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Filosofia da religião

A primeira vista, todo mundo sabe o que é religião, mas quando se pergunta sobre a essência
conceptual da religião surgem dificuldades sem fim.

A religião é uma das primeiras manifestações existencial do homem, e pela via disso, ela faz
parte da existência humana. O ser humano não pode tirar de si o capote da dimensão religiosa na
sua existência. Pode caracterizar-se o religioso como zona do sentido da pessoa. Em outras
palavras, a religião tem haver com o sentido último da pessoa, da história e do mundo.

Para Freaubach o que diferencia o homem dos outros animais não é a linguagem como diz
Heidegger, não é o conhecimento como dizem os sociólogos, não é a cultura, não é a política,
mas o que diferencia o homem dos outros animais é a religião.

Os monoteístas afirmam que a religião é religar o homem ao absoluto. As religiões monoteístas


são: judaísmo, cristianismo, islamismo. Segundo os monoteístas é religião, aquilo que tem um
fundador e tem um livro sagrado. Essa ideia de ligar a humanidade ao absoluto enquanto
conjunto de hábitos, praticas que visam

A filosofia da religião é uma teoria racional sobre a religião com vista o aperfeiçoamento moral
do individuo. Por sua vez a filosofia esclarece os fundamentos da religião e questiona as
condições em que ela é possível, assim sendo, a filosofia da religião estuda a religião quanto aos
seus fundamentos, as condições em que ela é possível.

A Religião pública e os Mistérios Órficos

Havia duas expressões da religião grega: a religião pública, aquela que conhecemos pelos
poemas de Homero e a religião dos mistérios, praticada em círculos restritos por aqueles que não
consideravam suficiente a religião pública.

Dentre os “mistérios”, aquele que mais importa para o nascimento da filosofia grega é o
Orfismo, nome derivado de seu fundador, o poeta trácio Orfeu. O Orfismo inaugura uma
concepção da existência humana distante do naturalismo: enquanto a religião pública
considerava o homem mortal, o Orfismo opõe corpo e alma, sendo que o corpo seria mortal, mas
não a alma. Do Orfismo são tributárias as filosofias de Pitágoras, Heráclito, Empédocles e
Platão.

Outro aspecto importante da religião grega era a inexistência de um livro sagrado. As crenças
eram difundidas pelos poetas, mas com uma visão não dogmática e sem uma autoridade que teria
o direito de proteger os dogmas. Com isso, os filósofos gregos não enfrentaram resistência
religiosa à sua liberdade de pensamento.

A religião grega dividia-se em pública e dos mistérios. A pública era hierofânica (via em
qualquer evento a manifestação do divino), naturalista (sem lugar para a santidade ou ascese, não
queriam elevar o homem acima dele mesmo; tudo o que é natural para o homem vale como
legítimo para a divindade; o homem mais divino é o que cultiva ao máximo suas forças humanas;
o dever religioso consiste em fazer, em honra da divindade, o que é conforme a natureza
humana), tinha concepção unitária de alma e corpo.

A Religião dos mistérios (também chamada Orfismo) tinha concepção dualista de alma e corpo.
Pontos importantes: a) no homem reside um princípio divino (daimonion), unido ao corpo por
causa de uma culpa original; b) esse princípio é imortal, deve passar por série de reencarnações
até expiar sua culpa; c) a vida órfica com práticas purificadoras ([Ascese]) pode por fim ao ciclo
das reencarnações, levando à felicidade perfeita pós-vida.

A Dimensão Ética

Smart diz que «ao longo da história vemos que as religiões normalmente incorporam um código
de ética» (The Religious Experience of Mankind (A Experiência Religiosa da Humanidade), 3.ª
edição, p.9). No budismo, por exemplo, é ensinado que as ações da pessoa devem ser controladas
pelos Cinco Preceitos — abster-se de matar, roubar, mentir, atos sexuais delituosos e substâncias
intoxicantes. O judaísmo tem a Torá (lei) que contém não só os Dez Mandamentos mas também
muitas outras prescrições morais e também rituais. Da mesma forma o islão tem a Sharia (lei)
que prescreve vários deveres morais e rituais. No cristianismo, Jesus resumiu os seus
ensinamentos éticos no mandamento «ama o teu próximo como a ti mesmo». Pelo menos em
certa medida, a dimensão ética de uma religião pode ligar-se a partes das suas dimensões
doutrinal e mítica. Por exemplo, a injunção de Buda de abstenção de substâncias intoxicantes é
compatível com a sua perceção de que tais substâncias obstruiriam a autoconsciência. O
ensinamento da doutrina cristã sobre o amor para com os outros é compatível com as narrativas
de comportamento do próprio Cristo e com a doutrina de que Deus é amor. E as duras
prescrições morais na Sharia são compatíveis com o ensinamento islâmico de no final cada
pessoa acabará por ser sujeita ao julgamento de Deus.

Fé e Razão

Tertuliano empreendeu o seu filosofar na tentativa de combater a importância da

Filosofia/razão no caminho da fé. A seu ver, o pensamento racional longe de ser uma

contribuição benéfica para se chegar às verdades de fé (como pensava Tomás de Aquino,

Agostinho) seria antes um obstáculo, uma blasfémia ao caminho da salvação. Destarte,

para o autêntico cristão, a fé bastaria tornando-se dispensável toda e qualquer Filosofia.

Em Agostinho de Hypona (354-430 EC), o mais importante filósofo do início da


Medievalidade, tem-se uma interacção entre fé e razão eternizada na célebre frase: “compreender
para crer, crê para compreender”, uma referência clara ao preceito bíblico do profeta Isaías 7,9.
Em outras palavras, convida-nos para além de uma mera polarização a unir a fé e a razão na
compreensão da vida. Uma espécie de “filosofar na fé” pelo qual a fé estimularia a reflexão
racional e vice-versa numa relação de complementaridade. Nesse sentido, a dissociação entre
crença e intelectualidade não ganha espaço na reflexão agostiniana, mas antes se complementam
para garantir o desenvolvimento pleno da fé e da razão, possibilitando pensarmos uma Filosofia
Cristã.

Tomás de Aquino, representante máximo da Escolástica medieval, que defende uma unidade
entre a razão e a fé, haja vista ambas objetivarem a busca da verdade, inviabilizando uma
contraposição entre Teologia e Filosofia uma vez que ambas teriam campos de actuação e
métodos de compreensão da realidade distintos, porém, nunca contraditórios e constituiriam a
totalidade da verdade que é, em última instância, única.
João Paulo II, entende o binómio Fé e Razão não como oposição, mas como conciliação, para
a busca e contemplação da verdade absoluta.

O argumento ontológico da existência de Deus

A posição sustentada pelo ontologismo é a de que Deus existe por necessidade essencial. Entre
os seus principais defensores estão Malebranche (1632-1715), Gioberti, Anselmo, Descartes
(1596-1650), Leibniz (1646-1716) e por alguns seguidores de Hegel (1770-1831).

Anselmo persegue uma forma de apresentar a existência de Deus de modo que ela seja
irrefutável, neste caso o filósofo procederia “a priori” (é evidente imediatamente). Por esta
última forma, Anselmo defenderia este argumento: Deus é ser do qual outro maior não se pode
pensar (ANSELMO apud MONDIN, 1982); com isso, afirma que Deus é aquele que toda
perfeição contém e, por isso, existe; a sua existência está no conceito de perfeição que, por
conseguinte, é aplicada à natureza e a Deus. Portanto, a concepção de Deus sem sua existência
seria absurda. Não existe nenhuma necessidade de demonstração da existência de Deus, pois ela
é evidente imediatamente – isto é, prova sem mediações.

Cosmológico

Pelo método a posteriori Tomás constrói cinco argumentos, ou como ele mesmo chama viis,
fundamentadas na filosofia aristotélica. As vias ou argumentos são estes: a que parte do
movimento, afirma, Deus é o motor imóvel; a natureza da causa eficiente, diz, Deus é a causa
eficiente e primeira; dos seres contingentes e necessários, Deus é o ser necessário; dos graus de
perfeição, Deus é o ser perfeito; e, por fim, da ordem do cosmo, Deus é o ordenador supremo.

Prova moral

Immanuel Kant, que argumentou que a existência de Deus pode ser deduzida a partir da
existência do bem. Da razão pratica, ou seja, da acção moral.

Teísmo e Deísmo

O “deísta” é aquele que crê na existência de um Deus, mas não aceita nenhuma religião ou culto.
Ele acredita que Deus originou o universo, ele não interfere activamente nos eventos da Terra,
não acredita em eventos sobrenaturais, profetas ou livros sagrados, não acredita em revelações e
não concorda com afirmações religiosas.

Já o “teísta” é aquele que crê na existência de um Deus, que ele originou o universo, interfere
activamente nos eventos da Terra, acredita em revelações e concorda com afirmações religiosas.

Provas Da Existência De Deus, Segundo Descartes

Existência de um ser perfeito

1 Prova: à priori, pela simples consideração de ideia de ser perfeito.

A prova consiste em mostrar que, porque existe em nós a simples ideia de um ser perfeito e
infinito, dal resulta que esse ser necessariamente tem que existir.

2 Prova: à posteriori, pela causalidade das ideias.

Descartes conclui que Deus existe pelo facto de a sua ideia existir em nós.

A prova consiste agora em mostrar que, porque possuímos a ideia de Deus como ser
perfeitíssimo, somos levados a concluir que esse ser efectivamente existe como causa da nossa
ideia da sua perfeição. De facto, como poderíamos nós ter a ideia de perfeição, se somos seres
imperfeitos? Como poderia o menos perfeito ser causa do mais perfeito?

Deste modo, conclui, já que nenhum homem possui tais perfeições, deve existir algum ser
perfeito que é a causa dessa nossa ideia de perfeição. Esse ser é Deus.

3 Prova: à posteriori, baseada na contirigência do espírito.

Descartes demonstra agora a existência de Deus a partir do facto de que não nos podemos
conservar a nós próprios. Se não podemos garantir a nossa existência, mas apesar disso
existimos, ê porque alguém nos pode garantir essa existência.

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