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Normatividade e Justificação na Reflexão Ética de

Wittgenstein
[Normativity and justification on Wittgensteins ethical Reflexion]

Roberto de Almeida Pereira de Barros*

Resumo: Wittgenstein refletiu sobre normatividade em muitos sen-


tidos. O presente artigo deseja abordar o desdobramento de sua
consideração da normatividade lógica em uma reflexão sobre as difi-
culdades de justificação da normatividade moral, mais propriamente
de uma ética com pretensões universalizantes e de como sua filosofia
indica a necessidade de uma nova reflexão sobre o tema.
Palavras-chave: Lógica, normatividade, justificação

Abstract: Wittgenstein reflected on normativity in many ways. This


article wishes to address the unfolding of its consideration of the lo-
gical normativity in a reflection on the difficulties of justifying moral
normativity, more precisely an ethics with universalizing pretensions
and how its philosophy indicates the need for a new reflection on the
subject.
Keywords: Logic, normativity, justification

Introdução temática uma perspectiva moral Realista,


ou seja, que cria tanto na possibi-
Problemas referentes à normati- lidade de que proposições morais
vidade e a sua justificação consti- pudessem ser verdadeiras, como
tuem questões centrais da refle- que haveria fatos morais funda-
xão filosófica ocidental. Desde dos em si mesmos, que deveriam
o seu estabelecimento, na Gré- se expressos pela ação humana
cia, a filosofia ocupou-se com es- (TARKIAN, 2009: 19). Esta aspi-
tas questões, indicando-as como ração protagonizou a perspectiva
necessárias e intransponíveis. A segundo a qual as inter-relações
partir de então, a problematiza- subjetivas deveriam ser ordena-
ção da relação entre particulari- das por uma regra de valor obje-
dades no contexto de perspectivas tivo, esta pautada em uma justifi-
universalistas estabeleceu-se for- cação fundante, formulada racio-
temente marcada por uma via nor- nalmente. Deste modo, a questão
matizadora de consideração e por

* Professor da Faculdade de Filosofia da Universidade Federal do Pará - UFPA. Doutor em Filosofia pela Tech-
nische Universität Berlin. E-mail: robertbarr@gmx.net.

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da regulação normativa das con- Wittgenstein com respeito a ela


dutas foi vinculada à questão epis- se insere neste contexto e tem por
temológica capital acerca da de- primeira característica o desloca-
terminação do conhecimento, este mento da problematização da nor-
entendido como único meio pos- matividade e da sua justificação
sível de fundamentação de uma para o domínio linguístico, não o
norma objetivamente válida. A considerando mais como questão
Episthéme tornou-se então a ins- epistemológica ou relativa ao su-
tância prioritária e possibilitadora jeito (LEVY, 2007: 17), mas como
de fundamentação e de justifica- uma questão de esclarecimento
ção de uma regra, a partir dos de confusões conceituais advin-
pressupostos de estabilidade e ob- das da descompeensão do uso lin-
jetividade atribuidos ao conheci- guístico. Os pressupostos de sua
mento e que deveriam constituir perspectiva e as significativas con-
os pressupostos da normatividade sequências de seus posicionamen-
moral. Racionalmente concebido, tos no que se refere ao problema
o conhecimento deveria servir de da ética, serão os objetos de consi-
fundamento para a formulação de deração da argumentação a seguir.
princípios normativos universais,
ordenadores das relações entre os
indivíduos, mediando e estabele-
Pressupostos da perspectiva de
cendo um vínculo necessário en-
Wittgenstein e a questão da nor-
tre os âmbitos subjetivo e objetivo.
matividade
Como sabido, tal pretensão ja-
mais se realizou. Após incontáveis A filosofia de Wittgenstein surge
tentativas de viabilizá-la, o pensa- no contexto da perda da confi-
mento filosófico ocidental passou ança na possibilidade de um sa-
a considerar a própria premissa ber absoluto que marcou a filo-
como problema (KORSGAARD, sofia. Desta tendência Wittgens-
1996: 18) e pensadores viram-se tein assimila a crítica da preten-
confrontados com a necessidade são de conhecimento decorrente
de reconsideração da mesma. Na da relação sujeito (consciência) –
modernidade, a ascensão das ci- objeto e a percpção da necessi-
ências naturais abalou a pressu- dade de reconsideração deste pos-
posição da existência de alguma tulado (DUMMETT, 1988: 122),
determinação da vida humana e o que possui implicação direta na
abriu espaços para novas refle- sua ocupação com a lógica linguís-
xões acerca da justificação da nor- tica. O primeiro aspecto é decisivo
matividade moral. A reflexão de para se entender o segundo. Para
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Wittgenstein a noção tradicional a partir da ciência, tendo como


de conhecimento, de proveniên- horizontes privilegiados a inves-
cia metafísica (JOHNSTON, 1989: tigação matemática de Russell e
24), não podia mais ser mantida Withehead e a análise proposicio-
ante o estabelecimento da percep- nal de Frege, ao mesmo tempo que
ção de sua indemonstrabilidade busca equacionar a proeminência
e da consequente contradição de científica com a tentativa de sal-
seus pressupostos frente aos re- vaguardar a importância da re-
sultados e método das ciências na- flexão filosófica e particularmente
turais (GESSMANN, 2009: 21). com respeito à ética (GESSMANN,
Por outro lado, a filosofia ainda 2009: 30). No que concerne a
encontrava-se envolvida com pro- este aspecto específico, tendo no
blemas milenares, sem conseguir horizonte as refleções morais de
apresentar possibilidades convin- Russell e a filosofia moralde G. M.
centes de solução dos mesmos. In- Moore, os enfoques de considera-
fluenciado por esta perspectiva, ção de Wittgenstein se afastam da
sua filosofia coaduna-se ao di- pretensão tradicional de formu-
recionamento da filosofia anglo- lar uma nova proposta de funda-
saxã, em seu movimento de afas- mentação da ética e a compreen-
tamento com respeito à fenome- são disso pressupõe uma conside-
nologia (MONK, 1996: 2) e orien- ração de seus posicionamentos no
tação às análises de questões lógi- seu percurso intelectual.
cas e relativas ao estabelecimento Dado que a diferenciação di-
de regras do uso proposicional em cotômica entre os escritos e fa-
argumentações científicas e com ses já tenha sido há muito su-
pretensões de justificação de sen- perada (KIENZLER, 2017: 23)
tido. e hoje seja quase que consenso
Do positivismo lógico do cír- que não podem ser absolutamente
culo de Viena, passando pela te- separadas ou vistas como opos-
oria dos conjuntos de Russell e tas, o Wittgenstein tardio, dos
pela Conceitografia de Frege, em escritos não publicados, não pa-
perspectivas diferentes, a lógica, rece ser perfeitamente compreen-
e por meio dela o uso proposici- sível sem a mobilização de aspec-
onal, passaram a ocupar o lugar tos primeiramente apresentados
central da reflexão filosófica. Inse- no Tractactus logico-philosophicus.
rida neste contexto, Wittgenstein Enquanto neste escrito o filósofo
se mostra como em uma tensão analisa a linguagem referencial
dialógica entre a tentativa de deli- ou a análise semântica do signi-
mitar o conceito de conhecimento ficado como formas determina-

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das de funcionamento e de jus- nal de verificabilidade de signifi-


tificação da linguagem científica cado (WITTGENSTEIN, 1984c §
e com isso diferencia proposições 198: 344). Nesta nova aborda-
científicas de não científicas. Nos gem, uma proposição de uso co-
escritos posteriores Wittgenstein loquial não pode ser avaliada com
formula a concepção de jogos de os mesmos critérios de validação
linguagem (Sprachspiele) e seme- de uma proposição matemática,
lhanças de parentesco (Verwandts- pois ela, apenas por parentesco,
chaft) (WITTGENSTEIN, 1984c § se associa à primeira e ainda que
65: 277) para tentar interpretar a as relações conceituais da lingua-
questão do sentido no uso linguís- gem coloquial não se apresentam
tico para além dos pressupostos de forma sistematicamente com-
lógicos segundo os quais a lingua- preensível (JOHNSTON, 1989: 3).
gem científica fora anteriormente Por este motivo, aquilo que é dito
considerada. por seu intermédio não pode pos-
Se no Tractactus logico- suir a mesma pretensão de veri-
philosophicus seus esforços se vol- ficabilidade que uma proposição
tam para a evidenciação da orde- lógico-matemática, mas está, po-
nação lógica das proposições com rém, plenamente integrada ao uso
sentido em uma notação artificial linguístico no qual exitosamente
e delimitação daquilo que pode- ocorre. Esta diferenciação implica
ria ser considerada uma frase com em importantes desdobramentos,
sentido (HITOKIO, 1996: 10), em centrais para a concepção de fi-
escritos posteriores Wittgenstein losofia de Wittgenstein enquanto
amplia esta consideração para a atividade aclaradora do uso lin-
análise do sentido das proposi- guístico. Para ele, não possuindo
ções no seu uso exitoso nos jo- um ponto último e referencial que
gos de linguagem. Diante deste lhe garanta o significado, a propo-
novo horizonte o filósofo tende sição apresenta-se como relativa e
a indicar que o sentido das pro- dependente do uso, o que lhe con-
posições deve ser considerado a fere um significado relativo, toda-
partir do critério de verificação via não privado, pois nesse caso
implícito na linguagem em uso. ele seria ininteligível para outras
Desta forma, nas Investigações fi- pessoas (WITTGENSTEIN, 1984c
losóficas, o significado da proposi- § 243: 356) e nada poderia ser
ção é associado ao uso e não à re- dito.
ferência (WITTGENSTEIN, 1984c Diferenciando descrição de nor-
§ 138: 308), indicando com isso mas linguísticas de uma eviden-
a inexistência de um critério fi- ciação da estrutura lógica essen-

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cial, necessária e indeterminável capturados pela rede do mundo


da linguagem (WITTGENSTEIN, natural e da linguagem. Isso
1984a § 6.375: 82), Wittgenstein vale decisivamente para a ética,
percebe que a presunção de de- que então é aproximada da esté-
terminação de uma estrutura ló- tica, pois aquilo que ambas desig-
gica que garanta a justificação da- nam não pode ser encontrado no
quilo que é dito não é algo realizá- mundo (WITTGENSTEIN, 1984a
vel (WITTGENSTEIN, 1984d § 72: § 6.41: 83). O discurso ético com
115). Desse modo, suas reflexões pretensões efetivas de validade
sobre a lógica linguística e sobre universal não é ou mesmo pode
as propriedades lógicas do mundo ser construido mediante os mes-
o remetem à questão da normati- mos pressupostos argumentativos
vidade moral (WITTGENSTEIN, das ciências, pois o seu objeto não
1984d § 36: 77), acerca da qual pode ser identificado como um es-
um aspecto decisivo é a sua com- tado de coisas. Ele existe apenas
preensão da necessidade da filo- como possibilidade discursiva, o
sofia de afastar-se da pretensão que torna a reflexão sobre a ética
de proferir princípios fundantes transcendental, pois o seu objeto
acerca da natureza da realidade, não pode ser referencialmente in-
que é por ele indicada como a dicado (RHEES, 1996: 102). Este
fonte dos problemas filosóficos posicionamento é retomado por
(JOHNSTON, 1989: 3). Wittgenstein em sua Conferência
Apesar das mudanças de foco sobre a ética, proferida em Cam-
nas reflexões posteriores, no que bridge em 1930, a qual oferece
se refere à normatividade, a consi- aspectos importantes, relativos
deração da questão da ética nas re- a pressopostos de suas reflexões
flexões finais do Tractatus, adquire acerca da normatividade e praxis
grande importância. Naquele es- nos escritos posteriores. Daí ficar
crito Wittgenstein se refere ao uso claro que a consideração do Trac-
específico que a concepção lin- tatus é imprescindível à compre-
guística pautada nas frases ele- ensão dos posicionamentos assu-
mentares e lógica proposicional midos a partir da década de trinta,
representaria. Afirma, todavia, notadamente no que se refere a
que a filosofia não pode se ater questões normativas e com impli-
a ela, pois alguns dos seus obje- cações ético-morais.
tos de análise não se deixam indi-
car como configurações do mundo
e, portanto, não podem possuir
significado, por não poderem ser

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A normatividade no Tractactus vestigação de toda legalidade (Ge-


logico-philosophicus setzmässigkeit). E fora da lógica
tudo é acaso (Zufall)” . Em se-
Por conseguinte, questão da nor- guida, pautado na questão da re-
matividade ética não ocupa, ar- ferencialidade e da análise semân-
gumentativamente, uma posição tica do significado, o filósofo des-
central na exposiçção do Tractatus qualifica a indução enquanto lei
logico-philosophicus. Não se tra- lógica (WITTGENSTEIN, 1984a §
tando da regulação do uso propo- 6.31: 78), do mesmo modo que a
sicional, enquanto fundamento da causalidade, por esta possuir ape-
semântica na relação entre lingua- nas a forma de uma lei (WITT-
gem e efetividade (HINTIKKA, GENSTEIN, 1984a § 6.32: 78). O
1996: 233), ela nem mesmo é pressuposto primeiro destas afir-
mencionada. Mas considerando mações é a constatação de que
a grande proximidade da reflexão a lógica linguística não pode ser
anterior, notadamente a presente dita, ela é inexprimível, e pode
nas anotações nos Notebooks dos apenas ser mostrada no uso e por
anos 1914 – 16 e na carta envi- isso as lógicas linguísticas neces-
ada para Ludwig von Piker acen- sitam ser compreendidas nas suas
tuando o caráter ético do escrito especificidades para que seja pos-
(DIAMOND, : 152), evidência-se sível então afirmar algo acerca
que a reflexão no final do livro do seu sentido e relação com o
de 1921 pode ser compreendida mundo. Pressupondo que a lógica
como um posicionamento deci- é independente do mundo e cuida
sivo resultante da compreensão da de si mesma, mas sendo ela ape-
ausência de sentido de enunciados sar disso o meio de produzir afi-
com pretensões de validade obje- gurações (Abbildungen) do mundo
tiva, mas que não demonstram re- a partir da compatibilidade en-
ferencialidade em estados de coi- tre aspectos lógicos e estados de
sas. Pressupostas nesta questão coisas, Wittgensteinn pressupõe
estão também a teoria pictórica e que estes jamais são esclarecidos,
a ideia de independência da ló- mas afigurados (abgebildet), pois:
gica com respeito ao mundo, que “A figuração representa a situa-
então constituem o núcleo da con- ção no espaço lógico. A existen-
sideração do caráter semântico- cia e inexistência de estados de
interpretativo da normatividade coisas” (WITTGENSTEIN, 1984a
e de sua interpretação. Em TLP § 2.11: 14) e, assim, “A figuração é
6.3 Wittgenstein afirma: “A in- um modelo da realidade” (WITT-
vestigação da lógica significa a in- GENSTEIN, 1984a § 2.12: 15) e

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não a sua descrição última. sições da ciência (WITT-


Ao afirmar que a lógica deve GENSTEIN, 1984a § 6. 34:
cuidar de si mesma, Wittgenstein 78).
tem em vista evidenciar que toda
lógica possui sentido, todavia, este A mecânica, que “determina uma
não pode garantir a validade refe- forma de descrição do mundo”
rencial das inferências a não ser (WITTGENSTEIN, 1984a § 6.341:
que ela figure fatos ou estados de 78), e o sistema numérico, que
coisas a partir de compatibilida- determina a forma de concatena-
des lógicas. Por conseguinte, in- ção lógica das proposições cientí-
dução e causalidade não podem ficas, deve, sob o ponto de vista
constituir leis relativas à efetivi- lógico, compreender que uma fi-
dade, pois apenas demonstram a guração (Bild) assim concebida,
forma lógica de suas formulações “se deixa descrever por meio de
proposicionais, mas são incapazes uma rede de uma forma dada,
de garantir que suas aplicações isso não diz nada sobre a imagem”
garantam a afiguração de fatos. (WITTGENSTEIN, 1984a § 6.342:
Disso decorre, que para Wittgens- 79). Do mesmo modo, a mecâ-
tein, “o que é certo a priori revela- nica não diz nada sobre o mundo
se como algo puramente lógico” além das possibilidades lógicas de
(WITTGENSTEIN, 1984a § 6.321: descrever a imagem, “mas apenas
78), ou seja, um princípio aprio- que ela se deixa descrever deste
rístico mostra apenas uma forma modo” .
proposicional lógica, mas isso não A menção a estes aspectos tem
garante a necessidade de a tomar- aqui o sentido de evidenciar que
mos como uma proposição com a descrição científica do mundo,
significado. pautada em uma ordenação lógica
e com pretensões de signicado,
Todas as proposições, não trata de determinações, mas
como a proposição do de generalidades que se deixam
princípio de razão sufi- figurativamente confirmar em es-
ciente (Satz vom Grunde), tados de coisas e fatos. O que há
da continuidade na natu- de apriorístico nelas é a forma ló-
reza, do esforço mínimo gica, mas não a garantia a priori
na natureza etc., etc., to- de que a partir delas tudo se dará
das elas são introspecções como em um sistema numérico,
(Einsichten) a priori acerca pois “Leis como o princípio de
da possível formatação razão, etc., tratam da rede, não
(Formgebung) das propo- do que a rede descreve” (WITT-
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GENSTEIN, 1984a § 6.35: 80). acordo com a perspectiva de Witt-


Neste sentido, com respeito à genstein, a norma pode ser inter-
regulação lógica, é decisivo com- pretada como produto das possi-
preender a diferença estabelecida bilidades lógicas autonomas, fun-
por Wittgenstein entre dizer (Sa- dada em um pressuposto de ve-
gen) e mostrar (Zeigen), enquanto racidade figurativa mas que não
noção central no que se refere a lhe garante sua significação efe-
afigurações. Leis são simplifi- tiva plena. Se a lógica ultrapassa
cações descritivas de fatos acon- aquilo que percebemos e mostra-
tecidos, postas em concordância mos dela e a sua relação figura-
com nossas experiências, mas “é tiva com o mundo é o limite da-
claro que não há nenhuma razão quilo que podemos afirmar so-
para acreditar que realmente ocor- bre ele, então ela não é ou pode
rerá o caso mais simples” (WITT- ser uma doutrina (Lehre), mas sim
GENSTEIN, 1984a § 6.3631: 81), “uma imagem reflexa (Spiegelbild)
por isso, segundo o filósofo, “toda do mundo” . Ela é transcendental
moderna visão de mundo está (WITTGENSTEIN, 1984a § 6.13:
fundada na ilusão, de que as cha- 76) pois está fora dele e o ul-
madas leis naturais sejam as ex- trapassa em possibilidades. Ela
plicações das manifestações natu- significa as possibilidades de afi-
rais (Naturerscheinungen)” (WITT- guração (Abbildung) do mundo,
GENSTEIN, 1984a § 6.371: 81). conferindo-lhe sentido, pois a
Não é possível aqui seguir e “figuração (Bild) afigura a reali-
analisar todos os aspectos da te- dade ao representar uma possibi-
oria pictórica do significado de lidade de existência ou inexistên-
Wittgenstein, ou seja, de que no cia de estados de coisas” (WITT-
uso proposicional lidamos primei- GENSTEIN, 1984a § 2.201: 16).
ramente com as imagens (Bilder) Sendo assim, a lei, que segue na
dos estados de coisas que, em- sua descrição um princípio lógico,
bora logicamente ordenadas e em produz uma figuração (Bild) da-
compatibilidade com aspectos ló- quilo que é o caso, mas não o de-
gicos da efetividade, não apresen- termina. Por esse motivo, a norma
tam garantias de verdade (WITT- é um produto de algo que é inde-
GENSTEIN, 1984a § 2.1 – 2.225: pendente do mundo, que o trans-
14 - 17). O que se deseja ressal- cende, e muito embora possa ser
tar aqui, são as dificuldades im- interpretada como uma ponte en-
plicitas nestes pressupostos, com tre linguagem e efetividade (HIN-
respeito ao critério de justificação TIKKA, 1996: 240), uma descri-
da norma. Em última análise, de ção de regulações não pode plei-

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tear ser uma descrição estrutural há apenas uma necessidade ló-


dela. gica e, portanto, apenas uma im-
possibilidade lógica (WITTGENS-
TEIN, 1984a § 6.375: 82), pode-
se compreender que Wittgenstein
A ética no Tractactus logico-
indica a impossibilidade anteci-
philosophicus
patória da tautologia, que jun-
Pensemos agora nos desdobra- tamente com a contradição, não
mentos destes pressupostos sob o consistem em figurações da reali-
ponto de vista de suas consequên- dade (WITTGENSTEIN, 1984a §
cias para a filosofia e, mais espe- 4.462: 43). Desse modo, a afigu-
cificamente para a reflexão ética, ração apenas pode ter significado
dada a sua inclinação normativa. quando afiguração de algo. Pro-
Se em sua dimensão filosófica – posições de leis éticas de sentido
e ética - o Tractatus tenciona de- prescritivo, na forma “tu deves...”
monstrar que muitos problemas (Du sollst), não afiguram nenhum
filosóficos decorrem da má com- estado de coisas, pois a compre-
preensão da lógica da linguagem ensão lógica do sentido da pro-
empregada pela filosofia, o que posição e de suas consequências
possibilita que se entenda o sen- esclarecem apenas a sua estrutura
tido do livro a partir da conhe- lógica, que não pode acegurar que
cida afirmação segundo a qual “o ela afigure um estado de coisas.
que se deixa absolutamente di- Por esse motivo, tal como a fi-
zer, deixa-se dizer claramente e, losofia, que “deve significar algo
acerca daquilo que não se pode que esteja acima ou abaixo, mas
falar, é necessário que se cale” não ao lado, das ciências naturais”
(WITTGENSTEIN, 1984a § Pre- (WITTGENSTEIN, 1984a § 4.111:
fácio: 9), podemos nos aproximar 32), a ética não apenas não afi-
da consideração de Wittgenstein gura estados de coisas referenciá-
acerca da impossibilidade cientí- veis, como não se deixa dizer (aus-
fica da filosofia (WITTGENSTEIN, sprechen), pois é transcendental
TLP, 6.53: 85), do mesmo modo (WITTGENSTEIN, 1984a § 6.421:
que da impossibilidade de fun- 83) e, desse modo, una com a es-
damentação de proposições éticas tética, haja visto ambas extrapola-
(WITTGENSTEIN, 1984a § 6.42: rem o uso significativo das propo-
83), enquanto aspectos importan- sições. Assim sendo, Wittgenstein
tes para a sua consideração da nor- a considera como expressão de um
matividade e da sua justificação. estado psicológico com implica-
Partindo do pressuposto que ções místicas (WITTGENSTEIN,

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1984a § 6.44: 83), uma intui- categórico. Se ela for também


ção (Anschauung) limitada (WITT- entendida enquanto atitude ante
GENSTEIN, 1984a § 6. 45: 84), o mundo e não como doutrina
que não pode nem atribuir valor, e compreendida no contexto que
nem alterar o mundo. Este pode Wittgenstein delimita para a filo-
apenas ampliar as fronteiras ló- sofia, a sua reflexão deve se diri-
gicas do mundo, as possibilida- gir primeiramente para o esclare-
des de se referir a ele, mas sem cimento dos pensamentos acerca
modificá-lo. das ações humanas, a fim de deli-
mitar o que pode ser dito e sobre
o que é necessário calar com res-
Se o bem e o mal que- peito a este tema. Neste sentido, a
rer muda o mundo, isso problematizão da ética no Tracta-
pode apenas alterar os li- tus se apresenta adequada à consi-
mites do mundo (Gren- deração da própria atividade filo-
zen der Welt), não os fa- sófica, cuja finalidade “é o esclare-
tos: não isso, que pode ser cimento lógico dos pensamentos”
expresso pela linguagem. , e que por isso, não é ou pode
Sucintamente, o mundo ser uma doutrina (Lehre), mas
necessita, por meio disso, deve ser tomada como uma ati-
ser absolutamente outro. vidade, que consiste essencial-
Ele necessita, por assim mente no elucidar, no aclarar
dizer, diminuir ou crescer de proposições (WITTGENSTEIN,
como um todo. O mundo 1984a § 4.112: 32) com signifi-
do feliz é um outro que do cado. Considerando-se que a fil-
infeliz (WITTGENSTEIN, sofofia “delimita a área disputá-
1984a § 6.43: 80). vel da ciência natural” (WITT-
Assim sendo, podem as conclu- GENSTEIN, 1984a § 4.113: 33)
sões do Tractatus com respeito e, internamente, o pensável por
à lógica adquirirem um sebtido meio do impensável (WITTGENS-
ético. Entendida como uma pers- TEIN, 1984a § 4.114: 33), o seu
pectiva de normatização das ações caráter não pode ser então nor-
humanas, mas pressuposta a ine- mativo, mas deve ser terapêutico,
xistência de algo que lhe garanta caso contrário ela violaria a bipo-
a necessidade, a ética para Witt- laridade requerida pelas proposi-
genstein deve abdicar tanto da ções com sentido (SCHROEDER,
pretensão de vir a constituir um 2006: 99). A sua tarefa deve então
discurso significativo, como de vir ser o dissolver problemas filosó-
a possuir um caráter prescritivo ficos, demonstrando os equívocos

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lógicos do uso linguístico contido à sociedade auto nomeada “Os


neles. heréticos” , quando do retorno
Em seu pertencimento inerente de Wittgenstein após quase dez
à filosofia, a reflexão ética ultra- anos de distanciamento da filo-
passa o uso proposicional das ci- sofia acadêmica, a questão cen-
ências. Ela se dá em um domí- tral mobilizada contra a preten-
nio transcendental de reflexão, no são filosófica de formulação de
qual pode ser colocada para além uma ética normativa é pratica-
dos pressupostos usuais de pena- mente a mesma mobilizada no fi-
lidade, recompensa, consequên- nal do Tractatus (ARRINGTON,
cias (WITTGENSTEIN, 1984a § 2017: 607). Na conferência é no-
6.422: 83), de vontade particu- vamente abordado o problema da
lar (WITTGENSTEIN, 6. 423: 83) ausência de referencialidade pos-
e de temporalidade (WITTGENS- sível das proposições normativas
TEIN, 1984a § 6.4311: 84). Ela se em sentido absoluto (WITTGENS-
direciona ao místico, ao enígma TEIN, 1989: 11), todavia, nesta
não de como o mundo é, “mas fala Wittgenstein já dá indica-
de que ele é” (WITTGENSTEIN, ções dos novos horizontes aber-
1984a § 6. 44: 84), de que existe tos, dentre outros aspectos, pelo
para além das fronteiras de ex- afastamento de uma visão fisica-
pressão e de determinação. Ante lista do uso proposicional (HIN-
esta constatação, a última possi- TIKKA, 1996: 236). Este pressu-
bilidade para a filosofia e para posto pode ser percebido na po-
a ética é o ultrapassamento das sição apresentada por Wittgens-
proposições metafísicas com pre- tein, segundo a qual avaliações
tensão de sentido, mostrando-as relativas se referem a fatos, mas
como sem sentido (unsinnig), to- delas não se pode deduzir uma
davia lhes garantindo um outro avaliação absoluta, pois embora
sentido, não referencial, a partir não haja “nenhuma proposição,
da importância dos seus modos que em elevada (erhaben) presun-
outros de formular questões re- ção de sentido absoluto seja im-
lativas à existência humana. portante ou sem importância (be-
langlos)” (WITTGENSTEIN, 1989:
12), isso não pode significar que
a ética como disciplina científica
Ética pós Tractactus
exista propriamente (überhaupt
Na Conferência sobre a ética, profe- gäbe). A sua existência é colo-
rida em dois momentos em 1930 cada em questão devido ela não
na universidade de Cambridge poder ser expressa em palavras

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referentes a alguma configuração mostra que há a dificuldade de se


de mundo e, por isso, poder ape- encontrar (finden) aquilo que nós
nas de modo problemático preten- pensamos (meinen) com nossas ex-
der possuir sentido (Sinn) e signi- pressões éticas e religiosas.
ficado (Bedeutung) referenciais.
Proposições com pretensões ab-
solutas de sentido, logicamente Isso significa: eu vejo
necessárias, são proposições sem agora, que estas expres-
significado, pois “um tal estado sões sem sentido não eram
de coisas, eu gostaria de afirmar, é sem sentido devido eu
uma quimera (Hirngespinst). Não não ter achado as expres-
há nenhum estado de coisas que sões corretas, mas que
– como eu gostaria de propor – a sua ausência de sen-
que possua força de obrigação de tido (Unsinnigkeit) cons-
um juiz absoluto” (WITTGENS- titui propriamente a sua
TEIN, 1989: 14). Por outro lado, essência. Pois eu que-
também experiências individuais ria lograr (hinauszugelan-
(Erlebnisse), mesmo que apresen- gen) usá-las precisamente
tando grande similaridades com de forma supramundana
outras, não podem ser associadas (über die Welt) - isso signi-
a nenhuma base absoluta – assim fica, para além da lingua-
como estados de consciência com gem com sentido (sinn-
tal pretensão – por constituirem- volle Sprache). (WITT-
se em casos de abusos linguísticos GENSTEIN. 1989: 18).
pensados sem referencialidade, Este é, para Wittgenstein, o im-
portanto expressões linguisticas pulso (Trieb) de todos os homens
sem sentido (Unsinn). que tentaram “escrever ou falar
Wittgenstein afirma que é isso sobre ética e religião” , o que os
que ocorre em “todas as formas levou a conflitarem com os limites
de expressão éticas e religiosas” da linguagem, contra as “paredes
(WITTGENSTEIN, 1989: 16). Tais de nossa sela” (Wände unseres Kä-
proposições consistem em metáfo- figs), em um esforço absoluta-
ras sem objetos, aos quais se possa mente sem perspectiva (absolut
atribuir com sentido valor abso- aussichtslos). Tão logo a ética de-
luto (WITTGENSTEIN, 1989: 17). corra do desejo de se falar do sen-
Todas as proposições que visem tido da vida e do bem absoluto,
conferir caráter absoluto a experi- ela não pode ser nenhuma ciência.
ências éticas ou religiosas carecem Trata-se apenas de um impulso da
de sentido, pois a análise lógica consciência humana e isso não lhe
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confere um valor menor, mas ape- ação (WITTGENSTEIN, 1984c §


nas uma outra delimitação de sen- 15: 244), quando então as pos-
tido. sibilidades lógicas e usos propi-
A questão da ausência de sen- ciam uma ampliação da lingua-
tido das proposições ético – nor- gem (WITTGENSTEIN 1984c §
mativas oferece a indicação dos 8: 241) e multiplicidade de jo-
rumos seguidos por Wittgensten gos linguísticos. Originariamente
na sua fase intermediária de re- pensada sob o registro da nomea-
flexão, quando as problematiza- ção de objetos (WITTGENSTEIN,
ções sobre a gragmática e norma- 1984c § 2: 238) e da ligação en-
tividade, desde os Cadernos mar- tre estas aferições, a linguagem é
rom (1933 – 34) e Azul (1934 - 35) entendida por Wittgenstein como
se direcionam para suas inserções sistema de comunicação cons-
nas questões relativas aos jogos de truído a partir destes pressupos-
linguagem dos últimos textos, de- tos, mas que acaba por ultrapassá-
cisivamente na Gramática filosófica los, o que implica para ele no des-
e nas Investigações filosóficas. locamento da questão do signi-
ficado (Bedeutung) das palavras
não mais pensado relativamente a
suas designações referenciais, mas
Análise da normatividade e sua
ao seu uso (Gebrauch) linguístico
amplitude ética nas Investiga-
(EBBS, 2017: 291). Sob o ponto
ções filosóficas
de vista de que com o advento
Uma problematização mais espe- desta perspectiva o uso linguís-
cífica com respeito à normativi- tico torna-se “falar uma lingua-
dade encontra-se no material que gem como parte de uma atividade
constitui as Investigações filosófi- ou forma de vida” (WITTGENS-
cas e devido a isso pensada me- TEIN, 1984c § 24: 250), é então
diante a centralidade da noção relativizada a noção de referenci-
de jogos de linguagem (Sprachs- alidade, pois o nomear e o escla-
piele), que Wittgenstein desen- recer da nomeação são pensados,
volve também a partir dos Ca- diferentemente da concepção filo-
dernos. A concepção de jogos de sófica de assimilação designativa,
linguagem pressupõe uma aná- a partir de noções como treina-
lise do funcionamento primitivo mento e aprendizado, tornando-
da linguagem (KIENZLER, 2007: se assim parte dos jogos de lin-
25), mas também da dinamici- guagem (WITTGENSTEIN, 1984c
dade e multiplicicidade posteri- § 27: 252). A partir destes no-
ores ao estágio inicial de nome- vos pressupostos e de posiciona-

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mentos como “ordenar, questio- duas considerações mais direcio-


nar, narrar, tagarelar, pertencem a nadas ao problema da regulação.
nossa história natural, do mesmo Tratam-se das passagens § 82 – 87
modo que andar, comer, beber, e § 138 – 242 (EBBS, 2017: 390).
jogar” (WITTGENSTEIN, 1984c A primeria destas considerações
§ 25: 251), Wittgenstein indica a indica a necessidade de se perce-
importância de “constatar que a ber com clareza “os conceitos de
palavra ‘significação’ é usada em entender (Verstehen), compreen-
contradição linguística (sprachwi- der (meinen) e pensar (Denken)”
drig), quando se designa com ela com respeito à consideração da ló-
a coisa que ‘corresponde’ à pala- gica como ciência normativa do
vra. Isto é, confunde-se a signifi- uso proposicional e ante a pressu-
cação de um nome com o porta- posição de construção de uma lin-
dor do nome” (WITTGENSTEIN, guagem ideal (WITTGENSTEIN,
1984c § 40: 261) e indica que 1984c § 81: 288). Tendo em vista a
“o significado de uma palavra é consideração da regulação grama-
o seu uso na linguagem” (WITT- tical, a primeira objeção de Witt-
GENSTEIN, 1984c § 43: 262). genstein diz respeito à questão da
Este posicionamento traz signifi- amplitude de determinação da re-
cativas repercussões para a con- gra, o que o remete a afirmar a
sideração dos discursos normati- impossibilidade de comparar a ló-
vos com pretensões determinis- gica da linguagem usual com a ló-
tas ou universalistas, pois a partir gica argumentativa da ciência na-
disso, para Wittgenstein, o signifi- tural ou associar a primeira a uma
cado de toda referencialidade não pretensão ideal de linguagem com
pode mais ser tomado como uní- aspirações de pré-determinação
voco (WITTGENSTEIN, 1984c § da significação (KIENZLER, 2007:
85: 288) e, portanto, a normativi- 29). O pressuposto então implí-
dade em sentido imperativo não cito nestes pontos de vista é o de
pode oferecer garantia alguma se que o uso de uma regra não ofe-
pretender basear-se no uso lin- rece argumento algum que indi-
guístico referencial epistemologi- que uma regra última ou ideal que
camente concebido, pois no caso justifique a primeira, mas sim que
da linguagem usual, não há nem há uma lógica envolvida no dis-
referência última e nem um fator curso significativo, cuja determi-
que garanta que a regra seja uni- nação não é absoluta e carece de
vocamente compreendida e, por- compreensão.
tanto, efetivamente significativa. Usando a analogia entre lingua-
Nas Investigações, portanto, há gem e jogo, Wittgenstein indica

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que por mais regulado que seja determinável, mas interpretativo.


este último, ele não se deixa ple- O caráter interpretativo significa
namente regular por suas regras, que não há garantias da ocorren-
pois ocorrem dúvidas de interpre- cia direta de uma ação a partir de
tação e possíveis alterações das um enunciado, dado que a ação é
mesmas durante o jogo (WITT- mediada por uma interpretação e
GENSTEIN, 1984c § 83: 287). As esta é para ele uma questão empí-
regras portanto, tem um efeito re- rica, não filosófica, ou seja, ela é
gulador, que, todavia, não pode considerada sob o ponto de vista
ser previamente determinado por do funcionamento usual da lin-
nenhuma regulação, pois primei- guagem e não a partir da signfi-
ramente se dá apenas uma descri- cação de uma noção ou conceito
ção da regra em uso e, em segundo determinante, como por exemplo
lugar, não há nada que indique o de exatidão (WITTGENSTEIN,
a sua manutenção, pois durante 1984c § 88: 291). Muito embora
todo o tempo do jogo pessoas jo- isto não exclua os critérios de ver-
gam um jogo e se “comportaram, dade e falsidade inerentes à lin-
a cada jogada, segundo determi- guagem (Wittgenstein, 1984c §
nadas regras” , não pressupondo 135: 306), o pressuposto da eluci-
necessáriamente serem elas as re- dação do significado da regra não
gras iniciais. Regras significam pode ser delimitado por relações
então a regulação de um jogo en- lógicas, pois estas nunca se com-
quanto ele continua a ser jogado, pletam, repousando a função da
independentemente de qaulquer elucidação em “afastar ou impedir
alteração que ele venha a sofrer um mal-entendido” surgido sem
e nisso reside o seu caráter ló- ela, “mas não todo aquele que eu
gico com respeito ao seu reco- pudesse me representar” (WITT-
nhecimento. Neste ponto espe- GENSTEIN, 1984c § 87: 289).
cífico é indicado um segundo as- Se pensado segundo pressupos-
pecto de consideração que toca tos lógicos, como por exemplo o
não na significação do enunciado de exatidão, chega-se à compre-
da regra, mas na questão da sua ensão de que quando não relaci-
compreensão. Para Wittgenstein onadas a questões referenciais es-
sendo a regra entendida como um pecíficas, como a “determinação
“indicador de caminho” (WITT- do tempo em laboratório ou num
GENSTEIN, 1984c § 83: 287), ela observatório” , estes pressupostos
é dependente de uma compreen- evidenciam uma discrepância en-
são de seu sentido, o que pres- tre os seus pressupostos e os es-
supõe um processo também não tados de coisas, o que possibilita

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que se especule acerca do caráter sentido, como forma de estabe-


sublime da lógica (WITTGENS- lecer as possibilidades dos acon-
TEIN, 1984c § 89: 291), ou seja, tecimentos. Isto se deve ao fato
acerca da sua diferenciação com de que mesmo tomada como a es-
respeito à linguagem e ao mundo. sência última da linguagem, a ló-
Por conseguinte, para Wittgens- gica, a “ordem a priori do mundo”
tein a finalidade da elucidação ló- , “a ordem das possibilidades” co-
gica não é fazê-la compreensível muns ao mundo e ao pensamento,
em si mesma, mas “compreender só se mostra de forma concreta
algo que já esteja diante dos nos- (WITTGENSTEIN, 1984c § 97:
sos olhos, pois parecemos em al- 294), de modo que sob o ponto
gum sentido não compreender de vista linguístico a “linguagem
isto” (WITTGENSTEIN, 1984c § está em ordem, tal como está” ,
89: 291). pois “onde há sentido, deve exis-
Vista deste modo, a análise ló- tir ordem perfeita – portanto, a or-
gica não pode ser confundida com dem perfeita deve estar presente
uma investigação empírica, pois na frase mais vaga” (WITTGENS-
“não se volta para os aconteci- TEIN, 1984c § 98: 295). Uma des-
mentos (Erscheinungen), mas como crição lógica explicita apenas um
pode-se dizer as possibilidades dos acontecimento lógico e não a ló-
acontecimentos. Nós refletimos gica em si mesma. Analisada a
significa, [refletimos] sobre a es- partir da ordem que lhe confere
pécie dos pronunciamentos (Art der um determinado sentido (WITT-
Aussagen), que nós fazemos sobre GENSTEIN, 1984c § 99: 295), esta
os acontecimentos” (WITTGENS- ordenação, portanto, não pode
TEIN, 1984c § 90: 292). Neste ser tomada como o ponto norma-
sentido, a análise lógica do signi- tivo último, pois não há indica-
ficado ocupa-se com um sentido ção de uma delimitação possível
normativo lógico, que não deve dos jogos ou de suas modificações
ser pensado como antecipatório, (KUUSELA, 2011: 451). Acre-
mas como terapeutico (WITT- ditar nisso é não compreender a
GENSTEIN, 1984c § 133: 305). cegueira causada por um ideal
Antes de tentar esclarecer o que das formas de expressão e, por-
seria um discurso com sentido, a tanto, com respeito à palavra jogo
lógica estabelece a sua forma, in- (WITTGENSTEIN, 1984c § 100:
dependente das coisas a partir da 296). A identificação da multipli-
qual algo pode ser dito, todavia cidade de estruturas lógicas acaba
não a sua verdade, mas as possi- por revelar as relações de paren-
bilidades de formular algo com tesco entre os jogos linguisticos,

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mas também suas diferentes pres- jogo é mediado por uma compre-
suposições de significação. Ne- ensão e por um uso, não por algo
nhuma descrição lógica é capaz necessáriamente existente (WITT-
de abarcar esta multiplicidade di- GENSTEIN, 1984c § 139: 308), de
nâmica e por isso a pretensão de modo que “falar da palavra ade-
descrição de uma essência lógica quada não mostra a existência de
da linguagem se revela como sem uma coisa qualquer etc. Estamos
sentido e resultante de ilusões gra- muito mais inclinados a falar da-
maticais (WITTGENSTEIN, 1984c quela coisa qualquer do gênero
§ 110: 299). Este, identifica Witt- de imagem” (Idem, a). O argu-
genstein, é um dos problemas da mento da geração de uma imagem
filosofia, decorrente de sua fixa- no ato de compreensão de uma
ção no princípio da identidade palavra, mesmo que descartado
do nome e de sua desconsidera- por Wittgenstein, busca indicar o
ção dos diferentes usos linguísti- carater não imediatamente lógico
cos, algo que deve ser abandonado deste processo. A imagem é mo-
em favor da elucidação das regras bilizada como argumento alterna-
de uso de casos linguísticos con- tivo a uma interpretação lógica do
cretos, desconsiderando a preten- uso linguístico, busca evidenciar
são de normatiza-los justificada- fatores psicológicos do processo,
mente. de modo que nem a compreensão
lógica do enunciado, nem a ten-
tativa de sua vinculação a algo,
Queremos estabelecer podem ser tomados como fato-
uma ordem do nosso co- res de justificação da proposi-
nhecimento do uso da lin- ção. Por estes motivos, a justifi-
guagem: uma ordem para cação da normativa necessita ser
uma finalidade (Zweck) pensada segundo um registro lin-
determinada; uma ordem guístico outro que não o empírico
dentre as muitas possí- (JOHNSTON, 1989: 100) ou o ló-
veis; não a ordem. (WITT- gico, pois “entre o comando e a
GENSTEIN, 1984c § 132: realização há um abismo, que ne-
304) cessita ser fechado por meio da
A normatização torna-se critério compreensão” (WITTGENSTEIN,
apenas se adequada a uma noção 1984c § 431: 415). Este aspecto
de significação em um uso propo- trata do relevante paradoxo apre-
sicional, que não pode ser tomado sentado por Wittgenstein no § 201
como unívoco, haja visto que o das Investigações acerca da rela-
significado de uma palavra neste ção entre regra e determinação da

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ação, que Kripke identifica como socia ao problema da linguagem


provavelmente o problema cen- privada (KORSGAARD, 1996:
tral das Investigações (KRIPKE, 96), pressupõe minimamente dois
1982: 7) e que implica na nega- pontos: A) a reflexão normativa
ção de existência de uma regra pressupõe um aspecto interpreta-
última não passível de interpre- tivo singular, mas está determi-
tação (WITTGENSTEIN, 1984c § nantemente ligado a uma prática
201: 345) e, desse modo, na com- intersubjetiva, para a qual uma
preensão da significação da noção fundamentação última não existe,
de práxis relativa ao agir norma- dadas as possibilidades da inten-
tivo (WITTGENSTEIN, IF, 202: ção do processo anímico (WITT-
345). Isto pressupõe a compre- GENSTEIN, 1984c § 205: 346).
ensão da imprevisibilidade dos Por este mesmo motivo, B) ela não
jogos, mesmo quando as regras pode ser universalizada, pois a
são conhecidas (WITTGENSTEIN, compreensão da regra não se dá
1984c § 198: 344), o que resulta na de forma unívoca, dada a dinami-
percepção de que consequências cidade das regras e de suas inter-
decorrem de fatores que não po- pretações, pois:
dem ser determinados, dado que
“todo agir segundo a regra é exe-
gese [Deuten]” (WITTGENSTEIN, Seguir uma regra é aná-
1984c § 201: 345). Com isso Witt- logo a acatar uma ordem.
genstein pontua a questão da in- É-se treinado e reage-se a
terpretação particular da regra, isso de um modo determi-
pois para ele: nado. Mas o que acon-
tece então quando alguém
seguir a regra’ é uma prá- reage diferentemente á or-
xis. E acreditar seguir a re- dem e ao treinamento
gra não é seguir a regra. E, (Abrichtung) de um modo
a partir disso, não pode- (so) e o outro de ou-
mos seguir a regra ‘priva- tro modo (anderes)?“ (...)
damente’ (privatim); por- “o modo comum das for-
que, senão, acreditar se- mas de ação humanas é
guir a regra seria o mesmo um sistema de referências,
que seguir a regra (WITT- por meio do qual nós in-
GENSTEIN, 1984c § 202: terpretamos (deuten) uma
345). outra linguagem (WITT-
GENSTEIN, 1984c §, 206:
Este posicionamento, que se as- 346).
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Quando uma regra majoritaria- Neste sentido, há interpre-


mente funciona, ela é seguida tes que ressaltam a inclinação
cegamente (Blind) (WITTGENS- pragmática da reflexão ético-
TEIN, 1984c § 219: 351), norteada normativa em Wittgenstein (MO-
pela designação da uma definição RENO, 2005: 23). Outros mencio-
(WITTGENSTEIN, 1984c § 239: nam a importância das suas refle-
355) e então o fator interpretativo xões para a distinção entre mora-
não desempenha função determi- lista e filósofo moral (DIAMOND,
nante e com esta compreensão 1995: 367) e ainda aqueles que
é possível evitar uma “descrição acentuam o desafio do conflito re-
mitológica do uso de uma regra” sultante das reflexões wittgenstei-
(WITTGENSTEIN, 1984c § 221: nianas no que se refere à impor-
351). Os aspectos interpretati- tância da análise da normativi-
vos e de impossibilidade de jus- dade e da sua impossibilidade de
tificação de uma regra associa- fundamentação última, como Ru-
dos ao já exposto dão indicações dolf Haller.
de como Wittgenstein aproxima
a tarefa terapeutica de clarifica-
ção das confusões conceituais e do A ética nunca poderá ser
evidenciar os jogos de linguagem uma ciência em sentido
implícitos em uma atitude ética rigoroso, pois o cânone
(Diamond, 2000: 169) com res- de regras, que observa-
peito ao mundo à alteridade. Com mos nas nossas ações, ou
eles pode-se especular qua a pre- opera com valores rela-
tensão de uma norma ética não tivos e não é, por con-
pode ser prescritiva, mas que tam- seguinte, universal, ou
bém não tem significado restrito a baseia-se em valores abso-
um posicionamento autoreferente lutos, que só podem ad-
(JOHNSTON, 1989: 122). Não quirir vigência subjetiva,
se trata de um posicionamento já que não se pode obje-
cético com respeito a ética, mas tivar para eles nenhuma
com respeito a sua fundamenta- suposição de existência
ção (KRIPKE, 1982: 17), para com (HALLER, 1991: 56).
isso evidenciar as confusões que Por fim, a reflexão de Wittgens-
resultam da pretensão de funda- tein sobre normatividade apre-
mentação e então reposicionar-se senta fortes indícios para que se
ante a questão da ética sob um compreenda a sua proposta de
ponto de vista prático, de uma ati- atividade filosófica enquanto elu-
vidade. cidação das bolhas conceituais
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como uma atitude ética. Esta, dências empíricas, nem pretender


todavia, não pode ter pretensão algum tipo de alteração valora-
doutrinal e se associa muito mais tiva do mundo. Ela se caracteriza
a uma experiência religiosa trans- pela reflexão sobre a existência
cendental que ultrapassa a limi- humana e pela fruição de valores
tação de perspectivas meramente positivos elevados tendo em vista
subjetivas. Esta crença moral, po- o bem viver, que busca a sua va-
rém, tem de ser entendida tam- lidade na ampliação das possibili-
bém em um sentido estético, pois dades de se considerar o mundo.
não pode nem se basear em evi-

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