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A europa dos estados absolutos e a europa dos parlamentos

2.1 Estratificação social e poder político nas sociedades do Antigo Regime


-O Antigo Regime refere-se ao sistema social, político, económico e
demográfico que entre os séculos XVI a XVIII vigorou na maior parte dos
países europeus.
-É caracterizado pela existência de regimes centralizados e absolutistas, em
que o poder estava concentrado nas mãos do rei, mas assiste-se ao
desenvolvimento do liberalismo;
-A sociedade está organizada em ordens ou estados, politicamente está
dominada pelas monarquias absolutas e do ponto de vista económico
desenvolve-se o capitalismo comercial.
-Corresponde, grosso modo, à Idade Moderna;
2.1.1 Uma sociedade de ordens assente no privilégio
O que é uma ordem ou estado?
-É uma categoria social definida pelo nascimento e pelas funções sociais que
os indivíduos desempenham;
-A cada ordem corresponde um estatuto jurídico diferente que confere aos
seus membros determinadas honras, direitos e deveres;
-Existe uma distinção entre os grupos privilegiados (clero, nobreza) e o povo
que não tinham privilégios. As ordens distinguem-se pelo traje e pela forma de
tratamento.
Quais são as ordens existentes?
A sociedade divide-se em três ordens ou estados:
-Clero ou Primeiro Estado;
-Nobreza ou Segundo Estado;
-E o Terceiro Estado ou o Povo.
-Esta organização social é herdada da Idade Média, no entanto ao longo dos
séculos estas ordens foram-se fracionando em diversos grupos diferentes,
cada um com o seu próprio estatuto.
O clero ou o primeiro estado
-É o estado mais digno porque é aquele que está mais próximo de Deus;
-Privilégios:
-Isento de impostos;
-Isento de prestar serviço militar;
-Lei privada, “foro eclesiástico”, os seus membros regem-se por leis inscritas
no Direito Canónico, são julgados em tribunais próprios;
-Privilégio de conceder asilo aos fugitivos;
-Não são obrigados a alojar os soldados do rei.
O clero é uma ordem rica:
-Grandes proprietários;
-Recebem um imposto a dizima (décima de Deus);
-Recebem muitas outras doações, prendas e heranças.
-É o único estado a que não se acede por nascimentos, mas por tonsura;
-Fazem parte do clero membros de todos os grupos sociais, mas ocupam
cargos distintos;
- O Alto Clero (cardeais, arcebispos, bispos e abades dos mosteiros) é
fundamentalmente constituído pelos filhos segundos da nobreza;

-Vivem luxuosamente;
-Desempenham cargos na Corte e na administração central; Muitos são
professores nas Universidades;
- O Baixo Clero (padres das paróquias) é, na maior parte dos casos,
constituído por pessoas oriundas do povo;
-São pouco instruídos, salvo raras exceções;
- Clero Regular (monges que vivem em conventos) vai perdendo, pouco a
pouco, a importância económica que tivera na Idade Média, no entanto o seu
número vai aumentando.
Nobreza ou segundo estado
-A nobreza beneficiava dos cargos mais importantes quer na administração
central quer no exército;
- Os seus membros ocupam os cargos mais importantes da Igreja;
- Tem um regime jurídico (leis) próprio;
- São grandes proprietários fundiários;
- Estão isentos de impostos;
- Cobram rendas e direitos senhoriais como a corveia aos camponeses; Têm
direito ao porte de espada;
-A nobreza também apresenta estatutos diferentes:
-A nobreza de sangue ou nobreza de espada, são as velhas famílias,
constituem o topo deste grupo social (príncipes, duques, condes, marqueses),
vivem na Corte e convivem com o monarca, ocupam os cargos principais;
-Por outro lado existe pequena nobreza rural, por vezes com dificuldades para
conseguir os rendimentos necessários para manter uma vida condizente com a
sua posição;
-Nesta época surge a nobreza de toga, uma nobreza que tinha origem na
burguesia letrada que foi chamada a ocupar cargos administrativos no governo
central e foram agraciados pelo rei com um título nobiliárquico.
O Povo ou Terceiro Estado
-É a ordem mais heterogénea, desde burgueses ricos e letrados que algumas
vezes forma promovidos pelo rei à nobreza até pessoas que viviam numa
miséria extrema;
-No topo deste grupo estão os homens de letras (professores das
universidades, cargos administrativos, etc.) e a burguesia comercial e
financeira;
-Depois surgem alguns ofícios considerados superiores como de joalheiro,
boticário, etc.;
-São os burgueses, a elite do Terceiro Estado;
-Depois surgem os lavradores que possuem terras próprias;
-A seguir aparecem aqueles que desempenham “ofícios mecânicos”, os
artesãos;
-Depois todos os assalariados, aqueles que trabalham por um salário;
-Por fim surgem aqueles que não trabalham os mendigos, vagabundos e
indigentes;
-Todos os membros do Terceiro Estado, ricos ou pobres, pagam impostos;
-Os camponeses representam 80%, ou mais, da população;
A diversidade de comportamentos e de valores.
A mobilidade social
-Cada grupo social tinha os seus comportamentos e vestuários próprios;
-A Igreja continuava a afirmar que a cada ordem correspondia uma tarefa
social (clero-rezar; nobreza-combater; povo-trabalhar), e por isso validava a
desigualdade entre pessoas e a existência de ordens privilegiadas e outras
não;
-Cada um vestia-se conforme o seu estatuto: a nobreza usava espada e roupas
feitas de tecidos caros;
-O clero era identificado pela tonsura (o alto da cabeça rapado); Em locais
públicos os não privilegiados tinham de se afastar e dar passagem aos
privilegiados;
-Os membros do povo só se podiam falar com os privilegiados se
expressamente autorizados para tal;
-Aos privilegiados não eram aplicados castigos corporais (chicoteamento)
considerados vis;
-Se condenados à morte, as pessoas do povo eram enforcadas a nobreza
decapitada;
-A mobilidade social era muito difícil devido ao facto do nascimento marcar o
grupo social de cada um;
-Só o rei podia decidir a mudança de estatuto de alguém; Geralmente, e
esporadicamente, o monarca recompensava um membro do Terceiro Estado
por serviços prestados, concedendo-lhe um título nobiliárquico;
-Outra forma que a burguesia encontrou de subir na sociedade foi através do
casamento, muitos nobres arruinados casavam com burgueses endinheirados
para recuperar as suas finanças;
-Por outro lado a cada vez maior complexidade de governar um país levava a
que muitos burgueses (letrados) ocupassem cargos importantes no Estado;
-Esta ascensão social foi lenta, com avanços e recuos;
-A nobreza permaneceu agarrada aos seus privilégios que lentamente foi
perdendo;
-A burguesia foi ascendendo fruto do seu progressivo enriquecimento através
das atividades comerciais e financeiras;
-Na Inglaterra e Holanda a ascensão da burguesia foi mais rápida enquanto
noutros países como a França, Portugal ou Espanha a sociedade de ordens
manteve-se durante mais tempo.
2.1.2 O absolutismo régio
-No século XVII e XVIII as monarquias absolutas atingiram a sua plenitude;
-Uma definição de monarquia absoluta?
-As monarquias absolutas concentram no rei todo o poder do Estado
(executivo, legislativo e judicial), tal é legitimado por ser essa a vontade de
Deus;
-Não existem quaisquer impedimentos à governação do monarca com exceção
das leis de Deus;
-O clérigo francês Bossuet foi um dos principais teorizadores do absolutismo,
segundo ele as principais características do poder absoluto são as seguintes:
-É sagrado, provém de Deus que conferiu aos monarcas o poder para estes
governarem em seu nome, nesse sentido o seu poder é incontestável mas o rei
deve ter a obrigação de governar para o bem da população e da Nação;
-É paternal, o rei era uma espécie de pai dos seus súbditos e, na governação,
deve ter em conta o bem estar do povo;
-É absoluto, o rei não tem de prestar contas a ninguém das suas ações, deve
assegurar o respeito pelas leis de maneira a criar justiça no seu reino;
-Está submetido à razão, é esta inteligência que lhe permite governar e fazer o
povo feliz. Deve demonstrar certas qualidades como bondade, firmeza, força
de carácter, prudência e capacidade de previsão.
-O rei concentra todo o poder do Estado, ele governa (poder executivo), julga
(poder judicial) e faz as leis (poder legislativo); O rei substitui o Estado, daí a
célebre afirmação de Luís XIV, “O Estado sou eu”;
-Não existe qualquer organismo que controle o seu poder;
-Em França os Estados Gerais (representações das três ordens, reuniram-se
pela última vez em 1614-15, em Portugal as Cortes não reuniram uma única
vez durante todo o século XVIII.
-No entanto nenhum desse organismo foi realmente abolido;
-O rei era o único garante da ordem social, jura-o na cerimónia da sua
coroação;
-Qualquer tentativa de alterar este estado de coisas é considerado um
desrespeito e uma traição.
-As cortes régias, durante o absolutismo adquirem uma grande importância;
-Tornam-se um espelho do poder; Versalhes
O rei francês, Luís XIV, o Rei-Sol, o exemplo do monarca absoluto, funda
Versalhes;
-O palácio foi construído para albergar a corte, nele viviam os principais
funcionários e conselheiros régios bem como a nobreza que procurava os
favores do monarca;
-Vivia-se num clima de luxo e festa permanente, a nobreza arruinava- se para
manter o seu nível de vida e passava a depender da distribuição de dinheiro
por parte do rei;
-Na corte existiam uma hierarquia, normas e uma etiqueta extremamente
rígidas;
-Esta sociedade de corte servia de modelo a toda a realeza europeia; Os
monarcas favoreciam a sua existência pois era uma forma de controlarem a
principal nobreza do seu país.
-O quotidiano em Versalhes era uma encenação do poder e da grandeza do
rei;
-O luxo do palácio e jardins, os bailes, banquetes, o complicado cerimonial,
mesmo dos atos mais simples, tudo era pensado para teatralizar o poder do
monarca, para o seu endeusamento;
-Todos estavam dependentes de um sorriso ou de um cumprimento real.
2.1.3 Sociedade e poder em Portugal
-A sociedade portuguesa apresenta as características do Antigo Regime com
as suas especificidades;
-Após a Restauração de 1640, Portugal torna-se novamente independente,
após 60 anos de domínio filipino (Castela);
-A nobreza portuguesa revoltou-se e restaurou a monarquia na pessoa do
Duque de Bragança;
-Seguiu-se um período conturbado, com uma guerra com Castela e com a
deposição do rei Afonso VI;
-A nobreza portuguesa, nos finais do século XVII, detinha o poder;
-O Império ultramarino português nunca esteve baseado na existência de uma
burguesia mercantil;
-Os cargos desse império foram preenchidos pela nobreza; O rei usou esses
cargos para recompensar a nobreza portuguesa;
-Os nobres , na maior parte dos casos, viam esses cargos como se de um
feudo se tratasse, e por isso tratavam de enriquecer às custas dos interesses
do reino;
-Apesar das muitas críticas, a nobreza manteve até meados do século XVIII,
praticamente em regime de exclusividade, o acesso a esses cargos no
ultramar;
-Em Portugal, a nobreza fundiária, para além dos rendimentos da terra, tem
acesso a outros rendimentos proporcionados pelos cargos e pela prática do
comércio;
-É uma nobreza mercantilizada, no entanto, ao contrário da burguesia, aplicava
os seus lucros na compra de mais terras ou, ainda mais frequentemente,
gastava os seus lucros na ostentação e luxo;
-A nobreza portuguesa nunca revelou uma mentalidade capitalista na
exploração do comércio colonial;
-Fruto desse domínio da nobreza a burguesia portuguesa teve muitas
dificuldades para se afirmar
-A criação do aparelho burocrático do Estado absoluto português
-Após a Restauração da independência de 1640, os monarcas portugueses
reorganizaram a burocracia do Estado adaptado às necessidades da
centralização do poder;
-D. João IV criou a base da administração central, as secretarias, bem como
outros órgãos administrativos (Conselhos, Mesas e Juntas);
-O rei delegava nestes órgãos funções governativas;
-Ao longo dos séculos XVII e XVIII a administração foi-se aperfeiçoando;
-As Cortes, reúnem-se raramente (pela última vez em 1697) e perdem
importância;
-O absolutismo joanino
-Foi D. João V, admirador de Luís XIV, que em Portugal melhor encarnou o
ideal absolutista;
-Procedeu a uma reforma administrativa no sentido de melhor controlar o
governo do país;
-No entanto a burocracia continuava pesada e lenta;
-D. João V não reuniu as Cortes no seu reinado;
-Copiando Luís XIV, afirmou-se através do luxo, da etiqueta, da teatralização
do poder, ou seja através da criação de uma sociedade de corte;
-O rei é o centro do poder;
-Foi favorecido pela descoberta de ouro no Brasil que vai tornar possível a
ostentação do rei que sobretudo se evidenciaram nas cerimónias públicas e
nas embaixadas enviadas ao estrangeiro;
-Pratica o mecenato das artes e das letras (Fundou a Real Academia de
História, apoiou a Biblioteca da Universidade de Coimbra);
-Inicia uma política de grandes construções (Construção do Palácio- Convento
de Mafra, remodelação do Paço da Ribeira. Aqueduto das Águas Livres, etc.);
-Perante os vários conflitos que nessa época se desenrolaram promoveu a
neutralidade do país;
-Recebeu do Papa o título de Fidelíssimo e o arcebispo de Lisboa foi elevado à
categoria de Cardeal-patriarca;
-Atraiu para a corte portuguesa artistas portugueses e estrangeiros que irão
contribuir para o desenvolvimento do Barroco português, sobretudo os
italianos.

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