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Ela estava ali, parada.

Era como se o mundo inteiro estivesse naquele pedaço de


papel. Lágrimas tímidas, a princípio, começaram a escorrer por aqueles olhos cremosos.
De repente, rasgou pela porta, uma sombra esguia, lânguida escorria pelas paredes. Os
olhos encontraram-se com as mãos frias, mas acolhedoras. As lágrimas, antes tímidas,
tornaram-se tempestade. Catharina não acreditava no que acabara de ler; as palavras
foram-se misturando, sua voz fugia-lhe naquele segundo. O tempo do relógio de nada
mais importava, as letras saíram, gigantescas, do papel e começaram a devorar o pobre
corpo daquela mulher, com olhos cremosos de menina. Isabel, não sabia o que fazer ou
dizer para salvá-la da devastação; entrou pelo quarto, iluminado pela luz de uma vela, e
correu a acudir a liquidez do espírito de Catharina.

- Catharina, não chore, me dói nos ossos, enxergar esta doce água que tem teus
olhos, escorrer lhe pela pele!

As duas, ali, permaneceram. Catharina, com o peito em nó, não conseguia se


mover, a dormência de seu corpo subia-lhe pela espinha e terminava a badalar o sino em
suas têmporas. Isabel, aturdida, secava com um lenço de algodão aquela pele rósea que
tanto desejava...Elas estavam sozinhas, entre as paredes geladas.

Isabel ardia em desejo, enquanto o lenço descia pelas maçãs do rosto de


Catharina.

Outubro 2008

E lá estava ela novamente apaixonada: “Eu sabia! Eu sabia! No fim isso sempre
acontece...” E ela sabia que aquela era a última vez que olhava o mar com aqueles olhos
cor de mel do lado...

Mas não queria acreditar, ou melhor, não queria aceitar que aquilo de mais
breve, tem como sua beleza o momento de durar apenas um piscar de olhos levemente
demorado... Por quanto tempo mais você acreditava que isso seria inacreditavelmente
delicioso e obsceno? Ora, não me faça gargalhar na sua cara! E ela desceu o degrau
entre as estrelas e a velha e pacata rotina de ser aquela mulher de sempre...

Agosto 2010

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