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ARTIGO ORIGINAL
RESUMO INTRODUÇÃO
Objetivo: propor uma metodologia para a análise ci- O atletismo é considerado um esporte básico, pois a
nemática da corrida de 50m de escolares. Método: para a sua iniciação constitui a primeira fase do processo ensino-
avaliação cinemática, 28 escolares correram sobre um pa- -aprendizagem para as formas esportivas de caminhar,
pel colado no solo, sendo demarcados os contatos dos pés correr, saltar, lançar e arremessar, formas estas presentes
com o solo, e realizadas filmagens do plano sagital. Foram na maioria das outras modalidades.1 Desta forma, conside-
mensurados o tempo total do percurso e a cada 5 metros, rando que o atletismo é uma modalidade muito acessível
a frequência de passos e a velocidade. Resultados: os à iniciação esportiva em geral, uma vez que contribui na
meninos foram mais rápidos que as meninas (9,08±0,88 construção da cultura esportiva do aluno, entende-se ser
e 9,52±0,74s, respectivamente) e apresentaram maior de grande valia pedagógica que a iniciação do atletismo se
frequência de passos (226,52±19,83 e 211,40±12,86 dê nos primeiros anos escolares.2 No entanto, a participa-
passos/minuto, respectivamente). Considerações finais: ção dos jovens aprendizes tem requisitado a necessidade
a metodologia proposta permite que o professor possa de certas adaptações ou adequações das provas em rela-
avaliar os escolares, assim como prescrever o treinamento ção àquelas tradicionalmente realizadas por adultos.3
com base científica, dentro das especificidades de cada Conforme Frometa,4 a criança não é um adulto em
gênero e faixa etária. miniatura; por isso, as atividades físicas que com elas
Palavras-Chave: Corrida; Proposta metodológica; são desenvolvidas devem ser planejadas de acordo com
Escolares. o desenvolvimento da sua faixa etária e de acordo com
as fases sensíveis de aprimoramento das capacidades
físicas. Weineck5 e Platonov6 descrevem a necessidade
ABSTRACT da readequação das metodologias de treino para crianças
e jovens, assim como um maior estudo sobre as reações de
Objective: propose a methodology for the kinematic
determinado exercício sobre seu organismo, neste caso, do
analysis of 50m sprint in students. Method: for kinema-
ponto de vista biomecânico, tornando as atividades condi-
tic evaluation, 28 students ran over a paper stuck in the
zentes para sua faixa etária. Deste modo, entende-se importan-
ground, being demarcated the contacts of the feet with
te a realização de investigações desta população7 acerca das
the ground, and performed filming in the sagittal plane.
variáveis biomecânicas presentes no atletismo.8,9,10
Results: the boys were faster than girls (9.08±0.88 and
A literatura atual sobre iniciação desportiva indica
9.52±0.74 s, respectively) and showed a higher steps fre-
métodos ideais de treinamento visando a melhora da
quency (226.52±19.83 and 211.40±12.86 steps/minute,
performance em provas de corrida.1,4 No entanto, sabe-
respectively). Final considerations: the proposed metho-
-se que não basta ao professor seguir uma cartilha ou um
dology allows the teacher to assess the students, as well
manual de exercícios; pelo contrário, o professor deve ter
as prescribe training scientifically, within the specificities
condição de avaliar a performance do estudante a partir
of each gender and age group.
das variáveis cinemáticas da corrida, antes e após o início
Keywords: Running; Methodological proposal; Students.
dos trabalhos físicos-coordenativos do treino de atletis-
mo.11 Apenas desta maneira o professor terá condições de acoplado a sua frente, de modo que filmava simultanea-
compreender como se comporta a velocidade, o compri- mente o estudante, o qual realizava a prova de 50 m, e o
mento de passada e a frequência de passos ao longo da cronômetro, o qual indicava o tempo.
corrida. E, com base nestes resultados, ele terá condições Para a marcação dos pés no papel, e para que esta
de qualificar o processo de ensino-aprendizagem.11,12 perdurasse pelos 50 metros, foi construída uma cinta com
Atualmente, a principal técnica utilizada para avalia- velcro, cuja parte inferior possuía uma pequena almofada,
ção das variáveis cinemáticas da corrida é a cinemetria; no embebida em tinta atóxica. Esta cinta foi fixada na parte
entanto, este método de análise do movimento humano anterior do tênis do estudante, a 5 cm da borda distal do
dependente de tecnologia, equipamentos e softwares de tênis (Figura 1b).
análise, possui alto custo e é inacessível a maioria dos
clubes e, principalmente, escolas.13, 14 Ao considerar que
a grande maioria das escolas não dispõe de toda infra-
-estrutura necessária para a prática do atletismo,1 assim
como os profissionais de Educação Física que atuam no
âmbito escolar não estão inseridos em laboratórios de
biomecânica e, portanto, não possuem acesso à esta me-
todologia de análise, acredita-se ser fundamental o desen-
volvimento de métodos mais simples e de baixo custo que
possam ser desenvolvidos no próprio ambiente escolar e
que permitam o conhecimento das variáveis cinemáticas
do atletismo. Desse modo, o objetivo deste estudo foi pro-
por uma metodologia para a análise cinemática da corrida (a) (b)
de crianças durante uma prova de 50 metros em ambiente
escolar que permita avaliar a frequência de passos, com- Figura 1 - (a) Vista superior do papel colado no solo com
primento da passada e velocidade, a partir de um estudo 60 metros de comprimento e 0,60 metros de largura e (b)
descritivo-exploratório. cinta com velcro fixada na parte anterior de ambos os pés.
avaliou a cinemática da corrida de crianças com 12 anos de vimento da velocidade em provas de corridas.11,20 Neste
idade nas provas de 50 e 100 metros, tendo encontrado, em contexto, acredita-se que o método alternativo de avalia-
ambas as provas, comprimentos idênticos entre os gêneros. ção cinemática da performance apresentado no presente
No presente estudo, foi encontrado similaridade das estudo pode ser uma ferramenta útil para os professores e
curvas de comprimento de passada (Figura 3), ou seja, o técnicos no ambiente escolar.
comprimento da passada aumentou para ambos os gêne-
ros de forma acentuada até os 10 metros iniciais; a partir
deste ponto até 25 metros ocorreu um aumento em menor CONSIDERAÇÕES FINAIS
escala e após os 25 metros ocorreu uma tendência de
manutenção dos valores, com algumas oscilações, para
A metodologia de avaliação cinemática da corrida de
ambos os gêneros. Este comportamento do comprimento
50 metros em ambiente escolar possibilitou a mensura-
da passada foi evidenciado também por Pupo et al.7 A
ção das variáveis frequência de passos, comprimento da
diminuição do comprimento da passada apresentada pelas
passada e velocidade média em trechos de cinco metros
meninas, no último trecho de 5 metros da prova, pode
ao longo de todo o percurso da prova. A partir dos re-
ser explicada em função da instalação do processo de
sultados foi também possível estabelecer comparações
fadiga neuromuscular, o qual compromete o processo de
entre os gêneros, as quais demonstraram que os meninos
excitação-contração das fibras musculares de contração
apresentaram maior frequência de passos e realizaram a
rápida e a consequente produção de potência muscular,16
prova em menor tempo que as meninas, bem como que
resultando em falhas na coordenação neuromuscular e na
apresentaram velocidades superiores às meninas durante
diminuição de fosfagênio no músculo.17 Estudos realizados
a prova. A relevância deste tipo de informação consiste
por Tupa18 com velocistas mostraram que certas mudan-
em potencializar o professor a descrever ou prescrever o
ças na técnica das corridas de velocidade têm ocorrido no
treinamento para escolares, com base científica, dentro
final das provas como os 100 metros, em decorrência da
das especificidades de cada gênero e faixa etária.
fadiga muscular. Apesar do fenômeno da fadiga muscular
ser uma experiência comum no dia a dia, este ainda não
é totalmente compreendido, devido a vários fatores como
os diferentes métodos e protocolos de análise, assim co-
REFERÊNCIAS
mo os tipos de exercícios utilizados nas pesquisas, o que 1. Oliveira MC. Atletismo escolar: uma proposta de ensino na
torna difícil tanto extrapolar como aplicar os resultados Educação infantil. Rio de Janeiro: Sprint, 2006.
apresentados.19 2. Kirsch A, Koch K, Oro U. Antologia do atletismo: metodologia
Os resultados referentes ao comportamento da para iniciação em escolas e clubes. Rio de Janeiro: Ao livro
velocidade, para ambos os gêneros, demonstraram que, Técnico,1983.
do mesmo modo que o comprimento da passada, a 3. Pupo J, Junior I, Mota C. Concentrações de lactato sanguíneo
velocidade aumentou até os 10 metros iniciais; a partir e o comportamento cinemático de corredores mirins em provas
deste ponto até 25 metros também ocorreu um aumento de 50 e 100m rasos. Revista Brasileira de Cineantropometria e
da velocidade, mas em menor escala; e após os 25 me- Desempenho Humano, 10(4), 393-8, 2008.
tros a velocidade apresentou tendência de manutenção 4. Frometa RE. Guia metodológico de exercícios em atletismo.
dos valores. Assim, nota-se que na prova de 50 metros, Porto Alegre: Artmed, 2004.
ocorreu aceleração positiva até os 25 metros iniciais e dos 5. Weineck J. Treinamento Ideal. São Paulo: Manole, 2003.
25 metros até o final da prova, ocorreram oscilações entre 6. Platonov VN. A preparação física. Rio de Janeiro: Sprint, 2003.
acelerações positivas e negativas. Resultados idênticos 7. Pupo J et al. Diferenças na cinemática e na curva de velocidade
foram encontrados por Pupo, Júnior e Mota3 num estudo em provas de 50 e 100m rasos. XII Congresso brasileiro de
realizado com 14 crianças utilizando-se da cinemetria biomecânica. São Paulo: 2007.
como meio de avaliação. 8. McGinnis P. Biomecânica do Esporte e Exercício. Porto Alegre:
Com base nos resultados do comprimento da pas- Artmed; 2002.
sada e da velocidade ao longo da prova de 50 metros, 9. Zatsiorsky V. Biomecânica no esporte: Performance do desempenho
acredita-se que esta prova, quando realizada por crianças, e prevenção de lesão. Rio de janeiro: Guanabara Koogan; 2004.
poderia ser dividida em três partes, para fins de avaliação 10. Dagnese F, Rocha E, Kunzler M, Carpes F. A biomecânica na
e treinamento, tal como já ocorre na prova tradicional de Educação Física escolar: adaptação e aplicabilidade. Revista
100 metros para adultos.11,20 A prova de 100 metros rasos Brasileira Ciência e Movimento, 21(3), 180-188, 2013.
de adultos é tradicionalmente dividida nas fases de acele- 11. Stoffels F et al. Análise de variáveis cinemáticas da corrida
ração, de manutenção ou de velocidade máxima e fase de de jovens velocistas. Revista Portuguesa Ciência e Desporto,
resistência de velocidade.4 Portanto, especula-se que na 7(1):59-67, 2007.
prova infantil de 50 metros, a partir dos resultados encon- 12. Gambetta V. Track and Field Coaching manual - The Athletics
trados, poderia também ocorrer uma divisão da seguinte Congress. N.Y. Leisure Press, 1981.
forma: fase de aceleração, fase de velocidade máxima e 13. Alencar J, Pereira A, Holanda H. Análise cinemática da marcha
fase de chegada. em adultos normais, de ambos os sexos, na faixa etária de
Considerando que a prescrição de um treinamento 20-40 anos, recrutados na região de influencia da UFPB. IX
de atletismo no ambiente escolar tem por objetivo desen- Congresso Brasileiro de Biomecânica. Gramado: 2001.
volver as potencialidades dos estudantes, a partir de um 14. Ounpuu S. The biomechanics of running: a kinematic and kine-
trabalho planejado e estruturado de maneira a respeitar as tic analysis. Instr Course Lect, 39:305-318, 1990.
características maturacionais dos estudantes, entende-se 15. Gaya A, Silva G. Projeto Esporte Brasil: manual de aplicação de
que o primeiro passo a ser dado pelo professor é o de medidas e testes, normas e critérios de avaliação. Porto Alegre.
conhecer as estratégias de cada aluno para o desenvol-