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25 anos de Código de Defesa do Consumidor e as

sugestões traçadas pela Revisão de 2015 das Diretrizes


da ONU de proteção dos consumidores para a
atualização

25 ANOS DE CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR E AS SUGESTÕES


TRAÇADAS PELA REVISÃO DE 2015 DAS DIRETRIZES DA ONU DE
PROTEÇÃO DOS CONSUMIDORES PARA A ATUALIZAÇÃO
25 Years of Consumer Protection Code and the suggestions made by the 2015 Revision
of the UN Guidelines of consumer protection
Revista de Direito do Consumidor | vol. 103/2016 | p. 55 - 100 | Jan - Fev / 2016
DTR\2016\656

Claudia Lima Marques


Professora Titular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Porto Alegre),
Ex-Presidente do Brasilcon e Diretora da Revista de Direito do Consumidor (Brasília),
Presidente do Comitê de Proteção Internacional dos Consumidores, da International Law
Association (Londres). dirinter@ufrgs.br

Área do Direito: Consumidor


Resumo: O objetivo do artigo é analisar as vitórias e desafios do Código de Defesa do
Consumidor nestes 25 anos em vigor e identificar os futuros temas da Atualização do
CDC (PLS 281/2012 e PLS 283/2012), sob a luz agora lançada pela revisão 2015 das
Diretrizes da ONU para a proteção do consumidor. O artigo traz sugestões de normas
para serem consideradas nos atuais projetos de atualização do Código de Defesa do
Consumidor.

Palavras-chave: Código de Defesa do Consumidor - Atualização - Diretrizes da ONU


para a proteção do consumidor - Revisão de 2015
Abstract: The aim of this article is to analyze victories and challenges of the Brazilian
Consumer Code in its first 25 years in force, and identify the future subjects of the
current Reform of the Brazilian Consumer Code (Senate Bill 281/2012 e 283/2012) in
the light of the 2015 Revision of the UN Guidelines on consumer protection. The text
suggests rules to be add at the current Bills aiming to reform the Brazilian Consumer
Code.

Keywords: Brazilian Consumer Code - Reform - UN Guidelines on Consumer Protection -


Revision of 2015
Sumário:

1 Introdução - 2 25 anos de vitórias e desafios do Código de Defesa do Consumidor:


pautas para a atualização do CDC - 3 A revisão de 2015 das Diretrizes da ONU de
proteção dos consumidores: sugestões e novas pautas para a atualização do CDC - 4
Referências bibliográficas

1 Introdução
1
O Código de Defesa do Consumidor (Lei 8.078/1990 ou CDC (LGL\1990\40)) completou
2
25 anos de vigência em 2015. É um passado e um presente de conquistas da sociedade
brasileira e do movimento consumerista. Há muito a comemorar. Foram muitas as
3
conquistas da sociedade civil organizada, da Academia e dos Autores do Anteprojeto, do
Ministério Público, da Defensoria Pública, dos servidores dos Procons e AGU, da
Advocacia e da Magistratura, mas acima de tudo, foram conquistas do Brasil em direção
ao desenvolvimento econômico (art. 170 c/c art. 218 da CF/1988 (LGL\1988\3)) e a
uma sociedade de consumo mais saudável e harmônica, a reconhecer o dever de
proteção do Estado ao sujeito de direitos vulnerável no mercado, o consumidor (art. 5.º,
4
XXXII c/c art. 48 ADCT (LGL\1988\31) da CF/1988 (LGL\1988\3)).

Esta lei, de "ordem pública e interesse social" (art. 1.º do CDC (LGL\1990\40))
renovadora das bases do direito civil brasileiro, foi inovadora ao regular a publicidade, o
regime dos contratos de serviços e ainda iniciar o diálogo das fontes no Brasil; foi
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sugestões traçadas pela Revisão de 2015 das Diretrizes
da ONU de proteção dos consumidores para a
atualização

decisiva ao regular a qualidade dos produtos, os contratos de adesão, a cobrança de


dívidas e consolidar o princípio da boa-fé nas relações entre fornecedores-experts e
consumidores-leigos; foi revolucionária ao harmonizar a atuação dos bancos de dados
negativos, dos prestadores privatizados de serviços públicos e dos fornecedores de
produtos e serviços em geral.

Importantes horizontes do desenvolvimento foram alcançados no país, pois o CDC


5
(LGL\1990\40) protegeu igualmente a todos, ricos e pobres, doutores e analfabetos,
6
crianças e adultos, respeitando sua dignidade e diferenças, impondo a mesma
qualidade e lealdade na prestação, considerando todos destinatários finais de produtos e
serviços como consumidores (art. 2.º do CDC (LGL\1990\40)), equiparando a
vulneráveis (art. 2.º, parágrafo único e art. 29 do CDC (LGL\1990\40)) e a todas as
vítimas dos fatos do serviço e do produto (art. 17 do CDC (LGL\1990\40)), também
7
como consumidores. Esta igualdade dos diferentes, dos leigos, dos não profissionais,
dos mais fracos e o reconhecimento da vulnerabilidade de todos na posição social de
consumidor (art. 4.º, I, do CDC (LGL\1990\40)), como afirma Antônio Herman Benjamin
é a pedra de toque, pedra angular, que ajudou a construir este sucesso de 25 anos de
vigência.

Há, porém, um futuro. Comemorando os seus 30 anos, foi aprovada pela Assembleia
Geral da ONU, no dia 22 de dezembro de 2015, a Revisão das Diretrizes sobre Proteção
dos Consumidores (UN Guidelines for Consumer Protection 1985, revistas em 1999 para
8
incluir o consumo sustentável e agora em 2015), trazendo importantes sugestões para
tratar os novos temas da sociedade de consumo, como o consumo à distância por meios
9
eletrônicos e móveis, a privacidade, a proteção dos consumidores hipervulneráveis, os
serviços financeiros e de crédito, o turismo e transporte de massa, a densificação do
poder das agências de proteção administrativa dos consumidores, como os Procons e a
SENACON, e o consumo internacional. Exatamente os temas dos Projetos do Senado
Federal agora em exame pela Câmara de Deputados, PLS 281/2012 e PLS 283/2012
10
visando a Atualização do Código de Defesa do Consumidor, processo que se iniciou em
11
2010, comemorando os 20 anos do CDC (LGL\1990\40).

Como tive a honra de ser Relatora-Geral dos Anteprojetos, sob a engajada presidência
12 13
do e. Min. Antônio Herman Benjamin, da Comissão de Juristas do Senado Federal
14
que elaborou os projetos de Atualização do CDC (LGL\1990\40) (PLS 281/2012, PLS
282/2012 e PLS 283/2012) e de participar, junto com a Profa. Dra. Wei Dan, como
observadora em representação da "International Law Association" dos trabalhos de
15
revisão das Diretrizes, parece-me que a coincidência temática destas duas "revisões" -
ou, no caso brasileiro, de mera atualização do Código de Defesa do Consumidor, leva
necessariamente à conclusão que o tempo é maduro para avançar o direito do
consumidor e confirma a urgente necessidade de atuação legislativa nacional pelo menos
nestes temas em que sugestões foram traçadas pela ONU.

A revisão das Diretrizes ainda tratou de temas importantes, como o acesso a bens e
serviços essenciais, a energia e os serviços públicos, a cooperação internacional, que
ainda não estão refletidos no processo de Atualização do CDC (LGL\1990\40), daí a
necessidade de pensarmos a oportunidade de incluir algumas sugestões para o legislador
16
nacional. E a Revisão de 2015 das Diretrizes sobre Proteção dos Consumidores criou
pela primeira vez uma instituição do sistema da ONU específica para acompanhar a
evolução do consumo no mundo, na UNCTAD, o "Grupo Intergovernamental de Experts
em Direito e Política do Consumidor" (Intergovernmental Group of Experts (IGE) on
consumer protection law and policy), que acompanhará a implementação das próprias
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Diretrizes.

Esta revisão, a mais extensa desde 1985, das Diretrizes da ONU está a demonstrar ao
mesmo tempo, a força e a importância do direito e da política de proteção dos
consumidores para todos os países, especialmente os em desenvolvimentos e
emergentes, como o Brasil, mas também a necessidade de atualizar o direito do
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consumidor nacional frente aos desafios da sociedade atual.
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sugestões traçadas pela Revisão de 2015 das Diretrizes
da ONU de proteção dos consumidores para a
atualização

A proposta deste artigo é, pois, a de fazer um balanço das contribuições do Código de


Defesa do Consumidor para o desenvolvimento do direito civil - deixaremos para os
outros experts as contribuições em direito administrativo, processual civil e penal - e
analisar a proposta de atualização do CDC (LGL\1990\40), sob a luz agora lançada pela
revisão 2015 das Diretrizes da ONU (já revisadas em 1999). A Revisão das Diretrizes da
ONU em 2015 aponta para algumas mudanças que estão por realizar-se no Brasil e para
outros temas ainda inexplorados, assim aproveito para incluir sugestões de melhoria dos
textos atuais dos substitutivos em exame e textos que poderiam ser incorporadas ao
texto final dos PLS 281/2012 e PLS 283/2012 se assim desejar o Parlamento Brasileiro.
Esperamos assim não somente celebrar as conquistas alcançadas nestes 25 anos, mas
assegurar mais atualidade e eficiência ao texto que esperamos seja aprovado em breve
de atualização do CDC (LGL\1990\40). Vejamos.

2 25 anos de vitórias e desafios do Código de Defesa do Consumidor: pautas para a


atualização do CDC

Permitam-me iniciar homenageando os autores do Anteprojeto de Código de Defesa do


19
Consumidor, que sob a coordenação segura da Profa. Dra. Ada Pellegrini Grinover
(USP), conseguiram a aprovação de uma lei renovadora e ousada, cujo sucesso na
prática se deve muito a suas sólidas ideias e a um esforço excelente de adaptação do
direito comparado à realidade brasileira - que como assessora do Ministro da Justiça à
época, pude comprovar. Destaque-se também o seu engajamento, ajudados por
pioneiros da defesa do consumidor, como Marilena Lazzarini, Maria Lúcia Zulske, Evelena
Boening, Lúcia Pacífico, Edi Mussoi e tantos outros, políticos, advogados, acadêmicos e
empresários, em divulgar o Código por todo o país, desde a sua aprovação em 1990.

Importante também foi a sua obra para aproximar e sensibilizar todas as carreiras
jurídicas para a importância desta lei protetiva, em especial através da criação por
20
Antônio Herman Benjamin, do Brasilcon (Instituto Brasileiro de Política e Direito do
Consumidor), em 1991 e da Revista de Direito do Consumidor, em 1992, um importante
veículo para divulgar a reflexão teórica e científica, assim como exemplos da prática
21
advocatícia e jurisprudencial, sobre este novo direito do consumidor.

É, pois, um sucesso que se inicia a muitas mãos, com muito esforço, fruto de muita
paixão e competência, frutifica com muita luta e superando vários obstáculos. É uma
grande obra, a merecer todas as nossas homenagens e o nosso profundo
reconhecimento. Mudou o mercado, mudou profundamente o direito brasileiro!

Se há muito a comemorar nesta prática de vinte e cinco anos de vigência (e eficiência!)


do Código de Defesa do Consumidor brasileiro, mister inicialmente identificar seus
pontos de maior sucesso e repercussão na prática jurídica (letra A a seguir) e os pontos
em que houve uma valorização do CDC (LGL\1990\40) no sistema de direito brasileiro
ou na teoria geral, mas nos quais o CDC (LGL\1990\40) não obteve um contínuo
sucesso, pois foram identificados limites à sua aplicação ou adaptações às normas
inicialmente previstas e que enfraqueceram as conquistas do consumidor nestes 25 anos
(letra B a seguir).

A) Sucesso do CDC (LGL\1990\40): definições de consumidor, teoria da qualidade e a


nova teoria contratual

Em um balanço dos 25 anos, podemos afirmar que - ao lado do mandamento


constitucional de elaborar um 'código', um conjunto sistematizado e organizado de
normas com a finalidade básica de proteção do sujeito consumidor - três decisões dos
autores do Anteprojeto foram decisivas para o sucesso do CDC (LGL\1990\40), ou foram
o 'próprio' sucesso desta microcodificação:

a) a noção plural de consumidor com quatro diferentes definições deste agente


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sugestões traçadas pela Revisão de 2015 das Diretrizes
da ONU de proteção dos consumidores para a
atualização

econômico;
22
b) a incorporação da pragmática teoria da qualidade, de origem norte-americana e que
relativiza a summa divisio entre responsabilidade contratual e extracontratual, de forma
a assegurar em todas as relações de consumo uma qualidade-adequação (sem vícios)
dos produtos e serviços e uma qualidade-segurança (sem defeitos) dos produtos e
serviços;
23
c) uma nova teoria contratual, guiada pela boa-fé objetiva - com uma visão de deveres
anexos de conduta e direitos (básicos) de boa-fé positivados na lei para as relações de
consumo, bem como uma visão de obrigação como processo no tempo, valorizando as
24
fases pré e pós-contratual, bem como impondo um novo regime aos contratos de fazer
(serviços) e de dar (produtos). Vejamos.

1. Uma noção plural e complexa de consumidor: as 4 definições de consumidor

A primeira decisão que assegurou sucesso e muita repercussão prática ao CDC


(LGL\1990\40) foi a de visualizar o consumidor de forma plural, individual, individual
homogênea, coletiva e difusa (veja os interesses do consumidor no Art. 81, parágrafo
25
único do CDC (LGL\1990\40)), ao trazer 4 definições diferentes de consumidor. Seja
como destinatário final de produtos e serviços (ex vi art. 2.º caput do CDC
(LGL\1990\40)), isto é, não só o agente econômico que contrata ou adquire, mas
também como aquele que o usa como destinatário final, seja como coletividade,
coletividade que intervem na relação de consumo (ex vi parágrafo único do art. 2.º do
CDC (LGL\1990\40)), ou grupo de pessoas, determinável ou não (expostas às práticas
comerciais, aos contratos de adesão de consumo, às práticas contratuais, às cobranças
de dívidas, aos bancos de dados negativos (ex vi art. 29 do CDC (LGL\1990\40)) ou
mesmo os consumidores das futuras gerações e das atuais, vítimas de acidentes de
26
consumo, fatos do produto ou do serviço (ex vi art. 17 do CDC (LGL\1990\40)).

Destaque-se também a evolução no tempo, antes do Código Civil de 2002, uma visão
27
mais maximalista de consumidor, depois uma visão finalista, mas humanizada pelo
teste da vulnerabilidade, no finalismo aprofundado do STJ que beneficia 'bordadeiras',
agricultores, caminhoneiros e taxistas, pequenas e micro empresas se fora de sua
atividade profissional ou provada a vulnerabilidade técnica, jurídica, informacional ou
28
fática frente ao fornecedor de serviços ou produtos. As dúvidas iniciais sobre se não
29
seria melhor uma definição negativa (o não profissional) foram superadas, assim como
as críticas sobre a inclusão das pessoas jurídicas na definição principal de consumidor,
30
no art. 2.º, caput, do CDC (LGL\1990\40).

No processo de atualização do CDC (LGL\1990\40), nenhuma definição foi modificada,


ao contrário, foram todas mantidas, a comprovar o sucesso desta decisão dos autores do
Anteprojeto. A pedra de toque do CDC (LGL\1990\40), a vulnerabilidade, foi até
31
estendida e nuançada, seja através do finalismo aprofundado, seja através da teoria
da hipervulnerabilidade de Antônio Herman Benjamin, ou das decisões sobre
vulnerabilidade agravada de alguns consumidores (crianças, doentes, analfabetos,
32 33
idosos, pessoas com deficiências etc.). Vulnus, vulnerare a origem da expressão
34 35
vulnerabilidade significa ferida. Vulnerável é aquele que pode ser ou foi ferido. A
vulnerabilidade tem graus e o direito deve reconhecer a necessidade de proteger de
36
forma eficaz os mais vulneráveis.

Dois avanços quanto à noção de consumidor já se encontram nos projetos de


atualização. O primeiro é o aprofundamento da noção de consumidor [mais] 'vulnerável'
37
(vulnerable consumer or disadvantaged consumer) ou com vulnerabilidade agravada, o
hipervulnerável. A Diretriz da ONU em sua revisão de 2015 frisa bem a importância dos
38
Estados reconhecerem que existem consumidores que são mais vulneráveis, o
analfabeto, por exemplo, não tem como ler uma informação, o surdo-mudo, que não
pode telefonar para reclamar, o doente que não pode se locomover de casa, o cego que
não consegue 'ler' um contrato que não seja em Braile e prepara suas normas (e
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da ONU de proteção dos consumidores para a
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jurisprudência) para este grupo.

Se o CDC (LGL\1990\40) já mencionava as crianças (no art. 37 da publicidade) e o grau


de conhecimento e idade no art. 39, agora os PLS 281/2012 e 283/2012 mencionarão,
ao proibir o assédio de consumo, os idosos, doentes, analfabetos de forma especial. A
norma do PLS 281/2012 traz um direito básico de proteção contra o assédio e no PLS
283/2012, tipifica-se o assédio de consumo como prática comercial abusiva no crédito,
mencionando os hipervulneráveis:

"[Art. 54-F]É vedado, expressa ou implicitamente, na oferta de crédito, publicitária ou


não: (...)

IV- assediar ou pressionar o consumidor para contratar o fornecimento de produto,


serviço ou crédito, inclusive à distância, por meio eletrônico ou por telefone,
principalmente se idoso, analfabeto, doente ou em estado de vulnerabilidade agravada
ou se a contratação envolver prêmio; (...)".

No relatório-geral da atualização do CDC (LGL\1990\40), ponderamos que estas normas


fazem parte de um reforço na dimensão ético-inclusiva e solidarista do CDC
40
(LGL\1990\40). Esta diretriz de inclusão social procura adaptar o CDC (LGL\1990\40)
aos desafios do Brasil de hoje, onde a democratização e massificação do crédito ao
consumidor, em especial o crédito consignado, tem como alvo principal o grupo de
idosos, muitos analfabetos ou analfabetos funcionais.

Uma segunda é a distinção entre pessoas físicas consumidoras e pessoas jurídicas, que
se aprofunda com o processo de Atualização. No PLS 283/2012 sobre
superendividamento dos consumidores, uma menção ao consumidor pessoa física se
impôs, pois para as pessoas jurídicas já há o privilégio da falência e seu regime especial.
Note-se também que na revisão das Diretrizes da ONU, a definição de consumidor (n. 3)
não foi modificada, mas a autorização que a legislação nacional de cada país estenda a
definição para consumidores pessoas jurídicas, foi mantida, não sendo, porém, a regra e
41
sim a exceção.

2. A renovação substantiva da relação jurídica de consumo: teoria da qualidade e a nova


teoria contratual

O CDC (LGL\1990\40) mudou o paradigma dos contratos e da responsabilidade civil no


Brasil. Sem dúvida nenhuma, as duas maiores mudanças dogmáticas realizadas no
Direito Civil brasileiro têm origem no CDC (LGL\1990\40): a teoria da qualidade, que
aproximou a responsabilidade extracontratual da contratual e pragmaticamente
estabeleceu uma cadeia de responsáveis pela qualidade-adequação (vício do produto ou
do serviço, nos art. 18 e ss.) e imputou a responsabilidade nominal pela qualidade
segurança (defeito do produto ou do serviço, nos arts. 12 a 17), reforçando o dever de
informar, de prevenir e ressarcir os danos individuais, homogêneos, coletivos e difusos,
42
morais ou patrimoniais; e a nova teoria contratual, que aproximou o regime dos
43
contratos de dar (fornecimento de produtos) e de fazer (fornecimento de serviços),
44
preparando o Brasil para a nova economia dos serviços, da tecnologia e da informação,
valorizou a boa-fé em todo o iter contratual e a proteção da confiança do consumidor,
45
inovando a regular a publicidade e seus efeitos obrigacionais. A expressiva
jurisprudência oriunda desta parte "material" do CDC (LGL\1990\40) (arts. 8.º a 54 do
CDC (LGL\1990\40)) é testemunha do sucesso desta renovadora visão dogmática que
impregna hoje mesmo, em diálogo, o próprio Código Civil de 2002.
46
Como já escrevi muito sobre ambos os temas, não cabe aqui repetir os textos, mas
apenas destacar uma de suas conclusões, que o sucesso prático do CDC (LGL\1990\40)
está diretamente vinculado à maneira realista e pragmática como dispôs o regime dos
serviços. Os serviços estão melhor regulados no sistema do CDC do que no Código Civil
de 2002, cuja visão de fornecimento de serviços ainda é quase igual ao do Código Civil
47
de 1916, com apenas dois artigos novos nesta seção. O CDC (LGL\1990\40) é uma lei
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pós-moderna, adaptada aos tempos atuais. É preciso valorizar o CDC (LGL\1990\40) e
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da ONU de proteção dos consumidores para a
atualização

suas conquistas na prática do direito do consumidor.

B. Valorização do CDC (LGL\1990\40) e os limites de sua aplicação: sugestões para a


atualização do CDC (LGL\1990\40)

Em um balanço realista, o CDC (LGL\1990\40) é uma das leis que teve maior impacto no
ordenamento brasileiro, especialmente no que concerne o direito privado, um impacto
dogmático e de mudanças de paradigmas, daí a sua valorização sistemática e a forte
aceitação da teoria do diálogo das fontes, pelas Cortes superiores. Mas nem tudo são
flores e conquistas, muitos temas sofreram retrocessos nestes 25 anos e outros não
aparecem na versão atual do substitutivo enviado à Câmara dos Projetos de Atualização
do CDC (LGL\1990\40), sendo assim, permitam-me aproveitar este balanço para realizar
algumas sugestões de melhoria destes PLS 281/2012 e PLS 283/2012, na esperança que
estes temas-limites do CDC (LGL\1990\40) possam ser enfrentados no futuro.

1. Microssistema inclusivo e protetivo: a ADIN 2591 e o diálogo das fontes


49
A ADIn dos Bancos foi a maior vitória consumerista nestes 25 anos, pois impediu o
privilégio de setores da economia (no caso, dos bancos, financeiras, seguradoras e
administradoras de cartões de crédito), de que as normas de conduta do CDC
(LGL\1990\40) não se aplicassem a eles (no caso, alegava a Consif que segundo o art.
192 da CF/1988 (LGL\1988\3) apenas leis complementares poderiam ser aplicadas aos
bancos e financeiras), o que foi afastado pelo expressivo quórum de 9 votos a favor pela
total constitucionalidade do CDC (LGL\1990\40) e 2 votos em contrário, considerando
50
alguma interpretação inconstitucional do CDC (LGL\1990\40) no que se refere a juros.

Ensinou o STF, na decisão da ADIn 2.591, conhecida como ADIn dos Bancos, que: "A
proteção ao consumidor e a defesa da integridade de seus direitos representam
compromissos inderrogáveis que o Estado brasileiro conscientemente assumiu no plano
de nosso ordenamento jurídico (...) a Assembleia Nacional constituinte, em caráter
absolutamente inovador, elevou a defesa do consumidor à posição eminente de direito
fundamental (art. 5.º, XXXII), atribuindo-lhe, ainda, a condição de princípio estruturador
51
e conformador da próprio ordem jurídica (CF/1988 (LGL\1988\3), art. 170, V)".

Como já escrevi, o "Código de Defesa do Consumidor (CDC (LGL\1990\40)) é uma lei de


origem constitucional, mandada elaborar pelo próprio legislador constituinte (art. 48 do
ADTC) e como afirmou o STF na ADIn 2.591 é valor constitucionalmente fixado, como
cláusula pétrea, garantido como direito fundamental pelo art. 5.º, XXXII da CF/1988
(LGL\1988\3) que o Estado, seja o Estado-juiz (a magistratura em todas as suas
instâncias), seja o Estado-executivo (administração, Ministérios Públicos, Defensorias
Públicas, Advocacia Pública, Procons estaduais e municipais, agências regulatórias) e o
Estado-legislador (Senado Federal, Câmara de Deputados e demais órgãos dos
52
legislativos estaduais e municipais) devem promover a defesa do consumidor".

Neste sentido, saúde-se que o próprio e. STJ, em face do novo CPC, afetou a Súmula
381, que limita a aplicação ex officio do CDC (LGL\1990\40) nos contratos bancários -
apesar da vitória na ADIN - desde 2013, no REsp 1.465.832- RS, em repetitivo, de
08.09.2015. O eminente Min. Paulo de Tarso Sanseverino afirma: "Discute-se a
possibilidade de o juiz ou tribunal reconhecer de ofício a abusividade de cláusulas
contratuais em negócios jurídicos de consumo (art. 51 do CDC (LGL\1990\40)). Em
relação a contratos bancários, a vedação da possibilidade de ser reconhecida de ofício a
abusividade de cláusulas abusivas foi objeto da Súmula 381 (MIX\2010\1629)/STJ ("Nos
contratos bancários, é vedado ao julgador conhecer, de ofício, da abusividade das
cláusulas"). A existência do enunciado sumular não impede, porém, que a matéria
continue a ser submetida a esta Corte mediante recursos especiais. Assim, tendo em
vista a multiplicidade de recursos que ascendem a esta Corte com fundamento em
idêntica controvérsia, afeto à Segunda Seção o julgamento do presente recurso para,
nos termos do art. 543-C do Código de Processo Civil, consolidar o entendimento sobre
as seguintes questões jurídicas: "Possibilidade de o juiz ou o Tribunal reconhecer de
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ofício a abusividade de cláusulas contratuais". Em face das reformas processuais


previstas no novo Código de Processo Civil, que deverá entrar em vigor em março de
2016, será sugerida a alteração da redação do enunciado sumular para os seguintes
termos: "Na declaração de nulidade de cláusula abusiva, prevista no art. 51 do CDC
(LGL\1990\40), deverão ser respeitados o contraditório e a ampla defesa, não podendo
53
ser reconhecida de ofício em segundo grau de jurisdição". Espera-se que brevemente
esta Súmula 381 seja retirada e o CDC (LGL\1990\40), como norma de ordem pública
que é, e face à abusividade absoluta do Art. 51 do CDC (LGL\1990\40), volte a ser
aplicado ex officio aos contratos bancários no país. Neste sentido, mister sugerir que o
PLS 281/2012 seja modificado na Câmara, e que seja novamente recolocada a
expressão ex officio no art. 5.º, VI sugerido, pois o texto sem esta expressão não faz
sentido. Minha sugestão é que o texto seja o seguinte:

"Art. 5.º (...)

VI - o conhecimento de ofício pelo Poder Judiciário, no âmbito do processo em curso e


assegurado o contraditório, e pela Administração Pública de violação a normas de defesa
do consumidor;

Na decisão da ADIn 2.591 também, pela primeira vez no Brasil, foi aceita por uma corte
54
superior, a teoria do diálogo das fontes, de Erik Jayme. O STF, neste histórico
julgamento da ADIn 2.591, concluiu pela constitucionalidade da aplicação do CDC
(LGL\1990\40) a todas atividades bancárias, reconhecendo a necessidade do diálogo das
fontes. Do voto do Min. Joaquim Barbosa extrai-se a seguinte passagem: "Entendo que o
regramento do sistema financeiro e a disciplina do consumo e da defesa do consumidor
podem perfeitamente conviver. Em muitos casos, o operador do direito irá deparar-se
com fatos que conclamam a aplicação de normas tanto de uma como de outra área do
conhecimento jurídico. Assim ocorre em razão dos diferentes aspectos que uma mesma
realidade apresenta, fazendo com que ela possa amoldar-se aos âmbitos normativos de
diferentes leis". Em relação ao alegado confronto entre lei complementar disciplinadora
da estrutura do sistema financeiro e CDC (LGL\1990\40), o Min. Joaquim Barbosa,
referindo-se à técnica do diálogo das fontes, observa: "Não há, a priori, por que falar em
exclusão formal entre essas espécies normativas, mas, sim, em 'influências recíprocas',
em 'aplicação conjunta das duas normas ao mesmo tempo e ao mesmo caso, seja
complementarmente, seja subsidiariamente, seja permitindo a opção voluntária das
55
partes sobre a fonte prevalente".

Como já escrevi, o diálogo das fontes é: "um conceito de aplicação simultânea e


coerente de muitas leis ou fontes de direito privado, sob a luz (ou com os valores-guia)
da Constituição Federal de 1988. É o chamado "diálogo das fontes" (di + a = dois ou
mais; logos = lógica ou modo de pensar), expressão criada por Erik Jayme, em seu
curso de Haia (JAYME, Recueil des Cours, 251, p. 259), significando a atual aplicação
simultânea, coerente e coordenada das plúrimas fontes legislativas, leis especiais (como
o CDC (LGL\1990\40), a lei de seguro-saúde) e gerais (como o CC/2002
(LGL\2002\400)), com campos de aplicação convergentes, mas não mais iguais. Erik
Jayme, em seu Curso Geral de Haia de 1995, ensinava que, em face do atual "pluralismo
pós-moderno" de um direito com fontes legislativas plúrimas, ressurge a necessidade de
coordenação entre as leis no mesmo ordenamento, como exigência para um sistema
jurídico eficiente e justo (Identité culturelle et intégration: le droit internationale privé
postmoderne, Recueil des Cours, II, p. 60 e 251 e ss.). O uso da expressão do mestre,
"diálogo das fontes", é uma tentativa de expressar a necessidade de uma aplicação
coerente das leis de direito privado, coexistentes no sistema. É a denominada "coerência
derivada ou restaurada" (cohérence dérivée ou restaurée), que, em um momento
posterior à descodificação, à tópica e à microrrecodificação, procura uma eficiência não
só hierárquica, mas funcional do sistema plural e complexo de nosso direito
contemporâneo, a evitar a "antinomia", a "incompatibilidade" ou a "não coerência".
"Diálogo" porque há influências recíprocas, "diálogo" porque há aplicação conjunta das
duas normas ao mesmo tempo e ao mesmo caso, seja complementarmente, seja
subsidiariamente, seja permitindo a opção pela fonte prevalente ou mesmo permitindo
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25 anos de Código de Defesa do Consumidor e as
sugestões traçadas pela Revisão de 2015 das Diretrizes
da ONU de proteção dos consumidores para a
atualização

uma opção por uma das leis em conflito abstrato - uma solução flexível e aberta, de
interpenetração, ou mesmo a solução mais favorável ao mais fraco da relação
(tratamento diferente dos diferentes). Diálogo das fontes é uma expressão retórica (e
semiótica = conta sua própria finalidade de impor duas lógicas, de aplicar simultânea e
56
coerentemente duas leis)".

O Art. 7.º do CDC (LGL\1990\40) já prevê, desde 1990, que as fontes devem ser
aplicadas em conjunto, a favor dos consumidores, podendo o direito do consumidor estar
em outras leis, que o CDC (LGL\1990\40). Como esclarece o STJ: "o art. 7.º da Lei
8.078/1990 fixa o chamado diálogo de fontes, segundo o qual sempre que uma lei
garantir algum direito para o consumidor, ela poderá se somar ao microssistema do CDC
(LGL\1990\40), incorporando-se na tutela especial e tendo a mesma preferência no trato
da relação de consumo". (REsp 1037759/RJ, rel. Min. Nancy Andrighi, 3.ª T., j.
23.02.2010, DJe 05.03.2010).

Em sua palestra, na Rede Alemanha-Brasil de Pesquisas em Direito do Consumidor, em


13.11.2015, na UFRGS, o Min. Antônio Herman Benjamin considerou a teoria uma das
57
mais úteis hoje nos Tribunais Superiores com 'centenas' de citações. Efetivamente, a
58
teoria do diálogo das fontes teve boa recepção na jurisprudência das Cortes estaduais.
Em início de 2016, no site do STJ, encontram-se 29 decisões das turmas sobre o tema e
59
mais de 1200 decisões monográficas.

Examinando o ano de 2015, encontram-se que, de fevereiro a dezembro 2015, foram


publicadas 215 decisões monográficas que utilizaram a expressão 'diálogo das fontes'
nos votos dos Ministros do STJ ou ao reproduzir os acórdãos estaduais. Na grande
maioria dos casos de 2015, a teoria foi, direta ou indiretamente, aceita, tendo sido
citada em casos de consumo, processo civil e tributário, e, em especial, para proteger
idosos, assegurando o diálogo entre a lei de planos de saúde, o CDC (LGL\1990\40) e o
Estatuto do Idoso, e em casos de processo civil e execução fiscal. Dois destes acórdãos
do e. STJ seguiram o rito dos 'repetitivos' (art. 543-C do CPC/1973 e da Res. STJ
60 61
8/2008), ambos em temas tributários, um de 2010 e outro de 2013.

Em alguns poucos casos, a teoria foi afastada, a saber: 1) quando a relação não era de
consumo e a regra especial não deveria (ou poderia) repercutir no sistema de direito civil
entre comerciantes, tendo como leading case um pedido de revisonal entre empresários,
que deve seguir as normas de imprevisão e revisão dos contratos entre iguais do Código
62
Civil (LGL\2002\400) com exclusividade, - decidindo caso de diálogo sistemático de
coerência encontrando coerência em manter a diferença de sistemas, pois não há
vulnerável envolvido; 2) para manter a prioridade de regras específicas para o caso do
próprio microssistema tutelar de proteção dos consumidores frente a regras outras do
sistema geral, em especial para impor os prazos prescricionais de 5 anos do CDC
63
(LGL\1990\40) em matéria de acidentes de consumo, - em um diálogo sistemático de
complementariedade ou subsidiariedade (...) decidindo que não há lacuna ou
necessidade de complementar o sistema de proteção especial, que é expresso no prazo
prescricional para o caso examinado; e 3) em caso de medidas de urgência, impedindo
que a fazenda pública possa fazer a penhora online com prejuízo para as empresas.

Estes poucos casos (menos de 10%), demonstram como a teoria está sendo muito bem
percebida (pois é justamente para casos de lacunas ou antinomias apenas aparentes)
nos Tribunais Superiores e tem ajudado a decidir de forma mais refletida nos casos de
conflitos de leis, com um novo paradigma (que já estava no Art. 7.º do CDC desde 1990)
de aplicação conjunta e coerente das normas em diálogo, orientada pelos valores da
Constituição Federal, especialmente o de direitos humanos e proteção dos vulneráveis.

Um dos temas em que a teoria do diálogo das fontes tem sido usada (ou afastada), a
prescrição, merece nossa atenção especial. Quanto ao tema da prescrição, o PLS
283/2012 na versão da Comissão de Juristas possuía norma especial, esclarecendo que
as prescrições não previstas expressamente no CDC (LGL\1990\40) nos arts. 26 e 27
deveriam se regular pelo prazo subsidiário de 10 anos do Código Civil (LGL\2002\400)
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25 anos de Código de Defesa do Consumidor e as
sugestões traçadas pela Revisão de 2015 das Diretrizes
da ONU de proteção dos consumidores para a
atualização

(art. 206 do CC/2002 (LGL\2002\400)). A regra sugerida era: "Art. 27-AAs pretensões
dos consumidores não reguladas nesta seção prescrevem em dez anos, se a lei não
estabelecer prazo mais favorável ao sujeito vulnerável". A regra tinha uma vantagem em
relação ao texto atual do art. 206 do Código Civil (LGL\2002\400), pois era mais clara e
identificava que o diálogo deveria ser feito no sentido da aplicação do prazo mais
favorável ao sujeito vulnerável.

Justamente por esta parte final, que deixava em aberto os prazos prescricionais - que
deveriam ser determinados claramente em lei, a regra foi retirada no substitutivo. As
discussões da jurisprudência comprovam que a regra era interessante. Assim, se nas
discussões da Câmara houver ainda espaço, sugiro que se recoloque pelo menos a parte
inicial no PLS 283/2012, pois seria muito útil para estabelecer a prescrição em casos de
cláusulas abusivas e outros 'prazos' não regulados ainda expressamente no CDC
(LGL\1990\40).

Minha sugestão, modificando levemente o texto recusado no substitutivo, agora seria:

"Art. 27-AAs pretensões dos consumidores não reguladas expressamente nos artigos
anteriores, prescrevem em dez anos, se os prazos da legislação civil não forem
superiores".

Sabemos que prescrição é tema material, logo, a parte inicial do CDC (LGL\1990\40) é
locus correto para regular, também o prazo subsidiário de prescrição, não previsto nos
arts. 26 e 27 do CDC (LGL\1990\40), principalmente se a teoria do diálogo das fontes
não tem conseguido responder a esta lacuna, de maneira satisfatória. Como afirma
64
Hector Valverde Santana, as regras sobre prescrição do CDC (LGL\1990\40) não são
as mais claras e fáceis de aplicar. Assim, reitero que seria positivo que se pudesse
indicar legislativamente, como o diálogo entre o CDC (LGL\1990\40) e o CC/2002
(LGL\2002\400) deve ser realizado.

Concluindo, se pode afirmar que o diálogo das fontes é uma teoria sofisticada, mas
especialmente útil para hard cases, pois como escrevi, "nestes casos difíceis há
convivência de leis com campos de aplicação diferentes, campos por vezes convergentes
e, em geral, diferentes (no que se refere aos sujeitos), em um mesmo sistema jurídico,
há um 'diálogo das fontes' especiais e gerais, aplicando-se ao mesmo caso concreto,
65
tudo iluminado pelo sistema de valores constitucionais e de direitos fundamentais."

Se a reação inicial ao art. 7.º do CDC (LGL\1990\40) na jurisprudência não foi a das
mais positivas, quanto à teoria do diálogo das fontes, a tendência é que sua utilização
afirme-se cada vez mais. A comissão de Juristas tinha proposto uma valorização do art.
7.º do CDC (LGL\1990\40), com a inclusão de um parágrafo mais geral:

"Art. 7.º (...)

§ 1.º (...)

§ 2.º Aplica-se ao consumidor a norma mais favorável ao exercício de seus direitos e


pretensões (NR)."

O substitutivo do Senado Federal aceitou o conteúdo da regra, mas não sua localização,
66
propondo criar um art. 3º-A, logo após as definições. Não há prejuízo nesta mudança,
mas a função sistematizadora do art. 7.º do CDC (LGL\1990\40) perde uma chance de
ser valorizada. De qualquer maneira, pelo que se viu na análise da jurisprudência, a
67
teoria do diálogo das fontes foi incorporada à teoria geral do direito brasileiro e muito
bem recebida pelas cortes estaduais e superiores.

2. Limites do CDC (LGL\1990\40) ou o que necessita ainda ser aprimorado: serviços


públicos, locação, troca de produtos novos, em contratos bancários e temas da
atualização do CDC (LGL\1990\40).

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25 anos de Código de Defesa do Consumidor e as
sugestões traçadas pela Revisão de 2015 das Diretrizes
da ONU de proteção dos consumidores para a
atualização

O diálogo das fontes do direito administrativo e o CDC (LGL\1990\40) têm mostrado


seus limites - apesar dos esforços da jurisprudência quanto a regular cobrança de
68 69 70
dívidas pretéritas, medidores e a retomada do abastecimento - na proteção do
consumidor de serviços públicos ou usuários destes serviços de interesse geral
71
privatizados em sua grande maioria ou ex-públicos, logo, relações de consumo. A
revisão das Diretrizes da ONU sobre proteção dos consumidores afirma que este tema
deve ter prioridade dos governos dos países em desenvolvimento, mas nos projetos de
72
atualização do CDC (LGL\1990\40), o tema não foi tratado.

Assim o art. 22 do CDC (LGL\1990\40) continua sendo o artigo principal para


estabelecer em conjunto com o art. 2.º do CDC (LGL\1990\40), que o usuário de serviço
73
público uti singuli é consumidor e deve ser protegido pelo CDC (LGL\1990\40). Nestes
25 anos, porém, de uma proteção mais efetiva contra corte dos serviços públicos,
74
passamos a uma jurisprudência que não proíbe o corte do consumidor inadimplente e
75
só proíbe a descontinuidade do serviço, em municípios ou em caso de perigo de morte
ou de violação grave da dignidade da pessoa humana (pessoas doentes, com deficiências
76
etc.). Apesar destes revezes, o principal é que o CDC (LGL\1990\40) continua sendo
aplicado em diálogo com a legislação especial das empresas privatizadas, agora até
pelas agências reguladoras. Após as manifestações de rua no Brasil, retomaram-se as
discussões sobre uma lei geral dos usuários, assim é uma pena que a atualização do
CDC (LGL\1990\40) nada mencione sobre o necessário diálogo entre esta futura lei e o
77
CDC (LGL\1990\40). O novo n. 77 das Diretrizes da ONU tem texto leve sobre os
deveres dos Estados, mas de qualquer estabelece o fato que o usuário de serviços
públicos remunerados é um consumidor e deve ser protegido pelos Estados,
78
especialmente se hipervulnerável ou com vulnerabilidade agravada. Assim, teria de ser
retomada a sugestão de incluir no PLS 281/2012 um esclarecimento sobre o diálogo
entre estas normas. O ideal seria que a modificação prevista no PLS 281/2012 referente
ao art. 5.º, manifeste-se sobre o tema. Minha proposição é a seguinte:

"Art. 4.º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento
das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a
proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, a
proteção do meio ambiente, bem como a transparência e harmonia das relações de
consumo, atendidos os seguintes princípios:

(...)

II - (...)

e) pelo incentivo a padrões de produção e consumo sustentáveis, inclusive no


fornecimento de serviços públicos remunerados de forma individual pelo usuário ou
consumidor".

Justifica-se acrescentar esta frase com o intuito de esclarecer que os padrões de


consumo sustentáveis, impostos pela Revisão das Diretivas da ONU sobre direitos do
Consumidor em 1999 unem-se aos da revisão de 2015, que consolida a posição de
serem consumidores estes usuários, devendo ser protegidos os consumidores que
utilizam os serviços públicos. Assim a frase esclarece que o CDC (LGL\1990\40) se aplica
aos serviços públicos remunerados de forma individual (uti singuli) pelo usuário ou
consumidor. Serviços públicos prestados aos consumidores é tema sensível e importante
para a população brasileira e neste sentido o Parlamento tem aqui uma chance de
completar a obra já iniciada pelo art. 22 do CDC (LGL\1990\40).

Por fim, mencione-se que a OAB/RS propôs regular em mais detalhes os serviços
públicos estaduais em uma lei estadual, o que foi aceito pela Assembleia Legislativa do
79
Rio Grande do Sul. Outro tema conexo e que aparece na proposta de lei estadual do
RS, é o tema essencialidade (do serviço ou) do produto. Realmente, este é outro tema
limite no CDC (LGL\1990\40), pois o art. 18 do CDC (LGL\1990\40) acaba por criar
dificuldades para o consumidor que necessita um serviço de telefonia, ao não delimitar
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25 anos de Código de Defesa do Consumidor e as
sugestões traçadas pela Revisão de 2015 das Diretrizes
da ONU de proteção dos consumidores para a
atualização

com clareza, por exemplo, se o produto celular, anexo ao serviço de telefonia móvel, é o
não essencial e deve ser trocado imediatamente. A regra estadual, que poderia servir de
modelo a várias outras nos Estados brasileiros, é a seguinte:

"Art. 3.º - São essenciais, nos termos do art. 18, § 3.º, da Lei 8.078, de 11 de setembro
de 1990, os produtos indispensáveis para a satisfação de necessidades imediatas do
consumidor, assim considerados aqueles cujo não atendimento das finalidades
legitimamente esperadas:

I - coloquem em risco iminente a vida, a saúde ou a segurança do consumidor; ou

II - cause prejuízo irreparável ou de difícil reparação ao exercício regular do seu trabalho


ou ofício.

Art. 4.º - Consideram-se serviços essenciais para o consumidor, dentre outros:

I - o tratamento e o abastecimento de água; a produção e a distribuição de energia


elétrica, de gás e de combustíveis;

II - a assistência médica e hospitalar;

III - a distribuição e a comercialização de medicamentos e de alimentos;

IV - os funerários;

V - o transporte coletivo;

VI - a captação e o tratamento de esgoto e de lixo;

VII - os de telecomunicações, independente de seu regime jurídico, inclusive os que


permitam o acesso à rede mundial de computadores (internet);

VIII - o processamento de dados ligados a serviços essenciais;

IX - os de atendimento e compensação bancários.

§ 1.º - Consideram-se essenciais, igualmente, em qualquer caso, os produtos cujo


adequado funcionamento seja condição para fruição dos serviços de que trata este artigo
80
(...).

Art. 5.º - São deveres dos fornecedores de serviços essenciais, sem prejuízo dos demais
estabelecidos em lei:

I - assegurar a continuidade da prestação do serviço;

II - garantir que seu fornecimento atenda aos padrões esperados de adequação,


eficiência e segurança;

III - relacionar-se com os consumidores segundo os deveres de boa-fé, em especial no


que concerne ao fornecimento de informações claras, precisas e suficientes para seu
esclarecimento quanto ao conteúdo da prestação e cálculo da remuneração devida pelo
consumo;

IV - oferecer, em caráter permanente e ininterrupto, e de modo gratuito, múltiplos


canais de relacionamento com o consumidor, para a resolução de dúvidas, reclamações
e quaisquer outras postulações relativas à prestação do serviço;

V - não promover a interrupção da prestação dos serviços quando em decorrência desta,


haja risco de morte do consumidor;

Parágrafo único: No caso da interrupção do serviço em razão de inadimplência, é vedada


sua realização em véspera de dia sem expediente bancário, sem prejuízo de prévia
81
notificação do consumidor".
Página 11
25 anos de Código de Defesa do Consumidor e as
sugestões traçadas pela Revisão de 2015 das Diretrizes
da ONU de proteção dos consumidores para a
atualização

Por fim, mencione-se que o substitutivo trazia também uma menção à locação,
intermediada por fornecedores, como sendo relação de consumo, e esta menção foi
retirada. Na Europa, hoje a locação é considerada uma relação de consumo, em especial
pela aplicação da Diretiva de cláusulas abusivas e recentes decisões do Tribunal de
82
Justiça da União Europeia.

Uma última sugestão que me pareceria interessante, na esteira da que foi feita por
Leonardo Garcia para os Senadores, mas não alcançou ainda sucesso: a de criar uma
garantia legal mínima para produtos novos. Minha sugestão seria criar uma faixa de uma
a duas semanas, período no qual o produto novo de valor superior a 100 reais,
comprado no comércio registrado e empacotado pela fábrica, pudesse ser trocado por
outro semelhante, caso apresentasse um defeito e o consumidor o retornasse ao
comerciante do qual adquiriu. Muitas lojas têm propiciado este tipo de direito de
"conformidade mínima" voluntariamente, em especial, em produtos da linha branca ou
tecnológicos por sete dias. Efetivamente, em uma sociedade de consumo do século XXI
um produto novo teria que funcionar bem pelo menos na primeira semana e se
apresentar um defeito de fácil constatação, deveria poder ser trocado - de boa-fé - no
comerciante.

Em outras palavras, como forma de prevenir o superendividamento dos consumidores, a


obsolescência programada dos produtos ou sua falta de qualidade mínima, deveria
conhecer um freio mínimo de adequação dos produtos adquiridos novos e a cooperação
com os consumidores evoluir mais um grau, em direção a um direito de conformidade ou
qualidade mínima dos produtos novos. Na Europa, a garantia mínima já é uma realidade,
83
trata-se de uma presunção de falta de conformidade (de seis meses), que deve ser
arcada pela cadeia de fornecimento, presunção esta que tem aumentado a confiança nos
produtos europeus e diminuído em muito os custos de litigiosidade entre consumidores e
fornecedores, que ainda são grandes no Brasil. Esta garantia de produto novo de sete
dias, poderia ser aplicada aos serviços e aos produtos conexos aos serviços (celulares
etc.), com algumas adaptações, mas se existisse para produtos novos, já diminuiria
grande parte da litigiosidade no país.

3 A revisão de 2015 das Diretrizes da ONU de proteção dos consumidores: sugestões e


novas pautas para a atualização do CDC

As Diretrizes da ONU de proteção dos consumidores são o único instrumento


internacional realmente mundial sobre a proteção dos consumidores, e completam 30
anos com uma profunda atualização. Realmente, a sociedade globalizada de informação,
crédito e tecnologia de hoje está longe da sociedade de consumo de 1985. Se o primeiro
84
tema da atualização em 1999, após a ECO 1992, foi o consumo sustentável,
atualmente a pauta é mais ampla e premente.

A Revisão das Diretrizes da ONU de proteção do consumidor (2012-2015)


85
Em 2012, a pedido da Consumers Internacional, e para festejar os 30 anos iniciou-se
86
um novo processo de atualização. Uma Reunião Ad Hoc de Especialistas em Proteção
ao Consumidor junto à UNCTAD foi criada, e ali lançou "consultas sobre a possível
revisão das Diretrizes das Nações Unidas para Proteção ao Consumidor", analisadas em
2013, e que em 2014 resultaram em um Draft, que foi finalizado em julho e aprovado
pela Assembleia Geral da ONU, em final de dezembro de 2015.

Os documentos da UNCTAD informam que:

"A revisão das DNUPC cobre todo o conteúdo das existentes DNUPC, bem como de
algumas áreas ainda não alcançadas nas Diretrizes (comércio eletrônico, serviços
financeiros, outras questões e implementação), com o objetivo de melhor proteger
consumidores em um mundo de mudanças e na necessidade de atualizar a proteção de
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25 anos de Código de Defesa do Consumidor e as
sugestões traçadas pela Revisão de 2015 das Diretrizes
da ONU de proteção dos consumidores para a
atualização

consumidores em áreas que são, cada vez mais, uma parte essencial do consumo
cotidiano. A finalidade da revisão é alcançar uma efetiva proteção ao consumidor nos
níveis nacional, regional e internacional, no tocante ao direito balanceado entre um alto
87
nível de proteção dos consumidores e a competitividade dos negócios".

Durante o processo de revisão, foram criados quatro Grupos de Trabalho, que ficaram
sob a presidência de representantes dos seguintes países: 1. Grupo Comércio eletrônico
(França), 2. Grupo Serviços financeiros (Malásia), 3. Grupo Outros temas (Brasil e
Alemanha) e 4. Grupo Implementação das Diretrizes (Gabão). O Brasil foi representado
pela Secretária Nacional do Consumidor, Dra. Juliana Pereira (SENACON, MJ), que inclui
o tema da proteção dos turistas. Segundo o relatório, "As presidências e o secretariado
da UNCTAD acordaram em trabalhar em uma metodologia para cada grupo, e clamaram
pela participação dos Estados-membros, bem como de organizações internacionais,
Consumers International (CI), a Câmara Internacional de Comércio (ICC), acadêmicos e
outros apoiadores relevantes. Os Grupos de Trabalho têm feito uso da ICT e de dados
regionais quando consultados, apresentando e publicando seus trabalhos".

Assim as Diretrizes 2015 têm as seguintes novas partes: II. Campo de aplicação e III.
Princípios gerais, que foram expandidos para incluir comércio eletrônico, serviços
financeiros, proteção dos dados, privacidade, acesso e energia renováveis, serviços
públicos, turismo e reforçar a cooperação internacional no tema. No nº IV Princípios de
boas práticas (IV. Principles for Good Business Practices), reforçou-se a informação e
transparência (Disclosure and transparency), proteção da privacidade dos consumidores
(Protection of privacy), métodos de resolução de controvérsias (F. Dispute resolution and
redress mechanisms), prevenção dos litígios (G. Dispute Avoidance and Awareness of
Resolution Mechanism), promoção do consumo sustentável (K. Promotion of sustainable
consumption - incluído desde 1999), comércio eletrônico (L. E-commerce), serviços
financeiros (M. Financial Services), e nas medidas sobre temas específicos novas regras
sobre energia, serviços públicos e de interesse geral e turismo (N. Measures relating to
specific areas; 88. Energy. 89. Public utilities, 90. Tourism), VI. Cooperação
internacional (VI. International co-operation), com reforço da proteção internacional dos
consumidores em casos de fraudes.

A grande novidade foi a criação de um corpo permanente na ONU dedicado aos


consumidores, trata-se do ponto VII (VII. International institutional machinery), que
assegura a criação -não de uma Comissão da ONU, mas pelo menos de um Grupo
intergovernamental de direito do consumidor dentro da UNCTAD ("Intergovernmental
Group of Experts on Consumer Law and Policy operating within the framework of an
existing Trade and Development Commission of UNCTAD").

Como não cabe aqui comentar todo o texto final, gostaria de destacar igualmente que os
considerandos da decisão da Assembleia Geral mencionam: a necessidade de proteger a
privacidade do consumidor, incluir o m-commerce ou comércio móvel no comércio
eletrônico e todas as 'redes' novas tecnológicas neste paradigma de proteção,
preocupar-se com a lei aplicável a jurisdição em matéria de comércio eletrônico
internacional, a necessidade de melhorar a confiança dos consumidores no mercado
financeiro e de crédito abalada pela crise financeira, que deve resultar em mais eficazes
regulamentações deste mercado.

Nos Princípios gerais, no n. 5 das Diretrizes foram incluídos quatro novos interesses
legítimos que os Estados devem levar observar: a) acesso dos consumidores à produtos
e serviços essenciais; b) a proteção dos consumidores com vulnerabilidade agravada e
em situações de desvantagem especial; (...) i) um nível de proteção do consumidor do
comércio eletrônico que não seja menor do que o assegurado nas outras formas de
88
comércio; k) a proteção da privacidade e da livre circulação global de informações.

Estes princípios merecerão estudos mais aprofundados, que pela extensão deste texto
não é mais possível agora realizar, mas as diretrizes também trazem regras sobre o
89
reforço das agências de proteção dos consumidores (no Brasil, os Procons), sobre
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25 anos de Código de Defesa do Consumidor e as
sugestões traçadas pela Revisão de 2015 das Diretrizes
da ONU de proteção dos consumidores para a
atualização

melhoria da informação, dos contratos e combate às cláusulas abusivas, sobre a


segurança dos pagamentos, sobre privacidade dos dados pessoais e processo
transparente de cancelação e fim de vínculo, todos problemas enfrentados nos Projetos
90
de Atualização do CDC (LGL\1990\40) em curso.

Por fim, quero mencionar que foi possível realizar uma revisão extensa e de consenso
mundial no mais importante texto internacional, de 2012 a dezembro 2015 e, no Brasil,
sequer conseguimos que os Projetos de Lei 281 e 283 de 2012 fossem examinados em
ambas as casas do Parlamento Brasileiro. Como diz o dito popular, há males que vêm
para bem e talvez este 'timing' demorado de nosso Parlamento, possa permitir melhorar
ainda mais ambos os projetos.

Novos capítulos sobre comércio eletrônico e serviços financeiros nas diretrizes:


sugestões para a Atualização do CDC (LGL\1990\40)

O Capítulo 'I' sobre comércio eletrônico e o capítulo 'J' sobre serviços financeiros são as
maiores novidades da revisão 2015 das Diretrizes da ONU de Proteção do Consumidor. O
Capítulo 'I' é relativamente curto (se comparado às 13 regras sobre consumo
sustentável, da revisão de 1999) e procura estabelecer as bases para alcançar este nível
pelo menos igual de proteção do comércio eletrônico ou não inferior à proteção do
consumidor em outras formas de comércio (nºs 63, 64, 65). A ênfase é em aumentar a
confiança do consumidor, tentando enfrentar o 'desafio virtual' com mais transparência,
informação, identificação do fornecedor, adaptações das atuais normas a este meio
digital ou tecnológico.

A este capítulo é completado por práticas comerciais que devem reforçar a lealdade (n.
91 92
11, a e b) e a transparência (n. 11, c) na contratação, e se une um número especial
dedicado à proteção da privacidade (n. 11, e).

No PLS 281/2012 acrescenta-se aos direitos básicos dos consumidores exatamente estes
direitos assegurados pela Revisão de 2015 das Diretrizes da ONU, a saber:

"Art. 6.º (...)

XI - a privacidade e a segurança das informações e dados pessoais prestados ou


coletados, por qualquer meio, inclusive o eletrônico, assim como o acesso gratuito do
consumidor a estes e a suas fontes;

XII - a liberdade de escolha, em especial frente a novas tecnologias e redes de dados,


vedada qualquer forma de discriminação e assédio de consumo;

XIII - a informação ambiental veraz e útil, observados os requisitos da Política Nacional


de Resíduos Sólidos, instituída pela Lei 12.305, de 2 de agosto de 2010".

E ainda assegura uma série de cuidados com a contratação eletrônica nacional e


internacional, assegurando a acesso à justiça dos consumidores residentes no Brasil, no
que o novo Código de Processo civil (arts. 22 a 25) também colabora. Conclua-se, pois
que o substituto do PLS 281/2012, que tramita na Câmara de Deputados, já atinge estes
objetivos agora reafirmados PLS normas da ONU, devendo, pois, este Projeto de Lei ter
sua aprovação agilizada, preparando o Brasil para esta sociedade do futuro.

O Capítulo J regula os serviços financeiros com mais detalhamento. São três números
93
também, subdivididos em 10 diferentes regras (65, 66 e 67), que se somam a
modificações no que se refere às práticas comerciais (cláusulas abusivas, cobranças de
dívidas, táticas agressivas de marketing, em especial no que concerne o alerta de riscos
94
financeiros, n. 11), assim como assegurando conciliação em matéria de
95
superendividamento e 'falência" do consumidor (n.º 40).

Na parte de prevenção do superendividamento, a ênfase deve ser na informação, como


o PLS 283/2012 faz, mas as sanções previstas neste capítulo foram retiradas, assim
como foi reduzida a norma narrativa introdutória, que ficou com pouco sentido depois
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25 anos de Código de Defesa do Consumidor e as
sugestões traçadas pela Revisão de 2015 das Diretrizes
da ONU de proteção dos consumidores para a
atualização

que emendas retiraram toda menção à exclusão social, à função social do contrato de
96
crédito, boa-fé e à dignidade da pessoa humana. Assim sugeriria, no PLS 283/2012, o
retorno da norma introdutória proposta pela comissão de juristas, assim como as
sanções ali previstas para a falta de informação. O texto introdutório seria:

"Capítulo VII

Da Prevenção e do Tratamento ao Superendividamento

Art. 54-A. Este Capítulo tem a finalidade de prevenir o superendividamento da pessoa


natural, promover o acesso ao crédito responsável e à educação financeira do
consumidor, de forma a evitar a sua exclusão social e o comprometimento de seu
mínimo existencial, sempre com base nos princípios da boa-fé e da função social do
crédito ao consumidor".

E também sugiro introduzir na lista do Art. 39, uma sanção geral pela falta de
informação, incluindo-a como nova prática abusiva, no inciso XV, com o seguinte texto:

"Art. 39 (...)

XV - deixar de informar o consumidor da forma prevista neste código."

Assim como retomar a sugestão da Comissão, quanto a quem incumbe o dever de


informar, incluindo o intermediário do crédito:

"Artigo 54-C (...)

§ 1.º A prova do cumprimento dos deveres previstos neste Código incumbe ao


fornecedor e ao intermediário do crédito".

Também sugeriria complementar com duas modificações sobre o mínimo existencial, os


textos do PLS 283/2012, que versa sobre crédito. A minha sugestão seria a seguinte:

"Art. 4.º (...)

IX - o fomento de ações visando à educação financeira e ambiental dos consumidores e


à preservação do mínimo existencial dos consumidores (NR); (...)."

Por fim, na parte do tratamento do superendividamento, o Art. 104-B poderia evoluir


para mencionar o mínimo existencial, pois a finalidade do plano de pagamento global,
com todos os credores, é justamente a preservação de um mínimo existencial para o
consumidor - para poder viver durantes os 5 anos do plano de pagamento e pagar suas
dívidas -, tanto quanto a satisfação dos credores. Precisamos evoluir de uma cultura da
dívida e exclusão dos consumidores superendividados, para uma cultura do pagamento,
sem, porém levar à 'morte civil' este consumidor, ao não preservar seu mínimo
97
existencial. A norma sugerida por Karen Bertoncello, em sua tese de doutorado, parece
atingir este objetivo, mas eu sugeriria também a retirada do parágrafo terceiro atual,
que engessa em demasia o plano a ser determinado pelo magistrado, praticamente o
98
impossibilitando e incluir ali, a sugestão de Clarissa Costa de Lima, em seu doutorado
também na UFRGS, sobre a necessidade de nosso sistema - agora ou no futuro - incluir
uma regra sobre o perdão excepcional de dívidas, para pessoas que ganham até 2
99
salários mínimos. A norma sugerida ficaria a seguinte:

"Art. 104-B. Inexitosa a conciliação, a pedido do consumidor, o juiz instaurará o


processo de superendividamento visando a preservação do mínimo existencial, revisão e
integração dos contratos e repactuação das dívidas remanescentes através de um plano
judicial compulsório, procedendo à citação de todos os credores cujos créditos não
integraram o acordo celebrado.

§ 1.º Serão considerados, se for o caso, os documentos e as informações prestadas em


audiência e, no prazo de 15 (quinze) dias, os credores citados juntarão documentos e as
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25 anos de Código de Defesa do Consumidor e as
sugestões traçadas pela Revisão de 2015 das Diretrizes
da ONU de proteção dos consumidores para a
atualização

razões da negativa de aceder ao plano voluntário ou de renegociar.

§ 2.º O juiz poderá nomear administrador, desde que não onere as partes, que
apresentará plano de pagamento, no prazo de até 30 (trinta) dias, após cumpridas as
diligências eventualmente necessárias, contemplando medidas de temporização ou
atenuação dos encargos.

§ 3.º O magistrado do plano judicial poderá, após cinco anos, determinar a remissão do
restante das dívidas, a pedido de consumidores de boa-fé sem bens e cuja remuneração
não ultrapasse 2 salários mínimos".

Sem poder - ou querer- fazer uma conclusão stricto sensu, mencione-se, neste já muito
longo artigo, reiterando a riqueza de ideias e expressões que podem ser retiradas do
texto das Diretrizes da ONU de proteção do consumidor, de dezembro de 2015, para
inspirar a atualização do CDC (LGL\1990\40). Espera-se que em 2016, esta atualização
possa ser aprovada e a crise financeira e ética do país inicie o seu fim, com uma boa
notícia para os consumidores. Atualizar o CDC (LGL\1990\40) é a melhor maneira de
celebrar as conquistas dos 25 anos passados e iniciar os próximos 25 anos desta
importante lei!

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1 Este artigo é resultado do projeto de pesquisa "A análise dos projetos de atualização
do Código de Defesa do Consumidor: a partir dos trabalhos da Comissão de Juristas do
Senado Federal", que recebeu fomento da FAPERGS através de uma bolsa de iniciação
científica, 2013-2015.

2 Veja BENJAMIN, Antônio Herman. MARQUES, Claudia Lima; BESSA, Leonardo Roscoe.
Manual de direito do consumidor. 6. ed. São Paulo: Ed. RT, 2014.

3 Veja GRINOVER, Ada Pellegrini et al. Código Brasileiro de Defesa do Consumidor


comentado pelos autores do anteprojeto. 9. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, p.
9 e ss., 2007.

4 Veja MARQUES, Claudia Lima, MIRAGEM, Bruno e LIXINSKI, Lucas. Desenvolvimento e


consumo: bases para uma análise da proteção do consumidor como direito humano. In:
PIOVESAN, Flávia; SOARES, , Inês V. P. Direito ao desenvolvimento. Belo Horizonte:
Fórum, 2010.

5 Assim ensina BENJAMIN, Antônio Herman de Vasconcellos. A proteção do consumidor


nos países menos desenvolvidos - A experiência da América Latina. In: Revista de
Direito do Consumidor, v. 8, p. 200, out-dez 1993: "Os consumidores não são iguais
entre si, seja num mesmo país, seja em países distintos. Há consumidores ricos e
pobres; há consumidores informados e outros que ignoram, por completo, as novas
tecnologias; há consumidores reivindicativos e outros passivos; há consumidores com
acesso à justiça e outros que sequer cogitam levar suas reclamações aos tribunais". E,
no número 6, afirmaria: "O Direito do Consumidor, especialmente em países menos
desenvolvidos, com populações extremamente heterogêneas, tem que levar em
consideração tais diferenças, pois, do contrário, refletirá apenas as necessidades
daqueles consumidores com poder de representação e de se fazer ouvir, tomando-os,
por isso mesmo, como padrão a ser utilizado pelo sistema jurídico. Teremos, então, um
Direito do Consumidor dos 'presentes', que, por isso mesmo, ignora os 'ausentes',
aqueles que, por razões várias, não tem vez ou voz no processo legislativo e no processo
judicial. (...) Na América Latina, nos últimos anos, a miséria explodiu. De um lado,
temos a classe alta com só uns poucos privilegiados; do outro, a classe média,
submetida a um processo contínuo de empobrecimento, encolhendo dia-a-dia. Logo,
formular o Direito do Consumidor em tais termos, como instrumento de proteção
fundamentalmente dessas duas classes, é colocá-lo numa posição elitista, retirando sua
vocação de regramento do cotidiano dos consumidores, de todos os consumidores,
abastados ou pobres, informados ou desinformados".

6 Erik Jayme, comentando um caso de publicidade abusiva no Brasil afirma: "A reação
do direito brasileiro colocou em primeiro plano a dignidade dos pobres (Würde der
Armen). A concepção de consumidor (Verbraucherleitbild) no Brasil ficava assim
impregnada da necessidade material de setores da sociedade, cujo respeito não podia
ser esquecido (...)" (JAYME, Erik. Visões para uma teoria pós-moderna do direito
comparado. In: Revista dos Tribunais, v. 759, n 11, p. 24-40, jan. 1999. Visões
diferentes do consumidor).

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25 anos de Código de Defesa do Consumidor e as
sugestões traçadas pela Revisão de 2015 das Diretrizes
da ONU de proteção dos consumidores para a
atualização

7 Veja sobre as definições de consumidores no CDC (LGL\1990\40), MARQUES, Claudia


Lima. Contratos no Código de Defesa do Consumidor, p. 300-415, São Paulo: Ed. RT:
2014.

8 O texto final anda não foi divulgado, assim trabalharemos neste artigo com o texto
aprovado na comissão de experts, em 25 de junho de 2015, que contou com a
participação, além da SENACON pelo Brasil, de representantes do Comitê de Proteção
Internacional dos consumidores do ILA e do Presidente do Brasilcon, mas alertamos o
leitor que modificações de redação podem ter ocorrido até a aprovação pela Assembleia
Geral em dezembro. Veja a versão original, A/RES/39/248, de 16 de Abril de 1985 e sua
importância no Brasil, na obra de SODRÉ, Marcelo Gomes. A construção do direito do
consumidor. São Paulo: Atlas, 2009.

9 A expresssão utilizada é "vulnerable and disadvantaged consumers" (III, 5, a), a


expressão hipervulnerabilidade é de Antônio Herman Benjamin, inicialmente em
palestras e, após, em belas decisões: "A categoria ético-política, e também jurídica, dos
sujeitos vulneráveis inclui um subgrupo de sujeitos hipervulneráveis, (...) Ao se proteger
o hipervulnerável, a rigor quem verdadeiramente acaba beneficiada é a própria
sociedade, porquanto espera o respeito ao pacto coletivo de inclusão social imperativa,
que lhe é caro, não por sua faceta patrimonial, mas precisamente por abraçar a
dimensão intangível e humanista dos princípios da dignidade da pessoa humana e da
solidariedade. Assegurar a inclusão judicial (isto é, reconhecer a legitimação para agir)
dessas pessoas hipervulneráveis, inclusive dos sujeitos intermediários a quem incumbe
representá-las, corresponde a não deixar nenhuma ao relento da Justiça por falta de
porta-voz de seus direitos ofendidos". (STJ, REsp 931.513/RS, rel. p/ Acórdão Min.
Herman Benjamin, 1.ª Seção, j. 25.11.2009, DJe 27.09.2010). Veja MARQUES, Claudia
Lima. Algumas observações sobre a pessoa no mercado e a proteção dos vulneráveis no
Direito Privado. In: GRUNDMAN, Stefan; MENDES, Gilmar; MARQUES, Claudia Lima;
BALDUS, Christian e MALHEIROS, Manuel. Direito Privado, Constituição e Fronteiras.
Encontros da Associação Luso-Alemã de Juristas no Brasil, 2, p. 287-331, São Paulo: Ed.
RT, 2014.

10 Veja a aprovação na Comissão de Constituição e Justiça do Senado, em setembro de


2015, disponível em: [www.12.senado.leg.br] e no Plenário e remessa à Câmara em
11.11.2015, disponível em:
[www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/106768].

11 Veja SENADO FEDERAL, Relatório vinte anos de vigência do Código de Defesa do


consumidor, , p. 11 e ss., Brasília: Gráfica do Senado Federal, 2010.

12 O relatório-geral dos trabalhos da comissão informa que a comissão iniciou seus


trabalhos em 15 de dezembro de 2010 e "realizou 37 reuniões (12 reuniões ordinárias, 8
audiências públicas e 17 reuniões técnicas) com os setores interessados, procurando
ouvir todos os segmentos representativos atuantes no direito e na defesa do
consumidor, de forma a poder concluir seus trabalhos da forma mais técnica,
transparente e democrática possível". SENADO FEDERAL, Atualização do Código de
Defesa do Consumidor - Relatório, Presidência do Senado Federal, p. 20, Brasília, 2012.

13 A referida Comissão de Juristas foi presidida pelo e. Ministro do STJ, Antônio Herman
Benjamin, e tendo como membros eu mesma, Claudia Lima Marques (UFRGS), como
Relatora-Geral, e os professores Ada Pellegrini Grinover (USP), Leonardo Roscoe Bessa
(UniCeub), Roberto Pfeiffer (USP) e Kazuo Watanabe (USP). Os três focos dos trabalhos
da Comissão de juristas foram o regime do crédito e o combate ao superendividamento
do consumidor, a melhoria da efetividade da parte processual do CDC (LGL\1990\40) e o
fenômeno do comércio eletrônico. Veja MARQUES, Claudia Lima; MIRAGEM, Bruno.
Anteprojetos de lei de atualização do Código de Defesa do Consumidor. Revista de
Direito do Con-sumidor, v. 82, p. 331 e ss. São Paulo: Ed. RT, abr.-jun. 2012.

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25 anos de Código de Defesa do Consumidor e as
sugestões traçadas pela Revisão de 2015 das Diretrizes
da ONU de proteção dos consumidores para a
atualização

14 Disponível em: [www.senado.gov.br/senado/codconsumidor/default.asp]. Em


especial, estão a ser discutidos hoje, os Projetos de Lei do Senado 281/2012, do
Senador José Sarney, que altera a Lei 8.078, de 11.09.1990 (CDC (LGL\1990\40)), para
aperfeiçoar as disposições gerais do Capítulo I do Título I e dispor sobre o comércio
eletrônico e Projeto de Lei do Senado 283/2012, do Senador José Sarney, que altera a
Lei 8.078, de 11.09.1990 (CDC (LGL\1990\40)), para aperfeiçoar a disciplina do crédito
ao consumidor e dispor sobre a prevenção do superendividamento.

15 Disponível em:
[www.ila-hq.org/en/news/index.cfm/nid/2F35999B-ADFA-4719-9DB11D5CECBAD1A8].

16 Em matéria de consumo sustentável, o substitutivo do Senado Federal para os PLS


281/2012 e 283/2012 traz muitas das sugestões traçadas pela Atualização das Diretrizes
em 1999 (E/199/INF/2/Add2), veja minha palestra, divulgada na Internet, no 20.º
Congresso Brasileiro de Direito Ambiental: "Ambiente, Sociedade e Consumo
Sustentável", em 25.05.2015, intitulada Atualização do Código de Defesa do Consumidor
e o diálogo entre o direito do consumidor e o direito ambiental: estudo em homenagem
à Eládio Lecey, disponível em: [www.odireitoporumplanetaverde.org.br].

17 Veja mais sobre esta vitória da Consumers International, que teve o apoio do
Brasilcon e da International Law association, assim como decisiva atuação da SENACON,
Disponível em:
[www.consumersinternational.org/news-and-media/news/2015/12/updated-ungcp/].
Acesso em: 03.01.2016.

18 O Departamento de Comércio e Indústria (DTI) das Filipinas já anunciou que vai


atualizar a Lei de Defesa do Consumidor (Consumer Act of the Philippines) com os novos
temas pautados pelas Diretrizes atualizadas, veja Philippines/United Nations: DTI
welcomes revised UN guidelines for consumer protection, in Thai News Service,
December 30, 2015 (Disponível em: [http://academic.lexisnexis.nl/]. Acesso em:
03.01.2015).

19 A Comissão que redigiu o Anteprojeto de Lei teve os seguintes membros: Ada


Pellegrini Grinover (Coordenadora), Daniel Roberto Fink, José Geraldo Brito Filomeno,
Kazuo Watanabe, Zelmo Denari, Antonio Herman V. Benjamin, Nelson Nery Junior,
Marcelo Gomes Sodré e Mariângela Sarrubbo.

20 O autor assim descreve a situação antes do CDC (LGL\1990\40): "Antes do CDC


(LGL\1990\40), o consumidor brasileiro não tinha a sua disposição qualquer lei geral que
o defendesse na sua Condição especial de sujeito vulnerável no mercado de consumo.
Sua proteção, no plano civil, fazia-se, com enormes dificuldades, com a utilização das
regras ultrapassadas do Código Civil (LGL\2002\400). Não existia nenhuma lei (ou
dispositivo legal) que cuidasse, adequadamente, por exemplo, da publicidade, das
condições gerais dos contratos ou da responsabilidade civil do fornecedor. Assim, o
consumidor no Brasil encontrava-se, de fato, totalmente desamparado para enfrentar os
abusos do mercado de consumo. As normas do Código Civil (LGL\2002\400),
promulgado em 1.º de Janeiro de 1916, ainda regiam, quase que por inteiro, as relações
de consumo. Desnecessário dizer que havia um descompasso entre o estágio do
desenvolvimento econômico do país e o conteúdo do Código Civil (LGL\2002\400),
criado para uma sociedade agrária (com industrialização incipiente) e rural (com grande
parte da população vivendo fora das cidades), em tudo muito diferente da atual"
(BENJAMIN, Antônio Herman, O Código Brasileiro de Proteção do Consumidor. In:
Revista de Direito do Consumidor, v. 7, p. 269-292, 1993).

21 Veja o editorial de MIRAGEM, Bruno; MARQUES, Claudia Lima e LIMA, Clarissa Costa
de. O volume 100 da Revista de Direito do Consumidor - Passado, Presente e Futuro.
Revista de Direito do Consumidor, v. 100, p. 13 - 15, jul.-ago. 2015.

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25 anos de Código de Defesa do Consumidor e as
sugestões traçadas pela Revisão de 2015 das Diretrizes
da ONU de proteção dos consumidores para a
atualização

22 A teoria da qualidade foi trazida para o Brasil, por Antônio Herman Benjamin, após
seus estudos de mestrado na universidade de Illinois, USA e adaptada à realidade
brasileira, também com a ajuda do direito comprado, em especial da Diretiva europeia
de 1985 sobre o tema, veja detalhes em BENJAMIN, Antônio Herman. Arts. 12 a 27. In:
OLIVEIRA, Juarez de (coord.). Comentários ao Código de Proteção do Consumidor. São
Paulo: Saraiva, 1991 e do mesmo Autor, capítulo 5, do Manual já citado de
MARQUES/BENJAMIN/BESSA.

23 Veja o uso desta expressão "nova teoria contratual" desde a primeira edição em
1992, em: MARQUES, Claudia Lima. Contratos no Código de Defesa do Consumidor, p.
57 e ss. São Paulo: Ed. RT, 2014.

24 Veja sobre a cláusula geral de boa-fé, os estudos do PPGDir UFRGS, MARQUES,


Claudia Lima. (coord.). A nova crise do contrato - Estudos sobre a nova teoria contratual
. São Paulo: Ed. RT, 2007.

25 MARQUES, Claudia Lima. A proteção dos consumidores em um mundo globalizado:


Studium Generale sobre o consumidor como homo novus. Revista de Direito do
Consumidor 85, p. 25 e ss.

26 Veja sobre o tema BESSA, Leonardo Roscoe. Relação de Consumo e aplicação do


Código de Defesa do Consumidor, p. 55 e ss. São Paulo: Ed. RT, 2009.

27 MARQUES, Claudia Lima. Contratos no Código de Defesa do Consumidor, 7. ed., p.


302 e ss., São Paulo: Ed. RT, 2014.

28 Veja os leading cases citados, em: BENJAMIN, Antônio Herman; MARQUES, Claudia
Lima; MIRAGEM, Bruno. Comentários ao Código de Defesa do Consumidor. 4. ed., p. 119
e ss., São Paulo: Ed. RT, 2013. Veja também MORATO, Antonio Carlos. Pessoa jurídica
consumidor. São Paulo: Ed. RT, 2008.

29 Veja BENJAMIN, Antônio Herman. O Código Brasileiro de Proteção do Consumidor.


Revista de Direito do Consumidor 7, p. 269 e ss.

30 Veja MIRAGEM, Bruno. Curso de Direito do Consumidor. 5. ed., p. 143 e ss., São
Paulo: Ed. RT, 2014.

31 Esta terminologia foi bem aceita no país, veja as ideias iniciais em: MARQUES,
Contratos, p. 342 e ss. Veja também, defendendo fortemente sua extensão aos micro e
pequenos empresários: OLIVEIRA, Júlio Moraes. Consumidor-Empresário - A defesa do
finalismo aprofundado. Belo Horizonte: Arraes, 2012.

32 Veja sobre o tema do consumidor idoso a bela obra de SCHMITT, Cristiano Heineck.
Consumidores hipervulneráveis - A proteção do idoso no mercado de consumo. São
Paulo: Atlas, 2014.

33 Veja sobre o tema, defendendo que os hipervulneráveis são os mencionados na


Constituição Federal, NISHIYAMA, Adolfo Mamoru. A proteção constitucional do
consumidor. 2. ed., p. 229 e ss., São Paulo: Atlas, 2010.

34 Assim ensina FIECHTER-BOULVARD, Frédérique. La notion de vulnérabilité et sa


consécration par le droit. In: COHET-CORDEY, Frédérique (org.). Vulnérabilité et droit: le
développement de la vulnérabilité et ses enjeux en droit. p. 14, nota 5. Grenoble:
Presses Universitaires de Grenoble, 2000.

35 LACOUR, Clémence. Vieillesse et vulnérabilité. p. 28. Marseille: Presses Universitaires


d'Aix Marseille, 2007.

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sugestões traçadas pela Revisão de 2015 das Diretrizes
da ONU de proteção dos consumidores para a
atualização

36 MARQUES, Claudia Lima; MIRAGEM, Bruno. O Novo Direito Privado e a proteção dos
vulneráveis., p. 17 ss. São Paulo: Ed. RT, 2014.

37 A obra inspiradora é a de ANDREASEN, A. R., The disadvantaged consumer, New


York: The free Press, 1975 e é uma expressão muito usada por Iain Ramsay, para
consumidores jovens ou idosos superendividados, RAMSAY, Iain. The alternative
consumer credit market and financial sector: regulatory issues and approaches. In: The
Canadian Business Law Journal, v. 35, n.. 3, p. 328 e ss., October 2001. Também na
Europa a expressão é bem conhecida, veja DOMONT-NAERT, F. Consommateurs
défavorisés: crédit et endettement - Contribution à l´étude de l´efficacité du droit de la
consommation, p. 1 e ss., Centre de Droit de la Consommation/Kluwer Story Sciencia:
Bruxelles, 1992.

38 Veja os princípios de boas práticas no consumo online e offline: "11. The principles
that establish benchmarks for good business practice for conducting online and off-line
commercial activities with consumers are as follows: (a) Fair and equitable treatment-
Businesses should deal fairly and honestly with consumers at all stages of their
relationship, so that it is an integral part of the business culture. Businesses should avoid
practices that harm consumers, particularly with respect to vulnerable and
disadvantaged consumers.

39 Belo exemplo é a decisão do e. STJ: Recurso especial. Ação civil pública. Ação
destinada a impor à instituição financeira demandada a obrigação de adotar o método
Braille nos contratos bancários de adesão celebrados com pessoa portadora de
deficiência visual. (...) 2. Dever legal consistente na utilização do método Braille nas
relações contratuais bancárias estabelecidas com consumidores portadores de deficiência
visual. Existência. Normatividade com assento constitucional e legal. Observância.
Necessidade. 3. Condenação por danos extrapatrimoniais coletivos. Cabimento. 4.
Imposição de multa diária para o descumprimento das determinações judiciais. Revisão
do valor fixado. Necessidade, na espécie. 5. Efeitos da sentença exarada no bojo de ação
civil pública destinada à tutela de interesses coletivos stricto sensu. Decisão que produz
efeitos em relação a todos os consumidores portadores de deficiência visual que
estabeleceram ou venham a firmar relação contratual com a instituição financeira
demandada em todo o território nacional. Indivisibilidade do direito tutelado. Art. 16 da
Lei 7.347/1985. Inaplicabilidade, na espécie. Precedentes. 7. Recurso especial
parcialmente provido. 1. A instituição financeira demandada, a qual se imputa o
descumprimento de um dever legal, não mantém com as demais existentes no país
(contra as quais nada se alega) vínculo jurídico unitário e incindível, a exigir a
conformação de litisconsórcio passivo necessário. A existência, por si, de obrigação legal
a todas impostas não as une, a ponto de, necessariamente, serem demandadas em
conjunto. In casu, está-se, pois, diante da defesa coletiva de interesses coletivos stricto
sensu, cujos titulares, grupo determinável de pessoas (consumidores portadores de
deficiência visual), encontram-se ligados com a parte contrária por uma relação jurídica
base preexistente à lesão ou à ameaça de lesão. E, nesse contexto, os efeitos do
provimento judicial pretendido terão repercussão na esfera jurídica dos consumidores
portadores de deficiência visual que estabeleceram, ou venham a firmar relação
contratual com a instituição financeira demandada, exclusivamente. 2. Ainda que não
houvesse, como de fato há, um sistema legal protetivo específico das pessoas
portadoras de deficiência (Leis 4.169/1962, 10.048/2000, 10.098/2000 e Decreto
6.949/2009), a obrigatoriedade da utilização do método Braille nas contratações
bancárias estabelecidas com pessoas com deficiência visual encontra lastro, para além
da legislação consumerista in totum aplicável à espécie, no próprio princípio da
Dignidade da Pessoa Humana. 2.1 A Convenção Internacional sobre os Direitos das
Pessoas com Deficiência impôs aos Estados signatários a obrigação de assegurar o
exercício pleno e equitativo de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais
pelas pessoas portadoras de deficiência, conferindo-lhes tratamento materialmente
igualitário (diferenciado na proporção de sua desigualdade) e, portanto, não
discriminatório, acessibilidade física e de comunicação e informação, inclusão social,
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25 anos de Código de Defesa do Consumidor e as
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autonomia e independência (na medida do possível, naturalmente), e liberdade para


fazer suas próprias escolhas, tudo a viabilizar a consecução do princípio maior da
Dignidade da Pessoa Humana. 2.2 Valendo-se das definições trazidas pelo Tratado,
pode-se afirmar, com segurança, que a não utilização do método Braille durante todo o
ajuste bancário levado a efeito com pessoa portadora de deficiência visual (providência,
é certo, que não importa em gravame desproporcional à instituição financeira),
impedindo-a de exercer, em igualdade de condições com as demais pessoas, seus
direitos básicos de consumidor, a acirrar a inerente dificuldade de acesso às correlatas
informações, consubstancia, a um só tempo, intolerável discriminação por deficiência e
inobservância da almejada 'adaptação razoável'. 2.3 A adoção do método Braille nos
ajustes bancários com pessoas portadoras de deficiência visual encontra lastro, ainda,
indiscutivelmente, na legislação consumerista, que preconiza ser direito básico do
consumidor o fornecimento de informação suficientemente adequada e clara do produto
ou serviço oferecido, encargo, é certo, a ser observado não apenas por ocasião da
celebração do ajuste, mas também durante toda a contratação. No caso do consumidor
deficiente visual, a consecução deste direito, no bojo de um contrato bancário de
adesão, somente é alcançada (de modo pleno, ressalta-se), por meio da utilização do
método Braille, a facilitar, e mesmo a viabilizar, a integral compreensão e reflexão
acerca das cláusulas contratuais submetidas a sua apreciação, especialmente aquelas
que impliquem limitações de direito, assim como dos extratos mensais, dando conta dos
serviços prestados, taxas cobradas etc. 2.4 O Termo de Ajustamento de Conduta, caso
pudesse ser conhecido, o que se admite apenas para argumentar, traz em si
providências que, em parte convergem, com as pretensões ora perseguidas, tal como a
obrigação de envio mensal do extrato em Braille, sem prejuízo, é certo, de adoção de
outras medidas destinadas a conferir absoluto conhecimento das cláusulas contratuais à
pessoa portadora de deficiência visual. Aliás, a denotar mais uma vez o comportamento
contraditório do recorrente, causa espécie a instituição financeira assumir uma série de
compromissos, sem que houvesse - tal como alega - lei obrigando-a a ajustar seu
proceder. 3. A jurisprudência do STJ tem perfilhado o posicionamento de ser possível,
em tese, a configuração de dano extrapatrimonial coletivo, sempre que a lesão ou a
ameaça de lesão levada a efeito pela parte demandada atingir, sobremodo, valores e
interesses fundamentais do grupo, afigurando-se, pois, descabido negar a essa
coletividade o ressarcimento de seu patrimônio imaterial aviltado. 3.1 No caso, a
relutância da instituição financeira demandada em utilizar o método Braille nos contratos
bancários de adesão estabelecidos com pessoas portadoras de deficiência visual,
conferindo-se-lhes tratamento manifestamente discriminatório, tem o condão de acirrar
sobremaneira as inerentes dificuldades de acesso à comunicação e a informações
essenciais dos indivíduos nessa peculiar condição, cuja prática, para além de
consubstanciar significativa abusividade contratual, encerrar verdadeira afronta à
dignidade do próprio grupo, coletivamente considerado. 4. Não obstante, consideradas:
i) a magnitude dos direitos discutidos na presente ação, que, é certo, restaram,
reconhecidamente vilipendiados pela instituição financeira recorrente; ii) a reversão da
condenação ao Fundo de Defesa de Direitos Difusos, a ser aplicado em políticas que
fulminem as barreiras de comunicação e informação enfrentadas pelas pessoas
portadoras de deficiência visual, o que, em última análise, atende ao desiderato de
reparação do dano; iii) o caráter propedêutico da condenação; e iv) a capacidade
econômica da demandada; tem-se que o importe da condenação fixado na origem
afigura-se exorbitante, a viabilizar a excepcional intervenção desta Corte de Justiça. 5. A
fixação a título de astreintes, seja de montante ínfimo ou exorbitante, tal como se dá na
hipótese dos autos, importa, inarredavelmente, nas mesmas consequências, quais
sejam: Prestigiar a conduta de recalcitrância do devedor em cumprir as decisões
judiciais, além de estimular a utilização da via recursal direcionada a esta Corte
Superior, justamente para a mensuração do valor adequado. Por tal razão, devem as
instâncias ordinárias, com vistas ao consequencialismo de suas decisões, bem ponderar
quando da definição das astreintes. 6. A sentença prolatada no bojo da presente ação
coletiva destinada a tutelar direitos coletivos stricto sensu - considerada a indivisibilidade
destes - produz efeitos em relação a todos os consumidores portadores de deficiência
visual que litigue ou venha a litigar com a instituição financeira demandada, em todo o
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território nacional. Precedente da Turma. 7. Recurso especial parcialmente provido.


(REsp 1315822/RJ, rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, 3.ª T., julgado em 24.03.2015, DJe
16.04.2015).

40 BENJAMIN, Antônio Herman, MARQUES, Claudia Lima. Relatório-Geral da Comissão


de Juristas- Atualização do Código de Defesa do Consumidor., p. 23 e 24, Brasília:
Presidência do Senado Federal, 2012.

41 O texto da UNGCP revisado é: "3. For the purpose of these Guidelines, the term
'consumer' generally refers to a natural person, regardless of nationality, acting primarily
for personal, family or household purposes, while recognizing that Member States may
adopt differing definitions to address specific domestic needs".

42 Veja meu parecer, MARQUES, Claudia Lima. Violação do dever de boa-fé de informar
corretamente, atos negociais omissivos afetando o direito/liberdade de escolha. Nexo
causal entre a falha/defeito de informação e defeito de qualidade dos produtos de tabaco
e o dano final morte. Responsabilidade do fabricante do produto, direito a ressarcimento
dos danos materiais e morais, sejam preventivos, reparatórios ou satisfatórios (Parecer).
Revista dos Tribunais 835, p. 75-133, maio 2005.

43 Veja a possibilidade de extrair do CDC (LGL\1990\40) uma teoria dos serviços,


MARQUES, Claudia Lima. Proposta de uma teoria geral dos serviços com base no Código
de Defesa do Consumidor - A evolução das obrigações envolvendo serviços remunerados
direta ou indiretamente. Revista de Direito do Consumidor 33, p. 79-122, 2000.

44 Veja MARQUES, Claudia Lima. Direitos básicos do consumidor na sociedade


pós-moderna de serviços: o aparecimento de um sujeito novo e a realização de seus
direitos. Revista de Direito do Consumidor 35, p. 61-96, 2000.

45 Veja MARQUES, Claudia Lima. Vinculação própria através da publicidade? A nova


visão do Código de Defesa do Consumidor. Revista de Direito do Consumidor 10, p.
6-20.

46 Veja sobre a nova teoria contratual (p. 57 a 296) e a responsabilidade pela qualidade
em matéria de vícios e defeitos (p. 1285 a 1378), MARQUES, Claudia Lima. Contratos no
Código de Defesa do Consumidor, São Paulo: Ed. RT, 2014.

47 Veja MIRAGEM, Bruno. Serviços turísticos, espetáculos esportivos e culturais no


mercado de consumo: a proteção do consumidor nas atividades de lazer e
entretenimento. Revista de Direito do Consumidor 85, p. 67-114.

48 Assim Contratos bancários em tempos pós-modernos - Primeiras reflexões. Revista


de Direito do Consumidor 25, p. 19 e ss.

49 Veja MARQUES, Claudia Lima. O novo direito privado brasileiro após a decisão da
ADIn dos bancos (ADIn 2.591). Revista de Direito do Consumidor 61, p. 40-75.

50 Veja a decisão final: "Embargos de declaração. Legitimidade recursal limitada às


partes. Não cabimento de recurso interposto por amici curiae. Embargos de declaração
opostos pelo procurador geral da república conhecidos. Alegação de contradição.
Alteração da ementa do julgado. Restrição. Embargos providos. (...) 5. Embargos de
declaração providos para reduzir o teor da ementa referente ao julgamento da Ação
Direta de Inconstitucionalidade 2.591, que passa a ter o seguinte conteúdo, dela
excluídos enunciados em relação aos quais não há consenso: Art. 3.º, § 2.º, do CDC
(LGL\1990\40). Código de defesa do consumidor. Art. 5.º, XXXII, da CF/1988
(LGL\1988\3). Art. 170, V, da CF/1988 (LGL\1988\3). Instituições financeiras. Sujeição
delas ao código de defesa do consumidor. Ação direta de inconstitucionalidade julgada
improcedente. 1. As instituições financeiras estão, todas elas, alcançadas pela incidência
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das normas veiculadas pelo Código de Defesa do Consumidor. 2. 'Consumidor', para os


efeitos do Código de Defesa do Consumidor, é toda pessoa física ou jurídica que utiliza,
como destinatário final, atividade bancária, financeira e de crédito. 3. Ação direta
julgada improcedente". (STF, ADIn 2.591 ED, rel. Min. Eros Grau, Pleno, j. 14.12.2006,
DJ 13.04.2007).

51 Trecho do voto do Min. Celso de Mello, do STF, no julgamento da ADIn 2.591,


conhecida como ADIn dos Bancos, citado por BESSA, Leonardo Roscoe. Relação de
consumo e Aplicação do Código de Defesa do Consumidor, 2. ed. , p. 7, São Paulo: Ed.
RT, 2009.

52 Veja o livro do Brasilcon, e meu parecer, MARQUES, Claudia Lima. Modificações


trazidas pela decisão da ADIn 2.591 sobre a constitucionalidade (e imperatividade) da
aplicação do CDC (LGL\1990\40) aos contratos bancários, financeiros, de crédito e
securitários. Processos repetitivos. Diálogo entre o Código de Defesa do Consumidor, o
Código Civil de 2002, as leis bancárias aplicáveis aos contratos bancários com pessoas
físicas, consumidores, sob a luz da Constituição Federal. Revista de Direito do
Consumidor 68, p. 9-398.

53 STJ, Documento: 51882822 - Despacho/Decisão - Site certificado - DJe 15.09.2015.

54 Veja sobre a teoria, MARQUES, Claudia Lima, O ´diálogo das fontes´ como método
da nova teoria geral do direito: um tributo a Erik Jayme, in MARQUES, Claudia Lima.
Diálogo das Fontes - do conflito à coordenação de normas no direito brasileiro. p. 18 e
ss., São Paulo: RT, 2012.

55 Veja detalhes também em ALMEIDA, João Batista de; PFEIFFER, Roberto (coord.).
Aplicação do Código de Defesa do Consumidor aos bancos - ADin 2.591. São Paulo: Ed.
RT, 2006.

56 MARQUES, Claudia Lima. Cap. 4. In: MARQUES, Claudia Lima, BENJAMIN, Antônio
Herman e BESSA, Leonardo Roscoe. Manual de Direito do Consumidor, 6. ed., São
Paulo: Ed. RT, 2015.

57 Veja leading case, Resp. 1.024.128/PR, rel. Min. Herman Benjamin: "A novel
legislação é mais uma etapa da denominada 'reforma do CPC', conjunto de medidas que
vêm modernizando o ordenamento jurídico para tornar mais célere e eficaz o processo
como técnica de composição de lides. Sob esse enfoque, a atribuição de efeito
suspensivo aos embargos do devedor deixou de ser decorrência automática de seu
simples ajuizamento. Em homenagem aos princípios da boa-fé e da lealdade processual,
exige-se que o executado demonstre efetiva vontade de colaborar para a rápida e justa
solução do litígio e comprove que o seu direito é bom. Trata-se de nova concepção
aplicada à teoria geral do processo de execução, que, por essa ratio, reflete-se na
legislação processual esparsa que disciplina microssistemas de execução, desde que as
normas do CPC possam ser subsidiariamente utilizadas para o preenchimento de
lacunas. Aplicação, no âmbito processual, da teoria do diálogo das fontes" (DJ
19.12.2008).

58 Veja sobre a boa recepção do diálogo das fontes na jurisprudência, em: BESSA,
Leonardo Roscoe. Diálogo das fontes no direito do consumidor. In: MARQUES, Claudia
Lima (org.). Diálogo das fontes. p. 183 e ss., São Paulo: Ed. RT, 2012.

59 Veja a expressão "diálogo das fontes" no site de consulta de jurisprudência oficial do


STJ: Disponível em: [www.stj.jus.br/SCON/]. Acesso em: 12.01.2015.

60 Veja decisão: "Recurso especial representativo de controvérsia. Art. 543-C, do CPC.


Processo judicial tributário. Execução fiscal. Penhora eletrônica. Sistema BACEN-JUD.
Esgotamento das vias ordinárias para a localização de bens passíveis de penhora. Art.
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11, da Lei 6.830/1980. Art. 185-A, do CTN (LGL\1966\26). Código de Processo Civil.
Inovação introduzida pela lei 11.382/2006. Arts. 655, I, E 655-A, do CPC. Interpretação
sistemática das leis. Teoria do diálogo das fontes. Aplicação imediata da lei de índole
processual. 1. A utilização do Sistema BACEN-JUD, no período posterior à vacatio legis
da Lei 11.382/2006 (21.01.2007), prescinde do exaurimento de diligências
extrajudiciais, por parte do exequente, a fim de se autorizar o bloqueio eletrônico de
depósitos ou aplicações financeiras (Precedente da 1.ª Seção: EREsp 1.052.081/RS, rel.
Min. Hamilton Carvalhido, 1.ª Seção, j. 12.05.2010, DJe 26.05.2010. Precedentes das
Turmas de Direito Público: REsp 1.194.067/PR, rel. Min. Eliana Calmon, 2.ª T., j.
22.06.2010, DJe 01.07.2010; AgRg no REsp 1.143.806/SP, rel. Min. Humberto Martins,
2.ª T., j.08.06.2010, DJe 21.06.2010; REsp 1.101.288/RS, rel. Min. Benedito Gonçalves,
1.ª T., j. 02.04.2009, DJe 20.04.2009; e REsp 1.074.228/MG, rel. Min. Mauro Campbell
Marques, 2.ª T., j. 07.10.2008, DJe 05.11.2008. Precedente da Corte Especial que
adotou a mesma exegese para a execução civil: REsp 1.112.943/MA, rel. Min. Nancy
Andrighi, j. 15.09.2010). 2. A execução judicial para a cobrança da Dívida Ativa da
União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e respectivas autarquias é regida
pela Lei 6.830/1980 e, subsidiariamente, pelo Código de Processo Civil.(...) 9. A
antinomia aparente entre o art. 185-A, do CTN (LGL\1966\26) (que cuida da decretação
de indisponibilidade de bens e direitos do devedor executado) e os arts. 655 e 655-A, do
CPC (penhora de dinheiro em depósito ou aplicação financeira) é superada com a
aplicação da Teoria pós-moderna do Dialógo das Fontes, idealizada pelo alemão Erik
Jayme e aplicada, no Brasil, pela primeira vez, por Cláudia Lima Marques, a fim de
preservar a coexistência entre o Código de Defesa do Consumidor e o novo Código Civil
(LGL\2002\400). 10. Com efeito, consoante a Teoria do Diálogo das Fontes, as normas
gerais mais benéficas supervenientes preferem à norma especial (concebida para
conferir tratamento privilegiado a determinada categoria), a fim de preservar a coerência
do sistema normativo. (...)19. Recurso especial fazendário provido, declarando-se a
legalidade da ordem judicial que importou no bloqueio liminar dos depósitos e aplicações
financeiras constantes das contas bancárias dos executados. Acórdão submetido ao
regime do art. 543-C, do CPC, e da Resolução STJ 08/2008." (REsp 1184765/PA, rel.
Min. Luiz Fux, Primeira Seção, j. 24.11.2010, DJe 03.12.2010).

61 Veja: "Processual civil. Tributário. Recurso representativo da controvérsia. Art. 543-C,


do CPC. Aplicabilidade do art. 739-A, § 1.º, do CPC às execuções fiscais. necessidade de
garantia da execução e análise do juiz a respeito da relevância da argumentação (fumus
boni juris) e da ocorrência de grave dano de difícil ou incerta reparação (periculum in
mora) para a concessão de efeito suspensivo aos embargos do devedor opostos em
execução fiscal. 7. Muito embora por fundamentos variados - ora fazendo uso da
interpretação sistemática da LEF (LGL\1980\10) e do CPC/1973, ora trilhando o inovador
caminho da teoria do "Diálogo das Fontes", ora utilizando-se de interpretação histórica
dos dispositivos (o que se faz agora) - essa conclusão tem sido a alcançada pela
jurisprudência predominante, conforme ressoam os seguintes precedentes de ambas as
Turmas deste STJ. Pela 1.ª T.: AgRg no Ag 1381229/PR, 1.ª T., rel. Min. Arnaldo Esteves
Lima, j. 15.12.2011; AgRg no REsp 1.225.406/PR, 1.ª T., rel. Min. Hamilton Carvalhido,
j. 15.02.2011; AgRg no REsp 1.150.534/MG, 1.ª T., rel. Min. Benedito Gonçalves, j.
16.11.2010; AgRg no Ag 1.337.891/SC, 1.ª T., rel. Min. Luiz Fux, j. 16.11.2010; AgRg
no REsp 1.103.465/RS, 1.ª T., rel. Min. Francisco Falcão, j. 07.05.2009. Pela 2.ª T.:
AgRg nos EDcl no Ag 1.389.866/PR, 2.ª T., rel. Min. Humberto Martins, DJe 21.09.2011;
REsp 1.195.977/RS, 2.ª T., rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 17.08.2010; AgRg no
Ag 1.180.395/AL, 2.ª T., rel. Min. Castro Meira, DJe 26.2.2010; REsp, 1.127.353/SC, 2.ª
T., rel. Min. Eliana Calmon, DJe 20.11.2009; REsp 1.024.128/PR, 2.ª T., rel. Min.
Herman Benjamin, DJe 19.12.2008. 8. Superada a linha jurisprudencial em sentido
contrário inaugurada pelo REsp 1.178.883/MG, 1.ª T., rel. Min. Teori Albino Zavascki, j.
20.10.2011 e seguida pelo AgRg no REsp 1.283.416/AL, 1.ª T., rel. Min. Napoleão Nunes
Maia Filho, j. 02.02.2012; e pelo REsp 1.291.923/PR, 1.ª T., rel. Min. Benedito
Gonçalves, j. 01.12.2011. 9. Recurso especial provido. Acórdão submetido ao regime do
art. 543-C, do CPC, e da Resolução STJ 8/2008. (REsp 1272827/PE, rel. Min. Mauro
Campbell Marques, 1.ª Seção, j. 22.05.2013, DJe 31.05.2013).
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62 O leading case é: "Recurso especial. Civil. Ação revisional de contrato de compra e


venda. Dólar americano. Maxidesvalorização do real. Aquisição de equipamento para
atividade profissional. Ausência de relação de consumo. Teorias da imprevisão. Teoria da
onerosidade excessiva. Teoria da base objetiva. Inaplicabilidade. 1. Ação proposta com a
finalidade de, após a maxidesvalorização do real em face do dólar americano, ocorrida a
partir de janeiro de 1999, modificar cláusula de contrato de compra e venda, com
reserva de domínio, de equipamento médico (ultrassom), utilizado pelo autor no
exercício da sua atividade profissional de médico, para que, afastada a indexação
prevista, fosse observada a moeda nacional. 2. Consumidor é toda pessoa física ou
jurídica que adquire ou utiliza, como destinatário final, produto ou serviço oriundo de um
fornecedor. Por sua vez, destinatário final, segundo a teoria subjetiva ou finalista,
adotada pela Segunda Seção desta Corte Superior, é aquele que ultima a atividade
econômica, ou seja, que retira de circulação do mercado o bem ou o serviço para
consumi-lo, suprindo uma necessidade ou satisfação própria, não havendo, portanto, a
reutilização ou o reingresso dele no processo produtivo. Logo, a relação de consumo
(consumidor final) não pode ser confundida com relação de insumo (consumidor
intermediário). Inaplicabilidade das regras protetivas do Código de Defesa do
Consumidor. 3. A intervenção do Poder Judiciário nos contratos, à luz da teoria da
imprevisão ou da teoria da onerosidade excessiva, exige a demonstração de mudanças
supervenientes das circunstâncias iniciais vigentes à época da realização do negócio,
oriundas de evento imprevisível (teoria da imprevisão) e de evento imprevisível e
extraordinário (teoria da onerosidade excessiva), que comprometa o valor da prestação,
demandando tutela jurisdicional específica. 4. O histórico inflacionário e as sucessivas
modificações no padrão monetário experimentados pelo país desde longa data até julho
de 1994, quando sobreveio o Plano Real, seguido de período de relativa estabilidade até
a maxidesvalorização do real em face do dólar americano, ocorrida a partir de janeiro de
1999, não autorizam concluir pela imprevisibilidade desse fato nos contratos firmados
com base na cotação da moeda norte-americana, em se tratando de relação contratual
paritária. 5. A teoria da base objetiva, que teria sido introduzida em nosso ordenamento
pelo art. 6.º, V, do CDC (LGL\1990\40), difere da teoria da imprevisão por prescindir da
previsibilidade de fato que determine oneração excessiva de um dos contratantes. Tem
por pressuposto a premissa de que a celebração de um contrato ocorre mediante
consideração de determinadas circunstâncias, as quais, se modificadas no curso da
relação contratual, determinam, por sua vez, consequências diversas daquelas
inicialmente estabelecidas, com repercussão direta no equilíbrio das obrigações
pactuadas. Nesse contexto, a intervenção judicial se daria nos casos em que o contrato
fosse atingido por fatos que comprometessem as circunstâncias intrínsecas à formulação
do vínculo contratual, ou seja, sua base objetiva. 6. Em que pese sua relevante
inovação, tal teoria, ao dispensar, em especial, o requisito de imprevisibilidade, foi
acolhida em nosso ordenamento apenas para as relações de consumo, que demandam
especial proteção. Não se admite a aplicação da teoria do diálogo das fontes para
estender a todo direito das obrigações regra incidente apenas no microssistema do
direito do consumidor, mormente com a finalidade de conferir amparo à revisão de
contrato livremente pactuado com observância da cotação de moeda estrangeira. 7.
Recurso especial não provido. (REsp 1321614/SP, rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino,
rel. p/ Acórdão Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, 3.ª T., j. 16.12.2014, DJe 03.03.2015).

63 Veja decisão monográfica sobre o tema: REsp 1.391.627/RJ (2013/0202254-0).


"1. Controvérsia acerca da prescrição da pretensão indenizatória originada de fraude
praticada por gerente de instituição financeira contra seus clientes. 2. 'As instituições
bancárias respondem objetivamente pelos danos causados por fraudes ou delitos
praticados por terceiros - como, por exemplo, abertura de conta-corrente ou
recebimento de empréstimos mediante fraude ou utilização de documentos falsos -,
porquanto tal responsabilidade decorre do risco do empreendimento, caracterizando-se
como fortuito interno' (REsp 1.197.929/PR, rito do art. 543-C do CPC). 3. Ocorrência de
defeito do serviço, fazendo incidir a prescrição quinquenal do art. 27 do Código de
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Defesa do Consumidor, quanto à pretensão dirigida contra a instituição financeira. 4.


Impossibilidade de aplicação das regras de prescrição do Código Civil (LGL\2002\400),
ainda que mais favoráveis ao consumidor, tendo em vista o não acolhimento da teoria
do diálogo de fontes por esta Corte Superior. 5. Possibilidade de responsabilização
pessoal do gerente, com base na culpa aquiliana, não se aplicando o Código de Defesa
do Consumidor quanto a essa pretensão.

5. (sic) Inocorrência de prescrição da pretensão dirigida contra o gerente. 6. Recurso


Especial parcialmente provido. E do voto monocrático: 'O juízo de origem aplicou a
prescrição quinquenal do art. 27 do Código de Defesa do Consumidor por entender que a
pretensão se fundava em defeito do serviço. O Tribunal de origem, por maioria, manteve
a sentença. Daí a controvérsia devolvida a esta Corte Superior, relativa à ocorrência de
prescrição. Sob a ótica da ora recorrente, a hipótese não se enquadraria no conceito
restrito de fato do serviço, previsto no art. 27 do CDC (LGL\1990\40), devendo-se
aplicar, portanto, as regras de prescrição do Código Civil de 2002, fazendo referência à
teoria do diálogo de fontes(...). Desse modo, a hipótese dos autos configura um
flagrante defeito do serviço, estando correto o entendimento do Tribunal de origem
quanto à aplicação da prescrição quinquenal do art. 27 do CDC (LGL\1990\40), quanto à
pretensão dirigida contra a instituição financeira, fornecedora do serviço bancário
defeituoso. Quanto ao alegado 'diálogo de fontes', interessante ressaltar a
particularidade do presente caso em que o consumidor se insurge contra a aplicação do
próprio Código de Defesa do Consumidor, pois as normas do Código Civil de 1916 sobre
prescrição são mais favoráveis, existindo uma aparente contradição com o propósito
protetivo da norma consumerista. Essa possível contradição não é admitida por uma
parte da doutrina, que defende a prevalência da norma mais favorável ao consumidor,
ao que se denomina 'diálogo de fontes'. Porém, esse entendimento doutrinário não
obteve guarida na jurisprudência desta Corte Superior, conforme se verifica no seguinte
julgado: (...) REsp 1.009.591/RS, rel. Min. Nancy Andrighi, 3.ª T., DJe 23.08.2010).
Assim, embora o Código Civil de 1916 seja mais favorável ao consumidor, esse fato, por
si só, não impede a aplicação do Código de Defesa do Consumidor'. Por fim, assiste
razão à parte recorrente no que tange à inaplicabilidade da prescrição do art. 27 do CDC
(LGL\1990\40) à pretensão deduzida contra a pessoa do gerente da instituição
financeira, pois este atuou ilicitamente em nome próprio, e não como preposto do banco
ou como fornecedor de produto ou serviço. Não há falar, portanto, em relação de
consumo entre o consumidor e o gerente do banco, devendo-se aplicar, no caso, as
regras de prescrição do Código Civil (LGL\2002\400), estatuindo o prazo de 20 anos na
vigência do Código Civil de 1916 e de três anos na vigência do Código Civil
(LGL\2002\400) atual (pretensão de reparação civil), não estando prescrita a pretensão
surgida em 1995 levada a juízo em 2004.(...) Ante o exposto, dou parcial provimento ao
recurso especial tão somente para afastar a prescrição da pretensão deduzida contra o
gerente da instituição financeira, impondo-se o retorno dos autos à origem para que
prossiga o julgamento da causa, como entender de direito. Intimem-se. Brasília (DF),
10.09.2015". (Min. Paulo de Tarso Sanseverino, 15.09.2015).

64 Veja SANTANA, Hector Valverde. Prescrição e Decadência nas relações de consumo.


São Paulo: Ed. RT, 2002.

65 Trecho de MARQUES, Claudia Lima. Cap. 4. In: MARQUES, Claudia Lima, BENJAMIN,
Antônio Herman e BESSA, Leonardo Roscoe. Manual de Direito do Consumidor, 6. ed.,
São Paulo: Ed. RT, 2015.

66 O texto enviado à Câmara é o seguinte: "Art. 3.º-A. As normas e os negócios


jurídicos devem ser interpretados e integrados da maneira mais favorável ao
consumidor."

67 Veja também MIRAGEM, Bruno. Epur si muove: diálogo das fontes como método de
interpretação sistemática no direito brasileiro, in MARQUES, Claudia Lima, (org.) Diálogo
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das fontes. Do conflito à coordenação das normas do direito brasileiro. p. 67 e ss., São
Paulo: Ed. RT, 2012.

68 Mencione-se a vitória quanto à cobrança de dívidas pretéritas o leading case:


"Processo civil e administrativo. (...) Excepcionalidade. Corte de energia elétrica. Dívida
pretérita. 2. Na hipótese, o Requerente discute na ação declaratória subjacente ao
recurso especial dívidas pretéritas, consubstanciadas em diferença de consumo cobrada
pela concessionária de energia elétrica referentes ao período de abril de 2006 a fevereiro
de 2009, que totalizam o montante de R$ 6.860,57 (e-STJ, fl.62). 3. É ilegítimo o corte
de fornecimento de energia elétrica quando a inadimplência do consumidor decorrer de
débitos pretéritos. Precedentes: EDcl na MC 15.434/SP, rel. Min. Humberto Martins, 2.ª
T., DJe 19.11.2010; (AgRg no REsp 1.145.884/RS, rel. Min. Cesar Asfor Rocha, 2.ª T.,
DJe 17.11.2010; REsp 1.194.150/RS, rel. Min. Herman Benjamin, 2.ª T., DJe 14.9.2010;
AgRg no Ag 1.258.939/RS, rel. Min. Benedito Gonçalves, 1.ª T., DJe 16.8.2010. 4.
Restou demonstrado o fumus boni iures, bem como o periculum in mora, o qual decorre
da privação de bens jurídicos essenciais, como é caso do fornecimento de energia
elétrica, fundamental à digna sobrevivência do Requerente e de sua família, justificando
a excepcionalidade da concessão cautelar. Medida cautelar procedente" (MC 16.655/SP,
rel. Min. Humberto Martins, 2.ª T., j. 14.12.2010, DJe 04.02.2011). E AgRg no REsp
1478948/RS, rel. Min. Herman Benjamin, 2.ª T., j. 10.02.2015, DJe 20.03.2015. E, mais
atual "Administrativo e processual civil. Agravo regimental no agravo em recurso
especial. Ação civil pública. Suspensão do fornecimento de energia elétrica. Legitimidade
ativa do Ministério público. Débitos pretéritos. Impossibilidade. Precedentes (...) 2. Não
é lícito à concessionária interromper o serviços de fornecimento de energia elétrica por
dívida pretérita, a título de recuperação de consumo, em virtude da existência de outros
meios legítimos de cobrança de débitos antigos não pagos. 3. Agravo regimental a que
se nega provimento". (AgRg no AREsp 300.270/MG, rel. Min. Sérgio Kukina, 1.ª T., j.
17.09.2015, DJe 24.09.2015) E "Processual civil e administrativo. Agravo regimental no
agravo em recurso especial. Fornecimento de água. Tarifa de água. Suspensão do
fornecimento em razão de débitos pretéritos. Impossibilidade. Configuração dos danos
morais. 1. A jurisprudência do STJ firmou o entendimento de que é vedada a suspensão
no fornecimento de serviços de energia e água em razão de débitos pretéritos. O corte
pressupõe o inadimplemento de conta regular, relativa ao mês do consumo (...) 4.
Agravo regimental não provido". (AgRg no AREsp 752.030/RJ, rel. Min. Benedito
Gonçalves, 1.ª T., j. 20.10.2015, DJe 04.11.2015).

69 Mencione-se algumas vitórias quanto aos medidores, veja recente decisão:


"Administrativo e processual civil. Agravo regimental no agravo em recurso especial.
Acórdão que, à luz das provas dos autos, concluiu pela ilegalidade da interrupção do
serviço de abastecimento de água, em razão de débito pretérito. Ilegalidade. Súmula 7
(MIX\2010\1261)/STJ. Jurisprudência pacífica do STJ. Agravo regimental improvido. I. O
acórdão recorrido, com fundamento nos elementos fático-probatórios dos autos, decidiu
pela ilegalidade da interrupção do serviço, na hipótese, porquanto 'não se afigura
possível condicionar o fornecimento de água ao pagamento de multa aplicada por
violação de hidrômetro, como pretende concessionária (f. 07), por não se tratar de
inadimplemento de fatura atual pela prestação do serviço'. II. Infirmar as conclusões do
julgado e reconhecer a legalidade da suspensão do serviço exigiria, inequivocamente,
incursão na seara fático-probatória, inviável, na via eleita, a teor do enunciado sumular
7/STJ. Nesse sentido: STJ, AgRg no REsp 1398768/AM, rel. Min. Herman Benjamin, 2.ª
T., DJe 06.03.2014. III. Ademais, o acórdão recorrido encontra-se em consonância com
a jurisprudência desta Corte, no sentido de que é ilegal o corte no fornecimento dos
serviços públicos essenciais, em razão de débito pretérito. A propósito: STJ, AgRg no
AREsp 412.849/RJ, rel. Min. Humberto Martins, 2.ª T., DJe 10.12.2013; STJ, AgRg no
AREsp 392.024/RJ, rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, 1.ª T., DJe 10.03.2014. IV.
Agravo Regimental improvido". (AgRg no AREsp 581.826/RS, rel. Min. Assusete
Magalhães, 2.ª T., j. 15.10.2015, DJe 26.10.2015) E "Administrativo e processual civil.
Agravo regimental no agravo em Recurso especial (...) Interrupção do serviço de
abastecimento de energia, em razão de fraude no medidor, apurada unilateralmente,
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pela concessionária. Ilegalidade. Jurisprudência pacífica do STJ. Súmula 83


(MIX\2010\1336)/STJ. (...) II. In casu, conforme consignado pela Corte Estadual, não se
trata de hipótese de mera inadimplência do consumidor, mas de cobrança de débito
decorrente de suposta avaria no medidor de consumo, constatada através de inspeção
unilateral, efetivada pela concessionária fornecedora. III. O acórdão recorrido
encontra-se em consonância com a jurisprudência desta Corte, no sentido de que é ilegal
o corte no fornecimento de serviço público essencial, se o débito for ocasionado por
suposta fraude no aparelho medidor, que foi apurada unilateralmente pela
concessionária. Nesse sentido: STJ, AgRg no AREsp 412.849/RJ, rel. Min. Humberto
Martins, 2.ª T., DJe 10.12.2013; STJ, AgRg no AREsp 391.667/RJ, rel. Min. Sérgio
Kukina, 1.ª T., DJe 21.11.2013; STJ, AgRg no AREsp 357.553/PE, rel. Min. Benedito
Gonçalves, 1.ª T., DJe 26.11.2014. Incidência, na hipótese, da Súmula 83
(MIX\2010\1336)/STJ, enunciado sumular aplicável às alíneas a e c, do inc. III, do art.
105 da CF/1988 (LGL\1988\3) (...)" (AgRg no AREsp 395.840/PE, rel. Min. Assusete
Magalhães, 2.ª T. j. 23.06.2015, DJe 01.07.2015).

70 Veja leadingcase: "Consumidor. Fornecimento de água. Suspensão com aviso prévio.


Demora excessiva no reabastecimento. Excesso de prazo sem prestação de assistência
ao consumidor. Falha na prestação do serviço. Dano moral configurado. Majoração do
quantum fixado a título indenizatório. Inviabilidade. Óbice da Súmula 7
(MIX\2010\1261)/STJ. 1. Trata-se, na origem, de Ação Ordinária em face da Companhia
de Saneamento de Sergipe - DESO, objetivando a condenação da requerida ao
pagamento de indenização por danos morais por ter havido interrupção do fornecimento
de água por cinco dias, abstendo-se a empresa de prestar qualquer assistência aos
consumidores. 2. O Tribunal de origem consignou que, "considerando que a indenização
contém caráter também punitivo, diante do volume de condenações, entendo razoável o
importe de R$ 500,00 (quinhentos reais), pois o valor estipulado pelo magistrado do 1.º
grau oneraria excessivamente a empresa fornecedora (DESO), levando ainda em conta
que o montante aqui especificado atende também ao caráter compensatório (f. 141,
e-STJ). 3. A jurisprudência do STJ somente admite a revisão, em Recurso Especial, do
valor reparatório dos danos morais quando configurada hipótese de manifesta
irrisoriedade ou de exorbitância. (...) 5. Recurso Especial não provido" (REsp
1529820/SE, rel. Min. Herman Benjamin, 2.ª T., j. 16.06.2015, DJe 10.08.2015).

71 Veja detalhes em MARQUES, Contratos, op. cit., p. 623 e ss.

72 O novo texto da UNGCP é: "K. Measures relating to specific areas (...) 69. In
advancing consumer interests, particularly in developing countries, Member States
should, where appropriate, give priority to areas of essential concern for the health of
the consumer, such as food, water, pharmaceuticals, energy, and public utilities, and
also address the specificities of tourism". (a parte em negrito é a revisada).

73 Assim seminal trabalho de PASQUALOTTO, Adalberto. Os serviços públicos no Código


de Defesa do Consumidor. Revista de Direito do Consumidor 1, p. 130-148, 1992.

74 Veja leading case: "Os serviços públicos podem ser próprios e gerais, sem
possibilidade de identificação dos destinatários. São financiados pelos tributos e
prestados pelo próprio Estado, tais como segurança pública, saúde, educação etc. Podem
ser também impróprios e individuais, com destinatários determinados ou determináveis.
Neste caso, têm uso específico e mensurável, tais como os serviços de telefone, água e
energia elétrica. 4. Os serviços públicos impróprios podem ser prestados por órgãos da
administração pública indireta ou, modernamente, por delegação, como previsto na CF
(LGL\1988\3) (art. 175). São regulados pela Lei 8.987/1995, que dispõe sobre a
concessão e permissão dos serviços públicos. 5. Os serviços prestados por
concessionárias são remunerados por tarifa, sendo facultativa a sua utilização, que é
regida pelo CDC (LGL\1990\40), o que a diferencia da taxa, esta, remuneração do
serviço público próprio. 6. Os serviços públicos essenciais, remunerados por tarifa,
porque prestados por concessionárias do serviço, podem sofrer interrupção quando há
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inadimplência, como previsto no art. 6.º, § 3.º, II, da Lei 8.987/1995. Exige-se,
entretanto, que a interrupção seja antecedida por aviso, existindo na Lei 9.427/1997,
que criou a ANEEL, idêntica previsão. 7. A continuidade do serviço, sem o efetivo
pagamento, quebra o princípio da igualdade das partes e ocasiona o enriquecimento sem
causa, repudiado pelo direito (arts. 42 e 71 do CDC (LGL\1990\40), em interpretação
conjunta). 8. Recurso especial conhecido parcialmente e, nessa parte, provido" (REsp
1062975/RS, rel. Min. Eliana Calmon, 2.ª T., j. 23.09.2008, DJe 29.10.2008). E: "É lícito
à concessionária interromper o fornecimento de água se, após aviso prévio, o usuário
permanecer inadimplente. Interpretação do art. 6.º, § 3.º, II, da Lei 8.987/1995" (REsp
631.246/RJ, rel. Min. Denise Arruda, 1.ª T., j. 23.10.2006).

75 Veja REsp 628.833, 460.271, 291.158, 442.814, 278.532. Esta posição flexibiliza-se:
"Administrativo -Serviço de telefonia - Falta de pagamento - Bloqueio parcial das linhas
da prefeitura - Município como consumidor. 1. A relação jurídica, na hipótese de serviço
público prestado por concessionária, tem natureza de direito privado, pois o pagamento
é feito sob a modalidade de tarifa, que não se classifica como taxa. 2. Nas condições
indicadas, o pagamento é contra prestação, aplicável o CDC (LGL\1990\40), e o serviço
pode ser interrompido em caso de inadimplemento, desde que antecedido por aviso. 3. A
continuidade do serviço, sem o efetivo pagamento, quebra o princípio da isonomia e
ocasiona o enriquecimento sem causa de uma das partes, repudiado pelo direito
(interpretação conjunta dos arts.42 e 71 do CDC (LGL\1990\40)). 4. Quando o
consumidor é pessoa jurídica de direito público, a mesma regra deve lhe ser estendida,
com a preservação apenas das unidades públicas cuja paralisação é inadmissível. 5.
Recurso especial provido" (REsp 742.640/MG, rel. Min. Eliana Calmon, 2.ª T., j.
06.09.2007, DJ 26.09.2007, p. 203).

76 Veja REsp 647.853/RS, rel. Min. Luiz Fux, j. 28.09.2004, DJ 06.06.2005, p. 194.

77 Veja MARTINS, Fernando Rodrigues. FERREIRA, Keila Pacheco. A contingente


atualização do Código de Defesa do Consumidor: novas fontes, metodologia e devolução
de conceitos. Revista de Direito do Consumidor, v. 83, p. 11 e ss., São Paulo: Ed. RT,
jul.-set. 2012.

78 O novo texto da UNGCP é: "77. Public utilities. Member States should promote
universal access to public utilities as well as formulate, maintain or strengthen national
policies to improve rules and statutes dealing with provision of service, consumer
information, security deposits and advance payment for service, late payment fees,
termination and restoration of service, establishment of payment plans, and dispute
resolution between consumers and utility service providers, taking into account the
needs of vulnerable and disadvantaged consumers".

79 Veja MARQUES, Claudia Lima; MIRAGEM, Bruno; MOESCH, Teresa Cristina.


Comentários ao anteprojeto de Lei Geral de Defesa do Consumidor do Estado do Rio
Grande do Sul, da OAB/RS. Revista de Direito do Consumidor, v. 90, p. 400-406, 2013.

80 O artigo ainda possui dois parágrafos, a saber: "§ 2.º - Compete ao Conselho
Estadual de Defesa do Consumidor, de modo articulado com o órgão estadual de defesa
do consumidor, acompanhar a prestação dos serviços essenciais, assim como
relacionar-se com os órgãos e entidades públicos competentes para, dentre outras
iniciativas, notificar as falhas que vier a ter conhecimento, assim como recomendar
iniciativas para seu aperfeiçoamento. § 3.º - O Estado promoverá, por intermédio do
órgão executivo estadual de defesa do consumidor, a ampla divulgação à população da
relação de serviços essenciais, dos seus direitos em relação a estes, e os respectivos
deveres dos fornecedores".

81 Veja MARQUES, Claudia Lima; MIRAGEM, Bruno; MOESCH, Teresa Cristina.


Comentários ao anteprojeto de Lei Geral de Defesa do Consumidor do Estado do Rio
Grande do Sul, da OAB/RS. Revista de Direito do Consumidor, v. 90, p. 401-402, 2013.
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82 Veja GSELL, Beate.Wohnraunmietrecht als Verbraucherrecht. WuM, p. 375-387, jul.


2014.

83 Assim ensinam MICKLITZ, Hans-W. e REICH, Norbert. Sale of consumer goods. In:
REICH, Norbert; MICKLITZ, Hans-W.; ROTT, Peter; TONNER, Klaus. European Consumer
Law. p. 177, Intersentia: Cambridge, 2014 .

84 Em, 1999 inlcuiu-se nas Diretrizes das Nações Unidas para a Proteção do Consumidor
um capítulo novo, a letra G sobre "Promoção de modalidades sustentáveis de consumo"
que inicia afirmando (n. 42) que "Consumo sutentável compreende satisfazer as
necessidades de bens e serviços das gerações presentes e futuras sejam satisfeitas de
modo tal que possam sustentar-se desde o ponto de vista econômico, social e
ambiental".

85 Veja o relato desta iniciativa e da pesquisa realizada em 58 países pela Consumers


International, disponível em:
[http://cuts-international.org/cart/pdf/Report-Global_Meeting_on_Revision_of_United_Nations_Guidelin

86 Veja a evolução deste projeto junto à UNCTAD, no setor de direito e política da


concorrência, disponível em:
[http://unctad.org/en/Pages/DITC/CompetitionLaw/UN-Guidelines-on-Consumer-Protection.aspx].

87 UNCTAD, Informe sobre as modalidades para a revisão das Diretrizes das Nações
Unidas para Proteção ao Consumidor, Reunião Preparatória para a VII Conferência de
Revisão para Proteção ao Consumidor Genebra, Janeiro de 2015.

88 No original: "III. General principals (...) 5. The legitimate needs which the Guidelines
are intended to meet are the following: (a) Access by consumers to essential goods and
services; (b) The protection of vulnerable and disadvantaged consumers;(...) (i) A level
of protection for consumers using electronic commerce that is not less than that afforded
in other forms of commerce;(k) The protection of consumer privacy and the global free
flow of information; (...)"

89 O novo texto é: "15. Member States should work towards ensuring that consumer
protection enforcement agencies have the necessary human and financial resources to
promote effective compliance and to obtain or facilitate redress for consumers in
appropriate cases".

90 A regra nova é: "14. Member States should work towards establishing consumer
protection policies that encourage: (a) good business practices; (b) clear and timely
information to enable consumers to contact businesses easily, and to enable regulatory
and law enforcement authorities to identify and locate them. This may include
information such as the identity of the business,its legal name and the name under
which it trades, its principal geographic address, website and e-mail address or other
means of contact, its telephone number and its government registration or license
numbers; (c) clear and timely information regarding the goods or services offered by
businesses and the terms and conditions of the relevant transaction; (d) clear and
concise contract terms that are not unfair; (e) a transparent process for the
confirmation, cancellation, return and refund of transactions; (f)secure payment
mechanisms; (g) fair, affordable and speedy dispute resolution and redress;
(h)consumer privacy and data security; and (i) consumer and business education."

91 Veja os princípios de boas práticas no consumo online e offline: "11. The principles
that establish benchmarks for good business practice for conducting online and off-line
commercial activities with consumers are as follows: (a) Fair and equitable treatment-
Businesses should deal fairly and honestly with consumers at all stages of their
relationship, so that it is an integral part of the business culture. Businesses should avoid
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25 anos de Código de Defesa do Consumidor e as
sugestões traçadas pela Revisão de 2015 das Diretrizes
da ONU de proteção dos consumidores para a
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practices that harm consumers, particularly with respect to vulnerable and


disadvantaged consumers.(b) Commercial Behaviour - Businesses should not subject
consumers to illegal, unethical, discriminatory, or deceptive practices, such as abusive
marketing tactics, abusive debt collection, or other improper behaviour that may pose
unnecessary risks or harm consumers. Businesses and their authorized agents should
have due regard for the interests of consumers and responsibility for upholding
consumer protection as objectives".

92 Veja Art. 11: "(c) Disclosure and transparency- Businesses should provide complete,
accurate and not misleading information regarding the goods and services, terms,
conditions, applicable fees and final costs to enable consumers to take informed
decisions. Business should ensure easy access to this information, especially to the key
terms and conditions, regardless of the means of technology used".

93 A regra principal é a do n. 66: "J. Financial Services - 66. Member States should
establish or encourage, as appropriate: (a) financial consumer protection regulatory and
enforcement policies; (b) oversight bodies with the necessary authority and resources to
carry out their mission; (c) appropriate controls and insurance mechanisms to protect
consumer assets, including deposits; (d) improved financial education strategies that
promote financial literacy; (e) fair treatment and proper disclosure, ensuring that
financial institutions are also responsible and accountable for the actions of their
authorized agents. Financial services providers should have a written policy on conflict of
interest, to help detect potential conflicts of interest. When the possibility of a conflict of
interest arises between the provider and a third party, this should be disclosed to the
consumer to ensure that potential consumer detriment generated by conflict of interest
be avoided; (f) responsible business conduct by financial services providers and
authorized agents, including responsible lending and the sale of products that are
suitable to the consumer's needs and means; (g) appropriate controls to protect
consumer financial data, including from fraud and abuse; and (h) a regulatory
framework that promotes cost efficiency and transparency for remittances, such that
consumers are provided with clear information on the price and delivery of the funds to
be transferred, exchange rates, all fees and any other costs associated with the money
transfers offered, as well as remedies if transfers fail".

94 A interessante regra é a seguinte: "Art. 11(...) (d) Education and awareness raising -
Businesses should, as appropriate, develop programs and mechanisms to assist
consumers to develop the knowledge and skills necessary to understand risks, including
financial risks, to take informed decisions, and to access assistance and competent and
professional advice when needed."

95 A regra planejada em julho de 2015 era a seguinte: "40. Member States should
ensure that collective resolution procedures are expeditious, transparent, fair,
inexpensive and accessible to both consumers and businesses, including those pertaining
to over-indebtedness and bankruptcy cases".

96 A regra enviada no PLS 283/2012 para a Câmara é: "Art. 54-A. Este Capítulo tem a
finalidade de prevenir o superendividamento da pessoa natural e de dispor sobre o
crédito responsável e sobre a educação financeira do consumidor".

97 BERTONCELLO, Karen, Superendividamento do Consumidor - Mínimo Existencial -


Casos Concretos. p. 17 e ss., São Paulo: Ed. RT, 2015.

98 LIMA, Clarissa Costa de. O Tratamento do superendividamento e o direito de


recomeçar dos consumidores. São Paulo: Ed. RT, 2014, veja meu prefácio, p. 17 e ss.

99 Veja que se trata da maioria de consumidores com vulnerabilidade agravada, veja


MARQUES, Claudia Lima. Mulheres, Idosos e o Superendividamento dos Consumidores:
cinco anos de dados empíricos do Projeto-Piloto em Porto Alegre. Revista de Direito do
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25 anos de Código de Defesa do Consumidor e as
sugestões traçadas pela Revisão de 2015 das Diretrizes
da ONU de proteção dos consumidores para a
atualização

consumidor, v. 100, p. 393-423, p. 393 e ss., jul.-ago. 2015.

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