Uma equação diferencial é uma equação que envolve uma função incógnita e
suas derivadas. Se a função incógnita depender de uma única variável, tem-se uma
equação diferencial ordinária, caso contrário, uma equação diferencial parcial.
Existe uma quantidade muito grande de problemas que podem ser modelados
matematicamente utilizando-se de equações diferenciais. A teoria das equações
diferenciais é uma poderosa ferramenta que pode ser utilizada para resolver problemas
em todos os ramos da ciência. Talvez a lei de Newton represente o modelo de
equação diferencial ordinária mais conhecido:
estabelecendo uma relação entre massa, aceleração e força para o caso de um corpo
sob ação de uma força que pode depender do instante t, da posição u (t ) , da massa m
e da sua velocidade u(t ) .
A equação diferencial,
d 2 q(t ) dq (t ) 1
L 2
R q (t ) E (t ) (3)
dt dt C
Outros exemplos:
y 2 x 0 (4)
y 5 y 6 y e x (5)
2 u ( x, y ) 2 u ( x, y )
0 (equação do potencial) (6)
x 2 y 2
2u ( x, t ) u( x, t )
2 (equação da condução do calor) (7)
x 2 t
1
2 u ( x, t ) 2 u ( x, t )
a2 (equação da onda) (8)
x 2 t 2
Ordem
F ( x, y, y , y ( n ) ) 0 (9)
Este texto trata apenas de equações do tipo (9) que puderem ser colocadas na
forma:
y ( n) f x, y, y ,, y ( n1) (10)
Solução
É importante observar que nem toda equação diferencial possui solução (função
real). Por exemplo, y 2 1 0 é um caso.
2
Curvas Integrais
40
30
20
10
x
-4 -2 2 4
-10
-20
a0 ( x) y ( n ) a1 ( x) y ( n1) an ( x ) y G ( x) (12)
3
d 2 q
0 . Neste caso dizemos que o problema foi linearizado e constitui um
dt 2 l
procedimento útil de resolução de modelos que envolvem equações diferenciais não-
lineares. Obviamente neste caso teremos uma solução aproximada para o problema
real.
Solução geral
y y 0
y 0 0 ; y 0 1
y y 0
y 0 0 ; y 1
O problema de contorno, y y 0 ; y(0) 1 ; y( ) 0 tem como solução
4
(única), a função y x cos x senx , e a seguir é apresentado um esboço do seu
gráfico.
4
1
0.5
1 2 3 4 5 6
-0.5
-1
EXERCÍCIOS
Nos problemas 9) a 12) mostrar que as funções dadas são soluções de cada equação
diferencial.
9) y y 0 ; y1 ( x) sen x ; y2 ( x) e ix
10) x 2 y 5 xy 4 y 0 , x 0 ; y1 ( x) 2 x 2 ; y2 ( x) x 2 ln x
1
11) y y sec x ; y( x ) ( x sen x cos x)
2
1
12) y 4 y e 2 x ; y( x) xe 2 x
8
Nos problemas 13) a 15) determinar os valores de r para que y e rx seja uma
solução da equação diferencial dada.
13) y y 0
14) y 5 y 6 y 0
15) y y 0
5
8) não-linear, ordem 3
13) r 1
14) 2, 3
15) 1, 0, 1
6
EQUAÇÕES DIFERENCIAIS DE ORDEM 1
y f ( x, y ) (13)
com M , N não nulas. Esta é a conhecida forma diferencial de uma equação de ordem
1. A passagem da forma normal y f ( x, y ) para (14) é feita reescrevendo-se a
equação (13) como f ( x, y ) y ' 0 ou f ( x, y )dx dy 0 e observando que
M ( x, y ) f ( x , y ) e N ( x, y ) 1 .
7
dF1 ( x) dF2 ( y ) dy dF ( x) dF2 ( y)
0 ou 1 0 . De modo equivalente, se y (x) é uma
dx dy dx dx dx
d
função diferenciável de x, então F1 ( x) F2 ( ( x)) 0 , ou ainda,
dx
F1 ( x) F2 ( ( x)) c (18)
A expressão (18) fornece a solução y (x) na forma implícita. Observe que para
obter (18) é suficiente a partir de (15), integrar a função M em relação à variável x e
integrar N em relação à y .
Exemplo:
Resolver a equação diferencial y 5 y 0
Resolução:
dy dy dy
Substituindo y por temos 5 y 0 . Separando as variáveis temos 5dx .
dx dx y
Integrando o lado esquerdo em y e o lado direito em x temos ln y 5 x c1 , ou
y e 5 x c1 e c1 e 5 x ke5 x . Considerando que k possa ser positivo ou negativo, pode-se
representar a solução por y ke 5 x .
y p ( x) y g ( x) (19)
p x dx p x dx p x dx
ye p ( x) ye e g ( x)
d p x dx p x dx d
ye e g x ou y.u x u x .g x
dx dx
8
y.u x u x .g x dx c
ou
1 c
y u x .g x dx
ux u x
ou
Exemplo:
Resolver o p.v.i. y 3 y 0 ; y(0) 2
Temos u ( x) e 3 x . Multiplicando a equação por u x obtemos:
d
ye 3 x 3 ye 3 x 0 ou de modo equivalente
dx
ye -3x 0 , que integrada em x, fornece
3x
y( x) ce .
A solução geral da equação diferencial y 3 y 0 é portanto y( x) ce3 x . Como
y(0) 2 , segue que 2 c , e assim y( x) 2e 3 x é a solução do p.v.i.
Exemplo:
Encontrar a solução geral da equação linear y 5 y e x
Aqui u ( x) e 5 x . Multiplicando a equação por u (x) , temos ye 5 x 5 ye5 x e 4 x ou
d 1
dx
ye 5x e 4 x que integrada em x fornece a solução geral y( x) e x ce 5 x .
4
9
ANÁLISE DE CIRCUITOS RL E RC
O Circuito RL
A equação básica que rege a quantidade de corrente i (em Ampères) em um
circuito simples em série do tipo RL consistindo de uma resistência (em ohms), um
indutor L (em Henries) e uma força eletromotriz E t , (em Volts), é modelado pela lei
de Kirchoff:
di
Sabe-se que a tensão no resistor é VR Ri e a tensão no indutor é VL L .
dt
A Lei de Kirchoff estabelece que neste circuito elétrico vale: VL VR E t .
Portanto, se admitirmos uma condição inicial do tipo i0 i0 temos o P.V.I.:
di
L Ri E t
dt
i 0 i0
di R E
i
dt L L
R
e deste modo p t .
L
Exemplo:
Considere um circuito RL em série com tensão constante E t E0 volts. Se a
corrente inicial é nula, determine:
a) A corrente it em qualquer instante t
b) A corrente permanente (estacionária) iP t
c) A corrente transitória iT t .
Resolução:
di R E0
i
Temos o p.v.i.: dt L L
i 0 0
R
t
Aqui u t e L . Multiplicando a equação acima por u t temos:
R R R
di L t R L t E L t
e ie e
dt L L
ou
10
R R
d L t E0 L t
ie e
dt L
Integrando em t tem-se:
R R
d Lt E0 L t
dt L dt
ie dt e
ou
R R
t E t
ie L
0 eL k
R
ou
R
E0 t
it ke L
R
E0
Como i0 0 , segue que k
R
E, portanto:
R R
E0 E 0 L t E0 t
it e ou it 1 e L é a corrente em qualquer instante t .
R R R
R
E t
a) it 0 1 e L
R
E
b) iP t 0
R
R
E0 l t
c) iT t e
R
O Circuito RC
dq 1 E
q
dt RC R
dq 1
Como VR Ri R e VC q , segue por Kirchoff que:
dt C
dq 1 dq 1 E
VR VC E t ou R q E , ou q .
dt C dt RC R
11
dq 1 E t
q
dt RC R
q0 q0
Exemplo:
Considere um circuito RC em série com tensão constante E t E 0 volts. Se o
capacitor tem uma carga inicial nula, determine:
a) A carga q t do capacitor em qualquer instante t
b) A corrente it do circuito em qualquer instante t
c) A carga permanente q P t e a carga transitória qT t do capacitor
d) A corrente permanente iP t e a corrente transitória iT t do circuito.
Resolução:
1
t
u t e RC
Multiplicando a equação do circuito RC por u t temos:
1 1 1
dq RC t 1 t E t
e qe RC 0 e RC
dt RC R
1 1
d RC t E0 RC t
qe e
dt R
1 1
t E t
qe RC 0 e RC dt
R
1 1
t t
qe RC E0Ce RC k
1
- t
q t E0C ke RC
Da condição inicial q 0 0 , segue que k E 0 C , e assim:
1 1
- t - t
q t E0C E0Ce RC
ou q t E0C 1 e RC
1
- t
a) q t E0 C 1 e RC Coulumbs
1
dqt E0 RC t
b) it e Amperes
dt R
c) q P t lim q t E0 C Coulumbs Observe que vale a lei q EC
t
1
t
qT t E0Ce Coulumbs RC
12
Exercício:
EXERCÍCIOS
1) y 7 y e x
2) y 7 y 14 x
3) y 7 y sen 2 x
4) y x 2 y x 2
2
5) y y x , y1 0
x
6) y 6 xy 0 , y 5
7) x 2 1 dx y 2 y dy 0
2
x y y
8) y , y 3 1
y 1
9) Uma bateria de 12 Volts é conectada a um circuito RL em série no qual a indutância
1
é de Henry e a resistência de 10 Ohms. Se a corrente inicial é nula, determine:
2
a) A corrente it em qualquer instante t,
b) A corrente transitória.
10) Uma força eletromotriz de 100 Volts é aplicada a um circuito RC em série no qual a
resistência é de 200 Ohms e a capacitância é de 10 4 Farad. A carga inicial no
capacitor é nula. Determine:
a) A carga q t em qualquer instante t;
b) A corrente it em qualquer instante t;
13
c) As componentes transitória e permanente da carga q t ;
d) As componentes transitória e permanente da corrente it .
RESPOSTAS
1 2 2 7
1) y ce7 x e x 2) y ce7 x 2 x 3) y ce7 x cos 2 x sen 2 x
6 7 53 53
x3
1
6) y 5e 3x
4) y ce 3
1 5) y
4
x2 x2 2 2
x3
7) 2 x3 6 x 2 y 3 3 y 2 k , k 6c 8) x y ln y 7
3
6 6 6
9) a) it 1 e 20t A b) iT t A c) iP t e 20t A
5 5 5
1 1 50t 1 50t 1 50t
10) a) q t e C b) it e A c) qT t e C
100 100 2 100
1 1
q P t C d) iT t e 50t A iP t 0 A
100 2
14
EQUAÇÕES DIFERENCIAIS DE ORDEM 2
São equações do tipo: F ( x, y, y, y) 0 (19). Estudaremos apenas aquelas que
podem ser colocadas na forma y f ( x, y, y ) (20), (isto é podemos isolar a derivada
de maior ordem y ).
São do tipo: y p ( x) y q ( x) y g ( x) (21), onde p (x) , q (x) , g (x) são funções
contínuas em , . Se g ( x) 0 temos uma equação linear homogênea ou
incompleta, caso contrário será chamada não-homogênea ou completa. As funções
p (x) e q (x) são chamadas coeficientes da equação (21). Caso p (x) e q (x) sejam
constantes dizemos que temos uma equação linear com coeficientes constantes.
Toda equação diferencial de ordem 2, que não puder ser colocada na forma (21)
é dita não linear.
15
Definição: Duas soluções y1 ( x) e y2 ( x) da equação (22) são ditas linearmente
y
independentes (l.i.) no intervalo a , b se o quociente 1 cte neste intervalo. Caso
y2
contrário, serão linearmente dependentes (l.d.).
ex 3e x
Exemplo: Se y1 ( x) e x e y2 ( x) 3e x , então W ( y1 , y 2 )( x) 0
ex 3e x
16
Conclusão: Dos resultados anteriores temos que para que duas soluções y1 ( x) e
y 2 ( x) formem um conjunto fundamental de soluções (l.i.) para a equação diferencial
y p ( x) y q ( x) y 0 (22) p, q contínuas em , é necessário e suficiente que
W y1 , y 2 ( x) 0 para algum x , . Nestas condições a solução geral de (22) é dada
por y( x) c1 y1 ( x) c2 y2 ( x) onde c1 , c2 são constantes.
b b 2 4 ac b b 2 4ac
Assim r1 e r2
2a 2a
Caso 1: b 2 4ac 0
Caso 2: b 2 4ac 0
Caso 3: b 2 4 ac 0
Caso 1: b 2 4ac 0
Existem duas raízes reais e distintas r1 e r2 e portanto y1 ( x) e r1x e
y2 ( x) e r2 x são duas soluções da equação (23). Serão l.i?
e r1x e r2 x
Como W y1 ( x), y2 ( x) ( x) r2 r1 e r1 r2 x 0 x R , segue que y1 ( x) e r1x e
r1e r1x r2 e r2 x
17
Exemplo: Encontrar a solução geral da equação diferencial y 5 y 6 y 0 .
Equação característica: r 2 5r 6 0 r1 2 e r2 3 . Portanto y1 ( x) e 2 x e
y2 ( x) e 3 x são duas soluções l.i. e assim y( x) c1e 2 x c2 e 3 x com c1 , c 2 constantes é a
solução geral.
Caso 2: b 2 4ac 0
b
Neste caso temos r1 r2 e somente uma solução y1 ( x) e r1x . Uma segunda
2a
solução l.i. será encontrada tomando y2 ( x) u( x) e r1x . Substituindo-se y2 na equação
y
(23) chega-se a u ( x) x e deste modo y2 ( x) xe r1x . Como 1 x cte segue que
y2
r x
y1 ( x) e r1x e y2 ( x) xe 1 são duas soluções l.i. de (23) e assim
y( x) c1 y1 ( x) c2 y 2 ( x) c1e r1x c2 xe r1x é a solução geral no caso 0 .
Caso 3: b 2 4 ac 0
Como a, b, c são reais, se existir uma raiz complexa, sua conjugada também será raiz.
Sejam r1 i e r2 r1 i com 0 .
Fórmula de Euler: e ix cos x i sen x (adotar com definição)
Deste modo,
y1 ( x) e i x e x e ix e x cos x i sen x e
y2 ( x) e i x e x e ix e x cos x i sen x . Aqui y1 ( x) e y 2 ( x) estão na forma
complexa.
A solução geral é:
y( x) k1e x cos x isenx k 2 e x cos x isenx
ou
y( x) k1 k 2 e x cos x i k1 k 2 e x senx
Fazendo c1 k1 k 2 e c2 ik1 k 2
Temos, portanto y( x) c1e x cos x c2 e x sen x , na forma real.
Observe que e x cos x e e x sen x são duas soluções de (23) e são l.i. pois:
e x cos x
tgx cte .
e x sen x
18
Exemplo: Resolver a equação diferencial y 2 y 2 y 0
Equação característica: r 2 2r 2 0 . Raízes: r1 1 i e r2 1 i . Duas soluções
l.i. são y1 ( x) e x cos x e x cos x e y2 ( x) e x sen x e x sen x . Assim a solução geral é
dada por: y( x) c1 y1 ( x) c2 y 2 ( x) c1e x cos x c2 e x sen x com c1 , c 2 R .
Resultado 2. Dada uma solução particular y p (x) de (24), qualquer solução y (x)
desta equação pode ser escrita como ( x) yc ( x) y p ( x) , onde
yc ( x) c1 y1 ( x) c2 y2 ( x) é a solução geral de (23) e (isto é y1 e y2 são soluções l.i.
de (23)).
Obs: yc é chamada solução complementar
y p é chamada solução particular de (14) (embora não satisfaça
necessariamente uma dada condição inicial)
Prova: Observe que do resultado 1, y p é solução da equação homogênea
associada. Logo y p c1 y1 ( x) c1 y 2 ( x) , ou ( x) c1 y1 ( x) c1 y2 ( x) y p ( x) .
19
Exemplo: Achar uma solução particular de y 9 y 1 x e x
Inicialmente resolvemos a equação homogênea associada y 9 y 0 . A
equação característica é r 2 9 0 com soluções r 3i e, portanto
yc ( x) c1 cos 3x c2 sen 3x .
Como encontrar uma solução particular y p (x) ?
Determinamos uma solução particular para cada uma das equações diferenciais
seguintes:
y 9 y 1
y 9 y x
y 9 y e x
x 1
Encontramos respectivamente, y p1 ( x) 1 , y p2 ( x) e y p3 ( x) e x
9 10
1 1 1
Portanto uma solução particular da equação dada é: y p ( x) x e x , e a solução
9 9 10
1 1 1
geral será: y( x) c1 y1 ( x) c2 y2 ( x) y p ( x) c1 cos 3 x c2 sen 3 x x e x
9 9 10
Este método deve ser utilizado preferencialmente quando temos uma equação
linear de coeficientes constantes. Funciona apenas para alguns casos de g (x) .
20
5 A 3
3 24 101
8 A 5 B 0 com solução A , B e C
2 A 4 B 5C 1 5 25 125
3 24 101
assim y p ( x) x 2 x
5 25 125
3 24 101
Solução geral: y( x) yc ( x) y p ( x) c1e 5 x c2 e x x 2 x
5 25 125
1 1
acarreta A e y p ( x) xe 5 x .
6 6
3
Solução geral: y( x) yc ( x) y p ( x) c1e 5 x c2 e x x cos 2 x
4
21
3
Solução geral: y( x) yc ( x) y p ( x) c1 cos 2 x c2 sen 2 x x cos 2 x
4
Caso 4) g (x) reúne dois ou mais dos casos anteriores. Neste caso utilizamos o
principio da superposição.
Exercícios
d 2 q(t ) dq (t ) 1
Utilizando a formulação do circuito RLC, L 2
R q(t ) E (t ) , resolver os
dt dt C
problemas abaixo:
1) Um circuito RLC , com R 6 ohms, C 0,02 farad, L 0,1 henry, tem uma
voltagem aplicada de E (t ) 6 volts. Supondo que não haja corrente inicial nem
carga inicial quando t 0 , ao ser aplicada inicialmente a voltagem, determine a
carga subseqüente no capacitor e a corrente no circuito.
3 500t 15 10t 12 3
Resp: q (t )
100
e
100
e
100 2
i(t ) e 10t e 50t
1
2) Um circuito RLC , com R 5 ohms, C 102 Farad, L Henry, não tem
8
voltagem aplicada. Determine a corrente subseqüente no circuito se a carga
1
inicial no capacitor é Coulomb e a corrente inicial é nula.
10
Resp: i(t ) 4e 20t sen20t
22