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UMA REFLEXÃO SOBRE A PRÁTICA DO HOME OFFICE NO CENÁRIO DA


PANDEMIA COVID19.

Conference Paper · November 2020


DOI: 10.14488/ENEGEP2020_TN_SD_353_1819_41500

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XL ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
“Contribuições da Engenharia de Produção para a Gestão de Operações Energéticas Sustentáveis”
Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil, 20 a 23 de outubro de 2020.

UMA REFLEXÃO SOBRE A PRÁTICA DO


HOME OFFICE NO CENÁRIO DA
PANDEMIA COVID19.

Rose Kelly Irene Santos da Conceição Melicio 1 (Unip)


rkm.sud@gmail.com

Pedro Luiz de Oliveira Costa Neto 2 (Unip)


pedroluiz@plocn.com

No início de 2020, devido ao alto nível de contágio do vírus Covid19, foi


decretado em muitos países o distanciamento social. Portanto, empresas foram
“obrigadas” a adotarem o home office como alternativa de se manterem ativas
no mercado. O foco dessa pesquisa é levantar uma reflexão sobre a
aplicabilidade das leis trabalhistas brasileira referentes ao home office durante
a pandemia. Pretende-se verificar, ainda, se podem ser diagnosticadas as
doenças ergonômicas, mentais ou doenças do trabalho, oriundas dessa
modalidade nesse período. Diante do cenário, esse artigo foi realizado por
meio de pesquisa bibliográfica, leis e reportagens. Após o estudo, foi
constatado que não está evidente na legislação, de quem será a
responsabilidade da prevenção, constatação e correções necessárias referente,
às questões surgidas, no cenário do Covid19.

Palavras-chave: Coronavírus/COVID19, Pandemia, Home


Office/Teletrabalho, Ergonomia, Leis Trabalhistas, MPV 927/2020.
XL ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
“Contribuições da Engenharia de Produção para a Gestão de Operações Energéticas Sustentáveis”
Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil, 20 a 23 de outubro de 2020.

1. Introdução

Em dezembro de 2019, em Wuhan na China, apareceram os primeiros casos diagnosticados


com Covid19. Devido ao seu alto nível de contágio, levou a OMS no início de 2020, a decretar
estado de pandemia (CUI, LI, E SHI 2019; MACEDO JÚNIOR, 2020; SUN et al. 2020; OPAS
2020).
Com ausência de intervenções farmacêuticas como vacinas e remédios comprovadamente
eficazes (FERGUSON et al., 2020); e com o intuito de minimizar a propagação no Brasil, foi
adotado o distanciamento social como medita de contenção (CHU et al., 2020).
Esse panorama trouxe consigo à tona o uso em massa da tecnologia, como meio de buscar
novas maneiras de fazer as coisas. Assim, foi necessária uma modificação nas estratégias para
atender às novas demandas de trabalho (LIZOTE et al. 2020). As adaptações a esta nova
conjuntura, colocaram em lados opostos a preocupação sobre a recessão financeira global, e do
outro lado, a mitigação do Covid19 a todo custo (CONTRACTOR 2020). Entretanto, os setores
públicos ou as empresas privadas se apegaram ao home office em quase todos segmentos como
uma arma dessa batalha.
Os autores do presente trabalho estão entre aqueles que se viram forçados a se valer do home
office em suas atividades profissionais, a justifica a realização da presente pesquisa. Com ele se
objetiva discuti aspectos inerentes a essa nova condição de trabalho quanto aos aspectos
conceituais, jurídicos e ergonômicos, dentre outros.
Assim, este artigo visa estudar esse cenário e está organizado em seções sendo a primeira uma
breve introdução ao tema, segunda uma revisão de literatura e a terceira, pesquisa que autores
anteriores realizaram referentes as consequências da exposição excessiva ao computador
(principal ferramenta no home office). Seguido pelas conclusões, agradecimentos e referências
utilizadas na seção seguinte.

2. Referencial teórico
Em uma retrospectiva das Revoluções Industriais foram períodos conhecidos por importantes
descobertas e mudanças impactantes à sociedade. Começando pelo século XVIII, a invenção
da máquina a vapor e consequentemente, a locomotiva e os navios movidos a motor. A segunda
se inicia no final do século XIX, marcada pelo surgimento da eletricidade e a introdução da
linha de montagem, que gerou a produção em massa. O terceiro período iniciou com a
introdução dos computadores, ou seja, a computação de mesa (década de 1960), a computação
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pessoal (década de 1970 e 1980) e a Internet (1990), propiciando a automação (S. GARCIA et
al. 2020). Na virada do século XX para XXI, chega a Quarta Revolução Industrial, descrita
como revolução digital, com internet mais onipresente e móvel. Entretanto, com acessibilidade
à internet por meio dos smartphones, tablets, notebooks e toda sorte de dispositivos móveis,
possibilita-se aos usuários, onde quer que estejam, acessar todo tipo de informação ou mesmo
efetuar transações. Essas transformações nas áreas de informática e telecomunicações
impactaram vários setores (JARDIM 2003).
Segundo Morgenstern e Santos (2016), o mercado de trabalho está constituído em grande parte
com a informação conectada, propiciando ao trabalhador a descentralização do seu trabalho,
independentemente de fatores como espaço e tempo.

2.1 A aplicação do home office no distanciamento social


Para Bleyer (1999) e Luna (2014), trabalho remoto, trabalho em casa ou domicílio, trabalho à
distância e teletrabalho são considerados home office. Ressalta Colnago, Chaves Jr e Estrada
(2017, p.88) que é importante distinguir entre trabalho em domicílio, da modalidade de
teletrabalho em domicílio que é caracterizado pelo o uso de tecnologias, enquanto trabalho em
domicílio não necessariamente.
O teletrabalho surgiu em 1970, como uma alternativa à possível crise do petróleo que ocasionou
o aumento dos problemas de trânsito nas grandes metrópoles e ainda, com maior fluxo das
mulheres ao mercado de trabalho (GONÇALVES, ALMEIDA, E MOURA 2018; QUEIROGA
2020).
Com o intuito de reduzir a proliferação da Covid-19 em 2020, ou seja, cinquenta anos depois,
tal medida foi adotada com grande representatividade, devido ao fechamento das organizações
que trabalham na área comercial e serviço, além de escolas/faculdades, escritórios e outros. Os
reflexos não demoraram para aparecer. Na pesquisa de Máximo (2020), levantou-se alguns
impactos nas indústrias e comércios no cenário brasileiro, por exemplo as decisões dos gestores
em relação aos seus colaboradores, como:

• 58% adotaram o home office;


• 47% deram férias (antecipadas ou não) e/ou 19% optaram pelas férias
coletivas para todos os empregados;
• 46% afastaram funcionários sintomáticos;

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• 35% estão utilizando o banco de horas


• 21% separaram os funcionários por turnos;
• 15% das empresas desligaram seus funcionários.

De acordo com o IBGE (2020), aproximadamente 8,7 milhões de pessoas estão trabalhando
remotamente, o que representa cerca de 13% da população trabalhadora/ocupada (sem contar
os que trabalham na informalidade) nesse período de distanciamento social (GANDRA 2020).
A nova experiência para os trabalhadores também trouxe adaptações ou mudanças em seus
horários, aquisição de aparelhos tecnológicos ou pacotes de internet (pela CLT art.75 seria
atribuição do empregador) para poder manter-se empregado em um momento tão incerto e
grande número de demissões/afastamentos.
Entretanto, o home office sempre foi apresentado como sinônimo de qualidade de vida para o
colaborador (KUGELMASS 1996; BRIK E BRIK 2013). Para melhor compreensão e
explanação sobre esse contexto, Luna (2014 adaptado de Mello, 1999); Lima, Fusco e Riça
(2003) separam em dois quadros as vantagens e desvantagens do home office antes da pandemia
o primeiro na percepção da empresa, conforme o Quadro 1:

Quadro 1 - Vantagens e Desvantagens do Teletrabalho para a Empresa.


VANTAGENS DESVANTAGENS
Redução de custo operacional, uma vez que ao Falta de clareza na legislação
funcionário não necessita mais ocupar um local
fixo e físico no escritório
Redução do absenteísmo Dificuldade na implantação e extensão da cultura
empresarial
Diminuição de custos, transformando custos fixos Requerem-se novas capacidades de Administração
em variáveis e gestão sobre os funcionários em home office
Mudança para uma gestão por objetivos Aumento da insegurança
Possibilidade de ganho na imagem da empresa Possível vazamento de informações sigilosas da
empresa
Fonte: Luna (2014, adaptado de Mello, 1999); Lima, Fusco e Riça (2003)

Já no Quadro2, apresentam-se do ponto de vista do colaborador as vantagens e desvantagens


do home office, também antes do cenário do Covid19.

Quadro 2 -- Vantagens e Desvantagens do Teletrabalho para o Empregado.


VANTAGENS DESVANTAGENS
Flexibilidade no horário de trabalho Falta de clareza na legislação
Redução ou eliminação do tempo perdido no Ceder espaço da casa para alocar objetos de
trânsito dos grandes centros urbanos trabalho
Maiores oportunidades para a vida social e pessoal Possíveis interrupções do trabalho por familiares
ou problemas pessoais
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Participação mais ativa da população deficiente, Possível perda de benefícios (transporte, refeição,
mais idosa e mulheres automóvel da empresa)
O trabalho rende mais, já que não sofre as Isolamento do teletrabalhador dos demais
interrupções típicas do escritório funcionários
Fonte: Luna (2014, adaptado de Mello, 1999); Lima, Fusco e Riça (2003).

Entretanto, a realidade do distanciamento social, traz o questionamento dessas considerações e


uma reflexão quanto aos aspectos no âmbito das leis trabalhistas e da ergonomia.

2.2 Do direito
No Brasil, desde março de 2020, foram editados várias normas, leis, medidas provisórias,
decretos federais, estaduais e municipais, visando a mitigação da crise e manutenção dos postos
de emprego. É prevista para o período em que perdurar o estado de calamidade pública, para
fins trabalhistas, hipótese de força maior, prevista no artigo 501, da CLT (BRASIL 1943). Em
seu artigo 3º, foram apresentadas medidas que, dentre outras, poderão ser adotadas pelos
empregadores, visando a manutenção dos postos de emprego:
(i) teletrabalho;
(ii) antecipação de férias individuais;
(iii) concessão de férias coletivas;
(iv) aproveitamento e a antecipação de feriados;
(v) banco de horas;
(vi) suspensão de exigência administrativas em segurança e saúde no trabalho;
(vii) direcionamento do trabalhador para qualificação; e
(viii) diferimento do recolhimento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço – FGTS.

Por sua vez, a medida provisória MPV 927/2020, em seu artigo 29, dispõe que: “os casos de
contaminação pelo coronavírus (Covid-19) não serão considerados ocupacionais, exceto
mediante comprovação do nexo causal” (BRASIL 2020).
Da leitura do dispositivo, os direitos dos trabalhadores foram ameaçados com essa redação,
pois retirou-se o caráter acidentário do afastamento previdenciário, em caso de contaminação
pelo Covid-19. O reconhecimento da doença ocupacional para o trabalhador gera: (i)
estabilidade provisória no emprego (artigo 118, da Lei n° 8.213/91); (ii) depósitos fundiários
no período de afastamento; (iii) inexigibilidade de cumprimento da carência (mínimo de doze
contribuições mensais). Assim, a Medida Provisória, em seus artigos 15, 16 e 17, dispôs sobre
a suspensão de exigências administrativas em segurança e saúde no trabalho (MUSSI 2020 ;
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ALVES 2020). Isto vem na contramão de todas as conquistas históricas do trabalhador, sobre
sua segurança no período e/ou local de trabalho. Posto dessa forma, não é refutável que ao
homem seja imputado algo que vai contra o que lhe já foi garantido anteriormente.

2.2.1 As leis trabalhistas do home office.


Explorando ainda os aspectos legais de aplicação repentina ao home office para a classe
trabalhadora, fazendo-se aqui reflexões sobre as possíveis discrepâncias entre a teoria e prática
das leis trabalhistas, conforme o art.75 da CLT (BRASIL 1943).
Destaca-se que, na situação em que ocorreu o distanciamento social nos casos de adoção ao
teletrabalho/home office, conforme apresentado na alínea C no seu 1º parágrafo do artigo supra
citado, deveriam ter sido alterados os contratos de trabalhos individuais para essa modalidade.
Na alínea D desse mesmo artigo se refere à responsabilidade do empregador com relação ao
fornecimento da infraestrutura e o custeio das condições de trabalho que deveriam ter ocorrido.
Segundo Fincato e Andrade (2018), a manutenção de um meio ambiente laboral saudável
torna-se tema complexo quando a prestação do serviço se dá no próprio domicílio do
trabalhador (EBERT 2018).
E no aspecto a fim de evitar doenças e acidentes de trabalho, conforme alínea E ainda do artigo
75 da CLT, mesmo que ambas as partes realizem suas respectivas precauções, levanta-se o
questionamento: E como mensurar os acidentes e/ou doenças ocasionadas pelo home office?
Considere-se ainda que, a Lei nº 8.213, de 24/07/91, da Previdência Social, define em seu
artigo 19 que acidente do trabalho é: “o que ocorre pelo exercício do trabalho, serviço da
empresa ou pelo exercício do trabalho dos segurados”. Nesse mesmo âmbito, refere-se no
inciso VII do art. 11 desta Lei: “provocando lesão corporal ou perturbação funcional que
cause a morte, a perda ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o
trabalho”. Questiona-se, assim, na ótica do home office, em que difere um acidente/doença de
trabalho de um acidente doméstico qualquer? Questões como as levantadas precisam de uma
parametrização como resposta.

2.3 Ergonomia no home office no cenário do Covid19.


Em busca de segurança e melhoria na qualidade de vida laboral dos colaboradores, um grupo
de cientistas e pesquisadores interessados em discutir e formalizar a existência de um novo
ramo de aplicação interdisciplinar tendo como princípio estudar atividades militares e produção

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industrial, em 12 de Julho de 1949 na Inglaterra, deu origem à Ergonomia. A palavra vem do


grego ergon (trabalho) e nomos (regras) (ILDA E BUARQUE 2016).
Para Laville (1977) a ergonomia surgiu a partir de necessidades práticas e sendo definida como
o conjunto de conhecimentos a respeito do desempenho do homem com o propósito de
melhorar.
Conceitua a International Ergonomics Assossiation (IEA):

A ergonomia é disciplina científica relacionada ao entendimento das interações entre os


seres humanos e diferentes elementos ou sistemas, e à aplicação de teorias, princípios,
dados e métodos a projetos com o objetivo de aperfeiçoar o bem-estar humano e o
desempenho global do sistema (SILVA, ONOFRIO, E DE BARROS 2019).

Ademais, para Clein, Tonello e Pessa (2014), quanto melhor definido o ambiente de trabalho,
melhores serão as condições proporcionadas ao colaborador. Logo, fazer um levantamento dos
aspectos ergonômicos, é de extrema relevância (SCHNEIDER E SOUZA 2017).
A análise ergonômica do trabalho apresenta três pontos chaves: análise da demanda, análise da
tarefa e análise da atividade. (BARCELOS 1997).
A referência tem natural inter-relação com os problemas de saúde ocupacional e prevenção dos
acidentes de trabalho. A prevenção e o tratamento dessas ocorrências no ambiente laboral é
objetivo das normas OHSAS – 18001:2007 (Occupational Health and Safety Assesment Series,
ou Série de Avaliação de Saúde e Segurança Ocupacional) e a ISO 45001: 2018 (“International
Organization for Standardization”, ou Organização Internacional de Normalização .
Na atual situação das relações entre empresa e colaborador, é evidente a compreensão adquirida
por ambos sobre a importância da saúde e bem-estar dos trabalhadores, tanto no ponto de vista
humano como econômico, que resultará uma maior qualidade e produtividade do serviço ou
produto oferecido ao consumidor (H. R. D. S. GARCIA ET AL. 2019).

3. As consequências do home office na saúde do colaborador.


Em um balanço realizado das experiências de trabalho remoto na realidade da União Europeia,
constatou-se que muitas vezes se misturam a identidade entre o domicílio e o local de trabalho.
Isto é um fator inviabilizador da desconexão do colaborador em relação às atribuições pessoais
ou domésticas com as profissionais, gerando o aparecimento de sintomas de estresse e de outras
doenças psicossomáticas (MÉNDEZ 2015).
Na pesquisa de Roza (2007), analisou-se dez áreas (cervical, ombros, dorsal, cotovelos,
antebraço, lombar, punhos/mãos/dedos, quadris e coxas, joelhos e tornozelos/pés), que eram

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mais apontadas como queixas de dores. Os seus resultados corroboram para “demonstrar os
benefícios da intervenção ergonômica em postos de trabalhos informatizados (uma realidade
do home office), principalmente na minimização dos desconfortos músculo esqueléticos e num
ambiente mais confortável e adequado para o trabalho” (ROZA 2007).
Outro estudo buscou analisar a Síndrome Visual Relacionada a Computador (SVRC), que é
resultante do uso excessivo do computador (caracterizada por sintomas visuais, oculares,
astenópeicos e musculoesqueléticos, que incluem a fadiga visual, irritação ocular, prurido,
olhos secos, lacrimejamento, distúrbios visuais e instabilidade do filme lacrimal, fotofobia, dor
no pescoço e costas, entre outros). Nele se constatou que até 90% dos usuários de computador
por mais de três horas diárias apresentem algum tipo de sintoma relacionado à SVRC (BLEHM
C et al 2005; BLEHM et al, 2005 ; AGARWAL, GOEL, E SHARMA, 2013).
Os estudos de Shantakumari et al. (2014) e Neves e Filho (2019) com 500 estudantes ao serem
expostos a computador no horário escolar, constatou como problemas mais comuns relatados
entre usuários de computador foram dor de cabeça - 53,3% (251/471), sensação de queimação
nos olhos - 54,8% (258/471) e olhos cansados – 48,0% (226/471).
Tais estudos vêm de encontro com as características da exposição ao computador no home
office, podendo ocasionar ou ser intensificados como danos físicos ao colaborador nessa
realidade.
Segundo Losekann e Mourão (2020), a saúde mental do funcionário em regime de teletrabalho
se torna um desafio maior à distância.
As reações presentes com relação à saúde mental, de acordo com a OMS em seu “Guia com
cuidados para saúde mental durante pandemia”, têm a presença de diversos sentimentos e
reações, como:
• Medo do avanço do vírus, de adoecer ou de que alguém da família adoeça, de perder
pessoas queridas, de não saber quando teremos a existência de uma vacina ou
cura, dentre outros;
• Irritabilidade devido à ausência de respostas para suas questões e medos;
• Angústia frente ao que está por vir e as incertezas do momento;
• Tristeza que pode ser ocasionada pelo isolamento, pelo enfrentamento do adoecimento
e/ou perda de pessoas queridas;
• Algumas reações comportamentais: perda de apetite e sono, conflitos interpessoais
ocasionados pela alteração de humor, agitação ou letargia, aumento da ansiedade que

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pode levar a crise de pânico, dentre outros. Alguns transtornos psíquicos também podem
ser observados, como depressão, crises de ansiedade e crises de pânico (WHO, 2020;
LOSEKANN E MOURÃO 2020).
Ademais, além dos problemas graves, ocorrências simples, como cansaço ou fadiga podem ser
sintomas desses problemas.

4. Considerações finais
No presente trabalho foram levantados, reflexões e questionamentos baseados na literatura que
os autores julgam importantes, para um melhor conhecimento das novas condições de home
office provocada pelo surgimento e disseminação do Covid19.
Portanto, foram discutidos, aspectos gerais e conceituais, bem como aqueles ligados as leis
trabalhistas, aspectos ergonômicos e de saúde e segurança no trabalho.
Entretanto, os autores, participam do reconhecimento que, mesmo após o encerramento do
distanciamento social e seus efeitos, muitas das vantagens, adquiridas pela prática do home
office serão incorporadas às atividades normais de trabalho dos cidadãos. Contudo, que deva
haver uma adaptação das leis vigentes a respeito à essa nova realidade, o que também deve
valer para as recomendações ergonômicas e as próprias normas relacionadas às diversas
condições de trabalho.

7. Agradecimentos
Fica registrado o agradecimento ao PROSUP/CAPES pela confiança ao proporcionar bolsa.
Também as empresas, suas respectivas gestoras e colaboradores que foram a fonte de dados
para essa pesquisa.

REFERÊNCIAS
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