que serão melhor desenvolvidos e
aprofundados na próxima seção do presente trabalho.
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Por outro lado, também é importante sublinhar que a discussão acerca das políticas
públicas e da sua relação com o Direito traz diversas possibilidades e enfoques, e enfraquece a
ideia de que ele constitui um ramo totalmente dissociado das demais áreas da sociedade, como
a gestão, a política, e o funcionamento dos entes públicos e administrativos.
O Judiciário vem exercendo um papel mais ativo ou ativista na implementação dos
direitos sociais e normas programáticas da Constituição Federal, na qual são fixados objetivos
a serem efetivados por meio das políticas públicas, implicando na maior relevância dada ao
tema da judicialização das políticas públicas. Coutinho (2013) questiona e diferencia as
concepções de “direito das políticas públicas” e o “direito nas políticas públicas”,
correspondendo essa última à verificação do direito como um elemento intrínseco e
componente central das políticas públicas, não restringindo as políticas públicas ao conjunto
de normas, processos e arranjos institucionais mediados pelo direito.
Portanto, vislumbra quatro dimensões da relação entre o direito e as políticas
públicas: indicar fins e situar essas políticas no ordenamento jurídico (direito como objetivo);
oferecer meios para alcançar os objetivos das políticas (direito como ferramenta); efetivar a
participação social (direito como vocalizador de demandas); e estruturar arranjos complexos
das instituições de modo a tornar eficazes as políticas (direito como arranjo institucional).
Enxergar o direito enquanto parte da dimensão institucional de políticas públicas, e
componente de um arranjo institucional, compartilhando responsabilidades e tarefas na
implementação das políticas públicas juntamente com as demais instituições, é concretizar a
ideia de que as regras de seu funcionamento e procedimentos viabilizam a articulação entre os
atores ligados direta e indiretamente com as políticas públicas (COUTINHO, 2013).
Importante relacionar esse papel social do Judiciário à independência judicial, a qual
ganha espaço no estado democrático. Para Cappelletti (1992), a independência judicial tem
progressivamente assumido diversas consequências, dentre as quais tem propiciado o aumento
do grau de criatividade judicial nas decisões prolatadas pelos atores judiciais, no sentido de
criar e assegurar os diversos direitos sociais e as liberdades civis, ambos protegidos em face
do Executivo e demais fontes de poder estatal.
Nessa toada, defende que o princípio da imparcialidade judicial vai implicar também
a independência do juiz em relação ao Poder Executivo. A atitude de imparcialidade judicial
além de efetivar o direito de todas as partes processuais se manifestarem e serem ouvidas,
deve ter grau suficiente de independência em face das pressões externas, em especial àquelas
advindas dos outros “poderes políticos” (CAPPELLETTI, 1992). Portanto, a independência
constitui meio para que a imparcialidade seja efetivada. Por outro lado, o jurista assevera que
40
no sistema democrático, quanto maior a independência garantida aos juízes, tanto menor será
a obrigação de “prestar contas” das suas decisões à sociedade e aos representantes do povo.
Por conseguinte, é importante haver um equilíbrio e harmonia entre a independência dos
juízes, tanto externa como interna, com o dever de prestar contas, existente no Estado
Democrático.
A atribuição do CNJ de formular políticas possui estreita ligação, portanto, com esse
contexto e com o novo ambiente político e administrativo, que agitou as questões relacionadas
com a modernização do Judiciário, na direção de uma gestão mais gerencial e menos
tradicional e formalista (SILVA; FLORÊNCIO, 2011), assim como responde às pressões por
accountability, ou seja, responsabilidade e transparência no Judiciário, resultante do maior
fortalecimento da independência judicial, numa estrutura dinâmica e harmônica entre
independência e accountability, por conseguinte, à medida que o Judiciário assume funções
originadas dos processos democráticos, maior será a pressão por accountability pela
sociedade (GAROUPA; GINSBURG, 2008).
Para Silva e Florêncio (2011), o Poder Judiciário, na sua atuação como guardião da
vontade geral, que consta nos princípios implementados na ordem jurídica, constitui uma
grande alternativa para a garantia da cidadania, em um contexto social de crescente
institucionalização do direito, em que seu destaque será inversamente proporcional à
deslegitimidade do Executivo e do Legislativo, pela sociedade.
A inserção do sistema judicial no âmbito das políticas públicas decorre da
compreensão destas como ações estatais não exclusivas de nenhum dos três poderes do
Estado, cuja finalidade delas é a de concretizar os conteúdos normativos constitucionais, e no
caso em especial do Judiciário, para o aprimoramento da prestação jurisdicional. Ademais, o
CNJ surge como o instrumento institucional mais adequado na elaboração das políticas
públicas específicas ao Judiciário, em virtude do seu rol de competências, bem como do seu
caráter central, representando os diversos órgãos de todo o sistema judicial. Outrossim,
destaca-se a sua legitimidade democrática, pela grande abertura concedida a todos os cidadãos
para que o acionem, para reclamação e denúncia em desfavor dos magistrados e relativas aos
serviços judiciários, conforme consta no art. 103-B, § 5º, inciso I, da Constituição Federal, o
que lhe concede uma pluralidade e ampla representatividade da sociedade.
Silva e Florêncio (2011, p. 126) fixam que as políticas públicas formuladas pelo
Poder Judiciário são aquelas decorrentes do diagnóstico dos principais entraves que afligem a
função jurisdicional do Estado, elencando de forma clara diversos elementos que estão
relacionados a tais políticas:
41
confere uma maior previsibilidade da atuação do Conselho, além de maior segurança jurídica
aos entes judiciais, e convicção de isonomia entre os destinatários das suas atuações.
Portanto, argumentou que ao regulamentar e identificar previamente as condutas
administrativas violadoras do caput do artigo 37, da CF, o CNJ estará efetivando sua
atribuição de zelar pelo cumprimento do artigo, em acordo com atribuição constante no inciso
II, do § 4º, do artigo 103-B, da CF, preventivamente, assim como nas hipóteses de
fiscalização desses atos, de forma repreensiva. A fundamentação da tese apresentada teve por
base o princípio do “implied powers” (Teoria dos poderes implícitos na Constituição),
invocando-se o precedente do caso McCulloch vs Maryland, na ideia de que “legítimo o fim e,
dentro da esfera da Constituição, todos os meios que sejam convenientes, que plenamente se
adaptem a este fim e que não sejam proibidos, mas que sejam compatíveis com a letra e o
espírito da Constituição” (STF, 2008).
Ademais, na inicial, Barroso destacou que após a crise da legalidade formal e com a
ascensão normativa da Constituição, a vinculação da Administração Pública passou a ser ao
bloco mais amplo de juridicidade, não restringindo sua atuação tão somente às leis formais.
Disso, decorre que a atuação regulamentar do CNJ abarca atribuições constitucionais em fixar
parâmetros de legalidade dos atos administrativos aos órgãos do Judiciário, mediante válidos
instrumentos normativos. Dessa forma, na ADC nº 12 (BRASIL, 2008) ficou assentado que o
ato normativo estabelecido pelo CNJ, desde que revestido dos atributos de impessoalidade,
generalidade e abstratividade, constitui norma primária e possui validade formal na própria
Constituição. No inciso II, do artigo 5º, da CF, ao fixar que “ninguém será obrigado a fazer ou
deixar de fazer alguma coisa senão em virtude da lei”, a expressão “lei” deve ser entendida
como o conjunto do ordenamento jurídico, e não no sentido formal, consoante voto do
ministro Eros Grau e voto do ministro Gilmar Mendes, em sede de cautelar da referida ação.
Conforme expressado no voto do relator ministro Ayres Britto, o CNJ constitui um
órgão de planejamento estratégico do Poder Judiciário, no campo orçamentário, de
transparência, celeridade, segurança, democratização e aparelhamento tecnológico da função
jurisdicional do Estado. Partindo dessas premissas, defendeu a permissibilidade constitucional
ao CNJ para estabelecer atos normativos de natureza primária, com a mesma força normativa
da lei em sentido formal (a qual também constitui ato normativo primário).
Consequentemente, assevera que o Estado-legislador detém duas vontades normativas:
vontade primária e vontade secundária/derivada, não estando a primeira delas adstrita ao
Legislativo, em que pese este assumir predominantemente a função de legislar, cujas leis são
dotadas de normatividade primária. Considera que no Estado Democrático de Direito, há uma
43
Falcão, Lennert e Rangel (2009) explicitam que o Conselho Nacional de Justiça foi
criado no cenário de reforma da estrutura do Judiciário, como forma de institucionalização da
44
administração da Justiça, para exercer a função de controle e fiscalização dos atos e das
políticas públicas da administração judicial, cuja responsabilidade recai sobre os juízes, os
servidores e os serventuários do Judiciário, mormente na busca da agilidade decisória.
Além disso, ressaltam que o problema da crise que assolava o Judiciário era a
incerteza estrutural da função jurisdicional: a insegurança jurídica resultava de fatores
externos ao próprio Judiciário, e não diretamente do exercício da atividade decisional dos
magistrados. Partindo do pressuposto que desde a redemocratização, em 1988, as produções
de cunho legislativo englobavam um considerável grau de participação democrática, o desafio
do Judiciário estaria relacionado ao crescimento da quantidade de decisões judiciais, mais do
que propriamente à qualidade de tais decisões, cuja reclamação era de que estas supostamente
apresentavam um déficit de previsibilidade e confiança. A prioridade necessária, então, seria a
redução da insegurança jurídica advinda de uma ineficiente administração judicial, e não em
razão da liberdade de interpretação da atividade jurisdicional.
Ademais, haveria uma correlação entre a eficiência administrativa judicial e a
legitimidade social e política do Judiciário. Desse modo, com o Conselho Nacional de Justiça,
haveria uma reciprocidade positiva entre a legitimidade político-democrática do Poder
Judiciário, o seu acesso pela sociedade e a agilidade operacional das decisões de cunho
judicial. Portanto, o CNJ constitui, em última análise, uma flexibilização do princípio da
independência do Poder Judiciário, que está em acordo com o estado democrático de direito,
por se tratar de uma instituição com poder administrativo sobre quaisquer atos administrativos
dos magistrados (FALCÃO; LENNERT; RANGEL, 2009). Nesse aspecto, esses autores
apontam uma pesquisa, realizada em 2009, pelo Centro de Justiça e Sociedade, da Escola de
Direito do Rio de Janeiro, da FGV, a partir de 1.200 entrevistas com a população brasileira,
na qual 54% dos participantes pontuaram a agilidade como aspecto mais importante para
trazer melhorias à Justiça. Ademais, 88% responderam que a lentidão era a principal
característica que o representava.
Comparativamente, em pesquisa realizada pela FGV (2019), sobre o “Estudo da
imagem do Judiciário brasileiro”1, em conjunto com o Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas
e Econômicas (IPESPE), e com a Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), com 2.000
(duas mil) pessoas da sociedade civil, o Judiciário figurou como a instituição mais confiável
1
Quanto ao funcionamento do Judiciário, 54% dos entrevistados o avaliaram “mal ou muito mal”,
enquanto 37% o avaliaram como “bem ou muito bem”, além de que os atributos mais importantes
foram: um Judiciário confiável (para 41%), “imparcial/igual para todos” (35%), e transparente (34%),
os atributos de rápido (20%) e eficiente (14%) ficaram um pouco atrás.
45
no nível federal, e 52% dos entrevistados disseram confiar nesse poder, enquanto 44% não
confiam; além disso, constitui o poder que melhor cumpre o seu papel em comparação aos
demais (para 33% da sociedade). No entanto, somente 21% dos entrevistados avaliaram a
atuação do Judiciário como “boa ou ótima”, enquanto 41% como “regular”, e 35% como
“ruim ou péssima”, em relação aos demais poderes, de modo que as avaliações positivas são
inferiores às negativas. 93% concordam que a Justiça é lenta, sendo que as motivações que
desestimulam as pessoas em solicitar os serviços judiciários seriam: para 64%, a lentidão e a
formalidade da Justiça, e em segundo lugar (com grande discrepância de porcentagem), o
favorecimento de quem tem mais condições financeiras e poder (28%), e em terceiro, a baixa
“resolutividade e eficiência” (20%).
Por outro lado, em uma pesquisa realizada com 570 juízes de cinco estados do Brasil
(Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo, Goiás e Pernambuco), dos quais 529 atuavam na
Justiça Comum e 41 na Justiça Federal, acerca da crise do Judiciário, realizada pelo Idesp
(Sadek, 2010), observa-se que a opinião majoritária dos juízes é a de que os motivos dos
problemas que afetam o Judiciário decorrem da falta de recursos materiais, bem como da
insuficiência da própria legislação, e não propriamente de fatores internos da instituição ou do
comportamento dos seus membros, tendo estes pouco controle e responsabilidade sobre tais
entraves. Apenas 15,8% dos magistrados entrevistados reconheceram a existência de uma
crise do Judiciário, além de que 54,4% concordaram parcialmente com a afirmativa de existir
a crise, e 20,5% discordaram totalmente. Logo, depreende-se não haver unanimidade de que o
conceito de “crise” seria adequado, mas considerado inapropriado para a maioria dos
integrantes das instituições judiciárias, não obstante o amplo debate público em torno da
“crise do Judiciário”, bem como das diversas emendas que envolveram a tentativa de revisão
constitucional de 1993.
Ademais, Sadek (2010) evidencia que os problemas que envolvem a estrutura do
Judiciário, para a maioria dos juízes entrevistados, somam-se aos problemas institucionais (o
relacionamento entre os poderes, as normas de procedimentos, o ordenamento legal e a
cultura jurídica), sendo a recuperação da autonomia e da independência do Judiciário vistas
como fatores positivos, a partir do reforço do controle de constitucionalidade do Judiciário e
da sua atuação legislativa, assegurados pela Constituição Federal de 1988. Tal reforça a
imagem democrática da justiça. Entretanto, essa engenharia institucional, implementada em
âmbito constitucional, tem gerado alguns desentendimentos e questionamentos das decisões
judiciais por parte dos poderes Executivo e Legislativo.
46
2
Na decisão do STF, na ADI 3367 (STF, 2005), foi ressaltado que a presença de membros externos à
magistratura na sua composição não torna o CNJ um órgão de controle externo, na medida em que os
integrantes vinculados aos tribunais formam a maioria do Conselho. Trata-se de um argumento
baseado apenas na regra de maioria, mas que não pode ser inteiramente aceito sem levar em
consideração que a presença de membros indicados pela Ordem dos Advogados do Brasil, pelo
Ministério Público e pelas Casas do Congresso Nacional levam, de algum modo, o olhar sociedade
sobre o controle do Judiciário, podendo - e não raro isso acontece - integrar maiorias nas discussões,
considerando as clivagens internas dos próprios membros egressos do Judiciário, já que, oriundos de
segmentos diversos, não formam um pensamento necessariamente único sobre as diversas questões
debatidas no âmbito do Conselho. No voto do ministro Celso de Mello, na ADI 3367, foram
48
reiteradas três características do CNJ que fundamentam sua constitucionalidade, e afastam eventual
declaração de inconstitucionalidade por motivo de interferência na separação dos Poderes: constitui
órgão integrante do Judiciário; sua composição majoritária ser formada por membros do Judiciário; e
viabilidade de controle de suas decisões pelo órgão de cúpula do Judiciário (STF). Também foi
reafirmado o caráter nacional do Judiciário, de modo que a expressão do pacto federativo no
Judiciário difere dos demais poderes da República, de acordo com as disposições constitucionais,
porquanto a Jurisdição é una e indivisível, conforme o princípio da unidade do Judiciário.
3
Conforme assentado no voto do ministro Cesar Peluso, relator da ADI nº 3367 (STF, 2005), ao CNJ
atribuiu-se o papel de “formulador de uma indeclinável política judiciária nacional”, tão almejada
pela sociedade, e que corresponde a uma “alta função política de aprimoramento do autogoverno do
Judiciário” (STF, 2005, p. 231).Assim, sua função seria a de formular diagnósticos e elaborar
programas, os quais, de acordo com suas atribuições e responsabilidades constitucionais, devem trazer
soluções dinâmicas e eficazes aos múltiplos entraves comuns que levavam à crise do Poder Judiciário.
De modo que tenha por propósito principal o aprimoramento da organização judiciária e da prestação
jurisdicional. Ademais, o ministro Peluso destaca que a atuação do CNJ do controle nacional dos
deveres relacionados ao desempenho das funções dos magistrados não se mostra contrária à
independência judicial, tendo em vista ser inerente ao sistema republicano de governo a
responsabilidade dos seus atos pelos agentes públicos.
49
tribunais e dos segmentos de justiça para o alcance da efetividade dessas políticas, o que vai
de encontro às generalizações amplas, característica presente nas resoluções do Conselho.
Some-se a isso uma vocação imanente do Judiciário ao insulamento, na medida em
que seus membros, isto é, os magistrados que compõem a estrutura judicial, detêm autonomia
jurisdicional, sejam como órgãos singulares sejam como órgãos coletivos de julgamento, e
tendem a atuar de forma “equidistante e refratária a engajamentos organizacionais
determinados”, como se a autonomia deles também abarcasse o domínio não-jurisdicional.
Portanto, o cenário de difusidade e fragmentação do Poder Judiciário também se revelam pela
própria natureza das funções a ele incumbidas, e, por conseguinte, pela tênue linha que separa
a autonomia decisória das questões aparentemente não pertencentes à função jurisdicional
(CHAVES, 2019).
Logo, o CNJ foi criado e agregado como ator institucional ao governo judicial
brasileiro, sendo-lhe reservadas novas funções institucionais, ao mesmo tempo em que a
autonomia administrativa, orçamentária e financeira dos demais membros do Judiciário não
foi modificada ou inteiramente suprimida, pelo menos, o que garantiu a continuidade do
autogoverno dos tribunais e magistrados. Sucede que esse quadro acaba por sugerir novas
zonas de tensão no âmbito das instituições judiciárias.
Isso decorre do fato de que a defesa de um centro de planejamento de políticas
públicas resultaria na centralização da produção dos programas de ação integrada, com
vinculação a todos os corpos judiciais. No entanto, apesar de sua importância, essa nuance
não garante necessariamente a adesão ou efetividade esperada com os programas, tampouco a
uniformidade de execução, em um ambiente administrativo dirigido pelos detentores de
parcela do próprio Poder (CHAVES, 2019).
Daí ser oportuna a advertência de Silva e Florêncio (2011, p. 126):
insuficiente diante do aumento anual da demanda anual por Justiça. Não obstante tal aumento
da litigiosidade, argumenta reservas à ideia de que o problema do Judiciário seria a “cultura
de litigiosidade”, o que considera ser uma tentativa equivocada de justificar a ineficiência do
Judiciário por meio da culpabilização do próprio jurisdicionado.
Esse autor atribui o problema da ineficiência, por outro lado, ao inadequado
dimensionamento da estrutura do Judiciário, nos aspectos orçamentário, tecnológico, de
pessoal e físico, em acordo com a demanda social, o que ocasiona entraves quanto à qualidade
do serviço público essencial prestado pela Justiça bem como na garantia da duração razoável
dos processos judiciais. Além disso, assinala que o aperfeiçoamento da gestão judicial tem
evoluído para uma “cultura de resultados”, e, por isso, defende que a gestão consiste no
elemento principal e necessário para a transformação institucional, posto que a gestão seria a
execução efetiva do planejamento previamente fixado.
Apesar disso, Silveira (2015) compara a realidade da alta litigiosidade da época (ano
de 2015) à obra de Gilberto Freyre da “Casa-Grande e Senzala”, na ideia de que o modo de
organização social e política do Brasil no período em que era colônia, marcado pelo
patrimonialismo e pelo patriarcalismo, ainda permanece na estrutura do Judiciário, diante da
má estruturação histórica da primeira instância dos tribunais. Assim, esse autor critica o fato
de, em vários tribunais brasileiros, os investimentos serem guiados por critérios outros que
não a própria importância de prestar um serviço judiciário com qualidade.
3.4 A criação das Resoluções nºs 194, 195 e 219, do CNJ, e o cenário de litigiosidade
2017. A Justiça Estadual, que concentra 79,4% dos processos pendentes do Poder Judiciário,
apresentou uma redução de 1,7 milhões de processos no ano de 2019, fator que também
contribuiu fortemente para a queda do estoque processual. Nesse sentido, constata-se que em
2019, a demanda pelos serviços jurisdicionais, bem como o volume de processos baixados,
alcançaram o patamar de maior valor, em relação a toda a série histórica dessas pesquisas
estatísticas protagonizadas pelo CNJ.
No tocante à Política Nacional de Atenção Prioritária ao Primeiro Grau de Jurisdição,
o Relatório (CNJ, 2020) mostra alguns avanços em 2019: a porcentagem de servidores lotados
no Primeiro Grau subiu para 85,1%, e a quantidade média trienal de novos processos reduziu
para 86,6%, evidenciando uma discrepância entre tais porcentagens, e que não se atingiu a
equivalência, conforme previsto nos artigos 3º e 12 da Resolução nº 219, do CNJ.
Comparativamente, no ano de 2016, no qual foi implementada tal resolução, havia uma média
de 87,1% processos ingressados no 1º Grau, enquanto 84,9% dos servidores estavam lotados
na área judiciária de Primeiro Grau.
Apontam (VANNUCHI; DROPPA; SPERANZA, 2017) que no caso específico da
Justiça do Trabalho, a evolução de uma estrutura de aparelho ideológico do Estado para um
ambiente de disputas entre os patrões e empregados, permitiu tanto a efetivação quanto
retrocessos de direitos sociais relativos. A análise sociológica deste segmento de justiça revela
que sua história é propícia à conciliação nas demandas trabalhistas, não obstante tal política
de conciliação permitir uma flexibilização legal, em prol do acordo entre as partes. Ademais,
ante a lentidão judicial, constatam haver uma facilidade de realização de conciliação, na qual
os trabalhadores costumam receber um valor mais baixo a que teriam direito e do que seria de
fato concedido pela Justiça do Trabalho, diante da morosidade e das necessidades eminentes
de receber tais valores pecuniários. Aqui, se questiona: até que ponto a demora excessiva na
prestação jurisdicional pode constituir a própria negação de direitos aos trabalhadores? A
morosidade constituiria, então, obstáculo que interfere no conteúdo das demandas trabalhistas
e na justa efetivação delas.
Há, ainda, a vulnerabilidade do empregado para com a continuidade do seu vínculo
trabalhista, caso adentre na esfera judicial contra seu patrão, com riscos da rescisão do
vínculo. Não obstante, asseveram que a trajetória histórica da Justiça do Trabalho demonstra a
sua conquista de credibilidade perante os trabalhadores, garantindo-lhes direitos, ao mesmo
tempo em que constituiu um meio de controle sobre o movimento operário pelos empresários,
legitimando sua atuação, ao menos temporariamente, o que está em xeque diante das reformas
55
trabalhistas a que tem sido alvo e as revogações das leis correspondentes (VANNUCHI;
DROPPA; SPERANZA, 2017).
Por outro lado, em que pese a diversidade de fatores elencados que envolvem a
questão e os problemas e obstáculos ainda fortemente verificados, a taxa de congestionamento
do Judiciário, que corresponde aos casos pendentes e que não foram baixados, vem reduzindo
desde o ano de 2016, atingindo a maior redução percentual até então, equivalente a 2,7%, em
2019, e o menor índice da série histórica (68,5%), o que gerou uma diminuição nos processos
que ficaram represados, e sem solução, e também uma maior produtividade 4.
Portanto, a partir das linhas gerais dessa política pública, pode-se perceber não
apenas sua importância como fator de potencial melhoria organizacional das estruturas
judiciárias, mas também o nível do desafio de sua implementação junto às dezenas de
tribunais, porquanto toca em pelo menos três pontos muito sensíveis das tradições da gestão
judiciária: (a) o paradigma da concentração das decisões administrativas nos órgãos de
vértices dos tribunais, como a presidência ou colegiados superiores; (b) critérios objetivos
para a gestão de pessoas; e (c) o debate participativo sobre orçamento.
4
Quanto aos indicadores de produtividade, verifica-se a maior produtividade histórica: a
produtividade média por magistrados cresceu em 13%. Conforme RJN (CNJ, 2020), o Primeiro Grau
de jurisdição apresenta a maior carga de trabalho e produtividade por magistrado e servidor,
entretanto, pela primeira vez em 2018, a demanda processual de casos novos por servidor do Segundo
Grau superou a demanda do Primeiro Grau, o que constitui um resultado favorável, e que se manteve
também no ano de 2019, o que já é uma realidade no TRT21. No entanto, essa realidade não se
verifica no TJRN, o que contribui para a sobrecarga dos servidores do Primeiro Grau deste tribunal.
56
Entrevistado 5 Membro do Comitê Gestor Regional Magistrado indicado pela Associação dos
do TJRN Magistrados
Entrevistado 6 Membro do Comitê Gestor Regional Magistrado eleito por votação direta do
do TJRN tribunal
Entrevistado 8 Membro do Comitê Gestor Regional Magistrado indicado pela Associação dos
do TRT21 Magistrados
Entrevistado 9 Membro do Comitê Gestor Regional Servidor indicado pela Associação dos
do TRT21 Servidores
5
A manifestação foi cadastrada eletronicamente em 03 de julho de 2020, tendo sido atendida e
finalizada em 27 de julho de 2020, sem qualquer esclarecimento a respeito do descumprimento do
prazo previsto na Lei de Acesso à Informação ou Lei 12.527. Conforme o § 1º, do artigo 11, da Lei de
Acesso à Informação, em não sendo possível conceder o acesso imediato das informações referentes
aos órgãos ou entidades públicas, o órgão ou entidade para quem for solicitado o acesso, deverá
efetuar sua divulgação em prazo de até 20 (vinte) dias, prorrogável por até 10 (dez) dias, mediante
justificativa expressa.
60
2019 12 2* 12 3
2020 12 0 12 N.I**
Fonte: Elaboração da autora (2020).
* Não obstante constarem somente duas atas de reunião em 2019 no portal do TJRN, dois membros
entrevistados informaram ter havido 4 (quatro) reuniões no referido ano; no entanto, outro membro
relatou ter havido somente uma única reunião.
** Não obstante não constar a informação no portal do TRT da 21ª Região, dois entrevistados
relataram que houve 1 (uma) reunião no referido ano. Dentre eles, um informou que a segunda
reunião iria ocorrer até o dia 24 de julho de 2020 (para aprovar a proposta orçamentária definitiva); e
a terceira reunião até o dia 31 de julho de 2020 (para avaliar o Plano Temático da Prestação
Jurisdicional). Posteriormente, um deles confirmou que esta segunda reunião ocorreu, porém não
consta nenhuma ata de 2020 no portal oficial do tribunal.
o julgamento do famoso Caso Mensalão, cujo relator era o ministro Joaquim Barbosa,
presidente do STF e do CNJ à época, o que ocasionava grande acompanhamento do Judiciário
pela sociedade. O contexto histórico, político e social do Brasil na instituição das resoluções
da política objeto deste estudo era a necessidade de prestar contas à sociedade do Judiciário,
sobretudo diante da sua questionada morosidade. Era preciso dar satisfação à sociedade dos
motivos da lentidão do Judiciário, além de instituir mecanismos para solucionar esta
problemática. A política vem como ferramenta para trazer mais eficácia à prestação
jurisdicional e minimizar a morosidade sistêmica.
Não houve unanimidade entre os entrevistados quanto à função preponderante do
CNJ desde o seu surgimento, com a EC n° 45, de 2004, com a sua evolução até os dias atuais.
Para o Entrevistado 3, a função preponderante do Conselho consiste em definir políticas
públicas judiciárias, e transformar o Judiciário, no aprimoramento da qualidade da prestação
jurisdicional. Cita o próprio Relatório da Justiça em Números como um instrumento para
viabilizar uma maior transparência para a sociedade, sobre o desempenho dos tribunais e
dados processuais e quanto aos gastos públicos, mas cuja principal função, segundo opina,
seria a transparência interna, por meio da qual possibilita a efetivação da gestão dos tribunais,
tanto a nível nacional (com o CNJ estabelecendo prioridades e padronização a todos os
tribunais), como localmente em cada tribunal. Assim, por meio da fixação dessas resoluções,
que via de regra, são obrigatórias e vinculativas aos tribunais, o CNJ objetiva instituir uma
cultura de gestão dos tribunais.
Para o Entrevistado 2, a principal atribuição do CNJ diz respeito ao planejamento
estratégico, para coordenar os tribunais, tendo em vista ser um órgão central de planejamento,
sendo útil e benéfica a coordenação protagonizada por ele, ainda que de modo não uniforme,
para evitar a fixação de 91 (noventa e um) projetos diferentes, definidos por cada um dos
tribunais do país, sem haver uma ideia central de Poder Judiciário. Evidencia, com isso, que o
CNJ estabelece requisitos e prioridades comuns para se alcançar os objetivos de uma melhoria
na qualidade dos serviços prestados pelo Judiciário.
Na história do CNJ, o Entrevistado 4 destaca sua criação como um órgão de controle
administrativo, pela necessidade de maior credibilidade e legitimidade do sistema judicial,
diante de três motivos principais: morosidade, ausência de transparência e corrupção que
assolavam tal sistema.
A partir de então, o Entrevistado 4 identifica: “Existia uma desproporção muito
grande entre as necessidades funcionais, administrativas, e a distribuição orçamentária,
porque a distribuição orçamentária era de cunho basicamente político, muito mais do que
62
cunho de gestão e necessários”. Nessa perspectiva, destacou a existência de uma luta política
corporativa interna no Judiciário e nos tribunais como um todo, ao invés de haver uma
priorização da gestão. Tal aspecto, portanto, deve ser alinhado à ideia de governança judicial,
que conforme explicado na Seção 2.4 deste trabalho, vai se relacionar aos recursos e métodos
utilizados com vistas à garantia da prestação jurisdicional eficaz, com fundamento na
autonomia administrativa e financeira do Judiciário (art. 99, CF), bem como nos princípios
constitucionais do caput do art. 37, da CF.
O Entrevistado 3 ressaltou, inclusive, que um dos maiores desafios do CNJ consiste
na capacidade de fiscalização e de fazer cumprir suas resoluções e políticas judiciárias, e para
isso, tendo em vista a estrutura limitada de servidores integrados a ele 6, e diante do seu caráter
nacional, torna-se imprescindível que o Conselho adote estratégias de implementação,
juntamente com o uso de tecnologia de informação, pela inviabilidade de realizar fiscalização
presencial em todos os 90 (noventa) tribunais do país, que estão sob sua supervisão. Ele
reconhece que o controle social constitui a estratégia e a forma mais efetiva para
implementação de suas políticas, a partir do qual a sociedade se torna um grande aliado na
atuação fiscalizatória, destacando-se o papel das associações dos magistrados e das
associações dos servidores, e dos próprios magistrados e servidores para controlar a atuação
dos comitês gestores regionais em âmbito local, e mediante a possibilidade deles provocarem
o CNJ em casos de descumprimento pelos tribunais das resoluções do CNJ.
Ademais, conforme explicou o Entrevistado 3, outra importante questão que
fortalece a capacidade fiscalizatória do Conselho é a necessidade de garantir aos comitês a sua
independência, a fim de que não haja interferências contrárias às diretrizes da política, bem
como a proteção da legitimidade dos comitês, advinda da democratização do Judiciário, o que
para Santos (1986), a reforma da organização judiciária somente consegue garantir a
democratização do acesso à justiça, desde que internamente o Judiciário seja democrático,
devendo, para tanto, correr em paralelo com uma racional divisão do trabalho e com uma
nova gestão dos recursos, como o de tempo e a capacidade técnica.
O Conselho, a partir da instituição de um papel mais ativo dos servidores e
magistrados, ao conceder-lhes o direito de votarem em parte dos membros que irão compor o
Comitê Gestor Regional, com o fim de que os representassem, possibilita uma maior cobrança
6
Segundo o site do CNJ, em agosto de 2020, havia 398 membros e agentes públicos que compõem o
seu quadro de pessoal. Fonte: Transparência e prestação de contas. Disponível em:
https://www.cnj.jus.br/transparencia-cnj/. Acesso em 01 out. 2020.
63
pelos atores judiciais de uma atuação mais efetiva dos respectivos comitês regionais. A
eficácia da política depende, portanto, diretamente do efetivo funcionamento desses comitês,
como instrumento de aplicação das diretrizes contidas nas resoluções normativas do CNJ.
A dificuldade de efetivação da política pública de Priorização ao Primeiro Grau de
Jurisdição, segundo relatos dos Entrevistados 1 e 2, concentra-se, sobretudo, na
implementação da Resolução nº 219, do CNJ, tendo em vista sua natureza ser executória, no
tocante à redistribuição da força de trabalho, como desdobramento da Resolução nº 194, do
CNJ. Isto posto, o exame da eficácia das políticas constantes das Resoluções nºs 194 e 195, do
CNJ, não pode se restringir aos aspectos preparatórios, programáticas e principiológicos nelas
contidos, já que alguns aspectos mais formais não sofrem tanta resistência para serem
observados de forma mais recorrente nos tribunais.
Essa característica de tais resoluções, que estabelecem a obrigação, por exemplo, de
criação do Comitê Gestor Regional em cada tribunal, foi ressaltada pelo Entrevistado 1 como
uma faceta de menor resistência. No entanto, seguindo uma certa tradição histórica brasileira,
acrescenta o referido entrevistado que muitos desses comitês possuem existência apenas pro
forma, e portanto, foram criados tão somente em âmbito formal, para cumprir requisitos
legais, e para comprovar documentalmente ao Conselho o atendimento das suas Resoluções,
carecendo, contudo, de concretas deliberações e efetivo funcionamento. Observa o
Entrevistado 2 que a Resolução nº 194, do CNJ, possui natureza estruturante, contendo as
diretrizes genéricas e a fixação das linhas de atuação dos comitês.
A Resolução nº 195, do CNJ, ao tratar de matéria orçamentária, por outro lado, é
mais técnica e densa, e, apesar disso, dois dos ex-conselheiros, Entrevistados 1 e 3,
manifestaram que ela tem sido efetiva, em grande e boa medida, por meio da distribuição de
recursos de forma equitativa em razão dos casos novos e do volume do trabalho, verificado
por meio dos quadros de despesa dos tribunais. Ademais, como relatou o Entrevistado 3,
apesar da dificuldade em se mensurar a efetividade dela, percebe-se que houve a
implementação de uma mudança de paradigma, e ainda, não houve tantas provocações feitas
ao CNJ pela sociedade e magistrados e servidores em geral, o que, segundo ele, é um indício
de efetividade de tal resolução, posto que é frequente o acionamento do Conselho quando há
descumprimento das resoluções por parte dos tribunais.
Não obstante, diante do não funcionamento efetivo dos comitês regionais, a eficácia
da resolução se torna prejudicada, tendo em vista que somente a partir do bom funcionamento
dos comitês regionais será capaz de implementar de fato as diretrizes fixadas por tal
resolução, garantindo-se com isso a democratização interna das questões orçamentárias e a
64
governança colaborativa, conforme art. 5°, da Resolução n° 195, do CNJ, e que, segundo
Sant’Anna et al. (2019), o cenário colaborativo é composto por alguns principais elementos,
dentre os quais a multiplicidade de atores, a interdependência entre eles, o processo
deliberativo inclusivo e a busca pelo consenso.
Há de se considerar também que tendo em vista a ausência de uma distribuição
equalizada dos cargos de pessoal entre os dois graus de jurisdição, fator que gera forte
impacto na distribuição orçamentária entre as instâncias, diante da existência de maiores
investimentos no Segundo Grau, a eficácia da política da Resolução n° 195, do CNJ, fica
comprometida, ante a grande concentração dos recursos do Judiciário com pagamento de
folha de pessoal e encargos, estimado em 85,9% de todas as despesas do Judiciário,
equivalente a 78,02 bilhões (CNJ, 2020), valor que aumenta para 90,6%, se consideradas
todas as despesas com recursos humanos.
A questão orçamentária fica a cargo da presidência de cada tribunal, sobretudo no
que diz respeito ao orçamento discricionário, o que anteriormente à Resolução nº 195, do
CNJ, era investido principalmente no Segundo Grau de jurisdição dos tribunais, segundo
relato dos entrevistados. Assim, com a referida resolução, estabelecem-se orientações para a
gestão orçamentária dos tribunais, limitando a autonomia dos presidentes, ao fixar que a
discricionariedade do orçamento não vinculado a leis ou à Constituição deve estar associada
ao interesse público de equalização dos recursos. Em comparação, a Resolução n° 219, do
CNJ, possui caráter impositivo, ao estabelecer a redução do grau de disparidade entre a
distribuição de pessoal entre as instâncias de cada tribunal, conforme pontuou o Entrevistado
2.
Tal política inova ao positivar essas diretrizes, tendo como fundamento a própria
atividade fim do Judiciário: a prestação jurisdicional, além de mudar a cultura historicamente
arraigada na sociedade, trazendo, segundo relatou o Entrevistado 3, o fortalecimento da
democratização do Judiciário, em prol de outros atores judiciais, ao criar um procedimento de
democratização de orçamento nos tribunais, e que constitui, na visão dele, a instituição de um
orçamento participativo.
Ao mesmo tempo, o Entrevistado 3 relatou que a maior dificuldade de
implementação das políticas públicas do CNJ consiste na resistência e mudança da cultura que
entende haver interferência do Conselho na autonomia dos tribunais, destacando que em
vários tribunais a Resolução n° 219, do CNJ, demorou a ser instituída, e em vários ainda não
o foi, e somente foi possível de ser implementada pela conciliação entre as associações de
juízes e os referidos tribunais, com intermediação do CNJ, a exemplo do que ocorreu no
65
TJRN e no TRT da 21ª Região, a fim de provocar esses tribunais para equalizar o valor
destinado à força de trabalho, entre os dois graus de jurisdição, proporcionalmente à demanda
de casos novos, e de forma progressiva. Ademais, o Entrevistado 2 afirmou que,
comparativamente, houve uma maior efetividade da Resolução nº 219, do CNJ, na Justiça do
Trabalho, do que na Justiça Estadual, cujo motivo decorre da continuidade do CNJ em
conceder decisões firmes para a sua implementação em vários Tribunais Regionais do
Trabalho.
Pontuaram os Entrevistados 1 e 2 que após a constatação dessa realidade de que
diversos tribunais haviam criado os seus comitês gestores regionais tão somente no plano
formal, foram fixadas alterações em algumas disposições da Resolução nº 194 (no artigo 5º),
do CNJ, pela Resolução nº 283, de 2019, do CNJ, para garantir a paridade entre os
magistrados, proibindo haver superioridade na quantidade de juízes do Segundo em relação
aos de Primeiro Grau no comitê, ajuste que pode ser considerado uma tática do CNJ para
evitar o asfixiamento dos comitês pela influência hierárquica dos órgãos de vértice dos
tribunais.
Disso, a Resolução n° 283, do CNJ, impôs que os comitês gestores regionais fossem
coordenados por um magistrado não vinculado a órgão diretivo do respectivo tribunal, e a ser
escolhido por votação dos próprios integrantes do comitê (art. 5º, § 1º, da Resolução n° 194,
do CNJ). Introduz outra inovação de cunho procedimental: a regra de fixação de um
calendário de reunião do comitê na primeira reunião de sua composição, devendo ser tal
calendário publicado no sítio eletrônico do tribunal (art. 5º - A, da Resolução n° 194, do
CNJ). Determinou-se também que o limite mínimo de periodicidade das reuniões do comitê
seria trimestral, de modo que as deliberações sejam tornadas públicas no sítio eletrônico do
tribunal (art. 5º - A, §§ 1º e 2º, da Resolução n° 194).
Aponta o Entrevistado 1 que essa nova estruturação dos comitês regionais buscou
empoderar os comitês, concedendo liberdade e autonomia para atuação deles, com
reestruturação na composição mínima do comitê, a fixação de um coordenador, além de um
suplente para cada membro, e a paridade de membros dos dois graus. Relatou que essa
medida foi fixada após a constatação de que geralmente os juízes indicados eram assessores
ligados ao presidente do tribunal, e terem vinculação ao Segundo Grau, portanto não havia o
necessário deslocamento de pessoal para o Primeiro Grau, para a política realmente funcionar.
Além desse aspecto, a resolução estabelece mandatos limitados para os membros; a
necessidade de divulgação prévia das pautas de discussão; a definição de fluxo de trabalho
para os comitês, e de como os comitês deveriam funcionar; e o Departamento de Gestão
66
Estratégica do CNJ criou um manual de orientação aos comitês, e tem realizado alguns
cursos, pelo Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Servidores do Poder Judiciário, na
condução da sua função, inclusive cursos a distância.
Sob o aspecto do controle do Conselho, os Entrevistados 1 e 2 explicaram haver uma
forte correlação entre a fiscalização da implementação das políticas públicas do CNJ pelos
tribunais e a gestão e a presidência do STF e do CNJ, uma dimensão do problema da
descontinuidade de programas e projetos e a grande dependência que o órgão revela do perfil
do seu presidente (CHAVES, 2019, p. 376; PEREIRA, 2019). Assim, não obstante a política
de Atenção Prioritária ao Primeiro Grau ser um programa de caráter permanente do Conselho,
às vezes não há continuidade no seu controle, na vigilância de sua aplicação pelos tribunais,
diante da mudança de quem assume o cargo de presidente desses órgãos. Por isto, o
Entrevistado 2 alegou a necessidade do Conselho adotar políticas permanentes, que tenham
sua efetivação independentemente de quem assuma a presidência do CNJ.
Acerca disso, o Entrevistado 1 relatou que a Política de Atenção Prioritária se iniciou
muito bem, com a aprovação das Resoluções n°s 194 e 195, do CNJ, contudo, posteriormente,
houve uma considerável demora na aprovação da Resolução n° 219, do CNJ, a terceira do
tripé, após 2 (dois) ano daquelas outras, o que já demonstra a descontinuidade da política. Tal
descompasso no tempo, bem como a falta de atuação efetiva dos comitês trouxeram diversos
prejuízos à efetivação da política pública. O CNJ constitui um órgão presidencialista, tendo
em vista o presidente do CNJ ser também o presidente do STF, e de acordo com o plano de
gestão traçado por ele, as políticas públicas terão maior ou menor prioridade e avanços. A
Política de Atenção Prioritária, cujo início foi em 2014, retomando-se em 2015, e com grande
evolução em 2016, sofre uma solução de continuidade, o que, segundo relata o referido
entrevistado, constituiu um fator prejudicial para a sua efetividade.
Acerca da resistência na aprovação das três resoluções, o Entrevistado 2 apontou
que:
7
O objetivo seria o de avaliar o grau de satisfação das condições de trabalho dos magistrados,
permitindo se associar tais condições às diferentes demandas para a política voltada para a
Priorização do Primeiro Grau, além de questionar sobre os comitês gestores regionais dos tribunais
aos quais pertencem, a fim de verificar o grau de envolvimento e o nível de satisfação dos
respondentes para com eles, bem como para investigar se há apoio da alta administração dos
tribunais, e buscar aferir a interação deles com as questões de alocação de orçamento e de pessoal.
69
8
Na categorização dos tribunais por porte pelo CNJ, as variáveis consideradas são as seguintes:
despesas totais; casos novos; processos pendentes; número de magistrados; número de servidores
(efetivos, cedidos, requisitados e comissionados sem vínculo efetivo); e número de trabalhadores
auxiliares (terceirizados, estagiários, juízes leigos e conciliadores). A partir dessas informações,
forma-se um escore único, por tribunal, o que gera o agrupamento em tribunais de grande, médio ou
pequeno porte.
70
Fonte: Elaboração da autora com base no RJN (CNJ, 2020) e site oficial do TJRN.
Legenda: *Cejusc: Centro Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania.
proposta do comitê para implementação a Resolução n° 219, do CNJ, foi rechaçada pelo
pleno do tribunal. O Entrevistado 7 ressaltou haver, de uma forma geral, uma preocupação da
presidência do tribunal em conhecer a pauta do que foi discutido e apresentado nas reuniões
do Comitê Gestor Regional, embora não haja a implementação efetiva da política, e por isso,
qualificou haver uma preocupação da gestão e dos membros em dar seriedade às questões
analisadas, referindo-se à gestão passada do TJRN nesse aspecto.
Verificou-se que a periodicidade das reuniões do comitê não possui definição prévia.
O Entrevistado 7 relatou que as reuniões são determinadas pelo próprio presidente do comitê,
a depender do surgimento das demandas, situação que, para ele, não prejudica o seu bom
funcionamento. Apesar dessa visão positiva, o fato de não ter havido nenhuma reunião no ano
corrente (2020) já demonstra o prejuízo dessa sistemática sem fixação prévia das datas. Por
outro lado, o Entrevistado 5 demonstrou perplexidade com a inexistência de um calendário
das reuniões, e disse não ter opinião sobre qual seria a quantidade suficiente de reuniões,
tendo em vista o não funcionamento efetivo do comitê e a ausência de deliberações por parte
do comitê. Importante registrar que isso foge ao previsto na Resolução nº 194, do CNJ,
alterada pela Resolução de nº 283, do CNJ, que impõe a fixação de calendário anual, a ser
definido e publicado pelo tribunal, mostrando a disparidade entre o plano de validade e o
plano de eficácia da política pública em exame. O Entrevistado 5 disse que considera
necessário haver mais reuniões, marcadas prévia e sistematicamente, ante a importância da
política.
A composição e a quantidade de membros dos comitês se mostram adequadas na
visão da maioria dos entrevistados. Eles percebem haver representatividade por parte dos
membros indicados pela associação dos magistrados e pela associação dos servidores. Não
obstante, relatou o Entrevistado 7 que a composição do comitê são apenas 6 (seis) membros: 1
(um) magistrado eleito pelo tribunal, 1 (um) magistrado escolhido pelo tribunal e 1 (um)
magistrado pela associação dos magistrados; 1 (um) servidor eleito pelo tribunal, 1 (um)
escolhido pelo tribunal e 1 (um) escolhido pela sindicato dos servidores. Assim, ressalta-se
que a composição também está em desacordo com aquela fixada na Resolução nº 283, do
CNJ, com alterações na Resolução nº 194, do CNJ, que fixou uma nova estrutura ao comitê.
Além disso, diante da ausência de negociação entre o comitê e o tribunal, a partir dos relatos
dos entrevistados e da análise da documentação pública consultada, não há evidências de que
os interesses da sociedade têm sido protegidos, como deveriam ser, de acordo com a ideia de
diálogo social e institucional como uma linha de atuação dessa resolução.
72
Ademais, em que pese a não garantia do direito ao voto aos membros representantes
das entidades associativas, a inexistência do direito ao voto não parece afetar o livre exercício
de suas atuações perante o comitê, na concepção dos Entrevistados 5 e 6. Todos os membros
possuem voz no comitê, em condição de igualdade com os demais membros, participando das
mesmas reuniões, exceto daquelas que porventura tenham por objetivo único a votação das
propostas.
Contudo, essa assertiva é cabível de críticas, tendo em vista que as associações de
magistrados e servidores são entidades representativas, e como tais, a defesa dos seus
interesses também deve ter peso decisional, sobretudo tendo em vista o papel de protagonistas
que vêm assumindo, com a grande quantidade de pedidos de providências apresentados ao
CNJ em todo o país por tais entidades, a fim de que os tribunais sejam instigados a
implementar a equalização de pessoal entre os graus de jurisdição e cumprir a Resolução n°
219, do CNJ.
Quanto às mudanças e melhorias advindas da política objeto desse estudo, o
Entrevistado 6 ressaltou ter sido a objetivação dos dados estatísticos e da realidade do
tribunal, o que permitiu uma maior transparência à sociedade, possibilitando um maior
controle dos gastos públicos e quanto ao desempenho dos tribunais. No entanto, conforme
relato de um dos ex-conselheiros do CNJ, o Entrevistado 3, os dados objetivos devem se
voltar principalmente à transparência interna para a efetivação da gestão dos tribunais, de
modo a democratizar o seu acesso. Além disso, a partir das fontes de evidência, não foi
verificada uma atenção efetiva dos dados objetivos tanto em relação às deliberações do comitê
quanto no tribunal. Para o Entrevistado 5, não houve melhoria alguma advinda da política
para o tribunal, o que confirma essa realidade.
A efetivação do diálogo social e institucional com o comitê, segundo a visão dos
Entrevistados 6 e 7, tem sido verificada mediante a participação das entidades representativas,
bem como pelos próprios magistrados, envolvidos diretamente com a prestação jurisdicional e
com os anseios sociais do Judiciário. Porém, diante do cenário aqui apresentado,
diferentemente desse pensamento otimista desses entrevistados, os interesses sociais têm sido
negligenciados perante a fraca atuação do comitê.
No tribunal, não foi encontrada nenhuma informação no portal eletrônico
institucional acerca da implementação da distribuição de força de trabalho, tampouco sobre
migração de recursos orçamentários entre os graus de jurisdição, para atender às disposições
das Resoluções nºs 194, 195 e 219, do CNJ. Os entrevistados 5, 6 e 7 relataram terem
ocorrido algumas discussões sobre realocação de pessoal, entretanto o tribunal propôs em
73
9
PJe. Consulta processual. Disponível em:
https://www.cnj.jus.br/pjecnj/ConsultaPublica/listView.seam. Acesso em 05 out. 2020.
75
10
Na decisão, foi destacado o poder regulamentar do CNJ, inclusive quanto às Resoluções da Política
de Atenção Prioritária ao Primeiro Grau: “Desde o julgamento da ADC 12 MC pelo Supremo
Tribunal Federal, restou superada qualquer controvérsia sobre a competência regulamentar do CNJ,
sendo suas resoluções exemplos de atos normativos primários, os quais são estruturados ou validados
a partir da própria norma constitucional. Por isso é que a trilogia normativa da Política Nacional
de Atenção Prioritária ao Primeiro Grau de Jurisdição – inaugurada na Resolução CNJ n.
194/2014, sequenciada pela publicação da Resolução CNJ n. 195/2014, que tratou a respeito da
distribuição de orçamento nos órgãos do Poder Judiciário de Primeiro e Segundo Graus de
Jurisdição, respeitada a média dos “casos novos” do último triênio e também o acervo de
processos acumulados e, por fim, pela edição da Resolução CNJ n. 219/2016, que estabeleceu,
entre outras providências, a distribuição de servidores, de cargos em comissão e de funções de
confiança – deve ser de cumprimento obrigatório pelos órgãos do Poder Judiciário. E é
interessante observar que as resoluções acima referidas são atos dotados de caráter normativo
primário, pois têm como “finalidade debulhar os próprios conteúdos lógicos dos princípios
constitucionais de centrada regência de toda a atividade administrativa do Estado”, especialmente o
princípio constitucional da eficiência da administração pública (art. 37 da Constituição Federal).
Ademais, não se há de entender que a autonomia dos tribunais constituiria óbice para o dever
constitucional de cumprimento aos atos normativos do CNJ.” (grifos nossos)
78
11
Trecho da decisão: “Isso porque homologou o “Relatório de Redimensionamento da Força de
Trabalho” apenas em agosto de 2018 – e não em julho de 2017, prazo que consta do art. 23 da
Resolução CNJ n. 219/2016. E apesar da aprovação desse documento pelo Pleno do TJRN,
verifica-se, também em um juízo de cognição sumário, que não foram contemplados nos
respectivos planos de ação e cronogramas, sequer formalmente, as linhas mestras de uma
genuína política de equalização da distribuição da força de trabalho entre o Primeiro e o
Segundo Graus de Jurisdição, proporcionalmente à demanda de processos, nos termos
preconizados pelo ato normativo em comento. Além do mais, mesmo tendo havido o auxílio do
então Comitê Gestor Regional da Política de Atenção Prioritária ao Primeiro Grau de Jurisdição, os
estudos realizados pelo TJRN com vista ao cumprimento da Resolução CNJ n. 219/2016
contemplaram somente a distribuição de servidores entre unidades judiciais consideradas do
mesmo nível ou grupo, sem que tenha havido a previsão de equalização da questão orçamentária de
que trata o art. 12 de sobredita resolução, que é um dos grandes eixos da Política Nacional de Atenção
Prioritária ao Primeiro Grau de Jurisdição – e objeto do pedido liminar dos Requerentes (migração
vertical do orçamento)” (grifos nossos)
79
Fonte: Elaboração da autora com base no RJN (CNJ, 2020) e no site oficial do TRT21.
Legenda: *Cejusc: Centro Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania.
haver envolvimento desses atores judiciais para com as diretrizes da política no tribunal.
Argumentou também que há uma atuação mais efetiva da associação dos magistrados no
quesito de fiscalização das questões orçamentárias, a ser concretizado por meio do membro
que compõe o comitê regional por indicação da própria associação.
No entanto, o Entrevistado 10 destacou a dificuldade na substituição dos membros
com assento com origem nas indicações do tribunal, quando preciso, posto que as regras
formais internas requerem que o próprio tribunal nomeie outro membro. Segundo ele, a
indicação por parte do tribunal propicia a nomeação de membros que não se identificam com
as atribuições do comitê, e, portanto, não possuem o perfil e interesse para a gestão
orçamentária. O que configura mais um entrave para o efetivo funcionamento do comitê.
Verificou-se a existência do Procedimento de Controle Administrativo nº
000755942.2017.2.00.000012, solicitado junto ao CNJ pela Associação dos Magistrados do
Trabalho da 21ª Região. O acordo inicial proposto pelo comitê trazia uma flexibilização da
resolução. Sua homologação ocorreria após o prazo estabelecido pela Resolução nº 219, do
CNJ, diante da inércia do tribunal, fixando-se uma implementação progressiva. A realocação
de pessoal iria transferir orçamento de forma indireta entre os graus de jurisdição.
O Procedimento de Controle Administrativo foi homologado por unanimidade, pelo
CNJ, em 31 de outubro de 2018, ante o acordo produzido entre as partes requerente e o
requerido. Destaca-se, ademais, que o pedido de providências apresentado junto ao tribunal, e
ao Conselho, ocorreu após esgotado o prazo tanto para a implementação da Resolução n° 219,
do CNJ, e para a apresentação do plano de ação e do cronograma pelo tribunal junto ao CNJ.
Em síntese, o Procedimento de Controle Administrativo, apresentado pela
AMATRA2113, em face do TRT21 pleiteava a concessão de uma liminar com três pedidos: a)
a suspensão da eficácia da Resolução Administrativa n° 47, de 2017, do referido tribunal,
12
PJe. Consulta processual. Disponível em:
https://www.cnj.jus.br/pjecnj/ConsultaPublica/listView.seam. Acesso em 05 out. 2020.
13
A AMATRA21 reivindicava a nulidade do ato administrativo do tribunal, com fundamento em dois
vícios: “(i)vício formal na elaboração da RA n. 47/2017, uma vez que “aprovada a partir de proposta
unilateral da Presidência do TRT21 e que não foi previamente discutida com o Comitê Regional de
Priorização do Primeiro Grau e com a AMATRA21, além de divergir substancialmente do plano
aprovado pelo Comitê e das diretrizes fixadas pela assembleia da Associação, afrontando as normas
inscritas nos arts. 27, § 1º, da Resolução nº 219 do CNJ, 1º, 2º, II, e 4º, I, da Resolução nº 194 do CNJ,
1º e 2º, I, da Resolução nº 221 do CNJ”; (ii)houve vício material na elaboração da RA n. 47/2017, uma
vez que foram descumpridos os critérios de distribuição dos servidores entre o primeiro e o segundo
graus, das funções comissionadas e dos cargos em comissão nos dois graus de jurisdição, além de ter
sido estabelecida a lotação paradigma e a movimentação horizontal de servidores, no mesmo grau de
jurisdição, antes da movimentação vertical”. O que demonstra que o comitê gestor do TRT21 não
tinha tanta voz perante a alta administração.
85
hipótese de criação ou extinção futuras de cargos e de funções, mediante lei federal, garantida
a participação do Comitê Gestor Regional14.
Logo, a proposta inicial da transferência de 39 servidores do segundo ao Primeiro
Grau, bem como de um montante de 2.467.551,56 reais por ano para o Primeiro Grau, em
função de confiança e cargos de comissão, caiu por terra. Com isso, evidencia-se que o acordo
não efetiva a equalização e migração de recursos do Segundo ao Primeiro Grau, mas tão
somente o aumento de possibilidade de subsídios ao Primeiro Grau, o que, portanto, vai na
lógica contrária às diretrizes da política de priorização do Primeiro Grau.
Um dos entrevistados considera que a negociação para implementar a Resolução n°
219, do CNJ, ocorreu da forma menos traumática, tanto para os desembargadores quanto para
a própria Administração, a fim de atender à demanda de processos que se concentra no
Primeiro Grau, sobretudo na fase de execução, na qual se dá a própria efetividade aos
processos judiciais. No entanto, a partir do Procedimento de Controle Administrativo
supracitado, verifica-se que houve diversos embates e resistências para que se implementasse
e efetivasse a Resolução n° 219, do CNJ, com a distribuição dos cargos e de orçamento.
Por outro lado, o Entrevistado 10 explicou que houve atuação efetiva do comitê
quando se discutiu a Resolução nº 219, do CNJ. No entanto, na tentativa de implementação
dessa resolução, foi preciso vencer uma barreira cultural e uma barreira normativa (esta
última por causa da Resolução do CSJT, que já dividia essas questões). Houve um grande
conflito, de modo que tal sobreposição de conselhos, como arguiu Chaves (2019) tem como
prejuízo a dificuldade de simplificação organizacional do sistema judicial, no sentido de se
pensar a justiça como unitária, preponderando sua fragmentação.
Segundo o Entrevistado 10, em 2018, houve um trabalho efetivo do comitê, com
várias reuniões, e foi firmado um acordo para a resolução ser implementada, junto com as
associações dos magistrados, e foi homologado pelo CNJ. Consistia numa flexibilização da
Resolução n° 219, do CNJ, porquanto era inviável cumpri-la integralmente, tanto no repasse
orçamentário como na redistribuição de pessoal. Explicita não haver, no entanto, um critério
objetivo quanto à distribuição de orçamento a ser destinado ao Primeiro Grau, sendo a
14
No item 6.1, das disposições gerais do acordo, foi estabelecido que “A AMATRA21 não mais
demandará nem prosseguirá com qualquer demanda de migração de funções comissionadas ou
cargos em comissão para as unidades judiciárias de primeiro grau, nem oTRT21 promoverá
qualquer alteração nos quadros de funções das Varas do Trabalho, salvo em caso de criação ou
extinção futura de funções comissionadas e cargos em comissão por lei federal, garantida nesses
casos a participação do Comitê Regional da Política de Priorização do Primeiro Grau, previsto
na Res. nº 194 do CNJ”. (grifos nossos)
88
no Primeiro Grau versus 132 no Segundo Grau, no TRT21; já no TJRN, foi de 362 no
Primeiro Grau versus 247 no Segundo Grau.
De outro lado, o índice de produtividade dos servidores da área judiciária do
Primeiro Grau é bem maior do que do Segundo Grau, conforme representado no Infográfico
8: em 2019, no TRT21, o índice de produtividade foi de 112 no Primeiro Grau versus 78 no
Segundo Grau; no TJRN, foi de 132 no Primeiro Grau, e de 78 no Segundo Grau, o que
contribui para a manutenção do índice de congestionamento do Primeiro Grau. Conforme
RJN (CNJ, 2020), esse indicador computa a média de processos baixados por servidor da área
judiciária. Em que pese tal realidade, foi evidenciado que a Política de Atenção Prioritária ao
Primeiro Grau não tem sido eficaz no TRT21, e, portanto, surge a necessidade de haver
implementação de suas diretrizes e de efetivo funcionamento do Comitê Gestor Regional do
tribunal.
5 CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
AMB; FGV; IPESPE. Estudo da imagem do Judiciário Brasileiro. dez. 2019. Disponível
em: https://www.amb.com.br/wp-content/uploads/2020/04/ESTUDO_DA_IMAGEM_.pdf.
Acesso em: 30 jul. 2020.
CHAVES, Luciano Athayde. Quanto custa a justiça? Uma análise econômica da litigiosidade
no poder judiciário brasileiro. Revista do Conselho Nacional de Justiça, v. 4, n. 1, p. 132-
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ZAFFARONI, Eugenio Raúl. Poder judiciário: crise, acertos e desacertos. São Paulo:
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100
*
Este é um texto compilado da Resolução nº 194, do CNJ, a partir da redação dada pelas Resoluções nº
278/2019 e nº 283/2019, do CNJ. A versão original da Resolução nº 194 pode ser encontrada no site
https://www.cnj.jus.br/.
103
RESOLVE:
CAPÍTULO I
CAPÍTULO II
DA GOVERNANÇA DA POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO
PRIORITÁRIA AO PRIMEIRO GRAU DE JURISDIÇÃO
104
Art 5º O Comitê Gestor Regional será composto por ato do tribunal correspondente,
devendo contar, no mínimo, com: (Redação dada pela Resolução nº 283, de 28.08.2019)
I – quatro magistrados, sendo um indicado pelo tribunal respectivo; um
escolhido pelo tribunal a partir de lista de inscritos aberta a todos os interessados; e dois
magistrados de primeiro grau eleitos por votação direta entre os seus pares, da respectiva
jurisdição, a partir de lista de inscrição; (Redação dada pela Resolução nº 283, de 28.08.2019)
II – quatro servidores, sendo um indicado pelo tribunal respectivo; um
servidor escolhido pelo tribunal a partir de lista de inscritos aberta a todos os interessados; e
dois servidores eleitos por votação direta entre os seus pares, a partir de lista de inscrição.
(Redação dada pela Resolução nº 283, de 28.08.2019)
III § 1º O Comitê Gestor Regional será coordenado por um magistrado,
não vinculado a órgão diretivo do Tribunal, eleito por seus próprios integrantes. (Redação
dada pela Resolução nº 283, de 28.08.2019)
§ 2º Será indicado um suplente para cada membro do Comitê Gestor Regional.
(Redação dada pela Resolução nº 283, de 28.08.2019)
105
Art. 7º A fim de garantir a concretização dos seus objetivos, deverão ser destinados
recursos orçamentários para o desenvolvimento de programas, projetos e ações vinculados à
Política.
CAPÍTULO III
DAS DISPOSIÇÕES FINAIS
**
Este é um texto compilado da Resolução nº 195, do CNJ, a partir da redação dada pelas Resoluções
nº 259/2018 e nº 267/2018, do CNJ. A versão original da Resolução nº 195 pode ser encontrada no
site https://www.cnj.jus.br/.
108
RESOLVE:
CAPITULO I
DA DISTRIBUIÇÃO DO ORÇAMENTO
SEÇÃO I
DISPOSIÇÕES GERAIS
SEÇÃO II
DA PROPOSTA ORÇAMENTÁRIA
DE PRIMEIRO E SEGUNDO GRAUS
SEÇÃO III
DA GOVERNANÇA COLABORATIVA DO ORÇAMENTO
110
SEÇÃO IV
DA EXECUÇÃO ORÇAMENTÁRIA
janeiro de cada ano, mapa demonstrativo da execução orçamentária do ano anterior, com
indicação das despesas realizadas com o primeiro e o segundo graus de jurisdição.
CAPÍTULO II
DAS DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS
***
Este é um texto compilado da Resolução nº 219, do CNJ, a partir da redação dada pelas Resoluções
nº 243/2016 e nº 282/2019, do CNJ. Os anexos constantes na Resolução nº 219 foram omitidos, em
virtude do propósito do presente trabalho. A versão original da Resolução nº 219, junto com os anexos,
pode ser encontrada no site https://www.cnj.jus.br/.
113
RESOLVE:
CAPITULO I
DISPOSIÇÕES GERAIS
Art. 1º A distribuição e a movimentação de servidores, de cargos em comissão e de
funções de confiança nos órgãos do Poder Judiciário de primeiro e de segundo graus
obedecerão às diretrizes estabelecidas nesta Resolução.
114
§ 3º Na apuração do IPS devem ser computados, sempre que possível, apenas os dias
efetivamente trabalhados pelos servidores, de modo a desconsiderar os períodos de licenças,
afastamentos e mudanças de lotação ocorridas no curso do ano.
CAPITULO II
DA DISTRIBUIÇÃO DE SERVIDORES, CARGOS EM COMISSÃO E FUNÇÕES DE
CONFIANÇA
Seção I
Da distribuição de servidores das áreas de apoio direto à atividade judicante entre
primeiro e segundo graus
às unidades judiciárias de primeira instância da cidade sede do tribunal até que restem
implementadas as condições necessárias à mudança de lotação para as unidades do interior.
Seção II
Da distribuição de servidores nas unidades judiciárias do mesmo grau de jurisdição
Subseção I
Da definição das unidades semelhantes e da lotação paradigma
Art. 5º Os tribunais devem agrupar as unidades judiciárias de primeiro e de segundo graus por
critérios de semelhança relacionados à competência material, base territorial, entrância ou
outro parâmetro objetivo a ser por eles definido.
§ 1º Não havendo unidade semelhante, caberá ao tribunal estipular o critério para a
definição da lotação paradigma.
Subseção II
Da aplicação da lotação paradigma dos servidores das unidades judiciárias de primeiro
e de segundo graus
Art. 7º Os servidores das unidades judiciárias de primeiro e segundo graus serão lotados até
atingir a lotação paradigma de cada unidade e de modo que nenhuma fique com déficit ou
superávit maior do que 1 (um) servidor.
Parágrafo único. Quando não for possível atingir a lotação paradigma de todas as unidades,
serão priorizadas as unidades judiciárias de primeiro e de segundo graus com maior déficit de
pessoal em relação à respectiva lotação paradigma.
Art. 8º Uma vez alcançada a lotação paradigma de cada unidade e havendo excedente de
servidores, inclusive decorrentes da aplicação da regra do art. 3º desta Resolução, estes devem
ser lotados nas unidades judiciárias do mesmo grau de jurisdição, com prioridade para aquelas
com maior taxa de congestionamento e/ou com quantidade maior de casos pendentes antigos,
desde que a unidade judiciária: (Redação dada pela Resolução nº 243, de 09.09.16)
I – tenha IPS igual ou superior ao da média das unidades semelhantes semelhantes.
II – possua taxa de congestionamento superior à da média das unidades
§ 2º A força de trabalho adicional de que trata o caput será alocada até que a
proporção de casos pendentes e/ou a quantidade de casos pendentes antigos alcance a média
das unidades semelhantes, sem prejuízo do estabelecimento de outro critério objetivo pelo
tribunal.
Art. 9º A força de trabalho adicional prevista no artigo anterior pode ser utilizada sempre que
o tribunal identificar acúmulo extraordinário de processos, discrepância significativa entre as
taxas de congestionamento de unidades judiciárias semelhantes ou para atingimento de metas
locais ou nacionais.
Art. 10 A lotação paradigma prevista nesta Seção pode ser aplicada, no que couber, às demais
unidades de apoio direto à atividade judicante.
119
Seção III
Dos servidores das áreas de apoio indireto à atividade judicante
Art. 11. A quantidade total de servidores lotados nas áreas de apoio indireto à atividade
judicante (apoio administrativo) deve corresponder a, no máximo, 30% (trinta por cento) do
total de servidores.
Seção IV
Da distribuição dos cargos em comissão e funções de confiança
Art. 12. A alocação de cargos em comissão e de funções de confiança nas áreas de apoio
direto à atividade judicante de primeiro e de segundo graus deve ser proporcional à
quantidade média de processos (casos novos) distribuídos a cada grau de jurisdição no último
triênio, observada a metodologia prevista no Anexo VI.
§ 1º A alocação de que trata o caput deve considerar o total das despesas com o
pagamento dos cargos em comissão e funções de confiança, e não a quantidade desses cargos
e funções.
120
Art. 13. A distribuição dos cargos em comissão e de funções de confiança dentro do mesmo
grau de jurisdição observará, no que couber, as regras estabelecidas na Seção II desta
Resolução.
Art. 14. O total das despesas com o pagamento dos cargos em comissão e funções de
confiança das áreas de apoio indireto à atividade judicante deve ser, no máximo, equivalente
ao percentual de servidores alocados nessas áreas, conforme disposto no art. 11 desta
Resolução.
Seção V
Da Tabela de Lotação de Pessoal (TLP)
Art. 15. Os tribunais devem publicar no seu sítio eletrônico na internet a Tabela de Lotação de
Pessoal (TLP) de todas as unidades de apoio direto e indireto à atividade judicante, de
primeiro e de segundo graus, inclusive Presidência, Vice Presidência, Corregedoria, escolas
judiciais e da magistratura e áreas de tecnologia da informação, observadas as regras desta
Resolução e o modelo constante do Anexo VII.
Parágrafo único. A TLP deve ser publicada a cada semestre, a contar do ano de 2017,
observados os seguintes prazos: (Redação dada pela Resolução nº 243, de 09.09.16)
I – até 30 de março, referente à lotação do dia 1º de janeiro do ano respectivo;
II – até 30 de setembro, referente à lotação do dia 1º de julho do ano respectivo.
Seção VI
Da movimentação de servidores
Art. 17. Salvo imposição legal, não pode ser cedido servidor para outra instituição, sem a
correspondente reposição ou reciprocidade, se a unidade cedente tiver lotação igual ou inferior
à paradigma.
121
Art. 19. A movimentação de servidor de unidade judiciária para unidade não judiciária (outra
unidade de apoio direto ou unidade de apoio indireto à atividade judicante), sem a
correspondente permuta ou reposição, será autorizada desde que cumpridos os seguintes
requisitos:
Seção VII
Da Premiação por Desempenho
Art. 20. Os Tribunais de Justiça dos Estados podem instituir medidas de incentivo ou
premiação aos servidores lotados nas unidades mais produtivas ou que alcancem as metas
estabelecidas nos respectivos planos estratégicos, segundo critérios objetivos a serem
estabelecidos em lei ou regulamento próprio.
§ 1º As medidas de incentivo de que trata o caput podem ser instituídas sob a forma
de bolsas para capacitação e preferência na remoção para outras unidades, sem prejuízo de
outras, a critério do tribunal.
§ 2º A premiação anual de que trata o caput não pode alcançar mais do que 30%
(trinta por cento) dos servidores do quadro de pessoal do tribunal.
Art. 21. O CNJ pode elaborar estudo, a ser submetido ao Supremo Tribunal Federal, com
vistas ao envio de anteprojeto de lei para instituir premiação de produtividade no âmbito do
Poder Judiciário da União.
Parágrafo único. As medidas de incentivo de que trata o caput e § 1º do artigo anterior podem
ser instituídas, no que couber, por ato dos tribunais do Poder Judiciário da União, com envio
de cópia ao Conselho Nacional de Justiça.
CAPÍTULO III
DAS DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS
Art. 22. As carreiras dos servidores de cada Tribunal de Justiça devem ser únicas, sem
distinção entre cargos efetivos, cargos em comissão e funções de confiança de primeiro e de
segundo graus.
Art. 23. Os tribunais devem implementar o disposto nesta Resolução até 1º de julho de 2017,
salvo no tocante aos dispositivos para os quais haja previsão de prazos específicos, facultada a
expedição de regulamentação complementar. (Redação dada pela Resolução nº 243, de
09.09.16)
Parágrafo único. Os tribunais encaminharão ao CNJ, no prazo de 120 (cento e vinte) dias, os
estudos realizados com vistas ao cumprimento desta Resolução, acompanhados dos
respectivos planos de ação e cronogramas.
Art. 25. Os servidores empossados após a implementação desta Resolução serão lotados nas
unidades de primeiro e de segundo graus, observadas, no que couber, as regras e proporções
nela definidas.
Parágrafo único. Aplica-se o disposto no caput, no que couber, aos cargos em comissão e
funções de confiança criados após a implementação desta Resolução.
Art. 26. O Plenário do CNJ pode, a requerimento do Tribunal, adaptar as regras previstas nesta
Resolução quando entender justificado pelas circunstâncias ou especificidades locais.
Art. 27. O CNJ atuará em parceria com os tribunais na implementação das medidas previstas
nesta Resolução, assim como na capacitação de magistrados e servidores nas competências
necessárias ao seu cumprimento.
Art. 28. O CNJ pode incluir o cumprimento desta Resolução entre os critérios a serem
analisados para emissão de parecer de mérito ou nota técnica sobre anteprojetos de lei de
criação de cargos efetivos, cargos em comissão e funções de confiança no âmbito do Poder
Judiciário, a teor do Regimento Interno e da Resolução CNJ 184, de 6 de dezembro de 2014.
Art. 29. Os anexos desta Resolução podem ser alterados por ato do Presidente do CNJ.
Art 29-A O “Manual de Cálculo” passa a integrar a Resolução CNJ 219/2016. (Incluído pela
Resolução nº 243, de 09.09.16)
Art 29-B O CNJ disponibilizará planilha de cálculo em seu sítio eletrônico. (Incluído pela
Resolução nº 243, de 09.09.16)
Art. 30. Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação.
Esclarecimentos
O(A) senhor(a) está sendo convidado(a) para participar da pesquisa: A eficácia das
políticas públicas do Conselho Nacional de Justiça de valorização do Primeiro Grau de
Jurisdição”, cuja pesquisadora responsável é a Sra. Mariana Albuquerque Melo, sendo
coordenada e orientada pelo Professor Dr. Luciano Athayde Chaves.
A pesquisa tem por propósito verificar a eficácia da democratização interna das
políticas de valorização do primeiro grau e a distribuição orçamentária instituíduas pelo CNJ,
no âmbito do Tribunal Regional do Trabalho da 21ª Região e do Tribunal de Justiça do Estado
do Rio Grande do Norte.
O motivo desta pesquisa é a alta taxa de congestionamento dos primeiros graus de
jurisdição nos tribunais em todo o país, segundo a série histórica do Relatório Justiça em
Números, do CNJ. A metodologia consiste na análise empírica da percepção e nível de
participação dos atores judiciais envolvidos nos comitês gestores regionais referentes a tais
políticas públicas.
A entrevista terá duração média de 40 minutos, e será realizada por meio de
videoconferência, na plataforma Google Meet, ou, eventualmente, em outra plataforma, a
depender do consentimento dos participantes. Será solicitada autorização para a gravação da
entrevista em formulário específico (anexo).
A pesquisadora assegura a garantia da privacidade e um instrumento de pesquisa
seguro e adequado para tal.
Como resultados da pesquisa, serão publicados trabalhos científicos, com a finalidade
de melhor apresentar o diagnóstico do congestionamento do Primeiro Grau de Jurisdição, e
possibilitar a propositura de soluções alternativas à problemática.
O entrevistado poderá se recusar a permanecer na entrevista, ou mesmo não responder
a quaisquer das questões, e, se achar necessário, retirar seu consentimento, a todo e qualquer
momento.
Os dados coletados serão confidenciais, com fins de divulgação meramente
acadêmico-científicos, e tão somente em eventos e publicações científicas, sendo mantido o
anonimato, de modo que não será divulgado nenhum dado pessoal capaz de identificar o
entrevistado.
Ao consentir com este termo, o(a) senhor(a) autoriza a gravação de voz e o registro
de vídeos, durante a entrevista intitulada “A eficácia das políticas públicas do Conselho
Nacional de Justiça de valorização do Primeiro Grau de Jurisdição”, de sorte que são
assegurados: