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QUESTIONÁRIO JURÍDICO – EDIÇÃO N.

3 – 07 DE MAIO DE 2020
Disciplina: Direito Civil– Tema: bem de família

RESPOSTAS

1) Verdadeira – literalidade da súmula 364/STJ. Lembrar que vivemos um período inclusivo: todos os tipos
de família são admitidos. Não há modelo pronto ou correto. O elemento constitutivo essencial é o afeto.
Assim, como todos os tipos de família merecem a proteção do direito, de igual maneira merecem os bens
de família, seja qual for a constituição da entidade familiar.
2) Falsa – se a vaga carece de matrícula própria, ela não é autônoma, independente, estando então
vinculada ao bem imóvel. Logo, se possuir matrícula própria, poderá em tese, ser penhorada. Do
contrário, se carecer de matrícula própria, não poderá sê-lo. Vide súmula 449/STJ.
3) Verdadeira – este é o entendimento jurisprudencial majoritário, nos termos da súmula 486/STJ. "É
impenhorável o único imóvel residencial do devedor que esteja locado a terceiros, desde que a renda
obtida com a locação seja revertida para a subsistência ou a moradia da sua família.". Vale lembrar que o
STJ, a partir de uma interpretação teleológica e valorativa, também incluiu na impenhorabilidade o bem
imóvel comercial, desde que o valor do aluguel seja destinado ao pagamento da moradia do proprietário,
ou seja, desde que o valor recebido com a locação comercial seja revertido ao pagamento de locação
residencial por sua entidade familiar. Para mais informações, leiam o julgado REsp 1.616.475-PE, INFO
591/STJ.
4) Verdadeira – trata-se de uma exceção à impenhorabilidade, constante do art. 3º, inciso VII da Lei n.
8.009/90 e assentada em jurisprudência do STJ, nos termos da súmula 549.
5) Falsa – é o contrário: excluem-se da impenhorabilidade do bem de família tais bens. A impenhorabilidade
do bem de família vem para garantir o direito de moradia, o patrimônio mínimo para que o indivíduo
possa ter uma vida digna. Tudo que exceda esse mínimo necessário poderia, em tese, ser penhorado. Art.
2º, Lei 8.009/90.
6) Falsa – se aplica às penhoras anteriores. É uma norma protetiva do direito de moradia, do patrimônio
mínimo para que o indivíduo tenha uma vida digna... Assim, a lei retroage e abrange os casos anteriores.
Vide súmula 205/STJ.
7) Falsa – até 2015 esta assertiva de fato constava da Lei. Porém, com a edição da Lei Complementar
150/2015, tal entendimento se encontra revogado. Logo, em se tratando de execução promovida pela
satisfação de créditos trabalhistas da própria residência e das respectivas contribuições previdenciárias,
não há garantia da impenhorabilidade, podendo sim a propriedade ser penhora para satisfazer créditos
desta natureza.
8) Verdadeira – o Código Civil prevê a possibilidade de a entidade familiar instituir bem de família de forma
voluntária. Neste caso, o próprio legislador impôs uma limitação. Vide art. 1711, CC.
9) Falsa – caso seja instituído pela própria entidade familiar, pode ser feito por escritura pública ou por
testamento (art. 1711, caput, CC). Contudo, tal garantia também pode ser instituída por terceiro. Neste
último caso, poderá fazê-lo através de testamento ou de doação (art. 1711, §único, CC).
10) Falsa - nos termos do Código Civil, a eficácia do ato neste caso requer aceitação expressa da entidade
familiar.
11) Verdadeira – muito cuidado!!! Tal previsão não consta da lei 8.009/90, mas sim do Código Civil (art. 1715,
CC). Não negligencie a leitura do Código, que também traz outras regras importantes sobre o instituto.
Ademais, o STJ também já se manifestou neste sentido, vide o julgado: STJ. 2ª Seção. AR 5.931/SP, Rel.
Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 09/05/2018.
QUESTIONÁRIO JURÍDICO – EDIÇÃO N. 3 – 07 DE MAIO DE 2020
Disciplina: Direito Civil– Tema: bem de família

12) Falsa – Assertiva extra de dois artigos do CC, 1721 e 1722: a dissolução da sociedade conjugal não
extingue o bem de família; já a morte de ambos os cônjuges e a maioridade dos filhos sim (neste último
caso, desde que não sujeitos a curatela, caso em que, subsistirá a impenhorabilidade).
13) Verdadeira - Em outras palavras, não é possível a penhora de bem de família do fiador em contexto de
locação comercial. STF. 1ª Turma. RE 605709/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, red. p/ ac. Min. Rosa Weber,
julgado em 12/6/2018 (Info 906). Segundo o Ministro Marco Aurélio, apesar de a lei não distinguir o tipo
de locação, não se pode potencializar a livre iniciativa em detrimento de um direito fundamental que é o
direito à moradia. CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Impenhorabilidade do bem de família e contratos
de locação comercial. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/4c26774d852f62440fc746ea4cdd5
7f6>. Acesso em: 06/05/2020.
14) Verdadeira – entendeu o STJ que para fundamentar a penhora de imóvel em função de débito de
natureza tributária, é preciso que o débito se origine do bem de família propriamente dito, e não de outro
imóvel pertencente ao devedor. Para a aplicação da exceção à impenhorabilidade do bem de família
prevista no art. 3º, IV, da Lei nº 8.009/90 é preciso que o débito de natureza tributária seja proveniente
do próprio imóvel que se pretende penhorar. STJ. 3ª Turma. REsp 1332071-SP, Rel. Min. Marco Aurélio
Bellizze, julgado em 18/02/2020 (Info 665).
15) Falsa – é o contrário: o fato de o imóvel ser de alto luxo não afasta a proteção conferida pela Lei n.
8009/90. Este foi o entendimento do STJ: O simples fato de o imóvel ser de luxo ou de elevado valor, por
si só, não afasta a proteção prevista na Lei nº 8.009/90. Assim, prevalece a proteção legal ao bem de
família, independentemente de seu padrão. O intérprete não pode fazer uma releitura da lei a fim de
excluir o imóvel da proteção do bem de família pelo simples fato de ela ser de elevado valor. STJ. 3ª
Turma. AgInt no AREsp 1199556/PR, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 05/06/2018. STJ. 3ª
Turma. REsp 1.482.724/SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 14/11/2017. STJ. 4ª Turma. AgInt no REsp
1669123/RS, Rel. Min. Lázaro Guimarães (Desembargador convocado do TRF 5ª Região), julgado em
15/03/2018. STJ. 4ª Turma. AgInt no REsp 1.505.028/SP, Rel. Min. Raul Aráujo, julgado em 19/09/2017.
16) Falsa – realmente, a lei incluiu como exceção à impenhorabilidade o caso em que o bem de família
responde por hipoteca. Porém, é preciso cuidado com a previsão, haja vista recente decisão do STJ que
diferenciou duas situações: uma em que a dívida se reverteu em benefício da entidade familiar, e outra
em que tal benefício não se verificou. No primeiro caso, o bem poderá ser penhorado, enquadrando-se
na situação prevista no inciso V do art. 3º. Já na segunda hipótese, em que o imóvel foi dado em garantia
de uma dívida que beneficiou terceiro, não será possível a penhora do imóvel. Desse modo, para a
jurisprudência do STJ, a exceção prevista no art. 3º, V, da Lei nº 8.009/90 não se aplica aos casos em que a
hipoteca é dada como garantia de empréstimo contraído em favor de terceiro, somente quando garante
empréstimo tomado diretamente em favor do próprio devedor. CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Bem
de família dado em garantia hipotecária. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/63eb58bd4d3486f001438f911a11d
323>. Acesso em: 07/05/2020
17) Verdadeira – É possível a penhora de bem de família dado em garantia hipotecária pelo casal quando
os cônjuges forem os únicos sócios da pessoa jurídica devedora. STJ. 2ª Seção. EAREsp 848.498-PR, Rel.
Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 25/04/2018 (Info 627). Neste julgado, novamente o STJ diferenciou
duas situações: 1) quando apenas um dos cônjuges for sócio da pessoa jurídica: hipótese em que, em
regra, o bem será impenhorável; 2) quando os cônjuges forem os únicos sócios da pessoa jurídica
QUESTIONÁRIO JURÍDICO – EDIÇÃO N. 3 – 07 DE MAIO DE 2020
Disciplina: Direito Civil– Tema: bem de família

devedora: bem será penhorável. Entendo que o “pulo do gato” aqui é aferir se a entidade familiar foi ou
não beneficiada com a dívida. Em caso positivo, será possível a penhorada o bem; em caso negativo, a
impenhorabilidade se aplicará. Em todo caso, atenção: o ônus da prova incumbirá ao casal ou entidade
familiar, demonstração de que não se beneficiaram dos valores auferidos. CAVALCANTE, Márcio André
Lopes. Bem de família dado em garantia hipotecária. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/63eb58bd4d3486f001438f911a11d
323>. Acesso em: 07/05/2020.
18) Verdadeira – A regra de impenhorabilidade do bem de família trazida pela Lei nº 8.009/90 deve ser
examinada à luz do princípio da boa-fé objetiva, que, além de incidir em todas as relações jurídicas,
constitui diretriz interpretativa para as normas do sistema jurídico pátrio. Assim, se ficou caracterizada
fraude à execução na alienação do único imóvel dos executados, em evidente abuso de direito e má-fé,
afasta-se a norma protetiva do bem de família, que não pode conviver, tolerar e premiar a atuação dos
devedores em desconformidade com a boa-fé objetiva. STJ. 3ª Turma. REsp 1575243/DF, Rel. Min. Nancy
Andrighi, julgado em 22/03/2018. STJ. 2ª Turma. AgRg no AREsp 510970/SC, Rel. Min. Aussete Magalhães,
julgado em 18/04/2018. CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Afasta-se a proteção conferida pela Lei nº
8.009/90 ao bem de família, quando caracterizado abuso do direito de propriedade, violação da boa-fé
objetiva e fraude à execução. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/d1e39c9bda5c80ac3d8ea9d658163
967>. Acesso em: 07/05/2020.
19) Falsa – as contribuições criadas por associações de moradores são débitos que ostentam natureza de
dívida fundada em direito pessoal, oriunda do ato associativo ou de concordância com a despesa. Assim,
não possuem vinculação com o bem, mas sim com o serviço contratado, posto à disposição do associado.
STJ. 3ª Turma. AgInt no REsp 1688721/DF, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 20/02/2018.
Logo, neste caso, não será possível a penhora de bem de família para responder por estas dívidas.
20) Falsa – cabe sim. O legislador excepcionou a impenhorabilidade para os casos em que a obrigação
consiste em pensão alimentícia (art. 3º, III, Lei n. 8009/90), porém não restringiu o tipo de pensão
alimentícia, isto é, qual a origem do crédito: se derivado de relação familiar ou de indenização por ato
ilícito. Vejamos: “Em outras palavras, cabe a penhora do bem de família para pagamento de dívidas de
pensão decorrente de decorrente de vínculo familiar ou de indenização por ato ilícito. STJ. 3ª Turma.
AgInt no REsp 1619189/SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 25/10/2016. CAVALCANTE,
Márcio André Lopes. Cabe a penhora do bem de família para pagamento de dívidas de pensão
decorrente de vínculo familiar ou de indenização por ato ilícito. Buscador Dizer o Direito, Manaus.
Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/6c1da886822c67822bcf3679d0436
9fa>. Acesso em: 07/05/2020.

Muito bem, mais um questionário concluído com sucesso! Esta temática é sempre cobrada em prova e
também recorrente nos tribunais superiores. Atenção!

Espero que estejam gostando desta maneira de revisar. Deixem suas impressões e sugestões nos
comentários. Obrigada!

Ótimos estudos, colegas!

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