CURRÍCULO E METODOLOGIAS
DA EDUCAÇÃO DO CAMPO
CURRÍCULO E METODOLOGIAS
DA EDUCAÇÃO DO CAMPO
ISBN 978-85-387-5421-3
PROPOSTA CURRICULAR –
EDUCAÇÃO DO CAMPO
EM CONSTRUÇÃO
Objetivo:
Parte
EDUCAÇÃO DO CAMPO EM CONSTRUÇÃO
CONCEPÇÃO DE EDUCAÇÃO PARA TRANSFORMAÇÃO
DA SOCIEDADE
O debate sobre a questão educacional no Brasil atingiu um mo-
mento crucial. Nos últimos 15 anos, o acesso à educação foi ampliado
consideravelmente, especialmente ao ensino superior. A atual presi-
dente, Dilma Roussef, tomou posse de seu cargo com o slogan Pátria
Educadora. O Plano Nacional de Educação entrou em vigor após inten-
sos debates e muitos programas governamentais foram criados em prol
da educação, como FIES, PROUNI, PRONERA, PRONATEC e Caminhos da
Escola.
Porém, uma vez que os problemas de ordem imediata, como ofer-
ta de vagas e acesso à escola, passam a ser atacados com mais ênfase
por parte das esferas governamentais, questões não tão evidentes –
mas não menos importantes – passam a entrar na pauta dos educa-
dores do país, tais como: “Qual a intencionalidade da nossa prática
pedagógica?”, “Que sujeitos pretendemos formar?” ou “Pretendemos
formar sujeitos?”
Nos últimos anos, nota-se um aumento gradativo da inserção da
iniciativa privada no sistema de ensino brasileiro. O projeto “Todos
pela Educação” – uma parceria do Governo Federal com grandes gru-
pos financeiros como o Itaú – propõe um suporte da iniciativa privada
à educação pública no Brasil. O último grande montante de verbas
federais para a educação – 10 bilhões de reais – teve 50% do seu
valor destinado ao FIES, ou seja, à iniciativa privada. Só para se ter
uma ideia, um dos maiores grupos privados ligado à educação, o grupo
Anhanguera, tem no Brasil mais de 1 milhão de alunos.
Parte
EDUCAÇÃO DO CAMPO EM CONSTRUÇÃO
Evidentemente que o projeto Pátria Educadora foi duramente
combatido pelos grandes pensadores da educação do país. Mas, perce-
bem-se tentativas sorrateiras por parte do poder Legislativo de vali-
dar tal documento de forma fragmentada, como o projeto Escola Sem
Partido, que tramita na Câmara dos Deputados, o projeto Adote uma
Escola, proposto na Assembleia Legislativa do Paraná e a tentativa de
criminalização por parte da Secretaria Estadual de Educação do Mato
Grosso do Sul, das escolas ligadas ao Movimento dos Trabalhadores e
Trabalhadoras Rurais Sem Terra.
Fica evidente que o rumo da educação pública no Brasil está in-
timamente ligado às políticas econômicas adotadas pelas esferas go-
vernamentais, ou seja, a educação é parte fundamental do projeto de
sociedade pensado pelo Governo Federal. Infelizmente, nesse projeto
de sociedade centrado na balança comercial, não cabe a formação
de sujeitos conscientes de sua identidade e das contradições do meio
em que vivem, mas sim, a preparação de cidadãos para darem conta
das exigências das matrizes de produção e energéticas adotadas pelo
Governo Federal.
É justamente a esse projeto de homogeneização da sociedade,
com foco no individualismo e na competitividade, que a concepção
de educação do campo se contrapõe, ao propor uma pedagogia que
vai além do espaço escolar e envolve toda a comunidade. Reforçando
a identidade dos sujeitos, valorizando as relações de trabalho da co-
munidade e expandindo o ensino para todo o meio de convivência dos
alunos, a educação do campo procura não só formar sujeitos capazes
de atuar de maneira consciente na sociedade, mas também capazes de
fazer suas escolhas de maneira consciente.
Extra
Para compreender melhor a discussão acerca deste assunto, as-
sista ao vídeo: Pedagogia da Alternância: trabalho, estudo e liberda-
de, que contribuirá para o aprofundamento da concepção de educa-
ção para transformação da sociedade, disponível em: <www.youtube.
com/watch?v=RuO7nh-HxqM>. Acesso em: 14 jan. 2016.
Atividade
O acesso à educação e a melhoria na qualidade da educação são
pautas nas lutas de mobilização popular há muitas gerações no nosso
país. De acordo com o texto, nos últimos 15 anos foram feitos inves-
timentos significativos na área da educação e muitas carências deste
setor foram superadas. Mas, mesmo assim, membros da comunidade
acadêmica e os movimentos sociais acirraram suas críticas em relação
à condução da educação no Brasil. Diante desse quadro contraditório
aponte, de acordo com o texto, a(as) alternativa(as) correta(as).
I. A mercantilização da educação pública por meio da inserção
em massa da iniciativa privada tem como objetivo colocar
em prática uma pedagogia que permitia a emancipação dos
sujeitos formando cidadãos contestadores e conscientes das
contradições do sistema no qual estão inseridos.
II. A educação tem papel secundário no projeto de nação do
Governo Federal, e a abertura desta para o empresariado
evidencia esse fato.
Parte
EDUCAÇÃO DO CAMPO EM CONSTRUÇÃO
III. O projeto Patria Educadora e o programa Todos pela Educação
evidenciam as intenções do Governo Federal de garantir, por
meio da educação pública, mão de obra qualificada para su-
prir as demandas das matrizes produtivas adotadas no país.
a) I e II estão corretas.
b) III está correta.
c) I e III estão corretas.
d) II e III estão corretas.
Referências
Caldart, Roseli S. O MST e a escola: concepção de educasção e matriz formativa. In:
Boletim da Educação. n. 12. São Paulo: MST, 2014.
______. Pedagogia do Movimento Sem Terra. São Paulo: Expressão Popular, 2012.
Resolução da atividade
Parte
EDUCAÇÃO DO CAMPO EM CONSTRUÇÃO
da perspectiva da educação bancária, para se tornar uma busca por
emancipação dentro da concepção da educação do campo.
O currículo da educação do campo deve não só partir da realidade
em que o educando está inserido, mas valorizar e problematizar esta
realidade. Partindo dessa perspectiva, devem-se abordar as relações
sociais e atividades produtivas da comunidade em que a escola está
inserida e como estas dialogam com a amplitude de relações externas,
locais, nacionais e globais. A educação do campo não nega e/ou dimi-
nui a importância do conhecimento científico e teórico construído pela
humanidade, mas exige a valorização dos saberes e das identidades
locais, e que estes se tornem – no currículo e na metodologia – o ponto
de partida para o diálogo com o mundo. Como aponta Caldart:
Nessa direção é que consideramos fundamental o vín-
culo da escola com processos vivos (de trabalho, de
cultura, de luta social) porque a materialidade e as
contradições presentes nas questões da vida real po-
dem ajudar a superar falsos dilemas do ponto de vista
do nosso projeto formativo maior. E por isso é que não
consideramos suficiente que a relação entre prática e
teoria se reduza na escola a conversas sobre práticas
realizadas ou projetadas para fora dela, em outro tem-
po, outros espaços. (CALDART, 2010 p. 108)
Parte
EDUCAÇÃO DO CAMPO EM CONSTRUÇÃO
Extra
Para aprofundar conhecimentos sobre o breve histórico em rela-
ção ao currículo e a educação do campo, assista ao vídeo Escola cur-
rículo e mudança, do professor Miguel Arroyo, disponível em: <www.
youtube.com/watch?v=S8n3hxG9HxE>. Acesso em: 14 jan. 2016.
Atividade
A educação do campo demanda a construção de um currículo dife-
renciado que privilegie as especificidades e identidades locais. Alguns
passos importantes foram dados nesta direção ao longo da década de
1990 e no início do século XXI, como a LDB de 1996 e as Diretrizes
Curriculares da Educação do Campo no Paraná, em 2006. Tendo como
base a trajetória do currículo na educação do campo proposta pelo
texto anterior, assinale a alternativa correta.
a) Para alcançar o projeto de sociedade proposto pela educação
do campo é necessário que se crie uma base curricular co-
mum à todas as escolas do país.
b) O currículo adotado por materiais didáticos das áreas urbanas
são ideias para as escolas do campo, pois trazem a realidade
e a identidade urbana para comunidades isoladas e que ainda
não conhecem o progresso.
c) A valorização do sujeito do campo é foco de políticas públicas
durante toda a história do Brasil, criando uma aura de supe-
rioridade deste em relação ao sujeito urbano.
d) Os eixos temáticos no currículo das escolas do campo devem
abordar os chamados temas geradores, ligados à realidade
dos alunos e que valorizem sua identidade.
CURRÍCULO E METODOLOGIAS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO 19
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S/A.,
mais informações www.iesde.com.br
2 PROPOSTA CURRICULAR –
Parte
EDUCAÇÃO DO CAMPO EM CONSTRUÇÃO
Referências
BRASIL. Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases
da Educação Nacional. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Poder
Legislativo, Brasília, DF, 23 dez. 1996.
______. Pedagogia do Movimento Sem Terra. São Paulo: Expressão Popular, 2012.
Resolução da atividade
Parte
EDUCAÇÃO DO CAMPO EM CONSTRUÇÃO
ESCOLA, FAMÍLIA E COMUNIDADE NA CONSTRUÇÃO
DO CURRÍCULO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO
O currículo só se torna ferramenta fundamental da educação
emancipadora quando traz a problematização da realidade. Dessa for-
ma, não pode se limitar a teorias abstratas e conteúdos sem conexão
com a realidade dos educandos. Na concepção de educação do campo
o espaço educativo vai além da escola, se estendendo por todo o am-
biente de convivência do educando, já que é justamente a sua existên-
cia como sujeito social o objeto dessa educação. Portanto, o currículo
deve estar diretamente ligado às relações sociais e produtivas da co-
munidade em que a escola está inserida.
Nessa perspectiva, ocorre a descentralização da educação em re-
lação à escola, abrindo espaço para que outros ambientes formativos
sejam considerados no processo educativo. A escola se mantém como
espaço de debate e sintetização do conhecimento, assim como nú-
cleo aglutinador da comunidade, que se ocupa do ambiente escolar
também para fazer formação política, festividades, assembleias co-
munitárias etc. Enquanto o processo educativo ocupa o espaço da co-
munidade, a comunidade ocupa o espaço escolar. Caldart observa que
“descentrar a educação da escola é para nós, pois, pressuposto para
pensar a própria escola, especialmente se visamos a sua transforma-
ção”. (CALDART, 2010).
Ao passo que a comunidade e a escola comungam desta ação
dialética, problematiza-se a intencionalidade pedagógica envolvida
nessa relação. O Projeto Político Pedagógico e a base curricular de-
vem expressar esta intencionalidade, devem demonstrar o propósito
Parte
EDUCAÇÃO DO CAMPO EM CONSTRUÇÃO
Portanto, a educação do campo, por ser emancipadora, deman-
da o recuo da fragmentação dos processos sociais. É preciso que as
relações comunitárias sejam vistas como inerentes umas as outras. E
a construção do currículo escolar que irá direcionar a formação dos
sujeitos da comunidade precisa envolver a todos e trazer em sua con-
cepção elementos do cotidiano de todas as famílias e das inter-rela-
ções entre elas, que formam o cotidiano da comunidade. A relação
comunidade-escola se torna, então, um “termômetro” da qualidade
da educação da comunidade, como apontou Pistrak:
Se a população estima, ama sua escola, sua institui-
ção infantil, é porque a instituição está à altura de sua
tarefa social; caso contrário, temos a prova de que o
trabalho da instituição está mal organizado pedagogi-
camente. (PISTRAK, 1924)
Extras
Para aprofundar as reflexões expostas, assista ao vídeo 10 anos
das Escolas Itinerantes do Paraná, disponível em: <www.youtube.
com/watch?v=R0NCVGDPDyk>. Acesso em: 14 jan. 2016.
Além disso, leia o artigo Escola do Trabalho uma Pedagogia
Social: uma Leitura de M. M. Pistrak, escrito por Eliseu Santana sob a
orientação de André Paulo Castanha, para a revista Educere at Educere
em 2006, disponível em: <http://e-revista.unioeste.br/index.php/
educereeteducare/article/view/1008/860>. Acesso em: 14 jan. 2016.
Atividade
De acordo com o texto, assinale a alternativa correta.
a) A fragmentação dos processos sociais (relações familiares,
relações de trabalho, educação) é fundamental na concepção
de educação do campo, pois reforça a ideia de que a educa-
ção deve se limitar ao espaço escolar.
b) A base curricular deve dar ênfase ao conhecimento abstrato e
teórico proposto pelos materiais didáticos tradicionais e evi-
tar a relação do aprendizado com a realidade dos educandos.
c) O currículo deve contemplar as especificidades familiares e
comunitárias para formar sujeitos que valorizem sua identi-
dade e estejam conscientes de seu papel na sociedade.
d) À comunidade e às famílias cabe o papel de observadores
passivos que aceitam, sem contestação, as decisões de peda-
gogos e professores.
Referências
Pistrak, Moisey Mikhaylovich. Fundamentos da Escola do Trabalho. São Paulo:
Expressão Popular, 2000.
Caldart, Roseli S. O MST e a escola: concepção de educação e matriz formativa. In:
Boletim da Educação. n. 12. São Paulo: MST, 2014.
______. Pedagogia do Movimento Sem Terra. São Paulo: Expressão Popular, 2012.
Resolução da atividade
É necessário que o currículo contemple a identidade e a cultura
da comunidade para que, partindo de si, o educando problematize os
conteúdos gerais e perceba as contradições do sistema no qual está
inserido, empoderando-se para transformá-lo.
CURRÍCULO DA
EDUCAÇÃO DO CAMPO
Objetivo:
Parte
EDUCAÇÃO DO CAMPO
POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO DO CAMPO
Assim como a própria concepção de educação do campo, as po-
líticas públicas que contemplam este projeto societário são frutos da
luta dos movimentos sociais do campo e educadores afins pela conso-
lidação dos direitos constitucionais a eles atribuídos, em especial, o
direito à educação.
Durante a primeira metade do século XX, houve a preocupação
por parte do governo em frear o êxodo rural fixando o camponês na
terra e garantindo a ocupação das novas fronteiras agrícolas. Escolas
foram abertas nas áreas rurais e o processo educativo foi vinculado ao
movimento ruralismo pedagógico, que, apesar da preocupação em
fixar o homem à terra, promovia uma educação tecnicista e não en-
xergava o campo e seus sujeitos como produtores de cultura e conhe-
cimento. De acordo com Souza “a preocupação no cenário de 1930,
no contexto do ruralismo pedagógico, era com a superação do atraso
cultural da população e ênfase nas técnicas para o trabalho agrícola.”
(SOUZA, 2015, p. 5)
A preocupação em adequar o campesinato às modernas técnicas
agrícolas de produção, domina a educação para o campo durante as
décadas de 1940 e 1950. Com a massiva mecanização da agricultura
nas décadas de 1960 e 1970, se inicia o processo de “sucateamento”
da educação no meio rural aliado à chamada educação rural, também
de viés tecnicista e de exaltação dos valores urbanos. Ou seja, fecha-
mento massivo de escolas localizadas no campo e educação rural nas
que se mantinham abertas. O objetivo era – e ainda é até hoje – a ex-
pulsão do camponês de sua terra e a abertura de espaço para o avanço
do agronegócio.
Parte
EDUCAÇÃO DO CAMPO
as Licenciaturas em Educação do Campo, vinculadas ao PRONACAMPO,
Programa de Apoio à Formação Superior em Licenciatura em Educação
do Campo, com o objetivo de preparar profissionais para atuar nos
espaços educativos que abraçam esta nova concepção de educação
libertadora.
Mas na atual conjuntura socioeconômica e política, em que um
governo de viés progressista procura se equilibrar entre as demandas
populares democráticas e as exigências do mercado globalizado, uma
série de políticas públicas no âmbito da educação vem sendo sancio-
nadas ou colocadas em pauta na contramão da proposta emancipa-
dora e identitária da educação do campo. É o caso do projeto Pátria
Educadora, do Governo Federal, que propõe padronizar currículos,
sistemas de avaliação, material didático e formação docente por todo
o país, negando a diversidade cultural dos povos que formam a so-
ciedade brasileira. Propõe também a inserção massiva da iniciativa
privada na educação pública, com direito até mesmo a delimitar o viés
pedagógico das escolas públicas e estipular metas para professores,
funcionários e alunos.
Em relação à inserção da iniciativa privada na educação públi-
ca, destaca-se o programa Todos pela Educação, também do Governo
Federal, que estipula parcerias entre a iniciativa privada e o MEC,
resultando em ações que já estão em andamento, como a adoção de li-
vros didáticos para a educação básica formulados por empresas, tendo
como exemplos os livros do programa Agrinho, do SENAR e programas
de formação de professores do SEBRAE. Estes materiais didáticos pre-
param as crianças para se enquadrarem às exigências do agronegócio
Parte
EDUCAÇÃO DO CAMPO
Portanto, o espaço escolar e o projeto de sociedade para o campo
no Brasil é um campo de disputas entre movimentos sociais e entida-
des da sociedade civil organizada e a iniciativa privada representada
por grandes grupos empresariais e o agronegócio, que vinha sendo he-
gemônico até o fim da ditadura militar e, desde então, vem tendo que
combater não só as demandas populares por reforma agrária e direitos
já adquiridos, mas também a retomada das mobilizações em massa
dos sujeitos do campo, que exigem uma educação formulada por eles
e que permita a continuidade de suas lutas.
Extra
Acesse o vídeo disponível em: <www.youtube.com/watch?v=Cn-
JcYGiaiHU> e assita uma breve entrevista com a Coordenadora Geral
de Educação no Campo e Cidadania do Incra, Clarice dos Santos, ex-
pondo os resultados do PRONERA – Programa Nacional de Educação da
Reforma Agrária. Importante material para refletir acerca das lutas
e disputas por uma educação pública e de qualidade no campo e do
campo. Acesso em: 14 jan. 2016.
Atividade
De acordo com o texto “Políticas Públicas e a Educação do
Campo”, a educação para a realidade do campo no Brasil vem sendo
um campo de disputas entre dois projetos distintos de sociedade que
se configuram em duas propostas educacionais antagônicas. Quais são
elas e o que cada uma propõe?
Resolução da atividade
Parte
EDUCAÇÃO DO CAMPO
GESTÃO ESCOLAR NA EDUCAÇÃO DO CAMPO
A educação do campo é um processo de formação humana e um
projeto de sociedade fundamentada no princípio da emancipação, va-
lorização dos sujeitos e do conhecimento construído no campo. É uma
concepção de educação construída a partir da realidade dos sujeitos
que dela participam, portanto, pressupõe a gestão democrática da
escola.
A gestão democrática está presente nas diretivas municipais, es-
taduais e federais de educação, que exigem, entre outras coisas, elei-
ção direta de diretores, participação da comunidade escolar nas deci-
sões da instituição etc. Mas nem sempre esses processos democráticos
resultam em gestões de fato democráticas, com a participação efetiva
de toda a comunidade escolar. Souza e Tavares (2010) apontam para
o fato de que a eleição democrática de dirigentes, por exemplo, não
costuma estender a administração das instituições para a comunidade.
O diretor se elege pelo voto direto e não consulta mais a sua base até
a próxima eleição. A própria base que forma a comunidade escolar
não costuma exercer seu papel participativo por puro comodismo ou
desconhecimento do que é gestão participativa. De acordo com Souza
e Tavares:
Porém, na prática ainda há problemas com a concep-
ção de democracia ou com a forma como as pessoas a
enxergam e entendem. Senão vejamos o caso da ges-
tão escolar: na maioria das escolas públicas onde são
realizadas eleições para compor o seu quadro dirigen-
te, encontramos professores, funcionários, alunos e
seus familiares que reconhecem na diretora não uma
Parte
EDUCAÇÃO DO CAMPO
Nas comunidades onde a conquista da escola é resultado de um
processo de lutas por direitos, a gestão democrática costuma ser mais
efetiva. Em escolas como a do Quilombo João Surá, em Adrianópolis,
Região Metropolitana de Curitiba, a comunidade participa cotidia-
namente da vida escolar e do processo de construção do PPP, assim
como participou da luta para que o Quilombo recebesse sua escola.
Nos acampamentos e assentamentos do MST, o Setor de Educação da
comunidade mantém o debate da educação de forma permanente, e
nas escolas do MST os alunos participam de todas as estâncias adminis-
trativas, inclusive financeiras, desde a mais tenra idade.
Conclui-se, portanto, que assim como todos os processos escolares
na educação do campo, a gestão escolar também vem de um contexto
de constante luta e construção, já que para ser efetivada como propõe
a concepção emancipadora e conscientizadora, precisa derrubar pre-
conceitos e discursos construídos e consolidados na cultura tecnicista
e hierárquica da era industrial. Daí o caráter libertador da educação
do campo, pois não são apenas educadores e educandos que tomam
consciência das contradições que os cercam. Ao compreender melhor
os processos democráticos da gestão participativa, toda a comunidade
se emancipa.
Extras
Assista a aula sobre Gestão Democrática na Escola, com o profes-
sor Vinicius de Almeida, tendo como referência o pensamento do pro-
fessor Vitor Paro. Importante material de análise para a compreensão
do conceito de Gestão Democrática. Acesse o vídeo pelo link: <www.
youtube.com/watch?v=LKZzPNRVdmg>. Acesso em: 14 jan. 2016.
Atividade
Como se propõe a gestão democrática na educação do campo?
Cite exemplos de inciativas participativas na gestão escolar.
Referência
SOUZA, Ângelo Ricardo de; TAVARES, Tais Moura. Gestão de Educação e da Escola:
possibilidades de democratização. In: Educação do Campo em Movimento: Teoria e
prática cotidiana. Curitiba: Editora UFPR, 2010. v. 1. p. 289-310.
Resolução da atividade
Parte
EDUCAÇÃO DO CAMPO
CONSTRUÇÃO COLETIVA DO PROJETO POLÍTICO
PEDAGÓGICO DAS ESCOLAS DO CAMPO –
PERSPECTIVAS E POSSIBILIDADES
Assim como outras propostas democráticas na gestão das escolas
públicas, a construção coletiva do Projeto Político Pedagógico (PPP)
também costuma enveredar por caminhos que aparentam participação
efetiva da comunidade, mas, na verdade, acabam por reproduzir as
relações burguesas na escola (entendendo-se por relações burguesas a
dinâmica hierárquica industrial capitalista).
Desse modo, é comum os dirigentes escolares considerarem
como processo de construção coletiva do PPP o envio de questionários
para os pais de alunos preencherem em casa e devolverem à escola.
Avaliando as respostas da comunidade, o PPP é elaborado pela equipe
pedagógica e docente da instituição escolar. Esse processo não se ca-
racteriza como participativo, pelo contrário, está muito longe disso,
já que as reais demandas da comunidade não são observadas. E mesmo
este processo supostamente democrático, costuma ser ignorado por
muitas redes de ensino, que encomendam a elaboração dos PPPs de
empresas especializadas no ramo ou constroem um PPP padrão para
todas as escolas da rede.
O Projeto Político Pedagógico determina o direcionamento do
trabalho docente, relação comunidade-escola, papel de funcioná-
rios, alunos, professores etc. Ou seja, é a alma da escola. Dentro de
uma concepção de gestão democrática e participativa como propõe a
educação do campo, a construção deste importante documento deve
Parte
EDUCAÇÃO DO CAMPO
de reescrever boa parte do PPP que está em andamento, pois a reali-
dade da comunidade sofreu significativas mudanças nestes dois anos.
A mesma situação é relatada por outras comunidades tanto de Tijucas
do Sul quanto de outras escolas do campo da Região Metropolitana de
Curitiba, onde se observa o encaminhamento do debate em relação à
educação do campo.
Portanto, nota-se que debates, reflexões e, obviamente, confli-
tos, são inerentes à construção do projeto de sociedade proposto pela
educação do campo. Disputas políticas locais sempre interferem nes-
ses processos, seja de forma positiva ou negativa. A luta pela garantia
de direitos e participação popular na construção da educação pública
que queremos não se limita à garantia do acesso à escola nas comuni-
dades do campo, mas perpassa todos os processos de gestão escolar e
comunitária.
Extras
O vídeo indicado a seguir apresenta a visão freireana da construção
e do objetivo do PPP. Apesar de breve, é um importante material para a
percepção do que é, na prática, a participação de toda a comunidade es-
colar no processo de construção do PPP. Acesse o vídeo pelo link: <www.
youtube.com/watch?v=rLut4qSuonY>. Acesso em: 14 jan. 2016.
Além disso, leia a dissertação Reestruturação do Projeto Político
Pedagógico das Escolas Localizadas no Campo no Município de
Tijucas do Sul, da professora Rosana Aparecida da Cruz, que trata do
percurso do trabalho para a construção coletiva do Projeto Político
Pedagógico das escolas localizadas no campo de um município do
Paraná. Disponível em: <http: tede.utp.br/tde_busca/arquivo.php?-
codArquivo=713>. Acesso em: 14 jan. 2016.
Atividade
Qual a importância da construção coletiva do Projeto Político
Pedagógico dentro do projeto de sociedade da educação do campo?
Referência
TROJAN, Rose Meri. A organização pedagógica do Ensino Fundamental e a Educação
do Campo. In: Educação do Campo em Movimento: teoria e prática cotidiana.
Curitiba: Editora UFPR, 2010. v. 1. p. 331-349.
Resolução da atividade
MATERIALIDADE DO
CURRÍCULO DA
EDUCAÇÃO DO CAMPO I
Objetivo:
Parte
EDUCAÇÃO DO CAMPO I
CURRÍCULO: IDENTIDADE DA ESCOLA E DO SUJEITO
DO CAMPO
A educação do campo é o resultado de mobilização e contesta-
ção dos próprios trabalhadores do campo, um projeto de formação
humana de visibilidade àqueles que vinham lutando dentro do próprio
espaço de sobrevivência, por dignidade. Essa perspectiva de constru-
ção histórica pode e deve ser inclusa dentro do currículo escolar do
campo, pois apresenta o resultado das lutas, contra hegemônicas, da
sociedade civil organizada para efetivação dos direitos sociais, dentre
eles: acesso e permanência a uma educação de qualidade em todos os
níveis da educação básica e do ensino superior.
A educação do campo é uma concepção de homem e sociedade
incorporada a partir da organização dos movimentos dos trabalhado-
res rurais sem terra, ou seja, foi construída pelos próprios sujeitos
do campo que foram excluídos e subalternizados. Por esse panorama,
Caldart (2004) diz que:
[...] a Educação do Campo faz o diálogo com a teoria
pedagógica desde a realidade particular dos campo-
neses, mas preocupada com a educação do conjunto
da população trabalhadora do campo e, mais ampla-
mente, com a formação humana. E, sobretudo, trata
de construir uma educação do povo do campo e não
apenas com ele, nem muito menos para ele. (CALDART,
2004, p. 12).
Parte
EDUCAÇÃO DO CAMPO I
O currículo procura responder as perguntas inquietan-
tes e latentes que surgem, tais como: o que ensinar
e aprender? Como fazer isso? Quando é o momento?
Como, por que, com quem e quando avaliar? Como pla-
nejar? As respostas não estão prontas e não se encon-
tram somente no currículo, mas no projeto de socieda-
de que estamos dispostos a construir – uma sociedade
socialista. (MST, 2008, p. 27).
Parte
EDUCAÇÃO DO CAMPO I
Segundo as Diretrizes Curriculares da Educação do Campo de 2006:
[...] Valorizar a cultura dos povos do campo significa
criar vínculos com a comunidade e gerar um sentimen-
to de pertença ao lugar e ao grupo social. Isso possibili-
ta criar uma identidade sociocultural que leva o aluno a
compreender o mundo e transformá-lo. (PARANÁ, 2006,
p. 38).
Extra
Para aprofundar as reflexões iniciadas nesta aula, leia o artigo
Educação do Campo: notas para uma análise de percurso, escrito
pela autora Roseli Salete Caldart. O artigo apresenta a educação do
campo numa dimensão política e indica perspectivas que contribuirão
para problematizar a escola, currículo e identidade do sujeito do cam-
po. O texto está disponível no link: <www.scielo.br/pdf/tes/v7n1/03.
pdf>. Acesso em: 14 jan. 2016.
Atividade
Tendo em vista as discussões suscitadas nesta parte, escreva um
texto argumentando a seguinte problematização: como seria, na prá-
tica, a materialização de uma escola vinculada aos princípios da con-
cepção de educação do campo?
Referências
BRASIL. Ministério da Educação. Resolução CNE/CEB n. 1, de 3 de abril de 2002.
Institui Diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas Escolas do Campo. Diário
Oficial da União, Brasília, DF: Poder Legislativo, 9 abr. 2002.
Parte
EDUCAÇÃO DO CAMPO I
Resolução da atividade
Parte
EDUCAÇÃO DO CAMPO I
conhecer a natureza, conhecer a sociedade, produzir
a cultura, convívios e até conflitos. E deste processo
(o trabalho) que vai surgir o conhecimento, a ciência,
os valores, as civilizações etc. Esse seria o sentido de
dizer que o trabalho é uma matriz formadora não dos
indivíduos, mas das sociedades. (ARROYO, 2010, p. 41)
Parte
EDUCAÇÃO DO CAMPO I
de valores, de linguagens foi produzida. O direito à
educação é o direito à herança cultural. É na cultura
que nós produzimos a grande matriz que nos confor-
ma. [...] Não percebemos que os processos educativos
estão muito mais colados aos processos de construção
de valores, identidades, conhecimentos, aos processos
culturais, socializadores. [...] É que a escola normal-
mente se preocupa mais pelo campo dos chamados co-
nhecimentos, as competências, a mente, e esquece de
formar as identidades, o sujeito ético, o sujeito esté-
tico, corpóreo, o sujeito imaginário, o sujeito de emo-
ções, de memória. (ARROYO, 2010, p. 40-50)
Extra
Assista ao vídeo Porque falar sobre as matrizes pedagógicas, do
professor Miguel Arroyo. Esse vídeo o ajudará compreender a relevân-
cia das matrizes pedagógicas nas escolas do campo e a importância de
articulá-las aos conteúdos escolares. Disponível em: <www.youtube.
com/watch?v=QtJL9o4TZ1A>. Acesso em: 14 jan. 2016.
Atividade
Arroyo (2010) indica, como matriz pedagógica, o trabalho sobre
os movimentos sociais. De que forma essa matriz pedagógica contribui
para a emancipação dos sujeitos?
Parte
EDUCAÇÃO DO CAMPO I
Referência
ARROYO, Miguel Gonzalez. As matrizes pedagógicas da educação do campo na
perspectiva da luta de classes. In: Educação do Campo em Movimento. MIRANDA,
Sônia Guariza; SCHWENDLER, Sônia Fátima (Org.). 2. ed. Curitiba, UFPR, 2010.
Resolução da atividade
Parte
EDUCAÇÃO DO CAMPO I
do urbano, as justificativas para essa escolha referem-se à intenção de
conceder as mesmas condições de quem estuda na cidade.
Partindo dessas provocações, refletimos sobre valorização do cur-
rículo (que é considerado como adaptação do contexto urbano), e da
cultura vivida, para organização do trabalho pedagógico, conforme
disposto nas Diretrizes Curriculares da Educação do Campo (2006):
A educação para os povos do campo é trabalhada a
partir de um currículo essencialmente urbano e, quase
sempre, deslocado das necessidades e da realidade do
campo. Mesmo as escolas localizadas na cidade têm um
currículo e trabalho pedagógico, na maioria das vezes,
alienante, que difunde uma cultura burguesa e enciclo-
pédica. [...] A cultura, e os saberes da experiência, a
dinâmica do cotidiano dos povos do campo raramente
são tomados como referência para o trabalho pedagó-
gico, bem como para organizar o sistema de ensino,
a formação de professores e a produção de materiais
didáticos. (PARANÁ, 2006, p. 28)
Parte
EDUCAÇÃO DO CAMPO I
Extra
Para aprofundar as reflexões iniciadas nesta parte, leia o artigo
Educação do Campo e a Formação de Professores: construção de
uma política educacional para o campo brasileiro, de Maria Fernanda
dos Santos Alencar. Esse artigo aproximará reflexões sobre qual forma-
ção de professor é necessária ao paradigma da educação do campo. O
texto está disponível em: <http: periodicos.fundaj.gov.br/CIC/article/
viewFile/868/589>. Acesso em: 14 jan. 2016.
Atividade
A Educação do Campo defende que os professores sejam morado-
res da própria comunidade escolar, pois vivenciam os mesmos paradig-
mas que os alunos, e podem configurar a escola num ambiente de dis-
cussões e organizações para transformar a realidade. Porém, sabe-se
que nem sempre os professores são moradores da comunidade. Desse
modo, escreva um texto apontando de que forma o professor pode
realizar um trabalho crítico na escola do campo.
Referências
PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes curriculares da educação do
campo. Curitiba, 2006.
SOUZA, Maria Antônia. Licenciatura em Pedagogia: fundamentos teóricos
metodológicos da educação do campo. Ponta Grossa: UEPG, 2011.
Resolução da atividade
POSSIBILIDADES
METODOLÓGICAS
Objetivo:
Parte
POSSIBILIDADES METODOLÓGICAS
CICLOS DE FORMAÇÃO HUMANA NA EDUCAÇÃO DO
CAMPO
A educação, conforme se pôde observar, esteve sempre voltada
aos interesses industriais, capitalistas e que atendesse à classe domi-
nante. Educação sempre foi sinônimo de formação para o mercado de
trabalho. Os sujeitos não tinham sua valorização e não havia preocu-
pação com a aprendizagem. Em contrapartida a essa visão da educa-
ção, discutiu-se então a necessidade de incorporar uma nova organiza-
ção escolar para a mediação do saber acumulado historicamente, que
levasse em consideração uma aprendizagem, mas que contemplasse a
formação humana como determinante.
No artigo 23.º da Lei de Diretrizes e Bases (LDB 9.394/96) perce-
be-se a disposição da organização da educação, onde os ciclos aden-
tram as discussões educacionais:
A educação básica poderá organizar-se em séries
anuais, períodos semestrais, ciclos, alternância regular
de períodos de estudos, grupos não-seriados, com base
na idade, na competência e em outros critérios, ou por
forma diversa de organização, sempre que o interes-
se do processo de aprendizagem assim o recomendar.
(BRASIL, 1996, grifo nosso)
Parte
POSSIBILIDADES METODOLÓGICAS
pesquisa sócio-antropológica realizada na comunidade
[...]. A partir dessa pesquisa reúnem-se representantes
discentes e da comunidade para discutir com os profes-
sores o eixo central dos conhecimentos a serem traba-
lhados na escola. (KRUG, 2006, p. 17 apud HAMMEL e
ANDREEATTA 2011, p. 5).
Parte
POSSIBILIDADES METODOLÓGICAS
conhecimento, “eu ensino, mas também aprendo”; a
consideração da cultura, da arte e da sabedoria cam-
ponesa; a forma de distribuir as aulas, o educador as-
sumiu o ciclo todo, podendo compreendê-lo e buscar
intervir com mais propriedade; a avaliação assumiu um
novo caráter, não a de punição ou a atribuição de valo-
res, mas do diagnóstico e intervenção e especialmente
o rompimento da seriação. (HAMMEL e ANDREEATTA,
2011, p. 8).
Parte
POSSIBILIDADES METODOLÓGICAS
O educando é avaliado considerando vários aspectos
envolvendo sua vivência, levando em conta o estado
psicológico do educando e o meio que o cerca, os re-
sultados são observados no desenvolvimento da apren-
dizagem do educando sendo concretizado por dossiês,
pareceres e notas. Outra prática pedagógica do colégio
é o conselho de classe participativo entendendo como
forma de avaliar todos os aspectos como, o processo
ensino aprendizagem no conjunto da escola. Esta práti-
ca é organizada em vários momentos, finalizando com
uma mesa redonda composta pela turma, direção, fun-
cionários, educadores e pais. Este momento os educan-
dos se auto avaliam e avaliam o conjunto da escola.
Este momento se dá a cada semestre. (HISTÓRIA DO
COLÉGIO ESTADUAL IRACI SALETE STROZAK, 2014).
Extra
O artigo indicado a seguir discorre sobre a implantação dos ciclos
de formação nas escolas de assentamentos e acampamentos do MST.
Traz a reflexão sobre o contraponto entre a educação seriada hierar-
quizada e a educação por ciclos que busca a emancipação. Importante
material para se aprofundar no tema proposto. Acesse o artigo pelo
link <www.ppe.uem.br/publicacoes/seminario_ppe_2011/pdf/2/040.
pdf>. Acesso em: 14 jan. 2016.
Atividade
De acordo com o texto “Ciclos de Formação Humana na Educação
do Campo”, a educação seriada como proposta pela educação capi-
talista tem como objetivo a indivudualização dos sujeitos e a padro-
nização do processo aprendizagem. Como os ciclos de formação, na
proposta da educação do campo, se contrapõe a esse processo?
Parte
POSSIBILIDADES METODOLÓGICAS
Referências
AZEVEDO, José Clovis de. Ciclos e Políticas Educacionais. Ciclos de Formação: uma
Escola é Necessária e Possível. In: KRUG, Andréa Rosana Fetznr. Ciclos em Revista: a
Construção de Uma Outra Escola Possível. 3 ed. Rio de Janeiro: RJ. 2007. p. 13-30.
Resolução da atividade
Parte
POSSIBILIDADES METODOLÓGICAS
Essa pedagogia nasce de forma espontânea na França, no período
entre guerras, para viabilizar o funcionamento das Casas Familiares
Rurais (CAFARs). Como já citado, foi idealizada para permitir a per-
manência dos jovens no campo, e a Casa Familiar Rural nasce nesse
contexto durante a década de 1930.
As CAFARs foram as instituições onde se desenvolveu a pedagogia
da alternância. Chegam ao Brasil em 1968, inicialmente no Espírito
Santo, e se espalham pelo país. São instituições de ensino que tra-
balham com a metodologia do tempo-escola e tempo-comunidade.
Oferecem cursos Técnicos, Ensino Fundamental e Médio, e têm sido as
grandes apoiadoras da agricultura familiar no campo hoje.
Por sua proposta de desenvolver a autonomia das comunidades
nos municípios onde atuam, as CAFARs se encontram hoje no centro
da disputa entre a agricultura familiar e o agronegócio. No Paraná
é evidente o processo de sucateamento das CAFARs promovido pelo
atual governo. A CAFAR opera em sistema de convênio com os governos
estaduais. Esse tipo de contrato, apesar de eficiente, é muito frágil,
pois não cria vínculo permanente e obrigação por parte do governo
em manter as instituições. A enorme popularidade das CAFARs, entre
os camponeses, inibe os governos de simplesmente decretarem seu
fechamento. A estratégia tem sido não efetuar os repasses financeiros
inviabilizando, pouco a pouco, o funcionamento das instituições.
A mesma estratégia, ocasionalmente, também é usada contra ou-
tra frente de luta da educação do campo e da agricultura familiar, as
escolas itinerantes.
As escolas itinerantes são escolas dos acampamentos do MST. Levam
esta alcunha por serem instituições que acompanham os acampados do
MST quando há a necessidade de mudança do local do acampamento
Parte
POSSIBILIDADES METODOLÓGICAS
sendo um dos principais locais de desenvolvimento da educação do
campo, é uma escola que se estende por toda a comunidade e, assim
como na CAFAR, tem uma pedagogia que parte da realidade dos edu-
candos, de suas relações de trabalho e culturais.
Conclui-se, portanto, que tanto a escola itinerante com seu ca-
ráter de enfrentamento e luta, quanto a CAFAR aliada à pedagogia da
alternância, se apresentam hoje como os grande bastiões de resistên-
cia da educação do campo e da agricultura familiar contra o avan-
ço do agronegócio e dos projetos neoliberais que invadem o campo
brasileiro.
Extra
Este vídeo produzido pela TV Paulo Freire homenageia os 10 anos
das escolas itinerantes no Estado do Paraná. O vídeo apresenta a rea-
lidade das escolas itinerantes por meio de entrevistas com educadores
e educandos. É um material importante para compreender os assuntos
estudados no texto. Assista ao vídeo no link <www.youtube.com/wat-
ch?v=R0NCVGDPDyk>. Acesso em: 14 jan. 2016.
Atividade
De acordo com o texto “Pedagogia da Alternância, Itinerância e
Casa Familiar Rural,” as propostas educativas desenvolvidas nas esco-
las itinerantes e nas CAFARs seriam os “grandes bastiões de resistência
da Educação do campo e da agricultura familiar contra o avanço do
agronegócio e dos projetos neoliberais que invadem o campo brasilei-
ro.” Explique esta afirmação.
Resolução da atividade
Parte
POSSIBILIDADES METODOLÓGICAS
AVALIAÇÃO NA EDUCAÇÃO DO CAMPO
O processo de avaliação é mais um ponto de desacordo entre a
educação burguesa tradicional adotada pela grande maioria das esco-
las do sistema educacional brasileiro hoje, e a concepção de educação
do campo que desde os anos 1980 vem disputando o chão da escola
com o grande capital.
O sistema de avaliação tradicional compreende uma pedagogia
comportamentalista, condicionadora, que utiliza a classificação dos
alunos pelas notas ou conceitos para excluir, discriminar e selecionar
aqueles considerados melhores ou mais aptos ao mercado de trabalho.
Tal sistema condicionou os educadores e educandos a um processo
competitivo. O educador acaba por utilizar sua posição privilegiada de
avaliador para punir e manter a disciplina por meio da ameaça de uma
nota baixa. O educando, por sua vez, se preocupa mais em criar arti-
manhas para garantir a nota do que com o processo de ensino-apren-
dizagem e a construção e compreensão do conhecimento. De acordo
com Silva, Bezerra e Ferrante:
Na realidade atual, esta prática corresponde a um meio
de controle feito através de atribuição de pontos ou
notas, para que os alunos realizem as tarefas propostas
e tenham o comportamento esperado. A nota, portan-
to, passa a representar um objetivo diferente da re-
presentação do rendimento do aluno. O compromisso
do aluno então, não é com o conhecimento, mas com
o sucesso nesses instrumentos estipulados. A preocupa-
ção, então, está em obter os pontos determinados para
cada atividade escolhida dentro do processo avaliativo.
(SILVA; BEZERRA; FERRANTE, 2012, p. 2.886)
Parte
POSSIBILIDADES METODOLÓGICAS
instituição as avaliações consideram a realidade dos alunos, aspectos
psicológicos, vivências em família e na comunidade. Também realizam
o conselho de classe participativo, onde alunos, pais, funcionários e
professores avaliam uns aos outros e se autoavaliam.
O exemplo do Colégio Iraci Strozak é emblemático, já que esta
instituição de ensino é referência no país em relação à educação do
campo. Mostra a eficácia da pedagogia do movimento, e das ferra-
mentas que vem desenvolvendo e disponibilizando – como avaliação
participativa – para ajudar na construção de uma educação pública, de
qualidade e emancipadora que tenha como fim, não as demandas capi-
talistas, mas a conscientização dos sujeitos e a transformação social.
Extras
O artigo indicado a seguir problematiza a relação entre educação
do campo no sentido interculturalista e o sistema de avaliação crítica e
participativa. Material de grande relevância para o aprofundamento das
reflexões sobre o tema proposto na aula. Acesse o artigo no link <www.
ies.ufpb.br/ojs/index.php/rec/article/viewFile/18997/10544>. Acesso
em: 14 jan. 2016.
Além disso, leia o artigo que discorre sobre a implantação dos
ciclos de formação nas escolas de assentamentos e acampamentos do
MST. O texto traz reflexão sobre o contraponto entre a educação se-
riada hierarquizada e a educação por ciclos que busca a emancipação.
Importante material para se aprofundar no tema proposto. Acesse o
artigo no link <www.ppe.uem.br/publicacoes/seminario_ppe_2011/
pdf/2/040.pdf>. Acesso em: 14 jan. 2016.
Atividade
De acordo com o texto “Avaliação na Educação do Campo”, o
processo avaliativo tradicional apresenta objetivos e resultados com-
pletamente diferentes da proposta de avaliação participativa da edu-
cação do campo. Explique esta afirmação.
Referências
SILVA, Silvani da; Bezerra, Maria Cristina dos Santos; FERRANTE, Vera Lúcia Silveira
Botta. A avaliação escolar na perspectiva da Educação do Campo: modelos em
conflito. João Pessoa: UFPB, 2012.
Resolução da atividade
MATERIALIDADE DO
CURRÍCULO DA
EDUCAÇÃO DO CAMPO II
Objetivo:
Parte
EDUCAÇÃO DO CAMPO II
ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO NAS
ESCOLAS DO CAMPO
Para iniciar esta aula, é preciso compreender o conceito de orga-
nização do trabalho pedagógico, que para Martins é “a organização da
educação de modo amplo, que se articula também com a visão formal,
ou seja, processos educativos sociais e escolares” (MARTINS, 2008).
Além disso, o autor aponta que “falar de organização do trabalho pe-
dagógico é fazer considerações indissociáveis entre a organização es-
colar e a organização social”. (MARTINS, 2008).
Ainda, Martins (2008) aponta que a organização do trabalho pe-
dagógico das escolas do campo tem herança do modo de produção
capitalista, tendo em vista sua ideologia estar presente na materiali-
dade do modelo taylorista-fordista imprimindo papéis aos profissionais
da educação que lembram aqueles ligados à fábrica, tais como o su-
pervisor e orientador educacional. O autor explica que isso acontece,
tanto, explicitamente
com a utilização da pedagogia da qualidade total ou da
pedagogia empreendedora, ou de forma implícita, com
a organização escolar hierárquica, excludente, seletiva
e classificadora, enfim, longe do propósito emancipa-
tório. (MARTINS, 2008)
Parte
EDUCAÇÃO DO CAMPO II
escola e amparar a organização destas vinculadas às especificidades
que às concerne.
É possível observar no 7.º artigo das Diretrizes Operacionais da
Educação do Campo (2002) a flexibilização do calendário escolar das
escolas localizadas no campo, tendo em vista as especificidades do
campo. Além disso, esse artigo fala sobre a disposição do ano letivo,
sobre as atividades pedagógicas das escolas que podem ser organiza-
das em diferentes espaços pedagógicos:
É de responsabilidade dos respectivos sistemas de en-
sino, através de seus órgãos normativos, regulamentar
as estratégias específicas de atendimento escolar do
campo e a flexibilização da organização do calendá-
rio escolar, salvaguardando, nos diversos espaços pe-
dagógicos e tempos de aprendizagem, os princípios da
política de igualdade. §1.° O ano letivo, observado o
disposto nos artigos 23, 24 e 28 da LDB, poderá ser
estruturado independente do ano civil. §2.° As ativida-
des constantes das propostas pedagógicas das escolas,
preservadas as finalidades de cada etapa da educação
básica e da modalidade de ensino prevista, poderão
ser organizadas e desenvolvidas em diferentes espaços
pedagógicos, sempre que o exercício do direito à edu-
cação escolar e o desenvolvimento da capacidade dos
alunos de aprender e de continuar aprendendo assim o
exigirem. (BRASIL, 2002)
Parte
EDUCAÇÃO DO CAMPO II
da Educação do Campo orienta algumas questões fundamentais, tais
como: infraestrutura adequada, “materiais e livros didáticos, equi-
pamentos, laboratórios, biblioteca e áreas de lazer e desporto, em
conformidade com a realidade local e as diversidades dos povos do
campo” (BRASIL, 2008). O parágrafo primeiro desse artigo, ainda,
orienta que “a organização e o funcionamento das escolas do campo
respeitarão as diferenças entre as populações atendidas quanto à sua
atividade econômica, seu estilo de vida, sua cultura e suas tradições”
(BRASIL, 2008).
Sobre o transporte escolar das escolas localizadas no campo, o ar-
tigo 10.º indica que deverão ser considerados diversos determinantes
para a organização da localização da escola, tendo em vista
[...] as distâncias de deslocamento, as condições de
estradas e vias, o estado de conservação dos veículos
utilizados e sua idade de uso, a melhor localização e
as melhores possibilidades de trabalho pedagógico com
padrão de qualidade. (BRASIL, 2008)
Extra
Para aprofundar os conhecimentos nesta parte da aula leia o ar-
tigo Educação do Campo: notas para uma análise de percurso, da
Roseli Salete Caldart. Este artigo contribuirá para refletir sobre os
princípios da educação do campo e a sua implicação na organização do
trabalho pedagógico das escolas. Texto disponível em: <www.scielo.
br/pdf/tes/v7n1/03.pdf>. Acesso em: 14 jan. 2016.
Atividade
Nesta parte da aula, foi possível refletir sobre a organização do
trabalho pedagógico nas escolas do campo e que a escola do campo
constitui-se com especificidades diferenciadas das escolas urbanas,
por isso necessita de outro trabalho pedagógico que a represente.
Nesse sentido, escreva um texto problematizando no que esta especi-
ficidade difere o trabalho feito nestas escolas.
Referências
BRASIL. Ministério da Educação. Resolução CNE/CEB n. 1, de 3 de abril de 2002.
Institui Diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas Escolas do Campo. Diário
Oficial da União, Brasília: Poder Legislativo, 9 abr. 2002.
Parte
EDUCAÇÃO DO CAMPO II
MARTINS, Fernando José. Organização do trabalho pedagógico e Educação do Campo.
Revista Educação. Minas Gerais. v. 33, n. 1, 2008.
Resolução da atividade
Parte
EDUCAÇÃO DO CAMPO II
O planejamento é primordial para o desenvolvimento da aula, pois
o trabalho nas escolas não pode contar com o improviso. Precisa ser
bem articulado, reflexivo e conter conteúdos e objetivos específicos.
Precisa responder algumas questões para que sua função social fique
clara. As questões referem-se como, quando e porquê determinado
conteúdo será ensinado.
O planejamento precisa ser discutido com a comunidade escolar,
este trabalho aproximará a escola do contexto dos alunos e o conhe-
cimento vinculará a um processo de resistência e consequentemente
de transformação.
Para a construção do planejamento e para a orientação da didáti-
ca nas escolas do campo, escolhemos os pressupostos teórico-metodo-
lógicos de Gasparin (2013) que toma como base a pedagogia histórico-
-crítica. Os passos para o desenvolvimento desse trabalho são:
1. prática social inicial;
2. problematização;
3. instrumentalização;
4. cartase;
5. prática social final.
Para pensar na materialidade deste planejamento o primeiro pon-
to é mobilização dos sujeitos. Gasparin defende que “o educando deve
ser desafiado, mobilizado, sensibilizado; deve perceber alguma relação
entre o conteúdo e a sua vida cotidiana, suas necessidades, problemas
e interesses” (GASPARIN, 2013, p. 13). Nesse sentido, o autor defende
que o professor conheça a prática social inicial do aluno para que possa
Parte
EDUCAÇÃO DO CAMPO II
O quarto passo é a cartase, que é a “síntese do cotidiano e do
científico, do teórico e do prático a que o educando chegou, marcando
sua nova posição em relação ao conteúdo e à forma de sua construção
social e sua reconstrução na escola” (GASPARIN, 2013, p. 124). Nesse
ponto, Gasparin explica que o aluno será capaz de compreender a rea-
lidade de outra forma, pois os conteúdos “tornam-se verdadeiramen-
te significativos porque passam a fazer parte integrante e consciente
do sistema científico, cultural e social de conhecimentos” (GASPARIN,
2013, p. 1 270).
O quinto e último passo é a prática social final do conteúdo, que
é a “confirmação de que aquilo que o educando somente conseguia
realizar com a ajuda dos outros agora o consegue sozinho, ainda que
trabalhando em grupo” (GASPARIN, 2013, p. 142).
O desenvolvimento do planejamento precisa levar em conta os
aspectos problematizados anteriormente sobre a didática. E a espe-
cificidade da educação deve ser um princípio para esta construção.
Não existe um modelo de planejamento, assim como não há modelos
ou padrões para a diversidade das escolas do campo, o que precisa ser
considerado são as questões norteadoras: O que? Para quê? Como?
Dentro da questão norteadora “O que?” é necessário compreender
quais são as principais problemáticas da comunidade escolar, sendo
trabalho predominante, qual é a cultura, quais são os povos tradicio-
nais que residem no entorno da escola, para então pensar nos con-
teúdos que serão trabalhados. A avaliação deverá articular-se a esta
questão. Quanto à pergunta “Para quê?” é necessário compor quais são
os objetivos que serão trabalhados, e a avaliação deverá articular-se
• Didática.
Como? • Metodologia.
• Recursos.
1 Apresentamos anteriormente a proposta de Gasparin (2013) que fez uso do método da pedagogia histórico-crítica
desenvolvida pelo teórico Dermeval Saviani, pois entendemos que esta proposta contempla considerações que
dialogam com os princípios da educação do campo, levando em conta a realidade do aluno, preocupando-se com cri-
ticidade, com a apropriação do conhecimento historicamente produzido, e principalmente considerando a educação
como transformação da realidade.
Parte
EDUCAÇÃO DO CAMPO II
Extra
Leia o texto Planejamento e Avaliação, de João Luiz Gasparin,
para aprofundar as reflexões suscitadas nesta parte da aula. Esse artigo
contribuirá para avançar na discussão pautada. Disponível em: <http:
portal.pmf.sc.gov.br/arquivos/arquivos/pdf/14_02_2011_11.10.46.
f10026cfdb3402723ee1bd9293bf915d.pdf>. Acesso em: 14 jan. 2016.
Atividade
Construa um planejamento que leve em conta os princípios da
educação do campo e compreenda as orientações da pedagogia histó-
rico-crítica discutida nesta aula. Lembre-se de responder as questões
norteadoras, o que? para quê? como?
Bom trabalho!
Referências
CALDART, Roseli Salete. Educação do campo: Notas para uma análise de percurso.
In: Revista Trabalho, Educação e Saúde, Rio de Janeiro, v. 7 n.1,p.35-64, mar./
jun.2009.
Resolução da atividade
Parte
EDUCAÇÃO DO CAMPO II
as disciplinas escolares, impõe a seus defensores a ad-
missão de que ela não é uma nova ciência, mas atitude,
um ponto de vista, quiçá, um lema a ser adotado face
ao conhecimento. (FIOD, 2012, p. 177)
Parte
EDUCAÇÃO DO CAMPO II
Freire faz o contraponto entre a educação bancária e a educação
problematizadora e a relação com a materialidade da disciplina:
[...] cada disciplina precisa ser analisada não apenas no
lugar que ocupa ou ocuparia na grade, mas nos saberes
que contemplam nos conceitos enunciados e no movi-
mento que esses saberes engendram, próprios de seu
lócus de cientificidade. (FREIRE, 1987, p. 57).
Extra
Indica-se o livro Licenciaturas em Educação do Campo e o Ensino
de Ciências Naturais: desafios à promoção do Trabalho Docente in-
terdisciplinar, organizado pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário.
Este livro reúne diversos textos que contribuirão para o aprofunda-
mento do conhecimento sobre a materialidade pedagógica que articu-
la a teoria-prática na educação do campo. Disponível em: < www.mda.
gov.br/sitemda/sites/sitemda/files/user_img_248/Livro%20LEDOC%20
CIEMA%20WEB.pdf>. Acesso em: 14 jan. 2016.
Atividade
Com o surgimento de uma nova concepção de pensar a organiza-
ção que articule teoria-prática, muda-se a o trabalho com os alunos. O
que se pode indicar como mudança principal?
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 32 ed. São Paulo: Paz e Terra, 1987.
Resolução da atividade
EDUCAÇÃO DO CAMPO
E O TRABALHO COM
CLASSES MULTISSERIADAS
Objetivo:
Parte
CLASSES MULTISSERIADAS
CLASSES MULTISSERIADAS NO CONTEXTO
EDUCACIONAL BRASILEIRO E A EDUCAÇÃO DO CAMPO
As classes multisseriadas são organizadas com turmas de diferen-
tes anos e diferentes níveis de aprendizagem em uma mesma sala,
atendendo diferentes faixas etárias e com uma única professora. A
educação do campo defende esse espaço/tempo, em que as crian-
ças aprendem o conhecimento em um processo coletivo e articulado
à teoria-prática, porém torna-se necessário refletir sobre a questão
da estrutura física das escolas, planejamento pedagógico, formação
específica dos professores(as), e de um currículo condizente com a
especificidade do campo.
A auto-organização é um processo formativo nas escolas multisse-
riadas, é protagonizada pelos professores e alunos, pois estes sujeitos
mostram que é possível um trabalho de qualidade. Defendemos que
este é um trabalho diferenciado que respeita o ritmo do aluno e preo-
cupa-se com o processo de aprendizagem. A herança do modelo seria-
do está enraizada na organização curricular de nossas escolas e assim,
firma um desmerecimento a essa organização.
No contexto brasileiro, os alunos que estudam nas escolas loca-
lizadas no campo enfrentam dificuldades na organização do planeja-
mento com as diferentes faixas etárias e níveis diferentes de apren-
dizagem. O livro didático muitas vezes é utilizado para a organização
do currículo escolar seriado e, muitas vezes, não tem vinculação à
materialidade da educação do campo colocando-se distante da prática
social do aluno.
– As escolas multisse-
– Currículo que aten- riadas oportunizam às
– Precarização do mo- da a especificidade populações do campo
delo urbano seriado de dos alunos do campo o acesso à escolariza-
ensino. respeitando a cultura e ção no lugar em que
identidade. vivem, em sua própria
comunidade.
– Currículo deslocado da – Currículo heterogê- – Heterogeneidade
cultura do campo. neo e contextualizado, inerente ao processo
de acordo com a reali- educativo da multissé-
– Estrutura física das
dade campesina. rie, articulada a parti-
escolas e dificuldades
cularidades identitárias
com relação ao transpor- – As escolas multisse- relacionadas a fatores
te e as longas distâncias riadas têm assumido um geográficos, ambien-
percorridas. currículo deslocado da tais, produtivos, cultu-
– Oferta irregular da cultura das populações rais etc., são elementos
merenda escolar. do campo. imprescindíveis.
Parte
CLASSES MULTISSERIADAS
DESAFIOS REFLETIR SOBRE O INTENCIONALIDADE
ENFRENTADOS CURRÍCULO EDUCATIVA
– Concretização de um
processo de educação
dialógica que inter-
– Predominância de uma -relacione sujeitos, – Elaboração de
educação bancária de saberes e intencio- práticas educativas e
forte tradição disciplinar. nalidades, superando políticas includentes.
a predominância de
uma educação bancá-
ria de forte tradição
disciplinar.
– Currículo baseado nas – Peculiaridades da
relações urbanocêntri- vida e do trabalho das
cas e mercadológicas. pessoas do campo.
– A escola multis-
– Falta de acompanha-
seriada oportuniza
mento pedagógico ad-
o apoio mútuo e
vêm da falta de estrutu-
a aprendizagem
ra e pessoal suficiente.
compartilhada.
– Acompanhamento
pedagógico e forma-
ção dos docentes.
– Evasão e repetência.
Apoio das Secretarias
Municipais e Estaduais
de Educação.
(Fonte: Elaborado com base no texto de Hage (2006) do artigo “Movimentos
Sociais do Campo e afirmação do Direito à Educação: Pautando o Debate
Sobre As Escolas Multisseriadas na Amazônia”.)
Extra
Indica-se o texto Educação do Campo: prática do professor em
classe multisseriada, da professora Maria Antônia de Souza e Fernando
Atividade
Realize uma análise do quadro que reúne os conceitos discutidos
pelo professor Hage e indique qual seu posicionamento em relação às
classes multisseriadas.
Referência
HAGE, Salomão Mufarrej. Movimentos sociais do campo e a afirmação do direito à
educação: pautando o debate sobre as escolas multisseriadas na Amazônia paraense.
In: Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, Brasília, v. 87, n. 217, p. 302-312.
Resolução da atividade
Parte
CLASSES MULTISSERIADAS
PLANEJAMENTO PEDAGÓGICO PARA CLASSES
MULTISSERIADAS
Nesta aula discutiremos como ocorre o processo do planejamento
pedagógico nas salas multisseriadas. Geralmente os professores rece-
bem o currículo pronto e acabado das Secretarias de Educação. Esses
currículos chegam às escolas com conteúdos divididos por ano aten-
dendo a uma lógica seriada de ensino não correspondendo à especifi-
cidade das classes multisseriadas e do contexto das escolas do cam-
po. E neste sentido, com uma orientação padrão para a organização
do planejamento pedagógico, os professores encontram dificuldades,
pois na prática trabalham com diferentes faixas etárias e níveis de
aprendizagem ao mesmo tempo.
Um grande desafio às classes multisseriadas, são os princípios
mercadológicos voltados ao neoliberalismo que adentram este con-
texto querendo “resolver um problema” fundamentando a pedagogia
numa relação despolitizada, exemplo expressivo foi o Programa Escola
Ativa1, programas de iniciativa privada como a fundação telefônica
Vivo2:
As escolas multisseriadas têm assumido um currículo
deslocado da cultura das populações do campo, inspi-
rado em compreensões universalizantes, que sobreva-
lorizam concepções mercadológicas e urbano-cêntricas
de vida e desenvolvimento, em detrimento dos sabe-
res, e modos de vida do campo. Essa situação deve ser
1 Leia a crítica do movimento da educação do campo sobre o programa Escola Ativa, disponível em: <www.gepec.
ufscar.br/textos-1/legislacao1/nota-tecnica-sobre-o-programa-escola-ativa-uma-analise-critica/at_download/file>.
2 Disponível em: <http://fundacaotelefonica.org.br/noticias/fundacao-telefonica-vivo-lanca-colecao-classes-multis-
seriadas-em-escolas-do-campo/ >.
Parte
CLASSES MULTISSERIADAS
Nesse sentindo, torna-se necessário partir de uma prática peda-
gógica que valorize o contexto sociocultural dos sujeitos do campo, e
que esta respeite os diferentes níveis dos alunos baseados nos princí-
pios da formação humana.
Extra
Para aprofundar o conhecimento sobre as classes multisseriadas
leia o texto Transgressão do paradigma da (multi)seriação como re-
ferência para a construção da escola pública do campo, do professor
Salomão Hage. Este texto provoca reflexões sobre os principais dile-
mas da multisseriação e da educação do campo. Disponível em: <www.
scielo.br/pdf/es/v35n129/0101-7330-es-35-129-01165.pdf>. Acesso
em: 14 jan. 2016.
Atividade
Por que um grande desafio às classes multisseriadas, são os prin-
cípios mercadológicos voltados ao neoliberalismo que adentram este
contexto escolar?
Referências
ARROYO, M. G. Escola: terra de direito. In: ROCHA, M. I. A.; HAGE, S. M. (Orgs.)
Escola de direito: reinventando a escola multisseriada. Belo Horizonte: Autêntica,
2010, p. 119-140.
Resolução da atividade
Parte
CLASSES MULTISSERIADAS
ORGANIZAÇÃO DE UM CURRÍCULO INTEGRADO
O currículo integrado é uma perspectiva de educação transforma-
dora no sentido que compreende que o conhecimento historicamente
produzido pela humanidade deve ser articulado à realidade dos sujei-
tos. Kuenzer explica que é uma organização curricular que objetiva
“disponibilizar aos jovens que vivem do trabalho a nova síntese entre
o geral e particular, entre lógico e histórico, entre teoria e prática,
entre conhecimento, trabalho e cultura” (KUENZER, 2002, p. 43-44).
Com o currículo integrado, surge como possibilidade os trabalha-
dores terem acesso ao conhecimento científico que é patrimônio da
humanidade, enquanto fazem a formação profissional, pois a educa-
ção tem uma intencionalidade mais ampla que é formar um traba-
lhador crítico, que tenha condições de refletir sobre sua realidade e
contribuir com a transformação social em prol dos interesses coletivos
de trabalhadores do qual faz parte. Nesse sentido, este currículo pos-
sibilita dar visibilidade às contradições postas na sociedade.
Tem-se o trabalho como princípio educativo que “firma o caráter
formativo do trabalho e da educação como ação humanizadora me-
diante o desenvolvimento de todas as potencialidades do ser humano”
(FRIGOTTO; CIAVATTA, 2012, p. 748). E assim, “destaca a organização
do conhecimento como um sistema de relações de uma totalidade his-
tórica e dialética” (CIAVATTA; RAMOS, 2012, p. 309).
Neste sentido o currículo integrado constitui-se em uma organiza-
ção que indaga a realidade e visa nesta própria condição uma dinâmica
Parte
CLASSES MULTISSERIADAS
No princípio da educação do campo, a defesa é por uma pedago-
gia socialista, que as escolas organizem-se a partir do currículo inte-
gral para constituir a formação omnilateral. Nesse sentido, é
[...] considerar a realidade do campo na construção de
políticas públicas e de pedagogia significa considerar
os sujeitos da educação e considerar a prática social
que forma estes sujeitos como seres humanos e como
sujeitos coletivos. (CALDART, 2009, p. 42).
Extra
Para esta aula, indico a leitura do texto Currículo Integrado de
Maria Cristina Davini. Este texto suscitará em problematizações acerca
do tema. Disponível em: <http://smeduquedecaxias.rj.gov.br/nead/
Biblioteca/Forma%C3%A7%C3%A3o%20Continuada/Curr%C3%ADculo/
pub04U2T8.pdf>. Acesso em: 14 jan. 2016.
Bons estudos!
Atividade
Tendo em vista que o currículo integrado é uma perspectiva trans-
formadora, qual a intencionalidade de outras organizações curricula-
res propostas ao trabalhador na atualidade, principalmente aquelas
ligadas ao modo de produção capitalista?
Referências
CALDART, Roseli Salete. Educação do campo: Notas para uma análise de percurso.
In: Revista Trabalho, Educação e Saúde, Rio de Janeiro, v.7 n.1, p. 35-64, mar./
jun.2009.
KUENZER, Acácia Zeneida (Org.). Ensino médio: construindo uma proposta para os
que vivem do trabalho. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2002.
Resolução da atividade
CURRÍCULO E METODOLOGIAS
DA EDUCAÇÃO DO CAMPO