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MOREIRA, I. de C. e
MASSARANI, L.: 'A divulgação
científica no Rio de Janeiro:
algumas reflexões sobre a
década de 1920'. História,
Ciências, Saúde — Manguinhos,
A divulgação científica no Rio vol. VII(3): 627-651, nov. 2000-
fev. 2001.
de Janeiro: algumas reflexões
Neste artigo, fazemos um
sobre a década de 1920 levantamento das atividades de
divulgação científica
Scientific diffusion in Rio de desenvolvidas no Rio de Janeiro,
na década de 1920, e discutimos
Janeiro: some considerations about as principais características das
mesmas. No período, houve
the 20s engajamento significativo de
cientistas e acadêmicos nessas
atividades. Como fio condutor,
buscamos responder algumas
questões básicas: Quais as
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21/11/2020 A divulgação científica no Rio de Janeiro: algumas reflexões sobre a década de 1920
principais características da
divulgação científica feita na
época? Quais os principais atores
desse processo de divulgação
científica? Como eles se
organizaram? Quais os meios e
instrumentos que utilizaram?
Fizemos também uma análise
geral das motivações, dos
interesses e das perspectivas
filosóficas e políticas da ciência
naquela época, que se refletiram
no tipo de divulgação científica
produzida.
PALAVRAS-CHAVE: divulgação
científica, década de1920,
história da ciência no Brasil.
MOREIRA, I. de C. e
MASSARANI, L.: 'Scientific
diffusion in Rio de Janeiro: some
considerations about the 20s'.
História, Ciências, Saúde —
Manguinhos, vol. VII(3): 627-
651, Nov. 2000-Feb. 2001.
Introdução
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21/11/2020 A divulgação científica no Rio de Janeiro: algumas reflexões sobre a década de 1920
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21/11/2020 A divulgação científica no Rio de Janeiro: algumas reflexões sobre a década de 1920
serviços que estas podem prestar" . Dizia ele: "A vida moderna está cada vez mais
dependente da ciência e cada vez mais impregnada dela."
Os registros deixados em livros e artigos por esse grupo de cientistas e
intelectuais, participantes ativos na divulgação científica naquela década, exibem
algumas crenças e expectativas, quanto aos resultados dessa atividade,
semelhantes, em muitos aspectos, às que se observam hoje. Em particular, uma
atitude muito otimista, por parte de vários de seus proponentes, em relação ao
potencial da divulgação e da educação científica por meio das novas tecnologias —
na época, o rádio — similares ao que presenciamos atualmente com a Internet e,
anos atrás, com a televisão. Acreditava-se, como muitos hoje, que as novas tecno-
logias permitiriam uma disseminação barata, rápida e fácil dos conhecimentos, até
os lugares mais remotos do Brasil. Essas iniciativas se coadjuvavam também com
um espírito renovador, que refletia um aspecto cultural mais amplo e uma ânsia
grande quanto à definição de brasilidade, existente também nas artes, como
exemplificado na realização da Semana de Arte Moderna.
Atores do processo
a) Amoroso Costa3
Nasceu no Rio de Janeiro, em 13 de janeiro de 1885. Estudou no Instituto
Henrique Köpke, que estimulava o civismo e tinha um laborató-rio para
experimentação em ciências. Ingressou na Escola Politécnica, formando-se em
engenharia civil. Em 1906, colou grau como bacharel em ciências físicas e
matemáticas e se tornou catedrático, em 1924, na Escola Politécnica. Participou da
fundação da Sociedade Brasileira de Ciências, ocupando, nas duas primeiras
diretorias da entidade (1917-20 e 1920-23), o cargo de segundo secretário. A partir
de 1923, dirigiu ali a Seção de Ciências Matemáticas.
A inserção de Amoroso Costa no movimento de renovação da educação das duas
primeiras décadas do século fez com que, em 1928, ele assumisse a presidência da
ABE. Em anos anteriores, Amoroso Costa presidiu a Seção de Ensino Técnico e
Superior da instituição, na qual promoveu muitas palestras de pesquisadores
brasileiros e estrangeiros, como as de Langevin e Hadamard. Várias das atividades
foram financiadas pelo próprio Amoroso Costa, que pertencia a uma família de
posses.
Segundo Caffarelli (1995), foi o primeiro divulgador e expositor da teoria da
relatividade de Einstein. Seu artigo inaugural sobre o tema foi uma notícia curta,
publicada em O Jornal, em 12 de novembro de 1919. Nela, comentou os resultados
das observações do eclipse, em Sobral (Ceará), que foram divulgados dias antes,
em Londres, e que estavam de acordo com as previsões de Einstein. Em 1922,
publicou Introdução à teoria da relatividade,4 livro que reúne conferências
realizadas na Escola Politécnica. Trata-se de texto de excelente qualidade científica,
claro e conciso e que tem uma característica ousada: a de pretender apresentar ao
leitor brasileiro os elementos básicos de uma das mais importantes teorias físicas
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21/11/2020 A divulgação científica no Rio de Janeiro: algumas reflexões sobre a década de 1920
3 Para a elaboração da que, na época, constituíam um corpo de conhecimentos absolutamente novo.
biografia de Amoroso Suas conferências, voltadas para apresentar novas idéias a um público ilustrado
Costa, foram usadas as de várias áreas científicas, ficaram famosas no Rio de Janeiro. As principais foram:
seguintes fontes: Acervo 'Conferência sobre Otto de Alencar', 1918, na qual criticava as idéias positivistas; 'A
Amoroso Costa/Mast (s. filosofia matemática de Poincaré', 1920; 'A teoria da relatividade', 1922; 'As idéias
d.), (Roquete-Pinto (s. fundamentais da matemática', 1926; 'As geometrias não euclidianas', 1927; 'A
d.), Amoroso Costa estrutura e a evolução do mundo sideral', 1927. A série de palestras sobre as idéias
(1981); Moreira (1995). fundamentais da matemática resultou em livro com o mesmo título,5 publicado
postumamente, em 1929. Além de importantes artigos científicos, Amoroso Costa
escreveu também textos de divulgação em jornais, sobre outros temas, como as
novas idéias na filosofia da ciência e na microfísica. No dia 3 de dezembro de 1928,
no auge de suas atividades acadêmicas, morreu no trágico acidente do hidroavião
Santos Dumont, que caiu nas águas da baía de Guanabara.
b) Henrique Morize6
Nasceu em 31 de dezembro de 1860, na França. Aos 14 anos, veio para o Brasil,
onde permaneceu até sua morte. Ingressou na Escola Politécnica do Rio de Janeiro
em 1880. Cinco anos mais tarde, tornou-se astrônomo do Imperial Observatório do
Rio de Janeiro. Em 1890, formou-se engenheiro industrial.
Em 1896, foi nomeado professor de física experimental da Escola Politécnica.
Assumiu a direção do observatório em 1908. Chefiou, em 1919, a missão brasileira
para a observação do eclipse solar total em Sobral. Participou da fundação da SBC,
sendo eleito seu primeiro presidente, cargo em que permaneceu até 1926. Ativo
4 Reeditado pela Editora participante da criação da Rádio Sociedade, foi, também, seu primeiro presidente.
Morreu em 19 de março de 1930.
da UFRJ em 1995. Mais velho entre os quatro personagens ressaltados neste artigo, Morize já
realizava atividades de divulgação científica desde o final do século XIX. Ele fez
parte da equipe que criou, em 1886, a já citada Revista do Observatório. Ao longo
das duas primeiras décadas do século XX, escreveu diversos artigos de divulgação
científica sobre temas da astronomia, em particular cometas, e das geociências.
Teve papel de destaque na pesquisa em várias áreas vizinhas à física e à
astronomia, tendo iniciado os estudos de sismologia no Brasil. Em 1905, instalou,
no Observatório do Castelo, instrumentos que lhe permitiram registrar sismos. Deu
também importantes contribuições à meteorologia, em particular na organização de
rede nacional de estações meteorológicas.
Morize foi um dos primeiros a utilizar radiografias no Brasil, poucos meses após
a descoberta de Roentgen (Moreira et al., 1998), feita em novembro de 1895. Criou
5 Reeditado pela terceira também processo simples e rápido para localização de projéteis dentro do corpo,
que foi publicado nos Comptes Rendus da Academia de Ciências de Paris (Morize,
vez em 1981 pela Edusp.
1898). Desempenhou papel relevante na difusão do ensino experimental de física
nas escolas superiores do Rio de Janeiro, no primeiro quartel do século XX,
estimulando muitos jovens estudantes como os irmãos Osório e Roquete-Pinto.
c) Edgar Roquete-Pinto7
6 Para a elaboração da Nasceu no Rio de Janeiro, em 26 de setembro de 1884. Cursou a Faculdade de
biografia de Morize foram Medicina, formando-se em 1906, ano em que ingressou no Museu Nacional como
usadas como fontes, professor. Naquele ano, publicou seu primeiro trabalho etnográfico. Incorporou-se à
além das citadas ao expedição Rondon, ao Mato Grosso, retornando em 1907; os resultados de suas
longo do texto: Acervo investigações sobre os índios pareci e nambiquara foram reunidos em Rondônia
Morize/Mas (s. d.); (1975). Segundo Azevedo (1995, p. 423), essa obra "teve larga repercussão, por
Roquete-Pinto (s. d.); seu duplo interesse, geográfico e etnológico, e foi então acolhida como um modelo
Videira, (1997); Annaes de monografia antropológica sobre as tribos indígenas da Serra do Norte".
(1930); Mourão (1987). Sempre preocupado com a educação, Roquete-Pinto deu aulas de história
natural no Colégio Aquino, no qual ele próprio estudara, e na Escola Normal. No que
diz respeito ao ensino das ciências, escreveu 'A história natural dos pequeninos'
(1927), que apresenta aspectos funda-mentais do ensino científico que deveriam
ser levados em conta na sala de aula.
Roquete-Pinto participou ativamente da Rádio Sociedade, em 1923, tendo tido a
idéia de criá-la (Bodstein, 1984). Ele próprio era o apresentador do Jornal da
Manhã. Em 1926, assumiu a direção do Museu Nacional. Em 1934, criou a Rádio
Escola Municipal do Rio de Janeiro, hoje Rádio Roquete-Pinto. Dois anos mais tarde,
fundou e dirigiu o Instituto Nacional de Cinema Educativo. Aposentou-se em 1947,
tendo falecido em 18 de outubro de 1954.
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21/11/2020 A divulgação científica no Rio de Janeiro: algumas reflexões sobre a década de 1920
Um movimento organizado
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Martins (1995); Roquete- Na avaliação de Morize (1987, pp. 9, 4), o fim principal da nova organização era
Pinto (s. d.). "espalhar a importância da ciência como fator de prosperidade nacional". Para ele,
"era indispensável que se fundasse um grêmio, onde aqueles que estudam as
questões de ciência pura pudessem encontrar fraternal agasalho e no qual se
promovesse a formação de um ambiente intelectual capaz de transformar a
indiferença, ou mesmo em alguns casos a hostilidade, com que a maioria
habitualmente acolhe a publicação de tudo quanto não tem o cunho de utilidade
material".
Ainda a favor da pesquisa básica, "a qual é infelizmente considerada pelos
governos e pela grande massa do público como simples ornato de luxo que somente
os povos ricos podem manter",10 Morize afirmou: "não trepido em afirmar que
todos os estudos, mesmo os mais abstratos, são de transcendente utilidade que
infelizmente escapa àqueles que não possuem cultura suficiente. Pode-se sem
receio asseverar que quase todos os progressos positivos, materiais até, suscetíveis
de serem avaliados em moeda, derivam de trabalhos puramente teóricos, empre-
endidos por pesquisadores desinteressados, que se consideravam suficientemente
recompensados de seus esforços pelo descobrimento de alguma verdade nova."11
Em 27 de maio de 1923, Amoroso Costa (1981, p. 150) fez, em O Jornal, o
seguinte balanço de atividades:
A Academia, da qual talvez o leitor nunca tenha ouvido falar, foi fundada
há sete anos por alguns amigos da ciência, que uma vez por mês se
reúnem, trocam idéias, expõem os seus próprios estudos e pesquisas.
Nesse curto período de tempo, mais de duzentas notas e memórias têm
sido apresentadas nessas reuniões, e em não poucas se encontram
resultados novos e interessantes. Lutando contra toda sorte de
dificuldades materiais, e também contra a indiferença geral, a Academia
publica esses trabalhos em uma revista, que evidentemente não é leitura
amena, mas que tem recebido elogios das sociedades estrangeiras às
quais é remetida. Seria injusto negar o mérito desse esforço paciente e
obscuro, que pouca gente conhece.
Em 1927, Amoroso Costa presidiu várias reuniões da ABE nas quais se discutiu a
importância de criar uma faculdade de ciências. No mesmo ano, por ocasião da
Primeira Conferência Nacional de Educação, Amoroso afirmou: "A fundação das
faculdades de Letras e de Ciências, sem as quais uma universidade está longe de
merecer esse nome, representa hoje uma necessidade inadiável, se quisermos criar
a verdadeira cultura superior" (Acervo Amoroso Costa/Mast).
Destaque-se também o texto escrito pela redação da revista Sciencia e
Educação (1929) em que se defende a necessidade de ser criada a "Faculdade
Superior de Ciências, destinada ao cultivo da ciência pura, isto é, da ciência
desinteressada, que não vise o exercício prático de uma profissão determinada". No
artigo, transcreve-se documento da ABC, assinado por Morize, Juliano Moreira,
Miguel Osório de Almeida e Mario de Souza e enviado ao presidente da República.13
Os apelos, no entanto, só foram parcialmente atendidos em 1935, quando foi
implantada a Universidade do Distrito Federal (UDF), mantida pela Prefeitura do Rio
de Janeiro, com sua Escola de Ciências. A UDF durou pouco tempo, sendo extinta
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existente entre nós", enfatizando que "as vantagens de compor uma série de livros
que despertem o interesse geral para as coisas científicas são evidentes".
Investigamos também conferências relacionadas à difusão científica na década
de 1920, sendo que as principais foram realizadas pela ABE, entre 1926 e 1929.14
Elas foram apoiadas, em muitos casos, pelo Instituto Franco-Brasileiro de Alta
Cultura. Eram semanais e totalizaram cerca de cinqüenta por ano, entre cursos e
palestras, possibilitando apresentações de muitos dos cientistas e acadêmicos da
época, além de estrangeiros como Marie Curie, Paul Rivet e Langevin. Cobriam
assuntos científicos variados, com graus diferentes de aprofundamento;
transitavam de temas muito especializados para exposições destinadas a pessoas
leigas. Recebiam boa afluência de público, chegando a ter "um auditório assíduo de
cerca de uma centena de pessoas" (Barbosa de Oliveira, 1926). Ele estimava que,
como a audiência variava conforme a atividade, havia entre três e quatro centenas
de ouvintes para os diversos cursos.
Em 1928, Amoroso Costa fez a seguinte avaliação dos cursos e das palestras da
ABE, que, segundo ele, logravam grande êxito: "Eles não se destinam apenas a
divulgar tais ou quais conhecimentos, por muito úteis ou interessantes que estes
sejam; sua finalidade superior consiste em despertar o gosto pelos estudos de toda
a ordem e em criar um ambiente favorável ao desenvolvimento desses estudos."
Poucos meses antes, o matemático escreveu em O Jornal: "Os cursos da ABE estão
no seu terceiro ano de funcionamento; obedecem a um programa eclético e
destinam-se a auditórios, os mais diversos, auditórios que nunca lhes faltaram. Não
sei de outra instituição no Brasil que se possa gabar de haver promovido cursos
sobre assuntos tão variados, desde os que versam sobre questões de educação
doméstica, sobre pedagogia ou metodologia do ensino, até os de vulgarização
científica ou técnica, os de feição literária, histórica, artística, ou ainda os de
extrema especialização. Percorrendo os seus programas desde 1926, encontra-se
uma lista de nomes prestigiosos e todos os domínios do conhecimento, toda a
escala das coisas que são a honra do espírito humano."
A Rádio Sociedade trazia programas variados:15 além de informativos e música
clássica e popular, havia inúmeros cursos, entre eles de inglês, francês, história do
Brasil, literatura portuguesa, literatura francesa, radiotelefonia e telegrafia.
Ministravam-se também muitos cursos e palestras de divulgação científica por esse
meio de comunicação, sendo alguns exemplos: mina de ouro (Ferdinando
Labouriau), higiene (Sebastião Barroso), estados físicos da matéria, como nascem
os rios (Othon Leonardos), marés (Mauricio Joppert), química (Mário Saraiva), física
(Francisco Venancio Filho) e fisiologia do sono (Roquete-Pinto). Vários deles tinham
sua síntese publicada na revista Electron. As crianças foram premiadas com
programa semanal de João Köpke. A Rádio Sociedade também irradiou conferências
de Marie Curie, em sua estada no Brasil. Destaque-se ainda as conferências de
literatura ministradas por Catulo da Paixão Cearense. Segundo estimativa de
Roquete-Pinto, (1927, p. 236), cerca de 150 mil pessoas ouviam diariamente os
programas difundidos pela Rádio Sociedade.
Outro veículo de comunicação usado para divulgação científica — embora mais
orientado para a educação científica — foi o cinema, mas como essa atividade só se
intensificou na década de 1930, estendendo-se aos anos seguintes, não entraremos
em maiores detalhes. Vale ressaltar, no entanto, que foram realizados vários filmes
com fins educativos e também de documentação científica, técnica e artística,
incluindo temas como prevenção e tratamento de doenças, costumes, plantas,
animais. Na área de física, há, por exemplo, filmes sobre hidrostática, propriedades
gerais da matéria e alavancas (Antonacci, 1993, p. 147). Há registros ainda de
filmes sobre as pesquisas de Cardoso Fontes (morfogênese das bactérias), Vital
Brazil (ofidismo), Evandro Chagas Filho (leishmaniose americana), Miguel Osório
(fisiologia nervosa), Carlos Chagas (peixe-elétrico e cultura de tecidos in vitro),
Dutra e Silva (choque elétrico no tratamento de psicopatas) e Maurício Gudin
(cirurgia asséptica), fazendo parte do que Roquete-Pinto considerou como "arquivo
palpitante da inteligência do Brasil".
Características da divulgação
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21/11/2020 A divulgação científica no Rio de Janeiro: algumas reflexões sobre a década de 1920
Estudos comparativos
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Conclusão
Como pudemos ver, a divulgação científica no Brasil tem quase dois séculos de
história. Além disso, a exemplo do que ocorreu em outros países, a atividade
brasileira apresentou fases distintas, com finalidades e características peculiares
que refletem o contexto e os interesses da época. Já registramos que os surtos de
atividades de divulgação científica no Brasil acompanharam, com intensidades e
repercussões diversificadas, movimentos congêneres e mais ou menos
contemporâneos em países da Europa e das Américas. Isso mostra que as
características globalizadoras da ciência e da técnica, em sua inserção capitalista,
estão presentes todo tempo e se refletem nos acontecimentos locais.
Em particular, analisamos o surto de divulgação científica ocorrido na década de
1920 no Rio de Janeiro, que havia sido antecedido por período de atividades menos
intensas. Na tentativa de entender o porquê do movimento expressivo de
divulgação científica que surgiu naquele momento, levantamos as seguintes
conjeturas:
preciso uma renovação educacional mais ampla no país, que permitisse resgatá-lo
do analfabetismo generalizado, condição necessária para que viesse a acompanhar
os ritmos da modernidade européia e norte-americana. Isso levou a que muitos
deles se empenhassem profundamente nas campanhas pelo ensino público.
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sejam examinadas algumas razões internas ao país, como já fizemos. Uma linha de
abordagem complementar é a análise histórica comparativa, tocada
tangencialmente neste artigo — que considera a trajetória das atividades de
divulgação científica de vários países. Estudo recente que reforça o nosso ponto de
vista da existência de uma forte correlação entre os diversos surtos de atividades
científicas ocorridas em vários países — com algumas possíveis diferenças de
intensidade e defasagens temporais, ligadas a fatores internos específicos de cada
país — foi realizado por Bauer (1998). O autor defende a idéia de que a divulgação
científica é um processo cultural que ocorre por meio de ciclos de expansão e
contração. Para fundamentar essa afirmação, recolheu informações provenientes de
vários estudos sobre as atividades de divulgação científica em países da Europa e
nos Estados Unidos. Os dados citados por ele se referem principalmente ao
cômputo de artigos em jornais e ao número de livros publicados, embora os dados
em que se baseia sejam ainda esparsos e obtidos a partir de pesquisas de
diferentes autores produzidas com perspectivas diversas. A própria definição dos
períodos citados não é muito precisa e sobre isso existem alguns dados conflitantes.
Mas, para o nosso propósito, é importante registrar, de maneira geral, que o
trabalho de Bauer confirma a hipótese que vínhamos elaborando no que diz respeito
à existência de surtos similares ocorridos no Brasil, embora possa ser registrada
alguma defasagem temporal.
As razões para a existência desses surtos devem estar ligadas a fatores
externos, de natureza sócio-econômica, que podem até mesmo exibir diferenças
locais, mas também a fatores internos à ciência e aos mecanismos de difusão.
Bauer menciona um possível fator interno, relacionado a uma (não muito clara)
instabilidade intrínseca da atividade divulgadora. Do ponto de vista dos fatores
externos, ele busca corre-lacionar os ciclos de divulgação da ciência com ciclos
econômicos do capitalismo em nível mundial, cuja existência é defendida por vários
economistas.
A discussão dessas conjeturas e de suas fundamentações, por mais
interessantes que nos pareçam, foge ao escopo imediato de nosso trabalho.
Podemos apontar, no entanto, que mereciam ser explorados fatores internos à
ciência, como a existência de verdadeiras revoluções científicas ou tecnológicas nas
proximidades dos períodos de surtos intensos de divulgação da ciência. A título de
exemplo, mencione-se o surgimento da teoria da seleção natural de Darwin-Wallace
e das leis do eletromagnetismo (com suas inúmeras aplicações industriais), por
volta de 1860, e o surgimento da relatividade geral e das idéias iniciais da física
quântica nos anos que antecedem à década de 1920.
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