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Conflitos Internos e Sofrimento –

Gestalt com Crianças, Adolescentes,


Adultos e Idosos

Brasília-DF.
Elaboração

Luiz Antônio de Souto Evaristo


Lorena Macêdo Andrade Neves de Oliveira

Produção

Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração


Sumário

Apresentação.................................................................................................................................. 4

Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa..................................................................... 5

Introdução.................................................................................................................................... 7

Unidade I
O que é sofrimento?.......................................................................................................................... 9

Capítulo 1
História................................................................................................................................... 9

Unidade iI
Fundamentos da Gestalt-terapia..................................................................................................... 17

Capítulo 1
Sofrimento na vida e a Gestalt-terapia............................................................................. 26

Unidade iII
Gestalt-Terapia e a centralidade da relação figura-fundo....................................................... 42

Capítulo 1
Conflitos internos e sofrimento para a Gestalt -Terapia............................................... 42

Unidade iV
Trazendo questões à superfície e buscando a criatividade....................................................... 56

Capítulo 1
Construindo possibilidades de intervenções terapêuticas........................................... 56

Referências................................................................................................................................... 82
Apresentação

Caro aluno

A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se


entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade.
Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela
interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da
Educação a Distância – EaD.

Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade


dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos
específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém
ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a
evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.

Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo


a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na
profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira.

Conselho Editorial

4
Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa

Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em


capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos
básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar
sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para
aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares.

A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos
Cadernos de Estudos e Pesquisa.

Provocação

Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.

Para refletir

Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.

Sugestão de estudo complementar

Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo,


discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.

Atenção

Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a


síntese/conclusão do assunto abordado.

5
Saiba mais

Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões


sobre o assunto abordado.

Sintetizando

Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o


entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.

Para (não) finalizar

Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem


ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.

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Introdução
Vamos iniciar nossos estudos sobre o sofrimento começando com uma construção
histórica. Vale destacar que partiremos de sofrimentos físicos para psíquicos. Suas
representações serão destacadas no decorrer dos capítulos, quando outros estudos irão
auxiliar no entendimento desses fenômenos, contextualizaremos o apanhado teórico
da gestalt terapia.

Esse tema tem um destaque muito próximo da nossa constituição, pois entende-se que
sem um nível seguro de sofrimento muitas das mobilizações humanas seriam inertes.

Para iniciarmos esse novo momento de estudo e compreensão, destacarei algumas


perguntas que direcionarão o nosso desenvolvimento sobre os conflitos internos e
sofrimento em crianças, adolescentes e adultos.

»» Como a psicologia da gestalt pensa os conflitos internos e o sofrimento?

»» Como se manifesta o sofrimento nas crianças, adolescentes e adultos?

»» Onde, na clínica, podemos suportar essas angústias?

São algumas questões introdutórias para refletirmos a partir da nossa experiência clínica
e, também, como seres humanos, entender o que é o sofrimento e como trabalhar essa
auto percepção.

Essa questão é importante, pois nos coloca diante do outro em sofrimento e fragmentado
em sua experiência.

Objetivos
»» Acompanhar as experiências acerca dessa temática. Ao retirarmos alguns
minutos para refletir sobre isso, a verdadeira introdução já se inicia.

»» Destacar as formas de pensar o adoecimento psíquico na história da


humanidade, como esses aspectos se relacionam e estruturam o modo de
pensar o sofrimento na atualidade.

»» Abordar os aspectos teóricos da gestalt-terapia e os principais conceitos


Figura-fundo, Parte-todo, Contato, Awareness e Ajustamento Criativo.

7
»» Trabalhar um caso clínico brevemente para ilustrar o assunto apontado.

»» Falar sobre o adoecimento psíquico na infância e na fase adulta da vida,


sempre procurando ilustrar o atendimento do cliente em clínica.

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O que é Unidade I
sofrimento?

Capítulo 1
História

O sofrimento é um dos temas mais antigos estudados na humanidade, os primeiros


estudos foram sobre o sofrimento físico e as primeiras evidências eram documentadas
por figuras centrais da cultura local. Historicamente, os pajens, padres, curandeiros,
médicos e outros representantes estudavam direta ou indiretamente como os
adoecimentos inesperados e as mortes aconteciam.

Figura 1. A extração da pedra da loucura (1485), do pintor italiano Hieronymus Bosch (1450-1516).

Fonte: <http://enfermagemptodos.blogspot.com.br/2012/11/origem.html>.

Segundo Sanchez-david (2008), o séc. XIV foi um período marcado por sucessivas crises
por toda a Europa, semeou a fome, a doença, a guerra e a revolta. Mas, foi também
um período prenunciador de grandes mudanças políticas, econômicas e sociais. Em
Portugal, esta crise manifestou-se principalmente a partir de finais de 1348, ano em

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UNIDADE I │ O que é sofrimento?

que a Peste Negra atinge e devasta o reino, matando, em menos de um ano, mais de um
terço da população portuguesa.

Sin embargo, este acontecimiento tan catastrófico, rejerció un efecto


profundo en la sociedad y la cultura. Después de la peste, muchos se
encontraron en la miseria, o por herencias inesperadas, en la opulencia.
Muchos de los pobladores rurales afl uyeron a las ciudades para
ocupar el espacio dejado por los muertos. El comportamiento de los
individuos sufrió un cambio radical que transformó sus vidas. Algunos
se abandonaron a la fi losofía de “comer, beber y divertirse” consignado
en el Decameron de Boccaccio; otros se refugiaron en la recriminación
y el arrepentimiento, como se aprecia en la visión expiatoria em el
Corbaccio obra ulterior del mismo autor. Impulsados por el miedo
y el sentimiento de culpa, algunos pensaban que la Muerte Negra, a
semejanza de las plagas bíblicas de la antigüedad, había sido enviada
por Dios para castigar a la humanidad y apartarla del mal. Boccaccio
y Petrarca, entre los escritores, adoptaron esa opinión después de sus
primeras obras más mundanas, fenómeno que también se observó en
la pintura. El Triunfo de la muerte de Francisco Traini hecho en 1350,
es un bellísimo fresco situado en las paredes del Campo Santo de Pisa.
El tema es el juicio fi nal fundamentado en el poema de Petrarca con el
mismo nombre, reacciones ambas a la peste y actitudes compartidas de
esa época (SANCHEZ-DAVID, 2008, p. 135).

Obras de vários séculos são representativas desses momentos, nas quais o sofrimento
ganhava um espaço de elaboração e manifestação cultural nas artes, escritas e religião.
Também em outros momentos históricos as representações artísticas são evidenciadas
e marcadas por acontecimentos recentes à época, isso é visto como uma tentativa de dar
sentido aos acontecimentos, os cronistas, pintores, músicos, escritores e os religiosos se
apropriam desse movimento.

Para Kickhofel (2011), um grande estudioso que desafiou a igreja católica no século
XIV foi Leonardo Da vinci, com seus estudos anatômicos e produções artísticas, este
desenvolveu trabalhos rudimentares acerca do adoecimento físico, e com a técnica de
registro em desenho ao dissecar um corpo ia, minuciosamente, registrando seu trabalho.

Quando os ramos da ciência começam a se referir a um mesmo evento, uma nova


manifestação científica e um novo pensar surgem.

10
O que é sofrimento? │ UNIDADE I

Com uma ótica singular, o nosso campo psíquico ganhou espaço para interagir e
fundamentar-se nesses eventos, estabelecendo uma relação com a natureza e o universo
que nos cerca.

Ribeiro (1985) descreve que a natureza humana seguiu seu curso e questionou a mera
descrição de informações que colocavam os eventos fora do pensamento. Tornando a
atividade de pensar o próximo passo, destruindo o mundo primitivo de aceitação para
a formação da ciência.

Figura 2. Une leçon clinique à la Salpêtrière, Pierre-André Brouillet Charroux,1887.

Fonte: <http://www.lecompendium.com/dossier_elec_38_bobine_de_du_bois_reymond/bobine_de_du_bois_raymond.htm>.

Sofrimentos no século XXI


Atualmente, nosso sofrimento tem um caráter descritivo e operacionalizado, a psiquiatria
tem uma ramificação da semiologia médica, a qual busca estudar as manifestações de
sintomas e sinais das doenças de ordem física e mental.

A divisão da semiologia se dá por duas áreas: semiotécnica e semiogênese, sendo a


semiotécnica preocupada na busca de procedimentos para coleta de informações acerca
dos sinais e sintomas. “Por que? Como? Onde? Quando? Quem?”.

Trabalhando na formulação de perguntas e detalhamento das respostas, assim como


uma descrição operacional de tudo que se passa com o paciente.

A Semiogênese é o campo que investiga a origem, a construção do significado e os


valores diagnósticos implicados nos sinais e sintomas.

Essas informações nos dizem acerca da psicopatologia descritiva, dentro do campo da


psiquiatria, o qual busca estruturar os sintomas e suas manifestações dentro de uma
determinada amostra a qual se repete.

11
UNIDADE I │ O que é sofrimento?

A partir de todo esse repertório coletado de ações, históricos, comportamentos,


estruturas e dimensões, um recorte se faz necessário para organizar pragmamente as
pesquisas e nortear os profissionais. Logicamente que se torna incompleto, é apenas
uma amostra descritiva do que vem a ser a natureza humana e suas manifestações.

Para Ribeiro (1985), não se trata de ignorar os problemas mente-corpo ou vida-natureza,


no entanto, não devemos aceitar que haja um distanciamento dos mecanismos mais
descritivos criados e as relações simbólicas e psíquicas. A proposta para o autor seria de
criar um discurso cujo ponto possa ser de integração parcial, que se possam considerar
partes de um todo universal.

Figura 3.

Fonte: <http://dislexia.pt/blog/dsm-5-criterios-diagnostico-perturbacao-aprendizagem-especifica/>.

Para iniciarmos esse diálogo, vamos trabalhar com dois principais livros da psiquiatria
diagnóstica, esses dois livros buscam dimensionar descritivamente esse nosso tema,
o sofrimento humano e suas manifestações. O manual diagnóstico e estatístico de
transtornos mentais é um manual estatístico, feito pela Associação Americana de
Psiquiatria para definir como é feito o diagnóstico de transtornos mentais.

Passamos, então, para o âmbito “científico” do sofrimento psíquico, aqui será preciso
diferenciar o normal do patológico. Segundo Morris e Maisto (2004), a mudança da
linha que divisa o normal e o patológico é um imperativo temporal, pois bem sabemos
que em determinada época o adoecimento psíquico foi exaltado como manifestação
divina.

Acredito que nesse momento seja importante trabalharmos alguns conceitos que
caminham paralelamente ao sofrimento psíquico.
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O que é sofrimento? │ UNIDADE I

Segundo a OMS – Organização mundial da saúde, compreendemos atualmente como


Transtornos Mentais e Comportamentais as condições caracterizadas por alterações
mórbidas do modo de pensar e/ou do humor (emoções), e/ou por alterações mórbidas do
comportamento associadas à angústia expressiva e/ou deterioração do funcionamento
psíquico global. Os Transtornos Mentais e Comportamentais não constituem apenas
variações dentro da escala do “normal”, sendo, antes, fenômenos claramente anormais
ou patológicos.

Para poder pensar em sofrimento nas diversas fases da vida, é preciso passar por essas
afirmações que são descritivas a esses humanos e o lugar que isso ocupa na relação
terapêutica do século XXI.

Segundo Dalgalarrondo (2009), é imprescindível os aspectos pessoais e singulares de


cada pessoa para a escolha terapêutica mais adequada em seu tratamento, isso acentua
a importância de um diagnóstico psicopatológico.

DSM V

»» Transtornos do Neurodesenvolvimento
»» Espectro da Esquizofrenia e Outros Transtornos Psicóticos
»» Transtorno Bipolar e Transtornos Relacionados
»» Transtornos Depressivos
»» Transtornos de Ansiedade
»» Transtornos Obsessivo-compulsivo e Transtornos Relacionados
»» Transtornos relacionados a trauma e Estressores
»» Transtornos Dissociativos
»» Transtornos de Sintomas Somáticos e Transtornos Relacionados
»» Transtornos Alimentares
»» Transtornos da Eliminação
»» Transtornos do Sono-Vigília
»» Disfunções Sexuais
»» Disforia de Gênero
»» Transtornos Disruptivos, do Controle de Impulsos e da Conduta
»» Transtornos Relacionados a Substâncias e Transtornos Aditivos
»» Transtornos Neurocognitivos
»» Transtornos da Personalidade
»» Transtornos Parafílicos
»» Transtornos do Movimento Induzido por Medicamentos e Outros Efeitos Adversos de Medicamentos
»» Outra condição que Podem ser Foco da Atenção Clinica

Fonte: (DSM-V, 2014, p. 27).

A busca por leis gerais que regem nossa condição passa por uma sistematização de
dados, do ponto de vista clínico médico é essencial para a investigação, suas principais
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UNIDADE I │ O que é sofrimento?

ferramentas são: Dosagens laboratoriais, exames de neuroimagem estrutural


(tomografia, ressonância magnética etc.) e funcional (SPECT, PET, mapeamento por
EEG etc.).

A descrição dos transtornos no quadro (acima) parte desse princípio, devendo ser
observados a partir do curso do adoecimento, ou seja, precisa ser acompanhado dentro
de episódios com um espaçamento temporal.

Figura 4.

Fonte: <https://www.sinopsyseditora.com.br/produtos/livros-1-48>.

A classificação das informações foi organizada para fornecer códigos relativos à


classificação de doenças e de uma grande variedade de sinais, sintomas, aspectos
anormais, queixas, circunstâncias sociais e causas externas para ferimentos ou doenças.
A cada estado de saúde é atribuída uma categoria única, a qual corresponde a um código
CID 10.

Agora passamos a pertencer a uma cadeia numérica, representativa a sua forma mais
objetiva e simplificada, distanciada de afetividade e teor subjetivo.

CID-10 LISTA DE CATEGORIAS


F00-F09 Transtornos mentais orgânicos, incluindo sintomáticos.
F10-F19 Transtornos mentais e de comportamento decorrentes do uso de
substancias psicoativas.
F20-F29 Esquizofrenia, transtornos esquizotípicos e delirantes.
F30-F39 Transtornos do humor.
F40-F48 Transtornos neuróticos, relacionados ao estresse e somatoformes.
F50-F59 Síndromes comportamentais associadas a perturbação fisiológicas e
fatores físicos.
F60-F69 Transtornos de personalidade e de comportamentos em adultos.
F70-F79 Retardo mental.
F80-F89 Transtornos do desenvolvimento psicológico.
F90-F98 Transtornos emocionais e de comportamento com inicio usualmente
ocorrendo na infância e adolescente.
Fonte: (CID-10, 1993, p. 23)

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O que é sofrimento? │ UNIDADE I

Uma questão: Por que hoje nos deparamos com a normatização e categorização do
sofrimento?

É preciso se questionar que tais classificações são algumas tentativas de organização


que servem a propósitos secundários e distanciadores do que vem afirmando a gestalt
terapia.

Fritz Perls, ao afirmar sobre a condução da psicanálise na racionalização e incentivo


ao intelecto, subjugando os contornos emocionais, fala desse mesmo movimento de
abandono às emoções e descrições de mecanismos.

Figura 5. Hospício de Barabacena/MG.

Fonte: <http://puromisterio.com/2015/02/o-manicomio-de-barbacena/>.

“O descaso diante da realidade nos transforma em prisioneiros dela. Ao ignorá-la, nos


tornamos cúmplices dos crimes que se repetem diariamente diante de nossos olhos.
Enquanto o silêncio acobertar a indiferença, a sociedade continuará avançando em
direção ao passado de barbárie” (Holocausto Brasileiro, Daniela Arbex).

O movimento de desinstitucionalização dos pacientes psiquiátricos e trabalhos de


humanização e reinserção foram importantes para isso, desconstruir esse olhar social
de subjugação do adoecimento psíquico e dar espaços para que pudesse ser trabalhado.

Pontos abordados:

»» Adoecer na história da humanidade.

»» Do adoecimento físico ao psíquico.

»» Critérios de classificação de sofrimento metal.

»» Diagnostica-se, portanto, patologias e não pessoas.

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UNIDADE I │ O que é sofrimento?

Questões para pensar:

»» Quais espaços existem para trabalhar o sofrimento psíquico?

»» Como se manifesta o adoecimento nos diferentes momentos da vida?

»» Como a Gestalt-terapia contribui para esse entendimento?

No Brasil e em países de outros continentes, a Gestalt-Terapia reúne estudiosos


dedicados ao exercício científico e terapêutico. São instituições, grupos
de estudos, revistas, entre outros, empenhados no desenvolvimento e ao
compartilhamento de experiências, contribuindo por incremento da teoria e
prática. A internet pode contribuir ao intercâmbio dessas experiências, e existem
endereços online que reúnem informações relevantes sobre publicações em
geral, bem como instituições voltadas à formação na área, entre outros. O blog
Gestalt-Terapia Brasil permite a divulgação sobre acontecimentos destes tipos,
em diversas localidades nacionais e internacionais.

Figura 6.

Fonte: <http://www.clinicaintegrare.com.br/gestalt-terapia.html>.

Divulgação gratuita de profissionais, instituições e eventos de Gestalt-terapia no


Brasil.

Fonte: <http://gestaltbrasil.blogspot.com.br/>.

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Fundamentos da Unidade iI
Gestalt-terapia

A Terapia da Gestalt teve seu início na década de 1950 pelo psiquiatra, treinado na
abordagem psicanalítica, Frederik Perls.

Perls divergiu com alguns pressupostos da psicanálise, após quase 20 anos de


envolvimento com a abordagem, sua visão de que a teórica psicanalítica abandonara os
sentidos e emoções vivenciados, para a intelectualização e racionalização das emoções.

Para Ginger (1995), além da psicanálise, a psicologia da gestalt influenciou fortemente


a Gestalt-terapia, acredito que cabe pontuar que são pensamentos distintos, sendo
a psicologia da gestalt estudada por Max Wertheimer, Wolgang Kohler e Kurl Kofka
sobre percepção, aprendizagem e resolução de problemas.

Os experimentos clínicos e suas vivências dentro da clínica juntamente com os estudos


da psicologia da gestalt levou Perls a realizar publicações importantes, tais como: Ego,
Hunger, Agression em 1942 e Gestalt Therapy: Exciterment and Growth in human
Personality em 1951.

O principal objetivo, percebido por Perls (1951), na época, era a divulgação nos Estados
Unidos e Europa. O período no qual seus seguidores se voltaram a pensar na teoria
dentro da proposta apresentada foi na década de 60, onde os trabalhos de seus seguires
Laura Perls, Paul Goodman, Ralph Herferline, Paul Weisz e Elliot Shapiro retomam a
construção teórica ignorada.

Essa construção não se resume a uma forma de funcionamento da dinâmica humana,


mas das suas relações e como elas se integram. Os pressupostos das correntes que
construíram assim a Gestalt-terapia são absorvidos de três campos: o humanismo, o
existencialismo e a fenomenologia.

Segundo Martins (1995) e Ribeiro (1985), o humanismo é uma construção teórica, onde
o saber é centrado na pessoa, procurando facilitar o crescimento do homem dentro
daquilo que ele tem de positivo no seu modo de agir, pensar e sentir. A gestalt-terapia
se absorve disso quando propõe levar a pessoa a experimentar suas potencialidades e
seus limites.

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UNIDADE II │ Fundamentos da Gestalt-terapia

A influência do existencialismo na gestal-terapia denota a liberdade de sua existência


concreta, acentuando o seu modo de ser e experimentar as vivências no mundo,
capacitando-o para sua própria interpretação. Aponta também para o homem como
um ser singular, único e particular, aberto para tomar o seu existencial a partir das
reflexões de suas interações.

Na concepção da fenomenologia, a relação entre o ato humano e intencionalidade da


consciência sustenta que todo ato implica uma intenção. Nenhum ato humano ocorre
no vazio, o influenciador dessa concepção é dar luz às intencionalidades presentes nas
experiências, construindo maior sentido de ser do próprio homem.

Figura 7.

Fonte: <https://openclipart.org/image/2400px/svg_to_png/178666/1369711205.png>.

O termo Gestalt significa forma, padrão ou estrutura, o que para a construção da escola
teórica foi dando maior ênfase ao todo, afirmativamente seus membros discutiam que
a soma das partes da percepção não se resulta em um todo.

Segundo as leis da Gestalt, a unidade é uma ou mais coisas que constituem um elemento.
As unidades podem ser agrupadas, como um botão na camisa colorida, ou podem
compor o próprio elemento.

Essas unidades são percebidas por meio da relação entre os objetos, quando percebemos
nitidamente as unidades por meio de um estímulo, como o contraste. Quanto mais forte
o estímulo, maior é a segregação, pois fica mais nítida a percepção de cada unidade.

A unificação é quando há uma coerência naquilo que vemos. Ela é formada basicamente
pelo uso das leis de proximidade e semelhança, explicadas abaixo. Quando nota-se
um equilíbrio visual, uma harmonia, é possível dizer que há uma unificação entre as
unidades do elemento.

No caso da semelhança, nós tendemos a ver várias unidades como uma, quando elas são
parecidas entre si. Seja em forma, cor ou tamanho. Se há semelhança, nós, geralmente,
agrupamos esses elementos em um só.

18
Fundamentos da Gestalt-terapia │ UNIDADE II

A pregnância da forma diz respeito à clareza da informação. Quanto melhor for sua
organização visual, e mas rápida e fácil for sua interpretação, maior é o seu nível de
pregnância.

Elementos próximos e semelhantes serão entendidos como uma mesma coisa, imagine
observando isso na clínica, quando as emoções se sobrepõem e tomam outras demandas.

Figura 8.

Fonte: <http://1wallpaper.net/form-line-motion-optical-illusion-wallpaper.html>.

A visão da gestalt sobre as angústias dos seus clientes são observadas como gasto de
energia para rejeitar aspectos de si, os quais podem resultar em adotar características
não construídas para seu self.

Isso torna o trabalho fundamental na aceitação de si, a retomada de seu crescimento na


quebra das defesas que se formaram, não permitindo ver que as características, muitas
vezes negadas, fazem parte de si, porém por defesas severas isso obscurece o próprio
olhar.

Os movimentos na clínica de evitação, fuga e repetição são fundamentais para observar,


com muita atenção, o comportamento do cliente em seu discurso, principalmente no
que aponta o sofrimento psíquico.

Figura 9.

Fonte: <http://www.shejike.com/uploads/tt/151117/ss21n3jom05846.jpg>.

19
UNIDADE II │ Fundamentos da Gestalt-terapia

O contato com o cliente em diferentes fases supõe o adoecimento particularmente


daquela fase, mas este pensamento tem caído recentemente, quando o atendimento
infantil nos leva a perceber que os diagnósticos recebidos recentemente como depressão
infantil, ansiedades, dificuldades de comunicação e outros.

Cabe pensar que tais defesas têm se formado independentes do momento ao qual o
cliente esteja e para ajudá-los é fundamental a formação teórica e supervisão clínica,
pois dão segurança na nossa profissão.

Os exercícios fundamentais e importantes no contato com nosso cliente é estimular a


concentração nas sensações, percepções e emoções atuais. Ir pontuando com ele sobre
o uso de seus verbos, no passado para o presente, o que muitas vezes exige um tempo
para ser observado, pois suas defesas se constituíram e vão se defender de mudanças.

Outro exercício é a responsabilização, isso se dá quando, por fim, a desconstrução das


defesas e a reestruturação do self se inicia, aceitar as condições de si e suas atitudes é
fundamental para a responsabilização de suas atitudes diante das angústias.

Figura 10.

Fonte: <http://c14608526.r26.cf2.rackcdn.com/E55F83DB-DBF1-45B2-A681-73BC80299D41.jpg>.

Importante pontuarmos, quanto às fases da vida, acredita-se que na infância suas


manifestações de sofrimento sejam verbalizadas como com os adultos, porém
é importante observamos que alguns comportamentos infantis se dão por uma
manifestação no corpo e no brincar.

Durante os atendimentos com as crianças, o brincar se torna fundamental para


acessarmos as suas angústias e, assim, trabalharmos vivamente com elas suas emoções
e sentimentos.

Um jogo, por exemplo, quando ela deseja que o psicólogo a encontre quando ela se
esconde. Pode ser importante para ela ser encontrada, não apenas como regra essencial

20
Fundamentos da Gestalt-terapia │ UNIDADE II

do jogo, porém alguém que a busque e diga: “Achei você! Olha como você tentou se
esconder para que eu pudesse te encontrar”.

Esse tipo de vínculo permite, assim, que as angústias se tornem presentes, por exemplo,
quando os pais dizem que trabalham muito e estar com a criança tem sido difícil, ela
tem demandado ser encontrada pelo psicólogo, como reflexo da ausência dos pais.

Figura-fundo
O conceito de figura-fundo surge das pesquisas feitas sobre a percepção humana e a
neurose, onde está nossa capacidade de ligar partes não relacionadas a um todo. Nossa
necessidade de criar um todo é o que nos tranquiliza diante das angústias, na clínica é
fundamental trabalhar isso com seu cliente, onde as questões se misturam, o terapeuta
cria um contraste para que ele se diferencie e possa perceber essa mistura.

Figura 11.

Fonte: <http://clubedodesign.com/wp-content/uploads/2014/02/cubo.jpg>.

Ribeiro (2006) descreve que a Figura-fundo não se divide, ou seja, um não existe sem
o outro. Fazem parte de um processo dinâmico, pois o que é figura em dado momento,
pode, posteriormente, voltar ao fundo. Acontece que o observador e objeto observado se
incluem e se confundem, tornando-se interdependentes de tal maneira que não se pode
afirmar que um é causa do outro, “conquanto talvez se possa dizer que um é ocasião
para que o outro emerja de uma totalidade circunstante”.

O conceito de Parte-todo é fundamental para a compreensão da Psicologia da Gestalt,


tendo influenciado a gestalt-terapia. Quando o indivíduo se depara com algo, a sua
percepção a capta como um todo, e, a seguir, é percebido suas partes, o que o autor

21
UNIDADE II │ Fundamentos da Gestalt-terapia

afirma que o todo é anterior às suas partes, e atualiza a essência da coisa no instante
que está inteiro e completo. Dessa maneira, o todo e parte se referem à percepção de
estruturação da experiência humana, e no que diz respeito à percepção, esta vem sempre
estruturada, e ao introduzir um novo elemento leva a percepção de uma nova estrutura.

Teoria de Kurt Lewin

Kurt Lewin descreve um organismo como a soma de todas as partes, e havendo alteração
de uma das partes desse campo modifica-se o organismo como um todo. Yontef (1998)
fala de uma forte influência da psicologia da gestalt, a qual estudava a percepção da
parte e constituição do todo. Lewin, no entanto, assume uma posição descritiva dos
fenômenos, explica a partir do campo espaço vital e das relações influenciadoras desse
campo.

Ao atender um adulto “A” que se queixa de tristeza e solidão após a perda de seu filho C,
este fala que sua esposa não consegue mais estar presente na sua vida, ambos tentaram
viver isso juntos, porém a esposa diz não conseguir olhar para A por se parecer demais
com seu filho.

Neste caso, as observações no atendimento individual de A são de tristeza, a proposta


nesse sentido é de que o psicoterapeuta pontue sua observação sobre a tristeza de A, por
não se aproximar da esposa, e pela perda de seu filho.

Figura 12.

Fonte: <https://irs1.4sqi.net/img/general/original/90599130_f8XNGgo6PU8kPPL2AskidS_nkAoREww_UxpadXe5mMY.jpg>.

As relações de causa e efeito são deixadas de lado, essencialmente o trabalho se passa


no que o cliente tem sentido ou percebido dentro de si. A aceitação do estado total do

22
Fundamentos da Gestalt-terapia │ UNIDADE II

sujeito é que o assegura do trabalho, sendo a observação junto ao terapeuta difícil, mas
muito importante.

O tipo de manejo clínico deve ser pensado com muito cuidado e sempre mantendo o
foco nas influências dos eventos no estado emocional do cliente. O Gestalt-terapeuta
lida com a experiência conforme ela é vivenciada no momento presente. Na medida em
que o comportamento é resultado da interação de forças presentes no campo total da
pessoa.

Teoria de Kurt Goldstein

Uma teria que teve sua origem a partir de experiências orgânicas, quando Kurt Goldstein
estuda lesões cerebrais no comportamento e descobre que, além do comprometimento
das partes lesionadas, mudanças de personalidade se apresentavam.

Essa visão unificada de funcionamento se deve à noção de que partes de órgãos


lesionados, em pacientes internados, afetavam outras áreas e acentuam a integração de
complexidade desses mecanismos de função psicológica.

Segundo Cardoso (1998), a argumentação na teoria organísmica é que a alteração do


estado de homeostase humana gera tensões, fazendo com que o organismo busque
aliviar tais tensões, bem como estamos constantemente recebendo informações do
meio, o nosso organismo cria mecanismos de satisfação dentro do que o meio oferece.

A influência da teoria organísmica de Goldstein na Gestalt-terapia é de colocar o homem


como um ser de necessidades, que ao mesmo tempo em que procura um equilíbrio com
seu meio, também deseja mudanças para isso.

No processo clínico, as demandas surgem do meio em que o cliente vive, geradoras de


tensões constantes e precisam de algum espaço seguro para serem aliviadas e resgatadas.
Suas intensidades vão de acordo com cada cliente e a forma que sentem tais tensões, o
tempo de retomada do discurso e da homeostase que possibilita o crescimento será de
acordo com o investimento da própria tensão.

A metodologia psicoterapêutica da gestalt-terapia

Neste ponto, retomaremos dentro de todos esses pressupostos filosóficos e teóricos, nos
quais se criou esse campo, para pensar quais instrumentos de condução e facilitação de
que o terapeuta poderá dispor, dentro da perspectiva do ser humano e da compreensão
de seu funcionamento mais saudável.

23
UNIDADE II │ Fundamentos da Gestalt-terapia

Os quatro conceitos:

»» Contato.

»» Awareness.

»» Relação terapêutica.

»» Presença na experiência.

A descrição do conceito de contato tem sua importância na prática clínica


da gestalt-terapia, para não ser de maneira óbvia, o contato diz respeito à
proximidade com a qual o cliente está consigo mesmo e com outras pessoas ao
seu redor, estabelecendo trocas.

Para Perls (1951), a assimilação é fundamental para a sobrevivência do organismo e isso


se dá também pelo contato, quando dois organismos abrem espaço para realizações de
trocas o novo material gerado para nutrir é assimilado e o descarte do material ruim
provoca mudanças no funcionamento do organismo como um todo.

O contato do cliente com ele mesmo deve ser estimulado dentro do campo criado com
o terapeuta, isso pode trazer funções importantes de autoconhecimento, percepções
emocionais antes não relatadas e esclarecimentos.

Para se trabalhar esse modo de contato, tornando-o autoconsciente, tendo


intencionalidade e responsabilidade, trazendo envolvimento das funções primordiais do
indivíduo: as cognitivas, motoras e emocionais será preciso que haja confiança suficiente
para que ocorra. O processo ocorre, inicialmente, sobre uma grande angústia, sinais e
sintomas que são amparados pela fala do psicoterapeuta e, ao buscar psicoterapia, a
pessoa deseja algum tipo de contato que a possibilite deixar suas angústias e seguir em
seu desenvolvimento.

O contato é resultante de um ciclo composto pelas seguintes etapas:


repouso, sensação, consciência, mobilização de energia, ação, contato e
repouso. A saúde consiste no livre fluxo desse percurso a cada situação
experimentada pela pessoa. A patologia pode ser entendida em termos
de uma cristalização do funcionamento da pessoa em um dos pontos
desse ciclo. O bloqueio entre cada uma das etapas levaria a um tipo
de resistência especifica: dissociação, deflexão, introjeção, retroflexão,
despersonalização e confluência. Uma das formas de se compreender
as dificuldades do cliente é situá-lo em termos desse ciclo (CARDOSO,
1999, p. 64).

24
Fundamentos da Gestalt-terapia │ UNIDADE II

Outro importante conceito se passa através de experiências sensórias e motores, para


além das intelectuais, awareness, que é o ponto de desenvolvimento pleno do cliente
para desenvolver sua habilidade de estar em aware, confluindo na formação de sua
Gestalt.

Pode ser entendido como um estado presente na vida, procurando compreender os


desejos presentes, o estado emocional e de energias para entender o que o cliente está
fazendo naquele momento em sua vida, o que sente no momento presente, o que tem
evitado dentro das suas circunstâncias e o que espera de si.

Para contemplar esses estados de contato e awareness, o terapeuta deve ter atingido
um grau dentro desse processo em si mesmo, pois a formação de seu self dentro de sua
história auxiliará tal condução ao cliente.

Para pontuarmos a relação terapêutica, vamos falar de nós como facilitadores em


formação contínua com o meio, nisso pensamos que o suporte prestado ao cliente é de
genuína aceitação de si e dele. O contato de troca se favorece dessa aceitação completa
do outro, condição que é indispensável para o desenvolvimento da autoestima e
autoconfiança que levam ao fortalecimento de seu existencial primordialmente básico.

Por fim, um conceito de presentificação da experiência já foi mencionado anteriormente,


ocorre quando o cliente leva para seu atendimento as perspectivas de seu passado e
futuro dentro de um momento presente. Como o cliente tem visto esses momentos em
sua vida no momento agora?

Essas são funções de regulação que cabe ao terapeuta conduzir com seu cliente, sob
uma orientação de existência fenomenológica, vista na perspectiva do próprio cliente.

Pontos abordados:

»» A construção da terapia da Gestalt.

»» Leis gerais da Gestalt.

»» Teoria na clínica.

»» Metodologia utilizada na Gestalt-terapia.

25
Capítulo 1
Sofrimento na vida e a Gestalt-terapia

Nesse capítulo, vamos trabalhar o sofrimento psíquico na clínica da Gestalt nas


diferentes fases da vida, vamos retomar apenas alguns pontos para nos ajudar a fazer
contato com a unidade I e II.

Como abordamos na unidade I, o sofrimento psíquico e suas manifestações hoje são


entendidos por uma série de comportamentos descritivos e operacionalizados, nosso
entendimento clínico na unidade II nos mostra que o sofrimento é de como o cliente se
expressa em seus tempos verbais, atenuando sua história no momento presente de sua
vida.

O sofrimento psíquico não tem uma relação direta com a temporalidade, uma descrição
do quadro de depressão, por exemplo, pode estar presente no cliente mesmo que este
relate que acorreu há muitos anos antes.

Para nos organizarmos, iremos começar a trabalhar com o quadro de sofrimentos na


infância, entende-se que na criança os fenômenos psicológicos emergem da troca que é
feita com o mundo ao qual está inserida, entre suas relações humanas.

Podemos pensar que a doença emocional surge de um distúrbio da relação estabelecida


dentro da criança com o mundo, se manifestando em algum momento, o que geralmente
chega é uma estrutura familiar com um déficit dessa compreensão do adoecimento
das relações e o cliente identificado como adoecido apenas se manifesta nesse meio
(quando não há algum trauma vivido ou outras experiências negativas causadas por
fatores externos).

Na visão da Gestalt, o adoecimento pode significar perturbações na autorregulação,


como defesas por mecanismos psicológicos de contato, que não permitem olhar para a
consciência de pensamentos, sentimentos, necessidades, comportamentos causando,
assim, uma tensão nesse desequilíbrio que pode ser a angústia na relação com o outro.

Importante ao iniciarmos a falar do sofrimento infantil, pontuarmos que para alguns


pais as crianças não são sensíveis às situações que os rodeiam, eles acreditam que
as mágoas e os sentimentos infantis não são de fronte a problemas ocasionados nas
manifestações de seus adoecimentos mais graves.

Desconstruir essa imagem junto aos pais é uma tarefa árdua que muitas vezes precisamos
nos deparar como terapeutas, devemos sensibilizá-los que todo sofrimento percebido

26
Fundamentos da Gestalt-terapia │ UNIDADE II

nos entes queridos ou causado por eles afeta profundamente seu comportamento, suas
emoções e a forma de pensar e si mesmo.

Infância
As crianças, para Oaklander (2006), têm uma forte capacidade de captar dos seus
próximos alterações de humor e, sem uma diferenciação protética, aceitarem para si
aqueles estados emocionais.

Figura 13.

Fonte: <http://www.istoe.com.br/reportagens/195990_ESTRESSE+INFANTIL>.

Para a gestalt-terapia o meio em que se apresenta a criança é forte influenciador do


seu estado de ânimo, logo, a infância protegida e segura não é uma realidade para
muitas crianças. Crianças que vivem desamparos, ambientes desfavoráveis, hostis,
disfuncionais e que não conseguem estabelecer uma autorregulação no seu meio
familiar são mais comuns de chegarem à clínica.

Diante disso, o ambiente com o terapeuta acentua uma forma de descobrir criativamente
como enfrentar um ambiente estressante não somente para a criança, mas como a
forma dela interagir criativamente está latente nesse período, é um ponto favorável ao
trabalho.

Esse processo dinâmico e criativo para Perls, Goodman e Hefferline (1997) de interação
com o ambiente pode ser descrito como o ajustamento criativo e auxilia na restauração da
harmonia, o equilíbrio, a saúde do organismo, o qual se dá por meio da autorregulação,
procura-se satisfazer as nossas necessidades primordiais do momento, considerando as
possibilidades ambientais.

Há grandes questões que precisam ser feitas para entendermos o sofrimento na


infância, e como isso tem se manifestado, podemos pensar nos excessos de diagnósticos

27
UNIDADE II │ Fundamentos da Gestalt-terapia

cognitivos? Suicídio na infância como em outra fase da vida? Respostas emocionais


desproporcionais por frustrações?

Uma criança pode desenvolver uma fobia específica, como a melhor forma de enfrentar
um pai violento, e ser muito amadurecida, assumindo condutas assertivas a fim de
proteger a mãe e cuidar dos irmãos. A criança saudável deixa-se guiar pela sabedoria do
seu organismo, que reconhece as suas necessidades originais, tenta realizá-las seguindo
uma ordem de importância e escolhe qual a melhor ação em uma dada situação para
se satisfizer, evitando danos a si e prejuízo nas suas relações pessoais. No entanto, nem
sempre a criança faz suas escolhas de forma consciente e racional.

A criatividade é uma resposta saudável dada pela criança para suprir suas necessidades
internas de ferramentas que ela possa usar, sendo assim, no adoecimento pode significar
que a criança interrompeu sua capacidade criativa, passando a interagir com o outro
de forma fixa e enrijecida. Na clínica, esse comportamento deve ser bastante observado
e estimulado pelo terapeuta infantil, a capacidade de brincar, imaginar, construir
soluções e humor são pontos importantes para serem vistos na interação com a criança.

Figura 14.

Fonte: <http//revistaculturacidadania.blogspot.com.br/2013/01/artigos-psicologia-infantil_21.html>.

O adoecimento pode apontar necessidades secundárias, em plano de fundo, das


principais, uma fase de enurese noturna se apresenta quando os pais vivenciam uma
imaturidade no relacionamento e o filho (a), ao perceber os pais inseguros, com medo e
instável passa a ter uma dependência emocional em relação aos pais que não conseguem
passar segurança à criança e a enurese pode ser o sintoma.

O trabalho clínico infantil, então, se passa com a família muito próxima para relatar os
acontecimentos vivenciados dentro de casa, com todos os membros. As famílias, assim
como as crianças, procuram uma tentativa de cura, o retorno à homeostase inicial,
entender o adoecimento e caminhar no caminho do autoconhecimento.

28
Fundamentos da Gestalt-terapia │ UNIDADE II

Figura 15.

Fonte: <http//www.ufmbb.org.br/>.

Um teórico que estudou crianças refugiadas da segunda guerra mundial, Winnicott, se


defrontou com crianças que perderam a capacidade de amar, fazendo uma construção
sobre a reparação desses estados através do brincar, o qual pode ser pensado à luz
da gestalt-terapia e como a perda do contato pode ser devastador nesse período de
construção de um self.

Entende-se, após o contato com o cliente, que o adoecimento não se manifesta por ele
mesmo, existe ali um sujeito que manifesta dentro de sua própria configuração uma
maneira de interagir com o meio. A finalidade do diagnóstico é identificar o adoecimento
dentro de seus critérios, além disso, já se torna parte de um ser que pode ser criativo e
se reestruturar sobre as condições certas.

Como a gestalt-terapia tem um pressuposto teórico de figura-fundo, parte-todo,


logo procura no setting terapêutico com seu cliente entender o seu adoecimento em
uma totalidade de sistemas aos quais ele está inserido, fazer tal investigação leva um
tempo considerável e medir esse tempo com o cliente é importante, no sentido dele ir
percebendo que há mudanças ocorrendo em interação naquele momento.

A introjeção para Antony e Ribeiro (2005) pode distorcer a capacidade criativa


de a criança responder às demandas do seu meio, podendo prejudicar o contato
saudável entre ela e o mundo. Os nove processos de interrupção do contato são
fixação, dessensibilização, deflexão, introjeção, projeção, proflexão, retroflexão,
egoísmo, confluência. Esses mecanismos não são exclusivos da fase infantil, pois
podem tratar-se de comportamentos geradores de ansiedade.

Podemos pensar, então, que para as crianças os seus distúrbios psicológicos e


comportamentais podem ser dos dramas infantis não resolvidos dos pais, os quais são
projetados na criança. Os cuidados dos pais, por melhores que podem ser, ainda sim,
podem impedir o crescimento de seu filho, isso precisa ser observado e pontuado caso
seja percebido.

29
UNIDADE II │ Fundamentos da Gestalt-terapia

Segundo Violet Oaklander (2006), a criança não possui a capacidade de separação de


um adulto, e pensar cognitivamente que o problema não tem haver com ela, por isso,
aceita passivamente as demandas familiares mais atenuantes. É um mecanismo de
introjeção tóxica, o que a criança muitas vezes escuta de si mesma e que pode limitar o
seu modo de ser genuíno, cristalizando o modo como ela vê o mundo.

Em gestalt-terapia, a introjeção é definida como o processo primário de internalização de


crenças, valores, pensamentos transmitidos pelos pais, pela cultura e outros ambientes
significativos, que interferem e também contribuem na constituição da subjetividade
da criança. Os introjetos podem ser positivos (internalização de valores e vivencias que
facilitam a identificação e integração da criança no mundo social) e tóxicos (inibição do
excitamento espontâneo e criativo).

Quando tóxicos, a introjeção torna-se responsável pela formação dos distúrbios


emocionais e pela deformação da personalidade, a construção de um eu inautêntico
e incoerente com seus impulsos originais. A criança, nos períodos iniciais do
desenvolvimento, ainda não desenvolveu a consciência reflexiva, que lhe possibilita
questionar, digerir, elaborar a validade das mensagens morais e educativas parentais.

Para Briggs (1986), a criança saudável desenvolve a capacidade de amar, ser generosa,
sentir gratidão e desejo de reparação a partir da internalização positiva das figuras
parentais (pais amorosos que confirmam e respeitam a individualidade da criança), o
que leva a uma diminuição do medo da perda, aumenta a capacidade de compartilhar,
de se expressar e de realizar trocas nutritivas com o mundo.

Figura 16.

Fonte: <http://www.eluniversal.com.co/sites/default/files/201602/3523015_xxl.jpg>.

Para pensarmos melhor, trabalharemos com um caso de criança com transtorno


fóbico-ansioso.

Na CID-10 (1993), os transtornos de ansiedade mais comuns da infância são: ansiedade


de separação, ansiedade fóbica e ansiedade social. Os comportamentos problemáticos
30
Fundamentos da Gestalt-terapia │ UNIDADE II

correspondentes a cada um (medo de ficar sozinha, de sair de casa, de ir ao banheiro


sozinha, de dormir sozinha, recusa em ir à escola, medo de escuro, medo de insetos
e/ou animais, medo de estranhos) tem sua expressão em sintomas clínicos, tais
como: choro fácil, ataques abruptos de raiva, morder os lábios, roer unhas, pesadelos,
irritabilidade, comportamento aderente/pegajoso, timidez, passividade, retraimento,
enurese noturna, sudorese nas mãos e pés, dentre outros.

Esses tipos de sintomas do transtorno podem ser intermitentes ou recorrentes, vai


depender de criança para criança. O caso que iremos trabalhar vai ser dividido em:
histórico familiar, a criança e seu espaço e fechamento.

O histórico familiar da criança começa no pedido do atendimento, ao telefone os pais


relatam que estão angustiados e não conseguem mais estar juntos, devido aos pedidos
do filho único de 8 anos que não fica sozinho. Ao combinar o atendimento, o terapeuta
diz que será primeiro somente com os pais e depois pergunta se é possível a criança
estar com alguém além deles.

Durante o primeiro atendimento os pais parecem bastante inseguros sobre o


adoecimento do filho, dizem que fizeram de “tudo” para poder ajudá-lo, ritualizaram
uma peça com objetos que a criança se sentia segura, compraram presentes para que
ela fosse dormir sozinha, brigaram com ela e, mesmo assim, o sinal que a criança estava
apresentando permanecia.

Nos primeiros atendimentos a criança chega bem vestida e toma o espaço do consultório
com facilidade, se apropria dos espaços e dos brinquedos, é criativa, e imagina situações
com facilidade. A mãe fica na sala de espera e aguarda o filho, qualquer barulho que a
mãe faça na sala de espera a criança faz uma pequena pausa, como que com receio de
ser deixada ou algo lá fora a assusta.

Passados alguns atendimentos, a criança já não se angustia tanto com os sons da sala
de espera e, entre esses atendimentos, conversando com os pais, pedi para que me
relatassem como é a rotina na hora de dormir. O quarto da criança fica no final do
corredor e, para facilitar, eles revezavam para colocá-lo para dormir, durante o dia ele
já apresentava melhoras para estar só, desde que tivesse a certeza que eles estariam ali.

Os pais foram entendendo que sua insegurança em estarem de acordo com a condução
da ajuda ao filho influenciava diretamente no adoecimento deste, a criança capta essa
insegurança e não distingui se é dela ou deles.

Após 18 meses de atendimento, o caso foi encerrado.

31
UNIDADE II │ Fundamentos da Gestalt-terapia

Pensando agora sobre a criança e seu brincar na clínica, o medo é uma reação em favor da
sobrevivência que ocorre diante de uma ameaça à vida ou à integridade psíquica, sendo
inerente à condição humana. Há os medos naturais específicos do desenvolvimento,
que surgem quando a criança toma consciência do mundo, de coisas que não consegue
entender ou controlar.

A criança precisava brincar de controlar os pais e suas angústias, quando isso é dito
para ela esta percebe que faz parte de seu desejo sempre tê-los por perto, isso se torna
consciente na relação de contato com as figuras parentais.

Segundo o DSM-V, a fobia é uma reação exagerada de medo excessivo e irracional,


desencadeado pela presença ou antecipação de um objeto, lugar ou situação aterrorizante
que leva a uma sensação de descontrole do corpo e da mente. Do ponto de vista
psicológico, representa uma expressão simbólica de conflitos psicológicos relacionais,
carregados de fantasias de morte, destruição e/ou doença, as quais escondem o impulso
agressivo dirigido ao outro significativo amado, hostil e temido.

Já o transtorno de ansiedade pode se apresentar juntamente com a fobia, o que torna o


diagnóstico mais complexo e difícil de trabalhar na clínica.

O terapeuta pode fazer uso de fantasias dirigidas com temas de coragem, independência;
diálogo com fantoches humanos ou de animais sobre o medo, a raiva; dramatizar a
situação fóbica; propor desenhos temáticos; trabalhos corporais e sensoriais com a
argila para liberar a tensão muscular e a agressividade retrofletida, de forma a resgatar
a consciência corporal. É importante considerar que o terapeuta gestáltico age com
cuidado e tem uma preocupação em não impor atividades, de forma a evitar intervenções
invasivas que não respeitem o ritmo, a espontaneidade e a singularidade da criança,
bem como busca, nas entrevistas de orientação aos pais, provocar a conscientização
de conflitos pessoais não resolvidos, com o intuito de facilitar o processo da criança e a
reconfiguração da dinâmica da família.

Figura 17.

Fonte: <https://userscontent2.emaze.com/images/d4c5046c-d5cd-4203-b5bb-35cd9f07fddd/7c00c63afb2c2bb640f46494
da694182.png>.

32
Fundamentos da Gestalt-terapia │ UNIDADE II

Adolescência

Uma fase de muitas mudanças no meio social e internamente é a adolescência,


recebendo estigmas sociais de todos os gêneros o adolescente, muitas vezes, em uma
grande transição não se compreende e não é compreendido.

Particularmente, a sintomatologia desse período é singular, mas não exclusiva, sua


manifestação pode se dar por: transgressões aos limites da lei, crises de ansiedade,
quadros depressivos, dificuldades alimentares, intercorrências sexuais e muitas outras.

Procurar entender o contexto no qual todas essas transformações e como elas têm
ocorrido para o cliente adolescente é fundamental para o processo psicoterapêutico, o
que se deve atentar em questões de manejos clínicos é a organização dos atendimentos.

Nunes (2008) afirma que, numa situação de emergência, a pessoa procura a melhor
maneira possível de lidar com o que se apresenta: contenção de energia ou substituição
da necessidade. É necessário suprir a excitação da necessidade genuína, e a energia vai
para a contenção. O problema ocorre quando a atitude que era consciente e controlada
passa a ser crônica, repetida, irrefletida e, portanto, cristalizada. Nesse momento,
perde sua função primária de ajustamento para ser apenas uma adequação limitada ao
contexto, impedindo a pessoa de agir de formas diferentes aos distintos contextos. A
questão fundamental é que cada nova situação demanda um ajustamento igualmente
diferenciado; sendo a cristalização ou sedimentação (engessamento do ato) uma
estratégia adaptativa de momento, mas não replicável em situações diferenciadas.

Não é raro, quando o adolescente em seu processo pede um espaço para se diferenciar
das figuras parentais presentes em sua vida, no entanto o terapeuta deve explicar que
eventualmente tal espaço precisa ser aberto para que ele (terapeuta) possa dialogar
com essas figuras.

O manejo disso é delicado e sentido de cliente para cliente, mas para que isso não
prejudique o vínculo com o terapeuta é preciso muitas vezes organizar com o cliente o
encontro com seus pais e como vão ocorrer, deixando-o seguro de que o seu papel ali é
dar a ele sustentação.

No caso de adolescentes que manifestam o seu sofrimento entrando em conflito com a


lei, é comum no meio social o discurso de procura do responsável, um culpado por tais
atos infratores e a criação de um estigma sobre a imagem desse momento de muitas
mudanças.

Segundo Trindade (1993), a sociedade é, em seu emaranhado social, criadora de seus


próprios delinquentes, sendo assim também responsável pelas instituições onde estes

33
UNIDADE II │ Fundamentos da Gestalt-terapia

irão permanecer. Uma retomada da necessidade de afirmar o que é “bom” e “mal”


dentre as maneiras de ser-no-mundo.

Em algumas medidas do nosso contexto existiram as casas da FEBEM (Fundação


Centro de Atendimento Socioeducativo ao Adolescente), onde se acreditava nos
programas gerenciados para a restauração do desenvolvimento harmônico de jovens e
adolescentes da década de 70.

Para Goffman (1988), quando um indivíduo é estigmatizado, normalmente convive


com pessoas que o subjugam ao seu estigma e não conseguem vê-lo em sua totalidade,
tomando assim a parte como uma totalidade daquele sujeito, não percebendo qualidades
ali presentes. Com isso, pode ser que ele próprio passe a se desacreditar e fazer eco a
essa negativa. O mesmo autor descreve que quando há a aceitação dessa visão gerada
por outro, ela é descrita como aceitação, muitas vezes sentindo necessidade de reafirmar
aquela imagem gerada.

Figura 18.

Fonte: <http://images.jovempan.uol.com.br/_nd5woeWsS-NRFEY0hDZbQOX3aY=/fit-in/619x437/media.jovempan.uol.com.br/
old_images/2011/01/06/H_20110106_215851.jpg>.

Percebe-se diante do cliente infrator que não houve espaços possíveis para que mostre
quem verdadeiramente é. Os tratamentos subjugados os fazem defrontar as leis de
alguma forma, no que se manifesta como uma glorificação entre eles pode ser construída
como uma necessidade de retomada da sua autoestima.

Não se pode negar que o meio no qual o jovem vive influencia no seu modo de ser e
pensar, são escolhas que fazem a todo tempo, procurando credibilidade, aceitação e
inclusão.

34
Fundamentos da Gestalt-terapia │ UNIDADE II

A autora May (1988) relata que quando o grupo, no qual ele está inserido e identificado, é
nocivo nos seus objetivos, aquela energia se direciona para um campo de destrutividade.

Esses adolescentes, em suas relações com os outros e com o mundo, desenvolvem-se


e constroem-se da forma como podem, buscando um jeito de sobreviver e de proteger
sua autoestima. Em alguma coisa eles têm que ser incríveis, se não é possível estando de
acordo com os padrões da cultura dominante, se não lhes são dadas as condições para
tal, que seja então infringindo as leis. Talvez essa seja a única forma que encontraram
de se manter no mundo, pode ser que assim eles consigam algum amor próprio.

Winnicott (1999) descreve que para o antissocial algo que lhe foi privado ou perdido,
nessa relação, precisa ser suprido. Apresenta-se mais nesta fase da adolescência até
antes da vida adulta.

Essa afirmação nos faz pensar a falta na sua zona de contato com ele mesmo, que é
acentuado quando no momento de transição o adolescente precisa sentir que o seu meio
pode lhe propiciar segurança e sustentação. Por outro lado, as suas escolhas enquanto
ser-no-mundo também dizem por ele.

A proposta com esse nível e característica de sofrimento é, em primeiro momento,


o implicar do processo desses adolescentes, que muitas vezes são encaminhados a
clínicas, ou levados pelos pais. Com o acolhimento e o andamento da construção de um
vínculo, pode-se trabalhar a ressignificação do estigma presente no meio social dele e
com ele mesmo.

Acredito na importância de pensarmos nessa complexa e desafiante possibilidade do


sofrimento, quando o cliente muitas vezes subjuga seu próprio sofrimento e nós ao
suportarmos essa quebra junto com eles, permitimos o restaurar das relações.

O Gestalt-terapeuta tem muito a contribuir nesse sentido. O encontro


de “incríveis infratores” com a Gestalt-Terapia possibilita a esse
jovem a ampliação do contato com ele mesmo e com o mundo, se
tornando mais aware de si. A relação dialógica, além de dar suporte
ao trabalho psicoterapêutico, proporciona ao adolescente a vivência de
um relacionamento significativo, o que resgata sua dimensão humana
(LEÃO, 2007, p. 59).

A citação corrobora com o nosso caminho ao pensarmos nas medidas restaurativas, que
podem auxiliar o adolescente em conflito com a lei na revisão de sua história de vida, na
ressignificação do estigma de infrator e no encontro de si, quanto sujeito.

Outro tipo de manifestação do sofrimento psíquico na adolescência pode ser por via
da alimentação, umas das fortes características desse adoecimento é que surgiu na

35
UNIDADE II │ Fundamentos da Gestalt-terapia

sociedade pós-moderna. Para Castro (1995), os últimos levantamentos apontam que


mais de 90% são adolescentes do sexo feminino.

Para o contexto Brasileiro não foram encontrados dados epidemiológicos de prevalências


de transtornos alimentares como anorexia e a bulimia nervosa.

Porém, para nosso estudo vamos nos ater a casos clínicos, se sabe que a procura por
transtornos alimentares é baixa devido ao cliente não perceber-se doente.

No DSM-IV (2002) é definida a anorexia nervosa como um transtorno alimentar no qual


a pessoa se recusa a manter o peso corporal dentro do mínimo normal adequado para
a idade e altura; mesmo apresentando peso abaixo do normal, ela sente muito medo
de ganhar peso ou de se tornar gorda. A pessoa vivencia o peso ou a forma do corpo de
maneira perturbada, influenciando impropriamente sua autoavaliação e levando-a a
negar o baixo peso corporal atual.

Sobre essa ótica muito específica o Gestalt-terapeuta irá buscar o ajustamento criativo
do cliente, saída que a Gestalt do cliente faz para não manifestar o sofrimento presente.

A construção da imagem corporal do adolescente está rompida do contato da realidade


do que é vivida na fantasia de satisfação do externo, negligenciando a si para satisfazer
o outro social.

Parte desse pensamento surge da necessidade de aceitação, que marca a insegurança


de ser no mundo. Para a Gestalt-terapia a saúde é o comportamento livre, espontâneo,
criativo e fluido. Isso nos coloca diante de um modo de ver o mundo com o próprio
corpo, essa relação pode ser desconstruída com a transformação dos movimentos como
o cliente se vê.

Figura 19.

Fonte: <http://www.psicologia10.com.br/wp-content/uploads/2015/12/Transtorno-Alimentar-Restritivo-Evitativo-3.jpg>.

36
Fundamentos da Gestalt-terapia │ UNIDADE II

Para Angermann (1998), os ajustes criativos para os transtornos alimentares fazem com
que o cliente lide com tensões do ambiente e do que seu corpo se manifesta. Aponta para
observar como esse tipo de transtorno pode servir para um mecanismo de evitação.

O autor anterior aborda em como o adoecimento se manifesta, a origem deste não é uma
prioridade. O objetivo de aumentar a awareness e integrar partes fragmentadas do self
dos clientes com transtornos alimentares aponta para uma demanda por experienciar
seus conflitos de forma direta.

Embora o terapeuta esteja ativo neste processo, a interpretação de eventos, experiências


e até mesmo de sonhos é responsabilidade do cliente. Mudança e metamorfose não
são planejadas ou exigidas no processo terapêutico. Para finalizar este pensamento é
importante abordar esse transtorno com muita seriedade junto à família, desmistificando
qualquer preconceito que reduza o sofrimento presente no cliente.

Adulto

Muitos dos pressupostos descritos no tópico anterior serão válidos aqui, de uma
maneira singular os adoecimentos ou a quebra da Gestalt no adulto é um rompimento
no contato com ele mesmo e com o mundo, logo, vamos pensar nas manifestações de
sofrimento na fase adulta da vida.

Para retomar alguns pontos da unidade I e II, precisamos pensar que na perspectiva
gestáltica, saúde e doença não são conceitos fixos e imutáveis, podem ser entendidos
como forma de expressão do organismo peculiar.

De acordo com a World Health Organization, saúde é um estado completo de bem-


estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doenças. Esse conceito traz
ideias importantes, como os parâmetros de ser saudável ou não, normal ou patológico.

Segundo Barbalho (1998), a saúde do cliente se prejudica quando ele rompe o contato
com ele próprio. Saúde é definida como a capacidade dele estar respondendo ao meio
em que vive de maneira adequada, respeitando o reconhecimento do outro como um
sujeito pleno. Aqui, awareness é entendida como ter consciência de algo forte e presente,
dar-se conta de alguma coisa que ainda não estava presente ou consciente no indivíduo
até o momento.

A doença pode ser vista como um momento de crise e, segundo Brandão (2003), de
transição, como uma oportunidade de mudança, de aprender e desenvolver uma nova
forma de vida e de expressar-se de modo mais aberto e direto no mundo. A saúde,

37
UNIDADE II │ Fundamentos da Gestalt-terapia

como já foi dito anteriormente, não significa ausência da doença, ausência de distúrbios
físicos, mas um modo saudável de estar e de se expressar na vida.

Para melhor trabalharmos, vamos discutir um caso clínico adulto dentro dessa
perspectiva.

Figura 20.

Fonte: <http://www.abc.med.br/fmfiles/index.asp/::places::/abcmed/Fungos-como-sao-Eles-podem-causar-doencas-Como-
evita-las-.jpg>.

Para ilustrar como a formação de sintoma se manifesta na neurose, descrevo um caso


clínico de um jovem com 24 anos que sofre de (TOC) transtorno obsessivo compulsivo,
que chamaremos de B.

B relata estar em sofrimento por não ser aprovado para ingressar na carreira militar,
tendo intensificado suas compulsões em lavar as mãos, tossir e estralar partes do corpo.
Isso tem gerado grande sofrimento para o paciente, pois não consegue “controlar”,
diante de seus familiares e amigos.

As repetições do ego de B podem, então, ser entendidas como uma exigência da fixação
do cliente em lidar com suas frustrações ou exigências. A repetição dessa fixação no
trauma, podemos pensar que representa uma maneira de retornar ao evento passado
no presente. Uma tentativa de retornar ao estado anterior a este.

Dando vazão ao excedente de energia que se ligou à representação de algum objeto


no próprio corpo, pessoa ou uma cadeia de pensamentos presentes no momento, isso
simboliza a ruptura na Gestalt e na possibilidade de retomada de crescimento.

B faz uso de medicação há onze anos para auxiliar no controle de suas compulsões,
descreve como insustentável estar sem a medicação e que sente algo quebrado dentro
de si. A ausência de contato com ele mesmo, muitas vezes não dá a ele capacidade

38
Fundamentos da Gestalt-terapia │ UNIDADE II

para descrever sua própria angústia, para auxiliar o terapeuta vai tentando junto a ele
construir essa retomada das suas emoções.

Sua família de origem nordestina chegou à cidade há 5 anos, o pai é engenheiro civil e
muito religioso. Sua mãe cuida da casa e não possui trabalho remunerado. Atualmente,
B mora com os pais e uma irmã mais nova mora com seus avós na cidade de origem,
Paraíba.

Nessa dinâmica familiar, percebe-se uma rigidez sobre o papel do feminino e do


masculino, quando a família chega para o acolhimento de B o pai se mostra inflexível
diante do sofrimento do filho e a mãe tenta sustentar isso mediando a situação.

Apesar de B ser um adulto, mostra que as neuroses paternas podem traçar um sintoma
na maneira rígida e fixa de ver o mundo, introjetar isso na infância e manifestar-se na
vida adulta.

No início do acompanhamento é fechado o contrato terapêutico verbalmente e o


acolhimento de B se inicia mostrando que o espaço é dele, e que ali iremos criar o que
ele desejar levar para o atendimento.

B diz sofrer com o TOC desde muito novo, não se recorda quando começou, mas que
no colégio não conseguia ficar sem estralar o pescoço ao ouvir algo negativo perto dele.

Na investigação desse negativo o paciente exemplifica com alguma palavra que


desqualifica, reclama ou critica uma situação qualquer. Dentro de casa nunca se
permitiu reclamar, sempre houve um desagrado de seus pais, pois deve sempre estar
agradecendo a Deus sua existência e conquistas.

Durante as sessões, suas resistências para entrar em conteúdos mais profundos


referem-se a uma necessidade de rompimento, quando o contato pela via da emoção é
feito. Apresento que vamos ter mais tempo juntos para que ele traga o que o angustia
no momento presente, assim que ele estiver pronto para dizer. Seus movimentos de
reflexão são alteração de horário, uma tentativa de controle da disponibilidade do
terapeuta.

Permanência de silêncio por alguns atendimentos e perguntas por onde deve começar
a falar. A economia na descrição de suas falas, não aprofundamento dos temas levados
e esquivas recorrentes, mostram o quanto grave e desconectado o cliente estava de si.

Foi primordial para o manejo das sessões o apontamento das resistências para B,
que no primeiro momento não relaciona como resistência, porém percebendo suas

39
UNIDADE II │ Fundamentos da Gestalt-terapia

dificuldades em descrever suas queixas, permitiu posteriormente que o apontamento


fosse aproveitado.

Suas tentativas de guardar conteúdos para as sessões não se sustentam e ele passa a
descrever sua ambivalência com este pai.

A partir disso foi investigada a formação de seus sintomas obsessivos, B tenta a todo
custo ter o reconhecimento de suas figuras materna e paterna, descreve como uma
dívida de infância que precisa ser paga por todo cuidado que recebeu.

Com o terapeuta em sessão ao chegar à sala de atendimento, ele aponta a precisão


de sua hora, essa necessidade de reconhecimento é paralelamente comparada as suas
outras manifestações com seus pais.

Seus conteúdos infantis estão ali presentes, manifestando-se na relação com o terapeuta,
que será primordial para trazer à luz. O atendimento de B durou 9 messes e ele não
desejou mais dar continuidade.

Retomando o conceito de Ribeiro (1985), a Gestalt-terapia promove a ideia do homem


como centro, com seu valor positivo, com capacidade de se autogerir e regular,
valorizando o ser humano e suas potencialidades.

Para o mesmo autor a Gestalt-terapia busca trabalhar o que o homem tem de positivo
no momento em que está experienciando, e que ele, o homem, é responsável por suas
escolhas e decisões de mudança, visto que cada instante é uma possibilidade nova que
se apresenta.

Assim como B, que experimenta o conflito tomar sua angústia como total dentro de si e
sobrescreve suas capacidades de resistir às fugas e desconexões de seu self.

Para Nunes (2008), a vida naturalmente traz obstáculos às realizações pretendidas,


e algumas destas intempéries podem paralisar o ser humano, prejudicando seu
crescimento, gerando frustrações que podem evoluir para transtornos psicológicos.

Nesse sentido, a Gestalt-terapia se apresenta como uma abordagem que pode fazer o
homem retomar seu crescimento e fechar suas gestaltes.

Esta abordagem entende o ser humano e suas relações, sendo alguns deles
Figura-fundo, Parte-todo, Contato, Awareness e Ajustamento Criativo.

São conceitos que tornamos a dizer para que você pense o caso de B, e que isso produza
sentido para você.

40
Fundamentos da Gestalt-terapia │ UNIDADE II

Awareness é um modo contínuo para que a pessoa se mantenha atualizada acerca de si


mesma. É um processo contínuo que está disponível em todos os momentos, como um
rio subterrâneo que está disponível a fim de que a pessoa possa se renovar e revitalizar,
sendo que focalizar a awareness mantém a pessoa mais cônscia de si, ampliando e
intensificando o aqui agora da terapia.

A partir do enfoque teórico da Gestalt-terapia pode-se compreender melhor o ser


humano, seus sofrimentos, suas angústias, mas principalmente suas potencialidades
diante do que se apresenta com o olhar da Gestalt-terapia e seus termos.

41
Gestalt-Terapia e
a centralidade Unidade iII
da relação
figura-fundo

Figura 21.

Fonte: <http://www.imgrum.net/tag/figuraefundo>.

A Gestalt-Terapia assume um posicionamento peculiar que tem como o crescimento o


direcionamento aos seus preceitos, adotando o presente, e não o passado, como alvo
de atenção principal do processo terapêutico. A neurose e psicopatologias resultam de
um desenvolvimento de personalidade no qual foram negadas o “fazer por si mesmo”,
e impostos modelos ideais em detrimento ao “autorrealizar-se”.

Capítulo 1
Conflitos internos e sofrimento para a
Gestalt -Terapia

Para a Gestalt-Terapia, o equilíbrio com o meio torna-se exercício vital de todos os


organismos vivos, que detém mecanismos de ajustamentos para os casos de situações
adversas. Contudo, no desenrolar de experiências sociais, e na busca por capacidades
42
Gestalt-Terapia e a centralidade da relação figura-fundo │ UNIDADE III

que garantam tal equilíbrio, introjetar, ou em outras palavras, adotar valores e


comportamentos externalizados por outros, se manifesta ora como exercício saudável,
ora como de adoecimento. Em consequência de introjeções ruins, podemos perder a
capacidade de contato com nosso meio e com os outros da conscientização sobre nossos
sentimentos e suas relações estabelecidas, o que nos dificulta também o reconhecimento
claro sobre nossas necessidades e também sobre o contexto com o qual estamos em
relação. É instalado um dilema de contato advindo de uma experiência introjetada
(ANTONY, 2009). Sentimentos conflituosos, neste caso, não devem ser negados, e o
sofrimento que advém deste necessita de tempo para ser vivenciado, a fim de que se
encontre recursos à awareness perdida.

É o que se chama fechamento da Gestalt, uma representação imagética, influência da


Psicologia da Gestalt sobre esta abordagem, na qual o fundo representa o contexto,
e a figura que dele sobressai, a necessidade do tempo presente. O fechamento se
consolida quando se consegue distinguir ambas as formas e como estas se integram,
ou seja, na consciência do que constitui a necessidade e sua relação com o contexto, de
forma integrada. Como afirma Pereira (2007), isso pode acontecer quando o cliente se
responsabilizou por sua Gestalt-Aberta, conscientizando-se e assumindo plenamente
a sua necessidade. Quando as Gestalts são fechadas sentimos uma harmonia com o
mundo à nossa volta. (PEREIRA, 2007).

Ter consciência não apenas do que está fora, mas como se sente o que está dentro:
do conflito, do sofrimento. Mas, também das possibilidades. Estabelecemos encontro,
isso é o contato, e temos que ter a consciência disso também. É onde a consciência
encontra não apenas as diferenças, mas semelhanças com os outros, em um movimento
integrador do self. Fortalecer a awareness é fortalecer a consciência sobre si, do contexto
e sobre os outros, lembrando sempre que isso se dá em relação.

Figura 22. Pedro de Casso.

Fonte: <http://gestaltjaen.com/Pedro-de-Casso-Psicoanalisis-Bioenergetica-Psicoterapia-Integrativa.html>.

43
UNIDADE III │ Gestalt-Terapia e a centralidade da relação figura-fundo

Autor de Gestalt, Terapia de Autenticidad – De “ego” a “sí mismo” – La vida y la


obra de Fritz Perls (editora Kairós, 2003), entre outras referências, Pedro de Casso
também proferiu a conferência ¿Qué es y qué no es la Terapia Getalt? (Qualia
Salud Emocional, 2011). Um total de 7 vídeos está disponível na página online
da Qualia Salud Emocional.

Link para acesso:

<http://www.gestaltgranada.es/pagina/charla_que_es_y_que_no_es_la_
terapia_gestalt_por_pedro_de_casso/>.

Gestalt incompleta e impasse


Aqui são resgatadas as ideias entre campo psicológico, percepção e lei da boa forma;
como também o Ciclo de Contato (PERLS et al,1997; RIBEIRO, 1997).

Desta maneira, uma contribuição da Psicologia da Gestalt para a Gestalt-Terapia tem-se


o entendimento sobre a percepção do indivíduo em relação ao meio onde está inserido.
Em uma síntese de entendimento na qual o modelo de um funcionamento psíquico
pode ser representado em uma relação figura-fundo, são ressaltadas a importância que
exerce a interpretação sobre circunstâncias e características do ambiente e a forma
como percebemos a realidade. Assim, a percepção permite que integremos uma situação
que emerge enquanto necessidade, enquanto uma questão no presente, ainda que seja
importante a distinção entre as partes da figura e fundo, para que ambos possam ser
integrados. Como afirma Bock (2001):

O que o indivíduo percebe e como percebe são dados importantes


para a compreensão do comportamento humano. [...] A tendência
da nossa percepção em buscar da boa forma permitirá a relação
figura-fundo. Quanto mais clara estiver a forma (boa-forma), mais clara
será a separação entre a figura e o fundo. Essa tendência a “juntar” os
elementos é o que a Gestalt denomina de força do campo psicológico.
(BOCK, 2001).

Esse entendimento é importante, pois a integridade psicológica passa a basear-se


em um ciclo de mudanças entre o que é mais importante, ou em outras palavras, a
figura, e uma fase de equilibração que não deve tornar-se permanente. No entanto,
se reconhece que em nossa sociedade necessidades dominantes como moral, bons
costumes etc, tornam-se frequentemente crônicas e interferem com a autorregulação
sutil do organismo humano (PERLS, HAFFERLINE, GOODMAN, 1997; p.35).

44
Gestalt-Terapia e a centralidade da relação figura-fundo │ UNIDADE III

Ocorre uma separação entre a existência biológica e a social, o auto-suporte dá lugar à


autorreferência exagerada. Ou seja, a idealização de modelos entra em choque com a
autorrealização do indivíduo, e um desencadeamento de ações pode estar associado por
um lado, a um movimento de crescimento, e por outro, a um movimento de estagnação.

A descrição de saúde e doença psicológicas é simples. É uma questão


das identificações e alienações do self: se um homem se identifica com
seu self em formação, não inibe seu próprio excitamento criativo e sua
busca da solução vindoura; e, inversamente, se ele aliena o que não é
organicamente seu e, portanto não pode ser vitalmente interessante,
pois dilacera figura/fundo, neste caso ele é psicologicamente sadio,
porque está exercendo sua capacidade superior, e fará o melhor que
puder nas circunstâncias difíceis do mundo. Contudo, ao contrário,
se ele se aliena e, devido a identificações falsas, tenta subjugar sua
própria espontaneidade, torna sua vida insípida, confusa e dolorosa.
Chamaremos o sistema de identificações e alienações de ‘ego’. (PERLS,
HAFFERLINE, GOODMAN, 1997; p. 49)

Neste caso, a awareness, que se dá por meio da percepção dentro e fora de si, consiste
em um dos recursos para o reestabelecimento do aparelho psíquico saudável. Outra
forma sintética de entendimento, sobre as articulações de recursos, exercidas em função
de trocas saudáveis com o meio, advindo da dinâmica organísmica (GOLDSTEIN,
1878-1965), é o contato.

[...] não é possível pensar o conceito contato sem pensar nos conceitos
de união e separação. O modo como as pessoas se encontram ou se
desencontram revela a profundidade de seu engajamento numa relação,
que torna visível o grau e o nível de equilibração organísmica que elas
condividem. [...] Crescimento é função do contato, não se podendo
pensar contato sem que, implicitamente, se pense em crescimento. Para
que isto ocorra, é preciso, espontaneamente, deixar-se levar pelo fluxo
do encontro com o outro, com a vida, e acreditar no contato gerador de
mudanças e possibilidades novas. Por meio do contato, encontro-me
com minha coragem, meus medos, minha esperança. Através dele me
reconheço possível e viável. [...] Fechar gestalts é o caminho da saúde,
pois quanto mais gestalts inacabadas se tem, menos saudável se é, e
mais pobre é o contato. (RIBEIRO, 1997; pp. 32,38)

Para Ribeiro (1997), o contato assume diversas formas em um processo de começo, meio
e fim. Mostra uma dinâmica de polaridade entre saúde e seus bloqueios. O autor adota
a denominação “Ciclo de fatores de cura”, que deixa de lado a nomenclatura clássica e

45
UNIDADE III │ Gestalt-Terapia e a centralidade da relação figura-fundo

assume que cada passo do ciclo tem um fator terapêutico. Cumprir cada passo leva à
mudança, e à procura do contato consigo mesmo, numa caminhada de fixação/fluidez
para confluência/retirada. Estando alguns destes fatores já consagrados, propõe mais
dois (fluidez e interação). Unindo os fatores de cura a outros nove fatores de bloqueio
(fixação, dessensibilização, deflexão, introjeção, projeção, proflexão, retroflexão,
egotismo, confluência), formam-se nove polos do ciclo.

Baseado em suas definições, estes polos que ora se complementam, ora se opõem, serão
listados de forma resumida, a seguir.

1. Fixação – apego excessivo a coisas e emoções e Fluidez – espontaneidade


e criatividade sobre a própria vida.

2. Dessensibilização – diminuição sensorial, indiferenciação de estímulos


e Sensação – atenção ao próprio corpo, sensibilidade e busca por novos
estímulos.

3. Deflexão – evitar aproximações, sentimento de pouco valor e


Consciência – atenção ao contexto e ao modo como me relaciono com
pessoas e coisas. Introjeção – assumir opiniões arbitrárias, temor
sobre a própria mudança, e Mobilização – necessidade por mudança,
distinção entre o que é próprio do indivíduo e dos outros, sem temor de
ser diferente.

4. Projeção – atribuir aos outros o próprio fracasso, identificação de


dificuldades ou defeitos semelhantes aos seus, e Ação – mais confiança
nos outros e assumir a responsabilidade pelos próprios atos.

5. Proflexão – desejo que as pessoas sejam como si próprio e dificuldade


de se reconhecer como sua própria fonte de nutrição, e Interação - dar
pelo prazer de dar, conviver com as necessidades dos outros sem esperar
retribuição.

6. Retroflexão – desejo de ser como os outros esperam que seja, e


Contato – sentir a si próprio como fonte de prazer, se relacionando com
os outros de maneira direta e clara.

7. Egotismo – dificuldade em dar/receber, controle rígido sobre o mundo


fora, a fim de prevenir futuros fracassos ou possíveis surpresas, e
Satisfação – pensar que é possível desfrutar dividindo e que o mundo
fora pode ser fonte de prazer.

8. Confluência – obedecer a valores e atitudes com sofrimento e Repouso/


retraimento - ser fiel a si mesmo, e aceitar o “nós” quando convém.

46
Gestalt-Terapia e a centralidade da relação figura-fundo │ UNIDADE III

No ponto em que interrompemos o ciclo de modo mais constante, nossa energia está
bloqueada. É preciso partir do ponto onde se interrompe o ciclo, passando pelos outros.
Tanto os mecanismos de defesa como de cura não são independentes, se encontram.
Cada mecanismo de defesa do eu e cada fator de cura contém parte do outro, o que não
nos impede de defini-los como polares enquanto processo de oposição, e, às vezes, em
exclusão e/ou complementaridade (RIBEIRO, 1997; p. 62).

As figuras que seguem são exemplos de fractais. De forma simples, são figuras
geométricas cujos padrões de suas partes menores reproduzem o todo que formam.
Observe atentamente:

Figura 23.

Fonte: <http://blog-superinteressante.blogspot.com.br/2011_06_01_archive.html>.

Figura 24.

Fonte: <http://etevm.g12.br/blogs/matematica/2010/07/13/fractais/>.

47
UNIDADE III │ Gestalt-Terapia e a centralidade da relação figura-fundo

Figura 25.

Fonte: <https://aidobonsai.com/2011/10/18/fractais-e-o-bonsai/>.

Na tentativa de ilustrar uma descrição para Ciclo de Contato, a autora organizou a


seguinte figura, inspirada na ideia sobre fractais e esquema já proposto por Ribeiro
(1997):

Figura 26.

Ação
Projeção
Mobilização Interação
SELF
Introjeção Proflexão
SELF
SELF

Consciência Contato Final


SELF
SELF
Deflexão Retroflexão
SELF
Satisfação
SELF
SELF
Sensação Egotismo
SELF SELF
Dessensibilização
Retirada
Fuidez
Confluência
Fixação
Fonte: Ribeiro, 1997. (Adaptado pela autora).

48
Gestalt-Terapia e a centralidade da relação figura-fundo │ UNIDADE III

Da observação destas figuras, é possível notar que padrões menores repetem a forma
maior de cada uma. Esta é a ideia do Ciclo de Contato, pois embora o processo terapêutico
possa incidir para um destes polos, cada um destes evoca os demais.

Nenhuma pessoa está em um único ponto no Ciclo de Contato. Está em


vários, seja na direção da cura, seja na direção dos bloqueios, mesmo
porque cada ponto do ciclo contém todos os outros. Ela está, no entanto,
habitualmente, mais em um do que em outro, por isso podemos dizer
que alguém mais tipicamente um introjetor, um confluente e assim por
diante. (RIBEIRO, 1997; p. 59)

Tornar distinto para completar o entendimento e integrar as partes é quando se reconhece


bem a imagem que incide sobre um fundo, e ao mesmo tempo se reconhece bem esse
fundo que contém a figura, a forma se completa. Da mesma forma, é quando o indivíduo
se torna consciente de suas necessidades, e do conjunto de sensações envolvidas, mas
também do contexto no qual elas interagem, a possibilidade de entendimento se amplia,
e um processo de ajustamento criativo se dá de forma mais consciente.

Mais aproximações podem ser realizadas sobre a ideia de polaridade presente no


conceito de Ciclo de Contato, no qual polos de cura e de bloqueio integram uma relação
de complementaridade ou oposição. A partir disto, podemos indicar elementos a partir
da música Sereníssima (Composição: DADO VILA-LOBOS e RENATO RUSSO).

Mais do que a identificação da polaridade de ideias, em uma relação de oposição e


complementaridade, a música Sereníssima nos mostra também elementos que
remetem ao nosso autoconhecimento e o quanto podemos negar nossos sentimentos
em detrimento da razão. A imposição de regras no trabalho, e a execução destas, mesmo
que não concordemos; as imposições de comportamento para homens e mulheres,
que tantas vezes discriminam e marcam com o estigma de gêneros normatizados; a
exigência de que crianças devem ser um projeto de adulto ideal, e a redução do papel
da escola à execução deste projeto; o convívio entre familiares a partir de regras e a
discriminação pelo desvio de formas distintas de constituir família, entre outros. São
movimentos comuns, verificáveis no cotidiano, motivos pelos quais muitas vezes as
sensações do nosso corpo ficam deixadas de lado, para dar espaço à racionalidade, e
prosseguir com normas estabelecidas. Como já diz a letra Não estou mais interessado
no que sinto/ Não acredito em nada além do que duvido.

Se, para a Gestalt-Terapia, “buracos na personalidade” advém da supressão do “fazer


por si próprio”, temos na música um prenúncio sobre as consequências de imposições,
Tente me obrigar a fazer o que não quero / E cê vai logo ver o que acontece. Sendo o
tempo para que essas consequências sejam notadas, comportamentos são castigados,

49
UNIDADE III │ Gestalt-Terapia e a centralidade da relação figura-fundo

e introjeções com efeitos negativos podem ser assumidas. Quanto mais o tempo passa,
fica difícil reconhecer os desencadeadores de quadros de adoecimento emocional, e
embora na abordagem em questão haja centralidade do aqui e agora, o passado não
é de todo ignorado, mas é considerado a partir da emergência de fatos importantes,
narrados pelo cliente, ao longo do processo de escuta clínica.

Admitindo o ciclo de contato, no qual confluência e retirada, por exemplo, consistem


na oposição entre indiferenciação e diferenciação de um indivíduo sobre os outros,
encontramos na confluência a dificuldade do eu em separar-se do meio que assume
a qualidade deliberativa de suas ações, formando assim um bloqueio de contato; e na
retirada, a valorização do eu, reconhecidas suas responsabilidades por si próprio, e o
posicionamento crítico em relação ao nós, portanto fator de cura. Assim, um jogo de
ideias em volta de uma trama que envolve o desejo, razão, sentimentos é ligado aos
posicionamentos perante as situações narradas ao longo da melodia.

E por que não, um processo terapêutico? A partir do reconhecimento de contradições,


angústias, dificuldades, na busca por processo de autorregulação com o meio, do poder
criativo que é fundamental. Consegui meu equilíbrio/Cortejando a insanidade e,
logo em seguida, Tudo está perdido, mas existem possibilidades. Dentre as inúmeras
contradições presentes em relações sociais, buscar por uma escuta especializada se
apresenta como uma alternativa, um mecanismo de autorregulação no qual o indivíduo
pode buscar possibilidades de vida, Enquanto o caos segue em frente/Com toda a
calma do mundo. Assumem papéis fundamentais, o self e o autossuporte.

O self – lugar-processo- está no centro e é a propriedade por meio da qual os


comportamentos se revelam. Como afirmam Perls et al:

Chamemos de ‘self’ o sistema de contatos em qualquer momento. Como


tal, o self é flexivelmente variado, porque varia com as necessidades
orgânicas dominantes e os estímulos ambientais prementes; é o sistema
de respostas; diminui durante o sono, quando há menos necessidade de
reagir. Os self é a fronteira de contato em funcionamento; sua atividade
é formar figuras-fundos [...] O self é precisamente integrador [...]
desempenha o papel crucial de achar e fazer os significados por meio
dos quais crescemos” (PERLS, HAFFERLINE, GOODMAN, 1997; p.49)

Neste caso, o autossuporte consiste na redução crescente das dependências em um


processo de autonomia, no qual os valores circundantes integram, mas são selecionados
e interpretados por via de um movimento de responsabilidade do indivíduo sobre suas
escolhas e atos.

50
Gestalt-Terapia e a centralidade da relação figura-fundo │ UNIDADE III

Cumprir este ciclo implica conflito e sofrimento. Embora possa ter, em outras
perspectivas, um entendimento negativo porque despende energia, relacionados à
destruição, e passível de eliminação por serem arcaicos e equivocados (PERLS et al,
1997; p. 163), outros entendimentos são possíveis.

Manifestação e funcionalidade do sofrimento


numa abordagem gestáltica

O meio social cria regras, influencia comportamentos, crenças, entre outros. A forma
de nos relacionarmos com o mundo pauta-se pela ordem, ou seja, uma dinâmica
estável de relações que permita um convívio no qual antagonismos são censurados. As
contradições são muitas, como a paz que “exige” guerra, o bem-estar “comum” para
uma minoria da população, a existência da fome enquanto a quantidade de alimentos é
suficiente para a alimentação de todos os habitantes do planeta.

Muitas influências estão direcionadas também às contradições presentes no nosso


entendimento sobre conflito. Geralmente, associamos conflitos à negatividade, a
algo que deve ser eliminado o quanto antes. No entanto, de que forma um conflito
pode chegar a um fim, por meio da imposição do certo e do errado? Eliminamos, na
verdade, toda a experiência com o ambiente, a constituição do self, mecanismos que
integram a awareness. Um estado de pacificação ilusória é criado, por meio da recusa
de consciência.

Em uma abordagem gestáltica, a relação entre conflito e sofrimento consiste na


possibilidade deste último em aproximar entendimentos sobre as dificuldades que os
tem gerado. Segundo Perls et al:

[...] não se deve enfrenta-lo necessariamente enfraquecendo o conflito,


mas fortalecendo o self e a awareness de si próprio. Quando percebemos
que se trata do nosso próprio conflito, e que somos nós que estamos nos
arrasando, há um novo fator dinâmico na situação, a saber, nós mesmos.
Então, à medida que prestamos atenção ao conflito e este se intensifica,
alcançamos mais depressa a atitude de imparcialidade criativa e nos
identificamos com a solução que surge. (PERLS, HAFFERLINE,
GOODMAN, 1997; p.167)

Quando são identificados erros semânticos, embasados em crenças destrutivas, e crises


são alcançadas, inicia-se um processo de destruição do que é nocivo, e amplia-se um
espaço criativo. É o processo de colaboração criativa (PERLS, HAFFERLINE, GOODMAN,
1997; p.164), o qual orienta o trabalho do terapeuta nesta abordagem, que será melhor
debatido ao longo do próximo capítulo.

51
UNIDADE III │ Gestalt-Terapia e a centralidade da relação figura-fundo

Sereníssima

(Composição: Dado Vila-Lobos e Renato Russo

Interpretado por: Renato Russo)

Sou um animal sentimental

Me apego facilmente ao que desperta o meu desejo

Tente me obrigar a fazer o que não quero

E cê vai logo ver o que acontece

Acho que entendo o que você quis me dizer

Mas existem outras coisas

Consegui meu equilíbrio cortejando a insanidade

Tudo está perdido, mas existem possibilidades

Tínhamos a ideia, mas você mudou os planos

Tínhamos um plano, você mudou de ideia

Já passou, já passou - quem sabe outro dia

Antes eu sonhava, agora já não durmo

Quando foi que competimos pela primeira vez?

O que ninguém percebe é o que todo mundo sabe

Não entendo terrorismo, falávamos de amizade

Não estou mais interessado no que sinto

Não acredito em nada além do que duvido

Você espera respostas que eu não tenho mas

Não vou brigar por causa disso

Até penso duas vezes se você quiser ficar

Minha laranjeira verde, por que está tão prateada?

52
Gestalt-Terapia e a centralidade da relação figura-fundo │ UNIDADE III

Foi da lua dessa noite, do sereno da madrugada

Tenho um sorriso bobo, parecido com soluço

Enquanto o caos segue em frente

Com toda a calma do mundo

Fonte: <https://www.letras.mus.br/legiao-urbana/46978/>.

A ideia de ciclo de contato nos fornece orientações para o entendimento do


estado emocional e condições de conflito, em geral apresentadas em demandas
no ambiente clínico. Juliano (1997) apresenta trechos de um caso clínico com
indícios sobre a pessoa atendida.

Joana, 25 anos de idade, já estava em terapia há algum tempo. Até aquele


momento, tinha sido bastante evasiva. Quanto mais eu tentava ter uma imagem
clara sobre ela, ou quanto mais eu tentava dar foco a suas estórias, mais ela
adotava atitude blasé sobre si mesma e tudo mais. Ela não tinha nada a dizer
sobre si mesma.

(...) Sempre que ela se energitizava em relação a alguma questão, rapidamente


retornava ao ponto de partida... a única coisa que conseguia afirmar claramente
era a sensação de não fazer parte da sua família, e se sentida muito infeliz com
isso. Mesmo esta queixa era feita numa atitude bastante distante, como se não
se tratasse dela.

(...) Abrindo a porta para ela algumas sessões depois...

Começou com um comentário meu, indicando que tinha notado que ela estava
usando batom. Ela respondeu que sabia que eu iria notar. E que daquela vez não
se sentia envergonhada de estar diferente.

(...) Ela falou novamente sobre sua irmã incomparavelmente bonita. Ela então
contava inúmeras estórias sobre essa irmã, sobre quão popular ela era, todos os
namorados que tinha, cada um deles a própria imagem de Príncipe Encantado!
Ela se considerava simplesmente “a outra”, rejeitando todas as tentativas de sua
irmã para “instruí-la” na arte de ser feminina...

Descreveu, então, o ódio que sentia quando ambas eram crianças e sua vó fazia
vestidos com o mesmo estilo para as duas. [...]

53
UNIDADE III │ Gestalt-Terapia e a centralidade da relação figura-fundo

Ela então me contou sobre sua adolescência, de como tudo tinha sido difícil, e a
solução que tinha encontrado para sua vida: ela viajaria para longe sempre que
tivesse oportunidade e sempre sozinha. Ela gostava de se sentir anônima, sem
ter ninguém com quem pudesse ser comparada. Ela poderia ser como realmente
era, passando seu tempo em pequenas vilas, relacionando-se com famílias que
tiravam seu sustento da pescaria. Essas pessoas realmente apreciavam a sua
presença e se constituíam num novo espelho para ela.

(...) Aquele era o primeiro lugar em sua vida em que se sentia bonita, com seus
cabelos compridos e encaracolados e seus vestido simples. E também era a
primeira vez em que se sentia adequada e apreciada.

(...) A possibilidade de ser capaz de ter uma outra imagem sobre si mesma fez
toda a diferença.

(...) Ela então começou a suspeitar que havia algo estranho no modo como seus
pais viviam e tinham criado seus filhos...

Fonte: Juliano, 1997; pp. 10-12.

Considerando este e outros casos que sejam de conhecimento, ou de maior


proximidade, reflita sobre situações que indiquem introjeção e polos que
sobressaem no ciclo, destacando fatores de bloqueio e de cura relacionados ao
caso

Figura 27. Cisne Negro.

Fonte: <http://cinema10.com.br/filme/black-swan>.

O processo de sofrimento tem, em seus indícios, a relação do indivíduo com o


meio, e quais recursos ele dispõe para lidar com adversidades, estando entre

54
Gestalt-Terapia e a centralidade da relação figura-fundo │ UNIDADE III

essas relações excessivamente competitivas. Que tal algumas reflexões sobre


isto? Como sugestão, o filme Cisne Negro (Black Swam – Fox, 2011).

“Beth MacIntyre (Winona Ryder), a primeira bailarina de uma companhia,


está prestes a se aposentar. O posto fica com Nina (NATALIE PORTMAN), mas
ela possui sérios problemas pessoais, especialmente com sua mãe (Barbara
Hershey). Pressionada por Thomas Leroy (VINCENT CASSEL), um exigente diretor
artístico, ela passa a enxergar uma concorrência desleal vindo de suas colegas,
em especial Lilly (MILA KUNIS). Em meio a tudo isso, busca a perfeição nos
ensaios para o maior desafio de sua carreira: interpretar a Rainha Cisne em uma
adaptação de ‘O Lago dos Cisnes’”

Fonte: <http://www.adorocinema.com/filmes/filme-125828/>.

55
Trazendo questões à
superfície e buscando Unidade iV
a criatividade

Trabalha-se com o intuito de que as dificuldades do cliente emerjam, ou, em seus


termos, “venham à superfície”, considerando a fronteira de contato existente entre
o primeiro e o terapeuta, local onde se dá a experiência observável, e mudança. No
caso da experiência aqui mencionada, vale destacar que consiste na fronteira entre
organismo e ambiente; o contato é o lugar onde o self e o ambiente organizam seu
encontro, se envolvendo mutuamente; sendo a fronteira a margem flutuante onde o ego
e outros se encontram e algo acontece. Como o passado não é o foco de atenção, mas o
presente ou, em especificamente, o “aqui e agora”, este consiste na fronteira de contato
de mudança entre o terapeuta e o cliente. Distúrbios no contato impedem o
crescimento que poderia se dá iminentemente.

Capítulo 1
Construindo possibilidades de
intervenções terapêuticas

Figura 28.

Fonte: <http://www.colhendosorrisos.com/gestalt>.

A consciência será facilitada no exercício de relação com o terapeuta. Como o terapeuta


pode auxiliar para que o paciente ganhe cada vez mais consciência?

56
Trazendo questões à superfície e buscando a criatividade │ UNIDADE IV

Ele vai estabelecer uma relação dialógica, fenomenológica. O que significa? Entrar no
mundo do paciente, e em certa medida, deixar que o paciente entre em seu mundo. Isso
permitirá o acesso ao sofrimento, aos sintomas que são vias de acesso às experiências,
às construções do self. Lembrando que é o self o responsável por integrar a figura-fundo,
e, por vezes, haverão mecanismos que dificultam a formação da figura e sua separação
do fundo, ou seja, que não permitem ao paciente a consciência do contexto no qual
emerge sua necessidade presente. Isto tem a ver com o crescimento/desenvolvimento
do self.

Quantas vezes você já se emocionou, ou passou um tempo a pensar, ao ouvir uma


música? Esta pode ser uma forma de entrar em contato consigo, e/ou com os outros.
Seja a melodia, a letra, pequenos trechos, a música é uma expressão artística que pode
nos levar a reflexões, e sentimentos talvez difíceis de nomear. Esta expressão traduz
formas de pensar, ideias que a princípio não estão muito organizadas, emoções que
veem à tona. E, porque não, awareness. Duas importantes artistas brasileiras, Elis
Regina e Adriana Calcanhoto, interpretaram canções que marcaram o cenário da
música nacional. Seguem duas músicas interpretadas por ambas, e que até hoje são
reinterpretadas por outros cantores brasileiros. São elas: Como nossos Pais (composição
por Belchior, 1975), e Esquadros (por Adriana Calcanhoto, 1992). A primeira remete
a experiências que envolvem um sentimento de comunalidade entre gerações (Ainda
somos os mesmos/ E vivemos / Como os nossos pais), da importância sobre as relações
que se concretizam na vida e sobre a dimensão da vida que não se resume em palavras
(Viver é melhor que sonhar). Já a segunda, apresenta um enredo sobre formas de ver
o mundo, a contradição entre resistências e movimentos empáticos (Eu presto muita
atenção / No que meu irmão ouve / E como uma segunda pele / Um calo, uma casca /
Uma cápsula protetora), a influência do meio sobre nossa forma de perceber a realidade
( Pela janela do quarto / Pela janela do carro / Pela tela, pela janela / Quem é ela? Quem
é ela? / Eu vejo tudo enquadrado / Remoto controle).

Como nossos pais

(Composição: Belchior

Interpretação: Elis Regina)

Não quero lhe falar

Meu grande amor

Das coisas que aprendi

Nos discos

57
UNIDADE IV │ Trazendo questões à superfície e buscando a criatividade

Quero lhe contar como eu vivi

E tudo o que aconteceu comigo

Viver é melhor que sonhar

Eu sei que o amor

É uma coisa boa

Mas também sei

Que qualquer canto

É menor do que a vida

De qualquer pessoa

Por isso cuidado, meu bem

Há perigo na esquina

Eles venceram e o sinal

Está fechado pra nós

Que somos jovens

Para abraçar seu irmão

E beijar sua menina na rua

É que se fez o seu braço

O seu lábio e a sua voz

Você me pergunta

Pela minha paixão

Digo que estou encantada

Como uma nova invenção

Eu vou ficar nesta cidade

Não vou voltar pro sertão

Pois vejo vir vindo no vento

Cheiro de nova estação

Eu sinto tudo na ferida viva

58
Trazendo questões à superfície e buscando a criatividade │ UNIDADE IV

Do meu coração

Já faz tempo

Eu vi você na rua

Cabelo ao vento

Gente jovem reunida

Na parede da memória

Essa lembrança

É o quadro que dói mais

Minha dor é perceber

Que apesar de termos

Feito tudo o que fizemos

Ainda somos os mesmos

E vivemos

Ainda somos os mesmos

E vivemos

Como os nossos pais

Nossos ídolos

Ainda são os mesmos

E as aparências

Não enganam não

Você diz que depois deles

Não apareceu mais ninguém

Você pode até dizer

Que eu tô por fora

Ou então

Que eu tô inventando

Mas é você

59
UNIDADE IV │ Trazendo questões à superfície e buscando a criatividade

Que ama o passado

E que não vê

É você

Que ama o passado

E que não vê

Que o novo sempre vem

Hoje eu sei

Que quem me deu a ideia

De uma nova consciência

E juventude

Tá em casa

Guardado por Deus

Contando o vil metal

Minha dor é perceber

Que apesar de termos

Feito tudo, tudo

Tudo o que fizemos

Nós ainda somos

Os mesmos e vivemos

Ainda somos

Os mesmos e vivemos

Ainda somos

Os mesmos e vivemos

Como os nossos pais


Fonte: <https://www.letras.mus.br/elis-regina/45670/>.

60
Trazendo questões à superfície e buscando a criatividade │ UNIDADE IV

Esquadros

(Composição e Interpretação: Adriana Calcanhotto)

Eu ando pelo mundo

Prestando atenção em cores

Que eu não sei o nome

Cores de Almodóvar

Cores de Frida Kahlo

Cores!

Passeio pelo escuro

Eu presto muita atenção

No que meu irmão ouve

E como uma segunda pele

Um calo, uma casca

Uma cápsula protetora

Ai, Eu quero chegar antes

Pra sinalizar

O estar de cada coisa

Filtrar seus graus

Eu ando pelo mundo

Divertindo gente

Chorando ao telefone

E vendo doer a fome

Nos meninos que têm fome

Pela janela do quarto

Pela janela do carro

Pela tela, pela janela

Quem é ela? Quem é ela?

61
UNIDADE IV │ Trazendo questões à superfície e buscando a criatividade

Eu vejo tudo enquadrado

Remoto controle

Eu ando pelo mundo

E os automóveis correm

Para quê?

As crianças correm

Para onde?

Transito entre dois lados

De um lado

Eu gosto de opostos

Exponho o meu modo

Me mostro

Eu canto para quem?

Pela janela do quarto

Pela janela do carro

Pela tela, pela janela

Quem é ela? Quem é ela?

Eu vejo tudo enquadrado

Remoto controle

Eu ando pelo mundo

E meus amigos, cadê?

Minha alegria, meu cansaço

Meu amor, cadê você?

Eu acordei

Não tem ninguém ao lado

Pela janela do quarto

Pela janela do carro

62
Trazendo questões à superfície e buscando a criatividade │ UNIDADE IV

Pela tela, pela janela

Quem é ela? Quem é ela?

Eu vejo tudo enquadrado

Remoto controle

Eu ando pelo mundo

E meus amigos, cadê?

Minha alegria, meu cansaço

Meu amor cadê você?

Eu acordei

Não tem ninguém ao lado

Pela janela do quarto

Pela janela do carro

Pela tela, pela janela

Quem é ela? Quem é ela?

Eu vejo tudo enquadrado

Remoto controle
Fonte: <https://www.letras.mus.br/adriana-calcanhotto/43856/>.

Você concorda? Lembra de outras músicas que proporcionaram reflexões? Reflita sobre
as sensações que provocam. Uma das marcas das relações sociais são as introjeções,
ou seja, a adoção de uma atitude e/ou de um comportamento, e que nem sempre
são saudáveis, pois podem dificultar o desenvolvimento do self. Quais podem ser as
consequências negativas de introjeções para o desenvolvimento do self? Elas podem
interferir na formação de personalidade, tornando o indivíduo dependente de modelos
de relações destrutivas, já que bloqueiam o devir inerente ao processo criativo, que
ampliaria as possibilidades de relações e, assim, a autorregulação ou auto-ajustamento
frente às situações adversas no ambiente.

Oliveira, Lopes, Damasceno e Silva (2012) defendem a musicoterapia como


procedimento importante no tratamento de doenças, para idosos, e que merecem
atenção dos profissionais da saúde, dados os benefícios reconhecidos na área médica,
possuindo como um de seus marcos históricos o Renascentismo (XIV-XVII).

63
UNIDADE IV │ Trazendo questões à superfície e buscando a criatividade

Além disso, é possível reunir práticas que se caracterizam sobre os modos de intervenção
propostos, a depender do público para o qual está direcionado. Com base nisso, Frazão
e Fukumissu (2016) reuniram estudos baseados nos modos e públicos diferenciados,
apresentando categorias distintas, as quais podem ser orientadas por princípios
originais e complementares à Gestalt-terapia. O quadro abaixo lista de forma resumida
estas práticas, cujos estudos relacionados estão disponíveis no livro.

Modos de intervenção em função do Principais temas e modos como são trabalhados


enfoque e público
Psicoterapia dialógica Importância da relação, não se restringe à fala
Corporeidade Corpo para além de aspectos biológicos
Psicoterapia com crianças Expressão de afetos, temores, conflitos e interesses, por meio de brincadeiras infantis
Psicoterapia com adolescentes Atenção para indagações mais profundas e abstratas
Psicoterapia com idosos Busca por vida mais prazerosa na velhice
Terapia de casal e de família Emergência de conflitos familiares
Grupos Trabalho nos níveis: intrapsíquico, inter-relacional e sistêmico
Saúde pública Importância de uma formação interdisciplinar
Fonte: Frazão et al (2016)

Além destas, outra prática consolidada se refere ao aconselhamento psicológico,


sintetizado na ideia de Trindade e Teixeira (2000):

Em geral, o aconselhamento psicológico (counselling) é uma relação


de ajuda que visa facilitar uma adaptação mais satisfatória do sujeito
à situação em que se encontra e otimizar os seus recursos pessoais em
termos de autoconhecimento, autoajuda e autonomia. A finalidade
principal é promover o bem-estar psicológico e a autonomia pessoal no
confronto com as dificuldades e problemas. (TRINDADE; TEIXEIRA,
2000; p. 3)

Vivemos em uma sociedade que, em geral, reconhece e atribui sentidos e significados aos
modos como as pessoas se comportam e reagem a situações adversas, os modos de ser e
estar no mundo. Além do aconselhamento psicológico, que se dá em diversos contextos,
o plantão psicológico e a clínica ampliada são procedimentos que se materializam na
atenção básica de saúde (AMORIM, ANDRADE; BRANCO, 2015).

Admitindo uma perspectiva científica, também o psicodiagnóstico exerce a função de


reconhecimento de sintomas e atribuição de características em comum a uma etiologia
sobre psicopatologias. No entanto, esta abordagem acrescentará entendimentos sobre
este instrumento clínico, como será debatido a seguir.

64
Trazendo questões à superfície e buscando a criatividade │ UNIDADE IV

Duas opções de leitura são recursos interessantes para este nível do curso, para
um maior aprofundamento nas referências realizadas anteriormente. A primeira
“Modalidades e Intervenções clínicas em Gestalt-terapia” (Frazão et al, 2016):

Figura 29.

Fonte: <http://www.ciadoslivros.com.br/modalidades-de-intervencao-clinica-em-gestalt-terapia-vol-4-colecao-gestalt-terapia-
718985-p578378>.

O livro “Modalidades de intervenção clínica em gestalt-terapia” é o quarto volume


da Coleção gestalt-terapia: fundamentos e práticas, de Lilian Meyer Frazão, pela
Editora Summus, Grupo Summus. Em “Modalidades de intervenção clínica em
gestalt-terapia” você terá o foco sobre a prática clínica e suas especificidades
aplicadas a diferentes grupos, bem como à saúde pública. A obra aborda temas
como psicoterapia dialógica; o trabalho psicoterapêutico com crianças, entre
outros.
Fonte: <http://www.ciadoslivros.com.br/modalidades-de-intervencao-clinica-em-gestalt-terapia-
vol-4-colecao-gestalt-terapia-718985-p578378>.

A segunda sugestão trata do artigo “Plantão psicológico como estratégia de clínica


ampliada na atenção básica em saúde” (AMORIM, ANDRADE e BRANCO, 2015).

Psicodiagnóstico

Figura 30.

Fonte: <http://nomasvg.com/opinion/el-menor-y-la-custodia-compartida/>.

65
UNIDADE IV │ Trazendo questões à superfície e buscando a criatividade

Figura 31.

Fonte: <https://umbelarte.blogspot.com.br/2011/07/imagens-ambiguas.html>.

Desde os primeiros anos de vida e com o desencadear do desenvolvimento, as


experiências vivenciadas por crianças são dotadas de representações, sobre as quais
terão efeitos benéficos ou com prejuízos no estabelecimento de relações. Estas vivências
demarcarão valores que orientarão grande parte das ações, modos de ser no mundo e
de agir sobre ele. A criança pode, sim, sofrer por conflitos originados de introjeções. Se
trabalhados, existem grandes chances dos anos seguintes da sua vida se tornarem mais
benéficos, embora isso não signifique ausência de sofrimento, mas uma permissão para
que a consciência de si e dos outros aguce a inventividade perante situações adversas.
A vida segue, e nenhuma energia passa ilesa, tanto para o mal quanto para o bem. Os
impasses também ocorrem em decorrência aos contatos conseguintes, e caso as energias
concentradas demasiadamente em um dos polos do ciclo continuem deixadas de lado,
temos um efeito dominó. Quanto mais o tempo passa e deixamos de lado questões a
resolver, mais nosso poder criativo é bloqueado, e os ciclos de nossa vida ficam à mercê
da estagnação. Menos conscientes de nós mesmos e das nossas relações, deixamos de
desfrutá-las e encontrar realização no que fazemos.

Assim mesmo, em qualquer período de vida que estejamos, é possível recorrer a meios
que nos auxiliem a um reencontro consigo, ampliando nosso entendimento sobre as
coisas e, assim, nosso potencial criativo, e isso pode se dar por intermédios diversos,
podendo ser auxiliado por profissionais. A psicopatologia é entendida, aqui, como
um adoecimento proveniente dos modos de relação com o mundo, e tem no Ciclo de
Contato uma possibilidade norteadora, que não impedirá a própria inventividade do
terapeuta. O psicólogo, e em especial aquele com formação em Gestalt-Terapia, pode se
valer de procedimentos como o psicodiagnóstico.

Geralmente é atribuída ao psicodiagnóstico a ideia de que ele despersonaliza, ou seja,


destitui a subjetividade ao aglutinar uma descrição limitada, que impede o ir além sobre
a compreensão de diferenças, contribuindo por uma patologização da diversidade.
Frazão (1996) afirma que:

66
Trazendo questões à superfície e buscando a criatividade │ UNIDADE IV

[...] penso ser possível depreender que o diagnóstico visto desta forma
não é, a meu ver, nem despersonalizante nem um rótulo limitante e
sim um instrumento a serviço da compreensão de cada cliente em sua
singularidade existencial. (FRAZÃO, 1996)

Então, consideram-se suas contribuições a partir do entendimento do que os indivíduos


podem ter em comum, ou idiossincrático (não do que despersonaliza), ao mesmo tempo
em que é entendido como um instrumento inserido em um processo.

Outra contribuição consiste em tornar uma via de comunicação sistemática, que


garante uma forma de mapeamento, por registro, dos indícios que emergem na relação
com o terapeuta, e fornece meios de entendimento entre saberes no campo científico.
Admitindo o desenrolar da psicoterapia, oferece-se um quadro inicial de ideias, mas que
deve ser continuamente refletido. Em função da Gestalt-Terapia, todos esses elementos
(os impactos, as omissões, as associações, as repetições, os sintomas) são sinalizações
que indicam possíveis relações da figura com o fundo (FRAZÃO, 1996).

A importância de aliar a psicoterapia ao


psicodiagnóstico no processo de envelhecimento,
e o papel da abordagem gestáltica

O Centro para Doença de Alzheimer e outros Transtornos Mentais – RJ é apresentado


por Dourado, Sousa e Santos (2012), que relatam sobre o desenvolvimento da formação
de psicoterapeutas pelo Centro e entidades parceiras, oferecendo supervisões de
estágio consideradas fundamentais no processo formativo. Representa uma conquista
lenta, porém necessária da psicoterapia como parte do tratamento das demências.
Considera dois grupos sobre o entendimento da psicoterapia para os portadores de
síndrome demencial: sentido para a experiência, para todos os pacientes; para aqueles
que apresentam questões sobre a doença. Para o primeiro, oferece apoio que pode ser
em grupos; para o segundo, dispõe de trabalho individualizado, em várias abordagens:
Gestalt-terapia, Terapia Cognitivo-Comportamental, Psicanálise etc. Enfatiza a
importância da formação pessoal do terapeuta que é incentivado a trabalhar as questões
despertadas pelas demandas trazidas pelos idosos. Esta experiência suscita questões
sobre o entendimento que direcionamos ao processo de envelhecer, geralmente atrelado
ao convívio com doenças ou síndromes. A velhice se resume a isso?

O processo de envelhecimento pode ser entendido a partir de diversos ângulos. No


meio científico, é definido um período chamado terceira idade, a partir dos 60 anos.
Recentemente, no Brasil, foi instituído o Estatuto do Idoso, que oferece diretrizes sobre
prevenção e cuidado às peculiaridades frente à população idosa do país, reconhecendo,

67
UNIDADE IV │ Trazendo questões à superfície e buscando a criatividade

entre outros, a dificuldade entre aqueles com baixo poder aquisitivo, a realidade de
negligência sofrida, e o reconhecimento de direitos específicos.

O fato é a importância de um entendimento deste período como circunscrito em um


contexto histórico e cultural (SILVEIRA, 2008). São vários os sentidos atribuídos
culturalmente a esta fase da vida, ora associada ao desgaste de funções fisiológicas,
mas também à maturidade no sentido de sabedoria e experiência de vida. No entanto,
podem ser identificadas questões que afetam a saúde e bem-estar dessas pessoas que
têm de lidar com mudanças biológicas e sociais.

Em contexto clínico, a psicoterapia pode integrar meios de prevenção e reabilitação de


idosos, que se encontrem acometidos por síndromes, apresentando questões emocionais
sobre doenças. Isso não quer dizer que a psicoterapia ofereça contribuições apenas
nestes casos, mas para qualquer que seja a demanda, baseada em uma solicitação do
cliente. Geralmente, entende-se o processo psicoterapêutico com idosos decorrentes
da necessidade de ressignificações sobre perdas, referentes às mudanças em relação
à juventude, produtividade, saúde e expectativa de vida. A avaliação do processo
psicoterápico e o consequente efeito das intervenções psicológicas permanecem sendo
um importante desafio para pesquisadores e clínicos (DOURADO, SOUSA; SANTOS,
2012; p. 100).

A partir desta consideração, é possível refletir sobre o papel da psicologia no processo


de envelhecimento e, neste sentido, Freire, Sommerhalder e Silveira (2003) sugerem
o papel na crítica social, como também na prevenção de fatores negativos para o
bem-estar desta população. A psicoterapia pode ser um instrumento de práticas
preventivas secundárias e terciárias, quando a psicologia pode contribuir por meio do
diagnóstico e tratamento, a fim de enfraquecer consequências negativas que possam
estar implicadas nesta fase da vida.

Para Campos e Costa (2010), a abordagem gestáltica reconhece o envelhecimento


como período marcante de mudanças no que se refere à autonomia, e ao convívio com
situações críticas.

Os ajustamentos criativos terão que ser realizados no envelhecimento


de forma gradual para os indivíduos poderem ressignificar suas
experiências; aceitar e conviver com limitações e transformações,
frustrações, perdas, preconceitos, gestalten abertas, pensamentos de
inutilidade, abandono e solidão. (CAMPOS; COSTA, 2010; p. 11)

Desta forma, os princípios que orientam o terapeuta de abordagem gestáltica


consideram situações inacabadas e perdas de fundamental entendimento, permitindo

68
Trazendo questões à superfície e buscando a criatividade │ UNIDADE IV

ao indivíduo uma organização temporal sobre as relações com aqueles que estejam
nos círculos de convivência familiar, entre outros. Pode-se refletir que a comunicação
entre o ser e o outro é construída como uma arte, uma vez que se consegue estabelecer
a criação. (BENTES; PIMENTEL, 2016; p. 133). Em outras palavras, é buscado o
favorecimento de ajustes criativos na medida em que horizontes de possibilidades, até
então desapercebidos ou inexistentes, podem ser criados.

Ao refletir sobre o período em seus aspectos existenciais, Silveira (2008) propõe que:

O contato efetivo com o que são, conduz a mudança de valores


introjetados e de significados. É comum acontecer dessas pessoas
precisarem fazer toda uma revisão de vida constatando o que já
realizaram e o quanto estão realizando dos seus sonhos e planos. Desta
forma, abrem-se para cuidarem mais de si e dos outros. A maturidade
é mais positivada quando consegue ser vista como parte da existência
e não como algo que não deve ser mostrado. (SILVEIRA, 2008; p.134).

Tudo isso, necessitando de transformações na compreensão sobre maturidade, e o


reconhecimento da história das pessoas que alcançam este período vital.

LEI No 10.741, DE 1o DE OUTUBRO DE 2003. Dispõe sobre o Estatuto do Idoso


e dá outras providências. Acessado em: janeiro de 2017. Disponível em: <http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2003/L10.741.htm>.

CASARES, Adolfo Bioy. Diário da guerra do porco. Cosac Naify: 2010.

Figura 32. Instituto de Psiquiatria da UFRJ.

Fonte: <https://www.facebook.com/photo.php?fbid=521841414555358&set=a.280835035322665.67090.100001885131846&
type=3&theater>.

69
UNIDADE IV │ Trazendo questões à superfície e buscando a criatividade

O Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro foi fundado


em 1938 e atualmente conta com diversos níveis de atendimentos e serviços
prestados à sociedade. Dentre eles, Internação, Ambulatório, Hospital-Dia,
dentre outros, o Centro de Doenças de Alzheimer e outras desordens mentais
na Velhice. Para saber mais, o Instituto conta com uma página online na qual
podem ser encontradas informações variadas, desde sua história, quadro de
atendimento e funcionamento.

O Centro de Doenças de Alzheimer e outras Desordens Mentais na Velhice


é um setor com atendimento multidisciplinar voltado para idosos acima
de 60 anos de idade com qualquer tipo de problema na esfera psicológica,
psiquiátrica e neuropsiquiátrica- demências, depressão, ansiedade e psicoses
com aparecimento posterior a esta idade.

A equipe é composta por médicos psiquiatras, psicólogos, enfermeira, assistentes


sociais, fisioterapeuta, terapeuta ocupacional, musicoterapeuta, nutricionista e
secretários. Fonte: <http://www.ipub.ufrj.br/portal/assistencia/idosos>.

Fritz que participava do grupo dos 7 (formado por psicanalistas, nos EUA)
contestavam o stabilishment, a hegemonia, e a Psicanálise sofria críticas em
seu entendimento causal sobre as coisas, inclusive às suas bases, como o
entendimento sobre agressão enquanto pulsão de morte, no sentido destrutivo.
Surgiu uma nova perspectiva, de considerações sobre consciência, agressividade,
experiência etc., com influência tanto da própria Psicanálise e teorias
advindas desta, quanto da Psicologia da Gestalt, da filosofia (especificamente,
fenomenologia), da perspectiva sistêmica, entre outras. Neste caso, que tal
pensar um pouco sobre contribuições e/ou distanciamentos à Gestalt-Terapia,
sobre a compreensão de saúde e doença em um enfoque cultural? Referências
para leitura complementar:

LANGDON, Esther Jean. Antropologia, saúde e doença: uma introdução ao


conceito de cultura aplicado às ciências da saúde. Revista Latino-Americana de
Enfermagem. 18, 8, 173-181. Disponível em: <http://www.revistas.usp.br/rlae/
article/view/4176>. Acessado em: 20 de dezembro de 2016

LAPLANTINE, Françoise. Antropologia da doença. São Paulo: Martins Fontes,


1991.

70
Trazendo questões à superfície e buscando a criatividade │ UNIDADE IV

Figura 33.

Fonte: <http://donasdecasaanonimas.com/as-re-contratacoes-do-casamento/>.

Kay (Meryl Streep) e Arnold Soames (Tommy Lee Jones) estão casados há 30
anos. O relacionamento entre eles caiu na rotina e há tempos não tem algum
tipo de romantismo. Querendo mudar a situação, Kay agenda para ambos um
fim de semana de aconselhamento com o dr. Feld (Steve Carell), que passa a
lhes dar conselhos sobre como reavivar a chama da paixão. Fonte: <http://www.
adorocinema.com/filmes/filme-185999/>.

Relação terapeuta-cliente

Figura 34.

Fonte: <http://www.guiadejardin.com/p/blog-page.html>.

71
UNIDADE IV │ Trazendo questões à superfície e buscando a criatividade

Para adentrar em um ambiente desconhecido, buscamos caminhos para chegar até


lá. Trilhas em meio a jardins, portas que delimitam o fim de um espaço e início de
outro, sons, imagens e cheiros, entre outros elementos característicos. Janelas que nos
mostram indícios sobre como são as coisas dentro de um destino a chegar.

Um jardim escuro pode nos surpreender com a revelação do ascender de uma luz ao
longe, nos atraindo em direção desta. Ou ainda, o interior de uma casa nos surpreende
em sua beleza que não poderia ser percebida ao seu redor. Também é difícil encontrar
portões que poderiam nos ajudar a ultrapassar extensos e altos muros.

Como um destes ambientes, a imagem de uma casa é utilizada por Almeida


(2010) no intuito de ilustrar representações sobre caminhos de aproximação
entre terapeuta-cliente. Esta relação deve considerar a importância de uma
dialogicidade, ou seja, a partir do encontro entre saberes, crenças e sentimentos,
busca-se um entendimento sobre as coisas; e a apropriação de procedimentos
fenomenológicos, primados pelo olhar daquele que vive a experiência e sobre ela
produz consciência, sentimentos e expressões deste. Tudo isso permite depreender
que ambos se relacionam de modo ativo.

Entrar no mundo do cliente e, em certa medida, deixar que o cliente entre em seu
mundo. Isso permitirá o acesso ao sofrimento, aos sintomas que são vias de entrada
para experiências, as construções do self. A mesma autora compara vias de acesso ao
universo daquele que é atendido a um dos elementos de acesso a uma casa, qual seja a
porta. Desta forma, ordena três portas de acesso:

1. Sintoma – via inicial para o vínculo com o terapeuta.

2. Experiência – além dos fatos em si, a vivência deles.

3. Crenças/significado – tradução da experiência que também depende


do nosso corpo.

As expressões podem ser diversas, e incentivá-las amplia as possibilidades de diálogo.

Referindo-se a isto, Juliano (1997) não apenas se refere a formas de expressão na


clínica, mas faz considerações sobre o processo, a partir de suas próprias experiências,
aliadas à perspectiva teórica.

Apresenta etapas que considera importantes no processo terapêutico: receber o cliente


– criar uma relação baseada no diálogo, ou seja, terapeuta e cliente se expressam, sendo
que a comunicação deve ser realizada de tal modo que não crie mecanismos de defesas;
criar canais de expressão – o terapeuta se vale de instrumentos, como sonhos,

72
Trazendo questões à superfície e buscando a criatividade │ UNIDADE IV

estórias para desencadear a expressão do cliente, com o intuito de debater os temas


principais no aqui e agora e permitir a construção de figura e fundo, para então ver
possibilidades de integrar ambos; elaboração de história de vida – o cliente passa a
se dar conta de suas experiências, reconhecendo a importância que estas desempenham
no entendimento do aqui e agora, e deste modo, podem ser ressignificadas e novas
possibilidades de vida criadas; sagrado como forma de transcender - encarar o
fato de que é possível nos depararmos com perguntas sem respostas.

Além disso, defende a importância do planejamento do percurso a ser trilhado com


o cliente, valorizando as sequências das sessões, mas recorre a gestalts não formadas
quando necessário, a depender do modo como o cliente se encontra no processo. Para
isso, o experimento trata do caminho a ser escolhido, e apresenta ferramentas para este
experimento.

Quadro Resumo sobre as Ferramentas Propostas por Juliano (1997)

Ferramentas “Modos” de utilização


Entender que um polo carrega o outro oposto, e facilitar que o cliente expresse qual a polarização
Polarizando
é predominante.
Aqui, trata-se de apresentar aos clientes polos sobre fatos, experiências, sentimentos etc., antes
Diálogo com o polo oposto
desconhecidos, e que ajudam a entender questões desconhecidas e/ou despercebidas.
Resgatar algum indício que necessite ênfase, colocando-o em evidência para que o cliente possa
Sublinhando o texto
retomá-lo e expressar sentido e significado sobre isto.
Buscar pelo sentido daquilo que ainda não se completou, porém pode ser auxiliado por
Completando frases fechamento de sentenças. Por exemplo, o cliente é solicitado a completar frases inacabadas em
algum momento, repentinamente, sem pensar muito a respeito.
Pode ser realizado quando o cliente não aparenta estar conectado com o agora. Então, é possível
trabalhar algum detalhe expresso por meio da fala, expressão corporal, um relato sobre um
Zoom
acontecimento, sonhos etc, a fim de que possa entrar em contato sobre como se auto-percebe
neste processo.
Propor que o cliente assuma um posicionamento tal que se distancie do apego aos detalhes, os
Maximizando
quais não permitem uma percepção do todo que o envolve.
Ampliar a perspectiva da pessoa para a superação de uma experiência adversa, desviando a
Minimizando
energia destinada a esta, e se aproximando de outros temas importantes.
O terapeuta percebe que um problema trabalhado não se trata das demandas verdadeiras a
Procurando a agenda oculta
serem trazidas. Ao expressar esta impressão, as demandas reais podem ser expressadas.
Expressão do que está Possibilidade do terapeuta externalizar experiências próprias que considere benéficas à terapia,
acontecendo com o terapeuta com base nas reações dos clientes.
em seu contato com o cliente
Valorizar, por meio de uma simbologia, o que está acontecendo no momento. Ritos marcam
Ritual passagens, e o ritual é o momento que pode ser utilizado na terapia para momentos de
mudança, por exemplo.
Distanciamento das polaridades é uma forma de transcender o medo, assumindo
Humor
posicionamentos criativos perante adversidades.
Presença Permissão do curso natural do diálogo, quando o terapeuta deixa a técnica em segundo plano.
Fonte: JULIANO, 1997; pp. 26-28.

Vale ressaltar que é o self o responsável por integrar a figura-fundo, e por vezes haverá
mecanismos que dificultam a forma entre ambos, ou seja, que não permitem ao paciente

73
UNIDADE IV │ Trazendo questões à superfície e buscando a criatividade

a consciência do contexto no qual emerge sua necessidade presente. Isto tem a ver com
o crescimento/desenvolvimento do self. Assim [...] integrar resume bem nosso percurso
reflexivo e, felizmente, o processo terapêutico (ALMEIDA, 2010; p.221)

Portanto, um posicionamento fenomenológico é importante (FONSECA, 1998), criando


um espaço de confiança e autenticidade, na medida em que é permitido um encontro,
ou em termos específicos, o contato com o terapeuta, processo no qual é necessária a
valorização da experiência do cliente em interação com o mundo (consideração positiva
incondicional), sem uma postura utilitária disfarçada, mas um processo de genuinidade,
porque se consegue olhar a partir da perspectiva dele, ou seja, uma compreensão
empática em um movimento dialógico são alcançados. Neste encontro, a awareness
é fortalecida, e a criatividade vem à tona, como recurso inventivo e de ampliação de
possibilidades de vida.

Figura 35.

Fonte: <http://www.fanpop.com/clubs/johnny-depp/images/13996821/title/don-juan-demarco-screencap>.

Assumir uma compreensão empática em psicoterapia requer dispor-se a relação


com o cliente, em um processo de afetação. Olhamos para o outro em compaixão,
ou a partir do olhar deste? O filme Don Juan de Marco (Paris Filmes, 1995) fica
como sugestão para debates acerca desta questão.

“Um homem de 21 anos (Johnny Depp) dizendo ser o famoso amante Don
Juan vai até Nova York para encontrar seu amor perdido, mas, sentindo que não
alcançará seu objetivo, tenta se matar. Porém, um psiquiatra (Marlon Brando)
consegue convencê-lo a mudar de ideia e começa a tratá-lo. Entretanto, o
paciente possui um romantismo irrecuperável e contagioso, que começa a
influenciar o comportamento do médico.”

Fonte: <http://www.adorocinema.com/filmes/filme-12661/>.

74
Trazendo questões à superfície e buscando a criatividade │ UNIDADE IV

Reconhecido quanto à relevância dos trabalhos prestados à sociedade, na


formação de terapeutas, bem como a resistência na busca pela garantia de
direitos, o Instituto Sedes Sapientae foi fundado oficialmente em 1977, e
oferece diversas ações voltadas para a sociedade em geral, em campos como
educação, saúde mental e filosofia. Além de promover formações nos campos
da Psicanálise, entre outros, dispõe de cursos em Gestalt-Terapia.

Figura 36.

Fonte: <http://sedes.org.br/site/instituto-sedes-sapientiae/>.

São mais de 200 professores, 150 terapeutas e 40 funcionários administrativos


que desenvolvem seus trabalhos nos departamentos de Arte Terapia, Psicanálise,
Formação em Psicanálise, Psicanálise da Criança, Psicodrama, Psicopedagogia
e Gestalt Terapia; nos centros de Filosofia (Cefis), Educação Popular (Cepis),
Educação de Adultos (Cida Romano) e Centro de Referência às Vítimas de
Violência (CNRVV); na Clínica, no núcleo de referência em Psicose (NRP); nos 30
cursos de especialização, aperfeiçoamento e mais de 30 de expansão.

Fonte: <http://sedes.org.br/site/instituto-sedes-sapientiae/>.

IGT – Instituto de Gestalt- Terapia e Atendimento Familiar

O IGT- Instituto de Gestalt -Terapia e Atendimento Familiar é um centro de ensino


e pesquisa na área do desenvolvimento humano. Oferece cursos de extensão
e pós-graduação em psicologia clínica, além de atendimento ao público em
geral. Foi o primeiro instituto de Gestalt-terapia a ter um curso de especialização
certificado pelo CFP no Rio de Janeiro e o terceiro no Brasil. Desenvolve também

75
UNIDADE IV │ Trazendo questões à superfície e buscando a criatividade

projetos para a repercussão do tema como a criação da revista virtual “IGT na


Rede” e a elaboração do CDGB (Centro de Documentação da Gestalt-Terapia
Brasileira).

Para que os nossos alunos tenham uma formação completa, o IGT possui a clínica
social para população de baixa renda, oferecendo aos alunos a junção da teoria
e prática nos atendimentos supervisionados, além de eventos e palestras com
profissionais consagrados na área. Fonte: <https://www.igt.psc.br/site/index.
php?option=com_content&task=view&id=377&Itemid=86>.

Awareness

Em um ambiente, as experiências se dão de forma interdependentes aos elementos do


contexto, aparência das pessoas, características daquele que vivencia, circunstâncias
etc. Considerando uma rede de interdependência, as fronteiras entre as sensações
que experimentamos em nosso corpo e o que é externo a ele se encontram, ou seja,
estabelecem contato – necessário para o ajustamento criativo do campo. O estado das
coisas não existe por si só, mas em relações as quais a awareness estará encarregada
de reconhecer, a partir do exercício integrador entre self e o contato. Se eu tenho
consciência do que está ao meu redor, poderei enxergar as relações disso com a figura
que é central naquele momento. Awareness é a apreensão, com todas as possibilidades
de nossos sentidos, da ocorrência do mundo dos fenômenos dentro e fora de nós
(FRAZÃO; p. 146).

Figura 37. Franklin Leopoldo e Silva.

Fonte: <http://casadosaber.com.br/sp/professores/franklin-leopoldo-e-silva.html>.

76
Trazendo questões à superfície e buscando a criatividade │ UNIDADE IV

O professor Franklin Leopoldo e Silva debate fundamentos fenomenológicos-


existenciais. Em vídeo disponibilizado online, que integra uma série de outros
ligados ao programa Balanço do Século XX – Paradigmas do século XXI (TV
Cultura, 2003), é possível encontrar um significativo debate sobre a questão
da consciência em uma perspectiva fenomenológica, influenciadores da
abordagem Gestalt-Terapia. Link para acesso: <https://www.youtube.com/
watch?v=Z2XPHjSYBfw>.

A sabedoria não pode ser produzida. Não pode ser ensinada. Ela é a voz do
corpo. Ela dorme, inconsciente, como na estória da Bela Adormecida. Pode
ser despertada, lembrada. (Um beijo de amor a fará despertar! Educadores:
guardem isto!). Também, foram tantos os saberes que se acumularam sobre ele,
o corpo; tantas as demãos de tinta que o pintaram! Era inevitável que os saberes
sepultassem a sabedoria. (ALVES, 2011; p. 74)

O trecho foi retirado do livro Variações sobre o prazer, de Rubem Alves (1933-
2014), nos chama atenção para a importância do corpo sobre o que ele chamou
de sabedoria. Esse entendimento é semelhante ao conceito de awareness,
que em poucas palavras diz respeito à consciência que se tem não apenas
sobre a percepção do mundo objetivo, mas as reações corporais e sensações
que emergem de experiências que se dão no aqui e agora, como também de
reminiscências. Neste sentido, é proposta a indagação:

Como podemos notar as chamadas “demãos de tinta” referidas pelo autor?

BORGES, Luciana Souza; CRUZEIRO, Mariana Spelta. Homossexualidade feminina


e as possibilidades para aceitação por meio da awareness e sua influência na
carreira profissional: um relato de experiência a partir da Gestalt Terapia. III
Seminário Nacional de Educação, Diversidade Sexual e Direitos Humanos.
Vitoria, 2014. ISSN: 2316-4948. Acesso em: fevereiro de 2017. Disponível em:
<http://www.2014.gepsexualidades.com.br/resources/anais/4/1405651376_
ARQUIVO_DiversidadeSexual.pdf>.

Autorrealização/ Autorregulação

A autorregulação é a capacidade inerente ao organismo, que permite possibilidades de


superações frente a circunstâncias adversas.

Um recurso importante que faz parte da autorregulação é a criatividade, e consiste


em criar meios de autorrealização, ou seja, uma vida prazerosa, com reinvenções

77
UNIDADE IV │ Trazendo questões à superfície e buscando a criatividade

constantes. Acredita-se que os indivíduos se autorregulam dando prioridade para a


execução de ações que visem à satisfação das duas necessidades emergentes, e quando
uma necessidade é satisfeita, esta deixaria de ser figural e outra necessidade emergeria
(LIMA, 2009; p.89). Portanto, o espaço terapêutico deve oferecer o reencontro
com a potencialidade criativa para aqueles que a procuram.

Figura 38. Fritz Perls (1893-1970).

Fonte: <http://psicologiaaldia.com.mx/?p=1338>.

O registro em vídeo mostra Fritz Pearls apresentando (em língua inglesa) a


Gestalt-Terapia e o interesse dessa abordagem na relação com o cliente. O
vídeo possui legenda em português e pode ser acessado no seguinte endereço:
<https://www.youtube.com/watch?v=abm2w-05u-c>.

“A Gestalt-terapia trabalha com a criação interna, conscientização, tempo


presente igual, realidade igual. Em contraste com a psicologia profunda, nós
tentamos apreender o óbvio, a superfície, a situação em que nos encontramos,
e desenvolver a gestalt que emerge, estritamente com base no eu-tu e aqui
e agora. Qualquer fuga em direção ao futuro ou passado é examinada como
sendo uma resistência ao encontro que sucede (...). ”

Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=abm2w-05u-c>.

Acessado em: dezembro de 2017.

RODRIGUES, Hugo Elidio. Introdução à Gestalt-Terapia – Conversando sobre os


fundamentos da abordagem gestáltica. Petrópolis: Vozes, 2000.

78
Trazendo questões à superfície e buscando a criatividade │ UNIDADE IV

Muito se discute sobre o processo de mudança em psicoterapia, já que se constitui


como uma consequência fundamental ao crescimento ou desenvolvimento
do cliente. No entanto, o percurso até sua chegada, pelo cliente, implica em
um exercício de constante conhecimento e busca por awareness. A fim de
estabelecer um debate sobre o processo de mudar, considere os trechos abaixo
e reflita sobre a seguinte questão: mudamos por causa dos outros, ou por nós
mesmos?
A mudança não ocorre por meio de uma tentativa coercitiva do indivíduo ou
de qualquer outra pessoa em mudá-lo, mas acontece se a pessoa faz o esforço,
e leva o tempo necessário para ser o que é – estando integralmente de posse
de suas posições atuais. Pela rejeição do papel de agente de mudança, a
tornamos mudança ordenada e significativamente possível. Fonte: <https://
www.portaleducacao.com.br/psicologia/artigos/23618/awareness-e-teoria-
paradoxal-da-mudanca>.
[...] o indivíduo só passa por um processo de mudança, se esta
fizer sentido para seu momento. Se ele entra em contato com suas
necessidades, se torna aware de si e de seu meio, desenvolve seu
autossuporte reconhece seus conflitos e integra suas polaridades,
então ele pode decidir se quer mudar ou permanecer o mesmo,
mas se todos estes processos acontecerem com este indivíduo, ele
já mudou; não sabemos se mudou para aquilo que queria mudar,
mas com certeza está experienciando de forma mais plena, o que
ele é verdadeiramente, e essa é a verdadeira mudança. [...]

(ANDRADE DE PAULA, 2008; p. 34)

Figura 39.

Fonte: <http://www.extra.com.br/livros/PsicologiaPsicanalise/LivrodePsicologia/Processo-Dialogo-e-Awareness-Ensaios-em-
Gestalt-Terapia-94827.html>.

79
UNIDADE IV │ Trazendo questões à superfície e buscando a criatividade

Este livro integra listas com as principais referências sobre Gestalt-terapia e, em


sua apresentação, Lilian Frazão declara:

Neste livro, Gary busca aprofundar e equacionar questões relevantes para


melhor compreensão da teoria e da prática da Gestalt-terapia, esclarecer
questões que com frequência dão origem a mal-entendidos e confusões, além
de estabelecer sutis e importantes discriminações. Muitos daqueles que leram
os primeiros textos escritos sobre Gestalt-terapia viram nesta abordagem uma
aparente simplicidade. Gary Yontef desfaz o mito e, com sua cuidadosa reflexão,
nos remete a complexidades, implicações e desdobramentos da teoria e prática
da Gestalt- terapia, instigando e estimulando a reflexão do leitor. (FRAZÃO,
1998; p. 8)

Considerando as questões levantadas pela autora, você já presenciou ou


conhece alguém que presenciou mal-entendidos sobre a abordagem? Dialogue
com profissionais da área sobre formação, exercício profissional na área, e como
é o cotidiano sobre o debate teórico-prático em Gestalt—terapia no Brasil.

Considerações finais

Em seu surgimento, esta abordagem seguiu uma contrapartida às tendências no campo


da Psicologia, hegemônicas entre as décadas de 1940 a 1960. A busca na Gestalt-Terapia
por um cuidado aos processos saudáveis, e atenção especial aos lugares do conflito
e sofrimento e sua importância no estabelecimento do potencial criativo humano,
instaura vias de humanização sobre o olhar do adoecimento. Desta forma, conflitos não
devem ser pacificados de maneira precoce, e a agressividade, que pode ser inerente a
estes, é entendida aqui como um posicionamento no mundo.

Premissas como “tudo é relação”, “a consciência é em relação a alguma coisa” influenciam


o próprio entendimento dos tradicionais métodos psicodiagnósticos, os quais assumem,
aqui, um caráter processual.

Vimos também que a autorregulação é um processo de encontro com a possibilidade


criativa, e que a criatividade é de fundamental importância na psicoterapia de
abordagem gestáltica. Na relação terapeuta-cliente, a importância da dialogicidade
e do método fenomenológico, e o ciclo de contato fornecem meios para orientar a
psicoterapia desde a sistematização de focos interventivos (por exemplo, a partir de
qual polo do ciclo iniciar).

Na relação terapeuta-cliente, a dissolução de pensamento e/ou emoções petrificadas


pode ser definida como um impasse entre falso x verdadeiro, quando somente na

80
Trazendo questões à superfície e buscando a criatividade │ UNIDADE IV

chegada do verdadeiro à superfície experiências de crescimento permitem desenvolver


o self, por meio do enriquecimento de awareness.

Esta apostila buscou fornecer provocadores de reflexões, necessitando de ampliação


de debates, baseados em investigações, aprofundamento bibliográfico, vivência, entre
outros.

Desta forma, enquanto instrumento incitador da curiosidade e compromisso por


conhecimento, visou contribuir ao contexto e suas demandas por cuidado e busca
por relações humanizadas, muitas vezes escassas ou em processo de estagnação. A
esperança está na natureza da vida, fonte de processos criativos com o intuito da sua
manutenção e de seu equilíbrio.

Conclusão

E se todos assumissem mais seus posicionamentos em relações, e ao mesmo tempo


conseguissem se posicionar a partir do olhar do outro com quem está se relacionando?
Possivelmente, a barbárie que leva a grupos colonizarem corpos e mentes, a padrões
hegemônicos de comportamento, entre outros, pudesse ser evitada.

Após o percurso trilhado até aqui, tornam-se inevitáveis reflexões sob a influência
de princípios como os de contato, autossuporte, criatividade etc., envolvidos na
manutenção de relações de vida. Outro elemento fundamental, a consciência, aponta
para a necessidade do conhecimento sobre nós mesmos, e assim sejamos capazes
de distinguir nossas necessidades em relação ao contexto no qual convivemos e nos
relacionamos com os outros.

Por exemplo, no que se refere ao exercício laboral do psicoterapeuta, em um contexto


no qual se dá por infindáveis modos de relação, as demandas desafiam cada vez mais
sua atuação, que se reflete na relação com os clientes. O tempo e a rotina, a ida ao
consultório, o andamento da psicoterapia, o aqui e o agora, coadunam no acesso ao
atendimento psicológico nem sempre ao alcance de toda a população que necessite
e/ou deseje, visto as condições sociais que por um lado dizem respeito ao cliente. Por
outro, ao profissional que, por vezes, tem sua classe desrespeitada por instâncias que
não valorizam sua função a cumprir na sociedade, enquanto categoria de trabalho.

Em perspectiva, é preciso que espaços de formação para uma constante reflexão de


práxis sejam incrementados, mesmo com o passar dos anos, com a finalidade de que
suas contribuições possam ser ampliadas e suas práticas enriquecidas, frente aos
potenciais efetivados e aqueles por efetivar.

81
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