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Aluno(a): Tiago Vitorino Cardoso Gobbi Matrícula:115030702 Data: 07/06/2021

Disciplina: Direito Comercial IV Prof. Alberto Lopes da Rosa


PROVA FINAL I
nstrução: Todas as respostas devem ser fundamentadas com a argumentação jurídica
necessária. A mera citação do dispositivo legal não confere pontuação.

1) Em virtude de sua situação de crise econômico-financeira, a Companhia de


Transporte Rodoviário de Passageiros do Rio (CTRPR) apresentou pedido de
recuperação judicial o qual foi distribuído ao juízo da 1ª Vara Empresarial da Comarca
da Capital do Estado do Rio de Janeiro. Em 25/11/2019 foi deferido o processamento da
recuperação judicial. Grande parte da frota de veículos utilizados pela CTRPR são
objeto de contratos de alienação fiduciária em garantia e, após o deferimento do pedido
de recuperação judicial, o credor fiduciário promoveu ações de busca e apreensão com o
objetivo de reaver uma parte relevante dos veículos que compõem a frota da companhia.
Com base nas informações acima indaga-se:

A) Quais os efeitos da decisão que defere o processamento da recuperação


judicial?

Conforme aduz a doutrina, bem como o diploma normativo que regula a Lei de
Falência e Recuperação Judicial e Extrajudicial, a saber, a Lei 11.101/2005, atendidos
os regulamentos do citado diploma, com os requisitos e exigências trazidos por tal,
reveste-se à empresa um caráter de proteção e auxílio em relação às vicissitudes
econômicas e financeiras por ela enfrentadas. Consta, na letra da Lei que, ao ser aceita,
a empresa deve nitidamente estipular “EM RECUPERAÇÃO JUDICIAL”, de modo
que assim garanta, também, a integridade dos fornecedores, clientes e empregados.
Nesse sentido, aa ação de recuperação judicial há o que se denomina de efeitos da
recuperação judicial, oriundos, à priori, de momento da decisão que deferiu o
processamento da recuperação e posteriormente decorrente da decisão que defere a
recuperação judicial.
A LRE já descrimina alguns destes efeitos em seus artigos, ao passo que outros
efeitos são provenientes da aplicação da lei ao caso concreto. Entre tais estão a
suspensão das ações e execuções em desfavor da empresa devedora, a dispensas de
certidões negativas, as execuções fiscais e apresentação de certidão negativa tributária, a
novação e a extensão dos efeitos da recuperação aos sócios entre outros efeitos, como os
bens do devedor e extensão dos efeitos aos sócios.

B) Tendo em vista que os créditos de credor titular da posição de proprietário


fiduciário não se submetem aos efeitos da recuperação judicial, as ações de busca e
apreensão devem ser julgadas procedentes?

Ora, faça-se saber que a alienação fiduciária de bens imóveis é regida pelo capítulo
II (artigos 22 a 33) da Lei nº 9.514/97. O artigo 22 decreta a alienação fiduciária como:
“Art. 22. A alienação fiduciária regulada por esta Lei é o negócio jurídico pelo qual o
devedor, ou fiduciante, com o escopo de garantia, contrata a transferência ao credor, ou
fiduciário, da propriedade resolúvel de coisa imóvel”.

De modo sucinto, citemo-la como “a transferência de algo baseado na confiança”.


Em suma, devedor passa o bem ao credor, de forma com que ambos definam que o bem
é a garantia de pagamento da dívida. No caso, a garantia de pagamento é o próprio bem
a ser adquirido pelo devedor.

Dados tais conceitos e a situação salientada de Recuperação Judicial, o Supremo


Tribunal de Justiça, por seu turno, reavendo a questão do artigo 49 da Lei 11.101/2005,
firmou, por unanimidade de votação, entendimento no sentido de que, consolidada a
tese de que os bens decorrentes de alienação fiduciária se submetem aos efeitos da
Recuperação Judicial, excepcionalmente, baseando-se na premissa de que os bens
gravados por garantia de alienação fiduciária possam ter cunho essencial ao
desenvolvimento da atividade produtiva da recuperanda. Para tal enunciado, os
fundamentos albergados pelo Ministro Luis Felipe Salomão nos autos do Agravo de
Interno nº. 149.561 (2016/0287355-8) lançaram luz ao fato de que “quaisquer atos
judiciais, que possam colocar em risco a eficácia do plano de recuperação judicial,
devem ser submetidos ao crivo do Juízo universal”, isto é, terá competência para decidir
acerca da essencialidade do referido bem.

2) Equipamentos e Soluções Inovadoras S.A. é credora de Rio Largo Malharia Ltda.,


estando o crédito consubstanciado em título extrajudicial com vencimento em 05 de
janeiro de 2022. Em 20 de fevereiro de 2021, foi decretada a falência da Rio Largo
Malharia Ltda., devedora, pelo juízo da comarca de Rio Bonito/RJ. Equipamentos e
Soluções Inovadoras S.A. é proprietária de maquinário que se encontrava na posse dos
administradores da sociedade falida na data da decretação da falência, contudo o bem
não consta arrolado no auto de arrecadação elaborado pelo administrador judicial. Com
base nas informações acima indaga-se:

A) Tendo em vista que o crédito de Equipamentos e Soluções Inovadoras S.A. não


constava da relação de credores contidas no edital que publicou a sentença que
decreta a falência, é necessário que o credor aguarde o vencimento da dívida para
proceder com a habilitação do crédito?

No que diz respeito ao instituto da falência, tecnicamente, a falência é uma


providência a ser buscada no Judiciário e que é somente aplicável a empresas. Ou seja,
pessoas físicas não podem pedir falência, apenas pessoas jurídicas. Dito de modo
sucinto, falir significa declarar não ter condições de pagamento das dívidas da
empresa permitindo a arrecadação dos bens restantes para pagamento dos credores.
Quando a falência é decretada, o empresário administrador se afasta e é iniciado um
processo de verificação das dívidas e dos bens.

Cabe ainda, nesse sentido, expor que a decretação da falência sujeita o


administrador da empresa a ser investigado pelos atos que praticou na administração e
vale dizer, existem vários atos que os empreendedores praticam ao longo de uma vida
que são caracterizáveis como crimes previstos na Lei 11.101/05, a contabilidade
paralela é um exemplo.
No caso do credor não arrolado, dispõe a Lei que, num prazo de 5 (cinco) dias, o
credor impugnará, mediante ação judicial, de modo que tenha inserido, no rol, seus
valores e, assim, não fique à revelia da má administração e resulte em prejuízo,
arrolando as provas que o credor considerar necessárias para a impugnação em juízo.

B) Por não ter havido a arrecadação do maquinário, deverá a Equipamentos e


Soluções Inovadoras S.A. propor ação em face da massa falida para que o crédito,
uma vez apurado, seja pago como quirografário?

Em relação ao que se tem comentado sobre a Lei de Falência e Recuperação Judicial


e Extrajudicial, alhures citada, no que tange à massa falida, há um consenso, esboçado
no próprio diploma em comento, para pagamento e recebimento das taxas. Desta feita,
após os créditos excepcionais, de natureza trabalhista, créditos com garantia real,
créditos com privilégio especial, créditos com privilégios gerais e, por fim, os quir, far-
se-á o pagamento dos créditos quirografários e, por tal razão, o credor que, ografários.
Nessa categoria, se estiver, poderá ter seu direito pleiteado frente à massa falida
considerando a ordem de recebimento, conforme artigo 83, inciso IV, da Lei de
Falência. Os créditos quirografários guardam consonância com a grande massa das
obrigações do falido. São dessa categoria os credores pró-títulos de crédito, indenização
por ato ilícito (salvo acidente de trabalho), contratos mercantis em geral etc. Após o
pagamento desses créditos, restando ainda recursos na massa, deve o administrador
judicial atender às multas contratuais e penas pecuniárias por infração à lei, inclusive
multas tributárias.

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