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O Rio como ele era

Cadernos de Educação Patrimonial em Arqueologia


Programa de Educação Patrimonial
Cadernos de Educação Patrimonial em Arqueologia
Programa de Educação Patrimonial: O Rio como ele era
Projeto de Diagnóstico Interventivo, Monitoramento, Caracterização e Educação
Patrimonial do Patrimônio Arqueológico e Histórico da Área de Influência do
Coletor Tronco Cidade Nova
Rio de Janeiro, 2018

Equipe da Pesquisa Arqueológica


Artefato Arqueologia & Patrimônio
Coordenação Científica
Dra. Maria Dulce Gaspar
Coordenação Executiva
Iramar Venturini
Gerência Financeira
Vicente Linhares
Coordenação Pedagógica
Me. Cilcair Andrade
Educadora
Me. Ana Gabriela Saba
Coordenação da Pesquisa de Campo
Dra. Gina Bianchini
Arqueólogos
Gustavo Santana de Brito
Cristiano Alves de Oliveira
Henrique Barros Vences
Textos
Cilcair Andrade
Gina Bianchini
Anderson Garcia
Ana Gabriela Saba
Consultoria em Cartografia
Dr. Anderson Garcia
Design Gráfico
Unidesign | Glaucio Campelo
Impressão
Nova Brasileira

Capa: Campo de São Cristóvão. Fotografia de Augusto Malta, em 11/11/1906


(Ermakoff, 2009)
Sumário 4 Projeto de Educação Patrimonial em
Arqueologia: O Rio como ele era

7 A Pesquisa Arqueológica numa paisagem


em constante transformação

10 Um passeio pela cartografia:


a ocupação da Cidade Nova através dos mapas

14 Os aterramentos entre a
Cidade Nova e o Caju

16 O crescimento da Cidade do Rio de Janeiro


para além do Campo de Santana

23 A ocupação do bairro de São Cristóvão

30 Para refletir sobre o Patrimônio Cultural

31 Referências bibliográficas, cartográficas e


Garrafas de cerâmica em grès,
iconográficas
utilizadas para envasar diversos
líquidos. (Foto: acervo Artefato)

Hospital de São Cristóvão, por Thomas Ender (1793-1875). (Fonte: BN Digital icon395061_36_127)
Ee E
M O
m cumprimento à legislação que rege a exe- Coletor Tronco Cidade Nova é uma das obras que integram o Programa
cução de obras públicas e privadas, vem sendo de Saneamento Ambiental dos Municípios do Entorno da Baía de Guana-
realizado o Projeto de Diagnóstico Interven- bara (PSAM), criado em março de 2012 pelo Governo do Estado do Rio de
tivo, Monitoramento, Caracterização e Educação Patri- Janeiro, que firmou um contrato de empréstimo com o Banco Interamericano de
monial do Patrimônio Arqueológico e Histórico da Área Desenvolvimento (BID).
de Influência do Coletor Tronco Cidade Nova, através O Programa tem a coordenação da Secretaria de Estado do Ambiente – SEA e tem como
do qual o empreendimento é monitorado pela equipe de objetivo contribuir para reduzir o atual quadro de degradação ambiental da Baía de Gua-
arqueologia em todas as atividades de intervenção no nabara por meio da ampliação do saneamento básico nos municípios do entorno da Baía.
subsolo. O Rio como ele era é parte integrante da pes- A obra situada na região central do Rio de Janeiro prevê a instalação de cerca de
quisa para implantação do Coletor Tronco Cidade Nova 4.377 metros de coletor tronco para a captação do esgoto e sua destinação final à
e agrega atividades voltadas para a construção do co- Estação de Tratamento de Esgoto de Alegria (ETE Alegria), já existente.
nhecimento tendo como tema a pesquisa arqueológica. O trajeto do coletor passa por áreas de tráfego intenso e densamente povoadas, que
Nosso objetivo é dialogar com os profissionais da área compreendem as avenidas Paulo de Frontin e Francisco Bicalho, região do Teleporto e as
de educação sobre o uso do conhecimento proveniente das ruas Benedito Hipólito, Afonso Cavalcanti, Francisco Eugênio, São Cristóvão e Melo e Souza.
pesquisas arqueológicas em sala de aula. Por este motivo, Esta obra beneficiará aproximadamente 163 mil pessoas por meio da captação do
esta publicação foi elaborada em atenção aos educadores esgoto sanitário nos bairros: Cidade Nova, Centro, Catumbi, Rio Comprido, Estácio e
e seus educandos, de forma a motivar o diálogo na cons- Santa Teresa. Como resultado haverá uma redução do despejo de aproximadamente
trução do conhecimento. Neste sentido, vale ressaltar 700 litros de esgoto por segundo na Baía de Guanabara
a frase de Paulo Freire, pesquisador que norteia e inspira Para minimizar o impacto da obra no sistema viário e causar o menor transtorno
nosso trabalho de Educação Patrimonial em Arqueolo- possível para a população, a intervenção é executada com equipamento próprio para
gia, ao dizer: Ensinar não é transferir conhecimento, mas, escavação de túneis e instalação da tubulação no subsolo, não havendo maiores trans-
criar as possibilidades para sua produção ou sua cons- tornos na parte superior dessa região.
trução. Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende
ensina ao aprender. Marco Aurélio Damato Porto
Esperamos que a leitura de O Rio como ele era seja Secretário de Estado do Ambiente
uma oportunidade de imersão no campo da Arqueologia!
Sérgio Tavares Romay
Com carinho, Coordenador Executivo PSAM
Rio de Janeiro e sés environs,
prise du Palais de Ste Christophe
[Iconográfico]: [amanhecer]
MaDu Gaspar, Frederico Menezes Coelho
(Fonte: BN Digital icon334952) Coordenadora Científica do Projeto de Arqueologia Coordenador de Obras

2 C adernos de E d u c a ç ã o P at r i m o n i a l em Arqueologia Programa de E d u c a ç ã o P at r i m o n i a l : O R i o como ele era 3


1 Projeto de Educação
Patrimonial em Arqueologia:
O Rio como ele era

O Rio como ele era integra o Projeto de Diagnóstico A interdisciplinaridade questiona a segmentação entre os
Interventivo, Monitoramento, Caracterização e Educa- diferentes campos de conhecimento produzido por uma
ção Patrimonial do Patrimônio Arqueológico e Histórico abordagem que não leva em conta a inter-relação e a in-
da Área de Influência do Coletor Tronco Cidade Nova fluência entre eles – questiona a visão compartimentada
que vem sendo realizado em cumprimento à legisla- (disciplinar) da realidade sobre qual a escola, tal como é Atividade de Educação Patrimonial em Arqueologia com estudantes do Ensino Fundamental (Foto: acervo Artefato)

ção federal que rege a execução de obras públicas e conhecida, historicamente se constitui. Refere-se, por-
privadas. tanto, a uma relação entre disciplinas. A transversalidade
A perspectiva de ter professores e outros profissio- diz respeito à possibilidade de se estabelecer, na prática que a paisagem se configure em um artefato dinâmico
nais da área de educação como elemento principal do educativa, uma relação entre aprender na realidade e da que deixa de ser um mero reflexo das ações sociais para A c o n s t ru ç ã o d a m emóri a é fund a menta l
público participante deste projeto é decorrente da cer- realidade de conhecimentos teoricamente sistematiza- ser compreendida como sujeito ativo, que transforma e é pa r a a p e r ce p ç ã o d o P atrimônio C ultur a l ,
teza de que são, potencialmente, multiplicadores dos co- dos (aprender sobre a realidade) e as questões da vida real transformado através do tempo (Macedo, 2003). e la é permeada de identidade e representação ,
nhecimentos construídos, entre seus alunos e colegas de (aprender na realidade e da realidade) (PCN, 1997:40). Na pesquisa arqueológica realizada para a implantação elementos essenciais à preservação e va lori -
profissão. A ideia é que desenvolvam atividades voltadas do Coletor Tronco Cidade Nova, foi possível visualizar as in- z a ç ã o d o pat r i mô n i o .
para a Educação Patrimonial, percebendo sua importân- Com base no entendimento de que a educação é um terferências que os aterramentos deixaram na paisagem e
cia e as possibilidades de desenvolvê-las em suas práti- processo dialógico, esta publicação traz o conteúdo vol- no modo de ocupação da cidade. Entre elas, a ampliação
cas docentes. tado a fomentar a discussão sobre o Patrimônio Cultural da área sobre o mar, o desmonte de morros e o reaprovei-
Neste sentido, e no âmbito da educação formal, a Lei visto pela perspectiva da Arqueologia, ciência inter e mul- tamento do sedimento nos aterros, a exploração de deter- mentos (Nora, 1993). Com a reinterpretação do espaço,
de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), Lei n° tidisciplinar, através da qual se abrem diferentes possibili- minadas áreas como as praias e rios, cujos materiais com- paisagem, modos de vida e cultura a partir da Arqueolo-
9.394/96, em seu artigo 26, abre espaço para que, desde dades de compreensão e de reconhecimento do patrimônio. pletavam estes aterros, além dos refugos de material cons- gia, a memória ganha a possibilidade de nova construção.
a Educação Infantil ao Ensino Médio, haja uma comple- Além de destacar a multidisciplinaridade da pesquisa trutivo e daqueles provenientes das pedreiras, por exemplo. O Patrimônio Cultural, seja ele de natureza material
mentação do ensino diversificado, tendo em vista as ca- arqueológica, tendo em vista sua interlocução com a Todo este processo contou com o desaparecimento e ou imaterial, localiza-se em uma zona de conflito dos
racterísticas regionais e locais da sociedade, da cultura História, Geografia, Geologia, Antropologia, Arquite- surgimento de lugares e influenciou as memórias. A cidade grupos étnicos, das políticas públicas e dos interesses
e da economia dos educandos. Os Parâmetros Curricula- tura e Antropologia, entre outras, é oportuno perceber se ampliava, os bairros se estabeleciam e, com isso, a socie- públicos e privados. Participar e levar em consideração
res Nacionais (PCN) para o Ensino Fundamental também a ocupação da região por meio de estudos embasados dade também era impactada. Os espaços de moradia, cul- esses conflitos é fundamental para a elaboração das ati-
contribuem e aprimoram as possibilidades de utilização pelas teorias da Arqueologia da Paisagem, em especial tivo, comércio, prestação de serviços e lazer tomavam forma vidades de Educação Patrimonial. Não há dúvidas sobre a
da arqueologia a partir dos temas transversais “Plurali- por se tratar de um espaço composto por terrenos ori- e identificavam os segmentos sociais que ali conviviam e es- importância de sua preservação e valorização para uma
dade Cultural” e “Meio Ambiente”, que consolidam a in- ginais e aqueles conquistados pelos aterros da baía. Se- tabeleciam suas relações. Eram, e continuam sendo, dife- nação e o legado que se pretende deixar sobre sua histó-
terdisciplinaridade, já que estes propõem alguns assun- gundo Macedo e Andrade (2016), a paisagem gera um rentes modos de perceber, de sentir, de fazer e de pensar. ria. Contudo, em tempos de patrimonializações, falar em
tos aplicáveis às diferentes disciplinas tornando, assim, campo ampliado de análise, uma perspectiva de inter- A Arqueologia perpassa o conjunto formado pela inte- patrimônio aguça múltiplas questões e, neste contexto,
o processo de aprendizagem mais coeso e coerente na pretar o contexto no qual os artefatos são encontrados ração do espaço e suas transformações, o indivíduo, a cul- faz-se necessário que estas aflorem para que se possa
formação do conhecimento. nos sítios arqueológicos e estes, os sítios, como um lu- tura e a paisagem, todos constituem seus diferentes obje- dialogar coletivamente sobre temas como: para quem e
Sabe-se que, na dimensão escolar, a Educação Pa- gar permeado de histórias e sentidos e não como um tos de análise dotados e formadores de memória. A memó- para o quê servem os patrimônios? Quem patrimonializa,
trimonial possibilita uma prática interdisciplinar e ainda cenário estático. Os autores apoiam-se nas reflexões de ria não está presa ao ato ou objeto passado, ela é constru- o quê e com quais objetivos? (Gonçalves, 2012).
facilita o exercício da transversalidade na Educação Bá- Tilley (1994:32) as quais sugerem que o espaço é um ída e pode vir a ser reconstruída, é a leitura que no presente Os processos de patrimonialização envolvem muitas
sica, como previsto nos PCN: meio através do qual as ações acontecem, fazendo com fazemos do passado, formada por lembranças e esqueci- questões, disputas e demandas e algumas destas ques-

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tões iluminam a construção de caminhos para suas lei-
turas e interpretações. Neste sentido, a Educação Patri-
de colaborar para a reflexão sobre o Patrimônio Cultural.
Entre os elementos escolhidos para possibilitar este en- 2 A Pesquisa Arqueológica
monial pode ser compreendida como um dos processos tendimento, além do estudo das mudanças provocadas numa paisagem em constante
na construção de caminhos.
Partindo destas colocações, a presente publicação
na paisagem, está uma breve pesquisa sobre a cartogra-
fia da cidade do Rio de Janeiro, visando a compreensão
transformação
traz resultados da pesquisa arqueológica com o objetivo das transformações realizadas ao longo de três séculos.

O projeto de Educação Patrimonial em Arqueologia: O


Rio como ele era apresenta os resultados dos estudos
realizados em uma área de alta relevância na constru-
ção da paisagem da cidade do Rio de Janeiro, onde se
sucederam diversas empreitadas para o aterramento de
um extenso espaço entre o Canal do Mangue, a Baía de
Guanabara e algumas de suas ilhas, ampliações ditadas
pelas demandas do modelo urbano-industrial em desen-
volvimento desde a segunda metade do século XIX até a
primeira metade do século XX.
Sondagens para investigação do solo-PV21 (Foto: acervo Artefato)
A área de estudo onde está sendo instalado o empre-
endimento do Coletor Tronco Cidade Nova era formada
por uma grande baixada, repleta de áreas de brejos, ala-
gadiços, manguezais e rios meandrantes, que formavam
um mosaico de ambientes no entorno da Bacia do Canal
do Mangue (Amador, 1997). Com o crescimento da ci-
dade após a chegada da Família Real, várias superfícies
foram densamente aterradas, rios foram drenados e ca-
nalizados, com o intuito de ampliar as áreas passíveis
de ocupação e atender a demanda desta nova ordem
(Cavalcanti, 2004).
Ao longo do trajeto do Coletor Tronco são abertos
Início da abertura dos poços-PV16 (Foto: acervo Artefato)
grandes poços para entrada e saída do Shield, equipa-
mento próprio para escavação de túneis e instalação de
tubulações no subsolo. Tratam-se de Poços de Verifica-
ção, numerados de 01 a 31 (PV01 a PV31). Contudo, an-
tes da abertura dos mesmos, são feitas duas sondagens
para investigar, especialmente, a presença de tubula-
ções de gás, fibra ótica e água, entre outras intervenções
que possam oferecer algum tipo de risco na execução da
obra. Cada sondagem tem cerca de 8m de comprimento
por 1m de largura e cerca de 2,5m de profundidade.
São escavadas de forma manual, permitindo ao pes-
quisador a verificação da presença de materiais arque-
Uso do Shield ou tatuzinho para instalação da tubulação-PV23 (Foto: acervo Artefato) Aprofundamento dos poços-PV21 (Foto: acervo Artefato) ológicos durante o monitoramento. Depois, as sonda-

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gens são fechadas e tem início o processo de escavação sença de materiais recentes como tijolos, concreto, bri-
dos poços, normalmente realizado de forma manual, po- tas, rochas, ou mesmo de materiais arqueológicos remo-
dendo contar, quando necessário, com o auxílio de ma- bilizados, ou seja, que foram removidos de seu contexto
quinário adequado. original e redepositados.
Durante o monitoramento arqueológico foram re- Foram identificados depósitos de sedimentos de
cuperadas informações importantes que corroboram origem fluviomarinha, ambientes que constituíram
as fontes históricas e a cartografia. A obtenção de da- áreas de exploração para captação de recursos desti-
dos permitiu acurar as informações e, com isso, com- nados aos sucessivos aterramentos, bem como espes-
preender melhor a dinâmica da paisagem ao longo do sos depósitos de cor laranja, matriz de textura argi-
tempo. losa, característicos das formações de colinas e morros
Os estudos se apoiaram, sobretudo, na análise estra- do Rio de Janeiro. Este sedimento alaranjado, identifi-
tigráfica, uma técnica da Geologia amplamente utilizada
na Arqueologia norte-americana desde as primeiras dé-
cadas do século XX. Atualmente, a análise estratigráfica
cado na região do bairro de São Cristóvão, indica que
grande parte de seu aterro foi construída a partir de
depósitos que indicam origem a partir dos morros de
--
é inerente ao modo de fazer arqueologia e o método, São Diogo, do Breves, dos Lázaros e do Barro Verme-
em geral, consiste na análise dos sedimentos e descri-
ção criteriosa de características como cor, geometria,
lho, como apontado no trecho do mapa Rio de Janeiro
[Cartográfico]: do campo de São Cristóvão à pedreira
' A
textura, compactação, presença e disposição de mate- de São Diogo. I

l
riais arqueológicos, presença de interferências recentes Na medida em que se segue pelo trecho do empre-
como tubulações de gás, água e esgoto entre outros as- endimento em direção a área do bairro Cidade Nova, é
pectos que diferenciam as camadas de solo evidenciadas possível perceber que os aterramentos se tornam me-
Note-se neste mapa a indicação do morro que fornecera o aterro, localizado nas imediações do hospital dos Lázaros. Mapa Rio de Janeiro [Cartográfico]: do
durante uma escavação. nos espessos. Esta área, segundo registros históricos, campo de São Cristóvão à pedreira de São Diogo (ca.1800) (Fonte: BN Digital cart326436)
compreende o entorno do antigo Saco de São Diogo,
uma das maiores superfícies de manguezais da Baía de poço, localizado na Rua Afonso Cavalcanti em frente à
E str at i g raf i a é o e s t u do da g ê n e s e , d a Guanabara, ocupando cerca de 8km2, como pode ser Escola de Enfermagem da UFRJ (PV08), foi identificada
sucessã o , n o t e m p o e n o e s pa ç o , e da r e p re - visualizado nos mapas das páginas 10 à 13 (Amador, uma camada pouco espessa de sedimento característico
sentativ id ad e h o r i zo n ta l e v e r ti cal d as 1997: 226). de alagadiço ou pequeno brejo.
ca ma da s e s e q u ê nc i a s d e s e d i me n to s e r o c h as O Estuário de São Diogo, também conhecido como Saco de São Tanto a diversidade quanto a extensão dos tipos de
de uma r e g iã o , b u s can d o - s e d e t e r mi n a r o s Diogo, era um extenso braço de mar, bastante largo em sua de- depósitos das áreas de estudo permitem afirmar que,
eventos , p r o c e ss o s e am b i en t e s g e o l ó gi c o s sembocadura, que era balizada pela Gamboa à direita e pela entre os séculos XVIII e XIX, as obras de aterramento
associad o s 1
. Ponta do Cajú e Ilha dos Ferreiros à esquerda. Em direção ao in- resultaram em enorme movimentação de terras mate-
terior o estuário se estreitava progressivamente sofrendo uma rializada no imenso volume de sedimentos depositados,
inflexão para a esquerda até atingir as imediações da atual tendo em vista a espessura significativa dos aterros.
Praça XI. No seu curso recebia a contribuição dos rios Iguassú Vale ressaltar a mobilização necessária para a explora-
Os resultados permitem afirmar que a área de estudo (atual Rio Comprido), Maracanã, Trapicheiros, Joana e Catumbi, ção de diferentes áreas de captação deste recurso, algo
está assentada sobre densas camadas de aterro que va- que descreviam meandros de maré no trecho de planície, ser- que envolvia deslocamento e transporte de todo o vo-
riam de 1,5m a mais de 4m de espessura, sendo que as penteando por extensos manguezais[...]. lume de sedimento.
camadas mais espessas, ou seja, a área que mais recebeu Os dados obtidos revelam que, certamente, foram obras
aterros está, principalmente, próxima à região portuária, A escavação de um dos poços localizado na Cidade que tiveram forte impacto não somente na paisagem da ci-
território que avançou sobre o mar. Nova, entre as ruas Afonso Cavalcanti e Benedito Hipó- dade, mas, principalmente na vida das pessoas que partici-
A partir das intervenções no solo e ao longo dos di- lito (PV07), a partir de 1,20m de profundidade, revelou param desta dinâmica, seja como transeunte, interagindo
ferentes pontos estudados foram identificados diversos a presença de sedimentos cujas características sugerem com cenários em forte transformação, seja como trabalha-
tipos de aterro, variando fortemente suas característi- origem estuarina, tal como descrito por Amador (1997), dor, atuando sobre a construção das bases da cidade e, ao
Seção de Perfil mostrando a diversidade de tipos de aterros localizados nas
cas de textura, cor, grau de compactação, umidade, pre- para as imediações da Praça XI. Por outro lado, em outro mesmo tempo, sendo transformado por ela. escavações (PV021) (Foto: acervo Artefato)

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3 Um passeio pela cartografia:
a ocupação da Cidade Nova
Primeiramente, é apresentado o território atual do mu-
nicípio do Rio de Janeiro, destacando-se com um retân-
gulo preto a área central da cidade. Em seguida, é apre-
+.~
através dos mapas sentado um conjunto de seis cartas ilustrando o mesmo
espaço entre 1711 e 1932. Diminuindo a escala, percebe-
-se a partir do retângulo que área escolhida para o exer-
cício representa os espaços da cidade ocupados naquele
período quase em sua totalidade.
Entre 1711 e 1796 nota-se um considerável aumento
O seguinte exercício tem como objetivo ilustrar as mo- da malha urbana que, até então, estava delimitada pela
dificações na paisagem na área central do Rio de Ja- Rua da Vala e pela Muralha, no trecho onde estabele-
neiro ao longo dos últimos séculos, possibilitando ao lei- ceu-se a Rua Uruguaiana. Desse modo, observa-se que
tor, por meio da cartografia, apreciar o crescimento da a urbanização da cidade ao final século XVIII chegou ao
malha urbana e o avanço da cidade em direção ao mar Campo de Santana, sendo esse o novo limite urbano do Rio
através dos aterros que remodelaram a paisagem da ci- de Janeiro. A carta de 1831 mostra que a cidade avançou
dade. Para tal, foram utilizadas cartas do período en- para além do Campo de Santana, começando a dar ori-
tre 1711 e 1932, acrescidas por uma imagem atual da gem à Cidade Nova, com a abertura da Rua do Aterrado ao
mesma área retirada da base do Google Maps. Para fa- longo do Mangal de São Diogo, sendo essa rua os primór-
2km
cilitar a leitura, as cartas foram ajustadas sob a mesma dios da atual Avenida Presidente Vargas. Nota-se nesse
Plan de la Baye et de la Ville de Rio-Janeiro, de 1711 (Fonte: Biblioteca Nacional Digital cart249843)
escala e orientação. momento que o Rossio Pequeno também já se encontrava
concluído, vindo a ser a atual Praça XI de Junho.
Na carta de 1852 percebe-se o crescimento da Ci-
dade Nova, com quarteirões construídos nas proximi-
t.
·- -
dades da Praça XI de Junho e do Morro de São Diogo.
Destaca-se que os aterros já haviam modificado signifi-
cativamente a linha de costa, como pode ser observado
Área do D nas remodelações junto ao Morro da Gamboa, principal-
município do mente, devido ao aumento da quantidade de estruturas
Rio de Janeiro, portuárias instaladas nos sacos do Alferes e da Gamboa.
destacando-se a
área central da
Posteriormente, na carta de 1906, percebe-se que a por-
cidade ção Norte entre as praias da Saúde, Gamboa e Valongo já
(Fonte: Google
se encontrava amplamente aterrada e com desenho da
Maps)
linha de costa nesse trecho já compatível com o atual.
••• \ No centro da cidade se vê o alargamento e a abertura

-

• •• de novas ruas e entre São Cristóvão e Cidade Nova, no-
•'t c• nt,•o~ tando-se que a área onde havia o Mangal de São Diogo
'""'•<11ne
teve seus aterramentos concluídos, com águas drenadas

-•
• e retificadas para o Canal do Mangue que acabara de ser

·-
• construído ao longo da Avenida Francisco Bicalho e Ruas
• • • I
Visconde de Itaúna e Senador Euzébio. Em 1932, perce-

-

. ""'" ..
I
• ' be-se a região da Cidade Nova totalmente urbanizada e

que, ao Leste do Morro do Castelo, uma nova área havia



I ·- ••11u IIIIU sido aterrada no local onde, a partir de 1934, foi cons-
truído o atual o aeroporto Santos Dumont. Plano da Cidade do Rio de Janeiro com a parte essencial do seu porto e todos os lugares fortificados, de 1796 (Fonte: BN Digital cart209337)

10 C adernos de E d u c a ç ã o P at r i m o n i a l em Arqueologia
. er:!"
·-
... "
.

Panta do Rio de Janeiro, 1831 (Fonte: BN Digital cart326112) El nuevo Rio Janeiro - Planta indicativa de las calles y avenidas nuevas y los pavimentos hechos, el gran puerto comenzado y algunos de los muchos edificios
construídos em el período 1903 – 1906 (Fonte:http://www.novomilenio.inf.br/santos/h0300k6f027.htm)

Planta da muito leal e heroica cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, 1852 (Fonte: BN Digital cart309952) Planta informativa do centro da cidade do Rio de Janeiro: especialmente organisada para o Guia Briguiet, 1932 (Fonte: BN Digital cart451455)

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4 Os aterramentos De cima para baixo:
bico de bule em faiança fina;
Ainda na década de 1960, a região do Caju, bairro muito
procurado pelas indústrias de construção naval, recebeu
entre a Cidade Nova tampa de recipiente em
faiança fina com decoração a instalação de grandes estaleiros. Além do Caneco e do
e o Caju MacLaren, o Estaleiro Ishikawagima aterrou uma área
floral;
fragmento de prato com
decoração Willow acima de 600.00m2, anexando a Ilha dos Ferreiros ao
(Fotos: acervo Artefato) continente. Estes aterros, somados a outros ao longo da
orla, determinaram a redução da baía e o arrasamento
Escala
de um trecho de seu litoral com aproximadamente 5Km
de extensão onde, anteriormente, havia enseadas, pon-
Para melhor identificação dos espaços que foram aterra- exemplo, a ampliação do bairro de São Cristóvão, com tões, praias, ilhas e falésias (Amador, 2013).
dos entre a Cidade Nova e o Caju, foi produzido o Mapa seu cais concluído no ano de 1932 por meio do aterra- Compreender as histórias associadas a lugares e pai-
de Aterramentos, adaptado a partir da Prancha 22, ela- mento de 2.000m de extensão entre o Canal do Man- sagens é um desafio para os arqueólogos (Zarankin, 2011).
borada por Barreiros (1965:27), onde estão ilustrados os gue e o Caju, avançando por cerca de 180.000m2 sobre Descrevê-los, apenas, não resulta compreendê-los, sendo
espaços tomados da Baía de Guanabara, com destaque a área da Baía de Guanabara. Vê-se, ainda, o Cais do necessário perceber os atores e os contextos que os cons-
para a área onde se implantou a Cidade Nova e as alte- Caju, inaugurado em 1962, através de aterramentos que truíram. Partindo destas premissas, a compreensão da
rações decorrentes dos aterros na região portuária. se estendiam pela Ponta do Caju, área atualmente sob a composição das múltiplas paisagens e ocupação do es-
No Mapa de Aterramentos é possível observar, por Ponte Rio-Niterói, com cerca de 100.000m2. paço, a pesquisa arqueológica para a implantação do Co-
letor Tronco Cidade Nova deparou-se com espessos ater-
ramentos, constituídos por sedimentos provenientes de
N diferentes áreas e compostos por diversos materiais, in-
cluindo as tralhas domésticas e de uso comercial.
Na página ao lado: Mapa de Aterramentos, com a identificação das áreas
aterradas até meados do século XX. Destaca-se que as alterações decorrentes dos ater-
Adaptado de Barreiros (1965), por Anderson Marques Garcia (2018) ramentos, assim como interferem na paisagem, também
constituem um processo construtivo carregado de inter-
Terreno original da cidade
pretações a partir dos artefatos ali depositados. O mate-
Áreas conquistadas aos alagadiços
rial arqueológico proveniente destes aterros é represen-
Áreas conquistadas ao mar e às lagoas
tado por peças inteiras, peças fragmentadas e fragmentos
Baía de Guanabara
de peças de louças, cerâmicas, grés, vidros e metais que
Canal do Mangue
participaram do cotidiano de diferentes grupos sociais,
Traçado do Coletor Tronco
podendo ter pertencido ao conjunto dos armazéns, das
a_ Centro de Tradições Nordestinas boticas, das residências e das manufaturas. Foram extra-
10
b_ Paróquia de São Cristóvão ídas de um contexto e depositadas em um novo espaço,
c_ Hospital dos Lázaros
d_ Rodoviária Novo Rio
contribuindo para a construção de uma nova paisagem.
e_ Estação Leopoldina A complexidade que reside na identificação do es-
f_ Estação Central do Brasil paço geográfico do qual vieram os artefatos é grande,
g_ Igreja de Nossa Senhora da Candelária
porém, os resultados obtidos com o estudo da paisagem
1_ Ilha dos Melões ou de João Damasceno contribuem para a qualidade das informações, sendo
2_ Ilha dos Càes ou das Moças, ou ainda, das Sete Irmãs
3_ Praia de São Cristóvão
importante apresentar estes materiais, principalmente
4_ Praia Formosa porque os mesmos constituem o sedimento depositado
5_ Praia do Valongo
como aterro e compõem o espaço construído. Dessa
6_ Ilha Pombeta
7_ Ilha de Santa Bárbara forma, e como em todas as análises relativas às pesqui-
8_ Ilha das Enxadas sas arqueológicas, não podem ser compreendidos indi-
9_ Ilha das Cobras, antiga da Madeira
10_ Ilha Fiscal, antiga dos Ratos vidualmente, mas, em conjunto e contextualizados na
11_ Ilha de Vilagaignon, antiga de Serigipe interpretação.

14 C adernos de E d u c a ç ã o P at r i m o n i a l em Arqueologia Programa de E d u c a ç ã o P at r i m o n i a l : O R i o como ele era 15


5 O crescimento da
Cidade do Rio de Janeiro
para além do Campo de
Santana

Limitada pelo Campo de Santana, com poucos e dis-


persos núcleos de povoamento, a cidade do Rio de Ja-
neiro recebeu, em 1808, a Família Real e a Corte portu-
guesa que influenciaram os novos hábitos da sociedade
colonial.
A cidade morria, praticamente, no Campo de Sant’Ana ao ini-
ciar-se o ano de 1808, tão decisivo para a História do Brasil.
Diante dele pouco existia, a não ser uns caminhos que ainda
tardariam a converter-se em ruas autênticas nas terras mais
altas aos pés das quais se estendiam os mangais de S. Diogo
do lado do mar e de Santa Teresa e Catumbi (Gerson, 2013:191).

Amador (2013) relata que, até então, senhores e es-


cravos, estes constituindo a maioria da população, con-
viviam obrigatoriamente no mesmo espaço, tendo em
vista a necessidade de defesa e a ausência de trans-
portes terrestres. Esta informação pode ser visualizada
na Planta da Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro
(1808), observando-se os núcleos identificados (Cidade
Velha, Campo de Santana, Cidade Nova e São Cristóvão).
Contudo, a vinda da Família Real proporcionou um
gradual distanciamento espacial entre os diferentes seg-
mentos sociais. Ainda segundo Amador (2013), este dis-
Detalhe da Planta da Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, levantada em 1808. 1. Área da Cidade Velha; 2. Campo de Santana; 3. Área da Cidade Nova; 4.
tanciamento teve início com o uso das carruagens e tíl- São Cristóvão. Observar o limite da Cidade Velha delineado pelo Campo de Santana e a inexistência de construções em direção Oeste.
buris2, separando a Corte do apertado espaço na cidade
colonial, interferindo na ocupação do entorno da Quinta Santo Antônio, Sentinela e Boqueirão, realizado ao longo O aterramento dessa área teve como objetivo dimi- Cavalcanti (2004) informa que o mangal já se encon-
da Boa Vista. Os novos veículos também conduziriam os de mais de 200 anos desde a fundação do Rio de Ja- nuir a distância entre o Paço Imperial e o bairro de São trava parcialmente drenado em 1808 quando a Corte
ricos comerciantes ingleses e a aristocracia cafeeira aos neiro, o próximo passo foi o aterramento do Mangal de Cristóvão, uma vez que esta ligação se dava, até então, portuguesa se instalou no Rio de Janeiro, de modo que
seus solares e mansões em direção à Zona Sul. Posterior- São Diogo. Com tal empreendimento seria possível, pra- pela Estrada de Mataporcos, uma longa e sinuosa via já havia uma estrada nessa área sobre o traçado de uma
mente, já na década de 1870, com a chegada dos bondes ticamente, dobrar a superfície da cidade, uma vez que que passava pelo atual bairro Estácio de Sá. Segundo antiga trilha. O caminho que ligava a cidade do Rio de
de tração animal e dos trens a vapor, o crescimento fí- os limites urbanos já haviam chegado até aos alagados. Macedo (2005) a própria denominação do bairro Es- Janeiro à Quinta da Boa Vista e passava pela Ponte dos
sico da cidade acaba por aterrar diversos espaços, afir- Vale ressaltar que, conforme Benchimol (1992) e diver- tácio de Sá outrora foi Mataporcos, uma derivação do Marinheiros, construída pelo Marquês do Lavradio e res-
mando a distinção de usos e de segmentos sociais. sas cartas topográficas produzidas até o século XIX, o termo “Mata dos Porcos”, pois, havia uma área arbori- taurada por D. João VI em meio aos novos aterros sobre
De acordo com Cavalcanti (2004), ao final do século mangal formado pelas águas do Saco de São Diogo che- zada nas proximidades do Mangal de São Diogo onde o Mangue de São Diogo, passou a se chamar Caminho do
XVIII após o aterramento das lagoas Desterro, Pavuna, gava bem próximo ao Campo de Santana. se criavam porcos. Aterrado (Gerson, 2013:192; Amador, 2013:100).

16 C adernos de E d u c a ç ã o P at r i m o n i a l em Arqueologia Programa de E d u c a ç ã o P at r i m o n i a l : O R i o como ele era 17


Ponte dos Marinheiros e o Saco de São Diogo “orlado de ecossistemas como manguezais, brejos e lagunas”. Pintura de Thomas Ender, em 1818 (Amador, 2013).

Ao longo do Caminho do Aterrado, construído sobre o vés de resolver os problemas de umidade e escoamento
mangue, colunas de pedra e cal foram erguidas a cada das águas, agravaram a situação, pois o número cres-
100m, nas quais colocaram-se lampiões para iluminação cente de construções impermeabilizou o terreno e cau-
da estrada que ligava o Paço Real à Quinta da Boa Vista. sou constantes inundações (Cavalcanti, 2004).
Nele também havia proteções de madeira pintadas de Benchimol (1992) informa que com a chegada da
A Fábrica de Gás, ou Gasômetro, no Caminho do Aterrado em gravura de Pieter Godfred Bertichem, s.d. (Fonte: BN Digital icon393044_26)
vermelho para proteger carruagens, carroças e tílburis Corte foram construídas 600 novas casas na cidade en-
de caírem no mangue. Na segunda década do século XIX tre 1808 e 1816 e que a população em duas décadas
já havia um corpo de guarda da polícia, próximo à Ponte passou de 100 mil habitantes em 1822 para 135 mil em Mesmo antes de serem concluídos os aterramentos do as duas ruas do Caminho do Aterrado: a São Pedro e a do
dos Marinheiros, onde também já existiam algumas ca- 1840, rompendo assim o equilíbrio da cidade. A urba- mangue, o Barão de Mauá fundou em 1851 na Rua São Sabão da Cidade Nova. As duas primeiras pontes entre
sas (Gerson, 2013:191). nização desse espaço começava a dar origem à atual Pedro da Cidade Nova a “fábrica de gás” de sua empresa a Praia de São Diogo e a Ponte dos Marinheiros foram
Foi sobre o Caminho do Aterrado, também chamado de Avenida Presidente Vargas, anteriormente denominada de iluminação pública e doméstica. Reuniu o capital ne- inauguradas em 1860, assim como uma seção da usina
Caminho das Lanternas, que a Rua São Pedro da Cidade como Rua do Sabão e Rua de São Pedro entre o Arsenal cessário à empreitada e teve que lidar com as críticas de gás (Gerson, 2013:193).
Nova se prolongou, chegando até a mencionada Ponte dos da Marinha e o Campo de Santana; como Rua do Sabão a sua investida e, também, contra a febre amarela que E festa mais alegre e comentada não houve por longos anos na
Marinheiros, próximo à qual desaguava o Rio Comprido, da Cidade Nova e Rua de São Pedro da Cidade Nova, en- matou dez dos onze primeiros técnicos estrangeiros tra- vida carioca. Nela tomaram parte todos os diretores e operários da
antes chamado de Catumbi, Coqueiros e Iguaçu. Este rio tre o Campo de Santana e a Praça XI de Junho; e como zidos por ele para comandar o maquinário da fábrica. O companhia, e mais os da construção do canal, num desfile através
servia como divisa para as terras cultivadas pelos jesuítas, Rua do Sabão do Mangue e Rua do Aterro (ou Avenida empreendimento era bem mais do que uma usina de gás, dele com o barão de sobrecasaca e a baronesa à frente, e acompa-
expulsos por Pombal em 1759, onde havia um grande cur- do Mangue) entre a Praça XI de Junho e o Viaduto dos tratava-se de um complexo com residências de funcio- nhados de carroças que conduziam panelões fumegantes, de gos-
tume e, mais perto da mina d’água, uma serraria. Marinheiros (Gotto, 1871). Pizarro (1820) aponta que as nários, área de lazer, biblioteca, jardins, cozinhas, boti- tosa comida – os cozinheiros de avental e gorro branco ao seu lado
Ainda nas primeiras décadas do século XIX, outras ruas do Sabão e de São Pedro se distinguiam das demais cas e tanques, um dormitório coletivo para os acende- – para o opíparo almoço comemorativo a realizar-se ali, entre a
várias ruas também já haviam sido abertas, algumas por seus traçados retilíneos, atravessando o Campo de dores dos lampiões e outro para os escravos (Benchimol, “Fábrica” e o canal, sobre o charco recuperado definitivamente[...]
com muitos edifícios, e aquele espaço que antes se de- Santana e estendendo-se até a Ponte de São Diogo (Via- 1992; Gerson, 2013). (Gerson, 2013:193).
nominava Mangal de São Diogo passava a ser conhecido duto dos Marinheiros) e o curtume, onde, por fim inter- Ainda no início da construção da fábrica de gás, o
como Cidade Nova. Contudo, os aterramentos, ao in- ligavam-se com a Mataporcos. Barão de Mauá canalizou a antiga vala que corria entre

18 C adernos de E d u c a ç ã o P at r i m o n i a l em Arqueologia Programa de E d u c a ç ã o P at r i m o n i a l : O R i o como ele era 19


N

Planta do Canal do Mangue


Comissão de saneamento da Capital do Império E•~- o

Legenda

A - Boca do Canal
B - Porto
C - Bacia marítima
D - Túnel
E - Bacia do túnel
F- Bacia do Rocio
G - Ponte do aterrado
100
I i I
O
I
100
I
200
j4jsoo600
. I I 1ooeoo
H - Aterro do prolongamento do Canal até a Ilha dos Melões
K - Registro da Bacia da Ilha dos Melões Mapa apresentando os projetos de prolongamento do Canal da Bacia do Rocio até a estação marítima da E. F. D. Pedro II e da Ponte do Aterrado até a Ilha dos
L - Boca do canal da Ilha dos Melões Melões, elaborado em 1886. Adaptado de BNDigital cart1352692 por Anderson Marques Garcia

20 C adernos de E d u c a ç ã o P at r i m o n i a l em Arqueologia Programa de E d u c a ç ã o P at r i m o n i a l : O R i o como ele era 21


Em 1879, o governo imperial abriu na Rua do Sabão da Ci-
dade Nova o primeiro asilo de mendigos da cidade do Rio
Estas obras urbanísticas orientaram a expansão da cidade na
direção de São Cristóvão e dos atuais bairros da Zona Norte. O 6 A ocupação do bairro
de Janeiro. Como não havia prisões suficientes para aco- antigo arraial Mata-Porcos foi incorporado ao espaço urbano, de São Cristóvão
lher tanta gente, e o abrigo existente na época só tinha assim como foram urbanizadas (loteadas) as chácaras do Ca-
lugar para 70 pessoas, D. Pedro II criou o asilo inspirado tumbi, avançando o casario em direção à Santa Teresa e Rio
nos presídios europeus, único exemplar de arquitetura Comprido. (Cardoso, 1968)
pan-óptica da América Latina. Inicialmente, chamou-se
Asylo da Mendicidade, entre 1879 e 1895, e Asilo São
Francisco de Assis, entre 1895 e 1922. Em 1922, passou a
Após as modernizações desenvolvidas ao longo do
século XIX, foi a partir de 1930, durante a Governo Var-
APARf..NCIA no Rio DE IANLiRO
ser o Hospital Geral de São Francisco de Assis, até 1946, gas, que a Cidade Nova ganhou formas condizentes com
quando foi denominado Hospital Escola São Francisco de as atuais, recebendo a construção da Avenida Presidente
Assis. Em 1913, passou a se chamar Instituto de Atenção Vargas, obra executada entre 1938 e 1941 aproveitando

à Saude São Francisco de Assis. (Souza e Amora, 2014) parcialmente o traçado das vias existentes e demolindo
Com a repentina expansão do Rio de Janeiro, que construções antigas na Cidade Velha, ligando definiti-
praticamente dobrava as dimensões de sua malha ur- vamente o Centro à Zona Norte. Ainda nos anos 1930,

..
bana, foi efetuada a condução das águas do Indahy (An- o Canal do Mangue foi prolongado até o mar, como um
daraí) para o Campo de Santana a partir do projeto do capítulo a mais da construção do Cais do Porto. Ca-
Vice-Rei Conde de Rezende. Esse novo ramal justifica- nalizada pelo Barão de Mauá, a primeira parte, entre a
I
va-se, pois, as águas vindas pela fonte da Carioca não Praça XI e a Ponte dos Marinheiros, permaneceu com lr...1.,...,...
eram mais suficientes para abastecer a cidade, de modo 1.176m. A segunda parte estendeu-se por 1.200m de 11.,Jo
que os moradores da Cidade Nova – assim como Va- reta e 248m de curva, fazendo surgir uma nova avenida,
longo, Gamboa e Saco do Alferes – eram abastecidos a Francisco Bicalho (Gerson, 2013).
com maior dificuldade pela água conduzida em canoas Foi nesta época que a Estrada de Ferro Central do Bra-
a partir de São Cristóvão (Pizarro, 1820). sil, então com três linhas e sem muros separando as vias
Nesse contexto de expansão e modernização do Rio de trem das ruas que nasciam aos pés do Morro da Provi-
de Janeiro foi construído em 1856 o terminal ferroviário dência, ganhou sua quarta linha, um imenso muro e, para
Pedro II (atual Estação Central do Brasil) no lugar onde que funcionassem com maior liberdade, dois viadutos: um
até então havia a paróquia de Santana. Pela malha fer- imponente construído sobre o mangue para a passagem •
roviária partiam carregamentos de café e outros gêne- do trem e o outro, menor, em São Cristóvão, destinado a
ros de exportação em direção ao porto e à Alfândega, pedestres, carroças e carros em geral (Gerson, 2013).
bem como escoavam pela Cidade Nova carregamentos
destinados ao interior. Em 1874 começaram a ser orga-
Demonstração do Rio de Janeiro, de João Teixeira Albernaz, em 1645. No canto superior, à direita da imagem, está a Igreja de São Cristóvão (Fonte: BN Digital
nizadas as companhias Ferro Carril Fluminense e Carioca cart1079075)
Riachuelo, a primeira com intuito de transportar passa-
geiros da Cidade Nova e Estácio de Sá até a Praia For- O Bairro de São Cristóvão teve sua origem na sesmaria de 1645. Segundo Augusto (1947), não se pode precisar
mosa e a segunda da Estação das Barcas até a Praça XI pertencente aos jesuítas, que se estendia do Rio Com- a idade certa da Matriz de São Cristóvão, porém, pe-
de Junho (Benchimol, 1992). prido até Inhaúma e que, entre 1572 e 1583, foi des- los documentos guardados no arquivo da igreja, sabe-se
Estavam, assim, o extenso estuário de São Diogo e membrada fazendo surgir três engenhos: Fazenda do En- que no ano de 1627 esse templo já existia e era deno-
seus manguezais reduzidos a menos da metade de sua genho Velho, Fazenda do Engenho Novo e Fazenda de minado Igrejinha, talvez em decorrência de suas peque-
superfície, tendo um longo trecho canalizado, o Canal do São Cristóvão. nas dimensões. Construída à beira-mar, as águas da Baía
Mangue, obra à qual Amador (2013:101) atribui a perda O nome do bairro se deve à igreja dedicada a São Cris- de Guanabara chegavam quase até a porta de entrada,
de um dos ecossistemas periféricos mais produtivos da tóvão, erguida pela Companhia de Jesus, junto à praia voltada para uma estreita praia de areia, como pode ser
Baia de Guanabara, em nome dos interesses da Família habitada apenas por alguns pescadores, conforme pode verificado na imagem de Augusto Malta. Com sua torre
Real e dos aristocratas do café. ser observado no mapa Demonstração do Rio de Janeiro, alta, era vista de longa distância pelos pescadores.

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A pequena igreja ficava nas terras da fazenda de São
Cristóvão, a certa distância da casa grande, que ocu-
pava uma pequena elevação próxima à entrada do cha-
mado Saco de São Diogo. A pequena ermida ficava junto
à praia, logo passando a ser chamada de praia de São
Cristóvão. Próximo à Igrejinha passava o Caminho de
São Cristóvão que, além de servir aos jesuítas, era muito
utilizado como via de comunicação da cidade com o in-
terior. A multiplicação dos engenhos e fazendas no inte-
rior, bem como a precariedade de acessos por via terres-
tre para o centro da cidade, incrementaram a circulação
na região. Por essa estrada logo começaram a passar os
tropeiros e viajantes, aparecendo no seu entorno uma
pequena povoação que passou a ser chamada de Campo
de São Cristóvão. Durante muitos anos o acesso à igreja
... ..
era feito pelo mar e era junto as suas portas que os pes-
cadores amarravam as canoas. O mar, por diversos ater- .•
• )
t .
ros, foi levado para longe, mas a igreja, elevada à matriz
em 1865, foi reconstruída e ampliada6. ' ..'.
.'• I
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...
Augusto (1947) menciona que a igreja foi sempre I

muito procurada pelos incontáveis devotos de São Cris- '


tóvão, inclusive pela Marquesa de Santos, residente à en-
trada da Quinta da Boa Vista (hoje, Avenida Pedro II), que
Matriz de São Christovam, fotografada por Augusto Malta (Fonte: BN Digital
..
a preferia por ser distante da cidade. Dom Pedro I e, mais icon1329316, s.d.) (Observar que na imagem as águas da Baía de Guanabara
tarde, Dom Pedro II e toda a família imperial, assim como chegavam bem próximo à entrada da igreja)

muitos nobres, foram vistos várias vezes no templo da


praia. Foi apenas no fim do século XIX que a igreja adqui-
riu a feição que hoje apresenta, por obra do Cônego Luiz
Antônio Escobar de Araújo que, nomeado Vigário, realizou
reformas dando-lhe o estilo gótico-romano.
A fim de melhorar o acesso à Quinta e ao Paço de São
Cristóvão, foi necessário o aterramento de áreas alagadi-
ças que dificultavam a passagem das carruagens e carro-
ças até o Paço e suas cercanias. No século XIX, Milliet de
Saint- Adolphe (1845:530) assim descreveu São Cristóvão:
São Christovão – Nova freguezia do dictricto neutro da cidade
do Rio-de-Janeiro. Está situada á margem da bahia, entre a po-
Detalhe do mapa original de Johannes Vingboons. No canto esquerdo superior, São Cristóvão e a Igreja (ca. 1660), à direita da imagem, a Cidade Velha
voação de Mata-Porcos7 e a Ponta do Cajú. Sua igreja, da invo-
cação do Santo de seu nome, era filial da matriz da freguezia do
Engenho-Velho, de que foi desanexada em 1842 e creada paro-
chia. É em seu termo que se achão o palácio imperial da Boa-
-Vista, residência ordinária do Imperador, o palácio da Ponta do Matriz de São Cristóvão,
em março de 2018
Cajú e o antigo convento dos lazaristas actualmente convertido (Foto: acervo Artefato)
em hospital dos Lazaros.

24 C adernos de E d u c a ç ã o P at r i m o n i a l em Arqueologia Programa de E d u c a ç ã o P at r i m o n i a l : O R i o como ele era 25


Prédio do antigo Hospital dos Lázaros fotografado em março de 2018. (Foto: acervo Artefato)

O Hospital dos Lázaros


de São Cristóvão Paço de Boa Vista em São Cristóvão, em aquarela de Debret (1817) mostrando o palácio após a primeira grande reforma da antiga Quinta da Boa Vista, doada
pelo comerciante português Elias Antônio Lopes, em 1809, a D. João VI.(Fonte: Lago, 2008, p.145)

Na terceira década do século XVIII os índices da do- ção entre ricos e pobres, a precariedade da instituição Em 1759, com a expulsão dos jesuítas da então colônia cargos e títulos de Cavaleiro Fidalgo da Casa Real com
ença de São Lázaro, a hanseníase, atingiram núme- e sua pouca capacidade de atendimento em relação ao portuguesa, os bens da ordem religiosa foram confis- a graduação de Alcaide-Mor da Vila de São João Del Rei
ros alarmantes na cidade do Rio de Janeiro, cau- número de doentes. cados pela Coroa, retalhados e seus lotes vendidos. O e de Provedor e Corretor da Casa Adjunta do Comércio.
sando grande impacto levando vereadores, médicos Pelo mal contagioso de Morfeia porque já não há rua nem que também ocorreu com a Fazenda de São Cristóvão, A casa ocupava um local com vista privilegiada. O
e cirurgiões a buscarem modos de enfrentar a ques- Praça onde não encontrem os miseráveis leprosos, nem tam- que deu origem ao bairro. A grande residência que ha- terreno alto permitia ver o mar e, no lado oposto, a flo-
tão. Os vereadores encaminharam ao então governa- bém ribeiro, ou fonte em que eles se não banhem e por esta via na localidade foi comprada por um comerciante lu- resta da Tijuca e o Corcovado. A beleza era tamanha
dor Gomes Freire de Andrade uma proposta de cons- causa todas as águas estão infeccionadas e toda esta grande so-libanês, Elias Antônio Lopes, no final do século XVIII. que o lugar ficou conhecido como a Quinta da Boa Vista.
trução de um lazareto para isolamento dos enfermos. terra no risco de a devorar este tremendo fogo que em todo o Entretanto, este não utilizou a casa para sua moradia Contudo, havia algo que desagradara no bairro de São
Pelo alto custo do empreendimento, a demanda foi en- Brasil se tem ateado (Cavalcanti, 2004:197-198). e, mesmo assim, a reformou em 1803. Com a vinda da Cristóvão: o terreno instável impediria a passagem da
caminhada ao monarca que levou 25 anos para con- Com muita insistência o monarca aprovou a pro- Família Real portuguesa, em 1808, para morar na colô- carruagem real para chegar à residência, o que motivou
cluir o pedido de um local especializado para os doen- posta do vice-rei e o lazareto foi devidamente instalado nia, um costume do Antigo Regime preocupou ao dono uma série de reformas na casa e seu entorno. Até o Paço
tes. Porém, visando atender de maneira emergencial em São Cristóvão. Entretanto, os problemas com os cus- da suntuosa propriedade em São Cristóvão: a aposenta- da Cidade, os terrenos foram aterrados e instalados pos-
a questão de perigo de proliferação da doença, Go- tos de manutenção do local logo voltaram a ser grande doria ativa que garantia o direito de os componentes da tes de alvenaria com lâmpadas de azeite, razão pela qual
mes Freire junto com alguns amigos fundaram preca- entrave para atendimento aos doentes. Coroa elegerem para si qualquer moradia mesmo que o já mencionado trajeto ficou conhecido como Caminho
riamente um lazareto, em edificação cedida pelos je- Em 1796, o médico José Mariano Leal da Câmara Rangel esta estivesse ocupada, o que ocorria por meio da desa- do Aterrado e Caminho das Lanternas.
suítas na chácara localizada no bairro de São Cristóvão de Gusmão propôs um plano para levantar o lazareto, sem propriação do local escolhido. Os casamentos que geravam o crescimento da Fa-
(Cavalcanti, 2004). custos para o governo e a criação de um curso de cirurgia Segundo Dantas (2007), pela ambição de receber mília Real motivaram reformas de ampliação da casa.
Com a morte de Gomes Freire a Irmandade do San- na cidade do Rio. Entretanto a proposta não foi aprovada. boas recompensas, o comerciante fez grandes reformas Em 1810, para o casamento de D. Maria Tereza de Bra-
tíssimo Sacramento da Cidade do Rio de Janeiro assu- Outros lazaretos surgiram ligados a instituições reli- em sua propriedade e a deu de presente a D. João no gança, e em 1816, para o casamento de D. Pedro I com
miu a direção da instituição e buscou doadores para sua giosas que os mantinham. E o lazareto público ficou en- primeiro dia do ano de 1809. A estratégia funcionou: D. D. Carolina Josepha Leopoldina. Manoel da Costa foi o
manutenção. Outro aliado importante para esta causa tregue ao descaso, onde muitos médicos e profissionais João recebeu de bom grado a casa-grande, pagou pe- idealizador da primeira ampliação, tendo como inspi-
foi o vice-rei conde Cunha, que redigiu ofício contando da saúde não queriam trabalhar em decorrência dos bai- las obras realizadas e ofereceu uma mensalidade para a ração o Palácio Real da Ajuda, em Portugal. A segunda
sobre a calamidade do assunto em 1763, sua prolifera- xos salários e poucas condições da instituição. conservação do local, e o doador recebeu honrarias com reforma na casa foi comandada pelo arquiteto inglês

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John Johnson, enviado para organizar a colocação de à direita alguns aposentos e uma espaçosa e bela sala de ban- t Rl!._t.
um portão de estilo neogótico, doado por Lord Percy quete, cujos balcões dominavam um belo jardim florido em ter-
a D. João. raço. No fim desta galeria ficava o gabinete de minerais e mo-
Em 1817 a Coroa comprou o Paço de São Cristóvão, edas guardados em móveis de jacarandá fechados por tampos
passando a possuir os arredores de sua residência. Ao de vidro e outros que alcançavam quase o teto. A variedade e
longo dos anos, essa região foi se estruturando para beleza dos minerais nos encantou; porém as moedas estavam
abastecer todas as necessidades da Família Real e, de- tão encobertas por urnas copos e refrescos que apenas pode-
pois, Imperial, com a construção de sobrados, hospital, mos ver algumas antigas e modernas. Após uma rápida inspe-
escola, casas onde moravam os servidores do palácio ção das armas dos índios, penduradas nas paredes na extre-
com suas famílias, membros da Corte e os protegidos do midade do gabinete, passamos para a biblioteca – uma sala
imperador. Em 1822, o português Manoel da Costa foi grande de pé direito alto e piso de tábuas, contendo talvez de
novamente responsável pela expansão do palácio, agora cinco a seis mil volumes e onde se achavam muitos nobres e
seguindo as orientações neogóticas. oficiais trajados em seu estilo aparatoso. Da biblioteca toma-
Quatro anos depois, foram realizadas novas obras mos à esquerda para uma entrada nos fundos do palácio, entre
para adotar o estilo neoclássico, comandadas pelo fran- um pátio e uma série de salas onde a maioria dos convidados
cês Pierre Joseph Pézerat, que duraram cinco anos. Os se reunira. Eram senhoras e cavalheiros, reunidos num salão de
diversos modelos arquitetônicos agrupados na morada grandes dimensões, com um teto em arco, parcialmente dou-
imperial e seus arredores levaram o Paço de São Cris- rado e decorado com papel de parede pintado, azul e branco,
tóvão a ser considerado símbolo do ecletismo do século onde pendiam retratos. Encimando o sofá azul, onde se sen-
XIX (Schwarcz, 1998). tava o imperador, viam-se os retratos de seu pais e avô, João
D. Pedro II tornou-se Imperador do Brasil em 1840 VI. No lado oposto, na entrada do salão, pendiam os de seu avô
e alguns anos depois realizou uma grande reforma no Frederick, o falecido imperador da Áustria, e sua sogra Amé-
Palácio da Quinta da Boa Vista, objetivando uniformi- lia, a duqueza de Brìganza; e de cada lado da sala estavam os
zar a estética do edifício, obra orientada por Manuel de de sua mãe Leopoldina e irmãs Januária e Francisca e o dele.
Araújo Porto Alegre, um oficial da Casa Imperial que (Horner, 1845)
ocupou sucessivos cargos como arquiteto e diretor de
obras. Houve, ainda em 1857, mais modificações no edi- Contudo, devido à proclamação da República em 15
1816.
fício, com destaque para as pinturas e decorações do de novembro de 1889, a suntuosidade imperial perdeu
italiano Mário Bragaldi, nos aposentos imperiais. Nas seu valor e lugar. O espaço da Quinta da Boa Vista foi
décadas de 1860 e 1870 aconteceram também obras reduzido a pouco menos da metade do que era e o Palá-
paisagísticas coordenadas pelo francês Auguste Fran- cio de São Cristóvão desabitado desde então, passou a
çois Marie Glaziou, remodelando jardins e acrescen- abrigar, em 1892, o Museu Nacional, acervo de História
tando lagos, estátuas e chafarizes (Schwarcz, 1998). Natural e a mais antiga casa de ciência do país. Com a
Ferrez (2015:196), ao falar sobre o palácio de São nova ocupação, o edifício real que se tornou museu pre-
Cristóvão e arredores (1850-1860), considera que a me- cisava de novas reformas para atender às demandas da
lhor descrição por ele conhecida do interior do palácio nova instituição, que ocorreram ainda antes da virada do
foi deixada pelo cirurgião da marinha americana, G. Hor- século XIX para o XX.
ner, quando esteve no local durante o baile oferecido
por Sua Majestade ao príncipe Adalberto da Prússia em
sua visita ao Brasil, no ano de 1842. Assim disse Horner:
O hall de entrada era rodeado de diversas estátuas de deuses
e deusas pagãs, seguia-se outra galeria de uns duzentos a tre-
Quinta Real da Boa Vista ou Palácio de São Cristóvão, em prancha de Debret (1831) (Fonte: Lago, 2008, p.618)
zentos pés, decorada com pinturas de Vila Rica, Rio de Janeiro
e outros lugares. À esquerda desta galeria ficavam dois pátios;

28 C adernos de E d u c a ç ã o P at r i m o n i a l em Arqueologia Programa de E d u c a ç ã o P at r i m o n i a l : O R i o como ele era 29


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32 C adernos de E d u c a ç ã o P at r i m o n i a l em Arqueologia
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Programa de Educação Patrimonial: O Rio como ele era
Projeto de Diagnóstico Interventivo, Monitoramento, Caracterização e Educação
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Patrimonial do Patrimônio Arqueológico e Histórico da Área de Influência do
limite da Cidade Velha delineado pelo Campo
Coletor Tronco Cidade Nova Acessos realizados em 2 de maio de 2018. de Santana e a inexistência de construções
Rio de Janeiro, 2018 em direção Oeste. Disponível em: https://
www.gettyimages.com/detail/news-photo/
Equipe da Pesquisa Arqueológica plan-of-sao-sebastiao-do-rio-de-janeiro-from-
Artefato Arqueologia & Patrimônio the-almanac-of-news-photo/109136925#/
plan-of-sao-sebastiao-do-rio-de-janeiro-from-
Coordenação Científica the-almanac-of-brazil-picture-id109136925
Dra. Maria Dulce Gaspar Página 1 - Hospital de São Cristóvão, por
Página 19 - A Fábrica de Gás, ou Gasômetro,
Thomas Ender (1793-1875). Fonte: acervo BN
Coordenação Executiva no Caminho do Aterrado em gravura de Pieter
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Iramar Venturini Godfred Bertichem, s.d. Fonte: acervo BN Digital.
acervo_digital/div_iconografia/icon395061/
Disponível em: http://objdigital.bn.br/objdigital2/
Gerência Financeira icon395061_36_127.jpg
acervo_digital/div_iconografia/icon393044/
Vicente Linhares Páginas 2 e 3 - Rio de Janeiro e sés environs,
icon393044_26.jpg
Coordenação Pedagógica prise du Palais de Ste Christophe [Iconográfico]:
Páginas 20 e 21 - Mapa apresentando os
Me. Cilcair Andrade [amanhecer] Fonte: acervo BN Digital. Disponível
projetos de prolongamento do Canal da Bacia do
em: http://objdigital.bn.br/acervo_digital/div_
Educadora Rocio até a estação marítima da E. F. D. Pedro
iconografia/icon334952/icon334952.jpg
Me. Ana Gabriela Saba II e da Ponte do Aterrado até a Ilha dos Melões,
Página 9 - Mapa Rio de Janeiro [Cartográfico]:
elaborado em 1886. Adaptado de BN Digital
Coordenação da Pesquisa de Campo do campo de São Cristóvão à pedreira de São
cart1352692 por Anderson Marques Garcia. Fonte:
Dra. Gina Bianchini Diogo (ca.1800) Fonte: BN Digital. Disponível em:
acervo BN Digital. Disponível em: http://objdigital.
http://objdigital.bn.br/objdigital2/acervo_digital/
Arqueólogos bn.br/objdigital2/acervo_digital/div_cartografia/
div_cartografia/cart326436/cart326436.jpg
Gustavo Santana de Brito cart1352692/cart1352692.jpg
Página11 - Plan de la Baye et de la Ville de
Cristiano Alves de Oliveira Página 23 - Demonstração do Rio de Janeiro,
Rio-Janeiro, de 1711. Fonte: acervo BN Digital.
Henrique Barros Vences de João Teixeira Albernaz, em 1645. No canto
Disponível em: http://objdigital.bn.br/acervo_
superior, à direita da imagem, está a Igreja de São
Textos digital/div_cartografia/cart249843.jpg
Cristóvão. Fonte: acervo BN Digital. Disponível em:
Cilcair Andrade Página 11 - Plano da Cidade do Rio de Janeiro
http://objdigital.bn.br/objdigital2/acervo_digital/
Gina Bianchini com a parte essencial do seu porto e todos os lugares
div_cartografia/cart1079075/cart1079075.pdf
Anderson Garcia fortificados, de 1796. Fonte: acervo BN Digital.
Página 24 - Matriz de São Christovam,
Ana Gabriela Saba Disponível em: http://objdigital.bn.br/acervo_
fotografada por Augusto Malta (Observar que na
Consultoria em Cartografia digital/div_cartografia/cart209337/cart209337.jpg
imagem as águas da Baía de Guanabara chegavam
Dr. Anderson Garcia Página 12 - Planta do Rio de Janeiro, 1831.
bem próximas à entrada da igreja). Fonte: acervo
Fonte: acervo BN Digital. Disponível em: http://
Design Gráfico BN Digital. Disponível em: http://objdigital.bn.br/
objdigital.bn.br/acervo_digital/div_cartografia/
Unidesign | Glaucio Campelo objdigital2/acervo_digital/div_iconografia/
cart326112/cart326112.jpg
icon404110/icon1329316.jpg
Impressão Página 12 - Planta da muito leal e heroica
Página 25 - Detalhe do mapa original
Nova Brasileira cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, 1852.
de Johannes Vingboons. No canto esquerdo
Fonte: acervo BN Digital. Disponível em: http://
superior, São Cristóvão e a Igreja (ca. 1660), à
objdigital.bn.br/objdigital2/acervo_digital/div_
Capa: Campo de São Cristóvão. Fotografia de Augusto Malta, em 11/11/1906 direita da imagem, a Cidade Velha. Disponível
cartografia/cart309952/cart309952.jpg
(Ermakoff, 2009) em: http://www.sudoestesp.com.br/file/
Página 13 – El nuevo Rio Janeiro - Planta
colecao-imagens-periodo-colonial-rio-janeiro/684/
indicativa de las calles y avenidas nuevas y los
pavimentos hechos, el gran puerto comenzado y
algunos de los muchos edifícios construídos em el
período 1903 – 1906. Disponível em: http://www.
novomilenio.inf.br/santos/h0300k6f027.htm
Página 13 - Planta informativa do centro
da cidade do Rio de Janeiro: especialmente
organizada para o Guia Briguiet, 1932. Fonte:
acervo BN Digital. Disponível em: http://objdigital.
bn.br/objdigital2/acervo_digital/div_cartografia/
cart451455/cart451455.jpg
Cadernos de Educação Patrimonial em Arqueologia
Programa de Educação Patrimonial: O Rio como ele era

Projeto de Diagnóstico Interventivo, Monitoramento, Caracterização


e Educação Patrimonial do Patrimônio Arqueológico e Histórico da Área de Influência do
Coletor Tronco Cidade Nova

Rio de Janeiro, 2018

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