Cabe ressaltar aqui que, quando falo de entorno, não estou falando de um local
apenas físico. Estou falando da ambiência, que é esse conjunto constituído pelo
suporte espacial (o espaço urbano, a arquitetura), pelos estímulos sensoriais que dele
emanam, por sua dinâmica e de sua atmosfera moral. As ambiências constituem-se em
tema complexo na medida em que abrigam questões materiais, imateriais e suas
implicações nas subjetividades em função dos filtros culturais e psíquicos adquiridos
por nossa história de vida e nossa cultura.
Por mais intrincado que o tema possa parecer, o estudo das ambiências tem se
mostrado essencial não apenas para a compreensão da complexidade da vida urbana
na contemporaneidade, mas, também, para o próprio fazer arquitetônico. De fato, o
conhecimento das dimensões subjetivas e culturais do espaço construído permite ao
pesquisador em Arquitetura e Urbanismo destrinchar os meandros do uso, da
apropriação e dos significados do lugar, sem os quais todo projeto seria fadado ao
fracasso. Muito tem se publicado sobre morfologia, desempenho e estética da obra
arquitetônica, mas ainda são poucos os estudos que reconhecem nela a função
primordial de engendrar experiências corporais, memoriais, estéticas e afetivas.
Sob a organização sensível do professor Luiz de Jesus Dias da Silva e contando com
uma forte equipe de docentes e pesquisadores, os capítulos deste livro demonstram,
com rigor científico, a desejável articulação dos objetos próprios da pesquisa em
Arquitetura com a base teórica das disciplinas das ciências humanas e sociais. Assim,
pela forma com a qual fomenta a construção de um diálogo entre essas diversas
disciplinas, a leitura deste livro abre um leque de possibilidades metodológicas para a
pesquisa do habitar humano, abrangendo a compreensão dos mecanismos perceptivos
e buscando desvendar as lógicas culturais por meio da etnografia. Os autores ratificam,
desta forma, a inexorável ligação dos aspectos que compõem o lugar em suas
dimensões subjetivas e culturais.
Por todas estas razões, considero o livro muito pertinente. Ele nos faz repensar os
postulados que transformaram a arquitetura contemporânea em uma obra
meramente “retiniana” (como diz Pallasmaa), uma obra feita para ser fotografada, mas
que não é mais capaz de abrigar nossos sonhos e anseios individuais e coletivos.