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FRAGMENTOS E TEXTOS DOS FILÓSOFOS PRÉ-SOCRÁTICOS #1

TALES

O início do pensar filosófico

“A maior parte dos que por primeiro filosofaram pensaram que os princípios de todas as coisas fossem apenas os
materiais. Com efeito, afirmam que aquilo de que todos os seres são constituídos e aquilo de que derivam
originariamente e em que terminam por último, é uma realidade que permanece idêntica mesmo coma transmutação
de suas afecções. E, por esta razão, crêem que nada se gere e que nada se destrua, pois tal realidade sempre se
conserva. E como não dizemos que Sócrates gera-se em sentido absoluto quando se torna belo ou músico, nem
dizemos que perece quando perde tais modos de ser, pelo fato de que o Substrato – ou seja, o próprio Sócrates –
continua a existir, também devemos dizer que não se corrompe, em sentido absoluto, nenhuma das outras coisas:
deve haver, pois, alguma realidade natural (uma só ou mais de uma) da qual derivam todas as outras coisas,
enquanto ela continua a existir imutável.
Todavia, estes filósofos não estão todos de acordo sobre o número e a espécie de tal princípio. Tales, iniciador deste
tipo de filosofia, diz que tal princípio é a água (por isso afirma também que a terra navega sobre a água), deduzindo
sua convicção indubitavelmente da constatação de que o alimento de todas as coisas é úmida, e que até o calor gera-
se do úmido e vive no úmido. Ora, aquilo de que todas as coisas são geradas é, justamente, o princípio de tudo. Ele
deduz, portanto, sua convicção deste fato e do fato de que as sementes de todas as coisas tem natureza úmida e a
água é o princípio da natureza das coisas úmidas.
Há ainda alguns que crêem que também os antiqüíssimos que por primeiro trataram dos deuses, muito antes da
presente geração, tenham tido essa mesma concepção da realidade natural. Com efeito, puseram Oceano e Tétis
como autores da geração das coisas, e disseram que aquilo pelo que os deuses juram é a água, a qual é por eles
chamada Estige. Com efeito, o que é mais antigo é também mais digna de respeito. Todavia, que tal concepção da
realidade natural tenha sido assim originária e assim antiga não aparece de fato de modo claro; ao contrário, afirma-
se que Tales foi o primeiro a professar essa doutrina a respeito da causa primeira”.

Aristóteles, Metafísica, livro I, 3 In: REALE, G. & ANTISERI, D. História da filosofia. V.1, São Paulo: Paulus, 1997, p.49.

ANAXIMANDRO

O infinito como princípio

“Com razão todos consideram o infinito como princípio, pois não é possível nem que ele exista em vão, nem que a
ele convenha outra potência que a de princípio. Tudo, com efeito, ou é um princípio ou deriva de um princípio: mas
o infinito não há princípio, porque nesse caso haveria um limite. E também é não-gerado e incorruptível, do mesmo
modo que um princípio, pois o que é gerado tem necessariamente também um fim, e toda corrupção tem seu termo.
Por isso dizíamos que do infinito não há princípio, mas que ele parece ser o princípio de toda outra coisa e
compreender em si todas as coisas e ser guia para todas as coisas, como dizem todos os que não admitem outras
causas, como a mente ou o amor, além do infinito. E tal princípio parece ser o divino; e é, com efeito, imortal e
imperecível, como dizem Anaximandro e a maioria dos filósofos da natureza”.

Aristóteles, Física, livro III, 4 In: REALE, G. & ANTISERI, D. História da filosofia. V.1, São Paulo: Paulus, 1997, p.50.

“O princípio dos seres é o infinito [...] Naquilo de que os seres extraem sua origem, aí se realiza também sua
dissolução, conforme a necessidade: com efeito, reciprocamente descontam a pena e pagam a culpa cometida,
segundo a ordem do tempo”.

Anaximandro, fr. 1 In: REALE, G. & ANTISERI, D. História da filosofia. V.1, São Paulo: Paulus, 1997, p.50.

ANAXÍMENES

O princípio é o ar
“Como a nossa alma, sendo ar, nos mantém vivos, da mesma forma o sopro e o ar sustentam o cosmointeiro”
Anaxímenes, fr. 2 In: In: REALE, G. & ANTISERI, D. História da filosofia. V.1, São Paulo: Paulus, 1997, p.50.

Como do ar derivam as coisas


“Anaxímenes de Mileto, filho de Eurístrato, foi amigo de Anaximandro e como este também ele punha como
substrato uma única substância primordial e ilimitada, mas não ideterminada como a de Anaximandro, e sim
determinada: dizia, com efeito, que era o ar. Este se diferencia nas várias substâncias conforme o grau de rarefação e
de condensação: e assim, dilatando-se, dá origem ao vento e depois à nuvem; em maior grau de densidade forma a
água, depois a terra e daí as pedras; as outras coisas derivam depois destas. Também Anaxímenes admite a
eternidade do movimento, por obra do qual ocorre a transformação.

Teofrasto, Opinião dos físicos, fr. 2 (=Anaxímenes, tex, Diels-kranz) In: : In: REALE, G. & ANTISERI, D. História
da filosofia. V.1, São Paulo: Paulus, 1997, p.51.

1. Anaxímenes, filho de Eurístrato, era também de Mileto. Punha como princípio o ar infinito, do qual foram geradas
as coisas que existem, que existiram e que existirão, e os deuses e os seres divinos, e todas as outras coisas derivam
por sua vez destas. 2. O caráter específico do ar é este: quando ele é distribuído de modo absolutamente uniforme é
invisível, mas se manifesta por meio do frio, do quente, do úmido e do movimento. ele está sempre em movimento e,
com efeito, se não houvesse movimento, não se produziriam todas as transformações que ocorrem. 3. Por via de
condensação e de rarefação assume diversas formas: quando se dilata até alcançar forte grau de rarefação torna-se,
com efeito, fogo, e se, ao invés, se condensa, torna-se vento; adensando-se, torna-se nuvem; em uma densidade
ainda maior se transforma em água e mais além em terra; chegando ao grau máximo de condensação torna-se pedra.
Assim, presidem à geração os contrários, o quente e o frio. 4. A terra é de forma chata e é levada pelo ar, do mesmo
modoque o sol, a lua e os outros astros que são todos de natureza ígnea e que se sustentam sobre o ar por causa de
sua forma chata. 5. Os astros nasceram da terra, cuja umidade, levantando-se da superfície terrestre e dilatando-se,
produziu o fogo que, elevando-se ao alto, formou os astros. Mas na região dos astros há também corpos de natureza
terrosa que giram junto com eles. 6. Anaxímenes diz que os astros não se movem sob a terra como outros supõem,
mas em torno da terra, do mesmo modo que o boné se vira ao redor de nossa cabeça. O sol desaparece de nossa vista
não porque passe sob a terra, mas porque é coberto pelas regiões mais elevadas dela e também por causa da maior
distância de nós. Os astros não esquentam por causa de sua distância. 7. Os ventos se formam quando o ar,
condensando-se, é impulsionado a mover-se; comprimido e ainda mais condensado, o ar dá origem às nvens e a
seguir se transforma em água. O granizo se forma quando a água que desce das nuvens gela; a neve, ao invés,
quando essa água gelada contem mais umidade. 8. O relâmpago se produz quando as nuvens se laceram por causa de
ventos; essa laceração das nuvens provoca um clarão luminoso e afogueado. O arco-íris é produzido pelos raios do
sol que encontram ar condensado. O terremoto ocorre se a terra sofre variações fortes demais depois de aquecimento
e resfriamento. 9. Estas são as opiniões de Anaxímenes que nasceu no primeiro ano da 58ª olimpíada [548/44].

Hipólito, Refutações, 17 (=Anaxímenes, tex, 7 Diels-Kranz) In: REALE, G. & ANTISERI, D. História da filosofia.
V.1, São Paulo: Paulus, 1997, p.51.
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Fragmento – Este é o único fragmento conhecido de Anaxímenes, embora não haja certeza de sua autenticidade.

“Como nossa alma, que é ar, nos governa e sustém, assim também o sopro e o ar abraçam todo o cosmo”.

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“Quando o ar está igualmente distribuído é invisível: manifesta a sua existência através do frio e do calor, da
umidade e do movimento. E está sempre em movimento. Pois o que muda, não poderia mudar se não fosse movidO.
Hip. I, 7,2 In:

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