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O diagnóstico laboratorial desempenha um papel importante no diagnóstico das

infecções/doenças parasitárias, sendo a chave para a seleção da conduta terapêutica


adequada, que, apesar da existência de inúmeras técnicas, quantitativas e
qualitativas, propostas para o exame parasitológico de fezes, todas têm sido objeto de
críticas diversas. No laboratório de rotina preconiza-se uma combinação de técnicas
com o objetivo de aumentar a acurácia diagnóstica e, consequentemente, diminuir os
resultados falsos negativos, principalmente quando há baixa carga parasitária, uma
vez que a utilização combinada de várias técnicas com fundamentos distintos é
indicada para detectar infecções intestinais causadas por parasitos, tendo em vista
sua variabilidade morfológica e biológica (MENDES et al., 2005).

O resultado do exame parasitológico das fezes tem como objetivo cinco


propósitos principais: fornecer informações úteis ao diagnóstico; servir como guia para
o tratamento; acompanhar e determinar a eficiência do tratamento; trazer informações
de valor para estudos epidemiológicos; e fornecer os elementos básicos para corrigir
as deficiências nos programas de profilaxia do meio ambiente. Todos os parasitos
patogênicos ou não-patogênicos deverão ser reportados nos seus nomes científicos,
dando ênfase ao estágio de diagnóstico identificado (REY, 2008).

O exame parasitológico de fezes (EPF) é um exame que permite a identificação


de parasitas intestinais através da avaliação macro e microscópica das fezes, em que
são visualizados cistos, ovos, trofozoítos ou estruturas adultas de parasitas, No
laboratório, as fezes são avaliadas macroscopicamente, ou seja, é avaliado aspecto e
cor das fezes, o que é importante para que seja realizado a melhor técnica diagnóstica
para o exame, uma vez que de acordo com as características das fezes podem surgir
hipóteses do tipo e grau de infecção, o que permite que técnicas mais adequadas para
a identificação de cistos, ovos, trofozoítos ou vermes adultos sejam realizada (REY,
2008).

O exame de esfregaços a fresco pelos métodos diretos é o método mais fácil e,


talvez, o mais usado na rotina do laboratório, permitindo visualizar os estágios de
diagnóstico dos protozoários (trofozoítos, cistos, oocistos e esporos) e dos helmintos
(ovos, larvas e pequenos adultos). Para uma diagnose absoluta é necessário observar
o parasito em um de seus estágios de evolução. O simples exame microscópico é, em
muitos casos, suficiente para o diagnóstico. Entretanto, para a obtenção de melhores
resultados é necessário o uso de técnicas de concentração, ou seja, processos
mecânicos e/ou biológicos (LEVINSON, 2016).
As técnicas de flutuação fundamentam-se no princípio da diferença de
densidade específica entre os ovos de helmintos, cistos e oocistos de protozoários e o
material fecal, a fim de que esses organismos flutuem na superfície dos reagentes
com densidade específica, nas técnicas de flutuação são usadas principalmente as
soluções saturadas de cloreto de sódio, de sacarose, de sulfato de zinco e de sulfato
de magnésio (CHIEFFI; AMATO, 2003).

Os dois principais objetivos das técnicas de sedimentação são o aumento do


número de ovos, larvas ou cistos e a separação das gorduras e óleos da maioria dos
detritos. Nessas técnicas, os organismos são sedimentados igualmente pela
gravidade ou centrifugação. A sedimentação apresenta uma ação inversa, comparada
com a flutuação. Os cistos, oocistos, ovos e larvas são retidos no fundo do tubo,
enquanto os detritos são suspensos para a superfície, não interferindo no diagnóstico
final (MACHADO, 2008).

A maior desvantagem é a grande quantidade de detritos fecais no sedimento,


tornando a identificação dos organismos muito mais difícil do que pelos procedimentos
de flutuação. Algumas técnicas de sedimentação usam o éter etílico e soluções de
ácido clorídrico, ácido acético, ou sulfato de sódio para clarificar e liberar os
organismos dos detritos fecais. O éter poderia conduzir muitos ovos e cistos junto com
os detritos, dificultando o diagnóstico das infecções leves (MACHADO, 2008).

As técnicas de sedimentação foram desenvolvidas para o diagnóstico das


enteroparasitoses, como a de Lutz (água corrente); Hoffman, Pons e Janer (água
corrente); Faust, Ingalls e See (água glicerinada a 0,5%); Weller e Dammin (ácido
clorídrico-triton NE-éter); Loughlin e Stoll (ácido clorídrico-éter-xilol, AEX); Hunter e
cols. (sulfato de sódio-ácido clorídrico-tritonéter, AMS III); Ritchie (formalina-éter, FE);
Blagg e cols. (mertiolatoiodo-formaldeído, MIFC). Alguns autores recomendam o uso
conjunto das técnicas de flutuação e sedimentação na rotina laboratorial; entretanto,
esta conduta é impraticável para a maioria dos laboratórios (MENDES et al., 2005).

A técnica de Willis fundamenta-se na dupla propriedade que apresentam certos


ovos de helmintos de flutuarem na superfície de uma solução de densidade elevada e
de aderirem ao vidro. Este procedimento, simples e eficiente, está indicado para a
pesquisa de ovos com densidade específica baixa, como os de ancilostomídeos e de
Trichostrongylus orientalis, embora não seja recomendado para os ovos pesados de
trematódeos, ovos de E. vermicularis e ovos inférteis de A. lumbricoides, pois os cistos
de protozoários se retraem, ficando irreconhecíveis (CRUZ et al., 2014).
A técnica de Lutz ou de Hoffman, Pons e Janer é um procedimento simples,
indicado para a pesquisa de ovos, larvas e cistos. Fundamenta-se na sedimentação
espontânea em água (combinação da gravidade e da sedimentação). Os ovos
operculados e de esquistossoma são facilmente recuperados. O uso de grande
quantidade de material fecal nesse processo, em contraste com as pequenas
quantidades usadas em outras técnicas, favorece um diagnóstico satisfatório e
seguro, mesmo quando o número de organismos presentes é pequeno. A grande
vantagem da técnica de sedimentação em água para a concentração de cistos de
protozoários e ovos e larvas de helmintos, no material fecal, é a necessidade mínima
de vidraria, sendo dispensável o uso de reagentes e da centrifugação. A desvantagem
desse processo de diagnóstico coprológico é a grande quantidade de detritos fecais
no sedimento, dificultando, com frequência, a preparação e o exame da lâmina (CRUZ
et al., 2014).

Método De Baermann-Moraes esse procedimento fundamenta-se no termo


hidrotropismo positivo das larvas de nematoides, Este método é indicado para a
pesquisa de larvas de S. stercoralis e de ancilostomídeos. As amostras líquidas
submetidas ao método de Baermann-Moraes são misturadas com pedaços de lenço
de papel ou papel higiênico ou com farinha de milho. Freqüentemente a observação
das características morfológicas é dificultada pelo movimento das larvas, esse método
permite o isolamento de larvas parasitas e de vida livre de nematoides (FERREIRA,
2021).

Método De Rugai, esse método fundamenta-se no termo hidrotropismo positivo


das larvas de nematoides, esse método é indicado para a pesquisa de larvas de S.
stercoralis, frequentemente a observação das características morfológicas é
dificultada pelo movimento das larvas (FERREIRA, 2021).

Metodo De Kato Katz é amplamente usado na rotina para determinar


quantitativamente o número de ovos, este método é um procedimento simples e muito
eficiente para detectar ovos de helmintos nas fezes principalmente de Schistosoma,
entretanto, não é indicado para o diagnóstico de larvas de helmintos e protozoários,
esse procedimento demonstra possuir excelente sensibilidade e reprodutibilidade. A
grande vantagem do método é o uso de significativa porção de fezes (50 a 60mg), a
qual é examinada diretamente sem o emprego de outros procedimentos de
concentração, já o Método Da Fita foi desenvolvido para o diagnóstico de ovos de E.
vermicularis e, eventualmente, de ovos de Taenia spp (LEVINSON, 2016).
A identificação de todos os parasitos do sangue é realizada por um ou dois
tipos de esfregaços sangüíneos: esfregaços estirados ou esfregaços espessos (gota
espessa). Esses esfregaços são preparados com sangue total colhido com
anticoagulante, ou com o sedimento de diferentes métodos indicados para concentrar
tripanossomos e microfilárias no sangue. Os organismos não são identificados
tomando como referência, somente, a preparação direta a fresco; esfregaços
permanentes corados deverão ser examinados para que seja estabelecida a
caracterização morfológica e a identificação específica do organismo em estudo. Uma
variedade de corantes e métodos de coloração é indicada para a coloração dos
hemoparasitos (DE CARLI, 2007).

A escolha de técnicas para serem implementadas na rotina laboratorial no setor


de Parasitologia envolve vários fatores. Cabe lembrar que, para garantir melhor
resultado, a associação de técnicas resulta sempre em maior confiabilidade,
principalmente quando se utilizam técnicas de fundamentos diferentes
REFERENCIAS

CRUZ, P. F. F; REZENDE, D. V; PENATTI, M. P. A; GUIMARÃES, E. C; PEDROSO,


R. S; LIMA, S. C. Ações educativas com ênfase à prevenção de parasitoses
intestinais em uma localidade rural no município de Uberlândia, MG. REBES.
2014;4(2):8-15.

CHIEFFI, P. P; AMATO, NETO. V. Vermes, verminoses e a saúde pública. Cienc.


Cult. 2003;55:41-3.

DE CARLI, G. A. Parasitologia clínica: seleção de métodos e técnicas de


laboratório para o diagnóstico das parasitoses humanas. São Paulo, Editora
Atheneu p.58, 2007.

FERREIRA, Marcelo Urbano. Parasitologia Contemporânea. (2ª edição) Editora


Guanabara Koogan, 2021.

LEVINSON, W. Parasitologia médica. Tradução Danielle Soares de Oliveira Daian.


Tradução e revisão técnica Flávio Guimarães da Fonseca. 13 ed. Porto Aegre: AMGH,
2016.

MACHADO, E. R; SANTOS, D. S; COSTA-CRUZ, J. M. Enteroparasites and


commensals among children in four peripheral districts of Uberlândia, State of
Minas Gerais. Rev Soc Bras Med Trop. 2008; 41(6):581-5.

MENDES, C. R; TEIXEIRA, A. T. L. S; PEREIRA, R. A. T; DIAS, L. C. D. S. Estudo


comparativo de técnicas parasitológicas: Kato-Katz e Coprotest®. Rev Soc Bras
Med Trop. 2005;38(2):178-80.

REY, Luis. Parasitologia. (4ª edição) Editora Guanabara, 2008.

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