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Notas de EDP2
(versão 1.2)
por
Marcelo Furtado
Brasília
2012
Sumário
Prefácio 1
Notações 2
Introdução 3
1 Funções harmônicas 8
1.1 A propriedade da média . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
1.2 Regularidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
1.3 O Princípio do Máximo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
1.4 Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
2 O problema de Poisson 20
2.1 A solução fundamental e o Potencial Newtoniano . . . . . . . . . . . . . . 20
2.2 O Método de Perron e a solução do problema de Poisson . . . . . . . . . . 27
2.3 A função de Green . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
2.4 Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
4 Espaços de Sobolev 66
4.1 Derivadas Fracas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
4.2 Espaços de Sobolev . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
4.3 Aproximação por funções suaves . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
4.4 Imersões dos espaços W k,p . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81
4.4.1 O caso p < n . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81
4.4.2 O caso p ≥ n . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91
4.5 Imersões compactas de W k,p . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97
ii
4.6 Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 101
Bibliografia 133
Este trabalho teve como origem as notas de aula de um curso de Equações Diferenciais
Parcias 2 ministrado no primeiro semestre de 2007. O texto está baseado fundamental-
mente nos livros de deFigueiredo [5], Evans [4], Gilbarg-Trudinger [6] e Ponce [11]. Os
assuntos aqui tratados estão relacionados somente com equações elípticas de segunda or-
dem. Os exercícis ao final de cada capítulo foram retirados também de algumas listas
de exercícios encontradas na Internet. Alguns são resultados clássicos que vêm acompa-
nhado de referências com o intuito de não tornar o texto muito extenso. Acreditamos que
o material aqui apresentado pode ser coberto em um curso de 60 horas.
A existência dessas notas não teria sido possível sem a ajuda dos alunos no traba-
lho de digitação, de modo que nos coube somente uma porção menor de digitação e a
revisão/homogenização do texto. Sendo assim, não poderíamos deixar de registrar aqui
nosso agradecimento a todos que ajudaram na tarefa de digitação, quais sejam: Adriana
Flores, Anyelle Nogueira, Janete Carvalho, Jefferson Abrantes, Laura Lobato, Manuela
Rezende, Mariana Reis, Maxwell Lizete, Miguel Cezana, Nilton Barroso, Pablo Pinheiro,
Ricardo Ruviaro. Agradecemos ainda Walter Batista e Gilberto Vieira que forneceram as
anotações manuscritas das aulas.
Como é comum nesse tipo de material, o texto está ainda incompleto. Pre-
tendemos incluir várias aplicações que terão origem em seminários de cursos
posteriores. Algumas dessas aplicações estão digitadas mais não foram ainda
revisadas, de modo que preferimos não incluí-las nesse primeira versão. Desde
já peço desculpas àqueles que digitaram algum seminário e ainda não o en-
contraram nessa versão das notas.
Tendo em vista o cárater dinâmico que gostaríamos de dar a essas notas convido a todos
que tenham sugestões/correções que as envie para o endereço eletrônico mfurtado@unb.br.
Lu = f em Ω,
ou n n
X X
ij
Lu = − (a (x)uxi )xj + bi (x)uxi + c(x)u,
i,j=1 i=1
j
X
−∆u = − ux i x i = f em Ω.
i=1
∆u = 0 em Ω.
div E = 4πρ em Ω,
∆u(x, y) = 0, (x, y) ∈ Ω,
1. existência de solução;
2. unicidade da solução;
Nos casos em que houver existência de solução vamos ainda estabelecer algumas proprie-
dades qualitativas dessas soluções.
A fim de estabelecer de uma maneira mais clara alguns problemas a serem estudados
vamos no que segue fixar algumas notações.
Dado um aberto Ω ⊂ Rn denotamos o conjunto das funções reais contínuas definidas
em Ω por
C(Ω) := {u : Ω → R : u é contínua em Ω}.
Estabelecendo algum tipo de ordem para as derivadas mistas acima, Dk u(x) pode ser
k
visto como um vetor de Rn . Casos particulares importantes são aqueles em que k = 1,
e
\
C ∞ (Ω) := C k (Ω).
k∈N∪{0}
Não é difícil mostrar que, com as definições usuais de soma entre funções e multiplicação
de uma função por um número real, os conjuntos C k (Ω), C ∞ (Ω) e C k (Ω) são espaços
vetoriais reais.
Utilizando as notações introduzidas acima podemos reformular alguns dos problemas
mencionados anteriormente como segue.
Vamos introduzir um outro problema que será também de nosso interesse fazendo
algumas modificações na condição de fronteira. Para isso, vamos supor que a fronteira
∂Ω é suave, em um sentido que ficará claro mais tarde, e denotar por η = η(x) o vetor
normal exterior a Ω no ponto x ∈ ∂Ω. Se u ∈ C(Ω) e x ∈ ∂Ω a derivada normal de u no
ponto x, quando existe, será denotada por
∂u
(x) := ∇u(x) · η(x).
∂η
Estamos prontos para apresentar o outro modelo básico de problema a ser tratado
nessas notas.
1
Funções harmônicas
Teorema 1.2. Uma função u ∈ C 2 (Ω) é harmônica em Ω se, e somente se, para toda
bola Br (x0 ) ⊂ Ω valem as seguintes igualdades
Z
1
u(x0 ) = u(x) dSx (1.1)
nωn rn−1 ∂Br (x0 )
e Z
1
u(x0 ) = u(x) dx. (1.2)
ωn rn Br (x0 )
Dizemos que uma função u ∈ C(Ω) satisfaz a propriedade da média se ela verifica as
equações (1.1) e (1.2) acima para todo bola Br (x0 ) ⊂⊂ Ω. Na verdade as duas equações
são equivalentes. De fato, suponha que u ∈ C(Ω) satisfaz (1.1). Então, para todo
0 < s ≤ r, temos que Z
n−1 1
u(x0 )ns = u(x) dSx .
ωn ∂Bs (x0 )
Integrando com relação à variável s, obtemos
Z r
n
r u(x0 ) = u(x0 )nsn−1 ds
0
Z r Z
1
= u(x) dSx ds
ωn 0 ∂Bs (x0 )
Z
1
= u(x) dx,
ωn Br (x0 )
onde η(x) é o vetor normal exterior no ponto x ∈ ∂Ω. A expressão acima tem uma
série de consequências importante que serão largamente utilizadas nessas notas e cuja
apresentação e demonstração pode ser encontrada no Exercício 1.2.
Estamos prontos para provar o nosso primeiro teorema.
Demonstração do Teorema 1.2. Seja u ∈ C 2 (Ω), x0 ∈ Ω e r > 0 tal que Br (x0 ) ⊂ Ω.
Defina, para 0 < s ≤ r, a função
Z
1
ϕ(s) := u(x)dSx ,
nωn sn−1 ∂Bs (x0 )
em que usamos também o fato de que o vetor normal exterior no ponto x ∈ ∂Bs (x0 ) é
exatamente (x− x0 )/s. A expressão acima e o Teorema da Divergência aplicado ao campo
F = ∇u implicam que
Z Z
′ 1 1
ϕ (s) = div(∇u(x)) dx = ∆u(x) dx. (1.3)
nωn sn−1 Bs (x0 ) nωn sn−1 Bs (x0 )
Vamos agora provar o teorema. Suponha inicialmente que u é harmônica. Nesse caso,
a igualdade acima implica que ϕ′ (s) = 0 para todo s ∈ (0, r), isto é, ϕ é constante em
= lim ϕ(s)
s→0+
Z
1
= lim+ u(x) dSx
s→0 nωn sn−1 ∂Bs (x0 )
= u(x0 ),
em que usamos na última igualdade o fato da função u ser contínua. Isso prova a veraci-
dade de (1.1) e, equivalentemente, de (1.2).
A recíproca pode ser provada da seguinte maneira. Suponha, por contradição, que
u satisfaz a propriedade da média mas não é harmônica. Então existe x0 ∈ Ω tal que
∆u(x0 ) 6= 0, digamos ∆u(x0 ) > 0. Como u ∈ C 2 (Ω) o laplaciano de u é uma função
contínua. Logo, existe r > 0 tal que Br (x0 ) ⊂⊂ Ω e ∆u > 0 em Br (x0 ). Como a equação
(1.1) se verifica temos que ϕ é constante em (0, r). Por outro lado, segue de (1.3) que
Z
′ 1
0 = ϕ (s) = ∆u(x) dx > 0,
nωn sn−1 Bs (x0 )
o que é absurdo.
1.2 Regularidade
A primeira propriedade interessante que veremos está relacionada com a regularidade
das funções harmônicas. Lembremos que, por definição, as funções harmônicas que tra-
tamos aqui tem pelo menos todas as derivadas de ordem 2 contínuas. Contudo, vale o
seguinte resultado de regulariade.
(i) ηε ∈ C ∞ (Rn ) ;
R
(ii) Rn
ηε (x)dx = 1 ;
ηε (x + hei − y) − ηε (x − y) ∂ηε
lim = (x − y)
h→0 h ∂xi
∂f ε f ε (x + hei ) − f ε (x)
(x) = lim
∂xi h→0 h
Z
ηε (x + hei − y) − ηε (x − y)
= lim f (y) dy,
h→0 Ω e h
Z
∂ηε
= (x − y)f (y) dy
e ∂xi
Ω
Z
∂ηε ∂ηε
= (x − y)f (y) dy = ∗ f (x).
Rn ∂xi ∂xi
Desse modo,
u(x)
Z ε r Z
ε
u (x) = η 1 dSy dr
εn 0 ε ∂Br (x)
Z Z ε
|x − y| 1
= u(x) dSy dr η
0 ∂Br (x) ε εn
Z ε Z
= u(x) ηε (x − y)dSy dr
0 ∂Br (x)
Z
= u(x) ηε (x − y) dy
Bε (x)
u(t) = c1 + c2 t,
Demonstração. Como o item (i) segue facilmente de (ii) (cf. Exercício 1.8), vamos
somente provar o segundo item. Seja então x0 ∈ Ω tal que M := maxΩ u = u(x0 ), e
considere o conjunto
ΩM := {x ∈ Ω : u(x) = M }.
Como x0 ∈ ΩM temos que ΩM 6= ∅. Além disso, como u é contínua e ΩM = u−1 ({M }),
o conjunto ΩM é fechado em Ω. Vamos mostrar que ΩM é aberto em Ω. Feito isso, segue
da conexidade de Ω que ΩM = Ω e portanto u é constante em Ω.
Seja y ∈ ΩM um ponto qualquer e r > 0 tal que Br (y) ⊂⊂ Ω. Então
Z Z
1 1
M = u(y) = u(x) dx ≤ M dx = M,
ωn rn Br (y) ωn rn Br (y)
Uma aplicação interessante do Teorema 1.5 está relacionada com a unicidade de solução
do problema de Poisson (
∆u = f em Ω,
u = g em ∂Ω.
Suponha que Ω é limitado e que u1 e u2 são duas soluções do problema acima. Então a
função v := u1 − u2 é tal que
(
∆v = 0 em Ω,
v = 0 em ∂Ω.
Pelo item (i) do teorema acima temos que v ≤ 0 em Ω. Por outro lado, aplicando o
mesmo raciocínio para a função −v concluímos que v ≥ 0 em Ω. Logo v se anula em todo
o conjunto Ω, isto é, as funções u1 e u2 coincidem em Ω. Logo, vale o seguinte resultado.
É importante salientar que a conclusão do teorema acima pode ser falsa se Ω não for
limitado. De fato, basta considerar Ω = {x = (x1 , x2 , . . . , xn ) ∈ Rn : xn > 0} e observar
que, nesse caso, o problema
∆u = 0 em Ω, u = 0 em ∂Ω
1.4 Exercícios
Atenção: Nos exercícios abaixo, a menos que se diga o contrário, Ω ⊂ Rn é um aberto
limitado com fronteira suave.
1.2. Seja Ω ⊂ Rn um domínio onde vale o Teorema da Divergência, η(x) = (η 1 (x), . . . , η n (x))
o vetor unitário normal exterior em um ponto x ∈ ∂Ω e u, v ∈ C 2 (Ω). Prove as igualdades
abaixo.
Z Z
(a) uxi dx = uη i dSx
Ω ∂Ω
Z Z Z
(b) uxi v dx = − uvxi dx + uvη i dSx
Ω Ω ∂Ω
Z Z
∂u
(c) ∆u dx = dSx
Ω ∂Ω ∂η
Z Z Z
∂v
(d) ∇u · ∇v dx = − u∆v dx + dSx u
Ω Ω ∂Ω ∂η
Z Z
∂v ∂u
(e) (u∆v − v∆u) dx = u −v dSx
Ω ∂Ω ∂η ∂η
1.3. Modifique a prova do Teorema 1.2 para mostrar que
Z Z
1 1 1 1
u(0) = g(x) dSx + − n−2 f (x) dx,
nωn rn−1 ∂Br (0) n(n − 2)ωn Br (0) |x| n−2 r
n
|uxi (x0 )| ≤ max |u(x)|,
d x0 x∈∂Bdx (x0 )
0
max u ≤ C inf u.
Ω0 Ω0
−∆u ≤ 0 em Ω.
max u = max u.
Ω ∂Ω
−∆u ≥ 0 em Ω.
Enuncie e prove resultados análogos aos dos dois exercícios acima para funções superharmô-
nicas.
1.13. Se φ ∈ C 2 (R) é convexa e u ∈ C 2 (Ω) é harmônica, então a função v definida por
v(x) = φ(u(x)) é subharmônica.
1.14. Se u é harmônica então a função v definida por v(x) = |∇u(x)|2 é subharmônica.
1.15. Sejam B := B1 (0) ⊂ Rn , f ∈ C(B), g : ∂B → R contínua,
onde g : ∂Ω → [0, ∞) é tal que g(x0 ) > 0 para algum x0 ∈ ∂Ω, então u(x) > 0 para todo
x ∈ Ω.
2
O problema de Poisson
∆u = f em Ω, u = 0 em ∂Ω, (2.1)
e
∆u = 0 em Ω, u = g em ∂Ω, (2.2)
∆u = 0 em Rn .
Observe que, se u ∈ C 2 (Rn ) satisfaz a equação acima e A = An×n é uma matriz ortogonal,
então a função v(x) := u(Ax) também satisfaz a equação acima (cf. Exercício 2.1). Desse
modo, vamos tentar simplificar o problema procurando uma solução radial da equação,
isto é, uma solução que é constante ao longo de esferas centrada na origem.
Supondo então que u é uma solução radial, vamos denotar por v : [0, ∞) → R a função
que satisfaz
v(r) = u(x), r = |x|.
1 −1/2 xi xi
rx i = |x|2 2xi = = .
2 |x| r
Logo
x 1 1 xi xi 1 x2
i
rx i x i = = + xi (−1)r−2 rxi = − 2 = − 3i .
r xi r r r r r r
Portanto n n
X X
∆u = ux i x i = v ′′ (r)rx2i + v ′ (r)rxi xi
i i=1
n
X n
X
x2 1 x2i
= v ′′ (r) 2i + ′
v (r) − 3 ,
i=1
r i=1
r r
ou ainda
′′ ′ n 1
∆u = v (r) + v (r) − .
r r
Logo a equação −∆u = 0 em Rn \ {0} é equivalente a
′′ ′ n−1
v (r) + v (r) = 0, r > 0.
r
Como a equação possui uma singularidade na origem, vamos buscar soluções definidas em
(0, ∞).
Supondo v ′ (r) 6= 0 podemos reescrever a equação acima na forma
v ′′ (r) 1−n
(ln v ′ (r))′ = ′
=
v (r) r
ln v ′ (r) = (1 − n) ln r + c1 = ln r1−n + c1 ,
ou ainda
v ′ (r) = c2 r1−n ,
para constantes c3 , c4 ∈ R.
Vamos agora definir a solução fundamental do Laplaciano por
1
ln |x|, se n = 2,
2π
Γ(x) :=
1
|x|2−n , se n ≥ 3.
n(2 − n)ωn
x 7→ Γ(x − y 1 )f (y 1 ) + · · · + Γ(x − y k )f (y k )
é harmônica em Rn \ {y 1 , . . . , y k }.
Suponha que f é tal que podemos fazer a soma acima sobre todos os pontos de Rn ,
isto é, a função ωf : Rn → R dada por
Z
ωf (x) := (Γ ∗ f )(x) = Γ(x − y)f (y) dy,
Rn
está bem definida. Nesse caso, a função acima é denominada Potencial Newtoniano gerado
por f e uma questão importante é estudar o que acontece com o seu laplaciano. Quando
f é razoavelmente regular a (interessante) resposta é dada pelo lema abaixo.
Lema 2.1. Suponha que f ∈ C 2 (Rn ) tem suporte compacto. Então o Potencial Newtoni-
ano gerado por f Z
ωf (x) = Γ(x − y)f (y) dy
Rn
∂f
Para cada y ∈ Rn o termo entre parêntesis na integral acima converge para ∂x i
(x − y)
quando h → 0. Além disso, como f tem suporte compacto, a integral ocorre efetivamente
sobre um conjunto compacto. Logo, como Γ é localmente integrável, o Teorema da Con-
vergência Dominada de Lebesgue nos permite passar a igualdade acima ao limite para
concluir que Z
∂ωf ∂f ∂f
(x) = Γ(y) (x − y) dy = Γ ∗ (x).
∂xi Rn ∂xi ∂xi
De maneira completamente análoga mostra-se que, se α é um multi-índice qualquer
de ordem menor ou igual a 2, então
Dα ωf = (Γ ∗ Dα f ) ,
com Z Z
Aε := Γ(y)∆f (x − y) dy, Cε := Γ(y)∆f (x − y) dy.
Bε (0) Rn \Bε (0)
Como f ∈ C 2 (Rn ) tem suporte compacto, podemos usar a definição de Γ para estimar o
primeiro termo acima como segue
ε2 (1 − 2 ln ε)
Z
k∆f k∞ , se n = 2,
4
|Aε | ≤ k∆f k∞ |Γ(y)| dy = (2.4)
ε2
Bε (0) k∆f k∞ , se n ≥ 3.
2(n − 2)
com Z
∂f
Dε := Γ(y) (x − y) dSy
∂(Rn \Bε (0)) ∂η
e Z
Eε := − ∇Γ(y) · ∇f (x − y) dy.
Rn \Bε (0)
e portanto limε→0+ Dε = 0. Com relação ao termo Eε , usando uma vez mais o Exercício
1.2(d), obtemos
Z Z
∂Γ
Eε = f (x − y)∆Γ(y) dy − f (x − y) (y) dSy .
Rn \Bε (0) ∂(Rn \Bε (0)) ∂η
y
∇Γ(y) = , (2.6)
nωn |y|n
e portanto Z
y y
Eε = f (x − y) · dSy
∂(Rn \Bε (0)) nωn |y|n |y|
Z
1
= f (x − y) dSy
nωn εn−1 ∂Bε (0)
Z
1
= f (z) dSz ,
nωn εn−1 ∂Bε (x)
O resultado acima pode ser provado com uma exigência muito menor de regularidade
para a função f . Para formular precisamente esse novo resultado, precisamos introduzir
um novo espaço de funções para tratar o problema.
Lembremos que um espaço vetorial normado (E, k·kE ) é um espaço de Banach quando
ele é completo com relação à topologia induzida pela norma. Isso significa dizer que todas
sequência (uk ) ⊂ E de Cauchy converge para algum elemento de E.
Se Ω ⊂ Rn é um aberto limitado, pode-se facilmente mostrar que C(Ω), munido com
a norma
kuk0 := max |u(x)|, ∀ u ∈ C(Ω),
x∈Ω
é um espaço de Banach. De uma maneira mais geral, para k ∈ N ∪ {0}, o conjunto C k (Ω)
munido da norma
X
kukk := kDα uk0 , ∀ u ∈ C k (Ω)
|α|≤k
é um espaço de Banach.
No que segue vamos introduzir um novo espaço que é, em um certo sentido, o espaço
correto para trabalharmos com o problema de Poisson.
Definição 2.2. Dado 0 < γ ≤ 1 e uma função u ∈ C(Ω), dizemos que u é Hölder
contínua com expoente γ se existe uma constante c > 0 tal que
|u(x) − u(y)|
Hγ [u] := sup < ∞.
x,y∈Ω, x6=y |x − y|γ
Definição 2.3. Seja k ∈ N ∪ {0} e 0 < γ ≤ 1. O espaço de Hölder C k,γ (Ω) é definido
por
C k,γ (Ω) := {u ∈ C k (Ω) : Hγ [Dα u] < ∞ para todo multi-índice |α| ≤ k}.
Definimos ainda
Pode-se mostrar que C k,γ (Ω) é um espaço de Banach quando munido da norma (cf.
Exercício 2.3)
X
kukk,γ := kukk + Hγ [Dα u], ∀ u ∈ C k,γ (Ω).
|α≤k
Vale observar que, se f for somente contínua, então ωf pode não ser de classe C 2 em
Ω. Um exemplo é apresentando Exercício 2.4.
A demonstração da proposição acima segue as mesmas linhas daquela feita para o
Lema 2.1. Contudo, são necessárias algumas adaptações para contornar o fato de não
existirem as derivadas da função f . O leitor interessado pode encontrar essa prova em [6,
Lemma 4.2] (veja também [5, Corolário 1.2] ou [11, Teorema 1.1]).
∆v = 0 em Ω, v = g − ωf em ∂Ω,
∆u = ∆v + ∆ωf = f em Ω, u = g − ωf + ωf = g em ∂Ω,
Pode-se mostrar que, apesar de g ser uma função regular, o problema de Dirichlet não
possui solução clássica para essa escolha de Ω e g (cf. Exercício 2.5).
O exemplo acima mostra que a solubilidade do problema (D) não depende somente da
regularidade do dado de fronteira g mas, como veremos adiante, também da geometria do
domínio Ω. A fim de entender melhor essa última frase, vamos introduzir alguns conceitos
sobre regularidade de conjuntos do espaço euclidiano.
Note que, em particular, o aberto Ω ⊂ Rn é de classe C k se, e somente se, cada ponto
da sua fronteira possui uma vizinhança cuja intersecção com ∂Ω é gráfico de uma função
de n − 1 das coordenadas x1 , . . . , xn , com essa função sendo de classe C k .
O problema de Dirichlet pode ser resolvido por vários métodos, cada qual com uma
hipótese de regularidade sobre g e ∂Ω. Entre todos os métodos, o que parece fornecer
solução clássica com hipóteses mais fracas é o método das funções subharmônicas, ou
Método de Perron. Ele fornece solução u ∈ C 2 (Ω) ∩ C(Ω) para funções g contínuas e
domínios Ω de classe C 2 (cf. [6, Teorema 2.14]). Na verdade, uma condição mais fraca é
suficiente: basta que Ω satisfaça a condição da esfera exterior , isto é, para cada x0 ∈ ∂Ω
exista uma bola Br (y) ⊂ Rn tal que Ω ∩ Br (y) = {x0 }.
Enunciamos abaixo uma versão desse resultado onde, para simplificar o enunciado,
vamos supor que o conjunto Ω é de classe C 2 . A demonstração requer a introdução de
alguns conceitos novos e será apresentada mais adiante.
e portanto o problema possui pelo menos uma solução em C 2 (Ω) ∩ C(Ω). A unicidade
segue facilmente do Princípio do Máximo (cf. Teorema 1.7).
e portanto o problema possui pelo menos uma solução em C 2,γ (Ω). Como antes, a unici-
dade segue do Princípio do Máximo.
possui uma solução u ∈ C 2 (Ω) e tentar obter uma expressão explícita para tal solução.
Fixado um ponto x ∈ Ω, seja ε > 0 pequeno e defina
Λε := Ω \ Bε (x).
em que
Z Z
∂Γ ∂u
Cε := u(y) (x − y) dSy , Dε := − Γ(x − y) (y) dSy .
∂Bε (x) ∂η ∂Bε (x) ∂η
Escrevendo G(x, y) = Γ(x − y) + hx (y) e somando a equação acima com (2.9), segue que
Z Z
∂G ∂u
u(x) = G∆u dy + u −G dSy .
Ω ∂Ω ∂η ∂η
O teorema acima nos permite resolver o problema (2.11) desde que exista, e saibamos
calcular, a função de Green. De fato, nesse caso basta definir u como acima e mostrar que
u ∈ C 2 (Ω) ∩ C(Ω) satisfaz as equações do problema. A dificuldade em tal procedimento
reside no fato de que calcular a função de Green não é, em geral, uma tarefa fácil. Isso
pode ser feito quando Ω possui algum tipo de simetria. Um caso particular importante é
o da bola, onde vale a fórmula de Poisson , dada pelo seguinte resultado (cf. [6, Teorema
2.6] ou [4, Teorema 15, Seção 2.2]).
Teorema 2.12. Seja r > 0 e g : Br (0) ⊂ Rn → R uma função contínua. Então a função
2 Z
r − |x|2 g(y)
dSy , se x ∈ Br (0),
nω r |x − y| n
u(x) = n ∂B r (0)
g(x), se x ∈ ∂Br (0),
O leitor interessado pode encontrar em [4, Seção 2.2.4] algumas propriedades interes-
santes da função de Green, bem como uma fórmula explicíta para essa quando Ω = Rn+ .
Citamos ainda [11, Seção 2.2] onde algumas considerações históricas acerca da função de
Green são apresentadas, bem como um resultado de existência da mesma para algumas
classes de domínios.
2.4 Exercícios
Atenção: Nos exercícios abaixo, a menos que se diga o contrário, Ω ⊂ Rn é um aberto
limitado com fronteira suave.
2.2. Complete os detalhes da prova do Lema 2.1, isto é, prove as igualdades nas equações
(2.4), (2.5) e (2.6).
2.3. Dado k ∈ N ∪ {0} e 0 < γ ≤ 1, verifique que C k,γ (Ω), munido com a norma,
X
kukk,γ = (kDα uk0 + Hγ [Dα u])
|α|≤k
é um espaço de Banach.
2.4. (cf. [11, Exercício 1.4]) Sejam Ω = B1/2 (0) ⊂ R2 , f : Ω → R definida por
2 2
α (x1 − x2 ) | log |x||α−2 (α − 1 + 4 log |x|) se 0 < |x| < 1/2,
f (x) = |x|2
0 se x = 0,
é satisfeita para u = ωf e u = v.
(c) Utilize o item acima e o exercício anterior para concluir que ∆(ωf − v) = 0 em Ω.
(b) Use o resultado e o Princípio do Máximo para verificar a afirmação feita na Obser-
vação 2.5.
2.6. Seja Ω+ = {x ∈ Rn : |x| < 1, xn > 0}. Suponha que u ∈ C 2 (Ω+ ) é harmônica e
u = 0 em ∂Ω+ ∩ {xn = 0}. Defina
(
u(x) se xn ≥ 0
v(x) :=
−u(x1 , . . . , xn−1 , −xn ) se xn < 0,
2.8. Use a fórmula de Poisson (cf. Teorema 2.12) para provar que
r − |x| r + |x|
rn−2 n−1
u(0) ≤ u(x) ≤ rn−2 u(0),
(r + |x|) (r − |x|)n−1
sempre que u é não-negativa e harmônica em Br (0). Conclua que uma função não negativa
e harmônica em Rn tem que ser constante.
2.9. (cf [4, Teorema 13, Seção 2.2]) Suponha que Ω é um domínio para o qual existe a
função de Green. Mostre que, para todo x, y ∈ Ω, x 6= y, valem as seguintes propriedades
3
Operador lineares de 2a ordem
No que segue vamos tentar estender os resultados dos capítulos precedentes para o
operador linear de 2a ordem dado pela expressão abaixo
n
X n
X
ij
Lu := a (x)uxi xj + bi (x)uxi + c(x)u, (3.1)
i,j=1 i=1
X n Xn
1 ij ji
Lu = a (x) + a (x) uxi xj + bi (x)uxi + c(x)u,
i,j=1
2 i=1
Desse modo, tomando ξ = ei como sendo o i-ésimo vetor da base canônica de Rn , obtemos
(i) Se Lu ≥ 0 em Ω, então
max u = max u.
Ω ∂Ω
(ii) Se Lu ≤ 0 em Ω, então
min u = min u.
Ω ∂Ω
positiva definida. Logo existe uma matriz ortogonal C = Cn×n tal que C −1 = C T e
λ1 0 ··· 0
0 λ2 ··· 0
T
CAC = .. ..
...
. . 0
0 0 · · · λn
∇v(x̃) = 0 e D2 v(x̃) ≤ 0,
com a segunda inequação acima significando que a matriz Hessiana de v no ponto x̃ é não
positiva. Se y = (y1 , . . . , yn ) então
n
X
yk = (x0 )k + ckj (xj − x̃j )
j=1
Xn n
∂v ∂yk X
ux i = = vyk cki .
k=1
∂y k ∂xi
k=1
Do mesmo modo n
X
ux i x j = vyk yl cki clj .
k,l=1
Uma vez que D2 v(x̃) ≤ 0, o mesmo raciocínio usado na prova de (3.3) mostra que
vyk yk (x̃) ≤ 0, k = 1, . . . , n. Como os números λ′i s são positivos, concluímos da expressão
acima que
n
X
Lu(x̃) = vyk yk (x̃)λk ≤ 0,
k=1
o que é um absurdo. Logo, se Lu > 0 em Ω, a função u não pode assumir seu máximo
em Ω, isto é, maxΩ u = max∂Ω u.
Consideremos agora o caso geral Lu ≥ 0. Seja γ ∈ R arbitrário e considere
max uε = max uε .
Ω ∂Ω
Mas uε ≥ u, e portanto
Fazendo ε → 0+ concluímos que maxΩ u ≤ max∂Ω u. Uma vez que a desigualdade contrá-
ria é trivialmente satisfeita concluímos que
max u = max u.
Ω ∂Ω
Para provar o item (ii) basta usar o item (i) com a função −u.
Observação 3.3. Nesse momento nos parece importante fazer uma série de observações
a respeito das hipóteses do teorema. Mais especificamente, salientamos que a conclusão
do teorema pode não ser válida em cada uma das situações abaixo:
e a função u(x) = 1 − x4 .
No que segue, vamos considerar uma versão do teorema acima para o caso em que o
termo de ordem zero c(x) é não positivo. Antes porém, lembremos que se u : Ω → R é
uma função qualquer, então a parte positiva u+ e a parte negativa u− da função u são
definidas por
u+ (x) := max{u(x), 0}, u− (x) := max{−u(x), 0},
para x ∈ Ω. Observe que as duas funções acima são não negativas e que, além disso,
valem as seguintes igualdades
|u| = u+ + u− , u = u+ − u− .
(i) Se Lu ≥ 0 em Ω, então
max u ≤ max u+ .
Ω ∂Ω
(ii) Se Lu ≤ 0 em Ω, então
min u ≥ − max u− .
Ω ∂Ω
(iii) Se Lu = 0 em Ω, então
max |u| = max |u|.
Ω ∂Ω
Demonstração. (i) Seja Ω+ := {x ∈ Ω : u(x) > 0}. Se o conjunto Ω+ for vazio não há
nada a fazer pois, nesse caso, u ≤ 0 em Ω e portanto
max u ≤ 0 = max u+ .
Ω ∂Ω
Ku := Lu − c(x)u ≥ 0 em Ω+ .
Note que
n
X n
X
ij
Ku = Lu − c(x)u = a (x)uxi xj + bi (x)uxi
i,j=1 i=1
e que u ∈ C 2 (Ω+ ) ∩ C(Ω+ ). Segue então do Teorema 3.2(i), aplicado ao operador K, que
max u = max
+
u.
Ω+ ∂Ω
e portanto
u(x0 ) = max
+
u = 0 = max u+ .
∂Ω ∂Ω
As considerações acima provam o item (i). O item (ii) segue de (i), bastando para isso
notar que se Lu ≤ 0 então L(−u) ≥ 0. Daí
Segue então que maxΩ |u| ≤ max∂Ω |u|. Como a desigualdade reversa é trivialmente
satisfeita, o teorema está provado.
Como no caso do operador Laplaciano, os princípios de máximos são úteis na obten-
ção de resultados de unicidade de solução, bem como princípios de comparação. Como
exemplo, temos os dois resultados abaixo, cujas provas serão deixadas a carga do leitor.
Nosso objetivo agora é estabelecer uma versão do item (ii) do Teorema 1.5 para o
operador L. Para tanto, vamos necessitar do seguinte resultado auxiliar.
Lema 3.7 (Lema de Hopf). Suponha que B ⊂ Rn é uma bola aberta, L é um operador
uniformemente elíptico em B, u ∈ C 2 (B) e Lu ≥ 0 em B. Suponha ainda que existe
x0 ∈ ∂B tal que u é contínua em x0 e u(x) < u(x0 ) para todo x ∈ B. Então,
∂u
(i) se c ≡ 0 em B e existe a derivada normal ∂η
(x0 ), então
∂u
(x0 ) > 0.
∂η
independente do sinal de Lu. A informação adicional dada pelo lema é que a desigualdade
acima é estrita.
Demonstração do Lema 3.7. Podemos supor, sem perda de generalidade, que u ∈
C(B) e que u(x) < u(x0 ) para todo x ∈ B \ {x0 }. De fato, se não for esse o caso, é
suficiente tomar uma nova bola B ′ ⊂ B que é internamente tangente à B no ponto x0 .
Além disso, conforme veremos posteriormente, podemos também supor que B = Br (0).
Feitas as considerações acima, vamos assumir inicialmente as hipóteses do item (ii) e
considerar, para γ > 0 a ser determinado, a função
2 2
v(x) := e−γ|x| − e−γr , x ∈ B.
2
vxi = −2γxi e−γ|x|
e
4γ 2 xi xj e−γ|x|2 , se i 6= j
v xi xj =
4γ 2 x2 e−γ|x|2 − 2γe−γ|x|2 , se i = j
i
2
= (4γ 2 xi xj − 2γδij )e−γ|x| ,
de modo que
n n
!
X X
−γ|x|2 2
Lv(x) = e 4γ 2 aij (x)xi xj − 2γδij aij (x) − 2γ (bi (x)xi ) + c(x) − c(x)e−γr .
i,j=1 i=1
e n n
X X
ij
δij a (x) ≤ kaij k∞ = c2 ,
i,j=1 i=1
2
Lv(x) ≥ e−γ|x| 4γ 2 θ0 |x|2 − 2γ(c1 + c2 ) − kck∞ .
Desse modo, fazendo c3 := c1 + c2 e denotando Ar := Br (0) \ Br/2 (0) temos que, para
todo x ∈ Ar , vale
2
Lv(x) ≥ e−γ|x| 4γ 2 θ0 (r/2)2 − 2γc3 − kck∞ .
Escolhendo γ > 0 de modo que o termo entre parêntesis acima seja positivo concluímos
que
Lv ≥ 0 em Ar .
Note ainda que a desigualdade acima permanece válida em ∂Br (0) pois, nesse conjunto,
a função v se anula. Desse modo, a função
é tal que
Lw = Lu + εLv − c(x)u(x0 ) ≥ 0, em Ar ,
(3.4)
w ≤ 0, em ∂Ar .
∂u ∂v x
0
(x0 ) ≥ −ε (x0 ) = −ε∇v(x0 ) ·
∂η ∂η r
x
2 0
= −ε −2γx0 e−γ|x0 | ·
r
|x0 |2 −γ|x0 |2
= 2γε e > 0.
r
Isso estabelece a veracidade de (ii) no caso em que a bola B está centrada na origem. Para
2 2
o caso geral em que B = Br (y) basta considerar v(x) = e−γ|x−y| − e−γr para x ∈ Br (y)
e proceder como acima. A prova do item (ii) também pode ser feita repetindo os mesmo
passos acima e será deixada como exercício.
Observação 3.8. Sob as hipóteses do lema, mesmo quando não existe a derivada normal
no ponto x0 , a demonstração que apresentaremos a seguir mostra que para toda direção
exterior ν tal que ν · η(x0 ) > 0, vale
Demonstração. Vamos provar primeiro o item (i). Suponha que Lu ≥ 0 e que existe
x0 ∈ Ω tal que M := maxΩ u = u(x0 ). Considere o conjunto ΩM := {x ∈ Ω : u(x) = M }
e suponha, por contradição, que o conjunto
Σ := Ω \ ΩM = {x ∈ Ω : u(x) < M }
Não é difícil ver que é sempre possível fazer uma escolha de y ∈ Σ e r > 0 satisfazendo as
condições acima (cf. Exercício 3.8).
Uma vez que x0 ∈ Ω é um ponto de máximo de u devemos ter ∇u(x0 ) = 0. Assim
∂u
(x0 ) = ∇u(x0 ) · η(x0 ) = 0.
∂η
Por outro lado, segue do item (i) do Lema de Hopf que a derivada normal acima deve ser
positiva. Esta contradição mostra que ΩM = Ω, donde se conclui que u é constante em
Ω.
A prova do item (ii) segue de (i) utilizando-se a função −u. No caso em que c ≤ 0
em Ω a prova é análoga à apresentada acima utilizando porém o item (ii) do Lema de
Hopf.
Observação 3.10. Note que o teorema acima vale para domínios ilimitados. A elip-
ticidade uniforme e a limitação dos coeficientes não é essencial. De fato, basta que as
funções
X n Xn
aij (x) bi (x) c(x)
, ,
i,j=1
λ(x) i=1
λ(x) λ(x)
sejam limitadas em toda bola fechada contida em Ω, em que λ(x) é o menor autovalor da
matriz A(x) = (aij (x)).
Teorema 3.11. Suponha que L é uniformemente elíptico no conexo Ω e que que existe
w ∈ C 2 (Ω) ∩ C 1 (Ω) tal que w > 0 em Ω e Lw ≤ 0 em Ω. Dada u ∈ C 2 (Ω) ∩ C(Ω) temos
que
u u
(i) se Lu ≥ 0 e w
assume máximo não negativo em Ω então w
é constante em Ω.
u u
(ii) se Lu ≤ 0 e w
assume mínimo não positivo em Ω então w
é constante em Ω.
u
Demonstração. Denotando v = w
, um cálculo direto (cf. Exercício 3.17) mostra que
n
X n
X
ij i Lw
a (x)vxi xj + B (x)vxi + v ≥ 0 em Ω,
i,j=1 i=1
w
Pn 2 ij
com B i (x) := bi (x) + j=1 w a (x)uxi xj , para cada i = 1, . . . , n. O resultado segue agora
do Teorema 3.9.
A aplicabilidade do resultado acima depende de podermos encontrar uma função w
como no enunciado do teorema. No que segue exibimos uma classe de domínios para os
quais essa tarefa pode ser executada com sucesso.
Teorema 3.12. Seja L uniformemente elíptico em Ω e suponha que existe e ∈ Rn tal que
|e| = 1 e
|hx − y, ei| < d, ∀ x, y, ∈ Ω.
Então existe d0 = d0 (n, θ0 , kbi k∞ , kc+ k∞ ) > 0 tal que o Teorema 3.11 é aplicável se d ≤ d0 .
Observe inicialmente que w ∈ C ∞ (Ω). Além disso, como para todo x ∈ Ω vale 0 < x1 < d,
temos que w > 0 em Ω.
Note que
wx1 = −γeγx1 , wx1 x1 = −γ 2 eγx1
e as demais derivadas de ordem 1 e 2 são nulas. Sendo assim, usando novamente que
de sorte que Lw ≤ 0 em Ω, sempre que 0 < d ≤ d0 , onde d0 > 0 é tal que eγd0 = 2. Isso
conclui a demonstração.
Como último resultado apresentamos um princípio de comparação devido a Varadhan
que também vale independentemente do sinal de c(x) mas que, em compensação, exige
que o conjunto Ω tenha volume pequeno. Mais especificamente, vale o resultado abaixo,
cuja prova pode ser encontrada em [7, Teorema 2.32].
onde Ω ⊂ Rn é um aberto limitado de classe C 2,γ , 0 < γ ≤ 1, f ∈ C 0,γ (Ω̄), g ∈ C 2,γ (∂Ω),
L é um operador diferencial de 2a ordem da forma
n
X n
X
ij
Lu := a (x)uxi xj + bi (x)uxi + c(x)u,
i,j=1 i=1
com os coeficientes aij , bi , c ∈ C 0,γ (Ω). O Corolário 2.10 nos assegura que, sob as con-
dições acima e no caso em que L = ∆, o problema sempre possui solução em C 2,γ (Ω).
Estamos interessados em obter um resultado análogo para o caso em que L tem a forma
acima.
Vamos iniciar nossa discussão supondo que o problema
Lv = fe em Ω, v = 0 em ∂Ω,
tem solução de classe C 2,γ (Ω) para toda fe ∈ C 0,γ (Ω). Uma vez que o dado de fronteira g
e o conjunto Ω são de classe C 2,γ , podemos estender g para todo Ω com a sua extensão,
que denotaremos ainda por g, sendo de classe C 2,γ (Ω) (cf [6, Lemma 6.38]). Considerando
agora v ∈ C 2,γ (Ω) a solução do problema acima com fe := f − Lg ∈ C 0,γ (Ω), temos que a
função u := v + g satisfaz
Lu = Lv + Lg = f em Ω, u = v + g = g em ∂Ω,
Suponha que (un ) ⊂ C 2,γ (Ω) é tal que un → 0 em C 2,γ (Ω). Usando a estimativa acima
obtemos
em que c1 := max{kaij k0,γ , kbi k0,γ , kck0,γ }. Uma vez que un → 0 em C 2,γ (Ω) devemos
ter kDα (un )k0,γ → 0 para todo multi-índice de ordem menor ou igual a 2. Sendo assim,
a expressão acima mostra que que Lun → 0 = L0 em C 0,γ (Ω), o que implica que L é
contínuo na origem. Se un → u em C 2,γ (Ω) então un − u → 0, donde se conclui que
L(un − u) → 0, isto é, Lun → Lu em C 0,γ (Ω). Desse modo, L é contínuo.
Na próxima subseção apresentamos um resultado abstrato que será utilizado na prova
da sobrejetividade de L.
onde
Lt := (1 − t)L + t∆, t ∈ [0, 1],
e mostrar que L0 é sobrejetivo se, e somente se, L1 é sobrejetivo. Uma vez que L1 = ∆,
o resultado de existência de solução para (P ) será uma consequência do Teorema 2.10.
kT xkY
kT k := sup = sup kT xkY < ∞.
x6=0 kxkX kxkX ≤1
Antes de provar o resultado acima vamos fazer algumas considerações. Observe inicial-
mente que, se o operador linear L : X → Y é tal que existe c > 0 com kxk ≤ c kLxk, para
todo x ∈ X, então o operador L é injetivo. Nesse caso, podemos considerar o operador
inverso L−1 : L(X) → X que é também linear. Além disso, para todo y = Lx ∈ L(X)
vale
−1
L y
≤ c kyk ,
donde se conclui que L−1 é limitado. Desse modo, a condição (3.7) no teorema acima é
equivalente a dizer que
L−1
t
é uniformemente limitado para t ∈ [0, 1].
Para demonstrar o Teorema 3.14 vamos usar o resultado abaixo.
Teorema 3.15 (Teorema do Ponto Fixo de Banach). Seja (X, d) é um espaço métrico
completo e T : X → X é contínuo. Suponha que T é uma contração, isto é, existe
θ ∈ (0, 1) tal que
d(T x, T y) ≤ θd(x, y), ∀ x, y ∈ X.
Demonstração do Teorema 3.14. Suponha que Ls é sobrejetivo para algum s ∈ [0, 1].
Dado t ∈ [0, 1] e y ∈ Y , observe que
Lt x = y ⇐⇒ Ls x + Lt x = y + Ls x ⇐⇒ Ls x = y + (Ls − Lt )(x).
x = L−1
s [y + (Ls − Lt )(x)]
= L−1 −1
s y + Ls [(Ls − Lt )(x)]
= L−1 −1
s y + Ls [(1 − s)L0 x + sL1 x − (1 − t)L0 x − tL1 x]
= L−1 −1
s y + Ls [−sL0 x + sL1 x + tL0 x − tL1 x]
= L−1 −1
s y + Ls [(t − s)L0 x − (t − s)L1 x]
= L−1 −1
s y + (t − s)Ls [(L0 − L1 )(x)]
T x := L−1 −1
s y + (t − s)Ls [(L0 − L1 )(x)]
kT x − T zk = k(t − s)L−1 −1
s [(L0 − L1 )(x − z)]k ≤ |t − s|kLs [(L0 − L1 )(x − z)]k.
Portanto T é uma contração sempre que |t − s| < δ, onde δ > 0 é dado por
1
δ := .
c(kL0 k + kL1 k)
quando fazemos s percorrer o intervalo [0, 1]. O resultado seque agora por iteração, visto
que δ > 0 é uma constante que não depende de t.
A aplicabilidade do último teorema ao nosso problema (P ) depende de sermos capazes
de encontrar uma constante c > 0 satisfazendo (3.7). A obtenção dessa constante é uma
parte delicada no estudo do problema (P ) e depende de algumas propriedades dos espaços
de Hölder, definidos antes da Proposição 2.4. No que segue vamos estudar um pouco mais
a fundo tais espaços.
O resultado abaixo generaliza essa informação e fornece também uma hierarquia entre os
espaços de Hölder.
Demonstração. O item (1) foi provado acima. Para (2), basta notar que para toda
u ∈ C k,γ (Ω) vale
X X
kukk = kDα uk0 ≤ kukk + Hγ [Dα u] = kukk,γ .
|α|≤k |α|≤k
Para verificar (3) fixemos u ∈ C k,γ (Ω) e α um multi-índice com |α| ≤ k. Dados
x, y ∈ Ω com 0 < |x − y| < 1, temos que
Assim,
Hν [Dα u] ≤ 2 kDα uk0 + Hγ [Dα u],
= 3 kukk,γ ,
escrever
Dα u(x) − Dα u(y) = ∇Dα u(z) · (x − y)
e portanto
X
kukk,1 = kukk + H1 [Dα u] ≤ c kukk+1 .
|α|≤k
Isso estabelece (4). Finalmente, o item (5) segue das imersões contínuas abaixo
em que sgn(·) é a função sinal. Então u ∈ C 1 (Ω) mas, para todo γ > 0 satisfazendo
que β/2 < γ < 1, temos que u 6∈ C 0 γ (Ω). Em particular, pelo item (3), temos que
u 6∈ C 0,1 (Ω).
Estamos interessados agora em propriedades especiais das imersões acima. Lembremos
que, se X e Y são espaços vetoriais normados, dizemos que um operador linear T : X → Y
é compacto quando T é contínuo e T leva conjuntos limitados em conjuntos relativamente
compactos, isto é, se A ⊆ X é limitado então T (A) ⊂ Y é compacto.
Uma maneira equivalente de definir uma imersão compacta é dizer que X está imerso
compactamente em Y se toda sequência (un ) ⊂ X limitada possui subsequência conver-
gente em Y .
Conforme veremos adiante, resultados de compacidade são extremamente importantes
(ii) dado ε > 0, existe δ > 0 tal que, para todo u ∈ A, x, y ∈ Ω, vale
precisamos verificar que existe uma subsequência convergente em C(Ω). Seja A := {un :
n ∈ N} ⊂ C(Ω) e observe que a inequação acima mostra que A é equilimitado. Além
disso, como Hγ [un ] ≤ M , segue que
Logo, para todo ε > 0 dado, a condição (ii) do Teorema 3.19 se verifica para δ = (ε/M )1/γ .
Segue então do Teorema de Arzelá-Ascoli que (un ) possui uma subsequência convergente
em C(Ω). Isso estabelece (2’) quando k = 0.
Para o caso geral, se (un ) ⊂ C k,γ (Ω) é uma sequência limitada, então existe uma
subsequência de (un ), que denotaremos por (un ), tal que un → u em C(Ω). Para todo
multi-índice α tal que |α| ≤ k,
X
kun kk,γ = kun kk + Hγ [Dα un ] ≤ M.
|α|≤k
Logo,
kDα un k0,γ = kDα un k0 + Hγ [Dα un ] ≤ M.
ν 1− γν
Hν [Dα u] ≤ cHγ [Dα u] γ kDα uk0 .
Seja agora (un ) ⊂ C k,γ (Ω) uma sequência limitada. Usando (2’) e passando a uma sub-
sequência se necessário, podemos supor que (un ) converge em C k (Ω). Usando a estimativa
acima obtemos
X
kun − um kk,ν = (kDα (un − um )k0 + Hν [Dα (un − um )])
|α|≤k
X 1− ν
ν ν
α α α
≤ kD (un − um )k0 γ γ
kD (un − um )k0 + cHγ [D (un − u)] γ .
|α|≤k
Os termos que aparecem entre parênteses acima são uniformemente limitados devido a
limitação de (un ) em C k,γ (Ω). Como un converge em C k (Ω) temos que, para todo multi-
cpct.
C k+1 (Ω) ֒→ C k,1 (Ω) ֒→ C k (Ω)
cpct.
C k+1 (Ω) ֒→ C k,1 (Ω) ֒→ C k,ν (Ω)
onde Ω ⊂ Rn é um aberto limitado de classe C 2,γ , 0 < γ ≤ 1, f ∈ C 0,γ (Ω̄), g ∈ C 2,γ (∂Ω),
L é um operador diferencial de 2a ordem da forma
n
X n
X
Lu := aij (x)uxi xj + bi (x)uxi + c(x)u,
i,j=1 i=1
Para obter uma estimativa como acima devemos ter informações sobre estimativas a
priori para as soluções do problema (P ). Uma primeira informação nesse sentido é o
seguinte resultado, cuja prova pode ser encontrada em [6, Teorema 6.6].
Observe que se u ∈ C 2,γ (Ω) é uma solução de (P ) então a estimativa acima nos fornece
kuk2,γ ≤ C kf k0,γ + kgkC 2,γ (∂Ω) + kuk0 ,
Lema 3.22. Suponha que as hipóteses do Teorema 3.21 são satisfeitas e que o problema
(
Lu = 0, em Ω,
u = 0, em ∂Ω,
tenha apenas a solução trivial u ≡ 0 em C 2,γ (Ω). Então existe uma constante C =
C(n, γ, θ0 , α, Ω) > 0 tal que
kuk2,γ ≤ C kLuk0,γ + kukC 2,γ (∂Ω) , ∀ u ∈ C 2,γ (Ω).
Demonstração. Suponha, por contradição, que existem Cn → ∞ e (un ) ⊂ C 2,γ (Ω) tais
que
kun k2,γ ≥ Cn kLun k0,γ + kun kC 2,γ (∂Ω) .
un
Considerando vn := kun k2,γ
temos que kvn k2,γ = 1 e
1
kLvn k0,γ + kvn kC 2,γ (∂Ω) ≤ → 0. (3.9)
Cn
cpct.
Uma vez que C 2,γ (Ω) ֒→ C 2 (Ω) ֒→ C(Ω), existe v ∈ C(Ω) e uma subsequência, que
ainda denotamos por (vn ), tal que vn → v em C(Ω). Pelo Teorema 3.21 temos que
kvn − vm k2,γ ≤ C kLvn − Lvm k0,γ + kvn − vm kC 2,γ (∂Ω) + kvn − vm k0 .
A expressão acima, (3.9) e a convergência em C(Ω) mostram que (vn ) ⊂ C 2,γ (Ω) é sequên-
cia de Cauchy, e portanto vn → v em C 2,γ (Ω). Como L é contínuo, temos que Lvn → Lv.
Desse modo, segue de (3.9) que v satisfaz
(
Lv = 0, em Ω
v = 0, em ∂Ω,
donde se conclui que v ≡ 0. Mas isso é um absurdo visto 1 = kvn k2,γ → kvk2,γ = 0.
Vale destacar que, pelo Teorema 3.5, a conclusão do lema acima vale se o termo de
ordem zero c(x) é não positivo em Ω. Desse modo, podemos provar o resultado principal
desse capítulo, qual seja
Lt u := (1 − t)Lu + t∆u, ∀ u ∈ X.
para x ∈ Ω, e ξ ∈ RN , então
ξ (1 − t)A(x) + tId ξ ≥ (1 − t)θ0 |ξ|2 + t|ξ|2
= [(1 − t)θ0 + t] |ξ|2
≥ min{1, θ0 }|ξ|2 ,
com α = α(kaij k0,γ , kbi k0,γ , kck0,γ ) > 0 independente de t. Finalmente, note que o termo
de ordem zero de Lt é sempre (1 − t)c(·), que é não positivo em Ω. Segue do Princípio do
Máximo (ou do Teorema 3.5) que o problema homogêneo Lt u = 0 em Ω, u = 0 em ∂Ω,
possui somente a solução nula.
As considerações acima nos permitem aplicar o Lema 3.22 para obter uma constante
C = C(n, γ, θ0 , α, Ω) > 0, independente de t ∈ [0, 1], tal que
kuk2,γ ≤ C kLt uk0,γ + kukC 2,γ (∂Ω) = CkLt uk0,γ , ∀ u ∈ X,
Como uma aplicação da estima interior dada pelo teorema acima vamos provar o
seguinte resultado (compare com o Teorema 2.10).
un → u em C(Ω).
Desse modo (un ) é sequência de Cauchy em C 2,γ (Ω0 ) e portanto un → u em C 2,γ (Ω0 ).
Como Ω0 é arbitrário, temos que u ∈ C 2,γ (Ω) ∩ C(Ω) é solução do problema. .
3.4 Exercícios
Atenção: Nos exercícios abaixo, a menos que se diga o contrário, Ω ⊂ Rn é um aberto
limitado de classe C 2 . O operador L é uniformemente elíptico em Ω e tem a forma
n
X n
X
ij
Lu = a (x)uxi ,xj + bi (x)uxi + c(x)u,
i,j=1 i=1
3.1. Verifique com detalhes todas as afirmações feitas na observação que sucede o Teorema
3.2.
3.2. Se Ω = (−π/2, π/2)×(−π/2, π/2) e u(x, y) = cos x cos y, então u satisfaz ∆u+2u = 0
em Ω, u = 0 em ∂Ω, mas u troca de sinal em Ω. Isso contraria o Princípio do Máximo?
1 − (x2 + y 2 )
u(x, y) = ,
(1 − x)2 + y 2
3.6. Considere as hipóteses do Lema de Hopf e o novo operador L̃ = L−c+ (x). Repetindo
o argumento da demonstração, mostre que se u(u0 ) = 0, então o resultado do lema
permanece válido independente do sinal de c(x).
3.8. Mostre que é sempre possível obter y ∈ Σ e r > 0 satisfazendo as condições utilizadas
na demonstração do Teorema 3.9.
3.14. Use o exercício anterior para verificar que, se k ∈ C 0,γ (Ω) é uma função não negativa,
então o problema não linear
(
∆u = k(x)eu em Ω,
u = ϕ em ∂Ω,
3.18. Se K : [0, 1] × [0, 1] → R é contínua mostre que o operador linear T : C([0, 1]) →
C([0, 1]) definido por Z 1
(T u)(x) = K(x, y)u(y) dy
0
é compacto.
4
Espaços de Sobolev
Observe que o lado direito da equação acima é finito sempre que f ∈ L1loc (Ω). Em
particular, se f ∈ L2 (Ω) e u é uma solução clássica, a expressão acima sempre se verifica.
Note ainda que o integrando do lado esquerdo envolve apenas as derivadas de primeira
ordem da função u.
A fim de continuar nossa motivação vamos supor que existe um espaço de Hilbert H
com as seguintes propriedades:
h·, ·iH : H × H −→ R Z
(4.2)
(u, v) 7−→ hu, viH = ∇u(x) · ∇v(x) dx;
Ω
Para mostrar que a igualdade acima pode ser estendida para todos os elementos de H,
seja ϕ ∈ H e (ϕm ) ⊂ H tal que ϕm → ϕ em H. Pela continuidade do produto interno
temos que hu , ϕm iH → hu, ϕiH . Além disso, usando a desigualdade de Cauchy-Schwarz e
a continuidade da imersão H ֒→ L2 (Ω), obtemos
Z Z
(f (x)ϕm (x) − f (x)ϕ(x)) dx ≤ |f (x)(ϕm (x) − ϕ(x))| dx
≤ kf kL2 (Ω) kϕm − ϕkL2 (Ω)
≤ Ckf kL2 (Ω) kϕm − ϕkH → 0.
R
Desse modo, passando a igualdade hu, ϕm iH = Ω
f (x)ϕm (x) dx ao limite, concluímos que
Z Z
∇u(x) · ∇ϕ(x) dx = f (x)ϕ(x) dx, para toda ϕ ∈ H. (4.3)
Ω Ω
Tf : H −→ R Z
ϕ 7→ Tf (ϕ) := f (x)ϕ(x) dx
Ω
e notar inicialmente que Tf é uma transformação linear. Além disso, para toda ϕ ∈ H,
vale Z
|Tf (ϕ)| = f (x)ϕ(x) dx ≤ kf kL2 (Ω) kϕkL2 (Ω) ≤ Ckf kL2 (Ω) kϕkH ,
Ω
n
! n
X X
T (v) = T αi e i = αi T (ei ) = hvT , viRn ,
i=1 i=1
em que vT = (T (e1 ), . . . , T (en )) ∈ Rn . Isso mostra que para cada transformação linear T
de Rn em R podemos associar um elemento vT ∈ Rn tal que
Como Tf é um funcional linear contínuo temos que existe um elemento uf ∈ H tal que
Segue então das duas últimas igualdades que u := uf é uma solução fraca de (P ).
Não é difícil verificar que a solução fraca obtida acima é única. De fato, suponha que
u1 , u2 ∈ H são ambas soluções fracas de (P ). Então
Z
hu1 , ϕiH = f (x)ϕ(x) dx = hu2 , ϕiH , ∀ ϕ ∈ H,
Ω
Em particular, escolhendo ϕ = u1 −u2 na expressão acima, concluímos que ku1 −u2 k2H = 0,
o que implica que u1 = u2 .
Vale notar que o mesmo argumento usado acima nos permite mostrar que, em geral,
o elemento de representação dado pelo Teorema de Riesz é único.
Nas próximas seções vamos discutir a existência de um espaço H com as propriedades
acima. É importante observar que a equação (4.3) pressupõe apenas a existência de
derivadas de ordem um para as funções de H. Desse modo, é natural que o espaço H
seja maior do que C 2 (Ω) ∩ C(Ω), esse último sendo o espaço em que vivem as soluções
clássicas. Assim, parece natural pensar que temos mais chance de obter soluções fracas
do que soluções clássicas.
Um maneira simples de construir o espaço H seria notar que a função dada em (4.2)
define um produto interno em C0∞ (Ω) e denotar por H o fecho de C0∞ (Ω) com a norma
induzida por esse produto interno. Uma dificuldade que surge é que, com essa construção,
os elementos de H seriam classes de equivalência de sequências de Cauchy em C0∞ (Ω).
Evidentemente não parece muito claro como trabalhar com tais elementos. O segundo
problema é que ainda precisaríamos mostrar que H ֒→ L2 (Ω).
A ideia então é tentar identificar o completamento acima com algum espaço de funções.
Esse é o conteúdo das próximas seções. Antés porém vamos fixar algumas notações.
Como trabalharemos muito com formulações integrais para nossos problemas, escre-
R R
veremos somente u para denotar Ω u(x)dx, em que u ∈ L1 (Ω). Além disso, para
1 ≤ p ≤ ∞ e u ∈ Lp (Ω), vamos escrever kukp para denotar a norma de u em Lp (Ω).
As normas de funções u contínuas ou Hölder contínuas serão denotadas por kukC k (Ω)
e kukC k,γ (Ω) , respectivamente. Finalmente, diremos que ϕ é uma função teste quando
ϕ ∈ C0∞ (Ω).
em que usamos, na última igualdade, o fato de que ϕ ≡ 0 em ∂Ω. De uma maneira mais
geral, se α é um multi-índice tal que |α| ≤ k, podemos escrever
Z Z
α |α|
uD ϕ = (−1) ϕDα u. (4.4)
Observe que o lado esquerdo da igualdade acima faz sentido mesmo que u não seja
regular. De fato, basta supor que u ∈ L1loc (Ω) pois, nesse caso, se denotarmos por Kϕ ⊂⊂
Ω o suporte da função ϕ, temos que
Z Z Z
uDα ϕ ≤ α
|u(x)| |D ϕ(x)| dx ≤ kϕk∞ |u(x)| dx < ∞.
Kϕ Kϕ
Essencialmente, a definição acima diz que uma derivada fraca de uma função é uma
função localmente integrável que nos permite fazer integração por partes. O lema abaixo
estabelece, em um certo sentido, a unicidade da derivada fraca.
Lema 4.2. A α-ésima derivada fraca de uma função u ∈ L1loc (Ω), quando existe, é única
a menos de conjuntos de medida nula.
e portanto Z
(v − ṽ)ϕ = 0, ∀ ϕ ∈ C0∞ (Ω).
Segue então (cf. [3, Lema 4.2]) que v − ṽ = 0 q.t.p. em Ω. Logo v = ṽ q.t.p. em Ω.
Tendo em vista o lema acima, se u ∈ L1loc (Ω) possui α-ésima derivada fraca v, podemos
denotar simplesmente
v = Dα u.
Observe que a notação acima pode causar confusão com a de derivada no sentido clássico.
Ao longo de todo este capítulo, quando escrevermos Dα u, estamos nos referindo à α-ésima
derivada no sentido fraco.
Antes de apresentar as propriedades básicas da derivada fraca vejamos alguns exem-
plos.
Exemplo 4.3. Se uma função u possui derivada no sentido clássico, então u possui
derivada no sentido fraco e essa coincide com a derivada clássica.
Observe que u ∈ L1loc (0, 2) e que não existe a derivada no sentido clássico, visto que não
existe a derivada (clássica) no ponto x = 1. Vamos mostrar que u possui derivada fraca
v : (0, 2) → R dada por (
1, se 0 < x ≤ 1,
v(x) =
0, caso contrário.
De fato, claramente temos que v ∈ L1loc (0, 2). Seja ϕ ∈ C0∞ (0, 2) e observe que
Z Z 1 Z 2
′ ′
uϕ = xϕ (x) dx + ϕ′ (x) dx
Ω 0 1
Z 1
= xϕ(x)|1x=0 − ϕ(x) dx + (ϕ(2) − ϕ(1))
0
Z 1
= ϕ(1) − ϕ(x) dx − ϕ(1)
0
Z 1 Z
=− ϕ(x) dx = − vϕ,
0 Ω
Vamos mostrar que nesse caso u não é fracamente derivável. De fato, suponha por con-
tradição existe a derivada fraca u′ . Então,
Z Z
′
uϕ = − u′ ϕ, ∀ ϕ ∈ C0∞ (0, 2).
(i) kϕm k∞ ≤ 1 ;
(ii) ϕm (1) = 1 ;
Temos que
Z Z
′
− u ϕm = uϕ′m
Z 1 Z 2
= xϕ′m (x) dx + 2ϕ′m (x) dx
0 1
Z 1
= xϕm |1x=0 − ϕm (x) dx + 2ϕm (2) − 2ϕm (1)
0
Z 2
= ϕm (1) − ϕm (x) dx − 2ϕm (1)
Z 2 0
=− ϕm (x) dx − 1
0
Logo, Z Z Z Z
′ ′
1= u ϕm − ϕm = u ϕm − ϕm
( 14 , 74 )
Observe agora que u′ (x)ϕm (x) → 0 q.t.p. em (1/4,7/4). Além disso, |u′ (x)ϕm (x)| ≤
|u′ (x)| q.t.p. em (1/4, 7/4) e |u′ | ∈ L1 (1/4, 7/4), visto que u′ ∈ L1loc (0, 2). Segue então do
Teorema da Convergência Dominada de Lebesgue que
Z
lim u′ ϕm = 0.
m→∞
( 1 7
,
4 4 )
R
Do mesmo modo mostra-se que ϕm → 0. Desse modo temos que
Z Z
′
1 = lim u ϕm − ϕm = 0,
m→∞
W k,p (Ω) := {u ∈ Lp (Ω) : Dα u ∈ Lp (Ω) para todo multi-índice α tal que |α| ≤ k} .
Observe que se u ∈ W k,p (Ω) então u ∈ Lp (Ω), de modo que toda função de W k,p (Ω)
está em L1loc (Ω). Nunca é demais lembrar que, na definição acima, Dα u denota a derivada
no sentido fraco. Finalmente, como Dα u ∈ Lp (Ω), estamos assumindo tacitamente que
todas as derivadas fracas de ordem menor ou igual a k existem. Uma outra observação
importante é que valem as seguintes inclusões
Quando p = 2, vamos denotar W k,p (Ω) simplesmente por H k (Ω), isto é, H k (Ω) :=
W k,2 (Ω). Em particular, se k = 1, temos
1 1,2 2 ∂u 2
H (Ω) = W (Ω) = u ∈ L (Ω) : ∈ L (Ω) para i = 1, ..., n. .
∂xi
Veremos em breve que H k (Ω) pode ser dotado de um produto interno de modo a tornar-se
um espaço de Hilbert. Antes porém note que, se u ∈ H 1 (Ω), então as duas integrais em
(4.3) são finitas, sempre que f ∈ L2 (Ω). Conforme veremos posteriormente, o espaço H
que estamos procurando para obter as soluções fracas de (P ) é precisamente um subespaço
especial de H 1 (Ω).
O resultado abaixo apresenta as principais propriedades dos espaços de Sobolev.
(iv) Se ϕ ∈ C0∞ (Ω) então ϕu ∈ W k,p (Ω) e para todo multi-índice α = (α1 , . . . , αn ) tal
que |α| ≤ k, vale
X α!
Dα (ϕu) = Dβ ϕDα−β u,
β≤α
β!(α − β)!
Demonstração. Considere ϕ ∈ C0∞ (Ω) e note que, pela definição de derivada fraca,
temos
Z Z Z
(λu + µv)D ϕ = λ uD ϕ + µ vDα ϕ
α α
Z Z
|α| α |α|
= λ(−1) ϕD u + µ(−1) ϕDα v
Z
|α|
= (−1) (λDα u + µDα v) ϕ,
o que estabelece a veracidade de (ii). A prova dos demais ítens segue também da definição
de derivada fraca e será deixada como exercício. .
Observe que o item (ii) acima implica que W k,p (Ω) é um espaço vetorial real. Vamos
transformá-lo em um espaço normado introduzindo a seguinte norma
p1
X Z
|Dα u|p , se 1 ≤ p < ∞,
|α|≤k
kukW k,p (Ω) :=
X
kDα ukL∞ (Ω) , se p = ∞.
|α|≤k
Para verificar que k · kW k,p (Ω) define de fato uma norma em W k,p (Ω) precisamos mostrar
que para quaisquer u, v ∈ W k,p (Ω) e λ ∈ R, valem
(N1) kukW k,p (Ω) ≥ 0 e kukW k,p (Ω) = 0 se, e somente se, u = 0 ;
(N3) ku + vkW k,p (Ω) ≤ kukW k,p (Ω) + kvkW k,p (Ω) .
operador Dα , obtemos
p1 p1
X X p
ku + vkW k,p (Ω) = kDα u + Dα vkpLp (Ω) ≤ kDα ukLp (Ω) + kDα vkLp (Ω) .
|α|≤k |α|≤k
n
! p1 n
! p1 n
! p1
X X X
|ai + bi |p ≤ |ai |p + |bi |p .
i=1 i=1 i=1
p1 p1
XZ XZ
= |Dα u|p + |Dα v|p = kukW k,p (Ω) + kvkW k,p (Ω) .
|α|≤k |α|≤k
Não é difícil verificar que as expressões acima também definem normas em W k,p (Ω) e que
essas normas são equivalentes à norma usual k · kW k,p (Ω) .
A fim de simplificar a notação, a norma k · kW k,p (Ω) será denotada, daqui por diante,
simplesmente por k · kk,p .
Lembremos que um espaço vetorial (X, k · kX ) é dito de Banach quando ele é completo
com respeito à topologia induzida pela norma. O resultado abaixo estabelece a completude
do espaço de Sobolev W k,p (Ω).
Teorema 4.9. O espaço W k,p (Ω) com a norma k · kk,p é um espaço de Banach.
Demonstração. Suponha 1 ≤ p < ∞ e seja (um ) ⊂ W k,p (Ω) uma seqüência de Cauchy
arbitrária. Vamos mostrar que (um ) converge em W k,p (Ω). Sendo (um ) ⊂ W k,p (Ω) uma
seqüência de Cauchy temos que, dado ε > 0, existe N > 0 tal que
o que mostra que (Dα um ) ⊂ Lp (Ω) é uma seqüência de Cauchy. Sendo Lp (Ω) completo,
segue que Dα um → uα em Lp (Ω).
Considere u := u(0,...,0) e mostremos que u ∈ W k,p (Ω) com Dα u = uα para todo
|α| ≤ k. Se isso for verdade podemos fazer l → ∞ na expressão acima para concluir que
kum − ukk,p < ε sempre que m > N . Ora, mais isso é o mesmo que dizer que um → u em
W k,p (Ω).
Resta então mostrar que, para cada multi-índice α tal que |α| ≤ k, vale Dα u = uα .
′
Para cada ϕ ∈ C0∞ (Ω) fixada temos que Dα ϕ ∈ Lp (Ω), em que p′ é o expoente conjugado
de p, isto é, 1/p + 1/p′ = 1. Desse modo, podemos usar a desigualdade de Hölder para
obter
Z Z
(uDα ϕ − um Dα ϕ) ≤ |u − um ||Dα ϕ| ≤ ku − um kLp (Ω) kDα ϕk p′ .
L (Ω)
Uma vez que Dα um → uα em Lp (Ω), podemos proceder como acima para verificar que
Z Z
uα ϕ = lim (Dα um )ϕ, ∀ ϕ ∈ C0∞ (Ω).
m→∞
Para simplificar a exposição vamos considerar o caso k = 1 e observar que W 1,p (Ω) pode
ser imerso isometricamente em (Lp (Ω))n+1 através da aplicação I : W 1,p (Ω) −→ Lp (Ω)n+1
dada por
∂u ∂u
I(u) := u, ,··· , ,
∂x1 ∂xn
onde o espaço X := (Lp (Ω))n+1 está munido com a norma
n+1
! p1
X
k(v0 , v1 , · · · , vn )kLp (Ω)n+1 = kvi kpLp (Ω) , ∀ v = (v0 , v1 , . . . , vn ) ∈ Lp (Ω)n+1 .
i=0
Isso significa que podemos identificar W 1,p (Ω) com o subespaço correspondente Y :=
I(W 1,p (Ω)) de X. Uma vez que W 1,p (Ω) é completo segue que Y é um subespaço fechado
de X. Mas X é reflexivo quando 1 < p < ∞ e separável quando 1 ≤ p < ∞, o que mostra
que o subespaço fechado Y (e portanto W 1,p (Ω)) tem essas mesmas propriedades.
A construção acima pode facilmente ser feita para W k,p (Ω) de modo que vale o seguinte
Teorema 4.10. O espaço W k,p (Ω) é reflexivo se 1 < p < ∞ e separável se 1 ≤ p < ∞.
Observe que
|x − xm |−γ
≤
|x|−γ
W 1,p (B2 (0)) = C(n, p, γ) > 0,
W 1,p (B)
e portanto
X∞ X∞
1 −γ 1
kvk W 1,p (B) ≤ m
k|x| kW (B2 (0)) ≤ C(n, p, γ)
1,p = C(N, γ, p).
m=1
2 m=1
2m
Desse modo concluímos que v ∈ W1,p (B). Observe porém que, como o conjunto (xm ) é
Teorema 4.11. Se u ∈ W k,p (Ω) para algum 1 ≤ p < ∞ então uε converge para u em
k,p
Wloc (Ω), quando ε → 0+ .
em que usamos a Regra da Cadeia e o fato de y 7→ ηε (x − ·) ser uma funções teste. Desse
modo concluímos que
Dα uε = ηε ∗ Dα u, ∀ x ∈ Ωε .
Aj := Ωj+1 \Ωj−1
S
e note que Ω = ∞ j=1 Aj .
Seja Ψ a família de funções dada pela Proposição 4.12 e observe que, para cada j ∈ N,
a função ψj ∈ Ψ cujo suporte está contido em Aj é tal que ψj u ∈ W k,p (Ω), em vista do
item (iv) do Teorema 4.7. Como ψj u tem suporte compacto em Ω, podemos utilizar o
Teorema 4.11 para obter εj > 0 pequeno, de modo que a função vj := ηεj ∗ (ψj u) satisfaça
ε
kvj − ψj ukk,p < .
2j+1
Defina agora
∞
X
v(x) := vj (x), x ∈ Ω.
j=1
P∞
P∞ P∞
kv − ukk,p =
v j − u
=
vj − ψ j u
j=1
j=1 j=1
k,p k,p
∞
X ∞
X ε
≤ kvj − ψj ukk,p ≤ = ε,
j=1 j=1
2j+1
u(x) = |x|. Nesse caso u ∈ W 1,∞ (−1, 1), mas u não pode ser aproximada por funções de
classe C ∞ (−1, 1). Com relação ao último teorema, consideramos Ω := (−1, 0) ∪ (0, 1) e
v : Ω → R dada por (
0, se − 1 < x < 0,
v(x) :=
x, se 0 < x < 1.
Então v ∈ W 1,∞ (Ω) não pode ser aproximada por funções de classe C ∞ (Ω). Deixamos
a cargo do leitor a verificação dos detalhes em ambos os exemplos (cf. Exercícios 4.17 e
4.18).
com C > 0 independente de u. Considere u ∈ C01 (RN ) com k∇ukLp (RN ) 6= 0 e defina, para
λ > 0, a função
uλ (x) := u(λx), x ∈ Rn .
e
Z Z
k∇uλ (x)kpp = p
|∇u(λx)| dx = |∇uλ (x)λ|p dx
Rn Rn
Z Z
p p p−n
= λ |∇u(λx)| dx = λ |∇u(y)|p dy.
Rn Rn
Suponha que a desigualdade (4.6) vale para alguma constante C > 0. Então
Z 1q Z p1
−n q p−n p
λ |u(y)| dy ≤C λ |∇u(y)| dy ,
Rn Rn
isto é,
−n p−n
λ q kukq ≤ Cλ p k∇ukp ,
ou ainda
p−n
+n
kukq ≤ Cλ p q k∇ukp ,
p−n n
+ = 0,
p q
ou equivalentemente,
np
q = p∗ := .
n−p
O número p∗ acima é conhecido como expoente crítico de Sobolev.
No nosso próximo resultado vamos responder afirmativamente a pergunta feita no
início da seção.
e portanto Z ∞
|u(x)| ≤ |∇u(x1 , ..., xi−1 , yi , xi+1 , ..., xn )| dyi ,
−∞
Z+∞ n Z
Z+∞Y ∞ n−1
1
n
|u| n−1 dx1 ≤ |∇u| dyi dx1
−∞
−∞ −∞ i=1
+∞ n−1
1 +∞ n−1
1 (4.7)
Z Z+∞Y
n Z
= |∇u| dy1 |∇u| dyi dx1 .
−∞ −∞ i=2 −∞
Pj
Lembremos agora que, se f1 , ..., fj são tais que fi ∈ Lri (R), i = 1, ..., j e i=1 1/ri = 1,
então a desigualdade de Hölder generalizada se escreve como
Z
|f1 f2 · · · fj | ≤ kf1 kLr1 (R) · · · kfj kLrj (R) .
R
R n−1
1
+∞
Aplicando esse resultado em (4.7) com j = n − 1, ri = n − 1 e fi = −∞
|∇u|dyi ,
i = 1, ..., n − 1, obtemos
+∞ n−1
1 +∞ +∞ n−1
1
Z+∞ Z n
Y Z Z
n
|u| n−1 dx1 ≤ |∇u| dy1 |∇u| dyi dx1 .
−∞ −∞ i=2 −∞ −∞
onde
Z+∞ Z+∞ Z+∞
F1 := |∇u| dy1 e Fi := |∇u| dx1 dyi , i = 3, 4, ..., n.
−∞ −∞ −∞
em que, na desigualdade acima, escrevemos dxi no lugar de dyi . Segue então que
Z Z n−1
n
n
|u| n−1 dx ≤ |∇u| dx ,
Rn Rn
ou ainda,
Z n−1
n
Z
n
|u| n−1 ≤ |∇u|,
de modo que
Z n−1
n
Z
γn
|u| n−1 ≤γ |u|γ−1 |∇u|.
γn p
= (γ − 1) ,
n−1 p−1
isto é,
p(n − 1)
γ= > p > 1.
n−p
Com essa escolha a última desigualdade se torna
Z n−1
n
− p−1
p
Z p1
γn
p
|u| n−1 ≤γ |∇u| .
Mas,
n p(n − 1) n np
γ = · = = p∗
n−1 n−p n−1 n−p
e
n−1 p−1 pn − p − np + n n−p 1
− = = = ∗,
n p np np p
e portanto,
Z p1∗ Z p1
p∗ p(n − 1) p
|u| ≤ |∇u| .
n−p
Desse modo o lema vale para C = p(n − 1)/(n − p).
Gostaríamos agora de estender o resultado do último lema para funções em W 1,p (Ω).
Vamos considerar inicialmente um caso mais simples, em que a função u é tal que existe
uma sequência (um ) ⊂ C0∞ (Ω) satisfazendo um → u em W 1,p (Ω). Como um tem suporte
compacto em Ω podemos estendê-la para todo o Rn simplesmente fazendo um |RN \Ω ≡ 0.
Observe que essa extensão não afeta a regularidade de um , de modo que podemos aplicar
o último lema para obter
kum kLp∗ (Ω) ≤ Ck∇um kLp (Ω) . (4.8)
Concluímos então que o Lema 4.15 vale para toda função u ∈ W 1,p (Ω) que é limite de
funções de classe C ∞ com suporte compactamente contido em Ω. Isso motiva a seguinte
definição.
k·kk,p
W0k,p (Ω) := C0∞ (Ω) .
De acordo com a definição, u ∈ W0k,p (Ω) se, e somente se, existe uma seqüência
(um ) ⊂ C0∞ (Ω) tal que um → u em W k,p (Ω). Observe que W0k,p (Ω) é um subespaço fechado
de W k,p (Ω). Veremos posteriormente que, num certo sentido, as funções u ∈ W0k,p (Ω)
são as funções de W k,p (Ω) que "se anulam"no bordo de Ω. Antes porém, vejamos uma
interessante extensão do Lema 4.15 para as funções de W0k,p (Ω).
Teorema 4.17. Suponha que Ω ⊂ RN é limitado e 1 ≤ p < n. Então, para todo q ∈ [1, p∗ ]
existe C = C(n, p, q, |Ω|) > 0 tal que
Demonstração. Conforme vimos antes da definição W01,p (Ω), o resultado vale quando
q = p∗ . Para o caso em que q ∈ [1, p∗ ) basta usar Hölder para obter
Z Z q/p∗
q ∗ −q)/p∗
|u| ≤ |u| |Ω|(p ,
∗
o que mostra que a imersão Lp (Ω) ֒→ Lq (Ω) é contínua para todo q ∈ [1, p∗ ]. Desse
modo,
kukLq (Ω) ≤ Cq kukLp∗ (Ω) ≤ C̃k∇ukLp (Ω) ,
para todo u ∈ W01,p (Ω). De fato, basta notar que se u ∈ W01,p (Ω) então
Z
kukpW 1,p (Ω) = |∇u|p
0 Ω Z Z
≤ kukp1,p |u| + |∇u|p
= p
Ω Ω
Z Z
p p
≤ |∇u| + C |∇u|p
Ω Ω
Z
≤ C̃ |∇u|p = C̃kukpW 1,p (Ω) .
Ω 0
Assim, k · kW 1,p (Ω é uma norma em W01,p (Ω). Além disso, essa norma é equivalente à
0
norma usual k · k1,p . Note que a expressão (4.10) não define uma norma em W 1,p (Ω). De
fato, basta notar que, quando Ω é limitado, a função não nula u ≡ 1 está em W 1,p (Ω)
mas kukW 1,p (Ω) = 0.
0
No entanto, quando Ω é de classe C 1 , sabemos que toda função de W 1,p (Ω) pode
ser aproximada por funções um ∈ C ∞ (Ω). Note que faz sentido falar dos valores de um
em ∂Ω. É possível então introduzir um operador que nos permite falar dos valores de
fronteira de uma função no espaço de Sobolev W k,p (Ω). Mais especificamente, vale o
seguinte resultado, cuja prova pode ser encontrada em [4, Teorema 1, Seção 5.5].
Teorema 4.21 (Teorema do Traço). Suponha que Ω é um aberto limitado de classe C 1 e
que 1 ≤ p < ∞. Então existe um operador linear limitado
tal que,
(i) T u = u|∂Ω se u ∈ W 1,p (Ω) ∩ C(Ω) ;
(ii) existe C = C(p, Ω) > 0 tal que, para toda u ∈ W 1,p (Ω), vale
O operador acima é chamado operador traço. Conforme dito anteriormente, ele nos
permite identificar T u como sendo os valores, na fronteira, de uma função u ∈ W 1,p (Ω).
É importante ressaltar que a existência desse operador está ligada com o fato das funções
de W 1,p (Ω) possuirem derivada fraca. Conforme pode ser visto no Exercício 4.23, uma
construção semelhante não pode ser feita de Lp (Ω) em Lp (∂Ω). Assim, não existe uma
maneira natural de falar dos valores de fronteira de uma função u ∈ Lp (Ω).
Suponha que u ∈ W01,p (Ω) e seja (um ) ⊂ C0∞ (Ω) tal que um → u em W 1,p (Ω). Como
o operador traço é contínuo temos que
T u = lim T um = 0.
m→∞
Desse modo, W01,p (Ω) ⊂ ker T . Um argumento mais sofisticado mostra que a recíproca é
verdadeira, isto é, vale o seguinte resultado (cf. [4, Teorema 2, Seção 5.5]), que justifica a
afirmação de que as funções de W01,p (Ω) valem zero no bordo de ∂Ω
Teorema 4.22 (Caracterização de W01,p em relação ao traço). Suponha que Ω é um aberto
limitado de classe C 1 , 1 ≤ p < ∞ e que u ∈ W 1,p (Ω). Então u ∈ W01,p (Ω) se, e somente
se, T u = 0 em ∂Ω.
No que segue vamos tentar provar um resultado análogo ao Teorema 4.20 para o espaço
1,p
W (Ω). Observe que agora as funções podem não ter traço igual a zero e portanto o
argumento de extensão utilizado na prova de (4.9) não se aplica mais.
Uma ideia seria estender uma função u ∈ W 1,p (Ω) simplesmente fazendo u ≡ 0 em
Rn \ Ω. Contudo, isso pode criar descontinuidades na fronteira de Ω, de modo que a
função estendida pode nem possuir derivada fraca.
O próximo resultado mostra que, se Ω é regular, então é possível estender as funções
de W 1,p (Ω) de modo que a função estendida pertença a W 1,p (Rn ). Diferentemente do
Lema 4.15, o resultado de extensão abaixo vale para 1 ≤ p ≤ ∞.
e ;
(ii) supp Eu ⊂ Ω
Seja u ∈ W 1,p (Ω), B uma bola tal que Ω ⊂⊂ B e considere ū := Eu ∈ W 1,p (Rn ) a
extensão de u dada pelo teorema acima. Uma vez que o suporte de ū está contido na
bola, existe uma sequência (um ) ∈ C0∞ (Rn ) tal que
um → ū em W 1,p (Rn ).
Como (um ) converge em W 1,p (Rn ) concluímos que o lado direito da expressão acima tende
∗
a zero quando l, m → ∞. Desse modo (um ) ⊂ Lp (Rn ) é uma sequência de Cauchy, e
portanto
∗
um → ū em Lp (Rn ).
kukLp∗ (Ω) ≤ kEukLp∗ (Rn ) ≤ C1 k∇(Eu)kLp (Rn ) ≤ C1 kEukW 1,p (Rn ) ≤ CkukW 1,p (Ω) ,
∗
W 1,p (Ω) ֒→ Lp (Ω) ֒→ Lq (Ω),
Observação 4.25. Um ponto que merece destaque é que a imersão de W01,p (Ω), diferente
daquela de W 1,p (Ω), não exige regularidade da fronteira de ∂Ω. Isso ocorre porque, no
caso de W01,p (Ω), não precisamos usar o operador de prolongamento.
1/p∗ < 1/q/ < 1/p para obter θ ∈ (0, 1) tal que
1 1 1
= (1 − θ) + θ ∗
q p p
Z Z Z ∗
pθq∗ Z (1−θ)q
p
p
q θq (1−θ)q θq pθq (1−θ)q (1−θ)q
|u| = |u| |u| ≤ |u| |u| ,
Ω Ω Ω Ω
isto é,
kukq ≤ kukθp∗ kuk1−θ
p
∗
Portanto, se W 1,p (Ω) ֒→ Lp (Ω) então W 1,p (Ω) ֒→ Lq (Ω) para todo q ∈ [p, p∗ ], indepen-
dente de Ω ser limitado ou regular.
4.4.2 O caso p ≥ n
Observe que o Teorema 4.24 considera o caso em que 1 ≤ p < n. Uma vez que
p∗ = np/(n − p) → ∞ quando p → n− , poderíamos pensar que W 1,n (Ω) ⊂ L∞ . Conforme
podemos ver pelo Exerício 4.16, isso não é verdade em geral. No entanto, podemos usar
o Teorema 4.24 para considerar o caso p = n como segue.
Teorema 4.27 (Imersão de W 1,n ). Se Ω ⊂ Rn é um aberto limitado de classe C 1 , então
vale a imersão
W 1,n (Ω) ֒→ Lq (Ω),
n(n − ε) n(n − ε)
lim+ (n − ε)∗ = lim+ = lim+ = ∞.
ε→0 ε→0 n − (n − ε) ε→0 ε
Desse modo, para ε > 0 pequeno, devemos ter (n − ε)∗ > q. É suficiente agora observar
que
∗
W 1,n (Ω) ֒→ W 1,n−ε ֒→ L(n−ε) (Ω) ֒→ Lq (Ω).
Lema 4.28. Se u ∈ C 1 (Rn ) então existe uma constante C = C(n) tal que
Z Z
1 |∇u(y)|
|u(y) − u(x)|dy ≤ C dy
ωn rn Br (x) Br (x) |x − y|n−1
para todo x ∈ Rn e toda bola Br (x) ⊂ Rn .
Assim,
Z Z Z s
|u(x + sw) − u(x)| dSw ≤ |∇u(x + tw)| dt dSw
∂B1 (0) ∂B1 (0) 0
Z s Z
= |∇u(x + tw)| dt dSw
0 ∂B1 (0)
Z s Z
1
= |∇u(y)| dSy dt
0 ∂Bt (x) tn−1
Z s Z
|∇u(y)|
= dSy dt
0 ∂Bt (x) |y − x|n−1
Z
|∇u(y)|
= dy,
Bs (x) |x − y|n−1
e portanto Z Z
|∇u(y)|
|u(x + sw) − u(x)| dSw ≤ dy.
∂B1 (0) Br (x) |x − y|n−1
Multiplicando por sn−1 e integrando, com respeito a s, no intervalo [0, r], obtemos
Z Z r Z
rn |∇u(y)|
dy ≥ |u(x + sw) − u(x)| dSw sn−1 ds
n Br (x) |x − y|n−1 0 ∂B1 (0)
Z r Z
|u(y) − u(x)|
= dSy sn−1 ds
0 ∂Bs (x) sn−1
Z
= |u(y) − u(x)| dy,
Br (x)
Lema 4.29 (desigualdade de Morey). Se n < p ≤ ∞ então existe C = C(n, p) > 0 tal
que
||u||C 0,γ (Rn ) ≤ C||u||W 1,p (Rn ) ,
ou ainda Z Z
1 1
|u(x)| ≤ |u(x) − u(y)| dy + |u(y)| dy.
ωn B1 (x) ωn B1 (x)
Aplicando agora o lema anterior e lembrando que Lp (B1 (x)) ֒→ L1 (B1 (x)), vem
Z
|∇u(y)|
|u(x)| ≤ C1 dy + C2 ||u||L1 (B1 (x))
B1 (x) |x − y|n−1
Z (4.11)
|∇u(y)|
≤ C1 dy + C3 ||u||Lp (B1 (x)) .
B1 (x) |x − y|n−1
Vamos usar a desigualdade de Hölder para estimar a integral do lado direito acima.
Seja então p′ = p/(p − 1) o expoente conjugado de p e observe que
Z Z p1 Z !(p−1)/p
|∇u(y)| p 1
dy ≤ |∇u(y)| dy p dy . (4.12)
B1 (x) |x − y|n−1 B1 (x) B1 (x) |x − y|(n−1) p−1
A primeira integral do lado esquerdo acima é finita porque u ∈ W 1,p (Ω). Para ver que a
segunda também é finita basta notar que
Z Z
1 p
p
(n−1) p−1
dy = |w|−(n−1) p−1 dw
B1 (x) |x − y| B1 (0)
R
e lembrar que B1 (0) |w|−γ dw < ∞ se, e somente se, γ < n. Quando γ = (n − 1)p/(p − 1)
esta condição de integrabilidade é exatamente n < p, que é o caso que estamos conside-
rando. Dessa forma
Z
1
p
(n−1) p−1
dy = C(n, p) = C < ∞.
B1 (x) |x − y|
|u(x)| ≤ C1 C (p−1)/p kukLp (B1 (x)) + C3 ||u||Lp (B1 (x)) ≤ C4 kukW 1,p (Rn ) ,
e portanto
||u||C 0 (Rn ) ≤ C4 ||u||W 1,p (Rn ) . (4.13)
Logo, podemos usar o lema anterior e a desigualdade de Hölder como há pouco, para
obter
Z Z
1 2n
|u(x) − u(z)| dz ≤ |u(x) − u(z)| dz
|Ω| Ω ωn rn Br (x)
Z
|∇u(z)|
≤ C5 (n) n−1
dz
Br (x) |x − z|
Z (p−1)/p
p
−(n−1) p−1
≤ C5 k∇ukLp (Rn ) |w| dw .
Br (0)
Mas
Z Z rZ
p n
−(n−1) p−1
|w| dw = |w|−(n−1)p/(p−1) dSw ds = C6 (n, p)r1− p .
Br (0) 0 ∂Bs (0)
Assim, Z
1 n
|u(x) − u(y)| dz ≤ C7 r1− p k∇ukLp (Rn ) .
|Ω| Ω
n n
|u(x) − u(y)| ≤ 2C7 r1− p k∇ukLp (Rn ) ≤ C8 r1− p kukW 1,p (Rn ) .
n
Como r = |x − y|, concluímos que para γ = 1 − p
vale
de conjuntos de medida nula. Sendo assim, o teorema acima diz que, se u ∈ W 1,p (Ω) com
n
n < p, então existe u∗ ∈ W 1,p (Ω) ∩ C 0,1− p (Ω) tal que
Um outro ponto que merece destaque é que a imersão acima também vale se p = +∞.
Nesse caso, mostra-se que u ∈ W 1,∞ (Ω) se, e somente se, u é Lipschitziana em Ω (cf. [4,
Teorema 4, Seção 5.8])
Os resultados de imersão apresentado até agora podem ser sumarizados como segue:
se Ω ⊂ Rn é um aberto limitado de classe C 1 então
np
Lq (Ω), 1 ≤ q ≤ p∗ = n−p , se 1 ≤ p < n,
W 1,p (Ω) ֒→ Lq (Ω), q ≥ 1, se p = n,
C 0,1− np (Ω), se p > n.
Vamos agora considerar imersões para o espaço W 2,p (Ω). Suponha inicialmente que
1 ≤ p < n e seja u ∈ W 2,p (Ω), com Ω ⊂ Rn sendo um aberto limitado de classe C 1 . Note
inicialmente que, para cada i = 1, . . . , n, vale
∂u ∗
∈ W 1,p (Ω) ֒→ Lp (Ω).
∂xi
∗ ∗
Uma vez que u ∈ W 2,p (Ω) ֒→ W 1,p (Ω) ֒→ Lp (Ω) concluímos que u ∈ W 1,p (Ω). Vamos
supor adicionalmente que 1 ≤ p∗ < n, isto é, que 2p < n. Nesse caso
∗ ∗ )∗
W 1,p (Ω) ֒→ L(p (Ω),
onde
np∗ np
(p∗ )∗ = ∗
= .
n−p n − 2p
Concluímos então que, se 2p < n, vale a seguinte imersão
np
W 2,p (Ω) ֒→ L n−2p (Ω).
O caso n < 2p pode ser tratado de maneira análoga. Iterando esse processo obtemos
o seguinte resultado de imersão.
(i) se kp < n
W k,p (Ω) ֒→ Lq (Ω),
np
para todo 1 ≤ q ≤ n−kp
;
(ii) se kp = n
W k,p (Ω) ֒→ Lq (Ω),
para todo q ≥ 1 ;
(iii) se kp > n
n
W k,p (Ω) ֒→ C k−[ p ]−1,γ (Ω),
onde (
[ np ] + 1 − np , se n
p
6∈ Z
γ= n
qualquer número pertencente a (0, 1), se p
∈ Z.
(i) se 1 ≤ p < n,
cpct.
W 1,p (Ω) ֒→ Lq (Ω),
(ii) se p = n,
cpct.
W 1,p (Ω) ֒→ Lq (Ω),
para todo q ≥ 1 ;
(iii) se n < p,
cpct.
W 1,p (Ω) ֒→ C 0,γ (Ω),
Além disso, as imersões de W01,p (Ω) nos espaços acima são sempre compactas, indepen-
dentemente da regularidade de Ω.
Para cada ε > 0 considere uεm := ηε ∗ um . Podemos supor que ε > 0 é pequeno de
modo que o suporte de cada uεm está contido em B. O teorema segue das duas afirmações
abaixo
Afirmação 1: a sequência (uεm )m∈N é equicontínua e equilimitada.
Afirmação 2: limε→0+ uεm = um , uniformemente em Lq (B).
Vamos assumir a veracidade das duas afirmações acima e ver como o teorema segue delas.
Fixado δ > 0, podemos usar a Afirmação 2 para obter ε > 0 tal que
δ
kuεm − um kLq (B) < , m = 1, 2, ...
4
Assim,
kumj − umk kLq (B) ≤ kumj − uεmj kLq (B) + kuεmj − uεmk kLq (B)
+ kuεmk − umk kLq (B) ,
e portanto
lim sup kumj − umk kLq (B) < δ.
j,k→+∞
de modo que
o que mostra que (uεm )m∈N é equilimitada. De maneira análoga mostra-se que
e portando a derivada das funções uεm formas uma sequência equilimitada no conjunto
convexo B. Segue facilmente do Teorema do Valor Médio que a sequência (uεm )m∈N é
equicontínua, ficando portanto provada a primeira afirmação.
Para a prova da Afirmação 2 note inicialmente que
Z Z
uεm (x) = ηε (x − y)um (y) dy = ηε (z)um (x − z) dz
Bε (x) Bε (0)
Z Z
n n 1 |εy|
= ε ηε (εy)um (x − εy) dy = ε n
η um (x − εy) dy
B1 (0) B1 (0) ε ε
Z
= η(|y|)um (x − εy) dy.
B1 (0)
Logo
Z Z Z 1 Z
|uεm (x) − um (x)| dx ≤ ε η(|y|) |∇um (x − εty)| dx dt dy
B B1 (0) 0 B
Z
≤ ε |∇um (z)| dz
B
Uma vez que C ∞ (B̄) é denso em W 1,p (B) (cf. Teorema 4.14), podemos usar um argumento
de densidade para ver que a estimativa acima vale se um ∈ W 1,p (B).
A estimativa acima, a limitação de B e a limitação de (um ) em W 1,p (B), nos fonecem
≤ C6 kuεm − um k1−θ ε θ
L1 (B) kum − um kW 1,p (B)
≤ C7 kuεm − um k1−θ
L1 (B) .
cpct.
W 1,n (Ω) ֒→ W 1,(n−ε) (Ω) ֒→ Lq (Ω),
cpct.
W 1,p (Ω) ֒→ C 0,1−n/p (Ω) ֒→ C 0,γ (Ω),
4.6 Exercícios
Atenção: Nos exercícios abaixo, a menos que se diga o contrário, Ω ⊂ Rn é um aberto
limitado de classe C 1 .
4.4. Se a sequência de funções (um ) tem derivadas fracas vm (x) = Dα um (x) no domínio
Ω ⊂ RN , um → u e vm → v em L1 (Ω), então v(x) = Dα u(x).
4.6. Seja B = B1 (0) ⊂ Rn a bola unitária, 1 < p < ∞ e γ > 0 tal que γ < (n − p)/p.
Mostre que a função u(x) := |x|−γ está em W 1,p (B).
4.8. Se u : (0, 1) → R é contínua em (0, 1), diferenciável q.t.p. em (0, 1) e possui derivada
fraca de primeira ordem em (0, 1), então u é absolutamente contínua.
4.9. Se u ∈ W 1,p (0, 1) para algum 1 ≤ p < ∞, então existe uma função u∗ absolutamente
contínua tal que u(x) = u∗ (x) q.t.p. em (0, 1). Além disso u′ (que existe q.t.p. em (0,1))
pertence a Lp (0, 1).
Verifique que sgn(x) possui derivada clássica contínua em R \ {0} mas não possui derivada
fraca em (−a, a), qualquer que seja a ∈ R.
4.11. Prove diretamente que se u ∈ W 1,p (0, 1) para 1 < p < ∞, então
Z 1 1/p
1−1/p ′ p
|u(x) − u(y)| ≤ |x − y| |u (t)| dt .
0
4.12. Use integração por partes para provar a seguinte desigualdade de interpolação
Z Z 1/2 Z 1/2
2 2 2 2
|∇u| dx ≤ C u dx |D u| dx ,
Ω Ω Ω
para toda função u ∈ C0∞ (Ω). Usando um argumento de densidade estenda o resultado
para u ∈ W 2,2 (Ω) ∩ W01,2 (Ω).
para u ∈ C0∞ (Ω) e em seguida estenda o resultado para u ∈ W 2,p (Ω) ∩ W01,p (Ω).
R p
Pn R p−2 dx.
Sugestão: observe que Ω |∇u| dx = i=1 Ω uxi uxi |∇u|
4.17. Se Ω = (−1, 1) e (
0 se x ∈ (−1, 0),
u(x) =
x se x ∈ [0, 1),
então u ∈ W 1,∞ (Ω), mas u não pode ser aproximada nesse espaço por funções de classe
C ∞ (Ω).
então u ∈ W 1,p (Ω) para todo p ≥ 1, mas u não pode ser aproximada nesse espaço por
funções de classe C 1 (Ω).
4.21. Se u, v ∈ W 1,p (Ω) ∩ L∞ (Ω), 1 ≤ p < ∞, então uv ∈ W 1,p (Ω) ∩ L∞ (Ω) e ∇(uv) =
u∇v + v∇u.
T : Lp (Ω) → Lp (∂Ω)
4.24. Se Ω = B1 (0) e γ > 0, então existe uma constante C = C(γ, n) > 0 tal que
Z Z
2
u dx ≤ C |∇u|2 dx,
Ω Ω
sempre que u ∈ W 1,2 (Ω) é tal que a medida do conjunto {x ∈ Ω : u(x) = 0} é maior ou
igual a γ.
e (
0 q.t.p. em {u ≥ 0},
∇u− =
−∇u q.t.p. em {u < 0}.
Sugestão: tome u1 de classe C 1 com suporte em (0, 1) e ku1 k1,p = 1, e considere a sequência
um (x) = u1 (x − m)
5
Soluções fracas para equações lineares
de 2a ordem
A expressão acima vale para toda função teste. Afirmamos que ela permanece válida para
função v no espaço de Sobolev H01 (Ω). De fato, se v ∈ H01 (Ω) então existe (vm ) ⊂ C0∞ (Ω)
tal que
vm → v em H01 (Ω).
lim aij (x)uxi (x)(vm )xj (x) = aij (x)uxi (x)vxj (x) q.t.p. em Ω.
m→∞
Alem disso,
|aij (x)uxi (vm )xj | ≤ kaij k∞ |uxi (x)||hv (x)| q.t.p. em Ω.
Uma vez que uxi , h ∈ L2 (Ω), a função do lado direito acima está em L1 (Ω). Segue então
do Teorema da Convergência Dominada de Lebesgue que
Z Z
ij
lim a (x)uxi (vm )xj = aij (x)uxi vxj .
m→∞
Como u, f ∈ L2 (Ω), podemos usar (5.3) e proceder de maneira análoga para mostrar que
Passando então a igualdade (5.2) ao limite, concluímos que a mesma vale para toda função
v ∈ H01 (Ω). Isso motiva a seguinte definição
Definição 5.1. Dizemos que u ∈ H01 (Ω) é uma solução fraca do problema (P ) quando
Z X
n Z X
n Z Z
ij i
a (x)uxi vxj + b (x)uxi v + c(x)uv = f v, ∀ v ∈ H01 (Ω).
i,j=1 i=1
Observe que, na igualdade acima, as derivadas que aparecem sob o sinal das integrais
são as derivadas fracas das funções u e v. Uma vez que os coeficientes de L estão em
L∞ (Ω), todas as integrais acima estão bem definidas. Finalmente, note que uma solução
fraca do problema pode não ter derivadas no sentido clássico. Tudo que precisa ocorrer
é que a equação integral acima seja satisfeita. Desse modo, há mais chances de obter
solução fraca do que solução clássica.
A fim de simplificar a notação vamos no que segue denotar por B : H01 (Ω)×H01 (Ω) → R
a seguinte função
Z X
n Z X
n Z
ij i
B[u, v] := a (x)uxi vxj + b (x)uxi v + c(x)uv. (5.4)
i,j=1 i=1
Observe que B é uma forma bilinear definida em H01 (Ω) × H01 (Ω). Com essa notação,
u ∈ H01 (Ω) é solução fraca de (P ) se, e somente se,
Z
B[u, v] = f v, ∀ v ∈ H01 (Ω).
Lembremos agora que, em H01 (Ω), podemos introduzir o seguinte produto interno
Z
hu, viH01 (Ω) = ∇u · ∇v.
O lado direito da expressão pode ser visto como a ação do seguinte funcional linear
Tf : H01 (Ω) −→ R Z
v 7→ Tf (v) := f (x)v(x) dx.
o que mostra que Tf é contínuo. Segue então do Teorema da Representação de Riesz que
existe um (único) uf ∈ H01 (Ω) tal que
Z
huf , viH01 (Ω) = Tf (v) = f v, ∀ v ∈ H01 (Ω).
Como não existem os termos de primeira ordem temos que B é uma forma bilinear e
simétrica. Além disso, podemos usar a elipticidade uniforme de L, c(x) ≥ 0 e a desigual-
dade de Poincaré novamente, para obter
Z X
n Z Z Z
ij 2 2
B[u, u] = a (x)uxi uxj + c(x)u ≥ θ0 |∇u| ≥ C |u|2 ,
i,j=1
com C > 0 independente de u. A expressão acima mostra que B[u, u] = 0 se, e somente
se, u = 0. Portanto B é uma forma bilinear, simétrica e positiva definida. Logo, define
um produto interno em H01 (Ω) cuja norma induzida é
Tf R
Para obtermos uma solução fraca precisamos somente verificar que v 7−→ f v é um
funcional linear contínuo em (H01 (Ω), k·kB[·,·] ). Para tanto observe que, se v ∈ H01 (Ω),
podemos proceder como antes para obter
Z 1/2
2
|Tf (v)| ≤ Ckf k2 |∇v| .
R
Como B[v, v] ≥ θ0 |∇v|2 obtemos
−1/2 e kvk
|Tf (v)| ≤ Ckf k2 θ0 B[v, v]1/2 = C B[·,·] .
Desse modo, essa nova topologia em H01 (Ω) mantém a continuidade de Tf e podemos
então aplicar o Teorema de Riez para obter uf ∈ H01 (Ω) tal que
Z
B[uf , v] = f v, ∀ v ∈ H01 (Ω).
Observe que, devido à presença dos termos de primeira ordem, B pode não ser simétrica.
Se esse for o caso, o lado esquerdo da formulação fraca do problema não é mais um produto
interno e não podemos aplicar o Teorema de Riesz.
A fim de superar a dificuldade apresentada acima vamos tentar utilizar o seguinte
resultado de Análise Funcional.
Tu
Demonstração. Para cada u0 ∈ H fixado, a aplicação v 7−→ 0
B[u0 , v] é um funcional li-
near contínuo. Logo, pelo Teorema de Riesz, existe Au0 ∈ H tal que B[u0 , v] = hAu0 , viH ,
para todo v ∈ H. Variando u0 podemos construir um operador A : H → H de tal modo
que, para cada u ∈ H, o vetor Au é o único elemento de H que satisfaz
e portanto
kAukH ≤ C kukH
A expressão acima implica que A é injetiva e que a imagem de A, que será denotada por
Im(A), é fechada em H.
Vamos mostrar agora que A é também sobrejetivo. Suponha, por contradição, que
Im(A) 6= H. Como Im(A) é um subespaço próprio fechado de H, o seu complementar
ortogonal Im(A)⊥ é não trivial. Desse modo, se w ∈ Im(A)⊥ \ {0}, temos que
Tf R
Conforme vimos anteriormente, com essa topologia, o funcional linear v 7−→ f v é con-
tínuo de H01 (Ω) em R.
Precisamos verificar que a forma bilinear B[·, ·] definida em (5.4) satisfaz as hipóteses
do Teorema de Lax-Milgram. Para tanto, note inicialmente que, se u, v ∈ H, então
n
X Z n
X Z Z
ij
i
|B[u, v]| ≤
a ∞ |uxi | |vxi | +
b ∞ |uxi | |v| + kck∞ |u| |v|
i,j=1 i=1 Ω
Z Z Z
≤ c1 |∇u| |∇v| + |∇u| |v| + |u| |v|
≤ c1 k∇uk2 k∇vk2 + k∇uk2 kvk2 + kuk2 kvk2
≤ c1 kukH01 (Ω) kvkH01 (Ω) + c2 kukH01 (Ω) kvkH01 (Ω) + c3 kukH01 (Ω) kvkH01 (Ω)
e portanto B é contínua.
A condição (ii) do Teorema de Lax-Milgram é mais delicada e não vale em geral. O
próximo resultado é um primeiro passo para impor condições em L de modo que possamos
resolver o problema (P ).
√ b 1 1 b2 1
ab = 2εa √ ≤ 2εa2 + = εa2 + b2 .
2ε 2 2 2ε 4ε
Desse modo Z Z Z
1 2
|∇u| |u| ≤ ε |∇u| + |u|2 .
4ε
Pn
Escolhendo ε > 0 tal que ε i=1 kbi k∞ = θ0 /2 obtemos
Z Z Pn Z
2 θ0 2 kbi k∞
θ0 |∇u| ≤ B[u, u] + |∇u| + i=1
+ kck∞ u2
2 4ε
e portanto Z P Z
θ0 2 kbi k
|∇u| ≤ B[u, u] + i
+ kck∞ u2 .
2 4ε
Desse modo, a conclusão do enunciado vale para
2
P i
i kb k∞
θ0
β := , γ := + kck∞ ,
2 2θ0
com aij , bi , c ∈ L∞ (Ω). Então existe γ = γ(kbi k∞ , θ0 , kck∞ ) ≥ 0 tal que, para toda
f ∈ L2 (Ω) e todo µ ≥ γ, o problema
(
Lu + µu = f, em Ω,
(Pµ )
u = 0, em ∂Ω.
Demonstração. Vamos provar o teorema para γ ≥ 0 dado pelo lema anterior. Seja então
f ∈ L2 (Ω) e µ ≥ γ. A formulação fraca do problema (Pµ ) é a seguinte: obter u ∈ H01 (Ω)
tal que Z
Bµ [u, v] = f v, ∀ v ∈ H01 (Ω)
onde Z
Bµ [u, v] := B[u, v] + µ uv.
A mesma conta feita para a forma B mostra que existe α > 0 tal que
isto é,
β kuk2 ≤ Bµ [u, u], ∀ u ∈ H01 (Ω).
R
Aplicando o Teorema de Lax-Milgram para Bµ [·, ·] e lembrando que v 7→ f v é linear
e contínuo, obtemos uf ∈ H01 (Ω) tal que
Z
Bµ [uf , v] = f v, ∀ v ∈ H01 (Ω),
u − Ku = f, (5.5)
com f ∈ H. O nome do resultado se deve ao fato de que ele afirma que ocorre exatamente
uma das alternativas abaixo.
Alternativa 1: para cada f ∈ H o problema tem solução única.
Alternativa 2: o problema homogêneo associado u − Ku = 0 possui solução u 6= 0.
Nesse caso, a equação (5.5) tem solução se, e somente se, f ∈ (Ker(Id − K ∗ ))⊥ .
Nossa intensão no que segue é aplicar o Teorema 5.6 para estudar a solubilidade do
problema (P ). Para tanto vamos supor que os coeficientes bi do operador L são de classe
C 1 (Ω) e introduzir o problema adjunto de (P ) como segue
(
L∗ v = f, em Ω,
v = 0, em ∂Ω,
n n n
!
X X X
L∗ v = − (aij (x)vxi )xj + bi (x)vxi + c(x) − (bi (x))xi v.
i,j=1 i=1 i=1
A expressão para L∗ v acima pode ser obtida via integração por partes (Teorema da Di-
vergência). Além disso, segue da definição que
Z Z
hLu, vi2 = Luv = uL∗ v = hu, L∗ vi2 , ∀u, v ∈ H01 (Ω).
X n
X
ij
Lu = − (a (x)uxi )xj + bi (x)uxi + c(x)u,
i,j i=1
Lu = 0 em Ω, u = 0 em ∂Ω, (5.6)
(iii) o problema (P ) tem solução fraca para uma dada f ∈ L2 (Ω) se, e somente se,
Z
hf, vi2 = f v, ∀ v ∈ N ∗.
Uma vez que L é linear, o operador solução também é linear. Além disso, se f ∈ L2 (Ω),
então u = Sγ (f ) satisfaz
Z
βkuk2H 1 (Ω) ≤ Bγ [u, u] = f u ≤ kf k2 kuk2 ≤ Ckf k2 kukH01 (Ω) ,
0
onde estamos usando a mesma notação da demonstração do Teorema 5.5. Uma vez que
u = Sγ (f ), a expressão acima pode ser reescrita como
C
kSγ (f )kH01 (Ω) ≤ kf k2 ,
β
o que mostra que o operador solução é contínuo de L2 (Ω) em H01 (Ω). Usando a limitação
de Ω e o diagrama abaixo,
Sγ cpct.
L2 (Ω) −→ H01 (Ω) ֒→ L2 (Ω)
Lu = f ⇔ Lu + γu = f + γu
⇔ u − γSγ (u) = Sγ (f )
u − Ku = Sγ (f )
com K = γSγ compacto de L2 (Ω) em L2 (Ω). O resultado segue agora do Teorema 5.6
(cf. Exercício 5.2).
5.1.2 Os autovalores de L
Dado um espaço de Hilbert real H e um operador linear contínuo T : H → H,
definimos o resolvente de T como sendo
Observe que λ ∈ ρ(T ) se, e somente se, a equação T u − λu = f tem solução única para
cada f ∈ H. O espectro de T é definido como σ(T ) = R\ρ(T ). Se λ ∈ σ(T ) é tal que
então dizemos que λ é um autovalor de T . Nesse caso, existe uλ ∈ H\{0} tal que
T uλ = λ uλ .
Não é difícil mostra que, se H tem dimensão finita, então σ(T ) = σp (T ). Em dimensão
(i) 0 ∈ σ(K) ;
com aij , c ∈ L∞ (Ω) e bi ∈ C 1 (Ω). Então existe um conjunto finito ou infinito enumerável
Σ ⊂ R tal que o problema
(
Lu = λu + f, em Ω,
(P−λ )
u = 0, em ∂Ω,
possui solução fraca única para cada f ∈ L2 (Ω) se, e somente se, λ 6∈ Σ. Além disso, se
Σ é infinito, então Σ = (λm )m∈N com λm → ∞ quando m → ∞.
5.2 Espectro de −∆
Nessa seção vamos estudar o problema de autovalor
(
−∆u = λu, em Ω,
(P A)
u = 0, em ∂Ω,
onde Ω ⊂ Rn é uma aberto limitado. Vamos usar em H01 (Ω) a seguinte norma
Z
2
kuk = |∇u|2 .
Ω
Note que a formulação fraca do problema acima é: encontrar u ∈ H01 (Ω) \ {0} tal que
Z Z
hu, vi = ∇u · ∇v = f v, ∀ v ∈ H01 (Ω).
Ω Ω
Lembre que estamos interessados em soluções u 6= 0, visto que autovetores são sempre
vetores não nulos. Fazendo v = u na expressão acima obtemos
Z Z
2
|∇u| = λ u2 ,
Ω Ω
de onde se conclui que λ > 0. Outra observação importante é que, conforme veremos na
seção seguinte, podemos regularizar as autofunções de modo que todas elas são de classe
C ∞ (Ω).
Vamos tentar aplicar o Teorema 5.8 para obter os autovalores de (P A). Para tanto,
note que para cada u ∈ H01 (Ω) fixado a aplicação
Tu : H01 (Ω) −→ R Z
v 7→ Tu (v) := uv dx
Ω
é um funcional linear e contínuo em H01 (Ω). Logo, existe T u ∈ H01 (Ω) tal que hT u, vi =
R
Ω
uv para todo v ∈ H01 (Ω). Variando u, podemos construir uma aplicação T : H01 (Ω) →
H01 (Ω) tal que Z
hT u, vi = uv, ∀ u, v ∈ H01 (Ω). (5.8)
Ω
e Z Z
hT u, vi = uv = vu = hT v, ui = hu, T vi,
Ω Ω
ou ainda
kT uk ≤ c1 kuk, ∀ u ∈ H01 (Ω),
um → u em L2 (Ω).
ou ainda,
kT um − T uk k ≤ c2 kum − uk k2 .
ou ainda
1
hT u, vi = hu, vi, ∀ v ∈ H01 (Ω).
λ
Segue da expressão acima que λ > 0 é autovalor de (P A) com autovetor associado u 6= 0
se, e somente se,
1
T u = u.
λ
Temos então o seguinte resultado.
0 < λ1 < λ2 ≤ λ3 ≤ · · · ≤ λk ≤ · · ·
1
λm = .
µm
0 < λ1 ≤ λ2 ≤ λ3 ≤ · · · ≤ λm ≤ · · · ,
Outro ponto importante é que o resultado acima permanece válido para o operador
n
X
Lu = − (aij (x)uxi )xj + c(x)u,
i,j=1
Vamos aplicar o resultado acima para o operador T relacionado com o problema (P A).
Para fazer isso, observe inicialmente que o menor autovalor λ1 do problema (P A) é exa-
tamente o inverso do maior autovalor do operador T definido em (5.8). Assim,
1 u u
= sup hT u, ui = sup T , .
λ1 kuk=1 u6=0 kuk kuk
e portanto Z Z
2
λ1 u ≤ |∇u|2 , ∀ u ∈ H01 (Ω).
Ω Ω
λ1 = inf Q(u),
u6=0
isto é,
λ1 = Q(ϕ1 ).
ϕ1 = ϕ+ −
1 − ϕ1 ,
com ϕ+ − + − 1
1 , ϕ1 6≡ 0. Lembremos que ϕ1 , ϕ1 ∈ H0 (Ω) e
(
∇ϕ1 (x), q.t.p. em {x ∈ Ω : ϕ1 (x) > 0}
∇ϕ+
1 (x) =
0, q.t.p. em {x ∈ Ω : ϕ1 (x) ≤ 0},
Mas Z Z Z
∇ϕ1 · ∇ϕ+
1 = ∇ϕ+
1 · ∇ϕ+
1 = |∇ϕ+ 2
1| .
Ω {ϕ1 >0} Ω
R R
Analogamente Ω
ϕ1 ϕ+ = Ω
(ϕ+ 2
1 ) , e portanto segue de (5.9) que
Z Z
|∇ϕ+
1|
2
= λ1 (ϕ+ 2
1) .
Ω Ω
Logo Q(ϕ+ +
1 ) = λ1 donde se conclui que ϕ1 é uma λ1 -autofunção. De maneira análoga
mostra-se que ϕ−1 é também λ1 -autofunção.
Temos então que (
−∆ϕ± 1 = λ1 ϕ±
1, em Ω,
u = 0, em ∂Ω.
Uma vez que existe uma base ortogonal de H01 (Ω) formada por autofunções, e ϕ1 e ψ são
linearmente independentes, temos que
Z Z
0 = hϕ1 , ψi = ∇ϕ1 · ψ = λ1 ϕ1 ψ.
Ω Ω
Mas a expressão acima não pode nunca ocorrer visto que, pelo item (i), o produto ϕ1 ψ
tem sinal definido em Ω. Obtemos então uma contradição, o que mostra que ψ é um
múltiplo escalar de ϕ1 .
A regularidade dos coeficientes vai variar de resultado para resultado. De uma maneira
geral, quanto mais regulares forem os coeficientes e o dado f , mais regular será a a solução.
Antes de apresentar os resultados vamos fazer uma cálculo formal. Suponha então que
u : Rn → R é uma função regular que vai a zero no infinito rapidamente. Suponha ainda
que
−∆u = f, em Rn
o que mostra que as derivadas de ordem 2 da função u estão em L2 (Rn ). Supondo agora
que, para todo i = 1, . . . , n, a função fxi existe e está em L2 (Rn ), podemos usar o fato
de que −∆(uxi ) = fxi e podemos proceder como acima para concluir que as derivadas de
ordem 3 da função u também estão em L2 (Rn ).
De uma maneira grosseira, o que vale é que uma solução do problema Lu = f tem
duas derivadas a mais do que a função f . Mais precisamente, temos o seguinte (cf. [4,
Teorema 2, Seção 6.3])
Teorema 5.14 (Regularidade interior). Seja k ∈ N ∪ {0} e suponha que aij , bi , c ∈
C k+1 (Ω), f ∈ W k,2 (Ω) e u ∈ W 1,2 (Ω) é uma solução fraca de
Lu = f.
k+2,2
Então u ∈ Wloc (Ω) e, para cada Ω0 ⊂⊂ Ω, existe uma constante C = C(k, Ω, Ω0 , aij , bi , c) >
0 tal que
kukW k+2,2 (Ω0 ) ≤ C kf kW k,2 (Ω) + kukL2 (Ω) .
Observe que a solução u do resultdo pertence a W 1,2 (Ω), de modo que não estamos
exigindo que u = 0, no sentido do traço, na fronteira de Ω. Outro ponto que merece
destaque é que, se os coefientes aij , bi , c ∈ C ∞ (Ω) e f ∈ C ∞ (Ω) então podemos usar o
resultado acima e o item (iii) do Teorema ?? para concluir que u ∈ C ∞ (Ω).
Quando a fronteira de Ω é regular podemos obter um resultado global de regularidade
(cf. [4, Teorema 5, Seção 6.3]).
Teorema 5.15 (Regularidade global). Seja k ∈ N ∪ {0} e suponha que aij , bi , c ∈
C k+1 (Ω), f ∈ W k,2 (Ω) e Ω é de classe C k+2 . Suponha que u ∈ W01,2 (Ω) é solução fraca de
Lu = f, em Ω
u = 0, em ∂Ω.
Então u ∈ W k+2,2 (Ω) e existe uma constante C = C(k, Ω, aij , bi , c) > 0 tal que
kukW k+2,2 (Ω) ≤ C kf kW k,2 (Ω) + kukL2 (Ω) .
Então
( ii) (Schauder) se Ω é limitado e de classe C 2,γ , f ∈ C 0,γ (Ω) e u ∈ C 0,γ (Ω), então
u ∈ C 2,γ (Ω) e existe uma constante C = C(Ω, γ) > 0 tal que
A prova do item (i) pode ser encontrada em [2]. O item (ii) está provado em (???).
Vale observar que o resultado vale para operadores de 2a ordem mais gerais.
No que segue vamos mostrar como os teoremas acima podem ser usados para regu-
larizar soluções fracas de problemas elípticos não lineares. Mais especificamente Vamos
considerar o seguinte problema
−△u = g(x, u) , Ω
(5.10)
u=0 , ∂Ω
Observe que, em geral, o lado direito da expressão acima pode não ser finito. Desse modo,
para que a definição faça sentido, precisamos impor uma condição de crescimento sobre
g, a saber
|g(x, s)| ≤ c1 + c2 |s|r , ∀ (x, s) ∈ Ω × R, (5.11)
2∗ 2∗
s′ = ≤ = 2∗
2∗ − r 2∗ − (2∗ − 1)
Assim, sob a condição de crescimento (5.11) podemos definir o conceito de solução fraca
em H01 (Ω) para o problema.
Vamos provar o seguinte resultado de regularidade.
2∗ ∗ /r ∗
|g(x, u(x))| r ≤ (c1 + c2 |u|r )2 ≤ c3 + c4 |u|2 .
∗
Como Ω é limitado e u ∈ L2 (Ω), a expressão acima implica que
p1 2∗
g(x, u(x)) ∈ L (Ω), com p1 = .
r
Aplicando o item (i) do Teorema 5.16 concluímos que u ∈ W 2,p1 (Ω). Temos então dois
casos a considerar:
Caso 1: 2p1 > n.
Nesse caso, podemos usar o item (iii) do Teorema 4.31 para concluir que u ∈ C 1,α̃ (Ω).
Em particular, u ∈ C 0,α̃ (Ω).
Observe agora que, como g é Hölder contínua,
visto que Ω é limitado e α1 − α̃α1 > 0. A expressão acima implica que g(x, u(x)) ∈ C 0,bγ (Ω)
com γb = α̃α1 . Segue então do item (ii) do Teorema 5.16 que u ∈ C 2,bγ (Ω), sendo portanto
solução clássica do problema.
Vamos agora analizar o outro caso.
Caso 2: 2p1 ≤ n.
Nesse caso, usando o item (i) do Teorema 4.31, obtemos
np1
u ∈ W 2,p1 (Ω) ֒→ Lq1 (Ω), q1 = .
n − 2p1
Assim, g(x, u(x)) ∈ Lp2 (Ω), com p2 = qr1 , e portanto u ∈ W 2,p2 (Ω). Se 2p2 > n, então
podemos argumentar como no caso 1 e provar que u ∈ C 2 (Ω). Caso contrário, podemos
iterar esse processo k vezes para obter números pm , qm , com m = 1, . . . , k, tais que
2∗ qm npm
p1 = , pm+1 = e qm = ,
r r n − 2pm
Afirmamos que, para algum k ∈ N grande, vale 2pk > n. Se isso for verdade então
p2 q1 n n
= ∗ = ∗
> = 1,
p1 2 nr − 2 · 2 n(2 − 1) − 2 · 2∗
∗
e portanto
p2
= 1 + δ,
p1
para algum δ > 0. Agora,
p3 q2 p2 n − 2p1 p2
= = > = 1 + δ,
p2 q1 p1 n − 2p2 p1
donde se conclui que p3 > p2 (1 + δ). Mas p2 = (1 + δ)p1 e portanto p3 > (1 + δ)2 p1 .
Iterando esse processo concluímos que
pk > (1 + δ)k−1 p1 .
Logo, pk > 2n para algum k suficientemente grande. Isso conclui a prova do teorema.
Observe que o conceito de solução fraco foi definido para r ≤ 2∗ − 1. No entando, as
contas feitas acima funcionam quando r < 2∗ − 1. O caso crítico r = 2∗ − 1 pode ser
tratado através do seguinte resultado de regularidade.
Teorema 5.18 (Brezis-Kato). Seja Ω ⊂ Rn um domínio e suponha que u ∈ H01 (Ω) é uma
solução fraca de
−△u = a(x)(1 + |u|) , Ω
u=0 , ∂Ω,
Vamos usar o resultado acima para mostrar que o Teorema 5.17 permancece válido
quando a função g tem crescimento crítico, isto é,
∗ −1
|g(x, s)| ≤ c1 + c2 |s|2 , ∀ (x, s) ∈ Ω × R,
com c1 , c2 ∈ R. De fato, observe inicialmente que se u ∈ H01 (Ω) é solução fraca de (5.10)
com
g(x, u)
a(x) = .
1 + |u|
Se pudermos aplicar o Teorema de Brezis-Kato então podemos usar as imersões W 2,q (Ω) ֒→
n
W 1,q (Ω) ֒→ C 0,1− q (Ω) para q > n e concluir que u é Hölder contínua. Usando agora o
fato de que g é também Hölder contínua, podemos proceder como na parte final do Caso
1 acima e concluir que u é solução clássica.
n
Resta somente verificar que a ∈ L 2 (Ω). Para tanto, observe que
∗ −1
|g(x, u)| c1 + c2 |u|2 ∗ −2
|a(x)| = ≤ ≤ c1 + c2 |u|2 .
1 + |u| 1 + |u|
Logo, Z Z Z
n
(2∗ −2)n/2 ∗
|a(x)| ≤ c1 |Ω| + c2
2 |u| = c1 |Ω| + c2 |u|2 < ∞,
Ω Ω Ω
2∗
visto que Ω é limitado e u ∈ L (Ω).
5.4 Exercícios
Atenção: Nos exercícios abaixo, a menos que se diga o contrário, Ω ⊂ Rn é um aberto
limitado de classe C 1 .
5.1. Resolva os exercícios 1 a 3, e 5 a 9 da Seção 6.6 do livro do Evans [4].
5.2. Complete os detalhes da prova do Teorema 5.7.
5.3. Prove o Teorema 5.9.
5.4. Mostre que as autofunções do problema (P A) são ortogonais também em L2 (Ω). Em
seguinda, considerando k ∈ N ∪ {0} e Vk ⊂ H01 (Ω) o subespaço gerado por {ϕ1 , . . . , ϕk },
mostre as seguintes desigualdades variacionais
Z Z
2
|∇u| ≤ λk u2 , ∀ u ∈ Vk ,
Ω Ω
e Z Z
2
|∇u| ≥ λk+1 u2 , ∀ u ∈ Vk⊥ ,
Ω Ω
[2] S. Agmon S., A. Douglis A., L. Nirenberg, Estimatives near the boundary for solutions
of elliptic P. D. E. satisfying a general boundary value condition I, Comm. Pure Appl.
Math. 12 (1959), pp. 623-727.
[7] Q. Han e F. Lin, Elliptic Partial Differential Equations, American Math. Soc.(1997)
[8] O.D. Kellogg, On the derivatives of harmonic functions on the boundary, Trans.
Amer. Math. Soc. 33 (1931), no. 2, 486–510.
[9] E. Lieb e M. Loss, Analysis, 1a ed. Providence, Rhode Island : American Mathema-
tical Society, 1997. (Graduate Studies in Mathematics, 14)
[10] N.G. Meyers e J. Serrin, H = W , Proc. Nat. Acad. Sci. U.S.A. 51 (1964), 1055–1056.
imersão contínua, 53