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O que é o conceito Antifrágil?

A antifragilidade consiste em uma característica pela qual as adversidades não são superadas pela reação,
mas pela aceitação.

Nesse caso, aceitar não significa permanecer resignado perante um problema, mas entender o contexto em
torno de um imprevisto e aprender com isso.

Seria mais ou menos o que se faz no boxe, quando um pugilista assimila o golpe do adversário, tomando-o
como uma referência.

Uma vez golpeado, se conseguir suportar e tiver sangue frio o bastante, ele poderá tirar proveito disso para
“ler” as ações do oponente e, assim, evitar um novo golpe.

Por analogia, o conceito de antifrágil pode ser compreendido como algo parecido com isso.

Perceba que não se trata de fazer força ou oposição quando acontece algo que vai contra nossa vontade.

Antes de reagir, o antifrágil procura antes entender o que se passou e aceitar a sua condição para, a partir
disso, aprender com seus erros e evoluir.

Por uma outra perspectiva, é diferente de ser reativo, já que esse é um comportamento normalmente menos
pensado.

Ser antifrágil, portanto, significa se colocar em posição proativa e consciente.

É aceitar que a vida, o trabalho e os negócios sempre apresentam fatos novos e inesperados.

Embora, como já destacamos, o conceito não se oponha à necessidade de planejar, ele trata de colocar o ser
humano como um elemento ativo e autônomo para tomar decisões.

Sendo assim, ele rejeita a anarquia, até porque ser antifrágil é estar em permanente processo
de aprendizagem.

De onde surgiu o conceito Antifrágil

O conceito antifrágil é de autoria do professor líbano-americano de riscos no Instituto Politécnico da


Universidade de Nova York, Nassim Nicholas Taleb.

O docente se destaca, ainda, por ser um grande investidor no mercado financeiro que, como se sabe, é um
dos ambientes de negócios mais voláteis e incertos que existem.

Ele ganhou grande destaque na primeira década dos anos 2000, quando lançou previsões sobre a crise que
levaria à quebra do banco Lehman Brothers, na chamada Crise dos Subprimes, nos Estados Unidos.

Nesse contexto nasce, então, o conceito antifrágil, que tem como precursores os livros “Iludido Pelo Acaso:
A Influência Oculta da Sorte nos Mercados e na Vida”, de 2004 e “A Lógica do Cisne Negro”, de 2007.

Vale um parêntese sobre este último, no qual Taleb lança as bases que viriam a sedimentar a própria teoria
da antifragilidade.

Nele, o autor expõe as grandes oportunidades e, claro, riscos que eventos imprevisíveis de grande
magnitude podem gerar.
Se você se interessa em investimentos, análise de riscos e no mercado financeiro, não deixe de ler as obras
desse grande expoente contemporâneo.

O Livro Antifrágil

Em “A Lógica do Cisne Negro”, Taleb sinaliza para a constância e a frequência de fatos inesperados no
mundo.

Ele disserta sobre o imponderável como elemento central em diversos acontecimentos, tanto no nível pessoal
quanto coletivo.

Ocorrências desse tipo são chamadas pelo professor de Cisne Negro e têm, em geral, três características:

o São imprevisíveis
o Produzem resultados impactantes
o Depois de sua ocorrência, buscam-se maneiras de prevê-las e explicá-las.

Aliás, o termo Cisne Negro, embora remeta ao acaso, não tem nada de aleatório.

Ele faz menção à repentina aparição dessa ave raríssima na Austrália, em pleno século XVII, fato que gerou
comoção por ser, até então, inexplicável.

A partir da obra, vai tomando forma o conceito antifrágil, que culminaria no best-seller “Antifrágil: Coisas
que se Beneficiam com o Caos”.

Como o nome já revela, o caos e o indesejado podem ser positivos, desde que sejam bem aproveitados.

De certa forma, é a continuação das ideias lançadas na obra original.

No livro, a antifragilidade é apresentada como o contrário da fragilidade.

Portanto, para o autor, ser forte ou resiliente não representa a ideia oposta a ser frágil.

A diferença principal, segundo o guru Taleb, é que o antifrágil não só resiste às mudanças como aprende
com elas, melhorando suas habilidades e aptidões.

Lembra a analogia com o boxe?

Podemos acrescentar que é como se, em meio a uma luta, o boxeador golpeado fosse capaz de aprender algo
que não tenha sequer treinado.

Para que serve o conceito Antifrágil

Quem poderia prever um evento como o 11 de setembro ou a já destacada Crise das Subprimes?

Depois de consumados, eles provocam desdobramentos incontroláveis que, por sua vez, podem
representar boas oportunidades para aprender e crescer.

O ataque às torres gêmeas em 2001, por exemplo, provocou uma drástica queda no preço do barril do
petróleo, levando investidores a severas dificuldades.

Por outro lado, é fato que, quem investiu no tempo certo pôde obter lucros expressivos, tendo em vista a
grande oscilação nessa commodity.
Quem soube absorver o impacto desse evento, com certeza, encontrou nele uma grande chance de fazer
negócios.

Claro que isso não significa faltar com o respeito às milhares de vítimas do trágico incidente, muito pelo
contrário.

A questão aqui é entender que certas coisas, depois que acontecem, provocam mudanças tão profundas
que não há remédio que não seja se ajustar rapidamente.

Já que falamos nela, a Crise das Subprimes é também um bom case a ser estudado.

Veja o caso do investidor que multiplicou em mais de seis vezes o seu patrimônio ao explorar os efeitos
dessa crise econômica sem precedentes.

Perceba que, eticamente, não é errado utilizar uma crise ou mesmo um acidente como um trampolim em
termos de negócio.

Na verdade, quem aproveita esses momentos também está se arriscando.

É essa disposição para o risco que o professor Taleb destaca como uma virtude do antifrágil.

Esse é um tema que inclusive norteou a sua mais recente obra, “Arriscando a própria pele: Assimetrias
ocultas no cotidiano”, de 2018.

Então, para resumir, o conceito antifrágil serve como base para aprender a lidar com os riscos.

Não chega a ser um método, mas um conjunto de princípios que ajudam a encarar o indesejável não como
um problema, mas sim como uma oportunidade.

Diferença entre resiliência e antifrágil

Considerando que crises e eventos fortuitos representam chances de crescer, cabe questionar o valor de
alguns atributos de personalidade e de liderança.

Nesse caso, o conceito antifrágil tratado no livro serve para colocar em dúvida a importância da resiliência.

Ela se caracteriza pela capacidade que um indivíduo tem de sofrer um abalo, seja ele qual for, e se manter
fiel aos seus objetivos.

Em outras palavras: é o mesmo que resistir a um impacto e não sofrer alterações.

Como se pode perceber, é muito tênue a linha que separa a resiliência da teimosia.

Nesse aspecto, ser antifrágil é uma evolução, porque permite não só assimilar impactos como tirar lições e
aprender com eles.

É como se você fosse atingido por um vento muito forte e, na base da força, conseguisse ficar de pé.

Sendo antifrágil, você conseguiria não só passar pela ventania, como aprender de onde vem o vento, que
fatores o levam a aumentar a velocidade e até a evitar vendavais.

Ficou clara a diferença para você?

Como aplicar este conceito na vida profissional?


Certamente, o conceito antifrágil não seria tão discutido, divulgado e bem aceito se ele não fosse aplicável na
prática ou, pelo menos, não induzisse a reflexões válidas.

Nesse aspecto, a antifragilidade é a resposta mais indicada para lidar com situações que fogem à
compreensão ou são complexas demais para entender.

Trata-se de um novo parâmetro comportamental e estratégico, uma vez que sua premissa é: não rejeite o
imprevisto, mas abrace-o quando ele aparecer.

O que é a rotina de uma empresa, até mesmo as grandes, se não uma sucessão de imprevistos e de
acontecimentos que escapam ao controle?

Por isso, ser antifrágil significa aceitar a realidade tal como ela se apresenta e não como gostaríamos que
fosse.

Ao adotar essa postura, desafios aparentemente impossíveis de serem superados ganham uma dimensão
totalmente nova e, em muitos casos, estimulante.

Imagine, nesse caso, que você tenha começado a empreender por necessidade, ou seja, para garantir sua
subsistência.

Esse é um cenário bastante comum no Brasil, país no qual os índices de desemprego altos forçam
trabalhadores a buscar alternativas para sobreviver.

Começar um negócio dessa forma, por mais arriscado que seja, pode vir a ser um grande passo no sentido
de ganhar independência, em especial financeira.

É possível, desde que se mantenha uma postura antifrágil e aberta ao aprendizado.

Outro caso em que o conceito pode ser aplicado é o de negócios familiares que têm dificuldades em se
profissionalizar.

Empresas desse tipo, em geral, crescem na base do talento e do esforço, deixando para desenvolver depois a
parte da gestão.

Assim, elas acabam acumulando problemas para os quais, naturalmente, não estavam preparadas.

Ao adotar o conceito de antifragilidade, os imprevistos da falta de gestão podem servir como valiosas
fontes de aprendizado, ajudando assim no crescimento.

Conceito Antifrágil aplicado à performance das empresas

Ser antifrágil, como se pode perceber, exige algum grau de autonomia e poder de decisão.

Assim sendo, é um conceito que vem se difundindo rapidamente entre líderes de diversos segmentos e em
empresas de todos os tamanhos.

É uma teoria que fornece respostas em situações imprevistas do dia a dia, servindo como base para a
tomada de decisões nem sempre fáceis.

Por isso, algumas orientações podem ser dadas, considerando a rotina de líderes constantemente instados a
decidir sobre pessoas e processos.

o Procure receber e dar feedbacks constantes às pessoas, sempre de forma direta, evitando manipular
o Tente agir mesmo temendo os erros advindos em situações de baixo risco, já que eles servem de
aprendizado
o Jamais se sinta confiante ou confortável demais quando as coisas vão bem. Afinal, é nesse momento
que as ameaças ocultas se estabelecem
o Por outro lado, não se deixe intimidar por essas ameaças, lembrando sempre da segunda
recomendação desta lista
o Procure assimilar novos conhecimentos sobre desafios pelos quais esteja passando para saber o que
fazer, valendo-se da experiência de terceiros
o Jamais deixe para resolver os problemas depois. Tenha-os sempre como uma fonte de aprendizado
que você levará para o futuro, na vida e na carreira.

Aplicando fora do ambiente empresarial

Embora o cerne dos debates sobre o conceito antifrágil seja o meio empresarial, como vimos, ele é
perfeitamente aplicável em diversos aspectos.

Pode ser adaptado, por exemplo, em relacionamentos, finanças pessoais e até como suporte em busca
do amadurecimento emocional e individual.

Tudo começa ao compreender que o imprevisto, o desconforto e a dificuldade não são ruins em si.

É uma perspectiva otimista? Não exatamente.

Ser antifrágil é, antes de mais nada, estar disposto a olhar para os desafios da vida por uma outra
perspectiva, menos autocentrada e mais voltada à ação.

Afinal, já nos diz a sabedoria popular que “falar é fácil, fazer nem tanto”, certo?

Conclusão

Quanto mais exposto às incertezas você estiver, mais utilidade encontrará no conceito antifrágil.

E se as coisas vão bem, ele também serve como um poderoso antídoto contra a acomodação, evitando
consequências às vezes irreversíveis.

Por mais que defenda uma necessária e até saudável exposição ao risco, não se deve levá-lo como uma
apologia ao descontrole e à irresponsabilidade.

O conceito antifrágil é apenas uma das muitas ferramentas que podem ser usadas para orientar decisões em
diversos níveis.

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