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Síntese – Superpedido de impeachment.

Representantes de diversos partidos, parlamentares, lideranças sociais, coletivos


e movimentos populares apresentarão nesta quarta-feira (30) um novo pedido de
impeachment do Presidente da República, Jair Messias Bolsonaro. Na petição, são
renovados os fundamentos apresentados em 122 (cento e vinte e dois) denúncias
anteriores e acrescentados elementos relativos à condução desastrosa do governo federal
diante da pandemia da Covid-19, causadora de mais de 500 mil mortes até o momento,
ao escândalo da prevaricação diante das denúncias de aquisição fraudulenta da vacina
Covaxin e aos mais recentes atos oficiais e declarações públicas geradoras de
instabilidade institucional.

Ao longo da petição, os signatários sustentam e comprovam que o Presidente


cometeu os seguintes crimes:

a) Crimes contra a existência da União (art. 5º, incisos 3, 7 e 11 da Lei nº


1.079/1950), decorrentes das repetidas e desatinadas manifestações de hostilidade
promovidas publicamente pelo presidente da República em relação a país
estrangeiro, agravadas pelo delicado contexto da pandemia da Covid-19, em que
a colaboração internacional se impõe como requisito essencial à obtenção de ajuda
científica, aquisição de insumos e acesso à vacinação em massa. Restará, ainda,
comprovado por meio das circunstâncias extraídas desta petição e da instrução do
processo que o atual Presidente da República atuou em oposição a obrigações
relacionadas à integridade da União, especialmente em decorrência da alteração
radical da política externa, comprometendo seriamente a soberania nacional.
Outro aspecto grave identificado no comportamento do presidente da República
decorre da violação da imunidade de representantes diplomáticos acreditados no
Brasil, para dar azo a delírios e paranoias de cunho ideológico, utilizadas
irresponsavelmente pelo presidente da República para insuflar a sua base política
fanatizada. Ademais, a adoção de diretrizes voluntaristas e erráticas por parte do
presidente da República e do governo federal, sob temerária condução, resultam
na violação de tratados e compromissos internacionais assumidos pelo país.
b) Crimes contra o livre exercício dos poderes legislativo e judiciário e dos
poderes constitucionais dos Estados (art. 6º, incisos 1, 2, 5, 6 e 7 da Lei nº 1.079,
de 10 de abril de 1950), em virtude de manifestações de índole antidemocrática e
afrontosas à Constituição, em que foram defendidas gravíssimas transgressões
institucionais, tais como o fechamento do Congresso Nacional e do Supremo
Tribunal Federal, além da reedição do Ato Institucional nº 5, instrumento de
exceção emblemático da ditadura militar instaurada em 1964. Ao estimular
pessoalmente tais espúrias agitações, que celebraram símbolos históricos
supressão de liberdades e garantias da cidadania e da perseguição política, o chefe
do Poder Executivo fomentou a obstaculização da representação parlamentar
democrática, ameaçando a permanência no cargo do então presidente da Câmara
dos Deputados. Além disso, os fatos mais adiante mencionados comprovarão que
o mandatário praticou oposição ao livre exercício do Poder Judiciário, bem como
pretendeu usar de ameaça para constranger magistrados do Supremo Tribunal
Federal no livre e regular exercício da sua jurisdição. Por outro lado, tais protestos
foram estimulados, acompanhados e reforçados pelo atual mandatário num
contexto de desafio aberto à autonomia de estados-membros da Federação, do
Distrito Federal e dos municípios em suas respectivas competências, no que o
presidente da República incorreu em ato atentatório e afrontoso a outras esferas
da Federação.
c) Crimes contra o exercício dos direitos políticos, individuais e sociais (art. 7º,
incisos 5, 6, 7, 8 e 9, da Lei nº 1.079, de 10 de abril de 1950), em razão da
comprovação da prática de abusos de poder pelo próprio Presidente da República
e por seus Ministros de Estado, além de diversos outros subordinados seus, estes
agindo sob determinações da autoridade máxima ou fomentados por seus
eloquentes e irresponsáveis gestos, desacertadas convocações e infames
orientações. Tais reiteradas configurações delituosas, no que se refere às referidas
autoridades subordinadas ao chefe de Estado e de Governo, comprovadamente
careceram da devida desautorização, sendo, ao reverso, toleradas e até mesmo
estimuladas pelo Presidente da República, afetando de modo mais intenso as
populações historicamente afetadas pelas mais graves violações de direitos, em
especial pessoas negras, indígenas e a população LGBTQIA+. Por outro lado,
ressai a observação de uma temerária concretização, por parte do Chefe de
Governo, do intento criminoso de degradar a ordem social, desarticulando
instituições e estruturas estatais voltadas à sua promoção de acordo com os rumos
traçados pelo texto constitucional. Haverá, ainda, de modo compreensivo e
totalizante, a verificação objetiva da ocorrência de crimes de responsabilidade
decorrentes da exibição de fatos que evidenciarão a patente violação de direitos e
garantias individuais e sociais assegurados na Constituição da República,
notadamente nas searas econômica, social, cultural e ambiental, além da usual e
abjeta prática de agressões a profissionais da imprensa no livre exercício de suas
atividades. Não bastassem tais transgressões, o chefe de governo enveredou
perigosamente para o flerte com a anarquia militar, incitando subordinados
integrantes das Forças Armadas a desobediências dos regulamentos castrenses, tal
como ficou notório no caso do comparecimento do ministro da Saúde Eduardo
Pazzuelo a manifestação política de apoio a Jair Bolsonaro. No mesmo passo, vale
sublinhar a gravidade da invocação constante do açulamento das forças militares
a um possível confronto com outras instâncias da Federação ou mesmo à
intervenção aberta no processo político institucional.
d) Crimes contra a segurança interna (art. 8º, incisos 7 e 8 da Lei nº 1.079, de 10
de abril de 1950), diante da omissão negligente e leviana do chefe de Estado, ao
descumprir sua obrigação legal de tomar providências determinadas por leis
federais, no condizente à sua inexecução e descumprimento. Nesse capítulo de
infrações severas legais, é imprescindível arrolar a reiterada ocorrência de
pronunciamentos temerários e irresponsáveis do Presidente da República, de
caráter antagônico e contraproducente ao esforço do Ministério da Saúde e de
diversas instâncias da Federação vinculadas ao Sistema Único de Saúde (SUS) e
aos serviços de prevenção, atenção e atendimento médico-hospitalar à saúde da
população, em meio à grave disseminação em território nacional da pandemia
global do Sars-Cov-2. Tais posturas revelam caráter substancialmente atentatório
ao bem-estar e à proteção da vida e da saúde de brasileiros e brasileiras, em
perigoso menosprezo à gravidade da emergência de saúde decretada pelo próprio
governo federal, no sentido de perpetrar intencional sabotagem das cautelas
sociais e medidas governamentais indispensáveis à contenção dos efeitos
devastadores de uma catástrofe sanitária em pleno estágio de avanço, sem
considerar sequer as evidências traduzidas na escalada do número de diagnósticos
e mortes associadas à pandemia no país, que já supera o lúgubre patamar de
500.000 (quinhentas mil) mortes.
e) Crimes contra a probidade na administração (art. 9º, incisos 3, 4, 5, 6 e 7, da
Lei nº 1.079, de 10 de abril de 1950), resultantes de sua postura em relação aos
atos ilegais, insensatos e desatinados levados a efeito por inúmeros subordinados,
o que revela que o denunciado jamais esteve à altura da responsabilidade do cargo
que ocupa. A repetida e progressiva escalada de descuidos e atos
contraproducentes dessas autoridades, em desalinho com a Constituição e com a
regularidade funcional de seus postos contou não apenas com o beneplácito
presidencial, senão também com seu incentivo, o que perfaz com absoluta
suficiência o tipo criminal. Não obstante, e a título de agravamento dessa conduta
deletéria, o Presidente da República ignorou explicitamente disposições expressa
da Constituição da República, ao expedir ordens e fazer requisições em
contrariedade aos termos normativos da Lei Maior. É exemplificativo o seu
comportamento diante da recente denúncia de aquisição fraudulenta da vacina
Covaxin, em que o Presidente deixou de adotar as ações necessárias para
promover as apurações requeridas por servidor de carreira do Ministério da Saúde.
Praticou ainda grave violação ao princípio republicano e ao mandamento
constitucional da impessoalidade no exercício da administração pública, mediante
a utilização de poderes inerentes ao cargo com o propósito reconhecido de
concretizar a espúria obtenção de interesses de natureza pessoal, objetivando o
resguardo de integrantes de sua família ante investigações policiais, mediante a
determinação anômala de diligências, a exigência de acesso a relatórios de
investigações sob sigilo legal e a tentativa de indicação de autoridades da Polícia
Federal que estejam submetidas aos desígnios de natureza privada do ocupante da
Presidência da República. E não bastassem essas demonstrações inequívocas de
afastamento da probidade em seu procedimento como autoridade máxima do
Poder Executivo Federal, o mandatário abusa de posturas completamente
incompatíveis com a dignidade, a honra e o decoro do cargo presidencial.
f) Crimes contra a guarda e legal emprego dos dinheiros públicos (art. 11, inciso
5, da Lei nº 1.079, de 10 de abril de 1950). Tal conduta delituosa se afigura
perceptível ante a má gestão da pandemia do novo coronavírus (Sars-Cov-2),
causador da doença denominada Covid-19. É notório e reconhecido que no
contexto da calamidade pública resultante da pandemia, o presidente da República
dedicou recursos públicos a medicamentos sem eficácia comprovada, abstendo-
se de executar um plano de comunicação minimamente eficaz que estimulasse a
observância de medidas de contenção e prevenção do contágio da doença, tais
como o uso de máscaras faciais e o respeito ao distanciamento social, além do
esclarecimento quanto à inconveniência de aglomerações.
g) Crimes contra o cumprimento de decisões judiciárias, (art. 12, incisos 1 e 2 da
Lei nº 1.079/1950), consistentes na reiterada alusão a atos de impedimento da
concretização de decisões judiciais, ou sua frustração, ainda que por meios
oblíquos, além da recusa do cumprimento de ordens determinadas pelo Poder
Judiciário. Tais evidências envolvem a sabotagem de medidas de proteção às
populações quilombolas, aos povos originários e ao meio ambiente. No tocante
aos povos indígenas, as providências originadas de julgamento do Supremo
Tribunal Federal no que concerne ao resguardo contra a disseminação do novo
coronavírus foram obstaculizadas deliberadamente pelo governo federal, com a
indisfarçável conivência presidencial, situação que se estendeu a outras decisões
de tribunais federais e de Corte Internacional.

Com base nos fatos assim sintetizados, os autores requerem que a Câmara dos
Deputados, na forma do art. 218, §2º, do seu Regimento Interno, receba a denúncia,
autorizando a instauração do processo por crime de responsabilidade e remetendo-o ao
Senado Federal, nos termos dos art. 51, inciso I; art. 52, inciso I e art. 86, caput da
Constituição da República, visando à suspensão das funções presidenciais e ao
julgamento definitivo do impeachment, com a prolação de decisão condenatória e
consequentes destituição do acusado do cargo de Presidente da República e inabilitação
para a função pública pelo prazo de oito anos.

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