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CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI

FONÉTICA E FONOLOGIA DO
PORTUGUÊS

GUARULHOS – SP
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO AOS PRINCÍPIOS GERAIS DA FONÉTICA ARTICULATÓRIA ....... 3

2 RELAÇÃO ENTRE FONÉTICA E FONOLOGIA ....................................................... 8

3 CONCEITUAÇÃO E CLASSIFICAÇÃO DE FONÉTICA E FONOLOGIA ................ 10

3.1 Fonética ....................................................................................................... 18

3.2 - Fonologia ................................................................................................... 21

4 ANATOMIA E FISIOLOGIA DA FALA ..................................................................... 24

4.1 Estruturas de Sustentação da Laringe ......................................................... 26

4.2 Estruturas Cartilaginosas da Laringe ........................................................... 29

5 CRITÉRIOS DE CLASSIFICAÇÃO DOS SONS DA FALA ..................................... 38

6.1 Consoantes ...................................................................................................... 39

6 DESCRIÇÃO DOS SONS LINGUÍSTICOS ............................................................. 43

7 ALFABETO FONÉTICO INTERNACIONAL ............................................................ 46

7.1 Alfabeto Fonético da OTAN ......................................................................... 48

7.2 Criação do alfabeto fonético......................................................................... 48

7.3 Funcionamento do alfabeto fonético ............................................................ 49

7.4 Utilização do alfabeto fonético internacional ................................................ 50

7.5 Outros alfabetos fonéticos............................................................................ 50

8 OS ELEMENTOS SUPRASSEGMENTAIS ............................................................. 51

8.1 Consoante .................................................................................................... 53

8.2 Vogais .......................................................................................................... 54

9 AGRUPAMENTOS DE FONEMAS ......................................................................... 56

10 ESTRUTURA DAS SÍLABAS .................................................................................. 61

10.1 Classificação das palavras quanto ao número de sílabas ........................... 63

11 AS TRANSCRIÇÕES FONÉTICAS E FONOLÓGICOS DOS SONS LINGUÍSTICOS


.............................................................................................................................. 65
12 INTRODUÇÃO ÀS PREMISSAS DA DESCRIÇÃO E ANÁLISE FONOLÓGICA .... 67

12.1 A importância da fonologia para o ensino de línguas ................................... 68

12.2 Processos Fonológicos Básicos................................................................... 71

13 PRINCÍPIOS DE FONÉTICA E FONOLOGIA: SONS DA FALA, PROSÓDIA ........ 74

14 PROPRIEDADES ARTICULATÓRIAS E ACÚSTICAS DOS SONS ....................... 76

15 NOÇÕES BÁSICAS DE FONOLOGIA .................................................................... 79

16 A ESTRUTURA FONOLÓGICA DO INGLÊS E DO PORTUGUÊS ........................ 83

17 BIBLIOGRAFIA BÁSICA ......................................................................................... 89

.
1 INTRODUÇÃO AOS PRINCÍPIOS GERAIS DA FONÉTICA ARTICULATÓRIA

Fonte: www.radames.manosso.nom.br

A fonética apresenta os métodos para a descrição, classificação e transcrição


dos sons da fala, principalmente aqueles sons utilizados na linguagem humana. Suas
principais áreas de interesse são: Fonética Articulatória, Fonética Perceptiva e
Fonética Acústica.

Fonética Articulatória:
É um ramo da fonética, em que estuda os sons utilizados na linguagem
humana, onde a fisiologia e articulação na produção são aspectos a serem analisados,
além de realizar a observação, descrição, classificação e transcrição dos sons
produzidos na fala.

Fones e Articulação:
Há diversos sons na fala humana, cada um deles com suas características e
movimentos articulatórios (fones ou segmentos). A distinção entre as consoantes e
vogais acontece em nível de articulação e deve ser entendida a partir da liberação do
fluxo de ar dos pulmões.

 Vogais: Sem obstrução da passagem do ar.

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 Consoantes: Obstrução total ou parcial da passagem do ar.

Consoantes:
Âmbito profissional
Profissionalmente a comunicação linguística é de suma importância em muitos
ramos, não apenas a comunicação em si mas a forma que as palavras são articuladas.
Essa forma de articular pode tornar um fone mais ou menos compreensível e
consequentemente facilitar ou dificultar a compreensão da mensagem.

O aparelho fonador e a produção de fala:


Para que a produção da fala se dê com êxito em um ser humano é necessário
que haja vibração das moléculas de ar, ou seja, é preciso que haja respiração.
Enquanto estamos falando, estamos controlando a saída de ar dos pulmões, pois
somos dependentes dessa corrente de ar para que a fala aconteça.
Para que a fala ocorra é indispensável que as pregas vocais transformem aquela
corrente em um som audível (caracterizada fonação), acarretando assim a vibração
ou não das pregas.

Mecanismos de produção dos sons:


Os órgãos articuladores são aqueles envolvidos na produção da fala, podendo
ser der descritos como ativo ou passivo.

 Ativo: partes do aparelho fonador que se movimentam para que a


produção de um determinado som seja efetuada como língua (que se
divide em ápice, lâmina e dorso), lábio e dentes inferiores, véu do palato
(que fecha a cavidade nasal) e pelas pregas vocais que são as
responsáveis pelo vozeamento.
 Passivo: abrangem todas as estruturas que, diferentemente das ativas,
não se movem para a geração da fala. (lábio superior, dentes superiores,
e palatos duro e mole).

Fonação:
A fonação é a capacidade das pregas vocais de transformar a corrente de ar

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em um som audível. Ocorrendo na laringe, através do movimento das pregas vocais.
Quando as pregas vocais estão separadas e a glote está aberta, realizam a produção
de sons desvozeados traço [- sonoro]. Quando as pregas estão juntas, dificulta a
passagem de ar e ocasiona a vibração das pregas, temos os sons vozeados
traço[+sonoro]. Outra grande influenciadora da fonação é a posição da cartilagem
aritenoidea, que acaba influenciando totalmente na posição das pregas vocais, no
repouso ou no período de fala.
Para classificar as consoantes, as caracteristicas são:

I. Vozeamento.
II. Ponto de articulação
III. Modo articulatório.

Relação à vibração ou não das pregas vocais, são elas:


 Surdas ou não-vozeadas: Produzidas sem a vibração das pregas
vocais.
 Exemplos: pata, faca.
 Sonoras ou vozeadas: Produzidas com a vibração das pregas vocais.
 Exemplos: bode, zona.

A posição dos articuladores passivos e ativos quando produzem tais


segmentos. os lugares de articulação são subdivididos em:

 Bilabial- Exemplos: nas plosivas /p/, /b/ e na nasal /m/.


 Labiodental - Exemplos: as fricativas /f/ e /v/.
 Dental- Exemplos: nas plosivas /t/ e /d/.
 Alveola- Exemplos: as fricativas /s/ e /z/, a nasal /n/ e a líquida /l/ e /r/.
 Alveolopalatal.
 Palatal- Exemplos: Velar- Exemplos: as plosivas /k/ e /g/ e a líquida /R/
Glotal

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Essa característica fonêmica está relacionada ao tipo de obstrução na corrente
de ar que determinado fone acarreta, devido aos órgãos articuladores envolvidos no
processo. São eles:

 Oclusivas- Fechamento total da glote, e o véu palatino fecha a cavidade


nasal. São denominadas Plosivas;
 Fricativas- Os articuladores de fala se aproximam a ponto de ocorrer
uma fricção na passagem do ar, sem obstrução total da cavidade oral;
Nasal – total obstrução da passagem de ar na cavidade oral,
ocasionando no fluxo pela cavidade nasal;
 Tepe- Também denominada vibrante simples, ocorre quando o
articulador ativo toca rapidamente o articulador passivo, ocorrendo uma
obstrução da passagem de ar na boca;
 Vibrante Múltipla- É uma sequência de vibrações no mesmo ponto de
articulação;
 Retroflexa- O ápice da língua é o articulador ativo, que vai ao encontro
do palato duro que é passivo;
 Laterais- O articulador ativo se encontra com o passivo, obstruindo a
corrente de ar na linha central do trato vocal;
 Africada- Esta classe na verdade é uma junção de uma plosiva com uma
fricativa, que devem necessariamente ter o mesmo ponto de articulação;
I- Ponto de articulação:
II- Vozeamento
III- Modo articulatório

Na atuação fonoaudiológica:
A fonoaudiologia é habilitada para tratar patologias que culminem em desvios
fonológicos ou fonéticos, onde os problemas com a articulação das palavras são
tratados na área da fonética. Respiração, fonação, ressonância e articulação são
elementos necessários para a produção da fala, eles funcionam em conjunto por tanto
o comprometimento de um fator altera o resultado final.

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As alterações na fala têm origens diferentes, podendo ser elas neurológicas ou
resultantes de alteração óssea, muscular ou cartilaginosa.

Fonte: www.empresarialmaster.com.br

Vogais
Estes sons devem ser produzidos de modo que o estreitamento da cavidade
oral, devido à aproximação do corpo da língua e do palato não produza fricção.
Para identificação e descrição usam-se alguns parâmetros, como:

1. Altura da Língua
2. Avanço ou recuo da língua
3. Posição dos lábios
4. Vogais Nasais e Orais
5. Semivogais

Altura da Língua
 Altas;
 Médias-altas;
 Médias-baixas;
 Baixas;

Avanço ou recuo da língua


 Anteriores;
 Posteriores;

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 Centrais;

Posição dos lábios


 Arredondadas
 Não-arredondadas

Vogais Nasais e Orais


As vogais podem ser orais, pronunciadas na cavidade bucal apenas, ou nasais,
pronunciadas também nas cavidades nasais.
 Orais: a, e, i, o, u.
 Nasais: ã (an/am), ẽ (en/em), ĩ (in/im), õ (on/om), ũ (un/um)

Semivogais
Apresentam menor proeminência acentual se comparadas às vogais que
acompanham. Nesse caso, são representadas respectivamente pelos símbolos
fonéticos j e w .

2 RELAÇÃO ENTRE FONÉTICA E FONOLOGIA

Fonte: www.portugues.uol.com.br

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Como você deve ter observado, a linguagem humana se manifesta de várias
formas. Podemos nos expressar por meio de gestos, como na língua de sinais
conforme ilustrado na figura 1; por meio dos sons que emitimos ao falar e, ainda, por
meio da escrita. Ao ler o poema E agora José? De Carlos Drummond de Andrade,
você experienciou a linguagem se manifestando por meio da escrita.
Ao escutar ou cantar a canção, você utilizou a linguagem falada, seja quando
fez uso do seu aparelho vocal para emitir sons ao cantar, seja quando utilizou seu
aparelho auditivo para ouvir e perceber a mensagem. A linguagem falada se realiza
por meio do canal vocal-auditivo, enquanto a linguagem de sinais utiliza um canal
gestual-visual e a escrita, um canal visual gráfico.
Apesar da existência dessas várias formas de manifestação, a linguagem
humana tem no canal vocal-auditivo a sua forma privilegiada de expressão, basta
constatarmos que o ser humano primeira fala e só depois aprende, ou não, a escrever.
Uma comunidade só desenvolve a linguagem gestual quando seus membros são
privados de audição e a escrita, embora tenha muito prestígio nas sociedades
modernas, não existiu e nem existe em todas as sociedades humanas. Há muitas
línguas no mundo que só apresentam a modalidade oral, são línguas sem escrita –
línguas ágrafas. As línguas indígenas ainda hoje faladas no território brasileiro são
exemplos disso. Na sua evolução, os seres humanos privilegiaram o canal vocal-
auditivo para a comunicação talvez em decorrência das vantagens que ele apresenta
em relação ao canal gestual-visual.
Comunicar-se por meio de sons, em vez de gestos, deixa o corpo livre para se
empreender outras atividades no momento em que se fala e exige relativamente
pouca energia física. Além disso, as mensagens podem ser enviadas e recebidas a
uma certa distância, sem necessidade de os interlocutores se olharem. Assim a
comunicação pode ocorrer no meio da escuridão ou numa floresta densa, por
exemplo, (Aitchison).
A maior parte da literatura que trata de Fonética e Fonologia vem tentando fazer
uma distinção entre elas que não tem convencido aqueles que se aventuram nos
estudos sobre essas disciplinas da Linguística. Primeiramente, deve-se dizer que
tanto a Fonética quanto a Fonologia têm como objeto de estudo os sons da fala. Ou,
melhor dizendo, tanto a Fonética quanto a Fonologia investigam como os seres
humanos produzem e percebem os sons da fala. Em segundo lugar, deve-se observar
que é bastante difícil fazer Fonologia sem antes entender (ou fazer) fonética. É preciso

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então conhecer um pouco mais sobre o status de cada uma dessas disciplinas, sem
tentar fazer uma distinção simplista de suas funções ou modos de ação. Podemos
começar nossa reflexão lançando mão de uma discussão sobre Fonética e Fonologia
que se tornou muito profícua entre os pesquisadores da área, apresentada por Clark
e Yallop (1995).

3 CONCEITUAÇÃO E CLASSIFICAÇÃO DE FONÉTICA E FONOLOGIA

Fonte: www.diferenca.com

Introduzindo a Fonética e a Fonologia segundo essa reflexão, qualquer


comunicação realizada através de línguas orais com sucesso, seja ela um simples
cumprimento ou um elaborado discurso político, pressupõe alguns requisitos básicos
com relação aos interlocutores: um funcionamento físico adequado do cérebro, dos
pulmões, da laringe, do ouvido, dentre outros órgãos, responsáveis pela produção e
audição (percepção) dos sons da fala. Além desses, deve haver o reconhecimento da
pronúncia de cada um dos interlocutores, pois, mesmo que eles tivessem os órgãos
da fala e da audição em perfeito estado, essa comunicação poderia não ter sucesso
se um deles não compreendesse a língua falada pelo outro. Outro ponto importante a
se considerar é a adequada interpretação das ondas sonoras (sons) emitidas pelo
falante e captadas pelo ouvinte.
Dessa maneira, observamos logo de início que a fala pode ser descrita sob
diferentes aspectos, uns estão mais próximos do que vai se convencionar chamar de

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Fonética, outros mais próximos do que vai se convencionar chamar de Fonologia.
Podemos estudar a fala a partir da sua fisiologia, isto é, a partir dos órgãos que a
produzem, tais como a língua, responsável pela articulação da maior parte dos sons
da fala, e a laringe, responsável principalmente pela produção de “voz”, que leva à
distinção entre sons vozeados (sonoros) e não vozeados (surdos), por exemplo.
Podemos também estudar a fala a partir dos sons gerados pelos órgãos, chamados
de fonadores, com base nas propriedades sonoras (acústicas) transmitidas por esses
sons.
Podemos ainda examinar a fala sob a ótica do ouvinte, ou seja, da análise e
processamento da onda sonora quando acontece a percepção dos sons, dando
sentido àquilo que foi ouvido. Todos esses aspectos são considerados pela Fonética.
A Fonética então é a área que estuda a produção de fala propriamente dita, e isso
significa dizer que ela levará em consideração a variação linguística, a fisiologia dos
indivíduos e as idiossincrasias relativas às características individuais dos falantes.
Dizemos que a Fonética Articulatória estuda o som do ponto de vista mais
estritamente fisiológico. Se você colocar a mão espalmada sobre o pescoço e produzir
um ‘s’, ouvirá o ruído desse som, mas não sentirá o pescoço vibrar. Mas se você
produzir um ‘z’ e mantiver a mão no pescoço, ouvirá um ruído e também sentirá o
pescoço vibrar. Essa vibração é realizada pelo que chamamos de pregas vocais
(órgãos que se encontram no pescoço, mais propriamente na laringe). O som sem
essa vibração é chamado de surdo ou não vozeado, e com essa vibração de sonoro
ou vozeado. Então, algumas das tarefas da Fonética Articulatória são: (I) observar se,
durante a produção de um som, houve ou não vibração de pregas vocais, definindo
se ele foi realizado como sonoro ou surdo, e (II) descrever o movimento de língua
dentro do trato vocal e o movimento dos demais órgãos responsáveis pela produção
do som.
A Fonética Articulatória se encarrega de descrever a realização dos sons,
levando em consideração os parâmetros fisiológicos dos nossos articuladores.
Vejamos como isso pode ser feito. Por exemplo, pronuncie a palavra ‘sagu’ e perceba
como é realizada a vogal ‘a’. Nessa produção, há a livre passagem do ar pelo trato
vocal – a boca. Experimente pronunciá-la tomando consciência dos movimentos da
língua, lábios e mandíbula. Não há nenhum impedimento ou bloqueio enquanto essa
vogal é realizada – o ar simplesmente sai por sua boca.

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Além disso, para a produção desse som, ou, mais tecnicamente, do fone [a], a
língua deve estar abaixada e centralizada na boca, e a mandíbula também deve se
abaixar. Esses movimentos, que a língua efetuou para a produção de [a], caracterizam
essa vogal como baixa e central. Notamos ainda que os lábios estejam abertos.
Vamos agora refletir sobre os movimentos necessários para a produção do ‘u’ final da
palavra ‘sagu’. Nesse caso, a parte posterior da língua (o dorso) deve fazer um
movimento para cima e para trás, o que caracteriza essa vogal como alta e posterior
(note que “posterior” aqui significa movimento “para trás”, indo dos lábios para o fundo
da boca). Se você quiser perceber ainda mais como se modifica a configuração de
língua e lábios para a produção de vogais distintas, pronuncie em voz alta a sequência
[i, u].
Perceba que, para a produção de [i], você tem os lábios estirados e a língua
anteriorizada. Quando você produz [u], o dorso da língua faz o movimento para trás e
os lábios se prolongam, aproximando se. Faça isso com outras vogais e perceba quais
modificações ocorrem. Já refletiu? Então, vamos voltar para a palavra ‘sagu’. Sua
representação sonora será [saˈgu]; o símbolo [ˈ] identifica a sílaba tônica e deve
precedê-la. Pronuncie desta vez a palavra ‘tala’. Observe como a pronúncia do
primeiro ‘a’ é diferente da produção do segundo ‘a’ dessa mesma palavra. Essa
diferença tem a ver com a proeminência dada ao primeiro ‘a’, que pertence a uma
sílaba acentuada [a], parecendo nesse caso ter uma pronúncia mais “clara” do que a
do segundo ‘a’.
Por conta disso, transcrevemos foneticamente a palavra ‘tala’ como [ˈtalɐ],
indicando com símbolos diferentes os dois sons distintos de ‘a’. Note que colocamos
novamente um pequeno sinal [ˈ] antes da sílaba acentuada – lembre-se que esse sinal
marca justamente a maior proeminência dessa primeira sílaba, ou seja, a sílaba
acentuada. Tomemos mais um caso que a palavra, na maioria das regiões do Brasil,
é realizada como uma vogal, ou seja, é vocalizada. Por exemplo, as palavras ‘sal’ ou
‘bolsa’ são pronunciadas como [ˈsaw] e [ˈbowsɐ], respectivamente. (O símbolo [w] soa
como o som do grafema). Mas poderíamos ter como pronúncia desse ‘l’ final das
palavras o som [ɫ], produzido, por exemplo, em regiões do Rio Grande do Sul; essa
produção, chamada de velarizada, soa como um ‘l’ realizado com a sensação de que
a língua se volta para trás, e assim podemos produzir, por exemplo, [ˈsaɫ] e [ˈboɫsɐ].
A diferença entre essas pronúncias tem a ver com a sequência de movimentos
articulatórios relacionados à produção de laterais que explicitaremos mais adiante no

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capítulo “Fonética”. O que vimos nesses últimos parágrafos são exemplos de
realização dos sons distintos, levando em consideração modificações que acontecem
no trato vocal, ou seja, que são identificados a partir de uma descrição dos parâmetros
fisiológicos dos nossos articuladores. Considerando os diferentes falares que
encontramos no Brasil, certamente somos capazes de dizer se um indivíduo é
nordestino ou carioca, além de sermos capazes de dizer rapidamente se determinado
som produzido pertence ou não à nossa língua.
Essa capacidade que temos de discriminar falares como sendo de uma região
e não, de outra, ou de identificar um som como sendo da nossa língua materna ou
não, é objeto de pesquisa da Fonética Auditiva ou Perceptiva. Essa linha da Fonética
tenta entender como os sons são tratados no aparelho auditivo e como são
decodificados pelo nosso cérebro (ou pela nossa mente). Quando, por exemplo, os
foneticistas (aqueles que pesquisam sobre Fonética) querem estudar mais a fundo as
características dos sons da fala, eles gravam os informantes, e as gravações são
analisadas fisicamente, ou seja, são analisadas as propriedades do sinal sonoro com
o arcabouço teórico da Física.
Nesse caso, a produção sonora será investigada com o auxílio de
equipamentos tecnológicos e vai ser avaliada a partir de parâmetros acústicos;
estamos assim adentrando a Fonética Acústica. Se tomarmos os mesmos exemplos
anteriores de pronúncia do ‘a’ ou a vocalização/velarização do ‘l’ poderá analisar
esses sons através de analisadores espectrais, usando recursos digitais. Poderemos
ainda visualizar esses sons a partir de seus pulsos glotais (da vibração das pregas
vocais) ou a partir das frequências de ressonância emitidas pelo trato oral geradas na
produção dos diferentes sons de ‘a’, como exemplifica a Figura.

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Fonte: www.infoescola.com

Figura 1: Sinal acústico da vogal [a] na palavra ‘pata’ ([ˈpatɐ]). No círculo, uma
vibração das pregas vocais ou, mais tecnicamente, um pulso glotal, referente à vogal
[a] da sílaba acentuada ([ˈpa]).
Toda essa informação tirada do sinal acústico nada mais é do que o registro do
que foi falado e é fruto de um processo que começa com o ar saindo dos pulmões.
Tentando explicar de uma maneira bem simples: os sons da maioria das línguas
naturais, como os dos portugueses brasileiros, nascem a partir do momento em que
o ar sai dos pulmões; a contração dos pulmões gera a expulsão do fluxo de ar que faz
vibrar as pregas vocais; esse fluxo de ar, passando pelas pregas vocais, excita o trato
vocal que funciona como uma caixa ressoadora e amplifica as frequências naturais
desse tubo (o trato vocal), gerando os sons que ouvimos.
O paulista, o sulista, os nordestinos falam de maneira distinta, mas isso não
implica impossibilidade de comunicação. Um bom exemplo para entendermos melhor
onde atua a Fonética e a Fonologia é o processo de palatização que ocorre na
produção das palavras ‘tia’ e ‘dia’. Vamos explicar melhor: se um carioca produzir as
palavras ‘tia’ e ‘tapa’, você irá perceber que o ‘t’ que inicia essas palavras é produzido
de uma forma particular. Diante de [i], esse ‘t’ terá um ruído, uma fricção, que não
ocorre quando o carioca produz o ‘t’ da palavra ‘tapa’. Diz-se, então, que para
diferenciar palavras no português (não são fonemas, portanto), já que [t]ia e [tS]ia têm

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o mesmo significado em PB. Como pudemos observar até agora, a Fonética está
preocupada em descrever articulatoriamente, percentualmente ou acusticamente as
produções que ocorrem de fato. Vimos também que as produções das palavras do
português brasileiro exibem muitas variantes.
Além disso, notamos que, mesmo algumas vezes havendo muitas diferenças
entre as produções, há compreensão entre os falantes. A Fonologia, no entanto, não
está preocupada em descrever ou identificar as variantes no fluxo contínuo da fala.
Sua preocupação é tratar de sons que distinguem o significado das palavras, além de
organizar, postular regras e entender como se dá a variação na realização efetiva dos
sons. É claro que, para fazer isso, precisamos nos apoiar em algumas propostas
teóricas e cada teoria pode explicar as variações de sua própria maneira.
Então, uma análise fonológica deve ter uma teoria subjacente. Porém, nem
sempre uma única teoria dará conta de explicar todos os fenômenos de uma
determinada língua. É consenso que a fala tem como principal objetivo o aporte de
significado, mas, para que isso ocorra, ela deve se constituir em uma atividade
sistematicamente organizada. O estudo dessa organização, que é dependente de
cada língua, é considerado Fonologia. Assim, a Fonologia pode ser vista como a
organização da fala de línguas específicas segundo os postulados de uma dada
teoria. Logo, poderíamos dizer que uma descrição de como segmentos vocálicos
(vogais) individuais podem ser produzidos e percebidos seria fornecida pela Fonética,
já uma descrição das vogais ou do sistema vocálico do PB seria proporcionada pela
Fonologia. Vamos a mais alguns exemplos do que se pode investigar sobre o
português brasileiro nesses dois campos de estudo que se complementam
mutuamente.
Antes de mais nada, é preciso relembrar que, quando falamos de vogais e
consoantes, referimo-nos a sons e não a letras. Assim, palavras como ‘cassado’
[kaˈsadʊ] e ‘caçado’ [kaˈsadʊ] possuem foneticamente as mesmas consoantes e
vogais, apesar de serem grafadas com letras e grafemas diferentes. Por sua vez,
palavras como (o) ‘olho’ (substantivo) e (eu) ‘olho’ (verbo) ([ˈoʎʊ] e [ˈɔʎʊ],
respectivamente) apresentam foneticamente vogais diferentes, mesmo sendo
grafadas com letras iguais. E ainda, como já vimos, a diferença entre [z] e [s] está na
vibração ou não das pregas vocais, encontradas na laringe, como se percebe nas
palavras ‘caça’ [ˈkasɐ] e ‘casa’ [ˈkazɐ], respectivamente. Isso pode ser alargado para
a observação atenta de que, na grafia das palavras ‘mesmo’ [ˈmezmʊ] e ‘mescla’

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[ˈmɛsklɐ], a letra ‘s’ corresponde a dois sons diferentes, conforme pode ser observado
nas respectivas transcrições fonéticas. Isso se deve à característica de vibração das
pregas vocais (ou, mais tecnicamente, de vozeamento) da consoante que segue a
letra ‘s’.
No primeiro caso, o da palavra ‘mesmo’, a consoante que a segue é [m] que é
produzida com a vibração das pregas vocais (ou seja, ela é sonora ou, usando um
termo da área de acústica, ela é vozeada) e, no segundo caso, o da palavra ‘mescla’,
que tem na sequência o [k], ele é produzido sem a vibração das pregas vocais (é uma
consoante surda ou não vozeada). Assim, no primeiro caso, da palavra ‘mesmo’,
teremos [z] que assimilou a sonoridade do som [m] que o segue, e no segundo caso,
da palavra ‘mescla’, temos [s], que é surdo, como o som [k] que o segue. Basta
entendermos que palavras grafadas com o mesmo grafema, no caso, podem ter esse
grafema sendo produzido de maneira distinta a partir de um processo natural da fala
e assim adquirir valores fonéticos distintos.
No caso deste grafema, a “modificação” se deu por influência do som que o
sucede: em ‘mesmo’, o se realizou como [z], ou seja, como sonoro, porque depois
dele havia um [m] que se realiza com vibração das pregas vocais. O trato vocal já se
antecipa e se configura para atender a demanda do [m] e o ‘s’ assimila o vozeamento.
Para um último exemplo, podemos verificar também, a partir de estudos apropriados
desenvolvidos no âmbito da Fonética, que vogais diante das consoantes [d] e [g] são
mais longas do que diante das consoantes [t] e [k], por exemplo, em palavras como
‘coda/gota’ ([ˈkɔdɐ]/ [ˈgotɐ], respectivamente). Aquelas que dizem respeito às medidas
de duração de vogais diante de certas consoantes ou ao comportamento da laringe
durante o vozeamento e as suas consequências acústicas são julgadas abordagens
mais fonéticas do que fonológicas.
Por sua vez, aquelas que tentam identificar as características que distinguem
as vogais do português brasileiro; classificar os sons como vozeados e não vozeados;
formular regras que têm por objetivo estabelecer padrões de vozeamento de
consoantes surdas diante de consoantes sonoras; ou ainda classificar os sons como
fonemas de uma determinada língua ou apenas variantes de um determinado fonema,
são julgadas abordagens mais fonológicas do que fonéticas. Você se lembra da
explicação dada para a modificação de [s] em [z] na palavra ‘mesmo’? A partir do
momento que entendemos que essa modificação é sistemática, ou seja, que todo som
[s] diante de um som vozeado se torna sonoro por um processo de assimilação de

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vozeamento, estamos montando uma regra, organizando o nosso conhecimento, e
então estamos entrando nos domínios da Fonologia.
Por isso, a dificuldade de separar as duas disciplinas, que se imbricam e se
justificam a todo momento. Parece que podemos considerar então que os foneticistas
lidam com medidas precisas, amostragem do sinal de fala, estatísticas, enquanto os
fonólogos lidam com a organização mental da linguagem, com as distinções sonoras
concernentes a línguas em particular, identificando os sons que servem para distinguir
uma palavra de outra, ou as regularidades de distribuição dos sons captadas a partir
daquilo que o falante produz, ou ainda os princípios que determinam a pronúncia das
palavras, frases e elocuções de uma língua. Outra tentativa de diferenciar Fonética e
Fonologia estãorelacionadas à característica de universalidade concedida à Fonética,
uma vez que ela trataria de aspectos mais gerais da produção dos sons da fala,
enquanto a Fonologia trataria de aspectos mais específicos das línguas naturais em
particular.
No entanto, essa tentativa cai por terra quando pensamos que mesmo a
Fonologia tem procurado estabelecer notações e terminologias universais para
descrever a organização sonora de várias línguas do mundo. E, mesmo sob um
enfoque mais fonético, tem-se estudado articulatória e acusticamente segmentos de
línguas específicas, não somente características gerais. Ainda outra maneira de
diferenciar Fonética de Fonologia está relacionada ao fato de que estudiosos da
Fonética analisam como se dá a articulação de um segmento (a Fonética Articulatória)
ou que parâmetros acústicos caracterizam um determinado sinal de fala (a Fonética
Acústica) ou ainda como esse sinal de fala é percebido pelos ouvintes (Fonética
Perceptiva).
A Fonética é então empirista porque se apoia na experiência da fala, todavia,
tanto a investigação de sistemas linguísticos quanto a investigação da organização
mental da fala realizada pela Fonologia, também são baseadas na observação.
Devido à reflexão que acabamos de apresentar, vamos dizer que a separação que
faremos neste livro da Fonética e da Fonologia serve apenas como apoio didático para
uma apresentação mais clara de todos os aspectos envolvidos na construção de
significados sob esses dois olhares. Como adiantamos anteriormente, a língua que
será evidenciada pela Fonologia será o português brasileiro, e as características
fonéticas discutidas também serão referentes a essa língua.

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3.1 Fonética

Fonte: www.brasilescola.uol.com.br

Os sons vocais são, portanto, a base da nossa fala e compreendê-los é uma


tarefa importante para os profissionais da linguagem. Assim, criou-se uma ciência
para estudá-los: a Fonética, que você vai começar a estudar nesse curso. A Fonética
é um dos campos de investigação da ciência da linguagem – a Linguística – que tem
como objeto de estudo os sons da fala e como objetivo compreender de que forma
esses sons são produzidos pelo aparelho fonador humano, as suas características
físicas e como se dá a percepção desses sons pelo nosso aparelho auditivo.
Esse triplo objetivo faz surgir respectivamente três ramos de estudo da fonética:
a fonética articulatória, a fonética acústica e a fonética perceptiva ou auditiva. Essa
divisão está diretamente relacionada com a natureza do ato comunicativo. Como já
deve ser do seu conhecimento, qualquer ato de comunicação envolve, pelo menos,
os seguintes elementos: a pessoa que fala (falante/ emissor/enunciador), a pessoa
que ouve (ouvinte/receptor) a mensagem que ela transmite o código no qual a
mensagem está cifrada (a língua) e o canal ou meio físico que leva a mensagem do
falante até o ouvinte. Pois bem, pensando neste esquema de comunicação podemos
ver que o estudo dos sons da fala pode ser feito focalizando algum elemento deste
esquema.
São basicamente três os elementos focalizados: o emissor, o meio físico e o
receptor. Quando o som é estudado do ponto de vista do emissor, procura-se explicar

18
como ele é produzido e as características que ele tem em decorrência da sua forma
de produção.
É o que de faz em fonética articulatória – Área que se dedica ao estudo da
anatomia e da fisiologia da produção da fala, ou seja, descreve e observa a forma
como os sons da fala são articulados pelo aparelho fonador. Inclui alguns orgãos que
são simultaneamente comuns ao aparelho respiratório e ao aparelho digestivo, e que
são responsáveis pela articulação da fala humana. Sendo a maior parte dos sons das
línguas, produzidos no momento da expiração. O ar sai dos pulmões percorre os
brônquios, a traqueia e a laringe, até que encontra as cordas vocais na glote. Se essas
membranas estiverem abertas, os sons articulados são surdos ou não vozeados,
como a consoante (S) da palavra (chá).
Em seguida, o ar passa pela faringe e encontra outro órgão que influencia a
produção sonora: o véu platino. Este órgão é responsável pela produção de sons
nasais. Se for levantado, fecha a cavidade nasal, conduzindo o ar apenas pela
produção de sons nasais. Se for levantado, fecha a cavidade nasal, conduzindo o ar
apenas pela cavidade oral. Assim, se produzem os sons orais (p), (b), (k), etc, que
constituem a maioria dos sons da fala. Se, pelo contrário, o véu palatino estiver
baixado, o ar sai simultaneamente pelas cavidades oral e nasal, produzndo-se sons
nasais, como as vogais nasais e as oclusivas nasais (m), (n) e (N).
Área da fonética que se dedica ao estudo dos processos de audição da fala
humana e de procesamento das suas características pelo cérebro humano. Estuda
também a anatomia e fisiologia do ouvido humano, a forma como são recebidas as
ondas sonoras e como elas são conduzidas pelos neurônios ao cérebro, onde são
finalmente processadas e reconhecidas. Quando o som é estudado do ponto de vista
do receptor, procura-se explicar como os sons são percebidos pelo ouvido humano, é
a fonética receptiva. Por último, quando estudamos o som levando em consideração
o seu aspecto físico, estuda-se a onda sonora para explicar as características físicas
dos sons da fala importantes e necessárias para o funcionamento da linguagem.
Área da fonética que se dedica às propriedades acústicas dos sons da fala,
analisando tipos de ondas sonoras que a compõem, a sua produçaõ e propagação,
os filtros que a modificam, ressoadores que a amplificam, etc. A fonética acústica
recorre a instrumentos de análise e de observação das características físicas dos
sons, análise essa que atualmente pode ser feita por ferramentas computacionais de
análise de sinais de fala. Este domínio da fonética estuda propriedades físicas como

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as durações, os tipos de frequencias formantes, o tom, a intensidade com que são
produzidos os sons, a amplitude das ondas e a energia.
Resumindo, a Fonética é a parte da Linguística que estuda os sons da fala.
Subdivide- -se em três ramos de estudo: fonética articulatória – estudo dos sons da
fala do ponto de vista de sua produção pelo aparelho fonador; fonética auditiva ou
perceptiva – estudo dos sons da fala do ponto de vista de sua percepção e fonética
acústica – estudo das propriedades físicas dos sons da fala.
O termo ‘Fonética’ pode significar tanto o estudo de qualquer som produzido
pelos seres humanos, quando o estudo da articulação, da acústica e da percepção
dos sons utilizados em línguas específicas. No primeiro tipo de investigação, torna-se
evidente a autonomia da Fonética em relação à Fonologia. No segundo tipo de
investigação, porém, as relações entre as duas ciências se tornam patentes.
A Fonética é o estudo dos aspectos acústicos e fisiológicos dos sons efetivos
(reais) dos atos de fala no que se refere à produção, articulação e variedades. Em
outras palavras, a Fonética preocupa-se com os sons da fala em sua realização
concreta. Quando um falante pronuncia a palavra 'dia', à Fonética interessa de que
forma a consoante /d/ é pronunciada: /d/ /i/ /a/ ou /dj/ /i/ /a/.
Fonética se diferencia da Fonologia por considerar os sons independentes das
oposições paradigmáticas e combinações sintagmáticas.
Observe no esquema:

1- Oposições paradigmáticas: aquelas cuja presença ou ausência implica em


mudança de sentido.

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Combinações Sintagmáticas: arranjos e disposições lineares no contínuo
sonoro. Troca na posição dos fonemas entre si. Ex: Roma, amor, mora, ramo.

3.2 - Fonologia

Fonte: www.mundoeducação.bol.uol.com.br

A Fonética, ao estudar os sons da fala, tem como objetivo descrever suas


características articulatórias e acústicas, bem como compreender como estas
características são percebidas pelo ouvido humano. A Fonética estuda, portanto, os
sons da fala independente das funções que possam desempenhar nas línguas. Você
aprendeu, por exemplo, que do ponto de vista articulatório o som [p] é uma consoante
oclusiva, bilabial, desvozeada.
Essa caracterização do som [p] independe de se ele é um som da língua
inglesa, da língua portuguesa ou da língua alemã. A Fonologia, ao contrário da
Fonética, estuda os sons para compreender como eles se organizam em uma língua,
de modo particular, e nas línguas de modo geral. À Fonologia interessa saber que
função o som [p] desempenha na língua inglesa, na língua portuguesa, na língua
alemã ou em qualquer outra língua em que ele venha a ocorrer.

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Observe os exemplos abaixo:

No primeiro grupo de exemplo, temos a vogal [a] (baixa, central, oral) em 'cato
e a vogal [ə] (média, central, nasal) em 'canto'. São vogais foneticamente diferentes e
essa diferença fonética é suficiente para indicar a diferença de significado entre as
duas palavras. Em outros termos, é a alternância entre essas duas vogais que nos
leva a interpretar cada cadeia sonora como significando coisas diferentes. Compare,
agora, a ocorrência de [a] e de [ə] na primeira sílaba da palavra 'camada’, no segundo
grupo dos exemplos. Veja que no primeiro caso ocorre a vogal [ a ] e no segundo,
ocorre a vogal [ ə]. Do ponto de vista fonético, são vogais diferentes comono segundo,
ocorre a vogal [ ə] em 'cato' e 'canto', mas a diferença entre elas, no caso de 'camada',
não cria diferença de significado.
Assim, podemos constatar que, dependendo do contexto em que ocorrem,
vogais orais e vogais nasais têm um funcionamento diferente na língua portuguesa,
funcionam em nossa. Nessa breve análise, vimos como dois sons, [ a ] e [ ə] língua
e podemos expandir esse raciocínio para as línguas de modo geral entendendo que
os sons funcionam de forma diferente de uma língua para outra. Isso significa que
duas línguas podem ter os mesmos sons, mas ainda assim elas serão diferentes
porque os sons funcionarão de forma diferente em cada uma delas e é isso que vai
constituir a fonologia de cada uma.
A estrutura fonológica de uma língua é determinada pelo modo como os sons
estão organizados, ou seja, como eles se combinam para formar as sílabas e as
palavras e como eles funcionam para distinguir os significados.
Observe e analise os exemplos abaixo.

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Os sons [ t ] e [ tʃ ] fazem parte tanto do conjunto de sons da língua portuguesa
quanto da língua inglesa. Contudo, o funcionamento deles é diferente em cada uma
dessas línguas. Em inglês, eles são empregados para diferenciar o sentido das
palavras (veja os exemplos acima), já em português, não. Em português [ 'tiɐ ] e [ 'tʃiɐ
] são formas diferentes de se pronunciar a mesma palavra em dialetos diferentes.
Podemos concluir que a Fonética descreve os sons da fala em termos de suas
características físicas.
Tem, portanto, um caráter descritivo e baseia-se nos processos de produção e
de percepção dos sons da fala. Já a Fonologia tem um caráter interpretativo, isto é,
interpreta os resultados obtidos por meio da descrição fonética estudando a função
que os sons desempenham nos sistemas sonoros das línguas. Tem por base,
portanto, o valor dos sons em uma língua particular. Identificar os sons e estabelecer
o sistema fonético de uma língua é objetivo de um estudo fonético. Fazer o
levantamento dos sons que têm função opositiva e distintiva, estabelecendo o sistema
fonológico de uma língua é o objetivo de um estudo fonológico.
Analisar fonologicamente uma língua é analisar os sons (segmentais e
suprassegmentais) que a constituem para descobrir como eles se combinam para
formar as sílabas, as unidades mínimas significativas (os morfemas) e,
consequentemente, a palavra, bem como para explicitar de que forma esses sons são
utilizados para distinguir o significado das palavras.
A Fonologia é o estudo dos Fonemas (os sons) de uma língua. Para
a Fonologia, o fonema é uma unidade acústica que não é dotada de significado. Isso
significa que osfonemas são os diferentes sons que produzimos para exprimir nossas
ideias, sentimentos e emoções a partir da junção de unidades distintas. Essas
unidades, juntas, formam as sílabas e as palavras.
A palavra 'Fonema' tem origem grega (fono = som + emas = unidades distintas)
e representa as menoresunidadessonoras que formam as palavras. As palavras são
a unidadebásicadainteraçãoverbal e são criadas pela junção de unidades
menores: assílabaseossons,nafala, ou as sílabas e letras, na escrita.
Os fonemas são classificados em vogais, semivogais e consoantes. Essa
classificação existe em virtude dos diferentes tipos de sons produzidos pela corrente
de ar que sai dos nossos pulmões e é liberada, com ou sem obstáculos, pela boca
e/ou pelo nariz.

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4 ANATOMIA E FISIOLOGIA DA FALA

Fonte: www.slideshare.net

A anatomia humana é o campo da Biologia responsável por estudar a forma e


a estrutura do organismo humano, bem como as suas partes. O nome anatomia
origina-se do grego ana, que significa parte, e tomei, que significa cortar, ou seja, é a
parte da Biologia que se preocupa com o isolamento de estruturas e seu estudo. A
anatomia utiliza principalmente a técnica conhecida como dissecação, que se baseia
na realização de cortes que permitem uma melhor visualização das estruturas do
organismo. Essa prática é muito realizada atualmente nos cursos da área da saúde,
tais como medicina, odontologia e fisioterapia.
A anatomia da laringe propriamente dita é composta por ossos, cartilagens,
músculos, membranas, ligamentos e mucosa. O conhecimento da anatomia e da
fisiologia do aparelho vocal é fundamental para o raciocínio clínico do terapeuta no
tocante à conduta terapêutica do sujeito. A Laringe está situada na extremidade
superior da traqueia e na região infra hioidea, logo abaixo da faringe. Está localizada
na linha média, sua estrutura é ímpar e formada por um arcabouço
musculocartilaginoso. Na parte anterior da laringe, facilmente palpável ao colocar os

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dedos na linha mediana do pescoço tem-se a incisura tireóidea, onde estão
localizadas posteriormente as pregas vocais.
As estruturas da laringe são derivadas do II, III, IV, V e VI arcos branquiais e
cada arco branquial é composto pelos três folhetos embrionários: endoderma,
mesoderma e ectoderma (Tucker, 1993 apud Behlau et. al, 2001) Sua formação está
entre a 4ª e 10ª semana do desenvolvimento e é nesse período que a laringe está
sujeita a sofrer alterações. É interessante ressaltar que nós não possuímos um
aparelho próprio para a produção da voz. O aparelho fonador é constituído por órgãos
do aparelho respiratório, como os pulmões, e por órgãos do aparelho digestivo, como
a cavidade oral, a boca.
A seguir, encontramos uma representação do aparelho fonador:
Imagem I:

Fonte:www.letronomia.blogspot.com.br

No processo de produção da fala, o ar expelido pelos pulmões atravessa a


traqueia e encontra as cordas vocais na laringe. Caso as cordas vocais estejam
fechadas, haverá uma pressão exercida por esse ar regressivo (que sai dos pulmões)
e ocorre a vibração das cordas vocais. Mira Mateus (et al. 2005) nos adverte que em
algumas línguas ocorre a produção de sons feitos com o ar ingressivo, o que entra

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nos pulmões. Esses sons são conhecidos como cliques (é como aquele som que
produzimos, no português brasileiro, para demonstrarmos insatisfação com algo. Esse
som é representado pela onomatopeia tsctsc. Se lembram?)
Bom, mas na maior parte das línguas os sons são produzidos justamente pela
vibração efetuada nas cordas vocais pelo a regressivo. Essa vibração produz o som
que conhecemos como voz. A partir desse ponto, o som produzido, sendo propagado
através do ar, encontra-se com o trato vocal, a parte formada pela faringe, boca (trato
oral) e pelas fossas nasais (trato nasal). Como cada pessoa possui uma anatomia
diferente, um formato diferente para cada um desses órgãos e mesmo pela
constituição das cordas vocais, cada um possui uma voz diferente da outra pessoa.
Observe abaixo uma imagem que retrata as cordas vocais:

Imagem II

Fonte:www.plus.google.com

As cordas, ou pregas vocais, são esses filamentos embranquecidos que, sendo


flexíveis, podem se encontrar abertos ou fechados. Essa abertura ou fechamento das
cordas vocais está estritamente relacionada à produção de sons surdos e sonoros.

4.1 Estruturas de Sustentação da Laringe

O osso hioideo é uma estrutura de sustentação da base da língua e a estrutura


de ligação de alguns músculos extrínsecos da laringe. Logo, o osso hioideo suspende
a laringe por meio desses músculos, no entanto, não é um osso integrante da armação
laríngea.
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Fonte: www.todamateria.com

Esse osso tem a forma da letra grega ípsilon minúscula (υ) parece com o nosso
“u” e não está ligado a qualquer outra estrutura óssea, na verdade, o osso hioideo
mantém-se suspenso por um sistema de músculos e ligamentos, que fazem dele uma
estrutura totalmente móvel.
As musculaturas da língua e do mento ligam-se ao osso hioideo por cima e pela
frente, ao passo que os músculos e ligamentos pertencentes ao osso temporal
aproximam-se do osso hioideo por cima e por trás. Já os músculos extrínsecos da
laringe, da clavícula e do externo chegam ao osso hioideo por baixo.
Os músculos extrínsecos da laringe são os músculos esterno tireóideo, os
músculos tiro hioideos e os músculo constritor inferior da faringe. O primeiro é
responsável levar a cartilagem tireoide para baixo, o músculo tiro-hioideo aproxima a
cartilagem tireoide do osso hioideo, já o músculo constritor inferior da faringe tem sua
atividade principal durante a deglutição e na fala forma a cavidade de ressonância
vocal.
Esse conjunto de músculos que suspendem o osso hioideo é denominado por
músculos supra-hioideos.

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Os músculos supra-hioideos são os músculos elevadores da laringe (o
digástrico, o estilo-hioideo, o milo-hioideo, o gênio-hioideo, o hioglosso e o
genioglosso). Os músculos hioglosso e o genioglosso são os músculos da língua e
podem influenciar a laringe indiretamente.

Fonte: www.todamateria.com

Os músculos infra-hioideos localizam no pescoço, abaixo do osso hioideo. As


funções desses músculos são abaixar o osso hioide e a laringe, além de fixar o osso
hioide para que o músculo supra hioideos atuem abaixando a mandíbula. São
conhecidos como "abaixadores indiretos" da mandíbula.
A função dos músculos supra hioideos são: o músculo estilo-hioideo eleva e
retrai o osso hioideo; o digastrico eleva o osso hioideo e abaixa a mandíbula; o
músculo milo-hioideo eleva e projeta o osso hioideo e a língua; já o músculo gênio-
hioideo puxa a língua e o hioideo para frente. Os músculos infra-hioideos são o
esterno-hioideo, o omo-hioideo e o esterno tireoideo.

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4.2 Estruturas Cartilaginosas da Laringe

Existem nove cartilagens laríngeas, sendo três cartilagens ímpares, uma


cartilagem par principal e duas outras cartilagens acessórias.

Fonte: www.todamateria.com

As cartilagens ímpares são a tireoide, a cricóide e epiglote:


a) Tireoide: é a maior cartilagem da laringe, é única e tem a forma de um
livro aberto para trás, parece o formato de um escudo com duas lâminas
laterais, de forma quadrangular, e dois pares de cornos posteriores. O
limite superior externo encontra-se uma das lâminas, encontra-se uma
depressão conhecida como linha oblíqua, onde está inserido alguns
músculos laríngeos como o tíreo-hioideo, esterno-hioideo e o músculo
constritor inferior da faringe. Essa proeminência laríngea é conhecida
vulgarmente como "pomo de Adão". O ângulo entre as duas lâminas é
diferente para cada sexo. Nos homens, o ângulo está por volta de 90º
enquanto que nas mulheres, o ângulo é maior, logo mais aberto, por volta
de 120º. Isso vai interferir na fisiologia vocal, pois ao mesmo tempo em
que influencia no tamanho das pregas vocais, contribui para definir a
frequência da vibração das pregas vocais.

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b) Cricoide: essa cartilagem tem um formato circular, parecido com um
anel. A região anterior é mais estreita, já a região posterior é mais larga e
mais elevada. Situa-se logo abaixo da tireoide, onde está ligada pela
membrana crico-tireoidea e possui formato de anel, cujo engaste está
voltado para trás. E está localizada logo acima do primeiro anel da traqueia.
Também existe uma variação entre os sexos no tocante ao formato da
cartilagem, nos homens é ovoide e nas mulheres é circular.
Não se pode confirmar se a fenda posterior, comumente encontrada nas
pregas vocais femininas, está relacionada com o formato circular da
cartilagem cricoide nas mulheres.

c) Epiglote: é uma cartilagem única em forma de folha. Está localizada no


orifício superior da laringe, fixa-se através de um ligamento na superfície
medial da cartilagem tireóidea, na junção anterior de suas lâminas, o
chamado pecíolo da epiglote.
A função da epiglote é proteger as vias aéreas inferiores durante a
deglutição, por meio do abaixamento e do fechamento do adito laríngeo.
Durante a infância, essa cartilagem encontra-se mais fechada passando a
ter uma configuração mais aberta na puberdade. Embora a epiglote
movimenta-se bastante durante a fala, a cartilagem tem pouca participação
na produção vocal propriamente dita.

As cartilagens pares são as aritenoideas e as acessórias, as corniculadas


e as cuneiformes:

d) Aritenoideas: são duas pequenas cartilagens, uma para cada lado, em


forma de pirâmide triangular de grande eixo vertical, situa-se na margem
inclinada da cartilagem cricoide. As cartilagens aritenoideas são
responsáveis pela função fonatória e respiratória. Elas possuem uma forma
geométrica piramidal: um ápice, três faces verticais e uma horizontal. A base
de cada cartilagem aritenoidea tem três ângulos: na região mais anterior
está o processo vocal; o ângulo póstero-lateral projeta-se para fora da
laringe e recebe o nome de processo muscular (onde se insere diversos

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músculos que veremos adiante como o cricoaritenoideo posterior (CAP) e o
cricoaritenoideo lateral (CAL)). O ligamento vocal, uma parte importante das
pregas vocais, está inserido no processo vocal.

Fonte: www.todamateria.com

e) Corniculadas: é uma cartilagem acessória, do tipo elástico-brancas, e


também denominadas de cartilagens de Santorini (nomenclatura antiga).
Estão localizadas nos ápices das cartilagens aritenóideas e lembra a forma
de corno, por isso o nome de cartilagens corniculadas. No ser humano, elas
são estruturas vestigiais.

f) Cuneiformes: antigamente era conhecida por cartilagens de Wrisberg. Elas


têm forma de cunha e são do tipo elásticas, e estão incrustadas nas pregas
ariepiglóticas. As cartilagens cuneiformes proporcionam a sustentação para
as pregas ariepiglóticas, provavelmente auxiliam na constrição supra glótica

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anteroposterior (o fechamento do adito da laringe pelo abaixamento da
epiglote).

Distúrbios da linguagem são comuns na clínica neurológica de adultos devido


à alta frequência de doenças vasculares cerebrais. A Unidade de Neurologia Clínica
do Hospital Nossa Senhora das Graças fez um raro projeto de pesquisa na área de
infartos cerebrais, que se presta até hoje para discussões sobre o sempre atual tópico
da linguagem. Antes, é importante introduzir o conceito de lateralidade da função
cerebral. O hemisfério cerebral dominante é localizado no lado oposto a aquele que o
ser humano prefere para atividades motoras. Nas pessoas destras é o esquerdo.
Esse conceito é só parcialmente correto para as pessoas sinistras, já que a
grande parte dessa são sinistra incompleta, e têm dominância também à esquerda.
Só naqueles que são completamente sinistros o hemisfério dominante será o direito,
uma minoria. Este conceito de dominância cerebral é clássico, da época que
considerava as funções verbais e de intelectualidade racional as mais importantes.
Além das ideias clássicas do século XIX, as disfunções neurológicas do
hemisfério dominante eram de mais fácil entendimento para os médicos da época,
como a linguagem. As lesões do hemisfério não dominante produzem dificuldade de
localização no espaço, distúrbios de emoções ou musicalidade. Esta definição de
dominância predomina até nossos dias por sua tradição. O hemisfério esquerdo é
ainda considerado o dominante, mesmo nos tempos do MMA, do twitter e do funk.
Na porção inferior e posterior da caixa craniana está o cerebelo, envolvido com
organização motora. Alterações de suas funções levam à falta de controle motor,
como dificuldade na marcha, in-coordenação de membros superiores e inferiores, de
língua, e da musculatura envolvida com a produção da palavra.
Alterações cerebelares levam a um distúrbio de articulação da palavra
(disartria). Nestes casos, a organização intelectual está intacta, e clinicamente o que
se nota é que o paciente “enrola a língua”. O caso típico é o bêbado. Junto com o
cerebelo, na parte inferior e posterior da caixa craniana, está o tronco cerebral, por
onde vão ao cérebro e voltam dele para o resto do organismo fibras nervosas
carregando todo tipo de informação e função.
Devido à grande convergência de fibras para uma estrutura de pequenas
dimensões como o tronco cerebral, qualquer lesão provoca uma sintomatologia
exuberante. Um infarto de tronco cerebral frequentemente leva o paciente a óbito, ou

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deixa sequelas, em geral são grandes, como paralisia de um ou ambos os lados do
corpo, alterações importantes de fonação, de deglutição, de respiração, de
movimentos oculares e faciais. Lesões no tronco cerebral produzem disartria, por
dificuldade na articulação da palavra.
O nome tronco cerebral foi dado devido à semelhança que esta estrutura tem
com vegetais, como árvores. O tronco cerebral é por onde circulam fibras que vão ou
vêm dos hemisférios cerebrais. Existem dois hemisférios cerebrais, o direito e o
esquerdo. Cada hemisfério cerebral é dividido em lobos frontal, temporal, parietal e
occipital. Os lobos occipitais controlam processos visuais. O lobo occipital esquerdo
“enxerga” o campo visual direito, composto por um hemi-campo nasal do olho
esquerdo e um hemi-campo temporal do olho direito.

Fonte: www.anatomiadocorpo.com

O lobo occipital direito controla o campo visual esquerdo, de maneira análoga.


Os lobos parietais têm função mais complexa. Na sua porção posterior, perto do lobo
occipital, estão áreas associativas, que controlam e integram processos visuais,
auditivos, sensoriais e de linguagem. Na sua porção mais anterior os lobos parietais
controlam a sensibilidade provinda de todo o organismo. O lobo parietal esquerdo
controla a sensibilidade do hemi-corpo direito e o direito do hemi-corpo esquerdo.

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Os lobos frontais também têm função complexa. Seus polos anteriores
controlam o nível de consciência, tanto em qualidade como em quantidade. As
diferenças de comportamento provocadas por lesões dos lobos frontais direito e
esquerdo são de difícil separação clínica. Nas suas porções posteriores existem as
áreas motoras, vizinhas às áreas sensitivas dos lobos parietais. Como com as outras
funções já descritas, a área motora do lobo frontal esquerdo controla o hemi-corpo
direito e a do lobo frontal direito o hemi-corpo esquerdo.
Na porção mais inferior da área motora do lobo frontal esquerdo fica o controle
da musculatura envolvida em deglutição e fonação (língua, boca, faringe e laringe).
Esta parte é envolvida com a articulação da fala, de maneira semelhante a regiões do
tronco cerebral. Lesões aí localizadas provocarão disartria, ou seja, distúrbios de
articulação da palavra falada.
Os lobos temporais têm contiguidade anatômica com os frontais, parietais e
occipitais. As funções do lobo temporal esquerdo são mais conhecidas do que as do
direito, por serem mais óbvias ao exame clínico. O lobo temporal esquerdo congrega
audição (percepção de sons de qualquer tipo, inclusive palavra falada) e o
processamento necessário para o entendimento da palavra falada ou escrita. O lobo
temporal direito parece ter uma função importante na compreensão de sons musicais,
além de também ter uma função auditiva.
Toda esta exposição sobre funções controladas por áreas cerebrais se
relaciona ao córtex, o manto de células que cobre os hemisférios. Por baixo dele está
a substância branca, composta de fibras que levam informações das células corticais
e outras localizadas por entre a substância branca, nos chamados gânglios de base,
que atuam como estações de transmissão e processamento de dados do córtex para
o tronco cerebral e vice-versa. Também localizados abaixo do córtex, acima do tronco,
vizinhas aos gânglios da base, e imersas na substância branca estão as estruturas
que compõe o chamado sistema límbico, que coordena comportamentos e emoções.
A fisiologia não obedece a padrões anatômicos como os já descritos. A
recepção da linguagem envolve audição de sons, transformação destes em padrões
característicos de linguagem (palavra falada) ou visualização de caracteres e sua
posterior caracterização em termos de linguagem (palavra escrita). O lobo occipital
processa informações visuais e o temporal processa informações auditivas e ambas
convergem para uma área de associação localizada entre os lobos temporal, occipital
e parietal esquerdo. Estas informações são passadas através do fascículo arcuado

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para a região de expressão de palavra na porção mais inferior da área motora no
córtex frontal esquerdo.
Lesões restritas ao lobo temporal produzirão uma afasia (distúrbio de fala)
receptiva, ou seja, de recepção de palavra. Estes pacientes têm capacidade de
entender o que a eles é dito. Quando perguntamos a uma pessoa com tal tipo de
distúrbio, por exemplo, que dia é hoje, a pessoa pode responder que ontem comprou
um cachorro, da raça poodle, que é muito lindo, que tem três anos de idade, que as
crianças adoram o cachorro, etc., etc., etc.
Além da dificuldade para entender palavra falada, estes pacientes têm a
característica de falar excessivamente. O ritmo da palavra, a composição das frases,
e a articulação de cada palavra são corretas. Se ouvirmos uma dessas verborreias,
sem termos conhecimento de que foi perguntado ao paciente, teremos a impressão
de que nada de errado há com ele.
Se a lesão se restringe a região frontal de expressão da palavra, o paciente
terá uma afasia expressiva. Esta pode ser extrema, de maneira que o paciente não
consiga produzir nenhum tipo de som. Pode ser menos severa, e o paciente produzirá
sons ininteligíveis. Ou ainda menos severa quando o paciente produzirá palavras mal
pronunciadas. Nesses casos pode haver confusão com disartria. O distúrbio da fala
mais comum é misto, ou seja, nota-se um distúrbio tanto de recepção como de
expressão.
Isto porque o fascículo arcuado corre desde o córtex temporal (área receptiva),
através da substância branca do lobo parietal, até o córtex da porção inferior da área
motora do lobo frontal (área expressiva). Por sua extensão, é incomum que o fascículo
arcuado não seja lesado em tais pacientes. Os métodos de investigação para localizar
alterações morfológicas da estrutura cerebral são a tomografia computadorizada ou a
ressonância magnética.
O primeiro para urgências, e o segundo para detalhes, quando o paciente pode
ficar calmo durante longos períodos. As doenças cerebrovasculares isquêmicas, onde
há obstrução de artérias cerebrais, levam à necrose (morte) do tecido cerebral no
território irrigado por este vaso. O cérebro é suprido por duas circulações, a anterior e
a posterior. A circulação anterior é feita através das artérias carótidas direita e
esquerda, que correm da aorta torácica, através do pescoço e adentram a caixa
craniana por trás do ângulo da mandíbula. Logo após entrar no crânio cada artéria
carótida se divide em artérias cerebrais, anterior e média.

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A artéria cerebral anterior irriga a porção mais medial dos lobos frontal e
parietal. A artéria cerebral média, de calibre bem maior, irriga a porção lateral e inferior
do lobo frontal, a porção lateral e posterior do lobo parietal, e o lobo temporal na sua
quase toda totalidade. A circulação posterior é feita através das artérias vertebrais,
que, deixando a aorta torácica, correm por entre a coluna vertebral cervical e adentram
a caixa craniana pelo forame occipital. Logo a seguir as duas artérias vertebrais se
unem para formar a artéria basilar, que se situa anteriormente ao tronco cerebral e
suprem, além deste, o cerebelo.
Quando chega ao topo do tronco cerebral a artéria basilar se divide em duas
artérias cerebrais, posteriores, que suprem os lobos occipitais. Entre 1982 e 1985
cerca de 350 pacientes entraram neste Protocolo de Estudos em doenças cerebrais
vasculares isquêmicas. Um estudo semelhante a este só veio a ser replicado no Brasil
no século XXI, 30 anos depois, utilizando hospitais em dois estados ao mesmo tempo,
e, mesmo assim, com falhas metodológicas significantes.
Em média um paciente a cada três dias era admitido na Unidade de Neurologia
Clínica com um quadro de falta de vascularização cerebral. Esta pode ser transitória
e reversível (ataque isquêmico transitório), ou definitiva (infarto cerebral). Em 1983,
com o objetivo de apresentar dados no Congresso Pan-americano de Neurologia, em
Buenos Aires, dados iniciais em 119 casos coletados até a época foram estudados de
maneira estatística. Dos 119 pacientes, 71 foram do sexo masculino mostrando uma
predominância de em torno de 60% dos casos para este sexo. Estes valores estão de
acordo com estudos em outros países, demonstrando que o sexo feminino é menos
predisposto a doenças vasculares cerebrais isquêmicas.
A média de idade dos 119 pacientes foi de 59.5 anos, com desvio padrão de
35 anos. Novamente estes resultados corroboram dados de estudos internacionais,
mostrando que é na década dos 50 e 60 anos que ocorrem a maioria dos infartos
cerebrais. O grande desvio padrão, no entanto, mostra que esta patologia pode na
verdade ocorrer em qualquer idade, estando incluídos na casuística crianças de
menos de 10 e pacientes acima de 80 anos de idade.
Somente 13% dos pacientes apresentaram isquemia cerebral reversível, sendo
que nos outros casos os infartos ocorreram produzindo sequelas de maior ou menor
severidade. De especial interesse é o fato de que o território da artéria cerebral média
esquerda foi atingido em 35% dos casos, enquanto que o território da cerebral média
direita foi atingido em 17%, o das artérias cerebrais anteriores e posteriores

36
conjuntamente em 12%, o da artéria basilar em 7,5%. Áreas de múltiplas artérias
foram lesadas em 29% dos casos. Chegamos então à triste conclusão de que em mais
de 1/3 dos casos foi atingido o território nobre do hemisfério cerebral esquerdo, aquele
irrigado pela artéria cerebral média, que inclui as áreas de recepção e expressão da
palavra, além do fascículo arcuado, que conduz informações entre as duas áreas.
Desta maneira grande parte (mais de 1/3) dos pacientes com infartos cerebrais
têm algum déficit de linguagem após a instalação desta doença. Partindo de que esta
é a doença que mais comumente leva um paciente a ser internado em um serviço de
neurologia clínica, vemos a importância extrema desses resultados, mostrando que
doenças cérebro vasculares afetam de maneira importante a linguagem do ser
humano.
Dos 119 casos estudados, 15% foram a óbito, 6% permaneceram
incapacitados no leito com algum grau de afasia, 13% conseguiram deixar o leito,
porém permaneceram dependentes de familiares para funções básicas (alimentação,
troca de roupa, necessidades básicas) e 23% se tornaram independentes, porém
tinham algum déficit. 43% dos pacientes retornaram as suas atividades normais após
o evento vascular. Deve ser enfatizado que estes resultados são muito bons quando
comparados a hospitais onde não haja um serviço de neurologia ativo e bem
preparado do ponto de vista tecnológico.
Por exemplo, sem tomografia axial computadorizada não é possível utilizar
tratamento anticoagulante, que melhora em muito o prognóstico destas doenças. De
maneira que é de se esperar um número ainda maior de pacientes com sequelas
graves, frequentemente da linguagem, em hospitais menos estruturados. A
recuperação do déficit verbal produzido por infarto cerebral ocorre como aquela de
outros déficits neurológicos. O paciente que tem como resultado de seu infarto uma
afasia receptiva, expressiva ou mista, notará uma melhora expressiva com o passar
do tempo.
A maior melhora ocorre nas semanas imediatamente após o evento vascular.
Posteriormente, a melhora é muito mais lenta e o paciente atinge um “plateau”, após
o que não há mais progresso. É por este motivo que um tratamento agressivo na fase
aguda do evento vascular é recomendado. Mais recomendado ainda é que a classe
médica e a população em geral reconheçam que déficits transitórios de função
cerebral são da maior importância porque ocorrem antes de um infarto cerebral
definitivo. Infelizmente, isso não ocorre.

37
Desta maneira, pacientes que têm, como popularmente chamadas, “ameaças
de derrame”, não recebem tratamento adequado até que tenham tido o “derrame
final”, quando o que resta ao médico é remediar uma situação que poderia ter sido
evitada. Até este tempo nos concentramos no problema da linguagem, embora o tema
solicitado tenha sido “Linguagem e Mente”. Talvez a questão de mais difícil resposta
no momento científico é aquele referente a equação mente-cérebro.
Aqui emergem neurologia e psiquiatria, e por que não filosofia? Do ponto de
vista neurológico, mente é o produto final de todas as funções cerebrais, verbais,
intelectuais, emocionais e sensoriais. A mente não está localizada especificadamente
em nenhuma área cerebral. Novamente pacientes com infartos cerebrais se prestam
como modelo para estudo. O paciente que tem uma lesão na área de recepção ou de
expressão da palavra, terá uma alteração profunda no seu estado mental. Pacientes
que têm infartos no hemisfério direito, onde não há organização da palavra por si,
demonstram alterações mentais. Infartos em áreas de função visual criam uma nova
imagem corporal, ou do mundo, para o portador.
Nos portadores de infartos no território das artérias cerebrais anteriores é que
se nota uma maior alteração mental. Esses comumente se tornam desinibidos, com
euforia, ou, ao contrário, ficam introvertidos, com depressão. Essa alteração de estado
mental impede a recuperação de outras funções, como paralisias, afasias, ou déficits
visuais. Ocorre, no entanto, que grande parte do progresso observado em neurologia
nas últimas décadas se deve a uma aplicação de métodos objetivos, de estudos
controlados e análise estatística, a grupos de pacientes com alterações de função que
possam ser quantificadas. É bastante óbvio que é muito mais difícil quantificar
alterações mentais do que paralisias ou afasias, ou déficits visuais.

5 CRITÉRIOS DE CLASSIFICAÇÃO DOS SONS DA FALA

De acordo com a fonética articulatória, os sons produzidos na linguagem


humana são chamados fones ou segmentos. Esses sons podem ser divididos
basicamente em três grupos: consoantes, vogaisesemivogais(ouglides).

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6.1 Consoantes

As consoantes, ou segmentos consonantais, são sons produzidos com algum


tipo de obstrução no trato vocal, de forma que há impedimento total ou parcial da
passagem de ar. Esses sons são classificados de acordo com os seguintes critérios:

1) Modo de articulação
2) Lugar de articulação
3) Vozeamento
4) Nasalidade / Oralidade

A notação dos segmentos consonantais é feita do seguinte modo:

 Modo de articulação + Lugar de articulação + Vozeamento + Nasalidade /


Oralidade.

A notação dos segmentos vocálicos é feita do seguinte modo:

 Altura da língua + Anteriodade / Posterioridade da língua + Arredondamento


dos lábiospara ver como se dá a produção das vogais do Português.

As consoantes constituem diversas categorias, entre elas: surdas ou sonoras;


orais ou nasais; oclusivas ou fricativas (etc); mas são melhor descritas a partir da
especificação de seus pontos e modos de articulação. Os pontos de articulação mais
significativos (no Português) são os lábios, os dentes, os alvéolos e o palato. As
categorias de modo de articulação são oclusivas, fricativas, nasais, líquidas e semi-
consoantes.

 Oclusivas

São produzidas pelo bloqueio da pressão do ar em algum ponto do trato vocal


que a seguir é desfeito. Este ar pode ser bloqueado pela pressão dos lábios unidos
ou pela pressão da língua contra os alvéolos ou palato.

39
Fonte: www.oclusivas.com.br

Podemos produzir oclusivas (ou também conhecidas como plosivas) com lábios
(bilabiais), dentes (linguodentais) ou véu (linguopalatais).
Vejamos alguns exemplos de oclusivas orais:

 Bilabiais: /p/, / b/
 Linguodentais: /t/, /d/
 Linguopalatais: /k/, /g/

Nasais
São produzidas pelo deslocamento do véu da parede posterior da faringe
permitindo a saída do ar que foi bloqueado em algum ponto da cavidade bucal. Essa
obstrução pode-se dar em 3 pontos articulatórios também, e são consideradas
consoantes oclusivas.

40
Fonte:www.ericasitta.wordpress.com

Vejamos alguns exemplos de oclusivas nasais:


 Bilabiais: /m/
 Linguodentais: /n/
 Linguopalatais: /ƞ/

Fricativas
São produzidas pela constrição da corrente aérea em algum ponto do trato
vocal, determinando uma grande turbulência e produção de sons de alta frequência.
Elas diferem pelo ponto de articulação; podem ser produzidas por estreitamentos
feitos entre os lábios e os dentes (labiodentais) entre a língua e os alvéolos (línguo-
alveolares) ou entre a língua e o palato (linguopalatais).

41
Fonte:www.fricativas.com.br

Vejamos alguns exemplos de fricativas:


 Labiodentais: /f/, /v/
 Línguo-alveolares: /s/, /z/
 Linguopalatais: /ʃ/, /Ʒ/

Líquidas

Enquanto as consoantes citadas anteriormente receberam suas denominações


em decorrência de sua produção articulatória, as líquidas não seguem esse critério.
Elas compreendem as laterais e as vibrantes. As laterais se distinguem pela obstrução
da corrente expiratória em um ponto central e esse fato permite sua passagem pelas
regiões laterais. A obstrução é feita com a ponta da língua tocando a região alveolar
(línguo-alveolar) ou a ampliação dessa área de contato atingindo quase toda região
anterior do palato (linguopalatal). Outra característica dessa produção é a
concavidade e distensionamento da língua (mais acentuadas nas línguo-alveolares).
Vejamos alguns exemplos de líquidas laterais:

 Línguo-alveolares: /l/
 Linguopalatais: /ʎ/

São chamados de vibrantes os sons que se produzem quando um órgão


elástico e tenso executa um olu vários movimentos rápidos. Distinguem-se também

42
pelo ponto em que esta vibração se dá, podendo ocorrer na região alveolar (línguo-
alveolar) ou velar (uvulares).
Vejamos alguns exemplos de Líquidas vibrantes:

 Línguo-alveolares: /r/
 Velar: /R/

Vogais
As vogais, ou segmentos vocálicos, são sons produzidos sem obstrução no
trato vocal, de forma que a passagem de ar não é interrompida. Esses sons são
classificados de acordo com os seguintes critérios:

1) Altura da língua
2) Anterioridade / Posterioridade da língua
3) Arredondamento dos lábios
4) Nasalidade / Oralidade

6 DESCRIÇÃO DOS SONS LINGUÍSTICOS

Fonte:www.sonslinguisticos.com.br

43
A fonologia tem por objetivo principal a definição dos sons que desempenham
funções linguísticas e a descrição e explicação dos processos fonológicos que os sons
de uma língua sofrem ou provocam. Desta forma podem-se dividir os sons da fala em
propriedades de três tipos diferentes: Articulatória, Acústicas, Perceptivas.
Deste modo o falante utiliza a propriedade articulatória, o ar transmite a
propriedade acústica, e o ouvinte utiliza a propriedade perceptiva. Só desta forma
existe a comunicação verbal, ou seja, o cérebro contém informação linguística que é
transmitida pelo sistema nervoso central. Este transmite a informação aos músculos
e órgãos relacionados com a produção de sons da fala. A este conjunto chama-se
aparelho fonador. – Imagem fotocopia.
Numa primeira fase do som dá-se a expiração nos pulmões, isto significa que
a massa de ar passando pela laringe atinge as cordas vocais, fazendo-as vibrar. A
isto dá-se o nome de fonação. Finalmente na cavidade oral e nasal a massa de ar
assume o formato de som de fala (“articulação”).

Características articulatórias do som da fala:


Para definir os sons ou fonemas são essenciais as etapas de fonação e de
articulação. A etapa da fonação implica a produção de voz na laringe, assim, o ar
atravessa a glote e as cordas vocais podem ou não vibrar, produzindo assim sons
vozeados ou sonoros consoante a vibração das cordas vocais ou sons vozeados ou
surdos que são produzidos sem vibração nas cordas vocais.

Sons do português:
Os sons são transformados nas cavidades supraglotais: a cavidade faríngea,
que quase não desempenha papel na articulação dos sons em português, no entanto,
a cavidade nasal, permite distinguir os sons orais dos sons nasais. Os sons nasais
podem passar em simultâneo pela cavidade nasal e pela cavidade oral, dando-se o
afastamento do véu palatino, que quando se afasta produz sons nasais.
Foi realizada a palatografia e a linguografia para todos os sons estudados, ou
seja, [s], [z], [(], [y], [l], [r] e [k], em dois sujeitos com desenvolvimento típico de fala e
linguagem nas faixas etárias de cinco e sete anos, no dia da coleta de dados, não
estava presente nenhum sujeito na faixa etária de seis anos, que pudesse realizar a
técnica. Estes sujeitos fizeram parte do estudo, mas não apresentaram distorção,
pertencendo ao GSTFSD. Foram escolhidos aleatoriamente dentro deste grupo. A

44
palatografia e a linguografia possibilitaram uma comparação visual das produções
adequadas e das comdistorção.
Todos os sujeitos com distorção de fala confirmada na prova para verificação
de distorção foram submetidos à palatografia e à linguografia para análise do som
distorcido.
Explicava-se à criança o procedimento para a obtenção da palatografia. A
ordem dada à criança foi: “vou pintar sua língua com uma mistura preta que não tem
gosto nem cheiro, logo depois vou pedir para você falar uma palavra. Depois de falar
você deve abrir a boca para que eu coloque o espelho para ver como ficou seu ’céu
da boca‘, e então vou tirar uma foto”.
Para a linguografia, a ordem dada foi: “vou pintar seu ’céu da boca‘, com uma
mistura preta que não tem gosto nem cheiro, e logo depois vou pedir para você falar
uma palavra. Depois de falar você deve abrir a boca e colocar a língua para fora, e
em seguida vou tirar uma foto da língua”.
Para a palatografia, a língua dos sujeitos foi revestida com uma mistura de
partes iguais de azeite de oliva e carvão de lenha digestivo pulverizado (o azeite de
oliva não tem sabor ruim e o carvão é insípido), com um pincel largo e macio. Em
seguida o sujeito deveria produzir uma palavra que contivesse o som a ser
investigado.
Após a produção da palavra, era solicitado que o sujeito abrisse a boca para a
introdução de um espelho com cantos arredondados, que refletia a região entre os
molares esquerdos e direitos da arcada dentária superior que foi contatada pela
língua. Logo após, a imagem refletida no espelho foi fotografada e todo o processo
filmado. Ao término do registro fotográfico, o sujeito foi instruído a utilizar a escova
de dente e enxaguar a boca para que não ficasse nenhum resíduo da mistura. A
seguir, são mostradas as Figuras do material, mistura, aplicação da mistura para
realização da palatografia e linguografia, introdução do espelho entre os molares e
palatografia elinguografia.
Após a obtenção da palatografia, procedimento semelhante foi realizado para
a linguografia. A mesma mistura foi aplicada no palato duro, e após a produção da
mesma palavra utilizada na palatografia, o sujeito colocava a língua para fora para ser
fotografada e filmada para posterior análise (CASAES, 1992; LADEFOGED,2001).
O tempo gasto para a realização de cada palatografia e/ou linguografia entre
instrução, aplicação da mistura, produção e enxágüe foi ao redor de dois minutos. No

45
entanto, 40% das crianças referiram enjôo. Em alguns casos, na hora de fotografar a
palatografia o espelho embaçava enquanto procurava-se o melhor foco para
fotografar a imagem. Além disso, para as crianças menores houve dificuldade em se
posicionar o espelho entre os molares, devido ao tamanho reduzido da
arcadadentária. Para a análise do palatograma e do linguograma foram usadas as
fotografias. Nesta análise estudou-se a arcada dentária, o palato duro e a mancha
observada. O Quadro 4 mostra as medidas analisadas para cada um dos
componentesestudados.
Durante a análise a criança poderia apresentar concomitantemente mais de um
ponto de contato (CASAES, 1990). As manchas poderiam ocorrer também em mais
de uma região do palato, sendo considerada como exemplo dento-alveolar, dento-
palatal e dento-alvéolo-palatal. Da mesma forma, mais de uma região da língua
também poderia estar manchada, sendo classificada como ápico-laminar (AVELINO
e KIM,2006). Para 20% das palatografias e linguografias foram realizadas, além da
análise da pesquisadora, uma segunda análise das fotos, por uma fonoaudióloga
mestre, que obteve 95% de acordo.

7 ALFABETO FONÉTICO INTERNACIONAL

O alfabeto fonético internacional foi criado em 1886 por professores de


nacionalidades francesa e inglesa, num projeto que teve a orientação do
linguista Paul Passy. Mais tarde, esse grupo foi denominado AFI - Associação
Fonética Internacional - em inglês, International Phonetic Association (IPA). Esse
alfabeto especial, que compõe o que muitas vezes encontramos como quadro
fonético, passou por inúmeras mudanças em virtude dos estudos promovidos por esse
grupo. Sua última atualização data d 2005.

46
47
7.1 Alfabeto Fonético da OTAN

O alfabeto criado pela OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte)


também é chamado de alfabeto fonético internacional. Sua criação decorre da
necessidade de garantir que a troca de informações entreaeronáutica, marinha e
exército fosse feita sem erros e sem espaço para equívocos.O alfabeto da OTAN é
de soletração, ou seja, uma palavra é soletrada mediante um código, ou uma palavra-
chave, determinado para cada letra. Ele foi desenvolvido e aperfeiçoado por ocasião
da Segunda Guerra Mundial.
Antes do alfabeto da OTAN, a ICAO - Organização de Aviação Civil
Internacional - já havia criado um alfabeto de soletração, conhecido como o alfabeto
radiotelefônico. O da OTAN é, todavia, o mais conhecido. Este é utilizado até hoje não
só pelo serviço militar, mas pelo turismo.
Muitas pessoas nem devem ter reparado, mas outras já devem ter se
perguntado o que significam aquelas letras e símbolos dentro de colchetes que
aparecem logo após a grafia de uma palavra em dicionários de língua estrangeira,
antes do seu significado na língua portuguesa. Pois bem, para quem não sabe o que
significa esse conjunto de letras e símbolos que mais parece um código, saiba que ele
integra o sistema chamado alfabeto fonético internacional.

7.2 Criação do alfabeto fonético

O alfabeto fonético existe há muitos anos, sendo que passou por inúmeras
mudanças até chegar ao seu padrão atual. No entanto, ele sempre teve o mesmo
objetivo, ou seja, facilitar a pronúncia de outras línguas, sem a necessidade de
conhecer o idioma profundamente. Esse alfabeto foi criado em 1886, quando um
grupo de professores ingleses e franceses, tendo como líder o linguista francês Paul
Passy, iniciou o que depois veio a se chamar de Associação Fonética Internacional
- AFI.
Foram esses profissionais da AFI os responsáveis pela criação e, posterior,
aperfeiçoamento do alfabeto fonético internacional. Depois de dois anos de início do
movimento, o grupo já havia padronizado o alfabeto fonético para todas as línguas, o
que não acontecia anteriormente, e apenas dificultava o objetivo de pronunciar os

48
demais idiomas. Até 2005, quando ocorreu a última utilização, muitas alterações foram
feitas, inclusive, no que diz respeito a eliminar e adicionar novos símbolos.

7.3 Funcionamento do alfabeto fonético

Atualmente, grande parte das letras é derivada do alfabeto romano ou de uma


língua originária dele. No entanto, existem outras letras que também proveem do
alfabeto grego e há, ainda, aquelas que não integram nenhum alfabeto. No total, são
107 caracteres que formam o alfabeto fonético internacional. Porém, nos dicionários
de língua estrangeira, é comum encontrar apenas pouco mais de 40 tipos de letras e
símbolo, tornando mais fácil a aprendizagem deste alfabeto.

Já que muitas letras são conhecidas dos brasileiros, pois integram o alfabeto
da língua portuguesa, os interessados em aprender a usar o alfabeto fonético terão
que aprender apenas a pronunciar os demais símbolos. Além das letras, o alfabeto
fonético possui símbolos que se referem à maneira de pronunciar as palavras, como
a entonação que deve ser dada. Desta forma, é possível que uma pessoa se torne
autodidata em conhecer outro idioma, ao menos, em relação à pronúncia correta das
palavras.

49
7.4 Utilização do alfabeto fonético internacional

O alfabeto fonético internacional é bastante utilizado pelos profissionais da área


da linguística, fonoaudiologia, tradução e professores de idioma. Mas também pode
ser de extrema importância para alunos de línguas estrangeiras, cantores e atores.
Ou seja, qualquer profissional que trabalha com a pronúncia e que a todo o momento
está envolvido com diferentes materiais escritos pode se valer do alfabeto fonético.
Um bom exemplo da necessidade do alfabeto fonético internacional é no caso
de um pesquisador conhecer uma tribo amazônica ou de qualquer outro lugar onde
eles falem um idioma desconhecido para os demais. Tendo conhecimento deste
alfabeto, o pesquisador pode transcrever o que os integrantes desta tribo conversam,
podendo até traduzir, além de servir como um material de grande valor para as
pesquisas antropológicas.

7.5 Outros alfabetos fonéticos

Hoje em dia, é também comum encontrar na Internet informações errôneas


sobre a definição de alfabeto fonético, uma vez que eles são confundidos com os
alfabetos radiotelefônicos ou de soletração. Isso acontece em parte porque o alfabeto
de soletração mais usado é o chamado alfabeto fonético da OTAN (Organização do
Tratado do Atlântico Norte), sendo que existem outros que são utilizados para facilitar
as comunicações realizadas por meio de rádio ou telefone. Neste caso, são utilizadas
palavras ao invés de letras para soletrar uma informação.
Os alfabetos radiotelefônicos foram desenvolvidos ainda antes da Segunda
Guerra Mundial, quando foram aperfeiçoados para facilitar a comunicação entre
exército, marinha e aeronáutica, bem como a transmissão de informações entre os
aliados. Depois de algumas padronizações, ele foi uniformizado, sendo utilizado até
hoje pelas forças armadas.
Assim como o alfabeto fonético internacional, qualquer pessoa pode fazer uso
dos alfabetos de soletração, desde que conheça a palavra que se refere a cada letra
do alfabeto. Essa lista é facilmente encontrada na Internet e apesar de existir mais de
uma, assemelham-se bastante. Com os números do alfabeto militar acontece a
mesma coisa, no entanto, eles são pronunciados na língua inglesa e alguns deles
recebem uma variação para que não sejam confundidos com outros números.

50
8 OS ELEMENTOS SUPRASSEGMENTAIS

Há dois níveis de abordagem dos sons: aspectos segmentais e


suprassegmentais. No nível suprassegmental (só a partir de Bloomfield que se admitiu
a existência do fonema suprassegmental), trabalha-se sobretudo com os fenômenos
de ritmo e de entoação. O conceito de ritmo (CAGLIARI, 1981, p. 122) está ligado à
ideia de tempo e duração, sendo uma sequência de sílabas, ora longa, ora breve.
Foneticamente falando, a sílaba é um pulso torácico. A unidade usada para marcar a
percepção da duração das sílabas recebe o nome de mora. Ela mede as pausas entre
as proeminências vocálicas.
Processos fonológicos segmentais são alterações de fones ou de fonemas. Por
tratar de unidades tanto da Fonética quanto da Fonologia, esse fenômeno deveria
receber dois termos: processos fonéticos e processos fonológicos. No entanto,
convencionou-se usar apenas a expressão “processos fonológicos”. Também é usado
o termo metaplasmos (processo que acrescenta, suprime ou transpõe fonemas numa
palavra). Esses processos podem ser percebidos tanto do ponto de vista sincrônico
(num estágio da língua) quanto do ponto de vista diacrônico (estágios sucessivos da
língua).
Falamos emitindo uma série de sons de forma contínua, ininterrupta. Só as
pausas que fazemos regularmente durante a fala interrompem esse fluxo. Esse
caráter contínuo do fluxo da fala decorre da movimentação contínua e coordenada
dos articuladores responsáveis pela execução dos gestos articulatórios que produzem
os sons, como estudamos nas atividades 3 e 4. Vimos que cada som, consonantal ou
vocálico, é produzido por um gesto articulatório específico.
O som [p], por exemplo, é produzido por um fechamento do trato vocal feito
pelos lábios, obstruindo momentaneamente a saída da corrente de ar; o véu palatino
encontra-se levantado fechando a passagem para a cavidade nasal, o que faz com
que a corrente de ar flua apenas pela cavidade bucal e as cordas vocais estão
afastadas permitindo que o ar passe sem causar vibração. Contudo, ao produzirmos
uma sílaba como [pa] não produzimos cada gesto isoladamente para emitir esses dois
sons, ao contrário, coordenamos nossos gestos articulatórios de modos que a
explosão da consoante se dá simultaneamente à emissão da vogal.
Esse caráter contínuo da emissão dos sons da fala faz com que antes de
terminarmos completamente a emissão de um som os articuladores já comecem a se
51
movimentar para produzir o gesto articulatório característico do som seguinte. Um
exemplo disso é a nasalização das vogais. Tomemos a palavra `cama`. Em português,
a primeira vogal da palavra é normalmente nasalizada por anteceder uma consoante
nasal, o que não acontece com a segunda vogal. A explicação é que ainda durante a
articulação dessa primeira vogal o véu palatino começa a se abaixar, preparando-se
para a articulação da consoante seguinte, que é nasal, e dessa forma a ressonância
nasal atinge a vogal. Essas características articulatórias que os sons adquirem em
decorrência da articulação dos sons vizinhos são exemplos de articulações
secundárias
Na entoação (CAGLIARI, 1981, p. 160), analisa-se a tonalidade, ou seja, as
variações melódicas da fala dentro da tessitura tonal, medindo o som desde o tom
mais baixo até ao mais alto. Desse método advêm os tipos primários de frases:
declarativo, interrogativo, imperativo e exclamativo.
Embora os aspectos suprassegmentais ajudem a preencher as lacunas no
processo de construção do sentido, a linguística tem se interessado mais pelas
características segmentais da fala. Sendo as unidades elementares, esses segmentos
podem ser divididos em dois grandes grupos: consoantes e vogais.
A divisão tradicional entre vogais e consoantes em nível de articulação deve
ser entendida a partir da liberação do fluxo de ar dos pulmões. Nas vogais, não há
nenhum impedimento a essa passagem de ar, ou seja, os segmentos vocálicos são
produzidos com o fluxo de ar passando livremente ou praticamente sem obstáculos
(obstruções ou constrições) no trato vocal. Já as consoantes são articuladas a partir
de alguma obstrução no trato oral, seja ela parcial ou total. Uma outra diferença entre
esses dois tipos de sons é que as vogais são vozeadas, isto é, são produzidas com a
vibração das pregas vocais, enquanto as consoantes podem ou não ser produzidas
com vibração das pregas vocais. Assim podem ser vozeados ou não-vozeados.
Em termos de classificação fonética, as vogais são analisadas por meio dos
seguintes parâmetros: altura, avanço/recuo da língua e arredondamento dos lábios.
Já, para as consoantes, utilizam-se as características de ponto articulatório (lugar de
articulação), modo articulatório e sonoridade.

52
8.1 Consoante

A consoante é classificada com base em: modo de articulação, ponto (ou lugar)
de articulação e sonoridade. Exemplo: [ s ] = fricativa alveolar surda.

Modo de articulação: Define-se pelo grau de abertura (passagem de ar).


 Oclusiva (bloqueio à corrente de ar): [p, b];
 Nasal (ressonância na cavidade nasal): [m,n];
 Lateral (corrente de ar escapa pelos lados da língua): [l, λ];
 Vibrante (causa vibração): [r] carro;
 Tap: (vibrante simples; batida rápida da ponta da língua). Ex. [ſ]
Araraquara;
 Fricativa ou constritiva (pressiona a corrente de ar, produzindo fricção,
atrito ou ruído): [s, f, z, ∫];
 Africada (há uma articulação simultânea na cavidade oral: oclusiva e
fricativa): [t∫] tia.

Ponto de articulação: Também chamado de “lugar de articulação”, indica


órgãos ou partes dos órgãos envolvidos na articulação. São dois tipos de
articuladores:
 Articuladores ativos (móveis): língua e lábios;
 Articuladores passivos (imóveis): lábio superior, dentes, alvéolo, etc.

Para a formação do nome “ponto de articulação”, considera-se o encontro ou


toque entre os articuladores ativos e os articuladores passivos:
 Bilabial (som produzido pelo contato dos lábios): [p, b, m];
 Labiodental (lábio inferior com dentes superiores): [f,v];
 Dental (ou linguodental): ponta da língua com dentes incisivos: [t, d, n,
l];
 Alveolar (língua com alvéolo, situado logo acima dos dentes incisivos):
[s, z, r];
 (v) Retroflexa (encurvamento da ponta da língua em direção ao palato.
É o chamado “r” caipira);

53
 (vi) Palato-alveolar (língua toca alvéolo e palato): [∫] chá;
 (vii) Palatal (dorso da língua com palato ou céu da boca): [λ] palha;
 (viii) Velar (dorso da língua no véu palatino): [k, g];
 (ix) Uvular (som vem da úvula): [x] rua;
 (x) Glotal (som vem da glote): [h] rota.

Sonoridade (ou vozeamento): Classificam-se os sons com base na oposição


surdo (ou desvozeado) e sonoro (ou vozeado). Os sons sonoros são produzidos com
vibrações das cordas vocais. Sem vibrações das cordas vocais são os sons surdos.
As vogais são os sons sonoros por excelência. Já as consoantes podem ser surdas
ou sonoras.

8.2 Vogais

Vogais são sons produzidos com o ar saindo dos pulmões (fluxo de


aregressivo). Os sons vocálicos se diferenciam dos consonantais pela inexistência de
obstrução à saída de ar no trato vocal. Eles devem ser produzidos de modo que o
estreitamento gerado pelo movimento dos articuladores não produza fricção. Sua
emissão é realizada com a vibração das pregas vocais, sendo por isso considerados
sons vozeados ou sonoros. As vogaispodem ser ainda classificadas como orais e
nasais. Na produção das orais, o véu do palato fecha a passagem à cavidade nasal,
fazendo com que o ar saia somente pelo trato oral. Nas vogais nasais, o véu palatino
encontra-se abaixado, permitindo que o ar passe também pelas cavidades
ressoadoras nasais.
Para a classificação articulatória das vogais, estão envolvidos o corpo da língua
e os lábios. O corpo da língua pode movimentar-se verticalmente, levantando-se ou
abaixando-se, ou horizontalmente, avançando ou recuando. A mandíbula auxilia na
abertura do trato oral para a diferenciação entre vogais abertas e fechadas. O
parâmetro que define o movimento vertical da língua é denominado altura e o que
define o movimento horizontal (avanço/recuo) denomina-se
anterioridade/posterioridade. Há ainda a possibilidade de os lábios estarem distensos
ou arredondados.

54
O movimento de arredondamento dos lábios ocorre na produção de vogais
ditas arredondadas. As demais são articuladas com os lábios distensos e são
classificadas como não-arredondadas. Para que se pudesse fazer comparações entre
as vogais de diferentes línguas, foram determinados pontos ideais de articulação de
vogais, que serviriam como referência para a localização das vogais de diferentes
línguas. Esses pontos são estabelecidos a partir de limites articulatórios.
Essas vogais são chamadas de cardeais e, em princípio, não pertencem a
nenhuma língua específica.
Para o estabelecimento dos pontos de referência para vogais cardeais
primárias, são produzidas duas vogais. Conforme Cagliari (1981), a primeira (VC 1)
deve ser pronunciada com a ponta da língua para baixo e o mais elevado possível,
sem causar fricção quando a corrente de ar passar por esse estreitamento, ficando a
maior constrição nas regiões palatoalveolar e palatal. A segunda vogal (VC-5) deve
ser produzida com a língua na posição mais retraída e abaixada possível na porção
posterior do trato oral, também sem causar nenhuma fricção. A região de maior
constrição nesse caso é a faringe.
A partir da posição da primeira vogal e conservando sempre a língua na posição
mais avançada possível, marcam-se três pontos equidistantes, auditiva e
articulatoriamente, sendo que o terceiro deles determina a posição da língua mais
avançada e abaixada possível. Surgem então as vogais cardeais primárias VC-1, VC-
2, VC-3 e VC-4.
Com a posição da segunda vogal (VC-5), anteriormente mencionada, e
conservando-se a língua a mais recuada possível, determinam-se mais três pontos
equidistantes, auditiva e articulatoriamente, em direção do palato, novamente sem
causar fricção. Daí são estabelecidas as vogais cardeais primárias VC-5, VC-6, VC-7
e VC-8.
Os vogais cardeais secundários articulam-se com a mesma posição da língua
das vogais cardeais primários, porém com a posição dos lábios invertida. Surgem
assim as vogais VC-9, VC-10, VC-11, VC-12, VC-13, VC-14, VC-15 e VC-16. Por
exemplo: a VC-9 tem a posição da língua empregada na articulação da VC-1 (ponta
da língua para baixo e o mais elevado possível) e a posição dos lábios empregada
para a articulação de VC-8 (protrusão labial). Já a VC-16 apresenta a posição da
língua utilizada na articulação da VC-8 e a posição dos lábios empregada na
articulação de VC-1.

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Até agora, observamos o comportamento fonético de sons vocálicos
produzidos com o levantamento do véu do palato, tendo, como passagem para o fluxo
de ar, somente as cavidades orais. No entanto, existem segmentos vocálicos que são
produzidos com o véu do palato abaixado, levando a corrente de ar a passar tanto
pela cavidade oral quanto pela nasal. Esse tipo de articulação traz modificações mais
acentuadas para umas vogais do que para outras. As vogais articuladas com a língua
em posição elevada, como as altas e , apresentam um pequeno abaixamento do
véu palatino. Assim, a configuração do trato oral para produção dessas vogais orais
(e ) e nasais (e ) são bastante similares.
A articulação de vogais nasais que são produzidas com a língua na posição
mais baixa necessita de um maior abaixamento do véu palatino para elas soarem
como nasais. Nesse caso, há uma diferença bastante grande entre a articulação de
uma vogal baixa oral e uma nasal. É o que ocorre com a vogal baixa central. Dessa
forma, para representar a vogal oral emprega-se o símbolo , no entanto, devido a
essa diferença articulatória (e, portanto, acústica), a representação de sua contraparte
nasal seria mais adequada através do símbolo fonético (SEARA, 2000).
As vogais que são realizadas com um gradual abaixamento da língua, como as
médias, terão, na produção de suas vogais nasais correspondentes, um abaixamento
também gradual do véu do palato. No caso do PB, existem apenas vogais nasais
médias altas, e. No francês, por exemplo, só ocorrem vogais nasais médias baixas.

9 AGRUPAMENTOS DE FONEMAS

Fonte: www.escolakids.uol.com.br

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Os encontros vocálicos são agrupamentos de fonemas vocálicos da Língua
Portuguesa e são classificados em hiato, ditongo e tritongo. Os encontros vocálicos
são agrupamentos de fonemas formados por vogais ou semivogais em uma mesma
sílaba ou sílabas diferentes. Para compreendermos melhor o que são os
encontrosvocálicos, é necessário retomar os conceitos de vogais e semivogais.
Sabemos que as vogais são fonemas naturais formados pela corrente de ar
que, vinda dos pulmões, passa livremente pela boca ou pelo nariz, fazendo vibrar as
pregas vocais. Elas são a base, o núcleo das sílabas na Língua Portuguesa. Já as
semivogais acontecem no encontro entre duas vogais em uma mesma sílaba, em que
uma é a vogal principal, com o tom mais intenso, e a outra é a semivogal, que possui
um papel secundário. Em um encontro vocálico, a letra /a/ sempre será a vogal
principal, as letras /i/ e /u/ serão sempre semivogais, e as letras /e/ e /o/ podem assumir
os papéis de vogal e/ou semivogal. Existem três tipos de encontros vocálicos.
Veja:

Hiato
O hiato consiste na sequência de duas vogais (Vogal+ Vogal) que se separam
durante a divisão silábica, ficando cada vogal em uma sílaba distinta. Em virtude do
contato de duas vogais no interior de uma palavra, é possível reconhecer o hiato como
sendo o encontro vocálico por excelência.
Observe os exemplos:

 Saída: sa – í – da;
 Saúde: sa – ú – de;
 Oceano: o – ce – a – no;
 Cooperar: co – o – pe – rar.

DITONGO
O ditongo consiste no encontro de Vogal + Semivogal, chamado de ditongo
decrescente, ou de Semivogal + Vogal, que recebe o nome de ditongo crescente. Os
ditongos também podem ser classificados em orais ou nasais. É muito importante
recordarmos que os fonemas orais são aqueles que passam e saem pela cavidade

57
bucal (boca), como: /a/, /b/, /t/; já os fonemas nasais são aqueles que uma parte passa
pela boca e a outra parte passa pelas narinas (nariz), como: /m/, /n/, /ã/.
Observe os exemplos:

 Madeira: ma – dei – ra (ditongo decrescente oral);


 Paulista: pau – lis – ta (ditongo decrescente oral);
 Pátria: pá – tria (ditongo crescente oral);
 Sério: sé – rio (ditongo crescente oral);
 Mãe: mãe (ditongo decrescente nasal)
 Oração: o – ra - ção (ditongo decrescente nasal)

Monotongação é o processo pelo qual o ditongo passa a ser produzido como


uma única vogal. Nesse caso, há um apagamento da semivogal. Frequentemente,
monotongam-se os ditongos, os dois primeiros quando diante de, como em peixe,
queijo e freira. Já o ditongo monotonga-se em qualquer ambiente.

TRITONGO

Os tritongos são uma sequência de Semivogal + Vogal + Semivogal. Assim


como os ditongos, os tritongos também podem ser classificados em orais e nasais.
Como apresentam apenas uma vogal, na divisão silábica, não se separam os fonemas
vocálicos do tritongo.
Observe os exemplos:

 Paraguai: Pa – ra – guai (tritongo oral);


 Enxaguei:en – xa – guei (tritongo oral);
 Cheguei:che – guei (tritongo oral);
 Quão: quão (tritongo nasal).

Além desse três, há dois outros encontros vocálicos importantes:

Iode
É o agrupamento de uma semivogal entre duas vogais. São aia, eia, oia, uia,
aie, eie, oie, uie, aio, eio, oio, uio, uiu, em qualquer lugar da palavra -começo, meio ou

58
fim. Foneticamente, ocorre duplo ditongo ou tritongo + ditongo, conforme o número de
semivogais. A Iode será representada com duplo Y: ay-ya, ey-ya, representando o “y”
um fonema apenas, e não dois como possa parecer. A palavra vaia, então, tem quatro
letras (v – a – i – a) e quatro fonemas (v – a – y – a), sendo que o “y” pertence a duas
sílabas, não havendo, no entanto, “silêncio” entre as duas no momento de pronunciar
a palavra.

Vau = O mesmo que a Iode, porém com a semivogal W.


Pi-au-í = Vau, com a representação fonética Pi-aw-wi.

Com o “w” ocorre o mesmo que ocorreu com o “y”, ou seja, representa um
fonema apenas. Ocorrem, também, na Língua Portuguesa, encontros vocálicos que
ora são pronunciados como ditongo, ora como hiato. São eles:

 Sinérese = São os agrupamentos ae, ao, ea, ee, eo, ia, ie, io, oa, oe, ua,
ue, uo, uu. Ca-e-ta-no, Cae-ta-no; ge-a-da, gea-da; com-pre-en-der,
com-preen-der; Na-tá-li-a, Na-tá-lia; du-e-lo, due-lo; du-un-vi-ra-to,
duun-vi-ra-to.
 Diérese = São os agrupamentos ai, au, ei, eu, iu, oi, ui. re-in-te-grar, rein-
te-grar; re-u-nir, reu-nir; di-u-tur-no, diu-tur-no.

Obs: Há palavras que, mesmo contendo esses agrupamentos não sofrem sinérese ou
diérese. Há que se ter bom senso, no momento de se separarem as sílabas. Nas
palavras rua, tia, magoa, por exemplo, é claro que só há hiato.

Encontro Consonantal: É o agrupamento de consoantes.

Há três tipos de encontros consonantais:

Encontro Consonantal Puro ou Próprio = É o agrupamento de consoantes,


lado a lado, na mesma sílaba. Ex.: Bra-sil, pla-ne-ta, a-dre-na-li-na

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Encontro Consonantal Disjunto ou Impróprio = É o agrupamento de
consoantes, lado a lado, em sílabas diferentes. Ex.: ap-to, cac-to, as-pec-to

Encontro Consonantal Fonético = É a letra x com som de ks. Ex.: Maxi, nexo,
axila = maksi, nekso, aksila.

Não se esqueça de que as letras M e N pós-vocálicas não são consoantes, e,


sim, semivogais ou simples sinais de nasalização (ressoo nasal).

Dígrafo:
É o agrupamento de duas letras com apenas um fonema. Os principais dígrafos
são rr, ss, sc, sç, xc, xs, lh, nh, ch, qu, gu. Representam-se os dígrafos por letras
maiores que as demais, exatamente para estabelecer a diferença entre uma letra e
um dígrafo.

Qu e gu só serão dígrafos, quando estiverem seguidos de e ou i, sem trema.


Os dígrafos rr, ss, sc, sç, xc e xs têm suas letras
separadas silabicamente; lh, nh, ch, qu, gu, não.
Exemplo:

 arroz = ar-roz – aRos;


 assar = as-sar – aSar;
 nascer = nas-cer – naSer;
 desço = des-ço – deSo;
 exceção = ex-ce-ção – eSesãw;
 exsudar = ex-su-dar – eSudar;
 alho = a-lho – aĹo;
 banho = ba-nho – baÑo;
 cacho = ca-cho – kaXo;
 querida = que-ri-da – Kerida;
 sangue = san-gue – sãGe.

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 Dígrafo Vocálico
É o outro nome que se dá ao Ressoo Nasal, pelo fato de serem duas letras
com um fonema vocálico.

sangue = san-gue – sãGe


samba = sam-ba – sãba

Não confunda, portanto, dígrafo com encontro consonantal, que é o encontro


de consoantes, cada uma representando um fonema.

10 ESTRUTURA DAS SÍLABAS

Fonte: www.alfabetizarbrincando.com.br

Diz respeito à organização das vogais (V) e das consoantes (C) na formação
de sílabas das palavras. As línguas apresentam diferentes estruturas silábicas. No
caso do português, há sílabas que são constituídas pela estrutura Consoante-Vogal,
a sílaba CV, como as sílabas da palavra sala (sa-la, que apresenta duas sílabas CV).
Há outras estruturas silábicas possíveis na nossa língua: V (u-va), VC (es-co-la), CVC
(car-ta), CCV (pra-to), CCVC (cris-tal), CVCC (pers-pec-ti-va).
Nessas diferentes estruturas, uma sílaba terminada por vogal é chamada de
aberta, enquanto uma sílaba terminada por consoante é chamada de travada. A
presença da vogal é obrigatória nas diferentes estruturas silábicas. Já a da consoante

61
é opcional. Isso quer dizer que todas as estruturas silábicas têm de apresentar vogal,
de modo que há sílaba constituída somente por vogal (sílaba V), mas não por apenas
consoante.
Do ponto de vista da aprendizagem, as variadas estruturas apresentam
diferentes graus de complexidade. Estudos apontam a sílaba CV, chamada de sílaba
canônica, como sendo a mais frequente na língua portuguesa. Por esse motivo, os
alfabetizados tenderiam a aprender primeiro essa estrutura silábica. É comum,
inclusive, que o aprendiz generalize o uso de tal sílaba na escrita de outras estruturas
silábicas que não domina. Isso poderia ocorrer, por exemplo, na escrita de palavras
como pedra (peda), porta (pota) e escola (secola), em que as sílabas CCV (dra), CVC
(por) e VC (es) são grafadas, respectivamente, como sílabas CV (da, po e se).
Considerar as diferentes estruturas silábicas da língua é importante para o
professor alfabetizador, tendo em vista que os aprendizes da escrita precisam
conhecer todas elas, a fim de consolidarem seu processo de alfabetização. Um outro
ponto importante é não confundir a noção de sílaba na fala e na escrita. Se, do ponto
de vista da escrita, a palavra chave apresenta uma sílaba CCV e outra CV, do ponto
de vista da fala, apresenta duas sílabas CV, tendo em vista que é pronunciada como
“xa-vi” na maior parte do país.
Desse fato é que pode ocorrer uma interferência da fala sobre a escrita do
aprendiz, de modo que ele grafe duas sílabas CV (“xavi”) e não uma CCV e outra CV
para chave.
Seguindo esse raciocínio, a escrita da palavra xale – que tanto na fala como na
escrita apresenta a mesma estrutura silábica (duas sílabas CV) – tenderia a ser mais
fácil do que a escrita de chave. Acrescenta-se, ainda, a necessidade de reflexão sobre
a divisão silábica indicando os diferentes critérios que são aplicados na escrita e na
fala. Um caso típico é o da regra que indica que, na escrita, ao final de uma linha,
quando dividimos uma palavra, os dígrafos ‘rr’ e ‘ss’ não ficam na mesma sílaba.
Assim a palavra ‘carro’, por exemplo, seria dividida como ‘car-ro’. Essa divisão, no
entanto, não implica que, na fala, a primeira sílaba seja CVC. Aqui, como em vários
casos de convenções, tem-se um procedimento ortográfico e não fonológico.
Como sabemos, as sílabas são fonemas pronunciados por meio de uma
únicaemissãodevoz e também que a base das sílabas da língua portuguesa são as
vogais: a - e - i - o - u. Assim, todo fonema pronunciado em uma única emissão de voz
tem, pelo menos, uma vogal.

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É importante ressaltarmos que, em algumas palavras, os fonemas /i/ e /u/ não
sãovogais, já que aparecem apoiados a outra (s) vogal (is), formando uma só emissão
de voz (uma sílaba). Essas vogais que apoiam as outras são chamadas de
semivogais. O que diferencia as vogais das semivogais é o fato de que as últimas não
desempenham o papel de núcleosilábico. A palavra “papai”, por exemplo, é formada
por duassílabas(dissílaba), sendo a segunda formada por uma vogal (a) e por uma
semivogal (i). A par dessas informações, podemos afirmar que, para saber o
númerodesílabas que compõem as palavras, basta identificar quantasvogais há nessa
palavra.
Vejamos os exemplos:

 Pipoca – pi – po – ca (emissão de três fonemas sequenciais que estão


ligados a vogais);
 Aparelho – a – pa – re – lho (emissão de quatro fonemas sequenciais
que estão ligados a vogais);
 Pernambucana – per – nam – bu – ca - na (emissão de cinco fonemas
sequenciais que estão ligados a vogais.

10.1 Classificação das palavras quanto ao número de sílabas

Monossílabas: palavras que possuem apenas uma sílaba: pé, flor, mão.
Dissílabas: palavras que possuem duas sílabas: balão (ba-lão); suco (su-co);
santo (san-to). Trissílabas: palavras que possuem três sílabas: hóspede (hós-pe-de);
lareira (la-rei-ra); sapato (sa-pa-to). Polissílabas: palavras que possuem quatro ou
mais sílabas: literatura (li-te-ra-tu-ra); amaciante (a-ma-ci-an-te); sambódromo (sam-
bó-dro-mo).

Divisão silábica

→ Os dígrafos “ch”, “lh”, “nh”, “gu” e “qu” devem pertencer a uma única sílaba:
chu – va
o – lho
fe - char
que – ri – do

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vo - zi – nho

→ Os dígrafos “rr”, “ss”, “sc”, “sç”, “xs” e “xc” devem ser separados em sílabas
diferentes.
car – ro - ça
as – sas – si – no
cres – cer
nas – ceu
ex – ce – ção

→ Ditongos e tritongos devem permanecer na mesma sílaba.


U – ru – guai
ba – lai – o

→ Os hiatos devem ser separados em duas sílabas distintas.


di – a
ca – de – a – do
ba – ú

→ Os encontros consonantais devem ser separados, exceto aqueles cuja segunda


consoante é “l” ou “r”.
bru – to
blu – sa
cla - ro
tra– go

→ Os encontros consonantais que iniciam palavras são mantidos juntos na divisão


silábica.
pneu – má – ti – co
gno – mo

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11 AS TRANSCRIÇÕES FONÉTICAS E FONOLÓGICOS DOS SONS
LINGUÍSTICOS

A transcrição fonética é a representação dos sons da fala através de símbolos


fonéticos. Difere de região para região, de estado para estado e de pessoa para
pessoa, uma vez que representa os diferentes sotaques. Os símbolos fonéticos estão
definidos no Alfabeto Fonético Internacional (IPA - The International Phonetic
Alphabet). Estão diretamente relacionados com as letras do alfabeto, salvo algumas
exceções. Nas transcrições, os símbolos fonéticos são escritos dentro de colchetes [
]. O uso do til indica a nasalização da vogal e o uso do apóstrofo antes de uma sílaba
indica a sua tonicidade.

Representação dos principais sons vocálicos:

[a] - som á - pá, gato, amigo.


[ɐ] -som ã - cama, cana.
[ɛ] - som é - pé, ferro, teto.
[e] - som ê - medo, regar, saber.
[i] - som i - ir, vida, sede.
[ɔ] - som ó - pó, mola, nova.
[o] - som ô - correr, morar, fome.
[u] - som u - uva, urubu, gato.
[j] - semivogal i nos ditongos - pai, leite, oito.
[w] - semivogal u nos ditongo - céu, pau, tênue.

Representação dos principais sons consonantais

[b] - som b - banana, bola, boca.


[p] - som p - pé, pato, pó.
[t] - som t - tábua, topo, tumulto.
[tʃ] - som t africado - tia, tigela, tintura.
[d] - som d - dado, dedo, data.
[dƷ] - som d africado - dia, ditado, dinheiro.
[k] - som c e qu - casa, comida, queijo, quintal.
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[g] - som g e gu - gato, gola, guitarra, guerra.
[Ʒ] - som j - jeito, hoje, viagem, gim.
[f] - som f - fala, fome, foto.
[v] - som v - vida, volta, valente.
[s] - som s - sala, sapo, cinto, céu.
[z] - som z - zona, zebra, camisa, rosa.
[r] - som rr - carro, torre, rato.
[ɾ] - som r entre vogais - caro, faro, mero.
[m] - som m - madeira, moça, medo.
[n] - som n - nó, nada, neve.
[ɲ] - som nh - linho, tenho, ganho.
[ʃ] - som ch - chuva, xarope, listado, feliz.
[l] - som l - lado, luta, limão.
[ʎ] - som lh - telha, velho, milho.

Exemplos de transcrições fonéticas

casa - ['kazɐ]
data - ['datɐ]
faca - ['fakɐ]
povo - ['povu]
gema - [' Ʒemɐ]
chato - ['ʃatu]
caro - ['kaɾu]
carro - ['karu]
palha - ['paʎɐ]
uso - ['uzu]
bola - ['bɔlɐ]
táxi - [´taksi]

Exemplos de diferentes transcrições baseadas na pronúncia

tio - [' tʃiu] e ['tiu]


dia - [´dƷiɐ] e [´diɐ]

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mal - ['maw] e ['maɬ]
gol - ['gow] e ['goɬ]
baixo - ['baʃu] e ['bajʃu]
ouro - ['oɾu] e ['owɾu]
queijo - ['keƷu] e ['kejƷu]
chave - ['ʃavi] e ['ʃave]

Fomos apresentados ao sistema consonantal e vocálico do PB, através de seus


movimentos articulatórios, pelo olhar da fonética, e a partir de suas oposições, pela
representação fonológica. Vimos, no entanto, duas formas de notação dos segmentos
aqui tratados: (a) aquela que aparece entre colchetes quadrados [ ]) correspondente
à notação fonética, e que se baseia na produção do falante; e (b) aquela entre barras
inclinadas (/ /), que considera apenas os segmentos que têm a função de distinguir
significados. No primeiro caso, os segmentos transcritos são denominados fonese no
segundo, fonemas.
Vejamos agora como seriam transcritas as palavras a seguir, segundo nosso
próprio dialeto (da autora), e depois como seriam consideradas na transcrição para o
nível fonológico. As teorias que tratam da nasalidade das vogais do PB são
divergentes e serão melhor esclarecidas no Capítulo 5 desta Unidade. Agora, você já
é capaz de fazer suas próprias transcrições fonéticas e fonológicas. Essa reflexão
sobre as transcrições aqui apresentadas vai ajudá-lo (a) a realizar as transcrições
necessárias às suas pesquisas na área.

12 INTRODUÇÃO ÀS PREMISSAS DA DESCRIÇÃO E ANÁLISE FONOLÓGICA

Os percursos didácticos que se apresentam neste ponto assentam num


conjunto de pressupostos teóricos e metodológicos que convém explicitar. Em
primeiro lugar, defende-se que a aula de Português/Língua Portuguesa deve assumir
a sua especificidade de aula de língua, constituindo um espaço onde se deveria, como
alerta Maria da Graça Pinto, «insistir fortemente na prática oral e escrita da língua
portuguesa. A não ser assim, no entender da mesma autora, «essas aulas – ditas de

67
Língua Portuguesa/Português – acabam por atingir os mesmos objectivos linguísticos
das de outras disciplinas. (Pinto 1998)
Essa especificidade deriva ainda, no entender de Fernanda Irene Fonseca, de
um outro factor, o de se institui a língua materna como objecto de conhecimento, sobre
o qual recaem práticas de análise e de construção de saber. Neste sentido preconiza-
se uma pedagogia da língua materna que «não pode (...) quedar-se nos usos
transparentes ou transitivos característicos da comunicação habitual. Deve ter
também em conta os usos em que a língua, flectindo-se sobre si própria, se Opacifica
e se torna visível, abrindo a possibilidade de uma relação de aprendizagem fundada
numa motivação em que o motivo de interesse é a própria língua, instituída em objecto
de estudo e análise e também de fruição. » (Fonseca 1994).
Tendo em conta estes pressupostos, caberá ao professor criar situações de
ensino-aprendizagem que, através de uma pedagogia da descoberta e da prática de
actividades de análise, conduza o aluno para a aquisição de saberes e para o
desenvolvimento da capacidade de resolução de problemas. As situações de ensino-
aprendizagem que aqui se propõem assumem a forma de questionários escritos que
procuram respeitar princípios metodológicos como:

 A detecção de regularidades da língua a partir de situações de uso com


um percurso que parte da análise textual, se centra depois num trabalho
oficinal de treino sistemático de conhecimento linguístico e regressa de
novo ao texto/discurso;
 A articulação dos diferentes domínios do ensino da língua materna
(ouvir/falar, ler, escrever e reflectir sobre o funcionamento da língua);
 A integração do trabalho gramatical em unidades didácticas dedicadas a
conteúdos programáticos próprios da leitura.

12.1 A importância da fonologia para o ensino de línguas

“A fonologia preocupa-se com a aquisição e a aprendizagem da pronúncia das


línguas. Na medida em que comparamos a aquisição da LM por crianças com a
aprendizagem da LE por adultos, tendemos a considerar que uma e outra ocorrem em
graus diferentes. ” (Sant’Anna, 2003, p.3). A partir dessa afirmação podemos perceber
que a fonologia interfere de maneira significativa na aquisição, tanto de língua
68
materna, quanto de línguas estrangeiras, pois a comunicação em uma determinada
língua exige que dominemos os seus fonemas para que ocorra a obtenção do sentido
que se espera.
O docente de língua portuguesa como língua materna enfrenta desafios ao
trazer a gramática normativa para a sala de aula de ensino básico, pois, em muitas
situações, presenciadas constantemente, ele se depara com uma quantidade de
regras que foram estabelecidas por convenções que necessariamente têm que ser
transmitidas ao aluno de LM. Como exemplo disso, podemos citar a regra a qual todos
nós decoramos e dificilmente aprendemos o porquê de ela existir: “antes de P e B se
escreve M”.
Com base no exemplo acima, podemos inferir que muitos de nós já nos
perguntamos um dia o porquê dessa regra e até já nos deparamos com falta de
explicações por parte do docente sobre ela. A fonética e a fonologia podem, em muitas
situações, trazer uma explicação que podem ajudar ao docente de línguas, a saber,
como lidar com alguns questionamentos desse sentido, pois, nesse caso, a dúvida a
ser respondida ao aluno é de caráter fonético-fonológico, onde cabe a nós, docentes,
trazer a sala de aula uma maneira adequada de dizer que isso é uma questão
articulatória da língua, em que os três fonemas estão em um mesmo ponto de
articulação e por isso a língua tende a fazer por si, esse tipo de articulação.
Saindo do campo das regras, trazendo a fonologia ao campo das línguas
estrangeiras, podemos citar como exemplo a forma com que os professores de inglês
como LE trazem o aprendizado dessa língua como forma decorativa de regras
gramáticas e às vezes até extinguem a oralidade das situações em sala de aula.
Levando em conta o aprendizado por meio do contato inicial com a língua falada e
escrita, vemos a diferença que isso traz para o aprendizado de uma língua. Com isso,
destacamos que os “blocos” de uma fala; ou seja, a junção de palavras formando uma
só, em contexto oral; também devem ser trazidos para o contexto escolar para que o
aluno não fique restrito à escrita e a um contato totalmente artificial com a LE.
Além disso, “as exigências, porém, são maiores no caso da Fonologia, porque
seria um problema absolutamente central, para uma LE, se um fonema ou um grupo
de fonemas fossem pronunciados incorretamente pelo aprendiz, pois a comunicação
com pessoas nativas poderia ser prejudicada. ”. Por isso, como nos traz Sant’Anna
(2003), a fonologia é importante também no sentido de aprendizagem e pronúncia das
línguas. Essa, talvez, seja uma das mais importantes contribuições da fonologia para

69
o aprendizado de LE (línguas estrangeiras). Com isso, destaco que o aprender de
uma língua estrangeira ou língua materna está sempre associado à prática da
pronúncia dos fonemas corretamente, pois a falta disso pode causar desvios até
mesmo do sentido pretendido pelo falante e dificuldades do entendimento,
principalmente quando se trata de uma LE.
Sant’Anna apropriando-se das ideias de Steinberger (1985), destaca que no
aprendizado de uma LE “ a proximidade articulatória pode ser uma das primeiras
dificuldades do aluno quando ele tenta imitar os sons estranhos a sua LM ”. É por isso
que o docente deve observar em quais aspectos o aluno está equivocando-se ao
pronunciar uma palavra que não seja do seu idioma, como no caso da Língua
Espanhola, erroneamente classificada como parecida com o português. Sobre isso,
destaco que os traços fonológicos da língua espanhola possuem características
semelhantes ao português por serem descendentes das línguas neolatinas, e isso
pode fazer com que o discente dessa língua possa trazê-los no momento da aquisição.
Podemos citar alguns exemplos no que se diz respeito às vogais de apoio no
português influenciando no aprendizado de LE. Nesse caso, os discentes de Língua
Estrangeiras ao se depararem com fonemas terminados em consoantes, tendem a
associar às construções de palavras portuguesas. E isso ocorre também na própria
língua portuguesa, onde vemos exemplos em palavras com travamento de sílabas em
consoantes e seguidas de outra sílaba iniciada com consoante. O que geralmente não
acontece no português de Portugal, em que seguem o caminho inverso a esse. A partir
disso, podemos destacar a função do docente de LE em interferir significativamente
nesse processo, pois se precisa salientar que no português, em sua maioria, não
ocorre mudança significativa de sentido, mas em uma língua como o inglês isso muda
significativamente.
Para concluir, destaco outra importância da fonologia no processo de ensino-
aprendizagem de línguas, que é a consideração dos alofones como parte significativa
na distinção entre aprendizagem de LM e aquisição de LE. Pois, o docente precisa
saber como trazer essas alofonias portuguesas para a sala de aula de língua LI (língua
inglesa) por exemplo. O que em outras línguas fazem toda a diferença e são fonemas
próprios das línguas, como no caso das africadas portuguesas que são fonemas
distintos no inglês. Isso pode causar dificuldade para falantes da região sudeste do
Brasil que falam dialetos compostos por esses alofones em ambientes determinados
ao contexto. Nesse sentido, nós docentes, devemos considerar a fonologia como

70
parte essencial do processo da aquisição tanto de LM, quanto de LE, e também como
parte fundamental de construção de significados quanto à estrutura da Língua
Portuguesa e o ensino de gramática dentro desse contexto.
O estudo da fonologia responde precisamente a este desafio: como é que o
falante-ouvinte consegue reconhecer, numa infinidade de sons diferentes, o conjunto
de cerca de duas dezenas que constituem as unidades pertinentes, ou seja, aquelas
unidades que funcionam na língua como unidades do sistema e permitem a
comunicação? Durante o processo de aquisição da linguagem, a criança, embora
exposta a inúmeras pronúncias diversas das unidades da fala, vai reconhecendo
progressivamente os sons com que, na sua língua materna, se constroem as palavras
que servem para comunicar com os outros. A pouco e pouco, inconscientemente, ela
vai apreendendo as relações que se estabelecem entre os sons delimitando o campo
de funcionamento de cada um. A pouco e pouco, portanto, vai adquirindo o sistema
fonológico da língua materna, que corresponde a um exercício de abstração elaborado
a partida realidade fonética.

12.2 Processos Fonológicos Básicos

As modificações sofridas pelos fonemas em início, no meio ou no fim da palavra


designam-se processos fonológicos e são as responsáveis pelas mudanças
linguísticas, logo pela evolução da língua. Os processos fonológicos são de diversos
tipos:

1- Processos fonológicos por inserção de segmentos: adição de um segmento


a uma palavra.

No início da palavra – prótese


 speculu > espelho
 mostrare > mostrar > amostrar

No meio da palavra - epêntese


 humile > humilde
 umeru > umbro

71
No final da palavra – paragoge
 ante > antes

2- Processos fonológicos por supressão de segmentos: supressão de um


segmento na articulação de uma palavra

No início da palavra – aférese


 atonitu > tonto
 inamorare > namorar

No meio da palavra - síncope


 generu > genro
 veritate > verdade

No final da palavra – apócope


 crudele > cruel
 cruce > cruz

Na formação de novas palavras, pode ocorrer a supressão (haplologia) quando,


da junção da forma de base e do sufixo, resultam duas sílabas contíguas, iguais ou
similares:

 bondad(e) + oso ® bondoso [em vez da forma bondadoso]


 trágico + cómico ® tragicómico [em vez da forma tragicocómico]

Ocorre também o processo de apócope quando


existe truncação: cine por cinema; prof por professor.

3- Processos fonológicos por alteração de segmentos: é a mudança sofrida por


alguns fonemas em resultado da influência de outros fonemas que lhe estão
próximos.

Assimilação: um som torna-se igual ou assemelha-se a outro que lhe é vizinho

72
Assimilação total:
 nostru > nosso - o /s/ assimilou o /t/ [chama-se assimilação progressiva porque
ocorre da esquerda para a direita]
 ipse > esse [chama-se assimilação regressiva porque ocorre da direita para a
esquerda]

Assimilação parcial:
 chamam-lo > chamam-no - o /m/ tornou o /l/ também som nasal.

Dissimilação: um som diferencia-se de outro igual ou com o qual se assemelha:


 liliu > lírio
 calamellu > caramelo

Nasalização: uma vogal oral adquire nasalidade por influência de outro som nasal
seu vizinho:
 fine > fim
 manu > mãnu > mão
 lana > lãa > lã

Desnasalização: um som vocálico nasal perde a sua nasalidade:


 corona > corõa > coroa
 bona > bõa > boa

Vocalização: um som consonântico transforma-se num som vocal:


 octo > oito
 regnu > reino

Consonantização: um som vocálico ou semi-vocálico transforma-se num som


consonântico:
 Iesus > Jesus
 iam > já

Ditongação: uma vogal ou um hiato originam um ditongo:

73
 arena > area > arei
 amant > amam

Crase: contração ou fusão de duas vogais numa só:


 legere > leger > leer > ler
 a+a>à

Sonorização: transformação de uma consoante surda em sonora:


 secretu > segredo
 maritu > marido

Palatalização: transformação de um ou mais fonemas numa consoante palatal:


 pl > ch: pluvia > chuva
 fl > ch: inflare > inchar
 li > lh: filiu > filho
 di > j: hodie > hoje
 ni > nh: ingeniu > engenho

Metátese: permuta de um som ou sílaba no interior de uma palavra:


 semper > sempre
 merulu > melro
 capiu > caibo

Redução vocálica: enfraquecimento de uma vogal em posição átona:


 bolo > bolinho
 medo > medroso
 mata > matagal

13 PRINCÍPIOS DE FONÉTICA E FONOLOGIA: SONS DA FALA, PROSÓDIA

Quando alguém fala, produz um contínuo sonoro cuja interpretação não pode
ser feita pelo ouvinte sem o conhecimento da língua utilizada. Por isso não somos

74
capazes de distinguir a sucessão de sons que formam uma palavra em línguas que
desconhecemos. Esse contínuo sonoro possui determinadas propriedades que
estudamos na fonética e que estão presentes em todas as línguas do mundo. O
estudo dessas propriedades não explica, no entanto, como podemos reconhecer o
funcionamento dos sons de uma língua particular, que sequências constituem
palavras, que propriedades fonéticas são usadas com valor informativo.
O estudo da fonologia responde precisamente a este desafio: como é que o
falante-ouvinte consegue reconhecer, numa infinidade de sons diferentes, o conjunto
de cerca de duas dezenas que constituem as unidades pertinentes, ou seja, aquelas
unidades que funcionam na língua como unidades do sistema e permitem a
comunicação? Durante o processo de aquisição da linguagem, a criança, embora
exposta a inúmeras pronúncias diversas das unidades da fala, vai reconhecendo
progressivamente os sons com que, na sua língua materna, se constroem as palavras
que servem para comunicar com os outros.
A pouco e pouco, inconscientemente, ela vai apreendendo as relações que se
estabelecem entre os sons e delimitando o campo de funcionamento de cada um. A
pouco e pouco, portanto, vai adquirindo o sistema fonológico da língua materna, que
corresponde a um exercício de abstração elaborado a partir da realidade fonética. Os
elementos do sistema fonológico são denominados fonemas distinguindo-se neles
três grandes classes: vogais, consoantes e glides (ou semivogais). O progressivo
domínio do sistema fonológico é antecedido da aquisição do funcionamento do
sistema prosódico da língua que se serve das propriedades inerentes a todos os sons
que são a altura, a intensidade e a duração.
A prosódia ocupa-se da correta emissão de palavras quanto à posição da sílaba
tônica, segundo as normas da língua culta. Existe uma série de vocábulos que, ao
serem proferidos, acabam tendo o acento prosódico deslocado. Ao erro prosódico dá-
se o nome de silabada. Observe os exemplos.

1- São oxítonas:

Condor Novel Ureter

Mister Nobel Ruim

75
2- São paroxítonas:
Austero Ciclope Madagáscar Recorde

Caracteres Filantropo Pudico (dí) Rubrica

3- São proparoxítonas:

Aerólito Lêvedo Quadrúmano

Alcíone Munícipe Trânsfuga

Existem palavras cujo acento prosódico é incerto, mesmo na língua culta.


Observe os exemplos a seguir, sabendo que a primeira pronúncia dada é a mais
utilizada na língua atual.

Acrobata - acróbata Réptil - réptil

Bálcãs - Balcãs Xerox - xérox

Projétil - projetil Zangão - zângão

14 PROPRIEDADES ARTICULATÓRIAS E ACÚSTICAS DOS SONS

A fonologia é a parte da linguística que estuda os sistemas sonoros das línguas,


ou seja, a categorização de sons e os aspectos relacionados com a percepção. A
fonologia inclui o estudo de como os sons são usados sistematicamente em uma
determinada língua, incluindo padrões de entonação e prosódia, assim como a
fonética. A fonologia dedica-se a diferentes aspectos relacionados à sonoridade da
língua. Há autores que se dedicam a estudar fatores como entonação e acento
considerando-os como autônomos em relação à estrutura segmental da frase. Outros
trabalham com a fonologia aplicada ao léxico.
Fonética acústica mostra como descrever e quantificar os sons da fala, e
também como a qualidade desses sons está relacionada com a forma de produzi-los.
Com a finalidade de descrever e quantificar esses sons precisamos conhecer algumas
características relacionadas ao som. São elas: vibração, intensidade, harmônicos,
ressonâncias. Na função de relacionar os sons da fala à sua forma de produção,

76
vamos conhecer como se comportam as ondas sonoras da fala em relação a estas
propriedades sonoras gerais.

 Vibração
Para que possam existir ondas sonoras é necessário que ocorra vibração, pois
as ondas (distúrbios) são resultantes de vibrações.O som então consiste da
propagação dessas ondas. Quando elas se propagam pelo ar, a sua velocidade é de
340m/s (em outras matérias (líquidos, sólidos, etc.) essa velocidade muda). As ondas
criadas pela vibração podem ser simples ou compostas, e ainda periódicasou não-
periódicas. O exemplo clássico do fenômeno da vibração é o movimento de um lado
para o outro de um pêndulo.

 Intensidade
A intensidade tem relação com a amplitude de um som. A amplitude da vibração
pode ser entendida como a distância entre x e y. Ela representa a pressão exercida
sobre as partículas de ar durante a vibração, sendo sempre relativa à pressão exercida
em um outro som que serve de referência. A representação da amplitude em decibéis
(dB) estabelece a relação com as razões de pressão, facilitando sua medição. A
sensibilidade do ouvido humano para variações de intensidade depende da altura da
frequência. Pode-se perceber que o ouvido alcança o seu nível máximo entre 600 e
4000 Hz, diminuindo rapidamente abaixo e acima dessas frequências. A faixa de
audição do ouvido humano vai de 16 Hz a 16.000 Hz.

 Harmônicos
Falamos até agora em ondas simples, mas as maiores partes dos corpos geram
ondas complexas. Apresentamos um exemplo exibido em MALMBERG (1954:19) que
esclarece muito bem o que são ondas complexas. Um corpo em vibração faz vibrar
todo corpo, mas também cada uma de suas partes com velocidades que
correspondem à relação entre a parte em questão e o corpo todo. Assim, metade de
um corpo vibrará com uma velocidade duas vezes maior do que a que emprega para
vibrar o corpo inteiro; um terço deste corpo vibrará três vezes mais rápido e assim por
diante. Esse exemplo demonstra que um corpo em vibração gera sua frequência
fundamental (a primeira frequência, referente ao corpo por inteiro), mas também o que

77
chamamos de harmônicos que são frequências múltiplas inteiras da frequência
fundamental.

 Ressonâncias
As ondas sonoras tendem a pôr em vibração os corpos que se encontram em
sua passagem quando eles possuem a mesma vibração (ao que chamamos de
frequência natural). Ou melhor, explicando: cada corpo possui uma frequência e
quando encontra ondas sonoras geradas por corpos que tenham a mesma frequência
natural de vibração que ele, passam a vibrar também, havendo um reforço desta
frequência natural.
Há ainda estudiosos que se dedicam à organização de segmentos em palavras
e há autores que trabalham com o estudo da fala caracterizada em fonemas. Como
podemos perceber, o campo da fonologia é um campo amplo que trabalha com
diferentes aspectos da língua. Neste sentido, como cada língua apresenta
características específicas de sonoridade, seja considerando-se a articulação dos
sons, seja a prosódia ou a entonação, acreditamos haver muitas vantagens em
trabalhar com fonologia em aulas/cursos de Inglês como língua palavras ou pequenas
sentenças. Raramente os alunos recebem informação sobre a qualidade de sons,
padrão de entonação e similares.
Com isso, muitos aprendizes falam Inglês usando padrões de entonação
errados e, normalmente, pronunciam palavras simples de forma errada. Como
resultado, muitos alunos ficam frustrados com o seu processo de aprendizagem.
Diante disso, entendemos que conhecer os fundamentos do sistema fonológico do
Inglês enquanto língua estrangeira pode ser efetiva na busca de levar os alunos a
tornar-se conscientes da pronúncia correta e capazes de monitorar a própria fala. Se
os alunos não tiverem a consciência fonológica da LE, eles não saberão como
monitorar seu discurso, sempre irão precisar de alguém para corrigir a sua pronúncia.
Para o ensino de fonologia como ferramenta de ensino/aprendizagem de LE,
devemos considerar as características fonéticas de uma língua. A fonética é a parte
da fonologia que se dedica ao estudo articulatório e acústico da fala. Na fonética, o
principal aspecto que nos interessa é o inventário fonético internacional – ou IPA
(International Phonetics Alphabet) – que é o inventário de símbolos convencionais
para representar os sons da fala. Nem todos os sons do IPA estão presentes em todas
as línguas. Segundo Silva (2012, p.117), “línguas variam quanto aos seus inventários
78
fonéticos”, ou seja, o inventário fonético de uma língua não corresponde ao de outra,
o que implica que há sons existentes em uma língua que não existem
necessariamente em outra. Assim, estudando fonologia da LE, os alunos podem
tornar-se conscientes das características fonéticas.

15 NOÇÕES BÁSICAS DE FONOLOGIA

Acentuar, pontuar, escrever, separar e pronunciar corretamente as palavras


depende muito deste capítulo gramatical.

Fonemas: Nossa língua pode ser escrita e falada. Na língua escrita, as palavras são
formadas por letras - denominadas símbolos gráficos; na língua falada, por fonemas.

O Fonema é a menor unidade fônica distintiva da palavra. Definida como


distintiva porque a mudança de um fonema acarreta uma nova palavra. EX.:
fama/lama, bota/bola. O fonema se representa entre barras oblíquas: / /. Uma letra
pode representar fonemas diferentes: A letra s, por exemplo: sala - /s/ - lemos sê; asa
- /z/ - lemos zê.
Dígrafo é o grupo de duas letras que representam um só fonema. Ex.: ch -
chave, nh - lenha, lh - velho, ss - massa, sc - nascer, xc - exceto, sç - nasça, xs -
exsudato, gu - guerra e qu - quilo.
Tipos de fonemas: pode ser vogal, consoantes e semivogais. Vogais são
fonemas que resultam da livre passagem da corrente de ar pela boca ou pelas fossas
nasais. Na pronúncia de a, e, i, o, u nenhum órgão da boca interrompe a passagem
da corrente de ar. Consoantes são fonemas que resultam da interferência de um ou
mais órgãos na passagem da corrente de ar. Na pronúncia do /p/, observamos que o
contato dos lábios interrompe a passagem de ar. todos os fonemas consonantais são
produzidos com interferência de um ou mais órgãos da boca. Semivogais são fonemas
vocálicos que se agrupam com a vogal numa sílaba. Nossa língua possui apenas duas
semivogais: /y/ - representado pelas letras e, i, n e m; e /w/ - representado pelas letras
o, u, e m. Ex.: mãe, pai, hífen, jovem / magoa, mão, pão, falam.
A língua pode ser estudada sob diferentes perspectivas (descritiva, social,
cognitiva, etc.). Cada língua pode ser estudada como um sistema fechado, ou seja,

79
focando o conjunto da sua gramática e de seu léxico, assim como podemos achá-los
nas descrições gramaticais e nos dicionários, ou pode ser analisada em seu uso
concreto, que é em boa medida diferente, mais complexo e dependente de muitas
variáveis não estritamente linguísticas.
Geralmente o estudo descritivo da linguagem é divido em vários níveis. Aqueles
tradicionalmente tidos como os principais são: o nível fonético-fonológico, o nível
morfológico, o nível sintático. Esses três níveis
Constituem a gramática de uma língua. A esses níveis deve-se acrescentar o
léxico, ou seja, o conjunto das palavras que compõem uma língua e que são usadas
respeitando as regras da gramática. O estudo dos significados das palavras e das
frases (ou dos enunciados) é objeto da semântica e dapragmática, dependendo se o
foco está no estudo do significado puramente linguístico ou da língua inserida em seu
uso concreto.
A instrução direta da consciência fonológica, combinada à instrução da
correspondência grafo-fonêmicas, acelera a aquisição da leitura. No Brasil já foram
realizados estudos no intuito de desenvolver a consciência fonológica em crianças,
demonstrando que, também na ortografia da língua portuguesa, a consciência
fonológica é um pré-requisito para a aquisição de leitura e escrita
(Capovilla&Capovilla, 1997; Capovilla, Capovilla&Silveira, 1998). Instruções de
consciência fonológica e instruções fônicas mostraram-se eficazes em melhorar a
leitura e escrita quando introduzidas em diferentes níveis escolares.
Segundo Capovilla&Capovilla (2003), diversos trabalhos têm relatado que esta
habilidade se correlaciona com o sucesso na aquisição da linguagem escrita, de forma
que a importância da consciência fonológica para o processo de aquisição da leitura
e da escrita tem sido bem reconhecida. Desta forma, em diversos estudos já
conduzidos no Brasil, foi adotado um procedimento para desenvolver a consciência
fonológica e ensinar correspondências grafo-fonêmicas a escolares. Este foi aplicado
em crianças de níveis socioeconômico médio e baixo e mostrou-se eficaz em
aumentar o desempenho em consciência fonológica, leitura e escrita de crianças no
início da alfabetização (Capovilla&Capovilla, 2000a).
Este procedimento para desenvolver consciência fonológica e ensinar
correspondências grafo-fonêmicas abrange diversos níveis de consciência, desde a
consciência de rimas e aliterações até a consciência de fonemas (Capovilla &
Capovilla, 2000b).

80
O procedimento consta de 38 atividades, distribuídas da seguinte forma: 13
atividades de consciência de palavras, rima e aliteração; 10 atividades de consciência
de sílabas; 5 atividades de consciência fonêmica; e 10 atividades de manipulação
fonêmica. A partir da atividade 24, a criança é submetida ao treino das relações grafo-
fonêmicas sem, contudo, precisar utilizar a escrita. Todo procedimento é realizado
oralmente e os exercícios são feitos por meio das correspondências entre o som das
palavras e figuras que as representam. Utiliza-se também de figuras geométricas com
o objetivo de representar simbolicamente as figuras, palavras, sílabas e fonemas
trabalhados.
Como exemplo de atividades propostas para esse treino em rima, propõe-se
que a criança identifique palavras que terminem com o som pedido pelo aplicador, por
exemplo: "Diga o nome de um animal que termine com to, ou diga o nome de uma
fruta que termine com ana". Nessa atividade é esperado que a criança demonstre,
falando, que percebeu que as palavras terminam com o mesmo som.
Em uma das atividades de aliteração, o aplicador começa contando uma
história curta com aliterações, em seguida deve fazer um jogo em que pede às
crianças que falem itens que comecem por um determinado som, por exemplo,
palavras que começam com /a/; animais cujos nomes começam com /má/, é
necessário que possamos dizer à criança várias palavras com uma mesma sílaba,
para que ela possa compreender a atividade, espera-se que a criança fale ao menos
uma palavra que comece com o som solicitado.
Como exemplo de atividade de consciência de palavras e segmentação de
frases, o aplicador deve falar uma frase e depois a repete sem a última palavra, a
criança deve dizer, então, a palavra que faltou, por exemplo, /Eu passeio de bicicleta.
Eu passeio de ____/. É preciso salientar que, apesar do comando da atividade ser a
segmentação de frases, o aplicador não deve segmentar a frase, palavra por palavra.
A frase deve ser enunciada por inteiro, sem interrupções, no intuito de evitar a
desnaturalização da fala.
A consciência de sílabas é trabalhada, por exemplo, em uma atividade em que
o aplicador e as crianças cantam músicas familiares batendo palmas a cada sílaba
falada. A consciência de sílaba pode ser trabalhada também em atividades que
apresentem a síntese silábica. Como exemplo pode-se usar um jogo com fantoches
em que esses dizem palavras separando as sílabas, sendo que as crianças devem
dizer a palavra inteira, unindo as sílabas faladas pelo fantoche.

81
A identidade fonêmica pode ser trabalhada em atividade na qual inicialmente,
é proposto à criança trabalhar com histórias em que um fonema aparece
repetidamente em várias palavras, mostrando-se a letra correspondente a esse
fonema, sendo solicitado em seguida à criança que repita as palavras ditas pelo
aplicador e logo depois que faça a identificação do fonema inicial de cada palavra.
Como exemplo de atividade de consciência fonêmica pode-se utilizar o teatro
de fantoches, em que um deles é caracterizado como aquele que fala "palavras
bobas", ou seja, fala palavras trocando um fonema, por exemplo, em vez de /menino/,
dizer /benino/. As crianças devem, então, assistir ao teatro de fantoches e interagir
corrigindo as "palavras bobas", dizendo as suas formas corretas. Sugestões Práticas
243 A atividade cobre tanto sons consonantais como vocálicos.
A consciência fonêmica pode também ser trabalhada com a síntese de fonemas
em jogos nos quais o aplicador deve apresentar palavras ou pseud.palavras em que
cada fonema é representado por uma forma geométrica. Adicionam-se, então, formas
geométricas no início, fim e meio dos itens para formar diferentes palavras. O
aplicador deverá apresentar os cartões para as crianças e informar que cada um dos
cartões irá representar um fonema distinto. Essa atividade possui como principal
objetivo mostrar que, pela modificação na arrumação dos fonemas nas palavras pode-
se formar outras palavras distintas.
No procedimento deverá ser feita no máximo uma atividade por dia, sendo
realizado também um treino do alfabeto em paralelo. É importante lembrar que sempre
que trabalhar com pseud. palavras deve-se dizer à criança que se trata de palavras
inventadas. O treino pode ser administrado individualmente ou em grupos em sessões
no consultório por psicólogos ou pelos professores nas classes, sendo estes
capacitados para tanto.
No intuito de verificar a eficácia do procedimento descrito foram Capovilla
(2003) comparou-se o desempenho de crianças na habilidade de consciência
fonológica, na aquisição da leitura e escrita antes e depois de serem submetidas ao
treino. As crianças que participaram das atividades de consciência fonológica e de
correspondência grafo-fonêmicas apresentaram ganhos significativos, tanto em
consciência fonológica quanto em leitura e escrita quando comparadas às do grupo
controle. Isto confirma a importância e a necessidade de programas de ensino de
leitura e escrita que incluam atividades de consciência fonológica.

82
16 A ESTRUTURA FONOLÓGICA DO INGLÊS E DO PORTUGUÊS

A fala apresenta alguns princípios em sua organização sonora. Ainda segundo


Silva (ibid), “[T]ais princípios agrupam segmentos consonantais e vocálicos em cadeia
e de terminam a organização das sequências sonoras possíveis de uma determinada
língua”. Assim, cada língua apresenta uma organização sonora específica. Ainda
segundo a autora, todo falante possui uma intuição acerca do sistema sonoro de sua
língua – poderíamos acrescentar, obviamente, que, então, não o possuem em relação
a línguas estrangeiras.
Diante disso, acreditamos ser necessário e produtivo que alunos de inglês
como LE conheçam o IPA. Apesar do trabalho em sala de aula para ensinar o IPA
exigir mais tempo que o habitual, estudando a fonética da LE, os alunos podem ter
autonomia para procurar não só o significado, mas também a pronúncia de palavras
em dicionários, uma vez que estes geralmente trazem a transcrição fonética das
palavras. Por outro lado, pode-se argumentar que é um pouco difícil porque há muitas
convenções sobre a representação de sons e os alunos não podem aprender todas
as convenções. No entanto, quando o aluno estuda o alfabeto fonético e sabe que há
símbolos que representam sons da fala, é mais fácil entender a transcrição nos
dicionários.
Além disso, dicionários e livros didáticos de LE geralmente trazem na capa uma
lista de palavras e o som correspondente para ilustrar para o usuário dessas matérias,
qual sistema convencional foi seguido. Assim, o aluno não precisa aprender todas as
convenções, mas deve saber que existem símbolos para representar sons e como
verificar esses símbolos no material que irá usar. Não estamos argumentando aqui
que se deve ensinar o IPA e cobrar do aluno que conheça a diferença das consoantes
em termos de classificação (fricativas, lábio-dental, palatal). O que queremos dizer é
que o IPA pode e deve ser usado como ferramenta de aprendizagem para um aluno
de inglês como LE, não somente para ajudar no aperfeiçoamento da pronúncia, mas
também para desenvolver uma autonomia no aluno em relação a essa habilidade.
Outro item importante em que a fonologia poderia ser usada é no
conhecimento de sons que são distintivos em uma língua e não em outra. Por
exemplo, em português o fonema /t/ realiza-se foneticamente como [t] ou [tʃ],
dependendo da posição em que ocorre na palavra: se diante da vogal [i], teremos o
[tʃ], como na palavra tia; se diante das demais vogais, o fonema /t/ realiza-se [t] como
83
na palavra teto. Entretanto, voltemos à palavra tia. Dependendo da região do Brasil o
/t/ nessa palavra poderá ser realizado como [t] ou [tʃ] não causando nenhuma
estranheza ou incompreensão a nenhum falante do português.
Por outro lado, na língua inglesa esses sons não podem ser usados como
equivalentes. Erro comum acontece na palavra teacher em que falantes brasileiros
costumam pronunciar o fonema /t/ que aparece [tʃ] ao invés de [t], que seria o correto
na primeira ocorrência na palavra em questão. Essa pronúncia, com [tʃ] é inaceitável
no inglês e dificilmente seria reconhecida por um falante nativo da língua. O DETYA
(Departmentofeducation training andyouthaffairs) desenvolveu um curso para o
ensino de pronúncia e detectou que o ensino de fonemas e prosódia, ambos parte da
fonologia, são de fundamental importância para o ensino/ prática de inglês como
língua estrangeira.
Segundo Fraser (2001, p.5), é necessário focar tanto características como
entonação e ritmo quanto focar características fonéticas, inclusive porque muitas
vezes as características fonéticas irão interferir no ritmo e entonação. Além disso, a
autora ainda enfatiza que a fonologia pode ser ensinada a aprendida de forma
eficiente. Segundo a autora, na prosódia, assim como ocorre com os fonemas, a
influência inconsciente de nossa primeira língua é imensa na formação da nossa
percepção e concepção, de forma que as pessoas de diferentes origens linguísticas
compreendem aspectos prosódicos de forma bastante diferente. FRASER (2001,
p30).
Com isso, delineia-se importante o ensino de aspectos da prosódia na LE de
forma a tornar o aluno consciente das características da língua que estuda. Ainda
segundo a autora, o ponto chave para a dificuldade de falar uma língua estrangeira
(aqui nos referimos à produção oral), está no fato de que os alunos não aprendem a
falar apenas ao serem apresentados a fatos a respeito da língua. Ao contrário, eles
aprendem ao serem guiados por experiências que os levem a construir conceitos a
respeito da língua em seu subconsciente, de forma a minimizar a influência da primeira
língua quando se aprende uma língua estrangeira. Gilbert (2008) pontua que o
conhecimento da prosódia da LE por parte de professores e alunos é fundamental
para o desenvolvimento das habilidades de produção oral.
Assim, afirma o autor, Em Inglês, sinais rítmicos e melódicos servem como
"sinais de trânsito" para ajudar o ouvinte a entender as intenções do falante. Estes
sinais comunicam a ênfase e tornam clara a relação entre as ideias para que os

84
ouvintes possam identificar facilmente essas relações e entender o que o falante quer
dizer. Infelizmente, quando os alunos de língua inglesa falam em sala de aula, eles
geralmente não pensam em como ajudar os seus ouvintes a entender o querem dizer.
Em vez disso, eles muitas vezes pensam sobre como evitar erros de gramática,
vocabulário, e assim por diante2 (GILBERT, 2008, p.2).
Isso nos mostra a importância do trabalho em sala de aula de aspectos
prosódicos da língua como forma de mostrar ao aluno como “falar corretamente”, não
para parecer um nativo, mas para ser compreendido por qualquer falante da língua
inglesa. De acordo com Pennington (1996), a fonética é muito útil para a prática de
listening. O aluno, conhecedor da fonética de uma língua, pode prestar atenção a sons
específicos e reconhecer as palavras mais facilmente, assim como reconhecer as
palavras importantes em vez de tentar entender todas as palavras e toda a frase.
Trata-se de aspecto importante e que ajuda muito, não só nas atividades de
listening, mas também em atividades de prática oral, como por exemplo, saber as
diferenças básicas entre os sons como consoantes surdas e sonoras; vogais longas
e curtas, porque estas distinções raramente são ensinadas e estudantes de inglês
como LE costumam ter dificuldades para fazer essas distinções. Como exemplo,
podemos citar as palavras it e aet.Em que a primeira apresenta o som da vogal /i/
curto e a segunda um som longo da mesma vogal. É uma diferença talvez muito sutil
para um estrangeiro, mas para um nativo é bastante diferente e significativo.
O não conhecimento dessas características pode causar estranhamento em
interações nativo/estrangeiro. Nesse sentido, se os alunos não conhecem essas
pequenas diferenças entre sons consonantais e sons vocálicos, é difícil entender
algumas palavras e pronunciá-las. Além disso, Pennington (1996, p.222) argumenta
que sobre a pronúncia de sons individuais podem aumentar a inteligibilidade das
palavras individuais.
Como exemplo, para um falante do Português, é às vezes difícil de pronunciar
o th em palavras como think, that e with. Isso porque o [θ] e o [ð] são sons que não
existem em português, por isso, eles costumam pronunciar [s] [d] e [f],
respectivamente. Para um brasileiro falante do português conversando com outro
brasileiro, talvez não haja problemas, mas para um falante nativo da língua inglesa,
esta troca de sons é considerável na compreensão da fala. Dessa forma, conhecer o
inventário de sons da fala inglês pode ajudar os alunos a entender as diferenças entre
sons e se auto-monitorar quando estiver falando a LE.

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Além disso, os padrões de entonação do inglês ajudam o falante a demonstrar
interesse ou desinteresse na conversa. Trata-se, assim, de um aspecto importante na
construção do significado, quando tratamos da linguagem oral. Se os alunos não têm
essa consciência pode parecer chato e desinteressado. Como exemplo, podemos
citar os casos de entonação ascendente e descendente, que na língua inglesa
expressam significados.
Assim, uma entonação ascendente em Really! Mostra que o ouvinte está
interessado na conversa e uma entonação descendente mostra o contrário, ou seja,
desinteresse na conversação. Se um aluno de inglês como LE não conhece essa
diferença, quando usar a língua estrangeira utilizando os padrões de entonação da
própria língua, este pode causar estranheza em seus interlocutores mostrando-se
interessado o tempo todo ou parecer dar muita atenção, sem necessidade, ou, ainda,
parecer desinteressado na comunicação. Vale ainda ressaltar a importância do uso
da fonologia como ferramenta de ensinoaprendizagem considerando-se as palavras
tônicas nas sentenças.
Às vezes, podem-se causar incompreensões na fala uma vez que na língua
inglesa as palavras tônicas na sentença apresentam informações sobre o tema da
conversa. Por exemplo, em uma conversa em que alguém pronuncia a frase
Wewenttothe cinema yesterdaynight e a palavra acentuada seja cinema, indica que o
tema da conversa é a atividade de ontem à noite. Por outro lado, seria diferente se a
ênfase fosse em night, pois significaria que o tema de conversa seria quando ir ao
cinema: à tarde ou à noite, por exemplo. Assim, o aluno que não tiver essa informação
pode ter dificuldades em compreender outros falantes de língua inglesa e ter um lugar
em uma conversa.
Dessa forma, a fonologia pode ajudar os alunos a adquirir fluência. Embora
algumas pessoas acreditem que a fluência pode ser adquirida apenas quando exposto
à linguagem oral em situação real, quer dizer, conversando com nativos, em um país
que tenha o inglês como língua oficial, isso não é verdade. Através de aspectos
fonológicos mencionados anteriormente, associados à prática, os alunos podem
adquirir fluência em sala de aula, que os alunos que estudam a fonologia e a usam
para praticar o Inglês fora da sala de aula, adquiriram fluência com menos dificuldade
que aqueles que apenas praticaram em sala de aula e, também, aqueles que não
estudaram fonologia.

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Além disso, ele associa a aquisição de fluência à sua prática. Então, o que é
necessário para atingir essa meta? Basta praticar? A resposta é não. Isso porque
praticando a pronúncia errada não irá desenvolver fluência. É necessário que o aluno
saiba/aprenda a qualidade de sons em inglês, regras de padrões de entonação,
sílabas tônicas e palavras tônicas em sentenças. E esse conhecimento pode ser
adquirido através do estudo de fonologia. Em conclusão, ensinando fonologia,
professores de inglês como LE têm muitas vantagens, como ajudar os aprendizes não
só na sua pronúncia, mas também em suas habilidades de escuta e fala, permitindo
aos alunos que verifiquem em dicionários a pronúncia de palavras e estejam cientes
das características fonológicas e padrões de entonação da língua estrangeira que
estão aprendendo.
Argumentamos que, estudando fonologia, os alunos podem desenvolver
consciência das características que envolvem os sons na língua estrangeira, das
diferenças de entonação, ou seja, algumas das ferramentas que irão auxiliá-los no
desenvolvimento de habilidades como a fala e a compreensão oral. A consciência
fonológica pode ser entendida como um conjunto de habilidades que vão desde a
simples percepção global do tamanho da palavra e de semelhanças fonológicas entre
as palavras até a segmentação e manipulação de sílabas e fonemas (Bryant &Bradley,
1985). Fazendo parte do processamento fonológico, que se refere às operações
mentais de processamento de informação baseadas na estrutura fonológica da
linguagem oral. Assim, a consciência fonológica refere-se tanto à consciência de que
a fala pode ser segmentada quanto à habilidade de manipular tais segmentos, e se
desenvolve gradualmente à medida que a criança vai tomando consciência do sistema
sonoro da língua, ou seja, de palavras, sílabas e fonemas como unidades
identificáveis (Capovilla & Capovilla, 2000b).
Enquanto a consciência de segmentos suprafonêmicos desenvolve-se de
modo espontâneo, o desenvolvimento da consciência fonêmica necessita da
introdução formal a um sistema de escrita alfabético (Morais, 1995). A precedência da
consciência suprafonêmica em relação à consciência fonêmica é devida ao fato de
que sílabas isoladas são manifestadas como unidades discretas da fala, o que não
ocorre com os fonemas. Segundo Morais (1995), para a consciência de fonemas são
necessárias instruções expressas sobre a estrutura da escrita alfabética, no intuito de
familiarizar a criança com o mapeamento que está escrita faz dos sons da fala. Vale
ressaltar que as instruções para o desenvolvimento da habilidade de manipular os

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sons da fala, bem como as instruções para desenvolver a habilidade de converter
esses sons em escrita e vice-versa, devem ser realizadas de modo a tornar explícito
à criança estas correspondências (Capovilla&Capovilla, 2003).
De acordo com Frith (1985), há três estratégias básicas para se lidar com a
palavra escrita. A primeira é a logográfica. O uso desta estratégia implica no
reconhecimento das palavras por meio de esquemas idiossincráticos. Desta forma, os
aspectos críticos para a leitura podem não ser as letras, e sim dicas nãoalfabéticas. A
segunda estratégia é a alfabética, e implica em analisar as palavras em seus
componentes (letras e fonemas) e em utilizar, para codificação e decodificação, regras
de correspondência grafo-fonêmicas. Finalmente, a estratégia ortográfica implica na
construção de unidades de reconhecimento no nível alfabético. Com isso, partes das
palavras podem ser reconhecidas diretamente, sem conversão fonológica. Assim,
resumidamente, segundo Morton (1989), a leitura se dá de acordo com um modelo de
duplo processo: o acesso ao som e ao significado pode ocorrer por meio de um
processo direto ou por meio de um processo indireto, envolvendo mediação
fonológica.
A rota fonológica, que se desenvolve com a estratégia alfabética, é essencial
para a leitura e a escrita competentes, pois faz uso de um sistema gerativo que
converte a ortografia em fonologia e vice-versa, o que permite à criança ler e escrever
qualquer palavra nova, apesar de cometer erros em palavras irregulares (Alegria,
Leybaert, &Mousty 1997). A geratividade, característica das ortografias alfabéticas,
permite a autoaprendizagem pela criança, pois ao encontrar um novo item a criança
poderá fazer leitura/escrita por (de) codificação fonológica. Esse processo contribuirá
para a criação de uma representação ortográfica do item que posteriormente poderá
ser lido pela rota lexical.

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17 BIBLIOGRAFIA BÁSICA

FÁVERO, Leonor Lopes; KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça. Linguística Textual:


Introdução. 10. ed. São Paulo: Cortez, 2012.

FIORIN, José Luiz (org.). Introdução à Linguística: Objetos Teóricos. 6. ed. São
Paulo: Contexto, 2015.

FIORIN, José Luiz (org.). Introdução à Linguística: Princípios de Análise. 5. ed.


São Paulo: Contexto, 2016

MUSSALIM, Fernanda; BENTES, Anna Christina. Introdução à Linguística:


Domínios e Fronteiras. 9. ed. São Paulo: Cortez, 2012 – Volume 1

SEARA, Izabel Christine; NUNES, Vanessa Gonzaga; LAZAROTTO-VOLCÃO,


Cristiane. Para Conhecer Fonética e Fonologia do Português Brasileiro. Editora
Contexto, 2015.

SCHWINDT, Luiz Carlos. Manual de Linguística - Fonologia, Morfologia e Sintaxe.


Editora Vozes, 2014.

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR

CARVALHO, Castelar de. Para Compreender Saussure. Petrópolis: Vozes, 2013.

COUTO, Hildo Honório do. Fonologia e Fonologia do Português. Brasília:


Thesaurus, 1998.

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MAGALHÃES, Izabel (org.). As Múltiplas Faces da Linguagem. Brasília: UnB, 1996.

MOTTA MAIA, E. No Reino da Fala: a Linguagem e seus Sons. São Paulo, 1995.

TERRA, Ernani. Linguagem, Língua e Fala. São Paulo: Scipione, 1997.

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