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Muito provavelmente você já ouviu falar sobre os índices de liberdade econômica, que são corriqueiramente utilizados para relacionar o nível de desenvolvimento de um país
à sua “liberdade econômica”. Mas será que é possível fazer esse tipo de associação? O que esses índices medem? Que conclusão podemos tirar a partir deles?
Com este artigo, utilizando como base o índice de liberdade econômica do think tank Heritage Foundation (Index of Economic Freedom 2016 – último com metodologia
disponível na data de início da elaboração desse texto), iremos entender melhor como os índices são calculados e verificar se as vertentes específicas do liberalismo
econômico que os utilizam como argumento para a aplicação de suas políticas estão interpretando corretamente seus dados e os utilizando de forma adequada.
Nesse texto, denominaremos essas vertentes específicas do liberalismo de neoliberais, mesmo sabendo que passaram a rejeitar o termo [1], para diferenciá-los dos liberais
clássicos e outras escolas econômicas derivadas do liberalismo clássico que não compartilham das mesmas ideias.
Anteriormente, a Voyager mostrou que a melhora nesse tipo de índice não tem correlação com desenvolvimento ou crescimento econômico [2], assim como demonstrou que
nas primeiras posições se encontram países que não seguiram a ideologia (neo)liberal [3a]. No final deste artigo, ficará mais claro o porquê dessas inconsistências nesse tipo
de ranking.
Este item utiliza o ranking da transparência internacional de percepção da corrupção (corruption perception index), cujo objetivo é medir a percepção de corrupção fazendo
uma média do resultado de 13 fontes diferentes, considerando apenas países que aparecem em, no mínimo 3 delas. Cada uma dessas fontes faz perguntas diferentes para
os entrevistados e capta essa percepção de corrupção em grupos diferentes, havendo uma ponderação para que as fontes possuam o mesmo peso, sendo admitido pela
própria transparência internacional a dificuldade de efetivamente medir a corrupção. [5] [6]
Medida fazendo a média aritimética de 3 Valores. Esses valores são obtidos subtraindo de 100 o valor em porcentagem (convertido em um número de 0 a 100) elevado ao
quadrado da carga tributária, maior taxa incidente sobre renda pessoa física e maior taxa incidente sobre renda de pessoa jurídica, cada um deles multiplicado por 0,03 antes
da subtração.
Calculado subtraindo de 100 o valor percentual de gasto em relação ao PIB elevado ao quadrado multiplicado por um fator 0,03. Desta forma, um país com gasto público
igual a zero tem um resultado igual a 100, enquanto um país com gasto público igual a 58% do PIB (ou maior) tem resultado igual a zero. É considerado o gasto das esferas
federal, estadual e municipal (quando os dados estão presentes. Para alguns países é considerado apenas o governo federal).
O nome daria a entender algo relacionado à liberdade dos empresários de atuar nas áreas de seu interesse, mas não é disto que se trata. A liberdade empresarial neste item
é medida considerando 13 subitens, com os quais é feita uma média ponderada: 4 itens relacionados ao início de um negócio (número de procedimentos, tempo em dias,
custo em porcentagem da renda per capta, capital mínimo em porcentagem da renda per capita), 3 à obtenção de licenças (número de procedimentos, tempo em dias, custo
em porcentagem da renda per capita), 3 ao encerramento de um negócio (tempo em anos, custo em porcentagem do valor da propriedade, taxa de recuperação em
centavos/dólar) e 3 à obtenção de eletricidade (número de procedimentos, tempo em dias e custo em porcentagem da renda per capita). Cada item é ponderado para que
todos impactem igualmente na nota final.
É medida fazendo uma média ponderada de 7 itens (a ponderação é feita para que todos os itens representem a mesma fração do resultado final): Razão entre salário
mínimo e valor médio agregado por trabalhador, entraves para contratações de novos trabalhadores, rigidez de horário, dificuldade de demitir trabalhadores redundantes,
período legal de aviso prévio, pagamento obrigatório por demissão e taxa de ocupação da força de trabalho. Essa média ponderada é convertida em uma escala de 0 a 100.
No caso não diz respeito à liberdade do câmbio, o que seria indiscutivelmente uma pauta defendido por neoliberais, mas sim à inflação. Basicamente se reduz do valor de
100 uma média ponderada dos últimos 3 anos (sendo mais exato, se faz uma raiz quadrada dessa média ponderada), acrescido de uma penalização de 0 a 20 devido à
existência de controle estatal de preços.
É calculada a partir do valor da tarifa média de importação/exportação normalizada a partir das tarifas médias de todos os países em questão. Acrescido a isso, é definida
uma penalização de 0 a 20 para barreiras não-tarifárias.
Partindo de um valor de 100, há penalizações de até 25 pontos para diferença de tratamento entre investimentos nacionais e estrangeiros, até 20 pontos para falta de
transparência e burocracia para investimentos estrangeiros, 15 pontos para restrição de compra de terrenos, 20 pontos para restrição de investimentos internacionais em
determinados setores, 25 pontos para expropriação de investimentos sem compensação justa, 20 pontos para restrições no comércio de moedas estrangeiras e 25 pontos
para o controle de remessas de lucros para o exterior.
O item “liberdade financeira” objetiva medir a presença do Estado no setor bancário. A nota 100 é atribuída quando não existem bancos estatais, o governo não interfere na
alocação de crédito por parte dos bancos, não há restrição para a oferta de serviços bancários por estrangeiros, o governo não possui ações dos bancos privados existentes
e não há restrição para o estabelecimento de novos bancos.
Maiores detalhes podem ser encontrados no documento da própria Heritage Foundation. [4b]
O ex-presidente dos EUA Ronald Reagan com o casal Ed e Linda Feulner. Foto: Heritage Foundation.
Antes de se atribuir uma nota elevada em algum item ao liberalismo econômico, é prudente questionar se um país necessariamente precisa adotar políticas (neo)liberais para
consegui-lo e quem se oporia a tais itens. Como vivemos em um sistema capitalista e poucos são os partidos que efetivamente defendem a abolição do Estado (como os
ultraliberais – também chamados proprietaristas ou “anarcocapitalistas” – anarquistas ou comunistas) ou a estatização dos meios de produção (marxistas-leninistas),
serão consideradas como oposição ao neoliberalismo as opções que a democracia representativa coloca para os eleitores com chances reais de vitória: social-
democratas, trabalhistas, keynesianos, conservadores antiliberais, dentre outros que se opõem à lógica (neo)liberal sem a destruição do sistema econômico vigente no
planeta praticamente inteiro (capitalista com Estado).
Para que o Governo garanta a propriedade privada, a avaliação e a validade dos contratos de forma rápida e eficiente e uma justiça que puna quem confisca a propriedade
alheia, será necessário um sistema judiciário/policial grande e capacitado, leis claras e eficientes feitas pelo legislativo. Exceto nos casos das pessoas que defendem o fim do
Estado ou a estatização dos meios de produção, pode-se dizer que essa definição de direito de propriedade é um consenso. Ora, se algo é considerado um consenso por
todas as alternativas políticas, então não pode jamais ser utilizado para defender uma delas em detrimento de outras. Isso se torna mais grave ainda quando o índice é
usado pelos neoliberais extremistas (os “anarcocapitalistas”), dado que no sistema por eles defendidos o Estado sequer existe para exercer a proteção legal medida por esse
item.
Não existe nenhuma vertente política que defenda a corrupção como algo benéfico. Existem diferenças na melhor forma de se combater a corrupção, mas o índice não avalia
quais são os métodos adotados para combatê-la e sim a percepção de corrupção de determinada parte população (vale ressaltar que a população ainda pode ter uma
percepção errada da corrupção, principalmente em casos no qual a imprensa é controlada de perto pelo governo, como em Singapura [3b]). Como o item não avalia a
existência de métodos (neo)liberais de combate à corrupção, não é útil para indicar a adoção ou não de suas medidas.
Este item conseguiu reunir sob um nome que remete ao liberalismo econômico uma coletânea de 13 subitens que nenhuma corrente política é contra e em muitos casos são
resolvidos com medidas antiliberais. Pode-se por exemplo reduzir o tempo para apreciação de licenças, abertura e encerramento de negócios tendo mais de 30% de sua
população empregada no setor público, como no caso da Noruega e Dinamarca [7]. É possível agilizar a instalação de energia elétrica e reduzir seu custo concentrando
todo o setor nas mãos do Estado, como no caso da Noruega e Singapura [3c] [8]. O tempo para se fechar uma empresa e o custo de fechamento estão muito relacionados
a pendências judiciais, que dependem basicamente de um ponto pacífico (o primeiro item, Direito de propriedade).
Os itens em que se coloca renda per capita para dividir o valor por outro lado são um mero medidor de riqueza dos países, pois privilegiam os países mais ricos em
detrimento dos mais pobres. Em suma, o item não avalia quais estratégias são usadas para se obter um resultado que é ponto pacífico, e sim considera aqueles que
possuem melhores resultados, independente da estratégia adotada pelo país ser liberal ou antiliberal, além de usar fatores que beneficiam países ricos em detrimento de
pobres diretamente, o que o torna inútil para defender um ou outro tipo de política.
De fato, neoliberais dão uma importância acima da média ao controle da inflação, mesmo quando comparados com liberais clássicos, em especial aqueles cujos estudos
derivaram do trabalho de Milton Friedman. Porém, vale ressaltar que economistas de todas as vertentes existentes defendem alguma forma de combate à inflação, existindo
inúmeras formas de combate-la. Os brasileiros sabem bem disso, dado que passamos pelos planos Cruzado, Cruzado Novo, Bresser, Verão, Collor I, Collor II e Real
07/08/2017 A Farsa dos Índices de Liberdade Econômica: sua real função é ideológica
antes de conseguirmos certa estabilidade em nossa moeda (sendo que o próprio plano real possui duas fases bem distintas, onde a primeira tinha entre seus principais
alicerces uma âncora cambial e a segunda adotou câmbio flutuante). Em suma, o que efetivamente pode diferir em escolas econômicas diversas é o método adotado para se
combater a inflação e, para evitar um longo texto acerca de cada um dos métodos existentes de combate à inflação, basta dizer que um país com inflação zero e preço
totalmente controlado pelo Estado teria, neste item, uma nota de 80 (100 devido à inflação zero e uma penalização de 20 devido ao controle de preços), o que o colocaria na
metade mais “livre” do mundo nesse quesito, com uma diferença de 1,8 para o líder geral do ranking (Hong Kong) e de apenas 10 para o país com maior valor no item
(Dominica), sendo que é de certa forma óbvio que caso o objetivo fosse medir a adoção do neoliberalismo a nota deveria ser zero.
De fato, a fixação com a redução do gasto público por parte dos neoliberais é peculiar, não encontrando paralelo em seus adversários. A visível falha do indicador é que se
considera (na maioria dos casos) os gastos nas esfera federal, municipal e estadual dos países, mas não das empresas estatais. Em alguns casos, inclusive se considera
apenas o governo central (esfera federal) por falta de dados. Isso distorce o resultado para cima, aumentando as notas dos países nesse item, principalmente nos casos em
que Estado é muito atuante através de suas empresas (como Singapura [3e]) ou quando os dados são escassos.
É pública e notória a repulsa dos neoliberais em relação à existência de leis trabalhistas. Há porém de se ressaltar a falta de direitos trabalhistas vistos como prioritários pelos
seus adversários (não há menção por exemplo ao seguro-desemprego, previdência pública obrigatória ou um sistema de seguridade social), a utilização de itens que vão
contra os preceitos neoliberais (a visão de que o Estado deve garantir o pleno emprego e combater diretamente uma baixa taxa de ocupação é tipicamente keynesiana,
enquanto os neoliberais consideram que um certo nível de desemprego é saudável para a economia – tendo o desalento uma relação clara com o desemprego prolongado –
além de ser um indicador que privilegia países ricos e estáveis que costumam a ter taxa de desemprego menor. Ao dividir o salário mínimo por um indicador relacionado à
produtividade, se privilegia os países ricos que não por acaso são mais produtivos ao mesmo tempo que se transmite uma ideia de que trabalhadores pouco qualificados,
facilmente substituíveis e com pouco prestígio com o resto da população – aqueles que de fato recebem salário mínimo – devem ser beneficiados por um ganho de
produtividade geral, algo que também é defendido somente pelos opositores do neoliberalismo). Outro ponto que não poderia ficar de fora são os sindicatos, tão criticados
pelos neoliberais. Muitos dos países mais desenvolvidos estão entre os mais sindicalizados e com os trabalhadores mais cobertos por acordos coletivos, sendo um alto nível
de sindicalização inclusive considerado por alguns um substituto razoável para o salário mínimo e outros direitos trabalhistas [9] [10] [11].
Apesar dos eleitores típicos do neoliberalismo e alguns de seus porta-vozes na mídia estarem traindo a defesa do livre-comércio apoiando o protecionista Trump, o Brexit e
incentivando o desmonte de acordos de livre-comércio como a União Européia, NAFTA e Tratado Trans-Pacífico, seus autores efetivamente são opositores das barreiras
alfandegárias, algo que não é acompanhado por seus adversários na democracia representativa. Apesar de não existir corrente política contrária à existência do comércio, de
fato os neoliberais encabeçam a defesa de que a redução de barreiras para importação/exportação é uma medida intrinsecamente boa.
A ausência do governo no setor bancário é de fato uma bandeira que distingue os neoliberais.
4. Critérios que não poderiam faltar em um ranking de liberalismo econômico (de acordo com o que pregam os neoliberais), mas não
existem no índice
07/08/2017 A Farsa dos Índices de Liberdade Econômica: sua real função é ideológica
O presidente da Heritage Foundation Ed Feulner com o vice-presidente dos EUA Dick Cheney em 2006. Foto: Charles Geer.
Além da existência de itens que não representam adequadamente o receituário neoliberal e distorções evidentes nos itens relacionados às políticas defendidas por militantes
que usam índices de liberdade econômica, é gritante a ausência de temas centrais defendidos por seus autores, eleitores e governos.
Não existe no ranking nenhum item que trate da participação do Estado na economia em relação ao PIB, ou alguma proporção entre a participação das empresas privadas e
estatais/economia mista na economia local, o que distorce totalmente o resultado de países em que a atuação do Estado se dá por meio de suas companhias (os casos mais
gritantes são Singapura [3f] e os países exploradores de petróleo do Oriente Médio, cuja a atividade econômica assim como a receita do governo são extremamente
dependentes das estatais petrolíferas).
Uma importante atividade econômica de empresas estatais é a principal razão dos baixos impostos encontrados em diversos países, como Singapura, Arábia Saudita,
Qatar e Kuwait. Sendo, portanto, a presença de um item tratando dessa questão necessária para corrigir falhas do item “Liberdade Fiscal”.
Não há, também, nenhum item que trate da questão dos serviços públicos. A privatização dos serviços públicos (saúde, educação, segurança, dentre outros) é uma das
principais bandeiras do neoliberalismo, sendo a defesa da maior eficiência da iniciativa privada exaltada sistematicamente por aqueles alinhados com seus dogmas. Com a
extensa campanha que fazem contra a eficiência estatal em prestar serviços públicos, torna-se totalmente incoerente o uso de um índice que nada diz a respeito de uma das
principais bandeiras neoliberais para justificar a adoção de suas políticas. Diversos países bem localizados no índice de liberdade econômica (como Austrália, Nova
Zelândia e Singapura) se destacam pela forte presença estatal nos serviços públicos.
Outro ponto que não poderia faltar é a respeito da liberdade cambial. É comum entre economistas neoliberais a defesa do fim dos Bancos Centrais ou sua “independência”
em relação ao governo e o combate à manipulação cambial, que consideram prejudicial mesmo no caso em que as moedas são desvalorizadas para aumentar a
competitividade no comércio global. O subitem presente na “liberdade de investimentos” não representa essa discussão, apesar de ter relação com o assunto.
Os 3 itens citados anteriormente não poderiam faltar em um índice que é usado para legitimar a aplicação de políticas neoliberais, pois é notório e bem sabido que os
principais opositores dessas políticas na esfera econômica são os que seguem uma linha derivada do keynesianismo, onde comumente se defende um papel relevante do
Estado nestes itens (serviços públicos, setores estratégicos e política cambial controlada pelo Estado condizente com uma estratégia de desenvolvimento do país).
Não há como utilizar na discussão econômica um índice que sequer avalia os principais pontos de discordância entre aqueles que usam o índice para defender liberalismo
econômico e os críticos deste modelo.
Desconsiderando as falhas apresentadas nas seções 3 e 4 deste artigo e sabendo que isso causa fortes distorções em países extremamente dependentes de empresas
estatais como Singapura e as potências petrolíferas, assim como nos países em que o Estado está fortemente presente nos serviços públicos (caso de Nova Zelândia,
Austrália, Canadá e novamente Singapura), faremos um exercício que se trata de se repetir o mesmo índice de liberdade econômica da Heritage Foundation, considerando
apenas os 6 itens apresentados no terceiro tópico – Liberdade Fiscal (Fiscal Freedom), Gasto Governamental (Government Spending), Liberdade Trabalhista (Labor
Freedom), Liberdade Comercial (Trade Freedom), Liberdade de Investimento (Investment Freedom) e Liberdade Financeira (Financial Freedom) – para avaliar qual seria o
resultado de tal ranking.
Change
in
Financial Income Tax
Freedom Tariff Tax Corporate Burden
Country World Ranking Nota 2016 Fiscal Gov't Labor Trade Investment Financial from Rate Rate Tax Rate % of
Name Rank Corrigido Corrigida Score Freedom Spending Freedom Freedom Freedom Freedom 2015 (%) (%) (%) GDP
Change
in
Financial Income
Freedom Tariff Tax Corporate
Country World Ranking Nota 2016 Fiscal Gov't Labor Trade Investment Financial from Rate Rate Tax Rate
Name Rank Corrigido Corrigida Score Freedom Spending Freedom Freedom Freedom Freedom 2015 (%) (%) (%)
Change
in
Financial Income
Freedom Tariff Tax Corporate
Country World Ranking Nota 2016 Fiscal Gov't Labor Trade Investment Financial from Rate Rate Tax Rate
Name Rank Corrigido Corrigida Score Freedom Spending Freedom Freedom Freedom Freedom 2015 (%) (%) (%)
Change
in
Financial Income
Freedom Tariff Tax Corporate
Country World Ranking Nota 2016 Fiscal Gov't Labor Trade Investment Financial from Rate Rate Tax Rate
Name Rank Corrigido Corrigida Score Freedom Spending Freedom Freedom Freedom Freedom 2015 (%) (%) (%)
Korea, South 27 46 69.8 71.74 73.8 69.7 50.6 74.6 70 80 0 7.7 38 24.2
Japan 22 56 68.5 73.09 68.5 46.2 83.9 82.6 70 60 10 1.2 40.8 23.9
Change
in
Financial Income
Freedom Tariff Tax Corporate
Country World Ranking Nota 2016 Fiscal Gov't Labor Trade Investment Financial from Rate Rate Tax Rate
Name Rank Corrigido Corrigida Score Freedom Spending Freedom Freedom Freedom Freedom 2015 (%) (%) (%)
Saudi Arabia 78 85 65.5 62.09 99.7 56.8 68.5 77.8 40 50 0 3.6 2.5 2.5
Burkina Faso 104 87 65.3 59.09 82.7725 76.8 58.9 68.2 65 40 0 8.4 27.5 27.5
Swaziland 94 101 63.4 59.65 70.9 64.9 65.8 88.8 50 40 0 0.6 33 27.5
Mali 121 102 63.2 56.54 70.3 82.8 50.8 70.2 65 40 0 7.4 40 35
Gabon 105 105 62.6 58.96 77.6 74.5 61.9 61.8 60 40 0 14.1 35 30
Djibouti 124 106 62.6 55.96 80.6 57.4 62.9 54.6 70 50 0 17.7 30 25
Burundi 133 109 61.9 53.91 73.8 70.5 67.6 74.2 55 30 0 5.4 35 35
Croatia 103 110 61.6 59.13 70.8 33.7 42.4 87.4 75 60 0 1.3 40 20
Egypt 125 111 61.4 55.96 85.6 65.9 51.4 70.6 55 40 0 9.7 25 25
Guinea 136 112 61.3 53.33 68.5 81.2 71.8 61.2 45 40 0 11.9 40 35
Bangladesh 137 113 61.2 53.32 72.7 93.6 62.5 63.6 45 30 0 10.7 25 45
São Tomé 120 115 61.1 56.71 87.4 70.1 46.1 73 60 30 0 8.5 20 25
and Príncipe
Norway 32 117 61.1 70.81 53.2 41.8 48.5 87.8 75 60 0 1.1 47.8 27
Change
in
Financial Income
Freedom Tariff Tax Corporate
Country World Ranking Nota 2016 Fiscal Gov't Labor Trade Investment Financial from Rate Rate Tax Rate
Name Rank Corrigido Corrigida Score Freedom Spending Freedom Freedom Freedom Freedom 2015 (%) (%) (%)
Guinea- 145 120 60.7 51.81 89.3275 94.1 61.1 59.4 30 30 0 12.8 20 25
Bissau
Senegal 111 122 60.7 58.09 71.6 76.1 42.4 73.8 60 40 0 8.1 40 30
Cameroon 130 124 60.3 54.18 75.6 85.6 48.9 61.6 40 50 0 11.7 35 33
Sierra Leone 142 125 60.2 52.31 81.2 92.6 43.2 69.4 55 20 0 10.3 30 30
Moldova 117 127 59.8 57.4 85.3975 55.6 39.3 73.6 55 50 0 5.7 18 12
Papua New 140 129 59.3 53.15 67.3 76.2 71.9 85.6 25 30 0 2.2 42 30
Guinea
Niger 129 130 59.2 54.26 76.3 76.8 42.3 64.6 55 40 0 10.2 35 30
Guyana 127 131 58.9 55.37 68.6675 73.1 70.7 70.8 40 30 0 7.1 33.3 40
Burma 158 132 58.8 48.65 86.6 75.3 76.8 74.2 20 20 10 2.9 20 30
Brazil 122 133 58.6 56.54 69.7 55.2 52.5 69.4 55 50 -10 7.8 27.5 34
India 123 134 58.2 56.24 77.1 78.1 47.8 71 35 40 0 7 30.9 32.44
Togo 135 137 57.7 53.64 68.6575 80.4 46.2 71.2 50 30 0 9.4 45 27
Suriname 134 138 57.4 53.79 69.4 70.3 76.3 68.4 30 30 0 10.8 38 36
Tajikistan 149 139 56.6 51.33 91.6 76.9 47.3 68.6 25 30 0 5.7 13 15
Mozambique 139 145 55.9 53.19 74.3 63.5 41.9 70.8 35 50 0 7.1 32 32
Liberia 143 146 55.6 52.19 83.8 67.7 44.5 72.8 45 20 0 6.1 25 25
Angola 156 147 55.5 48.94 87.75 50.1 44.8 70.2 40 40 0 4.9 17 30
Lao P.D.R. 155 148 55.2 49.83 86.1 73.8 57.6 58.6 35 20 0 13.2 24 24
Central 168 150 54.6 45.23 65.7 93.6 40.9 52.2 45 30 0 16.4 50 30
African
Republic
Russia 153 151 53.9 50.55 82.2 56.2 57.6 72.4 25 30 0 6.3 13 20
Nepal 151 157 52.4 50.88 85.1 91.1 47.3 55.6 5 30 0 14.7 25 25
Ecuador 159 158 52.3 48.56 79.2 41.8 51.6 71.4 30 40 0 4.3 35 22
07/08/2017 A Farsa dos Índices de Liberdade Econômica: sua real função é ideológica
Change
in
Financial Income
Freedom Tariff Tax Corporate
Country World Ranking Nota 2016 Fiscal Gov't Labor Trade Investment Financial from Rate Rate Tax Rate
Name Rank Corrigido Corrigida Score Freedom Spending Freedom Freedom Freedom Freedom 2015 (%) (%) (%)
Eritrea 173 161 51.5 42.7 80.9 73.4 65.6 69.2 0 20 0 5.4 30 30
Bolivia 160 162 50.9 47.4 86.4 55.5 31.7 76.6 15 40 0 4.2 13 25
Uzbekistan 166 166 49.1 46.02 90.4 66.6 61.9 65.6 0 10 0 7.2 22 9
Ukraine 162 167 48.8 46.76 78.6 30.6 47.9 85.8 20 30 0 2.1 20 18
Argentina 169 168 48.1 43.77 66.1 51.3 43.9 67.4 30 30 0 6.3 35 35
Equatorial 170 171 47.2 43.67 75.4 45.6 38.4 53.8 40 30 0 15.6 35 35
Guinea
Zimbabwe 175 175 39.1 38.23 60.8 73.6 30 50.2 10 10 0 14.9 51.5 25
Venezuela 176 176 39.1 33.74 74.9 56.7 29.5 63.2 0 10 -10 8.4 34 34
Não é surpreendente notar que o resultado é muito mais próximo da realidade daquilo que o ideário neoliberal defende do que o ranking original: Diversos países com longa
tradição social-democrata (como França, Noruega, Suécia, Dinamarca, Bélgica) passam a figurar na metade “menos livre” do mundo, estando a França em uma das últimas
posições (156º lugar de 178 países).
Também nota-se uma forte evolução em “liberdade econômica” de países ex-socialistas que passaram por grandes reformas liberais desde a década de 90, como Geórgia,
Armênia, Azerbaijão e Albânia, mas permanecem pobres.
Outro fato evidente é a forte subida de paraísos fiscais pobres, como o Panamá e o Paraguai, que visivelmente estão bem próximos do receituário neoliberal mas eram
penalizados pelo simples fato de estarem em condição de pobreza.
Como exercício complementar, faremos outro ranking, apenas com os itens expurgados por serem defendidos também pelos opositores do neoliberalismo apresentados no
segundo tópico.
Conferir tabela do ranking considerando apenas os ítens não relacionados com liberalismo
Japan 22 20 79.925 73.09 80 76 82.5 81.2 1.2 40.8 23.9 30.3 42.340847878159
Korea, South 27 29 74.675 71.74 70 55 91.1 82.6 7.7 38 24.2 24.309 31.759960891126
Saudi Arabia 78 72 57.025 62.09 40 49 69.9 69.2 3.6 2.5 2.5 4.3 37.967
Brazil 122 90 53.4 56.54 45 43 61.4 64.2 7.8 27.5 34 33.4 38.64
India 123 92 53.35 56.24 55 38 47.6 72.8 7 30.9 32.44 16.7 27.006
Vanuatu 89 101 50.9 60.84 40 33.5 51.8 78.3 5.5 0 0 17.2 21.53
Benin 101 102 50.625 59.31 30 39 51.3 82.2 15.6 45 30 16.3 22.436
Maldives 132 103 50.35 53.94 25 21.9 81.5 73 21.1 0 0 24.45735 36.133
São Tomé 120 104 50.125 56.71 25 42 65.9 67.6 8.5 20 25 15.2 31.586
and Príncipe
Guyana 127 106 50.1 55.37 30 30 63 77.4 7.1 33.3 40 20.6 29.92
Micronesia 147 107 49.9 51.75 30 30 57.5 82.1 2.2 10 21 11.6 59.583
Burkina Faso 104 108 49.8 59.09 30 38 46.3 84.9 8.4 27.5 27.5 14.5 27.834
Solomon 161 109 49.75 46.98 30 25 68.5 75.5 8.5 40 30 36.94517 49.923
Islands
Bosnia and 108 110 49.475 58.63 20 39 54.6 84.3 1.5 10 10 37.6 47.234
Herzegovina
Côte d'Ivoire 92 111 49.425 60.01 30 32 62.2 73.5 6.6 36 25 15.7 22.062
Mozambique 139 112 49.1 53.19 30 31 55.9 79.5 7.1 32 32 22.9 34.898
Nepal 151 114 48.675 50.88 30 29 64.9 70.8 14.7 25 25 15.33537 17.237
Suriname 134 115 48.375 53.79 30 36 48.8 78.7 10.8 38 36 17.9 31.476
Fiji 107 119 47.975 58.78 30 22.3 62 77.6 10.6 29 20 25.3 28.694
07/08/2017 A Farsa dos Índices de Liberdade Econômica: sua real função é ideológica
Kiribati 165 121 47.95 46.22 30 29.2 51.6 81 15.9 35 35 14.9 96.582
Egypt 125 124 47.775 55.96 20 37 68.3 65.8 9.7 25 25 13.9 33.7
Togo 135 125 47.475 53.64 30 29 51.4 79.5 9.4 45 27 19.5 25.543
Comoros 141 132 46.25 52.35 30 26 49.6 79.4 6.5 30 50 12.1 25.165
Belize 118 134 46.05 57.35 35 6.7 63.3 79.2 10 25 25 23.2 30.586
Djibouti 124 135 46.025 55.96 25 34 50.8 74.3 17.7 30 25 20.3 37.665
Russia 153 136 45.525 50.55 20 27 72.2 62.9 6.3 13 20 34.8 38.207
China 144 138 45.2 51.96 20 36 54.2 70.6 3.6 45 25 19.4 29.29
Cameroon 130 140 45.025 54.18 25 27 46.9 81.2 11.7 35 33 11.3 21.906
Nigeria 116 141 44.3 57.46 30 27 48.7 71.5 10.1 24 30 3.1 13.406
Kenya 115 142 44.275 57.51 30 25 48.6 73.5 9.7 30 30 16.2 25.33
Papua New 140 143 43.875 53.15 20 25 59.9 70.6 2.2 42 30 24.67741 28.154
Guinea
Vietnam 131 144 43.725 53.99 15 31 58.3 70.6 3.5 35 22 18.9 28.782
Ukraine 162 145 43.675 46.76 25 26 56.8 66.9 2.1 20 18 37.6 48.11
Tajikistan 149 146 43.475 51.33 20 23 61.1 69.8 5.7 13 15 21.04061 27.749
Gambia 119 147 43.025 57.14 25 29 53.4 64.7 12.5 35 32 14.3 27.081
Ecuador 159 148 42.9 48.56 15 33 55.5 68.1 4.3 35 22 19.3 44.042
Uganda 102 149 42.85 59.26 25 26 40.3 80.1 8.6 40 30 13.4 16.803
Tanzania 110 150 42.8 58.46 25 31 47.5 67.7 8.4 30 30 16.8 19.685
Malawi 146 151 42.775 51.8 40 33 44.5 53.6 3.8 30 30 17.4 49.306
Lao P.D.R. 155 156 41.8 49.83 15 25 55.9 71.3 13.2 24 24 15.30062 29.553
Bangladesh 137 157 41.45 53.32 20 25 52.6 68.2 10.7 25 45 8.96238 14.61
Uzbekistan 166 158 41.425 46.02 15 18 67.1 65.6 7.2 22 9 19.86815 33.389
Guinea 136 159 41.4 53.33 20 25 51.4 69.2 11.9 40 35 17.9 25.054
Sierra Leone 142 160 40.425 52.31 10 31 49.9 70.8 10.3 30 30 8.8 15.677
07/08/2017 A Farsa dos Índices de Liberdade Econômica: sua real função é ideológica
Cambodia 112 162 39.1 57.9 25 21 32.3 78.1 8.9 20 20 12.36803 20.504
Guinea- 145 163 38.55 51.81 20 19 36.7 78.5 12.8 20 25 6.5 13.998
Bissau
Equatorial 170 164 38.375 43.67 10 19 45.6 78.9 15.6 35 35 2.3 42.572
Guinea
Zimbabwe 175 168 36.925 38.23 10 21 37.6 79.1 14.9 51.5 25 25.3 29.679
Iran 171 169 36.725 43.49 10 27 59.3 50.6 15.2 35 25 5.8 15.021
Congo, 172 170 36.125 42.8 10 23 35.9 75.6 16.5 45 34 11.2 38.384
Republic of
Chad 164 171 36.075 46.33 20 22 30.9 71.4 15.1 60 45 6.6 22.88
Eritrea 173 176 29.475 42.7 10 18 32.1 57.8 5.4 30 30 10.7 29.76
Venezuela 176 177 25.775 33.74 5 19 45.3 33.8 8.4 34 34 13.9 38.013
Korea, North 178 178 4.5 2.3 5 8 5 0 N/A 100 100 100 100
Korea, North 178 178 4.5 2.3 5 8 5 0 N/A 100 100 100 100 Korea, North 24.7 15.5 0.9 N/A N/A N/A N/A 134.3333333 N/A
O resultado é bastante interessante e inclusive esperado: Os países europeus com longa tradição social-democrata estão entre os melhores posicionados no índice que
considera somente os pontos que são pacíficos como algo necessário para o desenvolvimento de uma economia em um sistema capitalista.
Considerações finais
07/08/2017 A Farsa dos Índices de Liberdade Econômica: sua real função é ideológica
O presidente da Heritage Foundation Ed Feulner, o ex presidente dos EUA Ronald Reagan e o casal Rose e Milton Friedman em 1986. Foto: Charles Geer /
Heritage Foundation.
Os rankings apresentados nos quinto e sexto tópicos por si só mostram como os índices de “liberdade econômica” seriam impactados de forma bastante intensa se fossem
fidedignos aos princípios defendidos pelos neoliberais, o que implica na impossibilidade de seu uso para defender suas políticas.
A expectativa é que um “índice de liberdade econômica” verdadeiramente alinhado com seu receituário resulte em um ranking no qual os líderes seriam os paraísos fiscais.
Mesmo entre os paraísos fiscais, porém, é provável que os mais desenvolvidos sejam classificados como “menos livres”, justamente pela forte presença do Estado nos
serviços públicos e infraestrutura (caso da Suíça). Outro resultado bastante provável, é que países com longa tradição social-democrata como Noruega, Suécia, Dinamarca,
Países Baixos, Islândia, Bélgica, Alemanha, entre outros, sigam a trajetória de queda vertiginosa no índice identificada no quinto tópico, fazendo companhia à França nas
últimas posições.
Enquanto o debate econômico não passa pelo uso de índices que realmente representam aquilo que se deseja defender, pouco pode-se fazer além de conjecturas. Não é
objetivo deste artigo elaborar um novo índice que reflita o ideário neoliberal, somente explicar por que os “índices de liberdade econômica” apresentam resultados
incoerentes, classificando nas primeiras posições países que adotaram receituário diametralmente oposto àqueles que o utilizam como argumento, além de um aumento no
índice não possuir qualquer correlação com desenvolvimento econômico.
Desta forma, uma célebre frase do ex-presidente Itamar Franco resume bem o uso de “índices de liberdade econômica” para legitimar a aplicação de políticas neoliberais:
“Os números não mentem, mas os mentirosos fabricam números”.
Referências
[1] The Guardian – Neoliberalism: the ideology at the root of all our problems (versão traduzida pela Voyager aqui)
[2] Left Business Observer – Laissez-faire Olympics (versão traduzida pela Voyager aqui)
[3 (a/b/c/d/e/f)] Voyager – 10 fatos sobre Singapura que invalidam os índices de liberdade econômica
[4(a/b)] Heritage Foundantion – Methodology
[5] Transparency International – CORRUPTION PERCEPTIONS INDEX 2014: IN DETAIL
[6] Transparency International – CORRUPTION PERCEPTIONS INDEX 2016
[7] OECD – Employment in Public Sector
[8] Voyager – O Livre Mercado é a chave para a prosperidade? A Noruega prova que não.
[9] Law of Work – Most Highly Unionized Countries Top ‘Happiest Countries” List, Again. Why?
[10] Parlamento Europeu – Legislação do mercado de trabalho
[11] BBC – Na Dinamarca, Lula confere modelo trabalhista flexível
• Heritage Foundation – Index of Economic Freedom 2017