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SIGNOS, MÁQUINAS,

SUBJETIVIDADES
MAURIZIO LAZZARATO
SIGNOS, MÁQUINAS,
SUBJETIVIDADES
SIGNOS, MÁQUINAS, SUBJETIVIDADES /
SIGNS, MACHINES, SUBJECTIVITIES
ção bilingue Português / Inglês
SIGNOS, MÁQUINAS,
Título original: Signes, machines, subjectivités
COMÉRCI SUBJETIVIDADES
MAURIZIO LAZZARATO
Maurizio Lazzarato, 2010 nal no Estado de São Paulc
& Semiotext(e), 2014, para versão em Inglês
Ediç » Paulo / n-1 edições, 2014
Coordenação Editorial: Ricardo Muniz Fernandes Diretor Regional
Assistente Editorial: Isabela Sanches Danilo Santos de
Projeto Gráfico: Érico Peretta
Tradução: Paulo Domenech Oneto com a Conselho Editorial
colaboração de Hortencia Lencastre Ivan Giannini
Lila Zanetti oel Naimayer Padula
Revisão: Lila Zanetti, Luciana Kaw Luiz Deoclécio Ma:
Fernando Zorrer Sérgio José Battist
A reprodução parcial deste livro sem fins Edições Sesc São Paulo
lucrativos, para uso privado oi
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tianne Lameirinha
entrar em Produção Editorial: Rafael Fernandes Cação
áfica: Katia Verissimo
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São Paulo| Helsinki Zarnoviec Daniel
Impresso em São Paulo | Maio, 2014
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Este livro foi publicado ni


âmbit yrojeto Multitudi
tradução Paulo Domenech Oneto
MA
MuLHHUBE com a colaboração de Hortencia Lencastre
edição | 2014
Ea Vara!
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Lazzarato, Maurizio
Signos, Máquinas, subjetividades = Signes,
machines, subjectivités / Maurizio Lazzarato
[tradução/translation Paulo Domenech Oneto
com a colaboração de Hortência Lencastre].
1. ed. -- São Paulo : Edições Sesc São Paulo
n-l edições, 2014
Edição bilingue: português/inglês. NOTA DOS EDITORES
ISBN (Edições Sesc São Paulo) 978-85-7º
| ISBN (n-1 edições) 978-85-66943-12-2 Inspirado no pensamento visionário de
Félix Guattari, este livro de Maurizio Lazzarato
1 Capitalismo2. Capitalismo - Aspectos faz uma análise das mais agudas e instigantes
sociais 3. Capi pós industria
| Jbjetividade Subjetividade
tivido humana do capitalismo contemporâneo. Passada a
6. Subjetividade - Psicologia social 7. Psicologia FEITO START) LUTO) go puTS SST [of o E to To Tato]
política 1. Título. Il. Título: Signes, machines,
subjectivités. do neoliberalismo, seja na chave do “trabalho
imaterial”, baseado no conhecimento, seja do
|| 14-04137 fee A CD. Ro pre TRICO POR S
chegou o momento de mostrar a que ponto
Índices para catálogo sistemático:
esse sistema, que exige implicação subjetiva
1. Subjetividadee política : Psicologia 153
[e [ONA Go OT Po SATO EUDES oro Eta)q
produz, contrariamente a suas promessas, uma
dependência e infantilização crescentes.
[ESSE Treo TOR TO ATT TE Totta
valiosa para pensar o contexto contemporâneo e
os novos desafios que se colocam no campo da
economia, da cultura, da subjetividade. Não é
outra a razão pela qual o Sesc, em parceria com a
n-1 edições, lança agora este livro, no âmbito de
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O livro como imagem do mundo é de toda
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basta dizer Viva o múltiplo, grito de resto difícil
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lexical ou mesmo sintática será suficiente
para fazê-lo ouvir. É preciso fazer o múltiplo,
não acrescentando sempre uma dimensão
superior, mas, ao contrário, da maneira mais
simples, com força de sobriedade, no nível
das dimensões de que se dispõe, sempre
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múltiplo, estando sempre subtraído dele)
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13 INTRODUÇÃO

ai PRODUÇÃO E PRODUÇÃO DE
SUBJETIVIDADE: ENTRE SUJEIÇÃO
SOCIAL E SERVIDÃO MAQUÍNICA

a SEMIOLOGIAS SIGNIFICANTES E

Pe ad dg qm
SEMIÓTICAS A-SIGNIFICANTES NA
A poda lado, ko mundo, Sua própui, o PRODUÇÃO E NA PRODUÇÃO DE
4 sra memo ma SUBJETIVIDADE
Pa e e, dia e, mos alto absoluto,
da mos desomsividadao absoluts 85 AS SEMIÓTICAS MISTAS
Pe he qual 123 O CONFLITO E OS SISTEMAS DE SIGNOS
147 A “ESCÓRIA” E A CRÍTICA DOS
PERFORMATIVOS

HZ CRÍTICA DA “REPRESENTAÇÃO”
LINGUAGEIRA E POLÍTICA

193 ENUNCIAÇÃO E POLÍTICA


INTRODUÇÃO PRODUÇÃO DE SUBJETIVIDADE E RUPTURA (POLÍTICA)!

“Dizer que o desejo é parte da infraestrutura implica dizer


que a subjetividade produz realidade. A subjetividade não
uma superestrutura ideológica.”

“No tempo do leninismo, era preciso derrubar o governo,


os sindicatos eram economicistas, traidores; o poder tinha
que ir para os sovietes - em suma, havia uma ideia, havia
algo. Mas agora, realmente, não há ideia alguma. Não há
absolutamente nada. Há a ideia de macroeconomia, de
certo número de fatores: desemprego, mercado, dinheiro,
todas as abstrações que não têm absolutamente nada a ver
com a realidade social.”

Félix Guattari

Em um seminário de 1984, Félix Guattari argumentava que a crise que vinha


afetando o Ocidente desde o início dos anos 1970, mais que uma crise eco-
nômica ou política, era uma crise da subjetividade. Como entender essa afir-
mação de Guattari?
A Alemanha e o Japão saíram da Segunda Guerra Mundial completamente
destruídos, sob uma ocupação de longo prazo, dizimados tanto social quanto
psicologicamente, “sem condições materiais - matérias-primas ou capital de
reserva”. O que explica o seu milagre econômico? “Eles reconstruíram um
prodigioso “capital de subjetividade” (capital na forma de conhecimento,
inteligência coletiva, vontade de sobreviver etc.). De fato, eles inventaram
um novo tipo de subjetividade a partir da própria devastação. Os japoneses,
em particular, recuperaram aspectos de sua subjetividade arcaica, os conver-
tendo nas mais “avançadas” formas de produção material e social (...). A pr:
dução material representa um tipo de complexo industrial para a produção
de subjetividade que tornou possível a emergência de uma multiplicidade de
processos criativos - alguns dos quais, porém, altamente alienantes.”?

1 Esta introduçãofoi escrita após a publicação de meu livro, La fabrique de "home endetté (Paris: Editions Amsterdam,
2011). Os capítulos seguintes, no entanto, foram escritos antes da publicação
do livro em questão.
2 Félix Guattari in Jean Oury, Félix Guattari, e François Tosquelles, Pratiques de Vinstitutionnel et politique (Vigneux:
Editions Matrice, 1985), p. 65.

MAURIZIO L
mem
O capitalismo “lança modelos (subjetivos) do mesmo modo como a indús- Para a maioria da população, tornar-se um sujeito econômico (“capital
tria automobilística lança uma nova linha de carros”. Portanto, o projeto cen- humano”, “empresário de si mesmo”) não significa senão ser compelido a
tral da política do capitalismo consiste na articulação de fluxos econômicos, gerenciar salários e rendas declinantes, precariedade, desemprego e pobreza,
tecnológicos e sociais com a produção de subjetividade de tal maneira que a do mesmo modo que alguém cuidaria do balanço de uma empresa. Na
economia política se mostre idêntica à “economia subjetiva”. Essa hipótese medida em que as crises forjadas pelos repetidos desastres “financeiros” pio-
de trabalho deve ser reavivada e ampliada para a situação atual; e devemos ram, o capitalismo vem abandonando sua retórica da sociedade do conheci-
começar pelo reconhecimento de que o neoliberalismo falhou em articular a mento ou da informação, juntamente com suas subjetivações extravagantes
relação entre essas duas economias. (os trabalhadores cognitivos, os “manipuladores de símbolos”, os criativos
Guattari acrescentava que o capitalismo era capaz de antever e resolver batalhadores e os vencedores). A crise trouxe para o primeiro plano a dívida
crises sistêmicas através de dispositivos e salvaguardas, dominados após e suas modalidades de sujeição, o homem endividado. Agora que as promes-
o período da Grande Depressão. Hoje, a fraqueza do capitalismo reside na sas de riqueza para todos, através do trabalho duro, do crédito e das finanças,
produção de subjetividade. Podemos, portanto, sustentar que a crise sistê- se mostraram vazias, a luta de classes se volta para a proteção dos credores e
mica e a crise de produção de subjetividade estão estritamente interligadas. dos proprietários de “valores mobiliários”, Na crise atual, a fim de afirmar o
É impossível separar processos econômicos, políticos e sociais dos processos poder da propriedade privada, a articulação entre “produção” e “produção
de subjetivação que ocorrem em seu interior. de subjetividade” está fundada na dívida e no homem endividado.
Com a desterritorialização neoliberal, não surgiu nenhuma nova produ- Evidentemente, estamos falando em subjetivação negativa, o mais óbvio
ção de subjetividade. Ao mesmo tempo, o neoliberalismo destruiu as rela- sintoma do fato de que fluxos de conhecimento, ação e mobilidade, embora
ções sociais anteriores e suas formas de subjetivação (subjetivação operária, continuamente solicitados, apenas conduzem a uma subjetivação repressiva
comunista, social-democrata ou subjetividade nacional, burguesa etc.). A e regressiva. O homem endividado, de imediato culpado e responsável por
promoção neoliberal do empreendedor, com a qual Foucault associa a mobi- seu destino, deve carregar os fracassos econômico, social e político do bloco
lização subjetiva requerida e seu gerenciamento, em todas as formas de ati- de poder neoliberal - fracassos despejados pelo Estado e pelo mundo dos
vidade econômica, não oferece uma solução ao problema. O contrário é que negócios sobre a sociedade.
é verdade. O capital sempre precisou de um território que não o do mercado Não é mais uma questão de inovação, de criatividade, de capitalismo cog-
ou da empresa, assim como precisou de uma subjetividade que não aquela do nitivo, de informação ou de sociedade do conhecimento, mas da “secessão”
empresário; pois, apesar de o empresário, a empresa e o mercado fazerem a dos proprietários do capital, cujo “êxodo” consiste na pilhagen do Estado de
economia, eles desfazem a sociedade. bem-estar social através da recusa em pagar os impostos. Desse modo, a uni-
Daí a necessidade de recorrer a antigos territórios e valores pré-capitalis- vocidade do conceito de produção (tanto econômica quanto subjetiva) nos
tas, a religiões e morais há muito estabelecidas e às formidáveis subjetivações permite enxergar que a crise financeira não é apenas econômica, mas também
modernas tais como o nacionalismo, o racismo e o fascismo, que visam a man- uma crise da governamentalidade neoliberal cujo impulso para transformar
ter os laços sociais que o capitalismo continuamente mina. Hoje, a ubiquidade todo indivíduo em proprietário, homem de negócios e acionista se estagnou
da subjetivação empreendedora, manifesta no impulso para transformar todo miseravelmente com o colapso do mercado imobiliário norte-americano.
indivíduo num negócio, resultou em vários paradoxos. A autonomia, a ini- O Japão é emblemático quanto à impossibilidade de resolver a crise, que
ciativa e o compromisso subjetivo exigidos de cada um de nós constituem aflige o país desde os anos 1990, sem um novo modelo de subjetividade. Como
novas formas de empregabilidade e, portanto, estritamente falando, uma hete- todos os países do mundo, o Japão é agora pós-fordista; no entanto, mais do
ronomia. Ao mesmo tempo, a injunção imposta ao indivíduo para agir, tomar que qualquer outro país, é ele que tem a maior dificuldade em substituir o
a iniciativa e assumir riscos vem conduzindo a uma depressão amplamente “capital de subjetividade” fordista (pleno emprego, um trabalho para toda
difundida, um mal do século, a recusa em aceitar a homogeneização, e, final- a vida, a ética do trabalho etc.) que o tornou um país rico. Não basta injetar
mente, o empobrecimento da existência trazido pelo “sucesso” individual do somas astronômicas na economia; não basta estabilizar os bancos, enfraque-
modelo empreendedor. cer e desestabilizar o mercado de trabalho, empobrecer trabalhadores e assim

4 SIGNOS, MÁQUINAS, SUBJETIVIDADES MAURIZIO LAZZARATO 15


por diante a fim de promover o crescimento. Para as novas condições social, Mas a que instância o conceito de produção de subjetividade está vincu-
econômica e política deve emergir uma subjetividade correspondente, capaz lado? O que se quer dizer com subjetivação e, especialmente, com subjetiva-
de reconhecer e resistir a elas. É nesse sentido que a crise financeira e econô- ção política?
mica do Japão é, primeiramente e sobretudo, uma crise de governo do com- No capitalismo, a produção de subjetividade opera de duas maneiras, que
portamento em si. A economia e a subjetividade seguem lado a lado. Deleuze e Guattari denominam dispositivos de sujeição social [assujettisse-
Os sindicatos e partidos políticos de “esquerda” não fornecem nenhuma ment sociaux] e servidão maquínica [asservissements machiniques)
solução para tais problemas e impasses, pois mesmo eles não possuem subje- A sujeição social nos dota de uma subjetividade, atribuindo a nós uma
tividades alternativas para oferecer. Povo, classe trabalhadora, trabalho, pro- identidade, um sexo, um corpo, uma profissão, uma nacionalidade e assim por
dutores e emprego não são mais capazes de apreender a subjetividade, já não diante. Em resposta às necessidades da divisão social do trabalho, ela fabrica
funcionam mais como vetores de subjetivação. sujeitos individuados, sua consciência, representações e comportamento.
Da mesma maneira, as teorias críticas de hoje fracassam ao abordar a Mas a produção do sujeito individuado vai de par com um processo
relação entre capitalismo e processos de subjetivação. O capitalismo cogni- completamente diferente, e por uma posse da subjetividade também com-
tivo, a sociedade da informação e o capitalismo cultural (Rifkin) represen- pletamente diferente, que procede através da dessubjetivação. A servidão
tam essa relação de modo muito reducionista. Por um lado, conhecimento, maquínica desmantela o sujeito individuado, sua consciência e suas represen-
informação e cultura estão longe de serem suficientes para cobrir a multipli- tações, agindo sobre os níveis pré-individual e supraindividual.
cidade de economias que constituem a “produção”. Por outro, os seus avata- Entre as teorias críticas contemporâneas (Badiou, capitalismo cognitivo,
res subjetivos (trabalhadores cognitivos, “manipuladores de símbolos” etc.) Judith Butler, Slajov Zizek, Ranciêre etc.), são tratadas amplamente as ques-
não alcançam a multiplicidade de modos de sujeição e subjetivação política tões da subjetividade, do sujeito, de subjetivação e da distribuição do sensí-
que constituem a “produção de subjetividade”. Sua pretensão de fundar um vel. Mas o que elas negligenciam é a especificidade de como o capitalismo
paradigma hegemônico para a produção e para a produção de subjetividade funciona - através de “servidões maquínicas”. Essas teorias críticas parecem
é desmentida pelo fato de que o destino da luta de classes, como a crise tem ter perdido de vista o ensinamento de Marx acerca da natureza essencial-
mostrado, não está sendo jogado nos domínios do conhecimento, da infor- mente maquínica do capitalismo: “a maquinaria surge como a mais ade-
mação e da cultura. quada forma do capital fixo; e este último, na medida que o capital pode ser
Enquanto essas teorias dão pouca atenção à relação entre produção e considerado como relacionado a si próprio, é a mais adequada forma do
produção de subjetividade, Jacques Ranciêre e Alain Badiou a negligenciam capital em geral.”*
completamente. Para eles, não há nenhuma relação entre elas. Ao invés Este é ainda mais o caso hoje em dia, posto que, diferentemente do tempo
disso, afirmam a necessidade de conceber uma separação radical entre “eco- de Marx, os maquinismos invadiram nossas vidas cotidianas e agora “assis-
nomia” e “subjetividade” de modo a desenvolver uma concepção economi- tem” nossos modos de falar, ouvir, ver, escrever e sentir ao constituir o que
cista da economia, e uma concepção inteiramente “política” ou “idealista” poderíamos chamar de “capital social constante”.
da subjetividade. Máquinas técnicas e máquinas sociais, nas quais “humanos” e “não
Apesar da ascensão dos dispositivos públicos e privados para a produção, humanos” funcionam juntos como partes componentes no agenciamento
adaptação e controle da subjetividade — dispositivos estes cujo autoritarismo
vem apenas se intensificando durante a crise -, devemos insistir com Guattari 4 Assujettissement, no original, pode ser traduzido tanto por sujeição, tal como na versão consagrada no Brasil,
como por assujeitamento. Cabe ressaltar que o termo comporta uma dupla acepção, já que designa subjugação mas
que nela a subjetividade não possui terreno ou meios para se subjetivar. “Esta também, paradoxalmente, o seu uso em filosofia ou em psicanálise indicam o processo pelo qual se advém o sujeito.
é uma grande crise. Uma crise de quê? Em minha opinião, é uma grande crise Quanto a asservissement, também seguimos a versão usual no Brasil como servidão, adotada já em Mil Platôs de
Deleuze e Guattari. É preciso notar, porém, que no original o termo tem um duplo sentido de que Guattari faz uso,
porque o problema que está na ponta da língua de todos é o seguinte: merda, cujo o qual Lazzarato explora, e que parcialmente se perde em português. Por um lado, ele designa o processo pelo
temos que ter pelo menos uma religião, uma ideia! (...) não podemos deixar qual se transforma humanos em servos; por outro, também é um termo técnico da engenharia de automação e
controle para designar sistemas de controle automático utilizados em vários tipos de máquinas. Em português isso
tudo no ar dessa maneira!” é designado por servo controle, ou controle tipo servo. Suely Rolnik, na primeira tradução de Revolução Molecular,
referiu-se em nota de rodapé a essa duplicidade, traduzindo o termo por servomecanismo.
e

3 Félix Guattari, La crise de production de subjectivit, Seminário de 3 de abril de 1984. Disponível em: <http://wwverevue-chimeres.fr/ 5 Karl Marx, “Grundrisse” in Selected Writings, ed. David McLellan (Oxford: Oxford University Press, 2000), p. 410
[Edição brasileira: Grundrisse, supervisãode trad. de Mario Duayer. São Paulo: Boitempo Editorial, 2011].
drupal. chimeres/fles/840403 pdf>.
a

16 SIGNOS, MÁQUINAS, SUBJETIVIDADES MAURIZIO LAZZARATO 7


corporativo, no agenciamento do Estado de bem-estar social e no agencia- ela não é dependente delas. Para Foucault, o “cuidado de si” como ponto de
mento midiático, não são vistas em lugar algum das análises desses autores; partida de nossas vidas não significa perseguir o esplendor ideal de uma “vida
e isto às vezes ocorre de um modo radical, como em Ranciêre e Badiou, em bela”, mas, sim, investigar a sobreposição de uma “estética da existência”
que nenhuma menção a tais palavras pode ser encontrada. Assim, máqui- com uma política que lhe corresponda. Os problemas de um “mundo outro”
nas e agenciamentos maquínicos estão por toda a parte, exceto nessas teo- e de uma “vida outra” se erguem juntos numa vida engajada politicamente,
rias críticas. cuja precondição é romper com convenções estabelecidas, hábitos e valores.
O capitalismo se trai num cinismo duplo: o cinismo “humanista” de atri- Tampouco o paradigma estético de Guattari convoca a uma estetização do
buir a nós uma individualidade de papéis preestabelecidos (trabalhador, con- social e do político, mas reivindica a produção de subjetividade como prática
sumidor, desempregado, homem/mulher, artista etc.) nos quais os indivíduos e preocupação central de um novo modo de ação e organização política.
são necessariamente alienados; e o cinismo “desumanizante” de nos incluir Os processos de subjetivação e suas formas de organização sempre deram
num agenciamento que não faz mais distinção entre humano e não humano, origem a debates cruciais no interior do movimento operário e ocasionaram
sujeito e objeto ou palavras e coisas. rupturas e divisões políticas entre “reformistas” e “revolucionários”,
Através deste livro, examinaremos a diferença e a complementaridade A história do movimento operário permanecerá incompreensível se nos
entre dispositivos de “sujeição social” e de “servidão maquínica”, pois é no recusarmos a enxergar as “guerras de subjetividade” (Guattari) nas quais o
ponto de interseção deles que a produção de subjetividade se dá. Traçaremos movimento se engajou. “Certo tipo de trabalhador durante a Comuna de
uma cartografia das modalidades de sujeição e servidão que delineia aquilo Paris tornou-se um “mutante” que a burguesia não tinha outra escolha senão
com o qual temos que romper a fim de iniciar um processo de subjetivação exterminar. Eles liquidaram a Comuna de Paris do mesmo jeito que fizeram,
independente e autônomo da dominação capitalista da subjetividade, suas noutros tempos, com os protestantes na noite de São Bartolomeu.”é
modalidades de produção e formas de vida. Os bolcheviques foram explicitamente convocados a pensar a questão da
Portanto, é essencial entender que a subjetividade e as subjetivações que invenção de um novo tipo de subjetividade militante que, entre outras coisas,
o capitalismo produz são feitas para a “máquina”. Não primordialmente para deveria ser capaz de responder à derrota da Comuna.”
a “máquina técnica”, mas para a “máquina social”, para a “megamáquina”, Examinar processos de subjetivação política colocando em primeiro plano
como Lewis Mumford a denomina; o que inclui a máquina técnica como um as dimensões “micropolítica” (Guattari) e “microfísica” (Foucault) do poder
de seus produtos. não nos dispensa da necessidade de reconfigurar e chamar a atenção para a
Quais as condições para uma ruptura política e existencial num tempo dimensão macropolítica.
em que a produção de subjetividade constitui a mais fundamental das preo- “É um ou isso ou aquilo: ou alguém, não importa quem, cria novos méto-
cupações capitalistas? Quais são os instrumentos específicos para a produção dos para a produção de subjetividade, bolchevique, maoísta ou o que seja; ou
de subjetividade de maneira que sua produção industrial e em série por parte então a crise continuará se acentuando.”*
do Estado e da empresa possa ser frustrada? Que modelo e que modalidades Desse modo, Guattari não apenas permaneceu fiel a Marx, mas também
de organização devem ser construídos para um processo de subjetivação que a Lênin. Claro, os métodos para a produção de subjetividade que brotaram
une o micro e o macropolítico? do leninismo (o partido, a concepção da classe operária como vanguarda, o
Nos anos 1980, Michel Foucault e Félix Guattari, cada um a seu modo, “revolucionário profissional”) não são mais relevantes para as composições de
seguiram diferentes caminhos para chegar à conclusão de que a produção classe atuais. O que Guattari retém do experimento leninista é a metodologia:
de subjetividade e a constituição da “relação consigo mesmo” eram as únicas a necessidade de romper com a “social-democracia”, construir ferramentas
questões políticas contemporâneas capazes de nos guiar para fora do impasse para a inovação política estendendo-as até as modalidades organizacionais
no qual havíamos afundado. Cada um à sua maneira, eles revelaram uma da subjetividade.
nova dimensão irredutível às relações de poder e de saber. Tanto a “relação
6 Félix Guattari in Pratiques de V'institutionnel et politique, op. cit. p. 53.
consigo mesmo” (Foucault) quanto o poder de autoposicionamento e afir- 7 As teorias políticas de Rancire e Badiou são totalmente incapazes de analisar “tipos de subjetividade”, pois para
mação existencial (Guattari) derivam — no duplo sentido de ter origem e de esses autores há apenas um processo de subjetivação e ele é sempre o mesmo, não importa se estão lidando com a
pólis grega, a revolta dos escravos em Roma, as revoluções francesa, russa e chinesa ou o Maio de 68.
desviar - dessas relações. Embora a dimensão subjetiva derive dessas relações, 8 Félix Guattari, La crise de production de subjectivité, op. cit.

18 SIGNOS, MÁQUINAS, SUBJETIVIDADES MAURIZIO LAZZARATO 19


Assim como a produção de subjetividade não pode ser separada da “eco- Guattari e Foucault não se limitam a destituir o “imperialismo” da língua
nomia”, ela tampouco pode ser separada da “política”. Como devemos conce- sobre outros modos de expressão e de formação da subjetividade. Ao enfati-
ber a subjetivação política? Toda subjetivação política acarreta uma mutação e zar a importância estratégica de semióticas diferentes na condução e controle
uma reconversão da subjetividade que afeta a existência. Ela não pode ser ape- dos fluxos capitalistas e da produção de subjetividade, eles demonstram que,
nas política no sentido que tanto Ranciêre quanto Badiou ainda dão ao termo. para congregar as condições de ruptura e reconversão subjetiva, devemos ir
A mutação subjetiva não é primordialmente discursiva; ela não tem a além tanto da linguagem quanto da semiótica.
ver primeiramente com conhecimento, informação ou cultura, pois afeta Mais do que isso, Guattari e Foucault decretam um “divórcio radical”(-
os núcleos de não discursividade, não conhecimento e não aculturação que Guattari) entre a linguística pragmática e a pragmática existencial, entre a
residem no coração da subjetividade. A mutação subjetiva é fundamental- lógica semiótica que produz sentido e a pragmática que produz existência e
mente uma afirmação existencial e uma apreensão de si, dos outros e do ruptura política.
mundo. E é sobre a base dessa cristalização não discursiva, existencial e afe- No ato de enunciação (do mesmo modo que no ato de criação), um poder
tiva que novas linguagens, novos discursos, novo conhecimento e uma nova de autoposicionamento, de autoprodução, e uma capacidade de secretar o
política podem proliferar. seu próprio referente emergem; um poder que tem pouco a ver com a “fala”
Examinaremos primeiro a questão desde uma perspectiva específica: a [parole] de Saussure, com o “significante” [signifiant] de Lacan ou com os
relação paradoxal que o discursivo — isto é, o que se atualiza na língua, mas performativos e atos de fala da filosofia analítica.
também dentro de coordenadas espacio-temporais de conhecimento, cul- Uma força de autoafecção, autoafirmação e autoposicionamento duplica
tura, instituições e economia — mantém com o não discursivo como ponto as relações de poder e saber, desafiando o poder e os saberes em curso. Ela
focal de autoprodução, autoposicionamento e afirmação existencial. fornece as condições de ruptura e também as condições para os processos de
As mesmas teorias críticas que negligenciam a especificidade maquínica subjetivação política tout court. As regras que governam a produção de si são
do capitalismo também falham na problematização da relação entre o discur- as “opcionais” e processuais inventadas pela construção de “territórios sensi-
sivo e o existencial. Na realidade, elas atribuem um papel central ao primeiro, veis” e pela singularização da subjetividade (Guattari), pela criação da alteri-
isto é, à linguagem no domínio da política (Ranciêre), à “produção” (capi- dade de uma “vida outra” e de um “mundo outro” (Foucault). Daí o recurso,
talismo cognitivo, Paolo Virno) e à constituição do sujeito (Zizek e Butler). não a métodos e paradigmas cognitivos, linguísticos e informacionais, mas a
O estruturalismo está morto, mas a linguagem, que funda o paradigma abordagens e paradigmas ético-estéticos — o “paradigma estético” de Guattari
estruturalista, ainda está viva, especialmente nessas teorias. Para alcançar os ea “estética da existência” de Foucault.
limites do novo “logocentrismo”, teremos que dar um passo atrás, retornando Apenas quando uma mutação da subjetividade, enquanto cristalização
às críticas do estruturalismo e da linguística feitas nos anos 1960 e 1970 por de uma nova existência (Guattari), ganha consistência é que se pode tentar
Guattari, Deleuze e Foucault. De diferentes maneiras, suas críticas destituí- uma nova relação com os fluxos econômicos, linguísticos, técnicos, sociais e
ram a linguagem do papel central que lhe havia sido atribuído na política e comunicacionais.
nos processos de subjetivação após a “virada linguística” da filosofia analítica Para produzir um novo discurso, um novo saber, uma nova política, deve-
e da psicanálise lacaniana. Eles estabeleceram uma nova teoria semiótica e -se atravessar um ponto inominável, um ponto absoluto de não narrativa, de
uma nova teoria da enunciação mais adequadas para traçar uma cartografia não cultura e de não saber. Daí o absurdo (tautológico) de conceber a pro-
do funcionamento dos signos nesses processos e na economia. Retornaremos dução como produção de conhecimento via conhecimento. As teorias do
particularmente à teoria semiótica de Guattari, que, ao afirmar que cada pro- capitalismo cognitivo, da sociedade de informação e do capitalismo cultural,
cesso de subjetivação implica operações de semióticas mistas, significantes, que se declaram teorias de inovação e criatividade, fracassam precisamente
simbólicas e a-significantes, faz destas últimas a especificidade do capitalismo em conceber o processo através do qual “criação” e “inovação” ocorrem, pois
por funcionarem na economia, na ciência, na arte e nas máquinas. linguagem, conhecimento, informação e cultura são muito insuficientes para
Que papel e função semióticas diferentes, significantes, simbólicas e a-sig- esses fins.
nificantes desempenham na execução e controle da desterritorialização e reter- Para que possa ocorrer, a subjetivação política deve necessariamente atra-
ritorialização capitalistas? E qual sua relação com o processo de subjetivação? vessar esses momentos nos quais as significações dominantes são suspensas

20 SIGNOS, MÁQUINAS, SUBJETIVIDADES MAURIZIO LAZZARATO 2


e a servidão maquínica é cancelada. Greves, lutas, revoltas e manifestações ou social), a suspensão do curso habitual das coisas afeta antes de tudo a sub-
constituem esses momentos de ruptura, com a suspensão do tempo crono- jetividade e suas formas de expressão ao criar as condições para uma nova
lógico e a neutralização das sujeições e das significações dominantes. Aqui, subjetivação, cujo processo deve ser problematizado."
não são as subjetividades imaculadas e virginais que aparecem, mas, sim, os Embora as modalidades da organização leninista não sejam hoje possí-
pontos focais, as emergências, os começos de subjetivação cuja atualização e veis nem desejáveis, “a ruptura com a causalidade”, o desvio relativo ao curso
proliferação dependem do processo construtivo que deve articular a relação esperado dos acontecimentos, o impossível que se torna real, a organização
entre “produção” e “subjetivação” de uma nova maneira. e a metamorfose da subjetividade permanecem pontos de atrito de todos os
Mas as lutas, revoltas, manifestações e greves que têm se espalhado pelo movimentos revolucionários.
globo em resposta aos assaltos da crise são suficientes para instituir uma rup- “[E] embora se possa e se deva assinalar nas séries causais os fatores obje-
tura política com o capitalismo? tivos que tornaram possível tal ruptura (. ), o grupo bolchevique (...) se dá
A análise da revolução soviética, que retorna como um ritornelo na obra conta da possibilidade imediata de uma revolução proletária que não seguiria
de Deleuze e Guattari, pode nos oferecer alguma clareza, mesmo que apenas a prevista ordem causal das relações de forças.”'
formal, a fim de compreender os limites da situação política atual. Na obra Hoje é fácil identificar a cadeia causal de metas e de interesses que fun-
dos dois autores, os modos de produção de subjetividade são traduzidos em cionam na crise. As escolhas não têm fim. O que falta é precisamente o que
política. No capitalismo, processos de subjetivação política devem ingressar caracteriza a ação revolucionária: a “ruptura com a causalidade” e a possibi-
e se libertar dos fluxos econômico, social e político. Essas duas operações lidade de inventar uma política, como na ruptura leninista, que não esteja
são indispensáveis: começam pela influência que as servidões maquínicas e restrita à sequência da cadeia de causas, de metas e de interesses em jogo.
sujeições sociais mantêm sobre a subjetividade e produzem uma ruptura, que A partir dessa ruptura com a causalidade, o acontecimento revolucionário,
é sempre invenção e constituição de si ao mesmo tempo.” para ganhar consistência, para instalar seus modos de organização e meta-
A “revolução” salta da história; em outras palavras, emerge de condições morfosear a subjetividade, deve transformar as condições sociais, econômi-
econômicas, sociais e políticas e, ao mesmo tempo, volta as suas costas para cas e políticas dali de onde brota, enquanto se defende da ação do Estado, da
essas causas e condições por meio da criação de novas possibilidades. Ela mídia, das forças reacionárias e assim por diante. É a complexidade desse pro-
deriva e, paradoxalmente, não deriva da história. cesso que parece, por enquanto, escapar aos movimentos políticos. Temos,
A “ruptura leninista”, interpretada mais por meio das lutas subsequentes na realidade, uma proliferação de experimentações políticas que nascem tão
a Maio de 1968 do que através de uma reconstrução histórica, é caracteri- rapidamente quanto morrem porque são incapazes de desencadear os modos
zada pela coexistência de diferentes ordens: a ordem das causas e a ordem do de uma subjetivação macropolítica, reprodutível e generalizável.
desejo (dimensão existencial, não discursiva); a ordem dos “investimentos Por seu turno, o capital também se encontra num impasse “subjetivo” que
pré-conscientes” governados por causas e objetivos; e a ordem dos “investi- acaba por forçá-lo a suspender a democracia e adotar formas autoritárias de
mentos revolucionários inconscientes”, que têm por “causa uma ruptura na governança.
causalidade” - condição para uma abertura a novas possibilidades. A crise atual produz apenas sujeições negativas e regressivas (o homem
Tal abertura, “preparada por um trabalho subterrâneo de causas, de metas endividado), e o capitalismo é incapaz de articular a produção e a produção
e de interesses”, só se torna real por meio de algo de outra ordem, pelo desejo de subjetividade de outra maneira que não pela reafirmação da necessidade
“sem meta e sem causa”! de proteger os proprietários do capital. A crise está bem longe de seu fim.
A possibilidade revolucionária pode sempre ser localizada a partir de uma Dito isto, as ferramentas teóricas que pretendemos desenvolver aqui se mos-
impossibilidade que ela torna real, e pelo fato de que um processo se desenca- trarão, assim esperamos, úteis para conceber as condições de uma subjetiva-
deia secretando outros sistemas de referência exatamente ali onde o mundo ção política que é, ao mesmo tempo, também uma mutação existencial em
se achava fechado. Como em toda criação (não importa se artística, científica desacordo com o capitalismo, cuja crise já assume proporções históricas.

9 As teorias políticas de Ranciêree Badiou vêm perdendo amplamente acapacidadede articular a ruptura subjetiva 11 CE o segundo capítulo do meu livro Expérimentations politiques (Paris: Editions Amsterdam, 2009), em que a
e política com a composição de classe e suas servidões e sujeições. questão da ruptura é examinada em relação à ascensão dos movimentos políticos.
10 Gilles Deleuze e Félix Guattari, O anti-Edipo, trad. bras. de Luiz Orlandi (São Paulo: Editora 34, 2010), p. 501. 12 Ibid,,p. 500,

22 SIGNOS, MÁQUINAS, SUBJETIVIDADES MAURIZIO LAZZARATO 23


Se nos anos 1960 o problema era derrubar os dois gigantes, o partido e
o sindicato, que impediam toda inovação política e bloqueavam a emergên-
cia de novos sujeitos, e trazer novos modos de concepção e prática políti-
cas (micropolítica: jovens trabalhadores, minorias, movimento de mulheres
etc.), hoje, com o partido acabado e os sindicatos completamente integrados
à lógica capitalista, a ação macropolítica e suas formas de organização, apesar
de partirem de uma irredutível multiplicidade de processos de subjetivação,
são o objeto de nossa urgente indagação subjacente: “O que há a ser feito?”

24 SIGNOS, MÁQUINAS, SUBJETIVIDADES


CAPÍTULO1 PRODUÇÃO E PRODUÇÃO DE SUBJETITIVIDADE:
ENTRE SUJEIÇÃO SOCIAL E SERVIDÃO MAQUÍNICA

“Das duas definições de uma manufatura dadas por Ure, e


itadas por Marx, a primei jona máquinas a homens
que as vigiam, enquanto a segunda rel:
homens, órgãos mecânicos e órgãos intelectuais à manu-
fatura como corpo pleno que as maquina. Na realidade, é a
segunda definição que é literal e concreta”

“Não foram as máquinas que fizeram o capitalismo, mas,


ao contrário, o capitalismo é que faz as máquinas e não
para de introdu: ov s cortes graças aos quais ele revolu-
iona os seus modos técnicos de produç
Gilles Deleuze e Félix Guattari

1. Sujeição social e servidão maquínica

Guattari e Deleuze levam as descobertas de Marx e da economia política


clássica a uma plena realização: a produção de riqueza depende da atividade
subjetiva abstrata, não qualificada, embora seja irredutível ao domínio da
representação política ou linguageira. A produção de riqueza (e a produção,
pura e simplesmente) opera na interseção de dois dispositivos de poder hete-
rogêneos: sujeição social e servidão maquínica. O que se chama economia
é o agenciamento desse duplo investimento da subjetividade, de tal modo
que, como queria Guattari, “deve-se entrar no campo da economia subjetiva
e parar de se limitar apenas ao da economia política”, que foi incapaz de levar
até o fim suas descobertas.
Ao nos equipar com uma subjetividade individual, ao nos atribuir uma
identidade, um sexo, uma profissão, uma nacionalidade e assim por diante,
a sujeição social produz e distribui lugares e papéis dentro e para a divis
do trabalho. Através da linguagem, ela constitui uma armadilha semióti
significante e representativa da qual ninguém escapa. A suj social pro-
duz um “sujeito individuado” cuja forma paradigmática no neoliberalismo
tem sido a do “capital humano” e do “empresário de si”. O último avatar do
individualismo, que fez da pessoa o centro e a fonte da ação, emergiu com a
crise financeira, durante a qual a injunção para se tornar “capital humano” f

MAURIZIO LA
invertida na figura negativa e regressiva do homem endividado. Para sempre (egípcio, chinês etc.), e por conseguinte é um modo de comando, de regu-
culpado e responsável, assim é o indivíduo hoje com relação à dívida. lação e de governo “assistido” pela tecnologia, constituindo, como tal, uma
Foucault descreve o modo de governamentalidade desses “sujeitos” - que especificidade do capitalismo.
se concebem e se produzem da mesma maneira que um ator assume seu papel Deleuze descreve precisamente os tipos de subjetividade sobre os quais
-, como um modo de dominação do próprio sujeito sobre si (autoexplora- esse dispositivo duplo de poder exerce seu controle. A sujeição produz e
ção, autodominação). As funções de usuário, trabalhador e consumidor, e as sujeita indivíduos, enquanto na servidão, “[in]divíduos se tornam “dividuais,
divisões homem/mulher, pais/filhos, professor/estudante, entre outras, são e as massas se tornam amostras, dados, mercados ou “bancos”!
investidas por conhecimento, práticas e normas — sejam elas sociológicas, O dividual “funciona” na servidão da mesma maneira que os componen-
psicológicas, de gerenciamento ou de polícia - que solicitam, encorajam e tes “não humanos” das máquinas técnicas, como procedimentos organizacio-
predispõem a produção de indivíduos alienados no interior da divisão do nais, semióticas e assim por diante.
trabalho social e por gênero. A sujeição fabrica um sujeito vinculado a um objeto externo (uma máquina,
Como Marx já havia argumentado, a sujeição social é um processo de per- um dispositivo de comunicação, dinheiro, serviços públicos etc.), de que o
sonificação das relações de capital, pois o “capitalista” age como “capital per- sujeito faz uso e com o qual ele age. Na sujeição, o indivíduo trabalha ou
sonificado”, isto é, como uma função derivada dos fluxos de capitais. Assim, o se comunica com outro sujeito individuado via uma máquina-objeto, que
trabalhador da fábrica é o “trabalho personificado”, uma função derivada dos funciona como “meio” ou mediação de sua ação ou uso. A lógica “sujeito-
fluxos de capital variável, assim como as “pessoas” individuais são pessoas -objeto”, que constitui o modo de funcionamento da sujeição social, é uma
sociais derivadas de quantidades abstratas. lógica “humana, demasiado humana”.
Mas essa é apenas uma das maneiras pelas quais o capitalismo age sobre a Em contrapartida, a servidão maquínica não se constrange com os dua-
subjetividade. À produção do sujeito ou da pessoa individuada se sobrepõem lismos sujeito/objeto, palavras/coisas ou natureza/cultura. O dividual não
um tratamento inteiramente diferente e uma apreensão completamente outra se opõe às máquinas, nem faz uso de um objeto externo; ele é adjacente às
da subjetividade, num processo de “servidão maquínica”, que, diferentemente máquinas. Juntos, eles constituem um dispositivo “homens-máquinas” nos
da sujeição social, se dá através da dessubjetivação ao mobilizar semióticas, quais homens e máquinas são meras partes recorrentes e intercambiáveis de
não representativas ou linguajeiras, mas funcionais e operacionais (a-signifi- um processo de produção, comunicação, consumo etc. que os excede.
cantes e não representativas). Não mais agimos ou fazemos uso? de algo, se por agir e usar entendermos
Na servidão maquínica, o indivíduo não é mais instituído como um funções do sujeito. Em lugar disso, constituímos entradas e saídas, inputs ou
“sujeito individuado”, um “sujeito econômico” (capital humano, empresário outputs, pontos de conjunção ou disjunção nos processos econômicos, sociais
de si mesmo) ou como um “cidadão”. Ao invés disso, ele é considerado uma ou comunicacionais geridos e governados pela servidão.
engrenagem, uma roda dentada, uma parte componente do agenciamento A relação sujeito/objeto, homem/máquina ou agente/instrumento desapa-
“empresa”, do agenciamento “sistema financeiro”, do agenciamento mídia, do rece, dando lugar a uma configuração global no interior da qual há encontro/
agenciamento “Estado de bem-estar social” e de seus “equipamentos cole- agenciamento de forças que não se dividem em “vivos” e “mortos”, subjetivo
tivos” (escolas, hospitais, museus, teatros, televisão, internet etc.). Servidão e objetivo, mas são todos “animados” de modos variados (forças físicas e sub-
é um conceito que Deleuze e Guattari tomaram explicitamente emprestado físicas da matéria, forças de “corpo e mente” humanas e subumanas, forças
da cibernética e da ciência da automação; ela significa a “pilotagem” ou o maquínicas, poder de signos etc.). Na servidão, as relações entre agentes e sig-
“governo” dos componentes de um sistema. Um sistema tecnológico sub- nos existem de fato, mas não são intersubjetivas; os agentes não são pessoas e
juga (“governa” ou “pilota”) variáveis (temperatura, pressão, força, veloci- as semióticas não são representativas. Agentes humanos, assim como agentes
dade, resultado etc.) assegurando a coesão e o equilíbrio funcional do todo. não humanos, funcionam como pontos de “conexão, junção e disjunção” de
A servidão é o modo de controle e regulação (“governo”) de uma máquina 1 Gilles Deleuze, “Post-scriptum sobre a sociedade de controle” in Conversações: 1972-1990, trad. bras. de Peter
social ou técnica, como uma fábrica, uma empresa ou um sistema de comu- Pál Pelbart (São Paulo: Editora 34, 1992), p. 221.
2.0 “usuário” não é senão uma das formas de implicação, ativação e exploração da subjetividade na relação de ser-
nicações. Ela recoloca a “servidão humana” dos antigos sistemas imperiais viços mantida pelo mundo de negócios ou pelo Estado de bem-estar social. Daí as limitações de todas as teorias que
tornam o “uso” a pedra angular de uma política (ver, por exemplo, o trabalho de Michel de Certeau, de resto, notável)

SIGNOS, MÁQUINAS, SUBJETIVIDADES MAURIZIO LAZZARATO 29


28
fluxos e como redes compondo o agenciamento coletivo empresa, sistema de a relação na qual se encontram presos os indivíduos (...) Há uma maquinaria
comunicação e assim por diante. que assegura a dissimetria, o desequilíbrio, a diferença. Pouco importa, con-
O dividual não é apenas uma peça conectada no agenciamento maquí- sequentemente, quem exerce o poder. Um indivíduo qualquer, quase tomado
nico, mas também aquele que é despedaçado pelo agenciamento maquínico: ao acaso, pode fazer funcionar a máquina”?
os componentes de sua subjetividade (inteligência, afetos, sensações, cogni- . Como em Guattari e Deleuze, o Panóptico funciona de modo diagramá-
ção, memória, força física) não são mais unificadas em um “eu”, não possuem tico, isto é, não representativo. É um “diagrama de um mecanismo de poder”,
mais um sujeito individuado como referente. Inteligência, afetos, sensações, uma figura de tecnologia política que se pode e se deve destacar de prata
cognição, memória e força física são agora componentes cuja síntese não reside uso específico” (uma “máquina abstrata”, como Deleuze e Guattari colocam),
mais na pessoa, mas, sim, no agenciamento ou no processo (empresa, mídia, que está “destinado a se difundir no corpo social”! E
serviços públicos, educação escolar etc.). Dizer que a economia neoliberal é uma economia subjetiva não significa
A servidão não funciona com “sujeitos” e “objetos”; ela trabalha sobre que ela promete uma nova “humanização” do sujeito alienado pelo capita-
sua desterritorialização (ou sua descodificação), isto é, com os componentes lismo industrial, mas apenas que a subjetividade existe para a máquina e que
moleculares, as potencialidades não individuadas, intensivas, subumanas da os componentes subjetivos são funções de servidão.
subjetividade, assim como com os componentes e potencialidades não indi- . Sujeições e subjetivações servem essas máquinas sociais e técnicas, e as fun-
viduadas, intensivas, moleculares da matéria e das máquinas. A ciência trans- ções e os papéis de cada pessoa são atribuídos através delas. No capitalismo, as
forma a matéria em fluxos descodificados; ao tratar as moléculas e os átomos relações de poder não são pessoais como nas sociedades feudais (ou na “parti
como “forças”, intensificando ainda mais a desterritorialização, ela mobiliza lha do sensível” de Rancire), mas decorrem da organização dos maquinismos.”
até mesmo elementos nucleares e químicos. Dinheiro e finanças são perfeita- O fato de que nessa economia se fala, se exprime e se comunica não Ros
mente capazes de desterritorializar (ou descodificar) a “matéria” social, como traz de volta para a virada linguística, para seu logocentrismo e para a inter-
os últimos trinta anos de neoliberalismo mostraram. Eles minam e burlam subjetividade dos falantes; é, antes, um indicativo de um mundo maquinocên-
leis (em particular as que lidam com o trabalho e a previdência social), bem trico no qual se fala, se comunica e se age “assistido” por todos os tipos de
como as codificações dos sujeitos sociais, econômicos e políticos estabele- máquinas mecânicas, termodinâmicas, cibernéticas e de computação.
cidos pelo fordismo. Empregados e suas instituições, empregadores e suas
fábricas, o Estado e seu dispositivo de bem-estar têm sido submetidos a pro-
cessos de desterritorialização que os transformaram radicalmente. 2. Humano/máquina versus humanos/máquinas
A servidão trabalha com fluxos descodificados (fluxos de trabalho abs-
trato, fluxos monetários, fluxos de signos etc.) que não estão centrados no Encontramos a dupla presença da sujeição e da servidão na ergonomia.
indivíduo e na subjetividade humana, mas sobre maquinismos sociais imen- Sistemas “homens-máquinas” (no plural) não devem ser considerados
sos (empresas, equipamentos coletivos do Estado de bem-estar social, siste- uma mera acumulação de postos de trabalho de homem-máquina (no singu-
mas de comunicação etc.). lar), pois eles diferem em natureza da “díade” sujeito/objeto, homem/máquina.
O capital não é uma mera relação entre “pessoas”, nem é redutível a um Nos sistemas homens-máquinas, em que “numerosos elementos humanos e
relacionamento intersubjetivo, como defende Hannah Arendt, para quem não humanos interagem (...), os componentes de todo trabalho podem ser
não há um átomo de matéria sequer na ação humana. Ele é uma relação de expressas em termos de informação”. Mas aqui “o aspecto antropocêntrico
poder de fato, mas constituído por máquinas sociais e “assistido” por máqui-
nas técnicas. 3 Michel 1 Foucault, q Vigiar e punir, unir, trad. trad. bras. de Ra quel Ramalhete, (Petrópolis:
is: Editora
Edi Vozes, 1997), p. 167. Est
concepção de poder como máquina ou diagrama parece se perder quando Foucault passa : à análise da “relação a si
A análise do poder feita por Foucault também vai na direção de um mesmo”,
“a das “condutas” ee do
do “ “governo dos homens”, a quando passa das sociedades disciplinares para as sociedades
maquinismo. O Panóptico “é um importante mecanismo, pois ele automatiza 4lbid, pp. 170-171.
e desindividualiza o poder. O poder tem seu princípio não tanto numa pessoa ões personológicas
5 “Relações , las, dodo ti tipo nobre-criado ou mestre-aprendiz são substituídas pela regulação
codificadas,

quanto numa certa distribuição concertada dos corpos, das superfícies, das
mio gerais, esenciaimente fundadas em sistemas de quantfiação abstrata de rr
iões, lucros etc. Bm úl Itima análise, o socius não é mais uma
luzes, dos olhares; numa aparelhagem cujos mecanismos internos, produzem descodificados” Félix Guattari, Lignes de fute (La Tour-dAigues: Bditons de questão da ' a !
Tube, 2011) p 4. oia

30 SIGNOS, MÁQUINAS, SUBJETIVIDADES MAURIZIO LAZZARATO 3


da noção de informação desaparece”. Na ergonomia, ninguém mais fala em e de cidadãos. A servidão é, antes, o modo pelo qual a ciência, a economia,
“resposta sinal-organismo”, nem sequer emprega-se o modelo da teoria da as redes de comunicação e o Estado de bem-estar social funcionam. Guattari
comunicação, no qual as trocas são realizadas entre sujeitos individuados chama esse domínio, cujas atividades (“diagramáticas”) não passam pela
permitindo “analogias emissor-receptor apropriadas, embora limitadas”.? Na representação nem pela consciência, de maquínico (ou molecular) a fim de
ergonomia, fala-se de “entrada e saída (input e output)”, que já nada têm de distingui-lo do mundo dos sujeitos individuados. As formas de atividade dia-
antropomórficas. gramática (não representativa) específicas da servidão maquínica são hetero-
Para dizê-lo não mais em termos ergonômicos, porém com os conceitos gêneas em relação às atividades representativas do sistema político e também
filosóficos articulados por Guattari, a servidão não envolve propriamente sujei- em relação às funções representativas da linguagem.
tos nem objetos, mas entidades “ontologicamente ambíguas”, híbridos, “obje- Molecular ou maquínico — os termos são sinônimos - indicam uma dife-
tidades/subjetidades”, em outras palavras, entidades “bifaciais sujeito-objeto”. rença de natureza e não de escala em relação à dimensão molar de sujeitos
“Objetos”, máquinas, protocolos, diagramas, gráficos e software perdem individuados, da representação e da consciência.
sua “objetividade” e se tornam capazes de constituir vetores de “protossub- Os dois dispositivos diferem de outras maneiras também. A sujeição remete
jetivação” ou focos de “protoenunciação”. Que máquinas, objetos (e signos) à transcendência dos modelos aos quais as subjetividades devem moldar-se e
procedam desse modo significa que eles sugerem, capacitam, solicitam, inci- aos moldes aos quais elas devem se acomodar (homem/mulher, capitalista/tra-
tam, encorajam e impedem certas ações, pensamentos e afetos ou promovem balhador, professor/estudante, consumidor, usuário etc.), enquanto a servidão
outros. É muito significativo que Foucault utilize os mesmos verbos para se refere, ao invés disso, à imanência do processo que se desdobra, ao devir que
descrever o modo como as relações de poder funcionam. Máquinas, objetos envolve a dimensão molecular, maquínica e supraindividual da subjetividade.
(e signos) agem precisamente da mesma maneira que uma “ação sobre uma O capitalismo deve sua eficácia e poder ao fato de reunir as duas dimen-
ação” (Foucault). Isto não deve ser entendido meramente como uma relação sões heterogêneas da subjetividade - molar e molecular, individual e pré-in-
de um ser humano com outro. Não humanos contribuem tanto quanto os dividual, representacional e pré-representacional (ou pós-representacional).
humanos na definição, no enquadramento e nas condições da ação. Age-se
sempre dentro de um agenciamento, um coletivo em que máquinas, objetos e
signos são ao mesmo tempo “agentes”. 3. A megamáquina egípcia: a primeira forma de servidão
Se a sujeição invoca a consciência e a representação do sujeito, a servidão
maquínica ativa muito mais e muito menos do que a consciência e a repre- Na servidão maquínica reside a novidade e o poder específico docapitalismo,
sentação; em outras palavras, muito mais e muito menos do que a pessoa, o que explora a ação molecular, pré-pessoal e suprapessoal da subjetividade. A
indivíduo e a intersubjetividade. enorme produtividade e potencialidade da ciência e da economia capitalista
A servidão maquínica ativa forças pré-pessoais, pré-cognitivas e pré-verbais derivam da natureza desses agenciamentos maquínicos. Realmente, a servi-
(percepção, sentido, afetos, desejo) tanto quanto forças suprapessoais (maqui- dão maquínica capitalista é a “ressurreição” do que Lewis Mumford chama
nicas, linguísticas, sociais, midiáticas, sistemas econômicos etc.), as quais, indo de “mito da máquina”, a megamáquina arcaica — o Egito das pirâmides. Para
além do sujeito e de relações individuadas (intersubjetividade), multiplica “os Deleuze e Guattari, ela constitui a primeira emergência da servidão na qual
possíveis”! Os próprios homens são peças constituintes de uma máquina, que eles com-
Não se trata aqui de uma questão de sociedade civil ou de instituições políti- põem entre si e com outras coisas (animais, ferramentas), sob o controle e a
cas dependentes de “sujeitos individuados”, da pessoa, dos “direitos humanos” direção de uma unidade superior”?
A megamáquina arcaica não é primordialmente tecnológica, mas social,
6 Maurice de Montmollin, Les systêmes hommes-machines (Paris: Presses Universitaires de France, 1967), p. 138. pois é composta de “uma multidão de partes uniformes, especializadas e
7 Ibid,, p.54.
8 “Enquanto a sujeição envolve pessoas globais, além de representações subjetivas molares facilmente manipulá- intercambiáveis (...), rigorosamente dispostas e coordenadas, num processo
veis, a servidão maquínica passa por sistemas de representação e de significação nos quais sujeitos individuados se
reconhecem e se alienam” Félix Guattari, La Révolution Moléculaire (Ps Union générale déditions, 1980), p. 93.
[Edição brasileira: Revolução molecular, trad. de Suely Rolnik. São Paulo: Brasiliense, 1981. À tradução brasileira
retoma apenas parte da edição francesa original, de modo que os fragmentos aqui citados nem sempre se encontram 9 Gilles Deleuze
esc e Félix
da Guattari,
Gosta ploMil platôs: Capitalismo
pi e squizofrenia,
Esquizofrenia, v.v. 5.5. trad. trad. bras. bras. dede Peter
Pet Pál Pelbart
e Janicey
no livro publicado no Brasi].

32 SIGNOS, MÁQUINAS, SUBJETIVIDADES MAURIZIO LAZZARATO 33


organizado e dirigido de modo centralizado”, e de máquinas técnicas muito máquinas sociais e técnicas tomaram posse do comportamento e das ati-
simples: a rampa e a alavanca (a roda, a polia e o parafuso ainda não haviam tudes não apenas no emprego e no trabalho em geral, mas também na vida
sido inventados). A megamáquina de Mumford é, juntamente com os objetos diária. Em nossas ações mais “humanas” (falar, comunicar, escrever, pensar
técnicos de Simondon e as máquinas celibatárias das vanguardas artísticas etc.) somos “assistidos” por uma nova geração de máquinas. “Se as máquinas
(Duchamp), uma das teorias das quais Deleuze e Guattari se apropriam para motrizes constituíram a segunda idade da máquina técnica, as máquinas da
seus pensamentos. No trabalho de Mumford podem ser encontrados muitos cibernética e da informática formam uma terceira idade que recompõe um
elementos que definem a complexidade das condições de surgimento e de regime de servidão generalizado”: “sistemas homens-máquinas, reversíveis e
fundionamento do conceito de máquina dos autores: fluxos humanos cuja recorrentes, substituem as antigas relações de sujeição não reversíveis e não
“mecanização” precedeu de longe a mecanização das ferramentas humanas; recorrentes entre os dois elementos (...). Na composição orgânica do capital,
o filo maquínico das “máquinas simples da mecânica clássica” (resultado de o capital variável define um regime de sujeição do trabalhador (mais-valia
invenções e práticas anteriores); fluxos de signos (“a fala traduzida em regis- humana) tendo por quadro principal a empresa ou a fábrica; mas, quando,
tro gráfico não apenas tornou possível transmitir impulsos e mensagens atra- na automação, o capital constante cresce proporcionalmente cada vez mais,
vés do sistema, mas serve para fixar a responsabilidade quando palavras de encontramos uma nova “servidão”, ao mesmo tempo que o regime de traba-
ordem não eram cumpridas”). lho muda, gue a mais-valia se torna maquínica e que o quadro se estende à
E há, ainda, a dimensão incorporal do universo de valores: o mito de uma sociedade inteira”!
realeza de direito divino, o culto do Sol e as “fantasias cósmicas”, únicos que
podem garantir a transformação de “homens em objetos mecânicos (...) agen-
ciando esses objetos em uma máquina”. A megamáquina também requer uma 4. As funções da sujeição
“produção de subjetividade”, uma subjetividade para a máquina, uma subje-
O capitalismo é caracterizado por um duplo regime de subjetividade, a sujei-
tividade para a servidão. Os trabalhadores tinham “mentes de um novo tipo:
mecanicamente condicionados, executando cada tarefa em estrita obediência ção — centrada na subjetividade do sujeito individual-, e a servidão — que
às instruções, infinitamente pacientes, limitando sua resposta à palavra de envolve uma multiplicidade de subjetividades e protossubjetividades humanas
comando”? Mas a megamáquina precisa ainda de subjetivações (o sacerdócio e não humanas. Apesar de heterogêneos, esses dois processos ou tratamentos
ea burocracia) que assegurem, respectivamente, “uma organização confiável da subjetividade são complementares, interdependentes e contribuem para o
do conhecimento natural e sobrenatural; e uma estrutura elaborada para dar funcionamento do capitalismo.
ordens, cumpri-las e acompanhá-las ao longo do processo”? A burocracia e o capitalismo é essencialmente um conjunto de maquinismos, embora as
as castas são parte de uma administração definida não como estrutura, mas subjetivações e personificações que ele promove nunca possam ser reduzidas
como um maquinismo. asimples. cópias mecanicamente derivadas das condições desses dispositivos.
A partir do século XVI, o capitalismo, ao reviver a megamáquina, alte-
Ao contrário, os maquinismos implicam órgãos sociais para a tomada de deci-
rou profundamente as formas de servidão. Ele reduziu progressivamente o sões, gestão, reação, uma tecnocracia e burocracia que não podem ser simples-
número de operadores humanos “recalcitrantes e não confiáveis” e multipli- mente deduzidos do funcionamento das máquinas técnicas.
cou os “agentes confiáveis, mecânicos, eletrônicos e químicos”! As sujeições não apenas geram as “pessoas” do capitalista e do trabalhador,
A história do neoliberalismo é marcada por uma “servidão generalizada” como também outras figuras que fazem a máquina social funcionar (hômem/
mulher, professor/estudante, burocrata/funcionário etc.)
que constitui a megamáquina contemporânea. Seus dispositivos vão bem
além da fábrica, que é apenas o lugar de sua atualização inicial. As novas k As ciências sociais nasceram para facilitar a produção de sujeitos indi-
viduados. A linguística faz da pessoa a origem da enunciação, a psicanálise
10 Lewis Mumford, The Myth of the Machine: The Technics of Human Development (Nova York: Harcourt, Brace, constrói um inconsciente familiar para ela (um inconsciente “estruturado
and World, 1967), p. 196.
11 Ibid, pp. 195 e 192.
12 Ibid,, pp. 196e 197. 15Gilles Deleuze
e e Félix Guattari, Mil aplatós: Capitalismo
13 Ibid, p. 199. Capital e Equiofena
i v trad. bras, de Peter Pl Pebarte Janice
14 Ibid, p. 201

SIGNOS, MÁQUINAS, SUBJETIVIDADES MAURIZIO LAZZARATO 35


34
com um
como linguagem”) e que serve para equipar o sujeito individual molares, os papéis e as funções que nos foram atribuídos dentro da divisão
a dota
inconsciente representativo e personológico. Por sua vez, a economi do trabalho. Em segundo lugar, deve compreender a dessubjetivação de servi-
e
o indivíduo de uma racionalidade que o institui como livre para escolher dão como uma oportunidade para produzir algo diferente do individualismo
ais,
decidir, enquanto a ciência política o torna depositário de direitos individu paranoico, produtivista e consumista. Assim, podemos esquivar a falsa esco-
para os represe ntantes a fim de lha entre estarmos condenados a funcionar como uma peça entre outras na
que devem ser imperativamente transferidos
sejam os direitos de pro-
evitar a guerra de todos contra todos. Mas talvez maquinaria social ou estarmos condenados a nos tornarmos um sujeito indivi-
ação
priedade que constituemos mais bem-sucedidos dispositivos de subjetiv dual, capital humano (trabalhador, consumidor, usuário, devedor), “homem”.
os últi-
individualizantes. Ao dividir o agenciamento entre sujeitos e objetos, A sujeição trabalha contra essa possibilidade ao assegurar a reterritoriali-
mos (natureza, animal, máquinas, objetos, signos etc.) são esvaziados de toda zação e a recomposição dos componentes subjetivos “libertos” pela servidão
aos
criatividade, da capacidade de agir e de produzir, que é atribuída apenas maquínica sobre o “sujeito” individuado, que se carrega de culpa, medo e res-
l característica é ser um “proprie tário” (ou ponsabilidade pessoal.
sujeitos individuados cuja principa
um não proprietário). O conceito de sujeição, embora com variações importantes, é comum na
A propriedade não é apenas um dispositivo para a apropriação econômica, filosofia e na sociologia dos últimos cinquenta anos. Em contrapartida, “ser-
s e
mas também para a captura e exploração de subjetividades não humana vidão maquínica” constitui uma contribuição original de Deleuze e Guattari
a criação e a produçã o
de protossubjetividades maquínicas. Ao afirmar que para a compreensão sobre como o capitalismo funciona.
são apenas façanhas do “homem”, ela usa o “mundo” esvaziado de sua “alma”, Teorias que apenas levam em conta a “sujeição social”, negligenciando
meio para
como seu próprio “objeto”, um instrumento de sua atividade, um totalmente a servidão maquínica (Ranciêre e Badiou, por exemplo), acabam
seus fins. por distorcer tanto o capitalismo, que passa a ser duvidoso que possam explicar
A sujeição desempenha um papel essencial pois permite ao capitalismo os processos de subjetivação “política” que ocorrem nesse sistema. Se conside-
o homem
estabelecer hierarquias molares diferentes: uma primeira, entre rarmos o capitalismo apenas do ponto de vista da “sujeição” ou da partilha do
, no interior da cultura, entre o sensível, perdemos a especificidade das formas de dessubjetivação maquínica
(como espécie) e a natureza, e uma segunda
a criança, e assim por diante. e seu funcionamento diagramático. Sem levar em conta as servidões, corremos
homem (gênero, branco, adulto etc.) e a mulher,
Essas duas hierarquias são os pressupostos indispensáveis às hierarquias mais o risco de confundir, como fazem Rancire e Badiou, a democracia grega com
especificamente econômicas.!é O capitalismo, o trabalho de artesãos e escravos com a o trabalho maquínico
A sujeição impõe essas hierarquias ao operar na interseção entre o molecu- dos “operários”, Marx com Platão.”
a uma
lar maquínico e o molar social, ao converter e reduzir a multiplicidade Mesmo o conceito de governamentalidade de Foucault se enriqueceria
série de dualismos (sujeito/objeto, natureza/cultura, indivíduo/sociedade, e se expandiria com a combinação de sujeição social e servidão maquínica.
ca
proprietário/não proprietário). Essa translação da multiplicidade maquíni Ao poder pastoral exercido sobre indivíduos devemos acrescentar outro.
uização , mas também a totali- um tipo diferente de poder e controle que age sobre “dividuais”, exercido
para dualismos não apenas capacita a hierarq
zação cuja teoria holística de Durkheim constitui o protótipo teórico. não pelo Estado, mas pela empresa privada. Na realidade, desde o início do
o mole-
A ação política revolucionária também deve se posicionar entre século XX, a governamentalidade significa cada vez mais o “governo dos
e diferent e em
cular e o molar, embora com uma finalidade completament dividuais”
vista, Primeiramente, deve converter a dimensão maquínica em modali dades Com o avanço da propaganda nos anos 1920 e, posteriormente, com o
os
de subjetivação que critiquem, reconfigurem e redistribuam esses dualism advento da televisão, uma máquina cada vez mais bem-organizada se desen-
volveu, da qual o Google e o Facebook podem ser considerados o coroa-
16 Obviamente, a afirmação de que “jamais efomos modernos” (Bruno Latour) não passa de umao funcioname fórmula bom-
moderno individuad o “homem” são absolutame nte indispensáv eis para nto mento: imensos “bancos de dados” que funcionam como dispositivos de
bástica, pois “sujeito” quem libertar o homem da exploração
do poder. A posição diametralm ente oposta é a de John Holloway, para
capitalista significa “recuperar o sujeito negado pela objetividade”. Seu programa político é kantiano mais soldo que res-
Sevolucionário, pois ele argumenta em defesa da “asserção de nós próprios como nosso próprio verdadeiro são
17 Para Badiou e Ranciêre, , Não existem os s problemas
não existe proble de produçãoà de subjetividade
i pois, quer falemos da soci
taurando-nos “no centro do universo” já que “nós humanos criamos o mundo no qual vivemos” Sujeito e objeto Brega, daquela de 1948, da do New Deal ou quer sobrea de hoje, para le a prin sra
parte do mesmo paradigma da modernida de e da exploração. John Holloway, Crack Capitalism (Nova York: Pluto mpleta faltade análise dos processos de subjetivação implicados no capitalismo e um formalismo na definição das
Press, 2010), pp. 235, 242 e 145. relações de poder, assim como um retorno à política, porém “esvaziado”. f

36 SIGNOS, MÁQUINAS, SUBJETIVIDADES MAURIZIO LAZZARATO 37


sobre nosso social do trabalho, ao mesmo tempo em que constrói, problematiza e reconfi-
marketing. Eles reúnem, selecionam e vendem milhões de dados gurao agenciamento maquínico, ou, em outras palavras, cria um mundo e su:
leitura, filmes favoritos, gostos, rou-
comportamento, aquisições, hábitos de possibilidades. Os maquinismos abrem possibilidades e potencialidades a
o modo como passam os
pas e preferências de comida, assim como sobre a emancipação ou eles conduzem de modo inelutável à catástrofe? EEodeca-se
os “dividua is”, cujos perfis,
nosso “tempo livre”. Essas informações concernem construir novos territórios existenciais a partir do combate às servidões e ao
compostos pelo cruzamento desses dados, são meros relés de entradas e saí- contexto desterritorializado de tecnologia?
das, de input e output nas máquinas de produção-consumo.
tivos
Os “dividuais” têm uma existência estatística controlada por disposi
pas-
cujas operações diferem da individualização, levada a cabo pelo poder 5. O capital ecomo operador semiótico: : semiótic
ióti as significa
igni
toral, que se exerce sobre indivíduos “reais”. A governamentalidade de divi-
ntes e semióticas
um
duais, gerenciada por fluxos, redes e máquinas, não apenas desempenha
papel nas representações do indivíduo e no compor tament o conscie nte, mas
A o capital é um “operador semiótico”, e não apenas do ponto de vista linguí
em desejos, crenças e na realidade sub-representativa da subjetividade. tico. A distinção é fundamental pois estabelece que os fluxos de si pi
governamentalidade é praticada na junção do indivíduo e do dividual, tanto condições de “produção” tanto quanto os fluxos de trabalho e deisbeda ii
na subjetivação individual quanto na dividual. ) De uma perspectiva semiótica, a servidão maquínica e a sujeição social
a
A servidão não opera através de repressão ou de ideologia. Ela empreg implicam regimes distintos de signos. A sujeição social mobiliza semiótica
exa-
técnicas de modelização e de modulação que incidem sobre o que seria significantes, em particular a linguagem que, destinada à consciência,

sr ruido
tamente o “espírito da vida e da atividade humana”. Ela assume o controle dos
E
e liza representações com vistas a constituir um sujeito individuado (cai ital
seres humanos “por dentro”, no nível pré-pessoal (no nível pré-cognitivo humano ). A servidão maquínica, por sua vez, funciona baseada em cemió
modos ti
pré-verbal), e “por fora”, no nível suprapessoal, ao atribuir a eles certos cas a-significantes (índices do mercado de ações, moeda, equações Eitemá I
exer-
de percepção e sensibilidade e fabricar um inconsciente. A formatação cas, diagramas, linguagens de computador, contas nacionais e de corpora des
do compor-
cida pela servidão maquínica intervém no funcionamento básico etc.) que não envolvem a consciência e as representações e não ind jeito
tamento perceptivo, sensitivo, afetivo, cognitivo e linguístico”, como referente.!º
ser- idas
Assim, estamos submetidos a um duplo regime: por um lado, somos Os signos e a semiótica operam de acordo com duas lógicas heterogênea:
, do Estado
vos dos dispositivos maquínicos da empresa, das comunicações e complementares. Por um lado, enquanto servidão maquínica, eles E
; e, por outro, somos assujeitados à estrati-
de bem-estar social e das finanças zem operações, induzem a ações, funcionam e constituem ond ad
papéis e funções produti vas e sociais, como d E
ficação de poder que nos atribui input e output, junção e disjunção numa máquina social e tecnológica. P.
A

pib
usuários, produtores, telespectadores e assim por diante.
uma só outro lado, na sujeição social, eles produzem sentido, signlfeadnoo int o
Sujeição e servidão são funções que podem ser assumidas por pretações, discurso e representações através da linguagem. A lin; Nise
exem-
pessoa ou serem distribuídas entre diferentes pessoas. Tomemos o a poe críticas (Ranciêre, Virno, capitalismo cognitivo etc.) Feche
plo de uma empresa: empregados assalariados tornam-se servos na automa-
E da lógica e negligenciam a primeira, que é específica do
ção de procedimentos, nas máquinas e na divisão do trabalho, funcionando
pane, um
como os “inputs” e “outputs” do processo. Mas quando há uma Semióticas a-significantes agem sobre coisas. Elas conectam um órgã
a consciên-
acidente, ou um mau funcionamento acontece, a função-sujeito, um sistema de percepção, uma atividade intelectual, e assim
mobiliz adas a fim de “recupe rar” o sistema por iate
cia e as representações devem ser diretamente à máquina, a procedimentos, a signos, ignorando a re) E
e mitigar seus efeitos com vistas a E
diante do incidente, explicar o que ocorreu tação de um sujeito (funcionamento diagramático). Elas dBtipenta
retor-
fazer com que as funções automáticas e os procedimentos de servidão
um
189 'Nossa oposiçãoE entre semiologias despóticasicas significantes e semiologias a-significante
nem ao seu estado normal. ia
ie icant
mática. NáNa realidade, há apenas semióticas mist: as, que participam
icant s per manece muito esq ue.

A ação política deve, portanto, ser concebida de maneira nova, pois ela plane é sempre scombrada por uma máquina de nos eciprocamene, ua máquina
i de ambas em graus À semiolgi
o de signos st sempis
deve operar de imediato contra a sujeição e a servidão, recusando a injunçã lamada pela semiologia significante. Ainda assim, é claro que é útil reconhecer
polaridadeari que as duas definem.” >Fé
Félix Guattar, La Révolution molculaie (Paris: Editions Recherches, as1977),
relações lações dede
distribuição p. 346
que esta promove para que ocupemos certos lugares e papéis na

MAURIZIO LAZZARATO
38 SIGNOS, MÁQUINAS, SUBJETIVIDADES 39
nte, o capitalismo leis, convenções e instituições. Quanto mais desterritorializadas, como a moeda
papel muito específico no capitalismo, pois, “essencialme
s"!? y + eas finanças, mais formidavelmente eficientes elas são.
depende de máquinas a-significante
estatís ticas de desemp rego, os diagra- O que importa no capitalismo é controlar os dispositivos semióticos a-sig-
Os índices do mercado de ações, as
não fazem discur-
mas, as funções científicas e as linguagens de computador nificantes (econômicos, científicos, técnicos, contábeis, do mercado de ações
ao lado das servidões). etc.) através dos quais ele busca despolitizar e despersonalizar as relações de
sos nem contam histórias (tudo isso tem seu lugar, mas
licando o seu
Eles operam fazendo girar o agenciamento “produtivo” e multip poder. A força das semióticas a-significantes reside no fato de que, por um
Ou menos dependen- lado, elas são formas de avaliação e mensuração “automática” e, por outro
poder. As semióticas a-significantes permanecem mais
funcionamento
tes das semiologias significantes; no entanto, no nível de seu lado, elas unem e tornam “formalmente” equivalentes esferas heterogêneas de
dominantes.
intrínseco, elas escapam à linguagem e às significações sociais força e poder assimétricos ao integrá-las e racionalizá-las para a acumulação
a a taxa de descon to em um por cento, e econômica. Na crise econômica, taxas financeiras a-significantes e índices
O Banco Central europeu aument
de fundos. Os preços do mercado de ações dominam, decidindo a vida e a morte dos governos
dezenas de milhares de “projetos” se evaporam por falta
no caso dos subpri mes norte-ame- e impondo programas sociais e econômicos que oprimem os governados.
de bens imóveis entram em colapso, como
de pagar suas hipotecas. A As semióticas significantes das mídias, dos políticos e dos especialistas são
ricanos, e milhares de lares já não são mais capazes
reduzir o “gasto social mobilizadas a fim de legitimar, de apoiar e de justificar, diante dos sujeitos
Seguridade Social anuncia um déficit, e medidas para
mn individuados - com suas consciências e representações -, o fato de que “não
são colocadas em prática.
materiais,
Fluxos de signos a-significantes agem diretamente sobre fluxos há alternativa”.
o, inde-
para além da divisão entre produção, representação efuncionament A financeirização dos dias atuais é simplesmente uma intensificação dos
Equações mate- sistemas de indexação e simbolização que permitem avaliar e direcionar os
pendentemente de significarem algo para alguém ou não.
e diagramas “partic ipam direta mente no diferenciais de valores em todos os domínios e entre cada domínio. O con-
máticas, programas de computador
uma imagem de public idade apenas sumo de massa e as mídias de massa constituem outros sistemas semióticos
processo de gerar seu objeto enquanto
a, em seguida , produza de avaliação?! e de direcionamento que tornam possível integrar e “re-cen-
fornece uma representação extrínseca disso (embor
a-sig fican-
subjetividade)” Em vez de se referirem aoutros signos, signos trar” as diferenças de comportamento, opinião e sentido de acordo com a
da linguagem de pro- lógica econômica.
tes agem diretamente sobre o real, tal como ossignos
o computador, ou
gramação fazem funcionar uma máquina técnica, como As semiologias significantes (linguagem, histórias, discurso), por outro
na econômica, na lado, são usadas e exploradas como técnicas de controle e direcionamento da
na maneira pela qual signos monetários ativam a máqui
entram na construção desterritorialização, destruindo comunidades antigas, suas relações sociais,
maneira pela qual signos de uma equação matemática
por diante . TE sua política e seus tradicionais modos de subjetivação. Elas pretendem mode-
de uma ponte ou de um imóvel e assim
apenas, nem princi palmente, no lar, formatar, ajustar e reconfigurar o processo de subjetivação de acordo com
As máquinas de signos não trabalham
de sentid o. Elas envolvem o “sujeito individual, cujo fracasso sistemático tem conduzido, e continua a
nível das representações sociais ou na produção
lizados) do que os das conduzir, sempre ao oposto do individualismo, a saber, ao “coletivismo” do
modos de semiotização mais abstratos (desterritoria
ico estcenicos As
semióticas significantes nos domínios econômico, científ nacionalismo, racismo, fascismo, nazismo, maquinismo e assim por diante.
'antes e“ao lado” da O maquinismo da linguagem é um dos mais importantes dispositivos para
máquinas de signos consideradas desse modo operam
um “sentido opera- a reterritorialização dos fluxos descodificados de indivíduos, pessoas, sujeitos
significação, produzindo um “sentido sem significado”,
que sujeito, consciência individuados. Através de sua “psicologia rudimentar”, a linguagem nos leva
cional”, Suas operações são diagramáticas na medida
sentação permanecem em recuo. a crer “no “Eu; no Eu como ser, no Eu como substância, e projeta a crença no
m
í ea a-significantes da economia, da moeda, facilmente dribla
“prima
ias que fazem da “primazia da linguagem” r a chav e as semiótica
de como jóticas s funcionam em nossas sociedades 21 Quando ninguém mais é capaz de mensurar o trabalho em termos de duração, como é o caso da maior parte
AO riso, de perder de vista a apenas maneira real pela qual o capitalism o atua. O capital funciona a partir de vma das áreas hoje, avaliações “objetivas” e “automáticas” são substituídas por subjetivas e contínuas (nas escolas, para
“multiplicidade de semiótica, e não por semiótica linguísticas e significan tes como defendem as teorias do estudantes e professores, nos hospitais, sistemas públicos de saúde, para os serviços e os “operários” etc.). Note-se,
capitalismo “cognitivo” ou “cultural”.
i por exemplo, o conflito que emergiu na França nas universidades e hospitais quando novos métodos de avaliação
sia Les annóes d'hiver: 1980-1985 (Paris: Les Prairies
Ordinaires, 2009), p. 294. foram introduzidos, métodos que são parte integrante das técnicas neoliberais de governo.
20 Felix

SIGNOS, MÁQUINAS, SUBJETIVIDADES MAURIZIO LAZZARATO a


40
Eu-substância em todas as coisas - apenas então cria o conceito de “coi- aumento do “capital fixo constante” (ou maquinaria), Deleuze e Guattari intro-
sa”. A linguagem, sugere Nietzsche, implica uma metafísica do sujeito e duzem o conceito de mais-valia maquínica e tempo maquínico.”
do objeto, uma metafísica de imediato antropomórfica e “grosseiramente Essas temporalidades são as da servidão, pelas quais sujeito e objeto,
fetichista”. humano e não humano, natural e artificial não podem mais ser distinguidos.
Se nossas sociedades não são mais referidas a indivíduos, elas tampouco As temporalidades maquínicas compõem os fatores essenciais da produção
estão centradas na linguagem. O que quer que se possa dizer acerca da “virada capitalista. Diferentemente do tempo humano e da mais-valia, a combinação
linguística”, ela não passa de uma semiótica entre outras e não é,de modo entre temporalidades maquínicas e mais-valia tem a característica notável de
algum, a mais importante na garantia das operações de desterritorialização não ser quantificável nem assinalável.
dessas megamáquinas. O anti-Édipo enumera diferentes formas de produção de mais-valia (mais-
-valia humana, mais-valia financeira, mais-valia maquínica ou mais-valia de
inovação/conhecimento) da mesma maneira como Mil platôs descreve uma
5.1. O conceito de “produção” multiplicidade de mecanismos de captura dessa mesma mais-valia (aluguel,
lucro, impostos). As três formas de produção da mais-valia coexistem e con-
Na retomada e na renovação do conceito marxista de “produção” por Deleuze vergem claramente na economia mundo (a qual abrange formas de produção
e Guattari, sujeição e servidão definem, em conjunto e através de sua dife- de mais-valia não especificamente capitalista). Essa tentativa de dar conta
rença e complementaridade, o funcionamento “econômico” do capitalismo. da natureza da exploração capitalista nos parece mais promissora do que a
Ao comprar força de trabalho, o capital paga pela sujeição: horas para estar vontade de reconduzir essa multiplicidade à unidade de “conhecimento” e de
presente (no trabalho, em uma dada função), disponibilidade (do desempre- “inovação”, como as teorias do capitalismo cognitivo se esforçam para fazer.”
gado ou o “tempo disponível do cérebro” do telespectador) e assim por diante. Essa multiplicidade pode ser encontrada em toda parte no capitalismo,
Mas, na realidade, o que o capital compra não é apenas a presença da força de na produção econômica, na produção social (do desempregado, do estu-
trabalho na empresa, na instituição, nem a função social ou disponibilidade e dante, do usuário etc.), na produção de comunicação de massa, nas finanças.
tempo livre do desempregado e do telespectador. O que ele compra é, antes de Realmente, nunca é um indivíduo, ou mesmo um grupo de indivíduos (inter-
tudo, o direito de explorar um agenciamento “complexo” que inclui, através subjetividade), que trabalha, comunica ou produz. No capitalismo, sempre
da servidão, “modos de transporte, os modelos urbanos, a mídia, a indústria
de entretenimento, as maneiras de perceber e sentir, todas as semióticas"” A
25 Na produção industrial de uma grande empresa como a Fiat, a força de trabalho humano pesa apenas em 7,5%
dos custos gerais. Guattari assinala que o impacto de uma atividade comercial completamente automatizada afetaria
servidão libera potências de produção incomensuráveis se comparadas com a sociedade como um todo e não apenas os seus trabalhadores.
y 26 “O controle real do tempo maquínico, da servidão dos órgãos humanos nos agenciamentos produtivos, não
as do emprego e do trabalho humano. pode ser efetivamente mensurado com base em um equivalente geral. Podemos mensurar um tempo de presença,
Na lei do valor apresentada no Capital, Marx ainda tem uma visão “antro- um tempo de alienação, uma duração de encarceramento na fábrica ou na prisão; não podemos mensurar suas.
consequências sobre um indivíduo. Podemos quantificar o trabalho aparente de um físico no laboratório, mas não
pomórfica” e “antropocêntrica” da produção,” pois a mais-valia, assim como o o valor produtivo das fórmulas que ele cria” Félix Guattari, La Révolution moléculaire (Paris: Éditions Recherches,
tempo de trabalho, é humana. Apenas o trabalho humano produz mais-valia, 1977),p. 74.
27 “Eu diria que a relação diferencial entre fluxos de capital e fluxos de trabalho gera uma mais-valia que deveria
enquanto as máquinas nada mais fazem do que transmitir o valor que resulta ser chamada de humana, pois a última é produzida pelo trabalho humano; à relação diferencial entre fluxos de
do tempo de trabalho necessário para sua fabricação. Atentos ao tremendo financiamento e fluxos de receita produz uma mais-valia que deve ser chamada especificamente de mais-valia
financeira; e, finalmente, a terceira relação entre fluxos de mercado e fluxos de inovação (ou conhecimento) gera
uma mais-valia propriamente maquínica” Gilles Deleuze, Aspects de 'immanence capitaliste, Seminário de 2 de
22 Friedrich Nietzsche, Crepúsculo dos Ídolos (ou como filosofar com o martelo), trad. bras. de Marco Antonio fevereiro de 1972. Disponível em: <http://wwwle-terriernet/deleuze/anti-oedipe1000plateaux/0722-02-72.htm>.
Casanova (Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 2000), p.29. , De qualquer maneira, inovação e conhecimento enquanto tais nunca produzem valor. “O fluxo de mercado, que
23 Gilles Deleuze e Félix Guattari, Mil platós: Capitalismo e Esquizofrenia, v. 5. op. cit. asp. 202. ) inclui inovação e através do qual a inovação se transforma em lucro, é de um tipo completamente diferente de
24 Em relação ao antropomorfismo na sociologia, ver Emile Durkheim, para quem forças vitais da sociedade” poder, não mensurável (..): não é a mesma forma de dinheiro que paga pela inovação e, por outro lado, determina.
recordam o “trabalho vivo” de Marx, enquanto que “coisas”, entre as quais, além dos “objetos materiais” é preciso a lucratividade da inovação” Ibid. A criação da mais-valia maquínica não depende diretamente da ciência e da
incluir “os produtos da atividade social anterior o direto constituido, os costumes estabelecidos, os monumentos técnica, mas antes do próprio capital; ela se acresce à mais-valia humana e com ela corrige decréscimos nos lucros.
sobre a qual
literários, artísticos, etc”, que desempenham o papel de “capital fixo”. Objetos e produtos “são a materiaportanto, “O conhecimento, a informação e a formação qualificada são partes do capital (capital de conhecimento!) tanto
se aplicam as forças vivas da sociedade, mas, por si mesmos, não liberam nenhuma força deviva.PauloRestaNeves como quanto o trabalho mais elementar do operário” Gilles Deleuze e Félix Guattari, O anti-Édipo, trad. bras. de Luiz
fator ativo, o meio propriamente humano” As regras do método sociológico, trad. bras.encontradas as condições (São Paulo: Orlandi (São Paulo: Editora 34, 2010), p. 312. A máquina capitalista opera em duas frentes, exercendo uma “pres-
Martins Fontes, 2007), p. 114. No trabalho de seu rival, Gabriel Tarde, podem ser para são seletiva” forte sobre inovações maquínicas e introduzindo “não só a falta no seio do excessivo, mas também a
“uma sociologia não antropomórfica. imbecilidade no conhecimento e na ciência” Ibid, p. 313,

42 SIGNOS, MÁQUINAS, SUBJETIVIDADES MAURIZIO LAZZARATO 43


Produção e produtividade apenas parcialmente dependem do emprego
és de um agenciamento
se trabalha ou se produz dentro e no interior e atrav da (ou mesmo do trabalho); elas decorrem, sobretudo, do agenciamento maquí-
íduos e aspectos
coletivo. Mas o coletivo não consiste apenas em indiv , nico, isto é, da mobilização dos poderes do maquinismo, das comunicações,
subjetividade humana. Ele também inclui “objetos » máquinas, protocolos da ciência, do social, exatamente como Marx previu nos Grundrisse.*
es microssociais €pré-in-
semióticas humanas e não humanas, afetos, relaçõ E Entretanto, no capitalismo de nossos dias, devemos ir ainda mais longe,
por diante .
dividuais, relações supraindividuais e assim mas pois nunca é uma empresa que produz, mesmo se considerada da perspectiva
que pensa ou que cria,
Da mesma maneira, nunca é um indivíduo da servidão maquínica. Na sua atual configuração, a produção capitalista não
(escolas, teatros, museus,
um indivíduo dentro de uma rede de instituições é nada mais que um agenciamento de agenciamentos, um processo de pro-
computadores etc.),
bibliotecas etc.), de tecnologias (livros, redes eletrônicas, de pen- cessos, isto é, uma rede de agenciamentos ou processos (a empresa, o social,
em tradições

a
de fontes de financiamento público e privado, imerso o cultural, o tecnológico, o político, o gênero, as comunicações, a ciência, o
circulação de signos, ideias e
samento e práticas estéticas, engolfado em uma consumo), articulados uns aos outros.
e O forçam a pensar e criar. O capital se apropria desse valor não assinalável, não mensurável, por
-
ER o empregado deve agir e se identificar como produ meio de três principais dispositivos de captura: lucro, aluguel e impostos.
exter iores a ele, mas das quais
tor, subjugado às máquinas que permanecem a) O agenciamento “empresa” prolonga, combina-se e pressupõe outros agen-
tividadeindividuad
ele faz uso. No entanto, não é nunca o empregado (subje se ciamentos (equipamentos coletivos nacionais e paranacionais do Estado de
nem as simples ações cooperativas de empregados bem-estar social, sistemas de mídia de massa, dispositivos culturais, sistemas de
por um lado, da mobil es
produzem. A produtividade do capital depende, formação, finanças, consumo etc.), todos funcionando associados e incitando
mãos, músculos etc.) e taml Ee
ção e do agenciamento de órgãos (cérebro, ao extremos à individualização (sujeição) e desindividualização (servidão).
ção etc.) e, por outro, do
das faculdades humanas (memória, percepção, cogni ai Somos sujeitados à máquina televisiva como usuário e consumidor, nos
colos, ad
desempenho “intelectual” e físico das máquinas, dos proto E identificando com programas, imagens e narrativas enquanto sujeito, com a
, da ciênci a e assim por Dt
ção, do software ou dos sistemas de signos servidão (e de consciência e as representações de um sujeito. Ao contrário, somos tornados
tividade depende em grand e parte da
quer dizer que a produ servos “na medida que os telespectadores são não mais consumidores ou usuá-
pela representação, a cons-
seu funcionamento diagramático, que não passa rios, nem mesmo produtores, mas peças componentes intrínsecas que perten-
as relações não são ral
ciência e a linguagem), na qual, é preciso enfatizar, cem à máquina e não mais à maneira de produzi-la ou de se servir dela”?
não são, longe disso,
subjetivas, os agentes não são pessoas e as semióticas Com a servidão, os componentes da subjetividade funcionam como entra-
i nte significantes. das e saídas (inputs e outputs) do agenciamento “televisão”, como um feedback
o Dr não apenas extorque uma extensão de tempo degi a mais na imensa rede de dividuais sincronizados que constituem os telespecta-
lho humano dispendido
balho (diferença entre trabalho humano pago etraba dores tornados servos. A relação entre elementos humanos e não humanos “se
explora adiferença entre
no local de trabalho); ele instaura um processo que faz em termos de comunicação mútua e interna e não mais de uso ou ação”?
ação social pra
sujeição e servidão. Pois, se a sujeição subjetiva, a alien Pesquisadores podem medir o “tempo cerebral disponível” gasto diante da
(operário, lesemp!
um emprego em particular ou a alguma função social televisão, mas não o que ocorre durante esse tempo. A produção de informação
mensu rável (salário correspon-
gado, professor etc.), é sempre assinalável e a e
ão quin
dente a um emprego ou função social), a parte de servid
lável, tampouco quantificável
28 Enquanto no primeiro livro do Capital de Marx a teoria do valor é aditiva (soma aritmética do trabalho indivi-
constitui a produção real em si nunca é assina dual), sendo a mais-valia ainda concebida em termos de “mais-valia humana”, nos Grundrisse e no Resultados do
processo de produção imediato, Marx descreve a servidão maquínica sem, entretanto, desenvolver uma teoria do
tal. valor “maquínico” Guattari destaca que a concepção marxista de mais-valia humana corresponde às práticas con-
E
Dn gnali maquínica não há proporcionalidade alguma entre tábeis do capital, mas certamente não ao seu atual funcionamento. À contabilidade orçamentária é frequentemente
s dos trabalhos in E ) invocada nos dias de hoje para justificar as contrarreformas destinadas aos fundos de pensões, poiso financiamento
individual e produção; esta não é a soma dos tempo desta é calculado com base no emprego individual e nos salários pagos. Apenas a sujeiçãoé levada em conta, a ser-
ho (aatividade realmente exerci vidão não participa disso. Um “embuste cósmico”, diria Deleuze. Deveríamos acrescentar que Marx foi o primeiro
duais. Devemos, por isso, distinguir trabal y a tomar a coletividade de humanos e não humanos (a fábrica) não apenas como o fundamento da produção, mas
o primeiro RIR
de emprego (um status meramente jurídico), pois também da política.
enquanto oa le real,
segundo. Mas devemos também distinguir o trabalho, humanos.
29 Gilles Deleuze e Félix Guattari: Mil platôs: Capitalismo e Esquizofrenia, v.5. op. cit, p. 158.
ntos humanos e não
30 Ibid.
da produção, que mobiliza um coletivo de eleme
MAURIZIO LAZZARATO as
SIGNOS, MÁQUINAS, SUBJETIVIDADES
44
que resulta da combinação do agenciamento de imagem, som e fluxos de a verdadeiras máquinas de subjetivação e dessubjetivação. No capitalismo,
os processos de subjetivação e dessubjetivação são tão maquínicos quanto a
representação do indivíduo e dos componentes da subjetividade do dividual
produção de qualquer outro tipo de mercadoria industrial.
não pode ser assinalada nem medida de um ponto de vista econômico. Em
a As hipóteses propostas por Deleuze e Guattari no final dos anos 1970 ainda
contrapartida, a subjetividade está submetida à maquinação semiótica que
transforma e formata. mantêm grande parte de sua pertinência. A sujeição continua dizendo respeito
As instituições sociais do Estado de bem-estar que governam o desem- ao trabalho, mesmo que seu significado tenha deslizado, imperceptível mas
indubitavelmente, do “trabalho” do operário para o “trabalho” do empreende-
prego compelem os desempregados a agirem e se identificarem como “benefi-
dor. A partir dos anos 1980, passamos do poder “produtivo” da classe operária
ciários” do seguro-desemprego, isto é, como capital humano responsável por
ao poder da empresa privada, em particular por causa da social-democracia.
sua empregabilidade. Mas, ao mesmo tempo, os desempregados são forçados
a funcionar como simples variável de ajuste no mercado de trabalho, como Exalta-se em toda parte “o valor do trabalho”, mantendo-se conscientemente a
uma parte flexível adaptável do funcionamento “automático” do mecanismo
ambiguidade, pois doravante queremos dizer com trabalho não apenas a ati-
vidade que se desempenha para um patrão, mas também “o trabalho sobre si”,
de oferta e demanda de emprego.
Por um lado, os dispositivos “pastorais” de controle e incitação, que se aquele que devemos realizar para que nos transformemos em “capital humano”.
ocupam meticulosamente da formação, dos projetos, das qualificações e do
Com a servidão, em contrapartida, o trabalho é partido em duas direções:
a do sobretrabalho “intensivo”, que não tem mais nada que ver com trabalho,
comportamento dos desempregados, os forçam a se instituírem como sujeitos.
Por outro lado, o mercado os considera como peças desindividualizadas que mas antes com “uma “servidão maquínica! generalizada” de tal modo que se
participam de sua autorregulação automática. Assim, se Oseguro-desemprego pode fornecer mais-valia sem fazer trabalho algum (as crianças, os aposen-
é a medida de quanto custa a disponibilidade do desempregado (a medida da tados, os desempregados, os telespectadores etc.); e a do trabalho extensivo
sujeição), então o que o desempregado produz, com sua mobilidade e flexibi-
“tornado precário e flutuante”!
lidade no mercado de trabalho, o que ele produz como consumidor, ou, mais . Nessas circunstâncias, usuários (de seguro-desemprego, de televisão, de ser-
segu- viços públicos e privados etc.), assim como todos os consumidores, tendem a se
ainda, o que ele produz na medida que abastece o serviço de dados do
ro-desemprego (as informações que ele fornece, apesar de si mesmo, o índice tornar “empregados”. No “trabalho do consumidor” temos a exemplificação de
subjetivo e objetivo que representa, apesar de si mesmo, o tornam parte do uma produtividade que já não passa pela “definição físico-social de trabalho”.
feedback da “máquina social”) é inassinalável e não calculável.
No sistema financeiro, o indivíduo é um sujeito (capital humano) de
6. Desejo e produção
modo diferente. Enquanto “investidor/devedor”, ele pode ser considerado
como o próprio modelo da subjetivação: a promessa que ele faz de pagar
, Do ponto de vista econômico, a sujeição aloca os salários e as receitas que
sua dívida implica que memória e afetos (tais como culpa, responsabilidade
lealdade, confiança etc.) sejam criados para assegurar o cumprimento de sua têm somente uma relação indireta com a “produção real”, ou, em outras pala-
promessa. Mas tão logo o crédito entra na máquina financeira, ele se torna vras, com a servidão maquínica. A sujeição divide a população entre os que
algo inteiramente novo, um mero input no agenciamento financeiro. De fato, estão empregados e os que não estão; entre os que possuem direitos sociais e
o crédito/dívida, incorporado no interior do agenciamento, perde toda refe- Os que não possuem; entre população “ativa” e “inativa”; sem base na neces-
rência ao sujeito que a contraiu. A relação crédito/débito é literalmente ras- sidade econômica, pois uma contribuição pessoal para a “produção” (para a
a
gada em pedaços (da mesma maneira que o agenciamento reduz o sujeito servidão maquínica) não é assinalável nem mensurável.
pedaços) pela máquina financeira, exatamente como foi mostrado pela crise
dos subprime. Não é mais uma questão deste ou daquele investimento, desta 31 Gilles Deleuze Félix Guattari, Mil platós: Capitalismo
e Esquizofrenia,v. 5. op. cit, pp. 202 e 172.
32 "A participação dos consumidores na produção é extremamente heterogênea (..). Mostramos que cada uma
ou daquela dívida: o agenciamento financeiro transformou tudo em moeda dessas atividades pode ser qualificada como trabalho nos sentidos econômico, sociológico e ergonômico do termo.
que age como “capital”, em dinheiro que gera dinheiro. Elas produzem valor para à empresa. (..) Como no caso do empregado assalariado, a atividade do consumidoré
altamente prescrita e regulada. Ela é frequentemente executada detro dos limites de tempo, produtividade e
O desempregado, o operário, o telespectador, o poupador etc. são subme- Pia Sai, como ves E do específicas” Marie-Anne Dujarier, Le travail du consommateur (Paris:
tidos não apenas a técnicas “pastorais” de individualização (Foucault), mas

SIGNOS, MÁQUINAS, SUBJETIVIDADES MAURIZIO LAZZARATO 47


46
A sujeição funciona de acordo com segmentaridades binárias (emprego/ o que define o capitalismo de nossos dias, em que o “trabalho sobre si” (práxis)
desemprego, produto/consumidor, homem/mulher, artista/não E pro- eo “trabalho” (produção) se combinam.
dutivo/não produtivo etc.), enquanto a servidão funciona de acordo cm Contrariamente ao que pensam Ranciêre e Badiou, a “produção” não
é
uma segmentaridade flexível que atravessa as sujeições e seus pratarine ' uma questão de “economia”. Nem sequer está limitada ao cultivo do conhe-
servidão maquínica, a divisão entre empregado/de sempregado, asseguras cimento, da cultura etc. como defendem as teorias do capitalismo cognitivo
.
assistencializado, produtivo/não produtivo já não cabe mai Do E e A produção apreende e explora algo mais profundo e transversal à sociedad
e
vista da “produção real”, do agenciamento oudo processo, todos da ah E tomada em seu conjunto: o processo de singularização e produção de
novos
todos são “produtivos” (ou estão “à disposição”, como os desemprega: os), de modos de subjetivação centrados no desejo.
diferentes maneiras. k A essência subjetiva da produção, descoberta pelos economistas clássicos
“De certo modo, uma dona de casa possui um emprego em casa, a criança (Smith, Ricardo) e por Marx, não pode mais ser atribuída unicamen
te ao “tra-
possui o seu na escola, o consumidor, no supermercado, o espectador, na balho”, pois o capitalismo de hoje inclui a dimensão ético-política do “trabalho
frente da tela de televisão” Do ponto de vista da servidão maquínica, as crian- sobre si”. Em O anti-Édipo, Deleuze e Guattari se esforçam para produzir
um
ças “trabalham em frente da televisão; elas trabalham na creche com brin- conceito fundamentalmente novo de desejo apropriado à nova natureza
da
quedos que foram criados para melhorar seu desempenho produtivo. Em “economia”, em que o “trabalho” e o “trabalho sobre si” produção e subjetiva
-
certo sentido, esse trabalho é comparável com o dos aprendizes nas escolas ção, se combinem, e o desejo sirva para definir a economia como “produ
ção
de possível”.
sui
a noção de local de trabalho deve ser expandida para ativi- A desterritorialização capitalista opera sobre o desejo de modos que não
; sl
Paran
dades não assalariadas, e a noção de empresa privada para os equipamentos são propriamente humanos, mas, sim, maquínicos. O desejo não é
a expres-
coletivos do Estado de bem-estar social, a mídia, entre outros. O capitalismo são da subjetividade humana; ele emerge do agenciamento de fluxos huma-
de nossos dias requer uma nova formulação que possa dar oa de sua socia- nos e não humanos, de uma multiplicidade de máquinas técnicas e sociais.
lização, de seu domínio sobre o “social” (supraindividual)” tanto sobre o que O desejo desterritorializado nada sabe de “pulsões” e de “conatus”. Em vez
é infraindividual na subjetividade. E disso, ele deve ser relacionado ao possível, à criação de novas potência
s, à
Desde os anos do pós-guerra, os sindicatos e aesquerda vêm mudando emergência do que parece ser impossível dentro do quadro da domina
ção
a ênfase do trabalho para o emprego. Isto deixou na mão dos patrões e do capitalista.”
Estado a questão política fundamental da integração do social (Foucault) e
da “sociedade” (Operaísmo italiano) à valorização capitalista. qui 35 Que o desejo seja igual ao possível implica uma definição nova e revolucionária de desejo. O desejo só emerge
da socialização deste guando, seguindo a ruptura de equilíbrios prévios, faz aparecer relações que, de outro modo, não teriam sido possíveis.
Deleuze e Guattari tiraram todas as consequências O desejo é sempre identificável pela impossibilidade que ele transpõe
de que um processo surge e secreta outros sistemas de referência num mundo e das novas possibilidades que ele cria, É o fato
capital, afirmando a univocidade do conceito desprodução. Se a produção e fegistrar claramente a ruptura com a concepção clássica de desejo, Guattari enftiza que anteriormente esteve fechado, Para
o social se sobrepõem, então o “campo do desejo” e o “campo do trabalho”, a q itificial, desterritoralizado e maquínico — não é uma força “natural” ou “espontânea sua “natureza” artificial. O desejo
ão que Freud chama “pulsão” ou ao que Espinosa chama conatus (esforço em perseverar” emO desejo não é equivalente
“economia” e a “produção de subjetividade”, ainfraestrutura e a supera. tem a ver com uma determinação natural ou espontânea, seu ser): “O desejo nada
tura não podem mais ser separados. A questão da produção é inseparável : a Guattari, Mil platôs: Capitalismo e Esquizofrenia, v. 5. op. cit, só háp. 78.desejo agenciado, maquinado” Gilles Deleuze e Félix
O desejo não é da ordem da fantasia, do sonho ou
da representação, mas da produção. Desejar sempre significa construir um agenciamento; desejar sempre significa
questão do desejo (Guattari) de tal modo que a economia política não é outra agir em e para um coletivo ou multiplicidade. O desejo não é uma questão
i ã “economia subjetiva”, . interação de pulsões individuais ou conatus (intersubjetividade. O desejo nãode vemindivíduos e não resulta da simples
de dentro do sujeito. Ele sempre
REA mana de um fora, de um encontro, de um acoplamento, de um agenciamento. A concepção
E E rodarão de bjetiidade não se refere auma superestrutura trata porque identifica um sujeito de desejo e um clássica de desejo é abs
gica; ela produz realidade e, em particular, realidade econômica. É isto, aliás, 9u algo, mas sempre uma pessoa ou uma coisa noobjeto supostamente desejado, enquanto nunca se deseja
interior de um conjunto constituído de uma multiplicidalguém ade de
Objetos, relações, máquinas, pessoas, signos etc. É o agenciamento, e não o sujeito individuado
ou algo desejável. Nunca se descja apenas uma pessoa ou uma coisa, mas também os mundos ,e osquepossíveis torna alguém
33 Fé Guatar La Révoltiom Mola (Paris: Union généae ditions, 1980) p. 80. "Sria completamente arbtrrio sente neles. Desejar significa construir um agenciamento que desdobra os possíveis e mundos que uma coisaque se
de salários disendidos, asisênca
hoje considerar empregados de empresa sem levar em conta os múltiplos sistemas RR Pessoa contém. “Mas é sempre com mundos que fazemos amor” Gilles Deleuze Félix Guattari, O anti-Édipo, ou
custos sociais que afetam, de perto ou de longe, a reprodução da força de Rs it, p. 387. O desejo é antes de tudo coletivo, embora coletivo não seja sinônimo dee intersubjeti vo. Um agenciamento
op.
á Ibid.
ão assumidos por múltiplas instituições e mecanismos de poder” integralidade 7 , soletivo é, de fato, “suporte de relações e distribuidor de agentes; mas esses agentes não são pessoas, assim como essas
Da Ad nerd empresa capitaae de trabalho pago se tornaram inseparáveis da do tecido social felações não são intersubjtivas” Ibi. p. 67. Pessoas e coisas “apenas intervêm como pontos de conexão,
que é produzido e reproduzido ele próprio sob o controle do capital Ibi. p. 90. “le conjunção de fluxos cujo teor libidinal de investimen to propriamente inconsciente elas traduzem” deIbi,disjunção, p. 387.

48 SIGNOS, MÁQUINAS, SUBJETIVIDADES MAURIZIO LAZZARATO 49


O desejo desterritorializado traz consigo uma ruptura com as concepções (prazer, um senso de realização, reconhecimento, experimentação de novas
do capitalismo como mera racionalização e cálculo, em que a imagem de suas formas de vida, mobilidade de ascensão social etc.) tem se transformado
no
ações visa unicamente à realização de um objetivo. Seu modelo subjetivo imperativo de tomar para si os riscos e custos para os quais nem a atividade
(“antropológico”) não segue o da procrastinação de desejos calvinista/webe- comercial, nem o Estado estão dispostos apagar.
riano nem o modelo freudiano de repressão. , Na atual crise, para a maioria da população o “trabalho sobre si” não
sig-
Outra dimensão deve ser trazida para o capitalismo, uma que esteve sempre nifica mais que uma gestão empresarial de desemprego, dívidas, lit é
presente, mas que apenas a “economia” de hoje permite salientar. O desejo custosde receita, reduções nos serviços sociais e impostos crescentes
desterritorializado, desejo maquínico, carrega consigo uma “economia de Depois do desastre financeiro de 2007, que mostrou a impossibilidade de
possíveis” e uma subjetividade autopoiética (autoprodutiva) que explica a se criar a economia de possíveis dentro dos limites da propriedade, o capita-
natureza do capitalismo contemporâneo e, sobretudo, sua crise; pois é impos- lismo gradualmente se liberta das narrativas épicas construídas em Esio da
sível para o capitalismo conter ambas nos limites da propriedade privada ou liberdade, inovação, criatividade, sociedade de conhecimento... A populaçã
o
nos limites da figura subjetiva do empresário de si mesmo. deve se preocupar unicamente, agora, com tudo o que as finanças, os negócios
eo Estado de bem-estar social “terceirizam” sobre a sociedade e aaa final!
Está claro agora que a autonomia e a liberdade que a iniciativa empresarial
6.1. O fracasso do “capital humano” deveria trazer para o “trabalho” significam, em vez disso, uma dependência
muito maior não apenas das instituições (empresa, Estado, finanças),
mas
A força do capitalismo reside em sua capacidade de integrar o funcionamento também do superego despótico (“eu” sou meu próprio patrão, Posteato
eu
do desejo como “economia dos possíveis” dentro de seu próprio funciona- devo ser culpado por tudo o que acontece comigo!). O capitalismo dos
dias
mento, a fim de promover e solicitar uma nova figura subjetiva: o sujeito eco- de hoje encontra o saldo positivo que procura não no conhecimento, mas
sim
nômico como “capital humano” ou empresário de si mesmo. na implicação subjetiva que todo “trabalhador imaterial” deve Eno tal
Buscando dar conta da mudança, a teoria do capitalismo cognitivo reduz como o imigrante, os usuários dos serviços sociais e os consumidores,
a
a produção de subjetividade ou a economia “subjetiva” à economia do conhe- quantidade enorme de trabalho gratuito. é
cimento, à economia da informação e à economia da inovação. O capitalismo A formatação semiótica e disciplinar a que as subjetividades estão sub-
cognitivo concede espaço demais à “ciência” econômica e, em particular, à metidas não é primordialmente cognitiva (o capitalismo não precisa de tanta
teoria do “crescimento endógeno”, que torna o conhecimento o condutor da gente graduada, de tantos trabalhadores cognitivos como acreditam as teo-
economia. O que está no coração do capitalismo dos dias de hoje é menos ias. do capitalismo cognitivo!). O objetivo da máquina capitalista é fornecer
conhecimento do que um processo de produção de subjetividade centrado no indivíduos com padrões de comportamento, consciente ou “inconsciente”,
desejo, do qual mesmo o conhecimento, a informação e a produção cultural incentivando-os a se submeterem aos “ritos de passagem” e de “iniciação”
dependem. Não é uma questão de subjetividade cognitiva, mas de técnicas de das empresas, do Estado de bem-estar, da sociedade de consumo, da mídia:
poder (sujeição e servidão) que agem de modo transversal em uma multipli- intimar os indivíduos a assumirem os “superegos” necessários para preenche
r
cidade de formas de atividade. papéis e funções hierárquicas, não importa se são desempregados, operários
A crise atual reside no fato de que a produção dessa figura subjetiva fra- de fábrica, aposentados, consumidores ou trabalhadores Pesa
cassou. O neoliberalismo tem sido incapaz de articular “produção” e “pro- Com a crise, a formatação semiótica e disciplinar operada pelas sujeições
dução de subjetividade”. As ações neoliberais visam indiscriminadamente a e servidões convergem na produção e reprodução da relação devedor/credor.
economia e a subjetividade, o “trabalho” e o trabalho ético-político sobre si. A integração desses papéis e funções passa pela dívida e por sua ex;
a
Ele reduz o último a uma injunção para se tornar “um tipo de empresa per- subjetiva: o homem endividado. E RU
manente e múltipla”, não importando se é uma empresa de um técnico em
computação, de uma empregada doméstica ou de um balconista de super-
mercado. Mas, com a crise que o liberalismo instaurou, a promessa de que
o “trabalho sobre si” deveria oferecer “trabalho” em termos de emancipação

so SIGNOS, MÁQUINAS, SUBJETIVIDADES MAURIZIO LAZZARATO


51
CAPÍTULO 2 SEMIOLOGIAS SIGNIFICANTES E SEMIÓTICAS E
A-SIGNIFICANTES NA PRODUÇÃO E NA PRODUÇÃO
DE SUBJETIVIDADE

produção em série e a exportação massiva do sujeito,


branco, consciente, macho, adulto, tem sempre por correla-
to pôr um freio as multiplicidades intensivas que escapam
de toda centralização, de toda arborescência significante”
Félix Guattari

“Transformar o inconsciente em discurso é tornar-se cúm-


plice de toda a ratio ocidental, que mata a arte, bem como
o sonho. Não se rompe minimamente com a metafísica ao
colocar a linguagem em toda parte”
Jean-François Lyotard

No capitalismo contemporâneo, a subjetividade é o produto de uma indús-


tria de massa em escala global. Para Guattari, ela é até mesmo a primeira e
mais importante das produções capitalistas, pois a subjetividade condicio
na
participa da produção de todas as outras mercadorias.! A subjetividade
é a
“mercadoria-chave” cuja “natureza” é concebida, des nvolvida e
fabricada da
mesma maneira que um automóvel, a eletricidade ou uma máquina de
lavar.
À crise na qual mergulhamos desde os anos 1970, antes de ser uma crise eco-
nômica e política, tem sido uma crise da produção de subjetividade, pois esta
não encontra apoio nos processos técnicos, econômicos e políticos
Subjetividade, subjetivação, processos de subjetivação e sujeição são con-
seitos que aparecem constantemente no pensamento crítico desde
os anos
1960 (Foucault, Ranciêre etc.). Eles recobrem ideias diferentes
e, frequen-
temente, até contraditórias. A respeito disso, Félix Guattari, que
foi o mais
longe na problematização conceitual e na cartografia dos
componentes e
modalidades da produção de subjetividade, aponta para vários obstáculos a
serem evitados.

| |Nós (professores, psicanalistas, trabalhadores sociais, jornalistas


iltramoderna, uma indústria que fornece a matéria-prima subjetivaetc.) somos trabalhadores em uma indústria
necessária para todas as outras indústriasé
"des sociais” Félix Guattari in Jean Oury, Félix Guatt e François
ari Tosquelles, Prat de Vinstitutio
iquennel
politique (Vigneux: Editions Matrice,1985), p. 51 s et
—»
pos do 1. Os vestígios do estruturalismo: linguagem sem
Primeiro de tudo, o impasse estruturalista deve ser afastado, estrutura
os
reduz a subjetividade ) a simples resultante de Eraõ papos igni H a

os! He ; O estruturalismo está morto, mas alinguagem, que atuali


verdade o que dizem
i os estrut turalistas; não sãoo os fatos da lin zou seu paradigma,
o is Ea ainda está muito viva. Surpreendentemente, ela vai bastan
mesmo Aran TEaea que engendram a subjetividade. Em te bem, mesmo
a eletrici depois das teorias críticas que surgiram com as inovações teóric
é fabricada coletivamente, da mesma maneira que a energia, tantes dos anos 1960 e 1970, que mapearam as vias de saída
as mais impor-
, qr E do estruturalismo.
o alumínio”? No entanto, a linguagem não possui a neutralidade
EA Eco
A produção de subjetividade coloca em jogo algo muito natória do estruturalismo. O pensamento crítico politizou
sistêmica e combi-
sem a
desempenho linguístico: dimensões etológicas, fantasmáticas, linguagem, mas sem nunca desistir totalmente da lógica
radicalmente a
; ios e
nômicas, > estéticas, » corporais, territór existenc iais e É
univers os :
ide segundo a qual a
E a E linguagem é unicamente humana sendo, portanto, a pedra
todos irredutíveis a uma semiologia da linguagem. O conceito ca. Para Paolo Virno, a política não deve ser procurada
angular da políti-
as subs E É
de expressão deve se tornar plural, a fim de trazer à tona faz dela, pois a linguagem é intrinsecamente política
nos usos que o falante
esté
tesão extralinguísticas, não humanas, biológicas, tecnológicas, vidade ou práxis se realiza na esfera pública. Política
na medida que sua ati-
. E a ' r e posse da linguagem
ínicas. são literalmente uma só e a mesma coisa. Para Ranci
Aa armadilha vem da fenomenologia e da psicanálise, eo medida e a verificação do único princípio da política
êre, o logos constitui a
etividade àsà pulsões, 0õ afetos, inst
instâncias intrassu EEE: b- — a igualdade. Mesmo
tos reduzem « “os fatos da subj jetivi uma ordem, para ser dada, pressupõe um mínimo de
jeti tivas”, que Guattari também define
ões i tersubjejetivas”, fine como “mi g:
como igualdade, a igualdade
, comunic
com acionai s,
3 midiáti
d cas)e do logos. Para que os subordinados entendam e executem
intersubir
pa ce
jetivo”” As máquin écnicas
áqui: as técnicas (digitais
(digitais, uma ordem, eles
vidade EE não apena devem compartilhar a mesma linguagem de quem a
ad sociais modulam e formatam a subjeti desse modo, verificável na linguagem.
ordena. A igualdade é,
imi da memóriai e da sensibil ade, n mas também
ibiliidade, m ém doo inconscien- E :
de ro dos limites Judith Butler considera que todo o seu trabalho
parte não humana e maquínica da subjetividade é irredutí vel a relaçõe: é uma extensão da afir-
ra
e.
mação de Hannah Arendt de que “os homens se tornam seres
; bo Er políticos como
intra e intersubjetivas. seres de linguagem”. Na mesma linha, Giorgio Agamben estabe
s e 2:54
Para contornar a terceira armadilha, asociológica, devemo ção estreita entre linguagem e natureza humana, pois
lece uma rela-
oca ade:
ciar do individualismo metodológico e do holismo. Os seres vivos, (...) na linguagem ele pós em jogo a sua
o homem, “único entre
a e pro
tivação e semiotização não são centrados em ia própria natureza”+
Os pontos de referência mais ou menos críticos, mais ou menos
tivos).
i tersubjejeti A produção
á de subjetivi À
dade é, > proble-
i máticos, são, antes de tudo, Aristóteles e sua dupla defini
p ”, que que vai i além
“coletivoo”,
o “coletiv individuual,
alé do iindivid pipeão extra-
al,al, em uma podimens ção de homem (“o
um process
sm homem é o único animal que possui a fala” e “o homem é um
as maquíniínicos, eco) nômicos, ; sociais, tecnológg i E animal políti-
ssoal (sistem
i co”), Hannah Arendt e a filosofia analítica. Esta última, tanto quant
uma lógica dos
ds pessoa (intensidades pré-verbais provenientes de Butler, fornece o ponto de partida para a repolitizaçã
o Virno ou
pó h : o da linguagem por meio
intensidades). de uma análise da relação entre “as palavras e o poder”.
ada
; es* fim, devemos nos esquivar de um último obstáculo, Segundo Pascal Michon, que, diferentemente, recorre
, xo de infraest
i mai terial r
i e trutura nea
truturas;”:Hi uma infraes queU ça à tradição alemã,
chama de A “comple temos sofrido de um “esquecimento da especificidade da lingua
i ima i infraestru!
i (m arxismo), uma
ica trutura E gem”. A críti-
a superestrutura ideológ ea do capitalismo e uma política da arte verdadeiramente subver
a aPs (Freud), ou mesmo estruturas sintáticas e linguísticas profui ser fundadas sobre “a única força criativa da humanidade
siva devem
linguísticoico ( (significados).s jE , sua única força
roduzem conteúdúdo o linguíst utópica: a força da linguagem”:
, procuraremos també
na jo tentar evitar as armadilhas do estruturalismo Hoje em dia, a psicanálise lacaniana, apogeu do pensamento
contornar as três outras. estruturalis-
ta, parece atrair novos discípulos. Com a tópica freudiana interp
retada à luz
Ny diortio Agamben, O sacramento da linguagem: arqueologia do juramento, trad.
Horizonte: Editora UFMG, 2011), p. 79. bras. de Selvino Assman (Belo
2 Félix Guattari, Les années dhiver: 1980-1985 (Paris:is
begeU inai
203, p. 23.
2009), ), Pp.p. 128.
* Pascal Michon, Rythmes, pouvoir, mondialisation (Paris Presses Universitaires de Prance,
3 Félix Guattari,“Schizoanalyse du chaos” in Chimêres nº 50, 2005), p. 269,

SIGNOS, MÁQUINAS, SUBJETIVIDADES


MAURIZIO LAZZARATO
54 ss
escravo), o sujeito
são as verdadeiras fontes da enunciação”* As máquinas de signo de dinheiro,
da linguística saussuriana (e a dialética hegeliana mestre- economia, ciência, tecnologia, arte etc. funcionam em paralelo, ou dra
incons-
se torna um efeito da linguagem, e a linguagem, a causa do sujeito; o dentemente do fato de produzirem ou transmitirem significações, contornan-
por metáfo-
ciente é estruturado como uma linguagem e, como ela, funciona do, dessa maneira, a linguagem, as significações e a representação.
mia”,
ra e metonímia.º A “cadeia significante” - sua combinatória, sua “autono Em meados dos anos 1960, Pier Paolo Pasolini descreveu o controle que os
produz tanto
sua exterioridade, sua existência anterior a toda experiência — modos de semiotização do capital tinham sobre a linguagem como o início de
A formaç ão hegelia no-laca niana do sujeito é
o significado quanto o sujeito. um mundo pós-humano”, no qual os focos de criação linguística se deslocam
retomada fielmente por Zizek e, apesar de certos remanejamentos, porButler. paraa “produção” e seus maquinismos. Na Itália, esse processo, devido ao seu
performativo
Embora recuse o “papel estruturante da lei do pai”, Butler dá ao atraso” linguístico, aparecia de forma particularmente impressionante. Na
indo aos mesmos resulta-
a função de significante na teoria lacaniana — conduz esfera linguística, a segunda revolução industrial acarretava “a substituição
nden-
dos: a linguagem funciona como uma coerção molar, como um transce das linguagens das superestruturas (...) pelas linguagens das infraestruturas”,
tal, como uma “servidão original e radical” que “precede e excede” o sujeito.
s do mar- Desde a civilização egípcia até a primeira revolução industrial, ela tie,
Em uma tentativa de se ir além das hipóteses redutoras herdada 'os modelos linguísticos que dominam a sociedade e a tornam ias
ico,
xismo, que faziam da linguagem um artefato superestrutural ou ideológ mente unitária são os modelos das superestruturas culturais” e das elites inte-
em, juntamente com os afetos, na própria ori-
Ranciêre transforma a linguag lectuais no direito, na literatura, na educação, na religião. Então, de repente
por uma série de
gem da sociedade: “o “social (...) é na realidade constituído com a mudança do capitalismo para o neocapitalismo, que coincidiu E
atos discursivos e reconfigurações de um modo perceptivo”? a transformação do “espírito científico” em “aplicação integral da ciência” à
do sen-
A linguagem e os afetos não apenas definem o objeto da partilha produção, “as linguagens das infraestruturas, ou digamos simplesmente as
através do domíni o
sível, como Ranciêre defende (a burguesia se exprime linguagens da produção, passam a guiar a sociedade linguisticamente. Isto
ruído
da fala e do “sentido educado” enquanto o proletariado emite apenas nunca havia acontecido antes”? É
consti-
animal, se expressando através de um “sentido bruto”), como também As linguagens de “produção-consumo” produzem “um tipo de destituição
ismo cogniti-
tuem novas forças produtivas. Para os nossos amigos do capital da fala, ligado à deterioração das linguagens humanísticas das elites, que têm
capital é dada através da lingua gem e também
vo, a natureza do trabalho e do sido, até agora, as linguagens-guia”."” Os centros que criam, desenvolvem e
vo os
dos afetos. O trabalho cognitivo os mobiliza, e o capitalismo cogniti unificam a linguagem “não são mais as universidades, mas as empresas”.
captura e explora. À linguagem “inter-regional e internacional” do futuro será uma linguagem
a de acordo
Esse modo de compreender a linguagem, mesmo se definid “Sinalética” de “um mundo unificado pela indústria e pela tecnocracia”, isto é,
nte discrep ante em
com sua função política ou produtiva, nos parece forteme uma comunicação de homens que já não são mais homens”. ,
e à produ-
relação à natureza e funcionamento da subjetividade, à enunciação Isto é exatamente o contrário do que afirma a virada linguística: a análise
apesar de seus
ção no capitalismo contemporâneo. Em todas essas teorias, e deve apenas examinar a “linguagem das infraestruturas” e a subordinação das
, enquanto
objetivos críticos, permanecemos em um mundo “logocêntrico” linguagens” humanistas e da semiótica significante à semiótica da produção
que com o capitalismo entramos, há muito tempo, em um mundo “maqui- e do consumo. F
diferente.
nocêntrico” que configura as funções da linguagem de um modo Mesmo Hannah Arendt, em A condição humana, nos previne que, apesar
-nos da questão do sujeito
Em um universo maquinocêntrico, movemo da capacidade humana de agir”, “de iniciar novos processos espontâneos”
ção não se refere primei-
para a da subjetividade de tal modo que a enuncia ainda se faz presente," e se tornou o privilégio das ciências que “têm sido
mo
ramente a falantes e ouvintes - a versão comunicacional do individualis
corpos, máquin as
-, mas, sim, a “agenciamentos complexos de indivíduos, 1 inconscient machinique
u (Paris: Editions recherches, 1979) p. 223. [Edição
rches, 1979), lição brasileira:
brasil O -
cas etc., que » ensaios de esquizoanálise, trad. de Constança Marcondes Cesar e Lucy Moreira César. nl
sociais e materiais, máquinas semióticas, matemáticas e científi Papirus, 1988].
dos 9 Pier Paolo
iaPasolini, Empirismo eretico (Milão:ilão: G: Garzanti, 1972), p. 65
6 “Trata-se de encontrar, nas leis que regemte,essaos outra cena [eine andere Schauplatz) que Freud, a propósitomate-
Sonhos, designa como sendo a do inconscien efeitos que se descobre m no nível da cadeia de elementos MI Ibid., p. 18
efeitos determinados pelo duplo jogo da comb inaç ãoção
e da substitui
"ialmente instáveis que constitui alinguagem:trad. bras. de Vera Ribeiro (Rio de Janeiro: ). Zahar, 1998), p. 696.
12 Ibid., pp. 42 e 47.
no significante. Jacques Lacan, Escritos, m, 2009), p. 178.
13 Hanna Arendt, A Condição Humana (Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2007), p. 243.
7 Jacques Ranciêre, Et tant pis pour les gens fatigues. Entretiens (Paris: Editións. Amsterda

MAURIZIO LAZZARATO
s6 SIGNOS, MÁQUINAS, SUBJETIVIDADES 57
forçadas a adotar uma “linguagem” de símbolos matemáticos (...) que de modo Modos de subjetivação, agenciamentos de semiotização e de enunciação
algum pode ser traduzida de volta numa linguagem”. Se “ajustamos nossas ati- de todos os tipos, tanto humanos quanto não humanos, coletivos ou indi-
tudes culturais ao atual status de realização científica, adotaremos com toda viduais, coexistem dentro dos processos biológicos, econômicos, estéticos,
seriedade um modo de vida no qual a fala não é mais significativa”, pois os científicos e sociais.
cientistas “se deslocam em um mundo em que a fala perdeu seu poder a A função criativa sofre o mesmo destino tanto no capitalismo quanto na
dei-
Arendt silenciosamente enuncia a meia-voz algo que seus comentadores teoria de Guattari. Linguagens enquanto tais não têm nenhum privilégio na
xaram de notar, a saber, que a relação próxima entre ação e fala, que ocorre criação. Ao contrário, seu funcionamento “pode até mesmo desacelerar ou
«sem o intermédio de coisas ou matéria”, pertence à “condição humana”, e proibir qualquer proliferação semiótica, e frequentemente cabe aos compo-
esta não tem sido nossa condição desde, no mínimo, a primeira revolução nentes não linguísticos catalisar mutações e determinar rupturas nas (...) sig-
industrial. me, nificações linguísticas dominantes”, servindo como vetores heterogêneos de
As análises de Pasolini, segundo as quais não é apenas nas ciências que a subjetivação. “Códigos genéticos, ao longo da história da vida, e dos sistemas
“linguagem perdeu o seu poder”, encontra rão uma continui dade e um apro- icônicos como a arte, ao longo da história da humanidade, têm sido no míni-
fundamento na obra de Guattari. Este último especifica a natureza e a fun- mo tão criativos (...) quanto os sistemas linguísticos”?
ção das “linguagens de infraestruturas” em sua mais importante contribuição Se considerarmos toda a realidade humana e não humana como “expres-
neste domínio: a semiótica a-significante. E E siva”, isto é, como fonte, emergência e detonador de processos de subjetivação
Para cartografar as “linguagens de infraestruturas e os modos de subjeti- e de enunciação, então a realidade está presente em nossas ações como um
,
vação/enunciação maquinocêntrica, devemos seguir O conselho deGuattari leque de possíveis, como “matéria disponível a opções”. A deliberação e as
“deixar a linguage m para trás” operando um duplo descentr amento: dissociar escolhas exercidas a partir da “economia de possíveis” não começam com o
de
a subjetividade do sujeito, do indivíduo e até mesmo do humano e parar homem, e não dependem exclusivamente de um “discurso significante pro-
considerar o poder da enunciação uma exclusividade do homem e de sua duzido entre falantes e ouvintes”. A história da evolução nos ensina que, se
subjetividade. a . a “liberdade” de escolhas possíveis existe em estágios antropológicos “mais
a existênci a do equivalen -
Guattari não vê nenhuma razão para recusar avançados”, elas devem estar pressupostas e serem encontradas igualmente
te de uma subjetividade - de um “não humano para-si Ipour soi]” (que ele nos níveis mais “elementares” do ser vivo e da matéria. Subjetividade, cria-
chama de protossubjetividade) e de um poder de enunciação (que ele chama ção e enunciação são os resultados de um agenciamento de fatores humanos,
de protoenunciação) - nos agenciamento vivos e materiais. Ele recusa con- não humanos e extra-humanos dos quais a semiótica cognitiva e significante
ceder à subjetividade humana um “estado existencial de exceção”. Ele pede, constitui apenas um componente.
antes, que consideremos que há outras forças além das forças da consciência, Guattari não é o único a abordar a subjetividade e a enunciação do “ponto
da sensibilidade e da linguagem do sujeito individuado, que podem funcionar de vista das próprias coisas” muito antes de pensá-las como sujeito, cons-
E
como vetores de subjetivação ou como focos de enunciação. ciência humana e representação. Podemos encontrar o mesmo tema, embo-
Guattari estende o poder autopoiético, o potencial de autoprodução a ra em termos muito diferentes, em Benjamin, Pasolini ou Klemperer. Mas
todas as máquinas. É um poder capaz de desenvolver suas próprias regras e bem antes de receber sua formulação teórica, as novas máquinas de produção
s
modos de expressão, aquilo que Francisco Varela reserva para as máquina industrial, do cinema e da arte revelaram a metamorfose do sujeito, do objeto
perten-
vivas. “[T]odos os sistemas maquínicos, não importa a que domínio e do seu modo de expressão.
çam - técnico, biológico, semiótico, lógico, abstrato — São, por si próprios, A invenção do cinema deu a ver uma realidade que se expressa sem passar
em ter-
suporte para os processos protossubjetivos, os quais gu Cosas pela representação ou mediação linguística. Não era mais necessário traçar
mos de subjetividade modular” ou “subjetividade parcial”!s signos e símbolos para mostrar um objeto, seres e relações. A realidade signi-
ficava a si mesma. Na arte, uma ruptura radical ocorreu no início do século
XX, quando o ready-made, seguindo o exemplo do cinema, foi significado
14 Ibid, pp. Ile 12.
15 Ibid., p. 15. ;
16 Félix Guattari, Cartographies schizoanalytiques (Paris: Galilée, 1989), p: 10. 17 Félix Guattari, Linconscient machinique, op.cit, p. 223.

58 SIGNOS, MÁQUINAS, SUBJETIVIDADES MAURIZIO LAZZARATO s9


do marxismo e do estruturalismo, pois a expressão e o conteúdo, em pres-
ou da linguagem. Os
por meio do próprio objeto e sem o auxílio do signo suposição IG; recíproca e reversibiIl lidade mútua, não mantêm uma relação cau
mas “apresentação”. Pp)
ready-mades não são propriamente representações, sal. À expressão não depende do conteúdo ( (marxismo) ) nem o conteúdo é o
Ê
produzidos em massa
O Porta-garrafas ou a Fonte de Duchamp são objetos produto
duto d: da expressão (estrutur: alismo linguístico). A subjetivid
— antes de serem produ- ad: e não é o
jetividad
por maquinismos industriais, por um novo poder simples resultado da expressão linguística ou
iamento maquínico que Bus comunica cional tampouco o
tos do homo faber, são fruto do poder de um agenc produto de conteúdos socioeconômicos profundos.
Abordando essa forma de
agencia signos, fluxos materiais e fluxos de trabalho. global, Através de um deslocamento metodológico fundamental, Guattari nos
e não qualificada,
produção capitalista, Marx evocou uma subjetividad solicita uma compreensão da relação sujeito/o
Guatta ri leva ao limite a dester- bjeto e da relação expressão,
jeito/obj
que se manifesta em qualquer objeto que seja. conteúdo de “pelo meio”, > para tornar manifest fi o e proble;
blematiza
fismo “marxista” e 1 r r a “instá
ti 2
ritorialização da subjetividade ao explodir o antropomor expressiva, > isto é, > a enunciação. ) Desse modo, d ele estabelec
b e a b base para
ara ui uma
seus modos de expressão. nova pragmática, uma nova teoria da enunciação, na qual, paradoxalmente,
a se “exprimir” (ou come-
Que objetos possam começar a “falar”, começar fonte da enunciação não é discursiva, mas existencial. '
primeiro livro do Capital)
çar a dançar, como fazem na célebre passagem do
uma prova da alienação do
não é uma manifestação do fetichismo do capital,
de expressão, que requer
homem, mas sim uma afirmação de um novo regime 2. Semiologias significantes
simples reversão da ati-
uma nova semiótica. Não se trata de uma questão de
se manifestando como anima ção do objeto — uma reversão
vidade do sujeito
irreversível que muda da
que deve se ter em mente — mas de um processo “No começo dos agenciamentos de enunciação, não encon-
da subjetividade humana
questão do sujeito para a questão da subjetividade, e as etc. De tramos nem verbo, nem sujeito, nem sistema, nem sinta-
sociais, estétic
para as protossubjetividades maquínicas, biológicas, xe... em vez disso, há componentes de semiotização de
seja do tipo que for, não é
qualquer maneira, o retorno a um “humanismo”, subjetivação, de conscientização, diagramatismos e maqui-
nem possível nem desejável.
e esquizofrenia nismos abstratos”
Guattari desdobrou o programa filosófico de Capitalismo o
ividade: deixar para trás Félix Guattari
no domínio da semiótica e da produção de subjet nem
des, que não são
dualismo sujeito/objeto rebatido sobre as multiplicida indis-
cultura num continuum
sujeito nem objetos, inscrevendo a natureza e a ru signo, em termos de sua expressividade, é o equi-
rias de expressão e con-
cernível. Desse ponto de vista, a obra sobre as catego al lente de outro signo; toda hierarquia entre os signos é
e começo dos anos
teúdo do linguista Louis Hjelmslev, do final dos anos 1960 são/ injusta e injustificável”
anto, o par expres
1970, se mostrou fundamental. Em Hijelmslev, entret
riana entre significante e
conteúdo permanece prisioneiro da oposição saussu
Pier Paolo Pasolini
se refere ao significante
significado, enquanto para Guattari à expressão não (um
que preexiste a ambos
ou à linguagem, mas à máquina semiótica coletiva A
por e
Eienitaismo reside, .
em sua articulação dos processos de sujeição
que englob a substâncias de expressão
agenciamento coletivo de enunciação al e idãc maquínica, como também no: s efeitos
vidão
). Do mesmo modo, o con- i de suas respectivas
humanas e não humanas diversas e heterogêneas is pr cânios e a-significantes. Ambos os dispositivos dese
na social que preexiste a ele
teúdo não se refere ao significado, mas à máqui im papel
papel furfundamenta
ental no controle dos processos de desterrito
que não podemos de modo i rialização 5
(um agenciamento maquínico de ação e paixão 4 reterritorialização capitalistas, pois eles capacitam o ajuste, a modificação,
a). A dupla articulação
algum reduzir às esferas econômica, social ou polític agem; esta
de expressão e conteúdo não é propriedade específica da lingu
representa apenas uma modalidade funcional dos
nicos, biológicos, sociais, estéticos etc.
estratos de realidade orgá- HA virada linguística
E um
na filosofia e nas ciências
in pm
nasciê sociais que se concentrou na
garicante, expressa através da “linguagem das infraestruturas” (economia, Ae E
e evitar os impasses relação inguagem
e formas devida, entre ética e enunciação, passa, assim, completamente desapercebida.
A concepção ampliada dessa dupla relação nos permit desap sda

SIGNOS, MÁQUINAS, SUBJETIVIDADES MAUNIZIO LAZZARATO 61


60
sos de dessubjetiva- 2.1. As funções políticas das semiologias de significação
a solicitação, o agenciamento e a estabilização de proces
semiologias significan-
ção e de subjetivação. A distinção fundamental entre A
de funcionamento Eau da atençãoá específica
ke '
dada às semióticas
tes e semióticas a-significantes tem a ver com os modos a-significantes e simbólicas,
diferen tes. Exami narem os separada- q capam à linguagem, Guattari nos deixou um quadro muito preciso EE
e o alcance sobre subjetividades muito
ver seu funci onamento real, o a linguagem funciona no capitalismo.
mente cada uma delas para, em seguida, descre
Ros e PR a E
de uma linguagem e de um sistema de significações
o que sempre implica semióticas mistas.
igualdade, de
Em vez de tornar a linguagem o lugar para a verificação da
Di pa pt a sobretudo, uma operação política antes de ser lin-
stação da publicida- uísti e
emântica. Certo tipo de lin, guagem e certos modos d
considerá-la implicitamente política porque é uma manife i
Guattari propõe “dei- tização
4 e subjetivação indivi
de da ação ou, até mesmo, torná-la uma força produtiva, ividuada são ã necessários ara estabilizarili o
Es
ica para além das social abalado
a
xar a linguagem para trás” e desenvolver uma teoria semiót
: desterrito
pela rritoriali
rializaçã
zação capitalista
itali — uma desterrito rializaçã
itoriali;E
torno e à partir de uma que
que mina as subjetividades anti igas, suas formas de vida tradicionai
semióticas humanas. No capitalismo organizado em EA
Pasolini), a lingua- instituiçõe
semiótica a-significante (as “língua de infraestrutura” de
! s. : A estabilizaç
b ãoção implica
impli a implantaç
i ão de uma a língua
lí pe nacional, i
do funcionamento de que L veicule suas leis e seus modo: ,
gem é apenas “um caso particular e nada privilegiado s de funciona
i mento de capitali
apitalismo inci- inci ,
pela fala significante quan- pu, aan Os aos dialetos, às línguas excepcionais, aos modos de
uma semiótica geral”, que deve ser responsável tanto
s, biológicos e sociais. Er E são infantis, patológicos” e artísticos. A língua nacional reduz tudo
to pelas máquinas de signos estéticos, técnico-científico
que não são medidas marginalidade ao levá-los “diante do tribunal” das sintaxes, semânti
Guattari distingue diferentes tipos de semióticas,
a-semióticas e pragmáticas dominantes.
ou hierarquizadas segundo a linguagem humana: codificações | TR
semiologias significan- Ene um lado, aconstitui
“naturais” (sistemas cristalinos e DNA, por exemplo), ção da troca linguístic a e de falantes individuados
De ituiçã i Ís
rituais,
antes, gestuais, E os é coextensiva à constituição da troca econômica, de seus agentes
tes, incluindo semiologias simbólicas (ou pré-signific
ogias de signif icação e,finalmente, i
orais e Ent contratos jurídicos,
jurídi com suas partes contratant
produtivas, corporais, musicais etc.), semiol É es; de outro
. Isto repres enta a mais impor- » ela igualmente é coextensiva às instâncias psíquicas do “eu” (id//
semióticas a-significantes (ou pós-significantes)
o do capita lismo e da pro- go) e do “outro”.
tante contribuição de Guattari para a compreensã ide
netos capitalistas recorrem a um tipo particular de máquina semió
dução de subjetividade.
é um estrato autô- ficante que, > sobreco
Nas codificações a-semióticas “naturais” a expressão não
nificante que, sobrecodificand. lo todas as outras semióti
i icas, permite i E
estrutura cristalina, apro
E E À E como a produção de subjetividade, Hi seja gerida,la
nomo em relação ao conteúdo. Em uma pedra, em uma
tal modo que expressão e Ê» aj a, controlada. Ao tomar o pod ler sobre semióticas
a “forma” é transmitida pelo próprio “material”, de óticas simbóli E
nciação entre um estrato as semióticas
E já de significaçãção funciona i m tai
conteúdo são inerentes um ao outro. Não há difere tanto como um equi q uivalente gelgeral ded. de
geral
zado em uma sin- = io aRsuão E vetor de subjetivação centrado sobre o indivíduo.
mineral, químico ou nuclear e um estrato semiótico organi
taxe autônoma. plo a obra de Guattari, , encontramos a comparaçãoà com as semióti- :
a se desenvolver com »cas simbólicas ! (pré-significant: es) talal como funcionam em sociedade
A separação, a autonomização da expressão começa il s arcaicas.
ela
i
” é transmitida através jo nos permite compreender a súbita mudança e a novidade do “imperialis-
a emergência da vida. Com plantas e animais, a “forma
as de reprodução de espé- mo E despotismo” que a linguagem representa.
de códigos que criam moléculas complexas e sistem
r da “substância”. nteso dsE o º ao itali: requer que as semióticas simbólicas (tanto
cies que começam a se tornar autônomas, a se separa
icantes e as semió- E C ituais, produtivas
p
Com o comportamento humano, as semiologias signif , corpóreas,
rpóreas, musica; musicais etc.) sejam
j hierarquiz
i i a-
códigos genéticos, RR toncicadas à linguagem. Pois, diferentemente desta última, elas “não
ticas a-significantes, a transmissão não mais depende de
gens, símbol os, diagra mas, gráficos, : Eros falante e um ouvinte”. “A fala já não desempenha papel prepon-
mas de aprendizados, memórias, lingua a
semiótica funcionando Elerante,
ê pois a mensagem o é transport ada nãoão viavi; cadeias
equações e assim por diante — em outras palavras, da á ias linguística
li s, » mas por
autôn omos. Nas semiologias io de corpos, sons, mimetismos, posturas e assim por diante?!” conto! as
partir de uma sintaxe e de estratos de expressão
naturais, a expressão e o con-
de significação, diferentemente das codificações
significação.
teúdo mantêm uma relação de interpretação, referência e 19 Félix Guattari, La Révolution moléculaire (Paris: Editions Recherches, 1977), p. 221.

SIGNOS, MÁQUINAS, SUBJETIVIDADES MAURIZIO LAZZARATO 63


62
e transindivi-
semióticas simbólicas são “transitórias, polivocais, animistas
tudo, de significações que permaneçam invariantes no tempo e no esj
a sujeito s indivi duados ou a pessoas permitindo uma traduzibilidade geral das semióticas em “padrão” lin,
duais”, elas não são facilmente atribuíveis ft E
(“eu”, “você”).
Determinar “valor” requer a instituição de uma língua nacional Rm BE
ual de fun- mente a comparação ea traduzibilidade interna das línguas em dialetos lo cais.
Em nossa sociedade capitalista há ainda esse modo transindivid
de expressão, como à Na realidade, palavras e frases não têm sentido exceto no interior di E
cionamento, mas ele está confinado a modos marginais
smente , como enunciação particular, em uma sintaxe específica e em uma situação ai nm
loucura, a infância, a criação artística e a criação pura e simple
lítica local. Todos os dias cada um de nós passa por uma EiEmiidade del lim.
também à paixão amorosa e política.
As semiologias simbólicas e a semiologia de significação não
podem ser guas heterogêneas: alíngua que falamos com nossas famílias, no trabalho, co)
As semiologias & amigos, com Deus, com nossos superiores e assim por diante. A lingua; dm
distinguidas pelos estratos de expressão que colocam em jogo.
de (“n”) de estratos eve funcionar como um equivalente dessas diferentes semióticas, cada Ea
simbólicas funcionam de acordo com uma multiplicida
corpóreas, musicais exprimindo relações de poder específicas e desejos locais e hetero; Ea
ou substâncias de expressão (gestuais, rituais, produtivas,
dois estratos Diferentemente dos agenciamentos territorializados das ES
etc.) enquanto semiologias de significação congregam apenas cai
(significante/significado). cas, o capitalismo deve estabelecer a homogeneização, uniformização ER
religio-
Nas sociedades arcaicas, estratos semióticos diferentes (artísticos, tralização de diferentes economias expressivas a e não ss da
entram em rela- língua, ícones, gestos, a linguagem das coisas (urbanismo,
sos, linguísticos, econômicos, corpóreos, musicais etc.) não aa ;
e diretamente ços etc.). Todas as semióticas devem ser compatíveis e devem se adaj E Ria
ção de dependência ou de hierarquização entre si. A fala interag
s, produtivas etc.) semióticas do capital, especialmente as que têm a ver com a força de
com outras formas de expressão (rituais, gestuais, musicai To.
Desde o seu nascimento, os indivíduos são investidos pela formataçãs :
em lugar de constituir uma modalidade mais elevada.
ica e sua auto- semiótica. A iniciação às semióticas é o primeiro “trabalho” a ser reali do.
Cada estrato de expressão conserva sua consistência específ
diferen tes não é realizada atra- Guattari compara isso com o trabalho de estagiários na indústria.
nomia. A traduzibilidade de estratos semióticos ER
que toma o poder sobre e aprende apenas a falar uma língua materna; la também
vés de uma formalização da expressão (o significante)
(tribo, comunida- rende os códigos para andar na rua, certo tipo de relaçã
outras semióticas, mas através de um agenciamento social
ncia signifi cante máquinas, eletricidade etc. (...) e esses diferentes
de) que, ao contrário, conjura a emergência de uma substâ na
quiza e subord ina aos códigos sociais de poder. Esse aspecto da troca generalizada entre semnió-
única, de uma síntese significante, de um sistema que hierar
capitalismo, essas ticas é essencial para a economia capitalista. (...) A iniciação ao capital imj lica
outras formas de expressão à linguagem. Enquanto que no
depen dem da lingua gem. antes de tudo essa iniciação semiótica a vários códigos de traduzibiidad c
formas não verbais de expressão
e por signos aos sistemas invariantes que lhes correspondem”?
“Os signos da sociedade podem ser interpretados integralment fina
portanto, o interpr etante da socie- A formatação semiótica não apenas produz conhecimento e informaçã
da língua, mas o contrário, não. A língua é,
oridad e da lingua gem como também atitudes, estereótipos de comportamento e submissão
dade”?º Desse modo, Êmile Benveniste conclui a superi pie.
a observa r: “Busco u- rarquias. Não devemos nunca dissociar “o trabalho de semiotização qu ' dá
sobre outros sistemas semióticos. O que leva Guattari
ogias linguís ticas dentro do desenvolvimento profissional, do trabalho de dia
se tornar as semióticas simbólicas dependentes das semiol é da -
de que elas não poderi am ser decifra das, entendidas ão dos trabalhadores” das relações de poder” O een
baseados na pretensão
prova? Não é
ou traduzidas sem recorrermos à linguagem. Mas o que isso superegóico” nos papéis profissionais, a aceitação — tão “ativa” quanto E
que os dois sível - da subordinação são tão importantes quanto obter “conhecime; E Po
porque pegamos um avião para ir dos Estados Unidos à Europa
aprender habilidades. Um não existe sem o outro; além disso, esse
continentes dependem da aviação”? out E s6,é
A com-
A troca generalizada não é unicamente parte da esfera econômica.
ativado uma vez que o primeiro estiver assegurado. j err
itam, antes de
paração, quantificação e troca de valores econômicos necess

20 Emile Benveniste, Problêmes de linguistique générale, 2 (Paris: Gallimard, 1974)p. 54. [Edição Brasileira: Problemas
de linguística geral 1, trad. de Eduardo Guimarães e. al, Campinas: Pontes Editores, 2006].
21 Félix Guattari, La Révolution Moléculaire, op. cit. p. 305.

64 SIGNOS, MÁQUINAS, SUBJETIVIDADES MAURIZIO LAZZARATO


65
de seleção das unidades significantes da língua, de acordo com uma ordem
2.2. Referência, significação, representação Enmdal e um eixo paradigmático de composição de frases e significação,
Ee lo as ordem semântica, de tal modo que o significado se torna “auto-
iantes e dé relações de equivalên-
O estabelecimento de significações invar mático”. , interseção desses dois eixos não constitui um modo de expressão
ticas, que servem de base para a
cia e traduzibilidade estáveis entre as semió universal, mas é antes uma verdadeira máqui
quina para estruturar, ci
uma máquina de signos formali-
produção de subjetividade, é realizado por e estabelecer sentidos. : ini
triângulo semiótico: “referên-
zada, coordenando o que Guattari chama de ão biunívoca Es Nas pena primitivas, “um símbolo interpreta outro que é ele próprio
sentação”. A denotação institui uma relaç
cia, significação, repre in erpretac lo por um terceiro e assim por diante, sem o processo terminar
encial), enquanto nas semióticas
entre o signo e a coisa designada (função refer puro significante final cujo sentido seria sedimentado, por exemplo, num
a, “insegura de si”. Em certas
simbólicas essa relação é flutuante, vaga, incert RE pré: e sem a sequência nos compelir a respeitar uma gramaticalidade
ento de ênfase (sotaque) é tudo o
“línguas não civilizadas” um mero deslocam E letermina regras rigorosas de concatenação sintagmática””
significado, mas a própria palavra.
que é necessário para mudar não apenas o E apenas com a instalação definitiva do capitalismo no século XIX que
dade e multirreferencialidade que
A expressão significante perde a polivocali “ea ni tendaiE imposta a “absoluta estabilidade do significado, sob a
de ter uma referência de maneira
possui nas semiologias simbólicas a fim e iferação das relações de designação (...)
«.) à fim de fundament : -
exclusiva e unívoca. ração de formas"? aa
a uma realidade que se
Ao unir o signo ao seu referente, a referência denot enquanto E No rn gramática e sintaxe funcionam como a polícia da língua.
torna a “única” e “incomparável” realidade, a realidade dominante, po
Um'ma regra de gramática é um marcado; r de pt poder, antes de se um marcador r
são múltiplas. Cada sistema semió-
nas sociedades primitivas as “realidades”
sta) expressa um mundo hete-
tico (religioso, social, mágico, animal, animi . a governo moderno do comportamento implica que as significações
ciamento social do grupo
rogêneo cuja composição é assegurada pelo agen o em mulher, operário, patrão), ao definir as funções e limites de nossas
alidade, a neutralização do
A redução da polivalência e da multirreferenci simbólica e o E se oe nossos papéis na divisão social do trabalho, estão solida-
ífico da semiótica
“heterogêneo, misto, vago, dissimétrico” espec e estabelecidos
e e deixam tão pouco esj paço quanto possível
f para a inter-
ializado encontram sua realização
primado do “puro”, do invariante e do espec pretação e a disputa. º O ane
iância da informação a ser trans-
na teoria matemática da informação. A invar Ê E o terceiro termo do triângulo semiótico - representação - o mundo
ação da linguagem elimina
mitida é precisamente a preocupação. A padroniz is univoca- ividido em mundo mental ou simbólico (um mundo de imagens, ícones
tanto quanto possível as intensidades e os afetos não assinaláve Erpretentativos, símbolos) e mundo “real, denotado”. O signo não se refere
denotação e significados estáveis,
mente, os quais, incapazes de garantir uma E pump à realidade, ele não é mais diretamente conectado a um referen-
ameaçam funcionar por conta própria. Ee) 4 'gora, para ser semioticamente eficiente, o signo deve passar através da
de racionalização e empo-
No “neocapitalismo” (Pasolini), esse processo me: aço da ordem simbólica por meio da máquina significante.
essivamente. O “princípio tecno-
brecimento da expressão se intensifica progr a a representação torna os signos “impotentes” na medida
de cientificidade mecânica, de
lógico de clareza, de exatidão na comunicação, Em que eles não agem direta e pragmaticamente sobre o “real”. Para serem
Para Pasolini, esses princípios
eficiência”? trabalha a linguagem por dentro. par formados, eles devem passar pela mediação da consciência, da repre:
adicionado a outros estratos
constituem um estrato que não é simplesmente estrato humanista
leito. 2 A comparaçãoã com as sociedades arcaicas : evidencia i
sentação e do sujeito.”
estrato latim, o
historicamente registrados na linguagem (o
na direção da eficiência “sinaléti- 25 ibid.
Félix Guattari, Linconscient machinique,
rim op. cit, p. 65.
etc.). O último estrato significante a evoluir raca
s, tornando-os homólogos aos o o Das Ra CRaENaS A Rios Ria im Langages, , vol. 8, nº 32, dezembro de 1973, p. 58.
ca” da ciência aplicada veio dominar os demai ta asa E pe E Eos Esquizofrenia, v. 2. trad. bras. de Ana Lúcia de Oliveira e
dução/consumo”.
fins e às necessidades das linguagens de “pro “sed Ea ami consciência “não pode ser atribuída pura e simplesmente à ordem da represen-
e multidimensionalidade
Na tentativa de neutralizar toda polivocalidade ps piscinio lution Moléculaie, op. cit. p. 323, Ela manifesta “a capacidade específica o gm
as significações são direta-
da expressão, reduzir toda vagueza e incerteza,
Es sd é E a o capacita a produzir signos sem propósito algum: não signos negativos, mas signos
o eixo sintagmático fe ie jop pos den por Es pa RR eigriicações têm “oa
mente codificadas pela máquina linguística que intersecta s: ssi es paraa criatividade, mas (. .) t it
cortado de todo acesso direto à realidade, um sujeito aprisionado no gueto ice TAPES Pra
24 Pier Paolo Pasolini, Empirismo eretico, op «it. p.52
MAURIZIO LAZZARATO 67
SIGNOS, MÁQUINAS, SUBJETIVIDADES
66
a separação efetuada no capitalismo entre produção e representação, entre em toda parte, mas não tem nenhum domínio que lhe seja próprio. Não há
o significante e o real. Para os “povos arcaicos”, fluxos de signos constituem linguagem em si. O que torna a linguagem humana específica é precisamente
uma realidade da mesma maneira que os fluxos materiais. Não há separação que ela nunca se refere a si mesma, que ela sempre se mantém aberta para
entre produção semiótica e produção material, pois os signos se constituem todos os outros modos de semiotização”*
no real ou vice-versa. O fechamento da língua sobre si mesma e a sua formalização são disposi-
“O primitivos são realistas, não místicos. O imaginário e o simbólico são tivos políticos, porque visam “a neutralização de componentes não linguísti-
reais. Não há outro mundo. Tudo se estende até tudo o mais. Não há sepa- cos” pois deve-se impedir “a possibilidade de deixar o sistema de intensidades
ração-ruptura. Os Bambara não imitam, metaforizam ou indexam. A sua fora de controle”? O confinamento das semióticas de significação dentro de
dança, a sua máscara são signos por inteiro, um signo total que é simulta- um mundo de “pura significância”, o que Guattari define como a “impotencia-
neamente representação e produção. (...) Eles não assistem à representação lização” do signo, é o que torna muito difícil, para o estruturalismo e a filoso-
de modo impotente. Eles são, em si mesmos, coletivamente, o espetáculo, o fia analítica, problematizar a pragmática e a “função existencial” da expressão.
espectador, a cena, o cão etc. Eles são transformados através da expressão. Em nossa sociedade, a expressão deve ser sempre realizada via denotações
(...) Isto é, um signo em contato com a realidade. Ou um signo tal que não há que estabelecem e reconhecem apenas uma realidade, a realidade dominante;
ruptura entre a realidade e o imaginário... mediado pela 'ordem” simbólica. através do sentido que biunivocamente estabelece a relação entre o signo e
Nenhuma ruptura entre gesto, fala, escrita, música, dança, guerra, homens, seu referente; através do mundo mental e impotencializado da representação
deuses, sexos etc”? que separa o signo do real. A expressão assim circunscrita e formalizada con-
Com o triângulo semiótico, tudo se torna lógico, formal. As significações tribui para a produção de uma nova subjetividade. Em sociedades arcaicas,
parecem ter sido secretadas de modo imanente através de estruturas sintáti- o referente das semióticas simbólicas é o grupo, o agenciamento coletivo, a
cas da própria língua. comunidade. Com as semiologias de significação, o referente é o sujeito indi-
As significações dominantes (identidade, sexo, profissão, nacionalidade viduado (e seu duplo, o sujeito transcendental), o sujeito esvaziado, retirado
etc.), das quais é difícil escapar (individualmente escapa-se através da lou- de si mesmo, cortado dos agenciamentos e conexões que o constituem, viven-
cura, da infância, do álcool, das drogas, da criação, da paixão amorosa ou do como autônomo, livre da origem de suas ações e enunciações.
coletivamente, através da ação política), são produzidas na interseção de um A individualização é estabelecida e enraizada na linguagem através do
duplo processo de formalização: da máquina linguística, que automatiza essas que Guattari chama de “personologização”. O poder normalizador da lin-
expressões, interpretações e respostas impostas pelo sistema, e da formação guagem reside na “edipianização linguística”, cujo objetivo “consiste em for-
de poderes que produzem significados. u ) malizar a subjetivação dos enunciados segundo uma codificação abstrata
“Suponhamos que eu venha à sala usando um vestido longo: em si isto não do tipo eu-você-ele, que “fornece aos falantes um sistema compartilhado de
significa nada; se estou fazendo isso para mostrar que sou um travesti, não há referências pessoais”.
problema; mas se, digamos, uma conferência do clero vestindo batinas está O sujeito da enunciação (uma subjetividade compósita de “carne e osso”, rica
acontecendo no local, então isso terá um sentido bastante diferente. Em um em multiplicidades semióticas, de modos de percepção e conhecimento), que
hospital psiquiátrico, poder-se-ia interpretar de forma ainda diferente: “Ele diz “eu”, se subtrai a si mesmo da dimensão global, vivida e existencial do
não está bem hoje - usando vestido novamente. Em outras palavras, para agenciamento, se fundindo, assim, com o sujeito do enunciado (“eu”), com
um homem, vestir uma saia significa uma coisa se a pessoa é um juiz ou um a forma linguística social que o precede e define. Ao se moldar ao sujeito
padre, outra coisa se ele é um lunático, e ainda outra se é um travesti. A signi- do enunciado (“eu”), o agenciamento coletivo da enunciação se submete à
ficação é inseparável da tomada de poder” máquina linguística individualizante, que sobrecodifica os sistemas semióti-
O estruturalismo confere unidade e autonomia às semióticas significantes cos e as diferentes modalidades expressivas de subjetividade de acordo com as
como se houvesse uma linguagem em si, capaz de secretar sentidos de acordo
com estruturas sintáticas profundas, significação; enquanto a “linguagem está 31 Félix Guattari, Linconscient machinique, op. cit. p. 24.
32 Ibid,, p. 70.
29 Félix Guattari, Écrits pour [Anti-CEdipe, ed. por Stéphane Nadaud (Paris: Lignes, 2004). 33 Félix Guattari, La Révolution Moléculaire, op. c ., P. 257. Guattari cita Problemas de linguística geral II, de Emile
30 Félix Guattari, La Révolution Moléculaire, op. cit, p. 308. Benveniste (Paris: Gallimard, 1974), p. 68.

es SIGNOS, MÁQUINAS, SUBJETIVIDADES MAURIZIO LAZZARATO (5)


oo.

das economias social e doméstica. O corpo nu, o corpo vergonhoso fechad:


m, a multiplicidade de semióticas,
modalidades do “triângulo semiótico”. Assi sobre si, como a língua, autônomo e independente, destacado da multiplicida-
as verdadeiras fontes da enunciação —
a pluralidade de focos de enunciação — de de agenciamentos que o constitui, é uma construção de nossas sociedad.
são todas reduzidas ao sujeito individual. industrializadas, que o tornam um corpo “natural”. Não é de modo algum ão
le) corresponde uma persono-
À personologização linguística (eu-você-e dente, segundo Guattari, que tenhamos “um corpo, só porque nos atribuído
é
rego e id). O poder normalizante
logização de instâncias psíquicas (ego, supe um corpo, porque um corpo é produzido para nós”. Outros agenciamento:
ante das semióticas significan-
da psicanálise converge com O poder normaliz coletivos de enunciação e ação “maquinam” outros corpos, outras maneii de
culpado.
tes na criação do indivíduo responsável e se comportar e outras relações com a comunidade. , E
pessoais (rela ciona is, afetivas, emotivas, de desejo, exis-
Intensidades infra O corpo arcaico, por exemplo, nunca é um corpo nu, ele é sempre um
homem, uma mulher, um cão, uma
tenciais, “quando você não sabe se é um subconjunto de um corpo social, atravessado pelas marcas do socius, pel:
sabe mais quem é quem, não sabe
planta ou algo qualquer, quando você não tatuagens, pelas iniciações, etc. Esse corpo não comporta órgãos jádivad *
intensidades extrapessoais (as inten-
mais quem está falando com quem”) e dos: ele próprio é atravessado pelas almas, pelos espiritos que pert Vão
actas, linguísticas, sociais etc.) são
sidades das máquinas econômicas comp conjunto dos agendamentos coletivos” ir mad
—personologização.
confinadas à dupla — linguística e psíquica Guattari parece ser tomado pelo mesmo “marxismo fanático” reivindicado
es arcaicas (“eu sou jaguar”)
As sínteses disjuntivas inclusivas das sociedad e poetas (“eu
por Pasolini quando ele sublinha a função política da linguística. A “máqui.
não são mais encontra das senão entre loucos, crianças, artistas na linguística” e suas teorias estão a serviço do direito, da moralidadeNido
ão linguística opera e impõe “disjun-
sou um outro”). A máquina de significaç etc.) que impedem
capital e da religião. Elas sistematizam, estruturam, ER ecal Ei n
você é uma mulher
ções exclusivas” (você é um homem, as formações de poder. A constituição de línguas nacionais sein Es
tivação; reconhece apenas identida-
devires, processos heterogêneos de subje al etc.) e por fun-
originadas em uma colonização interna de dialetos e modos defalar [Bei
criança, anim
des definidas por essas significações (homem, e o processo constitutivo do Estado-Nação são processos que se sustentam
ante etc.). A estrutura da máquina
ções especializadas (operário, patrão, estud inntuamente um ao outro. A unificação linguística é, sobretudo, uma unifi-
disjuntivas inclusivas, concen-
de significação moderna combate as sínteses ao reduzir o outro
cação política. É somente “com a instalação de uma quinteto [
de no homem
trando toda subjetividade e expressivida poder significante realmente adquire sua autonomia”? teto
(natureza, objetos, cosmos) a um objeto. Pasolini nos relembra que, por trás da pesquisa extensiva em linguística
não é apenas uma subjetivi-
A subjetividade das sociedades capitalistas do século XIX que construiu as condições semióticas do capitalismo, está
ao indivíduo, ela é também uma
dade autônoma e independente confinada Expansão e o colonialismo interno dos países europeus e a Espa] imj ,
interiorizadas” e compartimenta-
subjetividade fragmentada em “faculdades rialista e o colonialismo externo. Todo linguista na Europa industrializada é e
cada uma em oposição às demais
das (razão, entendimento, sentidos etc.), Efncentrava na “língua puramente oral” (uma categoria distinta da “língua”
vel e do inteligível, do real e do
de acordo com dualismos, como os do sensí eda fala ) e nos “puros falantes”, os que “pertenciam a um mundo Ee
imaginário, do pensamento e da extensão. iza- anterior ao deles (...) como os colonialistas com as pessoas de cor. É o inevit: a
um indivíduo não era organ
Nas sociedades arcaicas “o psiquismo de regis- vel Tacismo da burguesia”. Depois da Segunda Guerra Mundial, é bur, Fe
do em faculdades interioriz adas, mas estava conectado a uma gama de Europeias mudaram sua relação com esses “puros falantes”, denise deles
o com a vida social e o mundo
tros expressivos e práticos em contato diret 'como imigrantes, para baixar os salários na metrópole. Lille e Colônia, Paris
externo"* eLondres estão cheios de “falantes” italianos, gregos, espanhóis, Eelinds
alistas é dotado de um “corpo
O sujeito individuado das sociedades capit deve fazer parte
marroquinos, negros - que aumentam imensamente em número É cada ano
o envergonhado”, que
individuado”, de um “corpo nu”, um “corp Em relação a isso, Pasolini dá a Lévi-Strauss e à sua marca de estruturali ;
ênfase no papel das uma definição curiosa, chamando-o de “poeta dos baixos salários”** E”
o qualificando relações moraisteórico
34 “Personológico: um adjetivicações dentro da ordem subjetiva. À desta coloca em jogo
caracteriza os conceit os s da psicanálise. O Édipo
pessoas, identidades e identif dades, projeta o nível molecular dos investimento s sobre o 'teatro persono lógico”” N6 Félix Guattari e Suely Rolnilk,, Micropolíiítica, cart jo, (Petrópoli
Pessoas tiplficadas: reduz as intensi1980-1985, op. cit. p. 295. 7 Félix Guattari, Linconscient aaa E cit Es O
Felix Guattari, Les années d'hiver: Lúcia de Oliveiraé Lúcia Cláudia Leão
atas, Caosmos, um novo paradigma estético, trad. bras. de Ana 38 Pier Paolo Pasolini, Empirismo eretico (Milão: Garzanti, 1972), p. 60.
(São Paulo: Editora 34, 1992), p- 127
MAURIZIO LAZZARATO n
SIGNOS, MÁQUINAS, SUBJETIVIDADES
70
3. Semióticas a-significantes O conceito de máquina stricto sensu deve, portanto, ser expandido para o
todo funcional que o conecta não apenas com o homem, mas também com
icação estamos a multiplicidade de outros elementos materiais, semióticos, incorpóreos etc.
Enquanto que com a sujeição social e as semiologias de signif
duados edistintos, É completamente insuficiente conceber a máquina apenas em termos de
em um mundo molar habitado por sujeitos e objetos indivi
além da divisão técnica. A máquina é imediatamente um agenciamento material e semiótico,
a servidão maquínica e as semióticas significantes operam
| Da atual e virtual. Por um lado, antes de ser uma técnica, a máquina é diagra-
sujeito/objeto, signo/coisa, produção/representação.
, contabil ic a e mática, isto é, habitada por diagramas, planos e equações. Por outro lado, na
As semióticas a-significantes (cotações da bolsa, do câmbio
ador, a
corporativa, orçamentos nacionais, linguagens de comput máquina há dimensões “visíveis, sincrônicas” (o agenciamento dos componen-
m as semiót icas a-signi fican es tes, planos, equações), mas também há dimensões virtuais, diacrônicas, uma
funções científicas e equações, mas també
e Coin
música, da arte etc.) não ficam prisioneiras das significações vez que ela se situa na interseção de uma série de máquinas do passado e de
ir aee a
individuados que as carregam. Elas deslizam em vez de produz uma infinidade de máquinas por vir. A fábrica, por exemplo, é uma máquina
mais abstratEa na qual homens e máquinas técnicas nada mais são do que elementos, com-
ções ou representações. Elas envolvem modos de semiotização
s, das corpora ponentes. Ela se torna um agenciamento que os ultrapassa. As instituições
do que a linguagem. Manifestam-se nos domínios das ciência
de ações, das Sê públicas, a mídia, o Estado de bem-estar social etc. devem ser considerados
ções industriais, da indústria de serviços, do mercado
da sociedade — sem metáfora - máquinas, pois eles agenciam (maquinam) multiplicidades
nas militares, artísticas e comunicacionais em vez de no mundo
| =" (pessoas, procedimentos, semióticas, técnicas, regras etc.). A arte também é
civil, da representação política ou da democracia.
O “conceito de máquina” se mostra vantajoso para aanális
e das E uma máquina, um agenciamento cujos termos - o artista e a obra - podem
são do maqui nismo em ca E ser extraídos do agenciamento apenas pela abstração: “Não há um operador
cas a-significantes. Desde a extraordinária expan
ão”, como era o caso no: ou um material que é o objeto da operação, mas um agenciamento coletivo
aspecto da vida, isto é, não mais limitado à “produç
uia avanço u, que envolve o artista individualmente e seu público, e todas as instituições à
tempos de Marx, nenhuma teorização adequada sobre in
i. te sua volta — críticos, galerias, museus”.
exceto nas obras de alguns autores, entre os quais Guattar
as oposiç ões A distinção que Francisco Varela faz entre “máquinas alopoéticas”, que
Para entender o conceito de “máquina”, devemos abandonar
a penta
sujeito/objeto, natureza/cultura, pois é apenas desconsiderando produzem algo diferente de si mesmas, e máquinas autopoéticas, que geram
na faz parte da essê e determinam sua própria organização através de um “processo incessante de
que é possível separá-la da “natureza humana”. A máqui
cia do homem. Não se trata de um subcon junto da técnica; em vez de ser uma substituição de seus componentes”, reduz as máquinas tecnológicas a dispo-
ificação da técnica, a máquina é seu pré-requisito. sitivos instrumentais incapazes de autogeração. Isto só é verdade se separa-
ps ir além do Rd clássico baseado na ferramenta, que Porra a mos o homem, e sua natureza desconhecida, das máquinas, e de sua também
modelo é ainda fun a- desconhecida essência. Se, em contrapartida, consideramos o agenciamento
máquina uma extensão e projeção do ser vivo. Pois esse
um.órgão
do no modelo “humanista e abstrato” no qual a máquina serve como maquínico que elas constituem com os seres humanos, “elas constituem com
homem à máquina
ou uma prótese. O maquinismo de Guattari não opõe o os seres humanos, tornam-se autopoiéticas ipso facto”?
tuições Peas
para avaliar “as correspondências, os prolongamentos, as substi Para apreender o conjunto funcional homens-máquinas, devemos nos
car en e
veis ou impossíveis entre ambos”, mas sim para colocá-los a comuni livrar tanto da tese mecanicista da “unidade estrutural da máquina”, que a faz
com a máquin a, ou compõe peç:
si para mostrar como o homem compõe peça aparecer como um “objeto único”, quanto da tese vitalista da “unidade pessoal
coisa pode ser uma
com outra coisa para constituir uma máquina. A outra e específica do organismo vivo”, que o faz aparecer como um “sujeito único”,
ferramenta, ou mesmo um animal, ou outros homen s”?
41 Félix Guattari e Olivier Zahm, “Félix Guattari et Iart contemporain” in Chiméres nº 23, 1994, p. 50. Disponível
emi< http://wwwrevue-chimeres.fr/drupal. chimeres/files/23chi04.pdf>.
Deleuze se faz a partir do conceito de er- “máquina que Guattari
”?, que elaborou nos 42 Félix Guattari, Caosmose, op. cit. p. 52. “Diz-se que as máquinas não se reproduzem, ou que só se reproduzem
Seuo no e Esoo deixa de reconhecimensama contribu
s que comode vitaBadu,a mudança ição original de Guatai por intermédio do homem, mas 'haverá alguém que possa pretender que o trevo vermelho não tem sistema de
ata seu trabalho junto com Deleuze perde política ente importante que o conceito Teprodução só porque o zangão, e somente o zangão, deve servir de intermediário para que ele possa reproduzir-se?
a, l O zangão faz parte do sistema reprodutivo do trevo”, assim como o homem á parte do sistema reprodutivo da má-
ina introduz. Orlandi (São Paulo: Editora 34, 2010), p. 508.
4 Gts Deleuze 'e Félix Guattari, O anti-Édip o, trad. bras. de Luiz quina. Gilles Deleuze e Félix Guattari, O anti-Édipo, op. cit., p. 375.

SIGNOS, MÁQUINAS, SUBJETIVIDADES MAURIZIO LAZZARATO 73


72
licidade.” Uma vez ºmáqui
el raça Éna a E El
agir de forma diagramática sobre os dispositivos técnicos
ao passo que o sujeito tanto quanto o objeto são multip
ecidas as multiplici-
desfeita a unidade estrutural e vitalista, uma vez reconh
sões e conteú dos que constituem tanto o f Com as semióticas a-significantes, não estamos mais no regime pré-sig-
dades de elementos, funções, expres
de indife rença do microfísico e do nificante de expressão polívoca das sociedades primitivas, que E
homem quanto a máquina, um “Jomínio
na máqui na quanto máqui- transversalizam as semióticas de dança, canção, fala eEsta por diante, fm
biológico, que faz com que haja tanto seres vivos
estamos no regime significante em que o signo remete a outro ER or
nas no ser vivo”
cia que a relação meio da representação, da consciência e do sujeito. Semióticas
Psicólogos do trabalho começaram a admitir com relutân encantos
mental, mas antes remetem a agenciamentos em que o homem, a linguagem e a consciência não
entre o homem e a máquina não é primordialmente instru
feixes de forças, que gozam mais de nenhuma prioridade.
afetiva, que o objeto é “animado”, que é constituído de
“ Com as semióticas a-significantes, “nós até saímos do registro semiótico”.
trabalhar significa exercitar uma atividade sobre essas forças.
como Heideg ger, para Guattar i, a máquina Estritamente falando, não é mais uma questão de signo, pois a distinção entre
Diferentemente de um pensador
cia diante de nós. Ao contrário, o ojsigno (jo referente tal como mantida pela linguística tende a perder toda
não nos afasta do Ser, ela não vela sua existên
, tida como um de seus compo- relevância. Na física teórica, “[n]inguém exige hoje uma prova positiva d:
agenciamento maquínico e a máquina técnica
gicas são sempre maquín i- existência de uma partícula contanto que ela possa ser vista Ennio fun do
nentes, são “produtores de Ser”. As mutações ontoló
“homem” que,
cas, Elas nunca são o simples resultado das ações e escolhas do
sem contradição com a totalidade da semiótica teórica. Somente do
humanos, técnicos efeito experimental extrínseco levar o sistema semiótico para deita dao E
deixando o agenciamento, é separado dos elementos não
ção. Feio] então a questão da existência da partícula retrospectivamente se colo.
ou incorpóreos que o constituem — como uma pura abstra
o entre human os e não humanos dentro do ca”. Entre o signo e o referente, um novo tipo de relação se estabelece.
A recorrência e comunicaçã
e, não se deve , Guattari distingue entre os signos impotencializados da semiolo, ia de
agenciamento, sua extraordinária criatividade e produtividad
gem não é suficientemente desterri- significação, que devem sua eficiência semiótica à sua passagemER
primordialmente à linguagem. A lingua E
s maquínicos capi- representação e da consciência, e os “signos de poder”, “pontos-si nos d E
torializada para preencher essa função nos agenciamento
ões maquín icas, a barreira semióticas a-significantes, que agem sobre fluxos materiais. “Signosde oder”
talistas. Ela ainda é “humana” demais. Nas servid
ões sociais, é con- ou pontos-signos” têm uma longa história, pois a arte e a religião foram as
ontológica entre sujeito e objeto, estabelecida pelas sujeiç
por causa das
tinuamente atravessada, mas não por causa da língua e, sim,
primeiras aproduzi-los: “A invocação do xamânico ou a escrita-signo do geo-
mante são em si mesmos signos diretos de poder. Eles marcam a im Gs ão
semióticas a-significantes.
de significações,
Guattari faz a distinção “entre as semiologias produtoras
para a natureza desses signos de poder”* od
torno da máqui-
(...) como a enunciação “humana! de gente que trabalha em
: É fácil ver a diferença entre esses signos ao examinarmos como eles fun-
que, indep enden temen te da quanti- cionam namais importante instituição do capitalismo: o dinheiro. O dinheiro
na, e (...) as semióticas a-significantes,
figuras de expres são que se é um signo impotencializado quando funciona como valor de troca, meio de
dade de significações que veiculam, manipulam à
e planos que enunciam pagamento ou, em outras palavras, como uma simples mediação Gr equi
poderia qualificar de “não humanas”; são equações
valentes. Nesse caso, ele nada mais faz do que representar poder a iio oo
trata sé ao estabelecer uma relação biunivoca entre signos monetários e uiiá dada
43 “O que nos engana é considerarmos todacadamáquina complicada como um objeto único. Nasuarealidade,
espécie. Vemos
em que membro é procriado diretame nte segundo
de uma cidade ou uma sociedade um nome é a individua lizamos; olhamos para nossos próprios membros
na máquina como um todo, lhe damos ação reprodutora” Ibid.,
é Pensamos que sua combinação forma um indivíduo que saiu de um único centro de A6 Félix Guatari, ' Caosmose, » OP. Cit, pp. 48-49.
pp. 375-376. 47 Félix Guattari, La Révolution Moléculai il poa.
44 Ibid, p. 377. os objetos, ele visa à dinâmica que anima os objetos. O 48 Ibid.,p. 324. dd
45 “O trabalho não concerne primeira e principalmentepretende outras forças. Ele não está diretamente 4.0 dinhero, obviamente, tem outras funçõese que se tornam caras
trabalho é uma relação de forças: a ação (..) No trabalho, nãoorientar
de forças que semiticos no nível simbólico, o dinheiro faniona como uma sujeiçãoatravésimaginária
das interações com outros sistema
490 i
um lado o sujeito e do outro O objeto. do
de poder to manipula não apenas segundo códigos de stats social; mas também de acordoindividuo. Sua aquis 3
devir.
preocupado com possessão, mas com adaptar há de
Pare teibalhar, os sentidos devem se e ela precede a consciência e “minaobjeto.
ao jogo de forças que anima o (.) No trabalho, uma relação com dae
uma separação clara entra sujeto € economia monetária “interage constantemente com as codifcações significantes da linguagem,
pré-relexiva com os objetos é manifesta et social, quelle place pour Tactivité? ” in La Santé mentale en actes DEespecialmente
soetas! ISTatravés Dode sistemas legais órios” Félix Guattari, La Révolution moléculaire (Paris: Éditions
regulatórios”.
Eojeto” Philippe Davezies, “Entre psyohique
(Toulouse; ERES, 2005), p. 123.

SIGNOS, MÁQUINAS, SUBJETIVIDADES MAURIZIO LAZZARATO 75


74
a Em vez de dada de antemão, a existência constitui as próprias balizas dos agen-
contrapartida, os signosde poder
quantidade de bens e serviços. Em co:ea
mo créd se ito. Eles ciamentos teórico-experimentais em física, artístico-experimentais e político-
i eiroi c 'omo capital, i do dinh inheeiro
i
sam a açãoã do dinh na expl oraç ã E -experimentais nesses outros domínios.
representam nada, não valealentes, exceto
têm equiequiv
ão têm ta ex
Guattari chama as operações das semióticas a-significante de “diagramáti-
e. Eles são a de poder porque,
ge trabalho, da natureza e da sociedad i m e mol d
dam quer iacoisa.
quaiq quer cas” O diagrama é uma semiótica e uma modalidade de escrita que preenche
E esentar algo, el les antecipa c i m, cria as condições de signos de poder. O conceito é tomado da classificação de
em vez de repr de poss ivel F
ótica de uma economia
Signos de poder constituem a semi ã anaPor um DES
lado, C
eles sãe signos de Peirce, para quem as semióticas diagramáticas englobam imagens
i s têmê uma dupl Ja modalida i de de ação. e diagramas (também chamados “ícones de relação”). Guattari classifica as
Pontos-signo le DdenotaçãD o e signi
mo se á as funç ões
capazes de operar semio!iotiticamente,
mes imagens por meio da semiótica simbólica, e faz dos diagramas uma categoria
dire! En
i arem. E, por out tro lado,
á deterior : eles são0 capazes de 1 e à parte, cujas funções são operacionais, pois elas têm a capacidade de repro-
ficação ific aç
quais as funções de denotação e sign
te E processos materiais nos . ) duzir com grande exatidão “as articulações funcionais de um sistema”. As
gere funções diagramáticas fazem inscrições que são operacionais antes de serem
colapsam. microchip, em que
ção direta é o do
Õ exemplo mais simples de interven representativas. Signos diagramáticos, ao agirem no lugar das próprias coisas,
sobre os componentes Pi
os fluxos de signo afluem diretamente em E E produzem redundância maquínica em vez de redundância significante.
ferro são a
polaridades de partículas de óxido de r e equi pado ) Em um quadro teórico diferente, Bruno Latour mostrou a capacidade dos
i quando as faix éti cas passàam atravésé s deu!imD
i as mag! néti
leito
diagramas de romperem o que Guattari chama de “cortina de ferro ontológi-
rios sign os no i
utador apro pria do. Os ca”, separando palavras e coisas, sujeitos e objetos. Diferentemente da lingua-
à repre: sentação
T tação, çº e Ssign ifica-
ep outpiut da máquina,i sem pa: ssar pela deno do uma gem, o diagrama opera uma traduzibilidade maquínica e não significante dos
dando ordens e produzin
ção. ni de signo mobilizam fluxos reais, e fenômenos ao reduzir a matéria a opções: “Modelando a situação, o diagrama
KR .
mudança nas condições. permite imaginar novos cenários”, novas possibilidades de ação e criação.”
de estacionamento) e enreda E
As não expressiva (de meu cartão 'esc s' maquín
isar r 'escolha qu i- “Diagrama” também é o nome que Foucault dá ao Panóptico, uma
tamente nos flux iai s e se torna capaz de catalisa
os materiai “máquina” ou “maquinaria” que “automatiza e desindividualiza o poder”.**
ndo mudanças de estado ala pes E
cas, tais como feedback, acarreta tacicion
i ame nto des adeia “Dissimetria, desequilíbrio, diferença” não são assegurados por pessoas,
i na minh
ica iinscrita i a autoriza ção de esta
izaçã
i : ramática
diag um esta do de “fora mas, antes, por máquinas das quais os indivíduos são componentes.” Para
o pc atnÁad da canc ela de entrada: ela me permite ir de Ext entender como os diagramas e as semióticas a-significantes funcionam, um
« post F |
ara um estado de “dentro”. sign os penca que elemento fundamental está faltando. Independentemente do tipo de agen-
mais geral , nos
y Mas pensemos, de uma maneira com--
es ciamento (econômico, social, atômico, químico, estético etc.), a expressão
de produçãoâ , ou EEE a i
agem diretamente asobre os fluxos eo conteúdo são continuamente sujeitos a processos de desterritorialização
uinas técn
a as máqáqui écni . Ao
cas.
icas Ao agirem sobre a c que as semióticas a-significantes e as máquinas permitem captar e controlar,
i au outros independder
unsun! s aos en-na
represen
s dtação, i s se agenciam
ã as coisi as e OS 5] igno assim como produzir.
enunciaç
mente dos “controles” subj etivos que agentes individuados de j
s2 eia 53 “Na superficie de um papel nós combinamos fontes muito diversas, misturadas por intermédio de uma linguagem
reivindi' cam ter sobre eles. e ági o
de poder” não epa gráfica homogênea”, isto é, “pelo diagrama” Bruno Latour, A Esperança de Pandora: Ensaios sobre a realidade dos
As funções semióticas dos “signos a am E ne estudos científicos, trad. bras. de Gilson de Sousa (Bauru: Edusc, 1999), p. 83. Latour conclui, muito apressadamente,
já constituída, eE
referem a uma realidade “doma inante”es E que “jamais fomos modernos”. Isso é verdadeiro apenas em termos
da servidão maquínica. Quanto à sujeição social,
exist e,&, U
umai reallidad
idad e que À e: E itorizalização capitalista continuamente se reter-
duzem uma real i
idad e que ain: da não ritorializa sobre “o homem” e o “individualismo” do sujeito, do indivíduo, do homo ceconomicus etc. que, sistemati-
matéria a opçõ e camente falhando, retrocede ao “coletivismo”, ao nacionalismo, racismo, fascismo, nazismo, maquinismo, exploração
o possíveis ao criar
virtualmente presente, multiplicand de classe etc. Ao negligenciar a conexão entre servidão e sujeição, Latour incorre em grandes riscos políticos, pois se
ados pode trans- torna incapaz de dar conta do ponto final dramático para ondeo capitalismo tende sistematicamente. Dizer que “ja-
á a ação dos domin vação
poder qustiv
é na o ce ll2 o ion em um proc es de subji mais fomos modernos” é o erro simetricamente oposto daqueles que enxergam apenas a sujeição (Ranciêre, Badiou).
54 O Panóptico “é o diagrama de um mecanismo de poder reduzido à sua forma ideal (...: ele é, na realidade, uma
300 queee chama de aquisitivo. No proces so de auto valo riza dos
ção domin ados, ese “ts figura de tecnologia política que pode e deve ser separada de qualquer uso específico”. Michel Foucault, Vigiar e
dor a produçãoe reprodução.
nto independente de sua própri punir, trad. bras. de Raquel Ramalhete (Petrópolis: Editora Vozes, 1997), p. 170.
aa pedais do que o autoposicioname
op. cit, p. 208. 55 Ibid,, p. 167.
Si Pele Guatiar, Cartographies schizo analytiques,
p.
op. cit. 282.
52 Félix Guattari, La Révolution Moléculaire,
MAURIZIO LAZZARATO 77
SIGNOS, MÁQUINAS, SUBJETIVIDADES
76
z áfi 4 a Er As semióticas a-significantes e as máquinas (econômicas, científicas etc.)
4 proje tos, gráfi cos, dispos itivos , máqu inas
Os diagramas (como equações, i
itiza
bili l r proce ssos de de d des- que elas fazem funcionar, se agenciam com a subjetividade e a consciência.
etc.) c.) vt vêm acele1 rar ou d desacelerar, 1 , de destruir ou estab
e de comp reen der. Sem Mas não se trata unicamente, nem principalmente, de uma questão de cons-
territorializaç ização ão ql que a ling ngua uageg m tem dificuldad d ução ciência reflexiva ou de subjetividade humana. Acima de tudo, elas mobilizam
gr: amáti át cos, » sem S a simu”! ação e a pré- prod
as máqu inas e e osos sign!
quinas signos di diagr
o de fenô meno s e relações não humanas subjetividades parciais e modulares, consciências não reflexivas e modos de
que eles permitem, > sem a apreensã enunciação que não se
quadro de desterritorialização originam no sujeito individuado. Guattari sempre uti-
por sistemas semióticos a-significantes, nosso liza o mesmo exemplo da direção de um carro para descrever como asubjeti-
seria ria “e “extremamente nt míop e limie tado
m vidade e a consciência
Através de semió ticas a-sig nific antes, as máquinas “falam”, “se expressa funcionam nos agenciamentos maquínicos.
máqu inas € com fenô meno s Quando dirigimos um carro, ativamos uma subjetividade e uma multipli-
e se se “a “comunicam c: ” com o homem, ; com outras s- cidade de consciências parciais conectadas aos mecanismos tecnológicos do
poder”, as máququinas inas 1! tera
intera gé gem co a m
expre
reais”.
eais”,is”. Atrav és dé dos “signo
Através
Através ignos s dede de p: poder”,
s e quím icos de de matérériaia, , d dos estratos carro. Não há um sujeito individuado que diz “você deve apertar esse botão,
são e o cont eúdo dos estrat
nteús ratos
os atôm icos
d do universo. Assi m como ' as apertar esse pedal”. Se sabemos dirigir, agimos sem pensar sobre isso, sem
bioló ológi cos dodo s: ser vivo e de dos estratos cósmicos
gicos icos engajar a consciência reflexiva, sem falar ou representar o que se faz. Somos
biológicos, químicos, econômicos e estét
máqui áquinas,nas, estrat os s atômi
estrato atômicos, biol
iadororeses e e agé agentes de de d discu rsivi d:
da- guiados pelo agenciamento maquínico do carro. Nossas ações e componentes
são, » portanto, nto, Pp “produt “produtivos de e S er”, Ser”, enuncnciad
esses subjetivos (memória, atenção, percepção etc.) são “automatizados” e se com-
de “parc ial”. Máqu
parci: áquininas as e e semió semióiticas a-signi! fi icantes são capazes d de “ver
rá-los , , orden ordená-los
de á-los e transcre ê: vê-loos, que põem com os dispositivos mecânicos, hidráulicos, eletrônicos etc., e como
estra rato: tos, “ouvi-los los”, “cheir eirá-lo s” s”,, regist
á-los” rá-los
regist
agem huma human na.a. Infinfi itame nte pequ enos Os componentes mecânicos (não humanos), constituem partes do agencia-
é impo: impossível 1 Pp para os senti idedos e a linguagem
s, os estra tos escapam aos nossos siste- mento. Dirigir um veículo mobiliza processos diferentes de conscientização,
e grandes, infin itame nte rápid os e lento
' um sucedendo ao outro, sobrepondo-se ao outro, conectando-se ou desco-
mas de percepção e linguagem. nectando-se de acordo com os eventos. Frequentemente, quando dirigimos,
operam da mesma maneira
As semióticas a-significantes e as máquinas
tividade
subjetivid ade h human humanaa,, habit habit habifadsado por Pp semióticas entramos em um “estado de devaneio diurno”, sob fundo de uma “pseudo-
com m o mund ul od pré-v ei b al da a subje
é-ver
dad: s, -sonolência”, “que permite que vários sistemas de consciência funcionem em
não ão vé verbais, afetos fetos, , tempo rali ades, > intensidades, » movimentos, > velocidade
temporalid
eu ou a um sujeito individuado e, paralelo, alguns como luzes de navegação, enquanto outras mudam para o
relações impessoais e não atribuíveis a um primeiro plano”?
linguagem.
desse modo, dificilmente apreensíveis pela O pensamento e a consciência do sujeito individuado entram em jogo
o maqumaqui inocnocên ênt trico, a ação sobre bi o rea re q! uer artificiali-
Em um u mundndo quando há um obstáculo, perturbação ou qualquer “acontecimento”, Então o
artifi cialid
icial idadeade cad: cada vez maisàb:strata. Oh omem sem máquinas,
ade, uma
dade, uma artif sujeito, a consciência e a representação são utilizados a fim de modificar as
sem sem equaç s, sem
equaçõeões, sem semi
$ ótica a-sig ig nifi cante
s em disposi tivos, sem diagr
pt tivos, diag) amas, mas,
dos, de d compr eende r de e intervir relações de feedback entre os componentes humanos e não humanos do auto-
seria a “afásico”, o incapazde e “fe “falar” esses mundos, móvel “máquina”, para restabelecer os mecanismos automáticos e as opera-
zaçãoão. Em um mund u o maquinocên cê!
trico , para
nos processos de desterritotoria rialilizaç
po com as máquq inas e as semió ticas ig-
a-sig- ções maquínicas.
falar,
lar, ver, cheirar ee agir,
ver, cheirar agir, faz fazemos corpo
a-significantes constituem focos É desnecessário dizer que é na organização do trabalho que experimenta-
inte É nesse sentido que as semióticas mos pela primeira vez o duplo processamento da subjetividade (dessubjetiva-
vet de sul
es ore ssubjetivação. º
de enunc iação
enunc iação e e vetor ção e subjetivação, funcionamento automático e ações de sujeitos individuados,
das máqu inas e dos sistemas
A força do capitalismo reside na exploração do ded rotina e inovação). Mas Guattari sugere que no capitalismo atual esta é a manei-
ugam fun des ções de de expr expreessãssão o e) e funçõ
funç õe: es di e conteúdo
emiótic
semió ticos que conj onjuga:
microfísic os e cósmi cos, mater iais ra pelo qual todos os dispositivos e instituições operam.
todos os tipos, humanos e não humanos, Enquanto a formalização de significante e significado permite apenas um
e incorpóreos. sujeito, uma consciência, uma realidade e uma existência, a servidão maquíni-
ca assimila uma multiplicidade de modos de subjetivação, uma multiplicidade
estática, mas trata-sereal,de quesignos que funcionam para
56 “Quando: você esa escreve uma função “x = função de.. elado parece
tempo e do movimento tentam dar conta disso”
compreender um série de process os que são da ordem 57 Félix Guattari, Cartographies schizoanalytiques, op. cit. p. 33.
Felix Guattari, Chimêres nº23, 1994,p- 11.

SIGNOS, MÁQUINAS, SUBJETIVIDADES MAURIZIO LAZZARATO 79


78
des esquemas sensórios-motores do homem, sobre os quais a percepção do som
de estados de consciência, uma multiplicidade de inconscientes, de realida
cos. ' se baseia, são neutralizados. A voz, a fala e o som são desterritorializados,
e modos de existência, de linguagens e sistemas semióti
RE pois eles perdem todo tipo de relação com um corpo, um lugar, uma situação
Se, como nas teorias de Badiou e Rancitre, não se encontra traço
s, ou um território.*
“máquinas”, servidão maquínica, semióticas a-significantes ediagramática
Ee Antes de sair, faço uma ligação telefônica. Em que tempo e espaço a con-
você pode estar certo de que, por mais interessante que essas teorias
ser, elas não têm nada de relevante a dizer sobre a natureza do capitalismo a
versação se dá? Uma vez fora de casa, retiro dinheiro de um caixa eletrônico
cas a-signifi- que me dá ordens (digite sua senha, retire o cartão, retire o dinheiro!). Se eu
maneira bastante simples, porque sem “máquinas” e sem semióti
Há, de fato, relações 5 and cometo um engano, a máquina se recusa a entregar o dinheiro e retém o meu
cantes, sem diagramas, não há capitalismo.
de dominaç ão, E e o cartão. Para pegar o metrô, tenho que me submeter a ordens de outro autô-
poder e sujeições, mas elas não são as relações
a partilh a o sensível o mato, a máquina de bilhetes, que substitui o vazio deixado pelos humanos
próprias do capitalismo. Ainda mais preocupante:
“sujeito” e a “subjetivação política”, sem oagenciamento a e a nos guichês do metrô.
umanas, eq E Se não tive tempo de ler o jornal na internet, compro a edição impressa
operações moleculares e microfísicas, sem suas dimensões não
ne E e experimento uma “fala” e, em particular, uma fala política, que, diferen-
vale a um idealismo do “sujeito” e a uma política tão “pura” quanto
di na e temente da teoria de Arendt, não se expressa através da voz, mas através de
Meus amigos do capitalismo cognitivo apresentam um conjunto
m ter retorna do aos limites antrop omór cos “objetos e da matéria”; em outras palavras, uma fala que, a exemplo do caso
de insuficiências, pois eles parece
- do rádio, não é mais logocêntrica e, sim, maquinocêntrica.*
de um certo marxismo. O trabalho cognitivo se caracterizaria pela incorpo
Se tenho um problema de desemprego, ou com o meu cheque de segu-
ração da “ferramenta pelo cérebro”, uma maneira de º homem se RE
da ro-desemprego, entro em contato com um call center que me pede a cada
do conhecimento das máquinas (uma expropriação implausível e inverti
momento para pressionar 1, 2 ou 3. A mesma coisa acontece quando marco
um compromisso em uma companhia elétrica, aderindo a um serviço de
pa Se: Ed não é, como no modelo inspirado pela ferramenta, ma pe
ser reduzid internet, obtendo informação sobre minha conta bancária e assim por diante.
tese ou um órgão, então a relaçãohumanos-máquinas não pode
Tenho que resolver coisas por conta própria e até perco tempo com isso, já
nem a uma incorporação, nem a uma exteriorização. As relações Dn
, le que é impossível encontrar um ser humano dentro dessas redes. Além disso,
quinas são sempre da ordem de um acoplamento, de um agenciamento
geraçõe s de ativistasitalian os crescer am
uma conexão, de uma captura. Várias 58 A rádiodifusão não fornece “a orientação, os limites e a estrutura do espaço” da
lendo os Grundrisse de Marx, cujo título na tradução italiana
éFrammento relações entre intensidades sonoras. O rádio “utiliza fragmentos de som menos comoenunciação, mas apenas as.
qualidades sens
as lacionadas à um objeto do que como uma série ilimitada de modos e forças passivas e ativas de afeto”. “O som
sulle macchine [“Fragmento sobre as máquinas”). Porém, hoje, as máquin carrega forças elementares (intensidades, afinação, intervalos, ritmo e tempo), que têm mais impacto direto sobre
esaparecido da teoria crítica. as pessoas do que os significados das palavras - esta é a fundação da arte radiofônica.”
a modulador do audível” in Chimêres nº53, 2004, pp. 51-52. Disponível em: <http://wwwsergeSerge Cardinal, “O rádio,
cardinal.ca/pdffla-
Eereseri eia havia apenas o lado de dentro da fábrica mê dio-modulateur-de-laudible.pdf>, Na última passagem, Cardinal está citando Rudolf Arnheim,
concentração e uma intensidade incomparavelmente menor que
as as empre- Sound (Massachusetts: Ayer Company Publishers, 1986), pp. 28-29. A fala, ao lado da televisão e dosRadio: An Art of
computadores,
cor está sempre sendo “maquinada”.
sas de hoje) e, do lado de fora, algum grande dispositivo mecânico, 59 Os oradores políticos gregos faziam um “discurso preparado para um
disposi tivos estão em toda parte, e em particul ar espaço nunca excedente àquele que a voz humana pudesse ouvir” diante deperíodo um
de tempo muito breve, em um
número
estradas de ferro. Hoje, esses
n era mentaneamente retirado de todas as outras influências prevalecentes” um discurso escrito limitado de pessoas “mo-
pelo orador nesse mesmo
as vidas cotidianas, exceto na teoria crítica. espírito. “O jornal é preparado para uma audiência muito maior, embora dispersa, uma audiência feita de indivíduos
dou uma impulsã o que e] que, enquanto leem seu artigo, permanecem sujeitos a todos os tipos de distração, ouvindo o zumbido de conver-
Gal Enio pela manhã e, ao acender o abajur, sações em torno deles, entre amigos ou num café, ideias contrárias às do autor” Leitores,
do através de uma in! E
a rede. Se seguirmos os fluxos de eletricidade, passan
como ouvintes de rádio,
nunca veem 0 escritor/falante nem seus gestos, movimentos do corpo ou expressões faciais e, diferentemente do
a lo rádio, eles não ouvem sua voz ou entonação. Apenas com a sua fala, o orador afeta sua audiência.
dade de redes, rastrearemos o caminho completo até a usina nuclear. vários artigos são necessários para atingiro mesmo resultado, pois um “artigo não é senão elo em Porumaoutro lado,
faço o café da manhã, coloco máquinas para trabalhar (o E
a gel o artigos, vindo em geral de múltiplos escritores que compõem a redação” O jornal não podeum expressar cadeia de
um conjunto
de ideias coerentes, com uma exposição harmoniosa de argumentos, como acontece a retórica do orador.
ra etc.), as quais, dependendo do caso, nos liberam do trabal o lomés
sunto do jornal é composto de diversos tópicos que são dados todas as manhãs com com os acontecimentos
“O as-
do dia ou do
ou aumentam nossa produtividade. Ainda semidesperto,ligo 9 rádio,
que dia anterior. É como se, no meio de uma das arengas de Demóstenes contra Filipo, mensageiros se aproximassem
maquín icas. As id cada instante para dar-lhe as mais recentes notícias, e como se a história e a interpretação de todas essas informaçõesa
submete a fala e a voz a profund as transfo rmações devesse formar o conteúdo do seu discurso” Gabriel Tarde, Les transformations du pouvoir (Paris: Les Empécheurs.
sões espacio-temporais costumeiras do mundo sonoro são suspensas. Os de penser en rond, 2003), pp. 256-258.

SIGNOS, MÁQUINAS, SUBJETIVIDADES MAURIZIO LAZZARATO 8


so
ou instituição, tempo que Rae e cones maduras para pór fim aos modos de representação
o tempo que eu perco é tempo ganho pela empresa nanist familiealista
umanista, personológigico, bem como aos modos de subjetivaçã
eu coloquei gratuitamente à disposição delas. !
nacionalist a, E racista e classista 5 obre os quaisi o capital se territoriali
a um satélite ou envio Nos cos
Faço uma ligação de meu telefone celular conectado sujeitosO individuados se alienam. . ÀA suspeita
a e pela inteligência i suscitada
Io pela filosofia
Dinianalíti s
um SMS. Pego um táxi guiado por uma voz não human ea psicanálise
canái têm a ver com o seu apel na estabilizaçã
em seguida, à direita” etc. oà da
de um GPS - “a trezentos metros vire à esquerda, ritoria
desterritor alista aoa( fornecere
ializaçãção capitalista
itali
um amigo brasi- : egorias e metodolog
m categori ias
i spara
À tarde encomendo livros on-line, falo pelo Skype com
spa

ntes redes de informação os a de dearção operada através da servidão Esquláico do
leiro e respondo aos meus e-mails; conecto difere duo, « pessoa e do “ego”, Nesse contexto, , àa li linguagem funciona
» da
tânea do meu computador. i com.
políticas, culturais etc. Envio uma mensagem instan E Se E Es
mai Em a radiaçãoà semiótica
é feito para poupar ióti responsável pela fabricação de umE
No supermercado, luto com o caixa automático que individuad
À o, êadaptado às significaçõ
de um funcionário geral- ções dominante
i s que lhe atribtbuem
tempo, enquanto eu faço, gratuitamente, O trabalho
ç

uma passagem aérea ou um papel, uma identidade e uma função dentro da divisão social do trabalho.
mente empregado por tempo parcial. Se eu compro
mais relutante que esteja,
de trem online, evito ir à estação, mas devo, por
produtividade da empresa
realizar “trabalho” não remunerado que aumenta à
é filtrada através das ima-
ferroviária ou aérea. Minha percepção do mundo
por dia em média), filmes, internet
gens da televisão (três horas e 30 minutos
ou distri buída por algum tipo
etc. A música que ouvimos, 99,9% é gravada
os e devoluções” não
de máquina. Mesmo na biblioteca local, os “empréstim huma-
por máquinas. Os
são mais manipulados por seres humanos e, sim,
garantir que esses
nos são levados a lidar com os colapsos do sistema para s do
mesmos seres human os funcionem corretamente enquanto componente
agenciamento.
problemáticas, indiferen-
Poderíamos continuar a lista de nossas relações
tem” diariamente mesmo
tes ou agradáveis com as máquinas que nos “assis
conte mporâneo, certamente
nos menores atos do dia a dia. No capitalismo
mica, social e polí-
não somos confrontados a um modelo de produção econô
à teoria do capitalismo
tica do “homem pelo homem”, como parece sustentar de um
maquínico que,
cognitivo. Somos confrontados com um imenso filo
do logocentrismo.
modo ou de outro, nos afeta e nos arrasta para além
totalmente outra do
Devemos enfrentar um desafio de uma envergadura
ecimento”, do trabalho
que pensar a centralidade ou a hegemonia do “conh
ar as forças humanas
cognitivo ou da “partilha do sensível” Devemos libert
indust rial aprisi onou no trabalho,
e não humanas que a primeira revolução
subjetividade “ori-
na linguagem e na vida, e fazê-lo não para encontrar uma nos apo-
de sua produção,
ginal”, mas para abrir e ativar outros processos
agem e da vida como
derando da desterritorialização do trabalho, da lingu nas
ri tem pelas máqui
uma oportunidade. O interesse particular que Guatta
elas oferecem para
e semióticas a-significantes decorre da possibilidade que
ivação baseados no tra-
a ação coletiva de ir além dos modos de vida e subjet
a-significantes e pro-
balho, na linguagem e na vida (biopolítica). Semióticas
artísticos e revolucionários
cessos de desterritorialização técnicos, científicos,

SIGNOS, MÁQUINAS, SUBJETIVIDADES MAURIZIO LAZZARATO es


E)
AS SEMIÓTICAS MISTAS
fo Nao MOR

“Um fato subjetivo é sempre engendrado por um agenci


mento de níveis semióticos heterogêneos
Félix Guattari

Embora possamos distinguir diferentes semióticas para as necessidades da


análise, os modos de expre: são sempre o resultado de “semióticas mis-
tas”, que são ao mesmo tempo significantes, simbólicas e a-significantes.
Descreveremos aqui o funcionamento da Bolsa de Valores (mercado de ações),
do cinema, da subjetividade infantil e da organização do setor de serviços
na esfera do trabalho, todos considerados como agenciamentos semióticos
mistos - em todos esses casos, as semióticas linguísticas, cognitivas e comu-
nicacionais nem sempre desempenham o papel principal. Levar em conta
a diversidade das semióticas mistas altera profundamente a apreensão da
enunciação, pois essas semióticas - e não apenas a linguagem - constituem
matérias de expres: focos de subjetivação. Através da análise desses dife-
rentes casos, será possível perceber o descentramento ocorrido, do sujeito
individuado à subjetivação, operado pelos maquinismos capitalistas e pela
teoria de Guattari.

1, A subjetividade maquínica do operador financeiro

Uma versão caricata, contudo eficaz, do “sujeito” é dada pelo homo ceco-
nomicus: o homem capaz de exercer controle soberano e racional sobre suas
escolhas e ações. O operador financeiro representa o paradigma mais acabado
dessa figura, embora a sua subjetividade nada tenha de soberana ou racional.
As finanças são um excelente exemplo das semióticas diagramáticas, nas
quais signos funcionam em lugar dos “objetos” aos quais se referem. Os flu-
xos de signo que circulam de um computador a outro em tempo real consti-
tuem uma realidade que é tão objetiva quanto os próprios fluxos materiais;
eles intervêm no sistema que fixa os preços das ações e agem diretamente
sobre a economia “real” e sobre a subjetividade.
Na sala de operações do mercado financeiro há apenas diagramas, ape-
nas curvas traçadas por uma rede mundial de computadores que indicam
os movimentos de alta e de baixa dos preços dos ativos. Várias semióticas
já são mobilizadas aqui: “signos impotencializados”, limitados a representar

RATO
o histórico dos preços, mas também “signos de poder”, “signos-partículas”, 1.1.0 comportamento mimético
“pontos-signos” que simulam, antecipam, fazem com que os preços acon- Ali y ane
teçam - em suma, esses são os signos diagramáticos que transformam o pp Pa e autonomiaà do sujeito econômico individual são
“real”. De forma diferente da função referencial, não há aqui uma realidade, la minas as por outras forças que o influenciam, fazend
o-o agir e decidir
mas uma multiplicidade de realidades heterogêneas: a realidade da economia sem necessariamente acessar sua consciência.
“real”, a realidade das previsões sobre a economia, assim como a realidade das eERRO de subjetividade € quais semióticas são
mobilizadas por esses
cotações já efetuadas. A referência da Bolsa, ou “mercado de ações”, não se po ntos de ao deter minados por diagra
im s. ?
mas, computadores e
refere a uma única realidade. a a a
a
ap
. sais
as subjetividades transitivas,
E
transindivi-
A subjetividade “humana” do operador de finanças encontra focos de pro- Do das crio f ióticas simbólicas, 2 como aquela
q! s dos povosOvos arcaici os, dos lou-

toenunciação tanto nos diferenciais de preços (mais altos e mais baixos) dos
ativos quanto nos diferenciais de produtividade da economia “real” calcula- EPara riconta do comportamento subjet jetirivo envolvido na determinação
dos pelas máquinas. Esses diferenciais representam nós de protossubjetiva- Ee Er ços dos ativos financeiros, a teoria da convenção
e a teoria do capita-
CR
ção nos quais a subjetividade (ou melhor, os componentes de subjetividade Pressupóem o comportamento mimético dos agentes. A
inter-
- entendimento, memória, atenção, percepção etc.) vem se acoplar e se agen- Ee ade, a linguagem e a comunicação, implicadas na relação
mimética,
ciar com a protossubjetividade maquínica. E E a o antes de suplantar o individualismo do homo cecon
omi
Diagramas, curvas e dados “falam”, “se exprimem” e “comunicam”, pois, ao h s, fundad“o sobre
) a h racionAalidad
aa e ea soberaCa nia.
i Infelii zment e, O compor- E
tornarem os mais diversos fluxos de informação (traduzibilidade maquínica)
amento mimético é irredutível à intersubjetividade linguís
tica, co; A
visíveis, comparáveis e manipuláveis, eles forçosamente contribuem para a comunicacional.
POE
E Sem compartilhar minimamente da teoria filosóf
tomada de decisões e para a fixação de preços. Os diagramas fornecem os limia- ica que sustenta esta con-
res de protossubjetividade, por assim dizer, a partir dos quais a subjetividade 5 pção do comportamento financeiro como um compo
rtamento mimético,
Ele:Emos enfatizar
humana determina suas escolhas. Com cada limiar cruzado para a tomada de i gue, para o seu criado
i r, René Girard, a emulação mimé- ;
decisão, para expressar uma avaliação e indicar um preço, a subjetividade não o hsEEnne Jo, a emulação do desejo. Não se imitam
modos de ser, não se
imtEma tam ideias ou aa “base cognit
tem outra escolha senão a de depender das máquinas, sistemas de escrita a-sig- g iva” do “outro”
ro”; ; imi
qutro im ta- o desejo
seJo. ' mi e
. Se aa mimes
nificante e informação codificada e produzida por instrumentos matemáticos. plica a emulação do desejo, sua constituição e disseminação
/circulação não
A enunciação seria completamente diferente sem esses modos a-semi
ticos de escrita e sem as máquinas. Nas condições atuais de desterritorializa- Àminvenç
ercado ãoHojede computa
onrPudores
tador
cadaes
vez mais7 poderosos mudou a maneira pela qual 0s investidores interagem no
ção e de acúmulo fenomenal de informação a ser processada, a enunciação
seria, na verdade, simplesmente impossível. Curvas, diagramas e máquinas
são componentes indispensáveis da enunciação, dos pontos “não humanos”
de subjetivação parcial.
Dizer que os signos (máquinas, objetos, diagramas etc.) constituem focos pputadore
utador s digitalizam dezenas de negócios a fimfim ddee detect det ctar as tendências do mercado;
de protoenunciação e protossubjetividade significa dizer que eles sugerem, Da idade E ju deixando par rs o investidor tradicional muito mais lero. Eles em ar Pe : den hi a
capacitam, solicitam, instigam, encorajam, impedem certas ações, pensamen- preço msimo que um compr ine (o preço
iu Pputadores compram todas açõesacima do qual ele não comprará
disponíveis antes que o compraumadordaação).ida Assim que esse preço,
tos, afetos, enquanto promovem outros. Máquinas, objetos e signos fazem mais qto ando os à um preço mas cevado sgeralmen te ao preço mais elevado
real tenha tempode
unido lim cespst à exigênci mávima velocidade, pequenos sistemas possível iso é um centavo abaixos
que influenciar certas ações, pensamentos ou afetos; através das semióticas VW secam com a sua a de dealgumas dezenas para transações automatizad tm
de trabalha dores instalado s em escritórios baratos longe de
a-significantes, as máquinas se comunicam diretamente com outras máquinas, Sc Alguns des es sistemas se tomaram concorrência formidável para o mercado de ações tadiciona
e 2009, a Balsa de Nova York cobria penas 28% das transações e mercado nos Estados
produzindo efeitos diagramáticos frequentemente imprevisíveis sobre o real. ue E pr mea RA as pessoas não conhece, a BAT'S Exchange, em KansasUnidos ea Nasdem
de 2010 (a queda repentina em 10% nos preços, que em apenas Pein fds, em Jersey Cy Nova Jersy são competi ndo para se tornarem a terceira
City, gas
10 “acidente” que abalou Wall Street em maio
- em 14 segundos ações mudaram de mãos 27 mil
poucos segundos fez desaparecer como fumaça bilhões de dólares computadores. VW Sa Re pd 2 do ecado, dependendo de como se mede Vos Eudes maior Bolsa nove americana
es ge” a conqube de
vezes) teve origem nas máquinas de comunicação de dadose nos À transformação dos operadores de Homifartcle/2005/09/02/es-geeks- Ia-conquete-de wall strest TES 484 Pon
protagonistas para espectadores se deve à revolução tecnológica e estrutural do mercado de ações norte-americano. a

SIGNOS, MÁQUINAS, SUBJETIVIDADES MAURIZIO LAZZARATO


86 87
ticos quotes maior parte, escapam à sua consciência. Estamos muito
o, linguagem ou cognição,
podem, entretanto, ser explicadas pela comunicaçã longe do individualismo e da racionalidade do homo ceconomicus, e estamos
comunicacionais, informacio-
pois os afetos minam precisamente Os modelos igualmente longe do “capitalismo cognitivo”.
nais, linguísticos e cognitivos. pois
a — longe disso,
A “racionalidade mimética” não é cognitivo-linguístic
enunciativa falante/ouvinte. “O afeto adere à
o afeto suspende a dicotomia 1.2. A reconstrução do sujeito
enunciador quanto à subjetivi-
subjetividade”, mas tanto à subjetividade do
Guattari sugere, compreen-
dade daquele a quem se dirige. Espinosa, como Nesse contexto, as semiologias significantes, os discursos e as atividades cog-
“(do fato de concebermos
deu perfeitamente esse traço transitivo do afeto: Edtivas preenchem uma função específica: controlar a desterritorialização e a
qualquer emoção, somos nós
que uma coisa como nós mesmos é afetada por possubietivação que as semiologias simbólicas e as semióticas diagramáticas
O afeto é, assim, essencial-
mesmos afetados com uma emoção do tipo” (. .).
da circunscrição de identi-
mente uma categoria pré-pessoal, instalada “antes' relação à O) sujeito individual, sua soberania e seu comportamento racional, ani-
ilocalizáveis em
dades, e manifesta por transferências ilocalizáveis; quilados pelo funcionamento real do mercado de ações, deve literalmente ser
sua origem e também em relação ao seu destino”? reconstruído e refabricado por semiologias significantes, pela comunicação
outras palavras,
O afeto permanece “vago, atmosférico”, diz Guattari. Em e.pela cognição. O discurso dos economistas, da mídia, dos experts e juízes”
tas, como nos modelos lin-
ele não é fundado em sistemas de oposições distin cria a crença de que é, de fato, o sujeito individual que age e que deve, por
nto, bastante redutor explicar
guístico, comunicacional ou cognitivo. É, porta isso, ser remunerado. Através das semióticas de significação são ERA
nalidade linguística, comunica-
o comportamento mimético pela via da racio as histórias, a informação, os comentários e os discursos que constrôem e legi-
decrescentes e crescentes da
tiva ou cognitiva. Em algum lugar há tendências timam a função e o papel desses “sujeitos individuados” (os operadores finan-
dades animistas. A comuni-
mesma maneira como o “mana” circula nas socie ceiros) diante da opinião pública.
não através da cognição.
cação mimética ocorre através de contágio e As semiologias significantes não podem ser reduzidas à “ideologia”.
dade”, a subjetivi-
Quando se trata de escolher, decidir e exercitar a “liber Narrativas e discursos que falam do homo ceconomicus, da liberdade Es
à semiótica significante
dade humana do operador financeiro, a linguagem, empreendedor, do poder de autorregulação dos mercados e assim por diante
nas, mas, em vez disso,
e o poder cognitivo não se erguem acima das máqui não têm função superestrutural, pois são signos-máquinas que produzem uma
com a semiótica simbólica
agem com as máquinas, com os signos de poder, mercadoria específica e fundamental: o sujeito individuado. A “força ideoló-
e signos de poder, tanto quanto
e os afetos, como uma peça única. Máquinas gica” das semiologias significantes não reside no fato de que ela nos impede de
decisão do indivíduo, de suas
a “liberdade”, são constitutivos da tomada de pensar ou da mera manipulação que ela exerce (embora possa fazer ambas as
escolhas e de seu para-si. “subjeti- Coisas), mas, antes, em sua habilidade de efetuar uma mutação na subjetivi-
itavelmente uma
A subjetividade do operador financeiro é indub dade. Osritornelos do neoliberalismo (seja produtivo, seja um empreendedor
ser determinado por meio do
vidade maquínica”, cujo funcionamento só pode s de dados, de si, fique rico etc.) estão lá exatamente para empreender essa mutação. Eles
matemáticos, banco
todo funcional homens-máquinas. Sistemas não escondem a realidade de nós; em vez disso, nos dotam de uma ação
ônicas etc. são parte da
redes de computadores interconectados, redes telef
lobbies, partidos políticos,
subjetividade do financista. Através dele, grupos, 3 Podemos recordar,
recordar, por exemplo,o julgamento
jul à operador da S:
de Jérôme Kerviel,
agem e se exprimem. Sua do como a “ni part clpada pela perda des bes de eo pe pags ci qi
interessados em economia e escolas de pensamento st em Pode. o bato, falar?, Gayatri Chakravorty Spivak advoga por um retorno às “teorias da
como de leis, de regras que
enunciação depende da ação mimética, assim 2 surpreendente em muitos aspectos, pois consegue atingir um i ú i
liberem tudo, tal como o Estado dose interpretações errôncas da obra de Dele uze/Guattari jeede Foucault. Pa Uma afirm i pr i
permitam, ou não, certas operações, ou que que ao acaso entre tantasa outras, noso deixa envergonhados por quema escreveu: r Ha “Na conversa
Coe GSE entre Foucault e Dis Del
de um sujeito racional
vem fazendo nos últimos quarenta anos. Em vez ão é que não há nenhuma representaçãação, nenhum significante
parece que a questão igri (deve-se, assim, Idi presumi
omicus é um mero terminal Melanie qiddo? Não tão, nenhum estrutura de go acionando a espert Rota
controla informação e escolhas, o homo cecon deixar 2)”. Gayatri Chakravorty Spivak, Pode o subalterno falar, ;
, e de constituintes não
de semiótica a-significante, simbólica e significante Goulart Almeida, ! Marcos Pereira Feitosa e André PereiraPeria FeiFeitosa, (Belo Horizonte:te: EtaEditoraUEMG
UFMG, 201)
2014 poda,
Segundo aeitora francesa que o publicou, o ensaio representa “um verdadeiro acontecimento editorial” im e
existentils” in Chimêres nº 7, 1987. Disponível em: <http://wwvnevue-
Félix Guattar, “Ritournelles et affect 3.pdf>. mistério que se possa gerar um debate em torno dessa miscelânea de “estupidez” k E
chimeres.fr/drupal. chimeres/files/07chiO
MAURIZIO LAZZARATO eo
SIGNOS, MÁQUINAS, SUBJETIVIDADES
es
com o tempo, com o espaço e com os outros, fazendo com que ane haver significação, linguagem e narrativa. Essa questão tem
implicações polí-
em qualquer lugar do mundo, desde que nossa subjetividade seja E ticas importantes, pois é a mesma subjetividade pré-individu
al que está em
pela desterritorialização capitalista e devolvida na forma do empree: b jogo nas servidões maquínicas capitalistas que exploram os
afetos, os ritmos,
do indivíduo bem sucedido, do competidor e assim por diante. os movimentos, as durações, as intensidades e as semióticas
a-significantes.

2. As semióticas mistas do “humano” 2.1. O selfemergente e a semiótica a-significante

Antes da aquisição da linguagem, as crianças constroem ativamente


formas de
“Essa oposição - de um lado desejo-pulsão, desejo-desor- perceber, de comunicar e de experimentar a si mesmas e o mundo
através de
dem, desejo-morte, desejo-agressão e, de outro, intera- uma semiotização não verbal muito rica e diferenciada. A obra
de Stern enfa-
ção simbólica, me parece um referencial completamente tiza o caráter trans-subjetivo das primeiras experiências
] do lactente, quando
reacionário” ele ainda é incapaz de dissociar o sentimento de si do sentimento
Félix Guattari do outro.
Stern distingue três “sentidos de si” [senses of self] (o sentido
do si emer-
gente, do si nuclear e do si intersubjetivo) que precedem o “sentid
o de si ver-
bal”. O “sentido de si” não significa, nos três primeiros
casos, um “conceito
Nos últimos anos de sua vida, Guattari frequentemente fazia referência o de”, um “conhecimento de” ou uma “consciência de”, uma vez
que essas expe-
livro O mundo interpessoal do bebê*, de Daniel Stern, afim de traçar Ee Fai riências não passam pela linguagem, pela consciência ou pela
representação.
tografia dos componentes semióticos, afetivos e nino a Segundo Guattari, os diferentes sentidos de si, anteriores
pe e val, ao sentido lin-
para a produção de subjetividade. Na obra de Stern, a subjetiva guístico de si, não são absolutamente etapas na acepção
freudiana, mas, sim,
expressa através de semióticas simbólicas a-significan tes, = a a Fans “níveis de subjetivação”, focos e vetores de subjetivação não verbais
sa e E que se
relação problemática com a “máquina social linguística. egun: manifestam ao longo da vida em paralelo com a fala e a consciê
ncia. Os três
essa subjetividade pré-individual, que está na raiz de todos os po EE Primeiros sentidos de si são expressos através de semióticas
mistas, a-signi-
jetivação, é encoberta e sistematicamente ignorada pela teoria ling ficantes e simbólicas.
Entre o nascimento do lactente e os dois primeiros meses
de de vida, ele
Dera rei a unidade do sujeito ao enumerar à multiplicidade experimenta a “gênese” de uma ligação interpessoal emergen
2 te, a gênese do
“sis” e de semióticas, de relações e de afetos, especialmente pré-verbais, e que Stern chama de “sentido de si emergente” Há três maneiras
principais
constituem. A abordagem se mostra particularmente esclarecedora quanpa E pelas quais o lactente experimenta isso: percepção amodal,
o afetos categoriais
tenta apreender a dimensão existencial eautorreferencial, que está Eaa » e afetos de vitalidade. O lactente tem uma grande habilidade para
selecio-
da teoria da subjetividade de Guattari. Longe de passar unicamente at ad nar e organizar traços gerais e abstratos de tudo o que
acontece com ele.
linguagem, da cognição ou da comunicação, a relação asi presa a a Intensidades, figuras abstratas, ritmos e movimentos são
traços comuns a
posicionamento que é existencial, pático ouafetivo, antes « e ser lingu Eco cada modalidade sensorial, e o lactente pode facilmente identificar
tudo isso
cognitivo. A mutação subjetiva não éprimordialmente discursiva, Ee q a e, a partir daí, transpô-los de um sentido para outro: como,
por exemplo, da
toca o foco da não discursividade (existencial) que está no coração e jE visão para o tato, ou do tato para a audição.
tividade. É partindo dessa dimensão existencial que ocorre a Rs ne Os traços abstratos e amodais do que ocorre são apreendidos
pera através de
uma processualidade, uma tomada deconsistência dá subjetivi a: A processos oriundos de dois afetos diferente: ategoriais, que expressam raiva,
a partir desse núcleo a-significante, inominável e incomunicável que pt surpresa, alegria, tristeza etc., e afetos de vitalidade, que express
am mudanças
DD
199) [Edição brasilia: O mundo
5 DanilN. Ste, The Interpersonal World of te Infant (London: Karnakdo Books, trad. de Mari
1.0 termo "senses ofsel”, utilizado por Stern, é traduzido aqui como “sentido de Na tradução
interpessoal do bebê: uma visão a partir da psicanálise e da psicologia desenvolvimento, dl Stern, *senses” é comumentemente traduzido por “senso enquanto “self” varia, em algumas brasileira da obra
Veríssimo Veronese. Porto Alegre: Artes Médicas, 1992]. para os sentidos pré-verbais) e “si” (para o sentido pós-verbal). (N.T.) versões, entre eu"

90 SIGNOS, MÁQUINAS, SUBJETIVIDADES MAURIZIO LAZZARATO


9
maneira de sentir. EE desu E E
Segundo º período Í que abrange de dois a seis meses de idade é
de estados mentais e limiares de intensidade na própria pe, o exclusivo e intensamente social na vida do lactente
cos, ciné-
Afetos de vitalidade podem ser expressos através de “termos dinâmi E ; o SE dirigidas aos outros, olhar mútuo
(o sorriso
ndo” “decrescendo,
ticos, tais como “surgir, 'esvaecer, fugaz, *explosivo; cresce EO ensenti o e si i subjetivo
etc.).!!
assim como à subjeti ocorre quando o lactente descobre
*estourando; estendido! e assim por diante"? Dança e música, Rs a o outros
a que tem uma
Stern, realidades Ra a têm, e que experiências, conteúdos, afetos e
duração de imagens videocinematográficas, são, segundo postes são « mpartilháveis
sentir”. hávei (ou não compartilhávei:
-omp: ilháveis) e podem
que melhor capturam essas intensidades ou “maneiras de pode
Eos sem po avras, pois a linguagem ainda se encontra indisponível.
ser comuni-
E i
Esse mundo global e subjeti vo, no qual ainda não há uma divisão entre O si e o
no qual a comuni- fo não sá e Ea entidades nucleares com certa presença física,
sujeito e objeto, no qual eu e outros são indiscerníveis e Eantinuidade; e 5 eles são entidades comE estados Ei
ação,
ua sendo” segund o Stern e Guattari, o “subjeti
cação ocorre por contágio, “é, e contin reed
i
jetivos e internos”.
: ”.
opera fora da a E com a experiência subjetiva dos outros e com.
“domínio fundamental da subjetividade humana”. Esse mundo 1 's afetos sem o uso das palavras?
existencial” (Guattari) as? Como Guattari e Si
consciência e representa a “matriz” (Stern) ou o “foco (ou
e Espinosa)
Í
formas percebidas, os) Poderia
poderia im afirmar, 0 fazemo: s atravésé da subjetividade
de experiências a partir das quais “surgem pensamentos, jetivi
eo transi-
instânc ia, é o reser-
atos identificáveis, sentimentos verbalizados. Em última quesEntre as iades
i
mergulhar”* Toda de nove e doze meses, o lactente é capaz de dividir seus
vatório definitivo no qual toda experiência criativa pode o: pa
sentido de si emer- a] E conjunta”, “intenções” e “estados afe-
aprendizagem e todos os atos criativos dependem desse E
durante o período Osa À
italidade 1
(dinâmica inética) e os afetos categoriais
e cinéti
gente. “Esse domínio de experiência permanece ativo ei E e remo constituem o material compartilhável,
de eu”, assim
de formação de cada um dos domínios subsequentes do senso “e E e ma, estrutura comum” de significação e de modos
que a a
o.
como durante processos posteriores de aprendizagem e criaçã Es er "Vi e al” (gesto, postura, expressões
de comuni.
na infânci a, ou através da faciais, expressão vocal etc.).!2 2
Temos acesso a esses modos de semiotização
õ

os de consciê ncia, mas ro Ertasecenteri como “a substância e o modo predominantes


psicose, do uso de drogas e de certos estados alterad cap
das
das paixões políti- ao fa] mãe entre outros — afetos acoplados a gestos,
também por meio da criação artística, da paixão amorosa, rd
postura,
através da filosof ia? E Vocalizações - são as “origens mais imediatas” das
cas, das crises existenciais e, até mesmo, discursivamente, sro Res ís a para a emergência e aquisição da
condi.
linguagem.” Como
qe e no Ro desse universo protossocial, para sempre pré
semióticas k q É ransmitidos os traços famili ares, étni.
22. O sentido de “si nuclear”, o sentido de “si subjetivo” e as mos, de inconsciente cultural”!
étnii i É
simbólicas a

ao outro) constitui a
O sentido de “eu nuclear” (o si oposto ao outro e o si junto 2.3, O sentido de “si verbal” e a semiótica significante
física, ação,
experiência do si e do outro como “entidades” com uma “presença
osas capacida-
afeto e continuidade”. O sentido de si nuclear depende de “numer “id peido de a Gean
ocorre fora
des interpessoais”. Isso ainda não é uma construção cognitiva (pois
de si verbal, tem a ver com a junção e a dis-
e uma “memória sem q a e a eca lacuna entre as partes verbais e não verbais
da consciência), mas, antes, uma integração da experiência na
complexos. e re semióticas simbólicas a-significantes e semiol
palavras”, que fornecerá as bases para todos os sentidos de si mais “a
ogias
a ,a emergência:da linguagem éa origem de uma clivagem
experiência tal como ela é “vivida” e tal como ela é “representad
7Ibido p.s4. a”.
8 Ibid., pp. 67-68. James, Tarde) exami
aquilo que os filósofos da diferença (Bergson,ao William
90 “sentido de si emergente” é também “Experiênc da vida, que for-
ram, "no final do século XIX. ia pura” é o nome que James dá “fluxo imediatoobjeto, eu e outro, HI ibid, p. 72.
s conceituais” e sua divisão entre sujeito
mece o material de nossa reflexão posterior com suas categoriasão E Ibid pp. 124-133.
os “bebês recém-nascidosou homens em semicoma por
figuras espacio-temporaietc.s James observa, além disso, quea experiênc
cho, drogas e doenças” que experimentam ou oferecem ia desse si emergente e de seus processos organiza” nu na p:133.
d Héix Guattari, 3 Chaosmose (Paris: Gal lée, 1992), p. 97, [Edi :
1987), p- 782
dores “A Pluralístic Universe” in Williams James: Writings 1902-1910 (Nova York: Library of America, é Lúcia Cláudia Leão. São Paulo: Editora 34, na [Edição brasileira: Caosmose, trad, de Ana Lúcia
de Olive
10 Daniel N. Stern, op. cit., p. 27.

SIGNOS, MÁQUINAS, SUBJETIVIDADES MAURIZIO LAZZARATO


92 93
Butll ai Rd mi nor
Se, por um lado, as significações linguísticas tornam nossas experiências ppa de a ih ão op da subjetividade, mesmo em Foucault. Ao
com os outros mais facilmente compartilháveis, elas também podem tornar do 'o que que Stern
Sterm demonstra, : o acesso ao “real”
real” só pode ser assegur. :
certas partes dessas mesmas experiências inacessíveis aos outros, assim como Erevêo da “mediação” do simbólico, da lei, do significante.
an
a nós mesmos. A parte da experiência não verbal e “global” e aquela parte da a E sm o desejo pe do sonho, da fantasia e da representação,
experiência que é convertida em palavras podem coexistir muito bem — desde ev : a escolha
s a ser feita entre um “princípio dk o prazer” ct e um “prin-
i
que a parte verbal enriqueça e expanda harmoniosamente a experiência vivida cípio de realidade”. . Para Bernard Stitiegler, a 4 “pulsão”, próxima da animalidade
(afetiva). Mas esta última pode também fraturar e empobrecer a linguagem deve
e se submete
h r a uma “sublim
“sublima
açãção” simbóli
T ca a fim
Tl d. reta
te restabel
belo
ecer soasca
fai,
fun- ú
não verbal, forçando ela a se tornar subterrânea (repressão). As palavras do ções necessárias do “superego” e da “lei”,
ei”, destruíd
íc as pelo capitalismo. O. Virno, Vi o
adulto “olhe para a luz do sol amarelo” especificam, separam e fraturam a EE parte. segue à letra o aforismo de Wittgenstein,
segundo o qual a “fala”
experiência amodal do raio de sol que a criança tem. EE E e O E o reconfigura completamente o mundo de
“O paradoxo de que a linguagem pode evocar uma experiência que trans- o moldá-las s de alto a baixo”,
b > pois nos ensi
nsina a expressar por meio de
cende as palavras é, talvez, o mais alto tributo ao poder da linguagem. Mas e. Eae º que é da ordem do afeto. No marxismo-leninismo
essas são as palavras em seu uso poético. As palavras de nossas vidas cotidia- o ido a de Badiou, a oposição entre o ani imal e o sujeito
jei remete à opo-
nas fazem mais frequentemente o oposto disso e, ou fraturam a experiência o mio da sro e “organização”. Guattari recusa sa
Os três sentidos pré-
global amodal, ou a despacham para o subterrâneo” jodel: O qu a
caricatu ral baseado em oposições, » poi: Pois, como acabamos d.
-verbais de si não são etapas no caminho para a formação do si verbal. Eles :
as semióti cas não verbais da subjetivi jetividade não ão têm
tê “absolut: da de
permanecem centros independentes de “produção” semiótica e subjetiva e indifere' nciado”; 5 ao 1contrárii
ntrário, » elas « “esses mundos sup ôem funciona
ser em dc
i mentos
continuam funcionando em paralelo, com sua própria “autonomia” e sua agenciaEliento
mento, de sintaxe, > de modos d e semioti Rr zação altamento elaboradNa .
própria semiótica. Os quais nãoT implica
mplica m necessar : iam. lente
ente a existênc
i iai de metalingu: agens e eds
de
Segundo Guattari, a maneira pela qual a linguística e a psicanálise con- RE itcaçoes a as digiri-los, normalizá-los, ordená Joe” “ Elas
cebem a relação entre semióticas verbais e não verbais levanta o mesmo Di nem mais Pp pobres, nem maisais ricas
ri do que a linguag
i em verbal; elas
| são
problema político. As teorias são informadas por um modelo fundado na
oposição entre, por um lado, um mundo cru de desejo, pulsões, instinto, ani- E eo não é desvalorizar a linguagem e as semióticas significa
ntes,
malidade e espontaneidade e, por outro, um universo de ordem social, de lei E E s, em oposição à linguística e à filosofia analítica, se
colocar entre
simbólica e de proibição expressa pela linguagem e a semiótica significante. O Iscursivo e o não discursivo a fim de fazer a enunciação
“erescerem pelo meio”. ea subjetivação
modelo semiótico-linguístico é, na realidade, um modelo político. Da mesma
maneira que uma economia do desejo supostamente indiferenciada neces-
sita de semióticas significantes e de leis para se estruturar, nos processo de
subjetivação política, precisaríamos, segundo as diferentes teorias, do Estado,
do soberano ou do partido e seu “centralismo democrático” para organizar e o deprseentaçãoão amtropomórfca
Ade nosnão humanos" (Mary) dequedoisefetivamente
i sexos ou de um só sexo construido
pelo poder)
disciplinar a espontaneidade anárquica das subjetividades. desbordam excedem as identidades Eada imensã
sexo (a re] ó

Para que não apenas a sociedade, mas a própria fala se torne possível, Ni imensões coexistem, como , osos “si.“si” em Stem. “4 (.) NãoE um, nem e mesmo dois ex
nei
q
Judith Butler aceita a “castração simbólica” e a lei como sendo tão necessá- lie e que ele mesmo se atribui
inte seria antes: a cada um, ; seus sexos”
rias quanto inevitáveis. A ideia de uma “multiplicidade pré-discursiva libidi- land (So Paulo: Editora 34, 2010), p. 385,Gi illes Deleuze e Félix Guatt j
Para Butler, não pode ande q poa
nal que pressupõe uma sexualidade antes da lei”! faz parte, de acordo com siva anterior à lei, nem “prazeres campestres”
fatias reguladoras”. Na realidade tanto em Deleuze e coti tente "antes da Le
15 Daniel N. Stern, op. cit, pp. 176-177. or À linguage2 m e à lei, mas ela não é da mesma natureza jue
como em Foucault há uma subi
16 Judith Butler, Gender Trouble (Nova York: Routledge, 1999), p. 103. Para Butler, a análise de Foucault para est impasse, desfazendo a força costtine e origináriaa molar. atribuida
Delk
o pode por
r Bule
i
<E ars
seria intrinsicamente contraditória. De um lado, ele afirma a saturação da sexualidade pelo poder, pois ela é
na introdução inglesa de “Hercu-
fundamento de desejo comportará disposit ivos de poder (.), mas esses devem ser ituadoss entre os di.
integralmente produzido por ele. De outro lado, ele parece remetér, comonão identidade, um mundo que excede
lo compon “a lamento - Em suma, “dispositivos de poder não agenciam ou constituem nada,
line Barbin”, a “um mundo de prazeres como limbos felizes de umafoucaultina na do poder como “produção”
poa aBenciamentos de desejo que disseminam formaçõe s de poder de acordo com uma d E
concepção
as categorias de sexo e de identidade” Ibid., p. 200. elaA opera E E ux régimes de fous (Paris: Éditions de Minuit,
induz em Butler a uma série de contra-sensos, pois uma confusão irritante entre a dimensão molar 2003), pp. 114-115,
olnik, Micropoltica,cartografias do desejo (Petrópolis: Editora Ee
Vozes, 1996), p 214,

94 SIGNOS, MÁQUINAS, SUBJETIVIDADES HO LAZZARATO


95
que garantem a relativa estabilidade e invariância de sentidos, como na lingua-
3. A semiótica mista do cinema gem verbal. Com o cinema, torna-se possível redescobrir os traços de semióti-
cas pré-significantes em um mundo pós-significante. O cinema não coloca em
nosso: s jogo os dois componentes de expressão (significante/significado), mas, como
“Vamos ao cinema para suspender por um tempo
, nas sociedades arcaicas, “n” componentes: as imagens, os sons, as palavras
usuais de comunicação”
Félix Guattari faladas e escritas (textos), os movimentos, as Posições, as cores, os ritmos e
=
assim por diante. Dependendo do componente que prevalece, há diferentes
modalidades de como ler e ver um filme. “O filme pode ser visto através de
cores ou ritmos, através de suas imagens, através da cadeia de afetos que ele
se sucedendo em torno do cinema
Uma batalha política se sucedeu «e continua cria e não há absolutamente nenhuma relação univoca, necessária ou imoti-
bjetivação que as semióticas
pelo controle dos efeitos de subj etivação e dessu vada entre uma cadeia significante e os conteúdos significados”!
uzem sobre o sujeito indivi-
“não humanas” da imagem cinema tográfica prod l e as E RED Como nas sociedades arcaicas, as imagens (semióticas simbólicas) e
i de si verba
ido
duado. Os três sentidos pré-verbais de si,i osent
i ticas

são m e intensidades, movimentos, intervalos, temporalidades, velocidades (semió-


e significantes)
(imediatamente a-significantes, simbólicas a ticas a-significantes) reintroduzem ambiguidade, incerteza e instabilidade na
que, ao deste rritorializar RE
elo maquinismo cinematográfico nio EAr denotação e significação. A expressão volta a ser polívoca, multidimensional
auni H aa
dão (o “olho-filme”), arrisca desfazer, de seu modo, gnficcaanio e multirreferencial. “Os componentes semióticos do filme deslizam uns em
c
s co de como a máq!qui
i a, temos um c aso clássi
Com o cinem relação aos outros sem jamais se fixar ou se estabilizar em uma sintaxe pro-
a ação das E sm ER
chega a neutralizar, ordenar e normalizar funda de conteúdos latentes ou em sistemas transformacionais que conduzi-
domi na ! eim
e alignificintes que excedem as significações e e riam, na superfície, a conteúdos manifestos”!
tes, a indústria
estas últimas através de semióticas significan A A mesma impossibilidade de formalizar a linguagem do cinema é ana-
(Guattari), ane
fica funciona como uma psicanálise de massa çº lisada por Pasolini. Para o poeta italiano, o cinema, bem como uma parte
e, sobretudo, na fal
samente na construção dos papéis e funções importante da realidade humana e das próprias coisas, se expressa através
deep
sujeito individuado e de seu inconsciente. sei de um sistema de signos; em outras palavras, por “linguagens” não verbais
em curs
Guattari lista de forma precisa a semiótica (imagens ou “in-signos”) e não humanas. Imagens de memória e de sonho,
linguagem fal
1. O tecido fônico de expressão, que remete à todas possuem traços de sequências fílmicas; elas são “acontecimentos quase
o ps nm
ia significante); ental pré-humanos ou na fronteira do humano. De qualquer modo, são pré-gra-
remet e à músic a instru
É DO tecido sonoro, mas não fônico, que maticais e até mesmo pré-morfológicas (sonhos se dão no nível do incons-
ei a
semiótica a-: ignificante); ciente, como ocorre com processos mnemônicos)”.2º
ótica t anto simbólica quanto
ó 3. O tecido visual, que remete à pintura (semi O cinema é de imediato “fundamentalmente onírico” e um “monstrum hip-
etc. (semiologias RR nótico”. Os elementos “irracionais” da linguagem do filme, “bárbaros, irregu-
jo rena e movimentos do corpo humano lares, agressivos, visionários”, não podem ser eliminados; daí a dificuldade de
no espaço e
5.É A duração, os movimentos, as rupturas
s 1 -

“intensidades” a-significan r estabelecer uma “linguagem cinematográfica institucional”?! De fato, esses tra-
ênci: dem
do uso que éfeito de semió- gos que Pasolini denomina “irracionais” compõem as modalidades de expres-
br ca ici ssa
a Ee são dos afetos, intensidades, velocidades etc., cujo funcionamento depende
E sia blend (“encadeamentos, movimentos
repr de outra lógica em vez da lógica da racionalidade do sujeito individuado.
figuras visuais, a s, fala etc”, como dizGuattari »
ns, ritmos, gesto
logias sig-
Toimomento a posa i idade de ir além das semio
senta por um breve
cas
ológiaa e abrir -se para devires
nificantes, de contornar individuações pt erson a as,
Já Hélix Guattari, Agencements. Transistances. Persistances, Seminário
“http://wwwrevue-chimeres.fr/drupal. chimeres/files/81 1208 pdf>. de 8 de dezembro de 1981. Disponível em:
a do
que não estavam inscritos nas pags EMad | Félix Guattari, La révolution moléculaire (Paris: Editions Recherches, 1977), p. 233.
p
i matográ áficas não pode m N ser rei HH Pier Paolo Pasolini, Empirismo eretico (Milão: Garzanti, 1972), p- 169.
As iimagens cine
gmáticos e paradig BH Ibid, p. 179.
Edno e enquadradas pelos eixos sinta

SIGNOS, MÁQUINAS, SUBJETIVIDADE MAURIZIO LAZZARATO


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96
instante, de nos fazer RE fe funcioi na como uma
O cinema é assim capaz, ainda que apenas por um “psicanálise de massa”, normalizando int:
maneira, el “Psi ii
s” e nos arrancar das es, hierarquizando semióticas e as confinando no interior
O IRIS
“órfãos, solteiros, amnésicos, inconscientes e eterno do sujeito
to
papel, uma função e um
divisões sociais do trabalho que nos atribuem um
EO efeit o cinema
i sobre o inconsc
i i
iente é ainda mais poderoso do que
sentido.
imagens dos filmes a a ise, pois seu inconsciente, “povoado por cowboys e índios,
As intensidades, os movimentos e a duração das Hi E
uação da mesma >»
podem produzir efeitos de dessubjetivação e desindivid
e o (em outras palavras, por uma consciência não dipiaiia tima
ia, as drogas, os sonhos, a paixão , a criaçã o ou a loucura pas te igual ao mundo à nossa volta) e seu espectro de
maneira que a infânc nEcaniende
funções sociais. O cinema one Es conectalm] diretamente com os processos de semioti
podem retirar o sujeito de sua identidade e de suas zação do
da visão, fazendo o sistema ro aÉ a produzido pelo cinema comercial e, em seguida, pela
suspende a percepção e as coordenadas habituais DO
eos movimentos já não nã envolve f consciêE nciaho úrefle-
sensório-motor funcionar de modo falho. As imagens
E >
ebsatNadiçã
a tem a ver com ideologigia,
a, poispois não
em vez disso, elas se
mais dependem do movimento do objeto ou do cérebro;
maquínico. A montagem, “Todos
a]
tornam produtos automáticos de um agenciamento
Eid Ens Eementos irracion
irracionai ais, elementares, oníricos e bárbaros
comuns, imagens emovimentos a á e abaixo do nível da consciência; isto é, foram explora
por sua vez, rompe os liames entre situações dos
ordinários ao nos compelir a entrar em blocos de espaç
o-tempo diferentes. inconscientes de choque e d e ão” deitd id
antes, as imagensde fil- tural e pela indústria em geral.
Mas, em vez de contornar as subjetivações domin q Da clan
elas. Pois elas não são apenas RoA conscienERR não éé uma resposta suficiente porque imagens nos afe-
mes podem, reciprocamente, nos acorrentar a tização não
ivação, elas podem também ae a nizam em relação direta com os três “sis” que precedem o
focos de subjetivação. Como vetores de subjet si
(tanto produção de
desencadear, iniciar ou abrir processos de heterogênese
Ro E Sp Ei a-significantes, simbólicas, não agem sobre a Eta
tência da heterogenei- E aeis , nriretamente sobre “a variaçãção contínu
heterogeneidade quanto gênese processual). A consis fi a e a força de existir e aà
de de forças, dispo- Ani.
dade subjetiva depende da interação de uma multiplicida
ei E

de uma política e de uma a b a subjeti


“Aqui, subjetivi
sitivos e técnicas. Ela depende, em última análise, vidade nada tem a ver com os aparelhos ideológicos de
indúst ria cultur al norte-americana Ei à E que ela, e especialmente seus componentes, são produzidos
estética. A batalha ético-política que a
a no campo dessa
venceu de modo retumbante, sem prisioneiros, foi travad o, trazendo como suporte o que eu chamo de elementos a-signi
lizar e sufocar a hetero- ficantes, ' que f fornecem a base para relaçõções com o temj
heterogeneidade. A indústria trabalhou para neutra i
icantes personológicos e refe- O corpo, as cores e a sexualidade”
geneidade, injetando, como a psicanálise, signif rama mea
rências familialistas.
nciais e polissêmicas do
O redirecionamento das semióticas multirrefere
domesticação do “monstro 4. Semióticas significantes e a-significantes na divisão do trabal
cinema na direção de valores dominantes e da ho
a redução das semiolo-
onírico” e seus “elementos irracionais” se deu com
modelos dasubjetividade
gias simbólicas e das semióticas a- significantes aos
capitalista. “No fundo, dois axiomas parecem ter guiado o avanço d:
no e reacionário.
O cinema comercial é “inegavelmente familialista, edipia mo de
civilização ocidental desde o início: o primeiro defende
os exigidos pelo consu
(...) Sua “missão! é educar as pessoas aos model que verdadeiras sociedades se desenvolvem sob a doa
massa”? Se ele for incapaz de estabelecer significaçõe
s tão invariáveis e está- de proteção do Estado; o segundo afirma um imperati
ainda produz ir modelos de subjetividade que categórico: o homem deve trabalhar”
veis como na língua, ele pode ido
cia da presen ça física. O cinema age nas
têm, a força de exemplos, a evidên Pierre Clastres
identidades, modelos de
profundezas da subjetividade, pois pode lhe fornecer
ao explorar as semióticas a-sign ifican tes e simbólicas. Dessa
comportamento,
op. cit, p. 236.
22 Félix Guattari, La révolution moléculaire, 25Felix uattari, Les années d'hiver:
Guattar Phi 1980-1985 (Paris: Les Prairies Ordinaires, 2009), p. 129,
23 Ibid., p. 237.

SIGNOS, MÁQUINAS, SUBJETIVIDADES MAURIZIO LAZZARATO


98 99
“versat
na ilidade” ou “ética” em “requisitos organi
implicação da subjetividade que descre- zacion
ganiza ai s específicos”.
cionai
Todas as semióticas e modalidades de o irão Es Chefes executivos não é discursiva.
ização do trabalho. Mas enquanto Rs ter
vemos até aqui estão envolvidas na organ
as semióticas significantes e a sujeição
social são reconhecidas e analisadas
licas a-significantes e de servidão
ativa deconv
pede los enê
É-los, com se arena
arsei ria
rico, aa coloca
ger umpfime
à sua insu-
como tais, os processos de semióticas simbó tra- ri na oepisódio como um modelo da função fica
ia do trabalho (e na “psicologia do
maquínica são ignorados na sociolog eles const i-
e em virtude do fato de que
balho”). Isso tudo é mais surpreendent que as ordens são ice a
alho capitalista. en
tuem a especificidade da divisão do trab Eos dizer
mos dee nem princi
ci palmente) ded modo “inter
a análise, de resto notável, de intesubj
rsubjeti
aee
As vo”.
ordensEnão sã
O mesmo limite “logocêntrico” deprecia a” E o Ra EO meio do discurso, mas por meio de E
ção da produção de “serviços de mass
Marie-Anne Dujarier sobre a organiza exem plo) , em que a O rio em cas a-significantes. Caso mantivermos a descrição
restaurantes , por
(uma clínica geriátrica e uma cadeia de como — oi E Pa significantes se limitariam ao discurso queas
onente da divisão do trabalho e
linguagem é entendida como um comp Rope Ra etamente ausentes dele: “As prescrições tomam
uma “força produtiva"** , “ele cetim »P ano, projeto, manual, protocolo, estatuto, indica-
é relacional”, a autora argumenta
“Porque o trabalho de serviços
mobiliza a linguagem até o ponto em que
se poderia inclusive dizer
o tempo, ela enum
que,
era uma
muit
gran
as
de E À organização do trabalhé antedestado asa quanto dee
ga! t lho é; le tudo, uma questão áti
vezes, trabalhar significa falar”? Ao mesm a Ceia linguísticos" (“você deve”), aloe
as a-signi ficantes irredutíveis à fala. ão recomen
variedade e um uso intensivo de semiótic gnificantes operam
a-si
Ro, une e dis usos pa teriam pouco efeito sobre a subje-
Acima e abaixo na hierarquia, semióticas simbólicas RR poi n los pelas semióticas a-significantes (diagramas,
de uma em relação à outra
com semióticas significantes, mas O peso relativo agi Ps Ee ões, indicadores, figuras contábeis etc.), que não
func iona m.
muda de acordo com o nível hierárquico em que elas — 4 o esa não se dirigem Primeiramente ao “eu” do indiví-
ico quan do define os
O Conselho de administração faz “trabalho polít o As seis = ram operações ignorando a consciência
ecendo os recursos necessários”
objetivos e estratégias da organização, forn
e a repre-
“ordens” do conselho o miócasé gb cantrs funcionam como uma roda
o de operação e distribuição”). As dentada
(capital, orçament — Ep quinas, humanos-organizações, sistemas-huma-
ia, mobilizando as mais variadas tran-
são transmitidas ao longo da hierarqu DO tr
ente para organizar o “processo”
o eitor, um interpretante, um compreendedor; e,
sações a-significante: s. À fala seria insufici
no
= eme (co oço ea um RR de DVD), que pode muito bém ser
ndar e ativar subjetividades.
produtivo e não teria força para coma ricos né O mca
iminar aos objetivos gené a máquina, um software, um procedimento
«Chefes executivos” dão uma forma prel nos de desenvolvi
proferidos pelo cons elho de diretores “na forma de “pla em)
em Cao
de qualidade”, planos de poupança (call centers, por exemplo), explora diagra-
mento”, “compromissos éticos”, “políticas ses quotas
o”, “digitalização”, “estratégias de inguagem ao reduzir as semióticas significantes
de custos”, “autorizações”, “controles de gestã — corrqaiaç E E Ent desencadeia proced
'campanhas publicitárias”? “Restrições imentos de endereça-
marketing, “sistemas de informação;
orçamentárias” também são transformada
de
s em elemento s organizacionais
RH”, “planos de investimento”.
Verbal entr tendente cemente. As palalavrs vrasoe propos
Re ide pspooições
no aco ara
são o “input”
a-significantes: “orçamentos”, “políticas cr ndo Esto, nie especí
trabalho de “gerentes especialis- ficas das relações de serviç: a
Sob o comando dos chefes executivos, O o doe
confiou o trabalho de transformar as a aut ainda pensam que a responsabilidade pela
tas”, para quem a alta administração nte em Rg Seria e nas crianças pobres das escolas, nos filhos
seguidas, “consiste primordialme de
instruções e assegurar que elas sejam orto, “atratividade, es etc. “quando, como Pasolini já havia mostrado n
lidade total, “conf
transformar as demandas abstratas de “qua K é responsabilidade da empresa privada e de seu
EE
Universitaires de Prance,2006). HO Ibid, p. 115.
26 Marie- Anne Dujarier, Lidéal du travail (Paris: Presses
HI À interpelação althusser iana uiva
e Nº “Dorado pelo poder (Ei, você aí) sera totalmente
27 Ibid., p. 28. constit de 7
28 Ibid, pp. 50 e 108. az sem o trabalho da semióti ca a-significamo
29 Ibid., p. 112.
AURIZIO LAZZARATO
SIGNOS, MÁQUINAS, SUBJETIVIDADE 101
100
dão agem a a subj
ubjeti- semânticas são tomadas essencialmente a partir da linguagem de ação (faça
içãão e serviidã
Nesse contexto em que sujeiç
j

não pe aa isso”) e de mensuração (“a fim de obter um resultado”)?


vidade torna-se tão padronizada quanto elementos a “Acima da linguagem gerencial, encontramos a linguagem que aborda méto-
amente recon sa
«A conversa com um cliente deve ser rapid dos e processos”, a linguagem dos “especialistas” que produz “discurso sobre o
i ler palavra por palavra. Ele po: leEe ser E ne -
“roteiro; que o atendente irá, assim, discurso”, pois seu objeto é o discurso de gerenciamento ou de gestão. Em um
mesmo que seja para Lia um: as .
lizado se “abandonar E o roteiro, E . Assim: , as prontas respostas dyeaa nível ainda mais elevado, o “discurso político”, que diz respeito à avaliação de
inteli gente ou empátá ica ao cl liente
inteli
i ] antes da conve rsa.O diálogo Ee'se
ivili dade sãsã o prescritas
as outras formas de civili
resultados e de métodos e representa o que a autora chama de “um discurso sobre
e e segundo suas fotna : O discurso sobre o discurso”, por se tratar de um discurso sobre especialistas.
desencadeia de acordo com a atitude do client
á um: a forma de e “ 'taylorizarizar a conver
P :psação; e: A passagem para uma abstração cada vez maior no comando capitalista
i mente, os roteiri os são
Final E é sempre interpretada em termos de linguagem (um “discurso sobre o dis-
i des de base que, então, A à executadas.
são Os rote
ividiida em unida
divid lea q curso” e um “discurso sobre o discurso sobre o discurso”), embora, à medida
elaboradas por feque
versação são compostos de frases pré-fabricadas Rar que subimos na hierarquia, ao invés de falar em abstração, deveríamos anali-
não têm intere sse em pena:
não falam e faladas por aqueles que “ e "qque anim
ss” E ima am cadacada t a a sar a maneira pela qual as semióticas a-significantes são cada vez mais utiliza-
Os afetos, as inten
i ! es e as “e: moçõe
sidad
cujo ovina é programa r das. O domínio que os níveis hierárquicos superiores têm sobre os inferiores
são submetidos ao mesmo treinamento semiótico, não ocorre por conta do uso de metalinguagem, mas por conta da exploração
e controlar o comportamento. 4 “A própr ópriia emoçãoão éé concebida ida ]p: para ser ui Ê
ênci . Ela pode ser prescri ita ao empre apr: das semióticas a-significantes e sua integração nos maquinismos.
tarefa e éé previsi ta antes de sua ocorrência E No controle, em que a segunda função é transferida às instâncias hierárqui-
ara sente m. A era
gado ou ao consumidor independentemente do que j cas superiores, estão em jogo os mesmos dispositivos e as mesmas semióticas
de prever que o empregado — tanto faz se um A col
ã , ista
Re presentes no exercício da prescrição produtiva. O controle consiste na ativação
i
l,i caixa, ;
rio
issári
co) missá de é bordodo, , cal cabeleireiro, motor
bilhet
ra ça
il es, íder
um líder juveni
j
seja obrig ado a adotar um comp de “indicadores amplos, de ordenações gerais”; ele “se exerce através dedispo-
de ônibus ou atendente de musei u — 33 sitivos de rastreamento” e privilegia os mecanismos automáticos e a “impes-
mento alegre, seguro, calmo, feliz ou engraçado: soalidade” de estimativas a-significantes. O controle funcional se sobrepõe ao
controle disciplinar e discursivo, ao mesmo tempo que os utiliza.
Mesmo o “autocontrole” que mede o investimento “subjetivo” do “eu” do
4.1. De baixo para cima empregado - uma forma de sujeição social — é “sustentado por ferramentas
ã tanto a partiri do Cometto vã qnd inis- de gestão (estimativas, relatórios de desempenho etc.)”. Nos serviços, uma
Ao analisar o uso da semiótica, não e, Dujai grande parte do trabalho dos empregados consiste em escrever, ordenar, clas-
i e ã o de $serviçi o Ri
a p: artiri da relaçã de
ao client
traçãoà , mas desde baixo, a sificar (“temos que preencher fichas de procedimentos, anotar, elaborar os
da lingu 4
agem” . 2
Quando ui
constata uma “« “crescente abstraç: ão 4
IE indicadores, demonstrar, acompanhar [...]. O pessoal avalia tudo e avalia a si
j ao leito de um idoso ou à mesa de
i
lizado ão iimporta se junto
, não mesmo sobre tudo”).” As anotações tornam o rastreamento possível, o quea
com as ae
referê ncias Es
lingu
i uagem” é“é “o que se constróiói de acordo
“ling eita máquina, a seu turno, processa via semióticas a-significantes. As ferramentas
e consumidor”: ea
cada falante na interação entre empregado
pares (empregados) e nos p: de gestão mobilizadas através do “autocontrole” continuam sendo dispositi-
de profissionais” desenha uma comunidade de : i vos maquínicos, uma espécie de hypomnemata da organização do trabalho.
a
ite “ “falar e, portanto, pensar o trabalho real”.
mite geren
le, a lingu agem
“Mais acima, a no idioma de ordens e de contro: 5 q
ntos, planos , indic adores de saio E 35 Ibid., p. 161.
cial é empregada” Nos “procedime 36 “Não há mais uma única voz oficial, mas uma multidão de medidas funcionais desdobradas em nome da hierar-
i ierárq
hierá ui os, as reter êm
rquic quia, cada uma independente do outra” Ibid., p. 212.
painéis econômicos: utilizados pelos superiores 37 Ibid, p. 164.
38 Otermo grego “hypomnemata” pode ser traduzido simplesmente como “lembretes”. Devemos a redescoberta e
uso do termo a Foucault “Hupommémata, no sentido técnico, podiam ser livros de contabilidade, registros
(Paris: Editions la Découverte, 2008). , p. p.27. gadernetas individuais que serviam de lembrete”. Michel Foucault, Coleção Ditos e Escritos V. trad. bras. públicos,
32 Marie- Anne Dujarie, Le travail du consommateur
É Monteiro e Inês Autran Dourado Barbosa (Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2006), p. 147. Enquanto deatosElisade
33 Ibid., p. 27. escrita, Hypomnemata são uma modalidadeda constituição de si.
34 Mario Anne Dujarier,Lidéal du travai, op.it, p. 160,

SIGNOS, MÁQUINAS, SUBJETIVIDADES MAURIZIO LAZZARATO 103


102
| nã 4 dord e er 4
“um : das máquinas técnicas, das Em níveis mais elevados, uma “linguagem de experts, teórica, frequente-
O “eu” 1 da sujeição social não pode ser separa
; do
ser por meio da abstração. mente colorida de anglicismos (...), já não lida mais com trabalho”, mas com
máquinas organizacionais é dos processos, a nãopouco d de subjetivação pode “processos”. Os “gerentes” não supõem nenhuma pertinência ou legitimidade
Novamente devemos insisti st r nesse ponto: um
à servidão maquínica. de um ofício específico, seu foco está em reivindicar a organização e o con-
nos distanciar, mas muita subjetivação nos reconduz
serem a atualização e a veri- trole dos “processos”, que consistem essencialmente na aplicação de métodos,
Os serviços prestados a pessoas, em vez de
home m pelo homem”, constituem monitoramento de indicadores, verificação da conformidade dos procedi-
ficação de um modelo da produção do
agenciamentos coletivos em que humaniai, e não os humanos, mentos e organização de reuniões.
4mni se
sociais e máqui nas técni: Diretores executivos e experts “representam a si próprios e são conside-
ticas significantes e a-significantes, máquinas
al >
ira
semió
) à pra, rados especialistas, não num “trabalho; mas em processos; técnicas e ferra-
cas agem conjuntamente. a
DR tem-sea mentas”. O papel central desempenhado pelo processo também emerge nos
Nos agenciamentos em que há poucas máquinas
amaraA a megaeg: má- procedimentos de controle. O que deve ser monitorado e avaliado, primeira-
ã
são que ã
não operam maqt ini mos. Jáá LewisEi Mumfo
uinis E rd cl
Es E

invisível”,
ina invisí vel” nplicidac
devis o à raridadee à simp) mente, são os sistemas homens-máquinas, as semióticas mistas (significantes,
i i i de Hi “máquina
aica
vê aí a
ada: .s. Um“mM olhar pouco ) atento não po a-significantes, simbólicas) que, juntas, constituem os processos” *!
das ap
Fi ado
máqui écni
áquinas técnic E gadas
as empre
probl ema é sempre o m: A sociologia e a psicologia do trabalho parecem ser incapazes de dar
máquina social, ela permanece “invisível”. O
conta conceitualmente do salto qualitativo que ocorreu no deslocamento de
máquina não é um subconjunto da técnica.
“trabalho” para “processo”, que agencia sujeição e servidão. Os níveis hie-
rárquicos mais altos já não lidam com o trabalho em si, uma vez que se ocu-
pam de “processos” — do qual o trabalho é apenas “um” dos componentes.
4.2. A semiótica publicitária
Eles organizam a servidão maquínica (processo), sendo que nela o trabalho
ente narelação de a aparece com a mesma importância que as máquinas, as semióticas, os pro-
As semióticas simbólicas intervêm massivam “
o de empresas junto aos cedimentos, a publicidade e a comunicação. Nos serviços às pessoas??, nos
organizar os aspectos essenciais da comunicaçã
licas eae ae es quais as máquinas não possuem a mesma importância esmagadora como
tes. Através da publicidade, as semióticas simbó
ização o do trabalho. A (terrível) cultura oE em outros setores industriais, são os diagramas, os esquemas, os indicado-
ã e organizaçã
técni as de gestão
das s técnic
i que elas veiciculam, enquanto mold amE a subj Tes, registros de orçamento etc., que tomam seu lugar na organização do
i e de marketing
cios
sob a subjetivic
i ament tee sobre t los emp) - processo. O que a sociologia do trabalho tem dificuldade em enxergar, já que
úblico/clieni te, também operam diret
ente' o que deve a pro: ela tem uma concepção redutora dos coletivos mobilizados na produção. A
doa para quem “a comunicação publicitária é 'realm
como se ass pa sociologia (e a psicologia) do trabalho, como toda sociologia, se encontra
uiído (...). Eles se comportam no trabalho, por Eno )
idassemn
á duvidass :
das promessas aprisionada no pensamento antropomórfico cujos “atores” são o “eu” do
es s que eles atendem não
e as pessoa
as ação is empregado ea intersubjetividade do “coletivo” dos trabalhadores. A antis-
fitas rss rol que é indispensável satisfazê-las.
i -se aa norma
torna-se àdodo que deve ser
: produz ido -j sociologia de Deleuze e Guattari nos liberta dos limites políticos impostos
ç
ideal prome i ao consumidor
tido
tica, ser a a pela redução da organização do trabalho à personologia e à intersubjetivi-
No seu trabalho, Dujarier distingue na semió a
do o dade da sujeição social.
mente “semântica mil-folhas”, várias coisas: a Ro
i lica)
simbó a” (se (semiótt ica a-significanÉ te) e as
i , a “hi“linguagem técnicica”
a
signi icantes) converg indo na relaçãrel o dede serviç os.”
pi O sq
ióticas s signif
”is” (semiótica
sociais
ni Não se ) trata na 41 "Logoo funcionamento dos próprios processos será o principal fator na avaliação
falta nisso
i tudo éÉ a apreensãoã da servi idãoà maquínica. mais que o trabalho, a avaliação dos processos se torne a prioridade” Ibid, p. 164. do trabalho. Pode até ser que,
idão maquínica EA el
deficiência empírica, mas conceitual, pois aserv 42 Àdefinição de “serviços às pessoas” é enganosa, já que nem sempre pessoas estão envolvidas nele. Os idosos,
por exemplo, são literalmente mantidos vivos pela química, pelos remédios produzidos pelas grandes empresas
vistados que
presente no texto e é claramente mencionada pelos entre farmacêuticas multinacionais, por uma tecnologia médica
funções de comando na empresa sob a terminolog
ia de “processo”. do Estado de bem-estar social etc. Essa definição está longe muito sofisticada, pelos gastos, procedimentose leis
de ser “a produção do homem para o homem”: pelo
sontrário, essa produção está completamente no âmago do agenciamento em que os compostos químicos, o
Sorpo do doente, os cuidadores, os medicamentos, as instituições, o corpo médico etc., trabalham num mesmo
39 Marie-Anne Dujarier, op. cit. p. 166. plano maquínico. O cuidado, a cura está no fim de uma cadeia que nada tem a invejar a cadeia industrial.
40 Tbid., p. 30.

/ SIGNOS, MÁQUINAS, SUBJETIVIDADES MAURIZIO LAZZARATO 105


tenham inspirado direta E na] Elie o homem faz dos limites e incerteza de suas ações (...). O
Embora as teorias marxista e marxiana” do valor al que fazemos (ou do qual somos privados)
logia e da psicologia do traba- pri desempenha um =
ou indiretamente a parte “progressista” da socio pomór- Erciivo no pensamento psíquico e somático de cada pessonise
paradigma antro
lho, ela não ajuda de maneira alguma a escapar desse
ca
alho morto”, ela atribui toda A sociologia e a psicologia do trabalho confundem “trabalho” com o
fico, pois, ao distinguir “trabalho vivo” de “trab Era
e produtividade ao primeiro e relega ao segundo uma função os que o movimento operário criou em resposta à “escra:
criatividade lo trab
trabalho
lho vivo e trabalho morto só E assalariado”.O á Não
qi foi o trabalh O enquanto tal q que arantiui Í
meramente reprodutiva. A distinção entre traba poa A ua
. Da perspectiva da servidão ad a formação de identidade e o Recon
é apropriada do ponto de vista da sujeição social N ocialal através
vetores de enunciação, o “para-si” a! do trabalho sempre estiv: eram no coração ã do própri ;
maquínica, os lugares de produtividade, os projeto capitalista. E A valorização e a celebraçãoã do trabalh
os. Máquinas, objetos, pro- Telê
eo “para-outrem” não são exclusivamente human I
último presidente francês,”
diante não estão esperando por ês,” nãonão sãosã apenas produtos de ideologi: at
cedimentos, diagramas, mapas e assim por nismo. Devemos olhar para al; |go maisi do que o “pleno empr: ria
vesse vida, mobilidade e al? ou “
um sopro “bíblico” de trabalho vivo que lhes devol -trabalho” genuíno. y As funçõ
nica, as semióticas a-signi- i
nções social-democ ratas com i a
criatividade. Do ponto de vista da servidão maquí ção, a tem sido investido — garantias i de renda, reconheciment ial ili
contribuem para a produ o
ficantes, os objetos, diagramas, programas etc. sentido e confiança no futuro -— nãonão são
as “pessoas” o fazem. Como as sã maisi corroboradasnais
pelo trabalh:ma
criatividade e a inovação do mesmo modo que pelo emprego.
“morto” e “vivo”. en prego;Começando pela servidã íni » devemosoder
idão maquínica, con: ceber um:
máquinas, os humanos são híbridos de trabalho Re terialização que conduz a algo mais do que “valor-trabalho”. Dlviifico
de o sujeito e o objeto eultra-
A servidão maquínica (ou processos) prece arcar aoportunidade de dessubjetivação aberta pela servidão maquínica de
social. Essas distinções, morto
passa as distinções personológicas da sujeição não voltar a cair nas narrativas mítico-conceituais de produtores, tra-
sso de reterritorialização cen-
e vivo, sujeito e objeto, são o resultado do proce do balhadores e empregados.
A sociologia e a psicologia 8 Esta é uma das tarefas mais urgentes se quisermos
trado em torno de “homem” e de “trabalho”. do
lização humanista, uma “humanização”
trabalho operam uma reterritoria
inventar uma nova subjetivação políticas.
verdade, ela é idêntica à sujeição
trabalho que nada tem de progressista; na
legitimar. Em vez de ser apreen-
social que eles criticam, mas terminam por
capitalista de lugares, papéis, 5. Duplo funcionamento e duplo tratamento da subjetividade
dida como uma operação de poder, a distribuição
como a emancipação homem. Ao
funções e empregos é entendida justamente
contribui decisivamente para a
atribuir “status e lugar social (...) [o trabalho]
o mundo, sobre outras pessoas “O poder utiliza semióticas significantes, mas nunca se
construção da identidade... permite agir sobre perde completamente nelas, e seria um erro imaginar que
e sobre si mesmo”
genciam completamente o ele poderia tornar-se vítima de suas próprias práticas E
A sociologia e a psicologia do trabalho negli nificantes ou suas ideologias”
capitalista”, que o próprio conceito E
fato de que “trabalho” é sempre “trabalho
seja na sociedade capitalista. Elas Félix Guattari
não existe em nenhum outro lugar que não
do e o futuro ao torná-lo um
projetam a categoria “trabalho” sobre o passa
“universal” que atravessa toda a história. E E léa relação entre as semióticas a-significantes e as semiologias de signi-
é esquecida em prol
A dimensão política da organização do “trabalho” a corporal om Êo E: aci do poder capitalista? Suas ações se combinam e se com
de uma análise da autorrealização. “O trabalho é uma experiênci
penta pod
lentam. O poder econômico
o íticoi são
e político são inconcebívei;
i íveis sem a produçãoã o
tem por objetivo descartar
amente recente entre marxista e marxiano queento Ujeições e significações que determinem a posição que cada ssa se
430 autor adota aqui uma distinção relativpresent e em certas vinculações com o pensam de Marx (marxismo),
a tendência dita dogmática que se faria
em prol de uma visão crítica (marxiana). INT] t Dejours, “La critique e du travail entre vulnérabil
46 Christophe et domination'
ité
crítica da exaltação social democra ne: giscuso de campanha política de 20 de junho de 207, Nicolas Sarkoy premia espa asda
que Benjamin incluí em sua viciosa
44 Ibid., p. 6.
aa ars observa numa citação possui outra propriedade além de sua força de trabalho! deve necessaria 1!men(Pais:ade ções: política soca, trabalho, política educacional, trabalho, Lola econôiice j trabalhos, Peíiea
política
de cobalho , “o homem que não Walter Benjamin, CBuvre fiscal, traba
trabalho, política de negócios, trabalho, política
de imigração, trabalh
av de outros homens que se tornaram eles mesmos proprietários” Orçamentária, trabalho (..) Estou pedindo que se faça do trabalho a sua polia” PC
Gallimard, 2000), p. 436.

SIGNOS, MÁQUINAS, SUBJETIVIDADES MAURIZIO LAZZARATO 107


106
você ê éé um e , VOCÊ
o efetivo, para exercer uma ação sobre a subjetividade, para determinar
ocupar (você é um homem, você éé uma mulher, a passa-
i de se comportar, > a função ã a pré eencher Fo
(vi : gem ao ato, outro tipo de tratamento se faz necessário, um tratamento molecu-
éé um patrãoã etc.), a maneira
i sii mesmo, para a sua família, p: ara o Estado etc.), g
a lar da subjetividade, empreendido pelas servidões maquínicas que contorn
am
i r.i Se v: ocêê não agé da maneira queio O
nã pensa e nãoão age a representação, a consciência e a significação. A servidão mobiliza ao
ig pensar e de se exprimi
de pen mesmo
e ecra tempo mais e menos que a pessoa e o sujeito individuado, ao investir
Edo quer e como o mercado exige, seus pensamentos em suas
veis com gps signi ps a dimensões infra e suprapessoal.
devem se adaptar; tornarem-se compatí a
das à
signifi cações domii i à Os dois modos de funcionamento se combinam e se complementam:
4 “A todo momento somos pri:isioneiros as
em demasia , Ee semióticas significantes organizam um tratamento e um funcionamento
nossas sociedades, as pessoas não devem gesticular molar
reconhecer a E e da subjetividade que atinge, solicita e interpela a consciência, a represen
ficar em nossos próprios lugares, assinar no lugar certo, ta-
que nos são feitos, ouvir a senha certa — e qualquer falha pode nos levar vi p: ção e o sujeito individuado, enquanto as semióticas a-significantes organiz
am
A ns A R RA um tratamento e um funcionamento molecular dessa mesma subjetividade,
a prisão ou para o hospital” E
sobre ação ele ge a
E ensinou Foucault, o poder li é ação Runa que mobiliza subjetividades parciais, estados de consciência não reflexiva
Na
a ,
possibilidades, probabilidades, potencialidades, Ra sistemas perceptivos e assim por diante. Devemos mais uma vez enfatiza
r
addas na dimensã
ali das e integra
i aliza: i i ãoo molar da: ea que a destituição do sujeito e de suas semiologias, através da desterri
contini uamente e territori toria-
em comportament os de sujei lização capitalista, “ainda não invalida as semióticas humanas”. O recurso
ções e significações, encarnadas em papéis e
, A ar e D i de às semióticas humanas tem uma finalidade bem precisa: controlar e modu-
inindivid
A ação do dinheiro, por
uados. , exemplo determina efeitos de a ad lar os processos de desterritorialização e reterritorialização, empreendidos e
que
licos que
imperativos econômicos deles organizados pelas semióticas a-significantes de sistemas técnico-científi
ã o são i
suficientes em sii mesmos. Os imp cos,
vi
a exemplo, redu: ziri a dívida, : as contas pública
sanear a s, impor de economia e de equipamentos coletivos do Estado, que destrôem antigos
aRRD
decorr emR (por
r
inados o: etc.) devem ser interpr etados e RR T territórios existenciais, seus valores e seus modos de vida.
ios” sobre os dominad
'sacrifíccios”
“sacrifí
ã o tanto pela mídia, quanto por p: E Um exemplo de utilização não reacionária de semióticas signific
i
discurso , em pensamento e ação antes é
ini adores do Estado, a
e para que,e, em seguida, aquele do movimento operário. No século XIX, esse movimento inventou
i
ticos, indi os, experts e ad ministr
sindicat
pública, a cada grupo
inião pública, social e 3
a cada À pe . uma reterritorialização revolucionária que, ao invés de se confinar na defesa
sejam
j irigi s à opinião
dirigido
produzi r narrativas, qui E daquilo que o capitalismo destrua, ultrapassou a própria desterritorializ
: o Eetado a mídia e os experts não param de : E E ação
Pu
nas E a: pe capitalista: o internacionalismo proletário, a mutualização operária
e declarações que continuamente reinjetam sentido
!
, a soli-
da E E
ficantes de crédito monetário que, em sua função específica dariedade de classe transnacional, movimentos que foram além do homem.
jei
não leva em conta nem os sujeitos nem os obj etos, Em aas As ambiguidades, incertezas e levantes que períodos de grande mudança
igni icante), E!
a-signif ,
uma ERA
o e nem as coisas. O dinheiro e o lucro só reconhecem somo o nosso, experimentam podem ser explicados em parte por esse duplo
e um objeto
jeto igualme
i nte abstra to E peerester- movimento de desterritorialização e reterritorialização. Na linguagem
a abstrata e desterritorializada marxista
uma sbievi cado e eum e que Guattari às vezes utiliza, o “operário” é desterritorializado na “produção”
ritorializado (Marx); só reconhecem
istência, sem singula
!
singul ridade.
i - As s u
ujeições E sub- pelas semióticas a-significantes e pode, desse modo, se tornar o agente de rup-
itóriio, sem e: xistênci
ualquer, sem territór
e funçõe:
dei essa subjetividade qualquer, desterritorializada, a papéis turas revolucionárias, como também de uma reterritorialização reacionária.
x vspisa É! O capitalismo produz convulsões, impulsos indiscriminados e conco-
nas quais o indivíduo se aliena.
o social e da
o inversamente, se nos mantivermos no nível da sujeiçã Imitantes para um mundo pós-humano, e recuos espetaculares em
direção
:
significação, Í
o poder é j reduzido a um ícone, a uma iimagem, a uma Re resen- do homem. Ele avança para um “além do homem” e é obrigado a se reter-
plada (e que, na realidad i e, rn nes ça a). xo Hitorializar naquilo que é mais mesquinho, mais vulgar, mais covardemente
tação a ser contem
Ê
no
Discurs
i os, narratiivas e signifi
ign caçõ des t
captur am a subjjjetivida de “humano” (racismo, machismo, exploração, guerra). E esse retorno incessante
ações. Para no “homem” (já sem possibilidade alguma de humanismo) se justifica pelo
nível da representação, da consciência, das imagens e signific
medo e pelo pavor de que, a partir da desterritorialização e das semióticas
“significantes, apoiando-se nelas bem como atuando contra elas, se chegará
48 Félix Guattari, La révolution moléculaire, op. cit. p. 238.

SIGNOS, MÁQUINAS, SUBJETIVIDADES MAURIZIO LAZZARATO


108 109

»
isto é, além da ip Ra O neocapitalismo marca uma mudança no “modo de produção”, Denomi-
a construir uma política para além do humano; a mulh er e so! nado por Pasolini de “segunda revolução capitalista”, o neocapitalismo deixa
homem sobre
racismo, da colonização, além do poder do de produzir apenas novas mercadorias, para também passar a produzir uma
.
tudo mais que existe (vivo e não vivo) nova humanidade e uma nova cultura que, cinicamente, destroem as culturas
camponesas, subproletários e trabalhadores, ao operar o “mais amplo e com-
pleto genocídio” da história italiana. O que antes poderia existir “fora”, agora
a (neocapitalismo)
6. Pasolini e a semiótica da imanênci é completamente subordinado à lógica do capital pois, como sugere Guattari,
a produção de subjetividade (da cultura, dos valores, dos comportamentos,
das produções da dos modos de existência) é a primeira e a mais importante forma de produção.
“Por um lado, temos uma infantilização
lorena No entanto, antes de chegar a uma descrição “sociológica”, “antropoló-
subjetividade com uma padronização e uma
o en oe, gica” e “econômica” da influência do capital sobre a sociedade e seus modos
ção dos modos de expressão e das relações com
funções não subjetivos de expressão, na década de 1970, Pasolini apreendeu, em meados
por outro lado, uma expansão exponencial das
dos anos 1960, a natureza e a potencialidade da nova “imanência” através de
denotativas da linguagem” sua semiótica.
pelo
“Crianças e adolescentes não apreendem o seu devir,
A “semiologia geral da ação” que ele busca elaborar reconhece a continui-
discurso signifi- dade entre natureza e cultura, com a qual a modernidade rompeu ao con-
menos preponderantemente, por meio do
cante. Eles recorrem ao que eu chamo de formas de discur - centrar toda subjetividade sobre o sujeito e ao destituir o objeto de toda sua
; o
o corpo capacidade de expressão. Com base em sua experiência no cinema, Pasolini
sividade a-significante: música, indumentária,
o — assim como criou, seguindo o exemplo de Peirce, uma nova semiologia a partir da questão
comportamento, signos de Eeconbetimen
da imagem. Na recusa de considerar a imagem como uma produção do cérebro
todo tipo de sistemas maquínicos:
ou como o resultado de nosso sistema perceptivo, ele supera os dualismos entre
Félix Guattari imagens e coisas, consciência e objeto. O cabelo de Jerry Malaga capturado pela
câmera e os olhos “reais” de Umberto Eco participam do mesmo continuum de
imagens e constituem o mundo que é, agora, o do cinema em si, o do cinema
ução e consumo in natura, um metacinema. Como no primeiro capítulo de Matéria e memória
«“Q novo tipo de língua, sendo o da prod de Bergson, o olho está nas próprias coisas; elas mesmas, as coisas, são por si só
aparece como implacavel-
- e não a língua do homem —
s comu nica r funcio- luminosas, não necessitam de nenhuma consciência para iluminá-las.
mente determinística. Ela quer apena
r, ou conve ncer: é: Ao situar o olho nas coisas, o cinema desfaz a concepção antropomór-
nalmente; ela não quer perorar, ou exalta
e” fica da expressão e da ação. As coisas se exprimem por si, constituem focos
todo o problema dos slogans de publicidad
de subjetivação; elas têm um poder de expressão, uma “luminosidade”, uma
Pier Paolo Pasolini capacidade de protoenunciação e de ação que é própria a elas, não dependem
absolutamente do homem.

Pasolini é certamente um dos pri meiros


autores a ter compreendido a natu-
signos do pe Es 6.1. As linguagens do consumo-produção
reza e o funcionamento dos sistemas de n tica, tal co di
maneirai de desviar imites es da linguística e da semió
i dos limit O que nos interessa na “semiótica geral” de Pasolini é de que modo a lingua-
sº s XIX e D
XX, interEsecta, e!
ituí os ao longo dos
foram constituíd éculo
T
OS “neoi capitalism E o pois, dife
E gem das coisas funciona como um “discurso não verbal”, como um poder de
, a obra de Guatt ari. O a o” é assim defini
ontos e: protoenunciação da própria realidade e, portanto, como um foco de subjeti-
não tolera nada além de suas relaçõ
Bento do capitalismo clássico, ele vação. Da mesma forma que em Guattari, a expressão não é reservada apenas
de exploração e dominação.

SIGNOS, MÁQUINAS, SUBJETIVIDADES MAURIZIO LAZZARATO m


no
a expressão e a enuncia- piGuattari
po i E aa?
aos signos linguísticos. Ao contrário, no capitalismo, i de expressão da cor; isto é, a maneira
e simbólicas. A E
ção pertencem, antes de tudo, às semióticas a-significantes E
a ça a como um foco ou um vetor de subjetiva-
um complemento indis- P nd
descrição do funcionamento dessas últimas constitui dizer que a cor vermelha “fala”, ela, entre-
ificantes. cadeia
pensável ao trabalho de Guattari sobre as semióticas a-sign
e A ara E a humanos (percepção, memória) e não
possíveis” e não ae po
Para Pasolini, a língua é “um dos vários sistemas de signos a a berma da expressão e da fala:
e presença física” pao
“um sistema privilegiado e à parte” “Ação, comportamento Ema
bo iquel ue cai, o que está na memória, é
linguística. A “presença pd
são os campos semióticos, locais de comunicação não Contudo, não se pode dizer que seRstáide
de Bolonh a, com sua arquitetura, eai : a el az presente unicamente como parte de
física” dos subúrbios de Roma ou a cidade Ea
uma função
vetore s de subjetivação. As coi- us E a existencial se: organiza de um
como em Guattari, “falam”, funcionam como modo totalmente
inertes, puramente
sas são fontes discursivas, “mudas, materiais, objetuais,
o a arara EI
presentes”, que agem como vetores de enunciação * Ir a > Cortina,E noite, memória, percepção etc.
e aii apo or aà uma condensação de eleme
ou exprimem
As coisas são “signos icôiônicos”, imagens que comunicam ntos Rea ra
da obra de Pasolini
algo. Essa sensibilidade para a linguagem das coisas vem
scursivos, são o fundamento da enunciação.
o
como cineasta, mais do que de seu trabalho como escril
itor. O olhar, auxiliado
catálogo de todas as
pela câmera, o obriga a ganhar consciência e a fazer um
. O escritor transforma coisas 6.2. O neocapitalismo e o não verbal
coisas que um plano cinematográfico contém
sistem a verbal que são “sim-
em palavras, isto é, em símbolos, em signos do
a cinema tográf ico não Como
E sugere
sugere Guatta ari, se a lingu
Guattari i lin agem das coisas nãonã chega a e:
bólicos e convencionais, ao passo que 'signos' do sistem i
coisas em sua mater ia- pcações invariáveis e estáveis, ela pode produzir os
são nada mais nem nada menos do que as próprias Cosas E
ntado com a a RE » dueque Possuem
lidade e realidade”! Foi como cineasta que Pasolini foi confro Rio
a força dos exemplos e a evidência da reencaêa
sica
“discurso” não verbal não verbais, as semióticas a-significantes (as lingua
imediatidade da “presença expressiva” do não verbal. O gens 0) e-
verbal possui”. *?
é “dotado de uma força de persuasão que nenhuma expressão
a ao da indústria) e as semiologias simbólicas fado
s
as, mas não É Rm
Podemos esquecer o que nos foi ensinado por meio das palavr
P ss Esa a subjetividade italiana durante os anos 1960 e 1970.
ensina do por meio das coisas. E ei E Eno é a “segunda e definitiva revolução burgue
poderemos jamais esquecer o que nos foi Re
sa” cuja “cultura
branca, e essa imagem E e e ira os fi,
A primeira imagem da vida de Pasolini é uma cortina isto é, os estilos de vida,
ia burguesa, o Sad
lhe falava “objetivamente” e comunicava o mundo de sua infânc
> õ
ções. Os códigos nãoo agem primei
primei;ro através da lingu
i agem Í
, no entanto “ver- tur eira ip
universo no qual ele vivia. Também encontramos uma cortina denotação e significação. Ana
e algo. Ear
melha”, em Guattari, que, também ela, fala, comunica e exprim m circulação modelos de desejo e impô
o Ecddos de infância, de pai, de mãe etc.)
k
constelação exis-
“A sombria cor vermelha de minha cortina entra numa et ri
rar um efeito de ro
acordo a
tencial com o cair da noite, com o crepúsculo, para engend e e Guattari,i O neocapital
it ismo se caracteriza pela
as urgências que ra cgi Co le produção: produção de mercadorias e de modos
estranhamento inquietante que desvaloriza as evidências e o E “o
atrás, deixando >. Ele lança modelos (subjetivos) da mesma forma que
se impunham sobre mim apenas há poucos momentos a indús.
el.” Nm a
mundo afundar em um vazio aparentemente irremediáv
na uma nova linha de carros” O capitalismo fabri
b TIC É
o E a id Corpo e sua psique, equipando-o com modos
de
49 Pier Paolo Pasolini, Empirismo eretico, op. cit. p. 65. ue (Paris: Le Seuil, 2002), p. 39. No passado “o que
E emiot ão, e com um inconsciente que se esfor: i
50 Pier Paolo Pasolini, Lettres luthériemnes. Petit traité pédagogiq
a era: aqui os pobres vivem, e o que acontece aqua épo um “proprietário burguês em cada trabalhador”
a periferia da cidade me dizia em sua linguagem codificad lugares ir
BS Mas os pobres são os operários. E os operários são diferentes de vocês, burgueses Hoje,aquinos Osmesmos
camponeses +
dirão a você em sua linguagem codificada: "Não há mais espírito popular
“aquelas periferias
os operáriosestão 'em outra parte; mesmo que materialmente ainda estejam aqui” Félix
O Guattari,
een Ritournelles et is 5 (Discussion), Seminário de 15 de
ps existentiels F
setembro de 1987. Disponível
evue-chimeres.r/drupal. chimeres/files/
Per Paolo Pasolini, Lettres luthériennes, op. cit. p. o q [87091 5b.pdf>.
52 Ibid., p. 59.
53 Félix Guattari, Ritournelles et afects existentiels. Seminário de 15 de setembro de 1 987. Disponível em: <http:// Guattari, La Révolution moléculaie (Paris: Editions Recherches, 1977), p. 95,
“wwwirevue-chime res.fr/d rupal. chimeres /files/0 7chiO3.p df>.

SIGNOS, MÁQUINAS, SUBJETIVIDAD! ÍRIZIO LAZZARATO


nz n3
“trabalhador des- verbal”. Basta ler os jornais, assistir à televisão, andar nesse país devastad
A partir dos anos 1960, o capitalismo necessita de um
ão profissional, que pela vulgaridade da televisão, para perceber como o berlusconi
territorializado, alguém que não se fixe numa especializaç é: Foi
desenvolva certa criatividade, ção dessa profecia de Pasolini. a vei
siga as inovações tecnológicas, que até mesmo
m requer um consumidor E À propagação e hrs linguagem não denotativa, que age por contágio
um certo jeito de participar. Além disso, ele també
mé » através do afeto, se acopla uma moldagem da língua pela “técnica”,
que se adapte à evolução do mercado”?
hador, esbo- fenômeno tecnológico investe a linguagem de uma “nova espiritualidad:
Pasolini oferece a versão existencial da nova figura de trabal ,
te de sujeito”, dotado partir de suas raízes até toda sua extremidade, em todos os Es mé Ns
cada por Guattari. “O poder precisa de um tipo diferen
partida da em todas as suas particularidades”
com o que Pasolini chama de “flexibi idade existencial” - a contra ,
) Ao mesmo tempo que há a imposição de uma língua nacional, de um:
oba
cidade formal
flexibilidade econômica do mercado de trabalho -, uma “elasti
um se torne um bom consum idor”** única e exclusiva substância significante, em particular através do sda di E
absoluta na existência; para que cada
resto do mundo), um cacional e da televisão, os equipamentos coletivos de Estado e a coiinica E
O modelo cultural oferecido aos italianos (e ao
modo de se vestir, nos sapatos operam uma centralização e um rebaixamento das semióticas simbólic: NE
modelo ao qual eles devem se conformar (no
modelo que não corporais das culturas populares, favorecendo uma nova cultura da ima; Eme
que calçam, nos cortes de cabelo, em seus atos e gestos) é um
da subjetividade, mas que produz uma nova, paradoxal e hedionda “expressividade”. A ca tda
se destina à representação e às dimensões cognitivas
subjetividade se deve menos à fala, à linguagem erepresentação, à idedlo ja
afeta a própria existência.
cial, que encon- ou à consciência do que às linguagens de produção e consumo (senil press
“Antes de tudo, é na experiência vivida, no plano existen
[acontece] no corpo a-significantes da economia e semióticas simbólicas do consumo)
tramos a conformidade com o modelo, e assim também go
a semiót ica do discur so não verbal é for-
e no comportamento” A eficáci
“o que é preciso
midável, porque afeta e se dirige primeiramente ao corpo: 6.3. A intolerância e o “genocídio cultural” dos italianos
do espírito”.
educar, moldar, é a própria carne, a carne como molde
por uma “linguagem física”,
Esses modelos de subjetivação são impostos
não é retórica Nos anos 1970, cores muito sombrias tingiram da imanência do real à lógi
uma “linguagem do comportamento” que, por ser não verbal, “já do capitalismo. Nenhuma alteridade substituiu o mundo dos cam
-americano”?
no sentido humanista, mas, sim, pragmática no sentido norte sai
, da preci- dos subproletários e trabalhadores (de sua cultura, não tanto da ia E
O neocapitalismo afirma a primazia das linguagens da clareza tência sociológica), que desapareceu progressivamente. Ao contrário, Ee
tica, ao esvaziar a
são, da funcionalidade e da eficácia instrumental e pragmá
um período histórico hedonismo eo individualismo do consumo e da comunicação demassa que
dimensão expressiva das linguagens humanistas. Em
cional e vazia, pois foi ocuparam a integridade do espaço público e que dominaram a subjetividade.
no qual a linguagem verbal é completamente conven
impostas pelas Sem um agenciamento coletivo de enunciação “revolucionário”
submetida à traduzibilidade, à centralização e à equivalência desdobre à altura da mutação neocapitalista, os efeitos das lingua, en de
que se
de infraestrutura e de empresas, “essa lingu agem física egestual
linguagens
infraestrutura (industrial, midiática, burocrática etc.) são catastrófica it
possui importância decisiva”.
ticas mistas”, operam uma mutação antropológica nos italianos. A produção da EE
O neocapitalismo sempre age e se exprime através de “semió dade, de modos de vida e de expressão, como nos lembra Guattari, é o a ti-
em que dominavam as
muito embora invertendo as hierarquias semióticas fício estratégico do capitalismo. Seguindo o Marx do Manifesto %
etc.). Es
linguagens de superestrutura (escola, lei, universidade Pasolini fala até mesmo de um “genocídio cultural”
a Itália é expres sa, sobret udo, através da lin- adro
“A cultura de uma nação como
a a uma certa quan- Destituídos de sua cultura popular, os “novos pobres” vivem um desequi
guagem do comportamento ou da linguagem física, somad líbrio entre suas condições econômicas e a nova cultura de consumo de Basta
— de linguagem
tidade - completamente convencional e extremamente pobre
do neocapitalismo. Eles estão impossibilitados de perceber que aquilo Geo
57 Félix Guattari, La Révolution moléculaire, op. cit, p. 217. consumo de massa faz brilhar é a “causa da pobreza que A disfusçada
58 Pier Paolo Pasolini, Ecrits corsaires (Paris: Flammarion, 1976), p. 256.
59 Ibid,, p. 86.
60 Ibid, p. 82. 62 Pier Paolo Pasolini, Empirismo eretico, op. cit. p. 19.
6l Ibid, p.79.

SIGNOS, MÁQUINAS, SUBJETIVIDADES MAURIZIO LAZZARATO ns


n4
nto dos antigos da cultura de massa a; imeaça se transformar em uma i
de melhorias ilusórias no padrão de vida”. O desaparecime dora “intolerância”.
produzem ao
modelos de cultura popular e o desequilíbrio socioeconômico PE
AS
E Ena a E
que hoje chamamos de “
ica acima de “politicamente correto”, pro-
frustração, violência, culpa e agressividade, que Pasolini identif a s paradoxais, pois, embora no neocapitalismo “as elites sejam muito
tudo nos gestos e na presença dos corpos dos jovens.
ade como o E a com relação às minorias sexuais do que em outros períodos, a
Antes que o neocapitalismo incorporasse e subordinasse a socied o compensação, a vasta maioria se tornou mais descaradamente into:
e” que lhes
um todo, os pobres viviam “uma segregação e uma marginalidad rnno E violenta e infame do que nunca antes na história italiana”
modali dades
permitiam conservar, reproduzir e reinventar sua cultura e suas o a e que ERRO como um câncer microfascista poucos
eram “negros” em
de expressão. O subproletariado (lumpen) dos anos 1950 E orte
repressão policial, o
de Pasolini, encontrou sua ex; pressão
ã macropolítica na
tudo, o qual a burguesia se limitava a dominar por meio de Ea >
íti
em impor mode- ee todas as intolerâncias e de todas reterritorializa-
itoriali;
sem se preocupar em “evangelizar”, isto é, sem se preocupar
ponto de vista, o fascis mo fazia ainda
los culturais ou de subjetivação. Desse a sem dúvida, o primeiro a compreender o poder das lingua-
ou mais precis amente , se situava
parte do mundo do primeiro capitalismo, E a :pro is e consumo, especialmente aquelas expressas através da tele-
e o novo capita lismo. A
na interseção, no limiar de passagem entre o velho p ao is a que fosse temporariamente fechada). O poder destruía
enta uma revol ução
imposição de linguagens de produção e consumo repres j velhas liberdades, > aquelas dos “pobres”s” e trabalhadores ee do
interna das mais consideráveis da ditadura fascista. proletariado;
, mas que criava outras,
ltras, apropriando-se “das exigênci
igências — digamos
“O fascismo propunha um modelo reacionário e monumental
i liberaisace i
(dos camponeses, tas - de liberdade, , e ao tran: sformá-las em suas própria: ral
passava desapercebido. As diferentes culturas particulares sua natureza e as tornavam vãs”.”
a se identificar imper- RD
do subproletariado, dos trabalhadores) continuavam E: im Poa)
são se limitava a a uniformização eo nivelamento dos modos de vida e de
turbavelmente com seus próprios modelos, pois a repres for Es amento já não são mais exclusivamente o resultado de disciplina e
obter uma adesão pela palavra”* E and (dps
as raízes borgate” romanos eram um exemplo paradoxal), mas
Com suas “linguagens de infraestrutura”, o neocapitalismo atinge poente O traball O das tecnologias de poder “mais sutis, astutas e complexas”,
obediê ncia; ele molda e
da existência. Ele faz mais que exigir submissão e peste so semióticas certamente fazem parte. Elas exprimem e organizam
o é um govern o de
modula a subjetividade e a vida dos indivíduos. O govern o “hedonismo de massa” da sociedade de consumo, um poder aparentemente
“almas”, como Foucault escreverá posteriormente. mais tolerantte e mais aberto que, na realidad
ser- i e, segundo Pasolini
«Várias formas de fascismo os haviam transformado em marionetes, lerante e mais destrutivo do que o fascismo.
is
os havia atingido nas e ns
vos e, talvez em parte, em verdadeiros crentes, mas não
mo tocou no que eles
profundezas da alma, na sua maneira de ser. O consu
têm de mais íntimo, lhes deu outros sentim entos, outros modos de pensar, de
ini, não 6.4. A morte do sagrado e o animismo maquínico
viver, outros modelos culturais. Diferentemente do tempo de Mussol
antes, uma real arregi-
havia arregimentação superficial e cenográfica, mas, Epic dai é a ente consciente da situação paradoxal que o capitalismo
te o fascismo havia
mentação que roubou e alterou suas almas”! Historicamen ia. Por um lado, ele lestrói as culturas populares e
e família, enquanto isã “ani
explorado valores retóricos como heroísmo, patriotismo mista” da natureza, das coisas e doER
em toda a Por EE
«o novo fascismo é (...) um pragmatismo que age como um câncer a Rg
mentos maquínicos, ele cria as condições para delinear moças conti maldades
sociedade - o tumor central, majoritário” entre sujeito e objeto, entre natureza e cultura. Como Guattari, Pasolini 1 jo.
fascismo
Ao impor formas familialistas de vida e de sexualidade, o novo tra esse duplo movimento (contraditório): primeiramente, ã ERRO
massa é “quase racista” e produz
da cultura, da comunicação e do consumo de completa racionalização da natureza e do cosmos que os oa san
a
A “nova tolerância” do consu mo, das comun icaçõ es e E
uma “falsa tolerância”.

66Re»
Pier Paolo Pasolini, Écritsits Corsair
Corsaire, op. cit.it p. 147.
p.269. 182.
65 Pier Paolo Pasolini, Entretiens avec Jean Duflot, (Paris: Êditions Gutenberg, 2007), p.

SIGNOS, MÁQUINAS, SUBJETIVIDADES MAURIZIO LAZZARATO


n6 n7
em segundo lugar, a possibilidade de um animismo maquínico que poderia o “traço característico das civilizações camponesas é o de não
ter a natureza
torná-los novamente sagrados (Pasolini) ou “reencantá-los” (Guattari). como “natural”? mas, sim, “animada”, subjetivada, sagrada. Se
o capitalism
Pasolini tem intuições teóricas brilhantes obtidas com o seu trabalho busca dessacralizar as coisas e as pessoas para torná-las objetos
afimide Fed
como cineasta. A cultura “popular” destinada a desaparecer sob a ação do -las, trocá-la e capitalizá-las, Pasolini procura, ao contrário,
E etescralizá la o
contágio capitalista detém paradoxalmente um saber em conformidade com máximo possível”. Contra o processo capitalista que requer que
percebamos
o maquinismo capitalista e, especialmente, com o maquinismo cinematográ- apenas a aparência “inanimada e mecânica” das coisas, e
contra a conce] ão
fico. Antes que a “linguagem da realidade” se tornasse “natural”, antes de ser objetiva e científica” da realidade, Pasolini opõe a consistência
“subj ao
sobrepujada pelos dispositivos cinematográficos, ela estava fora do alcance dessa mesma realidade.”
Re
de nossa consciência. Agora, como nas tradições animistas, o cinema opera Algo dessa “religião” migrou para sua “semiótica”, pois, como
ocorre com
uma aculturação, uma animação“ e uma tal “subjetivação” da natureza que é Guattari, não há ruptura, fissura ou abismo entre signoe realidade,
entre con-
impossível distingui-la da cultura. teúdo eexpressão, entre cultura e natureza. O animismo de
Posolini é um tipo
O capitalismo transforma profundamente a subjetividade ao destruir a de expressionismo, pois o signo é imanente ao real. Em
sua polêmica di
cultura “oral” das classes dominadas. As semióticas simbólicas que eram uti- Umberto Eco, Pasolini afirmava que a semiótica não naturaliza
os códigos
lizadas nas sociedades arcaicas (cuja maior parte era reproduzida nas comu- culturais, mas, ao contrário, “transforma natureza em fenômenos
cultui di
nidades camponesas e subproletárias da Itália moderna) e que, no tempo da transforma toda a vida em fala”?!
a
primeira revolução industrial, manifestava mundos, valores e modos de vida Ê A natureza como cultura é natureza expressiva; ela fala
para si mesma, pois
heterogêneos do capitalismo, estão fadadas a desaparecer.” A cultura e a lin- há um Continuum sem nenhuma solução de continuidade
” entre uma o
guagem das infraestruturas (linguagem da “produção-consumo”), sobrepos- que diz carvalho” e a própria árvore carvalho. A árvore
não é oRia do
tas a outros estratos culturais e linguísticos, as transformam em profundidade signo “carvalho”, mas também um signo icônico, assim como
à pessoa não é
até eliminá-las. “A cultura de classes subalterna já (quase) não existe: resta o referente do,signo “pessoa”, mas um signo “icônico-vivo”, Uma
pessoa e um
apenas a economia das classes subalternas”? carvalho são “in-signos” da realidade que o cinema simplesmente reprodu
z,
A cultura que estava desaparecendo sob o olhar de Pasolini era a cultura | A natureza subjetivada, a cultura animada, é um Deus Védico-
es| iosistá
camponesa (“lumpen”, ou subproletária), a cultura transnacional e trans- diz Pasolini, que aqui fala consigo mesmo. Tudo o que existe, uma
ER a
temporal que vinha das profundezas da história (ou melhor, daquilo que o uma pedra, expressa e canta a glória desse “Deus” imanen
te, a se vê nos
Ocidente definiu como a ausência de história). Para se ter uma ideia do que Eros inesquecíveis de Gaviões e passarinhos, em que o
maTEo pode falar
representou a desterritorialização capitalista, basta saber que a queda abrupta E E pe pb tanto o homem como o animal são
“criaturas” do Deus
da população rural do Ocidente”, um êxodo que vai rapidamente se espalhar
por outras partes do mundo, marca o fim de um período que se iniciou na Ainda que o homem devesse perder sua pretensão “imperialist
a” de ser
Era neolítica. dotado do que falta aos outros seres - o poder de enunciação e
expressão — “o
O desaparecimento do campesinato traz consigo o desaparecimento de não verbal nada mais é que uma outra verbalidade”, de tal modo
que os signos
processos de subjetivação e de crenças politeístas e animistas que sobrevive- das linguagens verbais nada mais fazem do que traduzir os signos
dasling
ram, apesar da capitalização e da expropriação levadas a cabo pela Igreja. Mas gens não verbais e, em particular, das linguagens de ação,
aii
o que mais toca Pasolini é o fim do “sagrado” e a perda da atitude para com o O que perdemos com o desaparecimento dessas culturas e religiõ
es não
mundo e para com os outros que a concepção animista do mundo mantinha. antropomórficas, podemos reinventar com os maquinismos igualm
ente nã
antropomórficos do capitalismo.
Ná o
E eo is aipescado não é uma coleção de “res”, mas de
68 Sergei Eisenstein escreveu textos notáveis sobre o animismo nos desenhos de Walt Disney Ver Sergei Eisenstein, in quanto de um humilde empregado da Fiat,
Walt Disney (Belval: Editions Circé, 1998).
69 Devemos lembrar aqui que, no livro The Making of the English Working Class, de E. P. Thompson, essas mesmas 72 Pier Paolo Pasolini, Entretiens avec Jean Duflot, op. ci
culturas “orais” desempenham um papel central, que os marxistas esquecem com muita faciliade. 73 Ibid,, p. 36.
70 Pier Paolo Pasolini, Ecrits Corsaires, op. cit., p. HO.
71 No início do século XX, 60 a 65% estava no campo; em 2000, apenas 1,8%. 74 Pier Paolo Pasolini, Empirismo eretico, op. cit. p. 284.

us SIGNOS, MÁQUINAS, SUBJETIVIDADES MAURIZIO LAZZARATO


n
o foder ae a ER a 9 formidável poder político das
linguagem das pessoas e das
dirá Pasolini), sendo a primeira e principal > o. Os ã i
expressão. A imagem não apenas
coisas, é a fonte de todas as outras formas de das superestruturas, mas constituem cenicas na is
o real e sobre a subjetividade;
representa, ela age de forma pragmática sobre que atuam ao mesmo tempo no real e na subjetividade. Reg e
o que o “homem” e a subjetividade
pois ela nos faz ver, ela intervém, age sobre E insana ação também podem Cantar a glória do “Senhor”, como os
“humana” não podem ver e fazer. passarinhos no filme Gaviões e passarinhos, de Pasolini. Ou seja, elas podem
utilizado a imagem “diagra-
A ciência, a indústria, o exército e a arte têm cantar a emergência de uma nova subjetividade política ou antas a o ia do
ems que guiam bombas ou pilo-
maticamente” desde muito tempo. As imag capital: a vulgaridade, a arrogância e o poder impotencializado da a E
a imageria médica, a imagem do
tos, as imagens de câmeras de vigilância, o real maquínica de alguém como Berlusconi, cujo advento Pasolini havi RE
am histórias, mas agem sobre
satélite etc. Não representam, não cont pado com surpreendente lucidez. Dee
ens assistidas pelo computador,
enquanto semióticas a-significantes. As imag
rama dinâmico, as articulações fun-
por exemplo, capturam, como num diag
ma, permitindo antecipar, prever €
cionais de uma situação ou de um siste
am diretamente da produção de seu
intervir em acontecimentos. Elas particip
da imagem, como uma cartografia
“objeto”. Essa função não representativa
e cria possíveis, é também identificada
icônica que, ao mesmo tempo, registra
que denuncia a maneira pela qual a
por diretores de cinema como Godard,
. A sociedade poderia usar o cinema
indústria cinematográfica a neutraliza o
diagramas e microscópios para “ver”
e suas imagens como a ciência usa
para “ver” o infinitamente grande,
infinitamente pequeno, ou o telescópio,
linguagem, e para construir “carto-
escalas que escapam ao homem e à sua
ades de ação. O cinema como um
grafias icônicas” que multiplicam possibilid
escolher e agir.
diagrama em movimento: para ver, decidir,
cinematográfico e seu “ani-
Confrontado e atraído por um maquinismo
ica da ação “diagramática” e de
mismo”, Pasolini nos oferece uma leitura polít
bitavelmente “maquínica” (ou
suas possibilidades. A ação da imagem é indu
ar dos ideais clássicos humanistas” e
diagramática), no processo de “se afast de infraes-
de se perder no que Pasolini chama de “pragma” das linguagens
ser
cas audiovisuais, o cinema parece
trutura. Juntamente com outras técni com à
a linguagem desse pragma; parece funcionar em completa harmonia
ma também pode representar uma
desterritorialização capitalista. Mas o cine ente
chance de salvação, uma possibilidade de mudança de curso, precisam
de dentro; ao se produzir a si pró-
porque expressa esse pragma — “e o expressa
ina cinematográfica está comple-
prio, ao partir dele e reproduzi-lo”.* A máqu para a sujeição e a
torna um dispositivo
tamente dentro do real. Mas o que a
em novos processos desubjetivação,
servidão também pode ser transformado
dos agenciamentos maquínicos e que
desde que reconheçamos a natureza impregna
e humanista que ainda
abandonemos a perspectiva antropológica
o.
uma grande parte do pensamento crític

75 Ibid, p. 207.
MAURIZIO LAZZARATO 121
SIGNOS, MÁQUINAS, SUBJETIVIDADES
120
O CONFLITO E OS SISTEMAS DE SIGNOS

“Estou convencido de que se alguns extraterrestres desem-


barcassem amanhã em São Paulo, haveria experts, jornali
tas e especialistas de roda espécie para explicar às pessoas
que no fundo não é uma coisa tão extraordinária assim,
que já se tinha pensado nisso, que até já existia há muito
tempo uma comissão especializada no assunto e, sobre-
tudo, que não há por que se afobar, pois o poder esta aí
para se ocupar disso”
Félix Guattari

Que semióticas são colocadas em jogo no conflito político? Que sentidos


histórias e signos jornalistas, experts e cientistas produzem? Trata-se de uma
batalha ideológica? Tentaremos problematizar essas questões a partir de um
P específico: a disputa por condições de trabalho mais justas de trabalho
feitas pelos profissionais culturais precariamente empregados na França em
2003 — os intermitentes do espetáculo.!
O lema da Coordination des Intermittents et Précaires d'le de France”, “Nós
somos os experts”, levanta dois tipos diferentes de questão que impactam
dliretamente o dispositivo estratégico da governança neoliberal: a política dos
Experts. A primeira diz respeito à natureza e às funções do expert ou do espe-
elalista: “quem é expert?” e “o que sabem os especialistas e o que eles podem
fazer?” Diante da multiplicação de expertises, estudos, estatísticas e dados
cuja escalada é diretamente proporcional à intensidade do conflito - os
intermitentes perguntaram a si mesmos, por um lado, que experiência e que
legitimidade os experts possuem que lhes permite desenvolver e construir um
fonhecimento no que diz respeito às suas práticas; por outro lado, eles que:
Honaram o que os experts “podem fazer”, isto é, os modos pelos quais eles par-
licipam na tomada de decisão e nas escolhas socioeconômicas relacionadas

| Vim "intdoermi espetáculo”tent


é um trabalhador
e do campo das artes - músicos, artistas e técnic do cinema,
os
felevisão, teatro, circo, entre outros- que alternam entre períodos de emprego e desemprego de maneira irregular,
dependendo da duras a produção do filme etc. O termo, criado em 1939, designa um regime diferen
filo de trabalho: acima de uma certa quantidade horas trabalhadas ao longo do ano, quando está desempre;
flrmitente” recebe uma espécie de seguro-des do governo
empre ligeiramente
go superior ao seguro-desemprego.
fis O termo francês “intermittent” é aqui traduzido pelo cognato “intermitente”, [N, T.]
BA Coordination des Intermittentets Précaires d'le de France” [Coordenação dos trabalhadores intermitentes e
flies ários de Tie de France) foi criada
em 2003 a fim de proteger os direitos dos trabalhad intermitentes frente ao
faguiro desemprego que o sindicato nacional do governo (Unedic) havia posto em questão.ores A Coordenação realiza
fipios eim defesa desses direitos e atua contra uma precarização ainda maior desses trabalhadores. Para saber mais,
o chitp://wwwecip-idforg;

AuniZio vaz.
o con-
ao seu trabalho, às condições de emprego e desemprego. O segund monopólio da tomada de decisão de tal maneira que os arranjos políticos são
associa-
junto de questões que o lema levanta reflete as práticas da própria feitos e desfeitos entre poucos. Da mesma maneira, um pequeno número de
s fazer?”. Em outras
ção (Coordenação): “o que sabemos?” e “o que podemo jornalistas garante para si o monopólio sobre o que é dito na mídia e qual
e palavras na
palavras: qual é o valor e a importância de nossas experiências a informação a ser divulgada. É a partir dessas três práticas principais, que
Por que nossas
produção e distribuição do conhecimento que nos concerne? constituem técnicas para controlar o comportamento e tecnologias de Ea
o, desqualifica- ção, que se faz a distribuição dos papéis e das funções, dos direitos e das abria
palavras e conhecimento são limitados e ingênuos e, portant
de “espe-
dos perante a “objetividade” e a “universalidade” do conhecimento gações, das liberdades e das restrições de nossa sociedade.
associação para
cialistas”? Que força nós temos enquanto grupo, coletivo ou A batalha travada pelos intermitentes sobre a questão da enunciação, das
nos dizem respeito ? Por que a nossa categorias e dos discursos se insurge contra uma nova estratégia e contra Et
desempenhar um papel nas decisões que
fala é institucionalmente denominada “não política”? técnicas semióticas: silenciar os leigos, o “cidadão” e o público ao fazê-los falar;
Em suma, o lema “Nós somos os experts!” coloca em questão a composi preparar sua exclusão ao fazê-los participar; mantê-los à distância Ebmiraltane
e legiti-
ção e legitimidade do agenciamento que “conhece” e a composição do-os, ouvindo suas queixas através de um exército de jornalistas, de experts e
da seguint e
midade do agenciamento que “decide”. A questão pode ser posta Pesquisadores. Vivemos num “mundo comum” projetado pelas semióticas do
maneira: “por que não temos o direito de participar no agenciamento cole- marketing, publicidade, consumo, televisão e internet. O acesso a essas semió-
tivo que problematiza e explora as possibilidades de nosso próprio trabalho, ticas comuns não só não é negado, mas é incentivado: devemos nos integrar,
tem o direito e a devemos participar de maneira ativa. A exclusão dos governados e aneutrali-
emprego e situação de desemprego no presente? E quem
legitimidade para tomar decisões sobre nossas vidas?” zação de sua fala singular são produzidas a partir da inclusão de suas modali-
típicas das
A mobilização dos intermitentes parece seguir as duas trilhas dades de expressão dentro de um espaço semiótico comum. Nas sociedades de
produção da
lutas das “minorias” que questionam tanto os procedimentos de segurança, o problema não é a escassez de fala, mas a sua superabundância, o
imento. A luta consenso e o conformismo que sua circulação pressupõe e produz.
democracia quanto os procedimentos de produção de conhec ,
crítica ao
contra as reformas do mercado de trabalho cultural representa uma O espaço público está saturado com a circulação de signos, imagens e
ações
conhecimento produzido pelas instituições (Estado, sindicatos, organiz palavras e com a proliferação de dispositivos de sujeição que, ao encorajar e
tido como
patronais, mídia, ciências sociais), que afirmam o que deve ser solicitar que falem e se expressem, impedem a enunciação singular e neu-
direitos sociais
“verdadeiro” e “falso” com relação ao domínio econômico, aos tralizam processos heterogêneos de subjetivação. Pois, para que uma enun-
imentos
e ao domínio cultural. Representa também uma crítica aos proced Ciação, uma fala singular seja possível, a comunicação compartilhada deve
prego definem ser interrompida, deve-se deixar a infinita tagarelice do consenso midiático,
através dos quais as instituições que governam o seguro-desem
os problemas, trazem soluções e tomam decisões . * forçar rupturas no espaço público, do mesmo modo como, para poder “ver”,
práticas
A luta da Coordenação ressalta e contesta a existência de três devemos nos retirar do incessante bombardeio de clichês visuais. Em outras
aos dispositivos
transversais aos dispositivos de produção de conhecimento, palavras, para existir politicamente, para simplesmente existir, mais que inte-
de comunicação: grarmos o mundo comum, devemos singularizá-lo, isto é, devemos impor
de produção de democracia e aos dispositivos de produção
aqueles que
divisão, delegação e monopólio. A divisão da população entre uma diferenciação existencial e política por meio da criação de novas pa
profissionais de gens, novas divisões. A especificidade de um mundo comum, sua singulari-
sabem e os leigos, entre representantes e representados, entre
imento aos
comunicação e público implica, por um lado, a delegação de conhec dade e sua diferença devem ser afirmadas “num tempo em que os efeitos de
de fala, aos profis-
acadêmicos e aos experts, de poder, aos representantes, e hivelamento de informação e de participação social são reforçados diaria-
e o mono-
sionais de comunicação. Por outro lado, organiza a centralização mente”? A singularidade, a divisão e a diferença não estão dadas de antemão:
pólio da produção de conhecimento nos laboratórios e gabinet es de experts, elas têm que ser inventadas, construídas. i
e a centraliza-
a centralização da tomada de decisão política nas instituições Os dispositivos semióticos desempenham um papel estratégico na cons-
ão de
ção da produção do discurso público nas redações da mídia. A produç trução desse mundo comum, algo que nas sociedades disciplinares não existiu
fechada entre
s,
conhecimento é legitimada por um acordo definido a portas |DRMichel de stere
Certeau, ] La culture
sio pecau pluriel
E (Paris: : UGE, E, 1974),),
Pescas] P-178. p.178. [Edicão
[Edicã brasileira: E Cultura no plural, trad. de
centralização e a um
il
especialistas. A representação política conduz a uma

124 SIGNOS, MÁQUINAS, SUBJETIVIDADES MAURIZIO LAZZARATO 125


logia do saber, Foucault dos firmas de consultoria, instituições democráticas e das redações
ou existiu de maneira diferente. Depois de A arqueo O
ídia Écriou uma verdadeira muralha semiótica
ióti co: ntra a qual os intermi-
suas últimas palestras. Em i i
só voltou a tratar da produção de enunciados em
na breve mente a relação entre
Segurança, território, população*, ele exami E E conflito, as semióticas significantes que mobilizam a consciência e a
a. Deve se levar em consi-
governo da economia e governo da opinião públic E? :ai e tação entram em jogo j E AR
em diferentes níveis. Elas colocam no discurso
no da população que
deração que o governo liberal da sociedade é um gover E: EP ol a importantes para uma sociedade e um tempo ao constituí-los
um gover no das condições
possui um duplo aspecto: de um lado, trata-se de Emo palavras de ordem e desdobrá-los em mundos e universos de sentido.
ação dos nascimentos e
de reprodução “biológica” da espécie humana (regul e organizam a interpretação e a transmissão dessas palavras de ordem E
produção, dos riscos de vida
da mortalidade, gestão demográfica, regulação da e universo de sentido para públicos cada vez mais diferenciados, tanto
o, sobre a opinião pública.
etc.); de outro, trata-se de um governo do públic Em E quanto REPARO a possibilidade de fala dos governados. Finalmente,
istas nasceram ao mesmo
Como Foucault destaca, os economistas e public fazemnc dessas palavras de ordem, » mund.
mundos e universos
i de sentido
À condiçõ ;
sociedade se sustenta tanto
tempo. Desde o século XVIII, a governança da ã
para a sujeição PE PR) ima
dos indivíduos, condições para a sua produção como Sitospad
manei ra, a ação do governo
na economia quanto na opinião pública. Dessa
da espécie até o “público”.
se estende, portanto, do enraizamento biológico
de novas realidades e,
Da espécie ao público — aí reside um campo inteiro 1. Problematização
sobre o comportamento e as
consequentemente, de novas maneiras de agir
dos governados.
opiniões para modificar as maneiras de fazer e dizer E
Um: E E cantos nei soluções õ que “4 “merecem” as questões que coloca
de da gestão diferencial do
A semiótica da governamentalidade hoje depen » Foucault e Deleuze fazem ; da elaboraçã
que substitui a gestão E ação de problemas uma d: as maio- i É
público (posteriormente transformado em audiências),
Hc as

das dife-
s. A otimização psties da política. Enunciados, representações e sentidos dominantes
hegemônica da opinião nas sociedades disciplinare funcionam como uma “grade” que afeta ni ossa maneira i de perceber, i
ação da subjetividade (um nive-
renças “semióticas” visa a uma homogeneiz compreender.
er E Tudo o que acont: tec
ece, tudo queque se faz e se pensa, tudo ER
dente na história humana”) e que se
lamento da heterogeneidade que não tem prece Efica pensar e ses no domínio econômico e social passa aidvês des
nça, um novo consenso da
toma a forma de um novo conformismo da difere rE enunciados
paca e significações que compõe E õ o horizonte
i de interpreta-
pluralidade. E e e enunciação do mundo. Denominar emprego e desemprego como
uma luta focada
Foi nesse novo coi ntexto que os intermitentes começaram E do Pena
? de aa pis significa definir um quadro que coloca os limites
de desemprego, emprego e tra-
nas enunciações e significações das categorias , el; significa afirmar o que é im) portante e perceptível;
í
semiótica de jornalistas, de significa deli
balho num espaço público comum ocupa: do pela mitar o que é legítimo
e e o À que nãoão é,é, significa,
signi » também, , ciré Circunscrever
prego, emprego e trabalho ni os
experts e de pesquisadores. As categorias de desem E ros da ação e enunciação políticas. É desse modo que, para Foucault,
ês, para regular e limitar
servem, como tantas palavras de ordem e tantosclich procoder de apresentar
1 problemas
1 é um poder
oc de pt politização, isto ' é,é um poder E
to formi dável de laboratórios iti ção, isto
nossos modos de agir e pensar. O agenciamen E Eres poros eojetos e novos sujeitos dentro do espaço da política e
(Paris: Seuil, 2004). p. 28! -los as balizas de uma polêmica e de uma luta. A probl izaçã
A Michel Foucault, Sécurité,erritoreet populati on: Cours au Collge de France (1977-1978), trad. de Eduardo Brandão. São introduz no espa çoÉ público
, populaçã o, aulas no Colltge de France E úbli nãoã apenas
ú novos objet: jetos eDat jei
sujeitos,
283. [Edição brasileira: Segurança, território
el em: <http:/ /michel -foucau l-archi ves.org ?Suje-s ecurite -terrioire-et> mas tam-
Paulo: Mástins Fontes, 2008]. Disponív ação e a cultura de massa vêm se tornand o parte de um processo de Riso de ação, modos de relação consigo mesmo”, ou seja, modos de
5 A partir do anos 1930, o consumo, a comunic tal modo que o problema , desde então, tem sido o seguime coma, i ação possíveis. g O movimento dos os intermitentes,
i i
integração e cooptação de “singularidade” de uniform izante e nivelado r de valoriza ção acumul
& ação ao queb; À
as minorias
gar as singularidades, as diferenças,tentando no sistema pelo menos nos veres de conceitual
pesa! do consensoau instituci
nral
ucional entre sindicatos,
ind pr
» patrõesõ ee
criar as condiçõe s para alguma singular ização Estado, ao
alisa? “os empresários estão as estratifcadas, uma tentativa estácapaz sendo feita no sentido de criar margens” enfatizar “novos direitos sociais” em lugar do “direito ao trabalho”, atacou
produção. Isso significa que nessas estrutur s se deem, desde que o sistema de cooptá-los permancta absoluto
cientes que permitam que esses processo Union générale dédition s, 1980) p. 70. Somos confrontados com ua
ala Guatas a Révolution Moléculare (Paris: que dão conta de questões “específi cas” a fm de cremecnre” bio.
multiplicidade de escolhas, opções e possibilEisidades
porque Guattari preferia falar em “process os de singularização” em vez EePro emtização (é ; o conjunto , discursivas ou não discuss que a alguma
quear e reincorporar certas problemáticas, ão é integraç ão da singular idade, cujo obieuto é bloquear e ds práticas cia entrar no jogo
de Singularidade”: “Todo o problema se resume à cooptaç 183. [Edição brasileira: iai
rdadeiro e ú mo objeto para o pensamento”
pensamento” Michel Foucault. Coleçã i
Guattari , Caosmo se (Paris: Gallée, 1992)
deutraEsar os processos de singularização” Félix
Lúcia Cláudia Leão. São Paulo: Editora 34,1992).
trad. bras. de Elisa Monteiroe Inês Autran Dourado Barbosa. (Rio de Janeiro: ForenseUnreal 20004 o.
Caosmose, trad. Ana Lúcia de Oliveira e

SIGNOS, MÁQUINAS, SUBJETIVIDADES MAURIZIO LAZZARATO


126
zação ao introduzir novos proble-
práticas discursivas (focos não ciscuravosde entncação) Conus dio
nasce. Elas re) i
diretamente o “monopólio” da proble mati
ios completamente inéditos para
mas e questões e, desse modo, trouxe desaf pec
cursos eat
relativos à “reforma” do seguro-desem;
d
- prego,
o preO discurso io
econômico é
o pensamento e a ação.
go está reservado apenas
Ee pciPac cuia jo pos
por ore » a desi
dese mpre
O direito de problematizar emprego €
aos “parceiros sociais” (a “paridade” entre
os sindicatos patronais e de traba- rig ade, exploração etc. E
nios, as decisões são tomadas dentro reis Ra seleção de problemas e de soluções opera-
lhadores). Aqui, como em outros domí ão e
ram a esfera pública da divis cosas a icação estabelece uma rachadura inicial entre
das instituições que, há tempos, abandona - RE rmaee trad
de avaliar e medir déficits, custos e inves a governam têmo poder de definir os problemas
confrontação políticas. As maneiras cia e fina lida de, — rnb
à sua importân que aicp denominam “as possibilidades”) e estabelece,
timentos, assim como as questões relativas
tiza ção públ ica, de toda polêmica, econfia- nec que é igno de nota, importante, relevante, factível, digno
foram retiradas de toda problema
ômico, experts, cientistas, admi-
das a especialistas (grupos de interesse econ exercida dentro dos E
de previdência social e solidariedade ia q a já codifica ronda
nistradores do Estado). As instituições
cogeridas pelos representantes dos con- E aidos pros problemas e soluções a nadas AA
nascidas das lutas operárias, geridas e muito deixaram de ser omoA Er e ED i Pr
de trabalhadores), há os problemas e : as significações são
tribuintes (sindicatos patronais e
” ou da “democracia da produção”. E rrettems a e icações da realidade dominante; a máquina
instrumentos da “democracia do trabalho sformaram no poder “oli- a detriã ie de significantes existe apenas para produzir e
A democrac ia do trabalho e da produção se tran
cais e do patronato. A gestão conjunta E pao) E pe emas e a grade dos enunciados e das signi-
gárquico” de certos componentes sindi s
ada na lógica das relações industriai Res comia der Era verdadeiras barreiras semióticas para o
da Previdência Social francesa, fund (des empr ega- — pç
s esses novos sujeitos en es. Tudo o que não se encaixa na definição con-
fordistas, ignora os “interesses” de todo isa
, doentes, deficientes, estudantes etc.) mprego é, literalmente, inaudível, incomunicável
dos, trabalhadores precários, mulheres o O eso
sociais e políticas que a diferenciaçã ) ma istas, experts e cientistas. Como se pode verificar
e negligencia todas as novas divisões ee
década de 1970. io o conflito, além da má-fé ou pobreza intelectual
neoliberal fez aparecer depois do final da
movimento dos trabalhores ada Aeee listas, a questão não era cognitiva, mas ético-polí-
Mas o equilíbrio de poder alcançado pelo de uma bre- Reno ss 1
intermitentes permitiu, por um curto lapso de tempo, a abertura mais abertas e mais bem-informadas literalmente
lematização. que ocorria porque o discurso proferido pela Coordenação
cha ea ruptura desse monopólio da prob E -
de “emprego” e “desemprego”, inteli; el,
ma. para que que fc fosse inteligív
pressupunha,
Além disso, quanto pior se torna à “crise” Eobie uma modificação, um deslocamento
aram de designar realidades. Ao
mais essas palavras, paradoxalmente, deix
à pouco em palavras de ordem para
invés disso, elas se transformam pouco
os clichês do consenso. Essas
o pensamento e a ação, ajudando a produzir 2. A interpretação e transmissão de palavras de ordem
(do liberalismo) nas quais sepretende
palavras agora passam por “verdades” ado a questão cor-
almente consider
que acreditemos: se o emprego é unilater “Com
para expandir o emprego, impostos e E asE palavras
rs se “
cem pps Ped
fo desemprego”, com o consenso que
reta, então ele é a solução certa. Assim,
ade do mercado de trabalho deve
negócios devem ser reduzidos, a flexibilid “eolocar
cair e assim por diante. Todas essas a am em guniibnaniento dna! ses te máquina Edn
de interpre oe de
aumentar, o nível de proteção social deve tação
pela simples razão de que elas são oNao a poderosa máquina de sujeição da qual Ee o
«verdades” nunca foram demonstradas eo que E a icações ede sentido. Outrora privilégio exclusivo do
indemonstráveis.
mprego constituem os pontos — órpsiad ora e enuncia problemas, que estabelece os limites do
As palavras de ordem sobre emprego e dese
narrativas e discursos de poder Ro E são constitui na interseção das práticas não discursivas
inomináveis e inefáveis a partir dos quais as
de fala e de saber dos governantes agenciamento de enunciações que podemos reduzir, sem
brotam e a partir dos quais a possil ilidade

SIGNOS, MÁQUINAS, SUBJETIVIDADE ÍZIO LAZZARATO


128
o Ee Po a j e igei aa friai de pirçie de Certeau ao afirmar-
t, do cientista e do jornalista. Tudo
distorcer muito, às enunciações do exper tado por esses três, E re o jorna ista, O intelectual e o expert
acontecer é interpre
que aconteceu, está acontecendo e vai E pm a a favor do primeiro, pois a mídia solicita Cada ver
lemas e enunciados do capitalismo contem-
de acordo com a “grade” de prob NR pi (aquela do intelectual ou do expert). Ao contrá-
mercado, concorrência etc.).
porâneo (empregos, crescimento, O rererceas paes s “são, assim, forçados a se tornarem jornalistas
de segurança, o agenciamento do
Mas por que, em nossas sociedades e O rear nt ormidade com as normas da comunicação con-
itui o político? Por que sua expertis
expert, do cientista e do jornalista subst ica de pont os O ini e no do cientista, do expert e do jornalista,
re à confrontação polít
tende a substituir o espaço no qual ocor râneo funciona de acordo
de vista? Porque o sistema democrático contempo s- implica certas Eid ras as - pessoa
ou dissenso possível sobre os pressupo RR
com a crença de que não há disputa de que a ques tão social finidamente, uma vez que o discurso roduzid. PRE dean se
Se há um consenso
tos implícitos do consenso social. entre o sindicat o e arbitrário; segundo, que existam E e PR
a de ponto de vista
fundamental é o emprego, a diferenç edores (garantir as prer- cientista, o expert, o jornalista), cujo “tabalho GERE sem E
os empreend
(garantir os direitos dos empregados) e dizer o que eles significam,m, interpretá-los,
ser facilmente reconciliada pelo expert. Ra int » fixa fixar, assim,
io O significante”;
o E
e, ter-
rogativas de “capital humano”) pode o E Ena, (as diferentes audiências) que a
iramente suficiente.
Sua mediação/interpretação é inte ts, seo que oem interpretação eque obedecem às imposições” Não
ui papéis e funções a políticos, exper
Essa maquinaria pacífica que atrib o con- os Epa Raia meio do agenciamento do cientista, do jornalista
quando, como aconteceu durante
cientistas e jornalistas só se rompe e o trab alho ), quan do uma sea Pe uma metamorfose do “poder pastoral”: um
consenso (sobr
flito dos intermitentes, há recusa de ráve l aos pres supo s- Do as tennatos rel anho” Esse agenciamento tem o público na mão
lhe seu parecer favo
força política (as coordenações) reco de orde m” domi nan- gias semióticas de um “governo de almas”.
nciados-palavras
tos implícitos transmitidos pelos “enu do
nto coletivo de enunciação”, a partir
tes e produz “um outro agenciame
Para isso, não basta “liberar” a fala dos
qual a fala singular pode se organizar.
a. As redes de poder são, portanto, 3. O pesquisador do conflito
dispositivos de poder; é preciso construí-l
confrontadas com uma situação completamente nova. À ob o siei
DO i
no Ei chefe de pesquisa do Centre national de la
de Michel de Certeau, podemos des-
Buscando livre inspiração no trabalho m pro- es nha A ( RS), diretor de estudos na École des hautes études
e transmissão das palavras de orde
crever a constituição, interpretação e jorna lista s da segu inte ai e E do Centre de sociologie des arts e “especialista”
experts, cientistas
duzidas pelo agenciamento entre ciad os que defi nem o Rolo Ec pd E teen on perfeitamente a descrição de
interpretar os enun
maneira: O cientista tem por tarefa e, se nece ssár io, e e , Uma vez que seu trabalho forn:
nota para à sociedade,
que é importante, o que é digno de um Ro E o prontos para serem repassados: “clichês” erreniente
r especializado. O expert age como
questioná-los por meio de seu sabe
especializado para a linguagem dos
op a : aa ate pública, de modo a garantir o sucesso da
mediador e tradutor desse conhecimento
ômicas e de administração do Estado.
o o el a fazem do intermitente uma “exceção do mercado
tomadores de decisões políticas, econ estu- a da
preta e transmite as afirmações do
A TO, ee do emprego permanente o instrumento e a
A mídia, por sua vez, seleciona, inter — int regulação dos trabalhadores intermitentes “excessivos”,
na linguagem da opinião pública, ao
dioso e do expert através da reformulação Remo çacultural. Ao fazer da categoria de emprego perma-
semiótico compartilhado por diferentes
fazê-las circular dentro de um espaço
desemprego e trabalho tem, portanto,
audiências. O discurso sobre emprego,
es, bem como os seus “moduladores”,
limites ] possíveis e i meia, aa lo de trabalho
sqoreço cul
ER
seus enunciadores, intérpretes e tradutor de enunciados (os conceitos “grade” é desqualificado como ingênuo, irracional, rn à set ia
diferentes
que garantem a coerência entre tipos
e as opiniões dos jornalistas) e os disposi-
dos intelectuais, os juízos dos experts gabinetes dos experts etc.). 7 Gilles Deleuze, Deux régimes deab fous et autres textes (1975-1995) (Paris: Éditions de Minuit, 2003), p. 131.
a mídia, os hbidop. 15.
tivos que os produzem (a universidade,

SIGNOS, MÁQUINAS, SUBJETIVIDADES MAURIZIO LAZZARATO 131


130
das profissões do mercado de trabalho cultural que não são protegidas pelo
que o Rue aee SentoEe ES
de emprego para o setor cultural o seguro-desemprego do trabalhador intermitente."
s devem funcio:
do como os dispositivos disciplinare Es na Em profissões cujas atividades não fornecem direitos similares aos dos
dade de segurança. Seu livro mais recente é inteiramente intermitentes, surgem os mesmos fenômenos (mas agravados) de subem-
es a
rego e descrap seo, pa ie
são disciplinar entre normal (emp prego e de precarização. Sem um regime de indenização como aquele dos tra-
ente), como seu
(emprego e desemprego intermit balhadores intermitentes, os indivíduos, para sobreviver, só podem recorrer
dt
ie d'une exceptioi n [Os Intermite:itentes do
Les Intermittents du spectacle: sociologie ãol.º 7 Os ram a benefícios sociais básicos ou assumir vários empregos. Ao inverter o ponto
sociologiai de u ma exceção).
espetáculo: : soci de vista de Menger, poderíamos dizer que, se a desigualdade é mais aguda
qualquer, assim com
Pará Menger, “não é um desemprego rmitentes é aquele nesses setores do mercado de trabalho cultural (e em todos os setores em que
e mprego qualquer (...). eee) A regulação do desemprego dos inte existe emprego descontínuo), é precisamente por causa da ausência de um
ápi co. Mas a
atípi flex ibil idad
ibili e exce p ional
cepc
de uma cobertura atípica de um risco inários, regime de indenização que dê conta da descontinuidade do emprego e das
ênci ideráveis”!º Desemprego e emprego extraord
- estamos em modalidades de trabalho e de formação numa economia flexível. A pobreza,
ao cd ea díicos, feibilidade excepcional o subemprego e as enormes disparidades de renda não são uma função do
costura seus argumentos em o pe
ei eo disciplinar Menger e regime intermitente, mas, sim, da organização flexível da indústria cultural e
d aa
EE e o regime da intermitência no pa rd da maneira pela qual o seu mercado funciona.
levantadas pelo
visa reduzir e confinar as questões da exceção pri O que ocorre aqui é o que já aconteceu em outros domínios da economia nos
i o quadro reconfortante do anormal, pcional últimos trinta anos: uma política de pleno emprego (criando empregos “reais”,
m erradicar o exce
lise ã em rego a serem implementadas deve estáveis, integrais) que negligencia as atuais condições de produção e divide e
ra normal do merc ado de trabalho, que e
dao É ei E fragmenta o mercado de trabalho ao criar uma disparidade crescente entre ren-
empreendedor (sua o
% EEE reconstrução da função do se E a E das. Ela serve apenas para alimentar a diferenciação, multiplicar ainda mais as
(sua RE
RSS da função do assalariado desigualdades e, assim, criar o terreno ideal para a gestão neoliberal do mercado
seu Fa lugar ( E gira E
possa atribuir a cada coisa de trabalho, implantando e estendendo o seu alcance. As políticas de emprego
a da” deve
niza E estão subordinadas à lógica liberal porque elas nada mais fazem que segmen-
os àdoPe
mitanos
eimi ca
pesq uisa“ierarquia direta 6 e orga
o
s dor, engan
tar e, posteriormente, diferenciar e aumentar a concorrência entre o trabalho
E RAR
Daio em um mercado de trabalho tornado “garantido” e o “não garantido”, entre emprego seguro e precário, permitindo,
a das a cap a E
pa ortamento fora de sintonia com a norm de trabal dessa forma, uma política de “otimização das diferenças”, de gestão diferencial
o normal do mercado
lho: aaa que o funcionament da RR das desigualdades e de controle do comportamento no mercado de trabalho.
o e pda
é “natural”, mas deve ser produzid orma
. Isto é o que a “ref 12 Em 2005, um estudo realizado pelo Ministério da Cultura da França
contínua das políticas de empregos Maison des Artistes (uma “associação responsável pela gestão do regime mostrou que metade dos artistas filiados à
de Previdência Social dos artistas de artes
gráficase visuais”) declarava ganhar menos do que 8.290 euros anuais. Se olharmos para um dos critérios pobreza
paradoxo, Menger ainda consegue
culpar o regime nr Índicados pelo INSEE (Instituto Nacional de Estatísticas e Estudos Econômicos) - pobreza monetária -, devemos
eo Er e
rrentes das políticas o pet E metade desses artistas declarou renda abaixo da linha da pobreza. Encontramos entre os artistas filiados à Maison que
eia elis responsabilidades deco E Artistes a mesma estrutura, de forma mais aguda, do que observamos no mercado de trabalho dos intermitentes. Emdes
formos cap: sonsonância com uma “característica amplamente difundida entre os profissionais das artes” a renda aparece muito
i denunciar a a precariedade geral se não reca soncentrada: metade dos artistas compartilha um pouco mais de 10% das receitas alocadas; por outro lado, 10% dos ar-
rmitente que cria,ele mesmo, a p listas desfrutando as maiores rendas compartilham em torno de 45% das
e 1 jo sistema de trabalho inte mo estudo, no qual o Ministério da Cultura também examina as mudançasreceitas totais alocadas. Olhando para o mes-
ado de trabalho está inscrita no próprio na renda dos criadores” filiadosà Agessa
Sed id A de integração do merc [associação responsável pela gestão do regime de segurança social dos artistas”),
ignora o fato de que, ao longo dos nos anos de 1993, 2000 2005, vemos
“um aumento significativo, em cada categoria, do número de artistas cujos rendimentos estão abaixo do e limiar
o hd intermitência"" Essa asserção Adesão Trinta por cento dos fotógrafos, 28% dos criadores de sofiware e 30% dos dramaturgos não excedem opara a
se espalhou por todos os E para a adesão. Département des Etudes, de la Prospective et des Statistiques (Deps), “Peintres, graphites, sculpteurs..limitees
unos inta anos, a precariedade também realidade
na De qualquer form a, suas declarações são refutadas pela Artists auteurs affiliés à la Maison des artistes en 20057 in Culture Chifres, activité, emploi, travail (2007-6). Disponível
fm; <http://www2 culture gouvfr/deps>. Devemos também observar que a Maison des Artstes não só reúne artistas
ÉditiEdit ons de PEHESS, 2005). artes plásticas, mas também toda uma série de novas profissões, o que atesta, a seu modo, as mudanças na figura do
spectacle;: sociologiegie une exception (Paris: Paris::Textu
y Menger,ger, : Les intermittentsdu: exten
spectacle p p: 45. Artista e criador: pintores, designers gráficos, escultores, ilustradores, cartunistas, designers têxteis, gravadores, ceramis-
erre Michel
9 Pierre
2 iscace Michel Menger,Proféssiom artist sion du domaine de la créatioie (Paris : e Textuel, 2005), fas, artistas de vitrais, pintores
decorativos, designers de interiores etc.
1 Tbid,, p.59.

SIGNOS, MÁQUINAS, SUBJETIVIDADE


MAURIZIO LAZZARATO
132
cos
Coesão Social)'*
E sobre garantiai de emprego. Porque, afinal, ali, os fenô;
l
4. Desemprego e trabalho invisíve obs DE nos intermitentes são vistos como a regra é nã pá
oca anomalia:
E “A clara rupt
rupÍ 'ura entre e mprego e desemprego,inte
significações
estratégico nas narrativas e nas
O “desemprego” tem um papel disc nar entre
ipli
o aa e trabalho independente, foi substituída RA a E vg
al acaba na mesma distin ção
neoliberais. A análise neoliber ra) e anormal
Empregado é d mprego, um estado turvo em que se está ao mesmo ti o
como O instituído após a guer treco ee
normal (seguro-desemprego opriado pelos rega desempre
desempregado, » ou em) preg: i lependente; enquanto Eis eso
regado e ind: i
foi utilizado, deturpado e apr
(seguro-desemprego tal como com todos os experts em
fetio am se vários tipos de contrato de trabalho temporário (eo e Ras
s). Tal como acontece o E » Ep
trabalhadores intermitente gostaria de trazer O seguro-de-
interino)”. A suposta “exceção” do int ' Ee a
ticas de emp reg o do se! tor cultural, Menger E ce tomo
rnando a regra do regime
gime salarial,
salari como afirmam as coordenaçõ
polí balho intermitente (porque asno
semprego, cujo uso tem siido pervertido pelo tra de vida dos
ie e desde 1992. As categorias “tradicionais” ou “clássicas” que
culturais e artísticos e os projetos
financia a atividade, os projetos sim ple s cobertura
poser gostar a E DR no sistema intermitente dificilmente fun ss
sua dita função natural de
intermitentes), de volta para a mai or parte dos
pa pie Os setores “normais” da economia. Ao contrário de Eis
rego. Mas Menger, como a
contra o risco de perda de emp ão flexível”,
Eee pe a nça entre o desemprego intermitente e o desempre, o
tro de um sistema de “acumulaç
experts, parece ignorar que, den inta entre ag epresenta uma distinção de grau, e não de naturez: POR
e função. A separação clara e dist
o desemprego muda de sentido o), esta - bele E spa rande narrativa” do em) p rego (ou do plplenoj emprego) éé assi
assimÉ interpre-
prego como o inverso do empreg Eco feia es
emprego e desemprego (desem padronização segundo duas lógicas discursivas e não ond
diferente de acumulação (a
cida dentro de um sistema muito lidade e da continuidade do
DO o À sassalariados de longo prazo e a da defesa do empresái o
e continuidade da produção e, assim, da estabi vez mais estreito
ne a ' A Tatão pela qual esses discursos
i não são E aa
o em um entrelaçamento cada
E

emprego), foi se transformand íod os de formação.


Dooq condes am O sistema intermitente, mas por razões diversas. Ss. P. r
os de desemprego e per
dos períodos de emprego, períod salt a aos olhos é
iberais o fazem porque, apesar de explorarem a mobilidade
ural, a primeira coisa que
Quando analisamos o setor cult o cobre a duração
“ea flexibili lidade do sistema,
i nãoã querem pagar o preço disso em termos de
A duração do empreg
a disjunção entre trabalho e emprego. entes (for- guro di
seguro-desemprego (“ele não O incentiva
i i a concorrência”,
rrência”, “ “ele promo! -
A prática de trabalho dos intermit
do trabalho real apenas em parte. dades de Re pus E fem O aumento da precariedade, há 6 risco de E
de saberes e competências, modali
mação, aprendizagem, circulação rego, sem que um seja
aaa Ea a e de direitos garantidos pelos intermitentes (ainda né
de emprego e desemp
cooperação etc.) inclui períodos cialmente
E amento) pin e emulado em outros setores do trabalho precário. o
emprego corresponde apenas par
reduzido ao outro.” O tempo de dos inte rmit ente s. Essas
co S p
rda, por Vez, não se en' volvem poisi seu objetivo j é
sua vez,
mação e de cooperação
às práticas de trabalho, de for de 1980. Concom ita nte mente, pl ee sat dig &os verdadeiros empregos” para (eles ecoa E
da década
mudanças não são recentes, datam m, O E Ee ei os verdadeiros artistas” e os “verdadeiros EesGaoo
do a um período sem atividade. Assi
o desemprego deixou de ser reduzi a de emp reg o, mas RA ne migas sxims vma eai paliativa que deve ser Ruparao
seguro-desemprego não se limita a cobrir o risco de perd à o pata rego
g estável”, com o qual os sindicatos
indi se sentem
ereproduzir
da renda, que permite produzir
também garante a continuidade quais o tra-
práticas e temporalidades, pelas
o entrelaçamento de todas essa: s outros setores.
Não é sata
difícil jota o papel que o “erudito” Menger tem desem
onsável, como seria o caso em
balhador não é totalmente resp de DO d o ci é iscursos e signos. - Os
Os conceitos
i teóricos
óri
a de emprego (“cultural”) e o tipo
e inter- N
O foco de Menger sobre a categori nômicas
EE o pesa que são formulados por ele têm sido en
de compreender as mudanças eco
soluções que ele defende o impede sobr e os inte rmiten- RR neo send iscurso sobre o emprego no setor cultural, sobre odé
ir de nosso inquérito
que estamos vivenciando. A part (Conseil de Vemp loi, ria regulação e padronização desses “excessivos” ent: Ta
e com o relatório do Cerc
tes, concordamos plenament ho para Emprego, Renda e
ale - Consel
des Revenus et de la Cohésion Soci 14 Conselho para o emprego, a renda e a coesão social, “La sécurité de lemploi face aux défis des transformations
a e, fconomiques” : (Paris: La Documentation
ntati Française, aise, 2005), 20 5), Disponível
Dis em: <http://wwwlladocumentationfra
estud o de camp o entretanto, confunde sistemátic
que realisou por trinta anos, ões, ente ao
em: <http:/h m nauncaise.
Menge s, que se vangl oria do ele se limita exclusivam
13
ement e, traba lho e empre go. Ao longo de sua análise e “de cuas recomendaç
alegr
emprego, sem nunca levar em conta o trabalho.
MAURIZIO LAZZARATO
SIGNOS, MÁQUINAS, SUBJETIVIDADES 135
134
dos intermi- 5. A função narrativa das semióticas significantes
nos momentos cruciais da luta
perfeitamente em ressonância, ticos e líderes
va de jornalistas, experts, polí na
tentes, com a grade interpretati que circulam Aobrmídi a faz mai pin Fr de ii Ela as atualiza, as des-
tituíram em palavras de ordem a em ra
sindicais. Seus conceitos se cons a circulação, sua precisão e
por meio dess Ce pa animo tatravés
na mídia, reforçando e validando, de histórias e narrativas que não d na,
escrevem o real, mas o instituem.
k Mi
seu poder de permanência. enun- RE Certeau sinteti
o e a televisão “engrenam” esses óticapri E Ene muito eficaz essa nova função ab ma
A imprensa e, acima de tudo, o rádi dentro
discursos e nas falas que circulam DO através da mídia a Ea grande silêncio das coisas muda-se no seu contrá-
ciados eruditos e acadêmicos nos enunciados dos experts e Re veem por RE EE En segredo, agora o real tagarela.
is e sociais. Eles selecionam as
das redes instituciona nando a infor- mações, estatísticas e
uma linguagem para todos, tor Jamais ho s Ra ar
seu conteúdo, traduzindo-os em maneira, que tivesse falado ou mostrado tanto.
e assimilável. A mídia é, dessa E D e
mação ao mesmo tempo atraente os. Ao longo cão as possas E o constitu em a nossa ortodoxia. Os debates de
e transformação desses enunciad E
o agente ativo na apropriação para gre-
“en rimas de idéias o Em teológicas. Os combatentes não carregam mais
nciados que a mídia seleciona
da luta dos intermitentes, os enu e na lin-
redes sociais, na opinião pública dados e acontecimentos. A ou defensivas. Avança
m camuflados em fatos, em
ná-los”, transmitir e ancorar nas ente aqueles que traduzem os “real:
guagem corr ente (sem surpresas) são exatam (...) ci o fab) pres
fato, elesns
Mas,o de Eres entam-se como os mensageiros de um
no sentido da ma ricam, simulam-no, usam-no como máscara, Eis
da oferta e procura, de empresas
enunciados de emprego, de lei vos”. Ds semióticaspra a Se a cena da sua lei”. A injunção oi
o dos “excessi
“necessária” e “inevitável” regulaçã dos
ção dos enunciados do movimento DO o e enonciaimoeçi es de núme ros, estatísticas e défic its é posta em
A mídia opera igualmente uma sele semiót ica ”
mamos de “verdadeira barreira Nelinhas, o ode rea Cale-se!”. Isso é o que exprimem, nas
intermitentes, erigindo o que cha um regi me de televisão e o repre-
nação, limitando-as à defesa de senant ema a Da
frente às reivindicações da Coorde citou a e pesquisas: “Estes sã
para “artistas”, A mídia quase não ga
de seguro-desemprego específico do Medef dad:
* Eisos nte i
etac ular ocupação”, que dur ou uma semana, no teto da sede nte nos die o etc. Portanto, você deve... A realidadepat
“esp imento de empresas da França
).
France — Mov
(Mouvement des entreprises de uma revisão da Histórias e narrativas da a a quedeve ser flo
havia subido ali reivindicando i O € O desemprego em
Isso porque a Coordenação uro -desemprego, e univ ersos de
irado Ed
di
aa eso BTSSO É de io Fr
minuciosa do sistema de seg
Unedic's, isto é, uma revisão extrapola em social, que deve ser curada at
ente - uma reivindicação que e c o
e não apenas do regime intermit os jornalistas se com- E Eaego,
empr E E Rss das sociedades de segurança que deve Ed
e artística, no qual
muito o contexto de exceção cultural ontrar
rmitentes. Embora se pudesse enc is estatisticas queiconvocamie
prazem em limitar à luta dos inte lutaram com apelam para a fala de Ee PoE Run ervs
resse por esses “artistas” que se s q dos próprios desempregados. E
na mídia alguma simpatia e inte completo tudo isso não serve a ento es
de époc as pass adas, houve, todavia, um blackout através
na ósito além de tentar integrar, ca. As
uma determina ção
que a mesma mídia tinha sobre as
funções e da máquina comunicacional, omia multipli
sobr e tudo o que ia além da ideia
gas” que “narrativas” têm uma fun od esigualdades que a econ
sociedade. A multidão de vozes “lei pois com pensam as crescentes
os papéis da arte e dos artistas na “disjunções” criadas peladivi a pa
se elevou ao longo de todo o conf
lito não exerceu quase nen hum peso
mate
sobre
rial de pira pis s ro erp ção Erenci
, na melhor das hipó teses, com o El ercado de trabalho da: de emprego e pelas estratégias de segmentação
os editores da mídia que as usou suficiente para
uma voz legítima, expert, era
opinião popular. Para a mídia, entender que, se o mercado
medo, os discursos sobre o
-
Dr na j ulâm o
aroiada Era qe pelc
não conseguiam E
silenciar os grunhidos dos que mobilizar a sociedade para o futuro. As peito Pç
é apenas para o seu próprio bem.
de trabalho está sendo regulado,
17E
Michel de Certea wu, A Inver nção do cotidiano,
ic trad. bras. de Ephraim Ferreira Alves (Petrópolis: : EditoraEditora V Vozes,
” [União
n nationae interprofession nelle pour Femploi dans Pindustrie et le commerce HM Ibid.,p. 186.
46 Unedic é a sigla de “Uniopara o Emprego na Indústria e Comércio].
NsjanalInterprofissional
ÍAURIZIO LAZZARATO
SIGNOS, MÁQUINAS, SUBJETIVIDADE
136
. fe-
fjinto, ao Es pipasa
rodução de um sentido restaurador ao fornecer, :
Nas sociedades de segurança, coexiste uma pluralidade de regimes de sig-
enças” (desigualdade de
encial comum para a multiplicação das “difer nos. Já analisamos um deles — a circulação/transmissão de “enunciados-pa-
renda, acesso ao seguro etc.) - um referencial i comum que supostament te é lavras de ordem”. O processo de sujeição constitui um outro regime. Aqui,
o. Dj iscursos, hi his-
ái
necessário para unir e constituir r um objet ) ivo coi mpartilhad
bjeti Os signos não se referem mais a signos dentro de um círculo fechado em si
co a dacaniêada
tórias e narrativas produzem a batalha e Es pisa mesmo, mas ao sujeito. Signos, significações e enunciados não se referem
onsigo mesmo.
consig Eles fori R E P à sua própria reprodução, mas aos limites de sua circulação, constituídos
de um real reconciliado
ili
às divis ões sociais, pelo uso que o sujeito faz deles a fim de poder agir sobre si mesmo e por
redescoberta da sociedade (face : a
i me do. is si mesmo. Eis um grande erro de toda teoria pós-moderna da comunicação
( do oempre
pecgo)ar te, o
que exorciza
permi assim, a repetição incessante Ee dE E (Baudrillard, Virilio etc.): restringir-se apenas ao primeiro sistema de signos,
mercado e da globalização
constituem os indivíduos como vítimas do Ra aaa
A É
negligenciando a especificidade do processo de “produção de subjetividade”
são política e sindicalda esquerda) ou como responsáveis por nm GT e da relação consigo mesmo. Se esta é a fonte de novas formas de dominação,
da direita neolibei E Ps Er
devido ao seu próprio comportamento (a versão g]
também pode ser uma oportunidade para uma ruptura radical com as rela-
poder de sujeição«,
“grande narrativa” do trabalho não tem o mesmo > do “sonho
? de
nSaÇE
ções de poder e saber das sociedades de segurança. Nesse segundo regime
“nação”” ou do E “progr eso”. ÉE um
istóriaia dada “nação pouco Dpsqu semiótico, os signos e o seu funcionamento são uma das condições do pro-
ão que a histór rd
a sociedade por variações
E dança que requer a mobilização de toda ulaç
cesso de produção de subjetividade.
tipo de manip
Este de desemprego, cujo cálculo está sujeito a todo A análise de Deleuze e Guattari acerca da psicanálise pode nos ajudar a
possível. compreender como as máquinas de sujeição semiótica funcionam. A psica-
nálise representa um processo de sujeição securitária pois funciona como um
dispositivo que, na sua incitação à fala, por uma lado, “fixa” a função-sujeito
6. A máquina de sujeição no corpo do indivíduo e, por outro, impede que enunciados singulares sejam
“formulados. A psicanálise surgiu e se desenvolveu no momento em que as
sociedades disciplinares começaram a bascular em direção às sociedades de
m fale
“Você sabe o que tem que fazer para evitar que algué controle. Assim, enquanto o hospital psiquiátrico é um dispositivo discipli-
ça o dizer 'eu”
em seu própriojo noi nome? Faça- be m nar que exerce suas técnicas sobre os corpos e a realidade mental do doente
num espaço fechado, a psicanálise é um dispositivo de segurança que excerce,
através da fala, um poder sobre os corpos e a realidade mental do “doente”
iam ligar
“Sei muito bem que pessoas nas favelas não poder num espaço aberto.
as máquinas
menos para psicanálise, Freud ou Lacan.Mas Tal como analisada em O anti-Édipo, a psicanálise inventou estratégias
álise atra-
abstratas de subjetivação produzidas pela psican para a construção do sujeito que foram implantadas em dois movimentos
m se fazem certa-
vés da mídia, revistas, filmes etc. també principais: “desqualificar” a fala singular do indivíduo através da interpreta-
resentes no que acontece nas favelas” , ção e, uma vez desqualificada, reconstruí-la como fala de um sujeito “civili-
º Félix Guattari zado”, de acordo com o modelo de comportamento de sujeitos da “família”.
Pd
Tudo o que o “paciente” diz é interpretado através de uma grade particular
ou de um pequeno número de enunciados (papai, mamãe, falo, castração,
pets pica
Precisamos analisar uma última função exercida pelas avras é
como também significante, simbólico, falta, na versão lacaniana mais dester-
limii adas a co! nstruir,ir, inter
ão limit à atet preta r : e trans mitir p:s.
Di Hitorializada) que se destina a descobrir o sentido recalcado da fala singular. A
à estão
tes. Estas não
de inter preta çã
retaç nsmi e
ordem . O funcii onamento da m áquina' semiótica partir da interpretação desqualificadora que realoca a origem e o sentido do
de uma máquina de sujeiç enunciado no triângulo familiar, ou no significante, e baseando-se na enun-
são é indistinguível do próprio funcionamento
pretação e da transmissão é
Pode-se até mesmo dizer que o objetivo da inter Elação do paciente, a psicanálise ressocializa o sujeito, construindo-o como
a produção de sujeição. um indivíduo que aceita, se adapta e se identifica com o modelo dominante

SIGNOS, MÁQUINAS, SUBJETIVIDADE MAURIZIO LAZZARATO


e seus instân cias psíq! enunciado [é] sempre coletivo, mesmo qui ando parece ser
de individuação da sociedade capitalista (a famíliília) emitido por uma
i ânci síqui-

aa singularidade solitária como a do artista”?!


id, ego, superego). À
ri é º fato de pac e A máquina televisiva extrai desses agenciamentos coletiv
E Sê nos a na obra de Deleuze e Guatta os, da multiplici-
, Es Ee dade de semióticas verbais e não verbais que os atrave
ue a generalização desse dispostivo de produção do sujeito ssam e constituem, um
sujeito da enunciação que deve se moldar a um sujeito do
garantido Ea E ê Fe
de segurança completamente desenvolvidas, não é um sujeito preso em enunciados conformados à “realidade”
enunciado, isto é, a
do Esta E io da televisão eque
mas. do pela comunicação e pelas técnicas cia deve se adaptar a um quadro de enunciações pré-fabricadas.
izaçãão de eenunci: ação as
à nizaç funçõe
peça A televisão nos
RTi
ar social. As funçõeõ s de con! trole e padro incita a falar enquanto sujeitos de enunciação, como
em o ea a ? co se fôssemos a causa e a
de sujeição asseguradas pela psicanálise (como descrito origem de nossos enunciados, quando somos falados pela
o de pe
retomadas, padronizadas e generalizadas pela comunicaçã nicação da qual, como sujeitos do enunciado, não somos
máquina de comu-
ca, comi
um dispostivo material, e pela linguística e filosofia analíti de seus efeitos.2
nada mais que um
. | 1 a :
óri o (abordado em Mil platôs)
i teóric
ostivo platôs
Se, por exemplo, você é entrevistado na televisão (seja
de o ga e
| A psicanálise inventou uma série de tecnologias rário, num talk show ou ainda num reality show),
num programa lite-
tui, Ee Ea k jo
ue, a sua vez, se espalha pelas ciências sociais e consti
você é instituído como um
DART sujeito da enunciação e submetido a uma máquina que
nal simplificado e empobrecido, do funcionamento 5 E orienta sua expressão singular através de um teleguiado
assume a sua fala e
pitas o da E de semiótica que te
tir da televisão, podemos traçar um esquema integra às declarações dominantes. Como na psicanálise,
jeiçãão secu! ritários que atuam sol o > a televisão é capaz
i
s dispos iti
itivos de sujeiç de fazer passar enunciados conformes à realidade domina
regras do espaç:
San o público ao fazê-lo falar de acordo com as nte do capitalismo
como declarações dos indivíduos, e isto por força da máquin
ge a de interpreta-
ilhado de comunicação. ção (e desqualificação) e de uma máquina de sujeição.
com base em um pequeno. Eee
rsss a psicanálise, a televisão funciona A televisão trabalha todos os componentes linguísticos
Sa e ade dominam É e não linguísticos,
de enunciados já codificados (a “grade”) - enunciados verbais e não verbais, da enunciação. Em primeiro lugar,
do, da a você cai sob o con-
(no nosso exemplo, enunciados econômicos do merca trole de uma máquina não discursiva que interpreta, seleciona
a Pp
de emprego/desemprego) —, e ela pretende torná-los os enunci e
e padroniza
sua atitude, movimentos e expressões, antes mesmo de você começa
Pi 5 + r a falar.
jos sujeitos individuais. A televisão não funciona somente baseada em um pequen
na Es sa
Me Não há nada de natural na função-sujeito das Sa ciados prontos, mas também com uma seleção e imposi
o número de enun-
ta. ndo Deleu: EA » ção de semióticas não
ári ela é construíída
m. Ao contrário, e imposta. Segun
verbais (uma certa entonação, uma certa extensão e cadênc
agem, a perua
mui individuado não é nem uma condição da lingu comportamento, certo ritmo, certos gestos, certas
ia da fala, certo
z os enunc iados a e GRE roupas, certa maneira de
dos PT Na realidade, o que produ se vestir, certa distribuição de tonalidades de cores no
outra coisa, si de DR cenário e no “figu-
nós, não somos nós enquanto sujeitos, mas uma rino”, certa organização do espaço de onde você fala, um
, aos E o certo enquadra-
licidades, às massas, e às matilhas, aos povos eàs tribos mento da imagem etc.). Enquanto sujeito da enunciação, você
nós e Es é rebatido sobre
TER que nos atravessam, que nos são interiores e que
íduo que no ao ç ica audiovisual pré-fabricada. Sua voz, seus gestos e sua
mos”?º É essa multiplicidade que ultrapassa o indiv ção se conformam, mais ou menos docilmente, a dispositivos
entona-
h su : Em
a tir dessa multiplicidade que produzimos enunciados. Não codificados de
zem enu: E
má agenciamentos coletivos de enunciação que produ Mi ges Deleuze e Félix Guattari,Kajta (Paris: Editions de Minuit, 1975, p. 149 [Edição brasileira:
Kajha - por
uma literatura menor, trad. de Cintia Vieira da Silva.
resta tido que destemidamente dê Segundo Deleuze, esses dispositivos de produçã
Belo Horizonte: Autêntica, 2014].
deo fla são uma “estranha invenção” que atualiza o “cogito” de
197As ciências sociais sempre reivindicam goma maneira diferente a cada vez (psicanálise, comunicaç
é precisamnt para
a sisuao pode
mis sob Esp Os psicólog irna “tão na Alinha de frente,stentes não ão, marketing, constituindo e dividindo os sujeitos “como
e
Eras o o pis e
em dedeslocar a a origem da
em er nd polis caos
deva weito duplicado fosse, em uma de suas formas,
gutra forma”: Gilles Deleuze e Félix Guattari, Mil platôs: causa dos enunciados dos quais ele mesmo parte na sua
Capitalismo e Esquizofrenia, v. 2. trad, bras, defaz Ana
seio Esse contenta do discurso, atribuindo-a arr commedos: que does: à -eito” Michel
Me Oliveirae Lácia Cláudia Leão (São Paulo: Editora 34, 2010), . 84. Os dois sujeitos correspondem e pressupõLúcia
ao outro. O cogio, ou a duplicação do sujeito, representa a invenção em us
de
caCal on, om, P Pierre O ae Apa un monde incertain. Essai sur la démocratie technique (Pari de um modo de
que não tem necessidade de um poder transcendente para funcionar. Subordina-se não porque significa çãoe de subjetivaç ão
, n ptoridade externa, mas porque se obedece a si mesmo. O poder de sujeição, e subordinação, se obedece a una
a E am proposições sobr a psicanálise” in a Ilha deserta e outros textos (São Paulo: Editora lu
20 Gilles 'Uze, imanente, que vem do próprio sujeito. portanto, um poder
minuras, 2005), p. 381.

SIGNOS, MÁQUINAS, SUBJETIVIDADES MAURIZIO LAZZARATO


140 141
pela interpretação da Michel de Certeau chega às mesmas conclusões: a proliferação de enuncia
expressão.” Assim que você abre a boca, você passa -
siva na na q! qual al oo jornal
discursiva jornali issta é apenas pei um terminal que, com à dos, mensagens e signos impede que condições para uma enunci
áqu na discur
máquina 4 E . ação singular
a-
ajuda de e outros outros termin termin:ais da máquina d de interpretação o (o expert, o especi possam emergir. O zumbido contínuo, a circulação incessante
de palavras e
entreentre aa sua sua enunciação, a sua subjetiva- ibjeti signos do mundo comum semioticamente padronizado, “cria
lista), > determina as possíveis lacunas unas uma ausência
a subjetivação e as signif icaçõe
gnificaç ões s qui que de fala”. Espaços públicos saturados de signos, de dispositivos
ç ão e a sua signif gnt icação e os enunciados, são e, se
de comuni-
imprevisto isto jam:
jamais aconte ce na televi cação, de discurso, tornam impossível para as pessoas formarem
são o espera dos de você. Ni Nada a dede imprev
pt esperados uma enun-
do lugar, é Ra ciação que possa ser chamada de sua A fim de articular uma
isso ocorre, mesmo que seja algo ligeiramente fora enunciação
di fi
ação. No ca finalalçã
fi da entrev o.
entrevi sta, vo
ista, é um cê sujeito “verdadeira” que re-singulariza uma “semiótica comum”, com
otado, tão tãofc fo: forteé sua sua é codific
notado, capacidade
sujeito preso pr ao enunciado de em confo fc rmida dad.de com à lógica para criar novas clivagens, pontos de vista “polêmicos” com
do o enuncienunciado, ado, um um sujeito os quais fosse
interpretaçã o cuja ja experiêexperiê : n- possível se exprimir, devemos interromper a circulação de linguagens,
televisiva, um efeito da semiótica da máquina de signos
que é dito.
cia é a de um sujeito 1 da enunciação, a causa absoluta e origem do e semióticas midiáticas destinadas a “todos, mas verdadeiras para
ninguém”.
to da enunciação” a Todos os dispositivos de enunciação em nossas sociedades de segura
Em relação à psicanálise, Deleuze fala do “esmagamen nça
sta negativamente como (sondagens, marketing, eleições, representação políticas e sindica
partir de um código preexistente, que não Se manife is etc.) são,
são, mas mas pt positi
Pp! ressão,
repres posi vamentnte, e, € como incita i ção a falar, a como solici)tação a se por um lado, variações mais ou menos sofisticadas da produção da fala
inde-
impres são dede falar fal (. .) de de modo mod: pendente e responsável do “sujeito individuado” (capital humano”)
exprimmir, ir, dede tal tal forma forma que q! o sujeit o) o “tem-se a Pp) e, por
ele tem realme nte a di outro lado, readaptações do processo criativo/destrutivo de sua
que o Pp: paciente nunca poderá Tr: ter acesso ao q que nte a dizer “liberdade
a máqui na interp retati va e de subjet ivação é toda feita “para de expressão”. Como eleitor, você é solicitado a exprimir sua opinião
Ainda que se fale, e exer-
de uma um: verdadad: deira enuncias ção ão”?* Quant o mais você se cer sua liberdade de escolha como um sujeito da enunciação; no
uprimir asas condiç
suprimir di ões de
condiçi entanto, ao
exprip me e q quanto mais você cê fala, fala, mais mais vocêvocê sese torna tori parte da intera dadeded: tivida mesmo tempo, você fala como sujeito do enunciado, uma vez que
a sua livre
da máqui má: na d de comunicação e mais mais você vo desiste ste do do qui que tem adi dizer, por- expressão é limitada a possíveis que já foram codificados
por outros, entre
te cortam de seus próprios agenc g iamen E alternativas (“direita” e “esquerda”) que te impedem de exercer o poder
que os dispositivos comunicacionais da
am a a out outros aí g encia mento s coleti vos problematização. A pergunta que se coloca a mim é a certa? Isto me
tosos coleti coletiv vos os de enunciiação
de enunc ação e te conectam con-
sujeito clivad o, como um sujeito cerne? Isto é verdadeiramente importante para mim? Já faz
(televisão), que te individualizam como um tempo que os
eleitores respondem “não”; se abstêm ou votam a fim de eliminar as
duplicado — tanto causa como efeito de enunciados. piores
ment:
experim enta técnicas d de controle e produção ç: de subjet j ivi- escolhas feitas pelos outros. Se ainda há uma diferença possíve
s)
A psicaná álise experi
lise l entre a sua
açãoção mais
enuncia mais que que nos nos enunci ados, dos, fi
fazem enunciação e aquilo que esperam de você, as pesquisas de opinião
ade que,
dade que, aoao sese concen concent rar na enunci
trar se encarre-
a mídia, a 8 gestão, o monito gam de apontar cotidianamente na direção certa.”
migrar para outros domínios, especialmente para al
-
regado dos s e e benefici
benefic ários
iários rios dad: da pre' de
previdên cia soci; Com a proliferação das pesquisas de opinião, a sua decisão de voto
ramento to indivi vis dual d os dos desdesemp 8: acaba
Pp por su, gº estão direta, >
etc.:c.: “Enqua“Engl nto que, para atingir seus fins, as religiões agem se encaixando em moldes pré-fabricados, não instantaneam
ente (durante as
ados, a psicanálise dá eleições), mas ao longo do tempo. Da mesma forma, o marketing
pela marca de representações padronizadas e de enunci e a publici-
Enqua nto a religião, atrevo-me a dade fornecem treinamento diário para a escolha e a decisão a se tomar
livre curso a certa expressão individual (...). ; liv entre
e
) ividade a céu aberto , a psicanálise se livra as alternativas fixadas e oferecidas pelo mercado e pelas empresa
dizê-lo, põe camisas de força na subjet s. Eleições,
seus esforç os na remo-
de alguns dos lastros de enunciados a fim de concentrar
iação/interpretação livre
delação da enunciação. (...) assim, a chamada assoc 26 Michel de Certeau, La Culture au pluriel, op. cit. p. 178.
semiótico impiedoso”* 27 Mas essas dinâmicas estão longe de serem
é rapidamente canalizada por um controle remoto Nessas imagens ou capturado em suas armadilhaunilaterais
s; ele
. “O público não está mais lá; ele não está mais circulando
está
dl um receptor divertido, interessado ou entediado. (.) Comem opropósit
outro lugar, em segundo plano, assumindo a posição
outra escala (na audiência em massa por todo o país, paraar feceptores das mensagens serializadas podem ser, o que els pensam ouo o dequeobtereles alguma suspeita acerca do que os
Rea o a
é
vivo àadianfbrcação
a cantar,ao levada de “estrelas É realmente uma formatação de gestos,expreexpresso
tc), q! que devem molda ar ssão di
e multiplicar pesquisa de mercado desse tipo só produz respostas de entrevistadesejam, as pesquisas começam
dos que “brincam” com as per.
fafaciais,a voz, voz, toO jeito jeito dede cant a por “instrutores”
te adiante por (dança, canto
“instrutores” (dança, canto etc.), fuuntas; das pesquisas são extraídas apenas frag mentos de teatralização em que se está desempenhando um papel;
indivíduo a partir do modelo da “estrela” produzida cit.pela indústria ed de Pesquisas já não afetam as pessoas que escapam desaparecem em reinos desconhecidos por trás das “reações”
24 Giles Deleuze, A Hlha deserta e outros tetos, sop.(Paris: pp 3á r345. e “Público” que de vez em quando é chamado para caminhar até o palco de uma commedia dellarte nacional”
25 Félix Guattari, Cartographies schizoanalytique Galilée, 198), P. »P.210.

SIGNOS, MÁQUINAS, SUBJETIVIDADES MAURIZIO LAZZARATO


142
EO dincesa, E ara imediatamente
se reforçam mutuamente.” Como as sente a ameaça da alteri
televisã i i
marketing e publicidade se refletem e pc » embora geralmente
e a representação sindical e poli- mente «calmo e civilizado
civili 7 com os convidados
id: que acei-i Í
pesquisas de opinião, como O marketing pos a implícitos da enunciação televisual, se E
€ acordo prévios sobre problemas e numa
tica, as eleições pressupõem consenso pres A a É eviolência verbal que revela sua inquietação com uma trans.
que a máquina de comunicação possa
questões. Diante disso, é compreensível para outra lín- En : o pré-programado.o .Po
Porque o que assusta os membros 'os da da mídia
massa. Ela traduz mídi É
funcionar como uma imensa psicanálise em ras e te explica pe Pee que eles não criam por si próprios. Eles devem traduzir
desloca a origem e o sentido de suas palav
gua o que você diz, dão nene E 9 que acontece em seu próprio vocabulário. Eis porque
as
adeiros enunciados e desejos, aos quais
(quando você se exprime) seus verd Enc rontada com um evento “verdadeiro”, como o movimento inter.
tar.
empresas podem, em seguida, se conec En e E primeiro objetivo da À mídia é isolar a pessoa que fala das cone. y
A televisão exemplifica perfeita ment e como os dispositivos securitários
E E Ra ra agenciamento coletivo (assembleias, ação coletiva,
os descreve, uma vez que assegura
de poder funcionam tal como Foucault “liberdade” (de da e extrair um porta-voz, > um representante, > um
n Jíd
da produção de íder, qual- Ê
a governamentalidade das almas por meio al que a pes- aE e venha falar aos outros de acordo com os códigos da mídia. Fãs
liberdade de fala não é um dado natur
fala e de expressão). A EEP o les e restrições sintáticas e lexicais (pois assim é open
Ela é um correlato do dispositivo de UE
soa precisa apenas respeitar e proteger. Ea Ea X E E a E
ico, dizem os jornalistas!) A mídia é composta de dispositivos
ido. A arte de governar tem “a fun-
poder, que deve ser produzido e reproduz E E e construídos para estar sempre “em casa”, no “mundo comum”
dades”, mas através de “um “a mai:
ção de produzir, insuflar, ampliar as liber E aa E a expressão democrática, o que quer que aconteça e onde quer que
, diz Foucault: “produzir a liberdade,
de controle e intervenção”? É necessário ep a pd deações coletivas, como a ocupação de um jornal Raso
outro lado, se estabeleçam limitações,
mas esse gesto mesmo implica que, de e E entes exigiram o direito de se exprimir erroneamente” sente
em ameaças”*º Os dispositivos de
controles, coerções, obrigações apoiadas — Sagn isto é, recusaram os códigos midiáticos que regem a fala e a
ao mesmo tempo. A liberdade que
segurança produzem e destroem liberdade e homogeneiza- Ro Ri a captura pelos dispositivos de sujeição, que os sepa
ssões codificadas
eles produzem é a das enunciações e expre prio agenciamento. . Dessa form: a eles mostraram com
pri
é a de inventar, criar, experimentar : À
das pela mídia. A liberdade que destroem “a condições, uma fala singular pode se enunciar. SAN
fala.
com formas singulares de expressão e de — Siosplnna
máqui icaçã é, assim,
de comunicação i uma máquina | de seleção que segue
ões em que os milan tes da Coordenação têm sido convi-
Nas raras ocasi p pi E e assmmesmas ) regras de paridad.
ade le que fixa os limites
i d: a represen-
como à máquina de suj
dados para debates televisivos, vemos tai e e sindical e, igualmente, os limites da fala legítima
exercidas dentro de condições e limites es
A “liberdade de fala” e de expressão conformar à neo re os representantes “legítimos”
leg os” ou entre os simplplesa transeuntes
numa injunção para
estritamente codificados se transformam dpi suecas pela mídia a fim de mascarar sua falta flagrante
ção, para moldar as enunciações
fala aos modelos pré-fabricados de comunica E
ões e formas de pensamento de ai preciso se manifestar ruidosamente para estar no centro da
dos ativistas e ajustá-las à grade de enunciaç ados. o , e se fazer conhecido através de ações chocantes. De qualquer modo,
são frequentemente confront
jornalistas e experts com quem os ativistas o
inda ni
a 4 a a
A) suficiente, pois a mídia só pode comunicar
As.
sita de indivíduos que aceitem, ativa ou
j
dentro do á
Para a mídia trabalhar, ela neces A le “problemas” que ela previamente definiu.
, as suas formas de enuncia-
passivamente, os seus pressupostos implícitos u com um At q
AS á
é descobrir, desdobrar e dar consistência aos encadea-
ção e códigos de expressão. Se isso não ocorre, como acontece s ecoletivos, > aos povos que estãão em nós,
te durante uma entrevista ao vivo na
Ó que nos faze; iÉ
- militante da Coordenação intermiten dos quais produzimos enunciados. a Pra
também ocorre num nível menosaram direto, menos imediato do ques E Isso E
é pe E Pequi i têm em mente quando opõem “todo um
As ciência s sociais invent toda uma séria de técnica n iment
di eelação aos trabalhadores intermitentes. experimentado “métodos de colocasr ouàs
imentação, , de experimentação o pessoal ou de grupo” à psica-
;” nas pesquisas de opinião, no é frasca do de questionário nálise e às organizações políticas clássicas.” a
nativas “O que é inspir ador nas ciência s sociais que clas no suficientemente
eos etnográficos das populações es de fazer de imedia to a pesoa sflar em ou parare m def! Michel Cal-
o eradas para serem capazAgir dans um monde incerta in. Essa ur la démocr eto technique, op. cit, p- 158.
fo Pierre Lascumes e Yannick daBarthe, Eduard o Brandã o (São Paulo: Martin s Fontes 2008), p. 92.
dono] Foucault, Nascimento biopolítica, trad bras. de 31 Gilles les Del Deleuze, “Cinco proposições
içõe sobre a psicanálise” in A ilha deserta, op. cit, p. 346.
30 Ibid., p. 87.

SIGNOS, MÁQUINAS, SUBJETIVIDADES MAURIZIO LAZZARATO 145


144
A “ESCÓRIA”! E A CRÍTICA DOS PERFORMATIVOS
CAPÍTULO 5
“Governamo-nos uns aos outros numa conversa através de
toda uma série de táticas”
Michel Foucault

“A relação estabelecida entre as respostas em um diálogo — as


relações pergunta-resposta, asserção-objeção, afirmação-a-
cordo, oferta-aceitação, ordem-execução — são impossíveis
entre unidades da língua.
Mikhail Bakhtin

Qual a relação entre máquinas sociais e máquinas discursivas? Vamos exami-


a no contexto específico da campanha presidencial francesa de Nicolas
Sarkozy de 2005, que se iniciou bem antes da campanha oficial, enquanto
ele ainda era ministro do interior. Nossa hipótese é a seguinte: as máquinas
discursivas são algo d: ente da língua ou da linguagem, uma vez que elas
implicam uma multiplicidade de semióticas significantes e a-significantes,
de tecnologias, de funções etc. que não operam de acordo com a lógica per-
formativa, mas num registro completamente outro. Elas intervêm no social
como parte de uma estratégia (o governo da conduta) que se desdobra como
acontecimento na forma da “ação sobre ação”.
A fim de dar conta da função política da linguagem, tanto as teorias de
algumas feministas norte-americanas quanto as teorias “pós-operaístas”?
europeias remetem à filosofia analítica, e especialmente à categoria dos per-
formativos, de uma maneira que nos parece dificultar bastante a apreensão da
potência de agir da linguagem. Desde meados da década de 1990 assistimos
a um forte retorno da filosofia analítica e da linguística de base saussuriana,
num momento em que poucos teriam esperado, dadas as críticas pós-estru-
turalistas dos anos 1960 e 70 e as críticas políticas das semióticas de poder.

traduz aqui o termo francês “racaill”, empregado pelo ex-presidente Nicolas Sarkozy, quando
ida ministrodo interior, para se referir à juventude dos subúrbios da periferia parisiense nos motins de 2005, logo
bs a morte de dois garotos pelas forças de repressão. O insulto veio ao ar ao vivo na televisão provocando nov
ições e tumultos. [N.T.]
2 "Pós-operaísmo” é um termo cunhado para designar a linha de pensamento que se seguiu ao tipo de análise pol
fica desenvolvido na Itália a partir da década de 1960, por meio de pensadores como Antonio Negri, Mario Tronti,
PaoloVirno, Franco Berardi etc. e em periódicos como Quaderni Rossi e Classe Operaia. Sua principal característi
É a exigência de autonomia do movimento operário (com relação a sindicatos e partidos oficiais). O “operaísmo”
Esteve posteriormente ligado ao grupo de ação política Potere Operaio e, em seguida (já nos anos 1970), ao grupo
Autonomia Operaia. Ele parte da ideia de autonomia para opor as lutas dos trabalhadores à reação do capital por
meio do uso intensivo das máquinas, conforme apontado por Marx. [N.T.]
convenção, nenhum papel, nenhuma distribuição de poderes.” Mesmo se el:
1. O performativo “absoluto”
realiza o que afirma, ela não é um performativo. “Eu falo” Enra Eminciádo
feita pela teoria “pós-ope- que comunica algo, mas que não age sobre o “outro”. Ele não cria uma no 4
A guinada na direção dos chamados performativos
grau, Negri/Hardt) é situação para um interlocutor obrigando-o a dar conta do fato de que o
raísta” (Paolo Virno” Christian Marazzi! e, em menor E
de um mal-entendido ciado foi dirigido a ele (respondendo, obedecendo, não obed.
bastante surpreendente, pois parece ser o resultado nd pel
s. Assim, seus avatares buscam tando uma promessa, não respeitando etc.
sobre a própria definição dos performativo ne
oria de “performativo Se nos ativermos à teoria de Austin, não vemos quase nenhum caso
radicalizar a teoria performativa, introduzindo a categ
uma parte da defini- que “eu falo” possa ser considerado um performativo. A definição de “ esa
absoluto” (Virno). No entanto, o autor mantém apenas
iação não descreve uma mativo absoluto”, reduzido à simples função de destacar o “evento de E EM
ção de J. L. Austin: aquela que afirma que a enunc
está aberta”, “eu ordeno, em gem” sem instituir uma obrigação (o fato de que se fala, de que se
ação, ela a realiza. Ao dizer “a sessão do tribunal vêm
ão ou um estado de que se estabelece uma relação intersubjetiva), neutraliza totalment
nome do povo..”, “eu prometo..”, não se descreve uma situaç :
importância e as implicações da teoria de Austin.
de coisas, mas se faz o que se enuncia. E
performativa decorre A teoria performativa abalou ambas as categorias da linguística e da
Segundo a teoria de Austin, a força da enunciação teoria
de uma promessa,
do fato de que ela implica uma “obrigação social” (no caso
do próprio Austin, pois devemos lembrar que a teoria foi criticada e supe-
caso
de “se perder a credibilidade” e, no rada por seu próprio inventor. Após ter distinguido o performativo (o
engaja a pessoa que a faz sob o risco e! se
de uma pergunta, a pessoa a quem à pergunta é dirigida deve responder a faz quando se fala) do constatativo (uma descrição de um estado de E

fim de não interromper a conversa). Ao realizar o enunciado performativo, o Austin abandonou a oposição: todos os enunciados são performativos, um: Í
locutor se atribui um papel e atribui ao seu ouvinte um papel complementar. Vez que mesmo os constatativos servem para realizar um ato de fala. pla
os” entre os locuto- ] Depois de alguma hesitação, Austin argumentou contra a ideia de co:
A força do performativo reside na distribuição de “direit
que a linguagem fun- Siderar os performativos uma exceção linguística e introduziu uma lia
res. O performativo determina obrigações de tal forma
“incorporando uma série de Categoria, do ato ilocucionário, que engloba o performativo como um caso
ciona como uma espécie de grande instituição,
de atos de fala socialmente particular. Nessa segunda versão da teoria, cada um de nossos enunciados te
papéis convencionais que correspondem à gama
reconhecidos”? não apenas os performativos) serve para realizar um determinado ato social
como uma que institui uma obrigação.
O que é enfatizado é a função “convencional” da linguagem E
de reprodução das rela- Se os linguistas aceitaram bem a primeira versão, muitos deles, com:
reprodução de obrigações sociais, ou seja, sua função
Benveniste, rejeitaram a segunda. Pois ela coloca a primeira teoria radical.
ções sociais já instituídas.
é inexplicavel- mente em questão. Justamente por conta disso, a linguística em geral nã
Essa segunda e fundamental condição do performativo
pós-operaísta da linguagem de tal modo que explora as possibilidades da segunda versão. Mas é isto que vamos E fuder
mente abandonada na teoria
é transformado em um
o enunciado “eu falo”, que não é um performativo,
Virno, caracteriza
“performativo absoluto” - uma forma verbal que, segundo
2. A emancipação através do performativo
a “sociedade de comunicação atual, de cima abaixo”. porque o
Mas, na realidade, “eu falo” não pode ser um performativo,
a partir da qual não se segue Judith Butler ressalta enfaticamente o que Virno negligencia: a atribuição
resultado do enunciado é uma mera informação d
“direito”, nenhuma papéis e estatutos nos quais o performativo acua os locutores.
nenhuma “obrigação”. A sentença não institui nenhum det
Nos Estados Unidos, o “performativo” é usado por ativistas que lutai
contra apornografia e o “discurso de ódio” racista. As categorias de fa
4 Paolo Virno, Quando il verbo si fa carne - linguaggDerive ioe natura umana (Torino: Bollati Boringhieri, 2009).
4 Christian Marazzi, Capitale é linguaggi o (Roma: approdi, 2002). deixam o ambiente empoeirado da universidade para irem parar no tribu-
e (Nova York: The Penguin Press, 2004). [Edição brasileira: Multidão
à Michael Hasdt e Antonio Negri, Mulitud trad. de Clóvis Marques. Rio de Janeiro: Record, 2005]. nal, De acordo com os defensores dos direitos das mulheres e das minorias
Guerra é democracia na era do império,
EN 1. Austin, How to do things with words (Oxford: Oxford University Press, 1976). [Edição brasileira: Quando
1990]. "Assim, o enunci eu falo a você
ado não é um performativo,
dizer é fazer, trad. de Danilo Marconde ti (Paris: Les éditionsMédicas,
s. Porto Alegre: Artes
de Minuit, 1981), p. 19.
performati embora sua enunciação impliqueimpl a ação da fala”,
Oswald Ducrot, “De Saussureà la philosophie du langage” in Les actes de langage (Paris: Hermann, 1972), p. 12.
7 François Recanati, Les énoncés performa

SIGNOS, MÁQUINAS, SUBJETIVIDADE MAURIZIO LAZZARATO 149


148
E Eopestatio do sujeito” é indispensável para realizar um enunciado per-
mativos na
étnicas, a pornografia e o discurso de Ódio são enunciados perfor » mas se batizamos alguém, a única coi ári i
de vista ou de uma
medida que não são meramente a expressão de um ponto realize é a “função sacerdote”, pas apartado RR ao E
da Constituição dos
opinião (e, como tal, protegidos pela Primeira Emenda a-
não. o que torna “desculpe-me” um performativo é o que dizemos. Se tios
situação. Esses enunci
Estados Unidos); eles vão além da descrição de uma ou não sinceros em nosso pedido de desculpas, não importa. : E
ados aqueles a quem
dos agem sobre os ouvintes, constituindo como domin E rara o “ritual” performativo de nenhuma maneira engaja
em simplesmente uma
o discurso é endereçado. Os enunciados não reflet Oo oa jei o ao passo que dizer-a-verdade estabelece um “pacto
lecem ou restabelecem
relação social de dominação, eles descrevem, estabe p: sigo mesmo” e um pacto com o ouvinte. “Ele diz que
Ao atribuir amulheres
a estrutura de poder através do único poder da fala. Te: mente pensa essa verdade, e se liga ao enunciado e ao conteúdo do e;
o enunci ado perfor mativo é, portanto,
e minorias papéis sociais específicos, ciado”, tanto ao conteúdo do enunciado quanto ao próprio ato da enun. facão
a potênc ia de ação das pessoas a quem
semelhante a uma ação que neutraliza e assume, assim, todos os riscos e consequências de fazê-lo." E
perant e um juiz.
ele se dirige — e, assim sendo, pode ser levado v A enunciação parresiástica não só produz efeitos sobre os outros, mas,
de repens ar o perfor-
O programa politico-linguístico de Judith Butler primeiro lugar, afeta o objeto da enunciação, produzindo uma ranafor No
emanci pação” que ele
mativo a fim de se apropriar da “promessa política de da sua condição (uma transformação existencial, segundo Guattari)"episa
detém nos parece, contudo, problemático. Tetroação, que faz que o acontecimento do enunciado afete o modo ds ; E
ao performativo e de
Desenvolveremos uma crítica inicial desse retorno ffleio E e caracteriza um outro tipo de fatos de discurso ines
ação na obra de Foucault.
sua suposta promessa emancipatória buscando inspir Y los ir
da pragmática
gana ”? Part Eprimario, i nãoão há há nenhuma invenção
i ;
O governo desie
Em suas palestras de 1982/1983, publicadas com o título de
lo” para a ruptura
dos outros, ele tomou o performativo como “contraexemp É A subjetivação é uma potência de afetar a si por si mesmo, que, como tal,
leia para “dizer-a-
política iniciada por aquele que se levanta em uma assemb E É foge ne Ela define um autoposicionamento, uma autoexistenciali-
“forma de enunciação
-verdade” [parresía). O performativo representa uma
exatamente inversa da parresía”?
dominantes, um
ses > areia s leis da lin; i ea i
A parresta constitui uma rupt ura com os significados anne pç é bastante claro quanto a a a ja au
“evento que irrompe”, que provoca uma “fratura”, criand
o novas possibilida- ecer toda uma família de fatos do discurso, di o eo
outro lado, é sempre mais
des, e um “campo de perigos”. O performativo, por mente diferentes, que são quase o inverso (...) o mr Re
que as suas “condi-
ou menos estritamente institucionalizado, de tal forma tica do discurso”! ao
antemão”. Dessa forma,
ções” bem como os seus “efeitos” são “conhecidos de As consequências ontológicas da relação para consigo, que Butler negli-
a na atribu ição de papéis edis-
é impossível produzir qualquer tipo de ruptur gencia, é o que permite Foucault se afastar tanto da lógica do poder quanto
so verdad eiro “determina
tribuição de direitos (de falar). A irrupção do discur do estruturalismo da linguagem (e até mesmo de seu trabalho and sobj
possív eis efeitos que
uma situação aberta, ou melhor, abre a situação e torna O “sexo ). Se alguém procura uma política de emancipação, é aqui, e nã na
ões e os efeitos da
são, precisamente, desconhecidos”, Inversamente, as condiç apropriação e reversão do performativo, que iráencontrá-la. de 2
não produz um efeito
enunciação performativa são “codificados”. “APO parresía EE apa que o predação e ex-ministro do interior Sarkozy dá sobre
indeterminado.
codificado, ela abre um risco isiense da periferia, como “escória” (“v.
ados e seus efei- já ti
Assim como o performativo codifica enunciações, enunci tante desta escória? Eu vou me livrar deles pra me 4 a sá
com seus respectivos
tos, ele também institucionaliza locutores e ouvintes, fusão de posições que invocam os “performativos” a fim de explicar o Ea
papéis e status, bem como o espaço públic o de seus atos. Os “sujeitos” que das palavras. Essa definição também lança uma suspeita justificada Es E
surgem aqui ns o correm riscos, não se envolvem “pesso alment e”. Eles encai-
eapacidade dessa teoria de dar conta da “força” política da linguagem. E
xam sua fala e 8 uas subjetividades nas formas estabe lecida s das convenções
linguísticas.
9 Michel Foucault, O Governo de ie dos outros, trad. bras. de Eduardo Brandão (São Paulo:
Martins Fontes, 2008), p. 60
10 Ibid., p. 60.
MMAURIZIO LAZZARATO
SIGNOS, MÁQUINAS, SUBJETIVIDADE
150
ministro do inte- linguagem
guagem e dos s signos; Virno e Butler voltam a dar crédito à teoria inicial do
Quais foram os ei feitos do “discurso de ódio” que o então
de telev isão? A palavra “escó- performativo, que até mesmo Austin havia abandonado.
rior Sarkozy pronunciou diante das c âmeras eses, mas, ao
rban os franc
ria” não neutralizou a potência de agir dos subu
gináveis antes daquela enuncia-
contrário, a ativou, e em proporções inima 3. Bakhtin e a primeira teoria da enunciação
s dos conjuntos habitacionais
ção. Ao invés de constituir os jovens moradore ordina-
revoltados, insub
como dominados, a enunciação os mobilizou como
ar a alcunha de “escória”.
dos, com base precisamente na sua recusa em aceit
de performativo” ou de sua A vida só pode ser entendida como um acontecimento”
A força da revolta não dependia de “outro tipo
de uma afirmação existencial
apropriação, como Butler sustenta, mas, sim, Mikhail Bakhtin
és de uma suspensão das signifi-
(Guattari), primeiramente manifestada atrav
Ela implicava uma relação consigo
cações dominantes e das funções sociais. linguístico ou ic
A nossa s se, o rr i e guias
ultrapassa um quadro fti ao performativo se apoiará nas obras de
si mesmo (Foucault), isto é, um ato que in.
a É Em vez de partir da lín gua para tentar com
pragmático. A or
Butler considera um perfor- e reservas óbvias, a enunciação - comopá ermiç
De modo similar, é difícil entender por que
que, em 1955, recusou ceder >o oo diz Guattari, , “um distante subúrbi
mativo a ação de Rosa Park, uma mulher negra
ubúrbio”
o” -, » es es esses doidois autore: à
Não há nada de um performativo e pr ii exatamente oposto ao tomado pela linguística. A pra, j
seu assento no ônibus a um homem branco. pois ç E precede a fonologia, a sintática e a semântica.
o sentido do termo. Trata-se de um
nisso. Ou, se há, então temos que mudar o: oa E icular a sua parte não discursiva, representa para
A eis
de afirmação que se mostra num
ato de resistência, de autoposicionamento, e
Guattari
a criatividade linguística e semiótica. Se para Bakhtin EM
o pensamento quanto afala;
gesto de recusa sem discurso. O ato precede tanto
dominantes e a negação da re ndapas aa que não seja exclusivamente linguística
ele constitui o ponto de ruptura com Os sentidos O E: Custa ra Ee E para pensar a produção de subjetividade,
é, defato,
distribuição de papéis e funções sociais. O
uma
rsiva, uma vez que toca não copa do ser feita entre a “ produçãoà de signifi
A mutação subjetiva não é primordialmente discu igni caçãoã e sentido
; ”
do qual não se pode recuar.
o foco não discursivo da subjetividade, para além re E us e e i como crítico
Fazer
a subjetividade emerge e adqui íti do performativo pode parecer para
Éa partir dessa dimensão existencial que semióticas e
plicidade de ee as caracter
asc ísticas essenciais d e sua teoriai da enunciaçã :
consistência através, secundariamente, de uma multi EeEoceadas catar ente após a Revolução Russa e, pre
em linguagem, mitos e narrat ivas. Mas é apenas a partir
que também inclu
ível que poderá haver sentido, a nção dos performativos. Paradoxal também porque,
da dimensão a-significante, inominável, indiz E A E Es e dp letmente não tem lugar, já que, E na obra
em ga t o
linguagem, narrativas. nça
uma importante muda á » “todo ato de fala > e não
“Ainda assim, a teoria do performativo representa
”,aj penas os perform
E ativos,
À “
a, não podemos mais admitir a E que pre locutores cria obrigações e atribui pap. =
na linguística. Contra a doutrina saussurian
a primeira supostamente esta- E er omo] a dos termos que os autores usam, há diferen
separação entre língua [langue] e fala [parole], ças notá-
de uso, e a última, restrita à E Eis le Austin e Bakhtin. Primeiro de tudo, este último esta
belecendo significados antes de qualquer tipo mais acei- ga E E de natureza entre, por um lado, língua e gramática e,
locutores. Não podemos
comunicação conforme as intenções dos
m como um meio de comunicação, como uma
oe: iação; entre
ciação; entre a palavra, j a proposi
posi
çã ção
da língua e o ei
tar a definição de linguage a significação (linguística) e o sentido (da edinciaddos,
i :
troca de informações. q
por Austin, tanto Virno
Em vez de prolongar o movimento inaugurado ciação na lín- "O objeto
da linguística é tão-somente o materiale os recursos da com
como Butler, embo ra de maneiras diferentes, fecham a enun
por conta própria, secretar signi-
gua, como se a língua pudesse sustentar-se , engendrar
ica ou gramatical Bakhtin, q Estética da o enu
lidade, entre
ficações através de sua estrutura sintática, fonét Mikhail1997),
)*Fontes, n inciade
p 346,
a força de transformação da
criação verbal, trad. bras. de Maria Ermantina Galvão G. Pereir: de dra
uma potência de agir sobre os outros € expli car

SIGNOS, MÁQUINAS, SUBJETIVIDADE ÍZIO LAZZARATO


152
da da linguística e da E
Ele encontra uma nova “esfera do ser”, desconheci
mer procura opor ao comando performativo uma possibilidade
ógica ”, e que não se limita a O ce
filosofia da linguagem, que ele chama de “dial
ção imprevisível e nãoj codificada'*. . E: Essa tentativa i está á fadada
Uma relação dialógica também o porque oi lema" da “resposta”, » isto isto é,é a possibilid
ibili ade de agir
meras réplicas entre locutores num diálogo. separadas
e obras de arte » diz respeito, por um lado, a todas as
pode ser estabelecida entre textos, teorias científicas iaçõ ã
|
apenas à performativos (que é a me: sma conclusão
aos clusã de AustiBL pcontido
no espaço e no tempo.
do expressas através tirar daí todas as consequênc
Na esfera dialógica, as relações são relações de senti . A rela-
i
quências), e, por outro lado, por: re ã
am irredutíveis a ambos pode f ser anulado por um tipo difer: ente de ato performati
Pc
da linguagem e dos signos, embora permaneç pi
ção dialógica é uma relaçã o específica que não faz parte da lógica nem de —através
odeia de uma relação dialógi
lógica q que exced ee todas as categorias
a ias nalido
linguística
linguísti ss,
Saussure ou Lacan; nem é
um sistema linguístico, como no estruturalismo de
não pode ser separada da cons- E acne
parte de um sistema psicológico, uma vez que
Fa sua sintaxe esteja inscrita nas “estruturas” da língua
o pressupõe uma língua (e o pes
ciência subjetiva individual do locutor. A relaçã
uzida pela língua,
a | mas pela relação
ção dialógi
dialógica com
o outro. O “fim” ,
não existe dentro do siste ma
uma lógica, uma semiótica ou psicologia), mas
» nalização (realização), o i
tico ou na psicologia). ordem etc., , é dado pela relação
lação dialógica,
dialógi e não
sa por i
ga
da língua (ou num sistema lógico ou semân i i
não derivam da lín- sejam elas performativas ou não.
A força, expressividade e poder de agir da linguagem “O primei a er
DD Ea
de diferenças ou de uma E
gua, de sua estrutura gramatical; elas não emergem
ni Emais e dos critérios de acabamento do enunciado
de relações dialógicas nas o
combinatória de significantes, mas, sim, a partir
idade de responder — mais exatament: e, de adotar uma atitud:
mas não suficiente. E
ponsiva para com ele (por exemj plo, executar uma ordem).
quais a língua constitui um elemento necessário, uma enun-
m). E: Esse critério

itéri ale
vale
ticais formem Er E pesa E a
Para que palavras, proposições e regras grama
a por exemplo: “Que horas são?” (pode-se
um “elemento suplementar” (um -la) ou para à o pedido
pe. banal ao qual se pode aceder ou não
ciação completa, um “ato de fala”, é preciso elemento
n acede:
e radicalmente, um Re
elemento ético-político e, mais precisamente
a Roe to científica, com a qual se pode concordar ou esa
que “permanece
diria Guattari) al ou parcialmente), ' e para o roman: ce (no âmbito
existencial, uma “função existencial”, como i artísti E
ções ou deter minações linguísticas quaisquer E A pode formular um juízo de conjunto?” “sbso) sobre o
inacessível a todas as categoriza
] e pe, um “fim e uma “conclusão” gramatical das proposições da
que sejam”.
palavras, à forma gramati- e: E E a tornam pise elo Mas a inteligibilidade gramatical é uma
Separadas da enunciação (do “ato de fala”), as
iais”, simples “possibilidades” a ária, e não suficiente, da troca verbal. Ui
cale a proposição são “signos técnicos”, “mater gua inteligível
içã f
t O erica e finalizada dentro d: la orde; m linguística
i “nãoa
serviço de um sentido unicamente potencial. lin-
ística “nã poderá suscitar
i
potencialidade da
A individuação, singularização e atualização dessa So E :
s sejam transformadas em E e vo site fala, e não as proposições da língua, tem a propriedade
guagem, que permite que palavras e proposiçõe
realizadas por forças afe- inciação, pois através do endereçam:
uma enunciação comple! ta dentro de um “todo”, são iores
d
ticas pós-pessoais, exter expressa valores, > pontos de vista, , emoçõe
tivas pré-pessoais e por forças sociais e ético-polí emoções, afetos, simpatias
errei toi
e antipati
qão a uma situação : para com O outro, para com; enunciados e, > emo
à linguagem, mas internas à enunciação. anã
arti i
rmativos, porque cada E com os enunciados referentes ao “belo, justo e verdadeiro”.
É impossível isolar uma categoria como à dos perfo dn
responde a alguém ou a
ato de fala é dirigido a alguém ou a alguma coisa,
resposta é sempre um autoposicionamento, uma autoafirmação, e é
upõe uma “resposta” (ou uma somente através d desse Pp posicionam
si ameiento q que se P pode responder,
alguma coisa, implica uma “obrigação” e press p' der, > fi falar e s se
rdar ou discordar, execu-
“atitude de resposta”). A “resposta” (“pode-se conco iado.
tá-la, avaliá-la e assimpor diante”) é um elemento constitutivo do enunc
a irresponsividade (a falta de
Para a enunciação, “nada é mais terrível do que 16 “Em lugar de obliterar
; a possibilidade
pos ibil de resposta, paralisando o destinatári pode
resposta)”!º bem ser combatida por um tipo diferente de ato performativo (..)” Todi Bule E ci Ea pp
china
e rr York: Routledge, 1997), p. 12. ps
Mikhail Bali, Estética a criação verbal, op. ct, p. 300. tado

15 Ibid, p. 357.

SIGNOS, MÁQUINAS, SUBJETIVIDADE MMAURIZIO LAZZARATO


154
Todo ato de fala é um ato ético-político, pois visa a um “acordo” ou a um Dessa maneira, é fácil ver que a natureza da enunciação não
é performa-
“desacordo” Todo ato de fala é uma “questão” que indaga a outros, a si mesmo tiva, mas dialógica, “estratégica”, geradora de acontecimento. Bakhtin
j ão , como
“agoní
e ao mundo. A teoria da enunciação de Bakhtin implica o mundo como um Foucault, tem uma visão “agoníst ica” e « polêmica” » da enunciação; a
esta se
problema, como um acontecimento, como algo que está sempre por ser rea- assemelha a uma “batalha”? entre locutores ou, , melhor melhor ainda,
im funciona ona c como
lizado. Isso é diferente da teoria Austin do ato performativo e ilocucionário uma estratégia” para governar o comportamento dos outros que é manifesta
de Austin, que considera o mundo como um conjunto de convenções, como atravésés de de toda
tod: uma série érie ded técnicas e táticas linguísticas e semióticas.
uma instituição, como uma distribuição de competências, direitos e deveres O paralelo que Foucault estabelece entre o curso de uma
conversa e as téc.
a serem reproduzidos. A natureza de todo ato de fala, e não apenas dos atos nicas governamentais que citamos no início pode perfeit
amente ser expresso
performativos, é a de agir sobre o outro reestruturando as possibilidades de na des crição ão de de Bakhtin
Bakhtin da dinâmica
inâmica dada enuncia
enunciaçção, que E nada em tem a ver com
a
ação.!º O ato de fala é um acontecimento que cria indeterminação ao abrir institucionalização ou com a distribuição de papéis implíci
ta no performativo.
para possibilidades que “subjetivamente” engajam os locutores numa relação Enquanto elaboro meu enunciado, tendo a determinar essa
resposta de
singular que se dá “aqui e agora”. Toda enunciação é um acontecimento histó- modo ativo; 5 por outro lado, d tendo d a presumi-la,la, eessare
Pi a : respostapre: presumida, Ip!or
rico, ainda que “infinitamente pequeno"” sua vez, influi no meu enunciado (precavenho-me das objeçõe
s que estou pre-
Contra o estruturalismo, que tenta confinar a enunciação dentro das vendo, assinalo restrições, etc.) E nquanto to falo, falo, sempre levo k emm conta conta oo funde
fundo
regras combinatórias da linguagem, e diferentemente da teoria dos atos de aperceptivo sobre o qual minha fala será recebida pelo
destinatário: o grau
fala de Austin, a enunciação representa uma “micropolítica” e/ou “microfi- de informação que ele tem da situação, seus conhecimento
s especializados na
sica” das relações entre os locutores. A enunciação não é produzida de acordo área de determinada comunicação cultural, suas opiniõe
s e suas convicções,
com o modelo linguístico via um processo de fala do locutor ativo e proces- sei us preconceitos tos (de (de meu pontoto di de vista),
ta), suas simpatiti;as e antipati tipat as, etc.tá 5
sos passivos de percepção e compreensão de um ouvinte — este, ao contrário,
pois é isso que condicionará sua compreensão respons
iva de meu enunciado”:
faz parte integral da realização do ato. Como na última teoria das relações de
poder foucaultiana, o outro é “ativo” e “livre”?! No acontecimento enunciação,
ão é
é o outro que estabelece a dinâmica e orienta sua realização. A enunciaç 4. A micropolítica da voz e do gesto
uma coatualização polêmica e/ou cooperativa de virtualidades linguísticas, de
mundos de valores e de territórios existenciais que os sustentam. Re E nos primeiros artigos do Círculo de Bakhtin, public
ados na
Como as relações estratégicas de poder foucaultianas, as relações dialógicas déca: a de » essa
s relaçãá o de enunciaçãoção microp
mi olític
Ítica a (polêm
(1 ica e/ou
ser
de enunciação abrem um campo de possíveis respostas/reações que só pode fismental) Lá onde a linguística e o estruturalismo lacaniano
veem rela-
determinado e só pode ser atualizado no e através do “fazer” da enunciação. ções Dna entre signos ou significantes, Bakhtin,
à maneira dos visioná
rios, idiotas
! ou loucos, ; “ouve vozes e a sua relação
ã o
para a força de toda enunciação, todo dialógi
dialógica”, a autoafirmaçã '
19 A definição de Oswald Ducrot da força do performativo aponta, na Arealidade,
esfera dialógica abre a possibilidade de geração
Aos
osfErtórios existen a sai.
ciais (Guattari)o e os valores que os susten
ato de fala, uma vez que esse ato é visto como uma relação dialógica.
. a
tam. o
de acontecimento e de estratégia entre locutores. “Dessa maneira, para a pessoa a quem a enunciação é dirigida, o campo E e artigo em que Bakhtin é longamente analisado, Guattari
de ações possíveisé repentinamente reestruturado. Uma nova dimensão emerge, que traz à luz uma nova medida de obse;
comportamento. Essa reorganização não é um fato empírico, um acidente ocorrido por causa do enunciado” Oswald E » deE acordo
ua com a teoria do filósofo ru: isso, em cada enunciEça ação há
Duciot, “De Saussure à la philosophie du langage” in Les acte du langage: essi philosophique du langage (Paris: Hermann, vozes pré-individuais” que expressam avaliações “volit
ivo-emocionais”
1972), op. cit, p. 22.
20 “Na realidade, a relação prática é constantemente gerativa, embora de forma lenta e em uma esfera estreita. As inter-re
a
3 “Io se dá em primeiro lu 1gar porque o discurso
'
dr Ca
que o grau de mudança seja quase imperceptível. No processo
ações entre os locutores estão sempre mudando, mesmoO intercâmbio re é uma arma de poder, controle, ar : E
dessa geração, o conteúdo a sr gerado também gera. prático realiza a natureza de um acontecimento. Ui
eatroca filológica mais insignificante participa dessa geração incessante de acontecimento” Mikhail Bakhtin e Pavel
Medvedes, La Méthode formelle en littérature, trad. fr. de Bénédicte Vauthiercrticae Roger Comtet (Toulouse: PUM, 2008) possivelmente
devolvem) - esse io é uma força. O disso é és) palavras que os outros entendem eSra
respeito à relaçã
a uma poética sociológica. trad. de de da orça. O discuro é, no que diz
p.218. [Edição brasileira: Método formal dos estudos literários, introdução 2012).
muperfície
aa. Edição bras, E St efeitos” Michel Foucault, Dits et écrits, ra pedia So),
Ekeaterina Vólkova Américo e Sheila Camargo Grillo. São Paulo: “é Contexto, que 'o outro (aquele sobre qual [a rela Ma Ba, Ed o ceras 3 ra. de Inês Babo Ri de aero: oense Universitária, oo”
21 Para que haja uma relação de poder (e não apenas de violência, o necessário
fim como sujeito da ação; e que se abra, diante das Aos que Foucault utiliza para descem verbal, op. cit. p. 321. O dialogismo pode ser entendido muito bei À
de poder) se exerce) seja inteiramente reconhecidoe mantido atéinvenções jogo dado,
à maneira pela qual um parceiro, num
ação dsdec utauraçios duque
deve sera aação Ecos
relações de poder, todo um campo de respostas, reações, efeitos, possíveis.” Michel Foucault, “O sujeito e o
e da her queeele pensa
que
Iliquilo
aq pensa dee aceda que os us era ease
poder” in Hubert Dreyfuse Paul Rabinow, Michel Foucaul, uma trajetória filosófica para além do estruturalismo agem sobre o outro”, Micha
“logos” É em Foucault é algo completamente diferente do que encostar E
“ O suj E »
'menéutica, trad. bras. de Vera Porto Carrero e Antonio Carlos Maia (Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1995), p. 243 gn pre da

SIGNOS, MÁQUINAS, SUBJETIVIDADE fAURIZIO LAZZARATO


157
sociais”; vozes éti- o poeta, diz Bakhtin, a cada instante “trabalha com a simpatia ou a antipati
(“afetos sensíveis”, na terminologia de Guattari) e “vozes do ouvinte, com a concordância ou a discordância”? e
eiro, os universos de
co-políticas que expressam o belo, o justo e o verdad
vozes se desdo bram aquém da lin- Somente quando a voz penetra e se apropria de palavras e proposições é
“valores” do vocabulário de Guattari. Essas que estas perdem seu potencial puramente linguístico e se transformam em
a na “abstração foné-
guagem articulada. A voz/entonação, ainda não tomad expressão que invoca amigos e conjura inimigos, que ameaça ou lisonjeia,
verbal e do não verbal, do
tica” da língua, se produz sempre “na fronteira do
estável um movi- repele ou agrada, abrindo ao risco e à indeterminação da enunciação. e
dito e do não dito” e “confere a tudo que é linguisticamente
s da voz que nos
mento histórico e um caráter de singularidade”” É atravé
afetivo e ético-político,
dirigimos ao outro. E esse dirigir-se é primeiramente 5. As estratégias discursivas
r que o mundo em
antes de ser linguístico. “A entonação parece quase indica
das — ela ameaça , se indigna ou ama
torno do locutor é cheio de forças anima Podemos compreender agora facilmente porque, no caso da frase de Sarko:
e preza objetos e fenômenos inanimados”?
s (o “animismo”) ( vocês são escória”), não estamos lidando absolutamente com um ai
Encontramos nas vozes a animação da natureza, do cosmo mativo, mas com uma utilização “estratégica” da enunciação dentro de dadas
na linguí stica e na filo-
que Guattari reivindica. Diferentemente do que ocorre relações de poder que o ex-ministro estava tentando modificar a seu favor. O
antes (gestos , atitudes
sofia da linguagem, as semióticas corporais pré-signific discurso de ódio” não deve ser entendido, como fazem os norte-americanos
penham aqui um papel
corporais, movimentos, expressões faciais etc.) desem Como uma força que realiza o que ele diz, mas como uma “ação sobre ações
ções passa m primei ro.
decisivo, uma vez que é através do corpo que as avalia possíveis”, uma ação aberta à imprevisibilidade, à indeterminação da re:
o estreita”, que se ori-
“A entonação e o gesto guardam uma inter-relaçã ta-reação do outro (ou dos outros). k ER
expressão avaliadora”? A
gina no corpo, “matéria-prima originária para essa
incluindo tanto a h Aenunciação “vocês são escória” ocorre dentro de uma determinada situa-
noção de gesto deve ser entendida em um “sentido amplo, são sociopolítica para modificá-la. Ao apelar para “amigos” e designar “ini-
mímica quanto o gesto facial”
latente dentro de si o migos”, a enunciação ameaça os últimos e assegura e reforça os primeiros. Ela
Em cada gesto, como em cada entonação, “há sempre
”. Esta é a razão pela procura aliados e, a fim de construir novas alianças, evoca como inimi, E o
embrião do ataque ou da defesa, de ameaça ou da carícia imigrante, a juventude da periferia, o “ocioso”, o “desempregado”, o “bandido”
penhar o “papel de aliado ou
qual toda enunciação sempre faz o orador desem etc, Parece querer reconfigurar o espaço político, convocando os outros como
testemunha”, “amigo ou inimigo” “juízes etestemunhas”, “obrigando-os” a se posicionar para exprimir um ponto
e semióticos não
A voz trabalha, utiliza e dispõe elementos linguísticos ariza- joe vista, para fazer um juízo de valor, que é sempre ao mesmo tempo afetivo
operando uma singul
apenas escolhendo e combinando, mas também
estrat égica, uma vez que distribui e flético -político. Finalmente, procura construir um espaço público em que o
ção da língua que pode ser definida como medo dos “outros”, em vez da simpatia, venha prevalecer.
o protop olítico que estrutura
“nomeia” os locutores de acordo com um model O espaço-tempo aberto pela enunciação não é o do performativo; é o espa-
entre os locutores.
o espaço da fala de acordo com as relações de poder tempo da indeterminação, da imprevisibilidade, do evento dialógico, do
“atmos fera simpática”, de
A voz se expressa, sente e vibra dentro de uma discurso-batalha”, que procura manter domínio sobre os outros, sobre o seu
do destinatário.
“cumplicidade”, “confronto” ou “desconforto” vis-à-vis desti- Eomportamento, através da reestruturação do seu campo de io Os efeitos
Em cada voz, há um endereço duplo. A voz é dirigida não só ao
que atua como o terceiro não são predeterminados como no performativo, em que o Eder al
natário, mas também ao “objeto da enunciação”,
é chamado a ser ao eo destinatário já estão instituídos. ee
elemento na enunciação, de tal forma que o destinatário Aqui, o enunciador e o “público” a quem ele se dirige na televisão (enun-
“aliado” ou “inimigo”. Mesmo
mesmo tempo “juiz e testemunha” e, portanto, cação e fala maquínica, devemos enfatizar) estão abertos ao devir do acon-
dans la vie e e discours dansa poésie in p-Tzvetan Todorov Mikhail lecimento. Será que a enunciação insultante permitirá a Sarkozy ganhar a
24 V.N. Volosinov (Voloshinow), “Le discours Cercle de Baktine (Paris: Seuil, 1981) 197.
Baktine: Le principe dialogique. Suivi de Écrits du eleição presidencial através de uma estratégia destinada a PR os
250p.cit.
26 Ibid.
27 Ibid. 29 Ibid,,
p. 107.
28 Ibid.

SIGNOS, MÁQUINAS, SUBJETIVIDADE (URIZIO LAZZARATO 159


158
s? Será que ele ganhará Os resultados da enunciação não pt poderiam ser r an
outros candidatos de seu campo ou de campos oposto antecipa:
cipados como q quando,
que ele conseguiu
votos entre o eleitorado xenófobo da extrema-direita? Será
por exemplo, um juiz declara: “Eu o condeno em nome
da lei”; pois a enun-
segu-
co em torno da ciação continua a modificar o corpo social e políti
forçar a “esquerda” a responder, aceitando o debate políti co mesmo agora que os
iria aconte cer (ainda que, na Europa motins silenciaram e a mídia Já não está passe
rança? Ele próprio não tinha ideia do que ando si uassuas câmer:
asseando câmeras e microfo-
estratégia venha funcionando). nes pela periferia e pelos subúrbios, Ninguém sabe
reacionária e cheia de medo em que vivemos, a o que os “focos de afirma-
cou a natureza ção existencial a-significante” acesos nas noites
De qualquer modo, a “resposta-reação” da “escória” desta ite de novembro ro de de 2005 20 : podem
iação implica uma
dialógica de todo ato de fala. Como sabemos, toda enunc uma
de resposta ativa”,
compreensão, uma “resposta-reação”, uma “atitude
sta avaliativa”. E, nesse
“tomada de posição”, um “ponto de vista”, uma “respo
a esperar. 6. Reprodutível e não reprodutível
caso, ela provocou algo bem além do que o autor poderi
uma crista lizaçã o existencial a-sig-
A revolta se dá primeiramente como
ivação que ganham consistên- Eos
Mas ovolt ao Fair eriprinativoi e àà reavaliação que Butler, por meio d.
nificante, como emergência de focos de subjet
são. A cristalização pi E E sm E izar, A simples repetição do signo
cia através de uma multiplicidade de materiais de expres (não de sua eiatea:
se faz somente linguis- — ape
da resposta, a singularização da “compreensão”, não ncia como marca) bastaria para romper com a distribuição
,
são unicamente lin-
ticamente — longe disso. Os materiais de expressão não
o » funções raios instituídos pelo performativo. Para que is: Es
iação, são múltiplos. agid, o a traço
guísticos; os vetores de subjetivação, os focos da enunc deve se destacar do contexto. A A N eia do a
O 8] de

geira, como prete nde MA ação : ao contexto em que se reali


Eles não se limitam à linguagem e à interlocução lingua ealiza (o que constitui o nú i
Ranciêre. » A revolta é em si mesma o signo da capacidade
de produzir uma Açai no de Derica com Searle) determinaria um
“ponto de RR
s”,
uma suspensão nas significações dominantes e criar “gesto “A E s dana » CA: Posição sra .
interrupção, , que iguala em sua formalidade abs.
e
a

acord o com as modal idade s que Pç ones a enem (Saussure) e do significante


ações, signos e, talvez, até mesmo falas, de “per- (Lacan)
nça ontoló gica entre sic iar
podem não ser as do enunciador. Há uma difere ncem a
a dora
engana de como a ruptura e a repetiçiçãão funcio
il nam ;
pois os dois perte
guntar” e “responder”, como nos lembra Bakhtin;
e singulares — dois is
Em cada eSopjação,
blocos de espaço-tempo absolutamente e irredutivelment ri
a oo “po
“ponto de ruptura” nunca decorre da autonomia
de falar. ra
territórios existenciais, duas maneiras muito diferentes Ea marca (traço), mas, sim, do ato de fala singular, da
projetos habitacio- Ro
Bem antes da observação de Sarkozy, a juventude dos e do p posicio: namento ético-po
éti i que funda e sustent
lítico : a
do, o sentido do
nais da periferia havia invertido, como Butler teria deseja
eles. Seu modo de falar — Podemos Re
termo “escória” com o qual o poder está se dirigindo a
distingui Ea sn EaçÃO iaçã O que é reprodutível (todos os elemen-
foi definido pelos próprios como “falar cailler a”, gíria (“verlan””") suburbana po, » a, bem como a sintaxe e o ú i
para racaille (“escória”). Eles não tiveram que espera r pelo suposto performa- no é (o ato subjetivo da enunciação) e
o. AA'ssas e dimens ões
tivo das palavras de Sarkozy para “torcer” o insult
i õ = reprodutível dt e não reprodutível - podem facil
dos nossos olhos. E Ped sagemitas, tanto no endereço quanto na respost
O espaço político aberto pela enunciação mudou diante a que a enun-
a afirmação de “jovens - Guattari chamou a atenção para um texto de
Várias “estratégias” se confrontaram: por um lado, 1924 em que
a candidatura presidencial.
da periferia” como sujeitos políticos, por outro, o termo utilizaado do aqui
32 “Traço”Be é soro para traduz traduzir o conceito' de Derrida a dede trace, tomado
real, seguindo os E para indi aqui para Es
Vimos os efeitos da enunciação se desdobrando em tempo
ritmos dos motins, as posições das forças políticas, expert
s, sindicatos e inte-
Ato.É é precisamUta] casa autonamia repetição
ente fico em questão
queé postaincessante por Lazzarato neta prsagem [NT][NT
de fórmulas convenci dentro de» formas
lectuais - a coisa toda orquestrada por máqui nas midiá ticas . convenci nvencionais não
gn de po os Ec coa amido idofica a nã
j pode quebrar com o seu cont
de” não conseguiu instituir um espaço
p. 147. “força” do
30 Para Ranciêre, os motins de 2005 não foram políticos porque a “juventu
de interlocução. ums
em inverter as sílabas da palavra, à vezes comlocução ivo como em Austin, mas o estado estrutural do signo-marca.
31 “Verlan” é um tipo de gíria criada na F à suaa queoper:consiste O ato
de fala também exige uma repetição, mas ontológicgica,
remete
pequena elisão. O termo por si só jáfrancês. ração linguística, pois é uma inversão das sílabas da a, que que deve ser distingu
inguida
ida da repetição linguísti
linguística.
verbal “(à) lenvers” (ao inverso) do [N-T]]

SIGNOS, MÁQUINAS, SUBJETIVIDAD! RIZIO LAZZARATO


160 161
ticos (reprodutí- 1.A percepção psicofisiológica do signo físico (palavra, cor, forma espacial).
Bakhtin distingue cinco constituintes da enunciação, linguís 2. O reconhecimento do signo (como familiar ou não familiar), a com-
]
veis) e extralinguísticos (não reprodutíveis): preensão de sua significação reprodutível (geral) na linguagem.
rio
1. O lado sonoro da palavra, seu aspecto musical; 3. A compreensão de sua importância no contexto dado (imediato e mais
as suas nuance s aa pe
2. A significação material da palavra (com todas remoto).
s e inter- relaçõ es qui
3. Seu aspecto de ligação verbal (todas as relaçõe 4. A “compreensão dialógico-ativa (discordância/concordância); a inser-
k R
bais);
ig ção num contexto dialógico; o aspecto avaliativo da compreensão, seu grau de
Era do a entonação, que exprime sua orientação
aos val eai : ro profundidade e universalidade”?
tiva no plano psicológico, e sua orientação em relação O elemento final, propriamente dialógico, é o mais importante, porque
dividuais e vo;
líticos e, mais especificamente, sociais (vozes pré-in singulariza e dá consistência “existencial” para a resposta-reação. É a partir
:
Ós-| is);
um o dele que se seleciona, se ordena e se finaliza a enunciação.
nes de atividade verbal, do engendramento aa de
motore s — a ação, gesto, Compreensão linguística não é a mesma coisa que compreensão dialó-
significante (“incluídos aqui todos os elementos gica. Esta última sempre implica uma tomada de posição, um julgamento,
Go gon e
expressões faciais etc. — e todo o impulso interno da uma resposta-ação dentro de relações dialógicas. Respostas expressam uma
bin
constil eo
Os três primeiros componentes da enunciação, “simpatia, uma antipatia”, um “acordo, desacordo, adesão, objeção, execução,
partes Arepro nd
mentos linguísticos e semióticos, representam suas estímulo à ação e assim por diante” Toda resposta “refuta-os, confirma-os,
a e
reiteráveis, enquanto que os dois últimos são não Eae completa-os e se baseia” em questões que lhe são endereçadas.
através o ato í ço
absolutamente singulares criados pela primeira vez No final de sua introdução aos Speech Acts, de John Searle, Oswald Ducrot
especi ficime nte dialógico, es pi
ciação. O quarto elemento éaquele pergunta: “Será que os elementos da linguagem, além de seu valor polêmico,
quanto avaliaç:
expressa tanto a avaliação afetiva (o “emocional-volitivo”) . têm conteúdo conceitual (e semântico) independente? Existe na língua um
i iológic a).
núcleo de significação irredutível à atividade de enunciação?” Existe uma
sm Dim e que representa o sentimento da atividade E
a atrav a E expressividade da língua independente de enunciação? Bakhtin já tinha dado
fala, expressa a relação com o eu, a força ontológica afirma a sua resposta na década de 1920, bem antes de Peirce'!: a enunciação pre-
discursivo a ps
posicionamento existencial. Ele constitui o elemento não cede, lógica e praticamente, a língua.
o e ia as a
não apenas a realidade física da palavra, mas também sent
(ele opera u Ee
Através do enunciado, o locutor ocupa uma posição ativa
to ao mui E
posicionamento existencial, como diria Guattari) com respei
de uma tomada é E e
aos outros: “em outras palavras, o sentimento E
ento o me
concerne o ser humano em sua totalidade —de um movim
imp] Es iz E
o organismo quanto a atividade dirigida à significação são
juntos,
tanto a carne quanto o espírito da palavra são engendrados 37 Mikhail Bakhtin Speech Genres and Other Late Essays, op. cit., p. 159.
oncreta”*é . 38 Ibid,, p. 291.
i 39 Ibid, p. 316.
nos deslocarmos da “polivocidade” eda . 40 Oswald Ducrot, “De Saussure à la philosophie du langage”, op. cit. p. 34.
Sae AL A linguística distingue entre o “ato locutório”, correspondente à fonética (articulação de certos sons de acordo
doeae E o
componentes semióticos linguísticos e não linguísticos com certas regras), atividade gramatical e semântica; o “ato ilocucionário”, definido pelas “regras do discurso”
E N ade
para os da “compreensão”, nos depararemos com a mesma m (quando alguém faz uma pergunta, dá uma ordem, ameaça, alerta etc., envolvendo também uma obrigação de
determinado comportamento discursivo que reestrutura as possibilidades de ação
Er qu : Eh ie Perlocucionário”, que vai além do discurso e é definido pelos “efeitos” que exerce discursiva do outro); e o “ato
traços reprodutíveis e não reprodutíveis. Na sobre o ouvinte (afeta seus
série de elemen to:
posta-reação” ativa, podemos distinguir uma
* Sentimentos, pensamentos e ações). Entre os. linguistas, o último ato é não linguístico, pois efeitos
te consequências secundárias, psicológicas e sociológicas que suplementam a enunciação. Somente são unicamen-
Bakhtin e
através das forças extralinguísticas da relação dialógica: Guattari desafiam esses princípios linguísticos. O teórico considerado o fundador da semiótica segue o mesmo
Saminho: "Com Peirce, os efeitos perlocucionários (o fato de influenciar ou moldar a conduta do outro), longe de
Gal i 197 p. 74.4 VerVe o comentário de Sm
1978) Guattari suplementar oato de enunciação, são parte essencial dela. (..) Em suma, Peirce chega a uma teoria da linguagem
Miki
ikhail fi et Théoriee du roman (Paris: : Gallimard,
in, Esthétique em um sentido mais rigoroso que Searle”. Christiane Chauviré, Peirce et la signification (Paris: Presses Universi-
a ss edi bras. ea Lúcia de Oliveira e Lúcia Cláudia Leão (São Paulo: Editora 34, 1992), pp- taires de France, 1995), p. 148.
36 Mikhail Bakhtin, Esthétique et Théorie du roman, op. cit. p. 75.

SIGNOS, MÁQUINAS, SUBJETIVIDADES MAURIZIO LAZZARATO 163


autoposicionamento, de uma autoafirmação que se combina com aspalavras,
7. A linguagem que nos “precede e excede” com os outros e com o mundo.
, e não á maisi da língua
ái , separtirmos
i ao ni a eE fala, “As coisas estão ali, inteiramente prontas: o objeto, os recursos linguísti-
Se partirmos da enunciação i ED BS, e” us e da “suprema' dis" do th ic cos de sua representação, o próprio artista, com sua visão do mundo. Então,
e nãoá maisi da autonomia, da exterioridad mediante recursos já prontos, à luz de uma visão
E performat tivo),
à nea, da E “força” ” do ivo) se partirmé o do mundo já pronta, o poeta
(ou, na versão ã contemporânea,
ã é reprodutíve na enunciação,0, pos po: L reflete um objeto já pronto. Ora, a verdade é que o objeto vai edificando-se
é 1
tível e do que não
i agem, 4 “precede d e excí ede o sujeito ” de manei
n e i r ra durante o processo criador, e o poeta também se cria, assim como sua visão
Er oeitã lingu
a i
lingu g
agem como ui ma trans ins cendência Em do mundo e seus meios de expressão”“*
difere
i ai r sóÓ pode con ceber
nte.” Butler
nos tornamí os sujei! o qua!
Os sujeit Com Bakhtin, nós podemos levar ainda mais longe a nossa crítica. Na rea-
ue nos precede e nos excede po! rque j nósÓ só . a lidade, o que precede o sujeito não é a língua, a gramática e as suas regras, mas
as suas regras linguí sticas
aaa na sua normatividade e seguimos . 9 que Bakhtin chama de “gêneros do discurso”. Só podemos aprender uma
os (fonéticos, gramaticais,
Em Bakhtin, há de fato elementos linguístic pr. língua por meio de “cadeias de enunciados” concretos, cujo uso, nas esferas
que precedem a subje tivaç ão e o
táticos etc.) e cadeias de enunciados verbais diferenciadas, desenvolve “tipos relativamente estáveis” Nós aprende-
ã No entanto, ao contrárioio de Butler
individuação. k , elese não podem
' iaç ; ão não seé dá através depo sua con-
con mos a falar e “nos tornamos sujeitos” não através da gramática e da sintaxe,
ê io
excedê-los
Den zação da enunc
, porque a realiização
genstein) ou pela Es o mas através da imersão nesses gêneros, os primeiros sendo os gêneros de dis-
formidade E as regras da gramática (Witt a g- curso familiar.
através de uma cadei
institucional de papéis performativos, ou ainda nos Os gêneros do discurso operam na interseção da “estrutura” da língua (o
ica
inâmi do ei i . g jue
pages
nificantes (Lacan), mas atravésé da dinâm e que é reprodutível) com a enunciação a cada vez singular (o que não é repro-
4 é re e necessaria i o n: a enunciação
i mente ativad
que estabe lece uma, relaçãpoo
abelec dutível). Através deles a língua penetra na vida e a vida na língua.
renan aÃano que se cria”ia” pelo pelo atoato ded fala,
“transfigurado pode As “cadeias” de gêneros do discurso não agem como uma estrutura ou
afirmação existencial
dialógica em que somente as forças subjetivas de E uma restrição molar da mesma maneira que ocorre com “as cadeias de sig-
5
alizar (completar) o enunciado. nificantes” de Lacan. Elas funcionam como um agenciamento composto por
e nunca é simples reflexo ou expressão de algo que lhepre
B “O artes uma multiplicidade de formas de falar, responder, discordar e cooperar. A
cria algo que,
xistisse, fora dele, dado e pronto. O enunciado sempre é “cadeia de enunciados” é aberta, fractal, em constante mudança, e fornece
nca existira,
existi algo novo e irrepro(
i duzível, algo que está sempre relaci
Entretanto, qualquer coisa “mais ou menos liberdade para a “intenção” do locutor. Embora tão norma-
E um valor (a verdade, o bem, a beleza, etc.).
de uma coisa oisa q! que é
a dada (a língua, o fenômeno tiva e prescritiva quanto, a linguagem, os géneros do discurso são muito mais
i a se criai sempre a partiri
criad “mutáveis, flexíveis e plásticos” Os locutores descobrem nos gêneros do dis-
Rn
observado na realidade, o sentimento vivido, + eurso a possibilidade de formar a sua expressão e sua “intenção” (endereço,
O dado se transfig
já concluído em sua visão do mundo, etc.). resposta, tomada de posição etc.), de modos mais ou menos criativos, em
ae donoen-
Contrariamente às preocupações de Butler, Podemos o
emo formas mais ou menos estercotipadas.
ialista” sem postular
E a preexistênci
ree istência da s linguag
samento “nã
“não essencialista
seus meios de exp)
uma “dependência radical e originária”. O sujeito, ados e os
iads
so, a relação com os outros e com m seus € junci
seus enunc M4 Ibid., p. 349. Já em 1928, Bakhtin fazia sua crítica usando os mesmos argumentos do modelo estático de
je
objeto deto
de discurrso,
seu discu
seu
Cc. vêm e e se trans
li co fcformam no e atra- fomunicação. “Na realidade, a relação entre A e B está mudando e se desenvolvendo constantemente, e ela muda
enunc iados que que circul:
nciados circulam no esp: espaço públi
Ni j Ho processo comunicativo. E não existe uma comunicação X pronta. Ela se desenvolve no processo
E
vés do acont Cc. ecimento da ei enunciação. Não há subjetividade originária, porque entreÀ e B. Além disso, X não é transmitida de um para outro, de comunicação
mas é construída entre eles como um tipo de ponte
sso de subje ) tivação ainda estão
ideológica ela é construída no processo da interação deles”. La Méthode formelle en littérature, op. cit, pp. 203-204.
1) o e as relaçõ
o sujeit ções es ql que prevalecem no proce Desde a redescoberta do performativo pelo pensamento crítico, em particular nos Estados Unidos, uma corrente
sempre por fazer, » p por se realizarem e serem
const ruída s. | o não é um
O sujeit fle “estudos performativos” tem desenvolvido uma identificação entre performativo e performance quando suas
não é a causa d do su) path jeito. Pois j o não
o sujeit dinâmicas são diametralmente opostas.
em,gem, a a lingu
lingua
feito de linguag é
linguagagem 457E por isso que o enunciado, em sua singularidade, apesar sua individualidade e de sua criatividade, não pode
Her considerado como uma combinação absolutamente livre dasde formas
efeito s de um
preexistente, mas atravé
é constituído por uma estrutura linguística da língua, do modo concebido, por exemplo,
Saussure (e, na sua esteira, por muitos linguistas), que opõe o enunciado (parole), como um ato puramente
idual” Mikhail Bakhtin, Estética da criação verbal, cit, p. 304. Não existe
de Butler, op. cit, p.28.
42 Aformulaçãoà está em Excitable Speech,ch,verbal, op. cit. p. 348. linguagem, mas também uma combinatória de gêneros do op.discurso, de modos de falar.
apenas uma combinatória da
43 Mikhail Bakhtin, Estética da criação

SIGNOS, MÁQUINAS, SUBJETIVIDADE IAURIZIO LAZZARATO


165
164
oie sé N
curso tema ver em primeiro lugar
com Os
ER o e Íntimos são dispositivos linguísticos que favorecem
A diferença entre os gêneros do dis: cria ção, de repr o- E bitos da na o Eeinatário é percebido de modo idêntico, fora dos
de padronização ou
o grau de “liberdade” ou “restrição”, e os maior ou menor grau)
ntivam ou frustram nas rela ções entr
“sem a o as convenções sociais (em
graduação; E d erí
dução ou de novidade que eles ince idera como perf or- Eos proibições o E amos dizer. (.) No discurso familiar, com a aboli ão
filosofia analítica cons
locutores. Bakhtin classifica o que a DO) informoal RR discursivas, torna-se possível uma atitude pes-
gêneros do discurso mais estereotipados,
mativo entre os mais padronizados, os enções linguísti- confian: gia f íntimo é impregnado de
erealidade (o). O discurso pat
relações políticas e de conv a sim ia”.
pois implicam a reprodução das tia a o und a no destinatário, na sua
cas existentes.
diana (as perguntas de ordem purament
e
Do sesi eriia les reprodução daa enunci ação dependem da pre-
“[EJm certas esferas: navi da coti na vida prát ica, sub ordinação, da simpatia
factuais que elas suscitam), ”, Ra de hierarqui ou
ou “desconforto di é
factual e as respostas igualmente des-
as ordens)” nos deparamos com esfe
ras ver-
confiança. A padrogira etos de amizade e inimizade, da confiança ou
na vida militar (os comandos e imo e a cria- ço criativa dependem da mic ropo-
urso são padronizados ao máx lítica e damacropolítica da a
bais nas quais “os gêneros do disc a enu nci açã o, e não das estruturas da língua ou de
performativos.
tividade é quase inexistente” -
uma grande diferença entre O ende
Se as relações de classe introduzem mar-
s, elas, ainda e sempre, são relações
reçamento e a resposta dos locutore ição social,
árquicas dos locutores, cond
cadas por convenções (posições hier 8. Transcendência e culpa na linguagem
Para uma enunciação e expressão cria-
nível, patrimônio, notoriedade etc.). de convenções, hierarquia e Nas a de ;
que não o
tivas, é necessário um espaço-tempo ale-
O EA da teoria performativa (Zizek e Butler), o locutor
, conf iança e cumplicidade mútuas prev
subordinação, em que a simpatia o e goza ndo do Ê ce recarregado pela transcendênci;
lência, pelo erro e pelaa cul
o e sentido como um amig
çam, em que o outro seja percebid ço Ele se encontra em uma relação de “dependência or
mesmo estatuto. E frias não mais m relação à divindade, mas em relação “à linguagem
tiram, é continuam a existir, claro,
“Ao lado dos gêneros padronizados, exis ros le excede em todas as direções a históri jei
da comunicação verbal oral: os gêne - modo que nosso poder de agigir depende “paradk
bee ii mi O oistic do deal
gêneros mais livres e mais criativos midade familiar, etc. (...)
í
amigável, da inti
das reuniões sociais, da intimidade (de um
(de Eepreioridade; de sua autonomia E ) RN
presta a uma reestruturação criativa E endo em conta que o sujeito se engaj;
A maior parte desses gêneros se num grau aind a mais gaja imna e atravésé da linguage
modo semelhante aos gêneros lite rários e, alguns deles, E ses a Enade a dependência à linguagem e,papeis
acentuado”? co Es É e a 5 postas em jogo aparecem como a condição de possi-
linguagem, mas, sim, do agencia-
A criatividade não é um produto da inte.
a Na utler injustificada e inexplicavelmente atribui esse ponto
uagem é apenas uma parte constitu
mento ético-político de que a ling E obg t, quando, na realidade, trata-se de uma repetição ao pé da
seja infundido com profunda con-
A “liberdade” requer que um discurso de uma com- À RE , para quem a “liberdade”e” do sujeito
jeito “ “se confunde com o desen-
ibilidade e a benevolência
fiança, com simpatia, com à sens seja a da
isto é, com uma política que não
preensão da atitude de resposta,
padronização. E E p. 323.
dith Butler, 3 Excitable Sj Speech, op. cit.i »p.P: 28. 28. Ne Nessas leituras
ituras “ “críti ”
tn pode and podemos tis“ da ic do polca Beda FL cone Sa
a “4 ii a

ana ou à funções (por exemp lo, os coman


s gêneros referentes à vidavia cotidi ERRear lie Leg Q astação à represão, à fi, na verso totalmente realizada Brgde Loca
46 Ibid, p. 300. “Existem muitír ssimo
apropriado. (..) Por ora, o équeprópri o
na
de Pdens na vida milita nosou impor
e
vida
que
profis
absor
sional
vem,
)
com
que
grand e
de
ta é assinalar que as orações desse
regra,
facili dade,
são
»
expre
expres
soa
sivida
pm gi oração de tipo
tipo aderem estreitamente à expres si
de individual. Este tipo Ê era é mais
ra ordem pariáraa le docapo Eseretamodegiaco den ai chefia
e contra a orde
ia
“indi
aProno do gêncro que lhes para consol idar as ilusões sobre a nature za espresena da oração.” gramat (grifo do nosso). Ibid. licques o Dao Lacn, EscritFelos, trad. bras.de ua Vera Ribeiro (Rio de Jan jeiro: Jorge Zahar, 1998), E
Je oração contribuiu muito de fala nunca deriv am de forma s sintáticas, icais etc. como ie sei aço de poder (ga na forma de guerra, batalha ou de fred E RR
Pp. S14-315, A força e a expresdassivida de do ato as susten tam. Coma ndo ou expressividade
es dialóg icas avaliativas que é pempre posse. Uma maneirade st da infênca do pode nunca é procurada eim
Po enveniste, mas somente formasrelaçõ abstratas da língua, mas atravé s de harmônicas dialógicas”, através das vozes
cão dados por meio iados das que podem expres sar “o belo, o justo e o verdadeiro”. a 4 servidão ao.
putra solução senão a dialética!), mas na ontologia não pers na aee
E
emancipação não
E

que atravessam os enunc e que são as únicas


47 Ibid., p. 303.
ÍURIZIO LAZZARATO
SIGNOS, MÁQUINAS, SUBJETIVIDADE
166
, repressão, falta, não possuem a estabilidade das gramáticas e dos dicionários. Elas estão em
Tal como acontect e em Lacan, o “negativo” (castração
das relações de poder, mas uma variação contínua, sempre em processo de se fazer e de se desfazer.
perda etc.) não manifesta a contingência própria “[Allgumas formas estão sofrendo gramaticalização enquanto outras
condição da nossa
necessidade universal da condição humana, uma k PR sofrem desgramaticalização. São precisamente essas formas ambíguas, limítro-
ticamente.
existência, que é preciso assumir e superar diale a fes, que são de maior interesse para o linguista: este é precisamente o ponto em
entan to, o locut or não ro a
De acordo com Bakhtin, no
um mundo as e eterog sl que as tendências de desenvolvimento de uma língua podem ser discernidas”*
como “servidão”, já que ele está imerso em os em da Daí a impossibilidade de limitar essas relações a uma estrutura linguística
k. Nos enunciad
diferente daquele descrito por Butler e Ziúe É (estruturalismos de Saussure e de Lacan, “gramática” de Wittgenstein ou atos
idade e da injunção, mas
imerso, o locutor ouve as vozes de normativ ponto s À de ilocucionários de Austin). A ligação orgânica entre a língua, os gêneros dis-
de. Ele ouve a hete
i dade. e roge neid ade dos
1 1
iaçãão e da liber
as vozesÊ de criaç paoE
dessa maneira, as lutas e registra eursivos e os atos de fala “não pode se tornar lexical, gramaticalmente estável
vista, > julgamentos e valores, e ouve, des
ança e a desconfiança que e fixada em formas idênticas e reprodutíveis, ou seja, não pode se tornar um
e antipatia, concordância e discordância, a confi ; E signo ou um elemento constante de um signo, não pode ser gramaticalizada.
: Ê
enunciados exprimem. Esta ligação se cria para se destruir e se criar de novo, mas já sob formas novas,
vive dentro da língua, ela nãt
“Para qualquer consciência individual que Eae
uma concepção em condições representadas por um novo ato de fala”!
um sistema abstrato de formas normativas, mas de um aa A linguística parece obcecada pelo desejo de reduzir a indeterminação,
uma profissão,
do mundo. Cada palavra tem o “gosto” de a instabilidade e o risco criados pela abertura de acontecimento própria à
específico, de uma: pessoa
uma tendência, de um partido, de um trabalho dia ehora e. enunciação, a uma estrutura gramatical ou sintática fixa, a normas de enun-
, de um
particular, de uma geração, de uma faixa etária no pe ciação, a invariantes da língua oficial. A teoria de Bakhtin, ao contrário, apela
espaço-tempo
O locutor não se encontra jogado em um s o E para uma “ciência da singularidade”, cujo objeto é a ligação orgânica entre o
és das piruetas dial ética
um poder do qual só se pode escapar atrav dade de relaçõe: reprodutível e o não reprodutível, entre elementos linguísticos e não linguís-
balho do negativo. Em vez disso, ele está em uma multiplici
s de espaço-tempo em Eae ticos, entre o dado e o criado, uma ligação orgânica que é “atingida no ato de
de poder, em uma grande variedade de bloco fala histórico concreto, [que] só existe para este ato de fala específico apenas
onizado, bem somo yEsc
vozes e harmonias de gêneros de discurso padr ! P
”, ressoam, em q jue as relações comT os outroZA
iaress”,
“íntimos e famililiare
ros “ínti
sob essas condições dadas de realização determinadas”
idade
ivida
iativ r nto de
de. O desenvolvime Antes de Deleuze, Guattari e Foucault, Bakhtin passou das constantes para
os enunciad á propícios
i os são íci à criat
não pr a asa E raançed a consideração de variantes e variações. Foucault observa que é preciso “reve-
de espaço-tempo de um ou de outro tipo lar funções de discurso que não são simplesmente aqueles de expressão (de
; ormativo
i ou dos perf
i genstein) s e r e ZiZek), RE
(Butle
áti
da gramática (Witt
a (forças et ni a ão uma relação de forças já constituída e estabilizada) ou de reprodução (de um
leon iia e da macropolítica da língu sistema social preexistente)”.” A decisão de privilegiar as variantes ou inva-
i uagem —- das quaisis a linguística e o
es!
estru tu:
ue trabalham a ling ítica tout court. tes não é apenas indicativo de uma afinidade linguística ou estilística, mas,
ne uma parte) e da micropolítica e da macropol acima de tudo política, uma vez que língua e gramática são essencialmente
políticas do Estado levadas por forças centrípetas, centralizadoras, que forma-
tam politicamente a linguagem.
9. Variantes e invariantes
multipi plicidade:le fractal d de
uma uma multi 3 Mikhail Bakhtin e VN. Volochinov, Le marxisme
d a que se confi
cadeia a dede enunciados
A cadei gui a como
fi gura
i p
et philosophie du langage (Paris: Édition de Minuit, 1977), p. 174
4 Mikhail Bakhtin e Pavel Medvedev, La Méthode formelle en littérature, op. cit. p. 266.
s em uma à estestr
izáveiis j
ê os de disc
êner i urso nãoã totalizáve 85 Ibid,, p. 317. “A questão é saber se a ciência pode lidar com tais individualidades absolutamente irrepetíveis como
sintáticas e os géneros disc ursivos ou se estender para além dos limites do conhecimento científico generalizante. Ea resposta é, obvia-
evir Na realidade da troca verbal, as formas Mente, pode?” Mikhail Bakhtin, Speech Genres, op. cit. p. 108.
Jo "É muito mais fácil estudar o que é dado no que é criado (por exemplo, a linguagem, os elementos pré-fabricados
ciência s sociais mais ou menos reacionárias, domanife sta £ gerais da visão de mundo, fenômenos refletidos da realidade e assim por diante) do que estudar o que é criado.
assim como em ne todas as outras“incoerp ie homem
E ausência constitutiva, uma incom)
4ude”
” e “atraso no desenv olvimento” Htequentemente, toda a análise científica equivale a uma divulgação de tudo o que já estava dado, em mãos e pronto
da obra (o que é encontrado pelo artista e não criado por ele)” Ibid., p. 120.
cultura preenchem é sublimam. lido1978),ie,pP- aa
s n
“falta” originária, uma
queo significant, a linguagem e a Théorie du roman, (Paris: Gallimard, Michel Foucault, Dits et Écrits, v. 3, op. cit. p. 124.
E Mikel Bakhtin, Esthétiq ue et

SIGNOS, MÁQUINAS, SUBJETIVIDADE IZIO LAZZARATO


168
10. Ainda sobre a “escória” E
é co ado
Ít fe Ea En as possívei fr s reações de resposta, em nome de
; ncia, f foi realmente criado. . Como sabe; “mos, o papel
; dos
de Sarkozy pode
A natureza estratégica ou governamental da enunciação para quem o enunciado é construíduído
o éé extremamente grand. a i Eos
n. Um enunciado
agora ser refinada ao utilizarmos as categorias de Bakhti que o papel desses outros, > para o: Ss quais
ii o meu pensamentoa
ao qual ele
concreto e singular é “um elo na cadeia da comunicação verbal”, Remento
ent atual pela primeirn a vez (e,Ç » portanto, também para o m eu próprio
rioio 'eu”
'eu
são contemporâneos,
está conectado, não somente por enunciados que lhe o É g ns de ouvintes passivos, mas de participantes Es a
am
que estão por vir.
mas também através de enunciados do passado e aqueles E io ag a.Desde O início, o locutor espera uma resposta deles, uma com.
da língua, dos signifi cantes, mas também
Não há apenas a dimensão sincrônica esponsi
s va ativa. Todo o enunciado éconstruído,it i im di j
dos gêneros dis-
e, sobretudo, a dimensão temporal diacrônica da enunciação e na cara de encontrar essa resposta” E SR
deve ser consid erado, antes
cursivos, que se referem ao tempo. Um enunciado +» cg fal o linguagem não inclui um passado e um futuro
que os refuta,
de tudo, como uma resposta a enunciados anteriores; na medida O raro em todas s asas dirdireções a história a do do sujeito
sujei falante” a (Butler).
idos e, de uma
afirma, suplementa e se baseia neles, assume que eles são conhec ; gramaticais, » gêneros do discurso ef tc., essas temporalidade
ele se constrói como
forma ou de outra, “conta com eles”. Ao mesmo tempo, ria-
Constit
o uem apenas asà condiçõções doo acontec
ac imento
i da e nunciaç ão.
iaçã E NEN
No aqui i e
pressupõe necessa
antecipação de uma resposta por vir, que a enunciação | o Ra ao an enunciação, passado, presente e futuro os
cer agora ou no futuro distante). o Es ssado, presente
e
mente (uma resposta que pode aconte do presente e presente do futuro segundo a
ado,
A declaração de Sarkozy sobre a imigração não é o primeiro enunci " o anto Agostinho). : As tem) poralid
i ades são
à colocadas d
a. O alvo de
ele pertence a uma cadeia de enunciados com uma longa históri no jogo e “transfiguradas” no a« contecii mento da enunciação. A históri:
in RE
tampouco é novo.
suas palavras (o imigrante, o estrangeiro, O delinquente) temporalidades, ) a linguagem e suas temporalidades
i , são (oapena: o hr
içõ
elucid ado e avaliado
“O objeto, por assim dizer, já foi articulado, disputado, de E 9 acontecimento desvia a fim de criar algo novo. Re
e tendências se
de várias maneiras. Vários pontos de vista, visões de mundo A pndaço do ex-presidente revelou, a um só tempo, uma continui.
cruzam, convergem e divergem sobre ele”** E ie uma rup
ruptura em relação
relação às declaraççõdes-enunciados ha ue a
precede- E
pertence a uma
A cadeia em que a declaração de Sarkozy se insere ct é a repetição (ritornelo) do poder que ate Ea esses
direita. Ela res-
“herança” linguística compartilhada pela esquerda e pela , 'Os ! disparates ) (linguís
] ticos e extralininguístic
guísti os) através de uma afirma-
(Partido Comunista
ponde a, depende de e complementa enunciados do PCF q pa que vê na nação, no temor e no desprezo pelo
tratores de
Francês, com o slogan “produzamos francês!” que acompanhou estran no tr o, na autoridade e na ord. i
subúrbios da Paris seus « “territór
fábricas francesas usados contra casas de imigrantes nos
' .
ios existenciais”. rg
antne dee dio
bem como daque- ist : É E a >
“yermelha”); do Front National (“os franceses primeiro!”); o impossível descobrir significações, poder de transformação
e
miséria do mundo” ou
les do Partido Socialista (“não podemos acolher toda a E Sa e a partir das estruturas semânticas, fonéticas ou gramati-
Mas também
“os jovens dos conjuntos habitacionais são crianças selvagens”). Rs : eal ESA uma enunciação sempre significa afirmar poder sobre
nas vozes da burgue-
podemos encontrar ecos e ressonâncias mais distantes, « ntes extralin
Talinguí
guístico
sticos,
s, que são, » àa um UM sósó tempo, somáticos, etoló-
a como fazem
sia, que define o proletariado do século XIX da mesma maneir Bicos, mitográficos, institucionais, econômicos, políticos e estéticos
.
com a juventude suburbana da perifer ia de hoje: “escória”.
conectado a decla-
O insulto do então futuro presidente não estava apenas
virão. “Escória”
rações racistas do passado, mas também com aquelas que
imigrantes dos con-
não é uma injunção performativa dirigida aos jovens
objetivo de dar
juntos habitacionais da periferia, mas um ato de fala com o
posteriormente
forma a uma situação e à subjetividade do “francês” que deve
o enunciado
se posicionar em relação ao enunciado. “Mas, desde o início,

58 Mikhail Bakhtin, Speech Genres, op. cit p. 93.

SIGNOS, MÁQUINAS, SUBJETIVIDADE IZIO LAZZARATO


vo
CRÍTICA DA “REPRESENTAÇÃO” LINGUAGEIRA E POLÍTICA
CAPÍTULO 6

Mas por que será que eles continuam insistindo nes-


sas coisas irracionais, religiosas etc.? Por quê? É porque,
num determinado estado de subjetividade, não há outros
meios (...). Se para existir somos absolutamente obrigados
a recorrer a esse tipo de tópico, não é de admirar que a
pessoas corram para lá, mesmo sabendo, aliás, que, racio-
nalmente, isso não vai dar certo”

questão não é ter acesso a esferas cognitivas inéditas,


mas, sim, apreender e criar, através de modos afetivos, vir-
tualidades existenciais mutantes”

Félix Guattari

“Eu temo que não venhamos a nos ver livres de Deus por-
que ainda acreditamos na gramáti

Friedrich Nietzsche

1, O existencial como maquinismo

As formas coletivas de mobilização política contemporânea, sejam manifesta-


ções de rua ou lutas “sindicais”, sejam pacíficas ou violentas, são atravessadas
por uma mesma problemática: a recusa da representação e da experimenta-
ção e a invenção de formas de organizaç: ressão que rompem com
à tradição política moderna baseada na atribuição do poder a representantes,
do povo ou das classes.
A democracia representativa se transformou progressivamente numa arti-
eulação do Estado, já que os partidos políticos e os sindicatos, através de um
processo que foi se desenrolando ao longo do século XX, tornaram-se parte
integrante de suas instituições. A crise que atravessa o Ocidente desde 2007
transformou ulteriormente a democracia política e a democracia social. A
primeira está completamente subordinada à lógica neoliberal, a tal ponto que
4 fórmula de Marx, da qual tanto se zombou, de que “os governos são comi
tês de negócios da burguesia”, é novamente atual. Basta trocar “burguesia”

MAURIZIO L
ani atual.ne o sociais ou econômicas. Guattari nomeará, muito tardiamente, essa dimensão
por “credores” e teremos a função da representação
nc
íti ca fraca como àa nossa ;
ainda é democrática sê extralinguística de “função existencial”.
uma democraciai políti
cia social, por «outro lado, PE Segundo Guattari, vivemos um paradoxo e um desafio que a linguística
i os neolibi erais.i A democracia
ara os polític
de tempo integr al e, principal não sabe explicar nem identificar: “Fomos lançados em sistemas discursiv
E e nede dE e a defender as faixas salariais os
já sem na da conseguir. RR &, ao mesmo tempo, temos que lidar com focos de afirmação existencial
mente, os aposentados, aliás, que,
a o agi E por sua vez, não são discursivos
As ebações que eclodem por todo o pane afirmam (. ) Quando uma máquina de amor ou de
não exi existem alterna
iva “não A tivas” possíveis. Reed medo começa a funcionar não é por causa de frases discursivas, cognitivas
da democraciai representativa
,a ! E ou dedutivas. É imediato. E essa máquina vai progressivamente desenvolver
re afirmaçãoã de Margareth Tacl her (“there is no alternative”
para além de toda esperança dos cone
pçs diferentes meios de expressão”!
Nao se Ea
tui o único horiz Não há uma competência linguística na base da enunciação, mas uma
qu e a criaram, > a criseE da dívida, 2 cujo reembolso consti E apreensão e uma apropriação existencial de si mesmo e do mundo, e é apartir
para as próximas gerações.
ível Ê no
isso, junta do a Mi E dessa apropriação existencial/afetiva que a linguagem, o discurso, o saber, a
ai sa mais de uma via de reflexão sobre
da linguage:
Re m. c
Às semi ate narrativa, a obra e assim por diante podem existir.
ítica a àsàs funçõeõ s representativas
representaçãâo polític i às i
afirr am “representa: Eta ga À A palavra tem, então, uma dupla função: significar, comunicar, declarar
igni icantes (ling
signif i uagem, escril itura) afirm
antes RE a, “politicamente”, mas também, e principalmente, produzir agenciamentos
esdatidades de expressão ditas pré-signific Ra a etc.).
E da ciênci li de
da, as equaçõ es E a enunciação aptos a captar, a territorializar e a estender as singularidades de um
igniificantes (a moe:
cas) e a-sign
ali É entar, » da mesm:
agem pt ode acresc ade foco de subjetivação existencial capaz de lhe dar consistência epersistência.
i que sóó a lingu
falta alguma coisa
só a representação p: Por um lado, a cristalização dos processos de subjetivação “não é privi-
falta a os cidadãos e para o social alguma coisa que
Ea é , légio exclusivo da língua; todos os outros componentes semióticos, todos
ica pode trazer.
DR quan a BRR. Os outros procedimentos de codificação naturais e maquínicos contribuem
! Na realidade, tanto a “representação
uma tomada de poder que sol recodifica, ihe: para isso”? Por outro lado, a mutação subjetiva não é primeiramente discur-
,
i ituem
;
odalida
0 idade
iótiicas e as ouí itras modal des s de
D expresa
Pp! são.
o As duas siva, já que para isso ela tem que tocar o “foco da não discursividade que está
tn
subordina
i as outras semiót
ão”,
ão”, nos sister
istema s de signos e nas instituições p: ao que está no coração da subjetividade (...). Para poder fazer um relato, contar
formas de a “representaç
que tanto uma quanto a o mundo, sua própria vida, é preciso partir de um ponto que é inomináve
são solidárias, e toda ruptura política requer l,
inenarrável, um ponto de ruptura de sentido e de não relato absoluto, de
se desfaçam.
Em que condições, ão sej;
ão sejam U s da filosofia anal lítica, »dodo «estru-
aquela não discursividade absoluta”? Ao lado da função de significação e da função
i one o
a fal la e os a signos : agem no processo de “cons- denotação, Guattari introduz a “função existencial” que mesmo sendo não
i
ralismo ou do lacanismo,
ao mesmo tempo política e discursiva vai funcionar como o motor criativo da enunciação.
dedo de si” de modo a escapar à representação E [ Depois do caminho da linguística e da psicanálise estrutural-linguística
E k
i eira?
ari e de Lacan, Judith Butler reduz a subjetividade a apenas uma resultante de ope-
pr a relação entre o discursivo e o existencial, Guatt
E a rações significantes. Guattari prefere cartografar os diversos componentes de
fine os processos de subjetivação tanto no nível a : subjetivação na sua fundamental heterogeneidade, fazendo “o divórcio radi-
cial, ”, | que não é linguagei
“existenencial
aradoxalmente, ao fazer do “exist
um deslocamento qu cal entre a produção de sentido, a produção de significação, a produção prag-
sd uma condição essencial da enunciação, ele opera .
t mática e, depois, a produção de subjetividade”!
utraliza o poder da representação.
nos faz sair da ilusão do performati vo, graças à E
SE Se pai 1 Félix Guattari, “A propos des Machines”, Chimêres nº 19, p. 94.
a toda
iaçã que e: scapa at forma lizaç
izaçãoão e: EE ralal «ou aà -)
estrutu 2 Félix Guattari, Cartographies schizoanalytiques, (Paris: Galilée,
cepçãão da enunciação 1989), p. 60.
3 Félix Guattari, “Entretien avec Olivier Zahnr, Chimêres nº 23, p.58.
í g
u ra com aà linlingui
, Guattari i ra radicaliza a ruptu »
inatóriia da língua
inatór 4 À quase totalidade das citações deste capítulo foi
pe com a pragmática, ao questionar aquilo que Bakht in não Ro contrados no site da revista Chimêres, juntamente comextraída dos seminários de Félix Guattar, que podem
os artigos que ele escreveu para a revista, bem como serparaen-à
angus çÕ o úl no revista Terminal. Disponível em: <http://www.revue-chimeres.fr/drupal.
suficientemente: a relação entre linguístico e
chimeres/? |=taxonomy menu/3/236>. A
É uma linguagem da fala, que o autor não
nem às infraestrut em formação. Félix Guattari, Singularité et complexité, previa publicar, mas que nos dá a imagem de um pensamento
não pode ser reduzido à intersubjetividade (Bakhtin) Seminário de 22 de janeiro de 1985,

SIGNOS, MÁQUINAS, SUBJETIVIDADE: MAURIZIO LAZZARATO


va
trabalhar para “produzir discurso” essencial,
Erãoe o , mas não o úni ico; tudo aquilo
E i que int: terrompe as cadeias as dede signifi-
sign
As mesmas cadeias semióticas podem
frases que vão significar alguma Do de rostidade, as disposições espaciais, os Hã
e para “produzir existências, “as mesmas Rs : s semióticas a-significantes (relativas, por exemplo, ao EaBjO
o de um aglomerado subjetivo quelhes
coisa no sonho são consideradas dentr Elas vão fazer daquele E ei a maquínicas de signos, talvez implicadas nesse tipo
encial”:
dá não uma significação, mas um alcance exist Ê lento. A própria palavra só intervém
i é i
que as enuncia uma entidade subjetiva.
à pragmática existencial tem a ritornelos existenciais”? E rseeensare o som
Diferentemente da pragmática discursiva,
laridades ontológicas da apro- AaDa oi mesm: maneira i que os fluxos materiais, sociais, econômicos etc., os
ver com a produção de si mesmo, com “as singu onde = Na ss em coordenadas espacio-temporais atualizadas,
ades da consciência des?”
priação de si por si mesmo, às singularid
da autoafetação. O per- aq relação consigo mesmo”, ER » os OS “territóri
“territórios existenciais”
i istenciais ;
A existência é da ordem do autoposicionamento,
À iversos E S y e os

que chega, praticamente ao mesmo ms valor constituem a dimensão incorporal, afetiva, intensiva do
curso de Guattari é paralelo ao de Foucault, a enuncia- epa E que não é regido pelas coordenadas comuns de espaço e de
diferença de natureza entre
tempo, às mesmas conclusões: há uma ro.. O deexi encial escapa àâ determinação
e Da
de “si”, e a discursividade da prag- e à causalidade física e constitui
ção parresiástica, que exprime a afirmação “a q mo” não energético e não informacional. As transformações que
a do performativo. Nos dois casos
mática linguística, mesmo que seja aquel E o existência são incorporais e não envolvem processos energéticos
à língua, mas a lógica que as conduz
utilizamos palavras, preposições, usamos ionais, diferentemente das transformações estudadas pela ciência.
é radicalmente heterogênea.
com as significações dominan-
A constituição de si mesmo pode romper
eiro momento, significantes, discur-
tes, já que ela não considera, num prim 2. junção e conjunção do discursivo e do existencial
fetação, uma relação de força com
sos, sentido, mas uma potência de autoa
em Guattari assume uma tonalidade
ela mesma. Essa afirmação de si mesmo os Ro
A relaçãojo consigo
s”, os focos de enunciação, i mesmo constitui itui um foco existencial incorporal, uma
particular, pois o “para si” e o “para os outro is ro
amente humanos. A existência tem suja consistência, persistência e desenvolvimento
vetores de subjetivação não são exclusiv
caso, algo que não funciona de ce > )
segundo momento, » da multiplici
ultiplicidade de elementos atua-
a ver com uma lógica “maquínica”, “em todo
rsivos, mas que chamei recente- ADA es e atravessar e reconfigurar (o discursivo, o cognitivo, mas
jeito nenhum na lógica dos conjuntos discu Rs a ituições, o social, o econômico e assim por diante). A “maté
mente de existencialização”* “am j E
m funcionar de acordo com a a existencialização” utiliza a discursividade para “se parecer
As palavras e as proposições da língua pode à outra, ou de acordo EM a manifestar-se para si mesma como corpo sem órgãos, como
lógica do sentido, levando de uma referência de sentido pseuds
| de, mas que não é de fori ma alguma uma
ade,
passa pela representação, pela cons- izaçã :
com uma lógica diagramática que não de Bakhtin, temos na lógica dos conjuntos” É
o ponto de vista aro
ciência, o “eu” do sujeito. Guattari, ultrapassando
na vida do homem, introduz semióticas e Ao“ai
estaDelecer uma diferença
i de natureza entre discursivo (e o concei
para quem a palavra é quase tudo de organizar o começo da a RE ivo) e existencial, Guattari pensa não apenas a disjunção, mas
de dar início e
agenciamentos não humanos capazes nã on) oà dessas duas lógicas
ra permanece certamente um médium ógi disparates,
i “a lógica semiótica”: de
existência, a passagem ao ato: “A palav Rod lo e a “pragmática
gm ontológica”
lógica” de construçãoà de territórios
Guattari depois da itó
com mais atenção o que Deleuz e escreveu com o “não filósofeleo” dissess
5 Alain Badiou deveria lerpalmen te, o que este último escrev eu sozinh o. Isso evtar qua e inverdades
Lógica do sentido e princi é incontestável: O acontecimento, ou seja, o sentido. Desde o começo de seu livro, EaVamos erumere rapidamente i as “di“dissimetrias” entre essas duas lógicas.
como: “A fórmula de Deleuze
é uma qui imera, uma palavra-valise inconsistent “sentido-acontecimento: O que,e ma
ele forja aquilo que para mim ique provav elment e muito mais do que gostaria com o linguidtis num 8 grand o iramente, o a discursivo «e o existencial funci 'ionam a partiri dos 4 “referen- :
oa ão com que ele comun tar que o acont ecime nto perten ce ao registr o do sentido leva tudo para — ri - À dimensão Ssemiótica t ou discursiva
cursiva “ “vem de um sistema
susten
dios contemporânea. Pois , Logiques de mondes (Paris: Sil, 2006), p. 408. Guagar não só tirou Deleuze
Todo da inguagemr. Alain Badiou estruturalismo. As últimas aulas de Foucaul também desmentem as críticas que referências extrínsecas, ou seja, ela implica sempre que cada elemento seja
da psicanálise como também dosegund o as quais ele teria sistem atizado uma mais do que improvável “antropologia
fePão dirigidas por Badiou,
linguística” Ibidem, p. 44. Seminário de 3 de abril de 1984. o Pélix Guattari, Chaosmose, (Paris: Editions Galilée, 1992), p. 177.
é Fix Guattari, La crise de production de subjectivité,
cit. p. 5.
ité, op.
TO Félix Guattari, Substituer Iénonciation à lexpression,
ssiom, Semin:jário de 25 de abrilril de 1984,
1984, p. 7. 7.
7 Félix Guattari,Singularité et complex
te et champ non discursif, Seminário do 12 de março
de 1985, p. 1.
8 Félix Guattari, Machine abstrai

SIGNOS, MÁQUINAS, SUBJETIVIDADE URIZIO LAZZARATO


6
:expressã
: o, mas,
mas, além disso,
ento que constitui seu referente”, de ç » funcis
funcionam como modo o ds de constil itu
discursivo em relação a um outro elem . Por outro E de universo que vai trazer uma “mais-valia de possíveis”, E
da sua existência
modo que sua “verdade, sua essência” está fora E bi di erença: q os conjunt os discursi
lar é ele mesmo sua própria refe- vos articulam oposiçõe
uarta j s distinti
lado, na lógica existencial, “o elemento singu
ii ;
io ate conteúdo/expressão, sujeito/objeto e assim por di %o)
o de referência”? A pragmá-
rência e gera sua referência, ele produz seu mund pessoal a você”) que se desdobram em coordenadas espacio-tem) E E
ia” A existência se “produz no
tica existencial é “autoprodutiva de referênc os E a representação, enquanto que os conjuntos existenciais
são ano
seu próprio movimento” prio P na lógica das intensidades, dos afetos que se instauram ant Ea
r. Existe um elemento e
Em segundo lugar, a lógica discursiva é linea Ro à É É SoRCares das pessoas e das funções. Os afetos, que
seguindo a temporalidade died
depois um outro elemento... Ela se desdobra volta conti- Eptiávei ponto de vista tanto da à ori origem quanto do destino
o existencial é circular, ' (o
indicada pela seta do tempo. À afirmaçã E pr] E to O locutor até o ouvinte e constituem nerd
consistência à existência, ou então
nuamente sobre si mesma, identifica e dá partir desse ran podem ser perfeitament
certos limites. A i i
perde a força, por não ter conseguido atravessar
i :
consistência que eles determinam.
ção, da consolidação desse foco a
retorno sobre si mesma, a partir da aglomera E A Pp pragmáti
: ia a ea existenc
ela transversaliza as dimen- i não |pode ser facilmente circunscrita na lógica
jal não
ial
de existencialização, dessa emergência subjetiva, ie
s, linguísticas) configurando-as Caçu pois o conteúdo e a expressão são irreversíveis (o ã
sões atualizadas (econômicas, políticas, sociai Re e eo do qual se Vedestacaria uma expressão, » “tudo pode esta: r con-
om.
de outra maneira. uz sempre dis- era E e ça expressão ) Os operadores não são sujeitos e objetos,
a discursiva prod ia
Terceira dissimetria: a repetição na lógic E seo jetividades”, entidades mutantes, metade objetos, met de
que na lógica existencial a repe-
curso, combinações de discurso, enquanto lam a E Ee qu adm exterior nem interior, mas que engendram dnêrioc
os subjetivos que mode idáde
tição (“ritornelo”) produz mudanças de estad or E Raio nes compreendidos como focos de diferenciação! o
autoprodutora de referência
subjetividade. O fato de que a existência seja ência”.* O ct aos ivos de conjuntos existenciais não dizem respeito ao
si mesma que será a refer sujeito
significa que “é a repetição em relação a Rocas, 40 eu e ao voc
ição formal do signo-traço de masê,à ult rapassagem de limite,
imii aos gradientes de
ritornelo (“fala vazia”), diferentemente da repet
l, visto que ele dá consistência à
Derrida e Butler, tem uma função existencia É A jlógica
E impli
discursiva a implica a troca, 'erenquant:to que na pragmátiica
relação consigo mesmo. -
gica, princia não pode ser trocada. “A existênciaestá prosa
semântico que é importante, no Rs Do
No ritornelo-repetição, não é o conteúdo io a em que nunca possamos descolar uma forma que seria forms
mudança de estado subjetiva. Os
mas a própria repetição que produz uma do, mas pela ncia. Você a lá ou não está (...), e não existe negatividade existen
medidos pelo senti
ritornelos de Cristo ou de Lênin'é não são cial. PR
pela consistência, pela ultra- À si mesma
s tudo aquilo
quilo que existe.
i E depois,i se ela nã ;
mudança de subjetividade que eles determinam, od má nada adizer, não podemos nomeá-la como ERES mo
versalidade da subjetividade
passagem do limite, pela aglomeração, pela trans ns. tica cera ou existencial é processual, irreversível,
Os ritornelos de Cristo ou de
que eles tornam possível e que engendram.
sin; ; lar,
de enquadramento, de cena que E caco pa ça que a lógica discursiva é en
Lênin dão início a “uma espécie de universo, Re
Estrut h
de ordem coletiva”? Os ritor- , Inivei
iversal. As duas lógicas
gicas são,
sã assim,
i funcion
i amen- É
corresponde a uma produção de subjetividade sistemas de E pudricoo da subjetividade. Nos resta ver, agora, como funciona
semântico, constituir
nelos existenciais podem ter um conteúdo ção entre essas duas séries que funcionam de maneira tão diferente. j
p. 5.
12 Félix Guattari, Singularité et complexité, op. decit. 1985,
sentido se desdobram da mesma maneiro
outubro p. 4.
13 Félix Guattari, Seminário de 01 de
da Pedi Giuattai, Singularté doet complex it, op. cit. p. 12. O conteúdo e oexisten cial.
e conteú pragmát ico, sentido semióti co e sentido
conteúdo semântico de 1985, p. 4.
15 Félix Guattari, Seminá rio de 01 de outubro ciais permitiu » aeruo uma língua -Lê o: Eetriiooe do agenciamento coletivo de enunci lação pé é carac
car teriz
a por umada sitivism
transitivis o subjetivo: eu cai
16 “Foi assim que, durante décadas , uma constelação de ritornelos eexisten lexical quanto de ordem fonológica, prosódica, que chora; os efeitos e afetos não são atribui idos” Eli Guattar, Sustitue| Enonciaton
r À espresior,
Ma envolvendo proced imento s específicos tanto de ordem retórica o a um Nemin
de 25ário
de abril de 1984.
- ou a iniciação - que torna legítimea tomada uma relação de pleno pertenciment
ai A ultrapassagem do limite iais) depend e de certa concat enação de consciência desses componentes, 19 Félix Guattari, Caosmose, um novo paradigma estético, trad. de Ana Lúcia de Oliveira e Lúcia Cláudia Leão (São
grupo (ritornelos e afetos existenc s nº 7, p. 10. Paulo: Editora 34, 1992) p. 117.
que assim se tornaram ritornelos. Félix
Guattari, “Ritournelles et affects existentiels”, Chimêre DO Felix Gi uattari, Machine abstraiteit et champ non discursi, Seminário de 12 de março de 1985, pp: 10-11,
17 Félix Guattari, Seminário de 01 de outubro de 1985, p- 2.

SIGNOS, MÁQUINAS, SUBJETIVIDADE: ÍRIZIO LAZZARATO


8
como E prod:
mo y toraEa e es arte, mas como pragmática da relação entre discur.
3. O paradigma estético Bea , entre atual e virtual, , entre possível
possível e real que Guattari se volta. /
el, do não dizível ou do EO E E no sa qual nos leva constantemente a experiência estética con-
O não discursivo não tem a impotência do inefáv
sidades, dos afetos que Eee a g sses efeitos são produzidos como modo de apreensão existencial,
irracional, mas tem a força do incorporal, das inten
O não discursivo não é uma E sea Cs ou ao lado do fato de que traços indicativos, re
constituem tantos focos de protoenunciações.
de uma disciplina e de uma onça » necessários Pp para catali lisar sua existência
matéria informe à espera de uma diferenciação, da “lei” (os
istênci em campos
: de 5
viria da linguagem e
organização significante ou simbólica que Ração
como em Wittgenstein. Pelo contrá- A ab se de territórios
itóri existenciais
i i sempre será feita numa certa loca.
lacanianos). Nada de místico o envolve,
e expressivas muito ricas, por ES pi cn ou semiótica, à condição de que essa localização não seja
rio, ele é percorrido por dinâmicas semióticas
nciais, por “sis emergentes”, por a dna nem Objetivista, nem racionalista. Não há outros meios de E
afetos que funcionam como territórios existe
iação, humanos e não huma- ae peso o ser pela autoexistencialização. O conhecimento da
focos de subjetivação mutantes e de protoenunc É E
de existência. uer aquilo que Guattari chama, » segundo Gian
nos, que constituem máquinas autoprodutoras “a
! Batti i
o discursivo e o existencial ig tópica”, uma arte de cartografias. E
Como articular, desse modo, a relação entre id
o real? Não se pode estabelecer iarelação de si i para si,! a autoafetação,
maquínico, o atual e o virtual, o possível e
ão, o autoposicionamento irá tomar
uma relação cognitiva, uma srestado pe mitos, narrativas, conceitualizações que funcionam não
entre esses dois níveis uma relação “científica” o” e “existen- Se Ea ução (impossível) do existencial no discursivo, mas como
relação biunívoca já que existe assimetria radical entre “discursiv
de um novo paradigma, que uma a cartog afia que servirá
s na como referênci: ia, como acesso as o : proce:
cial”. Essa relação só pode ser abordada a partir
s 7
E vação. aos territórios existenciais. . “A existência pode pi pi
Guattari chama de “paradigma estético”. E
a E
a,
de infraestruturas econô- a Ei o a e, para sua promoção, localização e produção, talvez ela exija,
O processo de subjetivação não é aquele efeito um referente E
icaria que existe mente, alguma Coisa que na sua origem é antagônica ao
micas, sexuais, linguísticas, sociais (o que signif ta
de autoposicionamento, de “o ps cuso quese origina dos procedimentos objetivistas.”
fora dele mesmo). Pelo contrário, os fenômenos
abert uras deprocessualida- E ce pis significantes, antes de levar ou transmitir mensagens, antes
autoafetação, de autorreferencialidade, enquanto autopoié- o de
nários. Mas esses focos funcionam como “ritornelos” Estao o
des, enquanto criação de possíveis, são origi
reposicionar e ao reconfigurar a a depreciação
ticos só têm consistência ao transversalizar, ao
Rir E Ei da linguagem,
ge ú » d: do conceito
i e da a abstração
ab: ã con-
o
uturais” (econômico, político, “a eo a Sn mais a cartografia forEis
todos os domínios considerados como “estr À
mais
I as possibilidades de articular o di:iscursivo
i e o não discur-
social, linguístico, sexual, científico etc.). |
nte insustentáveis enquanto ; quanto mais a cartografia for ab: strata, maisi a artis
As autorreferências subjetivas “são evidenteme ã Fá
vêm de uma referência extrín- Eee favorável ao seu desdobramento.
tal, pois elas não têm referente exterior, não egu ” o E Ap ars a Ena
si mesmas; elas só se sustentam o existem dois tipos de cartografia: as “cartografias con "
seca (...). Elas não podem se sustentar por
ão da relação consigo mesmo E E de luzem diretamente o que vou chamar de
num recomeço da discursividade”” A enunciaç o da
existencialização,
passam sempre pelo desvi e um território subjetivo, ao mesmo tempo
e os territórios existenciais que as suportam que a cartografia
zir explicações racionais, cogni- Ro: x Ou seja, cartografias existenciais de uma pessoa, de um gru!
narração cuja função principal não é produ
s (“mítico-conceituais, E o
tivas, científicas, mas engendrar ritornelos complexo
le uma nação), e, ao lado disso, as cartografias E spestltivas die
stência à emergência de E o o territórios, que são cartografias de segundo grau, mas que Em
fantasmáticos, religiosos, romanescos”) que dão consi Rn e pe E ersanicar, articular a relação entre esses dois níveis
novos territórios existenciais.
voltar à idade do mito, mas rogêneos”?. Daí a importância fui
Não se trata de um retorno ao irracional, nem de
todos acreditaram durante os lógicos, políticos, filosóficos.
de se desfazer do paradigma científico em que iência estética, não
pa
É para a exper
séculos XIX e XX, até mesmo Louis Althusser. Felix Guatari, a Caosmose, , um novo paradis
'
Reis Guattar, Seminário de 0! deCoas 1985, pa
estéti Pp: 17-18,
Guattari, Singularité et complexité, op. cit, p.3.
21 Félix Guattari, Seminário de 01 de outubro de 1985, p. 8.

SIGNOS, MÁQUINAS, SUBJETIVIDADE


180
ou os debates entre
Eritornelos dee Debuss
Debus , y como “coisas
“coisas”” (“semiotic act”, > como quem dizi “s,
As disputas teológicas no começo do cristianismo E que oo início aos processos de subjetivação, que nos
m para estabelecer enunciados ver- levam a o
bolcheviques por volta de 1905 não serve Ee E e referência, que favorecem as passagens ao ato. O discursivo com:
es para articular o
dadeiros, mas cartografias que possam abrir possibilidad pa a poa apreender a subjetividade, para implicá-la, para
5
s de fixar a criatividade, fazê-la o
existencial e o discursivo, inventar ritornel os capaze e
reendê-la, implicá-la e fazê-la agir,
igir, é é necessário
ári que o dis.
fazê-los ultrapassar os limites, inaugurar um processo.
À f
gn
Os conceit
onicei os funcionem como aces: Sos a novos mu:
que tê m a pretensão de “ Ei
Os discursos teóricos marxistas ou freudianos, máticos” das passagens ao ato.
hecimento social”, por mais Ri
serem construções científicas, “não tiveram recon EA Adim
dimens
no ã do ato tem um papel central na esquizoanálise. O ato pode
lidade aos “focos de sub-
que cristalizassem e dessem consistência e transversa E a Ea a compreender a relação entre discursivo e existen
quanto Marx não
jetivação” mutantes, emergentes do capitalismo. Tanto Freud
cial, pois a sua
E sr a precede a representação e é “para ele mesmo sua
umentos de localização própria expres-
estabeleceram uma nova ciência (Althusser), mas instr (a E: Es na como “um tipo de cogito”. Um (tipo de) cogito
Marx, uma “cena”
“mítico-conceituais”?, que permitiram criar, no caso de
no sentido de
o a m luz sua própria referência, non sentido de que é impossível
de classes), personagens míti- des. =
história da humanidade como a história da luta o e forma do ato, de que ele constitui um foco emergente a
iria abolir o trabalho assa- partir do
co-conceituais (o proletariado como sujeito que E se uma processualidade para além da qual não podemos passar.
er e semiotizar a singularidade
lariado e as classes sociais) capazes de acolh A proa não se produz “ex nihilo”. Ele não é uma
sempre, porém, à partir de passagem dlética
da subjetividade da primeira revolução industrial, pe o ç nada, a partir de uma lógica binária, mas uma passagem
a-significante que, sozinho entre
um ponto inominável, um ponto irrepresentável, r uma o: es eterogêneas. Não existe ato em si, mas “graus de consistênci
não para “conta
torna possível a criação de dispositivos de subjetivação Enciea do ato,0,1 limites existenciais relativos ao ato”? /
ser feita. Nesse quadro, as narrativas, os eh
história”, mas para que a história possa E a di do ato, encontramos os conjuntos atualizados e os con.
o intersubjetiva ou
conceitos, os “mitos” não têm uma função de comunicaçã E A o agencnc iamento do quequal o ato 'o deri
deriva. Aqui,i deriva
i r tem o]
cognitiva, mas “estético/existencial”. “M pi o de*priginar eo de desviar. Os conjuntos atualizados consti
não deixa de haver uma
Essa relação é paradoxal (“não é uma relação, mas pa nensão quilo que is O ato a estratificações comportamentais,
ões existenciais ape-
relação”), já que teremos acesso aos efeitos e às mutaç Eestrutu
E ras, s, segmentaridades de tod los os tipos”.
“Aqui teremos a orige m do ipos”. Dess: e ponto de vista,
i :
nas num uso específico das categorias discursivas. o: sempre como o prolongamento de algo já presente, uma
o filho morra, seja enter-
paradoxo de Tertuliano: é por que é impossível que
certa
Ear E já estápenis e numa perspectiva teleológica de um
tidos como verdadeiros. Ê
rado e depois ressuscite que esses fatos devem ser Ro » demo mo igualm
certo igt
pode gerar ritornelos ente representado ado”.
”. E; Entretanto, durante uma
por que a teoria freudiana é considerada mítica que ela . DO )oriveninudo
adeé interpretado, » tudo es stá está claro... nada muda, nada
de subjetivação mutante”?
localizações passi-
As cartografias especulativas funcionam não só como “Se eu necessá
paia cio
ri Ea dimeni sãoã para que hajaj passagem ao ato, uma dimensão
ssos de subjetivação:
vas, mas também como geradores ativos de proce — = àrepresentação, uma “dimensão diagramática”, uma dimen-
a e morrer (...). E os opera-
pensar em Deus, terei coragem de ir para a guerr to!). ais E E nunca E uifia tornar-se consciente, ter a consciência
relativamente concre
dores podem ser verdadeiramente abstratos (Deus é
ou a
represei e alguma coisa.” Com a existência e o ato “não contemplam
gem pragmática ao ato, à passagem à existencialização,
Eles dão início à passa
os
se trata de operadores ele-
a um universo existencial. Isso para dizer que não 28 a
Félix Guattari, Lact e et la singularité
ir ité I et Il, Seminário de 28 de abril de 1981, p. 2.
mentares empiristas”? O “Há coisas que se passam fora da representação, que não são coisas
de Cristo, de Lênin, os ao acaso, mas altamente diferencia das,
É nesse ponto que Guattari retoma os ritornel los Eomprometemo conjunto
da economia das
fato, vocatem o ritornelo coisss ul demais
er da represent
repêntação: vou
Spas
:EE depois
” d e p oemo
i s , em dado s vocêPrópria está indo,pense
idade e afirma que suas pesquisas permitir am finalmente explicar aser com represen
O igum lugar, desconectou-se d momento, mas não tem a
o. Entre, bo
25 “Freud se refere a diversos mitos da Antigui Não foi isso que Freud fez, na realidade, mas algo ep tação; aão se traa de reflexos de rã sem bro (). ). RE Entre arem
representação GDe o ato há toda
propor
como o homem nunca pôde pensar ou científica esse tipo “de mito.
o para o antigo mito. Ele propôs um novo mito, foi isso que ele fer ando isso
“axo funciona” rpor ocaso
TE de ma revolução, de uma luta, de uma mudança
diferente. Ele não deu uma explicaçã Comment faire rire un paranoiaq ue? ( Paris: Odile Jacob, 1996). oem tomada de consiêni: mas social e não se trata
Wittgenstein, citado por François Roustang, de um agenciamento dosdos ementos elm dicurtos e não discursi
26 Félix Guattari, Caosmose, um novo paradigma estético, op. cit. pp. 94-95.
p. 4 trata-se de uma “máquina de guerra” revolucionária.”
27 Félix Guattari, Machine abstraite et champ non discursif, op. cit.

IRIZIO LAZZARATO
SIGNOS, MÁQUINAS, SUBJETIVIDADE 183
182
produz apenas quando há u ima mais-va
ficacional, “estamos numa rela- i liai ívei
mais” como na lógica representativa ou signi
“possibili
de executar árias inéditas, quando exi
meramos de fato. É a passagem ao ai va
ção pragmática na qual articulamos ou aglo mutações potenci
DO rãal que se instauram”* longe Fr quilíbri
og
retam processos materiais, o. Potencica
alidade
E s e possívei s
ato, é o fato que sistemas sinaléticos acar 4 . ui fa É
sociais, econômicas, subjetivas"?
liberdade do sujeito, nem à dialé-
A escolha e o ato não se referem nem à
s são maquínicos. Em Guattari, o
tica da necessidade e do acaso, pois ambo a alguma 4. A crise “atual”
maquínico não é de form
“existencial” é da ordem do maquínico e o
contrário, o maquinismo da
sinônimo de determinismo mecânico. Pelo EEO essenci:
essenc a Ea “cri
organização, de qualificação sa ro ”está está na
na incapaci
i dade das forças capitalistas em
produção do ato “consiste em produzir modos de ir
esso - uma gama de escolhas posa eexistencial; na impossibilidade de agenciar
que abrem um futuro multivalente para o proc DO imita
ogêneas, fora de conexões previstas Ene Sociais, tecnológicos atualizados e a dimen-
-, para a possibilidade de conexões heter Do Dea perad na ao da subjetividade, territórios existenciais
já codificadas, jápossíveis” ad doe . a Produção de subjetividade não se articula a um
opções, matérias de esco-
É o maquinismo, e não o homem, que produz
te que o ato não é antropomór-
lha, possíveis. É preciso, então, ter em men s de qualquer diante, + teremos,
1 mo aconte
como Raia Eae > Re
uma patologi
fico nem representativo, o que não significa que estejamos livre: E “ain
E Eis ano
da subjetivi
Eee
da voltada para seus Ro ist asa ça
responsabilidade. pie d pes
iá-la de certa forma ao seu re apego, pleno emprego, salário, trabalho, defesa
“Quando a orquídea escolhe” a vespa para assoc dea. Detrans a social e assim por diante, que deveriam se articular
a fazer parte do mundo da orquí
processo de reprodução, a vespa passa preciso dizer A ridades não E
sentação. Não é de subjetivação, pois não se abrem
Mas não é de forma alguma no modo da repre A pus,
tivo na cabeça da orquídea. Não ituem uma matéria de escolha para a subjeti-
que não há memória ou registro representa
sendo orquídea, uma expressão
existe cérebro da orquídea! E, no entanto, nça à ela. Mas o que é O fiotem
problema político consiste na articulaçãção, na concatenação dos “proces-
da vespa perte
diagramática faz com que alguma coisa q E em reta colocar em funcionamento as
situado em coordenadas espacio-tem- id so
essa alguma coisa? Isso não pode estar poral. O “aii sa de enbietivação: Se não houver essa El
movimento. É um incor
porais; isso não exige uma quantidade de peso: o
, um incorporal que é uma certa e po, Retoma O desdobramento da subjetividade
casamento vespa-orquídea desenvolve, então EO tum sites a É luxos que devem permitir “estar igualmen
des antes dessa escolha, mas a
escolha maquínica. (...) existem “nº possiblida
te
pos materiais É E E ução econômica”, social, linguística
nvolvimento evolutivo se fará, de
partir do momento que ela foi feita, o dese
etc., mas
oia e Eater dar a você a produção de subjetividade”,
agora em diante, a partir daí”.
o do maquinismo e de um tipo a (eo que resta do movimento operário) não soube
A escolha e o ato dependem ao mesmo temp
ento. Guattari cita com frequência o
de consistência que constitui o agenciam de subjetivi
pet dade que pace
entre afirmação existencial (revolu- ; ; ca, 0 a ismo contempo
ps râneo. Ele nã
exemplo de Lênin para explicar a relação e políticos. Oato o tear, o pe discursivo (econômico, social, Rena
ento coletivos sociais é
cionária) e consistência dos agenciam
situação singular existem limites, guia E Po ne, Pesctnições atuais, tanto a figura subjetiva
é “causa sui e não ex nihilo”, porque numa do
ica, um certo estado de orga
“cristais de actância” (uma certa situação polít Cruzadas ou de fazer a Revolução de OuinbrolER
etivação da classe operária) que, Reaper
nização do partido, uma certa fase de subj
determinam a consistência da “maté
mesmo que não sejam a causa do ato,
e determinismo, porque o ato se Felix Guattar, Mace tarte et champ non discursive, op. cit, p. 5.
ria de escolha”, Na esquizoanálise, não exist "Na Pesa eiaia necéneces a
RR rio outro ter +rmo, Epois
is não se trataad de uma articulação
ticulação jáj ão há discursivic
ae
idade,
e setaSo
que não

32 Félix Guattari, Seminário de 1 derité,


33 Félix Guattari, L' acte et la singula
outubro de 1985, p. 8.
op. cit. p. 5.
03 de abril de 1984, p-6.
ces in
da Felix Guattari, La crise de production de subjectivité, Seminário de

SIGNOS. MÁQUINAS, SUBJETIVIDAD! IZIO LAZZARATO


frentes ie
A figura subjetiva do homem endividado articula seus A relação entre discursivo e não discursivo, entre
o conceitual e o exis-
sivo.* a o
íveis, patamares, apenas do ponto de vista regressivo, repres tencial, ao invés de levar ao silêncio (aquilo de que não
podemos falar, deve-
”. O inpen é nor no
etc penha “futuro”, nenhuma “possibilidade mos calar”), deve ser trabalhada, conceitualizada, semio
tizada, dramatizada,
i
jeti vo quanto econômico. i lação
A articu veis h heteroggra
íveis
á entre esses níveis êneos narrada e assim por diante a partir do irrepresentável;
ãsubjeti ao invés de chegar
das irvent e
é E pelecid espontaneamente, ela tem que ser conter à fideli dade retrospectiva de Badiou (fidelidade ao
acontecimento, uma
vez
ela taml
lhada. A articulação é singular, mas não é necessária, e acontecido), é necessário intervir na urgê ncia dos focos
emergentes de pro-
acaso.
x Es E
toenunciação e de protossubjetivação.
ão paradoxal. As mutações e dai ato As cristalizações, as condensações, as aglomerações emerg
+ Vivemos sempre uma situaç - inênita? di Guattari.! As entes devem
Estadiz
infinitas”, ee
i em A “velocic idades
ã bruscas e feitas
são é encon trar um acabamento estético e ético tanto no
nível micropolítico
uma só vez; em peida : na pe no (Ctrabalhar um ponto de subjetivação que não é
estados subjetivos se produzem “de discursivo, um ponto de
dizer? Que é a ato? o
tempo, um tempo discursivo, o que vamos subjetivação que será melancólico, caótico ou psicót
ico”), quanto no nível
vai constit uir uma Ga Es o
des Que é formidável? Esse primeiro dado macropolítico (um ponto de subjetivação revolucionár
io ou reacionário, fas-
sala, e a enuncia çi
ouuma situação que é a seguinte: eu estou aqui, nesta cista, identitário etc.).
a 39 U . cas Essas cristalizações a-significantes, enquanto funçõe
torna consistente. s existenciais, são
E na ou “salpicadas como num bolo pelas significações e denota
Aquilo que se junta nessas condensações, nessas ções”. Trabalhá-las
iativos””” nãonãonão é éé dada ordem en do sal er o:
(daí Te s ir
écies de “4 “grumos enun ciativos
espéci significa liberá-las dessas carapaças que as amarram
e colocá-las “na posição
!). A cristal ização existen
i cial
ss fa: q o as A de proliferar (...), isto é, estabelecer conexões, linhas de
ivismo!).
de todo cogni itivismo produção associati-
içã entre a maneiri a de coloca r os i
signos, de Dver as i r vas, passagens a outros registros” As “linguagens” e as semiót
dispos
i ição icas significan-
iso
asi que isso se organi za, antes de qualq!
TS Ra àcons
to tes não constituem as condições da produção (capitalismo
de sentiri o tempo: : éé assim cognitivo) nem as
istalização, de conden O sação,
o de ag] nã
O ES condições da política (verificação da igualdade, à maneir
ão”:”! Esses pontos de crist:
trução a de Ranciêre). As
acaba mento a pá
feria a si mesmos. Eles exigem, em seguida, um condições da produção como uma política possível estão
ligadas à produ -
enunci ação, q! na
“ético-político”, “Estético porque há uma evidência da ção de subjetividade e à sua articulação com o instituciona
l, o econômico,
a porto e pre
uma relação de amor ou de ódio. É a formulação de social, o linguístico e assim por diante.
ende
no
digo,
i nunca nos enganamos; ; at até mesmo um cachorro logoÉ en! O grande mérito do trabalho de Guattari, que é proble
matizar a relação
o à
H ão faz frases, mas sabe se estamos q! uerend batere nele entre discursivo e não discursivo, questionar as modal
idades de articula-
carinh o”!! Ao mesmo tempo, “exi ip
e: xiste a dimens ético-p
ãoão ético-p isso
Es.olítica, porque a do existencial com os fluxos econômicos, sociais, polític
po se
inho” os etc., indica o
nbé m uma matéria que Ea
ão é apenas uma matériai estéticica, a, é també uecimento das teorias contemporâneas que se dizem
críticas ou revo-
etame nte hetero gêneo:
nes ei transversalidade com outros níveis compl nárias. De um lado temos, com Badiou ou Ranciê
re, uma subjetivação
icos, artísísticos etc.c EM não precisa se articular com os fluxos sociais, econômicos,
íticos,
i iai , econôm
sociais ômii culturais, pois
segundo uma e E N
E O trabalho sobre essas emergências é feito ion? licãr di artogr: . se basta a si mesma. A política é independente,
autônoma daquilo que
consist j
iste e justam “paras igma estético
ente no “parad é ” ou na arte tópica ç ciêre e Badiou chamam de economia, apenas porqu
e a imagem que eles
o a rtista não d
deve ficar a
espera! a têm dessa última, e do capitalismo em geral, é caricatural,
fias. Da mesma forma que veiculada pelos pró-
r ar instrumentosO ee p) nnEra
. eco prios economistas. A força do capitalismo não está no
a açãoã polítici a deve con: struir e invent objetivismo das “leis
experii mentação, isa e e de interv
ã de pesquisa e enção 1ligadas ini
eme do mercad o”, mas na capacidade de articular a economia
(e a comunicação,
homia, ao social, ao linguístico, mas à produção de subjetivida

de 1987, Pp. p.3.


39 Félix Guattari, Discution sur ritournelles et affects, Seminárioe de 15 de setembro pão impede que Deligny
como uma elegância de escritura. A dimensão ética também é evidente.
desenvolva, principa
até mesmo uma espécie de mitologia, numa certalmente,
40 Ibid. p. 3. mitos de referência, Ele escreveu romances a vida inteira
época, do delinquente primário, da criança autista, porque não
outros meios”. Ibid., p. 10.

SIGNOS, MÁQUINAS, SUBJETIVIDADE ÍRIZIO LAZZARATO


186 187
produção de subjetividade oc ps em mãoão única:
funcion: única: “ “Eles discursivam
f sempre”, quer dizer que, por um
consumo, o Estado de bem-estar social etc.) à que , sempre no mesmo plano, » nu nunca atingem
as vezes, aquilo
sob diferentes aspectos. Como já comentamos divers
i os: territórios exi i iai
dupla implicação e uma E pode acontecer a mutação da subjetividade.
Badiou e Ranciêre chamam de economia exerce uma Res menos u E E ã de capitalismo
rena
sociais e das servidões itali
dupla exploração da subjetividade através das sujeições
cognitivo,
tá de capitalismo cultural
EE cociedade d a ecimento, do que de relações de poder e de saber e
maquínicas. ro a ums
do capital, como dizem odelização da subjetividade da população no seu ESTE
Dizer que a subjetivação política não é dedutível o = p Es ue E se adaptar e de se submeter a técnicas, modos
ntar sobre a sua articu-
Badiou e Ranciêre, é completamente diferente de pergu ca “pura”, i é rabalho, de consumo, , de comunicação
a de
lação paradoxal. No primeiro caso, você tem a ilusão de uma políti e Evida regidos pela rentabilidade e pela “estupidez”.
unicação e a ambient:a
nunca atingirá uma con-
já que a subjetivação, que não se articula com nada, E pat criaçãopere prcuçãoà do novo são
sia
caso, você abre frentes de traba- ã possíveis,
ívei i
não a partir do conhecimento,
sistência necessária para existir. No segundo =. Ra RS
ividad e, se quiser existir, mas de uma mutação existencial e de a
lho de experimentação e de construção, pois a subjet Frans! a jue
o social, político, o econô-
o am no foco não discursivo da subjetivid subjetivi
deve ter consistência, reatravessar e reconfigurar fiócios existenciais, nos seus modos de subjetivação.
mico e assim por diante. teori senli.
À Res
ulam a produção de o do
E tio cognitivo ses A
é incapaz de explicar
As teorias do capitalismo cognitivo também não artic
É
seus próprios objetos
econômico, do social or a pa le algo novo, novos conhecimentos) como é sinteticamente
subjetividade com a heterogeneidade do discursivo, do “a
do “conhecimento”, do pela tautologia de um desses teóricos que definem a economia
etc., pois tudo é reconduzido aos fluxos atualizados ES Pr E E de conhecimento através do conhecimento”.
entacional, à dimensão pré-
“saber”, à dimensão linguageira, cognitiva, repres as Ea Pieso E
to deve preencher dos fluxos (linguísticos,
: tai j
cognitivos,
-verbal, pré-cognitiva e não reflexiva. O conhecimen Rr3 r uma ] nova subjetividade”,
econômicos
criação de possíveis, de cria- s ' » nem um novo conheci-
funções - tão múltiplas quanto improváveis - de E: > em qualquer outra inovação. Até mesmo a produção
ligadas ao existencial
ção estética, de produção de subjetividade, que estão Rh
das ciências
mentos é levada de um paradigma científico ou “cognitivista”
maquínico. E o As igma estético; isto significa que elas são devedoras de um
nça sem limites
O inventor da nova definição do capitalismo tem uma confia no ubj ivação, no sentido definido or Bakthin,i neste t
e um processo — peque i
no conhecimento: “A experiência cognitiva é sempr :
tttari: “Do inte
interior do campo do próprio
iência cogni- sp conheci imento,on nenhum
ou grande — de wi orld making”, de criação de possíveis. A “exper possível,
E pos pois não
confli
que, ao se propa- não poi
podemos e: ncontrar nele nada a de de verdadeiramente
tiva” também elabora “visões do mundo, códigos estéticos” pa
: i
o praça que pode entrar em conflito, mas o cientista, e não
ahete-
os valores das pessoas”. O “conh ecime nto” não está apenas na
garem, “mudam E ae eras
também da produção de » mas com j
como sujeito estético, » para quem o conhecimento
origem do valor econômico e do valor estético, mas bi-
fm é
mos expostos àpossi
subjetividade. Através da experiência cognitiva, “esta “a
Uma úni:
mundo e de nós mesmos, PENA ruptura no modo de subjetivação jeti
lidade de que ela possa mudar nossa percepção do
pode produzir uma cristali-
ulos, ele confunde despreocu- E aa E produz novas referências, novos autoposicionamen
nossa identidade profunda”. Como seus discíp , vez, abrema possibilidade de construçãoã de novas
ção do conhecimento.
padamente a produção de subjetividade com a produ novos saberes,
EE » de novas
li ,
tal não têm nenhuma E práti
práticas estéticas,
i > novas for:; mas de vida.
O conhecimento, a informação e as linguagens como com eas significações domin
pda,
i Para P; com .
a escolhida. Os fluxos j antes
t e as formas de vid: a estabelecidas,
capacidade de criar possíveis, de alavancar a matéri Es X Er pontos do não sentido, pelo a-significante, pelo não
i » t temos
fiená
, os fluxos semióticos,
de conhecimento, como os fluxos de informação po Y E o ica, se manifestam na greve, na revolta, ' nas manifestações
discursivo
apena uma articula e qu e,
44 A política do acontecimento que elesa serpropõem é pobre e mutilada na realidade, não existe do acontec imento de uma e instante, suspendem o tempo e criam outros possíveis
da, mas três; antes, durante e depois dos ai
ão entre o existencial e o discursivo o. Àtrabalha
relação entre a subjeti vaçãoé os fluxos econômi cos, sociais, institueo rão proliferar, » se houver consistência, k outras sul bj j etivações
o de uma mudança, de uma revoluçã e antes, durante e depois de uma ruptura política, como ti
e outras ris.
cris-
nais, linguísticos se faz de maneira radicalmente diferent Editions Amsterdam, 2009).
tentei mostrar nas minhas Expérimentations politiques (Paris: nzall manuale che non cê Sociogia del lavoro, nº 115
45 Enzo Rulani, “La produzione di valore a mezzo di conosce citado no texto de
pensar na *experiência cognitiv a” do torcedo r de futebol,
(Milão: Branco Angeli 2009). Basta não tem muito a ver com o cognitivo. (Citado por Félix Guattari in Cartographies schizoanalytiques (Paris: Galilée, 1989),
à experiência da qual ele fala
Rallani, para saber que

SIGNOS, MÁQUINAS, SUBJETIVIDADE IZIO LAZZARATO


188 189
mesmos ele-
“No outro tipo de lógica que superponho à discursiva, os
inverso e, nesse
mentos de discursividade semiótica são tomados no sentido
às
momento, não como produtores de discursividades comparadas umas
sensíveis e de uni-
outras, mas como produtores de existência, de territórios
vam os mesmos
versos. Nessa lógica, as constelações que emergem conser
ões semióti cas, no outro, produ-
elementos, mas num caso você tem produç
ções subjetivas.”
lmente
Essa cartografia da produção de subjetividade que rompe radica
tica, com um certo
com a filosofia analítica, com o lacanismo, com a linguís
da representação
marxismo, mas principalmente com o conceito e as práticas
do qual será pre-
(tanto política quanto linguística), produz um deslocamento
ciso partir para pensar uma política à altura da crise atual.

47 Felix Guattari, La crise de production de subjectivit, op. cit, p. 6.

190 SIGNOS, MÁQUINAS, SUBJETIVIDADE


ENUNCIAÇÃO E POLÍTICA. UMA LEITURA EM PARALELO
CAPÍTULO 7 DA DEMOCRACIA: FOUCAULT E RANCIÉRE

“O discurso revolucionário desempenha o papel do dis


curso parresiástico quando toma a forma de uma crít
à sociedade”
Michel Foucault

À recusa em delegar a partidos políticos e sindicatos a representação do que


divide a sociedade (propriedade, riqueza, poder etc.), e ao Estado, a repre-
sentação do que ali é comum (cidadania, comunidade), tem origem em uma
nova concepção de ação política que brotou da “revolução” de maio de 1968.
A luta por uma “vida oura” e um “mundo outro”, pela transformação política
e de si, deve ir além tanto da representação política quanto da representação
linguageira, em favor de novas formas de organização, particularmente aten-
tas não apenas aos enunciados produzidos, mas também e, em especial, a su:
modalidades de produção.
As últimas palestras de Foucault fazem eco ao paradigma estético de
Guattari, à sua maneira de compreender a política como invenção e experi-
mentação, bem como à superação da semiótica que, para Guattari, é a
con-
dição indispensável para produzir rupturas s ubjetivas. A “função existencia
l”,
embora não sendo linguística, constitui, enquanto força de autoposiciona-
mento e autoafirmação, um elemento essencial em toda enunci ação, especial-
mente na enunciação política. No cerne dessa nova e original perspectiva de
“democracia” não representativa, encontramos a relação entre o e» istencial
e
à enunciação, entre a afirmação de si e a fala polític:

1, Igualdade da língua

Em uma entrevista dada a uma revista de centro- querda, Jacques Ranciêre


afirma que a subjetivação política “nunca interessou a Foucault, pelo
menos
não no nível teórico. Ele se ocupava do poder”! Este é um juízo um
tanto
apressado e leviano, pois a subjetivação política constitui o ponto culminante
da obra de Foucault. Na realidade, nos confrontamos com duas concepções

revista de Jacques Ranciêre a Eric Alliez, “Biopolítica ou política?” in Multitude nº 1, 2000. Disponível em:
http://www .multitudes.net/Biopolitique-ou-politique/

MAURIZIO LA:
jeti vação átia Ao ári a a ,Ê
nciêre seu ponto de vista deslocou-se e se formulou nos seguintes termos: que dis-
radicalmente heterogênas de subjeti ã
curso de verdade o sujeito é “suscetível e capaz de dizer sobre si?”
jeti vação p: olitiá
ti , a subjeti
utralizi a a política à
étii
i is (a formaç ão
ã do
d ethos, a relaç:
SR lação consig o mesmo). A interrogação que atravessa a sua leitura da democracia grega é orientada
D
indisso Nda ethopoiesis
indissociá
ciável
insti ições, das ND por uma questão tipicamente nietzscheana que concerne, na realidade,
il
A necessidade j ar a trans formaçção das institu
de conjug os
? Foucault, Pi
O speRr o nossos dias: o que significa “dizer-a-verdade” após a “morte de Deus”? Ao
formaçãoã de si,! dos outros e da existência, constitui, para contrário de Dostoiévski, o problema não é que conduta de vida adotar
par tir de 1968. 4 Os dois oc
lítica, tal como ela se configura a se
i ar os
2 sãoão de de dois Pp projetoso Opolític
ivação sã o a expres
“tudo é permitido”, mas, sim: “se nada é verdade” como viver? Se a preocupa-
DE i
ceitos i
diferentes de
tos de Wsubjet
dt ção com a verdade consiste na sua problematização permanente, que
ê , como po: de ser facilmT ente constatado
bastante heterogêneos “vida”,
gi que poderes, que saberes e quais práticas discursivas podem sustentá-la?
i
mos as leituras que os autores fazem do funcionamentnto o da da di demo: ES
o A resposta do capitalismo para essa questão é a constituição de um
As duas aborda gens comportam diferenT ças notáveis, não ape:
esação. “mercado da vida”, em que cada pessoa adquire a existência que lhe con-
concepçãoã de polític áti a, mas também de lingua2g gem e de enunci
defini tivame nte
as que a poi E vém. Não são mais as escolas filosóficas, como na Grécia antiga, nem
Ranciêriê e, a democraciai grega demonstrou Cristianismo, nem o projeto revolucionário dos séculos XIX e XX que pro-
o
lusivo a igualda de, e que a igualda e linguís tica
tica (a igu:uald
incí il i i
ã entre Êfal. falantes) ) co) constitui a verific ação
tao põem modos de existência, modelos de subjetivação, mas as empresas,
i a ee
mínima ári para a compreen: são
necessária a
ordem do comant mídia, a indústria cultural, as instituições do Estado de bem-estar social, o
do princípio de igualdade política. A fala, seja da
RE -
I A | ação políticaca ( deve aumen seguro-desemprego.
roblema, pressupõe um acort do na linguagem.
que minimament No capitalismo contemporâneo, a governança das desigualdades está
E e efetivar essa potência de igualdade contida, ainda . estritamente acoplado à produção
gti e governança dos modos de subjetivação,
linguagem. das formas de vida. A “polícia” de
que Foucault faz dessa mesma Ea a prio hoje opera tanto através da divisão e dis-
Fatura tribuição de papéis e da repartição
ka ente, a
ári mas não sufici
içã necessária, A enui d
de política. as de funções quanto através da injunção de
itui uma condição
titui modos de vida: toda a renda, todos
ía) determina relaçõçõeses paradoc xais,e ui os benefícios e todos os salários sãoparte
i -a-verdade, parresía)
(dizer “de um “ethos” que prescreve e implica determinada conduta, ou seja, uma
nça da enunci iação n a na igualda
iguald ade l g! agem,
ade iintroduz a difere
i
é maneira de fazer e de dizer. O neoliberalismo representa, a um só tempo, o
ética”. A ação poli
que implica, necessariamente, uma “diferenciação
oici
pa xais” a que a iguald ade da in- stabelecimento de uma hierarquia fundada sobre o dinheiro, o mérito
levada adiante no contexto das “relaçõess parado com a produção herança e uma verdadeira “feira de vidas” na qual as empresas e o Estado,
e a
gua mantém com a diferença de enunciação, e a igualdade,
ubstituindo o professor ou o confessor, prescrevem como se conduzir (como
de novas formas de subjetivação e singularidade. Comer, viver, vestir, amar, falar etc.).
O capitalismo atual, com suas empresas e instituições, prescreve um cui-
ido de si e um trabalhar sobre si, ao mesmo tempo físicos e psíquicos
2. “Dizer-a-verdade” (parresía) , um
n-viver” e uma estética da existência que parecem desenhar as novas
k ' da isto é,
-a-verdade (parresía), Ee fronteiras da sujeição capitalista e da valorização econômica, que assinalam
Foucault aborda a democracia por meio do dizer um empobrecimento sem precedentes da subjetividade.
na ia e ame o E
pela apreensão da fala de alguém que se levanta
. Ao es i ar
analis a dem: ocracia, Para problematizar essas questões, as últimas palestras de Foucault cons-
i a verdade sobre os ass untos da cidade
de enunciar i
n
ássico co de um de4 seus mestre s,s Ro
Nietzsche: tituem uma ferramenta inestimável. Sua análise requer, primeiramente,
Foucault retoma o tema clássi que não se isole o ato político como tal, da forma como faz Rancire, pois,
e, ou,uai ainda mais, do “quem”O
dade, qu nah
da verdade, da vontade de verdad Fo ido Foucault, ao fazê-lo, corremos orisco de perder a especificidade do
jeito já não seS coloca nos termost iu que
A relaçãà o entre verdade e sujei
através de que prátic asRE e de que tip: poder capitalista que agencia política e ética, divisão desigual da sociedade,
ili em seu trabalho sobre o po: der:
utiliza rodução de modelos
oder procura falar a verdade sobre oO lou
louco, sobre o nq
delinq de existência e práticas discursivas. Foucault nos con-
i que
o Como o poder constituiu o “sujeito falante, o sujeito
a a manter unidas a análise de formas de subjetivação, de práticas dis-
De anos 1970, sivas e também de
A vivo” num objeto de saber? A partir do final dos “mecanismos e procedimentos destinados a conduzir
E Bo
trabalha, o sujeito

SIGNOS, MÁQUINAS, SUBJETIVIDAD! RIZIO LAZZARATO


194
i de E
ira sinté- sociais e políticos contemporâneos, Pois a democracia
os homens, a dirigir a conduta dos homens É "2 Para dizer da democracia moderna, não era representativa), pressupõe
grega, ao contrário
REAR :
jei ,, poder e saber devem ser pensados tanto ,em sua ir
i sujeito
tica: potência, uma ação sobre si (ter a coragem de assumir o risco
uma força, uma
do ne Ee E 3
a na sua necessária relação. A parresta, ao derivar de dizer-a-ver-
dade) e uma ação sobre os outros, a fim de persuadi-los, guiá-los,
pesso: pais
ed política, no qual ela nasce, para à esfera da SR as sua conduta. É nesse sentido que Foucault fala de uma
para dirigir
ituiçã o do sujeito
tituiçã ilidade li le pensai
jeik moral, n os oferece a popossibibili diferenciação ética,
que não se reduze m de um processo de singularização, desencadeado e aberto
rn entre esses “três elementos distintos, parresiástica. A parresía implica que os sujeitos políticos se
pela enunciação
ituti s de uns e de out tros”?
sã constitutiva
outros (...) mas nos quais as relaçõõeses são constituam como
Sujeitos éticos, capazes de assumir os riscos, lançar desafios, dividir
iguais de
acordo com as suas posições, ou seja, serem capazes de govern
ar a si mes-
mos e aos outros dentro de uma situação de conflito. No ato da
3. Parresía, politeia, isegoria, dunasteia enunciação
política, ao assumir a fala em público, se manifesta um
poder de autoposi-
ed | Cionamento, de autoafetação, a subjetividade afetando a si
Em suas duas últimas conferências, Foucault
demonstra mesma, como diz
), e Es e * Deleuze a propósito da subjetivação foucaultiana.
dizer-a-verdade daquele que se levanta numa assembleia ! A parresía reestrutura e redefine o campo de ação possível,
e a E rs
tituição que garante igualdade de todos os como para os outros. Ela modifica a situação, abre uma nova
tanto para si
dinâmica, pois,
a Hd ot da riqueza Precisamente, ela introduz algo novo. “A parresía está ligada,
ea ij aipim muito mais que a
É Jedi
- um estatuto, embora implique um estatuto, a urna dinâmi
dA
io
Perela ses ERG entreFê RR mea EE ca e a um combate, a
um conflito”. A estrutura dinâmica e agonística da parresía
para o dizei s !
Dad e osa
a igualdade) quanto a isegoria qe rdo falaráriaspubli
um poden camente oe “é todo um campo
* de problemas políticos distintos dos problemas da constituição,
da lei”*
As novas relações que o dizer-a-verdade exprime não estão contida
assuntos da cidade) são necess pa s, nem
dizer sua palavra sobre previstas, na Constituição, na lei ou na igualdade. E, no entanto
e
politeia nem a isegoria dizem quem realmente irá falar, quem somente através delas, que a ação política é possível, que ela
, é através delas, e
e o Ra
enunciar uma pretensão à verdade. Qualquer um tera |
realmente se efetua.
Odizer-a-verdade depende, assim, de dois regimes heterogêneos
e E e ao
não é a distribuição igual do direito de falar que faz, E direito (de politeia e isegoria) e um de potência ou força (dunast
- um do
j i
O exercício efetivo da parresía não depende da ci E as essa razão que a relação entre a enunciação (discurso) da verdade e
eia) -, e é por
ade que elas decl E
jurídico ou social. A politeia e a isegoria, bem como a iguald E eracia é “difícil e problemática”. Ao introduzir uma diferença de fato
a demo-
ic
À constituem apenas as condições necessárias, mas não igualdade, ao exprimir o poder de autoafetação e de autoafirmaçã
dentro da
eia: a potência,
ie publicamente. O que efetivamente faz falar é a dunast ilizam relações determina um duplo paradoxo. Em primeiro lugar, “por um lado
o, a parresta
re e 5 a
força, o exercício e a efetivação real do poder de falar que não pode
ver discurso verdadeiro, não pode haver livre jogo do discurso verdade
se one Fa
singulares do enunciador consigo mesmo e Es E Mão pode haver acesso, de todo o mundo ao discurso verdade
iro,
i
que se exprime iação
na enunciação é uma rçaforça d
de e diferent iro, a não ser na
dunasteia
nastei “medida que há democracia”, isto é, a diferenciação ética.
a si, e outros e ea
sa é uma tomada de posição com relação
vez que Em segundo lugar,
“mas a morte do discurso verdadeiro, a possibilidade da morte
:
iguais, trazendo
ividir iguais, ] polêmica nl e cia É do discurso
Ao assumiri um lado e dividir verdadeiro a possibilidade da redução do discurso verdadeiro
i cadi
a par: restaa é uma ação arriscada ! ao silêncio”:
interior
interi da comunidade, está inscrita na igualdade, uma vez que competição, conflit
público, e isso po
ada, Ela introduz conflito, agonismo e disputa no espaço filidade ameaçam a democracia e a sua igualdade.
o, agonismo e hos-
acabar em hostilidade, ódio e guer: |
n ada numa assembia leia (ee É o que tem efetivamente ocorrido nas democracias ociden
dizer-a-verdade,
i ão à verdade enunci:
a pretensão tais, em
que não há mais qualquer espaço para a parresía. O consen
na
bipdinrar podemos pensar nessas assembleias como nossos movimento so democrático

verdade, tr
da gem
brasileira: A4 cora À Michel Foucault, O governo de si e dos outros, trad. bras. de Eduardo Brandão (São Paulo: Martins
uil, Seuil, 2005), 20 5), p.p. 10. 10. [Edição[Edição brasileira:
ichel el Foucault, Foucault, LeLe c courage dede lala vérité vérité (Paris: Se2011).
2 Michel Fontes, 2010),
de Eduardo Brandão. São Paulo: Martins Fontes, Psppp. 169-170.
3bid, p. 10.

SIGNOS, MÁQUINAS, SUBJETIVIDADE MAURIZIO LAZZARATO


196 197
e * seres que, pelo
elo próprio
pi fato de fal ar e argumentar, sã
de assumir o risco do dizer-a-verdade ã
constitui a neutralização da parresía, e, portanto, iguais aos que os E omaridém Pao co
decorre.
da subjetivação e da ação que dela E “A querela não tem por objeto
b j os conteúdo
, s de e lilinguagem mai;
Ea
à isparentes ou opacos. Incide sobre a consideração
[e da seres falantes
ts como
como
4. Enunciação e pragmática aSe Ranciere e na
j i
com universaisi e racionalidade discursiva (“O primei
Re ivers: sao é da pertença universal dos seres aaa
e Foucault emerge ainda mais cla- rins
A diferença entre as posições de Ranciêre enunciação tem com ro dnguáger! Ds Foucault, contrariamente a isso tudo, descreve
linguagem e a p
ramente ao se aprofundar a relação que à E ao o processo imanente de ruptura e constituição do alto,
a política e a subjetivação política. “Am ga ba: preto para tomar emprestada uma fórmula de iai
na comunidade (o demos ou proleta-
A tomada de fala daqueles “sem parte” essão E ai o iZ ra tal como a filosofia analítica a define. Não
riado), para Ranciêre, não se refer
e a uma tomada de consciência, à expr E acionada
o ica discursiva,
irsiva, porque
porque a enunciaç
fala (seus interesses ou seu pertenciment iaçãoão não
nã está ind ;
de uma especificidade da pessoa que nação EpresrEai Ep ea Rip
logos. A desigualdade de domi mas ao risco de uma tomada de sic
a um grupo social), mas à igualdade do o exis tencial” e política.
P E Não há ui ima lógica
vez que, para que as ordens do mestre Ógii da filíngua; À
pressupõe a igualdade dos falantes, uma - Ei Ep Inn as: no sentido de que a enunciação não
, é necessário que ambos se compreen RA : ue já
sejam executadas pelos subordinados caso de relaç ões ES igualda. e), mas se abre a algo de novo, que surge pela
de falar, mesmo no pri o E
dam a partir de uma língua comum. O ato através do próprio ato de falar.
disc urso de Menenius Agrippa no Monte nana
de poder fortemente assimétricas (o na sociedade), pres- E A +? parresía
Aa He é fa forma de enunciaç iaçãão muito diferente do que a pragmá.
renças hierárquicas
Aventino, que visa a legitimar as dife a REdo die so de performativos colocou. Os performativos são
linguagem, “uma comunidade em que fon al ;
supõe um entendimento dentro da o ice o pressupõem um estado mais ou menos fardo 4
igualdade é a lei”* Ejado daque que fala e no qual
u o efeito que a enunciaç
é preciso assumir previamente uma iaçãão dev: i:
Para que a ação política seja possível, E a qro puioRalmente dado (“a sessão do tribunal
medida e fundamento da argu- a ado
declaração de igualdas de que funcione como Ru o Roo a fazê-lo, não é nada senão uma repetição “ins a E
o entre a regra (de igualdade) e o caso
mentação e da demonstração do litígi a a jos efeitos são
: conhecidos antecipadam.
damente). ã De forma in do
ia).
específico (adesigualdade da políc E E nddipresatpõe qualquer estatuto; ela é a enunciação de «
arada em algum lugar, sua potên- ali :
Uma vez que a igualdade tenha sido decl ser expandida, um”. pe memente dos enunciados performativos, ela “abre para nim cisco
cia deve ser efetuada.“Uma vez inscrita em algum lugar, deve b linado”, para uma “possibilidad. le, cam ; i Edo
reforçada” tualidade não determinada”!
e um argumento dentro da lógica Pini dp unid
A política igualitária é uma legitimação de uma “uma cena E Airrupç Eão parresia criaiaur uma fratura, um intervalo numa dada situaçã
consiste na criação
e da estrutura da língua. A política — tm certo número de efeitos” que não são conhecidos E
desigualdade dos parceiros do conflito
onde se põe em jogo a igualdade ou Ene - Os ei eitos da enunciação não são apenas sempre singul; a
enquanto seres falantes”? “A Pa antes de tudo, o sujeito enunciador.
da linguagem, mas essa lógica é des- E
Para Ranciêre, há de fato uma lógica sobre a fala”. A fala é, EiEco
reco!Ho sn â do sensível Í dizi respeito, em primeiro lugar, àquele
consideração
mentida pela dualidade do logos: «a fala e s) e ca pis doenunciado parresiástico, se enlaça um duplo pacto
nidade (fala que exprime problema “do a E
a um só tempo, o local de uma comu ora E nim: O sujeito se liga ao enunciado, [à] enuncia aa
ra essa dualidade, a enunciação polí
uma divisão (fala que dá ordens). Cont linguagem comum” Etuénei s se enunciado e dessa enunciação” E há o feedback da eni E
há uma única
tica deve argumentar e demonstrar “que modo de
m como os proletários modernos, são ser do sujeito que, “ao produzir o E iecimento
e estabelecer que o antigo demos, assi
du politique, (Le Kremlin-Bicêtre: La fabrique, 1998) p. 102. “A lógica igualitária
é Jacques Ranciêre, Aux bords al inerente ao víncul o soca Ibid,, p. LIS. p.67.
implícita no ato de falar e a lógica desigu
nto, trad. de. Ângela Leite Lopes (São Paulo: Editora 34,
1996), p: 62. Michel Foucault, O governode si edos outros, op. cit, p.
7 Jacques Ranciêre, O desentendime

SIGNOS, MÁQUINAS, SUBJETIVIDAD!


iZIO LAZZARATO
198
e, ou em todo caso determine e po nec pretendem dizer a verdade, degeneram na sedução
do enunciado, o sujeito modifique ou afirm
fala”. ei RE E uam e pessoas nas assembleias. Se houver distribuição
precise, qual é seu modo de ser na medida que da pessoa que enun- DE ito falar, j qualquer um pode dizer tudo e qualquer
A parresía manii festa a coragem e a tomada de posição
também manifesta a coragem e a a aa co distinguir o bom e o mau orador? Como pro-
cia a verdade, que diz o que pensa; mas que
“receber como vert dade a ver- nn a E A verdade, afirmam continuamente os inimigos
tomada de posição “do interlocutor” que aceita que pensa,
de, que diz o ng rentio ob Fo le E dita num campo político definido pela “indife-
dade dolorosa que ouve”? A pessoa que fala a verda
assim dizer, a verdade que afirm a, se liga a essa verdade e se Dao 1 i que falam”. 'A democracia não pode dar lugar para à
“que assina, por Es 5
!º Mas ele também assume um a E sujeitos falantes que deliberam e tomam decisões”'*
obriga, consequentemente, à ela por meio dela”
com aqueles a quem sedirige”. o ei E pu as críticas neoliberais dirigi-
risco, “que diz respeito à sua própria relação
arrisca nada ao falar, o par-
Se o professor possui um “saber de téchne” e não
a 'socialista” de aumentos salariais iguais para todos, de
ém hostilidade,
ica, “mas tamb
resiasta não apenas se arrisca a provocar polêm
os iguais. Do
impede a Ee pecaa” e afoga
resp a subjetividade
ee na indiferença e
dos sujei-
ódio e guerra”. Ele assume o risco de dividir
Entre a pessoa que fala e o que ela diz, entre aquele que diz a verdade e
lo afetivo e subjetivo, a ] co
Comi Pa org
i, nos previne
i de que não é possível se opor à
aquele que acolhe a fala, é estabelecido um víncu
, é uma “disposição a agir"! A o que, na realidade, exprime a vontade política de res-
“crença”, que, como nos lembra William James contida
a que os vincula não está ' ic iguais e A esigualdades e privilégios, unicamente através da
relação a si, a relação com os outros e a crenç
to - Isso seria fazer a economia das críticas dos movimentos
nem na igualdade nem no direito. pa So socialista, bem antes dos liberais.
Emo nes Ea mais que denunciar Os inimigos da democracia. Utili-
E rt a na as críticas aristocráticas no próprio terreno delas:
5. A crise da parresía MA Ens Es aconstituição do sujeito e de seu devir.
uma simples pretensão dos
Ranciêre vê a crise da democracia grega como Demais aos riscos d! did delineia-se um “dizer-a-verdade” que não se
légios de nascimento, de status O sa ostra do ra pol Feat O dizer-a-verdade deriva de sua origem polí-
aristocratas no restabelecimento de seus privi vêa crise
negligenciar esse aspecto, DO de acordo caro icaEs e da constituição do sujeito moral. Mas isto
e de riqueza; enquanto que Foucault, sem e política, igual-
ão entre ética om ana upla alternativa: de uma “metafísica da alma” ou
da democracia grega girar em torno da relaç
dade e diferenciação.
numa ferida que os defen- permite o acesso aa Ri Srs ] ve sai» Ou de práticas
epa e técnicas se por à
Os inimigos da democracia colocam o dedo
política (Ranciêre, Badiou) não Me inição E Ra à si mesmo, a vida e o mundo no ic A
sores da igualdade como único princípio da
na qual os comunistas dos séculos RR io edimo alma”, mas como “bios”, como um modo de vida.
veem e que constitui uma das armadilhas
icáveis. O ra ii s A no texto de Platão, mas foram os Cínicos que a
XIX e XX caíram por falta de respostas prat pode dizer algo
se cada um O oporição este e rteram contra os inimigos da democracia ao politi-
Como os inimigos da democracia sustentam,
tanta constituições e governos
s ar cínicos e oPlatonismo pode ser resumida da seguinte
sobre os assuntos da comunidade, haverá
r a palavra, então os loucos, a E eiros articulam vida outra”/ “mundo outro”, produzindo
quanto indivíduos. Se todo mundo pode toma ões sobre os assun-
dizer suas opini E io a e e outras instituições neste mundo, enquanto, para
os bêbados e tolos estão autorizados a
forma que os melho res, os competentes, os experts, ente um “ P 4 ida”, É
tos públicos, da mesma E que fará a fortuna do SR
ia, a competição, o agonismo e o e arts pe
como se diria nos dias de hoje. Na democrac ricos reviram o tema tradicional da “verdadeira vida”, na qual o
11 Ibid., pp. 65-66. ade tinha se refugiado. A “verdadeira vida” na tradição grega
12 Michel Foucault, Le courage de la vérité op: cit p. 14.
13 Ibid, p. 13. Writings 1878-1899, ed. Gerald E. Myers (Nova York
Tá William James, “The Will to Believe” em Wiliam James: Michel Foucault, Le courage de la vérité, op. cit. p. 46.
Library of America, 1992), p. 458.

SIGNOS, MÁQUINAS, SUBJETIVIDADE ÍZIO LAZZARATO 201


200
ança, peareupçãão e queda, , ee q que encontramos ainda na doutrina francesa de gestão do sistema de previdê
“é uma vida que escapa àperturbação, mud ee:
ncia
i ti idad de S seu ser”. Hard
e ap social é, em sua encarnação reformista, o “modelo dialético” da luta de classes,
ce sem mudança na iden
indicação e a ane em que o reconhecimento e o litígio entre “nós” e “eles” constituem o motor
os Cínicos revertem “a verdadeira vida” pela reiv
ança do mundo. do desenvolvimento capitalista e da própria democracia.
u ma “vida outra”, > “cuja alteridade deve conduzir à mud
Eles invertem o tema da “vida s soberana O que Jacques Ranciêre defende na democracia social do Estado
vida outra para um mundo outro! « u i Ee tante, Ra glacdo de bem-
s) em “vida mili a vida
ra -estar social é uma esfera pública de interlocução em que os trabalh
(tranquila para sii e benéfica para os outros) adores
outros e para OS O! utros, (sindicatos reformistas) estão incluídos como sujeitos políticos e que
combate e luta contra si e para si,i contra os o traba-
ps lho não é mais uma questão privada e, sim, pública.
ul a Serise” da parresía, da impotência da geméçõeo “Finge-se tomar como presentes abusivos de um Estado paternalista e
ten-
ligados “ pi a fo tacular as instituições de previdência e de segurança social nascidas das lutas
e da iiidade para produzir diferenciação ética,
e ética (e verdade). Eles AE é e E dg eo democráticas e dos trabalhadores, geridas ou cogeridas pelos representantes
lúvel, política
da vida boa, dos contribuintes. No entanto, na luta contra esse Estado mítico,
mente a questão da relação a si, arrancando-a são preci-
samente as instituições não estatais de solidariedade que são atacadas
do pensamento antigo. , insti-
tuições que eram locais de formação e exercício de outras competências,
de
outras capacidades para cuidar do comum e do futuro do comum, diferentes
daquelas das elites governamentais”
6. Dois modelos de ação política
Toda a dificuldade da posição de Ranciêre (e, de forma geral, da
esquerda)
ão infor madas por doisis modelos reside na dificuldade em criticar e ultrapassar esse modelo, um modelo
Essas duas leituras da democracia grega são i
0 que
4 certamente ampliou a democracia no século XX, mas que hoje é um verda-
i ntes de açãoão “ “revoluci ionáriria a”.
m difere ER Pe Er :
repar ação de ee
a Para Ranciêre, a política se constitui como a
deiro obstáculo para o surgimento de novos objetos e novos sujeitos
da polí-
a a dis e
trado contra a igualdade através do método da Er
tica, pois é constitucionalmente incapaz de incluir os outros sujeitos
políticos
ão pol política,
áti aqueles pi “sem parte ” devem demo! aa * que não o Estado, os sindicatos patronais e de trabalhadores.
la inter
i à Para a ação
locução.
po falam Dê Tia de emitir ruídos . Eles devem demonstrar sambém E E Da análise da democracia grega de Foucault emerge um modelo comple.
mas se exprimem € dominam en E tamente diferente. Por que, a fim de problematizar a subjetivação política,
im uma língua outra ou menor,
nao e se ele vai buscar uma escola filosófica como os Cínicos, uma escola “marginaP,
seus mestres. Finalmente, eles devem demonstrar, no
interlocuççãão, ã a um sóÓ temp: o seres de razão e de fala.a
que são “menor”, uma escola filosófica “Popular” e sem muita estrutura doutrin
ária?
ação, argum: E
“ om odelo de ação revolucionária fundado nademonstr O que Foucault parece sugerir é o seguinte: saímos da política dialética
e
um “reconhecimento” que, mesm totalizante do “demos”. “Quem não tem parcela - os pobres da Antiguidade,
ção e =interlocução vis: a a uma inclusão, a
A política convoca a divi- O terceiro estado ou o proletariado moderno - não pode mesmo ter outra
litigioso, lembra muito o recon hecimento dialético. aos
“el ”i ee “nós”,
em partes na qual ambos, “eles”
õ m e se co) ntam uns
“nós”, se opõe sê dos parcela a não ser nada ou tudo”?!
ão FE
mesmo tempo E É difícil imaginar os Cínicos, assim como os movimentos políticos pós-
a tros, E que dois mundos se dividem, ao
. “Os incon tados, o, exibir a 1968 (dos movimentos das mulheres até os movimentos dos desempregados)
que pertencem à mesma comunidade ão ,
E Rae por arrombamento da igualdade dos pie 20 Jacques Ranciêre, La haine de la démocratie (Le Kremlin.
Se quisermos encontrar algo parecido com
o mode: E ai dia que saiu (setembro de 2005), quando regressava de uma Bicêtre: La Fabrique, 2005), p.91. Comprei este ivro
ação organizada pela Coordination des Intermittents noet
para a soci 4 em “aa Précaires (Coordenação de trabalhadores intermitentes e precários,
devemos olhar para a democracia política, mas E a sala onde ocorria uma das reuniões paritárias no Ministério
ver capítulo 4). Havíamos invadido e ocupado.
. A social-demo
emergiu do New Deal e dos anos do pós-guerra
da Cultura. A reunião contava com representantes
do governo, sindicatos e patrões, que recusavam o estatuto de sujeitos políticos a todos os demais, exceto para si
Próprios. Olhando o livro naquela noite, fiquei surpreso ao ler a passagem aqui citada. Não é porque os neoliberais
ftacamo Estado de bem-estar social que devemos nos restringir a
Saíram dos movimentos políticos da década de 1970 (a produção deumadependênc
posição defensiva silenciar as críticas que
16 Ibid., p. 264 ia em relação ao Estado e ao exer-
fíeio do poder sobre o corpo etc.) ou as críticas que movimentos políticos continuam
17 Ibid. p. 261.
id p 257. desigualdades, a exclusão social e política, o controle sobre a vida dos indivíduos etc.). a produzir (a produção das
21 Jacques Rancitre, O desentendimento, op. cit. p. 24.
EE Ranciêre, O desentendimento, op. cit, p. 117.

SIGNOS, MÁQUINAS, SUBJETIVIDADE MAURIZIO LAZZARATO


202
como O is io (8d entre a regra e o fato, entre a lógica policial e a lógica da igualda
afirmando “somos o povo” somos tanto “a parte A Ea e cepção de política é normativa. Toda ação que não conceb
de. Essa con-
contar os
No modelo de Foucault, a questão não é fazer como interlocução pela fala e pela razão não é Política. As
e o espaço público
seus mestres. A q!
demonstrar que eles falam a mesma língua dos sobretu: do,
ações da juventude
que e c
concerne também, e pobecnde, da periferia de Paris, em 2005, por não respeitarem esse modelo
“transvaloração”ão” de todos os valores a pm ção, não são consideradas políticas por Ranciêre.
de mobiliza-
ua es e o seu modo de subjetivação. Na E
com d erenc gica “Não se trata de integrar pessoas que, na maioria, são frances
dade se conjuga com a diferença, à igualdade política tir que eles sejam tratados como iguais. (...) A questão é saber se
es, mas garan-
dos Cínicos, aqueles q!
Ernc: ontramos Nietzsche novamente através eles são con-
res”, como aqueles que siderados como sujeitos políticos, dotados de uma palavra
celebrados na história da filosofia como “falsificado a
comum.
que essa revolta não encontrou uma forma política, tal como
(...) Parece
“valor”. . eu entendo o
o valor da moeda ”, se refere tanto à alte termo, de constituição de uma cena de interlocução que reconh
put “divisa dos Cínicos, “mud ar ece o inimigo
da lei or es como pertencente à mesma comunidade que a sua”
ração da moeda (nomisma) quanto à alteração : Na realidade, os movimentos contemporâneos não deixam
incluir.
aa nhecimento, não procuram se fazer contar ou de atualizar a
e os modos de vidade seus pares E s lógica política que Ranciêre descreve ao construírem uma cena
cri Bars ad m as instituições análise dos razão para reivindicar a igualdade através da demonstração
de fala e de
me ce EA e do autoexame, da experimentação e da , argumentação e
| interlocução. Porém, na luta para serem reconhecidos como
novos sujeitos
políticos, eles não fazem, absolutamente, dessa forma de ação a única
a Mat
o çãO de si como sujeito ético-político requer jogos que pode
da aqui- * ser definida como política. Ainda mais importante: essas lutas se
NE fico “Não mais os jogos de verdade do aprendizado, desenvolvem
nismo, mas o dentro de um contexto que não é mais o da dialética e
ú eo ne ões e conhecimentos verdadeiros como no plato o da totalização do
- demos - um demos que é ao mesmo tempo parte e totalidade,
o que
a ” e os jogos da atenção focada sobre si mesmo, sobre “nada e tudo”
como cia he-
les (. ) esses jogos de verdade não nos chegam
Ao contrário, para se imporem como novos sujeitos polític
a a os, eles são
se real E Obrigados a explodir o bloqueio da política do “povo” e da
pr muto olsas que se ensina e se aprende, mas exercícios que “classe trabalha-
mundo: a
neste | dora” tal como se encarnou na democracia política e na social
oa 5 utoexame, testes de resistência, o combate -democracia de
na sar na de E E = nossas sociedades.
ns cio de Ettide política praticados - Movimentos políticos jogam e fazem malabarismos com essas diferen
ão sã jogos de recon hecim ento,
E tes
dê pa política deexpe rime ntação que modalidades de ação política, mas de acordo com
= ne fá rei uma lógica que não se
A oposição entre Platão e os Cínicos inevi- limita à encenação da “igualdade e de sua ausência”, A iguald
ER E AS Ens de ethos. ade é a condi-
ult. ção necessária, mas não suficiente, do processo de diferen
nino nos lembra as diferenças entre Ranciêre e Fouca ciação, no qual “os
itos para todos” são os suportes sociais de uma subjetivação
que agencia
produção de uma “vida outra” e um “mundo outro”
— Osjovens “selvagens” dos subúrbios franceses, como um
7. Logos e existência, teatro e performance ministro socia-
Os chamou, se assemelham, em alguns aspectos, aos Cínicos “bárba
ros”
ica de uma
ituiçãoão
i e através da constituiç
só exist h cenaha “tea- . ue, ao invés dos jogos ordenados e dialéticos de reconhecimen
to e argumen-
i
o da inter locuçção polít ica de tação, preferem acabar com a cena teatral e inventar
a
y 1 os atores desemj penham o artifíci
t um outro artifício, que
ão e a” pouco a ver com o teatro.
o sc nã dupla lógica de discursividade e argumentaç
(já que es a Ao invés de uma cena, os Cínicos nos fazem pensar nas perfor
sóEos » razoá vel (já que postula a:a igualdade) e desarrazoada | mances da
ovas ) o 'e contemporânea, em que a exposição pública (no duplo
i de não existe em lugar algu: “ra: ifestar e se colocar em perigo e risco) não se faz necess
sentido de se
construir uma cena de
aa que a política possa existir, deve-se ç a
ariamente pela
no i o teatral do termo, a diferen
sentid H agem, pela fala ou através de semióticas significantes, nem mesmo
em que se interprete e dramatize,
fala”a em pela
Jacques a “Le scandale démocratique” em entrevista com Jean-Baptiste Marongiu, Libération
(15 de
de la vérité, op. cit, p. 210.
22 Michel Foucault, Le courage
5).

ni
SIGNOS, MÁQUINAS, SUBJETIVIDADI ÍZIO LAZZARATO
204
de personagens, interlocução e o logos estabelece entre he omem e animal,
i , os Cínicos ata: cam
forma da dramaturgia teatral da encenação para uma
õ
ão que se abre filosofia e da cultura grega e ocidental.
diálogo. Como funciona o processo de subjetivaç Eri náçia
és da fala e da razão.
“INlo a : , .
apena s atrav A ia a animalidade desempenhava o papel de ponto
“vida outra” e um“mundo outro”? Não
mas também corpos que enun- ão absoluta para o ser humano. O. Distinguindo-:
Distingui
Os Cínicos não são apenas “seres falantes”, imali
passa pelas cadeias significantes. dade, » o ser humai no a afirmava e manifestava a sua h humanidade.
deni ra
ciam algo, mesmo se essa enunciação não A animali-
ar) e seus desejos (se masturbar, i, mais ou menos, » um ponto de rc epulsa para ituiçã
Satisfazer suas necessidades (comer, defec r e à
ar, forçar os outros a pensa homem como ser racional e humano” PT re
fazer amor) em público, provocar, escandaliz
que convocam uma multipli- o:Os Cínira mai não ão sósó o intervalo
oi entre igualdade e desigualdade
sentir - são todas elas técnicas “performáticas”
tas m as práticas da “verdadeira vida”a” e suas instituições,
institui atravé
cidade de semióticas.
cância, as sandálias, os exposição
: de uma vidaá sem v: ergonha, Ê uma vida
O cajado, as vestes, a pobreza, a errância, a mendi i escandal. losa, uma vida
i RS que se
seu modo de vida, são moda- manifesta como um “desafio e exercício na prática da animalidade”,
pés nus etc., pelos quais os Cínicos exprimem lo, o com-
k
lidades não verbais de enunciação. Os gestos as ações, o exemp
,
cas e semióticas de expressão
portamento, a presença física constituem práti -
a fala. Nas “performan
dirigidas aos outros através de outros meios que não 8. A partilha do sensível
o denotativa e representativa;
ces” cínicas, a língua tem mais que uma funçã
ethos e uma política, ela ajuda EE pubietivação política em Ranciére, apesar da oposição entre o ético e o
ela tem uma “função existencial. Ela afirma um ari. o po ainda implica ethos e jogos de verdade. Ela requer um modo de
os termos de Guatt
a construir territórios existenciais, para usar
nhos para a virtude: o caminho longo E E Io do sujeito através da fala e da razão que pratica os jogos de ver
Na tradição grega, há dois cami agem
discurso e da aprendiz E e da o “demonstração”, > da “argument
e fácil que passa pelo “logos”, isto é, através do
; aç
ação”
ação” e da interlocuç
i ãção. Mas mesmo j
Cínic os, que é “de certa forma, iene pesar Ranciére), a política não pode ser definida como uma
escolar; e o caminho curto, mas difícil, dos
discurso, é o da prática e da ERi ecífica, porque ela se articula com a ética
mudo”. O caminho curto ou abreviado, sem
e éti itui o de
(constituiçã
sujeitorin
de razão g e de fala)pie c; om a verdade (práticas di;iscursivas i queDee!
demons-
experimentação.
linguagem e da fala, mas tram
A vida cínica é pública, não apenas em virtude da
me . É difícil ver como isso poderiai se dar de outro modo.
ana”, É uma vida “material- o se é drnpossível fazer da política um modo de ação autônomo, tam
porque se expõe na sua «realidade material e cotidi
imediato as divisões consti- |neimpossível separar a política í
mente, fisicamente pública”, que reconfigura de
do que que F. Foucault chama de « “microfísica” ,
por um lado, e a gestão «Relações de poder: pos t
tutivas da sociedade grega, o espaço público da pólis, Guattari e Deleuze acr escentaria i m que não ã se pode
mia los agenciame
: ntos maquínicos que constituem i a especifi-
privada da família, por outro.
de se instalar no intervalo le do capitalismon , » dispositivo: s que não
Não se trata de opor “logos” e “existência”, mas r ão existiam
existiam na época da democraci si cracia
instit uições. RES ren no nascimento da democracia representativa moderna
entre eles a fim de interrogar modos de vida e uma vida 1 E:
, exceto como E ismos da “partilha do sensível” que organizam a distribuição de
Para os Cínicos, não pode haver vida verdadeira
ência manifestação de siplás-
, papéis (a divisão de classes entre a burguesia que possui a fala e o proleta.
outra que é, “ao mesmo tempo, forma de exist
, convicção e persuasão através E que apenas emite ruído, entre a “gente bem nascida” e o “ninguém
tica da verdade, mas também demonstração E
co) so a
oo modo Re subjetivação (“nós/eles”
a 2»
), exprimem um poder molar 5
do discurso”
râneas (Virno, Butler, “e a e codifica
d as relações micropolít
eoóp
Como a maior parte das teorias críticas contempo i icas ou maquínicas
íni , em que
traz um viés logocêntrico. Apesar oa o o humanos E além da “partilha do sensível”, e Gu só
Agamben, Michon, Zizek), a de Rancire
estamos na dependência e no eo de pesto,as, esujeitos individuados. - AÀ “partilh:
“partilha
das críticas que ele dirige a Aristóteles, ainda do sensível”
ivel? parece
o homem como o único animal que , regime pré-capitalista no qual as r ões sã
quadro de formulações do filosófo grego: que
Atacando a “partilha” assinalava Marx, relações pessoais.
tem a linguagem, e animal político por possuí-la. E raro

BS Ibid, p. 244.
24 Michel Foucault, Le courage de la vérité, op. cit. p. 288.

SIGNOS, MÁQUINAS, SUBJETIVIDADI MMAURIZIO LAZZARATO


206
duos. As relações mesm e sobr
oe aa sua
O capitalismo, ao contrário, não está centrado nos indiví sua TÓj
própria a vicida = signifi
Signific
ca a cuidar
cuidar dasdas manei
maneiras ; de fazeeir a
servidões e das sujeições de todo das maneiras de le dizer,
o di 1 necessárias Para que ocupemos o lugar
entre pessoas são sempre a codificação das a nós atribuí
as ultrap assam. As relações tas DR do trabalho. Cuidar de si é uma E
tipo (materiais, econômicas, semióticas etc.), que ai
éns”) são substituí- 8 aims = o diante da função atribuída pelo poder
de subordinação pessoal (“homens bem nascidos”, “ningu dos maqui- Ea a cada um de o
s que é fruto E a E
das por uma distribuição dos lugares e das funçõe Os conceitos de bios, existência e vida não

tanto O “senhor” quanto o “RA 'ismo, mas, antes, > nos fc 'orça a perguntar com:
nismos e das quantificações abstratas, das quais
j
iti;
capitalista o patrão não é pi Ç es de micropoderes através da GU jetia
“criado” são “escravos”, diria Nietzsche. No sistema RE d a
, pois ele trabalha, indi- E a a
um ocioso, como o nobre das sociedades aristocratas
que rompa com as sujeições.
Era É
io que ele explora. O primeiro é Ea:a sua
pi definiçã de | política”,
ica”, Ranciêre À parece negligenciar o
vidualmente, tanto, senão mais, que o operár oo ralis que el
osegun do. Em 'oricamente entre os trabalhadores do
tão alienado à servidão maquínica quanto séculoxi Ei
“economia” pia a E
Daí que é impossível separar, como Ranciêre gostaria, “ética”, formação de um ethos. A formação do ethos,
do bios, Es
partir de e romper a = E Cínicos praticam não é uma variedad
e “política”, já que a subjeti ivação supõe ao mesmo tempo e de “discurso
um duplo domínio , E
com a “economia subjetiva”, a qual funciona na base de ore
E senta o ensinamento ou a ex] E: ã
novo códig
jgoo um
social) A formação do ethos é, a um só tempo, umcê
sobre a subjetividade (servidão maquínica e sujeição “foco dade experiência”? e
de uma operação política : a “matriz de experiência” na qual se artic
A divisão da sociedade em classes é o resultado ul: am as formas do saber possí-
cos como da microfísica vel (saber), as “matrizes normativa: s de
de reterritorialização tanto de agenciamentos políti (poder) e “modos de existência Potenciais
comportamento para os indivíduos”
do poder. para sujeitos possíveis” (a relação
neo sem problema- para consigo).
É impossível compreender o capitalismo contemporâ
dualis tas — capital/trabalho, M AEs política; a Ranciêre,
i
tizar a relação que o molar (as grandes oposições ao contrário,
i não é primariamente uma experié
cem, os que têm as cre- Ene pe
ricos/pobres, aqueles que comandam e os que obede tem nada a ver com um foco existencial,
ore j
tém com microfísica e os
a ata do, uma questão de forma, um
denciais para governar e os que não têm etc.) entre formalismo da i aldade
E pi nana político de uma ação não é seu objeto E
agenciamentos maquínicos. lu, E
conta o modo como sn 's unicamente € sua
Mas é, acima de tudo, impossível fazê-lo sem levar em sua fo; forma, a que inscr
i eve a averi à Ra
si, a “ética”. Ric e na instituição de um litígio, de uma
o poder investe a relação consigo mesmo, O cuidado de
“e
comunidad.
ade que existida E
e apenas
o bios, a existência e
O exame do modo que os Cínicos têm de considerar
para resistir aos poderes do A problematização desses
a subjetivação “militante”, pode fornecer armas focos de experiência” e os experimentos
de
ividade aprincipal ae subjetivação políticas e res
capitalismo contemporâneo, que faz da produção de subjet am a história ocidental, até fi i
faram disso, se transmitem e atraves-
e mais importante de suas operações (Guattari). ente atingir os revolucionários do século
ico” para o da IX e do início do XX e os arti istas do mesm
Foucault nos diz que a parresía, ao derivar do domínio “polít o período.
tas, ou seja, uma
ética individual, se tornou uma técnica de governo de condu
te incentivar a cuidar de
técnica de poder. Ela “não é menos útil à cidade. “Ao
si mesmo, sou útil para toda a cidade . E se eu proteger a minha vida, é preci- A ruptura subjetiva
»26
samente no interesse da cidade! subjetiv
e reconfiguradas pelo ação foucaultiana nãonão “ape
cias
As técnicas de governo de si e dos outros, integradas no
é nas uma argumentação sobre i
vez mais importantes E sad
poder pastoral da Igreja cristã, têm se tornado cada demonstração do mal feito à (gado mas
cão
cadeia de preocupações Ee r
Estado de bem-estar social. No capitalismo, a “grande o à Grécia
e situa
ua da na brecha entre igual
i dad, ; i
e solicitudes”,» “y cuidado da vida”, de que Foucault fala em relaçã
) Ee a peão copo ao abrir um ipaço eum Rei o
o
de si - trabalhar sobre si para a diferenciação ética, da formação de
antiga, foi tomado nas mãos pelo Estado. Cuidar um si pres E.
el Foucault, O governo de si e dos outros, op. cit.
es Ranciêre, O desentendimeop. nto,cit, p. 44. ã
26 Ibid. p. 83.

SIGNOS, MÁQUINAS, SUBJETIVIDADE RIZIO LAZZARATO


208 209
2007, » pelas
pelas fo)forças econômica nômicas”)
s nem ao ao modo o de de Ranciêre,
da relação a si se confronta iere, donde e a recusa5;
Mas é somente com Guattari que a questão d a representação política e social dos m ovimentos
gura o trabalho sobre si, O ent políticos cont: ontemporâ orâneo:
neos.
diretamente com o capitalismo. Como se confi Nossa épi época se parece mais ao relato “cínico” de Foucault Foucai
época de servidão maquínica e (crise se da da ds demo-
processo de constituição do coletivo, numa cracia, , abandono d da cena pública, de seus mecanismos, > d.le suas regras, 8! e inven-
sujeição social? ção de uma vida outra e de um mundo ot outro) dolo que ao relato de Ranciêre.
na esteira de Marx,
Guattari define as novas condições da subjetivação S e a política é indistinguí inguível da formação formação dodo “su jeito ético”, tico! então o a quest; ão
foram os primeiros a pensar
Lênin e a tradição do movimento operário. Eles da organização se torna central, embora de uma maneira diferente daquela pre-
instituições políticas, mas da
a política e as subjetivações, não a partir das sente no modelo del comunista. A reconfiguração dodo sensível, sensível, aa constituição
agenciamentos maquínicos que coi ção ded si, é
fábrica, da produção, da economia, isto é, dos um processo que deve ser objeto de um trabalho “militante”, > a que Guattari, pro-
de representação social (con- )
ultrapassam o sujeito individuado e as formas de repre- longando
g uma intuição de Foucault, > define como o tr trabalho o político político “ “analítico!
homem, mulher, etc.) e
sumidores, trabalhadores, telespectador, Para Guattari, » o GIP - Groupe d'Informatio
pe d'Informati o: n sur les h les Priso)
relação social e política, em Prisons, fundado ne por
O
sentação política (o cidadão). O capital é uma Foucault” - pode ser considerado um agenciamento coletivo em que o objeto
no sentido habitual de g: q )
que, todavia, o social e o político não são apreendidos do “militantismo” se torna di duplo: E militantismo em termos o: de int
a partir da multiplicidade das intervenção,
relações intersubjetivas. Devem ser repensados mas igualmente em termos dos intervenien venie) tes. O novo ovo mi militantismo ismo trab a-
máquinas sociais que constituem o capitalismo. lha constantemente, não apenas os enunciados ciados p' pro: produzid. los, » mas sobretudo as
democrática (sob a forma
A política não deve ser buscada na instituição téc nicas, procedimen di tos, > modalidades de ex; pressão o da rg organizaçãoção, isto é, de do
em sua dupla implicação da
representativa ou “grega”), já queé o capitalismo sujeito de enunciação que produz os enunciados.
o ponto e o vetor de subje-
subjetividade (sujeição e servidão) que constitui Os s focos
fc de nunciação enunciação política
política tampouco
tampo: se e e) encontram rai nas instituiçõe
se esta última não se nó s
tivação. É impossível pensar e praticar a subjetivação de lemocráticas. Oo enunciado Pp político é produz; ido, » como t todo e nunciado,
sociais, maquínicos, semió- >
articula e não rompe com os fluxos econômicos, por uma multiplicicdade de indivíduos, de grupos, de máquinas sociais e
e a partir das pos-
ticos do capital. Apenas na ruptura com à “economia”, que os de máquinas
má: é« técnicas, de semióticasicas e: econômicas, icas, matemátic matemá! as, midiáticas,
sibilidades de mutação da subjetividade, abertas por essa ruptura, é * Aquele e] que enuncia não passa do er,
capazes de destituir assubjeti- “terminal” desseslesse: processos, esso! nos quais nã: o
agenciamentos coletivos de enunciação serão há uma hierarquia entre os componentes de subjetivação, como na tradição
telespectador, etc) nas quais )
vações personológicas (trabalhador, consumidor, ocidental que faz da linguagem o próprio do político.
os indivíduos se alienam. A enunciação política implica, como entre os Cínicos, não apenas as
te não são adjacentes
No capitalismo, as subj etivações políticas certamen Ót ticas significante
fi s, > mas também veto; res dele protoenun ni cia ção icônicos,
à democrac ia do tipo Ranciêre,
às instituições políticas representativas, nem orais, maquínicos, simbólicos s etc. etc. 16,e, sobretudo,
econômicos, científicos, tecnoló- ue » a di imensão existencial
mas, antes, aos fluxos materiais, semióticos, > mesmo sendo d externa à semi iótica, a, >é é interna à e; nunciação e a funda.
mensão infrapessoal. funda. O
gicos que implicam a subjetividade até em sua di ao blema da organização política autônoma e não representativa permanece
ém um maquinismo, que
Aliás, o sistema político democrático é tamb
e servidões. Se no nascimento
mesmo tempo articula suas próprias sujeições mia rganizações”), mesmo quando se agencia com a dimensão micropolítica e
em relação à econo
do capitalismo ele representa uma heterogeneidade s comunica maquínica.
(Foucault), agora ele é estruturado e atravessado por maquinaria A ruptura/bifurcação subjetiva não pode dar-se somente em relação à
espaço público uma megamá
cionais, audiovisuais, lobbies, etc., que fazem do ti ca, mas também
bém d. deve incidir
dir sobre
sobre os modos de vid: a, » sobre
to” que exprime sua liberdade bi a existên-
êi
quina. Ela produz o cidadão-eleitor como “sujei Ela não visa unicamente à igualdade, mas também às singularidades da
ao mesm o tempo, como simples
e sua consciência unicamente pelo voto e,
naria que doravante é assimi
componente, engrenagem, peça de uma maqui E. edA nformation: sur es Prison)
as fi formado em
1971 após o lançamento de seu manifesto assinado
de opinião pública” que anteci Vence Marie Domenach e ire Via Naque, Coro
lável ao último ato de uma série de “pesquisas nome indica
2 do nossosistema soci; em particulas,as condições de prisioneiros grupo procurou tarà ur * E
do “povo”. qu, té nto, tinham dia
pam e preparam toda eleição dos representantes fes cm dura Os enarcement.Om bjo maior contudo er permitir palavras de
Não há autonomia política possível,
estado de exceção tendo sido declarado e diret
nem ao modo de Carl Schmitt (o
amente gerido, como a partir de rar siena
m
donaimprensapa
resultado foi imediato, nas prisões, o que até então.
E
ÍZIO LAZZARATO
SIGNOS, MÁQUINAS, SUBJETIVIDAD!
210
sentido E. ao
subjetividade (sua diferenciação, na lingagem de Foucault). É nesse e Ana pelas “formas de consistência dos grup
os que
em vias de desmo- gm ET
que a crise que vivemos é uma catástrofe, pois o que está a ue Maio de 1968 interrogou precisamente tais
ronar é um “mundo” e seus modos de vida. —oiuded o e ncionamento, sua modalidade de expressão e
a de
As lutas por um “mundo outro” não estão necessariamente em sincroni
— Hp pm ia aação Política de intervir que é insep
devem arável
com as de uma “vida outra”, Esses níveis diversos da ação política não
ser homogeneizados, mas, ao contrári o, é preciso engajá-l os em um process o e molares, mas da reções end
instânci a transcen - E, E E Raro
de heterogênese (síntese disjuntiva), sem que nenhum a o Pere entre igualdade e diferença
não podem ser ins-
. As novas tarefas da orga- — Ep SME
dente (o partido ou o Estado) os governe e controle ição, em leis, se elas não podem ser apren
didas nem
ruptura/ — abmçã
nização e do militante estão ao mesmo tempo em continuidade e anais então a questão das moda
lida des de
bifurcação com a história do movimento operário, na qual, desde sempre, a R e rna fundamental.
h Es pa EE o se toma a palavra? Como esse ato de diferencia
questão da organização foi central. ção
res-
Guattari nos lembra que, no interior dessa tradição, as rupturas dizem o ra, re àquele gue enuncia, mas também
sobre aquel e
as
peito menos aos programas do que às modalidades de organização, isto é, os a a a, EA se forma uma comunidade ligad
a pela
modalidades de constituição e de funcionamento da ação diagram ática e dos go ma tada iii aa encerrada em sua própria
tempo identifica-
agentes de enunciação. O problema da organização remete ao mesmo
à construção de uma máquina de guerra capaz, por um lado, como no leni- E — nda Rr ana € inventado em uma máqu
sindicai s A ina de guerra
nismo, de bater de frente com os aparelhos políticos , econômi cos, a o e E ser contra é o que Foucault afirm
a como sendo a
do capital e da “social-democracia”; e, por outro lado, à ação diagramática, nat E losófico, e que, desde o esgotamento
do modelo
as semió-
isto é, à ação que ultrapassa os sujeitos individuados, que contorna a : à EA a condição da política cont
emporânea. Nunca
ticas significantes que atribuem aos indivíduos funções e papéis na divisão
do RR PERA estão do ethos sem, ao mesmo tempo, indagar sobre
do separar os
trabalho. Ela se desdobra para além da representação, recusan
si e eia à verdade que serão capazes de forma
r esse
fluxos de signos dos fluxos econômicos, sociais, políticos. a! o RAD ancas no interior das quais esse ethos
Trata-se menos de “colocar em cena” (Ranciêre) e de “representar” (demo- Pra a singularidade e diferença (...). [NJunca coloq
da política. ue
cracia moderna) do que de problematizar a matéria de expressão A ua ao mesmo tempo, retomar novam
ente,
relaçã na
O golpe de força semiótico verdade [aletheia], a questão da politeia
Problematizar no sentido em que é preciso inventar. e do ethos. O i e
ente, em inven- Reis e para o ethos”!
da Primeira Internacional (ou do leninismo) consistiu, literalm ne
produzir uma
tar uma classe operária que ainda não existia, em antecipar e Ri ur go a Sri como um dispositivo tanto de divisão
nova
mutação da subjetividade militante, um novo inconsciente político, uma an FR ade,pode reconfigurar a partilha do sensí-
cia
ética e, sobretudo, uma nova pragmática. O que é preciso reter da experiên
Ra do Cault ç muito mais reservado, e menos
e o sin- entusiasmado,
leninista não é o modelo (o centralismo, a separação entre o político — Cond Mo pois reconhece seus limites. A subjetivação
izado), mas o método de ruptura tanto cair
dical, o militante profissional e especial ade, aultrapassa. A questão política é, porta
nto:
com as sujeições e servidões capitalistas quanto com a “social- democrac ia”. — repita Praticar a igualdade sob essas novas condições
à cons RE cmo a podemos colocar a quest de
A ação diagramática da organização não tem por objetivo, e não traz ão olhando diretamente
Seu objetivo está em o ão
ciência, um mundo que ela se encarregaria de representar. al. Como podemos inventar e praticar tanto a
igual-
fazer emergir uma nova realidade, ao mesmo tempo política e existencial. ai Eri E (singularização) rompendo, ao mesmo
Por sua vez, Rancire não tem “nenhum interesse na questão das formas a maquínicas e as Sujeições sociais do capit
alismo con-
as “alte
de organização de coletivos políticos”. Ele não leva em consideração q rcem esse duplo domínio sobre a nossa subj
etividade?
, ele
rações produzidas por atos de subjetivação política”. Em outras palavras ésRn
Ranciêre, “La méthode
ação cuja de légalité”Iégalite” en La philosop
vê o ato de subjetivação apenas em sua rara irrupção, uma subjetiv ilosph hie déplacée: Autdeour
Jacques Ranciêre, (Lyon: Horlieu
duração se aproxima da instantaneidade. Chel Foucault, Le couragdee la vérité, op. cit, p. 63.

SIGNOS, MÁQUINAS, SUBJETIVIDADI ÍZIO LAZZARATO


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