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ARTIGO ORIGINAL

SOUSA, Brenda Gabriele Marinho de [1]


SOUSA, Brenda Gabriele Marinho de. A pandemia da COVID-19: O ensino à distância e os seus
desafios. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 05, Ed. 09, Vol. 10, pp.
05-13. Outubro de 2020. ISSN: 2448-0959, Link de
acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/educacao/a-pandemia
Contents [hide]
• RESUMO
• INTRODUÇÃO
• 1. A EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA NO BRASIL
• 2. OS DESAFIOS DO ENSINO À DISTÂNCIA DURANTE A PANDEMIA
• CONSIDERAÇÕES FINAIS
• REFERÊNCIAS

RESUMO
O presente artigo apresenta e trata reflexões a respeito da educação à distância em meio à pandemia
da COVID-19, conhecida também como Pandemia do Novo Coronavírus. Desta forma, o presente
artigo busca apresentar, por meio da pesquisa bibliográfica uma breve contextualização da trajetória
da educação à distância no Brasil e os desafios encontrados pelos docentes, discentes e familiares
para aplicação da mesma durante o tempo de pandemia. Foi utilizada também para o artigo pesquisa
de campo onde foram ouvidos alunos e responsáveis de duas escolas do município de São Pedro da
Aldeia, Rio de Janeiro. As questões apresentadas são: Como os alunos, professores e familiares
estão lidando com essa forma de ensino neste tempo? Há estrutura necessária para a realização
deste processo? A educação à distância é realmente necessária neste momento? Como resultado, é
encontrado um gama de incertezas, desconhecimento, medo, despreparo em todos os níveis e até
preocupações como, por exemplo, com a própria saúde mental e física de todos os envolvidos.
Entretanto, conclui-se que mesmo com tantas dificuldades e desafios encontrados, a educação à
distância continua sendo uma opção favorável para que o conhecimento seja repassado mesmo
quando o contato físico entre professores e alunos não é uma opção.
Palavras-chave: Educação à distância, pandemia e educação, desafios da educação.

INTRODUÇÃO
No início do ano de 2020 fomos surpreendidos com a crise de um novo vírus – uma mutação do já
conhecido coronavírus. Todos os setores da sociedade foram atingidos: saúde, economia, segurança
e claro, a educação. Ainda diante de tantas incertezas, tentamos sobreviver e viver, adotando novas
medidas, novas formas de viver e nos adequando diariamente ao novo normal, mesmo que ainda
inseridos nesse contexto de pandemia.
Uma das medidas previamente adotadas não somente no Brasil, foi o isolamento. Com o intuito de
fazer o vírus circular para menos pessoas. Consequentemente, não diferindo de nenhum outro setor,
as aglomerações nas escolas foram abruptamente encerradas – ainda que exatamente no início do
ano letivo de forma que algumas escolas e universidades brasileiras ainda estavam entre a primeira
e segunda semana de aula. Porém, no meio dessa situação, como dar prosseguimento às atividades
de ensino com a suspensão das aulas presenciais?
É fato que nenhuma instituição de ensino e sequer as famílias dos alunos estavam esperando por tal
situação, mas todos tiveram de enfrentá-la e ainda seguem enfrentando.
Como medida, o Sistema Educacional posicionou-se e o MEC por meio da portaria nº 343, de 17 de
março de 2020, autorizou a substituição das aulas presenciais pelas aulas através dos meios digitais
enquanto durar a pandemia do novo coronavírus (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2020).
Através deste artigo, buscaremos destacar a utilidade da educação à distância durante este tempo de
pandemia, assim como mencionar os desafios encontrados na sua utilização, seja nos sistemas como
na capacitação dos professores, além do papel primordial da família do estudante neste processo.

1. A EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA NO BRASIL


Por um bom tempo quando considerávamos a educação à distância, considerávamos como algo do
futuro. Algo que em algum momento seria bem desenvolvido e aplicado, de forma tecnológica e
bem feita, talvez recheada de efeitos especiais e realidades futurísticas como de filmes de ficção.
Entretanto, a realidade não está sendo bem assim. A expectativa foi trocada pela realidade da falta
da possibilidade da “educação presencial”, segundo recomendação como se tivéssemos de fato sido
obrigados a aplicar algo que considerávamos para um futuro distante.
Na verdade, a Educação à distância no Brasil possui registro desde antes de 1900, quando eram
oferecidos cursos e aulas por meio de anúncios de jornais. Posteriormente, segundo a Associação
Brasileira de Ensino à Distância (ABED) em 1904 começaram a serem formalizadas as escolas de
ensino à distância que ofereciam cursos de capacitação profissional por meio de correspondências,
onde os materiais didáticos eram enviados por trens e correios. Com a popularização do computador
e o advento da internet, o ensino à distância passou a ser ainda mais evoluído – de forma que hoje já
existem aulas simultâneas por meio de chamadas de vídeo.
O Decreto nº 5.622 de 2005, em seu Art 1º, caracteriza a educação à distância como:
Modalidade educacional na qual a mediação didático-pedagógica nos processos de ensino e
aprendizagem ocorre com a utilização de meios e tecnologias de comunicação e informação, com
estudantes e professores desenvolvendo atividades educativas em lugares ou tempos diversos.
Assim, a Educação à distância no Brasil é oficial e legal, mesmo existindo muito antes do decreto
mencionado. As bases legais estão registradas na LDB 9.394/1996 especialmente nos artigos 80 e
87, onde dispõe de exigências e orientações para o melhor desenvolvimento e utilização da mesma.
Embora existam diversas concepções, a concepção do ensino à distância adotada pelo sistema
brasileiro de ensino dispõe da relação professor-aluno, onde, ainda que o professor não seja visto
está repassando conhecimento. Não sendo, assim, o aluno autossuficiente ou autodidata, mas
participante, juntamente com o professor, do processo de aprendizagem. Assim, a lei anteriormente
mencionada prevê momentos presenciais obrigatórios, tais como: avaliações de estudantes, estágios
obrigatórios, defesa de trabalhos de conclusão de curso e atividades relacionadas a laboratórios.
Dessa forma, a educação à distância é uma importante aliada da educação brasileira, visto que
contribui diretamente na formação de tantos brasileiros e brasileiras, ainda que de forma tão recente.
Já que, mesmo legalizada, não é adaptada pela maior parte do contexto educacional.
De acordo com o MEC, a legislação somente permite esta modalidade de ensino para até 30% da
carga horário do ensino médio noturno, 20% no ensino médio diurno e 40% da carga horária de
cursos presenciais do ensino superior.
Segundo o último senso da Associação Brasileira de Ensino à Distância (ABED), o perfil inicial dos
estudantes EAD é de adultos, com mais de 30 anos, que já possuem família, emprego e
responsabilidades diárias. Sendo assim, inicialmente o EAD visto como uma alternativa para
aqueles que, teoricamente, não tiveram oportunidades anteriormente.
Entretanto, com a pandemia da COVID-19, além das atividades obrigatórias regulamentadas pelas
legislações acerca do ensino à distância, todas as aulas presenciais, em todos os níveis educacionais
passaram a ser suspensas a partir dos decretos não apenas do governo federal como dos governos
estaduais e municipais, sendo o Brasil um país de dimensões continentais. Assim, não apenas alunos
do ensino médio e superior passaram a conviver com o ensino à distância, mas também os alunos da
educação básica.
Assim, o EAD que até então era uma opção, passou a ser a única opção para todos os alunos
brasileiros, não importando a faixa etária, o nível escolar ou as condições básicas para este tipo de
ensino.

2. OS DESAFIOS DO ENSINO À DISTÂNCIA DURANTE A


PANDEMIA
Segundo a UNESCO (2020), até 25 de março, 165 países já haviam fechado suas escolas por causa
da pandemia, interrompendo as aulas presenciais de 1,5 bilhão de estudantes e mudando a rotina de
63 milhões de professores de educação básica.
Dessa forma, com as escolas fechadas e professores distantes de seus alunos, a expectativa até seria
de serem realmente interrompidas as aulas e, consequentemente, interrompido o ano letivo.
Entretanto, a tecnologia permitiu que de alguma forma, fosse dado prosseguimento.
Fato é que há regiões do Brasil que sequer existem as escolas presenciais próximas aos alunos,
faltam também condições mínimas de saneamento básico e alimentação. Ainda assim, tem sido
possível, para muitos alunos, o ensino à distância; principalmente para os alunos de escolas
particulares. Mesmo assim, as escolas e universidades públicas têm aplicado seus esforços em dar
prosseguimento também com os seus alunos, porém, enfrentando muitas dificuldades.
Os jornais têm noticiado alguns exemplos de escolas e professores que tentaram adotar o ensino.
Em 19 de Abril, o Jornal “Brasil de Fato” citou o exemplo do Maranhão, do Centro de Ensino de
tempo integral Dayse Galvao de Sousa. Onde, com apoio da secretaria de ensino, as atividades não
pararam durante o período da quarentena. Por meio de plataformas digitais, como Classroom,
Whatsapp e outras estratégias comunitárias mais de 92,4% dos alunos conseguiram receber
conteúdo pedagógico e o retorno de tarefas completadas até aumentou em comparação às aulas
presenciais (NICOLAV, 2020)
Outro desafio encontrado, além do despreparo tecnológico, foi o das famílias que mesmo tendo fácil
acesso, possuem dificuldades para repassar aos filhos os conteúdos passados pelas escolas na
compreensão de que pais e responsáveis não são professores e não possuíam preparação e
profissionalização para exercerem tal atividade.
Agora, pais e responsáveis precisam conciliar o seu tempo com a nova rotina, onde muitos
trabalham em regime de home-office, e ainda ensinar aos seus filhos as lições e aprendizagem
repassadas pelas escolas. Assim, são usadas inúmeras estratégias como vídeos, chamadas de vídeo,
atividades de leitura, jogos, entre outras atividades anteriormente executadas por professores, que
agora passaram a ser executadas pelos pais.
“Não tenho jeito para ensinar, não consigo ensinar minha filha. Fico desestimulada a continuar.”
(Danielle, mãe de Pedro do 3°ano).
Não apenas a dificuldade de didática dos pais, também se encontra, especialmente para as crianças,
a dificuldade de concentração. Afinal, todos os níveis de educação agora estão sendo oferecidos em
casa e isso se aplica até mesmo ao ensino das crianças na mais tenra idade. Como é possível fazer
com que uma criança com seus 5 anos pare e se concentre na videoaula do seu professor?
Não apenas as crianças encontram essa dificuldade no que diz respeito à concentração e até mesmo
a organização, mas também os alunos mais velhos, já do ensino superior que não acostumados com
o ensino à distância sentem grandes dificuldades em organizar uma rotina de forma que seja
possível concentrar-se nas aulas, fazer atividades e trabalhos e ainda terem bons resultados de
aprendizagem. Muitos alunos relatam, inclusive, um exagero no que diz respeito à quantidade de
atividades passadas por seus professores.
“Em uma das matérias, de um dia para o outro, a professora enviou mais de cinco atividades para
fazer de uma vez. Acabei não fazendo!” (Júllya, aluna do 8º ano)
Por último, e não menos importante, destacam-se as consequências psicológicas e sociais que o
ensino à distância neste tempo de pandemia acaba trazendo. Já existindo algum tipo de pressão
psicológica e desconforto por cada notícia devastadora que o próprio vírus traz, essa pressão e
desconforto acabam, muita das vezes, se tornando exacerbada com a preocupação e a obrigação da
realização de atividades para que o “futuro acadêmico” não seja comprometido. “O impacto da
pandemia na saúde mental das pessoas já é extremamente preocupante”, afirma Tedros Adhanom
Ghebreyesus, diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS) em um vídeo publicado. “O
isolamento social, o medo de contágio e a perda de membros da família são agravados pelo
sofrimento causado pela perda de renda e, muitas vezes, de emprego”. Desta mesma forma, há
relatos de alunos que se sentem extremamente tristes, estressados, ansiosos e irritados em relação ao
seu futuro acadêmico. Desta forma, é importante prevenir e reduzir os níveis elevados de ansiedade,
de depressão e de estresse que o confinamento provoca nos estudantes em quarentena (MAIA;
DIAS, 2020).

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por meio do presente artigo, foi possível observar que todo o mundo foi surpreendido com uma
pandemia assustadoramente contagiosa e letal. Assim, todos os setores da sociedade precisaram se
adequar a essa realidade e não foi diferente com o setor educacional.
Com o fechamento das escolas e suspensão das atividades presenciais não essenciais, foi necessário
a implementação do ensino à distância para que não fosse totalmente interrompido o ano letivo. E,
embora existam muitos desafios e dificuldades encontradas como a falta de preparo tecnológico, a
falta de preparo das famílias que agora passaram a ser responsáveis diretos do ensino dos alunos e o
estresse gerado devido a todo esse contexto, o ensino à distância ainda é uma boa resposta diante
deste caos.
É possível perceber que ainda assim existe o conhecimento sendo ofertado por meio de diversas
plataformas e ferramentas. Hoje, facilmente encontramos cursos sejam em redes sociais ou em
plataformas devidamente direcionadas para tal.
De todo modo temos a perda. Diariamente, segundo o Ministério da Saúde ainda morrem centenas
de pessoas. Infelizmente, quando tudo isso acabar, muitas escolas terão perdido seus alunos,
professores, diretores e pessoas de diversas áreas do corpo educacional e nenhuma dessas pessoas
jamais será substituída.
Ainda assim, mesmo sofrendo a perda – que sentiremos eternamente – temos a oferta da educação,
ainda que precária. Temos eternizada a intenção de continuar ensinando e aprendendo, pois se
entende que a base necessária para a vida é a educação e lutaremos por ela enquanto vivermos. E, a
educação à distância tem sido sim uma resposta positiva em que se espera que chegue a todos os
alunos e alunas. Não somente aos de escolas particulares ou nas grandes cidades, mas também aos
alunos menos favorecidos e às cidades interiores. Todos têm direito a educação seja o tempo que
for.

REFERÊNCIAS
ABED. Associação Brasileira de Educação a Distância: conceitos e história no Brasil e no
mundo. Associação Brasileira de Educação a Distância. 2011. Disponível
em:<http://www.abed.org.br/revistacientifica/revista_pdf_doc/2011/artigo_07.pdf> Acesso em: 28
set. 2020.
ABED. Associação Brasileira de Educação à Distância: Relatório analítico da aprendizagem a
distância no Brasil Disponível em:
<http://abed.org.br/arquivos/CENSO_DIGITAL_EAD_2018_PORTUGUES.pdf>. Acesso em 28
set. 2020
BRASIL. Presidência da República. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Lei das Diretrizes e
Bases da Educação. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Disponível em <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm>. Acesso em 01 de Out. 2020
______. Decreto nº 5.622 de 19 de dezembro de 2005. (Revogado). Regulamenta o art. 80 da Lei
nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 , que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional.
______. Decreto nº 9.057, de 25 de maio de 2017. Regulamenta o art. 80 da Lei nº 9.394, de 20 de
dezembro de 1996 , que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional.
UNESCO. Webinars on COVID-19 education response 20 de março de 2020. Disponível em
<https://en.unesco.org/covid19/educationresponse/webinars>. Acesso em 28 de Set. 2020
MAIA, B. R.; DIAS, P. C. Ansiedade, depressão e estresse em estudantes universitários: o
impacto da COVID-19. Estudos de Psicologia (Campinas), Campinas, v. 37, e200067,
2020. Disponível em <https://doi.org/10.1590/1982–0275202037e200067>. Acesso em 01 de
Out.2020
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, Portaria nº 343, de 17 de março de 2020. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/portaria/prt/portaria%20nº%20343-20mec.htm>.
Acesso em: 01 Out.2020
NICOLAV, Vanessa.  Desafios do EaD: como as escolas estaduais estão funcionando durante
quarentena. Brasil de Fato, Brasil de Fato, São Paulo (SP), 19 de Abril de 2020. Disponível em:
<https://www.brasildefato.com.br/2020/04/19/desafios-da-ead-como-as-escolas-estaduais-estao-
funcionando-durante-quarentena>. Acesso em 01 de Out.2020
ONU, Brasil. “O impacto da pandemia na saúde mental das pessoas já é extremamente
preocupante”. 2020. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=qsjJq4Pws2I>

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