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21/11/2020 A divulgação científica no Rio de Janeiro: algumas reflexões sobre a década de 1920

História, Ciências, Saúde-Manguinhos Serviços Personalizados


versão impressa ISSN 0104-5970versão On-line ISSN 1678-4758
Journal
Hist. cienc. saude-Manguinhos v.7 n.3 Rio de Janeiro nov. 2000/fev. 2001
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https://doi.org/10.1590/S0104-59702001000600004
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MOREIRA, I. de C. e
MASSARANI, L.: 'A divulgação
científica no Rio de Janeiro:
algumas reflexões sobre a
década de 1920'. História,
Ciências, Saúde — Manguinhos,
A divulgação científica no Rio vol. VII(3): 627-651, nov. 2000-
fev. 2001.
de Janeiro: algumas reflexões
Neste artigo, fazemos um
sobre a década de 1920 levantamento das atividades de
divulgação científica
Scientific diffusion in Rio de desenvolvidas no Rio de Janeiro,
na década de 1920, e discutimos
Janeiro: some considerations about as principais características das
mesmas. No período, houve
the 20s engajamento significativo de
cientistas e acadêmicos nessas
atividades. Como fio condutor,
buscamos responder algumas
questões básicas: Quais as

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21/11/2020 A divulgação científica no Rio de Janeiro: algumas reflexões sobre a década de 1920

principais características da
divulgação científica feita na
época? Quais os principais atores
desse processo de divulgação
científica? Como eles se
organizaram? Quais os meios e
instrumentos que utilizaram?
Fizemos também uma análise
geral das motivações, dos
interesses e das perspectivas
filosóficas e políticas da ciência
naquela época, que se refletiram
no tipo de divulgação científica
produzida.

PALAVRAS-CHAVE: divulgação
científica, década de1920,
história da ciência no Brasil.

MOREIRA, I. de C. e
MASSARANI, L.: 'Scientific
diffusion in Rio de Janeiro: some
considerations about the 20s'.
História, Ciências, Saúde —
Manguinhos, vol. VII(3): 627-
651, Nov. 2000-Feb. 2001.

In this article, we collate data


about the activities aimed at the
diffusion of scientific knowledge,
which were developed in Rio de
Janeiro in the 20s, and we
discuss their main
Ildeu de Castro Moreira characteristics. We also point out
the significant involvement of
Físico, professor e pesquisador do Instituto de Física da Universidade Federal members of the scientific and
do Rio de Janeiro (UFRJ) academic communities in such
ildeu@if.ufrj.br activities. The main research
questions guiding the
Luisa Massarani
investigation are concerned with
Jornalista, doutoranda do Departamento the identification of the main
de Bioquímica Médica da UFRJ characteristics of scientific
massarani@server.bioqmed.ufrj.br diffusion at the time, the main
actors in such a process, their
form of organization, the
research means and instruments
used. We also provide a general
analysis of the motivations,
interests, and the philosophical
and political perspectives of
science in the 20s, as reflected in
the type of scientific diffusion
produced at the time.

KEYWORDS: scientific diffusion,


the twenties, history of science in
Brazil.

Introdução

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A o iniciarmos a pesquisa que resultou neste artigo, procuramos estudos que


tivessem abordado aspectos históricos da divulgação científica no Brasil. Quase
nada encontramos. No entanto, pesquisando arquivos, localizamos um número
relativamente grande de publicações e registros de outras atividades relacionadas à
divulgação científica produzidas nos dois últimos séculos.
Em particular, a década de 1920 presenciou, no Rio de Janeiro, aumento
significativo nas iniciativas de divulgação científica. Além de se usar com mais
intensidade jornais, revistas e livros, organizaram-se também conferências
1 periódicas, abertas ao grande público, e utilizou-se o rádio para a difusão de
Na década de 1920,
informações de conteúdo científico e educativo (Massarani, 1998). Na época, houve
usava-se a expressão
'vulgarização científica' também reflexão sobre a importância da divulgação científica,1 tendo sido escrito A
para se referir ao que vulgarização do saber, talvez o primeiro livro brasileiro a discutir o papel e as
denominamos hoje dificuldades dessa atividade no país. O autor, Miguel Osório de Almeida (1931, p.
'divulgação científica'. 237), escreveu: "A vulgarização científica bem conduzida tem, pois, por fim real,
mais esclarecer do que instruir minuciosamente sobre este ou aquele ponto em
particular. Mantendo constantemente a maioria das inteligências em contato com a
ciência, ela virá criar um estado de espírito mais receptível e mais apto a
compreender. Ela se destina mais a preparar uma mentalidade coletiva, do que
realmente a difundir conhecimentos isolados."
A década de 1920 foi também momento importante para a ciência do país. Nela,
surgiu o embrião da comunidade científica brasileira que começou, em um
movimento mais organizado, a lutar por melhores condições para que a ciência se
desenvolvesse aqui. A criação de novas instituições científicas, a renovação
daquelas já existentes e a valorização social da ciência e do cientista são alguns
aspectos que marcaram a década. Defendia-se com vigor a ciência básica, vista
então como 'pura' e 'desinteressada'.
Faremos, nessa introdução, um apanhado das atividades de divulgação científica
que ocorreram no Brasil a partir do início do século passado, momento em que, com
a vinda da corte portuguesa, a proibição de imprimir foi suspensa. Iniciou-se então
a publicação de livros, revistas e jornais, com a criação, em 1810, da Imprensa
Régia. Onze anos mais tarde, passou a ser permitida oficialmente a importação de
livros. Com isso, textos e manuais ligados à educação científica, embora em
número reduzido, começaram a ser publicados ou, pelo menos, difundidos no país.
Nesse período, os jornais O Patriota e o Correio Braziliense publicaram artigos
relacionados à ciência (Oliveira, 1998). Após a independência política, essas
atividades parecem ter sofrido redução em sua intensidade.
Na segunda metade do século XIX, as atividades de divulgação voltaram a se
intensificar em todo mundo, na seqüência da segunda revolução industrial na
Europa, acompanhando as esperanças sociais crescentes acerca do papel da ciência
e da técnica. Uma onda de otimismo em relação aos benefícios do progresso técnico
— expressa, por exemplo, na realização das grandes exposições universais —
percorreu o mundo e atingiu, ainda que em escala menor, o Brasil. Aqui, no período
final do Segundo Reinado, a produção de pesquisa científica tinha caráter marginal,
limitando-se a poucas pessoas, estrangeiras ou formadas no exterior, que
realizavam atividades individuais, e em áreas como astronomia ou ciências naturais
(Azevedo, 1995). O quadro geral da instrução pública e da educação científica era
restrito a uma pequena elite, embora o interesse de d. Pedro II pela ciência tenha
favorecido algumas atividades ligadas à difusão de conhecimentos. Elas tinham
como característica marcante a idéia de aplicação das ciências às artes industriais.
Um caso que exemplifica a intensificação do interesse pela divulgação científica
é a Revista Brazileira — Jornal de Sciencias, Letras e Artes, iniciada em 1857 e
dirigida por Candido Baptista de Oliveira. O periódico publicava tanto textos de
brasileiros como transcrições de artigos extraídos de publicações estrangeiras. Em
1881, Felix Ferreira criou Sciencia para o Povo, revista semanal que reunia obras de
ciências popularizadas por escritores notáveis, nacionais e estrangeiros. Cinco anos
mais tarde, começou a circular no país a Revista do Observatório, editada
mensalmente pelo Imperial Observatório do Rio de Janeiro, que tinha o propósito de
vulgarizar os conhecimentos astronômicos. De sua comissão de redação, constavam
cientistas de destaque como Luis Cruls e Henrique Morize. Merece referência ainda
o livro O doutor Benignus,2 publicado por Augusto Emílio Zaluar em 1875, um dos
primeiros em nossa literatura a tomar a ciência como tema. Em estilo similar ao de
Júlio Verne, Zaluar relata uma hipotética expedição científica ao interior do país.
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Em 1873, iniciou-se uma das atividades de divulgação científica mais


significativas da história brasileira e que durou quase vinte anos: as Conferências
Populares da Glória que, ao que parece, deixaram marcas na elite intelectual
carioca (Fonseca, 1995-96; Correia, 1876). As palestras versavam sobre os mais
variados assuntos, entre eles períodos glaciais, origem da Terra, doenças,
2
taquigrafia, bebidas alcoólicas, ginástica, Luís de Camões, papel social da mulher,
Reeditado pela Editora ensino particular e público, clima e Dante Alighieri. As Conferências Populares da
UFRJ em 1994. Glória transformaram-se muitas vezes em palco para discussões polêmicas, como
liberdade de ensino, criação de universidades e disputas entre concepções
científicas. Miranda Azevedo, por exemplo, chocou muitos integrantes da platéia ao
defender a controversa teoria da seleção natural de Darwin-Wallace, formulada
alguns anos antes e ainda pouco conhecida no Brasil (Collichio, 1988). Por um
período de dez anos, a partir de 1876, ocorreram também os Cursos Públicos do
Museu Nacional, ministrados por pesquisadores da instituição, em especialidades
como botânica, agricultura, zoologia, mineralogia, geologia e antropologia (Sá et
al., 1996).
Documento importante para a compreensão do quadro da divulgação científica
da época foi redigido pelo biólogo francês Louis Couty (1854-84), que veio ao Brasil
a convite de d. Pedro II para lecionar biologia aplicada na Escola Politécnica do Rio
de Janeiro. Preocupado com o desenvolvimento da ciência brasileira e muito ativo
nesse particular, Couty (1879), escreveu um artigo na Revista Brazileira, em que
discorreu sobre a situação da divulgação científica na Europa — atividade muito
intensa naquele momento — e em que propôs um programa de popula-rização da
ciência no nosso país.
No período posterior a essa época — última década do século XIX e primeiros
anos do século XX —, observa-se que as principais atividades de divulgação
científica sofreram redução apreciável, com possíveis exceções de caráter regional.
Essa redução não parece ser um fato isolado, estando relacionada à diminuição
similar no contexto internacional. Por outro lado, do ponto de vista da ciência
brasileira, tocada pelas necessidades de saneamento do Rio de Janeiro, houve
nesse momento um acontecimento importante: a institucionalização e a
consolidação da pesquisa na área biomédica, traduzida na criação do Instituto de
Manguinhos.

A década de 1920: por uma ciência acessível

Um marco determinante na abertura do período, que se caracterizou pela


retomada das iniciativas de divulgação científica no Rio de Janeiro, foi a criação, em
1916, da Sociedade Brasileira de Ciências (SBC), que se transformaria depois na
Academia Brasileira de Ciências (ABC).
Em 1923, foi criada a primeira rádio brasileira, a Rádio Sociedade do Rio de
Janeiro. Significativamente não foi fundada pelo governo ou por alguma empresa
privada, mas sim por um movimento de cientistas e intelectuais do Rio de Janeiro.
Tinha propósitos educativos e de difusão científica, como atestam suas atas iniciais.
A rádio era mantida por associação que congregava grande número de pessoas.
A Associação Brasileira de Educação (ABE), que desempenhou, durante muitos
anos, importante papel em defesa da educação pública no Brasil, foi criada em
1924. Ao longo da década, promoveu periodica-mente cursos e conferências de
divulgação, feitas por professores e pesquisadores brasileiros e estrangeiros. Esses
eventos recebiam boa afluência de público, sendo anunciados em jornais cariocas.
Livros, vários deles traduzidos, e até coleções de divulgação, também foram
publicados nesse período, além de muitos artigos em jornais e revistas. As visitas
de alguns importantes cientistas estrangeiros, como Jacques Hadamard, Émile
Borel, Paul Langevin, Marie Curie e, principalmente, Albert Einstein, despertaram
interesse na imprensa, contagiaram a pequena comunidade acadêmica e atingiram
um público mais amplo e diversificado. No terreno filosófico, na esteira de Otto de
Alencar, promovia-se crítica intensa ao positivismo comtiano (principalmente por
parte de Amoroso Costa), que exercia profunda influência nas escolas profissionais
e na vida educacional e política brasileira.
Sem dúvida, a década de 1920 foi um dos períodos mais férteis do ponto de
vista da divulgação científica no Brasil. Para Miguel Osório de Almeida (1931, pp.
236, 235), "a divulgação da cultura científica traria como resultado a familiaridade
de todos com as coisas da ciência e sobretudo uma consciência esclarecida dos

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serviços que estas podem prestar" . Dizia ele: "A vida moderna está cada vez mais
dependente da ciência e cada vez mais impregnada dela."
Os registros deixados em livros e artigos por esse grupo de cientistas e
intelectuais, participantes ativos na divulgação científica naquela década, exibem
algumas crenças e expectativas, quanto aos resultados dessa atividade,
semelhantes, em muitos aspectos, às que se observam hoje. Em particular, uma
atitude muito otimista, por parte de vários de seus proponentes, em relação ao
potencial da divulgação e da educação científica por meio das novas tecnologias —
na época, o rádio — similares ao que presenciamos atualmente com a Internet e,
anos atrás, com a televisão. Acreditava-se, como muitos hoje, que as novas tecno-
logias permitiriam uma disseminação barata, rápida e fácil dos conhecimentos, até
os lugares mais remotos do Brasil. Essas iniciativas se coadjuvavam também com
um espírito renovador, que refletia um aspecto cultural mais amplo e uma ânsia
grande quanto à definição de brasilidade, existente também nas artes, como
exemplificado na realização da Semana de Arte Moderna.

Atores do processo

O crescimento das atividades de divulgação científica no Rio de Janeiro na


década de 1920 está ligado ao surgimento de um pequeno grupo de pessoas —
entre as quais Manoel Amoroso Costa, Henrique Morize, os irmãos Osório de
Almeida, Juliano Moreira, Edgar Roquete-Pinto, Roberto Marinho de Azevedo, Lélio
Gama e Teodoro Ramos —, que participaram intensamente de várias atividades que
começaram a traçar um caminho para o desenvolvimento da pesquisa básica e para
a difusão mais ampla da ciência no Brasil. São professores, cientistas, engenheiros,
médicos e outros profissionais liberais, ligados em geral às principais instituições
científicas e educacionais do Rio de Janeiro, e que tinham como estratégia o
desenvolvimento da pesquisa científica. Buscavam ainda a construção da identidade
de um novo tipo de intelectual no Brasil: o cientista puro (Ferreira, 1993).
Embora tenham sido várias as pessoas atuantes nesse processo, muitas das
quais terão seus nomes citados neste artigo, concentramos nossos esforços em
conhecer as atividades realizadas por quatro cientistas: Amoroso Costa, Henrique
Morize, Edgar Roquete-Pinto e Miguel Osório de Almeida. Nossos critérios de
seleção foram a inegável contribuição para a divulgação científica da época, além da
diversificação das áreas de conhecimento em que trabalhavam (respectivamente,
matemática, astronomia e física, ciências biológicas e antropologia). Faremos, a
seguir, um esboço biográfico sucinto de cada um deles.

a) Amoroso Costa3
Nasceu no Rio de Janeiro, em 13 de janeiro de 1885. Estudou no Instituto
Henrique Köpke, que estimulava o civismo e tinha um laborató-rio para
experimentação em ciências. Ingressou na Escola Politécnica, formando-se em
engenharia civil. Em 1906, colou grau como bacharel em ciências físicas e
matemáticas e se tornou catedrático, em 1924, na Escola Politécnica. Participou da
fundação da Sociedade Brasileira de Ciências, ocupando, nas duas primeiras
diretorias da entidade (1917-20 e 1920-23), o cargo de segundo secretário. A partir
de 1923, dirigiu ali a Seção de Ciências Matemáticas.
A inserção de Amoroso Costa no movimento de renovação da educação das duas
primeiras décadas do século fez com que, em 1928, ele assumisse a presidência da
ABE. Em anos anteriores, Amoroso Costa presidiu a Seção de Ensino Técnico e
Superior da instituição, na qual promoveu muitas palestras de pesquisadores
brasileiros e estrangeiros, como as de Langevin e Hadamard. Várias das atividades
foram financiadas pelo próprio Amoroso Costa, que pertencia a uma família de
posses.
Segundo Caffarelli (1995), foi o primeiro divulgador e expositor da teoria da
relatividade de Einstein. Seu artigo inaugural sobre o tema foi uma notícia curta,
publicada em O Jornal, em 12 de novembro de 1919. Nela, comentou os resultados
das observações do eclipse, em Sobral (Ceará), que foram divulgados dias antes,
em Londres, e que estavam de acordo com as previsões de Einstein. Em 1922,
publicou Introdução à teoria da relatividade,4 livro que reúne conferências
realizadas na Escola Politécnica. Trata-se de texto de excelente qualidade científica,
claro e conciso e que tem uma característica ousada: a de pretender apresentar ao
leitor brasileiro os elementos básicos de uma das mais importantes teorias físicas

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3 Para a elaboração da que, na época, constituíam um corpo de conhecimentos absolutamente novo.
biografia de Amoroso Suas conferências, voltadas para apresentar novas idéias a um público ilustrado
Costa, foram usadas as de várias áreas científicas, ficaram famosas no Rio de Janeiro. As principais foram:
seguintes fontes: Acervo 'Conferência sobre Otto de Alencar', 1918, na qual criticava as idéias positivistas; 'A
Amoroso Costa/Mast (s. filosofia matemática de Poincaré', 1920; 'A teoria da relatividade', 1922; 'As idéias
d.), (Roquete-Pinto (s. fundamentais da matemática', 1926; 'As geometrias não euclidianas', 1927; 'A
d.), Amoroso Costa estrutura e a evolução do mundo sideral', 1927. A série de palestras sobre as idéias
(1981); Moreira (1995). fundamentais da matemática resultou em livro com o mesmo título,5 publicado
postumamente, em 1929. Além de importantes artigos científicos, Amoroso Costa
escreveu também textos de divulgação em jornais, sobre outros temas, como as
novas idéias na filosofia da ciência e na microfísica. No dia 3 de dezembro de 1928,
no auge de suas atividades acadêmicas, morreu no trágico acidente do hidroavião
Santos Dumont, que caiu nas águas da baía de Guanabara.

b) Henrique Morize6
Nasceu em 31 de dezembro de 1860, na França. Aos 14 anos, veio para o Brasil,
onde permaneceu até sua morte. Ingressou na Escola Politécnica do Rio de Janeiro
em 1880. Cinco anos mais tarde, tornou-se astrônomo do Imperial Observatório do
Rio de Janeiro. Em 1890, formou-se engenheiro industrial.
Em 1896, foi nomeado professor de física experimental da Escola Politécnica.
Assumiu a direção do observatório em 1908. Chefiou, em 1919, a missão brasileira
para a observação do eclipse solar total em Sobral. Participou da fundação da SBC,
sendo eleito seu primeiro presidente, cargo em que permaneceu até 1926. Ativo
4 Reeditado pela Editora participante da criação da Rádio Sociedade, foi, também, seu primeiro presidente.
Morreu em 19 de março de 1930.
da UFRJ em 1995. Mais velho entre os quatro personagens ressaltados neste artigo, Morize já
realizava atividades de divulgação científica desde o final do século XIX. Ele fez
parte da equipe que criou, em 1886, a já citada Revista do Observatório. Ao longo
das duas primeiras décadas do século XX, escreveu diversos artigos de divulgação
científica sobre temas da astronomia, em particular cometas, e das geociências.
Teve papel de destaque na pesquisa em várias áreas vizinhas à física e à
astronomia, tendo iniciado os estudos de sismologia no Brasil. Em 1905, instalou,
no Observatório do Castelo, instrumentos que lhe permitiram registrar sismos. Deu
também importantes contribuições à meteorologia, em particular na organização de
rede nacional de estações meteorológicas.
Morize foi um dos primeiros a utilizar radiografias no Brasil, poucos meses após
a descoberta de Roentgen (Moreira et al., 1998), feita em novembro de 1895. Criou
5 Reeditado pela terceira também processo simples e rápido para localização de projéteis dentro do corpo,
que foi publicado nos Comptes Rendus da Academia de Ciências de Paris (Morize,
vez em 1981 pela Edusp.
1898). Desempenhou papel relevante na difusão do ensino experimental de física
nas escolas superiores do Rio de Janeiro, no primeiro quartel do século XX,
estimulando muitos jovens estudantes como os irmãos Osório e Roquete-Pinto.

c) Edgar Roquete-Pinto7
6 Para a elaboração da Nasceu no Rio de Janeiro, em 26 de setembro de 1884. Cursou a Faculdade de
biografia de Morize foram Medicina, formando-se em 1906, ano em que ingressou no Museu Nacional como
usadas como fontes, professor. Naquele ano, publicou seu primeiro trabalho etnográfico. Incorporou-se à
além das citadas ao expedição Rondon, ao Mato Grosso, retornando em 1907; os resultados de suas
longo do texto: Acervo investigações sobre os índios pareci e nambiquara foram reunidos em Rondônia
Morize/Mas (s. d.); (1975). Segundo Azevedo (1995, p. 423), essa obra "teve larga repercussão, por
Roquete-Pinto (s. d.); seu duplo interesse, geográfico e etnológico, e foi então acolhida como um modelo
Videira, (1997); Annaes de monografia antropológica sobre as tribos indígenas da Serra do Norte".
(1930); Mourão (1987). Sempre preocupado com a educação, Roquete-Pinto deu aulas de história
natural no Colégio Aquino, no qual ele próprio estudara, e na Escola Normal. No que
diz respeito ao ensino das ciências, escreveu 'A história natural dos pequeninos'
(1927), que apresenta aspectos funda-mentais do ensino científico que deveriam
ser levados em conta na sala de aula.
Roquete-Pinto participou ativamente da Rádio Sociedade, em 1923, tendo tido a
idéia de criá-la (Bodstein, 1984). Ele próprio era o apresentador do Jornal da
Manhã. Em 1926, assumiu a direção do Museu Nacional. Em 1934, criou a Rádio
Escola Municipal do Rio de Janeiro, hoje Rádio Roquete-Pinto. Dois anos mais tarde,
fundou e dirigiu o Instituto Nacional de Cinema Educativo. Aposentou-se em 1947,
tendo falecido em 18 de outubro de 1954.
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Foi um dos maiores defensores da radiodifusão educativa no Brasil, deixando


vários trabalhos sobre o assunto. Seus artigos de divulgação, que têm como fio
condutor a questão educativa e a valorização do homem brasileiro, estão
espalhados por várias publicações da época, como as revistas Electron e Radio.
Muitos deles foram reunidos nos livros Seixos rolados e Ensaios brasilianos. Além da
radiodifusão, abordou assuntos variados, como a obra de cientistas brasileiros e
estrangeiros (Amoroso Costa, Morize, Fritz Müller, Orville Derby, Frei Leandro e
muitos outros), pesquisa básica, ciência e arte, literatura, populações indígenas, as
tendências da medicina moderna etc. Participou ativamente de diversas atividades
que envolviam o uso de novas tecnologias — rádio e cinema —, tendo visto a
televisão ser difundida.
Nas proximidades da morte, Roquete-Pinto declarou (Lins, 1956, p. 117):
"Agora, o meu desejo é divulgar os conhecimentos das maravilhas da ciência
moderna nas camadas populares. Essa a razão dos estudos que estou agora
realizando. Eu quero tirar a ciência do domínio exclusivista dos sábios para entregá-
la ao povo."
7 Fontes usadas na c) Miguel Osório de Almeida8
elaboração da biografia
Nascido no Rio de Janeiro em 1o de agosto de 1890, Miguel é muitas vezes
de Roquete-Pinto, além
citado, pelos historiadores da ciência, juntamente com seu irmão Alvaro como os
das citadas no texto:
irmãos Osório de Almeida. Embora reconheçamos a importância que Alvaro teve na
Lins (1956); Gouvêa
ciência brasileira, escolhemos apenas Miguel como personagem de destaque neste
Filho (1955); Matheus
artigo, em virtude de suas contribuições específicas à divulgação científica.
(1984).
Como Amoroso Costa, Miguel estudou no Instituto Henrique Köpke. Cursou a
Faculdade de Medicina e foi trabalhar, juntamente com Alvaro, em um modesto
laboratório de fisiologia montado no porão da casa dos pais. Em 1915, a família
Osório mudou-se e o laboratório ficou mais bem instalado. Branca Fialho, irmã de
Alvaro e Miguel, também colaborava em seus trabalhos.
Com a morte de Oswaldo Cruz, Carlos Chagas assumiu a diretoria de
Manguinhos e, em 1919, aceitou a idéia de Alvaro de criar ali a Seção de Fisiologia.
Alvaro recusou o convite de chefiar a unidade, indicando seu irmão, que aceitou o
posto.
Miguel foi, de 1917 a 1937, professor catedrático de fisiologia da Escola de
Agricultura e Medicina Veterinária. O período mais longo da produção científica
passou em Manguinhos, de 1919 a 1921 e de 1927 até sua morte. Era membro da
ABC, da qual foi presidente em 1929-30.
Publicou vários textos de divulgação científica, muitos dos quais podemos ler em
A mentalidade científica no Brasil, Homens e coisas de ciência e A vulgarização do
saber. Escreveu ainda, em 1933, Almas sem abrigo, romance sobre a vida de um
matemático no Brasil. Morreu em 2 de dezembro de 1953, cerca de um ano e meio
depois de seu irmão Alvaro.

Um movimento organizado

a) Academia Brasileira de Ciências

Formava-se, na década de 1920, o embrião da comunidade científica brasileira


que, em um movimento organizado, tentava criar condições para a
institucionalização da pesquisa no país. "Os homens de ciência adquiriram uma
fisionomia à parte", avaliava Miguel Osório de Almeida (1925, p. 122) naquele
momento.
Como já foi dito, na década anterior, criou-se a Sociedade Brasileira de Ciências,
que, se transformou, em 1922, na ABC, destinada ao estudo e à propaganda das
ciências no Brasil. Formavam a primeira diretoria: Morize (presidente), J. C. da
Costa Senna, Juliano Moreira (vice-presidentes),9 Alberto Löfgren (secretário-
geral), Roquete-Pinto (primeiro secretário), Amoroso Costa (segundo secretário) e
8 Para a elaboração da
Alberto Betim Paes Leme (tesoureiro).
biografia de Miguel Para Miguel Osório de Almeida (1929, p. 18), o órgão tinha como função
Osório de Almeida, foram centralizar os esforços dos sábios brasileiros, sem "substituir as agremiações ou
usadas as seguintes sociedades especializadas, que estudam um domínio mais particular do ilimitado
fontes, além das citadas campo da ciência. Ao contrário, ela auxiliará todas e permanecerá como um
ao longo do texto: instrumento de síntese e coesão, tentando unificar todas as atividades em um
conjunto harmonioso e homogêneo."

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Martins (1995); Roquete- Na avaliação de Morize (1987, pp. 9, 4), o fim principal da nova organização era
Pinto (s. d.). "espalhar a importância da ciência como fator de prosperidade nacional". Para ele,
"era indispensável que se fundasse um grêmio, onde aqueles que estudam as
questões de ciência pura pudessem encontrar fraternal agasalho e no qual se
promovesse a formação de um ambiente intelectual capaz de transformar a
indiferença, ou mesmo em alguns casos a hostilidade, com que a maioria
habitualmente acolhe a publicação de tudo quanto não tem o cunho de utilidade
material".
Ainda a favor da pesquisa básica, "a qual é infelizmente considerada pelos
governos e pela grande massa do público como simples ornato de luxo que somente
os povos ricos podem manter",10 Morize afirmou: "não trepido em afirmar que
todos os estudos, mesmo os mais abstratos, são de transcendente utilidade que
infelizmente escapa àqueles que não possuem cultura suficiente. Pode-se sem
receio asseverar que quase todos os progressos positivos, materiais até, suscetíveis
de serem avaliados em moeda, derivam de trabalhos puramente teóricos, empre-
endidos por pesquisadores desinteressados, que se consideravam suficientemente
recompensados de seus esforços pelo descobrimento de alguma verdade nova."11
Em 27 de maio de 1923, Amoroso Costa (1981, p. 150) fez, em O Jornal, o
seguinte balanço de atividades:

A Academia, da qual talvez o leitor nunca tenha ouvido falar, foi fundada
há sete anos por alguns amigos da ciência, que uma vez por mês se
reúnem, trocam idéias, expõem os seus próprios estudos e pesquisas.
Nesse curto período de tempo, mais de duzentas notas e memórias têm
sido apresentadas nessas reuniões, e em não poucas se encontram
resultados novos e interessantes. Lutando contra toda sorte de
dificuldades materiais, e também contra a indiferença geral, a Academia
publica esses trabalhos em uma revista, que evidentemente não é leitura
amena, mas que tem recebido elogios das sociedades estrangeiras às
quais é remetida. Seria injusto negar o mérito desse esforço paciente e
obscuro, que pouca gente conhece.

Defensor da ciência pura, Amoroso Costa afirmava que o valor supremo da


ciência não é seu valor de utilidade prática, nem mesmo o seu valor de verdade, é o
seu valor de beleza (Osório de Almeida, 1925, p. 128).
A crítica ao positivismo, pelo menos na versão hegemônica difundida no Brasil,
que ainda exercia grande influência nas escolas profissionais, foi também um
denominador comum entre alguns cientistas da década de 1920, em particular
entre os vários fundadores da ABC.
9Oswaldo Cruz seria um
b) Rádio Sociedade12
dos vice-presidentes,
mas morreu naquele
Em 20 de abril de 1923, fundou-se, dentro dos salões da ABC, a Rádio
ano.
Sociedade do Rio de Janeiro, que teria sido a primeira rádio brasileira. Sua primeira
transmissão ocorreu no dia 1o de maio do mesmo ano. Foi criada por um grupo de
pessoas, entre elas os membros da ABC, que se cotizaram para implantar esse
novo veículo de comunicação, que seria usado para a difusão de assuntos culturais
e científicos. O conselho diretor ficou assim constituído: Morize (presidente),
Roquete-Pinto (secretário), Democrito Seabra (tesoureiro), diretores: Carlos Guinle,
Luiz Betim Paes Leme, Alvaro Osório de Almeida, Francisco Lafaytte, Mario de
Souza e Angelo da Costa Lima. Presidente honorário: Francisco Sá. Diretores
honorários: general Ferrié, prof. Abraham, general Rondon, Paulo de Frontin,
Octavio Mangabeira, João Teixeira Soares e Gabriel Osório de Almeida.
O caráter de divulgação científica da Rádio Sociedade foi explicitamente
enfocado em reunião da ABC, segundo ata da sessão de 29 de abril de 1925: "Foi
aprovado um voto de congratulações para a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, pela
passagem de seu segundo aniversário, tendo o sr. Alvaro Alberto realçado a grande
10 Alocução proferida no obra de educação e de vulgarização científica que vem realizando essa instituição
'Círculo de professores' nascida no seio da Academia" (Ata, 1926). Na comemoração de seus três anos, o
(Acervo Morize/Mast, s. arquivo da Rádio Sociedade se achava inteiramente organizado e continha cerca de
d.). dez mil documentos, alguns do maior valor para a história do rádio no Brasil. A
biblioteca contava com oitocentos volumes e a sala de leitura dispunha de
publicações periódicas de telefonia sem fio e de ciência em geral.
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21/11/2020 A divulgação científica no Rio de Janeiro: algumas reflexões sobre a década de 1920

A legislação brasileira marcou a Rádio Sociedade em dois momentos: no seu


início e no seu fim. Em 1923, por motivo de segurança nacional, era proibida a
radiotransmissão, sendo considerado crime político a existência de radiorreceptores
em casas particulares. Com a pressão de vários setores, particularmente da ABC, os
11 Discurso proferido por governantes cederam e a legislação foi mudada. Mas novas leis inviabilizaram a
ocasião do início da Rádio Sociedade uma década depois. Na última ata, de 3 de setembro de 1936, o
construção dos novos parecer: "A Rádio Sociedade não poderá continuar os seus serviços de radiodifusão
edifícios do Observatório senão sofrendo uma profunda remodelação de sua própria organização, deixando
Nacional, em 28 de de ser instituição puramente educativa, como tem sido, para adquirir caráter
setembro de 1913 comercial, à vista das exigências da atual legislação em vigor" (Salgado, 1946, pp.
(Acervo Morize/Mast, s. 37, 39). Em 7 de setembro de 1936, a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro foi doada
d.). ao Ministério da Educação. No último relatório da sociedade, a sentença final: "Não
dispondo de capital para aumentar a potência da sua estação — conforme exige o
governo — a Rádio Sociedade resolve encerrar suas atividades."

c) A luta por uma faculdade de ciências

As instituições científicas no Rio de Janeiro que apresentavam maior tradição de


pesquisa eram o Instituto Oswaldo Cruz (IOC) e o Museu Nacional, ambos nas
áreas biológicas e de ciências naturais (Azevedo, 1995). No domínio das ciências
exatas, havia ausência quase completa de pesquisa científica. Uma pequena
exceção no domínio das ciências exatas era a astronomia, na qual, desde o século
XIX, mas com muitos altos e baixos, criara-se uma tradição significativa de
pesquisa experimental, em torno do Observatório Nacional. Havia pequeno número
de instituições de nível superior, sendo que as poucas escolas de engenharia
voltavam-se basicamente para a formação profissional e, freqüentemente, eram
dotadas de um ensino dogmático e atrasado.
Para os irmãos Osório e vários outros, a solução do problema seria a criação de
12 Alguns documentos da
uma faculdade de ciências com ênfase na ciência pura, que aproveitasse homens de
Rádio Sociedade podem ciência brasileiros e estrangeiros. Embora apoiasse essa idéia, Amoroso Costa
ser localizados no acervo (1981, p. 152), em 1923, era ainda bastante pessimista quanto às possibilidades de
de Morize/Mast e da concretizá-las:
própria Rádio Sociedade.
Esse último, considerado A dificuldade não vem ... de alguém que conteste à ciência a sua
perdido durante décadas, soberana utilidade. O mundo moderno, com o seu fanatismo do
foi reencontrado progresso material, não desconhece o que deve ao trabalho dos homens
recentemente. de ciência. Nos países novos esse fanatismo é levado ao auge, e muitas
Infelizmente, por falta de pessoas muito instruídas ignoram por completo que exista um ideal
verba, foi novamente científico superior ao do homem que fabrica mil automóveis por dia, ou
abandonado em um do que opera uma apendicite em dez minutos. Daí a opinião quase
galpão no subúrbio do unanimente admitida entre nós: a ciência é útil, porque dela precisam os
Rio de Janeiro. engenheiros, os médicos, os industriais, os militares; mas não vale a
pena fazê-la no Brasil, porque é mais cômodo e mais barato importá-la
da Europa, na quantidade que for estritamente suficiente para o nosso
consumo. Tal a mentalidade dominante entre aqueles que nos educam e,
por mais forte, entre aqueles que nos governam. Não admira que assim
seja; é a mentalidade de que só hoje, no fastígio da riqueza e da força,
se começam a libertar os Estados Unidos.

Em 1927, Amoroso Costa presidiu várias reuniões da ABE nas quais se discutiu a
importância de criar uma faculdade de ciências. No mesmo ano, por ocasião da
Primeira Conferência Nacional de Educação, Amoroso afirmou: "A fundação das
faculdades de Letras e de Ciências, sem as quais uma universidade está longe de
merecer esse nome, representa hoje uma necessidade inadiável, se quisermos criar
a verdadeira cultura superior" (Acervo Amoroso Costa/Mast).
Destaque-se também o texto escrito pela redação da revista Sciencia e
Educação (1929) em que se defende a necessidade de ser criada a "Faculdade
Superior de Ciências, destinada ao cultivo da ciência pura, isto é, da ciência
desinteressada, que não vise o exercício prático de uma profissão determinada". No
artigo, transcreve-se documento da ABC, assinado por Morize, Juliano Moreira,
Miguel Osório de Almeida e Mario de Souza e enviado ao presidente da República.13
Os apelos, no entanto, só foram parcialmente atendidos em 1935, quando foi
implantada a Universidade do Distrito Federal (UDF), mantida pela Prefeitura do Rio
de Janeiro, com sua Escola de Ciências. A UDF durou pouco tempo, sendo extinta
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21/11/2020 A divulgação científica no Rio de Janeiro: algumas reflexões sobre a década de 1920

quatro anos depois e seus cursos transferidos para a Universidade do Brasil, em


"nome da disciplina e da ordem, características do regime autoritário que vigia"
(Fávero, 1996, p. 73). Em São Paulo, a Universidade de São Paulo (USP) foi criada
em 1934, com sua Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, que teve direção inicial
de Teodoro Ramos, um matemático egresso da Escola Politécnica do Rio de Janeiro.

Meios e instrumentos de divulgação

Entre as várias publicações que se dedicavam à divulgação científica, podemos


citar Radio — Revista de divulgação científica geral especialmente consagrada à
radiocultura. Publicação bimensal, era órgão oficial da Rádio Sociedade do Rio de
Janeiro e, posteriormente, da Rádio Clube de Pernambuco, da Rádio Clube Cearense
e da Rádio Sociedade da Bahia. Lançada em outubro de 1923, era dirigida por
Roquete-Pinto e administrada por Carlos Sussekind de Mendonça.
Em fevereiro de 1926, a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro começou a publicar
outra revista bimensal de radiocultura, Electron, sob direção de Roquete-Pinto e
distribuída a seus sócios. Com tiragem de cerca de três mil exemplares, a
publicação abordava assuntos de interesse dos associados, como programação da
Rádio Sociedade, resumo de cursos e palestras, balanço das atividades, temas
técnicos de radiotelefonia, notas sobre artistas e criação de novas rádios etc. Trazia
ainda alguns artigos de interesse da comunidade científica, como é o caso da home-
nagem feita a Marie Curie na ABC, em 1926.
A revista Sciencia e Educação surgiu em fevereiro de 1929, sob direção de
Adalberto Menezes de Oliveira e com redação de Eduardo de Brito e Cunha.
Segundo o editorial do primeiro número, o objetivo da revista era a divulgação
científica articulada com a questão educacional.
Alguns boletins e revistas de caráter científico ou técnico também deram espaço
para a divulgação científica, como o Boletim da ABE, iniciado em 1925. O mesmo
ocorreu com a Revista da Sociedade Brasileira de Ciências, de 1917, e outras
publicações da ABC.
Eu sei tudo, que se apresenta como um resumo das principais revistas do
mundo, é um exemplo de revista de variedades que contém notícias relacionadas à
ciência, possuindo até mesmo seções especificamente orientadas para o assunto,
como 'A ciência ao alcance de todos' e 'Tudo se explica'. Era mensal e foi criada, em
1917, pela Editora Americana.
Ao longo de toda década, jornais diários, em maior ou menor grau, mas sem
cobertura sistemática, abriram espaço para notícias relacionadas à ciência. Eventos
marcantes, como a visita de cientistas estrangeiros, catalisavam esse interesse
esporádico. Por exemplo, a visita que Einstein fez ao Brasil, de 4 a 12 de maio de
1925, foi amplamente divulgada pela jornais cariocas, entre eles O Jornal, Jornal do
Brasil, O Imparcial, A Noite, Jornal do Commercio e Gazeta das Notícias (Videira et
alii, 1995; Moreira, 1995). De forma mais discreta, a imprensa relatou também a
visita de Marie Curie ao Brasil, em 1926.
Na década de 1920, publicaram-se também vários livros voltados para a
divulgação da ciência, entre eles O neo-relativismo einsteiniano, de Carlos Penna
Botto, Introdução à teoria da relatividade e As idéias fundamentais da matemática,
de Amoroso Costa, A vulgarização do saber, Homens e coisas da ciência e A
mentalidade científica no Brasil, de Miguel Osório de Almeida, Conceito atual de
vida e Seixos rolados, de Roquete-Pinto. Entre os livros traduzidos, destacamos os
de Henri Poincaré, como O valor da ciência. Foram criadas ainda algumas coleções
científicas, como a Biblioteca de Filosofia Científica, dirigida por Pontes de Miranda,
da Livraria Garnier, na qual se publicou O valor da sciencia. Outro exemplo é a
Coleção Cultura Contemporânea, dirigida por Afrânio Peixoto, da Livraria Científica
Brasileira.
Miguel Osório de Almeida era um defensor de que fossem produzidos livros
13 Os redatores de brasileiros relacionados à ciência, em particular para serem usados nos
Sciencia e Educação não estabelecimentos de ensino brasileiros. Em 1925 (op. cit., pp. 179-80), ele dizia:
especificaram em que "há de se tomar em consideração as tendências de espírito que são peculiares a
data foi elaborado o cada povo. Muitas dificuldades que são encontradas pelo estudante brasileiro na
documento da ABC. leitura dos livros europeus provêm dos hábitos próprios de raciocínio, das
características de mentalidade que são diferentes e mesmo da própria organização
dos estudos que é diversa. "Ele defendia ainda que, "ao lado da literatura didática,
poderia ser colocada a literatura de vulgarização, também praticamente não

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21/11/2020 A divulgação científica no Rio de Janeiro: algumas reflexões sobre a década de 1920

existente entre nós", enfatizando que "as vantagens de compor uma série de livros
que despertem o interesse geral para as coisas científicas são evidentes".
Investigamos também conferências relacionadas à difusão científica na década
de 1920, sendo que as principais foram realizadas pela ABE, entre 1926 e 1929.14
Elas foram apoiadas, em muitos casos, pelo Instituto Franco-Brasileiro de Alta
Cultura. Eram semanais e totalizaram cerca de cinqüenta por ano, entre cursos e
palestras, possibilitando apresentações de muitos dos cientistas e acadêmicos da
época, além de estrangeiros como Marie Curie, Paul Rivet e Langevin. Cobriam
assuntos científicos variados, com graus diferentes de aprofundamento;
transitavam de temas muito especializados para exposições destinadas a pessoas
leigas. Recebiam boa afluência de público, chegando a ter "um auditório assíduo de
cerca de uma centena de pessoas" (Barbosa de Oliveira, 1926). Ele estimava que,
como a audiência variava conforme a atividade, havia entre três e quatro centenas
de ouvintes para os diversos cursos.
Em 1928, Amoroso Costa fez a seguinte avaliação dos cursos e das palestras da
ABE, que, segundo ele, logravam grande êxito: "Eles não se destinam apenas a
divulgar tais ou quais conhecimentos, por muito úteis ou interessantes que estes
sejam; sua finalidade superior consiste em despertar o gosto pelos estudos de toda
a ordem e em criar um ambiente favorável ao desenvolvimento desses estudos."
Poucos meses antes, o matemático escreveu em O Jornal: "Os cursos da ABE estão
no seu terceiro ano de funcionamento; obedecem a um programa eclético e
destinam-se a auditórios, os mais diversos, auditórios que nunca lhes faltaram. Não
sei de outra instituição no Brasil que se possa gabar de haver promovido cursos
sobre assuntos tão variados, desde os que versam sobre questões de educação
doméstica, sobre pedagogia ou metodologia do ensino, até os de vulgarização
científica ou técnica, os de feição literária, histórica, artística, ou ainda os de
extrema especialização. Percorrendo os seus programas desde 1926, encontra-se
uma lista de nomes prestigiosos e todos os domínios do conhecimento, toda a
escala das coisas que são a honra do espírito humano."
A Rádio Sociedade trazia programas variados:15 além de informativos e música
clássica e popular, havia inúmeros cursos, entre eles de inglês, francês, história do
Brasil, literatura portuguesa, literatura francesa, radiotelefonia e telegrafia.
Ministravam-se também muitos cursos e palestras de divulgação científica por esse
meio de comunicação, sendo alguns exemplos: mina de ouro (Ferdinando
Labouriau), higiene (Sebastião Barroso), estados físicos da matéria, como nascem
os rios (Othon Leonardos), marés (Mauricio Joppert), química (Mário Saraiva), física
(Francisco Venancio Filho) e fisiologia do sono (Roquete-Pinto). Vários deles tinham
sua síntese publicada na revista Electron. As crianças foram premiadas com
programa semanal de João Köpke. A Rádio Sociedade também irradiou conferências
de Marie Curie, em sua estada no Brasil. Destaque-se ainda as conferências de
literatura ministradas por Catulo da Paixão Cearense. Segundo estimativa de
Roquete-Pinto, (1927, p. 236), cerca de 150 mil pessoas ouviam diariamente os
programas difundidos pela Rádio Sociedade.
Outro veículo de comunicação usado para divulgação científica — embora mais
orientado para a educação científica — foi o cinema, mas como essa atividade só se
intensificou na década de 1930, estendendo-se aos anos seguintes, não entraremos
em maiores detalhes. Vale ressaltar, no entanto, que foram realizados vários filmes
com fins educativos e também de documentação científica, técnica e artística,
incluindo temas como prevenção e tratamento de doenças, costumes, plantas,
animais. Na área de física, há, por exemplo, filmes sobre hidrostática, propriedades
gerais da matéria e alavancas (Antonacci, 1993, p. 147). Há registros ainda de
filmes sobre as pesquisas de Cardoso Fontes (morfogênese das bactérias), Vital
Brazil (ofidismo), Evandro Chagas Filho (leishmaniose americana), Miguel Osório
(fisiologia nervosa), Carlos Chagas (peixe-elétrico e cultura de tecidos in vitro),
Dutra e Silva (choque elétrico no tratamento de psicopatas) e Maurício Gudin
(cirurgia asséptica), fazendo parte do que Roquete-Pinto considerou como "arquivo
palpitante da inteligência do Brasil".

Características da divulgação

Comparando-se as atividades de divulgação científica na década de 1920 com as


realizadas no final do século anterior, por exemplo, percebe-se que aquelas estavam
voltadas mais para a difusão de conceitos e conhecimentos da ciência pura e menos

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21/11/2020 A divulgação científica no Rio de Janeiro: algumas reflexões sobre a década de 1920

para a exposição e a disseminação dos resultados das aplicações técnicas dela


resultantes. Na década de 1920, a motivação principal para a atividade era criar
condições para o desenvolvimento da pesquisa básica no país. Tomemos como
exemplo a série de conferências realizada nos dois momentos históricos: cerca de
2/3 dos eventos promovidos pela ABE referem-se a domínios de ciência pura,
14
enquanto que essa proporção cai para menos de 15% nas Conferências Populares
Há referência explícita da Glória. A divulgação científica do período imperial carregava as marcas da visão
que tais conferências de ciência predominante, enfatizando-se os aspectos aplicados.
tinham propósito de Outra característica distintiva das ações de divulgação científica na década de
divulgação científica. 1920 é que elas começaram a ser mais organizadas e passaram a ter a participação
Exemplo disso é o de destacados cientistas e acadêmicos do Rio de Janeiro, o que reflete a
discurso feito por Carlos importância que eles lhes atribuíam. O sentimento de nacionalidade também
Américo Barbosa de marcou bastante o conteúdo dessas atividades, em particular no que se refere a
Oliveira, na ocasião em Roquete-Pinto, que buscava valorizar o homem brasileiro. No entanto, o caráter da
que transmitiu o cargo divulgação realizada na referida época era ainda fragmentado e lacunar, reflexo
de presidente da ABE, direto da situação ainda muito frágil do meio científico de então. Como os
em 22 de abril de 1927. conteúdos veiculados diziam respeito, em geral, à especialidade do cientista, que
era o agente do processo de comunicação, muitas áreas do conhecimento ficaram a
descoberto, por causa do número reduzido de pessoas atuantes.
No que se refere aos quatro personagens destacados neste artigo, o conteúdo
transmitido em seus artigos, livros e conferências era de boa qualidade científica e
bastante atualizado. Em particular no caso dos escritos de Amoroso Costa, era, em
geral, de apreensão mais difícil. Aparentemente, destinava-se prioritariamente a um
grupo de pessoas ilustradas e bem situadas socialmente. O material veiculado pela
Rádio Sociedade constituía exceção a isso, já que, pelo menos na intenção,
direcionava-se a todas as camadas sociais, até mesmo os analfabetos. Apesar
desses bons propósitos, é provável que o êxito de alguns cursos radiofônicos, como
o de física e o de química, tenha sido bastante limitado. Destaque-se que não foi
possível mensurar o impacto e a repercussão dessas atividades de divulgação
científica. Essas conseqüên-cias poderiam ser avaliadas, por exemplo, se
dispuséssemos de maiores informações sobre a influência exercida na opinião
pública ilustrada e sobre a arregimentação de novos discípulos para as hostes da
ciência.

Estudos comparativos

No Brasil, as pesquisas dedicadas aos aspectos históricos da difusão da ciência


são ainda muito limitadas. Raras exceções são, além das teses já mencionadas
15 Várias edições de (Massarani, 1998; Oliveira, 1998), os trabalhos realizados sobre artigos publicados
Electron trazem a em jornais paulistas: Dantes (1998) analisou o final do século XIX; Figueirôa e
programação da Rádio Lopes (1997) investigaram o período entre 1890 e 1930.
Sociedade. No entanto, em nível internacional, os estudos históricos compa-rativos da
difusão científica em países e culturas diversas têm despertado bastante interesse
em anos recentes, constituindo linha de investigação promissora para os estudos na
área. Em particular, eles permitem abordar global e relativamente a trajetória das
atividades de divulgação científica. Embora não tenhamos produzido um estudo
comparativo minucioso, vamos expor, no que se segue, o resultado recolhido em
fontes que se referem a aspectos históricos da divulgação científica na França e no
Canadá. Um ponto marcante, que decorre dessas análises, é a constatação do
crescente caráter globalizante da ciência e das ações de divulgação, especialmente
a partir da segunda metade do século XIX.
Raichvarg e Jacques (1991) apontam a existência de ciclos de atividades mais
intensas de divulgação científica na França na segunda metade do século XIX e na
década de 1920, coincidindo aproxima-damente com os ciclos que relatamos para o
Brasil. Do mesmo modo que aqui, na segunda metade do século XIX, as atividades
de divulgação enfatizavam assuntos relacionados à ciência aplicada. Na França, no
entanto, começou a surgir naquele período a figura dos divulgadores especializados,
o que não ocorreu no Brasil. Também a ficção científica, tendo Júlio Verne como
paradigma, atingiu ali dimensões relevantes.
O movimento pela ciência pura também teve papel de destaque naquele país a
partir do final da Primeira Guerra Mundial. Cientistas como Marie Curie e Langevin,
que estiveram no Brasil na década de 1920, perceberam a importância da educação
e da divulgação científicas para a institucionalização da pesquisa básica. Deve-se

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21/11/2020 A divulgação científica no Rio de Janeiro: algumas reflexões sobre a década de 1920

enfatizar ainda as atividades de divulgação do físico Jean Perrin, iniciadas na


década de 1910 e que se estenderam por longo período, tendo sido ele o criador do
Palais de la Découverte no final da década de 1930, um dos primeiros museus de
ciência com características interativas. No mesmo ano em que a Rádio Sociedade foi
criada, expandia-se na França o uso do rádio na educação e divulgação científicas.
No que se refere à utilização do audiovisual na popularização da ciência, seu
principal estimulador foi Jean Painlevé, filho do matemático Paul Painlevé. Ele foi o
fundador do Institut de Cinématographie Scientifique, em 1930, seis anos antes do
similar brasileiro. A influência cultural francesa no Brasil, intensa até a Segunda
Guerra Mundial, certamente terá contribuído para esse sincronismo entre os dois
países.
Estudo feito por Carle e Guédon (1988) mostra que o Canadá, embora tivesse
cenário bastante peculiar, apresentou algumas similaridades com o Brasil. Também
naquele país as atividades intensificaram-se na segunda metade do século XIX,
envolvendo publicações e ciclos de conferências. Segundo os autores, tais
atividades reduziram-se consideravelmente ao final do século, retomando sua
intensidade mais elevada na década de 1920.
Como nosso trabalho se limitou a um estudo no Rio de Janeiro, é evidente que
uma extensão posterior deveria levar em conta, dentro da mesma perspectiva
histórica, as atividades desenvolvidas em outros estados brasileiros, em particular
no estado de São Paulo, que começava sua caminhada para a industrialização e
para a hegemonia econômica no país.

Conclusão

Como pudemos ver, a divulgação científica no Brasil tem quase dois séculos de
história. Além disso, a exemplo do que ocorreu em outros países, a atividade
brasileira apresentou fases distintas, com finalidades e características peculiares
que refletem o contexto e os interesses da época. Já registramos que os surtos de
atividades de divulgação científica no Brasil acompanharam, com intensidades e
repercussões diversificadas, movimentos congêneres e mais ou menos
contemporâneos em países da Europa e das Américas. Isso mostra que as
características globalizadoras da ciência e da técnica, em sua inserção capitalista,
estão presentes todo tempo e se refletem nos acontecimentos locais.
Em particular, analisamos o surto de divulgação científica ocorrido na década de
1920 no Rio de Janeiro, que havia sido antecedido por período de atividades menos
intensas. Na tentativa de entender o porquê do movimento expressivo de
divulgação científica que surgiu naquele momento, levantamos as seguintes
conjeturas:

a) A situação internacional era favorável a esse tipo de atividade. Após o final da


Primeira Guerra Mundial, que exibiu na prática o poderio emanado da ciência e da
técnica, cresceu o interesse geral pela ciência, atestado, por exemplo, pela enorme
repercussão que a figura de um cientista, Einstein, adquiriu. Graças ao prestígio
conquistado, ele ganhou as páginas dos jornais de todo mundo e suas opiniões
científicas, filosóficas, éticas e políticas passaram a ter grande repercussão junto ao
público. Na busca de paz em uma Europa esgotada pela guerra, os cientistas, como
o próprio Einstein e Marie Curie, desempenhavam papel importante. O interesse
pela ciência nos países avançados contribuía indutivamente para atitude similar no
Brasil, com uma intelectualidade particularmente influenciada pela cultura francesa.

b) A elite intelectual carioca ligada à ciência adquiriu, na época, a consciência da


importância de se criar ambiente favorável junto à opinião pública para permitir o
desenvolvimento da ciência pura. Nesse sentido, aumentaram as preocupações
quanto à formação de pessoal capacitado, à criação de instituições relacionadas à
pesquisa e à educação superior e à consolidação das instituições já existentes.
Dentro desse panorama geral, a divulgação científica passou a ter papel
significativo na difusão das idéias de seus protagonistas sobre a ciência e sua
importância para o desenvolvimento do país. Na época, a divulgação científica foi
ainda uma maneira de buscar influenciar indiretamente os órgãos governamentais,
ao atingir um público ilustrado. O objetivo era sensibilizar o poder público, o que
propiciaria a criação e a manutenção de instituições ligadas à ciência, além de
maior valorização social da atividade de pesquisa.
Esses cientistas e profissionais liberais conscientizaram-se também de que era
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21/11/2020 A divulgação científica no Rio de Janeiro: algumas reflexões sobre a década de 1920

preciso uma renovação educacional mais ampla no país, que permitisse resgatá-lo
do analfabetismo generalizado, condição necessária para que viesse a acompanhar
os ritmos da modernidade européia e norte-americana. Isso levou a que muitos
deles se empenhassem profundamente nas campanhas pelo ensino público.

c) Começaram a se delinear as necessidades próprias da nova figura de um


profissional que aflora no cenário da cidade: o cientista. Aqueles que se voltavam
profissionalmente para as ciências desenvolveram o sentimento claro da
necessidade de sua afirmação própria como cientistas. Dentro desse propósito, era
também essencial a criação de espaços de reflexão e atuação como corpo, como a
ABC e a ABE, que contribuíssem para a integração dos profissionais das várias
áreas, aumentando-lhes o potencial de influência política.
Destaque-se que a década de 1920 é um dos raros momentos no país em que
as lideranças da comunidade científica dedicaram-se, mesmo que parcialmente, a
esse tipo de atividade. A participação ativa de membros da própria ABC, até mesmo
na direção da Rádio Sociedade, ilustra bem isso.
Na busca de encontrar razões para o fato desse surto de divulgação científica da
década de 1920 ter perdido impulso e refluído a partir da década de 1930,
destacamos as seguintes possibilidades:

a) Com a criação das primeiras faculdades de filosofia, ciências e letras, os


cientistas e professores interessados em ciência se voltaram para o ensino
universitário formal. O fato de que várias das reivindicações dos cientistas tenham
sido resolvidas, pelo menos em parte, fez com que eles se voltassem
predominantemente para as atividades intra-institucionais.

b) A partir da década de 1930 e com a implantação do Estado Novo, as questões


educacionais passaram a ser gerenciadas e controladas mais diretamente pelo
governo. Ampliaram-se as escolas públicas, criaram-se programas de estímulo ao
cinema educativo e o governo assumiu a Rádio Sociedade. Ou seja, essas e outras
atividades, que até então eram desenvolvidas de forma autônoma, passaram a
estar sob a égide governamental. Se isso teve aspectos progressistas, em um
processo que foi estimulado pelos educadores e cientistas na década anterior,
significou também um controle estatal mais rígido, até mesmo repressivo em
muitas ocasiões, e que certamente teve papel inibidor de iniciativas mais ousadas.

c) A impressão inicial do rádio (e posteriormente do cinema) como uma


panacéia educativa começou a se diluir quando as dificuldades e os limites do
processo de difusão e absorção dos conteúdos veiculados começaram a ficar mais
claros.

d) O esgotamento da geração que iniciou o processo: as novas gerações


surgiram em contexto diverso, em que já existiam, embora em número limitado,
faculdades de ciência; estavam, portanto, imersas em novas necessidades e
expectativas profissionais. Além do desa-parecimento de alguns dos principais
personagens, como Amoroso Costa e Morize, alguns deles se envolveram, no
período getulista, em atividades governamentais, como é o caso de Roquete-Pinto,
que criou e dirigiu o Instituto Nacional do Cinema Educativo.

e) Internacionalmente, houve refluxo similar, o que teve repercussão


desmobilizadora em nossa realidade.

Um ponto importante para o qual nosso trabalho chamou atenção refere-se à


existência dos surtos de atividades científicas mais intensas no Brasil (Moreira et
al., 1999). Percebemos um crescimento de tais atividades com a vinda da corte
portuguesa e com a criação da imprensa no Brasil. Esse crescimento teria
dependido bastante, por conseguinte, do fato político singular que foi a mudança no
status colonial que o país sofreu com esse episódio. Na segunda metade do século
XIX, novo surto de atividades emergiu, com a criação de muitas revistas voltadas
para os aspectos científicos e com as Conferências Populares da Glória. Podemos,
com boa dose de aproximação, situar esse período de maior intensidade
divulgadora entre 1860 e 1885. A década de 1920 apresentou, como vimos, um
novo patamar de atividades intensas.
Para entender melhor as razões do comportamento cíclico é importante que

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sejam examinadas algumas razões internas ao país, como já fizemos. Uma linha de
abordagem complementar é a análise histórica comparativa, tocada
tangencialmente neste artigo — que considera a trajetória das atividades de
divulgação científica de vários países. Estudo recente que reforça o nosso ponto de
vista da existência de uma forte correlação entre os diversos surtos de atividades
científicas ocorridas em vários países — com algumas possíveis diferenças de
intensidade e defasagens temporais, ligadas a fatores internos específicos de cada
país — foi realizado por Bauer (1998). O autor defende a idéia de que a divulgação
científica é um processo cultural que ocorre por meio de ciclos de expansão e
contração. Para fundamentar essa afirmação, recolheu informações provenientes de
vários estudos sobre as atividades de divulgação científica em países da Europa e
nos Estados Unidos. Os dados citados por ele se referem principalmente ao
cômputo de artigos em jornais e ao número de livros publicados, embora os dados
em que se baseia sejam ainda esparsos e obtidos a partir de pesquisas de
diferentes autores produzidas com perspectivas diversas. A própria definição dos
períodos citados não é muito precisa e sobre isso existem alguns dados conflitantes.
Mas, para o nosso propósito, é importante registrar, de maneira geral, que o
trabalho de Bauer confirma a hipótese que vínhamos elaborando no que diz respeito
à existência de surtos similares ocorridos no Brasil, embora possa ser registrada
alguma defasagem temporal.
As razões para a existência desses surtos devem estar ligadas a fatores
externos, de natureza sócio-econômica, que podem até mesmo exibir diferenças
locais, mas também a fatores internos à ciência e aos mecanismos de difusão.
Bauer menciona um possível fator interno, relacionado a uma (não muito clara)
instabilidade intrínseca da atividade divulgadora. Do ponto de vista dos fatores
externos, ele busca corre-lacionar os ciclos de divulgação da ciência com ciclos
econômicos do capitalismo em nível mundial, cuja existência é defendida por vários
economistas.
A discussão dessas conjeturas e de suas fundamentações, por mais
interessantes que nos pareçam, foge ao escopo imediato de nosso trabalho.
Podemos apontar, no entanto, que mereciam ser explorados fatores internos à
ciência, como a existência de verdadeiras revoluções científicas ou tecnológicas nas
proximidades dos períodos de surtos intensos de divulgação da ciência. A título de
exemplo, mencione-se o surgimento da teoria da seleção natural de Darwin-Wallace
e das leis do eletromagnetismo (com suas inúmeras aplicações industriais), por
volta de 1860, e o surgimento da relatividade geral e das idéias iniciais da física
quântica nos anos que antecedem à década de 1920.

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Recebido para publicação em setembro de 1999.


Aprovado para publicação em maio de 2000.

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