Nacional-populismo

A revolta contra
a democracia liberal
Roger Eatwell e
Matthew Goodwin
 Sumário

PREFACIO

INTRODUçÃO

CAPÍTULo1 33
Mitos

CAPÍTUL0 2 69
Promessas

CAPÍTULO 3 105
Desconfiança

CAPÍTULO 4 147
Destruição

CAPÍTUL0 5
187
Privação

CAPÍTULO 6
227
Desalinhamento

CONCLUSÔES
Rumo ao pós-populismo 265

BREVE GUIA DE LEITURA 287

NOTAS 291

NDICE 325
INTRODUÇÃO

um movimento que,
nosprime
Este livro discute o "nacional-populismo",
convencionais
vez mais as políticas
ros anos do século XXI, desafia cada
nos Estados
Unidose
ocorreu especialmente
do Ocidente. Sua ascensão liberaldemocracia
a
mesmo aqueles nos quais
em muitos paises europeus, citadas manites
frequentemente
estabelecida. Mas outras grandes e
brasileira
parecia presidencial
Bolsonaro na eleição
vitória de
Jair
taçoes incluem a notavelmente
diferente). Os

de 2018 (embora aqui a

base social de apoio seja
cultura e os interesses da
naço e prometem
nacional-populistas priorizama por
m e s m o desprezadas
se sentem
negligenciadas e
dar voz a pessoas que
elites distantes e amiúde corruptas.
duradouras e profundas que
em correntes
E uma ideologia enraizada muitas dé-
democracias e ganhando força há
vém serpenteando sob
nossas
um panorama
essas correntes, apresentando
cadas. Neste livro, exploramos
e nos Estados Unidos. Nosso
mudando na Europa
de política está
como a

nacional-populism0- e seu impacto mais

argumento
mais amplo é que o
para ficar.
sistemas políticos- chegou
amplo sobre outros partidos
e

livro em 2016, em meio a dois momentos que

Decidimos escrever este

bilionário e célebre empresário Donald

chocaram o Ocidente: quando o

à presidência
foi oficialmente indicado como candidato republicano
Trump
então derrotou Hillary
Clinton na corrida pela Casa Branca; e quando
e

mais da metade dos eleitores

britânicos surpreendeu o mundo ao votar
 N A C I O N A L - P O P U L I S M O

10

retirar seu país da

União Europeia (UE), uma
ma
"Brexit", escolhendo
pelo década de 1970.
se unira na
organização à qual Faltando apenas duas
resultados.
Poucos comentaristas previram esses
2016, o prognóstico eleitoral do New
ew
semanas para a eleição presidencial de
leitores que Hillary Clinton tinha 93% de chances
York Times afirmava aos
chances eram de 999%s2
de obter a presidência.
Outros quesuas
declararam
o Texas de azula caminho
se perguntaram se
ela poderia pintar até mesmo
da Casa Branca.
mais de trezentos acadmicos, jornalistas
Na Grã-Bretanha, pediu-se que
referendo de 2016 e 90%
e pesquisadores previssem que aconteceria no
o

deles acharam que os eleitores britânicos escolheriam permanecer na UE.

tivesse apostado no Brexit
Apostar em politica é legal na Grä-Bretanha e,
se

no dia do referendo, vocé teria ganhado 300 libras esterlinas pela manhä
e 900 à noite. O pensamento de grupo estava certo de que "permanecer"
venceria, embora muitas pesquisas onlinesugerissemooposto.
O engenheiro americano William Deming disse certa vez: "Nós con-
fiamos em Deus; todos os outros, tragam dados." Apesar de vivermos
em uma era na qual temos mais dados que nunca, dificilmente alguém
consegue ler com sucesso o humor público. Achamos que isso acontece
porque pessoas demais estão focando no curto prazo e falhando em
levar em consideração mudanças históricas na
política, na cultura e na
economia que agora estão tendo
profundos efeitos sobre o resultado das
eleições.
Os
nacional-populistas emergiram muito antes da crise financeira que
irrompeu em 2008 e da Grande Recessão
que se seguiu. Seus apoiadores
são mais diversos
queo estereotipico "velho branco e raivoso", que, como
nos dizem
frequentemente, logo será substituído por uma nova geração de
millennials tolerantes. O Brexit e
anterior ascensão dos
Trump na verdade se seguiram åà muito
Le Pen
nacional-populistas em toda a Europa, com0 Marine
França, Matteo Salvini na Itália e Viktor
na

Eles fazem Orbán na Hungria.

parte de uma revolta crescente contra
liberais convencionais. a
politica e os valores
 INTRODUUG
INTRODUÇAO
UÇÅO 11

Emgeral, esse desafio ao

Os nacional
mainstream liberal não é antidemocrático.
populistas se opoem a certos aspectos da
que evoluiu no Ocidente. democracia ibera
Contrariamente a algumas reações
histricas
que saudaram Trump e o Brexit, aqueles que apoiam
esses movimentos
ndo sao tascistas que querem destruir nossas
instituições políticas cen-
trais. Uma
pequena minoria quer, mas a maioria possui preocupaçoes
compreensiveis com o fato de essas instituições não representarem a
sociedade como um todo e, ao contrário, estarem se distanciando ainda
mais do cidadào comum.
Logo antes de Trump chegar à Casa Branca, mais da metade dos ame
ricanos brancos sem diploma sentia que Washington não os representava,
assim como, logo antes da vitória do Brexit, quase um em cada dois traba-
hadores britânicos sentia que "pessoas como eles" já não tinham voz no

sobre
diálogo nacional.' Contra um pano de fundo de fortes escåndalos
discursos
lobby, "dinheiro obscuro", abuso de despesas parlamentares,
lucrativos para grandes bancos e "politica da dança das cadeiras , na qual
é
ex-politicos exploram seus contatos para financiar negócios privados,
aber-
motivo de surpresa que hoje muitos cidadäos estejam questionando
tamente a confiabilidade de seus representantes?
Alguns lideres nacional-populistas, como o húngaro Viktor Orbán,
falam em criar uma forma de "democracia não liberal", que suscita
o

direitos democráticos ea demonização

dos
questões preocupantes sobre
os
mais de-
Mas a maioria dos eleitores nacional-populistas quer
imigrantes.
mocracia- mais referendos e mais políticos empáticose
dispostos aouvir,
menos poder às elites
econômicas e
concedam mais poder ao povo e
que
estabelecidas. Essa concepção "direta"
da democracia difere da
politicas
todo o Ocidente após a derrota do
democracia "liberal" que floresceu
em

fascismo e que, como discutiremos no capítulo 3, gradualmente assumiu

um caráter mais elitista.
também suscita questões democráticas legí-
O nacional-populismo
discutir. Os nacional-populistas
timas que milhões de pessoas querem
as elites se tornaram cada vez mais
questionam a maneira pela quai
 NACIONAL POPULISMO

das pessoas comuns. .

Questionaam
I8oladas da vida e das preocupaçðes
veem com0
unico constructo cana, e
& erocào do Estado nação, que

vidas politicas e
a capacidade da.
sociais. Questionam das
otganizat nossas

ahsorverem rapidamenteas taxas de

imigracän.
Soiedades ocidentais de

amplamente sem precedentes na história .

supermudança étnica"
uma

EUA, inclui uma grande minoria de

imi
hzao moderna (e que, nos
econmico ocidental
grantes ilegais)
uestionam por que o atual acordo

estáctiandosociedades altamentedesiguais e
deixandogrupos inteirosd
dar prioridadeao empregoeao
para
pessoas se o Estado nåo deveria
trase

de pessoasque passaram vida toda

a contribuindoparao
estar
bem ial

questionam as agendas cosmopolitaseglobalizantes,

nac1onal.
Sistema
Eles sociedade criarão.
perguntando para onde estão noslevando equetipo de

aguns deles perguntam se todasas religiðes apoiam

aspectos-chave da
moderna vida ocidental, como igualdade e respeito para as mulheres e
as comunidades LGBT. Não há absolutamente nenhuma dúvida de que
aiguns nacional populistas descambam parao racismo ea xenofobia, es-
pecialmente em relaço aos muçulmanos,e que muitos possuem valores
socialmente conservadores. Mas isso näo deveria nos distrair do fato de
que tambem expressam ansiedades públicas legitimas, disseminadas por
diterentes áreas.
Esse movimento
precisa ser explorado como um todo porque seu
carater éinternacional. Muitos de nossos debates sobre são ex- politica
tremamente insulares: focamos em nosso
próprio país isoladamente. Os
americanos costumam
interpretar Trump somente da perspectiva da
politica americana. Mas eles podem aprender muito com a
nacional-
Europa, como
oS
populistas de lá já estão fazendo. Foi por isso que, em 2018, o
antigo estrategista-chefe de Trump, Steve Bannon, fez um tour
ropa se reuniu com vários
e
pela Eu-
Marine Le Pen na
nacional-populistas importantes, incluindo
França, antes de fundar uma organização
para promover
internacional
populismo chamada Movimento. Bem antes disso, o
o

próprio Trump mantinha laços estreitos com o

apoiador do Brexit Nigel
Farage, ex-lider do Partido de Independència do
Reino Unido (UKIP), o
qual, por sua vez, possuía laços com partidos
OAlternativa para a populistas europeis, am
Alemanha, que teve resultados
antigo mito de que o populismo jamaisimportantes em uns
e destruiu o

pais que deu ao mundo o nacional- socialismo.

teria sucesno m
Outras hguras
populistas controversas visitam frequentemente os PUA,
como Geert
Wilders, da Holanda, que infamemente alega que a Europa
está sendo "islamizada" e
conseguiu apoio de membros republicanos do
Congresso como Steve King; e os membros da dinastia Le Pen, da França,
que vieram aos EUA para a Conferência de Ação Política Conservadora. No
Parlamento Europeu, nacional-populistas de países como Grá-Bretanha,
França, Itália, Hungria e Polónia se dividem em agrupamentos parla
mentares, mas, em anos recentes, vimos um notável crescimento de sua
representação. Durante as eleições de 2019 para o Parlamento Europeu
esses partidos aumentaram seu número de assentos para recordes 16%,
e Salvini vem trabalhando para fortalecer sua cooperação no nível pan-

-europeu (embora alguns, comoo Lei e Justiça da Polónia, permaneçam

Brexit, voce
em outros grupos). Se olhasse apenas para Trump ou para o
não perceberia as tendências mais amplas.

Por que este livro é necessário?

Brexit e as rebeliões na Europa alimentaram uma explosão de

Trump, o
nele e por que é importante.
interesse no populismo: o que é, quem vota
e, sem dúvida, ílmes
Em anos futuros, haverá incontáveis livros, artigos
sobre essas cruzadas políticas
conduzidas em nome dopovo-que Trump
Le Pen de
chama de "maioria silenciosa", Farage de "exército do povo" e
"França esquecida".
esse debate ocorre atualmente.
problemas na forma
como
Mas vemos
vieses ob-
por suposições falhas,
e uma
distorcido
Ele é frequentemente
com o curto prazo, com o aqui e agora. Muito do que
sessão esmagadora
erróneas sobre as raízes e os apoiadores do
é escrito inclui afirmações
nacional-populismo, como
a ideia de que essa turbulência é meramente um
 NACONAL POPUISMO

14

en esoata à eiise inanceirá que irrompeu em 20008,

panageiro
reluglados que varre a Euran
pofesto
ou à t i e dos opa
se segulu
à austerilade que
nao ileias iee onlor lantes para pessoas que se agarram
deule 2014 a s
"vila tnoral
tetoinarà em breve, assimque o crescimento
ena de que a

retomaceo e o luxo ae reluglados diminuir ou parar. Mas

eononmo tor

fais ileias eslao ertadas.

Muitos ese itores imparcials também acham dificil
que afirmam ser

nao ser intluen

iadon or sua próprla slmpatila pela política liberale de
"Hberal" Iequentemente é usado como sinónimode
esquenda (nos UA.
esquetda" em vez dle no sentido histórico de defesa da liberdadee dos
dircitos individuais, que os ameticanos chamam de "libertarianismo").
Isso nào signilica que todo mundo que escreve sobre populismo seja
tenden ioso. Tem havido contribuiçðes importantes. Acadèmicos que
podem nào ser lamiliares para alguns leitores, como Piero Ignazi e Jens
Rydgren, indic aram como essas revoltas na Europa vem sendo preparadas
há muito tempo. Pensadores como Margaret Canovan demonstraram
que o populismo é uma lorma alternativa de política democrática e ficará
conosco enquanto tivermos democracia. Mas muitos såo rápidos demais
em condenar, em vez de retletir, aceitando estereótipos que correspon-
dem à sua
própria visão, em vez de desafiar essas alegações consultando
evidèncias reais.
Considere algumas reações comuns à eleição
de Trump. David Frum,
ex-redator de discursos de George W. Bush, escreveu sobre a
"trumpo-
cracia", que ele vê como ameaça autoritária à democracia
liberal e à paz
mundial, liderada por um presidente
que acusou Hillary Clinton e o
"pantano Washington" de corrupção endèmica antes de
de
estabelecer
sua
própria cleptocrática e nepotista Casa Branca.' Ou os
proissionais que se adiantaram para diagnosticar o
psicólogos
Trump despeito da proibição da
a
comportamento de

de
Associação Americana de Psiquiatria
diagnosticar politicos que não foram pessoalmente
sintomático de avaliados-como
problemas fundamentais como raiva,
ligno uma impulsividade
e narcisismo ma-
que suscita questöðes
importantes sobre sua
 INTRODUÇAO 15

capacidade de governar e salvaguardar a paz mundial." Há boas razðes

para nos preocuparmos com Trump em termos de
caráter, julgamento
ético e temperamento, incluindo sua
tendência de publicar alegações
não veriicadas no Twitter. Contudo, focar em sua
chave para entendermos as raizes
personalidade não é a
populares da revolta que alimentou sua
ascensào e a ascensåo de outros como ele na Europa e em outros lugares
(embora suscite dúvidas legitimas sobre quâo sensatas são algumas de
suas politicas).
Apesar de a maioria dos nacional-populistas na Europa nåo possuir cargo
oficial. eles estào sujeitos a praticamente o mesmo tratamento. São desde
nhados como extremistas cuja política autoritária e racista representa uma
seria ameaça à democracia liberale às minorias. Ainda mais danoso, muitos
alegam que eles são "fascistas" - precursores de uma perigosa renovação

da ditadura. Logo antes da eleição presidencial de 2017 na França, a revista

americana Vanity Fair perguntou: "Marine Le Pen pode tornar o fascismo
dominante?", a que um proeminente intelectual francs, Bernard-Henry
Levy, replicou que a "França não está pronta para um regime fascista hoje",
implicando que poderia estar em breve.
Nos debates populares, o termo "fascista" degenerou em pouco mais

que um insulto. Mas as preocupações com Trump significam que o uso

dessa "palavra-bomba" se estendeu até mesmo a historiadores especiali-

zados nos turbulentos anos do entreguerras. O historiador de Yale Tim

Snyder alertou sobre a possibilidade de tirania, comparando as reuniðes

coreografadas, machistas e narcisistas da campanha de Trump em 2016
aos comicios nazistas, acrescentando que sua mentirosa "pós-verdade

é pré-fascismo". A historiadora da Universidade de Nova York Ruth

Ben-Ghiat alegou que os ataques de Trump a aspectos-chave da demo-
cracia liberal, como a liberdade judiciária e de imprensa, significam que
os americanos "não podem excluir a intenção de levar adiante algum tipo
de golpe" e que sua agressiva "blitzkrieg l.] nos força a tomar partido".
Outros indicam o risco de insidioso autoritarismo através de politicas
como indicações conservadoras para os tribunais, o que é mais plausível,
 NACIONAL-POPULISMO
6

embora essa visão seja baseada amplamente em especulação polêmica

,e
não em análise cuidadosa do retrato mais amplo (incluindo o fato de
os
democratas terem feito grandes avanços nas eleiçðes de 2018 para a Cámara
dos Representantes, pondo fim ao controle republicano do Congressolsi
Muito frequentemente o foco estå no que poderia acontecer, e náo no ue
está realmente acontecendo.

Entrementes, aqueles que votam nos nacional-populistas são ridiculariza-

dos e chamados de hillbillies ["matutos"), rednecks ["caipiras"}), chavs ["ma-
loqueiros"] ou little englanders ["provincianos"]. Hillary Clinton descreveu
metade dos apoiadores de Trump como "cesta de deploráveis", pessoas cujas
visóes såo "racistas, sexistas, homofóbicas, xenotóbicas, islamofóbicas, pode
escolher". Na Grä-Bretanha, o primeiro-ministro David Cameron desdenhou
daqueles que favoreciam o Brexit como bando de "malucos, lunáticose racis-
tas enrustidos", e colunistas de importantes jornais urgiram os políticos de
Westminster a virar as costas para as áreas em situação difícil na Inglaterra
que estavam prestes a apoiar o Brexit. Hoje vivemos em uma era na qual
cada vez mais pessoas fazem campanha para garantir que direitos, dignida-
de e respeito sejam concedidos a todos na sociedade, mas é dificil imaginar
gualquer outro grupo sendo tratado com tanto desdém.
Nossa obsessão coletiva com o curto
prazo está dificultando nosso racio-
cinio. Por que Trump foi eleito? Por
que as pessoas escolheram o Brexit? Por
que milhoes de pessoas na Europa
estão votando nos
nacional-populistas? As
respostas a perguntas rotineiramente falham em apreciar as correntes
essas

mais profundas
que vêm serpenteando sob nossas democracias.
A vitória de
Trump foi amplamente atribuiída a uma variedade de fa-
tores no "aqui e
agora": a influência de Steve Bannon, que defendeu uma
posição mais populista e patriarcal durante os
estágios finais da corrida
presidencial de 2016; um suposto conluio com a Rússia
sem (acusação declarada
comprovação pelo Relatório Mueller de 2019, embora se revelasse
tentativa presidencial de obstruir uma
a
investigação); e manipulação, apoiada
pela Rússia, de midias sociais como Facebooke
te da veracidade Twitter. Independentemen-
dessas alegações, a obsessão
com o curto
prazo nada diz
 INTRODUÇAO

sobre por que tantos americanos se sentiram täo alienados do mainstrea

ou por que, como demonstraram as pesquisas, os americanos brancon sen

lado dos republicanos muito antes de

diploma estavam passando para o

Trump sequer anunciar sua candidatura.

a
Similarmente, desde a vitória do Brexit, aqueles que querlam que
Grä-Bretanha permanecesse na UE sugeriram que o s velhos trabalhadores
demais
brancos que viviam longe da cosmopolita Londres eram estúpidos
maravilhas da integração e da imigraçåo europeias
para reconhecer as

a Rússia usou bots

Alguns argumentaram que o Brexit só
venceu porque

seus
online para manipular as midias sociais ou que,
durante a campanha,
dizer que Brexit permitiria que os pagamen
defensores "mentiram" ao o
fossem
UE, de até 350 milhoes de libras esterlinas por
semana,
tos para a
Bretanha, que
redirecionados para o Serviço Nacional de Saúde da Grå
validade
independentemente da
passava por dificuldades. Mais
uma vez,
atrås
dessas alegações, o foco no curto prazo nos impede de dar um passo
momento
tornaranm possível esse
e apreciar as tendências mais amplas que

politico radical.
foram rapidamente colocados lado a lado em debates
Trump
O Brexit e
trabalhadora branca". Mas a ob-
internacionais sobre a "reação da classe
atenta das evidências, como veremos no próximo capitulo,
servação mais
da realidade. Escritores
revela como essas conclusðes simplistas estão longe
sobre as pessoas
em todo o Ocidente agora fazem alegações abrangentes
mas dificilmente algum deles
escruti-
que votam nos nacional-populistas,
ciências sociais nos
na o grande corpo de evid ncias que se acumulou nas

últimos quarenta anos. Breves visitas jornalisticas ao cinturão da ferrugem

resultam
ou a algumas das cidades costeiras em deterioração na Inglaterra
de preconceituosos rústicos ou velhos brancos. Mas muitos dos
no retrato
eleitores de Trump são relativamente ricos e, na Europa, muitos daqueles

que apoiam os nacional-populistas não so nem racistas ignorantes nemn

particularmente idosos. Alguns são até mesmo pró-LGBT, mas, ao mesmo
tempo, suspeitam profundamente da habilidade do Isl de se conformar à
democracia liberal.
 NACIONAL-POPULISMO

18
tampouco é úril.
apoiador e "um motivo
"um tipo de
aliança de
conservado

A busca por e frouxa

u m a ampla
atrairam
o Brexit rejeitaram os
Trump e trabalhadores que, juntos,
média e
sociais de classe David Cameron, educado
res
representadas por
elites globais
conselhos das Barack Obama, que fre.
de Oxtord, e por
aluno
em escolas
particulares e falava com o claro sotaque
e
universidades da Ivy
League e
quentou duas Leste.
de Direito da Costa
fluencia de um professor
e a
trabalhadores
manuais que estavam prea-
somente
atraiu nào
Trump convencionais razoa-
mas também
republicanos
cupados com a imigraçào, homens latins, com notável apoio
e um em cada trs
velmente abastados
cubano-americanos. O Brexit venceu não
como os
de minorias especiticas, historicamente vo-
somente nos 140 distritos
intensamente operários que
também por
taram no Partido Trabalhista, de esquerda, sendo endossado
a minorias étnicas e quase
um em cada très eleitores negros ou pertencentes
metade daqueles com idade entre 35 e 44 anos.
não somente
O desejo de tirar a Grä-Bretanha da UE era majoritário
em condados conservadores brancos e prósperos, como Hampshire, mas

também em áreas etnicamente diversas como Birmingham, Luton e Slough.

Nessas comunidades, as minorias estabelecidas viam os trabalhadores
imigrantes de outros países-membros da UE como ameaça a suas próprias
posições e como beneficiários de tratamento preferencial em detrimento de
seuspróprios familiares e amigos, que desejavam imigrar de fora da Europa.
As manchetes que gritam
"Reação zangada da classe trabalhadora branca"
ignoram essas nuances.
Sempre haverá perguntas intrigantes sobre o que poderia ter acontecido.
Se Hillary Clinton tivesse conduzido
tivesse inspirado mais millennials
uma
campanha menos presunçosa, se
com nível
votar, se tivesse investido mais
superior e afro-americanos a
esforço nos 209 condados que votaram duas
vezes em Obama antes de mudar
logo mais signihicativo com os brancos Trump,
para se tivesse
iniciado um diá-
cinturão da ferrugem,
sem
diploma nos estados-chave do
poderiam ter sido diferentes.superavam facilmente os diplomados, as coisas
que
 INTRODUÇAO 19

Na
Grä-Bretanha, se Boris Johnson, carismático
eadmirador de Winston
o
político conservu
Churchill, não tivesse tomadoa tardia decisão de
Tazer
campanha pelo Brexit, se o Brexit não tivesse recebido um estimu
lo
surpresa de quase 2 milhöes de "não eleitores" que tendiam a evitar a
politica e se os estrategistas da permanência na UE não tivessem tomado
a decisão consciente de
ignorar completamente a questão da imigraçao,
Principal preocupação dos que queriam sair, a Grä- Bretanha poderia ter
permanecido na UE.
Observe também as eleições europeias de 2019, que demonstraram
diterenças especificas a cada pais. Os nacional-populistas venceram na
Grà-Bretanha, na forma do novissimo Partido Brexit de Farage, na Hungria,
na Polônia e na Itália, onde os 34% de votos da Liga foram o dobro do resul-
tado obtido nas eleições gerais de 2018. Essa foi uma notável realização para
um partido que começou como "Liga Norte", apoiando o separatismo da
"ladra Roma" e que obteve somente 6% dos votos em 2014. Mas o Partido
do Povo dinamarquêes caiu do primeiro para o terceiro lugar e, embora tenha
avançado em comparação a 2014, o Alternativa para a Alemanha regrediu
em relação a seu desempenho nas eleições gerais de 2017.
Na política, sempre haverá "e se, e certamente é necessário estudar
os fatores contextuais, como lideres, campanhas e cobertura da midia
(incluindo como os oponentes respondem aos nacional-populistas). Por

exemplo, Bolsonaroe Trump exploraram a imagem de homens fortes

"autênticos" e usaram amplamente as midias sociais em campanhas
negativas para a presidência, incluindo ataques aos veiculos de imprensa
tradicionais, "divulgadores de fake news'. Um estudo do Guardia des
cobriu que, durante as eleições presidenciais brasileiras, a vasta maioria
das informações falsas no WhatsApp, que tem 100 milhöes de usuários
brasileiros, favorecia Bolsonaro. Mas a ênfase indevida em tais fatores é
inútil, porque nos impede de chegar a uma compreensão mais profunda
e sofisticada sobre exatamente por que nosso mundo politico está em tal
estado de flutuação. Mesmo que as coisas tivessem sido diferentes, o apoio
ao Brexit ea Trump ainda teria sido forte. Marine Le Pen foi anulada quan-
 N A C I O N A L - P O P U L I S M O

20

mas ainda precisame

do não conseguiu se tornar presidente da França,
cada trs eleitores franceses, incuina.
nd
um em
entender por que ela atraiu

muitos com menos de 40 anos.

acontecendo, precisamos
açar as traçar ae
Para realnmente entender que está
o

Neste livro, em vez de examinar movimen.

origens dessas revoltas populares.
focaremos no retrato mais amplo e defenderemae
tos e lideres individuais,

dois argumentos gerais.

Os "quatro Ds"*

revoltas sem entender como tendências

Não podemos compreender essas
mais antigas vêm remodelando a política ocidental há décadas. O nacional
populismo gira em de quatro mudanças sociais profundamente
torno
enraizadas que causam crescente preocupação entre milhões de pessoas

no Ocidente. Nós nos referimos a essas quatro mudanças históricas como

eé
os "quatro Ds". Elas frequentemente são baseadas em queixas legítimas
improvável que se desvaneçam no futuro próximo.
A primeiraé a maneira como a natureza elitista da democracia liberal

promoveu a desconfiança dos politicos e das instituições e alimentou a

sensação, entre grande número de cidadãos, de que já não possuem voz

no diálogo nacional. A democracia liberal sempre buscou minimizar
a participaçâo das massas. Mas, em anos recentes, a distância cada vez
maior entre os políticos e os cidadãos comuns levou a uma maré crescente
de desconfiança, não somente dos partidos convencionais, mas também de
instituiçóes como o Congresso americano e a União Europeia, uma tendën-
cia claramente mapeada por pesquisas e outros dados. Jamais houve uma
era dourada na
qual os sistemas políticos representaram todos os membros
da sociedade e, nos últimos anos,
passos importantes foram dados para
assegurar que grupos historicamente marginalizados, como mulheres e

Em inglés: distrust ldesconfança), destruction [destruição),

alignment (desalinhamento). {N. da T.] deprivation lprivação| e de
 INTRODUÇAO
minorias étnicas,
tivessem mais voz nas lcgislaturas. Mas, ao mesno teniy
muitos Sistemas politicos se tornaram menos representativos
nave, levando muitos a concluir que nào possuem voz e conduzindo à

virada para o nacional

populismo.
A Segunda é como a imigraçåo c a supermudança étnica estào contt

buindo para os fortes medos sobre a possivel destruiçdo das comunidacles,

da identidade histórica do grupo nacional e dos modos estabelecklos
Vida. Esses medos estàoembebidos nacrença deque politic os culturalmente
a
estão erodindo
iberais, organizaçdes transnacionais e finanças globais
naçao ao encorajar a imigração em nmassa e que as agendas "politicamente
corretas buscam silenciar qualquer oposiçåo. preocupaçóes nem
Essas
tato
sempre são fundamentadas na realidade objetiva, como refletido pelo
de que se manitestam não somente em democracias que experimentaram
Grä-Bretanha, mas tam
rapidas e profundas mudanças étnicas, como
a
como a
bem naquelas que possuem nfveis muito mais baixos de imigraçào,
são potentes e o serão ainda
mais
Hungriaea Polônia. Mesmo assim, elas
a varrer o Ocidente
conforme as mudanças étnicas e culturais continuem

nos anos vindouros.

economia globalizada neoliberal atiçou
A terceira é a maneira como a

psicólogos chamam de privação relativa,

como
a forte sensação do que os
Ocidente e
resultado das crescentes desigualdades de renda e riqueza no
da falta de fé em futuro melhor. Embora muitas pessoas que apoiam o
um
média
nacional-populismo tenham empregos e rendas médias ou acima da
econômica
mesmo que seus empregos sejam inseguros), a transformação
do Ocidente alimentou uma forte sensação de privação "relativa", a crença,
entre certos grupos, de que esto perdendo em relação aos outros. Isso sig-
nifica que temem pelo futuro e pelo que jaz à frente para si mesmos e para
seus filhos. Essa profunda sensação de perda está intimamente relacionada
à maneira como pensam sobre questöes como imigração, identidade e
conhança nos politicos.
Hoie há milhöes de eleitores convencidos de que o passado era melhor
que o presente e, por mais sombrio que seja, o presente ainda é melhor que
 NACIONAL-POPULISMO
22

o futuro. Eles não fazem parte da

subclasse branca desempregada ou dos
beneficiários dos programas de bem-estar social. Se o nacional-populismo
lidar com ele seria mais fácil
dependesse do apoio dos desempregados,
bastaria criar empregos, especialmente empregos com salários decentes que
oferecessem segurança no longo prazo. Mas a maioria das pessoas nessa
categoria não está no degrau mais baixo da escada; no entanto, partilham
da intensa crença de que o arranjo atual já não funciona para elas e que
outros estão sendo priorizados.
Os lideres nacional-populistas se alimentam dessa profunda insatisfação,
mas seu caminho até o mainstream também foi aberto por uma quarta
tendencia: os elos cada vez mais fracos entre os partidos dominantes tradi-
cionais e as pessoas, ou o que chamamos de desalinhamento. A era clássica
da democracia liberal foi caracterizada por uma politica relativamente
estável, partidos convencionais fortes e eleitores leais; vimos o fim dessa
era. Muitas pessoas já não estão fortemente alinhadas ao mainstream. Os
elos estão se rompendo. Esse desalinhamento está tornando os sistemas
políticos ocidentais muito mais voláteis, fragmentários e imprevisíveis
do que em qualquer outro momento da história da democracia de massa.
A política hoje parece mais caóticae menos previsível do que no passado
porque de fato é. Essa tendência também é muito antiga e ainda tem um
longo caminho a percorrer.
Juntos, os "quatro Ds" abriram considerável espaço para os nacional-
Populistas, ou o que chamamos de "reservatório de potencial": grande
número de pessoas que já não se identificam com os politicos estabelecidos e
que sentem que não têm voz na política, que a imigraço crescenteearápida
mudança étnica ameaçam seu grupo nacional, sua cultura e seu modo de
vida, e que o sistema econômico neoliberal as está deixando
para trás em
relação a outros na sociedade.
Tais tendencias precisam ser analisadas em
conjunto, não apresentadas
como abordagens concorrentes. Dizemos isso porque, infelizmente, há no
Ocidente um inútil debate sobre o
tra
populismo que joga os fatores uns con
os outros, como se eles fossem mutuamente
excludentes. Trata-se de
 INTRODUÇÃO 23
economia de cultura? De
ou
empregos ou de imigrantes? De austeridade
ou de nacionalismno?
A realidade, claro, é que nenhum fator isolado pode
de tais movimentos explicar a ascensão
complexos em países com tradições muito diferentes,
como o passado comunista autoritário da Hungria e o longo governo mi-
litar, a
corrupção endêmica e a violência no Brasil. Mesmo assim, alguns,
como o jornalista John Judis, argumentam que toda essa mudança envolve
economia, não cultura", enquanto outros, como os acadmicos Ronald

Ingleharte Pippa Norris, sustentam que se trata de "cultura, não econo-

mia". A primeira abordagem afirma que a preocupação das pessoas com
econômica.
questões como a imigração é somente subproduto de sua aflição
com questões de identi-
A segunda detende que a preocupação das pessoas
económico, como pode ser
dade opera independentemente de seu ambiente
não são
fato de muitas das que se preocupam com a imigração
visto no que
muitas das que votam nos nacional-populistas est o empregadas
pobres e

e frequentemente são qualificadas. não funciona

ajuda: a vida real
Mas esse debate binário é de pouca
fato de que preocupações sobre
assim. Ele é simplista
ignora
demaise o

o fazem. A
abor-
interagir e frequentemente
cultura e economia podem
diferente dos argumentos
adotamos também é
dagem de longo prazo que reta do tumulto político até a
crise finan-
uma linha
populares que traçam na Europa.
Muitos
Recessão e a crise
da dívida pública
ceira, a Grande a economia
ele coloca
do argumento porque
na esquerda liberal gostam como subproduto da desigual
do palco, apresentando
Trump
no centro da Europa como reação à dura
os populistas
dade gerada pela crise ou
democracias após pressão
de instituições
foi imposta às
austeridade que Central Europeu ou o
Fundo
como o Banco
transnacionais
não eleitas
Monetário Internacional (FMI).
recessão e pelas subse-
muito afetados pela
Contudo, alguns países notadamente Irlanda, Portugal
austeridade da UE,
diretivas de
quentes
movimentos populistas significativos de ne-

e Espanha, não geraram tenham Ocorrido muitas mudancas em

nhum tipo, embora, na Espanha,

 N A C I O N A L - P O P U L I S M O

24
7
ajudado André
em 2019, a personalidade
tenha
Ventura,
2018-2019 e, primeiro nacional-poDnli.
Partido Chega, a se
tornar o ista
novo
lHder do
no Parlamento portugués.
veremos- de que os eventos sísmicos dda
como
dúvida-
Não há e x a c e r b a r a m as profund .
colaterais subsequentes
seus efeitos
crise de e escoram 0 nacional-populismo
mo
culturais e
econômicas que
divisoes muito antes do colans
essas
divisðes c o m e ç a r a m
Ocidente. Mas
no fariam bem em observar
var
Os analistas financeiros
Lehman Brothers.
do c o m o faremos no próximo
capítu.
vida do nacional-populismo,
ciclo de
búlgaros, dinamarqueses, holandeses,
o
austríacos, britânicos,
lo. Como e suíços podem
noruegueses, poloneses
franceses, húngaros, italianos,
da Grande
dizer, o nacional-populismo era uma força séria muito antes
tivesse ocorrido, ainda teríamos
Recessão. E, mesmo que ela jamais
de lidar com os nacional-populistas.

A chegada de uma séria revolta

Nosso segundo argumento geral é que o nacional-populismo possui um

sério potencial de longo prazo.

Brexit
Uma interessante questão macro é se choques políticos como o
de um
e Trump assinalam que o Ocidente está se aproximando do fim
periodo de volatilidade política ou se, em vez disso, está se aproximando
do inicio de um novo periodo de grandes mudanças. A primeira hipótese
se baseia na premissa de que, quando os países deixarem a crise finan-
ceira para trás e retomarem seu crescimento, as pessoas retornarão aos
partidos tradicionais. Também é modelada pelo pensamento sobre as
mudanças geracionais.
Um argumento muito popular é
que o nacional-populismo representa
o "ultimo grito de
raiva" de velhos brancos que logo serão substituídos
por tolerantes millennials, que nasceram entre as décadas de 1980 e 2000
e,
segundo dizem, sentem-se muito
nos
mais à vontade
refugiados, mudança étnica e fronteiras abertas.
com
imigração,
 25
INTRODUÇAO

Os liberais progressistas gostam desse argumento porque ele concoraa

nào nacionalistas, nmas como inter

com sua própria identificaçåo como

o
nacionalistas ou "cidadãos do mundo", e com sua firme crença de que
muito mais
Ocidente está em uma esteira rolante na direçåo de um futuro
liberal. Eles apontam que sonnente um em cada quatro millennials aprovou
um em cada dois
primeiro ano de Trump no cargo, em comparação
com
o

representantes da nmuito mais velha geração

silenciosa, nascida de- entre as

vitória do jovem centrista

cadas de 1920 e 1940. Eles indicam a abrangente
o fato de que o
Brexit foi
liberal Emmanuel Macron na França em 2017. E
em cada
mas somente por um
endossado por dois em cada três aposentados,
24 anos.
quatro daqueles entre 18 e
Tais fatos também refletem as diferentes prioridades de diterentes ge-
os millennials sejamn
Embora, em muitas economias estabelecidas,
rações. a de
moderna a estar em situação financeira pior que
a primeira geração diversidade étnica,
mesmo levando-se
em consideração sua maior
seus pais, grandes
liberais que as gerações mais velhas. Em
eles ainda são muito mais
a Alemanha, os millennials
como os EUA, a Grä-Bretanha e
democracias
casamento entre pessoas do
homossexualidade e o
aceitam muito mais a
à imi-
menos e são mais positivos em relação
mesmo sexo, preocupam-se membros de
casamentos entre
relacionamentos e
gração, apoiam mais
os
de morte, o que é uma

diferentes grupos opõem mais à pena

raciais e se
valores liberais.
de para a definição de possuir
pedra toque essas diferenças geracionais
se

Com a chegada do presidente Trump, EUA são ainda mais

millennials nos
tornaram ainda mais agudas. Os de um
mais velhas a seopor à construçäo
propensos que as gerações
característica proeminente
fronteira com o México, que foi uma
muro na
a promessa de que
"o México vai pagar
(incluindo
da campanha de 2016
a violência mais que
as
a ideia de que o Islä promove
por ele"), a rejeitar concordando c o m a noção
a dar
boas-vindas à imigração,
outras religiões e todo o mundo é
Unidos para pessoas de
de que "a abertura
dos Estados
Em cada um desses pontos,
há
somos como nação".
essencial para quem muitas outras
velhos, assim como em
substanciais entre jovens
e
diferenças
26 NACIONAL-POPULISMOo

venceram as batalhas
nacional-populistas
aemocracias ocidentais.° Os
argumento, mas, no longo prazo.
de Trump, diz
o
na torma do Brexit e

perderão a guerra. especialmente se você já Dos

sedutor,
argumento
Esse c e r t a m e n t e é
um
concorrente, a saber, a que afirma
visão
liberal. Mas
há uma
uma visão nos aproximando do
sui do fim,
estamos

aproximarmos
em vez de nos
volatilidade e perturbacão noli
p
que, fragmentação,
era de
inicio de uma nova
nacional-populismo
está apenas no início
o
dessa perspectiva, deseastam
tica. Visto partidos
tradicionais se
e os
as pessoas
conforme os laços entre
precedentes continuam a
ocors
sem
orrer
étnicas e desigualdade
e mudanças
em ritmo acelerado.

vis o indicam uma lista de grandes mu.

defendem essa
Aqueles que radicalmente o statuc
Ocidente que têm o potencial de alterar
danças no a rápida mudança
com a imigração e
crescente preocupação
püblica
quo: diminuir n0s próximos anos, em função
étnica, nenhuma
das quais irá
taxas de natalidade
relativamente baixas
continuada e das
da migração
fundamentais na Europa e no Ocidente sobre a
no Ocidente; divisões
e como lidar com ela; a emergência do terrorismo
crise dos refugiados
de que os serviços de inteligência
islamista e o fato amplamente divulgado
muçul-
de milhares de suspeitos de
serem
estão monitorando dezenas
muitos partidos
manos radicalizados no
Ocidente; o colapso do apoio a
de centro-esquerda na Europa; desigualdade
a persis-
social-democratas
efeitos da
tente e crescente; prolongados amplamente imprevisíveis
os e
concorrentes
novo conflito cultural focado em conjuntos
automação; o

de eleitores; a maneira pela qual

os
de valores entre diferentes grupos
"não eleitores" de volta para
nacional-populistas estão atraindo alguns
eleitores de
a política; eo fato de que muitos millennials e outros jovens
as gerações mais
velhas de sentir
hoje têm muito menos probabilidade que
Os defensores dessa
lealdade intensa, tribal, pelos partidos convencionais.
e
visão também indicam que, embora haja grandes divisões geracionais
de valores no Ocidente, elas são parcialmente modeladas pela
experiéncia
do ensino superior, que ainda está fora do alcance de
muitos.
 INTRODUÇAO 27

A inda qute muitos na Ruropa tenham visto a eleição de Emmanuel

Maton em 2017 intcio do fim do
como
populismo,
meses
depois os
Na ional populistas conseguiram seu primeiro sucesso na Alemanna,
etor naranm ao governeo na Austria,. foram reeleitos na Hungria e, em 20o18,

uniram se a um governo de coalizão na Itália, onde assumiram o controle

do Ministério do Interior. No fim de 2018, na Espanha, que seacreditava ser
imune d extrema direita em funçâo das amargas lembranças da sangrenta
uerra civil (1936-1939) e da ditadura do general Franco (1939-1975),
patido nacional populista Vox (fundado em 2013) venceu as eleições
na Andaluzia e obteve representação nas eleições europeias e nas eleições
nacionais de abril, além de mais que dobrar sua representação nas eleições
de novembro parao Congresso e se tornar o terceiro partido da Espanha.

No inicio de 2019, o relativamente novo Fórum pela Democracia holand s

Partido da
venceu as eleiçòes provinciais, eclipsando o mais provocativo
Liberdade, de Geert Wilders, que ficara em segundo lugar nas eleiçóes

parlamentares de 2017.
Quando olhamos para a idade dos seguidores dos nacional-populistas,
como faremos no próximo capítulo, fica
claro que o argumento sobre

mudança geracional não é tão convincente quanto parecia à primeira vis

ta. jovens são mais tolerantes que
Em termos muito gerais, os
pais seus e

estão forjando laços com

avós, mas, mesmo assim, os nacional-populistas
à sua própria maneira, também
se
um número significativo de jovens que,

sentem deixados para trás.

Como Lao Zi, o antigo filósofo chins, disse certa vez, aqueles que
pos- não
possuem predizem e aqueles que predizem
conhecimento não
tentar
na política, muitos acham que
suem conhecimento. Especialmente

é um passatempo para tolos. E por isso

frente
prever o que acontecerá à
devemos ser céticos em relação à alegação
contemporânea de que "o
que
essas revoltas estão acabando, e
não
auge", de que
populismo chegou ao

visão: as evidências que possuímos

começando. Não partilhamos dessa
não é um protesto-
indicam uma direção diferente. O nacional-populismo
-relâmpago. Após ler este livro, talvez seja difícil evitar a conclusão de
 N A C I O N A L - P O P U L I S M O

28

pronto para
permanecer
no radar nos anos
vindos.
douros.
que ele parece
uma perspectiva
mais ampla nos Der,
ermite
atrás e assumir
Dar um passo bastante populares, os movimer
contrário de alegaçðes
ver que, ao
bastante leal de pessoas
obtiveram um apoio
nacional-populistas
coerentes,
profundamente vivenciadas e
partilham preocupações mais geral
casos, legitimas sobre como sua naçao e, de modo geral,
alguns
Ocidente estão mudando.

pós-populismo
Na direção do
desafio mais ampla
ascensão do nacional-populismo
é parte de um
A
criticos argumentam que os liberais priorizaram os
ao liberalismo. Os debates
demais em secos,
individuos à custa da comunidade, focaram
lealdades nacionais
transacionais e tecnocráticos
e perderam de vista as
obsessivamente nas lealdades transnacionais. Por
enquanto pensavamn
revitalizar, o mainstream
essas razões, a menos que se prove capaz de se

dificuldade para conter esses movimentos. Mas

liberal continuará a ter

outro debate vai se tornar cada vez mais importante,

sugerimos que
a saber, o alvorecer
centrado no que chamamos de "pós-populismo"-
avaliar se votar ou não
de uma era na qual as pessoas serão capazes de
elas se im-
nos populistas fez uma diferença tangível em suas vidas e se

portam com isso.

O que acontecerá se Trump näo restaurar grande número de empre
gos relativamente bem pagos, seguros e significativos e maior proteção
às fronteiras de uma maneira que satisfaça seus principais apoiado-
res? E se suas medidas protecionistas iniciarem uma guerra comercial
internacional? Os problemas para assegurar o Brexit já tornaram os
lideres nacional-populistas de outros países receosos em relação a uma

completa ruptura com a UE, com Marine Le Pen eo Democratas Sueco

abandonando pedidos iniciais de saída total. O que acontecera
seus

se o Brexit não reformar o impopular sistema liberal de imigração da

Grå-Bretanha ou näo levar maior igualdade econômica a áreas que na
 INTRODUÇÃO 29

muito sentem excluídas dos beneficios

se
que vão para Londres e para
as cidades universitárias? Como os eleitores de Marine Le Pen na
França
responderão nas cidades nas quais os prefeitos de seu partido falharem
em cumprir as promessas de restringir a influência do Islä e acabar com
o terrorismo islamista? O que acontecerá se populistas como Viktor
Orbán, que chama os refugiados muçulmanos de "invasores", forem
incapazes de interromper o fluxo ou se passarem a ser amplamente
vistos como a nova elite corrupta que usa sua posição no governo para
encher os próprios bolsos? Em 2019, o lider do Partido da Liberdade
austríaco, Heinz-Christian Strache, foi forçado a renunciar ao cargo
de vice primeiro-ministro depois de ser flagrado prometendo contratos
a uma oligarquia russa se ela comprasse um jornal popular para ajudar
seu partido, dando início à queda do governo nacional-populista de
centro-direita e à diminuição do apoio a seu partido. Mais tarde, alegou-
beneficio próprio e, em outubro
que ele usara fundos partidários
em
-se

após fracos resultados de seu

de 2019, ele se aposentou da política os

partido nas eleições nacionais.

realmente produzirem
Inversamente, o que acontecerá se esses partidos
de indicar "sucessos" como a cria-
mudanças significativas, seforem capazes
nova infraestrutura, fronteiras
mais fortes
ção de empregos de qualidade,
Estados
oulimitação significativa da imigração não qualificada vinda de
do austríaco em 2018 para
muçulmanos? Como exemplo, os planos governo
benefícios sociais e o salário-família para pessoas que não
restringir os
atratividade entre eleitores potenciais
falam língua podem ampliar sua
a
reverter outras agendas
radical em outras áreas, como
que querem ação Embora
da crescente desigualdade.
impulsionadas pelaelite, exemplo
a
de maneiras diferentes
OS nacional-populistas frequentemente pensem
certos
economia, um número crescente deles na Europa defende
SODre a
tradicionalmente de esquerda,
incluindo a expansão
aspectos de políticas nascidos no
social para aqueles
do e a promoção do bem-estar
Estado difícil para
tornando ainda mais
pais, excluindo os imigrantes. Isso está
seus eleitores,
Sociais-democratas de centro-esquerda reconquistarem
OS
 N A C I O N A L - P O P U L I S M O

30

também enfrentamo i n t e n sso.

em certos países, eles
especialmente porque,
cujas fortes visões pró-europeias aumentam
verdes,
desafio dos partidos altamente educados.
entre eleitores jovens e
atratividade
sua
fracasso é que aqueles que votam
o cenário de
A resposta pronta para inevitavelmente re.
em sua
maioria dissidentes que
são
nos populistas Além disso, como
mainstream; mas
isso parece improvável.
tornarão ao
pela qual o nacional
a maneira
veremos no capítulo
6, essa resposta ignora
sistemas políticos ociden-
claro
impacto ao arrastar os
populismojá tem descreve como
do centro, na direção
do que Marine Le Pen
tais para longe
nacionalistas e globalistas. Os populistas
podem "perder"
choque entre soa e se parece com eles,
mainstream cada vez mais
mas o
nas eleiçðes,
"nacional-populismo leve.
tornando-se, no processo, um
na Gr -Bretanha
e na
casos, como na Austria,
Na maior parte dos
embora, na Dinamarca,
Holanda, foi a centro-direita que adotou essa tática,
os social-democratas
tenham recentemente seguido essa rota. Contudo,
eleitores sentem que as promessas não
essa é uma estratégia perigosa se os
falhasigni- deixar a UE
Veja o caso britânico, no qual a
em
são cumpridas.
nas eleições europeias de 2019,
o novo Partido Brexit de Farage
fhcou que,
recorde histórico abaixo de
eclipsou os conservadores, que caíram para
um

10%. Essa foi a razo central para o novo primeiro-ministro, Boris Johnson,
ter transformado "Vamos resolver o Brexit de uma vez" em sua mensagem
central nas eleições gerais de dezembro de 2019, ajudando a produzir uma
grande maioria parlamentar, com 43,6% dos votos (embora essas mudanças
também enfatizem a volatilidade de muitos eleitores.
Contra o pano de fundo de uma hegemonia ocidental liberal queenfa-
tiza os direitos individuais sobre as obrigaçðes comunais ea solidariedade,
que concorda com ainda mais mudança étnica e apoia a globalização
económicae política, aqueles que votam nos nacional-populistas querem
empurrar o pêndulo na outra direço. Eles não sãoeleitores transacionais
que pesam custos e beneficios das políticas, comoum contador, e focam
nos detalhes- quem está fazendo o que, como e quando. Em vez disso,
são motivados pelo profundo desejo de trazer de volta à agenda um con-
 INTRODUÇÃO 31

junto mais amplo de valores e retomar sua voz: reafirmar a primazia da

distantes e não responsabilizáveis;
nação sobre organizações internacionais
reafirmar identidades nacionais amadas e enraizadas contra identidades
transnacionais difusas e sem raízes; reafirmar a importância da estabili-
dade e da conformidade contra a
infinita e perturbadora instabilidade que
do
flui da globalização e da rápida mudança étnica; e reafirmara vontade
democratas liberais elitistas que parecem cada
povo sobre a vontade dos
vez mais distantes da vivência e da perspectiva do cidadão comum. Assim
valores refletidos na notável ascensão de
como muitos liberais viram seus

Barack Obama nos EUA e Emmanuel Macron na França, muitos outros na

sociedade veem seus valores refletidos no nacional-populismo. E muitos

deles sentem, pela primeira vez em muito tempo, que

finalmente podem
expressar suas opiniðes e gerar mudanças.