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IBP0381_14

AVALIAÇÃO DO MÓDULO DINÂMICO DE MISTURAS


ASFÁLTICAS A PARTIR DE DIFERENTES MODOS DE
CARREGAMENTO
Lucas F. de A. L. Babadopulos, Wellington L. G. Ferreira2, Reuber A.
Freire3, Juceline B. dos S. Bastos4, Jardel A. Oliveira5, Verônica T. F.
Castelo Branco6
Copyright 2014, Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis - IBP
Este Trabalho Técnico foi preparado para apresentação no 21º Encontro de Asfalto, realizado nos dias 12 a 14 de maio de 2014, no Rio
de Janeiro. Este Trabalho Técnico foi selecionado para apresentação pelo Comitê Técnico do evento, seguindo as informações contidas
na sinopse submetida pelo(s) autor(es). O conteúdo do Trabalho Técnico, como apresentado, não foi revisado pelo IBP. Os organizadores
não irão traduzir ou corrigir os textos recebidos. O material conforme, apresentado, não necessariamente reflete as opiniões do Instituto
Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis, seus Associados e Representantes. É de conhecimento e aprovação do(s) autor(es) que
este Trabalho Técnico seja publicado nos Anais do 21º Encontro de Asfalto.

Resumo
O Módulo Dinâmico (MD) vem sendo utilizado em métodos mecanísticos de dimensionamento de pavimentos asfálticos,
principalmente nos Estados Unidos e na Europa, por considerar a natureza viscoelástica das misturas asfálticas. O presente
artigo tem como proposta um estudo comparativo entre os resultados de MD obtidos a partir de diferentes modos de
carregamento: compressão axial e tração indireta por compressão diametral. Para realizar o ensaio de MD por compressão
axial, são necessários Corpos de Prova (CP) de aproximadamente 150mm de altura. Tal fato dificulta os estudos em
amostras retiradas diretamente do pavimento. Já o ensaio de MD realizado por compressão diametral permite o uso de
amostras com dimensões menores (cerca de 4cm). Além disso, o ensaio por compressão diametral ainda permite a obtenção
experimental do coeficiente de Poisson, geralmente assumido como sendo aproximadamente 0,3 para misturas asfálticas,
independente da frequência de carregamento ou da temperatura utilizadas no ensaio. Os resultados do presente trabalho
demonstram que o ensaio de MD por compressão diametral mostrou-se uma ferramenta adequada para analisar as
propriedades viscoelásticas lineares de misturas asfálticas. Os resultados de MD por compressão axial e por compressão
diametral se apresentaram semelhantes. Os ângulos de fase obtidos na direção vertical (compressão) e na direção horizontal
(tração) foram diferentes, indicando que o coeficiente de Poisson também deve ser representado, como o módulo
complexo, por magnitude e ângulo de fase.

Palavras Chaves: Módulo Dinâmico, Misturas Asfálticas, Compressão Diametral, Coeficiente de Poisson.

Abstract
The dynamic modulus (DM) has been commonly used as an input for mechanistic pavement design methods, especially in
the United States and in Europe, considering the viscoelastic nature of the hot mix asphalt (HMA). This paper proposes a
comparative study between the DM results obtained using different modes of loading: axial compression and indirect
tension (IDT) by diametral compression. For the axial compression DM test, samples of approximately 150mm in height
are required. This fact implies that samples taken directly from the field can rarely be evaluated. IDT mode of loading can
be an alternative since it allows the samples to be tested at lower heights (around 4cm). Furthermore, the IDT test results
can also be used to obtain experimental Poisson's ratio values, generally assumed to be about 0.3 for HMA, irrespective of
the used load frequency or temperature. The results showed that IDT test was found to be a suitable tool to analyze the
HMA linear viscoelastic properties. DM results obtained by axial compression or indirect tension were similar. Phase angle
measured in the vertical (compression) or in the horizontal (tension) direction were different, indicating that Poisson's ratio
might also be represented, like the complex modulus, by its magnitude and phase angle.

Key Words: Dynamic Modulus, Hot Mixture Asphalt, Indirect Tension, Poisson’s Ratio.

______________________________
1
Mestrando, Engenheiro Civil - Universidade Federal do Ceará (UFC/PETRAN)
2
Mestrando, Engenheiro Civil - Universidade Federal do Ceará (UFC/PETRAN)
3
Mestrando, Engenheiro Civil - Universidade Federal do Ceará (UFC/PETRAN)
4
Doutoranda, Tecnóloga em Estradas - Universidade Federal do Ceará (UFC/PETRAN)
5
Mestre, Tecnólogo em Estradas - Universidade Federal do Ceará (UFC/PETRAN)
6
Professora Adjunta III - Universidade Federal do Ceará/Programa de Pós-Graduação em Engenharia
de Transportes (UFC/PETRAN)
21º Encontro de Asfalto

1. Introdução
A tendência da mecânica dos pavimentos, quanto à análise estrutural, é a gradual sofisticação dos modelos
constitutivos que representam o comportamento dos materiais. A hipótese da elasticidade linear, ainda usada no estado da
prática (a partir da utilização do Módulo de Resiliência - MR), cede lugar a modelos constitutivos mais gerais e adequados
a cada um dos constituintes do pavimento quando se trata do estado da arte. No caso dos solos, estimula-se o uso de
modelos resilientes não-lineares, e no das misturas asfálticas, modelos viscoelásticos, para os quais o Módulo Dinâmico
(MD) e o ângulo de fase são as propriedades a serem determinadas.
Além disso, os métodos usados para o dimensionamento de pavimentos flexíveis, como o Guide for Design of
New and Rehabilitated Pavement Structures da American Association of State Highway and Transportation Officials -
AASHTO (1993) e o Guide for Mechanistic - Empirical Design of New and Rehabilitated Pavement Structures da National
Cooperative Highway Research Program - NCHRP 1-37A (2004) recomendam que a análise e a avaliação do desempenho
de pavimentos considere as propriedades fundamentais dos materiais. No caso das misturas asfálticas, o MD é a
propriedade mais recomendada, por ser capaz de considerar os efeitos da temperatura e da frequência (e, portanto, do
tempo) de carregamento, o que é típico desse tipo de material.
Apesar do MD ser a propriedade que melhor representa a resposta tensão-deformação dos materiais asfálticos
como sistemas viscoelásticos lineares na análise de pavimentos, no Brasil, o MR é utilizado frequentemente em análises
teóricas ou mecanísticas (Motta, 1991; Franco, 2007). Isso se deve tanto à cultura de utilização desse parâmetro quanto ao
alto valor de aquisição de equipamentos necessários para obtenção de MD.
No âmbito internacional, desde a década de 1960, o ensaio de MD vem sendo investigado como substituto do
ensaio de MR. A possibilidade de contabilizar os efeitos da temperatura e do tempo de carregamento nas propriedades dos
materiais asfálticos faz com que este parâmetro venha sendo usado preferencialmente. Vale ressaltar que, em trabalhos
nacionais (Silva, 2009), análises estruturais considerando o revestimento ora como elástico linear, ora como viscoelástico
linear, elucidaram que as tensões de tração na base do revestimento podem ser subestimadas (no caso elástico) em até
100%, a depender da velocidade considerada para a passagem dos veículos. As grandes diferenças entre as estimativas
feitas em se adotando o modelo elástico linear (MR) e o viscoelástico linear (MD) levam ao gradual desenvolvimento na
direção do uso do MD como principal ensaio para caracterização de misturas asfálticas. Um exemplo de método que utiliza
o MD como dado de entrada é o Mechanistic-Empirical Pavement Design Guide (MEPDG) da AASHTO nos Estados
Unidos (Velasquez et al., 2009).
O MEPDG utiliza uma avaliação hierárquica. Nessa hierarquia são previstos três níveis de projeto: no nível 1, os
dados de entrada dos materiais requerem testes de laboratório e de campo, como o MD das misturas asfálticas, ou o
levantamento deflectométrico (não destrutivo). Este nível requer mais recursos e tempo que os outros níveis; no nível 2, os
dados de entrada podem ser retirados de bancos de dados de agências, de programas de testes limitados, ou podem ser
estimados através de correlações; no nível 3, os dados de entrada são tipicamente dados selecionados pelo usuário ou
valores médios para a região (Velasquez et al., 2009). Schwartz e Carvalho (2007) destacam que, no nível 1 da avaliação
hierárquica do MEPDG, dados de testes laboratoriais e de campo reais são necessários para construir a curva mestra e os
shift factors para o MD, ou seja, resultados de MD para diferentes temperaturas e frequências são usados como dados de
entrada para a análise no nível 1 do MEPDG. No entanto, verifica-se que em nosso país os dados disponíveis de MD se
restringem a misturas asfálticas de laboratório (Nunes et al., 2009; Coutinho, 2012; Onofre, 2012).
Atualmente, uma iniciativa nacional, que envolve também o Laboratório de Mecânica dos Pavimentos da
Universidade Federal do Ceará (LMP/UFC) e um total de 27 universidades brasileiras para o desenvolvimento do novo
método mecanístico-empírico de dimensionamento de pavimentos brasileiro, deve incluir avanços na análise de tensões-
deformações. Trata-se da Rede Temática de Asfalto que tem o apoio da Petrobras e a participação do DNIT. Este projeto,
em andamento e com previsão de conclusão para 2016, possui foco na execução e no monitoramento de pistas
experimentais. Isto é essencial para a construção de uma base de dados nacional com informações dos materiais utilizados,
dos pavimentos e do desempenho destes em campo sob a ação do tráfego e do clima. Assim, os modelos de previsão de
desempenho serão ajustados a partir desses dados de campo. Contudo, há aspectos de pesquisa científica que não são
previstos no escopo do projeto, mas que são cruciais para o completo desenvolvimento de um método de dimensionamento
com viés mecanicista, ainda que tais incorporações sejam incluídas no longo prazo. Entre os principais aspectos que
merecem atenção acadêmica está o método de caracterização das misturas asfálticas com relação a suas propriedades
viscoelásticas lineares. Mais especificamente, e com interesse prático, existe a oportunidade de se obter o MD de misturas
asfálticas utilizadas em pistas experimentais ou trechos existentes com a utilização de ensaios de MD por compressão
diametral.
Geralmente, o ensaio de MD é realizado por compressão axial (AASHTO TP 62-03, 2005), necessitando, em
razão disso, de Corpos de Prova (CP) com aproximadamente 150mm de altura. Tal imperativo dificulta os estudos
realizados com amostras retiradas diretamente de campo, inviabilizando a criação de um banco de dados com resultados
desse ensaio para misturas usadas em trechos experimentais. Assim, o ensaio de MD por compressão diametral se apresenta
como alternativa capaz de viabilizar a criação desse banco de dados de campo, visto que esse ensaio necessita de um CP de
cerca de 4cm de altura (Kim et al., 2004). O ensaio permite ainda a obtenção experimental do coeficiente de Poisson,
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geralmente assumido como sendo aproximadamente igual a 0,3 para misturas asfálticas, independente da frequência de
carregamento ou da temperatura utilizadas no ensaio. O coeficiente de Poisson, juntamente com o MD, determinam as
propriedades dos materiais em mais de uma dimensão, necessárias para a análise de tensões e de deformações nos
pavimentos. A modificação dessas propriedades alteraria os resultados da análise. Sublinha-se, ainda, que a obtenção do
MD de misturas asfálticas presentes em pavimentos existentes permitiria análises forenses com consideração da
temperatura e da frequência de carregamento atuando em trechos experimentais que apresentem deficiências
estruturais/funcionais. Tais considerações mais gerais evitariam a necessidade de assumi-los a 25ºC e com configuração de
pulso de 0,1s de carregamento seguido por 0,9s de descanso (parâmetros utilizados para a determinação do MR de misturas
asfálticas), que não representam, na maioria dos casos, as condições de campo.
Além das dimensões dos CPs, destacam-se, ainda, duas principais diferenças entre esses métodos. A primeira
diferença é o estado de tensões. Quando o MD é ensaiado por compressão axial gera-se um estado uniaxial de tensões,
enquanto que, quando este ensaio é realizado por compressão diametral, o estado de tensão gerado é biaxial. A segunda
diferença é a relação entre a direção de compactação e a direção da aplicação do carregamento. No MD por compressão
axial, essas duas direções são as mesmas, enquanto no MD por compressão diametral, essas duas direções são
perpendiculares.
Nesse contexto, dada a importância da criação de um banco de dados de campo de MD, e apontadas quais as
principais diferenças desse ensaio quando o mesmo é realizado por compressão axial e por compressão diametral, surge o
objetivo geral desta pesquisa, que é verificar a equivalência dos valores de MD obtidos através desses dois modos de
carregamento.

2. Fundamentação Teórica

2.1. Módulo de Resiliência (MR)


O ensaio de MR é padronizado no Brasil pelo DNER-ME 133/94, tendo sido este método recentemente revisto
pela Comissão de Asfalto do Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (IBP) (ABNT NBR 16018:2011).
Entre os procedimentos internacionais citam-se: AASHTO TP 31 (1994); NCHRP 1-28 (1996) e NCHRP 1-28A (2003).
No ensaio, os deslocamentos considerados são aqueles recuperáveis e estes podem ser diferentes a depender da definição
adotada para o termo “recuperável” a partir de cada norma de ensaio utilizada. O deslocamento recuperável assume o valor
da diferença entre o pico do pulso de deslocamento e o valor de deslocamento dito não recuperável. A definição deste
último varia entre as normas e provoca variações no resultado de MR. O valor do MR é definido como a relação entre o
pico de tensão de tração e a deformação resiliente de tração calculada a partir dos resultados (pulsos de força e de
deslocamento) e da geometria do ensaio. Além disso, durante o pulso de carregamento, desenvolvem-se deformações
viscoelásticas que predominam sobre as deformações elásticas (Soares e Souza, 2003; Theisen et al., 2007) e que são
parcialmente contabilizadas como deformações elásticas. Ressalta-se que muitos programas computacionais de análise
estrutural de pavimentos consideram que o MR trata apenas de deformações elásticas. De qualquer forma, vários fatores
estimulam a continuação do uso desse parâmetro de ensaio como propriedade do material, em particular das misturas
asfálticas. Dentre eles, podem-se citar a existência de um banco de dados de MR para diferentes materiais usados em
pavimentação no Brasil, a maior disponibilidade dos equipamentos requeridos nesse ensaio (pneumáticos) em relação a
outros mais sofisticados (hidráulicos), além do fato de que o tamanho da amostra requerida para a realização do ensaio de
MD por compressão axial, comumente utilizado, é maior do que aquele requerido para o ensaio de MR. Este último está
diretamente ligado ao objetivo geral do presente trabalho.

2.2. Módulo Dinâmico (MD)


Para sanar as deficiências oriundas do uso do MR como parâmetro de rigidez para misturas asfálticas, vêm sendo
pesquisadas, desde a década de 1960, alternativas para a caracterização da rigidez de misturas asfálticas. Papazian (1962),
um dos primeiros pesquisadores a observar o comportamento viscoelástico linear em misturas asfálticas, realizou ensaios
onde se aplicavam tensões senoidais a CP, à temperatura controlada e com várias frequências, medindo-se as deformações
resultantes, concluindo que os conceitos de viscoelasticidade linear poderiam ser aplicados no estudo dos materiais
asfálticos. Esse ensaio, proposto inicialmente em 1962 por Papazian, hoje é conhecido como ensaio de MD (Theisen,
2011).
A realização do ensaio de MD em várias temperaturas e frequências, juntamente com a aplicação do princípio da
superposição tempo-temperatura possibilitam a construção de curvas mestras, importante instrumento na caracterização de
misturas asfálticas para a análise e o dimensionamento de pavimentos (Medeiros, 2006). De posse das curvas mestras, os
modelos viscoelásticos lineares podem ser ajustados aos dados experimentais (Lee e Kim, 1998; Park e Kim, 1998; Daniel
e Kim, 2002; Soares e Souza, 2002; Silva, 2009), tornando possível a simulação de diferentes carregamentos e a estimativa
da resposta de deformação do material para os mesmos. Para os materiais puramente elásticos, os picos de tensão (σ0) e de

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deformação (ε0) coincidem no mesmo instante de tempo. Devido à natureza viscoelástica, as misturas asfálticas apresentam
uma defasagem entre os sinais da tensão aplicada e da deformação medida, representada pelo ângulo de fase (φ).
O MD, que corresponde à razão entre a amplitude de tensão e a amplitude de deformação no material, é o valor
absoluto do módulo complexo. O ângulo de fase é função das propriedades viscosas do material, correspondendo à
defasagem da resposta da deformação em relação à tensão. Para materiais puramente elásticos, a resposta é imediata φ = 0°,
e para materiais puramente viscosos, os sinais de tensão e de deformação estão totalmente fora de fase, portanto φ = 90°.
As misturas asfálticas apresentam defasagem com valor tipicamente entre 0º e 45º.
O ensaio de MD pode ser realizado a partir da utilização de dois modos de carregamento: compressão axial e
compressão diametral. Ambos os modos devem ser realizados em diversas frequências (variando entre 0,1Hz e 25Hz) e
temperaturas (entre -10ºC e 54,4ºC), possibilitando-se conhecer as características do material para uma vasta gama de
frequências de carregamento a que este pode ser submetido. Em protocolos de ensaio modificado, costuma-se propor a
redução da quantidade de temperaturas de ensaio (principal causa do tempo gasto na execução do ensaio, realizando-se o
mesmo a -10, 10 e 35ºC) e o incremento na quantidade de frequências mais baixas que 0,1Hz (geralmente 0,05 e 0,01Hz).
Isso pode compensar a perda de informações na curva mestra causada pela não utilização das temperaturas mais altas de
ensaio.

2.2.1. Módulo Dinâmico (MD) por Compressão Axial


O ensaio de MD por compressão axial é realizado através da aplicação de pulsos semi-senoidais (haversine), em
CPs cilíndricos, sendo medidos os deslocamentos verticais correspondentes à aplicação da carga com o auxílio de LVDT.
Ressalta-se que o semi-seno corresponde a uma função seno de pulsação controlada acrescida de uma constante, de maneira
que a média dessa função em um período equivale à constante acrescida. Isso tem de ser feito, de maneira que a carga
aplicada se dê apenas em uma direção (compressão), já que o aparato do ensaio não permite a aplicação de tração no CP.
Ressalta-se que, para a análise dos pulsos e a obtenção do MD e do ângulo de fase, a resposta (pulsos de deslocamento)
correspondente à carga constante deve ser retirada da resposta total de maneira a se analisar apenas a parte harmônica da
curva. Isso é realizado aplicando-se o princípio da superposição, partindo-se do pressuposto de linearidade da resposta em
relação à solicitação. Independentemente da função utilizada na aplicação de carga, na compressão axial, o estado de
tensões gerado é uniaxial.
Não existe normatização para o ensaio de MD no Brasil, no entanto, utilizam-se usualmente as normas AASHTO
TP 62-03 (2005) e ASTM 3497-79 (2003), ambas americanas, diferindo a segunda da primeira pelo fato desta utilizar
menos temperaturas para a realização do ensaio. O ensaio normalmente requer CPs de 100mm de diâmetro e 150mm de
altura, o que dificulta estudos realizados com amostras retiradas diretamente de campo. A fim de mitigar esta dificuldade,
Kim et al. (2004) propuseram a obtenção do MD a partir de ensaios realizados a compressão diametral (geometria de
ensaio semelhante à do ensaio de MR) e mostraram, para vários concretos asfálticos, que os módulos obtidos nos diferentes
métodos, em mais de 80% dos ensaios, não apresentam diferenças estatisticamente significativas. Reporta-se a obtenção do
MD por compressão diametral já no âmbito nacional (Nunes et al., 2009). No presente trabalho, além dos valores de MD,
são ainda reportados valores de coeficiente de Poisson e de ângulo de fase para diferentes temperaturas e frequências de
carregamento a partir do ensaio realizado a compressão diametral. Ressalta-se que a interpretação teórica de ensaios de
compressão diametral é bastante complexa, pois envolve distribuições de tensão e de deformação não homogêneas e cuja
solução é baseada em uma série de hipóteses (unimodularidade, homogeneidade, linearidade, isotropia etc.) que não
necessariamente são atendidas.

2.3. Módulo Dinâmico (MD) por Compressão Diametral


O ensaio de MD por compressão diametral consiste na aplicação de uma carga na direção vertical por meio de
frisos metálicos diametralmente opostos com relação ao CP. Uma das maiores vantagens da realização do ensaio por
compressão diametral é a facilidade na realização de estudos de campo (extração de CPs de revestimentos esbeltos), visto
que este tipo de experimento dispensa amostras com grandes alturas (cerca de 150mm), como no caso dos ensaios axiais.
A distribuição de tensões e de deformações no MD realizado por compressão diametral é biaxial. As diferenças do
estado uniaxial para o biaxial podem ser levadas em conta através de equações como as apresentadas nas Equações 1 e 2,
onde 𝛆𝐢 e 𝛔𝐢 representam as deformações e as tensões na direção i e 𝐄 e 𝒗 representam as propriedades do material,
conhecidas como módulo de elasticidade e coeficiente de Poisson, para materiais elásticos.

𝛔𝐲
𝛆𝐲 = 𝐄 (1)

𝟏
𝜺𝒙 = 𝝈𝒙 − 𝒗𝝈𝒚 (2)
𝑬

Hondros (1959), considerando um estado biaxial de tensões, obteve as tensões verticais e horizontais de acordo
com a Equação 2, para o ensaio de compressão diametral. Para obtenção do MD por compressão axial, o princípio da
correspondência elástico-viscoelástico deve ser aplicado à equação de Hondros, de maneira que essas equações passam a
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relacionar a resposta de deformação ao histórico de solicitação, que, no caso, é a tensão. Isso resulta em uma série de
integrais, já resolvidas em outros trabalhos para solicitações de funções do tipo semi-seno, e o resultado, de maneira
simplificada pode ser encontrado em trabalhos como o de Kim et al. (2004). A solução leva à determinação do MD e do
coeficiente de Poisson do material testado, a dadas frequências e temperaturas, que podem ser representados pelas
Equações 3 e 4.

𝑷𝟎 𝜷𝟏 𝜸𝟐 𝜷𝟐 𝜸𝟏
|𝑬∗ | = 𝟐 (3)
𝝅𝒂𝒉 𝜸𝟐 𝑽𝟎 𝜷𝟐 𝑼𝟎

𝜷𝟏 𝑼𝟎 𝜸𝟏 𝑽 𝟎
𝒗= (4)
𝜷𝟐 𝑼𝟎 𝜸𝟐 𝑽 𝟎

P0, U0 e V0 representam meias-amplitudes das partes harmônicas dos sinais de carga, deslocamento horizontal e
deslocamento vertical, respectivamente. A espessura do friso de carga é representada por 𝒂 e a altura do CP por 𝒉. Os
coeficientes 𝛃𝟏 , 𝛃𝟐 , 𝛄𝟏 𝐞 𝛄𝟐 das Equações 3 e 4 podem ser calculados para diferentes diâmetros e alturas de CPs e foram
tabelados por Kim et al. (2004) para diferentes configurações de geometria do ensaio. Para este trabalho, os coeficientes
adotados foram relativos ao CP de 101,6mm de diâmetro e de 50,8mm de distância entre os pontos em que se mede o
deslocamento (gauge length), ou seja, 𝛃𝟏 = -0,0215, 𝛃𝟐 = -0,0062, 𝛄𝟏 = 0,0047 e 𝛄𝟐 = 0,0157. Nota-se que essas
equações foram obtidas considerando-se o estado plano de tensões. Kim e Wen (2002) comprovaram, a partir de análises
em elementos finitos tridimensionais para o ensaio de MD por compressão diametral, que os erros na determinação das
propriedades devido à suposição do estado plano de tensões pode ser considerado insignificante.

2.4. Relações entre o Módulo de Resiliência (MR) e o Módulo Dinâmico (MD)


Apesar do MR e do MD consistirem, ambos, de medidas de rigidez de misturas asfálticas, estes parâmetros não
representam as mesmas propriedades. Conforme já foi apresentado, o MR é geralmente obtido apenas para uma condição
de temperatura e de carregamento (e descanso). Sendo assim, seu valor só pode ser considerado para aquela condição de
temperatura e de carregamento. Portanto, análises estruturais de pavimentos considerando o MR do revestimento devem ser
interpretadas considerando apenas as condições citadas. Por esses motivos, o MR é considerado uma propriedade de ensaio.
Enquanto isso, o MD é avaliado em diferentes frequências e temperaturas, sendo a curva mestra construída e os modelos
mecânicos (séries de Prony, por exemplo) ajustados a ela. A partir dos modelos ajustados, outras propriedades podem ser
obtidas a partir de manipulações matemáticas. Além disso, pode-se utilizar a integral de convolução (Equações 5a ou 5b)
para se obter a solução para carregamentos de diferentes formatos, mantendo-se o respeito às propriedades de rigidez do
material. Por esses motivos, costuma-se tratar do MD como sendo uma propriedade mais próxima de uma propriedade
fundamental do material.

𝒕 𝝏𝜺
𝝈(𝒕) = ∫𝟎 𝑬( 𝒕 − 𝒖). 𝒅𝒖; 𝒕 > 𝟎 (5a)
𝝏𝒖

𝒕 𝝏𝝈
𝜺(𝒕) = ∫𝟎 𝑫( 𝒕 − 𝒖). 𝒅𝒖; 𝒕 > 𝟎 (5b)
𝝏𝒖

Nas Equações 5a e 5b, 𝑬( 𝒕 − 𝒖) e 𝑫( 𝒕 − 𝒖) representam, respectivamente, o módulo de relaxação e a função


fluência e 𝒕 o tempo. Considerando a integral de convolução, podem-se gerar resultados simulados para os ensaios de MR.
Deve-se atentar para o fato de que o ensaio realizado por compressão diametral gera um estado biaxial de tensões. Portanto,
utilizar os resultados de MD (uniaxial) para simular o ensaio de MR implica automaticamente a adoção da hipótese de que
a rigidez independe do sentido do carregamento (módulo em tração equivalente ao módulo em compressão). Katicha
(2007) mostrou que tal hipótese não é verdadeira, sendo as misturas asfálticas materiais bimodulares (módulo em
compressão diferente do módulo de tração). No caso das misturas asfálticas, o intertravamento dos agregados faz com que
o módulo em compressão seja maior do que o módulo em tração. Tal fato fica mais evidente quando a consistência do
ligante asfáltico está mais baixa (altas temperaturas e longas durações de carregamento). Katicha (2007) verificou que, para
carregamentos de duração abaixo de 10s, a razão entre o módulo em compressão e em tração varia de 1,2 (0,01s de
carregamento) a 1,6 (10s de carregamento). Enquanto isso, para carregamentos de duração acima de 10s, a razão cresce
mais rapidamente, podendo atingir cerca de 15 para carregamentos com 1.000s de duração.
Desconsiderando o caráter bimodular das misturas asfálticas, e a relevância do tamanho dos agregados graúdos em
relação à menor dimensão do CP (heterogeneidade), Katicha (2007) obteve resultados simulados de MR a partir de séries
de Prony ajustadas a curvas mestras de MD. Foi verificado que o MR a uma dada temperatura, obtido com pulso de
carregamento de 0,1s de duração e de formato haversine, tem valor próximo ao MD obtido na mesma temperatura e a uma
frequência de 𝟏⁄𝟎, 𝟏𝒔 = 𝟏𝟎𝑯𝒛, que equivale a uma pulsação de 𝒘 = 𝟐𝝅⁄𝟎, 𝟏𝒔 = 𝟔𝟐, 𝟖𝒓𝒂𝒅/𝒔. Poder-se-ia igualmente
comparar o valor de MR com o do MD a uma pulsação 𝒘 = 𝟏⁄𝟎, 𝟏𝒔 = 𝟏𝟎𝒓𝒂𝒅/𝒔, que equivale a uma frequência f
=𝟏⁄𝟐𝝅𝒕.

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Araújo Júnior et al. (2009) verificaram, experimentalmente, a relação entre os valores de MR e de MD obtidos a
diferentes frequências de carregamento cíclico, definidas a partir do tempo de carregamento do ensaio de MR e de
expressões empíricas apresentadas na literatura. A relação f = 𝟏⁄𝒕, recomendada pelo guia de dimensionamento da
AASHTO para a obtenção do MR a partir do MD é comparada com as relações sugeridas por Christensen (1982) (f =
𝟎, 𝟏⁄𝒕) e por Louzili et al. (2006) (f = 𝟏⁄𝟐𝝅𝒕). Os resultados obtidos por Araújo Júnior et al. (2009) indicaram que, para a
relação do guia da AASHTO, os valores de MD foram superiores aos de MR, enquanto que para as outras duas relações,
MR e MD são próximos a 25°C.

3. Materiais e Métodos
3.1. Materiais
O Cimento Asfáltico de Petróleo (CAP) utilizado para fabricação dos CPs foi fornecido pela refinaria Lubnor/
Petrobras. Este CAP refinado é oriundo do petróleo do Campo Fazenda Alegre localizado no Espírito Santo. De acordo
com informações da Lubnor, o CAP é classificado por penetração como 50/70.
Os agregados minerais utilizados nesse estudo são naturais, provenientes de diferentes pedreiras localizadas no
estado do Ceará e com diferentes origens mineralógicas. Como agregados graúdos, foram utilizadas britas de 1/2” e de 3/8”
de origem fonolítica, e como agregados miúdos, pó de pedra de origem gnáissica (Pedreira Pyla) e areia de campo.

3.2. Mistura Asfáltica


Nesse estudo, uma mistura asfáltica do tipo Concreto Asfáltico (CA), com Tamanho Máximo Nominal (TMN) de
12,5mm foi dosada seguindo a metodologia Superpave. A curva granulométrica de projeto utilizada foi enquadrada na
Faixa C do DNIT para CA. Em seguida, foram moldados CPs com diferentes teores de CAP, a fim de obter um Volume de
Vazios (Vv) de 4% ± 0,4%. Na compactação, foram adotados 100 giros como N de projeto. A Figura 1 apresenta a curva
granulométrica para o CA em questão.

100
Curva de Projeto
80 Faixa C - DNIT
% Passante

Zona de restrição
60
Pontos de Controle
40

20

0
0,0
0,1 1,0 10,0 100,0
Abertura das Peneiras (mm)
Figura 1. Curva granulométrica da mistura asfáltica avaliada no trabalho

A dosagem resulta no teor de CAP que proporcione o Vv especificado. A partir do teor de projeto de CAP,
determina-se a Densidade Máxima Medida (Gmm). Com o valor da Densidade Aparente (Gmb) do CP, pode-se calcular o Vv
da amostra compactada. A Tabela 2 apresenta os resultados obtidos a partir da dosagem. Os resultados das Temperaturas de
Usinagem (TU) e de Compactação (TC) são apresentados na Tabela 1.

Tabela 1 - Parâmetros de dosagem da mistura asfáltica avaliada neste trabalho


Parâmetro CAP (%) Gmm Gmb RBV (%) Vv (%) TU (°C) TC (°C)
Resultado 5,0 2,356 2,259 73,0 4,1 157 -164 145 - 150

3.3. Caracterização Mecânica

3.3.1 Módulo Dinâmico (MD) por Compressão Axial


Os ensaios de MD foram conduzidos de acordo com a norma AASHTO TP 62-03 (2005), utilizando um
equipamento hidráulico denominado Universal Testing Machine 25 (UTM 25). Nesse ensaio, a prensa hidráulica aplica
tensões axiais de compressão na forma semi-senoidal, em uma amostra de 100mm de diâmetro por 150mm de altura, a
diferentes temperaturas e frequências. Seguindo a norma, o ensaio é conduzido a cinco temperaturas: -10; 4,4; 21,1; 37,8;
54,4°C, e também a cinco frequências: 25; 10; 5; 1; 0,5; 0,1Hz. Para aferir as deformações na amostra, são posicionados
6
21º Encontro de Asfalto

três Linear Variable Differencial Transducers (LVDTs) na direção do carregamento (axialmente), medindo este tipo de
deformação. Os três LVDTs ficam espaçados a 120° de intervalo entre eles. O MD axial (|E*|) é calculado a partir da razão
entre a meia-amplitude da tensão aplicada (σ0) e a da deformação observada (ε0). A Figura 2 mostra o CP posicionado para
a realização do ensaio.

Pistão de carga

CP

LVDT

Figura 2. Amostra durante a realização do ensaio de MD por compressão axial

3.3.2 Módulo Dinâmico (MD) por Compressão Diametral


Para o ensaio de MD por compressão diametral, planejou-se utilizar a mesma prensa hidráulica (UTM 25), com
carregamento executado a tensão controlada nas mesmas temperaturas (-10; 4,4; 21,1; 37,8; 54,4°C) e frequências (25; 10;
5; 1; 0,5; 0,1Hz) do ensaio de MD realizado por compressão axial e com a mesma quantidade de ciclos sugerida para o
ensaio axial. Posteriormente, percebeu-se que a execução do ensaio nas duas temperaturas mais altas e com a mesma
quantidade de ciclos é impossibilitado pela quantidade de deformação de fluência que é acumulada durante as séries de
carregamento. Os CPs utilizados no ensaio por compressão diametral foram serrados para manter uma altura de cerca de
4cm. A Figura 3(a) mostra o CP serrado com a altura especificada. Para ler as deformações, os quatro LVDTs são
posicionados, dois em cada face do CP, sendo um na vertical e outro na horizontal, em forma de cruz. A Figura 3(b) mostra
os LVDTs no CP, posicionados para a realização do ensaio, enquanto a Figura 3(c) mostra os LVDTs posicionados em
ambas as faces do CP.

(a) (b) (c)


Figura 3. Etapas para realização do ensaio de MD por compressão diametral

4. Apresentação e Discussão dos Resultados


Abaixo, apresentam-se visões gerais de um exemplo dos pulsos obtidos em uma determinada temperatura
(21,1ºC): a força aplicada (canal controlado) e os pulsos medidos nos LVDTs (verticais e horizontais). Deve-se notar como,
a depender da temperatura (no caso apresentado, 21,1ºC), as deformações de fluência acumuladas no ensaio podem ser
muito mais acentuadas do que as deformações harmônicas, que de fato interessam ao ensaio e que se pretende limitar a
níveis que não violem a hipótese de linearidade sobre a viscoelasticidade do material.

7
21º Encontro de Asfalto

3,0

2,5

2,0

Carga (kN) 1,5

1,0

0,5

0,0
0 50 100 150 200 250 300
-0,5
Tempo (s)

(a)
0,40 -0,11
0 100 200 300
0,35 -0,16
Posição (mm)

Posição (mm)

-0,21
0,30
Vertical LVDT#1 71red -0,26
0,25
Vertical LVDT#2 69black -0,31
0,20 Horizontal LVDT#1 70green
-0,36
Horizontal LVDT#2 72blue
0,15 -0,41
0 100 200 300 Tempo (s)
Tempo (s)
(c)
(b)
Figura 4. Pulsos não tratados do ensaio de compressão diametral a 21,1ºC obtidos para a (a) carga, (b) posição dos LVDTs
verticais e (c) Posição dos LVDTs horizontais

Após a realização dos ensaios de compressão diametral, os sinais de carga e de deslocamento, medidos na célula
de carga e nos LVDTs, foram ajustados no software LABFit, que executa uma rotina de Levenberg-Marquardt para
minimizar os desvios quadrados de uma função com respeito a pontos experimentais. Uma função do tipo 𝒇(𝒕) = 𝑨 +
𝑩. 𝒕 + 𝑪. 𝐜𝐨𝐬(𝝎𝒕 + 𝝋) foi ajustada. Cinco pulsos foram utilizados para os ajustes relativos a cada frequência e tipo de
sinal (carga, deslocamento vertical e deslocamento horizontal). A função 𝒇𝒍𝒊𝒏𝒆𝒂𝒓(𝒕) = 𝑨 + 𝑩. 𝒕 é determinada de maneira
a se excluir a parte da resposta que diz respeito à fluência do material. A parte harmônica 𝒇𝒉(𝒕) = 𝑪. 𝐜𝐨𝐬(𝝎𝒕 + 𝝋) é usada
para determinar a meia-amplitude do pulso C (que vai ser de deslocamento vertical V0 ou horizontal U0, no caso dos
LVDTs, e de carga P0, no caso dos dados lidos pela célula de carga), sua pulsação 𝝎 e a fase do sinal 𝝋. Esses parâmetros
levarão ao cálculo do MD e do coeficiente de Poisson para os pulsos obtidos experimentalmente, segundo as equações
apresentadas por Kim et al. (2004). Os ângulos de fase vertical e horizontal, dos deslocamentos em relação à carga
aplicada, foram obtidos a partir da determinação do intervalo de tempo de atraso entre o pulso de deslocamento e o de
carga. Multiplica-se o atraso (intervalo de tempo) do pulso de deslocamento em relação ao de carga pela pulsação das
curvas. Tratou-se o atraso vertical e o atraso horizontal como propriedades diferentes, que apresentam ângulos de fase
também diferentes. Sendo assim, a fase entre os dois deslocamentos determina o ângulo de fase do coeficiente de Poisson,
considerado neste trabalho como um número complexo, assim como o módulo complexo. Dessa forma, o mesmo é
representado na sua forma polar por sua magnitude em conjunto com seu ângulo de fase. Os resultados obtidos foram
sumarizados na Tabela 2. A Figura 5 representa a obtenção dos ângulos de fase a partir da parte harmônica das curvas
modeladas.

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21º Encontro de Asfalto

8,00E-03 v 0,4000

6,00E-03 0,3000

4,00E-03 V0 0,2000
P0
U0
Deslocamento (mm)

2,00E-03 0,1000

Carga (kN)
Vertical
0,00E+00 0,0000
178 180 182 184 186 188 190 192 Horizontal
Carga
-2,00E-03 -0,1000

-4,00E-03 -0,2000

-6,00E-03 -0,3000

-8,00E-03 -0,4000
h tempo (s)

Figura 5. Pulsos modelados utilizados na determinação das propriedades do material

Tabela 2. Resumo dos resultados dos ensaios de MD por compressão diametral


Amp. Def. Média
T f |E*| Poisson Ângulo de Fase  (º)
t (mm) (µ𝞮) Po (kN)
(˚C) (Hz) (MPa) (ν)
Vertical Horizontal Vert Hor ν
25 35.394 0,39 161 73 5,03 9 0 9
10 37.002 0,42 152 72 4,92 18 4 14
5 36.252 0,42 155 72 4,91 20 7 13
-10 41,7
1 35.505 0,44 159 77 4,93 20 8 12
0,5 33.999 0,44 167 80 4,94 21 9 13
0,1 29.361 0,41 192 90 4,95 23 10 13
25 28.117 0,38 171 76 4,24 27 9 18
10 30.430 0,47 126 62 3,32 25 14 11
5 29.390 0,47 112 55 2,83 27 18 9
4,4 41,7
1 24.218 0,47 124 61 2,60 30 22 8
0,5 20.726 0,43 131 63 2,37 32 23 9
0,1 14.363 0,34 148 63 1,90 37 28 9
25 8.369 0,26 150 57 1,19 27 27 0
10 6.919 0,32 144 59 0,94 25 32 -7
5 5.399 0,33 139 59 0,70 25 34 -9
21,1 43,6
1 3.452 0,49 216 109 0,67 27 40 -13
0,5 2.731 0,58 239 132 0,57 29 40 -11
0,1 1.431 0,78 278 178 0,63 29 43 -14
OBS.: Ângulo de fase do coeficiente de Poisson positivo indica pulso vertical atrasado em relação ao horizontal.

Deve-se considerar a dificuldade na realização do ensaio quanto à escolha das cargas. Percebe-se, nos resultados
supracitados, que algumas amplitudes de deformação ultrapassam 125 microstrains e podem estar levando a uma resposta
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21º Encontro de Asfalto

não linear do material, que não está sendo levada em conta. Para as duas temperaturas mais altas (37,8ºC e 54,4°C), não foi
possível realizar o ensaio, pois, mesmo com cargas pequenas de maneira a atingir 70 microstrains de amplitude de
deformação, a deformação de fluência acumulada durante a varredura impede a obtenção da parte harmônica do pulso (já a
21,1ºC percebe-se que a deformação de fluência é bem maior do que a amplitude de deformação harmônica, como
apresentado na Figura 4). Alternativamente, cargas maiores levaram à ruptura dos CPs. Considera-se que a ruptura tenha se
dado em decorrência do acúmulo de deformações de fluência durante o carregamento. As magnitudes da deformação de
fluência são bastante superiores às amplitudes de deformação harmônica, o que, juntamente com a pequena quantidade de
ciclos aplicada, não leva a crer que o processo de fadiga tenha sido relevante nesse processo. Com o processo de dano (por
fluência) do CP, percebe-se um aumento no coeficiente de Poisson, que acaba ultrapassando o valor de 0,5, limite para
materiais elásticos, isotrópicos, unimodulares. Ressalta-se que Katicha (2007) sublinhou que esse limite pode ser
ultrapassado mesmo sem dano, no caso do material apresentar bimodularidade com o módulo em tração sendo inferior ao
em compressão. Nesse caso, coeficientes de Poisson maiores do que 0,5 podem ser medidos mesmo sem dano. A
bimodularidade é característica de materiais asfálticos e pode explicar alguns dos valores de coeficiente de Poisson
encontrados também no presente trabalho.
A fim de se comparar os valores de MD obtidos pelos dois modos de carregamento (compressão axial e
compressão diametral), curvas mestras (Figura 6a e 6b) foram construídas com base no princípio de superposição tempo-
temperatura. Foi aplicada a Lei de Arrhenius, com constante C igual a 12.000K.

5,0

4,5
Log |E*| (MPa)

4,0

3,5
Uniaxial
3,0 Diametral

2,5

2,0

1,5
-6 -4 -2 0 2 4 6 8
Log Wred (Hz)
(a)
50,0
ϕ Horizontal
40,0
ϕ Vertical
30,0 ϕ Poisson
20,0
ϕ (°)

10,0

0,0

-10,0

-20,0
1,0E-01 1,0E+01 1,0E+03 1,0E+05 1,0E+07

Frequência Reduzida (Hz)


(b)
Figura 6. Comparação entre os resultados obtidos por compressão diametral (IDT) e compressão axial. (a) Valores de MD e
(b) Valores de ângulo de fase

Observa-se que os resultados de MD obtidos em compressão diametral foram próximos àqueles obtidos em
compressão axial. Sugere-se, porém, o aprimoramento do experimento, principalmente na escolha das cargas do ensaio.
10
21º Encontro de Asfalto

Além disso, sugere-se que um número menor de ciclos de carregamento sejam aplicados, encurtando a duração do
experimento e prevenindo o acúmulo de dano e de deformações de fluência, evitando a ruptura dos CPs. Assim como
ocorreu em outros trabalhos já publicados na literatura (Kim et al., 2004; Nunes et al., 2009), sugere-se a utilização de mais
frequências baixas (0,05 e 0,01Hz) e a utilização de apenas três temperaturas no ensaio (-10, 10 e 35ºC). Isso pode facilitar
a obtenção dos resultados, reduzindo o tempo do experimento, o acúmulo de deformações de fluência, o dano gerado no
material e ainda permitindo a obtenção de uma curva mestra varrendo uma amplitude maior no eixo da frequência reduzida.
Como se pode observar, para uma parte do espectro de frequências em que existem resultados de MD obtidos por
compressão axial, não há resultados obtidos por compressão diametral. Isso se deve à ausência de resultados em
temperaturas mais altas, o que poderia ser parcialmente mitigado pela inclusão de frequências de carregamento mais baixas
nas temperaturas ensaiadas.
Quanto aos ângulos de fase obtidos, nota-se que as observações para a diferença de fase entre o pulso de carga e os
pulsos de deslocamento são diferentes. Isso indica a existência de uma diferença de fase entre os pulsos de deslocamento,
representada pela quantidade v ( Poisson) representada na Figura 5. Para as frequências reduzidas mais baixas, o pulso
vertical é adiantado (valor do ângulo de fase negativo), enquanto que para as frequências mais altas o inverso ocorre (valor
positivo). Isso indica a necessidade de se representar o ângulo de fase de materiais asfálticos como um número complexo,
assim como o módulo complexo, representado na forma polar por sua magnitude e seu ângulo de fase. Tal tratamento já foi
anteriormente proposto e apresentado na literatura, como em Di Benedetto et al. (2007), por exemplo.

5. Conclusões
O presente trabalho lidou com a obtenção experimental de propriedades viscoelásticas lineares de misturas
asfálticas. Especificamente, o método de ensaio de MD foi analisado, tomando a AASHTO TP62-2005 como referência e
buscando a aplicação do carregamento por compressão diametral para obtenção das mesmas propriedades, além do
coeficiente de Poisson. A execução do ensaio nas duas temperaturas mais altas (37,8 e 54,4ºC) foi impossibilitada pela
grande quantidade de deformação de fluência acumulada durante o carregamento a essas temperaturas. Essa deformação é
capaz de romper o CP durante o ensaio. Sugere-se a redução da quantidade de ciclos aplicados no ensaio por compressão
diametral em relação à quantidade comumente utilizada no ensaio por compressão axial. Além disso, a adoção de
protocolos de ensaio modificados, com apenas três temperaturas (-10, 10 e 35ºC, por exemplo) e mais frequências
(adicionando frequências baixas, para compensar a perda dos resultados a temperaturas altas) é encorajada. Com a
modificação do protocolo de ensaio, uma menor quantidade de ciclos será aplicada e, consequentemente, menores
quantidades de deformação de fluência serão acumuladas, permitindo a execução do ensaio sem dano excessivo do CP.
Dessa maneira, outros autores conseguiram apresentar resultados de MD em um espectro (gama de frequências reduzidas)
tão vasto quanto o de resultados obtidos por compressão axial. Nesse contexto, o ensaio de compressão diametral se
apresenta como importante ferramenta para a caracterização viscoelástica linear de CPs provenientes de campo, permitindo
análises considerando as propriedades viscoelásticas dos revestimentos já executados no pavimento. Neste trabalho, foram
apresentados resultados de MD e ângulo de fase obtidos para ensaios de compressão diametral em mistura asfáltica. Uma
diferença de fase entre os pulsos de deslocamentos horizontal e vertical foi observada, fato anteriormente verificado por
outros autores. Isso pode sugerir que o coeficiente de Poisson, assim como o módulo complexo, deve ser tratado através de
sua magnitude e seu ângulo de fase.

6. Agradecimentos
Os autores agradecem ao Laboratório de Mecânica dos Pavimentos (LMP/DET/UFC) pelo apoio operacional
concedido e aos órgãos de fomento CNPq e CAPES pelas bolsas de mestrado. À organização da disciplina de Modelagem
de Materiais Asfálticos do Petran/UFC, pela oportunidade de desenvolver o presente trabalho e estímulo/suporte
concedidos.

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