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DOI: 10.1590/1413-81232021263.

42082020 1013

Trabalhadoras da saúde face à pandemia: por uma análise

Temas livres Free Themes


sociológica do trabalho de cuidado

Female healthcare workers and the Covid-19 pandemic in Brazil:


a sociological analysis of healthcare work

Silvana Maria Bitencourt (https://orcid.org/0000-0002-3183-373X) 1


Cristiane Batista Andrade (https://orcid.org/0000-0003-1441-9171) 2

Abstract The article aims to discuss the care Resumo Este texto tem como finalidade discutir
provided by female healthcare workers in Brazil o cuidado de trabalhadoras da área da saúde em
during the Covid-19 pandemic, based on a socio- face da Covid-19, sob a análise sociológica de au-
logical analysis by authors who discuss such care toras que o vêm discutindo enquanto um trabalho
as devalued and poorly paid work performed to que é desempenhado, na sua maioria, pelas mu-
a large extent by low-income women. The work lheres das classes populares, é desvalorizado e sofre
involves social constructions of emotions and has baixa remuneração. É uma atividade que envolve
used the body as a work instrument in care for as construções sociais das emoções e tem utiliza-
others. In addition, the increasingly precarious do o corpo como um instrumento de trabalho no
nature of health work in Brazilian society, aggra- cuidado com o outro. Além disso, a precarização
vated in recent decades, with an increase in tem- do trabalho em saúde na sociedade brasileira
porary contracts, loss of labor rights, overload of acirrada nas últimas décadas, como o aumento
tasks, and adverse work conditions, among others, de contratos temporários, perdas de direitos tra-
adds to the increase in medical and hospital care balhistas, a sobrecarga das atividades, condições
in the Covid-19 pandemic. In this context, female de trabalho precárias, dentre outros, soma-se com
healthcare workers experience lack of personal o aumento dos atendimentos médico-hospitalares
protective equipment, fear of coronavirus infec- diante da pandemia da Covid-19. Neste contex-
tion, concerns with their children and other fam- to, as trabalhadoras em saúde vivenciam as au-
ily members, and illness and death of coworkers sências de equipamentos de proteção individual,
1
Instituto de Ciências and themselves. The article highlights the need for medo de contaminação pelo vírus, preocupações
Humanas e Sociais, government attention and management of health- com filhos e familiares, vivências diante da morte
Universidade Federal de
Mato Grosso. Av. Fernando care work and professional societies, analyzing the e do adoecimento de si e de colegas de profissão.
Corrêa da Costa 2367, work conditions female healthcare workers are ex- Este texto aponta para a necessidade de atenção
Boa Esperança. 78060 periencing in confronting the pandemic. governamental, bem como para a gestão do tra-
900 Cuiabá MT Brasil.
silvanasocipufmt@ Key words Work conditions, Pandemic, Women balho em saúde e dos órgãos de classe profissional,
gmail.com workers, Gender analysis in health analisando as condições de trabalho que as traba-
2
Departamento de Estudos lhadoras em saúde estão vivendo no enfrentamen-
sobre Violência e Saúde
Jorge Careli, Escola Nacional to da pandemia.
de Saúde Pública Sérgio Palavras-chave Condições de trabalho, Pande-
Arouca, Fundação Oswaldo mia, Mulheres trabalhadoras, Análise de gênero
Cruz. Rio de Janeiro RJ
Brasil. na saúde
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Bitencourt SM, Andrade CB

Introdução “a desregulamentação do emprego, a intensifica-


ção e a deterioração das condições do trabalho,
A ideia inicial deste artigo partiu das experi- a extensão da jornada, a redução dos salários, a
ências das autoras sobre o trabalho de cuidado crescente desproteção social, a difusão do sofri-
na contemporaneidade e as relações de gêne- mento físico e/ou mental relacionados ao traba-
ro, entendendo-o como complexo e permeado lho e o desemprego estrutural”5(p.5), a área de
pelas relações de poder entre quem é cuidado saúde não está fora dessas influências e dos novos
e aquele/a que realiza esse tipo de atividade. As modos de gestão, inclusive na área pública. 
mudanças no mundo do trabalho, tais como a A precarização do trabalho que envolve a per-
precarização das relações laborais e as suas con- da de direitos trabalhistas, com o acelerado pro-
dições, serão discutidas ao longo do texto, estas cesso de terceirização e, no caso específico das tra-
que afetam tanto os homens, quanto as mulheres. balhadoras em saúde, os baixos salários, leva-as
No entanto, priorizaremos como foco de análise a procurar e a permanecer em mais de um em-
o trabalho das mulheres, estas que estão na linha prego, com vistas à subsistência. Essa afirmativa
de frente na pandemia da Covid-19 e precisam é corroborada por autores6 que consideram que,
conciliar a função na área da saúde e as deman- na área da saúde, a exemplo da enfermagem, so-
das familiares, considerando que ainda são vistas bretudo “os auxiliares e técnicos, vivem em condi-
como as responsáveis pelo cuidado da família. ções cada vez mais precárias, com multiempregos
Utilizaremos, portanto, a denominação “tra- e insegurança no ambiente profissional, o que os
balhadoras em saúde”, entendendo-as como as impede de exercer com dignidade suas atividades
que realizam a atividade de cuidado em saúde, ou laborais”6(p.101).
seja, médicas, enfermeiras, técnicas de enferma- De acordo com a legislação do SUS (Sistema
gem, entre outras dessa área, sob a perspectiva da Único de Saúde), no qual a saúde é tratada como
sociologia do trabalho e dos estudos de gênero. direito constitucional aos habitantes do território
Partindo dessa perspectiva, o texto analisa o brasileiro, independente da nacionalidade do/a
trabalho de cuidado assalariado realizado pelas usuário/a, cabe ao Estado a iniciativa de ações
trabalhadoras na área de saúde, que estão na li- que promovam prevenção, promoção, assistência,
nha de frente, exercendo o cuidado em face da recuperação e reabilitação da saúde das pessoas,
pandemia da Covid-19. Toma como foco a reali- entendendo-a como um “direito fundamental do
dade brasileira e considera o contexto social, que ser humano”7. A partir desse contexto pandêmi-
confere ao país uma quantidade expressiva de co, a garantia à saúde deve ser priorizada como
desempregados/as, trabalhadores/as informais, política pública.
pessoas que vivem aglomeradas em comunidades Embora a legislação brasileira garanta o direi-
(favelas), assim como vivenciam um contexto de to à saúde6, nos últimos anos, o investimento nas
políticas de cuidado e de saúde insuficientes para áreas de saúde e educação sofre com os impac-
o atendimento à população1,2. tos da Emenda Constitucional nº 95, que prevê
A afirmativa sobre o desemprego na socieda- o congelamento dos gastos do SUS e, portanto,
de brasileira é evidenciada pelos dados do Insti- configura um retrocesso na garantia dos direitos.
tuto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Segundo os dados do Conselho Nacional de Saú-
pois mostram que, no primeiro trimestre de 2020, de (CNS), a proposta de congelamento de gastos,
havia 12,9 milhões de pessoas desempregadas no nos vinte anos, implica na possível retirada de até
Brasil3. Se considerarmos as que deixaram de 434 bilhões de reais somente do SUS. Tal política
procurar uma atividade formal, ou seja, estão em afeta diretamente a manutenção dos serviços da
empregos informais, esse número é mais signifi- Estratégia da Saúde da Família (ESF), dos serviços
cativo. de urgência e emergência, dos cuidados à Aids,
É preciso que se enfatize que a sociedade câncer etc8. De acordo com essa reflexão, perce-
brasileira tem sofrido os impactos das reformas bemos que a garantia de direito à saúde pública
neoliberais no mercado de trabalho, como a pre- fica fragilizada com a redução expressiva dos in-
carização, o aumento do desemprego, a expansão vestimentos nos serviços de saúde. Consequente-
do setor de prestação de serviços e dos processos mente, a população brasileira é impactada, assim
de terceirização. E, nesse cenário, têm-se acirra- como as condições de trabalho dessas profissio-
do as perdas de direitos sociais e trabalhistas, so- nais, com o menor investimento advindo de tal
bretudo após a Reforma Trabalhista de 2017 (Lei reforma fiscal.
13.467/2017)4. A sociedade capitalista, a partir de É considerável pontuar que, desde o início da
sua constituição neoliberal, produz a precarieda- Pandemia, em fevereiro de 2020, as medidas pro-
de e precarização do trabalho, entendidos como tetivas, pautadas especialmente no isolamento
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social, não foram apoiadas totalmente pelo go- nacional sobre essa categoria, constatou-se que
verno brasileiro, que adotou um discurso nega- 85,1% são mulheres15. Além disso, são elas ainda
cionista sobre a gravidade da doença, que já havia que, ao deixarem seus postos, voltam para casa
levado a óbito e infectado muitas pessoas fora do e, portanto, para o cuidado que não se esgota na
Brasil. Segundo seu discurso, o isolamento so- esfera profissional, cabendo-lhes a conciliação
cial seria uma medida muito prejudicial para a entre vida familiar e produtiva16.
economia, pois ela não poderia parar9. O grupo Tendo tal abordagem, este texto tem duas fi-
com maior risco de contágio, como as pessoas em nalidades, que são: a) discutir as contribuições
asilamento ou privadas de liberdade, dependen- dos estudos das relações de gênero para analisar
tes de sistema público, moradores das periferias o trabalho de cuidado realizado pelas mulheres,
brasileiras, soma-se às trabalhadoras que estão especialmente em saúde, na sua dupla face: a
em contato direto com as mais vulneráveis ao esfera produtiva e a reprodutiva, enfatizando as
coronavírus, inclusive as profissionais de saúde. especificidades do cuidado enquanto trabalho;
Logo, necessita-se de um sistema de saúde com b) analisar condições de trabalho, adoecimento
condições de atender de forma eficiente e digna, e morte de trabalhadores/as da saúde em face da
sobretudo dada à gravidade da Covid-1910. Covid-19 no Brasil. Para isso, trazemos o con-
Por conseguinte, salientamos que, se há uma ceito da divisão sexual laboral e do trabalho de
demanda mais crescente para os atendimentos care, problematizando as desigualdades entre ho-
em saúde para a prevenção e a assistência na mens e mulheres e as condições nas quais estão
pandemia, é evidente que o trabalho de profis- expostas as mulheres na saúde. Posteriormente,
sionais de saúde às pessoas com Covid-19 tende, discutimos o cuidado em saúde e a realidade vi-
consequentemente, a aumentar. Por essa razão, vida pelas trabalhadoras em saúde na pandemia
as mídias jornalísticas brasileiras (G1 e Uol), da Covid-19.
nos meses de abril e maio de 2020, noticiaram as
condições precárias no setor, como a ausência de A divisão sexual do trabalho
Equipamentos de Proteção Individual (EPI) ou, e o cuidado em saúde
quando da disponibilidade, o uso excessivo de
um mesmo equipamento, tendo em vista a sua Partimos da concepção de que o trabalho
economia, além da sobrecarga com o aumento é central na vida em sociedade, pois envolve as
das demandas por atendimentos em saúde. relações sociais e de poder, logo de dominação.
Partindo dessa perspectiva, o cenário possi- Logo o conceito de divisão sexual do trabalho
bilita refletir quão necessário é o trabalho de cui- é igualmente central para compreender as de-
dado, seja nos espaços hospitalares e clínicos, seja sigualdades de gênero e os modos com que as
no âmbito familiar. A percepção social de que o mulheres têm se inserido no mercado, sendo essa
cuidado é central para a vida humana coloca em concepção um ponto-chave16, a partir do enten-
evidência o cuidado enquanto trabalho, em espe- dimento de ser homem e mulher como constru-
cial, aquele realizado na área de saúde pelas múl- ção social e histórica, para além da fundamen-
tiplas formações profissionais (enfermagem, me- tação biológica17, consequentemente, as relações
dicina, terapia ocupacional, psicologia, nutrição, sociais de sexo, que têm como base o trabalho16.
fisioterapia, fonoaudiologia, dentre outros). Por Assim, a divisão sexual do trabalho, como
meio dele, é evidenciado também que são as mu- uma concepção analítica, permite elucidar, por
lheres que têm realizado essa atividade, a qual tem um lado, que os homens estão na esfera produ-
como centralidade o desprendimento de atenções tiva, na qual, grosso modo, realizam atividades
com o/a outro/a e os atendimentos das suas ne- remuneradas. Por outro, são as mulheres que re-
cessidades físicas, biológicas e emocionais11-13. alizam o trabalho reprodutivo, que nem sempre
O trabalho de cuidado, portanto, não está é remunerado, logo é uma atividade gratuita. É
deslocado do modo de produção capitalista, que, também por meio dessa divisão que evidencia-
no seu desenvolvimento, explora as mulheres, que mos que os homens recebem maiores salários e,
foi fundamental e necessário para a ascensão ca- geralmente, estão em postos de maior valoriza-
pitalista advinda do trabalho gratuito na esfera da ção social e de decisões16.
reprodução14. A divisão sexual do trabalho foi essencial para
Tomando as mulheres trabalhadoras da saú- o desenvolvimento do capitalismo nas sociedades
de como foco do presente artigo, podemos veri- modernas, que explorou as mulheres por meio de
ficar que são a maioria na área da saúde, sobre- um discurso que naturalizou a função reproduti-
tudo na enfermagem, pois, em recente pesquisa va a partir do distintivo daquele feito “por amor”,
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qual seja, quase uma essência da própria ideia de É através dele que cuidadoras experimentam
feminilidade “saber e estar disponível” para cui- sentimentos próprios diante da morte e do ado-
dar do outro14. ecimento alheio, realizam procedimentos para
Interessa-nos salientar que, tal como reafirma antever as necessidades das pessoas, ou seja, ela-
Hirata18, sob a perspectiva da divisão sexual do boram estratégias para atender as demandas do
trabalho, a atividade doméstica, das quais partici- cuidado. E, nesse sentido, “a solicitude e a res-
pam as mulheres de maneira emblemática e real, ponsabilidade sentidas, assim como os significa-
é um trabalho e, portanto, deve ser considerada dos que têm, não são dadas e naturais”13(p.44).
nas análises sobre gênero e suas confluências no Assim sendo, Borgeaud-Garciandía13 consi-
mercado. dera que são construídas na dinâmica e nas ten-
Conforme Hirata e Kergoat19, é relevante sões das relações de trabalho do cuidado no âm-
considerar a condição de bipolarização entre bito público ou privado. Dessa maneira, é preciso
as mulheres para se analisar a situação delas no lidar com a morte e com os dilemas morais para
mercado, pois a compra da função doméstica a tomada ou não de decisões. Mas, ao mesmo
nos últimos tempos tem sido fundamental para tempo, existe um convívio diante da intimidade
as das classes médias construírem suas carreiras, entre quem recebe e quem a realiza, uma vez que
fato que complexifica as relações de gênero, por- o reconhecimento da vulnerabilidade do outro é
tanto de poder entre as mulheres para participar necessário para a condução do atendimento das
do trabalho. Leva-se em consideração, ainda, que necessidades de quem é cuidado13.
a maternidade tem ficado sob a responsabilidade Sendo o care requerido em todas as socie-
das mulheres e não avaliada como uma questão dades, por pessoas em situações de vulnerabili-
social, que precisaria da efetiva ajuda do Esta- dade ou não, realizado por especialistas ou não,
do, das políticas públicas e do exercício de uma ele exprime a sua extensão subjetiva para além
paternidade consciente, que dividiria as tarefas da venda da força de trabalho na sociedade ca-
domésticas, incluindo o cuidado dos filhos, com pitalista. É a partir das considerações sobre as
suas companheiras20. construções subjetivas e o cuidado, que Pascale
A partir de tal abordagem, portanto, traze- Molinier24 considera as experiências de sofrimen-
mos as contribuições das produções teóricas to, compaixão, processos criativos e de afetos nas
feministas e metodológicas dos estudos do care, interações, com vistas à preservação da vida de
sobretudo de autores como Helena Hirata12, Na- quem é cuidado.
tacha Borgeaud-Garciandía13, Ângelo Soares21 e A perspectiva das construções subjetivas no
Pascale Molinier22-24, pois consideram o cuidado e pelo trabalho de cuidado traz avanços para
como trabalho. analisar as suas facetas e complexidades, pois,
Ao aproximarmos desse campo teóri- de acordo com Molinier22-24, existe uma invisibi-
co12,13,21-24, é possível conhecer as condições de lidade dos saberes e fazeres de cuidar. Uma das
trabalho nas quais estão expostas as trabalhado- contribuições trazidas pela autora é sobre o sa-
ras da saúde, as suas inserções e permanências ber-fazer discreto, em que as antecipações para
no mercado, os salários e as jornadas, as formas proporcionar conforto e bem-estar estão sempre
de conciliação entre esfera produtiva e reprodu- presentes nas ações da cuidadora (remunerada
tiva (cuidado com filhos e familiares, atividades ou não), sem que as pessoas percebam um gesto,
domésticas etc.). Somam-se a isso a perspectiva o zelo ou a prevenção de uma complicação, por
das construções subjetivas e os desafios postos a exemplo; sem contar as preocupações com o con-
elas, sobretudo no que diz respeito ao cuidado forto físico e emocional da pessoa cuidada. Além
em saúde realizado em tempos de pandemia, tais disso, existe um saber-fazer que é aprendido nas
como o medo da morte e do adoecimento, o ter formações técnicas, mas também pelas adversi-
que lidar com a sobrecarga devido ao aumento dades do cotidiano de trabalho, tal qual o encon-
do número de pessoas que necessitam de atendi- tro de soluções diante de um problema24.
mento, o cansaço físico e mental, os sentimentos Salientamos que, além do cuidado com o cor-
de compaixão e de responsabilidade. po do outro, o trabalho em saúde, especialmente
O trabalho de cuidado é complexo, pois en- daqueles que estão em contato direto com as pes-
volve as interações entre quem cuida e quem é soas, é permeado pelo uso do corpo. O conceito
cuidado, bem como engendra as relações sociais de trabalho corporal, que ficou durante muito
para atender as necessidades humanas com vistas tempo sem ser central para a sociologia do tra-
ao bem-estar e conforto, solicitando de quem cui- balho, agora parece ser indispensável, sobretudo
da a responsabilidade pela ação13,21-24. nos avanços sobre o trabalho com e pelo corpo,
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em que as experiências das relações sociais po- cuidadoras domiciliares, aspecto discutido por
dem apreender como trabalhadoras lidam e arti- Borgeaud-Garciandía13, como babás, cuidadoras
culam-se com seus corpos e com os dos outros25. de idosos, empregadas domésticas e faxineiras, e
A dimensão corporal no cuidado é também portanto, valem-se de um cuidado que nem sem-
trazida por Soares21, pois os movimentos de des- pre requer formação profissional para tal. Isto
locar, virar, carregar ou mudar as pessoas em posto, é nesse cenário que as trabalhadoras de
uma cama, por exemplo, são utilizados para pro- saúde tomam suas decisões para, nesse momento
porcionar bem-estar e conforto. Dito isso, é rele- da pandemia, escolher com quem e como ficam
vante sinalizar que, em diversos estudos, os ado- os cuidados de seus filhos e familiares, uma vez
ecimentos de profissionais de saúde, relativos ao que creches, pré-escolas e escolas estão fechadas
uso do corpo, têm sido evidenciados, tais como para a contenção da propagação do coronavírus,
as lesões musculoesqueléticas na coluna, oca- o que pode gerar dificuldades para conciliar o
sionadas pelo constante carregamento de peso e trabalho produtivo e reprodutivo.
deslocamento de pessoas nos leitos hospitalares26.
Outro ponto de vista trazido pelos estudos Trabalhadoras em saúde: adoecimentos
do care é sobre as emoções, pois, para Soares21, e morte na Covid-19
o cuidado é um tipo de atividade, em que os as-
pectos emocionais e relacionais são construídos São as trabalhadoras da saúde que, ao con-
social e coletivamente na e pela profissão, em que trário de boa parte da população, que está em
os sentimentos de amor, compaixão, confiança e isolamento ou distanciamento social devido ao
afetividade se fazem presentes. No entanto, senti- controle do coronavírus, estão à frente dos aten-
mentos hostis, de tristeza e tantos outros negati- dimentos que são de alto risco, pois o vírus tem
vos podem vir à tona no exercício profissional21. intensa e extensa propagação mundial28.
E, se refletirmos sobre o contexto da pande- Como discutido anteriormente, a precariza-
mia, as emoções das que realizam atividade da ção do trabalho, inclusive na área de saúde, asso-
saúde devem ser consideradas sob a premência ciada com a intensificação das atividades pautada
de um arcabouço teórico que as considere, tal no produtivismo, podem contribuir para desen-
como sinaliza Fortino et al.27. Para elas, o traba- cadear doenças de ordem física e/ou psíquica na
lho requer, o tempo inteiro, o gerenciamento das saúde e, consequentemente, promover o uso de
emoções diante das dificuldades, das situações de medicamentos psicofármacos para lidar com as
violência, das injustiças, fúria, dentre outras. Da “dores da profissão”29-31. Partindo dessa perspec-
mesma forma, os prazeres, os contentamentos tiva, a exposição aos riscos laborais a que estão
e a conquista da confiança. Se, por um lado, as submetidos/as, como os acidentes de trabalho e
expressões das emoções são requeridas em deter- o adoecimento de seus corpos, tende a fazer par-
minados momentos, por outro, existe a dissimu- te do cotidiano da grande maioria das mulheres
lação de sentimentos que possam comprometer que trabalha com a saúde32, com a finalidade de
o desenvolvimento da atividade ou pôr em risco produção de vida.
o emprego, já que a gestão pode prescrever o que Se associarmos esse cenário dos atendimen-
se deve ou não externar por parte das trabalha- tos com a pandemia da Covid-19, é evidente que
doras27. o aumento do número de casos intensifique a
Assim, considerar o panorama das emoções jornada na saúde. Embora ainda sejam escassas
no cuidado é crucial, sobretudo na pandemia, as pesquisas sobre as influências da pandemia
pois pesquisas chinesas já sinalizam que os pro- na saúde e nas condições de trabalho das profis-
blemas nos atendimentos, desde a exaustão física sionais de saúde brasileiras, é possível dizer do
e emocional, passando pelas dificuldades nas to- aumento das demandas pelos atendimentos em
madas de decisões sobre a saúde das pessoas cui- saúde.
dadas, até o medo de serem infectadas pelo co- Em recente pesquisa sobre a oferta de leitos
ronavírus e da morte. Ademais, existe o contexto no país e de equipamentos de ventilação assis-
familiar, visto que muitas têm receio de infectar tida, foi verificada a importância de se conter a
seus familiares (pais idosos e filhos)28. propagação da doença para não sobrecarregar o
Embora o presente artigo considere, sobretu- sistema de saúde, bem como aumentar o número
do, o trabalho de cuidado naquele em que há re- de leitos hospitalares e a construção de hospitais
muneração para tal, é importante considerar que de campanha para que a população seja assistida,
ele não abrange apenas a esfera produtiva, mas sobretudo em locais sem sistema de saúde capaz
também a privada, em que muitas contratam de atender demandas graves33.
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Se visitarmos os sites dos conselhos de classe, valorização salarial quando comparadas com os
como da enfermagem ou da medicina, as condi- homens. Sem dúvida, “a desigualdade de gênero
ções vividas pelas trabalhadoras da saúde estão influencia as condições de trabalho e a forma
ruins, de modo a verificar que o Brasil é o país como os atores as racionalizam”38(p.15), o que
que mais teve mortes de profissionais do setor reitera que as condições de trabalho de mulheres
em decorrência da Covid-19, segundo o CO- se relacionam com a segregação sexual (trabalho
FEN e o Conselho Internacional de Enfermeiros de homem e mulher) nas inserções no mercado38.
(ICN). Até a data de 27 de outubro de 2020, fo- Considerando que ainda não temos um
ram confirmadas 454 mortes de trabalhadoras/es prognóstico para lidar com o coronavírus, mes-
da equipe de enfermagem (enfermeiros, técnicos mo que medidas protetivas sejam acatadas pela
e auxiliares) no cenário brasileiro e 41.926 casos população e possam diminuir o risco, como a hi-
reportados34. gienização das mãos com o uso de álcool em gel
Em recente pesquisa sobre as condições de e lavagem com água e sabão, bem como a utiliza-
trabalho no Brasil, foram encontradas cerca de ção de máscaras, o isolamento e distanciamento
17 mil inconformidades nos atendimentos da social, podemos verificar que inúmeras profissio-
Covid-19, relatadas por 1.563 (56% de mulheres) nais da saúde têm sido contaminadas e não sa-
participantes. Dentre os maiores agravos, têm-se bem a forma como contraíram o vírus. Portanto,
a ausência de: a) EPI, citada por 38,2% (másca- as emoções, como medo de morrer, preocupação
ras, aventais, óculos protetores, luvas etc.); b) in- em contaminar familiares e ansiedade por não
sumos, exames e medicamentos (kit de exames saberem como será o dia de amanhã, tendem a
de Covid-19, medicamentos etc.), por 18,9%; c) intensificar a pressão emocional que vivenciam.
equipe de profissional de saúde (enfermagem, Os corpos das profissionais de saúde torna-
medicina, limpeza, alimentação e fisioterapia), ram-se números, como um narrou ao ser entre-
por 13,7%. Igualmente, a pesquisa mostra a falta vistado sobre seu trabalho, que sentia muita tris-
de produtos hospitalares, como álcool (líquido e teza de ver as vidas que importavam sendo agora
em gel), papel toalha, sabonetes, desinfetantes e somadas em números de “lápides” devido à in-
leitos hospitalares, dentre outros35. tensificação das mortes diárias: “Hoje nós somos
O Conselho Federal de Enfermagem (Cofen), números, agora os nossos números de matrículas
em nota, aponta o medo de infecção sentido pela estão sendo substituídos por número de lápides”
categoria, o receio de transmissão para seus fa- (profissional de saúde)39.
miliares (filhos e pais adoecidos), o pouco cuida- Os sentimentos gerados na pandemia têm
do de si em decorrência do tempo que resta e da transformado a realidade social, assim como as
intensificação das atividades, as vivências diante subjetividades femininas, sendo que a incerteza
das mortes de colegas e de pacientes. Além disso, produzida diante da Covid-19 já se apresentava,
o evidente desgaste físico de se trabalhar por ho- considerando as consequências do projeto da
ras em pé, com pouco tempo de repouso36. modernidade40 perante as limitações do conhe-
Certamente, essas condições permeiam ou, cimento científico para responder como será o
pelo menos, relacionam-se com o adoecimento amanhã. Nos termos weberianos, esse conheci-
dessas trabalhadoras em saúde. E, dessa maneira, mento apresentava limitações por não responder
as vivências diante do cuidado retratam as vio- às indagações relativas ao sentido da existência
lências pelas quais vêm passando, entendendo-as humana, ou seja, o que devemos fazer e como
como aquelas que envolvem: “[...] a negligência devemos viver41, diante da realidade social apre-
em relação às condições de trabalho; e a omissão sentada.
de cuidados, socorro e solidariedade diante de No contexto antropocêntrico, no qual a ci-
algum infortúnio, caracterizados pela naturaliza- ência moderna foi compreendida como uma
ção da morte e do adoecimento relacionados ao conquista humana, que resolveria todos os di-
trabalho”37(p.30). lemas enfrentados pela sociedade, os preceitos
Assim, chamamos à atenção para as relações religiosos, assim como todos os outros tipos de
de gênero e as desvantagens das mulheres no conhecimentos, foram deixados em segundo pla-
mercado. Estas têm sido objeto de estudos e, de no41, pois a ciência emerge como saber único e
acordo com a União Europeia, são elas que mais verdadeiro da modernidade. Assim, é afirmada a
têm sido expostas às doenças profissionais, aci- hegemonia do conhecimento ocidental, branco e
dentes de trabalho, violências, como os assédios, masculino. Os conhecimentos produzidos e de-
os empregos precários e com baixos salários, bem senvolvidos pelas mulheres sobre o corpo femi-
como possuem jornadas mais extenuantes e des- nino e o trabalho reprodutivo foram ignorados
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na história da ciência moderna, o que contribuiu vid-19, por vezes, os corpos são colocados em
para o desenvolvimento do capitalismo, ao ex- sacos plásticos, sem roupas, tendo seus caixões
plorar as mulheres, a partir do trabalho de repro- lacrados, sem a possibilidade de as famílias se
dução social42. despedirem de seus entes queridos, nem poden-
A ciência, contudo, deve ser compreendida do escolher o traje para o ritual de despedida. E
como um tipo de conhecimento que se firmou quem presencia o grande número de mortos nos
diante de um cenário favorável para se estabele- hospitais, tanto de colegas como de pacientes, e
cer, logo tem uma história compartilhada a partir encontram pessoas que buscam uma palavra de
de determinados paradigmas, que podem entrar consolo porque perdeu ou está perdendo um
em crise, dependendo do grau de aceitação que ente querido, tem sido a profissional da saúde, a
os membros da comunidade científica compre- que precisa lidar com as suas emoções para “dar
endem a partir do período histórico analisado43. uma palavra de conforto” ao que não verá nunca
Crise foi dita no sentido de que a sociedade mais o corpo de seu familiar. E, assim, podemos
irá se transformar, pois todas as pessoas, inde- considerar a dimensão emocional21 que envolve o
pendente de classe, raça, gênero ou nacionali- trabalho de cuidado, já discutida anteriormente.
dade, vivenciam mudanças expressivas nos seus Elias48, ao analisar as emoções diante da mor-
modos de vida e na forma de lidar com a tem- te e dos mortos, apresenta que o terror e o te-
poralidade de seus corpos e emoções, pois ain- mor são despertados na consciência dos vivos,
da não há uma previsão de como construirão as pois quem sofre é quem ainda permanece vivo, já
relações sociais no pós-pandemia e quais marcas que não se sabe sobre os sentimentos, em termos
gerarão na vida das pessoas, principalmente com científicos, daqueles que se foram.
as mortes decorridas da Covid-19. Em paralelo ao cenário de inúmeras mortes,
Fala-se que a vida “nunca mais será como é realizado o ritual de comemoração nos hospi-
antes”, e esta ideia de não ter uma previsão de tais dos pacientes recuperados da Covid-19, com
futuro pode deixar muitos/as com grandes pro- balões brancos e aplausos. O corpo, nesse con-
blemas emocionais, considerando que estamos texto, é compreendido como uma “máquina” que
socialmente condicionados em pensar no ama- conseguiu se recuperar, foi resistente, portanto,
nhã. Assim, temos dificuldades de lidar com a merecedor das comemorações, isso fica mais
experiência do agora, a fim de traduzi-la, logo evidente quando se trata da recuperação de pes-
muitos saberes nesta situação podem ser desper- soas muito idosas. A representação positiva dos
diçados44, se não estivermos atentos à nova reali- discursos do corpo resistente aparece como uma
dade que se apresenta. ideia de que teve melhor saúde para se recuperar
A pandemia do coronavírus assolou a ideia da doença.
de que tínhamos um quadro de referências ex- A ideia de finitude corporal, as perdas e as li-
plicativas, portanto “racionais”, para lidar com os mitações que se expressam no corpo nos revelam
problemas do amanhã; a ideia de crise se acentua que todas as crises humanas têm como foco o
nesse contexto, fragilizando todos os referenciais corpo e as emoções49. Contudo, as emoções sobre
modernos que herdamos, moldados por uma o trabalho de cuidado21 prestadas aos outros são
racionalidade viciada, pautada na dicotomia de evidenciadas nos sentimentos de alegria dian-
nós e os outros45, ou seja, as tragédias vivenciadas te da recuperação de uma pessoa ou da tristeza
pelos outros não nos atingiriam.  quando o corpo cuidado não conseguiu resistir à
Essa racionalidade do mundo capitalista doença da Covid-19.
ocidental se estabeleceu, extinguindo muitas Analisamos que a sessão de aplausos diários
populações humanas46, sendo que, na contem- surge como uma forma de agradecimento co-
poraneidade do século XXI, o capitalismo tem se letivo49, afirmando a necessidade primordial de
afirmado através do consumo imediato, o “des- afirmação destas trabalhadoras. No entanto, a
frutá-lo”, permitindo que o indivíduo acione os representação de um coletivo de heroínas na saú-
mecanismos de suportabilidade e os dispositivos de pode contribuir não somente para uma valo-
de regulação das sensações. Cria-se, assim, sua rização social delas, mas também para reforçar a
política de sensibilidade, ou seja, organiza seu pressão de serem corpos invencíveis para cuidar,
cotidiano para não refletir sobre as desigualdades portanto, dilui-se o ser individual, o corpo que
sociais geradas e sustentadas pelo capitalismo47. tem uma vida além do trabalho.
Vale lembrar que o cuidado com os corpos Partindo dessa perspectiva, o contexto tam-
depois da morte também é uma atividade das bém se mostra favorável ao capital continuar
profissionais de saúde. Após o óbito por Co- explorando, de forma desumana, esses corpos.
1020
Bitencourt SM, Andrade CB

Agora o elogio pode ser um antídoto para silen- a mercantilização (quem paga e quem oferece o
ciar vozes que querem trabalhar, mas precisam serviço de cuidado, quem tem acesso ou não ao
de condições adequadas para desenvolver suas cuidado profissional, quem realiza a formação
atividades que foram vistas como necessárias, es- profissional e quem paga por ela), em um país
senciais e valiosas no contexto desta pandemia. desigual como o Brasil, até a concretude da ativi-
Considera-se que as heroínas se tornaram “sim- dade, que é feita, na maioria, pelas mulheres das
ples enfermeiras”49, portanto pessoas que preci- classes populares.
sam também de cuidados, sobretudo na realida- E, assim, este artigo reflexivo aponta para a
de brasileira, em que a precarização do trabalho necessidade de atenção governamental a gestão
está posta. Como analisamos anteriormente, do trabalho em saúde e dos órgãos de classe pro-
o aumento dos atendimentos da Covid-19 e as fissional, percebendo as más condições a que es-
precárias condições de trabalho permitem ques- tão vivendo no enfrentamento da pandemia. Não
tionar o peso da representação de “heroínas” que é possível que essas condições possam ser esca-
essas mulheres estão recebendo nesta pandemia. moteadas diante de tanto adoecimento e mortes
de profissionais deste setor.
Dessa maneira, a partir da perspectiva da
Conclusões análise sociológica do trabalho de cuidado, foi
possível entender que muitas mulheres, enquan-
Diante do cenário de grande crise sanitária que to trabalhadoras da área de saúde, estão viven-
vem enfrentando o Brasil, temos a percepção ciando inúmeros desafios, inclusive os de adoeci-
de que as mortes e os adoecimentos ocorridos mentos e mortes de colegas de trabalho, além da
em decorrência da Covid-19 apontam para a precarização e diminuição dos investimentos na
necessidade de um sistema de saúde público de área de saúde pública, que já assolavam o setor
qualidade, tal como o proposto pelo SUS, para antes até mesmo do contexto pandêmico.
o atendimento integral e universal da população Ademais, os medos e as emoções relativos a
de norte a sul do país para todas as classes sociais. essas vivências precisam ser pensados de modo
É também neste período que fica evidencia- que, coletivamente, as ações para a saúde dessas
da a centralidade do trabalho de cuidado, como profissionais sejam garantidas em um momento
aquele que produz e mantém a vida social na es- de negacionismo da ciência como o que vivemos
fera produtiva e reprodutiva, mas que, ao mesmo e de intensificação das demandas de trabalho,
tempo, possui suas contradições, que vão desde seja em casa ou na área da saúde.

Colaboradores

SM Bitencourt e CB Andrade trabalharam igual-


mente na concepção, análise, redação, revisão
crítica e na aprovação da versão a ser publicada.
1021

Ciência & Saúde Coletiva, 26(3):1013-1022, 2021


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