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A CURVA TAUTÓCRONA 1

A Curva Tautócrona
Luis Guilherme Foresto

Abstract—No século XVII eram comuns desafios entre eruditos através de publicações e cartas, assim como desafios
propostos pelo próprio governo, premiando o vencedor, para desenvolvimento da ciência. O problema da curva
tautócrona foi proposto e solucionado por Huygens e os irmãos Bernoulli e neste artigo acadêmico o resolveremos
utilizando a conservação de energia mecânica, o cálculo do comprimento de arco, a transformada de Laplace e a
equação diferencial que possui como solução um ciclóide.

Index Terms—Tautócrona, Transformadas, Ciclóide, Comprimento de arco

1 O D ESAFIO tempo t a partı́cula se encontra a uma altura


variável y e portanto possui energia mecânica
O Problema consiste em encontrar a curva
que faz com que um corpo em condições
ideais (sujeito apenas a ação da gravidade e
igual a soma da energia potencial gravitacional
nessa altura com a sua energia cinética.
restrito ao percurso da curva) atinja o ponto O teorema da conservação da energia
baixo da curva após um intervalo de tempo que mecânica nos diz que a energia da partı́cula
independa da altura em que foi solto, portanto no tempo t0 = 0 deve ser igual a energia da
a tal curva foi dada o nome de Tautócrona partı́cula no tempo t, ou seja:
proveniente do grego tautos (mesmo) e chronos
(tempo). Isso equivale a dizer que não im-
mv 2
portando o valor de y0 , o tempo gasto pela mgy0 = mgy + (1)
partı́cula será sempre o mesmo, ou seja, t(y0 ) = 2
T0 (cte). Como a partı́cula está confinada a andar sobre
a curva, logo a velocidade é um diferencial de
2 I LUSTRAÇ ÃO E C ÁLCULOS comprimento de arco no tempo e portanto a
equação (1) assume a seguinte forma quando
A figura abaixo ilustra o problema:
isolamos a velocidade e a escrevemos de forma
diferencial:

d` p
= ± 2g(y0 − y) (2)
dt
Como o eixo y foi adotado na direção contrária
da direção da velocidade da partı́cula pode-
Inicialmente (em t0 = 0) a partı́cula possui mos desprezar a raı́z positiva na equação (2)
energia mecânica puramente potencial gravita- e utilizar da regra da cadeia para escrever
cional (mgy0 ), pois parte do repouso. Após um a velocidade da partı́cula de uma forma que
nos auxiliará muito. Portanto a velocidade as-
o
• Luis Guilherme Foresto n USP 9002735, sumirá a seguinte forma:
E-mail: luis.gf@alunos.eel.usp.br,
Escola de Engenharia de Lorena, USP.
d` d` dy
v= = (3)
dt dy dt
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2 A CURVA TAUTÓCRONA

Aqui estamos considerando que y = y(x), de onde C é uma constante.


forma que a curva dependa apenas de y e não Precisaremos também da transformada de
de duas variáveis y e x. Juntando a equação (3) Laplace da função raı́z quadrada, a qual é dada
com a parte negativa da equação (2) e isolando utilizando a função gamma.
o tempo podemos chegar na seguinte equação:
Γ(x + 1)
L {tx } =
1 d` sx+1
−p dy = dt (4)
2g(y0 − y) dy Escolhendo x = − 12 obtemos:
Integrando a equação (4) do lado esquerda de
uma altura y0 até uma altura nula e do lado 1 Γ( 1 )
direto de um tempo t0 = 0 até um tempo t(y) = L {y − 2 } = √2
s
T0 ela assume a seguinte forma: √
Onde Γ( 12 ) = π e portanto a transformada de
Laplace da função raı́z quadrada é:
Z 0 Z t(y)
1 1 d`
−√ (√ )dy = dt = T0 (5)
2g y0 y0 − y dy 0 √
− 12 π
L {y }= √
Pode-se identificar que a integral em questão s
se trata de uma convolução e portanto pode-
mos utilizar da transformada de Laplace para 2.2 Voltando a equação (5)
d`
determinarmos . Se compararmos o Teorema da convolução com
dy
a integral contida na equação (5) notaremos
que:
2.1 Utilizando da Transformada de Laplace
A transformada de Laplace é definida como a Z 0
seguinte integral imprópria: 1 d`
(√ )dy = −(f ∗ g)(y0 ) (6)
y0 y0 − y dy
Z ∞ Onde
L {f (t)} = e−st f (t)dt 1 d`
0 g(y0 ) = √ ; f (y0 ) =
y0 dy
Porém estamos interessados no teorema da
convolução que diz: Dada a convolução de f Aplicando a transformada de Laplace em toda
com g: equação (5) e utilizando da equação (6) obter-
emos:
Z t
(f ∗ g)(t) = f (τ )g(t − τ )dτ
r
d` T0 2g √
0 L{ } = s (7)
dy s π
Logo a seguinte igualdade é verdadeira:
d`
Para encontrarmos dy basta aplicarmos a trans-
formada inversa de Laplace na equação (7) e
L {(f ∗ g)(t)} = L {f (t)}L {g(t)} finalmente obteremos:

Precisaremos da transformada de Laplace de r


uma função constante que é: d` 2g − 1
= T0 L {√ }
dy π s
r
C d` T0 2g
L {C } = dy
=
π y
(8)
s
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2.3 Trabalhando com o Comprimento de


Arco y(x)
O comprimento de arco ` é dado através da y 0 (x)2 = (11)
C2 − y(x)
seguinte integral:
Para facilitar o cálculo denotaremos C 2 = 2a, a
equação (11) possui 4 curvas diferentes como
Z b
solução e para resolvê-la devemos considerar
`= kr0 (t)kdt que tanto y quanto x são funções de outra
a
variável, ϕ, a qual se trata de um ângulo.
Onde o negrito foi utilizado para representar A solução parte do fato da derivada ser a
um vetor. Como estamos considerando y = associada a tangente ou cotangente de um
y(x) podemos parametrizar a curva da seguinte ângulo. Para chegarmos na curva condizente
forma: a ilustração do problema consideramos que
dy/dx = cot(ϕ). Substituindo as considerações
na equação diferencial (11) teremos:
r(x) = xe1 + y(x)e2
r0 (x) = e1 + y 0 (x)e2
cos2 (ϕ) y
p cot2 (ϕ) = =
kr0 (x)k = 1 + (y 0 (x))2 2
sin (ϕ) 2a − y
Se substituirmos a parametrização na função Isolando y obteremos:
comprimento de arco e a escrevermos de forma
diferencial obteremos:
y(ϕ) = 2a cos2 (ϕ)
Para encontrarmos x podemos utilizar nova-
p
d` = 1 + (y 0 (x))2 dx
mente da regra da cadeia:
Podemos diferenciar essa ultima equação com
relação a y e finalmente teremos:
dx dx dy
=−
dϕ dy dϕ
d` dx p
= 1 + (y 0 (x))2 O sinal negativo foi acrescentado pois dese-
dy dy
jamos que x(ϕ) seja crescente visto que y(ϕ)
Porém 1/y 0 (x) = dx/dy e portanto obtemos: é descrescente. Como dy/dx = cot(ϕ), logo
dx/dy = tan(ϕ) e dy/dϕ = −4a sin(ϕ) cos(ϕ),
p assim dx/dϕ assume a seguinte forma:
d` 1 + (y 0 (x))2
= (9)
dy y 0 (x)
dx
= 4a sin2 (ϕ) = 2a(1 − cos(2ϕ)) (12)
2.4 Voltando na equação (8) dϕ
Substituindo a equação (9) na equação (8) e Para encontrarmos x devemos integrar defini-
agrupando as constantes chegaremos em: tivamente a equação (12) partindo do x0 = 0
até uma variável e de ϕ0 = 0 até uma variável,
ou seja:
C
p
1 + (y 0 (x))2
= (10)
y 0 (x)
p
y(x) Z x(ϕ) Z ϕ

Onde C = 2gT0 /π dC = 2a (1 − cos(2C )dC (13)
0 0
Elevando-se toda a equação (10) ao quadrado
e isolando y 0 (x) teremos: Resolvendo a equação (13) obtemos:
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4 A CURVA TAUTÓCRONA

x(ϕ) = a(2ϕ − sin(2ϕ))


Finalmente a curva que resolve o prob-
lema da Tautócrona é dada pela seguinte
parametrização:

x(ϕ) = a(2ϕ − sin(2ϕ)) y(ϕ) = a(1 + cos(2ϕ))


T 2g
Onde a = 02 .
π
2.5 Gráfico
Se plotarmos a curva que resolve o problema
teremos o seguinte gráfico: E fica notavél que

a curva em questão é uma ciclóide invertida

2.6 Prova Real


A adição do negativo arbitrário realizado na
seção 2.4 não faz com que a curva obtida não
seja solução da equação diferencial, de fato o
quadrado da derivada y 0 (x) leva a existência
de uma solução positiva e negativa. Ademais
a escolha arbitrária da derivada como cotan-
gente ou tangente leva a existência de out-
ras soluções para a equação diferencial, dessa
forma a equação diferencial em questão apre-
senta 4 soluções. Vamos verificar agora se a
solução obtida no final da seção 2.4 realmente
é solução.

dy dy dϕ (dy/dϕ)
= =
dx dϕ dx (dx/dϕ)
dy
= −4a sin(ϕ) cos(ϕ)

dx
= 4a sin2 (ϕ)

dy
= − cot(ϕ)
dx
Isso prova que a curva escolhida mesmo com
a adição do negativo arbitrário é solução da
equação diferencial, pois (dy/dx)2 = cot2 (ϕ).
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