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Navegar é Preciso
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Navegar é Preciso

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Publicada pela Mafra Editions, uma casa editorial sediada na cidade de Joinville (SC), a obra poética 'Navegar É Preciso' nos faz navegar em um mar de pensamentos que revelam todo o talento e inspiração de Fernando Pessoa, um autor consagrado da Língua Portuguesa. Fernando António Nogueira Pessoa, nascido em 13 de junho de 1888, Lisboa, Porto, e falecido em 30 de novembro de 1935, Lisboa, foi um dos maiores poetas portugueses, cuja obra modernista deu à literatura portuguesa significado europeu. Aos sete anos Pessoa viveu em Durban, onde o seu padrasto foi cônsul de Portugal. Ele se tornou um leitor e escritor fluente de inglês. Na esperança de se tornar um grande poeta nessa língua, Pessoa escreveu os primeiros versos em inglês. A fama chegou a Pessoa postumamente, quando seus poemas extraordinariamente criativos atraíram a atenção em Portugal e no Brasil na década de 1940. Sua obra é notável pela inovação do que Pessoa chamou de heterônimos, ou personas alternativas. Em vez de alteregos, identidades alternativas que servem como contrapartes ou defesas para as próprias ideias de um autor, os heterônimos de Pessoa foram apresentados como autores distintos, cada um dos quais diferia dos outros em termos de estilo poético, estético, filosofia, personalidade e até mesmo gênero e idioma, pois Pessoa escreveu em português, inglês e francês. Sob os seus nomes publicaram-se não só poemas, mas também críticas à poesia de alguns dos outros, ensaios sobre o estado da literatura portuguesa e escritos filosóficos.Embora também tenha publicado poemas com o seu próprio nome, Pessoa empregou mais de 70 heterônimos, alguns dos quais só foram descobertos no início do século XXI. Quatro heterônimos particulares se destacam. Três foram “mestres” da poética moderna e participaram de um diálogo vivo por meio de publicações em revistas críticas sobre a obra uns dos outros: Alberto Caeiro, cujos poemas celebram o processo criativo da natureza; Álvaro de Campos, cuja obra se assemelha tanto em estilo quanto em substância à obra do poeta americano Walt Whitman; e Ricardo Reis, um classicista grego e romano preocupado com o destino. Outro heterônimo, Bernardo Soares, foi o conceituado autor do Livro do desassossego, uma obra em forma de diário de fragmentos poéticos que Pessoa trabalhou nas duas últimas décadas de sua vida e que ficou inacabada com sua morte. Foram publicados juntos pela primeira vez em 1982 e atraiu a atenção mundial; uma tradução completa em inglês apareceu em 2001.
LanguagePortuguês
PublisherBibliomundi
Release dateSep 2, 2022
ISBN9781526067364
Navegar é Preciso
Author

Fernando Pessoa

Fernando Pessoa, one of the founders of modernism, was born in Lisbon in 1888. He grew up in Durban, South Africa, where his stepfather was Portuguese consul. He returned to Lisbon in 1905 and worked as a clerk in an import-export company until his death in 1935. Most of Pessoa's writing was not published during his lifetime; The Book of Disquiet first came out in Portugal in 1982. Since its first publication, it has been hailed as a classic.

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    Navegar é Preciso - Fernando Pessoa

    Navegar é Preciso

    Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa:

    Navegar é preciso; viver não é preciso.

    Quero para mim o espírito [d]esta frase

    transformada a forma para a casar como eu sou:

    Viver não é necessário; o que é necessário é criar.

    Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso.

    Só quero torná-la grande,

    ainda que para isso tenha de ser o meu corpo e a (minha alma) a lenha desse fogo.

    Só quero torná-la de toda a humanidade;

    ainda que para isso tenha de a perder como minha. Cada vez mais assim penso.

    Cada vez mais ponho da essência anímica do meu sangue o propósito impessoal de engrandecer a pátria e contribuir para a evolução da humanidade.

    É a forma que em mim tomou o misticismo da nossa Raça.

    [Nota de SF

    Navigare necesse; vivere non est necesse - latim, frase de Pompeu, general romano, 106-48 aC., dita aos marinheiros, amedrontados, que recusavam viajar durante a guerra, cf. Plutarco, in Vida de Pompeu]

    Tudo quanto penso

    Tudo quanto penso, Tudo quanto sou

    É um deserto imenso Onde nem eu estou.

    Extensão parada Sem nada a estar ali, Areia peneirada

    Vou dar-lhe a ferroada Da vida que vivi.

    Vendaval

    Ó vento do norte, tão fundo e tão frio,

    Não achas, soprando por tanta solidão,

    Deserto, penhasco, coval mais vazio

    Que o meu coração!

    Indômita praia, que a raiva do oceano

    Faz louco lugar, caverna sem fim,

    Não são tão deixados do alegre e do humano

    Como a alma que há em mim!

    Mas dura planície, praia atra em fereza,

    Só têm a tristeza que a gente lhes vê

    E nisto que em mim é vácuo e tristeza

    É o visto o que vê.

    Ah, mágoa de ter consciência da vida!

    Tu, vento do norte, teimoso, iracundo,

    Que rasgas os robles — teu pulso divida

    Minh'alma do mundo!

    Ah, se, como levas as folhas e a areia,

    A alma que tenho pudesses levar –

    Fosse pr'onde fosse, pra longe da idéia

    De eu ter que pensar!

    Abismo da noite, da chuva, do vento,

    Mar torvo do caos que parece volver -

    Porque é que não entras no meu penssamento

    Para ele morrer?

    Horror de ser sempre com vida a consciência! Horror de sentir a alma sempre a pensar!

    Arranca-me, é vento; do chão da existência,

    De ser um lugar!

    E, pela alta noite que fazes mais'scura,

    Pelo caos furioso que crias no mundo,

    Dissolve em areia esta minha amargura,

    Meu tédio profundo.

    E contra as vidraças dos que há que têm lares, Telhados daqueles que têm razão,

    Atira, já pária desfeito dos ares,

    O meu coração!

    Meu coração triste, meu coração ermo,

    Tornado a substância dispersa e negada

    Do vento sem forma, da noite sem termo,

    Do abismo e do nada!

    Não sei quantas almas tenho

    Não sei quantas almas tenho.

    Cada momento mudei.

    Continuamente me estranho.

    Nunca me vi nem acabei.

    De tanto ser, só tenho alma.

    Quem tem alma não tem calma.

    Quem vê é só o que vê,

    Quem sente não é quem é,

    Atento ao que sou e vejo,

    Torno-me eles e não eu.

    Cada meu

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